iii seminÁrio nacional de integraÇÃo da...
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III SEMINÁRIO NACIONAL DE INTEGRAÇÃO DA GRADUAÇÃO E PÓS-
GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA XVII SEMANA DE GEOGRAFIA
XII ENCONTRO DE ESTUDANTES DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA
Apoio: PROPG – Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Unesp
Curso de Geografia Departamento de Geografia Programa de Pós-Graduação em Geografia
Ano I. Edição I. 188 páginas
ISSN: 1981-1047
ANAIS
APRESENTAÇÃO
A Faculdade de Ciências e Tecnologia de Presidente Prudente – FCT –, da
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, realizou entre os dias 3 e
8 de outubro de 2016 o “III Seminário Nacional de Integração da Graduação e
Pós- graduação em Geografia, XVII Semana de Geografia e XII Encontro de
Estudantes de Licenciatura em Geografia”. O evento foi organizado e
promovido pelo Curso de Graduação em Geografia e pelo Programa de Pós-
Graduação em Geografia da FCT/Unesp de Presidente Prudente/ SP.
O tema debatido durante as mesas-redondas e conferências, além de
minicursos, foi “Geografia, Democracia e Desenvolvimento”, em decorrência
do cenário político e econômico no qual o país se encontra, o que requer
discussões pela Geografia sobre as mudanças ocorridas nos últimos anos e as
perspectivas para o futuro. Neste sentido, o evento buscou abordar a temática do
desenvolvimento sob o enfoque da Geografia, resgatando o processo histórico
que levou o país até a atual situação e colocando em debate a apreensão quanto
à construção de formas de desenvolvimento democráticas, em busca de dirimir as
desigualdades sociais do país. As discussões sublinharam o pensamento
geográfico sobre o tema e o papel do geógrafo e do professor de geografia no
que tange ao atual contexto.
A seguir encontram-se os resumos expandidos apresentados sob a forma oral
durante o evento, divididos nos seguintes eixos:
1 – Educação em Geografia: diálogo docente e ensino na escola;
2 – Teoria e Prática: o trabalho, a saúde e a Geografia;
3 – Região e Cidade: desenvolvimento e urbanização;
4 – Dinâmicas naturais e questões ambientais;
5 – Espaço Rural: questão agrária e relação cidade-campo.
Presidente Prudente, 20 de setembro de 2016.
COMISSÃO ORGANIZADORA
Coordenação Geral:
Prof. Dr. Eduardo Paulon Girardi; Prof. Dra. Rosangela Aparecida de Medeiros
Hespanhol; Prof. Dra. Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia; Prof. Dr. José Mariano
Caccia Gouveia.
Secretaria Executiva:
Anna Paulla Artero Vilela; Gleice Santana Pereira; Lorena Izá Pereira; Mariana Cristina
Gomes.
Secretaria Geral:
Bruna Guldoni; Felipe Cesar Augusto Silgueiro dos Santos; José Maria do Rosário
Chilaúle Langa; Luis Fernando Colombo; Mateus Fachin Pedroso.
Comissão de organização dos anais:
Carlos Eduardo das Neves; Ellen Tamires Pedriali Colnago; Larissa Araújo Coutinho
de Paula; Lucia Iaciara da Silva; Paulo Roberto Vagula; Nayara Rodrigues da Silva;
Roberta Oliveira da Fonseca.
Comissão Cultural:
Barbara Cardoso da Cunha; Jhonata Prates Estevam; Lucas de Brito Wanderley;
Mateus Vantuir Cardozo Lopes.
Comissão de Divulgação:
Alexandre Antonio Abate; Gabrielli Gimenes da Silva; Ritielle Cristina Aparecido.
Comissão de logística:
Bruna Dienifer Souza Sampaio; Eilane Ramos Gomes
Emanuela Sanches Moreira; Guilherme Silva de Sousa; Hélio Santos Alves Maria;
Jéssica Ribeiro do Carmo Santos; Letícia Fernanda de Lima
Lucas Pauli; Ricardo dos Santos.
EIXO TEMÁTICO 1: “EDUCAÇÃO EM GEOGRAFIA: DIÁLOGO DOCENTE E
ENSINO NA ESCOLA” ........................................................................................................... 8
A IMPORTÂNCIA DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DA FCT/UNESP NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM.......................................................................................................9 Jéssica Ribeiro do Carmo Santos Bruna Guldoni Daiane Barbosa Giroto A IMPORTÂNCIA DO PIBID PARA A FORMAÇÃO DO DOCENTE DE GEOGRAFIA: RELATOS SOBRE A ATUAÇÃO DO SUBPROJETO “FAZENDO GEOGRAFIA POR MEIO DE PROJETOS DE TRABALHO” NA ESCOLA ESTADUAL FERNANDO COSTA – PRESIDENTE PRUDENTE/SP...........................................................................................................................14 Daiara Batista Mendes Mateus Vantuir Cardozo Lopes A PAISAGEM EM GODARD: CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA...........19 Ana Letícia Peixe Euzébio PEDAGOGIA DE PROJETOS NO ENSINO DE GEOGRAFIA: UMA EXPERIÊNCIA COM O ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA FLORIVALDO LEAL, PRESIDENTE PRUDENTE – SP................................................................................................................................................24 Carlos Eduardo Almeida Sampaio Gabriel Mendes Araújo Tamires Aparecida Souza Silva POSSIBILITANDO ESPAÇOS EM A HARD DAY’S NIGHT: ENCONTROS ENTRE O CINEMA E A GEOGRAFIA........................................................................................................................30 Jucimara Pagnozi Voltareli PROJETO DE EXTENSÃO GEOGRAFIA VAI À ESCOLA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA ESCOLA FLORIVALDO LEAL EM PRESIDENTE PRUDENTE-SP...........................................................................................................................34 Juliane Elizabeth Deltrejo de Deus Adriano da Silva Oliveira Maria Terezinha Serafim Gomes
EIXO TEMÁTICO 2: “TEORIA E PRÁTICA: O TRABALHO, A SAÚDE E A
GEOGRAFIA” - ................................................................................................40
A MULTIPLICIDADE DO HIV/AIDS EM DIFERENTES ESCALAS: ESTUDOS BRASILEIROS............................................................................................................................41 Mateus Fachin Pedroso PARA ALÉM DO VISÍVEL NOS CANAVIAIS DO PONTAL DO PARANAPANEMA: A SAÚDE DOS TRABALHADORES EM CHEQUE SOB O AVANÇO DO CAPITAL AGROINDUSTRIAL CANAVIEIRO..............................................................................................................................46 Gabriel Ferreira Antonio Thomaz Junior Fredi Dos Santos Bento
EIXO TEMÁTICO 3: “REGIÃO E CIDADE: DESENVOLVIMENTO E
URBANIZAÇÃO” ....................................................................................................................50
ANÁLISE DOS PROJETOS DE INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA IIRSA PARA A AMÉRICA DO SUL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES................................................................51 Camila Manoel Pereira Martinelli A SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL: UMA ANÁLISE TEÓRICA A PARTIR DA GLEBA PALHANO EM LONDRINA/PR..................................................................................................57 Felipe César Augusto Silgueiro dos Santos Mariana Cristina da Silva Gomes APONTAMENTOS SOBRE A FORMAÇÃO DE PARQUE TECNOLÓGICO COMO ALTERNATIVA AO DESENVOLVIMENTO REGIONAL............................................................63 João Vítor dos Santos da Silva Gabriel Mendes Araújo CENTRO E CIRCUITO INFERIOR DA ECONOMIA URBANA EM LONDRINA.......................69 Mariana Aparecida Gazolla INFLUÊNCIA DA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE PRESIDENTE PRUDENTE PARA A REGIÃO DA ALTA SOROCABANA..........................................................................................74 Beatriz Emboaba da Costa Mariana Maia Cruz Fernandes O SISTEMA FERROVIÁRIO NA REGIÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A FERROVIA SOROCABANA.....................................................78 Carlos Eduardo Almeida Sampaio Maria Terezinha Serafim Gomes TENDÊNCIAS DE INVESTIMENTOS NAS REGIÕES DE PRESIDENTE PRUDENTE E SÃO JOSÉ DO RIO PRETO................................................................................................................84 Felipe Augusto Leite Vaz de Lima Maria Terezinha Serafim Gomes TERRITÓRIOS DA INSEGURANÇA: O PROCESSO DE DIFERENCIAÇÃO SOCIOESPACIAL A PARTIR DA DISTRIBUIÇÃO DOS SISTEMAS DE SEGURANÇA E/OU VIGILÂNCIA EM PRESIDENTE PRUDENTE.........................................................................................................91 Luís Fernando Colombo
UMA ANÁLISE NO ESPAÇO – TEMPO DAS POLÍTICAS HABITACIONAIS DO BANCO NACIONAL DE HABITAÇÃO (BNH) E DO PROGRAMA “MINHA CASA, MINHA VIDA” EM PRESIDENTE PRUDENTE/SP...................................................................................................96 Felipe César Augusto Silgueiro dos Santos
EIXO TEMÁTICO 4: “DINÂMICAS NATURAIS E QUESTÕES AMBIENTAIS” .....101
A GESTÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO: ESTUDO NA ÁREA DO MÉDIO PARANAPANEMA....................................................................................................................102 Larissa Figueiredo Daves Neide Barrocá Faccio. AS CARACTERÍSTICAS TÉRMICAS E HIGROMÉTRICAS DO RURAL PRÓXIMO DE PRESIDENTE PRUDENTE (SP)...............................................................................................110 Guilherme Silva de Sousa AVALIAÇÃO DOS TIPOS DE TEMPO DE PRESIDENTE PRUDENTE: ANÁLISE DO MÊS DE MARÇO DE 2013......................................................................................................................115 Bruna Guldoni Antonio Jaschke Machado.
CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DE PONTOS AMOSTRAIS NO INTERIOR E NAS BORDAS DO PARQUE ESTADUAL DO MORRO DO DIABO, MUNICÍPIO DE TEODORO SAMPAIO-SP, A APARTIR DE ABORDAGENS CORRELATAS À ECOLÓGIA DA PAISAGEM.........................................................................................................................119 Alisson Rodrigues Santori CONFORTO TÉRMICO EM AMBIENTES EXTERNOS: UMA ANÁLISE DO PARQUE DO POVO EM PRESIDENTE PRUDENTE – SP............................................................................124 Alexandre Antonio Abate Renan Coelho da Silva Ritielle Cristina Aparecido CONTRIBUIÇÕES DA GEOMORFOLOGIA ANTROPOGÊNICA PARA A ANÁLISE DOS PROCESSOS HIDROGEOMORFOLÓGICOS NA BACIA HIDROGRÁFICA CÓRREGO DO VEADO, PRESIDENTE PRUDENTE/SP..................................................................................130 Nayara Rodrigues da Silva Isabel Cristiana Moroz Caccia Gouveia MAPA DOS COMPARTIMENTOS DE RELEVO DO MUNICÍPIO DE MIRANTE DO PARANAPANEMA – SP...........................................................................................................136 Mariana Lopes Nishizima João Osvaldo Rodrigues Nunes
EIXO TEMÁTICO 5: “ESPAÇO RURAL: QUESTÃO AGRÁRIA E RELAÇÃO
CIDADE-CAMPO” - 141
A CANA-DE-AÇÚCAR E SUA EXPANSÃO: O EXEMPLO EM CAIABU/SP..........................142 Lúcia Iaciara da Silva A EXPANSÃO DO AGROHIDRONEGÓCIO CANAVIEIRO E OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS.................................................................................................................147 Maria Joseli Barreto MUDANÇAS TÉCNICO-OCUPACIONAIS NO TERRITÓRIO DO AGROHIDRONEGÓCIO CANAVIEIRO E OS REBATIMENTOS PARA AS MIGRAÇÕES DO TRABALHO PARA O CAPITAL NOS CANAVIAIS DA REGIÃO ADMINISTRATIVA DE PRESIDENTE PRUDENTE (SP) .........................................................................................................................................151 Fredi dos Santos Bento
JUVENTUDE E GÊNERO: VELHOS SUJEITOS E NOVOS CAMINHOS METODOLÓGICOS PARA A GEOGRAFIA AGRÁRIA............................................................................................156 Ana Lúcia Teixeira
Larissa Araújo Coutinho de Paula
O FINANCIAMENTO PÚBLICO NO SETOR SUCROENERGÉTICO: O PAPEL DO BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL (BNDES)...........................161 Roberta Oliveira da Fonseca Antonio Nivaldo Hespanhol O PATRIMÔNIO EM ÁREAS DE ASSENTAMENTO DE REFORMA AGRÁRIA DO PONTAL DO PARANAPANEMA.............................................................................................................165 Barbara Cardoso da Cunha POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O FORTALECIMENTO DOS MERCADOS LOCAIS DE ALIMENTOS: O CASO DO PROGRAMA PAULISTA DA AGRICULTURA DE INTERESSE SOCIAL (PPAIS) NO MUNICÍPIO DE TUPI PAULISTA/SP....................................................169 Valmir José de Oliveira Valério
EIXO TEMÁTICO 6: “OUTROS” - 173
A FALÁCIA DA LIBERDADE ESPACIAL NO AGROHIDRONEGÓCIO CANAVIEIRO DO EDR
DE ARAÇATUBA-SP............................................................................................174 Messias Alessandro Cardoso O OBSERVATÓRIO NEGRO – PRESIDENTE PRUDENTE – SP: PRIMEIROS RESULTADOS..........................................................................................................................179 Vanessa Ap. de Oliveira
VIGILÂNCIA EM SAÚDE: UMA PROPOSTA DE PLANO DE AÇÃO PARA A POPULAÇÃO QUE FREQUENTA A UNESP, CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE-SP........................183
Bruna Dienifer Souza Sampaio Edson Sabatini Ribeiro
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EIXO TEMÁTICO 1: “EDUCAÇÃO EM GEOGRAFIA:
DIÁLOGO DOCENTE E ENSINO NA ESCOLA”
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A IMPORTÂNCIA DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DA FCT/UNESP NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Jéssica Ribeiro do Carmo Santos jesssica.ribeiro@hotmail.com
Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
Campus de Presidente Prudente
Bruna Guldoni bruna.guldoni@hotmail.com
Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
Campus de Presidente Prudente
Daiane Barbosa Giroto acolylle@hotmail.com
Graduada em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
Campus de Presidente Prudente
INTRODUÇÃO
As últimas décadas têm sido marcadas pela discussão em torno das
mudanças climáticas, tema este que ganhou grande notoriedade e acabou se
tornando parte do currículo das escolas, do qual seu conhecimento acerca do tempo e
clima se faz de extrema importância para a compreensão dos fenômenos climáticos e
sua atuação em nossa região. Tendo como base essa premissa, a Estação
Meteorológica da FCT/UNESP, construída em 1968, vêm contribuindo com instituições
públicas e privadas, tanto no que se refere à pesquisa e treinamento de pessoas,
como no ensino e aprendizagem do conhecimento geral da climatologia. Suas
principais contribuições são, a medição, o registro e disseminação de dados do tempo
e clima. Temos como objetivo neste trabalho de extensão junto as escolas contribuir
para o aprendizado teórico e prático dos alunos de como uma estação meteorológica
funciona, como os seus dados são coletados e que elementos e fatores climáticos
estão relacionados a essas medições.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para apresentação e entendimento dos alunos sobre os elementos
meteorológicos (temperatura, pressão, umidade relativa, etc.) realizamos um circuito
na Estação onde apresentamos os aparelhos que registram tais elementos, sendo
eles: anemógrafo, barógrafo, barômetro, geotermômetros, pluviógrafo, pluviômetro,
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termômetro de bulbo seco e úmido, termógrafo, evoporímetro de pichè, higrógrafo e
termômetro de relva. A estação conta também com uma maquete didática que
explicita as massas de ar atuantes na América do Sul, facilitando a compreensão e
estimulando o interesse por parte dos alunos.
Figura1: Anemógrafo
Figura2: Abrigo meteorológico
Fonte: Arquivo pessoal
Figura3: Maquete da Circulação Atmosférica na América do Sul
Fonte: Arquivo pessoal
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Figura 4: Projeto de PID aplicado na Estação
Figura 5: Visita escolar na Estação
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 6: Visita escolar na Estação
Figura 7: Vista da Estação
Fonte: Arquivo pessoal
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o ano de 2015 foram realizadas atividades extra estação, que
também contaram com a recepção das escolas do ensino básico. A participação da
Semana do Meio Ambiente, é um exemplo, cujo objetivo era a comemoração do Dia
do Meio Ambiente com a realização de atividades que promovesse interação entre
Universidade/Comunidade, o intuito principal era o de mobilizar alunos, professores e
comunidade em geral promovendo ações ligadas à educação ambiental.
Devido ao que foi proposto nesta semana temática, trabalhamos com o tema
Rios Voadores, que é uma nova terminologia de uma dinâmica atmosférica, que é
definida como “cursos de água atmosféricos formados a partir de massas de ar
carregadas de vapor d‟água, geralmente acompanhadas por nuvens, que são
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arremessadas em nosso continente pelos ventos alísios”, é a teoria da bomba biótica
(Nobre, 2014). A grande responsável por essa dinâmica é a floresta Amazônica, que
movimenta para dentro do continente essa umidade evaporada pelo Oceano Atlântico
e carregada pelos ventos alísios, e assim carregam umidade da Bacia Amazônica para
o resto das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Para a apresentação desse
trabalho foi confeccionada a maquete da América do Sul, onde tinha ilustrado os
biomas do Brasil e também as massas atuantes.
Outra atividade que ocorreu na Estação foi a aplicação de um projeto
desenvolvido em uma disciplina que é oferecida no quarto ano do curso de Geografia.
O trabalho teve como objetivo buscar uma maior aproximação entre os alunos da
escola pública do 2º colegial da E.E. Fatima Aparecida Costa Falcon com a UNESP, a
partir do contato e visita na estação. O objetivo foi despertar nos alunos o interesse,
mostrando as oportunidades que eles possuem ao ingressarem no ensino superior
público. Nossa principal estratégia foi a aproximação dos alunos a partir da
apresentação da Estação Meteorológica, usando alguns conhecimentos que
possuímos de climatologia, modelos explicativos, expondo diferentes instrumentos e
formas de medição das condições do tempo. A previsão do tempo é algo que a
maioria dos alunos possuem contato todos os dias em noticiários de televisão, porém
a forma como esses dados são medidos estão muito distante de seu entendimento,
por isso neste projeto buscamos aproximar tais conhecimentos do cotidiano destes
alunos.
No ano realização deste trabalho, além das atividades que ocorreram na
Estação e fora dela, descritas acima, também ocorreram as leituras diárias e visitas
das escolas, contabilizando um total de 12 visitas com a participação de 438 alunos
dentre eles alunos de escolas particulares, públicas e universidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desse projeto desenvolvido na estação é o de levar o conhecimento
aos alunos e professores que desejam compreender um pouco mais sobre o aspectos
climáticos e os instrumentos de uma estação meteorológica funcional, em resposta à
crescente preocupação com o clima que vêm aumentando devido às mudanças
climáticas globais. O conhecimento da atuação do tempo e clima faz-se necessário
para que possamos observar sua importância e influência em nosso cotidiano, onde o
ensino é primordial, tanto com relação a interação superfície-atmosfera como também
a interação homem-meio, para que possamos assim distinguir as transformações que
ocorrem entre ambas e como estas atinge os seres humanos.
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O objetivo deste projeto de extensão é alcançado, sendo ele o atendimento de
visitas das escolas. Dentro do que foi proposto, o que não temos é um feedback por
parte das escolas constatando se os alunos obtiveram melhor desempenho no
conteúdo abordado na visita, porém, podemos notar que com o retorno das escolas
com outras turmas, compreendemos que os resultados foram alcançados e positivos.
A organização de eventos como a semana do meio ambiente é importante para
que possamos, enquanto futuros educadores, contribuir com o ensino e aprendizagem
dos alunos, mostrando um panorama de terminologias que atualizam-se na ciência,
como a dos Rios Voadores, apresentando também uma perspectiva atual do ensino.
Almeja-se também com esse trabalho, na estação e fora dela, divulgá-la, tentar
dar uma maior credibilidade e visibilidade, pois ela tem sido esquecida no campus, não
possui funcionários, dependendo apenas de alunos bolsistas e voluntários. A sua
existência e funcionamento é de grande importância para alunos, pesquisas científicas
e comunidade em geral.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MENDONÇA, Francisco e OLIVEIRA, Inês Moresco Danni. Climatologia noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina de texto, 2007; NOBRE, A. D. O Futuro Climático da Amazônia. Relatório de Avaliação Científica. São José dos Campos, 2014; SANT‟ANNA NETO, João Lima; TOMMASELLI, José Tadeu Garcia. O tempo e o clima de Presidente Prudente. FCT-UNESP, Presidente Prudente, 2009; STRAHLER, Arthur N. e STRAHLER, Alan H. Geografia Física. Edição Espanhola, 1987. VENTURI, Luis A. Bittar. Praticando geografia técnicas de campo e laboratório. São Paulo: Oficina de textos, 2005.
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A IMPORTÂNCIA DO PIBID PARA A FORMAÇÃO DO DOCENTE DE GEOGRAFIA: RELATOS SOBRE A ATUAÇÃO DO SUBPROJETO “FAZENDO GEOGRAFIA POR
MEIO DE PROJETOS DE TRABALHO” NA ESCOLA ESTADUAL FERNANDO COSTA – PRESIDENTE PRUDENTE/SP
Daiara Batista Mendes
Email: daiaramendes@outlook.com Graduação em Geografia
Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Campus de Presidente Prudente
Bolsista do PIBID/ CAPES
Mateus Vantuir Cardozo Lopes Email: mateusvantuir@gmail.com
Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
Campus de Presidente Prudente Bolsista do PIBID/ CAPES
INTRODUÇÃO
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID - é uma
ação conjunta do Ministério da Educação, regulamentado em junho de 2010, com o
objetivo de apoiar a iniciação à docência de estudantes de licenciatura nas
universidades brasileiras, com o fortalecimento da sua formação para o trabalho nas
escolas públicas.
Este programa busca uma aproximação entre os alunos de cursos de
licenciatura e a escola de educação básica, permitindo a inserção dos futuros
professores no ambiente escolar e dando possibilidades a vivenciar as práticas
pedagógicas. Além disso, mantêm o diálogo entre a Universidade e escola, permitindo
que os estudantes possam contribuir para melhoria da escola pública, do ensino de
Geografia.
O PIBID do curso de Geografia na Faculdade de Ciências e Tecnologia da
UNESP- campus de Presidente Prudente teve início em 2014, com seis bolsistas,
atuando na Escola Estadual Fernando Costa, com o subprojeto “Fazendo Geografia
por Meio de Projetos de Trabalho”, sob a coordenação do Prof. Dr. Nécio Turra Neto e
com a supervisão da Profª Dra. Ana Claudia Dundes. As atividades foram
desenvolvidas com diferentes turmas do ensino médio.
As primeiras propostas partiram da Pedagogia de Projetos de Hernandéz
(1998), que traz uma concepção de currículo, de prática pedagógica, de relação
professor/a - estudante, com vistas a promover aprendizagens menos preocupadas
com o conteúdo e mais preocupadas em serem significativas para os estudantes.
Segundo Hernandéz (1998), o currículo deve ser uma construção entre professor/a e
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estudante na sala de aula, de modo que os conteúdos sejam abordados a partir das
questões problemas levantados. Assim é possível desenvolver o ensino como um
projeto de pesquisa.
No desenvolvimento das atividades, o professor ocupa o papel de orientador,
contribuindo no processo de aprendizagem, respondendo as questões que surgiram
durante o andamento do projeto. Nesta concepção, o professor/a não é o centro do
processo, nem o detentor do conhecimento que deve ser transmitido, mas um
motivador para um trabalho de aprendizagem protagonizado pelos estudantes.
Adotando esta perspectiva, este projeto do PIBID voltou-se para a cidade de
Presidente Prudente, enquanto local de vida dos estudantes do ensino médio. Era a
cidade, sua história, suas desigualdades socioespaciais e problemas ambientais que
deveriam ser problematizados. Com isto, não perdemos de vista as escalas mais
amplas, presentes nos livros didáticos, pois segundo Castrogiovanni (1999), no ensino
de Geografia, o local e o global formam uma totalidade, de modo que o lugar não pode
ser entendido como fora de suas conexões com o mundo. Daí a necessidade do
professor de Geografia buscar estabelecer relações, trazer questões para a análise do
cotidiano dos estudantes, para que eles possam se entender em contexto. Nesse
sentido, o objetivo da ação é trazer uma contribuição ao processo de ensino-
aprendizagem, que motive estudantes a participarem das ações, a compreenderem o
local que vivem, a poderem desenvolver outras leituras da sua realidade cotidiana.
Em muitos casos, no ensino de Geografia nas escolas estaduais, os temas
abordados da disciplina não partem dos problemas locais ou regionais, visto que
trabalham nas escalas nacional e internacional. Portanto, a proposta inicial do projeto
PIBID é produzir, junto aos estudantes, pesquisas no município de Presidente
Prudente sobre temas ligados a Geografia.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Durante o período de preparação para as ações na escola, foram discutidos
diversos textos sobre a juventude (DAYRELL, 1996), o currículo e o espaço escolar
(SILVA E MOREIRA, 1995), sobre ensino de Geografia (CALLAI, 1999;
CASTROGIOVANI, 1999) e sobre o trabalho com projetos na sala de aula
(HERNADEZ, 1998), a fim de preparar os bolsistas e amadurecer suas ideias. Na
etapa posterior, foi realizada uma análise da Proposta Curricular do Estado de São
Paulo, procurando elencar os conteúdos passiveis de serem trabalhados a partir da
realidade do aluno, para montar a intervenção com base neles.
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Após a escolha dos conteúdos, foram feitos levantamentos bibliográficos
sobre os assuntos e a coleta de dados na cidade, em locais como a Prefeitura
Municipal, o Ministério do Trabalho, além de uma pesquisa de campo na Rua Tenente
Nicolau Maffei, o calçadão de Presidente Prudente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir do subprojeto do PIBID do curso de Geografia da FCT e a Escola
Estadual Fernando Costa se propôs a fazer várias atividades de intervenção
pedagógica. Tais atividades foram realizadas a partir de um planejamento conjunto
com o coordenador do projeto, a supervisora da disciplina de Geografia da Escola e os
bolsistas, no intuito de atingir os objetivos propostos.
A primeira intervenção foi realizada no contra turno junto a alguns alunos
doensino médio, que se interessaram pela atividade após a divulgação na escola, com
o tema “Leitura da Cidade”, a qual passou por diversos problemas e imprevistos
quanto às execuções das atividades e avaliações dos alunos que participaram das
experiências.
Na segunda proposta, os bolsistas foram divididos em grupos e atuaram nas
salas de aula, com os temas „‟Matrizes Culturais Brasileiras na Formação do Brasil‟‟ e
„‟Questão Ambiental: Manancial de Abastecimento de Presidente Prudente‟‟. Ambas
foram construídas juntamente com estudantes de duas salas distintas do ensino médio
e as atividades decididas ao longo das aulas, como a produção de Raps e grafites,
trabalhos de campo, entre outras relacionadas às temáticas.
A última intervenção do PIBID de Geografia na escola Fernando Costa, que
ocorreu no quarto bimestre de 2015, foi diferente das anteriores. Os seis bolsistas,
com o auxílio de uma voluntária, adentraram uma única sala de aula, para trabalhar o
conteúdo curricular “Imigrantes e Refugiados no Brasil”, tema que, apesar de estar
ligado às relações internacionais e, portanto, remeter à escala global e nacional, nos
colocava o desafio de buscar relações com aquilo que tínhamos conhecimento na
realidade local.
Cada bolsista ficou com um subtema, sendo eles: xenofobia, sírios,
chineses,haitianos, brasileiros no Japão e colombianos. Inicialmente, foi apresentado
um panorama geral da temática e os subtemas foram mostrados aos estudantes, que
se organizaram em grupos de quatro a seis pessoas e escolheram um tutor – bolsista
– para desenvolver o projeto de acordo com o subtema que gostariam de trabalhar.
Na construção do projeto de pesquisa sobre a presença de representantes
destes grupos migratórios em Presidente Prudente, cada tutor junto ao seu grupo teve
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que pensar em um resultado final da pesquisa, para ser apresentado para o restante
da turma, como uma forma de avaliação. Os grupos partiram de um trabalho de
investigação, realizando entrevistas no centro principal da cidade, perguntando opinião
das pessoas sobre temas como os refugiados sírios no Brasil; recolhendo notícias
sobre a chegada de imigrantes em Presidente Prudente e também realizando
levantamentos da quantidade de imigrantes que tiram carteiras de trabalho, no
Ministério do Trabalho.
O papel dos bolsistas foi de orientar os estudantes, mostrando conceitos
geográficos atrelados à imigração no Brasil e fatos que também estão presentes no
município de Presidente Prudente: imigração chinesa, refugiados haitianos, imigrantes
colombianos, japoneses retornados do Japão etc.
A intervenção teve um resultado bastante positivo, pois houve uma maior
proximidade entre bolsistas e estudantes, o que estimulou o envolvimento de cada um
no trabalho coletivo. Como materialização destas trajetórias investigativas, foram
produzidos seminários em Power point, cartazes, mas também pequenos vídeos com
entrevistas e mesmo pequenos documentários.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando estudantes e bolsistas avaliam os resultados, reconhecem a
contribuição do PIBID para sua formação. Aos primeiros, foi proporcionado um contato
com a pesquisa, quase nunca feita na escola e uma interface com os alunos da
graduação, podendo conhecer um pouco do universo acadêmico.
Quanto aos bolsistas, foi oferecido um contato mais profundo com a realidade
da escola, futuro ambiente de trabalho, algo que não fica muito evidente nos estágios
obrigatórios. Além disso, por meio da tutoria, estes puderam ficar mais perto dos
estudantes, conhecerem suas angústias, objetivos de vida, aspectos familiares etc.
Algo também considerado como de extrema importância neste contato com a
escola foi o conhecimento e experimentação de práticas didáticas que funcionam e
outras que não funcionam em sala de aula e, principalmente, uma visão crítica sobre a
educação pública brasileira, em relação à estrutura física do ambiente escolar (as
grades, temperatura da sala de aula, questões de higiene) e sobre a gestão, por
exemplo.
Em suma, o PIBID de Geografia vem cumprindo com maestria seu objetivo de
incentivar os alunos de licenciatura á seguirem a docência no ensino básico em
escolas públicas, pois a partir deste os bolsistas podem experimentar novas formas de
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trabalhar em sala de aula, fazendo com que os estudantes reconheçam a importância
do ensino de Geografia e interajam mais nas aulas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALLAI, Helena Copetti. A Geografia no ensino médio. Terra Livre, São Paulo, v. 14, p. 56-89, 1999.
CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos et al (org.). Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. Porto Alegre: Ed. da Universidade / UFRGS / AGB,1999. DAYRELL, Juarez. A escola como espaço sócio-cultural. In: _______. (org.). Múltiplos Olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1996. p. 136-161.
DUNDES, A. C.; SALVI, B. F.; CAMARGO, K. L. P.; GARCIA, M. S.; SILVEIRA, M. F. B. da; LOPES, M. V. C.; TURRA NETO, N. FAZENDO GEOGRAFIA POR MEIO DE PROJETOS DE TRABALHO: a experiência de um subprojeto de Geografia, na UNESP. Trabalho apresentado no I Encontro de Subprojetos do PIBID da FCT/UNESP, em 15 julho de 2015.
HERNÁNDEZ, FERNANDO. Transgressão e Mudança na Educação: os projetos de
trabalho.Porto Alegre: ArtMed, 1998. p. 79-88.
SILVA, T. T.; MOREIRA, A. F. (org.). Territórios contestados. O currículo e os novos
mapas políticos e culturais. 1. ed. Petrópolis: Vozes, 1995. v. 1. 202 p.
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A PAISAGEM EM GODARD: CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA
Ana Letícia Peixe Euzébio anaeuze1@gmail.com
Licenciada em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
Campus de Presidente Prudente
INTRODUÇÃO
Este texto é resultado de pesquisa desenvolvida no Trabalho de Conclusão
de Curso e é desenvolvida no contexto das atividades e estudos articulados pelo
Grupo de Pesquisa Linguagens Geográficas (GPLG), portanto, busca experimentar
outros sentidos dos conceitos estruturadores da linguagem científica da geografia no
encontro com as linguagens artísticas. A obra polêmica e vanguardista do cineasta
Jean-Luc Godard (Paris, 03/12/1930), em sua completude, nos elucida uma pedagogia
da imagem, a qual, para os geógrafos, pode derivar para uma pedagogia da
paisagem, através das variadas composições, formas, maneiras de filmar, montar e
articular referenciais diversos da arte, da literatura, pintura fotografia e do próprio
cinema, assim como pela força política com a qual nos instiga a pensar sobre o que
seu cinema apresenta por meio de imagens e sons.
Com base em Silva (2013), a ideia deste artigo é abordar e trabalhar o cinema nos
currículos escolares não somente como recurso didático, que represente e ilustre os
mais variadas temas e conteúdos obrigatórios a serem trabalhados na sala de aula,
mas tomar o cinema em toda sua potência criativa, ou seja, pela sua linguagem
própria a partir de seus processos históricos de constituição de suas linguagens, suas
tecnologias e, sobretudo, a sua execução enquanto produção de sentido. Isso também
implica na importância de trabalhar o senso estético de jovens e crianças, conhecer as
mediações entre conhecimento e experimentação artística, levando em conta o projeto
atual de escola pública.
[...] sustentamos que a fruição estética audiovisual para uma educação transformadora deve se dar a partir do conhecimento e do reconhecimento dos elementos estéticos e, principalmente, da experimentação de novas possibilidades de criação nas diferentes formas de produzir sentidos com imagens e sons, tanto no conteúdo como na forma. (SILVA, 2013. p. 140-141).
Para Godard, gostar de cinema já seria aprender cinema. Pensar em filmes é
fazer filmes. A pedagogia godardiana se baseia em escrever cinema, criar formas e
sequências a partir de sons e imagens, ou seja, falar, comunicar, expressar a partir da
20
arte. O próprio cineasta é um grande curador-criador, ele se reapropria de pinturas,
fotografias, cartazes, recortes de jornais, livros, poesias não para discursar sobre elas,
e sim para ressignifica-las, ultrapassá-las, segundo Daney (2007, apud SILVA, 2013,
p. 143). Para tal, o cineasta desenvolve um outro sentido de método, o qual Leandro
(2003) e vai dizer que
[...] consiste em deixar a obra aparecer diante de nossos olhos, em meio a dúvidas e questionamentos, coloca o espectador em condição de construir, ele mesmo, um saber sobre cinema. A técnica de escrita cinematográfica é apresentada como um conhecimento a alcance de todos, porque ligado à experiência de vida de cada um. O filme nasce das indagações que compartilhamos com o cineasta e é na confissão da fragilidade desse procedimento experimental que reside o essencial da pedagogia godardiana (p.687-688).
A experiência artística, o pensar e fazer cinema, passa pela reapropriação de
elementos, de linguagens, pois implica o cinema como problematizador da cultura, e
essa dimensão problematizadora passa pela educação, sendo essa educação sempre
uma experimentação de novas possibilidades de sentir o mundo, pensar a vida, criar
novos sentidos espaciais. A pedagogia godardiana é a ruptura narrativa do esquema
ensinar-aprender. A prática dessa pedagogia é deixar quem vê se apropriar e
reapropriar, pensar com o corpo, ver o filme com o corpo, deixar a elasticidade do
pensamento transfigurar os instintos.
Há muito se fala no potencial educativo do cinema, começando pelos
chamados "cinema de atração", ou "palestras ilustradas", de caráter informativo,
enciclopédico, cujo objetivo de mapear o mundo visível e consumível está
paralelamente atrelado ao uso de imagens que causam sensações ou emoções.
Godard dizia que o cinema mostra o invisível através do visível, pois se agenciam
dessa maneira todo um fora do até então sentido/pensado, toda uma virtualidade da
vida que pelo cinema se atualiza em sensações, gestos e pensamentos. O quadro, ou
enquadramento, institui as relações entre câmera e objeto, pois é “o quadro que institui
um fora-de-campo, lugar do potencial, do virtual, mas também do desaparecimento e
do esvaecimento: lugar do futuro e do passado, bem antes de ser o do presente"
(AUMONT, 1997, apud SILVA, 2013).
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
De todo o amplo espectro de elementos que se pode abordar nos filmes de
Godard, vamos aqui fazer cortes e opções para tornar possível experimentarmos uma
abordagem geográfica. O foco da discussão é a ampliação dos referenciais de
entendimento do conceito de paisagem e de como podemos desdobrar das imagens e
21
dos sons que Godard elabora por meio de seus enquadramentos, edição, colagens,
uso de luz, cores e sombras, estabelecendo a narrativa própria de seu cinema a
apresentar as formas dos corpos e fenômenos que nos afetam e nos instigam a
identificar o sentido espacial do que nesse cinema encontramos.
Para exercitar nossos estudos em relação a pedagogia do cinema em
Godard, assim como seu desdobrar no trabalho com o ensino de geografia, optamos
em abordar o filme O Demônio das Onze Horas (França/Itália. Colorido, 115 min.
1965). A estória narrada na trama do filme é simples, uma espécie de road movie.
Ferdinand Griffon (personagem de Jean-Paul Belmondo) está entediado com a vida
em Paris. Certo dia abandona a esposa e os filhos e foge com uma antiga amiga,
Marianne Renoir (Anna Karina), para o Mediterrâneo, mas o casal vai ser perseguido
por mafiosos e se envolver com tráfico de armas e conspirações políticas. A partir
disso, o que nos interessa não é o ambiente de fundo em que a trama se desenvolve
(a cidade de Paris, o litoral mediterrâneo, o relevo e vegetação que os personagens
percorrem), mas como os detalhes, enquadramentos de câmera e sonoridades
relacionadas a esses elementos assim filmados apontam para todo um fora do ali
enquadrado, sendo esse fora o contexto espacial que em nós é atualizado por meio de
nosso imaginário e experiências espaciais já vivenciadas, seja diretamente em nossas
vidas ou por meio de outras imagens, sons e filmes que tivemos contato.
Para analisar essas imagens, fizemos uso dos estudos de Gilles Deleuze
sobre o cinema (1983), de maneira a podermos abordar os tipos de imagens que no
cinema de Godard são criadas. A relação dessas imagens com a educação se dá por
meio de estudos sobre o cinema de Godard (COUTINHO, MAYOR, 2013), e o
desdobrar disso para a especificidade do ensino de geografia é abordado por meio
das ideias presentes em Douglas Santos (2008) e nos trabalhos organizados da Rede
Imagens Geografias e Educação (FERRAZ, NUNES, 2013; CAZETTA, OLIVEIRA JR.,
2013).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como a produção de novos significados se dá no encontro com o filme? A
margem de possibilidades que se encontra no uso da linguagem cinematográfica em
sala de aula sustenta a ideia de construção de uma educação libertária e
emancipatória? Como ampliamos, então, os campos de reflexão para pensar o filme
de forma a absorver a composição imagética e assim produzir novos significados? As
imagens potencializam o sentido filosófico de paisagem? Tais imagens são capazes
de providenciar a reorganização do pensamento para atingir tais objetivos?
22
Os resultados são as perguntas, os questionamentos que se tensionam e que
formam os caminhos para se pensar cada vez mais as potencialidades do cinema no
contexto escolar do ensino de geografia. Ao experimentamos esse encontro com o
cinema de Godard, podemos desdobrar das suas imagens aquilo que Douglas Santos
identifica como a forma espacial dos fenômenos, ou seja, a paisagem dos lugares em
que a vida acontece (SANTOS, 2008). A imagem só se constitui paisagem no encontro
do fenômeno com o corpo que o sente/pensa (FERRAZ, NUNES, 2013). Nesse
sentido, o filme de Godard é a própria experimentação de outros sentidos
paisagísticos, para além do extensivamente captado, mas daquilo que intensivamente
podemos elaborar como forma espacial do fenômeno “filme” no contexto da sala de
aula.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do filme, é possível apreender diferentes formas de entendimento,
tornando aquele mosaico de imagens numa multiplicidade de paisagens que
desdobram do filme a partir do encontro com quem observa o mesmo e,
concomitantemente, com as anteriores experiências espaciais individuais, pois ao
perceber os fenômenos que ali acontecem, cria-se outros referenciais espaciais e
imagéticos, buscando criar parâmetro de localização e orientação na perspectiva de
dar sentido à obra visualizada, configurando-a por conseguinte como paisagem.
O que se demonstra hoje é a necessidade de quebra estrutural, de ruptura e
reinvenção, a rearticulação entre a arte e a conjuntura da instituição escola como um
todo. Definir estratégias para intensificar o pensamento criativo, emancipatório de
crianças e jovens. O cinema, enquanto instância de experimentação, aliado a outras
esferas, tanto a tecnológica quanto a cultural, necessita ser integrado aos currículos
educacionais desde suas bases históricas até a prática técnica, experimental, em toda
sua extensão.
Apresentar a história do cinema, as diferentes composições sonoras e
imagéticas, os processos de criação e produção de filmes, do roteiro à montagem,
permite incentivar a escola criar suas próprias narrativas e instaurar a liberdade
criativa e da reinvenção do cinema na escola.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAZETTA, V.; OLIVEIRA JR., W. M. (orgs.). Grafias do Espaço: imagens da educação geográfica contemporânea. Campinas-SP: Editora Alínea, 2013.
23
COUTINHO, M. A.; MAYOR, A. L. S. (orgs.) Godard e a Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013
DELEUZE, G. Cinema 1: A imagem-movimento. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983.
FERRAZ, Claudio Benito O.; NUNES, Flaviana G (orgs.) Imagens, Geografias e Educação: intenções, dispersões e articulações. Dourados-MS: Ed. UFGD, 2013
LEANDRO, A. Lições de Roteiro por JLG. Educ. Soc., Campinas, v.24, n.83, p.681-701, 2003.
SANTOS, Douglas. O que é geografia? Inédito, 2008.
SILVA, Maria C. M. A reinvenção do(s) cinema(s) na formação do espectador contemporâneo: pedagogia godardiana. In: COUTINHO, M. A.; MAYOR, A. L. S. (orgs.) Godard e a Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013, p. 139-156.
24
PEDAGOGIA DE PROJETOS NO ENSINO DE GEOGRAFIA: UMA EXPERIÊNCIA
COM O ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA FLORIVALDO LEAL, PRESIDENTE
PRUDENTE - SP1
Carlos Eduardo Almeida Sampaio E-mail:carlos_eduardo.samp@hotmail.com
Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia-UNESP
Campus de Presidente Prudente
Gabriel Mendes Araújo E-mail:mendesaraujo83@gmail.com
Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia-UNESP
Campus de Presidente Prudente
Tamires Aparecida Souza Silva E-mail: tamires.0010@hotmail.com
Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia-UNESP
Campus de Presidente Prudente
INTRODUÇÃO
O presente trabalho vem com intuito de relatar uma experiência de ensino e
aprendizagem vivenciada pelos alunos do curso de Geografia da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
(UNESP), por meio do projeto de extensão “Geografia vai à escola”. As atividades
foram realizadas na turma do 8º ano do Ensino Fundamental da Escola Florivaldo
Leal, em Presidente Prudente – SP.
O projeto “Geografia vai à Escola” tem como objetivo estabelecer uma
aproximação entre universidade e escola, por intermédio de intervenções e
participação dos alunos integrantes do projeto, de um jeito alternativo de ensinar o
conteúdo do Caderno do Professor2. A partir do currículo do Estado de São Paulo,
buscamos juntamente com os professores de Geografia e coordenador pedagógico da
Escola traçar os “temas geradores” a serem trabalhados a partir de projeto de
intervenção, no sentido de que a escolha do tema e dos conteúdos é de
responsabilidade de todos e deve ser pensada de forma a contemplar a realidade do
aluno. O projeto em questão está alicerçado na pedagogia de projetos, na qual a
relação ensino/aprendizagem é voltada para a construção do conhecimento de
1Este texto faz parte relatos das atividades desenvolvidas no projeto de extensão “Geografia vai à
escola”, sob a coordenação da Profa. Dra. Maria Terezinha Serafim Gomes. 2O Caderno do Professor traz o conteúdo do Currículo Oficial do Estado de São Paulo e é distribuído pela
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.
25
maneira dinâmica, contextualizada, compartilhada, envolvendo efetivamente a
participação de alunos e professores.
Atualmente, no âmbito da educação cada vez mais vem sendo discutido a
pedagogia de projetos3 no processo de ensino-aprendizagem. Os projetos de trabalho
traduzem uma visão diferente do que seja conhecimento e currículo, dessa forma
representam outra maneira de organizar o trabalho pedagógico na escola.
