incêndios florestais 5 anos após 2003
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Publicação co-financiada ao abrigo do Regulamento (CE) n.º 2152/2003, doParlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Novembro de 2003 - “Forest Focus”.
FICHA TÉCNICA
Editores
Joaquim Sande Silva
Ernesto de Deus
Lúcia Saldanha
Publicação
Liga para a Protecção da Natureza
Autoridade Florestal Nacional
Desenvolvimento e Design gráfico
ImagemPlus multimédia, lda.
Impressão
Outubro de 2008
ISBN
978-972-98961-8-7
05 Nota Introdutória
07 Apresentação - Presidente da LPN
09 Apresentação - Presidente da AFN
11 INTRODUÇÃO
PARTE I
13 Evolução dos incêndios florestais em Portugal, antes e de-
pois de 2003
15 1. Estatísticas gerais sobre incêndios
16 2. Evolução do quadro legal e institucional
30 3. As ignições
34 4. A propagação
47 5. O combate
PARTE II
65 Comunicações apresentadas no Workshop “Incêndios Flo-
restais - 5 anos após 2003”
67 Américo Carvalho Mendes
77 Domingos Xavier Viegas
87 François Binggeli
97 Joaquim Sande Silva, Ernesto de Deus, Lúcia Saldanha
111 José Cardoso Pereira, Bernardo Mota, Ana Sá, Ana Barros,
Sofia Oliveira
125 Jordi Pages
131 Mark Beighley
139 Paulo Fernandes
149 Pedro Almeida Vieira
PARTE III
163 Contribuições dos participantes no Workshop “Incêndios
Florestais - 5 anos após 2003”
PARTE IV
195 Conclusões gerais
203 LISTA DE SIgLAS E ABREVIATURAS
ESTUDOS FOREST FOCUS
O estudo a que respeita a obra ora impressa foi realizado pela Liga para a Protecção da Natureza para a Autoridade Florestal Nacional
com co-financiamento do Regulamento (CE) n.º 2152/2003, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Novembro de 2003 -
“Forest Focus”.
INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 5 |
NOTA INTRODUTÓRIAA Estratégia Nacional para as Florestas, adoptada pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 114/2006,
identifica a minimização dos riscos de incêndios florestais como uma das seis linhas de acção estratégicas para
o desenvolvimento sustentável do sector florestal em Portugal.
A acção do Governo, que visa uma intervenção estruturada, de forma objectiva e concertada de curto e
médio prazo na mitigação do flagelo dos incêndios florestais em Portugal, encontra-se consubstanciada no
Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros
n.º 65/2006 e que estabelece a meta de reduzir a menos de 100.000 ha/ano de área ardida em 2012.
Igualmente em 2006, foi publicado o Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho, que estabelece o Sistema
Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, o qual estabelece um quadro de responsabilidades muito
claro e comete a responsabilidade da coordenação das acções de prevenção estrutural à Autoridade Florestal
Nacional, a vigilância, detecção e fiscalização à Guarda Nacional Republicana e o combate à Autoridade
Nacional de Protecção Civil.
Os dois documentos base referidos são o ponto de partida para uma reflexão independente sobre a forma
como Portugal respondeu aos desafios resultantes dos grandes incêndios florestais de 2003, cinco anos após
esse Verão trágico, em que os incêndios florestais afectaram cerca de 5% do território nacional, motivando,
inclusive, a mobilização dos apoios comunitários do Fundo de Solidariedade de União Europeia para o esforço
de recuperação das infra-estruturas e habitações destruídas pelo fogo. Esta análise enquadra-se igualmente
no estudo encomendado pelo Parlamento Europeu “Forest fires: Causes and contributing factors”, publicado
em Fevereiro último.
O presente livro surge como o corolário do estudo “Incêndios florestais em Portugal: uma análise crítica do
pós-2003”, realizado pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN) a convite da Autoridade Florestal Nacional,
no quadro de execução do Programa Nacional (2005-2006) do Reg. (CE) nº 2152/2003, do Parlamento Euro-
peu e do Conselho, de 17 de Novembro de 2003, “Forest Focus”, que tem por objecto o apoio financeiro a
estudos relacionados com os incêndios florestais e as suas causas, na perspectiva da sua prevenção.
Foi, portanto, tendo em consideração o estatuto independente e o trabalho científico desenvolvido neste
domínio pela Liga para a Protecção da Natureza, de que se destaca a recente produção da série de livros “Ár-
vores e Florestas de Portugal” (edição conjunta com o Jornal Público e com a FLAD) onde se inclui um volume
exclusivamente dedicado à protecção da floresta e aos incêndios florestais, que a AFN propôs a realização do
estudo, constituído por duas partes distintas:
• A primeira parte, de carácter introdutório, apresenta o diagnóstico da evolução dos incêndios florestais e
das políticas de Defesa da Floresta Contra Incêndios em Portugal nos últimos cinco anos;
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A Liga para a Protecção da Natureza (LPN) é uma organização não governamental e uma instituição de utili-
dade pública sem fins lucrativos, que visa a protecção da natureza, isto é, a protecção dos recursos naturais,
ar, solo, água e diversidade biológica, bem como o património humanizado e a paisagem.
Desde a sua fundação, iniciada pela necessidade de salvar da degradação as manchas mais importantes do
património florestal (Arrábida, Gerês), que a LPN conta com ilustres silvicultures entre os seus associados e di-
rigentes, nunca deixando de se preocupar com as questões da salvaguarda do património florestal nacional.
Ainda antes do ano catastrófico de 2003, foi por iniciativa de um membro seu que o Conselho Nacional
do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS) produziu a “Reflexão sobre a Sustentabilidade da
Politica Florestal Nacional“.
Em 2003 desenvolvemos várias actividades ligadas aos incêndios, entre as quais a realização da conferência
“Incêndios 2003 - A reflexão inadiável“ e o lançamento de uma campanha de sensibilização sobre incêndios
a nível nacional.
Já em 2007, sempre com a consciência de que a floresta é um património essencial para o desenvolvimento
sustentável, a LPN diligenciou no sentido de conseguir promover a informação necessária à população portu-
guesa sobre a importância deste património, cada vez em maior risco devido às alterações climáticas, às alte-
rações do coberto vegetal e ao abandono do espaço rural. Assim, em edição conjunta com a Fundação Luso
Americana para o Desenvolvimento - FLAD e com o jornal Público, lançou a colecção de nove livros “Árvores
e Florestas de Portugal“. De entre estes livros, a preocupação com a protecção da floresta contra os incêndios
volta a sobressair com o Volume VIII – “Proteger a Floresta - Incêndios, Pragas e Doenças“, onde colaboram
novamente dirigentes da Associação, agora como especialistas.
Assim, aceitámos de muito bom grado e com entusiasmo a proposta da Autoridade Florestal Nacional, na
altura Direcção-Geral dos Recursos Florestais, para realizar uma análise critica das medidas adoptadas, 5 anos
após 2003, ano da maior tragédia de sempre ao nível dos incêndios em Portugal. Este estudo inclui uma
caracterização da evolução recente dos incêndios e uma análise critica dos factores que determinam a sua
ocorrência em Portugal, focando as vertentes da ignição, da propagação e do combate. Para a concretização
da presente edição, contámos ainda com os contributos de diversos especialistas, reunidos num Workshop
realizado em Coimbra a 17 de Outubro de 2008.
No presente volume, referem-se os problemas da organização institucional, das causas das ignições e das
medidas necessárias para a sua redução, da situação preocupante da estrutura fundiária, do planeamento e
gestão florestal e da sua certificação, da gestão dos combustíveis e do dispositivo de combate aos incêndios,
entre outros aspectos.
• A segunda parte, de carácter mais operacional, que faz a análise critica dos factores que determinam a
ocorrência dos incêndios florestais, designadamente as vertentes da ignição, propagação e combate, para
a qual o Workshop realizado em Outubro último, com a presença de especialistas nacionais e estrangeiros,
deu um contributo precioso e que permitiu a identificação de alguns factores críticos para a melhoria do
desempenho do Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios.
O estudo, cujos resultados são agora publicados, teve a coordenação científica do Prof. Doutor Joaquim San-
de Silva (Escola Superior Agrária de Coimbra), tendo decorrido entre Maio e Outubro de 2008.
Autoridade Florestal Nacional
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Esta publicação final resulta de meio ano de trabalho intenso de colegas que a ele dedicaram a sua elevada
competência e entusiasmo, esperando a Liga para a Protecção da Natureza que seja útil para o futuro da Flo-
resta Portuguesa e para a sua necessária reconversão, no sentido de salvaguardar o património insubstituível
que ela constitui.
Eugénio Sequeira, Presidente da LPN
Os incêndios devastadores que ocorreram no ano de 2003 foram determinantes para a decisão de realização
deste livro. Com uma área ardida de 425.000 ha, valor nunca antes imaginável, o país assistiu durante esse
Verão a uma gravíssima situação social, económica e ambiental sem precedentes em termos nacionais, mas
também europeus. Após esse Verão de 2003, os incêndios florestais deixaram de ser, definitivamente, um
problema apenas do sector florestal para passar a ser uma preocupação da sociedade portuguesa.
A floresta, que ocupa 34% do território nacional, é um bem fundamental para o bom ordenamento, desen-
volvimento e valorização dos espaços rurais e também da economia nacional. A floresta portuguesa assume
igualmente, de forma diversificada, um papel ambiental de enorme relevância, cada vez mais reconhecido
pela sociedade. É nessa perspectiva que a Estratégia Nacional para as Florestas tem na minimização dos riscos
de incêndios florestais uma das suas principais linhas de acção estratégicas.
Foi, neste quadro, que a Autoridade Florestal Nacional convidou a Liga para a Protecção da Natureza (LPN)
- a mais antiga Organização Não-Governamental de Ambiente da Península Ibérica - para fazer um balanço
independente, com origem na sociedade civil, sobre a evolução ocorrida no domínio da Defesa da Floresta
Contra Incêndios durante os últimos cinco anos.
Com co-financiamento comunitário do Programa “Forest Focus”, durante seis meses, a LPN realizou um im-
portante e intenso trabalho de recolha e tratamento de informação, considerado no relatório de diagnóstico,
que serviu de base ao Workshop realizado em Outubro último.
A presente publicação constitui assim, como se pretendia, uma reflexão e contribuição independentes sobre
a evolução dos incêndios florestais e da política de Defesa da Floresta Contra Incêndios em Portugal, em três
domínios: as ignições, a propagação e o combate.
Portugal dispõe, desde Maio de 2006 de um Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PNDFCI
- RCM n.º 65/2006), que define as grandes linhas de actuação e um conjunto de acções destinadas a intensi-
ficar e alargar a gestão activa da floresta. Foram assim estabelecidas as condições para a redução progressiva
da incidência dos incêndios florestais, de modo a que a área ardida em Portugal seja, em concreto, reduzida
a menos de 100 mil ha/ano em 2012 e a que sejam eliminados os incêndios com áreas superiores a 1000 ha,
que têm sido os responsáveis pelas grandes áreas ardidas.
Para alcançar os objectivos, acções e metas consagradas no PNDFCI, estão previstas intervenções em três domí-
nios prioritários: prevenção estrutural, vigilância e combate. Domínios prioritários que, por sua vez, têm corres-
pondência em cinco eixos estratégicos de actuação: aumento da resiliência do território aos incêndios florestais;
redução da incidência dos incêndios; melhoria da eficácia do ataque e da gestão dos incêndios; recuperação e
reabilitação dos ecossistemas e a adopção e instalação de uma estrutura orgânica funcional e eficaz.
INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 11 |
INTRODUÇÃOA presente edição insere-se no âmbito do estudo “Incêndios em Portugal: uma análise crítica do pós-2003”,
encomendado pela Autoridade Florestal Nacional (ex Direcção-Geral dos Recursos Florestais) à Liga para a
Protecção da Natureza. Este estudo foi co-financiado pelo Programa Europeu “Forest Focus” e envolveu
várias iniciativas, incluindo a elaboração de um relatório com a caracterização da evolução recente do siste-
ma de Defesa da Floresta Contra Incêndios (DFCI) e a realização, em 17 de Outubro de 2008, do Workshop
“Incêndios Florestais – 5 anos após 2003”. O presente volume inclui assim as contribuições quer do relatório
quer do Workshop, no sentido de permitir uma reflexão sobre o percurso da DFCI em Portugal desde 2003,
ano em que se registou a maior área ardida de sempre no nosso país.
A PARTE I deste volume tenta caracterizar a evolução recente de todo o sistema de DFCI em Portugal e é uma
versão condensada do relatório “Evolução dos Incêndios Florestais em Portugal, antes e após 2003”, elabo-
rado no âmbito do estudo já referido. O trabalho realizado consistiu sobretudo na recolha de informação
publicada e não publicada, junto das várias instituições ligadas à DFCI em Portugal e o seu posterior trata-
mento. Foi claramente privilegiada a recolha de dados publicados que pudessem ser referenciados e, apenas
nos casos em que a informação não se encontrava disponível dessa forma, se procedeu à recolha directa junto
das instituições responsáveis. Tratou-se de um trabalho difícil, quer devido ao pouco tempo disponível para o
concluir (Junho – Agosto de 2008), coincidente com o período de férias, quer devido aos constrangimentos
de natureza burocrática que foi necessário ultrapassar. Deste modo, existem lacunas de informação que, ape-
sar dos nossos esforços, não foi possível colmatar em tempo útil. De entre estas lacunas salientamos os dados
de natureza financeira, em termos da execução do Orçamento de Estado e em termos dos prejuízos causados
pelos incêndios. Em particular teria sido muito importante ter dados actualizados sobre a execução do Fundo
Florestal Permanente, mas tal não nos foi de todo possível apesar da nossa insistência junto do Instituto de Fi-
nanciamento da Agricultura e Pescas, através dos serviços da ex-DGRF. Por outro lado, estivemos conscientes
da impossibilidade de vir a recolher informação sobre medidas e actividades não sujeitas a qualquer registo
sistematizado, como por exemplo os aspectos associados à formação e treino dos bombeiros voluntários
no seio das suas corporações ou os aspectos associados à gestão de combustíveis. Foi dada bastante mais
importância à perspectiva temporal que à perspectiva espacial. As séries temporais apresentadas padecem
das dificuldades já referidas mas foram estendidas o mais possível a períodos anteriores a 2003, de modo a
dar uma perspectiva histórica alargada. Em termos de actualização tentámos obter os dados mais recentes,
mesmo tendo em conta que, no caso de 2008, os dados se referem apenas a uma parte do ano.
A PARTE II do presente volume é constituída por textos que serviram de base às apresentações orais do
Workshop “Incêndios Florestais – 5 anos após 2003”. Deste modo, o conteúdo dos textos é da responsa-
bilidade dos respectivos autores, a quem nos limitámos a dar indicações de natureza editorial. O grupo de
autores inclui especialistas nacionais e estrangeiros que foram convidados a dar a sua opinião sobre os desen-
volvimentos recentes no panorama dos incêndios florestais em Portugal. No referido Workshop foi também
Os resultados obtidos após 2006 deixam-nos confiantes quanto ao futuro, mas também com a consciência
de que ainda temos pela frente muito caminho a percorrer e trabalho árduo a realizar, com particular relevo
no domínio da prevenção estrutural, cujo adequado planeamento e boa execução é fundamental para o
sucesso desta.
A prevenção estrutural dos incêndios florestais, abrangendo designadamente os domínios do planeamento,
da formação e do conhecimento, da sensibilização e da gestão dos combustíveis é uma missão complexa
e uma das principais missões cometidas à Autoridade Florestal Nacional. A elaboração e edição deste livro,
quanto a nós, insere-se assim no âmbito dos referidos eixos da prevenção estrutural e constitui um apoio e
um contributo sobre esta problemática, que cremos do maior interesse para todas as entidades que integram
o Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios e para a própria sociedade em geral.
António José L. Martins Rego,
Presidente da Autoridade Florestal Nacional
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PARTE IEVOLUÇÃO DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS EM PORTUgAL,
ANTES E DEPOIS DE 2003
JOAQUIM SANDE SILVA, ERNESTO DE DEUS, LÚCIA
SALDANHA - LIGA PARA A PROTECÇÃO DA NATUREZA
feita uma ronda por todos os restantes participantes convidados, todos eles representando instituições de
alguma forma ligadas à DFCI em Portugal. As intervenções orais resultantes desta participação foram regis-
tadas e transpostas para texto, constituindo a PARTE III do presente volume. Finalmente a PARTE IV resulta
da análise que fizemos de todas as contribuições, retendo os aspectos que foram referidos por mais que um
participante, de modo a fazer uma súmula dos resultados do Workshop.
O presente volume assume-se assim como uma tentativa de fazer um balanço crítico à evolução recente da
DFCI em Portugal, tendo como base as contribuições de um leque alargado de pessoas com conhecimento
aprofundado sobre os aspectos associados ao problema dos incêndios florestais. Mais do que um mero listar
de opiniões, pretende-se que o presente volume possa ser utilizado por todos os que têm e terão algum papel
na definição e na aplicação das políticas de DFCI em Portugal, no sentido de serem corrigidos os aspectos
negativos e reforçados os aspectos positivos. Num cenário de incertezas, não apenas climáticas mas também
económicas e sociais, é ainda mais importante ter em conta os ensinamentos do nosso passado recente, de
modo a podermos tomar as decisões mais correctas no sentido de evitarmos a todo o custo que os aconteci-
mentos de 2003 se voltem a repetir.
Os editores
INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 15 |
1. ESTATÍSTICAS gERAIS SOBRE INCÊNDIOS
Nos dados disponíveis referentes às ocorrências ve ri fi-
ca-se em Portugal um aumento significativo a partir de
meados da década de 90. O ano de 1995 representa o
iní cio de um período com valores muito elevados (Figu-
ra 1). O número de ocorrências atinge valores má ximos
nos anos de 1998 (34.676 ignições), 2000 (34.109) e
2005 (35.698) (Tabela 1). No entanto, devemos enca-
rar esta evolução com alguma reserva, dado que os
critérios e o procedimento utilizados pa ra o registo de
novas ocorrências têm variado ao longo do tempo.
O número de ocorrências em Portugal tem-se des-
tacado no âmbito do conjunto dos países da Europa
mediterrânica. A par de Portugal, também a Espanha
revelou um agravamento, embora menor, nestes re-
gistos. Espanha é de facto o país com a variação mais
semelhante à do nosso país.
FIgURA 1 A evolução anual do n.º de ocorrências para o período 1980–2007. FONTES: DGRF, 2007a; European Commission, 2008.
TABELA 1 Dados estatísticos sobre o número de ocorrências e áreas ardidas em Portugal desde 1998. FONTE: AFN, 2008a. Os dados de 2008 referem-se ao período compreendido entre 1 de Janeiro e 15 de Outubro.
ANOS OCORRÊNCIAS ÁREA ARDIDA (ha)
Incêndios Fogachos (<1 ha) Total Povoamentos Matos Total
1998 8.834 25.842 34.676 57.393 100.975 158.368
1999 5.782 19.695 25.477 31.052 39.561 70.613
2000 8.802 25.307 34.109 68.646 90.958 159.604
2001 6.869 20.073 26.942 45.609 66.557 112.166
2002 6.492 20.000 26.492 65.164 59.245 124.409
2003 5.309 20.886 26.195 286.055 139.671 425.726
2004 5.020 16.950 21.970 56.109 73.430 129.539
2005 8.179 27.519 35.698 213.517 124.745 338.262
2006 3.455 16.466 19.921 36.320 39.189 75.509
2007 3.566 15.166 18.732 9.638 21.812 31.450
Média 98-07 6.231 20.790 27.021 86.950 75.614 162.564
2008 2.162 9.752 11.914 5.006 9.404 14.410
1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006
Portugal Espanha França Itália Grécia
40.000
30.000
20.000
10.000
0
Nº
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o Instituto de Financiamento e Apoio ao Desenvol-
vimento da Agricultura e das Pescas (IFADAP). Em
vir tude desta reestruturação, em 1997 foi aprovada
a Lei Orgânica da DGF, através do Decreto Regula-
mentar n.º 11/97, de 30 de Abril, investindo-a das
funções de autoridade florestal nacional pelo Decre-
to-Lei n.º 256/97, de 27 de Setembro.
Entre outras consequências, os incêndios de 2003
vêm despoletar mais uma reforma estrutural do Sec-
tor Florestal. No início de Outubro de 2003 é criada
a Secretaria de Estado das Florestas, representando
a ten tativa de centralizar numa só entidade as ques-
tões da política florestal, concentrando a prevenção
dos in cêndios e a primeira intervenção no âmbito do
MADRP (RCM n.º 65/2006, de 26 de Maio). Pouco
mais tarde, a Reso lução do Conselho de Ministros
n.º 178/2003, de 17 de Novembro, vem materializar
as grandes linhas orientadoras da reforma estrutural
do sector florestal, organizando-as em cinco gran-
des Eixos: a reforma ins titucional, o reordenamento
e a gestão florestal, o financiamento e fiscalidade,
a reestruturação do sis tema de defesa florestal con-
tra incêndios e a reflorestação das áreas ardidas. As
medidas no âmbito do financiamento e da reflores-
tação das áreas ardidas são as primeiras a avançar,
nomeadamente através da criação da Equipa de
Reflorestação (Resolução de Conselho de Ministros
n.º 17/2004, de 2 de Março) e da criação do Fundo
Florestal Permanente (FFP) (DL n.º 63/2004, de 22 de
Março). Em 2004, os serviços florestais são de novo
reestruturados, criando-se a Direcção-Geral dos Re-
cursos Florestais (DGRF), entrando a respectiva Lei
Orgânica em vigor com a publicação do Decreto-Lei
n.º 80/2004, de 10 de Abril. A DGRF assume o es-
tatuto de orga nis mo público investido de autorida-
de florestal na cio nal, que integra o Corpo Nacional
da Guarda Flo res tal (CNGF), sendo coadjuvada pelo
Conselho da Autoridade Florestal. Esta reestrutura-
ção traz de volta os serviços re gionais, sendo defini-
das as suas unidades orgânicas e suas competências
pela Portaria n.º 574/2004, 28 de Maio. São criadas
três circunscrições florestais (Norte, Centro e Sul) e
21 núcleos florestais.
A reforma institucional vem expressar-se também
através da criação da Agência para a Prevenção de
In cêndios Florestais (APIF) e da atribuição de todas as
funções de prevenção ao MADRP. A criação da APIF
dá-se através do Decreto Regulamentar n.º 5/2004,
de 21 de Abril, como um serviço central de coorde-
nação dependente do MADRP, ten do por missão a
concertação de estratégias, promovendo a compa-
tibilização das intervenções a nível central e local no
âmbito da prevenção e protecção da floresta contra
incêndios florestais.
A APIF era composta por um coordenador e por
um Conselho de Representantes. Este conselho era
constituido pelos dirigentes da DGRF, ICN, ANMP,
IM, SNBPC, PJ, GNR e ainda por representantes dos
três ramos das Forças Armadas. De entre as compe-
tências atribuídas, a APIF deveria coor denar as medi-
das e iniciativas no âmbito da pre ven ção dos fogos
florestais, devendo elaborar o Plano Na cional de De-
fesa da Floresta Contra Incêndios (PN DFCI), coorde-
nar a elaboração dos Planos Mun i cipais de Defesa da
Floresta Contra Incêndios (PMDFCI) e o seu acom-
panhamento e avaliação, gerir os sistemas de infor-
mação geográfica, coordenar o sistema de detecção,
incluindo o desenvolvimento de um sis tema de alerta
eficaz, reforçar a dimensão e as competências das
equipas de sapadores florestais (eSF), e estimular a
profissionalização dos bombeiros. Das atribuições da
Durante o período 1980 – 2007, estes países tota-
lizaram cerca de 13,8 milhões de hectares de áreas
ar didas, sendo Espanha (37%), Itália (24%) e Por-
tugal (23%) os responsáveis pelo maior contributo
para este total. Limitando esta análise aos últimos
dez anos (1998 – 2007), Portugal assume 38% do
total (cerca de 1,6 milhões de hectares).
2. O QUADRO LEgAL E INSTITUCIONAL
As reformas estruturais do sector florestal
A organização dos Serviços Florestais do Estado tem
sofrido alterações constantes nos últimos anos, fru-
to de sucessivas reestruturações (Figura 3). Na sua
his tória recente destaca-se a reestruturação do Mi-
nistério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e
das Pescas (MADRP), ocorrida em 1996. Através do
Decreto-Lei n.º 74/96, de 18 de Junho, aprovou-se a
Lei Orgânica do MADRP, extinguindo o Instituto Flo-
restal e criando a Direcção-Geral das Florestas (DGF).
Em simultâneo, ocorre a reorganização das Direcções
Regionais de Agricultura, publicada no Decreto-Lei
n.º 75/96, de 18 de Junho, que passam a integrar
os serviços florestais regionais. Desta reestruturação
resultou também a transição da administração de
apoios públicos comunitários e gestão florestal para
O ano de 2003 registou os mais elevados valores
de área ardida em toda a história dos incêndios em
Portugal. Nesse ano arderam cerca de 426.000 ha,
um valor anormalmente elevado face às restantes es-
tatísticas relativas à superfície queimada anualmen-
te. De facto, o máximo antes registado havia sido
em 1991, com cerca de 182.000 ha, e entre 1980
e 2002 ardiam em média cerca de 94.000 ha por
ano. Se juntarmos os resultados do período 2003 –
2007, a área ardida média aumenta para cerca de
100.000 ha anuais. Espanha, durante a década de
80 e primeira metade da década de 90, registou va-
lores recorde em áreas ardidas, ultrapassando por
três vezes os 400.000 ha: em 1985 (484.000 ha),
em 1989 (426.999 ha) e em 1994 (437.000 ha) (Fi-
gura 2). Merece especial referência o ano de 2007
na Grécia, que com cerca de 225.000 ha de área
ardida, constituem um resultado claramente superior
a qualquer um registado neste país durante este pe-
ríodo de análise.
1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006
Portugal Espanha França Itália Grécia
600.000
500.000
400.000
300.000
200.000
100.000
0
ha
FIgURA 2 Evolução anual da área ardida para o período 1980 – 2007. FONTES: DGRF, 2007a; European Commission, 2008.
| 18 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 19 |
As reformas da política de Protecção Civil
No Verão de 2003, a Protecção Civil tinha como enti-
dade responsável o Serviço Nacional de Bombeiros e
Protecção Civil (SNBPC). De referir que o SNBPC tinha
sido criado apenas em Maio de 2003, em resultado
da fusão do Serviço Nacional de Bombeiros (SNB) e
do Serviço Nacional de Protecção Civil (SNPC). O Li-
vro Aberto do Sistema de Protecção e Socorro em
Portugal (LBP, 2003) aponta o facto de que a cria-
ção do SNBPC não foi seguida de uma revisão da
estrutura organizacional. Segundo este relatório, o
passa a integrar a Unidade de Defesa da Floresta, que
contempla os riscos bióticos e abióticos. No âmbito
da DFCI, a AFN tem como atribuições (1) promover a
formulação e impulsionar a monitorização das políti-
cas de DFCI, (2) promover a criação e estruturar um
dispositivo de prevenção estrutural, (3) coordenar o
Programa Nacional de Sapadores Florestais, (4) gerir
o Sistema de Informação de Incêndios Florestais, (5)
assegurar a gestão de combustíveis, (6) acompanhar
as actividades agrícolas e de silvo-pastorícia na sua
interacção com a DFCI, e (7) promover os trabalhos
necessários à elaboração de índices de risco temporal
e espacial no âmbito dos incêndios florestais.
APIF, destacou-se o seu esforço na cria ção dos Gabi-
netes Técnicos Florestais (GTF). Para a realização do
PNDFCI, contratou uma equipa do Instituto Superior
de Agronomia (ISA) para a elaboração de uma pro-
posta técnica (ISA, 2005).
Foram criadas, através da Lei n.º 14/2004, de 8 de
Maio, as Comissões Municipais de Defesa da Floresta
Contra Incêndios (CMDFCI) no seio do Serviço Mu-
nicipal de Protecção Civil (SMPC). Estas comissões,
vieram extinguir as Comissões Especializadas em Fo-
gos Florestais (CEFF) municipais e distritais, tendo por
missão coordenar, a nível local, as acções de DFCI e
promover a sua execução.
Prosseguindo a Reforma do Sector Florestal, em
Agosto com o Decreto-Lei n.º 127/2005, foi publi-
cado o regime de criação de Zonas de Intervenção
Florestal (ZIF) e os princípios reguladores da sua cons-
tituição, funcionamento e extinção.
Foi entretanto concluída e aprovada pelo Governo a
Estratégia Nacional para as Florestas (ENF) pela Reso-
lução do Conselho de Ministros n.º 114/2006, de 15
de Setembro, depois de um processo de discussão
pública. Pretendeu-se com a ENF dotar o sector flo-
restal de um elemento de referência das orientações
e planos de acção públicos e privados para o desen-
volvimento do sector nas próximas décadas.
No âmbito do Programa de Reestruturação da Ad-
ministração Central do Estado (PRACE), o MADRP
so fre uma revisão da sua Lei Orgânica, aprovada no
Decreto-Lei n.º 209/2006, de 27 de Outubro. Em
2006, processa-se a extinção da APIF em simultâneo
com a transição das respectivas atribuições para a
DGRF (DL n.º 68/2006 e 69/2006, de 23 de Março).
São também excluídas as referências ao CNGF cujo
pessoal tinha sido integrado no Serviço de Protec-
ção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da Guarda
Nacional Republicana (GNR) (DL n.º 22/2006, de 2
de Fevereiro). Na sequência da nova Lei Orgânica
do MADRP, a DGRF foi objecto de reestruturação,
mantendo-se como serviço central da Administração
directa do Estado, tendo contudo a necessidade de
proceder a alterações na sua organização interna
no sentido de reforçarem a sua missão e respecti-
vas competências no âmbito do Sistema Nacional de
Defesa da Floresta Contra Incêndios (SNDFCI) e de
garantirem a adequada operacionalização da ENF. A
nova Lei orgânica da DGRF é aprovada pelo Decreto
Regulamentar n.º 10/2007, de 27 de Fevereiro, des-
tacando as suas atribuições na coordenação e apoio
da execução da política florestal no âmbito da ENF. A
Portaria n.º 219-E/2007, de 28 de Fevereiro, vem de-
terminar a estrutura nuclear dos serviços e as compe-
tências das respectivas unidades orgânicas. Assim, a
estrutura nuclear da DGRF passa a ser composta por
cinco direcções, entre as quais a Direcção de Serviços
de Defesa da Floresta Contra Incêndios.
Em 2008, é publicada a nova Lei Orgânica da Auto-
ridade Florestal Nacional (AFN) (DL n.º 159/2008, de
8 de Agosto). A desconcentração dos serviços é fei ta
através da criação de cinco Direcções Regionais das
Florestas: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alen-
tejo e Algarve, de acordo com as NUT nível II. A nova
Lei Orgânica cria o Conselho Florestal Nacional (CFN)
que é um órgão consultivo de concertação de âmbito
nacional. Este CFN tem como competências a emissão
de pareceres sobre a legislação estruturante do sector,
as estratégias florestais e planos de defesa da floresta,
programas de actividades do SNDFCI e políticas na-
cionais de caça e pesca nas águas interiores. A DFCI
FIgURA 3 Alterações recentes na Administração Florestal FONTE: Adaptado de RCM n.º 114/2006.
1993
1996
2004
2006
2007
2008
Direcções Regionais de Agricultura
Agência para a Pre venção de IncêndiosFlorestais
Direcção-geraldas Florestas
Direcção-geral dos Recursos Florestais
Circunscrições Flo res tais Norte, Centro, Sul
Núcleos Florestais (21)
Direcção-geral dos Recursos Florestais
Direcção de Serviços de DFCI
Direcção da Uni-da de de Defesa da Floresta
Direcções Regio nais das Florestas: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve
Corpo Nacional da guarda Florestal
Equipa de Reflores tação Conselho Na cio nal de Reflorestação
SEPNA (gNR)
IFADAP
(Fundo Florestal Permanente)
IFAP
(Serviços Regionais) (QCA/PAC)
Autoridade Florestal Nacional
Instituto Florestal
| 20 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 21 |
Depois da transferência do pessoal do CNGF para a
GNR, a Portaria n.º 798/2006, de 11 de Agosto, veio
definir os termos em que se processa a coordenação
da actividade dos serviços dependentes dos MAI, MA-
OTDR e MADRP, no âmbito da defesa da floresta con-
tra incêndios florestais, na protecção contra agentes
bióticos e na prevenção de outras agressões.
A Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) su-
cede em 2007 ao SNBPC. Prevista na Lei de Bases da
Protecção Civil, que redefine o sistema de protecção
civil, é regulamentada pelo Decreto-Lei n.º 75/2007,
de 29 de Março. A ANPC tem como missão plane-
ar, coordenar e executar a política de protecção civil,
designadamente, na prevenção e reacção a aciden-
tes graves e catástrofes, de protecção e socorro de
populações e de superintendência da actividade dos
bombeiros. A ANPC tem como atribuições no âmbito
das actividades dos bombeiros: orientar, coordenar e
fiscalizar a actividade dos corpos de bombeiros (CB),
promover e incentivar a participação das populações
no voluntariado e todas as formas de auxílio na mis-
são das associações humanitárias de bombeiros e
dos CB, assegurar a realização de formação pessoal
e profissional dos bombeiros portugueses, e assegu-
rar a prevenção sanitária, a higiene e a segurança
do pessoal dos CB. Conforme previsto no SIOPS, foi
também definido o Comando Nacional de Opera-
ções, que compreende as células de planeamento,
operações e informações, a de logística, a de gestão
de meios aéreos e a de comunicações. O desdobra-
mento regional é feito através dos CDOS.
Enquadramento legislativo e institucional
da DFCI
O Decreto-Lei n.º 156/2004, de 30 de Junho, veio
es tabelecer o Sistema Nacional de Prevenção e Pro-
tecção da Floresta Contra Incêndios (SNPPFCI), pre-
vendo um conjunto de medidas e acções estruturais
e operacionais relativas à prevenção, sensibilização,
silvicultura preventiva, vigilância, detecção, rescaldo,
vigilância pós-incêndio e fiscalização, cabendo à APIF
a coordenação do sistema e a intervenção no sentido
de assegurar a execução das medidas e acções nele
previstas (Figura 5). A nível municipal, as CEFF são
substituídas pelas CMDFCI, que constituem centros
de coordenação e acção local das acções de DFCI
(Figura 4 e Figura 5).
Em 2005 é aprovado o Plano Operacional de Pre-
venção e Combate aos Incêndios Florestais através
da Resolução do Conselho de Ministros n.º 58/2005,
de 8 de Março, onde se refere que “a experiência
de épocas de incêndios transactas permitiu avaliar a
coordenação operacional do SNBPC, tendo sido de-
tectada a necessidade de adoptar medidas que visem
reforçar e melhorar neste domínio”.
Pretendia esta Resolução reforçar os meios ao nível
da prevenção e vigilância orientadas para a sensibi-
lização e dissuasão, no âmbito das competências do
MADRP, e constituir um sistema de comando único
para as acções de vigilância, detecção e combate a
fogos florestais, dirigido pelo MAI. Este sistema de
comando seria suportado por uma célula de apoio
à decisão (técnicos do MAI, do MADRP, do MAOT
- Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Ter-
ritório e da AFOCELCA).
De acordo com as medidas propostas e orçamenta-
das nesta Resolução, a verba dedicada a silvicultura
preventiva, fiscalização e prevenção era praticamen-
te o dobro da dedicada ao dispositivo especial de
Centro Nacional de Operações de Socorro (CNOS) foi
criado sem ser dotado da estrutura técnica e humana
adequadas, o mesmo sucedendo com os Centros Dis-
tritais de Coordenação de Socorros (CDCS). Segun-
do a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), o SNBPC
acabou por se transformar na soma aritmética dos
recursos de dois serviços extintos, correspondendo o
CNOS ao anterior Centro Nacional de Coordenação
de Socorro do extinto Serviço Nacional de Bombei-
ros (SNB), e correspondendo os Centros Distritais de
Operações de Socorro (CDOS) aos CDCS, aos quais
foram acrescentadas as competências de Protecção
Civil. Refere também que a Lei Orgânica foi também
omissa quanto ao nível municipal, previsto na Lei de
Bases da Protecção Civil.
Em 2006, ocorre uma nova reforma legislativa da po-
lítica de protecção civil executada pelo Governo. No
contexto do PRACE, são aprovadas as Leis Orgânicas
do Ministério da Administração Interna (MAI) (DL n.º
203/2006, de 27 de Outubro), do Ministério do Am-
biente, do Ordenamento, do Território e do Desen-
volvimento Regional (MAOTDR) (DL n.º 207/2006,
de 27 de Outubro) e do MADRP (DL n.º 209/2006,
de 27 de Outubro).
No plano da reforma institucional, foi publicado o
Decreto-Lei n.º 21/2006, de 2 de Fevereiro, com a
al te ração à Lei Orgânica do SNBPC, procurando-se
corrigir as fragilidades verificadas nas estruturas de
comando das operações e completar o processo ini-
ciado em 2005, com a recuperação da capacidade
de comando ao nível das estruturas nacional e dis-
tritais do SNBPC.
A nova Lei de Bases da Protecção Civil foi aprovada
em Julho de 2006 (Lei n.º 27/2006, de 3 de Julho),
trazendo uma nova organização operacional. O di-
ploma organiza-se em torno do princípio da subsi-
diariedade, que determina que o subsistema de pro-
tecção civil de nível superior só deve intervir se e na
medida em que os objectivos da protecção civil não
possam ser alcançados pelo subsistema de protecção
civil ime diatamente inferior, dependendo da dimen-
são e da gravidade dos efeitos das ocorrências.
A revisão legislativa levou à constituição do Siste-
ma Integrado de Operações de Protecção e Socorro
(SIOPS) (DL n.º 134/2006, de 27 de Julho), que surge
pela necessidade de criar um instrumento global e
centralizado de coordenação e comando de opera-
ções de socorro, cuja execução compete a entidades
diversas e que dependem para efeitos operacionais
deste sistema. O SIOPS consiste num conjunto de
estruturas, normas e procedimentos que asseguram
que todos os agentes de protecção civil actuam no
plano operacional articuladamente sob um comando
único, sem prejuízo da respectiva dependência hie-
rárquica. A coordenação institucional é assegurada,
a nível nacional e a nível distrital, pelos Centros de
Coordenação Operacional, que integram represen-
tantes das entidades cuja intervenção se justifica em
função de cada ocorrência.
Prosseguindo a necessidade de reforço da capacida-
de de vigilância e fiscalização do território nacional,
procedeu-se à consolidação do SEPNA, no âmbito
orgânico da GNR, integrando nesse serviço o pessoal
do CNGF da DGRF, entretanto extinto. Foram tam-
bém criados no âmbito da GNR os Grupos de Inter-
venção de Protecção e Socorro (GIPS), com acção na
prevenção e intervenção de primeira linha em caso
de incêndios florestais e outras situações de emer-
gência (DL n.º 22/2006, de 2 de Fevereiro).
| 22 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 23 |
dios; Eixo 3 – Melhoria da eficácia do ataque e da
gestão dos incêndios; Eixo 4 – Recuperar e reabilitar
os ecossistemas; Eixo 5 – Adaptação de uma estrutu-
ra orgânica funcional e eficaz.
Incorporando os resultados da experiência de duas
épo cas de incêndio, foi publicado o Decreto-Lei
n.º 124/2006, de 28 de Junho, que revoga o Decreto-
-Lei n.º 156/2004 e define o SNDFCI. No SNDFCI as
responsabilidades de coordenação foram repartidas
por três entidades (Figura 6): a DGRF (actualmente
AFN) como responsável pela coordenação das acções
de prevenção estrutural, ver te ntes da sensibilização,
planeamento, organização do território florestal, silvi-
cultura e infra-estruturação; a GNR como responsável
pela coordenação das acções de prevenção operacio-
nal nas vertentes de vigilância, detecção e fiscalização;
a ANPC como responsável pela coordenação das ac-
ções de combate, rescaldo e vigilância pós-incêndio.
À DGRF acrescia ainda a responsabilidade de manter
o Sistema de Gestão e Informação de Incêndios Flo-
restais e o registo cartográfico das áreas ardidas.
O planeamento da DFCI, considerando inicialmente
o nível nacional e municipal (2004), foi revisto pas-
sando a contemplar quatro níveis: nacional, regional
ou supra-regional, municipal e intermunicipal e local
(2006). Os PMDFCI prevêem agora a possibilidade
dos municípios criarem e implementarem programas
especiais de intervenção florestal no âmbito de pla-
nos de defesa da floresta para áreas de grande valor
estratégico nacional e para áreas florestais estraté-
gicas e de elevado valor. Na revisão do SNDFCI tam-
bém ficou previsto que a não aprovação do PMDFCI
privaria as autarquias do direito de subsídio ou bene-
fício dado pelo Estado no âmbito da DFCI.
A integração e compatibilização com os instrumen-
tos de ordenamento de ordem superior (PMDFCI e
Plano Regional de Ordenamento Florestal - PROF)
devem estar presentes no planeamento local da
DFCI, devendo todas as iniciativas estar articuladas e
enquadradas pelos PMDFCI. Às ZIF, entretanto cria-
das, é pedida a apresentação dos instrumentos de
gestão à DGRF no prazo de 180 dias a contar da sua
constituição.
O Decreto-Lei n.º 124/2006, revê a DFCI ao nível da
organização do território, estabelecendo as Redes
de Defesa da Floresta (RDF) que integram: as redes
de faixas de gestão de combustível, os mosaicos de
parcelas de gestão de combustível, a rede viária flo-
restal, a rede de pontos de água, a rede de vigilância
e detecção de incêndios, e a rede de infra-estruturas
de apoio e combate. Diferentes entidades têm com-
petências sobre a RDF, sendo a DGRF a responsável
pela sua monitorização e desenvolvimento no âmbi-
to do planeamento regional da DFCI. No entanto, de
acordo com as responsabilidades atrás referidas no
SNDFCI, a rede de vigilância é da competência da
Na sequência das reflexões efectuadas sobre as altera-
ções introduzidas após os incêndios de 2003, assume
importância a crítica da necessidade da definição de
comando único, sendo unânime a necessidade de in-
tro duzir o conceito operacional que viria a tomar forma
através da criação da ANIF – Autoridade Na cio nal para
os Incêndios Florestais. A ANIF funcionou de 1 de Maio
a 31 de Outubro, tendo no final desse período apre-
sentado um relatório onde identificou os estrangula-
mentos verificados, as debilidades e oportunidades de
melhoria, as recomendações de alterações legislativas
e de alterações de regras e procedimentos e que viria a
ser determinante na reforma operada em 2006.
O Relatório da ANIF viria a concluir que, quanto ao
dis positivo de combate, “o caminho a seguir não
pas se pelo incremento destes meios, mas sim pelo
aumento da sua eficácia com base num novo con-
ceito de recrutamento, de formação e organização
operacional dos recursos humanos, da adequação e
op timização dos recursos materiais ao combate dos
in cêndios florestais, com os necessários meios de
apoio à decisão, de comunicações e logísticos”.
Tendo como base uma versão bastante alterada do
trabalho realizado pela equipa do ISA, o PNDFCI foi
aprovado e publicado pela Resolução do Conselho
de Ministros n.º 65/2006, de 26 de Maio, após con-
sulta pública. O Plano está estruturado em cinco Ei-
xos, desdobrados em objectivos estratégicos: Eixo 1
– Aumento da resiliência do território aos incêndios
florestais; Eixo 2 – Redução da incidência dos incên-
combate. O custo total estimado dos dispositivos es-
peciais de prevenção, pré-supressão e do Dispositivo
Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF)
foi de 131.204 mil euros.
Em 2005, foi elaborado o Plano Operacional Nacional
de Combate a Incêndios Florestais (PONACIF), onde
se estruturou o dispositivo de combate, em termos de
meios humanos e equipamentos, definindo o DECIF.
O PONACIF, estabelecendo a regulação e articulação
da in tervenção dos organismos e instituições envolvi-
das ou a envolver nas operações de combate e apoio,
es ta va especialmente vocacionado para a organização
do combate, privilegiando a actuação dos bombeiros.
Combate
ANPC
CNOS
CDOS
Bombeiros
CMPC
MAI/SEPC
CCON
CCOD
SIOPS
GNR PSP
INEMIM
AFN
FIgURA 6 Competências actuais relacionadas com a DFCI.
Prevenção
CMDFCI
Câmaras Municipais
MADRP/SEDRF
AFN
Sapadores Florestais
OPF e Baldios
DFCI
Detecção
GNR
SEPNA(Fiscalização)
FIgURA 4 Competências relacionadas com a DFCI antes dos in-cêndios de 2003. FONTE: MADRP, 2003.
FIgURA 5 Competências relacionadas com a DFCI após os incên-dios de 2003. FONTE: MADRP, 2003.
Combate Prevenção
MAI
SNBPC
CNOS NPF
CDOS
Bombeiros
CEFFd
CEFFm
Câmaras Municipais
MADRP
SEDR
DRA DGF
CPD CNGF
MCOTA
ICN
Áreas Protegidas
Sapadores Florestais
OPF e Baldios
ANMP
IM
ICN
Combate Prevenção
CMDFCI
Câmaras Municipais
MADRP
SEF
APIFDGRF
CPD
CNGF
Sapadores Florestais
OPF e Baldios
MAI
SNBPC
CNOS
CDOS
Bombeiros
| 24 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 25 |
O Estudo de monitorização e avaliação do Sistema
Nacional de Defesa da Florestal Contra Incêndios,
realizado em 2007 pelo Instituto de Estudos Sociais
e Económicos (IESE), aponta três problemas de base
nos GTF, nomeadamente: o facto de serem ocupados
por técnicos inexperientes, em muitos casos recém-
-licenciados ou provenientes de Organizações de
Produtores Florestais (OPF), encontrarem-se isolados
nas Câmaras Municipais ou integrados em Gabinetes
de Protecção Civil ou mesmo em divisões do ambien-
te (situação que implicou a integração numa hierar-
quia pesada, em nada facilitando o exercício das suas
atribuições) e serem frequentemente desviados para
outras funções no âmbito da reestruturação orgâni-
ca no seio das Câmaras Municipais.
O planeamento da DFCI a nível municipal teve como
primeira figura o Plano Municipal de Intervenção na
Floresta (PMIF; DL n.º 423/93, de 31 de Dezembro)
com o objectivo de definir as medidas de protecção
das florestas contra incêndios dentro das competên-
cias das Câmaras Municipais. Nos PMIF pretendiam-
se identificar as situações-tipo relacionadas com os
incêndios e indicar as estruturas e meios logísticos
de prevenção, detecção e apoio ao combate dos in-
cêndios. Este diploma teve um baixo impacto, con-
tando-se em 2005 apenas 18 concelhos com PMIF
aprovados pela DGRF.
A aprovação do SNPPFCI em 2004 (DL n.º 156/2004, de
30 de Junho) vem constituir os PDF como instrumentos
de planeamento das medidas de DFCI ao nível muni-
cipal, substituindo os PMIF. Os requisitos para elabora-
ção dos PDF são definidos na Portaria n.º 1185/2004,
de 15 de Setembro, destacando-se a análise do risco,
vulnerabilidade aos incêndios e zonagem do território,
através da elaboração de cartas de combustíveis flores-
tais, riscos de incêndio e prioridades de defesa.
A reforma do SNDFCI aprovada no Decreto-Lei n.º
124/2006, de 28 de Junho, abrangeu também os
planos municipais, que se passaram a designar por
PMDFCI. No final de 2006 viria a sair a Portaria n.º
1136/2006, de 25 de Outubro, que regulamenta os
PMDFCI. Em 2007 foram entregues na DGRF 239 pla-
nos para aprovação, tendo sido aprovados 234, o que
representa um nível de concretização dos PMDFCI
GNR e a rede de infra-estruturas de apoio e combate
é da responsabilidade da ANPC.
A vigilância e detecção de incêndios, anteriormente da
responsabilidade da DGRF, passa a ser da responsabili-
dade da GNR, que coordena a Rede Nacional de Pos-
tos de Vigia (RNPV), decidindo sobre a sua localização
mediante parecer da DGRF. A vigilância é também da
competência da GNR, que deve coordenar as acções
de vigilância levadas a cabo pelas diversas entidades.
As Forças Armadas e corpos especiais de vigilantes
participavam nas acções de vigilância, prevenção,
detecção, rescaldo e vigilância pós-incêndio. A revi-
são do SNDFCI alargou a participação destas Forças à
abertura de aceiros, acções de gestão de combustível
das matas nacionais ou administradas pelo Estado e
no patrulhamento da floresta.
De acordo com o SNDFCI na sua versão de 2006, o
combate de incêndios era assegurado por entidades
com responsabilidades no combate a incêndios e por
profissionais credenciados para o efeito pela ANPC e
com parecer da DGRF.
As estruturas municipais
As CMDFCI vêm constituir o modo de garantir a
ar ticulação da actuação dos organismos com com-
petências em matérias florestais ao nível mu ni cipal
ou intermunicipal, tendo sido consideradas co mo
“uma das medidas prioritárias das grandes li nhas
orientadoras da reforma estrutural do sector flores-
tal” (CEFF, 2006). Tendo como missão coordenar as
acções de DFCI ao nível local e promover a sua exe-
cução, elas deveriam ser responsáveis pela elabora-
ção dos PMDFCI em consonância com o PNDFCI e
com os PROF.
O processo de constituição das CMDFCI avançou de
modo bastante rápido, já que passados dois anos
após a sua criação, 94% dos municípios tinham
esta estrutura formada. Actualmente encontram-se
constituídas 274 Comissões, representando cerca de
99% do total dos municípios de Portugal Continental
(Tabela 2).
A criação dos GTF teve origem num protocolo esta-
belecido entre o MADRP e a Associação Nacional de
Municípios Portugueses (ANMP) em 13 de Julho de
2004. Este protocolo tinha como principal objectivo
garantir a operacionalização do SNDFCI e proceder
à implementação das CMDFCI. A APIF era respon-
sável por este processo estabelecendo, juntamente
com a ANMP, protocolos com as Câmara Municipais
para a criação dos seus GTF. Este protocolo definia
o perfil do técnico do Gabinete e o plano geral de
actividades a executar, sendo a sua principal missão
a elaboração dos Planos de Defesa da Floresta (PDF),
mais tarde designados por PMDFCI, em conjun-
to com as CMDFCI. O apoio financeiro necessário
foi garantido pelo FFP. A evolução da constituição
dos GTF foi mais lenta do que a verificada para as
CMDFCI, envolvendo actualmente cerca de 89%
dos municípios portugueses na constituição dos 210
GTF (Tabela 3 e Tabela 4).
TABELA 2 Evolução na constituição de Comissões Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios. FONTE: Dados cedidos pela
DGRF (Julho, 2008); AFN (2008b). Os dados de 2008 referem-se ao período
de 1 de Janeiro até 15 de Outubro.
ANO VALOR ACUMULADO DE CMDFCI CONSTITUÍDAS
2004 181 65%
2005 245 88%
2006 261 94%
2007 272 98%
2008 274 99%
TABELA 4 Evolução no número de municípios envolvidos na constituição de Gabinetes Técnicos Florestais. FONTE: Dados cedidos pela DGRF (Julho, 2008); AFN(2008b). Os dados de 2008 referem-se ao período de 1 de Janeiro até 15 de Outubro.
ANO VALOR ACUMULADO DE MUNICÍPIOS
ENVOLVIDOS NA CONSTITUIÇÃO DE gTF
2004 57 21%
2005 189 68%
2006 212 77%
2007 228 82%
2008 246 89%
TABELA 3 Evolução na constituição de Gabinetes Técnicos Flo restais. FONTE: Dados cedidos pela DGRF (Julho, 2008); AFN (2008b). Os dados de 2008 referem-se ao período de 1 de Janeiro até 15 de Outubro.
ANO gTF MUNICIPAIS gTF INTERMUNICIPAIS VALORES ACUMULADOS
2004 56 1 57
2005 116 7 180
2006 10 5 195
2007 4 5 204
2008 2 4 210
| 26 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 27 |
líferos, do rendimento de material lenhoso resultante
da exploração florestal de matas públicas e comu-
nitárias sob a gestão do Estado, da percentagem
do valor das coimas que lhe sejam afectadas por
lei (conforme previsto no Decreto-Lei n.º 156/2004,
mas entretanto retirada na revisão efectuada a este
diploma), entre outras origens.
O Regulamento do FFP é aprovado com a Porta-
ria n.º 679/2004, de 19 de Junho, sendo o então
IFADAP/INGA a instituição responsável pela admi
nistração e gestão. É o Gabinete do Fundo Flores-
tal Permanente (GFFP), criado nessa instituição, que
assegura a gestão do Fundo, tendo como princi-
pais funções a coordenação das acções técnicas,
financeiras e administrativas do Gabinete, assegu-
rar a análise/decisão de parecer de candidaturas re-
cepcionadas e o apoio à elaboração de protocolos
destinados a associar entidades públicas e privadas à
realização dos objectivos do FFP.
O Programa de Apoios para 2004, publicado no Des-
pacho normativo n.º 36/2004, 30 de Julho, apresen-
tava-se estruturado em cinco áreas de intervenção,
definidas em estreita proximidade com os objectivos
anteriormente estabelecidos: (1) Prevenção de incên-
dios e respectivas infra-estruturas; (2) Ordenamento e
gestão florestal; (3) Reestruturação fundiária, empar-
celamento e aquisição de terras; (4) Sistemas de certi-
ficação de gestão e dos produtos florestais; (5) Acções
específicas de investigação aplicada, demonstração e
experimentação. Os apoios seriam concedidos normal-
mente na forma de subsídios não reembolsáveis, com
comparticipação, geralmente entre 85% a 100%.
Em 2005 é aprovado o Regulamento do Programa
de Apoios a conceder pelo FFP em 2005 e 2006
(Despacho normativo n.º 35/2005, 25 de Julho). Nes-
te Regulamento é estabelecido um limite máximo de
200.000€ anuais por entidade proponente, indepen-
dentemente do número de candidaturas e das áreas
apresentadas. O Programa de 2005/2006 reforça o
apoio das áreas 1 e 2: prevenção e protecção da flo-
resta contra incêndios e promoção do ordenamento
e gestão florestal.
O programa de apoios para 2007 – 2008 sofre uma
revisão mais profunda, procurando alinhar a sua in-
tervenção com a ENF, com o SNDFCI e com as ac-
ções e metas estabelecidas no PNDFCI. De forma a
evitar a dispersão de recursos, concentra-se agora
em apenas três grandes áreas de intervenção, vindo
duas delas na sequência dos programas anteriores: a
prevenção e protecção da floresta contra incêndios
e a promoção do ordenamento e gestão florestal. A
terceira área de intervenção diz respeito à promo-
ção das funções ecológicas, sociais e culturais dos
espaços florestais e criação de novos instrumentos
para a defesa e sustentabilidade da floresta. Deixam
de ser apoiadas as acções de gestão de combustí-
veis. Se analisarmos o apoio financeiro previsto nos
diferentes programas verificamos que a prevenção
e protecção da floresta contra incêndios é a área
mais privilegiada do Fundo, tendo-se verificado ao
longo da evolução do programa um aumento gra-
dual das verbas dedicadas às acções incluídas nesta
área, tendo sido previsto atribuir nos anos de 2007
e 2008 cerca de ¾ do Fundo a esta área de inter-
venção (Tabela 5). Por outro lado, a área de reestru-
turação fundiária tem uma evolução oposta, já que
sendo dotada de uma verba bastante significativa
no início do Programa, acaba por não ter continui-
dade na última revisão do Programa de Apoio para
os anos de 2007 e 2008.
em aproximadamente 84% do total de 278 municí-
pios de Portugal Continental. Estes planos vigoram
por cinco anos. Em 2008, assistiu-se à entrega de
207 planos para análise e aprovação, correspon-
dendo na sua maioria a reformulações de planos já
aprovados. Actualmente restam 22 municípios sem
PMDFCI, sendo que a inexistência de PMDFCI está
maioritariamente relacionada com a ausência de
GTF. Pese embora as CMDFCI estejam constituídas, a
não criação dos GTF impede a sua operacionalização
e, consequentemente, a elaboração dos instrumen-
tos de planeamento necessários à DFCI.
A componente operacional dos PMDFCI é constituí-
da pelos Planos Operacionais Municipais (POM), que
abordam em especial as componentes de vigilância,
detecção, fiscalização, 1ª intervenção e combate,
com vigência anual. A elaboração e execução dos
POM veio permitir criar uma dinâmica entre os inter-
venientes na DFCI ao nível municipal.
Em 2007 a DGRF constituiu um Gabinete de Apoio
aos Gabinetes Técnico e de Planeamento na sua es-
trutura de DFCI, com o objectivo de dar apoio admi-
nistrativo e técnico para a elaboração dos PMDFCI e
dos POM. Analisando as acções a desenvolver que
foram estabelecidas em sede do PNDFCI, verifica-
mos que as metas estabelecidas estão amplamente
superadas. De facto, as metas para a realização dos
PMDFCI projectadas para 2009, já foram ultrapas-
sadas em 2007/2008, uma vez que a ambição do
PNDFCI para 2006 e para 2009 se cifrava em 184 e
216 PMDFCI realizados, respectivamente.
O Fundo Florestal Permanente
A Lei de Bases da Política Florestal de 1996 (Lei
n.º 33/1996) previa a criação de um fundo finan-
ceiro de carácter permanente destinado a apoiar
a gestão florestal sustentável. O fundo previsto
destinar-se-ia a apoiar as medidas de fomento flo-
restal, financiar projectos de rearborização de áreas
afectadas por incêndios e ressarcir economicamen-
te os proprietários de ecossistemas sensíveis pelos
prejuízos com origem em restrições impostas pela
necessidade da sua conservação. Teria ainda como
objectivo criar um sistema bonificado de crédito
florestal, destinado à viabilização das intervenções
silvícolas de resultados líquidos imediatos negati-
vos e às acções de emparcelamento.
A Resolução do Conselho de Ministros n.º 178/2003,
de 17 de Novembro, que aprova as grandes linhas
orientadoras da reforma estrutural do sector das flo-
restas, vem determinar a criação do FFP (ponto 2,
alínea vii), “destinado a apoiar o sector florestal e as
actividades não imediatamente rendíveis, financiado,
nomeadamente, pelo rendimento das matas públi-
cas e comunitárias, pelo produto de coimas aplicadas
e por uma imposição fiscal sobre o consumo dos pro-
dutos petrolíferos”.
Em 2004, o Decreto-Lei n.º 63/2004, de 22 de Março,
cria de facto o FFP. No referido diploma destacam-se
como princípios relevantes para a sua actuação “a
transparência e a simplificação de procedimentos,
apoiadas numa organização de planeamento, orça-
mentação, reporte de actividades e prestação de con-
tas que, a todo o momento, permitam o completo
escrutínio púbico do seu funcionamento”. O financia-
mento do Fundo é feito a partir do produto de im-
posto ou taxa sobre o consumo dos produtos petro-
| 28 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 29 |
No âmbito do apoio à constituição de ZIF e elaboração
de PDF, em 20051 o valor total foi de 538.435,54€,
tendo em 2006 mais do que duplicado esse valor. A
baixa taxa de execução financeira poderá estar relacio-
nada com o facto de as candidaturas apresentadas em
2005, só terem efectuado a assinatura do contrato em
2006. A componente destinada à elaboração de PGF
e PDF foi de 46.894,47€ em 2005 e de 381.520,38€
em 2006, o que cria uma expectativa positiva quanto
ao aumento significativo da área sujeita a PGF.
O relatório realizado pelo IESE refere ainda, relativa-
mente às acções de “protecção” das zonas de interfa-
ce urbano/florestal e implementação do programa de
redução de combustíveis, que em 2005 foram apre-
sentados 31 projectos de redução de combustíveis
por parte de Câmaras Municipais, aos quais corres-
pondeu um montante global de 9.258.933,12€. No
entanto, desse montante apenas 4,1% foi executado,
não tendo havido candidaturas no ano de 2006. Se-
gundo o mesmo relatório, a ausência de candidaturas
deveu-se à alteração legislativa ocorrida no SNDFCI,
que retirou às Câmaras Municipais a obrigação de
procederem a intervenções de gestão de combustível
em torno dos aglomerados populacionais.
