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ANAIS
ISSN: 2179-2550
XIX SEMANA DE ECONOMIA
DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL EM TEMPOS DE CRISE
GRUPOS DE TRABALHOS
Políticas Públicas para o Desenvolvimento Regional
Mercados Agrícolas e Comércio Exterior
Economia Industrial e da Tecnologia
Economia Regional e Urbana
Economia Agrícola, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Economia Social, Economia do Trabalho e Demografia Econômica
Vol. 5 – 2019
ISSN: 2179-2550
Informação: www.seconurca.com
UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI, URCA
Crato - CE
XIX SEMANA DE ECONOMIA
DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL EM TEMPOS DE CRISE
REALIZAÇÃO
EDITORIAL
COMISSÃO GERAL Profa. Dra. Silvana Nunes de Queiroz
Carlos Cosman Marcelo Henrick Alves dos Santos
Joice Pereira de Souza
COMISSÃO DE LOGÍSTICA Dávilla Maria Alves dos Santos
Jessica Cristina Carvalho de Sousa
COMISSÃO CIENTÍFICA Prof. Dr. Wellington Ribeiro Justo
Profa. Dra. Christiane Luci Bezerra Alves Manoel Alexandre de Lucena
Sara Ferro de Melo
COMISSÃO DE DIVULGAÇÃO Andréia Santos Silva Monica Lúcio e Silva
Fernando Raimundo Gonçalves
COMISSÃO DE INFRAESTRUTURA EXTERNA Thierry Barros
Cátia Kele Gonçalves da Silva
COMISSÃO DE INFRAESTRUTURA INTERNA Cicera Darla Lopes da Silva
Rozilania Rodrigues Chaves Terezinha Raiane Macedo de Lemos
SECRETARIA EXECUTIVA
Gilvânia Magda Gustavo Sampaio
PRESIDENTE DA COMISSÃO ORGANIZADORA Carlos Cosman COMISSÃO ORGANIZADORA DOCENTES Profa. Dra. Silvana Nunes de Queiroz Prof. Dr. Wellington Ribeiro Justo Profa. Dra. Christiane Luci Bezerra Alves Prof. Dr. José Micaelson Lacerda Morais DISCENTES Carlos Cosman Dávilla Maria Alves dos Santos Jessica Cristina Carvalho de Sousa Fernando Raimundo Gonçalves Terezinha Raiane Macedo de Lemos Joice Pereira de Souza Marcelo Henrick Alves dos Santos Manoel Alexandre de Lucena Sara Ferro de Melo Andréia Santos Silva Monica Lúcio e Silva Thierry Barros Cátia Kele Gonçalves da Silva Cicera Darla Lopes da Silva Rozilania Rodrigues Chaves SECRETÁRIOS Gilvânia Magda Gustavo Sampaio
PARECERISTAS
ALAN FRANCISCO CARVALHO PEREIRA (UNIVASF)
ANDRÉA FERREIRA DA SILVA (URCA)
AYDANO RIBEIRO LEITE (URCA)
CHRISTIANE LUCI BEZERRA ALVES (URCA)
DIEGO PALMIERE FERNANDES (UERN)
DIOGO BRITO SOBREIRA (UFC)
JOSÉ MÁRCIO SANTOS (URCA)
JOSUÉ NUNES DE ARAÚJO JUNIOR (FECAPE)
KELVIO FELIPE DOS SANTOS (IF – Iguatu)
MARIA JEANNE GONZAGA DE PAIVA (URCA)
SORAIA ARAÚJO MADEIRA (Prefeitura Municipal de Iguatu)
WELLINGTON RIBEIRO JUSTO (URCA-PPGECON)
SUMÁRIO
N° ARTIGOS
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL Pg.
01
02
Título e Autores POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS EM TEMPOS DE CRISE E O
DESAFIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 9 Francisca Vilandia de Alencar, Maria Mirelly da Costa Silva, Diego Coelho do
Nascimento
EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE, PARTICIPAÇÃO
SOCIAL E QUESTÕES URBANAS: A EXPERIÊNCIA DO
LABORATÓRIO DE ESTUDOS URBANOS, SUSTENTABILIDADE E
POLÍTICAS PÚBLICAS (LAURBS) NO BAIRRO JOÃO CABRAL, EM
JUAZEIRO DO NORTE – CE. 27 Geovane Gesteira Sales Torres, Caio Ricardo Da Silva, Regina Pimentel,
Diego Coelho do Nascimento
09-26
27-47
N° ARTIGOS
MERCADOS AGRÍCOLAS E COMÉRCIO EXTERIOR Pg.
03
Título e Autores DESEMPENHO EXPORTADOR DE LAGOSTAS NO ESTADO DO
CEARÁ Manoel Alexandre de Lucena, Yara Eugênio Leandro de Sousa, Eliane
Pinheiro de Sousa
48-67
N° ARTIGOS
ECONOMIA REGIONAL E URBANA Pg.
04
05
06
Título e Autores O MODAL DE TRANSPORTES RODOVIÁRIOS DO BRASIL:
INFRAESTRUTURA E EFEITOS SOCIOECONÔMICOS Dhiego Lúcio da Silva, Fernanda Nunes da Silva, Ana Paula Florentino
Santana, Luiz Juciano Alves dos Santos, Maria de Nazaré Souza Slva
ATUAÇÃO DE BANCOS E COOPERATIVAS DE CRÉDITO EM
REGIÕES COM BAIXO DINAMISMO ECONÔMICO Camila Lopes e Silva Madureira, Priscila Michelle Rodrigues Freitas, Daniel
Wilho de Moura Alencar, Évellyn Suanne Oliveira
POBREZA NOS ESTADOS NORDESTINOS NO PERÍODO DE 2009 A
2015: UMA PERSPECTIVA MULTIDIMENSIONAL Érika Costa Sousa, Janaildo Soares de Sousa, José Natanael Fontenele de
Carvalho, José Ribamar Pereira, Andréa Ferreira da Silva
68-88
89-108
109-132
N° ARTIGOS
ECONOMIA AGRÍCOLA, MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
Pg.
07
08
Título e Autores O PAPEL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DO
DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL Janiele de Brito de Souza, Marcelo Martins Moura Fé
O PERFIL DOS APICULTORES DA ASSOCIAÇÃO DOS
APICULTORES DE MOREILÂNDIA-PE (APIM) Rosyane Cristina Oliveira Teixeira, Rosemary de Matos Cordeiro
133-153
154-175
N° ARTIGOS
ECONOMIA SOCIAL, ECONOMIA DO TRABALHO E DEMOGRAFIA
ECONÔMICA
Pg.
09
10
11
12
13
14
Título e Autores EFEITO DA ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL NO ACESSO DOS
ALUNOS NO ENSINO SUPERIOR Cicera Darla Lopes da Silva, Wellington Ribeiro Justo, Jessica Cristina
Carvalho de Sousa, Emanuela Évina Luiz dos Santos
A DINÂMICA DO EMPREGO INDUSTRIAL NO ESTADO DO CEARÁ:
2000 A 2016 Monique Gomes de França, José Márcio dos Santos
EMPREGO FORMAL NA REGIÃO METROPOLITANA DO CARIRI
NO PERÍODO DE 2010 A 2015. Fernanda de Souza Silva, Anderson Alcantara Medeiros, Antônia Camila
Branca da Silva
O MERCADO DE TRABALHO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
CIVIL NO TRIÂNGULO CRAJUBAR (CRATO, JUAZEIRO DO
NORTE E BARBALHA): 2010 A 2016. Josyellen Mamede do Nascimento, Anderson Alcantara Medeiros, Gabriel
Antony Leal de Miranda
PERFIL DEMOGRÁFICO E SOCIECONÔMICO DOS
TRABALHADORES FORMAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO
CEARÁ (2007/2017) Guilherme Sousa Brandão, Silvana Nunes de Queiroz
RETRATO DO DESEMPREGO RECENTE NO CEARÁ: ANÁLISE
PARA OS ANOS DE 2005 E 2015 José Fernando Macêdo Morais, Aline Alves de Oliveira, José Márcio dos
Santos
176-193
194-214
215-228
229-251
252-272
273-293
N° RESUMOS EXPANDIDOS
ECONOMIA INDUSTRIAL E DA TECNOLOGIA Pg.
01
Título e Autores ANÁLISE DO INVESTIMENTO EM DECORRÊNCIA DA TAXA DE
JUROS SELIC E PIB NO SETOR DE CONTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL
NO PERÍODO DE 1974-2018 Emanuela Évina Luiz dos Santos, CiceraDarla Lopes da Silva, Ana Bruna
Soares Oliveira
294-300
N° RESUMOS EXPANDIDOS
ECONOMIA REGIONAL E URBANA Pg.
02
03
04
05
06
Título e Autores A IMPORTÂNCIA DA INCLUSÃO DIGITAL PARA A PROMOÇÃO
DO DESENVOLVIMENTODO ESTADO DO CEARÁ Francisca Delâne Alves Rolim, Daniel Klayrton do Nascimento Amorim,
Viviane Silva Souza, Maria de Lourdes de Araujo
A IMPORTÂNCIA DOS IMPOSTOS DE COMPETÊNCIA MUNICIPAL
NO ORÇAMENTO DE JUAZEIRO DO NORTE-CE, 2013 A 2015. Anderson Alcantara Medeiros, Josyellen Mamede do Nascimento, Antônia,
Camila Branca da Silva, Francisco Roberto Dias de Freitas, Hardiley Alves
AS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES DO PROGRAMA MINHA
CIDADE INTELIGENTE PARA O FORTALECIMENTO DA
ECONOMIA DE BANDA LARGA NO BRASIL. Geilza Maria da Silva, Wendell Sousa Felipe da Costa, Terezinha Raiane,
Macedo de Lamos, João Eudes Nascimento Jurema, Maria de Lourdes de
Araujo
CIDADES VIRTUAIS: UM ESTUDO DO CINTURÃO DIGITAL DO
CEARÁ-CDC Gabriel Antony Leal de Miranda, Carla Maria da Rocha, David Antônius da
Silva Marrom, Maria de Lourdes de Araujo, Anderson Alcantara Medeiros
EXPANSÃO METROPOLITANA E A VULNERABILIDADE
AMBIENTAL URBANA NAS REGIÕES METROPOLITANAS DO
CEARÁ (RMF, RMCARIRI, RMS) Nayara de Sousa Rodrigues, Christiane Luci Bezerra Alves, Anderson da Silva
Rodrigues
301-307
308-313
314-319
320-324
325-331
N° RESUMOS EXPANDIDOS
ECONOMIA SOCIAL, ECONOMIA DO TRABALHO E DEMOGRAFIA
ECONÔMICA
Pg.
07
Título e Autores CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DE APLICATIVOS
TECNOLÓGICOS: O CASO UBER EM JUAZEIRO DO NORTE/CE
332-338
Bruno Nadson da Silva, Maria Jeanne Gonzaga de Paiva, João Luís do
Nascimento Mota, Emmanoel Lima Ferreira
08
DETERMINANTES DO DESEMPENHO EDUCACIONAL DOS
ALUNOS CEARENSES NO ENEM: IMPACTO DE ESTUDAR NAS
ESCOLAS PÚBLICAS DE TEMPO INTEGRAL DA REDE ESTADUAL
DE ENSINO 339 Dávila Martins Vieira, Elisa Gonçalves Leite, Wellington Ribeiro Justo
339-345
9
ÁREA TEMÁTICA: POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO
REGIONAL
POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS EM TEMPOS DE CRISE E O DESAFIO DO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
PUBLIC ENVIRONMENTAL POLICIES IN CRISIS TIMES AND THE CHALLENGE OF
SUSTAINABLE DEVELOPMENT
FRANCISCA VILANDIA DE ALENCAR
(Graduada em Direito pelo Centro Universitário Dr. Leão Sampaio - UNILEAO.
Advogada OAB/CE. Professora junto ao Instituto Dom José - IDJ. Pesquisadora junto
ao Laboratório de Estudos Urbanos, Sustentabilidade e Políticas Públicas - LAURBS.
vilandiaalencar01@gmail.com)
MARIA MIRELLY DA COSTA SILVA
(Graduanda em Administração Pública na Universidade Federal do Cariri. Bolsista de
pesquisa do Laboratório de Estudos Urbanos, Sustentabilidade e Políticas Públicas -
LAURBS. mariamirelly1811@gmial.com)
DIEGO COELHO DO NASCIMENTO
(Doutor em Geografia. Professor junto a Universidade Federal do Cariri e Coordenador
do Laboratório de Estudos Urbanos, Sustentabilidade e Políticas Públicas - LAURBS.
diego.coelho@ufca.edu.br)
10
POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS EM TEMPOS DE CRISE E O DESAFIO DO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
PUBLIC ENVIRONMENTAL POLICIES IN CRISIS TIMES AND THE CHALLENGE OF
SUSTAINABLE DEVELOPMENT
RESUMO:
Este artigo se propõe a apresentar o desenvolvimento sustentável como alternativa para a
subsistência das políticas públicas ambientais em tempos de crise, para tanto se apoia
teoricamente no paradigma da sustentabilidade para apresentar uma análise a esse respeito.
Discorrer-se-á a temática apresentando um breve contexto histórico sobre a seara ambiental
sob a perspectiva dos diálogos internacionais e o processo de internalização acerca da
promoção de um meio ambiente ecologicamente equilibrado e capaz de proporcionar o
desenvolvimento das presentes gerações sem inviabilizar igual potencial as futuras, colocando
em evidência a atuação estatal ativa através das políticas públicas ambientais que necessitam
de reiterada atenção dos entes, assim como serem pensadas a longo prazo para que se
consolidem como política de estado e não de governo. Por essa lógica, contamos com as
reflexões de Leonardo Boff acerca do conceito de sustentabilidade, ao passo que
concatenamos a ideia com as definições epistemológicas de políticas públicas e
desenvolvimento sustentável, o que nos permite alcançar o objetivo do presente escrito. A
metodologia escolhida foi a de caráter exploratório, de modo que em relação a seus objetivos
é qualitativa, guiada por vasto levantamento bibliográfico e análise documental,
especialmente no que tange a análise de conceitos através de autores da área, leis, decretos e
instruções.
Palavras-chaves: Sustentabilidade. Legislação ambiental.Desastres ambientais.
ABSTRACT:
This article proposes to present sustainable development as an alternative for the subsistence
of environmental public policies in times of crisis, so it is theoretically based on the
sustainability paradigm to present an analysis in this regard. The theme will be presented
presenting a brief historical context about the environmental area from the perspective of the
international dialogues and the internalization process about the promotion of an
ecologically balanced environment and capable of providing the development of the present
generations without making the same potential unfeasible. future, highlighting the active state
action through environmental public policies that need reiterated attention of the entities, as
well as being long term thought to consolidate as a state policy and not government. By this
logic, we rely on Leonardo Boff's reflections on the concept of sustainability, while we
concatenate the idea with the epistemological definitions of public policies and sustainable
development, which allows us to achieve the objective of this writing. The chosen
methodology was exploratory, so that in relation to its objectives it is qualitative, guided by a
vast bibliographic survey and document analysis, especially regarding the analysis of
concepts through authors of the area, laws, decrees and instructions.
Keywords: Sustainability. Environmental legislation.Environmental disasters.
11
Introdução
O saber científico é desenvolvido para a finalidade de atender as necessidades
humanas e proporcionar os meios de aprimorar suas potencialidades. Daí extraímos fonte para
a multidisciplinaridade e interdisciplinaridade da Sustentabilidade que, embora de evidência
recente, bebe em precedentes mais profundos e justifica necessidade de releitura das áreas de
conhecimento sob à luz deste paradigma. Sendo o tema das políticas públicas de grande
influência prática na sociedade, especialmente no que tange a efetivação de direitos e
garantias fundamentais, dentre os quais está um meio ambiente ecologicamente equilibrado,
trazemos à baila o desafio do desenvolvimento sustentável frente às políticas públicas
ambientais em momento marcado pela crise.
Evidenciar o tema da proteção ambiental e das políticas públicas resgata o
compromisso internacional do Brasil com o globo, assim como destaca seu papel interventivo
e educacional interno através de seus mecanismos de efetivação ativa de seus deveres em
razão de direitos que o ordenamento jurídico elegeu para a sociedade. Quis a Constituição
Federal de 1988 (CF/88) elevar o meio ambiente ao status de direito humano, cuja proteção
deveria ser aprimorada através da elaboração de leis infraconstitucionais e criação de órgãos
com prerrogativas para executar e fiscalizar esta seara. Desta forma, a elaboração de políticas
públicas ambientais deságua pela obediência ao comando constitucional que implica
diretamente na promoção do desenvolvimento regional sustentável.
A celeuma da presente discussão paira em uma oscilação de importância e falta de
continuidade destas políticas quando se inverte política de estado por política de governo para
tratar da temática. O Brasil e o mundo vivenciam o que se chama de crise sistêmica, em razão
de uma instabilidade nos mais diversos setores da sociedade, como por exemplo, a economia,
a política, a social, a ambiental. Para autores como Leonardo Boff (2015), o sentimento é de
uma crise de valores, qual desestrutura Estado, sociedade, iniciativa privada e terceiro setor.
Apresentamos o Paradigma da Sustentabilidade como alternativa a agressividade do sistema e
o desenvolvimento sustentável como caminho. Se as políticas públicas ambientais forem
planejadas sob esta perspectiva maiores são as chances de subsistir ao momento de crise.
O objetivo da presente pesquisa é apresentar a sustentabilidade como alternativa para a
subsistência das políticas públicas ambientais em tempos de crise, partindo da hipótese de que
12
a preocupação com a questão ambiental no Brasil vem sendo pontualmente rechaçada, o que
chama a uma reflexão sobre o crescente cenário de seguidos desastres ambientais e a
sustentabilidade para as políticas públicas. Para isto a pesquisa é de nível exploratório, visto
seu objetivo de proporcionar uma visão geral, de tipo aproximativo. Sua abordagem é
qualitativa, aliada a pesquisa bibliográfica, pois apropria-se de material já elaborado como,
livros e artigos científicos. (GIL, 2008)
Discussões acerca da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável progrediram
ao longo dos anos e, apesar de não terem se esgotado, acaba atingindo novos picos quando
assistimos desastre ambientais nacionalmente e ao redor do mundo. Este debate necessita ser
aproximado de demais esferas do conhecimento, aqui em especial das políticas públicas, de
maneira que esta possa, não somente adentrar outras ciências, mas com isso traduzir-se em
ações concretas e trabalhadas nos níveis local e nacional.
O Que São Políticas Públicas?/Políticas De Estado Versus Políticas De Governo
A área de políticas públicas, iniciada como disciplina nos Estados Unidos focada na
gestão dos governos, nunca chegou a ter um consenso sobre a definição de políticas públicas.
Portanto, diversos autores contribuíram ao longo dos anos para consolidação dessa ciência
introduzindo perspectivas diferentes. Souza (2006) em seu trabalho sobre uma revisão da
literatura traz algumas definições para o termo, dentre elas a de Peters e Dye, onde
respectivamente, ―política pública é a soma das atividades dos governos, que agem
diretamente ou através de delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos‖ ou simplesmente
―o que o governo escolhe fazer ou não fazer‖. (SOUZA, 2006, p. 24).
Apesar de cada definição conter suas peculiaridades a autora destaca que a mais
conhecida pertence a um dos ―pais‖ fundadores da área, Laswell, onde ―decisões e análises
sobre política pública implicam responder às seguintes questões: quem ganha o quê, por quê e
que diferença faz‖. (SOUZA, 2006, p. 24) As críticas destacadas são de que muitas das
definições de políticas públicas que agregam a esta a ideia de que estão voltadas para solução
de problemas deixa de lado o embate de interesses, outra crítica está na centralidade dada ao
papel do governo, podendo acabar minando as possibilidades de cooperação entre outros
agentes da sociedade. (SOUZA, 2006)
13
Dentre as tipologias de políticas públicas mais difundidas está o Ciclo de Políticas
Públicas, que considera cinco atividades, inter-relacionadas, estas são: a Definição de Agenda,
Formulação, Tomada de decisão, Implementação e Avaliação. Esta abordagem é destacada
por Souza (2006) como a que mais enfatiza a Definição de Agenda, permitindo discutir como
este processo pode acontecer. A ideia de que uma política pública necessariamente está
voltada à resolução de um problema implica entender como uma problemática poderá vir a
tornar-se alvo da ação de um governo, por isso a importância de questionamentos voltados a
―execução‖ desta primeira etapa.
Portanto, a definição de agenda, sendo o reconhecimento pelo governo de um
problema de ordem pública, ou seja, um problema que afeta muitas pessoas e não indivíduos
particulares, engloba os processos iniciais deste ―diagnóstico‖ que se tornarão ações que
implicam nas responsabilidades governamentais. Sua definição não envolve somente
demandas vindas de grupos sociais, na verdade poderão vir de membros do governo. Logo,
este processo não acontece de forma linear, incorpora forte caráter político e com a atuação de
diversos atores estatais e sociais. (WU et al, 2014)
A partir do entendimento desta complexa atividade que se torna pertinente
compreender os atores que a compõe, pois as determinações tomadas nesta fase, mesmo que
corrigidas posteriormente, são primordiais para a ação do governo. Rua (1997) explica os
atores políticos como sendo, atores públicos e atores privados. Subdividindo a primeira
classificação entre políticos e burocratas. os primeiros são ligados a mandatos eletivos e por
isso sua ação muitas vezes está condicionada a um partido político. Enquanto, o segundo
grupo ocupa cargos de conhecimento especializado, a autora destaca que embora tais atores
não possuam mandato e, portanto, se imaginaria uma desvinculação a outros interesses, esses
muitas vezes possuem projetos políticos de caráter pessoal ou organizacional.
Dentre os atores privados estão os empresários, estes possuem grande poder de
influência devido sua capacidade de mobilizar recursos, em especial econômicos. Os
trabalhadores, agindo de maneira organizada, constituem outro ator que, a depender da
importância estratégica do setor onde atuam, estes virão a dispor de maior poder. Os
servidores públicos, estes também fortemente sindicalizados também formaram um de
influência. (RUA, 1997).
14
Os agentes internacionais, formados por agentes financeiros até organizações e
governos de outros países. Estes destacam-se sobretudo diante a nova dinâmica, tanto
mercadológica quanto informacional, trazida pela globalização, e estendem sua influência a
seu poderio financeiro, que podem facilitar a inserção de itens ou abordagens específicas para
problemas nas agendas governamentais. (WU et al., 2014).
Outrossim, a mídia também é destacada como agentes formadores de opinião, seu
papel se destaca pela sua capacidade de mobilizar outros atores, trazendo pautas ao
conhecimento de um número abrangente de pessoas, facilitada pelo desenvolvimento de
tecnologias de informação. (RUA, 1997; WU et al, 2014) ―A sua capacidade de mencionar e
culpar uma política pública por um problema às vezes pode forçar a inserção de uma questão
na agenda.‖ (WU et al, 2014, p. 33).
No entanto, a definição da agenda não se restringe apenas ao interesse da ação de seus
atores, podendo existir outras possibilidades de inserir algum problema. Esta seria através de
―janelas de políticas públicas‖, que podem acontecer a partir de eventos rotineiros;
discricionários; induzidos, atraídas por questões relacionadas ou pertencentes a um mesmo
segmento; e aleatórias, a partir de imprevistos, como desastres ou escândalos. (WU et al,
2014, p. 37).
Nessa lógica, desenvolver o tema Política Pública no Brasil, geralmente apresentada
no plural em razão de suas várias arestas, é demasiado complexo, mas sempre atual e
necessário, especialmente diante da oscilação ideológica pela qual passa o governo do Brasil
de 2019. Para não incorrer em afirmações desprovidas do crivo científico, importante destacar
que Política Pública é, na verdade, gênero do qual faz parte espécies como por exemplo a
política social, política de gestão, políticas econômicas, políticas de infraestrutura. Logo, nem
toda política pública é uma política social, ao passo que toda política social é necessariamente
uma política pública, assim como política ambiental não é sinônimo de política social, pois
aquela encontra-se enquadrada dentro das políticas para infraestrutura. Essa alocação correta
dos termos se faz importante porque
A política pública é um exercício constante do setor público, que retorna
para a população as contribuições que ela realiza ao pagar impostos,
alíquotas, taxas e tarifas. Os retornos consistem na solução de problemas
sociais, econômicos, distributivos, ambientais, de infraestrutura, entre outros,
15
elas atividade dos órgãos públicos, que se articulam visando atender aos
anseios do Estado. (SILVA; SOUZA, 2010, p.36).
A política pública se materializa para concretizar os direitos previstos pelo corpo legal
adotado pela República Federativa do Brasil, especialmente pela Constituição Federal de
1988, impondo ao Estado um dever de ação, ao passo que esta ação é executada através de
uma atuação do Governo na forma de atos do Poder Executivo. Nesse sentido, entende-se que
a fonte é o Estado e que o Governo desenvolverá a forma pela qual esse dever previamente
determinado pela lei será executado.
É possível dividir a definição de política pública pela perspectiva política ou
administrativa. A definição política é que políticas públicas dentro da democracia é sempre
um processo decisório que envolve conflitos de interesses que irão determinar aquilo que o
governo decide fazer e não fazer, definindo quem ganha, porque ganha e em que momento
ganhará. Enquanto a definição administrativa apresenta a política pública como um conjunto
de projetos, programas e atividades governamentais. (SECCHI, 2016).
Nessa lógica, política de estado é toda aquela política que independente de qual seja o
governante terá que ser feito, pois, carregada de um aparato jurídico-legal não há escusas para
sua não realização. Já a política de governo dependerá da alternância de poder. Cada governo
tem o seu projeto e durante o período de quatro anos materializará suas propostas em políticas
públicas que serão executadas ao longo deste período. O grande problema envolvendo
políticas de estado e políticas de governo é a falta de continuidade destas diante daquelas.
Alguns assuntos como saúde, educação, segurança, previdência, meio ambiente e outros, são
próprios de políticas de estado, haja vista indiscutível necessidade de continuidade a ser
perpetrada por período bastante superior a quatro anos, ou seja, políticas de médio ou longo
prazo. (SECCHI, 2016).
Igualmente importante lembrar do enlace entre o primeiro setor, compreendido pela
representação do Estado à sociedade, o segundo setor, envolto pelo mercado e entendido
como a livre iniciativa direcionada ao setor privado, e o terceiro setor, o qual é composto por
entidades sem fins lucrativos comprometidas com desenvolvimento social da população e
contando tanto com recursos públicos quanto com recursos privados, mas paralelas à ambos,
pois, há uma relação de coprodução quando da elaboração e execução das políticas públicas,
16
na qual saímos do apego a ideia de gestão governamental para uma construção do interesse
público por todos os atores. (FREITAS, 2013).
Políticas Públicas Ambientais e Desenvolvimento Sustentável
Direcionamos este aparato de considerações para o objeto da presente pesquisa, qual
seja, políticas públicas ambientais, sendo igualmente necessário destacar brevemente os
principais marcos históricos no estudo dos antecedentes da política ambiental brasileira, para
assim apresentar a sustentabilidade como alternativa para a subsistência das políticas públicas
ambientais em tempos de crise no Brasil, destacando sua oscilação temporal no que se refere a
importância atribuída ao meio ambiente.
Nessa sequência, podemos citar o primeiro e o segundo código florestal do Brasil, em
vigor nos anos de 1934 e 1965, respectivamente, e que delinearam normas de proteção
ambiental significativas que progressivamente vêm sendo desenvolvidas. Há que se destacar
também a criação do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), instituído pelo
Decreto-Lei nº 289, de 28 de fevereiro de 1967, entidade autárquica responsável, dentre
outras atribuições, por elaborar a política florestal do país. Houve uma preocupação também
em criar a Secretária Especial de Meio Ambiente (SEMA), o que se deu pelo Decreto nº
73.030, de 30 de outubro de 1973, com atribuição para executar ações de proteção ambiental.
Dessarte, seguindo uma lógica progressiva de preocupação com o meio ambiente,
resultante principalmente das grandes reuniões mundiais, e nos abstendo de comentar outros
institutos legais elaborados desde então, o Brasil ousa com a promulgação da Constituição
Federal de 1988, conhecida como Constituição Verde, por trazer na norma fundamental
diversos dispositivos e mecanismos que impõe ao Estado e a sociedade o dever de proteger e
preservar o meio ambiente. Dentre outros, dispõe o artigo 225, caput, da CF/88 que ―todos
têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e a coletividade o dever de
defendê-lo para as presentes e futuras gerações‖. Dispositivo que eleva o meio ambiente ao
status de direito fundamental e consagra o conceito de sustentabilidade destacado pelo
Relatório Brundtland, intitulado ―nosso futuro comum‖, de 1987, elaborado pela Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
17
No ano seguinte à Constituição Federal, a lei n. 7.735 de 22 de fevereiro de 1989,
criou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e do Recursos Renováveis, popularmente
chamado IBAMA. Uma autarquia federal ligada ao Ministério do Meio Ambiente, cuja
atribuição principal é a execução da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) disposta
na lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Seu papel fiscalizador também conferiu aparência
interna e internacional de um Brasil preocupado com o meio ambiente.
Igualmente salutar destacar que os marcos históricos indicados foram influenciados
por discussões diferentes no cenário nacional, dentre elas podemos citar os anos de 1930, com
a questão preservacionista e de proteção do patrimônio natural; os anos de 1940 e 1950, com
a necessidade de proteção ambiental devido à industrialização e ao desenvolvimento
acelerado; os anos de 1960, a ―década da consciência‖ e a pressão dos movimentos
ambientalistas internacionais; os anos de 1970, com a conferência de Estocolmo, a
preocupação com a poluição, ganhando força a visão do ecodesenvolvimento; e os anos de
1980, com as temáticas do uso racional de recursos naturais, do equilíbrio dos aspectos
econômico, social e ambiental e do direito ambiental. (VEIGA, 1998).
Sem a pretensão de esgotar os marcos históricos que nortearam a política ambiental no
Brasil, apresentamos-vos com o fim de destacar as bases das políticas públicas ambientais que
subsistem no Brasil de 2019 ainda que sob a égide de uma crise sistêmica, sobretudo, para
fomentar o pensamento acerca da sustentabilidade como alternativa para a subsistência das
políticas públicas ambientais. Além disso, percebe-se que com a dinâmica de poder os
governantes oscilam no que tange a maior ou menor importância da proteção ambiental, à
exemplo, a flexibilização do código florestal com reforma aprovada e sancionada em 2012
durante o governo de Dilma Rousseff, e, mais recente (2018/2019), a crescente precarização e
corte de recursos para o IBAMA e Ministério do Meio Ambiente, bem como a carência de
investimentos de municípios, estados e União para esta área. (BOFF, 2015).
O meio ambiente é uma das dimensões da sustentabilidade que há décadas grita por
socorro. É uníssono entre a comunidade internacional a urgente necessidade de cada país
promover políticas internas que caminhem para a sua proteção e restauração. O Brasil
assumiu tal compromisso à medida que elegeu através da Constituição Federal de 1988 o
paradigma da Sustentabilidade como vetor de sua atuação estatal, devendo ter como único
caminho o desenvolvimento sustentável. (FREITAS, 2012).
18
De acordo com a doutrina que corrobora com este escrito, Sustentabilidade e
desenvolvimento sustentável possuem conceituações diversas, de modo que aquele refere-se
ao paradigma adotado, enquanto este, ao caminho que será traçado para alcançar tal modelo.
Diante da precípua preocupação da Sustentabilidade com a garantia de sobrevivência das
presentes e futuras gerações e os incontáveis meios que se pode pensar para atingir tal fim,
destacamos a responsabilidade social e as políticas públicas. (BOSSELMANN, 2015;
FREITAS, 2012).
Na contramão das políticas públicas ambientais e o caráter protecionista da legislação
ambiental, destacamos que o Brasil, somente em 2019, suportou três casos de desastres
ambientais que tiveram repercussão internacional. O primeiro deles aconteceu em janeiro na
cidade de Brumadinho (MG) com o rompimento da Barragem do Córrego do Feijão que
atingiu 290 hectares em 9 quilômetros de distância, chegando ao rio Paraopeba, além de
bairros e comunidades próximas. Já no mês de agosto ascendeu o debate sobre as queimadas
na Amazônia, onde em estudo realizado pelo WWF-Brasil, o órgão contabilizou que 31% dos
focos de queimadas registrados para o mês eram, até julho de 2018, área de floresta. Sendo
um em cada três focos ligados a queimadas que sucederam o corte de áreas de floresta.
Por fim, mais recentemente, em agosto, áreas litorâneas do Nordeste começaram a ser
atingidas por manchas de óleo de procedência ainda desconhecida. Tais manchas impedem o
uso das praias e afetam a população e também animais marinhos. Foram retiradas pelo menos
900 toneladas do material de 201 praias. Tais casos transparecem como a dimensão
econômica vem sendo priorizada em detrimento da dimensão ambiental, onde a exploração da
natureza tomou o lugar da sustentabilidade na forma como conduzimos o desenvolvimento.
Estamos agora presenciando casos mais frequentes de desastres ambientais como
consequência desta postura que vigora há décadas.
O grande desafio do desenvolvimento sustentável da década é revestir as políticas
públicas ambientais de preocupações e intenções realmente comprometidas com a
sustentabilidade e não com a economia. Pensar a política ambiental como uma política para a
infraestrutura do país distancia este do diálogo internacional e do histórico legal que vinha
sendo construído. Tratar o meio ambiente meramente como objeto econômico é afunilar a
crise a partir de inconsistências ideológicas que fomentam políticas de governo.
(BOSSELMANN, 2015; BOFF, 2015; FREITAS, 2012).
19
O desenvolvimento sustentável corrobora com o que dialogamos, à medida em que se
propõe alinhar as várias dimensões que compõe o desenvolvimento, visto que este é um
conceito multifacetado e que necessita de um planejamento ―interdisciplinar‖ dada sua
natureza. Ele inova ao colocar a dimensão ambiental em posição paritária às demais,
incluindo-a ao desenvolvimento social como destaca Sachs (2008), ressaltando que esta
perspectiva estimula a busca por soluções e caminhos inovadores de maneira a minimizar as
externalidades negativas.
O crescimento econômico que aconteceu às custas da natureza e das camadas sociais
mais baixas se disseminou através do mito de que pela submissão às regras do sistema
produtivo hegemônico, países não desenvolvidos alcançariam o mesmo padrão de consumo
dos chamados desenvolvidos. O que na verdade levou a consequências desastrosas
ambientalmente e culturalmente, refletindo inclusive na dinâmica dos centros urbanos.
(CHACON, 2007).
Sachs (2008), apresenta um breve histórico sobre o conceito de desenvolvimento
como forma de explicar sua amplitude, para isso ressalta que se encontram embutidos no
conceito a ideia de igualdade, equidade e solidariedade, trazidos pelas três gerações de
direitos humanos, fazendo-o assim distinguir-se completamente do conceito de crescimento,
especificamente o econômico. Apesar de que este não se tornar por isso irrelevante ou é
desconsiderado, o autor destaca esta dimensão a partir da perspectiva de que ela, sendo
inclusive uma das dimensões do desenvolvimento sustentável, deverá ser trabalhada para
efetivar uma economia sustentada e inclusiva.
A condição do desenvolvimento sustentável pode ser verificada pela observação do
espaço, das atividades econômicas, das questões sociais, da preocupação ambiental e dos
aspectos culturais. Esses critérios se relacionam configurando a característica, ou o estado, em
que se encontra um local no processo de desenvolvimento sustentável. (SILVA; SOUZA,
2010).
Importante citar que o autor traz oito dimensões, com destaque para cinco principais,
sendo elas: social, ambiental, territorial, econômica e política. A incorporação das cinco
dimensões de forma harmoniosa que torna a atividade de planejar para o desenvolvimento
sustentável mais complexa, mas principalmente elaborar políticas públicas que possibilitem
sua aplicação de forma concreta. No entanto, não devemos tratar o ―planejar‖ pensando em
20
uma única política pública que incorpore todas as dimensões, na verdade, cada política
pública elaborada ao longo de anos, individualmente deve ser parte de um espectro maior e
coerente entre si voltado a pensar o desenvolvimento sustentável. (SILVA; SOUZA, 2010).
Leonardo Boff e o conceito de Sustentabilidade
Para se dialogar acerca da Sustentabilidade é preciso, antes de tudo, esclarecer que
muito mais do que um termo da moda, é um modelo, paradigma para convivência humana
harmônica em um ambiente ecologicamente equilibrado. Nunca se ouviu tanto falar no que
seria ou não sustentável, e, muitas vezes, por ausência de prudência e responsabilidade, há
uma confusão quanto a seu conceito e incidência prática causada pela falácia do capital verde.
É o que se chama de greenwash, ou seja, se pinta de verde para ludibriar os consumidores que
estão em busca de uma vivência mais consciente e assim continuar vendendo. (BOFF, 2015).
Leonardo Boff (2015), autor da obra ―Sustentabilidade: o que é – o que não é‖, nos
apresenta este paradigma sob diversas perspectivas, mas, sobretudo, a partir dos problemas
ambientais que espalham um sentimento universal de que como está não dá para continuar, a
vida na Terra não subsistirá as práticas agressivas e reiteradas do homem, bem como a partir
do cuidado com a vida humana, com o sujeito humano em um ideal de fraternidade global.
O conceito de Sustentabilidade é construído paulatinamente através de reuniões e
documentos internacionais. Sem apego a cronologia, tem-se a Carta da Terra, documento que
demorou oito anos (1992-2000) para ser elaborado, de cuja redação participou o autor
supracitado, e esta apresenta um chamamento sério a humanidade acerca da degradação
ambiental e os resultados que pode causar, assim como convida a comunidade global ao
compromisso de princípios e valores a serem partilhados por todos para uma boa convivência
e sobrevivência.
Extraindo uma essência de significação acerca do que se pode compreender por
sustentabilidade, pontua o autor afirmando se tratar do
conjunto dos processos e ações que se destinam a manter a vitalidade e a
integridade da Mãe Terra, a preservação de seus ecossistemas com todos os
elementos físicos, químicos e ecológicos que possibilitam a existência e a
reprodução da vida, o atendimento das necessidades da presente e das
futuras gerações, e a continuidade, a expansão e a realização das
21
potencialidades da civilização humana em suas várias dimensões. (BOFF, p.
14, 2015).
Em semelhante sentido é a disposição do artigo 3º, inciso I, da Lei n. 6.938, de 31-8-
1981 - Política Nacional do Meio Ambiente – que define meio ambiente como sendo ―o
conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.‖ Nessa lógica, percebe-se alguma
sintonia entre a conceituação legal de meio ambiente e o significado macro do compromisso
da Sustentabilidade, o que indica que este paradigma não é apenas modelo acadêmico
especulativo, mas vetor fundamental para o Estado democrático de direito.
A ideia impressa na Carta da Terra seria um compromisso com o futuro a partir de
modos de vida mais sustentáveis a serem desenvolvidos nas esferas local, regional, nacional e
global, uma vez que um desenvolvimento que não respeita as diferenças não pode ser
chamado de sustentável, pois este não pode ser reducionista, devendo ser posto sempre como
eixo transversal às bases do Sistema Terra e do Sistema Sociedade, devendo também ser
pensado como uma teia a partir de uma ideia multidisciplinar e interdisciplinar.
Boff (2015) consegue captar com muito bom senso tendências e pontos críticos
resultantes da insustentabilidade que deflagra em um mal-estar generalizado, mas consciente
da impossibilidade de esgotá-los. Apresenta ―a insustentabilidade do sistema econômico-
financeiro mundial‖, a qual se justifica pela agressividade do sistema capitalista opressor que
encontra seu limite na finitude dos recursos da Terra. Apesar das transformações que o tempo
traz para toda e qualquer sociedade, subsiste o sistema capitalista em razão de sua enorme
capacidade de se reinventar frente a crise. Ele mesmo destrói e ele mesmo reconstrói.
Todavia, se encontra diante da escassez de recursos que impõe mudança na forma de
produção que agride a comunidade de vida orgânica e inviabiliza a reconstrução do ambiente.
O pensamento de que ―bom é ganhar dinheiro e ficar ricos, e não ser honesto, justo e
solidário‖ (p.18) não encontra fundamento a longo prazo.
―A insustentabilidade social da humanidade por causa da injustiça social‖ toca
precipuamente na falta de solidariedade que é gradativamente ampliada em níveis local,
regional, nacional e global. A fome experimentada por um país qualquer não é preocupação
dos demais PIB’s (Produto Interno Bruto). Afirma Boff (2015, p. 19-20) que ―a
sustentabilidade de uma sociedade se mede por sua capacidade de incluir a todos e garantir-
22
lhes os meios de uma vida suficiente e decente‖. Daí é frequente a figura dos marginalizados e
excluídos.
―A crescente dizimação da biodiversidade: o Antropoceno‖ é o que o Autor em
questão classifica como uma nova era geológica marcada pela capacidade humana de
destruição da biodiversidade planetária, aumentando os desertos, desastres ambientais,
desigualdades humanas cada vez mais profundas, tudo em busca de uma única questão: como
posso lucrar mais? Para tanto, se adota qualquer meio capaz de atingir esse fim com mais
rapidez, ainda que agrida o equilíbrio ecológico e inviabilize a própria vida no Planeta.
Ao discutir ―a insustentabilidade do Planeta Terra: a pegada ecológica‖ o autor
relembra nossa responsabilidade como espécie sob as demais. É necessário uma consciência
para o futuro capaz de projetar um novo paradigma para o diálogo entre o ser humano e a
natureza, pois a forma de vivência reiteradamente agressiva dos últimos séculos pode
culminar na extinção da vida humana na Terra, pois esta não precisa de nós, ao passo que a
proposição contrária não encontra reflexo de verdade.
Ignorando totalmente pseudocientistas que duvidam do ―aquecimento global e o risco
do fim da espécie‖, nosso autor é categórico ao afirmar que já vivemos o apocalíptico
aquecimento global alertado décadas atrás pela comunidade científica. Sempre partindo de um
diálogo internacional, observa-se que os países possuem grande resistência em internalizar
políticas internas para minimizar a agressão ambiental que causam, a exemplo, Estados
Unidos, China, Brasil. Embora presentes nos encontros mundiais, em geral promovidos pela
ONU, dificilmente assinam o compromisso de sequer diminuir a poluição. A corrida por
interesses econômicos, crescimento pelo crescimento, não subsistirá se não buscarmos
garantir a sustentabilidade do Planeta.
Vale destacar o pensamento de Friedrich Nietzsche na obra ―Assim falou Zaratustra‖:
―Eu vos rogo meus irmãos, permanecei fiéis à Terra‖ (2014, p. 19), pensamento este que
dialoga com nosso autor que levanta a urgente consciência de respeitarmos as limitações da
Terra no sentido de que cada país, cada comunidade e seus indivíduos, adotem, políticas,
ações e comportamentos sustentáveis, especialmente quanto ao meio ambiente e aos valores
humanos de solidariedade e fraternidade por um sistema menos agressivo com olhar para o
futuro.
23
Considerações Finais
A presente pesquisa dedicou-se a apresentar as políticas públicas ambientais sob a
perspectiva epistemológica do Paradigma da Sustentabilidade e o empirismo do
desenvolvimento sustentável, haja vista o aporte teórico daquele e os mecanismos ativos
deste. Observa-se que a proteção ambiental é progressivamente aprimorada conforme nos
mostra seu contexto histórico, ao passo que oscila em nível de importância interna à medida
que oscilam as ideologias políticas adotadas pela governança do país, o que se apresenta
como uma consequência natural da dinâmica de poder em estados que adotam a democracia.
Todavia, o que, de fato, culminaria em resistência atemporal das políticas públicas ambientais
seria sua realocação como política de estado e não como política de governo, conforme vem
se apresentando nas últimas décadas.
A Sustentabilidade propõe uma aliança global, nacional, regional e local para o trato
com o meio ambiente, de modo a reduzirmos nossos impactos sobre ele. Isso não significa dar
prevalência à dimensão ambiental da sustentabilidade, mas estabelecer relação de coexistência
e equilíbrio necessário entre esta e as demais para viabilizar um desenvolvimento limpo e
capaz de suprir as necessidades das presentes gerações com semelhante perspectiva para as
futuras. Por essa lógica, tempos de instabilidade e crise não devem desestruturar a linearidade
que as políticas públicas ambientais são pensadas para ter, pois o desenvolvimento sustentável
é uma proposta de Estado categorizada pela Constituição Federal de 1988 como um
paradigma jurídico-institucional que não comporta exceções.
Sem a pretensão de esgotar a discussão, mas fomentar o arcabouço de escritos acerca
do presente tema, reiteramos a importância de resgatar os marcos históricos que nortearam a
política ambiental no Brasil, no sentido de que conhecer o caminho também é espécie de
método para iluminar reestruturação ao papel ativo do Estado. Destacar o compromisso
internacional e constitucional do Brasil acerca dos fundamentos das políticas públicas
ambientais é norte para o Brasil de 2019 não flexibilizar ainda mais o corpo normativo da
área, sob justificativa de crise.
O meio ambiente é uma das dimensões da sustentabilidade que há décadas grita por
socorro. É uníssono entre a comunidade internacional a urgente necessidade de cada país
promover políticas internas que caminhem para a sua proteção e restauração. O Brasil
24
assumiu tal compromisso à medida que elegeu através da Constituição Federal de 1988 o
paradigma da Sustentabilidade como vetor de sua atuação estatal, devendo ter como único
caminho o desenvolvimento sustentável.
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25
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e para ninguém. Tradução Carlos Duarte e Anna Duarte. São Paulo: Martin Claret, 2014.
27
ÁREA TEMÁTICA: POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO
REGIONAL
EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE, PARTICIPAÇÃO SOCIAL E
QUESTÕES URBANAS: A EXPERIÊNCIA DO LABORATÓRIO DE ESTUDOS
URBANOS, SUSTENTABILIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS (LAURBS) NO
BAIRRO JOÃO CABRAL, EM JUAZEIRO DO NORTE – CE.
EDUCATION FOR SUSTAINABILITY, SOCIAL PARTICIPATION AND URBAN
ISSUES: AN EXPERIENCE FROM THE LABORATORY OF URBAN STUDIES,
SUSTAINABILITY AND PUBLIC POLICIES (LAURBS) IN JOÃO CABRAL
NEIGHBORHOOD, JUAZEIRO DO NORTE - CE.
GEOVANE GESTEIRA SALES TORRES
(Graduando em Administração Pública pela Universidade Federal do Cariri (UFCA),
geovanesalescrato@gmail.com);
CAIO RICARDO DA SILVA
(Graduando em Administração Pública pela Universidade Federal do Cariri (UFCA),
caio.ricardo042@gmail.com);
REGINA PIMENTEL
(Graduanda em Administração Pública pela Universidade Federal do Cariri (UFCA),
reginapimentel932@gmail.com);
DIEGO COELHO DO NASCIMENTO
(Professor Adjunto da Universidade Federal do Cariri (UFCA) atuando no curso de
Administração Pública/Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA),
diego.coelho@ufca.edu.br).
28
EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE, PARTICIPAÇÃO SOCIAL E
QUESTÕES URBANAS: A EXPERIÊNCIA DO LABORATÓRIO DE ESTUDOS
URBANOS, SUSTENTABILIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS (LAURBS) NO
BAIRRO JOÃO CABRAL, EM JUAZEIRO DO NORTE – CE.
EDUCATION FOR SUSTAINABILITY, SOCIAL PARTICIPATION AND URBAN
ISSUES: AN EXPERIENCE FROM THE LABORATORY OF URBAN STUDIES,
SUSTAINABILITY AND PUBLIC POLICIES (LAURBS) IN JOÃO CABRAL
NEIGHBORHOOD, JUAZEIRO DO NORTE - CE.
RESUMO:
Esse artigo tem como objetivo refletir sobre a experiência do laboratório de estudos urbanos,
sustentabilidade e políticas públicas(LAURBS) quanto às atividades desenvolvidas no bairro
João Cabral em Juazeiro do Norte - CE. Ao decorrer deste artigo, trabalhou-se os conceitos
de controle social e participação social nas políticas públicas, bem como se traçou um
histórico das reformas da administração pública no Brasil. Em confluência, se elencou as
noções de ―cidade-empresa‖, territorialidade e sociedade autônoma. Em acréscimo, esboçou-
se um panorama sobre diferentes perspectivas quanto ao desenvolvimento sustentável, além
de se conceituar educação para a sustentabilidade, não-formal e popular. Por fim, constam-se
considerações sobre o Laboratório de Estudos Urbanos, Sustentabilidades e Políticas Públicas,
e em relação ao bairro João Cabral, expondo as problemáticas vivenciadas pelo laboratório, e
algumas sugestões para reproduções futuras. Utilizou-se da metodologia da pesquisa-ação
conjuntamente com o ―artesanato intelectual‖ para sistematização das observações em campo.
Palavras-chaves: sustentabilidade, participação social, questões urbanas e controle social.
ABSTRACT: This article aims to reflect on the experience of the Laboratory of Urban Studies,
Sustainability and Public Policies (LAURBS), regarding the activities carried out in the João
Cabral neighborhood in Juazeiro do Norte- CE. For this goal, in this article, we worked on
the concepts of social control and participation in public policies, as well as the history of
public administration in Brazil. In confluence, the notions of "city-enterprise", territoriality
and autonomous society was brought up. In addition, an overview of different perspectives on
development was outlined, as well as conceptualizing non-formal and popular sustainability
education. Finally, there were considerations on the Urban Studies, Sustainability and Public
Policy Laboratory, and on relation to the João Cabral neighborhood. The action-research
methodology was used in conjunction with the “handicraft intellectual property ”to
systematize the observations.
Keywords: sustainability, social participation, urban issues and social control.
29
1. Introdução
Refletir sobre o desenvolvimento sustentável nos espaços urbanos, e sua imbricação
com os processos educacionais formais e não-formais, mostra-se consideravelmente
complexo pelas antinomias existentes nas cidades do chamado ―capitalismo periférico‖, em
relação ao ideal de direito à cidade convencionado pela ONU e adotado por seus signatários.
Todavia, mesmo com a existência latente de problemáticas socioambientais e fluxos
educacionais inoportunos ao protagonismo juvenil e a ações-reflexões (Cf. FREIRE, 2011),
são inúmeras as experiências latino-americanas de ações coletivas e/ou institucionais que
atuam no intento de primar por intervenções sociopolíticas em prol da resolução de problemas
e potencialização de qualidades territoriais. Nesse sentido, faz-se presente o programa de
extensão do Laboratório de Estudos Urbanos, Sustentabilidade e Políticas Públicas -
LAURBS, ação da Universidade Federal do Cariri.
Nesse sentido, o presente artigo versa analisar as impressões/observações dos
discentes envolvidos nas ações de extensão do LAURBS durante o período 2019.1 no bairro
João Cabral, comunidade urbana e periférica localizada no município de Juazeiro do Norte -
CE. Para tanto, adotou-se uma pesquisa exploratória, cujos seus meios a configuram como
uma pesquisa-ação. O método para registro e tratamento das observações seguiu o modelo
denominado ―observação etnográfica‖, de Weber e Beaud (2007), além de se adotar as
prerrogativas da proposta metodológica e política da chamada ―imaginação sociológica‖ de
Mills (1982).
Destarte, ao decorrer deste artigo, trabalhar-se-ão os conceitos de controle social e
participação social nas políticas públicas, bem como se traçará um histórico das reformas da
administração pública no Brasil. Em confluência, trazer-se-ão as noções de ―cidade-empresa‖,
territorialidade e sociedade autônoma. Em acréscimo, esboçar-se-á um panorama sobre
diferentes perspectivas quanto ao desenvolvimento sustentável, além de se conceituar
educação para a sustentabilidade, não-formal e popular. Por fim, constam-se considerações
sobre o Laboratório de Estudos Urbanos, Sustentabilidades e Políticas Públicas, e em relação
ao bairro João Cabral.
30
2. Referencial Teórico
2.1 Controle Social e Participação Social nas PP’s
Após 21 anos de ditadura civil militar no Brasil, o país se abriu para o modelo
democrático com a consolidação da Constituição Federal de 1988, garantindo em seu título I,
que se refere aos princípios fundamentais, a dignidade da pessoa humana, construir uma
sociedade livre, justa e solidária, erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Para elencar os inúmeros
pontos preconizados na carta magna, a Administração pública brasileira também teve que se
atualizar diante das novas demandas dos direitos estabelecidos na lei maior, tendo em vista
que a forma da administração diz muito sobre como se vêem os cidadãos.
Saindo de uma gestão patrimonialista no Brasil Império que tinha como
características: 1) entrelaçamento entre o público e o privado; 2) corrupção e nepotismo.
Evoluindo para gerência burocrática implementada por Getúlio Vargas, a partir do
pensamento Max Weber em que essa gestão passa a ser impessoal, hierarquizada pela
autoridade com competência técnica e mérito. Chegando, então, ao modelo gerencial atual
que veio após a Constituição Federal de 1988, com características de eficiência dos serviços,
controle dos resultados com descentralização política e administrativa. Nesta nova ótica de
gestão, o Estado é entendido como garantidor de perpetuação da cidadania, não importando a
quem se destina a mesma (Fernandes,2016).
Para uma melhor ilustração do nascimento do controle social, cabe salientar a gênese
dos ―direitos republicanos‖ conquistados no final do século XX, como explica Bresser Pereira
(1997), que nada mais são do que a capacidade dos cidadãos de reivindicar um uso efetivo do
patrimônio público de todos e para todos os cidadãos.
Além disso, como elucida Santos (2002), o controle da gestão pública vai estar
absolutamente correlacionada com o Estado Democrático de Direito, podendo ser
compreendido como a fiscalização que é realizada pelo poder público ou pelos cidadãos,
individualmente ou coletivamente, quanto às ações executadas pelos mais variados setores da
estrutura do Estado.
31
Ciente disso, o controle público não estatal(controle social) é um método do qual o
responsável pela fiscalização é o cidadão ou a sociedade civil organizada, sendo esse
mecanismo uma ocorrência da democracia direta uma vez que o indivíduo ou grupo age
incisivamente na administração pública. Acresce-se que essa ação também ampara o Estado a
não ser um estado de legalidade, mas sim de legitimidade, uma vez que a cidadania ativa
atribui-lhe essa propriedade (SANTOS, 2002).
Foi a partir do processo de redemocratização do Brasil, a sociedade passou a se
articular de forma intensa dentro no seio institucional do Estado,em que a partir dos fluxos de
políticas públicas a sociedade passou a ser, relativamente, ―consultada‖ sobre dadas questões,
todavia, mantendo, o Estado, o controle de todo o processo.
2.2 Espaço urbano e políticas públicas
A educação política, no contexto brasileiro, pode passar por empecilhos consideráveis,
sejam eles de ordem governamental ou social, uma vez que se possa tocar em assuntos caros
ao governo, e desestimulantes para a sociedade, no caso em questão, para os jovens.
No entanto, entender esse contratempo é voltar-se para o território. Compreender que a
dinâmica do território se trata de espaço e poder, definido e delimitado por e através de
relações de poder, não restrito apenas ao Estado (SOUZA, 2001).
Assim sendo, discorda-se da percepção de ―cidade-empresa‖, da negação do território
enquanto espaço político, enquanto pólis, uma vez que o poder presente no espaço está
correlacionado às questões urbanas, e consequentemente a política (VAINER, 2002, p. 91).
Sendo a territorialidade a qualidade de dado local, de dado território, numa interação
dos seres humanos no espaço, problemáticas e atritos dos mais diversos serão consequências,
o que demanda um conjunto de observações e acompanhamento por parte do poder público
(SOUZA, 2001).
Para tal, como expõe Maricato (2015), é necessário sair do paradigma das ―ideias fora
do lugar‖, para além da cidade formal, que é a parcela territorial que recebe de fato a atenção
e as políticas públicas por parte do governo. As leis para efetivar a participação social foram
criadas, não é necessário um novo arcabouço, basta pôr em prática as já existentes.
Essas políticas, assim como o território, não devem limitar-se a apenas uma variável,
como a questões econômicas ou sustentáveis, mas envolver, por exemplo, questões raciais e
culturais, dentre várias outras. Para a criação de uma política pública efetiva e eficaz, o poder
32
público deve estar disposto a abrir canais para a sociedade civil, almejando evitar ações
anacrônicas para demandas da realidade social.
Como explica Souza (2001), uma sociedade autônoma é aquela que gere livremente
seu território, não significando uma sociedade ausente de poder. Posto isso, a plena
independência não estaria em consonância com um Estado que centraliza as decisões e se põe
acima das camadas sociais, necessitando dessa forma, uma coprodução dos bens públicos.
2.3 Educação e Sustentabilidade
Em um contexto pós-industrial, a temática ―desenvolvimento sustentável‖ ganha,
paulatinamente, espaço nas agendas formais de governo, públicas informais, epistemológicas
e empresariais. Todavia, deve-se conceber que tal questão, ao decorrer do seu
desenvolvimento conceitual, passou por inúmeras modificações. Desse modo, enxergando a
ciência enquanto um produto social não neutro axiologicamente e, por vezes, interposta à
legitimação do status quo (LAVILLE & DIONNE, 1999), deve-se conceber que as reflexões
epistemológicas e políticas públicas relacionadas à sustentabilidade estão indubitavelmente
inter-relacionadas ao atendimento dos interesses hegemônicos do sistema político, econômico
e social de caráter capitalista.
Em suma, como perceber plenamente o conceito e práticas de sustentabilidade se os
mesmos estão comprometidos pelo atendimento dos interesses hegemônicos que, por sua vez,
interferem na construção e projeção dos discursos?
Vale-se frisar que várias foram as óticas através das quais se observou o
desenvolvimento sustentável desde a gênese do termo no relatório Brundtland, construído
pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1988), em que se prevê
o artefato em voga como àquele que versa o atendimento das presentes demandas básicas das
populações, porém, sem o comprometimento do atendimento das necessidades/padrões de
vida das gerações do porvir.
Arrighi (1997), ao contemplar experiências capitalistas concretizadas em distintos
locais do globo terrestre, além de analisar variadas propostas desenvolvimentistas à luz do
sistema capitalista que se projetam territorialmente de forma estratificada, produzindo
semiperiferias e periferias econômicas subjugadas por zonas de núcleos orgânicos –
representadas por nações bem posicionadas na hierarquia capitalista –, sintetiza o
desenvolvimento, incluindo sua dimensão sustentável, como quimera. Ilação calcada na
33
impossibilidade, apresentada por Arrighi (1997), de mobilidade no cerne da rígida estrutura
hierárquica do sistema capitalista.
Outrossim, Veiga (2010) salienta que a maneira de se enxergar o desenvolvimento
permaneceu estática durante muito tempo, especialmente porque já por volta de 1960 os
países ricos conseguiram alcançar estágios satisfatórios de progresso, devido a
industrialização. Todavia, percebeu-se que tais riquezas não traziam melhorias para a
população majoritária, sendo assim, necessitava-se de um novo paradigma
―desenvolvimentista‖, já que o existente se encontrava obsoleto em relação às expectativas
sociais e de organismos internacionais, como a ONU.
Portanto, Veiga (2010) apresenta a ideia de desenvolvimento sustentável como um
complexo sistêmico de elementos e medidas que, racionalmente, buscam o crescimento
econômico em simbiose aos aspectos qualitativos justos da vida humana e equilíbrio
ambiental. Algo simplificado na composição dos elementos: economicamente viáveis,
socialmente justos e ambientalmente corretos. Em busca de consubstanciar tais princípios,
cabe aos governos, empresas, organizações sociais e cidadãs adequarem suas
práticas/comportamentos, visando a redução de danos espaciais, eficiência nos fluxos e justiça
social nos impactos de suas condutas socioambientais.
Embora se reconheçam os júbilos ideais trazidos pela noção de desenvolvimento
sustentável, cabe-se o questionamento: seria possível a concretização do mesmo em arranjos
capitalistas? Segundo Harvey (2011), não. Este alega a existência de uma destruição criativa
da natureza, baseando-se no fato do meio natural ser alvo das atividades humanas. Em tal
circunstância, os efeitos diretos e indiretos de tais intervenções resultam na denominada
―segunda natureza‖ que, conforme Harvey (2011), constitui-se no meio natural remodelado
pelas ações humanas. Para a incursão desta destruição criativa, que se agrava nos últimos três
séculos em decorrência da ascensão capitalista, o Estado e o Capital assumem o papel de
agentes sistêmicos por enxergarem a natureza como um produto social que deve ser apreciado
culturalmente, economicamente e tecnologicamente, buscando, assim, uma dialética
sistemática por meio de tecnologias intuindo alcançar seu objetivo magno.
Além do exposto, as antinomias existentes entre o sistema capitalista e o
desenvolvimento sustentável não se restringem aos fins ambientais, mas, incorporam um bojo
de elementos tocantes a aspectos sociais como o trabalho. Este, segundo Marx (1971),
34
constitui um elemento garantidor do pleno estado de liberdade do ser humano. Todavia, o
sistema dominante o tornou um artefato de desumanização e consequente ―coisificação‖ dos
sujeitos. Perante isto, Marx (1971) nomeia como alienação do trabalho o fenômeno no qual o
trabalhador, desenvolvendo suas funções laborais nas condições que lhe são impostas pela
divisão social do trabalho, é vilipendiado em prol do lucro. Perseguindo tal fim, o sistema
hegemônico faz uso, conforme a visão marxiana, de ideologias impressas em superestruturas
sociais que, por conseguinte, atuam na ratificação da submissão do trabalhador à figura
patronal por meio de sistemas morais – ideologias – de ―glorificação do trabalho‖, tal como
ele se encontra em um contexto de exploração de classes.
Mediante tais discussões, outra questão vem à tona: o desenvolvimento sustentável
seria uma ilusão, algo impraticável? É notório que em uma estrutura social marcada por
latentes desigualdades socioeconômicas, interesses financeiros sobrepostos ao equilíbrio
socioambiental, dentre outras incongruências, o desenvolvimento sustentável, em sua
integralidade, está seriamente lesado. Entretanto, pensamentos como os externados por
Barbieri e Silva (2011) pressupõe a existência de mecanismos legais materializados no cerne
do direito internacional e no ordenamento jurídico brasileiro que asseguram –
compulsoriamente – instrumentos de comando, controle e fiscais, instituições e princípios
que, praticamente, buscam edificar uma proposta de desenvolvimento de caráter
socioambiental.
Contudo, para além de instrumentos legais, a educação formal e informal ocupa um
lugar primordial no tocante à busca por experiências sustentáveis nas organizações e
territórios. Ora, segundo aponta Sachs (2000), os sujeitos devem ser aglutinados na defesa da
natureza, por meio de um embasamento na economia da permanência. O que termina por
edificar alternativas como o ecodesenvolvimento, no qual a conscientização e envolvimento
da população constituem alguns de seus pilares. Assim, na visão de Sachs (2000), a
sustentabilidade relativa ao ideal de uma sociedade calcada na biomassa, de fato, alcança-se
por meio da conscientização da população, o que se consegue por meio de processos formais
e informais de educação ambiental que viabilizem lógicas territoriais – locais – e transversais.
Fatores geradores da ―gestão negociada e contratual da biodiversidade‖, que traz em seu
âmago o direito dos povos à vida, humana ou não, como prioridade máxima, o que congrega
direitos humanos, individuais, ambientais e coletivos (SACHS, 2000).
35
Considerando o exposto, a Base Nacional Comum Curricular preconiza competências
e habilidades a serem alcançados pelos estudantes mediante os seus aprendizados nas ciências
humanas e sociais, linguagens e códigos, matemática e suas tecnologias e ciências da
natureza, que trabalhem na educação básica conteúdos e metodologias que instiguem o corpo
discente a uma perspectiva mais crítica e preocupada/responsável com problemas os
socioambientais e idealizadora do desenvolvimento sustentável (BRASIL, 1996).
Salienta-se, porém, que em transcendência aos currículos escolares e dinâmicas
institucionais, a educação informal para a sustentabilidade desempenha um papel salutar no
que tange à conscientização dos cidadãos e fomento de experiências socioambientalmente
benfazejas. Sobre os fluxos educacionais não-formais, discorre Gadotti (2005):
A educação formal tem objetivos claros e específicos e é representada
principalmente pelas escolas e universidades. Ela depende de uma diretriz
educacional centralizada como o currículo, com estruturas hierárquicas e
burocráticas, determinadas em nível nacional, com órgãos fiscalizadores dos
ministérios da educação. A educação não-formal é mais difusa, menos hierárquica e
menos burocrática. Os programas de educação não-formal não precisam
necessariamente seguir um sistema sequencial e hierárquico de ―progressão‖. Podem
ter duração variável, e podem, ou não, conceder certificados de aprendizagem (p. 2).
Acresce-se, pois, que a educação socioambiental deve se assentar nos processos
educativos formais e não-formais, todavia, tais fluxos devem compartilhar de um objetivo
motriz: possibilitar experiências de ação-reflexão comprometidas com a libertação dos
sujeitos e viabilizadoras de intervenções reais em prol de contextos mais sustentáveis.
Perceptivelmente, este ideal se fundamenta em uma lógica pedagógica freiriana que, ao
conceituar e defender a chamada ―educação popular‖, advoga em prol de uma conjuntura
educacional em que os sujeitos interliguem praticamente os conteúdos abstratos apreendidos
com a resolução de problemas prévios que os atinjam, oportunizando vivências políticas de
empoderamento fundamentadas no falar, trabalhar, refletir e agir. Logo, contrapondo as
estruturas societárias dadas ratificadoras das opressões e geradoras de problemas
socioambientais, assim, sendo ideologicamente bem definidas em favor de realidades
includentes e equânimes (FREIRE, 2011).
2.4 O território em questão: bairro João Cabral
36
A cidade de Juazeiro do Norte, localizada no sul do estado do Ceará, cresceu em meio
a um fenômeno populacional ocasionado por migrações de romeiros do Padre Cícero Romão
Batista que, motivados por interesses religiosos e em busca de melhores condições de vida,
hipertrofiaram o até então vilarejo a um dos maiores municípios do interior do Ceará (Cidades
do Ceará,2012).
O desenvolvimento da região metropolitana do Cariri, onde se assenta Juazeiro do
Norte, é envolto do centro ―crajubar‖ - sigla relativa aos municípios de Crato, Juazeiro do
Norte e Barbalha - tendo em vista que são as cidades mais desenvolvidas economicamente e
urbanizadas, haja vista que segundo o censo do IBGE de 2010, na região em voga, Juazeiro
do Norte consta com 249.939 habitantes, Crato 121.428 habitantes e Barbalha, 55.323
habitantes (IBGE, 2010).
A cidade de Juazeiro do Norte teve o seu crescimento econômico e populacional de
forma rápida, formando, assim, os bairros centrais e os periféricos. Nesse contexto nasce o
bairro João Cabral, vulgo JC, em meados dos anos 70, possuindo uma extensão territorial que
se espalha até os limites das cidades de Barbalha e Crato, caracterizando-se como o segundo
maior bairro da região metropolitana do Cariri. Visto pela sociedade juazeirense como um
bairro marginalizado pelos altos índices de violência, a falta de saneamento básico e a
escassez do teor do sentido de sustentabilidade que se torna faltante mediante todos os
problemas enfrentados pelo território, o ―JC‖ segue sendo vilipendiado pelo poder público.
Mesmo com toda a estigmatização que sofre o João Cabral e sua população, a
comunidade em questão desnuda suas potencialidade já que, dentre outras questões, o bairro é
um berço de cultura popular tendo em vista os múltiplos e históricos grupos de tradição que
desenvolvem suas ações no território, tais como manifestações folclóricas, tradições religiosas
e grupos de tradição de reisado, lapinhas, etc. (MARIA,2019).
2.5 O LAURBS
O Laboratório de Estudos Urbanos, Sustentabilidade e Políticas Públicas (LAURBS)
consiste em um programa de extensão da Universidade Federal do Cariri relacionado a um
grupo de pesquisas homônimo de caráter interdisciplinar cujas ações, discussões e atividades
desenvolvidas se fundam em dois grandes eixos estruturantes: a) Políticas Públicas Setoriais e
b) Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade. Tais vertentes convergem para à noção de
desenvolvimento sustentável, que pode ser percebido nas mais diferentes escalas (local,
37
regional, nacional e internacional) e nas mais diferentes dimensões (ambiental, econômica,
social, política, cultural, espacial).
As ações do LAURBS se voltam para as escalas local e regional do desenvolvimento
sustentável, contemplando as diferentes dimensões que compõem o desenvolvimento
sustentável com vistas à melhoria da realidade socioambiental e econômica de localidades em
situação de vulnerabilidade social nos municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha
(Crajubar), principais centros urbanos e conurbação responsável pela criação da Região
Metropolitana do Cariri (RMCariri). Os eixos de atuação do LAURBS são desenvolvidos a
partir da realização de projetos específicos, a saber: Políticas Públicas: Projeto ―Vivências em
Políticas Públicas Setoriais – VIPPS; Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade: Projeto
Cariri URBS.
Os principais públicos-alvo do LAURBS são: 1) estudantes de ensino médio
residentes nos bairros João Cabral e Horto – Juazeiro do Norte –, bairro Alto da Penha –
Crato – e bairro Malvinas – em Barbalha –; 2) estudantes do curso de graduação em
Administração Pública e Gestão Social da Universidade Federal do Cariri. Não obstante, em
decorrência da drástica situação de vulnerabilidade socioambiental e a existência de diversas
problemáticas urbanas que necessitam de urgente intervenção pública, escolheu-se o bairro
João Cabral, em Juazeiro do Norte, como primeira localidade a ser trabalhada pelo presente
programa de extensão.
No que tange às metodologias adotadas para o desenvolvimento das intervenções
preconcebidas pelo programa, realizar-se-ão oficinas com estudantes da rede pública estadual
de ensino, as quais estarão subdivididas em quatro distintos módulos, que versarão,
respectivamente, sobre: 1) realidades socioambientais dos bairros; 2) desenvolvimento
sustentável; 3) Políticas públicas, participação e controle social; 4) Diálogo presencial dos
estudantes com o poder legislativo municipal. É mister lembrar que o programa preconiza,
ainda, a promoção de atividades (eventos, minicursos, dentre outras) direcionadas aos
graduandos em Administração Pública e Gestão social, da instituição em voga.
Desse modo, a consecução das atividades do referido projeto conta como objetivo
norteador: promover ações de extensão, ensino e pesquisa relativas a questões urbano-
regionais, sustentabilidade e políticas públicas a partir do estabelecimento de diálogo entre
população, Estados e organizações do terceiro setor. Para tanto, seus objetivos específicos
38
baseiam-se em: a) direcionar a construção de conhecimentos críticos acerca das questões
urbano-regionais, sustentabilidade e políticas públicas; b) incentivar o protagonismo
estudantil e comunitário em ações de sustentabilidade em comunidades caracterizadas como
de vulnerabilidade socioambiental; c) propiciar meios de aproximação entre Sociedade-Estado
para o atendimento de demandas populares e melhorias nas condições de vida da população,
estimulando o controle social dos bens e serviços públicos.
3 Metodologia
O presente estudo de caso adota como objeto de investigação epistemológica as
observações dos discentes de graduação envolvidos na ação de extensão do LAURBS no
bairro João Cabral, Juazeiro do Norte - CE, no período 2019.1. Ademais, o artigo em questão
se configura, enquanto seus fins, como exploratório, pois, encontra-se em fase preliminar e
parte de um objeto com poucas informações sabidas, por se tratar de uma investigação
empírica. Já no tocante aos seus meios, a pesquisa em questão se materializa como uma
pesquisa-ação (VERGARA, 2000).
Ainda no que se refere à proposta de pesquisa-ação, cabe-se salientar que a mesma
congrega diferentes atores envolvidos no campo trabalhado e, de maneira cooperativa e
participativa, busca a retificação de problemas coletivamente identificados e legitimados. Por
fim, as principais etapas da modalidade de pesquisa em questão são: 1)Exploratória –
Identificação dos problemas e subdivisão de funções; 2)Levantamento de dados – Pesquisas
sobre indicadores relacionados ao problema em tratamento; 3)Discussão dos dados – Análise
das informações levantadas e proposições factuais; 4)Avaliação – Deliberação sobre os
acertos e falhas nos processos (VERGARA, 2000).
Portanto, para o processo de sistematização das informações e experiências, adotou-se
a prática denominada ―artesanato intelectual‖, que tal como expressa Mills (1982), consiste
em um complexo de elementos norteadores das investigações epistemológicas, sobretudo in
loco, de caráter social. Como instrumento magno de registro de observações, recomenda-se a
escrita perene de um diário de bordo, que deve ser cotidianamente produzido pelo pesquisador
em suas atividades.
É mister frisar que para o processo de sistematização das impressões, seguiu-se a
técnica de observação etnográfica defendida por Weber e Beaud (2007), logo, compõe-se
pelos fluxos de percepção, memorização e anotação. Além disso, inspirou-se em Weber e
39
Beaud (2007) para a escrita objetiva e clara dos diários de bordo, negociação com atores
durante os processos da pesquisa e táticas para bem observar os símbolos, sociabilidades,
ideologias e relações de poder pertinentes ao objeto analisado.
4 Resultados
Guiando-se pelo norte metodológico ora mencionado no presente artigo, a seguir
constam os relatos, impressões e representações sociais dos discentes envolvidos no programa
de extensão em voga sobre o fluxo de realização das oficinas previstas a serem realizadas no
bairro João Cabral, em Juazeiro do Norte – CE, no ano de 2019.
Fez-se a priori um mapeamento das instituições de ensino presentes no território do
bairro em evidência. Contudo, constatou-se que a localidade não possui organizações públicas
ou privadas de ensino médio. As instituições identificadas foram as escolas municipais de
ensino fundamental: EMEF Iva Emídio Gondim, EMEF Lili Neri e EMEF Jerônimo Freire
dos Santos. Ora, na etapa preliminar de identificação de possíveis parcerias
interorganizacionais, aferiu-se que o objetivo de atender a um público-alvo de adolescentes e
jovens seria dificultado pela inexistência de escolas secundaristas com potencial de existência
de tal grupo.
Visto isso, iniciou-se um processo de diálogo com as gestões escolares das instituições
supracitadas. No dia trinta e um de maio, do ano corrente, executou-se uma visita in loco ao
bairro João Cabral, ocasião na qual se desenvolveram interlocuções com os núcleos gestores,
no intento de lhes apresentar a proposta do LAURBS, bem como firmar convênios para o uso
do espaço físico das instituições no que tange à concretização das oficinas planejadas a serem
desempenhadas na comunidade.
Conquanto, as devolutivas foram contraproducentes ao almejado. Na EMEF Iva
Emídio Gondim, inicialmente, explicou-se à diretora a composição, objetivo e perspectiva
organizacional do LAURBS. Seguidamente, debruçou-se a tratar sobre a proposta de extensão
do laboratório, citando as propostas metodológicas e temáticas de cada uma das oficinas.
Além disso, entregou-se o ofício à direção e se explicou a proposta de parceria para com a
escola. Tão logo falamos do recebimento de pessoas de outras instituições na escola – durante
as oficinas –, fomos interrompidos abruptamente e informados da inviabilidade deste formato.
Perguntou-se o porquê da impossibilidade. Respondeu-se que a escola, anteriormente,
40
costumava disponibilizar seu espaço para ações externas da comunidade e outras instituições,
porém, por decorrências de más experiências que resultaram no furto de equipamentos da
escola, deliberou-se não mais ceder o espaço. O momento também contou com o desabafo da
gestão sobre os dilemas do fazer educacional no bairro, elencando casos de alunos
assassinados por envolvimento no tráfico de drogas, escassez de recursos e falta de estímulo
aos docentes. O que nos comoveu grandemente, apesar do notório desânimo no feedback
negativo em relação à proposta de parceria.
No tocante à comunicação com a EMEF Lili Neri, contou-se com a recepção da
diretora da instituição que com cordialidade nos ofereceu assento e nos ouviu atentamente.
Explicamos a proposta do projeto de extensão do LAURBS, bem como a composição
metodológica e temática das oficinas. Ela, prontamente, evidenciou a viabilidade da ação.
Porém, ao se explicar o público-alvo e proposta de recebimento de alunos de outras
instituições, o fervor inicial foi substituído pela alegação de que ao longo da semana os
espaços são ocupados pelas ações da escola com seus alunos – em tempo integral – e aos
finais da semana as dependências do espaço já são utilizadas por grupos de tradição e
quadrilhas juninas, logo, não haveria espaço para as ações.
Já no que se refere à EMEF Jerônimo Freire dos Santos, o núcleo gestor não pôde
receber a equipe de bolsistas, o que inviabilizou uma negociação em termos de firmamento de
acordos. Ademais, a escola em discussão não respondeu ao endereço eletrônico a ela
direcionada.
Mesmo com os percalços anteriormente comentados, soube-se da existência de uma
organização denominada ―Instituto Severino Duarte‖ que realizada, no bairro João Cabral,
ações sociais voltadas à geração de trabalho e renda, recreação, lazer e educação de crianças,
adolescentes, jovens e adultos. Contatou-se a atual responsável pela entidade e, ao se expor a
proposta do LAURBS, marcou-se uma reunião presencial a ser executada na sede da
organização.
Durante a reunião tratada, a responsável pela organização informou a situação do
instituto. O local não conta com apoio governamental para custeio de suas atividades, sendo
muitas delas desenvolvidas de forma voluntária, como assistência psicológica, aulas de
música e de Jiu-Jitsu.
41
Após exposta a metodologia e objetivos do laboratório, questionou-se sobre a
disponibilidade do local para desenvolvimento das ações, o que foi devolvido com tom
positivo. Além disso, o instituto se disponibilizou a divulgar as atividades com os moradores
no entorno do instituto.
A primeira oficina planejada foi composta por uma dinâmica pertinente à metodologia
cênica Teatro do Oprimido (TO). Tal ocasião consistiu na encenação da bolsista Anne
Caroline que, não se identificando civilmente, apresentou-se como membro de um órgão
governamental interessado em instalar na comunidade uma indústria de cimento intitulada
―CIAMENTO‖. Frisa-se que nenhum dos participantes se encontrava ciente da proposta, pois,
todos deveriam acreditar no discurso cênico apresentado pela atriz. Posteriormente, a mesma
indicou que as três escolas municipais de ensino fundamental presentes no bairro seriam
desinstaladas para a implantação do projeto industrial, além das residências localizadas em
um raio de determinados quilômetros, logo, as famílias seriam realocadas em um conjunto
habitacional localizado em uma zona longínqua – depois do lixão municipal e próximo à
cidade de Caririaçu – e já as escolas seriam reabertas no bairro Tiradentes – demasiadamente
distante da localização primeira –. Conforme se apresentavam tais questões, os estudantes
participantes se mostravam estagnados e perplexos com o despotismo da ação. No intuito de
estimulá-los a reagir, os bolsistas mostraram-se preocupados com a ação. Em seguida, o
primeiro participante respondeu com um gesto sua impressão da proposta, o mesmo utilizou
as duas mãos e fez sinal de legal invertido no intuito de demonstrar sua reprovação à
proposta. Como em efeito dominó, um outro estudante disse que aquilo era um absurdo e que
ele não gostaria de sair da sua escola e do seu bairro. A atriz apresentou a proposta afirmando
que aqueles que não possuem casa própria, teriam a mesma. Todavia, os participantes não se
convenceram.
Um jovem interrogou a atriz sobre o que ocorreria caso eles se negassem a sair de seu
território. Ao passo que se respondeu usar da força física em justificativa da utilidade pública
do local. Neste momento um dos jovens baixou a cabeça e ficou em contemplação do que
ocorria. Concomitantemente, ouviu-se o comentário de duas caladas meninas que falavam
―Eu não gostei disso não!‖. A atividade ficava cada vez mais sentimental e intensa para os
participantes, o que levou a interrupção da encenação e informar que aquilo se tratava de uma
42
―brincadeira‖. Os participantes passaram alguns instantes para discernir tudo que fora
apresentado e, em seguida, respiraram fundo e começaram a rir de tudo aquilo.
Convidaram-se os(as) presentes para compartilharem suas impressões e sentimentos
sobre o momento. Muitas foram as contribuições: houve quem apontou sua raiva e medo da
proposta; apontou-se o desejo de correr para sua casa e ficar lá com seus familiares; houve
quem indicou o desejo de ocupar sua escola e comunidade como ato de resistência à expulsão
proposta; indicou-se a falta de conhecimento sobre a possibilidade legal de expulsão de
pessoas de suas casas em prol da chamada ―utilidade pública‖; todavia, a unanimidade foi em
relação à suma discordância de tudo aquilo, inclusive por parte das participantes do gênero
feminino que, no início da atividade, pouco se expressaram. Um dos comentários que mais
me chamou a atenção foi quanto às propostas de resistência propostas pelos presentes, pois,
indicou-se que, caso a polícia fosse os retirar de suas casas e escolas, deveria-se resistir
fisicamente com o uso de facas, pistolas, instrumentos domésticos, etc., todavia, um deles
indicou que o melhor instrumento não é o ataque e nem a defesa, mas, a prevenção.
