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Influência da Força Explosiva na
Execução do Mortal à Retaguarda
Rita Silva Gonçalves
Porto, 2009
Gonçalves, R. (2009). Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à
Retaguarda. Monografia de Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto.
III
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Prof. Doutor Carlos Araújo;
Ao Prof. Eduardo Oliveira pela sua disponibilidade;
Ao Sport Club do Porto e às suas ginastas;
Ao Ginásio Clube da Maia e às suas ginastas;
A todos os que contribuíram directa ou indirectamente para a realização deste trabalho;
A todos os meus amigos que nas horas mais difíceis manifestaram sempre o seu apoio;
A todos o meu muito obrigada.
IV
Agradecimentos ………………………………………………………………………….. III
Índice Geral ………………………………………………………………………………... IV
Índice de Quadros ………………………………………………………………………... V
Índice de Figuras …………………………………………………………………………. VI
Resumo …………………………………………………………………………………….. VII
1 Introdução …………………………………………………………………………… 1
2
Revisão da Literatura ………………………………………………………………
4
2.1. Conceito de Força 4
2.2. Formas de Manifestação da Força Muscular 7
2.3. Factores Susceptíveis de Influenciar a Força Muscular 10
2.4. Avaliação dos Índices Físicos 17
2.5. As Relações entre a Força e a Performance 18
2.6. Descrição do Salto Mortal Engrupado à Retaguarda no Solo 20
3
Objectivos …………………………………………………….................................
25
4
Material e Métodos …………………………………............................................
27
4.1. Caracterização da Amostra 28
4.2. Procedimentos de Avaliação 29
4.3. Procedimentos Estatísticos 30
5
Apresentação e Discussão dos Resultados ………………………….............
31
6
Conclusões …………………………………………………………………………………..
38
8
Bibliografia …………………………………………………………………………………...
40
ÍNDICE GERAL
V
Quadro 1. Dados gerais da amostra 28
Quadro 2. Dados da avaliação da impulsão vertical (Squat Jump) 32
Quadro 3. Dados da avaliação da execução do mortal engrupado à retaguarda no solo. 34
Quadro 4. Relação entre a força explosiva dos MI e a performance das ginastas. 35
ÍNDICE DE QUADROS
VI
Figura 1:
Factores susceptíveis de influenciar a força muscular.
(Adaptado de Santos, 2006).
10
Figura 2: Tipos de contracção muscular. (Adaptado de Santos, 2006). 15
Figura 3: Mortal engrupado à retaguarda. (Adaptado de Araújo, 2004). 20
Figura 4: Teste de impulsão vertical “Squat Jump” (Adaptado de Bosco, 1994). 29
ÍNDICE DE FIGURAS
VII
Este trabalho teve por objectivo analisar a relação entre os valores de força explosiva e
os níveis de performance em Ginástica Artística Feminina.
De acordo com alguns autores, devem ser determinadas e quantificadas as
componentes críticas ou variáveis de execução para cada gesto técnico, antes de ser
estabelecido qualquer processo de treino (Sands, 2003; French et al, 2004; MaDougall et al,
1995).
A nossa amostra foi constituída por treze ginastas femininos de idades compreendidas
entre os sete e os doze anos. As ginastas realizaram o teste de impulsão vertical - Squat Jump,
na plataforma de Bosco, para avaliar a força explosiva dos membros inferiores. Realizaram,
também, o mortal engrupado à retaguarda no solo, sendo posteriormente avaliado e classificado
por juízes, com uma nota compreendida entre um e cinco. De seguida analisamos a influência da
força explosiva na execução do elemento em estudo.
Concluímos que os valores de força explosiva da avaliação dinâmica efectuada, não
parecem ter relação ou influência na qualidade do mortal engrupado à retaguarda no solo. Este
facto leva-nos a acreditar na possibilidade de que as forças principais e responsáveis pela
qualidade do elemento gímnico podem ser de outra natureza que não as estudadas. A
componente técnica do mortal engrupado à retaguarda no solo parece ter um papel
preponderante, não sendo decisiva a componente de força estudada dos indivíduos.
RESUMO
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
1
1 INTRODUÇÃO
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
2
1. INTRODUÇÃO
A ginástica é uma das modalidades olímpicas mais antigas. A Federação
Internacional de Ginástica (FIG) foi fundada em Liége, na Bélgica, no ano 1881
e a competição nesta modalidade foi incluída nos Jogos Olímpicos de Atenas
no ano de 1896. A partir dessa data, o interesse e participação na Ginástica foi
aumentando e em relativamente pouco tempo, os níveis de dificuldade
aumentaram intensamente, bem como a qualidade da performance e das
cargas de treino, sem as quais os níveis de dificuldade não se poderiam
alargar.
A ginástica pertence a um grupo de desportos que contêm uma estrutura
cinemática estabilizada sob uma complicada coordenação de acções
realizadas sob determinadas condições. Como nos refere Araújo (2002), a
ginástica artística é uma modalidade muito complexa, não só pela
movimentação diferenciada, exigida pelo englobar dos diferentes aparelhos,
mas também pelos níveis elevados colocados na execução. Todos os
movimentos têm de ser muito precisos e correctos no tempo e no espaço.
(Arkaev e Suchilin, 2003).
Podemos até dizer que a ginástica presenteia a perfeição e para isto
torna-se, então, necessário que os ginastas estejam bem física e
psicologicamente.
A importância da força dentro do factor físico tem vindo a ser
evidenciada ao longo dos anos na literatura (Carrasco,1980; Faro, 1984; Miller,
1992; Nelson et al., 1985; Shmidt, 1980; Singh et al., 1985; Smith, 1982) cit.
Faro (1995).
A força muscular sendo um dos factores determinantes na execução dos
gestos técnicos, é essencial nas aprendizagens mas também na expressão
competitiva ao mais alto nível (Araújo e Marques, 1995). Por conseguinte,
parece-nos muito importante estudar as formas de expressão e sua
manifestação, os métodos para a sua avaliação e a relação dos valores obtidos
com a qualidade dos elementos demonstrados na prática gímnica.
O sistema de referências caracterizado por uma acção muscular
principal, ordena em grandes conjuntos uma variedade de elementos técnicos.
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
3
Na prática, a insuficiência muscular de apenas uma destas acções principais,
conduzem à impossibilidade ou imperfeição na realização de toda uma gama
de elementos técnicos (Carrasco 1984, cit. Tous 2002). Daqui se deduz, que a
preparação física especifica tem um interesse capital no processo de treino dos
ginastas e que está na base da construção de um reportório motor rico em
termos gímnicos.
Encontramos alguns estudos que apresentam a força como uma
componente fundamental na execução de gestos técnicos. As conclusões
desses estudos revelam que devem ser determinadas e quantificadas para
cada gesto técnico, as suas componentes críticas ou variáveis de execução,
antes de ser estabelecido qualquer processo de treino. Assim, o
desenvolvimento técnico assume um papel primordial da essência da
modalidade. A compreensão destes factores e da forma como se inter-
relacionam, permitem-nos, de algum modo, caracterizar a modalidade e
apontar tendências evolutivas que fundamentem teoricamente a actuação dos
treinadores, nomeadamente nas suas tomadas de decisão no processo de
treino.