As acções de sinalização de áreas florestais de acesso
condicionado foram objecto de cinco candidaturas2
por parte das autarquias, que obtiveram um apoio de
34.309,26€, que, no entanto, não chegaram a ser rea-
lizadas. Deste modo, a execução desta acção foi nula,
não tendo ocorrido novas candidaturas em 2006.
O apoio do FFP atribuído em 2006 ao 2º Eixo estraté-
gico do PNDFCI – “Redução da incidência dos in-
cêdios”, foi no montante de 3.313.305€, tendo sido
executado praticamente na sua totalidade (98,9%).
Das iniciativas apresentadas, o “Programa de Volun-
tariado Jovem para as Florestas” e a im plementação
das acções de sensibilização por parte da DGRF foram
as mais dispendiosas, representando cerca de 82% do
investimento realizado.
No âmbito das medidas para a melhoria da eficá-
cia do ataque e da gestão dos incêndios florestais,
o FFP, através de protocolos estabelecidos com a
DGRF durante o ano de 2006, concedeu um apoio
de 2.887.231€, ou seja, cerca de 66% do apoio
programado (4.348.500€). Este investimento con-
cretizou-se no apoio à formação e equipamento das
eSF, na execução de acções de beneficiação de infra-
estruturas e de combate aos incêndios em primeira
intervenção, acções que absorveram 92% do mon-
tante total dedicado neste âmbito. Os restantes 8%
foram distribuídos entre a vigilância aérea no âmbito
dos incêndios florestais, a cartografia de estruturas
susceptíveis ao fogo e o apoio ao financiamento do
Sistema de Informação de Prevenção Florestal (SIPF).
No âmbito dos projectos de investigação, demonstra-
ção e transferência de conhecimentos, o FFP apoiou
ao longo de três anos (2004, 2005 e 2006) um total
de 14 projectos no montante de 4 milhões de euros.
Deste montante, apenas cerca de 6,9% foi pago. A
baixa execução financeira é atribuída, de acordo com
o IESE (IESE, 2007), à complexidade dos projectos e à
carga burocrática e administrativa do FFP e das insti-
tuições proponentes.
No âmbito do Programa do FFP para 2007 – 2008
foram estabelecidos protocolos pela DGRF no âmbi-
to da DFCI no montante global de 18.240.000€. Das
acções previstas, a que representa o maior encargo
é dedicada ao apoio dos GTF, representando cerca
A informação relativa à execução financeira do FFP
é dispersa e insuficiente para permitir uma análise
adequada, apesar dessa análise ser fundamental no
âmbito deste texto. Dada a indisponibilidade de da-
dos oficiais, optou-se pela utilização, enquanto fonte
principal, do relatório elaborado pelo IESE em 2007
a propósito do “Estudo de Monitorização e Avalia-
ção do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra
Incêndios”. A informação constante neste relatório
sobre o FFP refere-se aos anos de 2005 e 2006.
A Tabela 6 apresenta o resultado da execução do FFP
para os anos de 2004 a 2006, destacando os protoco-
los e as candidaturas e, em cada um destes casos, dis-
tinguindo os montantes afectados e os executados.
É possível constatar que a taxa de execução é muito
superior nos protocolos celebrados que nas candida-
turas aprovadas. A esta baixa taxa de execução estão
associados problemas de tramitação burocrática, que
vêm prolongar demasiado os prazos de execução.
TABELA 5 Evolução na distribuição do apoio do Fundo Florestal Permanente em percentagem, pelas diferentes áreas. FONTE: Portaria n.º 679/2004, de 19 de Junho, Despacho normativo n.º 35/2005, 25 de Julho, Despacho normativo n.º 23-A/2007, de 15 de Junho. * 4% para investigação e 2% para outras acções não especificadas; ** Corresponde à área “Promoção das funções ecológicas, sociais e culturais dos espaços florestais e criação de novos instrumentos”.
ÁREAS 2004 2005 – 2006 2007 – 2008
1. Prevenção e protecção da floresta contra incêndios 45 60 73
2. Promoção do ordenamento e gestão florestal 12 30 17
3. Reestruturação fundiária, emparcelamento e aquisição de terras 33 3
10**4. Promoção de sistemas de gestão florestal sustentável e certificação 4 2
5. Acções de investigação aplicada, demonstração e experimentação 6* 5
TABELA 6 Execução do Fundo Florestal Permanente no período de 2004 a 2006. FONTE: IESE, 2007. NOTA Inclui apenas informação relativa às Acções 1, 2 e 5 do FFP.
PROTOCOLOS Homologado
€
Executado
€
Taxa de
execução (%)
2004 8.048.933 5.187.745 64,5%
2005 12.464.438 9.585.247 76,9%
2006 13.761.805 11.001.134 79,9%
Total 34.275.176 25.774.126 75,2%
CANDIDATURAS Homologado
€
Executado
€
Taxa de
execução (%)
2004 12.919.439 4.616.767 35,7%
2005 11.663.697 458.982 3,9%
2006 4.816.850 27.551 0,6%
Total 29.399.986 5.103.300 17,4%
No âmbito do 1º Eixo estratégico do PNDFCI - “Au-
mento da resiliência do território aos incêndios flo-
restais” - foi programado um investimento de cerca
de 6.100.000€, o qual teve uma execução de cerca
de 79%. No entanto, a relativamente baixa taxa de
execução foi compensada com a possibilidade de al-
gumas verbas transitarem para o ano seguinte.
Dos apoios concedidos, destaca-se a ajuda ao funcio-
namento dos GTF. Só esta acção representa cerca de
93% dos montantes executados em 2006 no âmbito
das medidas previstas neste Eixo. Os outros proto-
colos estabelecidos tiveram como objectivo o apoio
à constituição de equipas de prevenção, detecção e
vigilância na Rede de Áreas Protegidas do Instituto
da Conservação da Natureza e da Biodiversidade
(ICNB), a sinalização informativa do risco de incêndio
e a utilização de fogo controlado ou fogo técnico, na
componente de formação sobre a sua utilização.
1 Segundo IESE (2007). as candidaturas foram apresentadas em 2005 mas os contratos só foram assinados em 2006. 2 Estas candidaturas foram efectuadas em 2005 tendo sido contratualizadas em 2006.só foram assinados em 2006
| 30 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 31 |
Na Figura 9 apresentam-se os resultados das investi-
gações com causa determinada. De um modo geral
a categoria “incendiarismo” apresenta os valores
mais elevados, seguida da categoria “negligência”.
As causas “acidentais” apresentam uma média de
10% ao longo destes anos embora tivessem mais ex-
pressão entre 2003 e 2006. As ignições por causas
“estruturais” apresentam uma média de 3% duran-
te este período, revelando-se as menos frequentes.
As causas “naturais” registam uma média de 4%.
Em todo o caso há que encarar com grande reserva
esta informação, sobretudo quando se tentam traçar
tendências temporais, devido às alterações verifica-
das nos agentes responsáveis pelas investigações,
devido a alterações nos critérios de classificação de
causas e devido ainda à inexistência de um mecanis-
mo de controlo que permita aferir a qualidade e a
fiabilidade dos dados.
de 24% da área de intervenção em que se insere
e 20,4% do total do Fundo.
A participação da Assembleia da Republica
A Assembleia da República tem-se empenhado em
acompanhar de forma bastante activa a questão
dos incêndios florestais. Nesse sentido, desde 2003
que, através da criação de comissões eventuais,
procura contribuir para a reflexão sobre a floresta
e os incêndios florestais e acompanha a implemen-
tação das medidas do Governo, nesta área. Desde
2003 foram criadas: a Comissão Eventual para os
Incêndios Florestais (Resolução da Assembleia da
República n.º 74/2003, de 20 de Setembro), a Co-
missão Parlamentar Eventual de Acompanhamento
e Avaliação das Medidas para a Prevenção e Vi-
gilância e Combate a Fogos Florestais (designada
como Comissão Eventual para os Fogos Florestais,
criada pela Resolução da Assembleia da República
n.º 56/2005, de 7 de Outubro) e a Comissão Even-
tual de Acompanhamento e Avaliação das Políticas
de Defesa da Floresta Contra Incêndios (criada pela
Resolução da Assembleia da República n.º 18/2007,
de 15 de Maio). Do trabalho destas comissões re-
sultaram quatro relatórios: Março de 2004, Julho
de 2006, Janeiro de 2007 e Março de 2008.
3. AS IgNIÇõES
A investigação das causas dos incêndios
A investigação criteriosa das causas de incêndios em
Portugal teve início em 1989, com a formação da
primeira Brigada de Investigação de Fogos Florestais
(BIFF). Em 1997 dá-se a desarticulação das BIFF, com a
inclusão desta valência técnica específica nas demais
funções das brigadas do CNGF. Em 2006, o CNGF foi
extinto e os seus técnicos transitaram para o SEPNA/
GNR que, actualmente e desde 2006, é a entidade
responsável, em primeira instância, pela investigação
das causas dos incêndios florestais. Deste modo, po-
de-se diferenciar um período até 2005, com as inves-
tigações a cargo do CNGF, e um período após 2005
já sob a responsabilidade do SEPNA/GNR. Durante
o primeiro período, houve uma média de 1.200 in-
vestigações por ano, cerca de 4% do total anual de
ignições (2001-2005). No ano de 2006 aumentaram
para cerca de 1.600, e em 2007 para cerca 6.000
investigações realizadas (30% do total das 18.722
ignições desse ano) (Figura 7).
Para além do total anual de investigações, é impor-
tante ter em conta a “taxa de sucesso” na determi-
nação das causas, entendendo-se por “taxa de su-
ces so” a percentagem de causas determinadas face
ao total de investigações realizadas. Entre 2000 e
2005 esta taxa de sucesso manteve-se relativamente
estável entre os 62 e 79%. Em 2006 a eficácia nas
investigações reduziu-se consideravelmente, com
36% de causas apuradas no total de investigações.
Em 2007, a taxa de sucesso nas investigações au-
mentou para 51%, totalizando mais de 3.000 causas
determinadas, um valor claramente superior aos re-
gistados desde que se deu início às investigações de
incêndios florestais em Portugal (Figura 8).
FIgURA 8 Evolução anual (%) das investigações com causa conhecida e desconhecida durante 2000 – 2007. FONTE: Dados cedidos pela DGRF (Julho, 2008); Galante, 2005; DGRF, 2007a; DGRF, 2008a. Valores nas colunas referentes à “taxa de sucesso” nas investigações.
2000
Incêndios investigados com causa desconhecida
100
80
60
40
20
0
%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Incêndios investigados com causa conhecida
Incêndios não investigados
62 66 73 79 75 76 36 51
FIgURA 7 Evolução anual do n.º de ignições e n.º de investigações durante 2000 – 2007. FONTE: Dados cedidos pela DGRF (Julho, 2008); Galante, 2005; DGRF, 2007a; DGRF, 2008a.
2000
Nº de ocorrências
40.000
30.000
20.000
10.000
0
Nº
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Nº de investigações
| 32 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 33 |
Em 2004, a responsabilidade pelas acções e medidas
de sensibilização e informação pública, com especial
incidência no correcto uso do fogo, é atribuída à
DGRF, à APIF e às CMDFCI, no âmbito do SNPPFCI
(DL n.º 156/2004, de 30 de Junho).
A campanha nacional de sensibilização preconizada
em 2003 (RCM n.º 178/2003, de 17 de Novembro) vi-
ria a materializar-se em 2004 com o lema “Juntos pela
floresta, todos contra o fogo” com divulgação diária
durante o período de Maio a Setembro na RTP, SIC e
TVI. Em 2005 surge a campanha “Entre o cinza e o
verde você decide”, tendo a duração de dois anos, em-
bora vigorasse apenas durante alguns meses do ano,
mais precisamente entre Agosto e Outubro de 2005, e
Junho e Outubro de 2006. Esta campanha foi desen-
volvida pela DGRF em colaboração com organismos
federativos de produtores florestais e, para além da po-
pulação em geral, destinou-se também a grupos espe-
cíficos da população rural, como pastores, agricultores,
proprietários e produtores florestais (CEFF, 2007).
Em 2006, agora no âmbito das acções e medidas
do SNDFCI, a prevenção estrutural assume um papel
predominante, e a DGRF é apontada como a enti-
dade responsável pela coordenação das acções de
prevenção estrutural, onde se inclui a sensibilização,
independentemente das entidades que as realizem
(DL n.º 124/2006, de 28 de Junho).
Em 2007, é desenvolvida a campanha “Portugal sem
fo gos depende de todos”. Distingue-se das antece-
dentes pelo seu carácter plurianual e por resultar de
uma acção conjunta, com partilha de responsabilida-
des, entre o MAI e o MADRP. Assim, o MAI desenvol-
ve acções destinadas ao grande público e o MADRP a
públicos-alvo mais específicos (CEAAPNDFCI, 2008).
O slogan desta campanha é utilizado pela generali-
dade dos diversos intervenientes nas campanhas de
sensibilização e a mensagem chega de uma forma
qua se personalizada a vários indivíduos através dos
mais diversos agentes e veículos, incidindo principal-
mente nos comportamentos negligentes associados
a um elevado número de ignições.
Como referimos inicialmente, apenas é possível
quan tificar o número de campanhas e não a sua
real eficácia. No ano 2007, ambas as tutelas, MAI e
MADRP, consideraram que a redução do número de
ignições e o maior empenho dos cidadãos no alerta
de incêndios através das linhas telefónicas 112 e 117
foram reflexo de uma estratégia de sensibilização
mais eficaz (CEFF, 2007).
Os meios de comunicação social têm um papel re-
levante na sensibilização dos cidadãos. Em Abril de
2003, a Assembleia da República salientou o seu
papel para “melhorar as políticas de prevenção e
combate aos fogos florestais”, nomeadamente na
divulgação da informação relativa ao risco de incên-
dio durante toda a época estival e, especialmente
os meios audiovisuais, na promoção dos programas
de sensibilização ambiental e de defesa da floresta
(Resolução da Assembleia da República n.º 25/2003,
de 2 de Abril).
Devido a esta importância tem sido relativamen-
te frequente, nos últimos anos, a organização de
workshops, conferências e acções de formação e
sen sibilização destinadas a jornalistas, nas quais são
abor dadas questões como a terminologia/lingua gem,
um melhor entendimento do “fenómeno incêndios”
e noções sobre o dispositivo e a estratégia nacional
de combate aos incêndios florestais.
A sensibilização das populações
O conceito “sensibilização” tem sido amplamente ex-
plo rado em vários relatórios e diplomas legislativos. Na
definição das bases da política florestal nacional em
1996, formulada no ano seguinte ao violento Verão
de 1995, em que se registou um elevado número de
ignições (34.116 ignições) e um total de áreas ardidas
anormalmente elevado relativamente aos anos ante-
riores (169.000 ha), a sensibilização é encarada como
“acção de carácter prioritário” assim como a “promo-
ção, a todos os níveis, de acções de sensibilização dos
cidadãos, em particular dos jovens, para a importância
da salvaguarda e valorização dos recursos florestais”
(Lei n.º 33/96, de 17 de Agosto, art. 21.º, alínea n)).
Na sequência do ano de 2003, o envolvimento acti-
vo dos cidadãos na defesa dos espaços florestais foi
objectivado enquanto uma das grandes linhas orien-
tadoras para a reforma estrutural do sector florestal.
Para a concretização deste objectivo foi perspectiva-
da a realização de campanhas de sensibilização das
populações para a problemática das florestas, desig-
nadamente no âmbito da gestão sustentável e da
promoção dos produtos florestais, e o lançamento
de uma campanha nacional de prevenção dos fogos
florestais (RCM n.º 178/2003, de 17 de Novembro).
É naturalmente difícil avaliar o efeito que teriam se
am plamente desenvolvidas anteriormente, mas é um
facto que, neste ano (2003), não houve qualquer
campanha consistente de sensibilização sobre incên-
dios desenvolvida pelo Estado (Damasceno & Silva,
2007). As únicas informações recolhidas de acções
de sensibilização no ano 2003 referem-se à distri-
buição, pelos distritos de Aveiro, Braga, Bragança,
Coimbra, Leiria, Porto, Viana do Castelo, Vila Real
e Viseu, de 50.000 exemplares de um cartaz com o
tí tulo “Não junte lenha pa ra se queimar”, onde se
informava acerca da nova legislação referente a quei-
madas. Juntamente com estes cartazes, distribuíram-
-se ainda 500.000 desdobráveis com o título “Vol-
ta à floresta”, em escolas do ensino básico com
particular incidência nos distritos anteriormente re-
feridos. Ambas as acções foram promovidas pelo
extinto Núcleo de Protecção da Floresta, unida-
de orgânica do recém-criado SNBPC (MAI, 2003).
FIgURA 9 Evolução percentual das causas determinadas (por categorias) durante 2001 – 2007. FONTE: Dados cedidos pela DGRF (Julho, 2008); DGRF, 2007a; DGRF, 2008a.
2001
60
50
40
30
20
10
0
%
2002 2003 2004 2005 2006 2007
Naturais Uso do Fogo Acidentais Estruturais Incendiarismo
| 34 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 35 |
Analisando a composição dos povoamentos florestais,
mantém-se a baixa diversidade específica com cerca de
dois terços da área florestal concentrados em apenas 3
espécies, uma das quais exótica: pinheiro-bravo, euca-
lipto e sobreiro (Tabela 9). Esta tendência é mais pro-
nunciada em 2005, já que a quarta espécie mais repre-
sentada, a azinheira, sofre uma redução significativa.
No entanto, o IFN 2005/6 é apresentado com uma ca te-
goria de Povoamentos jovens não discriminados por es-
pécie. Estes povoamentos jovens surgem com uma área
importante, de 295,5 mil hectares, ou seja, quase 10%
da área total de povoamentos. O facto desta área não
se encontrar diferenciada por espécie não permite tirar
conclusões claras quanto à evolução das principais espé-
cies na última década. Assim, é apenas possível garantir
com certeza que a área de sobreiro e pinheiro-manso
aumentou. De modo a tentar ultrapassar esta limita-
ção podemos distribuir a área de povoamentos jovens
na proporção em que estes ocorriam no inventário de
1995/8. Este exercício permite obter uma estimativa da
evolução das principais espécies provavelmente mais
próxima da realidade que a proporcionada pela compa-
ração de áreas com e sem povoamentos jovens. As di-
ferenças notam-se em particular para o eucalipto, com
uma grande percentagem de povoamentos jovens.
4. A PROPAgAÇÃO
Evolução recente da floresta em Portugal
Em 2007 foram divulgados pela ex-DGRF os dados
relativos à 4ª Revisão do Inventário Florestal Nacional
(IFN) realizada em 2005/6. Estes resultado permitiram
avaliar a evolução da floresta relativamente à revisão
anterior do IFN, levada a cabo em 1995/8.
Neste período de cerca de 10 anos o uso do solo per-
maneceu sensivelmente o mesmo, não se verificou
uma variação significativa nos grandes grupos e a
área dedicada a florestas sofreu um ligeiro aumento
(Tabela 8). A este aspecto não é alheio o facto de as
áreas ardidas, continuarem em muitos casos a ser clas-
sificadas como floresta, mesmo depois de o fogo ter
passado. O impacte dos fogos reflecte-se assim muito
mais no estado de desenvolvimento e no volume de
material lenhoso, que na área total de floresta.
Vários sectores têm criticado a “espectacularização”
dos incêndios por parte das televisões. Em meados
de 2006, a RTP promoveu internamente a auto-re-
gulação na cobertura noticiosa dos incêndios, acção
sem correspondência nas estações televisivas priva-
das. Estas não terão concordado com alguns dos
pressupostos por detrás destas orientações, entre os
quais a relação directa entre as imagens televisivas e
os comportamentos criminosos no atear de fogos.
A controvérsia à volta deste tema surge com a publi-
cação do artigo “Como se faz censura em Portugal”
no Jornal “Público” a 20 de Agosto de 2006, onde é
denunciada a interferência do governo sobre a Direc-
ção de Informação da RTP na cobertura dos incêndios
florestais e questiona-se a independência da RTP pe-
rante o poder político. Na sequência desta notícia, e
da queixa da RTP contra o autor da notícia à Entidade
Reguladora para a Comissão Social (ERC), foi elabo-
rado um relatório sobre a cobertura jornalística dos
incêndios florestais, em que foram analisados os con-
teúdos de blocos informativos da RTP, TVI e SIC, no
período de 15 de Maio a 15 de Setembro de 2006,
anexados à deliberação da ERC (ERC, 2006a).
No período de 15 de Maio a 15 de Setembro de 2006,
foram transmitidas pelas três estações televisivas um
total de 422 peças enquadradas na ampla temática
dos incêndios, 166 das quais (mais de um terço) na
semana entre 7 e 13 de Agosto (Tabela 7).
TABELA 7 Modalidades de mediatização das peças transmitidas pelas estações televisivas portuguesas no período de 15 de Maio a 15 de Setembro de 2006. FONTE: ERC, 2006b.
RTP SIC TVI TOTAL
N.º total de peças emitidas 122 153 147 422
Peças de abertura 5 10 9 24
Peças com directo 27 49 46 122
Peças em destaque 19 40 33 92
Duração total das peças analisadas 3:44:23 5:27:00 4:46:54 13:58:17
Duração média das peças analisadas 0:02:42 0:02:15 0:02:58
TABELA 8 Áreas por Uso do solo (1000 ha). FONTE: DGRF, 2007c.
USO DO SOLO 1995/8 2005/6
Floresta 3.349,3 3.412,3
Matos 2.054,6 1.898,6
Agricultura 2.972,9 3.028,3
Áreas sociais e outras (inclui improdutivos) 395,7 413,5
Águas interiores 107,3 143,8
TabEla 9 Áreas (1000 ha) por espécie (povoamentos puros e mistos dominantes) em Portugal Continental de acordo com os dois últimos inventários florestais. A última coluna incorpora os povoamentos jovens (excepto folhosas e resinosas diversas) de acordo com a proporção existente em 1995/98. FONTE: DGRF, 2007c.
ESPÉCIES 1995/98 2005/06 2005/06
CORRIgIDO
Pinheiro-bravo 976,1 710,6 784,8
Eucalipto 672,1 646,7 829,6
Sobreiro 712,8 736,7 751,6
Azinheira 461,6 388,3 390,4
Carvalhos 130,9 117,9 119,4
Pinheiro-manso 77,6 83,9 99,3
Castanheiro 40,5 28,2 29,2
Folhosas diversas 102,0 96,8
Resinosas diversas 27,3 14,2
Outras formações lenhosas 18,0
Povoamentos jovens 295,5
Total 3.200,9 3.136,8
| 36 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 37 |
jectivo de envolver as OPF na actualização expedita do
cadastro florestal, devendo ser concluída no 3º trimes-
tre de 2003. Seria responsável por esta acção a DGF,
associando-se o Instituto Geográfico Português (IGP),
o IFADAP e as principais associações e confederações
de produtores florestais.
As solicitações de cadastro aumentam com a criação
das ZIF em 2005, já que este é um dos elementos
necessários à sua constituição, devendo ser substituí-
do, na sua ausência, pelo inventário da estrutura da
propriedade na escala adequada à sua identificação.
De forma a permitir concretizar este requisito, o FFP
no seu programa de 2005 – 2006 vem apoiar a ela-
boração do cadastro em ZIF nas acções enquadradas
na promoção do ordenamento e gestão florestal.
Destinadas à regularização da situação jurídica dos
prédios rústicos em áreas florestais (registo predial)
são estabelecidas medidas de carácter excepcional e
transitório. Estas medidas, nomeadamente a redu-
ção e isenção de emolumentos em actos notariais
e registos, vigoraram inicialmente por um prazo de
2 anos e estavam consagradas no Decreto-Lei n.º
135/2005, de 17 de Agosto. Em 2 de Novembro de
2007 foi publicado o Decreto-Lei n.º 347/2007, que
dispõe a prorrogação por mais 3 anos dessas medi-
das legislativas.
A Resolução do Conselho de Ministros n.º 45/2006,
de 4 de Maio, aprova as linhas para a execução,
manutenção e exploração da informação cadastral
através da criação do Sistema Nacional de Explora-
ção e Gestão da Informação Cadastral (SINERGIC).
O SINERGIC deverá permitir, entre outros objectivos,
assegurar a identificação unívoca dos prédios, me-
diante a utilização de um número único de identi-
ficação do prédio, comum a toda a Administração
Pública, promovendo a criação futura de uma infor-
mação predial única.
A Matriz de responsabilidades e indicadores da ENF,
inclui nas acções relativas à melhoria geral da eficiên-
cia e competitividade do sector, o objectivo de reali-
zação do cadastro florestal a desenvolver no âmbito
do SINERGIC. Este objectivo tem como responsável o
IGP, participando a actual AFN, os proprietários flo-
restais e as suas organizações, devendo ser apoiado
em termos de instrumentos financeiros pelo Fun-
do Europeu de Desenvolvimento Regional – FEDER
(2007 – 2013). As metas estabelecidas apontam
para que o cadastro florestal das áreas comunitárias
e nas áreas integradas em ZIF seja concluído no final
de 2009 e o restante no final de 2013.
Neste âmbito, é criado um subprojecto denominado
«Cadastro das áreas de floresta», cujo desenvolvi-
men to incumbe a um grupo de trabalho coordenado
pelo IGP e que deve incluir a DGRF, bem como outras
entidades na dependência do MADRP que produzam
ou detenham informação cadastral, cabendo-lhe pro-
por a planificação dos trabalhos e dos recursos finan-
ceiros e humanos necessários para que, no prazo de
três anos, se possa avançar significativamente nos
trabalhos do cadastro das áreas de floresta. Constitui
como objectivo mínimo assegurar a cobertura das áre-
as públicas comunitárias e as áreas integradas em ZIF.
Para além deste grupo de trabalho, funcionam ou-
tros dois com os objectivos de, nomeadamente, pro-
ceder à elaboração de uma proposta do quadro legal
de suporte ao SINERGIC e de definir o modelo do
sistema de informação do SINERGIC e sua forma de
implementação.
A propriedade florestal
No regime de propriedade florestal é conhecida a
pequena representatividade da floresta do domí-
nio privado do Estado (2%), em comparação com
a floresta detida pelos proprietários privados, quer
os particulares (77%) quer as empresas industriais
(8%). A floresta comunitária (baldios) representa
apro ximadamente 13% da área florestal total.
É também recorrente encontrar referências à frag-
mentação da propriedade. Os dados publicados na
ENF de 2006 relativos ao número de prédios rústi-
cos por região são extremamente expressivos dessa
reali dade, sendo que, atendendo ao número total de
prédios rústicos, praticamente todos os residentes em
Portugal Continental poderiam ter o seu próprio pré-
dio rústico (Tabela 10). Esta realidade não terá, muito
provavelmente, sofrido alterações nos últimos anos. A
distribuição nas diferentes NUT II vem ressaltar as par-
ticularidades regionais, sendo que no Norte e Centro
do País predomina a pequena (1 a 5 ha) e muito pe-
quena propriedade (<1 ha), concentrando-se a gran-
de propriedade na região do Alentejo e de Lisboa.
Dados os grandes constrangimentos estruturais deri-
vados do excessivo parcelamento das propriedades flo -
restais, a necessidade de realização de um cadastro pre-
dial é unanimemente considerada muito importante.
No período de 1930 a 1990 decorreu a elaboração
do cadastro geométrico da propriedade rústica em
126 concelhos, correspondendo a 50% da área do
País. Neste cadastro, apenas os prédios rústicos fo-
ram abrangidos, correspondendo a área coberta a
regiões onde o fraccionamento da propriedade não
é muito significativo, equivalente a 2 milhões de pré-
dios, cerca de 12% do universo dos prédios rústi-
cos de Portugal Continental. Este cadastro tinha um
objectivo essencialmente tributário, não tendo sido
objecto de actualização, a não ser por iniciativa dos
proprietários que o solicitaram.
Em 1995 é publicado o Decreto-Lei n.º 172/95, de
18 de Julho, que aprova o Regulamento do Cadastro
Predial. O cadastro geométrico da propriedade rústi-
ca, com finalidade essencialmente fiscal, deu origem
a um cadastro com carácter multifuncional, o cadas-
tro predial. Este conceito foi aplicado no final da dé-
cada de 90 em apenas sete concelhos do País (Ílhavo,
Vagos, Mira, Santa Maria da Feira, Tavira, Loulé e Vila
do Porto).
As referências legislativas à necessidade de realiza-
ção do cadastro da área florestal iniciam-se com a
Lei de Bases da Política Florestal de 1996, que inclui a
realização do cadastro da propriedade florestal como
uma das medidas prioritárias.
Segue-se o Programa de Acção para o Sector Flores-
tal (RCM n.º 64/2003, de 30 de Abril), onde se refere
a necessidade do cadastro da propriedade florestal,
para que o emparcelamento da propriedade seja efec-
tivo ou funcional e assim se adeque à gestão florestal,
a dimensão da propriedade em zonas de característi-
cas minifundiárias. Propõe-se uma acção com o ob-
TABELA 10 Número de prédios por região NUT II. FONTE: ENF. RCM n.º 114/2006, de 15 de Setembro.
REgIÃO PRÉDIOS RÚSTICOS (Nº)
Alentejo 351.065
Algarve 437.031
Centro 5.806.923
Lisboa 104.243
Norte 4.098.603
Total 10.797.865
| 38 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 39 |
encontram-se mais 147 ZIF (Figura 10 e Figura 11),
prevendo-se que em tempos próximos ocorra um au-
mento significativo das áreas abrangidas.
Ainda em 2006 teve início o projecto-piloto de reali-
zação do cadastro predial na freguesia de Albergaria
dos Doze no concelho de Pombal. Este projecto-pi-
loto foi entretanto concluído, sendo a freguesia de
Albergaria dos Doze a única área do País onde está
aplicada a actual concepção do cadastro predial.
Com o objectivo de testar a adequabilidade e eficácia
das soluções consagradas, o Decreto-Lei n.º 224/2007,
de 31 de Maio, vem criar um regime experimental para
funcionamento do SINERGIC, permitindo que da ava-
liação dos resultados obtidos sejam feitas as necessárias
correcções e ajustamentos. Este regime experimental
funcionará apenas em determinadas freguesias.
Em 2007 são aprovadas as Grandes Opções do Plano
para 2008 (Lei n.º 31/2007, de 10 de Agosto). Nelas
se incluem a continuação da execução cadastral a nível
nacional, no quadro do projecto SINERGIC. Refere o
Plano que o processo decorrerá em 10 anos, sendo os
3 primeiros dedicados ao cadastro das áreas florestais.
O projecto de realização do cadastro predial para o
País foi revisto, tendo um período de realização pre-
visto de 15 anos, estando em preparação processos de
candidatura a diversas fontes de financiamento, entre
as quais o Banco Europeu de Investimento. Parte inte-
grante destes processos constitui o estudo de análise
de custo-benefício da realização do cadastro predial
nacional, documento ainda não concluído até à data
Medidas para ultrapassar as deficiências
da estrutura fundiária
A criação das ZIF merece um destaque particular
pelo conceito inovador que representa em Portugal.
A Lei de Bases da Política Florestal (Lei n.º 33/96, 17
de Agosto) preconizava já os princípios que viriam a
reger o conceito “ZIF”, nomeadamente a “dinami-
zação e apoio do associativismo” (artigo 4.º, alínea
e)) e a “constituição de explorações florestais com
dimensão que possibilite ganhos de eficiência na sua
gestão, através de incentivos fiscais e financeiros ao
agrupamento de explorações” (artigo 8.º, alínea a)).
A criação de uma ZIF é um processo relativamente
moroso, podendo demorar, de acordo com o preco-
nizado no respectivo diploma legislativo, cerca de ano
e meio desde a primeira reunião de consulta prévia
até à sua publicação e oficialização em Portaria do
MADRP. Este período poderá ser reduzido para me-
nos de meio3 ano caso o respectivo núcleo fundador
(da ZIF) tenha prontos todos os elementos referentes
à ZIF necessários para a fase de Consulta Pública.
A nível nacional, a maior fonte de financiamento
das ZIF é o FFP. Aquando da sua criação, em Mar-
ço de 2004 (DL n.º 63/2004, de 22 de Março), e da
aprovação do programa de apoios para 2005 – 2006
(Despacho Normativo n.º 35/2005, de 25 de Julho),
as ZIF ainda não tinham o enquadramento legal de-
finido, o qual viria a estar formalizado em Agosto de
2005 (DL n.º 127/2005, de 5 de Agosto). Em Outu-
bro desse ano houve a necessidade de ajustar alguns
conceitos no FFP através do Despacho Normativo n.º
49/2005, de 26 de Outubro, harmonizando-os com
o novo conceito de ZIF. No entanto, apenas uma ZIF
(ZIF de Alva e Alvoco) viria a ser criada no decorrer
deste período 2005 – 2006, mais precisamente em
Novembro de 2006.
Desde Novembro de 2006 até Outubro de 2008
foram declaradas e oficializadas, por Portaria do
MADRP e sob proposta da DGRF/AFN, 30 ZIF, totali-
zando 150.831,66 ha. Em processo de constituição,
3 Este ano e meio inclui a prorrogação pelo prazo máximo de um ano para a organização de elementos referentes à ZIF a apresentar na Consulta Pública, nomea damente o cadastro predial geométrico ou, na ausência deste, o inventário da estrutura da propriedade na escala adequada à sua identificação.
FIgURA 10 Total de ZIF de acordo com a situação até Outubro de 2008. FONTE: Dados cedidos pela AFN (Outubro, 2008); Portal electrónico da AFN (dados on-line).
Nº de ZIF
ZIF constitu-ídas
60
50
40
30
20
10
0
Nº
Audiência Final
Consulta Pública
Consulta Prévia
Requeri-mento
30
19
49
3841
FIgURA 11 Evolução do n.º de ZIF e respectivas áreas afectas desde Novembro de 2006 a Outubro de 2008. FONTE: Dados cedidos pela AFN (Agosto, 2008); Portal electrónico da AFN (dados on-line); Portarias do MADRP para oficialização das respectivas ZIF.
Evolução área afecta às ZIF (ha)
Nov
-06
200.000
150.000
100.000
50.000
0
ha
Evolução do nº de ZIF (Nº)
Jan-
07
Mar
-07
Mai
-07
Jul-0
7
Set-
07
Nov
-07
Jan-
08
Mar
-08
Mai
-08
Jul-0
8
30
25
20
15
10
5
0
Nº
Set-
08
Uma outra forma de tentar diminuir os constrangimen-
tos estruturais da propriedade florestal tem passado pela
constituição de OPF. O associativismo florestal rege-se
pelo princípio fundamental de que a associação de vá-
rios proprietários permitirá ganhos de eficiência, devido
à diminuição do isolamento técnico e económico. Das
179 OPF existentes à data do presente texto, 80 locali-
zam-se na ex-Circunscrição Florestal do Centro (50%),
50 localizam-se na ex-Circunscrição Florestal do Norte
(28%) e 39 na ex-Circunscrição Florestal do Sul (22%).
| 40 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 41 |
a cobertura dos riscos por seguros e a certificação
da gestão florestal sustentável. A política de investi-
mento do fundo aponta para a aquisição de prédios
rústicos, ou do respectivo direito de superfície com
potencialidades para produção e exploração flores-
tal, com base na instalação de novos povoamentos
e gestão dos já existentes, com predomínio para o
pinheiro bravo, procurando a diversificação de ac-
tividades e segmentos de produtos, promoção da
produção e valorização das externalidades positivas
e arrendamento de superfície para utilizações não
conflituantes com o uso florestal. De acordo com o
Regulamento de gestão de 15 de Abril de 2008, a
política de investimento do fundo terá sempre como
objectivo a constituição de unidades de exploração
que justifiquem em termos económicos e ambien-
tais a exploração florestal, designadamente através
do emparcelamento de prédios rústicos que, isola-
damente, não permitiam a sua exploração. Os inves-
timentos imobiliários do fundo serão efectuados de
preferência no Centro e Norte do País. Concluído em
Abril o processo de subscrição de Unidades de Par-
ticipação, a Floresta Atlântica SGPS encontra-se em
fase de angariação de activos, tendo um prazo de
2 anos para concretizar 75% do seu valor em acti-
vos, e estabelecimento de parcerias.
A gestão florestal
Importa considerar as duas figuras de planeamento
instituídas pela Lei de Bases da Política Florestal em
1996 (Lei n.º 33/96, de 17 de Agosto): os Planos Re-
gionais de Ordenamento Florestal (PROF) e os Planos
de Gestão Florestal (PGF).
Em 1999 é aprovado o regulamento para a elabo-
ração dos PROF, definindo como base geográfica de
referência as NUT III, a elaborar em 2 anos. A Reso-
lução do Conselho de Ministros n.º 118/2000, de 13
de Setembro, vem incumbir as Direcções Regionais
de Agricultura de elaborar os PROF, sendo posterior-
mente revista pela Resolução do Conselho de Minis-
tros n.º 179/2003, de 18 de Novembro, em função
de alterações nas regiões NUT. O Programa de Acção
para o Sector Florestal aprovado em Abril de 2003
(RCM n.º 64/2003), vem introduzir acções no sentido
de promover a avaliação e simplificação da filosofia
de elaboração dos PROF como forma de ultrapassar
os atrasos verificados. Em 2004, com a criação da
DGRF, as competências de realização dos PROF tran-
sitam para esta entidade. O processo de realização
arranca de facto em força em 2003, após decisão de
adjudicar a sua realização a empresas de consultoria
florestal, já que até essa data nenhum PROF tinha
sido realizado. Num período de cerca de três anos
os PROF são elaborados, sujeitos a discussão por
parte das Comissões de Acompanhamento, revistos
e disponibilizados para consulta pública. Apesar de
nem todos os PROF terem uma realização simultâ-
nea, verifica-se que a sua maioria terminou a fase
de discussão pública em 2006, tendo a publicação
e entrada em vigor decorrido entre Julho de 2006 e
Abril de 2007.
O PGF é um instrumento de planeamento que ac-
tua ao nível da unidade de gestão. Previsto na Lei
de Bases da Política Florestal e definido o processo
de elaboração, aprovação, execução e alteração no
Decreto-Lei n.º 205/1999, de 9 de Junho, foi neces-
sário aguardar a conclusão dos PROF, para se iniciar
a sua realização uma vez que, para além de ser este
instrumento que viria a definir a área mínima para
a elaboração do PGF, também nele constariam as
orientações regionais a que o PGF deve obedecer.
Estão sujeitas a PGF as explorações florestais públicas
A formação de OPF tem tido um crescimento linear
ao longo das últimas três décadas (Figura 12), em-
bora nos últimos anos seja perceptível um aumento
mais pronunciado com a formação de 49 associações
entre 2002 e 2007. Para tal, poderão ter sido deter-
minantes os apoios previstos no Quadro Comunitário
de Apoio III (2000 – 2006), promovendo a competi-
tividade e gestão do sector agro-florestal numa pers-
pectiva sustentável, nomeadamente nos programas
AGROS4 e AGRIS5. Neste último (Acção 3 – Gestão
Sustentável e Sustentabilidade Ecológica das Flores-
tas) destaca-se a promoção e instalação de OPF.
4 Programa Operacional da Agricultura e Desenvolvimento Rural (AGROS). 5 Medida Agricultura e Desenvolvimento Rural dos Programas Operacionais Regionais (AGRIS).
1975
200
150
100
50
0
Nº
Nº OPF
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
2005
FIgURA 12 Evolução do número de associações florestais desde a década de 70. FONTE: AFN (Portal electrónico).
2008
16
67
130141
168179
Uma solução apontada para contribuir para o em-
parcelamento das propriedades é a constituição de
fundos de investimento imobiliário. Actualmente en-
contramos dois fundos de investimento imobiliário
flo restal com constituição aprovada pela Comissão
do Mercado de Valores Mobiliário da Bolsa de Va-
lores de Lisboa: Josiba Florestal, constituído em 27
de Dezembro de 2006; Floresta Atlântica, constituído
em 18 de Outubro de 2007.
Estes fundos constituem-se como fundos especiais de
investimento imobiliário fechado, de subscrição parti-
cular, com duração de 10 anos, prorrogável, e com um
montante de 25 e 20 milhões de euros, respectivamen-
te. Têm atraentes benefícios fiscais, como seja a isenção
de IRC dos rendimentos obtidos pelo Fundo, isenção
de IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) e IMT (Impos-
to Municipal sobre Transmissões Onerosas de Imóveis)
e retenção na fonte de IRS ou IRC à taxa de 10% para
os rendimentos das Unidades de Participação.
O fundo Josiba Florestal é gerido pelo BPI Gestão
de Activos, e contava em 31 de Dezembro de 2007
com uma área de 5.655 ha, localizados essencial-
mente em Coruche e Alcácer do Sal (Josiba Flores-
tal, 2008). O fundo Floresta Atlântica foi constituído
com o apoio do Estado através de fundos comunitá-
rios provenientes do Programa Agro e é gerido pela
Floresta Atlântica SGPS. A intervenção do Estado
vem justificar-se pelo carácter demonstrativo deste
projecto. Considera a Resolução do Conselho de
Ministros n.º 55/2005, de 7 de Outubro, que cons-
titui uma forma inovadora de captação de recursos
financeiros, e de encurtamento do longo período de
tempo sem proveitos que o investimento florestal
implica. Para além dos aspectos financeiros, aponta
a criação do fundo como sendo uma solução para a
desfragmentação da propriedade que impede a exe-
cução de uma gestão sustentável da floresta com a
contribuição inerente na resolução do problema dos
incêndios. Será demonstrativo também ao abordar
| 42 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 43 |
gência com parecer favorável da corporação de bom-
beiros local. Da acção do fogo resultam os relatórios
de execução e avaliação dos resultados, que são dados
a conhecer à CMDFCI e aos serviços locais da AFN.
Em 2006 ocorreu uma missão de cinco especialistas
em fogo controlado dos Serviços Florestais dos Estados
Unidos da América, resultante de um pedido de cola-
boração técnica do MADRP. Das recomendações pro-
duzidas pelos especialistas destacam-se as seguintes: a
necessidade de definir um Programa Nacional de Fogo
Controlado e criar uma organização dedicada exclu-
sivamente à sua implementação; requerer que todas
as utilizações de fogo controlado sejam investigadas;
criar um programa de educação pública nacional per-
manente e de longo prazo sobre os benefícios do uso
do fogo controlado; e disponibilizar incentivos para en-
corajar proprietários privados a recorrer a esta técnica.
A equipa de peritos norte-americanos concluiu que
os Serviços Florestais já dispunham de uma boa base
para a criação de um Programa Nacional de Fogo
Controlado, alertando contudo para que a sua cria-
ção fosse feita de forma cuidadosa e demorada,
pois o processo de desenvolvimento de uma orga-
nização com as competências necessárias, o treino
e o equipamento para atingir os objectivos do pro-
grama (Torrez et al., 2006) é necessariamente moro-
so. O Programa Nacional de Fogo Controlado não
chegou a concretizar-se, tendo no entanto, ainda
em 2006, surgido por parte da DGRF a proposta de
constituição de um grupo de especialistas (técnicos
credenciados em fogo controlado) para execução de
fogos controlados, intervindo em áreas extensas com
PFC aprovado pela respectiva CMDFCI e com POQ.
Pretendeu-se igualmente que a actividade deste
grupo permitisse uma maior divulgação e expansão
do uso do fogo controlado e que contribuisse para
aumentar a experiência, o intercâmbio e a formação
prática das equipas, assim como proporcionar situ-
ações de queima, com vista ao treino das técnicas
do fogo de supressão. A actividade deste grupo, de-
signado como GEFoCo, teve início na campanha de
2006/2007, tendo permitido desde então aumentar
substancialmente a área intervencionada com fogo
controlado e sistematizar alguma da informação so-
bre o recurso a esta técnica.
No sentido de garantir o desenvolvimento de com-
petências no âmbito da utilização da técnica de fogo
controlado, a DGRF estabeleceu parcerias com a Uni-
versidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e
com a Forestis para a realização de acções de forma-
ção. A Federação de Produtores Florestais de Portugal
foi outra entidade que realizou acções de formação.
Desde 2002 até ao momento, foram realizadas 9
acções de credenciação de técnicos em fogo con-
trolado, com 158 formandos, e 10 acções para
ope racionais de fogo controlado para eSF que en-
volveram 196 formandos. De forma a apoiar os
técnicos dos GTF no planeamento e avaliação de
planos de fogo controlado, foram realizadas 4 ac-
ções com cerca de 120 participantes. Das acções de
formação decorreram os pedidos de credenciação
de técnicos, encontrando-se, até Junho de 2008,
70 técnicos credenciados. Nem todos os técnicos
formados prosseguiram com o processo de creden-
ciação. Estes resultados estão próximos da meta es-
tabelecida no PNDFCI que pretendia formar e cre-
denciar 20 técnicos por ano até 2012 e proceder
à capacitação de 80% das eSF na utilização desta
técnica. No entanto, de acordo com informações ob-
tidas, a formação de técnicos em fogo controlado
e comunitárias, as ZIF e as explorações privadas de
acordo com a área mínima definida no PROF respec-
tivo. O prazo definido no PROF para elaboração dos
PGF é de 3 anos, o que significa que, tomando como
referência a data da publicação do último PROF a
ser aprovado, deverão estar concluídos em 2010. No
caso de baldios, os critérios definidos para elabora-
ção do PGF são definidos também no Decreto-Lei n.º
205/99, constituindo o plano de utilização do baldio
previsto na Lei n.º 68/93, de 4 de Setembro.
Em Julho de 2008, cerca de 203 mil hectares tinham
já sido objecto de Plano de Gestão, sendo que ape-
nas 5% dos quais correspondiam a áreas privadas
(Tabela 11). Ao pretendermos analisar a área cober-
ta por PGF, deveremos ter em consideração as áreas
certificadas, já que, qualquer que seja a iniciativa de
certificação adoptada (em Portugal existem as inicia-
tivas FSC e PEFC), a elaboração do plano de gestão é
um dos requisitos a cumprir, pese embora o plano de
gestão elaborado possa não cumprir todos os requi-
sitos definidos pela legislação aplicável. Também a
constituição de ZIF representa uma forma de garantir
a existência de PGF, sendo este documento um dos
requisitos previstos para o seu funcionamento. A con-
jugação destes elementos permite acreditar que as
metas estabelecidas no PNDFCI de ter 250 mil hecta-
res de áreas com PGF em 2009 e de 500 mil hectares
em 2012, poderão ser atingidas.
No tocante às medidas associadas à gestão de com-
bustíveis impõe-se uma referência à técnica do fogo
controlado, devido às suas potencialidades em ter-
mos de elevada eficiência e baixo custo. O fogo
con trolado como técnica de gestão de combustíveis
florestais está previsto desde 1981, no Decreto Regu-
lamentar n.º 55/81, de 18 de Dezembro. Em 2004,
quando foi definido o SNPPFCI, o fogo controlado foi
assumido como uma técnica de gestão de combustí-
veis, sendo o seu regulamento publicado na Portaria
n.º 1061/2004, de 21 de Agosto, passando assim
a existir um enquadramento legal para a uti lização
desta técnica na gestão de combustíveis.
De acordo com o Regulamento de Fogo Controlado,
este só pode ser realizado sob responsabilidade de
técnicos credenciados. A credenciação dos técnicos
especializados fica a cargo da DGRF, devendo os
técnicos ter formação de base de nível superior ou
desenvolverem actividade profissional na gestão do
fogo, requerendo em ambos os casos a frequência
com aprovação num curso de especialização. Esta
credenciação é válida por dois anos carecendo de ser
renovada mediante a avaliação de desempenho.
A entidade que pretenda utilizar a técnica de fogo
controlado deve elaborar um Plano de Fogo Contro-
lado (PFC), para um determinado período que pode
ser no máximo de 5 anos, para apreciação da DGRF.
A CMDFCI avalia a sua exequibilidade de acordo com
as intervenções no PMDFCI. Ambos os pareceres têm
de ser positivos.
Cada acção de fogo prevista no plano tem um Plano
Operacional de Queima (POQ) que inclui toda a infor-
mação operacional necessária para executar e avaliar
o fogo controlado e um plano de emergência/contin-
TABELA 11 Planos de Gestão Florestal para aprovação até Julho 2008. FONTE: Dados cedidos pela AFN (Agosto, 2008).
PLANOS NÚMERO ÁREA (HA)
Planos de utilização de baldios 284 141.909
Matas nacionais 9 8.827
Perímetros florestais 17 42.792
Privados 5 9.440
Total 315 202.968
| 44 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 45 |
O número de eSF por distrito reflecte-se na taxa de
cobertura6 do respectivo território por estas equipas.
Os valores da taxa de cobertura são mais elevados
nos distritos das regiões Norte e Centro de Portugal,
em especial Viana do Castelo (cobertura de 84% do
distrito), Guarda (80%), Coimbra (79%), Castelo
Branco (77%) e Vila Real (75%). Esta taxa de co-
bertura a nível distrital está directamente relacionada
com o número de concelhos dentro dos respectivos
distritos com uma ou mais eSF.
No âmbito da gestão de combustíveis importa igual-
mente considerar o resultado do trabalho realizado
pelo Conselho Nacional de Reflorestação (CNR), cujo
relatório final preconiza a infra-estruturação dos
deverá ser preterida nos anos próximos, em benefí-
cio do apoio aos técnicos já credenciados.
A DGRF, no seu relatório da Defesa Florestal Con-
tra Incêndios de 2007 para as fases Bravo e Charlie,
apresenta um balanço das acções de fogo contro-
lado planeadas em 2007, agregando a informação
por regiões, conforme informação recolhida pelo
grupo GeFoCo. Na época de 2006/2007, o recurso
à técnica de fogo controlado resultou na interven-
ção em cerca de 1.400 hectares, tendo sido utilizado
essencialmente no Norte e Centro do País. O fogo
controlado foi executado quase exclusivamente em
matos, correspondendo os povoamentos florestais
a apenas cerca de 2% da área de intervenção. A
área executada em 2007 foi de cerca de 950 ha, e
em 2008 cerca de 700 ha, sendo este valor ainda
provisório. A maioria das acções ocorreu em áreas
sob a gestão da DGRF/AFN (matas nacionais ou perí-
metros florestais) ou em áreas protegidas sob gestão
do ICNB.
Uma outra iniciativa importante em termos de ges-
tão de combustíveis foi a criação de eSF. A regula-
mentação das eSF remonta a 1999 (DL n.º 179/99,
de 21 de Maio). Desde então foram constituídas 300
eSF e extintas 37, estando operacionais (em 2008)
263 eSF, compostas por 1.315 elementos e 263 via-
turas (DGRF, 2008b) (Figura 13).
As eSF poderão ser constituídas por organizações
de agricultores e de produtores florestais, entidades
gestoras de ZIF, conselhos directivos dos baldios, por
autarquias locais, por organismos da Administra ção
Pública responsáveis pela gestão de espaços florestais,
empresas de capitais públicos e qualquer outra enti-
dade privada detentora ou gestora de espaços flores-
tais (DL n.º 38/2006, de 20 de Fevereiro). A Tabela 12
mostra a distribuição da actividade destas equipas.
Um dos principais objectivos para a criação, em 1999,
destas equipas especializadas, foi dar resposta a um
dos princípios na Lei de Bases de Política Florestal que
pressupunha uma maior participação e responsabili-
zação dos produtores florestais e outros agentes eco-
nómicos na DFCI. A constituição de novas equipas
tem sido regular, embora se destaquem alguns anos
pelo grande reforço em eSF, como foi o caso de 2004
e 2008 respectivamente com 61 e 60 novas equipas.
Das 263 eSF operacionais, 166 foram constituídas por
OPF, 45 por órgãos de gestão de baldios, 31 por au-
tarquias (Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia) e
21 por organismos da Administração Pública. A nível
distrital destacam-se os distritos de Castelo Branco,
Coimbra, Guarda, Viana do Castelo, Vila Real e Viseu,
com mais de 20 eSF cada um. Há de facto uma pre-
sença mais forte de eSF nos distritos das regiões Nor-
te e Centro do País, onde existe um maior número de
ocorrências e ainda um maior número de OPF.
6 A taxa de cobertura calcula-se através da área de intervenção das eSF (área de intervenção/área do distrito * 100). A área de intervenção define-se como o território (município, freguesia ou parte destes) onde a equipa pode desenvolver a sua actividade e que corresponde à área referida na candidatura (DL n.º 38/2006, de 20 de Fevereiro).
TABELA 12 Actividades desenvolvidas no âmbito do programa de sapadores florestais em 2007. O Serviço Público corresponde ao trabalho realizado para a entidade pública da qual depende a equipa. FONTE: DGRF, 2007b.
REgIÃO SAPADORES FLORESTAIS SILVICULTURA
PREVENTIVA (ha)
PONTOS DE ÁgUA
(N.º)
BENEFICIAÇÃODE
CAMINHOS (kM)
Norte Serviço Público 43 7 25
Actividade Regular 800 25 200
Total 843 32 225
Centro Serviço Público 563 11 139
Actividade Regular 2.209 113 911
Total 2.772 124 1.050
Sul Serviço Público 50 0 0
Actividade Regular 622 4 173
Total 672 4 173
Total Serviço Público 656 18 164
Actividade Regular 3.631 142 1.284
Total 4.287 160 1.448
1999
300
250
200
150
100
50
0
Nº eSF
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
FIgURA 13 Evolução da constituição de novas eSF durante o periodo 1999 – 2008. FONTE: DGRF, 2008b.
2007 2008
33
69
11
84102
163 163183
203
263
| 46 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 47 |
No âmbito das CRR (Ribatejo, Algarve, Alto Alentejo,
Pinhal Interior e Beira Interior), foi delineada a rede
primária de gestão de combustíveis para todo o terri-
tório que era objecto da sua missão, o qual abrangeu
a superfície total de 1.353.000 ha, correspondendo a
aproximadamente 15% do território nacional conti-
nental. Para além desta área, há a considerar 800 mil
ha com delineamento da RDF em curso, com conclu-
são prevista para 2009. Estes valores estão bastante
aquém do estabelecido ao nível do PNDFCI.
A informação disponível sobre a implementação da
rede de gestão de combustível remete-nos para os
dados disponibilizados no relatório provisório da
DFCI/DGRF de 2007, apresentados na tabela rela-
tiva à infra-estruturação executada no âmbito das
CMDFCI, sendo que não se conhece a relação en-
tre os dados referentes a intervenção (1.983 ha) e a
Rede Primária de Defesa da Floresta já delineada.
5. O COMBATE
O dispositivo integrado de combate aos
incêndios florestais
Enquadrada pela Lei de Bases da Protecção Civil e
pelo PNDFCI surge em 2006 a Directiva Operacio-
nal Nacional n.º 01/2006. Esta directiva define o
Dispositivo Integrado de Defesa da Floresta Contra
Incêndios (DIDFCI ou DECIF, como mais tarde se viria
a designar), constituindo-se como numa plataforma
estratégica que garante a articulação das várias enti-
dades e agentes de protecção civil enquanto estrutu-
ras do Sistema Integrado de Operações de Protecção
e Socorro (SIOPS). Pretendia-se assim optimizar os re-
cursos humanos e materiais, garantindo uma melhor
eficácia no ataque e gestão dos incêndios, aumen-
tando a coordenação entre as forças de intervenção
de todas as organizações integrantes.
Vigorando durante todo o ano, considera diferen tes
níveis de prontidão dos sistemas de resposta, com
ba se em períodos de perigo de incêndio, distinguin-
do-se os períodos seguintes:
FASE ALFA – de 01 JAN a 14 MAI (meios activados
à ordem);
FASE BRAVO – de 15 MAI a 30 JUN;
FASE CHARLIE – de 01 JUL a 30 SET;
FASE DELTA – de 01 OUT a 15 OUT;
FASE ECHO – de 16 OUT a 31 DEZ (meios activados
à ordem). Esta fase surge apenas em 2008 e resulta
do desdobramento da Fase Delta.
A estratégia de intervenção definida previu a cria-
ção de uma Força Operacional Conjunta (FOCON)
constituída por meios humanos e por equipamentos
(terrestres e aéreos) de intervenção, reforço, apoio e
assistência, pertencentes aos CB, à GNR, à DGRF, ao
ICNB, às Forças Armadas, à AFOCELCA e a outras
entidades públicas e privadas.
Em 2007, a Directiva Operacional foi já definida pela
recentemente criada ANPC, introduzindo várias al-
terações face a 2006, resultado da avaliação do de-
sempenho desse ano. São reforçados os meios do
dispositivo humano de vigilância, detecção, combate
e do dispositivo de ataque inicial helitransportado do
GIPS/GNR. É constituída a segunda Coluna Nacional
de Incêndios Florestais (CNIF) e entra em funciona-
mento um novo sistema de informações. São ainda
previstas as Equipas de Reconhecimento e Avaliação
da Situação (ERAS), destinadas a assegurar a análi-
espaços rurais através da constituição de Redes de
Defesa da Floresta (RDF). Encontra-se actualmente a
ser definida a RDF da Região Centro, numa área de
intervenção de cerca de 800.000 ha, envolvendo 34
municípios, no âmbito do projecto “Infraestrutura-
ção do Território e Defesa da Floresta Contra Incên-
dios” desenvolvido pela DGRF e financiado através
da iniciativa internacional EEA – Grants. A concep-
ção, planeamento e execução da RDF incidirá em
duas zonas: a designada “montanhas Ocidentais”,
que inclui as zonas de Dão-Lafões, o Centro Litoral e
a “Cordilheira Central”, que inclui as zonas da Beira
Interior Norte e Pinhal Interior Norte. O projecto, que
se prevê concluído no final de 2009, tem um finan-
ciamento de 1,2 milhões de euros.
A monitorização do funcionamento da RDF compe-
tia às Comissões Regionais de Reflorestação (CRR),
sendo actualmente, por extinção destas, da respon-
sabilidade da AFN. É também definido que a moni-
torização a realizar à RDF deve ter particular atenção
à avaliação da eficácia das medidas propostas e da
relação custo-benefício das opções técnicas. Não
existe, no entanto, informação organizada disponí-
vel relativamente ao trabalho realizado no âmbito da
recuperação das áreas ardidas a propósito do qual
incidiu a actividade das CRR, nem da implementação
da RDF proposta pelas mesmas CRR.
Os dados disponíveis limitam-se ao ano de 2007, no
qual a DGRF começa a monitorizar o trabalho realiza-
do no âmbito da Rede Primária de Defesa da Floresta
apresentando os dados relativos a intervenções na
rede primária e secundária, pontos de água e benefi-
ciação de caminhos, no âmbito quer das CMDFCI quer
do programa de sapadores florestais (Tabela 13).
TABELA 13 Infra-estruturação no âmbito das CMDFCI em 2007. FONTE: DGRF, 2007b.
REgIÃO REDE
PRIMÁRIA(ha)
REDE
SECUNDÁRIA (ha)
PONTOS
DE ÁgUA (N.º)
BENEFICIAÇÃO DE
CAMINHOS (kM)
Norte 67 1.446 42 387
Centro 261 2.034 69 2.919
Sul 1.655 0 7 1.151
Total 1.983 3.480 118 4.457
TABELA 14 Metas estabelecidas no PNDFCI para a acção de cria-ção de redes de gestão de combustível. FONTE: RCM n.º 65/2006.
ANO DELINEAR IMPLEMENTAR
2006 20% 1.500 ha
2009 60% 10.000 ha
2012 100% 25.000 ha
No PNDFCI, no âmbito do 1º Eixo estratégico – “Au-
mento da resiliência do território aos incêndios
florestais” – é definido o objectivo de implemen-
tar um programa de redução de combustíveis que
conta com a acção de criação de redes de gestão
de combustível. As metas, estabelecidas em função
do delineamento da rede e da sua implementação,
encontram-se expressas na Tabela 14.
| 48 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 49 |
Para além do reforço do número de bombeiros, nos
últimos anos assistiu-se ao reforço e criação de no-
vas forças com formação no combate a incêndios
florestais, na sua maioria vocacionadas para a pri-
meira intervenção e com recurso a técnicas de com-
bate indirecto, nomeadamente através da utilização
de ferramentas manuais (Figura 16).