Perguntou-se sobre o que se poderia fazer para prevenir algo como o projeto encenado, ao que
se foi respondido que por meio de articulações coletivas. Logo, todos concordaram com a
máxima de que ―juntos somos mais fortes‖.
Prontamente, iniciou-se a dinâmica ―teia de vida‖. A mesma consistiu no
compartilhamento de potencialidades e problemas do bairro. Para tal, os(as) presentes
precisaram, inicialmente, externar um elogio ao bairro e, conforme faziam isso, jogavam uma
bola para um dos colegas que deveria fazer o mesmo sem que os elogios e pessoas se
repetissem. Em seguida, a última pessoa deveria ―desfazer a teia da vida‖ informando
problemas presentes no bairro e jogando a bola para o sujeito que a passou na primeira etapa
da atividade. Os principais elogios foram: união da comunidade; sociabilidade nas praças; o
Instituto Severino Duarte; a quadra de futebol, etc. Ao passo que os problemas foram:
violência, saúde pública; estigmas à comunidade; poluição; odor decorrente dos esgotos ;
pecados, etc. Sobre este último, fiquei bastante curioso, pois, a expressão pode ter sido
empregada para designar problemas sociais decorrentes do uso e venda de drogas ilícitas que
marcam negativamente o território, algo que também serviu para perceber que muitos deles
professam doutrinas evangélicas( protestantes).
43
Aproveitou-se a ocasião para se debater cada um dos problemas comentados e algo
que nos chamou a atenção foi quanto à maturidade nas respostas daqueles sujeitos tão jovens.
Informou-se que costumeiramente a unidade básica de saúde do bairro não oferta
medicamentos e consultas de qualidade, a polícia agride os moradores e os julga com diversos
preconceitos territoriais – elencaram-se experiências quanto a isso –, o bairro é bastante sujo
pela presença de esgotos à céu aberto e lixos residenciais descartados incorretamente, etc.
Sobre isso, tentou-se estimulá-los que, por meio de articulações políticas em conjunto, a
comunidade pode cobrar ao poder público respostas aos problemas públicos expostos por
eles.
No que concerne à segunda oficina trabalhada, buscou-se debater com os jovens o
conceito de sustentabilidade na sua forma mais holística, e que conexões com o território
seriam possíveis de se captar com tal termo. Inicialmente diligenciou-se tratar das
potencialidades de desenvolvimento do bairro João Cabral, para além de uma perspectiva
puramente economicista, citando exemplos como o Parque Timbaúbas, como possível
catalisador educacional de uma forma alternativa de se viver; bem como os diversos grupos
da cultura local extremamente presentes e necessários para a manutenção da memória e
pertença no território.
Após apresentar essa perspectiva, principiou-se expor a sustentabilidade a partir da
lente do desenvolvimento urbano, partindo de um caráter mais técnico, mas de forma
coloquial. Apresentou-se nesse momento as disparidades presentes no desenvolvimento
urbano, e na sustentabilidade implementada apenas para grupos seletos.
Seguidamente, achou-se importante fazer uma apresentação dos instrumentos
participativos da política urbana para os jovens presentes, tais como o plano diretor e a
fiscalização das aplicações de recursos conforme orçamento do município. Por fim, na
segunda oficina, também foi exposto questões relativas aos direitos sociais tais como a saúde,
a assistência social e a educação, e como, para muitos naquele momento, esses direitos lhes
eram negados, apesar de previstos na lei maior do estado democrático de direito do Brasil. Em
tal ponto da atividade se fez importante um questionamento das relações entre privilégios e
opressões, e quais conexões se poderia notar na territorialidade.
A terceira oficina objetivou dialogar com os(as) participantes sobre os problemas e
potencialidades socioambientais do território. Para tanto, o momento foi conduzido na Praça
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Carlos Cruz, vulgo ―CC‖, no mesmo bairro. O momento contou com a participação de
lideranças da comunidade, crianças e jovens que ocupam o espaço de tal praça. As discussões
travadas pautaram, sobretudo, as mazelas da segurança pública, violência policial, escassez de
espaços de sociabilidade adequados e a má qualidade do saneamento básico. Observou-se,
especialmente nos pronunciamentos dos jovens presentes, que os conflitos entre as facções
criminosas atuantes no município e truculência policial são latentes chagas aos moradores do
bairro. Não obstante, externou-se a realidade de estigmatização dos residentes na comunidade
por parte dos cidadãos de outras localidades, mídia e poder público local.
O planejado seria que ao término de tais oficinas, os(as) jovens fossem à Câmara de
Vereadores do município de Juazeiro do Norte – CE, para que os mesmos tivessem
oportunidade de externar ao poder legislativo municipal as demandas, problemáticas e
potencialidades do bairro João Cabral, bem como para propor possíveis alternativas.
Entretanto, tendo em vista que o valor majoritário dos(as) presentes nas oficinas foram
crianças, optou-se por suprimir tal etapa para, no período 2019.2, continuar o trabalho com
adolescentes e jovens e, assim, conseguir a condição magna para desenvolver o momento de
discussões no parlamento. Porém, o desenvolver dos fluxos no segundo semestre não
corroboraram para a edificação de tal ideia, pois, possíveis falhas na comunicação e
divulgação das ações levaram à falta de desinteresse por parte do público-alvo do programa
de extensão em evidência às oficinas propostas pelo LAURBS.
5 Considerações finais
Considerando o exposto, são perceptíveis as adversidades para a construção de uma
educação popular para a sustentabilidade, tendo em vista as simplificações que o tema recebe,
ou desinteresse dos atores. Sendo, o território urbano, um espaço de relações de poder
existente num sistema de produção capitalista, as problemáticas já podem ser vislumbradas
anteriormente ao desenvolvimento das ações, sendo mais notável no decorrer das atividades
(SOUZA, 2001).
Dedicou-se na construção de formas alternativas de educação voltadas para o
ecodesenvolvimento (SACHS, 2000) com vista a expor essas questões no parlamento
municipal, já que a participação social é pressuposto de uma pedagogia do oprimido (Cf,
45
FREIRE, 2011) utilizada pelo LAURBS. São através desses meios de inclusão societal que se
pretende atingir os objetivos já citados.
Apesar dos momentos profícuos que o laboratório proporcionou, e da boa estruturação
das oficinas, notou-se uma dificuldade na articulação para divulgação com o público-alvo que
o projeto propõe-se a atingir, destarte, recomenda-se uma maior energia direcionada a essa
etapa do processo para futuras reproduções. Além disso, considera-se que os percalços
enfrentados na busca de parcerias no bairro trabalhado são indicadores dos problemas
socioambientais existentes no território, o que deve, em atividades futuras, ser melhor
analisado e considerado nos veículos de contato e estruturação de ações.
Portanto, pensar e praticar um paradigma popular de educação para a sustentabilidade
não é uma fácil missão, sobretudo porque os modelos institucionais cristalizados e a falta de
desinteresse pelo tema marcam as complexas conjunturas ―subdesenvolvidas‖. Porém, a
experiência aqui narrada elucida a relevância da extensão universitária para o fomento de
práticas educacionais e comunitárias voltadas ao desenvolvimento regional sustentável.
Referências
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48
ÁREA TEMÁTICA: GT2 –MERCADOS AGRÍCOLAS E COMÉRCIO EXTERIOR
DESEMPENHO EXPORTADOR DE LAGOSTAS NO ESTADO DO CEARÁ
MANOEL ALEXANDRE DE LUCENA
Graduando em Economia pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e Bolsista de
Iniciação Científica BPI FUNCAP. E-mail: manoelalexx123@gmail.com
YARA EUGÊNIO LEANDRO DE SOUSA
Graduanda em Economia pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e Bolsista de
Iniciação Científica BPI FUNCAP. E-mail:yaraeugenio@gmail.com
ELIANE PINHEIRO DE SOUSA
Professora do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri (URCA) e
Bolsista de Produtividade em Pesquisa, Estímulo à Interiorização e à Inovação Tecnológica
(BPI) da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(FUNCAP). E-mail: pinheiroeliane@hotmail.com
49
DESEMPENHO EXPORTADOR DE LAGOSTAS NO ESTADO DO CEARÁ
RESUMO
A lagosta é um pescado bastante exportado e de grande importância econômica para o país,
produzida especialmente no Nordeste brasileiro, com destaque para o estado do Ceará. Dada
sua relevância, este estudo busca mensurar o desempenho exportador cearense de lagostas
congeladas inteiras e, outras lagostas congeladas, exceto as inteiras, por meio de indicadores
de comércio internacional considerando o período de 2006 a 2018. Para isso, utilizaram-se os
indicadores de vantagem comparativa revelada, vantagem comparativa revelada simétrica,
vantagem comparativa revelada de Vollrath, e posição relativa. Os dados foram coletados do
comércio exterior brasileiro (ComexStat) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC). Os resultados indicaram que lagostas congeladas inteiras e outras
lagostas congeladas apresentam vantagem comparativa forte durante todo o período analisado.
Os índices de vantagem comparativa revelada simétrica e de Vollrath corroboram que os dois
segmentos de lagostas possuem vantagem comparativa revelada. Constata-se pelo índice de
posição relativa que o estado do Ceará é exportador líquido de lagostas.
Palavras-chaves: lagostas, indicadores de comércio exterior, Ceará.
PERFORMANCE OF LOBSTER EXPORTS IN THE STATE OF CEARÁ
ABSTRACT
Lobster is a very exported fish of great economic importance for the country, produced
especially in the Brazilian Northeast, in the state of Ceará. In view of this relevance, this
study aims to measure the Ceará export performance of whole frozen lobsters and other
frozen lobsters, except whole lobsters, by means of international trade indicators considering
the period from 2006 to 2018. For this, we used the indexes of revealed comparative
advantage, symmetrical revealed comparative advantage, Vollrath’s revealed comparative
advantage and relative position. Data were collected from the Brazilian foreign trade (Comex
Stat) of the Ministry of Development, Industry and Foreign Trade (MDIC). The results
indicated that whole frozen lobsters and other frozen lobsters have a strong comparative
advantage throughout the analyzed period. The symmetrical revealed comparative advantage
and Vollrath’s indices corroborate that the two lobster segments have revealed comparative
advantage. It can be seen from the relative position index that the state of Ceará is a net
exporter of lobsters.
Keywords: lobster, foreign trade indicators, Ceará.
50
1.Introdução
Em um ambiente em que a economia se torna cada vez mais globalizada, a inserção
internacional de um país é um dos elementos mais importantes para analisar sua dinâmica
comercial (DUARTE, 2016). Esta inserção passa a caracterizar as transações econômicas
entre as nações, o que envolve o comércio de bens e serviços, isto é, aquilo que o país vende e
adquire do exterior, ou seja, as exportações e importações, respectivamente (FREIRE;
BARROSO, 2018).
Dentre as atividadesexportadas, a pesca se destaca comouma das mais antigas
desenvolvidas no Brasil, sendo utilizada tanto para subsistência, como para geração de renda.
De acordo com Silva e Fonteles Filho (2011), os produtos de pescado exportados referem-se
às três categorias: peixes, crustáceos e moluscos, com destaque para os crustáceos,
principalmente em valor da receita gerada por camarões e lagostas.
No tocante ao complexo pesqueiro, houve algumas modificações com o passar do
tempo, saindo de uma condição de principal executor das fases do processo produtivo,
tornando-se, sobretudo, uma indústria de beneficiamento e exportação, já que para custear o
dispêndio em divisas no Brasil e obter superávits na balança comercial, faz-se necessário
fomentar as exportações por meio de estímulos para ampliar a produção que se destina aos
mercados com grande poder aquisitivo, de tal forma que sejam evitados problemas
decorrentes do fenômeno conhecido como ―demanda insatisfeita‖. Nesse contexto, o
gerenciamento da pesca e a busca pela inovação são essenciais ao bem-estar socioeconômico
do setor lagosteiro (SILVA, FONTELES FILHO, 2011).
A lagosta é um pescado bastante exportado, e de grande importância econômica para o
país, produzida especialmente no Nordeste brasileiro, com destaque para o gênero
Panulirusssp. A grande exploração deste crustáceo na costa Nordeste ocorre por conta do seu
alto valor comercial (FONSECA, 2010).
Para Silva e Fonteles Filho (2011), o sucesso da exportação lagosteira no Brasil é
registrado principalmente no estado do Ceará, pois este foi responsável pela formação de um
forte complexo pesqueiro industrial que estendeu a atuação da frota cearense a toda a área de
distribuição desse recurso no Norte e Nordeste, cobrindo os três setores da cadeia produtiva:
primário – a captura; secundário – a industrialização; e terciário – a comercialização (SILVA,
FONTELES FILHO, 2011). Dados do Governo do Estado do Ceará (2019) confirmam
51
queoestado cearense lidera oranking das exportações de pescados no Brasil em 2019,
ultrapassando os estados do Pará e de Santa Catarina.
Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC,
2019), para o ano de 2018, dos US$ 250.683.612 da receita atingida pelas vendas de peixes e
crustáceos, molusco e outros invertebrados brasileiros no comércio internacional, o Ceará
contribuiu com 24,9% deste valor, o que corresponde a US$ 62.441.318. Tratando-se de
crustáceos, dados da mesma base mostram que, dos 2.566.872 quilogramas líquidos enviados
do país para o exterior, as exportações cearenses contribuíram com 1.444.375 quilogramas
líquidos em 2018. Em termos de faturamento, dos US$ 73.983.572 advindas das vendas de
crustáceos pelo Brasil no mercado internacional, o Ceará foi responsável por 56,9% deste
valor.
Considerando as lagostas congeladas, um segmento desagregado de crustáceos, dados
do MDIC (2019) atestam a liderança da região cearense neste segmento. No ano de 2018, as
exportações brasileiras de lagostas congeladas contribuíram com US$ 2.314.515 para a
balança comercial, e destas divisas, US$ 1.430.489, ou seja, 61,8% foram provenientes da
receita das exportações deste produto pelo estado do Ceará.
Tendo em vista a expressividade destes dados, estudos que mensuram desempenho
exportador cearensede crustáceos, especialmente no que se refere às lagostas congeladas,
revestem-se de importância. De acordo com Petrauski et al. (2012), a construção de
indicadores de comércio internacional assume papel importante para a formulação de
estratégias competitivas que busquem nortear as decisões públicas e privadasobjetivando
melhorar a participação destas commodities no comércio exterior.
Mesmo diante de tal relevância, são poucos os trabalhos que discorreram sobre o
comércio internacional de crustáceos no Nordeste e, particularmente, no estado do Ceará,
podendo citar os estudos de Soares, Sousa e Barbosa (2013); Ximenes e Vidal (2018); e Melo,
Braga e Amaral Filho (2019). Oprimeiro avaliou o desempenho exportador de 12 principais
produtos do agronegócio cearense no período de 2001 a 2011, sendo que o segmento de
lagostas foi um dos considerados. O segundo mostrou o desempenho das exportações de
lagostas no Brasil e de crustáceos no Nordeste no período de 2008 a 2017. Jáo terceiro
realizouuma análise setorial do comércio exterior do Ceará, incluindopeixes e crustáceos,
molusco e outros invertebrados considerando o período de 1989 a 2016. Destes estudos,
52
somente o primeiro abordou diretamente lagostas e utilizou indicadores de comércio
internacional como vantagem comparativa revelada de Vollrath, contribuição ao saldo
comercial, competitividade revelada e comércio intraindústria. Neste presente trabalho, além
de se empregar os indicadores de vantagem comparativa revelada simétrica e de posição
relativa, que não foram considerados no estudo de Soares, Sousa e Barbosa (2013), contempla
uma série temporal mais recente de 2006 a 2018, visando atualizar as discussões sobre este
campo, além de desagregar o segmento de lagostas em congeladas inteiras e outras lagostas
congeladas.
Posto isto, este artigo busca mensurar o desempenho exportador cearense de lagostas
congeladasinteiras e, outras lagostas congeladas, exceto as inteiras, por meio de indicadores
de comércio internacionalconsiderando o período de 2006 a 2018.
2. Referencial Teórico
Em meio à globalização e inserção expressiva das economias no comércio mundial
assistida nos últimos anos, é de se imaginar que o comércio internacional seja algo recente.
No entanto, embora incipiente, a comercializaçãoentreas nações está presente desde a
Antiguidade, experimentando crescimento em decorrência da expansão geográfica, das
grandes navegações e outros fatores que tornaram esta atividade mais dinâmica (FREIRE;
BARROSO, 2018). Foi de encontro a isso, que os teóricos deste campo buscaram formular
teorias que possibilitassem compreender o comércio internacional.
Dessa forma, de acordo com Coutinho et al. (2005),estas discussões, que sugiram na
segunda metade do século XVIII, influenciaram a teoria econômica moderna. Tais autores
esclarecem que neste período o conhecimento sobre o comércio exterior era baseado na visão
mercantilista que via nessa atividade a oportunidade de obter excedente na balança comercial.
Goussi e Mendonça (2018) complementam afirmando que o pensamento mercantilista
defendia que uma nação se tornava rica por meio da acumulação de metais preciosos e que
essa riqueza era medida pelo volume de metais necessários para gerar um superávit na
balança comercial.
Em oposição à visão mercantilista, ao sistematizar as ciências econômicas no livro A
Riqueza das Nações, Adam Smith apresenta uma análise das trocas internacionais focalizando
nos objetivos dos agentes e não da nação de forma geral (OLIVEIRA, 2007). O produto desta
análise é a Teoria das Vantagens Absolutas. Esta concepção, nas palavras de Coutinho et al.
53
(2005), é que a vantagem absoluta de um pais na produção de um bem ocorre quando este
utiliza a menor quantidade de insumos e, assim, enfrenta um custo menor.
A visão de Smith, conforme Oliveira (2007), é que os países exportam os itens que
produzem com custo de produção absoluto menor e importam àqueles nos quais, seus custos
produtivos absolutos são superiores aos dos demais países. Deste modo, cada país deveria se
especializar na produção do produto que detém vantagem absoluta (SMITH, 1985). Nesse
aspecto, cabe-se especular se uma nação que não possuísse vantagens absolutas em seu
parque produtivo ficaria fora do comércio. A resposta a isso é negativa e abre espaço a Teoria
das Vantagens Comparativas.
A Teoria das Vantagens Relativas foi desenvolvida pelo economista inglês David
Ricardo. De acordo com Soares, Sousa e Barbosa (2013), o pressuposto desta corrente é que
um país possuiria vantagens comparativas na produção de produto quando seu custo de
oportunidade para produzi-lo fosse inferior ao de produzir outro bem. Coutinho et al. (2005)
acrescentam que tais vantagens advêm da diferença de produtividade do fator trabalho que é
empregado na produção destes produtos. Vale ressaltar que tanto a Teoria das Vantagens
Absolutas quanto das Vantagens Relativas são baseadas na Teoria do Valor Trabalho. Isto é, o
trabalho é visto como elemento equalizador das trocas (OLIVEIRA, 2007).
Todavia, Krugman e Obstfeld (2010) apontam que no mundo real as vantagens
comparativas não são explicadas totalmente pela diferença na produtividade do trabalho, de
forma que o comércio também reflete as diferenças nos recursos disponíveis em cada país. O
principal modelo que enfatiza essa concepção foi desenvolvido pelos economistas suecos Eli
Heckscher e Bertil Ohlin, e, por isso, é conhecido na literatura como Teoria de Heckscher-
Ohlin. Esta teoria relaciona as proporções em que os fatores de produção estão disponíveis
nos diversos países com as proporções que eles são empregados na produção de diferentes
produtos, isto é, a vantagem comparativa decorre da abundância de fatores e da intensidade
relativa que são utilizados no processo produtivo (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).
Nestes moldes, o modelo de Heckscher-Ohlin, conforme Santos e Sousa (2019),
pressupõe que cada país se especializará na produção dos bens em que o processo produtivo
emprega de forma intensiva o fator de produção abundante naquele país. Goussi e Mendonça
(2018) concordam com esta colocação, porém apontam que apesar da Teoria de Heckscher-
54
Ohlin ter obtido sucesso para explicar os padrões do comércio internacional, ela não aceita a
realidade do comércio atual por não comportar as diferenças na tecnologia.
A superação de tais limitações só ocorreu na década de 1970 com o advento da Nova
Teoria do Comércio Internacional, que rompe com o arcabouço tradicional que era centrado
nas hipóteses de concorrência perfeita e retornos constantes (CAVALCANTI, 1997). Essa
nova corrente é caracterizada por, além de assumir a hipótese de concorrência imperfeita,
contemplar as chamadas economias de escala afirmando que estas podem advir de fatores
tecnológicos e estruturas de mercado. Krugman (1979) eHelpman (1981) são considerados os
principais teóricos desta corrente (GOUSSI; MENDONÇA, 2018).
Uma abordagem recente da teoria do comércio internacional diz respeito ao trabalho
desenvolvido por Michael Porter (1998). Em um enfoque que contesta as teorias clássicas do
comércio internacional, Porter (1998) foi além dos conceitos de vantagens absolutas e
comparativas, ao elucidar as vantagens competitivas entre as economias. Braga, Vilhena e
Lima (2017) esclarecem que a defesa da vantagem competitiva, proposta por Porter (1998),
tem por base a utilização da microeconomia visando explicar o desempenho econômico das
nações e elencam os motivos que levam um país a se destacar mais que outros em
determinados segmentos industriais.
Acerca da análise qualitativa da competitividade de um país, Reis (2008) destaca que o
principal elemento advindo do estudo de Porter (1998) consiste no que a literatura denomina
―Diamante de Porter‖. Neste arcabouço teórico, a eficiência competitiva é condicionada a um
conjunto de variáveis que são explicitadas em seis determinantes, a saber: fatores de
produção; condições de demanda; indústrias correlatas; estrutura e estratégia das empresas;
papel do governo e papel do acaso (REIS, 2008).
Por outro lado, Pinheiro, Moreira e Horta (1992) afirmam que a competitividade
depende de uma série de fatores, como tecnologia disponível e da eficiência com que é
utilizada, dos preços dos insumos de produção, entre outros. Estes autores acrescentam que a
diversidade de variáveis que afetam a competitividade permite que ela possa ter diversas
definições associadas a diferentes indicadores. Almeida et al. (2007) justificam essa colocação
afirmando que tal diversificação na construção de indicadores se deve ao fato dos diferentes
objetivos de estudos que levam em consideração indústria ou empresas específicas, ou por
outra via, ao focalizar competitividade de países ou nações.
55
No cerne desta discussão, Pinheiro, Moreira e Horta (1992) apresentam três vertentes
para analisar a competitividade de uma economia: desempenho (associa a competitividade de
um país a sua performance no comércio internacional); macro (mensura a competitividade a
partir do conjunto de variáveis que depende da política econômica do país, como a taxa de
câmbio e os subsídios às exportações); e eficiência (atribui a competitividade do país a sua
capacidade de produzir bens com níveis de eficiência e qualidade superior aos seus
concorrentes).
Petrauski et al. (2012)apontam que os indicadores de desempenho possuem caráter
absoluto ou relativo. Os indicadores absolutos se destinam à comparação do desempenho
competitivo de um país em relação com os concorrentes do comércio mundial em seus
respectivos produtos. Já os indicadores relativossão embasados na teoria da vantagem relativa
e mensuram o desempenho de um setor especifico e o desempenho dos demais setores do
país. Conforme mencionado, este estudo empregou estes indicadores, que serão discorridos na
seção seguinte.
3. Metodologia
3.1 Índice de Vantagem Comparativa Revelada (IVCR)
Conforme Souza, Bonjour e Figueiredo (2009), o Índice de Vantagem Comparativa
Revelada (IVCR) permite uma análise concisa do desenvolvimento das exportações do
produto considerado. Esse índice é uma medida clássica em termos de emprego na literatura
sobre comércio externo e foi proposta, inicialmente, por Bela Balassa em 1965, sendo
baseado nas Vantagens Comparativas de Ricardo, segundo Nascimento (2018).
Matematicamente, o IVCR é expresso pela equação (1):
( ⁄ )
( ⁄ ) ( )
Em que: lagostas congeladas; = valor das exportações de lagostas congeladas no
Ceará; = valor das exportações do Ceará; = valor total das exportações brasileiras de
lagostas congeladas; = valor total das exportações brasileiras.
No que tange à classificação do IVCR, este estudo adotou a abordagem proposta por
Hinloopen e Marrewijk (2001), em que: se , o estado ou região não possui
vantagem comparativa revelada nas exportações do produto; se , a economia
exportadora do item analisado responde com vantagem comparativa fraca; se ,
56
este apresenta vantagem comparativa média; e se , possui vantagem comparativa
forte.
De acordo com Nascimento (2018), o Índice de Vantagem Comparativa Revelada é
uma razão de proporções, uma que vez que expressa uma divisão entre a participação das
exportações de um produto nas exportações de uma região ou país e os valores exportados
deste mesmo produto na pauta das exportações nacional ou mundial. Portanto, o IVCR
apresenta alguns problemas, como, por exemplo, ser um índice assimétrico e registrar uma
dupla contagem das exportações do setor no país e do país nas exportações mundiais. Para
contornar tais problemas, serão propostos, respectivamente, nas seções 3.2 e 3.3, os Índices de
Vantagem Comparativa Simétrica (IVCRS) e de Vantagem Comparativa Revelada de
Vollrath (RCAV).
3.2 Índice de Vantagem Comparativa Revelada Simétrica (IVCRS)
Conforme supracitado, o Índice de Vantagem Comparativa Revelada de Balassa é
assimétrico, já que, no intervalo entre 0 e 1, apresenta desvantagem comparativa e, entre 1 e
infinito, o produto detém vantagem comparativa. A fim de superar esta limitação e ajustar o
IVCR tornando-o simétrico em torno do seu valor neutro, Laursen (2015) recomenda
empregar o Índice de Vantagem Comparativa Revelada Simétrica (IVCRS). Esse índice pode
ser expresso pela equação (2):
( )
Em conformidade com Copetti e Coronel (2019), o IVCRS varia entre -1 e 1. Para
estes autores, se o índice estiver entre -1 e 0, o estado não apresenta vantagem comparativa
revelada na exportação do produto e, caso o indicador esteja compreendido entre 0 e 1, a
economia analisada detém vantagem comparativa revelada no comércio internacional do item
em questão.
3.3 Índice de Vantagem Comparativa Revelada de Vollrath (RCAV)
Para resolver o problema da dupla contagem apresentada no cômputo do IVCR,
Bender e Li (2002) propõem o Índice de Vantagem Comparativa Revelada de Vollrath
(RCAV). Tal índice pode ser expresso pela equação (3):
57
(∑ )
(∑ )
[(∑ ∑ ) (∑ )] [(∑ ) ]
( )
Em que: = lagostas congeladas; = valor das exportações de lagostas congeladas no estado
do Ceará; ∑ = valor total das exportações do Ceará; ∑ = valor das exportações
brasileiras de lagostas congeladas;∑ ∑ = valor total das exportações brasileiras.
A classificação proposta por Bender e Li (2002) e adotada por Soares, Sousa e
Barbosa (2013) para o RCAV considera que o estado ou região apresenta vantagem
comparativa revelada de Vollrath nas exportações do produto, se este indicador for superior à
unidade. Caso contrário, ocorre desvantagem comparativa revelada de Vollrath.
3.4 Índice de Posição Relativa (POS)
Outro indicador de competitividade empregado neste estudo é o Índice de Posição
Relativa (POS). De acordo com Petrauski et al. (2012), a função deste indicador consiste em
apontar a posição de um país (ou estado) no mercado mundial de um produto. Ressalta-se
que, assim como os demais índices apresentados, o POS é uma medida de competitividade
revelada, isto é, especifica os preços pós-comércio, o que a literatura denomina de dados ―ex-
post‖ (PETRAUSKI et al., 2012).
Esse índice pode ser computado pela equação (4):
[( )
](4)
Em que: lagostas congeladas; = valor das exportações de lagostas congeladas no Ceará;
= valor das importações de lagostas congeladas no Ceará; = valor brasileiro
(exportações + importações) de lagostas congeladas.
Em consonância com Coronel, Sousa e Amorim (2011), quanto maior for o POS, mais
intensa é a participação da commodity analisada no comércio internacional e sendo este índice
positivo, sinaliza que o estado é um exportador líquido e caso contrário, a economia será
importadora líquida.
58
3.5 Fonte e Tratamento dos Dados.
Os dados de exportações e importações do Ceará e do Brasil requeridos para a
construção dos indicadores foram obtidos junto ao ComexStat do Ministério da Indústria,
Comércio Exterior e Serviços (MDIC, 2019) expressos em FreeonBoard(FOB) em dólares,
considerando o horizontal temporal de 2006 a 2018. Foram colhidos dados relativos às
lagostas congeladas, desagregadas em: lagostas (Palinurus spp., Panulirus spp., Jasus spp.)
inteiras congeladas; eoutras lagostas (Palinurus spp., Panulirus spp., Jasus spp.) congeladas,
exceto as inteiras, cuja a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) é indicada,
respectivamente, NCM 03061110 e por NCM 03061190.
4. Análise e discussão dos resultados
4.1 Índice de Vantagem Comparativa Revelada (IVCR)
A Tabela 1 apresenta os valores calculados do Índice de Vantagem Comparativa
Revelada (IVCR) para as exportações de lagostas congeladas inteiras, e das lagostas
congeladas, exceto as inteiras, para o período de 2006 a 2018, no estado do Ceará.Com base
na classificação proposta porHinloopen e Marrewijk (2001) e adotada neste trabalho, percebe-
se que, em todos os anos analisados, a exportação de lagostas apresentou vantagem
comparativa forte nos dois segmentos deste crustáceo. Isso sinaliza que as exportações deste
produto são essenciais para a geração de divisas.
Tabela 1 - Índice de Vantagem Comparativa Revelada das exportações cearense de lagostas
congeladas, 2006 – 2018
Ano Lagostas congeladas inteiras Lagostas congeladas, exceto as inteiras
2006 123,22 64,03
2007 92,01 49,51
2008 136,82 62,88
2009 133,89 98,82
2010 93,70 113,24
2011 176,61 113,22
2012 180,99 107,87
2013 170,45 101,29
2014 153,07 94,04
2015 157,78 102,67
2016 95,20 84,02
2017 75,35 54,40
2018 69,62 58,66
59
Média 127,59 84,97
TAC¹ 0,09 1,80
Fonte: elaborada pelos autores a partir de dados do MDIC (2019).
¹Corresponde à taxa média anual de crescimento.
Nos últimos anos, mais especificamente, a partir de 2016, o IVCR mostra uma
pequena queda, tanto para as lagostas inteiras congeladas, como para as inteiras, exceto
congeladas. Isso pode ter sido atribuído ao fato de uma queda na produção do produto devido
à exploração desenfreada no estado cearense. Como mostra Ximenes e Vidal (2008), a lagosta
é bastante explorada no Ceará, tanto legalmente, como ilegalmente. Desta forma, os estoques
de lagostas estão ameaçados, fazendo-se necessário que o governo invista no
reestabelecimento dos estoques do produto, sendo apresentadas alternativas de pescas, e ainda
um maior controle para que a pesca ilegal seja combatida.
Conforme se verifica, o Índice de Vantagem Comparativa Relevada mostra-se muito
elevado durante todo o período, com apenas pequenas oscilações, se dando ao fato do estado
cearense ser um dos maiores exportadores de lagosta do Brasil.De acordo com Soares, Sousa
e Barbosa (2013), o Ceará é um dos estados brasileiros que apresenta destaque nas
exportações de produtos do agronegócio, ocupando o primeiro lugar nas exportações
brasileiras de alguns produtos, dentre eles, a lagosta.
4. 2 Índice de Vantagem Comparativa Revelada Simétrica (IVCRS)
Os valores computados para o Índice de Vantagem Comparativa Revelada Simétrica
(IVCRS) para os segmentos de lagostas congeladas inteiras e demais lagostas congeladas,
exceto as inteiras são apresentados na Tabela 2. Os resultados corroboram o IVCR. De acordo
com a classificação adotada neste estudo, o estado do Ceará apresentou vantagem
comparativa para o período de 2006 a 2018 para os dois segmentos de lagostas congeladas,
cuja a média obtida foi de 0,98 para as inteiras e 0,97 para as lagostas congeladas com
exceção das inteiras.
Tabela 2 - Índice de Vantagem Comparativa Revelada Simétrica das exportações cearense de
lagostas congeladas, 2006 – 2018
Ano Lagostas congeladas inteiras Lagostas congeladas, exceto as inteiras
2006 0,98 0,97
60
2007 0,98 0,96
2008 0,99 0,97
2009 0,99 0,98
2010 0,98 0,98
2011 0,99 0,98
2012 0,99 0,98
2013 0,99 0,98
2014 0,99 0,98
2015 0,99 0,98
2016 0,98 0,98
2017 0,97 0,96
2018 0,97 0,97
Média 0,98 0,97
TAC¹ -0,10 -0,02
Fonte: elaborada pelos autores a partir de dados do MDIC (2019).
¹Corresponde à taxa média anual de crescimento.
Em ambos os segmentos contemplados neste trabalho, os valores do IVCRS foram
superiores a 0,96 mostrando quanto o estado do Ceará é competitivo com relação às
exportações de lagostas congeladas, haja vista, conforme afirmam Copetti e Coronel (2019),
quanto mais próximo de 1 estiver o IVCRS, mais competitivo é a economia em questão.
Embora os valores tenham ficado próximos à unidade, observam-se que os dois segmentos
registraram um decréscimo médio anual durante o período analisado.
4.3 Índice de Vantagem Comparativa Revelada de Vollrath (RCAV)
O Índice de Vantagem Comparativa Revelada de Vollrath (RCAV) para as
exportações de lagostas congeladas, desagregadas em inteiras e não inteiras, é apresentado na
Tabela 3. Do exposto, observa-se que os resultados do RCAV corroboram o IVCR e IVCRS.
No que tange às lagostas congeladas inteiras, observa-se que a série inicia com uma redução
dos valores do RCAV entre os anos de 2006 e 2008. Essa trajetória de queda é interrompida
pelo expressivo crescimento do índice em 2009, que representa um valor 278,7% que aquele
obtido em 2006.
Ainda sobre este segmento, essa trajetória ascendente é reduzidaem grande magnitude
no ano de 2010, em que o RCAV respondeu com apenas 9,6% com relação ao valor obtido
pelo índice no ano anterior. Este impacto pode ser atribuído aos efeitos advindos da crise do
subprime, que se iniciou nos Estados Unidos nos anos de 2008 e 2009 e propagou para a
economia mundial. O estudo de Soares, Sousa e Barbosa (2013) corrobora estes resultados
61
Não foi possível determinar o RCAV para os anos de 2013 e 2014 em virtude que,
nestes anos, o Ceará foi o único estado a registrar exportações destes produtos no Brasil. Os
demais anos analisados seguiram uma trajetória oscilatória decrescente.
Tabela 3 - Índice de Vantagem Comparativa Revelada de Vollrath das exportações cearense
de lagostas congeladas, 2006 – 2018
Ano Lagostas congeladas inteiras Lagostas congeladas, exceto as inteiras
2006 846,33 119,00
2007 266,18 78,17
2008 1.151,60 107,80
2009 2.359,00 334,17
2010 226,45 408,59
2011 5.303,33 305,44
2012 3.233,72 250,41
2013 - 254,75
2014 - 248,45
2015 1.147,66 240,60
2016 285,76 205,34
2017 276,02 114,94
2018 217,50 138,16
Média - 215,83
TAC¹ - 12,52
Fonte: elaborada pelos autores a partir de dados do MDIC (2019).
¹Corresponde à taxa média anual de crescimento.
Relativo às outras lagostas congeladas, exceto as inteiras, as exportações no estado
têm uma magnitude menor. A menos isso, a trajetória seguida é a mesma desenhada pelas
exportações de lagostas congeladas inteiras no que diz respeito ao RCAV. O ano de 2007
respondeu com o menor valor na série analisada, seguido por uma trajetória ascendente, mas
atenuada pela queda sequencial entre os anos de 2013 a 2017. Conforme a Associação
Brasileira de Reciclagem Animal (ABRA, 2019), a redução das exportações de lagostas em
2016 e 2017 pode ser explicada pela demora do Ministério da Agricultura em emitir licenças
para a pesca e produção deste pescado.
4.4 Índice de Posição Relativa (POS)
Com relação aos indicadores que mensuram a fatia de mercado de uma economia no
comércio internacional, o Índice de Posição Relativa (POS) visa mostrar a importância das
62
exportações de uma região ou estado de um produto em relação ao setor exportador nacional.
Conforme a metodologia adotada neste estudo (CORONEL; SOUSA; AMORIM, 2011), caso
o POS seja positivo, o estado analisado é um exportador líquido.
De posse desta classificação, os dados aferidos para o POS das exportações cearenses
de lagostas congeladas expostos na Tabela 4 permitem inferir que o estado do Ceará é um
exportador líquido desta commodity. Os valores para o segmento de lagostas congeladas
inteiras foram expressivos, cabendo destaque para os anos de 2013 e 2014. Estes dois anos
mostraram que o estado foi responsável por todo o volume exportado brasileiro destes
produtos. Todavia, em relação ao crescimento anual acumulado da participação das
exportações cearense desta commodity, os resultados mostram que o crescimento da posição
no mercado mundial foi ínfimo.
Tabela 4 - Índice de Posição Relativa do comércio internacional cearense de lagostas
congeladas, 2006 – 2018
Ano Lagostas congeladas inteiras Lagostas congeladas, exceto as inteiras
2006 85,53 44,45
2007 65,66 35,33
2008 88,16 40,52
2009 94,36 69,65
2010 58,85 70,94
2011 96,67 61,97
2012 94,42 56,27
2013 100,00 59,42
2014 100,00 61,44
2015 86,27 56,14
2016 66,51 58,70
2017 72,75 52,52
2018 68,15 57,42
Média 82,87 55,75
TAC¹ 1,23 4,15
Fonte: elaborada pelos autores a partir de dados do MDIC (2019).
¹Corresponde à taxa média anual de crescimento.
Os valores obtidos para o POS das exportações de lagostas congeladas, exceto as
inteiras, atestam a posição líquida do Ceará no comércio internacional de lagosta com relação
ao setor exportador nacional, apesar que os valores foram inferiores quando comparados
àqueles obtidos por lagostas congeladas inteiras. O ano de 2007 foi responsável pela menor
63
participação das lagostas congeladas cearense no comércio internacional. Para este ano, Melo,
Braga e Amaral Filho (2019) mostraram que quanto à participação relativa de peixes e
crustáceos, moluscos e outros invertebrados nas exportações do Ceará foram apenas de 4,66%
em relação as importações.
Soares, Sousa e Barbosa (2013) ao analisarem o desempenho exportador dos produtos
do agronegócio no estado do Ceará mostraram que lagostas apresentaram saldo positivo de
contribuição para as exportações do estado. Dessa forma, retifica-se a posição notória do
estado com relação ao Brasil no mercado internacional das exportações de lagostas.
5. Considerações finais
Ao analisar o desempenho exportador de lagostas no Ceará, foi evidenciado a grande
participação deste estado no comércio internacional deste crustáceo. Este desempenho foi
comprovado por meio dos resultados dos indicadores empregados. O Índice de Vantagem
Comparativa Revelada (IVCR) apresentou vantagem comparativa forte em todo o período
analisado, tanto para lagostas congeladas inteiras, como para lagostas congeladas exceto as
inteiras.
Os Índices de Vantagem Comparativa Revelada Simétrica (IVCRS) e Índice de
Vantagem Comparativa Revelada de Vollrath (RCAV) que foram computados visando
resolver problemas encontrados no IVCR atestaram a vantagem comparativa de lagostas nos
dois segmentos contemplados no presente estudo. O Índice de Posição Relativa mostrou que o
estado do Ceará é um exportador líquido destas commodities, apontando que o estado
cearense tem se destacado frente às exportações nacionais de lagostas congeladas.
A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que Ceará é um dos estados que mais
exporta peixes e crustáceos, moluscos e outros invertebrados no Brasil, especialmente no que
concerne às lagostas congeladas. Portanto, este produto é essencial para promover o ingresso
de divisas no país, para gerar emprego para os cearenses, para promover a manutenção da
renda, além de possibilitar o desenvolvimento econômico do país como um todo, ao melhorar
o saldo da balança comercial.
O estudo analisou o desempenho exportador de lagostas no estado do Ceará,
considerando os segmentos de lagostas inteiras e não inteiras. Para estudos posteriores, é
interessante expandir a análise utilizando o modelo ConstantMarketSharecom o intuito de
identificar os determinantes das exportações cearenses de lagostas.
64
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68
ÁREA TEMÁTICA: ECONOMIA REGIONAL E URBANA
O MODAL DE TRANSPORTES RODOVIÁRIOS DO BRASIL: INFRAESTRUTURA
E EFEITOS SOCIOECONÔMICOS
BRAZIL'S ROAD TRANSPORT MODAL: INFRASTRUCTURE AND
SOCIOECONOMIC EFFECTS
DHIEGO LÚCIO DA SILVA
Filiação: Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Rural de
Pernambuco – Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UFRPE-UAST).
E-mail: dhiego.lucio14@gmail.com
Telefone: (83) 9 9868-4314.
FERNANDA NUNES DA SILVA
Filiação: Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Rural de
Pernambuco – Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UFRPE-UAST).
E-mail: fernandamedeir17@gmail.com
Telefone: (83) 99865-7228
ANA PAULA FLORENTINO SANTANA
Filiação: Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Rural de
Pernambuco – Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UFRPE-UAST).
E-mail: aflorentinosantana@gmail.com
Telefone: (83) 99819-5933
LUIZ JUCIANO ALVES DOS SANTOS
Filiação: Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Rural de
Pernambuco – Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UFRPE-UAST).
E-mail: luiz.juciano0@hotmail.com
Telefone: (83) 99604-2814
MARIA DE NAZARÉ SOUZA SLVA
Filiação: Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Rural de
Pernambuco – Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UFRPE-UAST).
E-mail: nazare.souza@ufrpe.br
Telefone: (87) 99926-6954
69
O MODAL DE TRANSPORTES RODOVIÁRIOS DO BRASIL: INFRAESTRUTURA
E EFEITOS SOCIOECONÔMICOS
BRAZIL'S ROAD TRANSPORT MODAL: INFRASTRUCTURE AND
SOCIOECONOMIC EFFECTS
RESUMO:
O presente trabalho trata do modal de transportes rodoviário do Brasil, principal setor
responsável pelas movimentações de mercadorias, matérias-primas, animais e pessoas no
país. Objetivando analisar a situação desse setor nos últimos anos, o presente estudo levou em
conta o cenário econômico atual e seus reflexos. A metodologia utilizada teve como base o
levantamento bibliográfico exploratório, com um estudo sistematizado desenvolvido com
base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas e alicerçou-se
mediante fontes públicas. Os resultados evidenciaram que o setor rodoviário do país é de
extrema importância para o desenvolvimento econômico, mas, que ainda tem muitos
problemas socioeconômicos a serem revisados e superados.
Palavras-chaves: Transportes;Modal Rodoviário; Efeitos Socioeconômicos.
ABSTRACT: Thispaperdeals with the Brazilianroadtransport modal, themain sector responsible for
themovementofgoods, rawmaterials, animalsandpeople in the country. In
ordertoanalyzethesituationofthis sector in recentyears, thisstudytookintoaccountthe current
economicscenarioand its consequences. The
methodologyusedwasbasedontheexploratorybibliographicsurvey, with a
systematicstudydevelopedbasedon material published in books, magazines, newspapers,
electronic networks andbasedonpublicsources. The resultsshowedthatthecountry'sroad sector
isextremelyimportant for economicdevelopment, butthatthere are still
manysocioeconomicproblemstobereviewedandovercome.
Keywords:Transportation; Road Modal; SocioeconomicEffects.
70
1. INTRODUÇÃO
O serviço de transportes tem papel fundamental no desenvolvimento econômico de um
país. No Brasil, o transporte rodoviário é a principal alternativa para a movimentação tanto de
cargas quanto de pessoas, contribuindo significativamente para o desenvolvimento
socioeconômico nacional (QUEIROZ e FERNANDES, 2018).
Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT1, 2017), com uma participação
de cerca de 61% na matriz de transportes de cargas e de 95% na de passageiros, além de ter
uma grande participação no emprego da mão de obra para os mais diversos níveis de
qualificação, sendo o responsável pelo atendimento de mais de 70% das toneladas deslocadas
anualmente no país, o transporte rodoviário reafirmou-se como o principal responsável pela
integração de todo o sistema de transportes brasileiro.
Para Rangel (2009), o modal rodoviário tornou-se o principal meio de locomoção
porque, para o Governo Brasileiro, ele ofereceria uma forte integração do mercado interno,
permitiria a consolidação de um espaço geográfico mais fluido e dinâmico, além de que, por
uma percepção inicial, não seria necessários grandes investimentos de capital e a depreciação
poderia ser corrigida de forma gradual.
Neste contexto, torna-se evidente a importância que o setor de transportes, em especial
o rodoviário, tem para a economia brasileira, uma vez que representa o principal meio físico
responsável pelas interações socioeconômicas brasileiras. Desse modo, para que essas
interações se mantenham eficientes é necessária uma constante atenção no que diz respeito a
infraestrutura do setor (CAMPOS et al., 2016).
De acordo com Castro (2016), é unanimidade entre os estudiosos que uma
infraestrutura extensa, densa e de boa qualidade é condição necessária para a realização dos
serviços de transportes e, dessa forma, para o desenvolvimento socioeconômico de uma
região ou de um país. Para ele, os investimentos destinados a infraestrutura de transportes
ajudam a empresas a serem mais produtivas o que acarreta na expansão das mesmas e,
consequentemente, em crescimento econômico.
Entretanto, apesar de estudos apontarem que a disponibilidade da infraestrutura de
transportes aumenta a produtividade, que se reflete em dinamização econômica, o cenário
1 Esses estudos estão disponíveis em: <http://www.cnt.org.br/>.
71
brasileiro apresenta condições adversas no que se refere a infraestrutura de transportes
rodoviários (ALMEIDA et al., 2011).
Relatórios da CNT constatam que, o principal meio de locomoção de cargas e pessoas
no pais, o transporte rodoviário, dispõe de uma infraestrutura com qualidade inadequada e
quantidade insuficiente, de modo que a eficiência do serviço é afetada negativamente. Isso
gera uma gama de efeitos adversos, entraves ao desenvolvimento socioeconômico, como: o
aumento de custos operacionais, o desperdício de cargas, a maior probabilidade da ocorrência
de acidentes, impactos ambientais, entre outros. Desse modo, a qualidade e as condições
rodoviárias refletem diretamente na eficiência de demasiados setores, e consequentemente, no
próprio bem-estar socioeconômico.
Pautado nisso, este trabalho se dispõe a analisar a situação do modal rodoviário nos
últimos anos, levando-se em conta o cenário econômico atual. Visa-se ainda reunir o maior
número de dados disponíveis de modo que, a partir deles seja possível elaborar um panorama
para demonstrar a situação atual do modal rodoviário de transportes brasileiros e seus reflexos
sobre a economia, a saúde e o meio ambiente, buscando assim, enfatizar como essas
condições afetam diversos outros setores socioeconômicos.
O presente trabalho está estruturado da seguinte forma, além desta introdução: na
seção 2, está retratado a revisão de literatura; na seção 3, especifica-se a metodologia e a
bases de dados utilizadas na elaboração desse estudo; na seção 4, são demonstrados a
estrutura da malha rodoviária e seus impactos; e por fim, na seção 5, tem-se as considerações
finais.
2. REVISÃO DE LITERATURA
Pretendendo alcançar os objetivos estabelecidos pelo presente trabalho, esta secção
relaciona os estudos realizados por alguns autores, buscando evidenciar o vínculo
estabelecido pelo transporte rodoviário e o crescimento econômico.
Desde as primeiras décadas do século XX, o transporte tem sido uma das
preocupações e um dos entraves para o desenvolvimento do Brasil. A partir da década de
1940 com a inicialização da industrialização brasileira, a introdução do PSI (Processo de
Substituição de Importações) no primeiro Governo Vargas, o modal de transporte tem sido
72
uma pauta frequente nos planos dos governantes. No período citado acima, o setor foi uma
das principais barreiras ao crescimento e desenvolvimento do país, uma vez que dificultava o
escoamento das safras agrícolas, principalmente do café, prejudicando o nível de exportações,
a balança comercial e as escassas reservas internacionais da nação (ABREU, 2014;
QUEIROZ e FERNADES, 2018).
Partindo-se destes pontos, pode-se analisar como se deu a consolidação da malha
rodoviária brasileira, sendo assim, torna-se possível estabelecer um panorama histórico, o
qual está segmentado em três etapas: a primeira de 1940 a 1980, período no qual houve a
construção do estoque de capital, ou seja, a estruturação do modal rodoviário; a segunda de
1980 a 1990, caracterizada pela reestruturação e manutenção deste estoque de capital; por fim,
a terceira de 1990 aos anos 2000, referente a introdução do convênio privado na
administração e manutenção do setor rodoviário (SOUZA, 2010).
Na primeira etapa, de 1940 a 1980, foi realizada a construção de grande parte das
rodovias, ou seja, a fomentação de um massivo estoque de capital, elevando a produtividade
dos demasiados setores ligados à infraestrutura de transportes. Ressaltando que, devido a
presença de um Estado centralizador, o grande responsável pela implementação desses
investimentos, tornou-se viável a construção desta ampla malha rodoviária. Como destaca
Abreu (2014), a implementação do Plano Salte2 e do Plano de Metas3, que focaram em
produzir um boom na economia brasileira, foram fundamentais para o crescimento brasileiro
no período.
A segunda etapa, de 1980 a 1990, conforme o DNIT 4 (2001), o Governo se viu
obrigado a destinar sua atenção a planos para estabilizar a economia, devido a extrema
instabilidade econômica, o que consequentemente levou a redução nos investimentos para a
expansão e manutenção de vários setores, dentre eles o de transportes. O que levou ao
desgaste da malha rodoviária brasileira.
A última etapa, de 1990 aos anos 2000, é caracterizada por baixos investimentos do
governo federal no setor de transportes, somando-se a isso, a partir de 1995, o Governo se ver
esgotado, no que diz respeito ao setor de construção, reduzindo assim sua atuação como
2Plano de desenvolvimento, elaborado no Governo Dutra (1946–1951), que focava em pontos como: (S) saúde;
(AL) alimentação; (T) transporte e (E) energia. 3 Plano de aceleração do crescimento, elaborado no Governo Kubitschek (1956-1961), que visava expandir
rapidamente uma vasta gama de setores industriais e infraestruturais brasileiros. 4 DNIT: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Disponível em: <http://www.dnit.gov.br/>.
73
principal investidor e, então, começa a estabelecer parcerias público-privadas, visando manter
a eficiência do modal rodoviário brasileiro perante os outros diversificados setores a ele
ligados (SILVEIRA, 2009).
Ao analisar este contexto histórico, Queiroz e Fernandes (2018), concluíram que os
investimentos em infraestrutura de transportes são importantes para o crescimento econômico,
entretanto, a precariedade da dotação do sistema de infraestrutura prejudica fortemente a
economia nacional. Desse modo, importância dos transportes para o desenvolvimento de uma
nação constata-se através de características que demonstram o quanto dependente é desse
segmento.
Para Castro (2016), tomando como exemplo um segmento industrial, se este para por
algum tempo, a população poderá se manter com os estoques existentes; do mesmo modo, se
algum setor de comércio entrar em crise, as pessoas poderão tratar diretamente com os
produtores. Porém, se o setor de transportes parar, as mercadorias não chegarão até os
consumidores haja vista que não terá meios para realizar a distribuição; assim evidencia-se
que o transporte é um meio fundamental para funcionamento de qualquer economia.
No Brasil, uma série rodovias ainda apresentam estado de conservação ruim, o que
aumenta os custos com manutenção dos veículos. Sendo caracterizado pela simplicidade de
funcionamento, o transporte rodoviário possui a menor capacidade de carga e maior custo
operacional, comparado ao ferroviário ou aquaviário, além disso, enfrenta a diminuição da
eficiência das estradas em épocas de grandes congestionamentos.
O investimento em transporte tem importância fundamental na localização da
atividade econômica de uma economia em crescimento, pois os fluxos que ligam áreas de
produção e consumo frequentemente ainda não se encontram bem definidas. Os investimentos
em rodovias são bastante complexos, pois envolve uma série de problemas na seleção das
prioridades, apresentando geralmente impactos marcantes em vários outros setores do sistema
econômico.
Por se tratar de um país de dimensões continentais, o Brasil merece notoriedade no
que diz respeito a investimentos em infraestrutura para melhoramento das rodovias, uma vez
que estas são capazes de aperfeiçoar as condições de transitabilidade, influenciando
fortemente o PIB do país mediante a elasticidade renda. (CAMPOS et al., 2016).
74
Em razão dos impactos oferecidos pelo melhoramento ou precariedade oferecida pelas
rodovias, é importante destacar que apesar de complexos, os investimentos nestas vias geram
coeficientes positivos de grande significância para o país. Assim, um incremento no setor
transporte através dos gastos públicos, é capaz de trazer um aumento na taxa de crescimento
de determinada região do país. (CASTRO, 2016).
3. METODOLOGIA E BASE DE DADOS
3.1. Metodologia
O presente trabalho teve como base o levantamento bibliográfico exploratório, isto é,
um estudo sistematizado desenvolvido com base em materiais publicado em livros, revistas,
jornais, redes eletrônicas, utilizando uma abordagem quantitativa e qualitativa.
O presente estudo foi preparado a partir de resultados das Pesquisas CNT de Rodovias,
o mesmo alicerçou-se mediante fontes públicas, além de uma vasta investigação bibliográfica.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a CNT, o DNIT, o Ministério do
Trabalho (MT) – por meio da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), a Associação
Brasileira de Concessionária e Rodovias (ABCR) e a MC2R Inteligência Estratégica,
destacam-se com relação aos demais dados utilizados. Posterior ao estabelecimento do
objetivo de estudo e a recolha de informações, o diagnóstico contido nesse artigo foi
desenvolvido.
3.2. Base de Dados
Os dados coletados para a realização desse estudo englobam as demasiadas fontes
estatísticas brasileiras, todas as séries serão referentes aos últimos anos, de acordo com a
disponibilidades dos dados. Os períodos, dos quais são utilizados os dados, a partir do ano de
2006 até 20175, fortalecem ainda mais o objetivo do presente trabalho, que é dá ênfase as
5Algumas variáveis, devido a disponibilidade dos dados, não correspondem a esse período. Contudo, estão
catalogadas entre esses anos.
75
condições e os impactos socioeconômicos recentes, no que diz respeito ao modal rodoviário.
Seguem-se abaixo as variáveis:
Condições das rodovias: Com esta variável busca-se demonstrar a situação recente
da qualidade das rodovias brasileiras e como se encontram atualmente. Estes dados
foram retirados de relatórios da CNT e do DNIT.
Investimento em infraestruturas: Esta variável demonstrará a atenção financeira
tanto do Estado quanto do setor privado na manutenção e melhorias das condições
infraestruturais das rodovias. Dados encontrados em relatórios da CNT.
Frota de veículos (leves e pesados): Esses dados retratam a usabilidade do modal
rodoviário. Disponíveis na ABCR6.
Emprego: Variável utilizada para reforçar a importância do transporte rodoviário para
a economia. Dados retirados do portal do RAIS7 no Ministério do Trabalho.
Acidentes: Variável utilizada para demonstra como as condições das rodovias
impactam outros setores como o da saúde. Dados retirados da CNT.
Roubos de cargas:Para retratar um aspecto referente a segurança e a economia
ligados ao transporte rodoviário utiliza-se esta variável. Disponibilizada MC2R
Inteligência Estratégica.
Essas variáveis foram selecionadas por representarem fatores importantes diretamente
relacionados entre o modal de transportes rodoviários e o ambiente social e econômico do
Brasil. Nesse sentido, elas são extremamente relevantes para se avaliar a infraestrutura do
modal e os respectivos impactos que o mesmo propicia sobre o âmbito socioeconômico
brasileiro.
Quadro 01: Apresentação das variáveis utilizadas no estudo.
VARIÁVEL FONTE
Condições das rodovias CNT e DNIT
Investimento em infraestruturas CNT
Frota de veículos (leves e pesados) ABCR e CNT
6Associação Brasileira de Concessionária e Rodovias. Disponível em: <http://www.abcr.org.br/>.
7 Relação Anual de Informações Sociais. Disponível em: <http://trabalho.gov.br/rais>.
76
1.741.711,1 1.735.621
188.708,1 212.866,0
1.384.859,2 1.365.426,0
168.143,8 157.309,0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Total Pavimentada Não Pavimentada Planejada
Emprego RAIS
Acidentes CNT
Roubos de cargas MC2R Inteligência Estratégica
Fonte: Elaboração própria.
4. MALHA RODOVIÁRIA: Infraestrutura e efeitos socioeconômicos
Esta seção trata da estrutura física da malha rodoviária brasileira, bem como de suas
condições mais recentes, demonstra o cenário histórico de: investimentos em infraestruturas;
emprego; acidentes; e roubo de cargas.
4.1. A malha rodoviária do Brasil
Segundo o Sistema Nacional de Viação (SNV, 2017), a malha rodoviária brasileira
possui um total de 1.735.621 Km de rodovias, das quais apenas 212.886 Km são
pavimentadas (cerca de 12,3%). Dentre este total de rodovias por volta de 30,5% são federais,
os outros 69,5% são rodovias transitórias, estaduais e municipais. Se comparado com alguns
países com o mesmo porte territorial e economicamente semelhante o Brasil possui uma área
pavimentada bem aquém do necessário.
Gráfico 01: Condição da malha rodoviária brasileira entre 2006 – 2016 (Km)
Fonte: Elaboração própria de acordo com dados do CNT e DNIT.
77
10,8% 10,3% 11,1% 11,6% 11,4% 11,9% 12,0% 11,8% 12,1% 12,2% 12,3%
79,5% 74,7%
80,9% 80,7% 79,6% 80,4% 80,3% 79,3% 80,3% 78,6% 78,7%
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
80,0%
90,0%
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Pavimentada Não Pavimentada Planejada
Observando por uma perspectiva histórica é possível, através do Gráfico 02 ver
claramente a defasagem que a malha rodoviária brasileira sempre possuiu ao longo do tempo,
uma vez que em média cerca de 79% de sua estrutura encontra-se inadequada, como
demonstra a tabela e os gráficos abaixo.
Gráfico 02: Condição da malha rodoviária do Brasil – Evolução ao longo dos anos
Fonte: Elaboração própria de acordo com dados do CNT e DNIT.
Neste contexto, o cenário é crítico, as condições da malha rodoviária são, certamente,
um dos principais fatores a gerar ineficiência econômica e transtornos sociais. A CNT
realizou uma pesquisa, em 2017, em cerca de 106 mil Km dos quais apenas 8,9% estão em
ótimas condições, sendo que por volta de 61,8% apresenta-se em uma situação Regular, Ruim
ou Péssima, comprometendo assim toda a locomoção de cargas do país, ocasionado lentidão
no transporte, elevação nos custos de manutenção dos veículos e maiores riscos de acidentes.
4.2. Investimento em infraestrutura
A infraestrutura de transportes se caracteriza sempre como importante condutora do
crescimento e do desenvolvimento econômico e social. No caso brasileiro, os setores
rodoviário, ferroviário, portuário e aéreo ainda têm contribuído para reduzir a competitividade
dos produtos e serviços, principalmente no âmbito internacional. Nos últimos anos há um
esforço de retomada do planejamento e do investimento nestes setores por meio de alterações
regulatórias e, também, com aumento dos valores investidos.
78
5,41
8,80 8,69 10,25
12,88 13,63
18,67
11,98 12,02
9,37
6,56
4,11 5,00 5,11
7,82
10,27 11,21
9,35 8,36
9,05
5,95
8,61
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Autorizado Total Pago
Não resta dúvida de que a oferta eficiente de serviços públicos de infraestrutura é um
dos aspectos mais importantes das políticas de desenvolvimento econômico e social. A
prestação eficaz de tais serviços condiciona significativamente a produtividade e a
competitividade do sistema econômico, ao mesmo tempo que melhora o bem-estar social.
Portanto, uma adequada disponibilidade de infraestrutura e de seus serviços é condição
indispensável para que o país possa desenvolver vantagens competitivas, alcançando maior
grau de especialização produtiva. Os investimentos em infraestrutura elevam a
competitividade sistêmica da economia, melhorando as condições de transportes, de
comunicação e de fornecimento de energia. Além disso, tais inversões promovem efeitos
multiplicadores e dinamizadores nos demais setores, induzindo outros investimentos.
Os investimentos em infraestrutura impactam na economia por meio de canais diretos
– como a expansão da capacidade de abastecimento ou escoamento da produção – e indiretos
– por exemplo, a melhoria na produtividade total dos fatores –propiciando o desenvolvimento
econômico e social da nação. A infraestrutura – quer promovida pelo Estado, quer pela
iniciativa privada – tem o potencial de tornar mais rentáveis, e consequentemente mais
atraentes, os investimentos produtivos, conferindo maior eficiência ao sistema econômico.
Gráfico 03: Investimentos públicos em infraestrutura de transporte rodoviário no Brasil de
2006 – 2016 (Bilhões de R$)
Fonte: Elaboração própria de acordo com dados do CNT.
Os investimentos do governo federal em infraestrutura rodoviária representaram
71,64% do total de subsídios realizados no setor de transporte entre 2006 e 2016. Essa alta
participação está relacionada à condição do modal na matriz brasileira de transporte de cargas
79
e de passageiros. Os dados mostram uma redução dos recursos destinados aos investimentos a
partir de 2012, de acordo com o Gráfico 03. A crise econômica que atingiu o país já em 2014
repercutiu no orçamento do governo e, em 2016, o montante autorizado de recursos para o
transporte rodoviário representou 69,1% do montante de autorizado em 2015, que já havia
sido controlado.
O cenário piora com a análise dos valores efetivamente investidos pelo governo
federal. Percebe-se que os investimentos de 2015 regrediram a níveis observados entre 2009 e
2010. Verifica-se que, em 2015, apesar de o valor autorizado para o pagamento de
intervenções em infraestrutura rodoviária ter sido inferior ao dos anos anteriores, o governo
federal não conseguiu aplicar todo o recurso previsto. No ano, foram desembolsados R$ 5,95
bilhões, ou seja, 63,5% dos R$ 9,37 bilhões autorizados. Os R$ 3,42 bilhões não gastos
poderiam ter financiado a manutenção de cerca de 11 mil km de rodovias.
O ano de 2016 mostra - se distinto dos demais anos, com um percentual de Total Pago
acima de 100% do montante Autorizado, devido à diretriz de se quitar as contas a pagar de
anos anteriores que ainda não haviam sido pagas. Isso fez com que o investimento
efetivamente realizado, em 2016, tenha sido acima dos valores autorizados. Entretanto, isso
não significa, necessariamente, que as rodovias geridas pela União receberam mais
intervenções.
4.3. Acidentes rodoviários
O transporte terrestre é o modal mais utilizado no Brasil no deslocamento de cargas e
pessoas. Os acidentes que ocorrem nas vias terrestres devem ser tratados com grande
relevância, pois trazem grandes prejuízos à economia e à sociedade. Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), o trânsito causa a morte anual de, aproximadamente, 1,3 milhão de
pessoas (mais do que 3.000 mortes por dia) e a incapacitação de milhões de outras em todo o
mundo. Lesões ocasionadas pelos acidentes rodoviários são a principal causa de morte entre
jovens com idade entre 15 e 29 anos e estão entre as três principais causas de morte entre
pessoas de 5 a 44 anos, chegando a custar à maior parte dos países algo em torno de 3% do
PIB.
80
58,2%
60,5% 61,3%
61,9% 62,4%
64,2% 64,7%
65,9% 66,7%
64,9% 64,8%
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Tabela 01: Frota total de veículos por região – Brasil - 2007/2017
Região 2007 2017 Crescimento 2007-2017
Brasil 49.644.025 97.091.956 95,60%
Norte 1.927.008 5.028.603 161,00%
Nordeste 6.502.135 16.665.260 156,30%
Sudeste 26.272.123 47.258.591 79,90%
Sul 10.659.526 19.130.688 79,50%
Centro-Oeste 4.283.233 9.008.814 110,30%
Fonte: Elaboração própria de acordo com dados do CNT e ABCR.
O grande aumento no número de acidentes pode estar relacionado também com a
grande expansão do número de veículos no Brasil, que nos últimos dez anos (Tabela 01), a
frota de veículos aumentou 95,6%, sem uma correspondente evolução da malha rodoviária
federal pavimentada, que cresceu apenas 11,3% no mesmo período.
Esse aumento da frota, associado às condições inadequadas da infraestrutura
rodoviária existente na maior parte das rodovias brasileiras, potencializa o aumento do
número de acidentes e, consequentemente, do número de óbitos. Segundo dados da Polícia
Rodoviária Federal (PRF), 77.238 vidas foram perdidas no período de 2007 a 2016, em
1.563.007 acidentes nas rodovias sob sua jurisdição. Comparando aos acidentes de trânsito
ocorridos nas vias urbanas e rodovias brasileiras, segundo o Ministério da Saúde, 403.733
vidas foram perdidas no mesmo período, com uma média de 40.373 óbitos por ano.
Gráfico 04: Evolução da extensão das rodovias pavimentadas do Brasil – 2007-2017
Fonte: Elaboração própria de acordo com dados do CNT.
81
128.440 141.115
158.647
183.475 192.322 184.556 186.792 169.194
122.155
96.361 89.396
7.065 6.948 7.341 8.623 8.675 8.663 8.426 8.234 6.865 6.398 6.243
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Número de Acidentes Óbitos
Considerando os dados atualizados disponíveis, nas rodovias policiadas, no período de
2007 a 2017, ocorreram 1.652.403 acidentes (uma média de 411,3 acidentes por dia)
envolvendo um total de 3.573.295 vítimas, deixando 1.040.095 pessoas feridas (grave ou
levemente) e 83.481 mortos, uma média de 20,8 mortos por dia. Estima-se que os custos
médios anuais decorrentes desses acidentes giram em torno de R$ 10 bilhões ao ano. Em
2007, 7.065 vidas foram perdidas em acidentes de trânsito nas rodovias federais, já no período
compreendido entre 2010 e 2014, o número de óbitos manteve-se constante. Ainda que a
quantidade de vítimas seja expressiva, percebe-se uma tendência de queda desde 2012.
Gráfico 05: Número de acidentes e número de óbitos ocorridos em rodovias policiadas no
Brasil – 2007-2017
Fonte: Elaboração própria de acordo com dados do CNT e DNIT.
A queda do número de óbitos a partir de 2013 pode ser explicada, em parte, pela
obrigatoriedade do uso dos equipamentos de segurança nos carros fabricados no desde 2014,
como freios ABS e airbags. Outras ações que se somam de forma positiva são as punições
mais duras aplicadas aos motoristas que agem com imprudência. Exemplos disso foram as
multas relativas às ultrapassagens perigosas (pelo acostamento ou com invasão irregular do
outro sentido da via), que tiveram aumento de até 900% em 2014.
A taxa de óbitos por acidente é um índice utilizado para avaliar a gravidade dos
acidentes. Considerando o período de 2007 a 2017, temos uma redução dos acidentes, porém,
a gravidade medida pelo indicador aumentou, passando de 5,5 mortes a cada 100 acidentes
ocorridos no ano de 2007 para 7,0 mortes a cada 100 acidentes no ano de 2017.
82
11.850 12.400 13.350
10.469 12.104
13.668 14.304
16.747
19.616
24.375 25.012
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Neste contexto, ao avaliar o número de acidentes, percebe-se uma queda significativa
no número de acidentes a partir de 2013. Entretanto, ainda são registrados elevados índices de
ocorrências e óbitos decorrentes de acidentes nas rodovias, o que, como foi citado acima,
acarreta uma série de transtornos socioeconômicos.
4.4. Roubo de cargas
Um dos principais problemas relacionado ao transporte de cargas, principalmente o
rodoviário, no Brasil, trata-se da segurança das rodovias do país, uma vez que a mesma é
defasada e acaba trazendo uma série de consequências como o alto custo ocasionado pelo
roubo de cargas (MOREIRA e CARVALHO, 2010).
No ano de 2017 foram registrados no Brasil mais de 25 mil casos de roubos de cargas.
Segundo Oliveira (2018), considerando-se o total de 1.697.665 veículos cadastrados no
Registro Nacional de Transportadores de Cargas (RNTRC8), o roubo de cargas atingiu por
volta de 1 em cada grupo de 67,9 veículos.
Analisando os últimos 11 anos observa-se uma elevação contínua no número de
ocorrências, utilizando a diferenciação dos dados no período entre 2007 (11.850 ocorrências)
e 2017 (25.012 ocorrências) tem-se um aumento por volta de 13162 ocorrências nesses 11
anos, em termos percentuais isso representa uma elevação em cerca de 211,8% no número de
casos, retratados no gráfico abaixo.
Gráfico 06: Roubo de cargas no Brasil - Ocorrências
8
Registro Nacional de Transportadores de Cargas. Disponível em:
<http://www.antt.gov.br/cargas/arquivos_old/RNTRC.html>.
83
735.000
2.056.475,20
11.229.175,20
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 Total
Fonte: Elaboração própria de acordo com dados do MC2R Inteligência Estratégica.
Com esse alto índice de roubos, segundo o Fórum de Brasileiro de Segurança Pública,
o país teve um custo que chegou a cifra de R$ 2,06 bilhões em 2017, o que corresponde a
2,15% do custo mundial com roubos de carga, valor que equivale a 12,9% do orçamento de
2018 do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Considerando-se o período em análise
tem-se um crescimento de 279,8% nos custos em decorrência desses roubos. Em termos
monetários isso ocasionou um rombo por volta de R$ 11,22 bilhões, nesses últimos 11 anos,
aos cofres públicos, como demonstra o gráfico 07.
Vale ressaltar ainda que, tanto relacionado as ocorrências quanto aos valores de cargas
roubadas o comportamento nacional é determinado pela região sudeste. Oliveira (2018),
aponta que 87,3% dos casos em 2017, sendo que apenas os estados de São Paulo e Rio de
Janeiro respondem a cerca de 84,7% das ocorrências em todo o Brasil no mesmo ano.
Enfim, relacionando o fator do crime ao meio social, tem-se que as maiores
concentrações nestes estados estão diretamente ligadas com o crime organizado, que se tornou
uma constante na vida dos residentes da área e de seu entorno, voltado para o financiamento
do narcotráfico e o contrabando de armas. Isso ocorre devido a uma série de fatores como por
exemplo: a baixa capacidade de policiamento ostensivo nas rodovias federais e nas principais
áreas urbanas identificadas com os maiores pontos de roubo e ao elevado nível do comércio
irregular que serve como incentivo a prática de tais ações.
Gráfico 07: Roubo de cargas no Brasil – Valores (R$ mil)
Fonte: Elaboração própria de acordo com dados do MC2R Inteligência Estratégica.
84
4.5. Emprego formal no modal rodoviário
De modo geral, o transporte rodoviário é um dos pilares da economia brasileira. É um
dos segmentos de serviços que mais emprega, sendo o setor com maior participação na matriz
de transporte de cargas. É através do transporte rodoviário que cerca de 60% das mercadorias
destinadas ao consumo chegam até as famílias. Haja vista que esse ramo atinge de forma
direta ou indireta as famílias e empresas brasileiras, as crises econômicas e as relações
comerciais afetam o transporte rodoviário, gerando também desdobramentos no que diz
respeito aos empregos advindos desse setor.
Partindo da ocorrência de uma crise econômica pode-se evidenciar redução da
qualidade de vida da população, além dos impactos sofridos pela atividade produtiva,
provenientes de variações da taxa de juros, do desemprego e da inflação. Tais variações são
capazes de interferir na quantidade de empregos formais oferecidos por esse âmbito.
Analisando, mesmo que de forma breve, a estrutura de transporte rodoviário de cargas
no Brasil, é comprovado o importante papel desempenhado por tal. Atividades básicas e
necessárias, tais como: carga, deslocamento e descarga, são capazes de empregar inúmeros
trabalhadores no país. Conforme dados da Pesquisa Anual de Serviços (PAS) o transporte
rodoviário de cargas gerou cerca de 36,2% do PIB do setor de transporte em 2014. Sendo as
maiores empregadoras do setor de serviços não financeiros as empresas de transporte
rodoviário foram responsáveis por 12,7% do PIB desse setor no mesmo período.
Gráfico 08: Total de Empregos formais gerados pelo transporte rodoviário no Brasil
85
Fonte: Elaboração própria de acordo com dados da RAIS.
Conforme exposto no gráfico 08, os empregos formais gerados pelos transportes de
cargas no Brasil cresceram expressivamente entre 2007 e 2017, elevando-se de 60.096 para
95.336 empregados. Vale destacar que nesse período o ano de 2014 registrou o maior índice
de empregados formais desse departamento, alcançando 101.259 pessoas.
Os estabelecimentos do segmento de transporte rodoviário são responsáveis por
empregar motoristas de cargas em geral, motoristas de veículos de pequeno e médio porte,
trabalhadores de carga e descarga de mercadorias, bem como os indivíduos que estão
empregados por empresas individuais e por transportadores autônomos. Por completo, em
2007 esse setor registrou 81.442 cargos de trabalho que se elevou para 122.891 em 2017.
Desse modo, fica evidente a influência do setor rodoviário quanto à oferta de
empregos no Brasil, contribuindo de forma significativa para a geração de renda no país. O
aumento da complexidade quanto ao serviço ofertado por esse setor induz a uma diversidade
de ocupações, provocando um maior número de vagas para os indivíduos que desejam
trabalhar nesse âmbito.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir que o setor de transportes rodoviário, mesmo sendo o meio mais
utilizado e um dos serviços mais importante para o crescimento da economia brasileira,
60.096 63.747 68.192
75.540 83.218
88.111 95.482
101.259 101.147 98.229 95.336
81.442 85.683
90.774 99.058
108.005 113.794
122.774 131.582 131.200
126.335 122.891
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Empregos Formais no Transporte Rodoviário de Cargas Empregos Formais no Modal Rodoviário de Transportes
86
enfrenta ainda uma série de problemas que geram a ineficiência desse serviço, seja ele no
transporte de cargas ou pessoas. Seus agravantes, como falta de infraestrutura adequada,
investimentos insuficientes para ampliação e manutenção das rodovias geram transtornos
socioeconômicos que precisam ser superados. Com esse cenário crítico, as malhas rodoviárias
em estado precário comprometem a locomoção das cargas, lentidão no transito, elevação nos
custos de manutenção dos veículos e aumentam os riscos de acidentes.
Com base nos dados colhidos e analisados podemos dizer que a quantidade de
rodovias ainda se encontra muito inferior ao número da frota de veículos, o que explica o
número de mortes nas estradas, principalmente federais, o que chega a custar para o PIB
brasileiro 3% do seu total. Com a redução dos investimentos entre 2012 e 2016, fazendo com
que além das manutenções das estradas e a ampliação delas ficassem sem recursos suficientes
para seu desenvolvimento, a segurança também se torna um problema para o crescimento do
setor, uma vez que o número de roubos de cargas entre os anos estudados aumentou em
211,8%, proporcionando um rombo nos cofres públicos. O Sudeste, especificamente Rio de
Janeiro e São Paulo, representa o maior índice de roubos em detrimento de serem cidades com
maior concentração de organizações criminosas.
Por fim, pode-se ver que o modal de transportes rodoviários do Brasil tem muito a se
desenvolver e, superar os problemas infraestruturais é o ponto chave, de modo a resolver os
problemas socioeconômicos gerados. A partir disso, é possível melhorar o serviço para
atender com eficiência todos os agentes da economia, propiciando um cenário onde o setor
contribua de forma ainda mais positiva para o crescimento econômico do país.
REFERÊNCIAS
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no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p.453.
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Números. Disponível em: <http://portal.antt.gov.br/index.php/content/view/4969html>.
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TERRA, Adriana de Miranda Santiago. O PAPEL DO TRANSPORTE NO
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Palmas–TO.XV Encontro Latino Americano de Iniciação Científica. Universidade do Vale
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87
<http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2011/anais/arquivos/RE_0231_0757_01.pdf>.
Acesso em: 10 out. 2018
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2018.
89
ÁREA TEMÁTICA: ECONOMIA REGIONAL E URBANA.
ATUAÇÃO DE BANCOS E COOPERATIVAS DE CRÉDITO EM REGIÕES COM
BAIXO DINAMISMO ECONÔMICO
ACCOUNTING OF BANKS AND CREDIT COOPERATIVES IN REGIONS WITH
LOW ECONOMIC DYNAMISM
CAMILA LOPES E SILVA MADUREIRA
Bacharel em Ciências Econômicas pela UFRPE/UAST,
Agente de Atendimento SICOOB PERNAMBUCO- Tabira
E-mail: kamilinha.lopes@hotmail.com
PRISCILA MICHELLE RODRIGUES FREITAS
Professora do curso de Ciências Econômicas da UAST/UFRPE,
Doutora em Ciências Econômicas pela UFF
E-mail: priscila.rfreitas@ufrpe.br
DANIEL WILHO DE MOURA ALENCAR
Graduando em Ciências Econômicas pela UFRPE/UAST
E-mail: 91061699.dw@gmail.com
ÉVELLYN SUANNE OLIVEIRA
Graduanda em Ciências Econômicas pela UFRPE/UAST
E-mail: evellyn.suanne@ufrpe.br
90
ATUAÇÃO DE BANCOS E COOPERATIVAS DE CRÉDITO EM REGIÕES COM
BAIXO DINAMISMO ECONÔMICO
ACCOUNTING OF BANKS AND CREDIT COOPERATIVES IN REGIONS WITH
LOW ECONOMIC DYNAMISM
RESUMO
A relação da moeda com o desenvolvimento econômico é fonte de estudo de muitos autores, os quais
tentam explicar qual o papel que a moeda exerce no desenvolvimento, em especial a nível regional. Tomando
como base a vertente Pós-Keynesiana da não neutralidade da moeda, esse trabalho propõe-se a analisar qual o
papel dos bancos e da cooperativa de crédito de livre admissão, a partir de dados da Cooperativa de Crédito de
Livre Admissão de Pernambuco (Sicoob Pernambuco), nas regiões com menos dinamismo econômico em que
atua, sendo estas o Sertão do Pajeú, no estado de Pernambuco e Cariri Ocidental, no estado da Paraíba. Para
realizar tal análise foram utilizados cinco indicadores financeiros desenvolvidos por Crocco (2010). Os
resultados encontrados demonstram que apesar da Cooperativa de Crédito ter uma atuação pouco significativa na
região quando comparado a atuação das agências bancárias, o Sicoob Pernambuco tem ofertado,
proporcionalmente, mais crédito nessas regiões periféricas, possibilitando mais investimentos e,
consequentemente, desenvolvimento regional. A retração na oferta de crédito por parte dos bancos pode ser
justificada por uma maior preferência pela liquidez, gerada a partir de elevados níveis de incertezas presentes
nestas regiões.
Palavras-chave: Cooperativa de Crédito. Bancos. Vertente Pós-Keynesiana. Moeda. Crédito.
ABSTRACT
The relationship between money and economic development is a source of study by many authors, who
try to explain the role that money plays in development, especially at the regional level. Based on the post-
Keynesian slope of the non-neutrality of money, this paper proposes to analyze the role of the banks and the
credit cooperative of free admission, based on data from the Credit Union of Free Admission of Pernambuco
(Sicoob Pernambuco), in the regions with less economic dynamism in which it operates, these being the Sertão
do Pajeú, in the state of Pernambuco and CaririOcidental, in the state of Paraíba. Five financial indicators
developed by Crocco (2010) were used to perform this analysis. The results show that despite the fact that the
Credit Union has a minor performance in the region when compared to the banking branches, Sicoob
Pernambuco has proportionally offered more credit in these peripheral regions, allowing for more investments
and, consequently, regional development. The decline in the supply of credit by banks may be justified by a
higher preference for liquidity, generated by high levels of uncertainty present in these regions.
Keywords: Credit Cooperative. Banks. Post-Keynesian Strand. Coin. Credit.
91
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos a crise política e econômica que vem atingindo o Brasil levou a
população, diretamente afetada por altos níveis de inflação e desemprego, a recorrerem às
instituições financeiras para conseguirem crédito (BACEN e IPEA, 2018). Nesse contexto, a
relação da população com o sistema financeiro ficou cada vez mais necessária, trazendo à
tona as fragilidades dos produtos e serviços ofertados por essas instituições.
O atendimento das instituições bancárias aos seus clientes fica especialmente
comprometido após o fechamento dos bancos estaduais. Por terem suas sedes localizadas em
grandes centros financeiros, as agências bancárias muitas vezes não conseguem atender as
necessidades dos clientes, principalmente daqueles localizados em regiões periféricas, tendo
em vista que não conhecem as suas necessidades.