Para o educador espanhol Fernando Hernandez, a pedagogia de projetos
consiste:
[...] em projetos de trabalho não como uma metodologia, mas como uma concepção de ensino, uma maneira diferente de suscitar a compreensão dos alunos sobre os conhecimentos que circulam fora da escola e de ajudá-los a construir sua própria identidade. O trabalho por projetos requer mudanças na concepção de ensino e aprendizagem e, consequentemente, na postura do professor. (HERNANEZ,1998, p.49)
Ainda, Hernandez (1988) enfatiza ainda que o trabalho por projeto não deve
ser visto como uma opção puramente metodológica, mas como uma maneira de
repensar a função da escola. Compartilhando com esse pensamento, Leite (1996)
apresenta os Projetos de Trabalho não como uma nova técnica, mas como uma
pedagogia que traduz uma concepção do conhecimento escolar.
O Projeto é um processo que implica em analisar o presente como uma fonte
de possibilidade futura. É uma atividade humana, da sua forma de pensar em algo que
deseja tornar real, lançado para frente. Requer abertura para o desconhecido, para o
não determinado, ações projetadas evidenciam novos problemas e dúvidas. (MEC,
2013)
A pedagogia de projetos propõe mudanças na postura pedagógica, além de
oportunizar aos alunos um jeito novo de aprender, direcionando o
ensino/aprendizagem na interação e no envolvimento dos mesmos com as
experiências educativas que se integram na construção do conhecimento com as
práticas vividas, no momento da construção e resolução de uma determinada
situação/problema. Nesse sentido, tal proposta possibilita transformar o espaço
escolar em espaço vivo, colaborando com as mudanças significativas no ensino e para
a formação dos alunos como seres autônomos, conscientes, reflexivos e participativos.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3 A pedagogia de projetos surge no início do século XX, com John Dewey e outros representantes da
chamada “Pedagogia Ativa " (LEITE, 1996).
26
O projeto de extensão realizado em parcerias entre a Universidade (FCT/
UNESP) e a Escola Florivaldo Leal tem o período de duração de um ano, com quatro
intervenções, uma para cada bimestre do ano letivo dos alunos da rede pública. O
tema de cada intervenção foi escolhido de acordo com a dificuldade dos alunos em
assimilar determinado tema que será abordado futuramente no caderno do professor.
Para a escolha do tema foi realizada uma reunião com o professor titular da disciplina,
a coordenadora do projeto e os mediadores do projeto para pensar e elaborar uma
melhor forma de ensino - aprendizagem.
Para o desenvolvimento deste trabalho foram realizadas as seguintes
atividades: revisão bibliográfica sobre a temática de pedagogias de projetos, o
currículo oficial do Estado de São Paulo, bem como sobre os temas escolhidos para o
desenvolvimento das intervenções na escola, entre eles: o ciclo do carbono e recursos
renováveis como fonte de energia; reuniões com o professor de Geografia e
coordenação pedagógica da escola Florivaldo Leal, reuniões semanais para
organização das atividades de intervenção pedagógica com a coordenação do projeto;
realização de colóquios para discussão de temas relacionados ao projeto; realização
de pesquisa e coleta de material para a realização das atividades do projeto de
intervenção pedagógica e elaboração de materiais didáticos, acompanhamento das
aulas de geografia pelos alunos membros do projeto e, por fim, a intervenção
pedagógica. Durante a realização da intervenção foram utilizados os seguintes
recursos pedagógicos: slides no PowerPoint com gráficos, imagens, vídeos e além da
finalização da maquete escolar com a participação dos alunos.
Para a confecção da maquete escolar foram utilizados materiais simples tais
como: impresso colorida, tesoura, cola, isopor (1 m por 80 cm), lápis de cor,tinta
guache, pincéis, cartolinas preta e branca, papel laminado azul, moldes de
construções, bucha natural, árvores artificiais, galhos naturais, animais de brinquedo,
carrinhos, cone de papel higiênico, caixas de perfume, sabonete, creme dental,
remédio, folhas de plantas, entre outros materiais. A montagem da maquete foi
realizada pelos alunos bolsistas do projeto no qual mostraram de forma simples os
diferentes dois tipos de ciclo, o ambiente terrestre e o marinho. A finalização da
maquete ocorreu durante a intervenção com a participação dos alunos.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
27
O processo de ensino-aprendizagem alicerçado da pedagogia de projetos tem
como fundamento a integração, destacando o papel do educando, a relação com o
cotidiano.
As atividades do projeto de intervenção pedagógica foram desenvolvidas na
turma de 8º ano do ensino fundamental da Escola Florivaldo Leal. Inicialmente, foi
realizada uma reunião entre o professor de titular de Geografia da escola, a
coordenadora do projeto de extensão e os alunos mediadores do projeto para escolha
do tema a ser trabalhado. Privilegiaram-se temas que os alunos tivessem maiores
dificuldades em assimilá-los.
Antes da intervenção pedagógica foi realizado todo um planejamento para
definir as estratégias, as atividades a serem desenvolvidas, o material de pesquisa, a
definição do tempo de duração do projeto, e como será o fechamento do mesmo, além
de questionamentos sobre o tema.
A primeira intervenção na turma do 8° ano do ensino fundamental da escola
Florivaldo Leal teve como tema “O Ciclo do Carbono” 4. A partir da experiência obtida
com os primeiros contatos com a turma, procurou expor aos alunos as características
principais do tema abordado (O ciclo do carbono) através de apresentação em
PowerPoint, vídeos e maquete. Partiu-se de conhecimentos prévios, dúvidas,
questionamentos, curiosidades, objetivando encontrar respostas aos questionamentos
com a realização da intervenção. A intervenção pautou-se em algumas questões
norteadoras: O que é o ciclo do carbono? Como o carbono interfere em nossas vidas?
Qual é a relação do ciclo do carbono e o efeito estufa? Na sala de aula é possível
observar materiais compostos de carbono? Qual é a relação do carbono com o
cotidiano? Nessa intervenção foi abordado o ciclo do carbono terrestre e marinho,
destacando como ocorre sua fixação e liberação, a transformação do ciclo do carbono,
a intervenção humana e o ciclo do carbono, a relação do carbono com nosso
cotidiano, a presença de carbono no petróleo e os produtos feitos a partir do petróleo.
Para melhor compreensão do ciclo do carbono foi elaborada uma maquete escolar
com dois ambientes, o terrestre e o marinho. (Figuras 1 e 2) Os alunos puderam
observar como as ações humanas influenciam no ciclo do carbono, potencializando o
aumento da concentração de CO2 (gás carbônico) na atmosfera.
4 Caderno do professor, volume 1: Situação de aprendizagem 5 “As fontes e formas de energia: a fonte
energética da vida”.
28
Fig. 1 – Maquete escolar – ambiente marinho Figura 2 – Maquete escolar – ambiente terrestre
Fonte: Arquivo Pessoal, 2016. Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.
Fonte: Arquivo Pessoal, 2016 Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.
O projeto foi desenvolvido em uma das turmas consideradas “problemáticas”
da Escola Estadual Florivaldo Leal, a 8º A, no sentido de desempenho e disciplina.
Através da intervenção foi possível analisar e visualizar a melhora no desempenho dos
alunos na matéria de Geografia. Essa análise foi feita a partir das avaliações
realizadas no momento da intervenção com o questionário de quatro perguntas: O que
você entende por ciclo do carbono? Faça uma ilustração (desenho) sobre o ciclo do
carbono. Relacione o efeito estufa com o ciclo do carbono.Quais são os pontos
negativos e positivos da intervenção realizada? Os alunos destacaram a importância
da aula, o uso dos slides, a maquete, fizeram ilustrações da apresentação do tema
Ciclo do Carbono, destacando os tipos do ciclo de carbono. Algumas falas dos alunos:
“gostei muito”, “gostei da maquete”, “aprendi muito”, “aprendi coisas novas”, “gostei
das imagens do telão, que deixaram as aulas mais interessantes”. Posteriormente, foi
realizada uma avaliação em sala de aula pelo professor titular da disciplina, na qual foi
observado melhoria no desempenho dos alunos, além disso eles passaram a
participar da aula.
No projeto de intervenção pedagógica em questão, um ponto importante para o
seu andamento foi o conhecimento sobre o cotidiano dos alunos, os professores da
disciplina Geografia e a escola, sendo de extrema importância para uma melhor
abordagem sobre o tema da intervenção.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto “Geografia vai à escola” contribuiu para o aprimoramento na
formação dos alunos do curso de Geografia da FCT/UNESP integrantes do projeto em
29
diversos aspectos, oferecendo antes de tudo prática e experiência de como se deve
trabalhar com alunos da escola pública. Além do mais o projeto permitiu o
conhecimento sobre o espaço escolar, bem como o cotidiano e a realidade dos alunos
da rede pública. O projeto também contribuiu para que todos os integrantes
adquirissem um melhor desenvolvimento dentro da sala de aula, ou seja, uma melhor
dinâmica para lidar com os alunos, já que futuramente estarão dentro do ambiente
escolar.
No trabalho por projetos o aluno constrói seu processo de aquisição do
conhecimento com a mediação do educador, assim, alunos e professores têm a
oportunidade de transformar a ação educativa, tornando-a prazerosa e mais
significativa. Essa postura em se trabalhar com Projetos contribui de forma efetiva na
formação integral do educando, criando condições de desenvolvimento cognitivo e
social.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BARBOSA, A. L. Dicionário de química. 2ª edição. Goiânia: AB Editora, 2000. FREIRE, P.Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 31 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005. HERNANDEZ, F. Transgressão e mudanças na educação:os projetos de trabalho. Porto Alegre, Artes Médicas, 1998. _______.Repensar a função da escola a partir dos projetos de trabalho.Pátio, Porto Alegre, ano 2, n. 6, ago/ out. 1998. INPE. (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).Ciclo do carbono, Julho 2013. Disponível em: http://www.projetos.unijui.edu.br/formacao/_medio/ciencias/03_ciclo_do_carbono/03_ciclo_do_carbono.swf. Acesso em 1 de mai. 2016 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃ0 (MEC).Tecnologia currículo e projeto. 2013.Disponível em http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/1sf.pdf. Acesso em 28 de jul. 2016 OLIVEIRA, C.L.Significado e contribuições da afetividade, nocontexto da Metodologia de Projetos, na Educação Básica.2006. Dissertação de Mestrado em Educação Tecnológica.Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG. PRADO, M. E.B. Britto.;ALMEIDA, M. E. B.;MORAN, J.M.Pedagogia de projetos: fundamentos e implicações, integração das tecnologias na educação. Brasília, artigo cientifico. Ministério da Educação/SEED/TV Escola/Salto para o Futuro,2005,p.12-17. Disponível em:http://www.tvebrasil.com.br/salto. Acesso em: 10 abr. 2016. SILVA, L. P.; TAVARES, H. M. Pedagogia de projetos: inovação no campo educacional.Revista da Católica. v. 2, p. 236-245, 2010. Disponível em: http://catolicaonline.com.br/revistadacatolica2/artigosv2n3/16-Pedagogia.pdf. Acesso em: 10 de jul. 2016. SILVA, V. P.da.Geografia por meio de projetos de pesquisa: experiências em escolas públicas de Uberlândia – MG. Rev. Ensino de Geografia.v. 2, n. 2, p. 23-38, jan./jun. 2011. Disponível em: http://www.revistaensinogeografia.ig.ufu.br/Art%202%20REG%20v2n2.pdf Acesso em: 16 de set. 2016.
30
POSSIBILITANDO ESPAÇOS EM A HARD DAY’S NIGHT: ENCONTROS ENTRE O CINEMA E A GEOGRAFIA
Jucimara Pagnozi Voltareli E-mail: jucimarapagnozi@hotmail.com
. Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
Campus de Presidente Prudente Bolsista PIBIC/CNPQ
INTRODUÇÃO
Esse artigo é o resultado do projeto “Linguagens Geográficas: outros
sentidos espaciais em A Hard Day‟s Night”, que é uma ramificação das propostas de
atividades e experimentações do “Grupo de Pesquisa Linguagens Geográficas
(GPLG)”, a qual possui como pesquisa norteadora “Linguagens Geográficas: entre
imagens e reverberações do ensino”. Ou seja, buscamos experimentar novas leituras
de conceitos geográficos a partir daquilo que se deriva de uma linguagem geográfica
institucionalizada, de maneira a contribuir novas formas de se pensar a pesquisa e
ensino em Geografia. Disso entendemos que nosso objeto seria uma possível analise
das potencias estéticas de uma obra cinematográfica, elaborada para o mercado
consumidor popular a partir de suas sensações, que atualizam e ampliam os
referenciais de um publico, a partir de conceitos da linguagem geográfica. Logo,
discutir possíveis sentidos do conceito de Espaço, de maneira que nos mostra o uso
de imagens e sons que reverberam no imaginário social contemporâneo e brasileiro.
Portanto trata-se de abordarmos a temática a partir do plano epistemológico, o qual se
coloca como um desdobrar de conhecimentos geográficos passíveis de serem criados
no contexto da sala de aula.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Justificando assim a pertinência do estudo por pensarmos que um objeto
artístico é possível de ser trabalhado pela linguagem geográfica, portanto, o referido
filme pode contribuir para melhor compreendermos a lógica territorial da sociedade
atual (MASSEY, 2008; FERRAZ, NEVES, 2012).
Logo, buscamos então a fazer uma pesquisa no plano epistemológico, com
leituras de textos sobre Cinema, Geografia e sobre os Próprios Beatles. Dentre os
textos de geografia que discutem cinema, destacamos David Harvey, para o qual o
31
cinema “[...] tem talvez a capacidade mais robusta de tratar de maneira instrutiva de
temas entrelaçados do espaço e do tempo” (1993, p. 277).
Para fazermos essas ligações das linguagens geográficas e artísticas, e
analisar essa temáticas como um todo, precisamos pensar anteriormente nas
possibilidades filosóficas que são possíveis através dos escritos de Gilles Deleuze e
Felix Guattari, que demonstram a pertinência de trabalhar linguagens distintas, mas
que podem estabelecer intercessores no sentido de possibilitar novas formas de
pensar; baseando nisso, temos o conceito de “geofilosofia” (DELEUZE, GUATTARI,
1992) como forma de melhor perceber a força espacializante na criação de
pensamentos, assim como os processos de territorialização, desterritorialização e
reterritorialização desse pensamento enquanto vida imanente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Optou-se em abordar o filme “A Hard Day‟s Night” (Reino Unido. Dir.:
Richard Lester, 1964, preto e branco), o qual expressa processos de construção de
um mito popular juvenil, por estabelecer referenciais de identidade e também de
referenciais espaciais para um contingente populacional em nível mundial. Esses
referenciais são constituídos no processo de espacialização que o produto cultural
toma enquanto mercadoria e enquanto obra de arte, de maneira a estabelecer a
fetichização da mercadoria, capturando os consumidores em clichês imagéticos de
comportamento, gostos e valores, estabelecendo assim um padrão para todos que o
consumem, pelo fato do produto ser um produto mercadológico.
O consumidor que compra esse produto, geralmente um jovem ou
adolescente em idade escolar, se apodera dele e é assim pelo produto apoderado, de
maneira a reproduzir uma política espacial de corpos adaptados e reprodutores da
lógica espacial hegemônica – a lógica consumista do mercadorização capitalista.
Por outro aspecto, pelo fato dessa mercadoria ser uma obra fílmica,
carrega em si uma potência estética inerente a linguagem artística. Assim, por ser
arte, ela é tomada como um bloco de sensações (DELEUZE, GUATTARI, 1992) capaz
de instigar novas sensibilidades e pensamentos a partir do que está de fora do
universo mercadológico e com esse universo se relaciona de forma tensa.
É a partir dessas forças em conflito que o filme pode nos provocar a
atualizar e ampliar referenciais espaciais a partir da linguagem geográfica, ou seja, no
caso do produto A Hard Day‟s Night, temos a identificação do que é ser um jovem em
meio a sociedade atual a partir dos signos corporais identitários inerentes ao produto
ídolo jovem (no caso, os Beatles) que, ao ser consumido, se torna a forma de agir
32
“genuinamente”, por conta dos referenciais tomados para si do produto, logo,
percebemos que, para ser esse adolescente é preciso reproduzir os clichês identitários
que o filme instiga. Apesar dos Beatles já não existirem atualmente enquanto banda
musical, a potência virtual de sua obra está sempre a se atualizar enquanto realidade
vivenciada por milhões de corpos no mundo de hoje, seus signos se repetem como
novidade até hoje, e esse tempo se coloca como multiplicidade espacial (MASSEY,
2008), constituindo a geografia de uma territorialidade adolescente.
Essa afirmação se reverbera no aspecto do filme “A Hard Day‟s Night” nos
proporcionar a identificação das potencialidades dessa virtualidade a se atualizar com
outros sentidos espaciais, os Beatles como signo de agenciador e emissor de
parâmetros de localização e orientação espacial através de novos encontros que
podemos experimentar, em especial no contexto escolar e da pesquisa geográfica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, optamos por entender a linguagem como o agenciador dos signos
que fazem nos corpos a criação de sentidos e significados, e forçam a rasura de um
campo linguístico, no nosso caso, o da ciência, quando está em contato com a outra, a
da arte (DELEUZE, GUATTARI, 1992). Essas diferenças, quando tensionadas,
rasuram, e nos leva a pensamentos possíveis, que possibilita a dar sentidos novos a
aquilo que já estava consolidado, tornando a questão da linguagem como uma
potencia criadora de novos signos, que a partir dos corpos se encontrando uma força
transformadora da realidade, estabelecendo assim, sentidos de orientação e
localização na sociedade enquanto vida. Se estabelecermos o cinema como uma
articulação de imagens e sons através do espaço e tempo, acabamos de construir um
sentido de movimento no tempo que acontece na percepção do espaço, que reverbera
no imaginário social que constroem sentidos espaciais conforme a potência criativa
dos sujeitos envolvidos com o produto cinematográfico. Ou seja, como a forma da
indústria cultural cria objetos que possuem potencialidades que mudam a sociedade a
partir da paisagem sonora e imagética criada, no caso desta pesquisa, os Beatles.
Diante disso, podemos traçar linhas de fuga frente a captura de referenciais
identitários que tornam os corpos disciplinados e controlados para reproduzirem os
parâmetros lógicos da espacialidade estabelecida pela lógica mercadológica do
capitalismo. No filme vemos sempre essa dubiedade de captura e crítica, de
reprodução e fuga da lógica dos valores da sociedade consumista. Esses momentos
se reverberam em cenas que, de um lado, os Beatles se colocam como prisioneiros
desse mundo estriado do capital, só restando a eles fugirem ou sucumbirem. No
33
entanto, ao mesmo tempo, temos cenas que instigam a angustia e a resistência dessa
situação, como as que eles se encontram cercados e fechados em ambientes
estreitos, ou as que eles dançam livremente num território em aberto.
Analisar essas cenas e buscar nelas sentidos outros é o que nos desafia
enquanto professores de geografia, pois o que temos no filme A Hard Day‟s Night é a
expressão da lógica espacial e os conflitos identitários dos jovens e adolescentes que
os estudantes de hoje vivenciam, buscam ou resistem. Cabe aos professores de
geografia destacar esses elementos para instigar os alunos pensarem como se
localizar e se orientar no mundo de hoje. Os Beatles podem ser um referencial
espacial muito necessário.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DELEUZE, G; GUATTARI, F. O que é a Filosofia? Rio de Janeiro: Editora 34, 1992. FERRAZ, C. B. O. Imagem e Geografia: Considerações a partir da Linguagem Cinematográfica. Espaço & Geografia, vol.15, n. 2, 2012. ______; NEVES, A. A. (Org.). Filmando em Mato Grosso do Sul: o cinema popular e a formação da identidade regional. Dourados, MS: Editora da UFGD, 2012. HARVEY, D. A construção pós-moderna. São Paulo: Layola, 1993. MASSEY, D. Pelo Espaço: Uma Nova Politica da Espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. OLIVEIRA JR., W. Combates e Experimentações: singularidades do comum. In: FERRAZ, C. B. O.; NUNES, F. G. (Org.). Imagens, Geografias e Educação: intenções, dispersões e articulações. Dourados: Editora UFGD, 2013, p. 303-314.
34
PROJETO DE EXTENSÃO GEOGRAFIA VAI À ESCOLA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA ESCOLA FLORIVALDO
LEAL EM PRESIDENTE PRUDENTE-SP
Juliane Elizabeth Deltrejo de Deus
E-mail: judeltrejo@hotmail.com Aluna do curso de Graduação em Geografia
Faculdade de Ciências de Tecnologia – UNESP – Campus de Presidente Prudente Bolsista PROEX – BAEE II
Adriano da Silva Oliveira
E-mail: adriano@fct.unesp.br Aluno do curso de Graduação em Geografia
Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP – Campus de Presidente Prudente
Maria Terezinha Serafim Gomes E-mail: tserafim@fct.unesp.br
Departamento de Geografia - Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP - Campus de Presidente Prudente
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo apresentar a experiência vivenciada nas
atividades de intervenção realizada nas turmas B e C do 1º ano do Ensino Médio da
Escola Florivaldo Leal, em Presidente Prudente – SP, por meio do Projeto de
Extensão “Geografia vai à Escola” 5.
Este projeto tem como objetivo estabelecer o estreitamento da relação entre
Universidade e Escola, por meio de projeto de intervenção pedagógica, visando à
construção do conhecimento e sua indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão. A realização de um projeto de intervenção numa escola de educação básica
da Rede Pública de Ensino surge da necessidade de aproximação dos alunos do
curso de Geografia da UNESP e a Escola, pois na maioria das vezes há um
distanciamento entre elas. A articulação entre a Universidade e Escola de Educação
Básica permite aos futuros professores conhecer o espaço escolar, bem como seu
cotidiano.
A proposta de projetos de intervenção na Educação Básica está calcada na
pedagogia de projetos a partir de Hernandez (1998) e na busca de uma aproximação
maior com a realidade do aluno, tornando a disciplina de Geografia mais interessante,
5 O projeto ”Geografia vai à escola” desenvolve atividades de intervenção pedagógica nas turmas de Ensino Médio e Ensino Fundamental da Escola Estadual Florivaldo Leal, em Presidente Prudente – SP, durante o ano de 2016.
35
mais dinâmica, desse modo, contribuindo com o processo de ensino-aprendizagem.
Para Hernandez (1998)
O Projeto é, portanto, a re-significação do espaço escolar, tornando a sala de aula um ambiente dinâmico de interação, de relações pedagógicas e de construção do conhecimento. É mais do que uma forma de organizar o conhecimento escolar, pois, implica numa mudança de currículo e, consequentemente, numa mudança da própria escola; implica no desenvolvimento de um trabalho pedagógico cooperativo, compartilhado e de estudo de conteúdos para além do escolar, ou seja, numa visão de globalização relacional. (HERNANDEZ, 1998 p.50)
O projeto de intervenção buscou a partir de uma análise crítica-reflexiva no
contexto do local ao global, vice e versa trazer para o debate elementos do cotidiano,
no sentido, de mostrar como os problemas afetam as diferentes escalas geográficas.
Desse modo, o aluno aprende a partir de questionamentos, de pesquisas, de
descobertas e estabelecimentos de relações com a realidade em que ele vive.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a realização das atividades do projeto em questão foram realizadas as
seguintes atividades: realização de revisão bibliográfica sobre a temática de
pedagogias de projetos, o currículo oficial do Estado de São Paulo, bem como sobre
os temas escolhidos para o desenvolvimento das intervenções na escola, entre eles:
Sensoriamento remoto, Globalização, redes geográficas e Estrutura e forma do
planeta Terra; reuniões com a coordenadora pedagógica e a professora de Geografia
da Escola Florivaldo Leal, para escolha dos temas geradores das intervenções,
reuniões semanais com a coordenadora do projeto, a fim de discutir os temas, debater
os textos lidos e fichamentos realizados, para planejar as intervenções e preparar a
parte prática. Além disso, a realização de pesquisa e coleta de material para a
realização das atividades do projeto de intervenção pedagógica. Na sequencia foram
realizadas três intervenções nas turmas B e C do 1º ano Ensino Médio da Escola
Florivaldo Leal, em Presidente Prudente – SP entre os meses de maio, junho e agosto
de 2016. A primeira teve como tema “Sensoriamento remoto e a democratização
das informações”, a segunda com o tema “Globalização e redes geográficas” e a
terceira “Estrutura e forma do planeta Terra”. Durante as atividades das
intervenções foram realizadas aulas teóricas com uso de imagens de satélite, de
fotografias aéreas de Presidente Prudente, de mapas temáticos, de vídeos e
pesquisas em sites como o Google Earth, Maps, o CPTEC/INPE: Centro de Previsão
de Tempo e Estudos Climáticos, a NASA (National Aeronautics and Space
36
Administration), bem como a realização de experimentos com a participação dos
alunos.
A turma para a realização da intervenção foi escolhida através da parceria
entre a escola e a universidade, mediada pela diretoria de ensino, onde o critério de
escolha foi a dificuldade, o baixo rendimento escolar e o desinteresse de grande parte
dos alunos pela disciplina geografia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o primeiro semestre de 2016 foram realizadas as intervenções
pedagógicas na escola Florivaldo Leal, com a participação dos alunos de graduação
em geografia da UNESP, a professora orientadora do projeto, a professora
responsável pela turma nas aulas de geografia e a coordenadora pedagógica da
escola. Cada intervenção foi realizada a partir de “temas geradores” em consonância
com o currículo oficial do Estado de São Paulo. Os temas foram escolhidos de acordo
com as dificuldades dos alunos, buscando realizar questionamentos e relação com o
cotidiano. As intervenções embasaram-se na pedagogia de projetos, proporcionando
mudanças na postura pedagógica, além de oportunizar ao aluno um jeito novo de
aprender, direcionando o ensino/aprendizagem na interação e no envolvimento dos
alunos com as experiências educativas que se integram na construção do
conhecimento com as práticas vividas.
A primeira intervenção teve como tema “O Sensoriamento Remoto: A
democratização das informações”, partindo das seguintes questões norteadoras: O
que é sensoriamento remoto? Para que serve? Qual a origem do sensoriamento
remoto? Como funciona? Quais os tipos de satélites? Quais são os seus usos e a
relação com o cotidiano? A intervenção foi realizada na sala de informática da escola.
Na primeira parte, foi realizada uma apresentação sobre o tema e relacionando com o
conhecimento a priori dos alunos. Durante a intervenção houve a participação dos
alunos com questionamentos sobre o tema. Na segunda parte, foi realizada a parte
prática da aula/intervenção, na qual os alunos seguiram um tutorial sobre os sites,
como, por exemplo, o CPTEC/INPE: Centro de Previsão de Tempo e Estudos
Climáticos, a NASA (National Aeronautics and Space Administration), o Google Maps,
Earth, entre outros, que disponibilizam informações meteorológicas, climáticas,
ambientais tanto de localizações geográficas distantes quanto do município em que
eles moram. (Fotos 1 e 2). Além das animações de imagens de satélite, também foram
mostradas algumas fotografias aéreas impressas do município de Presidente Prudente
do ano de 1962 e do Parque do Povo, do ano de 1995, destacando a evolução urbana
37
e canalização do córrego do Veado e as transformações da área, hoje denominada de
Parque do Povo. Desse modo, durante a intervenção foram utilizados slides, vídeos,
imagens de satélites, fotografias aéreas.
A segunda intervenção como tema “Globalização e Redes geográficas”
ocorreu nos dias 23 e 27 de junho de 2016, para as turmas do primeiro ano do ensino
médio B e C, respectivamente. A intervenção teve como questões norteadoras: O que
é globalização? Quais as implicações da globalização? O que são redes geográficas?
Como funcionam as redes geográficas? Qual é o papel das novas tecnologias da
informação e da comunicação (TIC‟s)? Qual é a relação da globalização e o cotidiano?
Para a realização da intervenção foram utilizados slides, imagens, gráficos, tabelas,
além de um fragmento do documentário “O encontro com Milton Santos:
“Globalização: o mundo do lado de cá”, filme de Silvio Tender, 2006. Na intervenção
buscou-se discutir sobre o processo de globalização e seus impactos econômicos,
sociais, culturais, etc., mostrando o lado perverso da globalização.
A terceira intervenção foi realizada nos dias 25 e 29 de agosto de 2016, já no
segundo semestre de 2016 e teve como tema gerador “Estrutura e forma do planeta
Terra”. Partiu-se de alguns questionamentos: Como é a estrutura e a composição do
planeta Terra? Quais são e como agem os agentes internos e externos de
transformação do relevo? Como funciona a dinâmica atmosférica? Durante a
intervenção buscou-se apresentar fragmentos de vídeo para facilitar a compreensão
da escala geológica e da dinâmica atmosférica. Foram realizados experimentos sobre
geologia e climatologia com a apresentação de uma maquete com erupção vulcânica
(figura 3) e a formação de uma nuvem na garrafa. Os alunos tiveram a oportunidade
Foto 2 – Alunos observando a imagem de satélite do
rompimento da barragem do Fundão em Mariana (MG) Foto 1 – A primeira intervenção na sala de informática
Fonte: Arquivo Pessoal, 2016 Fonte: Arquivo Pessoal, 2016
38
de ter contato com diferentes amostras de rochas que caracterizam e formam a
litosfera terrestre, entre elas uma amostra da rocha magmática extrusiva, o Basalto, da
rocha magmática intrusiva, o Granito e de um Geodo com Ametistas, das rochas
sedimentares, o Arenito e o Varvito e da rocha metamorfizada, o Gnaisse. Assim,
tornou-se possível visualizar como essas rochas são utilizadas no nosso cotidiano, em
suas casas, proporcionando aos alunos a compreensão do mundo através da
geografia. Os alunos relataram que agora sabem sobre as rochas e os fenômenos
naturais e que todas as vezes que virem algo sobre o tema apresentado irá associar
diretamente à geografia. Os experimentos foram realizados com a autonomia dos
alunos e sob a orientação dos monitores.
Foto 3 – Maquete escolar – erupção vulcânica
Fonte: Arquivo Pessoal, 2016
Com as intervenções, foi possível observar o gradual interesse dos alunos, em
especial na terceira intervenção supracitada. A interação dos alunos com os
experimentos demonstrou um avanço no rendimento escolar e um maior interesse
pela disciplina geografia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto surgiu com o objetivo de introduzir os alunos graduandos do curso de
licenciatura em geografia na dimensão do ambiente escolar, aproximar a instituição de
ensino superior com a educação básica e preparar tais profissionais para possíveis
situações e desafios futuros que existem no exercício da docência. Além disso, o
projeto poderá contribuir para sanar lacunas das questões pedagógicas do curso de
licenciatura em geografia, aproximando os discentes da realidade da educação básica
e principalmente da escola pública. O ambiente escolar da escola pública necessita
ser recriado e a participação no projeto faz perceber o envolvimento dos alunos e da
39
instituição escolar sobre a aprendizagem e os conteúdos abordados na disciplina.
Identifica-se que ainda há uma concepção conservadora em determinadas formas de
transmitir o conhecimento e a pedagogia de projetos considera o projeto um recurso à
metodologia de trabalho que destina ao conteúdo desenvolvido atividades que
valorizam os alunos e os respeitem como participantes ativos em sua aprendizagem.
O envolvimento do aluno no processo de construção do conhecimento torna-o um ser
humano que aprimora suas práticas vividas e experiências culturais, transformando-o
em um sujeito crítico, criativo e reflexivo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASTROGIOVANNI, A. C. et al. (orgs) Geografia em sala de aula: práticas e
reflexões. Porto Alegre: AGB – Seção Porto Alegre, 1998, p.71 – 76.
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Paulo: Paz e Terra, 1996.
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http://www.igc.usp.br/index.php?id=158. Acesso em: 15 de ago. 2016.
HAESBAERT, R. (org.). Globalização e fragmentação no mundo contemporâneo.
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HERNANDEZ, F. Transgressão e mudanças na educação: os projetos de trabalho.
Porto Alegre, Artes Médicas, 1998.
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Pátio, Porto Alegre, ano 2, n. 6, ago/ out. 1998.
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sala de aula. Campinas: Armazém do Ipê, 2005. 184p.
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SciencesPo Atelier de Cartographie. Disponível em: <http://cartographie.sciences-
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escolas públicas de Uberlândia – MG. Revista Ensino de Geografia, Uberlândia, v. 2,
n. 2, p. 23-38 jan./jun. 2011. Disponível em:
http://www.revistaensinogeografia.ig.ufu.br/Art%202%20REG%20v2n2.pdf. Acesso em
16 de set. de 2016.
40
EIXO TEMÁTICO 2: “TEORIA E PRÁTICA: O TRABALHO,
A SAÚDE E A GEOGRAFIA”
41
A MULTIPLICIDADE DO HIV/AIDS EM DIFERENTES ESCALAS: ESTUDOS BRASILEIROS
Mateus Fachin Pedroso E-mail: mateus_fachin@hotmail.com
Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
Bolsista FAPESP
INTRODUÇÃO
O surgimento do HIV6/AIDS7 no mundo resultou no envolvimento do meio
científico de diversas áreas do conhecimento, desde as ciências biológicas, até as
ciências humanas, para que houvesse uma melhor compreensão desse novo
fenômeno. O Brasil diagnosticou seus primeiros casos de HIV/AIDS em 1982 nas
grandes metrópoles (São Paulo e Rio de Janeiro), que de início foi caracterizada como
uma doença infecto-contagiosa (SÁ; COSTA, 1994).
Sabe-se que o HIV/AIDS apresenta características muito peculiares de
disseminação e expansão no que se refere a sua manifestação geográfica. Esta
doença atrela-se a fatores que compõem o meio em que estão inseridos, gerando
assim, uma epidemia multifacetada que possui características respectivas às áreas em
que se desenvolve. Como afirma Sadala e Marques (2006) ocorreram várias
mudanças em seu perfil, que veio se metamorfoseando mostrando que o perfil inicial
(masculino transmitido de forma homo/bissexual) adquiriu outras características,
gerando assim, o processo de heterossexualização, dessa forma acometendo
“mulheres, indivíduos de baixa renda, em cidades de pequeno e médio porte”
(SADALA; MARQUES, 2006 p. 2369), ocasionando em decorrência disso os
processos de feminização, pauperização e interiorização da doença.
MATERIAIS E METODOS
Este trabalho está embasado em um levantamento bibliográfico mais amplo e
aprofundado no que se refere à Geografia da Saúde em âmbito nacional, visto que,
este levantamento consiste em todas as dissertações e teses (disponíveis em
repositório eletrônico) com relevância e contribuições, que foram defendidas na área
6 Vírus da Imunodeficiência Humana, do inglês Human Immunodeficiency Virus
7 Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, do inglês Acquired Immunodeficiency
Syndrome
42
de Geografia e/ou na área da Saúde. Tal levantamento foi realizado pelo Professor
Raul Borges Guimarães, e está disponível no site do Laboratório de Biogeografia e
Geografia da Saúde (BIOGEOS - http://www.geografiadasaude.com.br/) atualmente
com 223 trabalhos. Desta forma, foi-se apropriado das nove dissertações e teses que
tratam sobre a temática HIV/AIDS, para o desenvolvimento deste trabalho que visa
uma melhor compreensão da situação do HIV/AIDS em um contexto nacional.
Essa percepção pode ser constatada através dos diversos trabalhos
produzidos sobre o tema que tomam como recorte espacial, diferentes áreas do Brasil,
seja em escala nacional, estadual ou local, tendo diversos meios para desempenho de
estudos, visando assim, uma melhor compreensão do fenômeno do HIV/AIDS no
Brasil, (Costa-Couto, 2007).
RESULTADOS E DISCUSSÔES
A partir de tal levantamento constatou-se que as escalas de análise foram
diversificadas, visto que muitos dos estudos tomam como recorte espacial as cidades
em geral; cidades de médio porte até capitais e metrópoles, como é o caso dos
estudos de Bueno (2010), Marchetti (2011), Oliveira (2007) e Silva (2003).
O estudo de Bueno (2010) buscou por meio de diferentes metodologias
evidenciar o perfil da AIDS na cidade de Piracicaba – SP. Tendo isto como base, a
presente autora analisou os sujeitos em questão por diversos segmentos (sexo,
preferência sexual, uso de drogas, faixa etária e razão por sexo), que elucidaram
assim, o recorte do assistencialismo, atendimento e a mudança constatada no perfil
dos portadores do HIV/AIDS na cidade de Piracicaba – SP, no decorrer dos anos.
Visto que este estudo buscou uma análise que possibilitasse “[...] a construção de
políticas públicas em saúde e o planejamento urbano, com o intuito em investir em
qualidade de vida nas localidades que mais necessitam de atenção, impedindo a
iniquidade social (BUENO, 2010, p. 119)”.
O trabalho de Marchetti (2011) se assemelha com o trabalho citado
anteriormente pelo fato de também tomar como recorte uma cidade de porte médio. O
presente estudo se deu sobre a cidade de Londrina – PR, e objetivou demonstrar a
distribuição de casos presentes na cidade desde o início da epidemia, tal que, foi
investigado os diferentes perfis acometidos que compõem a população londrinense. E
a partir de tal investigação, constatou-se que, a distribuição dos casos “[...] não
restringe-se apenas a uma porção da cidade, ela está presente em todas as regiões
da cidade com realidades socioeconômicas distintas corroborando com a ideia de que
todas as pessoas estão sujeitas a adquirir a doença (MARCHETTI, 2011, p. 151)”.
43
Já, o estudo de Oliveira (2011) toma como recorte espacial a cidade de São
Paulo, e teve como objetivo analisar o contexto das infecções por HIV e as mortes em
decorrência da AIDS, tendo como recorte temporal o período de 1996 a 2007. Este
trabalho teve por base uma metodologia estatística que visava demonstrar tendências
ao longo do período analisado, colocando em pauta a distribuição dos centros de
atendimentos contrapostos com os agrupamentos espaciais da doença, com o intuito
de demonstrar as áreas que apresentam maior vulnerabilidade em relação à doença e
o sistema de atendimento. Seguindo tal metodologia, foi possível a realização do
mapeamento dos novos casos de HIV, tanto como a elaboração de mapas que
demonstravam o nível de mortalidade por AIDS, visto que, “as técnicas de varredura
espacial e representação cartográfica permitiram identificar áreas de risco
significativas, para as quais devem ser direcionadas campanhas de prevenção
(OLIVEIRA, 2011, p. 55)”.
O trabalho desenvolvido por Silva (2003) assemelha-se em alguns aspectos
ao trabalho citado anteriormente, isso, devido à forma de análise desenvolvida durante
o estudo, e também pelo fato de se tratar de uma capital de estado, neste caso
Manaus – Amazonas. Este trabalho traz como objetivo demonstrar a particularidade
conferida ao fenômeno do HIV/AIDS que ocorre em Manaus, mostrando que este
possui características que não se assemelham a outros lugares do Brasil. Além disto,
o presente estudo trouxe como preocupação fazer-se conhecer a realidade local e
estabelecer políticas de saúde que vão de encontro à necessidade, para que assim,
possa-se haver controle de tal agravo levando em consideração as singularidades
culturais, geográficas e políticas SILVA (2003, p. 139).
Tendo isto como pressuposto vê-se que são diversas as escalas em que o
HIV/AIDS pode ser analisado, visto que traz-se para debate tais análises em nível de
estado como é o caso dos estudos de Alves (2010) e Prado (2008). Nos estudos de
Alves (2010) tomou-se como recorte o estado de Rondônia, tendo como meio de
entendimento a dinâmica interna do HIV/AIDS por meio da participação dos
municípios. O trabalho apresentou resultados que evidenciaram fenômenos já
apontados em outros trabalhos, visto que a epidemia atingiu Rondônia pelas camadas
menos favorecidas, sendo a transmissão sexual o principal meio de disseminação da
doença, atingindo as pessoas de baixa escolaridade, com forte e crescente incidência
no público feminino.
Fatores como este evidenciam a necessidade de se aprofundar o olhar para o
contexto geográfico no qual o fenômeno está inserido, para que assim, haja uma
melhor leitura do objeto de análise. Este aspecto também está presente nos estudos
de Prado (2008) que toma como recorte de análise o estado de São Paulo. Prado
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(2008) busca compreender a disseminação da HIV/AIDS no estado de São Paulo,
visto que este representa quase que metade dos casos de AIDS notificados no Brasil.
Tal dimensão permite a realização da análise espaço-temporal que tem por objetivo
elucidar as transformações ao longo do tempo. Neste estudo, faz-se uso de análises
espaciais, demonstrando que o uso na área de saúde ainda é restrito, no entanto de
suma importância. Sendo que, assim se permite “estimar associações temporais,
espaciais e efeitos de interação; contribuem para a compreensão dos processos de
disseminação espacial das doenças ao longo do tempo (PRADO, 2008, p. 17)”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo destas interpretações sobre as diferentes manifestações da
epidemia de HIV/AIDS nos trabalhos apresentados anteriormente, é possível concluir
que é imprescindível ter a compreensão de escala como “a medida que confere
visibilidade ao fenômeno. Ela não define, portanto, o nível de análise, nem pode ser
confundida com ele, estas são noções independentes conceitual e empiricamente.
(CASTRO, 2007, p. 123)”. Deste modo, é necessário abordar o conceito de
vulnerabilidade (Garcia e Souza, 2010), pois, este trata sobre as questões que
envolvem as diferentes iniquidades sociais presentes na manifestação do HIV/AIDS.
Desta maneira, parafraseando Ayres et. al (2003), traz-se para debate a questão da
conjuntura, seja ela de forma individual ou coletiva em relação a exposição ao risco e
o acesso as informações e maneiras de se defender e/ou proteger da doença.
Tais estratégias apontam que há a necessidade de um reforço acentuado que
se direciona as políticas de saúde voltadas ao HIV/AIDS, como também se deve
atenção às especificidades de cada área, para que as políticas de saúde se adéquem
conforme a necessidade apresentada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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45
em Geografia) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista. CASTRO, I. E. O problema da escala. In: CASTRO, I. E; GOMES, P. C. C; CORRÊA, R. L. Geografia: conceitos e temas.10° ed. Rio de Janeiro – RJ: Bertrand Brasil, 2007, p. 117-140. COSTA-COUTO, M. H. A vulnerabilidade da vida com HIV/AIDS. 2007. 211 f. Tese (Doutorado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Medicina Social. GARCIA, S; SOUZA, F. M. de. Vulnerabilidades ao HIV/AIDS no contexto brasileiro: iniquidades de gênero, raça e geração. Rev. Saúde e sociedade, São Paulo, SP, v. 19, n. 2, p. 9-20, maio. 2010. MARCHETTI, M. C. O perfil da população e a espacialização dos casos registrados de AIDS em Londrina: uma contribuição para a Geografia da Saúde. 2011. 169 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Centro de Ciências Exatas, Universidade Estadual de Londrina. OLIVEIRA, D. R. A dinâmica da distribuição espacial da infecção por HIV e da mortalidade por AIDS no município de São Paulo de 1996 a 2007. 2011. 100 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. PRADO, R. R. Análise espaço-temporal dos casos de aids no estado de São Paulo – 1990 a 2004. 2008. 106 f. Tese (Doutorado em Ciências – Medicina Preventiva) – Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo. SÁ, C. A. M. de, COSTA, T; Corpo a corpo contra a AIDS. 1. ed. Rio de Janeiro: REVINTER, 1994.
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SILVA, L. C. F. HIV/AIDS: Padrões epidêmicos e espaciais na cidade de Manaus, Amazonas, 1986 a 2000. 2003. 175 f. Dissertação (Mestrado em Ciências na área de Saúde Pública) – Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, ENSP.
46
PARA ALÉM DO VISÍVEL NOS CANAVIAIS DO PONTAL DO PARANAPANEMA: A SAÚDE DOS TRABALHADORES EM CHEQUE SOB O AVANÇO DO CAPITAL
AGROINDUSTRIAL CANAVIEIRO
Gabriel Ferreira
E-mail: viti.gabi@hotmail.com Graduando em Geografia
Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Bolsista CNPq
Antonio Thomaz Junior
E-mail: thomazjrgeo@fct.unesp.br Professor Adjunto do Departamento de Geografia
Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
Fredi Dos Santos Bento E-mail: fredi.sousuke@gmail.com
Mestrando em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
INTRODUÇÃO
A virada do século XX para o século XXI é marcada por uma ofensiva do
capital sobre o trabalho que busca não apenas precarizar as formas de contratação,
pagamento, os salários e as condições de trabalho, mas também capturar a
subjetividade dos trabalhadores (ALVES, 2000), entendida enquanto consciência de
classe e afetividade (SILVA, 2006). Dessa forma, o avanço do capital sob o signo da
reestruturação produtiva e da sua respectiva mundialização, se soma às condições
facilitadas pela era neoliberal.
Esse avanço do capital agroindustrial canavieiro encontrou no Pontal do
Paranapanema território propício para sua reprodução, já que se aproveitou do
histórico de grilagem e seus efeitos nas vantagens comparativas que se fazem
presentes nos menores preços da terra (tanto para aquisição quanto para
arrendamento), e ainda da garantia de mão de obra local, bem como a de
trabalhadores migrantes que se submeteriam às árduas jornadas de trabalho, à
remuneração por produção e toda sorte dos descumprimentos e arbitrariedades
(THOMAZ JUNIOR, 2012).