É esse o caso das equipas de Sapadores Florestais (eSF)
criadas em 1999 que, conforme referido anteriormen-
te, passaram de 11 neste primeiro ano para 263 eSF
em 2008, num total de 1.315 SF com 263 viaturas7.
No ano 2008, cerca de 51% dos concelhos de Por-
tugal Continental (141 concelhos) contam com pelo
menos uma eSF (DGRF, 2008b), com especial predo-
mínio nos concelhos das Regiões Norte e Centro.
Em 2006, foram criados os Grupos de Intervenção
de Protecção e Socorro (GIPS) na dependência do
comando-geral da GNR que, no âmbito do combate
a incêndios florestais, são forças especialmente pre-
paradas para a primeira intervenção (DL n.º 22/2006,
de protecção e socorro. Tomando como exemplo
o ano 2003, 93% do universo nacional de 41.630
bombeiros eram voluntários (MAI, 2003). O maior
acréscimo no número de bombeiros deu-se nos anos
2005 e 2006 com um aumento de 1.665 elemen-
tos (Figura 15). De uma forma geral, o número de
elementos pertencentes aos CB com a missão de
combate a incêndios florestais, tem revelado uma
evolução positiva. Entre o ano 2000 e 2008 houve
um aumento de 1.622 elementos. Também no que
diz respeito às viaturas dos bombeiros, houve um au-
mento significativo durante o período 2000 – 2008
(429 viaturas), com especial reforço também em
2005 e 2006, com um acréscimo de 399 viaturas.
De um modo geral, o maior número de bombeiros
no dispositivo de combate durante a “Fase Charlie”
encontra-se nos distritos da Região Norte, Centro e
Lisboa (NUT II), em especial nos distritos de Lisboa
(487 bombeiros), Viseu (414), Porto (396), Santarém
(375), Aveiro (324) e Coimbra (316). Os distritos com
menos bombeiros são: Viana do Castelo (90 bombei-
ros), Portalegre (124), Évora (139) e Beja (154).
se de incidentes complexos para apoio operacional
do CDOS, que mais tarde viriam a ser concretizadas
através do Grupo de Análise e Uso do Fogo (GAUF).
O esquema de organização global da resposta em
vigor, é apresentado na Figura 14, conforme foi defi-
ni do na Directiva Operacional Nacional n.º 1/ 2008.
A organização global da resposta não sofreu signi-
ficativas alterações desde 2006 para cá, tendo sido
ampliada ao nível dos intervenientes no ataque ini-
cial e no dispositivo de prevenção, detecção, vigilân-
cia e fiscalização.
Outros
APC
Postos
de Vigia
Vigilância
Móvel
Sapadores
FlorestaisGNR
Mapas Florestais
Meteo
Base de dados
CDOS
Operacionalização Municipal
Dispositivo de Prevenção , Detecção, Vigilância e Fiscalização
Ataque Inicial
Ataque Ampliado
BBSFECINESEGIPSFEBEHATI
Outros Agentes AFOCELCA ESF
Rescaldo e Vigilância pós-rescaldo
Outros AgentesBombeiros
Outros
Agentes
Forças
Armadas
Sapadores
Oficial GNRComandan-
te Distrital
FIgURA 14 Organização global da resposta – Directiva operacional nacional n.º 01/2008. EHATI: Equipas Helitransportadas de Ataque Inicial; FEB: Força Especial de Bombeiros; GIPS: Grupos de Intervenção Protecção e So-corro; ESE: Equipas de Sapadores do Exército; ECIN: Equipas de Combate a Incêndios; BBSF: Brigadas de Bombeiros Sapadores Flo-restais; ESF: Equipas de Sapadores Florestais; APC: Agentes de Protecção Civil; AFOCELCA: Agrupamento Complementar de Empresas – Aliança Florestal, Celbi & Caima. FONTE: Reproduzido de (ANPC, 2008).
2008
FIgURA 15 Evolução do n.º de bombeiros e respectivas viaturas durante o período 2000 – 2008. FONTE: MAI, 2003; Dados cedidos pela ANPC (Setembro, 2008); SNBPC, 2006; ANPC, 2007; ANPC, 2008.
2001
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
Nº
2002 2003 2004 2005 2006 2007
Bombeiros Viaturas (bombeiros)
2000
Meios humanos e materiais
De entre os meios humanos, os bombeiros são a
força de combate a incêndios florestais mais nu-
merosa. Actualmente, Portugal conta com cerca de
4.900 bombeiros no dispositivo de resposta perma-
nente dos CB, que correspondem a mais de 50%
do total de elementos que integram a FOCON para
a Fase Charlie de 2008. No âmbito do combate aos
incê dios florestais, as forças que integram a FOCON
participam no ataque inicial, no ataque ampliado, no
reforço, no rescaldo, na vigilância activa pós-rescal-
do e no apoio e assistência (ANPC, 2008). O valor
apresentado referente ao total anual de bombeiros
diz respeito aos bombeiros voluntários remunerados
que integram o dispositivo permanente de combate
aos incêndios florestais. Os bombeiros voluntários
são de facto a força mais numerosa nas missões
7 Nos valores referentes às eSF apresentados na Directiva Operacional Nacional n.º 1/2008, não estão incluídas as 60 novas eSF criadas em 2008, as quais foram já incluídas nas presentes apresentações que incluem o número de SF/eSF e respectivas viaturas.
| 50 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 51 |
No que toca aos meios do dispositivo de combate,
importa fazer uma referência especial aos meios aé-
reos. Nos últimos anos (2001 – 2008), tem-se verifi-
cado um reforço dos meios aéreos no dispositivo de
tégica de Combustíveis (GUFGEC), criado em 2007,
dotando a DGRF de um carácter operativo na gestão
estratégica dos combustíveis através do uso do fogo
e no apoio técnico nas fases de ataque ampliado
a incêndios florestais (GUFGEC, 2008a). Os GAUF
são, an tes de mais, um grupo especializado em aná-
lise de in cên dios. Um dos objectivos para a sua cons-
tituição foi apoiar os Comandantes das Operações
de Socorro (COS) em situações de incêndio, por nor-
ma em incêndios de grandes dimensões ou quando
se conjugam as condições para adquirirem dimen-
sões preocupantes. Este apoio consuma-se através
da aná lise do comportamento do fogo e delinea-
mento de estratégias de combate, nas quais poderá
recorrer-se ao uso de fogo de supressão (fogo táctico
e contra-fogo). Assim, este grupo é encarado na du-
pla perspectiva de analistas do fogo e técnicos cre-
denciados para o uso do fogo, resultado da junção
de valências das Equipas de Analistas de Incêndios e
Equipas de Fogos Tácticos de Supressão previstas na
Directiva Operacional Nacional n.º 2/2007, de 6 de
Fevereiro de 2007.
O início dos GAUF remonta a 2006, dado que existia
já um conjunto de 11 técnicos que desenvolviam e
aperfeiçoavam estas acções e viriam posteriormente
a formar estas equipas. O grupo inicial era constitu-
ído por 5 portugueses, 3 argentinos, 2 catalães e 1
francês. Os técnicos estrangeiros deram um impor-
tante contributo inicial na partilha de experiências,
no apoio técnico e na formação dos técnicos por-
tugueses, em especial os espanhóis (GRAF) e argen-
tinos (Plano Nacional del Manejo del Fuego), dada
a sua experiência no combate a incêndios florestais
com recurso a ferramentas manuais e uso do fogo.
Durante este ano, os GAUF intervieram em 6 incên-
dios ocorridos em 3 distritos diferentes (Tabela 15).
Em 2007, os GAUF eram constituídos por 19 técnicos
e 6 viaturas. Entre eles contavam-se 10 portugueses,
5 argentinos, 1 catalão e 1 francês. Foram chama-
dos por 97 vezes em 14 distritos, e recorreram ao
fogo de supressão por 57 vezes. À data da presente
publicação os GAUF dispõem de 10 viaturas e são
constituídos por 26 técnicos, com 21 portugueses,
3 argentinos, 1 catalão e 1 francês. Os técnicos por-
tu gueses distribuem-se pela AFN, por Câ maras Mu-
nicipais, associações florestais e Tapada Nacional de
Mafra. Durante o Verão, encontram-se à disposição
da AFN (GUFGEC, 2008b). Fora do “período crítico”
estes técnicos realizam acções de fogo controlado
em colaboração com diferentes entidades na DFCI,
nomeadamente os SF, os bombeiros, os técnicos da
indústria papeleira, as FEB e os GIPS.
Ainda no âmbito do combate indirecto, no ano 2007,
o dispositivo foi reforçado com os Grupos de Análise
e Uso do Fogo (GAUF). Os GAUF foram constituídos
dentro do Gabinete de Uso do Fogo e Gestão Estra-
de 2 de Fevereiro). Desde então, houve também um
aumento significativo do número de elementos que
compõem os GIPS, passando de 196 elementos e 36
viaturas em 2006 para 720 elementos e 92 viatu-
ras em 2008, distribuídos pelos distritos de Viana do
Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Vila Real, Viseu, Coim-
bra, Leiria, Faro, Bragança e Lisboa (ANPC, 2008).
A partir de Junho de 2007, a ANPC teve a possibi-
li dade de constituir forças especiais com base no
re cru tamento de oficiais bombeiros e bombeiros
do quadro activo dos corpos mistos ou voluntários
(DL n.º 247/2007, de 27 de Junho) e, em Novem-
bro do mesmo ano, foram criadas as Forças Espe-
ciais de Bombeiros Canarinhos (FEB) (Despacho
n.º 22 396/2007, de 16 de Setembro), também es-
pecializadas na primeira intervenção. No entanto, as
FEB remontam já a 2005, quando o então SNBPC
constituiu brigadas helitransportadas de combate a
incêndios florestais formadas por bombeiros voluntá-
rios, conhecidas por “Canarinhos”. No presente ano
(2008), as FEB contam já com 210 elementos e 28
viaturas distribuídas pelos distritos da Guarda, Caste-
lo Branco, Santarém, Portalegre, Évora, Beja e Setú-
bal (ANPC, 2008). Desde 2008 que todas as equipas
helitransportadas de ataque inicial são profissionais e
com cobertura nacional.
Para além destas forças, o dispositivo de combate a
incêndios florestais conta ainda com outros meios
humanos de diferentes entidades preparados para
acções de primeira intervenção com recurso a fer-
ramentas manuais, como as equipas de vigilância e
primeira intervenção do ICNB, os Sapadores Flores-
tais do Exército, as brigadas da Medida AGRIS 3.4 da
ex-DGRF e as brigadas terrestres e helitransportadas
da AFOCELCA (Figura 16).
FIgURA 16 Evolução do número de elementos das forças de combate alargado e das forças especializadas em primeira intervenção. Nas forças especializadas em primeira intervenção estão incluídas as brigadas da Medida AGRIS 3.4 e SF sob coordenação da DGRF, os GIPS, as FEB, os SF e equipas de vigilância e primeira intervenção do ICNB, os SF do Exército e os SF e brigadas helitransportadas da AFOCELCA. No caso das brigadas da Medida AGRIS 3.4 da DGRF, dos elementos do ICNB, da AFOCELCA e das FEB/brigadas helitrans-portadas dos bombeiros, apenas foi possível a obtenção de dados a partir de 2006, embora a criação destas forças seja anterior a este ano. FONTE: DGRF, 2008b; MAI, 2003; SNBPC, 2006; ANPC, 2007; ANPC, 2008; Dados cedidos pela ANPC (Setembro, 2008).
2001
8.000
6.000
4.000
2.000
0
Nº
2002 2003 2004 2005 2006 2007
Forças de combate alargado Forças especializadas em 1ª intervenção
2000 2008 TABELA 15 Evolução dos GAUF e das intervenções durante o período 2006 – 2008. FONTE: GUFGEC, 2008b; Dados cedidos pela AFN (Agosto, 2008). Os dados relativos a 2008 reportam-se apenas ao periodo até final de Setembro.
ANO N.º DE
ELEMENTOS
N.º DE
VIATURAS
N.º DE
ACTIVAÇõES
INTERVENÇõES COM
FOgO DE SUPRESSÃO
N.º DISTRITOS
DE ACTUAÇÃO
2006 11 2 6 0 3
2007 19 6 97 57 14
2008 22 10 18 - -
| 52 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 53 |
aos Incêndios Florestais” (CEEMA), com vista à for-
mulação de um relatório/proposta que planeasse a
aquisição e a contratação de meios aéreos (CEEMA,
2005). As recomendações desta comissão especial
foram seguidas e autorizou-se a realização de des-
pesas inerentes à celebração dos contratos para os
meios aéreos propostos para o ano 2006, nomea-
damente a aquisição de 4 HEBL, 6 HEBM e 4 AETP.
Foi ainda autorizado o aluguer de 16 HEBL, 4 HEBM
e 14 AETL/M com a duração máxima de cinco anos
(RCM n.º 182/2005, de 22 de Novembro). Conside-
rando que os prazos para a construção dos aparelhos
novos a adquirir inviabilizaria a sua disponibilização
no ano 2006, foi necessário suprir esta lacuna com
a contratação de meios aéreos adicionais (RCM
n.º 197/2005, de 2 de Dezembro).
Deste relatório surge ainda a proposta de criação
de uma “Unidade Gestora do Programa”, a qual
seria responsável pelo acompanhamento de todo
o processo de aquisição e instalação dos meios/
aeronaves, participaria no processo organizativo e
asseguraria a ligação com a entidade operadora de
manutenção, e participaria na elaboração do pro-
grama de formação e treino do pessoal, dos manu-
ais de operação e dos procedimentos de execução
(CEEMA, 2005). Esta entidade viria a ganhar forma
no ano 2007 sob a designação “Empresa de Meios
Aéreos”, com a forma de sociedade anónima de ca-
pitais exclusivamente públicos (DL n.º 109/2007, de
13 de Abril).
Seria também em 2007 que teria início a consti-
tuição da frota portuguesa de meios aéreos, com
a aquisição do total de helicópteros proposto pela
CEEMA, nomeadamente quatro helicópteros ligeiros
franceses ECUREIL (a 3 de Agosto de 2007) e seis
helicópteros pesados russos KAMOV (a 8 de Agosto
de 2007) (CEAAPNDFCI, 2008).
A formação e o treino
O centro de formação da Lousã da Escola Nacional
de Bombeiros (ENB) foi criado em 1999, com sede no
Aeródromo da Lousã, em terrenos e instalações ce-
didos pela Câmara Municipal da Lousã. Desde 2004
ministra apenas formações no âmbito do combate
a incêndios florestais, nomeadamente: “Combate a
incêndios florestais para grupos de primeira interven-
ção”, “Chefe de equipa de combate a incêndios flo-
restais”, e “Apoio ao combate a incêndios florestais
para sapadores municipais”. A partir de 2004, passa
a designar-se como Centro de Formação Especializa-
do em Incêndios Florestais (CFEIF).
O CFEIF tem 3 formadores na área da DFCI (incluídos
nos dez formadores com vínculo directo à ENB) e conta,
nas acções formativas, com a colaboração de especia-
listas de outras entidades, tais como a ANPC, a AFN, o
Instituto de Meteorologia (IM) e o Laboratório de Estu-
dos sobre Incêndios Florestais (LEIF) da Associação para
o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI).
Entre os anos 2000 e 2007, a ENB ministrou 221 ac-
ções formativas na área da DFCI (248, incluindo o
plano para 2008) a 3.936 formandos (4.376, incluin-
do 2008), num total de 9.622 horas de formação
(21.300, incluindo 2008). Houve uma média de 492
formandos por ano durante este período (486, in-
cluindo 2008)11. Não se tem verificado uma evolução
constante destes indicadores ao longo dos últimos
anos (2000 – 2008), embora exista uma tendência
geral de crescimento (Tabela 17). Para além disso, ve-
rificou-se uma progressiva diversificação das acções
formativas na área da DFCI.
combate aos incêndios florestais (Figura 17), passan-
do de 35 em 2001 para 56 aparelhos em 20088. Os
helicópteros eram 23 em 2001 e 40 em 2008 (Tabela
16). O número de aviões aumentou de 12 em 2001
para 16 em 2008, sendo que no ano 2006, houve
um máximo de 19 aviões. Consequentemente, os
encargos9 com os meios aéreos têm também au-
mentado, passando de cerca de 10 milhões de euros
(M€) em 2001 para cerca de 16M€ em 2006, atin-
gindo os 31M€ no ano 2005.
FIgURA 17 Evolução dos meios aéreos (helicópteros, aviões e total) entre 2001 – 2008 e evolução dos respectivos encargos entre 2001 – 2006 (valores não disponíveis para 2007 nem 2008). FONTE: Tribunal de Contas, 2007; ANPC, 2007; ANPC, 2008.
60
50
40
30
20
10
0
Nº / M€
2002 2003 2004 2005 2006 2007
Total de meios aéreos (Nº)
2001 2008
Total de aviões (Nº) Total dos encargos
(milhões de euros - M€)
Total de helicópteros (Nº)
TABELA 16 Evolução anual dos meios aéreos por tipo de aparelhos durante o periodo 2001 – 200810, não incluindo os meios da AFOCELCA. HEBL – Helicópteros bombardeiros ligeiros; HEBM – Helicópteros bombardeiros médios; HEBP – Helicópteros bombardeiros pesados; AETL – Aerotanques ligeiros; AETM – Aerotanques médios; AETP – Aerotanques pesados. FONTE: Tribunal de Contas, 2007; ANPC, 2007; ANPC, 2008.
MEIOS AÉREOS 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
HEBL 16 16 19 18 29 22 20 35
HEBM 3 3 3 2 8 6 8 --
HEBP 4 4 4 6 0 0 6 5
AETL 10 10 10 10 6 8 8 8
AETM 0 0 0 0 4 8 6 6
AETP 2 2 2 2 2 3 2 2
Total 35 35 38 38 49 47 50 56
11 Os dados de 2008 correspondem ao que está programado para este ano e não ao executado
Tendo em conta a importância dos meios aéreos no
dispositivo de combate a incêndios florestais, o MAI
determinou que fosse constituída uma “Comissão Es-
pecial para o Estudo dos Meios Aéreos de Combate
8 Em situações mais graves, tem-se recorrido ao auxílio internacional que se traduz num reforço em meios aéreos que raramente é contabilizado no total de meios aéreos. Foi o que sucedeu em 2003, com um reforço com 3 helicópteros pesados alemães, 3 AETL marroquinos, 1 AETP marroquino, 2 AETP italianos e 2 AETP espanhóis. Há ainda a juntar neste ano 2 helicópteros da Força Aérea Portuguesa com missão de coordenação e reconhecimento (MAI, 2003). 9 Os encargos com os meios aéreos incluem a execução financeira dos contratos e ainda o pagamento de horas adicionais. Nos anos 2005 e 2006, estes encargos com os meios aéreos corresponderam respectivamente a 33% e 19% das despesas do então SNBPC (Tribunal de Contas, 2007). 10 O valor referente ao número de HEBM no ano 2008 está incluído no total de HEBL do mesmo ano, tal como é apresentado na Directiva Operacional n.º 1/2008 (ANPC, 2008), não tendo sido possível discriminar este valor.
| 54 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 55 |
tras acções de formação, sem perda de remuneração
ou quaisquer outros direitos e regalias, desde que o
número de faltas não exceda, em média, três dias por
mês. Este último mecanismo é extensível aos bombei-
ros voluntários dos quadros de comando e activo (DL
n.º 241/2007, de 21 de Junho, art. 26.º, ponto 1).
Houve uma alteração no panorama formativo dos
bombeiros voluntários a partir de Agosto de 2008,
pois nas 275 horas anuais obrigatórias de serviço ope-
racional passaram a estar incluídas 70 horas de forma-
ção e instrução (Portaria n.º 571/2008, de 3 de Julho).
No entanto, não são discriminadas as temáticas que
deverão estar incluídas nestas 70 horas de formação.
Para além dos bombeiros, importa abordar a forma-
ção dos outros intervenientes no combate a incên-
dios. No caso dos Sapadores Florestais (SF), o seu
programa de formação é definido pela AFN com a
participação de outras entidades com competências
nesta área (DL n.º 179/99, de 21 de Maio). Os apoios
à formação e qualificação profissional dos SF esta-
vam enquadrados no sistema de apoio à formação
dos recursos humanos incluído no âmbito do Fundo
Social Europeu (FSE), sem prejuízo de outros apoios
(DL n.º 179/99, de 21 de Maio), mas a partir de 2004
estes apoios passaram a estar a cargo da DGRF (DL
n.º 94/2004, de 22 de Abril). Juntamente a este novo
quadro de apoios, a competência para a formação
de novos elementos a integrar nas equipas de SF fi-
cou a cargo das OPF, sob coordenação da DGRF, be-
neficiando de apoios específicos para tal. Por outras
palavras, o processo burocrático para a formação
dos SF passou para as OPF.
Um dos principais critérios para a formação dos SF,
independentemente da entidade formadora, sempre
foi a uniformização dos conteúdos programáticos.
Estes conteúdos têm sofrido algumas alterações des-
de a criação dos SF em 1999. O plano de formação
para o período 1999 – 2005 incluiu uma formação
base e uma formação complementar, totalizando
165 horas de formação, 75 horas de formação teó-
rica técnica e 91 de formação prática simulada. No
período 2006 – 2007, o plano de formação foi re-
formulado e beneficiou de um aumento da carga
horária para 212,5 horas. A formação dos SF para o
período 2008 – 2012 consta no Catálogo Nacional
de Qualificações da Agência Nacional para a Qualifi-
cação (ANQ) e o conteúdo programático sofreu uma
reestruturação. A carga horária de formação tecno-
lógica passa para 875 horas.
A formação dos GIPS teve início no CFEIF da Lousã
com militares do Regimento de Infantaria da GNR,
formando comandantes de operações e chefes de
grupos de combate, adquirindo estes formandos as
competências para formar os novos membros que vi-
riam a integrar esta força de combate. A informação
obtida acerca da formação dos GIPS, refere-se ape-
nas ao conteúdo programático do curso “Combate
a Incêndios Florestais” (para GIPS/GNR) realizado no
CFEIF. Este curso de formação teve uma carga horária
de 120 horas, não tendo sido possível discriminar a
carga horária das diferentes temáticas leccionadas.
As FEB foram criadas com esta designação em 2007
(Despacho n.º 22 396/2007, de 16 de Setembro). O
recrutamento dos elementos das FEB (quadros de co-
mando, oficiais-bombeiros e bombeiros) é efectuado
a partir do universo dos corpos mistos e voluntários
e o respectivo plano de formação e certificação dos
bombeiros compete à ENB. A informação obtida re-
ferente à formação teórica e técnica dos elementos
das FEB diz respeito aos cursos realizados no CFEIF,
Quanto às exigências de formação para a carreira
de bombeiro, encontrámos sobretudo informação
relativa aos bombeiros profissionais. O ingresso nos
CB profissionais12 é antecedido por um período de
formação inicial em que são abordadas/leccionadas,
por entre o largo espectro de serviços operacionais,
algumas matérias relativas a incêndios florestais. A
formação teórica dos estágios nos bombeiros pro-
fissionais é coordenada pelo Centro de Estudos e
Formação Autárquica (CEFA) e é ministrada pelas en-
tidades públicas ou privadas, ou por elementos dos
próprios CB (Despacho conjunto n.º 298/2006, de 31
de Março13). No decorrer deste estágio de ingresso,
são dedicadas 140 horas às temáticas relacionadas
directamente com incêndios, embora estejam inclu-
ídos outros tipos de incêndios (não florestais), não
tendo sido possível ter acesso ao número de horas
exclusivamente dedicadas aos incêndios florestais.
No que toca aos bombeiros voluntários, o ingresso no
quadro activo da corporação é igualmente antecedi-
do por um período de formação inicial, normalmente
com uma duração aproximada de 9 meses. Os conte-
údos programáticos do estágio de ingresso nos bom-
beiros voluntários são delineados por regulamento
da ANPC, ouvida a ENB e o Conselho Nacional de
Bombeiros (CNB) (DL n.º 241/2007, de 21 de Junho).
No entanto, não foi possível obter um plano de for-
mação detalhado deste período de formação inicial.
Uma das diferenças relativamente aos bombeiros
pro fissionais é a formação contínua. A formação
contínua nos CB voluntários, para além de ocasional,
depende principalmente da própria iniciativa dos res-
pectivos CB e comandantes. A falta de tempo dispo-
nível é a principal justificação para o reduzido número
de acções formativas. Assim, as acções formativas
são esporádicas e na sua maioria são formações in-
ternas, tendo por base os manuais da ENB. Para além
disso, são poucos os CB, incluindo bombeiros profis-
sionais, que possuem uma sala de formação adequa-
da e com os materiais pedagógicos necessários (ISA,
2005). Não foi também possível quantificar o núme-
ro de formações internas relacionadas ao combate a
incêndios florestais.
Apesar das limitações em disponibilidade horária,
têm-se criado mecanismos que pretendem pro-
porcionar mais horas de formação aos bombeiros
voluntários. É o exemplo da frequência dos cursos
de formação na ENB (exclusivos para as categorias
médias e superiores), durante os quais os bombei-
ros voluntários podem faltar ao respectivo trabalho
sem perda de direitos até ao máximo de 15 dias por
ano, sendo as entidades patronais compensadas dos
salários pagos pelos dias de trabalho perdidos (DL
n.º 241/2007, de 21 de Junho, art. 26.º, pontos 4 e
5). Podem ainda faltar ao trabalho para realizar ou-
12 Entende-se por bombeiros profissionais, os bombeiros municipais que desempenham funções de carácter profissionalizado e a tempo inteiro e os bombeiros sapadores, ambos integrados nos quadros de pessoal das câmaras municipais. 13 Este Despacho Conjunto veio dar seguimento às disposições legais referentes à formação dos bombeiros profissionais no Decreto-Lei n.º 106/2002, de 13 de Abril.
TABELA 17 N.º de acções formativas em DFCI no CFEIF, total de horas de formação e n.º de formandos, entre os anos 2000 – 2008. FONTE: Dados cedidos pela ENB (Agosto, 2008).
ANOS N.º ACÇõES
MINISTRADAS
TOTAL DE
HORAS DE
FORMAÇÃO
N.º
FORMANDOS
2000 17 595 335
2001 26 910 426
2002 12 420 234
2003 32 1.120 519
2004 38 1.330 740
2005 10 797 189
2006 35 1.610 540
2007 51 2.840 953
2008 27 1.028 440
Total 248 10.650 4.376
| 56 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 57 |
A infracção mais detectada em 2007 diz respeito à
gestão das faixas de combustível junto a habitações e
infra-estruturas, sendo também este ti po de infracção
aquele que tem sido objecto de mais denúncias.
Em termos de detecção de incêndios, para além da
detecção móvel efectuada por diferentes agentes da
DFCI, há que referir os resultados obtidos pela Rede
Nacional de Postos de Vigia (RNPV). Apesar do eleva-
do número de postos de vigia (263), a sua actual dis-
tribuição deixa ainda espaços sem visibilidade. Num
trabalho realizado pela Associação de Desenvolvi-
mento do Instituto Superior de Agronomia (ADISA),
através do Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta
Neves” e pelo Instituto de Novas Tecnologias (INOV),
conclui-se que cerca de 28% do território nacional
continental não é vigiado pela RNPV, 31% é vigiado
apenas por um posto de vigia, cerca de 41% é vigia-
do por dois ou mais postos de vigia e cerca de 12%
desta área é visível por quatro ou mais postos de vigia
(CEABN/ADISA & INESC-INOVAÇÃO, 2004). Durante
o período 2001 – 2007, a participação da RNPV nos
alertas oscilou entre os 12% e os 17% do total de
alertas até 2005, baixando nos anos 2006 e 2007
para cerca de 4% e 3% respectivamente (Figura 18).
O contacto directo com as forças de segurança por
parte dos populares, possibilitado pela massificação
do telemóvel e, eventualmente, por uma maior cons-
ciencialização e assimilação do dever cívico quanto
ao problema dos incêndios florestais, tem levado a
um maior protagonismo da população. Foi o que terá
provavelmente sucedido nestes dois últimos anos e
poderá justificar a diminuição da proporção de de-
tecções pela RNPV. A utilização de números telefóni-
cos de emergência manteve-se relativamente estável
durante este período, entre os 10% e 5%.
designados por “Curso de Brigadas Helitransporta-
das”, com uma carga horária de 90 horas.
De entre as forças do dispositivo de combate aos
incêndios florestais, aqui analisadas no âmbito da
respectiva formação, os SF beneficiam de um maior
número de horas de formação, especialmente consi-
derando o mais recente programa de formação (2008
– 2012) que contempla 875 horas de formação tecno-
lógica segundo o catálogo de qualificações da ANQ.
No entanto, para além das questões específicas do
combate a incêndios, o programa de formação inclui
outras matérias associadas ao trabalho na floresta.
Em termos do programa de formação, verifica-se
que os conteúdos sobre “incêndios florestais” são
mais limitados no caso dos bombeiros (excluindo
FEB) comparativamente com as restantes forças es-
pecializadas em combate a incêndios. Os bombeiros
voluntários não são incluídos nesta análise conjunta
dado que nem sequer foi possível obter informações
concretas sobre o respectivo programa formativo. No
entanto, a falta de treino dos bombeiros voluntários
portugueses é apontada em vários relatórios como
uma deficiência grave no combate aos incêndios
florestais (e.g. Beighley&Quinsenberry, 2004; ISA,
2005; European Parliament, 2008).
A performance do Sistema Nacional de DFCI
Importa aqui considerar as várias vertentes do siste-
ma de DFCI, incluindo nomeadamente a vigilância,
a pré-supressão, a primeira intervenção, o combate
alargado e o rescaldo.
A vigilância e a pré-supressão estão actualmente sob
a competência da GNR. O SEPNA tem particulares
responsabilidades na vigilância e na dissuasão de ac-
tividades de risco na área da DFCI. Os relatórios de
actividade do SEPNA mostram a evolução em termos
de infracções cometidas no âmbito da legislação de
DFCI nos últimos anos (Tabela 18).
Verifica-se que, os registos de crimes e contra-orde-
nações, têm crescido substancialmente nos últimos
anos. Estes resultados estão relacionados com o au-
mento de competências no processo de consolida-
ção do SEPNA no seio da GNR, depois da mudança
institucional operada em 2006.
Algumas das infracções registadas têm origem em
denúncias recebidas através da Linha SOS Ambien-
te e Território (Linha Azul do Ambiente). No ano de
2006 foram recebidas 101 denúncias e em 2007 esse
número aumentou para 162 denúncias. Os tipos de
infracção mais representados estão relacionados es-
pecificamente com a gestão das faixas de combustí-
vel junto a habitações e infra-estruturas e a queima
de sobrantes (Tabela 19). De notar que, de 2006
para 2007, ocorreu uma inversão na infracção pre-
dominante. A queima de sobrantes, a que correspon-
diam mais de 70% das infracções em 2006, passou a
representar menos de 40% das infracções em 2007.
TABELA 18 Infracções detectadas pelo SEPNA no âmbito da legislação de incêndios florestais (dados incompletos para 2008).FONTE: Portal Electrónico do SEPNA (www.gnr.pt). Dados disponíveis em Outubro de 2008.
ANO CRIME CONTRA-ORDENAÇõES
2002 18 33
2003 29 27
2004 62 37
2005 96 1.774
2006 462 1.968
2007 825 2.656
2008 498 1.859
TABELA 19 Importância relativa (dados em percentagem) dos di ferentes tipos de infracções detec tadas pelo SEPNA no âm-bi to da le gislação de incêndios florestais. FONTE: SEPNA, 2007; SEPNA, 2008.
TIPO 2006 2007
Queima de sobrantes 72 36
Gestão de faixas de combustível 24 52
Queimada 2 6
Outros 2 6
FIgURA 18 Evolução da contribuição das principais fontes de alerta dos focos de incêndio no período 2001 – 2007. FONTE: CEABN/ADISA & INESC-INOVAÇÃO, 2004; Dados cedidos pela DGRF (Julho, 2008).
100
80
60
40
20
0
%
2002 2003 2004 2005 2006
Outros
2001 2007
RNPV Populares Linhas telefónicas (117)
| 58 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 59 |
No que diz respeito à eliminação de tempos de che-
gada superiores a 60 minutos (Figura 20), verifica-se
que houve ainda um número significativo de ocor-
rências nesta situação, especialmente em 2005 com
318 ocorrências (1,8% do total de ocorrências). O
ano 2007 terá apresentado o resultado mais positivo
com 44 ocorrências (0,5% do total).
Uma das metas delineadas no PNDFCI, a atingir até
2012, é a redução, para menos de 150, do número
de incêndios activos com duração superior a 24 ho-
ras, objectivo já cumprido nos anos 2003, 2004 e
2007 (Figura 21). Atentando no ano 2003, os valores
surpreendem pela positiva (96 incêndios). Nas classes
de duração mais elevadas, o número de incêndios é
relativamente reduzido quando comparado com os
de outros anos, apesar da área ardida total, sem pa-
ralelo, que se verificou neste ano.
Um dos factores apontados para a prestação da RNPV
abaixo do esperado é a sua estruturação geográfica,
concebida sem um projecto de raiz com vista à opti-
mização dos recursos. Segundo o trabalho referido,
o mesmo grau de probabilidade de detecção da
actual RNPV poderia ser assegurado com apenas 142
PV, sendo necessário proceder a 103 relocalizações.
Para além de uma rápida detecção e comunicação, a
redução dos tempos de chegada aos incêndios é funda-
mental para o sucesso da DFCI. Prevê-se no PNDFCI que,
com o reforço do número de unidades de SF, o papel
dos GIPS, a melhoria da capacidade de intervenção dos
bombeiros voluntários que integram as Equipas de Com-
bate a Incêndios e a progressiva introdução de Grupos
de Intervenção Permanentes no âmbito das Associações
Humanitárias de Bombeiros Voluntários, seja possível a
eliminação de tempos de chegada superiores a 60 mi-
nutos. É ainda apontado como objectivo a chegada ao
local do incêndio em menos de 20 minutos em 90% das
ocorrências (RCM n.º 65/2006, de 26 de Maio).
Quando as condições meteorológicas facilitam a rápi-
da propagação do incêndio, a rapidez na chegada ao
local da ignição torna-se ainda mais decisiva. Mesmo
para tempos de chegada inferiores a 20 minutos, é
ainda significativo o número de incêndios com du-
ração superior a 3 horas (Figura 19). Tomando como
exemplo o ano de 2003, com um recorde de área
ardida, obtiveram-se neste ano os melhores resulta-
dos do período sob observação (2001 – 2007) em
tempos de chegada inferiores a 10 minutos (57% das
ocorrências) e 20 minutos (89%), este último bastan-
te próximo do valor ambicionado no PNDFCI (90%).
O ano 2003 foi surpreendentemente satisfatório em
termos de rapidez da 1ª intervenção, mas com as
condições meteorológicas excepcionalmente severas,
bastou ter “escapado” uma pequena percentagem
de incêndios para que se produzisse uma enorme
área queimada. Exceptuando os anos 2001 e 2005,
com 75% e 81% do total de ocorrências com tempos
de chegada inferiores a 20 minutos, todos os anos
apresentaram resultados superiores a 85%. Os resul-
tados para tempos de primeira intervenção inferiores
a 20 minutos podem ser observados na Figura 20
(soma das classes 0-10 minutos e 10-20 minutos).
2005
2% 2%
42%
39%
15%
2006
1% 1%
51%37%
10%
2007
1% 1%
45%42%
11%
2004
2% 1%
32% 55%
10%
2003
1% 1%
32% 57%
9%
2002
2% 1%
51%35%
11%
2001
38%
37%
19%
4% 2%
Os tempos de chegada aos incêndios: 2001 - 2007
> 60 min40 - 60 min20 - 40 min0 - 10 min
FIgURA 20 Os tempos de chegada aos incêndios nos anos 2001 – 2007. FONTE: DGRF, 2008a.
10 - 20 min
3 - 6h
2.500
2.000
1.500
1.000
500
0
Nº
incê
ndio
s
Duração incêndios
6 - 9h 9 - 12h 12 - 24h > 24h
200720062005 2004200320022001
FIgURA 19 N.º de incêndios de acordo com classes de duração para tempos de chegada inferiores a 20 minutos entre 2001 – 2007.FONTE: DGRF, 2008a.
| 60 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 61 |
A iniciativa COTEC
A COTEC Portugal, Associação Empresarial para a
Inovação, lançou em 2004 uma iniciativa sobre In-
cêndios Florestais que assentou em três grandes
projectos: benchmarking de sistemas de prevenção
e combate a incêndios; apoio à prevenção e comba-
te de incêndios florestais com base em cartografia
de risco e modelos de comportamento; vigilância
florestal, detecção e alerta.
Destes projectos foram produzidas recomendações
que viriam a ser incorporadas na DFCI, das quais
destacamos a necessidade da criação de uma cadeia
de comando e de um centro de comando únicos;
uma primeira intervenção baseada em meios huma-
nos e materiais especializados, enfatizando o papel
dos sapadores florestais e do recurso ao helicópte-
ro; a criação de um corpo autónomo de bombeiros
florestais, profissionalizado com formação e treino
adequados; e a disponibilização de um sistema de
comunicação eficaz.
No PNDFCI foi ainda delineado o objectivo de, até
2012, reduzir o número de reacendimentos para me-
nos de 1% do total de ocorrências. Até 2018, o ob-
jectivo é de 0,5% (RCM n.º 65/2006, de 26 de Maio).
Considerando o período 2001 – 2007, é apresentado
na Figura 22 o número anual de reacendimentos e
respectiva percentagem face ao total de ocorrências
nesse período. Os anos 2002 e 2005 registaram os
piores resultados com mais de 1.500 reacendimentos
correspondentes a, respectivamente, 6,3% e 5,1%
dos respectivos totais de ocorrências. Seguem-se
os anos 2003 e 2004 com mais de 1.000 reacendi-
mentos, com 4,4% e 5,2% do total de ocorrências,
respectivamente. Entre 2001 e 2005, o número de
reacendimentos foi sempre superior a 3% do total
de ocorrências. Os anos 2006 e 2007 registaram os
valores mais reduzidos deste período, com cerca de
500 reacendimentos, correspondentes a, respectiva-
mente, 2,5% e 2,9% dos respectivos totais de ocor-
rências. Não obstante, em qualquer um destes anos,
os resultados encontram-se relativamente afastados
do ambicionado para 2012 no PNDFCI.
TABELA 20 N.º de ocorrências anuais e respectivas percentagens por classes de duração no período 2001 – 2007. FONTE: DGRF, 2007a e DGRF, 2008a.
CLASSES DE DURAÇÃO DAS OCORRÊNCIAS
0-3h 3-6h 6-9h 9-12h 12-24h >24h
Anos N.º % N.º % N.º % N.º % N.º % N.º %
2001 7.244 70,2 1.919 18,6 540 5,2 236 2,3 199 1,9 174 1,7
2002 13.480 78,0 2.559 14,8 627 3,6 242 1,4 214 1,2 158 0,9
2003 11.764 83,7 1.553 11,0 377 2,7 146 1,0 119 0,8 96 0,7
2004 7.101 82,1 1.081 12,5 228 2,6 92 1,1 73 0,8 69 0,8
2005 13.520 74,8 2.681 14,8 782 4,3 355 2,0 415 2,3 318 1,8
2006 15.802 78,9 2.831 14,1 660 3,3 253 1,3 253 1,3 231 1,2
2007 6.848 76,9 1.464 16,4 300 3,4 127 1,4 105 1,2 65 0,7
2.000
1.500
1.000
500
0
%
2002 2003 2004 2005 20062001 2007
7
6
5
4
3
2
1
0
Objectivo do PNDFCI
para 2018 (%)
Reacendimentos
(% do total de ocorrências)
Objectivo do PNDFCI
para 2012 (%)
Total de reacendimentos
FIgURA 21 Número anual de reacendimentos e respectiva percentagem face ao total de ocorrências no período 2001 – 2007.FONTE: Dados cedidos pela DGRF (Julho de 2008); DGRF, 2006; DGRF, 2007a; DGRF, 2008a.
| 62 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 63 |
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pdf [consultado em Julho de 2007].
PARTE IICOMUNICAÇÕES APRESENTADAS NO WORKSHOP
INCÊNDIOS FLORESTAIS5 ANOS APÓS 2003AméRIco cARvAlho mEndEs DOMINgOS XAvIER vIEgAS
FRAnçoIs BInggElI JOAqUIM SANDE SIvA ERnEsTo dE
dEus LúCIA SALDANHA José cARdoso PEREIRA BER-
NARDO MOTA AnA sÁ ANA BARROS soFIA olIvEIRA
JORDI PAgES mARk BEIghlEy PAULO FER NANDES PE-
dRo AlmEIdA vIEIRA
IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 67 |
POLÍTICA FLORESTAL EM PORTUgAL DEPOIS DE
2003
AméRIco m. s. cARvAlho mEndEs1
Faculdade de Economia e gestão, universidade ca-
tólica Portuguesa - Porto
1. Evolução da política florestal até 2003
Portugal é um dos países do mundo onde a proprie-
dade florestal privada tem maior peso relativo.
com efeito, 93.4% da área florestal do continente
está neste regime de propriedade, 5.4% correspon-
de a baldios e só 1.2% é do Estado (mendes et al.,
2004). Apesar desta importância tão grande da flo-
resta privada que não é de agora e da percentagem
tão diminuta de área florestal pública que também
não é de agora, o essencial da actividade do organis-
mo público com maiores responsabilidades na for-
mulação e na implementação da política florestal em
Portugal centrou-se desde o tempo da sua criação,
no final do século XvIII2, até há poucos anos atrás,
na gestão da floresta pública e na gestão da floresta
baldia tratada como se fosse pública.
Esta situação é um dos casos mais notáveis nas po-
líticas públicas em Portugal de um fenómeno cha-
mado “dependência da trajectória”, ou seja, uma
situação onde as condições que vigoravam na altura
da criação de uma organização influenciaram signi-
ficativamente a sua trajectória futura. neste caso, os
serviços Florestais que foram criados tendo como
primeira missão proteger e gerir a floresta pública
revelaram, ao longo do tempo, uma grande dificul-
dade em fomentar o desenvolvimento da floresta
privada (mendes, 2008a; Fernandes, 2008).
Presidiu a esta orientação de política florestal a se-
guinte visão do sector florestal em Portugal:
• o país tem um grande potencial de recursos flores-
tais por aproveitar;
• embora grande parte desses recursos estejam nas
mãos de privados, estes são incapazes de aprovei-
tar o seu potencial como deve ser;
• o motor do desenvolvimento florestal do país deve
ser o Estado através de um organismo da sua Ad-
ministração central com capacidade técnica voca-
cionada para o efeito, a saber, os serviços Flores-
tais, e privilegiando instrumentos de política do tipo
“comando e controlo”3 acompanhados de acções
que são essencialmente de carácter técnico (ex. di-
fusão de “boas práticas de gestão florestal”).
o máximo até onde esta orientação de política conse-
guiu ir foi no alargamento da jurisdição dos serviços
Florestais às áreas baldias, tendo o primeiro grande
passo nesse sentido sido dado com a pas sagem para
a responsabilidade dos serviços Florestais dos baldios
do gerês e da serra da Estrela, na década de 1880.
Este processo acentuou-se a partir da década de
1930, com a implementação do Plano de Povoamen-
to Florestal que durou até ao início dos anos 70.
1 declaração de interesses: o autor é Presidente da Associação Florestal do vale do sousa. 2 Está aqui a fazer-se alusão à criação, em 1796, da Real Junta da Fazenda da marinha cuja missão era a conservação e gestão dos pinhais reais. depois da
Revolução liberal, em 1824, foi criada a Administração geral das matas com uma missão semelhante de conservação e gestão das florestas da coroa. Este organismo que perdurou durante grande parte do século XIX foi, depois, substituído por outro cuja denominação foi mudando ao longo do tempo, até dar lugar à actual Autoridade Florestal nacional. Esta sucessão de organismos vai ser aqui designada por “serviços Florestais”.
3 no século XIX chegou a advogar-se e a colocar-se em letra de lei ir até à expropriação da floresta privada.
| 68 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 69 |
Esta arborização dos baldios que, conjuntamente
com a arborização das dunas do litoral, foram, até
hoje, as duas obras principais dos serviços Florestais,
eram missões que estavam esgotadas no início dos
anos 70. depois disso, e até agora, este organismo
tem passado por um longo período de crise sem
ainda ter conseguido redefinir claramente as suas
missões e o seu posicionamento adequado face aos
restantes parceiros do sector, a começar pelos pro-
prietários florestais privados. um indício dessa crise
de identidade têm sido as várias designações e re-
organizações por que estes serviços têm passado ao
longo deste período e que ainda agora continuam.
depois do período áureo de arborização dos baldios
e quando os serviços Florestais já estavam na fase
descendente da sua influência, houve dois momen-
tos capitais onde tiveram oportunidade e meios para
redefinirem as suas missões de maneira a adequa-
rem-se ao que era necessário para fomentar o desen-
volvimento do sector florestal. um desses momentos
foi a década de 50. A partir dessa altura a população
activa agrícola começou a diminuir. Era de prever
que esta tendência iria pôr cada vez mais em causa
o modelo socio-económico em que tinha assentado
até aí o crescimento da área e da produção florestal.
Esse modelo era baseado na iniciativa privada e
individual dos proprietários florestais, com acesso
fácil a mão de obra barata para a gestão da sua flo-
resta e com uma procura de produtos florestais que
teve uma tendência de longo prazo positiva desde
o início do século XIX. Esta iniciativa permitiu que
a área e a produção florestal crescessem, fazendo
com que o sector ga nhas se uma grande importância
económica em termos agregados, embora interna-
mente muito heterogéneo, com diferenças eco-
nómicas, sociológicas e de implantação geográfica
entre as suas três componentes principais: a baseada
no pinheiro-bravo, a baseada no sobreiro e a basea-
da no eucalipto, esta última tendo-se desenvolvido a
partir dos anos 50. outra característica desse modelo
era o facto do risco de incêndio estar controlado
devido à existência de uma população rural numero-
sa e com usos e costumes que permitiam o controlo
da massa combustível na floresta a níveis que redu-
ziam esse risco de incêndio.
com o êxodo agrícola esse modelo foi posto em cau-
sa. A partir de então os custos de mão de obra para
uma gestão florestal sustentável começaram a ser
cada vez mais elevados, conduzindo a rentabilidade
privada da produção florestal para níveis negativos,
mesmo que a sua rentabilidade social fosse positiva.
o epifenómeno desta alteração nas condições socio-
económicas da produção florestal foi o agravamento
do problema dos incêndios florestais. os grandes in-
cêndios de 2003 e 2005 não são mais do que o auge
das consequências negativas desse problema econó-
mico de fundo que se tem vindo a desenvolver, pelo
menos, desde os anos 50, sem políticas públicas que
ajudem a resolvê-lo, ou, pelo menos, a atenuá-lo.
com o êxodo agrícola e o consequente agravar do
problema dos incêndios houve uma outra mudança
estrutural nas condições da produção florestal. Até
então a gestão florestal sustentável e o crescimento
da área e da produção florestal tinham podido ser as-
segurados de forma mais ou menos satisfatória pela
iniciativa privada e individual dos proprietários flo-
restais. num contexto de risco de incêndio cada vez
maior deixa de ser assim, uma vez que estamos em
presença de uma externalidade negativa com a na-
tureza de um risco social, cuja redução só pode ser
conseguida através de formas de organização da ac-
ção colectiva não só dos proprietários florestais, mas
também doutros agentes relevantes para o efeito (ser-
viços Florestais e outros organismos da Administração
central, autarquias, indústrias florestais e outros).
Assim sendo, o que se deveria ter imposto desde
então como prioridade de uma política florestal
adequada à realidade do sector deveria ter sido pro-
mover essas formas de organização colectiva que
ajudassem a produção florestal privada a fazer face
a custos de produção cada vez mais elevados e a um
risco de incêndio cada vez maior. uma das maneiras
de o fazer poderia ter sido empenhar-se no apoio ao
associativismo dos proprietários florestais privados
e na promoção de formas de gestão agrupada da
produção florestal privada. nada disso foi feito na for-
ma e na escala que seriam necessárias. Algumas ini-
ciativas que surgiram do lado dos serviços Florestais
no apoio à floresta privada nessa época foram mais
para o apoio a alguns proprietários individualmente
considerados e não nas direcções atrás referidas.
Tinha também sido preciso começar a organizar,
desde essa altura, mecanismos que permitissem in-
ternalizar em favor dos proprietários florestais parte
dos benefícios sociais correspondentes aos serviços
ambientais que a sua floresta produz, isto desde que
dessem provas de se estarem a esforçar por melhorar
a sua gestão florestal. dessa forma, combater-se-ia a
tendência para uma rentabilidade privada negativa
da produção florestal. Também nada disto foi feito.
um outro momento capital de novas oportunidades
para a redefinição das missões dos serviços Florestais
foi a década de 80. nessa altura, com a missão de
gestão estatal dos baldios em plena crise e com as
novas oportunidades de financiamento externo que
a democracia permitiu, os serviços Florestais viram
aí a necessidade e os meios para se redireccionarem
no sentido do apoio à floresta privada. no entan-
to, começaram por fazê-lo replicando, no essencial,
as ilusões e as práticas velhas de mais um século e
meio, ou seja, através da sua intervenção directa
na floresta privada. Foi assim com o Projecto Flores-
tal Português (PFP) do Banco mundial onde uma das
componentes foi a arborização realizada com base
em projectos para áreas privadas e de baldios que
eram elaborados e executados directamente pelos
serviços Florestais.
com o PAF-Programa de Acção Florestal, e depois de
terem aprendido alguma coisa com os erros do PFP,
os serviços Florestais recuaram nessa via da interven-
ção directa sobre a floresta privada. deu-se, então,
uma mudança estrutural na política florestal que ain-
da hoje perdura, com o recurso, em larga escala, a
incentivos financeiros com a forma de subsídios a
fundo perdido, para o investimento em arborização
e beneficiação de áreas florestais, co-financiados pe-
los fundos estruturais da união Europeia. com esta
mudança, que é uma forma de internalizar alguns
benefícios sociais que a floresta gera, os serviços
Florestais procuraram chegar à floresta privada es-
sencialmente através do controlo da gestão desses
incentivos4. numa fase inicial do PAF isso ainda foi
assim, embora os serviços Florestais não estivessem
adequadamente equipados, à partida, para exer-
cerem as tarefas de recepção, análise, aprovação e
acompanhamento das candidaturas a esses sistemas
de incentivos. de qualquer maneira, esforçaram-se
por isso o melhor que puderam, recorrendo ao seus
4 numa primeira versão do PAF elaborada pelos responsáveis dos serviços Florestais da altura reivindicava-se para este programa uma fatia de leão do PEdAP - Programa Específico de Apoio à Agricultura Portuguesa enquadrado nas Ajudas de Pré-Adesão da cEE. Esta versão teve que ser rapidamente reformulada para valores bem inferiores por pressão dos interesses agrícolas que existiam dentro do ministério da Agricultura.
| 70 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 71 |
técnicos com alguma experiência de relação com a
propriedade privada do tempo do Fundo de Fomen-
to Florestal, mas acabaram, depois, por perder gran-
de parte desse poder em benefício do IFAdAP.
Em vez deste esforço pelo controlo dos sistemas de
incentivos financeiros ao sector, o que os serviços
Florestais poderiam ter feito nessa altura e não fize-
ram, apesar de terem meios financeiros para o efeito
no PFP e no PAF, era regressarem ao terreno. Esse
regresso deveria ter sido não tanto para as Adminis-
trações Florestais que durante anos foram instâncias
com grande influência local através das competên-
cias que tinham na gestão dos baldios, mas antes
para a proximidade dos proprietários florestais pri-
vados, com a criação de um serviço de extensão
florestal que os ajudasse a melhorar a gestão da
sua floresta. Também nada disto foi feito, desta vez
apesar de existirem recursos financeiros suficientes
para o efeito.
Estes serviços de apoio técnico no terreno aos pro-
prietários florestais privados acabaram, finalmente,
por aparecer, na década seguinte, mas não por ini-
ciativa e com o apoio directo dos serviços Florestais,
através de um programa de incentivos que este orga-
nismo ou outro tenham desenhado especificamente
para este efeito. o que então aconteceu foi a cons-
tituição de organizações de produtores florestais
sus citada, em boa parte, pela procura de serviços de
apoio técnico por parte de produtores florestais que
pretendiam candidatar-se a sistemas de incentivos
ao investimento florestal no âmbito dos programas
co-financiados pela união Europeia. Embora estes
programas não contemplassem medidas específi-
cas para apoiar a constituição daquele tipo de or-
ganizações, acabaram por ser um factor importante
motivador dessa constituição. A principal fonte de
financiamento dessa constituição foram outros pro-
gramas vários aos quais essas organizações procu-
raram candidatar-se mesmo que não tivessem sido
desenhados especificamente para responder às suas
necessidades.
2. Condições favoráveis a reformas estrutu-
rais na política florestal a seguir a 2003
depois dos grandes incêndios de 2003 estavam reu-
nidas três condições favoráveis muito importantes
para favorecer uma reforma estrutural no modelo de
política florestal que foi seguido desde o início do
século XIX e que só tinha começado a mudar subs-
tancialmente nos anos 80.
uma condição é que, pela primeira vez na história
deste sector, existia um problema unificador do
conjunto de agentes mais relevantes que o cons-
tituem. Esse problema era o dos incêndios, com a
magnitude que então tiveram. com efeito, nesse
ano foi destruído, com uma extensão significativa,
o seguinte:
• não só a floresta de pinheiro-bravo, mas também a
de eucalipto (incluindo aqui a da indústria de pasta
e papel) e a de sobreiro;
• não só a floresta das zonas rurais, mas também a
que ficava muito perto das cidades;
• não só árvores e mato, mas também vidas huma-
nas e postes eléctricos e de telecomunicações.
Ao causar grandes prejuízos em tantas zonas do país
e em tantos grupos sociais, os grandes incêndios de
2003, com os que se lhe seguiram em 2005, aca-
baram por gerar uma conjugação momentânea de
interesses até ali dispersos no sentido de se fazer
qualquer coisa que pudesse contribuir para reduzir,
de uma forma duradoura este problema que afecta
todo o sector.
outra condição favorável para a realização de refor-
mas estruturais na política florestal era o facto de
o país dispor de um conjunto de organizações de
produtores florestais que, pelo menos, em termos
das respectivas áreas sociais, já cobria satisfatoria-
mente grande parte do país florestal. Após séculos
durante os quais a propriedade florestal privada não
esteve organizada de forma colectiva, e num contex-
to onde a necessidade dessa organização era cada
vez maior para fazer face a riscos sociais como o dos
incêndios, finalmente estavam lançadas as bases
desse tipo de organização em quase todo o país.
A terceira condição favorável a uma mudança estru-
tural na política florestal tem que ver com a constitui-
ção do Fundo Florestal Permanente (FFP) que tinha
sido instituído pela lei de Bases da Política Florestal de
1996, mas que ainda não tinha passado da letra da
lei para a prática. com este fundo passou a dispor-se
de um instrumento financeiro de base inteiramente
nacional e, portanto, não sujeito aos calendários e aos
condicionalismos dos programas co-financiados pela
união Europeia. Este instrumento, tal como a legisla-
ção de 1996 o determinava, deveria destinar-se essen-
cialmente à internalização de externalidades positivas
que a floresta gera, obviamente em favor dos produ-
tores florestais que a gerirem no sentido de promover
esse tipo de benefícios sociais.
3. O que faltava fazer a seguir a 2003 e não
foi feito
A reforma estrutural que era e é preciso fazer numa
situação onde o sector florestal se confronta com
graves riscos sociais, nomeadamente o dos incên-
dios florestais e outros (agora o nemátodo), e num
país onde a floresta privada é largamente predomi-
nante, deve consistir em colocar bem no topo das
prioridades da política florestal o fomento do asso-
ciativismo florestal. Embora comece a haver cada vez
mais pessoas a reconhecer esta necessidade, esta-
mos ainda longe do ponto onde a política florestal
em Portugal trata esta questão como deve ser.
o que é que faltou, então, fazer depois de 2003 para
que esta mudança de política acontecesse?
Era preciso ter havido nos decisores políticos, nos
agentes económicos relevantes do sector, nomeada-
mente as indústrias florestais, e nas instâncias com
influência na formação da opinião pública (meios de
comunicação social e intervenientes em colóquios
sobre estes temas), um diagnosticar correcto das
causas mais profundas dos incêndios florestais para,
depois, a partir daí desenhar medidas de política
adequadas para lidar com elas. ora quem presen-
ciou os inúmeros debates que houve sobre o pro-
blema dos incêndios e leu o muito que se escreveu
sobre o assunto nessa altura terá observado que a
maior parte dos diagnósticos acabavam por apon-
tar como causa principal dos incêndios o “absen-
tismo” dos proprietários florestais privados. daí só
muito raramente se partia para a identificação das
causas mais profundas desse “absentismo”, nomea-
damente as de natureza económica: rentabilidade
privada negativa da produção florestal para a qual
tinha contribuído o êxodo rural e o consequente
agravamento dos custos privados dessa produção.
Em vez disso, desse tipo de diagnóstico partia-se
depois quase sempre para a defesa de medidas de
política que, com formatos variados, consistiam ou
| 72 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 73 |
em substituir os proprietários florestais privados por
outros agentes considerados mais capazes para rea-
lizar uma gestão florestal sustentável (os serviços
Florestais devidamente reformados e reforçados, os
municípios ou empresas públicas e os fundos de in-
vestimento imobiliário florestal a criar para o efeito),
ou em impor-lhes, por via coerciva, determinadas
práticas de boa gestão florestal.
Incorreram e continuam a incorrer nestes erros de
diagnóstico e de terapêutica não só as entidades pú-
blicas com mais responsabilidades na formulação e
na implementação da política florestal, mas também
entidades privadas com muita relevância no sector
florestal, nomeadamente as indústrias florestais.
Embora nos últimos tempos as necessidades eco-
nómicas decorrentes de questões que afectam es-
pecificamente cada uma delas (redução da área de
pinheiro-bravo, aumento de capacidade da produção
de papel, aparecimento de substitutos para a rolha de
cortiça) tenham levado estas indústrias a dar alguns
passos no sentido de se aproximarem dos produtores
florestais, esses passos são ainda curtos e replicam ve-
lhos erros da nossa política florestal como o de pensar
que muito da solução para os problemas do sector
passa por medidas de carácter técnico (ex. difusão
de boas “práticas” e de plantas seleccionadas).
Para além da mudança de mentalidades que tinha
sido necessária para evitar os erros de diagnóstico e
de terapêutica atrás referidos, tinha sido preciso fa-
zer mais coisas, nomeadamente em relação às duas
realidades emergentes nessa altura, a saber: as orga-
nizações de produtores florestais e o FFP.
Em relação às organizações de produtores florestais
cuja principal fonte de financiamento era, e ainda
é, o que elas vão podendo obter de financiamentos
públicos, impunha-se que fossem instituídos me-
canismos de monitorização da aplicação desses
financiamentos e de avaliação do desempenho
das organizações que os recebem. Estes mecanismos
eram e continuam a ser necessários, pelo menos, por
duas razões:
• prevenção e irradicação de comportamentos opor-
tunistas na utilização desses recursos financeiros;
• mudança no modo como são formulados os critérios
de elegibilidade para acesso aos financiamentos
públicos estabelecendo-os com base em indicado-
res de desempenho em vez de ser com base numa
lista pré-determinada de acções supostamente
necessárias para o desenvolvimento do sector, em
todo o país e para todas as organizações.
nada disto foi feito, com as consequências que são
de esperar:
• situações de aproveitamento oportunista de finan-
ciamentos públicos no associativismo florestal;
• aplicações ineficientes desses financiamentos por-
que enviesadas em função de critérios de elegibi-
lidade que não se adequam às principais neces-
sidades de desenvolvimento dos territórios e das
organizações onde são aplicados, nem discriminam
positivamente quem tem dado melhores provas de
os utilizar com eficiência.