O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é o responsável por transferir os recursos dos
agentes superavitários para os agentes deficitários e conta atualmente com 20.936 mil
agências bancárias públicas e privadas e 991 cooperativas de crédito (BACEN, 2018). O
cooperativismo de crédito ganha destaque em meio às crises financeiras, apresentando-se
como uma alternativa a um sistema bancário excludente e que pouco atende as reais
necessidades dos usuários do sistema. Esse segmento apresentou um crescimento significativo
nos últimos anos, em especial nas operações de crédito para pessoa jurídica (BACEN, 2018).
As cooperativas de crédito atuam como fonte suplementar na oferta de crédito nas áreas que
possuem atuação e têm potencial de melhorar as condições de competição bancária (BACEN,
2018).
Enquanto as cooperativas de crédito ganharam espaço no mercado de crédito no ano de
2017, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil S.A., o Itaú Unibanco S.A. e o Banco
Bradesco S.A. reduziram a sua participação neste mercado destinado a pessoa física, quando
comparado ao ano de 2016 (BACEN, 2018). O mesmo ocorreu para o mercado de crédito
destinado a pessoa jurídica, onde também as instituições financeiras bancárias perderam
espaço no mercado. (BACEN, 2018).
É um destaque o crescimento da participação das cooperativas de crédito, de 0,50 pontos
percentual e a queda da participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
92
Social (BNDES), de 0,59 ponto percentual, no mercado de crédito destinado as pessoas
jurídicas (BACEN, 2018).
Embora haja um grande número trabalhos na literatura que tratem sobre atuação dos
bancos nas regiões nordeste e sudeste do país, poucos são os registros literários que
apresentam estudos sobre o cooperativismo de crédito brasileiro e o papel que estas exercem
na economia. Isso corrobora a importância desse trabalho, que realiza uma análise inédita
sobre a atuação de cooperativas de crédito em municípios com pouco dinamismo econômico
na região nordeste do país.
A hipótese levantada é que em economias menos desenvolvidas as cooperativas de
crédito apresentam maior atuação, no que se refere à concessão de crédito, comparativamente
aos bancos comerciai. Então, como, em uma economia regional de baixo dinamismo
econômico, bancos e cooperativas de crédito atuam na oferta de crédito? O objetivo deste
trabalho é comparar a atuação de bancos e cooperativas de crédito em 10 municípios dos
estados da Paraíba e Pernambuco, no período de 2000 a 2012. Para isso, , além dessa
introdução.
Este trabalho está divido em quatro seções, além dessa introdução. A primeira seção
descreve o papel do crédito para a teoria pós-keynesiana no âmbito regional e a atuação das
cooperativas de crédito no Brasil. A segunda seção explica a fonte de dados e os indicadores
utilizados para a análise. Na terceira seção será identificada a atuação das agências bancárias e
da Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de Pernambuco (Sicoob Pernambuco), a partir
de indicadores financeiros selecionados para 10 municípios localizados no sertão dos estados
da Paraíba e Pernambuco, entre os anos 2000 e 2012. Por fim, a conclusão.
1. ASPECTOS TEÓRICOS E ESTUDOS RELACIONADOS AO
COOPERATIVISMO DE CRÉDITO NO BRASIL
1.1. Teoria Pós-keynesiana e Crédito Regional
A premissa teórica pós-keynesiana aborda sobre o papel da moeda em uma economia
monetária, considerando-a não neutra. Logo, para os pós-keynesianos, o lado monetário não
se diferencia do lado real. A corrente pós-keynesiana se distancia de boa parte da literatura de
93
economia regional que trabalha com uma base ortodoxa e que dá pouco destaque à moeda e
ao seu papel no desenvolvimento regional. De acordo com Rodriguez-Fuentes (1998, citado
por Crocco et ali, 2003), são três as principais causas para a falta de referências aos fatores
monetários, a saber: 1) a hipótese ortodoxa da neutralidade da moeda no longo prazo; 2) as
regiões não utilizarem os instrumentos de política monetária, tornando-se sem importância
para estudos; 3) as regiões serem extremamente abertas e por isso há uma perfeita mobilidade
de capital.
Para Barra e Crocco (2004), a análise pós-keynesiana se destaca por abordar sobre a
oferta e demanda de crédito a nível regional. Para os autores dessa vertente, a oferta e
demanda por crédito são afetadas pela preferência pela liquidez, relacionadas às expectativas
dos agentes em um ambiente de incertezas. No lado da oferta, praticada pelos bancos, quando
as expectativas regionais forem pessimistas a oferta de crédito será menor. No lado da
demanda, praticada por as pessoas físicas e jurídicas, uma maior preferência pela liquidez,
influenciada por expectativas negativas, afetará as escolhas desse público levando esses
agentes a demandar menos crédito e a manter seus recursos em ativos de maior liquidez.
Dow (1982, 1987 apud Amado, 1998) realiza em seus trabalhos uma análise sobre as
diferentes trajetórias de desenvolvimento a nível regional, evidenciando a importância do
sistema financeiro na intensificação dessas diferenças. Dow explica, no seu segundo artigo de
1987, como o sistema financeiro atua em um cenário onde o clima de incerteza varia de região
para região. Quanto maior o nível de incerteza, menos as instituições financeiras ofertaram
crédito o que acarreta em menos investimento. Esses efeitos cumulativos geram círculos
viciosos, onde as disparidades regionais se acentuam cada vez mais. No seu modelo, a autora
utiliza-se de dois polos distintos: a região central e a região periférica.
De acordo com Dow (1982 apud Amado, 1998) a região central apresenta um
desenvolvimento contínuo, possui um mercado financeiro desenvolvido, importa menos,
sendo responsável pela produção de produtos industrializados e apresenta um círculo onde o
seu desenvolvimento gera mais desenvolvimento. O contrário ocorre nas regiões periféricas.
Na periferia, a trajetória de crescimento é instável, são altos os níveis de importação de
produtos industrializados, tendo em vista que essas regiões têm sua produção voltada a setores
primários e o sistema financeiro é pouco desenvolvido. A região caracteriza-se ainda por ser
94
extremamente sensível a difusão de informações, gerando um círculo onde um baixo
desenvolvimento gera menos desenvolvimento.
Dow (1993 apud Figueiredo, 2006), explica o resultado das diferenças existentes entre
as regiões centrais e periféricas. Para Dow (1993) as diferenças estruturais resultam em uma
dependência da periferia em relação à região central, gerando um círculo vicioso que tanto
amplia as diferenças já existentes, como as perpetuam. Figueiredo (2006) explica que para
Dow (1993) nas regiões periféricas o grau de incerteza é maior, o que gera menos crédito,
devido à maior preferência pela liquidez por parte dos agentes econômicos, resultando em
menos investimento. O cenário descrito proporciona mais incerteza, menos crédito e menos
investimento, e assim por diante.
Nas regiões mais desenvolvidas (centrais) acontece o contrário. Nessas regiões estão
localizadas as sedes das instituições financeiras, fato que gera mais confiança nos agentes,
mais crédito e, consequentemente, maior é o nível de investimentos. Nesse novo cenário a
tendência é que se tenha cada vez mais confiança e, consequentemente, mais crédito e
investimentos. Dow (1993 apud Figueiredo, 2006) conclui que não são as características de
cada região que acentuam as desigualdades e, sim, o comportamento dos agentes em relação a
moeda e aos ativos financeiros. A forma que os agentes respondem a preferência por liquidez
nos dois polos distintos explica a importância que o sistema monetário e financeiro possui no
desenvolvimento de uma região.
De acordo com Dow e Rodrigues-Fuentes (1997 apud Crocco, 2010), o volume de
oferta de crédito dependerá do estágio de desenvolvimento bancário. Assim como as
instituições bancárias abordadas até o momento, as cooperativas de crédito também compõem
o Sistema Financeiro Nacional.
1.2. Cooperativas de Crédito no Brasil
Junto com as instituições bancárias tradicionais as cooperativas de crédito contemplam
o Sistema Financeiro Nacional e são autorizadas e supervisionadas pelo Banco Central do
Brasil. É função do Banco Central, além de supervisionar as instituições financeiras, garantir
a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente
(BACEN, 2018).
95
As cooperativas de crédito têm sua constituição e o funcionamento regulamentados pela
Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971, que define sobre a Política Nacional do
Cooperativismo, pela Lei Complementar nº 130 de 17 de abril de 2009, que dispõe sobre o
Sistema Nacional de Crédito Cooperativo e pela Resolução 4.434 de 5 de agosto de 2015, que
consolida as normas relativas à constituição e ao funcionamento de cooperativas de crédito
(BACEN, 2018).
As cooperativas de crédito são instituições financeiras constituídas sob a forma de
sociedade cooperativa e prestam aos seus associados serviços como concessão de crédito,
captação de depósitos à vista e a prazo, cheques, prestação de serviços de cobrança, de
custódia, de recebimentos e pagamentos por conta de terceiros, sob convênio com instituições
financeiras públicas e privadas e de correspondente no País, além de outras operações
específicas e atribuições estabelecidas na legislação em vigor (PINHEIRO, 2008).
O Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) é estruturado em grandes sistemas
integrados por cooperativas de crédito singulares, cooperativas centrais e confederações de
cooperativas. As cooperativas de crédito singulares prestam serviços diretamente aos
associados. As cooperativas centrais são cooperativas de segundo grau e são instituições
independentes que têm por associadas às cooperativas singulares. As centrais trabalham para
minimizar as situações que geram riscos para as suas filiadas através da padronização e
supervisão dos sistemas operacionais, educação e capacitação, adoção de medidas corretivas,
assessoria jurídica e de comunicação e a centralização dos recursos captados. As
confederações são cooperativas de terceiro grau e tem por associados às cooperativas centrais.
As confederações atuam para defender os interesses das suas filiadas, através da
padronização, supervisão e integração operacional, financeira e tecnológica (BACEN, 2018).
O cooperativismo de crédito brasileiro é organizado em quatro grandes sistemas
principais: o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), o Sistema de Crédito
Cooperativo (Sicredi), o Sistema de Cooperativas de Economia e Crédito Mútuo de Médicos
do Brasil (Unicred) e o Sistema Cooperativo de Crédito Rural (Cresol).
2 INDICADORES FINANCEIROS E METODOLOGIA
2.1 Base de Dados
96
O tratamento dos dados foi realizado com o intuito de demonstrar como as instituições
financeiras bancárias e as cooperativas de crédito atuam em regiões menos dinâmicas, como é
o caso da região nordeste do Brasil. As informações coletadas referem-se aos bancos
comerciais Banco do Brasil S.A., Banco Bradesco S.A., Banco Santander (Brasil) S.A. e a
Caixa Econômica Federal, além dos dados referentes à cooperativa de crédito Sicoob
Pernambuco.
A região de estudo é o Sertão do Pajeú, no estado de Pernambuco, abrangendo os
municípios de Afogados da Ingazeira, Carnaíba, Itapetim, Santa Terezinha, São José do Egito,
Tabira e Tuparetama e a região do Cariri Ocidental, no estado da Paraíba, onde serão
analisados os municípios de Monteiro, Ouro Velho e Prata.
Para essa análise, serão utilizados cinco indicadores de desempenho dessas instituições
financeiras, calculados a partir de dados extraídos do banco de dados Estatística Bancária
Mensal por município (ESTBAN) e dos balancetes da cooperativa de crédito Sicoob
Pernambuco, no período de 2000 a 2012, disponibilizados pelo o Banco Central do Brasil.
O período abordado neste trabalho justifica-se pelo início da atuação da Cooperativa na
região do Sertão de Pernambuco e na microrregião do Cariri Paraibano, que ocorreu nos anos
2000, e limita-se ao ano de 2012, pois, a partir de 2013, a Cooperativa estende a sua atuação
ao município de Gravatá, região agreste de Pernambuco, uma região mais desenvolvida
economicamente dos que as que serão tratadas nesse trabalho. Além de ter sido o período em
que a visibilidade das cooperativas cresceu consideravelmente devido ao apoio do governo
Lula para com as cooperativas de crédito, visando utilizá-las como mecanismo de política
econômica com a finalidade de que obtivesse uma atuação mais ativa no mercado financeiro e
assim, estimulasse a economia, principalmente na Região Nordeste do Brasil.
Dos municípios analisados, as cidades de Prata e Ouro Velho na Paraíba e Santa
Terezinha em Pernambuco não possuem agências bancárias e contam apenas com o
atendimento de Pontos de Atendimento (PA’s) da cooperativa de crédito do Sicoob
Pernambuco.
Das contas disponíveis na base de dados do Estban e no balancete da Cooperativa foram
utilizados o saldo das contas:
Ativo Total, que representa a receita total das instituições financeiras;
97
Crédito Total, que engloba os empréstimos, títulos descontados e
financiamentos para as pessoas físicas e jurídicas, além dos destinados aos setores
agropecuário e agroindustriais;
Provisão para Créditos em Liquidação, que representa a parcela que as
instituições financeiras não receberam dos seus clientes/associados, sendo um
indicativo de inadimplência, ou mesmo qualidade do crédito;
Depósito à Prazo, que corresponde ao volume que os bancos e cooperativas
captam dos seus clientes/associados, mediante uma remuneração;
Depósito a Vista, que representa o saldo de depósito que pode ser sacado a
qualquer tempo e, por fim;
Passivo Total, que demonstra todas as obrigações que as instituições possuem.
Para o cálculo do tamanho do sistema financeiro será utilizado o Produto Interno Bruto
(PIB), extraído do banco de dados do IPEADATA.
Para a análise de desenvolvimento das regiões será utilizado o Índice de
Desenvolvimento Humano dos municípios, extraído do banco de dados do IBGE Cidades.
2.2 Indicadores Financeiros
Para realizar a análise a que se propõe esse trabalho foram utilizados cinco indicadores
desenvolvidos em Crocco (2010), a saber:
1º)
Este indicador mede o tamanho relativo do sistema financeiro em relação à economia
local.
2º)
3ª)
O segundo indicador mede a proporção do crédito concedido em relação ao total do
ativo. Espera-se que quanto maior for a preferência pela liquidez das instituições financeiras
98
menor será o valor desse indicador. Uma maior preferência pela liquidez levará as instituições
financeiras a alocarem os seus ativos em outras aplicações que não a concessão de crédito.
O terceiro indicador mede a qualidade do crédito em uma determinada região. Quanto
menor este indicador melhor a qualidade do crédito concedido, refletido por uma menor
inadimplência.
4º)
5º)
Quanto menor o quarto indicador, mais bem sucedido o gerenciamento do passivo da
instituição financeira. Crocco (2010) denomina esta situação de ―forte gerenciamento do
passivo‖, que caracteriza-se por um passivo menos líquido, ou seja, nesta situação a
instituição financeira teria que possuir menos reservas para cobrir eventuais saques. Quanto
maior esse indicador mais reserva a instituição terá que possuir. Crocco (2010) denomina essa
situação de ―fraco gerenciamento do passivo‖.
O contrário ocorre no quinto indicador. Quanto maior for este indicador, melhor será o
gerenciamento do passivo, indicando que as instituições financeiras não precisam manter um
elevado volume de reservas para cobrir saques, tendo em vista que os depósitos à prazo
representam um tipo de depósito que possivelmente não será retirado do sistema financeiro no
curto prazo. Quanto menor esse indicador, maior será o volume de reservas que as instituições
precisam manter.
3 A ATUAÇÃO DE BANCOS E COOPERATIVA DE CRÉDITO EM
ECONOMIAS DE BAIXO DINAMISMO
3.1 Atuação de bancos e cooperativa de crédito nas regiões do Sertão do Pajeú – PE e
Cariri Ocidental – PB: descrição da economia local e uma análise a partir de
indicadores financeiros
Diante do que se propõe esse trabalho, as regiões escolhidas para essa pesquisa são a
microrregião do Sertão do Pajeú no estado de Pernambuco e a microrregião do Cariri
99
Ocidental no estado da Paraíba. Nessas regiões fazem-se presente tanto agências bancárias
como a sede e Postos de Atendimentos da Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de
Pernambuco – Sicoob Pernambuco, o que permite que tal análise seja feita.
3.1.1 Sertão do Pajeú – PE
A microrregião do Pajeú é composta por 17 municípios, sendo fruto desse trabalho os
municípios de Afogados da Ingazeira, Carnaíba, Itapetim, Santa Terezinha, São José do Egito,
Tabira e Tuparetama. Conforme o último Censo Demográfico realizado em 2010 pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esses municípios possuem uma
população de 144.715 habitantes, residindo 67,3% da população na área urbana e 32,7% da
população na área rural.
A economia da região de análise se baseia na agricultura, pecuária e em pequenos
comércios, apresentando em 2012 um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 898.661.000,
correspondendo a 0,76% do PIB do estado.
O índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) dos sete municípios analisados é 0,607,
em 2010. A dimensão que mais contribui para o IDHM dessa região é Longevidade, com
índice médio de 0,750, seguido de Renda, com índice médio de 0,583, e de Educação, com
índice médio de 0,529 (ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL,
2018).
O Gráfico 1 mostra que nos municípios de análise em Pernambuco, o número de bancos
comerciais é maior do que o número de PA’s da Cooperativa, porém, é possível verificar que
a Cooperativa vem expandindo os seus Pontos de Atendimentos de maneira superior que os
bancos, apresentando um crescimento no número de PA’s de 600% no período de 2000 a
2012, enquanto os bancos comerciais apresentaram um crescimento de 71% no número de
agências, no mesmo período.
Gráfico 1 - Evolução no número de agências bancárias e da Cooperativa de Crédito
Sicoob Pernambuco nos municípios de análise em PE – 2000 a 2012
100
Fonte: Estban – Bacen, 2018. Sicoob Pernambuco, 2018
3.1.2 Cariri Ocidental – PB
A microrregião do Cariri Ocidental é composta por 17 municípios, sendo fruto desse
trabalho os municípios de Monteiro, Ouro Velho e Prata. Esses três municípios abrangem
uma população de 37.634 habitantes. Desses, 24.752 residem na zona urbana e 12.882
residem na zona rural e apenas 44,2% da população é economicamente ativa, conforme
informações do último Censo Demográfico de 2010, realizado por o IBGE. A economia dessa
região se concentra na pecuária, em especial na criação de caprinos, sendo, em 2016,
responsável por 18,6% de toda a criação de caprinos realizada na região do Cariri.
Assim como os municípios analisados na microrregião do Sertão do Pajeú, Monteiro,
Ouro Velho e Prata têm pouca participação no PIB do estado.
O baixo nível de desenvolvimento na região também pode ser verificado nos Índices de
Desenvolvimento Humano. No ano de 2000 e 2010, o município de Prata apresentou os
menores índices: 0,434 e 0,608, respectivamente.
O Gráfico 2 mostra que nos municípios de análise na Paraíba, o Sicoob Pernambuco até
2004 não possuía nenhum Ponto de Atendimento nessa região. A partir de 2005, a
Cooperativa passou a operar com o mesmo número de agências que os bancos comerciais na
região, sendo um destaque que nos municípios de Ouro Velho e Prata, a cooperativa atente de
maneira exclusiva a população.
Gráfico 2 - Evolução no número de agências bancárias e da Cooperativa de
Crédito Sicoob Pernambuco nos municípios de análise na PB – 2000 a 2012
7 8 8 8
11 11 11 11 11 11 11 11 12
1 1 1 1 2 2
3 3 3
5 6
7 7
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Bancos Comerciais Sicoob PE
101
Fonte: Estban – Bacen, 2018. Sicoob Pernambuco, 2018
Segundo Crocco (2010), referência neste trabalho, o indicador de escala do sistema
bancário, calculado através da razão do ativo total sobre o PIB, mede o tamanho do sistema
financeiro em relação à economia local. Ainda segundo o autor, o indicador não calcula
simplesmente o grau de desenvolvimento do sistema financeiro, e sim a sua funcionalidade,
pois como bem explica, o sistema financeiro pode ter um ativo total elevado em relação ao
PIB e aloca-lo em outros ativos que não a oferta de crédito, o que restringe o investimento e,
consequentemente, o desenvolvimento da região.
Tabela 1 – Escala do Sistema Financeiro, 2000-2012
Anos Bancos Comerciais Sicoob Pernambuco
2000 0,184 0,000
2001 0,075 0,006
2002 0,076 0,007
2003 0,073 0,009
2004 0,082 0,013
2005 0,267 0,021
2006 0,455 0,027
2007 0,353 0,029
2008 0,200 0,022
2009 0,760 0,010
2010 0,852 0,015
2011 0,994 0,021
2012 1,111 0,025
Fonte: ESTBAN e IPEA DATA, 2018.
1 1 1 1 1
2 2 2 2 2
3 3 3
0 0 0 0
1
2 2 2 2
3 3 3 3
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Bancos Comerciais Sicoob PE
102
Os resultados alcançados, explanados na Tabela 1, revelam que o peso das agências
bancárias localizadas nas regiões periféricas do Sertão do Pajeú em Pernambuco e na região
do Cariri Ocidental na Paraíba, é relativamente maior quando comparado ao peso da agência e
PA’s da Cooperativa de Crédito Sicoob Pernambuco, sediada nessa mesma localidade. Os
bancos comerciais apresentaram o maior valor deste indicador durante todo o período de
análise (2002-2012).
O segundo indicador analisado calcula a funcionalidade do sistema financeiro através da
proporção do crédito total concedido no ativo total e permite entender como funciona o
sistema financeiro da região.
Tabela 2 – Funcionalidade do Sistema Financeiro (Crédito Total / Ativo Total),
2000-2012
Anos Bancos Comerciais Sicoob Pernambuco
2000 0,04 0,59
2001 0,16 0,15
2002 0,19 0,01
2003 0,2 0,21
2004 0,15 0,18
2005 0,13 0,18
2006 0,09 0,16
2007 0,14 0,16
2008 0,27 0,26
2009 0,13 0,8
2010 0,14 0,77
2011 0,13 0,75
2012 0,13 0,72
Fonte: ESTBAN-BCB, 2018.
De acordo com a Tabela 2, é possível verificar que esse indicador apresentou, no
período de análise, valores mais elevados para a Cooperativa de Crédito, indicando ainda que
os bancos comerciais presentes nesta região realizaram maiores aplicações de recursos do
ativo em concessão de crédito, quando comparado a Cooperativa, apenas nos anos de 2001,
2002 e 2008. A partir de 2008, o Sicoob Pernambuco apresentou valores significativamente
maiores que os bancos comerciais, indicando que após um período de incertezas gerado pela
103
crise econômica mundial, enquanto os bancos comerciais estabilizam a sua concessão de
crédito em relação ao ativo, a Cooperativa aumentou a oferta de crédito, passando a atender
um público desassistido por outras instituições.
Esse resultado, além de indicar que a Cooperativa aloca mais recursos para a oferta de
crédito do que as agências bancárias, mostra que os bancos, com suas sedes localizadas em
grandes centros econômicos, optam muitas vezes por aplicar seus recursos em regiões mais
desenvolvidas e em outros tipos de operações que não a concessão de crédito, enquanto que a
Cooperativa possui ampla liberdade em ofertar crédito na região de atuação, mesmo que
periférica, não realizando transferência de recursos para outras regiões.
O indicador de Qualidade do Crédito Concedido, calculado pela razão da Provisão para
Créditos em Liquidação sobre o Crédito Total, mensura a qualidade do crédito ofertado na
região.
Tabela 3 – Qualidade do Crédito Concedido (Provisão para Crédito em
Liquidação / Crédito Total), 2000-2012
Anos Bancos Comerciais Sicoob Pernambuco
2000 0,06 0,00
2001 0,08 0,00
2002 0,09 0,12
2003 0.08 0,01
2004 0,10 0,00
2005 0,04 0,01
2006 0,05 0,04
2007 0,04 0,01
2008 0,03 0,01
2009 0,04 0,02
2010 0,04 0,03
2011 0,06 0,02
2012 0,07 0,03
Fonte: ESTBAN-BCB, 2018.
A análise desse indicador mostra que o Sicoob Pernambuco reserva menos recursos em
função da expectativa de inadimplência em relação ao total do crédito concedido, o que
significa que a Cooperativa possui uma melhor administração do ativo funcional quando
104
comparado aos bancos que atuam na mesma região periférica abrangida neste trabalho. Um
dos motivos que podem explicar os resultados, encontrados na Tabela 3, é a diferença nas
taxas praticadas pelas cooperativas de crédito e os bancos comerciais. Menores taxas de juros
refletem em uma menor inadimplência (RESOLUÇÃO SICOOB PERNAMBUCO 026/2018,
BACEN, 2018).
Com relação a gestão do passivo, o quarto indicador analisado é calculado através da
razão de Depósitos à Vista sobre o Total do Passivo. Quanto maior o resultado desse
indicador, maior é a necessidade da instituição financeira possuir reservas.
Tabela 4 – Liquidez do Passivo (Depósito à Vista / Passivo Total), 2000-2012
Anos Bancos Comerciais Sicoob Pernambuco
2000 0,06 0,34
2001 0,15 0,07
2002 0,13 0,06
2003 0,12 0,05
2004 0,09 0,05
2005 0,05 0,03
2006 0,03 0,03
2007 0,04 0,03
2008 0,08 0,06
2009 0,05 0,18
2010 0,05 0,19
2011 0,05 0,17
2012 0,04 0,18
Fonte: ESTBAN-BCB, 2018
Para a análise realizada nos municípios do Sertão do Pajeú e Cariri Ocidental, é possível
verificar que o Sicoob Pernambuco apresentou, em grande parte do período analisado (2001 a
2008), valores menores, quando comparados aos bancos comerciais, conforme pode ser visto
na Tabela 4. Esse indicador mostra que o passivo da Cooperativa é menos líquido do que o
passivo dos bancos comerciais. Essa situação foi denomina por Crocco (2010) como ―forte
gerenciamento do passivo‖. Situações contrárias são denominadas de ―fraco gerenciamento do
passivo‖.
105
Apenas nos anos 2000, inicio das atividades da Cooperativa e no período de 2009 a
2012, a Cooperativa teve um gerenciamento do passivo menos eficiente do que os dos bancos
comerciais.
O quinto e último indicador analisado trata ainda da gestão do passivo, sendo calculado
através da razão dos Depósitos à Prazo sobre o Passivo Total. Quanto maior esse indicador
melhor está sendo o gerenciamento do passivo, pois indica que as instituições financeiras não
precisam manter uma grande proporção de reservas para cobrir possíveis retiradas de recursos
feitas pelos depositantes. O depósito a prazo é um passivo com baixo grau de liquidez e
geralmente não é retirado do sistema financeiro no curto prazo, uma vez que recebe
remuneração de acordo com o tempo que fica aplicado na instituição.
Tabela 5 – Volume de Reservas (Depósito à Prazo / Passivo Total), 2000-2012
Anos Bancos Comerciais Sicoob Pernambuco
2000 0,329 0,259
2001 0,054 0,095
2002 0,055 0,004
2003 0,040 0,015
2004 0,026 0,005
2005 0,022 0,000
2006 0,016 0,000
2007 0,018 0,007
2008 0,037 0,048
2009 0,418 0,203
2010 0,414 0,303
2011 0,400 0,284
2012 0,420 0,304
Fonte: ESTBAN-BCB, 2018
Utilizando-se desse indicador para o fim que propõe esse trabalho, verifica-se que os
bancos apresentam em quase todo o período de análise, com exceção dos anos 2001 e 2008,
um ―forte gerenciamento do passivo‖, quando comparado a Cooperativa. O resultado desse
indicador, visualizado na Tabela 5, pode ser explicado pela tímida carteira de depósitos a
prazo da Cooperativa, que nos anos de 2005 e 2006 esteve com essa carteira fechada.
106
4 CONCLUSÃO
Esse artigo teve como objetivo analisar a atuação de bancos e cooperativas de crédito
em regiões com baixo dinamismo econômico, no período de 2000 a 2012. Os resultados aqui
encontrados, assim como o referencial teórico utilizado para tal análise, sugestiona que a
região influencia o comportamento das instituições financeiras, mostrando que não apenas
fatores estruturais são os responsáveis por o abismo existente entre as regiões, quando
falamos de desenvolvimento econômico.
Para realizar tal análise foram utilizados cinco indicadores financeiros, desenvolvidos
por Crocco (2010). Esses indicadores demonstram o peso dos dois tipos de instituições
financeiras abordadas aqui (bancos e cooperativas de crédito), a disposição que cada
instituição tem em ofertar crédito na região e a qualidade desse crédito. Foi possível ainda
analisar através dos indicadores o grau de gerenciamento do passivo dessas instituições
financeiras, classificando-os como ―forte gerenciamento do passivo‖ ou ―fraco gerenciamento
do passivo‖, conforme bem abordou Crocco em seu trabalho de 2010.
A partir dos dados extraídos do banco de dados ESTBAN e dos Balancetes da
Cooperativa, foi possível constatar que o Sicoob Pernambuco possui menor peso na região
analisada quando comparado aos bancos, porém a concessão de crédito realizada pela
Cooperativa é maior do que as dos bancos comerciais, demonstrando que devido a alto nível
de incertezas da região, os bancos comerciais têm uma maior preferência pela liquidez do que
a Cooperativa de Crédito. A disponibilidade da Cooperativa em atender os seus associados,
direcionando os seus ativos para a oferta de crédito, reflete em uma menor inadimplência,
comprovada por o indicador de Qualidade do Crédito Concedido, calculado pela razão da
Provisão para Créditos em Liquidação sobre o Crédito Total. A partir desse indicador é
possível verificar que a qualidade do crédito ofertado por a Cooperativa é melhor do que a do
crédito ofertado por os bancos comerciais. Um dos fatores que explica os resultados desse
indicador é a diferença nas taxas praticadas por essas instituições, que na maioria das
modalidades, são mais baixas na Cooperativa de Crédito.
No que se refere à gestão do passivo, foi possível verificar, através dos indicadores de
Liquidez do Passivo calculado com as informações de depósitos à vista, que a Cooperativa
possui um passivo menos líquido do que os bancos, indicando um ―forte gerenciamento do
passivo‖. Na análise do indicador de Volume de Reservas, realizado com as informações de
107
depósitos à prazo dessas instituições financeiras, é possível verificar que as agências bancárias
devem possuir menos reservas para cobrir eventuais saques, tendo em vista que possuem um
passivo (depósito a prazo), que, supostamente, não será retirado do sistema no curto prazo,
devido a remuneração que gera, de acordo com o tempo. Ao contrário dos bancos comerciais,
o Sicoob Pernambuco apresentou uma carteira de depósito a prazo quase que irrelevante no
período de 2000 a 2004 e uma carteira zerada em 2005 em 2006. Nos anos subsequentes, que
se segue a análise, a Cooperativa vem apresentando uma evolução significativa nessa carteira,
porém, ainda bem aquém dos números apresentados por os bancos.
Os resultados alcançados com os indicares corroboram a hipótese de que em economias
menos desenvolvidas as cooperativas de crédito apresentam maior atuação no que se refere à
concessão de crédito. A Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de Pernambuco (Sicoob
Pernambuco) atua de maneira mais pró ativa nos 10 municípios analisados, localizados no
Sertão do Pajeú – PE e no Cariri Ocidental – PB, concedendo mais crédito em relação ao seu
ativo e transferindo menos recursos para regiões mais desenvolvidas. Já os bancos comerciais
aqui tratados, Banco do Brasil S.A., Banco Bradesco S.A., Banco Santander (Brasil) S.A. e a
Caixa Econômica Federal, apesar de possuírem um maior peso na região, atuam ofertando
menos crédito em relação ao seu ativo, devido a uma maior preferência pela liquidez, gerada
pelos altos níveis de incertezas presentes nestas regiões.
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regional desigual: a perspectiva pós-keynesiana. Revista de Economia Política. V. 18, n.1
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108
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sua aplicação ao caso brasileiro. Tese apresentada para obtenção do título de Professor
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2010.
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FREITAS, P.M.R. Estratégias Bancárias e Oferta no Nordeste e Sudeste no período 2008-
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https://cidades.ibge.gov.br/
IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em:
http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx.
109
ÁREA TEMÁTICA: GT 4. ECONOMIA REGIONAL E URBANA
POBREZA NOS ESTADOS NORDESTINOS NO PERÍODO DE 2009 A 2015: UMA
PERSPECTIVA MULTIDIMENSIONAL9
POVERTY IN THE NORTHEAST STATES FROM 2009 TO 2015: A
MULTIDIMENSIONAL PERSPECTIVE
ÉRIKA COSTA SOUSA
(Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Piauí – UFPI, e-mail:
erika.tiger@hotmail.com)
JANAILDO SOARES DE SOUSA
(Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Ceará
- UFC, Mestre em Economia Rural – UFC, Especialista em Políticas Públicas –
UNIARA e Bacharel em Economia – FIP/PB, Professor Universitário, e-
mail:profjanaildo@gmail.com)
JOSÉ NATANAEL FONTENELE DE CARVALHO
(Mestre e Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFPI, Bacharel
em Ciências Econômicas, Professor do Departamento de Ciências Econômicas e
Quantitativas da UFPI, Campus Parnaíba, e-mail: natanaelfontenele@ufpi.edu.br)
JOSÉ RIBAMAR PEREIRA
(Mestre em Economia pela UFC, Especialista Gestão Estratégica dasOrganizações
Públicas e Sociais – UESPI, Bacharel em Economia – UFPI, Professor do Departamento
de Ciências Econômicas e Quantitativas da UFPI, Campus Parnaíba, e-mail:
ribamarufpi@gmail.com)
ANDRÉA FERREIRA DA SILVA
(Doutora em Economia pela UFPB, Mestre em Economia Rural pela UFC, Bacharel em
Economia – URCA, professora temporária de Economia da URCA, Campus Iguatu, e-
mail: andrea.economia@yahoo.com.br)
9O presente artigo é parte da monografia da primeira autora, a qual foi orientada pelo segundo
autor. Os demais autores contribuíram com sugestões, as quais foram acatadas na versão final
do trabalho.
110
POBREZA NOS ESTADOS NORDESTINOS NO PERÍODO DE 2009 A 2015: UMA
PERSPECTIVA MULTIDIMENSIONAL
POVERTY IN THE NORTHEAST STATES FROM 2009 TO 2015: A
MULTIDIMENSIONAL PERSPECTIVE
RESUMO:
O presente estudo tem como objetivo mensurar o nível de pobreza multidimensional dos estados
nordestinos no período de 2009 a 2015. Como estratégia empírica adota-se a criação do Índice de
Pobreza Multidimensional da Região Nordeste – IPMNE dos estados nordestinos. Para tanto, utiliza a
metodologia construída por Bourguignon e Chakravarty (2003), adaptada por Silva, Sousa e Andrade
(2017), a qual apresenta uma forma inovadora de mensurar a pobreza multidimensional. Para a
construção do IPMNE são utilizados os micro-dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
(Pnad) dos respectivos anos. Os resultados das seis dimensões evidenciam uma redução da proporção
dos pobres multidimensional da população nordestina. No entanto, três merecem uma atenção maior:
(i) Educação; (ii) Comunicação e Informação e (iii)Trabalho e Demografia. As referidas dimensões
foram as que, mesmo com a retração no período, apresentaram níveis preocupantes.No tocante as
análises isoladas das regiões metropolitana, urbana e rural, verificou-se que a pobreza foi mais intensa
na área rural. Portanto, o presente estudo pode ser utilizado para auxiliar futuras políticas públicas de
redistribuição de renda da Região Nordeste, as quais precisam ser elaboradas levando em consideração
as dimensões que mais impactam a multidimensionalidade da pobreza, de modo que se consiga reduzir
os efeitos adversos deste entrave econômico-social, principalmente entre a população rural da unidade
de observação em estudo.
Palavras-chaves: Pobreza. Pobreza Multidimensional. Privação. Funcionamentos.
ABSTRACT:
The present study aims to measure the multidimensional poverty level of the northeastern states from
2009 to 2015. As an empirical strategy we adopt the creation of the Multidimensional Poverty Index of
the Northeast - IPMNE of the northeastern states. To this end, it uses the methodology built by
Bourguignon and Chakravarty (2003), adapted by Silva, Sousa and Andrade (2017), which presents
an innovative way of measuring multidimensional poverty. For the construction of the IPMNE, we use
the data from the National Household Sample Survey (PNAD) from the respective years. The results of
the six dimensions show a reduction in the proportion of the multidimensional poor of the
northeastern population. However, three deserve greater attention: (i) Education; (ii) Communication
and Information and (iii) Work and Demography. These dimensions were those that, even with the
retraction in the period, presented worrying levels. Regarding the isolated analyzes of the
metropolitan, urban and rural regions, it was found that poverty was more intense in the rural area.
Therefore, the present study can be used to help future public income redistribution policies of the
Northeast Region, which need to be elaborated taking into account the dimensions that most impact
the multidimensionality of poverty, so that the adverse effects of this barrier can be reduced. mainly
among the rural population of the observation unit under study.
Keywords:Poverty. Multidimensional poverty.Deprivation.Runs.
111
1.Introdução
O Nordeste brasileiro trata-se de uma região que ainda apresenta baixos níveis de
desenvolvimento e, dessa forma, merece uma atenção minuciosa em termos de análise de seus
indicadores e das respectivas políticas públicas que venham contribuir para o arrefecimento dos
entraves da redução da miséria. ―Diante disso, surge a importância da mensuração da pobreza no
Nordeste brasileiro não apenas pela ótica da renda. É necessário, portanto, ampliar o estudo para o
atendimento das necessidades básicas e incrementar a definição de pobreza um caráter
multidimensional [...]‖ (SILVA; ARAÚJO; JUSTO; CAMPOS, 2017). Desse modo, torna-se
preponderante a análise da pobreza além da privação de renda.
Visto que, por muito tempo a pobreza foi medida como escassez de renda,―pois, por
simplificação,a renda representa um meio para adquirir bens essenciais para sobrevivência‖
(CALDAS; SAMPAIO, 2015, p. 76). No entanto, mensurar a pobreza via a abordagem
unidimensional (privação de renda) esmaece o retrato da pobreza de um país, região, estado ou
município, uma vez que a pessoa pode ser pobre por não ter acesso aos serviços básicos como: água
encanada, saúde, educação, segurança, habitação, saneamento básico, dentre outros. Essa condição
corrobora com o pensamento de Kageyama e Hoffmann (2006), quando afirmam que é preciso
considerar que a pobreza é um fenômeno multidimensional, pois a partir dessa análise pode-se
identificar de fato os reais níveis de privação dos indivíduos, bem como as dimensões em que eles
mais se concentram.
Segundo o Relatório do Banco Mundial (1990), a pobreza multidimensional pode ser
definida a partir de situações de privação em vários aspectos da vida, como de quem passa fome,
carece de habitação e vestuário, estar doente e não tem condições econômicas para se tratar, é
analfabeto e não tem meios para conseguir a escolarização. Em suma, o conceito de pobreza vai
muito além de privação de renda, tendo em vista que se define pobreza como incapacidade de ter
condições mínimas de qualidade de vida.
Para Kageyama e Hollfmann (2006, p. 84), a pobreza multidimensional ―[...] impõe
privações em condições básicas de existência, como luz elétrica, água encanada e instalações
sanitárias, e dificuldade de acesso aos serviços de saúde e educação [...]‖. Ou seja, a pobreza não
pode ser vista e mensurada apenas pela ótica da privação de renda, tendo em vista que os aspectos
reportados intensificam o nível de pobreza das famílias e, portanto, enviesam a situação da pobreza.
Dentre as regiões brasileiras, ―[...] a situação da pobreza é mais grave nas regiões Norte e
Nordeste‖. (SILVA et al, 2017, p. 22) e, dessa forma, merecem uma atenção mais austera em
112
termos de análise de seus indicadores e das respectivas dimensões. Esse contexto instiga uma
série de questionamentos, mas o presente estudo centra-se em dois deles: (i) qual o nível da
pobreza multidimensional dos estados nordestinos no período de 2009 a 2015?;e (ii) em quais
dimensões apresentam os maiores níveis privação. Visto isso, o presente trabalho se propõe a
analisar o nível da pobreza multidimensional dos estados nordestinos no período de 2009 a
201510
. Especificamente tem-se: (i) criar o Índice de Pobreza Multidimensional - IPM dos
estados nordestinos para o período de 2009 a 2015 e (ii) Examinar o nível de privação da
pobreza por estados e grupos da Região Nordeste no período de 2009 a 2015. As respostas a
esses questionamentos e o alcance dos objetivos ora propostos demandam de análises
multidimensionais e, portanto, buscandoalcançá-los é construído o Índice de Pobreza
Multidimensional da Região Nordeste – IPMNE, método inovador, construído por
Bourguignon e Chakravarty (2003) e adaptado por Silva, Sousa e Araújo (2017). Apesar de
ser uma adaptação metodológica, não há estudos recentes que abordem o objeto em questão,
como a presente proposta faz.
O interesse em avançar nessa análise pode ser justificado por alguns motivos, a saber:
(i) não se verificou na literatura estudos que abordem a pobreza multidimensional no período
em análise; (ii) a redução da pobreza e desigualdade de renda desempenham um papel
importante no crescimento e desenvolvimento econômico (SEN, 1996; HOFFMANN;
KAGEYAMA , 2006); (iii) disponibilidade dos dados; (iv) por a redução da pobreza ter sido
integrada como um das metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS11
e (v)
dado que a região Nordeste do Brasil ainda apresenta níveis alarmantes de incidência de
pobreza e, conforme Rocha (1995), buscar a redução de tais níveis de privações resultará em
um redução da desigualdade regional da pobreza e, portanto, passa a ser uma estratégia
plausível.
Ao discutir sobre os níveis de privação da Região Nordeste no período de 2009 a
2015, sob a perspectiva multidimensional, o artigo traz pelo menos duas contribuições
10
A análise ficou restrita até 2015 pelo fato que após o ano de 2015, o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE não disponibiliza mais a PNAD anual, só a contínua. 11
Trata-se de uma agenda global reestabelecida com base nos ODMs e tem por objetivo
promover o desenvolvimento econômico, social e ambiental de forma sustentável até 2030.
Para isso, será necessário atingir seus dezessete objetivos e, dentre eles, o terceiro, o qual
engloba a erradicação da mortalidade infantil (PNUD, 2016).
113
relevantes. A primeira, diz respeito à produção do diagnóstico da situação dos estados
nordestinos no tocante ao nível de pobreza multidimensional. Essa contribuição é importante
porque serve de instrumento para uma melhor compreensão do nível de pobreza
multidimensional dos estados nordestinos, realidade essa que poderá contribuir para os
policymakersao elaborarem políticas mais efetivas, tendo em vista que não irão considerar
apenas a privação de renda. À segunda por evidenciar as dimensões que mais impactam a
pobreza multidimensional no nordeste brasileiro. Esse contributo confirma os achados de
Hoffmann e Kageyama (2006), Silva et al (2017) e Silva, Sousa e Araújo (2017): a pobreza é
fenômeno multidimensional.
Além desta introdução, o presente artigo apresenta mais quatro seções: (ii)
apresentação dos procedimentos metodológicos empregados para o alcance dos objetivos
propostos; (iii) análise e discussão dos resultados e, por fim, (iv) a conclusão do estudo.
2Procedimentos Metodológicos
A presente seção tem como objetivo descrever todas as etapas dos procedimentos
metodológicos realizados, para responder a problemática em tese e alcançar os objetivos
propostos.
2.1 Local do estudo e origem dos dados
O presente estudo adotou como unidade de observação os estados nordestinos.Os
dados utilizados foram extraídos dos micro-dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD), referentes aos anos de 2009 a 2015, exceto 2010, por ser um ano em que
ocorreu o Censo e, portanto, não há PNAD para o respectivo ano.
2.2 Construção das dimensões
A elaboração do IPMNE considerou-se seis dimensões, formadas por 22 variáveis (água
na moradia, capacidade de compra de alimentos, telefone, televisão, computador, internet,
114
acesso ao ensino primário, fundamental incompleto, fundamental completo, ensino médio
completo, incompleto, proporção de crianças na escola, tipo de moradia, iluminação, material
de parede, material de teto, número de pessoas por dormitório, esgotamento sanitário,
condição sanitária, eliminação do lixo, trabalho precário e razão de dependência por
domicílio) derivadas das variáveis originais extraídas das PNADs, conforme ilustra a Tabela
1. Estas foram escolhidas com base na revisão da literatura acerca da temática da pobreza,
tanto sob o enfoque das necessidades básicas, quanto das capacidades (SEN, 1976, 1998,
1999, 2000, 2001).
Tabela 1 - Dimensões e indicadores da pobreza multidimensional Dimensões Variáveis Derivadas Indicadores
Alimentos e Água
Água na Moradia ,
Capacidade de compra de
alimentos {
}
Comunicação e
Informação
Telefone ,
Televisão ,
Computador ,
Internet ,
Educação
Ensino Primário {
Ensino Fundamental incompleto {
Ensino Fundamental completo {
Ensino Médio incompleto
{
Ensino Médio completo
{
Proporção de crianças na escola {
Condições da Moradia
Tipo de Moradia
{
Iluminação {
Material da parede {
115
Material do teto {
Nº de pessoas por dormitório ,
Saúde
Esgotamento sanitário {
Condição Sanitária {
Eliminação do lixo {
Trabalho e Demografia
Trabalho precário ,
Razão de dependência por
domicílio {
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da PNADs de 2009 a 2015
A Tabela 1 mostra os indicadores construídos para i={1,2,...,n} pessoas,
j={1,2,...,h} domicílios e k={1,2,...,m} dimensões. Todos os indicadores têm valor máximo de
1 (não privado) e mínimo de 0 (privação total).
Em cada dimensão há uma agregação de indicadores sobre a base da seguinte função:
(
) para as variáveis l= {1, ..., p}, onde a função ( ) é específica de
cada dimensão k. Para identificar o nível de privação de cada dimensão, realiza-se a
reformulação dos índices utilizando-se a formula: , sendo que este tem valor
máximo de 1 (privação total) e mínimo de 0 (sem privação).
Em cada dimensão busca-se analisar o nível de privação dos indivíduos. Na Dimensão 1
– Alimentos e Água busca-se analisar o nível de privação no tocante ao acesso de água na
moradia e capacidade de compra de alimentos, que é composta pelas seguintes variáveis
dummies: água na moradia e capacidade de compra de alimentos. Cada variável assume valor
entre 0 (zero) e 1 (um) Quanto mais próximo 1, maior é o nível privação dos indivíduos. O
domicílio é considerado privado se a água do mesmo for proveniente de poço ou nascente,
outra providência, caso o abastecimento ocorra por meio da rede geral de distribuição, é
considerado não privado.
A variável capacidade de compra de alimentos mede a privação monetária (ou seja, a
renda), como um substituto para a privação de alimentos. Os domicílios com renda per capita
inferior à linha de pobreza são considerados privados, por não serem capazes de suprir
necessidades nutricionais mínimas. As linhas de pobreza utilizadas foram aquelas do Instituto
l
kiX
,
116
de Estudo do Trabalho e Sociedade (IETS), elaborado por Rocha (2006), com base na
Pesquisa de Orçamento Familiar (POF).
Na Dimensão 2 - busca-se analisar o nível de privação no tocante a comunicação e
informação, que é composta pelas seguintes variáveis dummies: telefone, televisão,
computador e internet. Cada variável assume valor entre 0 (zero) e 1 (um) Quanto mais
próximo 1, maior é o nível privação dos indivíduos no tocante aos meios de informação e
comunicação.
No caso da Dimensão 3 – (Educação) há uma ressalva a ser feita, é levado em
consideração as prerrogativas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/1996), a
qual estabelece um nível de escolaridade mínima requerido para uma determinada faixa etária.
Caso o indivíduo tenha o nível de escolaridade maior que o requerido na sua idade, é
considerado não privado, caso contrário, privado. A referida dimensão compreende 6
indicadores (Tabela 1), os quais foram analisados a partir da idade adequada referente a cada
etapa escolar: Ensino primário, Ensino Fundamental incompleto e completo, Ensino Médio
incompleto e completo. Além de verificar a situação dos indivíduos em relação a cada etapa
escolar, é possível também captar o ―contexto educacional‖ no qual o indivíduo está inserido.
No caso da proporção de crianças da escola faz-se uma relação do total de crianças no
domicílio, buscando identificar se houve um aumento de crianças com acesso à educação. De
acordo com o art. 2º da Lei nº 8.069/90, considera-se criança a pessoa de até 12 anos de idade
incompletos e adolescentes, aquela entre doze e dezoito anos de idade.
A Dimensão 4 – Moradia, por sua vez, foi incluída no intuito de verificar o nível de
privação dos nordestinos no tocante às condições de moradia.Na referida dimensão foram
utilizados os seguintes indicadores: tipo de moradia, iluminação, material de parede, material
do teto e número de pessoas por dormitório (Tabela 1).Os respectivos indicadores são
essenciais para captar os níveis de privação de moradia.
Vale destacar que a ―Declaração Universal dos Direitos do Homem reconhece o direito
à moradia adequada como essencial para um padrão de vida digno. No Brasil, a Constituição
Federal de 1988 também incluiu a moradia entre os direitos sociais mínimos, prevendo a
promoção de programas de habitação e saneamento básico pelas três esferas do governo‖
(MORAIS, 2002, p. 109).
117
Por fim, tem-se a Dimensão 5 – Trabalho e Demografia, a qual leva em consideração
que a situação de trabalho precário é aquela na qual o trabalhador não era segurado da
Previdência Social, nem contribuinte de outro Instituto de Previdência e, por isso, não tinha
proteção contra os chamados riscos sociais (incapacitantes ao trabalho). Além disso, utiliza-se
a variável razão de dependência, a qual se trata de um indicador demográfico utilizado nas
análises de mercado de trabalho e mostra a relação entre o número de pessoas em idade
potencialmente inativa e ativa.
2.3 Indicador de pobreza multidimensional
Um índice de pobreza multidimensional pode ser apresentado como a seguinte função:
( ) (1)
Em que é uma matriz de atributos, como renda, educação, saúde, (n x m), para
* + pessoas e * +dimensões, é um vetor de limites ou "níveis
minimamente aceitáveis" para diferentes atributos (BOURGUIGNON: CHAKRAVARTY,
2003).
A construção de um índice pode ser definida por meio de pelo menos três diferentes
abordagens metodológicas: a abordagem axiomática, a teoria dos conjuntos fuzzy e a teoria
das informações (MAASOUMI;LUGO, 2008). No presente estudo utiliza-se a abordagem
axiomática, a qual foi iniciada por Sen (1976). Essa abordagem avalia índices que utilizam
uma linha de pobreza para cada dimensão (TSUI, 2002).
Nesse sentido, conforme Bourguignon e Chakravarty (2003) - um índice
multidimensional geral – pode ser decomposto e cumpre os axiomas necessários, podendo ser
definido como:
( )
∑ (
, ( )
* (
)
) (2)
118
Por abordagem vinculativa para definir f (∙), e usando uma variação no índice de Foster,
Greer e Thorbecke (1984) para capturar a severidade da pobreza, a pobreza multidimensional
pode ser medida da seguinte forma:
( )
∑ *
∑ + (3)
É possível concluir, a partir da equação (2), que as dimensões não são substituíveis, mas
se inter-relacionam com o nível geral de pobreza, o que é consistente com uma abordagem
baseada em dimensões de bem estar. Além disso, no nível individual, mais peso é dado para
as dimensões que apresentam um maior Gap de privação e, em seguida, mais peso é atribuído
a pessoas com maiores níveis de privação. Isto faz com que o índice seja sensível para a
distribuição de pobreza. A pobreza a nível individual se define por:
∑ , com um
valor máximo de 1 (pobreza total) e um mínimo de 0 (sem pobreza).
Vale destacar que em cada dimensão foram calculadas duas categorias, a saber: (i)
índice de incidência (proporção de pobres) e (ii) índice de privação para a região e grupos
demográficos. No caso do índice de incidência é considerado que todas as pessoas que estão
abaixo do limite em pelo menos uma variável, sofrem privação (enforque de união), com base
na seguinte regra:
{
(4)
No tocante ao nível de privação, é levado em consideração que há um nível de privação
para cada pessoa em cada indicador, e é medido diretamente por , embora o nível privação
individual em cada dimensão é determinada pela função de agregação ( ) como segue:
∑
(5)
Desse modo, os indicadores se agregam a nível para cada dimensão sobre a base da
seguinte função: (
) para as variáveis l = {1, ..., p}, onde a função ( ) é
específica de cada dimensão k. Todos os indicadores têm o valor máximo de 1 (nível
119
alcançado) e um valor mínimos de 0 (privação total), sendo essa definição utilizada para
reduzir os problemas de descontinuidade.
Por fim, tem-se o nível de privação global para cada dimensão pode ser decomposto por
meio da função:
∑ (6)
Para medir o nível de privação global ( ) usa-se (6) em cada dimensão e define o
nível de privação médio entre as variáveis. Para identificar o nível de privação de cada
dimensão, a reformulação dos índices é feita usando a fórmula: , onde o nível
de privação é interpretado como a diferença relativa entre o nível individual de e o
limite da privação , com um valor máximo de 1 (privação total) e um mínimo de 0
(sem privação).
3 Resultados e Discussão
Inicialmente analisa-se os resultados dos graus de privação em cada um dos
indicadores e nas respectivas dimensões, de 2009 a 2015. E, num segundo momento, a
pobreza multidimensional é analisada entre áreas (metropolitana, urbana e rural) e grupos:
sexo, faixa etária e raçae Estado.
3.1 Dimensão 1: Alimentos e Água
A pobreza na Região Nordeste é um fator estrutural; um problema hermético e tem
uma característica multidimensional. Conforme Neder etal (2007), a pobreza concentra-se
fortemente nesta região porque ser uma área que possui osmaiores índices de carência do
Brasil.
Conforme Silva, Sousa e Araújo (2017, p. 227), a água [...] ―é estabelecida como bem
de necessidade básica para a sobrevivência humana, e sua nos domicílios mede a privação ou
não da população‖. Um fator a ser considerado é a origem da água no domicílio; ―se o
abastecimento for da rede proveniente geral de distribuição, o domicílio é considerado não
120
privado. Contudo, se for oriundo de poço ou nascente, ou outra providência, é denominado
privado do bem‖. (SILVA; SOUSA; ARAÚJO, 2017, p. 227). Notou-se, a partir dos dados
expostos (Tabela 2) que houve uma queda da privação do acesso à agua nos domicílios da
Região Nordeste no período de 2009 a 2016. Em 2009, por exemplo, cerca de 15,63% não
tinha acesso à água potável proveniente da rede geral de distribuição, já em 2015 13,73% não
possuíam. Portanto, nota-se um pífio decrescimento da privação desse indicador.
Conforme Maluf (2006) a pobreza é o determinante principal de a insegurança
alimentar, isto é, a ausência de acesso regular a uma alimentação adequada, é a égide para os
fenômenos de fome e da subnutrição. Assim, fez-se uma análise da variável capacidade de
compra de alimentos, em que, mede a privação monetária (ou seja, a renda) como um
substituto para a privação de alimentos dentre os anos de 2009 a 2015.
Os domicílios, com renda per capita inferior à linha de pobreza, são considerados
privados por não serem capazes de consumir as necessidades nutricionais mínimas. Assim,
considerando os resultados reportados a seguir, na Tabela 2, nota-se que houve um
decrescimento da privação monetária de 8,48% em 2009 para 6,90% em 2015. É importante
observar que na dimensão como um todo o impacto da redução é perceptível em conjunto e
nos indicadores isolados. Portanto, houve uma redução de 21,82% em 2009 para 19,17% em
2015, diminuição de 2,65% da pobreza multidimensional no Nordeste brasileiro na dimensão
água e alimentos.
Conforme Laderchiet al (2003) a pobreza monetária é melhor representada pelo
consumo do que pela renda, em virtude basicamente das flutuações de curto prazo que a
mesma possui. Ou seja, uma forma de definir a pobreza é se basear em uma linha de pobreza
nutricional; e por meio do ―custo de necessidades básicas‖, no qual a pobreza é determinada
inicialmente com necessidades alimentares, adicionando-se não-alimentar.
Além disso, conforme Rufino et al (2016), a ausência de água adequada na moradia
contribui para o aumento de patologias, a exemplo de Doença Diarreia Aguda (DDA). Dado
que, ―os surtos de DDA possuem um forte componente de veiculação hídrica, ainda que
também possam estar associados à contaminação dealimentos e envolver uma grande
variedade deagentes patogênicos (vírus, bactérias e parasitas)circulantes no ambiente‖.
(RUFINO et al, 2016, p. 778).
121
Tabela 2 - Incidência de privação no Nordeste brasileiro, 2009-2015 (%)
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da PNADs 2009 a 2015.
Essa tendência à pobreza na referida dimensão também foi verificada emBrandolini e
D’Alessio (1998) e Carvalho, Kerstenetzky e Del-Vecchio (2007). Pois, mesmo divergindo
com o uso de metodologias distintas, eles corroboram com o estudo na medida em que
chegam à mesma conclusão: a falta de acesso à água e renda é uma das principais causas da
pobreza, sendo a renda, a maior privação sofrida pelos indivíduos.
3.2 Dimensão 2: Comunicação e Informação
Observa-se que a privação de comunicação e informação é medida por cinco variáveis:
a posse de telefone, televisão, computador, e acesso à internet. São considerados privados os
indivíduos que não possuem meios de informação para a vivência na sociedade atual.
Dimensões/Variáveis 2009 2011 2012 2013 2014 2015 Variação
Dimensão 1: Água e Alimentos 21,82 19,91 17,83 19,17 17,77 19,17 -12.14
Água na Moradia 15,63 13,83 12,97 13,69 13,48 13,73 -12.16
Capacidade de compra de alimentos 8,48 7,92 6,29 7,20 5,59 6,90 -18.63
Dimensão 2: Comunicação e Informação 84,47 76,67 72,17 69,75 69,21 71,23 -15.67
Telefone 23,13 13,27 10,97 8,94 7,43 8,11 -64.94
Televisão 3,99 2,71 2,37 2,36 2,07 2,25 -43.61
Computador 79,57 71,57 67,22 64,04 63,29 65,88 -17.20
Internet 84,30 76,37 71,85 69,47 68,94 70,97 -15.81
Dimensão 3: Educação 95,39 94,75 94,56 93,98 93,85 93,46 -2.02
Ensino Primário 84,00 83,18 83,50 83,09 82,99 83,13 -1.04
Ensino Fundamental incompleto 93,23 92,32 92,28 91,68 91,48 91,23 -2.15
Ensino Fundamental completo 94,36 93,46 93,43 92,79 92,57 92,21 -2.28
Ensino Médio incompleto 95,28 93,56 94,40 93,77 93,60 93,22 -2.16
Ensino Médio Completo 95,39 94,74 94,56 93,97 93,84 93,45 -2.03
Proporção de crianças na escola 2,97 2,36 2,01 1,84 2,06 2,04 -31.31
Dimensão 4: Condições da Moradia 31,74 30,68 30,00 30,82 30,79 29,02 -8.57
Tipo de Moradia 24,25 23,71 24,02 25,18 25,66 24,20 -0.21
Iluminação 0,78 0,55 0,37 0,26 0,17 0,15 -80.77
Material da Parede 2,65 2,77 1,91 2,12 1,78 1,77 -33.21
Material do Teto 0,87 1,06 0,84 0,86 0,82 0,71 -18.39
Nº de pessoas por dormitório 7,13 6.28 5,57 5,18 5,26 4,62 -35.20
Dimensão 5: Saúde 64,95 59,38 59,02 59,55 58,47 57,00 -12.24
Esgotamento Sanitário 64,55 58,67 58,15 58,88 58,01 56,25 -12.86
Condição Sanitária 18,69 18,78 18,46 18,78 18,50 18,48 -1.12
Eliminação do lixo 0,74 0,68 0,58 0,50 0,51 0,36 -51.35
Dimensão 6: Trabalho e Demografia 71,15 68,35 68,85 67,38 66,49 67,96 -4.48
Trabalho Precário 65,34 62,27 63,33 61,78 60,59 62,66 -4.10
Razão de dependência por domicilio 18,76 18,99 18,82 18,53 18,26 18,64 -0.64
122
Entretanto, Mideros (2012) afirma que a posse desses meios de comunicação não implica um
verdadeiro ácesso e uso deles, nem revela nada sobre a qualidade das informações acessadas.
Segundo Pereira e Silva (2010), a comunicação e tecnologia viabilizam o crescimento
econômico mediante investimento; proporcionam bem-estar social por meio de melhores
oportunidades de trabalho e oferecem qualidade de vida. Além disso, quando as tecnologias
são aplicadas para fornecer melhoramneto, como, por exemplo, na educação, promovem
melhorias dos serviços públicos que são ofericidos aos cidadões.
Nesse sentido, observa-se que, entre os anos de 2009 e 2015, todas as variáveis
sofreram retração quanto à privação, o que colaborou para a redução da pobreza nesta
dimensão(tabela 2) mostra. Em 2015, por exemplo, os maiores índices de privação foram
registrados para acesso à internet (70,97%) e computador (65,88%). Enquanto os níveis mais
baixos de privação foram de acesso a telefone (8,11%) e televisão (2,25%).Os indicadores que
apresentaram os maiores impactos de redução de privação foram registrados para telefone (-
64,94%.) e televisão (- 43,61%).
Santos (2003, p. 3) relata que a falta de acesso à internet priva o cidadão pobre dos
circuitos econômicos dominantes e, além disso:
[...] retira-lhe a possibilidade de incluir narede o padrão cultural da sua realidade
local. Portanto, incluir digitalmente é facilitar o acesso dosexcluídos ao novo modo
de produção e estilo de desenvolvimento social e cultural. Para isso, nãobasta
fornecer o acesso às tecnologias da informação, mediante o uso de computadores e
aalfabetização digital. É muito mais importante trabalhar com o fortalecimento da
sociedade localvisando propiciar as condições para uma apropriação cidadã dos
conteúdos disponíveis na rede e paradifusão dos saberes e fazeres comunitários.
Sendo assim, a opção mais adequada para a inclusão decidadãos pobres em países
periféricos e semiperiféricos é o acesso coletivo às tecnologias dainformação e da
comunicação, por meio de telecentros comunitários coordenados por
entidadesrepresentativas da sociedade civil local.
Na presente análise, nota-se que em 2009, por exemplo, o nível de privação era de
79,57% para computadores e de 84,30% para internet e, em 2015, respectivamente, de 65,88%
e 70,97%. Observa-se uma redução em todos os indicadores, situação essa que converge para
a redução da privação de comunicação e informação dos cidadãos. Portanto, é possível que a
redução da privação esteja correlacionada a difusão tecnológica ocorrida nos últimos anos que
proporcionou uma maior facilidade ao acesso as novas tecnologias de comunicação
(SANTOS, 2003).
123
3.3 Dimensão 3: Educação
Com base na literatura aqui exposta, percebe-se que um dos fatores mais importantes
para a melhoria das condições de qualidade de vida e para o desenvolvimento em geral, é a
educação (HOFFMANN; KAGEYAMA , 2006).
Os indicadores com maior privação concentram-se na dimensão educação. Justamente
por conta de a pesquisa levar em consideração as prerrogativas da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (Lei 9.394/1996). Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei
9.394/1996), no ensino primário crianças com até 5 anos de idade, podem ter no máximo 5
anos de escolaridade, denominado de pré-escola. No fundamental incompleto, crianças de 6
anos a 10 anos de idade e para não serem colocados no grupo de privação devem ter de 4 a 9
anos de estudo. No ensino fundamental completo, seria crianças com idades de 11 a 14 anos,
que estariam terminando o ensono fundamental em torno de 8 a 14 anos de escolaridade.
No ensino médio incompleto, os pré-adolescentes em torno dos 15 a 17 anos estariam
completando o ensino médio de 12 a 15 anos de estudo. E por fim, o ensino médio completo,
no qual são os jovens acima de 18 anos que devem ter no mínimo 15 anos de estudo para
poder ter uma boa formação educacional e ter capacidade de ingressar no mercado de trabalho
e não ser considerado privado de educação. E a proporção de crianças na escola refere-se ao
total de crianças por domicílio.
Houve uma pequena redução da privação dos indivíduos nessa dimensão, dado que,
em 2009 era de 95,39%, passando para 93,46% em 2015. A redução maior na privação foi
para o ensino fundamental completo, reduzindo 2,15% de 2009 para 2015. Posteriormente,
teve-se o ensino médio incompleto (2,06%), ensino fundamental incompleto (2%) e o ensino
médio completo (1,94%), respectivamente.
Conforme Leite et al (2016, p. 19), ―diante deste cenário de adversidade, políticas de
acesso à educação de qualidade, em especial nas áreas rurais, são de fundamental importância
à redução das desigualdades de educação e renda e, consequentemente dos níveis de
pobreza.‖. Desse modo, investir em políticas públicas educacionais é contribuir para a
124
redução das privações dos funcionamentos básicos que fomentam a redução da pobreza
multidimensional.
Além disso, segundoFahel, Teles e Caminhas (2016, p. 6), ―no Brasil, a média de anos
de escolaridade aumentou muito em função do processo de universalização do acesso à
educação básica, que vem ocorrendo desde 1994‖. No presente estudo é possível verificar
também esse comportamento, embora não seja, ainda, a realidade desejada. Ademais, ―esse
progresso ainda não é o suficiente, mas é importante frisar que a situação da educação
brasileira passa por uma transformação consistente‖ (FAHEL; TELES; CAMINHAS, 2016, p.
6), embora ainda não seja a realidade desejada.
3.4 Dimensão 4: Condições de Moradia
A moradia, conforme a Constituição Federal de 1988 é um dos direitos fundamentais
de todos os indivíduos, e este é preconizado no Artigo 6 da Carta Magna. Entretanto, milhares
de famílias em situação de vulnerabilidade social vivenciam violações do respectivo direito.
Ao contrário da renda monetária, Rissinet al. (2006), afirmam que as condições
habitacionais são objetivamente constatadas como risco de doenças, além de já terem sido
utilizadas de maneira satisfatória tanto por autores nacionais como Sousa (1992) e Benício
(1997), e por autores internacionais – Molina et al. (1989), Bóbaket al. (1994) e Willet
(1992). Portanto, as condições habitacionais representam, assim, a relação de cada indivíduo
com seu ambiente físico, biótico e social, e podem contribuir na identificação dos níveis de
pobreza.
No período de 2009 a 2015 houve uma redução da privação de moradia na Região
Nordeste, conforme destaca os dados da Tabela 2 (-8,57). Um fator preocupante é o caso em
que, quase um terço da população não possuía moradia própria quitada. Entre os anos de 2009
a 2015, no que se refere à iluminação (-80,77%), material da parede (-33,21%), material do
teto (-18,39%) e número de pessoas por dormitório (-35,20%) houve uma diminuição muito
significativa nos índices de incidência, sendo que já apresentam uma baixa privação. Em
2015, por exemplo, cerca 4,62% da população vivia em domicílios com mais de três pessoas
125
por quarto. O referido indicador foi o segundo que obteve a maior redução de privação para o
período (-35,20).
Segundo Monteiro e Veras (2017, p. 2): ―a garantia de acesso à moradia a parcela da
população considerada de baixa renda é indispensável para atender as necessidades dos
grupos sociais mais vulneráveis‖.
3.5 Dimensão 5: Saúde
A falta de acesso ou o acesso inapropriado de saneamento básico pode ocasionar
sérios danos à saúde dos indivíduos, principalmente no que diz respeito à saúde básica
(HELLER, 1997). Desse modo, a melhoria da cobertura por serviços de saneamento básicos
provoca progressos nos indicadores de saúde (TEIXEIRA; GOMES; SOUSA, 2011).
A saúde precisa ser observada à luz da reprodução social, uma vez que é reflexo do
funcionamento do sistema biológico e das condições de vida sociais, políticas, econômicas,
ambientais e culturais (SAMAJA, 2000). Adicionalmente, conforme Castellanos (1994), as
condições de vida determinam necessidades de saúde e estas são socialmente representadas
como problemas de saúde. Os problemas de saúde, por sua vez, podem estar expressos em
diferentes espaços organizativos da realidade e em diferentes períodos do processo saúde-
doença.
Analisando a dimensão, verifica-se que houve uma redução da sua privação, de
64,95% em 2009, para 57,00% em 2015, assim sendo, observa-se uma queda de (-12,24%) no
período observado, dado uma queda de todos os indicadores em análise. Dentre os
indicadores analisados o esgotamento sanitário foi o que obteve maior redução de privação,
teve uma queda de (-12,86%). Nessa perspectiva, Teixeira, Gomes e Sousa (2011, p. 198),
relatam que, ―a partir de 2003, os investimentos em saneamento básico noBrasil aumentaram
expressivamente [...]‖. Apesar disso, os resultados encontrados evidencia o caos que ainda é o
saneamento básico na Região Nordeste. Ademais, conforme Dantas et al (2012, p. 272),―no
Brasil, o saneamento ainda está muito aquém do ideal, principalmente em relação à coleta e
ao tratamento do esgoto sanitário‖.
3.6 Dimensão 6: Trabalho e Demografia
126
A privação do trabalho é ainda outra situação preocupante. Mais de 62% (62,66%) da
população sofria de privação de trabalho digno, (62,66%), em 2015. Apesar da redução de
3.19% de 2009 para 2015, ainda permanece uma taxa de privação bastante elevada.
A razão de dependência por domicílio apresenta uma taxa de privação considerada
baixa, mas 18,64% da população em 2015 apresentava alguma relação dependência. Na
análise regional da dimensão, houve uma queda na privação, de 71,15% em 2009 para
67,96% em 2015. Portanto, apesar da redução (-4,48%), a privação nesta dimensão é bem
expressiva.Conforme Instituto Jones dos Santos Neves (2012), para entender este cenário,
utiliza-se frequentemente o indicador de razão de dependência, que mede a participação da
população inativa que deve ser sustentada pela população em idade ativa.
Acredita-se que a crise econômica a partir de 2008 tenha contribuído para as
oscilações dos indicadores em questão (PRONI, 2013). No período em questão, vale destacar
os resultados do ano de 2014, observa-se que no referido ano os indicadores apresentaram
uma pequena retração em relação ao ano anterior, apesar de crescerem em 2015. A
justificativa teórica para tal situação é o agravamento da crise econômica a partir de 2015
(CACCIAMALI; TATEI, 2016).
3.7 Pobreza multidimensional por estados e grupos da Região Nordeste no Brasil no
período de 2009 a 2015
De acordo com Anand e Sen (1997), a pobreza multidimensional não trabalha apenas
com um único indicador de pobreza, mas também mostra porque uma medida de pobreza
baseada na renda sofre um viés para cima em suas análises. Estes consideram a pobreza como
a pior forma de privação humana, que envolve não apenas as necessidades básicas, mas
também as suas capacitações.
A tabela 3 mostra a pobreza multidimensional por estado e grupos no Nordeste, no
período de 2009-2015. Os resultados demostram uma redução na pobreza multidimensional
de 25,79% em 2009, para 23,78% em 2015, tendo uma variação de -7,79%. Em média, não há
diferença significativa na pobreza entre os grupos sexo e faixa etária. Contudo, houve uma
127
redução em todos os grupos. A pobreza multidimensional é maior para os homens, embora a
retração tenha sido maior para as mulheres (-8,21%).
Tabela 3 - Pobreza Multidimensional por Estados e grupos da Região Nordeste do Brasil, 2009-2015. (%)
Pobreza Multidimensional
Variação
2009 2011 2012 2013 2014 2015
Região Nordeste 25,79 24,46 24,18 23,80 23,53 23,78 -7,79%
Maranhão 28,12 27,54 27,70 26,88 26,86 27,10 -3,63%
Piauí 26,91 25,20 25,25 24,68 24,02 24,06 -10,59%
Ceará 25,40 24,71 24,48 23,84 23,84 24,48 -3,62%
Rio Grande do Norte 24,71 23,65 22,88 22,83 22,80 22,54 -8,78%
Paraíba 25,71 23,00 23,08 22,49 22,43 22,53 -12,37%
Pernambuco 25,39 23,48 22,97 22,84 22,62 22,92 -9,73%
Alagoas 26,55 25,26 24,32 24,58 23,88 24,23 -8,74%
Sergipe 24,04 23,64 22,75 22,50 23,02 22,92 -4,66%
Bahia 25,04 24,07 23,03 23,61 22,95 23,24 -7,19%
Metropolitano 21,72 20,66 20,32 20,08 19,91 20,26 -6,72%
Urbano 24,61 23,10 22,71 22,37 22,25 22,25 -9,59%
Rural 33,38 32,26 31,84 31,14 30,29 30,91 -7,40%
Homens 26,02 24,69 24,47 24,08 23,80 24,12 -7,30%
Mulheres 25,57 24,24 23,92 23,54 23,28 23,47 -8,21%
Crianças 25,32 23,87 23,29 22,70 22,41 22,72 -10,27%
Adolescentes 25,34 23,69 23,42 23,08 22,70 22,89 -9,67%
Jovens 25,61 24,23 23,98 23,46 23,21 23,40 -8,63%
Adultos 24,83 23,49 23,23 22,92 22,61 22,76 -8,34%
Idosos 33,12 32,25 32,24 32,00 31,73 32,15 -2,93%
Branca 24,19 23,10 22,50 22,29 21,96 22,30 -7,81%
Não Branca 26,47 25,03 24,86 24,39 24,13 24,33 -8,08%
Fonte: Elaboração pelos próprios autores a partir dos dados da PNADs nos anos de 2009 a 2015.
Um impacto maior na redução foi no grupo crianças, uma queda de 10,27% de 2009 a
2015. Já no grupo idosos, houve pouca redução na proporção, 2,93%, sendo ele o grupo com
maior pobreza multidimensional (32,15% em 2015).As populações de raça não branca
apresentam maiores níveis de pobreza multidimensional, mesmo apresentando a maior taxa de
retração (-8,08%) de 2009 a 2015.
Em 2015, por exemplo, o estado do Maranhão tinha 27,10% da sua população em
estado de pobreza multidimensional, sendo um dos estados que apresentou o menor índice de
redução das privações(-3,63%). No tocante à área, área rural apresenta maior incidência de
pobreza (32,62% em 2015).
De forma geral, observa-se que os estados que apresentam maior nível de privação
são: (i) Maranhão; (ii) Ceará; (iii) Piauí e (iv) Bahia. Já os estados com as menores taxas da
pobreza multidimensional são Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Pernambuco. O estado
128
da Paraíba apresenta a menor proporção de pobres, em 2015, por exemplo, a proporção de
pobres multidimensionais era de 22,53%.
A área rural é a que ainda apresenta níveis elevados de privação, tendo em vista que
mais de 30% da população rural do nordeste brasileiro são pobres multidimensionais. Caldas
e Sampaio (2015, p. 91), relatam que, ―[...] a situação dos domicílios destas áreas é muito mais
grave do que nas áreas urbanas e, por isso, dentre outras razões, merece prioridade na elaboração de
políticas de desenvolvimento‖.
4 Conclusão
O presente estudo teve por objetivo analisar o nível de pobreza multidimensional da
Região Nordeste no período de 2009 a 2015. A conclusão mais direta do estudo é que nos
últimos anos houve redução da pobreza multidimensional na Região Nordeste no período em
estudo. Dentre os estados, dois merecem atenção maior: (i) a Paraíba por ter sido o estado que
apresentou o menor nível de privação, em 2015 (22,53%)e (ii) o Maranhão que apresentou
maior nível de privação no mesmo ano (27,10%).Apesar disso, observou-se que houve um
aumento da pobreza multidimensional de alguns estados no período de 2014 a 2015, por
exemplo, Ceará, Alagoas, Pernambuco e a Bahia. Obstante, Rio Grande do Norte e Sergipe
foram os únicos estados que apresentaram um arrefecimento no nível de privação.
No tocante às dimensões, três merecem uma atenção maior: (i) Educação (93,46%);
(ii) Comunicação e Informação (71,23%) e (iii)Trabalho e Demografia (67,96%). As referidas
dimensões foram as que, mesmo com a retração no período, apresentaram níveis
preocupantes. Nesse sentido, o estudo mostrou que, ao considerar a mensuração da pobreza
multidimensional pela ótica das seis dimensões estudadas, constatou-se que ela apresentou
uma trajetória decrescente durante o período em estudo (-7,79%). Apesar disso, o nível de
privação da área rural do nordeste brasileiro ainda é preocupante (30,91%).
Partindo desta análise, por que o governo deveria usar a medição multidimensional da
pobreza como instrumento para políticas públicas? O uso de indicadores de pobreza
multidimensional é benéfico porque contribui para uma melhor identificação de qual
dimensão a situação é mais alarmante e, portanto, políticas públicas sociais focalizadas na
população mais pobre pode ser um parâmetro mais eficiente para a resolução de tal
129
problemática. Além disso, aidentificação de cada dimensão, indicador e área de privação
contribuem para a elaboração de políticas públicas de redistribuição específicas por parte dos
governos, que seriam mais eficientes na solução dos problemas destacados aqui. Por isso, a
análise multidimensional da pobreza realizada nos estados nordestinos é uma importante
estratégia para orientar a elaboração, implementação e monitoramento de políticas públicas de
redistribuição de renda, as quais terão maior probabilidade de alcance de resultados mais
efetivos.
Portanto, o presente estudo pode ser utilizado para auxiliar futuras políticas públicas
de redistribuição de renda da Região Nordeste, as quais precisam ser elaboradas levando em
consideração as dimensões que mais impactam a multidimensionalidade da pobreza, de modo
que se consiga reduzir os efeitos adversos deste entrave econômico-social, principalmente
entre a população rural da unidade de observação em estudo.
Como sugestão de pesquisa futura, deve-se ser realizada uma investigação para
compreender qual o nível de pobreza multidimensional por área em cada estado nordestino,
tendo em vista que o presente estudo não o fez por não fazer parte dos objetivos propostos.
Apesar disso, é um exercício empírico interessante, pois vai caracterizar o percentual da
pobreza de cada estado nordestino em via dupla: área rural e urbana.
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133
ÁREA TEMÁTICA: GT 5. ECONOMIA AGRÍCOLA, MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O PAPEL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DO
DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL
THE ROLE OF ENVIRONMENTAL EDUCATION IN THE CONTEXT OF
SUSTAINABLE REGIONAL DEVELOPMENT
JANIELE DE BRITO DE SOUZA Discente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional Sustentável (UFCA).
Especialista em Docência no Ensino Superior (FIP) e Graduada em Ciências Econômicas
(URCA). Professora substituta do Curso de Administração da Universidade Federal do Cariri-
UFCA. E-mail: janiele.brito@gmail.com
MARCELO MARTINS MOURA FÉ
Geógrafo. Doutor em Geografia (PPGG-UFC). Professor do Departamento de Geociências da
Universidade Regional do Cariri (DEGEO-URCA). E-mail: marcelo.mourafe@urca.br
134
O PAPEL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DO
DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL
THE ROLE OF ENVIRONMENTAL EDUCATION IN THE CONTEXT OF
SUSTAINABLE REGIONAL DEVELOPMENT
RESUMO:
É notório a insustentabilidade do modelo atual de desenvolvimento para as presentes e futuras
gerações. Diante disso, após a década de 1970 surgiram vários debates acerca dessa
inconsistência teórica e da necessidade de revisão conceitual do termo desenvolvimento.
Sendo assim, o desenvolvimento sustentável emerge como sendo aquele capaz de conciliar
crescimento econômico, melhorias sociais e preservação ambiental. Deste modo, sua efetiva
concretização está associada a vários fatores, dentre os quais destaca-se a relevância da
implantação da Educação Ambiental em todos os níveis escolares. Para tanto, o presente
artigo tem como objetivo geral evidenciar o papel da educação ambiental na efetivação do
desenvolvimento regional sustentável. Nesse contexto, foi feita uma revisão de literatura para
a fundamentação teórica e aprofundamento crítico da discussão. Deste modo, pode-se inferir
que a transdisciplinaridade frente a problemática ambiental no contexto escolar e sua
correlação aos impactos sociais e econômicos torna-se relevante no fomento do
desenvolvimento regional sustentável, tendo em vista não apenas a sensibilização do ser
humano, mas também por implicar modificações no comportamento, atitudes e hábitos para
um mundo melhor.
Palavras-chave: Lei 9795/99. Desenvolvimento. Conscientização ambiental. Educação
Ambiental. Sustentabilidade.
ABSTRACT: The currentmodelofdevelopment for presentand future generationsisunsustainable. In the light
ofthis, afterthe 1970s several debates aboutthistheoreticalinconsistencyandtheneed for
conceptual revisionofthetermdevelopment. Thus, sustainabledevelopment emerges as
onecapableofreconcilingeconomicgrowth, social improvementsandenvironmentalpreservation.
Thus, its effectiveimplementationis associated toseveralfactors,
amongwhichtheimportanceofimplementing Environmental Educationatallschoollevels stands
out. Therefore, thepresentarticlehas as general objectivetohighlightthe role
ofenvironmentaleducation in therealizationofsustainable regional development. In this
context, a literature review was made for the theoretical basis and critical depth of the
discussion. In this way, it can be inferred that the transdisciplinarity of the environmental
problem in the school context and its correlation with social and economic impacts becomes
relevant in the promotion of sustainable regional development, with a view not only to the
sensitization of the human being, but also to imply changes in behavior, attitudes, and habits
for a better world.
135
Key Words: Law 9795/99. Development. Environmental awareness. Environmental
education. Sustainability.