Apesar da importância da força na execução dos movimentos em
Ginástica Artística Feminina (GAF), não foram efectuados muitos estudos que
a determinem e expliquem com exactidão. A maioria dos trabalhos elaborados
nesta área determinam a relação da força com a performance de um modo
indirecto (cit. Faro 1995).
Para o nosso trabalho, debruçamo-nos nas performances de ginastas
femininos com idades compreendidas entre os 7 e os 12 anos. O objectivo é
analisar a relação entre os valores da força explosiva dos membros inferiores e
os níveis de performance das ginastas na execução do mortal à retaguarda
engrupado no solo.
Pensamos, desta forma, contribuir com alguns dados úteis para a
planificação e tomada de decisão ao nível da especificidade do elemento em
causa, para este escalão etário (7-12 anos).
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
4
2 REVISÃO DA LITERATURA
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
5
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Conceito de Força
Uma definição precisa de força levanta à partida algumas dificuldades,
pela interacção de múltiplos factores de ordem física e psicológica que
coexistem com os factores do rendimento desportivo (Weineck, 1992).
São muitos os autores que apresentam definições de força e
confrontam-nos com a necessidade de distinguir a força como magnitude física,
de acordo com a perspectiva mecanicista e como pressuposto para a
realização dos movimentos desportivos (Ehlenz, 1990; Letzelter y Letzelter,
1990; Harre 1994; Barbanti, 1996).
Se entendermos a força como característica mecânica do movimento ela
é toda a causa capaz de modificar o estado de repouso ou de movimento de
um corpo, traduzido por um vector. Segundo a 2ª lei de Newton, é o produto da
massa pela sua aceleração: F=m.a. Se este conceito se referir ao movimento
desportivo podem distinguir-se as forças internas produzidas pelos músculos,
ligamentos e tendões, que ao serem transmitidas ao sistema ósseo, permitem
a oposição ou superação das resistências (Carvalho, 1987; Hartmann e
Tunnemann, 1995), e as forças externas que agem externamente ao corpo
humano, tais como a gravidade, o atrito, a oposição de um adversário, a
inércia, etc (Carvalho, 1987; Hartmann e Tunnemann, 1995; Barbanti, 1996;
Mil-Homens,2000).
É importante destacar que o conceito de força muscular no ser humano
escapa à esfera puramente mecânica, pois depende de uma série de aspectos
coordenativos, muito influenciados pelas características neurais inerentes ao
movimento humano (Monteiro, 1999). Farinatti e Monteiro (1992), revendo este
aspecto, referem que não se pode simplesmente transpor o conceito mecânico
de força para o âmbito das tarefas motoras, pois, muitas vezes, a força
aplicada não depende apenas da aceleração mas também de factores como o
grau de estiramento inicial da musculatura ou de sincronização neuromuscular.
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
6
De uma forma simples, vários autores, definem a força como a
capacidade de deslocar uma massa, vencer ou opor-se a uma resistência
através da actividade.
Segundo Barbanti (1929), “força é a capacidade de exercer tensão
muscular contra uma resistência, envolvendo factores mecânicos e fisiológicos
que determinam a força em algum movimento particular”. Harman (1993 cit.
Badillo e Ayestarán 1995) descreve a força como a habilidade para gerar
tensão segundo determinadas condições definidas pela posição do corpo, o
movimento em que se aplica a força, o tipo de activação e a velocidade de
movimento. Para Tubino (1985), “a força é a qualidade física que permite um
músculo ou um grupo muscular produzir tensão e vencer uma resistência na
acção de empurrar, tracionar ou elevar”. Guedes (1997) define força muscular
como “a capacidade de exercer tensão muscular contra uma determinada
resistência, superando, sustentando ou cedendo à mesma”. Em 1994, Bompa
define-a como uma capacidade neuromuscular que actua no sentido de vencer
uma resistência externa e interna. Pode, também, ser definida como a
capacidade de vencer uma determinada resistência ou de a neutralizar através
da geração de tensão no seio da massa muscular (Schmolnisky, 1971, cit.
Massada, 1989). Para Zatsiorsky (1999), “força é a medida instantânea da
inter-relação entre dois corpos. A força é caracterizada pela sua magnitude,
direcção e ponto de aplicação”. Refere, ainda, a força como a “habilidade de
exceder ou reagir à resistência através do esforço muscular”. Segundo Castelo
et aI (2000) a força muscular e a capacidade que um músculo ou grupo
muscular, tem de vencer uma dada resistência a uma dada velocidade, num
determinado exercício. Meusel (1969) cit. por Carvalho (1993,15) diz que a
força é a capacidade do ser humano mover uma massa (o seu próprio corpo ou
um engenho desportivo) ou ainda a capacidade de superar uma resistência ou
de se lhe opor através do trabalho muscular. Cari (1976) descreve a força
muscular como a capacidade do ser humano vencer ou opor-se a uma
resistência através da sua estrutura muscular, com base em processos
metabólicos e de inervação.
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
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Estas definições são as mais representativas daquilo que consideramos
ser a força, num quadro mais restrito da actividade desportiva.
Como observamos, não existe só um conceito de força universal, isto é,
o sentido da sua definição pode ser alterada consoante o contexto a que se
refere.
2.2. Formas de Manifestação da Força Muscular
É importante fazer uma análise estrutural das diferentes formas de
manifestação da força e dos factores que condicionam a capacidade de a
produzir, para que possamos incluir na definição de força as diferentes formas
de manifestação. Dadas as várias definições e as considerações conceptuais
verificadas, a maioria dos autores divide essencialmente a força em três formas
de manifestação: força máxima, força rápida e força de resistência (Mitra e
Mogos, 1982; Vieira, 1985; Matveiev, 1986; Raposo, 1987; Weineck, 1988;
Platonov, 1988; Letzelter y Letzelter, 1990; Carvalho, 1993; Hartmann e
Tunnemann, 1995; Cunha, 1996; Weineck, 1999). Estas diferentes
manifestações de força adquirem maior ou menor importância, consoante a
actividade física ou desportiva praticada (Mitra e Mogos, 1982).
A força máxima corresponde à maior tensão que o sistema
neuromuscular pode produzir numa contracção voluntária máxima (Raposo,
2005; Letzelter y Letzelter, 1990). Outros autores acrescentam a esta definição
que a contracção voluntária máxima é realizada contra uma resistência
inamovível (Ozolín, 1983; Hauptmann y Harre, 1987; Navarro, 1987;
Schmidtbleicher, 1992). Ainda é definida por Fieck e Kraemer (1999) como a
quantidade máxima de força que um músculo ou grupo muscular pode gerar
num padrão específico de movimento e numa determinada velocidade de
movimento.
Este tipo de força, segundo Weineck (1988), García (1999) e Cari (1976)
é manifestado de duas formas:
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
8
Estática (força máxima isométrica);
Dinâmica (força máxima dinâmica).
Força máxima estática é produzida quando o sujeito realiza uma
contracção voluntaria máxima contra uma resistência maior do que a força
produzida (Badillo e Ayestarán, 2001), ou seja, quando a resistência é
insuperável (Weineck, 1988; García, 1999).
Força máxima dinâmica é a expressão máxima da força quando a
resistência só pode ser deslocada uma vez, ou é deslocada ligeiramente e/ou
transcorre a uma velocidade muito baixa numa fase de movimento. Um
exemplo simples de manifestação de força máxima dinâmica seria a realização
de uma repetição com o máximo peso possível num agachamento completo
(Badillo e Ayestarán, 2001).
