“histórias do trabalho no sul global” “historias del...
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ldquoHistoacuterias do Trabalho no Sul Globalrdquo ldquoHistorias del Trabajo en el Sur Globalrdquo ldquoLabour Histories from the Global Southrdquo I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
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A associaccedilatildeo de trabalhadores difere daquela
dos demais seres humanos
Adhemar Lourenccedilo da Silva Jr
Esta comunicaccedilatildeo como jaacute enunciado no resumo pretende responder agrave pergunta
que estaacute no tiacutetulo acerca do caraacuteter diferenciado (ou natildeo) das associaccedilotildees voluntaacuterias de
trabalhadores Eacute comum na historiografia brasileira que os resumos sejam elaborados
antes dos papers e este particularmente sofre de um segundo mal por ter sido escrito em
meados de maio de 2010 mas apresentado em outubro do mesmo ano espero que venha a
ganhar em sobriedade procedimento que conforme espero seja capaz de limpar um
pouco o aspecto provocativo do texto por ora elaborado Esclarecer esse tipo de dimensatildeo
eacute importante porque haacute dois objetivos nesta comunicaccedilatildeo O primeiro eacute proceder a uma
criacutetica dos usos do termo ―identidade na historiografia o segundo desses objetivos eacute
Professor da Universidade Federal de Pelotas Este texto deve agraves reflexotildees permitidas pela FAPERGS por
conta do financiamento da pesquisa O Associativismo no Rio Grande do Sul (1920-1950) O autor pede que
este rascunho natildeo seja citado sem preacutevio contato que pode ser feito pelo e-mail adhemarjufpeledubr
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saber se os trabalhadores que vimos abordando tecircm algo de especial e o que eacute este
―especial caso exista
Talvez o mais correto fosse dividir este paper em duas partes cada um
respondendo a um objetivo Contudo o incocircmodo que a ―identidade vem causando agrave
historiografia leva a priorizar o primeiro objetivo apenas esboccedilando os elementos que
responderiam ao segundo
Dito isto quero criticar os usos de ―identidade com base em 4 argumentos cada
um deles repetido e desenvolvido nas seccedilotildees a seguir
1 ndash ―Identidade eacute um termo que tem promovido a atenccedilatildeo das pesquisas de
histoacuteria do trabalho para outros fenocircmenos que natildeo exclusivamente a claacutessica ―histoacuteria
do movimento operaacuterio
2 ndash Ao se incorporarem muitos fenocircmenos agrave ―identidade a fortuna de seus usos
oscila entre a descriccedilatildeo e o significado geneacuterico de ―percepccedilatildeo ou sentimento de
pertenccedila
3 ndash A ―percepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedila eacute muito mais simples de ser
investigado quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua
enunciaccedilatildeo tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ―identidade tende
a ser deixado de lado pela historiografia do trabalho
4 ndash Toda ―identidade enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com
claros intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ―identidade
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Como jaacute ficou claro este paper tem um caraacuteter de reflexatildeo metodoloacutegica soacute
possiacutevel pela circunstacircncia de haacute muito vir debatendo a questatildeo com diversos colegas
Enumeraacute-los tenderia agrave deselegacircncia quando certamente me esqueceria de algueacutem e
ademais creio que o resultado da discussatildeo que teremos a seguir pode ajudar a consolidar
revisar ou ratificar posiccedilotildees (trecircs alternativas a que tambeacutem este texto estaacute submetido)
Natildeo obstante eacute evidente que assumo eu as responsabilidades pelos equiacutevocos do texto que
segue
1 ndash ldquoIdentidaderdquo eacute um termo que tem promovido a atenccedilatildeo das pesquisas de histoacuteria
do trabalho para outros fenocircmenos que natildeo exclusivamente a claacutessica ldquohistoacuteria do
movimento operaacuteriordquo
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Essa afirmaccedilatildeo estaacute muito longe de ser apenas uma impressatildeo subjetiva (imagino
que facilmente compartilhaacutevel entre noacutes) e as evidecircncias abaixo nocirc-lo demonstram
Eacute visiacutevel a impressionante frequumlecircncia com que ―identidade aparece como termo
de largo uso tanto no discurso cientiacutefico quanto no discurso poliacutetico e mesmo no discurso
do senso comum com alguma instruccedilatildeo Uma evidecircncia clara dessa frequumlecircncia aparece em
procedimentos lexicomeacutetricos que aproveitam a facilidade de circulaccedilatildeo eletrocircnica de
textos Foram encontrados mais de 45 milhotildees de usos do termo em paacuteginas de internet
distribuiacutedos conforme o Quadro 1
Quadro 1 Ocorrecircncias do termo ldquoidentidaderdquo
Portuguecircs Espanhol Inglecircs Italiano Francecircs
―identidade eacute 117000 836000 2510000 385000 27900000
―identidade natildeo eacute 258000 125000 459000 282000 12800000
Pesquisa Google (wwwgooglecom) em 27 abr 2010
Dois elementos chamam a atenccedilatildeo neste Quadro 1 O primeiro deles eacute o
extraordinaacuterio volume de referecircncias em francecircs para a ―identiteacute deixando evidente que a
origem ndash ou pelo menos o provaacutevel centro intelectual de onde proveacutem a preocupaccedilatildeo ndash eacute
francoacutefona Mas existe tambeacutem um segundo elemento relevante neste quadro 1 o
descompasso lusoacutefono no uso do termo uma vez que eacute dentre as liacutenguas analisadas a
uacutenica na qual com mais frequumlecircncia dizemos aquilo que ―identidade natildeo eacute do que aquilo
que ela eacute
O Quadro 2 tambeacutem efeito de uma pesquisa no Google traz evidecircncias de
bastante menor credibilidade porque natildeo incorpora a imensa gama de variedades que a
adjetivaccedilatildeo da ―identidade pode sofrer nas liacutenguas acima trabalhadas Eacute possivelmente
uma evidecircncia que apenas porque demandou trabalho aqui trago na certeza de que
colegas teratildeo o que criticar
Quadro 2 Ocorrecircncias de variantes de ldquoidentidade operaacuteriardquo
Termos da pesquisa Ocorrecircncias
identidade operaria 3180
identidad obrera 5990
labor identity 17900
labour identity 5950
identite ouvriere 9800
identidad trabajadora 439
identita dei lavoratori 390000
Fonte Pesquisa Google (wwwgooglecom) em 09 maio 2010
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Eacute evidente que a adjetivaccedilatildeo da ―identidade para os interesses da historiografia do
trabalho natildeo tem a mesma capacidade sedutora que o termo tem para os usos
eventualmente trazidos no Quadro 1 Mas eacute necessaacuterio distinguir o quanto dessa
adjetivaccedilatildeo eacute especiacutefica da produccedilatildeo acadecircmica ou ao contraacuterio proveacutem do mesmo tipo
de fonte que incorporamos agraves pesquisas Em que pese a relativa fragmentaccedilatildeo dos bancos
eletrocircnicos de teses o descompasso entre a produccedilatildeo acadecircmica (e nela a historiografia
do trabalho) e os discursos de outra natureza pode ser constatado a partir de uma pesquisa
no metabuscador Cyberthesisnet cujos nuacutemeros satildeo bem menores do que os apresentados
nos quadros anteriores
Quadro 3 Ocorrecircncia de vaacuterias expressotildees em trabalhos acadecircmicos
Termos da pesquisa Ocorrecircncias
identidad 442
identidad obrera 2
identidad trabajadora 1
identidade 280
identidade trabalhadora 2
identidade operaacuteria 0
identity 931
labor identity 11
labour identity 3
Fonte wwwcybertesisnet consultado em 09 maio 2010
Dada essa desproporccedilatildeo entre a frequumlecircncia do uso do termo ―identidade em
discursos de diferentes naturezas e seu uso na historiografia do trabalho eacute interessante
indagar ateacute que ponto esse toacutepico eacute relevante nas formas de escrever histoacuteria utilizadas no
Brasil Eacute neste ponto que o portal do GT Mundos do Trabalho
(httpwwwifchunicampbrmundosdotrabalho) se torna um dos principais aliados nesta
investigaccedilatildeo uma vez que ali estaacute consolidada a produccedilatildeo acadecircmica recente proveniente
de diferentes universidades abordando diferentes toacutepicos Agraves teses e dissertaccedilotildees ali
disponiacuteveis foram acrescentadas algumas outras que seja por terem sido orientadas por
membros do GT seja por ampliarem o universo empiacuterico para a diversidade capaz de
conferir maior credibilidade aos argumentos aqui enunciados permitem constatar que a
―identidade eacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo nossa Com efeito em 39 trabalhos acadecircmicos
investigados segundo o procedimento lexicomeacutetrico em 37 deles a palavra ―identidade
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apareceu 1418 vezes perfazendo uma meacutedia de quase 40 vezes em cada dissertaccedilatildeo ou
tese1
1 Os trabalhos nos quais ―identidade apareceu foram os seguintes ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O
Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na Primeira Repuacuteblica Juiz de Fora
dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFJF) 2007 ALVES Walter de Assis Trabalhadores tecircxteis em Trecircs Lagoas-MS
experiecircncias de trabalho praacuteticas sociais e atuaccedilotildees poliacuteticas Uberlacircndia dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFU)
2009 AMORIM Ailana Cristina de Relaccedilotildees intra-classe solidariedade e conflito na formaccedilatildeo da classe
operaacuteria no Rio Grande do Sul Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2006 ARAUacuteJO NETO
Adalberto Coutinho de Entre a revoluccedilatildeo e o corporativismo a experiecircncia sindical dos ferroviaacuterios da E
F Sorocabana nos anos 1930 Satildeo Paulo dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-USP) 2006 BARTZ Frederico
Duarte O Horizonte Vermelho o impacto da revoluccedilatildeo russa no movimento operaacuterio do Rio Grande do Sul
1917-1920 Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2008 BILHAtildeO Isabel Aparecida Identidade e
trabalho anaacutelise da construccedilatildeo identitaacuteria dos operaacuterios porto-alegrenses (1896 a 1920) Porto Alegre
tese (Histoacuteria-UFRGS) 2005 CASTELLUCCI Aldrin A S Trabalhadores maacutequina poliacutetica e eleiccedilotildees na
Primeira Repuacuteblica Salvador tese (Histoacuteria-UFBA) 2008 CHAVES Marcelo Antonio Da periferia ao
centro da(o) capital perfil dos trabalhadores do primeiro complexo cimenteiro do Brasil Satildeo Paulo 1925
ndash 1945 Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2005 CORREcircA Anderson Romaacuterio Pereira
Movimento operaacuterio em Alegrete a presenccedila de imigrantes e estrangeiros (1897 ndash 1929) Porto Alegre
dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-PUCRS) 2010 CORREcircA Larissa Rosa Trabalhadores tecircxteis e metaluacutergicos a
caminho da Justiccedila do Trabalho leis e direitos na cidade de Satildeo Paulo 1953 a 1964 Campinas dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UNICAMP) 2007 ESPERANCcedilA Clarice Gontarski A greve da oficina de chumbo O movimento
de resistecircncia dos trabalhadores da Empresa Jornaliacutestica Caldas Juacutenior (Porto Alegre 1983-1984) Porto
Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2007 FORTES Alexandre bdquoNoacutes do Quarto Distritohellip‟ A classe
trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas Tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2001 FRACCARO Glaucia
Cristina Frandian Morigerados e revoltados Trabalho e organizaccedilatildeo de ferroviaacuterios da Central do Brasil e
da Leopoldina (1889-1920) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2008 KAREPOVS Dainis A
Esquerda e o Parlamento no Brasil o Bloco Operaacuterio e Camponecircs (1924-1930) Satildeo Paulo Tese (Histoacuteria-
USP) 2002 KONRAD Glaucia Vieira Ramos Os trabalhadores e o Estado Novo no Rio Grande do Sul
um retrato da sociedade e do mundo do trabalho (1937-1945) Campinas tese (Histoacuteria Social do Trabalho-
UNICAMP) 2006 LEUCHTENBERGER Rafaela ldquoO Laacutebaro protetor da classe operaacuteriardquo As
Associaccedilotildees voluntaacuterias de socorros-muacutetuos dos trabalhadores em Florianoacutepolis ndash Santa Catarina (1886-
1932) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2009 LONER Beatriz Ana Classe operaacuteria
mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo em Pelotas 1888 ndash 1937 Porto Alegre 1999 Tese (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo
em Sociologia) ndash IFCH UFRGS 1999 MACIEL Osvaldo Batista Acioly Filhos do Trabalho Apoacutestolos
do Socialismo os tipoacutegrafos e a construccedilatildeo de uma identidade de classe em Maceioacute (18951905) Recife
dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2004 MONTEIRO Claudia ldquoFora dos trilhosrdquo as experiecircncias da
militacircncia comunista na rede de viaccedilatildeo Paranaacute-Santa Catarina (1934-1945) Porto Alegre dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UFRGS) 2007 MORAIS Naacutegila Maia de ldquoTodo cais eacute uma saudade de pedrardquo repressatildeo e
morte dos trabalhadores catraieiros (1903-1904) Fortaleza dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFCE) 2009
MOREIRA Vagner Joseacute Memoacuterias e histoacuterias de trabalhadores em luta pela terra Fernandoacutepolis-SP
1946-1964 Uberlacircndia tese (Histoacuteria ndash UFU) 2009 NOMELINI Paula Christina Bin Associaccedilotildees
operaacuterias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-
UNICAMP 2007) OLIVEIRA Tiago Bernardon de Mobilizaccedilatildeo operaacuteria na Repuacuteblica excludente Um
estudo comparativo da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e
Rio Grande do Sul nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)
2003 OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do
trabalho mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese
(Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a
dinacircmica agraacuteria tradicional (freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese
(Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP) 2008 PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de
uma Idea Lisboa (Histoacuteria Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008 QUEIROacuteS Ceacutesar
Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social (1895-1919) Porto
Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000 REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria
Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP)
Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006 RIBEIRO JUacuteNIOR
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Para aleacutem do procedimento lexicomeacutetrico eacute faacutecil constatar que na maior parte das
vezes em que o termo aparece nos trabalhos ele natildeo excede importantes referecircncias
bibliograacuteficas plenamente recomendaacuteveis na historiografia do trabalho2 ou aparece em
meio a um tipo de pressa terminoloacutegica natildeo rararamente no interior da expressatildeo
―identidade eacutetnica que com isso tende a ser mais mencionada do que efetivamente
discutida3 Em todo caso o frequumlente uso do termo ―identidade natildeo pode ser ignorado ou
desprezado porque a partir dele pode-se perceber a profusatildeo de fenocircmenos que vem
sendo investigados pela historiografia do trabalho incorporando por exemplo aleacutem dos
claacutessicos sindicatos tambeacutem os clubes sociais desportivos carnavalescos religiosos que
de algum modo conformam aquilo que os grupos de trabalhadores satildeo
2 ndash Ao se incorporarem muitos fenocircmenos agrave ldquoidentidaderdquo a fortuna de seus usos
oscila entre a descriccedilatildeo e o significado geneacuterico de ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de
pertenccedilardquo
Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do trabalhador nacional Minas
Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash UnB) 2008 SENA
Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo (im)possiacutevel
1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007 SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades
de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas (estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-
1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)
SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer
em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 SOUZA
Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados em Franca
(1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003 TELES Luciano Everton Costa A Vida
Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920) Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM)
2008 VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica
Rio Tinto (Paraiacuteba 1959-1964) Fortaleza Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008 VIVIAN Diego
Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da categoria dos vigias de
embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)
2008 Os trabalhos onde o termo natildeo apareceu foram SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia
no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009
SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da
induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)
2001 Eacute faacutecil constatar que 3 dos trabalhos acadecircmicos dispostos no Portal do GT natildeo foram avaliados por
conta de problemas teacutecnicos envolvendo os formatos de arquivo BRUSANTIN Beatriz de Miranda Anauecirc
paulista um estudo sobre a praacutetica poliacutetica da primeira ―cidade integralista do estado de Satildeo Paulo (1932-
1943) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2004 KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo
o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese
(Histoacuteria-UNICAMP) 2004 SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e
cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008 2 Como satildeo por exemplo as referecircncias de BATALHA Claacuteudio H SILVA Fernando Teixeira da
FORTES Alexandre (orgs) Culturas de Classe Identidade e Diversidade na Formaccedilatildeo do Operariado
Campinas Satildeo Paulo Ed UNICAMP 2004 BATALHA Claacuteudio Henrique de Moraes Identidade da classe
operaacuteria no Brasil (1880-1920) atipicidade ou legitimidade Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo
ANPUH-Marco Zero 12 (23 e 24) pp111-124 set1991ago1992 3 BARTZ (op cit) e SIQUEIRA U (op cit) satildeo exemplos daqueles que mencionam FORTES (op cit) e
BILHAtildeO (op cit) por seu turno estatildeo entre os que discutem
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Paul Veyne em seu ousado ―Como se escreve a histoacuteria foi capaz de intitular um
de seus capiacutetulos como ―Tudo eacute histoacuterico logo a histoacuteria natildeo existe4 Poderiacuteamos usar da
mesma argumentaccedilatildeo para nos perguntarmos sobre aquilo que natildeo eacute passiacutevel de
abordagem pelo termo ―identidade Ora o recorte que a liacutengua opera no real pode ateacute ser
fantasioso caso acreditemos que o real eacute um continuum natildeo obstante eacute dos poucos
recursos metodologicamente eficientes para produzirmos algum tipo de saber sobre esse
real Entatildeo eacute necessaacuterio que usemos a liacutengua para definir ndash e neste caso o termo ―definir
supotildee os jaacute mencionados recortes do real ndash mesmo que seja por exibiccedilatildeo aquilo a que nos
referimos
Eacute certo que existe uma parte da pesquisa e da proacutepria exposiccedilatildeo cientiacutefica que
comporta uma exibiccedilatildeo e isto tambeacutem vale para a historiografia5 Contudo muitas vezes
esse procedimento central de nossa praacutetica intelectual comparece nos textos
envergonhando-se de ser uma descriccedilatildeo termo que quase soa como insulto na criacutetica
historiograacutefica Satildeo nalguns desses casos que o insulto tende a ser evitado com o recurso
ao termo ―identidade Nessas condiccedilotildees a aparecircncia de conceito que tem o termo
funciona certamente como recurso linguumliacutestico da autoria da pesquisa e isso raramente
pode ser atribuiacutedo a algum tipo de maacute-feacute ou intento enganoso Creio que tende a ser efeito
de certo tipo de (e me perdoem o paradoxo aqui explicitado) ―senso comum acadecircmico
cuja atenccedilatildeo natildeo se volta a por exemplo usos do termo ―identidade que parecem
normais e aceitos mas que reage contra por exemplo o termo ―descriccedilatildeo
Parece claro que nada tenho contra a descriccedilatildeo e o caraacuteter do termo ―identidade
em alguns textos coincide (sem demeacuterito algum portanto) com essa qualificaccedilatildeo Uma
evidecircncia desse tipo de uso pode ser vista em dois exemplos (entre incontaacuteveis outros que
poderia utilizar) nos quais o termo pode ser facilmente descartado ou trocado por outro
que natildeo recenda a conceito sem que o argumento perca qualquer elemento de sua forccedila ou
fraqueza
ALVES T op cit 2007 p 23 ESPERANCcedilA op cit p 28
―Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de
funccedilotildees dentro da oficina terminava por criar uma
rede de relaccedilotildees que construiacutea uma identidade entre
―Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor
graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui
examinado evidencia um momento extremamente
4 VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008 p
25 e ss 5 SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007
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homens que se sentiam ao mesmo tempo graacuteficos-
artesatildeos e intelectuais pois comparados aos outros
operaacuterios dominavam a arte de ler e escrever
significativo para os trabalhadores atingidos por ela
natildeo apenas por envolver questotildees materiais
objetivas como salaacuterio e emprego mas porque se
refere tambeacutem agrave identidade de trabalhadores
especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso
dos graacuteficos Minha Traduccedilatildeo
Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de funccedilotildees
dentro da oficina terminava por criar uma rede de
relaccedilotildees entre homens que se sentiam ao mesmo
tempo graacuteficos-artesatildeos e intelectuais pois
comparados aos outros operaacuterios dominavam a arte
de ler e escrever
Minha Traduccedilatildeo
Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor
graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui
examinado evidencia um momento extremamente
significativo para os trabalhadores atingidos por ela
natildeo apenas por envolver questotildees materiais
objetivas como salaacuterio e emprego mas por que se
refere tambeacutem agrave condiccedilatildeo de trabalhadores
especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso
dos graacuteficos
O outro poacutelo ao qual o uso do termo ―identidade tambeacutem pode oscilar eacute algum
tipo de definiccedilatildeo geneacuterica que se refira a algo como ―percepccedilatildeo ou sentimento de
pertenccedila Isso tambeacutem aparece nas citaccedilotildees acima e de modo geral eacute assim que vem
sendo utilizado por aquelesaquelas historiadoreshistoriadoras que se ocupam em
minimamente definir o seu vocabulaacuterio baacutesico
No entanto existem vaacuterios problemas nos modos como isso eacute feito O primeiro e
mais grave eacute a utilizaccedilatildeo raacutepida ou melhor um tracircnsito brusco da famosa citaccedilatildeo de
Thompson (presente em muitos dos trabalhos acadecircmicos aqui abordados) ateacute algum tipo
de conceito ou definiccedilatildeo
Vou-me permitir citar na liacutengua original porque isso tambeacutem serve para continuar
o argumento
―And class happens when some men as a result of common
experiences (inherited or shared) feel and articulate the identity of their
interests as between themselves and as against other men whose
interests are different from (and usually opposed to) theirs6
A riqueza e a qualidade da obra de Thompson natildeo estatildeo em debate mas alguns
usos perversos de suas palavras que fazem como jaacute disse o tracircnsito brusco da ―identidade
de interesses (portanto interesses idecircnticos) agrave ―identidade de pessoas (pessoas
idecircnticas) Esse eacute certamente um tracircnsito brusco porque se o termo tivesse suficiente
relevacircncia o termo repetido na citaccedilatildeo natildeo seria aquilo que haacute de substantivo (―interests)
revelando que a versatildeo que mais faz sentido eacute aquela que adjetiva esses interesses Aleacutem
disso o termo natildeo aparece por exemplo no Iacutendice remissivo revelando quatildeo pouco ele eacute
6 THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976 p 9-10
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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que
a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter
de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria
Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa
rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do
conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo
podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da
diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a
autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e
praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente
denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e
culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves
citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8
Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute
faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de
por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e
individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que
falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees
e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como
construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de
um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute
interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns
dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os
tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos
textos
Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na
dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9
Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores
e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas
pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas
natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados
7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt
8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de
regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96
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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos
indiviacuteduos
Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de
Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com
clareza a pretensatildeo psicologizante10
Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees
poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de
vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum
Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso
natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve
levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que
melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento
eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11
Ele
demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo
Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e
razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor
um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes
enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal
Cunha12
Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o
reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos
sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma
permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu
supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de
si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo
um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que
seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais
uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para
Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no
capitalismo moderno
Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um
importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas
10
REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva
anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que
exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11
HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12
CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora
(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181
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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a
autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva
tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de
classe
―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na
teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave
questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se
muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo
se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo
previamente determinado []
Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o
conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades
do estudo13
Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem
sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo
seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees
explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso
vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como
parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14
3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado
quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo
tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser
deixado de lado pela historiografia do trabalho
De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento
tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de
anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem
suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute
exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a
metodologia da pesquisa histoacuterica
Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum
modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria
metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente
13
LONER op cit p 29 14
COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico
ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13
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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como
fonte15
Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia
remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa
de uma evidecircncia de baixa credibilidade16
Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no
contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de
expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um
tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que
pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade
Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na
narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro
Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de
modo mais sistemaacutetico
A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-
Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi
referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos
acontecimentos de 30 e 32
as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos
Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no
Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez
se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses
lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte
agraves fugas
Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de
experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento
comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17
Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em
fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma
indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este
indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da
―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia
15
De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia
Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo
Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16
Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17
Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit
p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13
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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de
carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica
da semioacutetica da psicologia etc
Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da
Antropologia Em um deles Regina Weber18
nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo
de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou
sentimento de pertenccedila
Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila
entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como
as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso
sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico
produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais
representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e
do ―antropoacutelogo
Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um
impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a
―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa
constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado
extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade
assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos
mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as
problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os
discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas
pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste
momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-
enunciaccedilatildeo
Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees
narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda
acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu
conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso
empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19
De todo modo mesmo perguntas adequadamente
18
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19
LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar
2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]
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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas
razoavelmente adequadas para elas20
Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais
facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por
exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo
de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha
ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito
distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda
existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a
interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem
poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico
e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de
uma ―identidade da historiografia do trabalho
Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade
eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que
melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que
esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para
dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li
Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e
que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de
disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em
qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do
trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas
elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo
acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade
porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado
enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo
para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das
―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa
A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui
analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo
20
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10
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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com
outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo
―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel
como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante
para se referir agraves elites e ao seu discurso21
O outro paradigma pode ser visto em
Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como
―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua
costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo
para grupos sociais e indiviacuteduos22
Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo
das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute
interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe
operaacuteria
A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um
excelente texto antropoloacutegico23
que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por
apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas
Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e
fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era
conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas
lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila
mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe
levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para
definir tudo natildeo define nada
Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo
muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil
algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em
uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E
podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que
toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico
4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros
intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
21
BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22
FORTES op cit p 105 23
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado
na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade
Brasiacutelia jul 2000 p 15
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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute
Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute
encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou
discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi
solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24
O autor recompotildee uma seacuterie
de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo
central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar
dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a
mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da
ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia
do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e
mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado
em vaacuterios trechos25
Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de
anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos
mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de
histoacuteria de identidade antigas ou recentes
Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute
praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas
as demais ideologias de identidade coletiva) un danger
As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como
alguma versatildeo do oacutepio do povo
Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de
―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso
proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e
uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26
E isso deve acontecer na
maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o
enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia
desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural
24
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de
TELES op cit 25
Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26
HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190
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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
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saber se os trabalhadores que vimos abordando tecircm algo de especial e o que eacute este
―especial caso exista
Talvez o mais correto fosse dividir este paper em duas partes cada um
respondendo a um objetivo Contudo o incocircmodo que a ―identidade vem causando agrave
historiografia leva a priorizar o primeiro objetivo apenas esboccedilando os elementos que
responderiam ao segundo
Dito isto quero criticar os usos de ―identidade com base em 4 argumentos cada
um deles repetido e desenvolvido nas seccedilotildees a seguir
1 ndash ―Identidade eacute um termo que tem promovido a atenccedilatildeo das pesquisas de
histoacuteria do trabalho para outros fenocircmenos que natildeo exclusivamente a claacutessica ―histoacuteria
do movimento operaacuterio
2 ndash Ao se incorporarem muitos fenocircmenos agrave ―identidade a fortuna de seus usos
oscila entre a descriccedilatildeo e o significado geneacuterico de ―percepccedilatildeo ou sentimento de
pertenccedila
3 ndash A ―percepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedila eacute muito mais simples de ser
investigado quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua
enunciaccedilatildeo tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ―identidade tende
a ser deixado de lado pela historiografia do trabalho
4 ndash Toda ―identidade enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com
claros intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ―identidade
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Como jaacute ficou claro este paper tem um caraacuteter de reflexatildeo metodoloacutegica soacute
possiacutevel pela circunstacircncia de haacute muito vir debatendo a questatildeo com diversos colegas
Enumeraacute-los tenderia agrave deselegacircncia quando certamente me esqueceria de algueacutem e
ademais creio que o resultado da discussatildeo que teremos a seguir pode ajudar a consolidar
revisar ou ratificar posiccedilotildees (trecircs alternativas a que tambeacutem este texto estaacute submetido)
Natildeo obstante eacute evidente que assumo eu as responsabilidades pelos equiacutevocos do texto que
segue
1 ndash ldquoIdentidaderdquo eacute um termo que tem promovido a atenccedilatildeo das pesquisas de histoacuteria
do trabalho para outros fenocircmenos que natildeo exclusivamente a claacutessica ldquohistoacuteria do
movimento operaacuteriordquo
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Essa afirmaccedilatildeo estaacute muito longe de ser apenas uma impressatildeo subjetiva (imagino
que facilmente compartilhaacutevel entre noacutes) e as evidecircncias abaixo nocirc-lo demonstram
Eacute visiacutevel a impressionante frequumlecircncia com que ―identidade aparece como termo
de largo uso tanto no discurso cientiacutefico quanto no discurso poliacutetico e mesmo no discurso
do senso comum com alguma instruccedilatildeo Uma evidecircncia clara dessa frequumlecircncia aparece em
procedimentos lexicomeacutetricos que aproveitam a facilidade de circulaccedilatildeo eletrocircnica de
textos Foram encontrados mais de 45 milhotildees de usos do termo em paacuteginas de internet
distribuiacutedos conforme o Quadro 1
Quadro 1 Ocorrecircncias do termo ldquoidentidaderdquo
Portuguecircs Espanhol Inglecircs Italiano Francecircs
―identidade eacute 117000 836000 2510000 385000 27900000
―identidade natildeo eacute 258000 125000 459000 282000 12800000
Pesquisa Google (wwwgooglecom) em 27 abr 2010
Dois elementos chamam a atenccedilatildeo neste Quadro 1 O primeiro deles eacute o
extraordinaacuterio volume de referecircncias em francecircs para a ―identiteacute deixando evidente que a
origem ndash ou pelo menos o provaacutevel centro intelectual de onde proveacutem a preocupaccedilatildeo ndash eacute