1 Introdução
Durante muito tempo, desenvolvimento foi tratado como sinônimo de crescimento
econômico e tal entendimento propiciou um aprofundamento das desigualdades
socioeconômicas entre os países. Partindo desse pressuposto emergiram vários debates após a
II Guerra Mundial na tentativa de equacionarem o melhor caminho para a efetivação do
processo de desenvolvimento. No entanto, o parâmetro inicial associava o potencial
econômico e hegemônico dos países industrializados como o caminho a ser percorrido pelos
demais países em desenvolvimento.
Contudo, na década de 1970 intensificaram-se os debates acerca da escassez dos
recursos naturais e dos potenciais impactos para a continuidade de crescimento dessas
economias. Com isso, o entendimento de que o desenvolvimento deva conciliar aspectos
econômicos, mas também sociais e ambientais passa a ser o centro dos debates das várias
conferências lideradas pelas Nações Unidas (ONU) em conjunto com vários líderes de
Estado.
Nesse contexto, o Brasil sediou a Rio 92, na cidade do Rio de Janeiro, em 1992, no
qual foram discutidos os rumos do modelo atual de desenvolvimento, resultando deste modo,
no conceito de desenvolvimento sustentável, que combina eficiência econômica, justiça social
e prudência ecológica. Durante o evento, com a participação do MEC (Ministério da
Educação), foi produzida a Carta Brasileira para Educação Ambiental, que, entre outras
coisas, reconheceu ser a Educação Ambiental um dos instrumentos mais importantes para
viabilizar a sustentabilidade como estratégia de sobrevivência do planeta e,
consequentemente, de melhoria da qualidade de vida humana.
Nesse sentido, a pesquisa apresenta o seguinte questionamento: qual a relevância da
aplicabilidade da educação ambiental em todos os níveis de ensino, conforme dita a legislação
nacional, para a concretização do processo do desenvolvimento regional sustentável?
Em face desse contexto, o presente artigo tem como objetivo geral evidenciar o papel
da educação ambiental na efetivação do desenvolvimento regional sustentável. Sendo
necessário nos seus objetivos específicos: i) entender as divergências conceituais do termo
136
desenvolvimento; ii) identificar a institucionalização da educação ambiental no Brasil e; iii)
discutira universalização da educação ambiental nas escolas do país.
Sendo assim, a presente pesquisa ressalta a importância da disseminação desse debate
em torno da conscientização ambiental e da melhoria da qualidade de vida para a sociedade,
sendo relevante para acadêmicos, gestores públicos e comunidade em geral iniciarem seus
debates sobre o tema, com a consequente quebra de paradigmas sobre o desenvolvimento
como derivado meramente do pensamento economicista, promotor da concentração de renda e
da pobreza ao seu entorno.
Por último, ressalta-se a educação ambiental e o desenvolvimento regional sustentável
como objetos de estudo desta pesquisa. Nesta perspectiva a pesquisa levanta a hipótese de que
a educação ambiental é imprescindível para a concretização dessa proposta de
desenvolvimento, haja vista ser um processo de longo prazo e que exige a conscientização da
sociedade em torno desse projeto.
Nesse sentido, o referido artigo está dividido em cinco etapas. Além da introdução, a
segunda seção apresenta o referencialteórico, no qual são contextualizados os intensos debates
em torno do termo desenvolvimento e da institucionalização da educação ambiental no Brasil.
Na terceira seção o percurso metodológico e na quarta seção os resultados e discussão,
apontando os rumos da universalização da EA no Brasil. Resta por último, na quinta seção, as
considerações finais.
2 Referencial Teórico
2.1 O caminho para o desenvolvimento regional sustentável
A emergência para aconscientização da sociedade acerca dos problemas ambientais e
de suas consequências para as atuais e futuras gerações, tem promovido alterações no
processo de aprendizagem nos diferentes níveis escolares (infantil, fundamental, médio e
superior), buscado equacionar diversos paradigmas pedagógicos, dentre os quais, a visão
centrada no aluno e não no professor, inserir a realidade do discente no meio escolar e ainda
promover a educação ambiental, como uma forma de ressignificação da sociedade ao novo
projeto de desenvolvimento, o Desenvolvimento Sustentável.
Antes de envolver o debate acerca dessa nova proposta de desenvolvimento, faz-se
necessário compreender as divergências conceituais do termo desenvolvimento, e
137
posteriormente relacioná-lo a perspectiva ambiental e de inclusão no âmbito escolar, através
da Educação Ambiental.
Neste sentido, o termo ―desenvolvimento‖ foi palco de incessantes debates acerca da
sua efetividade nos países pobres logo após a Segunda Guerra Mundial. Naquele momento, o
termo era associado unicamente a experiência dos países europeus considerados
desenvolvidos, no âmbito das chamadas sociedades industriais, sendo direcionador das ―boas
práticas‖ e do caminho da abundância material (AMARO, 2004).
Diante disso, Veiga (2010) esclarece que o termo ―desenvolvimento‖ surge a partir de
três eixos discursivos. A primeira corrente associou o desenvolvimento ao processo de
crescimento econômico dos países, ou seja, a partir da evolução do PIB (Produto Interno
Bruto) per capita anual, no sentido de que o crescimento material levaria necessariamente ao
progresso social. Já para a segunda corrente, o desenvolvimento foi encarado como algo
utópico, inalcançável, visto que o entendimento anterior apenas contribuía para a manutenção
da miséria científica-tecnológica e explosão demográfica dos países em desenvolvimento. Por
último,a corrente do meio, no qual o desenvolvimento seria encarado como um processo
gerador de renda, mas também disseminador de melhorias sociais, promovendo a redução da
pobreza, a redistribuição de renda, a inclusão cultural e a preservação dos recursos naturais.
Ou seja, esse ―caminho do meio‖ representaria a perspectiva do Desenvolvimento
Sustentável.
Nesta temática, Veiga e Zatz (2008, p.56), argumentam que
além dessas questões básicas, é fundamental que as pessoas tenham liberdade para
que possam fazer escolhas, garantir seus direitos e se envolver em decisões. [...] O
desenvolvimento, assim, tem a ver com liberdade, com proteção dos direitos
humanos e com o aprofundamento da democracia.
Sendo assim, Amaro (2004) destaca que o conceito que dominou nos primeiros 30
anos após a 2ª Guerra Mundial, assentou nos seguintes mitos: economicismo (crescimento
econômico indispensável para o desenvolvimento); produtivismo; consumismo;
quantitativismo (quantidade em vez de qualidade); industrialismo (imitação); tecnologismo
(alavanca do crescimento econômico); racionalismo; urbanicismo (urbano sobre o rural);
antropocentrismo (Homem acima dos outros seres vivos e no centro do processo de bem-
estar) e; etnocentrismo (perspectiva eurocêntrica globalizante).
138
Nesse contexto, Sachs (2008, p.13) ressalta que ―o crescimento é uma condição
necessária, mas de forma alguma suficiente para se alcançar a meta de uma vida melhor, mais
feliz e mais completa para todos‖.
A ideia de desenvolvimento implica a expiação e a reparação de desigualdades
passadas, criando uma conexão capaz de preencher o abismo civilizatório entre as
antigas nações metropolitanas e a sua antiga periferia colonial, entre as minorias
ricas modernizadas e a maioria ainda atrasada e exausta dos trabalhadores pobres
(SACHS, 2008, p. 13).
Em conformidade com Sachs (2008), Abramovay (2012) aponta para a urgência de
uma nova economia, tendo em vista que o uso dos recursos dos quais depende a reprodução
social não amplia as liberdades substantivas da humanidade, mesmo com a crescente
prosperidade material.
O autor aponta que mesmo após a redução da pobreza nos países em desenvolvimento,
grande parte da população tem acesso restrito as suas necessidades básicas, com
intensificação na desigualdade de renda, no uso da energia, nas emissões, no consumo, na
educação e na saúde, mesmo após o crescimento econômico destes países.
Baseado nisso, Acosta (2011) evidencia a importância para trilhar um caminho
diferente, capaz de propiciar uma transformação radical das concepções e linguagens
convencionais do desenvolvimento, baseados na ideia do progresso.
Por isso, o autor cita o Bem Viver, como um processo alternativo ao desenvolvimento
vigente,
O Bem Viver é uma filosofia de vida que abre as portas para a construção de um
projeto emancipador. Um projeto que, ao haver somado histórias de lutas, de
resistência e de propostas de mudança, e ao nutrir-se de experiências locais, às que
deverão somar-se contribuições provenientes de diversas latitudes, posiciona-se
como ponto de partida para estabelecer democraticamente sociedades sustentáveis
(ACOSTA, 2011, p.41).
Para Sachs (2008), o projeto de desenvolvimento deve promover a igualdade daqueles
que vivem nas piores condições, de forma a reduzir a pobreza. O autor aponta que a transição
para o Desenvolvimento Sustentável inicia com a promoção de empregos decentes para todos,
isto é, através do ―desenvolvimento includente‖.
Amaro (2011) aponta os novos caminhos e desafios do desenvolvimento após 1970,
dando destaque a seis novos conceitos: Desenvolvimento Sustentável; Desenvolvimento
139
Local; Desenvolvimento Participativo; Desenvolvimento Humano; Desenvolvimento Social;
Desenvolvimento Integrado.
O autor contextualiza os diferentes conceitos através de três ―fileiras‖: a fileira
ambiental; a fileira das pessoas e das comunidades; e a fileira dos Direitos Humanos e da
dignidade humana.
A fileira ambiental integra a consciência ambiental, a partir de 1972, tendo o
Desenvolvimento Sustentável como destaque. Sabe-se que o debate acerca dos problemas
ambientais e de suas consequências para as atuais e futuras gerações data da década de 1970.
Em 1972, Dennis L. Meadows e um grupo de pesquisadores, o chamado Clube de Roma,
publicaram o estudo Limites do Crescimento. Dentre as preocupações, relatam que se as
atuais tendências de crescimento da população mundial, industrialização, poluição, produção
de alimentos e diminuição de recursos naturais continuarem imutáveis, os limites de
crescimento neste planeta serão alcançados algum dia dentro dos próximos cem anos
(BRÜSEKE, 1994). A partir disso, fomenta-se uma grande discussão internacional nesta
temática, culminando na Conferência de Estocolmo, ainda em 1972.
Posteriormente, em 1973, surge o conceito de ecodesenvolvimento, de Sachs, na qual
formula as dimensões da sustentabilidade: social, cultural, ecológica, ambiental, territorial,
econômica e política (nacional e internacional). ―O ecodesenvolvimento requer dessa
maneira, o planejamento local e participativo, no nível micro, das autoridades locais,
comunidades e associações de cidadãos envolvidos na proteção da área‖ (SACHS, 2002,
p.73).
Em face desse debate, emerge o Relatório Brundtland ou Nosso Futuro Comum, em
1987, em que afirma que o desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as
necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem
as suas próprias necessidades (Brüseke, 1994).
Baseado nisso, os críticos do ―caminho do meio‖ reiteram que esse conceito de
desenvolvimento sustentável fala apenas das necessidades das atuais e futuras gerações.
Porém, o ser humano não pode ser visto apenas pela satisfação de suas necessidades, tendo
em vista outras coisas como sua capacidade de pensar, agir e de participar (VEIGA; ZATS,
2008)
140
Em resumo, ―para esses estudiosos que tentam trilhar um caminho do meio, não há
desenvolvimento sustentável possível sem que se harmonizem objetivos sociais, ambientais e
econômicos, sem que se tenha solidariedade com as gerações atuais e futuras‖ (VEIGA;
ZATS, 2008, p. 56-57)
Posteriormente, em 1992, acontece a Rio 92, na qual a ONU (Organização das Nações
Unidas), juntamente com 106 chefes de governo, discute os rumos do modelo atual de
desenvolvimento, resultando deste modo, no conceito de desenvolvimento sustentável, que
combina eficiência econômica, justiça social e prudência ecológica.
Deste modo, ao prosseguir com o debate iniciado anteriormente por Amaro, destaca-se
ainda a fileira das pessoas e das comunidades, no qual procura-se colocar as pessoas e
comunidades locais no centro do protagonismo do desenvolvimento. Amaro (2011) aponta o
desenvolvimento como resultado do exercício pleno da cidadania, através de uma participação
ativa de todos. Por isso, os dois conceitos-chave são o Desenvolvimento Local e o
Desenvolvimento Participativo.
Nesse contexto, Sachs (2008) ressalta a importância do planejamento nos níveis
municipal, microrregional e mesorregional, como forma de reagrupar as várias identidades
culturais. Com isso, esse processo deve garantir a participação de todos os envolvidos
(trabalhadores, empregadores, o Estado e a sociedade civil organizada).
Somado a esses, a fileira dos Direitos Humanos e da dignidade humana associa
desenvolvimento ao respeito pelos Direitos Humanos fundamentais e ao compromisso de
garantir a sobrevivência dignamente. Tendo o Desenvolvimento Humano e o
Desenvolvimento Social como conceitos-chave (AMARO, 2011).
Diante dessa perspectiva, o PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento), ao se convencer da necessidade de uma maneira mais legítima de medir o
desenvolvimento, que incluísse outras dimensões, criou em 1990, um indicador sintético do
desenvolvimento, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), sendo formado a partir de
uma média aritmética de três indicadores considerados indispensáveis para que haja
desenvolvimento: a renda por habitante,saúde (longevidade) e a educação (VEIGA, ZATS,
2008).
141
Conforme Acosta (2011), estas avaliações multicriteriais enriquecem o debate sobre a
qualidade de vida e as questões ambientais. Porém, não superam as raízes predatórias e
concentradoras do desenvolvimento.
Por isso, o autor reafirma o Bem Viver, como uma tarefa de (re)construção, que passa
por desarmar a meta universal do progresso em sua versão produtivista e do desenvolvimento
enquanto direção única, sobretudo em sua visão mecanicista do crescimento econômico e seus
múltiplos sinônimos.
Dessa forma, Acosta (2011, p.83) enuncia que,
Se o desenvolvimento trata de ―ocidentalizar‖ a vida no planeta, o Bem Viver
resgata as diversidades, valoriza e respeita ao ―outro‖. O Bem Viver emerge como
parte de um processo que permitiu empreender e fortalecer a luta pela reivindicação
dos povos e nacionalidades, em sintonia com as ações de resistência e construção de
amplos segmentos de populações marginalizadas e periféricas.
Já para Veiga e Zats (2008), só há desenvolvimento quando os benefícios do
crescimento servem para ampliar as capacitações humanas, no sentido de garantir uma vida
longa e saudável, ter instrução e acesso a recursos que permitam um nível de vida digno, além
de ser capaz de participar da vida da comunidade.
Por último, Amaro (2011) apresenta o sexto conceito atrelado ao desenvolvimento,
como sendo o Desenvolvimento Integrado. Ou seja, sendo este conceito integrador dos outros
cinco conceitos, permitindo um desenvolvimento multidimensional, multiterritorial, com
ênfase na realização da capacitação das pessoas, da participação ativa da comunidade nos
processos decisórios, na ampliação da democracia e na preservação do ambiente.
Ressalta-se, nesse contexto, a necessidade de atuação do Estado como provedor do
processo de desenvolvimento, em suas várias vertentes. Pode-se afirmar que os autores
citados corroboram nessa direção, a de um Estado participativo.
Para Sachs (2008), o Estado Nacional tem três funções: i) articulação dos espaços de
desenvolvimento, desde o nível local ao transnacional (integração seletiva, subordinada a uma
estratégia de desenvolvimento endógeno); ii) a promoção de parcerias entre todos os atores
interessados, em torno de um acordo negociado de desenvolvimento sustentável e; iii) a
harmonização de metas sociais, ambientais e econômicas (equilíbrio entre diferentes
sustentabilidades: social, cultural, ecológica, ambiental, territorial, econômica).
142
Neste sentido, Acosta (2011) cita o Estado como fomentador do Bem Viver, no
entanto, um Estado que não esteja amarrado as tradições eurocêntricas. ―Isso implica
―cidadanizar‖ individual e coletivamente o Estado, criando espaços comunitários como
formas ativas de organização social. A própria democracia tem de ser repensada e
aprofundada‖ (ACOSTA, 2011, p.27).
Já para Abramovay (2012) os países em desenvolvimento devem dirigir suas políticas
de investimento não para o crescimento em geral, mas, sobretudo, para bens e serviços que
garantam mais que o emprego: o bem-estar, o respeito à manutenção e à regeneração dos
serviços ecossistêmicos. É claro que em todos os casos, independentemente do nível de
riqueza material atingido, políticas de transferência de renda são indispensáveis para combater
a miséria e reduzir a desigualdade.
No mais, conforme Sachs (2002) a conservação da biodiversidade entra em cena a
partir de uma longa e ampla reflexão sobre o futuro da humanidade. A biodiversidade
necessita ser protegida para garantir os direitos das futuras gerações.
Nesse sentido, entende-se que a efetivação do Desenvolvimento Sustentável se baseia,
antes de tudo, na conscientização da sociedade acerca dos problemas ambientais e de suas
consequências para a manutenção do processo de desenvolvimento atual e das futuras
gerações.
Por isso, ―faz-se necessário uma educação de qualidade, na medida em que contribui
para o despertar cultural, a conscientização, a compreensão dos direitos humanos,
aumentando a adaptabilidade e o sentido de autonomia, bem como a autoconfiança e a
autoestima‖ (SACHS, 2008, p.39).
2.2 A institucionalização da educação ambiental no Brasil
Baseado nesse entendimento, durante a Rio 92, com a participação do MEC
(Ministério da Educação), foi produzida a Carta Brasileira para Educação Ambiental, que,
entre outras coisas, reconheceu ser a Educação Ambiental um dos instrumentos mais
importantes para viabilizar a sustentabilidade como estratégia de sobrevivência do planeta e,
consequentemente, de melhoria da qualidade de vida humana.
Na realidade, a educação ambiental no Brasil surge antes da sua institucionalização no
governo federal, visto que na década de 1970 emergem vários movimentos em prol do
143
ambientalismo e das liberdades democráticas, através da ação de professores, estudantes e
escolas, organizações da sociedade civil, de prefeituras municipais e estaduais, com atividades
educacionais voltadas a ações para recuperação, conservação e melhoria do meio ambiente
(BRASIL, 2007). Em face disso, faz-se necessário uma breve explanação dos principais
marcos institucionais da EA no Brasil, como mostra o quadro 01.
Quadro 01 – Institucionalização da educação ambiental no Brasil
Ano Marco Institucional Diretrizes
1973 Secretaria Especial do Meio Ambiente
(Sema)
Promover e acompanhar ações direcionadas a
preservação do Meio Ambiente, dentre elas a EA.
1881 Política Nacional do Meio Ambiente (Lei
nº 6.938/81)
Necessidade de inclusão da EA em todos os níveis de
ensino.
1988 Constituição Federal de 1988 (inciso VI do
artigo 225
Promover a EA em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio
ambiente.
1991 Comissão Interministerial para a Rio 92 EA como um dos instrumentos da política ambiental
brasileira
1993 Coordenação-Geral de Educação
Ambiental (Coea/MEC) e Divisão de
Educação Ambiental do Instituto Brasileiro
de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA)
Representar um marco para a institucionalização da
política de EA no âmbito do Sistema Nacional de Meio
Ambiente (Sisnama).
1994 Ministério do Meio Ambiente e Programa
Nacional de Educação Ambiental
(PRONEA)
Responsáveis pelas ações voltadas ao sistema de
ensino e à gestão ambiental.
1995 Câmara Técnica Temporária de Educação
Ambiental no Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA)
Inserir a participação, a descentralização, o
reconhecimento da pluralidade e diversidade cultural e
a interdisciplinaridade.
1997 Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)
são aprovados pelo Conselho Nacional de
Educação
Implementar temas transversais no âmbito escolar, tais
como: meio ambiente, ética, pluralidade cultural,
orientação sexual, trabalho e consumo, com
possibilidade de as escolas e/ou comunidades elegerem
outros de importância relevante para sua realidade.
1999 Política Nacional de Educação Ambiental
(Lei nº 9795/99)
Fundamenta a EA em todos os níveis de ensino.
2002 Lei n° 9.795/99 foi regulamentada pelo
Decreto n° 4.281
Define, entre outras coisas, a composição e as
competências do Órgão Gestor da PNEA lançando,
assim, as bases para a sua execução.
FONTE: Elaboração própria, segundo BRASIL (2007)
Neste contexto, fica evidente a preocupação ambiental como parte integrante das
políticas públicas do país. Dentre os marcos institucionais citados, destacam-se a Lei nº
9795/99 e o decreto nº 4.281 como os principais instrumentos para a efetivação da EA no
144
âmbito escolar, pois torna obrigatória a inclusão da educação ambiental em todos os níveis de
ensino, especificando seus princípios gerais, metas, projetos de formação continuada dos
professores e as competências dos órgãos públicos e privados.
Com isso, entende-se por EA, (Art.1º), como sendo os processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente (BRASIL, 1999).
Vale ressaltar ainda, o caráter essencial da EA na educação nacional, devendo ser
direcionada a todos os níveis e modalidades de ensino, formal e não formal (Art.2º).
Posteriormente, o Art.09 esclarece a EA na escola como sendo aquela desenvolvida no âmbito
das instituições públicas e privadas, devendo englobar: I. Educação básica: infantil,
fundamental e médio; II. Educação superior; III. Educação especial; IV. Educação
profissional e; V. Educação de jovens e adultos (BRASIL, 1999).
Quando aos princípios contidos no artigo 4º da referida lei, buscam reforçar a
contextualização da temática ambiental nas práticas sociais quando expressam que ela deve
ter uma abordagem integrada, processual e sistêmica do meio ambiente em suas múltiplas e
complexas relações, com enfoques humanista, histórico, crítico, político, democrático,
participativo, dialógico e cooperativo, respeitando o pluralismo de ideias e concepções
pedagógicas. E em consonância com os princípios, o artigo 5º da lei estabelece os objetivos da
PNEA, entre os quais destacam-se a compreensão integrada do meio ambiente em suas
múltiplas e complexas relações, a garantia de democratização das informações ambientais e o
incentivo ao exercício da cidadania, por meio da participação individual e coletiva,
permanente e responsável (BRASIL,1999).
No entanto, conforme Sorrentino et al (2005), a EA não pode estar presa a uma grade
curricular rígida, sendo necessário introduzir as culturas tradicionais, as políticas públicas de
meio ambiente, sempre com foco na sustentabilidade ambiental local e do planeta.
Ainda segundo o autor,
Por não se tratar de uma disciplina, a educação ambiental permite inovações
metodológicas na direção do educere — tirar de dentro — por ser necessariamente
motivada pela paixão, pela delícia do conhecimento e da prática voltados para a
dimensão complexa da manutenção da vida (SORRENTINO ET AL, 2005, p. 294).
Neste sentido, Oliveira (2006) ressalta que os novos rumos da EA para a sociedade
deste século, deve-se fundamentar na superação das visões reducionistas do termo, a fim de
145
não apenas conduzir na sensibilização dos sujeitos, mas sim provocar modificações de
comportamento, atitudes e hábitos.
Em face disso, Sauvé (2005, p.317) salienta que mais do que uma educação ―a respeito
do, para o, no, pelo ou em prol do‖ meio ambiente, o objeto da EA é a nossa relação com o
meio ambiente. Deste modo, o educador deve levar em conta as múltiplas facetas dessa
relação, que correspondem a modos diversos e complementares de apreender o meio
ambiente:
i. Meio ambiente como natureza: a EA deve explorar os vínculos entre identidade,
cultura e natureza, a fim de preservar a ―diversidade biocultural‖;
ii. Meio ambiente como recurso: EA voltada para a conservação e para o consumo
responsável, bem como na repartição solidária entre as sociedades atuais e futuras.
iii. Meio ambiente como problema: EA na tomada da conscientização das questões
socioambientais e concretização de projetos para preveni-los.
iv. Meio ambiente como sistema: EA na promoção do respeito a diversidade, riqueza e
complexidade do meio ambiente.
v. Meio ambiente como lugar em que se vive: é o ambiente da vida cotidiana, na escola,
em casa, no trabalho etc. Uma primeira etapa de educação ambiental consiste em
explorar e redescobrir o lugar em que se vive, ou seja, o ―aqui e agora‖ das realidades
cotidianas, com um olhar renovado ao mesmo tempo apreciativo e crítico;
vi. Meio ambiente como biosfera: EA atrelada a solidariedade internacional, ou mais
precisamente sobre os modos de desenvolvimento das sociedades humanas;
vii. Por fim, meio ambiente como projeto comunitário: é um lugar de cooperação e de
parceria para realizar as mudanças desejadas no seio de uma coletividade (SAUVÉ,
2005).
Sendo assim, Jacobi (2003) defende ser a escola o espaço transformador de tais ideais,
em que o aluno terá condições de analisar a natureza em um contexto entrelaçado de práticas
sociais, parte componente de uma realidade mais complexa e multifacetada. Ressalta, que o
mais desafiador é evitar cair na simplificação de que a educação ambiental poderá superar
uma relação pouco harmoniosa entre os indivíduos e o meio ambiente mediante práticas
localizadas e pontuais, muitas vezes distantes da realidade social de cada aluno.
146
Segundo Melo (2007) a educação ambiental escolar deve enfatizar o estudo do meio
ambiente onde vive o aluno, procurando levantar os principais problemas da comunidade,
quais as contribuições da ciência e os conhecimentos necessários, assim como as
possibilidades concretas para a solução deles.
Neste direcionamento, Oliveira et al (2008) julga ser a EA fomentadora da
transformação social e planetária, permitindo emergir a ―vivência da unidade da teia da vida e
o estabelecimento de relações que expressam a essência do Amor, que é a própria natureza do
ser humano‖ (p.43-44).
3 Metodologia
O presente estudo apresenta uma abordagem qualitativa de fins exploratórios e
descritivo, buscando maiores informações sobre o tema de estudo. Segundo Gil (2008), a
pesquisa exploratória tem o objetivo de proporcionar visão geral acerca do tema abordado e é
descritiva quando ―o objetivo primordial torna-se a descrição das características de
determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis‖ (p.28).
Com base em dados secundários através de pesquisa bibliográfica e documental,
visando fundamentar o problema, foi realizada revisão de literatura utilizando obras que
retratam a temática da educação ambiental e desenvolvimento regional sustentável.
Foram consultados autores renomados nesta discussão, e demais livros, revistas, sites,
leis e dados oficiais do Ministério da Educação (MEC), Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) e outros órgãos ambientais.
4Resultados e discussão
Mesmo após a aprovação da Lei nº 9795/99 e do seu regulamento, o Decreto nº 4.281,
estabelecendo a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), mantém-se ainda diversos
obstáculos para a universalização da EA no país, sendo, portanto, inevitáveis tais indagações:
Como elas interferem nas políticas públicas educacionais e ambientais? O direito de todo
cidadão brasileiro à educação ambiental poderá ser exigido do poder público e dos
estabelecimentos de ensino? Quem fiscaliza e orienta o seu cumprimento? Existe ou deveria
existir alguma penalidade para as escolas que não observarem essas legislações? (LIPAI et al.,
2007).
147
Neste sentido, a legislação ambiental aponta para a obrigatoriedade da inclusão da
educação ambiental em todas as modalidades de ensino, como já evidenciado anteriormente.
Sendo assim, de fato as instituições de ensino devem ser fiscalizadas e o poder público precisa
tomar as medidas e penalidades cabíveis para o não cumprimento. Como também são
imprescindíveis ações por meio de políticas públicas que venham a estimular a concretização
das atividades interdisciplinares no âmbito da educação ambiental.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) é essencial promover a
interdisciplinaridade ao desenvolvimento de temas ligados ao Meio Ambiente, sendo
necessário desfragmentar os conteúdos e reunir as informações dentro de um mesmo
contexto, nas várias disciplinas. Um dos modos de se trabalhar a interdisciplinaridade são os
projetos de Educação Ambiental, que podem e devem ser desenvolvidos nas escolas a fim de
fomentar a criatividade e o raciocínio dos alunos, através de atividades dinâmicas e
participativas, unindo teoria à prática (NARCIZO, 2009).
Ainda segundo a autora, implementar a Educação Ambiental nas escolas tem se
mostrado uma tarefa exaustiva, em especial pela dificuldade de sensibilização e formação, na
implantação de atividades e projetos e, principalmente, na manutenção e continuidade dos já
existentes.
Conquanto, frente aos atuais desafios para a efetivação da EA nas escolas, Lipaiet al.
(2007) discutem as ações interdisciplinares a serem buscadas pelos educadores em cada
modalidade de ensino, como mostra o quadro 02.
Quadro 02 – Educação ambiental nas modalidades de ensino
Modalidades Atividades teóricas e práticas através de ações interdisciplinares
Ensino Infantil Sensibilização, interação, cuidado e respeito das crianças para com a natureza e
cultura destacando a diversidade dessa relação.
Ensino Fundamental Desenvolver o raciocínio crítico, prospectivo e interpretativo das questões
socioambientais bem como acidadania ambiental.
EnsinoMédio e
educação de Jovens e
Adultos
Estimular o pensamento crítico, contextualizado e político, e a cidadania ambiental
devem ser ainda mais aprofundados, podendo ser incentivada a atuação de grupos
não apenas para a melhoria da qualidade de vida, mas especialmente para a busca
de justiça socioambiental, frente às desigualdades sociais que expõem grupos
sociais economicamente vulneráveis em condições de risco ambiental.
Ensino técnico, no É fundamental o conhecimento de legislação e gestão ambiental aplicáveis às
148
âmbito do ensino médio
e educação superior
atividades profissionais enfatizando a responsabilidade social e ambiental dos
profissionais.
Educação superior Seria vantajosa a criação de disciplina ou atividade que trate da educação
ambiental, de legislação e gestão ambiental, incluindo o enfoque da
sustentabilidade na formação dos profissionais que atuam nas diferentes áreas.
Fonte: Elaboração própria segundo Lipaiet al. (2007).
Neste sentido, percebe-se a necessidade de um projeto contínuo na formação dos
discentes, docentes, gestores e comunidade, haja vista ser a educação ambiental fruto de uma
mudança de paradigmas em torno da preservação dos recursos naturais, ou seja, um processo
de longo prazo, como forma de garantir a sustentabilidade da vida do Planeta Terra.
Dessa maneira, o projeto de educação ambiental exige antes de tudo, sensibilização e
percepção por parte dos atores envolvidos nos projetos de EA. Sendo fundamental o
desenvolvimento do pensamento crítico e político para sua efetivação, novos valores,
mudanças culturais, além de instigar o sentimento de pertencimento àquele local, pois só
assim, os projetos tornar-se-ão efetivos e serão preponderantes para a continuidade do
desenvolvimento regional sustentável, nos seus aspectos econômicos, sociais e ambientais.
Quanto aos atores envolvidos nesse processo, o Ministério da Educação, em 2005, a
partir de um levantamento realizado em 418 escolas de ensino fundamental, nas cinco regiões,
distribuídas entre 42 municípios e 11 estados: Mato Grosso, Mato Grossodo Sul, Rio Grande
do Norte, Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Amapá, Pará, Rio Grande do Sul e
Santa Catarina(LOUREIRO; CÓSSIO, 2007)apontou os principais atores envolvidos
permanentemente com os projetos de EA nestas escolas, como mostra o gráfico 01.
Gráfico 01 – Atores envolvidos permanentemente nos projetos de EA
149
Fonte: Projeto ―O que fazem as escolas que dizem que fazem Educação Ambiental‖, 2006 apud LOUREIRO;
CÓSSIO (2007, p.62).
Deste modo, fica evidente a ação conjunta dos gestores (83,6%), grupo de professores
(91,9%), alunos (90,4%), funcionários (60,2%) e comunidade (53,2%) como sendo a de maior
representação no contexto escolar. Nota-se ainda a baixa participação (5,8%) de apenas um
professor como agente disseminador na EA, comprovando que a efetivação da EA é oriunda
de um projeto contínuo e conjunto entre a comunidade escolar e membros da sociedade
(universidades, Ong’s, empresas).
Nesta perspectiva, Oliveira et al. (2008) apontam como proposta metodológica a
transdisciplinaridade, por integrar diferentes sistemas de conhecimento e, além disso,
direcionar o ―exercício de ser, de pensar e de fazer com base em referenciais de uma práxis
educativa que integra a racionalidade e o sentimento, a análise e a vivência, que nos leva a
sentir o mundo e nós mesmos como uma única e mesma totalidade‖ (p.42).
Em face disso, a transdisciplinaridade promove uma visão do todo, orientando uma
prática efetiva e comprometida com a sustentabilidade do planeta, formando um cidadão
responsável por suas ações e por seu desenvolvimento pessoal em conformidade com a
natureza, promovendo sua realização pessoal ao mesmo tempo em que promove o bem-estar
social e a Vida na Terra (OLIVEIRA, 2006).
150
Jacobi (2003) compactua com essa ideia, ao afirmar que a EA deve situar-se em um
contexto mais amplo, o da educação para a cidadania, no sentido de que cada pessoa seja
portadora de direitos e deveres e mais ainda, de ser ator co-responsável na defesa da qualidade
de vida. Por isso, ―o principal eixo de atuação da educação ambiental deve buscar, acima de
tudo, a solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença através de formas democráticas de
atuação baseadas em práticas interativas e dialógicas‖ (p.197).
Dessa forma, Sorrentinoet al. (2005) ressaltam a racionalidade ambiental e a
transdisciplinaridade como orientadoras da EA, por relacionar o meio ambiente com as
sociedades e a cultura popular. E ainda, por construir ―relações sociais, econômicas e culturais
capazes de respeitar e incorporar as diferenças, como: opção sexual, minorias éticas,
populações tradicionais, perspectivas das mulheres e a liberdade para decidir caminhos
alternativos de desenvolvimento‖ (OLIVEIRA, 2006, p.164).
Por último, Melo (2007) enfatiza ser no cotidiano escolar e no contexto da residência,
da rua, do bairro onde mora o aluno que existem muitas possibilidades interessantes para a
Educação Ambiental que podem e devem ser exploradas. Nas imediações da escola, do bairro
ou da cidade, observar quais das indústrias existentes e atividades comerciais são fontes de
poluição ambiental, analisar as condições dos rios, córregos e fontes que abastecem a cidade
de água; e ainda o movimento do trânsito, a poluição sonora e visual, a destinação do lixo, o
crescimento da população, a rede de saneamento básico, as áreas de lazer, atividades culturais
praticadas e muitos outros indicadores da situação urbana ou rural que determinam a
qualidade de vida da população e sempre que possível, referenciar a legislação que regula
todas essas práticas.
Sendo assim, a responsabilidade de conscientização sobre o meio ambiente deverá ser,
também, preocupação da sociedade, pois nem sempre as pessoas têm acesso à educação
formal, sala de aula. Portanto, a responsabilidade, a preocupação com a natureza passa a ser
da sociedade como um todo, não importa qual a sua classe social, profissão, origem, sexo ou
cor. É necessário começar a pensar e realmente iniciar as atividades da Escola com um
Projeto Pedagógico Participativo que opte pela parceria com as famílias e com a sociedade
para uma convivência harmoniosa com o grupo e com o meio ambiente (NARCIZO, 2009).
5 Considerações finais
151
A contextualização em torno desse debate sobre o atual modelo de desenvolvimento e
seus consequentes impactos para as atuais e futuras gerações são vivenciados cotidianamente
nos diversos ―cantos‖ do Planeta, através da marginalização dos países emergentes,
exacerbação dos índices de pobreza e mortalidade humana, associados a um grau de
concentração de renda, violência, fome e expropriação dos recursos naturais.
Nesse sentido, a pesquisa reitera que não há um entendimento único sobre o que é o
desenvolvimento e de qual receituário teórico os países devam se orientar para alcançá-lo. No
entanto, nas diversas discussões apresentadas, torna-se unânime que tal modelo busque
equacionar os rumos do crescimento econômico com a preservação dos recursos naturais,
melhorias sociais, interação local e territorial, valorização da cultura e da democracia, além da
necessidade da atuação governamental via políticas públicas.
Posto isso, torna-se relevante que tais impactos sejam discutidos nos mais diversos
níveis de ensino, sendo fundamental a tomada de conscientização da sociedade desde a
infância até a fase adulta, de forma transdisciplinar, ou seja, além de sensibilizá-los sob
diferentes sistemas de conhecimentos, integrá-los no comprometimento com a
sustentabilidade do planeta, cidadania, solidariedade e respeito as diferentes formas
democráticas. Destaca-se ainda, ser a Educação Ambiental a base da integração da nação,
estado ou município rumo a esse caminho do meio, o desenvolvimento regional sustentável.
Com isso, a legislação nacional entende que a Educação Ambiental é fundamental
nesse processo, tornando-a obrigatória em todos os níveis de ensino, através da Lei 9795/99,
que estabeleceu a Política Nacional de Educação Ambiental, sendo regulamentada pelo
Decreto nº 4.281/02, ambos previstos na Constituição de 1988. Contudo, sua
institucionalização foi acontecendo gradualmente após a década de 1970, fruto dos vários
debates apresentados ao longo da discussão.
Entretanto, apesar do aporte da legislação nacional, a revisão de literatura aponta para
uma relativa ineficácia e dificuldades de implantação dos projetos de EA no país, haja vista
ainda se tratar de práticas localizadas no âmbito escolar sem o respectivo direcionamento dos
problemas da comunidade em geral.
Por isso, pode-se inferir que a Educação ambiental apresenta um papel primordial na
sensibilização e consequentemente na modificação de comportamentos, atitudes e hábitos do
ser humano, em suas várias fases, quanto a necessidade de garantir os recursos naturais e o
152
consequente bem-estar social e econômico para as futuras gerações. Tornando-os, assim,
promotores de um ―mundo melhor‖.
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154
ÁREA TEMÁTICA: ECONOMIA AGRÍCOLA, MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O PERFIL DOS APICULTORES DA ASSOCIAÇÃO DOS APICULTORES DE
MOREILÂNDIA-PE (APIM)
THE BEEKEEPERS PROFILE OF THE MOREILANIA-PE BEEKEEPERS
ASSOCIATION (APIM)
ROSYANE CRISTINA OLIVEIRA TEIXEIRA
(Graduada em Ciências Econômicas, URCA. E-mail: rosyaneoliveira70@gmail.com.
Tel: 88-997020351)
ROSEMARY DE MATOS CORDEIRO¹
(Doutorado em Geografia, UNESP. E-mail: rosymatos@hotmail.com. Tel: 88-
999616483)
155
O PERFIL DOS APICULTORES DA ASSOCIAÇÃO DOS APICULTORES DE
MOREILÂNDIA-PE (APIM)
RESUMO: A apicultura tem ganhado espaço no cenário brasileiro, em especial no Nordeste,
com seu clima e vegetação favoráveis a execução da atividade na região. Devido a expansão
da apicultura entra em cena as associações, atuando com o intuito de promover melhorias aos
apicultores, como é o caso da Associação dos Apicultores de Moreilândia-PE (APIM). A
pesquisa tem como objetivo analisar o perfil socioeconômico dos apicultores associados da
APIM, em Moreilândia/PE. A mesma tem como metodologia a pesquisa bibliográfica
epesquisa de campo, realizada com todos os membros da associação. Entre os principais
resultados apresentados cita-se que a maioria dos apicultores é do sexo masculino, que
possuem em grande parte o ensino fundamental e que escolheram a apicultura como forma de
complementar a renda.Entre os benefícios obtidos com a associação estão a melhoria da
comercialização do mel produzido, a organização da APIM e, o tempo de associado em
relação ao tempo de prática da atividade.
Palavras-chaves: Apicultura, associados, renda.
ABSTRACT: Beekeeping has gained space in the Brazilian scenario, especially in the
Northeast, with its favorable climate and vegetation the execution of the activity in the region.
Due to the expansion of beekeeping, associations, acting to promote improvements to
beekeepers, as is the case of the Moreilândia-PE Beekeepers Association (APIM).The
research aims to analyze the socioeconomic profile of APIM associate beekeepers, in
Moreilândia / PE. It has as methodology the bibliographic research and field research, held
with all members of the association. Among the main results presented is that most
beekeepers are male, who largely have elementary school and who chose beekeeping as a
way to supplement their income. Among the benefits obtained from the association are the
improved marketing of honey produced, APIM organization and, the associate time in
relation to the activity practice time.
Keywords:Beekeeping, associates, income.
1. Introdução
Apicultura é uma atividade racional de criação de abelhas do gênero Apís para fins
econômicos. Podendo ser extraída desta atividade o mel, a própolis, o pólen, a geleia real, a
cera e apitoxina ou veneno. Sendo que entre todos os produtos da colmeia, o mel é o mais
conhecido e comercializado no mercado nacional e internacional (PAULA NETO e
ALMEIDA NETO, 2006).
156
No Brasil, as abelhas foram introduzidas pelos missionários da Companhia de Jesus,
ou seja, os jesuítas (CAMARGO JOÃO, 1972). Mas o país já tinha conhecimento da
atividade apícola era desconhecida no país. Já havia as abelhas nativas, cultivadas pelas
civilizações indígenas chamadas melíponas e trígonas, ou melhor, as abelhas sem ferrão.
Para a região Nordeste do Brasil, atividade apícola é considerada como uma boa
oportunidade de preservação e reconstrução do ecossistema local, que, devido à falta de
alternativas de sobrevivência, o sertanejo recorre a retiradas de lenhas, desmatamento e
queimadas destruindo a sua cobertura vegetal (SILVA, 2010).
Diante deste cenário, torna-se importante compreender melhor o perfil da apicultura
no Nordeste, assim mostrando a execução da atividade no município de Moreilândia-PE.
Portanto, o principal objetivo é analisar o perfil socioeconômico dos apicultores
associados da APIM, em Moreilândia/PE. Inicialmente faz-se uma conceituaçãoda apicultura,
enfatizando-a no Brasil, descreve-se a apicultura no Nordeste e, por fim, apresenta-se o perfil
socioeconômico dos associados na Associação dos Apicultores de Moreilândia-PE (APIM).
2. Referencial teórico
2.1 Apicultura
Apicultura ―[...] refere-se à atividade econômica de criação racional de abelhas do
gênero Apís‖ (Vilela, 2000, p. 110). São as abelhas híbridas, ou seja, resultado do cruzamento
entre as africanas e as italianas. As abelhas híbridas possuem maior capacidade produtiva,
maior resistência às doenças e se adaptam melhor as características climáticas do país.
Essa espécie de abelha considerada bastante produtiva causou um impacto imenso no
início de sua disseminação, por ser muito agressiva e pelas deficiências dos apicultores e da
população por não saberem como trabalhar e conviver com ela (SOARES, 2004 apud MÉLO,
2011).
Durante muito tempo, a retirada do mel era realizada de forma rudimentar, causando
impactos ao meio ambiente. Segundo Camargo Ricardo (2002) a apicultura nasceu a partir do
momento em que o homem foi aprendendo a cuidar mais de seus enxames, instalando-as em
colmeias racionais, facilitando o transporte das mesmas, assim estimulando-as a aumentar a
produção.
157
No que lhe concerne, Freitas (2000) acredita que abelhas são convenientes para
manutenção da biodiversidade graças a sua capacidade polinizadora, que garante a
manutenção da biodiversidade das espécies, nos mais diversos ecossistemas terrestres. Ele
ainda ressalta que onde existirem flores é possível encontrar alguma espécie de abelhas
responsáveis pela polinização das vegetações no entorno.
Entre as atividades do agronegócio é uma das poucas que se enquadra dentro do
conceito de sustentabilidade, fazendo funcionar verdadeiramente as três dimensões do tema:
social – diminuindo o êxodo rural e garantindo à inclusão social; o econômico – gera
ocupação e renda para os pequenos produtores rurais; e o ecológico – preservação da
natureza, manutenção do ecossistema e transformando o apicultor num defensor incansável,
ou seja, num ecologista prático (ALMEIDA & CARVALHO, 2009 apud FREITAS, 2006).
No âmbito da apicultura, as condições do pasto apícola influenciam bastante na
produtividade, transporte adequado, adicionada às novas técnicas e à eficiência na
comercialização. Seguindo o mesmo raciocínio, Paulino (2007) diz que o segredo para boa
produção é manter sempre colmeias com rainhas jovens e populosas, sadias e manejadas
corretamente. Já para Costa et al., (2005), a eficiência da atividade apícola é resultante não só
do manejo do apicultor, mais principalmente da abundância do pasto apícola. Entretanto,
esses autores afirmam que a primeira coisa a se fazer para se instalar um apiário é realizar um
mapeamento das floradas onde pretende atuar, identificando as espécies vegetais existentes,
suas potencialidades melíferas sendo elas cultivadas ou nativas, de preferência próximas do
apiário.
A atividade aqui abordada dispõe de mercados tanto interno como externo para
acomodar toda a produção, sendo que os produtos gerados podem alcançar elevados níveis de
preços, e, assim, pode ser aproveitada com maior eficiência da mão-de-obra de mulheres,
crianças e pessoas idosas (PAULA NETO e ALMEIDA NETO, 2005).
Segundo Santos e Ribeiro (2009) os apicultores que exercem a apicultura,
compreendem como um empreendimento possível de ser realizado a baixos custos de
investimentos, permitindo o envolvimento com associações que exercem outras atividades
agropecuárias.
Segundo Gonçalves (2004), além da apicultura desenvolver das boas práticas
naturais que são favoráveis à produção e a natureza, contam com o apoio e colaboração de
158
muitas instituições tem no que se refere ao desenvolvimento dos apicultores no Brasil, entre
essas instituições estão a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e Banco do Brasil, tendo
fornecido apoio técnico e financiamento para aprimorar as unidades produtivas.
2.2 Apicultura no Brasil
No Brasil, as abelhas foram introduzidas pelos missionários da Companhia de Jesus,
ou seja, os jesuítas (CAMARGO JOÃO, 1972), sendo que o país já tinha conhecimento da
atividade apícola. Já havia as abelhas nativas, cultivadas pelas civilizações indígenas
chamadas melíponas e trígonas, ou melhor, as abelhas sem ferrão. Nesta época, apicultura era
explorada de forma extrativista e predatória pelos meleiros. E, com esses, não havia uma
relação saudável entre as abelhas, o meleiro e a natureza, uma vez que se utilizava de técnicas
rudimentares que destruíam a natureza e matava as abelhas (GUIMARÃES, 1998).
No entanto Braga (1998) confirmou que a certidão de nascimento da apicultura
brasileira foi o Decreto nº 72, de 12 de julho de 1839, onde o Imperador Dom Pedro II,
autorizou o Padre Antônio José Pinto Carneiro importar abelhas de Cidade do Porto
(Portugal), para instalação do apiário imperial, na Praia Formosa-Rio de Janeiro. E as abelhas
italianas foram introduzidas no país entre os anos de 1870 a 1880, pelo apicultor
Hanemann16, em Rio Pardo (Rio Grande do Sul). Isso marcaria o início da apicultura
brasileira com as abelhas italianas.
O grande diferencial da apicultura brasileira é a resistência dos enxames às pragas e
doenças. Esta realidade é consequência da africanização das abelhas no país. As abelhas poli
híbridas permitiram o surgimento de uma rusticidade aliada a um comportamento higiênico
eficiente que impede a disseminação das enfermidades, favorecendo o seu combate com a
realização de práticas de manejos adequadas e dispensando o uso de medicamentos. A grande
extensão territorial, a flora diversificada, o clima favorável e a água são alguns dos fatores que
habilitam o Brasil a ser um dos maiores produtores de mel do planeta (Vilela, 2000).
No ano de 1956, a apicultura brasileira teve um grande avanço, graças a introdução
das abelhas africanas, Apísmelliferasadansonii. Memorando de certa forma, o período
rotineiro de criação de abelhas e início de emprego de técnicas na apicultura brasileira. De
acordo com Camargo João (1972), o Prof. Warwick E. Kerr viajou para África, em 1956, com
159
objetivo de trazer para o Brasil, as rainhas africanas altamente produtivas e comparar, por
meio de pesquisa, a capacidade produtiva, rusticidade e agressividade com as abelhas italianas
e, posteriormente, fazer o cruzamento delas.
Em 2000, a produção brasileira de mel registrava a marca dos 21.865.144 quilos. E
em 2008, essa produção atingiu 37.791.909 kg de mel natural. Um crescimento de 73% em
nove anos, e, em termos absolutos, o país registrou um crescimento médio de 7%, no referido
período. A região Nordeste foi a que mais cresceu em termos percentuais 278% e teve um
crescimento médio quase que triplicou (19%), o registrado no mesmo período no país. A sua
contribuição, na produção de mel em 2008, foi de 37% da produção brasileira de mel natural,
e o elevado valor econômico no mercado (VILELA, 2000).
A Região Norte foi a segunda, com maior crescimento em termos percentuais 184%,
crescimento médio de 14% no período de 2000 a 2008. No entanto, a Região contribuiu
apenas com 2% na quantidade de mel produzido no país, em 2008.
Segundo o IBGE (2008), até 2015 o ranking da produção de mel no Brasil era o
seguinte: Paraná, em primeiro, com 6,2 mil toneladas; Rio Grande do Sul, com 4,9 mil
toneladas; Bahia, com 4,5 mil toneladas; Minas Gerais, com 4,3 mil toneladas; e Piauí, na
quinta posição, com 3, 9 mil toneladas.
2.3 Apicultura no Nordeste
A exploração racional das abelhas ApísMellifera é uma considerada uma atividade
nova na região Nordeste, a qual já configura como importante fonte de ocupação e renda para
pequenos produtores rurais, mais precisamente no semiárido nordestino (VIDAL, 2018).
Ainda segundo Vidal (2018), a apicultura é uma atividade de caráter totalmente
familiar, dado que a mesma tem apresentado aspectos de uma boa alternativa para a
diversificação das atividades produtivas no meio rural. Hoje no Nordeste são contabilizados
aproximadamente 40.000 apicultores em toda a região e a maioria possuindo até 200
colmeias.
Os apicultores nordestinos são responsáveis pela produção de 40% do mel brasileiro.
Isto se deve aos condicionantes históricos, afinal é o berço da apicultura brasileira, situação
que lhes confere maior organização, autonomia e infraestruturas para viabilizar a produção e
comercialização de mel (IBGE, 2008).
160
O Piauí ocupou a terceira posição como maior produtor do país e maior do Nordeste,
com o equivalente a 4.143.804 kg aproximadamente 11% de contribuição na produção
brasileira de mel. O Estado de Sergipe aparece na 21ª posição do ranking nacional com 0,36%
de contribuição nacional (IBGE, 2008).
Para a região Nordeste do Brasil, a atividade apícola é considerada como uma boa
oportunidade de preservação e reconstrução do ecossistema local, que, devido à falta de
alternativas de sobrevivência, o sertanejo recorre a retiradas de lenhas, desmatamento e
queimadas, destruindo a sua cobertura vegetal (SILVA, 2010).
Por isso, Souza Neto (2006) acredita que a implantação de atividade apícola pode
despertar, nos sertanejos, a importância de se fazer uso racional destas áreas e constituir fonte
de renda para melhoria das condições de vida dessas famílias.
A criação de abelhas passou a ser uma ótima oportunidade para suprir a necessidade
dos sertanejos. O mel é o produto apícola mais fácil de ser explorado, sendo também o mais
procurado e comercializado no mercado nacional e internacional. Além de ser um alimento, é
também utilizado em indústrias farmacêuticas e cosméticas, pelas suas conhecidas
propriedades terapêuticas. As razões da sua atratividade, sem pretensão de esgotá-las,
associam-se às condições naturais favoráveis, baixo custo de iniciação, consome pouco
tempo, sua extração não exige técnicas especializadas dos apicultores (VILELA, 2000).
Segundo Perez (2006), o crescimento de apicultura nas regiões Norte e Nordeste se
deu ao clima favorável e à disponibilidade de vastas áreas do cerrado e da caatinga, bem como
extensas áreas inexploradas para o pasto apícola, colocando as duas regiões como grandes
polos de produção melífera, também os elevados investimentos financeiros, as parcerias
público - privada, a criação de vários programas de capacitação e incentivo à exportação do
mel, o crescente interesse do mercado internacional pelo mel brasileiro e o crescimento do
mercado interno, em decorrência do aumento de consumo por produtos naturais e
saudáveis,para melhoria dos padrões da qualidade de vida contribuíram para esse crescimento.
O mel nordestino tem um diferencial quanto a sua qualidade, pois ele detém uma
baixa contaminação por pesticidas e resíduos de antibióticos, sendo que a maior parte do mel
do Nordeste é proveniente da vegetação nativa. O mesmo ainda apresenta baixo custo de
implantação e manutenção, e apresentando um rápido retorno financeiro (VIDAL, 2018).
161
Na concepção de Levy (1998), o semiárido nordestino possui grande potencialidade
apícola. O mel desta região apresenta excelente qualidade, com aroma e sabor agradável,
características imprescindíveis no mel. As floradas apícolas da região nordeste são nativas,
possibilitando a produção de mel totalmente isento de qualquer produto químico. E com a
crescente demanda por produtos orgânicos e a dificuldade de obtê-los em outras regiões do
mundo, fazem também do Nordeste brasileiro uma região extremamente competitiva, nesse
segmento.
A produção do mel nordestino sofre alguns percalços devido às secas sofridas pela
região, as quais ocasionam elevadas perdas de enxames por abandono ou até mesmo a morte,
em decorrência da alta temperatura, aliada à falta de sombreamento e ao manejo alimentar
inadequado (VIDAL, 2018).
Segundo Silva (2010) entre os Estados nordestinos, o destaque vai para Piauí-PI que
detém mais de um quarto desse mercado, 29,28% de participação. Com pequena diferença, o
Estado de Ceará-CE aparece como segundo maior produtor do Nordeste, com 4.072.702
bruto, equivalente a 28,78% de produção nordestina. Depois a Bahia-BA, que contribuiu com
15,51%; Pernambuco-PE 9,77; Rio Grande do Norte-RN 7,53%; Maranhão-MA 5,52;
Alagoas-AL 1,10 e Sergipe/SE 0,96, respectivamente, de contribuição na produção
nordestina.
Assim, a apicultura nordestina se depara com um enorme desafio de desenvolver
uma apicultura tecnificada, capaz de possibilitar excelentes níveis de produtividade com um
custo baixo e obter um produto de alta qualidade, atendendo às exigências dos mercados;
elevado índice de informalidade; falta de entrepostos e casa de mel; dificuldades de gestão e
de acesso a mercados internos e externos. E, em consequência deste último, os apicultores
nordestinos frequentemente têm vendido seus méis in natura para empresas exportadoras do
sul, fortalecendo cada vez mais as estatísticas sulistas (SOUZA DIAS, 2007).
A boa produção de mel na região Nordeste também impulsionou a exportação do
produto, tendo um expressivo crescimento das exportações nordestinas de mel, tendo seu pico
em 2008 e 2009 (VIDAL, 2018).
Ainda segundo Vidal (2018) o preço do mel produzido no Nordeste, teve certa
valorizada entre 2009 e 2010, devido à dificuldade de outros países na produção de mel, pois,
a Argentina, segunda maior exportadora de mel do mundo, sofreu problemas climáticos e, os
162
Estados Unidos que lidera o ranking de exportação, enfrentou o ColonyCollapseDisoder, mais
conhecido como o desaparecimento das abelhas.
3. Metodologia
O presente estudo foi desenvolvido na Associação dos Apicultores de Moreilândia-
PE (APIM), no distrito de Cariri-Mirim, mais precisamente no município de Moreilândia, que
está localizado na microrregião de Araripina, estado de Pernambuco, o se encontra a uma
distância de 516 km da capital Recife (IBGE, 2012).
No que diz respeito à APIM foi realizada uma entrevista com o senhor José Luis R.
Peixoto ex tesoureiro da mesma e o atual presidente o senhor Agustinho Paz Peixoto Rocha,
sendo possível a formulação desse contexto.
Quanto aos procedimentos metodológicos o estudo foi realizado com base em dados
primários oriundos de questionários aplicados aos 24 integrantes da associação. A pesquisa
ainda contou com dados secundários, extraídos de artigos científicos, Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), livros e revistas que abordaram essa temática e o corpo da
associação.
Os métodos de análise para traçar o perfil socioeconômico dos apicultores associados
da APIM são descritivos e explicativos, para tanto são analisadas variáveis como sexo, estado
civil, escolaridade, renda entre outros, sendo estes expostos através de tabelas descritivas.
4. Resultados e discussões
4.1. Apicultura em Moreilândia-PE
Com base em relatos do senhor José LuisR. Peixoto ex tesoureiro da Associação dos
Apicultores de Moreilândia-PE (APIM), a história da apicultura no município de Moreilândia-
PE, teve seu início durante a década de 1950.
No mesmo período citado acima, alguns moradores do Distrito de Cariri-Mirim,
encontram no pé de serra da chapada do Araripe, enxames mansos e muito produtivos em
ocos de pau e locas de pedra, assim se deu as primeiras colheitas de mel no município, mesmo
de forma rudimentar.
O senhor José Luis diz ainda que devido a africanização dos enxames, os apiários
que já tinham sido implantados próximos as residências e a estrada, passaram a se tornar
163
agressivas, atacando animais e pessoas, fazendo-se necessário a retirada provisória dos
apiários.
No ano de 1998 foi elaborado o primeiro projeto de apicultura de Moreilãndia,
através desse projeto juntamente com o Pró-rural adquiriram 216 colmeias e mais
equipamentos. Em 1999, cinco apicultores do sítio Fortalezinha conseguiram um
financiamento de 250 colmeias junto ao Banco do Nordeste.
Em 2010, o estado de Pernambuco produziu 2.094t de mel, alcançando a 9ª maior
produção nacional, a 4ª maior da região Nordeste. Dentro de Pernambuco, a microrregião de
Araripina se destaca no tocante à participação na produção estadual de mel, contribuindo com
74,49% da mesma (IBGE, 2012).
O município de Moreilândia, que está inserido nesta microrregião pernambucana,
produziu 40t de mel em 2010, sendo o 7° maior produtor desta microrregião, que compreende
10 municípios, cujo maior produtor é o município de Araripina (IBGE, 2012).
Os apicultores do município de Moreilândia apresentaram elevadíssima taxa de
crescimento da produção de mel nos últimos dez anos, equivalente a 49.900%, passando de
uma produção anual de 0,080t, em 2001, para 40t em 2010 (IBGE, 2012). Este município
apresenta condições naturais favoráveis para um bom desempenho da atividade apícola, visto
que a apicultura em Moreilândia- PE, quase que em sua totalidade, é realizada na área de
proteção ambiental da Chapada do Araripe, uma área bastante preservada. A produção de mel
neste município tem garantido, principalmente para os agricultores familiares que dispõem de
pequenas propriedades territoriais, melhoria nas condições de vida, através da renda auferida,
diminuindo a dependência de programas de transferência de renda (REVISTA
GEONORDESTE, 2013).
No município de Moreilândia, a atividade apícola caracteriza-se por duas fazes
distintas: A primeira fase é caracterizada pela exploração econômica através dos apicultores
do Ceará e Piauí, onde nesse período os agricultores e pecuaristas do município assistiam uma
grande produção de mel em suas propriedades, mas não detinham nenhuma riqueza, pois todo
mel era produzido por apicultores de fora. A partir desses fatos alguns produtores começaram
a explorar timidamente essa atividade. A segunda fase, a do desenvolvimento, inicia-se com a
fundação da Associação dos Apicultores de Moreilândia-APIM em 2005 e com a forte
atuação do IPA a partir de 2006 (IPA-PE, 2010).
164
4.1.2 Associação dos Apicultores de Moreilândia-PE (APIM)
Segundo o ex-tesoureiro da APIM o senhor José Luis R. Peixoto, a associação criada
em outubro de 2005, inicialmente com 22 associados e aproximadamente 1260 colmeias e
possui hoje 24 (vinte e quatro) associados que produzem ativamente todos os anos.
A associação é considerada nova na sua existência, a produção de mel é antiga no
município, pois a área já era explorada por apicultores do Ceará e Piauí. Apesar de contar com
associados experientes há certa dificuldade na hora de decidirem os assuntos de importância
do grupo, sendo necessária a realização de votação, disse o atual presidente.
A sede da associação encontra-se em construção no distrito de Cariri-Mirim,
município de Moreilândia-PE, as reuniões entre os associados são realizadas mensalmente na
unidade de extração de mel, no sitio Olho d’água. Segundo Agustinho Paz Peixoto Rocha o
Presidente da Associação dos Apicultores de Moreilândia-PE.
Relata ainda que hoje como presidente seu principal objetivo é o Sistema de
Insperção Federal (SIF), que é o código de barras das mercadorias, conseguindo o mel
extraído pode ser comercializado nacionalmente e exteriormente, assim facilitando a
comercialização dos produtos.
Segundo o Ministério Da Agricultura, Pecuária E Abastecimento (2018), surgimento
do selo se deu pela edição do primeiro regulamento para a criação do serviço de inspeção
dentro dos estabelecimentos processadores. Até receber o carimbo do SIF, o produto atravessa
diversas etapas de fiscalização e inspeção, cujas ações são orientadas e coordenadas pelo
Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), da Secretaria de Defesa
Agropecuária (SDA/Mapa).
O atual presidente da APIM menciona que para ser autorizado o SIF são necessárias
algumas modificações na casa de mel, algumas exigências ainda não compreendidas.
Mas diz se empenhar cada vez mais, juntamente com a colaboração dos apicultores
associados e órgãos parceiros atingirem em breve os objetivos da APIM.
4.2 Perfil socioeconômico dos apicultores associados na Associação dos Apicultores de
Moreilândia-PE (APIM)
165
Neste capítulo foi traçado o perfil socioeconômico dos apicultores associados na
Associação dos Apicultores de Moreilândia-PE (APIM), analisando as principais
características dos mesmos. Diante a aplicação dos questionários aplicados juntamente com a
participação de todos os membros da associação, é possível proporcionar um melhor
conhecimento dos apicultores associados na associação do município de Moreilândia - PE,
possibilitando a concepção mais abrangente dos benefícios de fazer parte da associação.
4.2.1 Perfil dos apicultores
Segundo dados da pesquisa, pode-se observar que 87,5% dos entrevistados apontam
ser do sexo masculino, e 12, 5% apontam ser do sexo feminino. Chegando a conclusão que na
APIM prevalece a participação masculina.
A Tabela 01 apresentou que 16,7 % dos entrevistados são solteiros, enquanto 70,8%
apresentam serem casados, 8,3% são divorciados, e ainda outros que representa 4,2% dos
entrevistados. Dessa forma a maioria dos apicultores que compõe a APIM é casada, o que
demonstra a contribuição da atividade para o sustento de núcleos familiares.
Em relação à faixa de idade, observou-se o percentual onde 4,2% dos apicultores
associadosestão na faixa etária de 18 a 25 anos, e o mesmo percentual foi obtido para os da
faixa etária de 26 a 35 anos. Quanto aos apicultores da faixa etária de 36 a 45 anos obteve-se
33,3%, como também a mesma porcentagem para aos da faixa etária de 46 a 55 anos. E ainda,
25,0% dos apicultores encontram-se na faixa etária acima de 55 anos. Assim, observa-se a
predominância de trabalhadores experientes no desenvolvimento da atividade produtiva em
questão.
A Tabela 04 apresentou o grau de escolaridade dos apicultores entrevistados, onde
4,2% não sabem ler e nem escrever, 33,3% possuem ensino fundamental incompleto,
enquanto apenas 8,3% conseguiram concluir o ensino fundamental. Já os que possuem ensino
médio incompleto apresentaram um percentual de 12,5% e os que possuem ensino médio
completo são 29,2% dos entrevistados, e ainda 12,5% dos apicultores chegaram a cursar o
ensino superior. Assim, apesar da maior representatividade de trabalhadores na faixa do
ensino médio, tem-se ainda um percentual de 45,8% de profissionais nas faixas de estudo
mais baixas, qual seja até o ensino fundamental completo, o que pode representar dificuldade
de incorporar novos saberes técnicos para o setor.
166
4.2.2 Condição de moradia
Quanto às informações referentes à localização das residências dos apicultores. Os
dados pesquisados apontaram que 45,8% dos apicultores residem na Zona Rural do município
de Moreilândia-PE, enquanto, 54,2% residem na Zona Urbana. Conclui-se que a maioria tem
suas residências localizadas em áreas urbanas, apesar do desenvolvimento da atividade
ocorrer no meio rural, o que representa o movimento de deslocamento de população para o
meio urbano.
Em relação à propriedade das residências dos trabalhadores, observou-se que 4,2%
dos apicultores associados residem em casa emprestada; 4,2% residem em casa alugada; 8,3%
residem em casa própria em pagamento e, 83,3% residem em casa própria já quitada. Então,
observa-se que uma grande maioria dos trabalhadores possui residência própria. Em relação
ao número de membros da família os dados relacionados revelaram que 12,5% dos apicultores
tem de 0 a 2 pessoas em casa; 79,2% tem de 3 a 5 pessoas em casa, enquanto 8,3% tem de 6 a
8 pessoas em casa. Então, é visível que a maioria dos apicultores tem um maior percentual
com 3 a 5 pessoas em casa.
4.2.3 Relação com auxílio social
Em relação à recepção de auxílio social observou-se que a maior parcelados
apicultores recebem algum auxílio social. Nota – se que um percentual de 66,7% para aqueles
que recebem auxilio social e, 33,3% não recebem auxilio, o que pode estar associado à uma
baixa remuneração advinda da atividade produtiva em questão, de forma que os mesmos se
enquadram nas condicionalidades de programas sociais.
Quanto ao tipo de auxílio social recebido, observou-se que os apicultores, em 95,8%
dos casosrecebem o Bolsa Família, enquanto que apenas 4,2% recebem aposentadoria. Esse
dado dialoga com a baixa participação de trabalhadores pertencentes a faixas de idade mais
elevadas, anteriormente apresentados.
A Tabela 1 mostra os valores dos auxílios recebidos pelos apicultores. Constatou-
seque um percentual de 91,7% recebe de 0 a 300 reais; 4,2% recebem de 301 a 600 reais, e
4,2% recebem de 601 a 1200 reais. Observou-se que a maioria dos que recebem algum auxílio
está dentro da variável de 0 a 300, o que significa que a quantia que recebem é muito baixa.
167
Tabela 1 - Frequência absoluta, relativa e acumulativa em relação ao valor do auxílio
recebido pelos apicultores associados na APIM no município de Moreilândia, 2019.
Valor do auxílio social Frequência
Absoluta
Frequência
Relativa (%)
Frequência
Acumulativa (%)
De 0 a 300 reais 22 91,7 91,7
De 301 a 600 reais 01 4,2 95,8
De 601 a 1200 reais 01 4,2
Total 24 100,0
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
4.2.4Execução da apicultura
Quanto às razões para participação da atividade produtiva as informações da
pesquisa apontaram que 87,5% se tornaram apicultores por motivo da renda, outros 8,3% pela
natureza local, e somente 4,2% por diversão. Em um estudo realizado por SILVA (2015),
mostra que realmente as pessoas buscam a prática da atividade apícola com o intuito de obter
uma renda extra. Em relação ao desenvolvimento da apicultura e de outras atividades
produtivas simultaneamente os dados da pesquisa demonstraram que apenas 4,2% pratica a
apicultura como única atividade e, um percentual de 95,8% pratica a apicultura como outras
atividades. Assim, os dados apresentados divergem dos obtidos por ANTERO (2015) o qual
relata na sua pesquisa que o maior percentual era de apicultores que praticavam a apicultura
como atividade principal. Abaixo, na tabela 02 são apresentadas as demais atividades
desenvolvidas pelos apicultores de Moreilândia.
Tabela 02 - Frequência absoluta, relativa e acumulativa de acordo com a outra atividade que
pratica no município de Moreilândia, 2019.
Outras atividades praticadas Frequência
Absoluta
Frequência Relativa
(%)
Frequência
Acumulativa (%)
168
Pecuarista 01 4,2 4,2
Servidor Público (a) 02 8,3 12,5
Agricultor (a) 15 62,5 75,0
Agropecuarista 01 4,2 79,2
Professor (a) 03 12,5 91,7
Pedreiro 02 8,3 100,0
Total 24 100,0
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
Assim, os dados apresentados na tabela 02 revelam que outras atividades
praticadas4,2% representam os pecuaristas; 8,3% são servidores públicos; 62,5% são
agricultores; 4,2% são agropecuaristas; 12,5% são professores; e outros 8,3% são pedreiros.
Observa-se a predominância de outras atividades vinculadas ao meio rural.
Quanto inquiridos em relação ao tempo na atividade produtiva em questão,
observou-se um percentual de 8,3% dos apicultores praticam a apicultura em um período de 0
a 5 anos; 66,7% um período de 6 a 10 anos; e, 25,0% um período de 11 a 20 anos. Observa-se
que 91,7% dos apicultores praticam a mais de 06 anos.
Em relação à propriedade da terra onde produzem, a pesquisa revelaque75,% são
proprietários, 16,7% são formados por arrendatários, enquanto 8,3% possuem terrenos
emprestados. Resultados semelhantes foram obtidos por (ANTERO, 2015) em seu estudo
realizado sobre o perfil da apicultura no município de Moreilândia-PE.
Em relação a informações relacionadas à característica da relação de trabalho, os
apicultores da APIM responderam que 37,5% trabalham com trabalhadores contratados,
outros 20,8% com trabalhadores da família e, 41,7% com trabalhadores cooperados.
4.2.5 Condições dos apiários
Em relação as características dos apiários, os entrevistados responderam que 33,3%
possuem apiários fixos, enquanto um percentual de 66,7% possui apiários móveis, totalizando
uma maioria de apicultores com apiários móveis.
169
Quanto a quantidade dos apiários possuídos pelos apicultores da APIM, observou-se
que 87,5% equivalem a um total de 0 a 10 apiários, enquanto 12,5% dispõem a uma
quantidade de 11 a 20 apiários.
Na Tabela 03 destaca as quantidades de colméias que os apicultores possuem. Os
dados relevam que 50,0% dos apicultores possuem de 0 a 200 a colmeias; 37,5% possuem de
201 a 400 colmeias; e, apenas 12,5% possuem de 401 a 660 colmeias, ou seja, grande parte
dos apicultores da APIM dispõe de um número significativo de colmeias.
Tabela 03 - Frequência absoluta, relativa e acumulativa de acordo com o número total de
colmeias dos apicultores associados na APIM no município de Moreilândia, 2019.
Número de colmeias Frequência Absoluta Frequência Relativa
(%)
Frequência
Acumulativa (%)
0 a 200 12 50,0 50,0
201 a 400 09 37,5 87,5
401 a 600 03 12,5 100,0
Total 24 100,0
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
Os dados da Tabela 20 mostram que 58,3% das colmeias estão povoadas
equivalentes a o número de 0 a 200 colmeias povoadas; 20,8% de 201 a 400 e, 20,8% de 401
a 600. Indicando que há um grande número de colmeias povoadas, prevalecendo aquelas de
até 200.
4.2.6Relação com a APIM
Os dados da Tabela 04 apresentam que 12,% dos apicultores se associaram na APIM
para aprimorar seus conhecimentos; 41,7% para melhorar a comercialização do mel; 25,%
pela organização da associação; 16,7% para o aumento de sua renda; e, apenas 4,2% para
agregar valores ao produto. Nota-se que o maior número de apicultores associa-se com intuito
de ter uma forma de comercialização mais eficaz, haja vista a elevada produção do município,
e a necessidade de escoamento da mesma para outros mercados.
170
Tabela 04 - Frequência absoluta, relativa e acumulativa de acordo com o motivo que levou a
ser associado na APIM no município de Moreilândia, 2019.
Motivo a se associar
Frequência
Absoluta (%)
Frequência
Relativa (%)
Frequência
Acumulativa (%)
Aprimorar conhec. 03 12,5 12,5
Melhor comerc. do mel 10 41,7 54,2
Org. da associação 06 25,0 79,2
Aumento da renda 04 16,7 95,8
Agregar val. ao produto 01 4,2 100,0
Total 24 100,0
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
Em relação de participação na associação os entrevistados responderam que
12,5%estão associados de 0 a 5 anos; 62,5% estão associados de 6 a 10 anos; e, 25,% estão
associados de 11 a 20 anos. Assim, os dados revelam a predominância de maior tempo como
associado, o que pode estar associado as possibilidades de busca de conhecimentos técnicos e
de formas de comercialização conjunta da produção, anteriormente destacadas.
4.2.7 Renda total mensal familiar
A Tabela 05 mostra os dados referentes ao valor da renda mensal dos apicultores da
APIM proveniente da apicultura. A mesma apresenta que 91,7% obtêm uma renda de até R$
1000,00; 4,2% uma renda de R$ 1001,00 a R$ 2000,00; e, 4,2% recebe uma renda acima de
R$ 2001,00, o que significa que a atividade proporciona, para a maioria dos trabalhadores,
renda próxima ao salário mínimo vigente.
Tabela 05 - Frequência absoluta, relativa e acumulativa de acordo com a renda mensal
proveniente da apicultura dosapicultores da APIM no município de Moreilândia, 2019.
171
Renda proveniente da
apicultura (R$)
Frequência
Absoluta
Frequência Relativa
(%)
Frequência
Acumulativa (%)
0 a 1000,00 22 91,7 91,7
1001,00 a 2000,00 01 4,2 95,8
Acima de 2001,00 01 4,2 100,0
Total 24 100,0
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
A Tabela 06 mostra que 45,8% dos apicultores obtêm uma renda mensal proveniente
de outras atividades no valor de até R$ 1000,00; 20,8% uma renda de R$ 1001,00 a R$
2000,00; 16,7% uma renda de R$ 2001,00 a R$ 3000,00; 8,3% uma renda de R$ 3001,00 a
R$ 4000,00; e, 8,3% uma renda de R$ 4001,00 a R$ 5000,00. Assim, observou-seos
trabalhadores obtêm predominantemente, nas demais atividades, renda próxima ao salário
mínimo.
Tabela 06 - Frequência absoluta, relativa e acumulativa de acordo com renda mensal
proveniente de outras atividades dos apicultores da APIM no município de Moreilândia, 2019
Renda proveniente de outras
atividades (R$)
Frequência
Absoluta
Frequência Relativa
(%)
Frequência
Acumulativa (%)
0 a 1000,00 11 45,8 45,8
1001,00 a 2000,00 05 20,8 66,7
2001,00 a 3000,00 04 16,7 83,3
3001,00 a 4000,00 02 8,3 91,7
4001,00 a 5000,00 02 8,3 100,0
Total 24 100,0
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
172
Na Tabela 07 é possível observar o valor da renda mensal total familiar dos
apicultores da APIM, na qual está voltada para obtenção de renda de atividades agrícolas e
não agrícolas, onde 66,7% obtêm uma renda até R$ 5000,00, mensalmente; 29,2% uma renda
de R$ 5001,00 a R$ 10000,00; e, 4,2% uma renda de R$ 20001,00 a R$ 36000,00.
Tabela 07 - Frequência absoluta, relativa e acumulativa de acordo a renda mensal total
familiar dos apicultores da APIMno município de Moreilândia, 2019.
Renda mensal total (R$) Frequência
Absoluta
Frequência Relativa
(%)
Frequência
Acumulativa (%)
0 a 5000,00 16 66,7 66,7
5001,00 a 10000,00 04 29,2 95,8
20001,00 a 36000,00 01 4,2 100,00
Total 24 100,00
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
173
5. Considerações finais
O principal objetivo dessa pesquisa foi descrever o perfil dos apicultores associados
na APIM, Moreilândia-PE. A Associação dos Apicultores de Moreilândia-PE (APIM) é
formada em sua maioria, por homens casados, pertencentes à faixa etária de 36 aos 55 anos,
predominando o nível de escolaridade ensino fundamental incompleto, ou seja, um baixo
nível de escolaridade, moram tanto na zona rural como na zona urbana, chegando a um
percentual aproximado, contendo de 3 a 5 pessoas em casa. Um número considerado alto de
apicultores possui casa própria já quitada, um significativo número de apicultores recebe
auxílio social, a maioria sendo o Bolsa Família.
Um percentual de 95,6% dos apicultores da APIM pratica outras atividades, no qual
um número significativo são agricultores, sendo uma forma de aquisição de renda extra. A
maioria detém de uma experiência entre 6 e 10 anos, e 75,% possuem terreno próprio.
Observa-se que hoje os apicultores buscam a atividade como forma de complementar sua
renda familiar.
Boa parte dos apicultores alegou ter se associado devido à melhoria da
comercialização do mel, possuindo pela maioria um tempo de associado entre 6 e 10 anos. A
maioria dos apiários é móveis, metade dos apicultores detém de 0 a 200 colmeias de abelhas,
sendo que 58,3% correspondem ao número de colmeias povoadas, mostrando com isso que as
colmeias mantém um número estável de produção de mel.
Em relação à renda mensal, é notável a importância da atividade apícola na
complementação da renda, pois de acordo com o resultado da pesquisa os apicultores
conseguem extrair lucros com a produção e comercialização do mel. E a renda mensal total
familiar é composta por atividades tanto agrícolas, como não agrícolas.
Constata-se que o desenvolvimento da APIM, tem proporcionado bons resultados aos
seus associados, já que a participação na associação assegura a complementação da renda,
melhora a comercialização do mel, como também o desenvolvimento da atividade no
município.
174
REFERÊNCIAS
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175
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VILELA, L. de O. A Importância das Novas atividades Agrícolas ante a
Globalização:Apicultura no Estado do Piauí. Teresina, PI: EMBRAPA, 2000. 130p.
176
EIXO TEMÁTICO 6: ECONOMIA SOCIAL, ECONOMIA DO TRABALHO E
DEMOGRAFIA ECONÔMICA
EFEITO DA ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL NO ACESSO DOS ALUNOS NO
ENSINO SUPERIOR
EFFECT OF FULL-TIME SCHOOL ON STUDENTS ACCESS TO UNIVERSITY
EDUCATION
CICERA DARLA LOPES DA SILVA
Estudante do curso de economia da URCA. Bolsista de monitoria de econometria. E-
mail: darla12071@gmail.com
WELLINGTON RIBEIRO JUSTO
Professor Associado da Urca e Professor do PPGECON. Doutor em Economia pelo
PIMES-UFPE. E-mail: justowr@yahoo.com.br
JESSICA CRISTINA CARVALHO DE SOUSA
Estudante do curso de economia da URCA. Bolsista de monitoria de econometria. E-
mail: jessicacris507@gmail.com
EMANUELA ÉVINA LUIZ DOS SANTOS
Estudante do curso de economia da URCA. E-mail: evinaemanuela@gmail.com
177
EFEITO DA ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL NO ACESSO DOS ALUNOS NO
ENSINO SUPERIOR
EFFECT OF FULL-TIME SCHOOL ON STUDENTS ACCESS TO UNIVERSITY
EDUCATION
RESUMO:
A escola de tempo integral constitui-se como um importante meio para uma educação de
qualidade, uma vez que esta tem por objetivo promover o desenvolvimento dos alunos em
todas as dimensões, intelectual, afetiva, social e física. Nessa perspectiva, o presente trabalho
tem como objetivo avaliar o efeito das escolas de tempo integral no acesso dos alunos no
ensino superior, fazendo uso de dados primários obtidos pela aplicação de questionários
obtidos pelo google formulários. Usou-se o propensity score matching para estimar o efeito
médio do tratamento. Os resultados apontaram a necessidade de pareamento entre os grupos
tratado (estudaram em escola de tempo integral) e controle (estudaram nas escolas públicas
convencionais). Observou-se que estudar em escola de tempo integral eleva em cerca de trinta
e nove por cento a chance dos alunos ingressarem no ensino superior no Cariri cearense,
notadamente naqueles ofertados por instituições públicas.
Palavras-chave: Escola de tempo integral; Viés de seleção; Política pública.
ABSTRACT:
The full-time school is an important means for quality education, as it aims to promote the
development of students in all dimensions, intellectual, affective, social and physical. From
this perspective, this paper aims to evaluate the effect of full-time schools on student access to
higher education, using primary data obtained by applying questionnaires obtained by google
forms. Propensity score matching was used to estimate the mean treatment effect. The results
indicated the need for matching between the treated (studied in full-time school) and control
(studied in conventional public schools) groups. It was observed that studying in a full-time
school increases by thirty-nine percent the chances of students entering higher education in
CaririCearense, notably those offered by public institutions.
Keywords:Full-time school; Selection bias; public policy.
178
1. Introdução
A educação integral tem por objetivo promover o desenvolvimento dos alunos em
todas as dimensões, intelectual, afetiva, social e física. Nessa perspectiva, a escola assume o
papel de articuladora das diversas experiências educativas que os alunos podem viver dentro e
fora dela, a partir de uma intencionalidade clara que favoreça as aprendizagens importantes
para o seu desenvolvimento integral.
No entanto, há que se distinguirem os termos que qualificam esta forma de educar,
pois educação integral não se configura o mesmo que educação em tempo integral. A
educação integral está ligada diretamente à formação intelectual do aluno, de maneira a
preencher as lacunas necessárias para a construção de suas devidas capacidades, e seu
desenvolvimento em torno do seu processo de aprendizagem. Enquanto educação em tempo
integral relaciona-se, somente, e apenas, ao aumento da jornada do estudante na escola.
