história da branca de neve
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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE BRITEIROS Dezembro de 2011
[A BRANCA DE NEVE] História adaptada pelos alunos de 1º Ciclo do Ensino Básico
Título: A Branca de Neve (Adaptação)
Autores: Alunos do 1.º Ciclo do Ensino Básico do Agrupamento de Escolas de Briteiros
Ilustradores: Alunos do 1.º Ciclo do Ensino Básico do Agrupamento de Escolas de
Briteiros
2011 Agrupamento de Briteiros
1ª Edição
Há muito tempo, num reino
distante vivia um rei e uma rainha no seu
grandioso e maravilhoso castelo.
A rainha era tão bela como um
jardim cheio de rosas vermelhas e
brancas. Os seus cabelos pretos e
ondulados brilhavam à luz do dia, como se
fossem estrelas a cintilar no seu infinito.
Os seus olhos esverdeados pareciam
sonhar com o amor eterno.
Defronte à janela aparentava ter
muita calma, era também uma pessoa bondosa que gostava de ajudar os mais
necessitados e desprotegidos.
Tinha a pele macia e delicada, as mãos de uma delicadeza profunda, bordava
peças de tecido com muito carinho. No meio daquela quietude, o perfume suave do seu
corpo espalhava-se lentamente pelos cantos gelados do castelo, trazia muita paz e
tranquilidade a todos os habitantes daquele reino.
Vestia um vestido maravilhoso vermelho e usava uma capa de pele macia,
castanha e delicada. 1
Num belo dia gélido e nevoso, a bondosa rainha observava, da sua janela, uma
paisagem maravilhosa.
O céu estava azul celeste, as nuvens eram brancas, apressadas e fofas como
algodão, o sol estava a espreitar atrás de uma montanha. Ao olhar para o sol,
observava que a montanha era enorme, arborizada, rochosa e verdejante. À beira
passava um riacho com água tão transparente e cristalina, como a água que brota de
um chafariz e as suas margens eram cobertas de árvores frondosas e rugosas e
arbustos viçosos.
A rainha apreciava o seu lindo jardim, com rosas vermelhas que reluziam à luz
do sol e com várias flores multicolores, e ao mesmo tempo, exalavam um perfume
adocicado. Ela avistava, no meio do jardim, um repuxo com um lago à sua volta, com
nenúfares e peixes alaranjados e prateados. Quando a rainha o contemplava ficava
muito pensativa, a imaginar como seria a sua filha, que tanto desejava.
Do lado direito, apreciava uma imensa planície estéril, com vários campos
húmidos e um celeiro vermelho fogo.
Também via os pássaros a voar suavemente e ouvia o chilrear, o piar, o cantar,
o sussurrar e os seus gemidos de frio, com aquele tempo frígido.
Ela adorava o silêncio, mas a sua povoação era um pouco agitada e ouvia o
alarido das crianças, o correr e o assobiar.2
Estava tão fascinada que, sem dar conta, se picou no dedo com a agulha e três
gotas de sangue caíram sobre a neve. E a rainha pensou: “Quem me dera ter uma filha
tão branca como a neve, de lábios tão vermelhos como o sangue e cabelos tão negros
como a madeira do caixilho desta janela!”
Pouco tempo depois, o seu desejo transformou-se em realidade e ela teve uma
menina de pele tão branca como a neve, de lábios tão vermelhos como o sangue e com
os cabelos tão negros como o ébano e a quem, por tudo isto, chamaram Branca de Neve.
Infelizmente, pouco depois de ter nascido a menina, a rainha morreu.
Um ano depois, o rei casou-se de novo.
O rei, pai de Branca de Neve, era um homem alto e forte, digno de um
guerreiro. Corajoso e bondoso, sempre disposto a ajudar e com bom coração cheio de
amor para com os seus.
Tinha cabelo loiro e comprido que em dias de combate o prendia com uma fita.
Usava uma coroa de ouro simples e humilde.
Tinha os olhos verdes que refletiam na escuridão.
Sempre que necessário, arriscava em tudo que fosse para
bem do seu reino, com sorriso nos lábios.