francoacutefona Mas existe tambeacutem um segundo elemento relevante neste quadro 1 o
descompasso lusoacutefono no uso do termo uma vez que eacute dentre as liacutenguas analisadas a
uacutenica na qual com mais frequumlecircncia dizemos aquilo que ―identidade natildeo eacute do que aquilo
que ela eacute
O Quadro 2 tambeacutem efeito de uma pesquisa no Google traz evidecircncias de
bastante menor credibilidade porque natildeo incorpora a imensa gama de variedades que a
adjetivaccedilatildeo da ―identidade pode sofrer nas liacutenguas acima trabalhadas Eacute possivelmente
uma evidecircncia que apenas porque demandou trabalho aqui trago na certeza de que
colegas teratildeo o que criticar
Quadro 2 Ocorrecircncias de variantes de ldquoidentidade operaacuteriardquo
Termos da pesquisa Ocorrecircncias
identidade operaria 3180
identidad obrera 5990
labor identity 17900
labour identity 5950
identite ouvriere 9800
identidad trabajadora 439
identita dei lavoratori 390000
Fonte Pesquisa Google (wwwgooglecom) em 09 maio 2010
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Eacute evidente que a adjetivaccedilatildeo da ―identidade para os interesses da historiografia do
trabalho natildeo tem a mesma capacidade sedutora que o termo tem para os usos
eventualmente trazidos no Quadro 1 Mas eacute necessaacuterio distinguir o quanto dessa
adjetivaccedilatildeo eacute especiacutefica da produccedilatildeo acadecircmica ou ao contraacuterio proveacutem do mesmo tipo
de fonte que incorporamos agraves pesquisas Em que pese a relativa fragmentaccedilatildeo dos bancos
eletrocircnicos de teses o descompasso entre a produccedilatildeo acadecircmica (e nela a historiografia
do trabalho) e os discursos de outra natureza pode ser constatado a partir de uma pesquisa
no metabuscador Cyberthesisnet cujos nuacutemeros satildeo bem menores do que os apresentados
nos quadros anteriores
Quadro 3 Ocorrecircncia de vaacuterias expressotildees em trabalhos acadecircmicos
Termos da pesquisa Ocorrecircncias
identidad 442
identidad obrera 2
identidad trabajadora 1
identidade 280
identidade trabalhadora 2
identidade operaacuteria 0
identity 931
labor identity 11
labour identity 3
Fonte wwwcybertesisnet consultado em 09 maio 2010
Dada essa desproporccedilatildeo entre a frequumlecircncia do uso do termo ―identidade em
discursos de diferentes naturezas e seu uso na historiografia do trabalho eacute interessante
indagar ateacute que ponto esse toacutepico eacute relevante nas formas de escrever histoacuteria utilizadas no
Brasil Eacute neste ponto que o portal do GT Mundos do Trabalho
(httpwwwifchunicampbrmundosdotrabalho) se torna um dos principais aliados nesta
investigaccedilatildeo uma vez que ali estaacute consolidada a produccedilatildeo acadecircmica recente proveniente
de diferentes universidades abordando diferentes toacutepicos Agraves teses e dissertaccedilotildees ali
disponiacuteveis foram acrescentadas algumas outras que seja por terem sido orientadas por
membros do GT seja por ampliarem o universo empiacuterico para a diversidade capaz de
conferir maior credibilidade aos argumentos aqui enunciados permitem constatar que a
―identidade eacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo nossa Com efeito em 39 trabalhos acadecircmicos
investigados segundo o procedimento lexicomeacutetrico em 37 deles a palavra ―identidade
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apareceu 1418 vezes perfazendo uma meacutedia de quase 40 vezes em cada dissertaccedilatildeo ou
tese1
1 Os trabalhos nos quais ―identidade apareceu foram os seguintes ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O
Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na Primeira Repuacuteblica Juiz de Fora
dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFJF) 2007 ALVES Walter de Assis Trabalhadores tecircxteis em Trecircs Lagoas-MS
experiecircncias de trabalho praacuteticas sociais e atuaccedilotildees poliacuteticas Uberlacircndia dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFU)
2009 AMORIM Ailana Cristina de Relaccedilotildees intra-classe solidariedade e conflito na formaccedilatildeo da classe
operaacuteria no Rio Grande do Sul Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2006 ARAUacuteJO NETO
Adalberto Coutinho de Entre a revoluccedilatildeo e o corporativismo a experiecircncia sindical dos ferroviaacuterios da E
F Sorocabana nos anos 1930 Satildeo Paulo dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-USP) 2006 BARTZ Frederico
Duarte O Horizonte Vermelho o impacto da revoluccedilatildeo russa no movimento operaacuterio do Rio Grande do Sul
1917-1920 Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2008 BILHAtildeO Isabel Aparecida Identidade e
trabalho anaacutelise da construccedilatildeo identitaacuteria dos operaacuterios porto-alegrenses (1896 a 1920) Porto Alegre
tese (Histoacuteria-UFRGS) 2005 CASTELLUCCI Aldrin A S Trabalhadores maacutequina poliacutetica e eleiccedilotildees na
Primeira Repuacuteblica Salvador tese (Histoacuteria-UFBA) 2008 CHAVES Marcelo Antonio Da periferia ao
centro da(o) capital perfil dos trabalhadores do primeiro complexo cimenteiro do Brasil Satildeo Paulo 1925
ndash 1945 Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2005 CORREcircA Anderson Romaacuterio Pereira
Movimento operaacuterio em Alegrete a presenccedila de imigrantes e estrangeiros (1897 ndash 1929) Porto Alegre
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Cristina Frandian Morigerados e revoltados Trabalho e organizaccedilatildeo de ferroviaacuterios da Central do Brasil e
da Leopoldina (1889-1920) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2008 KAREPOVS Dainis A
Esquerda e o Parlamento no Brasil o Bloco Operaacuterio e Camponecircs (1924-1930) Satildeo Paulo Tese (Histoacuteria-
USP) 2002 KONRAD Glaucia Vieira Ramos Os trabalhadores e o Estado Novo no Rio Grande do Sul
um retrato da sociedade e do mundo do trabalho (1937-1945) Campinas tese (Histoacuteria Social do Trabalho-
UNICAMP) 2006 LEUCHTENBERGER Rafaela ldquoO Laacutebaro protetor da classe operaacuteriardquo As
Associaccedilotildees voluntaacuterias de socorros-muacutetuos dos trabalhadores em Florianoacutepolis ndash Santa Catarina (1886-
1932) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2009 LONER Beatriz Ana Classe operaacuteria
mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo em Pelotas 1888 ndash 1937 Porto Alegre 1999 Tese (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo
em Sociologia) ndash IFCH UFRGS 1999 MACIEL Osvaldo Batista Acioly Filhos do Trabalho Apoacutestolos
do Socialismo os tipoacutegrafos e a construccedilatildeo de uma identidade de classe em Maceioacute (18951905) Recife
dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2004 MONTEIRO Claudia ldquoFora dos trilhosrdquo as experiecircncias da
militacircncia comunista na rede de viaccedilatildeo Paranaacute-Santa Catarina (1934-1945) Porto Alegre dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UFRGS) 2007 MORAIS Naacutegila Maia de ldquoTodo cais eacute uma saudade de pedrardquo repressatildeo e
morte dos trabalhadores catraieiros (1903-1904) Fortaleza dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFCE) 2009
MOREIRA Vagner Joseacute Memoacuterias e histoacuterias de trabalhadores em luta pela terra Fernandoacutepolis-SP
1946-1964 Uberlacircndia tese (Histoacuteria ndash UFU) 2009 NOMELINI Paula Christina Bin Associaccedilotildees
operaacuterias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-
UNICAMP 2007) OLIVEIRA Tiago Bernardon de Mobilizaccedilatildeo operaacuteria na Repuacuteblica excludente Um
estudo comparativo da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e
Rio Grande do Sul nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)
2003 OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do
trabalho mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese
(Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a
dinacircmica agraacuteria tradicional (freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese
(Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP) 2008 PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de
uma Idea Lisboa (Histoacuteria Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008 QUEIROacuteS Ceacutesar
Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social (1895-1919) Porto
Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000 REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria
Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP)
Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006 RIBEIRO JUacuteNIOR
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Para aleacutem do procedimento lexicomeacutetrico eacute faacutecil constatar que na maior parte das
vezes em que o termo aparece nos trabalhos ele natildeo excede importantes referecircncias
bibliograacuteficas plenamente recomendaacuteveis na historiografia do trabalho2 ou aparece em
meio a um tipo de pressa terminoloacutegica natildeo rararamente no interior da expressatildeo
―identidade eacutetnica que com isso tende a ser mais mencionada do que efetivamente
discutida3 Em todo caso o frequumlente uso do termo ―identidade natildeo pode ser ignorado ou
desprezado porque a partir dele pode-se perceber a profusatildeo de fenocircmenos que vem
sendo investigados pela historiografia do trabalho incorporando por exemplo aleacutem dos
claacutessicos sindicatos tambeacutem os clubes sociais desportivos carnavalescos religiosos que
de algum modo conformam aquilo que os grupos de trabalhadores satildeo
2 ndash Ao se incorporarem muitos fenocircmenos agrave ldquoidentidaderdquo a fortuna de seus usos
oscila entre a descriccedilatildeo e o significado geneacuterico de ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de
pertenccedilardquo
Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do trabalhador nacional Minas
Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash UnB) 2008 SENA
Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo (im)possiacutevel
1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007 SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades
de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas (estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-
1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)
SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer
em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 SOUZA
Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados em Franca
(1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003 TELES Luciano Everton Costa A Vida
Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920) Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM)
2008 VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica
Rio Tinto (Paraiacuteba 1959-1964) Fortaleza Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008 VIVIAN Diego
Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da categoria dos vigias de
embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)
2008 Os trabalhos onde o termo natildeo apareceu foram SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia
no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009
SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da
induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)
2001 Eacute faacutecil constatar que 3 dos trabalhos acadecircmicos dispostos no Portal do GT natildeo foram avaliados por
conta de problemas teacutecnicos envolvendo os formatos de arquivo BRUSANTIN Beatriz de Miranda Anauecirc
paulista um estudo sobre a praacutetica poliacutetica da primeira ―cidade integralista do estado de Satildeo Paulo (1932-
1943) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2004 KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo
o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese
(Histoacuteria-UNICAMP) 2004 SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e
cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008 2 Como satildeo por exemplo as referecircncias de BATALHA Claacuteudio H SILVA Fernando Teixeira da
FORTES Alexandre (orgs) Culturas de Classe Identidade e Diversidade na Formaccedilatildeo do Operariado
Campinas Satildeo Paulo Ed UNICAMP 2004 BATALHA Claacuteudio Henrique de Moraes Identidade da classe
operaacuteria no Brasil (1880-1920) atipicidade ou legitimidade Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo
ANPUH-Marco Zero 12 (23 e 24) pp111-124 set1991ago1992 3 BARTZ (op cit) e SIQUEIRA U (op cit) satildeo exemplos daqueles que mencionam FORTES (op cit) e
BILHAtildeO (op cit) por seu turno estatildeo entre os que discutem
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Paul Veyne em seu ousado ―Como se escreve a histoacuteria foi capaz de intitular um
de seus capiacutetulos como ―Tudo eacute histoacuterico logo a histoacuteria natildeo existe4 Poderiacuteamos usar da
mesma argumentaccedilatildeo para nos perguntarmos sobre aquilo que natildeo eacute passiacutevel de
abordagem pelo termo ―identidade Ora o recorte que a liacutengua opera no real pode ateacute ser
fantasioso caso acreditemos que o real eacute um continuum natildeo obstante eacute dos poucos
recursos metodologicamente eficientes para produzirmos algum tipo de saber sobre esse
real Entatildeo eacute necessaacuterio que usemos a liacutengua para definir ndash e neste caso o termo ―definir
supotildee os jaacute mencionados recortes do real ndash mesmo que seja por exibiccedilatildeo aquilo a que nos
referimos
Eacute certo que existe uma parte da pesquisa e da proacutepria exposiccedilatildeo cientiacutefica que
comporta uma exibiccedilatildeo e isto tambeacutem vale para a historiografia5 Contudo muitas vezes
esse procedimento central de nossa praacutetica intelectual comparece nos textos
envergonhando-se de ser uma descriccedilatildeo termo que quase soa como insulto na criacutetica
historiograacutefica Satildeo nalguns desses casos que o insulto tende a ser evitado com o recurso
ao termo ―identidade Nessas condiccedilotildees a aparecircncia de conceito que tem o termo
funciona certamente como recurso linguumliacutestico da autoria da pesquisa e isso raramente
pode ser atribuiacutedo a algum tipo de maacute-feacute ou intento enganoso Creio que tende a ser efeito
de certo tipo de (e me perdoem o paradoxo aqui explicitado) ―senso comum acadecircmico
cuja atenccedilatildeo natildeo se volta a por exemplo usos do termo ―identidade que parecem
normais e aceitos mas que reage contra por exemplo o termo ―descriccedilatildeo
Parece claro que nada tenho contra a descriccedilatildeo e o caraacuteter do termo ―identidade
em alguns textos coincide (sem demeacuterito algum portanto) com essa qualificaccedilatildeo Uma
evidecircncia desse tipo de uso pode ser vista em dois exemplos (entre incontaacuteveis outros que
poderia utilizar) nos quais o termo pode ser facilmente descartado ou trocado por outro
que natildeo recenda a conceito sem que o argumento perca qualquer elemento de sua forccedila ou
fraqueza
ALVES T op cit 2007 p 23 ESPERANCcedilA op cit p 28
―Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de
funccedilotildees dentro da oficina terminava por criar uma
rede de relaccedilotildees que construiacutea uma identidade entre
―Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor
graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui
examinado evidencia um momento extremamente
4 VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008 p
25 e ss 5 SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007
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homens que se sentiam ao mesmo tempo graacuteficos-
artesatildeos e intelectuais pois comparados aos outros
operaacuterios dominavam a arte de ler e escrever
significativo para os trabalhadores atingidos por ela
natildeo apenas por envolver questotildees materiais
objetivas como salaacuterio e emprego mas porque se
refere tambeacutem agrave identidade de trabalhadores
especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso
dos graacuteficos Minha Traduccedilatildeo
Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de funccedilotildees
dentro da oficina terminava por criar uma rede de
relaccedilotildees entre homens que se sentiam ao mesmo
tempo graacuteficos-artesatildeos e intelectuais pois
comparados aos outros operaacuterios dominavam a arte
de ler e escrever
Minha Traduccedilatildeo
Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor
graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui
examinado evidencia um momento extremamente
significativo para os trabalhadores atingidos por ela
natildeo apenas por envolver questotildees materiais
objetivas como salaacuterio e emprego mas por que se
refere tambeacutem agrave condiccedilatildeo de trabalhadores
especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso
dos graacuteficos
O outro poacutelo ao qual o uso do termo ―identidade tambeacutem pode oscilar eacute algum
tipo de definiccedilatildeo geneacuterica que se refira a algo como ―percepccedilatildeo ou sentimento de
pertenccedila Isso tambeacutem aparece nas citaccedilotildees acima e de modo geral eacute assim que vem
sendo utilizado por aquelesaquelas historiadoreshistoriadoras que se ocupam em
minimamente definir o seu vocabulaacuterio baacutesico
No entanto existem vaacuterios problemas nos modos como isso eacute feito O primeiro e
mais grave eacute a utilizaccedilatildeo raacutepida ou melhor um tracircnsito brusco da famosa citaccedilatildeo de
Thompson (presente em muitos dos trabalhos acadecircmicos aqui abordados) ateacute algum tipo
de conceito ou definiccedilatildeo
Vou-me permitir citar na liacutengua original porque isso tambeacutem serve para continuar
o argumento
―And class happens when some men as a result of common
experiences (inherited or shared) feel and articulate the identity of their
interests as between themselves and as against other men whose
interests are different from (and usually opposed to) theirs6
A riqueza e a qualidade da obra de Thompson natildeo estatildeo em debate mas alguns
usos perversos de suas palavras que fazem como jaacute disse o tracircnsito brusco da ―identidade
de interesses (portanto interesses idecircnticos) agrave ―identidade de pessoas (pessoas
idecircnticas) Esse eacute certamente um tracircnsito brusco porque se o termo tivesse suficiente
relevacircncia o termo repetido na citaccedilatildeo natildeo seria aquilo que haacute de substantivo (―interests)
revelando que a versatildeo que mais faz sentido eacute aquela que adjetiva esses interesses Aleacutem
disso o termo natildeo aparece por exemplo no Iacutendice remissivo revelando quatildeo pouco ele eacute
6 THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976 p 9-10
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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que
a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter
de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria
Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa
rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do
conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo
podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da
diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a
autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e
praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente
denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e
culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves
citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8
Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute
faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de
por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e
individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que
falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees
e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como
construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de
um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute
interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns
dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os
tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos
textos
Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na
dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9
Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores
e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas
pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas
natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados
7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt
8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de
regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96
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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos
indiviacuteduos
Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de
Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com
clareza a pretensatildeo psicologizante10
Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees
poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de
vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum
Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso
natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve
levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que
melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento
eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11
Ele
demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo
Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e
razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor
um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes
enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal
Cunha12
Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o
reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos
sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma
permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu
supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de
si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo
um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que
seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais
uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para
Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no
capitalismo moderno
Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um
importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas
10
REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva
anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que
exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11
HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12
CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora
(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181
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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a
autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva
tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de
classe
―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na
teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave
questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se
muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo
se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo
previamente determinado []
Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o
conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades
do estudo13
Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem
sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo
seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees
explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso
vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como
parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14
3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado
quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo
tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser
deixado de lado pela historiografia do trabalho
De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento
tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de
anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem
suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute
exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a
metodologia da pesquisa histoacuterica
Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum
modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria
metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente
13
LONER op cit p 29 14
COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico
ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13
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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como
fonte15
Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia
remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa
de uma evidecircncia de baixa credibilidade16
Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no
contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de
expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um
tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que
pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade
Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na
narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro
Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de
modo mais sistemaacutetico
A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-
Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi
referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos
acontecimentos de 30 e 32
as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos
Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no
Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez
se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses
lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte
agraves fugas
Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de
experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento
comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17
Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em
fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma
indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este
indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da
―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia
15
De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia
Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo
Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16
Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17
Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit
p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13
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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de
carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica
da semioacutetica da psicologia etc
Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da
Antropologia Em um deles Regina Weber18
nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo
de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou
sentimento de pertenccedila
Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila
entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como
as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso
sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico
produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais
representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e
do ―antropoacutelogo
Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um
impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a
―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa
constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado
extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade
assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos
mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as
problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os
discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas
pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste
momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-
enunciaccedilatildeo
Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees
narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda
acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu
conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso
empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19
De todo modo mesmo perguntas adequadamente
18
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19
LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar
2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]
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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas
razoavelmente adequadas para elas20
Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais
facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por
exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo
de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha
ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito
distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda
existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a
interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem
poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico
e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de
uma ―identidade da historiografia do trabalho
Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade
eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que
melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que
esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para
dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li
Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e
que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de
disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em
qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do
trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas
elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo
acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade
porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado
enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo
para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das
―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa
A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui
analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo
20
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10
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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com
outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo
―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel
como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante
para se referir agraves elites e ao seu discurso21
O outro paradigma pode ser visto em
Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como
―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua
costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo
para grupos sociais e indiviacuteduos22
Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo
das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute
interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe
operaacuteria
A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um
excelente texto antropoloacutegico23
que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por
apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas
Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e
fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era
conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas
lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila
mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe
levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para
definir tudo natildeo define nada
Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo
muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil
algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em
uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E
podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que
toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico
4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros
intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
21
BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22
FORTES op cit p 105 23
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado
na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade
Brasiacutelia jul 2000 p 15
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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute
Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute
encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou
discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi
solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24
O autor recompotildee uma seacuterie
de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo
central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar
dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a
mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da
ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia
do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e
mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado
em vaacuterios trechos25
Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de
anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos
mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de
histoacuteria de identidade antigas ou recentes
Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute
praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas
as demais ideologias de identidade coletiva) un danger
As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como
alguma versatildeo do oacutepio do povo
Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de
―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso
proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e
uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26
E isso deve acontecer na
maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o
enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia
desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural
24
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de
TELES op cit 25
Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26
HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190
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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
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catraieiros (1903-1904) Fortaleza dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFCE) 2009
MOREIRA Vagner Joseacute Memoacuterias e histoacuterias de trabalhadores em luta pela terra Fernandoacutepolis-SP
1946-1964 Uberlacircndia tese (Histoacuteria ndash UFU) 2009
NOMELINI Paula Christina Bin Associaccedilotildees operaacuterias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-
1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-UNICAMP 2007)
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002
OLIVEIRA Tiago Bernardon de Mobilizaccedilatildeo operaacuteria na Repuacuteblica excludente Um estudo comparativo
da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e Rio Grande do Sul
nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2003
OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do trabalho
mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese (Histoacuteria ndash
UNICAMP) 2002
PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a dinacircmica agraacuteria tradicional
(freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese (Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP)
2008
I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
22
PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de uma Idea Lisboa (Histoacuteria
Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008
PETERSEN S R F Comentaacuterios sobre a conferecircncia HISTOacuteRIA OPERAacuteRIA NO RIO GRANDE DO
SUL proferida pela Profa Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo Leopoldo RS v SN p 81-92 2001
QUEIROacuteS Ceacutesar Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social
(1895-1919) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000
REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de
sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP) Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria
Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006
RIBEIRO JUacuteNIOR Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do
trabalhador nacional Minas Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em
Histoacuteria ndash UnB) 2008
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981
SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e cultura dos trabalhadores
urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008
SENA Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo
(im)possiacutevel 1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007
SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas
(estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)
SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007
SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de
Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009
SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da
induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)
2001
SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer
em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002
SOUZA Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados
em Franca (1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003
TELES Luciano Everton Costa A Vida Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920)
Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM) 2008
THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARAacute
VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica Rio Tinto
(Paraiacuteba 1959-1964) Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008
VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008
VIVIAN Diego Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da
categoria dos vigias de embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UFRGS) 2008
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 p 189-197 jun 2006
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Essa afirmaccedilatildeo estaacute muito longe de ser apenas uma impressatildeo subjetiva (imagino
que facilmente compartilhaacutevel entre noacutes) e as evidecircncias abaixo nocirc-lo demonstram
Eacute visiacutevel a impressionante frequumlecircncia com que ―identidade aparece como termo
de largo uso tanto no discurso cientiacutefico quanto no discurso poliacutetico e mesmo no discurso
do senso comum com alguma instruccedilatildeo Uma evidecircncia clara dessa frequumlecircncia aparece em
procedimentos lexicomeacutetricos que aproveitam a facilidade de circulaccedilatildeo eletrocircnica de
textos Foram encontrados mais de 45 milhotildees de usos do termo em paacuteginas de internet
distribuiacutedos conforme o Quadro 1
Quadro 1 Ocorrecircncias do termo ldquoidentidaderdquo
Portuguecircs Espanhol Inglecircs Italiano Francecircs
―identidade eacute 117000 836000 2510000 385000 27900000
―identidade natildeo eacute 258000 125000 459000 282000 12800000
Pesquisa Google (wwwgooglecom) em 27 abr 2010
Dois elementos chamam a atenccedilatildeo neste Quadro 1 O primeiro deles eacute o
extraordinaacuterio volume de referecircncias em francecircs para a ―identiteacute deixando evidente que a
origem ndash ou pelo menos o provaacutevel centro intelectual de onde proveacutem a preocupaccedilatildeo ndash eacute
francoacutefona Mas existe tambeacutem um segundo elemento relevante neste quadro 1 o
descompasso lusoacutefono no uso do termo uma vez que eacute dentre as liacutenguas analisadas a
uacutenica na qual com mais frequumlecircncia dizemos aquilo que ―identidade natildeo eacute do que aquilo
que ela eacute
O Quadro 2 tambeacutem efeito de uma pesquisa no Google traz evidecircncias de
bastante menor credibilidade porque natildeo incorpora a imensa gama de variedades que a
adjetivaccedilatildeo da ―identidade pode sofrer nas liacutenguas acima trabalhadas Eacute possivelmente
uma evidecircncia que apenas porque demandou trabalho aqui trago na certeza de que
colegas teratildeo o que criticar
Quadro 2 Ocorrecircncias de variantes de ldquoidentidade operaacuteriardquo
Termos da pesquisa Ocorrecircncias
identidade operaria 3180
identidad obrera 5990
labor identity 17900
labour identity 5950
identite ouvriere 9800
identidad trabajadora 439
identita dei lavoratori 390000
Fonte Pesquisa Google (wwwgooglecom) em 09 maio 2010
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Eacute evidente que a adjetivaccedilatildeo da ―identidade para os interesses da historiografia do
trabalho natildeo tem a mesma capacidade sedutora que o termo tem para os usos
eventualmente trazidos no Quadro 1 Mas eacute necessaacuterio distinguir o quanto dessa
adjetivaccedilatildeo eacute especiacutefica da produccedilatildeo acadecircmica ou ao contraacuterio proveacutem do mesmo tipo
de fonte que incorporamos agraves pesquisas Em que pese a relativa fragmentaccedilatildeo dos bancos
eletrocircnicos de teses o descompasso entre a produccedilatildeo acadecircmica (e nela a historiografia
do trabalho) e os discursos de outra natureza pode ser constatado a partir de uma pesquisa
no metabuscador Cyberthesisnet cujos nuacutemeros satildeo bem menores do que os apresentados
nos quadros anteriores
Quadro 3 Ocorrecircncia de vaacuterias expressotildees em trabalhos acadecircmicos
Termos da pesquisa Ocorrecircncias
identidad 442
identidad obrera 2
identidad trabajadora 1
identidade 280
identidade trabalhadora 2
identidade operaacuteria 0
identity 931
labor identity 11
labour identity 3
Fonte wwwcybertesisnet consultado em 09 maio 2010
Dada essa desproporccedilatildeo entre a frequumlecircncia do uso do termo ―identidade em
discursos de diferentes naturezas e seu uso na historiografia do trabalho eacute interessante
indagar ateacute que ponto esse toacutepico eacute relevante nas formas de escrever histoacuteria utilizadas no
Brasil Eacute neste ponto que o portal do GT Mundos do Trabalho
(httpwwwifchunicampbrmundosdotrabalho) se torna um dos principais aliados nesta
investigaccedilatildeo uma vez que ali estaacute consolidada a produccedilatildeo acadecircmica recente proveniente
de diferentes universidades abordando diferentes toacutepicos Agraves teses e dissertaccedilotildees ali
disponiacuteveis foram acrescentadas algumas outras que seja por terem sido orientadas por
membros do GT seja por ampliarem o universo empiacuterico para a diversidade capaz de
conferir maior credibilidade aos argumentos aqui enunciados permitem constatar que a
―identidade eacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo nossa Com efeito em 39 trabalhos acadecircmicos
investigados segundo o procedimento lexicomeacutetrico em 37 deles a palavra ―identidade
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apareceu 1418 vezes perfazendo uma meacutedia de quase 40 vezes em cada dissertaccedilatildeo ou
tese1
1 Os trabalhos nos quais ―identidade apareceu foram os seguintes ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O
Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na Primeira Repuacuteblica Juiz de Fora
dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFJF) 2007 ALVES Walter de Assis Trabalhadores tecircxteis em Trecircs Lagoas-MS
experiecircncias de trabalho praacuteticas sociais e atuaccedilotildees poliacuteticas Uberlacircndia dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFU)
2009 AMORIM Ailana Cristina de Relaccedilotildees intra-classe solidariedade e conflito na formaccedilatildeo da classe
operaacuteria no Rio Grande do Sul Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2006 ARAUacuteJO NETO
Adalberto Coutinho de Entre a revoluccedilatildeo e o corporativismo a experiecircncia sindical dos ferroviaacuterios da E
F Sorocabana nos anos 1930 Satildeo Paulo dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-USP) 2006 BARTZ Frederico
Duarte O Horizonte Vermelho o impacto da revoluccedilatildeo russa no movimento operaacuterio do Rio Grande do Sul
1917-1920 Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2008 BILHAtildeO Isabel Aparecida Identidade e