Segundo Bordon e Leite (2018) a principal diferença é que a educação integral visa completar
a formação do indivíduo por inteiro atendendo todas as capacidades do aluno, já a escola de
tempo integral, em sua grande maioria é entendida como um prolongamento do tempo de
permanência na escola.
Essa discussão a respeito de como se compõe a forma de educar, tem sido objeto de
estudo de diversos autores. De acordo com Ponczek (2019), a literatura mostra que aumentar
a jornada por aumentar não tem grandes efeitos. Mas, aumentar a jornada com atividades
centradas não apenas na parte cognitiva das aulas de reforço, mas em habilidades
socioemocionais é mais importante. Não será, entretanto, abordado aqui de forma mais
aprofundada, a questão do ser integral ou em tempo integral, apresentado apenas como um
ponto relevante, a termo de importância, essa diferenciação.
O direito a educação está contido no Art.205 da Constituição Federal de 1988 onde
afirma que ―a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade [...]‖ (BRASIL, 2014). A partir disso, foram
elaboradas políticas públicas visando à melhoria da educação. Desta forma, de acordo com
Gandra e Rodrigues (2017), ―A consolidação da educação integral enquanto política pública
fundamenta-se na relação positiva entre o número de horas que o aluno passa na escola e seus
resultados de aprendizado‖.
179
Assim, o presente estudo busca identificar os determinantes do desempenho
educacional dos alunos da região do Cariri no ingresso ao ensino superior, destacando o efeito
das escolas de tempo integral, com base em dados primários obtidos através do questionário
por meio do google formulários aplicado aos estudantes de ensino superior, que cursaram o
ensino médio (tempo integral ou regular) em escola pública. Ademais, a pesquisa se justifica
por contribuir com o debate acerca da educação em tempo integral e pelo retorno
proporcionado por estudos voltados à avaliação de políticas públicas, uma vez que servem de
base para nortear decisões de gestores. O artigo avança na literatura ao avaliar o efeito das
escolas de tempo integral no acesso ao ensino superior no Cariri cearense.
2. Revisão de literatura
No que diz respeito às discussões acerca da forma e estrutura educacional do Brasil, a
educação integral tem como uma das principais vertentes o investimento público, para que se
possa atingir um maior desenvolvimento econômico e social de uma região.
A origem da educação integral no Brasil norteia-se em meados do século XX, onde se
é reconhecido e destacado, a contribuição de Anísio Teixeira e suas ideias, para explicar de
que maneira o aumento da jornada do aluno na escola auxilia na melhora de seu processo de
aprendizagem. Tido como precursor da escola em tempo integral defendeu a educação e suas
novas práticas, de forma a ser pública e acessível. De acordo com Teixeira (1956):
Obrigatória, gratuita e universal, a educação só poderia ser ministrada pelo Estado.
Impossível deixá-la confiada a particulares, pois estes somente poderiam oferecê-la
aos que tivessem posses (ou a ―protegidos‖) e daí operar antes para perpetuar as
desigualdades sociais, que para removê-las. A escola pública, comum a todos, não
seria, assim, o instrumento de benevolência de uma classe dominante, tomada de
generosidade ou de medo, mas um direito do povo, sobretudo das classes
trabalhadoras (...).
Nesse contexto, a origem da educação em tempo integral no Brasil, remonta ao
movimento de renovação do ensino denominado Escola Nova. A primeira experiência notória
em educação integral no Brasil ocorreu com a criação do Centro Educacional Carneiro
Ribeiro (CECR) em 1950, na Bahia, decorrente de uma proposta do educador Anísio Teixeira,
no qual visava atender jovens de classe populares em regime de período integral, cuja
180
estrutura era composta por quatro escola-classe e uma escola-parque. Desta maneira, o mesmo
acreditava na escola como espaço para expansão das atividades, da inserção de novos
conhecimentos e práticas, fazendo com que o aluno tivesse participação em atividades sociais
e educativas.
Cella (2010) argumenta que a década de 1980 vivenciou um cenário de grandes
transformações no Brasil, marcado pelo fim da ditadura militar e o nascimento da
Constituição conhecida como a mais democrática. Período este, conturbado, com grandes
greves, êxodo rural e expansão das cidades, aumentando a miséria e o desemprego. Diante
desse contexto político e social desestruturado, carecia que o governo implementasse políticas
públicas que ampliasse a possibilidade de criação de uma nova escola.
Com isso, foi elaborado no Rio de Janeiro o PEE- Programa Especial de Educação
sob o comando de Darcy Ribeiro na década de 80, o qual possuía metas associadas à
educação integral. Dentro do PEE, foram implantados os Centros Integrados de Educação
Pública-CIEP’s, como uma forma de ofertar à população de classe mais baixa, maiores
oportunidades de estrutura escolar, aproximando-a das escolas oferecidas pelas classes mais
elevadas. Objetivava-se, desta forma, instalar cerca de 500 CIEP’s até março de 1987. Nas
concepções de Paro (1988) os CIEPS são escolas para pobres e ficaram estigmatizados pela
classe média em função da sua localização e pela concepção da sua criação que focava em um
―público especial‖. Esse processo estrutural representou uma experiência original de inovação
e democratização da educação no Brasil: ampliando o tempo e espaço para a permanência dos
alunos na escola, (MONTEIRO, 2009).
Visto isso, a educação de tempo integral no Brasil começou a ser definida através da
Lei de Diretrizes e Bases na Educação Nacional (LDB) de 1996, que prevê a ampliação
progressiva da jornada escolar em direção a uma educação integral. O novo Plano Nacional de
Educação (PNE) trouxe a Educação de Tempo Integral e a Escola de Tempo Integral por meio
da meta n° 6, que impõe que até 2024, no mínimo, 50% das escolas públicas devem oferecer
educação em tempo integral, de forma a atender, pelo menos, 25% dos alunos da educação
básica (BRASIL, 2014).
Sabendo-se disso, lançou-se em 2007, o Programa Mais Educação – programa este
implantado de forma mais intensiva e efetiva no Brasil - como linha de ação do governo
federal no âmbito da educação de tempo integral. De acordo com Gandra e Rodrigues (2017),
181
―[...] a estratégia do programa é induzir a construção da agenda de educação integral nas redes
estaduais e municipais de ensino por meio da ampliação da jornada escolar nas escolas
públicas para, no mínimo, 7 horas [...]‖.
Desta maneira, o estado do Ceará, no ano de 2005 implantou a primeira escola de
ensino em tempo integral, e desde 2008 adota uma política de ensino médio, que seja
integrado à educação profissional, com jornada prolongada. No entanto, visando promover a
educação de tempo integral em âmbito federal, é instituído em 2016, a Política de Ensino
Médio em Tempo Integral na rede estadual de educação. Com efeito, a rede pública estadual
cearense, conta atualmente (2019) com 727 escolas, e possui 252 ofertando ensino em tempo
integral, sendo 130 de Ensino Médio Regular em Tempo Integral (EEMTI) e 122 Escolas
Estaduais de Educação Profissional (RODRIGUES, 2019).
Outros exemplos de promoção à educação pública brasileira, foi a Política de
Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral, instituída pela
Lei n° 13.415 de 16 de fevereiro de 2017 reformulando o ensino médio do país, e tendo em
vista a esse caso, o estado do Ceará, no mesmo ano, implementou o Plano de Universalização
legalmente instituído na lei 16.287, de 20 de julho, alicerçado em premissas de conversão de
todas as escolas de Ensino Médio Regular da rede estadual, de forma gradativa, e com
garantia de acesso a todos os estudantes (SEDUC, 2017).
3.Metodologia
3.1 Fonte dos dados
A base de dados utilizada neste artigo foi coletada através de questionários
respondidos por usuários de redes sociais cujo link do google formulários com o questionário
foi divulgado. Os entrevistados responderam o questionário no período entre maio e abril de
2019. Responderam o questionário 98 pessoas. A amostra não pode ser classificada como
aleatória, há um problema de viés de seleção dado que os alunos que freqüentam escola de
tempo integral passam por processo de seleção. No levantamento foram coletadas
informações que serviram para descrever o perfil dos respondentes nos dois grupos: tratado
(os que fizeram o ensino médio em escola de tempo integral) e controle (os que não fizeram
ensino médio em escola de tempo integral).
182
3.2 Modelo Empírico
Segundo Rubin (1997) a simples comparação de média entre duas variáveis de
resultados entre dois grupos pode levar a estimadores tendenciosos, porque as distribuições
das variáveis observacionais nos dois grupos podem diferir.
Rosenbaum e Rubin (1983) desenvolveram o PSM que tem como objetivo
substituir as muitas covariáveis confusas de um estudo observacional por uma função dessas
covariáveis. A função escore de propensão captura a probabilidade de os participantes do
estudo receberem um tratamento com base nas covariáveis observadas. O escore de propensão
estimado é então usado como a única covariável de confusão para ajustar-se as covariáveis
que entram nas estimativas. Assim, é possível eliminar o viés devido à comparação bruta
entre os grupos de tratados e controle.
O modelo contrafactual mostra que é impossível calcular o tratamento em nível
individual e, portanto, faz-se necessário calcular os efeitos agregados do tratamento
(MORGAN; WINSHIP, 2007).
Segundo Cerulli (2015) existem duas versões principais dos efeitos agregados
do tratamento: o efeito médio do tratamento (ATE) e o efeito médio do tratamento no grupo
tratado (ATT). Uma definição simples do ATE pode ser escrito como:
(1)
onde E (.) representa a expectativa da população. Ti denota o tratamento com o valor de 1
para o grupo tratado e o valor de 0 para o grupo de controle. Em outras palavras, o ATE pode
ser definido como o efeito médio que seria observado se todos os grupos tratados e controle
recebessem tratamento, em comparação como se ninguém em ambos os grupos recebesse
tratamento (Harder; Stuart; Anthony, 2010). A definição do ATT pode ser expressa:
(2)
Em contraste com o ATE, o ATT refere-se à diferença média que seria encontrada se
todos no grupo tratado recebessem tratamento em comparação como se nenhum desses
183
indivíduos no grupo tratado recebesse tratamento. O valor para o ATE será o mesmo do ATT
quando a pesquisa for experimental.
Uma suposição fortemente ignorável exclui as diferenças sistemáticas, pré-tratamento
e não observadas entre os sujeitos tratados e os controles que participam do estudo (Joffe;
Rosenbaum, 1999). Dada à suposição fortemente ignorável, o ATT pode ser estimado usando
a pontuação de equilíbrio. Como o escore de propensão e (x) é uma forma de escore de
equilíbrio, é possível estimar o ATT subtraindo o efeito médio do tratamento do grupo tratado
daquele do grupo de controle em um escore de propensão específico. Assim, a Equação 1
pode ser reescrita como:
(3)
Se houver variáveis não observadas que afetam simultaneamente a atribuição de
tratamento e a variável de resultado, a atribuição de tratamento não é fortemente ignorável.
Pode-se comparar o fracasso da suposição fortemente ignorável com a endogeneidade nos
modelos econométricos mal especificados. Pode-se ver isso como o problema variável
omitida (James, 1980). Especificamente, quando se calcula os escores de propensão, uma ou
mais variáveis que podem afetar a atribuição e os resultados do tratamento são omitidas. Por
exemplo, suponha que uma variável não observada determine parcialmente a atribuição do
tratamento. Nesse caso, dois indivíduos com os mesmos valores de covariáveis observadas
receberão o mesmo escore de propensão, apesar de possuírem valores diferentes de
covariáveis não observadas e, portanto, devem receber escores de propensão diferentes. Se a
suposição fortemente ignorável for violada, o PSM produzirá efeitos causais tendenciosos.
De acordo com a definição de Rosenbaum e Rubin (1983, 1984), o escore de
propensão é a probabilidade condicional de receber o tratamento, dada a
variáveis de confusão x. Curiosamente, como D é binário, tem-se:
(4)
ou seja, o escore de propensão é a expectativa da variável tratamento, condicional
em x. O escore de propensão possui duas propriedades importantes que explicam seu
apelo: as propriedades de balanceamento e inflexibilidade.
184
Balanceamento de variáveis de confusão, dado o escore de propensão: Se p (x) for o escore de
propensão, então:
(5)
Após algumas manipulações tem-se:
(6)
o que mostra que, condicionalmente em p (x), o tratamento D e os resultados potenciais (Y1,
Y0) são estocásticos e independentes.
A segunda propriedade declara que a estratificação de unidades de acordo com p (x)
produz a mesma condição ortogonal entre os resultados potenciais e o tratamento que é
estratificando em x, mas com a vantagem de depender apenas de uma variável de dimensão.
A propriedade P1 também declara que, se o escore de propensão for especificado
corretamente, então devemos ver que as unidades estratificadas de acordo com o escore de
propensão devem ser indistinguíveis em termos de seu x (ou seja, eles são equilibrados).
Assim, testando empiricamente se a propriedade de equilíbrio se mantém é uma maneira de
garantir que o correto o escore de propensão está sendo usado para estratificar unidades.
Como dito, equilibrar as observações é um ingrediente essencial para obter resultados
correspondentes confiáveis (CERULLI, 2015).
Existem diferentes técnicas de estimativa para fazer o pareamento do ATE tais
como: kernel, vizinho mais próximo, radius, etc. Nesse estudo usou-se a técnica não
paramétrica de kernel seguindo Fernandes e Justo (2018). Esse método corresponde a todas as
unidades tratadas com uma média ponderada de todos os controles. O valor de ponderação é
determinado pela distância das pontuações de propensão, parâmetro de largura de banda hn e
uma função de kernel K (.). Os estudiosos podem especificar o núcleo gaussiano e o
parâmetro de largura de banda apropriado para estimar o efeito do tratamento usando a
fórmula:
(7)
185
onde ej(x) indica o escore de propensão do caso j no grupo controle e ei(x) indica o escore de
propensão do caso i no grupo tratado, e ej(x) - ei(x) representa a distância dos escores de
propensão.
4. Resultados e Discussão
A tabela 1 traz as estatísticas descritivas das variáveis que contemplam as
características pessoais e familiares dos entrevistados. Os resultados apontam evidências de
perfil distinto entre os alunos que cursaram o ensino médio em escolas de tempo integral
(tratados) e aqueles que estudaram em escolas públicas e privadas (controle). No grupo
tratado 18% são homens, com idade média de 17,20 com renda familiar média de 1,61,
escolaridade da mãe com média próxima ao ensino médio completo e do pai com ensino
fundamental completo. Já entre os alunos do grupo de controle 42% são homens, com idade
média de 17,28 anos, com renda familiar de 1,72 salários mínimos, mãe com ensino
fundamental completo e pai com fundamental incompleto.
Tabela 1 Estatística descritiva das características pessoais e familiares
Grupo
Estatístic
a Sexo Raça Idade Renda
Escolaridade
mãe
Escolaridade
pai
Controle 0 Média 0,42 0,28 17,18 1,72 2,15 1,52
SD 0,50 0,45 1,07 1,01 1,64 1,28
CV 1,19 1,60 0,06 0,59 0,77 0,84
Tratado 1 Média 0,18 0,33 17,20 1,61 2,52 1,76
SD 0,39 0,48 0,62 0,86 1,77 1,60
CV 2,15 1,44 0,04 0,54 0,70 0,91
186
Total Média 0,34 0,30 17,17 1,68 2,27 1,60
SD 0,48 0,46 0,94 0,96 1,69 1,39
CV 1,40 1,54 0,05 0,57 0,74 0,87
Fonte: Elaboração própria.
A tabela 2 apresenta as estatísticas descritivas das variáveis que traçam o perfil
das características escolares. No grupo de tratados, 73% ingressaram no ensino superior na
primeira tentativa, apontam que a exigência da escola era alto, 100% afirmaram que
desempenho dos professores era bom, declararam que seu próprio desempenho era muito
bom, seu aprendizado foi bom e Índice de infraestrutura foi 6,18. Já no grupo de controle 59%
ingressaram no ensino superior na primeira tentativa, atribuíram a exigência da escola como
moderado, 94% afirmaram ser o nível dos professores, consideraram seu próprio desempenho
como bom, seu aprendizado como moderado e índice de infraestrutura de 4,93.
Assim, as evidências iniciais apontam para um perfil distinto entre os grupos, o que
pode afetar o resultado na variável de controle caso não seja levado a efeito o possível viés de
seleção. Contudo, percebe-se uma indicação de elevação na probabilidade de ser aprovado
entre os tratados.
Tabela 2 Estatística descritiva das características escolares
Grupo
Estatística Entrou
na
primeira
tentativ
Exigência
da Escola
Desempenho
professores
Seu
desempenho
Aprendizado
Índice
187
a
Controle 0 Média 0,59 1,12 0,94 2,39 1,69 4,93
SD 0,50 0,54 0,24 0,85 0,58 1,27
CV 0,84 0,48 0,25 0,36 0,35 0,26
Tratado 1 Média 0,73 1,58 1,00 2,70 1,88 6,18
SD 0,45 0,50 0,00 0,85 0,33 0,88
CV 0,62 0,32 0,00 0,31 0,18 0,14
Total Média 0,64 1,27 0,96 2,49 1,75 5,34
SD 0,48 0,57 0,20 0,86 0,52 1,30
CV 0,76 0,45 0,21 0,34 0,30 0,24
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa.
Na tabela 3 é apresentado o resultado da estimação do modelo logit para identificar as
variáveis que afetam a probabilidade de um aluno pertencer ao grupo tratado. Observa-se que
as variáveis cujos coeficientes foram significativos foram: Raça, aprendizado. O grau de
ajuste mensurado pelo Pseudo R2 foi de 31,25% e o resultado do teste LR atesta a influência
conjunta de todas as variáveis explicativas.
188
Tabela 3 Regressão logística
Entrounaprimeriatentativa Coef. Std. Err. z P>z
[95% Intervalo de
confiança]
Sexo 0,16 0,599 0,27 0,78 -1,01 1,34
Raça 1,37 0,774 1,77 0,07 -0,14 2,89
Idade -0,07 0,313 -0,22 0,83 -0,68 0,55
Seu desempenho 0,93 0,457 2,03 0,04 0,03 1,82
Desempenho professores 0,12 0,472 0,26 0,79 -0,80 1,05
Exigência da escola 0,03 0,573 0,06 0,95 -1,09 1,16
Aprendizado 2,04 0,833 2,44 0,01 0,40 3,67
Escolaridade mãe -0,13 0,200 -0,65 0,51 -0,52 0,26
Escolaridade pai 0,56 0,263 2,12 0,03 0,04 1,08
Índice 0,34 0,275 1,23 0,21 -0,20 0,88
Constante -7,24 6,036 -1,20 0,23 -1,91 4,59
Número de observações = 98
LR chi2(10) = 40,28 Prob> chi2 = 0.0000
Log likelihood = -44.298262 Pseudo R2 = 0,3125
Fonte: Elaboração dos autores com base nos dados da pesquisa.
Em seguida foi feito o pareamento e estimado o efeito médio do tratamento, ou seja, o
fato de ter estudado em escola de tempo integral na probabilidade de ingressar no ensino
superior na primeira tentativa.
189
O resultado é apresentado na tabela 4. Observa-se que na amostra não pareada
não há diferença significativa entre os dois grupos. Após o pareamento, o efeito do tratamento
é significante a 1%. Ou seja, estudar em escola de tempo integral eleva em 38,71% a chance
de o aluno ingressar no ensino superior na primeira tentativa. Ressalta-se que a forma de
ingresso tanto pode ter sido por meio de vestibular, no caso dos que ingressaram na
Universidade Regional do Cariri, por meio do ENEM para os que ingressaram na
Universidade Federal do Cariri e em algumas faculdades privadas da região.
Tabela 4 Efeito do grupo de tratamento na aprovação em primeira tentativa
Variável Amostra Tratado Controle Diferença S.E T-stat
Tratamento Não
pareada
0,3287
0,20 0,1287 0,199 0,64
ATT 0,3871 0,22 0,1671 0,038 4,96
Fonte: Elaborada pelos autores com base.
Na tabela 5 são apresentadas várias mediadas que atestam necessidade da
utilização do pareamento. Percebe-se que o pareamento reduz de forma substancial e de forma
significativa o viés entre as variáveis entre o grupo de tratado e controle, atestando a validade
dos resultados encontrados na estimação.
Tabela 5 Medidas de balanceamento das variáveis incluídas na estimação
Variável Média t. test V(T)/V©
Tratado Controle %viés T p>|L|
Sexo 0.3226 0.5323 -43.7 -2.40 0.018 .
190
Raça 0.3709 0.1935 39.8 2.22 0.028 .
Idade 17.097 17.226 -13.5 -0.87 0.383 0.83
seudesempenho 2.7097 2.7097 0.00 0.00 1.000 3.51*
desempenhoprofessores 3.0968 3,0000 13.2 0.88 0.379 1.27
exigenciadaescola 1.371 0 1.4355 -11.5 -0.61 0.540 0.79
seuaprendizado 1.9194 1.7903 25.7 2.06 0.042 0.45*
Escmae 2.4355 1.5806 50.2 3.26 0.001 1.86*
Escpai 1.9194 1.3387 45.4 2.30 0.023 1.31
Índice 5.7258 5.9839 -20.9 -1.34 0.184 0.84
Fonte: Elaborada pelos autores com base.
5. Conclusões
O Brasil tem elevado de forma substancial os gastos com educação. Contudo, os
resultados de avaliações internas e externas têm mostrado que a qualidade não cresceu na
mesma proporção da elevação dos gastos. Assim, faz-se necessária a avaliação dos programas
educacionais para priorizar aqueles que apresentam melhores resultados, especialmente em
um momento delicado da economia em que o país apresenta um déficit fiscal considerável.
Nesse sentido, esse estudo buscou avaliar o impacto da política de escola de tempo
integral no acesso dos alunos no ensino superior. A pesquisa diferentemente de outros
trabalhos como Marcelino e Justo (2017) e Fernandes e Justo (2018) que focaram no efeito
dessa política na média das notas das quatro áreas avaliadas no ENEM, focou na
probabilidade de acesso dos alunos destas escolas ingressarem no ensino superior no Cariri
cearense, A pesquisa também inova ao utilizar a ferramenta google formulários para coletar
os dados primários.
191
Como os alunos das escolas de tempo integral passam por processo de seleção, fez-se
necessária a correção do viés de seleção por meio de pareamento dos dados através do
propensity score matching. Os resultados apontaram que, de fato, há um perfil diferente entre
grupo de tratados (alunos que cursaram o ensino médio em escolas de tempo integral) e o
grupo de controle (aqueles que cursaram o ensino médio nas escolas públicas convencionais),
indicando um viés de seleção.
Após o pareamento dos dados observou-se que estudar em escolas de tempo integral
eleva em cerca de trinta e nove por cento a chance do aluno de escola de tempo integral
ingressar em um curso superior em faculdades no Cariri cearense. Os testes de balanceamento
apontaram redução significativa do viés indicando a robustez dos resultados encontrados.
Desta forma, pode-se inferir que, apesar de não ser objetivo específico da política
ela, é exitosa em aumentar a chance dos alunos ingressarem em curso superior no Cariri
notadamente naqueles ofertados por instituições públicas como a URCA e a UFCA.
6. Referências
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Pedagógicos. Rio de Janeiro, v.26, n.64, out./dez. 1956. P. 3-27.
194
ÁREA TEMÁTICA: GT 6 - ECONOMIA SOCIAL, ECONOMIA DO TRABALHO E
DEMOGRAFIA ECONÔMICA
A DINÂMICA DO EMPREGO INDUSTRIAL NO ESTADO DO CEARÁ: 2000 A 2016
THE INDUSTRIAL EMPLOYMENT DYNAMICS IN STATE OF THE CEARÁ: 2000
TO 2016
MONIQUE GOMES DE FRANÇA
Graduada em economia URCA
Assessor Administrativo Financeiro EEFMTeodorico Teles de Quental
Email: monique_economia@hotmail.com
JOSÉ MÁRCIO DOS SANTOS
Doutorando em economia URCA/UFF
Mestre em economia UFPB
Graduado em economia URCA
Professor departamento de economia URCA/Campus Pimenta
Email: jmarcio.santos@hotmail.com
Fone: (88) 99980-5070
195
A DINÂMICA DO EMPREGO INDUSTRIAL NO ESTADO DO CEARÁ: 2000 A 2016
THE INDUSTRIAL EMPLOYMENT DYNAMICS IN STATE OF THE CEARÁ: 2000
TO 2016
RESUMO
O Estado do Ceará foi um dos estados nordestinos pioneiros no uso de políticas de incentivo
como forma de promoção da atividade industrial no período recente, mantendo estas ações no
século XXI. O presente trabalho apresenta como objetivo geral avaliar o comportamento do
emprego industrial no Estado do Ceará entre os anos de 2000 a 2016. O modelo teórico a ser
empregado na pesquisa constitui da estimação das medidas de localização e especialização.
Os resultados indicam que o desempenho do emprego industrial no Ceará foi constante a
partir de 2000 tendo um leve decrescimento em 2015. Identificou-se a concentração de setores
da indústria de transformação com maior expressividade na mesorregião metropolitana de
Fortaleza, embora houvesse distribuição expressiva nas demais mesorregiões. O estado como
um todo não apresenta disparidades de especialização nos setores da indústria de
transformação de uma mesorregião para outra. Conclui-se que a indústria de transformação
encontrasse com representatividade significativa no Estado do Ceará, indicando com isso um
considerável avanço na estrutura econômica do Estado.
Palavras-chave: Emprego industrial; Estado do Ceará; Indicadores regionais.
ABSTRACT
The State of Ceará was one of the pioneer northeastern states in the use of incentive policies
as a way of promoting industrial activity in the recent period, maintaining these actions in the
21st century. The present work aims to evaluate the behavior of industrial employment in the
State of Ceará from 2000 to 2016. The theoretical model to be employed in the research is the
estimation of location and specialization measures. The results indicate that the industrial
employment performance in Ceará was constant from 2000, having a slight decrease in 2015.
It was identified the concentration of manufacturing sectors with greater expressiveness in the
metropolitan mesoregion of Fortaleza, although there was significant distribution in the other.
mesoregions. The state as a whole has no disparities in specialization in the manufacturing
sectors from one mesoregion to another. It is concluded that the manufacturing industry found
significant representation in the state of Ceará, indicating a considerable advance in the
economic structure of the state.
Keywords: Industrial employment; State of Ceara; Regional indicators.
196
1. INTRODUÇÃO
No Brasil o contexto industrial ao longo dos tempos tendeu a concentrar-se no Sudeste
sendo que no Nordeste as disparidades no que diz respeito ao crescimento econômico e, em
conjunto, ao desenvolvimento, tornava-se cada vez maior. Dessa forma, com a uma maior
concentração de atividades agrícolas e com um número reduzido de empreendimentos de
caráter industrial ou produtivo e dado à concentração do desenvolvimento de novas técnicas
no Sudeste do país a região Nordeste volta-se basicamente para a exploração de atividades
primarias. (Guimarães Neto, 1989)
Para reverter essa situação algumas políticas de incentivo ao desenvolvimento local
começaram a serem implantadas no Nordeste no intuito de fortalecer as atividades terciárias e
secundárias, oriundas de estratégias decorrentes da implementação de órgãos federais para a
região, como a Subintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), o Banco do
Nordeste (BNB), o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), dentre
outros.
Um aumento no nível de renda per capita de um país, como indicador de um maior
desenvolvimento econômico, está associado a um aumento na participação do setor industrial
na produção agregada (PIB) (Chenery, 1960), dessa forma fica evidente a grande necessidade
de um setor industrial dinâmico dentro de uma economia, pois o mesmo promove condições
para o desenvolvimento econômico.
Quando ao Nordeste observa-se que o processo de industrialização além de tardio foi
concentrado em regiões estratégicas ao seu desenvolvimento, quanto a isso Silva Filho e
Queiroz (2015) destaca que a Bahia, Pernambuco e o Ceará sempre lideraram na formação do
complexo industrial nordestino. Além disso, as políticas de atração de indústrias através de
incentivos fiscais foram mais intensas na Bahia e no Ceará, permitindo maior concentração de
unidades produtivas trabalho/intensivas, com o fito de ampliar a quantidade de empregos
nessas Unidades da Federação
Com isso observa-se que vários estados passam a agir de forma própria para atrair
empresas e modernizar a indústria, convém destacar que o Estado do Ceará foi um destes
estados, ou seja, foi pioneiro neste tipo de ação. Nesse sentido torna-se relevante identificar
197
qual o efeito das políticas de estimulo do governo estadual cearense sobre o emprego
industrial no período recente.
Dentro deste contexto, o presente trabalho apresenta como objetivo geral avaliar o
comportamento do emprego industrial no Estado do Ceará entre os anos de 2000 a 2016. Para
tanto serão empregados na pesquisa, a descrição da metodologia a ser empregada na pesquisa
que será constituída de duas partes, onde serão abordados o modelo teórico e a base de
dados.O modelo teórico a ser empregado na pesquisa constitui da estimação das medidas de
localização e especialização. Em relação à base de dados utilizada, os dados sobre o número
de vínculos (Trabalhos formais) foram obtidos coletados no banco de dados on-line do
Ministério do Trabalho e Emprego, sendo oriundos de forma específica da Relação Anual de
Informações Sociais (RAIS).
Além desta introdução, o presente estudo apresenta outras quatro seções. Na segunda
seção serão destacadas as ações estudais mais relevantes de estimulo à indústria no Estado do
Ceará no período recente. Na terceira seção será feita a descrição da metodologia e a
apresentação da base de dados empregada na pesquisa. Na quarta seção será feita a análise e
discussão dos resultados obtidos. Por fim, serão feitas as considerações finais sobre o tema
analisado.
2. AÇÕES ESTADUAIS DE ESTIMULO À INDÚSTRIA NO ESTADO DO CEARÁ
NO PERÍODO RECENTE
Assim como como os demais estados do Nordeste o Ceará tem, historicamente,
características de uma economia agrícola, sendo uma região bastante fragilizada com as
constantes secas, resultando em intensos êxodos populacionais para outras regiões,
principalmente para o Sudeste, região de maior intensificação industrial tendo com isso
elevadas demandas de mão de obra.
Conforme descreve Guimero (2014), que para reverter essa situação que foram
desenvolvidas inúmeras políticas, programas e planos preparados pelo Governo Federal com
o fito de minimizar as desigualdades entre as regiões, em relação as políticas desenvolvidas
podemos destacar A operação Nordeste baseadas nos relatórios do Grupo de Trabalho para o
Desenvolvimento do Nordeste-GTDN; O Primeiro e o Segundo Planos Diretores de
198
Desenvolvimento Econômico e Social para o Nordeste, desenvolvidos pela Superintendência
do Desenvolvimento para o Nordeste-SUDENE; A Política Nacional de Desenvolvimento
Regional-PNDR e em escala macrorregional o seu Plano Estratégico de Desenvolvimento
Sustentável do Nordeste (PDNE) e em escala mesorregional o seu Plano Estratégico de
Desenvolvimento Sustentável do Semiárido (PDSA).
No caso do Ceará, conforme destaca Silva Filho, Silva e Queiroz (2015), os esforços
empreendidos para atrair indústrias ganharam novos contornos a partir da criação do Fundo
de Desenvolvimento Industrial do Ceará (FDI), o objetivo era, via política de atração de
indústrias por incentivos fiscais, aproximar o Ceará dos estados desenvolvidos do ponto de
vista da ocupação industrial, Todavia, a partir de sua primeira institucionalização, o FDI já
abordou a necessidade de atrair e desconcentrar a indústria da região metropolitana de
Fortaleza, instituindo uma política diferenciada de concessão de incentivos fiscais, com o fito
de ampliar o parque industrial no território geográfico do estado.
Pontes (2006) descreve o surgimento das políticas industriais no Ceará ao expressar
que em 2002, o sistema FDI passou por novas reformulações em que se procurou estimular a
industrialização de municípios, onde foram identificadas economias de aglomeração em
potencial, afim de otimizar a eficiência na produção e distribuição dos produtos.
O FDI adotou um critério para a concessão de incentivos no qual se atribuía prioridade
à formação de aglomerados industriais em regiões que já contavam com aglomeração de
empreendimentos industriais. Desta forma, promovia a permissão de benefícios, onde o
critério de classificação baseava-se na presença de redes identificadas como prioritárias e de
seus elos faltantes. No atual sistema, o fator locacional passou a ser a distância em relação ao
pólo ou aglomeração de empreendimentos, e não mais a distância em relação à RMF
(NUNES, 2005).
Segundo Nunes (2005), as aglomerações de empreendimentos industriais identificadas
no diagnóstico do FDI foram assim alinhadas:
a) Cluster têxtil – Município de Pacajus;
b) Cluster calçadista – Municípios: Fortaleza, Aquiraz, Sobral, Itapajé, Canindé,
Quixeramobim, Iguatu e Juazeiro do Norte;
c) Cluster da indústria de Couro e Peles – Municípios: Fortaleza, Sobral, Tauá e
Juazeiro do Norte;
199
d) Cluster moveleiro – Municípios: Bela Cruz, Caucaia, Morada Nova, Iguatu e
Juazeiro do Norte;
e) Cluster de indústria eletro-eletrônica – Municípios: Fortaleza e Caucaia;
f) Cluster de indústria metal-mecânica – Municípios: Fortaleza, Iguatu e Crato.
Conforme Nunes (2005), definiram-se, então, incentivos que privilegiavam a
instalação de empresas nessas aglomerações produtivas, sendo que, à medida que aumentava
a distância da localização da indústria incentivada em relação ao centro, menores eram os
benefícios concedidos.
Desse modo, conforme Madeira e Alves (2009), um grande destaque está para o setor
de estruturantes, com financiamento através do ICMS de 75% e 3 anos de carência além de 20
anos de prazo, direcionados exclusivamente para a região do porto do Pecém; o setor coureiro
– calçadista, móveis e de confecções (fora de RMF ) contavam com 60% de financiamento do
ICMS, com 3 anos de carência e diferentes prazos. Os demais setores seriam beneficiados
com 60% do ICMS, com diferentes prazos de carência e retorno.
A dinâmica do crescimento continuava sendo os investimentos externos, e como
consequência, foi realizada em 2003 uma nova reformulação no FDI/PROVIN, cujo interesse
agora era definir mecanismos políticos de maneira mais profunda. Ao se manterem as
diretrizes básicas para a expansão técnica do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, se
tentaram mais uma vez estruturar pequenos sistemas industriais do interior e continuar a
atração de capital de fora do Ceará (PEREIRA JUNIOR, 2011).
Agora o sistema de elaboração era de um modelo de pontuação para o qual
influenciariam vários critérios de seleção, com ênfase para investimentos que se destinassem
aos sistemas industriais localizados do interior; para unidades de produção que explorassem
as matérias primas locais; para gêneros industriais de trabalho intensivo e para empresas com
produção voltada para exportação. O incentivo mínimo de isenção do ICMS era de 25% (para
nenhum ponto) e o máximo era de 75% (para cinquenta pontos). Para cada ponto adicional
obtido por uma empresa, acrescentava-se 1% de incentivo no investimento. No que se refere
aos prazos de recolhimento dos impostos, a pontuação também definia um período: foram
dados cinco, oito e dez anos de benefícios para quem obtivesse de zero a 24 pontos, de 25 a
34 pontos e mais de 35 pontos, respectivamente (PONTES, VIANNA, HOLANDA, 2006)
Finalmente, o retorno ao governo do que havia sido isento era de 10% (para projetos
200
com mais de 30 pontos), 15% (para projetos entre 20 e 29 pontos) e 25% (para projetos entre
zero a 19 pontos). Uma modificação importante no modelo de concessão dos incentivos deve
ser observada: desta vez foi adotado um sistema de diferimento do ICMS a ser recolhido e
não mais um empréstimo, como nas versões anteriores do FDI. Assim, se passou a transferir o
pagamento das parcelas de ICMS e não mais a emprestar recursos que eram contabilizados no
orçamento estadual (PEREIRA JUNIOR, 2011).
A metodologia introduzida em 2003 o ―volume de investimento‖ empregado na
instalação de cada unidade produtiva assumia um peso até então nunca antes alcançado nas
outras versões do FDI/PROVIN e o fator ―gêneros da produção‖ ganhou mais atenção do que
a decisão pela localização pontual da unidade produtiva. A maior novidade era a concessão de
pontos também para investimentos que adquirissem matérias primas e insumos cearenses ou
que comprovassem desenvolver projetos sociais, culturais e ambientais no local instalado
(CEDE, 2013)
A pontuação terá a seguinte ordem de importância: 1. Volume de investimento (26% e
13 pontos); 2. Geração de emprego (24% e 12 pontos); 3. Gêneros e cadeias produtivas (16%
e 8 pontos); 4. Impacto sobre a demanda por matérias-primas, insumos (inclusive energia
elétrica) e serviços locais (14% e 7 pontos); 5. Localização geográfica (12% e 6 pontos); 6.
Responsabilidade social e ambiental (8% e 4 pontos). A soma dos pontos máximos de todos
os itens deverá atingir 50 pontos (CEDE, 2013).
Além destas ações, novas alterações foram introduzidas, a partir dos Decretos 27039 e
27040/2003. Entre as principais mudanças está a seletividade de atividades econômicas, aptas
a receberem os incentivos, e o limite máximo de 75% do ICMS, recolhido pelas empresas.
As modificações feitas a partir de 2003 estabeleceram regras mais claras para novos
investimentos, cujos critérios para implantação, ampliação, diversificação e recuperação de
estabelecimentos industriais passaram a ser obtidos a partir de pontuações, ou seja para cada
ponto obtido é estabelecido o mesmo peso em relação ao percentual a ser concedido, sendo
que a empresa pré selecionada já tem garantido 25% de renúncia fiscal, podendo o
financiamento chegar até 75% do ICMS próprio gerado pela empresa beneficiária (PONTES,
2006).
Os parâmetros na concessão de benefícios variam atualmente de acordo com o volume
de investimentos, com 13 pontos no máximo, no caso de investimentos acima de 20 milhões
201
de reais; setores de cadeias produtivas, com pontuações maiores para as indústrias
estruturantes e base tecnológica e reciclagem de resíduos, geração de emprego, no máximo até
12 pontos, no caso acima de 350 empregos. O menor peso foi atribuído ao requisito
―responsabilidade social, cultural e ambiental‖, cujo limite máximo chega a 4 pontos
(PONTES, CAMBOTA, BIDERMAN, 2011).
Confiando nessa estratégia, o governo de Cid Gomes, iniciado em 2007, quase nada
alterou no sistema de pontuação para oferta de incentivos fiscais empresariais. A nova gestão,
entretanto, resolveu chamar os critérios de pontuação de ―Parâmetros para a análise‖,
determinando os pontos e os incentivos a partir de uma hierarquia, apresentada na quadro 2.
Desde então são contemplados os projetos interessados em implantar, ampliar, diversificar e
recuperar empresas industriais, sendo que o percentual do incentivo, o índice de retorno e o
prazo de fruição dos benefícios são variáveis e dependem de uma base de cálculo percentual
feita após a análise de cinco parâmetros básicos, cada um deles com uma escala de pontuação.
Destacam-se a geração de empregos (P1 até 25 pontos) e a localização geográfica (P3 até 40
pontos), mas o valor contábil das operações de entrada e saída de mercadorias no estado,
denominado no programa de ―custo de transação‖, também representa importante pontuação
(P2 até 20 pontos). Por fim, continuavam sendo dados incentivos para empresas que se
responsabilizassem por estimular melhorias sociais, culturais e ambientais nas áreas instaladas
e a variável ―investimento em pesquisa e desenvolvimento‖ aparece pela primeira vez como
um componente isolado na concessão de benefícios (PEREIRA JUNIOR, 2011).
Costa, Mesquita e Sampaio (2007) também descreve a importância do
desenvolvimento industrial no interior do Estado do Ceará afirmando ser uma estratégia que
visa principalmente contribuir para o aumento na geração de emprego e renda e incentiva o
crescimento econômico descentralizado espacialmente. Sendo que nos anos 2000, há uma
mudança significativa de cenário. Aproveitando a conjuntura econômica internacional
altamente favorável, a economia cresceu a taxas mais elevadas, que se fizeram acompanhar da
ampliação do investimento, do crédito, do emprego, da massa de salários, do consumo, dentre
outros.
De fato, o desenvolvimento industrial no Ceará evidenciou em uma expansão da
estrutura produtiva do Estado, tornando a economia mais dinâmica e alternativa para a
população local. Costa (2009) descreve que nos anos 2000 nível de atividade econômica no
202
Estado do Ceará vem revelando uma tendência crescente, apresentando patamares do Produto
Interno Bruto (PIB) estadual cada vez mais elevados, de forma que esse comportamento
favorável da economia do Ceará se mostrou presente, nos diversos setores econômicos.
Em 2003, a Lei 13.377, de 29 de setembro de 2003, trouxe novas alterações na
sistemática de operacionalização dos incentivos fiscais: os incentivos concedidos
anteriormente eram realizados sob a forma de empréstimos subsidiados pelo estado do Ceará.
A referida Lei e o Decreto 27.206, de 07 de outubro de 2003, que a regulamentou,
modificaram essa sistemática que passou a consistir no DIFERIMENTO de uma percentagem
do saldo devedor do ICMS, com dedução de uma parcela do montante diferido, no caso de
pagamento do débito até a data de vencimento do diferimento.
Em 30 de junho de 2005 foi instituído o Programa de Incentivo à Industrialização de
Produtos para Exportação no Estado do Ceará – PROINEX, sancionado pela Lei Nº 13.616,
destina-se a atrair para o Estado a instalação ou ampliação de estabelecimentos industriais de
grande porte, preponderantemente exportadores, ainda que industrialize por encomenda de
terceiros, através da assunção de compromissos, por parte do Estado, em favor de fornecedor
de insumos empregados na industrialização realizada pelo estabelecimento industrial
exportador, em contrapartida da redução do preço de fornecimento dos referidos insumos,
conforme disposto neste Decreto. Sendo considerado pelo Decreto, estabelecimento
preponderantemente exportador aquele localizado no Estado do Ceará, em relação ao qual, em
cada ano-calendário, os produtos destinados ao exterior correspondam a, pelo menos, 90%
(noventa por cento) do valor total dos produtos produzidos e saídos do estabelecimento
(PEREIRA JUNIOR, 2011).
A Lei Nº 14.207, de 25 de setembro de 2008 altera a redação do § 1º do art. 5º da lei
Nº1 0.367, de 7 de dezembro de 1979, que instituiu o FDI. A partir desta data o percentual do
empréstimo ou do incentivo não poderá ultrapassar a 75% (setenta e cinco por cento) do
ICMS próprio gerado pela sociedade empresária beneficiária, exceto para os seguintes
segmentos: extração de minerais metálicos; fabricação de produtos de minerais não metálicos;
fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêutico; fabricação de automóveis,
caminhonetas, utilitários, caminhões e ônibus; fabricação de produtos químicos; indústria
têxtil e fabricação de calçados (PONTES, CAMBOTA, BIDERMAN, 2011).
203
A Lei Nº 14.343, de 07 de maio de 2009, dispôs sobre a concessão de benefícios do
FDI, à industrialização de alimentos lácteos com propriedades funcionais, nutricionais e de
saúde, clinicamente comprovadas e enquadradas na legislação pertinente do Ministério da
Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, desde que a matéria-prima
(leite ―in natura‖) seja adquirida em 50% de produtores familiar, cuja família é proprietária
dos meios de produção, organiza e ao mesmo tempo trabalha na unidade produtiva poderá
obter benefícios do FDI, de até 90% do ICMS apurado, com retorno de 10% pelo prazo de até
10 anos (PONTES, CAMBOTA, BIDERMAN, 2011).
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O modelo metodológico a ser empregado na pesquisa constitui da estimação das
medidas de localização e especialização. As medidas de localização e especialização são
indicadores capazes de identificar os padrões de crescimento de uma dada variável em termos
regionais, demonstrando se este crescimento ocorre de forma centralizada ou desconcentrada.
Desta forma, estes métodos têm sua base analítica nas informações sobre a distribuição
espacial da variável em termos de região e atividades econômicas em um dado período de
tempo. Atualmente, estas medidas são empregadas em diversos estudos de natureza
exploratória que abrangem a questão geográfica ou espacial. No presente caso, a variável base
a ser analisada é o número de estabelecimentos econômicos; onde ser averiguará sua
distribuição ao longo do espaço sobre as diversas atividades econômicas.
3.1 Medidas de localização
As medidas de localização são indicadores que permitem identificar padrões de
concentração ou dispersão espacial de uma dada variável, no presente caso emprego,
distribuída entre setores específicos para um dado período de tempo, ou entre períodos de
tempo distintos. Sua relevância se concentra na análise setorial, buscando avaliar a
localização de variáveis-base distribuídas nas atividades econômicas dispersas regionalmente.
As principais medidas de localização empregadas em avaliações regionais são o Quociente
locacional, Coeficiente de localização e o Coeficiente de redistribuição.
204
Para os trabalhos de análise dos resultados será utilizado o Coeficiente de localização
que relaciona a distribuição percentual da mão-de-obra num dado setor entre as mesorregiões,
com a distribuição percentual da mão-de-obra do estado. Se o coeficiente de localização for
igual a zero (0), significa que o setor i estará distribuído regionalmente da mesma forma que o
conjunto de todos os setores. Se o valor for igual a um (1), demonstrará que o setor i apresenta
um padrão de concentração regional mais intenso do que o conjunto de todos os setores.
3.2 Medidas de especialização
As medidas de natureza regional se concentram na análise da estrutura produtiva de
cada região, com o objetivo de investigar o grau de especialização das economias regionais
num dado período, assim como o processo de diversificação observado entre dois ou mais
períodos. As medidas de especialização difundidas são o Coeficiente de Especialização e o
Coeficiente de Reestruturação.
Os resultados serão analisados através do coeficiente de especialização, com ele
compara-se a economia de uma mesorregião com a economia do estado como um todo. Para
resultados iguais a O (zero), a mesorregião tem composição idêntica à do estado. Em
contrapartida, coeficientes iguais ou próximos a 1 demonstram um elevado grau de
especialização ligado a um determinado setor, ou uma estrutura de mão-de-obra totalmente
diversa da estrutura de mão-de-obra regional (HADDAD, 1989).
3.3 Base de dados
Em relação à base de dados utilizada, os dados sobre o número de vínculos (Trabalhos
formais) foram obtidos coletados no banco de dados on-line do Ministério do Trabalho e
Emprego, sendo oriundos de forma específica da Relação Anual de Informações Sociais
205
(RAIS). Seguindo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), elaborada
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1994, que quando segmentada
pelo critério ―divisão‖ da CNAE, permite decompor a economia em 8 categorias de setores
produtivos distintos, a estudado nesse caso foi de indústria de transformação.
Em termos geográficos, a pesquisa abrangeu o estado do ceara como um todo,
decompondo-o a nível mesorregional a área de análise, permitindo identificar áreas
especificas de localização do emprego. Utilizando a divisão a nível mesorregional proposto
pelo IBGE, foram selecionados os dados provenientes do emprego alocado no interior do
Estado do Ceará, representado em suas 7 (sete) mesorregiões.
4. RESULTADOS E DISCURSSÕES
Esta seção abordará a interpretação dos resultados obtidos em cima da pesquisa
realizada sobre os setores da indústria de transformação das mesorregiões cearenses no
período, estudado, sendo analisados os seguintes indicadores: Coeficiente de Localização
(CL) como medida de localização, Coeficiente de Especialização (CE) como medida de
especialização.
4.1. Coeficiente de Localização
O Coeficiente de Localização (CL) indica se em determinada mesorregião um
determinado setor tem um padrão de concentração elevado, ou seja, se determinado setor e
distribuído com mais intensidade que o conjunto dos demais setores em determinada
mesorregião. Para avaliar os resultados do CL considera-se que determinado setor em
determinada região é consideravelmente mais intenso que os demais se ele apresentar valor do
CL igual a um, sendo que se o valor do CL for igual à zero o setor e distribuído na
mesorregião com a mesma intensidade do conjunto de todos os setores.
Diante dessas informações buscou se valores do CL iguais ou maiores que um para
com isso indicar os setores de maiores intensidades de vínculos nas mesorregiões analisadas,
dessa forma faz-se a análise por mesorregião destacando os setores de maior significância
locacional nos anos de 2000 e 2016.
206
Para o ano de 2000
No ano 2000 a mesorregião Noroeste Cearense apresentou dentre os 23 (vinte e três)
setores da indústria de transformação 4 (quatro) com elevado grau de significância do
coeficiente de localização: Fabricação de Produtos Alimentícios e Bebidas (1,23), Preparação
de Couros e Fabricação de Artefatos de Couro, Artigos de Viagem (2,87) e Fabricação de
Produtos de Minerais Não-metálicos (1,09), Fabricação de Móveis e Indústrias Diversas
(1,32), ou seja, esses setores tem expressiva concentração de mão de obra na mesorregião. O
setor de Fabricação de Produtos de Madeira também teve destaque na mesorregião ficando na
média de significância (0,78).
Para a mesorregião Norte Cearense no ano de 2000 os setores de destaque expressivo
na mão de obra foram: Fabricação de Produtos Alimentícios e Bebidas (2,73), Preparação de
Couros e Fabricação de Artefatos de Couro, Artigos de Viagem (1,26) e Fabricação de
Produtos de Minerais Não-metálicos (1,56), os que apresentaram média de significância
foram: Fabricação de Artigos de Borracha de Plástico (0,80) e Fabricação de Produtos de
Madeira (0,52).
Para a mesorregião Metropolitana de Fortaleza no ano 2000 os resultados do
coeficiente locacional demonstram um grande dinamismo para a mão de obra na indústria de
transformação pois com exceção do setor de Preparação de Couros e Fabricação de Artefatos
de Couro, Artigos de Viagem (0,44) que apresentou baixa significância e dos de Fabricação
de Produtos Alimentícios e Bebidas (0,89), Fabricação de Produtos de Minerais Não-
metálicos (0,61) e Fabricação de Móveis e Indústrias Diversas (0,86) os demais setores
apresentaram altos graus de significância.
No ano 2000 a mesorregião Sertões Cearenses apresentou dentre os 23 (vinte e três)
setores da indústria de transformação 6 (seis) com elevado grau de significância do
coeficiente de localização: Fabricação de Produtos Têxteis (1,80), Confecção de Artigos do
Vestuário e Acessórios (1,04), Fabricação de Produtos de Madeira (3,16), Edição, Impressão
e Reprodução de Gravações (1,06), Fabricação de Produtos de Minerais Não-metálicos (2,98)
e Metalurgia Básica (13,63). Os setores de Fabricação de Produtos Alimentícios e Bebidas;
Fabricação de Produtos de Metal Exceto Máquinas e Equipamentos; Fabricação e Montagem
207
de Veículos Automotores, Reboques e Carrocerias; e Fabricação de Móveis e Indústrias
Diversas apresentaram média de significância demonstrando serem razoavelmente
representativos na mesorregião.
Para a mesorregião Jaguaribe no ano de 2000 os setores de destaque expressivo no
emprego foram: Preparação de Couros e Fabricação de Artefatos de Couro, Artigos de
Viagem (2,13), Fabricação de Produtos de Minerais Não-metálicos (4,97) e Fabricação de
Móveis e Indústrias Diversas (1,77). O setor de Fabricação de Produtos Alimentícios e
Bebidas e o de Fabricação de Produtos de Madeira apresentaram média de significância
demonstrando serem razoavelmente representativos na mesorregião.
Para a mesorregião Centro Sul Cearense no ano 2000 os resultados do coeficiente
locacional demonstram que dentre os 23 (vinte e três) setores da indústria de transformação 5
(cinco) com elevado grau de significância: Preparação de Couros e Fabricação de Artefatos de
Couro, Artigos de Viagem (2,28), Fabricação de Produtos de Madeira (1,42), Fabricação de
Produtos de Minerais Não-metálicos (2,03), Fabricação de Produtos de Metal Exceto
Máquinas e Equipamentos (1,26) e Fabricação de Móveis e Indústrias Diversas (5,30). O setor
de Fabricação de Produtos Químicos e o de Fabricação de Máquinas e Equipamentos
apresentaram média de significância.
Com relação a mesorregião Sul Cearense no ano 2000 os resultados do coeficiente
locacional demonstram com alta significância os seguintes setores: Preparação de Couros e
Fabricação de Artefatos de Couro, Artigos de Viagem (2,48), Fabricação de Produtos de
Madeira (1,34), Fabricação de Produtos Químicos (1,02), Fabricação de Artigos de Borracha
de Plástico (3,40), Fabricação de Produtos de Minerais Não-metálicos (1,46), Metalúrgica
Básica (2,03), Fabricação de Máquinas e Equipamentos (2,09), Fabricação De Equipamentos
De Instrumentação Médico-hospitalar (2,74), Fabricação de Móveis e Indústrias Diversas
(1,09) e Reciclagem (1,28). Os setores de Fabricação de Produtos Alimentícios e Bebidas;
Fabricação de Celulose, Papel e Produtos de Papel; Edição, Impressão e Reprodução de
Gravações e Fabricação de Produtos de Metal Exceto Máquinas e Equipamentos apresentaram
média de significância demonstrando serem razoavelmente representativos na mesorregião.
Para o ano de 2016
208
No ano 2016 a mesorregião Noroeste Cearense apresentou dentre os 24 (vinte e
quatro) setores da indústria de transformação 3 (três) com elevado grau de significância do
coeficiente de localização: Preparação de Couros e Fabricação de Artefatos de Couro, Artigos
de Viagem (2,54), Fabricação de Celulose, Papel e Produtos de Papel (1,04), Fabricação de
Móveis (2,27), ou seja, esses setores têm expressiva concentração de mão de obra na
mesorregião. Os setores de Fabricação de Produtos Alimentícios; de Confecção de Artigos do
Vestuário e Acessórios; de Fabricação de Produtos de Madeira; de Impressão e Reprodução
de Gravações; e o de Fabricação de Produtos de Minerais Não-Metálicos também tiveram
destaque na mesorregião ficando na média de significância.
Para a mesorregião Norte Cearense no ano de 2016 os setores de destaque expressivo
na mão de obra foram: Preparação de Couros e Fabricação de Artefatos de Couro, Artigos de
Viagem (1,95) e o de Metalúrgica (4,60), os que apresentaram média de significância foram:
Fabricação de Produtos Alimentícios; de Fabricação de Bebidas; Fabricação de Produtos de
Madeira; Fabricação de Celulose, Papel e Produtos de Papel; Fabricação de Produtos
Químicos; Fabricação de Produtos de Minerais Não-Metálicos; e o de Fabricação de Veículos
Automotores, Reboques e Carrocerias, Manutenção, Reparação e Instalação de Máquinas e
Equipamentos.
Para a mesorregião Metropolitana de Fortaleza no ano 2016 os resultados do
coeficiente locacional demonstram um grande dinamismo para a mão de obra na indústria de
transformação pois com exceção do setor de Preparação de Couros e Fabricação de Artefatos
de Couro, Artigos de Viagem, que apresentou baixa significância, e dos de Fabricação de
Produtos de Madeira; Fabricação de Produtos Farmoquímicos e Farmacêuticos; Fabricação
de Produtos de Minerais Não-metálicos; Metalúrgica; Fabricação de Móveis; e Fabricação de
Produtos Diversos; que apresentaram média de significância. Os demais setores apresentaram
altos graus de significância.
No ano 2016 a mesorregião Sertões Cearenses apresentou dentre os setores da
indústria de transformação 6 (seis) com elevado grau de significância do coeficiente de
localização: Fabricação de Produtos do Fumo (3,07), Preparação de Couros e Fabricação de
Artefatos de Couro, Artigos de Viagem (2,54), Fabricação de Produtos de Madeira (1,90),
Edição, Impressão e Reprodução de Gravações (1,10), Fabricação de Coque, de Produtos
Derivados do Petróleo e de Biocombustíveis (4,34) e Metalurgia (1,56). Os setores de
209
Fabricação de Produtos Alimentícios; Fabricação de Produtos de Borracha e de Material
Plástico; e Fabricação de Produtos de Minerais Não-Metálicos apresentaram média de
significância demonstrando serem razoavelmente representativos na mesorregião.
Para a mesorregião Jaguaribe no ano de 2016 os setores de destaque expressivo no
emprego foram: Fabricação de Produtos Alimentícios (1,29), Preparação de Couros e
Fabricação de Artefatos de Couro, Artigos de Viagem (1,43), Fabricação de Produtos de
Madeira (1,70), Fabricação de Coque, de Produtos Derivados do Petróleo e de
Biocombustíveis (1,43), Fabricação de Produtos de Minerais Não-metálicos (3,68),
Fabricação de Outros Equipamentos de Transporte, Exceto Veículos (3,16) e Fabricação de
Móveis (1,72). Os setores de Fabricação de Bebidas; Fabricação de Produtos Têxteis;
Impressão e Reprodução de Gravações; e o de Fabricação de Veículos Automotores,
Reboques e Carrocerias apresentaram média de significância demonstrando serem
razoavelmente representativos na mesorregião.
Para a mesorregião Centro Sul Cearense no ano 2016 os resultados do coeficiente
locacional demonstram que dentre setores da indústria de transformação 10 (dez) com elevado
grau de significância: Fabricação de Produtos do Fumo (5,02) Preparação de Couros e
Fabricação de Artefatos de Couro, Artigos de Viagem (1,22), Fabricação de Produtos de
Madeira (1,57), Fabricação de Produtos Químicos (3,37), Fabricação de Produtos de Borracha
e de Material Plástico (2,58), Fabricação de Produtos de Minerais Não-metálicos (1,83),
Fabricação de Produtos de Metal, Exceto Máquinas e Equipamentos (2,57), Fabricação de
Máquinas e Equipamentos (1,08) e Fabricação de Móveis (6,40) e Fabricação de produtos
Diversos (1,55). Os setores de Fabricação de Bebidas; Fabricação de Produtos Têxteis;
Impressão e Reprodução de Gravações apresentaram média de significância demonstrando
serem razoavelmente representativos na mesorregião.
Com relação a mesorregião Sul Cearense no ano 2016 os resultados do coeficiente
locacional demonstram com alta significância os seguintes setores: Fabricação de Bebidas
(1,43), Preparação de Couros e Fabricação de Artefatos de Couro, Artigos de Viagem (1,88),
Fabricação de Produtos de Madeira (1,51), Fabricação de Celulose, Papel e Produtos de
Papel; Edição, Impressão e Reprodução de Gravações (102), Fabricação de Produtos
Farmoquímicos e Farmacêuticos (5,21), Fabricação de Produtos de Borracha e de Material
Plástico (1,21), Fabricação de Produtos de Minerais Não-metálicos (1,69), Fabricação de
210
Produtos de Metal Exceto Máquinas e Equipamentos (1,95), Fabricação de Outros
Equipamentos de Transporte, Exceto Veículos (1,04) e Fabricação de produtos Diversos
(4,24). Os setores de Fabricação de Produtos Alimentícios; Fabricação de Celulose, Papel e
Produtos de Papel; Fabricação de Produtos Químicos; e o de Metalúrgica, apresentaram
média de significância demonstrando serem razoavelmente representativos na mesorregião.
Diante dessas informações buscou se valores do CL iguais ou maiores que um para
com isso indicar os setores de maiores intensidades nas mesorregiões analisadas, cabe
destacar a Mesorregião Metropolitana de Fortaleza a qual obteve nos dois períodos o maior
número de setores com elevado grau de significância e setores expressivos em todas a
mesorregiões nos dois períodos como é o caso do de Fabricação de Produtos de Minerais
Não-metálicos e o de Preparação de Couros e Fabricação de Artefatos de Couro, Artigos de
Viagem de significância presente em quase todas as Mesorregiões.
4.2 Coeficiente de Especialização
O coeficiente de especialização (CE) busca através de sua análise demonstrar se uma
determinada mesorregião apresentou em sua estrutura setorial um determinado setor com alto
nível de especialização a nível estadual, sendo que para ser especializado um determinado
setor de uma determinada microrregião deve apresentar o valor do CE próximo ou igual a um.
Com base no estudo realizado verificou-se que em nenhuma das mesorregiões
analisadas ocorreu um caso de um setor com elevado nível de especialização, ou seja, que
fugiu do padrão estadual, pois nos dois períodos estudados (2000 e 2016) os resultados do CE
foram menores, iguais ou bem próximos à zero.
Setores que apresentaram em todas as mesorregiões valores do CE iguais a zero indica
que sua diversidade é significativa em todo o estado, ou seja, a mão de obra é
significativamente especializada em todo o estado.
No ano de 2000 os setores que apresentaram CE igual a zero em todas as mesorregiões
foram: Fabricação de Produtos do Fumo; Fabricação de Produtos de Madeira; Fabricação de
Celulose, Papel e Produtos de Papel; Fabricação de Coque, Refino de Petróleo, Elaboração de
Combustíveis; Metalurgia Básica; Fabricação de Máquinas para Escritório e Equipamentos de
Informática; Fabricação de Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos; Fabricação de
211
Material Eletrônico e de Aparelhos e Equipamentos de Informática; Fabricação de
Equipamentos de Instrumentação Médico-hospitalares; Fabricação e Montagem de Veículos
Automotores, Reboques e Carrocerias; Fabricação de Outros Equipamentos de Transporte; e
Reciclagem. Demonstrando serem de diversificação significativa em todo o Estado.
Em 2016 os setores de diversificação significativa em todo o estado foram: Fabricação
de Produtos do Fumo; Fabricação de Produtos de Madeira; Fabricação de Coque, de Produtos
Derivados do Petróleo e de Biocombustíveis; Fabricação de Equipamentos de Informática,
Produtos Eletrônicos e Ópticos; Fabricação de Máquinas e Equipamentos; Fabricação de
Veículos Automotores, Reboques e Carrocerias; Fabricação de Outros Equipamentos de
Transporte, Exceto Veículos; e Fabricação de Produtos Diversos. Sendo os que apresentaram
zero no CE de todas as mesorregiões.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho analisou a dinâmica do emprego formal na indústria de
transformação no estado do Ceará, fazendo uma abordagem da importância de tal setor para a
economia do estado, também, abordou-se, uma breve discursão a respeito das políticas de
incentivo ao setor dentro da estrutura econômica do estado.
Conclui-se, com base nas informações descritas na interpretação dos resultados, que a
concentração de setores da indústria de transformação tem maior expressividade na
Mesorregião Metropolitana de Fortaleza, porem a distribuição encontrasse expressiva nas
demais Mesorregiões de acordo com a característica produtiva de cada, ou seja, nos períodos
analisados verificou-se determinadas mesorregiões com determinados setores significantes,
descrevendo com isso o setor base da região.
Com relação ao Coeficiente de Especialização verificou-se que em nenhuma das
mesorregiões analisadas ocorreu um caso de um setor com elevado nível de especialização, ou
seja, que fugiu do padrão estadual, pois nos dois períodos estudados (2000 e 2016) os
resultados do CE foram menores, iguais ou bem próximos à zero. Isso descreve que o estado
como um todo não apresenta disparidades de especialização nos setores da indústria de
transformação de uma mesorregião para outra.
212
Por fim conclui-se que a indústria de transformação encontrasse com
representatividade significativa no estado do Ceará, de acordo com a produção a nível
mesorregional, indicando com isso um considerável avanço na estrutura econômica do
Estado.
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fev,1999.
215
ÁREA TEMÁTICA GT 6: ECONOMIA DO TRABALHO
EMPREGO FORMAL NA REGIÃO METROPOLITANA DO CARIRI NO PERÍODO
DE 2010 A 2015.
FORMAL EMPLOYMENT IN THE CARIRI METROPOLITAN REGION FROM
2010 TO 2015.
FERNANDA DE SOUZA SILVA
Graduada em Economia pela URCA.
E-mail: fernandaeconomiaurca1992@gmail.com
Contato: 88 99949 7175
ANDERSON ALCANTARA MEDEIROS
Professor do Departamento de Economia da URCA.
Economista e Especialista em Direito Tributário.
E-mail: andersonalcmed@hotmail.com
Contato: 88 98878 4568
ANTÔNIA CAMILA BRANCA DA SILVA
Graduanda em Economia pela URCA.
E-mail: antoniacamilaenem2015@bol.com.br
Contato: 88 994963154
216
EMPREGO FORMAL NA REGIÃO METROPOLITANA DO CARIRI NO PERÍODO
DE 2010 A 2015.
FORMAL EMPLOYMENT IN THE CARIRI METROPOLITAN REGION FROM
2010 TO 2015.
RESUMO: O presente trabalho objetiva avaliar os reflexos das transformações ocorridas na
economia brasileira no mercado de trabalho entre 2010 e 2015 buscando analisar o emprego
formal na Região Metropolitana do Cariri nesse período. A partir do cenário vivido
mundialmente nos anos 2000, as transformações ocorridas durante essa década foram
marcadas pela reativação do mercado de trabalho, assim como uma melhora nas condições
socioeconômicas da população. Foi utilizada no estudo pesquisa bibliográfica e fontes
secundárias com dados estatísticos. A região metropolitana do Cariri surgiu com a conurbação
ente os três maiores municípios dessa região, Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha,
denominados assim: CRAJUBAR. Nesses municípios estão concentrados os maiores
investimentos, as maiores fonte de renda e o maior fluxo de empregados da região. Os
resultados mostram que o emprego formal na Região Metropolitana do Cariri cresce a cada
ano, nos diversos setores da economia. Em análise aos resultados obtidos, levando em
consideração o período pós crise, pode-se afirmar que o mercado formal na Região
Metropolitana do cariri cresceu ao longo dos anos, os números apontam um crescimento
considerável nos setores de serviço e indústria na região a partir do ano de 2012.
Palavras-chaves: Emprego Formal, Região Metropolitana, CRAJUBAR, Cariri.
ABSTRACT: The present study aims to evaluate the reflexes of the transformations that
occurred in the Brazilian economy in the labor market between 2010 and 2015, seeking to
analyze formal employment in the Metropolitan Region of Cariri in this period. From the
scenario lived worldwide in the 2000s, the transformations that occurred during this decade
were marked by the reactivation of the labor market, as well as an improvement in the
socioeconomic conditions of the population. It was used in the study bibliographic research
and secondary sources with statistical data. The metropolitan region of Cariri emerged with
the conurbation between the three largest municipalities of this region, Crato, Juazeiro do
Norte and Barbalha, denominated as follows: CRAJUBAR. In these municipalities are
concentrated the largest investments, the largest source of income and the largest flow of
employees in the region. The results show that formal employment in the Metropolitan Region
of Cariri grows every year in the various sectors of the economy.
Keywords:Jobs Formal, Metropolitan Region, CRAJUBAR, Cariri.
217
1.Introdução
Com o intuito de avaliar os reflexos das transformações ocorridas na economia
brasileira no mercado de trabalho, entre 2010 a 2015, tem-se que; as transformações ocorridas
durante a década de 2000 foram marcadas pela reativação do mercado de trabalho, assim
como uma melhora nas condições socioeconômicas da população.
O país recuperava-se de um forte período de recessão ocorridos nos anos de 1990, e
uma elevada taxa de desemprego. Ainda em meados de 2003 as taxas de crescimento eram
consideravelmente baixas e depois desse período começaram a crescer.
No Brasil, um crescimento do produto interno bruto (PIB) mais vigoroso e com
inflação mais baixa, a partir de 2004, aumentou a geração de empregos assalariados,
contribuiu para a formalização dos contratos de trabalho e elevou o poder de compra,
diminuindo as diferenças de renda entre os trabalhadores.
Diante dessas transformações, o mercado de trabalho brasileiro teve uma relativa
melhora, principalmente na queda do desemprego, criação de empregos, tendo assim uma
combinação de crescimento econômico, e investimentos feitos pelo governo em políticas
públicas direcionadas aos mais pobres.
Considerando o contexto da economia brasileira, enfatizou-se que a partir de 2004, a
política de distribuição de renda e fortalecimento do consumo, em consonância com ambiente
internacional favorável fez com que o país apresentasse maiores níveis de crescimento
econômico. Com a crise internacional no ano de 2008, o governo adotou medidas a fim
minimizar seus efeitos, o que ocasionou um breve período de recessão em 2009, rápida
recuperação da economia nos anos subsequentes até iniciar nova fase de baixo crescimento,
em 2011.
Desse modo, dada a relevância sobre o assunto, esta pesquisa tem como objetivo
avaliar os reflexos das transformações ocorridas na economia brasileira no período de 2010 a
2015 no mercado de trabalho da Região Metropolitana do Cariri. Além disso, o trabalho tem
como objetivos específicos: descrever as mudanças ocorridas na economia brasileira no
período de 2010 a 2015 que afetam o mercado de trabalho e analisar o mercado de trabalho da
RMC no período de 2010 a 2015.
218
Para realização desse estudo, optou-se por fazer uma pesquisa de caráter
bibliográfica com base em fontes secundárias como livros, teses, artigos científicos,
monografias e matérias disponibilizadas na internet, utilizando-se das contribuições de
diversos autores com o objetivo de identificar e de descrever acerca do tema e a pesquisa
amparando-se em fontes secundárias como os dados estatísticos do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísticas- IBGE, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA e dada
da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios - PNAD dentre outras fontes de natureza
secundária de relevância para ampliar a fundamentação teórica que deram base e consistência
a esta pesquisa.
2. Comportamento do mercado de trabalho nos anos 2000
A dinâmica do mercado de trabalho brasileiro, nos anos 2000, foi marcada pela
transformação ocorrida no cenário econômico, principalmente, no que diz respeito à redução
das desigualdades de renda, queda do desemprego, melhoria de estruturas ocupacionais,
criação de empregos etc. Uma combinação de crescimento econômico, políticas sociais
direcionadas aos mais pobres, conseguiram tirar cerca de 20 milhões de pessoas da miséria.
A evolução positiva do mercado de trabalho brasileiro está fundamentalmente
relacionada à dinâmica econômica e à mudança do ambiente político, mas é importante
salientar a contribuição da regulação social do trabalho, o papel das instituições públicas e a
ação sindical, bem como as políticas públicas, tais como o salário mínimo, o Programa Bolsa
Família (PBF), acesso ao crédito, apoio à agricultura familiar e a ampliação de créditos do
BNDES etc. (OLIVEIRA, 2014, p.4).
A criação de políticas públicas por meio de programas sociais do governo, a
regulação social do trabalho, bem como as ações sindicais nos anos 2000, foram fatores que
garantiram a evolução positiva no mercado de trabalho brasileiro. Com a diminuição das
desigualdades sociais, bem como a redução da pobreza nos anos 2000, o mercado interno
passa por uma fase de aquecimento, consequentemente há uma elevação na geração de
empregos.
Nesse período, a economia brasileira teve um elevado crescimento do PIB
acompanhado do crescimento da renda percapita e com redução da desigualdade de
219
rendimentos, como também, contrariando a expectativa de uma redução do trabalho
assalariado, sendo esse acompanhado por um crescimento expressivo do trabalho autônomo.
Com uma evolução positiva no mercado de trabalho brasileiro, pode-se fazer uma
relação com a dinâmica econômica e a mudança no ambiente político, como também a
contribuição da regulação social do trabalho e as políticas públicas tais como; o Programa
Bolsa Família (PBF), o salário mínimo, apoio a agricultura familiar, acesso ao crédito etc.
Neste período, o estado buscou fortalecer a realização dessas políticas públicas.
Segundo Leone; Baltar, 2007, desde o ano de 2003, apesar do conservadorismo da
política macroeconômica nacional, os crescimentos da economia e do comércio mundiais têm
permitido ao Brasil manter a atividade econômica, com o crescimento das exportações ao
estimular a produção, ampliarem-se o emprego e a renda o que junto com o endividamento
das famílias provocaram aumento do consumo e do investimento, acarretando maiores
importações que foram cobertas pelas exportações.
O PIB chegou inclusive a crescer 5,7%, em 2004, mas a política macroeconômica
excessivamente preocupada com a inflação provocou uma desaceleração, e o PIB cresceu
somente 2,9% em 2005 e, 3,7% em 2006. O núcleo da política macroeconômica girou em
torno da contenção da expansão monetária e da obtenção de um expressivo superávit primário
visando, de um lado, um baixo preço do dólar para reprimir os custos da produção e, de outro,
uma baixa atividade para dificultar o repasse dos custos aos preços e reajustes nominais dos
salários para evitar a diminuição do seu poder de compra.
No final do último período, em 2007 e 2008, antes de a crise mundial atingir o país,
no mês de outubro, o PIB manteve um crescimento no expressivo ritmo anual de 6%.
Comparando-se 2008 com 2003, o produto interno bruto aumentou 26,5%, o que equivale a
um crescimento médio anual de 4,8% (BALTAR, 2015, p.9). Pode-se dizer que o período de
2004-2008, foi o de maior crescimento da economia brasileira, onde houve um aumento na
geração de empregos assalariados, elevação do poder de compra e diminuição das diferenças
de renda dos trabalhadores.
No Gráfico 1, foi possível observar o número de ocupados no período de 2010 a
2013 no Brasil, onde o nível de ocupação médio no ano de 2013 cresceu 0,7% em relação ao
de 2012. Isto corresponde à geração de 159 mil novos postos de trabalho em 2013. Pode-se
notar ainda, o crescimento da população ocupada em 2013 foi menor do que aquele
220
registrado para os anos anteriores. Foi perceptível, o nível de ocupação no último trimestre de
2013 ficar abaixo daquele registrado no último trimestre de 2012. Esses fatos podem ser
interpretados como um sinal de alerta em relação ao ritmo de geração de empregos no Brasil,
além de deixar claro que a redução na taxa de desemprego no final do ano passado foi fruto da
redução da pressão da oferta.
GRÁFICO 1 – Número de ocupados (2010-2013)
Fonte: IBGE, 2015.
3. Mercado de trabalho na RMC pós crise econômica
Segundo (DIEESE; Seade, 2009, p. 21), a formação do mercado de trabalho no
Brasil, assim como nos demais países subdesenvolvidos, notadamente os latino-americanos,
221
foi marcadamente influenciada pela heterogeneidade da estrutura produtiva e o rápido e
intenso processo de urbanização, com forte absorção de contingentes populacionais rurais.
Nos últimos anos, o Brasil vem experimentando taxas significativas de crescimento
do emprego formal, especialmente, a partir dos anos 2000. De acordo com estudo do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o número de trabalhadores registrados aumentou 7
milhões no Brasil entre 2000 e 2005, um número maior do que o aumento de trabalhadores
registrados nos 15 anos anteriores a 2000. (IPEA, 2008). Esse resultado é impressionante
considerando-se que a taxa de crescimento média do Produto Interno Bruto (PIB) era de 2,6%
ao ano (a.a.) de 2000 a 2005, que é próxima à taxa dos anos anteriores (2,3% de 1991 a 1999).
Esse momento de crescimento estava também muito associado ao crescimento da
economia internacional, com recuperação da economia nacional, mesmo considerando os
resultados de duas décadas de baixo crescimento econômico e consequente redução no
número de contratações. Esse debate, contudo, ainda divide muitos analistas do mercado de
trabalho.12
.
Desde o inicio da crise econômica, pode-se perceber que muitos setores da economia
não conseguiram se reestabelecer, assim como muitas empresas não conseguiram manter os
seus negócios firmes no mercado, acarretando assim uma série de problemas para a economia.
Do fim dos anos 90 até o início de 2012 houve um aumento significativo no preço das
commodities no mercado internacional, impulsionado pela crescente demanda chinesa. Foi
um momento muito positivo para a economia brasileira, historicamente dependente da
exportação de matérias-primas e produtos agrícolas.Em 2011, as exportações brasileiras
alcançaram o recorde de US$ 256 bilhões, 14% do Produto Interno Bruto (PIB). A China já
era o maior parceiro comercial do Brasil. As exportações para o país asiático cresceram quatro
vezes mais que as exportações totais entre 2000 e 2010, com destaque para soja, café, minério
de ferro e petróleo.13
. Diante disso, o índice de desemprego subiu consideravelmente no país,
ao longo dos anos.
12
Disponível em:http://www.sineidt.org.br/portalidt/arquivos/publicacao/mercado_de_trabalho_do_cariri.pdf.
13
Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2016-05/entenda-crise-
economica>
222
As cidades de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha possuem papel importante no
contexto social, econômico e político na Região do Cariri, assim como no Estado do Ceará.
Ambos têm identidades bem típicas e, ao mesmo tempo, bem diversificadas, o que os tornam
mais especiais ainda.
A forma particular de suas culturas também se manifesta no mercado de trabalho
dessa região, quando é possível identificar a influência, por exemplo, do setor terciário em
suas economias, o que justifica ainda mais as especificidades do comércio e serviços,
impulsionados pela religiosidade da região, que é responsável direta pelas movimentações de
emprego e renda destes importantes setores.
Por outro lado, a indústria tem desempenho importante no desenvolvimento local,
com a presença de grandes estabelecimentos e empregos. A mulher ocupa espaços destacados
nos três municípios, mesmo com forte presença do homem no mercado de trabalho, a mulher
tem participações relevantes no campo do emprego formal. Com a forte influência que os três
municípios possuem na região, e pela oportunidade de novos investimentos e pelas políticas
públicas que podem ser desenvolvidas por seus municípios pelo governo do estado, é de se
esperar que os índices de mercado de trabalho discutidos até aqui possam ser ainda maiores.
TABELA 1 -Trabalhadores com idade ativa de 10 a 65 anos ou mais de 2010 a
2015.
IDADE 2010 2011 2012 2013 2014 2015
BARBALHA 6.597 6.519 8.086 8.805 9.930 9.680
CARIRIAÇU 1.715 1.128 1.059 1.645 1.725 1.684
CRATO 11.681 11.429 17.058 21.602 19.827 18.614
FARIAS
BRITO
1.135 1.102 969 1.052 1.034 1.139
JARDIM 2.006 2.045 2.431 1.608 1.389 1.136
JUAZEIRO
DO NORTE
33.304 35.351 43.722 45.761 47.966 49.812
223
MISSÃO
VELHA
1.989 2.516 2.646 2.923 3.119 2.340
NOVA
OLINDA
1.162 1.255 1.428 1.584 1.618 1.590
SANTANA
DO CARIRI
1.111 1.124 1.185 1.311 1.164 1.025
TOTAL 60700 62469 78548 86291 87772 87020
Fonte: Elaboração do autor com base nos dados RAIS 2019
Na tabela acima temos dados fornecidos pela RAIS 2019, com relação aos
trabalhadores da Região Metropolitana do Cariri com vinculo ativo nos setores de Indústria,
construção civil, comércio, serviços e agropecuária nos anos de 2010 a 2015, com idade entre
10, e 65 anos ou mais.
Em análise a tabela 2, pode-se verificar que os municípios de Caririaçu, Jardim, e
Santana do Cariri, não tiveram crescimento no número de trabalhadores no período
mencionado e sim uma redução no quando de vínculos ativos, Caririaçu caiu de 1.715 em
2010 para 1.684 em 2015.
Jardim caiu de 2.006 trabalhadores com idade ativa em 2010 para 1.136
trabalhadores em 2015, tendo uma redução considerável no quadro de vínculos ativos.
Santana do Cariri caiu de 1.111 para 1.025 em 2015.
Os municípios com maiores índices de trabalhadores com idade ativa de 10 a 65 anos
ou mais merecem destaque, principalmente o eixo CRAJUBAR, o comércio local que gera
empregos importantes para a economia da região, onde se concentra a maior renda da Região
Metropolitana do Cariri e os maiores centos trabalhistas.
Analisando a RMC como um todo, houve um crescimento exponencial quando
comparados os anos de 2010, 60.700 trabalhadores com idade ativa e 2015,
87.020trabalhadores.
TABELA 2 - Trabalhadores da RMC por setor de 2010 a 2015
224
Setores 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Indústria 13.943 14.534 20.540 19.830 19.842 18.298
Construção
civil
2.018 1.700 2.321 3.981
3.674 3.011
Comércio 12.628 13.802 18.716 19.544 20.817 16.653
Serviços 31.610 31.910 36.380 43.931 42.529 43.851
Agropecuária 448 523 627 742 910 946
Fonte: Elaboração do autor com base nos dados RAIS2019
Em análise a tabela a cima, podemos perceber a evolução do quadro de empregados
por setor na RMC, onde merece destaque os setores de indústria e serviços que apesar das
oscilações, são os que mais movimentam a economia da região.
O setor da indústria teve seu ápice no ano de 2012, aonde chegou a empregar cerca
de 20.540 trabalhadores, tendo uma queda considerável no ano de 2015 com 18.298
trabalhadores.
O setor de serviços teve seu melhor ano em 2013 com 43.931 trabalhadores, com
uma leve redução desse número para 43.851 em 2015. Vale ressaltar que o setor da
agropecuária, foi o único que não sofreu impacto ao longo dos anos, mesmo com um
crescimento baixo, manteve-se sempre em crescimento desde 2010 com 448 para 2015 com
946 trabalhadores.