Nos seus tempos livres gostava de passear nas
montanhas levando com ele tela, tinta e pincel para
observar a natureza que lhe servia de inspiração para as suas pinturas. 3
A sua nova esposa era uma mulher bela, elegante e majestosa, e não tolerava que
alguém fosse mais bela do que ela.
A sua face era oval e pálida, ligeiramente corada nas maçãs do rosto. Tinha
olhos verde esmeralda, semelhantes a cristais reluzentes, que revelavam o que lhe ia na
alma. O nariz era perfeito e os lábios carnudos e rosados, permaneciam cerrados e
pouco sorridentes. Um colar de ouro adornava o seu pescoço esguio. Os seus cabelos
ondulados e loiros seguravam a coroa. Usava um vestido roxo, com dourado nas
pontas, que eram as suas cores preferidas.
A rainha possuía um espelho com poderes mágicos, no qual tinha de tocar três
vezes com o indicador, para se comunicarem. A moldura deste era retangular, de
madeira exótica e o vidro de cristal. O espelho encontrava-se numa passagem secreta,
existente no seu quarto, escondida por um quadro. Para ter acesso a essa divisão, a
rainha tinha de deslocar uma pedra, atrás da sua cama. Ninguém sabia da existência
desse local.
A relação que a rainha mantinha com o espelho era de muita cumplicidade.
Frequentemente o consultava e ele jamais lhe mentia.
Como egocêntrica que era, a rainha tinha o espelho como o seu maior aliado e
quando se olhava nele perguntava:4
- Espelho meu,
espelho meu,
Há alguém mais bela do que eu?
E o espelho respondia:
- Minha rainha,
vós sois a mais bela.
E ela ficava tranquila, pois sabia que o
espelho dizia sempre a verdade.
Branca de Neve, quando fez sete anos, era
tão formosa como a luz do dia e mais bela que a
própria rainha.
-Como há muito não consultava o espelho, a
rainha julgando-se ainda a mais bela, voltou a perguntar:
- Espelho meu,
espelho meu,
Há alguém mais bela do que eu?
E o espelho respondeu:
Vois sois bela como a rosa
Mas Branca de Neve
é ainda mais formosa.
A rainha ficou horrorizada ao ouvir aquela resposta. Desde aí, cada vez que via
Branca de Neve, ficava cheia de inveja. E a inveja foi-se transformando em ódio.
Finalmente, sem conseguir suportar por mais tempo a sua presença, mandou
chamar um caçador e disse-lhe:
- Leva a menina para a floresta e mata-a. E, como prova da sua morte, trazes-me
este lenço com o seu sangue.
O caçador, que era um homem bom e gostava muito de Branca de Neve, fingiu
que se dispunha a obedecer às suas ordens. Foi buscá-la ao seu quarto e levou-a para a
floresta.
A floresta era muito grande, espessa e sombria, tinha árvores altas, grossas,
copadas e verdejantes tornando-se ao mesmo tempo misteriosa e fantástica. Entre as
árvores ziguezagueavam, como discretas serpentes, estreitos, fracos e confusos
caminhos ladeados de roseiras bravas. Havia muitos esconderijos mas eram pequenos,
escuros como a noite sem luar, assustadores e perigosos.
Esta floresta era habitada por perigosos lobos, velozes veados, saltitantes
coelhos, esplêndidas raposas, encantadores esquilos e muitos répteis. De ramo em
ramo voavam belíssimas aves de mil cores.
Ouvia-se o sussurrar das árvores, o melodioso cantar dos pássaros, o uivar dos
lobos, silvar das cobras e o murmurar das águas cristalinas do ribeiro. No ar sentia-se
o suave perfume a folhas tenras, a flores e a frutos silvestres.5
Estava um dia muito frio.
O caçador e Branca de Neve
caminhavam pela floresta.
O caçador era um homem
bondoso, sentia amizade pela
menina e desejava protegê-la.
Enquanto caminhavam e de
passos curtos e lentos, o
caçador pensava na maneira de
não cumprir as ordens da madrasta, inventando um novo plano.