As bases estratégicas estavam dadas para o expansionismo do
agrohidronegócio canavieiro no Pontal do Paranapanema, como salienta Thomaz
Junior (2009) ao afirmar que foi somente a partir de 2005 que a expansão da cana-de-
açúcar e da atividade agroindustrial canavieira, se expressa de forma marcante,
saltando de 78.000 ha em 2002, para 370.000 ha, em 2009. Todavia, salienta o autor
em estudo posterior, que as dimensões econômicas e política, se juntam para oferecer
47
os principais atrativos ao capital nesse território (THOMAZ JUNIOR, 2013). Isto é, de
um lado, tem-se as terras griladas objeto de interesse tanto pelo capital quanto pelos
movimentos sociais envolvidos na luta pela terra e, por outro, o isolamento no qual são
mantidos os trabalhadores (as) assentados ou camponeses, nos assentamentos rurais
oriundos da luta pela terra – via de regra desassistidos pelas políticas públicas – então
mão de obra cativa para o capital agroindustrial canavieiro.
É nesse cenário da ofensiva do capital sobre o trabalho, encimado na
reestruturação produtiva que se tem o agravamento da precarização e da exploração,
a contar com novos expedientes para a captura da subjetividade do trabalho e os
arranjos organizacionais do processo de trabalho. Tudo isso, em meio à crise que
abate o sindicalismo de massa/taylorista/fordista, que encontra na era neoliberal
muitas dificuldades para entender as necessidades e desafios impostos e,
consequentemente, articular e organizar os trabalhadores para as lutas específicas e
gerais.
Diante disso, buscaremos nesse texto apresentar algumas reflexões, que
estão englobadas em nosso objetivo que é fazer algumas ponderações quanto aos
desdobramentos da transição tecnológica do corte da cana, que compreendemos
como aprofundamento e expoente da reestruturação produtiva; na organização política
e econômica dos trabalhadores, entendido aqui na figura dos STR‟s (Sindicato dos
Trabalhadores Rurais), assim como na saúde da classe trabalhadora, mais
precisamente na relação saúde-trabalho em uma perspectiva de determinação social
dos agravos.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Em termos de procedimentos metodológicos estamos efetuando revisão
bibliográfica referente à temática em questão, coleta de dados de fonte secundária e
realizando pesquisa de campo no Pontal do Paranapanema, com especial atenção
voltada para os municípios de Presidente Prudente, Caiabu e Mirante do
Paranapanema; para entrevistarmos (utilizando de roteiros semi-estruturados)
trabalhadores adoecidos, representações sindicais e representantes do setor
canavieiro.
Julgamos essencial mencionarmos que estamos no início de nossa pesquisa,
e dessa forma o material resultante de nossas reflexões ainda será aprofudado e mais
adiante disponibilizado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
48
A primeira reflexão segue na direção do processo de adoecimento dos
trabalhadores que atuam na produção canavieira do Pontal do Paranapanema.
Constata-se que os trabalhadores do setor agroindustrial canavieiro estão cada vez
mais adoecidos.
Se não tentarmos estabelecer um nexo causal com relação ao trabalho que
estes homens e mulheres exercem na agroindústria, cairíamos na mesma análise
isolada, fragmentada, a-histórica e positivista da medicina do trabalho ou de outros
profissionais da saúde. Dessa forma, optamos por uma análise da determinação social
dos agravos por acreditarmos que esta consiga dar conta dessa realidade fluída, e nos
possibilite a compreensão dos motivos que estão levando a população trabalhadora do
Pontal do Paranapanema a adoecerem. Os distritos de Presidente Prudente são muito
didáticos quanto queremos demonstrar essa realidade perversa. A maior parte dos
entrevistados apresentava algum problema de saúde, sejam estes mentais
(depressão, stress, síndromes) ou físicos (alguns tinham perdido os movimentos nas
mãos, ou tinham perdido 50% da sensibilidade nos dedos, apresentavam problemas
na coluna).
Essa situação se agrava quando presenciamos um quadro de refluxo de
trabalhadores sindicalizados nos STR‟s (Sindicato dos Trabalhadores Rurais). Essa
segunda reflexão nos revela a complexidade e gravidade da situação, considerando
que a maneira de dar uma resposta ao avanço do capital sobre o trabalho partiria
sobretudo das organizações da classe trabalhadora, sendo uma das principais
representações desta, os sindicatos.
Os poucos trabalhadores que ainda possuem vínculo com essas entidades
organizativas não se sentem representados, pois estes sindicatos na realidade quase
sempre se posicionam ao lado do patronato. Outro grupo de trabalhadores
simplesmente alega desconhecimento quanto a atuação dos STR‟s da região. Assim
constata-se a existência, para agravar o quadro dos adoecimentos, de uma crise do
sindicalismo que não têm dado conta de dar uma resposta aos anseios dos
trabalhadores que constantemente se sentem traídos por entidades organizativas
mergulhadas na burocracia e frequentemente posicionadas ao lado do patronato.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa tem nos permitido constatar que no Pontal do Paranapanema a
ofensiva do capital em ambiente de reestruturação produtiva tem como expoente e
estratégia para otimização da produção e dos lucros a transição tecnológica.
49
Neste cenário, tendo como pano de fundo a luta de classes em um território
marcado historicamente por conflitos pela terra, a saúde e organização dos
trabalhadores mais do que nunca estão colocados em xeque. Sobretudo a saúde dos
trabalhadores rurais, em sua relação com o trabalho nas agroindústrias espalhadas
pelo Pontal.
A questão que se coloca como central e que nos chama a atenção é que
através da transição tecnológica e opção do empresariado paulista pelo uso de
agrotóxicos, se revela uma intensificação das chances dos trabalhadores se
envolverem em “acidentes de trabalho”, adoecerem por causas laborais, ou serem
envenenados pela quantidade absurda de venenos/agrotóxicos utilizados pelas
agroindústrias. Nosso início de pesquisa já nos indica isso. Revelar essa situação
perversa de avanço do capital sobre o trabalho é fundamental para tentarmos
contribuir para uma resposta à altura por parte das entidades dos trabalhadores, como
é o caso dos STR‟s (Sindicato dos Trabalhadores Rurais), muito embora estas
organizações se encontrem em um profundo processo de crise de representatividade,
com redução da taxa de trabalhadores sindicalizados, atolamento na burocratização
sindical, e incapacidade (ou no mínimo dificuldade) de fazer o diálogo entre as
categorias de trabalhadores.
Concluímos assim, a partir das leituras e trabalhos de campo em nosso
recorte, que o quadro de avanço do capital sobre as esferas da vida do trabalhador, e
especialmente a saúde, é factível em todos os lugares do mundo. No Pontal isso
tomou a face de venenos devido à opção do empresariado paulista pelo pacote de
quimificação, e (re) arranjos perversos para a saúde do trabalhador provenientes de
táticas e estratégias inerentes à reestruturação produtiva e seu expoente entendido
por nós como transição tecnológica na realidade territorial do Pontal: a forma de ser do
trabalhador e de se inserir no trabalho, vínculo empregatício, forma de pagamento,
rotina e exploração do trabalho, e os rebatimentos na saúde e formas de
organização/representação, mais do que nunca são colocados à prova.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, G. O Novo e precário mundo do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2000.
SILVA, M. A. M. A morte ronda os canaviais Paulistas. Revista Abra, V.3, N.2, ag/dez, 2006, p. 11- 143.
THOMAZ JUNIOR, A. Dinâmica Geográfica do Trabalho no Século XXI (Limites explicativos, Autocrítica e Desafios Teóricos). Tese (Livre Docência em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista. Presidente
50
Prudente, 2009, volumes 1 e 2. Disponível em: <http://www4.fct.unesp.br/ceget/LD/inciar.html>. Acesso: 14 abr. 2012
______. Degradação e Centralidade do Trabalho (As Contradições da Relação Capital x Trabalho e o Movimento Territorial de Classe). Pegada, Presidente Prudente, 2012, V.13, N°2, p. 4-19.
______. A Nova Face do Conflito pela Posse da Terra no Pontal do Paranapanema (SP): Estratégia de Classe do Latifúndio e do Capital Agroindustrial Canavieiro. In: Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil. V.2. ANTUNES, R. (Org.). São Paulo: Boitempo, 2013. pp. 325-340.
EIXO TEMÁTICO 3: “REGIÃO E CIDADE:
DESENVOLVIMENTO E URBANIZAÇÃO”
51
ANÁLISE DOS PROJETOS DE INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA IIRSA PARA A AMÉRICA DO SUL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES 8
Camila Manoel Pereira Martinelli E-mail: camila.manoel09@hotmail.com
Bacharelanda em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
Campus de Presidente Prudente
INTRODUÇÃO
A temática de integração regional vem sendo discutida há décadas por
diversos pensadores, ressurgindo após o término da Segunda Guerra Mundial como
meio de facilitar o desenvolvimento entre os países.
O ideário de integração na América Latina surgiu em meados do século XIX,
com Simon Bolívar, e ficou conhecido como Bolivarianismo. O objetivo era integrar
todo o continente americano, transformá-lo em uma potência e se livrar do
imperialismo Ibérico, o que de fato, não ocorreu.
Ao decorrer de todo o século XX a América Latina foi alvo de algumas
propostas integracionistas. Nos anos de 1948 surgiu a Comissão Econômica para a
América Latina e Caribe (CEPAL). Em 1960 foi criada a Associação Latino-Americana
de Livre Comércio (ALALC), sendo substituída pela Associação Latino-Americana de
Desenvolvimento e Intercâmbio (ALADI) nos anos de 1980, se expandindo com a
adesão de novos países membros. Em 1961 houve a criação de Mercado Comum
Centro-Americano (MCCA), com o objetivo de criar um mercado comum na região. A
criação da Comunidad Andina (CAN) fundamentada em 1969. Em 1973 surgem a
Comunidade do Caribe (CARICOM). Todas essas propostas sob a perspectiva do
“regionalismo fechado”, estritamente comercial.
A partir dos anos de 1990, novas propostas de integração surgem, como, o
Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), em 1991, a Área de Livre Comércio das
Américas (ALCA), em 1992 e o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA)
em 1994. Tais propostas surgem no contexto da adesão do ideário neoliberal sob a
perspectiva do “regionalismo aberto”, baseava na desregulamentação e liberalização
econômica, com o objetivo de aumentar a competitividade para a região.
8Este trabalho faz parte de discussões que vem sendo realizado junto o trabalho de conclusão de curso
Intitulado “Estudo do Desenvolvimento e Integração da Tríplice Fronteira Brasil, Bolívia e Peru, Nas Cidades de Assis Brasil – BR, San Pedro Bolpedra – BO, Iñapari– PE”, sob a orientação da
Profa. Dra. Maria Terezinha Serafim Gomes.
52
Mais recente, a partir dos anos 2000, houve a criação da Aliança Bolivariana
para os Povos da Nossa América (ALBA), em 2004, no mesmo ano o surgimento da
Comunidade Sul-Americana de Nações (CASA/CSN), que a partir de 2008 se tornaria
União de Nações Sul-Americanas (UNASUL). Essas propostas de integração regional
baseada no regionalismo pós-liberal (SERBIN, 2010), agora não, mais estritamente
comercial, envolvendo as dimensões sociais e política, com novos temas, entre eles: a
questão ambiental, segurança, saúde e educação.
Como visto desde o século XX, existiram inúmeras propostas de integração
regional, todavia, nenhuma delas estava direcionada a integrar a partir estrutura
logística da região.
A partir do surgimento de desafios na integração são percebidas dificuldades
de infraestrutura entre os países da América Latina, desta forma, foi lançado em 2000
um processo de integração e cooperação de múltiplos eixos que integra os dozes
países independentes da América do Sul (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia,
Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela). O resultado foi à
criação da Iniciativa para Integração da Infraestrutura Regional Sul-americana (IIRSA).
A IIRSA iniciou-se com o objetivo de construir uma agenda comum entre os
países membros para impulsionar projetos de integração e infraestrutura, transporte,
energia e comunicações. O planejamento territorial da IIRSA está organizado em
Eixos de Integração e Desenvolvimento (EID), como pode-se observar na figura 1.
FIGURA 1: Eixos de integração e desenvolvimento da IIRSA. Fonte: IIRSA, 2010.
A figura 1 mostra os Eixos de Integração e Desenvolvimento (EID) da
proposta IIRSA: o Eixo Andino (Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia), eixo de
53
Capricórnio (Norte do Chile e da Argentina, Paraguai, Sul do Brasil), eixo do
Amazonas (Colômbia, Peru, Equador, Brasil), eixo do Sul (Sul do Chile/Talcahuano e
Concepción, e da Argentina/Neuquén e Baia Blanca), eixo Interoceânico Central
(Sudeste brasileiro, Paraguai, Bolívia, norte do Chile, sul do Peru), eixo Mercosul-Chile
(Brasil, Argentina, Uruguai, Chile), eixo da Hidrovia Paraguai-Paraná (Sul e sudoeste
do Brasil, Uruguai, Argentina, Paraguai), eixo do Escudo Guiano (Venezuela, Guiana,
Suriname, extremo-norte do Brasil), eixo Andino do Sul (Região Andina de fronteira
Chile-Argentina) e o eixo Peru-Bolívia-Brasil.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este artigo traz os resultados baseados em análise bibliográfica e
documental, buscando fazer ressalvas às propostas de integração e desenvolvimento
da IIRSA, a fim de analisar os projetos de infraestrutura que estão em andamento e os
que foram concluídos. Além disso, realizamos pesquisas em sites como: IIRSA
(Iniciativa para Integração da Infraestrutura Regional Sul-americana), SciELO
(Scientific Electronic Library Online), consultas em alguns sites dos governos centrais
dos países envolvidos e das iniciativas de integração.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Antes referir-se a IIRSA, se faz necessário abordar o que vem a ser
integração. Segundo, Herz (2004) e Hoffmann (2004), a integração é um processo
dinâmico de intensificação em profundidade e abrangência das relações entre atores,
levando à criação de novas formas de governança político-institucionais de escopo
regional.
Para Silva (2013, p 27.) a “integração entre os países por meio da
infraestrutura física facilita o direcionamento dos fluxos de bens, produtos e pessoas o
que pode estabelecer verdadeiros eixos de desenvolvimento”.
Se tratando de integração regional, Quitanar (2003), e López (2003)
ressaltam que:
A integração regional da infraestrutura física é uma realidade possível e desejável, mas não deixa de chamar a atenção o fato de o mesmo objetivo ser compartilhado por governos, empresas e instituições financeiras multilaterais. (Quitanar e López, 2003, p.53).
De acordo com Antunes (2012, p 15.) “os processos de integração trazem
uma nova configuração territorial, econômico e socioespacial para as populações
envolvidas, principalmente para as sociedades que estão na linha divisória”.
54
Vimos anteriormente as diferentes propostas de integração regional para
América Latina, todavia um dos grandes desafios tem sido a integração física.
A Iniciativa para Integração da Infraestrutura Regional Sul-americana (IIRSA)
possui como apoio técnico-financeiro o Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID), a Corporação Andina de Fomento (CAF) e Fondo Financiero para el Desarrollo
de la Cuenca del Plata (FONPLATA). Devido a grande disparidade econômica e social
entre e seus membros, cada país contribui de maneira distinta com financiamento das
obras de integração. No contexto os investimentos não necessariamente precisam
financiar obras nos países de origem, ou seja, dinheiro brasileiro pode vir a financiar
obras em outros países.
A partir do governo Lula, em 2002, o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) atuou como agente econômico brasileiro na IIRSA.
Apesar das limitações do site da IIRSA que disponibiliza poucos dados sobre o
financiamento dos projetos, apenas valores totais de investimento em carteira, sem
dizer o volume por fonte de financiamento, de acordo com o mesmo existem algumas
informações discriminadas qualitativamente entre investimentos na modalidade
público-privado, público ou privado. Porém Segundo Paz (2015, p 3.), existe
“participação também de empresas privadas, principalmente as grandes empresas de
engenharia que realizam as obras para a integração. A Petrobras e a Vale do Rio
Doce também estão investindo recursos próprios, nacionais e internacionais”.
Os eixos de integração foram elaborados de acordo com a possibilidade de
explorar os benefícios de um conjunto de investimentos.
De acordo com o portfólio lançado pela IIRSA no ano de 2010, somando
todos os eixos são contabilizados 524 projetos, onde 46% deles são na área do
transporte. Ainda segundo este portfólio desde o lançamento da iniciativa o número de
obras finalizadas gira em torno de 53, 175 estão em fase de execução. Por sua vez, os
158 projetos em fase de pré-execução, 138 dos projetos que estão em fase de perfil,
ou seja, estão em fase de analise.
Vale ressaltar que alguns eixos se encontram a frente de outros no
andamento dos projetos, são eles: O eixo Andino, eixo Mercosul-Chile, eixo Hidrovia
Paraguai-Paraná e o eixo do Escudo Guiano.
De acordo com dados da IIRSA, o Brasil e a Argentina são os países que
mais investem no financiamento dos projetos de integração, o que leva-nos a crer que
atrelado a este fato está o fato de que a maior parte das obras concluídas e em
execução se localize ao sul do trópico de capricórnio. Ao analisar os dados do portfólio
IIRSA, pode-se inferir que assim como o Brasil, a Argentina tem fortes interesses
econômicos na integração, pois, assim como argentinas, muitas empresas brasileiras
55
possuem investimentos em países vizinhos, o que aumenta o interesse e o capital de
investimento na integração de infraestrutura. Como exemplo, temos dos frigoríficos
brasileiros, que segundo Paz (2015, p 11.), possuem 60% do domínio no abates e
exportações do Paraguai e Uruguai.
Na análise do Portfólio observou-se que, o número de projetos aumentou em
56%, entre 2003-2004 e 2010, e o investimento estimado aumentou 157% em termos
nominais no mesmo período. Assim, observou-se um salto muito significativo entre
2005-2006 e 2007, tanto no número de projetos quanto no investimento estimado.
Segundo a IIRSA os inúmeros estudos realizados para a elaboração dos
eixos possibilitou melhor conhecimento da realidade regional, suas potencialidades
atuais e futuras. Gerando cooperação entre os países e valorização do capital. Porém,
cabe-nos ressaltar que estes estudos poderiam ser mais completos se realizados com
a participação da população diretamente afetada com os projetos de integração, e
enfrentará descaracterização de seu território.
Talvez, muitos dos resultados tangíveis da IIRSA teriam acontecido igualmente, em um processo mais lento. Segundo, Costa:
Uma das ideias que podemos extrair desse campo aparentemente dominado pelas incertezas quanto ao futuro da integração regional, é que os atores principais à frente desse processo, não dispõem de outra opção, no campo das estratégias, que não seja o da sua rápida consolidação.
(COSTA, 2009, p. 21)
Áreas fronteiriças possuem seu próprio meio de integração. Ocorrendo antes
mesmo do surgimento de iniciativas governamentais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Procurou-se neste ensaio abordar o delicado tema da integração através dos
projetos da IIRSA, bem como as propostas de integração e os projetos concluídos.
Nota-se, que os países mais pobres possuem dificuldade na execução
desses projetos, levando um tempo maior em sua conclusão. Questiona-se, se a
integração ocorre de maneira igualitária para todos os membros da IIRSA, como está
exposto no projeto da iniciativa. Este fato pode acarretar certos desentendimentos e
levar um determinado país exercer hegemonia sobre outros.
Podemos notar que em mais de dez anos de execução da IIRSA ainda é
baixo o número de projetos concluídos e em vigência. Até mesmo através de alto
investimento, integração desse porte leva algum tempo. Desta forma, é permitido
56
pensar que esses logros intitulados a IIRSA não sejam necessariamente exclusivos da
mesma.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, E. M. Considerações sobre integração regional e seus reflexos nas cidades de fronteira do Mercosul. Anais do Seminário Brasileiro de Estudos Estratégicos Internacionais – SEBREEI - Integração Regional e Cooperação Sul-Sul no Século XXI. 2012.
COSTA, W. M. Políticas territoriais no contexto da integração sul – americana.
Revista Território. Rio de Janeiro, ano IV n" 7. p. 25-41, jul./dez. 2009.
HERZ, M; HOFFMANN, A. Organizações Internacionais: história e práticas. Rio de Janeiro: Elsevier: Campus, 2004. http://www.usp.br/estecon/index.php/estecon/article/viewFile/322/109 Acesso em: 21 Set. 2016.
IIRSA. 10 anos depois: Suas conquistas e desafios. Disponível em: http://www.iirsa.org/admin_iirsa_web/Uploads/Documents/lb_iirsa_10_anios_sus_logros_y_desafios_port.pdf. Acesso em 21 de Set. 2016. PAZ, G. S. Integração da América do Sul: o BNDES como agente da política regional do governo Lula. 2015. QUITANAR, S; López, R. O Plano de Ação para a Integração da Infraestrutura Regional Sul americana (IIRSA): oportunidades e riscos. Seu significado para o Brasil e a Argentina. 2003. SERBIN, A.; MARTÍNEZ, L. & RAMANZINI JÚNIOR, H. (eds.) (2012). El regionalismo “post-liberal” en América Latina y el Caribe: nuevos actores, nuevos temas, nuevos desafíos. Anuario de la Integración Regional de América Latina y el Caribe. nº 9, pp. 7-15. Buenos Aires: CRIES.Disponível em: http://www.ieei-unesp.com.br/portal/wp-content/uploads/2012/10/2012-Anuario-CRIES-1.pdf. Acesso em: 21 de Set. 2016. SILVA, M. C da. O Eixos De Integração e Desenvolvimento da IIRSA: Uma Análise De Regionalização. 2013.
57
A SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL: UMA ANÁLISE TEÓRICA A PARTIR DA GLEBA PALHANO EM LONDRINA/PR
Felipe César Augusto Silgueiro dos Santos E-mail: felipe.cesar.augusto@gmail.com
Licenciatura e Bacharelado em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia
UNESP – Universidade Estadual Paulista Campus de Presidente Prudente
Mariana Cristina da Silva Gomes E-mail: gomesmcds@gmail.com
Licenciatura e Bacharelado em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia
UNESP – Universidade Estadual Paulista Campus de Presidente Prudente
INTRODUÇÃO
Neste resumo expandido apresentaremos nossas impressões de uma
temática escolhida como uma atividade realizada para avaliação à disciplina de
“Espaços Urbanos”, ministrada pelo Prof. Dr. Arthur Magon Whitacker no ano de 2014,
na Faculdade de Ciência e Tecnologia UNESP (Universidade Estadual Paulista)
Campus de Presidente Prudente/SP.
A escolha da temática de segregação socioespacial advém da intensa
discussão proferida por inúmeros artigos e textos que debatem este tema de cunho
social e econômico9. O bairro10 escolhido para análise nos chamou a atenção por ser o
reflexo mais próximo do intenso investimento do capital incorporador privado11 em
conjunto com a ação do Poder Público, que cria os mecanismos necessários para a
instalação de empreendimentos que supervalorizam o preço da terra.
Para tal análise sobre a Gleba Palhano é preciso apresentar a formação
da cidade de Londrina/PR e uma breve contextualização histórica, como forma de
9 Destacamos os debates empreendido pelo Grupo de Pesquisa Produção do Espaço e Redefinições
Regionais (GAsPERR), o CEMESPP (Centro de Estudos e de Mapeamento da Exclusão Social para Políticas Públicas) e a ReCiMe (Rede de Pesquisadores em Cidades Médias). 10
Há um debate sobre denominarmos áreas das cidades como bairro ou conjunto habitacional. O leitor ficará atento no decorrer do texto das características da Gleba Palhano, que nós consideramos ser um bairro, pela sua formação antiga e devido a suas características já desenvolvidas como localização e padrão de moradores. Para maior conhecimento deste debate, recomendamos SOUZA (2013, p. 135 – 162). 11
Aqui utilizaremos da ideia de Smolka (1987, apud ALCANTARA 2013, p.255-256) em que o autor retrata que o capital incorporador seria “(...) aquele que desenvolve o espaço geográfico organizando os investimentos privados no ambiente construído, em especial aqueles destinando à produção de habitações”.
58
entendermos a estrutura urbana da cidade, a fim de responder as questões: Como? e
Por quê? ocorreram os processos de configuração da segregação socioespacial.
DE LONDRINA/PR À GLEBA PALHANO: ESCALAS DE CONSTRUÇÃO PARA A
SEGREGAÇÃO
A formação da cidade de Londrina/PR advém da expansão da cultura cafeeira
do Estado de São Paulo, em uma época que as cidades eram construídas
rapidamente. A construção da cidade paranaense ficou a cargo da Companhia de
Terras Norte do Paraná (CTNP), de capital financeiro inglês e que vislumbrava um
lucro imediato com a venda dos lotes de terra. (ALCANTARA, 2013).
Não demorou muito e seus limites do plano urbano foram
transpassados devido a seu aumento vertiginoso, decorrido de sua posição como
cidade à frente de uma rede urbana implantada pela própria Companhia de Terras
Norte do Paraná (CTNP):
Mais uma vez explicita-se que esta cidade que começou a ser
construída em 1929, com 250 quadras, foi durante algum tempo, toda
a cidade [...] Contudo as relações econômico-sociais estabelecidas
em Londrina e em grande parte do Norte do Paraná, foram tão
dinâmicas via pequena produção mercantil, que rapidamente o plano
urbano foi ultrapassado, oriundo das primeiras incorporações de
terras de uso rural ao urbano, por meio de loteamentos não
controlados pela CTNP (FRESCA 2007, apud ALCANTARA 2013, p.
259).
Essa expansão não se limitou ao plano e ganhou maior força com a
implementação da ferrovia na cidade, como forma de escoar o café produzido,
colocando Londrina/PR como centro importante de produção e escoamento do café.
Tal fato culminou no processo de modernização da cidade:
Com o sistema ferroviário contribuindo para o transporte da produção
agrícola, principalmente do café, Londrina se tornou a capital mundial
do café, sendo produzida sob o símbolo da modernidade. No
processo de construção da cidade, no entorno da área da ferrovia
encontra-se a Praça Rocha Pombo, estação rodoviária e uma
quantidade razoável de hotéis, já que a maioria do fluxo de pessoas
passava pelo sistema de transporte tanto ferroviário como rodoviário.
Esses hotéis, Berlim e Village principalmente, são resquícios da
quantidade de investimentos que a cidade recebia na época com o
objetivo de tornar a cidade moderna. (PRANDINI, 1954 apud,
CRISTAL, 2008, p.23-24).
Com o processo de verticalização e de modernização da cidade de
Londrina/PR, temos que suas áreas de valorização são caracterizadas pelas suas
59
expansões espaciais através de investimentos entre gestores privados e o poder
público.
O processo de duplicação e extensão da Avenida Madre Leônia Milito
até a PR-445 pode ser definida como o início e pré-condição para
essa mudança, sendo próximo da fase da construção do Shopping
Center Catuaí. Tanto a inauguração da nova avenida quanto a
construção do Catuaí, em novembro de 1990, levaram à valorização
da área. Destacamos essas duas obras, pois elas serviram também
para modificar no imaginário do londrinense a associação dessa
região com chácaras e o limite urbano.
[...]
Outro fator que permitiu a valorização da área foi à imagem ambiental
associada aos empreendimentos verticais e horizontais na Gleba
Palhano. Algumas construtoras incorporaram o Lago Igapó II, como
um atrativo a mais para a aquisição de um empreendimento formado
por edifícios altos. (SILVA E CARVALHO, 2011, p.9)
As autoras também destacam um fato de grande importância para
entendermos como funciona a lógica de vendas dos incorporadores imobiliários. Ao
vender um produto que atende desde demandas como, segurança, lazer e
infraestrutura, os mesmos utilizam do fator ambiental para caracterizar a área como
um local ecologicamente correto e aprazível, agregando ainda mais valores a esta
área.
Deste modo, é possível dividir o processo de ocupação da Gleba Palhano em
três momentos distintos: o primeiro é referente à antes da construção da cidade de
Londrina pela Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), com as incursões de
Mábio Palhano na região, que delimitou as primeiras áreas da Fazenda Palhano,
originária da Gleba Palhano; o segundo momento advém do parcelamento e do
loteamento dos 750 alqueires que seu herdeiro adquiriu, caracterizando a
fragmentação do espaço e por fim a maior característica da terceira fase advém, a
partir de 1992, da inserção da área rural da Gleba Palhano para a parte urbana da
cidade, com obras de melhorias executadas pelo poder público local. (SILVA E
CARVALHO, 2011).
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este trabalho culminou no acesso de textos e artigos que contribuem para a
análise referente à temática exposta, com pesquisa entre estes citados, que
resultaram nas considerações expostas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
60
Para a analisarmos o caso da Gleba Palhano em Londrina/PR consideramos
esclarecer e trabalhar pelo viés da segregação socioespacial, um conceito importante
a se estudar por fazer parte do processo de produção do espaço urbano e por estar
ligado diretamente com o estudo de caso além de outros aspectos.
Segundo Vieira e Melazzo (2003, p.162):
O uso generalizado do conceito segregação urbana deu-se,
primeiramente, com os pensadores da denominada Escola de
Chicago, nos anos de 1930/1940, através da qual procuravam
explicar e/ou entender a escolha/preferência pela localização
residencial de diferentes famílias ou indivíduos de diferentes classes
de renda, nos espaços internos das cidades estadunidenses.
A Escola de Chicago tendia a naturalizar processos sociais bem como analisar
a partir apenas da paisagem. O fenômeno de segregação urbana era visto de forma
natural não abarcando assim de forma aprofundada a fim de compreender o papel dos
agentes envolvidos e das forças ideológicas que faziam parte das escolhas dos
indivíduos e das famílias em relação aos lugares distintos e separados pelas classes
sociais no espaço urbano.
No caso da Gleba Palhano em Londrina/PR, poderíamos tratar a segregação
através da expressão “segregação urbana”, pois trata-se de processos relativos aos
espaços dos citadinos, mas escolhemos utilizar a expressão “segregação
socioespacial” porque nesta abarcamos duas dimensões importantes, tanto a atuação
social, quanto a produção espacial pelos mesmos. Esse ponto é defendido a partir de
Sposito (2013, p. 66) quando a autora afirma que é somente no espaço que a
segregação pode se revelar, pois se trata de uma dinâmica socioespacial da cidade e
que em sua essência é um processo.
Embora seja espacial, sua ocorrência não é intrínseca as formas
espaciais ou explicadas por elas, muito ao contrário, como todo
processo ela tem forte relação com as ações que a constituem e que
colocam em marcha (tanto quanto representam) visões de mundo e
sociedade.
Sposito (2013) lança ao debate as novas formas de segregação
socioespacial, que atualmente fazem parte de uma miríade mais complexa nas
discussões teóricas sobre os processos de estruturação do espaço urbano e
apresenta as nomeações para os tipos de segregações como os “enclaves
fortificados” (CALDEIRA, 2000), a “autossegregação” (CORRÊA, 1989), o
“autoenclausuramento” (SOUZA, 2000) e a “formação de territórios exclusivos”
(SEABRA, 2004).
61
A segregação ao qual vemos se classifica na ocupação de um bairro por uma
classe social devido ao destino dos empreendimentos que são todos modelos de alto
padrão, demonstrando a separação de uma classe social para com outras classes,
reforçando o sentido de autossegregação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do estudo do caso da Gleba Palhano, observamos como ocorre o
processo de valorização da terra e através desta podemos apreender o processo
espacial de segregação socioespacial que é presente na morfologia urbana, e reforça
a espacialização de bairros de alto padrão, não fechados ao público, mas de difícil
acesso pelo valor elevado.
Por ser um processo de menos de 30 anos, o caso da Gleba Palhano é bem
elucidativo para entendermos como o capital incorporador, neste caso, o imobiliário,
age para a construção da cidade. As áreas não urbanizadas aguardam um processo
de valorização da terra para a construção de novos empreendimentos.
Com isso, fica evidente o processo de segregação socioespacial na cidade de
Londrina/PR, pois, só habita esses lugares, no caso da Gleba Palhano, famílias de alto
poder aquisitivo, enquanto os outros segmentos sociais não possuem acesso a estes,
condicionando o espaço destas pessoas, que acabam compartimentando o espaço
urbano em áreas residenciais fragmentadas através da sua capacidade de consumo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALCANTARA, D. M. Centralidade e dinâmica imobiliária e Londrina (PR): Considerações a partir da Avenida Tiradentes. Caminhos da Geografia, Uberlândia, v.14, n.15, Mar/2013.
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CRISTAL, J. Análise do processo de verticalização através da modelagem tridimensional em uma região do Bairro Gleba Palhano – Londrina, PR: um instrumento metodológico para o planejamento urbano. 2008. 122f. Monografia (Bacharelado em Geografia). Universidade Estadual de Londrina. Londrina.
PAULA, Rubia Graciela. A verticalização Gleba Palhano – Londrina - PR: Uma análise da produção e consumo da habitação. 2006. Monografia (Bacharelado em Geografia) - Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina/PR. 119p.
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62
Preliminares. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA URBANA, 12, 2011, Belo Horizonte, Anais... Belo Horizonte, 2011.
SOUZA, M.J.L. Região, bairro e setor geográfico. In: Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013, p. 135 – 162.
SPOSITO, M. E. B. Segregação socioespacial e centralidade urbana. In: CORRÊA, R. L. (Org.) PINTAUDI, S. M. (Org.) VASCONCELOS, P. A. (Org.). A cidade contemporânea: Segregação Socioespacial. São Paulo: Editora Contexto, p.61 – 92, 2013.
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VIEIRA, A. B. MELAZZO, E. S. Introdução ao conceito de segregação socioespacial. In: Revista Formação (Presidente Prudente), v.1, n.10, p.161-173, 2003.
63
APONTAMENTOS SOBRE A FORMAÇÃO DE PARQUE TECNOLÓGICO COMO ALTERNATIVA AO DESENVOLVIMENTO REGIONAL12
João Vítor dos Santos da Silva
E-mail: jaovs@live.com Graduação em Geografia
Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Campus de Presidente Prudente
Gabriel Mendes Araújo
E-mail: mendesaraujo83@gmail.com Graduação em Geografia
Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Campus de Presidente Prudente
INTRODUÇÃO
Este artigo tem por objetivo discutir o papel dos parques tecnológicos como
agente de desenvolvimento regional a partir de um debate teórico e conceitual sobre a
origem e formação dos parques.
Não existe consenso sobre o conceito de parque tecnológico. Parques
tecnológicos são ambientes de inovação, ou seja, são empreendimentos criados e
geridos com o objetivo de promover pesquisa e inovação na área tecnológica, bem
como estimular a cooperação entre instituições de pesquisa, universidades e
empresas, proporcionando oportunidade para as empresas transformarem as
pesquisas em produtos.
A Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos
Inovadores - ANPROTEC, criada em 1987, considera os parques tecnológicos como
sendo:
[...] um complexo produtivo industrial e de serviços de base científico-tecnológica planejado, de caráter formal, concentrado e cooperativo, que agrega empresas cuja produção se baseia em pesquisa tecnológica desenvolvida nos centros de P&D vinculados ao parque. Trata-se de um empreendimento promotor da cultura da inovação, da competitividade, do aumento da capacitação empresarial, fundamentado na transferência de conhecimento e tecnologia, com o objetivo de incrementar a produção de riqueza de uma região [...] (ANPROTEC, 2003, p. 46).
Nesse sentido, o parque tecnológico funciona como facilitador do processo
inovador, abrigando um tipo específico de empresa, ou seja, aquela empresa que
investe em atividades científicas e tecnológicas objetivando inovar. Dessa forma, se
faz necessário compreender o conceito de inovação, pois inovar é tornou-se
12
Este trabalho faz parte de discussões realizadas junto ao trabalho de conclusão de curso intitulado “Formação do parque tecnológico de Marília: promoção para o desenvolvimento local e regional” e ao projeto de iniciação científica “A formação do parque tecnológico de São José do Rio Preto e seu papel no desenvolvimento regional”, dos respectivos autores, sob a orientação da Profa. Dra.
Maria Terezinha Serafim Gomes.
64
indispensável e a procura por novas formas que garantem a inovação, um imperativo.
(MELO, 2015)
De acordo com Melo (2015, p.31), “[...] a inovação pressupõe o surgimento do
novo e pode revelar, no momento de sua manifestação, algo até então inédito”. De
acordo com Melo (2015), a invenção e inovação não são sinônimos, pois o ato de
inventar não significa necessariamente que seus resultados serão utilizados ou trarão
modificações nas configurações vigentes. Nesse sentido, Vale (2012) afirma que “[...]
a invenção consiste numa primeira ideia para se criar um novo produto ou processo,
enquanto inovação é a tentativa de concretização efetiva de uma ideia inicial”
(VALE,2012 apud MELO, 2015,p.31)
Hughes defende a ideia de que:
A fase da invenção pode ser subdividida em radical, quando se inaugura um novo sistema, ou conservadora, quando há melhora ou expansão de sistemas já existentes. Após o processo inventivo, há a incorporação de outras características – econômicas, políticas, sociais – para que a invenção torne-se apta a ser utilizada. É o
processo da transformação da invenção em inovação. (HUGHES, 2008 [1987], p. 122 apud MELO 2015 p. 32)
É de extrema importância ter o conhecimento de um conceito que advém
junto com a questão da inovação, que é o meio inovador, formulado pelo economista
francês Philippe Aydalot no início dos anos 1980. Para ele, é no meio inovador que as
inovações surgem. O meio inovador possui papel determinante como incubador de
inovações e as empresas não podem ser consideradas agentes isolados no processo
de inovação. (MELO, 2015,p.23)
Para Aydalot, a inovação possui ligação com o território, com características
do lugar e, portanto, sua atenção recai mais nas formas de emergência da inovação
que sobre a difusão do progresso técnico. (AYDALOT, 1986, apud MELO,2015,p.43)
Para o Groupe de Recherche Européen sur les Milieux Innovateurs (GREMI)
criado por Aydalot em 1984, meio inovador é
[...] um conjunto territorializado no qual as interações entre os agentes econômicos se desenvolvem por meio da aprendizagem que eles fazem das transações multilaterais geradoras de externalidades específicas à inovação e pela convergência dessas aprendizagens em formas cada vez mais eficientes na gestão conjunta dos recursos [...]. (MAILLAT, QUÉVIT,SENN, 1993 apud MELO, 2015, p. 44).
Os primeiros parques tecnológicos do mundo surgiram nos Estados Unidos
na década de 1940, entre eles, o mais conhecido é o Vale do Silício, num ambiente
mais notável da “Revolução da Tecnologia da Informação” (CASTELLS, 2000). O
impulso tecnológico no vale se deu quando surge do governo norte-americano, um
esforço para superar os radares alemães durante a segunda guerra mundial. Sendo
65
assim, a Universidade de Stanford começou a receber incentivos governamentais para
pesquisas militares e para desenvolver uma escola de Engenharia. Um dos incentivos
foi o licenciamento de propriedade, que facilitou que os alunos da Universidade
iniciassem suas próprias empresas. Houve também, a redução de impostos sobre
ganhos de capital de 48% para 28%, ampliando a disponibilidade de crédito e
permitindo a abertura de empresas como Apple, Netscape, Yahoo! e Microsoft. Alguns
escritórios de advocacia também se mudaram para a região, visando dar suporte legal
às empresas ali instaladas. (ANTROPEC,2010,p.10) Além dessa experiência do Vale
do Silício, outro modelo de parques tecnológicos nos EUA é na Rota 128, em Boston,
impulsionado pelas universidades: Harvard e Massachusetts Institute of Technology
(MTI).
A partir dos anos 1970, influenciados pelo sucesso dos Estados Unidos
surgiram várias iniciativas de parques tecnológicos na Europa, particularmente no
Reino Unido com as universidades Cambridge, na Inglaterra e Heriot-Watt, na
Escócia13 e na França na região de Sophia-Antipolis14, respectivamente, com o
objetivo de promover o processo de interação universidade-empresa, fomentando a
geração de rede de cooperação e inovação. Além dessas experiências, surgiram
outras na Ásia, como Coréia do Sul e Japão, com a criação de technopolis
(tecnópoles) com o objetivo de criar novas tecnologias e desenvolver regiões
atrasadas do país. (CASTELL e HALL, 1994; MELO 2015).
No Brasil, as primeiras iniciativas de “parques tecnológicos” surgem a partir
da criação de um Programa do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa), em 1984, que
passou a apoiar essa iniciativa.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O artigo em questão baseou-se em revisão bibliográfica sobre a temática de
parques tecnológicos, inovação, condições gerais de produção. Além disso,
realizamos pesquisas e coletas de dados em sites da ANTROPEC, SPTec e Ministério
da Ciência e Tecnologia.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
13
As universidades cederam espaço para construção de science park (parques científicos) com objetivo de aproximar a indústria da universidade. (MELO, 2015) 14
Sophia-Antipolis foi planejado para ser uma technopôle.
66
No Brasil, os parques tecnológicos surgiram a partir da década de 1980,
graças aos investimentos e incentivos a projetos de inovação, além da criação do
Programa Brasileiro de Parques Tecnológicos pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os projetos de parques
tecnológicos da época não obtiveram os resultados esperados como os de grandes
centros mundiais de inovação, como o Vale do Silício (EUA). Nos anos 1990 há uma
retomada das discussões sobre parques tecnológicos e incubadoras, dada a
necessidade de competitividade das empresas brasileiras frente ao mundo
globalizado. (MELO, 2015) Todavia, foi partir dos anos 2000, com os governos Luiz
Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousself (2011-2016), que foram criadas
várias leis voltadas para o apoio à inovação, como a Lei de Inovação (Lei 10.973/04),
a Política Industrial Tecnológica e de Comércio Exterior – PITCE (Lei 11.020/04), o
Programa Nacional de Apoio às Incubadoras de Empresas e aos Parques
Tecnológicos (PNI), em 2009 e o Plano Brasil Maior, em 2011. Nesse período, ocorre
uma aproximação entre a produção de inovação e o desenvolvimento de políticas
públicas. Assim, a partir dos anos 2000 a ideia de Parques Tecnológicos voltou a se
fortalecer como alternativa para promoção do desenvolvimento tecnológico,
econômico e social.
Em 2006, o governo do Estado de São Paulo criou o Sistema Paulista de
Parques Tecnológicos (SPTec), que dá apoio e suporte aos parques tecnológicos,
com o objetivo de atrair investimentos e gerar novas empresas intensivas de
conhecimento ou de base tecnológica, que promovam o desenvolvimento econômico
do Estado. Atualmente, são 28 iniciativas, sendo 13 parques em funcionamento, 7
iniciativas com credenciamento provisório e outras 8 em negociação. (ESTADO DE
SÃO PAULO, 2016).
Segundo a ANTROPEC (2016), atualmente o Brasil possui 80 parques
tecnológicos, com 939 empresas, gerando um total de 29.909 empregos. A maioria
dos parques tecnológicos está concentrada nas regiões Sul e Sudeste, conforme pode
ser observado na figura 1. Essa concentração deve-se a densidade técnica, científico-
informacional (SANTOS, 1996) e as condições gerais de produção15 (Lencioni, 2007)
presentes nessas regiões, tornando-as algumas cidades capazes de atender a
demanda de sua instalação, como presença de universidades, institutos de pesquisas,
serviços especializados, rede de circulação material e imaterial.
15
O conceito de condições gerais de produção foi recuperado por Lencioni (2007).
67
FIGURA 1: Brasil: a presença de Universidades e parques tecnológicos – 2013 Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia (2013, p. 22)
A partir do mapa acima podemos verificar a importância das
universidades/institutos federais de educação para a consolidação de um parque
tecnológico, em todas as fases de um (projeto, implantação ou operação). Na região
oeste do Estado de São Paulo há três projetos de parques tecnológicos em
andamento, Marília, São José do Rio Preto e Araçatuba.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os parques tecnológicos são ambientes de inovação, surgem de parcerias
entre universidades e empresas, juntamente com os incentivos do governo, seja ele
federal, estadual ou municipal. Atualmente, busca-se associar os parques tecnológicos
ao desenvolvimento regional, pois poderá contribuir com o aumento no índice de
emprego, renda e educação de uma determinada região.