A força máxima que um sujeito é capaz de desenvolver, pode ainda ser
representada de duas formas:
Força absoluta;
Força relativa.
A Força absoluta é considerada por Mitra e Mogos como a manifestação
de força através de contracções musculares isotónicas (Mitra e Mogos, 1982).
Representa morfologicamente todo o potencial de força de um músculo ou
grupo sinergético e pode ser representada pela força máxima medida em
contracções excêntricas (Buehrle, 1981). Em algumas ocasiões, a Força
Absoluta é entendida como a magnitude de carga limite que o músculo não
está em condições de levantar (García, 1999).
A Força relativa é a força que se pode desenvolver num determinado
movimento desportivo em função do peso corporal do desportista. Indica a
relação da força máxima com o peso corporal, ou seja, a força produzida por
unidade de peso corporal (Weineck, 1988; Matveiev, 1986 e 1991; García,
1999).
A força rápida que um sujeito e capaz de desenvolver pode ser
representada pela força explosiva que é entendida como a capacidade do
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
9
sistema neuromuscular produzir o valor mais elevado de força, no menor
período de tempo possível (Mil-Homens, 1998). Para outros autores a força
rápida é entendida como a capacidade do sistema neuromuscular vencer
resistências com uma elevada velocidade de contracção (Cerani, 1993; Harre y
Hautmann, 1994; Raposo, 2005). A forca explosiva é, então, a capacidade de
manter o nível inicial de força de contracção muscular para percorrer uma
determinada distância ou superar uma resistência considerável (Vessis e
Hatfield, 1986) cit. por Seixo (1995). Para Cervera e seus colaboradores
(1996), força explosiva é definida como a capacidade do sistema
neuromuscular continuar a desenvolver, o mais rapidamente possível, a força
já iniciada. Esta força depende do recrutamento e da frequência de activação
das unidades motoras e características das fibras musculares envolvidas na
contracção muscular.
Para autores como Newton e Kraemer (1994), a força rápida é
responsável pela execução de movimentos que requerem uma velocidade
elevada de saída ou de impacto. Como refere García, por vezes os
desportistas têm de produzir níveis altíssimos de força em períodos muito
curtos de tempo. Esta variação da velocidade, que se produz nos primeiros 30
milisegundos, é denominada de gradiente de força ou força inicial. Esta
velocidade inicial é a capacidade de aplicar forças, relativamente altas, logo
após o início da contracção. Por exemplo: a velocidade vertical de um saltador
de altura no início da subida, a velocidade de impacto de um golpe de boxe, a
velocidade da bola depois de um remate, etc (García, 1999).
A força de resistência é a capacidade de suportar a fadiga quando se
realizam esforços musculares, que podem ser de curta, média e longa duração
(Rodríguez y Yuste, 2001). Em 1999, García define-a como a capacidade de
manter uma força a um nível constante durante o tempo da actividade física ou
do gesto desportivo que se está a realizar. Esta manifesta-se de forma
diferente e específica em função da modalidade desportiva. Por exemplo, é a
força de resistência que permite, aos jogadores de voleibol, realizar saltos ao
longo de todo o jogo, como acontece com todas as acções específicas de cada
modalidade desportiva.
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
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Matveiev (1986) entende a força de resistência como a capacidade de
resistir ao esgotamento, provocado pela sobrecarga das acções musculares
específicas da modalidade seleccionada. Por fim Letzelter y Letzelter (1990) tal
como Raposo (2005) propõem outra definição que consiste na capacidade do
organismo resistir ao aparecimento da fadiga, mantendo o rendimento de força
a um nível constante durante o tempo da actividade, ou conseguir manter, em
proporções mínimas, os decréscimos de rendimento que acompanham a
fadiga.
2.3. Factores Susceptíveis de Influenciar a Força Muscular
Quando um músculo se contrai gera uma tensão que se opõe a uma
resistência interna ou externa. O aumento da força ou o nível de tensão que um
músculo produz depende de muitos factores que variam em função da prática
desportiva que se realiza e do tipo de acções musculares que são exigidas
(García, 1999).
Vamos, então, dividir os factores musculares que afectam a capacidade
do músculo produzir força em nervosos, musculares e biomecânicos.
O primeiro requisito para que o músculo produza trabalho mecânico, e
portanto vença uma qualquer resistência, é que ocorra um estímulo nervoso
Figura 1: Factores susceptíveis de influenciar a força muscular. Adaptado Santos (2006).
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
11
que desencadeie o processo de contracção muscular. Este estímulo é
emanado dos centros nervosos superiores e constitui um processo voluntário,
sendo o desencadeador da acção muscular. A acção muscular vai
inevitavelmente produzir o alongamento de uns músculos e o encurtamento de
outros, o que por sua vez, irá desencadear a actividade dos receptores
musculares e tendinosos, os quais passarão a desempenhar um papel
importante no controlo nervoso a nível medular. Estamos assim em presença
do primeiro grande factor condicionador da capacidade de produção de força:
O factor nervoso.
Contudo, não é indiferente que o músculo ou grupo muscular activado
tenha um maior ou menor volume muscular, constituindo, o grau de hipertrofia,
um dos factores condicionantes da capacidade de desenvolver força,
particularmente força máxima. Também não será indiferente a composição
muscular do músculo activado, o regime de contracção muscular promovido
(isométrico, concêntrico ou excêntrico), o grau de alongamento muscular ou a
velocidade de contracção. Estes aspectos ilustram o segundo grande factor
condicionante da capacidade de produção de força: o factor muscular.
O tipo de resistência exterior, o grau articular e a alavanca muscular, são
outro grupo de factores - factores biomecânicos – que afectam a produção de
força, já que não é indiferente, por exemplo, desenvolver força contra um peso
livre ou numa máquina de musculação de resistência variável (Badillo e
Ayestarán 1995; Mil-Homens, 2000).
2.3.1. Factores nervosos
Se desligarmos os músculos das suas ligações nervosas, estes são
incapazes de se contrair voluntariamente, impossibilitando a realização de
qualquer gesto. É o sistema nervoso central que fornece o estímulo necessário
para que os músculos possam assegurar a dinâmica do aparelho locomotor do
ser humano. Neste sentido, o comando central envia o impulso nervoso a um
determinado grupo muscular (inervação motora), o músculo ao contrair-se vai
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
12
solicitar uma informação aos receptores musculares que vão ter influência na
informação de retorno alertando, permanentemente, o sistema nervoso central
dos estados de tensão e de relaxamento do músculo (inervação sensitiva).
Com efeito, dentro dos factores nervosos que influenciam a capacidade
do músculo produzir força, podemos distinguir aqueles que derivam do sistema
nervoso central, e do sistema nervoso periférico.
O sistema nervoso central dispõe de três mecanismos fundamentais
para regular a intensidade da contracção muscular: (1) o número de unidades
motoras (UM) recrutadas; (2) a frequência de activação das UM; (3) e a
sincronização da activação das UM.
Os factores nervosos periféricos estão associados aos processos de
inervação sensitiva do músculo. Os músculos, tendões e articulações possuem
órgãos sensoriais cuja função principal é a de veicular as informações
sensitivas até ao sistema nervoso central. O fuso neuromuscular, os órgãos
tendinosos de Golgi, e os receptores articulares, constituem os proprioceptores
que mais se relacionam e interagem nos processos de produção de força
muscular (Mil-Homens, 2000).