Ainda em relação ao FFP, há mais dois problemas re-
levantes a referir. mal dotado em recursos humanos,
este organismo tem tido tempos de resposta no pro-
cessamento das candidaturas e dos pedidos de pa-
gamento que são demasiado elevados para a frágil
tesouraria das organizações de produtores florestais
cujo fundo de maneio é muito reduzido.
o último problema tem que ver com as entidades
beneficiárias das verbas do FFP. se, para além do
maior cuidado na prevenção, detecção e sanção do
oportunismo, não tivesse havido desvio de verbas
substanciais do FFP para outras entidades que não
os produtores florestais e as suas organizações, os
recursos do FFP chegariam para apoiar o arranque e
o desenvolvimento de uma rede de organizações de
produtores florestais que seria suficiente para cobrir
adequadamente todo o país florestal, até ao ponto
de serem capazes de gerar receitas próprias que lhes
permitissem passar a depender menos dos financia-
mentos públicos. há, no entanto, aqui um problema
de que vamos falar a seguir.
4. A municipalização da política florestal
os grandes incêndios de 2003 e 2005 acabaram por
gerar mudanças estruturais na política florestal que
vieram para ficar. o problema é que, pelo menos,
uma delas não foi na boa direcção. Essa mudan-
ça corresponde àquilo que aqui será designado por
“municipalização da política florestal”. Trata-se das
competências e recursos acrescidos atribuídos aos
municípios para intervirem em matérias relevantes da
gestão florestal nas áreas privadas.
os municípios chegaram a este ponto em resultado
da combinação de vários factores. um deles é a ten-
dência geral de reforço do poder municipal que tem
acontecido desde o 25 de Abril de 1974.
outro factor é o agravamento dos incêndios flores-
tais e as competências que os municípios já tinham
na área da protecção civil, levando-os daqui para
uma intervenção cada vez maior na gestão florestal
em áreas privadas.
o terceiro factor é o facto do agravamento do pro-
blema dos incêndios florestais atrás referidas ter tra-
zido este sector para o palco das disputas de prota-
gonismo político a nível nacional e local.
o quarto factor tem que ver com a preponderância
das visões dos problemas florestais atrás referidas que
desaguam em terapêuticas de substituição dos pro-
prietários florestais por outros agentes considerados
mais “capazes” de proteger e valorizar a floresta,
neste caso, os municípios. mantém-se, assim, o velho
erro da política florestal em Portugal que consiste em
considerar que o motor do desenvolvimento do sector
deve residir em entidades públicas. A diferença agora
é que, numa situa ção onde os serviços Florestais já
não têm as estruturas de que antes dispunham no ter-
reno e já não as podem restaurar e desenvolver, a Ad-
ministração local vai ocupando esse terreno que este
organismo da Administração central deixou vago, ou
onde nunca chegou a estar em permanência.
um dos principais instrumentos para sustentar esta
municipalização da política florestal tem sido o FFP
ao financiar projectos dos municípios e o pessoal que
recrutaram para constituir os chamados “gabinetes
Técnicos Florestais”. com isto, desviam-se para enti-
dades públicas recursos financeiros que se deveriam
destinar a apoiar a organização dos proprietários flo-
restais privados para a melhoria da gestão florestal.
com isto não se quer dizer que os municípios de-
veriam ser arredados da área florestal e privados de
meios para ter aqui alguma actividade. há competên-
cias importantes que têm e devem conservar (orde-
namento do território, construção e manutenção de
caminhos e infra-estruturas de apoio ao combate a
incêndios, etc.) precisando, obviamente, de recursos
| 74 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 75 |
humanos e financeiros para isso. o problema é que
essa intervenção dos municípios não deve ser organi-
zada nem financiada do modo como está a ser feita
até agora.
Em primeiro lugar a escala municipal é uma escala de-
masiado pequena para ser eficiente em várias das ac-
tividades que os municípios estão a assumir. Era mais
aconselhável a escala inter-municipal. com isso,
aproveitar-se-iam economias de escala e reduzir-se-
-iam os custos com os gabinetes Técnicos Florestais.
À escala inter-municipal também se reduziria o risco
das intervenções dos municípios ficarem demasiado
sujeitas ao jogo político a nível local.
Assim sendo, os financiamentos públicos a atribuir
aos municípios em matéria florestal deveriam ser con-
dicionados à sua aplicação à escala inter-municipal.
Além disso, estas actividades dos municípios deve-
riam ser suportadas pelas suas fontes de financia-
mento próprias, ou seja, pelos impostos municipais
e pelas verbas que os municípios recebem ao abrigo
da lei das Finanças locais, em vez de serem retiradas
do FFP cuja vocação central é a internalização dos
benefícios sociais que a floresta gera.
Finalmente deveriam ser instituídos mecanismos que
desincentivassem os municípios de pretenderem ser
substitutos, ou até concorrentes, dos proprietários
florestais privados e das suas organizações, incenti-
vando-os, antes, a desempenhar um papel construti-
vo no fomento do associativismo florestal.
5. As ZIFs
outra reforma estrutural na política florestal que re-
sultou dos grandes incêndios de 2003 e 2005 tem
que ver com o fomento da gestão florestal agrupa-
da, através da constituição das chamadas “Zonas de
Intervenção Florestal” (ZIF).
Em si, e sem mais, esta medida não é necessaria-
mente boa. depende das condições em que uma
ZIF é constituída e da forma como for depois ge-
rida. Boas condições nesta matéria seriam as que
passamos a expor. Existe no terreno, há vários anos,
uma organização de produtores com provas dadas
de bom desempenho e que, uma vez publicada a
legislação reguladora das ZIF, se empenhou na sua
constituição, mas sem vender ilusões aos potenciais
aderentes só para os trazer a este processo. desse
trabalho resultariam ZIFs que teriam naturalmente
essa organização de produtores como entidade ges-
tora. mesmo que algumas dessas ZIFs pudessem não
ser de grande dimensão física, o facto de estar toda
sob a responsabilidade da mesma entidade gestora
dar-lhes-ia dimensão económica.
Para as organizações de produtores florestais em-
penhadas nesta tarefa as ZIF constituiriam uma boa
oportunidade a aproveitar porque lhes permitiriam
passar de uma intervenção em manta de retalhos
(um sócio aqui e outro além) para uma interven-
ção em mancha contínua.
As ZIFs permitiriam também às organizações de pro-
dutores florestais reduzir os custos de transacção
cada vez maiores com que se confrontam para fa-
zer crescer o seu número de associados, a partir do
momento em que já atraíram a si os que têm uma
dimensão da propriedade e um nível de interesse na
melhoria da gestão florestal que os leva a procurar
este tipo de organizações.
As organizações de produtores florestais que se em-
penham na constituição de ZIFs têm podido ir buscar
algum financiamento ao FFP. o problema é que, para
além de condições de elegibilidade que deixam a de-
sejar, a demora no processamento dos pagamentos
é de tal ordem que faz com que as que empenharam
os seus recursos humanos neste trabalho estejam em
situação de colapso de tesouraria e, portanto, em
risco de deitar a perder o que já fizeram.
Quando as condições atrás referidas não ocorrem,
as ZIFs podem ser um logro. Em vez de se promo-
ver o necessário associativismo florestal, promove-se
o minifúndio organizativo. Em vez de se chamar os
proprietários à assunção das suas responsabilidades
na gestão florestal, promove-se, mais uma vez, o
oportunismo na utilização dos fundos públicos e o
descrédito relativamente ao associativismo.
Aqui, como noutras matérias atrás referidas, cabe ao
Estado assumir e exercer bem o seu papel regulador.
é necessário que isso aconteça quanto antes.
| 76 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 77 |
REFERÊNCIAS BIBLIOgRáFICAS
As ideias aqui expressas têm sido apresentadas em intervenções públicas diversas ocorridas de 2003 para cá.
Parte delas estão contidas em textos publicados, alguns dos quais constam da lista seguinte, remetendo-se para
eles o leitor interessado nas fontes que sustentam afirmações que aqui são feitas.
FERNANDES, L. C. R. M. (2008). Os Serviços Florestais desde a sua criação até às leis do Regime Florestal. lisboa: universidade
católica Portuguesa.
MENDES, A. M. S. C. (2005). Florestas Portuguesas: emparcelar o quê e para quê? Cadernos de Economia, 71, 36-40.
MENDES, A. M. S. C. (2006). Forest owners’ associations in Portugal: are the infant going to survive? Paper presented at the small-
scale forestry and rural development: The intersection of ecosystems, economics and society. IuFRo 3.08 conference, galway-mayo
Institute of Technology, galway, Ireland.
MENDES, A. M. S. C. (2006). Implementation Analysis of Forest Programmes: some theoretical notes and an example. Forest Policy
and Economics, 8(5), 512-528.
MENDES, A. M. S. C. (2006). Private forestry and forest policu reforms in Portugal in the context of increasing risk of forest fires.
Paper presented at the legal Aspects of European Forest sustainable development. 8th International IuFRo Rg 6.13.00 Forest law and
Environmental legislation symposium, Instambul.
MENDES, A. M. S. C. (2008). The role of Institutions in Forest Development: The Case of Forest Services and Forest Owners’ Associa-
tions in Portugal. Paper presented at the The multifunctional Role of Forests - Policies, methods and case studies, Joensuu.
MENDES, A. M. S. C. (2008). ZIF criadas, fadigas dobradas. Notícias FORESTIS, 0, 12-13.
MENDES, A. M. S. C., FELICIANO, D., TAvARES, M. & DIAS, R. (2004). The Portuguese Forests (country level report delivered to
the EFFE Project - Evaluating Financing of Forestry in Europe). Porto: Faculty of Economics and management, Portuguese catholic
university.
MENDES, A. M. S. C. & FERNANDES, L. C. R. M. (2007). Políticas e instituições florestais em Portugal - desde o final do Antigo Re-
gime até à actualidade. In J. s. silva (Ed.), Floresta e sociedade - uma história em comum (vol. vII, pp. 77-125). lisboa: Jornal Público/
Fundação luso-Americana para o desenvolvimento/liga para a Protecção da natureza.
A SITUAÇãO DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS EM
PORTUgAL APÓS 2003
domIngos XAvIER vIEgAs
departamento de Engenharia mecânica, universida-
de de coimbra
Introdução
muitas coisas sucederam em Portugal, no âmbito
dos incêndios florestais, no ano de 2003 e desde en-
tão, que são justamente objecto de reflexão critica,
no contexto desta iniciativa da Autoridade Florestal
nacional (AFn) e da liga para a Protecção da nature-
za (lPn), que saúdo pela sua oportunidade e relevân-
cia. levanta-se aqui a questão de saber se estaremos
ou não no bom caminho, depois de um ano, o de
2003, em que o nosso País sofreu a maior desgraça
de sempre no campo dos incêndios florestais, que
levou toda a gente a clamar: “nunca mais!”. Apesar
disso no ano seguinte, em 2004, íamos quase pelo
mesmo caminho e, por fim em 2005, voltámos a ser
atingidos pelo desastre, embora desta vez de propor-
ções um pouco menores.
Esta repetição das situações reforça a impressão ge-
ral de que nem tudo está bem, pese embora as múl-
tiplas reuniões, debates, deliberações, estudos, pro-
jectos, investimentos, diplomas legais, mudanças nas
pessoas e nas estruturas que houve desde 2003.
A nossa memória é curta. Ao preparar esta interven-
ção, confesso que tive dificuldade em recordar toda
a panóplia de eventos e de mudanças que houve,
tal foi o ritmo a que os acontecimentos se sucede-
ram. Tive de voltar a ler muitos documentos e re-
latórios de diversas instituições, comissões, grupos
de trabalho e similares, que foram criados ou que se
constituíram como vectores de reflexão ou de acção,
para mudar a situação. não tenho qualquer preten-
são de ser completo ou exaustivo, nem o espaço e o
tempo disponíveis mo permitiriam. Irei referir apenas
alguns dos aspectos que mais impacto me causaram.
Presumo que o simples recordar dos factos já consti-
tui matéria suficiente de reflexão, sem haver mesmo
a necessidade de introduzir grandes comentários;
ainda assim comentarei sempre que for oportuno.
Retenho que em 2003 e nos anos seguintes apren-
demos a pôr em questão muitas das ideias feitas que
tínhamos acerca dos incêndios. nestes anos muitos
mitos foram quebrados.
Tenho dito muitas vezes que o problema dos incên-
dios florestais constitui um misto de factores naturais
– de grande importância – e de factores humanos.
Em relação aos primeiros há que analisá-los e com-
preendê-los. como em boa parte não dependem
de nós, podem servir de atenuante ou de desculpa,
mas dentro de certas medidas. os factores huma-
nos, entre os quais incluo a actuação das instituições
e das pessoas que gerem o problema dos incêndios
florestais em Portugal, merecem talvez uma atenção
mais profunda, uma vez que são também relevantes
e, além disso, são aqueles em que podemos actuar
mais directamente.
| 78 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 79 |
Análise da Situação
é normal começar por referir as estatísticas dos in-
cêndios para ter uma base objectiva de análise. nas
figuras 1 e 2 mostram-se os dados do número de
incêndios e de área ardida em Portugal nos últimos
anos, desde 1980 até 2008 (setembro de 2008).
como se pode ver, o número de incêndios tem vin-
do a crescer ao longo das primeiras duas décadas
deste período, estabilizando em torno de um valor
muito elevado, da ordem dos 20 mil por ano, mas
felizmente durante os últimos anos este valor tem
vindo a regredir. mais significativo parece ser o nú-
mero de incêndios propriamente ditos, ou seja os
fogos que consumiram mais de 1 hectare (ha), cujo
número se tem mantido inferior a cerca de 5000
por ano, sendo que nos últimos anos este valor se
tem reduzido.
A estatística das áreas ardidas, que se mostra na Fi-
gura 2, indica uma maior variabilidade inter-anual,
que reflecte claramente o papel dos factores físicos
associados à meteorologia. Ainda assim é visível uma
tendência para um crescimento nas duas primeiras
décadas, com valores extremos em 2003 e 2005. os
três últimos anos, desde 2005, apresentam uma re-
dução gradual, mesmo drástica, das áreas ardidas.
é interessante verificar que entre 2003 e 2008 re-
gistámos os valores mais alto e mais baixo da área
ardida durante as passadas duas décadas, com uma
amplitude que vai desde os 20 aos 430 mil ha.
Alguém mais apressado poderia concluir que o pro-
blema dos incêndios florestais se encontra em vias
de resolução, se é que não estará já resolvido em
Portugal. mas uma leitura mais atenta destas estatís-
ticas e dos factos que lhes estão associados não nos
permite ser tão optimistas.
Irei dizer umas breves palavras acerca das condições
meteorológicas, remetendo a consulta das referên-
cias viegas et al. (2006) e viegas et al. (2008) para
uma análise mais detalhada das condições climáticas
e meteorológicas associadas aos incêndios destes úl-
timos anos. como é sabido o outono e Inverno que
precederam o ano de 2003 foram anormalmente
chuvosos, o que correspondeu a um elevado cresci-
mento de vegetação fina, que ficou disponível para
arder; com uma Primavera e verão muito secos, esta
vegetação adquiriu uma elevada combustibilidade po-
tencial. nesse ano uma parte importante do interior
do País foi atingida por uma ou mais ondas de calor
que contribuíram para uma incidência muito elevada
de incêndios, mesmo em distritos, como o de Portale-
gre, que eram considerados de risco não muito alto.
Tivemos ainda uma série de trovoadas secas, na noite
de 1 para 2 de Agosto, que percorreram o interior
centro do País, originando centenas de focos de in-
cêndio, que vieram a produzir a completa ruptura do
sistema, a partir desse dia. de acordo com os registos
oficiais, os incêndios verificados nesse dia 2 de Agosto
destruíram mais de 100 mil ha, que constitui o valor
que ardia, em média no País, durante um ano.
o ano de 2004 começou por ser um ano “normal”,
mas durante cerca de duas semanas no final de Julho
e no princípio de Agosto verificaram-se condições ex-
tremas em boa parte do País e em pouco mais de dez
dias perdemos quase 100 mil ha. Felizmente ocorreu
chuva e o resto do verão acabou por ser muito ameno,
tendo a área total ficado na ordem de 140 mil ha.
o ano de 2005 foi extremamente seco; a ocorrência
de alguns períodos muito quentes durante o verão
viria a torná-lo um ano semelhante a 2003, com uma
área ardida de 230 mil ha. Este ano confirmou-se
uma vez mais que, apesar das mudanças e das boas
intenções expressas, o País continuava – e continua –
à mercê das condições de risco extremas.
os anos de 2006 e 2007 voltaram a ser normais, com
verões relativamente frescos e sem períodos críticos.
Estas condições, aliadas à melhoria geral do sistema
– de que falaremos adiante – contribuíram decisiva-
mente para os bons resultados verificados.
deve dizer-se que o ano de 2008 se iniciou com um
deficit de precipitação ainda superior ao do ano de
2005. daí que era fundado um alarme que foi lan-
çado por algumas entidades, ao qual também me
associei, de que poderíamos ter um ano muito com-
plicado no campo dos incêndios florestais. Felizmen-
te uma precipitação anormal na Primavera e alguns
episódios de precipitação que pontuaram o verão
têm contribuído para o bom resultado que se verifica
no corrente ano até o final de outubro.
FIgURA 1 número anual de incêndios florestais ocorridos em Portugal entre 1980 e 2008; dados totais e incêndios superiores a um hectare (Dados DGRF).
40.000
35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
nIn
c
Total
1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008
>1ha
| 80 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 81 |
não posso deixar de referir, como parte muito impor-
tante das estatísticas dos incêndios florestais em Por-
tugal, as vítimas de acidentes mortais relacionados
com os incêndios. no ano de 2003 registaram-se 21
vítimas mortais e em 2005 registaram-se 22.
no âmbito da perda de vidas humanas devem referir-
se os seguintes casos: o acidente que vitimou quatro
Bombeiros profissionais em mortágua, no dia 25 de
Fevereiro de 2005, e o que vitimou outros seis Bom-
beiros, entre os quais cinco chilenos, em Famalicão
da serra, em 9 de Julho de 2006. Estes dois aciden-
tes causaram um impacto muito grande em todo o
País, muito especialmente no seio da comunidade
dos Bombeiros. Este segundo acidente daria origem
e força a um movimento de Bombeiros que procura
chamar a atenção para as condições de segurança
em que os Bombeiros trabalham.
neste contexto ainda, dos acidentes mortais, devo
referir o acidente de guadalajara, em Espanha, no
dia 16 de Julho de 2005, no qual morreram 12
Bombeiros profissionais, num acidente que teve e
continua a ter um grande impacto público, em boa
parte pelas acções judiciais que motivou. na croácia,
num acidente ocorrido na Ilha de kornati, em 31 de
Agosto de 2007, um grupo de 13 Bombeiros foi sur-
preendido pelo fogo num desfiladeiro, tendo apenas
sobrevivido um deles.
no ano de 2007 a grécia e outros países do mediter-
râneo oriental tiveram o seu “2003”. Acompanhámos
FIgURA 2 Área percorrida pelos incêndios florestais em Portugal entre 1980 e 2008; dados totais e áreas florestadas. (Dados DGRF).
450.000
400.000
350.000
300.000
250.000
200.000
150.000
100.000
50.000
0
Áre
a h
a
Total
1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008
Áreas Florestadas
mais de perto a situação na grécia, que nos fez lem-
brar muito a situação em Portugal em 2003. nesse
ano na grécia perderam a vida 77 pessoas, em aci-
dentes relacionados com os incêndios florestais. na
sua maioria tratou-se de civis.
Algumas Mudanças
nestes anos em Portugal foram tomadas muitas me-
didas e feitas diversas mudanças, a maioria delas logo
após 2003, mas algumas de uma forma continuada.
nem sempre estas mudanças foram feitas com muita
reflexão e quase nunca com análise e avaliação das
soluções anteriores.
As mudanças nas estruturas e as novas medidas le-
gislativas eram produzidas, muitas vezes, como se se
tratasse da solução do problema. Algumas dessas
medidas e planos de acção iam ao ponto de definir
valores concretos para metas de áreas ardidas, como
se tal dependesse dessas medidas ou, sequer, da ac-
tividade das pessoas e das instituições.
Torna-se difícil reconstituir o turbilhão de acções que
ocorreu em Portugal neste período, irei por isso refe-
rir apenas as que me pareceram mais relevantes.
Em Abril de 2003, isto é pouco antes do verão, ti-
nha sido extinta a comissão nacional Especializada
em Fogos Florestais (cnEFF) e foi criado o núcleo
de Protecção da Floresta (nPF), também no seio do
ministério da Administração Interna (mAI). não me
recordo quem foi designado para dirigir esta Entida-
de e, menos ainda, se teve algum papel relevante
na realização de acções que ajudassem a preparar o
País para a pior desgraça que viríamos a enfrentar na
nossa história. como é lógico, Portugal atravessou
essa crise sem dispor de um organismo que fizesse
a cúpula ou a coordenação das restantes instituições
envolvidas no problema.
no ano de 2004 foi extinto este nPF e criada a Agên-
cia para a Prevenção de Incêndios Florestais (APIF),
sob a alçada do ministério da Agricultura (mA) e de-
pendendo duma recém criada secretaria de Estado
das Florestas (sEF). Foi como se o mAI não apenas
tivesse “sacudido a água do seu capote” dos in-
cêndios florestais (IF), mas também tivesse deitado
para longe esse mesmo capote, passando muitas das
atribuições que tinha, na gestão do IF, para o mA.
um livro Branco que as estruturas do mAI produ-
ziram ainda em 2003, foi rapidamente esquecido e
as medidas que nele se preconizavam deixaram de
ter seguidores, como se tal livro nunca tivesse sido
produzido.
Em 2004 foi operacionalizado o Fundo Florestal Per-
manente (FFP), apesar de estar criado formalmente
desde 1996. Este Fundo destinava-se a gerir uma
parte dos gastos em combustível de cada um dos
Portugueses – um cêntimo por cada litro de com-
bustível adquirido – aplicando-a em acções de pre-
venção da floresta, tendo em particular atenção o
problema dos incêndios.
o serviço nacional de Bombeiros (snB) e o serviço
nacional de Protecção civil (snPc) tinham-se fundido
num novo organismo designado por serviço nacional
de Bombeiros e Protecção civil (snBPc). Embora esta
mudança tenha ocorrido no inicio do ano de 2003,
não creio que esta alteração tenha contribuído de
modo decisivo para agravar a situação no verão de
2003. Em 2007 o snBPc passaria a designar-se por
Autoridade nacional de Protecção civil (AnPc).
| 82 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 83 |
Falou-se da aquisição de meios aéreos próprios. Foi
anunciada a aquisição de alguns aviões Beriev, que
chegaram a ser testados operacionalmente em Por-
tugal. Felizmente esta compra não se veio a concre-
tizar. Foi criada uma empresa pública para gerir os
novos meios a adquirir.
durante os últimos anos a direcção de Florestas mu-
dou de nome por diversas vezes. não há muitos anos
designava-se por direcção-geral das Florestas (dgF),
tendo passado a ser o Instituto Florestal (IF) durante
algum tempo. Passou a designar-se por direcção-ge-
ral dos Recursos Florestais (dgRF) até há bem pouco
tempo, em que se passou a chamar Autoridade Flo-
restal nacional (AFn).
nesta altura deu-se também a entrada da guarda
nacional Republicana (gnR) com um papel mui-
to mais interventivo e visível no processo. Foram
reforçados os serviços de Protecção da natureza e
do Ambiente (sEPnA) e criados os grupos de Inter-
venção de Protecção e socorro (gIPs). Estas medidas
controversas, iriam causar algum mal-estar ao início,
porque foram introduzidas sem grande preparação
do terreno, mas que se mostraram eficazes a muitos
títulos, sendo hoje em dia aplaudidas pela generali-
dade dos agentes.
Em 2006 foi criada a Auroridade nacional para os
Incêndios Florestais (AnIF), no seio do mAI. Esta en-
tidade, ao situar-se acima da APIF, restituiu a coorde-
nação das acções ao mAI, mas na realidade coexis-
tiram as duas com alguma duplicação de funções. A
AnIF foi extinta em finais de 2006, tal como estava
anunciado, depois de ter produzido um relatório crí-
tico da situação, com propostas de medidas de acção
para o futuro.
Em virtude destas mudanças e como expressão dos
avanços e recuos do sistema, chegaram-se a extin-
guir os “canarinhos”, em 2005, para se restabele-
cerem em 2007.
os guardas Florestais (gF) foram integrados nos
sEPnA e foram reforçados os grupos de sapadores
Florestais. Foi activado o núcleo de Reflorestação, no
seio da dgRF, que acabou por fazer uma boa parte
do planeamento das medidas de prevenção que se
deveriam adoptar no futuro imediato.
o País passou de uma situação em que se dizia que
não havia qualquer planeamento, para uma outra em
que se multiplicavam os planos. Foram produzidos
planos a nível municipal, distrital, regional e nacional,
por diferentes entidades. com diversos critérios e me-
todologias, mas sempre com um propósito de reduzir
a incidência dos incêndios. Perguntamo-nos sobre o
valor técnico de muitos destes planos, da sua articula-
ção mútua e mais ainda acerca da sua aplicação.
Dois Casos
A título de exemplo de como no nosso País não sabe-
mos aproveitar bem as oportunidades que algumas
crises nos proporcionam, para alterar profundamen-
te as atitudes e os modos de proceder, vou referir-me
à actuação e funcionamento de duas entidades que
surgiram no “pós 2003”: a APIF e o FFP.
A APIF rapidamente se viria a revelar como sendo
não uma entidade coordenadora das restantes,
mas antes como mais uma entidade, com funções
próprias e nalguns casos sobrepostas às de outras
instituições já existentes e actuantes. A atitude de
auto-suficiência e de predominância que a APIF assu-
miu na sua actuação seria em parte explicável através
do decreto da sua constituição (dl n.º 156/2004 de
30 de Junho) que, no seu Art. 2º. 2, estipulava que
“compete à Agência para a Prevenção de Incêndios
Florestais a coordenação do sistema nacional de Pre-
venção e Protecção da Floresta contra Incêndios e a
intervenção no sentido de assegurar a execução das
medidas e acções nele previstas”. uma interpreta-
ção muito estrita dos termos “intervenção” e “exe-
cução” terá certamente levado os responsaveis pela
APIF a tomar as atitudes referidas. cito alguns casos,
a título de exemplo.
uma das primeiras medidas adoptadas pela APIF, de-
corrente alias do seu decreto de constituição, foi o de
alterar as designações dos niveis de risco de incendio
e as cores dos respectivos códigos. Embora as desig-
nações e códigos de cores já estivessem enraizados
na comunidade operacional, foi imposto este novo
esquema. mas foi-se ainda mais longe. Embora se re-
conhecesse que o índice de perigo era calculado com
base em dados meteorológicos – obviamente obtidos
e tratados pelo Instituto de meteoro logia (Im), no nº 2
do seu art.º 5º dizia-se que “o índice de risco de in-
cêndio é elaborado pela Agência para a Prevenção
de Incêndios Florestais”. Qual seria o alcance desta
norma é dificil de comprrender. como seria lógico, foi
o Instituto de meteorologia que continuou a elabo-
rar o índice e a divulgá-lo também, em 2005. Apesar
disso na contribuição que a APIF deu para o relatório
final da AnIF, sobre este assunto, a APIF afirma o se-
guinte: “dificuldades decorrentes da falta de recursos
humanos, impediram a interpretação da informação
produzida pelo Instituto de meteorologia, pelo que
esta foi divulgada sem qualquer tratamento. Está em
curso a elaboração de um relatório que irá comparar
os valores do FWI com aqueles que foram calculados,
neste caso, atribuindo diferentes intervalos de classe,
em função dos distritos e não do perigo objectivo.”
devo confessar a minha incapacidade para compre-
ender o sentido técnico desta última frase.
o que é mais estranho é que esta mesma ideia é
recuperada em 2008, na versão que conheço da re-
visão do mesmo decreto-lei, quando se estabelece
que “o índice de risco temporal de incêndio será ela-
borado sob a coordenação e validação da AFn”.
outro exemplo de actuação da APIF diz respeito mais
directamente à minha equipa. Refere-se a um estu-
do de dois grandes incêndios ocorridos em 2004, na
Arrábida e em Almodôvar, que a minha equipa co-
meçara a estudar pelo facto de terem sido os dois
mais importantes incêndios daquele ano. Ao tomar
conhecimento que a APIF decidira estudar precisa-
mente aqueles dois incêndios, coloquei-me à dispo-
sição da APIF para prestar a colaboração que fosse
requerida. Foi com surpresa que em Janeiro de 2005
recebi da APIF a seguinte resposta: “A participação da
Associação para o desenvolvimento da Aerodinâmica
Industrial (AdAI) no estudo dos incêndios de Almo-
dôvar e Arrábida foi considerada inadequada dado
que as análises a efectuar não têm um carácter téc-
nico-científico”. Admitindo tratar-se de um engano,
tomei a iniciativa de insistir, mas recebi como resposta
que a APIF mantinha a sua posição de “não formular
qualquer convite, para participar na elaboração destes
estudos, a nenhuma entidade que não tenha assento
no conselho de Representantes, razão pela qual não
se justifica a participação da AdAI, nem a título de
observador”.
Transcrevo o que se diz no Relatório da APIF/AnIF, so-
bre a realização de inquéritos aos grandes incêndios
| 84 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 85 |
florestais: “Recursos humanos escassos para a abran-
gência da missão”. Por tudo isto, suponho que já
nada nos deveria surpreender.
mais ainda haveria a dizer sobre a APIF e a sua ex-
tinção, mas passemos ao outro caso, o FFP. Embora
o FFP já existisse formalmente desde há alguns anos,
a sua operacionalização apenas ocorreu em 2004.
Apesar de se tratar de gerir dezenas de milhões de
Euros do Erário Público, não foi criada qualquer es-
trutura administrativa, dotada de pessoal adequada
para este fim.
no primeiro concurso lançado pelo FFP em 2004,
terão sido apresentadas algumas centenas de pro-
postas, que se candidatavam em pelo menos cinco
medidas ou eixos de acção, com um financiamento
total de cerca de quarenta milhões de euros. sabe-
se hoje que um pequeno grupo de pessoas, ligadas
aos gabinetes das entidades estatais decisoras, criou
uma lista de cerca de trinta projectos que deveriam
ser financiados, independentemente de qualquer
avaliação!
Tive oportunidade de analisar os cinco projectos que
foram financiados no âmbito da medida 5, de apoio
à investigação científica, os quais receberam um
apoio de cerca de quatro milhões de euros. Em meu
entender, nem um desses projectos havia sido apro-
vado correctamente. um deles, que recebeu cerca de
1.6 milhões de euros, era liderado por uma pessoa
ligada ao próprio FFP. o segundo, que recebeu um
apoio de 1.1 milhões de euros era proposto por en-
tidade à qual esta pessoa estava ligada. denunciei
este processo junto das autoridades e em resultado
disso houve profundas alterações no FFP.
noutros países, com muito menos do que este di-
nheiro faz-se muito mais no apoio à investigação
científica. sintomaticamente, em 2008, um dos pro-
jectos que referi acima, com um financiamento atri-
buído de 1.1 milhões de euros, foi anulado pelo FFP,
ao fim de não ter obtido resultados válidos após dois
anos de execução!
Tal como disse, perante o relato destes factos, supo-
nho que não são precisos mais comentários. Basta
reflectir no que foi descrito e no que isto supõe de
falta de sentido de serviço público e de gestão efi-
ciente dos recursos.
Avaliação global
A título de resumo irei analisar cada uma das prin-
cipais componentes do sistema, comentando breve-
mente cada um deles e atribuindo uma classificação
global, numa escala de 0 a 20 valores.
Prevenção
• melhoria das limpezas, sobretudo em torno das
povoações e das rodovias.
• Balanço do Plano de criação de faixas de descon-
tinuidade?
• lançamento do plano de fogo controlado.
• 13 valores.
vigilância
• maior visibilidade da autoridade e consequente
papel dissuasor.
• Repressão do crime de fogo posto com grande vi-
sibilidade e impacto.
• 17 valores.
Sensibilização
• Algumas medidas e campanhas de sensibilização.
• Presença do problema junto da população em ge-
ral, graças, em boa medida, à comunicação social.
• 15 valores.
Formação
• melhoria da formação e treino ao nível dos Bom-
beiros e, segundo creio, também junto dos técni-
cos florestais.
• 16 valores.
Integração de Entidades
• Alguma melhoria da articulação entre as entidades,
apesar de não existir uma cúpula bem definida e de
persistirem os espíritos de corpo e as capelinhas.
• conselho de Representantes (da ex-APIF) coexis-
tente com um órgão similar na AnPc!
• 9 valores.
Combate
• melhoria da organização.
• melhoria do ataque inicial.
• melhoria da comunicação com o público.
• 16 valores.
Apoio à investigação científica
• Acções avulsas e em geral desprovidas de coerên-
cia ou de critério.
• Falta de um programa nacional.
• 7 valores.
Confiança no sector
• Em vias de extinção, devido aos incêndios florestais
e a outros factores.
• caso do nemátodo do pinheiro [episódio de se-
túbal].
• 7 valores.
Conclusão
nestes anos foram desperdiçadas muitas oportunida-
des. continuamos a desbaratar recursos, boas von-
tades e esforços, por falta de organização, de escrú-
pulos e de querer. nalguns sectores, nomeadamente
aqueles a que dei uma nota negativa, suponho que
não estamos melhor do que em 2003.
Em conclusão direi que o sistema tem mexido desde
2003. Parece-me que não só se está a caminho, mas
que estamos no bom caminho, mas falta ainda mui-
to terreno a percorrer.
| 86 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 87 |
REFERÊNCIAS
vIEgAS, D. X., ABRANTES, T., PALHEIRO, P., SANTO, F. E., vIEgAS, M. T., SILvA, J., ET AL. (2006). Fire weather during the
2003, 2004 and 2005 fire seasons in Portugal. Paper presented at the v International conference on Forest Fire Research, Figueira
da Foz, Portugal.
vIEgAS, D. X., ABRANTES, T., RIBEIRO, L., SANTO, F. E., vIEgAS, M. T. & SILvA, J. (2008). Fire weather in the last five years fire
seasons in Portugal. Geophysical Research Abstracts, 10.
ALgUMAS REFLEXÕES, 5 ANOS APÓS 2003
FRAnçoIs BInggElI
Espaces méditerranéens
Esta intervenção é um exercício delicado. necessita de
algum distanciamento para compensar o meu envolvi-
mento nas florestas portuguesas, em especial ao nível
do uso do fogo na prevenção e no combate, para tra-
zer um olhar complementar ao relatório muito com-
pleto, preparado pela liga para a Protecção da na-
tureza, cinco anos após os acontecimentos de 2003.
1. Progressos significativos
As previsões meteorológicas: A disponibilização
pública dos mapas de risco que não são um segredo
de Estado, como é o caso em muitos outros países,
deve assinalar-se.
A informação sobre os incêndios: o esforço de
transparência em tempo real realizado pela Autori-
dade nacional de Protecção civil (AnPc) na sua pá-
gina Internet é completamente notável e algo certa-
mente único na Europa.
Coordenação nacional do combate: sente-se no
terreno a vontade marcada e a forte implicação da
AnPc ao nível central para apagar o melhor possível
os incêndios, em especial antes do fim da noite em
incêndios importantes, estimulando as forças contra-
tadas.
O dispositivo “Canarinhos”: Foi uma feliz surpre-
sa descobrir estas novas unidades profissionais de
bombeiros equipados com veículo ligeiro, com pou-
ca água e muitas ferramentas. Esta orientação vai
contra o movimento dominante na Europa, de uma
mecanização sempre mais importante à base de equi-
pamentos hidráulicos, logo merece ser sublinhada.
O dispositivo “grupo de Intervenção de Protec-
ção e Socorro (gIPS)”: Poderia haver cepticismo
quanto à sua criação. o compromisso nos incêndios
de um organismo sem competência histórica na ma-
téria, apresentava com efeito um risco de dispersão
suplementar das forças de combate. Após ter estado
2 anos, lado a lado, com estas novas unidades, é
uma visão positiva que se liberta: coesão de grupo,
disciplina, forte implicação, motivações individuais,
condição física notável.
Tal como em Itália, apresenta uma dupla competên-
cia de polícia e força de patrulha, no contacto com
a população e como força de combate em primei-
ra intervenção. Pode também chegar pelos ares em
missão helitransportada, e por isso deve provavel-
mente ter um efeito evidente na redução do número
de incêndios, quer por efeito pedagógico quer por
dissuasão.
seria interessante estudar a evolução comparativa do
número de partidas de fogo nos distritos de interven-
ção gIPs comparativamente ao contexto nacional.
O dispositivo “Sapadores florestais”: nas acções
de gestão de combustível como no apoio ao comba-
te, em especial para consolidar as acções de extin-
ção, há um reforço real do potencial de intervenção
no meio florestal. Esta é uma mais-valia apesar da
| 88 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 89 |
grande heterogeneidade relativa à experiência ad-
quirida, tanto ao nível do enquadramento, como ao
nível do funcionamento diário.
O fogo controlado: doravante em Portugal, consa-
gra-se mais energia a realizar os fogos controlados
do que a fazer estudos, planos e colóquios sobre o
assunto.
A progressão é particularmente rápida, comparada
com a evolução temporal do seu desenvolvimento em
França desde há 20 anos. do minho, onde foi desen-
volvido, e em algumas zonas de divulgação como na
serra da lousã, a prática torna-se nacional, até ao sul.
O fogo no combate: há uma progressão notável,
mesmo espectacular, que é atípica na Europa à es-
cala de um país. Esta forte dinâmica portuguesa tem
agora um efeito de treino em Itália.
Um olhar analítico sobre os incêndios: A inte-
gração de uma componente de análise do com-
portamento do fogo e de conselho na estratégia a
adoptar em incêndios complicados é igualmente um
progresso significativo.
Os balanços anuais das áreas queimadas: há
muito pouca auto-satisfação na análise dos balanços
dos dois últimos anos, 2007 e 2008, que foram anos
húmidos, contrariamente ao que é possível constatar
em outros países com contextos meteorológicos simi-
lares. é um sinal muito positivo de uma grande pru-
dência e sabedoria em relação aos próximos anos.
2. Interrogações
numerosos aspectos comportam uma parte de in-
terrogações. A dinâmica futura dos incêndios vai de
facto depender da evolução das várias componentes
sociais, económicas e técnicas.
O declínio agrícola: é provável que a fragilização
do tecido agrícola irá prosseguir nas zonas de fraca
produtividade, nomeadamente em pequenas par-
celas localizadas na parte inferior dos vales, devido
à evolução das técnicas e à saída de uma geração
de agricultores ainda cuidadosos com as suas terras
familiares.
Irá existir, por conseguinte, mais superfície combus-
tível e sobretudo menos linhas de defesa naturais
e menos zonas de ancoragem para o combate. Em
2003, o incêndio da serra de são mamede contido
nos cerca de 10.000 hectares entre Portugal e Es-
panha, foi extinto em vários quilómetros no fundo
de um vale ainda cultivado por tradição. mas em 10
ou 20 anos, esta boa oportunidade terá em grande
parte desaparecido.
O futuro da pastorícia: há menos animais e me-
nos controlo da vegetação rasteira, em especial das
ervas nas linhas de corta-fogo. Ao redor das aldeias
há uma forte redução da recolha do sub-bosque flo-
restal para fazer a cama do gado. nas zonas monta-
nhosas, existe um menor uso do fogo. Pode ser uma
vantagem imediata reduzindo uma causa de incên-
dios, mas representa mais biomassa e menos zonas
favoráveis ao combate, como se verifica na córsega,
antiga terra de pastores.
Urbanização rural e reconquista florestal: A du-
pla dinâmica de desenvolvimento do espaço rural e
de redução do espaço agro-pastoral em redor das
aldeias, aproxima as habitações e os espaços com-
bustíveis. Além disso, verifica-se uma explosão de
construções mais ou menos dispersas, desde há mui-
tos anos. Independentemente dos esforços efectua-
dos no interface entre construções e espaço combus-
tível, estas zonas habitadas irão ser cada vez mais um
motivo para fixar os meios de combate.
Tendo como base a experiência de outras regiões do
sul da Europa, como a região de côte-d’Azur em
2003, e após o voo frequente em numerosas regi-
ões portuguesas, pode-se pensar que o dispositivo
português de combate poderá ser neutralizado em
parte, em sectores florestais entre habitações e ins-
talações industriais dispersas, em especial no litoral
norte e centro.
O nemátodo do pinheiro: Perante a explosão que
se está a tornar numa epidemia, é preciso integrar hi-
póteses, tendo em conta as fortes incertezas ligadas
este ano à passagem brutal de uma situação sani-
tária localizada, para uma vigorosa disseminação de
focos contaminadores à escala nacional.
A propagação deste nemátodo em Portugal apre-
senta numerosas semelhanças epidemiológicas e
socioeconómicas com a gripe aviária. E, tal como os
incêndios, desenvolve-se também por radiação con-
cêntrica pelo insecto vector e “saltos” com focos se-
cundários devido às actividades socioeconómicas.
Tendo em conta a dificuldade em Portugal para ge-
rir correctamente o rescaldo dos incêndios e o risco
imediato de reacendimentos, não se pode excluir
que a gestão da epidemia do nemátodo no terreno
possa ser ainda mais aleatória, porque o impacto é
visível apenas no ano seguinte. há por conseguinte
um nível de percepção da gravidade da situação que
é fortemente atenuado e que leva a que se interve-
nha apenas após a disseminação da doença.
A incidência do nemátodo começa a ser eviden-
te com o uso do fogo controlado, com o risco que
se atribui a esta gestão do combustível pelo fogo a
mortalidade dos pinheiros pelo nemátodo ou o agra-
vamento do seu impacto.
de acordo com a evolução da gravidade e as medi das
administrativas e financeiras que vão ser tomadas,
podem existir rapidamente outras consequências, di-
rectas ou indirectas, para a prevenção dos incêndios:
• perda de oportunidades de benefício para a defesa
da Floresta contra Incêndios (dFcI), nos povoa-
mentos de pinheiro-bravo, árvore perfeitamente
adaptada para resistir a uma prevenção eficaz atra-
vés do uso do fogo de Inverno;
• modificação natural ou voluntária das espécies
(acácias, eucaliptos, matos,…) e por conseguinte
dos combustíveis;
• fragilidade da economia florestal com menor lim-
peza das florestas;
• fortes custos adicionais para o orçamento do Es-
tado, com risco eventual de decisões orçamentais
em detrimento da dFcI num contexto económico
e orçamental desfavorável.
A título comparativo, a região do litoral noroeste da
Itália, seguida da região de côte-d’Azur, no sudeste
de França, foram atacadas por Matsucoccus feytaudi,
o cochonilha do pinheiro-bravo. A epidemia progride
agora na córsega. nos anos 60, a região do massif
des maures foi atingida por uma forte deterioração
levando a uma exploração maciça de prevenção dos
pinheiros. seguiu-se uma forte redução da presença
do pinheiro-bravo, que ainda hoje tem consequên-
cias sensíveis para a dFcI.
| 90 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 91 |
O fogo controlado: Apesar de um forte desenvol-
vimento, o impacto actual das intervenções mais
recentes foi até agora irrisório perante a amplitude
do trabalho ainda a realizar para estruturar o com-
bustível a nível nacional.
convém, por conseguinte, aumentar o potencial de
intervenção. Além disso, é um trabalho delicado e
com riscos, que pede uma forte motivação dos ope-
radores e um quadro favorável de realização. Prome-
tedora, a actual dinâmica é frágil. Pode ser posta em
causa, quer brutalmente por uma mudança de orien-
tação, quer por uma apatia geral. Este último ponto
é o risco principal, encontrado em França nos anos
que precederam os grandes incêndios de 2003.
A dinâmica gAUF (grupo de Análise e Uso do
Fogo): o potencial actual de eficácia das equipas
gAuF é provavelmente cerca de 20 a 30% do que po-
derá ser daqui a cerca de 5 anos se o desenvolvimento
deste grupo prosseguir com a mesma forte dinâmica.
mas o factor humano é ainda mais preponderante
do que para o fogo controlado, com incidências mui-
to fortes em termos de risco associado, exposição à
crítica pública e constrangimentos na organização da
vida pessoal.
Em comparação com as forças constituídas pelo po-
der público como os canarinhos e os gIPs, os gAuF
são uma forma de “bricolage”, com pessoas em in-
certeza permanente. desde o seu arranque em 2006,
a sua visibilidade raramente excedeu os 6 meses e o
uso do fogo no combate - como na prevenção - é
um trabalho à parte que pede muita consideração,
estabilidade e serenidade.
A perspectiva gAuF é portadora de um potencial
enorme, sobretudo em situações de crises meteoro-
lógicas. Apresenta contudo uma fragilidade muito
forte, que constitui uma anomalia - de juventude -
no quadro estatal.
o uso do fogo contra o incêndio: Em Portugal, o
fogo no combate é utilizado abundantemente, por
bombeiros, florestais, populares, … de 2003 até 2006,
são dezenas de quilómetros de perímetros de incêndio
fixados em caminhos e estradas que, observados do
céu, apresentam as características de uso do fogo.
no Teatro de operações, podem-se observar frequen-
temente usos do fogo impróprios numa perspectiva
global e acções que visam só proteger um bem e não
apagar o incêndio.
Incluindo as acções gAuF, é até agora impossível di-
zer se existem mais superfícies protegidas ou destruí-
das, como se não tivesse existido uso do fogo.
“Os grandes incêndios”: Primeiro, uma questão
de terminologia: fala-se cada vez mais de “grandes
incêndios” para fogos com mais de 100 ha. Esta ma-
neira de fazer a escala das superfícies é perniciosa.
100 ha é de facto 100 vezes menos do que é o nível
de referência realista em situação de crise meteoro-
lógica no sul da Europa, ou seja 10.000 ha. Este va-
lor foi atingido, no ano passado na sardenha, numa
tarde e numa noite.
O excesso de confiança: A serra de Açor é a zona
histórica dos grandes incêndios portugueses. no fim
dos anos 80, numerosas pessoas afirmavam que o pro-
blema dos grandes incêndios de aproximadamente
10.000 ha e com duração de vários dias era resolvido,
graças à melhoria da organização do combate e dos
novos equipamentos à disposição. Isto, uma quinze-
na de anos antes de 2003.
3. Convicções
Máquinas de rasto: Embora mais importante do
que na França, mas aparentemente menos do que
há 10 ou 15 anos, existe uma sub-utilização notória,
frequentemente tardia e ocasional, das máquinas
para retirar o combustível da frente do fogo ou para
preparar linhas de ignição de contra-fogos.
Monitorização aérea: As missões aéreas que são
conduzidas pela Autoridade Florestal nacional (AFn)
com a Federação Portuguesa de Aeronáutica (FPA)
e a organização Espaces méditerranéens, no âmbito
do programa europeu Fire Paradox, estão desde há 3
anos numa fase de grande mutação.
desde 2006, passou-se de simples voos de detecção
desligados do risco de incêndio, a missões de infor-
mação com transmissão de imagens aos centros e
postos de comando.
Esta componente aérea deveria ainda ser mais reforça-
da. como para as aeronaves de combate, seria neces-
sário sobretudo prever um potencial de reserva (pilotos
de substituição, avião de socorro em caso de avaria,
volume complementar de horas de voo) para permitir
uma mobilização intensiva em anos de forte risco de
incêndio. Porque é nas situações de crise que a infor-
mação aérea será mais importante e permitirá tomar
decisões mais rápidas e fazer balanços mais relevantes.
“Sinergia entre meios aéreos de combate e con-
tra-fogo”: o apoio aéreo com água pode permitir
aumentar o espectro do uso do fogo no combate,
como ve ri fiquei este verão, na sardenha. é preciso
um conhecimento mútuo entre os especialistas no
uso do fogo e os pilotos, para além de treinos utili-
zando as acções de fogo controlado.
Incidência da vegetação: Em relação ao balanço
realizado 5 anos após 2003, seria útil refinar a noção
de combustível, diferenciando dois níveis:
• o efeito de continuidade horizontal que permite
a propagação, com uma reconstituição rápida, em
apenas alguns anos;
• o efeito da espessura da biomassa e, consequente-
mente, a espessura da camada morta e do húmus.
nestas situações, o impacto das descargas dos aviões
e helicópteros é fortemente atenuado porque a água
permanece nas componentes aéreas e na camada
superficial. o mesmo acontece com as chuvas mo-
deradas - menos de 10 até 20 mm - no verão e no
início do outono.
Abundante, o húmus aumenta os riscos de novas ig-
nições. os sectores regularmente sujeitos a fogo são,
por conseguinte, mais fáceis de apagar, e mais rapi-
damente, do que os que são privados de fogo num
longo período. Este factor amplificador não é tido
muito em conta na gestão preventiva dos riscos.
O conhecimento dos incêndios: Apesar duma
experiência de muitos anos pode-se afirmar que se
conhecem mal os incêndios. Quem esteve presente
no incêndio do sardoal, o incêndio mais importante
de 2007, pode afirmar que este se propagou rapida-
mente, com numerosos focos secundários que cria-
ram novos incêndios. mas o que se passou realmen-
te? Qual foi a dinâmica de saltos em quantidade e
| 92 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 93 |
distância? Qual foi a velocidade de propagação das
diferentes frentes de fogo assim constituídas? Quais
foram as dinâmicas entre elas? E com o mesmo tipo
de incêndio, mas num ano severo, com mais seca e
vento, qual será a estratégia de combate que será
necessário definir? uma vez que não se sabe o que
se passou realmente neste incêndio em condições
muito mais favoráveis que em 2003 ou 2005, só há
esta certeza: “só sei que nada sei”, pelo menos não
o bastante para estar à altura do acontecimento.
Existe um grande campo de investigação a explorar.
4. Factores humanos, sociais e culturais
se o contexto da prevenção e do combate conhece
uma melhoria significativa, certos aspectos funda-
mentais fragilizam os ganhos.
A impulsividade e a improvisação: A quase todos
os níveis, o comportamento nos incêndios é a ima-
gem do que se verifica nas estradas portuguesas. há
muitas acções inscritas, no imediato e no local, em
detrimento de uma visão alargada, da capacidade de
organização e do sentido da antecipação.
é um traço cultural marcado, provavelmente reforça-
do pela geografia e pela história de um país que tem
estado até recentemente como “uma ilha” entre a
Europa, a África e a América latina, e que tem pas-
sado muito rapidamente, para uma geração, quase
sem transição, da ruralidade ao modernismo, da pro-
dução ao consumo.
Esta capacidade de improvisação permite contudo
muita flexibilidade e oferece uma preciosa capaci-
dade de adaptação a certas situações, o que seria
inconcebível nos grandes países europeus.
Uma cultura citadina em meio rural: mesmo nas
zonas rurais, o pessoal de combate é desligado cada
vez mais das suas raízes rurais, com uma perda de
“know-how” e da relação de bom sentido com a re-
alidade do fogo e dos territórios rurais. Esta mutação
sociológica constitui um enfraquecimento progressivo
dentro do dispositivo de combate, tanto ao nível das
motivações como da implicação e da experiência.
O risco do virtual: Portugal poderia ser contamina-
do por uma tendência pesada que surge em nume-
rosos países europeus, nomeadamente na França e
Itália, onde os responsáveis operacionais saem das
escolas com muitos conhecimentos teóricos, mas
pouca prática efectiva do fogo e ainda menos de in-
cêndios catastróficos. gestores de meios pesados e
numerosos, estes responsáveis são capazes de efec-
tuar combates virtuais, sem a experiência adquirida
pelos antigos no terreno, na escola da realidade.
5. As aptidões
o defeito cultural de organização e as lacunas téc-
nicas poderiam ser compensados em parte por um
reforço nas acções de formação, de modo a adqui-
rirem-se novos conhecimentos através de um treino
mais eficaz.
Complementos de formação: Pequenos módulos
de formação muito práticos, permitiriam maior ra-
pidez na extinção e uma redução significativa dos
reacendimentos: destinados a todo o pessoal de ter-
reno, dos sapadores aos bombeiros, passando pelos
gIPs e pelos canarinhos.
um melhor conhecimento real do fogo e do incêndio
permitiria retornar a uma abordagem mais pragmáti-
ca do combate e ao seu enquadramento.
Para estes dois aspectos fundamentais, devem-se
analisar as suas aplicações nos próximos anos e o
benefício potencial poderia calcular-se em várias de-
zenas de milhares de hectares preservados.
O treino em condições reais: operações efectivas
com fogo em parcelas de fogo controlado com múl-
tiplas forças de combate permitiriam progressos con-
sideráveis, tanto em aquisições de saber como em
conhecimento mútuo.
A formação nos grandes incêndios: A gestão de
incêndios com mais de 3.000 ou 5.000 ha pediria
idealmente uma formação pela experiência que pode
adquirir-se apenas a longo-prazo, pelo menos em 10
anos. no que diz respeito ao trabalho gAuF como
um grupo de especialistas, esta situação não pode
referir-se a todos os responsáveis e o investimento
em tempo não o justifica. deste ponto de vista, a
escala distrital não é a mais eficiente para formar
algumas pessoas para gerir tais acontecimentos à
escala nacional.
Os choques de culturas: operações formativas em
comum permitiriam melhores osmoses entre corpos
profissionais, particularmente entre florestais e bom-
beiros. no que respeita aos outros países europeus, a
mobilidade profissional é notável ao nível das instân-
cias de decisão. mas ao nível da execução, existem
dois mundos que poderiam interagir com mais sere-
nidade e eficácia.
do mesmo modo, o dispositivo de combate deve
adaptar-se para integrar colectivamente as neces-
sárias novas aptidões: conhecimento do fogo e dos
incêndios, visão estratégica, determinação das prio-
ridades, gestão optimizada no terreno do pessoal e
dos meios. é particularmente importante num siste-
ma nacional de combate, multipolar, com numero-
sos intervenientes, como na França ao contrário da
sardenha ou da catalunha.
Conhecer o incêndio pela experiência: Após qual-
quer intervenção, seria muito enriquecedor reunir os
diferentes responsáveis para analisar o que se pas-
sou, de modo a melhorar o conhecimento dos fenó-
menos em jogo. Esta situação ofereceria uma mais-
-valia muito forte, como já acontece internamente
com as equipas gAuF após as suas intervenções.
O acompanhamento profissional: A dinâmica
colectiva instaurada para o fogo controlado entre
instituições, empregadores e beneficiários, merece-
ria ser estendida, em especial ao nível das diferentes
missões dos sapadores florestais.
o isolamento geográfico e pior ainda a marginaliza-
ção pela rotina são factores muito perniciosos, seja a
nível local ou nacional. é útil favorecer a partilha de
experiência com parceiros que intervêm em contex-
tos diferentes. Por exemplo, uma dinâmica nacional
apoiando um nível local ou apoiando a experiência
nacional com acções de cooperação internacional,
como foi o caso no início do fogo controlado no mi-
nho nos anos 80.
A animação: historicamente, Portugal integrou
pou co a cultura da animação (convívio, partilha,
intercâmbio) que permite pôr em movimento as
componentes humanas. com a formação pela expe-
riência e o treino sistemático, a animação constitui o
terceiro factor considerável de melhoria da eficácia
para o dispositivo de prevenção e de combate em
Portugal.
| 94 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 95 |
6. Pensar na duração
é fundamental sair do imediato que governa o dia-a-
-dia e ver mais longe no tempo. sem estar a perder
de vista o médio prazo, convém no mínimo pensar a
curto prazo. E no domínio dos incêndios dos espaços
florestais e rurais, o curto prazo é pelo menos uma
perspectiva de… 10 anos.
Os contextos meteorológicos exacerbados: o po-
tencial dos fenómenos meteorológicos agravados é
provavelmente mais forte do que as forças contrárias
exercidas pelas políticas de prevenção e de combate
instauradas para se lhe oporem.
Em 2003, no ano do calor, e em 2007 e 2008, dois
anos particularmente clementes, a dinâmica das áre-
as queimadas foi semelhante em França e em Portu-
gal nestes três anos extremos.
o verão de 2006 foi marcado por uma subida da
“febre” dos incêndios no norte de Portugal, em es-
pecial no sector do gerês, e na galiza.
nestes diferentes contextos, os destinos foram co-
muns, independentemente das políticas seguidas.
Os ciclos meteorológicos: A relativa instabilidade
meteorológica que governa Portugal e por conse-
guinte a grande variedade das condições climáticas
que decorrem, obriga-nos a projectar episódios me-
teorológicos contrastados, sob a forma de ciclos. Em
França, com a experiência dos episódios críticos de
1989/1990 e de 2003, convém projectar a um prazo
de 10 a 15 anos para se reencontrarem contextos
similares. no caso de Portugal, mais exposto, uma
dezena de anos poderia ser suficiente.
Factores amplificadores: Tal como na finança es-
peculativa, podem-se constatar efeitos amplificado-
res. Assim, numa fase calma do ciclo meteorológico,
marcado pela redução do fenómeno de incêndio, to-
dos os factores se exprimem o melhor possível mas-
carando o risco estrutural, quer se trate de factores
naturais ou de melhoria dos dispositivos.
os bons resultados assim obtidos em termos de ba-
lanço provocam às vezes um reforço do efeito, que
se pode exprimir por uma tendência de redução dos
meios humanos e financeiros. mais perniciosamen te,
pode simplesmente ocorrer uma diminuição de vigilân-
cia. os bons resultados obtidos são então enganosos.
À imagem da finança ou do sector imobiliário, com
o risco de se criar “uma bolha” de auto-sa tisfação,
como na França no início dos anos 2000.
Pelo contrário, pode produzir-se um exagero dos
efeitos destrutivos em contextos meteorológicos
severos.
As médias e os extremos: A noção de média anual
é excelente para exprimir tendências. Por outro lado,
não tem sentido em gestão de risco de incêndio. A
pergunta que é preciso fazer é: qual é o objectivo em
que a sociedade se fixa.
• Quer-se ser bom em média, e por conseguinte na
maioria das vezes? Em que caso se deve ser logica-
mente mau nas crises meteorológicas?
• ou quer-se ser o mais eficiente possível para as
situações extremas, como os bombeiros dos ae-
roportos durante um “crash” de ocorrência alea-
tória? neste caso é necessário aceitar ter-se uma
sobrecapacidade em períodos ditos “normais”.
7. Um estímulo à vigilância
oferecendo uma visão sintética e uma útil aposta na
perspectiva histórica, o relatório realizado pela liga
para a Protecção da natureza deveria ser considera-
do apenas como um trabalho a prosseguir.
2008, o imediato amanhã de 2003: o ano de 2006
foi marcado por numerosas mudanças nas políticas
conduzidas. o ano de 2007 conheceu um verão par-
ticularmente fresco e húmido. o ano de 2008 não co-
nheceu um episódio significativo de vento quente e
seco de leste, nem uma real subida de calor de sul.
os anos de 2007 e 2008 são por conseguinte anos
de minimização do fenómeno de incêndio. o único
período significativo para apreciar as mudanças ocor-
ridas após 2003 é o verão de 2006. um único verão
não permite ter a distância necessária. Para nos pro-
nunciarmos de maneira relevante após o choque de
2003 e do novo alerta de 2005, é necessário no mí-
nimo um período de tempo de uma dezena de anos.
conviria por conseguinte actualizar este excelente
trabalho em 5 anos e considerar este livro como um
precioso documento… e uma etapa.
2013, a próxima etapa: Esta perspectiva de 10 anos
teria além disso a vantagem considerável de permitir
a uma componente importante da sociedade civil de
continuar a ser mobilizada e vigilante, como senti-
nela, para se precaver colectivamente da erosão do
tempo, das cíclicas tentações de economias orça-
mentais e do efeito perverso dos hábitos.
IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 97 |
ANáLISE CRÍTICA à EvOLUÇãO DA DFCI EM
PORTUgAL DESDE 2003
JoAQuIm sAndE sIlvA, ERnEsTo dE dEus, lúcIA
sAldAnhA
liga para a Protecção da natureza
Introdução
neste texto tentámos resumir o resultado da análise
feita a quatro documentos que foram elaborados na
sequência dos incêndios de 2003, no sentido de veri-
ficar até que ponto as sugestões e as críticas tiveram
consequências em termos da evolução do sistema
de defesa da Floresta contra Incêndios (dFcI) em
Portugal. Esses documentos foram: o livro Branco
dos Incêndios Florestais ocorridos no verão de 2003
(mAI, 2003), o livro Aberto do sistema de Protecção
e socorro em Portugal (lBP, 2003), o Relatório Final
da comissão Eventual para os Incêndios Florestais da
Assembleia da República (cEIF, 2004) e o Relatório
da liga para a Protecção da natureza elaborado na
sequência da conferência “Incêndios 2003 – a re-
flexão inadiável” (lPn, 2003). Para cada um destes
documentos tentámos apurar quais as críticas que
foram tidas em conta e quais as medidas que foram
entretanto tomadas. de modo a darmos um carácter
bastante objectivo a este exercício, tentámos não in-
cluir juízos de valor ou sequer quantificar o nível de
resposta às críticas/propostas feitas nos documentos
em análise. Essa análise foi dividida de acordo com
os três grandes domínios da dFcI: as ignições, a pro-
pagação e o combate. Em todo o caso nem sempre
foi possível obter as informações necessárias relativa-
mente a cada um dos aspectos abordados, pelo que
o resultado final não é de forma alguma exaustivo,
relativamente ao conteúdo dos documentos analisa-
dos. Por outro lado, devido a exigências editoriais,
tivemos que optar por fazer uma selecção de todas
as críticas/propostas que encontrámos, incluindo
apenas as mais relevantes.
Para além desta análise com um carácter objectivo e
sistematizado, fazemos no final algumas considera-
ções críticas de carácter mais geral, tendo em conta
a perspectiva da lPn sobre as políticas seguidas re-
centemente.
As ignições
o factor ignições constitui o aspecto mais a montan-
te no complexo problema dos incêndios florestais,
encerrando em si mesmo uma enorme complexida-
de dadas as múltiplas vertentes a ter em conta. Esta
enorme complexidade está directamente relacionada
com as inúmeras actividades e comportamentos que
estão na origem dos incêndios florestais. listamos de
seguida as críticas e as propostas associadas à ques-
tão das ignições, assim como os desenvolvimentos
verificados desde 2003.
Fonte: cEIF 2004
Crítica/proposta: no relatório da comissão Even-
tual para os Incêndios Florestais (cEIF) foi proposto
reverem-se os diplomas legais que regulamentam a
realização de queimadas e as largadas de fogo de ar-
tifício, para torná-los menos permissivos e responsa-
bilizar as entidades que licenciam estas actividades.
| 98 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 99 |
Evolução: o uso do fogo foi regulamentado no
âm bito do sistema nacional de defesa da Flores-
ta contra Incêndios (sndFcI), nos decretos-lei n.º
156/2004, de 30 de Junho, e 124/2006, de 28 de Ju-
nho, e na Portaria n.º 1061/2004, de 21 de Agosto.
Fonte: cEIF 2004
Crítica/proposta: no relatório da Assembleia da Re-
pública (AR) de 2004, propõe-se o desenvolvimento
de um sistema integrado de identificação criminal
pela Polícia Judiciária, a regulamentar em lei, e pro-
mover a sua utilização ao serviço da prevenção do
incendiarismo.
Evolução: o sistema Integrado de Informação cri-
minal, aprovado no ano 2000, foi desenvolvido em
2004 com a inclusão e a classificação de potenciais
incendiários. A identificação destes indivíduos, com
historial e registo criminal associados à ignição de in-
cêndios florestais, permite a actuação numa lógica
de prevenção, através do seu acompanhamento e
dissuasão de eventuais reincidências.
Fonte: cEIF 2004
Crítica/proposta: no âmbito da prevenção, propõe o
relatório da AR que sejam equacionadas medidas que
permitam afastar compulsivamente os incendiários
inimputáveis de áreas florestais onde constituem um
risco, nomeadamente através da aplicação de sanções
penais com penas descontinuadas a serem cumpridas
em períodos estivais.
Evolução: Esta proposta veio a ser contemplada com a
revisão do código Penal, que prevê que “quando qual-
quer dos crimes previstos (provocar incêndio, impedir o
seu combate ou dificultar a extinção) for cometido por
inimputável, é aplicável a medida de segurança, sob
a forma de internamento intermitente e coincidente
com os meses de maior risco de ocorrência de fogos”.
Fonte: lPn 2003; cEIF 2004
Crítica/proposta: Ambos os relatórios propõem
o condicionamento do acesso e da circulação nos
períodos e nas áreas florestais com maior risco de
incêndio.
Evolução: Esta proposta foi introduzida em 2004 na
definição do sndFcI e mantida na revisão efectuada
em 2006. A sua aplicação está restrita às áreas sob
gestão do Estado. não existe conhecimento da sua
aplicação para além destas áreas. Apesar de prevista
na legislação não foi possível avaliar o nível de cum-
primento desta medida.
Fonte: cEIF 2004
Crítica/proposta: Ao nível da fiscalização era pro-
posto o reforço do corpo nacional da guarda Flo-
restal (cngF) repondo o seu efectivo, que se tinha
deteriorado significativamente nos anos anteriores.
Evolução: A situação alterou-se devido à integração
do pessoal do cngF no serviço de Protecção da na-
tureza e do Ambiente (sEPnA) em 2006. Independen-
temente de qualquer julgamento que se possa fazer
sobre a extinção do cngF, a integração no sEPnA
representou um grande aumento dos recursos de-
dicados à fiscalização e à investigação das causas de
incêndio (491 efectivos do sEPnA e 439 ex-cngF,
num total de 930 elementos).
Fonte: lBP 2003; lPn 2003; mAI 2003
Crítica/proposta: Falhou a campanha de sensibili-
zação do grande público e a formação das camadas
mais jovens. Aponta-se para a necessidade de fortes
campanhas de sensibilização e formação, “executa-
das por uma única entidade”, e para a actuação jun-
to das escolas de ensino básico, dando continuidade
ao Projecto de sensibilização e Educação Florestal da
População Escolar (PRosEPE).
Evolução: Em 2007 veio a concretizar-se uma cam-
panha nacional permanente e de carácter plurianual
com o slogan “Portugal sem fogos depende de to-
dos. o PRosEPE, com a iniciativa “clubes da Flo-
resta”, teve o máximo de escolas aderentes no ano
lectivo 2001/2002 com cerca de 350 clubes da Flo-
resta. desde então este número sofreu uma redução
significativa, estabilizando por volta dos 170 clubes
da Floresta nos últimos anos.
A propagação
no que toca à limitação do potencial de propagação
dos incêndios, todas as medidas tomadas até agora
têm esbarrado em condicionalismos estruturais de
natureza fundiária. o facto de sermos um dos países
do mundo com menor percentagem de floresta pú-
blica, associado à extrema fragmentação da proprie-
dade nas zonas do país com maior ocupação florestal
e susceptibilidade a incêndios, torna extremamente
difícil a implementação de políticas e medidas desti-
nadas a possibilitar uma efectiva gestão de combus-
tíveis. As questões estruturais dos espaços florestais
mereceram bastante atenção, quer nos documentos
analisados quer nas medidas tomadas.
Fonte: lPn 2003; cEIF 2004
Crítica/proposta: A liga para a Protecção da natu-
reza (lPn) identifica como falha, a ausência da defini-
ção de critérios de ordenamento e infra-estruturação
dos espaços florestais que “prevaleçam e disciplinem
os interesses individuais”. os dois documentos apon-
tam para a necessidade de concluir e operacionalizar
os Planos Regionais de ordenamento Florestal (PRoF)
e, na sua sequência, os Planos de gestão Florestal
(PgF) para todas as matas Públicas e comunitárias.
Evolução: A elaboração dos 21 PRoF só avançou
de facto em 2004 e o último PRoF foi aprovado em
Abril de 2007 após um processo de consulta bastan-
te participado. uma vez concluídos os PRoF, foi dado
início à elaboração dos PgF, existindo neste momen-
to cerca de 203 mil ha sujeitos a PgF que aguardam
aprovação pela Autoridade Florestal nacional (AFn),
dos quais 91% correspondem a matas públicas e co-
munitárias.
Fonte: cEIF 2004
Crítica/proposta: no seu relatório a cEIF vem recla-
mar a actualização do Inventário Florestal nacional
(IFn), cuja última revisão datava de 1995.
Evolução: A revisão do IFn foi efectuada em 2005/6,
tendo sido divulgados em 2007 dados preliminares
relativos à ocupação florestal.
Fonte: cEIF 2004
Crítica/proposta: Enquadrando-se nas medidas pre-
vistas na Reforma Florestal, a implementação do
Fundo Florestal Permanente (FFP) deveria representar
a disponibilização de meios financeiros para realizar
as várias operações de ordenamento, gestão flores-
tal e reflorestação, apoio à floresta de conservação,
bem como de reestruturação fundiária.
Evolução: o FFP foi constituído tendo inicialmen-
te previsto um programa de apoios diversificado e
ambicioso. contudo, a execução deste Fundo tem-
se concentrado na dFcI, nomeadamente através
da criação e manutenção dos gabinetes Técnicos
Florestais (gTF) existentes nas autarquias. Por outro
lado, a informação disponível sobre o FFP é bastante
limitada contrariando a legislação onde se refere a
sua utilização transparente e a disponibilização de
informação para escrutínio público.
Fonte: lPn 2003
Crítica/proposta: Em 2003, a lPn apontava a au-
| 100 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 101 |
sência de técnicos florestais em concelhos com gran-
de vocação florestal. Para colmatar a insuficiência de
técnicos propõe-se dar continuidade à constituição de
organizações de Produtores Florestais (oPF) e dotar
as autarquias de técnicos florestais que “participem
na execução das competências das câmaras muni-
cipais (cm) na temática florestal e que dinamizem e
qualifiquem o desempenho das comissões Especiali-
zadas de Fogos Florestais municipais” (cEFFm).
Evolução: As oPF têm registado um aumento subs-
tancial nos últimos anos, estando actualmente cons-
tituídas 179 oPF, 78% das quais nas ex-circunscri-
ções Florestais do norte (28%) e centro (50%). os
gTF estão constituídos para a maioria dos municípios
(88%). no entanto, a acção dos gTF tem sido limi-
tada pelo facto de os seus técnicos se encontrarem
frequentemente isolados ou integrados em gabine-
tes de Protecção civil ou mesmo em divisões do am-
biente, sendo frequentemente desviados para outras
funções no âmbito da reestruturação orgânica no
seio das câmaras municipais (IEsE, 2007).
Fonte: cEIF 2004
Crítica/proposta: o relatório da cEIF em 2004 vem
propor que sejam “definidos mecanismos legais,
em caso de necessidade, que permitam ao Estado,
câmaras municipais ou entidades a quem estes de-
leguem, a tomada de posse administrativa de pro-
priedades que estejam abandonadas, para efeitos
de limpeza e desmatação e ainda, quando tal seja
necessário, para corte parcial ou total de árvores aí
existentes.”
Evolução: de forma a contrariar a ausência de inter-
venção, o sndFcI veio introduzir a possibilidade de,
em caso de incumprimento por parte do proprietário
na gestão de combustível, este poder ser substituído
por outra entidade, a autarquia ou a direcção-geral
dos Recursos Florestais (dgRF, actual AFn), conforme
a situação. mais tarde, após a revisão da legislação
efectuada em 2006, passou a ser possível aos pro-
prietários vizinhos substituírem-se ao proprietário
faltoso na realização destas operações. no entanto,
não se conhece o nível de aplicação desta medida.
Fonte: lPn 2003
Crítica/proposta: no âmbito da prevenção de in-
cêndios florestais através de medidas de silvicultura
preventiva, a lPn propôs que fossem clarificadas as
operações silvícolas mínimas, previstas na lei de Ba-
ses da Política florestal. Também foi proposto que o
ministério da Agricultura, do desenvolvimento Rural
e das Pescas (mAdRP) diligenciasse para que fosse
efectuado o cantonamento dos espaços florestais
com divisórias criando descontinuidades permanen-
tes de combustível, determinado por critérios míni-
mos estabelecidos nos PRoF.
Evolução: As medidas de silvicultura preventiva
estão definidas no sndFcI e nos PRoF. Estes dois
instrumentos contêm as orientações a ser seguidas
pelas comissões municipais de defesa da Floresta
contra Incêndios (cmdFcI) na elaboração dos Pla-
nos municipais de defesa da Floresta contra Incên-
dios (PmdFcI), ao nível municipal, e nos PgF, ao nível
das propriedades florestais. o conselho nacional de
Reflorestação (cnR) estabeleceu os critérios a que
deve obedecer a Rede de defesa da Floresta (RdF),
tendo esses critérios sido incorporados também pe-
los PRoF. o delineamento da RdF foi concretizado
para as áreas ardidas que integraram as comissões
Regionais de Reflorestação (cRR).
Fonte: lPn 2003; cEIF 2004
Crítica/proposta: de acordo com proposta da lPn e
no âmbito das medidas para a gestão de combustível,
o mAdRP deve estabelecer e executar um Programa
Anual de Fogo controlado incidindo nas áreas diag-
nosticadas como “críticas” ou em que a riqueza flo-
restal seja excepcional. Por outro lado, o relatório da
AR defende que deve promover-se a formação neces-
sária para que o uso do fogo controlado se torne uma
ferramenta frequente da silvicultura preventiva.
Evolução: o programa de fogo controlado não foi
estabelecido. A opção tomada passou pela criação
de um grupo (gEFoco) que faz o acompanhamento
das acções de fogo controlado que lhe são comuni-
cadas, dando apoio técnico e encorajando o recurso
a esta técnica. no que diz respeito à preparação para
o uso da técnica de fogo controlado na gestão de
combustível, foram realizadas diversas acções de for-
mação com vista à atribuição de competências para
a credenciação de técnicos, estando actualmente
cerca de 70 técnicos credenciados. não existe uma
monitorização completa do trabalho realizado no
âmbito do uso de fogo controlado, a nível nacional.
Fonte: cEIF 2004
Crítica/proposta: o Relatório da AR identifica a
oportunidade que constitui a dimensão da área ardi-
da nos incêndios de 2003 para introduzir critérios de
ordenamento, diversificação, compartimentação flo-
restal e de organização da gestão das propriedades
florestais. A recuperação destas áreas deverá ocorrer
num prazo de 2 anos.
Evolução: o cnR e as cRR tiveram como resultado
a elaboração de normas para orientação das acções
de reflorestação. no entanto, não existem relatórios
sobre a execução da reflorestação das áreas ardidas.
As orientações Estratégicas estabelecidas foram
aprovadas em conselho de ministros mas não há evi-
dências da sua aplicação prática no terreno ao nível
da reflorestação.
Fonte: lPn 2003; cEIF 2004
Crítica/proposta: A aplicação de medidas que vi-
sem a reestruturação fundiária ou que pretendam
a penalização da gestão florestal carece do conhe-
cimento da propriedade e respectivos proprietários,
informação actualmente impossível de obter. é por
este motivo que, quer a lPn quer a AR, reclamaram
como medida urgente a realização do cadastro da
propriedade florestal.
Evolução: nos últimos cinco anos, o IgP e outras
entidades trabalharam no sentido de preparar as
condições para permitir a realização do cadastro a
nível nacional. Foram estabelecidas com a ex-dgRF
as prioridades em termos de realização do cadastro
florestal e foram realizados os estudos e os projectos
de demonstração prévios à sua implementação. A
realização do cadastro da propriedade florestal ainda
não é uma realidade, prevendo-se no entanto o seu
início em 2009.
Fonte: lPn 2003; cEIF 2004
Crítica/proposta: o Relatório da AR aposta na cria-
ção de Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) como
uma proposta viável para “inverter a situação de
abandono hoje existente nas áreas florestais”. são
pedidas pela lPn medidas legislativas que contrariem
e penalizem jurídica e fiscalmente a fragmentação
da exploração florestal e, em oposição, medidas que
promovam o emparcelamento da propriedade rústi-
ca florestal. é também pedida a revisão do “Regula-
mento emolumentar dos registos e notariado”, de
modo a que a incidência fiscal promova a viabilidade
das explorações florestais.
Evolução: com vista à regularização da situação ju-
rídica dos prédios rústicos em áreas florestais, foi
estabelecida uma medida de carácter excepcional e
transitório durante um prazo de 2 anos, que consistiu
| 102 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 103 |
na redução dos emolumentos em 80% por actos
notariais e no registo público e na gratuitidade das
inscrições nas respectivas matrizes prediais (dl n.º
136/2005, de 17 de Agosto). Em 2007 esta medida
foi prorrogada por mais 3 anos (dl n.º 364/2007).
o FFP incluiu no seu programa de 2005-2006 uma
acção para apoiar o emparcelamento e aquisição de
terra (3% da verba disponível) que não foi aplica-
da por não ter existido enquadramento legislativo
específico para apoiar a reestruturação fundiária. A
aprovação da legislação que regula a criação das ZIF
em 2005 teve como resultado a constituição de 30
ZIF (até setembro de 2008) que cobrem uma área de
cerca de 150 mil ha.
O Combate
o combate é o aspecto mais a jusante na dFcI e
aquele que tem maior visibilidade junto da opinião
pública e junto do poder político. é sem dúvida o
aspecto que tem tido maior evolução e que tem en-
volvido maior investimento. devido ao número de
instituições e pessoas envolvidas, tem sido sujeito a
pressões vindas de vários sectores, o que nem sem-
pre tem permitido a tomada das decisões mais ade-
quadas. salientamos o Estudo Técnico encomendado
pela Agência para Prevenção de Incêndios Florestais
(APIF) ao Instituto superior de Agronomia (IsA), que
foi bastante alterado na sua forma original devido
precisamente aos custos políticos e financeiros que a
sua aplicação implicaria. Apresentamos assim o ba-
lanço das medidas tomadas tendo em conta os rela-
tórios que servem de referência à presente análise.
Fonte: cEIF 2004
Crítica/proposta: Propõe-se a participação das For-
ças Armadas (FA) como forma de aumentar a capa-
cidade de intervenção na prevenção e detecção de
incêndios florestais, através da colaboração da en-
genharia militar na abertura de aceiros, na limpeza
das matas nacionais e nas acções de patrulhamento
e vigilância.
Evolução: Em 2005 e 2006, o Exército colaborou
com a dgRF no âmbito de um protocolo que previa
a beneficiação de infra-estruturas, abertura de acei-
ros e de caminhos, combate ao fogo em primeira
intervenção, patrulhamentos apeados, motorizados
e a cavalo, e vigilância fixa. As FA encontram-se en-
quadradas na directiva operacional integrando a
Força operacional conjunta (Focon). Em 2007, no
âmbito do Plano vulcano, concretizado ao abrigo de
um protocolo celebrado entre a dgRF e o centro
operacional das Forças Terrestres do Exército (coFT),
estiveram no terreno 20 equipas de sapadores es-
peciais do Exército (240 militares), uma força que
duplicou os seus efectivos face a 2006. no âmbito
do Plano lIRA, (articulação das Forças Armadas com
a Autoridade nacional de Protecção civil - AnPc),
24 pelotões do exército colaboraram em acções de
rescaldo e vigilância pós-rescaldo.
Fonte: lBP 2003; mAI 2003
Crítica/proposta: desenvolvimento de uma rede
nacional de grupos de intervenção permanente, a
instalar em corpos de bombeiros (cB) associativos e
municipais voluntários.
Evolução: Apenas em Junho de 2007, na definição
do regime jurídico aplicável aos bombeiros (dl n.º
247/2007, de 27 de Junho), é referida a possibilida-
de de, “nos municípios em que se justifique”, criar
equipas de intervenção permanente (EIP) nos cB vo-
luntários ou mistos detidos pelas associações huma-
nitárias de bombeiros. é em outubro de 2007 que
são definidas as funções e demais especificidades
das EIP, as quais seriam constituídas nos concelhos
de maior risco. no entanto, este conceito de risco
não contempla apenas o risco de incêndio flores-
tal. Por outro lado, as funções destas EIP, e conse-
quente formação técnica, incluem outras missões
de protecção e socorro comuns à generalidade dos
bombeiros. Foi definido como objectivo, até 2009, a
constituição de 200 EIP.
Fonte: lPn 2003
Crítica/proposta: segundo o relatório da lPn, justi-
fica-se a profissionalização das equipas de sapadores
florestais (esF), ampliando e reforçando o seu núme-
ro, e dotando-as de condições efectivas para as tare-
fas de primeira intervenção nos incêndios florestais.
Evolução: houve um aumento significativo das esF,
passando de 102 esF em 2003 para 263 esF em
2008, sendo que só neste último ano foram criadas
60 novas esF. Em 2004 houve uma reformulação
das regras e procedimentos referentes às esF (dl n.º
94/2004, de 22 de Abril). A nível operacional, verifi-
ca-se em 2004 uma alteração importante ao diplo-
ma de criação e regulação das esF com a criação de
novas competências para a realização de “primeira
intervenção” no combate aos incêndios.
Fonte: cEIF 2004
Crítica/proposta: Propõe o Relatório da AR de 2004
que as câmaras municipais tenham um papel de-
terminante no trabalho de prevenção dos incêndios
florestais, fazendo com que esta matéria também
faça parte do processo de descentralização. deverá
incentivar-se a organização, estruturação e coorde-
nação dos meios disponíveis a nível concelhio e a sua
articulação com as estruturas distritais do serviço na-
cional de Bombeiros e Protecção civil (snBPc).
Evolução: Em 2004 foram criadas as cmdFcI, que
vieram substituir as extintas cEFF. A operacionalização
das cmdFcI foi conseguida com a criação de gTF
através do apoio do FFP. A definição do sndFcI vem
estabelecer a necessidade de elaboração dos PmdFcI,
da competência das cmdFcI, e dos Planos opera-
cionais municipais (Pom). A cobertura dos PmdFcI a
nível nacional está praticamente completa, estando
actualmente a proceder-se à revisão para melho-
ria dos documentos originais. Em 2007, a lei n.º
65/2007, de 12 de novembro, publica o enquadra-
mento institucional e operacional da protecção civil
no âmbito municipal, e com ela a criação da figura
de comandante operacional municipal, que estabe-
lece a articulação operacional com o comandante
operacional distrital.
Fonte: lBP 2003; mAI 2003
Crítica/proposta: um ponto comum nas falhas apon-
tadas em vários relatórios refere-se à insuficiente for-
mação e qualificação dos meios humanos no combate
aos incêndios florestais, especialmente dos bombei-
ros. no livro Branco refere-se a importância de uma
política adequada de formação contínua semanal nos
cB, acompanhada de uma eficaz supervisão.
Evolução: no caso dos bombeiros voluntários, a par-
tir de Agosto de 2008 os quadros activos passaram a
ter 70 horas anuais de formação e instrução obrigató-
rias, embora não existam indicações das temáticas a
serem ministradas. A formação no combate a incên-
dios florestais continua a depender essencialmente
de formação interna da iniciativa dos comandantes
do cB que por sua vez recebem formação através
da EnB. Para além da falta de disponibilidade de
grande parte dos bombeiros voluntários, juntam-se
ainda as insuficiências em meios logísticos, financei-
ros e técnicos para as acções de formação, facto que
se estende também a vários cB profissionais.
| 104 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 105 |
Fonte: lBP 2003; lPn 2003
Crítica/proposta: notou-se uma falta de preparação
dos bombeiros para dominarem a técnica do fogo
de supressão. Propôs-se então um investimento na
formação dos bombeiros na utilização deste método
de combate.
Evolução: Foram criados em 2007 os grupos de
Análise e uso do Fogo (gAuF) que, por entre o es-
pectro de valências e missões, estão devidamente
habilitados para o uso de fogo de supressão, facto
que resulta da formação específica e treino nesta
técnica. no entanto não houve um investimento as-
sumido na formação dos bombeiros no uso do fogo
de supressão. um outro aspecto negativo prende-se
com a falta de regulamentação neste domínio, dan-
do competência aos comandantes de operações de
socorro (cos) para a utilização desta técnica, inde-
pendentemente da sua formação.
Fonte: lBP 2003; mAI 2003
Crítica/proposta: Algumas críticas foram também di-
rigidas aos grupos de Reforço. muitos destes grupos
tiveram um baixo rendimento operacional, em parte
devido ao seu desenquadramento no Teatro de ope-
rações (To), chegando por vezes a combater isolados
sem nenhuma missão específica, juntando-se o facto
de não conhecerem o território. A proposta vai no
sentido de criar grupos de Reforço permanentes, com
veículos e efectivos adequados que se desloquem an-
tecipadamente para as áreas de risco mais elevado.
Evolução: verifica-se uma diferença importante a
nível operacional na directiva operacional nacional
n.º 1/2008 relativamente às anteriores, nomeada-
mente o enquadramento dos grupos de Reforço na
fase preventiva (antecipação da acção), que consiste
no pré-posicionamento destes grupos em distritos
onde se antevejam ocorrências. Pelo contrário, em
anos anteriores os grupos de Reforço enquadravam-
-se nas acções de ataque ampliado, sendo apenas soli-
citados quando esgotadas as capacidades do distrito.
Fonte lBP 2003; mAI 2003
Crítica/proposta: é referida, em vários relatórios, a
utilização exclusiva da água como método de extin-
ção em detrimento do uso de ferramentas manuais,
o que condiciona o desempenho no combate, em
especial nas acções de rescaldo, justificando em par-
te as elevadas percentagens de reacendimentos.
Evolução: A principal forma de aplicar as ferramen-
tas manuais no combate aos incêndios florestais
traduziu-se no reforço e criação de equipas especia-
lizadas nesta técnica, como são exemplo as esF, os
grupos de Intervenção de Protecção e socorro (gIPs)
e as Forças Especiais dos Bombeiros (FEB). As per-
centagens de reacendimentos reduziram-se conside-
ravelmente, passando de 6,3% em 2002, 4,4% em
2003 e cerca de 5% nos anos de 2004 e 2005, para
resultados inferiores a 3% em 2006 e 2007.
Fonte: lBP 2003; mAI 2003
Crítica/proposta: os dois relatórios referem falhas na
concretização do sistema de comando operacional
(sco), que resultaram na desorganização operacio-
nal nos To. A falta de quadros de comando para as
diferentes funções de chefia nos To contribuiu tam-
bém para este facto. A principal proposta baseia-se
em aumentar o número de acções de formação para
quadros de comando e incluir o sco nas matérias dos
cursos da EnB. Por outro lado, deveriam ser aprofun-
dados os mecanismos de aplicação prática do sco,
em especial o princípio da unidade de comando.
Evolução: segundo dados fornecidos pela EnB, em
2005 deu-se início à formação em “organização de
Postos de comando”. Em 2007 deu-se início à for-
mação em “organização inicial de To no combate
a incêndios florestais”. o sistema da organização
operacional é revisto em Julho de 2006, através da
criação do sistema Integrado de operações de Pro-
tecção e socorro (sIoPs), tendo em vista uma melhor
organização e gestão dos To, onde passa a funcio-
nar um comando único do qual dependem todas as
forças de combate.
Fonte: lBP 2003; mAI 2003
Crítica/proposta: verificou-se que há um número li-
mitado de elementos dos cB que ocupam cargos de
chefia e comando, o qual é claramente insuficiente
e poderá comprometer a concretização e funciona-
mento do sco nos To. Para além disso, alguns dos
quadros de comando têm um défice formativo. A
principal solução apontada consistia na intensifica-
ção dos cursos para chefias da EnB.
Evolução: Todos os anos são realizados na EnB cur-
sos para funções de chefia dos bombeiros no com-
bate a incêndios florestais, nomeadamente os cursos
para “chefe de equipa de combate a incêndios flo-
restais” e “chefe de grupo de combate a incêndios
florestais”. Em 2008 perspectivam-se 10 cursos e
um total de 147 formandos não tendo existido, des-
de 2003, um aumento das acções de formação de
chefias. Em 2007, pretendeu-se tornar mais célere
o processo de progressão na carreira dos bombeiros
sapadores e voluntários através de um despacho que
permitiu, durante o período de um ano após a sua
entrada em vigor, uma redução considerável da car-
ga horária dos cursos de promoção.
Fonte: mAI 2003
Crítica/proposta: o sistema de comunicações cons-
tituiu uma das falhas técnicas mais graves nos To,
apontada quer no livro Branco quer no livro Aberto.
A esta limitação técnica juntava-se ainda a indiscipli-
na na realização das comunicações. no livro Branco,
refere-se a urgência na implementação do sistema
Integrado das Redes de Emergência e segurança de
Portugal (sIREsP).
Evolução: o sIREsP havia sido definido já em 2002 e
perspectivou-se a instalação de toda a infra-estrutura
tecnológica em todos os distritos do continente num
prazo de 5 anos, até 2007 (Rcm n.º 26/2002, de
5 de Fevereiro). o sIREsP viria a ser renegociado e
adjudicado em 2006. Em 2008, foi criada a unida-
de de missão do sIREsP responsável, de uma forma
geral, pela gestão do programa definido no contra-
to de implementação deste sistema, e coordenação
e planeamento do seu desenvolvimento (Rcm n.º
129/2008, de 26 de Agosto). Em Agosto de 2008,
já ultrapassado o prazo previsto, o sistema está im-
plementado em pouco mais de 50% do território
nacional.
Fonte: lBP 2003; lPn 2003; mAI 2003
Crítica/proposta: Foi criticado o reduzido número de
especialistas em coordenação de meios Aéreos (mA),
a sua fraca formação e a de alguns pilotos, o que
conduziu nalgumas situações a uma falta de coorde-
nação entre os mA e terrestres. uma das propostas
prendia-se com a formação/qualificação, quer de co-
ordenadores de mA, quer mesmo dos pilotos. é ainda
proposta a eventual colaboração de antigos pilotos
enquanto especialistas na coordenação de mA, liber-
tando assim alguns quadros de comando. Propõe-se
ainda um plano de reequipamento em mA e a reali-
zação de um estudo onde se pondere a contratação
de mA face à afectação de mA da Força Aérea.
Evolução: no seguimento do estudo da comissão
Especial para o Estudo dos meios Aéreos de comba-
te aos Incêndios Florestais” (cEEmA) foi autorizada
| 106 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 107 |
a realização de despesas inerentes à celebração de
contratos para aquisição de 4 helicópteros ligeiros,
6 helicópteros médios e 4 aerotanques pesados. Ao
nível da formação, foram realizados na EnB três cur-
sos de “coordenação de meios aéreos”. Para 2008,
estava programado um curso de “comandante de
operações aéreas”.
Fonte: lBP 2003; mAI 2003
Crítica/proposta: melhoria e maior rentabilização
do investimento nos cursos da EnB relacionados com
os incêndios florestais, através da descentralização
da formação específica. Propôs-se ainda a criação de
um centro de Formação Especializada em Incêndios
Florestais (cFEIF) e de centros de formação operacio-
nais distritais.
Evolução: Em 2004, o centro de formação da EnB
na lousã passa a designar-se cFEIF e a dedicar-se
exclusivamente à formação em combate a incêndios
florestais. no entanto, não houve uma descentraliza-
ção destas formações da EnB, através dos centros de
formação operacionais distritais propostos. A única
forma de descentralização são as formações internas
nos cB, embora não exista informação sobre a forma-
ção em dFcI. de destacar ainda a capacidade da EnB,
a partir de 2004, de emitir o certificado de Aptidão
Pedagógica Profissional, possibilitando a formação de
formadores credenciados pela EnB distribuídos pelo
país, com especial importância para as formações in-
ternas nos cB, embora não tenha sido possível obter
informações sobre a formação em dFcI.
Fonte: mAI 2003
Crítica/proposta: As máquinas de rasto muitas ve-
zes trabalham desenquadradas quando a organiza-
ção no To se mostra deficiente. Para além disso, não
é dada qualquer qualificação aos manobradores em
questões de segurança. é proposta a utilização de
máquinas de rasto mais pequenas, mais manobráveis
e com um desempenho semelhante.
Evolução: Actualmente há instruções nas directivas
operacionais nacionais para a utilização de máquinas
de rasto nas diferentes fases do combate a incêndios
florestais, desde o ataque inicial à fase de rescaldo.
Para tal, os cdos estão incumbidos da elaboração de
uma listagem das máquinas de rasto e de outro tipo
de maquinaria disponíveis nos respectivos distritos e
municípios. grande parte destes equipamentos per-
tence a câmaras municipais, às Forças Armadas, a
associações de produtores florestais e a empreiteiros
florestais. não foram criados mecanismos concretos
para a qualificação dos manobradores das máquinas
no que toca à segurança e ao combate.
Fonte: lBP 2003; mAI 2003
Crítica/proposta: conclui-se haver um défice de
equipamentos de protecção individual (EPI) em vá-
rios cB. os EPI não se enquadram, por norma, nas
prioridades de investimento dos cB, e verifica-se
mesmo uma falta de formação dos bombeiros que
leva à não utilização de EPI. no livro Branco (mAI,
2003) é proposto um plano de aquisição de EPI. Para
além disso, propõe-se determinar a obrigatoriedade
da sua utilização em combate.
Evolução: no início de 2006, o mAI anunciou que
iria fornecer EPI a todos os cB que possuiam Equipas
de combate a Incêndios, através de verbas dispo-
nibilizadas pelos governos civis. Este processo tem
sido lento e pontual, e nalguns distritos apenas nos
últimos anos (2007 e 2008) os governos civis dis-
ponibilizaram EPI aos cB dos respectivos distritos.
Apesar das recomendações para a utilização de EPI,
não foi definida qualquer obrigatoriedade da sua uti-
lização no combate a incêndios florestais.
Aspectos gerais
Em termos gerais há a salientar o facto de os incên-
dios de 2003 terem dado origem (ou acelerado a
elaboração) a uma série de figuras de planeamento
(Estratégia nacional para as Florestas - EnF, PndFcI,
PmdFcI, Pom, PRoF, PgF) para além de relatórios de
grande valia técnica como o relatório final do conse-
lho nacional de Reflorestação. no entanto, à excep-
ção de alguns trabalhos residuais para implementa-
ção da RdF, até agora não existe evidência sobre a
transposição destes documentos para o terreno. As
razões para esta dificuldade são conhecidas e pren-
dem-se com as características da estrutura fundiária
e do regime de propriedade em Portugal. Também é
consensual que as medidas para combater esta difi-
culdade terão que passar pela obtenção de informa-
ção sobre as propriedades rústicas em Portugal. Esta
lacuna de informação não começou sequer a ser col-
matada o que, quanto a nós, representa a maior falha
no balanço que fazemos destes cinco anos. A pouca
importância atribuída pelos governos relativamente a
essa medida fundamental que é a elaboração de um
cadastro dos prédios rústicos, só encontra explicação
nos baixos dividendos políticos que daí podem advir e
no elevado investimento que tal representa.
um outro aspecto a salientar e que deriva directa-
mente da experiência recolhida durante a prepara-
ção do presente trabalho, tem a ver com a ausência
de monitorização e de informação sobre a aplicação
das medidas adoptadas. um caso paradigmático é o
do FFP, directamente financiado por uma taxa sobre
os combustíveis paga pela esmagadora maioria dos
portugueses. A utilização dos dinheiros deste Fundo
não tem sido transparente nem sujeita a escrutínio
público como se preconizava aquando da sua cria-
ção. é inexplicável que não tenhamos conseguido
ter acesso a informação completa relativa à utiliza-
ção que tem sido feita destes dinheiros públicos. de
resto, muitas das restantes medidas tomadas não
podem sequer ser avaliadas, dado que não existem
elementos sobre a sua aplicação.
Algo que devemos igualmente referir tem a ver com
a inconstância das políticas e das instituições ao lon-
go deste escasso período de cinco anos. o sndFcI já
teve duas versões e no momento em que escrevemos
prepara-se uma terceira. A AFn surge após duas leis
orgânicas que fizeram com que os serviços florestais
do Estado assumissem 3 designações diferentes ao
longo do período em análise. o PndFcI foi enco-
mendado pelo governo que cessou em 2005, ten-
do resultado numa Proposta Técnica elaborada pelo
Instituto superior de Agronomia. o governo que se
seguiu decidiu não seguir as recomendações princi-
pais dessa Proposta, perdendo-se assim uma grande
oportunidade para melhorar substancialmente o sis-
tema de dFcI no nosso País. Para além destes, muitos
outros exemplos poderiam ser apontados, ilustrando
a tradicional insensibilidade dos sucessivos governos
para a instabilidade e entropia causadas pelas cons-
tantes alterações introduzidas nas políticas e no qua-
dro legal e institucional.
como liga para a Protecção da natureza e dando
voz à nossa sensibilidade sobre este assunto, não
podemos igualmente de deixar de nos manifestar
relativamente à política florestal que tem sido segui-
da, nomeadamente no que diz respeito às directrizes
expostas na EnF (dgRF, 2006). Ao vocacionar a área
do país com maior produtividade e maior risco de
incêndio, para a produção florestal lenhosa, e ao dar
um peso excessivo ao papel económico da floresta,
| 108 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 109 |
dando continuidade ao modelo seguido até agora,
a EnF mais não fez que encorajar o mesmo tipo
de ocupação florestal que se afirmou ao longo do
século XX (primeiro com o pinheiro-bravo e depois
com o eucalipto) e que resultou nas estatísticas de
incêndios que conhecemos. Pensamos que está pro-
vada até à exaustão a necessidade de diversificação
da nossa floresta e a necessidade de optarmos cada
vez mais por modelos de florestação baseados em
espécies nativas, promotoras de ambientes menos
susceptíveis ao fogo e integrantes dos nossos ecos-
sistemas naturais. um trabalho recente em vias de
publicação (silva et al. 2008) demonstra que, apesar
de terem as características estruturais mais favoráveis
(normalmente povoamentos com pouco sub-coberto
e com árvores altas e desramadas), os povoamentos
de eucalipto estão entre os que apresentam as maio-
res probabilidades de arder. Por outro lado assistimos
actualmente a uma progressiva invasão de algumas
áreas queimadas, e não só, por plantas de eucalipto
regeneradas naturalmente, constituindo massas ve-
getais muito resilientes e com elevada combustibili-
dade. é verdade que, dada a natureza privada da flo-
resta, esta terá que ser viável economicamente, mas
também é verdade que a criação do FFP contemplava
mecanismos (nunca aplicados) de ressarcimento dos
proprietários pelos serviços prestados pelas suas flo-
restas de conservação. Em vez disso, temos antes as-
sistido à canalização desses fundos para sustentar os
gTF das câmaras municipais, com resultados muito
pouco perceptíveis no terreno. é necessário que o Es-
tado olhe para a floresta nas suas diferentes vertentes
e não apenas na vertente económica, como tem sido
a tónica até agora. Esta visão abrangente da floresta
não tem feito parte da política florestal em Portugal,
contrariamente à dos outros países europeus.
BIBLIOgRAFIA
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IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 111 |
DETECÇãO REMOTA DA RESPOSTA DA vEgETA-
ÇãO EM áREAS qUEIMADAS EM 2003
José cARdoso PEREIRA, BERnARdo moTA, AnA sÁ,
AnA BARRos, soFIA olIvEIRA
departamento de Engenharia Florestal, Instituto su-
perior de Agronomia
Introdução
o verão de 2003 foi precedido por um Inverno chu-
voso, seguido de um mês de maio muito seco (Trigo
et al. 2006). A chuva invernal favoreceu a acumula-
ção de vegetação herbácea e de vegetação lenho-
sa fina, enquanto que a escassez de precipitação
primaveril iniciou cedo o processo de secagem do
combustível e dos solos. viegas e viegas (1994) já
tinham identificado esta conjugação de condições
meteorológicas como sendo favorável à ocorrência
de verões com área queimada acima da média. Pe-
reira et al. (2005) mostraram que cerca de 2/3 da va-
riabilidade interanual da área queimada é controlada
por processos meteorológicos ocorrendo em dois
tempos distintos: a já referida seca primaveril, de es-
cala mensal ou mesmo mais longa, conjugada com
a ocorrência de ondas de calor estivais com duração
típica de alguns dias. Estas ondas de calor proporcio-
nam as condições ideais para a combustão intensa
do combustível vegetal, abundante e muito seco.
Agosto de 2003 iniciou-se com o registo dos valores
mais altos de sempre, em Portugal, para a temperatu-
ra máxima (47.3°c, na Amareleja) e mínima (30.6°c,
em Portalegre) do ar, correspondendo ao começo de
uma vaga de calor excepcionalmente intensa e lon-
ga, que afectou grande parte da Europa. stott et al.
(2004) e Beniston (2004) consideraram que o verão
de 2003 poderá ter sido o mais quente na Europa
desde a primeira metade do século XvI. Para além
disso, stott et al. (2004) afirmaram ser muito prová-
vel (grau de confiança > 90%) que a influência das
actividades humanas tenha pelo menos duplicado o
risco de ocorrência de uma onda de calor da mag-
nitude da verificada em Agosto de 2003. Beniston
(2004) chamou a atenção para o facto de que esta
onda de calor apresentou muitas semelhanças com
as projecções de modelos regionais de clima para o
sul da Europa, admitindo o seu eventual carácter
precursor de ocorrências que poderão tornar-se bas-
tante mais comuns nas últimas décadas do presente
século.
As condições meteorológicas excepcionalmente se-
veras do início de Agosto de 2003 imediatamente se
traduziram na ocorrência de numerosos incêndios,
que deram origem a áreas queimadas muito exten-
sas. Assim, entre os dias 1 e 7 de Agosto, arderam
mais de 200.000 ha de florestas, matos e culturas
agrícolas, um valor praticamente igual ao dobro da
área queimada média anual dos últimos 30 anos.
A distribuição geográfica dos grandes incêndios de
2003 concentrou-se fortemente em duas regiões: no
centro do país e no Barlavento algarvio, contrastan-
do de algum modo com outros anos de muita área
queimada e grandes incêndios, como 1985, 1991,
1998 e 2005, quando a distribuição espacial do fogo
| 112 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 113 |
foi mais dispersa. no fim do verão de 2003, tinha-
-se atingido uma área queimada total próxima dos
450.000 ha, cerca de 50% superior ao anterior re-
cord de 300.000 ha em 1985 e tinham-se também
verificado os maiores incêndios de que há registo
fiável, com um máximo de cerca de 40.000 ha, em
nisa. outra especificidade importante da época de
incêndios de 2003 foi o facto de 2/3 da área queima-
da ter atingido povoamentos florestais, contrariando
a tendência dominante de predomínio da incidência
do fogo sobre matagais.
As perturbações paisagísticas de larga extensão es-
pacial e de recorrência relativamente baixa num mes-
mo local (as “large, infrequent disturbances”, lId,
da literatura científica de língua inglesa, e.g. Foster
et al. 1998 e Turner et al. 1998) deixam um lega-
do ecológico de magnitude e persistência variáveis,
afectando os padrões de fertilidade do solo, de ba-
lanço energético da superfície, várias componentes
do ciclo hidrológico, a estrutura e composição das
comunidades vegetais e a biodiversidade em geral.
Portanto, é importante acompanhar a resposta da
paisagem após a ocorrência de grandes incêndios,
com ênfase na monitorização do coberto vegetal, de
modo a poder avaliar-se da recuperação dos ecossis-
temas, mas também da regeneração do combustível,
capaz de suportar novos fogos. o objectivo do pre-
sente estudo é analisar quantitativamente e de modo
espacialmente explícito as trajectórias temporais da
vegetação nas áreas mais atingidas pelos fogos de
2003, desde antes dessa data até ao presente, re-
correndo a séries cronológicas de dados obtidos por
detecção remota.
áreas de estudo, dados e métodos.
A presente análise exploratória da dinâmica da ve-
getação nas áreas atingidas pelos incêndios de 2003
incide em duas áreas geográficas distintas, situadas
no centro e no sudoeste de Portugal (Figura 1). A
primeira área abrange parte dos distritos de leiria,
santarém, castelo Branco e Portalegre, num total de
8732 km2. A segunda área localiza-se maioritaria-
mente no Algarve (incluindo um pouco do distrito de
Beja) e cobre uma extensão de 2060 km2. os incên-
dios da área de estudo do centro ocorreram, na sua
maioria, entre o fim de Julho e o meio de Agosto. na
área do Algarve, dois grandes incêndios ocorreram
em Agosto e um terceiro no início de setembro.
FIgURA 1 Áreas de estudo do centro e Algarve.
42º n
41º n
40º n
39º n
38º n
37º n
42º n
41º n
40º n
39º n
38º n
37º n
-9º W -8º W -7º W -6º W
-9º W -8º W -7º W -6º W
janela 1
janela 2
As Figuras 2 e 3 mostram a ocupação do solo pré-
-fogo, de acordo com a cartografia coRInE2000
e a frequência de incidência do fogo, entre 1975
e 2002, contextualizando o impacto dos fogos de
2003. A ocupação do solo na área do centro ca-
racterizava-se pela presença de uma grande mancha
de floresta e mato, no terço central, com maior ex-
tensão de terrenos agrícolas nos terços ocidental e
oriental da zona. A considerável extensão de matos
nesta área é consequência dos fogos que afectaram
a grande mancha do pinhal interior durante as últi-
mas décadas. no Algarve, a floresta e matos predo-
minavam na metade sul e no canto nordeste da área.
A zona central apresentava uma mistura retalhada
de manchas de floresta e agricultura, enquanto que
as terras agrícolas predominavam fortemente junto à
costa vicentina. o historial de incidência do fogo na
área do centro, entre 1975 e 2002 (Figura 3) mostra
uma clara concentração de grandes fogos coincidin-
do com a floresta e mato do terço central da região.
A maior parte da área afectada pelo fogo durante
este período ardeu apenas uma vez, mas uma exten-
são ainda considerável ardeu duas vezes. no canto
noroeste da imagem nota-se uma mancha que foi
queimada três e quatro vezes. As zonas de maior
frequência de fogo são demasiado pequenas para
aparecer, à escala da Figura. no Algarve, a grande
maioria da área queimada entre 1975 e 2002 ardeu
apenas uma vez, havendo uma pequena extensão
que ardeu duas vezes. Frequências de fogo mais ele-
vadas ocupam áreas bastante reduzidas ou mesmo
insignificantes. o fogo incidiu sobretudo na mancha
florestal mais extensa e contínua da metade sul desta
zona de estudo.
| 114 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 115 |
Algarve
FIgURA 2 ocupação do solo de acordo com a cartografia coRInE 2000, actualizada com as áreas queimadas entre 2000 e 2002.
Centro
CLC00Fogos 2002 Fogos 2001 Floresta matos Agricultura urbano Água
CLC00Fogos 2002 Fogos 2001 Floresta matos Agricultura urbano Água
Centro
Nº de vezes ardido 1 2 3 4 5 6
Algarve
FIgURA 3 Frequência de incidência do fogo, no período 1975-2002.
Nº de vezes ardido 1 2 3 4 5 6
| 116 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 117 |
A observação da dinâmica da vegetação nas áreas de
estudo teve início em Janeiro de 2000 e prolongou-
-se até Agosto de 2008 com periodicidade mensal,
condicionada pela disponibilidade de imagens sufi-
cientemente livres de nuvens. usaram-se imagens do
painel h17v05, que abrange Portugal a sul da latitu-
de de 40°n, recolhidas pelo sensor Terra, situado a
bordo do moderate Resolution Imaging spectrome-
ter (modIs). o Terra adquire imagens em 32 canais
espectrais (Tabela 1), com resolução espacial variável
entre os 250m e os 1000m (Justice et al. 1998).
USO PRIMáRIO CANAL LOCALIZAÇãO
ESPECTRAL (nm)
demarcação entre Terra/
nuvens/Aerossóis
1 620 - 670
2 841 - 876
Propriedades da Terra/
nuvens/Aerossóis
3 459 - 479
4 545 - 565
5 1.230 - 1.250
6 1.628 - 1.652
7 2.105 - 2.155
côr do oceano /
Fitoplâncton/
Biogeoquímica
8 405 - 420
9 438 - 448
10 483 - 493
11 526 - 536
12 546 - 556
13 662 - 672
14 673 - 683
15 743 - 753
16 862 - 877
vapor de Água
Atmosférico
17 890 - 920
18 931 - 941
19 915 - 965
Temperatura da
superfície/nuvens
20 3.660 - 3.840
21 3.929 - 3.989
22 3.929 - 3.989
23 4.020 - 4.080
Temperatura Atmosférica 24 4.433 - 4.498
25 4.482 - 4.549
detecção de cirros 26 1.360 - 1.390
vapor de Água 27 6.535 - 6.895
28 7.175 - 7.475
Propriedades das nuvens 29 8.400 - 8.700
ozono 30 9.580 - 9.880
Temperatura da
superfície/nuvens
31 10.780 - 11.280
32 11.770 - 12.270
Altitude do Topo das
nuvens
33 13.185 - 13.485
34 13.485 - 13.785
35 13.785 - 14.085
36 14.085 - 14.385
TABELA 1 características espectrais dos sensores Terra e Aqua, transportados pelo satélite modIs. destacam-se a cinza e negrito os canais usados no cálculo do Enhanced vegetation Index (EvI).
Para a monitorização da dinâmica do coberto ve-
getal nas áreas queimadas em 2003 recorreu-se a
imagens do Enhanced vegetation Index (EvI, hue-
te et al. 2002), um índice de vegetação produzido
especificamente para os sensores Terra e Aqua, do
satélite modIs. o EvI foi desenvolvido para optimi-
zar o sinal da vegetação, e tem maior sensibilidade
em regiões de biomassa elevada, relativamente a
índices tradicionais, como o normalised difference
vegetation Index (ndvI). Também apresenta capaci-
dades aperfeiçoadas de monitorização da vegetação
através da minimização de perturbações induzidas
pelo solo subjacente aos copados e pela atmosfera.
A equação do EvI é:
, onde
G – factor de escala (=2.5)
ρIvP
– reflectância no Infra-vermelho Próximo (canal 2
do modIs, 841- 876 nm)
ρv – reflectância no vermelho (canal 1 do modIs,
620- 670 nm)
ρA – reflectância no Azul (canal 3 do modIs, 459-
479 nm)
C1, C
2 – coeficientes de resistência ao efeito dos ae-
rossóis atmosféricos (=6 ; =7.5)
L – factor de ajustamento para a clareza do solo (=1)
o EvI representa uma evolução do ndvI, combinan-
do índices posteriores, vocacionados para a atenua-
ção do efeito atmosférico, nomeadamente o Atmos-
pherically Resistant vegetation Index (ARvI, kaufman
et al., 1992) e para a atenuação do efeito da super-
fície sob o copado vegetal, no caso o Soil Adjusted
Vegetation Index (sAvI, huete, 1988), como mostra
a Figura 4.
EVI = GρIVP - ρV
C1 ρ V + -C2 ρ A +Lρ IVP
normalized diference
vegetation Index
canopy
Background
correction
soil-adjusted
vegetation Index
EvI
Enhanced vegetation Index
Atmosphere
Resistance
NDvI
SAvI
(msAvI, TsAvI)
ρ
ρ
ρ
ρNIR Red
RedNIR
-
+
ARvI
ρρ
ρρ
NIR
NIR
-,
+rb
rb
ρ ρ ρRed Red- -γ(ρ )=rb blue
ρ
(ρ
ρ
ρNIR Red
RedNIR
-
+ +L)(1+L)*
( L + ρ C1 ρ RedNIR
ρ ρNIR Red-
+ -C2 ρ blue)G *
Combined soil - and atmosphere - resistant vegetation indices
FIgURA 4 combinação de índices de vegetação pré-existentes, resistentes aos efeitos da atmosfera e da superfície subjacente ao copado, resultando no EvI. (retirado de http://tbrs.arizona.edu/forest/projects/evi.htm).
| 118 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 119 |
A fAPAR é uma variável biofísica directamente rela-
cionada com a produtividade primária vegetal e que
pode ser usada como indicadora do estado e evolu-
ção do coberto vegetal. o presente uso do EvI para
monitorizar a dinâmica da vegetação nas principais
áreas queimadas em Portugal, durante o verão de
2003, apoia-se precisamente na existência desta for-
te relação entre o EvI e a fAPAR.
Para avaliar os efeitos dos fogos de 2003 sobre a vege-
tação, extraíram-se todos os valores máximos mensais
de EvI em cada pixel (≈ 1km2) da área de estudo, ten-
do-se construído séries cronológicas separadas para
os pixels correspondentes às áreas queimadas e não
queimadas em 2003. A análise destas séries cronoló-
gicas permite identificar o período durante o qual os
valores de EvI (e, consequentemente, de fAPAR) per-
maneceram deprimidos relativamente aos das áreas
circundantes, não afectadas pelo fogo nesse ano.
Resultados
As Figuras 6 e 7 mostram imagens EvI das duas áreas
de estudo, datadas dos anos de 2002 (pré-fogo),
2003 (logo após o fogo) e de 2008 (os 5 anos após
os fogos de 2003, que são o foco do presente livro).
Tal como indicado na legenda, os tons mais claros
correspondem a EvI mais elevado, representativo de
valores mais altos de fAPAR e % de coberto vegetal.
na imagem central de ambas as Figuras, adquirida
em 2003 pouco tempo após os fogos, as superfícies
afectadas estão desprovidas de vegetação, apare-
cendo muito escuras. nas imagens de 2008 já é bas-
tante difícil perceber a localização das áreas queima-
das em 2003, aparentando estar repostos, de modo
genérico, os valores de EvI pré-fogo.
A formulação mais sofisticada do EvI, relativamente
à maioria dos índices de vegetação seus precursores,
permite-lhe estabelecer uma relação com caracte-
rísticas funcionais da vegetação muito mais robusta
face a variações do tipo de solo e da % de coberto
vegetal do que, p.ex., o ndvI, para a fracção absor-
vida de radiação fotossinteticamente activa (fAPAR)
de uma cultura cerealífera (Figura 5).
FIgURA 5 Relações do ndvI e do EvI com a fAPAR de uma cultura cerealífera (% de coberto de 25%, 50% e 100%), à qual subjazem um solo claro, um solo escuro, e uma superfície de reflectância quase nula. (retirado de http://tbrs.arizona.edu/forest/projects/evi.htm).
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
nd
vI
fAPAR
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
1.0
0.8
0.6
0.4
0.0
EvI
fAPAR
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
25% Zero dark Bright 50% Zero dark Bright 100% Zero dark Bright
FIgURA 6 Imagens EvI da área de estudo do centro, datadas de 1 de outubro de 2002 (pré-fogos), 1 de setembro de 2003 e 1 de Agosto de 2008. os polígonos vermelhos delimitam as áreas queimadas no verão de 2003, que estão bem visíveis como manchas muito escuras na imagem do meio.
EvI0.53
0.1
EvI0.52
0.05
EvI0.61
0.1
| 120 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 121 |
FIgURA 7 Imagens EvI da área de estudo do Algarve, datadas de 1 de outubro de 2002 (pré-fogo), 1 de dezembro de 2003 e 1 de Agosto de 2008. os polígonos vermelhos delimitam as áreas queimadas no verão de 2003, que estão bem visíveis como uma grande mancha escura na imagem do meio.
EvI0.54
0
EvI0.57
0
EvI0.48
0
As séries cronológicas de valores mensais de EvI,
em cada área de estudo, e nas zonas afectadas e
não afectadas pelos fogos de 2003 constam das
Figuras 8 e 9.
FIgURA 8 série cronológica de valores do Enhanced vegetation Index (EvI) sobre a área da região centro, de Janeiro de 2000 a Agosto de 2008. A janela demarcada entre Agosto de 2003 e novembro de 2005 destaca o período em que o EvI da área queimada é clara-mente inferior ao da área não queimada. As barras de incerteza representam ± 1 desvio-padrão.
FIgURA 9 série cronológica de valores do Enhanced vegetation Index (EvI) sobre a área do Algarve, de Janeiro de 2000 a Agosto de 2008. A janela demarcada entre Agosto de 2003 e dezembro de 2004 destaca o período em que o EvI da área queimada é claramente inferior ao da área não queimada. As barras de incerteza representam ± 1 desvio-padrão.
J-00
A-0
0
J-00
0.5
0.45
0.4
0.35
0.3
0.25
0.2
0.15
0
EvI
o-0
0
J-01
A-0
1
J-01
o-0
1
J-02
A-0
2
J-02
o-0
2
J-03
A-0
3
J-03
o-0
3
J-04
A-0
4
J-04
o-0
4
J-05
A-0
5
J-05
o-0
5
J-06
A-0
6
J-06
o-0
6
o-0
7
J-07
A-0
7
J-07
J-08
A -
08
J -0
8
novembro 2005Agosto 2003
nuvens
não-queimado queimado 2003
data
Centro
J-00
A-0
0
J-00
0.55
0.5
0.45
0.4
0.35
0.3
0.25
0.2
0.15
0.1
EvI
o-0
0
J-01
A-0
1
J-01
o-0
1
J-02
A-0
2
J-02
o-0
2
J-03
A-0
3
J-03
o-0
3
J-04
A-0
4
J-04
o-0
4
J-05
A-0
5
J-05
o-0
5
J-06
A-0
6
J-06
o-0
6
o-0
7
J-07
A-0
7
J-07
J-08
A -
08
J -0
8
novembro 2003Agosto 2003
não-queimado queimado 2003
data
dezembro 2004Agosto 2003
Algarve
| 122 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 123 |
na zona centro (Figura 8) observa-se que em Agos-
to e setembro de 2003 a área queimada sofreu um
abaixamento do EvI muito mais profundo que o típi-
co dessa época do ano, demarcando-se claramente
dos valores observados na zona não afectada pelo
fogo. os valores de EvI da zona queimada permane-
cem consistentemente abaixo dos da área de referên-
cia até novembro de 2005, 27 meses após os fogos.
é também interessante notar que durante o ano de
2004 e 2005, os valores de EvI da área não afecta-
da pelo fogo também foram anomalamente baixos,
evidenciando os efeitos da forte seca que vigorou du-
rante a maior parte desse período. Após novembro
de 2005, as trajectórias temporais dos valores de EvI
nas zonas queimada e não queimada em 2003 ficam
quase sobrepostos, revelando que as áreas queima-
das dois anos antes readquiriram algumas das princi-
pais características estruturais e funcionais das áreas
vizinhas que não foram afectadas pelo fogo.
na zona de estudo do Algarve (Figura 9), é interes-
sante notar que nos anos anteriores a 2003, as áreas
que viriam a arder nesse ano evidenciavam valores
de EvI quase sistematicamente superiores aos da
zona de referência. mas, tal como na zona centro,
a occorrência dos fogos deprime fortemente os va-
lores de EvI nas áreas afectadas, com um impacto
que parece ser mesmo ligeiramente mais forte do
que o observado no centro. Porém, a recuperação
da vegetação queimada no maciço da serra de mon-
chique é muito mais rápida do que a do centro,
completando-se num período de apenas 16 meses.
A partir do verão de 2006, a série cronológica de va-
lores de EvI na zona percorrida pelos fogos de 2003
volta a ser superior aos valores de EvI da zona de
referência, muitos dos quais correspondem a áreas
mais secas, pertencentes ao distrito de Beja.