A iniciativa dos parques tecnológicos em uma determinada região é tida pelas
variações e condições de um terminado território. Ou seja, a inovação (é o que
promove o funcionamento e as atividades de um parque.) possui ligação com o
território, com características do lugar, tornando seletivos os espaços para a instalação
de um parque tecnológico.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
68
ABDI & ANPROTEC. Parques Tecnológicos no Brasil: Estudo, Análise e Proposições. 2008. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE ENTIDADES PROMOTORAS DE EMPREENDIMENTOS DE TECNOLOGIAS AVANÇADAS - ANPROTEC. Estudo de Projetos de Alta Complexidade: Indicadores de Parques Tecnológicos. Disponível em: http://www.anprotec.org.br/Relata/PNI_FINAL_web.pdf. Acesso em: 16 de setembro 2016 AYDALOT, P. Trajectoires Technologiques et Milieux Innovateurs. Neuchâtel: GREMI. 1986. Disponível em: <http://wwwa.unine.ch/irer/Gremi/Gremi%201.pdf>. Acesso em: 09 de ago. 2016. CASTELLS, M. A sociedade em rede. 4ª edição. São Paulo: Paz e Terra, 2000. HUGHES, T. P. La evolución de los grandes sistemas tecnológicos. In: Actos, actores y artefatos: sociologia de la tecnologia. 1ª. Edição. Bernal: Universidad Nacional de Quilmes, 2008. LENCIONI, S.Condições gerais de produção: um conceito a ser recuperado para a compreensão das desigualdades de desenvolvimento regional. Revista Scripta Nova. v. XI, n. 245 (07), 1 de ago. 2007. MELO, R. de C.N., Parques Tecnológicos no estado de São Paulo: incentivo ao desenvolvimento regional. 2014. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade de São Paulo (USP). MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Estudo de Projetos de Alta Complexidade: indicadores de parques tecnológicos. Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação- Brasília: CDT/UnB, 2013. Disponível em: http://www.mct.gov.br/upd_blob/0228/228606.pdf. Acesso em: 17 de set. 2016. OLIVEIRA, A. L.; OLIVEIRA, E. A. A. Q; PEREIRA, M. J. Origens dos Parques Tecnológicos e as Contribuições para o Desenvolvimento Regional Brasileiro. Latin American Journal of Business Management. 2016. SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996. SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO (SDECTI-SP). Parques Tecnológicos. Disponível em: http://www.desenvolvimento.sp.gov.br/parques-tecnologicos. Acesso em: 27 de abr. 2016 SPOLIDORO, R. Parque Científico e Tecnológico da PUCRS. Porto Alegre, 2008.
69
CENTRO E CIRCUITO INFERIOR DA ECONOMIA URBANA EM LONDRINA
Mariana Aparecida Gazolla E-mail: marianagazolla@hotmail.com
5º ano de Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
Campus de Presidente Prudente Pesquisa submetida à FAPESP
INTRODUÇÃO
Em meio ao contexto do acelerado processo de urbanização ocorrido nos
países subdesenvolvidos, em meados do século XX, e, consequentemente, o
surgimento de atividades urbanas de baixa produtividade que agregavam a mão-de-
obra não absorvida, surgiram novas teorias que procuravam dar conta dessa nova
realidade. Sendo assim, surgiu a Teoria dos circuitos da economia urbana, proposta
por Milton Santos, na década de 1970, que propunha uma análise levando em
consideração tanto a dimensão histórica, quanto a especificidade do espaço em
análise. Para SANTOS (2008), dentro do sistema urbano existe a presença de dois
subsistemas, que são denominados de circuitos econômicos: o circuito superior e o
circuito inferior da economia urbana.
O circuito superior da economia urbana se utiliza de tecnologia importada e
de alto nível, ou seja, uma tecnologia de capital intensivo, tendo um caráter imitativo.
Ele é constituído por bancos, comércio e indústria de exportação, indústria urbana
moderna, serviços modernos, atacadistas e transportadores. E o circuito inferior da
economia urbana é constituído por formas de fabricação de capital não intensivo,
serviços não-modernos fornecidos à varejo e pelo comércio não-moderno de pequena
dimensão. Devido seu abastecimento ser proveniente, direta ou indiretamente, do
circuito superior da economia, ele é dependente desse circuito (SANTOS, 2008).
Essa pesquisa, sob orientação da Profª. Drª. Maria Encarnação Beltrão
Sposito, propôs uma atualização da Teoria dos dois circuitos da economia urbana, no
sentido de tentar entender como o circuito inferior, atualmente, têm se apropriado de
ferramentas e equipamentos que antes eram pertinentes somente ao circuito superior,
juntamente com outras pesquisas vinculadas ao projeto temático: “Lógicas
Econômicas e práticas espaciais contemporâneas: cidades médias e consumo”, do
qual essa pesquisa faz parte, onde se estuda as lógicas socioeconômicas e
socioespaciais dentro das cidades médias, escolhendo a cidade de Londrina/PR para
tal análise.
70
Neste trabalho traremos somente alguns resultados da pesquisa: os ramos
comerciais presentes na área de estudo e sua disposição geográfica em relação ao
camelódromo; e a forma de aquisição e de crédito utilizados pelos consumidores.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a realização dessa pesquisa foram realizados os seguintes
procedimentos metodológicos: levantamento de referencial teórico referente à temática
da pesquisa; e realização de trabalhos de campo para delimitar e mapear a área de
estudo, assim como para a aplicação de enquetes e tomada de depoimentos dos
comerciantes;
A área de estudo, inicialmente, foi a mesma adotada por RIBEIRO (2010),
que delimitava uma área de influência que o camelódromo de Londrina exercia sobre o
comércio popular em seu entorno (figura 1). Após a realização do trabalho de campo,
verificou-se a expansão dessa área de influência do camelódromo, levando a uma
nova delimitação da área de estudo (figura 2).
FIGURA 1 FIGURA 2
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através do levantamento do comércio na área de influência do camelódromo
de Londrina/PR, foi possível classificá-lo de acordo com os ramos de atividades,
conforme podemos observamos no gráfico 1:
71
GRÁFICO 1: Àrea de influência por ramos de atividades.
Dentre os ramos com maior representatividade na área de estudo podemos
destacar o setor de vestuário, com 56 estabelecimentos sendo, portanto, o ramo mais
presente na área de influência do camelódromo, representando 33% do total de
estabelecimentos; e os eletrônicos e as galerias, que vendem produtos eletrônicos em
sua grande maioria, que juntos representam 10% dos estabelecimentos. Além dessas
categorias de comércio de bens, elencamos uma categoria chamada outros, que
agrega estabelecimentos que comercializam serviços na área de influência do
camelódromo, além de estabelecimentos que ofereçam comércio de bens que não
possuam mais do que 2 edificações com o mesmo ramo de atividade, que contabilizou
um total de 67 estabelecimentos, representando 34% do total.
A disposição geográfica dos estabelecimentos, em relação ao camelódromo,
não apresenta nenhum padrão e se configura da seguinte forma (mapa 1):
72
MAPA 1: Disposição geográfica na área de influência do camelódromo por ramos de atividade
Através das enquetes, foi possível também verificar quais as formas de
pagamento mais utilizadas pelos consumidores desse espaço. Observando o gráfico
2, podemos constatar que mais de 80% dos entrevistados usam dinheiro como a
principal forma de pagamento dos produtos e serviços adquiridos na área; entretanto
há um número bem expressivo de consumidores que utilizam o cartão de crédito como
forma de pagamento (42%), mostrando que o circuito inferior cada vez mais vêm
usufruindo de meios e equipamentos que eram pertinentes somente ao circuito
superior da economia; 2,4% dos entrevistados utilizam outras formas de pagamento,
como por exemplos, crediários em estabelecimentos que ainda oferecem essa
alternativa. Tanto na aplicação de enquetes aos consumidores, quanto na tomada de
depoimentos com os comerciantes desse espaço, não há mais a utilização de
cheques, visto o advento do cartão de crédito.
GRÁFICO 2: Formas de aquisição de crédito dos consumidores da área de influência
do camelódromo de Londrina
CONSIDERAÇÕES FINAIS
73
Através da sistematização dos dados e sua posterior análise, tendo como
âncora o referencial teórico debatido nessa pesquisa, podemos perceber uma
mudança na teoria dos circuitos da economia urbana, formulada por Milton Santos na
década de 1970. Mudança essa que o autor prevê visto que afirma que o circuito
inferior da economia vive em permanente processo de transformação e adaptação.
Nesse sentido, podemos afirmar que cada vez mais o circuito inferior vem se
apropriando de ferramentas e equipamentos (leia-se financeirização e creditização)
que antes eram pertinentes somente ao circuito superior, como mostram os dados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORIM, W. V. A produção social do espaço urbano em Londrina - PR: a valorização imobiliária e a reestruturação urbana. 2011. Dissertação (mestrado em Geografia) - Faculdade de Ciências e Tecnologia. UNESP, Presidente Prudente, 2011. RIBEIRO, G. B. Comércio popular e consumo - Articulações entre os circuitos superior e inferior da economia urbana em cidades médias: Presidente Prudente e Londrina. 2016. Monografia (Bacharelado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia. UNESP, Presidente Prudente, 2016. RIBEIRO, G. da S. A influência do camelódromo de Londrina sobre o comércio formal de seu entorno. 2010. Dissertação (Mestrado em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010. SANTOS, M. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. São Paulo: Edusp, 2008.
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74
INFLUÊNCIA DA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE PRESIDENTE PRUDENTE PARA A REGIÃO DA ALTA SOROCABANA
Beatriz Emboaba da Costa
E-mail: beatriz.emboaba@gmail.com Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação Campus de Bauru – SP
Mariana Maia Cruz Fernandes
E-mail: marianamaia.cruzf@gmail.com Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação Campus de Bauru – SP
INTRODUÇÃO
O presente trabalho (elaborado para este evento) trata do município de
Presidente Prudente-SP, apresentando sua economia pioneira até os dias atuais, com
objetivo de mostrar a influência econômica do município para a região16 (destacando
as modificações econômicas do centro e apontando como os consumidores e
empresas dependem da cidade).
Abreu (1972) explana sobre a economia prudentina desde a alta do café na
década de 20 e 30, o que trouxe a colonização ao município; e algodão e pecuária ao
final da década de 30 e 40, trazendo assim o surgimento das indústrias de
beneficiamento de algodão associando e somando um processo de urbanização.
Presidente Prudente já era considerada um local de referência econômica
para a região desde a década de 20, inclusive, o município exercia influência
comercial ao norte do Paraná, como diz Abreu (1972) ao mencionar a importância da
Estrada do Paraná.
Sobre a urbanização do município, Miño (2004) escreve que o centro de
Presidente Prudente surgiu com o principal objetivo de se implantar um conjunto de
comércios e serviços a partir do loteamento das fazendas e futura venda. Segundo
Abreu, Presidente Prudente teve importância para a vizinhança agrícola existente na
época, tendo o meio urbano uma grande variedade de comércios (farmácias, bares,
açougues, lojas de tecidos, etc.). “[...] a cidade desempenhou desde cedo, o papel de
16
Santo Anastácio, Presidente Venceslau, Presidente Bernardes, Regente Feijó, Martinópolis, Álvares Machado, Alfredo Marcondes, Indiana, Piquerobi, Pirapozinho, Presidente Epitácio, Anhumas, Caiabu, Caiuá, Marabá Paulista, Mirante do Paranapanema, Taciba, Sandovalina, Santo Expedito, Tarabai, Estrela do Norte, Narandiba, Teodoro Sampaio, Rosana, Euclides da Cunha, Emilianópolis e Ribeirão dos Índios.
75
mercado abastecedor e receptor da produção agrícola de sua vizinhança.” (ABREU,
1972, p.158)
O município foi classificado como núcleo urbano mais desenvolvido da região
na década de 30; a elevação de Presidente Prudente (distrito, município e comarca) foi
importante economicamente (ABREU, 1972). Na década de 30 formou-se o primeiro
“aparelhamento industrial” da cidade, com empresas como Matarazzo e SANBRA
(GOMES, 2007). As empresas eram instaladas nas margens da ferrovia, em toda Alta
Sorocabana (SILVA, 2002). A proximidade da ferrovia era essencial para a logística de
transporte (chegada da matéria-prima e escoamento dos produtos) e a circulação de
pessoas.
Nas décadas de 40 e 50 surgem indústrias “de origem familiar e capital local”
como Bebidas Funada, ainda em funcionamento. A indústria prudentina dependeu da
agricultura até os anos 70, pois essas empresas dependiam do capital advindo da
agricultura e comércio (ABREU, 1972; GOMES, 2007).
Ocorreu a crise dos produtos agrícolas na década de 60 e 70, encerrando um
ciclo (GOMES, 2007), iniciando o ciclo da frigorificação da carne bovina (SILVA, 2002).
A decadência das ferrovias e ascensão das rodovias também foram importantes para
o encerramento do ciclo e uma nova logística de transporte (MATOS, 1981).
Passou a ser mais importante, as indústrias se localizarem próximo das
rodovias formando os distritos industriais, com algumas vantagens: espaço para
ampliação, incentivo fiscal e doação de terrenos (GOMES, 2007).
Dessa forma, o centro perdeu a concentração industrial e consolidou-se como
centro comercial, tendo influência regional, assim, também, como o Prudenshopping (o
maior centro de compras da região). Miño (2004) destaca que esses locais atuam de
formas diferentes: grupos com maior poder aquisitivo frequentam o Prudenshopping,
enquanto ocorre a popularização do comércio no centro.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O trabalho apresentado trata-se de uma revisão bibliográfica, baseada em
conteúdo de conhecimento prévio dos autores, que na condição de arquitetos e
urbanistas, já haviam apresentado estudos sobre Presidente Prudente com ênfase
histórica ou análises urbanísticas. A bibliografia aqui inserida foi estudada, de forma a
se adequar ao eixo temático sugerido pelo evento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
76
A partir da pesquisa elaborada em torno do início da economia de Presidente
Prudente e de seu desenvolvimento até os dias atuais, é notável a grande importância
econômica do município para a região. Se tornou um grande centro, apresentando
serviços especializados que os municípios vizinhos não são capazes de fornecer.
Ocorreu a mudança de localização das indústrias (antes próximas à estação
férrea e centro, hoje, nas periferias em distritos industriais) e mudança dos produtos
(até a década de 70 eram ligados à agricultura e alimentação). Segundo Silva (2002),
hoje, existem mais de 1000 indústrias em diversos ramos.
Porém também é percebido o surgimento de outros centros comerciais (como
o Prudenshopping) e consequentemente a segregação social; existindo a
diferenciação do poder aquisitivo do público que frequenta o centro e o
Prudenshopping, como apresenta Miño: “Essa relação pôde ser constatada por
Sposito (2001) [...] a centralidade é polinucleada não só do ponto de vista funcional,
mas também socioespacial, em função dos diferentes padrões de consumo que são
estimulados e realizados” (MIÑO, 2004, p.99)17.
O fato de Presidente Prudente ser uma cidade polinucleada18 mostra a
importância econômica em relação à região e como a cidade consegue suportar a
demanda comercial, de serviço e industrial. O centro comercial abrange uma área
maior que o “centro tradicional”19 (LIMA; WHITACKER, 2006)20, e a cidade possui dois
shopping centers. Além disso, Pereira (2002) destaca que as principais avenidas21 têm
a predominância do uso comercial e de serviços (PEREIRA, 2002).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizando este trabalho, tem-se a percepção e entendimento da formação
de um grande polo comercial e econômico, assim como a permanência desse título
por mais de 90 anos. A cidade é polinuclear em relação ao comércio, serviço e
indústria. O centro tradicional, a presença de dois shoppings e a predominância do uso
17
Miño faz uma citação indireta de Sposito. 18
De acordo com Miño (2004, p. 113 e 114), com a acumulação capitalista os espaços se tornam homogêneos, causando assim, no plano intra-urbano, a existência de um centro comercial tradicional, novos centros e shopping centers. 19
Centro tradicional ou principal, de acordo com Miño (2004, p. 97), é aquele onde ocorria o footing, sendo caracterizado por uma interação social, oferecendo lazer à população mais do que comércio, além do importante valor simbólico. Miño destaca que “O centro continua sendo um espaço importante na cidade para o consumo; o que verificamos é uma tendência à segmentação no uso desse espaço [...]” (MIÑO, 2004, p. 99). 20
Lima e Whitacker (2006) escrevem que a expansão do centro tradicional ocorre por diversos fatores como a localização da área central, tamanho da cidade, funções urbanas (os autores usaram como referência a Dissertação de Mestrado de Whitacker, 1997). 21
Avenida Coronel José Soares Marcondes, Avenida Brasil, Avenida Manoel Goulart e Avenida Washington Luiz.
77
comercial e de serviços nas principais avenidas reforçam a influência da cidade na
região e a capacidade de absorver a demanda regional.
Além disso, há a compreensão de que um crescimento econômico abrupto,
de forma a atender os desejos atuais da sociedade, é um grande causador da
chamada segregação urbana e social. Problema esse, que quando não tratado e
contido com precisão, pode atingir dimensões tamanhas que fogem ao controle de um
bom desenvolvimento urbano social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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78
O SISTEMA FERROVIÁRIO NA REGIÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A FERROVIA SOROCABANA22
Carlos Eduardo Almeida Sampaio E-mail: carlos_eduardo.samp@hotmail.com
Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia- UNESP
NUPERG (Núcleo de Pesquisas e Estudos Regionais)
Maria Terezinha Serafim Gomes E-mail: tserafim@fct.unesp.br
Professora Doutora no departamento de geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia- UNESP
Campus Presidente Prudente NUPERG (Núcleo de Pesquisas e Estudos Regionais)
INTRODUÇÃO
No Brasil, as primeiras ferrovias surgiram em meados do século XIX, em 1858
a Estrada de Ferro Dom Pedro II, no Rio de Janeiro e, 1867, a Estrada de Ferro São
Paulo Railway, em São Paulo, para atender o escoamento da produção de café
destinada à exportação. A construção das ferrovias foi financiada tanto pelos capitais
externos quanto pelos capitais provenientes da monocultura do café, como, por
exemplo, a Estrada de Ferro São Paulo Railway, de capital inglês, em 1867.
No Estado de São Paulo, com o desenvolvimento da cultura do café, surgem
as Companhias ferroviárias, entre elas: a Companhia Paulista (1870), a Companhia
Ituana (1873), a Companhia Sorocabana (1876), a Estrada de Ferro Mogiana (1872) e,
posteriormente a Companhia de Estrada de Ferro Araraquara (1896). Todavia, com a
crise do café no final dos anos 1890 algumas ferrovias foram encampadas pelo Estado
e a partir de 1905 passam a ser arrendadas.
O sistema ferroviário paulista contribuiu para o desenvolvimento de cidades
do interior do estado de São Paulo e algumas ganharam importância regional.
(MONBEIG, 1984). Inicialmente, a ocupação consolidou se em torno da estrada de
ferro, reforçando as funções urbanas de cidades como Presidente Prudente,
Presidente Bernardes, Santo Anastácio, Presidente Venceslau e Presidente Epitácio.
Desse modo, a malha ferroviária passou acompanhar o desenvolvimento das
22
Este texto faz parte de discussões que vêm sendo realizadas no Projeto de Iniciação Científica
Sem bolsa, intitulado “O SISTEMA FERROVIÁRIO NA REGIÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE: UM
ESTUDO SOBRE A FERROVIA SOROCABANA”, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Terezinha
Serafim Gomes.
79
plantações de café, ou seja, a “Marcha do café” em direção ao Oeste. (MONBEIG,
1984). Todavia, na segunda metade do século XX com o desenvolvimento das
rodovias, as ferrovias perderam a importância e entraram em estagnação e,
posteriormente em decadência nos anos 1970. (STEFANI, 2007, SILVEIRA, 2002).
Na década de 1970, as ferrovias paulistas foram unificadas pelo governo do Estado,
passando a chamar FEPASA (Ferrovia Paulista S.A).
A partir dos anos 1990 ocorreram as privatizações de ferrovias federais
(RFFSA – Rede Ferroviária Federal S.A, Ferronorte, Norte-Sul, entre outras) e
estaduais (FEPASA – Ferrovia Paulista S/A e FERROPAR – Ferrovia Paraná S/A),
concedidas às empresas privadas, gerando um forte processo de reestruturação
(compra de locomotivas e vagões no mercado internacional, melhora nos sistemas de
logística e de comunicações, desativação de trechos considerados antieconômicos e
formação de oligopólios) no setor ferroviário brasileiro (SILVEIRA, 2002, p.67). Assim,
esse processo de privatização levou a fragmentação das ferrovias e passaram a dar
prioridades aos transportes de minérios e de commodities agrícolas para exportação.
Com o processo de privatização vários trechos de ferrovias foram
desativados, pois segundo as concessionárias não apresentam demanda para sua
manutenção, como é o caso do trecho da antiga ferrovia Sorocabana, entre Presidente
Prudente – Epitácio.
Este trabalho tem como objetivo tecer algumas considerações sobre o
sistema ferroviário no Estado de São Paulo, com ênfase a ferrovia Sorocabana, na
região de Presidente Prudente.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este texto faz parte de um projeto de iniciação científica em fase inicial. Para
atingir os objetivos propostos realizaremos as seguintes atividades: levantamento
bibliográfico nas bibliotecas da UNESP (Universidade Estadual Paulista), USP
(Universidade de São Paulo), UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), entre
outras e sites de revistas nacionais e estrangeiras; realização de revisão bibliográfica
acerca do tema. Além disso, realizaremos pesquisa em sites como: Ministério dos
Transportes; Secretaria dos Transportes do estado de São Paulo, ALL (América Latina
Logística); ANTT (Agência Nacional de transportes Terrestre); Fundação SEADE,
Sindicato dos Ferroviários, etc; realização de entrevistas e aplicação de questionários
em órgãos públicos e privados, como Prefeitura Municipal, Núcleo de
Desenvolvimento Regional de Presidente Prudente, União das Entidades de
Presidente Prudente (UEPP), entre outros.
80
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A região de Presidente Prudente, situada no extremo oeste do Estado de São
Paulo, possui uma população de 849.194 habitantes (SEADE, 2012). Segundo SEADE
(2012), a participação do PIB (produto interno bruto) per capita é de R$ 19.736,51 em
reais correntes, perfazendo 1,17 % do total da participação estadual, já PIB nominal
era 16.568,09 milhões em reais correntes, em 2012. Além disso, a RA de Presidente
Prudente conta com principais rodovias de acesso, a rodovia Assis Chateuabriand
(SP425), que liga o Paraná ao Oeste e Norte do Estado e a rodovia Raposo Tavares
(SP270), que liga a capital ao estado do Mato Grosso do Sul. Também conta com um
aeroporto regional e a ferrovia América Latina Logística-ALL (com trecho desativado),
antiga Sorocabana (Figura 1).
FIGURA 1 – Infraestrutura viária – Estado de São Paulo e RA de Presidente
Prudente
Fonte: Secretaria de Logística e Transportes. Elaboração: SPDR/UAM.
Os trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana23 chegaram ao município de
Presidente Prudente, em 1919. Desse modo, com a expansão da Estrada de Ferro
Sorocabana, uma importante forma de penetração e uma via de escoamento da
23
A Estrada de Ferro Sorocabana fundada em 1876, com o primeiro trecho até Sorocaba, se expandindo em 1922 até Presidente Epitácio, na atual região de Presidente Prudente. Em 1903, o governo federal assumiu a ferrovia e vendida ao governo paulista, em 1905. Em 1907 a ferrovia foi arrendada pelo grupo empresarial de Percival Farquhar, passando novamente para o governo do Estado em 1919. Em 1971 com a unificação das ferrovias estaduais, passa a fazer parte da FEPASA.
81
produção cafeeira, a colonização tornou-se mais fácil e rápida. Ao longo da ferrovia
multiplicaram-se os núcleos urbanos, dentre os quais Presidente Prudente cuja origem
está ligada a dois coronéis, - os senhores Francisco de Paula Goulart e José Soares
Marcondes24.
As ferrovias tiveram papel fundamental para a região Oeste do Estado de São
Paulo25, pois antes da desativação da ferrovia Sorocabana (2003) a malha ferroviária
era utilizada para o transporte de passageiro para São Paulo (capital) e outras
cidades, bem como para o escoamento da produção local e regional até o porto de
Santos (SP) e Paranaguá (PR), ou seja, a região apresentava uma demanda por esse
tipo de transporte. Todavia, a concessionária responsável pelo trecho da ferrovia
Sorocabana na região de Presidente Prudente afirma que as ferrovias foram
desativadas porque não existe demanda, ou seja, não há o que transportar.
Com a desativação das ferrovias de Presidente Prudente e sua região, a
mesma perdeu um forte mecanismo de transporte para escoamento da sua produção,
além de passageiros. Das ferrovias existentes na região, grande parte está
desativada, sem qualquer possibilidade de ser novamente reativada, outras ainda em
funcionamento, encontram-se abandonadas.
Marques (2009) salienta que, o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas
Ferroviárias da Zona Sorocabana, junto com ONG- Proderpp (Núcleo de
Desenvolvimento Regional de Presidente Prudente), e outras entidades regionais e
universidades da região, se mobilizam junto a Agência Nacional e Transportes
Terrestres (ANTT), órgão responsável pelas concessões, exigindo a reativação do
trecho em nome da revitalização da economia regional.
O setor empresarial da região de Presidente Prudente afirma que existe
demanda de produção para o retorno da ferrovia, mas por outro lado, a América Latina
Logística (ALL) sinaliza que a empresa tem interesse em reativar o serviço, caso
realmente haja quantidade de produtos para tanto26.
A retomada da ferrovia na região contribuiria para o escoamento da produção
regional, além de trazer matéria-prima para as empresas, além do transporte de
passageiros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos dias atuais, a maioria dos investimentos em ferrovias está voltado para
atender aos objetivos de exportação de commodities. Porém, as necessidades do
24
Sobre a ocupação de Presidente Prudente, consultar Leite (1972). 25
Sobre o Oeste Paulista, consultar Saes (1981), Oliveira (2003), Silva (2008), Pupin (2008),entre outros. 26
Segundo informações obtidas em g1.globo.com.
82
Brasil em transporte vão muito além de atender somente as exportações. É necessário
repensar a situação atual das ferrovias e estabelecer outros usos para o sistema,
como instrumento estruturante do território, promovendo uma maior integração das
regiões através da circulação mais eficiente de mercadorias e pessoas. Além do mais
uma característica do transporte ferroviário de carga é sua grande capacidade de
carga e também o baixo custo de transporte. Desse modo, a reativação do sistema
ferroviário na região de Presidente Prudente poderá contribuir para a promoção da
integração territorial da região, bem como alavancar o desenvolvimento regional. A
ausência do transporte ferroviário causa um grande prejuízo econômico à região, às
empresas, à sociedade como um todo e ao meio ambiente, não só a região de Presidente
Prudente, mas também a todo o Estado de São Paulo. Com a desativação das ferrovias
de Presidente Prudente e sua região, a mesma perdeu um forte mecanismo de
transporte para sua produção.
Enfim, a ferrovia como infraestrutura logística é fundamental na organização
do território, como transporte de mercadorias e de passageiros. Além disso, pode
contribuir para alavancar o desenvolvimento regional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALL – América Latina Logística. Disponível em: http://pt.rumoall.com/default_pti.asp?idioma=0&conta=45. Acesso em: 24 de abril de 2016. ANTF- Associação Nacional dos Transportes Ferroviários. Disponível em: http://www.antf.org.br/index.php Acesso em: 26 de abril de 2016. ANTT- Agência Nacional de Transportes Terrestres. Disponível em: http://www.antt.gov.br/ . Acesso em: 27 de abril de 2016. BRASIL. Ministério dos transportes. Transporte ferroviário. Disponível em: http://www.transportes.gov.br/transporte-ferroviario.html . Acesso em: 25 de abril de 2016. DEVAUX, Pierre. As estradas de ferro. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1964. LEITE, José Ferrari. A alta sorocabana e o espaço polarizado de Presidente Prudente. Presidente Prudente: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, 1972. 249p. MARQUES, Paulo Passini. Técnica, modernização e produção do espaço: um estudo sobre o papel da estrada de ferro nas transformações sócio-espaciais da zona alta sorocabana. 2009. 179f. Dissertação (Mestrado em Geografia). Faculdade de Filosofia, Letras e ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. MARQUES, Sérgio de Azevedo. Privatização do sistema ferroviário brasileiro. Brasília: IPEA, 1996.
83
MONBEIG, Pierre. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. São Paulo: Hucitec:Polis, 1984. 392p. SILVA, Marcelo Werner da. A formação de territórios ferroviários no Oeste Paulista, 1868-1892. 2008. 331f. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. SILVA JUNIOR, Roberto F. A formação da infraestrutura ferroviária no Brasil e na Argentina. RA e GA (UFPR), v. 14, p. 19-33, 2007. SILVEIRA, M. R. Transporte e Logística: as ferrovias no Brasil. Geosul (UFSC), Florianópolis/SC, v.17, n.34, p. 118-130, 2002. _______. A Importância das Estradas de Ferro para o Brasil. Revista dos Transportes Públicos. São Paulo/SP, v. 24, n.95, p. 55-70, 2002. _______. Circulação, Transportes e Logística no Estado de São Paulo. 1. ed. Curitiba: Appris, 2014. v. 1. 250p. ________. A importância geoeconômica das estradas de ferro no Brasil. 2003. 454f. Tese (Doutorado em Geografia). Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente. STEFANI, Célia Regina Baider. O sistema ferroviário paulista: um estudo sobre a evolução do transporte de passageiros sobre trilhos. 2007. 307f. Dissertação (Mestrado em Geografia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências, Universidade de São Paulo, São Paulo. VENCOVSKY, V. P. Sistema ferroviário e o uso do território brasileiro: uma análise do movimento de produtos agrícolas. Dissertação de mestrado. São Paulo: Unicamp, Instituto de Geociências, 2005. 167 p.
84
TENDÊNCIAS DE INVESTIMENTOS NAS REGIÕES DE PRESIDENTE PRUDENTE E SÃO JOSÉ DO RIO PRETO27
Felipe Augusto Leite Vaz de Lima
E-mail: felipedotrombone@gmail.com Graduação em geografia
Faculdade de ciências e tecnologia-UNESP Campus Presidente Prudente
Bolsista FAPESP/ Membro do NUPERG (Núcleo de Pesquisas e Estudos Regionais)
Maria Terezinha Serafim Gomes E-mail: tserafim@fct.unesp.br
Professora Doutora no departamento de geografia Faculdade de ciências e tecnologia-UNESP
Campus Presidente Prudente Coordenadora do NUPERG (Núcleo de Pesquisas e Estudos Regionais)
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, sobretudo a partir do final do século XX, as cidades médias
brasileiras vêm tornando atrativas para novos investimentos empresariais. Essa busca
das empresas por novas localidades está relacionada ao processo de
desconcentração econômica e industrial que vem ocorrendo a partir dos anos 1970.
Nesse período, a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) começa a perder
posição na participação da indústria estadual, passando de 43,4% em 1970 para
38,8% em 1975 e para 34,2% em 1980, enquanto que o Interior aumenta sua
participação, passando de 14,7% para 17,1% em 1975 e para 20,2% em 1980,
principalmente as regiões próximas a RMSP, como Campinas, Sorocaba, São José
dos Campos e Baixada Santista, conforme destacou Negri (1996).
Inicialmente, os investimentos vão se concentrar próximo à região
metropolitana de São Paulo, todavia nos últimos anos há uma tendência de
investimentos também no interior mais distante, como as regiões de Araçatuba, São
José do Rio Preto, Marília e Presidente Prudente. Isso deve-se as condições gerais de
produção presentes nessas regiões capazes de atender essa demanda de novos
investimentos.
Este trabalho tem como objetivo abordar a tendência de investimentos para
região Oeste do Estado de São Paulo, com ênfase às regiões de São José do Rio
Preto e Presidente Prudente.
27
Este texto faz parte de discussões que vem sendo realizada junto ao projeto de Iniciação Científica
“Condições gerais de produção como fator locacional na atração de investimentos para as cidades médias de Presidente Prudente e São José do Rio Preto”, ligado ao Projeto “Dinâmica Econômica e desenvolvimento regional: uma análise da Região Oeste Paulista”, sob a coordenação da Profa. Dra.
Maria Terezinha Serafim Gomes.
85
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A metodologia baseou-se em revisão bibliográfica sobre o tema, pesquisas
em sites: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Fundação SEADE
(Sistema Estadual de Análise de Dados), para coleta de dados e informações
pertinentes à pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos últimos anos, no contexto da reestruturação produtiva vêm ocorrendo
alterações no padrão de locacional das empresas, com as vantagens proporcionadas
pelas condições gerais de produção presentes em regiões fora do espaço
metropolitano. Analisando o Estado de São Paulo, Negri e Pacheco (1994, p.77)
apontam que as “[...] cidades médias localizadas ao longo dos grandes eixos de
circulação da malha viária do interior, em especial na região de Campinas e nas suas
ligações com Sorocaba e Ribeirão Preto”, como atrativas aos novos investimentos
empresariais, já que está ocorrendo uma tendência de localização industrial em
direção a estas cidades. Isso revela a existência de fatores e vantagens locacionais
adequados, ou seja, possuem “condições gerais de produção” favoráveis à reprodução
do capital em cidades médias.
No que diz respeito ao Interior do Estado de São Paulo esse processo de
desconcentração econômica ocorreu e ocorre de forma diferenciada. Algumas regiões
mais próximas à Região Metropolitana foram mais favorecidas pelas políticas de
descentralização industrial do governo estadual que aquelas mais distantes, como por
exemplo, a região Oeste. (DUNDES, 1998, SILVA, 2001 e GOMES, 2007). As
indústrias da região Oeste Paulista, em sua maioria tem sua origem no capital local
(Gomes, 2007) e são provenientes do capital acumulado nas atividades agrícolas.
Todavia, a partir dos anos 1980 e, sobretudo, nos anos 1990, quando se observa o
processo de reestruturação produtiva impulsionada pela abertura econômica, com
aquisições de empresas e modernização tecnológica. Observa-se a entrada de
empresas de capital de fora e uma reorganização da estrutura produtiva da região.
Essas transformações vão provocar alteração na estrutura produtiva industrial regional
com o surgimento de novos ramos industriais de maior uso de tecnologia, como o de
química de produtos farmacêuticos em São José do Rio Preto, e o crescimento de
agroindústrias do setor sucroalcooleiro, conforme demonstrou Gomes (2007).
Não obstante, a região Oeste Paulista não ser beneficiada com as políticas de
descentralização industrial, nos últimos anos têm atraídos investimentos empresariais
em diversos setores de atividades econômicas. No período de 2012 a 2014 é possível
86
perceber a diferença entre as regiões de Presidente Prudente e São José do Rio Preto
na capacidade de atrair investimentos. Essa diferença pode ser evidenciada nas
tabelas 1, 2 e 3, que mostram os tipos de investimentos anunciados para os anos de
2012, 2013 e 2014.
Tabela 1 - investimentos anunciados por setor de atividade econômica - 2012 (em US$
Milhões)
Tabela 2 - investimentos anunciados por setor de atividade econômica - 2013 (em US$ Milhões)
Valor dos investimentos
anunciados no ano de 2013 (em
US$ Milhões)
Total Infraestrutura Indústria Serviços Comércio
Estado de São Paulo 27.694,60 18.162,70 5.419,90 3.784,90 327,00
Região Metropolitana São
Paulo 14.451,50 11.139,50 1.131,00 2.094,00 87,00
Região Administrativa de
Presidente Prudente 10,3 - - 4,2 6.1
Região Administrativa de São
José do Rio Preto 132,1 - 34,1 80,2 17,8
Fonte: SEADE 2015
Tabela 3 - investimentos anunciados por setor de atividade econômica - 2014 (em US$
Milhões)
Valor dos investimentos
anunciados no ano de 2014
(em US$ Milhões)
Total Infraestrutura Indústria Serviços Comércio Outros
Estado de São Paulo 36.503,80 24.333,10 5.799,80 5.230,90 1.136,10 3,90
Região Metropolitana São
Paulo 22.497,00 17.268,60 671,4 3.659,60 897,40 -
Valor dos investimentos anunciados no ano
de 2012 (em US$ Milhões) Total Infraestrutura Indústria Serviços Comércio Outros
Estado de São Paulo 59.767,10 39.254,30 7.628,80 12.042,90 720,9 120,2
Região Metropolitana São
Paulo 25.029,50 17.089,00 558,9 7.205,50 176,1 0,00
Região Administrativa de
Presidente Prudente 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0
Região Administrativa de
São José do Rio Preto 699 13,9 300 333,1 34,3 17,60
Fonte: SEADE 2015
87
Região Administrativa de
Presidente Prudente 0,1 - - 0,1 - -
Região Administrativa de São
José do Rio Preto 321 0 - 301,6 19,4 -
Fonte: SEADE 2015
Em 2012, no que se refere aos investimentos por tipos de atividades
econômicas, observa-se que para o estado de São Paulo, do total de 59.767,10 milhões
de dólares, cerca de 39.254,30 foram anunciados para o setor de infraestrutura. A
tendência de investimentos em infraestrutura observada também para região
metropolitana de São Paulo, já para região de Presidente Prudente não houve anúncio de
investimentos. Em São José do Rio Preto os investimentos anunciados tiveram foco na
indústria e serviços, perfazendo um total de 300 e 333,1 milhões, respectivamente, além
de investimentos em todos os outros setores.
No tocante ao ano de 2013, o anúncio de investimentos se manteve para a
região metropolitana de São Paulo, porém temos um destaque de investimento alto na
indústria em São José do Rio Preto com um investimento de 34,1 milhões nesse setor e
também recebeu investimentos consideráveis o setor de comércio e o anúncio de
investimento na ordem de 80 milhões para o setor de serviços, enquanto Presidente
Prudente recebe menos de 10 milhões distribuídos entre serviços e comércios.
No ano de 2014, no que se refere aos investimentos por tipos de atividades
econômicas, observa-se que para o estado de São Paulo, do total de 36.503,80 milhões
de dólares, cerca de 24.333,10 milhões foram anunciados para o setor de infraestrutura,
com destaque para a região metropolitana de São Paulo, já para região de Presidente
Prudente houve uma pequena participação dos investimentos no setor de serviços. Em
São José do Rio Preto, os investimentos anunciados foram para os setores de comércios
(19,4 milhões de dólares) e serviços (301,6 milhões de dólares).
Podemos inferir que essa diferença na atração de investimentos deve-se à
diferença das condições gerais de produção (CGP) presentes nas duas regiões. Segundo
Lencioni:
Podemos afirmar que vem se esboçando uma nova forma de desigualdade territorial, dada a densidade e aglomeração territorial dessas condições gerais. Essas convém dizer, exigem dentre tantos equipamentos e serviços que poderíamos nos referir, a concentração de trabalho intelectual e serviços voltados a gestão do capital. Enquanto isso, outras parcelas do território se caracterizam pela presença de condições gerais de produção voltadas para as
atividades tradicionais. (LENCIONI, 2007, p. 6.)
88
Segundo Lencioni (2007), as condições gerais de produção estão ligadas aos
equipamentos de consumo coletivo direto e indireto. Desse modo, as condições gerais de
produção estão relacionadas os equipamentos e serviços especializados, hidrovias,
aeroportos, estradas para a circulação de mercadorias e pessoas, redes de fibras óticas,
rede de telecomunicações e informática, centros de pesquisas e universidades, hospitais,
centro de lazer, entre outros. Presidente Prudente conta com rede de telefonia, aeroporto
regional, rodovias. Além disso, podemos observar a presença de faculdades,
universidades, escolas técnicas, entre elas: escolas técnicas (ETEC, SENAI, SENAC),
Universidades (UNOESTE, UNESP), faculdades (Toledo, UNIESP), etc. São José do Rio
Preto possui uma logística multimodal com a presença de rodovias federal e estaduais,
ferrovias, Aeroporto Regional, Estação Aduaneira do Interior (EADI), além disso, a região
tem acesso à hidrovia Tietê-Paraná. Também conta com escolas técnicas (ETEC, SENAI,
SENAC), universidades (UNESP, UNIP), faculdades (UNIESP, FAMERP), entre outros.
As disparidades existentes nos investimentos anunciados podem ser explicadas
quando observamos à presença de algumas variáveis entre muitas que consideramos
parte das CGP (rodovias, ferrovias, aeroporto, telefonia). Desse modo, as localidades que
possuem uma diversificação e presença maior dessas condiçoes gerais de produção têm
atraído maiores investimentos, principalmente no setor industrial e no setor de serviços
de maior tecnologia agregada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos resultados parciais, a pesquisa revelou a diferença na atração de
investimentos empresariais para os municípios de São José do Rio Preto e Presidente
Prudente. Essa diferença pode estar relacionada à presença de condições gerais de
produção mais atrativas em São José do Rio Preto. Em 2014, em Presidente Prudente
o total de investimentos foi na ordem US$ 0,1 milhão, enquanto São José do Rio Preto
recebeu US$ 321 milhões em investimentos. Assim, nas regiões analisadas, observou-
se que há uma maior presença destas condiçoes gerais de produção na cidade de
São José do Rio Preto, a qual após o ano de 2006 vem crescendo em ritmo acelerado,
pois tem polarizado altos investimentos em diversos setores, enquanto Presidente
Prudente tem se mantido no seu comércio local e recebido pouco investimento em
infraestrutura de maneira que a não presença ou presença limitada das condições
gerais de produção tem encolhido o setor industrial e causando uma retração da
economia ou um crescimento pouco significativo quando comparado a São José do
Rio Preto.
89
Em suma, o interior do estado de São Paulo se mostrou apto para receber
novos investimentos empresariais, porém através de investimentos setoriais ou através
das “guerras fiscais”, parcelas do território se mostraram mais aptas que outras, foi o
caso de Presidente Prudente e São José do Rio Preto, sendo Presidente Prudente de
maior importância no início desse processo, porém com o avanço das empresas de alta
tecnologia incorporada na sua produção São José do Rio Preto passa a ser um foco
maior de atração, pois há uma presença maior das condições gerais de produção e
desponta na atração de investimentos, redesenhando, assim, a estrutura produtiva
regional do Oeste Paulista.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GOMES, M.T.S.O processo de reestruturação produtiva em cidades do oeste paulista: Araçatuba, Birigui, Marília, Presidente Prudente e São José do Rio Preto. 2007. Tese. (Doutorado em Geografia). Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras, Ciências Humanas, São Paulo, 2007. LENCIONI, Sandra. Condições gerais de produção: um conceito a ser recuperado para a compreensão das desigualdades de desenvolvimento regional. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2007, vol. XI, núm. 245 (07). Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-24507.htm> Acesso em: 06 Mai. 2015. NEGRI, B., PACHECO, C. A. Mudança tecnológica e desenvolvimento regional nos anos 90: a nova dimensão espacial da indústria paulista. Espaço & Debates, São Paulo, n° 38, 1994. _______. Concentração e desconcentração industrial em São Paulo (1880-1990). Campinas: UNICAMP, 1996. SILVA, A. M. Indústria e mudanças tecnológicas: considerações sobre a Décima Região Administrativa de Presidente Prudente/SP. 2002. Dissertação (Mestrado).
90
Faculdade de Ciência e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2002. SPOSITO, M. E. B.(org.). Cidades Médias: espaços em transição. São Paulo: Expressão Popular, 2007. WHITACKER, A. M. Reestruturação Urbana e Centralidade em São José do Rio Preto – SP. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Estadual Paulista. Presidente Prudente; UNESP, 2003.
91
TERRITÓRIOS DA INSEGURANÇA: O PROCESSO DE DIFERENCIAÇÃO
SOCIOESPACIAL A PARTIR DA DISTRIBUIÇÃO DOS SISTEMAS DE SEGURANÇA E/OU VIGILÂNCIA EM PRESIDENTE PRUDENTE
Luís Fernando Colombo E-mail: fernando@hotmail.com
Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
Campus Presidente Prudente Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP
INTRODUÇÃO
A sensação de insegurança urbana, nos últimos anos, tem crescido em
descompasso com os reais registros de crimes na cidade média de Presidente
Prudente, localizada no oeste do Estado de São Paulo. Tal fato é apresentado como
justificativa para aquisição de sistemas de segurança privada e/ou vigilância pelos
citadinos. Isso nos leva a indagar se o acesso a estes serviços privados, bem como
sua situação geográfica nos espaços residenciais não fechados desta cidade podem
estar associados ao processo de diferenciação socioespacial, ocasionando, em
alguma medida, sua intensificação. As reflexões aqui apresentadas são preliminares,
pois resultam de um projeto de iniciação científica que se encontra em andamento. Por
isso, a posteriori, o emprego de outros procedimentos metodológicos como entrevistas
com os citadinos, além da observação sistemática das áreas serão indispensáveis,
pois fornecerão informações mais conclusivas a respeito do nosso objeto.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Até o presente momento da pesquisa que se encontra em fase intermediária,
desenvolvemos duas atividades principais. São elas: a escolha para as áreas da
pesquisa; e trabalhos de campo.
Na primeira, realizamos uma comparação entre os setores censitários do
município de Presidente Prudente, considerando os conteúdos socioeconômicos
destas áreas com base nos mapas de exclusão social28, metodologia desenvolvida
pelo Centro de Estudos e de Mapeamento da Exclusão Social para Políticas Públicas
28
Os mapas exclusão social são representações cartográficas que sintetizam alguns indicadores sociais disponibilizados pelo censo demográfico do IBGE e adotam o procedimento de classificação por quartis que considera “[...] o menor e o maior percentual de ocorrência de um fenômeno representado na cidade como intervalo para a distribuição dos valores em quatro classes” (DAL POZZO, 2015, p. 344). Informações adicionais sobre o Mapa da Exclusão Social de Presidente Prudente podem ser encontradas
em Melazzo e Guimarães (2010).