Pelo percurso, o caçador picou-se numa roseira brava e, nesse mesmo
momento, teve uma ideia de manchar o lenço que a rainha lhe tinha dado com o seu
próprio sangue, conseguindo mentir e provar à madrasta que tinha morto a menina. O
caçador alertou a menina do perigo que corria e, recomendou-lhe que fosse para longe
do palácio. Esta decidiu levantar o seu vestido longo e cuidado, com a ajuda das suas
mãos macias e dos seus dedos longos e finos para facilitar a sua marcha mais
acelerada. A menina tinha que ter alguns cuidados com a floresta sombria,
assustadora, densa, silenciosa e perigosa. Branca de Neve podia tropeçar, ir de
encontro a uma árvore ou até assustar-se com um animal que, repentinamente, saísse
da sua toca.
Entretanto, o bom homem regressou ao palácio com a prova da morte da
Branca de Neve.6
A rainha, ao ver o lenço manchado de sangue, convenceu-se que o caçador
cumprira as suas ordens.
A Branca de Neve estava sozinha na floresta
sentindo-se perdida, triste, cansada e muito esfomeada.
Sentia-se muito, muito assustada, pois havia imensos
sons e sombras misteriosas. Ainda por cima começava a
escurecer!
Ela teve que levantar o seu vestido que era muito
comprido, estando sempre a tropeçar e a cair. Este, cada
vez, ficava mais sujo e rasgado… A menina já devia ter
corrido muito, pois o seu longo cabelo preto estava
despenteado e suado. Estava pálida e sem forças!
Ao longe avista uma casinha,
surge uma pequena esperança…7
Perdida na floresta, Branca de
Neve encontrou uma casa um pouco
estranha. Era uma casa mais pequena
que o normal, tudo nela era pequeno e
diferente. Estava situada debaixo de uma
velha e frondosa árvore, e coberta de
erva e flores coloridas.
A casa era toda feita de pedra e as suas janelas eram formadas pelas raízes,
parecendo asas de borboletas. Tinha uma pequena porta de madeira onde se via uma
bela fechadura de ferro ricamente decorada. Para aceder à casa havia uns pequenos
degraus talhados na rocha, os quais estavam já gastos e partidos.
Era uma casa muito bonita e parecia muito limpa e cuidada. Branca de Neve
pensou que os seus donos deveriam ser pessoas muito cuidadosas, mas também muito
pequenas.8
Aproximou-se e bateu à porta, mas ninguém respondeu. Decidiu entrar para
descansar um pouco.
Na casa, tudo era pequenino, tão limpo e delicado que é difícil descrever. Ao
mesmo tempo um silêncio tranquilo acompanhava um brilho que entrava pela janelinha
daquela pequena casinha que mais parecia de bonecas. A claridade, com a sua
luminosidade, alegrava as coisas multicoloridas daquele lar. Branca de Neve ficou
“espantente”, quer dizer espantada por ver tudo tão pequenino e contente por
encontrar um sítio acolhedor para descansar.
Os seus olhos vivos e brilhantes percorriam todos os cantos da casa. Ao fundo
avistava umas escadas com uns degraus onde mal cabiam os seus pezitos. Entretanto a
sua curiosidade levava-a até ao mezanino. Sete caminhas alinhadas, feitas de ferro tão
negro como os caixilhos da janela onde ela vivia, enchiam aquele espaço. Os lençóis
remendados escondiam-se atrás de uma colcha também ela feita de remendos
quadrangulares. Na cabeceira de cada caminha estavam gravados sete nomes
diferentes e engraçados.
No rés do chão, em cima do soalho encerado, estava uma mesinha de forma
retangular. As pernas da mesa eram tão grossas como um tronco fino de uma árvore e
tão duras como os rochedos que se escondiam na floresta. Em cima dessa mesinha
estendia-se uma toalhinha tão branquinha como o manto de neve que cobria as copas
das árvores. Sete pratinhos minúsculos e redondinhos como os chapéus dos cogumelos
do bosque estavam colocados em filinha em cima daquela pequena toalha. Ao lado de
cada um deles estavam sete garfinhos, sete faquinhas e sete copinhos transparentes
como a água cristalina dos rios e tão brilhantes como as estrelinhas que à noite
reluzem no céu. Dentro de cada pratinho estava servida uma refeição com um aroma
adocicado que fez Branca de Neve saltar para a mesa.9
Como estava cheia de fome, comeu um pouco de cada pratinho e bebeu uma
gotinha de vinho de cada copinho. Sentiu então os olhos a fecharem-se e quis deitar-se
mas as camas também não tinham um tamanho normal: experimentou todas mas não
cabia em nenhuma: uma era estreita de mais, outra demasiado curta, até que a sétima era
finalmente à sua medida.