TABELA 3 -Trabalhadores RMC por gênero de 2010 a 2015
Fonte: Elaboração do autor com base nos dados RAIS2019
SEXO 2010 2011 2012 2013 2014 2015
MASCULINO 31.582 32.559 42.732 45.812 41.343 45.695
FEMININO 30.096 29.910 35.852 40.479 40.716 41.325
225
A diferença entre os gêneros no mercado de trabalho quase não diminuiu nos últimos
27 anos e, em 2018, a probabilidade de uma mulher trabalhar foi 26% inferior do que a de um
homem, uma melhoria de apenas 1,9% com relação a 1991, revelou a Organização Mundial
do Trabalho (OIT).14
Na tabela acima é possível analisar os trabalhadores da RMC por
gênero, onde é notória a predominância masculina em todos os anos.
A desigualdade entre homens e mulheres no trabalho é um problema global, e, apesar
de sua diminuição ter de fato ocorrido na última década, a progressão é lenta e irregular. Um
estudo feito pelo Fórum Econômico Mundial mostrou que essa questão provavelmente só será
resolvida no ano de 2095.15
.
Porém as mulheres vêm ganhando o seu espaço no mercado de trabalho da RMC, onde
o crescimento do número de mulheres com vinculo ativo é satisfatório, no ano de 2010 apenas
30.096 mulheres estavam trabalhando ativamente na RMC, já no ano de 2015 esse número
subiu para 41.325, apesar da diferença ser gritante entre os gêneros, aos poucos o nível está se
igualando na RMC.
TABELA 4 – Nível de escolaridade no período de 2010 A 2015.
Escolaridade 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Analfabeto 423 233 336 335 299 319
Fundamental
completo
6586 6112 8157 7784 7925 7750
Médio
Completo
25645 27923 40971 41896 46581 46360
Superior 16051 15847 13134 21094 17019 16900
14
Disponível em: <https://noticias.r7.com/internacional/diferenca-entre-homens-e-mulheres-
no-trabalho-nao-diminui-em-27-anos-06032019> 15
Disponível em: <https://www.taofeminino.com.br/carreira/diferencas-entre-homens-e-
mulheres-no-trabalho-s1909113.html>
226
completo
Mestrado 42 111 155 201 213 252
Doutorado 16 35 23 32 42 62
Fonte: Elaboração do autor com base nos dados RAIS2019
A tabela 4 mostra o nível de escolaridade no período de 2010 a 2015 dividida por
setores da economia: Indústria, Construção Civil, Comércio, Serviços, Agropecuária. Em
2010 o número de analfabetos presentes no mercado de trabalho da RMC era de 423 onde,
desse valor, o setor de serviços era responsável por um total de 177 trabalhadores analfabetos,
seguido da indústria com 120, a Agropecuária nesse mesmo ano teve um número
relativamente menor comparados com os demais setores 17 trabalhadores analfabetos, no
nível fundamental seguiu-se a mesma ordem, em 2010, 6.586 trabalhadores possuíam nível
fundamental, serviços e indústria com os maiores números 2517, 2121 respectivamente. Os
maiores graus de instrução Mestrado 42 no total e Doutorado 15 no total, concentraram-se
também no setor de serviços 31 com mestrado e 15 com doutorado.
No ano de 2015 o número de analfabetos caiu de 423 para 319, houve redução nos
setores de serviços de 177 para 112 e na indústria de 120 para 96 trabalhadores analfabetos.
Vale destacar, que ao longo do período de 2010 a 2015, o nível de escolaridade dos
trabalhadores da RMC evoluiu principalmente nos maiores graus de instrução. Em 2010 havia
42 trabalhadores com mestrado, em 2015 subiu para 252, sendo 233 do setor de serviços. Já o
doutorado saltou de 16 em 2010 para 62 em 2015, os 62 fazem parte do setor de serviços.
4. Considerações finais
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise de como se encontra a
situação do empego formal da Região Metropolitana do Cariri no período de 2010 a
2015.Além disso, também permitiu uma pesquisa bibliográfica para obtenção de dados mais
consistentes sobre o tema estudado.
227
O chamado CRAJUBAR, aglomerado entre Crato, Juazeiro e Barbalha, nos dias
atuais, é responsável pelo desenvolvimento econômico da região do Cariri, por conta do seu
forte atrativo comercial religioso, concentrando assim a maior parte dos lucros obtidos nessa
região.
O mercado formal na Região Metropolitana do cariri cresceu ao longo dos anos,
mesmo com um cenário ruim pós-crise econômica mundial, os números apontam um
crescimento considerável nos setores de serviço e indústria na região a partir do ano de 2012.
Verificou-se também um aumento no número de mulheres trabalhando ativamente na
RMC, o mercado ainda possui uma maioria masculina na sua composição, apesar de ser uma
diferença considerável se comparada ao gênero masculino, às mulheres vem ganhando espaço
no mercado formal da região.
Dada à importância do assunto, torna-se necessárioafirmar que os municípios da
Região Metropolitana do Cariri têm suas economias voltadas, especialmente, para o setor
terciário, originadas pelas inúmeras atividades na área de serviços, e de um comércio
diversificado, principalmente pelos eventos religiosos que tanto impulsionam a economia
local, expandindo, inclusive, suas divisas de mercado. Destaca-se, ainda, o papel da indústria,
como uma forte aliada na geração de emprego e renda para a população local e pelo grau de
oportunidades que são geradas para os munícipio.
Referências Bibliográficas
BALTAR, P. Crescimento da Economia e Mercado de Trabalho no Brasil. Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Textos para discussão. N. 2036, Brasília, 2015.
Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/TDs/td_2036.pdf>
Acesso em 25 de maio 2016.
DIEESE; FUNDAÇÃO Seade. Pesquisa de emprego e desemprego (PED): conceitos,
metodologia e operacionalização. São Paulo: DIEESE, 2009.
IBGE. Estimativas da população, 2010. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/pdf/analise_estimativas_2014.pdf>
Acesso em: 2 de junho 2016.
INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATÉGIA ECONÔMICA DO CEARÁ (IPECE).
Disponível em: <http://www2.ipece.ce.gov.br/atlas/capitulo1/11/139.htm> Acesso em: 01 de
Junho 2016.
228
LEONE, E. T; BALTAR, P. Economia e mercado de trabalho no Brasil. CESIT, Carta social
e do trabalho. Instituto de Economia da UNICAMP. n. 6 - Maio/Agosto/2007. ISSN1980-
5144.
OLIVEIRA. A. L. M. O mercado de trabalho brasileiro nos anos 2000: balanço dos
avanços e desafios. Caderno mensal de política social. Editora Fundação Perseu Abramo,
julho, 2014. Disponível em: <http://novo.fpabramo.org.br/sites/default/files/fpa-conjuntura-
social-julho2014-3.pdf> Acesso em: 22 de maio 2016.
229
ÁREA TEMÁTICA GT 6: ECONOMIA DO TRABALHO
O MERCADO DE TRABALHO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO
TRIÂNGULOCRAJUBAR (CRATO, JUAZEIRO DO NORTE E BARBALHA): 2010
A 2016.
THE CIVIL CONSTRUCTION INDUSTRY LABOR MARKET IN THE CRAJUBAR
TRIANGLE (CRATO, JUAZEIRO DO NORTE AND BARBALHA): 2010 TO 2016.
JOSYELLEN MAMEDE DO NASCIMENTO
Graduanda em Economia pela Universidade Regional do Cariri.
E-mail: josyellen.mamede@hotmail.com
Telefone: 88 99804 8664
ANDERSON ALCANTARA MEDEIROS
Professor substituto do departamento de Economia da URCA, Economista, Especialista em
Direito Tributário.
E-mail: andersonalcmed@hotmail.com
Telefone:88 988784568
GABRIEL ANTONY LEAL DE MIRANDA
Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA)
Pesquisador do Grupo de Estudos em Territorialidades Econômicas e Desenvolvimento
Regional e Urbano - GETEDRU
E-mail: gabrielantony30@gmail.com
230
O MERCADO DE TRABALHO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO
TRIÂNGULOCRAJUBAR (CRATO, JUAZEIRO DO NORTE E BARBALHA): 2010
A 2016.
THE CIVIL CONSTRUCTION INDUSTRY LABOR MARKET IN THE CRAJUBAR
TRIANGLE (CRATO, JUAZEIRO DO NORTE AND BARBALHA): 2010 TO 2016.
RESUMO: A indústria da construção civil é considerada estratégica para o desenvolvimento
de um país, por sua ampla cadeia produtiva, pelo emprego de elevadas quantidades de mão de
obra, além de disponibilizar infraestrutura pertinente para o crescimento de uma comunidade.
Então surge a necessidade de se aprofundar os estudos na área, abordando em contexto
regional a indústria da construção civil como setor econômicoestratégicona economia do
―CRAJUBAR‖, bem como sua influência no desenvolvimento da região, na qualtem a
capacidade de ativar a economia.Diante desse contexto, este trabalho tem por objetivo geral
analisar o mercado de trabalho formal da indústria da construção civil no ―CRAJUBAR‖, no
período de 2010 a 2016, mostrando o processo.Sendo assim, a pesquisa em questão, trabalhou
inicialmente com a exploração na literatura econômica com o intuito de buscar informações
sobre a indústria da construção civil no Brasil, inserindo-a em contexto nacional,
desenvolvendo-a historicamente, bem como as características do setor e sua participação,
assim como informações relacionadas a essa indústria no CRAJUBAR. Além da literatura
citada, foram utilizados dados de instituições de pesquisa do Brasil.Há semelhanças e
diferençassobre o perfil dessa indústria e do trabalhador comparando os três
municípios.Ostrabalhadores fazem um trabalho técnico, mecânico, que não necessita de um
conhecimento mais especifico. Juazeiro do Norte fora o município que apresentou o maior
número de emprego formal para o setor de construção civil.
Palavras-chaves: Industria da construção civil; CRAJUBAR; Perfil do emprego formal.
ABSTRACT:The construction industry is considered strategic for the development of a
country, for its broad production chain, the employment of raising labor, and providing the
relevant infrastructure for the growth of a community. Then there is a need for further studies
in the area, addressing in a regional context a construction industry as the strategic economic
sector in the economy of ―CRAJUBAR‖, as well as its influence on the development of the
region, in what kind of resource activate the economy. . Given this context, this paper aims to
analyze the formal labor market of the construction industry in ―CRAJUBAR‖, from 2010 to
2016, showing the process. Thus, a research in question, worked with the exploration in the
economic literature in order to seek information about the construction industry in Brazil,
inserting in the national context, developing it historically, as well as the characteristics of the
sector and its participation, as well as information related to this industry in CRAJUBAR. In
addition to the literature cited, data from research institutions in Brazil were used. There are
differences and differences about the profile of this industry and the worker comparing the
three municipalities. Workers do technical, mechanical work that does not require more
specific knowledge. Juazeiro do Norte, for the municipality that has the largest number of
formal jobs for the construction industry.
Keywords:Construction industry; CRAJUBAR; Profile of formal employment.
231
1.INTRODUÇÃO
Os setores da economia são divididos em três grandes setores:Agropecuária, Indústria
e Serviços, onde o acúmulo dos valores desses setores dá origem ao Produto Interno Bruto
(PIB), na qual é uma das formas de medir a riqueza acumulada, em um determinado período
de tempo de um País.
Esses grandes setores subdividem-se em 21 atividades econômicas, estabelecida pela
Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), sendo elas: Agricultura, pecuária,
produção florestal, pesca e aquicultura; Indústrias extrativas; Indústrias de transformação;
Produção e distribuição de eletricidade e gás; Produção e distribuição de água, esgoto e
atividades de gestão de resíduos e descontaminação; Construção civil; Comércio e serviços de
manutenção e reparação; Transporte, armazenagem e correio; Serviços de alojamento e
alimentação; Serviços de informação e comunicação; Intermediação financeira, seguros e
serviços relacionados; Atividades imobiliárias; Atividades profissionais, científicas e técnicas;
Atividades administrativas e serviços complementares; Administração pública, defesa e
seguridade social; Atividades na educação; Atividades de atenção à saúde humana e serviços
sociais; Artes, cultura, esporte e recreação; outras atividades de serviços; Serviços
domésticos; e Organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais. (IBGE, 2007)
A indústria da construção civil (ICC) faz parte do grande setor da Indústria, onde
influencia a estrutura econômica de um país decisivamente, por ser grande consumidora de
produtos dos outros segmentos industriais, com sua ampla cadeia produtiva. Além disso,
emprega elevadas quantidades de mão de obra e disponibiliza a infraestrutura necessária para
o crescimento de uma comunidade. Então representa uma parcela significante do PIB de um
país, assim a agregação da ICC e as atividades que fornecem insumos e serviços dá-se o nome
de macrossetor da Construção Civil (KURESKI, 2008).
Os setores geralmente considerados estratégicos importantes para o crescimento
dinâmico de um país ou região são os que exercem forte impacto na economia e que possuem
grande encadeamento para trás e para frente, esse processo que um setor induz
desenvolvimento a outro, segundo Teixeira e Carvalho (2005, p.10) ―produz efeitos de
propagação favoráveis sobre o processo global da economia, e as economias externas que se
tem como corolário ajudam a explicar a expansão econômica em uma região ou país‖.
232
Araújo (2011) afirma que no percurso da formação do arranjo produtivo das
características do lugar, evidencia o envolvimento do global com o local, as mudanças e as
permanências, e com estas inter-relações compõe a produção e a vida social local.
Em âmbito nacional a década de 1990, trouxe para o cenário ajustes estruturais e
institucionais, fazendo com que as regiões procurassem estratégias de desenvolvimento local.
[...] no qual o capital avança e se reproduz em espaços diferenciados de forma
desigual, verifica-se uma fragmentação institucional da gestão metropolitana,
facilitada pelos novos arranjos federativos proporcionados pela Constituição Federal
de 1988, firmando-se, a partir daí um conjunto de novas metrópoles regionais.
Assim, facilitada pela centralidade da conurbação CRAJUBAR (Crato – Juazeiro do
Norte – Barbalha), que se configura como importante complexo urbano-regional,
apresentando forte concentração populacional e dinamismo das atividades
econômicas, foi instituída, através da Lei Complementar Estadual nº 78 de 2009, a
Região Metropolitana do Cariri – RM Cariri/CE. (RODRIGUES; ALVES;
PINHEIRO, 2017. p. 18 e 19)
Assim, o Cariri cearense detém características especiais, tanto ecologicamente quanto
climáticas, onde a sua posição geográfica, somada a presença de água de fontes perenes e a
qualidade dos solos, fizeram essa região se destacar.A identificação da conurbação do
CRAJUBAR, como o eixo dinâmico da RMC,na qual formam um dos polos de
desenvolvimento do Estado, resultando em um centro de referência e o principal eixo
econômico da região sul do Ceará.
O Estado do Ceará pelo censo de 2010 contava com 8.452.381habitantes, extraindo as
três cidades pertencentes do Triângulo CRAJUBAR, soma-se uma população de
aproximadamente 426.690 habitantes, onde Juazeiro do Norte destaca-se com 249.939
habitantes. A estimativa do IBGE (2017) aponta que a população em 2017 era de 460.798
para as três cidades somadas, e Juazeiro do Norte pela mesma estimativa contava com
270.383 pessoas.
A pesquisa em qualquer área de conhecimento é relevante, para que se promovam
avanços. Tratando-se das áreas das ciências sociais aplicadas, onde a sociedade está em
constante modificação, as pesquisas devem acompanhar essa tendência. Assim, os setores da
economia mobilizam pesquisadores do mundo todo em busca da construção de um saber
técnico, cientifico ou social. Então surge a necessidade de se aprofundar os estudos na área,
abordando em contexto regional a indústria da construção civil como setor
233
econômicoestratégicona economia do ―CRAJUBAR‖, bem como sua influência no
desenvolvimento da região, na qual tem a capacidade de ativar a economia.
Diante desse contexto, este trabalho tem por objetivo geral analisar o mercado de
trabalho formal da indústria da construção civil no ―CRAJUBAR‖ no período de 2010 a 2016,
mostrando o processo e a influência desse setor no Triângulo. Objetivando
especificamentedescrever o setor da construção civil em âmbito nacional e retratar o mercado
de trabalho formal da construção civil comparando aos demais setores da economia.
A pesquisa tem caráter descritivo, que segundo Gil (2008), tem por objetivo a
descrição das características referente a determinada população ou fenômeno ou o
estabelecimento de relações entre as variáveis. Então Vergara (2000, p.47), diz que essa
pesquisa ―não têm o compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de
base para tal explicação‖.
Sendo assim, a pesquisa em questão, trabalhou inicialmente com a exploração na
literatura econômica com o intuito de buscar informações sobre a indústria da construção civil
no Brasil, inserindo-a em contexto nacional, desenvolvendo-a historicamente, bem como as
características do setor e sua participação, assim como informações relacionadas a essa
indústria no CRAJUBAR. Além da literatura citada, foram utilizados dados de instituições de
pesquisa do Brasil, tais como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Banco
Central do Brasil (BCB), Fundação João Pinheiro, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae), Câmara Brasileira da Industria da Construção (CBIC)e Relação
Anual de Informações Sociais (RAIS), bem como o Ministério do Planejamento e Planalto.
A pesquisa fora sobre a empregabilidade formal no Triângulo CRAJUBAR, que é o
núcleo urbano, onde ocorre o fenômeno da conurbação, das cidades de Crato, Juazeiro do
Norte e Barbalha, que são as mais desenvolvidas cidades da Região Metropolitana do Cariri
(RMC) e onde concentra grande parte da população e do PIB.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Os três grandes setores da economia são: a Agropecuária (Primário), Indústria
(Secundário) e Serviços (Terciário). Então:
234
A partir das atividades primárias, desencadeiam-se outras, classificadas como
secundárias, caracterizadas pelo reprocessamento e transformação das reservas
naturais extraídas, já então multiplamente combinadas entre si. Estabelecem-se
então fluxos contínuos de emprego de recursos, de extração, de processamento e de
reprocessamento de materiais, apoiadas por atividades terciárias. E o resultado de
todos esses processos e fluxos contínuos é a geração de produtos, tangíveis e
intangíveis, que atendam às necessidades de consumo e acumulação da sociedade.
(ROSSETTI, 1997. p. 144).
Então, as atividades secundárias ou setor da indústria, ―nestas, embora as proposições
variem entre os principais ramos industriais, é alta a intensidade do fator capital‖. Desse
modo, a Indústria, dividida pelas suas atividades econômicas, estabelecida pela CNAE 2.0:
Indústrias extrativas; indústrias de transformação; construção; e produção e distribuição de
eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana. (IBGE, 2007).
Assim, a Indústria extrativa é responsável pela extração de minerais metálicos e não
metálicos; a indústria de transformação pela transformação de minerais não metálicos,
Siderurgia e metalurgia, material eletroeletrônico e de comunicações, material de transporte,
beneficiamento de madeira e mobiliário, celulose, papel e papelão, química, produtos
farmacêuticos e veterinários, borracha, produtos de matéria plástica, produtos de higiene e
limpeza, têxtil, vestuário, calçados e artefatos de couro, produtos alimentares, bebidas,
editorial e gráfica. Por fim, a indústria de construção pelas obras públicas, construções e
edificações para fins residenciais e não residenciais. (ROSSETTI, 1997)
Segundo o Sebrae (2017), a Indústria da Construção Civil dentre os setores da
economia é um dos mais relevantes, sendo o desenvolvimento e a capacidade de produção do
país ligado diretamente ao crescimento desse setor, assim:
Sua cadeia produtiva reúne construtoras, fabricantes e comerciantes de materiais,
máquinas e equipamentos, serviços técnicos especializados, serviços imobiliários e
consultorias de projetos, engenharia e arquitetura. A atividade movimenta diversas
áreas e exerce influência direta e indireta no resultado econômico do Brasil. [...]
Além disso, a cadeia de construção tem importante papel social, pois cria
oportunidades de trabalho para uma faixa da população com baixa escolaridade e
pouca qualificação profissional. (SEBRAE, 2017. p.4)
Segundo Knackfuss (2010) a Indústria da Construção difere da Indústria de
transformação tradicional por diversos aspectos, sejam elas pela sua organização de produção
ou pela própria característica de seu produto, sendo esses aspectos que determinam a
235
separação da construção no país em diversos subsetores organizados nos sindicatos e
associações.
O produto da construção pode ser traduzido como resultado do esforço do conjunto
da economia em criar estruturas capazes de suportar o desenvolvimento material da
sociedade, criando a infraestrutura necessária para isto. Transporte e circulação,
geração e transmissão de energia, habitação, saneamento, estrutura da produção
industrial são alguns dos campos de atuação do setor. [...] Quanto à organização o
setor da construção apresenta características ligadas ao tamanho, número e forma
como são gerenciadas as empresas. Ou ainda, elementos de base tecnológica,
relativos a materiais, equipamentos e mão de obra, de forte influência espacial e
cultural, contemplando a enorme diversidade de um País de extensões continentais.
(KNACKFUSS, 2010.p. 17 e 18)
Quadro 1 – Características dos subsetores da construção
ASPECTOS SUBSETORES
EDIFICAÇÕES CONSTRUÇÃO PESADA MONTAGEM
INDUSTRIAL
ATIVIDADES
PRINCIPAIS
Construção de edifícios
residenciais, comerciais,
de serviços e
institucionais;
edificações modulares
horizontais; edificações
Industriais, etc.
Construção de
infraestrutura viária,
urbana e industrial
(terraplanagens,
drenagens, pavimentação e
obras ligadas a construção
de rodovias, infraestrutura
ferroviária, aeroportos,
etc.); Construção de obras
estruturais e arte (pontes,
contenção de encostas,
tuneis, etc.); Construção de
obras de saneamento
(adução, captação,
tratamento e distribuição
de água, etc.); construção
de barragens
hidroelétricas, etc.
Montagem de
estruturas
mecânicas, elétricas,
eletromecânicas,
hidromecânicas para
instalação de
industriais;
montagem de
sistema de geração,
transmissão, e de
distribuição de
energia elétrica;
montagem de
telecomunicação;
montagens de
estruturas metálicas;
obras subaquáticas,
etc.
ORGANIZAÇÃO
INTERNA
Subsetor bastante
heterogêneo, com
grande número de
empresas, e
considerável presença
Subsetor menos
heterogêneo, com maior
grau de concentração e
presença significativa de
empresas de porte grande.
Subsetor mais
homogêneo, com
número reduzido de
empresas, e com
presença de
236
de medias e pequenas
empresas.
empresas de grande
e médio porte.
ATUAÇÃO EM
OUTROS
SUBSETORES
Não pode ser tomada
como característica
deste setor.
Esse subsetor apresenta
forte processo de
diversificação,
principalmente em se
tratando por questões de
mercado.
Podendo ser
observada sua
atuação em outros
subsetores entre as
empresas de
montagem
industrial.
DEMANDA TÍPICA
E PRINCIPAIS
CLIENTES
A demanda privada
constitui o mercado
típico desse subsetor,
embora o Estado atue
como organizador, em
última instancia, de
importante parcela
dessa demanda; o setor
público atua também
como demandante, é
um segmento bem
menos expressivo que o
primeiro; os clientes
típicos são pessoas
físicas ou empresas.
A demanda pública
constitui por excelência um
mercado único para a
construção pesada, uma
vez que a montagem da
infraestrutura básica (a
cargo do Estado) é seu
campo de atuação; o
cliente típico é o Estado,
em todas as suas instancias
(federal, estadual e
municipal). A demanda
externa pode ser
considerada como parcela
importante do mercado
para algumas empresas.
A demanda para
esse subsetor pode
ser dividida entre
pública e privada,
uma vez que atuam
na montagem de
estruturas diversas
para fins industriais
tanto do capital
privado (nacional e
estrangeiro), quanto
os estatais.
Fonte: Fundação João Pinheiro (1984)
Então, segundo a Fundação João Pinheiro (1984), a característica mais marcante
refere-se à heterogeneidade de suas atividades, pois na grande maioria dos processos
produtivos são bastante diferenciados e ligam-se aos mais diversos agentes demandantes.
Ainda segundo essa fundação, a construção tradicional divide-se em subsetores relacionados
ao produto de suas atividades, elaborado em Diagnóstico Nacional da Indústria da
Construção, que identificou as características mais relevantes entre as principais atividades.
237
Observa-se no quadro acima, que não apenas distinguisse pelas atividades principais
de cada setor, mas a demanda típica e principais clientes demonstram comportamentos
diferentes para cada um. Enquanto o setor de edificações sua demanda é quase exclusiva para
o setor privado, a construção pesada é o seu oposto, atendendo integralmente o setor público.
Enquanto isso, a montagem industrial é, o meio termo entre os setores citados anteriormente,
atendendo tanto o setor privado quando o público.
2.1 CONSTRUÇÃO CIVIL NA ECONOMIA BRASILEIRA
As incertezas, mudanças importantes e significativas, trazem sempre novas
perspectivas para essa indústria, sendo algumas esboçados ao longo do tempo e que
continuarão pelos próximos anos. Desse modo, essas ações influenciam a indústria da
construção, tendo como resultado o PIB da construção, e outras variáveis como a situação
política, as taxas de juros e o emprego.
2.1.1 Presença do setor no PIB
Segundo Passos et al (2012), o PIB é um dos principais indicadores que medem a
―saúde‖ da atividade econômica, podendo fornecer como medida o grau de expansão ou
retração dessa atividade, assim consideram uma importante fonte de estudo desta atividade.
Ainda segundo esses autores (2012, p. 506), o:
PIB é o indicador das riquezas produzidas pelo país num determinado período, que
poderá ser de um mês, um trimestre, um semestre ou um ano. Quando a produção de
um ano é maior do que do ano anterior diz-se que houve um crescimento do país,
caso ocorra o contrário, haveria recessão.
Os três grandes setores da economia citados anteriormente são os responsáveis pelo
PIB, porém vem-se discutindo até aqui, que a construção civil está inserida no setor da
indústria, mas de certa forma no setor de serviços também. O setor em questão, possui grande
impacto sobre o PIB, no entanto apesar da sua relevância, ―o bom desempenho da ICC não é
fator necessário para o bom desempenho da economia de um país, o mesmo pode ser dito para
238
a situação contrária, o baixo desempenho da ICC não implica necessariamente numa
catástrofe econômica.‖ (SOUZA, 2015. p. 141).
Observando a Tabela 1 abaixo, a taxa de crescimento do PIB da economia no período
deanálise reduziu-se no decorrer do período, se tornando negativo a partir de 2015, marcado
pela instabilidade políticae econômica do país, explanado anteriormente.Em relação a
médiadas taxas de crescimento, o melhor desempenho foi da agropecuária de 2,8%, sendo
esse setor um dos carros chefes das exportações brasileiras, mediante o agronegócio.
Em se tratando da construção civil, o melhor desempenho ocorreu entre 2010 e 2013,
sendo que suas taxas de crescimento superaram os demais, tendo no ano base a maior taxa do
ano de 2010 com 13,1%, superando até a do PIB. Ainda sobre esse setor, vê-seque foi o que
mais sentiu a desaceleração da economia entre os anos de 2014 a 2016, com taxas negativas
superiores aos demais.
Tabela 1– Variação do PIB nacional e por setor, período de 2010 a 2016
Ano PIB Total Setor indústria
Total
Construção
Civil Agropecuária Serviços
2010 7,5 10,2 13,1 6,7 5,8
2011 4,0 4,1 8,2 5,6 3,5
2012 1,9 -0,7 3,2 -3,1 2,9
2013 3,0 2,2 4,5 8,4 2,8
2014 0,5 -1,5 -2,1 2,8 1,0
2015 -3,5 -5,8 -9,0 3,3 -2,7
2016 -3,5 -4,0 -5,6 -4,3 -2,6
Fonte: CBIC, 2018
A crise econômica enfrentada a nível nacional no ano de 2014 foi sentida por todos os
setores. O fato é que de 2013 para 2014 houve uma redução no nível de crescimento do PIB,
chegando inclusive para o setor da indústria e da construção civil a apresentar valores
negativos nesse período. A crise estendeu seus efeitos negativos para o ano de 2015 para
239
praticamente todos os setores, com exceção da agropecuária – que sentiu de maneira mais
pesada apenas a partir de 2016.
Observamos através da tabela acima que, devido à alta sensibilidade do setor de
construção civil ao cenário econômico, este serve como um forte indicador para toda a
economia. Em momentos de crescimento econômico se observa uma elevação da construção
civil além dos demais. Já quando há um processo de crise econômica, é o setor de construção
civil um dos que mais sente, como se observa entre 2013 e 2016.
2.1.2 Presença do setor no investimento
A produção, considerada atividade econômica fundamental, são resultados das
categorias de fluxos econômicos, tais como: a geração de emprego, as diferentes formas de
dispêndio e a acumulação de riquezas, assim o processo de produção tem como fundamento a
mobilização de um conjunto de fatores, são eles: terra, trabalho, capital, tecnologia e
empresariedade. (ROSSETTI, 1997)
Segundo o Banco Central do Brasil – BCB (2001), o investimento ou formação bruta
de capital, é o resultado da soma algébrica da formação bruta de capital fixo – FBKF, e da
variação de estoques, sendo o FBKF dividido em: construção, máquinas e equipamentos, e
outros. Na qual, a variação de estoques, congrega os bens cujo o consumo ou absorção futuros
ainda irão ser consumidos, já a FBKF, são usados no processo de produção, porém, dentro de
um período especifico, apenas uma parte do seu valor é consumida na produção,
possibilitando a produção de um fluxo de bens e serviços. (PAULANI; BRAGA, 2007)
As empresas e as famílias são os principais agentes do processo de acumulação.
[...]As construções são a categoria de investimento de mais alta expressão relativa.
Os recursos destinados a esse fim, superam, na média, duas vezes os destinados a
maquinas e equipamentos. Outras categorias de acumulação (de que são exemplos
culturas permanentes e plantéis animais nas áreas rurais) representam a parcela
menos expressiva[...]. (ROSSETTI, 1997.p. 131)
Assim sendo, segundo Cunha (2012), na economia, a variável investimento é
normalmente utilizada como um indicador da tendência de crescimento da atividade
econômica, no longo e médio prazo, pois quando se aumenta o estoque de capital, permite ao
240
investimento o seu incremento da capacidade produtiva futura de uma economia, e como
consequência, do produto potencial dessa economia.
Desse modo, ao observar a Tabela 2, percebe-se que não hámuita variação entre os
valores entre os anos. Em relação a taxa de crescimento o indicador Ipea de FBCF, tomando
como base o ano de 2010, em 2012 houve um declínio e se recupera em 2013, esse último ano
com uma taxa de 6%, para o ano seguinte acontecer uma drástica queda dessa taxa, para -4%,
tendência que continua com crescimento negativo, que em 2016 chega-se a uma taxa negativa
de 10%.
Então, observa-se nos períodos analisados, que houve redução do crescimento,
tornando-sea partir de 2014 crescimento negativo, reforçando assim o agravamento da crise
que o país começou a sentir mais especificamente nesse ano, tendo uma tendência declinante
da atividade econômica.
Em relação a Construção Civil, aumenta-se gradualmente de 2010 a 2013, tendo uma
leve reduzida em 2014 e segue reduzindo até 2016. Já em relação ao Consumo Aparente de
maquinas e Equipamentos, não houve grandes variações entre 2010 a 2014, tendo queda
visível em 2015 e 2016.
Tabela 2 – Formação Bruta de Capital Fixo, período de 2010 a 2016
Ano Construção Civil
Consumo Aparente de
Máquinas e
Equipamentos
Consumo Aparente de
Outros
Indicador Ipea
de FBCF
2010 1858,69 2449,08 2006,14 2057,44
2011 1994,36 2600,01 2180,27 2200,04
2012 2070,42 2482,85 2226,16 2218,21
2013 2161,40 2721,37 2267,78 2346,54
2014 2094,03 2530,01 2278,73 2248,26
2015 1883,18 1967,87 2170,27 1935,29
2016 1701,97 1661,61 2170,25 1734,54
Fonte: IPEA, 2018
Nota:Dadoscom reajuste sazonal
241
2.3.3 Presença do setor para o emprego
A indústria da construção é caracterizada por ser uma grande absorvedora de mão de
obra, e é ela que disponibiliza a infraestrutura necessária para a sociedade, além de consumir
de outras áreas e exercer forte influência econômica, como foi mencionada anteriormente,
com sua ampla cadeia produtiva. Assim, segundo Cunha (2012, p.26) é notável:
a importância social do setor de construção civil para o país. O fato de ser uma
atividade preponderante para a diminuição do déficit habitacional e a geração de
empregos na economia são os elementos que representam esta relevância para a
sociedade brasileira.
Então, o seu enorme poder de mobilizar a mão de obra, tem feito um setor estratégico,
em especial por demandar mão de obra de baixa qualificação profissional, servindo de apoio a
muitos planos e ações de governo por suas características intrínsecas (KNACKFUSS, 2010).
A partir de 2004, nota-se a melhoria dos registros dos números no mercado de
trabalho, referente a retomada do crescimento a partir de 2003, resultando no desempenho
positivo das atividades e do ciclo de desenvolvimento. Assim, segundo Cunha (2012, p.27):
Dados informados pelo Ministério do Trabalho apontam, ainda que entre 2004 e
2010, foram criados 1,46 milhão de postos de trabalhos formais no setor em todo o
país, o que representou um acréscimo médio anual de aproximadamente 209 mil
empregos, o que corresponde a um crescimento acumulado de 139,34%
Tabela 3 – Saldo do emprego por ano segundo setor de atividade econômica, período de 2010
a 2016 NÍVEL
SETORIAL 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Brasil 2.629.827 2.026.571 1.372.594 1.138.562 420.690 -1.534.989 -1.327.914
Extrativa
Mineral 17.872 19.663 11.299 2.709 -2.539 -14.218 -11.884
Indústria de
Transformaçã
o
554.316 224.409 92.814 122.798 -162.851 -612.209 -324.249
Serviços
Industriais de
Utilidade 20.444 9.617 10.233 8.329 5.193 -8.284 -12.762
242
Pública
Construção
Civil 347.730 235.922 156.875 104.527 -109.019 -416.689 -361.769
Comércio 636.818 477.367 402.700 325.823 196.289 -212.756 -199.910
Serviços 1.043.936 958.215 696.434 561.558 487.290 -267.927 -391.935
Administração
Pública 8.881 15.793 -3.912 19.451 6.500 -11.169 -11.472
Agricultura -170 85.585 6.151 -6.633 -173 8.263 -13.933
Fonte:MTb/CAGED, 2017
Então, já em2011, com relação ao saldo do emprego por atividade econômica, o saldo
para o Brasil tornando-se negativo apartir de 2015, isso representa que demitiu se mais que
contatou, essa tendência é pode-se ver que é reflexo das atividades econômicas apresentadas
em quase todos os setores, excetuando a agricultura, que comporta-
sediferente.Ossetoresestãodesagregados,observando a construção civil vemos que ao longo do
período o saldo vai reduzindo-se, tornando-se a partir de 2014 com saldo negativo e esse
saldo negativo aumenta-se cada vez mais, se relacionados com o desempenho dos
investimentos que começaram a ter taxas de crescimentos negativas e com a Taxa de
crescimento do PIB desse mesmo ano foi de 0,5% (mostrado na Tabela 1), influencia
diretamente o emprego desse setor, pela necessidade de ter um maior número de mão de obra
que é uma característica da indústria.
3. MERCADO DE TRABALHO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO
TRIÂNGULO CRAJUBAR
Aqui será apresentado o mercado de trabalho da construção civil e os demais setores,
agropecuária, indústria, na qual a construção faz parte e o setor de serviço no emprego, assim
como o perfil do trabalhador. Assim:
243
A indústria da construção civil do Nordeste, após experimentar acentuado declínio
relativo entre 1998 e 2004, vem ganhando espaço na economia nacional, ou seja,
vem crescendo mais na Região do que no País. Isso se deveu à combinação da
expansão imobiliária nos principais centros urbanos regionais e à realização de obras
de infraestrutura pesada,associadas tanto aos novos empreendimentos da indústria de
transformação, como à expansão dos sistemas de infraestrutura rodoviária,
ferroviária e hídrica. (BNB, 2014. p. 49 e 50)
3.1 CONSTRUÇÃO CIVIL E SETORES NO EMPREGO
Os investimentos por parte do governo federal e estaduais nos grandes projetos que
obtiveram o Nordeste, na qual, teve relevante melhoria na rede de infraestrutura regional.
Projetos de grande porte, que foram ou estão em fase de implementação, como: a Ferrovia
Transnordestina, a duplicação de rodovias federais e estaduais, a expansão de redes de
gasodutos e de obras relacionadas à infraestrutura hídrica, como a Transposição do rio São
Francisco (BNB, 2014).
Os outrosempreendimentosque se direcionaram para o Nordeste vão colocar em check
as potencialidades regionais que serão aproveitadas e de concessão ―de incentivos fiscais e
subsídios financeiros por parte dos governos estaduais e da União e tiveram o potencial de
elevar a taxa de investimento da economia regional.‖ (BNB, 2014. p. 49)
Tabela 4 – Números em empregos formais por ano segundo os setores da atividade
econômica no Ceará, período 2010 a 2016 Descrição 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Agropecuária 22.280 24.453 24.995 25.920 26.749 27.522 23.315
Indústria 261.198 262.182 268.323 275.198 276.950 260.682 244.056
Construção 75.973 84.994 81.400 84.619 92.801 84.265 61.516
Comércio 209.548 230.755 245.784 259.949 274.168 273.851 260.979
Serviços 756.793 804.522 803.146 850.237 881.779 896.439 853.499
Total 1.325.792 1.406.906 1.423.648 1.495.923 1.552.447 1.542.759 1.443.365
Fonte: Elaboração própria com dados da RAIS.
244
Observa-se na Tabela 4 que o setor que mais se destaca na quantidade de pessoas no
emprego formal é o de serviço, chegando em 2015 a 896.439, sendo esse omaior número do
período analisado. No entanto, tomando como base o ano de 2010, as melhores taxas de
crescimento de modo geral foi em 2011,sendo apenas exceção a indústria, então, a
agropecuária,construção, comércio e serviços, respectivamente tiveram taxa de 9%, 11%, 9%
e 6%, assim ver-se que a construção teve a melhor taxa entre todos.
A agropecuária, vemos que não há muita variação tanto nos números quando na taxa
de crescimento depois de 2011, tendo seu maior número de empregado em 2015 e taxa média
de 3% entre os anos de 2012 a 2015, apresentando taxa negativa em 2016 de 18%, mesmo
essa taxa sendo considerável, em números ainda é melhor que o ano de 2010.Com relação ao
setor de serviços, ocorre algo parecido com o setor apresentado anteriormente, não há muita
modificação, tanto nos números quando na taxa de crescimento, analisando o mesmo período
de 2012 a 2015 tem-se a mesma média de 3% e o maior número de empregado em 2015,
apresentando taxa negativa em 2016 de 5%, sendo em número apenas inferior os de 2014 e
2015.
Em relação a indústria, observa-se que o maior número de empregos desse setor foi
em 2014 eobtendoentre os anos de 2012 a 2014taxa média de crescimento de 2%,
considerando que em 2011 a taxa de crescimento foi nula. Apresenta-se a partir de 2015 taxa
negativa, tendo seu pior desempenho em 2016 com 7% negativo e com número inferior ao de
2010.Mais uma vez outro setor, agora o comércio, vai ser observado há pouca variação, tanto
em números quando nas taxas de crescimento, tendo em média 6% entre os anos de 2012 a
2014, apresentando em 2015 taxa nula e negativa de 5% em 2016, ver-se que em 2014
apresenta o melhor em números de trabalhadores e mesmo com a taxa negativa em 2016, os
números foram melhores que em 2013.
Em se tratando da construção, difere dos outros setores que pouco se modifica ao
longo do período, apesar da construção fazer parte da indústria e apresentar taxa negativa em
2015 e 2016, ao longo do período foi o que mais apresentou variação, aparecendo já em 2012
taxa negativa de 4%, posteriormente para os dois anos seguintes tiveram taxas de 4% e 9%
positivas, chegando a 2016 com taxa negativa de 37%, sendo essa a maior taxa negativa entre
os setores analisados.
245
Tabela 5 – Saldo de empregos formais no triângulo CRAJUBAR, período 2010 e 2015
Municípios 2010 2015
Admitidos Desligados Saldo Admitidos Desligados Saldo
Crato 4.128 4.230 -102 4.606 5.342 -736
Juazeiro do
Norte 15.924 13.501 2.423 16.658 16.957 -299
Barbalha 2.462 1.848 614 2.831 3.251 -420
Fonte: Adaptado do IPECE, 2011; 2016b.
Com relação ao saldo de empregos formais, percebe-se que Juazeiro do Norte, o valor
que se admite é muito superior aos demais municípios, mostrando assim, a força dessa cidade
para o mercado de trabalho dessa região. No ano de 2010, o Crato foi o único que teve saldo
negativo, então demitiu-se mais que contratou. Para o ano de 2015, todas demitiram mais que
contrataram, tendo saldos negativos em apenas cinco anos, em termos de crescimento o Crato,
Juazeiro do Norte e Barbalha, tiveram taxas respectivamente de 622%, - 122% e -168%,
então tem-se o Crato com taxa positiva, mais essa taxa indica o crescimento positivo do saldo
negativo, e os demais municípios com crescimento negativo. De modo superficial, não há
como saber com apenas esses dados quais foram os setores de melhor e pior desempenho para
as admissões e demissões, mas os saldos foram negativos e expressivos.
Tabela 6– Números em empregos formais por ano segundo os setores da atividade econômica
em Crato, período 2010 a 2016 Descrição 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Agropecuária 80 95 94 94 77 75 96
Indústria 4.713 4.363 5.066 5.607 5.364 4.881 4.424
Construção 548 514 467 487 814 824 862
Comércio 3.536 3.679 3.786 3.841 4.165 4.261 4.097
Serviços 7.563 7.178 7.645 11.573 9.407 8.573 8.362
Total 16.440 15.829 17.058 21.602 19.827 18.614 17.841
Fonte: Elaboração própria com dados da RAIS.
246
Vê-se na Tabela 6, que os números de empregos no setor da agropecuária são muito
inferiores comparados com os demais, o maior foi em 2016 apenas 96. Apenas teve taxa de
crescimento em 2011 e 2016, respectivamente 16% e 22%, negativos em 2012, 2014 e 2015.
Em relação a indústria, a melhor taxa foi em 2012 com 14% esse crescimento foi expressivo,
considerando que no ano anterior teve taxas negativas de 8%, repetindo essa situação em
2015 e 2016, ambos os anos com taxas negativas de 10%. Ainda sobre esse setor, sabendo
assim, que apenas em 2012 e 2013, foram apresentadas taxas positivas, sendo esse último ano
o possuidor da taxa de 10% e o maior em termos de números de empregos nesse setor.
Em relação ao setor de serviços, apenas em dois anos tiveram taxa positiva, em 2012 e
2013, respectivamente de 6% e 34%, ainda sobre 2013 teve também o melhor número de
termos de emprego, mesmo que 2014 a 2016 tiveram taxas negativas, a maior delas nesse
primeiro ano citado com 23% negativo, mesmo assim foram melhores que antes de 2012. O
setor comércio, apresenta apenas taxa negativa em 2016 de 4%, houve crescimento ao longo
do período e mesmo com essa taxa negativa, em número foi maior que em 2013. Sendo assim,
a melhor taxa e o melhor em termos de números de empregos foram respectivamente, 8% em
2014 e4.261em 2015.
Em relação à construção, apenas teve taxa negativa em 2011 e 2012, voltando a
crescer a partir de então, teve um salto de crescimento em 2014 com 40%, terminando 2016
com taxa positiva de 4% e com o maior número em termos de emprego.
Cabe aqui o destaque de que, para o ano de 2013, apenas 0,52% dos empregos formais
estavam atuando na agropecuária. Ainda para esse ano o PIB da agropecuária do Crato era de
4,59% (IPECE, 2016). Isso se dá principalmente pelo alto número de informalidade presente
nas atividades do setor primário da economia.
Tabela 7 – Números em empregos formais por ano segundo os setores da atividade
econômica em Juazeiro do Norte, período 2010 a 2016 Descrição 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Agropecuária 5 27 20 19 33 36 29
Indústria 10.672 11.600 11.718 10.546 10.718 10.037 9.439
Construção 1.732 2.044 1.594 1.474 1.727 1.915 2.025
247
Comércio 10.666 11.807 12.796 13.208 13.827 13.784 13.116
Serviços 16.428 18.323 17.594 20.514 21.661 24.040 23.595
Total 39.503 43.801 43.722 45.761 47.966 49.812 48.204
Fonte: Elaboração própria com dados da RAIS.
Observa-se na Tabela 7 a pouca expressividade da agropecuária comparada com os
demais setores, por seus números serem pequenos, qualquer mudança neles surtira, tanto em
acréscimos quantos decréscimos consideráveis nas taxas de crescimento, assim em 2011 a
taxa de crescimento foi de 81% para em 2012, em números teve redução de 7 que significou
taxa de 35% negativo.
Com relação a indústria, vê-se certa expressividade, mas nada comparada ao setor de
serviços, o melhor ano para esse setor foi em 2012, apesar deter crescido apenas 1% nesse
ano, mas é um efeito acumulado decorrente pelo crescimento de 8% do ano de 2011, além do
anos citados anteriormente com resultados positivos apenas em 2014 houve taxa positiva de
2%, mas não o suficiente para voltar ao patamar de 2011, então, nesse período de analise ver-
se que teve uma série de resultados com taxa negativa e diminuição dos números de
empregos.
A expressividade do setor comércio se equipara ao da indústria nesse município, mas
diferente da desta, no período de análise obteve uma serie de resultados positivos, com a
maior taxa de crescimento também em 2011 com 10%, tendo como média de 2012 a 2014 de
5%, tornando-se nula apenas em 2015 e com resultado negativo em 2016 com 5%, então por
esse fato, o melhor número em termos de empregabilidade foi em 2014. Em se tratando do
setor de serviços, o melhor ano foi em 2013 com taxa de 14%, apresentando taxa negativa em
apenas dois anos 2012 e 2016, com a menor taxa positiva em 2014 de 5%, e em 2011 e 2015
ambos com taxas de 10%, sendo esse último ano apresenta o melhor ano em números de
empregabilidade, mostrando uma certa constância nos números da taxa.
Com relação a construção, observa-se oscilações ao longo do tempo, na qual em 2011
essa indústria teve a maior taxa positiva de 15% repetindo-se em 2014, para em 2012 ter uma
queda considerável de 28%, sendo essa a maior taxa negativa analisada para esse município,
voltando a crescer nos últimos dois anos. Contudo, o melhor em termos de números de
248
empregos foi em 2011 e 2016, considera-se esse último ano também pelo fato de ter apenas
uma diferença de 19 a menos que em 2011, lembrando que o único setor foi o único que
obteve crescimento positivo em 2016.
Percebe-se que entre os três municípios, apresentadas nas Tabelas 6, 7 e 8, a
agropecuária é mais forte em Barbalha comparadas com as demais, que ao longo do período
os números de empregos foram aumentando, sendo que em 2011 a taxa de crescimento foi de
36% e chegando mais uma vez na casa dos trinta em 2014, tendo taxa de 33% e o maior
número em emprego nesse mesmo ano, apenas em 2015 esse setor teve taxa negativa de 12%.
O setor de serviços, em grande maioria, as taxas foram positivas ao longo do período,
principalmente no ano de 2014, sendo esse ano a maior taxa de crescimento com 12%, temos
que considerar que no ano de 2012 e 2016 respectivamente taxa nula e negativa de 4%,
decorrente desses resultados, ver-se o bom desempenho desse setor, na qual, faz com que em
2015 seja o ano com maior números em termos de empregabilidade.
Tabela 8 – Números em empregos formais por ano segundo os setores da atividade
econômica em Barbalha, período 2010 a 2016. Descrição 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Agropecuária 86 135 150 180 269 240 261
Indústria 3.010 2.965 2.876 2.800 2.933 2.635 2.456
Construção 100 87 83 192 308 157 162
Comércio 949 1.140 1.458 1.708 1.944 1.957 1.764
Serviços 3.332 3.504 3.519 3.925 4.476 4.691 4.490
Total 7.477 7.831 8.086 8.805 9.930 9.680 9.133
Fonte: Elaboração própria com dados da RAIS.
Com relação a indústria, pelo fato de haver uma contínua queda das taxas de
crescimento, sendo quebrada apenas no ano correspondente de 2014 com taxa positiva de 5%,
houve em consequência desse declínio a também diminuição dos números de empregos
formais, assim, o ano de 2010 é o melhor nesse quesito de empregabilidade, mesmo com o
crescimento de 2014 não foi o suficiente para voltar ao patamar inicial.
249
Assim, na construção, entre os itens analisados as maiores taxas tanto positivas quanto
negativas são representadas por esse setor, desse modo, as taxas positivas respectivamente são
de 57% e 38% em 2013 e 2014, sendo nesse último ano o maior número de emprego dessa
indústria, tendo em 2015 a maior taxa negativa de 96%, representando uma considerável
queda nos números de empregos nessa indústria, mesmo com essa impressionante queda tem
em 2016 número melhor que o ano inicial de 2010.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se observar que houve no geral um aumento nos empregos formais para a
construção civil no período analisado, quando somados os três municípios que compõe o
CRAJUBAR, utilizando o ano inicial e o final da pesquisa, tem-se para 2010 o número de
2.380 trabalhadores para 2016 o número de 3.049 trabalhadores nessa indústria, tendo para
esse crescimento a taxade 22%, lembrandoque nesse último ano, as taxas de crescimentos
foram positivas para apenas a construção civil nos três municípios.Recordando, que entre os
três municípios que compõem o CRAJUBAR, Juazeiro do Norte é o maior em número de
emprego, sendo o principal influenciador, com a maior população, maior participação no PIB
e no número total de empregos.
Desmembrando o CRAJUBAR para analisar cada município que o compõe, tem-se
que o Crato e Juazeiro do Norte tiveram aumentos relevantes para essa indústria em empregos
formais, por sua vez, Barbalha apesar de apresentar aumento, o crescimento mais expressivo
corresponde a agropecuária, podendo ser explicado pela combinação dos indicadores citados
acima.vê-se para o CRAJUBAR que a taxa de crescimento, com relação a faixa etária são
diferentes para os três municípios, na qual, o Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha,
respectivamente obtiveram faixas etárias que mais cresceram,nas de 50 a 64 anos, 25 a 29
anos e 40 a 49 anos, ou seja, houveram na maioriao crescimento das idades que são
consideradas experiente no mercado de trabalho.
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252
ÁREA TEMÁTICA6: ECONOMIA SOCIAL, ECONOMIA DO TRABALHO E
DEMOGRAFIA ECONÔMICA
PERFIL DEMOGRÁFICO E SOCIECONÔMICO DOS TRABALHADORES
FORMAISDA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO CEARÁ (2007/2017)
GUILHERME SOUSA BRANDÃO
Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Economia da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (PPECO/UFRN). Especialista em Planejamento e Gestão das
Finanças Públicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Graduado em
Economia pela Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail:
sousaguilherme25@gmail.com
SILVANA NUNES DE QUEIROZ
Doutora em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas. Professora Adjunta
do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri (URCA) e do
Programa de Pós-graduação em Demografia da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (PPGDem/UFRN). E-mail: silvanaqueirozce@yahoo.com.br
253
PERFIL DEMOGRÁFICO E SOCIECONÔMICO DOS TRABALHADORES
FORMAISDA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO CEARÁ (2007/2017)
RESUMO:
O objetivo desse estudo é analisar, em 2007 e 2017, as características do emprego formal na
administração pública no Ceará e, notadamente, traçar o perfil demográfico e socioeconômico
dos empregados em tal atividade, procurando verificar se houve avanços ou retrocessos nesse
setor, ao longo do decênio. Para tanto, foram utilizados dados da Relação Anual de
Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Em termos
teóricos foi realizada uma breve descrição sobre as particularidades do trabalho na
administração pública, juntamente com a análise do orçamento público e como o mercado de
trabalho formal na administração pública impacta nessas contas. Os resultados apontam para
uma melhora nos indicadores, dado que o número de trabalhadores empregados formalmente,
entre 2007 e 2017, aumentou de 339.048 trabalhadores para 404.399, respectivamente.
Quanto ao perfil dos empregados na administração pública formal cearense, os dados revelam
que estes são notadamente do sexo feminino (59,89%), na faixa etária de 30 a 49anos,
possuem o ensino médio completo até o superior completo, permanecem dez anos ou mais no
mesmo empregoe auferem de 1 a 2 salários mínimos.
Palavras-chaves: Ceará; Administração Pública; Emprego Formal.
DEMOGRAPHIC AND SOCIO-ECONOMIC PROFILE OF FORMAL PUBLIC
ADMINISTRATION WORKERS IN CEARÁ (2007/2017)
ABSTRACT: The objective of this study is to analyze, in 2007 and 2017, as resources of formal
employment in public administration in Ceará and, notably, to track the demographic and
socioeconomic profile of employees in such activity, seeking to verify if there were advances
or setbacks in the sector, along of the decade.For this, data from the Annual Report on Social
Information (RAIS) from the Ministry of Labor and Employment (MTE) were used. In
theoretical terms, a brief description was made of the particularities of public administration
work, together with the analysis of the public budget and how the formal public
administration labor market impacts on these accounts.The results point to an improvement in
the indicators, as the number of workers formally employed between 2007 and 2017 increased
from 339,048 workers to 404,399, respectively. Regarding the profile of employees in Ceará's
formal public administration, the data reveal that they are notably female (59.89%), aged
between 30 and 49 years, have completed high school through college, remain ten years or
more in the same job and earn 1 the 2 minimum wages.
Keywords:Ceará; Public administration; Formal Employment.
254
1.Introdução
O emprego na área pública é um importante componente dos orçamentos nos diversos
níveis das esferas governamentais do país. Diante disso, a discussão sobre o tipo de
profissional inserido nesse meio, bem como as características dos espaços onde se emprega,
torna pertinente conhecer mais sobre esse setor, uma vez que as contas públicas são de
interesses de todos os agentes econômicos.
Dessa forma, esse estudo procura responder as seguintes questões: Qual o perfil dos
estabelecimentos do setor público instaladas no Ceará? Quem são os trabalhadores ocupados
em tal atividade? Portanto, pretende-se analisar, em 2007 e 2017, as características do
emprego formal na administração pública no Ceará e, notadamente, traçar o perfil
demográfico e socioeconômico dos empregados em tal atividade, procurando verificar se
houve avanços ou retrocessos.
Ademais, esse trabalho justifica-se por ampliar o conhecimento a respeito do emprego
na área pública do Ceará, e verificar se houve avanços ou retrocessos no mercado de trabalho
formal nesse setor, além do seu impacto nas finanças públicas do estado em anos recentes,
precisamente entre2007 e 2017, uma vez que a remuneração desses trabalhadores compõe
parte significativa do orçamento público.
Para tanto, a principal fonte de dados é a Relação Anual de Informações Sociais
(RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Em termos teóricos foi feita uma breve
descrição sobre as particularidades do trabalho na administração pública.
Para alcançar os objetivos propostos, o artigo encontra-se estruturado da seguinte
forma: além dessa introdução, a segunda seção apresenta os procedimentos metodológicos. A
terceira aborda os aspectos das contas públicas, juntamente com o orçamento público e de que
forma as despesas com pessoal impacta nessas contas. A quarta seção analisa o
comportamento do mercado de trabalho e as características dos estabelecimentos públicos
instalados no Ceará. Em seguida, analisa-se o perfil demográfico e socioeconômico do
trabalhador empregado formalmente na administração pública cearense. Por último,
apresentam-se as conclusões do estudo.
2. Procedimentos Metodológicos
255
Foram utilizados dados sobre o mercado de trabalho formal, obtidos na Relação Anual
de Informações Sociais (RAIS). A RAIS constitui-se, possivelmente, na melhor fonte de
dados sobre o mercado formal de trabalho no Brasil.Éa partir dessas informações que
desenvolvemos a análise sobre o mercado de trabalhoformal da administração pública no
Ceará. Os resultados serão apresentados através de tabelas e gráficos.
Quanto ao recorte temporal do estudo, as informações foram colhidas para os anos de
2007 e 2017, devido serem as informações mais recente. Dessa maneira pode-se captar dois
momentos da dinâmica do mercado de trabalho público.
Quanto ao recorte geográfico, o Ceará é a área de estudo, dado que se pretende
ampliar o conhecimento a respeito do mercado de trabalho cearense na área pública, e retratar
o perfil dos trabalhadores formais, de acordo com as variáveis:
Número de empregados por porte/tamanho do estabelecimento: Micro (1 a 19),
Pequena (20 a 99), Média (100 a 499) e Grande (acima de 499).
Sexo: Masculino e Feminino.
Faixa etária: Até 17 anos, de 18 a 24 anos, de 25 a 29 anos, de 30 a 39 anos, de 40 a
49 anos, de 50 a 64 anos, 65 anos ou mais e não classificado16
.
Nível de escolaridade: Sem instrução até fundamental incompleto, fundamental
completo até médio incompleto, médio completo até superior incompleto, superior
completo, mestrado e doutorado e não classificado.
Tempo de emprego: Menos de 1 ano, 1 a menos de 3 anos, 3 a menos de 5 anos, 5 a
menos de 10 anos, 10 ou mais anos e não classificado.
Horas trabalhadas por semana: até 12 horas, 13 a 15 horas, 16 a 20 horas, 21 a 30
horas, 31 a 40 horas, 41 a 44 horas, 45 a 48 horas e não classificado.
Rendimento em salário mínimo: até 1 salário, 1 a 2 salários mínimos, 2 a 3 salários
mínimos, 3 a 5 salários mínimos, 5 a 10 salários mínimos, 10 a 20 salários mínimos,
mais de 20 salários mínimos e não classificado.
3. Breves considerações sobre o Estado e a Despesa com Pessoal
16
Informações não divulgadas ou coletadas
256
A política compreende um conjunto de procedimentos destinados à resolução pacífica
de conflitos em torno da alocação de bens e recursos públicos, onde há o envolvimento de
vários atores, cujos interesses serão afetados (positiva ou negativamente) pelo rumo tomado
por uma política pública (RUA, 1998).
As políticas públicas decorrem da atividade política e compreende o conjunto das
decisões e ações associadas à alocação imperativa de valores, decorrente das reivindicações
dos agentes econômicos como: trabalhadores, servidores públicos, ONGs, igrejas, políticos,
empresários, mídia, determinado grupo social e até mesmo os agentes internacionais (FMI,
Banco Mundial etc.), dentre outros(RUA, 1998).
As demandas que as políticas públicas buscam atender podem ser, por exemplo,
reivindicações de bens e serviços como saúde, educação, estradas, transportes, segurança
pública, previdência social, etc. Grande parte da atividade política dos governos se destina à
tentativa de satisfazer essas demandas vindas dos atores sociais, com issoentram em cena
aqueles "procedimentos formais e informais de resolução pacífica de conflitos" que
caracterizam a política(RUA, 1998).
Após definidas, as políticas públicas compõem a agenda governamental, constituindo-
se diretrizes do Governo para a elaboração de planos e orçamentos. O planejamento público é
a definição de objetivos e o estabelecimento dos meios paraatingí-los. A base legal está na
Constituição Federal de 1988,noArt. 174, que diz: ―Como agente normativo e regulador da
atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de [...] planejamento,
sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado‖; e no Art. 165
que apresenta os instrumentos de planejamento: Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA) (BRASIL, 1988, p. 103 a 110).
Dessa forma, faz-se necessário a exploração de como é feito um orçamento público a
fim de entender de que forma a despesa com pessoal pode impactar nas contas públicas.
3.1 O Orçamento Governamental
A lei que institui o Plano Plurianual estabelece, de forma regionalizada, as diretrizes,
objetivos, metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas
decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada (Art. 165, §1º). A lei de
diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública,
257
incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, além de orientar a
elaboração da lei orçamentária anual (Art. 165, §2º) que compreenderá: I- o orçamento fiscal
dos poderes, órgãos e demais entidades da administração direta e indireta; II- o orçamento de
investimento das empresas; e III- o orçamento da seguridade social (Art.165,§5º) (BRASIL,
1988).
Na Lei Orçamentária Anualdeve-se conter, de forma consolidada, todas as receitas e
despesas da administração direta e indireta (poderes, autarquias, fundações e empresas estatais
dependentes), com destaque para os orçamentos fiscal, seguridade social e investimentos em
empresas estatais independentes (BRASIL, 1988).
Em termos gerais, a despesa pública corresponde aos gastos efetuados pelo Estado
com vistas ao atendimento das necessidades coletivas (econômicas e sociais) e ao
cumprimento das responsabilidades institucionais do setor público, devendo ser realizadas por
autoridades competentes e com base em autorizações do Poder Legislativo, por meio da lei
orçamentária ou de créditos adicionais.Todas as despesas são divididas em duas categorias: I)
despesas de capital e II) despesas correntes. A primeira está diretamente relacionada aos
investimentos, inversões financeiras e amortização de dívidas; e a segunda com investimentos
previstos no Plano Plurianual, por exemplo: pessoal e encargos sociais, material de consumo,
equipamentos,etc (GAMA JUNIOR, 2009).
Este último ponto é de fundamental importância para este trabalho, uma vez que é na
parte orçamentária das despesas correntes que o mercado de trabalho formal na administração
pública gera impactos na receita pública. Toda essa despesa com pessoal deve ser orientada
nas normas da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), sendo a partir de tal lei que o gestor
público faz as tomadas de decisões.
3.2Despesas Com Pessoal e a Lei de Responsabilidade Fiscal
Um dos principais pontos que chama atenção dos gestores públicos e também da
população em geral é a despesa com pessoal na administração pública. Ao longo do tempo
essa preocupação perpassa pelo âmbito constitucional, como por exemplo, em 1967, onde os
legisladores passam a estabelecer limites para esse gasto com pessoal na esfera pública
(BRASIL, 1967).
258
Voltando um pouco mais no tempo, já havia uma tentativa de instituir esse caráter
limitador nas contas públicas. Foi a partir da constituição de 1934 que observa-se as primeiras
ideias sobre um controle orçamentário sobre as contas do Estado, porém, na época não se
tinha nada fundamentado sobre esse tipo de despesa (BRASIL, 1934).
Com o passar dos anos, a discussão sobre a questão das despesas com pessoal ganha
força, e na constituição de 1967 foram estabelecidas normas para limitar esse tipo de despesa
de forma que ―A despesa de pessoal da União, Estados ou Municípios não poderá exceder de
cinquenta por cento das respectivas receitas correntes‖ (Art. 66, § 4º, BRASIL, 1967).
Em seguida, um conjunto de leis complementares foram instituídas logo após a
constituição de 1988. Algumas delas não foram muito efetivas em seus resultados de controlar
as despesas com pessoal dentro das contas públicas. Somente a partir da Lei Complementar n.
101, de 4 de maio de 2000, mais conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que
foi possível observar um certo avanço efetivo no controle dos gastos, uma vez que a mesma
conferiu regras e limites mais específicos para as despesas com pessoal(BRASIL, 2000).
Esses limites com despesas com pessoal são: para a União a despesa total com pessoal
não pode ultrapassar 50% da Receita Corrente Liquida (RCL); nos estados, os limites
máximos para gastos com pessoal (60% da RCL), sendo esse percentual dividido da seguinte
forma: 3% para o Legislativo, incluído o Tribunal de Contas, quando houver; 6% para o
Judiciário; 2% para o Ministério Público; e 49% para o Executivo; nos municípios, os limites
máximos para gastos com pessoal (60% da RCL), sendo esse percentual dividido da seguinte
forma: 54% para o executivo e 6% para o legislativo (Art. 19, BRASIL, 2000).
Para acompanhar a evolução desses percentuais limitadores ao longo do tempo nos
níveis federativos, tem-se o Quadro 1:
Quadro 1 -Percentuais limitadores do orçamento público com o gasto com pessoal
NORMA UNIÃO ESTADOS E
MUNICÍPIOS
Constituição Federal de 1967 50% da RC 50% da RC
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias de 1988 65% da RC 65% da RC
Lei Complementar n. 82/1995 60% da RCL 60% da RCL
Lei Complementar n. 96/1999 50% da RCL 60% da RCL
Lei Complementar n. 101/2000 50% da RCL 60% da RCL *RC: Receita Corrente;
259
**RCL: Receita Corrente Liquida.
Fonte:Souza e Platt Neto (2012).
Além disso, os autores Santolin, Jayme e Reis (2009) afirmam que a LRF pode ser
entendida como uma ferramenta legislativa que trata das contas públicas, de forma a abranger
todas as esferas governamentais, orientando os procedimentos para um controle de gastos
efetivos, gerando um bem-estar nas contas públicas.
A LRF define limites no orçamento público como: limites e condições para o aumento
de gastos com as despesas de pessoal, de seguridade social; montante da dívida,
endividamento e operações de crédito; antecipação de receita orçamentária; garantia e
contragarantias; e restos a pagar(BRASIL, 2000).
O Gráfico 1 mostra o caso recente do Ceará no que concerne ao orçamento e a
responsabilidade fiscal do Estado. Assim, nota-se que o Ceará vem cumprindo os percentuais
que estabelece a LRF. No Poder Executivo, 49% da receita corrente líquida pode ser usada
para encargos com pessoal.
Gráfico 1 - Participação das Despesas Totais com Pessoal sobre as Receitas Correntes
Líquidas - Poder Executivo - Ceará (2010-2017)17
Fonte: Relatório de Gestão Fiscal, elaboração própria.
Os anos analisados mostram diversas oscilações dos percentuais, porém em nenhum
deles esse valor extrapola o limite. Sendo assim, 2011 e 2016 aparecem como os anos no qual
17
Dados anteriores ao ano de 2010 não estavam disponíveis.
41,1 40,0
42,0
43,5
42,8
45,9
40,7
42,4
36,0
38,0
40,0
42,0
44,0
46,0
48,0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Despesa com pessoal sobre RCL (%)
260
as despesas com pessoal teve a menor participação dentro das RCL (40% e 40,7%
respectivamente), e em contrapartida 2015 desponta com maior participação relativa (45,9%).
Para evidenciar a importância e o impacto desse tipo de despesa dentro do Ceará, no
Gráfico 2 os dados mostram a participação tanto da despesa total com pessoal, quanto a RCL
sobre o PIB cearense.
Gráfico 2 - Participação das Despesas Totais com Pessoal e as Receitas Corrente Líquidas
sobre o PIB estadual - Poder Executivo - Ceará (2010-2016)
Fonte:IPECE, elaboração própria.
Os resultados mostram certa uniformidade nas participações relativas nos dois casos,
apresentando pequenas oscilações ao longo do tempo. De 2010 a 2013, as RCL estavam na
casa dos 12%, nos dois anos seguintes (2014 e 2015) essa participação cai para11%, porém
volta a subir para 12,9% em 2016, se tornando o maior nível de participação do período
analisado.
A variação da Despesa com Pessoal é menos intensiva se comparado com as RCL,
oscilando em um intervalo entre 4,9% e 5,4%. Isso mostra que o Ceará segue uma tendência
de estabilidade desse tipo de gasto em relação ao PIB estadual.
4. Comportamento do Mercado de Trabalho Formal na Administração Pública no
Ceará: 2007/2017
5,0 4,9 5,3 5,4 4,9 5,3 5,2
12,1 12,2 12,5 12,3 11,4 11,6
12,9
0,0
3,0
6,0
9,0
12,0
15,0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Despesa total com pessoal Receita Corrente Liquida
261
Antes de analisarmos o comportamento sobre os trabalhadores formais da
administração pública, é necessário separar essa categoria das demais. Agentes públicos são
todas as pessoas física, vinculada definitiva ou transitoriamente ao serviço da função pública.
Ou seja, o agente público é todo aquele que presta um serviço público, não importando se é
funcionário ou não, se é remunerado pelo serviço que presta ou se trabalha voluntariamente,
se o serviço é temporário ou fixo. Portanto, é todo aquele que exerce mandato, cargo,
emprego ou função pública por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra
forma de investidura ou vínculo.Dessa forma, os agentes públicos são divididos em cinco
categorias: I) Políticos; II) Administrativos; III) Credenciados; IV) Delegados; e V)
Honoríficos (MEIRELLES, 2016).
Para o presente estudo vamos focar na segunda categoria, os agentes públicos
administrativos, que abrange os indivíduos que, de uma forma ou de outra, prestam um
serviço público e estão inclusos nos dados mostrados a seguir.
4.1 Características dos Estabelecimentos da Administração Pública no Estado do Ceará
Com relação ao número de estabelecimentos segundo setores de atividade econômica,
a Tabela 1 mostra que em 2007 o Ceará contava com 62.916 mil unidades. Desse total, nota-
se a concentração em atividades comerciais (46,9%), seguida pelos serviços (32,8%) e
indústria de transformação (13%). A administração pública, foco desse trabalho, tem uma das
mais baixas participações no quesito estabelecimentos (0,8%).
Tabela 4 - Número de estabelecimentos por setores de atividade econômica – 2007/2017 -
Ceará
Setor de atividade 2007 2017 Variação
(%) Abs. (%) Abs. (%)
Extrativa Mineral 143 0,2 181 0,2 26,6
Indústria de Transformação 8.197 13,0 10.718 11,0 30,8
Serviços Industriais de Utilidade Pública 126 0,2 261 0,3 107,1
Construção Civil 2.881 4,6 5.622 5,8 95,1
Comércio 29.492 46,9 43.021 44,2 45,9
Serviços 20.608 32,8 35.515 36,5 72,3
Administração Pública 490 0,8 588 0,6 20,0
Agropecuária, Extração Vegetal, Caça e Pesca 979 1,6 1.340 1,4 36,9
Total 62.916 100 97.246 100 54,6
262
Fonte:RAIS – Ministério do Trabalho e Emprego, elaboração própria.
Nesse contexto, embora a administração pública não desponte como um dos principais
setores com maiores participações no total de estabelecimentos, vale ressaltar que em 2007, o
PIB do Ceará era 50.331.383 bilhões e desse total, (70,2%) advém do setor de serviços, e a
administração pública compõe 21,3% da participação total dos serviços.
Analisando o ano 2017, observa-se variação de 54,6% na quantidade total de
estabelecimentos, ao atingir 97.246 mil unidades. Comércio reduz sua participação (44,2%),
porém continua com o maior número de estabelecimentos. Serviços tem uma variação
positiva e passa a compor 36,5% do total. Apesar de variar positivamente em 20%, a
administração pública reduz sua participação para apenas 0,6%, se caracterizando como o
setor que menos cresceu ao longo desse período.
Tabela 5 - Número de trabalhadores formais e sua participação em relação ao total de
empregos formais segundo setores de atividade econômica - Ceará (2007-2017)
Setor de Atividade 2007 2017 Variação
(%) Abs. (%) Abs. (%)
Extrativa Mineral 2.448 0,2 2.701 0,2 10,3
Indústria de Transformação 208.149 19,6 226.013 15,4 8,6
Serviços Industriais de Utilidade Pública 6.776 0,6 9.062 0,6 33,7
Construção Civil 38.020 3,6 56.267 3,8 48,0
Comércio 155.512 14,7 259.124 17,7 66,6
Serviços 285.363 26,9 484.052 33,0 69,6
Administração Pública 339.048 32,0 404.399 27,6 19,3
Agropecuária, Extração Vegetal, Caça e Pesca 24.076 2,3 23.330 1,6 -3,1
Total 1.059.392 100 1.464.948 100 38,3
Fonte:RAIS – Ministério do Trabalho e Emprego, elaboração própria.
Em relação à geração de emprego formal (Tabela 2), percebe-se avanço no total de
trabalhadores, onde o volume passa de 1.059.392 em 2007 para 1.464.948 em 2017,
representando uma variação positiva de 38%. Sendo que em 2007, a maior participação na
geração de empregos é no setor da administração pública (32%). Porém, esses dados
confrontados com o número de estabelecimentos, revela que o Ceará apresenta poucos
estabelecimentos com muitos funcionários.
263
Contudo, a situação se modifica em 2017, com uma variação na criação de empregos
da administração pública de 19,3%, perdendo a posição de maior empregador (passa a
representar 27,6%) do estado para o setor de serviços (33%), que teve uma variação positiva
de 69,6%. Esse dado reflete também o baixo crescimento do total de estabelecimentos nesse
período.
Depois desse panorama sobre os setores da economia do Ceará, iremos focar na
administração pública que é objeto de estudo desse trabalho.
Com relação ao porte dos estabelecimentos, os resultados convergem com as análises
anteriores, pois de acordo com a Tabela 3, no ano de 2007, 92% dos trabalhadores estavam
inseridos em estabelecimentos de grande porte, e em 2017 esse percentual aumenta sutilmente
para 92,9%, devido a variação positiva de 20,4%. Esses resultados reforçam a ideia de que
nesse período, no Ceará, a administração pública está concentrada em poucos, porém grandes
estabelecimentos.
Tabela 6 - Número e participação de trabalhadores formais segundo tamanho do
estabelecimento da administração pública–2007/2017 - Ceará
Tamanho dos estabelecimentos 2007 2017 Variação
(%) Abs. (%) Abs. (%)
Micro (1 a 19) 1.307 0,4 1.579 0,4 20,8
Pequena (20 a 99) 2.790 0,8 4.635 1,1 66,1
Média (100 a 499) 22.870 6,7 22.352 5,5 -2,3
Grande (acima de 499) 312.081 92,0 375.833 92,9 20,4
Total 339.048 100 404.399 100 105,1 Fonte:RAIS – Ministério do Trabalho e Emprego, elaboração própria.
Os demais tamanhos apresentam pouca participação nos dois anos analisados. Micro e
pequenos estabelecimentos com menos de 1%, e os médios reduzindo sua parcela de 6,7% em
2007 para 5,5% em 2017, variando negativamente em 2,3%.
4.2 Perfil Demográfico e Socioeconômico dos Trabalhadores Formais na Administração
Pública no Estado do Ceará
No que diz respeito ao perfil dos trabalhadores inseridos no mercado de trabalho
formal na administração pública no Ceará, segundo a Tabela 4, no ano de 2007 havia 339.048
mil trabalhadores, e desse total, 37,44% (126.947) eram do sexo masculino e 62,56%
264
(212.101) equivale à participação feminina. No ano de 2017 essa distância se torna menor,
uma vez que o total de homens sofre uma variação de 27,77% enquanto as mulheres foi
14,19%. Esse resultado altera a composição do total de trabalhadores, elevando a participação
masculina para 40,11% (162.197) e reduzindo a feminina para 59,89% (242.202). Apesar do
menor crescimento, as mulheres compõem a maior parte dos trabalhadores formais na
administração pública nos dois cenários.
Esse resultado esta de acordo com Nogueira (2005), quando enfatiza que a
participação feminina no emprego no setor público, seja ele em qualquer uma das dimensões
do governo, supera a participação feminina tanto pela ótica da população quanto na PEA
(população economicamente ativa), sinalizando um resultado promissor no âmbito da
diversidade de gênero. Porém, a interpretação desse resultado deve ser relativizado, uma vez
que as mulheres, na área pública, apresentam tendências em ocupar empregos de menor
importância, longe de cargos com poder decisório, com remuneração reduzida, refletindo o
que ocorre no mercado de trabalho como um todo.
Tabela 7 - Número e participação dos trabalhadores formaisda administração pública
segundo sexo –2007/2017 - Ceará
Sexo 2007 2017 Variação
(%) Abs. (%) Abs. (%)
Masculino 126.947 37,44 162.197 40,11 27,77
Feminino 212.101 62,56 242.202 59,89 14,19
Total 339.048 100 404.399 100 19,27 Fonte:RAIS – Ministério do Trabalho e Emprego, elaboração própria.
Passando para a análise da faixa etária, os dados da Tabela 5 mostram que, tanto em
2007 quanto em 2017, os indivíduos com até 17 anos apresentam baixa inserção no mercado
de trabalho formal, com participações que não chegam a 1%,o que pode se caracterizar como
um dado positivo,casoos adolescentes estejamestudando.
Trabalhadores entre 18 e 24 anos e acima de 65 anos apresentam baixas participações
ao longo dos dois anos analisados. A participação dos jovens entre 18 a 24 anos foi de 5,4%
em 2007 e mais baixa ainda em 2017 (3,8%). Isso reflete diretamente na discussão sobre o
primeiro emprego dos jovens e que a administração pública emprega, em sua maioria,
265
indivíduos acima dos 30 anos. Esse dado se reforça pela variação negativa das faixas de idade
dos mais jovens e crescimentos nas faixas de idade dos trabalhadores acima dos 30 anos.
Tabela 8 -Número e participação dos trabalhadores formais da administração pública
segundo faixa etária –2007/2017 - Ceará
Faixa Etária 2007 2017 Variação
(%) Abs. (%) Abs. (%)
Até 17 55 0,0 14 0,0 -74,5
18 a 24 18.279 5,4 15.191 3,8 -16,9
25 a 29 38.199 11,3 36.771 9,1 -3,7
30 a 39 90.773 26,8 118.199 29,2 30,2
40 a 49 100.351 29,6 112.434 27,8 12,0
50 a 64 82.101 24,2 107.265 26,5 30,7
65 ou mais 9.285 2,7 14.523 3,6 56,4
{ñ class} 5 0,0 2 0,0 -60,0
Total 339.048 100 404.399 100 19,3 Fonte:RAIS – Ministério do Trabalho e Emprego, elaboração própria.
Em 2007, constata-se que há mais profissionais da faixa etária de 40 a 49 anos
(29,6%), seguido da faixa de 30 a 39 anos (26,8%). Os percentuais de participações se alteram
em 2017 (27,8% e 29,2% respectivamente). Um dado que também merece destaque é a
grande participação da faixa de 50 a 66 anos, estando em terceiro lugar e ampliando sua
participação entre 2007 e 2017 de 24,2% para 26,5% respectivamente. Essas três faixas se
caracterizam como as que mais representam os trabalhadores da administração pública do
Ceará.
A idade média dos servidores públicos é mais elevada que a dostrabalhadores do setor
privado, isso se reflete pelo tipo de emprego, uma vez que este apresenta maior nível de
estabilidade e com emprego de carreira (maior experiência e qualificação), desmotivando o
trabalhador a sair desse setor e procurar outro tipo de emprego (MARCONI, 2003).
Considerando o nível de escolaridade, na Tabela 6 fica evidente a evolução
educacional do trabalhador no Ceará, nesse setor da economia. Em 2007 havia 54.178
(16,6%) trabalhadores sem nenhum nível de instrução ou com o ensino fundamental
incompleto, e 47.064 (13,9%) com até o ensino médio incompleto. Ambos os níveis sofrem
variações negativas em dez anos (47,2% e 27,9% respectivamente), apresentando reduções
266
em seus montantes e consequentemente em suas participações (7,3% e 8,4%) no total de
empregados em 2017.
Tabela 9 - Número e participação dos trabalhadores formais da administração pública
segundo nível de escolaridade –2007/2017 - Ceará
Nível de escolaridade 2007 2017 Variação
(%) Abs. (%) Abs. (%)
Sem instrução até fundamental incompleto 56.178 16,6 29.640 7,3 -47,2
Fundamental completo até médio incompleto 47.064 13,9 33.953 8,4 -27,9
Médio completo até superior incompleto 127.511 37,6 145.861 36,1 14,4
Superior completo 108.141 31,9 180.657 44,7 67,1
Mestrado 139 0,0 13.490 3,3 9.605,0
Doutorado 15 0,0 798 0,2 5.220,0
Total 339.048 100 404.399 100 19,3 Fonte:RAIS – Ministério do Trabalho e Emprego, elaboração própria.
Trabalhadores com ensino médio completo ou superior incompleto, e trabalhadores
com o ensino superior completo, apresentam as maiores participações no setor da
administração no Ceará, ambos tinham 37,6% e 31,9%, respectivamente, em 2007, que ao
somar totalizavam 69,5%. Em 2017 esses dois níveis passam a compor 80,8% do total de
trabalhadores, com destaque para o nível do ensino superior completo, que tem uma variação
positiva de 67,1%.
Indivíduos com mestrado e doutorado atuando na administração pública tem baixa
participação no total de empregos, porém, esses dois níveis de escolaridade têm as maiores
variações positivas do período (9.605% e 5.220%). Isso demostra uma característica do setor,
que impõe cada vez mais uma demanda por mão de obra qualificada.
Quanto ao tempo de permanência dos trabalhadores no mercado de trabalho formal na
administração pública no Ceará,pode-se observar na Tabela 7, algumas variações ao longo do
tempo.Ao mesmo tempo em que ocorre uma variação positiva de 106,3% dos indivíduos que
passam menos de um ano no mesmo emprego, ao passar de 13,7% em 2007 para 23,6% em
2017, têm-se variações negativas das faixas de tempo de emprego que vão de um a menos de
dez anos. Essas faixas juntas representam, em 2007, 44,4% dos trabalhadores, e com uma
variação negativa de 50,2%, reduzem suas participações para 31,2% em 2017.
267
Isso pode refletir que, ao longo do período estudado, como o tipo de emprego é de
carreira e com baixa rotatividade, muitos trabalhadores dessas faixas entre um e menos de dez
anos possam ter passado para a faixa de mais de dez anos, uma vez que esta ultima teve uma
variação positiva de 28,%.