92
(CEMESPP). Essa comparação sustentou a escolha de duas áreas para nossa
pesquisa.
Posteriormente, realizamos dois trabalhos de campo a fim de contabilizar a
distribuição dos sistemas de segurança e/ou vigilância nessas áreas selecionadas. Os
tipos de dispositivos, sistemas e serviços de segurança que estamos considerando
resulta de uma adaptação da Pesquisa de Vitimização desenvolvida pela Pesquisa
Nacional de Amostras por Domicílio do IBGE, o PNAD (2009), sendo eles: Muros com
dois metros ou mais; cerca elétrica; concertina; cacos de vidro e arames farpados
sobre os muros; alarmes; câmeras de vigilância; serviço de profissional vigilante; e
cachorro de grande porte.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A ideia de que as cidades são a morada da violência e o lugar de sua livre e
progressiva (re) produção tem repercutido em todas as camadas de nossa sociedade,
orientando ações as mais diversas, bem como erigindo discursos que só se sustentam
a partir da manutenção de preconceitos e estereótipos. As incertezas a respeito do
futuro deslocam a atenção para o presente (SPOSITO & GÓES, 2013) e a
insegurança comparece como elemento norteador na produção e consumo dos
espaços das cidades.
Neste sentido, Sposito e Góes (2013) nos convidam a observar a atuação das
entidades empresariais midiáticas, como os jornais, revistas e programas de TV. Estas
empresas, estimuladas por um contexto claramente favorável de “[...] crises
econômicas, hegemonia neoliberal [e seus] tantos desdobramentos, como a
desregulamentação e o encolhimento do mercado de trabalho, privatizações, etc.”
(SPOSITO, M. E. B. e GÓES, 2013, p. 175), de modo geral, tem produzido e
disseminado a ideia de cidade violenta, atendendo “cada vez mais à lógica segundo a
qual o emprego de qualquer recurso que garanta as vendas dos produtos envolvidos
[...] se justifica” (SPOSITO, M. E. B. e GÓES, 2013, p. 174).
Contudo, através da análise dos dados policiais para as cidades de Marília,
Presidente Prudente e São Carlos, no período de 2001 a 2008, Sposito e Góes (2013,
p. 206-08) chamam a atenção para o fato de que, nestas cidades médias, a violência
não tem aumentado, mas, ao contrário, tem progressivamente diminuído. Verifica-se,
portanto, que se estabelece uma relação claramente contraditória, em que o
distanciamento “entre a violência real e a violência percebida” promove
transformações na estrutura dessas cidades.
93
Neste sentido, é preciso considerar que, havendo variadas possibilidades
analíticas, dispomo-nos a investigar a situação geográfica dos dispositivos e sistemas
de segurança e/ou vigilância em bairros residenciais não fechados, na cidade média
de Presidente Prudente, pois acreditamos que o consumo diferenciado da segurança
privada entre os grupos sociais é um elemento preponderante no processo de
diferenciação socioespacial, podendo resultar, inclusive, em sua intensificação. Para
isso, a escolha de determinadas áreas que sejam representativas para o que
queremos demonstrar, isto é, que existe uma relação entre a estruturação da cidade e
a concentração de sistemas de segurança e/ou vigilância, é justificável.
Com base em um conjunto de representações cartográficas que foram
elaborados por Dal Pozzo (2015) no âmbito do Grupo de Pesquisa Produção do
Espaço e Redefinições Regionais – GAsPERR, e também à luz do Mapa de Exclusão
Social do município de Presidente Prudente para o ano de 2010, realizamos a seleção
de dois setores censitários da cidade, sendo eles os setores 252 e 294, como pode ser
observado na figura 1. Ademais, tal escolha baseou-se em três critérios principais: a)
que as áreas expressassem usos majoritariamente residenciais; b) que as
características socioeconômicas nestas áreas fossem bem diferentes; e c) que estes
setores não se constituíssem ou que apresentassem dentro de seu perímetro algum
tipo de espaço residencial fechado.
FIGURA 1: Presidente Prudente/SP. Mapa de localização das áreas de estudo. 2016.
O setor 252, localizado na zona sul de Presidente Prudente, é apresentado
por Dal Pozzo (2015) como uma área de inclusão social. Ele reúne em seu perímetro
94
três bairros de conteúdos socioeconômicos consideravelmente homogêneos, sendo
eles o Jardim Rio 400, Parque Higienópolis e Chácara do Macuco. Neste setor, foram
coletados 179 pontos de coordenadas, o que significa 179 domicílios que utilizam um
ou mais dispositivos ou sistemas de segurança e/ou vigilância.
Na porção norte da cidade, por sua vez, localiza-se o setor 294. Este setor
corresponde ao bairro Parque Residencial Francisco Belo Galindo, área classificada
como de forte exclusão social (DAL POZZO, 2015). Nesta área, foram coletados 157
pontos de coordenadas. Contudo, através do trabalho de campo pudemos constatar
que, com exceção dos muros com altura superior a 2 metros, praticamente inexistem
outros dispositivos de segurança e/ou vigilância na área. Para se ter uma ideia, todos
os 157 pontos coletados apresentavam apenas o item “muro com 2 metros ou mais”
ou uma combinação dele com outros sistemas de segurança e/ou vigilância.
GRÁFICO 1: Presidente Prudente/SP. Distribuição dos dispositivos ou sistemas de
segurança e/ou vigilância por setor censitário, 2016.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas informações apresentadas, pode-se concluir que os setores
censitários comparados expressam inegáveis diferenças quanto ao consumo de
dispositivos ou sistemas de segurança e/ou vigilância. Tal fato reflete a [...]
justaposição entre uma morfologia social (promovida pela diferenciação das classes
na sociedade) e pela morfologia espacial (produzida pelas diferenças nas formas e
modos de acesso aos espaços da vida, através dos usos)” (CARLOS, 2007, p. 49.
Grifos no original).
95
Além disso, outro aspecto importante que está relacionado ao setor 252 é a
status que estes dispositivos ou sistemas de segurança e vigilância proporcionam,
tendo em vista a valorização do consumo que caracteriza nossa sociedade. Para
Caldeira (2000), o consumo da segurança privada em espaços residenciais passou a
significar, a partir dos anos de 1990, a disseminação de um novo código estético
nestes espaços, algo que foi chamado por ela de “arquitetura do medo”. Isso nos
possibilita afirmar que a concentração de formas de segurança privada neste setor, tal
como ocorre em espaços residenciais fechados, assumem “o caráter de encenação,
de simulacro da referida segurança, coerente com o significado da própria noção de
status [...]” (SPOSITO & GÓES, 2013, p. 226-227).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALDEIRA, T. Cidades de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: E34 / Edusp, 2000. CARLOS. A. F. A. Diferenciação Socioespacial. In. Cidades. Volume 4. Número 6. 2007. p. 45-60. DAL POZZO, C. F. Fragmentação socioespacial em cidades médias paulistas: os territórios de consumo segmentado de Ribeirão Preto e Presidente Prudente. 2015. 400 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia. MELAZZO, E. S.; GUIMARÃES, R. B. (Orgs.). Exclusão social em cidades brasileiras: um desafio para políticas públicas. São Paulo: Editora Unesp, 2010. SPOSITO, M. E. B.; GÓES, E. M. Espaços Residenciais Fechados: insegurança urbana e fragmentação socioespacial. São Paulo: Editora Unesp, 2013. IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). 2009. ______Metodologia do censo demográfico 2010. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. 712 p. v. 41.
96
UMA ANÁLISE NO ESPAÇO – TEMPO DAS POLÍTICAS HABITACIONAIS DO BANCO NACIONAL DE HABITAÇÃO (BNH) E DO PROGRAMA “MINHA CASA,
MINHA VIDA” EM PRESIDENTE PRUDENTE/SP
Felipe César Augusto Silgueiro dos Santos Bacharel em Geografia
Faculdade de Ciências e Tecnologia UNESP – Universidade Estadual Paulista
Campus de Presidente Prudente/SP
INTRODUÇÃO
Este resumo busca debater, de forma sucinta, as ideias formuladas em nosso
trabalho de conclusão de curso como forma de obtenção do título de bacharel em
Geografia. Nosso trabalho teve realização no ano de 2015 com apresentação de suas
reflexões finais no ano de 201629.
Ele surgiu através de nossas inquietações referentes à temática da política
habitacional no Brasil, que possui formas variadas de ação e de execução de suas
atividades e reflete resultados estruturais e sociais nas cidades atingidas, que
geralmente demandam ações de planejamento das escalas políticas de poder.
Para contribuir com a construção do nosso pensamento, utilizamos de uma
análise no Espaço – Tempo que visa compreender, neste caso, como que essas
políticas trazem modificações diretas na produção do espaço urbano das cidades
brasileiras, em especial das cidades médias.
Como forma de análise utilizamos de dois conjuntos habitacionais da cidade
média de Presidente Prudente/SP que se caracterizam por serem os primeiros de
ambos os programas habitacionais de que se originam: o Conjunto Habitacional
Bartolomeu Bueno de Miranda (COHAB)30 do ano de 1978, com financiamento do
Banco Nacional da Habitação (BNH) de 1964 e o Conjunto Habitacional Residencial
Tapajós do ano de 2013, oriundo do Programa “Minha Casa, Minha Vida” de 2009.
Ambos permitem uma análise na atuação dessas políticas através de uma
verificação no Espaço – Tempo, onde observamos o estabelecimento das relações
dos conjuntos habitacionais com a cidade de Presidente Prudente/SP, através de uma
periodização de atividades referentes a estes conjuntos e das especialidades que os
mesmos apresentam no espaço urbano da cidade estudada.
29
O trabalho encontra-se devidamente citado nas Referências deste resumo. O mesmo possuiu orientação do Prof. Dr. Márcio José Catelan. 30
O conjunto habitacional COHAB é de certa forma uma homenagem ao Presidente da COHAB – BAURU da época, construtora do empreendimento, conforme esta notícia demonstra: http://www.imparcial.com.br/site/conjunto-habitacional-pioneiro-cohab-e-querida-por-moradores (Acesso: 14. Set. 2016).
97
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A realização do trabalho constituiu-se a partir do levantamento de bibliografia
especializada no tocante a política habitacional brasileira. Citamos Grupo de
Arquitetura e Planejamento (GAP) (1983), Villaça (1986), Azevedo (1988), Bonduki
(1994), Shimbo (2010), etc.
Buscamos também, reunir informações sobre a cidade de Presidente
Prudente/SP. Citamos Sposito (1983), Sousa (1992), Nascimento (1999), Fernandes
(2001), Baron (2010), Catelan (2015), etc.
Ainda em Presidente Prudente/SP realizamos trabalhos de campo no
Conjunto Habitacional Bartolomeu Bueno de Miranda (COHAB) e no Conjunto
Habitacional Residencial Tapajós, onde tiramos fotografias e reunimos informações
presentes no trabalho referido neste resumo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As políticas habitacionais no Brasil caracterizam-se por possuírem vários
modelos de implantação de suas ações, com números expressivos na construção de
habitações sociais, que causam toda uma modificação na morfologia urbana das
cidades atingidas por estes programas.
Como exemplo, observamos que na cidade de Presidente Prudente/SP as
políticas habitacionais do Banco Nacional de Habitação (BNH) e do Programa “Minha
Casa, Minha Vida” tiveram importância fundamental na produção de seu espaço
urbano, com a concepção de 11.302 (onze mil e trezentas e duas) habitações sociais31
que apresentaram modificações tanto no intra-urbano quanto nas relações sociais e
econômicas dos citadinos.
Através do Conjunto Habitacional Bartolomeu Bueno de Miranda (COHAB),
com suas 1.017 habitações, verificamos como o bairro32 especializou-se tanto na área
comercial e de serviços. Destacamos o surgimento de uma extensão comercial de sua
principal via, a Avenida Ana Jacinta até a Rua das Espatódeas, concentrando cerca de
119 estabelecimentos comerciais.
31
Todos os dados citados neste resumo estão presentes em SANTOS (2016). 32
Consideramos que, o Conjunto Habitacional Bartolomeu Bueno de Miranda (COHAB) constitui-se em um bairro, devido ao seu maior tempo de existência e pela construção de suas relações sociais. O Conjunto Habitacional Residencial Tapajós, por ser uma construção recente, não estabeleceu tais relações ainda, o que poderá acontecer através dos anos. Para maior conhecimento deste debate, recomendamos SOUZA (2013, p. 135 – 162).
98
No Conjunto Habitacional Residencial Tapajós, com suas 227 habitações, foi
possível constatar um avanço ainda tímido nestes setores, com a presença de loja de
roupas33 e nos bairros ao seu entorno, quitandas, postos de combustível, açougues,
entre outros modelos de comércio e serviços.
Assim sendo, a importância das políticas habitacionais para a cidade de
Presidente Prudente/SP não se pauta apenas com relação a sua morfologia urbana,
mas também pelo processo de especialização das ações comerciais e de serviços
realizadas nos conjuntos habitacionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As políticas habitacionais brasileiras possuem relação direta com a
construção das cidades. No caso das cidades médias, a intensa reestruturação urbana
que as mesmas passam reflete diretamente nos conjuntos habitacionais construídos
mediante essas políticas, o que demanda uma nova forma de considerar as cidades e
os seus conjuntos habitacionais.
Na cidade de Presidente Prudente/SP pudemos perceber que o Conjunto
Habitacional Bartolomeu Bueno de Miranda (COHAB) construiu um bairro dotado de
todas as facilidades necessárias para o seu morador34, onde podemos evidenciar a
presença de um forte subcentro no mesmo, caracterizando uma grande singularidade.
No Conjunto Habitacional Residencial Tapajós, vemos a iniciativa de alguns
moradores em construir seu próprio negócio, configurando uma expansão rápida das
relações econômicas do conjunto habitacional mesmo com pouco tempo de
construção.
Essa atenção é facilmente verificada na modificação no Espaço – Tempo que
os conjuntos habitacionais acima estudados passam e continuam passando no
decorrer dos anos, mostrando a necessidade de um aperfeiçoamento do pensamento
de políticas habitacionais no Brasil, verificando as ações que as mesmas podem vir a
permitir através dos anos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, S. Vinte e dois anos de política de habitação popular (1964-1986): Criação, trajetória e extinção do BNH. In: Rev. Adm. Pub. Rio de Janeiro, v. 22, n. 4,
33
Neste caso, a existência de loja de roupas localiza-se nas habitações dos moradores, como forma de expansão de renda familiar. 34
Lembrando que essas facilRades foram construídas a partir do tempo de formação do bairro, pelos próprios moradores.
99
1988, p. 107-119. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/viewFile/9391/8458. Acesso em 12. Set. 2016. BARON, C. M. P. Cidade e Habitação em Presidente Prudente: 1964-1986. Tese (Doutorado em Arquitetura), 2010. Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos, 2010. BONDUKI, N. G. Origens da Habitação Social. In: Análise Social. São Carlos, v. 29, 1994, p. 711-732. Disponível em: http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223377539C9uKS3pp5Cc74XT8.pdf. Acesso em 11. Set. 2016. CATELAN, M.J. Vida a crédito nas cidades médias/intermediárias brasileiras: Efeitos do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. In: BELLET et al. Urbanização, produção e consumo em cidades médias/intermediárias. Presidente Prudente e Lleida. Universitat de Lleida. 2015. p. 441 – 470. FERNANDES, S.A.S. Políticas habitacionais em Presidente Prudente. In: SPOSITO, M.E.B. (Org.) Textos e contextos para a leitura geográfica de uma cidade média. Presidente Prudente: Pós-graduação em Geografia da FCT/UNESP - GASPERR, 2001, p. 157-182. GAP (Grupo de Arquitetura e Planejamento) (1983), Habitação Popular: Inventário da Ação Governamental, FINEP/Projeto, São Paulo. NASCIMENTO, Rose Maria. Dispersão e difusão: A Constituição do subcentro da COHAB e de sua centralidade. 1999. 81 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia). Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Presidente Prudente – SP. 1999. SANTOS, M. Técnica, Espaço, Tempo: globalização e meio – técnico cientifico informacional. 2º Ed. São Paulo. Hucitec. 1997. SANTOS, F.C.A.S. Espaço, Tempo e Contradições: Do Banco Nacional de Habitação ao Programa “Minha Casa, Minha Vida” em Presidente Prudente/SP. 2016. 124 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia). Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Presidente Prudente – SP. 2016. SHIMBO, L.Z. Habitação Social, Habitação de Mercado: a confluência entre Estado, empresas construtoras e capital financeiro. 2010. 361 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo). Programa de Pós – Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. São Carlos – 2010. SOUSA, S.A. Políticas de Estado e a Questão da Moradia em Presidente Prudente. 1992. 95 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia). Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Presidente Prudente – SP. 1992. SOUZA, M.J.L. Região, bairro e setor geográfico. In: Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013, p. 135 – 162.
100
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101
EIXO TEMÁTICO 4: “DINÂMICAS NATURAIS E
QUESTÕES AMBIENTAIS”
102
A GESTÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO: ESTUDO NA ÁREA DO MÉDIO PARANAPANEMA
Larissa Figueiredo Daves
Geógrafa e Mestranda no Programa de Pós Graduação em Geografia (PPGG), Faculdade de Ciências e Tecnologia,
Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP) larissadaves_@hotmail.com.br
Neide Barrocá Faccio
Profª Livre Docente do Departamento de Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente FCT/UNESP Presidente Prudente, SP
nfaccio@terra.com.br
INTRODUÇÃO
O planejamento ambiental é caracterizado como um instrumento que propõe
ações e intervenções de forma adequada ao uso do sistema natural a partir de
políticas ambientais, com base técnica (científica, instrumental e participativa),
utilizando seus procedimentos que facilitam a execução de um conjunto de ações,
sendo esses os alicerces da gestão ambiental. Desse modo, programa o uso do
território de maneira racional, visando o equilíbrio entre o uso de recursos naturais e o
desenvolvimento de determina área para garantir a qualidade do meio biótico, físico e
social.
Segundo Rodriguez (2007) o planejamento ambiental constitui ponto de partida
para diversas decisões, sejam na forma ou intensidade de utilizar o território, em cada
uma de suas partes, incluindo os assentamentos humanos, as entidades sociais e
produtivas.
A gestão ambiental tem como principal objetivo a preocupação com o meio
ambiente, em particular, ou seja, com os sistemas ambientais naturais, a partir da
relação de dois conceitos – o manejo e o gerenciamento ambiental. O manejo trata
dos processos que levam a determinados setores socioeconômicos e tipos específicos
de sistemas ambientais. O gerenciamento ambiental trata das entidades sociais e
empreendimentos que programa determinado objetivo imposto pela gestão ambiental
(RODRIGUES; SILVA, 2013).
O licenciamento ambiental tem por obrigação legal prévia ordenar qualquer
instalação de empreendimento ou atividade potencialmente poluidora que degrade o
meio ambiente, sendo responsável pelo EIA/RIMA.
Diante disso, temos como discussão as normas e o gerenciamento de acordo
com as políticas ambientais envolvidas pelo órgão federal IPHAN (Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para mostrar os procedimentos de
licenciamento ambiental em sítios arqueológicos.
103
OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo discutir as normas e o gerenciamento do
patrimônio arqueológico de acordo com as políticas ambientais envolvidas pelo órgão
federal IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A fim de mostrar
os procedimentos de licenciamento ambiental em sítios arqueológicos, justifica-se
como exemplo o Projeto de Salvamento Arqueológico da Usina Hidrelétrica Piraju
(ArqPiraju), localizado na área do Médio Curso do Rio Paranapanema, lado paulista.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Tal análise teve como embasamento teórico obras acerca do Projeto
Paranapanema como Morais (1979; 2010), Pallestrini (1981; 1982; 1984), Faccio
(1992; 1998; 2011) e Caldarelli (1997). A partir de relatórios de campo do ProjPar e
obras acadêmicas sobre arqueologia preventiva de sítios arqueológicos no município
de Piraju, SP.
Dentre os procedimentos destacam-se o embasamento teórico sobre as
normas e diretrizes do patrimônio arqueológico no âmbito federal e estadual;
levantamento bibliográfico sobre o gerenciamento do patrimônio arqueológico na Área
do Médio Paranapanema e, análise de relatórios de arqueologia preventiva no
município de Piraju-SP.
RESULTADOS E DISCUSSÕES Normas e gerenciamento do patrimônio arqueológico: licenciamento ambiental
O patrimônio cultural brasileiro é formado por bens de natureza material e
imaterial entre diversas formas de expressão como tradições culturais e criações
científicas, artísticas e tecnológicas de diferentes grupos sociais.
A Constituição de 1988 elencou no artigo 215 como diversidade cultural
nacional as manifestações culturais de grupos indígenas e afrodescendentes que até
então estava mistificada pela cultura elitista. O conhecimento desses grupos sociais
como patrimônio é de extrema relevância para a sociedade nacional, diante disso
temos como discussão a proteção ambiental de sítios arqueológicos de acordo com o
Estado Brasileiro35.
Dentre os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e implementação da
Avaliação de Impacto Ambiental um dos instrumentos da Política Nacional do Meio
35 Art. 216- Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomado
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
V- os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e
científico.
104
Ambiente é o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente). A legislação que
contempla a proteção do patrimônio cultural de acordo com o CONAMA está na
Resolução nº 001 de 23 de janeiro de 1986, Art. 6º- O estudo de impacto ambiental da
área desenvolverá, no mínimo, as seguintes atividades técnicas:
I. Diagnóstico ambiental de influência do projeto completa descrição e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto, considerando:
c) o meio socioeconômico – o uso e ocupação do solo, os usos da água e a sócio economia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos. (CONAMA, Resolução nº 001 de 23/01/1986).
Porém, em alguns casos os EIAs e RIMAs, sequer fazem menção ao
patrimônio arqueológico, executando empreendimentos em áreas tradicionalmente
conhecidas e ricas em vestígios arqueológicos. As políticas ambientais servem de
instrumento legal e institucional para eliminar ou reduzir ao máximo os possíveis
conflitos ambientais, auxiliando na preservação e conhecimento destes bens
patrimoniais (BASTOS; SOUZA, 2010).
O IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) é o órgão de
licenciamento federal responsável pelas leis que regem a proteção do patrimônio, atua
como agente fiscalizador e fomenta de políticas públicas para a gestão do patrimônio
arqueológico.
A Portaria do IPHAN nº 230, de 17/12/2002, aborda que deve apresentar
licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades potencialmente causadores
de um significativo impacto ambiental sujeito à apresentação do EIA/RIMA. Tal portaria
favoreceu para o entendimento de pesquisas arqueológicas no âmbito do
licenciamento para compatibilizar as fases de obtenção de licenças ambientais em
urgência com os estudos preventivos de arqueologia.
A Figura 1 apresenta as etapas da gestão do patrimônio arqueológico de
acordo com o órgão federal (IPHAN).
105
Figura 1: Gestão do Patrimônio Arqueológico: Hierarquia e Normas no caso de Licenciamento Ambiental.
Fonte: IPHAN (2016). Organização: DAVES, L. F (2016)
Na Fase de obtenção de licença prévia (EIA/RIMA) realiza-se a
contextualização arqueológica e etno-histórica da área de influência do
empreendimento com dados secundários e levantamento arqueológico de campo.
Caso seja um projeto que afete áreas arqueologicamente desconhecidas deve
providenciar um levantamento arqueológico de campo pelo menos na área de
influência direta. O resultado esperado para essa fase é um relatório de caracterização
e avaliação da situação atual do patrimônio arqueológico da área de estudo a partir do
Diagnóstico (IPHAN, Portaria 230/ 2002).
GESTÃO AMBIENTAL
PLANEJAMENTO AMBIENTAL
LICENCIAMENTO AMBIENTAL
IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional)
Órgão de Licenciamento Federal
Normas e gerenciamento do patrimônio
arqueológico
Portaria 230/2002
Portaria 28/03
Instrução Normativa nº 001 de 25 de
março de 2015
Proteção do patrimônio cultural
e histórico
Constituição de 1988 (Art. 215
e 216)
Resolução do CONAMA nº
001 de 23 de janeiro de 1986
Âmbito do Patrimônio
SALVAMENTO ARQUEOLÓGICO
Fase de obtenção de licença prévia (EIA/RIMA)
Fase de obtenção de licença de instalação (LI)
Fase de obtenção de licença de operação (LO)
(Diagnóstico arqueológico, prospecções arqueológicas, resgate arqueológico,
educação patrimonial)
106
De acordo com a Fase de obtenção de licença de instalação (LI) deve
implantar o Programa de prospecção proposto na fase anterior, em compartimentos
ambientais de maior potencial arqueológico na área de influência direta do
empreendimento e locais que sofrerão impactos indiretos potencialmente lesivos ao
patrimônio arqueológico (áreas de reassentamento de população, expansão urbana ou
agrícola, serviços e obras de infraestrutura (IPHAN, Portaria 230/ 2002).
Esta fase tem por objetivo quantificar e delimitar os sítios arqueológicos
existentes na área a ser afetada direta ou indiretamente pelo empreendimento, seja
pela profundidade, diversidade cultural ou grau de preservação nos depósitos
arqueológicos, a fim de detalhar o Resgate Arqueológico proposto pelo EIA, que será
implantado na fase de obtenção da Licença de Operação (LO).
O resultado final desta fase é o Programa do Resgate Arqueológico com
critérios precisos de fundamento científico dos sítios arqueológicos ameaçados e
justificativa da seleção dos sítios que serão estudados.
Nesta última etapa pleiteia-se Licença de Operação (LO), tal mecanismo
permite realizar os trabalhos de salvamento arqueológico dos sítios selecionados na
fase anterior por meio de escavações, registro detalhado de cada sítio e de seu
entorno e coleta do material arqueológico contida em cada sítio. O resultado final
esperado é um relatório apresentando as atividades desenvolvidas em campo e
laboratório e apresentação dos resultados científicos sobre a Arqueologia da área de
estudo e Educação Patrimonial.
Recentemente, a Instrução Normativa nº 001, de 25 de março, de 2015
estabeleceu procedimentos administrativos a serem observados pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, a fim de se manifestar nos processos
de licenciamento ambiental federal, estadual e municipal em razão da existência de
intervenção na Área de Influência Direta - AID do empreendimento em bens culturais
acautelados em âmbito federal.
O IPHAN como órgão ambiental analisará os termos e relatórios referentes aos
bens culturais tombados; valorados e registrados; patrimônio arqueológico para
disciplinar de forma clara os estudos ambientais e aplicar as fases do ordenamento do
licenciamento ambiental para diminuir danos as matrizes do patrimônio histórico, cultural
e arqueológico, a fim de compatibilizar os interesses das esferas públicas na proteção
do ambiente cultural (IPHAN, 2015).
Salvamento Arqueológico da Usina Hidrelétrica de Piraju (ArqPiraju): Sítio Arqueológico Piracanjuba, SP
107
Desde 1886 o aproveitamento hidrelétrico no Rio Paranapanema tem sido
estudado pela Comissão Geográfica e Geológica da Província de São Paulo, mas foi
nos anos 1950 que ocorreu a consolidação para inventário do potencial hidrelétrico
que delimitou os principais pontos para a construção de barramentos.
No Município de Piraju, SP, em 1920 foi construída a primeira usina hidrelétrica
no Rio Paranapanema e a partir dos anos 90 se intensificou o interesse da construção
de grandes barramentos, como a tentativa de aprovação do projeto da alternativa 1 da
Usina Piraju (ou Piraju montante), que provocaria a desativação de trecho de canal
natural com o desvio do Rio Paranapanema na cidade. Outra tentativa foi a aprovação
da Usina Piraju 2 (ou Piraju jusante), este reservatório afogaria o último trecho de
canal natural em Piraju (MORAIS, 2010).
A primeira alternativa foi reprovada, pois este projeto seria impactante para a
perspectiva patrimonial e ambiental no município de Piraju. Diante disso, a alternativa
2 que não desviaria o canal do rio foi aprovada de acordo com o Estudo de Impacto
Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA).
De acordo com Morais (2010) a equipe do Projeto Paranapanema, do Centro
Regional de Arqueologia propôs questões de ordem técnica que contribuísse para
impedir este projeto de extremo impacto ambiental. O autor relata também,
São dessa época os estudos que resultaram na criação do Conselho de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, com composição e atribuições suficientes corretas para fazer prevalecer o interesse local, contrário à implantação daquele projeto [...]. Considerando a sensibilidade ambiental em termos de patrimônio arqueológico regional, o programa foi detalhado e competente para resgatar farta documentação arqueológica em campo, adicionando dados importantes ao patrimônio arqueológico do Município de Piraju. (MORAIS, 2010, p. 26).
As primeiras escavações arqueológicas na cidade de Piraju foram realizadas
por Pallestrini (1968; 1969) com o Sítio Alves, Sítio Camargo (PALLESTRINI; CHIARA,
1978), Sítio Nunes (1988), e Sítio Camargo 2 analisado por Morais (1988).
O Sítio Arqueológico Piracanjuba está localizado a jusante do Rio
Paranapanema, no Município de Piraju, SP, descoberto em 1990 durante o projeto de
Salvamento Arqueológico da Usina Hidrelétrica Piraju – ArqPiraju, a partir de uma
parceria entre o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo
(MAE/UNSP) e a Companhia Brasileira de Alumínio, sob a coordenação geral do Profº
Dr. José Luiz de Morais do MAE/USP (MORAIS, 1995) (Figura 1).
108
Figura 1: Localização do Sítio Arqueológico Piracanjuba. Município de Piraju, SP.
As etapas de licenciamento ambiental deste sítio arqueológico tiveram como
normas e gerenciamento do patrimônio a Arqueologia Preventiva. O licenciamento
ambiental para as áreas de empreendimentos que façam movimentação de terra ou
promovam a inundação como são os casos de usinas hidrelétricas, no Brasil.
No caso a área estudada da usina hidrelétrica em tela, foi encontrado o Sítio
Piracanjuba. Dessa forma, após a prospecção houve a necessidade de se passar para
o resgate para que o empreendimento pudesse obter a licença de operação (LO).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Brasil o licenciamento ambiental prevê a proteção do patrimônio cultural, no
qual está inserido o patrimônio arqueológico a Arqueologia enquanto área do
conhecimento possui forte conotação patrimonial (pois ela lida com a memória e a
identidade dos povos) (MORAIS, 2010).
O reconhecimento dos vestígios arqueológicos em Piraju teve um papel
bastante significativo no encaminhamento (e solução) de várias questões relacionadas
com a proteção e valorização do meio ambiente e do patrimônio cultural da região.
Sendo considerado um patrimônio cultural e histórico para o município e,
conhecimento do comportamento cultural do grupo Guarani que habitou a região em
tempos pretéritos (MORAIS, 2010).
109
Diante do exposto em 2003 foi criada a Portaria 230/2002 do IPHAN e a
Instrução Normativa nº 001 de 25 de março de 2015, que garantem, até certa medida
a proteção do patrimônio arqueológico.
REFERÊNCIAS BASTOS, R.L; SOUZA, M. C. Normas e gerenciamento do patrimônio arqueológico. Superintendência do IPHAN em São Paulo. 3 ed, 2010.
CALDARELLI, S.B. Avaliação dos impactos de grandes empreendimentos sobre a base de recursos arqueológicos da nação: conceitos e aplicações. Atas do Simpósio sobre Política Nacional do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural. Goiânia, 1997, p. 57-65. FACCIO, N. B. Estudo do Sítio Arqueológico Alvim no Contexto do Projeto Paranapanema. Dissertação de Mestrado. São Paulo: FFLCH/USP, 1992. ________. Arqueologia dos Cenários das Ocupações Horticultoras da Capivara, Baixo Paranapanema – SP. São Paulo: FFLCH/USP, Tese de Doutorado, 1998. ________. Arqueologia Guarani na Área do Projeto Paranapanema: estudo dos sítios de Iepê, SP. Volume I. Tese de Livre Docência – Museu de Arqueologia e Etnografia, Programa de Pós-Graduação em Arqueologia – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. Instrução Normativa nº 001 de 25 de março de 2015, acesso em 17/06/2016, disponível em http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Instrucao_normativa_01_2015.pdf. MATEO, J.- Aportes a la formulación de una Teoría Geográfica de la sostenibilidad ambiental; Universidad de La Habana, Tesis para la obtención del Grado de Doctor en Ciencias, La Habana, 2007,p. 180. MATEO RODRIGUEZ, J. M.; SILVA, E, V. Planejamento e Gestão Ambiental. Subsidios da Geoecologia das Paisagens e da Teoria Ecossistêmica. Edições UFC, Fortaleza, 2013, p. 370. MORAIS, J.L. Arqueologia, Academia e Mediação de Conflitos. In: Arqueologia Preventiva: Gestão e mediação de conflitos estudos comparativos. Organização de Marise Campos de Souza . São Paulo, SP: Superintendência do Iphan, 2010. ________. A pré-história do munícipio de Pirajú, SP. Revista do Museu Paulista, Nova série, Universidade de São Paulo, São Paulo, vol. XXVI, 1979, p. 219-234. ________. Plano cartográfico do Projeto Paranapanema, São Paulo, 1995. ________. Tópicos de Arqueologia da Paisagem. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 2000, 10:3-30. ________. Arqueologia da Região Sudeste. Revista da USP, n. 44, 194-217, 1999/2000. PALLESTRINI, L.; MORAIS, J. L. Arqueologia pré-histórica brasileira. Editora Universidade de São Paulo - Museu Paulista Fundo de Pesquisas. 2° edição, São Paulo, 1982. PALLESTRINI, L.; PERASSO, J.A. Arqueologia: método y técnicas em superfícies
amplias. Biblioteca Paraguaya de Antropologia, IV. 1984, p. 53.
PALLESTRINI, L.; CHIARA, P.; MORAIS, J.L. Evidenciação de novas estruturas arqueológicas no sítio pré-histórico Camargo, Piraju, SP. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 1981, p. 131-158. Portaria do IPHAN nº 230, de 17/12/2002, acesso em 15/06/2016, disponível em http://portal.iphan.gov.br/uploads/legislacao/Portaria_n_230_de_17_de_dezembro_de_2002.pdf.
110
AS CARACTERÍSTICAS TÉRMICAS E HIGROMÉTRICAS DO RURAL PRÓXIMO
DE PRESIDENTE PRUDENTE (SP)
Guilherme Silva de Sousa
E-mail: guilherme.s.sousa@outlook.com
Graduando em Geografia.
Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP – Campus de Presidente Prudente– SP.
Bolsista de iniciação científica PIBIC/CNPq.
INTRODUÇÃO
Este trabalho se apresenta como resultado final de pesquisa, a nível de
iniciação científica, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), intitulado "As características térmicas e
higrométricas no rural próximo de Presidente Prudente (SP)".
Na realização dos estudos científicos que tem como objeto de análise o
clima em associação com as dinâmicas e fato urbano, considerando que “o clima
urbano é um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua
urbanização” (MONTEIRO, 1976, p.95) torna-se necessário ir além dos
pressupostos teóricos e metodologias convencionais que classificam a paisagem
rural sob um tipo de visão homogênea.
Assim, considera-se de suma importância a análise e a classificação dos
ambientes rurais próximos a Presidente Prudente (SP), de maneira a comparar a
temperatura e umidade relativa do ar partindo da proposição teórica das Local
Climate Zones (LCZs) de Stewart (2011). Para tanto, buscou-se detalhar as
características das paisagens identificadas no ambiente rural, qualificando seus
elementos constitutivos, de modo a denotá-los de especificidades, bem como de
semelhanças. Deste modo, identificou-se até que ponto seus componentes
interferem na dinâmica térmica e higrométrica do clima próximo a superfície.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizados dados
meteorológicos da estação automática A707 do INMET da FCT/UNESP, campus
Presidente Prudente (SP) e dados meteorológicos mensurados por quatro sensores
111
Fonte: FCT/UNESP; INMET; DATA LOGGER U23-002 – HOBO. Org: SOUSA, G. S.
DATA LOGGER U23-002 – HOBO (sensor de temperatura e umidade externa com
sonda de 1,8m) localizados no rural próximo de Presidente Prudente (SP).
Foram feitos registros horários da máxima, mínima e média para os
dados de temperaturas do ar e umidade relativa, no mês de junho de 2015, dos
quais foram selecionados os seguintes horários para análise às 15h e às 19h.
As planilhas eletrônicas, procedimentos estatísticos para uso e tratamento
dos dados, elaboração de gráficos de distribuição da temperatura e umidade entre
os pontos e as folhas sínteses Stewart (2011), foram elaborados no aplicativo
Microsoft Office Excel 2013 e para a identificação dos sistemas atmosféricos
atuantes, segundo o paradigma rítmico de Monteiro (1971), utilizou-se o gráfico de
análise rítmica do mês de junho de 2015 para fomentar as análises dos resultados.
ANÁLISE DOS RESULTADOS
Nas análises dos resultados optou-se por utilizar um gráficos
representativos da distribuição da temperatura e da umidade entre os pontos para o
período noturno das 19h, com intuito de demonstrar como a distribuição da
temperatura do ar e da umidade relativa varia entre os pontos conforme o horário
de mensuração.
Portanto, as diferenças entre os pontos para os dados da temperatura
apresentaram-se significativas, durante o período noturno.
Como pode-se observar que no dia 11 às 19h, o Urbano registrou 26,1°C,
enquanto o Rural 1 e 2 apresentaram respectivamente as temperaturas de 20,4°C e
21,7C° sob a atuação da massa de ar tropical atlântica continentalizada (Tac) de
características quente e seca, (gráfico 01).
Gráfico 01: Temperatura do ar nos pontos às 19h00 do mês de junho de 2015.
112
Fonte: FCT/UNESP; INMET; DATA LOGGER U23-002 – HOBO. Org: SOUSA, G. S.
Fonte: GOOGLE EARTH, 2016. Org: SOUSA, G. S.
Do mesmo modo, para os dados da umidade relativa as diferenças
mostraram-se significativas. No dia 23 às 19h o Urbano registrou 43% de umidade
relativa do ar, enquanto o Rural 1 apresentou, respectivamente, 85%, devido a
presença de cobertura arbórea mais significativa (Fig. 01). O Rural 2 apresentou 66
% enquanto o Rural 3 e 4 apresentaram 55% e 61%, sob a atuação da massa de ar
tropical atlântica (Ta) de características quente e úmida (gráfico 02).
Gráfico 02: Umidade relativa do ar nos pontos às 19h00 do mês de junho de 2015.
Figura 01: Classificação paisagística do ponto Rural 1, LCZ A..
113
A (Fig. 01) apresenta a ilustração de uma das classificações paisagística
segundo a metodologia de folhas sínteses de Stewart (2011), sendo essa paisagem
classificada como LCZ A – Local Climate Zone A – caracterizada como
significativamente arborizada, presença de árvores espaçadas, vegetação rasteira e
corpos d‟água nas proximidades, apresenta poucas estradas e edificações, com
edifícios pequenos de baixa elevação.
Com relação à cobertura da terra, a LCZ A apresenta alta permeabilidade
devido a presença de cobertura arbórea e rasteira, compreende áreas de
remanescente florestal e uso rural, com fluxo de tráfego baixo no rural próximo à
leste da cidade. A temperatura média do ar para o mês de junho nestas áreas foi de
19°C, e a umidade relativa média do ar foi de 81%.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O resultado mais significativo deste trabalho está concentrado na
necessidade de buscar novas formas de análises teóricas e metodológicas, que
rompam com a dualidade cidade e campo, em que o primeiro é denotado de uma
caracterização paisagística mais complexa e heterogênea enquanto o segundo
tende a uma classificação mais simplista e pouca detalhada, ao nível da superfície,
denotando-o de uma feição homogênea que de certo modo, tal como apresentaram
os resultados não se confirma.
Deste modo, o trabalho aqui apresentado, bem como o fruto de seus
resultados tem como propósito prestar contribuições para futuros trabalhos e
pesquisadores do clima das cidades, tentando apresentar uma teoria e metodologia
alternativa, porém não excludente que extrapole o padrão clássico de
caracterização e diagnóstico de eventuais situações-problemas ou fenômenos
climáticos de escala local, como a ilha de calor urbano, por exemplo, em vista de
suprimir generalizações que os comprometam.
Pode-se também, induzir políticas de planejamento urbano e ambiental,
afim de mitigar situações de caráter impactante ou desconfortável, ocasionadas
pelo clima em associação com as atividades humanas intensificadas no ambiente
urbano, tendo como pressuposto o bem-estar social dos habitantes das cidades
que deve ser gerenciada em uma ação conjunta das instituições, entidades de
pesquisa e poder público.
114
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARDOSO, R. dos S. Classificação de potenciais unidades climáticas em
Presidente Prudente-SP. 2015. 135 f. Dissertação (mestrado) - Universidade
Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, 2015. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/138512>.
MENDONÇA, F. de A. O clima no planejamento da cidade: Um desafio aos
urbanistas na defesa da qualidade ambiental. SIMPÓSIO BRASILEIRO DE
CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA, 3, 1998, Salvador. Anais...CD-Rom. Salvador:
Universidade Federal da Bahia, 1998.
MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia: noções básicas e climas
do Brasil, In: “Circulação e Dinâmica Atmosférica”, São Paulo, Oficina de textos,
2007, p.95- p.100.
MENDONÇA, F; MONTEIRO, C. A. de F. Clima urbano. 2. ed. São Paulo: Contexto,
2011.
MONTEIRO, C. A. de F. Análise rítmica em climatologia. São Paulo: IGEOG/USP,
1971.
______. Teoria e Clima Urbano. São Paulo: IGEOG/USP, 1976. (Série Teses e
Monografias, 25).
STEWART, I. D. Redefining the urban heat island. Vancouver. 2011. 368p. Thesis
(Doctor of Philosophy). The Faculty of Graduate Studies, The University of British
Columbia.
115
AVALIAÇÃO DOS TIPOS DE TEMPO DE PRESIDENTE PRUDENTE: ANÁLISE DO MÊS DE MARÇO DE 2013
Bruna Guldoni bruna.guldoni@hotmail.com
Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
Campus de Presidente Prudente Bolsista FAPESP, Processo nº 2015/23955-1
Antonio Jaschke Machado
jaschke.machado@fct.unesp.br Prof. Dr. do Departamento de Geografia
Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Campus de Presidente Prudente
INTRODUÇÃO
O tema da referente pesquisa sobre “tipos de tempo” constitui ainda um
obstáculo significativo para a Climatologia, visto que se tem uma vaga definição
(PRADELLA, 2014). Tarefas importantes do dia-a-dia, como planejamento urbano,
agrícola, industrial, dependem deste conhecimento. Desse modo, as pessoas
compreendendo a sucessão dos tipos de tempo, conseguem se programar em suas
atividades. Este trabalho tem por objetivo resgatar a primeira classificação dos tipos de
tempo para o Oeste Paulista (TARIFA e MONTEIRO, 1972), e, por conseguinte,
desenvolver um procedimento que agregue observações convencionais em estação
meteorológica a imagens de satélite.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a classificação dos tipos de tempo de Presidente Prudente,
primeiramente coletou-se junto à estação meteorológica dados de insolação e de
chuva do dia todo; temperatura às nove horas; umidade, direção do vento,
nebulosidade e pressão todos esses das nove horas. Após coletados os dados e
passados para planilhas, foram criados os critérios de classificação de todos os
elementos meteorológicos, como o exemplo a nebulosidade:
Encoberto 8, 9 ou 10 partes cobertas
Nublado De 3 a 7 partes cobertas
Claro De 0 a 2 partes cobertas
Após todos os elementos meteorológicos classificados, foi realizada uma
classificação para o dia como um todo, resultando em três tipos de tempo: Tempo
116
Bom ou Aberto, Tempo Transitório e Tempo Tempestuoso. Tempo Aberto, quando há
características de céu claro, com pouca nebulosidade, geralmente com pressões altas
e a predominância de anticiclones; Tempo Transitório, após, ou antes, da passagem
de um anticiclone, quando se nota certa instabilidade no tempo, porém, sem presença
de chuvas e Tempestuoso, quando ocorre precipitação, seja dentro ou acima do valor
médio mensal.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir é apresentado uma tabela com a classificação do mês de
Março/2013 e após imagens do Satélite GOES dos dias 23, 24, 25 e 26 de março,
para se fazer a análise do tipo de tempo com a atividade atmosférica ocorrida no
momento de análise, que foram às nove horas da manhã:
Tabela1: Classificação dos tipos de tempo para o mês de março de 2013
Dia/ Elemento Atmosféri
co
Insolação (hs/dia)
Temperatura (ºC) às 9
horas
Umidade (%) às 9 horas
Direção do Vento às 9
horas
Quantidade de nuvens às
9 horas
Precipitação (mm)
Pressão atmosférica
(mb)
Tipo de Tempo
08 Claro Confortável Confortável Anticiclone Claro Sem precipitação
Estável Tempo Aberto
09 Claro Confortável Confortável Pré-Frontal Nublado Sem precipitação
Estável Tempo Aberto
10 Claro Confortável Confortável Pré-Frontal Nublado Sem precipitação
Estável Tempo Aberto
11 Nublado Confortável Confortável Pré-Frontal Nublado Acima do esperado
Instável Tempestuoso
12 Nublado Confortável Confortável Anticiclone Nublado Acima do esperado
Estável Tempestuoso
13 Nublado Confortável Saturado Calmaria Encoberto Acima do esperado
Estável Tempestuoso
14 Encoberto Confortável Saturado Calmaria Encoberto Acima do esperado
Estável Tempestuoso
15 Nublado Confortável Saturado Anticiclone Encoberto Sem precipitação
Estável Tempo Transitório
16 Nublado Confortável Saturado Anticiclone Encoberto Acima do esperado
Estável Tempestuoso
17 Encoberto Confortável Saturado Anticiclone Encoberto Acima do esperado
Estável Tempestuoso
18 Encoberto Frio Saturado Anticiclone Encoberto Dentro do esperado
Estável Tempestuoso
19 Nublado Frio Confortável Anticiclone Nublado Dentro do esperado
Estável Tempestuoso
20 Encoberto Confortável Saturado Anticiclone Encoberto Acima do esperado
Instável Tempestuoso
21 Nublado Confortável Saturado Calmaria Encoberto Sem precipitação
Estável Tempo Transitório
22 Nublado Confortável Saturado Pós-Frontal Claro Sem precipitação
Estável Tempo Transitório
23 Claro Confortável Confortável Anticiclone Claro Sem precipitação
Estável Tempo Aberto
24 Nublado Confortável Saturado Anticiclone Encoberto Sem precipitação
Estável Tempo Transitório
25 Nublado Confortável Confortável Anticiclone Nublado Sem precipitação
Estável Tempo Transitório
26 Nublado Frio Saturado Calmaria Encoberto Dentro do esperado
Estável Tempestuoso
27 Claro Confortável Saturado Pré-Frontal Nublado Sem Estável Tempo
117
precipitação Transitório
28 Claro Confortável Saturado Anticiclone Nublado Sem precipitação
Estável Tempo Transitório
29 Claro Confortável Confortável Anticiclone Claro Sem precipitação
Estável Tempo Aberto
30 Claro Confortável Confortável Anticiclone Claro Sem precipitação
Estável Tempo Aberto
31 Claro Confortável Confortável Anticiclone Nublado Sem precipitação
Estável Tempo Aberto
FIGURA 1. Imagem do satélite GOES dos dias 23 (a), 24 (b), 25 (c) e 26 (d) de março de 2013.