Discussão e conclusões
o objectivo principal deste estudo era avaliar a evolu-
ção da vegetação após os grandes fogos do verão de
2003, nas duas regiões portuguesas mais afectadas,
recorrendo a informação obtida por detecção remo-
ta. A análise é assumidamente preliminar e explora-
tória, mais visual do que quantitativa. Apesar disso,
foi possível demonstrar que o EvI, desenvolvido para
o modIs, é muito sensível à perda de vegetação pro-
vocada pelo fogo e permite acompanhar a dinâmica
da recuperação de atributos estruturais e funcionais
do coberto vegetal, após o fogo. A periodicidade
de observação aqui escolhida foi mensal, mas estão
disponíveis dados para monitorizar o coberto vege-
tal, à escala de 1km2, com frequências de oito e de
dezasseis dias.
os resultados obtidos evidenciam a rápida recupe-
ração da vegetação após o fogo. Porém, nada nos
permitem concluir quanto, por exemplo, à compo-
sição específica das comunidades sucessionais, um
aspecto importante no que respeita à conservação
da biodiversidade. o estudo também não abrangeu
outros aspectos com interesse científico e prático,
como a estratificação da análise de resposta da ve-
getação em função do historial prévio de incidência
do fogo, do número de anos desde o último fogo,
coberto vegetal presente antes do fogo, tipos de solo
e contexto topográfico. o desenvolvimento de estu-
dos que permitam monitorizar de modo operacional
a dinâmica da vegetação após o fogo contribuirá
para melhorar:
• o conhecimento da resiliência da paisagem rural
portuguesa face ao fogo,
• a definição de prioridades/condicionantes de inter-
venção nas áreas queimadas,
• a dinâmica da recuperação do perigo de incêndio,
• o impacto do fogo sobre o balanço de carbono da
vegetação portuguesa.
As ferramentas tecnológicas para executar estas ta-
refas e a capacidade de as utilizar adequadamente
existem e poderão, a breve prazo e com reduzido
investimento, ser postas ao serviço de uma gestão
mais eficaz, eficiente e ambientalmente sensível do
espaço florestal de Portugal.
| 124 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 125 |
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EvENTO gLOBAL DE INCENDIOS EN 2003. y LUE-
gO qUE?
JoRdI PAgEs
grup de Recolzament d’Actuacions Forestals – Espanha
Resumen
desde el evento de grandes Incendios Forestales
(gIF) del año 2003, Europa ha empezado a compren-
der la necesidad de la lucha conjunta y coordinada
contra los grandes incendios forestales.
durante el último siglo hemos visto que cuánto más
eficientes somos luchando con el fuego, más gran-
des y mayores llegan a ser estos incendios. la necesi-
dad de cambiar la manera de luchar contra el fuego
es evidente, y se ha de trabajar antes, durante y des-
pués del fuego. se necesitan más conocimientos y
planificación de la emergencia para hacer frente a los
fuegos y, a la vez, se hace más necesario el uso del
fuego para la seguridad y ecología de les bosques.
Esto implica un cambio de planteamiento tanto en
la gestión de la emergencia como en la percepción
social de los efectos y usos del fuego.
Tanto para enfrentarse a estos rápidos y intensos in-
cendios, como para confinar un frente o gestionar
un incendio, requiere una estructura de los servicios
de extinción dinámica y flexible, basada en la anti-
cipación del comportamiento del fuego, la toma de
decisiones dinámica en la línea de fuego y la gestión
integral del incendio como emergencia. Este aumen-
to de flexibilidad requiere que los bomberos sean
expertos y formados, que sean capaces de decidir
como, cuando y donde, y que los mandos marquen
estrategias y sean gestores de la emergencia.
El fuego es un elemento dinamizador de los ecosis-
temas mediterráneos, inevitable, y tanto las infra-
estructuras humanas como las estructuras vegetales
deben ser tolerantes a los incendios forestales. Es
necesario un cambio cultural que permita que la
gente entienda el cambio del fuego como enemi-
go total, a fuego como parte del ecosistema, que
aprenda a vivir con él y, en consecuencia, que di-
mensione las infraestructuras y zonas de interfase
teniendo en cuenta su vulnerabilidad y la necesidad
de la autoprotección.
Portugal desde el año 2003 ha experimentado gran-
des cambios en su modelo de extinción de grandes
incendios forestales. Aun así el camino esta aún en
sus orígenes. se han planteado algunas dudas que
tienen que ser resueltas para que el sistema de extin-
ción de incendios forestales sea eficiente.
gIF al mundo
los episodios de grandes incendios forestales no son
un problema local de determinado país o región. Por-
tugal en el año 2003 no fue el único país ni la única
región afectada por un episodio de gIF. El evento de
gIF del 2003 lo padecieron en primer lugar los habi-
tantes de la zona sur-Este de Australia el invierno del
2002-2003. luego lo padecieron de forma simulta-
nea los países de la riba mediterránea (Portugal, Es-
paña, catalunya, sur de Francia, corcega, sardeña,
Italia, e incluso en menor medida algunos países del
| 126 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 127 |
norte de Europa y Rusia. y en otoño quemaba la re-
gión mediterranea de la costa oeste Americana.
veamos algunas de las conclusiones sacadas tras los
incendios, que hacen intuir el cambio en el modelo
a nivel mundial:
Portugal
El gobernador civil de Coimbra, Henrique Fernandes,
ha pedido hoy a la población que limpie de maleza
en un perímetro de seguridad de 50 metros alrede-
dor de sus casas para evitar más destrucción. En un
momento de crisis es adecuada, esta acuación?
Portugal pidió ayuda a la unión Europea y en res-
puesta a esa demanda, se envió un hidroavión es-
pañol, dos franceses, otro más de Italia y cuatro
helicópteros alemanes. se trata de un contingente
suficiente para dar respuesta a una situación de
emergencia nacional generada por la ola de incen-
dios forestales?
Catalunya
“Se constatan las limitaciones del modelo implantado
hasta ahora que se ha basado en reaccionar una vez
el fuego ya se ha declarado y en una gestión silvícola
muy limitada que no ha reducido la vulnerabilidad de
los bosques”. y la prevención para cuando?
Australia
“Estos GIF demuestran la necesidad de permitir el
uso de herramientas silvícolas en los Parques Nacio-
nales para permitir reducir las cargas de combusti-
bles” Asociación de industrias de la madera.
“Es conveniente no crear mas parques nacionales sin
los recursos para poder gestionarlos. Más gestión
de combustibles por parte del estado podría haber
evitado la crisis de Camberra” Ministro de Boques y
Conservación.
“No se realizó la reducción de combustible alrededor
de Camberra, el público no quería humo, y no quería
ver zonas quemadas alrededor de sus casas” Jefe del
servicio de extincición de Camberra.
“La amenaza de los incendios nunca será conquis-
tada. Con la naturaleza, no hay ninguna garantía”
John Howard, Primer Ministro.
USA
“En las regiones mediterráneas de la costa california-
na se deben reintroducir las quemas prescritas para
evitar los fuegos catastróficos. Necesitamos espacio
defendible alrededor de las comunidades. Hay que
plantear se como convivir con el fuego. Mientras la
sociedad no lo acepte continuaremos enfrontados a
estas graves campañas”. Jefe del Forest Service.
Esta simultaneidad en la afectación de un evento de
grandes incendios forestales en la región medite-
rránea ha llevado a la imposibilidad de que Europa
pueda prestar ayuda a un país miembro que ha de-
clarado su estado de emergéncia.
En la actualidad existen convenios de cooperación
entre los diferentes miembros de la union Europea?
I entre países de los dos hemisferios?
Todo el mundo ha sacado conclusiones parecidas del
evento de gIF, han sido compartidas? El proyecto Eu-
ropeo FireParadox, en el que diferentes organismos
Portugueses participan, trata de intecambiar expe-
riencias operativas y académicas para aumentar el
conocimiento en el ámbito de los incendios foresta-
les y sacar conclusiones aplicables para el operativo.
Las respuestas sobre extincion
El primer paso para trabajar en la mejora de la res-
puesta del operativo frente a una situación de gIF es
aceptar la evidencia de la incapacidad que tienen los
sistemas de extición de incendios para combatir este
tipo de emergencia. delante de este problema los
servicios de extinción deben afrontar un importante
cambio. A nivel general se apuesta por aumentar la
capacidad de gestión, a partir de la anticipación del
comportamiento del fuego, de la toma de decisiones
dinámica con los cambios en el frente, y a la vez con
una gestión integral del incendio como emergencia.
la respuesta del sistema de extinción de incendios
Portugues ha trabajado intensamente para dar res-
puesta a esta nueva realidad mediante distintas so-
luciones:
• la creación de unidades especializadas, las unida-
des de “canarinhos” en bomberos, que permiten
la diversificación del tipo de actuaciones como el
trabajo con herramientas manuales.
• la creación de unidades especializadas, los gIPs
dentro del cuerpo de la guardia nacional Republi-
cana, en ataque inmediato en conatos, altamente
efectivas el control de las igniciones y de los res-
ponsables de estas igniciones.
• la creación de unidades especializadas, gAuF en
Autoridade Florestal nacional. unidades capaces
de analizar “in situ” el comportamiento del fue-
go, y plantear una estrategia de ataque. y también
adiestradas para el uso del fuego como herramien-
ta de extinción de incendios forestales y para ges-
tión del monte en quemas prescritas.
• la unificación de un mando único a través de la
“Autoridade Nacional de Protección Civil” que dirige
“in situ” las actuaciones con independencia de
los organismos que están trabajando en él. Fuera
del ámbito estricto de las intervenciones en incen-
dios forestales, esta diversidad de organismos que
tienen responsabilidades en materia de incendios
forestales, puede conducir a un trabajo de preven-
ción y de gestión del entorno forestal, descoordi-
nado con los otros estamentos.
Las conclusiones sobre interfície zona (IZ)
Es necesaria la creación de unidades semi-autónomas
que sean capaces de actuar de forma autonoma, ca-
paces de tomar decisiones tácticas para resolver las
situaciones que se generan en un incendio forestal
que afecta a zonas urbanizadas. la coordinación de
este tipo de actuaciones obliga a cambiar la función
de los mandos; Estos deberán marcar la estrategia
para resolver la emergencia y gestionar los medios
para que sea posible sin implicar-se en las tácticas
que es emplean en cada uno de los puntos de actua-
ción. Este esquema de funcionamiento requiere un
nivel alto de formación de todos los miembros del
operativo para que sean capaces de entender la es-
trategia y poder desarrollar una táctica para resolver
la situación que se le plantea.
Las conclusiones sobre régimen de incendios
los servicios de extinción han de tener una impor-
tante interrelación con los responsables de gestión
del ecosistema. Por un lado, en la planificación hay
que asegurar la integración del fuego en la gestión
forestal, y por el otro lado en el momento del incen-
dio hay que vincular a los responsables de gestión del
territorio en las decisiones relativas al papel del fuego
en el ecosistema.
| 128 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 129 |
hasta el momento la gestión forestal ha planificado
sin considerar el fuego como una parte del ecosiste-
ma. Esto ha propiciado la expansión de masas fores-
tales con una estructura que facilita el fuego de co-
pas como podrían ser las plantaciones de eucaliptus
para producción de madera. Estas formaciones rom-
pen un principio basico de la silvicultura; asegurar la
persistencia de la masa.
va a llegar el momento de exigir responsabilidades al
propietario por haber aplicado una gestión forestal
productiva sin haber tomado las medidas de segu-
ridad necesarias para mitigar los daños causados a
un tercero por un incendio en su propiedad y a las
administraciones por autorizar estas practicas sin te-
ner en consideración los efectos sobre el resto de la
comunidad.
Asegurar la dinámica de perturbaciones para la per-
sistencia del paisaje es la única forma de convivencia
con ecosistemas dominados por fuegos de alta in-
tensidad. El conocimiento del régimen de incendios
y las estructuras forestales asociadas y la respuesta
de cada una de las especies delante del fuego son
las herramientas imprescindibles para la gestión del
fuego. Por este motivo es imprescindible que el mun-
do de la extinción de incendios forestales, el de la
gestión forestal, el de la prevención y el de la pre-
extinción aprendan a trabajar juntos.
Las respuestas sobre quemas
El nexo que hace posible una producción forestal pla-
nificada y un paisage resistente a la perturbación
causada por fuegos de alta intensidad es el regimen
de incendios de baja intensidad que controlan la
acumulación de combustibles en el monte. El cam-
bio de régimen hacia fuegos de alta intensidad es el
resultado de no considerar la estrecha relación entre
el fuego y el resto de los elementos del ecosistema.
con el fin de no cometer el mismo error dos veces, la
gestión del monte mediante quemas prescritas ha de
partir de un estudio previo de los posibles efectos del
fuego sobre una estructura forestal concreta.
La política de la ecologia del fuego
la posibilidad que se produzcan cambios en la políti-
ca del fuego requiere que coincidan:
• Episodio de gIF grave, con perdidas importantes.
• movimiento social o político fuertemente afectado,
suficiente para asustar a los estamentos políticos
pero no tan fuerte como para que se anule su ca-
pacidad de actuar.
• Amplia significación cultural: A partir de un punto
de vista común que permita a la sociedad enten-
derlo.
• hay un margen de dos años para actuar.
• los encargados de producir el cambio tengan nue-
vas ideas y una estructura organizativa capaz de
hacer el cambio.
• hace falta una gran inversión para provocar el cam-
bio cultural en la sociedad, para aprender a convivir
con el fuego forestal. Aprovechar el valor cultural
de zonas rurales que entienden el fuego como un
elemento del medio. I en el ambiente urbano pa-
sar de una emergencia causada por un incendio
forestal a un acontecimiento normal causado por
un fuego forestal.
BIBLIOgRAFÍA
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IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 131 |
REFLECTIONS ON THE USA/PORTUgAL WILDLAND
FIRE TECHNICAL EXCHANgE PROJECT
mARk BEIghlEy, BEIghlEy consulTIng llc, usA
The year 2003 brought Portugal the worst fire sea-
son in recent history in terms of area burned and lives
lost. some attribute this to an unusual weather ano-
maly but then the 2005 fire season has already de-
monstrated that a continuing potential exists for lar-
ge, multiple day, campaign fire combat events when
conditions are right. climatologists also suggest that
increasing climate variability could lead to extreme
deviations from average conditions, including some
years being significantly hotter and drier and others,
significantly cooler and wetter. Portugal needs be
prepared for more years of unusually severe fire wea-
ther similar to what occurred in 2003 and 2005.
during the summer, 2004, I participated in a usA-
Portugal wildland fire technical exchange project to
observe and evaluate wildland fire protection capabi-
lity. during my 3 week visit we observed fire combat
operations and interviewed fire brigade comman-
ders, emergency command center (centros distritais
de operações de socorro/centros de Prevenção e de-
tecção - cdos/cPd) supervisors and staff, personnel
from the national service for Fire and civil Protection
(serviço nacional de Bombeiros e Protecção civil -
snBPc), the Forest service (direcção-geral dos Recur-
sos Florestais - dgRF), Forest owners Associations,
first intervention assets for private fiber companies
(Agrupamento complementar de Empresas – Aliança
Floresta, celbi & caima - AFocElcA), mayors, gover-
nors, and technical staff from several municipalities.
As a result, we developed some general impressions
about the wildland fire program in Portugal.
We concluded that the initial attack capability of the
individual fire brigades, the first intervention efforts
of the sapadores Florestais and private company first
response assets (e.g. AFocElcA) were quite good.
however, what was lacking was a single, unifying
command structure and common communications
capability that provided for an integrated, coordina-
ted attack to ensure maximum effectiveness of all
firefighting assets. Initial attack efforts were aggres-
sive and often successful, however, once fires beca-
me large, or burned more than a single burn period,
there was a limited ability to successfully plan and
implement effective perimeter control strategies and
provide for multiple day logistical needs. The limited
number of hand crews also made it difficult to imple-
ment a perimeter control strategy, especially in rug-
ged or remote areas. The lack of these “specialized
forces” to handle hotspots in difficult, roadless ter-
rain resulted in an unacceptably high rekindle rate.
The wildland fire program also appeared unbalanced.
great emphasis was given to increasing combat ca-
pability, specifically in terms of acquiring equipment,
with less emphasis given to fire prevention, in terms
of education programs, law enforcement, fuels re-
duction and silviculture treatments. more effort in
prevention activities was needed. A fire that is pre-
vented need not be extinguished, nor can it rekindle.
Finally, we determined that a comprehensive training
program was needed, within this broader framework
of improvements, to ensure that knowledge and
| 132 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 133 |
skills are being successfully imported and transferred
to those that must implement the actions.
Portugal’s forests and rural agricultural zones are va-
luable national assets that deserve protection. Trends
in increasing climate variability, demographic shifts
caused by a rural exodus, the management comple-
xities associated with fragmented, small dimension
real estate, and forest and agricultural economics
that limit fire protection investments suggest that
more challenging times lie ahead. several key struc-
tural and technical changes will help stop the conti-
nuing erosion of productivity resulting from wildland
fire damage.
At the time, Portugal had all the pieces of the puzzle
to construct a world-class fire prevention, detection,
first intervention and combat program. however, it
lacked a comprehensive plan to fit them together.
A national strategy was needed to effectively educa-
te policy makers and the public, to build a balanced
arsenal of assets, to ensure integrated, coordinated
utilization of assets, to provide logistical support for
combat on multiple-day campaign fires, and to attain
the knowledge and training to effectively apply peri-
meter control strategies and tactics on large, landsca-
pe-scale fires. This plan needed to identify a broader
mix of activities to support fire prevention education,
fuel reduction and silviculture treatments, detection
and first intervention, wildland fire combat and tac-
tics, and the restoration of severely burned areas.
In 2004, the emphasis was to increase fire combat
forces, an understandable reaction to the experien-
ces of 2003. however, this represented a last resort
strategy. until the National Plan for Prevention and
Protection of Forest Against Fire (Plano Nacional de
Prevenção e Protecção da Floresta Contra Incêndios)
was completed, Portugal had focused most efforts on
building a strong combat force. A more balanced ap-
proach was needed, and this plan recognized that.
This plan clearly defines the roles and responsibili-
ties of all participants including national, district
and municipal government agencies as well as Fo-
rest owners Associations and private companies. It
strives to focus all the components of a balanced
program in a synergistic fashion to gain the grea-
test improvement for the least cost. no single entity
has the budget or the assets to independently solve
the problem. All stakeholders must work together,
in a well coordinated way, to realize the full value of
Portugal’s wildland fire defense capability.
Portugal has implemented many positive changes
since the usA/Portugal Wildland Fire Technical Ex-
change Project Report was released in 2004. many
of these improvements are still maturing and may
take several more years to bear fruit. others changes
have provided immediate improvement in both per-
formance and outcomes.
In 2004 we identified four strategic opportunities to
reduce wildland fire losses.
01. Prevent fires through public education, high risk
area patrols and law enforcement programs.
02. create fire resistant landscapes through strate-
gic application of fuel reduction and silviculture
treatments.
03. maintain a strong fire detection and first inter-
vention program to extinguish fires before they
become destructive.
04. Effectively engage in large fire combat.
A single minded focus on any one of these strategic
opportunities will fall short. A balanced approach is
required to optimize effectiveness. In the wake of
catastrophic fire losses, there’s always a strong ten-
dency to focus primarily on strengthening defensive
measures, strategic opportunities 3 and 4. however,
sustained, long-term success can only be achieved
by aggressively attacking the root of the problem;
minimizing numbers of fires and their potential to
spread. By also taking the strong offensive position
provided by strategic opportunities 1 and 2, the
demand on first intervention and combat forces is
reduced, allowing greater success.
many changes have occurred in government structu-
re in an attempt to provide more effective coordina-
tion in the campaign against wildland fire. some of
these changes, like the creation of the FEB—Forças
Especiais de Bombeiros (canarinhos), have proven to
be valuable. others, like the creation of the APIF—
Agência para a Prevenção de Incêndios Florestais,
have already been determined to be of little value,
and dismantled. Benefits resulting from changes
such as these are often difficult to directly correlate
to any one specific annual outcome. It can also be
very difficult to isolate the degree to which weather
has been a factor in the results.
For example, burned area statistics for 2007 and
2008 look very promising, but can this be attributed
to improvements made to the fire defense program,
or was it just the result of a wet weather pattern
that existed throughout the summer? It will take
many years, possibly even a decade, before trends in
fire statistics can be reasonably correlated to annual
actions taken. Just in the last 5 years (2003-2007)
Portugal has seen a year of record high temperatures
(2003), a year of record drought (2005), and a very
wet summer (2007).
We know that global climate variability is expected
to increase. This means that greater annual deviation
from average annual climatic conditions can be ex-
pected. The trend is for some years to be significantly
hotter and drier than average (e.g. 2003 and 2005),
while other years will be significantly cooler and wet-
ter than average (e.g. 2007). Together, both of these
conditions present a problem for reducing wildland
fire losses. The cooler, wetter years will provide better
growing conditions resulting in an increasing accu-
mulation of flammable fuel. The hotter, drier years
will provide meteorological conditions that allow
this additional fuel to burn with greater intensity,
spreading fires faster, resulting in more large des-
tructive fires.
As illustrated in Figure 1, during the late 80s and 90s
decades, the 4-year moving average for burned area
was relatively constant at about 100,000 ha annually.
however, in the most recent period from 2003-2007,
the deviation from the annual burned area increased
dramatically in both directions by a factor of 4. This
pattern of extreme annual deviation is now being
termed Asymmetric Fire, and is showing up in other
geographic areas of the globe as well. It has been
mostly attributed to two factors. 1) A similar increase
in the annual deviation of climate variables that most
influence burned area; hot/dry and cool/wet years
and, 2) an increase in the continuity of fuels across
large landscapes without meaningful interruption.
| 134 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 135 |
This type of wide fluctuation in annual burned area
presents a difficult problem for fire defense organi-
zations. Budgeting for fire defense based on average
annual numbers and sizes of fires may have provided
sufficient information for funding in decades past,
but now is increasingly prone to failure. Budget plan-
ning for an average year when significant deviations
could occur has two inherent risks. Either too much
money will be spent for a fire defense capability that
isn’t needed during a cool/wet year or, if a hot/dry
year develops, fire defense capability will be signi-
ficantly deficient. Budgeting for a fire defense pro-
gram to always be successful during extreme years,
when it’s most important, is cost prohibitive. This is
why it’s so important to increase the odds of success
in ways that aren’t dependent on betting on a par-
ticular annual climate/weather scenario to play out.
detection, first intervention and fire combat capa-
bility have been greatly strengthened since 2003.
Improvements in radio communication and the co-
ordination of first intervention and combat forces is
ongoing and showing promise. Training programs
have been developed to improve fire defense skills.
however, two very significant problems remain in
Portugal that, without significant improvement, will
only continue to result in greater losses from wildland
fire. Both of these have a strong human connection
with either the cause, or the cure.
The first is the high number of human-caused ig-
nitions. statistics show that Portugal, as compared
with mediterranean countries having similar fuel and
weather conditions, has a disproportionately high
number of human caused ignitions relative to popu-
lation. For example, spain is 5 times larger than Por-
tugal, and has 4 times the population, yet has fewer
ignitions. This high number of ignitions contributes
to reduced success in first intervention, initial attack
and fire combat. generally speaking, more ignitions
increase the probability they will occur on severe fire
weather days, presenting an even greater challenge
for first intervention success.
Even more disturbing is the high proportion of in-
cendiary fires intentionally-set to cause damage, to
2004
2006
FIgURA 1 Annual totals of burned area, with 4-year moving average (green line) for the period 1980-2007. The light brown horizontal line represents the annual burned area objective, in accordance with the PndFcI up to 2012. DGRF (2008).
média móvelÁrea Ardida
1980
500.000
400.000
300.000
200.000
100.000
0
ha
1982
1984
1986
1990
1988
1992
1994
1996
2002
1998
2000
The second significant problem is the increase in
large, continuous areas of unmanaged or inade-
quately managed flammable vegetation. This ranges
from vast landscapes of even-aged commercial eu-
calyptus forests, to once cultivated agriculture lands
that have been abandoned and are now dense with
flammable weeds and shrubs. In addition, thousan-
ds of small, individual tracts of once well-mana-
ged forest are going unattended, only to become
indistinguishably aggregated into the next future
fire storm.
Financial incentives to plant monoculture forests in
previously cultivated and marginal lands with no forest
maintenance requirements has resulted in increasin-
gly uniform expanses of highly flammable vegetation.
Fires that could once be stopped at cultivated land
boundaries are now spreading through them, faster
and hotter than ever before. This landscape conver-
sion from a fine scale mosaic of cultivated plots and
tended forests to large scale, unmanaged wildlands
has set the stage for the future: one of bigger, more
destructive fires. Just add the next drought or heat
voice political or social discontent, or to cause civil
disruption. This phenomenon isn’t just a techni-
cal fire prevention problem. The reasons are more
cultural, psychological and demographic in nature.
unemployment, low wages, poor living conditions,
egocentrism, grudges against society, boredom, and
criminal intent are all possible root causes for this
behavior. A broader range of expertise is needed to
shed more light on the cultural, social and psycholo-
gical drivers that create a desire to use fire for des-
tructive purposes. These issues deserve more study in
relation to preventing incendiary fires.
on the bright side, the total number of annual igni-
tions has been trending downward, with the notable
exception of 2005 which set a new record (Figure 2).
That spike could certainly be attributed to the severe
drought conditions that existed, causing many po-
tential ignition sources to start fires that might not
have otherwise occurred given more average mois-
ture conditions. This indicates that some prevention
measures undertaken in the last 5 years have been
working. more effort is needed, however, to reduce
the still unacceptably high number of human-caused
ignitions in Portugal.
FIgURA 2 Annual number of ignitions with 4-year moving averages (green line). DGRF (2008).
média móvelnº Ignições
1980
40.000
30.000
20.000
10.000
0
nº
1982
1984
1986
1990
1988
1992
1994
1996
2002
2004
1998
2000
2006
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The solution seemed obvious; to break the forest up
into a mosaic of different age classes, much like a
patchwork quilt or a chessboard with smaller blocks
of older, flammable forest surrounded by blocks of
younger, more fire resilient forest. This crown fire
spread-resistant pattern could be accomplished by
designing a patchwork using computer fire behavior
simulation programs and then implementing a har-
vest schedule to create the mosaic. The downside is
that this strategy would likely increase the cost of
harvesting, but the resource damage and financial
losses reduced over the long term could certainly
offset those costs.
unfortunately, in August 2006, an intense fire swept
through the serra d’ossa destroying 5,344 hectares.
helicopter video clips, compliments of Bombeiros
voluntários de Estremoz, show an intense crown fire
burning in a large, continuous, mostly unharvested
area of the forest.
http://www.youtube.com/watch?v=ytUkxny9fb
4&feature=related (from 2 to 4 minute marker)
The abandonment of cultivated lands that once pro-
vided effective fire breaks, the creation of large ex-
panses of even-aged, monoculture forests and the
establishment of natural Areas with unmanaged
vegetation all potentially increase fire risk. These
situations invariably result in an unacceptable fuel
accumulation and continuity that make fire suppres-
sion difficult, and consequently increase the risk of
destruction of those ecosystems and resources inten-
ded for preservation.
wave to the equation and any ignition potentially be-
comes an instant inferno. so what can be done?
during the technical review in 2004, standing on a fire
detection tower in serra d’ossa, it was apparent that
any fire escaping first intervention efforts had the po-
tential of burning a very large area of the forest. This
conclusion was based on viewing large continuous
blocks of dense Eucalyptus forest with no break in
fuels sufficient to offer much assistance in stopping a
running crown fire. harvesting was conducted in lar-
ge continuous tracts, starting at one end and working
across the landscape, like a Pac man sequentially ea-
ting dots in a line. While this approach reduced fire
risk where harvesting occurred, it offered little pro-
tection to the remaining large blocks of unharvested
area. The result is that much of the forest is left highly
vulnerable to crown fire propagation and spread.
FIgURA 3 large, continuous tracts of harvested and unharvested areas in serra d’ossa Forest (Beighley 2004).
In addition, this situation is complicated by an incre-
ase in unauthorized building in the middle of forests
and other wildland areas. First intervention and fire
combat forces needed to protect natural resources
are often diverted to defend structures rather than
stopping the fire from spreading into new, unbur-
ned areas. As a result, buildings are protected but
fires continue to get bigger and threaten additional
buildings. Fire combat forces are then required to
leap-frog from building to building rather than stop-
ping fire perimeter growth. Protecting structures will
always take priority over protecting wildlands. This
contributes to a continuing degradation of forests
and other natural resources by fire.
large tracts of highly flammable forest and abando-
ned agricultural land need to be managed to reduce
the potential for fire growth and improve resilience
to damage by fire. Public policies that affect land use
changes such as planting forests in agricultural land
set-asides and conservation rules for natural areas
need to be reviewed and revised to insure compa-
tibility with the wildland fire prevention scheme for
a given area and with a full understanding of the
potential effects of a changing global climate.
In 2004, we asked many questions about fire pro-
gram effectiveness and most went unanswered. mul-
tiple levels of government and private funding sour-
ces contribute to the overall wildland fire protection
program but there was no attempt to summarize all
these expenditures in an annual report. What effect
do various elements of the program (prevention,
detection, first intervention, and combat) have on
the overall objective of defending forests from fire?
Which activities are the most effective and which are
the least? nationally, how much money is spent on
extinguishing rekindled fires? It’s now encouraging to
see that much of this information is being accumula-
ted, analyzed, published and discussed at workshops
and conferences.
Portugal’s forests and rural agricultural zones are va-
luable national assets that deserve protection. seve-
ral key structural and technical changes would help
stop the continuing erosion of productivity resulting
from wildland fire damage. specifically, reducing the
number of human-caused ignitions and creating fire-
resilient landscapes are the most daunting problems
left to solve. Progress in these areas would better po-
sition Portugal to minimize future fire related losses.
| 138 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 139 |
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PAulo m. FERnAndEs
departamento Florestal, universidade de Trás-os-mon-
tes e Alto douro
Enquadramento e metodologia
o impacto nas características do regime de fogo cons-
titui uma medida do desempenho a longo prazo de
um sistema de defesa da Floresta contra Incêndios
(dFcI). o regime de fogo, incluindo a sua intensidade
(que condiciona a efectividade dos meios de combate e
consequentemente a área ardida), conjuga as influên-
cias do clima, vegetação (combustível) e topografia.
Estes factores exercem o seu efeito a escalas temporais
e espaciais distintas, cuja importância relativa é muito
debatida (e.g. Fernandes e Botelho, 2003; moritz et al.
2004; drever et al. 2008). À escala regional é de espe-
rar que prevaleçam os factores climáticos, enquanto
que as características do combustível e do terreno con-
trolam o fogo localmente (heyerdahl et al. 2001).
é nosso objectivo a quantificação de alterações re-
centes na incidência de fogos rurais em Portugal
continental. Porque a dinâmica temporal da activi-
dade de fogos depende largamente do contexto me-
teorológico este tem que ser considerado ao emitir
juízos sobre o eventual (des)agravamento da situa-
ção de incêndios. Em Portugal a variação meteoro-
lógica inter-anual explica cerca de 80% da variação
na área ardida (Pereira et al. 2003). Assim, e a fim
de detectar diferenças objectivas entre os período de
2001-2005 e 2006-2008, apreciamos a evolução re-
cente de indicadores da efectividade das várias com-
ponentes da gestão do fogo através de uma análise
estatística que procura anular o “ruído” associado
às condições atmos féricas. A selecção da fronteira
entre os dois períodos de tempo foi determinada
pela gravidade dos incêndios em 2005 e porque
muitas das decisões e medidas pós-2003 apenas
se consolidaram ou concretizaram em 2006-2008.
os indicadores adoptados constam da Tabela 1. Por ra-
zões óbvias não é possível tratar o efeito da gestão de
combustíveis e silvicultura preventiva, que qualquer um
dos indicadores implicitamente reflectirá. os três primei-
ros indicadores foram calculados diariamente à escala
nacional a partir da análise da informação constante na
base de dados fornecida pela Autoridade Florestal na-
cional (AFn). A mediana da dimensão dos grandes in-
cêndios (acima de 100 ha) foi calculada semanalmente,
uma vez que os maiores fogos se prolongam por vários
dias e é impossível associar as condições meteorológi-
cas de um determinado dia à área ardida nesse dia.
TABELA 1. Indicadores de desempenho das actividades de gestão do fogo.
ACTIvIDADE INDICADOR
Prevenção de ignições número de ocorrências
detecção e 1ª intervenção Proporção de ocorrências ≥ 1 hectare
Ataque inicial Proporção de fogos ≥ 100
hectares
Ataque ampliado dimensão mediana dos fogos ≥
100 hectares
| 140 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 141 |
o sistema FWI (van Wagner, 1987) integra o sistema
canadiano de indexação do perigo meteorológico de
incêndio, comprovadamente robusto e interpretável
operacionalmente. o FWI discrimina índices da hu-
midade de três estratos do combustível (FFmc, dmc,
dc) e índices do comportamento potencial do fogo,
respectivamente IsI (velocidade de propagação), BuI
(consumo de combustível) e FWI (intensidade do fogo).
os componentes do FWI podem medir a combustibili-
dade mas não indicam o risco de incêndio (Alexander,
1994), mas a sua aferição para Portugal baseou-se
num estudo climatológico e em correlação com as es-
tatísticas de incêndios (viegas et al. 2003). Palheiro et
al. (2006) estabeleceram classes de FWI que definem
dificuldades crescentes de extinção do fogo em pinhal
e nas quais assentam os usos operacionais actuais.
os indicadores de desempenho correlacionaram-se
com os vários índices que constituem o FWI, calcu-
lados pelo Instituto de meteorologia com base nos
dados individuais de 61 ou 85 estações meteoroló-
gicas, dependendo do ano. Para 2008 só foi possí-
vel apurar a informação respeitante aos meses de
Abril a setembro. os indicadores número de ocor-
rências, proporção de ocorrências com área igual
ou superior a um hectare, e proporção de fogos
com área igual ou maior que 100 hectares foram
confrontados com as médias diárias nacionais dos
índices do FWI. A dimensão dos fogos ≥ 100 hec-
tares examinou-se em função dos índices da esta-
ção (ou estações) meteorológicas mais próximas.
A análise estatística incluiu dois procedimentos com-
plementares:
01. Análise de covariância para identificação de di-
ferenças entre os períodos 2001-2005 e 2006-
2008 para os vários indicadores de desempenho.
A análise testou a existência de diferenças esta-
tisticamente significativas entre as médias por
período das predições do modelo FWI ajustadas
para condições meteorológicas neutras.
02. modelação por regressão não-linear da variação
dos indicadores em função dos índices do FWI
para o período 2001-2005, aplicação dos mo-
delos a 2006-2008, e determinação do desvio
dos valores observados em relação aos valores
estimados. Esta análise não se efectuou para os
indicadores que o procedimento anterior identi-
ficou como não sendo estatisticamente distintos
entre os dois períodos.
Prevenção de ignições
os resultados das análises figuram na Tabela 2. o nú-
mero diário de ocorrências é o indicador que numa
análise à escala diária está mais fortemente associa-
do às condições meteorológicas, sendo grandemen-
te explicado pelo FFmc, índice do teor de humidade
do combustível morto e fino. Este índice em conjun-
to com o índice dmc (que reflecte a humidade da
folhada inferior) e com o período (2001-05 ou 2006-
08) explica 76% da variação observada no número
diário de ocorrências. o número de fogos ajustado
para condições meteorológicas neutras foi significa-
tivamente inferior no período mais recente, sofrendo
uma redução de 22% face a 2001-2005. verifica-se
porém que o peso relativo da mudança de período
no número de ocorrências é somente de 8%.
TABELA 2 variáveis explicativas da variação dos indicadores de desempenho e diferenças entre os períodos 2001-2005 e 2006-2008. * Ajustamento para condições meteorológicas neutras. valores na mesma linha acompanhados por letras distintas são significativamente diferentes (p<0.05, teste de Tukey-hsd) ** calculado como [(observado – estimado) / estimado] x 100, sendo as estimativas efectuadas com o modelo 2001-05.
INDICADOR vARIávEIS NO MODELO MéDIAS AJUSTADAS *
2001-05
2006-08 DESvIO (%)**
2006-08
nº ocorrências FFmc, dmc 74 a 61 b -21,5
Prop. fogos >1 ha nº ocorrências, IsI, época 0.197 a 0.129 b -36,6
Prop. fogos >100 ha FWI, prop. ocorr. > 1 ha 0.0036 a 0.0018 b -63,1
dimensão mediana
dos fogos >100 ha
FWI, nº fogos >100 ha 245 a 253 a _
FIgURA 1 número observado de ocorrências diárias em 2006-2008 versus estimativa efectuada com o modelo desenvolvido para 2001-2005. Fogos de outono-Inverno a castanho.
nº estimado de ocorrências
100
500
400
300
200
100
0
nº
obse
rvad
o de
oco
rrên
cias
200 300 400 5000
6 -
13 A
gost
o 20
06
nov
embr
o 20
07
| 142 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 143 |
Detecção e primeira intervenção
A proporção diária de fogos cujo tamanho final su-
perou 1 ha aumentou com o número de ocorrências.
mais ignições significam maior secura do combustí-
vel, mas também maior lentidão no processo de des-
pacho e menor disponibilidade de meios para a 1ª
intervenção. o índice IsI (expressão conjunta da ve-
locidade do vento e humidade do combustível fino)
revelou-se porém mais importante na explicação
da variância remanescente. uma variável adicional
mostrou-se influente: em igualdade de circunstân-
cias uma maior percentagem das ocorrências cresceu
para lá de um hectare na época de novembro-Abril
em comparação com maio-outubro, provavelmente
em resultado das diferenças no nível de prontidão.
A Figura 1 confronta os números observado e esti-
mado de ignições para o período 2006-2008. Para
os fogos de Primavera-verão há uma tendência
notória de decréscimo de ocorrências, excepto na
semana mais quente e seca de Agosto de 2006, o
que realça a facilidade de ignição nas condições mais
extremas e sugere limites para a efectividade das ac-
ções de sensibilização e dissuasão. note-se também
o extraordinariamente elevado número de fogos em
novembro de 2007. os desvios sazonais ao número
expectável de ignições em 2006-2007 foram 95% no
Inverno (Janeiro-março), -35% na Primavera (Abril-
Junho), -25% no verão (Julho-setembro) e 104% no
outono (outubro-dezembro). o duplicar do número
de ocorrências no outono-Inverno é sintomático da
importância do uso do fogo no espaço rural, num
contexto em que o patrulhamento durante a época
“normal” de fogos aumentou.
o número de ignições ajustado para condições me-
teorológicas neutras é substancialmente menor a
partir de 2004, tendo atingido o mínimo em 2008
(Figura 2).
FIgURA 2 desvio anual ao número de ocorrências de acordo com o modelo desenvolvido para 2001-2005.
2002
20
10
0
-10
-20
-30
-40
varia
ção
(%)
2003 2004 2005 2006 2007
Ano
2001 2008
Ataque inicial
A Figura 4 mostra que o índice FWI está bastante
bem correlacionado com a proporção mensal de
grandes (>100 ha) incêndios. os pontos correspon-
dentes a 2006-08 estão quase sempre abaixo da
curva exponencial ajustada, sendo que em alguns
meses da época “baixa” (Janeiro, outubro e dezem-
bro de 2005; Fevereiro de 2006; Abril de 2008) a
importância relativa dos fogos >100 superou a ex-
pectativa, provavelmente devido a menor prontidão
do dispositivo de combate.
considerados os efeitos da meteorologia (FWI) e
da redução no número de fogos > 1 ha, ocorreram
menos gran des incêndios em 2006-2008 em com-
paração com 2001-2005, com um desvio de -63%.
cerca de 20% da redução é atribuível ao período.
A Figura 5 mostra que nos anos de 2006 a 2008
houve uma redução real na proporção de grandes
incêndios, ou seja, que a quebra registada não se
deveu somente a condições meteorológicas favo-
ráveis. Pelo contrário, a meteorologia de 2004 não
justifica que a fracção de grandes fogos seja a maior
de todos os anos desde 2001.
neutralizando os factores meteorológico e sazonal
verifica-se que a proporção de fogos >1 ha foi sig-
nificativamente inferior no período 2006-2008, com
um desvio negativo de 37%. A importância relativa
do período temporal na redução da proporção de
ocorrências >1ha foi de 33%.
A Figura 3 mostra um decréscimo − apenas inter-
rom pido em 2004 − da fracção de fogos >1 ha
ao longo do período de análise, o que indicia um
aumento progressivo do desempenho da detecção
/ 1ª intervenção.
FIgURA 3 desvio anual à proporção de fogos com dimensão superior a 1 ha de acordo com o modelo desenvolvido para 2001-2005.
2002
30
20
10
0
-10
-20
-30
-40
-50
varia
ção
(%)
2003 2004 2005 2006 2007
Ano
2001 2008
| 144 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 145 |
FIgURA 4 Proporção mensal de fogos maiores que 100 ha versus índice FWI. os pontos castanhos correspondem aos meses de 2006-2008.
0.020
0.015
0.010
0.005
0.000
prop
orçã
o de
fog
os >
100
ha
10 20 30
FWI
0 40Ataque ampliado
o indicador dimensão (mediana) dos grandes fogos
variou em função do índice FWI e do próprio número
de grandes fogos, denotando a dispersão de meios
de combate que usualmente acompanha as situações
meteorológicas mais adversas. A dimensão dos fogos
>100 ha foi substancialmente superior do que o FWI
deixaria antever nos meses de Agosto de 2003, mar-
ço e Junho de 2004, e Janeiro e dezembro de 2005.
não foi possível detectar uma evolução positiva no
desempenho do ataque ampliado em 2006-2008,
uma vez que a média ajustada para um FWI neu-
tro não difere estatisticamente da média do período
2001-2005. Este resultado não surpreende, dada a
fragilidade do ataque ampliado, tal como constata-
do durante a monitorização de incêndios individuais
efectuada durante a fase charlie (1 de Julho a 30
de setembro) de 2007. As deficiências do ataque
ampliado, e do combate a incêndios em geral em
Portugal, incluem (Botelho et al. 2008):
• Atribuição rígida dos níveis de prontidão;
• estratégia e tácticas de combate que não conside-
ram a evolução previsível do incêndio;
• meios e tácticas desadequados ao nível do compor-
tamento do fogo;
• alocação e gestão de meios não ajustados ao ciclo me-
teorológico diário nem ao ciclo de vida do incêndio;
• à excepção dos grupos de Análise e uso do Fogo,
não há pessoal dotado de competências essenciais
a um controlo perimetral efectivo (avaliação do pi-
ro-ambiente, meteorologia de incêndios, análise
avançada de incêndios);
• muitas normas operacionais ligadas à coordenação
e organização do teatro de operações não têm cor-
respondência no terreno, por falta de uma estrutu-
ra de comando que as implemente.
FIgURA 5 desvio anual à proporção de fogos com dimensão superior a 100 ha de acordo com o modelo desenvolvido para 2001-2005.
2002
40
20
0
-20
-40
-60
-80
-100
varia
ção
(%)
2003 2004 2005 2006 2007
Ano
2001 2008
| 146 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 147 |
Conclusão
A principal limitação da análise efectuada prende-se
com a sua resolução espacial e temporal. A enorme
extensão do território que ardeu de 2001 a 2005,
mais de 1.2 milhões de hectares, terá forçosamente
limitado a extensão dos fogos ocorridos em 2006-
2008 em várias regiões do país. uma terceira limi-
tação residirá na capacidade do sistema FWI para
representar adequadamente o potencial de compor-
tamento do fogo em ambientes meteorológicos ex-
tremos, nomeadamente em situações de forte ins-
tabilidade atmosférica após um período de secura
bastante prolongado. Em formações dominadas por
vegetação arbustiva o FWI sobrestima o potencial de
fogo na Primavera, mas é possível que o subestime
nos verões mais secos.
As análises efectuadas permitem concluir que o de-
sempenho combinado das actividades de prevenção
de ignições, detecção/1ª intervenção e ataque inicial
ao fogo evoluiu favoravelmente de 2001-2005 para
2006-2008. os ganhos de eficiência atribuíveis ao
período 2006-2008 verificaram-se principalmente
na detecção/1ª intervenção e, em menor grau, no
ataque inicial. é especialmente relevante constatar a
diminuição da fracção de fogos que excedem 100
ha de tamanho, uma vez que são responsáveis pelos
impactes mais severos e por grande parte da área ar-
dida total. Em 2006-2008 os grandes incêndios cor-
responderam a 65,5% da superfície queimada total,
face a 84,3% em 2001-2005. não há porém evidên-
cias de melhorias nos resultados do combate amplia-
do a incêndios, o que significa que não é de excluir
uma repetição dos anos críticos de 2003 e 2005.
A reforma do sistema dFcI encetada após 2003 inci-
diu essencialmente em alterações com repercussões
na prevenção de ignições e nas actividades de pré-
-supressão e supressão do fogo. os resultados po-
sitivos alcançados reflectem este esforço − e uma
visão essencial mente de protecção civil, que a mu-
nicipalização do planeamento da dFcI reforça − mas
não são sustentáveis a médio e longo prazo sem um
empenho comparável em medidas de efectiva pro-
tecção florestal. Adicionalmente, não é plausível que
o actual (e economicamente irracional) modelo de
combate a incêndios, onde a força se substitui ao
conhecimento técnico, seja compatível com ganhos
de efectividade na supressão de grandes incêndios.
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IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 149 |
DO PAÍS DAS CHARNECAS AO PAÍS DOS INCÊN-
DIOS – A EvOLUÇãO DA FLORESTA E DOS FO-
gOS NA IMPRENSA PORTUgUESA
PEdRo AlmEIdA vIEIRA1
Em 1815, José Bonifácio de Andrada e silva, admi-
nistrador das matas, lamentava, na sua obra memó-
ria sobre a necessidade e utilidades do Plantio de
novos Bosques em Portugal, que «apesar de muitas
Ordenações e Regimentos que mandam fazer novas
sementeiras e plantações, e dão providências para a
sua guarda, conservação e aproveitamento, os nos-
sos bosques estão desaparecendo com uma rapidez
espantosa há pouco mais de um século, porque des-
de então não têm cessado as causas da sua ruína».
Especialista em minas, Andrada e silva olhava para
a floresta portuguesa como um filão já exaurido, re-
ferindo que, em relação aos bosques existentes no
início do século XvII, «desapareceram uns de todo e
outros só têm famintos restos para nossa saudade».
nesta sua obra – que constituía uma apologia à arbo-
rização do país com pinheiro-bravo, Andrada e silva
– considerava que o aumento demográfico, os arro-
teamentos de áreas para lavoura e a instalação desre-
grada de unidades fabris eram problemas que pode-
riam ser corrigidos e minorados, mas que acabavam
por ser «filhas meramente do nosso desmazelo».
Perante este cenário, não surpreende que o botânico
Avelar de Brotero tenha apurado, em 1827, que as
zonas de incultos representavam então metade de
Portugal, englobando «quase todas as serras (...),
nuas de arvoredo nos seus cumes (...), cheios de ur-
zes, carquejas, estevas, sargaços, tojos, silvas, fetos e
outras plantas bravas, arbustivas e herbáceas».
os problemas diagnosticados por Andrada e silva,
e confirmados por Avelar de Brotero, não se resol-
veram nos anos seguintes. Em 1866, um inventá-
rio pormenorizado do património florestal regido
pelo Estado apurou a existência de apenas 18.310
hectares, dos quais somente cerca de 15 mil se en-
contravam arborizados. destes, 80% constituíam
o pinhal de leiria. Posteriormente, uma estimati-
va elaborada em 1868 pelo agrónomo Rebello da
silva apontava para apenas 112.436 hectares de
floresta em todo o país, o que representaria uns
meros 1,3% do território! Portugal era então um
autêntico país escalvado ou coberto de matagais.
As campanhas de arborização encetadas a partir da
parte final do século XIX aumentaram significativa-
mente o risco de incêndios florestais. o motivo é
óbvio: o Portugal de charnecas transformou-se num
Portugal de floresta.
no primeiro inventário florestal, efectuado entre
1902 e 1907, a área arborizada em Portugal atin-
gia já os 1,96 milhões de hectares. comparativa-
mente a 1875, constituía um ritmo de arborização
notável, com a duplicação dos povoamentos de pi-
nheiro, sobreiro e azinheira. neste período, as três
principais espécies florestais estavam mesmo quase
em equilíbrio: o pinheiro ocupava 430 mil hectares,
os montados de azinho estendiam-se por 417 mil e
montado de sobro abrangiam 366 mil. E mesmo as
outras formações arbóreas – sobretudo castanheiro
1 licenciado em Engenharia Biofísica e jornalista. Este texto baseia-se sobretudo no livro de sua autoria Portugal: O Vermelho e o Negro, publicado em 2006 pelas Publicações dom Quixote.
| 150 | IncÊndIos FloREsTAIs - 5 Anos APÓs 2003 | 151 |
e carvalhos – mais que decuplicaram, passando dos
60 mil hectares, estimados em 1875, para mais de
700 mil.
Este incremento da florestação manter-se-ia com gran-
de dinamismo até final dos anos 30 do século XX,
tendo beneficiado sobretudo o pinheiro-bravo. Em
poucas décadas, a «pinheirização» tornaria dominan-
te esta espécie na floresta portuguesa. consideran-
do correctos os valores de 1875, os pinhais mais que
quintuplicaram a sua área em seis décadas, passando
de 210 mil hectares para 1,16 milhões em 1939.
o sobreiro também haveria de beneficiar com esta
vaga silvícola do país. devido ao aumento da renta-
bilidade da cortiça, como produto industrial, a área
de montados de sobro quase duplicou entre 1910 e
1939, atingindo-se então os 690 mil hectares. Ape-
nas se evita a palavra «sobreirização» por estarmos
perante uma espécie autóctone do país.
contudo, a azinheira não teve a mesma sorte e, du-
rante este período, registou uma ligeira redução da
área, passando de 417 mil hectares para 360 mil.
certo é que, pela primeira vez na história de Portu-
gal, a floresta começou a mostrar sustentabilidade
e rentabilidade económica, distribuída ao longo do
território. A cortiça, por um lado, constituía uma im-
portante fonte de receitas no sul do país, enquanto
os pinhais beneficiavam sobretudo as regiões do nor-
te e centro. os pinheiros ainda se rentabilizaram mais
por via da exploração de uma outra mais-valia, para
além da madeira: a resina. de facto, o valor deste
produto teve um crescimento quase exponencial a
partir de 1920. nesse ano, a resina portuguesa ex-
portada tinha sido apenas de duas mil toneladas,
mas em finais dos anos 30 já atingiu as 58 mil, repre-
sentando então quase 100 mil contos. nessa altura,
os produtos resinosos ocupavam a quarta posição
nas exportações portuguesas, a seguir aos vinhos, à
cortiça e às conservas, dado que Portugal passou a
produzir cerca de 9% da resina mundial.
Perante o sucesso da arborização do país, o Estado
novo pretendeu mais. Em 1937, três anos depois de
ser criada a Junta de colonização Interna, foi aprova-
do o Plano de Povoamento Florestal com o objectivo
de arborizar cerca de 420 mil hectares, sobretudo
com pinheiro-bravo, em terrenos baldios de regiões
serranas do centro e norte do país. A contestação
popular que se seguiu terá sido algo semelhante à
ocorrida no início do século, durante a primeira fase
da «pinheirização». no entanto, devido às caracte-
rísticas do regime fascista, a sua repercussão chegou
até à actualidade. muito também por via do roman-
ce «Quando os Lobos Uivam», escrito em 1958 por
Aquilino Ribeiro2. é certo que a arborização durante
este período foi, sem dúvida, imposta com coacção,
mas não se pode defender que tenha lesado os in-
teresses da generalidade dos portugueses. A floresta
era sentida como um produto bastante rentável e o
marketing político conseguia convencer que assim se
assegurava «continuidade à alma nacional».
os efeitos sociais da execução do Plano de Povoa-
mento Florestal ainda não estão devidamente ava-
liados – pelo menos, com a devida frieza histórica.
Em todo o caso, se em algumas zonas a «usurpa-
ção» dos baldios contribuiu para um êxodo rural, em
termos regionais a floresta não foi responsável pelo
despovoamento progressivo do interior do país. com
efeito, nos anos 40 – ou seja, durante a primeira fase
de arborização dos baldios –, todos os distritos por-
2 o romance retrata a luta de uma povoação na ficcionada «serra dos milhafres» contra a arborização dos baldios. o livro seria apreendido pelo Estado novo, que intentou um processo ao escritor Aquilino Ribeiro, que apenas por pressões internacionais se livrou de uma condenação.
tugueses aumentaram a sua população. o despovoa-
mento do interior apenas se iniciou em meados da
década de 50, e com uma espantosa expressão nos
anos 60, estando na sua génese factores sociais mais
globais. ou seja, jamais teria sido evitada se não hou-
vesse floresta nos baldios; muito pelo contrário3.
Por outro lado, convém também relativizar a sempre
propalada «pinheirização» do Estado novo. o Plano
de Fomento Florestal apenas conseguiu, até 1974,
aumentar a área de pinhal em cerca de 200 mil hec-
tares, metade do previsto pela Junta de colonização
Interna. E a «culpa» foi de uma árvore que era quase
ornamental no final do século XIX: o eucalipto.
de facto, como espécie silvícola em Portugal, o euca-
lipto é um novato. no início do século XX nem tinha
qualquer expressão territorial e em 1956 somente
ocupava uma área de 76 hectares. o boom ocorreu
após a inauguração de uma fábrica de celulose em
cacia, perto de Aveiro, que pela primeira vez a nível
mundial começou a produzir pasta de papel recorren-
do ao eucalipto. no início, pensou-se que seria uma
unidade fabril economicamente insustentável, mas o
tempo e a tecnologia mostrariam o contrário. E logo
o Estado novo viu ali um bom negócio «patriótico»,
reorientando a sua política de arborização. Assim,
quando em 1966 foi criado o Fundo de Fomento
Florestal – para arborização de terrenos privados –,
os eucaliptais foram os mais beneficiados. Porém, tal
como já acontecera com o pinheiro no início do século
XX, nesta fase também houve acções «pedagógicas»
para convencer os proprietários privados. As vanta-
gens económicas então apontadas para os eucaliptos
eram, de facto, tentadoras: lucros 10 vezes superio-
res ao que se obtinham com outras espécies florestais
ou com a agricultura. Foi, por exemplo, neste período
que se fizeram as grandes plantações de eucalipto na
serra da ossa. no Alentejo, entre 1965 e 1974 terão
sido arborizados cerca de 80 mil hectares.
o inventário florestal de 1974 revelaria, assim, uma
inédita e profundíssima alteração do coberto arbó-
reo do país. Apesar do «incumprimento» das me-
tas previstas pela Junta de colonização Interna, o
pinheiro atingiu o seu pico máximo – 1,33 milhões
de hectares –, mas o eucalipto mostrou já que estava
a encetar a sua escalada expansionista, totalizando
então os 215 mil hectares. Porém, em abono da ver-
dade, os montados não ficaram esquecidos durante
o Estado novo. Embora as intensas secas dos anos
40 tenham afectado bastante o sobreiro – resultou
numa elevadíssima mortalidade e na perda de área
de quase 125 mil hectares até meados na década
de 504 –, registou-se depois uma ligeira recupera-
ção, da ordem dos 30 mil hectares. Quem acabou
por beneficiar, numa primeira fase, foi o montado de
azinho, pois aguentando melhor as secas conseguiu,
entre 1934 e 1956, expandir-se mais quase 200 mil
hectares, passando a ocupar 573 mil hectares, o que
constitui o valor mais elevado de sempre5. Este incre-
mento deveu-se também a outro factor: o melhor
aproveitamento da bolota como fonte de alimenta-
ção do porco alentejano.
Porém, as duas décadas seguintes, até à chegada da
democracia, já não foram tão positivas. Por um lado,
a contínua procura de terrenos para a campanha do
Trigo do Estado novo «roubou-lhe» alguma área. E
no início da década de 60, a eclosão da peste suína
africana retirou-lhe a importante mais-valia econó-
mica associada à pecuária extensiva. mesmo assim,
3 Pode-se sim acusar o Estado novo de ter tido uma inadequada política rural – sendo a campanha do Trigo um paradigma –, por insistir em cultivar cereais em solos inadequados. A floresta, ao invés, manteve uma razoável rentabilidade, mesmo nas épocas de maior crise.
4 Entre 1949 e 1956 terão sido cortados mais de um milhão de sobreiros decrépitos e doentes. 5 desde que existem registos estatísticos fiáveis, este foi o único período de expansão da azinheira em Portugal. o Inventário Florestal de 1995 aponta um
acréscimo de seis mil hectares na área ocupada por montados de azinho em relação a 1985, mas com um grau de incerteza estimado de ± 10.678 hectares, pelo que, a ter ocorrido, a expansão foi residual.
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em 1974, a azinheira estendia-se ao longo de 536
mil hectares, mais do dobro daquela então ocupada
pelo eucalipto.
mas a democracia iria revolucionar mais a floresta
portuguesa. neste caso, mais para o mal do que para
o bem. E sobretudo por causa dos incêndios.
Os fogos na imprensa
mais árvores adultas, mais combustível, logo maior
risco de incêndio. Parece uma verdade do senhor de
la Palice. Porém, mesmo admitindo que o número
de fogos tenha aumentado à medida que os povoa-
mentos florestais se foram tornando adultos em fi-
nais do século XIX, o risco não se transformou logo
em catástrofe. na imprensa portuguesa do início
do século XX indicia que não deveriam existir fogos
de dimensão relevante ou estes eram raros – tanto
assim que nas poucas notícias sobre este tema até
se destacava a morte de coelhos6. no entanto, os
que existiam eram quase sempre considerados actos
criminosos7. vivia-se então num período de euforia
florestal e a gestão era considerada exemplar8. Para
os jornais portugueses, incêndios pavorosos apenas
ocorriam no estrangeiro9.
Para esta situação muito contribuiu a estrutura social
e demográfica do país. A floresta passara a ser vis-
ta como uma fonte de rendimento e explorada em
todas as suas mais-valias. no caso dos montados, no
sul do país e na zona de Trás-os-montes, o pastoreio
extensivo e agricultura evitavam o crescimento dos
matos. no restante território, com maior abundân-
cia de pinhal, a utilização do subcoberto (agulhas,
matos e restos de madeira) para usos quotidianos
e pecuários possibilitava uma redução do risco de
incêndios. Por outro lado, a própria exploração da
resina implicava uma maior vigilância e controlo dos
pinhais, mesmo durante o verão.
no entanto, isto não significa que os incêndios eram
inexistentes durante o Estado novo. Em vários livros
técnicos era uma das grandes preocupações, obri-
gando mesmo a alterações ao nível das casas rurais.
Por exemplo, uma notícia da edição de 10 de Julho
de 1943 do século Ilustrado – intitulada «A terrível
catástrofe de castanheira de chã» – referia-se que
este «humilde povoado de (...) Trás-os-Montes, foi
inteiramente devorado pelas chamas», acrescentan-
do-se que «em parte a tragédia foi maior (...) porque
os telhados eram de colmo, material que não será
autorizado na futura reedificação». Em todo o caso,
até aos anos 60, raras são as notícias em jornais
sobre os fogos. Estes terão começado a surgir com
maior frequência a partir dos anos 60, porventura
em consequência do início do despovoamento do
interior e da litoralização do país.
6 numa consulta à imprensa da época encontram-se, de facto, poucas notícias de incêndios. As mais relevantes no jornal o século são as seguintes: «A serra da Carregueira em chamas» (12 de setembro de 1927), que refere ter o fogo reduzido «a cinzas milhares de pinheiros», causando a morte de «centenas de coelhos bravos»; «Incêndios» (10 de outubro de 1927), alegadamente de origem criminosa, na região de sernancelhe; «Incêndio de Leomil» (26 de Agosto de 1929), que destaca um fogo em moimenta da Beira, que durou três dias; «Dois pinhais em chamas», (5 de setembro de 1932), no concelho de sintra; «Dois incêndios, num dos quais foram devorados vinte mil pinheiros» (10 de Julho de 1933), acrescentando que foram carbonizados «dezenas de coelhos»; «2000 metros quadrados de matos e pinhal destruído» (31 de Julho de 1933); «Está a lavrar um grande incêndio nos campos entre Redondo e Alvarim» (28 de Agosto de 1933); «Mal dominado ainda, o fogo que lavra na serra da Carregueira já produziu estragos em valor superior de mil contos», (15 de outubro de 1934), no concelho de sintra; e «Quilómetros e quilómetros de matos, pinhais e oliveiras que as chamas devoraram» (20 de setembro de 1937).