Tabela 10 - Número e participação dos trabalhadores formais da administração pública
segundo tempo de emprego –2007/2017 - Ceará
Tempo de emprego 2007 2017 Variação
(%) Abs. (%) Abs. (%)
Menos de 1 ano 46.345 13,7 95.590 23,6 106,3
1 a menos de 3 anos 52.257 15,4 40.104 9,9 -23,3
3 a menos de 5 anos 29.399 8,7 24.454 6,0 -16,8
5 a menos de 10 anos 68.913 20,3 61.981 15,3 -10,1
10 ou mais anos 142.008 41,9 182.060 45,0 28,2
{ñ class} 126 0,0 210 0,1 66,7
Total 339.048 100 404.399 100 19,3 Fonte:RAIS – Ministério do Trabalho e Emprego, elaboração própria.
Nessa perspectiva, a grande participação de trabalhadores com mais de dez anos no
mesmo emprego que, em 2007 representavam 41,9% do total e em 2017 passa a representar
45%. Isso se justifica, pois o tipo de profissionais da área em sua grande parte fez concurso
para servidor efetivo. Isso é bom, pois fica evidente que o vínculo empregatício do estado
nesse setor tem pouca rotatividade.
Segundo Marconi (2003, p. 18):
A combinação desses indicadores aponta que os servidores possuíam mais
experiência que os trabalhadores do setor privado no desempenho de suas
respectivas atividades e, por consequência, maior acúmulo de capital humano
específico relativo a uma determinada habilidade, isto é, maior conhecimento dos
processos de trabalho que devem realizar. Adicionalmente, o resultado desses
indicadores também permite inferir que a rotatividade é menor no setor público,
conforme esperado.
Com relação às horas semanais no Tabela 8, ao somar os dois primeiros grupos, os
trabalhadores com uma jornada de trabalho de até quinze horas semanais têm a menor
representação durante todo o período estudado. Em 2007, representavam apenas 3,1% dos
ocupados, e em 2017 esse percentual aumenta para 6,4%. Porém, vale ressaltar que a variação
desse grupo é a maior do período (303,9%), isso está associado ao aumento absoluto de
268
empregos com essa caraterística de jornada de trabalho, um trabalho a tempo parcial, diferente
do convencional.
Com relação a terceira faixa (16 a 20 horas), ao longo do decênio ela permanece quase
inalterada, na casa dos 14%, apesar da variação positiva de 20,8%. A quarta faixa, com carga
horária semanal entre vinte e um a trinta horas, tem uma participação de 22% em 2007, porém
arrefece e chega em 2017 com apenas 13,7%, provocado pela variação negativa de 26,1%.
Tabela 11 - Número e participação dos trabalhadores formais da administração pública
segundo horas trabalhadas por semana – 2007/2017 - Ceará
Horas semanais 2007 2017 Variação
(%) Abs. (%) Abs. (%)
Até 12 horas 9.573 2,8 24.038 5,9 151,1
13 a 15 horas 853 0,3 2.156 0,5 152,8
16 a 20 horas 47.720 14,1 57.623 14,2 20,8
21 a 30 horas 74.744 22,0 55.235 13,7 -26,1
31 a 40 horas 138.796 40,9 228.102 56,4 64,3
41 a 44 horas 67.362 19,9 37.245 9,2 -44,7
Total 339048 100 404399 100 19,3 Fonte:RAIS – Ministério do Trabalho e Emprego, elaboração própria.
No grupo seguinte (31 a 40 horas), têm-se uma evolução significativa de 2007 até
2017, ao passar de 40,9% para 56,4%, respectivamente. Esse grupo concentra, historicamente,
a maior parte dos trabalhadores formais do estado. O grupo de indivíduos com a carga horária
entre quarenta e um e quarenta e quatro horas semanais, que representavam 19,9% dos
trabalhadores em 2007 oscila com variação negativa em 44,7% (maior redução relativa e
absoluta dentre os grupos), passando a representar apenas 9,2% em 2017.
Esse resultado converge com o tipo de trabalho na administração pública que tem uma
jornada semanal reduzida em relação a outros setores da economia, muitas vezes pelo fato da
própria característica dos estabelecimentos, onde muitos funcionam apenas cinco dias por
semana.
A determinação dos salários no setor público é um tema extremamente importantepara
a administração pública. Os gastos com pessoal representam uma parcela consideráveldos
orçamentos dos diversos tipos de órgãos públicos em todos os lugares (FONTOURA, 2010).
Dessa forma, os dados da Tabela 9, monstra que, no tocante aos rendimentos dos
269
trabalhadores formais da administração pública do Ceará os que recebem até um salário
mínimo seguem uma trajetória de queda, com uma variação negativa de 34,1%, passando de
20,9% em 2007 para 11,5% em 2017. Isso reflete uma redução no empobrecimento dessa
classe no estado.
A maior concentração está na faixa de um a dois salários mínimos, sendo que em 2007
havia 37,6% dos ocupados com essa remuneração e aumenta (com uma variação positiva de
32,8%) para 41,9% em 2017. Esse resultado converge com o estudo de Carvalho Filho
(2002), onde o trabalhador da administração pública possui as mesmas características de
remuneração de outros setores, refletindo a realidade da distribuição de renda brasileira,
porém em grau diferente, pois embora muitas vezes mal remunerado, o setor público
proporciona salário mais estável e seguridade, o que pode servir como compensação.
Tabela 12 - Número e participação dos trabalhadores formais da administração pública
segundo rendimentos em salário mínimo –2007/2017 - Ceará
Remuneração 2007 2017 Variação
(%) Abs. (%) Abs. (%)
Até 1 70.692 20,9 46.584 11,5 -34,1
1 a 2 127.485 37,6 169.271 41,9 32,8
2 a 3 38.754 11,4 53.570 13,2 38,2
3 a 5 47.345 14,0 73.899 18,3 56,1
5 a 10 35.833 10,6 37.943 9,4 5,9
10 a 20 9.572 2,8 12.134 3,0 26,8
Mais de 20 6.704 2,0 5.319 1,3 -20,7
{ñ class} 2.663 0,8 5.679 1,4 113,3
Total 339.048 100 404.399 100 19,3 Fonte:RAIS – Ministério do Trabalho e Emprego, elaboração própria.
Apresentando a maior variação positiva (56,1%), a classe de três a cinco salários
mínimos, que em 2007 estava na terceira posição com 14% dos ocupados, passa para segundo
posição com 18,3%, em 2017.Tal fenômeno é justificado pela redução de mão de obra
desqualificada, que almejam salários mais altos e, consequentemente, sendo responsável pelo
crescimento de trabalhadores com essas condições de salários.
Os rendimentos mais altos, com mais de 20 salários mínimos, sofre um arrefecimento
ao longo do período que resulta numa variação negativa de 20,7%, e passa de 2% em 2007
para apenas 1,3% dos indivíduos empregados formalmente nesse setor. Fato que pode estar
270
associado à queda absoluta da mão de obra proveniente de cargos com maiores remunerações,
geralmente dos Poderes Legislativo e Judiciário, esferas que, em geral, oferecem
remunerações superiores dentre os três poderes presentes no estado (PACHECO, 2002).
5. Considerações Finais
O presente estudo teve como objetivo analisar as características da administração
pública no Ceará, bem como traçar o perfil demográfico e socioeconômico dos empregados
em tal atividade, em 2007 e 2017, procurando verificar se houve avanços ou retrocessos nesse
setor.
No que concerne ao número de trabalhadores empregados formalmente na
administração pública do Ceará, entre 2007 e 2017, houve aumento na quantidade de
empregos com uma variação positiva de 19,3%, ao passar de 339.048 trabalhadores para
404.399 no referido intervalo. Isso reflete uma ampliação na contratação de trabalhadores,
porém, relativamente o peso dessas novas contratações não foram suficientes e o setor perde
participação no estado, passando de 32% para 27,6% durante o período estudado. Dessa
forma, pode-se entender que outros setores tiveram maior desempenho no mercado de
trabalho formal no estado.
Com relação à distribuição de empregos formais segundo o porte do estabelecimento,
os resultados mostram que em 2017, havia maior quantidade de trabalhadores em segmentos
de grande porte. Todavia, os demais estabelecimentos (micro, pequeno e médio) aumentam o
número de trabalhadores empregados (exceto os médios), porém diminuem suas participações
com relação ao total.
Quanto ao perfil demográfico e socioeconômico dos empregados na administração
pública formal cearense, os dados revelam que são notadamente do sexo feminino, na faixa
etária de 30 a 49 anos e permanecem dez anos ou mais no mesmo emprego.
Considerando o nível de instrução dos trabalhadores, os resultados mostram que, tanto
em 2007 como em 2017, a maioria possui o ensino médio completo até superior completo,
com uma substancial melhora relativa nos indicadores educacionais. Ademais, vale destacar o
aumento significativo de trabalhadores com o ensino superior completo. Sendo assim,
aferimos que a educação dos trabalhadores apresentou melhora expressiva nesse setor no
estado do Ceará.
271
No que concerne ao rendimento dos trabalhadores inseridos na administração pública
do Ceará, observa-se concentração de empregados auferindo de um a dois salários mínimos.
Ademais, entre 2007 e 2017 houve aumento, em termos absolutos e percentuais, de
empregados auferindo de 2 a 5 salários mínimos. Isso implica que o número de empregados
auferindo melhores rendimentos elevou-se no período analisado.
Dessa forma, conclui-se que o Ceará apresenta resultados próximos ao de Marconi
(2003), onde afirma que as características da força de trabalho dos trabalhadores do setor
público possuem, em média, níveis de instrução, faixa etária e de tempo de serviçosacimado
setor privado. Resultando em um perfil cuja força de trabalho é mais qualificada, estável e
mais remunerada que o observado em relação aos trabalhadores do setor privado.
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Gonçalves, RS, Brasil, 12 a 14 de novembro de 2012.
273
ÁREA TEMÁTICA: GT 6 - ECONOMIA SOCIAL, ECONOMIA DO TRABALHO E
DEMOGRAFIA ECONÔMICA
RETRATO DO DESEMPREGO RECENTE NO CEARÁ: ANÁLISE PARA OS ANOS
DE 2005 E 2015
JOSÉ FERNANDO MACÊDO MORAIS
Graduado em Economia URCA
Email: jfernando_macedo@hotmail.com
Fone: (88) 99672-3408
ALINE ALVES DE OLIVEIRA
Doutoranda em economia URCA/UFF
Mestre em economia UFRN
Graduada em economia URCA
Professora departamento de economia URCA/UDI
Pesquisadora dos grupos OMEC e GETEDRU
Email: linealvesoliver@gmail.com
Fone: (88) 99437-0947
JOSÉ MÁRCIO DOS SANTOS
Doutorando em economia URCA/UFF
Mestre em economia UFPB
Graduado em economia URCA
Professor departamento de economia URCA/Campus Pimenta
Email: jmarcio.santos@hotmail.com
Fone: (88) 99980-5070
274
RETRATO DO DESEMPREGO RECENTE NO CEARÁ: ANÁLISE PARA OS ANOS
DE 2005 E 2015
RESUMO
O principal objetivo deste estudo é examinar a evolução do desemprego no Ceará no período
de 2005 e 2015. Para o alcance desse objetivo foram utilizados dados da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (PNAD). Ademais, faz-se uma breve contextualização sobre a
conjuntura econômica do Brasil, nas décadas de 2000 e 2010. Em seguida, procura-se saber
como se comportam os desocupados no mercado de trabalho, além de identificar o perfil
socioeconômico e sociodemográfico dos mesmos. Os principais resultados mostram, ao longo
do decênio em estudo, que no estado do Ceará a taxa de desemprego foi menor que a do
Brasil. Quanto aos atributos pessoais, o desocupado na atividade econômica cearense em
2005 é do sexo feminino, pardo, com onze a quatorze anos de escolaridade e mora na zona
urbana. Contudo, em 2015, o perfil é do sexo masculino, pardo, mora na zona urbana e tem
onze a quatorze anos de escolaridade.
Palavras-Chave: Desemprego; Mercado de Trabalho; Ceará.
ABSTRACT
The main objective of this study is to examine the evolution of unemployment in Ceará in the
period 2005 and 2015. To reach this objective, data from the National Household Sample
Survey (PNAD) were used. In addition, a brief contextualization is made on the economic
situation in Brazil in the decades of 2000 and 2010. Then, it is sought to know how the
unemployed behave in the labor market, as well as to identify the socioeconomic and
sociodemographic profile of the same. The main results show, during the decade under study,
that in the state of Ceará the unemployment rate was lower than that of Brazil. As for personal
attributes, the unemployed in the economic activity of Ceará in 2005 is female, brown, with
eleven to fourteen years of schooling and lives in the urban area. However, in 2015, the
profile is male, brown, lives in the urban zone and has eleven to fourteen years of schooling.
Key-words: Unemployment; Labor Market, State of Ceará.
275
1. Introdução
O Brasil é um país de grandes dimensões geográficas, onde diversas atividades
econômicas atuam simultaneamente. Em uma economia com tais características é natural
encontramos diferentes níveis de produção, infraestrutura, progresso tecnológico, qualidade
de vida, emprego e desemprego. E cabe a ciência econômica analisar essas variações e sua
relação com a realidade em que vivemos.
Nas duas últimas décadas do século XX, os estudos sobre o desemprego ganharam
relevância na literatura brasileira, dado a magnitude que este alcançou nos anos de 1980 e
1990. Portanto, a "montanha russa da economia", ou seja, as mudanças que a economia sofre
com o tempo, determinam as condições de vida dos indivíduos que estão desempregados.
Quando a economia local está em valorização, cresce gradativamente as oportunidades de
emprego, mas se os setores econômicos começam a sofrer quedas, o desemprego ganha
destaque.
O funcionamento do mercado de trabalho, a partir do desemprego, serve como um
indicador da conjuntura política, econômica e social de uma sociedade. Esse indicador
permite compreender o grau de mão-de-obra que está disponível e as que por algum motivo
não estão sendo utilizadas. Ademais, compreende-se que essas taxas podem ser mascaradas
por diversos elementos, dentre as quais o tempo que o indivíduo não está inserido no mercado
de trabalho, ou seja, o tempo de duração do desemprego. Quanto maior o tempo longe do
mercado de trabalho, menor as oportunidades para se engajar novamente. A instituição
econômica não permite paradas no tempo, se o indivíduo por algum motivo estagnar, é
preciso acrescentar duração do desemprego as dificuldades do próprio desemprego
(BARDOULAT; DEJEMEPPE; SAKS, 1998). Portanto, o tempo e o estado de desemprego
são dois elementos que se compõe.
Além disso, o perfil desses indivíduos pode determinar as taxas de desempregos, assim
como também o tempo. Traçando uma linha horizontal sobre esse fenômeno, pode-se
entender se o único elemento que impede o indivíduo de voltar e se encaixar e preencher uma
vaga no mercado de trabalho é o tempo, ou seu perfil, representação cultural.
Nesse contexto, esse artigo tem como objetivo examinar a evolução do desemprego no
Ceará no período de 2005 e 2015. No caso do Ceará, a dinâmica econômica e do mercado de
276
trabalho não foi diferente do país em geral. A diferença entre a taxa de crescimento do PIB do
Ceará e do Brasil caiu para 1%, com o estado atingindo o patamar médio de 4,57% a.a. e o
país 3,62% a.a., entre 2000 e 2010 (IPECE, 2011; QUEIROZ, 2013).
Em relação ao mercado de trabalho, o estado reagiu positivamente em termos de
criação de vagas. No período 2001 a 2009, conforme o PNAD, o Ceará detém taxa de
desemprego inferior (diminuiu de 7,1% em 2001 para 6,8% em 2009) à média nacional
(passou de 9,2% para 8,2%, no referido intervalo) (IPECE, 2011). Portanto, segundo Aparício
e Queiroz (2011) a maioria das vagas criadas no Ceará são precárias, com a marca da alta
rotatividade e remuneração menor não só do Nordeste, mas de todo o Brasil.
Além desta introdução, o presente trabalho está organizado em outras quatro seções
adicionais. A segunda seção aborda os condicionantes macroeconômicos apresentados pela
economia brasileira no período recente, evidenciando seus efeitos e flutuações que virão a
repercutir no mercado de trabalho. A terceira seção apresenta as considerações metodológicas
empregadas neste estudo. A quarta seção explora os principais resultados obtidos sobre o
desemprego no Estado do Ceará. Por fim, a última seção tece as considerações finais sobre o
presente estudo apresentado.
2. Aspectos Conjunturais e Macroeconômicos do Período Recente
Apesar das flutuações sofridas pela econômica brasileira ao longo da década de 1990,
a década de 2000 traria consigo resultados econômicos mais expressivos em termos de
crescimento econômico. Influenciado pelo crescimento do consumo, a produção passa a se
ampliar neste período, promovendo a contratação e recontratação de trabalhadores, outrora
excluídos do mercado de trabalho. Tal cenário propiciou o aquecimento da economia e um
maior dinamismo do mercado de trabalho, conforme ressalta Baltar (2015):
A reativação do mercado de trabalho foi um dos principais
determinantes da relativa melhora na condição socioeconômica da
população brasileira, desde que o prolongado boom internacional de
commodities passou a favorecer o desempenho econômico dos países
em desenvolvimento dotados de recursos naturais. No Brasil, um
crescimento do produto interno bruto (PIB) mais vigoroso e com
inflação mais baixa, a partir de 2004, aumentou a geração de
empregos assalariados, contribuiu para a formalização dos contratos
de trabalho e elevou o poder de compra, diminuindo as diferenças de
renda entre os trabalhadores. (BALTAR, 2015, p. 9)
277
Observa-se com isso que em 2004 o país teve um crescimento de 5,7% (IBGE), onde
Lula em seu primeiro governo manteve o que tinha prometido em campanha, a estabilidade
macroeconômica como pré-requisito para políticas de longo prazo, houve as reformas
estruturais pró-mercado, mantendo e até se aprofundando na liberalização comercial (em 2005
foram aprovadas a unificação do mercado cambial - flutuante e livre), financeira e produtiva
(CARCANHOLO, 2010).
Nota-se que o primeiro governo Lula foi favorecido por uma conjuntura externa
altamente favorável e, devido ao grau de dependência da economia do país – exposta com a
manutenção e a maximização do processo de abertura externa –, teve seus indicadores
conjunturais de vulnerabilidade externa melhorados (CARCANHOLO, 2010). Esse contexto
positivo estabeleceu vantagens principalmente nas regiões menos desenvolvidas, como, por
exemplo, o Nordeste.
Em seu segundo mandato (2007 a 2010), as políticas também foram direcionadas a
estabilizar a economia (controle de inflação, superávit primário e câmbio flutuante), porém
com o ponto central nas políticas sociais e nesse mesmo intuito continuar essa política de
crescimento só que voltado a diminuir as desigualdades sociais, o Brasil cresceu e os mais
pobres conseguiram melhorar sua situação e sair da linha da pobreza (BARBOSA;SOUZA,
2010). Além do mais, a infraestrutura brasileira foi melhorada significativamente, visível nos
portos, aeroportos, rodovias e outros pontos importantes que estavam esquecidos pelas
gestões anteriores.
Segundo Baltar (2010), esse crescimento aconteceu devido ao aumento do emprego
formal, dos rendimentos do trabalho, dos programas sociais (transferências de renda) e do
aumento real do salário mínimo, que juntos elevaram a renda das famílias e
consequentemente aumento do consumo com a ampliação de crédito (crédito consignado), e
em relação ao PIB, os empréstimos do sistema bancário, que vinham diminuindo, em 2008
alcançou 41,8%. Isso em um contexto onde o PIB teve um de seus maiores crescimentos,
houve a menor taxa de inflação, as reservas internacionais eram ótimas e a dívida externa
pública e privada diminuíam, as empresas e os bancos acreditavam e incentivaram a
continuidade do crescimento das vendas, da produção, do emprego e da renda e isso foi
sentido pela economia antes de ser atingida pela crise econômica de 2008.
278
É perceptível isso, pois no ano de 2008 o PIB cresceu 5,2% (IBGE), com destaque no
setor agropecuário que cresceu 5,7%, que devido aos investimentos em portos, aeroportos e
rodovias houve uma facilitação do escoamento da produção, fazendo com que o setor
desenvolvesse no período.
Tabela 1 - Taxa de crescimento do PIB, por setores da economia-Brasil-2007-2010
Anos Taxa de crescimento
anual do PIB (%)
Agropecuária
(%)
Indústria
(%)
Serviços
(%)
2007 6,1 5,2 5,2 6,1
2008 5,2 5,7 4,4 4,8
2009 -0,3 - 5,2 -5,5 2,6
2010 7,5 6,5 10,1 5,4 Fonte: Fundação Getúlio Vargas; Sistema de Contas Nacionais (IBGE – vários anos).
Observa-se na Tabela 1 os impactos da crise sobre o PIB, em 2009, a taxa de
crescimento anual negativa não inviabilizou o aumento da média de crescimento do país no
segundo governo Lula que superou (4,6% a.a.) o seu primeiro mandato (3,5% a.a.).
Em relação ao mercado de trabalho toda essa dinâmica surta efeitos e diminui a taxa
de desemprego, a tabela 2 ilustra esse comportamento no segundo governo Lula (2007-2010),
a taxa foi decrescente em todo o período, exceto em 2009 (por consequência da crise
econômica).
A taxa de desemprego que já vinha decrescendo desde o seu primeiro mandato
continua a cair. Observa-se na tabela 2 que no ano de 2007 e 2008, a taxa variou, e nesse
último ano ficou com um índice de 7,9%, subindo um pouco em 2009 para 8,1% a.a.
Entretanto, registrou em 2012 uma taxa de 5,5% a.a., o que representou, desde os anos 1980,
a menor taxa de desemprego no Brasil (IBGE, 2011).
Tabela 2 - Taxa média de desemprego anual (em %) -Brasil-2007-2010
ANOS TAXA
2007 9,3
2008 7,9
2009 8,1
2010 6,7 Fonte: Pesquisa Mensal do Emprego (PME) – (IBGE - vários anos).
279
Devido à conjuntura macroeconômica favorável para o país, houve mais
oportunidades de emprego para os brasileiros com o crescimento econômico. Durante os dois
mandatos do Governo Lula, as políticas públicas e as conquistas dos movimentos sindicais
foram importantíssimas para agregar melhorias ao mercado de trabalho do Brasil. Cresceu de
forma significativa os empregos formais, as políticas de regulação do trabalho, combate ao
trabalho forçado, redução do trabalho infantil (levando em conta sua relação com o Programa
Bolsa Família) e o aumento real do salário mínimo que repercutiu numa elevação no poder de
compra do brasileiro em mais de 50%, entre 2003 e 2010.
Gerou um grande consumo, ademais, os ocupados no setor público cresceram muito, o
que é natural em um país que quer melhorar a administração pública, a saúde, a educação, a
previdência, a segurança pública. As instituições públicas de financiamento e os fundos
(BNDES, CEF, BB, FAT, FGTS e outros) também tiveram um papel importante para o
crescimento do emprego e da renda dos brasileiros em todas as atividades - agropecuária,
agroindústria, indústria de transformação, da construção civil, do saneamento básico, da
infraestrutura de energia, transportes e comunicações (KREIN et al. 2011).
Nesse período foi perceptível dois momentos positivos e diferentes no setor externo.
Nos anos de 2003 e 2006, onde os principais responsáveis pela melhora das contasforam os
superávits comerciais superiores aos déficits estruturais da conta de serviços e renda. Já em
2007 e 2010, tivemos como responsáveis dos maiores impulsionadores positivos, os
superávits na conta capital e financeira (TEXEIRA et. al,2012).
Dilma Rousseff foi eleita, para seu primeiro mandato, em 2010 onde a economia ainda
se recuperava dos efeitos da crise financeira de 2008, mas com perspectiva de melhoras.
Mesmo que seu projeto de governo não fosse tão claro na campanha, o seu objetivo principal
era minimizar o rentismocom a dívida pública como meio sistemático de acumulação de
capital, rompendo o pacto conservador formado pelo governo Lula em 2003. Isso seria uma
grande mudança estrutural (BASTOS, 2017).
Nesse primeiro governo, Dilma tenta conferir maior consistência à política econômica
através do aumento dos investimentos privados que já era apoiado pelo BNDES. Com isso, a
meta ampliar a geração de empregos ou evitar o desemprego e aumentar os investimentos
para melhorar a competitividade das empresas. Mas isso não vingou e provavelmente essa
medida ampliou a margem de lucros das empresas. (CARLEIAL, 2015).
280
Mesmo assim, o governo Dilma começou com bons resultados na política econômica
de combate à crise de 2008, que no governo Lula, em 2010, já havia uma forte redução da
taxa de desemprego, que foi mantida até o final de 2014. Mas houve uma desaceleração do
crescimento econômico (TEIXEIRA et. al.2012).
A ―nova matriz macroeconômica‖, como foi chamada a mudança no tripé
macroeconômico ortodoxo (superávit primário, câmbio flutuante e meta de inflação), que
segundo Oureiro (2017), foi uma tentativa do governo de aumentar o crescimento econômico
através de uma junção de desobrigações tributárias, diminuição da taxa nominal de câmbio e
redução da taxa básica de juros. A equipe econômica do governo baseou-se que o declínio do
crescimento foi um problema de demanda agregada que se originou na crise econômica
internacional, devido aos problemas de endividamento dos países da área do euro. Isso
conseguiu produzir uma aceleração temporária do ritmo de crescimento econômico.
Considerando as informações da tabela 3, percebe-se que logo no primeiro ano do
governo Dilma (2011-2014), observa-se que a taxa média anual de crescimento do PIB foi de
2,7%, com destaque para o setor agropecuário que cresceu 7% devido ao aumento de
produtividade, o setor de serviços cresceu 2,7%, onde o destaque foi para os serviços de
informações com alta de 4,9%, seguido por intermediação financeira e seguros (3,9%), comércio
(3,4%), transporte, armazenagem e correio (2,8%).
Tabela 3 - Taxa de crescimento do PIB, por setores da economia-Brasil-2011-2014
ANOS TAXA DE
CRESCIMENTOANUAL
DO PIB(%)
AGROPECUÁRIA
(%)
INDÚSTRIA
(%)
SERVIÇOS
(%)
2011 2,7 7,0 1,6 2,7
2012 0,9 - 2,3 - 0,8 1,7
2013 2,3 7,0 1,3 2,0
2014 0,1 0,4 - 1,2 0,7 Fonte: Fundação Getúlio Vargas; Sistema de Contas Nacionais (IBGE – vários anos).
No segundo ano do governo Dilma, a taxa média anual de crescimento do PIB apresenta
seu pior resultado desde 2009 (-0,3), com o crescimento de apenas 0,9%, em relação aos
setores a indústria caiu 0,8% e a agropecuária, 2,3%, o setor de serviços foi um único que teve
uma singela alta de 1,7%, se destacando, novamente, os serviços de informação, que cresceu
2,9%, administração, saúde e educação pública, com 2,8% e outros serviços (1,8%).
281
Em 2013 a PIB cresceu 2,3%, 1,4% a mais do que ano anterior, a alta se deve ao
desempenho da agropecuária, que teve um aumento de 7% (a maior desde 1996), o destaque
partiu da produção de soja (24,3%), de cana de açúcar (10%), de milho (13%) e de trigo (30,4%).
Em relação à indústria o avanço foi de 1,3% (aumentou 2,1% em relação ao ano anterior) e setor
de serviços (2%) também teve uma pequena alta.
No último ano de seu primeiro Governo (2014) o ritmo de crescimento entra em colapso,
o PIB tem uma queda de 2,2% se comparado a 2013 e o ritmo de decrescimento se acelera ao
longo do ano (OUREIRO, 2017). A agropecuária cresceu 0,4%, por consequência das taxas
positivas de soja (5,8%) e de mandioca (8,8%), mesmo que tenha desacelerado a produção. A
indústria teve uma queda de 1,2%, devido a retração de 2,6% em construção civil e
eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana. Já em relação aos serviços, representou a
maior alta entre os setores, de 0,7%, o aumento só não foi maior, pois o comércio recuou
1,8%.
Em seu segundo mandato, no qual só assumiu por dois anos, há uma forte regressão
econômica, que alguns economistas acreditam ter sido provocada por dois preços
macroeconômicos fundamentais, a taxa de juros elevada e a apreciação da taxa real de
câmbio, para as quais a política fiscal expansionista teria contribuído, foi a combinação da
desaceleração estrutural com questões extra econômicas (DWECK et al, 2017).
Em 2016, a retração da economia foi de 3,6% em comparação ao ano anterior este, por sua
vez, teve uma queda de 3,8%, o que caracterizou como sendo uma das maiores crises (desde 1930-
1931). Em relação aos setores analisados pelo IBGE, que entram no cálculo do PIB, recuaram na
agropecuária 6,6%; na indústria 3,8%; e, nos serviços, de 2,7%.
Em relação ao mercado de trabalho do período, o desemprego continuou em declínio,
com exceção dos anos de 2015 e 2016 como se vê na tabela 4.
Tabela 4 - Taxa média de desemprego anual (em %) -Brasil-2011-2016
ANOS TAXA
2011 6,0%
2012 5,5%
2013 5,4%
2014 4,8%
2015 6,9%
282
2016 11,5% Fonte: Pesquisa Mensal do Emprego (PME) – (IBGE - vários anos).
A Tabela 4 mostra o comportamento da taxa média de desemprego anual no período
de 2011 a 2016, observa-se que a taxa continuou decrescente até 2014, mas em 2015 tem uma
alta de 2,1%, e logo em seguida a taxa voltou a subir, mas agora de forma brusca, alcançando
11,5%.
O governo Dilma foi um cenário onde se propagou a desaceleração da economia,
redução do consumo e produção industrial, além de sofrer os efeitos dos maus resultados do
comércio exterior. Ficou evidente a falha da Nova Matriz Econômica, onde despertou a
necessidade do governo rever suas estratégias, frente à duras críticas e perda gradual de apoio
político.
3. Procedimentos Metodológicos
A base de dados empregada consiste nos microdados da Pesquisa de Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD), levantada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística). A partir dela foram obtidas as informações sobre a mão-de-obra considerando os
seguintes aspectos metodológicos.
População em Idade Ativa (PIA) – pessoas com 10 anos ou mais de idade no período
de referência. A PIA é composta pela População Economicamente Ativa (PEA) e pela
População Não Economicamente Ativa (PNEA).
PIA = PEA + PNEA
Foi considerado como População Economicamente Ativa - a população com 10 anos
ou mais de idade ocupada com remuneração e a ocupada sem remuneração que trabalhou
menos de 15 horas por semana, mais as pessoas desempregadas que procuraram emprego num
período de referência. Então a PEA inclui a População Ocupada (PO) e a População
Desempregada (PD).
PEA = PO + PD
População Ocupada (PO) aqueles com 10 anos ou mais de idade ocupados com
remuneração e os ocupados sem remuneração que trabalharam 15 horas ou mais por semana.
Considerou-se como População Desempregada (PD) aqueles com 10 anos ou mais
de idade que declararam estar desempregados, mas procuraram emprego num período de
283
referência (30 dias). A Taxa de Desemprego é calculada pela razão entre a População
Desempregada (PD) e a População Economicamente Ativa (PEA).
Taxa de desemprego =
* 100
As variáveis selecionadas na caracterização sociodemográfica da população de 10
anos e mais de idade, desocupadaforamsexo: masculino e feminino; idade: i) 10 a 14 anos,
ii) 15 a 24 anos, iii) 25 a 39 anos, iv) 40 a 49 anos, v) 50 a 59 anos, e vi) 60 anos ou mais;
grupos de anos de estudos: i) sem instrução e menos de 1 ano, ii) 1 a 3 anos, iii) 4 a 7 anos,
iv) 8 a 10 anos, v) 11 a 14 anos, vi) 15 anos ou mais, vii) não determinado; raça/cor: i)
branca, ii) preta, iii) amarela, iv) parda e v) indígena; posição no domicílio: i) chefe, ii)
cônjuge, iii) filhos, iv) outros; previdência: i) contribuiente e ii) não contribuiente.
Neste estudo optamos por trabalhar com o rendimento bruto mensal no trabalho
principal, em salário mínimo. Os mesmos foram classificados em seis faixas salariais: i) sem
S.M., ii) até
S.M., iii) mais de
até
S.M., iv) mais de
até 1 S.M., v) mais de 1 até 2 S.M,
vi) mais de 2 até 3 S.M, vii) mais de 3 até 5 S.M, vii) mais 5 S.M, viii) sem declaração.
4. Análise do Mercado de Trabalho Cearense: desemprego e desempregados.
Estaseção examina o mercado de trabalho no estado do Ceará no quesito desemprego,
as variáveis estudadas serão a condição de atividade (PEA), taxa de ocupação, taxa de
desemprego, ocupação e desocupação por setor de atividade econômica. A base de dados são
os microdados das PNADs de 2005 e 2015. O desemprego no estado do Ceará tem dinâmica
acoplada às variações macroeconômicas nacionais.
Inicialmente, a Tabela 5 aponta para a taxa de desemprego no Brasil e no estado do
Ceará, para a PEA, para a população ocupada e desocupada, nos anos de 2005 e de 2015.
Tabela 5 – Taxa de desemprego - Brasil e estado do Ceará 2005/2015
Brasil Ceará
2005 2015 2005 2015
População Total 183.880.894 204.860.101 8.154.737 8.923.524
284
População
Economicamente
Ativa
96.994.055
105.519.431
4.147.072
3.987.298
Pessoas Ocupadas 88.007.280 95.380.483 3.825.193 3.653.410
Pessoas
Desocupadas
8.986.775
10.138.948
321.879
333.888
Taxa desemprego 9,27 9,61 7,76 8,37
Fonte: Elaboração Própria a partir dos dados PNAD
Em 2005, o Brasil contava com 183.880.894 habitantes e aumenta para 204.860.101,
em 2015, com variação 11,41%. Por sua vez, o Ceará registrava 8.154.737 (4,44%) de
habitantes e passa para 8.923.524 (4,36%) de pessoas, com variação de 9,43%, no referido
intervalo (IBGE).Esse resultado mostra que a variação no crescimento populacional do Ceará
(9,43%) é menor que a observada para o Brasil (11,41%), não sendo uma expressiva diferença
no crescimento de residentes do país e do estado.
Em relação à PEA nacional, que inclui a População Ocupada (PO) e a População
Desempregada (PD), no período de 2005 a 2015, esta teve uma variação de 8,79%, ao
aumentar de 96.994.055 para 105.519.431, enquanto no Ceará diminuiu 4,68%, ao cair de
4.147.072 para 3.987.298 pessoas.
No que se refere à Taxa de Desemprego (Tabela 5), no Brasil, em 2005, ela foi de
9,27% e em 2015 aumentou para 9,61%. No Ceará, em 2005, ela detinha percentual de
7,76%, e após dez anos (2015) subiu para 8,37%, mas permaneceu com média inferior a do
país.
No tocante aos desocupados, o Gráfico 1 traz informações sobre a população
desocupada por sexo no estado do Ceará. Em 2005, no estado, o número de pessoas
desocupadas do sexo masculino era de 149.121 correspondente a 46,33% do total, e os do
sexo feminino 172.758 (53,67%), totalizando 321.879, já em 2015, o número de desocupados
masculinos aumenta para 171.376 (51,33% do total) e feminino diminui para 162.512, o que
corresponde 48,67% das pessoas desocupadas no estado no ano em questão foi de 333.888.
285
Gráfico 1- Pessoas Desocupadas no Ceará por Sexo
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD 2005 e 2015 (IBGE)
Para Silva Filho, Queiroz e Clementino (2016),houve uma redução no estoque força de
trabalho masculina, no estoque total de desempregados do estado, em detrimento da elevação
do estoque feminino, isso fica claro, ao observar que a diferença entre os desocupados do
sexo masculino para o feminino, diminuiu de 7,34% para 2,66%.
Em relação aos desocupados no Ceará por raça, observando a Tabela 6, os dados
mostram redução para brancos, indígenas e amarelos, mas pretos e pardos houve um aumento
significativo, entre 2005 a 2015.
Tabela 6 - Pessoas Desocupadas no Ceará por Raça
2005 2015
Indígena 1.154 354
Branca 101.496 83.978
135000
140000
145000
150000
155000
160000
165000
170000
175000
2005 2015
Masculino
Feminino
286
Preta 8.711 16.810
Amarela 1.153 708
Parda 209.365 232.038
Total 321.879 333.888
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD 2005 e 2015 (IBGE)
Observa-se que no estado, que em 2005 o total de desocupados era de 321.879 e em
2015 aumentou para 333.888, sobretudo em cima dos aumentos que houve sobre os pretos e
pardos, pois foram as únicas raças que tiveram alta.
Com relação à raça/cor indígena e amarela, há uma baixa no P.D em ambas, os
indígenas que tinha 1.154 cai para 354, e o amarelo cai de 1.153 para 708, representando,
respectivamente uma diminuição de 69,32% e 38,59%, de 2005 a 2015.
Em se tratando da raça/cor branca, em 2005, o número de pessoas desocupadas era de
101.496, o que correspondia a 31,53% do total, e em 2015 caiu para 83.978 (25,15% do total),
com isso, teve uma baixa de 6,38% no período.
Destacando no aumento do número de desocupados em relação à raça/cor, temos a
preta, na qual era de 8.711 pessoas (2005) e foi para 16.810 (2015) o que significa 92,97% a
mais, e a parda era de 209.365 e passou para 232.038, aumentando 10,83% no período.Em
relação aos desocupados no Ceará por condição na unidade domiciliar, observamos na Tabela
7.
Tabela 7 - Pessoas Desocupadas no Ceará por condição na unidade domiciliar
2005 2015
Pessoa de referência 69.730 92.338
Cônjuge 50.403 46.203
Filho 158.212 155.609
Outro parente 39.474 36.123
287
Agregado 4.060 3.261
Pensionista 0 354
Total 321.879 333.888
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD 2005 e 2015 (IBGE)
O P.D no Ceará por condição de unidade domiciliar tem como destaque a pessoa de
referência no domicílio, pois em 2005 tínhamos 69.730 e em 2015, 92.338 pessoas
desocupadas, evidenciado pelo o aumento de 32,42% no período em questão.
O cônjuge teve uma diminuição de 8,33% no mesmo período, passando de 50.403 para
46.203 P.D, o que nos remete a presença crescente das mulheres no mercado de trabalho,
incluindo as transformações na sociedade contemporânea e fatores econômicos relacionados à
independência financeira, autonomia feminina, papel de chefe de família, realização
profissional, entre outros (COSTA, 2008).
Em relação ao filho, houve uma pequena baixa de 1,65% no número de desocupados,
em 2005 representados por 158.212 e em 2015 por 155.609.
Os outros parentes e agregados da unidade familiar, tiveram baixas de 2005 para 2015.
Descritos nesta ordem, 39.474 para 36.123 e 4.060 para 3.261, equivalentes a uma diminuição
de 8,49% e 19,68%, comparando os números nos anos em questão. Já no tocante pensionista,
houve um aumento de 0 para 354 pessoas.
Quanto às pessoas desocupadas no Ceará por área censitária, demonstrado no gráfico
2, é perceptível que a maior concentração é na zona urbana, devido até pela maior
concentração de residentes.
Gráfico 2 - Pessoas desocupadas no Ceará por área censitária
288
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD 2005 e 2015 (IBGE)
O número de pessoas desocupadas na zona Urbana em 2005 era de 304.712 o que
equivale a 94,67% do total de 321.879, e na zona Rural era de 17.167 (5,33%). Já em 2015, o
número de P.D da zona urbana diminuiu para 291.673, mas o da zona rural aumentou para
42.215 fazendo com que o total aumentasse também, no caso, para 333.888. Com isso o P.D
da zona urbana representa neste ano 87,36% e o da zona rural 12,64%.
Sobre as pessoas desocupadas no Ceará por escolaridade, olhando para a Tabela 10,
percebemos que há um aumento significativo das pessoas que estudaram de 11 a 14 anos e
principalmente 15 anos ou mais.
Tabela 8 - Pessoas Desocupadas no Ceará por Escolaridade
2005 2015
Sem instrução e menos de 1
ano
22.935 7.883
1 a 3 anos 28.249 15.521
4 a 7 anos 77.153 50.981
8 a 10 anos 84.955 71.079
11 a 14 anos 103.434 172.247
15 anos ou mais 4.217 15.090
Não determinados e sem
declaração
936
1.087
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
350000
Zona Urbana Zona Rural
2005
2015
289
Total 321.879 333.888 Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD 2005 e 2015 (IBGE)
O número de P.D sem instrução e menos de 1 ano representava em 2005 7,13% do
total com 22935, e em 2015 2,36% com 7883 pessoas. De 1 a 3 anos teve baixa de 45,06% no
período, em 2005 de 28.249 (8,78%) para 15.521 (4,65%) em 2015. Continuando a diminuir
os números, temos a faixa etária de 4 a 7 anos, que tinha 77.153 (23,97%) e ficou com 50.981
(15,27%) obtendo uma diferença de 8,7% nesse intervalo de tempo. Em relação à faixa etária
de 8 a 10 anos também caiu de 84.955 (26,39%) para 71.079 (21,29%) representando, no
ciclo, uma queda de 5,1%.
Já no tocante a faixa etária de 11 a 14 anos, observamos um aumento expressivo de
103.434 (32,13%) em 2005 para 172.247 (51,59%) em 2015, uma alta de 19,46 pontos
percentuais. As pessoas com 15 anos ou mais de estudo tiveram uma alta de 4.217, o que
corresponde a 1,31% do total em 2005, para 15.090 (4,52%) em 2015, com uma variação de
3,21% do total.
Por fim, apesar da melhora na educação do trabalhador cearense e de políticas
econômicas favoráveis à diminuição do desemprego, nota-se que as vagas criadas entre 2005
e 2015 no Ceará são precárias.
A tabela 9 mostra o número de pessoas desocupadas de uma determinada renda por
pessoa no âmbito residencial.
Tabela 9 - Faixa de rendimento domiciliar per capita das pessoas desocupadas no Ceará
2005 2015
Sem rendimento 14.699 354
Até ¼ salário mínimo 85.389 95.751
Mais de ¼ até ½ salário 100.867 113.348
Mais de ½ até 1 salário 76.428 89.527
Mais de 1 até 2 salários 26.949 25.681
Mais de 2 até 3 salários 5.213 4.626
Mais de 3 até 5 salários 4.375 354
Mais de 5 salários 4.160 1.062
Sem declaração 3.799 3.185
Total 321.879 333.888 Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD 2005 e 2015 (IBGE)
290
É evidente que no período, houve uma grande diminuição no número de pessoas
desocupadas que não tinha rendimentos domiciliar, observa-se que em 2005 o número era de
14.699 (4,57% do total) e em 2015 era de 354 (0,1%) o que significa 2,41% do ano de 2005.
Em relação aos que tinham uma faixa de renda de até ¼ salário mínimo, aumentou de
85.389 (26,53%) para 95.751 (28,68%) representando uma alta de 2,15% em relação ao total
de P.D. Os que tinham um rendimento de mais de ¼ até ½ salário, também teve uma alta de
100.867 (2005) para 113.348 (2015), assim como a P.D com renda de mais de ½ até 1 salário,
que era de 76.428 e foi para 89.527, representando uma elevação de 17,14% de um ano para o
outro.
Todas as outras faixas diminuíram gradativamente, o que tem uma renda per capita
domiciliar de mais de 1 até 2 salários diminuiu de 26.949 (8,37% dos 321.879 desocupados)
para 25.681(7,7%); os com mais de 2 até 3 salários eram 5.213 (1,62%) pessoas e foi para
4.626 (1,38%); a faixa de mais de 3 até 5 salários eram de 4.375 (1,36%) e passaram a 354
(0,11%) com uma diferença percentual, de um ano para o outro, de 91,91%; e os que tem
mais de 5 salários como renda per capita domiciliar diminuíram de 4.160 em 2005 para 1.062
em 2015 representando em relação ao total de cada ano, respectivamente, 1,29% e 0,32%; e
os que são Sem declaração, correspondem a 3.799 no primeiro ano e 3.185 em 2015.
5. Considerações Finais
O Brasil é caracterizado por extensas áreas territoriais, atribuindo à sua economia um
caráter espacial bastante heterógeno. Neste contexto, as dinâmicas regionais e locais passam a
guardar diferenças entre si. Tais diferenças, ligadas aos fundamentos das suas estruturas
produtivas, podem influenciar o desempenho das variáveis macroeconômicas no âmbito
regionais, especialmente aquelas ligadas à produção e ao emprego.
No início da década de 2000, a nova gestão governamental que assumia o país passa a
implementar ações de caráter prioritário no que diz a promoção de programas de estímulo ao
consumo e a formação de renda. O resultado destas ações a nível nacional se manifesta na
forma de um maior volume de produção, estimulada pela renda crescente, e
consequentemente, maior nível de contratações. Porém, flutuações ocorridas ao final desta
década e em meados da década de 2010, motivadas pelos fatores internos e externos, trazem
291
um efeito cíclico a estas variáveis macroeconômicas, vindo a refletir na contração de produto
e emprego em períodos mais recentes.
Apesar da distância do eixo dinamismo nacional, a economia cearense passa a
assimilar em termos internos as repercussões das movimentações ocorridas nacionalmente,
apresentando a mesma tendência nacional de elevação do número de pessoas desocupadas e
das taxas de desemprego.
Em relação ao mercado de trabalho, durante o período analisado, houve aumento
significativo na criação de vagas no estado do Ceará. Contudo, no tocante aos desocupados,
os resultados mostram que no decorrer do decênio2005 e 2015, a economia cearense
apresenta taxa de desemprego abaixo da média nacional.
No tocante à Taxa de Desemprego no Brasil, em 2005,foi de 9,27% maior do que a do
Ceará que era de 7,76%, e após dez anos (2015) aumentou para 9,61% enquanto no estado
subiu para 8,37%,permanecendo com média inferior à do país.
Quanto às pessoas desocupadas no Ceará, analisamos por sexo,porraça, por área
censitária,por condição na unidade domiciliar, por escolaridade e o rendimento.
Concluiu-se que o perfil do desocupado do Ceará no ano de 2005 era do sexo
feminino, de raça/cor parda, condição na unidade familiar era de filho (destaque para a pessoa
de referência com 69.730 desocupados), moravam na zona urbana, e tinha uma faixa de
escolaridade de 11 a 14 anos com uma faixa de renda domiciliar per capita mais de ¼ até ½
salário mínimo.
E em 2015, o perfil era, do sexo masculino, de raça/cor parda, condição na unidade
familiar era de filho (com um grande aumento na pessoa de referência com 92.338
desocupados), moravam na zona urbana, e tinha uma faixa de escolaridade de 11 a 14 anos
com uma faixa de renda domiciliar per capita mais de ¼ até ½ salário mínimo.
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294
EIXO TEMÁTICO GT 3: ECONOMIA INDUSTRIAL E DA TECNOLOGIA
ANÁLISE DO INVESTIMENTO EM DECORRÊNCIA DA TAXA DE JUROS SELIC
E PIB NO SETOR DE CONTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL NO PERÍODO DE 1974-
2018
EMANUELA ÉVINA LUIZ DOS SANTOS
Estudante do curso de economia da URCA. E-mail: evinaemanuela@gmail.com
CICERA DARLA LOPES DA SILVA
Estudante do curso de economia da URCA. Bolsista de monitoria de econometria.E-mail:
darla12071@gmail.com
ANA BRUNA SOARES OLIVEIRA
Estudante do curso de economia da URCA. Bolsista de monitoria de microeconomia I.E-mail:
brunasoaresoliveiraa@gmail.com
295
ANÁLISE DO INVESTIMENTO EM DECORRÊNCIA DA TAXA DE JUROS SELIC
E PIB NO SETOR DE CONTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL NO PERÍODO DE 1974-
2018
INVESTMENT ANALYSIS AS A RESULT OF THE SELIC AND PIB INTEREST
RATES IN THE BRAZILIAN CONSTRUCTION SECTOR IN THE PERIOD 1974-
2018
RESUMO:
O setor de Construção Civil é a principal esferaque contribui para a elevação das taxas de
crescimento econômico do país, uma vez que este detém de grande capacidade de geração de
emprego e renda. O investimento neste setor segue uma linha de proporcionalidade, onde
ascensões econômicas tendem a elevar o nível de investimentos, enquanto retrações reduzem
o nível destes, podendo assim afetar quase que diretamente tanto o nível de produto nacional
quanto a taxa de juros, e conseqüentemente o investimento. Desta forma, objetiva-se neste
artigo, analisar a contribuição do Setor de Construção Civil para o Produto Interno Bruto
(PIB), tendo como base o comportamento da economia brasileira entre os anos de 1974 a
2018, utilizando como variável Proxy o investimento no ramo construtivo civil, para explicar
seu efeito sobre a elevação ou redução das taxas de crescimento do país. Observa-se, diante
disso, uma relação positiva entre o Produto Interno Bruto (PIB) e a formação bruta de capital
fixo (FBKF), bem como uma negativa entre a taxa de juros (overselic) e a formação bruta de
capital fixo (FBKF). Desta maneira, concluiu-se que a proteção do Setor de Construção Civil,
pelo governo, se apresenta como sendo o meio mais viável para manter o nível de crescimento
do país, já que este se apresenta como sendo o maior contribuidor do crescimento, para a
economia, adotando mecanismos de defesa, podendo este ser principalmente, através do
controle da taxa de juros nacional.
Palavras-chave:Investimento; Taxa de Juros Selic, Construção Civil.
ABSTRACT:
The Civil Construction sector is the main sphere that contributes to the increase in the
country's economic growth rates, as it has a large capacity for job and income
generation.Investment in this sector follows a proportionality line, economic rises tend to
raise the level of investments, while retractions reduce the level of investments, thus almost
directly affecting both the national product level and the interest rate, and consequently the
investment. .Thus, the objective of this paper is to analyze the contribution of the Civil
Construction Sector to the Gross Domestic Product (GDP), based on the behavior of the
Brazilian economy from 1974 to 2018, using as investment Proxy variable to explain its effect
on the increase or reduction of the country's growth rates.In view of this, there is a positive
relation between Gross Domestic Product (GDP) and gross fixed capital formation (FBKF),
as well as a negative relation between interest rate (overselic) and gross fixed capital
formation (FBKF). Thus, it concluded that the protection of the Civil Construction Sector by
the government is the most viable way to maintain the country's growth level, as it is the
largest contributor to growth for economy, adopting defense mechanisms, which may be
mainly through the control of the national interest rate.
Keywords:Investment,Interest RateSelic,Construction.
296
1.Introdução
O setor de construção civil compõe grande parcela dos investimentos públicos e
privados, sendo historicamente a esfera mais acentuada no que diz respeito ao campo que
puxa o desenvolvimento da economia brasileira, sendo reconhecido como o setor chave,
intensificando com parte majoritária as taxas de crescimento do produto nacional.
Tomando como exemplo de início dessa cadeia produtiva, o governo de Juscelino
Kubistchek é considerado o primeiro indicador de investimento na área tendo como base o
Plano de Metas, período este que visou projetos de atuação nos chamados pontos de
estrangulamento à época, sendo as maiores parcelas destinadas aos setores que promovessem
um maior desenvolvimento estrutural do país, como o setor de construção civil.
Desta forma, este trabalho tem por objetivo analisar a contribuição do setor
construtivo civil para o Produto Interno Bruto (PIB), considerando como determinante
principal a taxa de juros (SELIC), para o investimento deste no âmbito nacional. Considerado
o setor que mais gera emprego e conseqüentemente mais renda no país, é passível de
entendimento que, à medida que este departamento entra em uma recessão a economia tende a
seguir o mesmo patamar, como também, do contrário, se entrado em uma ascensão, tenderá a
se elevar. Assim, observaremos o comportamento da economia brasileira no período
compreendido entre os anos de 1974 a 2018, utilizando como variável Proxy o investimento
no setor de construção civil para explicar seu efeito sobre a elevação ou redução das taxas de
crescimento do país.
2. Revisão de literatura
Segundo a teoria Keynesiana de investimento, no que tange ao investimento
produtivo, o agente detém do poder de decidir comparativamente entre o que Keynes chama
de ―eficiência marginal do capital‖, que seria a proporção esperada de retorno do capital, e a
taxa de juros que é o custo de oportunidade do capital, ou seja, é a situação na qual o
empresário escolhe entre deixar de reter moeda pra possibilitar a criação de um ativo de
liquidez específico (investimento). Contudo, este cenário de escolhas estaria ainda sob
condições de incertezas, pois ao aplicar seu capital em um determinado ativo, o retorno deste
estaria vulnerável às ações do âmbito econômico, não sendo possível prever exatamente o
resultado futuro obtido.
Keynes também propôs que o investimento flutuaria positivamente com um aumento
da renda, pois, variações positivas na renda provocam oscilações no consumo e na poupança.
Uma ascendência na renda elevaria o consumo e a poupança, o que ocasionaria um maior
investimento, considerando que para Keynes, ―tudo que é poupado é investido‖.
Em outras palavras, segundo Costa (2015) ―(...) a preferência pela liquidez de seus
ativos por parte dos agentes econômicos se justifica por causa de incerteza quanto ao futuro
dos eventos econômicos e do resultado futuro dos investimentos passados e presentes. Por
isso, a taxa de juros representa um limite ao investimento produtivo, apenas por ser um trade-
off do investidor, quando aplica seu capital em uma ampla carteira de ativos, entre o
investimento (capital produtivo) e a liquidez (capital monetário).‖
297
Diante disto, verifica-se que na visão Keynesiana há uma relação positiva entre a
renda e o investimento, quando ocorrer uma elevação na renda o investimento tender a ser
maior, assim como uma redução na renda reduziria o volume investido. Como também mostra
uma relação inversa entre a taxa de juros e o investimento, pois uma queda nos juros
proporcionaria um menor custo de aquisição do capital o que permitiria um maior retorno do
investimento e vice-versa. Porém, estes não são os únicos fatores que determinam o
investimento no setor produtivo. É considerado aqui, para o embasamento teórico do trabalho,
apenas essas relações determinantes aqui citadas.
3. Metodologia
O presente trabalho visa realizar uma análise econômica acerca da contribuição do
desenvolvimento do setor de construção civil no crescimento do PIB brasileiro em detrimento
da taxa de juros nacional - SELIC. Para isso, utilizou-se o método de pesquisa bibliográfico
baseado em dados secundários, os quais foram captados através de meios virtuais,
empregando a ferramenta econométrica de estimação mais amplamente utilizada, denominada
de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO).
Para a elaboração do trabalho, foram retirados dados do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipeadata) que reúne as principais instituições de pesquisa diretamente
ligadas a União, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Banco
Central do Brasil (BACEN), que divulgam seus resultados em sites oficiais. A natureza da
pesquisa se dá por meio do método quantitativo, este prioriza apontar numericamente a
frequência e a intensidade do comportamento dos indivíduos de um determinado grupo.
Contudo, foi utilizado o programa Eviews para rodar o modelo econométrico citado (MQO),
fazendo suas devidas interpretações e, ao fim, relacionar seus resultados face à economia
brasileira no período (1974-2018). Segundo Luporine e Alves (2010) ―O estimador de
Mínimos Quadrados Ordinários é um dos poucos estimadores cujas propriedades para
pequenas amostras estão solidamente estabelecidas na literatura‖. Deste modo, como a
amostra dos dados corresponde ao período de 1974-2018, totalizando 45 observações, este se
encaixa adequadamente como uma amostra pequena, no qual possibilita o uso do Método dos
Mínimos Quadrados Ordinários na estimação.
Assim, foi estimado o modelo de regressão linear múltipla com as variáveis:
FBKF = formação bruta de capital fixo, no setor de construção civil, Ipeadata, em
milhões de reais, no período de 1974 a 2018;
PIBpm = Produto Interno Bruto (PIB) a preços de mercado, Ipeadata, em milhões de
reais, no período de 1974 a 2018;
Taxa de juros Over/Selic = taxa de juros overselic, variação percentual ao ano,
Ipeadata, no período de 1974 a 2018.
298
Tabela 1. Regressão Linear Múltipla DependentVariable: FBK
Method: LeastSquares
Date: 04/17/19Time: 19:34
Sample: 1974 2018
Includedobservations: 45
HAC standard errors & covariance (Bartlett kernel, Newey-West fixed
bandwidth = 4.0000)
Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.
C 45655.32 17985.31 2.538478 0.0149
PIB 3337.804 315.6675 10.57380 0.0000
TAXA_DE_JUROS -12.53328 2.634724 -4.756963 0.0000
R-squared 0.917176 Meandependent var 269215.8
Adjusted R-squared 0.913232 S.D. dependent var 85999.49
S.E. ofregression 25332.41 Akaikeinfocriterion 23.18190
Sum squaredresid 2.70E+10 Schwarz criterion 23.30234
Log likelihood -518.5927 Hannan-Quinn criter. 23.22680
F-statistic 232.5488 Durbin-Watson stat 0.350915
Prob(F-statistic) 0.000000
Fonte: Elaboração Própria com base nos dados do Ipeadata
4. Resultados e Discurssões
4.1 Análise Econométrica
Para a análise econométrica, as variáveis foram lineares nos parâmetros. Realizado os
testes de violação das hipóteses, constatou-se que este modelo é bom para fazer previsão,de
acordo com o resultado apresentado na tabela 1, sendo os resíduos distribuindo-se
normalmente, onde o PIB e taxa de juros overselic são significantes a 1%. O modelo
apresentou autocorrelação positiva pelo teste de DW (Durbin Watson) e heteroscedasticidade,
sendo estes corrigidos pelo teste de Newey-West. Além disso, as variáveis explicativas não
apresentam uma relação linear perfeita, ou seja, não apresentam multicolinearidade.
Qualitativamente, tudo mais constante, existe uma relação direta entre o PIB e o
Investimento (fbkf). À medida que o PIB aumenta o investimento também aumenta. E, uma
relação inversa entre taxa de juros overselic e investimento, à medida que a taxa de juros
aumenta o investimento diminui e vice-versa.
Já de forma quantitativa, quando o PIB aumenta 10 unidades monetárias em milhões,
o investimento aumenta 33.378,04 unidades monetárias em milhões. Então, quando a taxa de
juros aumenta 10 unidades percentuais, o investimento reduz 1,253328 (em milhões).
A 1% de significância, o conjunto das variáveis explicativas (taxa de juros overselic e
PIB), é importante para explicar a variável dependente (investimento). O resultado do grau de
299
ajuste entre as variáveis representado pelo R² foi de 91,32%, portanto; 91,32% da variação do
investimento está sendo explicada pela variação do conjunto das variáveis explicativas.
4.2 Análise Econômica
Considerando o modelo estimado, verifica-se que o ajustamento foi de forma
satisfatória com o R² muito próximo de um, este sendo o grau de ajuste, quanto mais próximo
de um maior a importância das variáveis para explicar o modelo, ou seja, tanto o a renda
(PIBpm) quanto a taxa de juros (overselic) servem para explicar o investimento no setor de
Construção Civil (FBKF). Com efeito, os coeficientes estimados foram significantes a 1%, o
que significa dizer que são suficientes para explicar a variável dependente (FBKF).
Assim, em detrimento da teoria keynesiana, os termos utilizados para explicar as
variações no investimento se comportam de forma condizentes. Ou seja, relação positiva para
renda e negativa para a taxa de juros.
Como já apresentado, oscilações na renda (PIB) levariam a oscilações no
investimento. Desta forma, como o PIB é considerado fator determinante do investimento, no
modelo, tem-se: Tudo mais constante, com o PIBpm com sinal positivo remete-se uma
relação direta com o investimento no setor de construção civil.
E, no que diz respeito à relação entre a taxa de juros overselic e o investimento em
construção civil, tem-se que: há a observância de uma relação inversamente proporcional,
com os juros nacionais baixo há a tendência de uma elevação do investimento no setor
construtivo civil.
5. Conclusões
Com o intuito de analisar o investimento em decorrência do Produto Interno Bruto e
da taxa de juros no Brasil durante o período de 1974 a 2018, este presente estudo realizou
uma revisão teórica a partir do modelo keynesiano selecionando os principais e mais simples
determinantes do investimento. Assim, analisando o modelo estimado percebe-se que este se
enquadra nos preceitos apresentados, demonstrando as mesmas relações expostas na teoria.
Como dito inicialmente, o setor de construção civil detém da maior parcela
contributiva na composição das taxas de crescimento do país, reconhecido como o setor alvo
em muitos planos de governo pelo aporte na promoção da atividade econômica, pela grande
capacidade de gerar empregos e conseqüentemente gerar proporções maiores de renda para a
população, se tornando a principal área investida para a promoção do desenvolvimento.
Sempre que se é lançado um plano de governo essencialmente desenvolvimentista o setor de
construção é contemplado com o maior direcionamento dos investimentos.
Historicamente, no período entre 1974 até o início dos anos 80, observaram-se
oscilações positivas permitidas pelo II PND, de cunho majoritariamente desenvolvimentista,
onde houve grandes taxas de investimento no setor e elevadas taxas de crescimento do
produto nacional. Contrariamente a este período, a década de 80 se deu por retrações no setor,
devido principalmente a altas taxas de inflação, o que resultou em um recuo da economia na
época que ficou conhecida como década perdida. O investimento no setor segue esta linha de
proporcionalidade, ascensões econômicas tendem a elevar o nível de investimentos, enquanto
retrações reduzem o nível investido. Contudo, mediante conturbações do cenário econômico,
300
o investimento no setor pode se expandir ou retrair, principalmente em consequência às
medidas tomadas pelo governo, podendo afetar quase que diretamente tanto o nível de
produto nacional quanto a taxa de juros e conseqüentemente o investimento.
Desta forma, conclui-se que o modelo estimado pelo método dos mínimos quadrados
ordinários, se deu de forma satisfatória, pois foi capaz de auxiliar na veracidade da relação
entre a teoria econômica de Keynes e os dados apresentados, auferindo a relação já esperada
positivamente entre o produto interno bruto e a formação bruta de capital fixo, bem como
negativamente entre a taxa de juros overselic e a formação bruta de capital fixo.
Visto isso, a proteção do setor pelo governo se apresenta como sendo o meio mais
viável de manter o nível de crescimento do país, já que este se apresenta como sendo o maior
contribuidor para a economia, adotando mecanismos de defesa, podendo este ser
principalmente, através do controle da taxa de juros nacional.
6. Referências
COSTA, André Luiz da. Os determinantes do investimento privado no Brasil: Estimando
uma função para o período 1970-2011. Universidade de Brasília, Brasília, 2015.
CUNHA, Gabriel de Castro. A importância do setor da construção civil para o
desenvolvimento da economia brasileira e as alternativas complementares para o
fundingdo crédito imobiliário no Brasil. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2012.
KNACKFUSS, Marcelo Gonçalves. Construção na economia brasileira: Participação do
setor no investimento nacional. Universidade do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.
LUPORINI, V. e ALVES, J. Investimento privado: uma análise empírica para o
Brasil.Economia e Sociedade, Campinas, v. 19, n. 3 (40), p. 449-475, dez. 2010.
MAGNABOSCO, Ana Leila. Fatores determinantes do investimento e o papel das
mudanças institucionais na acumulação de capital e no crescimento do Brasil. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
301
ECONOMIA REGIONAL E URBANA
A IMPORTÂNCIA DA INCLUSÃO DIGITAL PARA A PROMOÇÃO DO
DESENVOLVIMENTODO ESTADO DO CEARÁ
FRANCISCA DELÂNE ALVES ROLIM
Aluna de Graduação do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Regional do Cariri-
URCA. E-mail: delaneenem@gmail.com
DANIEL KLAYRTON DO NASCIMENTO AMORIM
Aluno de Graduação do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Regional do Cariri-
URCA. E-mail: mydrawings21@gmail.com
VIVIANE SILVA SOUZA
Aluna de Graduação do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Regional do Cariri-
URCA. E-mail: viviane26021@hotmail.com
MARIA DE LOURDES DE ARAUJO
Dra. em Planejamento Urbano e Regional IPPUR-UFRJ e Profa. Associada do Departamento
de Economia- URCA. E-mail:maluaraujo2003@hotmail.com
302
A IMPORTÂNCIA DA INCLUSÃO DIGITAL PARA A PROMOÇÃO DO
DESENVOLVIMENTODO ESTADO DO CEARÁ
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo discutir sobre a inclusão digital, enquanto
estratégia de inclusão social e econômica, a partir de um mapeamento das principais ações de
inclusão digital no Brasil e no Estado do Ceará e as principias contribuições desta inclusão
digital para o desenvolvimento do Estado. Assim, foi realizado um levantamento bibliográfico
em artigos e sites, acerca da situação atual do Brasil e do Ceará a respeito da inclusão digital,
bem como sobre a importância da mesma para o acesso a informação e comunicação,
identificando as políticas públicas que existem e fomentam esta iniciativa, a fim de capacitar a
sociedade para seu desenvolvimento, tanto individual quanto coletivo. Os principais
resultados obtidos foi um melhor entendimento do tema e sobre como ele afeta diretamente as
relações socioeconômicas dos indivíduos, transformando sua vida na sociedade, e a
confirmação de que é um tema de pesquisa importante e emergente que elucida um problema
contemporâneo para o desenvolvimento do País e do Estado. Constatou-se que as políticas do
governo do Estado do Ceará, estão atreladas às iniciativas de inclusão digital e que os setores
federais e estaduais estão investindo em massa na construção de uma infraestrutura
tecnológica de acesso e na capacitação tecnológica do cidadão. Conclui-se assim que apesar
dos avanços ainda cabe ao Governo Federal e Estadual manter os programas existentes e
aumentar essas ações através de mais investimento, que possibilitam assim, as camadas
menos favorecidas da sociedade terem acesso e competência no uso do TIC, promovendo o
desenvolvimento geral.
Palavras-chaves: Inclusão digital, Economia, Sociedade.
THE IMPORTANCE OF DIGITAL INCLUSION FOR PROMOTING CEARÁ STATE
DEVELOPMENT
ABSTRACT: The present work aims to discuss about digital inclusion as a strategy of social-
economic inclusion, which was based on a mapping of the main actions of digital inclusion in
Brazil and Ceará State and the main contributions of this digital inclusion to the state
development. Thus, a survey was conducted through bibliographic studies in articles and
websites, the current situation of Brazil and the state of Ceara regarding digital inclusion, as
well as its importance for access to information and communication, and what policies public
policies that exist and foster this initiative in order to enable society for its individual and
collective development. The main results obtained were a better understanding of the theme
and how it directly affects individuals' socioeconomic relations, transforming their life in
society, and the confirmation that it is an important and emerging research theme that
elucidates a contemporary problem for the development of the subject. Country and state. It
was found that the policies of the government of the state of Ceará, are linked to digital
inclusion initiatives and that the federal and state sectors are investing in mass building a
technological access infrastructure and technological capacity building of the citizen. It is
concluded that despite the advances, it is still up to the Federal and State Government to
maintain existing programs and increase these actions through more investment, thus enabling
the most disadvantaged sections of society to have access and competence in the use of ICT,
promoting the development general.
Keywords: Digital Inclusion, Economics, Society.
303
1. Introdução
Uma das grandes inovações tecnológicas da humanidade, sem dúvida alguma, foi a
invenção da rede mundial de internet, a qual chegou ao Brasil durante a década de 1990, e
ganhou força, proporção e alcance principalmente no final dos anos 2000 e começo de 2010.
As pessoas passaram a se comunicar e logo se interessaram pelas compras por meio on-line e
outras atividades das quais foram possíveis com o uso dessa ferramenta. Hoje no Brasil existe
uma grande massa de indivíduos conectados à internet, segundo a pesquisa anual do TIC
Domicílios (2018). Os referidos estudos indicam que, aproximadamente 67% da população
brasileira tem acesso à internet, porém essa mesma pesquisa evidencia que apenas 44% dos
integrantes da classe E e D, dispõem de acesso à internet. É o que destaca também o
Panorama Setorial da Internet (2016, pag.1) o qual diz que se, ―por um lado, o serviço
cresceu, diversificou-se e mudou a forma como as pessoas trabalham, estudam e até mesmo se
relacionam, por outro, ele ainda não está disponível para muitas pessoas‖. Tais dados
evidenciam que, apesar dos avanços ainda há uma gama de pessoas que não dispõem dos
benefícios provenientes do acesso à internet.
Uma das estratégias para tentar superar o mencionado entrave ao desenvolvimento
socioeconômico éaInclusão Digital, enquanto meio de inclusão social, econômica e política,
através da democratização do acesso às novas tecnologias da informação. Quando exploradas
adequadamente, as novas ferramentas podem contribuir para a melhoriadas condições de vida
dos indivíduos. Segundo relata Cruz (2004), para a comunidade em geral, a inclusão digital
permite o uso das tecnologias de comunicação e informação, contribuindo para o
―fortalecimento de suas atividades econômicas, de sua capacidade de organização, do nível
educacional e da autoestima dos seus integrantes, de sua comunicação com outros grupos, de
suas entidades e serviços locais e de sua qualidade de vida‖. Desta forma, a inclusão digital é
também uma forma de inclusão social e econômica, conforme mencionamos anteriormente.
Vale ressaltar que para que haja a inclusão digital são necessários três requisitos
básicos: um computador, acesso à internet e, principalmente, o domínio sobre as ferramentas
da internet. Por este motivo, os programas de inclusão digital dos governos, por exemplo,
devem visar essencialmente a formação e "alfabetização informática" dos usuários, para que
sejam aptos a extrair os benefícios do universo digital. Além de saber usá-las é essencial
aplicá-las para meios de engrandecimento individual e coletivo, e claro, dispordas ferramentas
necessárias para a navegação como o computador e o acesso à internet. O referido conjunto de
ação visa possibilitar aos indivíduos uma maior inclusão no processo de crescimento
tecnológico do país, permitindo uma maior inclusão social e econômica nos Estados e
consequentemente, contribuindo para a promoção do desenvolvimento.
Neste contexto, o Governo Federal e o Governo do Estado do Ceará implantaram
ações para a promoção da inclusão digital, através de Políticas Públicas, dentre elas
destacamos os programas a seguir: a) Ilhas Digitais (2001) que estão inseridas no Plano de
Ação Ceará Digital, cuja articulação foi realizada pelo Centro de Estratégias de
Desenvolvimento do Estado do Ceará - CED, autarquia ligada à Secretaria do Planejamento
do Governo do Estado do Ceará; b) Casa Brasil (2004) que realizou a Implantação de espaços
multifuncionais de conhecimento e cidadania em comunidades com baixo IDH, por meio de
304
parcerias com instituições locais; c) O Cinturão Digital (2008)seu propósito é viabilizar o
acesso à internet de alta qualidade a todos os órgãos públicos do Estado e possibilitar que a
população tenha acesso a serviços digitais como internet, videoconferência, TV Digital,
telefonia celular etc., constituindo-se em ferramenta indispensável ao desenvolvimento
econômico do Estado;o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) elaborado em 2010 é
uma iniciativa do Governo Federal que tem o objetivo principal massificar o acesso à internet
em banda larga no país, principalmente nas regiões mais carentes da tecnologia; O Programa
Brasil digital criado em 2018, o qual tem a missão de construir as bases para a digitalização
da economia no país; O Movimento Brasil Competitivo e parceiros do ano de 2019 acreditam
que a evolução digital possui uma influência direta na competitividade e no crescimento
econômico nacional.
Desta forma pode-se perceber que a inclusão digital que permite o acesso às
tecnologias de informação e comunicação a todos os indivíduos de forma igualitária está
alterando radicalmente a forma como as empresas privadas, instituições e governos atuam na
sociedade, pois o desenvolvimento pessoal e coletivo está ligado à referida inclusão.
Conforme destaca Kohn e Moraes (2007),em nossa realidade, o medidor de conhecimento e
de riqueza de um país ou de um Estado passou a ser o acesso à tecnologia e a capacidade de
desenvolvimento na área da informação, visto que as práticas relacionadas a ela se tornaram o
principal setor da economia. Tais aspectos destacam a importância e instauração de um
simbolismo da tecnologia como bem maior, a ser perseguido e incorporado em novas práticas
sociais visando o desenvolvimento nacional e estadual.
2. Referencial Teórico (ou Revisão de literatura)
Esse é um assunto que evidencia a importância da inclusão digital para o
fortalecimento da economia e da sociedade de uma região, é o que destaca Mattos e Santos
(2009):
O termo ―sociedade da informação‖, amplamente utilizado como sinônimo de
uma nova era digital vem se revelando objeto de importantes investigações no
mundo acadêmico. Para os autores vinculados ao discurso dominante, que é
laudatório da chamada ―sociedade da informação‖, a difusão e a apropriação dos
recursos tecnológicos são apresentadas como solução para os mais diversos
problemas sociais e econômicos, uma vez que melhorias na qualidade de vida,
aumento da renda e das possibilidades de emprego seriam obtidas com a apropriação
e utilização das chamadas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs). A
sociedade, portanto, segundo esses mesmos autores, estaria visivelmente dividida
em dois pólos: de um lado, os ―digitalmente incluídos‖, detentores das tecnologias
dominantes, e de outro, os ―digitalmente excluídos‖, indivíduos que não possuem
acesso ao então recurso social primário – a informação. Partindo desse pressuposto,
a inclusão digital seria um projeto estratégico, com o objetivo de integrar, coordenar
e fomentar o desenvolvimento e a disseminação dos recursos tecnológicos em
diferentes setores da sociedade, possibilitando assim melhorias significativas para
toda a população. (MATTOS; SANTOS, 2009, pag.118)
No mundo contemporâneo o acesso a informação se tornou essencial para todas as
práticas realizadas que precisam de conhecimento, pois o conhecimento se tornou mais fácil e
universal como destaca Vieira (2007):
305
―A informação contém em si o principal ativo da sociedade da informação,
ou seja, sua principal riqueza, sendo indispensável ao desempenho de qualquer
atividade – o que explica a nomenclatura atribuída a essa nova forma de organização
social, política e econômica. O trabalho, a educação, a saúde, o lazer, a política, a
economia, enfim, tudo depende da informação. Após a supervalorização da terra na
época da revolução agrícola e o predomínio dos bens de produção na revolução
industrial, o que prepondera agora é a informação. ‖ (VIEIRA, 2007. p.177)
Para que haja a inclusão é necessário não somente o acesso a computadores à internet,
mas é necessário também, que o Estado através de políticas públicas, atuem norteado e
conscientizar os indivíduos da importância do uso da informação, como elemento para o
desenvolvimento de sua cidadania, como destaca Barreto (2002):
―Democratizar a informação não pode assim, envolver somente programas
para facilitar e aumentar o acesso à informação. É necessário que o indivíduo tenha
condições de elaborar este insumo recebido, transformando-o em conhecimento
esclarecedor e libertador, em benefício próprio e da sociedade em que vive.‖
(Barreto, 2002, p.05)
Segundo o mapa da inclusão digital (2012) os dados das capitais em que os cidadãos
justificam o não uso da internet por não ter acesso ou não saber acessar, são as capitais com
menor índice de desenvolvimento econômico e social no Brasil.
A inclusão digital é um processo realizado por iniciativa privada ou por inciativa do
governo, que visa a democratização da informação entre todos os indivíduos
independentemente da cor, raça ou classe social. Assim favorece tanto aos de classe ―A‖
quando aos de classe―E‖, disponibilizando a informação de maneira igualitária a toda a
população. De acordo com Nazareno et al. (2006)
―Inclusão digital é o processo de alfabetização tecnológica e acesso a
recursos tecnológicos, no qual estão inclusas as iniciativas para a divulgação da
Sociedade da Informação entre as classes menos favorecidas, impulsionadas tanto
pelo governo como por iniciativas de caráter não governamental. ‖ (Nazareno et al.
2006, p. 13)
3. Metodologia
O presente trabalho tem como principal objetivo identificar a importância da inclusão
digital e suas principais contribuições para a promoção do desenvolvimento no Estado do
Ceará. Especificamente objetiva averiguar a situação atual do Estado do Ceará a respeito da
inclusão digital, quais os principais programas voltados para essa inclusão e os benefícios
alcançados, destacando as transformações socioeconômicas causadas nas comunidades e a
importância desse fenômeno para o desenvolvimento individual e coletivo.
Para alcançar os objetivos propostos realizamos os seguintes procedimentos
metodológicos: a) levantamento bibliográfico acerca da literatura científica sobre o tema; b)
consultas em artigos e em sites especializados sobre o tema ora apresentado e c) pesquisas em
sites oficias do governo federal e estadual, identificando os principais Programas de Inclusão
Digital, no Brasil e no Ceará, nos períodos recentes e d) a partir dos procedimentos
306
anteriormente elencados, usamos uma abordagem qualitativa e quantitativa simplificada
acerca dos fenômenos e processos abordados na presente pesquisa.
4. Resultados e Discussões
De acordo com os resultados obtidos nesta pesquisa foi possível uma melhor
compreensão sobre o tema abordado e sobre como a inclusão digital afeta diretamente na
inclusão social e econômica, transformando a vida de todos que compõem a sociedade. A
partir disto foi comprovado a confirmação de que é um tema de pesquisa importante e
emergente que elucida um problema contemporâneo para o desenvolvimento tanto do Brasil
quanto do Estado do Ceará, visto isso percebe-se a importância dos programas do governo ao
levar a informação para todos.
O acesso a informação se tornou essencial na tomada de decisões, como por exemplo
o novo hábito cada vez mais comum entre os usuários que é a compra pela internet, na qual
em 2011 até 2017, aumentou cerca de R$ 18,7 milhões para R$ 47,7 milhões no Brasil. O e-
commerce brasileiro encerrou o ano de 2018 com faturamento de R$ 53,2 bilhões, o que
representa uma alta nominal de 12% na comparação anual, de acordo com informações da
Ebit Nielsen. A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm)
estima crescimento de 16%, em 2019.
Com a Inclusão digital no Estado do Ceara através de programas do governo com
investimento em grande escala, teve como resultado uma maior inclusão socioeconômica,
aumentando as possibilidades de inserção de novos profissionais no mercado de trabalho,
através da qualificação da mão-de-obra. Simultaneamente, novas alternativas de lazer e
cultura permitiu o acesso dos cidadãos aos serviços públicos, aproximando-os das decisões
políticas, através de conexão com a rede governamental, reduzindo as fronteiras existentes,
pois melhorou a comunicação entre comunidades fomentando assim o desenvolvimento do
Estado e dos municípios.
5. Conclusões
Percebe-se então que os estudos acerca da inclusão digital no Brasil ainda são poucos,
e que as regiões com menor uso de internet são as de menor índice de desenvolvimento
econômico e social, sendo assim, os programas de inclusão digital são essenciais para o
desenvolvimento socioeconômico individual e coletivo.
Visto isso, apesar de muitos indivíduos já terem acesso aos meios de informação e
comunicação, ainda existem pessoas no Brasil e no Ceará que não dispõem dos benefícios
oferecidos pelo acesso ao TIC, sendo assim se faz necessáriaa continuação dos programas e o
desenvolvimento de outros, tanto de empresas privadas, como também do Governo e de
organizações diversas, pois a inclusão social está ligada ao desenvolvimento do Brasil e do
Estado do Ceará.
Conforme os dados analisados no presente trabalho, conclui-se que a inclusão digital
no Brasil e no Ceará, nos períodos recentes, se expandiu, ao ter-se um aumento das
307
disponibilidades das ferramentas necessárias ao acesso da informação e do conhecimento o
qual se evidencia como um sinônimo de riqueza entre as comunidades. Neste quesito, o Ceará
é considerado uma ilha digital, destacando-se no âmbito de democratização da informação,
devido aos programas de incentivo do governo, os quais atendem a todas as classes desde a
―A‖ até a ―E‖. Ao mesmo tempo, o Ceará tem promovido, através da parceria do governo com
a iniciativa privada, grandes magnitudes de investimentos em fibra ótica e banda larga,
aumentando a inserção do Ceará no processo de globalização da Economia e da Sociedade.
6. Referências
Acesso à Internet no Brasil: Desafios para conectar toda a população. Panorama Setorial da
Internet. Ano. 8, Número. 1, pag.1, 2016.
CRUZ, R. O que as empresas podem fazer pela inclusão digital. São Paulo: Instituto Ethos,
2004.
VIEIRA, Tatiana Malta. O direito à privacidade na sociedade da informação: efetividade
desse direito fundamental diante dos avanços da tecnologia da informação. Porto Alegre:
Sergio Antonio Fabris, 2007.
KOHN, K.; MORAES, C. H. O impacto das novas tecnologias na sociedade: conceitos e
características da Sociedade da Informação e da Sociedade Digital. In. XXX Congresso
Brasileiro de Ciências da Comunicação. Pag. 2, 2007.
MATTOS, F. A. M. de. SANTOS, B. D. D. R. Sociedade da informação e inclusão digital:
uma análise crítica. Liinc em Revista, v.5, n.1, Rio de Janeiro, p. 117- 132, 2009.
BARRETO, A. A. A condição da informação. In: São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v.16,
n.3, p. 67-74, 2002.