118
A imagem de satélite (Fig. 1a) confirma a observação realizada na Estação
Meteorológica, de Tempo Aberto. Há duas bandas de nuvens principais, uma ao norte do
estado de São Paulo, aparentando constituir um sistema frontal em conexão com um ciclone
extratropical no oceano Atlântico. Há uma outra banda de nuvens ao sul do estado de São
Paulo sobre a Argentina que parece indicar frontogênese.
No dia 24 (Fig. 1b) a frontogênese sobre a Argentina parece enfraquecer e grandes
núcleos convectivos se formam no interior do Brasil aparentemente associados ao cavado
da frente fria sobre o oceano. O estado de São Paulo fica encoberto por muitas nuvens, que
caracteriza o Tempo Transitório. Na terceira imagem (Fig. 1c) parece haver um
deslocamento da nebulosidade para leste, diminuem as nuvens sobre o estado de São
Paulo, confirmando a transitoriedade do tempo.
Na quarta imagem (Fig. 1d) todo o estado de S.P. aparece novamente coberto por
nuvens que se estendem em conexão com o sistema frontal sobre o oceano, possivelmente
associado a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Olhando em detalhe o oeste do
estado de S.P. na imagem observamos um núcleo de nuvens mais claras caracterizando
atividade convectiva profunda, o que caracteriza a condição tempestuosa do tempo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As análises das cartas sinóticas, juntamente com as análises dos dados da tabela,
confirma as classificações dos tipos de tempo para este período em Presidente Prudente.
Percebemos a sequência dos tempos em quase todas as outras análises que não estão
contempladas aqui, primeiramente o tempo aberto, logo ele passa a ficar transitório,
variando de 1 a 3 dias por conta da chegada de um sistema frontal e após passa a ser
tempestuoso, onde ocorre a precipitação. Para uma melhor análise deveria ser realizadas
leituras de vários horários do dia, porém seria muito trabalhoso para uma bolsa de iniciação
científica de um ano. Fica a instigação para um próximo trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Disponível em: <http://satelite.cptec.inpe.br/home/novoSite/index.jsp> Acesso em: 08/09/2016. PRADELLA, Henrique Lobo. A construção do conceito de “tipos de tempo” entre os séculos XVII e XXI, no âmbito das Ciências Atmosféricas. 2014, 370 f. Dissertação (Mestrado em Geografia Física) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014; SANT‟ANNA NETO, João Lima; TOMMASELLI, José Tadeu Garcia. O tempo e o clima de Presidente Prudente. FCT-UNESP, Presidente Prudente, 2009. TARIFA, José Roberto; MONTEIRO, Carlos Augusto Figueiredo. Balanço de energia em seqüência de tipos de tempo: uma avaliação no Oeste Paulista (Presidente Prudente) 1698-1969. USP- IG, Série Climatologia n°5, São Paulo, 1972.
119
CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DE PONTOS AMOSTRAIS NO INTERIOR E NAS BORDAS DO PARQUE ESTADUAL DO MORRO DO DIABO,
MUNICÍPIO DE TEODORO SAMPAIO-SP, A APARTIR DE ABORDAGENS CORRELATAS À ECOLÓGIA DA PAISAGEM
Alisson Rodrigues Santori rodriguessantori@hotmail.com
Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
Campus de Presidente Prudente Bolsista Fapesp
INTRODUÇÃO
O trabalho desenvolvido buscou efetuar análise qualitativa, caracterização e
diagnóstico ambiental, focado nos padrões de conservação ou degradação de pontos de
coleta dos vetores de leishmania e de pontos amostrais de qualidade da agua e sedimentos
no Parque Estadual do Morro do Diabo e na região do pontal do Paranapanema. Tem o
objetivo de identificar pressões e ameaças externas em cada ponto, identificando sua
origem e avaliando seu potencial de risco, intensidade e duração. O processo de coleta
dessas informações se deu por meio de trabalhos de campo e análises feitas com base na
resolução CONAMA 01/1994.
Nesse sentido, as atividades aqui desenvolvidas têm como base a caracterização
ambiental focada essencialmente em determinar o grau de desequilíbrio e impacto que a
agricultura extensiva de cana de açúcar e outras atividades têm causado em determinadas
espécies faunísticas (flebotomíneos), e as perturbações causadas nos corpos d‟agua da
região do pontal. Como bases para esses estudos e correlações estão sendo realizadas
duas abordagens: uma com enfoque técnico, prezando pela análise da legislação ambiental
vigente, analise e elaboração de dados gráficos, sistematizações de dados e trabalhos de
campo; e outra focada no estudo teórico e bibliográfico voltado à ecologia da paisagem que
pode fornecer uma análise geográfica da influência do homem sobre a paisagem e a gestão
do território, contribuindo também para o entendimento das interações que as unidades da
paisagem tem entre si e que contribuem para o seu funcionamento e dinâmicas internas.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O trabalho foi dividido em algumas etapas, sendo que a primeira se tratou do
levantamento bibliográfico e cartográfico em escala regional dos pontos de análise, focando
o uso e ocupação do solo, a geomorfologia, pedologia, rede hídrica e outros atributos. Em
outra etapa foram realizados quatro trabalhos de campo nos dias 3, 4, 17 e 18 de maio,
onde foram visitados 20 pontos de coleta e nesses campos foi utilizada uma ficha de
120
levantamento com base nos quesitos da resolução CONAMA 01/1994 que dispõem sobre
estágios de vegetação e sucessão ecológica. Nos dias 3 e 4 foram visitados 10 pontos em
cursos d‟agua da bacia do Paranapanema onde foi realizada a coleta de agua e sedimentos
por outras equipes, nos dois últimos dias a caracterização se focou em pontos amostrais de
coleta de flebotomíneos (Mosquito-Palha) no PEMD e suas bordas. Os dados e
informações foram divididos em duas situações chamadas de “dados gerais” e “dados
específicos”.
O levantamento bibliográfico se focou em uma caracterização física previa e geral dos
locais de estudo, voltada principalmente a nível regional, sendo essencial para agrupar
informações referentes à pedologia, geomorfologia, geologia, rede hídrica e uso e ocupação
do solo. A aquisição de dados cartográficos, infográficos e tabelas colaboraram para o
conhecimento das características mais especificas dos locais, sendo observados nesse
momento os padrões de qualidade e quantidade de certos indicadores que estão sendo
utilizados para a realização das relações de impacto e derivações acusadas nas
caracterizações pontuais. Os trabalhos de campo ajudaram na aquisição de informações
pontuais sobre a condição de preservação/degradação das unidades de paisagens
estudadas, considerando o enfoque nos fragmentos vegetais da região, nas áreas de
drenagem e cursos d‟agua, e na influência impactante da cultura canavieira na qualidade
ambiental dos mesmos.
Figura 1: Mapa de localização dos pontos amostrais no Parque Estadual e bordas.
Fonte: Santori, 2016
121
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados de campo e gabinete levantados e organizados tem o objetivo de fornecer
informações que resultaram em materiais cartográficos ilustrando o cenário de uso e
ocupação da região aliada às formas de pressões antrópicas e a interação dos ambientes.
Os chamados “dados gerais” buscaram caracterizar atributos relacionados às
condições ambientais mais simples dos locais como uso da terra, relevo, característica
predominante do solo e impactos e derivações mais perceptíveis. Esses dados foram
organizados em duas tabelas para os dois campos realizados em maio. Os “dados
específicos” forneceram informações técnicas relativas à legislação ambiental para estágios
de sucessão ecológica (CONAMA 01/1994) que relaciona atributos de analise, entre eles a
fisionomia vegetal, características de estrato lenhoso, produto lenhoso, DAP médio,
diversidade biológica entre outros.
O trabalho vai se focar agora, na ampliação e no aprofundamento da análise dos
resultados obtidos e no fortalecimento das correlações possíveis, estabelecendo então uma
relação entre as condições do ambiente e as variáveis de comparação disponíveis e, como
resultado final, a elaboração de mapas ilustrando as condições ambientais, as formas de
impactos gerados pela cana e/ou outros agentes, como por exemplo, o possível impacto
causado pela atividade de queimada da cana realizada nas proximidades dos fragmentos
vegetais, e a forma como as alterações e consequentes interações entre as paisagens
estudadas se compreendem dentro do pensamento ecológico e como essa relação muitas
vezes impactante interfere diretamente na dinâmica e na relação biótica interna.
Figura 2: Cana queimada entre dois pontos de estudo deste trabalho, na borda norte do
Parque Estadual.
Fonte: Pimenta, 2016.
122
Figura 3: Borda do Parque Estadual atingida pelo fogo colocado na cana.
Fonte: Pimenta, 2016
Tabela 1: Dados primários dos pontos de análise do 2° Campo (flebotomíneos).
Pontos Coordenadas Uso da terra Relevo Solo Impactos e derivações
1 22º 36' 59'' S - 52º 10' 19'' O
MD/ME: Unidade de Conservação
Planície Fluvial (Terraços)
Neossolo Flúvico
Estrada de serviço (min)
2 22º 37' 35'' S - 52º 10' 23'' O
MD/ME: Unidade de Conservação
Planície Fluvial (Terraços)
Neossolo Flúvico
Trilha autoguiada
3 22º 37' 27'' S - 52º 10' 31'' O
MD/ME: Unidade de Conservação
Planície Fluvial (Terraços)
Neossolo Flúvico
Trilha autoguiada
4 22º 36' 49'' S - 52º 10' 33'' O
MD/ME: Unidade de Conservação
Planície Fluvial (Terraços)
Neossolo Flúvico
Não registrado
5 22º 36' 31'' S - 52º 10' 6'' O
MD/ME: Pastagem/Moradia
Planície Fluvial (Terraços)
Neossolo Flúvico
Estrada/Fossa/Moradias/Criações
6 22º 36' 22'' S - 52º 10' 31'' O
MD/ME: Pastagem/Pomar
Planície Fluvial (Terraços)
Argissolo Solo exposto/Fossa/Lixo/
Criações
7 22º 35' 11'' S - 52º 10' 29'' O
MD/ME: Pastagem/Pomar
Planície Fluvial (Terraços)
Argissolo Criações/Solo exposto/Lixo
8 22º 34' 43'' S - 52º 10' 37'' O
MD/ME: Pastagem/Pomar
Planície Fluvial (Terraços)
Argissolo Criações/Lixo/Solo impermeabilizado
9 22º 23' 59" S - 52º 30' 56" O
MD: Mata / ME: Cana
Topo Aplainado (Colinas)
Latossolo Cana/Erosões
10 22º 22' 52" S - 52º 31' 4" O
MD/ME: Cana/Pomar/Pastagem
Alta Vertente (Colinas)
Latossolo Erosão/Cana/Criações/Lixo
Fonte: Dados do Autor.
123
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O avanço deste projeto de pesquisa requer um grande foco nos estudos não somente
relacionados à vegetação, mas a tudo que envolve o meio biótico e abiótico. Portanto, este
trabalho não se foca apenas em caracterizar ambientalmente os pontos amostrais, mas
também criar correlações baseadas em dados e teorias e assim observar as interações e
influências das unidades de paisagem na vida do homem e vice versa, e, além disso, é
importante ressaltar a possibilidades de propostas e intervenções que possam colaborar
para a ampliação da conservação da natureza e da vida do homem . Sendo assim, para os
próximos meses espera-se ter um panorama confiável da qualidade ambiental e do nível de
pressão e impacto antrópico nos pontos de estudos para o Parque Estadual do Morro do
Diabo e seu entorno.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAIDO, L. M. H.; TOMASELLI, J.T.G. Setorização de fatores ambientais - clima, solos e
relevo para o planejamento ambiental e territorial na região do pontal do Paranapanema -
SP - Brasil. Revista Geonorte, v.3, n.4, p.1268-1282, 2012.
CASAGRANDE, B. et al. Avaliação dos flebotomíneos encontrados no interior e na borda do Parque Estadual do Morro do Diabo, município de Teodoro Sampaio – SP, Brasil. In: I Seminário Temático CETAS, 1, 2015. FCT/Unesp.
METZGER, J. P. O que é ecologia de paisagens. Biota Neotropica, São Paulo, v.1, p. 1-9, 2001.
Plano de Manejo Parque Estadual do Morro do Diabo. Santa Cruz do Rio Pardo, SP :
Editora Viena, 2006.Vários autores.
RESOLUÇÃO CONAMA 01/1994. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=142 >. Acesso em 01 de Outubro de 2016.
SCHIAVETTI, A. O papel da ecológica teórica na delimitação de unidades de conservação. IF Series Registros, São Paulo, 1996, p. 13-20.
TROPPMAIR, H. 2000. Ecologia da paisagem: uma retrospectiva. Anais do I Fórum de debates “Ecologia da Paisagem e Planejamento Ambiental” (4-8 junho de 2000, Rio Claro). Sociedade de Ecologia do Brasil
TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de janeiro. IBGE, Diretoria Técnica, SUPREN, 1977.
124
CONFORTO TÉRMICO EM AMBIENTES EXTERNOS: UMA ANÁLISE DO PARQUE DO POVO EM PRESIDENTE PRUDENTE - SP
Alexandre Antonio Abate
E-mail: alexandre_abate@hotmail.com
Graduação em Geografia (Bacharelado e Licenciatura)
Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de Presidente Prudente - SP
Bolsista do CNPq
Renan Coelho da Silva
E-mail: rcoelhogeo@gmail.com
Graduação em Geografia (Bacharelado e Licenciatura)
Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de Presidente Prudente - SP
Ritielle Cristina Aparecido
E-mail: cris.2013.geo@hotmail.com
Graduação em Geografia (Bacharelado e Licenciatura)
Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de Presidente Prudente - SP
INTRODUÇÃO
O clima configura-se como um elemento extremamente influenciado pelos fatores
decorrentes da urbanização, como retirada da vegetação original, aumento da circulação de
veículos e pessoas, impermeabilização do solo, densidade de edificações, lançamentos de
material particulado e gases. Estes processos auxiliam na produção do clima das cidades,
as quais são geradoras de um clima próprio (AMORIM, 2013). Para Monteiro e Mendonça
(2003, p.19) “o clima urbano é um sistema que abrange o clima de um determinado espaço
terrestre e sua urbanização”.
Considerando que na contemporaneidade, a maioria da população vive nas
cidades, é imprescindível analisar as relações entre o clima urbano e a vida das pessoas.
Deste modo, o presente estudo insere-se no âmbito de análise do conforto térmico em
ambientes externos. Mediante análise das características térmicas (temperatura do ar e
temperatura da superfície) e higrométricas (umidade relativa do ar), o objetivo da pesquisa
refere-se ao estudo do conforto térmico do Parque do Povo, localizado no município de
Presidente Prudente – SP. Os dados foram coletados nos dias 13 e 14 de agosto de 2015.
O recorte espacial adotado na presente pesquisa é utilizado amplamente pela
população nos três períodos do dia para passeios, realização de atividades físicas
(caminhadas, corridas, exercícios físicos mediante utilização dos aparelhos fornecidos pelo
parque) e encontro da população em eventos oficiais (reconhecidos pela administração
pública) e não oficiais (encontro de jovens em eventos organizados nas redes sociais, por
exemplo). Assim, buscamos identificar se as características do Parque do Povo são
propícias para as diversas atividades humanas que são realizadas nesta porção do espaço
125
urbano, partindo do pressuposto de que o organismo humano é sensível às variações
térmicas e higrométricas que ocorrem no ambiente ao longo do dia, sendo que cada
indivíduo é afetado diferentemente pelas variações citadas.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a coleta dos dados de temperatura do ar, umidade relativa e temperatura da
superfície, foram selecionados 12 pontos ao longo do Parque do Povo, conforme o mapa 1.
Para a coleta da temperatura do ar e da umidade relativa, foi utilizado um termohigrômetro
digital, marca MAXIM II, o qual foi instalado dentro de um mini abrigo mantido a uma altura
padrão de 1,50 m da superfície. Ele é construído por ripas de madeira branca, que permitem
uma ventilação natural e ao mesmo tempo permitem criar condições de sombra ao
equipamento, não influenciando, portanto, nos valores obtidos. Para a obtenção da
temperatura da superfície, foi utilizado um termômetro infravermelho de superfície, marca
HANNA, e para a coleta da altimetria, latitude e longitude, um aparelho GPS.
Os dados foram coletados nos dias 13/08/2015 e 14/08/2015, sendo que, ao todo,
seis trabalhos de campo foram realizados. Os dados obtidos referem-se aos seguintes
períodos: entre 7h e 8h; 15h e 16h e entre 19h e 20h. Os dados foram coletados nestes
períodos partindo do pressuposto de que o Parque do Povo é utilizado nos três períodos do
dia. Além disso, os horários/períodos foram escolhidos porque representam ou estão
próximos das diferenças atmosféricas no decorrer do dia. Às 7h, a temperatura do ar nas
cidades começa a aumentar em função do nascer do sol. Às 15h, são registradas as
maiores temperaturas do ar e no período entre 19h e 20h, é possível perceber que a
temperatura começa a diminuir, o que será consolidado às 21h quando não há mais
radiação solar incidindo diretamente, dando início, de fato, ao resfriamento noturno (ORTIZ,
2013). Para a análise do conforto térmico, o índice bioclimático de Thom (Índice de
Desconforto de Thom - IDT) foi adotado como referencial teórico, sendo construída uma
paleta de cores conforme o índice.
126
MAPA 1: Dispersão dos pontos de coletas de dados no Parque do Povo de Presidente Prudente - SP. O trajeto percorrido foi na direção Norte-Sul.
Org.: NASCIMENTO JÚNIOR, L; SILVA, R.C. Elaboração: 20 ago. 2015.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No dia 13/08/2015, as menores temperaturas do ar foram observadas durante o
período da manhã. Os maiores valores foram obtidos à tarde. O período do dia com maior
radiação solar direta é meio dia, todavia o que aquece o ar não é a radiação solar, mas sim
a radiação terrestre, o que explica as maiores temperaturas do dia que são sempre
registradas nos horários próximos às 15h. Como já era de se esperar, o período noturno
apresentou uma diminuição dos dados referentes à temperatura do ar comparando com o
período da tarde em função do resfriamento noturno. No que tange à temperatura da
superfície, os dados seguiram praticamente a mesma lógica da temperatura do ar, com
valores maiores registrados no período da tarde. Com base na umidade relativa do ar,
percebe-se que os valores maiores foram registrados no período da manhã, pois o índice de
umidade relativa é maior quando a temperatura do ar é menor.
Mediante análise dos dados referentes ao dia 14/08/2015, constatamos os
seguintes resultados: a) o período do dia com temperatura do ar e da superfície menores foi
o diurno, ao passo que os maiores valores foram obtidos à tarde; b) no que concerne à
umidade relativa do ar, ela foi superior no período diurno e inferior no período da tarde, o
que sempre acontece, principalmente no período das 15h às 16h, que é considerado como
crítico pelos especialistas. Neste dia, chamamos a atenção para a umidade relativa do ar no
período da tarde. Em todos os pontos de coleta, ela esteve abaixo de 40%. Nestas
condições, a saúde humana torna-se vulnerável e as pessoas podem enfrentar: 1)
127
complicações alérgicas e respiratórias devido ao ressecamento de mucosas; 2)
sangramento pelo nariz; 3) ressecamento da pele; 4) irritação dos olhos.36
Conforme a paleta de cores (quadro 1) feita a partir do Índice de Desconforto de
Thom (IDT), nos dois períodos da manhã (exceto no primeiro ponto do dia 13/08), não foi
constatado desconforto (o IDT está até 21, representado pelo azul mais escuro), o que é
corroborado pelos valores apresentados, ou seja, maiores índices de umidade relativa e
menores temperaturas do ar e da superfície. Com base nos dois períodos da noite, em
todos os pontos (IDT entre 21 e 24, representado pelo azul mais claro), há desconforto
térmico para menos de 50% da população. Nos períodos da tarde dos dois dias,
constatamos os maiores índices de desconforto (IDT entre 25 e 27, representado pelo
amarelo mais claro), sendo que mais de 50% da população sente desconforto nestas
condições. Ressaltamos que no ponto 6 do dia 14/08, no período da tarde, foi constatado o
maior nível de desconforto (IDT entre 28 e 29, representado pelo amarelo um pouco mais
escuro), sendo que neste nível, a situação é extremamente preocupante, no qual a maioria
da população sente desconforto e deterioração das condições físico-sociais (sangramento
do nariz, complicações respiratórias, estresse e dor de cabeça, por exemplo).
Conclui-se, então, que nos períodos da tarde e da noite dos dias 13 e 14 de agosto
de 2015, partindo do referencial teórico proposto por Thom, as características termo-
higrométricas dos doze pontos estudados do Parque do Povo de Presidente Prudente, SP,
não são adequadas para as atividades humanas realizadas, podendo acarretar danos à
saúde da população. Ou seja, identificamos, nestes períodos, desconforto térmico. Nos
períodos da manhã de ambos os dias, as características mencionadas mantiveram-se
dentro do padrão necessário para que a população não sinta desconforto térmico, segundo
o Índice de Thom.
36
ESCALA psicrométrica UNICAMP para indicação de níveis de umidade relativa do ar
prejudiciais à saúde humana. CEPAGRI UNICAMP. Disponível em: <http://www.cpa.unicamp.br/artigos-especiais/umidade-do-ar-saude-no-inverno.html>. Acesso em: 21 ago. 2015.
128
Quadro 1: Paleta de cores para os dias 13 e 14/08/2015, com base no Índice de
Desconforto de Thom.37
Org.: ABATE, A.A; APARECIDO, R. C.; SILVA, R.C. Elaboração: 20 ago. 2015.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De uma forma geral, verificou-se que as áreas com solo mais impermeabilizado
mediante concreto e sem a presença significativa de vegetação arbórea são mais quentes, e
as áreas mais arborizadas apresentam menores valores de temperatura do ar.
Ressaltamos a necessidade de um planejamento urbano que considere as
questões ambientais para sua efetivação, não tomando como base apenas fatores
infraestruturais de organização do espaço urbano, por exemplo. Um planejamento ambiental
urbano é necessário, principalmente no Parque do Povo, para que os efeitos do clima
urbano sejam amenizados.
Propomos, então, que o Poder Público de Presidente Prudente execute medidas de
incentivo ao plantio de mais árvores no Parque do Povo, pois segundo Amorim (2013, p.
219) “os espaços verdes, além de contribuir para o abrandamento do clima, podem também
favorecer o descanso e o lazer da população [...]”. Partindo da preocupação com a saúde da
população e mediante os valores de temperatura do ar e umidade relativa constatados,
sugerimos a implantação de bebedouros38 para que as pessoas se hidratem no Parque do
Povo. A partir destas medidas que são amplamente divulgadas nos trabalhos científicos, é
possível proporcionar um ambiente com melhores condições para a população, ou seja, um
ambiente no qual o conforto térmico pode ser presenciado. É necessário que haja
comprometimento do poder público e um trabalho coletivo dos gestores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORIM, M.C.D.C.T. Ritmo climático e planejamento urbano. In: ______; SANT' ANNA NETO, J.L; MONTEIRO, A. (Org.). Climatologia urbana e regional - Questões teóricas e estudos de caso. São Paulo: Outras Expressões, 2013.
CARVALHO, V.; MONTEIRO, A. Uma abordagem metodológica para avaliação de eventos climáticos extremos. In: AMORIM, M.C.D.C.T.; SANT' ANNA NETO, J.L; MONTEIRO, A. (Org.). Climatologia urbana e regional - Questões teóricas e estudos de caso. São Paulo: Outras Expressões, 2013.
MONTEIRO, C. A. F.; MENDONÇA, F. (Org.) Clima Urbano. São Paulo: Contexto, 2003, p. 93 – 120.
37
A partir do trabalho de Carvalho e Monteiro (2013) tivemos acesso ao link que nos levou ao site que
fornece a tabela e a legenda referente ao IDT. Disponível em: <Euro Weather.http://www.eurometeo.com/english/read/doc_heat.>. Acesso em: 21 ago. 2015. 38
Em 2015, ano de realização da pesquisa, não constatamos bebedouros no Parque do Povo. No
primeiro trimestre de 2016, alguns bebedouros começaram a ser instalados. Não obstante, até o momento, a quantidade disponibilizada é insuficiente.
129
ORTIZ, G. F. O campo térmico e higrométrico de Cândito Mota/SP. In: AMORIM, M.C.D.C.T.; SANT' ANNA NETO, J.L.; MONTEIRO, A. (Org.). Climatologia urbana e regional - Questões teóricas e estudos de caso. São Paulo: Outras Expressões, 2013.
130
CONTRIBUIÇÕES DA GEOMORFOLOGIA ANTROPOGÊNICA PARA A ANÁLISE DOS PROCESSOS HIDROGEOMORFOLÓGICOS NA BACIA HIDROGRÁFICA CÓRREGO DO
VEADO, PRESIDENTE PRUDENTE/SP39
Nayara Rodrigues da Silva E-mail: nayara.rodriguees@gmail.com
Vinculo institucional: Graduanda em Geografia Instituição: Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
Campus de Presidente Prudente Bolsista FAPESP
Isabel Cristiana Moroz Caccia Gouveia
E-mail: icmoroz@fct.unesp.br Vinculo institucional: Prof. Dra. da Pós Graduação e Graduação em Geografia
Instituição: Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Campus de Presidente Prudente
INTRODUÇÃO
O processo de urbanização das cidades brasileiras, orientado pela lógica da
especulação imobiliária, tem alterado de forma quase irreversível as paisagens originais e
como consequências têm-se a supressão de cobertura vegetal nativa, aterramento de
nascentes, retificações e tamponamentos de cursos fluviais e impermeabilização do solo,
dentre outras modificações. Tais intervenções antrópicas causam mudanças de taxas,
frequências e magnitude dos processos hidrogeomorfológicos40. Desta forma, em ambientes
urbanizados, fica evidente que as intervenções antrópicas atreladas à falta de planejamento
urbano adequado resultam no aumento de ocorrência de inundações, alagamentos e
enxurradas nas cidades brasileiras e no comprometimento da dinâmica natural dos rios e
córregos. Por tanto, a ação antrópica deve ser entendida como um conjunto de modalidades
de intervenções que promovem mudanças geomorfológicas (MOROZ -CACCIA GOUVEIA,
2010).
A Geomorfologia Antropogênica considera o homem como um agente modificador do
relevo, assim como os processos naturais (tais como os processos eólicos, pluviais, fluviais
e etc). Faz-se necessário compreender como atua a ação antrópica na modelagem do
relevo ao longo do tempo. De acordo com Rodrigues (2005), para os estudos ambientais no
meio urbano, é necessária a superação de abordagens com ênfase nos elementos
exclusivamente definidos pela natureza e aponta a importância do tratamento simultâneo e
sistemático das interferências antrópicas.
39
Trabalho completo apresentado no XVIII Encontro Nacional de Geógrafos, a construção do Brasil: geografia, ação politica e
democracia. Que ocorreu de 24 a 30 de julho de 2016, em São Luís, Maranhão. 40
Segundo Rodrigues (2010), são considerados como sistemas hidrogeomorfológicos: canais fluviais, planícies de inundação, vertentes, bacias hidrográficas e sistemas lacustres.
131
O município de Presidente Prudente está localizado no extremo oeste paulista e
pertence à unidade morfoestrutural Bacia Sedimentar do Paraná, sendo o Planalto Ocidental
Paulista a sua morfoescultura (ROSS & MOROZ, 1996). A área de estudo em questão, a
Bacia Hidrográfica do Córrego do Veado (BHCV), pertencente à sub-bacia do Rio Santo
Anastácio e localiza-se integralmente no perímetro urbano de Presidente Prudente/SP.
Segundo Nunes (2006), Presidente Prudente tem como características geomorfológicas
predominantes colinas médias e baixas, com altitudes que variam entre 300 a 600 metros e
declividades entre 10% a 20%. As drenagens apresentam um padrão dendrítico, com
densidades entre baixa a média (MOROZ-CACCIA GOUVEIA & GOUVEIA, 2015).
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para o desenvolvimento deste trabalho utilizamos a proposta de metodologia de
Rodrigues (2005, 2008, 2014) complementada por Moroz-Caccia Gouveia (2010) Dentre os
princípios e procedimentos mais gerais dessa metodologia norteada pela Geomorfologia
Antropogênica são destacados: a pesquisa dos sistemas físicos em seus estágios sem
intervenção e com intervenções antrópicas diretas; a utilização da cartografia
geomorfológica para reconstituição dos cenários pré e pós-intervenções; a utilização de
documentos históricos, e indicadores de mudanças em sistemas fluviais como referência
(Rodrigues et al., 2014). No presente trabalho iremos abordar a evolução territorial urbana e
as modificações impostas a BHCV, do município de Presidente Prudente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em 1917 foram instalados os primeiros núcleos urbanos que deram origem ao
município, porém em 28 de novembro de 1921 foi criado o município de Presidente
Prudente (LEITE, 1972). A ocupação urbana, inicialmente restrita ao topo aplainado do
espigão, foi-se expandindo pelas áreas de nascentes, exigindo a canalização de alguns
trechos de córregos ou interferindo danosamente sobre vale e canais (GODOY, 1989).
Assim, as características geomorfológicas e hidrológicas originais foram modificadas, pois
se constituíam em empecilhos à expansão urbana e consequentemente, à especulação
imobiliária. No Brasil, na década de 70, a canalização e retificação dos cursos fluviais eram
associadas à abertura de novas avenidas em fundo de vale, pois tais áreas apresentavam-
se planas devido às planícies de inundação. Neste período, se destacam as grandes obras
e, como consequência, a expansão da mancha urbana e da ocupação do solo
transformaram as características da geomorfologia original.
132
Na figura 1 é apresentada a evolução da malha urbana do município de Presidente
Prudente, inserida na BHCV. Vale notar que os primeiros loteamentos foram inicialmente
instalados nas cabeceiras de nascentes, e em seguida a malha urbana se ampliou para as
vertentes e fundos de vale ao longo dos períodos de expansão.
Figura 1: Mapa de Expansão Territorial do município de Presidente Prudente (1917 – Após
2000).
De acordo com Moroz - Caccia Gouveia (2010), as canalizações de cursos d‟água no
Brasil, a exemplo da cidade de São Paulo, foram realizadas sob o pretexto de afastamento
de dejetos, a fim de esconder e afastar as “imundices”, além de eliminar odores e afastar
ratos e mosquitos. Entretanto, muitas áreas de várzeas foram aterradas e incorporadas pelo
mercado imobiliário. As mudanças impostas pela ação antrópica, quer sejam através das
modificações das formas ou da substituição de materiais superficiais, modifica de maneira
radical e irreversível o ciclo hidrológico e como consequência os processos
hidromorfodinâmicos no sistema físico, sobretudo numa bacia hidrográfica em meio tropical
úmido, onde a dinâmica de circulação da água (na superfície, subsuperfície e atmosfera)
desempenha papel fundamental (MOROZ – CACCIA GOUVEIA 2010).
Na figura 2 é apresentado o “Mapa das intervenções nos canais fluviais na BHCV”.
Vale ressaltar que para demonstrar as modificações impostas aos canais fluviais no decorrer
do processo de expansão do município, foram utilizados três categorias para classificação,
são elas: canalizações fechadas, canalizações abertas e canais semi preservados.
133
Foto 2: Mapa das intervenções nos canais fluviais na Bacia Hidrográfica Córrego Veado.
Ao longo do processo de urbanização de Presidente Prudente foram tamponados
cerca de 42,91% de cursos d‟água. No gráfico 1 são apresentadas as modificações dos
cursos d‟água ao longo dos períodos analisados.
Gráfico 1: Percentual das modificações dos canais fluviais.
Elaboração: Silva, N. R. (2016).
Segundo Luz (2014), o processo de urbanização também é responsável pelo
aumento de sedimentos no sistema, seja pela exposição dos solos durante as fases
134
construtivas da cidade ou pela geração de resíduos sólidos (lixo), e também pela
deterioração da qualidade da água superficial e subterrânea. De acordo com Sudo (1988)
apud Godoy (1989), as possibilidades de inundações no município de Presidente Prudente
são evidenciadas por eventos decorrentes de precipitações convectivas e períodos de chuva
contínua.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados preliminares indicam que a bacia hidrográfica teve seus processos
hidrodinâmicos alterados devido ao processo de urbanização do município. Os problemas
relacionados ao escoamento das águas pluviais e fluviais são decorrentes da
impermeabilização do solo e consequentemente geram desastres naturais como
alagamentos e inundações. Através da Geomorfologia Antropogênica fica claro a
necessidade de estudos voltados às intervenções antrópicas em sistemas
hidrogeomorfológicos, pois proporciona elementos (físicos e temporais) para compreender
as modificações ocorridas nos sistemas e cria possibilidade de novos modelos de
planejamento ambiental e urbano, a fim de buscar o equilíbrio entre sociedade e natureza.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, D. S. Formação histórica de uma cidade pioneira Paulista: Presidente
Prudente. Presidente Prudente/SP: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente
Prudente (FFCLPP), Presidente Prudente,1972.
GODOY, M. C. T. F. Mapeamento geotécnico preliminar da região urbana de Presidente
Prudente/SP. Dissertação de Mestrado, Volume I: EESC/USP, São Carlos, 1989.
LEITE, J. F. A Alta Sorocabana e o espaço polarizado de Presidente Prudente.
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente. Presidente Prudente,
1972.
LUZ, R. A. Mudanças geomorfológicas na planície fluvial do Rio Pinheiros, São Paulo
(SP), ao longo do processo de urbanização. Tese de Doutorado (Departamento de
Geografia da FFLCH), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014, 246 p.
MOROZ-CACCIA GOUVEIA, I. C. & GOUVEIA, J. M. C. Estimativa de mudanças nas taxas
de processos hidrodinâmicos em bacias hidrográficas urbanas: Contribuições da cartografia
geomorfológica. In: Anais do XI Encontro Nacional da ANPEGE, Presidente Prudente,
2015, p. 10648-10659.
MOROZ-CACCIA GOUVEIA, I. C. Da originalidade do sítio urbano de São Paulo às
formas antrópicas: aplicação da abordagem da Geomorfologia Antropogênica na
Bacia Hidrográfica do Rio Tamanduateí, na Região Metropolitana de São Paulo. Tese
de Doutorado (Departamento de Geografia da FFLCH), Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2010, 363 p.
NUNES, J. O. R.; FREIRE, R; PEREZ, I. U. Mapeamento Geomorfológico do Perímetro
Urbano do Município de Presidente Prudente-SP. Goiânia. Anais do VI Simpósio Nacional
de Geomorfologia/Regional Conference on Geomorphology, SINAGEO, Goiânia, 2006.
135
RODRiGUES, C.; MOROZ-CACCIA GOUVEIA, I. C.; BERGES, B. & LUZ, R. A.
Geomorfologia urbana histórica e a avaliação da influência de fatores naturais e antrópicos
na geração de eventos fluviais extremos em São Paulo – Brasil. In: Environnement et
géomatique: approches comparées France-Brésil. Rennes, 2014, p. 332-339.
RODRIGUES, C. Morfologia original e morfologia antropogênica na definição de unidades
espaciais de planejamento urbano: exemplo na metrópole paulista. FFCHL/USP, Revista do
Departamento de Geografia, nº 17, São Paulo, 2005. p. 101-111.
ROSS, J. L. S & MOROZ, I. C. Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo. Revista do
Departamento de Geografia, nº 10, São Paulo, 1996.
136
MAPA DOS COMPARTIMENTOS DE RELEVO DO MUNICÍPIO DE MIRANTE DO
PARANAPANEMA – SP
Mariana Lopes Nishizima E-mail: mariana_nishizima@hotmail.com
Graduanda em Geografia pela Faculdade de Ciências e Tecnologia - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Campus Presidente Prudente.
Bolsista FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Professor Livre-Docente João Osvaldo Rodrigues Nunes
E-mail: joaosvaldo@fct.unesp.br Professor do Departamento de Geografia na Faculdade de Ciências e Tecnologia-
Universidade Estadual Paulista “Júlio, de Mesquita Filho” Campus de Presidente Prudente.
INTRODUÇÃO
A ciência geomorfológica tem nos fornecido materiais para a compreensão das
dinâmicas dos processos naturais e sociais, os quais agem sobre o relevo. Através da
cartografia geomorfológica é possível compreender a dinâmica de formação das morfologias
mapeadas, conforme a escala, bem como, a identificação dos compartimentos do relevo
(topos de colinas, morfologias de vertentes, planícies aluviais e terraços fluviais, etc). Estas
informações permitem a realização de diagnósticos e prognósticos em áreas urbanas e
rurais, a partir do conhecimento da evolução da ocupação do relevo. Ocupação este que, de
forma intensa e desordenada, pode trazer consequências, principalmente em relação ao
desequilíbrio do meio ambiente. Neste aspecto, Felipe (2015, p 23) descrever que:
“As condições naturais passam a sofrer uma forte pressão, perdendo importantes funções de estabilidade, como proteção do solo, manutenção dos ciclos hidrográficos, entre outros”.
O município de Mirante do Paranapanema – SP, localizado no Extremo Oeste
Paulista (Figura 01), no qual não há documentos cartográficos com ênfase no estudo do
relevo, na escala do planejamento urbano e regional (1:25.000). Os documentos que
envolvem os municípios da região, são representados pelos mapas geomorfológicos do IPT
(1981b) na escala 1:1.000.000 e de Ross e Moroz (1997) na escala de 1:500.000, portanto,
estão voltadas para um planejamento de maior extensão territorial.
137
Figura 01: Localização da área de estudo no município de Mirante do Paranapanema-SP.
OBJETIVOS
O objetivo principal deste trabalho é a elaboração do Mapa dos compartimentos de
relevo do município de Mirante do Paranapanema – SP, vinculado aos processos
morfodinâmicos, relacionados à sua formação e dinâmica atual. Como objetivos específicos
tem-se os seguintes pontos: caracterizar o quadro geomorfológico, geológico e pedológico
regional; mapear e caracterizar os principais compartimentos de relevo (topo, vertentes e
fundos de vales) na escala 1:25.000; caracterizar as morfologias do relevo (vertentes
côncavas, convexas e retilíneas, vales em berço e em “V”) mapeando as diferentes feições
do relevo; compreender os processos morfodinâmicos responsáveis pelas transformações
do georelevo; elaborar um quadro síntese analisando as fragilidade e potencialidades dos
diferentes compartimentos de relevo em relação às formas de ocupação humana; e por fim,
trabalho de campo para obter o empírico da realidade mapeada, sanando possíveis dúvidas
e realizando levantamento de coordenadas geográficas com GPS de alta precisão.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para sua elaboração foram realizadas as seguintes etapas: levantamento
bibliográfico, tendo como base os dois primeiros níveis de abordagem proposto por
Ab‟Saber (1969, p 1-23), Compartimentação Topográfica e Estrutura Superficial da
paisagem. Para o planejamento e levantamento dos pontos das coordenadas geográficas
coletados em campo, utilizou-se o receptor GPS. A etapa das atividades práticas realizadas
em laboratório, foi utilizada a técnica de restituição-3D através das imagens ALOS/PRISM
138
da região de Mirante do Paranapanema – SP, baseado nos métodos aerofotogramétricos
digitais, que vem sendo desenvolvidos em conjunto com o professor do Departamento de
Cartografia da UNESP – FCT pelo professor Dr. Júlio Kiyoshi Hasegawa (2011, p. 2384).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O processo de extração das feições geomorfológicas a partir das imagens
ALOS/PRISM (ALPSMF072423995-O1B2G_UF e ALPSMB072424105-O1B2G) associado
a revisão bibliográfica, o levantamento das características geológicas, geomorfológicas e
pedológicas regional, permitiram melhor caracterização do relevo do município de Mirante
do Paranapanema – SP. Ressaltando, que esta etapa é de grande importância para o
prosseguimento da pesquisa.
No que diz respeito a metodologia utilizada no projeto, houve um avanço tecnológico
na pesquisa de mapeamento geormorfológico, considerando que, para sua elaboração era
necessário a fotointerpretação de alguns pares de fotografias aéreas para a extração de
feições geomorfológicas na escala de 1:25.000. Para obter a tridimensionalidade utilizava-se
o estereoscópio de espelho (Figura 2). Hoje, com o método anaglífo e utilizando o programa
“Pushboom” desenvolvido pelo professor Dr. Júlio Kiyoshi Hasegawa é possível obter a
visualização da imagem 3D, apenas com alguns equipamentos: Computador e óculos 3D
(Figura 3).
Figura 2: Extração das feições geomorfológicas com a
estereoscopia de espelho, fotointerpretação. Foto: Melina Fushimi (Monografia).
Figura 3: Extração das feições geomorfológicas a partir do método anaglífo.
Esta pesquisa de iniciação científica vem obtendo resultados positivos em todas as
suas etapas para desenvolver o mapa síntese, intitulado “Mapa do compartimento de relevo
do município de Mirante do Paranapanema – SP.” Dessa forma, esses procedimentos
metodológicos têm se mostrado eficaz. O levantamento das coordenadas geográficas com o
139
GPS de alta precisão foi fundamental para o georreferenciamento da imagem ALOS,
possibilitando a delimitação das feições (Figura 4), e paralelamente com os trabalhos de
campo que visa, sobretudo, sanar possíveis dúvidas da realidade mapeada.
Figura 4: Pós extração das feições, e exportadas para o programa QGIZ/ArcGiz em arquivo Shape
A dificuldade nesta etapa da pesquisa, diz respeito ao trabalho de campo realizado
para a obtenção das coordenadas com o GPS Geodésico de alta precisão, os 10 pontos
necessários para a realização do georreferenciamento eram muitas vezes distantes entre si,
o que dificultou o deslocamento entre pontos, para além, a forte presença de cultivo da
cana-de-açúcar foi um limitador para acesso a algumas áreas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O planejamento das atividades neste contexto foi fundamental para a realização dos
trabalhos de campo, e ao final deste projeto de pesquisa o produto obtido por meio deste,
servirá de base para o direcionamento de pesquisas tanto no campo acadêmico
interdisciplinar, como para a administração pública local (prefeitura e órgão públicos).
REFERÊNCIA
AB‟SABER, A. N. Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas sobre o quaternário. Geomorfologia, São Paulo, no 18, p. 1-23, 1969.
140
FELIPE, M. C. de P. Mapeamento dos Compartimentos de Relevo do Município de Estrela do Norte-SP e adjacências. 96 p. Monografia de bacharelado – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, 2015.