trabalho anaacutelise da construccedilatildeo identitaacuteria dos operaacuterios porto-alegrenses (1896 a 1920) Porto Alegre
tese (Histoacuteria-UFRGS) 2005 CASTELLUCCI Aldrin A S Trabalhadores maacutequina poliacutetica e eleiccedilotildees na
Primeira Repuacuteblica Salvador tese (Histoacuteria-UFBA) 2008 CHAVES Marcelo Antonio Da periferia ao
centro da(o) capital perfil dos trabalhadores do primeiro complexo cimenteiro do Brasil Satildeo Paulo 1925
ndash 1945 Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2005 CORREcircA Anderson Romaacuterio Pereira
Movimento operaacuterio em Alegrete a presenccedila de imigrantes e estrangeiros (1897 ndash 1929) Porto Alegre
dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-PUCRS) 2010 CORREcircA Larissa Rosa Trabalhadores tecircxteis e metaluacutergicos a
caminho da Justiccedila do Trabalho leis e direitos na cidade de Satildeo Paulo 1953 a 1964 Campinas dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UNICAMP) 2007 ESPERANCcedilA Clarice Gontarski A greve da oficina de chumbo O movimento
de resistecircncia dos trabalhadores da Empresa Jornaliacutestica Caldas Juacutenior (Porto Alegre 1983-1984) Porto
Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2007 FORTES Alexandre bdquoNoacutes do Quarto Distritohellip‟ A classe
trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas Tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2001 FRACCARO Glaucia
Cristina Frandian Morigerados e revoltados Trabalho e organizaccedilatildeo de ferroviaacuterios da Central do Brasil e
da Leopoldina (1889-1920) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2008 KAREPOVS Dainis A
Esquerda e o Parlamento no Brasil o Bloco Operaacuterio e Camponecircs (1924-1930) Satildeo Paulo Tese (Histoacuteria-
USP) 2002 KONRAD Glaucia Vieira Ramos Os trabalhadores e o Estado Novo no Rio Grande do Sul
um retrato da sociedade e do mundo do trabalho (1937-1945) Campinas tese (Histoacuteria Social do Trabalho-
UNICAMP) 2006 LEUCHTENBERGER Rafaela ldquoO Laacutebaro protetor da classe operaacuteriardquo As
Associaccedilotildees voluntaacuterias de socorros-muacutetuos dos trabalhadores em Florianoacutepolis ndash Santa Catarina (1886-
1932) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2009 LONER Beatriz Ana Classe operaacuteria
mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo em Pelotas 1888 ndash 1937 Porto Alegre 1999 Tese (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo
em Sociologia) ndash IFCH UFRGS 1999 MACIEL Osvaldo Batista Acioly Filhos do Trabalho Apoacutestolos
do Socialismo os tipoacutegrafos e a construccedilatildeo de uma identidade de classe em Maceioacute (18951905) Recife
dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2004 MONTEIRO Claudia ldquoFora dos trilhosrdquo as experiecircncias da
militacircncia comunista na rede de viaccedilatildeo Paranaacute-Santa Catarina (1934-1945) Porto Alegre dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UFRGS) 2007 MORAIS Naacutegila Maia de ldquoTodo cais eacute uma saudade de pedrardquo repressatildeo e
morte dos trabalhadores catraieiros (1903-1904) Fortaleza dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFCE) 2009
MOREIRA Vagner Joseacute Memoacuterias e histoacuterias de trabalhadores em luta pela terra Fernandoacutepolis-SP
1946-1964 Uberlacircndia tese (Histoacuteria ndash UFU) 2009 NOMELINI Paula Christina Bin Associaccedilotildees
operaacuterias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-
UNICAMP 2007) OLIVEIRA Tiago Bernardon de Mobilizaccedilatildeo operaacuteria na Repuacuteblica excludente Um
estudo comparativo da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e
Rio Grande do Sul nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)
2003 OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do
trabalho mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese
(Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a
dinacircmica agraacuteria tradicional (freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese
(Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP) 2008 PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de
uma Idea Lisboa (Histoacuteria Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008 QUEIROacuteS Ceacutesar
Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social (1895-1919) Porto
Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000 REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria
Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP)
Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006 RIBEIRO JUacuteNIOR
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Para aleacutem do procedimento lexicomeacutetrico eacute faacutecil constatar que na maior parte das
vezes em que o termo aparece nos trabalhos ele natildeo excede importantes referecircncias
bibliograacuteficas plenamente recomendaacuteveis na historiografia do trabalho2 ou aparece em
meio a um tipo de pressa terminoloacutegica natildeo rararamente no interior da expressatildeo
―identidade eacutetnica que com isso tende a ser mais mencionada do que efetivamente
discutida3 Em todo caso o frequumlente uso do termo ―identidade natildeo pode ser ignorado ou
desprezado porque a partir dele pode-se perceber a profusatildeo de fenocircmenos que vem
sendo investigados pela historiografia do trabalho incorporando por exemplo aleacutem dos
claacutessicos sindicatos tambeacutem os clubes sociais desportivos carnavalescos religiosos que
de algum modo conformam aquilo que os grupos de trabalhadores satildeo
2 ndash Ao se incorporarem muitos fenocircmenos agrave ldquoidentidaderdquo a fortuna de seus usos
oscila entre a descriccedilatildeo e o significado geneacuterico de ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de
pertenccedilardquo
Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do trabalhador nacional Minas
Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash UnB) 2008 SENA
Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo (im)possiacutevel
1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007 SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades
de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas (estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-
1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)
SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer
em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 SOUZA
Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados em Franca
(1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003 TELES Luciano Everton Costa A Vida
Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920) Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM)
2008 VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica
Rio Tinto (Paraiacuteba 1959-1964) Fortaleza Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008 VIVIAN Diego
Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da categoria dos vigias de
embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)
2008 Os trabalhos onde o termo natildeo apareceu foram SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia
no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009
SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da
induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)
2001 Eacute faacutecil constatar que 3 dos trabalhos acadecircmicos dispostos no Portal do GT natildeo foram avaliados por
conta de problemas teacutecnicos envolvendo os formatos de arquivo BRUSANTIN Beatriz de Miranda Anauecirc
paulista um estudo sobre a praacutetica poliacutetica da primeira ―cidade integralista do estado de Satildeo Paulo (1932-
1943) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2004 KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo
o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese
(Histoacuteria-UNICAMP) 2004 SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e
cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008 2 Como satildeo por exemplo as referecircncias de BATALHA Claacuteudio H SILVA Fernando Teixeira da
FORTES Alexandre (orgs) Culturas de Classe Identidade e Diversidade na Formaccedilatildeo do Operariado
Campinas Satildeo Paulo Ed UNICAMP 2004 BATALHA Claacuteudio Henrique de Moraes Identidade da classe
operaacuteria no Brasil (1880-1920) atipicidade ou legitimidade Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo
ANPUH-Marco Zero 12 (23 e 24) pp111-124 set1991ago1992 3 BARTZ (op cit) e SIQUEIRA U (op cit) satildeo exemplos daqueles que mencionam FORTES (op cit) e
BILHAtildeO (op cit) por seu turno estatildeo entre os que discutem
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Paul Veyne em seu ousado ―Como se escreve a histoacuteria foi capaz de intitular um
de seus capiacutetulos como ―Tudo eacute histoacuterico logo a histoacuteria natildeo existe4 Poderiacuteamos usar da
mesma argumentaccedilatildeo para nos perguntarmos sobre aquilo que natildeo eacute passiacutevel de
abordagem pelo termo ―identidade Ora o recorte que a liacutengua opera no real pode ateacute ser
fantasioso caso acreditemos que o real eacute um continuum natildeo obstante eacute dos poucos
recursos metodologicamente eficientes para produzirmos algum tipo de saber sobre esse
real Entatildeo eacute necessaacuterio que usemos a liacutengua para definir ndash e neste caso o termo ―definir
supotildee os jaacute mencionados recortes do real ndash mesmo que seja por exibiccedilatildeo aquilo a que nos
referimos
Eacute certo que existe uma parte da pesquisa e da proacutepria exposiccedilatildeo cientiacutefica que
comporta uma exibiccedilatildeo e isto tambeacutem vale para a historiografia5 Contudo muitas vezes
esse procedimento central de nossa praacutetica intelectual comparece nos textos
envergonhando-se de ser uma descriccedilatildeo termo que quase soa como insulto na criacutetica
historiograacutefica Satildeo nalguns desses casos que o insulto tende a ser evitado com o recurso
ao termo ―identidade Nessas condiccedilotildees a aparecircncia de conceito que tem o termo
funciona certamente como recurso linguumliacutestico da autoria da pesquisa e isso raramente
pode ser atribuiacutedo a algum tipo de maacute-feacute ou intento enganoso Creio que tende a ser efeito
de certo tipo de (e me perdoem o paradoxo aqui explicitado) ―senso comum acadecircmico
cuja atenccedilatildeo natildeo se volta a por exemplo usos do termo ―identidade que parecem
normais e aceitos mas que reage contra por exemplo o termo ―descriccedilatildeo
Parece claro que nada tenho contra a descriccedilatildeo e o caraacuteter do termo ―identidade
em alguns textos coincide (sem demeacuterito algum portanto) com essa qualificaccedilatildeo Uma
evidecircncia desse tipo de uso pode ser vista em dois exemplos (entre incontaacuteveis outros que
poderia utilizar) nos quais o termo pode ser facilmente descartado ou trocado por outro
que natildeo recenda a conceito sem que o argumento perca qualquer elemento de sua forccedila ou
fraqueza
ALVES T op cit 2007 p 23 ESPERANCcedilA op cit p 28
―Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de
funccedilotildees dentro da oficina terminava por criar uma
rede de relaccedilotildees que construiacutea uma identidade entre
―Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor
graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui
examinado evidencia um momento extremamente
4 VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008 p
25 e ss 5 SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007
I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
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homens que se sentiam ao mesmo tempo graacuteficos-
artesatildeos e intelectuais pois comparados aos outros
operaacuterios dominavam a arte de ler e escrever
significativo para os trabalhadores atingidos por ela
natildeo apenas por envolver questotildees materiais
objetivas como salaacuterio e emprego mas porque se
refere tambeacutem agrave identidade de trabalhadores
especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso
dos graacuteficos Minha Traduccedilatildeo
Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de funccedilotildees
dentro da oficina terminava por criar uma rede de
relaccedilotildees entre homens que se sentiam ao mesmo
tempo graacuteficos-artesatildeos e intelectuais pois
comparados aos outros operaacuterios dominavam a arte
de ler e escrever
Minha Traduccedilatildeo
Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor
graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui
examinado evidencia um momento extremamente
significativo para os trabalhadores atingidos por ela
natildeo apenas por envolver questotildees materiais
objetivas como salaacuterio e emprego mas por que se
refere tambeacutem agrave condiccedilatildeo de trabalhadores
especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso
dos graacuteficos
O outro poacutelo ao qual o uso do termo ―identidade tambeacutem pode oscilar eacute algum
tipo de definiccedilatildeo geneacuterica que se refira a algo como ―percepccedilatildeo ou sentimento de
pertenccedila Isso tambeacutem aparece nas citaccedilotildees acima e de modo geral eacute assim que vem
sendo utilizado por aquelesaquelas historiadoreshistoriadoras que se ocupam em
minimamente definir o seu vocabulaacuterio baacutesico
No entanto existem vaacuterios problemas nos modos como isso eacute feito O primeiro e
mais grave eacute a utilizaccedilatildeo raacutepida ou melhor um tracircnsito brusco da famosa citaccedilatildeo de
Thompson (presente em muitos dos trabalhos acadecircmicos aqui abordados) ateacute algum tipo
de conceito ou definiccedilatildeo
Vou-me permitir citar na liacutengua original porque isso tambeacutem serve para continuar
o argumento
―And class happens when some men as a result of common
experiences (inherited or shared) feel and articulate the identity of their
interests as between themselves and as against other men whose
interests are different from (and usually opposed to) theirs6
A riqueza e a qualidade da obra de Thompson natildeo estatildeo em debate mas alguns
usos perversos de suas palavras que fazem como jaacute disse o tracircnsito brusco da ―identidade
de interesses (portanto interesses idecircnticos) agrave ―identidade de pessoas (pessoas
idecircnticas) Esse eacute certamente um tracircnsito brusco porque se o termo tivesse suficiente
relevacircncia o termo repetido na citaccedilatildeo natildeo seria aquilo que haacute de substantivo (―interests)
revelando que a versatildeo que mais faz sentido eacute aquela que adjetiva esses interesses Aleacutem
disso o termo natildeo aparece por exemplo no Iacutendice remissivo revelando quatildeo pouco ele eacute
6 THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976 p 9-10
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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que
a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter
de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria
Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa
rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do
conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo
podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da
diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a
autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e
praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente
denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e
culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves
citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8
Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute
faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de
por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e
individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que
falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees
e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como
construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de
um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute
interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns
dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os
tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos
textos
Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na
dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9
Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores
e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas
pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas
natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados
7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt
8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de
regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96
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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos
indiviacuteduos
Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de
Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com
clareza a pretensatildeo psicologizante10
Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees
poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de
vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum
Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso
natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve
levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que
melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento
eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11
Ele
demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo
Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e
razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor
um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes
enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal
Cunha12
Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o
reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos
sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma
permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu
supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de
si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo
um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que
seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais
uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para
Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no
capitalismo moderno
Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um
importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas
10
REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva
anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que
exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11
HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12
CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora
(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181
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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a
autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva
tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de
classe
―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na
teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave
questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se
muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo
se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo
previamente determinado []
Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o
conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades
do estudo13
Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem
sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo
seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees
explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso
vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como
parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14
3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado
quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo
tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser
deixado de lado pela historiografia do trabalho
De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento
tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de
anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem
suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute
exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a
metodologia da pesquisa histoacuterica
Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum
modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria
metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente
13
LONER op cit p 29 14
COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico
ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13
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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como
fonte15
Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia
remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa
de uma evidecircncia de baixa credibilidade16
Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no
contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de
expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um
tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que
pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade
Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na
narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro
Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de
modo mais sistemaacutetico
A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-
Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi
referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos
acontecimentos de 30 e 32
as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos
Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no
Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez
se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses
lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte
agraves fugas
Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de
experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento
comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17
Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em
fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma
indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este
indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da
―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia
15
De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia
Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo
Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16
Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17
Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit
p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13
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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de
carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica
da semioacutetica da psicologia etc
Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da
Antropologia Em um deles Regina Weber18
nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo
de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou
sentimento de pertenccedila
Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila
entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como
as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso
sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico
produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais
representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e
do ―antropoacutelogo
Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um
impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a
―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa
constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado
extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade
assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos
mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as
problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os
discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas
pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste
momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-
enunciaccedilatildeo
Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees
narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda
acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu
conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso
empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19
De todo modo mesmo perguntas adequadamente
18
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19
LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar
2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]
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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas
razoavelmente adequadas para elas20
Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais
facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por
exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo
de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha
ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito
distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda
existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a
interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem
poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico
e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de
uma ―identidade da historiografia do trabalho
Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade
eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que
melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que
esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para
dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li
Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e
que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de
disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em
qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do
trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas
elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo
acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade
porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado
enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo
para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das
―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa
A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui
analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo
20
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10
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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com
outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo
―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel
como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante
para se referir agraves elites e ao seu discurso21
O outro paradigma pode ser visto em
Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como
―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua
costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo
para grupos sociais e indiviacuteduos22
Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo
das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute
interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe
operaacuteria
A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um
excelente texto antropoloacutegico23
que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por
apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas
Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e
fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era
conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas
lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila
mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe
levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para
definir tudo natildeo define nada
Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo
muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil
algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em
uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E
podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que
toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico
4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros
intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
21
BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22
FORTES op cit p 105 23
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado
na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade
Brasiacutelia jul 2000 p 15
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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute
Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute
encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou
discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi
solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24
O autor recompotildee uma seacuterie
de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo
central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar
dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a
mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da
ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia
do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e
mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado
em vaacuterios trechos25
Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de
anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos
mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de
histoacuteria de identidade antigas ou recentes
Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute
praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas
as demais ideologias de identidade coletiva) un danger
As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como
alguma versatildeo do oacutepio do povo
Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de
―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso
proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e
uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26
E isso deve acontecer na
maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o
enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia
desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural
24
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de
TELES op cit 25
Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26
HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190
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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
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Eacute evidente que a adjetivaccedilatildeo da ―identidade para os interesses da historiografia do
trabalho natildeo tem a mesma capacidade sedutora que o termo tem para os usos
eventualmente trazidos no Quadro 1 Mas eacute necessaacuterio distinguir o quanto dessa
adjetivaccedilatildeo eacute especiacutefica da produccedilatildeo acadecircmica ou ao contraacuterio proveacutem do mesmo tipo
de fonte que incorporamos agraves pesquisas Em que pese a relativa fragmentaccedilatildeo dos bancos
eletrocircnicos de teses o descompasso entre a produccedilatildeo acadecircmica (e nela a historiografia
do trabalho) e os discursos de outra natureza pode ser constatado a partir de uma pesquisa
no metabuscador Cyberthesisnet cujos nuacutemeros satildeo bem menores do que os apresentados
nos quadros anteriores
Quadro 3 Ocorrecircncia de vaacuterias expressotildees em trabalhos acadecircmicos
Termos da pesquisa Ocorrecircncias
identidad 442
identidad obrera 2
identidad trabajadora 1
identidade 280
identidade trabalhadora 2
identidade operaacuteria 0
identity 931
labor identity 11
labour identity 3
Fonte wwwcybertesisnet consultado em 09 maio 2010
Dada essa desproporccedilatildeo entre a frequumlecircncia do uso do termo ―identidade em
discursos de diferentes naturezas e seu uso na historiografia do trabalho eacute interessante
indagar ateacute que ponto esse toacutepico eacute relevante nas formas de escrever histoacuteria utilizadas no
Brasil Eacute neste ponto que o portal do GT Mundos do Trabalho
(httpwwwifchunicampbrmundosdotrabalho) se torna um dos principais aliados nesta
investigaccedilatildeo uma vez que ali estaacute consolidada a produccedilatildeo acadecircmica recente proveniente
de diferentes universidades abordando diferentes toacutepicos Agraves teses e dissertaccedilotildees ali
disponiacuteveis foram acrescentadas algumas outras que seja por terem sido orientadas por
membros do GT seja por ampliarem o universo empiacuterico para a diversidade capaz de
conferir maior credibilidade aos argumentos aqui enunciados permitem constatar que a
―identidade eacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo nossa Com efeito em 39 trabalhos acadecircmicos
investigados segundo o procedimento lexicomeacutetrico em 37 deles a palavra ―identidade
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apareceu 1418 vezes perfazendo uma meacutedia de quase 40 vezes em cada dissertaccedilatildeo ou
tese1
1 Os trabalhos nos quais ―identidade apareceu foram os seguintes ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O
Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na Primeira Repuacuteblica Juiz de Fora
dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFJF) 2007 ALVES Walter de Assis Trabalhadores tecircxteis em Trecircs Lagoas-MS
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trabalho mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese
(Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a
dinacircmica agraacuteria tradicional (freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese
(Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP) 2008 PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de
uma Idea Lisboa (Histoacuteria Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008 QUEIROacuteS Ceacutesar
Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social (1895-1919) Porto
Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000 REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria
Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP)
Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006 RIBEIRO JUacuteNIOR
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Para aleacutem do procedimento lexicomeacutetrico eacute faacutecil constatar que na maior parte das
vezes em que o termo aparece nos trabalhos ele natildeo excede importantes referecircncias
bibliograacuteficas plenamente recomendaacuteveis na historiografia do trabalho2 ou aparece em
meio a um tipo de pressa terminoloacutegica natildeo rararamente no interior da expressatildeo
―identidade eacutetnica que com isso tende a ser mais mencionada do que efetivamente
discutida3 Em todo caso o frequumlente uso do termo ―identidade natildeo pode ser ignorado ou
desprezado porque a partir dele pode-se perceber a profusatildeo de fenocircmenos que vem
sendo investigados pela historiografia do trabalho incorporando por exemplo aleacutem dos
claacutessicos sindicatos tambeacutem os clubes sociais desportivos carnavalescos religiosos que
de algum modo conformam aquilo que os grupos de trabalhadores satildeo
2 ndash Ao se incorporarem muitos fenocircmenos agrave ldquoidentidaderdquo a fortuna de seus usos
oscila entre a descriccedilatildeo e o significado geneacuterico de ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de
pertenccedilardquo
Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do trabalhador nacional Minas
Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash UnB) 2008 SENA
Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo (im)possiacutevel
1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007 SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades
de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas (estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-
1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)
SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer
em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 SOUZA
Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados em Franca
(1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003 TELES Luciano Everton Costa A Vida
Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920) Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM)
2008 VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica
Rio Tinto (Paraiacuteba 1959-1964) Fortaleza Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008 VIVIAN Diego
Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da categoria dos vigias de
embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)
2008 Os trabalhos onde o termo natildeo apareceu foram SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia
no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009
SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da
induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)
2001 Eacute faacutecil constatar que 3 dos trabalhos acadecircmicos dispostos no Portal do GT natildeo foram avaliados por
conta de problemas teacutecnicos envolvendo os formatos de arquivo BRUSANTIN Beatriz de Miranda Anauecirc
paulista um estudo sobre a praacutetica poliacutetica da primeira ―cidade integralista do estado de Satildeo Paulo (1932-
1943) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2004 KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo
o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese
(Histoacuteria-UNICAMP) 2004 SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e
cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008 2 Como satildeo por exemplo as referecircncias de BATALHA Claacuteudio H SILVA Fernando Teixeira da
FORTES Alexandre (orgs) Culturas de Classe Identidade e Diversidade na Formaccedilatildeo do Operariado
Campinas Satildeo Paulo Ed UNICAMP 2004 BATALHA Claacuteudio Henrique de Moraes Identidade da classe
operaacuteria no Brasil (1880-1920) atipicidade ou legitimidade Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo
ANPUH-Marco Zero 12 (23 e 24) pp111-124 set1991ago1992 3 BARTZ (op cit) e SIQUEIRA U (op cit) satildeo exemplos daqueles que mencionam FORTES (op cit) e
BILHAtildeO (op cit) por seu turno estatildeo entre os que discutem
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Paul Veyne em seu ousado ―Como se escreve a histoacuteria foi capaz de intitular um
de seus capiacutetulos como ―Tudo eacute histoacuterico logo a histoacuteria natildeo existe4 Poderiacuteamos usar da
mesma argumentaccedilatildeo para nos perguntarmos sobre aquilo que natildeo eacute passiacutevel de
abordagem pelo termo ―identidade Ora o recorte que a liacutengua opera no real pode ateacute ser
fantasioso caso acreditemos que o real eacute um continuum natildeo obstante eacute dos poucos
recursos metodologicamente eficientes para produzirmos algum tipo de saber sobre esse
real Entatildeo eacute necessaacuterio que usemos a liacutengua para definir ndash e neste caso o termo ―definir
supotildee os jaacute mencionados recortes do real ndash mesmo que seja por exibiccedilatildeo aquilo a que nos
referimos
Eacute certo que existe uma parte da pesquisa e da proacutepria exposiccedilatildeo cientiacutefica que
comporta uma exibiccedilatildeo e isto tambeacutem vale para a historiografia5 Contudo muitas vezes
esse procedimento central de nossa praacutetica intelectual comparece nos textos
envergonhando-se de ser uma descriccedilatildeo termo que quase soa como insulto na criacutetica
historiograacutefica Satildeo nalguns desses casos que o insulto tende a ser evitado com o recurso
ao termo ―identidade Nessas condiccedilotildees a aparecircncia de conceito que tem o termo
funciona certamente como recurso linguumliacutestico da autoria da pesquisa e isso raramente
pode ser atribuiacutedo a algum tipo de maacute-feacute ou intento enganoso Creio que tende a ser efeito
de certo tipo de (e me perdoem o paradoxo aqui explicitado) ―senso comum acadecircmico
cuja atenccedilatildeo natildeo se volta a por exemplo usos do termo ―identidade que parecem
normais e aceitos mas que reage contra por exemplo o termo ―descriccedilatildeo
Parece claro que nada tenho contra a descriccedilatildeo e o caraacuteter do termo ―identidade
em alguns textos coincide (sem demeacuterito algum portanto) com essa qualificaccedilatildeo Uma
evidecircncia desse tipo de uso pode ser vista em dois exemplos (entre incontaacuteveis outros que
poderia utilizar) nos quais o termo pode ser facilmente descartado ou trocado por outro
que natildeo recenda a conceito sem que o argumento perca qualquer elemento de sua forccedila ou
fraqueza
ALVES T op cit 2007 p 23 ESPERANCcedilA op cit p 28
―Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de
funccedilotildees dentro da oficina terminava por criar uma
rede de relaccedilotildees que construiacutea uma identidade entre
―Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor
graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui
examinado evidencia um momento extremamente
4 VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008 p
25 e ss 5 SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007
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homens que se sentiam ao mesmo tempo graacuteficos-
artesatildeos e intelectuais pois comparados aos outros
operaacuterios dominavam a arte de ler e escrever
significativo para os trabalhadores atingidos por ela
natildeo apenas por envolver questotildees materiais
objetivas como salaacuterio e emprego mas porque se
refere tambeacutem agrave identidade de trabalhadores
especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso
dos graacuteficos Minha Traduccedilatildeo
Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de funccedilotildees
dentro da oficina terminava por criar uma rede de
relaccedilotildees entre homens que se sentiam ao mesmo
tempo graacuteficos-artesatildeos e intelectuais pois
comparados aos outros operaacuterios dominavam a arte
de ler e escrever
Minha Traduccedilatildeo
Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor
graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui
examinado evidencia um momento extremamente
significativo para os trabalhadores atingidos por ela
natildeo apenas por envolver questotildees materiais
objetivas como salaacuterio e emprego mas por que se
refere tambeacutem agrave condiccedilatildeo de trabalhadores
especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso
dos graacuteficos
O outro poacutelo ao qual o uso do termo ―identidade tambeacutem pode oscilar eacute algum
tipo de definiccedilatildeo geneacuterica que se refira a algo como ―percepccedilatildeo ou sentimento de
pertenccedila Isso tambeacutem aparece nas citaccedilotildees acima e de modo geral eacute assim que vem
sendo utilizado por aquelesaquelas historiadoreshistoriadoras que se ocupam em
minimamente definir o seu vocabulaacuterio baacutesico
No entanto existem vaacuterios problemas nos modos como isso eacute feito O primeiro e
mais grave eacute a utilizaccedilatildeo raacutepida ou melhor um tracircnsito brusco da famosa citaccedilatildeo de
Thompson (presente em muitos dos trabalhos acadecircmicos aqui abordados) ateacute algum tipo
de conceito ou definiccedilatildeo
Vou-me permitir citar na liacutengua original porque isso tambeacutem serve para continuar
o argumento
―And class happens when some men as a result of common
experiences (inherited or shared) feel and articulate the identity of their
interests as between themselves and as against other men whose
interests are different from (and usually opposed to) theirs6
A riqueza e a qualidade da obra de Thompson natildeo estatildeo em debate mas alguns
usos perversos de suas palavras que fazem como jaacute disse o tracircnsito brusco da ―identidade
de interesses (portanto interesses idecircnticos) agrave ―identidade de pessoas (pessoas
idecircnticas) Esse eacute certamente um tracircnsito brusco porque se o termo tivesse suficiente
relevacircncia o termo repetido na citaccedilatildeo natildeo seria aquilo que haacute de substantivo (―interests)
revelando que a versatildeo que mais faz sentido eacute aquela que adjetiva esses interesses Aleacutem
disso o termo natildeo aparece por exemplo no Iacutendice remissivo revelando quatildeo pouco ele eacute
6 THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976 p 9-10
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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que