2.3.2. Factores Musculares
Área da secção transversal do músculo
O primeiro aspecto que influencia a capacidade de produzir força é a
área da secção transversal do músculo, o que está intimamente associado ao
fenómeno de hipertrofia muscular, ou seja, ao aumento do volume do músculo.
Existe uma estreita relação entre a força e o diâmetro fisiológico do músculo
(Mil-Homens, 2000). Neste sentido, a força muscular centra-se na capacidade
de gerar tensão quando se contrai, estando esta capacidade intimamente
relacionada com o seu tamanho (MacDougall et al, 1982) cit. por García (1999).
A hipertrofia muscular conduz ao aumento da capacidade máxima para
gerar força e, em torno desta questão, vários investigadores têm procurado
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
13
determinar ao longo dos anos se a hipertrofia muscular induzida pelo treino é
devida:
à hipertrofia das células existentes;
ao aumento do número de células num determinado músculo – efeito
designado por hiperplasia;
a uma combinação destes dois efeitos – hipertrofia e hiperplasia.
(Brooks, 1995; García, 1999; Santos 2006)
Fibras musculares
Através das técnicas de biopsia muscular foi possível compreender que
o músculo esquelético é um agregado de fibras, que podem ser controladas
individual e colectivamente. A multiplicidade de padrões de movimento
realizados pelo ser humano no dia-a-dia, demonstra o complexo controlo que o
sistema nervoso exerce sobre os músculos, e indica as diversas características
das fibras musculares. Um mesmo músculo, ou grupo muscular, pode
responder e adaptar-se a um movimento de elevada coordenação, a um
esforço curto e intenso, ou ainda a uma actividade prolongada, o que revela a
natureza plástica deste tecido. As unidades motoras (UM) individuais que se
unem para formar um músculo inteiro apresentam características diferentes. As
respostas adaptativas observadas no músculo dependem, portanto, da
combinação dos vários tipos de UM existentes no músculo e do padrão, ou
padrões, de actividade que elas podem desempenhar.
As fibras esqueléticas da maioria dos músculos posturais contraem e
relaxam lentamente, sendo habitualmente designadas por fibras de contracção
lenta ou de tipo I. Já as fibras maioritariamente constituintes dos músculos
fásicos contraem e relaxam-se rapidamente, sendo por isso designadas por
fibras de contracção rápida ou de tipo II (Santos 2006).
As fibras musculares de tipo I, também denominadas de fibras
vermelhas que estão relacionadas com um elevado teor em mioglobina, têm a
capacidade em receber e utilizar O2, maior número de mitocôndrias e
respectiva actividade enzimática, e elevado número de capilares sanguíneos.
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
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Estão mais adaptadas à produção de contracções lentas e de fraca intensidade
durante longos períodos de tempo, atingindo o tétano a frequências de
activação inferiores. São inervadas por motoneurónios de menor calibre, com
limiares de excitabilidade mais baixos e mais sensíveis ao reflexo de
alongamento. O seu excelente metabolismo oxidativo permite-lhes grande
resistência à fadiga. Estas fibras são denominadas de tipo I, oxidativas, ou de
contracção lenta.
As fibras musculares de tipo II (brancas, glicolíticas ou de contracção
rápida) estão mais preparadas para contracções fortes e rápidas, sendo a
glicólise anaeróbia o principal processo de produção de energia a que
recorrem. As concentrações de fosfocreatina, miosina ATPase e enzimas
glicolíticas são mais elevadas neste tipo de fibras. A sua capacidade em
tetanizar é mais rápida, bem como em relaxar. Os motoneurónios que inervam
este tipo de fibras são de maiores dimensões, com axónio mais espesso,
garantindo maior velocidade de condução nervosa. Apresentam cronaxia
inferior, maior rapidez de transmissão na placa motora e maior capacidade do
retículo sarcoplasmático e do sistema tubular T nos processos de libertação e
recaptação do cálcio. As fibras do tipo II podem ser classificadas em subgrupos
de acordo com a sua actividade enzimática: tipo IIa, IIb e IIc. As fibras IIa e IIb,
apesar de serem ambas fibras de contracção rápida, podem diferenciar-se face
à capacidade oxidativa: as IIa apresentam um potencial aeróbio mais elevado,
enquanto as fibras IIc são fibras relativamente pouco diferenciadas com
características fisiológicas e histoquímicas intermédias ventre as IIa e IIb
(García, 1999; Mil- Homens, 2000; Santos, 2006).
Tipos de contracção muscular
Para além da magnitude do volume muscular e da percentagem relativa
dos diferentes tipos de fibras musculares, a mecânica da contracção muscular
influencia igualmente a capacidade de um músculo produzir força.
Sempre que activados os músculos desenvolvem tensão e tendem a
encurtar-se, podendo ou não ocorrer deslocamento dos segmentos ósseos que
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
15
lhes estão associados. O tipo de resistência exterior determinará a existência
ou não de movimento. Classicamente existem três tipos de acções musculares.
1 2 3
1. Acção muscular concêntrica: quando a tensão desenvolvida pelo músculo
é superior à resistência que ele tem de vencer, ocorre um encurtamento. Este
tipo de acção ocorre na fase positiva (concêntrica) da maioria dos exercícios de
treino da força, como o supino ou o agachamento na fase positiva do
movimento.
2. Acção muscular excêntrica: quando a tensão desenvolvida pelo músculo é
inferior à resistência que ele tem de vencer, apesar do músculo tentar encurtar-
se, ocorre um alongamento das fibras musculares. Este tipo de acção ocorre
na fase negativa
(excêntrica) da maioria dos exercícios de treina da força, como o supino ou o
agachamento na fase negativa do movimento.
3. Acção muscular isométrica: se a tensão desenvolvida pelo músculo é igual
à resistência que ele tem de vencer, o comprimento das fibras musculares,
mantém-se essencialmente inalterado. Este tipo de acção muscular ocorre
quando se pretende exercer força contra uma resistência inamovível.
Em ginástica artística o tipo de força mais utilizado é a concêntrica,
seguindo-se a excêntrica, em proporção muito inferior, e, por último, a
isométrica. (Faro, 1995)
Para além destas três formas clássicas de acções musculares, há ainda
a considerar a forma natural de funcionamento muscular. Os movimentos
naturais como a marcha, a corrida, o salto, (…), raramente envolvem formas
puras de contracção muscular. Nestes movimentos, os músculos extensores
dos membros inferiores estão periodicamente sujeitos a impactos com o solo
Figura 2: Tipos de contracção muscular. Adaptado de Santos (2006).
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
16
que provocam um alongamento muscular seguido de uma fase de
encurtamento. O mesmo se sucede na grande maioria dos gestos desportivos
onde os músculos não funcionam de forma puramente isométrica, concêntrica
ou excêntrica, mas sim num Ciclo Muscular de Alongamento-Encurtamento
(CMAE), descrito por diversos autores (Badillo e Ayestarán 1995; Mil- Homens,
2000). Neste ciclo, a força produzida por uma contracção concêntrica é
incrementada, se for imediatamente precedida por uma contracção excêntrica
do mesmo grupo muscular (Santos, 2006). Esta forma de funcionamento
muscular é relativamente independente das outras formas de manifestação da
força e é regulada, essencialmente, pela qualidade do padrão de activação
nervoso dos músculos envolvidos, isto é, pelo balanço entre os factores
nervosos facilitadores e inibidores da contracção muscular.