FUSHIMI, M. Mapeamento Geomorfológico do Município de Presidente Prudente-SP. 2009. 77p. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Geografia) – Faculdade de Ciência e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente.
HASEGAWA, J.K. Desenvolvimento de um Sistema de Orientação e Restituição de Estereoimagens Orbitais. Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto – SNSR, Curitiba, PR, Brasil, 30 de abril de maio de 2011, INPE p.2383.
INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (IPT). Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo: 1:1.000.000. São Paulo: IPT, vol. II, 1981, p. 6; 7; 21; 70-2; (Publicação IPT 1183).
INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (IPT). Mapa geológico do Estado de São Paulo: 1:500.000. São Paulo: IPT, vol. I, 1981, p. 46-8; 69 (Publicação IPT 1184).
ROSS, J. L. S & MOROZ, I. C. Mapa geomorfológico do estado de São Paulo. São Paulo: FFLCH-USP/IPT/FAPESP, 1997.
141
EIXO TEMÁTICO 5: “ESPAÇO RURAL: QUESTÃO AGRÁRIA
E RELAÇÃO CIDADE-CAMPO
142
A CANA-DE-AÇÚCAR E SUA EXPANSÃO: O EXEMPLO EM CAIABU/SP
Lúcia Iaciara da Silva41 E-mail: luciaiaciara@yahoo.com.br
Pós-graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia/UNESP
Campus de Presidente Prudente
INTRODUÇÃO
O presente compilado tem o propósito de elencar alguns aspectos interessantes para
aguçar o debate do desenvolvimento na esfera social, se faz por discutir como se
caracteriza a atividade econômica presente mais marcadamente no município de Caiabu-
SP, e em que medida podemos inferir um real desenvolvimento socioeconômico. Relevante
também frisar que há um discurso existente por trás disso, de que a implantação de uma
unidade signifique unicamente benefícios (o uso massivo de agrotóxicos e doenças
associadas, por exemplo, mostram outro lado da realidade).
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para o presente trabalho foram considerados dados secundários referentes à
expansão da área de cana-de-açúcar no município de Caiabu/SP (CanaSat), mostrando a
dinâmica de um setor que se mantém também subsidiado pelo governo federal, dados
concernentes às principais receitas municipais, o que se busca é fornecer alguns elementos
para traçar considerações das perspectivas e/ou discursos de desenvolvimento
socioeconômico no município, respaldado pela agroindústria, com efeitos diretos tanto no
campo, homogeneizando as paisagens, quanto na cidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O município de Caiabu começou a se conformar a partir da atividade econômica
cotonicultora, entre 1940 e 1950, sobretudo, seguindo influências internacionais de
demanda, e em proximidade com o polo regional de Presidente Prudente, do qual dista
aproximadamente 40 km (considerando o distrito-sede). Logo, percebemos uma
dependência e hierarquia com relação a este, onde se estabelecem fluxos de pessoas,
migrando quotidianamente para trabalhar.
Foram períodos de culturas do algodão, do amendoim, pecuária, e cana-de-açúcar
(atualmente). Notório, então, essa conformação em prol de interesses bem específicos e de
demandas que ultrapassam escalas geográficas mais próximas.
41
Bolsista CNPq.
143
Esta dinâmica de migração pendular pode ser considerada mesmo com relação à
usina sucroalcooleira Alto Alegre (que possui unidades em Presidente Prudente/SP e no
estado do Paraná, em Colorado, Santo Inácio e Florestópolis), como a ilustração abaixo
mostra:
Figura 1: Unidades produtivas da usina Alto Alegre. Fonte: http://www.altoalegre.com.br/unidades.aspx
Com relação à expansão da cana-de-açúcar voltada às finalidades (flexíveis) de
produção tanto de açúcar quanto álcool anidro (e hidratado), em Caiabu, esta tem refletido
os contextos mais amplos no que diz respeito às demandas internacionais e incentivos do
Estado Federal em menor ou maior proporção, bem como também à desaceleração da
economia nacional a partir de 2008. A tabela 1 traz esses dados.
Tabela 1– Área disponível para colheita (ha) em Caiabu – SP
Ano Soca (a) Reformada (b) Expansão (c) Total (a+b+c) Em reforma (ha) Total cultivado (ha)
2003 4122 0 0 4122 1188 5310
2004 3717 1179 160 5056 575 5631
2005 4388 543 47 4978 756 5734
2006 4868 756 820 6444 69 6513
2007 6109 66 70 6245 386 6631
2008 5618 336 547 6501 610 7111
2009 5221 506 461 6188 1526 7714
2010 4380 1486 120 5986 1786 7772
2011 4891 1484 0 6375 1081 7456
2012 5231 960 0 6191 1068 7259
2013 5611 990 78 6679 548 7227
Fonte: http://www.dsr.inpe.br/laf/canasat/cultivo.html.
Observamos, desconsiderando as oscilações de produção, inclusive nas
etapas/classes, que há um crescimento desde 2003 na área ocupada por cana-de-açúcar no
município. De 2003 até 2013, generalizadamente considerando, foram incrementados 1917
hectares na produção em Caiabu, em que, de certo modo, essa área forma uma área
contínua à área norte do município de Presidente Prudente, principalmente, se aproveitando
de um relevo menos acidentado, com colinas mais amplas. Isso acaba colaborando para a
144
logística da cadeia produtiva42, por assim dizer, pois que há proximidade geográfica, o que
permite menores custos no transporte da cana-de-açúcar, seus produtos, funcionários,
como também há mão-de-obra abundante que facilita o recrutamento, até mesmo pela
dependência que há por grande parte da população do município, este com 4.072
habitantes, segundo o último Censo Demográfico do IBGE (2010), com relação à unidade
fabril.
Na próxima tabela (2), esperamos colaborar no entendimento dessa dependência de
fato ao que concerne à agroindústria, à medida que, de forma geral, exemplifica o
“comportamento” geral dos recursos nos municípios de acordo com seu porte populacional.
Tabela 2 – Participação da Receita Própria, FPM, ICMS e demais fontes no total da Receita Municipal, por grupos de população dos municípios paulistas – Ano 2000
Grupos de Pop. dos Municípios (em milhares)
Fonte de Receita dos Municípios
Receita Própria FPM ICMS Outras fontes Total Índice de Participação no total da receita municipal (%)
0-5 3,22 42,81 30,13 23,83 100,00 5-10 7,74 27,47 35,49 29,30 100,00 10-20 8,63 26,12 31,11 34,14 100,00 20-50 14,55 18,71 31,54 35,20 100,00 50 ou mais 29,88 17,30 27,77 25,04 100,00
Fonte: IBGE: Carlos Silva Pateis, 2003. Sinopse Preliminar/ Censo 2000 (população); Min. da Fazenda (Finanças).
Fundamental lembrar que em 2013, o Fundo de Participação dos Municípios (FPM)
em Caiabu/SP foi responsável por R$ 2.524.165,21 dos R$ 5.794.968,74 repassados a
Caiabu, este valor (FPM) geralmente é entre metade e o dobro da colaboração do município
para o governo federal, dependendo exatamente do porte populacional do município. Assim,
municípios menores têm maior dependência desse tipo de repasse para sua manutenção,
ao contrário de municípios médios, com receitas mais diversificadas (Tabela 3).
Tabela 3 – Recursos Recebidos do Governo Federal em 2013
Recebidos por área
Encargos Especiais R$ 2.740.123,07 Assistência Social R$ 127.516,00 Educação R$ 52.445,60 Educação Recebidos por ação FPM - CF art. 159 R$ 2.524.165,21 Cota parte dos Estados e municípios R$ 93.797,32 FUNDEB R$ 61.910,17 Royalties R$ 41.767,47 Apoio à merenda escolar na educação básica R$ 25.728,00 Recursos Pagos Direto ao Cidadão
Bolsa Família R$ 127.516,00
Total de recursos recebidos R$ 5.794.968,74
Fonte: http://sp.transparencia.gov.br/Caiabu/.
Dentro dessas considerações nossas, devemos recordar, por exemplo, que para
essa dinâmica de ascensão do cultivo da cana-de-açúcar apontada aqui a partir de dados
42
Consideraremos aqui cadeia produtiva devido à complexidade que há na agroindústria, o que envolve trabalho agrícola, flexibilização das condições e contratos de trabalho, produção própria de energia elétrica a partir do aproveitamento do bagaço da cana, e comercialização do excedente, trabalho fabril, aproveitamento da vinhaça nas etapas de produção, etc.
145
de 2003, há um encaixe com o advento dos veículos flex fuel em março do mesmo ano, o
que possibilitou uma substituição massiva àquela época da gasolina pelo álcool (este setor
sempre subsidiado pelo governo federal, como com o benefício de empréstimos promovidos
pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, ou com
aprovações de aumento na mistura de álcool à gasolina).
O Programa Proálcool (Decreto 76.593), por exemplo, financiado pelo governo
federal a partir de 1975, devido às crises do petróleo em 1973 e 1979, também marcou
importante fase de “acomodação” da agroindústria canavieira no Brasil todo. É neste ponto
que há substituição em larga escala da gasolina (controlada em grande parte pela
Organização dos Países Produtores de Petróleo – OPEP) pelo álcool, vistas as altas nos
preços do barril de petróleo no mercado mundial, o que viabilizou que químicos e
engenheiros se esforçassem para criar motores a álcool.
Ainda, sobre essa produção atualmente, que, como vislumbramos, apresentou
alguns decaimentos nos três últimos períodos apresentados na tabela 1 (2011, 2012 e
2013), justificados pela diminuição do apoio do governo federal e pelos “efeitos da crise
econômica mundial”. Se a sustentabilidade dos lucros se dá, por um lado, pela “mão” do
Estado agindo em favor do capitalista, dando condições de ele reproduzir-se por
amenidades criadas, por outro, a flexibilização do trabalho, no período neoliberal acentuada
(a partir da década de 1980), permitiu maneiras mais livres, fluidas de (re)organização das
relações entre chefe e empregado, entre os laços de obrigatoriedade que unem um e outro
em vínculos empregatícios. Ou seja, o que verbalmente é difundido e perpassa a população
local é de que nos últimos anos as contratações têm sido em regime flexível, onde há os
“safristas”, aqueles trabalhadores que atuam em períodos de produção e colheita mais
intensa da cana-de-açúcar, sendo após isso livremente dispensados, o que permite à
empresa ter um ajuste maior entre taxa de lucro, demanda do mercado e produção da safra
(que, em contrapartida, afeta famílias nesse intervalo de tempo, e faz pensar a própria
concepção de desenvolvimento socioeconômico). Dados de 2011 apontavam que 15%
(2177 funcionários) da empresa Alto Alegre estavam com contratos por tempo determinado,
sugerindo esse movimento na economia e comportamento empresarial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Deste breve texto explicitam-se algumas considerações gerais: a dinâmica do que
Thomaz Jr. denomina agrohidronegócio43 envolve atualmente, com contornos mais nítidos,
43
Ora, agrohidronegócio porque envolve, disfarçadamente, não só certo controle da terra e grandes áreas de monocultura homogeneizando a paisagem e envenenando solos e águas com uso intensivo de agrotóxicos, mas também uma territorialização que se traduz em faixas de terras mais suavizadas topologicamente, de preferência, e, sobretudo, assentadas sobre o Aquífero Guarani, uma das reservas de água mais importantes do
146
uma flexibilização do trabalho nas unidades fabris e nas lavouras de cana-de-açúcar,
dependência do município em questão pela unidade fabril de Ameliópolis, em Presidente
Prudente/SP (portanto, ainda, sua atuação deve ser considerada positiva). O que houve
também foi um respaldo por parte do Governo Federal para que se desenvolvesse a
contento a cadeia produtiva da cana-de-açúcar no Brasil, com a possibilidade de migrar a
produção de açúcar à do álcool. Conforme vislumbramos no decorrer deste trabalho, Caiabu
possui grande ligação e dependência pela agroindústria sucroalcooleira, já que sendo um
município de porte populacional pequeno (4.072 hab., segundo recenseamento de 2010),
grande parte da população (local) se emprega através de suas atividades, coordenada por
relações globais, tendo ênfase a logística (proximidade geográfica) como fator para essa
realidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRETO, M. J.; JÚNIOR, A. T.; OLIVEIRA, A. M. S. de. A Precarização do Trabalho na Agroindústria Canavieira na Região do Pontal do Paranapanema: Os Casos da Destilaria DECASA e da Usina Alvorada do Oeste. In: XV Encontro Nacional de Geógrafos, 2008, São Paulo. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL: https://www.beneficiossociais.caixa.gov.br/consulta/beneficio/04.01.00-00_00.asp. Acesso em 11 de setembro de 2013. INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS – INPE. http://www.dsr.inpe.br/laf/canasat/cultivo.html. PORTAL DA TRANSPARÊNCIA – Caiabu – SP/ Convênios do Governo Federal com o Município: http://sp.transparencia.gov.br/Caiabu/receitas/convenios. Acesso em 31 de julho de 2013. THOMAZ JÚNIOR, A. Disputas territoriais e grilagem no Pontal do Paranapanema (SP) (Histórico de lutas, marco de violência e futuro incerto!). 20??. SILVA, L. I. Estudo de caso das condições de trabalho ao longo do tempo na agroindústria da cana-de-açúcar no Pontal do Paranapanema: Município de Caiabu-SP. In: XXII Encontro Estadual de História da ANPUH, UNESP/Assis, 2016.
Brasil em rochas sedimentares/porosas, de onde, em faixas do país se desenvolvem acirradamente conflitos nítidos acerca da posse de terra e água. Trata-se, a nosso ver, de reserva estratégica (e “insumo” não contabilizado na produção).
147
A EXPANSÃO DO AGROHIDRONEGÓCIO CANAVIEIRO E OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS44
Maria Joseli Barreto
E-mail: joselibarreto5@yahoo.com.br Doutoranda pelo Programa de Pós Graduação em Geografia da FCT/UNESP/Presidente
Prudente.
INTRODUÇÃO
O texto tem como objetivo apresentar algumas considerações sobre os impactos
sociais e ambientais que produção de cana-de-açúcar traz para as regiões onde são
implantadas as unidades agroprocessadoras e seus respectivos canaviais. Em termos de
procedimentos metodológicos nos embasamos em reflexões teóricas sobre a temática em
questão, análise de documentos que abordam as mudanças no processo produtivo da cana-
de-açúcar, dados de fonte secundária e trabalhos de campo nas Regiões Administrativas –
RA de Presidente Prudente e Ribeirão Preto.
De modo geral, temos observado que para justificar sua lógica expansionista, o
agrohidronegócio canavieiro, tem se amparado em mecanismos e estratégias discursivas,
ostentando investimentos de ordem social e ambiental como, a geração de energia limpa e
renovável e a geração de emprego e renda. Entretanto, o que se observa na atual
conjuntura é que os discursos em torno da produção de energias renováveis, tem se tornado
cada vez mais numa atividade produtiva e rentável para o setor canavieiro como um todo45.
Estimulado pela produção e consumo dos automóveis bicombustíveis, o
agrohidronegócio canavieiro também tem investido na construção de novas frentes de
consumo, a partir da cana-de-açúcar, e a cogeração e comercialização da energia elétrica
produzida a partir do bagaço da cana, o terceiro produto das usinas de cana-de-açúcar, que,
além de ser uma atividade lucrativa também está associada ao discurso ambientalista.
A questão desperta o interesse dos países centrais na produção de álcool e outras
agroenergias e, consequentemente, estimula interesses dos produtores de commodities.
Nesse cenário, o Brasil desponta como um centro de referencia no cenário internacional,
seja pela quantidade de terras agricultáveis e recursos hídricos disponíveis, como pelas
44
O texto é fruto da pesquisa que estamos desenvolvendo em nível de doutorado, junto ao Centro de Estudos de Geografia e Trabalho – CEGeT e Coletivo Cetas - UNESP/Campus de Presidente Prudente, intitulada “Novas e velhas formas de degradação do trabalho no agrohidronegócio canavieiro nas Regiões Administrativas de Presidente Prudente e Ribeirão Preto (SP)”. A pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP - Processo - 2014/08022-6. Também está vinculada ao Projeto Temático
"Mapeamento e análise do território do agrohidronegócio canavieiro no Pontal do Paranapanema - São Paulo - Brasil”. 45
Estaremos utilizando o conceito de “agrohidronegócio canavieiro” embasados teoricamente em produções que abordam o consumo e a poluição da água por diversos setores na produção de commodities. Mais detalhes ver (MENDONÇA, 2003; THOMAZ JR, 2008, MESQUITA, 2009; CUNHA, 2014).
148
tecnologias de produção, investimento financeiro estatal etc. (ÁVILA; ÁVILA, 2007;
BARRETO, 2012).
Desse modo, é relevante observar que no âmbito do agrohidronegócio canavieiro,
assim como em outras commodities (soja, milho, algodão, sorgo etc.), a água ao lado da
terra comparecem como elementos indissociáveis para a produção. (MENDONÇA, 2003;
THOMAZ JR, 2008; MESQUITA, 2009; CUNHA, 2014). Não por acaso, as grandes
empresas nacionais e multinacionais voltadas à produção de commodities, inclusive as
agroprocessadoras de cana-de-açúcar (unidades canavieiras) estão estrategicamente,
implantadas em áreas com vasta disponibilidade de recursos hídricos, superficiais (rios e
lagos) ou subterrâneos (aquíferos). Ou seja, a localização geográfica da empresa,
disponibilidade terra e água são basilares para sua produção e reprodução (Figura 1).
Figura 1: Usina Santa Inês situada ao lado do Ribeirão Sertãozinho Fonte: Google Earth.
As sustentações desses interesses estão explícitas em todas as regiões em que
estão implantadas as unidades canavieiras, sempre cercadas por consideráveis volumes de
recursos hídricos, superficiais ou subterrâneos. A título de exemplo pode-se citar a RA de
Presidente Prudente, por exemplo, cercada por dois rios (Paraná e Paranapanema),
enquanto que a RA de Ribeirão Preto é abastecida pelas bacias hidrográficas do Mogi-
Guaçú e Pardo. Além disso, ambas estão localizadas na área de ocorrência do Aquífero
Guarani. Nesse sentido, é preponderante que nossas atenções também se voltam para os
níveis de contaminação desses recursos seja por meio dos resíduos industriais ou pela
intensidade de agrotóxicos utilizados nas plantações de cana-de-açúcar.
Nesse viés, Silva (2010) ressalta que os riscos de exploração do solo são
particularmente graves na monocultura canavieira, em razão da intensidade do uso de
149
herbicidas e da contaminação das águas subterrâneas. Para a autora, todos estes fatores
de risco ambiental, próprios da lavoura canavieira, adquirem um conteúdo exponencial na
região de Ribeirão Preto, devido sua localização fisiográfica. Na Região de Ribeirão Preto,
especificamente, a distância do Aquífero para a superfície do solo é uma das menores de
toda sua extensão, entre 150 a 300 metros.
O exemplo específico, trazido por Silva (2010), certamente se repete em outras
regiões do país, já que os mecanismos no processo produtivo da cana-de-açúcar são
similares. Ou seja, estamos diante do cenário em que o processo de territorialização do
monopólio das terras pelo agrohidronegócio canavieiro superpõe-se ao controle dos
acessos e exploração dos recursos hídricos disponíveis46.
Mesmo assim, o etanol e a energia produzidos a partir da cana-de-açúcar
permanecem envolvidos na conotação de energia limpa e renovável. O capital polui, destrói
os recursos naturais, e na sequência, desenvolve mecanismos, programas e meios, para se
sobressair e se reproduzir. Nesse contexto, Chesnais e Sertafi (2014) resaltam que o
“capitalismo verde” tem se beneficiado das mudanças climáticas e das „energias
alternativas‟ como mais uma grande oportunidade de mercado e lucros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De modo geral, buscamos apresentar algumas reflexões sobre parte dos resultados
da pesquisa que estamos desenvolvendo nos municípios da RA de Presidente Prudente e
Ribeirão Preto, principalmente no que tange aos impactos sociais e ambientais que
expansão da monocultivo de cana-de-açúcar tem acarretado.
Os trabalhos de campo na região tem sido reveladoras. As visitas nos municípios
canavieiros e o diálogo estabelecido com a população urbana e rural têm revelado os efeitos
que a expansão da monocultura da cana-de-açúcar promove para aqueles que se veem
cercados pelos canaviais, sejam nos núcleos urbanos, assentamentos rurais e pequenas
propriedades rurais.
Para tanto, as consequências estão cada vez mais visíveis na paisagem e nos
depoimentos da população, sobretudo a rural e os trabalhadores que atuam diretamente no
processo de produção. Sendo que as principais observações e reclamações estão voltadas
aos problemas trazidos pelos agrotóxicos utilizados nos canaviais, que tem incomodado e
causado inúmeros prejuízos, os problemas trazidos pela aspersão de vinhaça, resíduo
industrial que tem atraído a mosca do estábulo e causado uma série de transtornos e ainda
os problemas causados pelo fogo, que apesar de ser proibido no Estado de São Paulo ainda
é utilizado, e causa muitos prejuízos.
46
Cf. THOMAZ JÚNIOR, 2013.
150
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ÁVILA, M. L. de; ÁVILA, S. R. S. A. de. Cidades, agronegócio e sustentabilidade. Seminário de População, Pobreza e Desigualdade. Belo Horizonte MG - (realizado entre os dias 05 a 07 de novembro de 2007). BARRETO. M. J. Territorialização das Agroindústrias Canavieiras no Pontal do Paranapanema e os Desdobramentos para o Trabalho. 2011. 245 f. (Dissertação de Mestrado em Geografia). Universidade Estadual Paulista/Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente. CHESNAIS, F; SERTAFI, C. “Ecologia” e condições físicas da reprodução social: alguns fios condutores marxistas. Revista Crítica Marxista, n. 16. São Paulo: Boitempo, mar./2003. Disponível em: <http://www. Unicamp.br/cemarx/criticamarxista>. Acesso em: out. 2014. CUNHA, T.; CARVALHAL, M. D. C. Terra – Água – Trabalho: O Agrohidronegócio e a Transposição do Rio São Francisco. Revista Pegada, Vol. 15, No 1 2014. MESQUITA, Helena Angélica de. ONDE ESTÃO AS FLORES, AS CORES, OS ODORES, OS SABERES E OS SABORES DO CERRADO BRASILEIRO? O AGRO/HIDRONEGÓCIO COMEU! Terra Livre, São Paulo/SP. Ano 25, V.2, n. 33 p. 17-30. Jul-Dez/2009. MENDONÇA, M. R.; THOMAZ JR, A. A reestruturação Produtiva do capital e a modernização da agricultura no sudoeste de Goiás. Sociedade & Natureza, UFU, v. 14, p. 173-188, 2003. THOMAZ JR., A. Por uma cruzada contra fome e o agrohidronegócio – nova agenda destrutiva do capitalismo e os desafios de um tempo não adiado. Revista Pegada – vol. 9, n. 1, p. 08-34, junho de 2008.
151
MUDANÇAS TÉCNICO-OCUPACIONAIS NO TERRITÓRIO DO AGROHIDRONEGÓCIO CANAVIEIRO E OS REBATIMENTOS PARA AS MIGRAÇÕES DO TRABALHO PARA O
CAPITAL NOS CANAVIAIS DA REGIÃO ADMINISTRATIVA DE PRESIDENTE PRUDENTE (SP)
Fredi dos Santos Bento
E-mail: fredi.sousuke@gmail.com Mestrando em Geografia
Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
INTRODUÇÃO
O movimento migratório do trabalho para o capital, tem se dado neste início do
século XXI, por conta de inúmeros fatores ligados não apenas a manutenção do trabalhador
camponês na terra, como também em decorrência da sua expropriação, daí falarmos na
proletarização destes, encimados no reordenamento territorial do capital que promove
rebatimentos para o trabalho, promovendo assim a desterritorialização do trabalho.
Nesse sentido, esses trabalhadores tornam-se mão de obra em movimento, sendo
cooptados a venderem sua força de trabalho nos mais diversos pontos do território nacional,
tendo sido atraído principalmente para as grandes obras públicas e para o Polígono do
Agrohidronegócio.
É dessa forma, que podemos entender a ampliação das migrações sazonais para
os canaviais do Pontal do Paranapanema, podendo se fazer uma associação em torno dos
meios e formas que a mesma ocorre, tendo em vista não apenas os interesses do capital
agroindustrial canavieiro na região, como a própria configuração firmada nos últimos anos.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para compreendermos o fenômeno em estudo é preciso apreender a
processualidade que nos possibilite sintonizá-la no quadro de degradação e precarização,
porque passam os trabalhadores migrantes que o fazem para as atividades agrícolas da
cana-de-açúcar na 10a Região Administrativa (R.A.) de Presidente Prudente.
Assim, para a realização de tal empreitada, destacamos a realização de
levantamento bibliográfico sobre a temática em apreço, bem como realizamos trabalhos de
campo na área de estudo dada a possibilidade de problematização, tendo em vista
enxergarmos o trabalho de campo enquanto “laboratório por excelência do geógrafo”, que
adjunto das investigações realizadas por meio de entrevistas semiestruturadas também
realizadas, nos tem permitido apreender a trajetória pessoal, laboral e familiar dos
trabalhadores, bem como suas instâncias de representação e aí pensarmos as entrevistas
152
realizadas para com os STR‟s (Sindicatos dos Trabalhadores Rurais) (THOMAZ JUNIOR,
2005).
Todavia, temos nos utilizado de entrevistas semiestruturadas, dado o potencial
destas últimas enquanto uma conversa com finalidade, unindo questões abertas e fechadas,
num diálogo sem amarras presentes caso nos utilizássemos de um questionário fechado,
como argumentam Minayo (2005) e Santos et al. (2014).
AS MIGRAÇÕES DO TRABALHO PARA O CAPITAL EM MEIO A MUDANÇA TÉCNICO OCUPACIONAL NOS CANAVIAIS DA 10a REGIÃO ADMINISTRATIVA DE PRESIDENTE PRUDENTE (SP)
O processo de territorialização do agrohidronegócio aciona o movimento migratório
de trabalhadores, e aí chamamos atenção para as migrações sazonais ou temporárias, ou
ainda a migração do trabalho para o capital neste início do século XXI, na Região
Administrativa de Presidente Prudente (10a R.A.), que diante do atual cenário do setor,
ganham destaque, dada a instalação de unidades processadoras de cana mais tecnificadas,
ou a reativação de plantas industriais antigas, nestas primeiras décadas do século XXI
(BENTO, 2015).
A partir de 2003, o setor agroindustrial canavieiro, após a estagnação da década de
1990, volta a vivenciar um processo de expansão, com a entrada em cena da produção dos
motores flex fuel, dado que desde 2006 a frota com esta tecnologia passou de 2,6 milhões,
em 2006, para 20.772.995 veículos, em 2013(ANFAVEA; UNICA, 2015).
Novaes, et. al. (2007), destaca que esta expansão deve-se, a novas perspectivas
do comércio interno e externo, elevação dos preços internacionais do petróleo, crescimento
da demanda interna por álcool hidratado, em decorrência do sucesso dos novos modelos
flex fuel, “movidos a álcool e gasolina” e os efeitos do Protocolo de Kyoto, que impõe a
redução por parte dos países signatários, das emissões de CO2.
Encimado no ideário ambiental, e num discurso permeado pela sustentabilidade, o
processo de expansão do agronegócio canavieiro, marcam o avanço da incorporação de
terras, bem como do arrendamento das mesmas pelo capital agroindustrial canavieiro na 10ª
Região Administrativa.
Em torno disso se soldam os interesses econômicos que se somam à
disponibilidade desses meios de produção e às condições satisfatórias para a mecanização
das operações agrícolas, tais como relevo predominantemente planos, logística favorável, e
terras baratas, devido à predominância de serem devolutas (THOMAZ JUNIOR, 2014).
Em meio a esta configuração, Thomaz Junior (2009) chama a atenção para
outra face da mecanização das operações agrícolas, que diz respeito ao processo de
mobilidade do trabalho, adentrando também a esfera da circulação das forças de trabalho,
153
pensando aqui o migrante, como podendo estar atuando hoje na construção civil, em outro
momento nos canaviais, e futuramente até mesmo na informalidade, configurando o quadro
de plasticidade do trabalho.
Em relação ao avanço da mecanização do corte da cana, com a transição para o
corte mecanizado neste início do século XXI, tem surgido impactos para a mão de obra não
qualificada, devendo se destacar o fato de os trabalhadores que se mantém no corte da
cana, não cortarem cana durante toda uma safra (safristas), bem como a dificuldade ou
mesmo impossibilidade de negociar o preço da cana, dada a concorrência com as
máquinas.
Na perspectiva de ultrapassar esta barreira, tem se ampliado a procura e realização
dos cursos de qualificação, como também a migração de funções dentro dos canaviais, pois
os trabalhadores podem um ano estarem trabalhando enquanto cortadores, em outro obter a
habilitação e realizarem cursos para tratorista, e no ano seguinte, tentarem ofertar sua mão
de obra enquanto operador de colhedeira.
Em contrapartida, não apenas os trabalhadores regionais têm participado destes
cursos, pois temos acompanhado que mesmo a mão de obra migrante temporária, também
tem buscado se qualificar, e isso se expressa nas mudanças existentes na configuração da
mão de obra encontrada nos alojamentos, havendo não apenas o cortador de cana, como
também engatadores, operadores de colhedeira, tratorista, fazendo parte então, da nova
dinâmica que estamos acompanhando.
Dessa forma, essa nova configuração vivenciada pelo agrohidronegócio canavieiro
na 10a R. A. de Presidente Prudente, nos permite nos questionarmos de que forma tem
ocorrido o controle social destes trabalhadores na safra e na entressafra, tendo em vista as
novas configurações que se assumem para os trabalhadores migrantes, bem como de que
forma o discurso da qualificação profissional influi sobre esses trabalhadores? E quais os
sentidos desse processo para a questão sindical, tendo em vista o papel desempenhado
pelos sindicatos vinculados ao setor agroindustrial canavieiro em tempos de transição
tecnológica?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse sentido, faz parte de nossa investigação continuar analisando as
contradições existentes para com o novo cenário que se apresenta na região, tendo em
vista o fechamento de unidades processadoras, enquanto parte do processo de
concentração e centralização do capital agroindustrial canavieiro na região, bem como as
alternativas encontradas pelos trabalhadores diante do novo quadro.
154
Todavia, quando pensamos neste novo quadro que tem se configurado para a
região, nos surge à questão do discurso da qualificação profissional, pois além de propalado
pelos grupos canavieiros enquanto oportunidade de os trabalhadores advindos
principalmente do corte da cana manterem-se trabalhando nos canaviais da região. Dessa
maneira, os próprios grupos têm incentivado e organizado a qualificação profissional desses
trabalhadores, que iludidos pelo sonho da melhor remuneração, ou da expectativa de se
manterem empregados, acabam por realizar o mesmo, que como mostramos anteriormente,
tem sido utilizados também enquanto manobras do setor para com os trabalhadores.
Porém, como temos acompanhado nos últimos anos, tais cursos fazem parte do
discurso instituído para com o fim da despalha e do corte manual, com a eventual
substituição do corte manual pelo mecanizado e a mudança para os trabalhadores nas
funções que realizavam até então, sendo os cursos de qualificação vistos enquanto
alternativa para a manutenção desta mão de obra, o que não ocorre nos canaviais, como é
exemplo do Pontal do Paranapanema, em que realizar o curso não é garantia de oferta de
trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENTO, Fredi dos Santos. Migração de trabalhadores para o corte da cana-de-açúcar no Pontal do Paranapanema (SP), no início do século XXI. 2015.248f.Monografia (Bacharelado em Geografia)- Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente. MINAYO, Maria Cecília de Souza; ASSIS, Simone Gonçalves de; SOUZA, Edinilsa Ramos de. (orgs.).Avaliação por triangulação de métodos:abordagens de programas sociais.1.ed.Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005,244p. NOVAES, José Roberto; ALVES, Francisco. (orgs.). Migrantes: trabalho e trabalhadores no complexo agroindustrial canavieiro (os heróis do agronegócio brasileiro). 1. ed. São Carlos: EdUFSCar, 2007, 314p. SÃO PAULO, União da indústria de cana-de-açúcar. Balanço 2013. Disponível em: < http://www.unica.com.br/documentos/publicacoes/sid/18797613/>.
______. Levantamento de safra 2015/2016.Disponível em:< http://www.unica.com.br/noticia/25950095920326811142/safra-2015-por-cento2F2016-no-centro-sul-deve-atingir-590-milhoes-de-toneladas-de-cana-processadas-por-cento2C-com-prioridade-para-a-producao-de-etanol/>. SANTOS, J. B. F. dos; OSTERNE, M. do S. F.; ALMEIDA; R. de O. A entrevista como técnica de pesquisa do mundo do trabalho. In: ALVES, G. A. P.; SANTOS, J. B. F. (Orgs.). Métodos e técnicas de pesquisa sobre o mundo do trabalho. 1 Ed. Bauru: Editora Praxis, 2014. v. 1. 203p. THOMAZ JUNIOR, Antonio. Geografia passo-a-passo: (ensaios críticos dos anos 90). 1. ed. Presidente Prudente: Editorial Centelha/CEGeT, 2005, 176p.
155
______. Dinâmica geográfica do trabalho no século XXI. (Limites explicativos, autocrítica e limites teóricos). 2009. 997f. Tese (Livre Docência) - Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente. ______. Redefinições do Trabalho, Reforma Agrária e Soberania Alimentar; Revisitando a luta de classes num ambiente de embates e debates. Xochimilco, Veredas, v. 15, p. 477-52, 2014.
156
JUVENTUDE E GÊNERO: VELHOS SUJEITOS E NOVOS CAMINHOS
METODOLÓGICOS PARA A GEOGRAFIA AGRÁRIA
Ana Lúcia Teixeira E-mail: ana.lucia_teixeira@hotmail.com
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP
Campus de Presidente Prudente Bolsista FAPESP
Larissa Araújo Coutinho de Paula
E-mail: larissageo.coutinho@yahoo.com.br Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Geografia
Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Campus de Presidente Prudente
Bolsista CNPq
INTRODUÇÃO
É notável que na maior parte das antigas publicações sobre os sujeitos que vivem no
campo, há uma intensa representação da figura masculina, mas há outras facetas que
espelham esse público, que não contêm apenas homens, mas também mulheres, jovens,
crianças, idosos.
Temas como gênero, juventude e geração têm despertado o interesse de muitos
estudiosos sobre o meio rural, alguns estudos despontaram desde os anos 1980, porém
atualmente há uma maior intensificação dos mesmos.
É necessário frisar que estudos que contenham não objetos de pesquisa, mas
sujeitos pesquisados, no caso, mulheres e jovens, exigem abordagens de pesquisa empírica
diferenciadas, com viés qualitativo, já que formas tradicionais de pesquisa nas ciências
geográficas não correspondem às multiplicidades que implicam pesquisas do tipo. Portanto,
têm sido cada vez mais frequentes pesquisas que utilizam não apenas o levantamento de
dados por meio de questionários, mas entrevistas temáticas, entrevistas de história oral,
observação participante, grupos focais e cartografia social.
O intuito deste trabalho é discorrer sobre a potencialidade das metodologias de
pesquisa supracitadas, concatenando-as às pesquisas com enfoque nas relações de gênero
e no público juvenil de assentamentos rurais. Toma-se como base as experiências das
autoras na elaboração de suas respectivas dissertações de mestrado.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Adotamos enquanto metodologia para a realização deste trabalho as leituras,
discussões e reflexões sobre as dissertações de mestrado desenvolvidas pelas autoras.
157
Ambos os estudos envolveram pesquisas em assentamentos rurais na região do
Pontal do Paranapanema. Uma das dissertações pautou-se no estudo sobre a produção dos
espaços de vida no Assentamento Nova Conquista, em Rancharia/SP. Já a outra teve como
escopo estudar os efeitos de políticas públicas para mulheres da Organização de Mulheres
do Assentamento Tucano, em Euclides da Cunha Paulista/SP.
Nos respectivos trabalhos foram utilizados metodologias de pesquisa não tão
convencionais. No caso da primeira pesquisa, houve destaque para o procedimento da
cartografia social, enquanto na segunda atentou-se para a história oral.
Baseando-se nessas experiências intenta-se elencar sucintamente as características
e resultados obtidos em cada pesquisa de acordo com as metodologias utilizadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A juventude é uma categoria social que não é limitada apenas pela faixa etária e
classe social, ao ponto que o termo “juventudes”, enfatiza que há vários modos de ser
jovem. (KUHN & BRUNES, 2012). Trata-se de uma categoria de análise que é irredutível a
uma definição estável e concreta. Logo, a juventude rural também apresenta peculiaridades,
sobretudo após a constante diluição de fronteiras entre os espaços rurais e urbanos
(CARNEIRO, 1998).
Entende-se gênero como uma construção social, e não apenas uma constatação
biológica baseada nas diferenças entre os sexos. No âmbito rural, as relações de gênero
refletem uma dimensão da desigualdade social, através da desvalorização do trabalho
feminino, o que é evidente pela baixa participação de mulheres em grupos de decisão ou
liderança de associações (BUARQUE, 2005).
Os grupos que envolveram as pesquisas, jovens e mulheres, possuem
características diferenciadas dentre da composição familiar, na vida e nas atividades
cotidianas do espaço rural. Utilizar apenas metodologias tradicionais, como aplicação de
questionários, por exemplo, não lograria esmiuçar de maneira eficaz a multiplicidade desses
sujeitos. Destarte, foi necessário lançar-se mais intensamente em metodologias de cunho
qualitativo.
O objetivo de entrevistas de história oral foi o de acessar a memória das assentadas
mais idosas, sobretudo no sentido de descrever com fidelidade de que forma ocorreu a luta
pela terra, além criar comparações entre o passado das mesmas e a atualidade, verificando
se elas reconhecem alterações nas relações de gênero estabelecidas em suas respectivas
famílias e assentamentos, e em que medida as políticas públicas contribuem para isso.
A história oral destacou-se na década de 1970 como um fenômeno metodológico e
político, por ser uma técnica que permitia a investigação de questões e camadas sociais
geralmente pouco visíveis na documentação escrita. A base da história oral é a memória
158
dos sujeitos estudados, expressa através da oralidade, nos diálogos e entrevistas. Apesar
das possíveis dificuldades, a história oral é uma forma de o pesquisador produzir seu próprio
material de análise (HALL, 1992).
As entrevistas temáticas e de história oral foram semiestruturadas, com roteiros que
abarcaram os temas de maior relevância na pesquisa, e registradas através de gravação de
áudio, posteriormente transcritas, sistematizadas e analisadas. Após as transcrições, a
sistematização dar-se-á através de processos de codificação e de categorização temática,
técnicas propostas por Gibbs (2009). A sistematização e a categorização das informações
podem ser feitas de diversas formas, por linhas, por agrupamento de temas etc. Os trechos
das entrevistas são classificados por temas que definirão códigos para a interpretação,
comparação e análise do material.
Quanto à cartografia social, os mapeamentos podem constituir-se enquanto objetos
da ação política, de modo que os sujeitos que reivindicam o reconhecimento de diversas
tramas, territoriais, fundiárias, étnicas e políticas podem participar ativamente da construção
da representação espacial, de modo a contestar às representações hegemônicas do
espaço, do Estado, ou das grandes empresas. Além de uma ferramenta de luta, pode
subsidiar diagnósticos e estratégias espaciais (ACSELRAD, 2009; BATISTA, 2014).
Figuras 1 e 2: Cartografia Social dos assentados de Nova Conquista, Rancharia. Fonte: Trabalho de campo, 2015.
A primeira figura é uma representação dos sujeitos sobre a territorialização destes no
espaço, pois revela os lotes que foram conquistados pelos assentados que participaram da
luta pela terra, lotes que os filhos deles conseguiram comprar e lotes que “estranhos”
adquiriram mediante a compra. Os sujeitos representaram também no mesmo mapa a
situação referente ao trabalho no assentamento, no que se refere, por exemplo, aos
assentados que trabalham apenas dentro do lote e os que trabalham fora (em usinas, etc). A
segunda figura é o mesmo mapa após o tratamento através de ferramentas de produção
cartográfica.
159
Segundo Acselrad (2009), o processo de inclusão de populações locais na produção
de mapas disseminou-se mundialmente desde os anos 1990, através de ações de agências
governamentais, ONGs, organizações indígenas, organismos multilaterais e de cooperação
internacional, fundações privadas, universidades, entre outras. Entre as vantagens da
cartografia social está a possibilidade de mobilização da população no debate sobre
demandas por terras, no planejamento de uso de recursos naturais e afirmar a relevância do
conhecimento tradicional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreendemos que a produção de informação a partir de metodologias qualitativas
nos aproximou dos sujeitos pesquisados e de conceitos como gênero e juventude de modo
que pudemos descortinar parte do universo empírico de nossas pesquisas. A história oral
propiciou um contato sensível com as mulheres dos assentamentos evidenciando os
momentos de luta pela terra e de luta na terra.
A participação de mulheres e jovens através da elaboração de mapas e croquis
auxiliou as autoras na compreensão da produção do espaço nos assentamentos, na medida
em que o próprio sujeito pesquisado pôde representar seu território através da cartografia
social.
As ciências geográficas têm de estabelecer um diálogo metodológico com outras
ciências como a sociologia e a antropologia para que aliada a sua capacidade de
representar o espaço através de metodologias quantitativas e de mapas convencionais
possa dar voz aos sujeitos pesquisados através de metodologias como as qualitativas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACSELRAD, H. Mapeamentos, identidades e territórios. 33° Encontro anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais. Caxambu, Minas Gerais, 2009. BATISTA, S.C Cartografia geográfica em questão: do chão, do alto, das representações. Tese (Doutorado em Geografia). Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2014. BUARQUE, C. A dimensão de gênero no mundo rural brasileiro contemporâneo. (IN) MIRANDA, C.; COSTA, C. Série Desenvolvimento Rural Sustentável: Desenvolvimento Sustentável e Perspectiva de Gênero. V. 2. Brasília: IICA, 2005. CARNEIRO, M. J. O ideal rurbano: campo e cidade no imaginário de jovens rurais. In: Francisco Carlos Teixeira da Silva; Raimundo Santos; Luiz flávio de Carvalho Costa. (Org.). Mundo Rural e Política. Rio de Janeiro: Campus, 1998, p. 95-118. GIBBS, G. Análise de dados qualitativos. Porto Alegre: ArtMed, 2009. HALL, M. M. História Oral: os riscos da inocência. In: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO,
160
Secretaria Municipal de Cultura, Departamento do Patrimônio Histórico. O direito à memória: patrimônio histórico e cidadania. São Paulo: DPH, 1992. KUHN, C.; BRUMES, K. R. Juventude Rural: diferenças de gênero na escola, no trabalho e na construção de projetos de futuro. In: Anais... XVIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 2012, Águas de Lindóia- SP.
161
O FINANCIAMENTO PÚBLICO NO SETOR SUCROENERGÉTICO: O PAPEL DO BANCO
NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL (BNDES)
Roberta Oliveira da Fonseca oliveirafonsecaro@gmail.com
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia – FCT/UNESP– Campus de Presidente Prudente
Membro do Grupo de Estudos Dinâmica Regional e Agropecuária – GEDRA. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP
Antonio Nivaldo Hespanhol nivaldo@fct.unesp.br
Docente dos cursos de Graduação e Pós-Graduação em Geografia – FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente
Líder do Grupo de Estudos Dinâmica Regional e Agropecuária – GEDRA e Pesquisador do CNPq
INTRODUÇÃO
No Brasil, o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar, envolto no discurso de
energia renovável e não poluente, atraiu os grupos nacionais e estrangeiros, apoiados e
financiados pelo Estado brasileiro, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), que se expandiram em parte do território nacional. Na tentativa de
compreender a política de financiamento voltada para o setor sucroenergético empreendida
pelo Estado brasileiro em resposta a crise financeira, sobretudo a partir do triênio 2008-
2010, realizam-se apontamentos preliminares da participação do financiamento público em
projetos vinculados ao referido setor.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os procedimentos metodológicos adotados se basearam em revisão bibliográfica e
no, levantamento, organização e análise de dados de fonte secundária.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O efeito da crise deflagrada em 2008 para o setor sucroenergético foi a participação
de novas empresas e investidores, geralmente de atuação mundial e com uma série de
atividades relacionadas à agricultura capitalista. As consequências da crise desestruturaram
a organização do setor, que implicaram diretamente na operação das usinas. A
concentração de capitais passou a figurar como importante estratégia para o setor,
configuradas pelas fusões, aquisições e participações de novas empresas.