7 Por exemplo, na Ilustração Portuguesa: «A nossa riqueza florestal e o vandalismo» (10 de Junho de 1912) e «O fogo no Pinhal de Leiria» (4 de setembro de 1916), destaca-se a alegada origem criminosa dos incêndios.
8 no artigo «Os incêndios nas florestas», da edição do jornal o século de 14 de março de 1927, a pretexto da publicação do livro «Noções de silvicultura» da autoria de horácio da silva Eliseu, abordava-se o problema dos incêndios florestais, destacando as medidas preventivas que se deveriam tomar. o artigo considerava modelar o serviço de incêndios do pinhal de leiria.
9 Por exemplo, no dia 13 de Agosto de 1928, o jornal o século titulava «Mil pessoas mortas no incêndio de uma floresta em França». Este fogo ocorreu nas regiões francesas de saint lauren e saint Julien, nos Pirenéus orientais. Este incêndio não se encontra referenciado na Emergency disasters data Base (EddB), embora esta base de dados da universidade católica de louvain tenha poucas referências a incêndios florestais anteriores à década de 80. Em todo o caso, a dimensão deste desastre em França pode mesmo ter sido real, tendo em conta que em outubro de 1918 surge reportado na EddB incêndios nos Estados norte-americanos de minnesota e Wisconsin que causaram também mil mortes.
de facto, entre 1961 e 1973 contabilizam-se 216 ar-
tigos publicados no diário de notícias sobre esta te-
mática. na maior parte dos casos fazendo descrições
aterradoras, com títulos que hoje poderiam ser uti-
lizados em qualquer redacção, plagiando-se mesmo
a localização e o conteúdo do artigo10. nessa altura,
tal como agora, os fogos nas imediações de lisboa –
sobretudo se afectassem as serras de sintra e da Ar-
rábida, bem como os concelhos vizinhos da capital –
eram sempre alvo de notícia, independentemente da
sua dimensão. mas com maior frequência eram publi-
cados artigos sobre incêndios no interior do país. Por
exemplo, o concelho de Pampilhosa já então ardia
nos anos 60. o mesmo para Figueiró dos vinhos, via-
na do castelo, Abrantes, gondomar, coimbra, etc.11.
curiosamente, pela leitura destes artigos sobre fo-
gos, numa escrita quase sempre pungente, não pare-
ce que haja sinais evidentes de censura por parte do
Estado novo. Pormenorizam-se as casas ardidas e a
aflição nas povoações em perigo, bem como os epi-
sódios mais trágicos, como as mortes de populares,
militares e bombeiros12. Em algumas notícias chega-
-se a apontar mesmo as lacunas existentes em ter-
mos de meios e experiência no combate. é certo que
isto se torna mais evidente no início da década de 70,
embora nessa época já houvesse uma maior abertu-
ra à liberdade de expressão. Por exemplo, na edição
de 1 de setembro de 1972, a revista vida mundial
publicaria um artigo – intitulado «Incêndios: Reflexo
de uma situação» – em que destacava a falta de lim-
peza das matas, o equipamento técnico pouco fiável
e o mau estado dos caminhos florestais. Em suma,
exceptuando o estilo de escrita então utilizado, não
se notam diferenças substanciais na abordagem dos
temas relacionados com os incêndios florestais entre
as notícias no Estado novo e a actualidade.
os incêndios durante o Estado novo eram vividos
com o desespero que se pode imaginar. um fogo é
sempre um fogo, que causará sempre pavor. E houve
alguns que terão provocado muito, pois envolveram,
no seu combate, centenas e mesmo milhares de pes-
soas13. Porém, pela leitura dos jornais da época torna-
-se difícil aquilatar a verdadeira dimensão da maioria
dos incêndios. A sua caracterização nas notícias é,
por regra, ambígua, destacando apenas a destruição
de uma «vasta área de pinheiros» ou a queima de
«grandes extensões de matos e arvoredo». Em ou-
tras notícias, as dimensões são apresentadas, mas
imprecisas por apenas apontarem o comprimento da
frente de fogo e não a área destruída14. de facto, a
10 A título de exemplo, no diário de notícias: «A aldeia de Carradas mutilada pelo fogo é um campo de desolação» (26 de Agosto de 1962); «Violentos incêndios em vários pontos do país» (29 de Agosto de 1962); «Pavoroso incêndio entre Pedrógão Grande e a Sertã», (24 de Julho de 1966); «A serra de Sintra e Malveira da Serra devastadas» (8 de setembro de 1966); «Pavorosos incêndios em Miranda do Corvo, Poiares e Coimbra» (2 de setembro de 1967); «Violento incêndio no concelho de Ferreira do Zêzere põe em perigo três povoações» (7 de outubro de 1967); «Incêndios em série na área de Lisboa», (14 de Julho de 1968); «Pavoroso incêndio ameaça quatro povoações na região de Trancoso» (26 de Julho de 1968); «Mil soldados e numerosos bombeiros combatem um dantesco incêndio que deflagrou perto do monte de Santa Luzia», (6 de setembro de 1970); «Pavoroso incêndio lavra há mais de três dias na zona da Pampilhosa da Serra» (5 de outubro de 1970), «A região de Bouça está transformada em autêntico braseiro» (1 de setembro de 1973). E ainda noutros jornais: «O fogo trouxe a morte e a desolação», (9 de setembro de 1961) e «Todos os anos, no Verão», (6 de setembro de 1969), no século Ilustrado; «Fogo e desgosto no mês de Agosto» (6 de setembro de 1968) e «Gigantesco incêndio na região de Águeda» (22 de Agosto de 1969), na vida mundial.
11 nas notas de rodapé seguintes estão referidos, na maior parte das notícias, a localização dos concelhos e regiões onde, com maior frequência, lavravam os incêndios durante este período.
12 sem se pretender ser exaustivo, por exemplo: duas pessoas carbonizadas em Figueiró dos vinhos em 1961; um bombeiro e um jornalista do diário de coimbra em 1962, três homens e um rapaz carbonizados num incêndio em Boticas em 1963, três crianças num fogo em corgouço em 1964, uma mulher carbonizada na serra da Póvoa de santo Adrião em 1965, e 25 militares mortos na serra de sintra em 1966. Esta última tragédia, ocorrida em 9 de setembro, é até agora a maior de sempre, superando os 14 bombeiros falecidos exactamente 19 anos depois (em 1985), no concelho de Armamar, e os 12 bombeiros mortos das corporações de Águeda e Anadia durante um incêndio em 15 de Junho de 1986.
13 Embora os bombeiros, durante o Estado novo, tivessem já alguma participação no combate aos fogos, essa tarefa era desempenhada sobretudo pelos guardas florestais e militares, auxiliados sempre pela população local, com meios básicos – e eficientes – de sapador. Algumas notícias apontam números bastante impressionantes, talvez exagerados. Por exemplo, em 6 de Agosto de 1971, o diário de notícias titulava «No combate ao fogo da região de Olalhas colaboraram mais de mil pessoas», e em 27 de Julho de 1965, «Mais de três mil pessoas dão combate num incêndio em Valongo».
14 Por exemplo, consulte-se os seguintes artigos do diário de notícias: «O fogo destruiu árvores e madeira, numa frente de 12 quilómetros no concelho da Mortágua» (8 de setembro de 1967); «Elevados prejuízos materiais em incêndio que destruiu dois quilómetros de mata na região de Penamacor» (16 de Agosto de 1968); «Violento incêndio na serra da Argemela com frente de 30 quilómetros» (21 de Julho de 1970); «Círculo de fogo de 10 quilómetros nas serras da Carregueira e Dona Maria» (7 de outubro de 1971); e «40 quilómetros de matas destruídos por fogo em Tomar» (15 de Julho de 1972).
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destruição media-se sobretudo «contabilizando» as
árvores – «centenas» ou «milhares» –, o que permi-
te deduzir que, nestes casos, a área efectivamente
destruída foi reduzida15. noutras notícias destacam-
-se sobretudo os prejuízos, mas também de forma
grosseira16. Em todo o caso, alguns incêndios terão
atingido dimensões significativas, pois demoraram
vários dias até serem extintos17. contudo, os gran-
des incêndios terão sido excepções. na verdade, até
1974, nas poucas notícias que apontam a área efec-
tivamente ardida, chega-se à conclusão que muito
poucos terão destruído mais de mil hectares18.
um sinal de que a destruição total dos fogos durante
o Estado novo não atingia grandes proporções nota-
-se pela inexistência de dados oficiais, tanto mais que
noutros sectores florestais havia um controlo esta-
tístico muitíssimo detalhado e rigoroso. Apenas em
jornais da década de 70 se começam a encontrar al-
gumas referências às áreas ardidas durante o regime
do Estado novo. nesses artigos, por regra, indica-se
que, entre 1968 e 1973, os fogos destruíam cerca de
10 mil hectares por ano, tendo sido inferior a cinco
mil hectares em 1969 e 1971. E os prejuízos totais te-
rão ficado sempre abaixo dos 50 mil contos por ano.
Estes valores – que tornam os incêndios no período
do fascismo quase irrelevantes – são actualmente
aceites como válidos. num relatório da equipa res-
ponsável pela proposta técnica do Plano nacional de
defesa da Floresta contra Incêndios assume-se mes-
mo que na década de 50 e 60 arderiam, em média,
somente cinco mil hectares por ano.
obviamente que estes valores devem ser vistos com
alguma reserva, mas não parecem existir quaisquer
dúvidas que os fogos florestais durante o Estado novo
eram raros e a esmagadora maioria pouco destruti-
vos. Algo que haveria de se modificar após a Revolu-
ção dos cravos. E sobretudo nos últimos 10 anos.
com a liberdade trazida pela Revolução dos cravos,
a floresta começou a arder. Embora as estatísticas
oficiais tenham mantido alguma falta de rigor até,
pelo menos, aos anos 80, a democracia anunciou-se
inequivocamente com uma quantidade inusitada de
incêndios. logo em 1974, a área ardida terá atingi-
do cerca de 30 mil hectares, o valor mais elevado de
sempre. Porém, esse seria apenas um prenúncio dos
novos tempos.
o ano de 1975, com o seu famoso verão Quente,
que convulsionou o país, deixou marcas profundas
na floresta. o país não esteve a ferro e fogo apenas
15 Esta «contabilidade» estava sobretudo no corpo da notícia, mas por vezes constava também no título. Por exemplo, em artigos do diário de notícias: «Na serra de Monsanto, maia de mil árvores foram destruídas» (20 de Agosto de 1961); «Milhares de pinheiros e eucaliptos destruídos na região do Sardoal» (20 de Julho de 1963); «Mais de 500 oliveiras em chamas próximo de Santarém» (1 de Agosto de 1967); e «Na serra de Montejunto, milhares de pinheiros e outras árvores destruídas» (4 e novembro de 1970). um pinhal em boa exploração tem cerca de duas mil árvores por hectare até aos 20 anos. com os desbastes subsequentes terá cerca de 500 árvores ao fim de 40 anos.
16 Por exemplo, consulte-se os artigos do diário de notícias: «Em Tondela causou mais de 100 contos de prejuízos» (20 de Agosto de 1961); «Em Tabuaço causou prejuízos de 400 contos» (24 de Agosto de 1961); «Incêndio em Soure com prejuízos de 800 contos» (12 de setembro de 1967); «Elevados prejuízos causados pelo fogo em vasta extensão de matos na Beira Litoral» (7 de Fevereiro de 1969); «Águeda (...) centenas de milhares de contos de prejuízos» (22 de Agosto de 1969); «15 casas de uma aldeia de montanha destruídas pelo fogo – Quase dois mil contos de prejuízo» (7 de outubro de 1971); e «50 mil contos de prejuízo em Nelas» (1 de setembro de 1973).
17 Por exemplo, em 1965, um incêndio nos concelhos de castanheira de Pêra e Figueiró dos vinhos surgiu relatado nas edições de 13, 14 e 17 de setembro do diário de notícias. Em 1966, o incêndio da serra de sintra que vitimou 25 militares, terá durado mais de três dias. Em 1967, dois grandes incêndios em gondomar e góis foram noticiados nas edições de 31 de Agosto e 1 de setembro. Em 1969, ocorreram incêndios com duração de dois dias nas regiões de souto de lafões, caminha e valongo. E em 1970, um fogo na serra da lousã terá lavrado quase uma semana. no mesmo ano, surge a referência, na edição de 5 de outubro do diário de notícias, a um incêndio que lavrava há mais de três dias na zona da Pampilhosa da serra. Em 23 de Agosto de 1972, o mesmo jornal titulava «Ao fim de 4 dias e 4 noites dominado incêndio em Vale do Vouga». E numa das primeiras edições do semanário Expresso, em 8 de setembro de 1973, destacava-se um incêndio na serra do gerês que «durante oito dias lavrou na única reserva zoológica oficial do nosso país».
18 Por exemplo, no diário de notícias: «Devorados 1.500 hectares de sobreiros perto de Lagos» (2 de Agosto de 1962); «Incêndio em Avintes afectou 20 Km2» (16 de Junho de 1967), ou seja, 2.000 hectares queimados; «Cerca de 130 hectares de matas destruídas pelo fogo na região de Vila Real» (3 de setembro de 1967); «30 mil metros quadrados de mato no lugar da Ferreirinha» (3 de Junho de 1968), ou seja, apenas três hectares destruídos; «2500 contos de prejuízo em incêndio que destruiu 250 hectares de pinhais em Vouzela» (22 de Agosto de 1968); «Incêndio na Serra de Carnaxide – cerca de 20 mil metros quadrados de mato» (21 de Agosto de 1970), ou seja, apenas dois hectares queimados; e «Dez hectares ardem em Alcochete e ameaçam campo de tiro» (12 de Agosto de 1974).
em termos políticos e sociais – ardeu literalmente.
Até ao 25 de novembro desse ano, contabilizam-
-se mais de meia centena de artigos sobre incên-
dios nas edições do diário de notícias. muitos são
respeitantes a fogos em várias fábricas, armazéns e
edifícios públicos, decorrentes do PREc, mas cerca
de 20 referem-se a fogos florestais. Alguns destes
também terão sido incêndios «políticos». de facto,
num ambiente social e politicamente muito tenso,
as diversas facções políticas digladiavam-se à beira
da guerra civil e acusavam-se mutuamente de fogo-
-posto nas florestas. E os próprios técnicos florestais
ao serviço do Estado ajudavam a instigar mais os
ânimos, apelando à «vigilância dos povos sobre as
matas», através da criação de milícias populares19.
Isso foi levado tão a sério que, além de acusações de
incendiarismo metendo avionetas com pára-quedas
incandescentes, houve casos caricatos e dramáticos.
Por exemplo, milícias que supostamente estavam a
vigiar incendiários, foram presos pela polícia... por
incendiarismo. E em são Pedro do sul houve o lin-
chamento de um homem acusado de fogo-posto20.
Todo este canário revolucionário resultou nuns inédi-
tos 82 mil hectares queimados ao longo de 1975.
os dois anos seguintes foram mais amenos: em 1976
a área queimada rondou pouco mais de 20 mil hec-
tares e em 1977 ficou nos 10 mil hectares. voltou-se,
portanto, à situação habitual. mas o verão Quente
tinha arreigado, para sempre, o mito dos incendiá-
rios. As notícias sobre a detenção de incendiários
aumentaram, mais por via das caças ao homem do
que por um aumento do fogo-posto. Fica a sensa-
ção, pela frequência de notícias sobre esta questão,
que existiam mais incendiários do que incêndios21.
Em 1978 – ano em que aumentou a área ardida,
atingindo-se os 68 mil hectares –, a confederação
nacional da Agricultura garantia mesmo que 90%
dos incêndios em Portugal tinham origem crimino-
sa. E para contribuir para enraizar essa ideia, surgiria
nos finais dessa década um grupo de pirómanos, ou
brincalhões, que se autodenominou «Esquadrão In-
cendiário», reivindicando a origem de vários fogos.
Embora a própria Polícia Judiciária tenha então des-
mentido a sua existência, certo é que a generalidade
dos portugueses via nos incêndios uma origem ex-
clusivamente criminosa. Apesar de tudo, a década de
70 terminaria com dois anos relativamente amenos:
em 1979 foi dizimada uma área de 48 mil hectares e
em 1980 atingiu-se os 44 mil hectares.
Embora a área queimada, e no número de notícias
nos jornais22, tivesse aumentado significativamente
durante os primeiros anos de democracia, o país
não sofrera incêndios de dimensões catastróficas. o
maior fogo da década de 70, registado na zona de
oleiros em Agosto de 1979, «apenas» afectou 2.500
hectares23. E mesmo tendo havido vários incêndios
que demoraram mais de um dia a serem extintos,
áreas contínuas ardidas com mais de mil hectares
19 A edição de 28 de Agosto de 1975 do diário de notícias titulava «Forças reaccionárias responsáveis pela vaga de incêndios – afirmou um técnico da Direcção-Geral dos Recursos Florestais».
20 Em 29 de Agosto, o diário de notícias titulava «O povo alerta as autoridades para avionetas incendiárias». no dia 3 de setembro, noticiava-se «Misteriosa avioneta vermelha acusada de provocar dois incêndios perto de Castelo Branco» e no dia 24 do mesmo mês, voltava ao tema: «Avioneta incendiária alarma a população da malveira». no dia 2 de setembro de 1975, informava que «oito antifascistas que procediam a acções de vigilância na zona de Amarante foram detidos por supostos incendiários». noutra notícia, do mesmo dia, referia-se que «em São Pedro do Sul, um homem foi morto à paulada por populares que suspeitaram que fosse incendiário».
21 no diário de notícias surgem, por exemplo, os seguintes títulos: «Devastados por incêndios matas e florestas – em vários casos há suspeitas de fogo posto» (8 de Agosto de 1977); «Fogos suspeitos nas minas da Panasqueira» (6 de setembro de 1977); «Fogos na Barquinha tiveram origem muito suspeita» (7 de setembro de 1977); «Incêndios em várias matas do nosso país, alguns possivelmente de origem criminosa» (19 de Julho de 1978); «Serra de Sintra – administração do perímetro florestal admite causa criminosa» (21 de Agosto de 1978); «Fogo posto em Odivelas» (18 de Agosto de 1979); «Grande maioria dos incêndios é provocada por actos criminosos» (25 de Agosto de 1979); «Representantes de 13 corporações de bombeiros do distrito de Viseu decidiram reclamar ao Governo medidas enérgicas contra os incendiários» (9 de outubro de 1979).
22 Entre 1974 e 1980, só o diário de notícia publicou cerca de 180 artigos sobre esta temática.23 na edição de 21 de Agosto de 1979, o diário de notícias titulava «Extinto fogo em Oleiros, tendo destruído a maior mancha florestal da Europa, numa extensão
de 250 quilómetros quadrados», ou seja, 2.500 hectares.
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continuaram a ser pouco frequentes. no entanto,
esta inédita vaga de incêndios era então considera-
da catastrófica. num artigo d’o Jornal, de Agosto
de 1979, em que se fazia um balanço dos fogos,
titulava-se «Portugal caminha para o deserto». E isto
porque, na década anterior, tinham ardido 300 mil
hectares – ou seja, uma média inferior a 30 mil hec-
tares por ano24. um valor que hoje seria considerado
extraordinariamente... bom!
na década de 80, a situação ainda pioraria mais.
logo em 1981 bateu-se o recorde de 1975, com uma
área queimada de quase 90 mil hectares, tendo três
concelhos registado uma destruição superior a sete
mil hectares. os três anos seguintes seriam menos
lesivos, com valores entre 40 mil e 50 mil hectares
de área queimada, mas foi apenas uma pausa. A ten-
dência já estava em aceleração. com efeito, em 1985
ultrapassar-se-ia, pela primeira vez em Portugal, a
fasquia dos 100 mil hectares ardidos, contabilizando-
-se 146 mil hectares ao fim desse ano. À dimensão de
floresta e matos queimados, acrescentou-se também
a tragédia humana, em resultado da morte de 14
bombeiros em Armamar. Perante este novo cenário,
as notícias de fogos durante o primeiro quinquénio
da década de 80 aumentaram e mantiveram o dra-
matismo noticioso de outrora25 – porém, desta vez,
com razão, uma vez que a dimensão geográfica dos
incêndios e a respectiva área ardida já o justificavam.
curiosamente, este coincidiu com uma profunda
reorganização da política florestal. Em 1981, o go-
verno do Partido social democrata reformulara a le-
gislação fundamental da prevenção aos incêndios e
as competências do combate aos serviços florestais,
transferindo-a para os bombeiros, que passavam a ser
«tutelados» pelo novo serviço nacional de Bombei-
ros. Perante o fracasso desta solução, procuraram-se
bodes expiatórios. E havia para todos os gotos. Re-
nasceu o mito dos aviões incendiários, apenas com a
variante de então se afirmar serem provenientes de
Espanha. os madeireiros começaram a ser olhados
com desconfiança, por alegadamente beneficiaram
da madeira queimada, mais barata. como se estava
então em plena vaga de «eucaliptização», as celulo-
ses também foram parar à lista de suspeitos, dado
que ofereciam valores irrisórios pela compra terrenos
aos proprietários afectados. E, claro, também a seca
e o tempo seco surgiram, de tempos em tempos,
como justificativo. Em suma, atribuiu-se às forças
malignas, um problema que já começava a ser evi-
dente: a fraca aposta na prevenção e as deficiências
na gestão da floresta.
Indiferente a estas discussões sobre os culpados, o
fogo foi continuando o ataque. E a segunda metade
dos anos 80 iniciou-se mesmo com novo drama hu-
mano: 12 bombeiros de Águeda e Anadia morreram
em combate às chamas em 1986, a que acresceu
o maior incêndio até então: 10 mil hectares, em
vila de Rei26. no rescaldo desse ano, a área ardida
aproximou-se dos 100 mil hectares. Por essa altura,
aumentaram na imprensa as críticas à falta de coor-
denação nos bombeiros, às lacunas na formação e
ao arcaísmo dos meios de combate imprensa27. Po-
rém, o governo de cavaco silva pouco fez a não ser
24 cerca de 40% da área queimada localizava-se no distrito da guarda e 75% na região centro. o distrito da guarda era, de acordo com a notícia, o único do país que ainda não possuía qualquer corpo de bombeiros.
25 Por exemplo, alguns títulos do semanário Expresso denotam esse revivalismo noticioso, mas já extensível a todas as regiões de Portugal: «Violentos incêndios no distrito de Coimbra» (16 de setembro de 1982); «Vaga de incêndios alastra» (10 de setembro de 1983); «Violento incêndio no Algarve» (7 de Julho de 1984); «Incêndios assolam as florestas» (4 de Agosto de 1984); «Incêndios por todo o lado» (11 de Agosto de 1984); «Incêndios por todo o país» (27 de Julho de 1985); «Recorde de incêndios no Alentejo» (10 de Agosto de 1985); «Incêndio em Monchique continua incontrolável» (17 de Agosto de 1985).
26 Este fogo mereceria destaque na edição de 19 de Julho de 1986 do semanário Expresso, que titulou: «Vila de Rei: o maior incêndios de sempre».27 Por exemplo, no semanário Expresso: «Bombeiros e protecção civil não se entenderam na região Centro» (21 de setembro de 1985); «5200 escudos poderiam
ter salvo os 26 bombeiros em Águeda e Armamar» e «Papéis a mais, guardas a menos» (28 de Junho de 1986, ambas), que destacam a falta de organização das entidades públicas e a carência de formação dos bombeiros; «Gardunha: Fogo avança e não há bombeiros» (19 de Julho de 1986); «Desentendimentos chegam aos bombeiros» (8 de Agosto de 1987); e «Não funciona a prevenção aos fogos florestais» (1 de Abril de 1988).
injectar mais verbas nas corporações de bombeiros,
comprar-lhes mais viaturas e construir mais quartéis.
E ficou satisfeito com isso, tanto mais que, nos dois
anos seguintes, a área queimada regrediu: em 1987
atingiu 77 mil hectares, e em 1988 desceu para 22
mil hectares. o serviço nacional de Bombeiros até re-
jubilou, garantindo que essas reduções na destruição
se deviam à melhoria do equipamento de combate e
também ao uso de aviões, que se tinham começado
a usar com maior frequência28.
os festejos duraram pouco. nos três anos seguintes
ardeu sempre, em cada um, mais de 100 mil hec-
tares29 – situação até então sem precedentes. E os
grandes incêndios generalizaram-se pelo território:
chamusca (1989), sabugal, Pampilhosa da serra e
vila Pouca de Aguiar (1990), e mação, oleiros, co-
ruche e Tomar (1991), entre outros. Até a cidade de
coimbra, em 14 de Agosto de 1991, foi ameaça-
da pelas chamas30. durante esta vaga de chamas, a
imprensa mostrava, cada vez mais, a sua estupefac-
ção, transmitindo-a sobretudo em editoriais e títulos
bombásticos31. E mais ainda quando os fogos come-
çaram a afectar as «jóias da Coroa»: os parques e
reservas naturais.
não era situação nova, arderem áreas protegidas,
mas jamais com tamanha frequência. Em 1989, um
incêndio no Parque nacional da Peneda-gerês foi
então considerado uma catástrofe. o Parque natural
da serra da Estrela foi também devastado, de forma
recorrente, durante este período32. mas acabaram
por ser os fogos nas áreas protegidas junto a lisboa
que causaram maior projecção mediática. Em 1990,
arderam 120 hectares na Área de Paisagem Protegi-
da (actualmente Parque natural) de sintra-cascais.
contudo, o impacte mediático foi maior por causa
das suspeitas que recaíram na família champalli-
maud. A zona mais afectada – o Abano, onde defla-
graram três frentes de fogo no dia 2 de novembro
– estava então a ser cobiçada para fins imobiliários33.
Em 1991 seria a vez do Parque natural da Arrábida a
ser palco das chamas. A ineficiência no combate – o
fogo apenas se extinguiu após uma salvadora chuva
–, desencadeou as críticas no seio do governo contra
os bombeiros, criando mesmo um facto político34.
Além dos efeitos no terreno, este triénio também
produziu um forte impacte psicológico, pois nunca
Portugal vira mais de 440 mil hectares serem consu-
midos em apenas três anos. mas, claro, nem assim
se modificou nada. Preferiu-se «diabolizar» o fogo-
posto, aproveitando alguns casos em que parece ter
mesmo ocorrido. E assim aproveitando a onda, o
então governo social-democrata publicou um diplo-
ma que proibiu a alteração do uso do solo em áreas
queimadas durante um período de 10 anos. A lei ti-
nha boas intenções, mas os incêndios não cessaram.
Pelo contrário.
A década de 90 ficaria marcada por uma alternância
de anos catastróficos e anos «amenos». o fogo ganhou
28 Por exemplo, «Florestas ardem menos», na edição do Expresso de 1 de outubro de 1988, e «Balanço da utilização dos aviões é positivo», na edição do Jornal do Fundão de 4 de setembro de 1987.
29 Em 1989 arderam 126 mil hectares; em 1990 atingiu-se 137 nil hectares e em 1991 queimaram-se 182 mil hectares.30 «Coimbra cercada por um inferno de chamas», na edição do diário de notícias de 10 de Agosto de 1991.31 Por exemplo, em 1990 e 1991, o diário de notícias publicou 51 notícias sobre fogos, das quais seis foram manchete: «Cinco aldeias atingidas por incêndio na
Pampilhosa» (12 de Julho de 1990); «Fogo destruiu Mata do Sobral e ameaçou várias povoações» (22 de Julho de 1990); «Fogo incontrolável cerca Covilhã e devasta serra da Estrela» (12 de Agosto de 1990); «Populações evacuadas e fogo por todo o lado» (15 de Agosto de 1991); «Fogo em Pedrógão Grande só poupou pessoas e casas» (17 de Agosto de 1991).
32 «Chamas destroem Parque do Gerês» e «Incêndios destruiu coração do Gerês», nas edições do Expresso de 9 e 16 de setembro de 1989. E no diário de notícias titulou-se: «Fogo incontrolável cerca Covilhã e devasta a serra da Estrela» (12 de Agosto de 1990, em manchete); «Enorme incêndio na serra da Estrela» (28 de maio de 1991); e «Chamas consomem Gerês e Estrela» (28 de Julho de 1991).
33 «Incêndio no Guincho denuncia caos urbanístico», na edição do Expresso de 9 de novembro de Junho de 1991.34 As críticas do então ministro do Ambiente, carlos Borrego, causariam mal-estar no governo social-democrata que obviamente «protegia» os bombeiros,
apesar das evidências. o semanário Expresso abordou esta questão em quatro notícias: «Arrábida – Borrego acusa bombeiros» e «Alertas em saco roto» (21 de setembro de 1991), «Balbúrdia na Arrábida» e «Borrego surpreende Primeiro-Ministro» (28 de setembro de 1991).
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uma personalidade sádica: dava uma bordoada for-
te, deixava as costas da sua vítima descansar, até esta
estar confiante de não haver mais paulada; e então
desferia nova arrochada. com efeito, depois de em
1991 se ter ultrapassado o recorde de área queima-
da – cerca de 182 mil hectares queimados –, os três
anos seguintes foram amenos: 57 mil hectares, em
1992; 50 mil, em 1993; e 77 mil, em 1994. Em todo
o caso, os incêndios em anos «calmos» mostravam
uma selectividade muito peculiar: passaram a des-
truir de uma forma concentrada, temporal e regio-
nalmente. Por exemplo, em 1992, a área queima-
da no pequeno concelho de Arganil, no distrito de
coimbra, representou quase 30% do total nacional.
um desses fogos viria mesmo a tornar-se o mais des-
truidor da década de 90, com cerca de 9.700 hec-
tares, causando também quatro mortos. Em 1993,
outro ano ameno, também se registou outro grande
incêndio, no mês de Junho, que destruiu 7.700 hec-
tares de pinhais do concelho de mira.
mas como os fogos dos anos «amenos» atacavam
rápido, o tema incêndios caiu no esquecimento
mediático. Em 1993 e 1994, o diário de notícias
apenas publicou 10 artigos sobre a florestas, dos
quais somente cinco abordando incêndios. E o Ex-
presso apenas três artigos. durante esse período, o
governo rejubilava, confiante na irrepetibilidade de
novos fogos catastróficos. o então ministro da Ad-
ministração Interna, dias loureiro, não queria nem
ouvir falar em prevenção; não era necessário, pois
os bombeiros pareciam estar a dar conta do recado.
Assim se perdeu a oportunidade de usar os fundos
comunitários para a prevenção dos incêndios. E as-
sim se deixou de aproveitar, como fez a Espanha, os
dinheiros da Europa para adquirir meios aéreos para
o Estado, em vez de manter o polémico sistema de
aluguer de aeronaves35.
o ano de 1995 demonstrou que nada estava sob
controlo. no último verão da segunda maioria abso-
luta social-democrata, cavaco silva despediu-se de
primeiro-ministro com um país chamuscado à força
de quase 170 mil hectares consumidos pelas chamas.
Bastaram quatro incêndios para «limpar» mais de 22
mil hectares – outra situação inédita à data. mas o
ministro dias loureiro estrebuchava, vendo incendiá-
rios por todo o lado, e em plena campanha para as
eleições legislativas de outubro, surgiu na televisão
de dedo acusador, destacando o anormal aumento
no número de fogos36. Ao pior estilo do PREc, nesse
ano chegaram a ser criadas milícias populares, uma
das quais, em Arouca, até recebeu o apoio de Pau-
lo Portas, então candidato a deputado pelo cds-PP
no distrito de Aveiro. Este espírito de vitimização do
moribundo governo trouxe apenas um resultado: a
opinião pública (re)viu incendiários por todo o lado.
nesse verão, uma sondagem do semanário Expresso
apurou que 85% dos portugueses consideravam que
os incêndios florestais tinham uma origem exclusiva-
mente criminosa.
depois do infernal ano de 1995, o governo socialis-
ta entrou com o pé direito em matéria florestal. ou
seja, teve sorte. de facto, em 1996 ardeu «apenas»
89 mil hectares e em 1997 somente 30 mil hecta-
res37. A euforia, que já se manifestara com o gover-
no social-democrata entre 1992 e 1994, instalou-se
35 num artigo do diário de notícias, da edição de 29 de Julho de 1993 – «Dinheiros da Europa contra incêndios» –, o ministro dias loureiro referia que a compra de aviões canadair não era uma prioridade. o governo social-democrata sempre preferiu investir os dinheiros públicos e comunitários nos bombeiros e no aluguer de meios aéreos.
36 contabilizou-se, de facto, um número anormal de ignições, comparando com os anos anteriores. mas esse aumento deveu-se sobretudo à alteração na forma de registo das ocorrências e não ao seu efectivo crescimento. Este aspecto será aprofundado no próximo capítulo.
37 A noção de ano ameno foi modificando-se ao longo das décadas, sobretudo quando passou a arder mais de 150 mil hectares em alguns anos. Afinal, em 1996, embora os incêndios tenham afectado somente 89 mil hectares, ardeu mais do que em 1975. Porém, do ponto de vista noticioso, dir-se-ia que aconteceu o oposto: por exemplo, o diário de notícias em 1996 apenas publicou, durante o verão, seis notícias sobre fogos, duas das quais para destacar a morte de bombeiros (três devido à queda de helicóptero na covilhã, e outro em sabugal, numa operação de contrafogo), enquanto em 1975 publicou cerca de duas dezenas.
de novo no «reinado» socialista. cantou-se vitória.
no início de Agosto de 1998, o secretário de Estado-
-adjunto da Administração Interna, Armando vara,
foi a imagem do optimismo. num artigo do Expresso
publicado na edição de 8 de Agosto – sugestivamen-
te intitulada «Área ardida é inferior a 1997» –, este
governante congratulava-se com o sucesso que até
então se registava. E salientava que tudo se devia à
melhoria dos meios de combate, designadamente ao
nível de caminhos rurais, meios aéreos, bombeiros
helitransportados e grupos de primeira intervenção.
Quase por ironia, as declarações de Armando vara
ao jornalista daquele semanário já estavam desactua-
lizadas quando a notícia saiu publicada. com efeito,
no final dessa semana, o paraíso virou inferno, com
incêndios a rebentarem e a alastrarem por todo o
país. o secretário de Estado foi então a imagem do
político apanhado em contra-pé, desorientado. dias
depois, ao diário de notícias, Armando vara tentava
segurar-se a tudo o que o pudesse salvar. E por isso
fez uma estrambólica sugestão: «Os comandantes
operacionais têm de ter consciência de que há certo
tipo de incêndios, onde não está nada vital em peri-
go, em que devem deixar arder, porque, se não for
agora, esses terrenos ardem em Setembro. Por esta
lógica, um fogo que lavrasse em matos iria automati-
camente estancar quando se abeirasse de floresta.
Este ano de 1998 foi, aliás, o mais politizado de todos
em matéria de contabilização dos estragos. Aprovei-
tando-se de um verão em que a comunicação social
andava demasiado entretida com a Expo-98 e com a
polémica dos touros de Barrancos, as notícias na im-
prensa escrita foram pouco abundantes. no entanto,
os três canais de televisão estavam mais atentos, di-
fundindo as imagens de desespero. Armando vara,
mais uma vez, surgiu a defender o indefensável: que
«o país só ardia nas televisões». contudo, em abono
da verdade, quem manipulou foi o governo. numa
entrevista publicada na edição de 5 de setembro de
1998 do semanário Expresso, aquele governante
chegou a apontar que «até agora, a área ardida é
de cerca de 50 mil hectares». Poucos meses depois,
no seu balanço anual, a direcção-geral das Florestas
indicaria que, afinal, a área queimada tinha sido mui-
to superior: 158 mil hectares! E mesmo assim, este
valor pecou por defeito. um levantamento posterior,
realizado pelo Instituto superior de Agronomia, com
base em imagens de satélite, indicaria afinal 230 mil
hectares, o que colocaria o ano de 1998 como o pior
de sempre38.
Apesar do descalabro de 1998, o governo socialista
manteve o optimismo e, portanto, fez promessas.
Aproveitando-se das dificuldades de memória dos
portugueses, bem como da inata falta de jeito para
números, Armando vara garantiu que, em 1999, a
área total ardida se iria situar em 40% da média dos
últimos 18 anos. ora, conta feitas, isso significaria
cerca de 35 mil hectares. contudo, esse ano – o da
reeleição de António guterres a caminho do pântano
– a área queimada atingiu 70 mil hectares, mais do
dobro do prometido pelo seu secretário de Estado.
Em todo o caso, menos mal teria ficado o país se ti-
vesse mantido, nos anos seguintes, a área queimada
em 1999. mas não. Até 2005, aquele seria o último
ano abaixo da fasquia dos 100 mil hectares. com
efeito, o século XX, no ano 2000, despedir-se-ia com
os fogos a percorrerem quase 160 mil hectares. o
novo século começou mal: em 2001 queimou-se
uma área ardida de 112 mil hectares, em 2002 as-
cendeu aos 124 mil. E piorou de forma impensável
38 somente a partir de 2001, os relatórios oficiais, apresentados ao longo da época de fogos e no final do ano, passaram a ser mais rigorosos – e, portanto, a não permitirem uma manipulação por parte do governo. Tal situação deveu-se sobretudo aos levantamentos realizados em tempo quase real quer pelo Instituto superior de Agronomia quer da própria comissão Europeia. Em todo o caso, nas análises posteriores, para o ano de 1998 considerar-se-á sempre o valor oficial de área ardida.
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em 2003, com os incêndios a consumirem 426 mil
hectares, causando também a morte de 20 pessoas,
bem como a destruição de mais de meio milhar de
casas e outros edifícios. Assim, em apenas um ano,
Portugal ardeu uma área bem superior à registada
nos 40 anos do Estado novo; mais 100 mil hecta-
res do que se queimou nos anos 70; metade do que
ardeu em toda a década de 80; e cerca de 40% do
total dos anos 90.
os prejuízos causados pelos incêndios nesse ano
também bateram recordes, atingindo os 1,5 mil
milhões de euros. de acordo com a Emergency di-
sasters data Base (EddB), gerida pela universidade
católica de louvain, constitui o segundo valor mais
elevado de sempre a nível mundial para este tipo de
catástrofe natural39.
Tamanha devastação deveria ter resultado, necessa-
riamente, numa muito menor área ardida nos dois
anos seguintes, nem que fosse pela simples razão
de mais de 10% da área de aproveitamento florestal
do país ter ficado «imune» aos fogos a médio prazo,
por ter ardido em 2003. E também por «força» das
promessas do então ministro da Agricultura, sevina-
te Pinto, que desejava «transformar a desgraça numa
oportunidade»40. contudo, nova oportunidade só a
teve o fogo, que ainda tinha muito para queimar. E
assim, em 2004, ardeu uma área próxima dos 130
mil hectares e em 2005 atingiu-se os 325 mil. ou
seja, em apenas um quinquénio, Portugal viu ser di-
zimado uma área de 1,1 milhões de hectares – cerca
de um terço da área de aproveitamento florestal e
mais de 12% do território do país41.
Perante este historial, com uma área ardida de 1,6
milhões de hectares numa década (1996-2005) e
com dois anos (2003 e 2005) a superarem os 300
mil hectares, a comunicação social olhou para o ano
de 2007 como o prenúncio de nova catástrofe. E a
denominada época dos fogos florestais desse ano
começou, de facto, bastante mal, com uma tragédia
humana: seis bombeiros morreriam num combate na
guarda42. como noutros anos subsequentes a anos
catastróficos, a comunicação social foi genericamen-
te acompanhando com detalhe algumas das vagas
de incêndios sobretudo até à primeira quinzena de
Agosto43. no entanto, uma sucessão de períodos de
calor seguidos de chuva acabou por fazer com que
2006 conseguisse pela primeira vez desde o início da
década baixar a fasquia dos 100 mil hectares. Apesar
disso, os 75 mil hectares ardidos – o segundo «me-
lhor ano» da década 1998-2006 – foi visto como
uma vitória pelo governo, que foi tentando passar
na comunicação social que os resultados apenas não
foram melhores por o verão de 2006 ter sido asso-
lado por sucessivas ondas de calor44. se é certo que
houve tempo quente (e ondas de calor), esse fenó-
meno fez-se sentir com o surgimento de fogos. na
verdade, apesar de um ano relativamente «ameno»
39 os incêndios que causaram mais danos económicos ocorreram em 1997 na Indonésia, com prejuízos de 17 mil milhões de dólares. das 10 piores vagas de in-cêndios registadas pela universidade de louvain, três verificaram-se durante o ano de 2003: além de Portugal, atingiram o canadá e a Austrália, com prejuízos da ordem dos 545 milhões e 300 milhões de dólares, respectivamente.
40 Esta frase está inserida na notícia intitulada «verão escaldante», na edição do Expresso de 29 de setembro de 2003.41 A cobertura televisiva dos incêndios – com noticiários, por vezes excessivos, de mais de meia hora, sobretudo gastos em directos – foi retirando algum
protagonismo à imprensa escrita em relação aos relatos dos fogos. os jornais começaram assim a dispensar um maior espaço de análise de crítica. Por exemplo, entre 2003 e 2005, o diário de notícias fez quatro manchetes sobre a dimensão global dos fogos em Portugal: «25% da floresta portuguesa ardeu na última década» (8 de Agosto de 2004); «mais de 20% da floresta nacional ardeu em cinco anos» (15 de Julho de 2005); «37% da floresta ardida na Europa do sul é portuguesa» (10 de Agosto de 2005). o semanário Expresso também salientou, em primeira página, esta nova realidade: «14% da área ardida são parques naturais» (9 de Agosto de 2003, como subtítulo da manchete) e «Área ardida é igual ao Algarve» (23 de Agosto de 2003, em manchete). outros jornais, sobretudo o diário Público, deram, de igual modo, um forte destaque.
42 «seis bombeiros mortos na guarda», foi manchete do diário de notícias em 10 de Julho de 2006.43 A título de exemplo, o diário de notícias destacou os incêndios florestais, em manchete ou chamada de primeira página, em cinco edições da primeira quinzena
de Agosto de 2006: nos dias 8, 12, 13, 14 e 15.44 o caso mais chocante constata-se na edição de 5 de setembro de 2006 do diário de notícias que surgiu com a manchete: «Portugal atravessa a 5ª onda de
calor de 2006». na verdade, em nenhuma zona do país se tinha verificado mais do que três ondas de calor e todas elas intercaladas com precipitação.
à escala nacional, 2007 foi o segundo pior ano no
distrito de évora e o terceiro nos distritos de viana
do castelo e Braga desde a década de 80 em termos
de área ardida. Além disso, 2006 registou um verão
particularmente húmido: desde a década de 80 foi
o 25º mais seco (terceiro mais chuvoso) e o 18º com
mais área ardida.
contudo, certo foi que a generalidade da comuni-
cação social – que aproveitava os relatórios oficiais
– acabou por destacar sobretudo os resultados relati-
vos do ano de 2006 comparando-os com os dos anos
catastróficos de 2003 e 2005. Além disso, como a
galiza foi assolada por uma vaga de incêndios quase
sem precedentes, também contribuiu para sustentar
os aparentes bons resultados em Portugal45.
o ano de 2007 ainda seria mais parco em fogos,
com um verão extremamente ameno em termos
de temperaturas e bastante chuvoso em que ape-
nas arderam cerca de 17 mil hectares até finais de
setembro. E os fogos quase saíram das páginas dos
jornais, excepção para dois dias no final de Julho.
maior destaque, sim, tiveram os fogos na grécia
e nas canárias46. A sensação de um «bom» verão
acabou até por levar a imprensa a quase ignorar
os fogos ocorridos num novembro particularmente
seco, em que arderam cerca de 13 mil hectares. Isto
implicou assim que o ano de 2007 tivesse ficado com
uma área ardida ligeiramente acima do ano de 1997
e sendo até então o terceiro menos destrutivo desde
a década de 80.
o ano de 2008 manteve a tendência decrescente dos
últimos três anos. Até meados de setembro apenas
arderam pouco mais de 10 mil hectares, sendo muito
provável que se venha a registar o valor mais baixo
desde 1977. E, por isso, com naturalidade, os incên-
dios «fugiram» das páginas de destaque dos jornais,
circunscrevendo-se as notícias a pequenos artigos so-
bre pontuais incêndios e os saldos quinzenais, onde
sempre são feitas comparações (optimistas) com as
áreas ardidas na última década.
Posto isto, a pergunta que se deve portanto colocar
– depois de o último triénio ter causado uma afecta-
ção de «apenas» cerca de 120 mil hectares (menos
de um terço do que ardeu somente em 2003) – é se
os fogos florestais, a sua capacidade de destruição, é
coisa do passado ou apenas estamos a assistir a uma
fase de «hibernação». do ponto de vista jornalísti-
co, talvez fosse interessante fazer análises sobretudo
à evolução da gestão da floresta em vez de olhar
para os valores deste triénio e considerá-los extraor-
dinários. na verdade, os últimos três anos, malgrado
algumas melhorias nos meios operacionais de com-
bate, beneficiaram muito de condições meteoroló-
gicas favoráveis (ou não agrestes) e das catástrofes
da «década do fogo» (1996-2005, em que ardeu
cumulativamente 1,625 milhões de hectares), cujas
áreas não só estiveram imunes ao fogo como cria-
ram zonas-tampão que impedem agora destruições
de milhares de hectares.
45 no entanto, em termos de área florestal, os fogos da galiza consumiram cerca de 5% da área florestal daquela região espanhola, enquanto que os incêndios no mesmo ano no minho atingiram 5% da área florestal.
46 os incêndios nacionais apenas tiveram primeira página no diário de notícias nas edições de 29 e 30 de Julho e 24 de Agosto, neste último caso por causa de um incêndio de 200 hectares na zona de sintra. os incêndios no estrangeiro, por sua vez, foram primeira página nas edições de 1 de Agosto (canárias), 26 de Agosto (grécia, onde morreram cerca de meia centena de pessoas).
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vIEIRA, P. A. (2003). O estrago da Nação. lisboa: dom Quixote.
vIEIRA, P. A. (2006). Portugal: O vermelho e o negro. lisboa: dom Quixote.
PARTE IIIContribuições dos par ti Cipantes no Workshop
inCÊndios FLorestais5 anos apÓs 2003ComPIlAção ElAboRAdA PoR lIlIAnA bEnTo
InCÊndIoS FloRESTAIS - 5 AnoS APÓS 2003 | 165 |
nota introdutÓria
Pretende-se nesta PARTE III do presente volume, reunir os contributos de todos os participantes convidados
a assistir ao Workshop “Incêndios Florestais – 5 anos após 2003”, realizado no dia 17 de outubro, nas insta-
lações da Escola Superior Agrária de Coimbra. os convites para participação no Workshop foram feitos com
o objectivo de tentar reunir um leque diversificado de individualidades de algum modo ligadas à dFCI em
Portugal. os textos que seguem são o resultado de uma ronda de intervenções por todos os participantes,
seguida de uma pequena discussão. o trabalho de transcrição das intervenções orais foi feito respeitando fiel-
mente tudo o que foi dito, excepto quando as frases padeciam de deficiências gramaticais que dificultassem
o entendimento do texto. Em muitos casos os intervenientes tiveram a oportunidade de corrigir o texto da
sua intervenção tendo-se utilizado a versão que nos foi enviada. Resolvemos incluir também nesta colectânea,
pelo seu interesse, um texto que nos foi enviado por uma das pessoas que assistiram ao Workshop e que
reflecte a visão de um operacional relativamente às questões abordadas.
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intervenção: antÓnio CarvaLho – poLíCia JudiCiária
Tomando por assunto a temática dos «5 anos após 2003», a instituição que represento, teve que se reestru-
turar, na estratégia, no que diz respeito à investigação dos incêndios.
o que foi referido, pelo orador anterior [Pedro Almeida Vieira], de que a investigação dos incêndios tem
andado de certo modo em roda livre, não poderei concordar porque a polícia judiciária tem a competência
para a investigação deste tipo de crime já há alguns anos e, através de formação no exterior, foi a mola dina-
mizadora da formação dada ao Corpo nacional da Guarda Florestal (CnGF), no ano de experiência de 1989
e de forma sistemática desde 1990.
Isto levou a que cerca de 70% do CnGF, agora integrado nas equipas do Serviço de Protecção da natureza e
do Ambiente (SEPnA), tivesse formação na investigação das causas, segundo o modelo americano aplicado
à legislação e à estrutura nacional.
A pergunta que se pode colocar é se efectivamente o conhecimento desses dados, a nível de distritos e con-
celhos, teve aplicação prática para além do estritamente criminal? ou seja, se o conhecimento das causas teve
ou tem tido uma aplicação objectiva, na perspectiva da gestão da prevenção dirigida que deve ser feita. Isto
porque na questão de evitar a ocorrência de incêndios, existe uma grande confusão entre o que é prevenção
estrutural, a prevenção por campanha, que é meramente unidireccional e onde o receptor ouve ou não e,
prevenção dirigida e objectiva, operativa sobre os potenciais autores para evitar que os factos se verifiquem.
Em Portugal, e contrariamente ao que se pensa, fomos nós que em 1993 iniciámos a formação em Espanha,
sobre as técnicas da investigação das causas, em consequência de nessa altura, naquele país terem com-
preen dido que os incêndios não eram cíclicos e não aconteciam porque eram um mal necessário. Portugal
foi pioneiro nesta matéria e dinamizou na península ibérica uma metodologia de investigação. o “mundo”,
na área dos incêndios não começou em 2003, é consubstanciado em determinados conhecimentos que nos
permitiram evoluir para outros patamares.
A partir de 2003 a Polícia Judiciária dinamizou a investigação, em termos de estratégia da sua própria estrutura,
reforçámos os meios, elaborámos protocolos com a Autoridade Florestal nacional (AFn), fomentando a aplica-
ção do conhecimento das causas e interagimos com outras instituições e organizações, ao nível da formação.
Potenciámos também o conhecimento da determinação do perfil socio-psicológico do incendiário, o que em
termos policiais facilita o interrogatório e auxilia a investigação porque sabemos quem são os indivíduos com
potencialidade para delinquir daquela forma. Estando definido o perfil do indivíduo com capacidades para
provocar incêndios intencionalmente, esse conhecimento deveria ser adoptado para controlar e acompanhar
os mesmos, de forma a evitar que esses delinquíssem dessa forma.
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intervenção: antÓnio saLgueiro – autoridade FLorestaL naCionaL
Algumas considerações sobre o que aqui foi dito. Uma delas é sobre o estudo que fez a liga para a Protecção
da natureza: antes de mais, o mérito é todo vosso por terem feito já em 2003 e agora terem voltado a fazer.
no entanto, uma coisa que não posso deixar de reparar é que a liga fez o estudo com um pendor negativo,
de tudo o que falta fazer.
não nos interessa só analisar aquilo que falta fazer, antes disso é importante analisar o que foi feito e o que
resultou. devemos dar o benefício ao que foi feito e que resultou, para que isso seja incrementado, pois esse é o
aspecto mais positivo de uma análise, e só depois fazer a avaliação do que correu mal e que deve ser alterado.
neste estudo vi muito pouca coisa sobre combate. Como o próprio estudo refere, o combate continua a
ter um peso bastante elevado na política e no financiamento das acções ligadas à defesa da floresta contra
incêndios. Se tem um peso tão grande, a avaliação também deve ser proporcional.
no que refere à lei e à dificuldade da sua aplicação, eu vejo várias razões pelas quais é difícil aplicar as leis em
Portugal. Uma delas é a frequência com que são feitas alterações à lei, incorrecções, novos regulamentos, ou
seja, é difícil para qualquer instituição acompanhar este ritmo; nota-se também que existe algum autismo da
parte dos legisladores, muitas leis são desadequadas à nossa realidade e logo muito difíceis de aplicar. no caso
do decreto-lei n.º 124/2006, um aspecto muito positivo que se realça da aplicação da lei, foi a diminuição do
número de ocorrências. Penso que existiu um aspecto muito positivo nos últimos dois anos, que foi o controlo
do número de ocorrências, ou seja, da aplicação do decreto-lei n.º 124/2006, que é a principal razão pela
qual temos tido tão poucas ocorrências nos últimos 2 anos.
Existe algo de assustador na associação entre a meteorologia e o número de ocorrências, porque se constata
que quanto mais elevado é o índice de risco de incêndios, maior é o número de ocorrências. Esta relação
não pode apenas ser explicada pela maior probabilidade de uma ignição dar origem a uma ocorrência nas
situações mais extremas, mas sobretudo pela evidência de uma forte intencionalidade no uso do fogo. não
digo intencionalidade no incêndio, porque muitas pessoas fazem fogo e não querem provocar incêndio mas
usam o fogo para diversos fins e alguns deles dão origem a um incêndio.
Fazemos sensibilização há muitos anos, e este é outro aspecto referido no estudo da liga, que é a sensibiliza-
ção do público em geral. Eu pessoalmente estou convencido que a sensibilização do público em geral é muito
bonita, é agradável mas tem muito poucos resultados. o problema dos incêndios é um problema rural, e é aí
que nós temos que focar as nossas actividades, para que tenham algum impacto no número de ocorrências.
A desadequação da lei tem a ver com o facto de Portugal ser um país de clima mediterrânico e porque duran-
te milhares de anos sempre se utilizou o fogo. durante muitos anos considerou-se que era preciso impedir o
no que respeita aos potenciais autores, a capacidade que estes têm para delinquir ou reincidir naquele tipo de
actuação e crime, maioritariamente com motivações fúteis, que os levam a colocar incêndios, resulta da sua
desinserção social. o conhecimento dos perfis dos incendiários deveria também ser utilizado na perspectiva
da prevenção dirigida a indivíduos em concreto que estão desinseridos do meio social.
Também inserimos numa base de dados a identificação desses incendiários, de forma a fazer-lhes um acom-
panhamento na época estival.
Em relação à aplicação do código penal, actualmente o que se verifica é que os incêndios que ocorram fora
das áreas onde esteja inserida floresta, mata, arvoredo ou seara não são puníveis pelo código penal. logo, a
transferência da penalização deste tipo de crimes poderá recair no decreto-lei n.º 124/2006, o que nos leva a
pensar se a reestruturação deste diploma não deveria ter outro alcance, de modo a compensar condutas que
não se encontrem previstas no código penal.
outra conclusão a tirar é o número mais reduzido que existe de autores identificados, porque a maior parte
das situações de ocorrências, com combustões descontroladas, incêndios ou fogachos, não cabem dentro do
código penal como incêndio florestal, nomeadamente os incêndios em matos, incultos e terrenos agrícolas.
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intervenção: arménio dos santos Castanheira – instituto geográFiCo portuguÊs
Um dos aspectos referenciados hoje, a propósito da temática dos incêndios florestais, foi a questão dos pro-
prietários florestais. no decurso dos grandes incêndios de 2003 o Estado colocou a hipótese de exercer me-
didas coercivas sobre os proprietários que não limpassem os seus terrenos. A questão que se coloca é: como
será possível ao Estado identificar a quem pertencem as propriedades descuradas, de forma a actuar e impedir
assim que o risco de incêndio aumentado, em resultado da incúria, se propague a prédios (terrenos) vizinhos.
Fruto de um conjunto de sinergias com outros ministérios e secretarias de estado (Finanças, Justiça, obras
Públicas, Agricultura, Administração local e modernização Administrativa) surgiu um projecto, que está ago-
ra em curso e que se designa Sistema nacional de Exploração e Gestão de Informação Cadastral (SinErGIC)
que assegura, entre outros objectivos, a identificação dos proprietários florestais e da localização geográfica
dos seus terrenos.
no âmbito do SinErGIC, foi realizada uma experiência piloto na freguesia de Albergaria dos doze, no conce-
lho de Pombal. A escolha da freguesia obedeceu aos seguintes critérios: dimensão não superior a 2 500 ha;
existência de espaço urbano, rural e florestal; e que tenha sido alvo de incêndios florestais. Apesar de todo
o apoio do Presidente da Junta de Freguesia e do envolvimento dos agentes locais, no final do estudo não
foi possível cadastrar, por não terem sido encontrados os respectivos proprietários ou pura e simplesmente
porque estes não existem, cerca de 50% da área geográfica da freguesia. Apesar de tudo é muito importante
para o Estado saber quais são efectivamente as áreas sem titular e, em particular, onde estas se encontram.
Só assim é possível tomar medidas pró-activas e consistentes de planeamento, gestão e ordenamento do
território. Sem a existência de cadastro predial é impossível saber onde estão os “terrenos de ninguém” e
portanto definir políticas que assegurem uma intervenção efectiva do Estado. Presume-se, é um valor que há
muito circula, que cerca de 20% do território possa não ter dono, mas tão importante como a área envolvida
é saber com exactidão onde é que esta se encontra. o projecto SinErGIC permitirá dar resposta a questões
que hoje são insolúveis e que dificultam em muito as actividades aos diferentes agentes que intervêm sobre
o território.
A execução do cadastro, sobre o ponto de vista técnico, não apresenta qualquer dificuldade, no entanto
como a componente financeira é muito elevada o investimento tem de ser muito bem ponderado e acautela-
do. não se pode correr o risco, num projecto com esta dimensão financeira e com uma transversalidade tão
abrangente, de se transformar algo que se pretende que seja um investimento, numa mera despesa pública.
Foi assim que surgiu a necessidade de executar, por elementos externos e isentos, uma análise custo-benefício
que, além de avaliar a componente de despesa e de retorno, analisasse também um conjunto de circuns-
tâncias que, a não serem acauteladas, poderiam dar pouca eficiência ao processo. A análise monetarista
consciencializou-nos que por cada unidade convenientemente investida retornariam potencialmente para o
Estado cerca de 3,8 unidades. na análise efectuada não foi ponderada qualquer alteração quantitativa dos
uso do fogo e o Estado, quando tornou a lei mais flexível permitindo o seu uso fora do período crítico, criou
barreiras, que são os licenciamentos na forma como estão a ser praticados nalguns municípios. os principais
utilizadores de fogo, no nosso território, são os pastores e pedir a um pastor que se desloque a uma Câmara
municipal, que pague uma taxa para ter um papel que lhe permite fazer uma queimada é algo muito compli-
cado. E por isso é que digo que devemos pensar melhor na adequação da lei.
outro aspecto é o decréscimo da população rural e se temos tão pouca população rural, temos que pensar
o que podemos fazer para a manter e para que esta possa ser uma aliada na luta contra os incêndios. Uma
das coisas que temos de saber é porque usam tanto o fogo, quais são os objectivos e como é que podemos
colocá-los a utilizar melhor o fogo.
Existe uma expressão que se usa muito agora e que faz parte da sensibilização do grande público que é
«Portugal sem fogos» o que implica irremediavelmente “Portugal com mais incêndios”, e por isso temos que
repensar esta filosofia. outro aspecto em que devemos evoluir é o passar de “apagar incêndios em qualquer
circunstância dentro do período crítico”, para “apagar incêndios e gerir fogos”. Isto só pode ser feito por
gestores do território. o trabalho da liga recomenda que seja dada formação sobre o uso do fogo de su-
pressão ao pessoal dos corpos de bombeiros, mas temos que ter em atenção que o seu uso pode ser positivo
mas também extremamente negativo. o fogo não é uma ferramenta só por si, não é um utilitário, não é
um isqueiro, é uma técnica. A água não é expansível, quando se põe água com uma agulheta ela acaba no
local em que é aplicada. o fogo replica-se. Quanto mais fogo, maior intensidade, logo maior probabilidade
temos de ter fogo. o fogo deve ser uma técnica entregue a gestores do território que sabem quais são as
implicações quando estão a usar fogo. É preciso algum cuidado nesta vulgarização do uso do fogo. o fogo
deve ser uma ferramenta técnica que está nas mãos de algumas pessoas e não nas mãos de todas as pessoas
que combatem incêndios florestais.