2.3.3. Factores biomecânicos:
O movimento poderá ser caracterizado pela alteração visível da posição,
sendo para isso necessário que o músculo produza trabalho (Massada, 1989).
Numa análise superficial do sistema músculo-esquelético é do senso comum
que o movimento produzido ao nível de uma articulação, aproxima dois ossos
pela acção da força exercida pelos músculos. Em determinadas posições
qualquer sujeito evidencia uma capacidade aumentada de produzir força,
enquanto em ângulos articulares maiores e menores relativamente a essa
posição óptima, observa-se uma menor capacidade de produzir força. Este
mecanismo é conhecido como alavanca muscular. As alavancas musculares
definem-se como a distância perpendicular entre o eixo de rotação da
articulação e a linha de acção do tendão e exercem influência na capacidade
de produção de força mediante o trabalho que apresentam. Quando o braço da
alavanca é maior, a vantagem mecânica é a mais elevada. Sempre que a
modificação do ângulo articular condiciona uma alteração no braço da alavanca
muscular a vantagem mecânica diminui, logo o músculo diminui a sua
capacidade de produção de força.
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
17
2.4. Avaliação dos Índices Físicos
A quantificação mais exacta e fiável da capacidade do músculo humano
produzir força, constitui a base para os especialistas na prescrição mais
correcta e ajustada ao exercício (Perrim, 1993).
Para a realização dos testes de força explosiva dos membros inferiores,
foi utilizada plataforma de Bosco - Ergojump (Digitime 1000, Digest Finland).
Trata-se de um aparelho electromecânico concebido por Carmelo Bosco que
consiste de um cronómetro digital electrónico (+ O.00lseg) ligado por um cabo
a uma plataforma sensível. O cronómetro acciona-se automaticamente através
de um interruptor, no momento em que os pés do sujeito deixam de contactar
com a plataforma, e desliga-se no momento em que os pés do sujeito voltam a
contactar a plataforma, após o salto (Bosco 1983). O Ergojump foi concebido
de forma a registar o tempo de voo (TV) em cada salto realizado ou a adicionar
esses tempos aquando da execução de saltos sucessivos. É registado o 1V
durante o salto, sendo a altura atingida pelo centro de gravidade, i.e, a altura
do salto, calculada através da utilização da fórmula apresentada por Bosco
(1983): h = gx TV218, onde, h representa a altura atingida durante o salto (cm),
g e definida como a aceleração da gravidade (9.81m1s2) e 1V representa o
tempo de voo durante o salto.
Através de diversos tipos de saltos e protocolos realizados com no
Ergojump, consegue-se obter informação que permite verificar a condição
física, optimizar e formular os programas de treino e verificar o rendimento
desportivo esperado (Cesar, 2000).
Para avaliar o mortal engrupado à retaguarda no solo, foram realizadas
filmagens das atletas a executar rondada flic mortal. De seguida essas
filmagens foram entregues a 5 juízes que individualmente avaliaram a
execução do mortal, numa escala de 1 a 5 pontos.
Os testes de impulsão vertical e as filmagens foram realizados depois do
aquecimento que as atletas, normalmente, realizam no início de cada treino
com a duração aproximada de 30 minutos.
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
18
2.5. As Relações entre a Força e a Performance
Entre as capacidades condicionais, a força ocupa um papel importante
dentro do mundo do treino desportivo, bem como representa o elemento
principal do rendimento ou a base para gerar a tensão necessária para criar
qualquer movimento (García, 1999).
A força muscular constitui-se, no universo conceptual da performance
desportiva como uma capacidade condicional fundamental e imprescindível
para a obtenção de níveis superiores de rendimento (Araujo, 1980; Burke,
1980; Foster, 1983; Weineck, 1983; Flack e Kraemer, 1987; Enoka, 1988; Komi
e Hakkinen, 1988; Platonov, 1988; Zatziorski, 1989; Bompa, 1990) cit. por Faro
(1995).
O aumento do rendimento em quase todas as disciplinas desportivas
depende do desenvolvimento da capacidade motora força. De um modo geral,
ela e um factor primordial na prestação motora do praticante, contribuindo para
o seu desenvolvimento físico harmonioso, promovendo condições de saúde e
bem-estar, para o incremento das suas habilidades técnicas e
desempenhando, ainda, um papel importante na prevenção de lesões (Guila,
2001) cit. por Ana Faro (1995).
Pelas suas qualidades, o treino da força passou a ocupar lugar de
destaque em vários países onde o objectivo é a melhoria da condição física
dos indivíduos independentemente dos objectivos atléticos, pois, além de
induzir o aumento da massa muscular, o treino da força proporciona, também,
um conjunto de transformações benéficas. Se correctamente administrado, em
termos metodológicos, os riscos adjacentes ao treino da força poderão ser
quase excluídos. A prática demonstrou que muitas crianças e jovens não
alcançam mais tarde a sua capacidade potencial de desempenho, só porque os
estímulos de desenvolvimento, estabelecidos durante o processo de
crescimento para os aparelhos postural e motor, foram insuficientes.
É impensável nos dias de hoje proceder à organização da preparação
dos jovens sem que o treino da força esteja contemplado no plano de formação
a curto, médio e a longo prazo. A força é uma das capacidades motoras que
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
19
garante a realização quantitativa e qualitativa do gesto técnico
independentemente da idade do executante.
A força muscular, como já referimos, é importante em qualquer tipo de
desporto e com frequência é determinante, como no caso da Ginástica. Para o
ginasta, o início da preparação de força é a força absoluta, isto é, o significado
máximo da força que se demonstra nas condições estandardizadas. Sem
embargo, posto que a ginástica é a arte do movimento do corpo, para os
representantes desta modalidade não é tão importante a força absoluta, mas
sim a força relativa (FR), a que se determina como a relação entre o índice de
força absoluta e o peso do ginasta (Arkaev e Suchilin, 2003; Smoleuskiy e
Gaverdouskiy, 1996).
FORÇA ABSOLUTA, Kg FORÇA RELATIVA = ---------------------------------------
PESO DO CORPO, Kg
A execução técnica correcta é, muitas das vezes, impossível devido aos
insuficientes níveis de força. Na Ginástica, a realização dos elementos com
virtuosidade implica grandes níveis de força. Com força insuficiente o ginasta
aprende o elemento com uma técnica, para mais tarde o reaprender, aquando
do aumento dos seus níveis de força (Major 1996). Ginastas femininas podem
aumentar a sua prestação nas tarefas motoras para compensarem o declínio
da força relativa (Poliquin, 1991; Zatsiorsky, 1995) cit. Sands et al (2000), mas
o treino de força deve ser orientado para o aumento da força relativa. Torna-se
necessário desenvolver níveis de força específica para lá dos elementos, das
combinações, das partes ou de rotinas completas. Muitos movimentos da
ginástica têm uma larga componente de força, mas separa-los do próprio
movimento é um pouco arbitrário (George, 1980; Hullner, 1989; Chu, 1994) cit.
por Arkaev (2003). Treino de força inconsistente pode explicar o declínio na
performance ou uma estagnação em atletas que tinham performances
promissoras durante a fase preparatória. Uma vez iniciada a competição os seu
resultados não foram de encontro às expectativas criadas (Bührle and Werner,
1984) cit. por Major (1996). Os especialistas em ginástica revelaram algumas
preocupações contra o declínio dos níveis de força durante a fase de
competição (Borrmann, 1978; Plotkin, Rubin and Arkaev, 1983; Hartig and
Buchmann, 1988; Ukran, 1969) cit. por Major (1996). Desta forma o treino de
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
20
força específica deve corresponder às exigências dos ginastas. O princípio da
especificidade implica que o exercício usado no treino seja similar ao da rotina
de competição. Por isso, podemos imaginar que o melhor treino para a
ginástica é realizar mais ginástica. Contudo ao longo do tempo provou-se que
não é esse o caso (Borrmann, 1978; Oppel, 1967; Plotkin, Rubin, and Arkaev,
1983) cit. por Major (1996). O desenvolvimento da força específica torna-se
necessário para desenvolver força e potência suficientes para que o atleta
realize os elementos técnicos correctamente (Oppel, 1967; Hartig and
Buchmann, 1988) cit. por Major (1996). A repetição dos elementos não garante
níveis mínimos de força para realizar os elementos correctamente (Major,
1996).