a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter
de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria
Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa
rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do
conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo
podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da
diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a
autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e
praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente
denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e
culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves
citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8
Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute
faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de
por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e
individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que
falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees
e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como
construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de
um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute
interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns
dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os
tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos
textos
Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na
dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9
Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores
e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas
pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas
natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados
7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt
8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de
regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96
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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos
indiviacuteduos
Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de
Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com
clareza a pretensatildeo psicologizante10
Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees
poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de
vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum
Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso
natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve
levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que
melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento
eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11
Ele
demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo
Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e
razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor
um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes
enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal
Cunha12
Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o
reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos
sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma
permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu
supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de
si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo
um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que
seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais
uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para
Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no
capitalismo moderno
Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um
importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas
10
REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva
anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que
exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11
HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12
CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora
(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181
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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a
autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva
tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de
classe
―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na
teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave
questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se
muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo
se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo
previamente determinado []
Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o
conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades
do estudo13
Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem
sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo
seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees
explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso
vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como
parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14
3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado
quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo
tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser
deixado de lado pela historiografia do trabalho
De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento
tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de
anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem
suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute
exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a
metodologia da pesquisa histoacuterica
Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum
modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria
metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente
13
LONER op cit p 29 14
COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico
ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13
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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como
fonte15
Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia
remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa
de uma evidecircncia de baixa credibilidade16
Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no
contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de
expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um
tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que
pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade
Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na
narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro
Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de
modo mais sistemaacutetico
A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-
Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi
referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos
acontecimentos de 30 e 32
as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos
Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no
Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez
se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses
lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte
agraves fugas
Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de
experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento
comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17
Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em
fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma
indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este
indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da
―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia
15
De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia
Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo
Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16
Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17
Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit
p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13
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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de
carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica
da semioacutetica da psicologia etc
Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da
Antropologia Em um deles Regina Weber18
nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo
de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou
sentimento de pertenccedila
Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila
entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como
as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso
sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico
produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais
representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e
do ―antropoacutelogo
Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um
impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a
―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa
constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado
extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade
assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos
mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as
problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os
discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas
pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste
momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-
enunciaccedilatildeo
Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees
narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda
acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu
conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso
empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19
De todo modo mesmo perguntas adequadamente
18
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19
LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar
2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]
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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas
razoavelmente adequadas para elas20
Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais
facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por
exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo
de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha
ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito
distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda
existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a
interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem
poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico
e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de
uma ―identidade da historiografia do trabalho
Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade
eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que
melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que
esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para
dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li
Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e
que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de
disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em
qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do
trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas
elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo
acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade
porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado
enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo
para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das
―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa
A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui
analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo
20
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10
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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com
outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo
―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel
como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante
para se referir agraves elites e ao seu discurso21
O outro paradigma pode ser visto em
Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como
―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua
costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo
para grupos sociais e indiviacuteduos22
Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo
das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute
interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe
operaacuteria
A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um
excelente texto antropoloacutegico23
que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por
apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas
Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e
fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era
conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas
lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila
mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe
levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para
definir tudo natildeo define nada
Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo
muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil
algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em
uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E
podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que
toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico
4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros
intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
21
BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22
FORTES op cit p 105 23
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado
na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade
Brasiacutelia jul 2000 p 15
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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute
Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute
encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou
discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi
solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24
O autor recompotildee uma seacuterie
de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo
central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar
dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a
mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da
ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia
do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e
mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado
em vaacuterios trechos25
Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de
anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos
mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de
histoacuteria de identidade antigas ou recentes
Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute
praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas
as demais ideologias de identidade coletiva) un danger
As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como
alguma versatildeo do oacutepio do povo
Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de
―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso
proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e
uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26
E isso deve acontecer na
maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o
enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia
desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural
24
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de
TELES op cit 25
Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26
HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190
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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
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trabalhador nacional Minas Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em
Histoacuteria ndash UnB) 2008
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981
SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e cultura dos trabalhadores
urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008
SENA Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo
(im)possiacutevel 1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007
SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas
(estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)
SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007
SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de
Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009
SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da
induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)
2001
SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer
em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002
SOUZA Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados
em Franca (1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003
TELES Luciano Everton Costa A Vida Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920)
Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM) 2008
THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARAacute
VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica Rio Tinto
(Paraiacuteba 1959-1964) Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008
VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008
VIVIAN Diego Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da
categoria dos vigias de embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UFRGS) 2008
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 p 189-197 jun 2006
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5
apareceu 1418 vezes perfazendo uma meacutedia de quase 40 vezes em cada dissertaccedilatildeo ou
tese1
1 Os trabalhos nos quais ―identidade apareceu foram os seguintes ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O
Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na Primeira Repuacuteblica Juiz de Fora
dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFJF) 2007 ALVES Walter de Assis Trabalhadores tecircxteis em Trecircs Lagoas-MS
experiecircncias de trabalho praacuteticas sociais e atuaccedilotildees poliacuteticas Uberlacircndia dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFU)
2009 AMORIM Ailana Cristina de Relaccedilotildees intra-classe solidariedade e conflito na formaccedilatildeo da classe
operaacuteria no Rio Grande do Sul Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2006 ARAUacuteJO NETO
Adalberto Coutinho de Entre a revoluccedilatildeo e o corporativismo a experiecircncia sindical dos ferroviaacuterios da E
F Sorocabana nos anos 1930 Satildeo Paulo dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-USP) 2006 BARTZ Frederico
Duarte O Horizonte Vermelho o impacto da revoluccedilatildeo russa no movimento operaacuterio do Rio Grande do Sul
1917-1920 Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2008 BILHAtildeO Isabel Aparecida Identidade e
trabalho anaacutelise da construccedilatildeo identitaacuteria dos operaacuterios porto-alegrenses (1896 a 1920) Porto Alegre
tese (Histoacuteria-UFRGS) 2005 CASTELLUCCI Aldrin A S Trabalhadores maacutequina poliacutetica e eleiccedilotildees na
Primeira Repuacuteblica Salvador tese (Histoacuteria-UFBA) 2008 CHAVES Marcelo Antonio Da periferia ao
centro da(o) capital perfil dos trabalhadores do primeiro complexo cimenteiro do Brasil Satildeo Paulo 1925
ndash 1945 Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2005 CORREcircA Anderson Romaacuterio Pereira
Movimento operaacuterio em Alegrete a presenccedila de imigrantes e estrangeiros (1897 ndash 1929) Porto Alegre
dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-PUCRS) 2010 CORREcircA Larissa Rosa Trabalhadores tecircxteis e metaluacutergicos a
caminho da Justiccedila do Trabalho leis e direitos na cidade de Satildeo Paulo 1953 a 1964 Campinas dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UNICAMP) 2007 ESPERANCcedilA Clarice Gontarski A greve da oficina de chumbo O movimento
de resistecircncia dos trabalhadores da Empresa Jornaliacutestica Caldas Juacutenior (Porto Alegre 1983-1984) Porto
Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2007 FORTES Alexandre bdquoNoacutes do Quarto Distritohellip‟ A classe
trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas Tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2001 FRACCARO Glaucia
Cristina Frandian Morigerados e revoltados Trabalho e organizaccedilatildeo de ferroviaacuterios da Central do Brasil e
da Leopoldina (1889-1920) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2008 KAREPOVS Dainis A
Esquerda e o Parlamento no Brasil o Bloco Operaacuterio e Camponecircs (1924-1930) Satildeo Paulo Tese (Histoacuteria-
USP) 2002 KONRAD Glaucia Vieira Ramos Os trabalhadores e o Estado Novo no Rio Grande do Sul
um retrato da sociedade e do mundo do trabalho (1937-1945) Campinas tese (Histoacuteria Social do Trabalho-
UNICAMP) 2006 LEUCHTENBERGER Rafaela ldquoO Laacutebaro protetor da classe operaacuteriardquo As
Associaccedilotildees voluntaacuterias de socorros-muacutetuos dos trabalhadores em Florianoacutepolis ndash Santa Catarina (1886-
1932) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2009 LONER Beatriz Ana Classe operaacuteria
mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo em Pelotas 1888 ndash 1937 Porto Alegre 1999 Tese (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo
em Sociologia) ndash IFCH UFRGS 1999 MACIEL Osvaldo Batista Acioly Filhos do Trabalho Apoacutestolos
do Socialismo os tipoacutegrafos e a construccedilatildeo de uma identidade de classe em Maceioacute (18951905) Recife
dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2004 MONTEIRO Claudia ldquoFora dos trilhosrdquo as experiecircncias da
militacircncia comunista na rede de viaccedilatildeo Paranaacute-Santa Catarina (1934-1945) Porto Alegre dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UFRGS) 2007 MORAIS Naacutegila Maia de ldquoTodo cais eacute uma saudade de pedrardquo repressatildeo e
morte dos trabalhadores catraieiros (1903-1904) Fortaleza dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFCE) 2009
MOREIRA Vagner Joseacute Memoacuterias e histoacuterias de trabalhadores em luta pela terra Fernandoacutepolis-SP
1946-1964 Uberlacircndia tese (Histoacuteria ndash UFU) 2009 NOMELINI Paula Christina Bin Associaccedilotildees
operaacuterias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-
UNICAMP 2007) OLIVEIRA Tiago Bernardon de Mobilizaccedilatildeo operaacuteria na Repuacuteblica excludente Um
estudo comparativo da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e
Rio Grande do Sul nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)
2003 OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do
trabalho mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese
(Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a
dinacircmica agraacuteria tradicional (freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese
(Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP) 2008 PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de
uma Idea Lisboa (Histoacuteria Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008 QUEIROacuteS Ceacutesar
Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social (1895-1919) Porto
Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000 REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria
Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP)
Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006 RIBEIRO JUacuteNIOR
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Para aleacutem do procedimento lexicomeacutetrico eacute faacutecil constatar que na maior parte das
vezes em que o termo aparece nos trabalhos ele natildeo excede importantes referecircncias
bibliograacuteficas plenamente recomendaacuteveis na historiografia do trabalho2 ou aparece em
meio a um tipo de pressa terminoloacutegica natildeo rararamente no interior da expressatildeo
―identidade eacutetnica que com isso tende a ser mais mencionada do que efetivamente
discutida3 Em todo caso o frequumlente uso do termo ―identidade natildeo pode ser ignorado ou
desprezado porque a partir dele pode-se perceber a profusatildeo de fenocircmenos que vem
sendo investigados pela historiografia do trabalho incorporando por exemplo aleacutem dos
claacutessicos sindicatos tambeacutem os clubes sociais desportivos carnavalescos religiosos que
de algum modo conformam aquilo que os grupos de trabalhadores satildeo
2 ndash Ao se incorporarem muitos fenocircmenos agrave ldquoidentidaderdquo a fortuna de seus usos
oscila entre a descriccedilatildeo e o significado geneacuterico de ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de
pertenccedilardquo
Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do trabalhador nacional Minas
Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash UnB) 2008 SENA
Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo (im)possiacutevel
1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007 SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades
de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas (estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-
1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)
SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer
em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 SOUZA
Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados em Franca
(1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003 TELES Luciano Everton Costa A Vida
Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920) Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM)
2008 VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica
Rio Tinto (Paraiacuteba 1959-1964) Fortaleza Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008 VIVIAN Diego
Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da categoria dos vigias de
embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)
2008 Os trabalhos onde o termo natildeo apareceu foram SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia
no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009
SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da
induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)
2001 Eacute faacutecil constatar que 3 dos trabalhos acadecircmicos dispostos no Portal do GT natildeo foram avaliados por
conta de problemas teacutecnicos envolvendo os formatos de arquivo BRUSANTIN Beatriz de Miranda Anauecirc
paulista um estudo sobre a praacutetica poliacutetica da primeira ―cidade integralista do estado de Satildeo Paulo (1932-
1943) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2004 KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo
o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese
(Histoacuteria-UNICAMP) 2004 SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e
cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008 2 Como satildeo por exemplo as referecircncias de BATALHA Claacuteudio H SILVA Fernando Teixeira da
FORTES Alexandre (orgs) Culturas de Classe Identidade e Diversidade na Formaccedilatildeo do Operariado
Campinas Satildeo Paulo Ed UNICAMP 2004 BATALHA Claacuteudio Henrique de Moraes Identidade da classe
operaacuteria no Brasil (1880-1920) atipicidade ou legitimidade Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo
ANPUH-Marco Zero 12 (23 e 24) pp111-124 set1991ago1992 3 BARTZ (op cit) e SIQUEIRA U (op cit) satildeo exemplos daqueles que mencionam FORTES (op cit) e
BILHAtildeO (op cit) por seu turno estatildeo entre os que discutem
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Paul Veyne em seu ousado ―Como se escreve a histoacuteria foi capaz de intitular um
de seus capiacutetulos como ―Tudo eacute histoacuterico logo a histoacuteria natildeo existe4 Poderiacuteamos usar da
mesma argumentaccedilatildeo para nos perguntarmos sobre aquilo que natildeo eacute passiacutevel de
abordagem pelo termo ―identidade Ora o recorte que a liacutengua opera no real pode ateacute ser
fantasioso caso acreditemos que o real eacute um continuum natildeo obstante eacute dos poucos
recursos metodologicamente eficientes para produzirmos algum tipo de saber sobre esse
real Entatildeo eacute necessaacuterio que usemos a liacutengua para definir ndash e neste caso o termo ―definir
supotildee os jaacute mencionados recortes do real ndash mesmo que seja por exibiccedilatildeo aquilo a que nos
referimos
Eacute certo que existe uma parte da pesquisa e da proacutepria exposiccedilatildeo cientiacutefica que
comporta uma exibiccedilatildeo e isto tambeacutem vale para a historiografia5 Contudo muitas vezes
esse procedimento central de nossa praacutetica intelectual comparece nos textos
envergonhando-se de ser uma descriccedilatildeo termo que quase soa como insulto na criacutetica
historiograacutefica Satildeo nalguns desses casos que o insulto tende a ser evitado com o recurso
ao termo ―identidade Nessas condiccedilotildees a aparecircncia de conceito que tem o termo
funciona certamente como recurso linguumliacutestico da autoria da pesquisa e isso raramente
pode ser atribuiacutedo a algum tipo de maacute-feacute ou intento enganoso Creio que tende a ser efeito
de certo tipo de (e me perdoem o paradoxo aqui explicitado) ―senso comum acadecircmico
cuja atenccedilatildeo natildeo se volta a por exemplo usos do termo ―identidade que parecem
normais e aceitos mas que reage contra por exemplo o termo ―descriccedilatildeo
Parece claro que nada tenho contra a descriccedilatildeo e o caraacuteter do termo ―identidade
em alguns textos coincide (sem demeacuterito algum portanto) com essa qualificaccedilatildeo Uma
evidecircncia desse tipo de uso pode ser vista em dois exemplos (entre incontaacuteveis outros que
poderia utilizar) nos quais o termo pode ser facilmente descartado ou trocado por outro
que natildeo recenda a conceito sem que o argumento perca qualquer elemento de sua forccedila ou
fraqueza
ALVES T op cit 2007 p 23 ESPERANCcedilA op cit p 28
―Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de
funccedilotildees dentro da oficina terminava por criar uma
rede de relaccedilotildees que construiacutea uma identidade entre
―Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor
graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui
examinado evidencia um momento extremamente
4 VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008 p
25 e ss 5 SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007
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homens que se sentiam ao mesmo tempo graacuteficos-
artesatildeos e intelectuais pois comparados aos outros
operaacuterios dominavam a arte de ler e escrever
significativo para os trabalhadores atingidos por ela
natildeo apenas por envolver questotildees materiais
objetivas como salaacuterio e emprego mas porque se
refere tambeacutem agrave identidade de trabalhadores
especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso
dos graacuteficos Minha Traduccedilatildeo
Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de funccedilotildees
dentro da oficina terminava por criar uma rede de
relaccedilotildees entre homens que se sentiam ao mesmo
tempo graacuteficos-artesatildeos e intelectuais pois
comparados aos outros operaacuterios dominavam a arte
de ler e escrever
Minha Traduccedilatildeo
Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor
graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui
examinado evidencia um momento extremamente
significativo para os trabalhadores atingidos por ela
natildeo apenas por envolver questotildees materiais
objetivas como salaacuterio e emprego mas por que se
refere tambeacutem agrave condiccedilatildeo de trabalhadores
especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso
dos graacuteficos
O outro poacutelo ao qual o uso do termo ―identidade tambeacutem pode oscilar eacute algum
tipo de definiccedilatildeo geneacuterica que se refira a algo como ―percepccedilatildeo ou sentimento de
pertenccedila Isso tambeacutem aparece nas citaccedilotildees acima e de modo geral eacute assim que vem
sendo utilizado por aquelesaquelas historiadoreshistoriadoras que se ocupam em
minimamente definir o seu vocabulaacuterio baacutesico
No entanto existem vaacuterios problemas nos modos como isso eacute feito O primeiro e
mais grave eacute a utilizaccedilatildeo raacutepida ou melhor um tracircnsito brusco da famosa citaccedilatildeo de
Thompson (presente em muitos dos trabalhos acadecircmicos aqui abordados) ateacute algum tipo
de conceito ou definiccedilatildeo
Vou-me permitir citar na liacutengua original porque isso tambeacutem serve para continuar
o argumento
―And class happens when some men as a result of common
experiences (inherited or shared) feel and articulate the identity of their
interests as between themselves and as against other men whose
interests are different from (and usually opposed to) theirs6
A riqueza e a qualidade da obra de Thompson natildeo estatildeo em debate mas alguns
usos perversos de suas palavras que fazem como jaacute disse o tracircnsito brusco da ―identidade
de interesses (portanto interesses idecircnticos) agrave ―identidade de pessoas (pessoas
idecircnticas) Esse eacute certamente um tracircnsito brusco porque se o termo tivesse suficiente
relevacircncia o termo repetido na citaccedilatildeo natildeo seria aquilo que haacute de substantivo (―interests)
revelando que a versatildeo que mais faz sentido eacute aquela que adjetiva esses interesses Aleacutem
disso o termo natildeo aparece por exemplo no Iacutendice remissivo revelando quatildeo pouco ele eacute
6 THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976 p 9-10
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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que
a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter
de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria
Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa
rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do
conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo
podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da
diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a
autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e
praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente
denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e
culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves
citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8
Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute
faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de
por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e
individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que
falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees
e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como
construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de
um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute
interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns
dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os
tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos
textos
Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na
dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9
Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores
e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas
pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas
natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados
7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt
8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de
regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96
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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos
indiviacuteduos
Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de
Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com
clareza a pretensatildeo psicologizante10
Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees
poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de
vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum
Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso
natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve
levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que
melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento
eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11
Ele
demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo
Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e
razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor
um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes
enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal
Cunha12
Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o
reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos
sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma
permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu
supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de
si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo
um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que
seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais
uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para
Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no
capitalismo moderno
Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um
importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas
10
REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva
anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que
exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11
HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12
CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora
(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181
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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a
autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva
tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de
classe
―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na
teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave
questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se
muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo
se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo
previamente determinado []
Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o
conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades
do estudo13
Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem
sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo
seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees
explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso
vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como
parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14
3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado
quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo
tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser
deixado de lado pela historiografia do trabalho
De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento
tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de
anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem
suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute
exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a
metodologia da pesquisa histoacuterica
Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum
modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria
metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente
13
LONER op cit p 29 14
COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico
ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13
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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como
fonte15
Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia
remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa
de uma evidecircncia de baixa credibilidade16
Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no
contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de
expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um
tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que
pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade
Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na
narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro
Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de
modo mais sistemaacutetico
A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-
Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi
referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos
acontecimentos de 30 e 32
as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos
Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no
Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez
se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses
lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte
agraves fugas
Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de
experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento
comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17
Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em
fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma
indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este
indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da
―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia
15
De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia
Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo
Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16
Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17
Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit
p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13
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13
numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de
carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica
da semioacutetica da psicologia etc
Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da
Antropologia Em um deles Regina Weber18
nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo
de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou
sentimento de pertenccedila
Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila
entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como
as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso
sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico
produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais
representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e
do ―antropoacutelogo
Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um
impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a
―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa
constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado
extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade
assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos
mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as
problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os
discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas
pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste
momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-
enunciaccedilatildeo
Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees
narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda
acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu
conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso
empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19
De todo modo mesmo perguntas adequadamente
18
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19
LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar
2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]
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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas
razoavelmente adequadas para elas20
Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais
facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por
exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo
de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha
ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito
distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda
existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a
interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem
poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico
e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de
uma ―identidade da historiografia do trabalho
Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade
eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que
melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que
esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para
dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li
Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e
que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de
disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em
qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do
trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas
elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo
acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade
porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado
enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo
para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das
―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa
A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui
analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo
20
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10
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15
a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com
outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo
―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel
como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante
para se referir agraves elites e ao seu discurso21
O outro paradigma pode ser visto em
Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como
―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua
costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo
para grupos sociais e indiviacuteduos22
Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo
das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute
interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe
operaacuteria
A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um
excelente texto antropoloacutegico23
que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por
apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas
Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e
fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era
conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas
lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila
mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe
levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para
definir tudo natildeo define nada
Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo
muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil
algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em
uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E
podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que
toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico
4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros
intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
21
BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22
FORTES op cit p 105 23
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado
na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade
Brasiacutelia jul 2000 p 15
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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute
Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute
encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou
discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi
solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24
O autor recompotildee uma seacuterie
de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo
central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar
dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a
mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da
ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia
do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e
mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado
em vaacuterios trechos25
Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de
anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos
mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de
histoacuteria de identidade antigas ou recentes
Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute
praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas
as demais ideologias de identidade coletiva) un danger
As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como
alguma versatildeo do oacutepio do povo
Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de
―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso
proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e
uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26
E isso deve acontecer na
maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o
enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia
desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural
24
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de
TELES op cit 25
Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26
HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190
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17
social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
Bibliografia ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na
Primeira Repuacuteblica Juiz de Fora dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFJF) 2007
ALVES Walter De Assis Trabalhadores tecircxteis em Trecircs Lagoas-MS experiecircncias de trabalho praacuteticas
sociais e atuaccedilotildees poliacuteticas Uberlacircndia dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFU) 2009
AMORIM Ailana Cristina de Relaccedilotildees intra-classe solidariedade e conflito na formaccedilatildeo da classe
operaacuteria no Rio Grande do Sul Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2006
ARAUacuteJO NETO Adalberto Coutinho de Entre a revoluccedilatildeo e o corporativismo a experiecircncia sindical dos
ferroviaacuterios da E F Sorocabana nos anos 1930 Satildeo Paulo dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-USP) 2006
BARTZ Frederico Duarte O Horizonte Vermelho o impacto da revoluccedilatildeo russa no movimento operaacuterio do
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em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002
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I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
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Para aleacutem do procedimento lexicomeacutetrico eacute faacutecil constatar que na maior parte das
vezes em que o termo aparece nos trabalhos ele natildeo excede importantes referecircncias
bibliograacuteficas plenamente recomendaacuteveis na historiografia do trabalho2 ou aparece em
meio a um tipo de pressa terminoloacutegica natildeo rararamente no interior da expressatildeo
―identidade eacutetnica que com isso tende a ser mais mencionada do que efetivamente
discutida3 Em todo caso o frequumlente uso do termo ―identidade natildeo pode ser ignorado ou
desprezado porque a partir dele pode-se perceber a profusatildeo de fenocircmenos que vem
sendo investigados pela historiografia do trabalho incorporando por exemplo aleacutem dos
claacutessicos sindicatos tambeacutem os clubes sociais desportivos carnavalescos religiosos que
de algum modo conformam aquilo que os grupos de trabalhadores satildeo
2 ndash Ao se incorporarem muitos fenocircmenos agrave ldquoidentidaderdquo a fortuna de seus usos
oscila entre a descriccedilatildeo e o significado geneacuterico de ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de
pertenccedilardquo
Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do trabalhador nacional Minas
Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash UnB) 2008 SENA
Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo (im)possiacutevel
1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007 SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades
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em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 SOUZA
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Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da categoria dos vigias de
embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)
2008 Os trabalhos onde o termo natildeo apareceu foram SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia
no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009
SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da
induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)
2001 Eacute faacutecil constatar que 3 dos trabalhos acadecircmicos dispostos no Portal do GT natildeo foram avaliados por
conta de problemas teacutecnicos envolvendo os formatos de arquivo BRUSANTIN Beatriz de Miranda Anauecirc
paulista um estudo sobre a praacutetica poliacutetica da primeira ―cidade integralista do estado de Satildeo Paulo (1932-
1943) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2004 KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo
o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese
(Histoacuteria-UNICAMP) 2004 SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e
cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008 2 Como satildeo por exemplo as referecircncias de BATALHA Claacuteudio H SILVA Fernando Teixeira da
FORTES Alexandre (orgs) Culturas de Classe Identidade e Diversidade na Formaccedilatildeo do Operariado
Campinas Satildeo Paulo Ed UNICAMP 2004 BATALHA Claacuteudio Henrique de Moraes Identidade da classe
operaacuteria no Brasil (1880-1920) atipicidade ou legitimidade Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo
ANPUH-Marco Zero 12 (23 e 24) pp111-124 set1991ago1992 3 BARTZ (op cit) e SIQUEIRA U (op cit) satildeo exemplos daqueles que mencionam FORTES (op cit) e
BILHAtildeO (op cit) por seu turno estatildeo entre os que discutem
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Paul Veyne em seu ousado ―Como se escreve a histoacuteria foi capaz de intitular um
de seus capiacutetulos como ―Tudo eacute histoacuterico logo a histoacuteria natildeo existe4 Poderiacuteamos usar da
mesma argumentaccedilatildeo para nos perguntarmos sobre aquilo que natildeo eacute passiacutevel de
abordagem pelo termo ―identidade Ora o recorte que a liacutengua opera no real pode ateacute ser
fantasioso caso acreditemos que o real eacute um continuum natildeo obstante eacute dos poucos
recursos metodologicamente eficientes para produzirmos algum tipo de saber sobre esse
real Entatildeo eacute necessaacuterio que usemos a liacutengua para definir ndash e neste caso o termo ―definir
supotildee os jaacute mencionados recortes do real ndash mesmo que seja por exibiccedilatildeo aquilo a que nos
referimos
Eacute certo que existe uma parte da pesquisa e da proacutepria exposiccedilatildeo cientiacutefica que
comporta uma exibiccedilatildeo e isto tambeacutem vale para a historiografia5 Contudo muitas vezes
esse procedimento central de nossa praacutetica intelectual comparece nos textos
envergonhando-se de ser uma descriccedilatildeo termo que quase soa como insulto na criacutetica
historiograacutefica Satildeo nalguns desses casos que o insulto tende a ser evitado com o recurso
ao termo ―identidade Nessas condiccedilotildees a aparecircncia de conceito que tem o termo
funciona certamente como recurso linguumliacutestico da autoria da pesquisa e isso raramente
pode ser atribuiacutedo a algum tipo de maacute-feacute ou intento enganoso Creio que tende a ser efeito
de certo tipo de (e me perdoem o paradoxo aqui explicitado) ―senso comum acadecircmico
cuja atenccedilatildeo natildeo se volta a por exemplo usos do termo ―identidade que parecem
normais e aceitos mas que reage contra por exemplo o termo ―descriccedilatildeo
Parece claro que nada tenho contra a descriccedilatildeo e o caraacuteter do termo ―identidade
em alguns textos coincide (sem demeacuterito algum portanto) com essa qualificaccedilatildeo Uma
evidecircncia desse tipo de uso pode ser vista em dois exemplos (entre incontaacuteveis outros que
poderia utilizar) nos quais o termo pode ser facilmente descartado ou trocado por outro
que natildeo recenda a conceito sem que o argumento perca qualquer elemento de sua forccedila ou
fraqueza
ALVES T op cit 2007 p 23 ESPERANCcedilA op cit p 28
―Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de
funccedilotildees dentro da oficina terminava por criar uma
rede de relaccedilotildees que construiacutea uma identidade entre
―Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor
graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui
examinado evidencia um momento extremamente
4 VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008 p
25 e ss 5 SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007
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homens que se sentiam ao mesmo tempo graacuteficos-
artesatildeos e intelectuais pois comparados aos outros
operaacuterios dominavam a arte de ler e escrever
significativo para os trabalhadores atingidos por ela
natildeo apenas por envolver questotildees materiais
objetivas como salaacuterio e emprego mas porque se
refere tambeacutem agrave identidade de trabalhadores
especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso
dos graacuteficos Minha Traduccedilatildeo
Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de funccedilotildees
dentro da oficina terminava por criar uma rede de
relaccedilotildees entre homens que se sentiam ao mesmo
tempo graacuteficos-artesatildeos e intelectuais pois
comparados aos outros operaacuterios dominavam a arte
de ler e escrever
Minha Traduccedilatildeo
Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor
graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui
examinado evidencia um momento extremamente
significativo para os trabalhadores atingidos por ela
natildeo apenas por envolver questotildees materiais
objetivas como salaacuterio e emprego mas por que se
refere tambeacutem agrave condiccedilatildeo de trabalhadores
especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso
dos graacuteficos
O outro poacutelo ao qual o uso do termo ―identidade tambeacutem pode oscilar eacute algum
tipo de definiccedilatildeo geneacuterica que se refira a algo como ―percepccedilatildeo ou sentimento de
pertenccedila Isso tambeacutem aparece nas citaccedilotildees acima e de modo geral eacute assim que vem
sendo utilizado por aquelesaquelas historiadoreshistoriadoras que se ocupam em
minimamente definir o seu vocabulaacuterio baacutesico
No entanto existem vaacuterios problemas nos modos como isso eacute feito O primeiro e
mais grave eacute a utilizaccedilatildeo raacutepida ou melhor um tracircnsito brusco da famosa citaccedilatildeo de
Thompson (presente em muitos dos trabalhos acadecircmicos aqui abordados) ateacute algum tipo
de conceito ou definiccedilatildeo
Vou-me permitir citar na liacutengua original porque isso tambeacutem serve para continuar
o argumento
―And class happens when some men as a result of common
experiences (inherited or shared) feel and articulate the identity of their
interests as between themselves and as against other men whose
interests are different from (and usually opposed to) theirs6
A riqueza e a qualidade da obra de Thompson natildeo estatildeo em debate mas alguns
usos perversos de suas palavras que fazem como jaacute disse o tracircnsito brusco da ―identidade
de interesses (portanto interesses idecircnticos) agrave ―identidade de pessoas (pessoas
idecircnticas) Esse eacute certamente um tracircnsito brusco porque se o termo tivesse suficiente
relevacircncia o termo repetido na citaccedilatildeo natildeo seria aquilo que haacute de substantivo (―interests)
revelando que a versatildeo que mais faz sentido eacute aquela que adjetiva esses interesses Aleacutem
disso o termo natildeo aparece por exemplo no Iacutendice remissivo revelando quatildeo pouco ele eacute
6 THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976 p 9-10
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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que
a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter
de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria
Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa
rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do
conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo
podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da
diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a
autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e
praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente
denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e
culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves
citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8
Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute
faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de
por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e
individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que
falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees
e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como
construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de
um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute
interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns
dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os
tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos
textos
Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na
dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9
Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores
e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas
pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas
natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados
7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt
8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de
regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96
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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos
indiviacuteduos
Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de
Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com
clareza a pretensatildeo psicologizante10
Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees
poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de
vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum
Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso
natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve
levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que
melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento
eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11
Ele
demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo
Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e
razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor
um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes
enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal
Cunha12
Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o
reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos
sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma
permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu
supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de
si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo
um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que
seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais
uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para
Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no
capitalismo moderno
Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um
importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas
10
REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva
anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que
exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11
HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12
CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora
(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181
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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a
autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva
tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de
classe
―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na
teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave
questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se
muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo
se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo
previamente determinado []
Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o
conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades
do estudo13
Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem
sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo
seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees
explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso
vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como
parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14
3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado
quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo
tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser
deixado de lado pela historiografia do trabalho
De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento
tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de
anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem
suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute
exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a
metodologia da pesquisa histoacuterica
Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum
modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria
metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente
13
LONER op cit p 29 14
COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico
ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13
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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como
fonte15
Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia
remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa
de uma evidecircncia de baixa credibilidade16
Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no
contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de
expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um
tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que
pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade
Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na
narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro
Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de
modo mais sistemaacutetico
A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-
Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi
referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos
acontecimentos de 30 e 32
as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos
Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no
Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez
se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses
lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte
agraves fugas
Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de
experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento
comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17
Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em
fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma
indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este
indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da
―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia
15
De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia
Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo
Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16
Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17
Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit
p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13
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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de
carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica
da semioacutetica da psicologia etc
Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da
Antropologia Em um deles Regina Weber18
nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo
de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou
sentimento de pertenccedila
Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila
entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como
as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso
sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico
produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais
representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e
do ―antropoacutelogo
Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um
impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a
―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa
constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado
extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade
assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos
mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as
problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os
discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas
pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste
momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-
enunciaccedilatildeo
Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees
narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda
acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu
conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso
empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19
De todo modo mesmo perguntas adequadamente
18
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19
LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar
2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]
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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas
razoavelmente adequadas para elas20
Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais
facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por
exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo
de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha
ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito
distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda
existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a
interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem
poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico
e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de
uma ―identidade da historiografia do trabalho
Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade
eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que
melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que
esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para
dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li
Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e
que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de
disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em
qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do
trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas
elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo
acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade
porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado
enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo
para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das
―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa
A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui
analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo
20
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10
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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com
outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo
―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel
como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante
para se referir agraves elites e ao seu discurso21
O outro paradigma pode ser visto em
Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como
―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua
costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo
para grupos sociais e indiviacuteduos22
Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo
das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute
interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe
operaacuteria
A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um
excelente texto antropoloacutegico23
que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por
apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas
Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e
fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era
conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas
lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila
mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe
levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para
definir tudo natildeo define nada
Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo
muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil
algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em
uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E
podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que
toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico
4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros
intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
21
BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22
FORTES op cit p 105 23
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado
na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade
Brasiacutelia jul 2000 p 15
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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute
Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute
encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou
discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi
solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24
O autor recompotildee uma seacuterie
de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo
central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar
dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a
mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da
ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia
do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e
mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado
em vaacuterios trechos25
Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de
anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos
mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de
histoacuteria de identidade antigas ou recentes
Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute
praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas
as demais ideologias de identidade coletiva) un danger
As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como
alguma versatildeo do oacutepio do povo
Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de
―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso
proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e
uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26
E isso deve acontecer na
maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o
enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia
desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural
24
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de
TELES op cit 25
Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26
HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190
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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
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Paul Veyne em seu ousado ―Como se escreve a histoacuteria foi capaz de intitular um
de seus capiacutetulos como ―Tudo eacute histoacuterico logo a histoacuteria natildeo existe4 Poderiacuteamos usar da
mesma argumentaccedilatildeo para nos perguntarmos sobre aquilo que natildeo eacute passiacutevel de
abordagem pelo termo ―identidade Ora o recorte que a liacutengua opera no real pode ateacute ser
fantasioso caso acreditemos que o real eacute um continuum natildeo obstante eacute dos poucos
recursos metodologicamente eficientes para produzirmos algum tipo de saber sobre esse
real Entatildeo eacute necessaacuterio que usemos a liacutengua para definir ndash e neste caso o termo ―definir
supotildee os jaacute mencionados recortes do real ndash mesmo que seja por exibiccedilatildeo aquilo a que nos
referimos
Eacute certo que existe uma parte da pesquisa e da proacutepria exposiccedilatildeo cientiacutefica que
comporta uma exibiccedilatildeo e isto tambeacutem vale para a historiografia5 Contudo muitas vezes
esse procedimento central de nossa praacutetica intelectual comparece nos textos
envergonhando-se de ser uma descriccedilatildeo termo que quase soa como insulto na criacutetica
historiograacutefica Satildeo nalguns desses casos que o insulto tende a ser evitado com o recurso
ao termo ―identidade Nessas condiccedilotildees a aparecircncia de conceito que tem o termo
funciona certamente como recurso linguumliacutestico da autoria da pesquisa e isso raramente
pode ser atribuiacutedo a algum tipo de maacute-feacute ou intento enganoso Creio que tende a ser efeito
de certo tipo de (e me perdoem o paradoxo aqui explicitado) ―senso comum acadecircmico
cuja atenccedilatildeo natildeo se volta a por exemplo usos do termo ―identidade que parecem
normais e aceitos mas que reage contra por exemplo o termo ―descriccedilatildeo
Parece claro que nada tenho contra a descriccedilatildeo e o caraacuteter do termo ―identidade
em alguns textos coincide (sem demeacuterito algum portanto) com essa qualificaccedilatildeo Uma
evidecircncia desse tipo de uso pode ser vista em dois exemplos (entre incontaacuteveis outros que
poderia utilizar) nos quais o termo pode ser facilmente descartado ou trocado por outro
que natildeo recenda a conceito sem que o argumento perca qualquer elemento de sua forccedila ou
fraqueza
ALVES T op cit 2007 p 23 ESPERANCcedilA op cit p 28
―Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de
funccedilotildees dentro da oficina terminava por criar uma
rede de relaccedilotildees que construiacutea uma identidade entre
―Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor
graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui
examinado evidencia um momento extremamente
4 VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008 p
25 e ss 5 SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007
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homens que se sentiam ao mesmo tempo graacuteficos-
artesatildeos e intelectuais pois comparados aos outros
operaacuterios dominavam a arte de ler e escrever
significativo para os trabalhadores atingidos por ela
natildeo apenas por envolver questotildees materiais
objetivas como salaacuterio e emprego mas porque se
refere tambeacutem agrave identidade de trabalhadores
especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso
dos graacuteficos Minha Traduccedilatildeo
Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de funccedilotildees
dentro da oficina terminava por criar uma rede de
relaccedilotildees entre homens que se sentiam ao mesmo
tempo graacuteficos-artesatildeos e intelectuais pois
comparados aos outros operaacuterios dominavam a arte
de ler e escrever
Minha Traduccedilatildeo
Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor
graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui
examinado evidencia um momento extremamente
significativo para os trabalhadores atingidos por ela
natildeo apenas por envolver questotildees materiais
objetivas como salaacuterio e emprego mas por que se
refere tambeacutem agrave condiccedilatildeo de trabalhadores
especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso
dos graacuteficos
O outro poacutelo ao qual o uso do termo ―identidade tambeacutem pode oscilar eacute algum
tipo de definiccedilatildeo geneacuterica que se refira a algo como ―percepccedilatildeo ou sentimento de
pertenccedila Isso tambeacutem aparece nas citaccedilotildees acima e de modo geral eacute assim que vem
sendo utilizado por aquelesaquelas historiadoreshistoriadoras que se ocupam em
minimamente definir o seu vocabulaacuterio baacutesico
No entanto existem vaacuterios problemas nos modos como isso eacute feito O primeiro e
mais grave eacute a utilizaccedilatildeo raacutepida ou melhor um tracircnsito brusco da famosa citaccedilatildeo de
Thompson (presente em muitos dos trabalhos acadecircmicos aqui abordados) ateacute algum tipo
de conceito ou definiccedilatildeo
Vou-me permitir citar na liacutengua original porque isso tambeacutem serve para continuar
o argumento
―And class happens when some men as a result of common
experiences (inherited or shared) feel and articulate the identity of their
interests as between themselves and as against other men whose
interests are different from (and usually opposed to) theirs6
A riqueza e a qualidade da obra de Thompson natildeo estatildeo em debate mas alguns
usos perversos de suas palavras que fazem como jaacute disse o tracircnsito brusco da ―identidade
de interesses (portanto interesses idecircnticos) agrave ―identidade de pessoas (pessoas
idecircnticas) Esse eacute certamente um tracircnsito brusco porque se o termo tivesse suficiente
relevacircncia o termo repetido na citaccedilatildeo natildeo seria aquilo que haacute de substantivo (―interests)
revelando que a versatildeo que mais faz sentido eacute aquela que adjetiva esses interesses Aleacutem
disso o termo natildeo aparece por exemplo no Iacutendice remissivo revelando quatildeo pouco ele eacute
6 THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976 p 9-10
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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que
a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter
de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria
Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa
rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do
conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo
podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da
diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a
autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e
praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente
denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e
culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves
citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8
Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute
faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de
por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e
individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que
falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees
e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como
construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de
um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute
interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns
dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os
tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos
textos
Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na
dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9
Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores
e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas
pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas
natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados
7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt
8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de
regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96
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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos
indiviacuteduos
Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de
Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com
clareza a pretensatildeo psicologizante10
Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees
poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de
vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum
Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso
natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve
levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que
melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento
eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11
Ele
demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo
Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e
razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor
um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes
enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal
Cunha12
Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o
reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos
sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma
permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu
supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de
si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo
um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que
seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais
uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para
Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no
capitalismo moderno
Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um
importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas
10
REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva
anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que
exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11
HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12
CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora
(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181
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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a
autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva
tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de
classe
―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na
teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave
questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se
muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo
se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo
previamente determinado []
Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o
conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades
do estudo13
Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem
sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo
seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees
explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso
vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como
parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14
3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado
quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo
tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser
deixado de lado pela historiografia do trabalho
De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento
tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de
anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem
suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute
exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a
metodologia da pesquisa histoacuterica
Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum
modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria
metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente
13
LONER op cit p 29 14
COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico
ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13
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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como
fonte15
Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia
remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa
de uma evidecircncia de baixa credibilidade16
Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no
contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de
expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um
tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que
pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade
Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na
narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro
Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de
modo mais sistemaacutetico
A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-
Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi
referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos
acontecimentos de 30 e 32
as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos
Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no
Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez
se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses
lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte
agraves fugas
Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de
experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento
comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17
Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em
fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma
indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este
indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da
―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia
15
De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia
Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo
Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16
Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17
Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit
p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13
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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de
carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica
da semioacutetica da psicologia etc
Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da
Antropologia Em um deles Regina Weber18
nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo
de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou
sentimento de pertenccedila
Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila
entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como
as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso
sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico
produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais
representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e
do ―antropoacutelogo
Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um
impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a
―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa
constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado
extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade
assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos
mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as
problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os
discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas
pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste
momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-
enunciaccedilatildeo
Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees
narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda
acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu
conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso
empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19
De todo modo mesmo perguntas adequadamente
18
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19
LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar
2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]
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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas
razoavelmente adequadas para elas20
Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais
facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por
exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo
de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha
ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito
distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda
existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a
interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem
poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico
e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de
uma ―identidade da historiografia do trabalho
Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade
eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que
melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que
esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para
dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li
Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e
que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de
disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em
qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do
trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas
elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo
acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade
porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado
enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo
para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das
―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa
A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui
analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo
20
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10
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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com
outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo
―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel
como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante
para se referir agraves elites e ao seu discurso21
O outro paradigma pode ser visto em
Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como
―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua
costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo
para grupos sociais e indiviacuteduos22
Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo
das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute
interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe
operaacuteria
A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um
excelente texto antropoloacutegico23
que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por
apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas
Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e
fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era
conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas
lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila
mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe
levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para
definir tudo natildeo define nada
Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo
muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil
algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em
uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E
podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que
toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico
4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros
intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
21
BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22
FORTES op cit p 105 23
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado
na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade
Brasiacutelia jul 2000 p 15
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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute
Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute
encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou
discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi
solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24
O autor recompotildee uma seacuterie
de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo
central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar
dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a
mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da
ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia
do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e
mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado
em vaacuterios trechos25
Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de
anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos
mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de
histoacuteria de identidade antigas ou recentes
Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute
praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas
as demais ideologias de identidade coletiva) un danger
As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como
alguma versatildeo do oacutepio do povo
Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de
―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso
proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e
uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26
E isso deve acontecer na
maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o
enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia
desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural
24
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de
TELES op cit 25
Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26
HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190
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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
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homens que se sentiam ao mesmo tempo graacuteficos-
artesatildeos e intelectuais pois comparados aos outros
operaacuterios dominavam a arte de ler e escrever
significativo para os trabalhadores atingidos por ela
natildeo apenas por envolver questotildees materiais
objetivas como salaacuterio e emprego mas porque se
refere tambeacutem agrave identidade de trabalhadores
especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso
dos graacuteficos Minha Traduccedilatildeo
Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de funccedilotildees
dentro da oficina terminava por criar uma rede de
relaccedilotildees entre homens que se sentiam ao mesmo
tempo graacuteficos-artesatildeos e intelectuais pois
comparados aos outros operaacuterios dominavam a arte
de ler e escrever
Minha Traduccedilatildeo
Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor
graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui
examinado evidencia um momento extremamente
significativo para os trabalhadores atingidos por ela
natildeo apenas por envolver questotildees materiais
objetivas como salaacuterio e emprego mas por que se
refere tambeacutem agrave condiccedilatildeo de trabalhadores
especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso
dos graacuteficos
O outro poacutelo ao qual o uso do termo ―identidade tambeacutem pode oscilar eacute algum
tipo de definiccedilatildeo geneacuterica que se refira a algo como ―percepccedilatildeo ou sentimento de
pertenccedila Isso tambeacutem aparece nas citaccedilotildees acima e de modo geral eacute assim que vem
sendo utilizado por aquelesaquelas historiadoreshistoriadoras que se ocupam em
minimamente definir o seu vocabulaacuterio baacutesico
No entanto existem vaacuterios problemas nos modos como isso eacute feito O primeiro e
mais grave eacute a utilizaccedilatildeo raacutepida ou melhor um tracircnsito brusco da famosa citaccedilatildeo de
Thompson (presente em muitos dos trabalhos acadecircmicos aqui abordados) ateacute algum tipo
de conceito ou definiccedilatildeo
Vou-me permitir citar na liacutengua original porque isso tambeacutem serve para continuar
o argumento
―And class happens when some men as a result of common
experiences (inherited or shared) feel and articulate the identity of their
interests as between themselves and as against other men whose
interests are different from (and usually opposed to) theirs6
A riqueza e a qualidade da obra de Thompson natildeo estatildeo em debate mas alguns
usos perversos de suas palavras que fazem como jaacute disse o tracircnsito brusco da ―identidade
de interesses (portanto interesses idecircnticos) agrave ―identidade de pessoas (pessoas
idecircnticas) Esse eacute certamente um tracircnsito brusco porque se o termo tivesse suficiente
relevacircncia o termo repetido na citaccedilatildeo natildeo seria aquilo que haacute de substantivo (―interests)
revelando que a versatildeo que mais faz sentido eacute aquela que adjetiva esses interesses Aleacutem
disso o termo natildeo aparece por exemplo no Iacutendice remissivo revelando quatildeo pouco ele eacute
6 THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976 p 9-10
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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que
a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter
de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria
Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa
rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do
conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo
podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da
diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a
autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e
praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente
denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e
culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves
citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8
Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute
faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de
por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e
individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que
falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees
e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como
construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de
um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute
interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns
dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os
tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos
textos
Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na
dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9
Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores
e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas
pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas
natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados
7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt
8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de
regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96
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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos
indiviacuteduos
Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de
Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com
clareza a pretensatildeo psicologizante10
Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees
poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de
vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum
Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso
natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve
levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que
melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento
eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11
Ele
demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo
Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e
razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor
um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes
enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal
Cunha12
Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o
reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos
sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma
permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu
supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de
si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo
um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que
seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais
uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para
Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no
capitalismo moderno
Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um
importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas
10
REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva
anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que
exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11
HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12
CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora
(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181
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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a
autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva
tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de
classe
―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na
teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave
questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se
muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo
se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo
previamente determinado []
Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o
conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades
do estudo13
Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem
sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo
seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees
explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso
vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como
parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14
3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado
quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo
tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser
deixado de lado pela historiografia do trabalho
De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento
tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de
anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem
suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute
exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a
metodologia da pesquisa histoacuterica
Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum
modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria
metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente
13
LONER op cit p 29 14
COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico
ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13
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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como
fonte15
Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia
remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa
de uma evidecircncia de baixa credibilidade16
Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no
contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de
expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um
tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que
pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade
Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na
narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro
Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de
modo mais sistemaacutetico
A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-
Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi
referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos
acontecimentos de 30 e 32
as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos
Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no
Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez
se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses
lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte
agraves fugas
Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de
experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento
comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17
Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em
fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma
indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este
indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da
―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia
15
De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia
Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo
Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16
Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17
Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit
p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13
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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de
carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica
da semioacutetica da psicologia etc
Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da
Antropologia Em um deles Regina Weber18
nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo
de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou
sentimento de pertenccedila
Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila
entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como
as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso
sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico
produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais
representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e
do ―antropoacutelogo
Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um
impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a
―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa
constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado
extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade
assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos
mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as
problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os
discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas
pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste
momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-
enunciaccedilatildeo
Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees
narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda
acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu
conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso
empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19
De todo modo mesmo perguntas adequadamente
18
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19
LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar
2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]
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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas
razoavelmente adequadas para elas20
Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais
facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por
exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo
de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha
ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito
distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda
existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a
interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem
poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico
e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de
uma ―identidade da historiografia do trabalho
Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade
eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que
melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que
esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para
dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li
Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e
que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de
disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em
qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do
trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas
elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo
acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade
porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado
enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo
para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das
―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa
A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui
analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo
20
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10
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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com
outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo
―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel
como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante
para se referir agraves elites e ao seu discurso21
O outro paradigma pode ser visto em
Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como
―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua
costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo
para grupos sociais e indiviacuteduos22
Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo
das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute
interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe
operaacuteria
A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um
excelente texto antropoloacutegico23
que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por
apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas
Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e
fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era
conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas
lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila
mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe
levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para
definir tudo natildeo define nada
Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo
muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil
algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em
uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E
podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que
toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico
4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros
intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
21
BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22
FORTES op cit p 105 23
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado
na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade
Brasiacutelia jul 2000 p 15
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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute
Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute
encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou
discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi
solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24
O autor recompotildee uma seacuterie
de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo
central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar
dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a
mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da
ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia
do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e
mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado
em vaacuterios trechos25
Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de
anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos
mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de
histoacuteria de identidade antigas ou recentes
Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute
praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas
as demais ideologias de identidade coletiva) un danger
As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como
alguma versatildeo do oacutepio do povo
Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de
―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso
proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e
uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26
E isso deve acontecer na
maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o
enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia
desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural
24
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de
TELES op cit 25
Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26
HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190
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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que
a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter
de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria
Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa
rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do
conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo
podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da
diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a
autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e
praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente
denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e
culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves
citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8
Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute
faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de
por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e
individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que
falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees
e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como
construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de
um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute
interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns
dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os
tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos
textos
Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na
dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9
Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores
e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas
pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas
natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados
7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt
8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de
regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96
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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos
indiviacuteduos
Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de
Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com
clareza a pretensatildeo psicologizante10
Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees
poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de
vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum
Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso
natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve
levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que
melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento
eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11
Ele
demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo
Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e
razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor
um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes
enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal
Cunha12
Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o
reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos
sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma
permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu
supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de
si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo
um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que
seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais
uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para
Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no
capitalismo moderno
Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um
importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas
10
REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva
anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que
exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11
HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12
CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora
(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181
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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a
autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva
tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de
classe
―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na
teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave
questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se
muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo
se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo
previamente determinado []
Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o
conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades
do estudo13
Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem
sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo
seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees
explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso
vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como
parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14
3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado
quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo
tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser
deixado de lado pela historiografia do trabalho
De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento
tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de
anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem
suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute
exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a
metodologia da pesquisa histoacuterica
Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum
modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria
metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente
13
LONER op cit p 29 14
COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico
ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13
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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como
fonte15
Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia
remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa
de uma evidecircncia de baixa credibilidade16
Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no
contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de
expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um
tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que
pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade
Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na
narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro
Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de
modo mais sistemaacutetico
A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-
Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi
referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos
acontecimentos de 30 e 32
as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos
Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no
Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez
se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses
lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte
agraves fugas
Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de
experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento
comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17
Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em
fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma
indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este
indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da
―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia
15
De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia
Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo
Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16
Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17
Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit
p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13
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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de
carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica
da semioacutetica da psicologia etc
Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da
Antropologia Em um deles Regina Weber18
nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo
de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou
sentimento de pertenccedila
Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila
entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como
as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso
sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico
produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais
representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e
do ―antropoacutelogo
Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um
impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a
―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa
constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado
extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade
assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos
mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as
problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os
discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas
pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste
momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-
enunciaccedilatildeo
Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees
narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda
acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu
conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso
empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19
De todo modo mesmo perguntas adequadamente
18
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19
LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar
2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]
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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas
razoavelmente adequadas para elas20
Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais
facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por
exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo
de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha
ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito
distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda
existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a
interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem
poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico
e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de
uma ―identidade da historiografia do trabalho
Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade
eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que
melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que
esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para
dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li
Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e
que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de
disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em
qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do
trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas
elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo
acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade
porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado
enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo
para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das
―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa
A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui
analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo
20
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10
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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com
outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo
―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel
como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante
para se referir agraves elites e ao seu discurso21
O outro paradigma pode ser visto em
Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como
―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua
costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo
para grupos sociais e indiviacuteduos22
Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo
das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute
interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe
operaacuteria
A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um
excelente texto antropoloacutegico23
que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por
apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas
Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e
fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era
conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas
lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila
mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe
levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para
definir tudo natildeo define nada
Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo
muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil
algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em
uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E
podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que
toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico
4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros
intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
21
BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22
FORTES op cit p 105 23
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado
na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade
Brasiacutelia jul 2000 p 15
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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute
Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute
encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou
discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi
solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24
O autor recompotildee uma seacuterie
de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo
central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar
dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a
mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da
ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia
do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e
mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado
em vaacuterios trechos25
Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de
anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos
mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de
histoacuteria de identidade antigas ou recentes
Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute
praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas
as demais ideologias de identidade coletiva) un danger
As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como
alguma versatildeo do oacutepio do povo
Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de
―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso
proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e
uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26
E isso deve acontecer na
maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o
enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia
desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural
24
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de
TELES op cit 25
Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26
HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190
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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos
indiviacuteduos
Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de
Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com