Existia a vontade de se criar um plano nacional de fogo controlado. Porquê GEFoCo e não Plano nacional de
Fogo Controlado? Um plano é algo impositivo e o GEFoCo foi pensado de uma forma diferente. Foi pensado
de forma a ir ao encontro de uma vontade cada vez maior de diversas entidades em gerir com fogo controla-
do. Assim criou-se um instrumento que fosse de encontro a essa necessidade, em que cada interveniente tem
a sua contribuição, mas em que a iniciativa de base parte das entidades que solicitam o apoio do GEFoCo.
Criar equipas que possam apoiar essas pessoas na execução desses fogos controlados é o objectivo principal
do GEFoCo.
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intervenção: CarLos maChado – siLviConsuLtores
no âmbito desta temática pensamos que a máxima a ter em conta é que «os incêndio florestais não se
combatem, evitam-se».
os incêndios florestais em Portugal são uma consequência da ausência de gestão dos espaços florestais. Se quere-
mos resolver o problema dos incêndios florestais temos de resolver as causas que levam a esta ausência de gestão.
na nossa perspectiva, após 2003 não existiram modificações significativas para a solução do problema es-
trutural, tendo-se melhorado efectivamente no tratamento das consequências. no entanto, é preciso ter em
atenção que os bons resultados, ao nível da área ardida, são justificados em grande parte pela meteorologia.
É óbvio que mesmo com uma gestão florestal activa, os incêndios florestais vão continuar a existir, são um
factor intrínseco à floresta mediterrânea, mas vão ter um comportamento totalmente diferente e a forma de
equacionar essa realidade será completamente diferente.
Temos assim de colocar a questão – Como conseguir que haja Gestão florestal quando 95% dos espaços
florestais são de privados? A solução passa por criar as condições para que a actividade florestal possa gerar o
valor necessário à sua sustentabilidade. Para que isto possa acontecer é necessário criar Unidades de Gestão
Florestal viáveis, não precisam de ser de milhares de hectares, mas têm de ter um mínimo dimensão para per-
mitir uma gestão eficiente. o que implica resolver a pulverização da propriedade existente no minifúndio.
Para que tal aconteça é necessário conhecer a realidade existente, para isso é fundamental a concretização do
Cadastro Geométrico em todo o país. Sem conhecermos onde e quem são os proprietários não será possível
resolver de vez o problema. Este conhecimento é fundamental para uma gestão efectiva do território, nomea-
damente em termos de gestão florestal.
Em segundo lugar, tem de haver políticas que promovam um maior dinamismo do mercado de solos flores-
tais. não é aceitável que grande parte do território se encontre ao abandono por parte dos seus donos sem
que daí exista qualquer consequência. É necessário colocar sob gestão todos os espaços florestais. Tal pode
ser conseguido através de uma penalização efectiva e significativa deste comportamento em termos fiscais.
no entanto, para esta medida ser efectiva é fundamental que o cadastro exista.
Por outro lado, sabendo-se já que grande parte do território está verdadeiramente sem dono, é fundamental
que se criem os mecanismos para que estes solos tenham gestão efectiva. Uma possibilidade é a sua passa-
gem temporária para um banco de terras, sendo posteriormente vendidos ou concessionados a entidades
capazes de promover à sua gestão. desta forma, além de permitir a constituição de áreas passíveis de gestão,
permitia-se também manter um efeito regulador sobre o valor da terra, evitando-se a especulação.
impostos. Contudo, e apesar de alguns benefícios não terem sido quantificados, por falta de tempo ou de
informação, foi possível, como já referi, determinar um rácio de custo-benefício de 1 para 3,8.
Actualmente está em curso um estudo sobre o modelo de negócio. Perspectiva-se, neste âmbito, um co-
-fi nanciamento do Quadro de Referência Estratégico nacional (QREn) complementado por outra fonte de
financiamento. Se não houver nenhum imponderável, tudo aponta para que seja lançado o primeiro concurso
público para a execução de cadastro predial no início do próximo ano. As áreas de floresta a cadastrar priori-
tariamente serão definidas pelo ministério da Agricultura e genericamente envolverão espaços florestais que
disponham de ZIF constituídas ou em vias de constituição.
no âmbito das nossas competências e em colaboração com a Autoridade nacional de Protecção Civil (AnPC)
e na altura com a ex-direcção-Geral dos Recursos Florestais (dGRF), actual AFn, desenvolveram-se alguns tra-
balhos de colaboração que permitiram criar a base para alguns instrumentos relevantes para a temática dos
incêndios florestais. Em resultado desses trabalhos foi produzida uma Carta de Risco de Incêndio Florestal (CRIF)
e estabelecida também uma legenda para uma nova Carta de ocupação do Solo com uma unidade mínima de
1 ha. A CRIF tem cobertura integral do continente e dispõe de uma resolução de pixel de 25 metros. o seu ob-
jectivo foi o de assegurar mais um instrumento de planeamento que, no período de Inverno, facilite aos agentes
locais uma intervenção activa e geograficamente dirigida para os locais que nesta Carta apresentam um maior
grau de susceptibilidade ao incêndio. É para as regiões assinaladas na Carta a vermelho e laranja que devemos
dirigir prioritariamente a nossa atenção, actuando nesses locais de forma a reduzir-lhes a capacidade de alimen-
tar uma qualquer ignição que se verifique. Esta carta tem por base variáveis ditas estruturais como a ocupação
do solo, a rede hidrográfica e a orografia, a exposição das vertentes, a rede viária e ferroviária e a demografia.
o outro instrumento acordado com os parceiros, uma nova Carta de ocupação dos Solos com unidade mí-
nima de 1 ha, está neste momento a ser executado por um conjunto de empresas a quem foi adjudicado o
trabalho. Se tudo correr como o previsto este instrumento estará concluído no final de 2009.
outro projecto do Instituto Geográfico Português e que também é relevante para a temática dos incêndios
florestais é o da cobertura ortofotocartográfica do território continental de 2 em 2 anos com pixel de 50
cm. Esta resolução de imagem é compatível tecnicamente com uma escala 1:5000. Este projecto prevê que
os voos sejam realizados nos anos ímpares, demorando a ortorrectificação cerca de meio ano, findo o qual
estará a cobertura cartográfica respectiva disponível para a comunidade. neste momento está acessível, sob
licenciamento, a cartografia correspondente ao voo de 2007. A versão anterior, de 2005, está online em
diferentes plataformas e por diferentes formas. no IGP poderá ser acedida a partir do serviço WmS (Web
map Service- serviço standard aberto) ou dos visualizadores do IGP. Em termos de visualização também está
disponível, entre outros, no Google Earth (da Google) e no Virtual Earth (da microsoft).
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intervenção: CLara Feitas – instituto de meteoroLogia
os anos de 2003 e 2005 foram anos extremamente quentes. no ano de 2004 registaram-se temperaturas
bastante elevadas, apesar de inferiores comparativamente a 2003 e 2005. Em 2006 verificaram-se duas
ondas de calor. Uma delas ocorreu no mês de Julho e foi a mais significativa desde 1941, quer em termos
geográficos, quer em termos temporais. Em termos geográficos, porque atingiu praticamente todo o País, e
temporal, porque existiram algumas regiões, como por exemplo o Alentejo, que estiveram 11 dias sucessivos
em onda de calor.
os anos de 2007 e 2008 foram considerados em termos climatológicos como anos normais, com tempera-
turas um pouco abaixo do que é considerado valor normal. no entanto, é importante realçar que neste ano
de 2008, o risco de incêndio foi bastante elevado nas regiões do Interior, norte e Centro. Como oficial de
ligação na Autoridade nacional de Protecção Civil (AnPC) desde 2005, tenho notado que toda a estrutura de
protecção civil, está muito mais coesa e funciona muito melhor.
Por fim, é importante criar veículos de investimento flexíveis e adaptados à realidade sócio-económica do
país. Se tivermos presente que a matriz empresarial do país assenta essencialmente em PmE’s, facilmente se
compreende que, para além dos já existentes Fundos de Investimento Imobiliário Florestal, é fundamental
que exista a possibilidade de desenvolver modelos de negócio mais simples e menos exigentes em termos
de capital e, desta forma, permitir a disseminação das iniciativas empresariais de forma generalizada a todo
o país. Uma possibilidade é a de contratos de parceria, possibilitando desta forma a partilha de riscos entre
proprietário e investidor.
Este modelo além de ser extremamente flexível tem as seguintes vantagens:
a) Promove um alinhamento estratégico entre o proprietário e o investidor, já que a receita de ambos depen-
de do sucesso obtido;
b) Potencia o aumento da remuneração do proprietário dado que ao assumir o risco, será expectável que este
venha a ser remunerado;
c) Permite a diminuição do risco associado ao investimento, dado que o proprietário assume também parte
desse risco;
d) Que por sua vez diminui a necessidade de capital e, por esse motivo, permite a entrada no negócio de mais
players, aumentando assim a concorrência no sector o que se traduz em competitividade e inovação no
mercado de arrendamento de terras florestais.
Inexplicavelmente esta modalidade é liminarmente proibida por lei.
Acreditamos que estas medidas, a par de uma visão mais empenhada na gestão comum, assente nas Zonas
de Intervenção florestal, poderão ser um contributo decisivo para a mudança da realidade da gestão da flores-
tal em Portugal e desta forma levar a uma mudança da realidade dos incêndios florestais em Portugal.
| 176 | InCÊndIoS FloRESTAIS - 5 AnoS APÓS 2003 | 177 |
intervenção: domingos pataCho – QuerCus
na minha opinião, começaram-se a sentir mudanças importantes e significativas, a partir de 2006. Essas
mudanças tiveram a ver essencialmente com a estratégia de combate, principalmente ao nível da primeira
intervenção, em que se começou a verificar uma maior rapidez na actuação, um aumento e uma melhoria da
actuação dos meios aéreos, o que ajudou a minimizar a área ardida.
o problema que continua a persistir é o elevado número de ignições, independentemente das questões estru-
turais e da gestão florestal. Verifica-se um uso do fogo negligente, logo é preciso apostar numa campanha de
sensibilização mais eficaz para que se reduza o uso do fogo na floresta durante o período crítico.
As pessoas não têm noção que a sua fogueira ou a sua queimada pode originar um incêndio. É preciso me-
lhorar a transmissão da mensagem à sociedade para que as pessoas possam mudar os seus comportamentos.
Esta sensibilização não deve ser coerciva mas sim apelativa.
intervenção: giL martins – autoridade naCionaL de proteCção CiviL
A tónica na questão dos incêndios florestais é sempre o combate mas deveria ser a prevenção estrutural. o
ano de referência não é o de 2003 mas o de 2005. Se 2005 não tivesse tido uma área ardida tão grande,
pensar-se-ia que a situação estaria resolvida e não teria acontecido nada. Aconteceu o que aconteceu em
2005 e felizmente a equipa do ministério da Administração Interna da altura, quis alterar a situação.
os resultados de 2007 e 2008 mostram que existiu uma evolução positiva em termos de combate, com a
criação de um sistema coerente, a definição de uma estratégia e a consolidação de uma doutrina. no entanto
não significa que o problema esteja resolvido porque esta batalha nunca está ganha. Este é um problema que
é de todos, é da sociedade portuguesa e de todas as instituições.
Um aspecto importante e positivo que se destaca essencialmente após 2005 foi o acompanhamento da
Assembleia da República a estas questões, promovendo uma nova sensibilidade política para este problema,
levando a uma rápida evolução e incremento de várias melhorias.
As nossas preocupações para o futuro estão obviamente relacionadas com as questões das alterações cli-
máticas, com a pouca área ardida ocorrida nestes dois últimos anos e com a necessidade de programas de
gestão de combustíveis a curto prazo. Também a diminuição do número de ocorrências em Portugal - este
ano e à data de 15 de outubro são cerca de 11.800 ocorrências, valor muito inferior comparativamente a
outros anos – é factor crítico de sucesso, sendo para isso necessário apostar fortemente na sensibilização, na
fiscalização e na vigilância.
o dispositivo especial integrado de combate a incêndios florestais está preparado para os desafios futuros
mas nunca estará preparado para fazer milagres.
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intervenção: tenente-CoroneL João pauLo seguro – guarda naCionaL repubLiCana
no âmbito da temática proposta, “Incêndios Florestais - 5 anos após 2003”, a Guarda nacional Republicana
(GnR) não pode fazer o histórico da sua intervenção a partir dessa data porque só integra o dispositivo dFCI
desde 2006. no período antecedente, a Guarda apenas participava no âmbito da sua missão como órgão de
protecção civil.
Com a introdução da nova legislação, nomeadamente o decreto-lei nº 22/2006, que consagra no âmbito da
GnR, o Serviço de Protecção da natureza e do Ambiente (SEPnA) e cria o Grupo de Intervenção de Protecção
e Socorro (GIPS), a Guarda assume em pleno esta nova faceta da sua missão e, desde aí e até à data, tem sido
considerada e reconhecida como uma mais-valia decisiva na defesa da floresta contra os incêndios, pelo rigor,
pela disciplina, e pelo profissionalismo que caracteriza a sua actuação.
outra componente de actuação da GnR na área dos incêndios florestais, materializa-se na responsabilidade
pela coordenação das acções de vigilância, detecção e fiscalização no âmbito do Sistema nacional de defesa
da Floresta Contra Incêndios, onde se integra a Rede nacional de Postos de Vigia.
Este importante elemento do sistema tem já algumas décadas de funcionamento e a sua implantação está
desajustada das necessidades actuais, pelo que é urgente a sua reestruturação e a definição do modelo que
se pretenda adoptar no futuro. o actual está esgotado, tornando-se necessário proceder a alterações na sua
implantação territorial, definir os postos que devem ser suprimidos, os que devem ser alterados em termos
de localização, e explorar as possibilidades que a tecnologia disponibiliza nesta área da detecção e vigilância,
ultrapassando a exclusiva dependência do elemento humano como único veículo de observação e transmis-
são de informação.
o problema central dos incêndios florestais continua a ser o elevado número de ignições, apesar deste ter
vindo a diminuir nos últimos anos, circunstância a que não será alheio o grande empenho da Guarda em
acções de prevenção e de fiscalização que diariamente leva a efeito em todo o território nacional – em 2007
contabilizaram-se 5.385 autuações por contra-ordenação no âmbito do decreto-lei nº 124/2006.
no entanto, o efeito dissuasor da fiscalização não deve ser menosprezado, e certamente diluir-se-á no tempo
se não lhe corresponder um acto decisório que, devendo ser sensato, deve também ser firme e consequente na
aplicação das penalizações previstas na lei, por parte da entidade administrativa com competência para o efeito.
Importa ainda referir a evolução das investigações das causas dos incêndios florestais nos últimos anos,
registando-se também um forte aumento desde que as mesmas ficaram sob a responsabilidade do SEPnA,
acentuando-se esse aumento de forma muito significativa no ano 2007, em que foram investigadas 53,44%
das ocorrências registadas, comparativamente com o ano de 2003 em que esse valor foi de 18,40%.
intervenção: henriQue pereira dos santos – instituto da Conservação da natureza
e da biodiversidade
Relativamente à temática dos incêndios florestais, julgo importante referir que 95% do país não ardeu em
2003, ou se se preferir, 90% das áreas de matas e matos não arderam em 2003. o que significa que estas
áreas estiveram a acumular combustível. Esta situação já acontece há muitos anos, desde a emigração em
massa, quando começou a deixar de existir gado no monte.
os incêndios florestais não são um problema de gestão florestal mas sim são um problema de gestão do terri-
tório e de gestão da paisagem. É preciso não esquecer que os produtores florestais e os produtores agrícolas,
como qualquer um de nós, são pessoas racionais do ponto de vista económico. A razão pela qual as pessoas
não fazem gestão é porque o rendimento retirado é inferior ao investimento que têm que fazer. Se não se
resolver o problema da produtividade e da competitividade, que se verifica em mais de 50% do território do
país que não é competitivo, o problema da acumulação do combustível não será resolvido.
na minha opinião, de 2003 a 2008, a única medida verdadeiramente relevante que foi aprovada, porque é
a que diz respeito à competitividade das explorações e poderia influenciar a acumulação de combustível, é o
Programa de desenvolvimento Rural. não considero como relevante o Fundo Florestal Permanente enquanto
uma das regras da sua gestão não seja um tecto de 5 a 10% do total do fundo como máximo de financia-
mento ao Estado.
Sendo o PRodER a única medida verdadeiramente relevante, é dramático que do ponto de vista da gestão
dos incêndios florestais seja um desastre.
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intervenção: nuno CaLado – unaC – união da FLoresta mediterrâniCa
desde 2003, destaca-se principalmente a eficácia e a melhoria da actuação da Autoridade Florestal nacional
(AFn) no que concerne à defesa da Floresta Contra Incêndios (dFCI). É óbvio que a AFn deveria ter assumido
um papel de liderança nas suas outras áreas de intervenção mas deve-se realçar a sua forte intervenção em
termos de dFCI, com uma maior concentração de meios humanos e financeiros e com uma maior produção
ao nível do planeamento, da organização e da informação. no entanto, e sendo importante este trabalho e
estando por fazer, não se fez praticamente nada sobre a gestão do território.
E face ao problema da gestão do território, da gestão da paisagem, verifica-se a questão da rentabilidade.
neste contexto, ou se encara a actividade florestal como uma actividade económica, com os seus direitos e
deveres ou não. Se for encarada como uma actividade económica é preciso criar condições para que esta pos-
sa funcionar como uma tal. Actualmente não se pode esperar que as pessoas investam por iniciativa própria,
com expectativas de retorno a 40 ou 50 anos. É preciso criar condições e mecanismos fiscais e financeiros
para que essa actividade económica possa ser rentável, alguns dos quais estão previstos em diversos planos
e programas para o sector florestal, e que visam dar mais equidade ao tratamento fiscal a que a actividade
florestal está sujeita.
A nova abordagem das zonas de intervenção florestal (ZIF) como veículo de investimento agrupado não
funciona verdadeiramente como tal. Por exemplo, existe uma associação da Chamusca, a ACHAR, que na
sequência dos incêndios de 2003 fez um projecto agrupado para recuperação de áreas ardidas no que diz
respeito a incêndios florestais, pragas e doenças. Funcionou como um veículo para um investimento agru-
pado, no entanto, como não é proprietária das terras onde foram feitos os investimentos, a Administração
Fiscal não lhe reconhece o direito à devolução do IVA, que lhe é legítimo porque esta associação suportou
todos os custos. Esta situação traz prejuízos significativos para a Associação, penalizando-a, da mesma forma
que vai penalizar as futuras ZIF. Por isso, é preciso ter em consideração algumas questões relacionadas com
a gestão e funcionamento das ZIF, como as diferenças entre o que a entidade gestora da ZIF vai pagar face
ao que vai suportar em termos de IVA, o IRC, a responsabilidade legal, etc. São questões que têm que ser
analisadas e enquadradas para que seja possível criarem-se condições atractivas para motivar as pessoas para
o investimento florestal.
É necessário pensar nos problemas do território que precisam de ser resolvidos, é preciso criar formas eficazes
de investimento, de modo a viabilizar a gestão. É preciso pensar nos diferentes tipos de produtores florestais
que existem, com diferentes necessidades e que requerem soluções diferentes.
Para terminar quero apenas expressar a especial atenção e o grande empenho com que a GnR abraçou
esta nova vertente da sua missão, sendo que o SEPnA tem como um dos seus objectivos prioritários para os
próximos anos o reforço da acção em matéria de prevenção, vigilância, detecção e investigação de incêndios
florestais, contribuindo assim para o desígnio nacional de reduzir de forma consolidada os efeitos negativos
dos fogos florestais.
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Isto significa que no concelho de loures existem por exemplo 700 bombeiros e no concelho da Pampilhosa
da Serra existem 40. A sua actual distribuição no território é inversamente proporcional aos locais onde
realmente são precisos. A solução passa pela criação da categoria do bombeiro territorial, ou seja, por cada
5000 ha (por ex.) de território perigoso deve existir um ou dois profissionais permanentes, pagos pelo Estado
central, integrados nos corpos de bombeiros locais que tenham como função a responsabilidade de conhecer
como ninguém essa parcela do território e assim possam aí desempenhar múltiplas funções: desde assessorar
decisores, a coordenar os outros bombeiros e a integrar sinergicamente os esforços de outros intervenientes,
ao nível do combate mas também da prevenção e planeamento.
intervenção: pedro Cortes – geoterra, Lda
A grande falta de diálogo entre as várias instituições, organizações e pessoas ligadas à floresta é a minha
principal crítica ou constatação depois de 2003. Antes de 2003 existiam muitos estudos, pesquisas e traba-
lhos que poderiam ser uma mais-valia mas que não foram tomados em consideração por falta desta troca
de ideias. Este diálogo é importante porque só assim se pode caminhar num único sentido: concretamente
o diálogo necessário para se avançar nesta realidade tão importante e complexa, num sistema tipo “puzzle”
cada um encaixando a sua peça, sacrificando quantas vezes for preciso a procura da detenção duma verdade
absoluta/óptimo, em prol do verdadeiro avanço mesmo com base em múltiplas pequenas conquistas e apro-
veitando sempre todo o esforço possível e suficiente.
no que diz respeito à defesa da Floresta Contra Incêndios, existe uma má informação territorial. Todo o
planeamento que é feito a partir dessa informação não é correcto, logo não permite fazer uma alocação
eficiente dos recursos. Esta alocação de recursos ao território não pode estar dependente duma informação
desactualizada porque assim não funciona. A realidade a tratar é cada vez mais desconhecida e complexa,
envolta num carácter de urgência e mesmo catástrofe no que toca à questão de incêndios e, por outro lado,
nunca existiram tantas ferramentas que facilitam a sua análise: nos dias de hoje não há assim qualquer jus-
tificação para se pouparem esforços em trazer a realidade do campo para os gabinetes onde se analisam,
decidem e planeiam todas as questões de ordenamento e desenvolvimento rural tanto a nível local como a
nível central. os territórios com melhor informação, que podem fomentar melhor os investimentos, deveriam
ser os mais apoiados, por uma questão de justiça, pedagogia e eficiência dos recursos. deveria existir uma
base de informação territorial comum aos vários instrumentos de planeamento e, portanto, com grande
detalhe e sempre actualizada.
É preciso ter em atenção que o território pós-2003 está muito mais perigoso. Por um lado, a carga combus-
tível já recuperou, com a agravante de apresentar uma estrutura espacial caótica, com lenhas, paus e árvores
caídas e de se tratarem de massas horizontalmente mais homogéneas. Por outro lado, existem mais terrenos
agrícolas abandonados, e a malha social está ainda mais fragilizada, com menos capacidade e vontade de
intervir. A solução passa pela criação de projectos integrados à escala municipal que integrem as actividades
florestais e agrícolas, segundo uma boa base territorial – tirando partido das autarquias que são instituições
já existentes, sem acréscimo de estruturas e que coordenam muitas funções que complementam a defesa
contra incêndios, e com proximidade e conhecimento local.
no que diz respeito ao actual sistema de combate a incêndios florestais baseado em bombeiros voluntá -
rios, é preciso repensar este sistema. Actualmente os bombeiros voluntários são pessoas cada vez mais
urbanas, com escassas ligações ao espaço rural, e a categoria de voluntariado não permite um empenha-
mento de tempo suficiente no conhecimento do território. outra questão é a sua proporcionalidade à
densidade populacional.
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mas é necessário continuar a melhorar. Para isso, é necessário investir em prevenção e não continuar com a
aposta recorrente no combate. É preciso valorizar a prevenção em detrimento do combate, porque o investi-
mento na prevenção tem retorno. E por prevenção, significa reduzir o número de ignições, reduzir a magni-
tude dos incêndios, através da educação das pessoas, do controlo dos comportamentos e do tratamento dos
combustíveis para que não hajam danos significativos.
01. A floresta é uma propriedade política e a sociedade terá que começar valorizar adequadamente o sector.
Em termos de políticas públicas é necessário integrar as políticas no ordenamento agrícola, fiscal, legal e
naturalmente proceder ao cadastro.
02. devem-se operacionalizar os dinheiros da prevenção de forma eficiente e os estímulos têm que ser orien-
tados na silvicultura preventiva com uma dedução fiscal das suas despesas, os municípios devem receber
os apoios não em prol da área ardida mas sim da área não ardida, ou seja, pela positiva.
03. Continuar a aposta na fiscalização e na aplicação da lei das queimas e queimadas.
04. o sistema de detecção de incêndios florestais tem que funcionar de forma mais exacta, muitas vezes
existe a dificuldade de detectar o ponto exacto do incêndio porque a detecção não funciona 24 horas e
tem debilidades em indicar as coordenadas exactas do incêndio.
05. As competências florestais de base dos recursos humanos envolvidos em todo o sistema têm de melhorar.
06. É preciso comandar e controlar o programa nacional de sapadores florestais que conta com mais de 1.200
homens e 250 viaturas que carecem de organização e gestão.
07. Por fim, gostaríamos que houvesse uma avaliação internacional aos recursos e ao sistema dFCI, uma
avaliação externa e independente.
numa perspectiva integrada e balanceada das medidas de política de defesa da floresta contra incêndios é
necessário minimizar a soma dos custos de prevenção, combate, seguros e perdas e simultaneamente ma-
ximizar o valor da floresta para o proprietário. Para isso é necessário efectuar outras iniciativas no domínio
político, como por exemplo, medidas que promovam a viabilização do sector, nomeadamente na esfera no
domínio fiscal e financeiro, que potenciem o negócio da terra e da floresta, a estabilização dos usos do solo
e uma integração da economia paralela na economia real.
intervenção: tiago oLiveira – grupo portuCeL/soporCeL
Atendendo a que desenvolvi funções na esfera pública entre 2003 e 2006, gostaria de realizar uma declara-
ção de interesses prévia antes de efectuar os comentários que me trouxeram aqui. Tendo sido coordenador
executivo da equipa que realizou a Proposta Técnica do Plano nacional de defesa da Floresta Contra Incên-
dios, 3 anos volvidos após a sua entrega a proposta organizativa efectuada (então considerada como atrevida)
continua actual e, com o tempo, está a tornar-se consensual e adequada à realidade. A proposta tinha por
base «defender a floresta não pode ser confundível, sempre, com o combater incêndios florestais». É preciso
separar estas duas componentes, uma vez que muitas vezes quando se combate um incêndio não se está
sempre, ou necessariamente, a defender a floresta.
Entrando agora nos comentários que me trouxeram aqui e sobre o documento desenvolvido pela lPn, consi-
dero que este está demasiado focado em medidas desenvolvidas desde 2003 e com base em reportes pouco
quantificados, pese sabermos que existem problemas de acesso e disponibilização de informação. Poder-se-
-ia ter aproveitado os trabalhos já feitos (outros diagnósticos) e acrescentar os dados mais recentes, o que
significaria que o relatório apresentado dedicaria mais tempo a fazer análise e menos reporte, centrando a
discussão na política pública de defesa da Floresta Contra Incêndios (dFCI).
Sobre como o grupo Portucel/Soporcel vê a evolução desde 2003, e uma vez que não existe uma avaliação ao
sistema, aproveito a apresentação feita à Comissão Parlamentar e ao CnoS (dia 15/10/08). Assim, observan-
do os resultados observados desde 2003, provisoriamente, destacamos os seguintes aspectos positivos:
01. A existência do PndFCI que permitiu uma abordagem comum a todas as instituições, assegurando que
todas seguem na mesma direcção e para um mesmo objectivo. o facto de existir um PndFCI com metas
e com objectivos mensuráveis é muito importante, uma vez que reúne todas as instituições no mesmo
objectivo que pode ser revisto e, consequentemente, ajustadas as medidas.
02. outro aspecto positivo foi a alteração da estratégia de combate a incêndios florestais, com a importação
para o sistema nacional de dFCI da técnica do golpe único e do ataque massivo.
03. observa-se ainda que existem meios (equipamento, estradas e pontos de água), bem como se destaca a
disponibilização pública da informação dos tempos de chegada aos incêndios e a crescente transparência.
04. destaca-se também o facto do conhecimento florestal começar a ser incorporado na decisão, como uma
mais-valia para o Teatro de operações, ao nível do conhecimento dos caminhos, dos terrenos e das opor-
tunidades, nomeadamente também através dos GAUF.
05. outro aspecto a realçar foi também uma melhor gestão e controlo dos meios aéreos.
06. A existência de uma filosofia de comando único na AnPC com incorporação das valências florestais e a
legislação adequada, permite uma especialização no tema da defesa da floresta e a separação da defesa
da vida e dos bens.
InCÊndIoS FloRESTAIS - 5 AnoS APÓS 2003 | 187 |
disCussão FinaL do Workshop “inCÊndios FLorestais – 5 anos
apÓs 2003”
amériCo mendes CoLoCa Questão a arménio Castanheira:
pergunta de américo mendes – “Gostaria de colocar duas perguntas ao responsável do Instituto
Geográfico Português, dr. Arménio Castanheira. A primeira questão que coloco relaciona-se com o facto
de que as zonas que necessitam desesperadamente de cadastro são as zonas de intervenção florestal (ZIF)
e neste âmbito gostaria de saber se na elaboração do cadastro, estas zonas são consideradas prioritárias? A
segunda questão que gostaria de ver respondida é se na realização dos trabalhos de cadastro é possível ou
útil a participação das associações de proprietários florestais?”
resposta de arménio Castanheira – “Relativamente às zonas de intervenção florestal é preciso referir
que as prioridades não são definidas pelo Instituto Geográfico Português. A nossa função é de coordenação
e supervisão deste trabalho de cadastro. É o ministério da Agricultura, do desenvolvimento Rural e das Pescas
que vai definir as zonas de intervenção florestal que são prioritárias. Quando for feita a realização do trabalho
de produção cadastral não se vai fazer só a área circundante à ZIF mas sim vai ser feito o concelho na sua
totalidade. na própria Resolução de Conselho de ministros nº 45/2006, que aprovou a criação do SinErGIC,
está previsto que a prioridade em termos de produção cadastral são as áreas onde predomina a floresta e
depois, dentro destas, as zonas onde existem ZIF’s constituídas ou em vias de constituição.
Relativamente às associações de proprietários florestais faz todo o sentido que, no âmbito da execução
cadastral, participem neste trabalho todos aqueles que facilitem e ajudem a encontrar os proprietários e os
terrenos. Um processo de produção cadastral é mais fiável e mais consistente se as populações se envolverem
neste processo. Todos vamos ser poucos para atingir os resultados desejados. o que está previsto é que, mes-
mo que não sejamos nós a produzir o cadastro, as orientações que vamos dar às empresas que irão executá-
-lo é que contactem as associações florestais e as outras forças vivas das áreas alvo de cadastro, de modo a
incorporar todo esse conhecimento no trabalho a desenvolver.
os custos elevados do cadastro prendem-se com o facto deste ter que ser feito na presença do proprietário e
dos confinantes. no âmbito do cadastro estamos a lidar com direitos das pessoas, direitos tutelados pela lei e
pelo Código Civil, que são direitos reais ou de posse e nós não podemos espoliar esses direitos.”
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migueL gaLante CoLoCa Questão a José migueL Cardoso pereira:
pergunta de miguel galante – “Se colocarmos a estratégia nacional de defesa da Floresta Contra os
Incêndios Florestais numa lógica de um filme, o PnFdCI, é o guião e os actores principais são os responsáveis
pelas diferentes componentes desta estratégia, ou seja, são os responsáveis pela prevenção estrutural, pela
prevenção operacional e pelo combate, a AFn, a GnR e a AnPC respectivamente. o produtor é o Fundo
Florestal Permanente, uma vez que assegura o financiamento. Contudo, julgo que nesta matéria, o Fundo
Florestal Permanente deveria ter um papel mais activo para uma melhor concretização das medidas.
Após 2003, e sobretudo após 2005, verificou-se a operacionalização de um conjunto vasto de medidas. Con-
tudo falta medir o impacto dessas medidas. Por exemplo, o impacto da redução da taxa do IVA para os
trabalhos de silvicultura preventiva. É uma medida positiva mas não se sabe o seu real impacto. Também é
necessário medir-se o real impacto da redução dos custos para a regularização do cadastro florestal. Em relação
à utilização do fogo controlado também é preciso saber o seu real impacto nas zonas criticas do nosso território
A sensibilização é o caso mais grave, porque não se medem os impactos reais da sensibilização dirigida junto
dos diferentes públicos-alvo.
numa entrevista do Prof. José miguel Cardoso Pereira, ao jornal Público em 2006, perguntava-se «Passaram
três anos depois de 2003. Já se começaram a sentir mudanças na floresta?» e a sua resposta foi «onde se
pode mudar rapidamente é na percepção do público, e noto que existe uma mudança substancial.» E de
facto o público mudou. Este facto é comprovado por um estudo de opinião, encomendado pela AFn que
envolveu 1.500 portugueses inquiridos, no meio rural e urbano e cuja resposta a esta mesma pergunta foi
que «o País realmente mudou após 2003 e 60% consideraram que mudou para melhor.» Agora pergunto ao
Prof. José miguel Cardoso Pereira «5 anos após 2003 o que acha desta mudança?»”.
resposta de José miguel Cardoso pereira – “não tenho muito mais a acrescentar ao que referi
nessa entrevista em 2006. Aumentou a visibilidade do assunto e, portanto, a sensibilização e a percepção do
público para o problema também aumentou. Contudo, a seguir às percepções vêm as atitudes e a seguir às
atitudes vêm os comportamentos. Entre estar mais alertado e isso traduzir-se num impacto sobre a realidade
ainda existe um caminho muito grande a percorrer. não é com campanhas de sensibilização completamente
desfocadas e genéricas que se atinge esse objectivo”.
pedro almeida vieira:
“Eu só gostava de referir que a fraca investigação dos incêndios florestais, no período de 2001 a 2005, é
justificável pelo valor baixo que esta apresentava face às ocorrências totais, ou seja, 4,5%. E na minha opi-
nião isto não é significativo. A situação grave do ponto de vista criminal é que não se investigavam as zonas
de elevado número de ocorrências. Por exemplo, a freguesia com maior número de ocorrências, no período
de 1999-2004 era São Pedro da Cova, no concelho de Gondomar, com 697 ocorrências e mesmo com este
elevado número, nenhuma ignição foi investigada. outro exemplo, é o distrito do Porto, que é o distrito his-
toricamente com maior número de ocorrências e que neste período de 1999-2004 apenas 0,2% das ignições
tinham sido investigados.
Já o distrito de Coimbra era o que apresentava uma melhor investigação, uma vez que até investigava fo-
gachos porque o número de ocorrências investigadas era superior ao número de incêndios com mais de
1 hectare.
Um aspecto fundamental para o qual gostaria de chamar a atenção é que é preciso definir o melhor caminho
para a nossa floresta, tendo em conta os incêndios florestais, a alteração brusca das áreas afectadas, o pro-
blema do nemátodo e o problema das alterações climáticas.”
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texto enviado peLo partiCipante Luis siLva – bombeiro na Companhia de bombeiros
sapadores de Coimbra
o tema que ronda os incêndios florestais tem sido sem sombra de dúvidas um dos mais debatidos por toda
a sociedade. noutros tempos, falava-se sobretudo na época de Verão, com a ocorrência e divulgação pelos
media dos mesmo incêndios, e onde apenas se comentavam situações inerente ao combate, falta de limpeza
das matas, incendiarismo, etc. Actualmente, em minha opinião, a discussão sobre esta problemática alterou-
-se substancialmente para melhor, para outros vectores de conhecimento, o que veio implementar obviamen-
te uma nova dinâmica e adicionar muito conhecimento científico ao até aqui pequeno grupo de interessa-
dos no assunto. Actualmente relacionam-se incêndios florestais com cotas de carbono, aproveitamento de
biomassa, ordenamento do território, ordenamento florestal, custos de operações de manutenção florestal e
de combate a incêndios florestais, repovoamentos florestais, erosão hídrica e por último, hábitos, atitudes e
comportamentos da sociedade. Felizmente, começam-se a observar e a estudar os incêndios florestais numa
perspectiva muito mais abrangente, do que a, até aqui, redutora vista do próprio incêndio. Contudo, observo
que a parte comportamental da sociedade está a ser deixada de lado em prol das ciências exactas, quando,
essencialmente o problema começa precisamente aqui, com o comportamento pouco adequado de um ou
outro cidadão, que de forma negligente ou não faz uso do fogo.
Em todas as jornadas de trabalho em que tenho estado presente, sejam reuniões, seminários, colóquios,
workshop’s ou mesmo cursos e acções de formação, reparo que o debate em torno da prevenção e combate,
se resume a ideias defendidas sob o ponto de vista técnico, desprezando o ponto de vista social. A inter-
venção dos técnicos de áreas sociais, sejam, sociólogos, antropólogos ou psicólogos, apenas se verifica já na
situação pós incêndio, onde intervêm na situação de avaliação comportamental de um ou outro presumível
incendiário.
Relativamente ao Workshop em causa, verifiquei com agrado a pluridisciplinaridade quer dos oradores, quer
dos convidados. no que às intervenções diz respeito, verifico a preocupação generalizada na procura de solu-
ções com vista à resolução de um problema que afecta a globalidade da nossa população, contudo verifiquei
a falta de discussão em torno do aproveitamento de biomassa, com recurso à limpeza das florestas, apesar de
do lado dos participantes ainda se ter ouvido falar por palavras do Eng.º Carlos machado, da Silviconsultores
uma pequena referência ao aproveitamento de biomassa, assim como por parte do Eng.º Henrique Santos do
ICnb, que referiu não haver rentabilidade dos espaços florestais, que acabam por acumular materiais com-
bustíveis, onde os matos, se não ardem, simplesmente continuam a crescer e também por parte do Tenente
Coronel Seguro, que manifestou a falta de possibilidade no sentido de encaminhar os resíduos agrícolas e
florestais, verificada ao sentir necessidade de aconselhar a população sobre o assunto.
É do conhecimento geral que após 2003, não com o objectivo principal do combate aos incêndios florestais,
mas mais numa perspectiva de produção de energia, foi aprovado um determinado número de construções
henriQue pereira dos santos CoLoCa Questão a antÓnio saLgueiro:
pergunta de henrique pereira dos santos – “o Fundo Florestal Permanente para ser uma medida
verdadeiramente relevante para a questão central da competitividade rural teria que ter uma regra básica:
o dinheiro deste fundo não pode retornar ao Estado. deveria também estar direccionado para aqueles que
efectivamente precisam. Este fundo poderia ser um instrumento interessante desde que realmente orientado
para resolver o problema da competitividade na gestão do território, pagando os serviços que são prestados
pelos donos e pelos gestores dos terrenos. Gostaria de saber porque razão não se inclui neste tipo de dis-
cussão o pastoreio, quer o tradicional, quer o orientado como ferramenta de redução de combustíveis, da
mesma forma que se inclui o fogo controlado?”.
resposta de antónio salgueiro – “no seio da AFn existe a vontade de dar uma maior possibilidade
de utilização do fogo aos pastores que têm o conhecimento e sabem trabalhar com o fogo e de enquadrar e
apoiar os pastores que já não sabem trabalhar com o fogo em época própria. Esperemos que rapidamente se
inicie um trabalho com esses utilizadores do território, que são os principais utilizadores de fogo”.
| 192 | InCÊndIoS FloRESTAIS - 5 AnoS APÓS 2003 | 193 |
actualmente são responsáveis pelas estruturas locais que operam na área de socorro, obrigando a que inte-
ragissem muito mais entre si, deduzo que facilmente veríamos melhoradas as prestações de socorro, nome-
adamente ao nível do combate alargado, onde se cruzam competências ao nível de autoridade de protecção
civil, autoridade florestal, autoridades policiais e responsáveis municipais e intermunicipais.
deixo o desafio de que, nesta área em especifico, seja efectuada a caracterização profissional, nomeadamen-
te ao nível de formação adquirida nos últimos 10 anos e mais especificamente após 2003, dos comandantes
de corpos de bombeiros do nosso país, uma vez que são eles, uns dos principais responsáveis pelas operações
de socorro no âmbito do combate a incêndios florestais, quer em termos de ataque inicial, quer em termos
de ataque ampliado.
de centrais de produção de energia a partir de consumo de biomassa, nomeadamente o uso da estilha,
situação que não se encontra em prática, uma vez que apenas 3 centrais se encontram em funcionamento,
não consumindo toda a produção existente, fazendo com que muita da biomassa produzida em Portugal
“emigre” para a bélgica e para Itália. Parece-me claro que, caso o processo de implantação de outras centrais
previstas seja executado, vai haver uma crescente procura desta matéria, com todas as consequências que
dai advirão.
Um outro aspecto que foi referido foi o desempenho do dispositivo de Combate a Incêndios Florestais onde
o dr. Paulo Fernandes da UTAd referiu haver lacunas na fase do combate, nomeadamente no ataque amplia-
do. no meu ponto de vista, e com algum conhecimento sobre esta matéria, uma vez que faço parte de um
corpo de bombeiros, verifico no distrito de Coimbra – falo deste por ser o meu de origem, mas que poderá
ser reflexo generalizado de todo o pais – um aumento no rigor das directivas que são dirigidas aos corpos de
bombeiros por parte do CdoS. Entidade onde o CodIS teve um papel preponderante ao conseguir impor a
sua disciplina e competência, o que obviamente se reflecte no rigor e nas prestações em termos individuais
dos respectivos corpos de bombeiros, não se verificando de forma generalizada grandes problemas na parte
do ataque inicial. não nos podemos esquecer que este ataque inicial foi ampliado com outras forças que não
os bombeiros e que essas mesmas forças foram formadas única e exclusivamente para aquela tarefa, como
é o caso do GIPS-GnR, FEb-AnPC e SF-AnF. As estratégias tomadas actualmente são fundamentadas em
conhecimentos científicos de várias áreas, em vez do vulgo conhecimento comum do comandante local que
havia sido convidado a dirigir a estrutura distrital, que até aqui se aplicava. Contudo, facilmente podemos
observar a discrepância de evolução entre os responsáveis pelas estruturas distritais quando comparadas com
as locais.
no que se refere às estruturas locais, verifica-se haver preocupação na solução desta fragilidade, uma vez que
se criou o cargo de comandante municipal de operações de socorro; figura profissional, com todas as respon-
sabilidades que daí advêm. Contudo, tal cargo continua por ocupar na grande maioria dos concelhos deste
país, recaindo toda a responsabilidade operacional local nos comandantes dos corpos de bombeiros, muitos
deles com muito pouca formação para tal desempenho. Também aqui se manifesta alguma preocupação na
resolução do problema, uma vez que foi criado o cargo de oficial bombeiro, já legislado, mas também este
por aplicar em muitos dos casos. Com toda esta instabilidade no sistema, facilmente se compreende a falta de
coerência e organização numa situação de ataque ampliado; onde, de uma forma simples, se resume a somar
a uma ocorrência em larga escala, a desorganização e a falta de rigor e de conhecimento que se encontra
algo dissimulada a níveis locais.
Concordando de certa forma com o CnoS Gil martins, sob o ponto de vista de que o dispositivo não faz
milagres, não quero deixar de acrescentar, que este não faz milagres, mas pode ser melhorado. Se fosse
dada continuidade ao que até aqui foi legislado e se fosse aumentado o nível formativo de muitos dos que
PARTE IVCONCLUSÕES GERAIS DO WORkShOp
INCÊNDIOS FLORESTAIS5 ANOS ApÓS 2003
INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 197 |
CONCLUSÕES GERAIS DO WORkShOp “INCÊN-
DIOS FLORESTAIS – 5 ANOS ApÓS 2003”
JOAquIm SANDE SILVA, ERNESTO DE DEuS, LúCIA
SALDANhA
A partir das comunicações dos oradores e das par-
ticipações dos restantes intervenientes, tentámos
sintetizar os aspectos mais relevantes, comuns a di-
ferentes intervenções. De modo a utilizar um critério
objectivo, retivemos os aspectos constantes em pelo
menos duas das intervenções realizadas durante o
Workshop “Incêndios Florestais – 5 anos após 2003”.
Deste modo, estas “Conclusões” não pretendem tra-
duzir o ponto de vista dos editores do presente vo-
lume, mas apenas reflectir opiniões partilhadas pelos
participantes no Workshop, não distinguindo entre
oradores e não oradores. utilizámos aqui o mesmo
critério já utilizado antes, na classificação dos dife-
rentes aspectos ligados à Defesa da Floresta Contra
Incêndios (DFCI), agrupando-os em: Ignições, Propa-
gação e Combate.
IGNIçÕES
Apesar do número anual de ignições tender a dimi-
nuir, o que demonstra alguma eficácia das medidas
tomadas nos últimos 5 anos, nomeadamente a imple-
mentação do Sistema Nacional de Defesa da Floresta
Contra Incêndios (SNDFCI) (DL n.º 124/2006), este
número continua ainda muito elevado. Conside rando
a diminuição do número de ocorrências um factor
crítico de sucesso, é necessário apostar ainda mais na
sensibilização, na fiscalização e na vigilância. Por ou-
tro lado, a investigação das causas tem registado um
aumento nos últimos anos. No entanto, verifi ca-se a
ausência da aplicação prática dos resultados dessa in-
vestigação, para além do foro estritamente criminal.
Este conhecimento deveria ter uma aplicação objec-
tiva na perspectiva da gestão da prevenção dirigida.
Apesar das melhorias verificadas ao nível da sensibili-
zação, existem ainda aspectos a melhorar. Nomeada-
mente, foi afirmada a necessidade de adequar a sen-
sibilização ao público-alvo, adequando a transmissão
da mensagem aos diferentes grupos específicos, de
modo a conseguir a mudança de comportamentos.
Na perspectiva de que o fogo é um problema rural,
a sensibilização deve ser dirigida para esse meio, de
modo a que tenha impacto no número de ocorrên-
cias, o que não se consegue utilizando apenas cam-
panhas generalistas.
No âmbito da vigilância, existiu uma maior visibili-
dade da autoridade, fruto do número de elementos
da Guarda Nacional Republicana actualmente no
terreno, com essa função. O efeito dissuasor dessa
visibilidade poderá ter contribuído para a diminuição
do número de ocorrências. No entanto, este efeito
dissuasor poderá dissipar-se se não for acompanha-
do da penalização adequada.
| 198 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 199 |
municipalização da DFCI estará no entanto a contri-
buir para alterar os seus objectivos, dando-lhe antes
um cariz de Protecção Civil, ou seja, de DCFI (Defe-
sa Contra Incêndios Florestais, em vez de Defesa da
Floresta Contra Incêndios). quanto à transparência e
à eficácia, tem sido notória a falta de informação, a
ausência de escrutínio público e a elevada morosida-
de contrariando aquilo que previa o diploma que deu
início ao processo de constituição do FFP.
COmbATE
O sistema de detecção fixa deve ser revisto, de modo
a ultrapassar as actuais fragilidades, tendo em conta:
a reestruturação proposta para a Rede Nacional de
Postos de Vigia, o seu modelo de funcionamento e as
potencialidades oferecidas pelas novas tecnologias.
É unânime a opinião de que se verificaram mudanças
positivas significativas ao nível do combate, princi-
palmente depois de 2006. Essas mudanças eviden-
ciam-se através de um sistema coerente e através
da definição de uma estratégia. muito embora seja
difícil fazer uma análise rigorosa ao real efeito dessas
mudanças positivas nas estatísticas das áreas quei-
madas, um dos trabalhos apresentados evidenciou
que os resultados dos últimos 3 anos são compa-
rativamente melhores que os esperados, tendo em
conta a relação entre os incêndios e a meteorologia
durante o quinquénio anterior. A estratégia basea-
da na redução do tempo de chegada e no ataque
massivo (golpe único) constitui um aspecto positi-
vo, verificando-se assim uma melhoria na primeira
intervenção. A capacidade de combate foi também
grandemente reforçada, havendo uma melhoria nos
diferentes meios de combate e na gestão e controlo
dos meios aéreos.
Para esta melhoria da performance terá contribuído
bastante o notável aumento no terreno de forças
especializadas em primeira intervenção, como os
GIPS, as FEB, os Sapadores Florestais (AFN e Exército)
e as equipas de primeira intervenção da AFOCELCA
e do ICNB. O aparecimento dos GAuF é também
tido como um contributo importante para melho-
rar a capacidade técnica do dispositivo de combate,
nomeadamente através da utilização tecnicamente
fundamentada do fogo de supressão.
pROpAGAçãO
É consensual a necessidade de levar a gestão ao ter-
reno de modo a evitar o aumento de grandes áreas
de vegetação contínua (plantações equiénias, áreas
naturais, áreas abandonadas). No entanto, já não é
igualmente óbvia a forma de o concretizar, devido à
dificuldade em conseguir que os proprietários façam,
ou permitam que se faça, essa gestão. De entre os
mecanismos possíveis para resolver esta questão os
participantes salientaram:
• a implementação de projectos integrados à escala
municipal que integrem as actividades florestais e
agrícolas;
• a introdução de medidas que penalizem a ausência
de gestão dos espaços florestais;
• a criação de unidades de gestão florestal viáveis para
permitir que a gestão dos espaços florestais possa
gerar o valor necessário à sua sustentabilidade;
• a criação de mecanismos fiscais e financeiros para
que a gestão dos espaços florestais possa ter renta-
bilidade, enquanto actividade económica;
• a compensação dos proprietários pela prestação de
serviços à sociedade, tal como previa o diploma de
criação do Fundo Florestal Permanente (FFP).
No que diz respeito ao uso da técnica de fogo con-
trolado para a gestão de combustíveis, apesar do
desenvolvimento verificado nos últimos anos, o im-
pacto das intervenções mais recentes é, até agora,
irrisório perante a amplitude do trabalho a realizar.
As razões para este baixo valor de áreas tratadas não
se prendem necessariamente com o facto de não se
ter criado o Programa Nacional de Fogo Controlado,
inicialmente previsto.
Apesar das muitas diligências efectuadas desde há
vários anos e das perspectivas positivas anunciadas,
a verdade é que até ao momento o cadastro dos pré-
dios rústicos tem sido um projecto adiado, em boa
parte devido ao elevado investimento que envolve.
No entanto, de acordo com a análise de custo-bene-
fício efectuada, irá permitir um retorno de 3,8 vezes
o investimento realizado. A necessidade de realiza-
ção do cadastro dos prédios rústicos, constituiu um
dos aspectos mais unânimes da sessão, uma vez que
é consensual a dificuldade de aplicação de medidas
de gestão, sem que se conheçam os interlocutores
que detêm de facto o poder de decisão sobre essa
mesma gestão. O cadastro irá permitir igualmente
conhecer os “terrenos sem dono”, estimados actual-
mente em 20% do território.
É reconhecido o importante papel que as Zonas de
Intervenção Florestal (ZIF) poderão ter na mudança da
realidade da gestão florestal em Portugal. No entan-
to, vários participantes fizeram notar que poderá ser
uma oportunidade perdida, quanto à possibilidade de
gerir em conjunto unidades territoriais de pequenas
dimensões. Na verdade não se encontram garantidas
as condições para que os proprietários constituintes
das ZIF abdiquem de facto de fazer uma gestão in-
dividualizada das suas parcelas de terreno. Por outro
lado o quadro fiscal actual penaliza as entidades ges-
toras, por não serem titulares dos prédios rústicos.
Vários participantes fizeram críticas ao FFP, quer à
forma como tem sido aplicado, quer à sua falta de
transparência. quanto à sua aplicação, tem-se veri-
ficado um desvirtuar dos objectivos iniciais do FFP,
com uma clara preferência para a canalização de fun-
dos para estruturas municipais de apoio à DFCI. Esta
| 200 | INCÊNDIOS FLORESTAIS - 5 ANOS APÓS 2003 | 201 |
NOTAS FINAIS
Alguns participantes referiram a instabilidade criada
pelas constantes alterações no quadro legal e insti-
tucional. No que diz respeito à legislação em parti-
cular, referiu-se o ritmo com que esta é produzida e
alterada, dificultando a sua aplicação. No momento
preciso em que o presente texto era ultimado, foi
aprovado um pacote legislativo destinado a alterar
aspectos fundamentais da legislação que estabe-
lece o SNDFCI, nomeadamente o Decreto-Lei n.º
124/2006, o qual constituiu, por sua vez, uma versão
revista do Decreto-Lei nº 156/2004.
Apesar das críticas que acompanharam o processo
de implementação do Plano Nacional de Defesa da
Floresta Contra Incêndios (PNDFCI), reconhece-se
que este instrumento permitiu definir papéis e res-
ponsabilidades, fornecendo uma abordagem co-
mum a todas as instituições, unificadas num mesmo
objectivo e numa mesma direcção. No entanto, al-
guns participantes criticaram o facto de não se ter
adoptado por inteiro a Proposta Técnica de PNDFCI
elaborada pelo Instituto Superior de Agronomia, que
acabou por ser bastante desvirtuada relativamente
aos seus princípios fundamentais.
A análise e acompanhamento das medidas defini-
das e aplicadas e dos seus resultados é fundamental
para o desenvolvimento do sistema de DFCI, sendo
fundamental levar as informações compiladas, à
discussão pública, ou através de uma avaliação in-
ternacional independente. A este respeito destaca-
-se algum progresso através do acompanhamento
feito pela Assembleia da República depois de 2005,
promovendo uma nova visibilidade e uma nova sen-
sibilidade política para estas questões.
Os anos de 2007 e 2008 foram marcados por condi-
ções meteorológicas atípicas com implicação directa
nos resultados obtidos e afectando necessariamente
a avaliação. uma perspectiva de 10 anos sobre 2003
permitirá um balanço melhor, para além de manter
a sociedade civil mobilizada e vigilante. Este aspecto
foi reforçado por um dos trabalhos apresentados,
que evidenciou a elevada taxa de recuperação da
carga de combustível, fazendo com que as áreas
queimadas em 2003 tenham rapidamente readquiri-
do as condições para vir de novo a permitir o desen-
volvimento de grandes incêndios, dependendo das
características meteorológicos dos próximos anos.
A disponibilização de informação foi também me-
lhorada significativamente no sentido de uma maior
transparência e acessibilidade, sendo pública a infor-
mação sobre a performance das forças de combate e
sobre a evolução dos incêndios .
Apesar das melhorias registadas, a formação dos
bombeiros, que continuam ainda a constituir o gros-
so dos efectivos nos Teatros de Operações, continua
a ser uma das maiores fragilidades do sistema. A
agravar este aspecto está um cada vez maior afas-
tamento dos bombeiros do meio rural, com todas as
consequências que tal acarreta em termos do desco-
nhecimento da realidade no terreno. Estes e outros
aspectos, fazem com que não exista ainda uma ca-
pacidade de resposta adequada ao nível do combate
alargado, ou seja a partir do momento em que falha
a primeira intervenção. Esta conclusão foi igualmen-
te referida no estudo apresentado sobre o desempe-
nho do sistema de DFCI no periodo 2006–2008.
lista de siglas e abre
viat
uras
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LISTA DE SIGLAS E AbREvIATURAS
ADAI – Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial
ADISA – Associação de Desenvolvimento do Instituto Superior de Agronomia
AETL – Aerotanque Ligeiro
AETm – Aerotanque médio
AETp – Aerotanque Pesado
AFOCELCA – Agrupamento Complementar de Empresas dos grupos Portucel/Soporcel e Altri
AFN – Autoridade Florestal Nacional
ANIF – Autoridade Nacional para os Incêndios Florestais
ANmp – Associação Nacional de municípios Portugueses
ANpC – Autoridade Nacional de Protecção Civil
ANQ – Agência Nacional para a qualificação
ApIF – Agência para a Prevenção de Incêndios Florestais
bIFF – Brigada de Investigação de Fogos Florestais
bUI – Buildup Index
Cb – Corpo de Bombeiros
CCOD – Centro de Coordenação das Operações Distrital
CCON – Centro de Coordenação Operacional Nacional
CDCS – Centro Distrital de Coordenação de Socorros
CDOS – Centro Distrital de Operações de Socorro
CEEmA – Comissão Especial para o Estudo dos meios Aéreos de Combate aos Incêndios Florestais
CEFA – Centro de Estudos e Formação Autárquica
CEFF – Comissão Especializada em Fogos Florestais
CEFFd – Comissão Especializada em Fogos Florestais distrital
CEFFm – Comissão Especializada em Fogos Florestais municipal
CEIF – Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais
CFEIF – Centro de Formação Especializado em Incêndios Florestais
CFN – Conselho Florestal Nacional
CmDFCI – Comissão municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios
CmpC – Comissão municipal de Protecção Civil
CNEFF – Comissão Nacional Especializada de Fogos Florestais
CNGF – Corpo Nacional da Guarda Florestal
CNOS – Centro Nacional de Operações de Socorro
CNR – Conselho Nacional de Reflorestação
COS – Comandante das Operações de Socorro
CpD – Centro de Prevenção e Detecção
CRR – Comissão Regional de Reflorestação
DC – Drought Code
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LAETA – Laboratório Associado em Energia, Transportes e Aeronáutica
Lbp – Liga dos Bombeiros Portugueses
LpN – Liga para a Protecção da Natureza
mADRp – ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas
mAI – ministério da Administração Interna
mAOT – ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território
mAOTDR – ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional
mCOTA – ministério das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente
NpF – Núcleo de Protecção da Floresta
NUT – Nomenclatura de unidades Territoriais
OpF – Organização de Produtores Florestais
pDF – Plano de Defesa da Floresta
pEFC – Programme for the Endorsement of Forest Certification
pFC – Plano de Fogo Controlado
pGF – Plano de Gestão Florestal
pmDFCI – Plano municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios
pmIF – Plano municipal de Intervenção Florestal
pNDFCI – Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios
pOm – Plano Operacional municipal
pONACIF – Plano Operacional Nacional de Combate a Incêndios Florestais
pOQ – Plano Operacional de queima
pROF – Plano Regional de Ordenamento Florestal
pSp – Polícia de Segurança Pública
RDF – Rede de Defesa da Floresta
RNpv – Rede Nacional de Postos de Vigia
SEDR – Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural
SEDRF – Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e das Florestas
SEF – Secretaria de Estado das Florestas
SEpC – Secretaria de Estado da Protecção Civil
SEpNA – Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente
SF – Sapadores Florestais
SINERGIC – Sistema Nacional de Exploração e Gestão da Informação Cadastral
SIOpS – Sistema Integrado de Operações de Protecção e Socorro
SNb – Serviço Nacional de Bombeiros
SNbpC – Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil
SNpC – Serviço Nacional de Protecção Civil
SNppFCI – Sistema Nacional de Prevenção e Protecção da Floresta Contra Incêndios
ZIF – Zona de Intervenção Florestal
DECIF – Dispositivo Especial de Combate aos Incêndios Florestais
DFCI – Defesa da Floresta Contra Incêndios
DGF – Direcção-Geral das Florestas
DGRF – Direcção-Geral dos Recursos Florestais
DmC – Duff moisture Code
DRA – Direcção Regional de Agricultura
ECIN – Equipas de Combate a Incêndios
ENb – Escola Nacional de Bombeiros
ENF – Estratégia Nacional para as Florestas
ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social
eSF – Equipas de Sapadores Florestais
FEb – Força Especial de Bombeiros
FFmC – Fine Fuel moisture Code
FFp – Fundo Florestal Permanente
FOCON – Força Operacional Conjunta
FSC – Forest Stewardship Council
FSE – Fundo Social Europeu
FWI – Fire Weather index
GAUF – Grupo de Análise e uso do Fogo
GEFoCo – Grupo de Especialistas de Fogo Controlado
GF – Guarda Florestal
GIpS – Grupo de Intervenção, de Protecção e Socorro
GNR – Guarda Nacional Republicana
GTF – Gabinete Técnico Florestal
hEbL – helicóptero Bombardeiro Ligeiro
hEbm – helicóptero Bombardeiro médio
hEbp – helicóptero Bombardeiro Pesado
ICN – Instituto de Conservação da Natureza
ICNb – Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade
IESE – Instituto de Estudos Sociais e Económicos
IF – Instituto Florestal
IFADAp – Instituto de Financiamento e Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura e das Pescas
IFAp – Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas
IFN – Inventário Florestal Nacional
IGp – Instituto Geográfico Português
Im – Instituto de meteorologia
INEm – Instituto Nacional de Emergência médica
ISA – Instituto Superior de Agronomia
ISI – Initial Spread Index
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