2.6. Descrição do Salto Mortal Engrupado à Retaguarda no Solo
O salto mortal à retaguarda no solo, é um elemento que se caracteriza
por uma rápida execução nas suas várias fases e na qual o corpo do atleta gira
360º atrás, em torno do eixo transversal localizado ao nível da bacia. De uma
forma mais simples, podemos dizer que o atleta faz um salto em extensão a
partir da posição de pé e completa uma volta ou rolamento atrás na fase de voo
até à recepção no solo, novamente, na posição de pé.
Bardy (1993) cit. por Ana Faro (1995) descreve a complexidade na
execução do mortal à retaguarda. Em termos espaço-temporais o movimento
Figura 3: Mortal engrupado à retaguarda. Adaptado de Araújo (2004).
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
21
apresenta requerimentos muito severos: uma rotação de 360º do corpo todo
num curto espaço de tempo (600ms); uma força de reacção do solo na
chamada de três vezes o peso do corpo na componente vertical; e a velocidade
angular da cabeça na fase inicial do salto é de 800º.s-1.
O executante passará por três acções motoras predominantes que ditam
três momentos fundamentais de um salto mortal engrupado à retaguarda
executado na perfeição. Após impulsão dos membros inferiores, passa por uma
extensão desenhada por um breve, mas completo, alinhamento corporal
seguido de um fecho ou posição engrupada bem definida e de uma terceira
fase de nova abertura que precede a recepção.
Segundo Araújo (2004), as acções motoras predominantes deste
elemento são: impulsão dos membros inferiores, fecho e abertura.
A execução deste elemento pode ser precedida de um salto energético
ou de uma rondada flic.
2.6.2. Análise Técnica
A técnica é, unanimemente, considerada como um dos factores
determinantes em termos de rendimento desportivo. Por outro lado, o
desenvolvimento da técnica, ao longo da carreira do desportista, condiciona a
sua prestação final, limitando ou ampliando as suas possibilidades de sucesso
desportivo. (Borges s.d.).
Grosser & Neumaier (1986) cit. por Borges (s.d.), enfatizam a
importância da técnica no rendimento desportivo, vincando que uma ma técnica
reduz as possibilidades de prestação desportiva de um desportista em
excelente condição física, do mesmo modo que uma deficiente condição física
condiciona, significativamente, o desempenho técnico.
Os aspectos técnicos importantes no mortal engrupado à retaguarda no
solo, segundo Araújo (2004) são:
Terminar a rondada com MI quase estendidos e uma forte impulsão;
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
22
Engrupar puxando os joelhos ao peito, após boa elevação vertical
(manter peito “dentro”);
Abertura do ângulo tronco/membros inferiores no momento apropriado
(quando começa a ver o solo);
Contracção forte nos membros inferiores no momento da recepção ao
solo;
Efectuar uma impulsão de membros inferiores vigorosa e elevar os
membros superiores pela frente em acção coordenada, facilitando uma
boa amplitude (peito “dentro” e olhar em frente).
Relatados pelo mesmo autor, os erros mais frequentes a evitar são:
Saltar “encolhido” para trás e/ou fraca impulsão;
Levantar a cabeça em demasia (não permite subir);
Elevar os membros superiores para o lado (longe da cabeça);
Desengrupar (abrir o ângulo tronco/membros inferiores) demasiado cedo
ou tarde;
Desenvolver pouca contracção muscular (falta de tonicidade) durante a
rotação.
2.6.3. O Código F.I.G.
As competições regulamentadas pela Federação Internacional de
Ginástica (FIG) seguem um código de pontuação. O objectivo principal é
assegurar uma cotação uniforme e objectiva dos exercícios em todos os níveis
competitivos: regional, nacional e internacional. Outro propósito é o de
melhorar os conhecimentos e capacidades dos juízes e servir de orientação
para os ginastas e treinadores na construção dos seus exercícios e na
preparação para as competições.
A nota final conferida aos ginastas num exercício de solo é constituída
pela soma de 2 notas distintas: a nota D (até 10 pontos) e a nota E (até 10
pontos). A atribuição destas notas é da responsabilidade do painel de juízes D
e do painel de juízes E.
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
23
Os juízes do painel D registam, através de símbolos específicos, o
exercício completo e avaliam-no individualmente. De seguida e em conjunto,
determinam a nota mais apropriada, podendo haver discussão. O conteúdo
desta nota inclui o valor de dificuldade (DV), o valor das ligações (CV) e os
requisitos de grupos de elementos (CR).
Os juízes do painel E observam o exercício, individualmente, detectando
as falhas atentamente, e aplicam as deduções correspondentes. São
responsáveis pela avaliação da execução e combinação dos elementos e pela
apresentação artística, detectando as falhas gerais, as falhas específicas dos
aparelhos e as falhas artísticas.
Para os Campeonatos Mundiais e para os Jogos Olímpicos, o painel de
juízes é, obrigatoriamente, constituído por 8 juízes (painel D: 2; painel E: 6).
Para as restantes competições é, apenas, obrigatória a presença de 6 juízes
(painel D: 2; painel E: 4).
A informação pertinente para o nosso estudo centra-se na nota atribuída
à execução (painel E). Sendo este o ponto de referência dos juízes, utilizados
na avaliação da performance da nossa amostra, segue-se uma listagem das
principais deduções, em vigor desde 2009, onde podemos aferir os critérios de
avaliação para o elemento em estudo, executado no solo.
Divididos em pequeno, médio, grave e muito grave, os critérios de
apreciação estão divididos em falhas de execução, falhas na recepção e
movimentos para manter o equilíbrio.
Falhas de Execução
Afastamento de pernas ou joelhos;
Pernas cruzadas durante elementos com giros;
Altura insuficiente nos elementos de voo;
Insuficiente exactidão na posição engrupada;
Extensão insuficiente do corpo antes da recepção;
Precisão (cada movimento deve ter uma clara posição de início e
finalização).
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
24
Falhas na recepção (todos os elementos incluindo a saída)
Desvio da direcção recta;
Pernas afastadas na recepção.