Naquela cama, que apesar de modesta e humilde, se adequava perfeitamente ao
seu tamanho de menina, Branca de Neve encontrou finalmente o aconchego que lhe
permitiria recuperar as forças e o ânimo. Cansada e trémula de frio, entregou-se
suavemente na almofada aveludada e macia, cuja cor se confundia com a brancura da
sua pele, assemelhando-se a uma carinhosa e acolhedora nuvem de algodão doce.
A luz ténue e discreta que visitava o quarto, pouco a pouco, ia anunciando a
chegada da noite e revelava apenas a sombra dos sapatos de Branca de Neve,
abandonados no tapete verde água, lembrando um casal de ratinhos assustados.
Num silêncio inabalável, Branca
de Neve dormia um sono tão profundo
como o dos animais que hibernavam no
bosque que abraçava aquela pequenina e
mágica casinha.10
Quando já era muito de noite, os
donos da casa regressaram: sete anões que
trabalhavam nas minas. Acenderam as
velinhas dos seus sete lampiões e, assim que a casa ficou iluminada, perceberam que
alguém tinha ali entrado.
O primeiro disse: - Quem se sentou na minha cadeira?
O segundo: - Quem comeu do meu prato?
O terceiro: - Quem comeu do meu pão?
O quarto: - Quem comeu os meus legumes?
O quinto: - Quem usou o meu garfo?
O sexto: - Quem cortou com a minha faca?
O sétimo: - Quem bebeu do meu copo?
Em seguida, o primeiro olhou à sua volta, viu uma pequena cova na sua cama e
perguntou: - Quem se deitou na minha cama?
Os outros vieram a correr e, aos ver as camas, repetiram a mesma pergunta.
Mas o sétimo, ao olhar para a sua cama e ao ver Branca de Neve lá deitada a
dormir, chamou os outros e quando aproximaram os sete lampiões, exclamaram
admirados:
- Que menina tão bonita!
- Quem será esta menina que está aqui deitada?
Eles aproximaram-se ainda mais e ficaram espantados ao ver uma menina tão
bela. A Branca de Neve dormia calmamente e os anõezinhos sentiram uma grande
alegria ao verem-na ali, na sua casa.
- Oh! Nunca vi uma jovem tão formosa! - exclamaram eles, quase ao mesmo
tempo.
Para não acordarem a Branca de Neve, os anõezinhos andavam em bicos de pés
e decidiram que o sétimo anão, como não tinha cama, ficaria a vigiar a Branca de
Neve, durante toda a noite.
Quando chegou a manhã, a Branca de Neve acordou e ao ver aqueles sete anões
tão pequeninos, ficou tão amedrontada que perguntou:
- Quem são vocês?
- Nós somos os sete anões, donos desta casa. Saímos todos os dias, logo de
manhãzinha, para trabalhar nas minas. E tu quem és?
- Eu sou a Branca de Neve. Vivia num palácio mas a minha madrasta, muito má
e orgulhosa, ordenou ao caçador que me levasse para a floresta e me matasse. Como
ele era bom e meu amigo, poupou-me a vida.
Os anões escutaram atentamente o que a Branca de Neve contou e ficaram
admirados pois não imaginavam que havia pessoas tão maldosas.
A Branca de neve continuou:
-Quando o caçador me deixou
sozinha na floresta senti-me perdida e
corri tanto, tanto, que logo que
encontrei esta casa não resisti e
entrei.
Os anões tiveram tanta pena
dela que a convidaram a ficar lá a
viver com eles. Bastava-lhe cozinhar,
fazer as camas, lavar e remendar a
roupa, e manter tudo limpo e arrumado.