NAZARENO, C.; BOCCHINO, E. V.; MENDES, F. L.; PAZ FILHO, J. S.. Tecnologias da
Informação e sociedade: o panorama brasileiro. Câmara dos deputados, coordenação de
publicações, Brasília, 2006.
MPA (Mapa de inclusão digital) – 2012. Disponível
em<https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/20738/Sumario-Executivo-
Mapa-da-Inclusao-Digital.pdf.> Acesso em: 20 out. 2019.
308
EIXO TEMÁTICO GT 4. ECONOMIA REGIONAL E URBANA.
A IMPORTÂNCIA DOS IMPOSTOS DE COMPETÊNCIA MUNICIPAL NO
ORÇAMENTO DE JUAZEIRO DO NORTE-CE, 2013 A 2015.
THE IMPORTANCE OF MUNICIPAL COMPETENCE TAXES IN THE JUAZEIRO
DO NORTE-CE BUDGET, 2013 TO 2015.
ANDERSON ALCANTARA MEDEIROS
Professor substituto do departamento de Economia da URCA, Economista, Especialista em
Direito Tributário.
E-mail: andersonalcmed@hotmail.com
Telefone:88 988784568
JOSYELLEN MAMEDE DO NASCIMENTO
Graduanda em Economia pela Universidade Regional do Cariri.
E-mail: josyellen.mamede@hotmail.com
Telefone: 88 99804 8664
ANTÔNIA CAMILA BRANCA DA SILVA
Graduanda em Economia pela URCA.
E-mail: antoniacamilaenem2015@bol.com.br
Contato: 88 994963154
FRANCISCO ROBERTO DIAS DE FREITAS
Professor do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri, Crato/CE
(Brasil). Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
E–mail: profrobertodias@gmail.com
HARDILEY ALVES
Graduando em Economia pela URCA.
E-mail: Hardiley1@gmail.com
Contato: 88 997618846
309
A IMPORTÂNCIA DOS IMPOSTOS DE COMPETÊNCIA MUNICIPAL NO
ORÇAMENTO DE JUAZEIRO DO NORTE-CE, 2013 A 2015.
THE IMPORTANCE OF MUNICIPAL COMPETENCE TAXES IN THE JUAZEIRO
DO NORTE-CE BUDGET, 2013 TO 2015.
RESUMO: A tributação assume um papel importante nas políticas econômicas realizadas
pelos municípios ao fomentar desenvolvimento, redistribuição de renda e servir como uma
das principais receitas para a execução de suas políticas. Nesta perspectiva, cumpre aos
impostos de competência municipal um papel de destaque na economia de Juazeiro do Norte-
CE que possui uma economia voltada para o comércio e a prestação de serviços, assim como
também possui uma alta taxa de urbanização, o que possibilita uma maior arrecadação de
IPTU sobre os contribuintes.Objetivou-se com este trabalho estudar a relevância dos impostos
de competência municipal no orçamento da cidade de Juazeiro do Norte – CE,
comparativamente aos anos que compreendem entre 2013 e 2015. Ao realizar as análises das
receitas de Juazeiro do Norte-CE se observou que o ISS é o imposto de competência
municipal que possui um valor de maior representatividade, enquanto que o IPTU, que teria
todas as indicações de apresentar um valor considerável da arrecadação, apresentou um valor
pouco relevante na contribuição para a receita total da cidade.
Palavras-chaves: Imposto de competência municipal; Análise econômico-tributária; Juazeiro
do Norte-CE.
ABSTRACT: Taxation plays an important role in economic policies implemented by
municipalities by fostering development, income redistribution and serving as one of the main
revenues for the implementation of their policies. In this perspective, municipal taxes play a
prominent role in the economy of Juazeiro do Norte-CE, which has an economy focused on
trade and the provision of services, as well as a high urbanization rate, which enables greater
property tax collection on taxpayers. The objective of this study was to study the relevance of
municipal taxes on the budget of the city of Juazeiro do Norte - CE, compared to the years
between 2013 and 2015. When analyzing revenue from Juazeiro do Norte-CE it was observed
that the ISS is the municipal tax that has a higher representation value, while the property
tax, which would have all indications of presenting a considerable amount of the collection,
presented a minor value in the contribution to the total revenue of the city.
Keywords:Municipaljurisdictiontax; Economic-taxanalysis; Juazeiro do Norte-CE.
310
1.Introdução
A tributação surge desde a criação do Estado, desde quando o homem passou a se
organizar em sociedade, deixando de ser individual e passou a ser focado na transformação no
homem político, onde se buscava o bem comum e a vida social como prioridade e principal
forma de desenvolvimento do bem-estar e da vida social. Logo, o poder de tributar está
diretamente ligado à origem do Estado, pois é este o único que possui o poder de cobrar
tributos com vista a assegurar sua manutenção e seu crescimento, para assim beneficiar toda a
comunidade, formando uma ligação entre governante e governados, baseado no bem comum
da população.
Vemos que é da necessidade de viver em sociedade e de garantir uma segurança maior
à população que surge a tributação, pois esta vem desde seu princípio como uma forma de
garantir o sustento da comunidade como um todo, garantindo que o Estado possa ser
autossustentável e assim promova o bem-estar social e o desenvolvimento econômico da
sociedade.
Diante disso, buscou-se com este trabalho apresentar os valores arrecadados em
Juazeiro do Norte-CE com os impostos de competência municipal, a saber, Imposto Sobre
Serviços de Qualquer Natureza (ISS), Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e o
Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), comparados à arrecadação total.
2. Referencial Teórico
O Estado atua de diversas formas na economia, envolvendo despesas diretas, ou ações
que indiretamente influenciam nas relações comerciais (CORREIA, 2012). Vale destacar que
a atuação do poder público se dá pela atuação de seus agentes públicos e deve ser pautada
pelo princípio da constitucionalidade do direito administrativo, podendo este, no Estado de
direito democrático, atuar apenas dentro dos limites preestabelecidos pela lei, não podendo
usar de atividades que não já tenham sido autorizadas em legislação. Trata-se do direito do
agente público de atuar apenas conforme o já autorizado não sendo válida a sua atuação fora
desses padrões.
Em uma visão macroeconômica, os tributos cumprem prioritariamente uma finalidade
fiscal, ou seja, arrecadar recursos financeiros aos cofres públicos. Neste sentido, os tributos
ocupam um lugar central, sendo responsáveis por cerca de 80% do total das receitas no
resultado nominal do governo. (LUKIE, 2014).
É através da tributação que um Estado consegue assegurar políticas voltadas para a
sociedade, assim como garante o funcionamento do mercado, apesar de que haja controvérsias
na teoria econômica sobre até onde o governo deva exercer seu controle, mas o fato é que
atualmente o Estado exerce uma função de não só apenas garantir as condições básicas para
que o mercado ocorra, mas regular todos os setores da economia de forma a garantir um pleno
desenvolvimento econômico e social, assim como assegurar que durante os períodos de crise
do ciclo econômico a população possa não sofrer nenhuma ou quase nenhuma consequência
da crise (CORREIA, 2012).
Este pensamento de um Estado intervencionista foi fortalecido com os pensamentos de
keynes, que contrário ao pensamento econômico clássico vigente até 1930, viu a crise
ocasionada pela quebra da bolsa de valores de Nova York como sendo fruto de um Estado de
pouca influência, propondo assim que o governo tomasse as rédeas da economia como forma
311
de amenizar esses períodos de crise. Mais a frente, estudiosos do pensamento de Keynes
criaram uma corrente econômica incluindo cálculos não originários dos estudos iniciais,
denominando assim essa corrente filosófica como o modelo econômico Keynesiano.
Entre as formas de arrecadação de dinheiro por parte do Estado, é a tributação a
principal delas, pois além de garantir um alto valor monetário, ainda assegura que através das
políticas tributárias o Estado exerça eficientemente sua função de regulador de mercado,
incentivando a produção interna, desincentivando a importação, beneficiando os pequenos
produtores para que o mercado possa ficar mais competitivo e com um risco menor de se
tornar monopolista, entre diversas outras funções alcançadas êxito a partir da tributação
racional e eficiente.
No entanto, a principal função da arrecadação tributária é garantir recursos para que o
Estado alcance um pleno crescimento econômico e possa deixar o mercado operando o mais
próximo quanto for possível do pleno emprego, que é uma situação da economia em que
todos os recursos disponíveis na economia estão sendo utilizados e quase não há desemprego
involuntário (CORREIA, 2012).
Sobre o pleno emprego, o pensamento clássico acreditava que a economia por si só
sempre se ajustaria para alcançar o pleno emprego, desde que não houvesse intervenção
estatal, o que é diferente do pensamento de Keynes, que afirma ser necessário o envolvimento
do Estado para que a economia alcance o pleno emprego e possa garantir sua manutenção por
longos períodos, garantindo assim um crescimento econômico contínuo.
A tributação tem a função de financiar duas formas de gastos básicos do governo
conforme o modelo Keynesiano simples a saber, os gastos do governo e as transferências para
o setor privado.
3. Metodologia
O método fenomenológico é recorrente durante o desenvolvimento da pesquisa, pois
se trata de uma pesquisa prevalente qualitativa, onde através de uma pesquisa descritiva se
pretende realizar o estudo do caso em questão, considerado de suma importância na
compreensão econômica municipal.
Para tanto, foram buscadas informações e dados junto ao portal de transparência do
município de Juazeiro do Norte-CE que apontaram e serviram de subsídio para uma melhor
identificação da situação econômica da cidade, bem como realizou-se uma análise descritiva
da relevância da arrecadação dos impostos de competência municipal.
4. Resultados e Discussões
Juazeiro do Norte apresentou uma receita tributária de R$ 29.797.412,19 no ano de
2013, sendo um total de 9,01% da receita total, conforme se observa na tabela 1. Para o ano
de 2014, este percentual fora de 9,03% e de 9,42% para 2015. Observa-se portanto, um
crescimento, ainda que pequeno, da importância da receita tributária comparativamente à
arrecadação total do município em estudo. Quanto aos impostos de competência municipal,
estes compreendem um total de 71,22%, 72,15% e 72,63% da receita tributária total para os
anos de 2013, 2014 e 2015 respectivamente.
312
TABELA 1
Receita de Juazeiro do Norte-CE, 2013 a 2015.
Tipo de Receita 2013 2014 2015
Receita Total R$ 330.705.008,04 R$ 387.321.192,31 R$ 426.787.703,13
Receita Tributária R$ 29.797.412,19 R$ 34.977.618,53 R$ 40.220.235,70
Arrecadação com Impostos R$ 27.130.982,10 R$ 32.549.060,42 R$ 37.280.774,05
Arrecadação com Impostos
de Competência Municipal R$ 21.221.215,16 R$ 25.237.344,26 R$ 29.211.091,44
Fonte: Dados da Prefeitura de Juazeiro do Norte-CE.
A arrecadação tributária com impostos de competência municipal em Juazeiro do
Norte-CE pode ser observada na tabela 2. A partir dela se pode observar que o ISS é o
imposto que apresenta maior valor de arrecadação. Isso se deve principalmente ao fato da
economia de Juazeiro do Norte ser movida principalmente pelo setor de prestação de serviços
e pelo comércio, sendo que o ICMS é um imposto de competência estadual, por isso não fora
aqui analisado.
Apesar da arrecadação com impostos de competência municipal terem aumentado
entre 2013 e 2014, o valor arrecadado com o IPTU sofreu um decréscimo. O principal
responsável pelo aumento na arrecadação entre 2013 e 2014 fora o ISS em termos absolutos.
O crescimento relativo anual entre 2013 e 2015 para o ISS, o ITBI e o IPTU foram
respectivamente 12,96%, 41,69% e 17,56%.
TABELA 2
Receita Tributária da Competência de Juazeiro do Norte-CE, 2013 a 2015.
Tipo de Tributo 2013 2014 2015
Taxas R$ 2.666.430,09 R$ 2.428.558,11 R$ 2.939.461,65
ISS R$ 15.578.058,79 R$ 18.798.462,84 R$ 19.878.236,66
ITBI R$ 2.451.878,14 R$ 3.531.196,12 R$ 4.922.571,58
IPTU R$ 3.191.278,23 R$ 2.907.685,30 R$ 4.410.283,20
Fonte: Dados da Prefeitura de Juazeiro do Norte-CE.
Apesar do crescimento em termos relativos do IPTU, considerando que Juazeiro do
Norte possui um grau de urbanização de 95% (MEDEIROS, 2016), o valor arrecadado ainda é
pouco expressivo. Não há dentro do município a devida fiscalização e cobrança desse tributo,
o que o faz ser em termos nominais, o de menor valor arrecadado em 2015.
Com a implantação da Nota Fiscal de Serviços Eletrônica (NFS-E) em 2012 no
município de Juazeiro do Norte e sua efetiva utilização e divulgação, o ISS apresentou um
crescimento considerado no valor arrecadado.
313
5. Conclusões
O estudo da tributação para a compreensão da economia de uma região é de suma
importância por ser a política tributária de grande relevância na determinação do nível de
renda de uma cidade, haja vista que os tributos influenciam diretamente nos gastos das
famílias, das empresas e do governo, assim como interfere diretamente nas relações
comerciais entre municípios.
Com uma receita total pouco dependente das arrecadações tributárias apesar de ter
uma alta arrecadação com o ISS, Juazeiro do Norte se mostra não tão dependente da
arrecadação com impostos municipais, sendo evidente uma baixa arrecadação de IPTU apesar
da alta taxa de urbanização da cidade, revelando que a falta de execução fiscal é a principal
causa desta baixa arrecadação com IPTU.
Referências
CORREIA, Edmundo Pereira. A Intervenção do Estado na Economia. 2012.
LUKIE, Melina. Tributo em Espécie, Editora Fundação Getúlio Vargas, 2014.
MEDEIROS, Anderson Alcantara. Impostos municipais: Uma análise tributária e
orçamentária da cidade de Juazeiro do Norte – CE, 2013 a 2015. Monografia - Faculdade
Damásio de Jesus, Juazeiro do Norte, p. 58. 2016.
314
EIXO TEMÁTICO 4: ECONOMIA REGIONAL E URBANA
AS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES DO PROGRAMA MINHA CIDADE
INTELIGENTE PARA O FORTALECIMENTO DA ECONOMIA DE BANDA
LARGA NO BRASIL.
DIE BELANGRIKSTE BYDRAES VAN DIE MY INTELLIGENTE CITY
PROGRAM TOT DIE VERSTERKING VAN DIE BREËBAND-EKONOMIE IN
BRASILIË.
GEILZA MARIA DA SILVA
Graduanda em Ciências Econômicas na Universidade Regional do Cariri - URCA, Bolsista do
Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas - CEPEC, email: geilzamariads@gmail.com
WENDELL SOUSA FELIPE DA COSTA
Graduando em Ciências Econômicas na Universidade Regional do Cariri - URCA, Bolsista
do GEOPARK ARARIPE, Setor de Comunicação, email: wendellsousa69@gmail.com
TEREZINHA RAIANE MACEDO DE LAMOS
Graduanda em Ciências Econômicas na Universidade Regional do Cariri - URCA, email: t-
raiane-lemos@bol.com.br
JOÃO EUDES NASCIMENTO JUREMA
Graduando em Ciências Econômicas na Universidade Regional do Cariri - URCA, email:
juremanascimento200@gmail.com
MARIA DE LOURDES DE ARAUJO
Dra. Em Planejamento Urbano e Regional IPPUR-UFRJ, Profa. Associada do departamento
de Economia – URCA, email: maluaraujo2003@hotmail.com
315
AS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES DO PROGRAMA MINHA CIDADE
INTELIGENTE PARA O FORTALECIMENTO DA ECONOMIA DE BANDA
LARGA NO BRASIL.
RESUMO:
O Programa Minha Cidade Inteligente conta com grandes investimentos, com o intuito de
ampliar o acesso remoto de banda larga pelo Brasil, objetivando incentivar a aplicação de
tecnologias nos municípios de forma prioritária, fundamentada na internet das coisas. O
referido Programa é financiado, através de verbas liberadas pelo governo federal para as
Prefeituras que realizaram um cadastro na plataforma ministerial. O pré-requisito básico
exigido dos municípios para participar do Programa consiste em apresentar um projeto de
rede ótica, propondo ações para promover melhoria na qualidade de vida dos habitantes. O
Ministério da Comunicação estipulou várias metas voltadas às Tecnologias da Comunicação e
Informação, devendo estes proporcionar formas mais acessíveis aos cidadãos, tais como:
adquirir, gerar e expandir a informação, assim como o conhecimento para a melhoria das
cidades e comunidades.
Palavras-chaves: Tecnologia, Investimento e Conectividade.
ABSTRACT:
The My Smart City Program has major investments in order to expand remote broadband
access throughout Brazil, aiming to encourage the application of technologies in the
municipalities as a priority, based on the internet of things. The Program has funds released to
the municipalities that have registered in the program and that as a prerequisite have an
optical network project. It should thus guarantee a better life for the citizens. The Ministry of
Communication has set several goals for Communication and Information Technologies,
which should provide more accessible ways to citizens: Acquire, generate and expand
information as well as knowledge for the improvement of cities and communities.
Keywords: Technology, Investment and Connectivity.
316
1.Introdução
O Ministério das Comunicações lançou o Programa Minha Cidade Inteligente em maio de
2016, o qual se constitui um novo estágio do Plano Nacional de Banda Larga (2010), com o
intuito de amplificar o acesso à banda larga, por meio de grandes investimentos. O propósito
do programa é incentivar os municípios a utilizar tecnologias, através das quais os indivíduos
possam se conectar a internet, usando diferentes dispositivos, de acordo com suas
necessidades. A principal concepção do Programa Brasil Inteligente é cobrir o maior número
possível de regiões no Brasil possibilitando o acesso à internet de alta velocidade, através de
fibra ótica e Economia de Banda Larga.
2. Referencial Teórico (ou Revisão de literatura)
Como referência teórica a importância a respeito de ampliação da tecnologia derivada de
pesquisas e investimentos o ―Andrés Rodríguez-Pose” que se posiciona afirmando que, o
“Investimento em pesquisa e desenvolvimento é uma das chaves para se alcançar a inovação e
o desenvolvimento econômico‖. Com novos produtos e processos, a sociedade maximiza sua
capacidade tecnológica, aumenta sua produtividade e, portanto, o crescimento econômico.
Baseado em Manuel Castells, o qual analisa a internet em seu trabalho ―A Sociedade em
Rede‖, o mesmo aborda que a ―Internet é o tecido de nossas vidas neste momento. Não é
futuro. É presente. A Internet é um meio para tudo, que interage com toda a sociedade e, de
fato, apesar de ser tão recente, em sua forma societal‖. Assim, podemos afirmar que a rede
mundial de internet está inserida na Sociedade da Informação e na Economia de Banda Larga,
evidenciando novas fases da Revolução Técnico-científica na globalização.
No Brasil, o Governo Federal desenvolveu o Programa Minha Cidade Inteligente e junto com
o Ministério das Comunicações deu início a nova fase dentro do Programa Nacional de Banda
Larga (PNBL) que visa promover o acesso à internet de qualidade e a inclusão digital.
317
3. Metodologia
Para alcançar os objetivos propostos no presente trabalho realizaremos um levantamento
bibliográfico, consultando autores que se destacam acerca da abordagem ora proposta.
Simultaneamente, consultaremos revistas e sites oficiais, especializados em relação ao tema.
Serão utilizados dados qualitativos e quantitativos para oferecer maior robustez ao presente
arcabouço teórico e metodológico.
4. Resultados e Discussões
Os principais resultados econômicos e sociais que o Brasil alcançou após implementar o
Plano Nacional de Banda Larga (2010) indicam que, mais de 600 municípios do Brasil
adquiriram serviços de banda larga por meio do backfone da Telebrás, representando em
torno de 40% da população brasileira. No período de 2010 a 2013, ocorreu um aumento de 13
milhões para 14 milhões de usuários nas conexões de banda larga por fio. Em relação ao
período citado, os acessos a redes de banda larga aumentaram de 15 milhões para 68 milhões.
O Programa Minha Cidade Inteligente tem como meta assistir 70% dos municípios do Brasil
até 2019, com cabos de Fibra Óptica, sendo que em 2016 já havia atendido a 52% dos
municípios.
5. Conclusões
Com a globalização e os avanços tecnológicos, um dos motivos fundamentais para o
desenvolvimento econômico, social e cultural decorre do aproveitamento das oportunidades
disponibilizadas pelas tecnologias de informação e comunicação. Atualmente a comunidade
divide a certeza de que o desenvolvimento econômico e social necessita, em grande
proporção, da extensão e eficiência dos métodos de adaptação, transformação e inovação
tecnológica, como também da habilidade de fornecer e transmitir informação e conhecimento,
gerar emprego e renda, estimular igualdade social e cultural e proporcionar a satisfação dos
cidadãos.
318
6. Referências
Alves, Nadine. Smarty City: As sete cidades mais inteligentes do mundo, Construct, 2018.
Disponível em: <https://constructapp.io/pt/smart-city-cidades-mais-inteligentes/>. Acesso em:
30 de set. de 2019.
As cidades mais inteligentes e conectadas do Brasil,Época Negócios, 2019. Disponível em:
<https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2019/09/cidades-mais-inteligentes-e-conectadas-
do-brasil.html>. Acesso em: 30 de set. de 2019.
Castells, Manuel. A sociedade em rede, São Paulo, Paz e Terra, 1999.
Entenda o que é o programa Brasil Inteligente, ispblog, 2017. Disponível em:
<https://www.ispblog.com.br/2017/01/06/entenda-o-que-e-o-programa-brasil-inteligente/>.
Acesso em: 30 de set. de 2019.
Fariello, Danilo. Novo programa de banda larga é lançado sem a presença de Dilma, O
Globo, 2018. Disponível em: <https://tecnoblog.net/247956/referencia-site-abnt-
artigos/>Acesso em: 30 de set. de 2019.
Minha cidade Inteligente: O Futuro das cidades no Brasil, FIBRACEM, Pinhais, 2016.
Disponível em: <https://www.fibracem.com/curiosidades/minha-cidade-inteligente-o-
futuro-das-cidades-no-brasil/>. Acesso em: 30 de set. de 2019.
O que é o Programa Nacional de Banda Larga, senadonotícias, Brasília, 2014. Disponível
em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2014/08/14/o-que-e-o-programa-nacional-
de-banda-larga>. Acesso em: 30 de set. de 2019.
Passarinho, Natalia. Governo Lança Plano Nacional de Banda Larga.G1, Brasília, 2010.
Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2010/05/governo-lanca-plano-
nacional-da-banda-larga.html>. Acesso em: 30 de set. de 2019.
Vale a pena investir em pesquisa e desenvolvimento nas regiões periféricas, Desafios do
Desenvolvimento, Brasília, 2004. Disponível em:
<http://desafios.ipea.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=708:vale-a-pena-
investir-em-pesquisa-e-desenvolvimento-nas-regioes-perifericas&catid=29:artigos-
materias&Itemid=34>. Acesso em: 30 de set. de 2019.
319
Visão geral do Programa Nacional de Banda Larga, TechinBrazil, 2015. Disponível em:
<https://techinbrazil.com.br/visao-geral-do-programa-nacional-de-banda-larga>. Acesso em: 18 de
set. de 2019.
320
EIXO TEMÁTICO GT 4. ECONOMIA REGIONAL E URBANA
CIDADES VIRTUAIS: UM ESTUDO DO CINTURÃO DIGITAL DO CEARÁ-CDC
VIRTUAL CITIES: A DIGITAL WAIST STUDY OF CEARÁ-CDC
GABRIEL ANTONY LEAL DE MIRANDA
Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA);
Pesquisador doGrupo de Estudos em Territorialidades Econômicas e Desenvolvimento
Regional e Urbano - GETEDRU; E-mail: gabrielantony30@gmail.com.
CARLA MARIA DA ROCHA
Graduanda em Pedagogia pela Universidade Regional do Cariri(URCA); E-mail:
carlamrocha883@gmail.com.
DAVID ANTÔNIUS DA SILVA MARROM
Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA);
Pesquisador do Núcleo de Empreendedorismo, Responsabilidade e Marketing Social –
NERMS/UFCA e Pesquisador do Núcleo de Estudos em Infraestrutura, Empreendedorismo,
Estratégia eGestão de Tecnologia da Informação e Comunicação; E-mail:
daviantonius@gmail.com.
MARIA DE LOURDES DE ARAUJO
Mestre em Economia, UFPB. Doutora em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto de
Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional- IPPUR- UFRJ. Professora Associada do
Departamento de Economia- Universidade Regional do Cariri- URCA. E-
mail:maluaraujo2003@hotmail.com.
ANDERSON ALCANTARA MEDEIROS
Especialista em Direito Tributário; Professor do departamento de Economia da URCA. E-
mail:andersonalcmed@hotmail.com.
321
CIDADES VIRTUAIS: UM ESTUDO DO CINTURÃO DIGITAL DO CEARÁ-CDC
VIRTUAL CITIES: A DIGITAL WAIST STUDY OF CEARÁ-CDC
RESUMO:
O presente trabalho aborda o tema da representação das cidades na era digital visando a
importância do projeto estratégico para o Estado do Ceará, em relação à construção de uma
rede de transmissão de dados pioneira. Temos por objetivo apresentar como a associação
entre a evolução das cidades no meio digital com o projeto no qual permite a conectividade
dos cidadãos em alta velocidade. Contudo, o resultado esperado foi que com a participação do
governo foi fundamental para uma internet rápida, baixo preço e distribuição em pontos
estratégicos das cidades cearenses, fazendo com que as mesma se desenvolvam, tornando-as
digital.
Palavras-chaves: Cinturão Digital. Conectividade. Sociedade em Rede. Desenvolvimento
Urbano.
ABSTRACT:
The present work addresses the theme of the representation of cities in the digital age aiming
at the importance of the strategic project for the State of Ceará, in relation to the construction
of a pioneer data transmission network. We aim to present as the association between the
evolution of cities in the digital environment with the project in which allows the connectivity
of citizens at high speed. However, the expected result was that with the participation of the
government it was essential for a fast internet, low price and distribution in strategic points of
Ceará cities, making them develop, making them digital.
Keywords: Digital belt. Connectivity Network Society. UrbanDevelopment.
322
1.Introdução
As cidades virtuais são sistemas complexos por excelência, constituídas por uma
dimensão de objetos, fluxos e mercadorias. Em que ocorre um planejamento de uma cidade
no maior investimento tecnológico, afim de promover uma competitividades das cidades
globais. Uma cidade global é uma nova espacialidade, territorialidades para o grande capital.
Ao falar das cidades virtuais devemos fazer uma recapitulação do passado, em que
tínhamos em meados da década de 70, o sistema de tecnologia de base analógica que é o
processo de receber um sinal de áudio ou vídeo e traduzi-lo em pulsos eletrônicos. O processo
de globalização fez com que o mundo aperfeiçoasse para a tecnologia de base digital, isso na
década de 80/90, que seconverte esse mesmo sinal em um formato binário, no qual os dados
de áudio e de vídeo são convertidos em uma série de zeros e uns. Na atualidade, com a
sofisticação das novas tecnologias de informação e comunicação, e, maisespecificamente, a
partir da conexão mundial via Internet, as cidades ganharam novas características.
Por meio da representação e da comunicação digitais, os limites geográficos tornaram-
semais fluidos e uma nova rede de relacionamento social tornou-se evidente. Segundo Braida
e Nojima (2008, p.2), ―assistimos aoadvento da cidade digital, a qual já não deve ser vista
simplesmente como um duplo ou umsimulacro, mas sim como uma possibilidade de
ampliação das nossas percepção e atuação sobreos espaços das cidades. Nesse sentido, a
cidade digital surgiu como uma novadimensãodacidade real.‖
2. Referencial Teórico
As transformações pela qual vem passando a população mundial ao longo dos últimos
anos tem ditado às novas configurações no espaço digital. Com isso, vale ressaltar que, no
atual século XXI, estamos englobados em uma sociedade em rede, de acordo com Castells
(2011, p.60): ―É o resultado da apropriação social de um conjunto de novas tecnologias de
informação e comunicação surgidas nos últimos 50 anos em resultado de mudanças profundas
nos sectores da microelectrónica, computação e telecomunicações.‖
Para Silva (apud GIFFINGER, FERTNER, KRAMAR, KALASEK, PICHLER-
MILANOVIC E MEIJERS, 2007) apresentam ascidades inteligentes como aquelas que
promovem a combinação inteligente das doações e dasatividades de cidadãos auto decisivos,
independentes e conscientes. Outra definição de cidades inteligentes dado porCaragliu, Del
Bo e Nijkamp (2011) detalham que as cidades inteligentessão aquelas que, além de realizarem
investimentos em capital humano e social, desenvolvemas infraestruturas de comunicação
convencionais (transporte) e modernas (TIC), com afinalidade de suportar o crescimento
econômico sustentável e a melhoria na qualidade devida, realizando a gestão racional dos
recursos naturais por meio da governança participativa.
3. Metodologia
O trabalho foi desenvolvido a partir de uma pesquisa bibliográfica por meio da
revisão de literaturas de modo qualitativo e caráter descritivo. Levando em consideração
abordagens com relação ao tema da representação das cidades na era digital , enfatizando
323
principalmente a importância do projeto cidades digitais, estratégico para o Estado do Ceará,
em relação à construção de uma rede de transmissão de dados pioneira.
4. Resultados e Discussões
Ao relacionar o processo evolutivo das cidades no âmbito tecnológico, e a associação
entre cidades virtuais com o processo de desenvolvimento das cidades beneficiadas com o
projeto das cidades digitais, em que o cinturão digital do Ceará-CDC aparece como um
grande contribuidor para o desenvolvimento das cidades.
Figura 1 – Rede de Fibras Ópticas do Cinturão Digital .
Fonte:ETICE,2019.
Como segue a Figura 1, a mesma representa o corpo do Cinturão Digital, composto
por cabodefibras.O governo está utilizando parte dessa infraestruturapara prover serviços
eaplicativos às delegacias, hospitais, comarcas, etc.
Dentre as vantagens do cinturão digital é o fortalecimento da educação a distância.
Segundo Gomes (2013 p.8 ), em relação ao objetivo do CDC está ligado a questão de prover
os órgãos do governo com serviços digitais de última geração,em todos os municípios,
visando promover a qualidade dos serviços degoverno eletrônico e a inclusão social. Outro
objetivo é atrair empresas que prestam serviços digitais, para, num ambiente decompetição,
oferecer à populaçãooportunidades de geração de renda. Visando atingir mais rapidamente
seus objetivos, o governo irá instalarserviço de acesso a dados em 25 municípios, que, juntos,
correspondema 82% dapopulação do Estado.
Vale ressaltar que, o estado do Ceará pode se considerarprivilegiado no que diz
respeito aos pontos principais nacionais de fibra óptica, pois, a capital Fortaleza é a cidade de
324
maior proximidade, simultaneamente, entre a Europa e aAmérica do Norte, concentrando
todos os cabos submarinos de comunicaçãoda América do Sul.
Contudo, como exemplo de cidade virtual está o caso da cidade de Tauá-CE, no qual
tornou-se o primeiro Município Digital do Brasil, criando uma própria proposta de política
pública que agrega quatro pilares fundamentais: acessibilidade, a partir de um "cinturão
digital" próprio; capacitação para jovens e a terceira idade; e sustentabilidade, ao reaproveitar
e reciclar o lixo eletrônico. Lixeiras feitas de carcaças de computador estão no mercado
municipal e no centro de negócios. Jovens tornaram-se empreendedores e usam a informática
e seus derivados em soluções de negócios que variam desde a venda de salada de frutas pela
internet até soluções para o mercado nacional. (DIÁRIO DO NORDESTE, 2015)
5. Conclusões
Conclui-se que as Cidades Virtuais avançam no Estado do Ceará com a intenção de
contribuir para o desenvolvimento dos municípios cearenses para garantir o acesso à
informação, oportunizando as pessoas a estarem conectadas e inseridas no contexto global,
transformando as percepções e compreensão de planeta.
6. Referências
BRAIDA, Frederico ; NOJIMA, V. L. . Representações das cidades no meio virtual: arte e
tecnologia na produção de imagens das cidades. In: II Seminário Arte & Cidade, 2008,
Salvador. Anais, 2008.
CABRAL, Bruno. Cinturao-digital-atendera-todo-o-territorio-do-ceara-ate-2019. Diário do
Nordeste, Fortaleza, 27, março de 2018. Negócios.
CARAGLIU, A., DEL BO, C., & NIJKAMP, P. (2011). Smart cities in Europe. Journal of
Urban Technology, 18(2), 65-82.
CASTELLS, Manuel. Sociedade em rede. A era da Informação: economia, sociedade e
cultura. v.1. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
Diferenças-entre-o-analógico-e-o-digital. Cultura Mix, 2011. Eletrônicos. Disponível em:
<https://tecnologia.culturamix.com/eletronicos/diferencas-entre-o-analogico-e-o-digital>.
GOMES, Fernando de Carvalho; Infraestrutura de comunicação para a governança e o
desenvolvimento: o cinturão digital do Ceará. 2013.
LIMA, Aline. Cinturão Digital do Ceará viabiliza qualidade na infraestrutura de comunicação
de dados. ETICE, Fortaleza, 21, agosto de 2019.
SILVA, André Koide da; Cidades inteligentes e sua relação com a mobilidade inteligente.
2017.
325
EIXO TEMÁTICO 4: ECONOMIA REGIONAL E URBANA
EXPANSÃO METROPOLITANA E A VULNERABILIDADE AMBIENTAL URBANA
NAS REGIÕES METROPOLITANAS DO CEARÁ (RMF, RMCariri, RMS)
Nayara de Sousa Rodrigues
Graduanda em ciências econômicas pela Universidade Regional do Cariri, Bolsista de
iniciação cientifica e pesquisadora do grupo de estudo MATTAS, n-sousa-
rodrigues@bol.com.br. Telefone: (88) 9 88025775
Christiane Luci Bezerra Alves
Professora Associada do Departamento de economia de Ciências Econômicas da
Universidade Regional do Cariri (URCA) e Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(DDMA/UFC), chrisluci@gmail.com.
Anderson da Silva Rodrigues
Professor Associado do Departamento de Ciências Econômicas da URCA e Doutor em
Desenvolvimento e Meio Ambiente (DDMA/UFC), anderson_rodrigues750@hotmail.com.
326
EXPANSÃO METROPOLITANA E A VULNERABILIDADE AMBIENTAL URBANA
NAS REGIÕES METROPOLITANAS DO CEARÁ (RMF, RMCariri, RMS)
RESUMO: As ocupações dos espaços urbanos têm fortes implicações sociais e ambientais e
estão diretamente relacionadas às situações de risco e vulnerabilidade social e ambiental. Com
o crescimento cada vez mais acelerado das cidades, problemas ambientais causados por ações
humanas estão cada vez mais propensos a ocorrerem. Diante dessa realidade é a população
mais vulnerável economicamente que mais sofrem, na medida em que são excluídas dos
centros urbanos e tendem a ocupar lugares em situação de riscos onde não tem acesso a
serviços públicos básicos. A área proposta para o estudo constitui-seas três regiões
metropolitanas do estado do Ceará: Região Metropolitana de Fortaleza – RMF, Região
Metropolitana do Cariri - RM Cariri e Região Metropolitana de Sobral – RMS. O trabalho
pretende analisar e identificar os níveis de vulnerabilidade ambiental urbana presentes em tais
regiões do Ceará, a partir da construção de um índice sintético de vulnerabilidade ambiental,
sob três dimensões: habitacional, infraestrutura urbana e pressão sobre o ambiente natural. A
partir da construção do índice foi possível construir um ranking dos municípios do Ceará e
fazer o recorte dos 46 municípios que fazem parte das três regiões metropolitanas do Ceará.
Palavras-chaves: Ocupação dos espaços urbanos. Regiões Metropolitanas.
Vulnerabilidadeambiental.
ABSTRACT:Urbanspaceoccupationshavestrong social andenvironmentalimplicationsand are
directlyrelatedtosituationsofriskand social andenvironmentalvulnerability.
Withcitiesgrowingeverfaster, environmentalproblemscausedbyhumanactions are
increasinglylikelytooccur. Giventhis reality, it
isthemosteconomicallyvulnerablepopulationthatsuffersthemost, as they are
excludedfromurban centers andtendtooccupyriskyplaceswherethey do
nothaveaccesstobasicpublicservices. The proposedarea for
thestudyisthethreemetropolitanregionsofCeará state: Fortaleza MetropolitanRegion - RMF,
CaririMetropolitanRegion - RM Cariri and SobralMetropolitanRegion - RMS. The
paperaimstoanalyzeandidentifythelevelsofurbanenvironmentalvulnerabilitypresent in
suchregionsofCeará, fromtheconstructionof a synthetic index ofenvironmentalvulnerability,
underthreedimensions: housing, urbaninfrastructureandpressureonthe natural environment.
Fromthe construction ofthe index it waspossibleto build a ranking
ofthemunicipalitiesofCearáandmakethecutofthe 46 municipalitiesthat are part of
thethreemetropolitanregionsofCeará.
Keywords:Occupationofurbanspaces. Metropolitan Regions. Environmental vulnerability.
327
1.Introdução
A literatura acadêmica tem demostrado que as regiões metropolitanas brasileiras vêm
apresentando maiores taxas de urbanização, mas ao mesmo tempo apresentam alto nível de
segregação sócio ambiental. O crescimento das cidades de forma desordenada e sem
planejamento potencializa e torna mais frequente problemas urbanos, sendo a população
carente a mais vulnerável. A vulnerabilidade ambiental está associada ao menor ou maior
grau de susceptibilidade que as populações de uma determinada região estão expostas aos
problemas ambientais.
As áreas propostas para estudo constituem-se das três regiões metropolitanas do
estado do Ceará: Região Metropolitana de Fortaleza – RMF, Região Metropolitana do Cariri -
RM Cariri e Região Metropolitana de Sobral – RMS. Ressalta-se que acompanhando a
dinâmica recente no modo de acumulação nacional, no qual o capital avança e se reproduz em
espaços diferenciados de forma desigual, verifica-se uma fragmentação institucional da gestão
metropolitana, facilitada pelos novos arranjos federativos proporcionados pela Constituição
Federal de 1988, firmando-se, a partir daí, um conjunto de novas metrópoles regionais. Nesse
contexto, facilitada pela centralidade e dinâmica econômica da conurbação CRAJUBAR
(Crato – Juazeiro do Norte – Barbalha) e pela influência política e econômica que a cidade de
Sobral exerce em ampla região do norte do estado, são criadas, em 2009, a Região
Metropolitana do Cariri - RM Cariri (Lei Complementar Estadual nº 78) e em 2016, a Região
Metropolitana de Sobral (Lei Complementar Estadual nº 168).
2. Referencial Teórico (ou Revisão de literatura)
As ocupações dos espaços urbanos têm fortes implicações sociais e ambientais e
estão diretamente relacionadas às situações de risco e vulnerabilidade social e ambiental. Com
o crescimento cada vez mais acelerado das cidades, problemas ambientais causados por ações
humanas estão cada vez mais propensos a ocorrerem. Diante dessa realidade, a população
mais vulnerável economicamente é também a mais exposta aos riscos e fragilidades
ambientais, na medida em que são excluídas dos centros urbanos e tendem a ocupar lugares
em situação de riscos, onde é menor os serviços públicos básicos, como saneamento, saúde e
outros.
O crescimento da população global, a pobreza, a escassez de terra e a urbanização
em muitos países têm aumentado o número de pessoas que vivem em áreas
propensas a desastres. Em associação às mudanças climáticas, tais fatos têm
provocado o aumento da ocorrência de desastres desencadeados e intensificados por
eventos extremos. Nos últimos anos, as inundações aumentaram em frequência e
intensidade nos centros urbanos seja em função das condições naturais ou das
atividades humanas pelo desmatamento, degradação do solo, urbanização e
drenagem urbana ineficiente (FREIRE; BONFIMM; NATENZON, 2014, p. 3756).
Na literatura acadêmica tem aumentado largamente as abordagens e investigações
envolvendo a vulnerabilidade ambiental, a partir da contribuição de diferentes áreas do
conhecimento, particularmente pela maior frequência de ocorrências negativas, não apenas
envolvendo a desestruturação de ambientes naturais, mas especialmente quando os danos
causados à população são mais explícitos. A vulnerabilidade estaria associada ao grau de
susceptibilidade que uma região apresenta em relação a desastres ambientais ou que afetem a
328
saúde da população. De acordo com a PNUD(2004, p.136 apud Alves; Rodrigues, 2009),
―constata-se a associação da vulnerabilidade à ideia de resiliência, entendida como a
capacidade de um sistema, sociedade ou comunidade de resistir e adaptar-se, para obter um
nível aceitável de estrutura e funcionamento‖.
3. Metodologia
O trabalho pretende analisar e identificar os níveis de vulnerabilidade ambiental
urbana presentes em tais regiões do Ceará, a partir da construção de um índice sintético de
vulnerabilidade ambiental, sob três dimensões: habitacional, infraestrutura urbana e pressão
sobre o ambiente natural. O quadro 1 apresenta a definição das variáveis utilizadas para a
construção do Índice Sintético de Vulnerabilidade Ambiental (ISVA); os dados são de
natureza secundária. Em virtude da necessidade deevitar distorções causadas pela existência
de fortes discrepâncias municipais relacionados à magnitude da população, do número de
domicílios e da extensão territorial, utilizou-se, quando pertinente, variáveis expressas em
termos per habitantes, por área e por taxa percentual.
Quadro 1: Índice Sintético de Vulnerabilidade Ambiental – Dimensões, indicadores e fontes Dimensões e
índices
Indicadores Observações sobre as variáveis Fonte
Vulnerabilidade
habitacional
Condição de Ocupação
do imóvel – ICO
Percentual de domicílios que não
são próprios ou alugados
Censo Demográfico
(IBGE, 2010)
Domicílios em condições
sanitárias inadequadas –
ICSI
Percentual de domicílios sem
ligação a rede geral de esgoto
Censo Demográfico
(IBGE, 2010)
Densidade de pessoas
por dormitório – IDD
Percentual de domicílios com mais
de duas pessoas por dormitório
Censo Demográfico
(IBGE, 2010)
Padrão de revestimento
dos domicílios – IPRD
Percentual de domicílios com
outros revestimentos que não
alvenaria
Censo Demográfico
(IBGE, 2010)
Vulnerabilidade
de Infraestrutura
urbana
Esgotamento sanitário –
IES
Percentual da população urbana
sem cobertura de esgoto
Anuário Estatístico do
Ceará (IPECE, 2017)
Abastecimento de Água
– IAA
Percentual de domicílio que obtém
água por poço, nascente ou outra
forma.
Anuário Estatístico do
Ceará (IPECE, 2011)
Coleta de lixo – ICL Percentual de domicílios sem lixo
coletado.
Anuário Estatístico do
Ceará (IPECE, 2011)
Características
urbanísticas do entorno
dos domicílios – ICUE
Avaliação da existência de
arborização urbana, boca de lobo ou
bueiro, lixo acumulado no
logradouro e esgoto a céu aberto.
Censo Demográfico
(IBGE, 2010)
Manejo de águas pluviais
– IMAP
Avaliação da existência de: a)
apenas drenagem superficial; b)
área de risco sujeita a
deslizamentos; c) área de risco sem
infraestrutura de drenagem; d) área
de risco que necessitam de
drenagem especial; e) dispositivos
de amortecimento de águas fluviais.
Pesquisa Nacional de
Saneamento Básico –
IBGE (2008)
Emissão de monóxido de Emissão de monóxido de carbono Brasil (2011)
329
Pressão sobre o
ambiente natural
carbono – IEMC veicular (Kg/ hab.)
Resíduos Industriais
totais – IRI
Resíduos Industriais (Kg/hectare)
no ano de 2001 segundo inventário
estadual.
Ceará (2004)
Degradação Ambiental –
IDA
Focos de queimadas (por mil
habitantes.
Base de dados – INPE
Doenças de notificação
compulsória causada por
vetor biológico – ID
Número de casos por mil habitantes Anuário Estatístico do
Ceará (IPECE, 2017)
Preservação de mata
nativa – IP
Percentual da área do município
reservada para matas ou florestas
naturais destinadas a preservação
permanente ou reserva legal.
Censo Agropecuário
(IBGE, 2006)
Fonte: Diversas.
4. Resultados e Discussões
A tabela 1 mostra o ranking dos municípios das regiões metropolitanas do Ceará, dos
menos vulneráveis aos demaior índice de vulnerabilidade. A partir do índice de
vulnerabilidade habitacional, observa-se que o mesmo encontra-se diretamente relacionado
com o nível de renda da população, podendo-se partir da premissa que as famílias menos
vulneráveis moram em casa próprias ou alugadas e as mais vulneráveis dispõem de imóveis
em outras condições. Assim, os municípios com os melhores indicadores são os mais
urbanizados e os com melhores níveis de renda da população.
A segunda dimensão/índice analisada é a infraestrutura urbana, através de aspectos
como abastecimento de água, saneamento básico, condições do entorno e manejo de águas
pluviais. Observa-se que os municípios mais urbanizados apresentam melhores indicadores de
esgotamento sanitário e abastecimento de água, mas são mais vulneráveis nos quesitos
condições do entorno e manejo de águas pluviais.
O terceiro índice é o de pressão sobre o ambiente natural, que busca captar efeitos
das diferentes aglomerações urbanas das regiões metropolitanas sobre o ambiente natural.
Nessa dimensão, os municípios mais urbanizações e com melhor nível de renda se encontram
mais vulneráveis, devido ao peso da maior frota de veículos, da intensa quantidade de
resíduos industriais e de menores áreas destinadas à mata nativa, por conta do nível de
urbanização mais avançado.
Tabela 1: Ranking dos municípios das Regiões Metropolitanas do Ceará Municípios Índice de
vulnerabilidade
habitacional
Índice de
vulnerabilidade de
infraestrutura
urbana
Índice de
vulnerabilidade
pressão sobre o
ambiente natural
Índice sintético de
vulnerabilidade
ambiental
Pacatuba 0,315375608 0,236649905 0,082235556 0,211420357
Sobral 0,305920732 0,264223367 0,163625017 0,244589705
Fortaleza 0,230883013 0,289154969 0,301002161 0,273680048
Pacujá 0,248957055 0,458140505 0,127485818 0,278194459
Juazeiro do Norte 0,313066416 0,409956327 0,129196777 0,284073173
Massapê 0,383291858 0,37890655 0,100475822 0,287558076
Paraipaba 0,416011337 0,329157859 0,121059032 0,288742743
Forquilha 0,382136064 0,323818515 0,17170821 0,292554263
330
Varjota 0,371329123 0,373163225 0,146546155 0,297012834
Frecheirinha 0,355702687 0,433697089 0,103756038 0,297718605
Caucaia 0,40888595 0,391934348 0,114104287 0,304974862
Horizonte 0,384818995 0,452325574 0,092445797 0,309863455
Alcântaras 0,409722853 0,4026005 0,118793212 0,310372189
Mucambo 0,346198176 0,42339015 0,165187389 0,311591905
São Gonçalo do
Amarante
0,315823289 0,502081334 0,118166352 0,312023658
Barbalha 0,318030119 0,485390361 0,138934048 0,314118176
Crato 0,309862545 0,489260647 0,155657467 0,31826022
Nova Olinda 0,351368919 0,480125864 0,123446467 0,31831375
Pacajus 0,381399214 0,457510328 0,121086319 0,31999862
Paracuru 0,44391156 0,451416877 0,080954546 0,325427661
Groaíras 0,334215503 0,5137546 0,147996495 0,331988866
Maracanaú 0,339149977 0,378180415 0,281459625 0,332930005
Coreaú 0,475448303 0,45455283 0,0773099 0,335770344
Reriutaba 0,351561653 0,507375508 0,155691574 0,338209578
Graça 0,463401115 0,483775945 0,08067019 0,34261575
Cascavel 0,435745632 0,488604248 0,103563999 0,34263796
Senador Sá 0,487578671 0,477316666 0,077094288 0,347329875
Moraújo 0,48022155 0,478273071 0,088377337 0,348957319
Cariré 0,443002584 0,505538708 0,099387361 0,349309551
Maranguape 0,451903004 0,478277135 0,117809577 0,349329906
Guaiúba 0,457175746 0,438053798 0,166876179 0,354035241
Pires Ferreira 0,432261001 0,540623501 0,100664478 0,35784966
Santana do Cariri 0,478075006 0,531458654 0,066784236 0,358772632
Pindoretama 0,445982653 0,566380957 0,065796371 0,35938666
Jardim 0,331027805 0,663240207 0,084286563 0,359518192
Santana do Acaraú 0,338598474 0,638000708 0,110678209 0,362425797
Eusébio 0,484128607 0,522486404 0,094481358 0,367032123
Chorozinho 0,432050547 0,599298982 0,070711697 0,367353742
Itaitinga 0,510294935 0,486941338 0,108150161 0,368462145
Missão Velha 0,382969777 0,611883956 0,111751371 0,368868368
Farias Brito 0,443903598 0,495658458 0,173894576 0,371152211
Caririaçu 0,437180495 0,548951923 0,137742723 0,374625047
São Luís do Curu 0,385553011 0,560573912 0,186477911 0,377534945
Meruoca 0,517413205 0,525144753 0,107937539 0,383498499
Trairi 0,473365233 0,611097045 0,094005431 0,39282257
Aquiraz 0,574739675 0,599398983 0,107351745 0,427163468
Fonte: elaboração própria
Legenda:
RMCariri RMF RMS
331
5. Conclusões
Pode-se constatar, portanto,que os municípios menores tendem a ter
maiorvulnerabilidade ambiental, principalmente por causa dos aspectos habitacionais e de
infraestrutura urbana, devido normalmente a precariedade dos serviços públicos nesses
municípios. Os municípios mais urbanizados e com um nível de renda maior, como por
exemplo a capital do estado Fortaleza, apresentam o índice de vulnerabilidade pressão sobre o
ambiente natural elevado, devido a alta taxa de emissão de monóxido de carbono e a grande
quantidade de resíduos.Os municípios menos vulneráveis são o de Pacatuba, Sobral e
Fortaleza e os mais vulneráveis são Trairi e Aquiraz.
6. Referências
ALVES, Christiane Luci Bezerra; RODRIGUES, Anderson da Silva. Cidades e meio
ambiente: percepções da vulnerabilidade socioambiental na região metropolitana do cariri. In:
PINHEIRO et al. Para pensar o desenvolvimento da RM Cariri, São Paulo. BLUCHER.
2009.
FREIRE, Neison Cabral Ferreira; BONFIM, Cristine Vieira; NETENZON, Claudia Eleonor.
Vulnerabilidade socioambiental, inundações e repercussões na Saúde em regiões periféricas: o
caso de Alagoas, Brasil. Ciência e Saúde Coletiva. Recife. 2014. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232014199.07572014. Acesso em: 26 de ago. 2019.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTIA – IBGE. Banco de dados
Cidades@. 2016. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/. Acesso em: 10 jun.2017.
_____. Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE.
_____. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, 2008. Rio de Janeiro: IBGE.
_____. Censo Agropecuário, 2006. Rio de janeiro: IBGE.
INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATÉGIA ECONÔMICA DO CEARÁ – IPECE.
Anuário Estatístico do Ceará, 2017.
332
GT 6. ECONOMIA SOCIAL, ECONOMIA DO TRABALHO E DEMOGRAFIA
ECONÔMICA.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DE APLICATIVOS TECNOLÓGICOS: O CASO
UBER EM JUAZEIRO DO NORTE/CE
CONSIDERATIONS ON THE USE OF TECHNOLOGICAL APPLICATIONS: THE
UBER CASE IN JUAZEIRO DO NORTE / CE
Bruno Nadson da Silva
Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri-URCA, e-mail:
brunonadson.1@gmail.com;Fone: (88) 99785-7397.
Maria Jeanne Gonzaga de Paiva
Docente do Departamento de Economia da URCA: Doutoranda em Economia pela
Universidade Federal Fluminense-UFF/URCA; e-mail: jeanne.paiva@urca.br
João Luís do Nascimento Mota
Docente do Departamento de Economia da URCA: Doutor em Direito pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná/PUCPR; e-mail: mota.joao@urca.br
Emmanoel Lima Ferreira
Docente do Departamento de Economia da URCA: Doutor em Sociologia pela Universidade
Federal do Ceará/UFC; e-mail: emmanoellimaferreira@gmail.com
333
CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DE APLICATIVOS TECNOLÓGICOS: O CASO
UBER EM JUAZEIRO DO NORTE/CE
CONSIDERATIONS ON THE USE OF TECHNOLOGICAL APPLICATIONS: THE
UBER CASE IN JUAZEIRO DO NORTE / CE
RESUMO:
A economia compartilhada é um fenômeno recente que vem crescendo e mudando os hábitos
de consumo das pessoas. Nesse contexto, a pesquisa de natureza bibliográfica e descritiva tem
como objetivo caracterizar a economia compartilhada com o uso de aplicativos tecnológicos,
o caso uber, em Juazeiro do Norte/CE em 2019.Os dados primáriosforam obtidos através de
questionários no googleforms de forma aleatória em redes sociais a sessenta e oito usuários do
serviço de acordo com a fórmula n= )1(2
ppz /2
e onde z=nível de confiança (90%);
p=estimativa de proporção (50%); n=Indivíduos; e = erro da amostra (10%) e em
questionários impressos por acessibilidade a sessenta e oito motoristas do serviço. Os
principais resultados indicam que 54,4% dos usuários do serviço são do sexo feminino, 44,1%
tem o curso superior completo e 54,4% da faixa etária se concentram entre 26 a 35 anos. Os
motoristas representados por 82,35% são do sexo masculino, 32,35% com curso superior
incompleto e 44,12% encontram-se na faixa de 26 a 35 anos. Observou-se que ao perguntar
sobre a melhoria na mobilidade urbana no município, 44,1% dos usuários responderam que
houve muita melhoria, já para os motoristas 94,12% responderam a mesma coisa.Levando-se
em conta que 69,12% dos motoristas acham seguro a plataforma, e que se diferencia das
demais pela questão comodidade econforto, mas reclamam a questão da tarifação,assim como
mais segurança e divulgação desses serviços no município.
Palavras-chaves:EconomiaCompartilhada;Aplicativostecnológicos, Uber; Mobilidade
urbana, Juazeiro do Norte.
ABSTRACT: The shared economy is a recent phenomenon that is growing and changing people's
consumption habits. In this context, the bibliographic and descriptive research aims to
characterize the shared economy with the use of technological applications, the uber case, in
Juazeiro do Norte / CE in 2019. The primary data were obtained through google forms
questionnaires. random on social networks to sixty-eight users of the service according to the
formula n= )1(2
ppz /2
e where z = confidence level (90%); p = proportion estimate
(50%); n = individuals; e = sample error (10%) and in accessibility printed questionnaires to
sixty-eight drivers of the service. The main results indicate that 54.4% of the service users are
female, 44.1% have completed college and 54.4% of the age group are between 26 to 35
years old. The drivers represented by 82.35% are male, 32.35% with incomplete college and
44.12% are in the range of 26 to 35 years. When asked about the improvement in urban
mobility in the municipality, 44.1% of users answered that there was a lot of improvement,
while for drivers 94.12% answered the same thing. Taking into account that 69.12% of
drivers find the platform safe, and that differs from the others by the issue of convenience and
334
comfort, but complain about the issue of pricing, as well as more safety and disclosure of
these services in the city.
Keywords:Shared economy; Technological applications, Uber; Urban mobility, Juazeiro do
Norte.
1. Introdução
A economia de compartilhamento vem transformando a forma de consumo da
sociedade,desde a crise financeira mundial de 2008, na qual um dos maiores bancos de
investimentos tradicionais nos EUA (Lehman Brothers) foram à falência, as bolsas de valores
do mundo todo despencaram, muitas empresas faliram e o desemprego disparou, a partir daí
as pessoas viram que era insustentável o modelo de consumo existente, os consumidores
tinham apenas o benefício de produto e não a posse do mesmo. Então, a partir disso, surge a
oportunidadedasempresas ofertarem um número maior de produtos a valores acessíveis do
que se fossem comprados, dessa maneira criaram-se plataformaspeertopeer(pessoa para
pessoa) unindo pessoas que possuem itens e que querem compartilhá-los, com outras, em
troca de retorno financeiro.
Percebe-se que com o processo de crescimento do município e com o avanço
tecnológico, as mobilidades urbanas da região do Cariri veem enfrentando certas dificuldades
como superlotação, má qualidade nos meios de transportes públicos e falta de segurança para
a população e isso faz com que as pessoas busquem meios alternativos, como o uso de
aplicativos para sua locomoção dentro de suas cidades.
O Uber é um aplicativo tecnológico que veio agregar mais satisfação aos clientes que
estavam insatisfeitos com o serviço urbano de transporte coletivo e de táxi. No Brasil
começou o uso pelo estado do Rio de Janeiro em 2014, logo após dois anos começou a ser
utilizado em Fortaleza e agora em Juazeiro do Norte que é a segunda do Ceará a receber esse
serviço, que já foi regulamentado pela Câmara de Vereadores do município. No Brasil a partir
de 2020 os serviços de transporte por aplicativos Uber integrará o Índice Nacional de Preços
ao Consumidor Amplo-IPCA conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-
IBGE.
Por isso, este artigo vem acompanhar os benefícios com a chegada dessa nova forma
de economia, na qual a relação de trabalho se dá de forma mais horizontal que vertical, na
cidade de Juazeiro do Norte e sua contribuição para a melhoria da mobilidade urbana do
município e da região do Cariri através da utilização de aplicativos como o Uber. A pesquisa
tem como objetivo caracterizar a economia compartilhada com o uso de aplicativos
tecnológicos, o caso Uber, em Juazeiro do Norte/CE em 2019.
2. Referencial teórico
A economia compartilhada é estabelecida por um conjunto de práticas comerciais que
possibilitam o acesso a bens e serviços, sem que haja, necessariamente, a aquisição de um
produto ou troca monetária, entre partes envolvidas (BOTSMAN; ROGERS, 2011). Portanto,
335
isso permite as pessoas consuma sem precisar adquirir mais, o que vai implicar de forma
positiva nos gastos pessoais como na questão da sustentabilidade do planeta.
Segundo Gansky (2011) essa nova economia se diferencia em grande medida do
capitalismo tradicional, que tinha como sua grande mola propulsora o ato de possuir e de
acumular a maior quantidade possível de bens. As pessoas experimentam esses novos serviços
porque são mais baratos que os tradicionais, continuam nele devido por exemplo à variedade
na escolha de carros e da possibilidade de conexão com outras pessoas, como exemplo tem a
RelayRidesqueé a maior empresa americana deste modelo.
A economia compartilhada teve origem nos Estados Unidos, na metade da década de
1990, com a fundação dos sites de recirculação de bens e Baye Craigslist. Esses sites
aproveitaram os avanços tecnológicos que propiciavam redução dos custos das transações,
para explorarem os mercados secundários (SCHOR, 2014apudVILLANOVA, 2015;
SILVEIRA;PETRINI, 2017).
Essa nova economia, denominada economia compartilhada, surgiu como uma
alternativa para satisfazer necessidades diversas, que, anteriormente, eram atendidas
predominantemente por empresas. Os consumidores passaram a querer ter acesso a produtos e
a pagar pela experiência de tê-los temporariamente, ao invés de adquiri-los (BARDHI;
ECKHARDT, 2012apudFERREIRAet al, 2016).
Atualmente, a economia compartilhada está tomando forma no Brasil por meio da
rápida expansão de modelos de negócio que visam ao compartilhamento de bicicletas,
automóveis, espaços de trabalho, hospedagem e sistemas de caronas.
A inovação como a força propulsora das mudanças em qualquer nação, na
qualqualquer empresa que busca por diferenciais, o que torna a empresa um bem raro no
mercado, oferecendo produtos e serviços que apenas ela possua e que saiba fazer sendo a
única maneira para se destacar no cenário competitivo de uma forma geral. (SCHUMPETER,
1997)
Schumpeter (1997) defende que a inovação e a mudança ocorrem por meio de um
espiral de atração mútua, no qual um empreendedor de sucesso atrai outro empreendedor e
assim os efeitos são multiplicados. E, também, pela relação com a disseminação do
conhecimento de novas tecnologias e com o estímulo às melhores práticas, e consequente
gerandodesenvolvimentoeconômico.Segundoainda Schumpeter (1997) a inovação, além de
gerar novas mercadorias para sociedade, permite também a produçãopor um menor custo.
3. Metodologia
Em relação à área de estudo tem o município de Juazeiro do Norte, Ceará, a 499Km da
capital do estado (Fortaleza) e é localizado na Região Metropolitana do Cariri, onde o mesmo
tem divisas com várias cidades do interior, possuindo uma extensão territorial absoluta de
248,832 Km², e obtém uma estimativa de população de 270.383 pessoas que o torna o terceiro
mais populoso do estado (depois de Fortaleza e Caucaia) e o maior do interior cearense.
(IBGE, 2017).
336
O trabalho é caracterizado por estudo descritivo qualitativo sobre a questão abordada,
no qual as pesquisas têm o auxílio de artigos, pesquisas bibliográficas, livros, sites e dados da
internet.
Os dados são de natureza primária com aplicação de questionários no googleformsde
forma aleatória em redes sociais a sessenta e oito usuários do serviço, e por uma amostragem
por acessibilidadea sessenta e oito motoristas de Uberdo município na forma de questionários
impressos.
Segundo Fonseca e Martins (1996) obteve-se uma amostra (n) de 68 indivíduos
usuários do serviço Uber, a um nível de confiança de 90%(z), 50% de estimativa de
proporção (p) e 10% de erros da amostra (e):
2
2)1(
e
ppzn
Onde:
z = nível de confiança (90%);
p = estimativa de proporção (50%);
n = indivíduos (usuários de aplicativos tecnológicos);
e = erros da amostra (10%).
4. Resultados e Discussão
Analisando os perfis entre usuários e motoristas percebe-se que, entre os 68 usuários
entrevistados, 44,1% tem superior completo, 54,4% com faixa etária entre 26 a 35 anos assim
como 54,4% são do sexo feminino. No perfil de motoristas, 82,35% são do sexo masculino,
com a faixa etária também entre 26 a 35 anos, sendo 44,12% da amostra, a maioria, 60,29%
tem como escolaridade 27,94% no ensino médio e 32,35% superior incompleto.
Sobre a utilização do serviço, na ótica do usuário, 51,5% às vezes, muitas vezes e
frequentemente usam o Uber contra 32,35% dos entrevistados, que usam muito pouco as
plataformas de aplicativos.No quesito segurança, 44,12% informaram que os aplicativos são
seguros, mas ainda sim deixa a desejar no quesito divulgação das funcionalidades para a
população, isso justifica o fato de poucos usuários utilizarem os serviços dentro do município.
Na ótica do motorista parceiro, 41,18% estána plataforma apenas há um mês, percebe-
se que 94,12% informam melhoria na mobilidade urbana de Juazeiro do Norte/CE, já no
quesito segurança esse número cai para 69,12%, mostrando que mesmo mais da metade,
informando ser seguro, alguns motoristas ainda sim, acham que os aplicativos podem ser
melhorados, como foram sugeridos as seguintes informações, ―Informação do local de
destino final dos usuários‖ Que foi sugerido por 75,48% dos motoristas, ―Melhoria na
navegação (GPS) nos aplicativos, trariam mais segurança e precisão no transporte de
usuários‖, ―Viagem de motoristas mulheres, apenas para mulheres‖, ―Botão de Pânico‖,
―Poder verificar a foto do usuário já que, eles podem ver a do motorista‖, ―Reajuste de
tarifa‖. Portanto, há muitas coisas que precisam ser revistas por parte dos aplicativos para
337
melhor desempenho dos motoristas que ainda se sentem inseguros com a plataforma oferecida
para poder melhorar as condições de trabalho.
5. Conclusões
Diante disso, conclui-se que dentro do município, os usuários de aplicativos que mais
utilizam são mulheres na faixa etária entre 26 a 35 anos com boa escolaridade, sendo que 50%
dos entrevistados ainda preferem utilizar seus próprios meios de transportes. Através de
alguns comentários obtidos, foi informado que há falta de informações sobre segurança para
os usuários de forma mais clara e concisa.
Em relaçãoaos motoristas, a maioria do sexo masculino, na faixa de 26 a 35 anos e que
a maior parte tem curso superior incompleto, eles veem que existem segurança dentro dos
aplicativos, mas que tem ferramentas que precisam ser implementadas como verificar o
destino do usuário e melhoria na tarifação.
A existência desses aplicativos e o aumento crescente dessa nova economia pode-se
dizer que os aplicativos dentro da região estão a cada dia crescendo, no entanto, as empresas
que trabalham com esses meios de serviços de transporte por aplicativo, precisam aumentar
sua divulgação dentro da cidade, a funcionalidade, seus benefícios e deixando cada vez mais
transparente para o consumidor, que há segurança e confiabilidade em suas plataformas.
6. Referências
BOTSMAN, R; ROGERS, R. O que é meu é seu: como o consumo coletivo está mudando o
nosso mundo. Porto Alegre: Bookman, 2011.
GANSKY, L. Mesh: porque o futuro dos negócios é compartilhar. Rio de Janeiro: Alta Books:
2011.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia Estatística. Cidades e estados do Brasil. Disponível
em: https://www.ibge.gov.br/geocienciasnovoportal/organizacao-doterritorio/estrutura-
territorial/15761-areas-dosmunicipios.html?t=destaques&c=2307304 Acesso em: 28 de nov
de 2017.
FONSECA, J. S. da; MARTINS, G. de A. Curso de Estatística. São Paulo: Atlas, 1996
K. M. FERREIRA et al.Economia compartilhada e consumo colaborativo: uma revisão da
literatura. In: XII Congresso Nacional de Excelência em Gestão & III Inovarse –
responsabilidade social aplicada, 2016, Rio de Janeiro. Anais...Rio de Janeiro: UFF, 2016, p
1-21. Disponível em: http://www.inovarse.org/sites/default/files/T16_369.pdfAcesso em: 26
de ago de 2018
338
SCHUMPETER, J. A. A teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre
lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. Tradução de Maria Silvia Possas. São Paulo:
Nova Cultural,1997.
SILVEIRA, L.M.da; PETRINI, M. O papel do acesso na economia compartilhada para a
inovação social. In: XX SemeAd/Seminários em Administração, 2017, São Paulo. Anais...
São Paulo: USP, 2017,p. 1-14. Disponível em:
http://login.semead.com.br/20semead/arquivos/1843.pdfAcesso em: 25 de set de 2018
VILLANOVA, A. L.I.Modelos de negócio na economia compartilhada: uma investigação
multi-caso. Rio de Janeiro: FGV, 2015. 125f. Dissertação (Mestrado Executivo em Gestão
Empresarial) Escola Brasileira de Administração Pública ede Empresas, Fundação Getúlio
Vargas, Rio de Janeiro, 2015.Disponível em:
https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/15184/VERS%C3%83O%20FI
NAL%20DISSERTA%C3%87AO%20-%20Ana%20Luisa%20Villanova.pdfAcesso em: 11
de set de 2018.
339
EIXO TEMÁTICO 6: ECONOMIA SOCIAL, ECONOMIA DO TRABALHO E
DEMOGRAFIA ECONÔMICA
DETERMINANTES DO DESEMPENHO EDUCACIONAL DOS ALUNOS
CEARENSES NO ENEM: IMPACTO DE ESTUDAR NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE
TEMPO INTEGRAL DA REDE ESTADUAL DE ENSINO
DETERMINANTS OF EDUCATIONAL PERFORMANCE OF CEARANIAN
STUDENTS IN ENEM: IMPACT OF STUDYING IN FULL-TIME PUBLIC
SCHOOLS OF THE STATE EDUCATION NETWORK
DÁVILA MARTINS VIEIRA
Estudante do curso de economia da URCA. Bolsista de Iniciação científica. E-mail:
davilamartins321@gmail.com
ELISA GONÇALVES LEITE
Estudante do curso de economia da URCA.E-mail:elisaleite35@gmail.com
WELLINGTON RIBEIRO JUSTO
Professor Associado da Urca e Professor do PPGECON. Doutor em Economia pelo PIMES-
UFPE.E-mail:justowr@yahoo.com.br
340
DETERMINANTES DO DESEMPENHO EDUCACIONAL DOS ALUNOS
CEARENSES NO ENEM: IMPACTO DE ESTUDAR NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE
TEMPO INTEGRAL DA REDE ESTADUAL DE ENSINO
RESUMO:
Em virtude da forte restrição orçamentária no Brasil decorrente da crise fiscal vivenciada no
país e nos estados, está cada vez mais notável a necessidade de avaliação de politicas
públicas. Nesse sentido, este estudo busca mensurar o impacto da política de criação das
escolas de tempo integral no desempenho dos alunos cearenses no ENEM. Utilizando-se dos
microdados do ENEM de 2017 foram estimados modelos de seleção de Heckman. Os
resultados apontam que, após a correção do viés de seleção e controlando pelas variáveis
sugeridas pela literatura, estudar em escola pública de tempo integral afeta de forma positiva a
nota no ENEM nas quatro áreas de conhecimento avaliadas. O maior impacto observado é em
matemática com um aumento de cerca de 25 pontos na média dos estudantes. Assim, é
possível inferir que a política é exitosa.
Palavras-chaves: Escola de tempo integral; Modelo de Heckman; Política pública; Educação.
ABSTRACT:
Due to the strong budgetary constraint in Brazil due to the fiscal crisis experienced in the
country and the states, the need to evaluate public policies is becoming increasingly
noticeable. In this sense, this study seeks to measure the impact of the policy of creating full-
time schools on the performance of students from Ceará in ENEM. Using the 2017 ENEM
microdata, Heckman selection models were estimated. The results indicate that, after
correcting the selection bias and controlling for the variables suggested in the literature,
studying in a full-time public school positively affects the ENEM score in the four areas of
knowledge evaluated. The biggest impact observed is in math with an increase of about 25
points in the average student. Thus, it is possible to infer that the policy is successful.
Keywords:Full time school; Heckman model; Public policy; Education.
341
1.Introdução
A educação constitui-se parte importante na explicação do desenvolvimento
econômico e social de uma nação. Em razão disso, há uma preocupação das autoridades
públicas com a questão educacional, ou seja, com a cobertura e a qualidade do ensino. De
acordo com Aquino (2011), observa-se uma melhoria do atendimento escolar no Brasil a
partir da década de 1990, porém, constata-se que a qualidade do ensino não segue a mesma
tendência, pelo contrário, tem deixado a desejar principalmente quando comparada a de
outros países.
Nesse contexto, a política de criação de escolas de tempo integral tem se destacado
no cenário nacionalcomo estratégia para alavancar a qualidade do ensino brasileiro, estando
preconizadana Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, noPlano Nacional de
Educação (2014/2024) e, mais recentemente, na Política de Fomento à Implementação de
Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral, instituída em 2017 (CAVALIERE, 2007; PNE,
2014;DA SILVA CZERNISZ; PIO, 2017).
O estado do Ceará desde 2008 vem adotando uma política de ensino médio integrado
à educação profissional com jornada prolongada. E, visando continuar cumprindo com os
planos para a educação no âmbito federal, instituiu em 2016 a Política de Ensino Médio em
Tempo Integral no âmbito da rede estadual de ensino. Como resultado, a rede pública estadual
cearense que conta atualmente (2019) com 727 escolas, possui 252 ofertando ensino em
tempo integral, sendo 130 de Ensino Médio Regular em Tempo Integral (EEMTI) e 122
Escolas Estaduais de Educação Profissional (RODRIGUES, 2019).
Nesse sentido, o presente estudo busca identificar os determinantes do desempenho
educacional dos alunos cearenses no Enem destacando o efeito das escolas de tempo integral
para o ano de 2017 e com base nos microdadosdoExame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Ademais, a pesquisa se justifica por contribuir com o debate acerca da educação em tempo
integral e pelo retorno proporcionado por estudos voltados à avaliação de políticas públicas,
uma vez que servem de base para nortear decisões de gestores.
2. Revisão de literatura
A história da educação integral no Brasil data do início do século XX e é marcada
por diferentes concepções e práticas construídas sobre diferentes correntes políticas. Dentre
essas correntes, Cavaliere (2010) destaca as autoritárias e elitistas, e as de cunho liberal, que
tiveram como maiores representantes, respectivamente, integralistas e Anísio Teixeira. Assim,
com base em suas ideologias, foram desenvolvidas concepções de escolas de tempo integral
com visões assistencialista, autoritária, democrática e multissetorial (CAVALIERE, 2007).
Nesse sentido, para os integralistas, a educação integral deveria ser concebida
mediante harmonia entre Estado, família e religião, tendo como lema ―educação integral para
o homem integral‖ e como princípios educacionais ―sacrifício, sofrimento, disciplina e
obediência‖. Assim, educação integral na perspectiva desse movimento podia ser entendida
como uma ―ação doutrinária‖ (CAVALIERE, 2010, p. 249-250).
342
Já Anísio Teixeira, que se consolidou, na década de 1930, como um dos mentores do
Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, tinha como proposta de educação integral a
formação completa do indivíduo, formação essa direcionada para alavancar o progresso da
nação e fundamentada em aspectos político-desenvolvimentistas que o caracterizava como
liberal. Porém, apesar de ter formado essa concepção de educação integral ainda na década de
1930, sua experiencia de escola com horário integral só foi posta em prática em 1953 com o
Centro Educacional Carneiro Ribeiro (CECR), implantado em Salvador, Bahia, o qual era um
complexo composto por quatro escolas-classe e uma escola-parque (COELHO, 2009).
Cavaliere (2007) ressalta que a partir da redemocratização do Brasilocorreram
algumas experiências no sentido de ampliação da jornada escolar, citando, como exemplo, os
Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), criados por Darcy Ribeiro e implantados no
Rio de Janeiro na década de 1980. Já na década seguinte, 1990, as propostas de educação em
tempo integral ressurgem nas redes estaduais e municipais de ensino público, dado sua
preconização legal no artigo 34 da LDB/96.
A partir de então, pode-se citar como exemplo de planos e programas de abrangência
nacional que veem na extensão do tempo de escola a oportunidade para a melhoria do sistema
educacional brasileiro: o Programa Mais Educação (PME), lançado em 2007; o Plano
Nacional de Educação (PNE), implantado segundo a Lei n° 13.005 de 25 de junho de 2014; e
a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral,
instituída pela Lei n° 13.415 de 16 de fevereiro de 2017.
3. Metodologia
O presente trabalho utilizou-se de dados secundários, especificamente, dos
microdados do ENEM de 2017 (pós reformulação do ensino médio) que são fornecidos pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
O ENEM, criado em 1998, consagra-se como um dos instrumentos de avaliação
externa de larga escala da educação básica brasileira e se divide em duas provas, uma
objetiva, que analisa quatro áreas do conhecimento distribuídas em 180 questões, a saber:
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (LC); Ciências Humanas e suas Tecnologias (CH);
Ciências da Natureza e suas Tecnologias (CN); Matemática e suas Tecnologias (MT); e outra
subjetiva, que compreende a redação, texto dissertativo-argumentativo elaborado em cima de
uma situação-problema (INEP, 2015).
Assim, para atingir o objetivo da pesquisa,fez-se uso de uma estimação de um
modelo de seleção de Heckman (1979) para corrigir o viés de seleção dos alunos que estudam
nas escolas de tempo integral. Haja vista que há um processo de seleção para estudar nessas
escolas, assim, incluir uma variável dummy no modelo para captar o efeito das escolas de
tempo integral no desempenho dos alunos causa um viés nos estimadores de Mínimos
Quadrados Ordinários.
O modelo estimado ficou assim definido:
NU_NONTAi = βXi + εi (1)
Após a correção do viés, tem-se:
343
E(NU_NOTAi| Ei=1,Xi) = E(NU_NOTAi| Xi Ziui) = βXi + E(εi| Xi Ziui) (2)
Onde NU_NOTA, i=1...4 é a nota do aluno nas quatro áreas avaliadas pelo ENEM.
Xi=É um vetor de características observáveis que segundo a literatura afetam o desempenho
dos alunos e mais a variável que capta o efeito das escolas de tempo integral e εi é um termo
de erro. Foram incluídas as seguintes variáveis: Idade; draça=1 se branco; destadocivil=1 se
solteiro; escolarmãe=escolaridade da mãe; dsexo=1 se masculino; RendaF= renda familiar e
descint=1 se estudou em escola de tempo integral. Para corrigir o viés e calcular a inversão da
razão de Mill no modelo de Heckman de dois estágios foram utilizadas as seguintes variáveis:
dlocalização=1 se estuda em área urbana; dTipoescola=1 se estuda em escola pública e
dTipoensino=1 se ensino regular.
4. Resultados e Discussões
A tabela 1 traz o resultado da estimação do modelo de seleção de Heckman dos
determinantes do desempenho dos alunos cearenses para as quatro áreas avaliadas (CN, CH,
LC e MT).Todos os coeficientes das variáveis nas quatro áreas são significantes a
0,01%,exceto o coeficiente da variável destadocivil que é significante a 5% na primeiraárea
(CN) e não significante nas demais, bem como o coeficiente da variável draça, que não foi
significante na primeira área. Isso significa dizer que, não há diferença na nota média do
ENEM entre solteiros e não solteiros em CH, CN e MT, e que não há diferença na nota média
entre brancos e não brancos apenas na nota de CN.
Com relação aos erros padrão, verificou-se que estes são robustos à
heteroscedasticidade.
A tabela 1 também mostra as estimações após a correção de Heckman. Os resultados
apontam que, de fato há um viés e precisava ser corrigido. Os coeficientes das variáveis na
equação de seleção são todos significantes e o teste de Wald atesta a presença do viés.
Os resultados estão de acordo com a literatura, isto é, o desempenho dos alunos é
afetado de forma positiva pela renda familiar, pela escolaridade da mãe. A idade e o sexo
afetam o desempenho dos alunos de forma distinta entre as áreas. Ser mais velho afeta de
forma positiva no desempenho de CH e LC e de forma negativa em MT e CN. Em LC o sexo
feminino apresenta maior desempenho e nas demais são o sexo masculino.
O coeficiente da variável que apreende o efeito das escolas de tempo integral é
significante e positivo para as quatro áreas. Contudo, os efeitos variam por área. Em LC o
efeito adicional de estudar em escola de tempo integral é de oito pontos na média, enquanto
em CN e CH é de quase treze pontos. Já em MT o efeito é de quase vinte e cinco pontos.
Tabela 1 – Efeito das escolas de tempo integral no desempenho dos alunos cearenses
no ENEM em cada área avaliada
344
Fonte: Elaboração dos autores com base nos microdados do ENEM de 2017.
5. Conclusões
O estudo teve como objetivo avaliar os determinantes do desempenho dos alunos
cearenses no ENEM nas quatro áreas avaliadas e mensurar o impacto das escolas de tempo
integral nesse desempenho. Após a correção do viés, observou-se que a renda familiar e
escolaridade da mãe afetam de forma positiva o desempenho do alunado em todas as áreas
analisadas. A idade, o sexo e a raça/cor afetam de forma distinta a depender da área avaliada.
Estudar em escola de tempo integral impacta de forma positiva na média do aluno, em
especial, na área de matemática, onde os alunos destas escolas apresentam cerca de 25 pontos
(vinte e cinco) acima da média dos demais alunos de escola pública. Esse resultado sugere
que a política é exitosa.
345
6. Referências
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v. 20, n. 46, p. 249-259, 2010.
CAVALIERE, Ana Maria. Tempo de escola e qualidade na educação pública. Educação e
Sociedade, v. 28, n. 100, p. 1015-1035, 2007.
COELHO, L. M. C. D. C. História(s) da educação integral. MAURÍCIO, L. V. (Org.).
Educação integral e tempo integral. Em Aberto/INEP, Brasília, v. 22, n. 80, p. 83-96, 2009.
DA SILVA CZERNISZ, E. C.; PIO, C. A. Ensino médio integral: desafios e
perspectivas. Revista NUPEM, Paraná, v. 9, n. 17, p. 60-71, 2017. Disponível em:
<http://revistanupem.unespar.edu.br/index.php/nupem/article/view/320/296>. Acesso em: 15
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DE AQUINO, J. M. A ampliação da jornada escolar melhora o desempenho acadêmico
dos estudantes? Uma avaliação do programa Escola de Tempo Integral da rede pública
do estado de São Paulo Juliana Maria de Aquino. 2011. 73 f. Tese (Doutorado em Ciências
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HECKMAN, J. Sample selection bias as a specification error.Econometrica, 47.pg 153-161,
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INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Enem. 2015.
Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/web/guest/enem . Acesso em: 8 de maio de 2019.
RODRIGUES, A. V. Governo do Ceará anuncia a implantação de 22 novas escolas em
tempo integral. Governo do estado do Ceará, 2019.Disponível em:
<https://www.ceara.gov.br/2019/02/07/governo-do-ceara-anuncia-a-implantacao-de-22-
novas-escolas-em-tempo-integral/>. Acesso em: 19 de maio de 2019.
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