Movimentos para manter o equilíbrio
Ligeiro salto ou pequeno ajustamento dos pés (saltito);
Movimentos adicionais de braços e tronco;
Passo ou salto muito grande (1 metro - guia);
Falhas na postura do corpo;
Recepção agachada (de cócoras);
Tocar o aparelho com mãos/braços mas não cair contra o aparelho;
Apoio de 1 ou 2 mãos no colchão ou aparelho;
Queda sobre os joelhos ou quadril no colchão;
Queda sobre o aparelho.
(W.A.G., 2009)
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
25
3 OBJECTIVOS
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
26
3. OBJECTIVOS
Objectivo geral
Determinar a relação entre valores de força explosiva dos
membros inferiores e níveis de performance em ginástica.
Objectivos específicos
Descrever, analisar e caracterizar a força explosiva dos membros
inferiores com o teste dinâmico Squat Jump.
Analisar a relação entre os valores da força explosiva dos
membros inferiores e os níveis de performance das ginastas na
execução do mortal à retaguarda engrupado no solo.
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
27
4 MATERIAL E MÉTODOS
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
28
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1. Caracterização da amostra
A amostra deste estudo foi composta por 13 ginastas, 10 pertencentes
ao Ginásio Clube da Maia e 3 ao Sport Clube do Porto.
A média de idades é de 9,5 +/- 1,5 anos. A ginasta mais velha tem 12
anos e a mais nova tem 7 anos. Verificamos que há uma grande
homogeneidade no que diz respeito à carga horária semanal.
Todas as atletas treinam 5 dias por semana, durante 3,5 horas, o que
perfaz um total de 17,5 horas semanais.
As ginastas têm uma média de 4 anos de prática desta modalidade,
sendo que a mais experiente apresenta 7 anos de prática e a menos experiente
apenas 2 anos.
A tabela seguinte apresenta os valores acima descritos.
Ginasta Idade Anos de Prática
Treino horas/semana
1
9 5 17,5
2 10 4 17,5
3
10 6 17,5
4 12 7 17,5
5
9 4 17,5
6 9 2 17,5
7
8 3 17,5
8 7 3 17,5
9
8 3 17,5
10 9 4 17,5
11
11 4 17,5
12 12 5 17,5
13 10 4 17,5
Média 9,54 4,15 17,5
SD 1,51 1,34 0,00
Amplitude 7…12 2…7 17,5
Quadro 1: Dados gerais da amostra.
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
29
4.2. Procedimentos de avaliação
Para avaliar a potência de membros inferiores foi realizado o teste de
impulsão vertical, Squat Jump (SJ) medindo a força explosiva e a capacidade
de recrutamento das fibras de contracção rápida, tendo como principal
característica a força concêntrica pura.
A plataforma foi colocada sobre um piso granitico para efectuar a
avaliação.
Para a realização do SJ o executante parte de uma posição estática de
agachamento, com flexão aproximada de 90º ao nível do joelho, o olhar dirigido
para a frente, as mãos colocadas na cintura e os pés paralelos. À voz de
comando “força” cada atleta efectuou o salto em extensão apenas num
movimento ascensional. No momento do salto não é permitido novo
abaixamento do centro de gravidade, sendo o movimento somente ascendente
(Komi e Bosco, 1978).
Os sujeitos foram informados que aquando da execução do teste,
durante o contacto com a plataforma, deveriam controlar os deslocamentos
laterais e antero-posteriores, bem como os movimentos de flexão e extensão
do tronco. Nos dois saltos, os sujeitos mantiveram as mãos na cintura, não
sendo permitido que os membros superiores realizassem qualquer movimento
que pudesse influenciar os resultados. Para efeitos de análise dos resultados,
foi adoptado o melhor resultado das duas tentativas.
Imagem 4: Teste de impulsão vertical “Squat Jump” (Adaptado de Bosco, 1994)
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
30
Para a realização das filmagens a máquina foi colocada num tripé para
obter a melhor qualidade de vídeo. Foi colocada uma marca no local onde as
ginastas teriam que terminar o mortal para que as filmagens fossem idênticas.
Foi, também, pedido às atletas que tentassem realizar o elemento o melhor
possível, como se estivessem em competição. Sempre que solicitado pelas
atletas foi possível repetir a filmagem na tentativa de darem o seu melhor,
sendo seleccionada a melhor execução.
Os testes de impulsão vertical e as filmagens foram realizados depois do
aquecimento que as atletas, normalmente, realizam no início de cada treino
com a duração aproximada de 30 minutos.
4.3. Procedimentos Estatísticos
Foram calculadas, para todas as variáveis, a média, o desvio-padrão e a
amplitude, de acordo com os procedimentos de estatística descritiva. Foi
utilizado o Microsoft Office Excel 2007 de modo a obter um quadro estatístico
descritivo das diferentes avaliações.
Analisamos os dados no softwear Statistical Package for Social Sciences
(SPSS) – versão 17.0 para Windows XP. As variáveis foram submetidas a um
estudo de correlação de Pearson para relacionar os valores obtidos no SJ
como factor determinante nas notas de execução atribuídas pelos juízes. Foi
usado um intervalo de confiança de 95% e nível de significância 5% (p 0,05).
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
31
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
32
5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Força explosiva dos membros inferiores
Na tabela seguinte (tabela 2), podemos analisar os dados obtidos pelas
ginastas na execução do “Squat Jump” (SJ).
Ginasta SJ (cm)
1
29,9
2 31,3
3
29,5 4 31,1
5
30,2 6 28,7
7
22,8 8 28,7
9
27,4 10 25,9
11
29,2 12 29,6
13 28,7
Média 28,69
SD 2,28
A média obtida pelas atletas foi de 28,69 cm com um desvio padrão de
2,28 cm.
A atleta que saltou mais alto foi a número 2 com 31,3 cm e a que saltou
mais baixo foi a número 7 realizando 22,8 cm.
Benecke, Damsgard, Saekmose, Jorgensen e Klausen (2001) realizaram
um estudo no qual aplicaram o teste Squat Jump a 185 crianças, das quais 13
foram incluídas no grupo classificado como “Ginastas de Elite”. Estas atletas
Quadro 2: Dados da avaliação da impulsão vertical ( Squat Jump).
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
33
estudadas têm uma média de 11,2 anos de idade e obtiveram no SJ uma
média de 26 +/- 5 cm. A média dos resultados obtidos pelas ginastas do nosso
estudo é muito próxima da média das “Ginastas de Elite” deste estudo
realizado na Dinamarca.
Noutro estudo, realizado na Nova Zelândia, foi aplicado, também a
ginastas, este teste “Squat Jump”. Num grupo com idades compreendidas
entre os 8 e os 10 anos e noutro grupo com idades compreendidas entre os 11
e os 12 anos. Os resultados foram, novamente, similares aos resultados
obtidos no nosso estudo. (8 a 10 anos: 28,9 +/- 4 cm; 11 a 12 anos: 30,5 +/- 5
cm).
Estas comparações levam-nos a acreditar que o protocolo de Bosco foi
aplicado correctamente e que os valores resultantes são fiáveis.
Podemos concluir que as ginastas portuguesas, avaliadas no nosso
estudo, têm níveis de força explosiva dos membros inferiores similares aos das
ginastas, com elevadas performances, da Dinamarca e da Nova Zelândia.
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
34
Performance das ginastas na execução do mortal
engrupado à retaguarda no solo
A avaliação da execução do mortal engrupado à retaguarda no solo teve
a participação de 5 juízes que individualmente atribuíram uma nota ao
desempenho das ginastas na sua execução. Ver tabela 3.