Embora, as fusões e aquisições sejam sim uma estratégia do setor sucroenergético
no período mencionado, há uma questão crucial a ser salientada e que se relaciona
diretamente com a valorização dada à produção dos chamados agrocombustíveis e, dentre
162
eles um dos protagonistas dessa agroindústria no Brasil, o etanol. Oliveira (2012) nos
chama a atenção para a relação direta entre o aumento do preço das commodities,
(sobretudo de alimentos básicos da produção mundial, como o arroz, o milho e o trigo), que
ficou conhecida como crise dos alimentos em 2008 e a expansão dos agrocombustíveis.
O incentivo à produção de etanol combustível e as condições dadas pelo governo
brasileiro por meio dos aportes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) correlacionam-se ao que Oliveira (2012) chama de “pegar carona no futuro,
fundado na reprodução do passado”, numa clara referencia ao PROÁLCOOL, ou seja,
aproveitando-se da opção estadunidense de produção de etanol de milho, que é uma
commoditie e também base alimentar de muitas culturas para tentar introduzir o etanol
combustível a partir da cana-de-açúcar (um velho conhecido dos brasileiros) e garantir-lhe a
participação na matriz energética mundial.
É neste patamar que situamos os grandes volumes de financiamentos do Governo
Federal (via BNDES) ao setor sucroenergético. Em análise divulgada pelo próprio BNDES
(2011) sobre seu desempenho no financiamento do setor sucroenergético no último triênio
da década, ou seja, de 2008 até 2010, o desembolso total foi de R$ 20,45 bilhões,
equivalendo a mais de 5% do desembolso global do banco, atingindo em 2008 o pico de 7%
considerado histórico para o setor. No gráfico 1 verifica-se a participação do setor
sucroenergético no total dos desembolsos do BNDES entre 2008 e 2010.
Gráfico 1 – Participação do setor sucroenergético nos desembolsos totais do BNDES- 2008/2010.
Fonte: Informe Setorial – Indústria, nº 21/BNDES, 2011.
A relação que podemos estabelecer entre o período recente de investimentos no
setor sucroenergético e o anterior (entendendo este desde a criação da autarquia do IAA47)
evidencia que grande parte das linhas de financiamento para sua expansão ainda provem
do Governo Federal, via BNDES, portanto, são recursos públicos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
47
Instituto do Açúcar e do Álcool, criado em 1933.
163
O novo momento do setor sucroenergético foi acompanhado de uma reorganização
do território, com a expansão das áreas com cultivo de cana-de-açúcar (inclusive não
tradicionais e áreas do bioma Cerrado) e plantas de produção/processamento
tecnologicamente eficientes. Os efeitos da crise financeira de 2008 demandaram uma
política anticíclica do governo brasileiro, cujo destaque deve ser dado aos bancos públicos.
É neste mesmo patamar que situamos o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) e o financiamento aos grandes projetos sucroenergéticos.
A resposta à crise foi imediata, tanto por parte dos grupos de investidores na
realização de fusões e aquisições de empresas de atuação nacional e global, alocando e
realocando capitais, quanto do próprio BNDES que disponibilizou recursos consideráveis
para os financiamentos. No entanto, os impactos diferenciados da crise mundial na
economia brasileira não são fruto de virtude inata, corresponderam ao chamado câmbio
flexível, aos elevados índices de superávit primário e de juros, metas de inflação
conservadora e grandes reservas cambiais formadas durante o boom de exportação de
commodities, que apenas demarcaram o lugar ímpar ocupado pelo país na divisão
internacional do trabalho.
Nossas reflexões a respeito do financiamento público ao setor sucroenergético
ainda são preliminares, pretendemos avançar em nossa pesquisa, entendendo o BNDES
como um banco corporatizado, revelando uma contradição com sua principal fonte de
captação de recursos, o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), sendo este um motivo
para a participação e o controle social sobre a gestão de fundos e recursos públicos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Relatório Anual 2011, Rio de Janeiro, 2011. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Relatório Anual 2010, Rio de Janeiro, 2010. GATTI, W. O envolvimento de fornecedores no desenvolvimento da tecnologia flex fuel nas montadoras brasileiras. In: Revista gestão & tecnologia, v. 11, n. 1, p. 1-18, jul. 2011. GAZON, L.F.N. Financiamento Público ao desenvolvimento: enclave político e enclaves econômicos. In: Capitalismo globalizado e recursos territoriais, 2010, p. 71- 100. HERMANN, J. O papel dos bancos públicos. Texto para Discussão, CEPAL-IPEA n. 15, 2010. HESPANHOL, A. N. O agronegócio e a reconfiguração espacial das principais lavouras. In: Geonordeste (UFS), v.1, p. 63-86, 2008. NASSIF, L. Os cabeças de planilha: como o pensamento econômico da era FHC repetiu os equívocos de Rui Barbosa. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
164
OLIVEIRA, A. U. A mundialização da agricultura brasileira. In: XII Colóquio Internacional de Geocrítica, 2012, p.01-15.
165
O PATRIMÔNIO EM ÁREAS DE ASSENTAMENTO DE REFORMA AGRÁRIA DO PONTAL DO PARANAPANEMA
Barbara Cardoso da Cunha E-mail: barbara.cardosch@hotmail.com
Graduanda em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP, Campus de Presidente Prudente-SP.
Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho, buscou articular o Histórico do Pontal do Paranapanema no
contexto agrário e arqueológico do Sítio Arqueológico Roque Paulino, com o foco em áreas
de Assentamentos de Reforma Agrária no Município de Presidente Venceslau, SP (Mapa 1)
resultando na caracterização e o reconhecimento do patrimônio arqueológico no
assentamento Tupanciretã.
Mapa 1: Mapa de localização do Sítio Arqueológico Roque Paulino.
Fonte: Rosa, 2016.
166
A partir dos estudos realizados, até o momento, pode-se associar a relevância da
Geografia Cultural a partir do conceito de Paisagem ao desdobramento do estudo
Arqueológico local, fortalecendo a integração e conexão da Geografia à Arqueologia.
O objetivo do estudo é compreender o processo histórico do Pontal do
Paranapanema, horizontalizando a discussão arqueológica através da Arqueologia
Participativa e a Educação Patrimonial.
Ao dar ênfase à análise teórica sobre Paisagem, destaca-se a aplicabilidade do
estudo na análise da paisagem em escala local, considerando os aspectos culturais e
físicos, compreendendo os paradigmas da paisagem em sua temporalidade e a partir dos
movimentos que a compõem em cada história de vida na superfície terrestre.
Pontua-se neste estudo, a origem do conceito de patrimônio e a trajetória da
arqueologia na engrenagem do patrimônio cultural, ou melhor, o sítio arqueológico como
Patrimônio cultural.
A doação dos fragmentos arqueológicos para o Museu de Arqueologia Regional
(MAR) possibilitou uma análise do contexto arqueológico local resultando na descrição do
sítio arqueológico e dos vestígios materiais doados.
Por fim, considera-se as ações educativas a partir do processo de mediação,
imbrincados à prática dialógica com a comunidade assentada, cujo objetivo é apresentar o
patrimônio inventariado à comunidade, a fim de valorizá-lo e preservá-lo.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O levantamento do patrimônio arqueológico na área de assentamento, realizou-se a
partir do trabalho de campo envolvendo o assentado Roque Paulino (titular do lote 10 do
P.A. Tupanciretã). O estudo da Paisagem foi realizado a partir dos registros históricos de
vida do passado, e sua interpretação (INGOLD, 2000) trouxe uma contribuição para a
análise da área, aliada à ficha de diagnóstico da paisagem que busca interpretar seus
aspectos físicos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O presente estudo caracterizou e reconheceu o patrimônio arqueológico do
assentamento Tupanciretã. O contexto do Sítio Arqueológico Roque Paulino encontra-se
perturbado, devido ao seu uso e ocupação até mesmo anterior à instalação do
assentamento. No entanto, os geoindicadores apontam para uma área promissora de
vestígios arqueológicos. Na etapa de reconhecimento da área, foram doados para o Museu
de Arqueologia Regional da UNESP os seguintes vestígios arqueológicos: vinte cinco
fragmentos cerâmicos, um lítico lascado, três laminas de machados polidos, além da
167
evidenciação de três manchas pretas. Segue o reconhecimento pontual dos vestígios
arqueológicos (Mapa 2).
Mapa 2: Presidente Venceslau-SP e o Sítio Arqueológico Roque Paulino, dispersão dos vestígios arqueológicos. Fonte: Rosa (2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Realizamos o reconhecimento do Sítio Arqueológico Roque Paulino, localizado em
lote do P.A. Tupanciretã. No trabalho realizado, previmos o resgate arqueológico, oficinas de
pintura em cerâmica e diálogo junto à comunidade assentada sobre a importância da
arqueologia regional e local, com o objetivo de fazê-los conhecer o patrimônio arqueológico
para valorizá-lo e preservá-lo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSGROVE, D. A Geografia está em toda a parte: cultura e simbolismo nas paisagens humanas. In: CORRÊA, R. ROSENDAHL, Z (orgs). In: Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970. INGOLD, T. The temporality of the landascape. In: T. Ingold. The perception of the e environment. Essays in livelihood, dwelling and skill. London, New York: Routledge, 2000.
168
LEITE, J. F. A ocupação do Pontal do Paranapanema. São Paulo: HUCITEC/Fundação UNESP. 1998, p. 19-93. MACIEL, M.C. Tupãnciretã: Deus passou por aqui – um estudo sobre as relações entre movimentos sociais nos assentamentos rurais Primavera e Tupaciretã no Pontal do Paranapanema/SP. (Tese de doutorado em Sociologia). Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2011.
169
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O FORTALECIMENTO DOS MERCADOS LOCAIS DE ALIMENTOS: O CASO DO PROGRAMA PAULISTA DA AGRICULTURA DE INTERESSE
SOCIAL (PPAIS) NO MUNICÍPIO DE TUPI PAULISTA/SP
Valmir José de Oliveira Valério E-mail: valjvalerio@yahoo.com.br
Doutorando em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Campus de Presidente Prudente Bolsista de doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo –
FAPESP
INTRODUÇÃO
A busca pela aproximação entre os extremos da alimentação, ou seja, entre
produtores e consumidores, compõe um dos elementos básicos para o fortalecimento dos
mercados de alimentos na escala local. O Programa Paulista de Agricultura de Interesse
Social (PPAIS), criado pela Lei nº 14.591, de 14 de outubro de 2011, compõe uma ação do
Governo do Estado de São Paulo que tem por objetivo estimular a produção de alimentos
por meio da garantia de comercialização dos produtos da agricultura familiar. O PPAIS
busca fazer do Estado o principal comprador dos produtos deste tipo de agricultura,
compondo mais uma estratégia de fortalecimento para o setor.
De acordo com o Programa, o governo deverá destinar no mínimo 30% dos
recursos estaduais destinados à compra de alimentos para adquirir gêneros procedentes da
agricultura familiar, in natura e manufaturados, até o limite de R$ 12.000,00 por família/ano
(FUNDAÇÃO ITESP, 2014a). Posteriormente, no final de 2013, a comissão gestora do
Programa aprovou o aumento do teto de venda por agricultor, passando de R$ 12.000,00
para R$ 22.000,00 (SÃO PAULO, 2014).
No PPAIS o governo compra frutas, verduras, legumes, etc. para serem utilizados
no preparo de refeições servidas em órgãos estaduais como escolas, hospitais e presídios,
dentre outras instituições. Todos os agricultores familiares, assentados ou quilombolas
assistidos pelo Itesp, podem participar.
Para tanto, os agricultores familiares devem comparecer a uma unidade da Casa da
Agricultura da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) e os assentados e
quilombolas a um escritório do Itesp, no qual deverão solicitar a expedição da Declaração de
Conformidade ao PPAIS. A participação é assegurada por Chamada Pública, com a
divulgação dos editais no Diário Oficial do Estado, jornais de grande circulação (local,
regional ou estadual) ou ainda por outros meios de comunicação (FUNDAÇÃO ITESP,
2014a).
170
Para uma compreensão um pouco mais detalhada, com base nos dados da
Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP), analisamos a seguir o caso
do funcionamento do PPAIS no município de Tupi Paulista/SP (Mapa 01), tendo como
referência o ano de 2014.
Mapa 01: Localização do município de Tupi Paulista/SP na microrregião da Nova Alta Paulista. Fonte: IBGE, 2007. Elaboração: VALÉRIO, 2015.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para atingir os nossos objetivos, foram utilizados dados e informações secundárias,
obtidas principalmente a partir do site do Itesp na internet (http://201.55.33.20/ppais.php),
além da consulta de Leis e Decretos que embasam a organização do Programa enquanto
ação governamental.
Após a obtenção dos dados referentes ao funcionamento do Programa no
município de Tupi Paulista/SP, elaboramos tabelas de maneira a detalhar produtos,
quantidades e valores comercializados no período analisado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
171
A partir de dados disponíveis no site da Fundação Instituto de Terras do Estado de
São Paulo (ITESP) na internet, é possível verificar que as compras de alimentos realizadas
no âmbito do PPAIS no município de Tupi Paulista/SP são referentes ao atendimento da
demanda de duas unidades prisionais (Penitenciária feminina e Penitenciária masculina) lá
instaladas.
Não obstante o reduzido período disponível para análise (apenas quatro meses),
visando uma melhor compreensão do funcionamento do Projeto no município, analisamos
os dados referentes à compra de alimentos das duas unidades prisionais, entre setembro e
dezembro de 2014 (Tabela 01):
Tabela 01: Alimentos entregues via PPAIS nas Penitenciárias (masculina e feminina) de Tupi Paulista/SP entre os meses de setembro e dezembro de 2014
ALIMENTO QTDE.
(Kg)
VALOR
(R$)
Abobrinha 1.350 1.647,00
Alho in natura 36 241,20
Banana nanica 7.500 8.880,00
Batata comum 6.450 7.089,00
Berinjela 600 888,00
Beterraba 1.350 1.468,50
Cebola 3.750 4.522
Cenoura 1.890 2.156,75
Chuchu 450 463,50
Chuchu 960 787,20
Chuchu 1.410 1.250,70
Limão 60 124,80
Pepino 2.340 2.109,60
Pimentão 300 588,00
Repolho 1.350 1.059,00
Tomate salada 5.400 9.289,50
Vagem 300 1.203,00
TOTAL 35.496 43.767,75
Fonte: FUNDAÇÃO ITESP, 2014b.
Considerando as demandas das duas unidades prisionais existentes no município
e, tendo em vista que os contratos são realizados para a vigência de um quadrimestre, as
demandas totais no ano podem chegar a mais de 100 toneladas, com uma movimentação
superior a R$ 130.000,00 em recursos. No período avaliado, foram contabilizados 17 tipos
de alimentos, entre frutas e legumes diversos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
172
No PPAIS, o teto para comercialização é o maior entre os três Programas de
incentivo à produção de alimentos em funcionamento no estado de São Paulo. Não
obstante, as ressalvas dos agricultores em relação aos seus principais significados apontam
para a mesma questão presente no caso dos outros Programas existentes (PAA e PNAE),
ou seja, seus limites de venda por agricultor/ano. Por mais que o limite seja de R$
22.000,00, a realidade da demanda local representa um fator limitante para que os
agricultores, individualmente, possam usufruir do limite máximo de venda.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FUNDAÇÃO ITESP. Chamadas públicas para a compra de alimentos. PPAIS – Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social. [ca. 2014b] Disponível em: <http://201.55.33.20/ppais.php>. Acesso em: 03/04/2014. FUNDAÇÃO ITESP. Informações gerais sobre o Programa. PPAIS – Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social. São Paulo, [ca. 2014a]. Disponível em: <http://www.itesp.sp.gov.br/br/parceria.aspx>. Acesso em: 28/06/2014. IBGE. MALHA MUNICIPAL DIGITAL (2007). Disponível em: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/malhas_digitais/municipio_2007/>. Acesso em: 03/11/2013. SÃO PAULO. DECRETO nº 60.055, de 14 de janeiro de 2014. Dispõe sobre a regulamentação do Programa Paulista de Agricultura de Interesse Social (PPAIS). São Paulo, 2014. SÃO PAULO. Lei nº 14.591, de 14 de outubro de 2011. Cria o Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social (PPAIS). Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2011/lei-14591-14.10.2011.html>. Acesso em: 12/08/2016. VALÉRIO, V. J. O. A segurança da dependência e os desafios da soberania: expansão da agroindústria canavieira e a geografia do abastecimento alimentar no município de Tupi Paulista/SP. 2015. 230 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia de Presidente Prudente, Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP), Presidente Prudente/SP.
173
EIXO TEMÁTICO 6: “OUTROS”
174
A FALÁCIA DA LIBERDADE ESPACIAL NO AGROHIDRONEGÓCIO CANAVIEIRO DO EDR DE ARAÇATUBA-SP
Messias Alessandro Cardoso
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia FCT/UNESP
Membro do Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (CEGeT)
Bolsista FAPESP
INTRODUÇÃO
Perscrutar as ações operadas pelo agrohidronegócio canavieiro na construção de
territórios de produção de commodities nos leva a considerar a forma como a força de
trabalho é arregimentada e explorada. Dessa forma, o sistema do capital utiliza como trunfo
territorial, o processo de mobilidade territorial do trabalho, tendo em vista fazer uso da força
de trabalho nos territórios mais rentáveis ao capital. É este uso possibilitado pela mobilidade
do trabalho, que está na origem da produção de mais-valia e, portanto, da acumulação de
capital.
Podemos dizer que a mobilidade territorial do trabalho sob a lógica destrutiva do
capital está atrelada estruturalmente ao funcionamento do modo de produção capitalista que
para gerar mais valor, exige o trabalho do ser humano e o engendramento de um
ordenamento territorial da força de trabalho, e, se preciso for o seu reordenamento territorial.
Neste trabalho nossos esforços convergiram, para a tentativa de desenvolver algumas
reflexões críticas acerca da mobilidade territorial do trabalho forçada, a que os trabalhadores
migrantes maranhenses e alagoanos são submetidos no agrohidronegócio canavieiro do
Escritório de Desenvolvimento Rural de Araçatuba (SP)48, localizado na região noroeste do
estado de São Paulo. (Mapa1). Assim sendo, estamos propondo focar nossas atenções
para compreensão dos desdobramentos espaciais provocados pelo agrohidronegócio
canavieiro49, com o intuito de entender as contradições implícitas que levam milhares de
trabalhadores a deslocarem-se pelo espaço, em direção de territórios e relações de poder
desconhecidas.
48
O recorte territorial de estudo é composto pelos municípios integrantes do Escritório de Desenvolvimento Rural de Araçatuba (SP). EDR de Araçatuba: Alto Alegre, Araçatuba, Avanhadava, Barbosa, Bilac, Birigui, Braúna, Brejo Alegre, Clementina, Coroados, Gabriel Monteiro, Glicério, Guararapes, Luiziânia, Penápolis, Piacatu, Rubiácea e Santópolis do Aguapeí.
49
Adotamos esta proposição de Thomaz Júnior (2009), para evidenciar que o interesse do capital no
campo não se limita a apropriação da terra, mas também e simultaneamente da água, ou seja, o controle territorial se dá de forma articulada.
175
Mapa 1- Localização do EDR de Araçatuba-SP
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para realização dos intentos mencionados estamos utilizando uma metodologia que
concilia as vivências teóricas e práticas. De modo geral, estamos fundamentando e
aprofundando nossas reflexões teóricas através de levantamento bibliográfico e realização
de distintas leituras de livros, teses, dissertação, artigos, revistas, publicação de órgãos
como: Serviço Pastoral do Migrante (SPM) e Centro de Estudos Migratórios (CEM), que
versam sobre a temática do trabalho e especificamente sobre o trabalho migrante nos
canaviais. Utilizamos ainda, o acompanhamento de dados secundários em respeito às
atividades laborais em torno da agroindústria canavieira, junto a órgãos como: IEA,
Fundação Seade, IBGE, MAPA, IPEA, UNICA, FIESP, UDOP, DIEESE, Ministério do
Trabalho e Emprego. Soma-se a esses procedimentos já destacados, a realização de
“experiências concretas” e no caso da ciência geográfica, estamos enfatizando a realização
de trabalhos de campo para o reconhecimento da realidade local, bem como a realização de
visitas e entrevistas aos trabalhadores envolvidos no corte da cana-de-açúcar (migrantes e
176
não migrantes). Por fim, com base nas informações primárias e secundárias,
consubstanciamos a presente reflexão teórica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O agrohidronegócio canavieiro uma das personificações do sistema do capital está
encimado no discurso do “desenvolvimento”, da geração de emprego e renda para os
trabalhadores, entretanto seus desdobramentos concretos não atentam para melhoria de
vida das populações mais pobres, e nem de longe este é seu objetivo, nestes termos, ao
invés de ser a “salvação da lavoura” brasileira, este modelo de produção destrutiva,
organizada sob os ditames do sistema do capital, encontra-se completamente tolhido em
sentido para os trabalhadores.
Trata-se, pois, de um desenvolvimento do capital e para o capital, que se pauta no desmantelamento das comunidades e territórios que interessa ao projeto expansionista do capital com vistas a sua valorização, tirando-lhes as condições que lhes são próprias e que foram construídas historicamente, e impondo ações e atitudes que não combinam com as formas anteriores de organização social e de produção. (OLIVEIRA, 2009, p. 344-45).
Para Thomaz Júnior (2009) o interesse do capital no campo não se limita somente
a apropriação da terra, mas também e simultaneamente da água. Nesse sentido, preferimos
adotar a denominação de agrohidronegócio, por evidenciar que o território sobre a égide do
agrohidronegócio tendência a monofuncionalidade do uso da terra, água e das
infraestruturas instaladas exclusivamente para reprodução ampliada do capital, negando a
possibilidade de uso plural do território. Dessa forma, a agricultura capitalista ou
agrohidronegócio, qualquer que seja o eufemismo utilizado, não pode esconder o que está
na sua raiz, na sua lógica de operação: a apropriação destrutiva da terra e da água e a
exploração do trabalho.
É preciso entender que a lógica de desenvolvimento desigual do capital, destacada
por Smith (1988) opera um movimento de vaivém entre os lugares, buscando sempre a
contínua produção, reprodução e acumulação capitalista. Na medida em que o capital não
pode encontrar um fixo espacial na produção de um ambiente imóvel para a produção, ele
recorre à completa mobilidade como um fixo espacial. Nesse desenrolar de seus
movimentos o capital condiciona e subordinada à mobilidade dos trabalhadores, que são
forçados a acompanhar os fluxos da mobilidade do capital.
Sendo assim, o capital movimenta-se, por meio das decisões de seus agentes
econômicos e políticos, procurando territórios e articulando os pontos das redes e
aprofundando as desigualdades das escalas locais às supranacionais. Do mesmo modo, a
força de trabalho tem tido que se deslocar em escalas cada vez mais abrangentes em busca
de trabalho. É desse modo, que o agrohidronegócio canavieiro, vem se valendo da busca e
177
exploração de força de trabalho migrante para alcançar seus altos índices de lucratividade.
Nesse sentido, o processo de pesquisa e entrevistas com os trabalhadores
migrantes têm nos permitido compreender a essência do processo de mobilidade territorial
do trabalho para o circuito do agrohidronegócio canavieiro no EDR de Araçatuba-SP. De
modo geral, os principais municípios mobilizados e que compõem os principais fluxos
fornecedores de força de trabalho migrante para o agrohidronegócio canavieiro no EDR de
Araçatuba-SP são: Codó-MA, Coroatá-MA, Gonçalves Dias- MA, Jundiá-AL e Maceió-AL.
O sistema do capital, ao gerar trabalhadores separados de seu meio de existência,
cria a necessidade de deslocamentos em busca do trabalho. A disponibilidade de tais
trabalhadores, como reserva de mercado, nos mais diversos pontos do território, torna-se,
por sua vez, condição necessária para a própria existência da acumulação do capital. Para
Gaudemar (1977, p. 172), “toda estratégia capitalista de mobilidade é igualmente estratégia
de mobilidade forçada”. Assim, a migração de trabalhadores nordestinos para o corte de
cana-de-açúcar no agrohidronegócio canavieiro do EDR de Araçatuba-SP, revela ser um
processo de mobilidade territorial do trabalho forçada, pela necessidade que o homem
desprovido dos meios de produção, tem de vender para o capital sua força de trabalho. Ou,
como nos indica Vainer (1984), o que aparece como livre deslocamento de homens livres no
espaço, não é senão a dimensão espacial da subordinação do trabalho ao capital. Dessa
maneira, o deslocamento territorial em questão, não tem nada a ver com liberdade espacial,
ou melhor, tem a ver com sua perda.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sem nenhum rodeio, podemos afirmar, que a liberdade espacial de fato, não se
expressa no processo de mobilidade territorial do trabalho para o agrohidronegócio
canavieiro, o poder de definição e decisão, para quais escalas migrar, quais conteúdos
espaciais construir, não estão centrados nos sujeitos do trabalho, e sim, na estratégia do
capital de ativar seu ciclo reprodutivo, no qual, predominam interações espaciais ancoradas
na exploração do trabalho fonte de toda riqueza existente. Decifrando o discurso dos
trabalhadores migrantes, é possível notar, que na verdade é o sistema do capital em sua
ação irracional e sistêmica que impele e, portanto, forçar os sujeitos do trabalho a
mobilidade territorial forçada.
Nestes termos, o ato de partir, não significa liberdade espacial, no sentido, de que a
partida é condicionada e direcionada para lugares de extração de trabalho não pago e
reprodução ampliada do capital. Ora, a natureza fundamental da liberdade espacial, não
está presente no ato de decidir entre a ou b como opções predefinidas e selecionadas por
outrem, mas sim em poder construir o conteúdo e sentido das escolhas. Logo, a mobilidade
178
territorial do trabalho representa o controle do capital sobre a força de trabalho. Portanto, é
possível dizer, que ao invés de uma decisão livre, o direito de migrar se converte em
obrigação compulsória pela sobrevivência: “ir e vir”, longe de ser um ato de liberdade acaba
sendo a revelação do desespero, de quem se vê pressionado pela necessidade de
sobreviver.
REFERÊNCIAS
GAUDEMAR, J. P. de. Mobilidade do trabalho e acumulação do capital. Tradução: Maria do Rosário Quintela. Lisboa: Editorial Estampa, 1977.
OLIVEIRA, A. M. S. de. Reordenamento territorial e produtivo do agronegócio canavieiro no
Brasil e os desdobramentos para o trabalho. Tese de Doutorado- UNESP, Presidente Prudente,
2009.
SMITH, N. Desenvolvimento Desigual. Natureza, Capital e a Produção do Espaço. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988.
THOMAZ JÚNIOR, A. Dinâmica Geográfica do Trabalho no Século XXI (limites explicativos, autocrítica e desafios teóricos) (Tese de Livre Docência- UNESP) Presidente Prudente, 2009.
____________. Trabalho e Saúde no Ambiente Destrutivo do Agrohidronegócio Canavieiro no Pontal do Paranapanema (SP) - BRASIL. Presidente Prudente, Revista Pegada, V.14, N°2, 2014, pp. 01-15.
VAINER, C. B. Trabalho, Espaço e Estado: questionando a questão migratória. Rio de Janeiro: IPPUR/UFRJ, mimeo, 1984.
179
O OBSERVATÓRIO NEGRO – PRESIDENTE PRUDENTE – SP: PRIMEIROS RESULTADOS.
Vanessa Ap. de Oliveira.
E-mail: oliver.van29@gmail.com.
Graduanda 1º. ano em Geografia.
Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP Campus de Presidente Prudente – SP.
Bolsista PROEX.
INTRODUÇÃO
Este trabalho se apresenta como resultado parcial do projeto de extensão
acadêmica, intitulado “O Observatório Negro – Presidente Prudente – SP”, cujo objetivo é
produzir um banco de dados sobre os diversos problemas que envolvem a população
negra local. Neste primeiro ano do projeto, o foco está sendo dado aos crimes violentos
envolvendo jovens negros, violência contra a mulher e crimes de injúria racial.
Nos últimos vinte anos, as discussões sobre racismo, discriminação e
preconceito adquiriram significativos espaços de visibilidade, tornando necessária a
tomada de ações afirmativas como, as cotas raciais. Tais ações não só romperam
publicamente com o falso discurso da “Democracia Racial” no Brasil, como também
forçaram o estabelecimento de medidas proativas para o combate e a erradicação do
racismo.
A Lei 10.639/03 é um exemplo de lei afirmativa, que tornou obrigatório o ensino
de África e história da cultura afro-brasileira na educação básica e nos cursos superiores
para a formação de professores. A partir da reflexão supracitada, foi observada a
carência de estudos relacionados a questões étnicos raciais em Presidente Prudente –
SP. Neste sentido, faz-se necessário a abordagem de temas como, Genocídio da
População Negra, crime de racismo, violência contra a mulher negra e crimes de injuria
racial, de modo a inserir experiências da comunidade às analises de cunho acadêmico.
Considerando os temas citados anteriormente, o Observatório Negro –
Presidente Prudente – SP tem o objetivo de servir de respaldo para os estudos que
tenham no cerne dos seus diagnósticos as problemáticas étnicos raciais, já discutidos e
promover a reflexão sobre o papel do Negro na sociedade brasileira e local, como um
processo para enfrentar/combater as desigualdades raciais.
180
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Adotamos como fonte primária para o desenvolvimento da pesquisada, o
levantamento de dados junto à Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo
e as delegacias de polícia, considerando boletins de ocorrência, para verificar a
incidência de crimes de injuria racial, violência contra a mulher negra e crimes violentos
que envolvem adolescentes e jovens negros. Esses dados estão sendo sistematizados
em planilhas eletrônicas no Office Excel 2010.
Outro procedimento adotado foi a criação de uma página pública em rede social
(Facebook) com a finalidade de ser uma fonte alternativa, para o fomento do banco de
dados, tendo em vista que muitos crimes de racismo e injúria racial podem não ser
efetivamente denunciados e, portanto, ficam fora das estatísticas oficiais. Outra fonte
secundária de recolhimento de dados são os noticiários da região em formato físico e
virtual.
A partir destas fontes, a intenção é produzir um banco de dados público, que
possa servir de fonte de informação para futuras pesquisas no campo da igualdade racial,
com foco na realidade local.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A apresentação parcial dos resultados se dá sob a proposta de sistematização
dos dados em planilhas eletrônicas, visando facilitar a forma de leitura, bem como tornar
dinâmica a apreensão dos dados, dando possibilidade ao usuário do Observatório Negro
– Presidente Prudente – SP, de filtragem e nivelamento dos temas, segundo seus
objetivos de pesquisa.
Portanto, foi feito o tratamento dos dados que até então eram um amontado de
informações desordenadas, como demonstra a figura 01.
Figura 01: Dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de SP, desordenados.
181
Fonte: Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, 2016.
Org.: Vanessa Ap. Oliveira, 2016.
Após a definição de critérios, entendeu-se que é necessária a delimitação de
eixos temáticos, de modo a organizar os dados, visto que nem todos contribuem para o
proposito do projeto. Sendo assim, os dados foram sistematizados, como mostra a figura
02.
Figura 02: Dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de SP, sistematizados.
Fonte: Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, 2016.
Org.: Vanessa Ap. Oliveira, 2016.
Os resultados apresentados nas figuras 01 e 02 demostram uma primeira fase
elementar de coleta e tratamento dos dados. Entretanto, pretende-se ainda tornar a
organização destes mais aprimorada, com intuito de alcançar o objetivo proposto da
dinâmica e facilidade de leitura por parte do usuário do Observatório Negro – Presidente
Prudente – SP. Também pretendemos aprimorar o tratamento estatístico das
informações, para apresentar de forma organizada sínteses como: as áreas de maior
ocorrência, horários, períodos do ano e dias da semana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho aqui apresentado, bem como os seus resultados parciais têm como
objetivo prestar contribuições para futuros estudos e servir de base para pesquisadores,
182
principalmente aqueles atrelados a movimentos sociais, coletivos negros, como por
exemplo, o Coletivo Mãos Negras, da Faculdade de Ciência e Tecnologia – FCT/ UNESP.
Ademais, o Observatório Negro – Presidente Prudente – SP irá contribuir de
modo significativo, dando bases às discussões e reflexões relacionadas aos temas que
envolvem a população negra, a fim de explorar essas questões que possuem pouca ou
nenhuma visibilidade no âmbito acadêmico, mesmo que na concepção cientificista estas
problemáticas são postas de modo à oculta-las dentro dos espaços públicos em que há
representatividade da população negra.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática
“História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências.
GOMES, F. B.; SILVA, J. M.; GARABELI, A. A.. A relação entre as espacialidades de jovens
do sexo masculino e a morte por homicídio na cidade de Ponta Grossa – Paraná. Caderno
Prudentino de Geografia, Presidente Prudente, n. 35, vol. Especial, p. 154-174, 2013.
SÃO PAULO, Secretaria de Segurança pública. Estatística de criminalidade: manual de
interpretação de crimes. São Paulo, 1º. de fevereiro de 2005. Disponível em
<http://www.ssp.sp.gov.br/media/documents/manual_interpretacao.pdf>, acessado em abril
de 2016.
183
VIGILÂNCIA EM SAÚDE: UMA PROPOSTA DE PLANO DE AÇÃO PARA A POPULAÇÃO
QUE FREQUENTA A UNESP, CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE-SP
Bruna Dienifer Souza SAMPAIO
E-mail: bruna_jenny@hotmail.com
Mestranda no Programa de Pós Graduação em Geografia (PPGG)
Faculdade de Ciências e Tecnologia – FCT/UNESP
Campus de Presidente Prudente - SP
Edson Sabatini RIBEIRO
E-mail: edson.sabatini@gmail.com
Graduado em Geografia e especialista em psicopedagogia
Faculdade de Ciências e Tecnologia – FCT/UNESP
Campus de Presidente Prudente - SP
INTRODUÇÃO
A Vigilância em saúde remete ao ato de eliminar as condições propícias ao
surgimento de criadouros de vetores que possam transmitir alguma doença. Historicamente,
a vigilância é relacionada aos conceitos de saúde, prevenção e doenças presentes em cada
época e lugar, bem como, às práticas de atenção aos doentes e aos mecanismos
empregados para tentar impedir a disseminação das doenças. No século XIX, apareceram
novas medidas de controle das doenças infecciosas, destacando-se a vacinação e a
organização de serviços e ações em saúde coletiva como uma nova prática eficaz no
controle das doenças (FIOCRUZ, 2016).
Aliado à conceituação de vigilância em saúde, houve um aperfeiçoamento a fim de
melhorar as medidas de controle sanitário. Entretanto, na década de 60 e 70 do século XX,
com a campanha de erradicação da varíola o conceito foi disseminado pelo mundo. Em
1976, no Brasil, foi criada a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária. Em 1990, discutia-se
a criação do Projeto de Estruturação do Sistema Nacional de Vigilância em
Saúde (VIGISUS) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).
184
Existem inúmeras análises na esfera conceitual das ações de vigilância
(epidemiológica, sanitária e ambiental). Segundo Paim e Almeida Filho (2000), a vigilância
em saúde tem a característica de intervir sobre os problemas de saúde que requer
acompanhamento contínuo, além de articular as ações promocionais, preventivas, curativas
e reabilitadoras, operando sobre o território. Assim, a vigilância em saúde é compreendida
como rearticulação de saberes e de práticas sanitárias, propiciando a consolidação do
ideário e princípios do Sistema Único de Saúde – SUS.
O Sistema Único de Saúde (SUS) proporciona atendimento às pessoas que
necessitam de serviços médicos, sem que haja a necessidade de despenderem recursos no
momento da intervenção médica, já que é custeado por uma parcela dos impostos
recolhidos pela União. Ele tem se revelado um importante instrumento de políticas públicas
na detecção de riscos à saúde da população, notadamente no caso da epidemia de dengue
que se instalou recentemente no Brasil.
Atualmente, a dengue já afetou mais de 1,5 milhões de pessoas no país, além de
outras doenças. Segundo os especialistas, o vetor da dengue se tornou um eficiente
transmissor de doenças porque se adaptou muito bem às condições urbanas, de maneira a
disseminar as doenças, ou seja, houve a evolução do vírus e do mosquito.
Dessa maneira, o mosquito constitui-se como um problema de saúde pública,
principalmente em países tropicais onde a temperatura e a precipitação favorecem o
surgimento dos criadouros, além dos maus hábitos da população que facilitam a existência
de locais onde o principal vetor da doença – Aedes Aegypti se reproduz, proliferando a
doença pelo território.
Mediante a gravidade do assunto e os vários casos de microcefalia e outras
doenças que o mosquito vetor pode transmitir, surge a necessidade de um estudo de caso
sobre o mosquito no ambiente acadêmico, neste caso a Universidade Estadual Júlio de
Mesquita Filho, campus de Presidente Prudente. Na área, se faz necessária uma vigilância
constante devido a sua localização, entre bairros residenciais, e por ser polo de atração de
diversas pessoas da região, frequentada por alunos, funcionários e professores. Assim, o
objetivo deste trabalho foi conhecer os locais com focos do mosquito na área da UNESP e
propor um plano de ação para a prevenção e controle do vetor, com a participação efetiva
da população que frequenta o local.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
185
Inicialmente, realizou-se uma revisão bibliográfica sobre o tema, principalmente sobre
a educação efetiva em saúde, vigilância em saúde e educação ambiental. Em 19 de janeiro
de 2016 foi realizado um trabalho de campo na área da Unesp acompanhado pelos técnicos
da Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN), no qual se vasculhou pontos
estratégicos de criadouros do vetor da dengue pelo campus. Foram encontrados vários
pontos com larvas do mosquito, e aplicado o veneno adequado pelos técnicos. Após essa
pesquisa, gerou-se o relatório e a criação de um plano de ação para a população que
frequenta o local.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Considerou-se como população flutuante o número de pessoas que estudam ou
trabalham em determinada cidade ou ambiente, mas possuem residência fixa em outra. Elas
eventualmente utilizam os equipamentos instalados no campus, como o museu,
laboratórios, salas de aulas, auditórios e locais para alimentação. Sua permanência não é
longa, como é o caso dos alunos50 dos vários cursos.
Observou-se que as pessoas que frequentam o local para realização de concursos,
descartam os resíduos sólidos de maneira inadequada, isso pode proliferar o vetor da
doença na área (Figura 1).
Figura 1: Resíduos sólidos dispostos inadequadamente pela população flutuante.
Fonte: Trabalho de campo, 2016.
As pessoas podem estar contaminadas e serem picadas por mosquitos existentes no
campus, iniciando assim, um processo de disseminação da doença. Também pode ocorrer o
contrário, ou seja, são picadas e viajarão de volta para outras regiões (Estados) levando as
50
Muitos alunos residem no município de Presidente Prudente, pois são de outros Estados ou de outros países.
186
doenças. O problema da doença é grave e a população que frequenta a UNESP, deverá ser
esclarecida sobre o alto poder de sua disseminação. A UNESP possui um histórico de
multas aplicadas pela Vigilância Epidemiológica, e é considerada área de prioridade dos
trabalhos dos técnicos contra o vetor da dengue, sendo efetuados monitoramentos
mensalmente.
Segundo Freire (2007) é preciso unir a teoria e a prática, onde os sujeitos são autores
da história e não reféns. Para ele, os trabalhadores de saúde deveriam ser desafiados a
atrair os usuários em suas ações e serviços na luta pelo direito à saúde. Freire (2007)
preconiza a necessidade de se esquecer a falsa sabedoria e reaprender de novo. Para ele,
é preciso cessar a concepção bancária da educação, pois ela educa para a passividade,
sendo oposta à educação que pretenda educar para a autonomia.
Essa educação bancária se compõe de recortes da realidade de forma estática, sem
levar em conta a experiência do educando, assim faz-se necessário participar das decisões
da sociedade, por exemplo, precisa-se do comprometimento das pessoas com a causa da
Dengue, para juntas acabar com o vetor. Observe no quadro 1, a proposta do plano de ação
para a população que frequenta a área crítica, de forma a participar efetivamente na
prevenção.
Quadro 1: Plano de ação para a população flutuante.
1. Treinamento para os
monitores de turmas (alunos
dos cursos regulares da
UNESP)
2. Aplicação para os visitantes
(alunos das escolas):
3.Aplicação para os
concurseiros e vestibulandos
Aplicar para os monitores dos
grupos de visitantes (alunos das
escolas que visitam o museu,
laboratórios e outras áreas) um
treinamento para conscientizá-los
da importância de controlar os
focos de larvas do Aedes
Aegypti; Apresentar o vídeo da
FIOCRUZ, sobre o ciclo
reprodutivo do mosquito; Mostrar
fotos sobre os vários lugares
possíveis para a reprodução do
mosquito; Apresentar as ações
individuais que devem ser
praticadas por todos; Fazer um
trabalho de campo em alguns
locais marcados no mapa, pelos
técnicos da Vigilância
Epidemiológica, com a finalidade
de conhecer in loco as
possibilidades de reprodução do
mosquito; Criar um espaço de
Palestra sobre o mosquito, como
se reproduz, como se infecta e
como as doenças (Dengue,
Dengue hemorrágica, Zika,
Chikungunya) são transmitidas
por meio desse vetor; Apresentar
o vídeo para os visitantes;
Estimular uma discussão com o
grupo sobre o que entenderam;
Levar o grupo a campo para
mostrar as fontes de procriação,
sempre provocando a turma para
discutirem sobre cuidados a
serem tomados.
Orientar os fiscais de provas,
para alertar aos concurseiros que
não é para dispensar/ jogar
garrafas plásticas de água em
local inadequado, embalagens de
balas, barras de cereais e outros
alimentos pelo campus e sim nas
lixeiras. Afixar cartazes de
informação na entrada das salas
de provas sobre o mosquito,
como ele se reproduz, como se
infecta e como transmite as
doenças por meio desse vetor
(Dengue, Dengue hemorrágica,
Zika, Chikungunya); Alertá-los de
que mesmo por poucas horas no
campus devem colaborar para
não promoverem criadouros para
o mosquito, e que estão sujeitos
a serem infectados da mesma
maneira de quem frequenta
diariamente o local, por isso é
187
discussão entre os monitores
para novas propostas.
importante serem
conscientizados a não promover
a proliferação do vetor.
Org.: Sampaio e Ribeiro; 2016.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A “promoção da saúde” é um aspecto fundamental da vigilância em saúde (vigilância,
promoção, prevenção e controle de doenças). É o cuidado integral à saúde das pessoas por
meio de estratégias de articulação, conforme as diferentes necessidades dos territórios. Visa
criar mecanismos que “[...] reduzam as situações de vulnerabilidade, defendam a equidade
e incorporem a participação e o controle social na gestão das políticas públicas”
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008, p. 9).
É fato que o Poder Público não tem condições de, sozinho, desenvolver as ações
necessárias ao controle dos vetores dessas doenças. Sem uma efetiva participação da
população, os casos tendem a se multiplicarem exponencialmente, elevando assim, o risco
de surgirem epidemias que causarão sérios transtornos à população e elevados gastos
públicos.
Por sua vez, é necessário que o setor de saúde pública receba verbas suficientes
destinadas à pesquisa para encontrar vacinas e outras formas preventivas, o que redundará
em economia para os cofres públicos e melhoria na saúde coletiva. Isso implica também em
campanhas que alertem as pessoas sobre os riscos e as maneiras de ajudarem na tarefa de
diminuição dos riscos.
No entanto, o uso de verbas públicas para essa finalidade deve ser muito bem
planejado, porque as atuais campanhas não estão dando resultados, ou seja, os casos têm
aumentado muito e os recursos financeiros estão sendo desperdiçados. A seriedade no trato
da coisa pública não pode atender a determinados interesses econômicos, mas sim, aos
interesses coletivos que, afinal, é de onde provem grande parte dos recursos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
188
CZERESNIA, D. & FREITAS, C. M. de. (Org.). Promoção da Saúde: conceitos, reflexões,
tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Vigilância em Saúde: Dengue, Esquistossomose, Hanseníase, Malária, Tracoma e
Tuberculose / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção a Saúde, Departamento de
Atenção Básica . - 2. ed. rev. - Brasília: Ministério da Saúde, 2008.
MINISTERIO DA SAÚDE. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento
de Apoio à Gestão Participativa. Caderno de educação popular e saúde / Ministério da
Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão
Participativa. - Brasília: Ministério da Saúde, 2007.
OLIVEIRA, JOÃO CARLOS DE. Manejo integrado para controle do Aedes e prevenção
contra a dengue no distrito de Martinésia, Uberlândia (MG) JOÃO CARLOS DE
OLIVEIRA. Universidade Federal de Uberlândia: Uberlândia (MG), 2006.
PAIM, J. S. & ALMEIDA FILHO, N. de. A Crise da Saúde Pública e a Utopia da Saúde
Coletiva. Salvador: Casa da Qualidade, 2000.
Site da FIOCRUZ. Disponível em <http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/
vigsau.html>. Acessado em 22 jan 2016.
SUPERINTENDÊNCIA DE CONTROLE DE ENDEMIAS - SUCEN. Governo do Estado de São Paulo: Secretaria da Saúde. Disponível em http://www.saude.sp.gov.br/sucen- superintendencia-de-controle-de-endemias/>. Acesso em 20 jan 2016.
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