clareza a pretensatildeo psicologizante10
Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees
poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de
vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum
Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso
natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve
levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que
melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento
eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11
Ele
demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo
Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e
razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor
um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes
enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal
Cunha12
Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o
reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos
sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma
permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu
supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de
si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo
um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que
seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais
uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para
Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no
capitalismo moderno
Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um
importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas
10
REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva
anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que
exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11
HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12
CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora
(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181
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11
que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a
autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva
tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de
classe
―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na
teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave
questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se
muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo
se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo
previamente determinado []
Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o
conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades
do estudo13
Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem
sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo
seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees
explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso
vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como
parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14
3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado
quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo
tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser
deixado de lado pela historiografia do trabalho
De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento
tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de
anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem
suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute
exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a
metodologia da pesquisa histoacuterica
Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum
modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria
metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente
13
LONER op cit p 29 14
COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico
ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13
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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como
fonte15
Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia
remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa
de uma evidecircncia de baixa credibilidade16
Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no
contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de
expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um
tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que
pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade
Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na
narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro
Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de
modo mais sistemaacutetico
A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-
Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi
referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos
acontecimentos de 30 e 32
as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos
Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no
Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez
se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses
lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte
agraves fugas
Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de
experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento
comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17
Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em
fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma
indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este
indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da
―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia
15
De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia
Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo
Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16
Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17
Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit
p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13
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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de
carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica
da semioacutetica da psicologia etc
Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da
Antropologia Em um deles Regina Weber18
nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo
de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou
sentimento de pertenccedila
Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila
entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como
as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso
sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico
produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais
representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e
do ―antropoacutelogo
Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um
impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a
―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa
constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado
extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade
assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos
mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as
problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os
discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas
pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste
momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-
enunciaccedilatildeo
Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees
narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda
acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu
conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso
empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19
De todo modo mesmo perguntas adequadamente
18
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19
LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar
2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]
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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas
razoavelmente adequadas para elas20
Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais
facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por
exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo
de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha
ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito
distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda
existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a
interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem
poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico
e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de
uma ―identidade da historiografia do trabalho
Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade
eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que
melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que
esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para
dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li
Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e
que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de
disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em
qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do
trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas
elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo
acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade
porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado
enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo
para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das
―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa
A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui
analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo
20
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10
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15
a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com
outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo
―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel
como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante
para se referir agraves elites e ao seu discurso21
O outro paradigma pode ser visto em
Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como
―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua
costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo
para grupos sociais e indiviacuteduos22
Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo
das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute
interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe
operaacuteria
A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um
excelente texto antropoloacutegico23
que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por
apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas
Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e
fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era
conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas
lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila
mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe
levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para
definir tudo natildeo define nada
Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo
muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil
algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em
uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E
podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que
toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico
4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros
intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
21
BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22
FORTES op cit p 105 23
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado
na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade
Brasiacutelia jul 2000 p 15
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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute
Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute
encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou
discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi
solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24
O autor recompotildee uma seacuterie
de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo
central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar
dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a
mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da
ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia
do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e
mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado
em vaacuterios trechos25
Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de
anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos
mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de
histoacuteria de identidade antigas ou recentes
Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute
praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas
as demais ideologias de identidade coletiva) un danger
As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como
alguma versatildeo do oacutepio do povo
Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de
―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso
proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e
uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26
E isso deve acontecer na
maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o
enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia
desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural
24
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de
TELES op cit 25
Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26
HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190
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17
social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
Bibliografia ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na
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BARTZ Frederico Duarte O Horizonte Vermelho o impacto da revoluccedilatildeo russa no movimento operaacuterio do
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BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria institucional nos estudos
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BATALHA Claacuteudio H SILVA Fernando Teixeira da FORTES Alexandre (orgs) Culturas de Classe
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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a
autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva
tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de
classe
―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na
teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave
questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se
muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo
se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo
previamente determinado []
Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o
conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades
do estudo13
Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem
sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo
seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees
explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso
vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como
parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14
3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado
quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo
tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser
deixado de lado pela historiografia do trabalho
De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento
tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de
anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem
suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute
exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a
metodologia da pesquisa histoacuterica
Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum
modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria
metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente
13
LONER op cit p 29 14
COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico
ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13
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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como
fonte15
Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia
remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa
de uma evidecircncia de baixa credibilidade16
Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no
contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de
expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um
tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que
pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade
Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na
narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro
Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de
modo mais sistemaacutetico
A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-
Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi
referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos
acontecimentos de 30 e 32
as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos
Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no
Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez
se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses
lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte
agraves fugas
Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de
experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento
comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17
Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em
fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma
indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este
indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da
―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia
15
De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia
Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo
Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16
Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17
Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit
p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13
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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de
carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica
da semioacutetica da psicologia etc
Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da
Antropologia Em um deles Regina Weber18
nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo
de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou
sentimento de pertenccedila
Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila
entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como
as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso
sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico
produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais
representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e
do ―antropoacutelogo
Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um
impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a
―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa
constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado
extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade
assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos
mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as
problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os
discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas
pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste
momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-
enunciaccedilatildeo
Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees
narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda
acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu
conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso
empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19
De todo modo mesmo perguntas adequadamente
18
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19
LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar
2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]
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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas
razoavelmente adequadas para elas20
Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais
facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por
exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo
de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha
ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito
distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda
existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a
interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem
poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico
e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de
uma ―identidade da historiografia do trabalho
Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade
eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que
melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que
esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para
dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li
Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e
que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de
disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em
qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do
trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas
elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo
acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade
porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado
enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo
para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das
―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa
A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui
analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo
20
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10
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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com
outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo
―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel
como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante
para se referir agraves elites e ao seu discurso21
O outro paradigma pode ser visto em
Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como
―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua
costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo
para grupos sociais e indiviacuteduos22
Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo
das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute
interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe
operaacuteria
A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um
excelente texto antropoloacutegico23
que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por
apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas
Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e
fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era
conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas
lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila
mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe
levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para
definir tudo natildeo define nada
Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo
muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil
algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em
uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E
podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que
toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico
4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros
intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
21
BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22
FORTES op cit p 105 23
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado
na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade
Brasiacutelia jul 2000 p 15
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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute
Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute
encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou
discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi
solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24
O autor recompotildee uma seacuterie
de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo
central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar
dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a
mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da
ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia
do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e
mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado
em vaacuterios trechos25
Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de
anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos
mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de
histoacuteria de identidade antigas ou recentes
Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute
praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas
as demais ideologias de identidade coletiva) un danger
As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como
alguma versatildeo do oacutepio do povo
Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de
―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso
proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e
uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26
E isso deve acontecer na
maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o
enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia
desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural
24
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de
TELES op cit 25
Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26
HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190
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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como
fonte15
Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia
remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa
de uma evidecircncia de baixa credibilidade16
Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no
contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de
expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um
tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que
pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade
Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na
narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro
Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de
modo mais sistemaacutetico
A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-
Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi
referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos
acontecimentos de 30 e 32
as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos
Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no
Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez
se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses
lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte
agraves fugas
Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de
experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento
comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17
Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em
fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma
indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este
indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da
―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia
15
De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia
Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo
Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16
Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17
Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit
p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13
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13
numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de
carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica
da semioacutetica da psicologia etc
Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da
Antropologia Em um deles Regina Weber18
nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo
de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou
sentimento de pertenccedila
Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila
entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como
as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso
sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico
produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais
representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e
do ―antropoacutelogo
Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um
impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a
―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa
constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado
extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade
assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos
mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as
problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os
discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas
pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste
momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-
enunciaccedilatildeo
Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees
narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda
acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu
conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso
empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19
De todo modo mesmo perguntas adequadamente
18
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19
LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar
2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]
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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas
razoavelmente adequadas para elas20
Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais
facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por
exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo
de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha
ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito
distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda
existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a
interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem
poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico
e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de
uma ―identidade da historiografia do trabalho
Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade
eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que
melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que
esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para
dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li
Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e
que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de
disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em
qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do
trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas
elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo
acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade
porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado
enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo
para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das
―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa
A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui
analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo
20
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10
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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com
outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo
―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel
como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante
para se referir agraves elites e ao seu discurso21
O outro paradigma pode ser visto em
Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como
―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua
costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo
para grupos sociais e indiviacuteduos22
Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo
das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute
interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe
operaacuteria
A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um
excelente texto antropoloacutegico23
que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por
apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas
Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e
fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era
conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas
lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila
mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe
levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para
definir tudo natildeo define nada
Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo
muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil
algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em
uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E
podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que
toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico
4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros
intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
21
BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22
FORTES op cit p 105 23
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado
na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade
Brasiacutelia jul 2000 p 15
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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute
Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute
encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou
discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi
solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24
O autor recompotildee uma seacuterie
de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo
central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar
dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a
mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da
ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia
do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e
mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado
em vaacuterios trechos25
Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de
anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos
mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de
histoacuteria de identidade antigas ou recentes
Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute
praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas
as demais ideologias de identidade coletiva) un danger
As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como
alguma versatildeo do oacutepio do povo
Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de
―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso
proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e
uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26
E isso deve acontecer na
maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o
enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia
desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural
24
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de
TELES op cit 25
Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26
HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190
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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de
carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica
da semioacutetica da psicologia etc
Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da
Antropologia Em um deles Regina Weber18
nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo
de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou
sentimento de pertenccedila
Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila
entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como
as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso
sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico
produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais
representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e
do ―antropoacutelogo
Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um
impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a
―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa
constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado
extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade
assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos
mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as
problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os
discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas
pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste
momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-
enunciaccedilatildeo
Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees
narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda
acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu
conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso
empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19
De todo modo mesmo perguntas adequadamente
18
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19
LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar
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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas
razoavelmente adequadas para elas20
Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais
facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por
exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo
de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha
ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito
distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda
existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a
interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem
poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico
e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de
uma ―identidade da historiografia do trabalho
Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade
eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que
melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que
esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para
dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li
Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e
que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de
disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em
qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do
trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas
elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo
acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade
porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado
enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo
para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das
―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa
A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui
analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo
20
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10
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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com
outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo
―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel
como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante
para se referir agraves elites e ao seu discurso21
O outro paradigma pode ser visto em
Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como
―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua
costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo
para grupos sociais e indiviacuteduos22
Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo
das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute
interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe
operaacuteria
A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um
excelente texto antropoloacutegico23
que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por
apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas
Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e
fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era
conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas
lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila
mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe
levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para
definir tudo natildeo define nada
Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo
muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil
algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em
uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E
podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que
toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico
4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros
intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
21
BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22
FORTES op cit p 105 23
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado
na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade
Brasiacutelia jul 2000 p 15
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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute
Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute
encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou
discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi
solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24
O autor recompotildee uma seacuterie
de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo
central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar
dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a
mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da
ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia
do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e
mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado
em vaacuterios trechos25
Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de
anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos
mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de
histoacuteria de identidade antigas ou recentes
Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute
praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas
as demais ideologias de identidade coletiva) un danger
As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como
alguma versatildeo do oacutepio do povo
Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de
―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso
proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e
uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26
E isso deve acontecer na
maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o
enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia
desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural
24
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de
TELES op cit 25
Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26
HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190
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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas
razoavelmente adequadas para elas20
Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais
facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por
exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo
de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha
ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito
distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda
existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a
interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem
poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico
e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de
uma ―identidade da historiografia do trabalho
Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade
eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que
melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que
esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para
dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li
Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e
que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de
disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em
qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do
trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas
elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo
acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade
porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado
enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo
para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das
―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa
A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui
analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo
20
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10
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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com
outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo
―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel
como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante
para se referir agraves elites e ao seu discurso21
O outro paradigma pode ser visto em
Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como
―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua
costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo
para grupos sociais e indiviacuteduos22
Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo
das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute
interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe
operaacuteria
A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um
excelente texto antropoloacutegico23
que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por
apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas
Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e
fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era
conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas
lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila
mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe
levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para
definir tudo natildeo define nada
Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo
muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil
algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em
uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E
podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que
toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico
4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros
intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
21
BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22
FORTES op cit p 105 23
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado
na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade
Brasiacutelia jul 2000 p 15
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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute
Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute
encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou
discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi
solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24
O autor recompotildee uma seacuterie
de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo
central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar
dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a
mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da
ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia
do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e
mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado
em vaacuterios trechos25
Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de
anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos
mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de
histoacuteria de identidade antigas ou recentes
Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute
praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas
as demais ideologias de identidade coletiva) un danger
As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como
alguma versatildeo do oacutepio do povo
Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de
―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso
proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e
uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26
E isso deve acontecer na
maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o
enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia
desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural
24
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de
TELES op cit 25
Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26
HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190
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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com
outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo
―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel
como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante
para se referir agraves elites e ao seu discurso21
O outro paradigma pode ser visto em
Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como
―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua
costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo
para grupos sociais e indiviacuteduos22
Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo
das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute
interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe
operaacuteria
A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um
excelente texto antropoloacutegico23
que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por
apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas
Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e
fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era
conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas
lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila
mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe
levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para
definir tudo natildeo define nada
Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo
muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil
algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em
uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E
podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que
toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico
4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros
intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo
21
BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22
FORTES op cit p 105 23
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado
na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade
Brasiacutelia jul 2000 p 15
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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute
Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute
encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou
discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi
solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24
O autor recompotildee uma seacuterie
de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo
central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar
dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a
mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da
ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia
do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e
mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado
em vaacuterios trechos25
Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de
anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos
mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de
histoacuteria de identidade antigas ou recentes
Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute
praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas
as demais ideologias de identidade coletiva) un danger
As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como
alguma versatildeo do oacutepio do povo
Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de
―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso
proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e
uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26
E isso deve acontecer na
maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o
enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia
desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural
24
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de
TELES op cit 25
Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26
HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190
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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo
pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo
Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute
Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute
encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou
discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi
solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24
O autor recompotildee uma seacuterie
de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo
central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar
dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a
mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da
ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia
do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e
mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado
em vaacuterios trechos25
Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de
anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos
mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de
histoacuteria de identidade antigas ou recentes
Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute
praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas
as demais ideologias de identidade coletiva) un danger
As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como
alguma versatildeo do oacutepio do povo
Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de
―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso
proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e
uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26
E isso deve acontecer na
maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o
enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia
desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural
24
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de
TELES op cit 25
Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26
HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190
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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida
historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa
emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade
Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de
―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido
amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica
para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E
considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande
do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de
discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O
sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do
trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo
mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador
do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel
sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo
desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a
preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais
confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute
demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como
os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm
fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho
historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de
fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo
discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir
e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo
os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da
escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe
Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de
fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos
objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao
inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres
humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
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existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
Bibliografia ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na
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set1991ago1992
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complexo cimenteiro do Brasil Satildeo Paulo 1925 ndash 1945 Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP)
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I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
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socorros-muacutetuos dos trabalhadores em Florianoacutepolis ndash Santa Catarina (1886-1932) Campinas dissertaccedilatildeo
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I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode
configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo
Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito
uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que
vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas
se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor
definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27
5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos
Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora
depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo
sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28
E satildeo duas as
respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e
porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo
terminou
A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo
diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de
classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para
pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores
que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos
dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se
quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de
―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e
contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo
27
Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a
tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees
cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das
sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)
recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica
e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees
desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um
agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo
Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise
tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28
Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade
das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria
institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
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ARAUacuteJO NETO Adalberto Coutinho de Entre a revoluccedilatildeo e o corporativismo a experiecircncia sindical dos
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Rio Grande do Sul 1917-1920 Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2008
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Tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2001
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LONER Beatriz Ana Classe operaacuteria mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo em Pelotas 1888 ndash 1937 Porto Alegre
1999 Tese (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia) ndash IFCH UFRGS 1999
LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar
2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm
MACIEL Osvaldo Batista Acioly Filhos do Trabalho Apoacutestolos do Socialismo os tipoacutegrafos e a
construccedilatildeo de uma identidade de classe em Maceioacute (18951905) Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE)
2004
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado na
XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade Brasiacutelia
jul 2000
MONTEIRO Claudia ldquoFora dos trilhosrdquo as experiecircncias da militacircncia comunista na rede de viaccedilatildeo
Paranaacute-Santa Catarina (1934-1945) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2007
MORAIS Naacutegila Maia de ldquoTodo cais eacute uma saudade de pedrardquo repressatildeo e morte dos trabalhadores
catraieiros (1903-1904) Fortaleza dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFCE) 2009
MOREIRA Vagner Joseacute Memoacuterias e histoacuterias de trabalhadores em luta pela terra Fernandoacutepolis-SP
1946-1964 Uberlacircndia tese (Histoacuteria ndash UFU) 2009
NOMELINI Paula Christina Bin Associaccedilotildees operaacuterias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-
1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-UNICAMP 2007)
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002
OLIVEIRA Tiago Bernardon de Mobilizaccedilatildeo operaacuteria na Repuacuteblica excludente Um estudo comparativo
da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e Rio Grande do Sul
nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2003
OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do trabalho
mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese (Histoacuteria ndash
UNICAMP) 2002
PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a dinacircmica agraacuteria tradicional
(freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese (Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP)
2008
I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
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PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de uma Idea Lisboa (Histoacuteria
Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008
PETERSEN S R F Comentaacuterios sobre a conferecircncia HISTOacuteRIA OPERAacuteRIA NO RIO GRANDE DO
SUL proferida pela Profa Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo Leopoldo RS v SN p 81-92 2001
QUEIROacuteS Ceacutesar Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social
(1895-1919) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000
REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de
sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP) Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria
Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006
RIBEIRO JUacuteNIOR Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do
trabalhador nacional Minas Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em
Histoacuteria ndash UnB) 2008
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981
SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e cultura dos trabalhadores
urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008
SENA Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo
(im)possiacutevel 1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007
SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas
(estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)
SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007
SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de
Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009
SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da
induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)
2001
SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer
em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002
SOUZA Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados
em Franca (1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003
TELES Luciano Everton Costa A Vida Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920)
Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM) 2008
THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARAacute
VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica Rio Tinto
(Paraiacuteba 1959-1964) Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008
VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008
VIVIAN Diego Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da
categoria dos vigias de embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UFRGS) 2008
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 p 189-197 jun 2006
I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a
identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as
limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto
desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte
consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem
variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em
condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados
(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre
Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios
deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e
pequenos produtores29
Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na
conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees
que deve apenas preceder a tentativa de teorizar
Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando
porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de
ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que
podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas
Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito
coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for
explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato
como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica
Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a
resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que
supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs
pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em
qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a
burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o
proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos
associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses
existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar
29
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
haver criteacuterios sacros para a lideranccedila
Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo
formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores
tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
Bibliografia ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na
Primeira Repuacuteblica Juiz de Fora dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFJF) 2007
ALVES Walter De Assis Trabalhadores tecircxteis em Trecircs Lagoas-MS experiecircncias de trabalho praacuteticas
sociais e atuaccedilotildees poliacuteticas Uberlacircndia dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFU) 2009
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BARTZ Frederico Duarte O Horizonte Vermelho o impacto da revoluccedilatildeo russa no movimento operaacuterio do
Rio Grande do Sul 1917-1920 Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2008
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integralista do estado de Satildeo Paulo (1932-1943) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2004
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CORREcircA Larissa Rosa Trabalhadores tecircxteis e metaluacutergicos a caminho da Justiccedila do Trabalho leis e
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de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 171-186
ESPERANCcedilA Clarice Gontarski A greve da oficina de chumbo O movimento de resistecircncia dos
trabalhadores da Empresa Jornaliacutestica Caldas Juacutenior (Porto Alegre 1983-1984) Porto Alegre dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UFRGS) 2007
FORTES Alexandre bdquoNoacutes do Quarto Distritohellip‟ A classe trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas
Tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2001
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KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos
soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2004
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2006
LEUCHTENBERGER Rafaela ldquoO Laacutebaro protetor da classe operaacuteriardquo As Associaccedilotildees voluntaacuterias de
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1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-UNICAMP 2007)
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Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008
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(im)possiacutevel 1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007
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categoria dos vigias de embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UFRGS) 2008
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Americanos PUCRS v XXXII n 1 p 189-197 jun 2006
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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo
apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem
existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha
etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores
sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode
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Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto
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formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a
discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores
tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo
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tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se
representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia
de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade
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Rio Grande do Sul 1917-1920 Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2008
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BATALHA Claacuteudio Henrique de Moraes Identidade da classe operaacuteria no Brasil (1880-1920) atipicidade
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BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de
regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007
BRUSANTIN Beatriz de Miranda Anauecirc paulista um estudo sobre a praacutetica poliacutetica da primeira ―cidade
integralista do estado de Satildeo Paulo (1932-1943) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2004
CASTELLUCCI Aldrin A S Trabalhadores maacutequina poliacutetica e eleiccedilotildees na Primeira Repuacuteblica
Salvador tese (Histoacuteria-UFBA) 2008
CHAVES Marcelo Antonio Da periferia ao centro da(o) capital perfil dos trabalhadores do primeiro
complexo cimenteiro do Brasil Satildeo Paulo 1925 ndash 1945 Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP)
2005
I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
21
CORREcircA Anderson Romaacuterio Pereira Movimento operaacuterio em Alegrete a presenccedila de imigrantes e
estrangeiros (1897 ndash 1929) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-PUCRS) 2010
CORREcircA Larissa Rosa Trabalhadores tecircxteis e metaluacutergicos a caminho da Justiccedila do Trabalho leis e
direitos na cidade de Satildeo Paulo 1953 a 1964 Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2007
COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico ao
reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 7-22
CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora (Rio
de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 171-186
ESPERANCcedilA Clarice Gontarski A greve da oficina de chumbo O movimento de resistecircncia dos
trabalhadores da Empresa Jornaliacutestica Caldas Juacutenior (Porto Alegre 1983-1984) Porto Alegre dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UFRGS) 2007
FORTES Alexandre bdquoNoacutes do Quarto Distritohellip‟ A classe trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas
Tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2001
FRACCARO Glaucia Cristina Frandian Morigerados e revoltados Trabalho e organizaccedilatildeo de ferroviaacuterios
da Central do Brasil e da Leopoldina (1889-1920) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2008
HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292
KAREPOVS Dainis A Esquerda e o Parlamento no Brasil o Bloco Operaacuterio e Camponecircs (1924-1930)
Satildeo Paulo Tese (Histoacuteria-USP) 2002
KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos
soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2004
KONRAD Glaucia Vieira Ramos Os trabalhadores e o Estado Novo no Rio Grande do Sul um retrato da
sociedade e do mundo do trabalho (1937-1945) Campinas tese (Histoacuteria Social do Trabalho-UNICAMP)
2006
LEUCHTENBERGER Rafaela ldquoO Laacutebaro protetor da classe operaacuteriardquo As Associaccedilotildees voluntaacuterias de
socorros-muacutetuos dos trabalhadores em Florianoacutepolis ndash Santa Catarina (1886-1932) Campinas dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UNICAMP) 2009
LONER Beatriz Ana Classe operaacuteria mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo em Pelotas 1888 ndash 1937 Porto Alegre
1999 Tese (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia) ndash IFCH UFRGS 1999
LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar
2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm
MACIEL Osvaldo Batista Acioly Filhos do Trabalho Apoacutestolos do Socialismo os tipoacutegrafos e a
construccedilatildeo de uma identidade de classe em Maceioacute (18951905) Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE)
2004
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado na
XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade Brasiacutelia
jul 2000
MONTEIRO Claudia ldquoFora dos trilhosrdquo as experiecircncias da militacircncia comunista na rede de viaccedilatildeo
Paranaacute-Santa Catarina (1934-1945) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2007
MORAIS Naacutegila Maia de ldquoTodo cais eacute uma saudade de pedrardquo repressatildeo e morte dos trabalhadores
catraieiros (1903-1904) Fortaleza dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFCE) 2009
MOREIRA Vagner Joseacute Memoacuterias e histoacuterias de trabalhadores em luta pela terra Fernandoacutepolis-SP
1946-1964 Uberlacircndia tese (Histoacuteria ndash UFU) 2009
NOMELINI Paula Christina Bin Associaccedilotildees operaacuterias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-
1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-UNICAMP 2007)
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002
OLIVEIRA Tiago Bernardon de Mobilizaccedilatildeo operaacuteria na Repuacuteblica excludente Um estudo comparativo
da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e Rio Grande do Sul
nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2003
OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do trabalho
mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese (Histoacuteria ndash
UNICAMP) 2002
PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a dinacircmica agraacuteria tradicional
(freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese (Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP)
2008
I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
22
PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de uma Idea Lisboa (Histoacuteria
Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008
PETERSEN S R F Comentaacuterios sobre a conferecircncia HISTOacuteRIA OPERAacuteRIA NO RIO GRANDE DO
SUL proferida pela Profa Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo Leopoldo RS v SN p 81-92 2001
QUEIROacuteS Ceacutesar Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social
(1895-1919) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000
REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de
sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP) Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria
Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006
RIBEIRO JUacuteNIOR Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do
trabalhador nacional Minas Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em
Histoacuteria ndash UnB) 2008
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981
SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e cultura dos trabalhadores
urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008
SENA Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo
(im)possiacutevel 1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007
SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas
(estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)
SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007
SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de
Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009
SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da
induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)
2001
SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer
em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002
SOUZA Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados
em Franca (1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003
TELES Luciano Everton Costa A Vida Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920)
Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM) 2008
THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARAacute
VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica Rio Tinto
(Paraiacuteba 1959-1964) Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008
VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008
VIVIAN Diego Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da
categoria dos vigias de embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UFRGS) 2008
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 p 189-197 jun 2006
I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
21
CORREcircA Anderson Romaacuterio Pereira Movimento operaacuterio em Alegrete a presenccedila de imigrantes e
estrangeiros (1897 ndash 1929) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-PUCRS) 2010
CORREcircA Larissa Rosa Trabalhadores tecircxteis e metaluacutergicos a caminho da Justiccedila do Trabalho leis e
direitos na cidade de Satildeo Paulo 1953 a 1964 Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2007
COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico ao
reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 7-22
CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora (Rio
de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 171-186
ESPERANCcedilA Clarice Gontarski A greve da oficina de chumbo O movimento de resistecircncia dos
trabalhadores da Empresa Jornaliacutestica Caldas Juacutenior (Porto Alegre 1983-1984) Porto Alegre dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UFRGS) 2007
FORTES Alexandre bdquoNoacutes do Quarto Distritohellip‟ A classe trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas
Tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2001
FRACCARO Glaucia Cristina Frandian Morigerados e revoltados Trabalho e organizaccedilatildeo de ferroviaacuterios
da Central do Brasil e da Leopoldina (1889-1920) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2008
HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999
HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras
1998 p 281-292
KAREPOVS Dainis A Esquerda e o Parlamento no Brasil o Bloco Operaacuterio e Camponecircs (1924-1930)
Satildeo Paulo Tese (Histoacuteria-USP) 2002
KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos
soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2004
KONRAD Glaucia Vieira Ramos Os trabalhadores e o Estado Novo no Rio Grande do Sul um retrato da
sociedade e do mundo do trabalho (1937-1945) Campinas tese (Histoacuteria Social do Trabalho-UNICAMP)
2006
LEUCHTENBERGER Rafaela ldquoO Laacutebaro protetor da classe operaacuteriardquo As Associaccedilotildees voluntaacuterias de
socorros-muacutetuos dos trabalhadores em Florianoacutepolis ndash Santa Catarina (1886-1932) Campinas dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UNICAMP) 2009
LONER Beatriz Ana Classe operaacuteria mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo em Pelotas 1888 ndash 1937 Porto Alegre
1999 Tese (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia) ndash IFCH UFRGS 1999
LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar
2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm
MACIEL Osvaldo Batista Acioly Filhos do Trabalho Apoacutestolos do Socialismo os tipoacutegrafos e a
construccedilatildeo de uma identidade de classe em Maceioacute (18951905) Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE)
2004
MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado na
XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade Brasiacutelia
jul 2000
MONTEIRO Claudia ldquoFora dos trilhosrdquo as experiecircncias da militacircncia comunista na rede de viaccedilatildeo
Paranaacute-Santa Catarina (1934-1945) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2007
MORAIS Naacutegila Maia de ldquoTodo cais eacute uma saudade de pedrardquo repressatildeo e morte dos trabalhadores
catraieiros (1903-1904) Fortaleza dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFCE) 2009
MOREIRA Vagner Joseacute Memoacuterias e histoacuterias de trabalhadores em luta pela terra Fernandoacutepolis-SP
1946-1964 Uberlacircndia tese (Histoacuteria ndash UFU) 2009
NOMELINI Paula Christina Bin Associaccedilotildees operaacuterias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-
1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-UNICAMP 2007)
NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o
surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UPF) 2002
OLIVEIRA Tiago Bernardon de Mobilizaccedilatildeo operaacuteria na Repuacuteblica excludente Um estudo comparativo
da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e Rio Grande do Sul
nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2003
OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do trabalho
mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese (Histoacuteria ndash
UNICAMP) 2002
PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a dinacircmica agraacuteria tradicional
(freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese (Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP)
2008
I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
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PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de uma Idea Lisboa (Histoacuteria
Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008
PETERSEN S R F Comentaacuterios sobre a conferecircncia HISTOacuteRIA OPERAacuteRIA NO RIO GRANDE DO
SUL proferida pela Profa Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo Leopoldo RS v SN p 81-92 2001
QUEIROacuteS Ceacutesar Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social
(1895-1919) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000
REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de
sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP) Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria
Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006
RIBEIRO JUacuteNIOR Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do
trabalhador nacional Minas Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em
Histoacuteria ndash UnB) 2008
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981
SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e cultura dos trabalhadores
urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008
SENA Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo
(im)possiacutevel 1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007
SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas
(estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)
SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007
SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de
Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009
SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da
induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)
2001
SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer
em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002
SOUZA Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados
em Franca (1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003
TELES Luciano Everton Costa A Vida Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920)
Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM) 2008
THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARAacute
VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica Rio Tinto
(Paraiacuteba 1959-1964) Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008
VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008
VIVIAN Diego Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da
categoria dos vigias de embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UFRGS) 2008
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 p 189-197 jun 2006
I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010
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PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de uma Idea Lisboa (Histoacuteria
Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008
PETERSEN S R F Comentaacuterios sobre a conferecircncia HISTOacuteRIA OPERAacuteRIA NO RIO GRANDE DO
SUL proferida pela Profa Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo Leopoldo RS v SN p 81-92 2001
QUEIROacuteS Ceacutesar Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social
(1895-1919) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000
REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de
sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP) Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria
Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006
RIBEIRO JUacuteNIOR Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do
trabalhador nacional Minas Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em
Histoacuteria ndash UnB) 2008
RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981
SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e cultura dos trabalhadores
urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008
SENA Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo
(im)possiacutevel 1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007
SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas
(estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)
SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007
SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de
Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009
SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da
induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)
2001
SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer
em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002
SOUZA Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados
em Franca (1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003
TELES Luciano Everton Costa A Vida Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920)
Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM) 2008
THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARAacute
VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica Rio Tinto
(Paraiacuteba 1959-1964) Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008
VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008
VIVIAN Diego Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da
categoria dos vigias de embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo
(Histoacuteria-UFRGS) 2008
WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-
Americanos PUCRS v XXXII n 1 p 189-197 jun 2006
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