Ginasta Juiz 1 Juiz 2 Juiz 3 Juiz 4 Juiz 5 Média SD
1 5 4 4 5 4 4,4 0,5
2 5 4 4 4 4 4,2 0,4
3 5 5 4 5 5
4,8 0,4
4 5 4 3 4 3 3,8 0,8
5 4 3 3 3 3
3,2 0,4
6 5 4 3 5 4 4,2 0,8
7 4 3 3 4 4
3,6 0,5
8 3 3 3 3 3 3 0,0
9 5 3 4 3 4
3,8 0,8
10 4 3 3 3 3 3,2 0,4
11 4 3 4 4 3
3,6 0,5
12 5 4 4 3 3 3,8 0,8
13 3 3 3 3 3 3 0,0
Foi efectuada a média das avaliações dos diferentes juízes e atribuída
uma nota final a cada ginasta.
A ginasta que obteve melhor classificação foi a número 3 com 4,8
pontos.
As ginastas que obtiveram pior classificação foram as ginastas número 8
e 13 com 3 pontos.
Quadro 3: Dados da avaliação da execução do mortal engrupado à retaguarda no solo.
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
35
Relação entre a força explosiva dos membros inferiores e
a performance das ginastas na execução do mortal
engrupado à retaguarda no solo
Utilizando o softwear Statistical Package for Social Sciences (SPSS) –
versão 17.0, foi realizada uma correlação de Pearson entre a nota atribuída a
cada ginasta e os resultados obtidos no teste de impulsão vertical “Squat
Jump”.
Correlations
SJ Mortal
SJ Pearson Correlation 1 ,290
Sig. (2-tailed) ,336
N 13 13
Mortal Pearson Correlation ,290 1
Sig. (2-tailed) ,336
N 13 13
A média das notas atribuídas pelos juízes e a força explosiva dos
membros inferiores não apresentam correlações estatisticamente significativas,
nem tendem a correlacionar-se tanto positiva como negativamente.
Parece, deste modo, que os valores de força explosiva da avaliação
dinâmica efectuada, não têm relação ou influência na qualidade do mortal
engrupado à retaguarda no solo.
Este facto leva-nos a acreditar na possibilidade de que as forças
principais e responsáveis pela qualidade do elemento gímnico podem ser de
outra natureza.
Ou seja, a dedução que podemos recolher é que a componente técnica
do mortal engrupado à retaguarda no solo parece ter um papel dominante, não
sendo decisiva a componente de força estudada dos indivíduos.
Quadro 4: Relação entre a força explosiva dos MI e a performance das ginastas.
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
36
Porém, o movimento utilizado na avaliação dinâmica não corresponde,
na íntegra, à execução do elemento avaliado.
Como percebemos ao longo deste trabalho, está provado por muitos
autores que a força muscular é uma capacidade condicional fundamental e
imprescindível para a obtenção de níveis superiores de rendimento. O aumento
do rendimento em quase todas as disciplinas desportivas depende do
desenvolvimento da capacidade motora força. De um modo geral, ela é um
factor primordial na prestação motora do praticante, contribuindo para o seu
desenvolvimento físico harmonioso, promovendo condições de saúde e bem-
estar e para o incremento das suas habilidades técnicas. (Guila, 2001) cit. por
Ana Faro (1995).
É impensável, nos dias de hoje, proceder à organização da preparação
dos jovens sem que o treino da força esteja contemplado no plano de formação
a curto, médio e a longo prazo. Desta forma, o treino de força específica deve
corresponder às exigências dos ginastas.
Torna-se necessário desenvolver níveis de força específica para lá dos
elementos, das combinações, das partes ou de rotinas completas. Muitos
movimentos da ginástica têm uma larga componente de força, mas separá-la
do próprio movimento é um pouco arbitrário (George, 1980; Hullner, 1989; Chu,
1994) cit. por Arkaev (2003).
Na prática, quanto mais coordenados os sujeitos, menos força
necessitam para realizar os elementos técnicos. Baker (1994) cit. García (1999)
demonstrou-nos que o treino da força máxima não se correlaciona
significativamente com as modificações da execução no salto.
Legan et aI. (1984) cit. García (1999) chegaram, também, às mesmas
conclusões depois de 24 semanas de treino de agachamento com cargas
elevadas, que o aumento da forca máxima não era acompanhado pelas
melhorias na performance.
Hatze (1998), aponta que o salto é uma acção multi-articular e, como tal,
não só exige a produção de força, mas também uma grande potência e
coordenação. No entanto, é essencial realçar a importância da relação da força
máxima que é desenvolvida, para melhorar a explosão do salto. Neste
contexto, o treino pliométrico tem sido o mais recomendado para a melhoria do
salto. Major (1996) referiu que com força insuficiente o ginasta aprende o
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elemento com uma técnica, para mais tarde, quanto tiver aumentado os seus
níveis de força, reaprende-lo. Por isso, os treinadores devem proceder com
muito cuidado quando acrescentam pesos aos movimentos se o fim atingir a
qualidade de execução nos elementos específicos da modalidade.
Acrescentar resistência a movimentos desportivos, em alguns casos,
pode ser apropriado, mas para destrezas eminentemente técnicas e
especificas pode não ser uma boa ideia. Os pesos alteram consideravelmente
a distribuição da massa no atleta modificando o padrão do movimento, ou seja,
pode alterar os “timmings” de execução, as referências espaço-temporais, a
diferenciação cinestésica, entre outros aspectos coordenativos que o indivíduo
possui e que parecem ser responsáveis pela performance, Siff (2000) cit.
Sands et al (2003), como parece mostrar o nosso trabalho.
Em complemento, Readhead (s.d.) defende que em ginástica se deve
aproveitar o peso do próprio corpo como elemento de resistência para melhorar
a preparação física do atleta. Com esta técnica, diz o mesmo autor que se
podem fazer exercícios preparatórios que se pareçam com os exercícios
gímnicos que o ginasta vai ter de executar. Assim, é possível que a força e a
consciência do próprio corpo se desenvolvam em simultâneo, de forma natural.
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6 CONCLUSÕES
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6. CONCLUSÕES
As conclusões que retiramos deste estudo foram:
A média das notas atribuídas pelos juízes e a força explosiva dos
membros inferiores não apresentam correlações estatisticamente
significativas, nem tendem a correlacionar-se tanto positiva como
negativamente.
Os valores de força explosiva da avaliação dinâmica efectuada, não
parecem ter relação ou influência na qualidade do mortal engrupado à
retaguarda no solo.
A performance das atletas no mortal engrupado à retaguarda não está
correlacionada nem com os anos de prática, nem com os dias de treino
por semana e nem com as horas de treino semanal.
Este facto leva-nos a acreditar na possibilidade de que as forças
principais e responsáveis pela qualidade do elemento gímnico podem
ser de outra natureza que não as estudadas.
A componente técnica do mortal engrupado à retaguarda no solo parece
ter um papel preponderante, não sendo decisiva a componente de força
estudada dos indivíduos.
Concluímos desta forma que, apesar dos resultados obtidos, o treino de
força não deverá ser descortinado no treino de alto rendimento, pois em alto
rendimento todas as variáveis devem ser consideradas, uma vez que uma
décima poderá definir um primeiro lugar.
Influência da Força Explosiva na Execução do Mortal à Retaguarda
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Rita Silva Gonçalves
Porto, 2009
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