- É claro que aceito! – exclamou Branca de Neve, felicíssima. 11
E ficou com eles. A partir daí, mantinha a casa em ordem. Como os anões saíam
de manhã para trabalhar e só voltavam à noite, avisaram-na que não deixasse entrar
ninguém em casa, porque receavam que a madrasta viesse a saber que ela estava viva e
quisesse matá-la.
Os Anões, sete como se sabe, são homenzinhos com feições de adulto, mas com
estatura bastante baixa, como uma pequena criança. Possuem pernas curtas como as
de uma tartaruga, musculadas como as de uma atleta e vigorosas. Os braços são
também curtos, roliços e fortes. As mãos são pequenas, papudas e com dedos
pequeníssimos .
Quase todos apresentam cabelo grisalho, como um céu nublado, um pouco
comprido e ondulado. No rosto arredondado sobressaem duas bochechas gordinhas
como maçãs coradinhas de outono, barbas longas e também acinzentadas, fazendo
lembrar o bondoso Pai Natal.
A indumentária, idêntica à de um soldado, à exceção da cor, constituída por
calças justas como meias, capas com capuz bicudo como um cone, cinto de couro
preto e botas da mesma cor.
Subiam, em fila indiana, por um caminho estreito, irregular e pedregoso de
encontro à floresta, com o semblante carregado, pois iam preocupadíssimos com
Branca de Neve, que ficou sozinha em casa e podia, mais uma vez, ser iludida pela
perversa madrasta. Iam corcovados como conchas, transportando às costas as bicudas
e pesadas picaretas.12
Entretanto a rainha, desde que vira o lenço manchado de sangue, convencera-se
de que Branca de Neve tinha morrido e, como não consultava o espelho há muito, não
duvidava da sua beleza inigualável.
Um dia, resolveu aproximar-se do espelho para encher os seus ouvidos com a
esperada resposta e perguntou-lhe:
- Espelho meu,
Espelho meu,
Há alguém mais bela do que eu?
E o espelho respondeu:
Vois sois bela como a rosa
Mas Branca de Neve
Na casa dos sete anões
é ainda mais formosa.
Perante aquela inesperada resposta, a rainha ficou a saber que o caçador a tinha
engando. O seu ódio pela menina reavivou-se e imediatamente começou a maquinar um
plano para se livrar dela. Pintou a cara e vestiu-se de bruxa para que ninguém a
reconhecesse.
A madrasta de Branca de Neve que era muito formosa e vaidosa empenhou-se
bastante neste novo visual. Disfarçada de bruxa ficou muito velha, corcunda e com um
aspeto franzino.
Os seus enormes olhos verdes e brilhantes lembravam duas valiosas esmeraldas,
o seu olhar era profundo e penetrante que parecia tudo hipnotizar à sua passagem.
Cabelos esbranquiçados, compridos e desgrenhados encobriam o seu rosto pálido e
enrugado. Na ponta do nariz uma elegante e negra verruga. Dos lábios finos e
entreabertos sobressaíam seus poucos dentes amarelos e tortos que escondiam um
sorriso malvado. Dedos compridos e estreitos como agulhas e unhas que pareciam as
garras perigosas e aguçadas de um gato selvagem.
O seu vestuário era cuidado e bem vincado, usava um longo vestido preto, uns
sapatos roxos, encaracolados na ponta que lembravam os cornos de um bode. Também
vestia uma enorme capa negra que a envolvia na escuridão da noite. A sua voz rouca e
arrastada causava arrepios.
Era uma bruxa diabólica, totalmente desequilibrada, mas apesar de assustadora
manteve a sua elegância.13
Assim disfarçada, dirigiu-se a casa dos sete anões e bateu à porta, dizendo:
- Adornos bonitos e baratos!
Branca de Neve assomou à janela e perguntou:
– Que tem para vender senhora?
– Laços de mil cores – respondeu a rainha – Faixas de seda pura bordadas em
ouro e prata…
– Acho que os anõezinhos não se importarão que deixe entrar esta pobre
velhinha”, pensou a Branca de Neve e, abrindo a porta, deixou-a entrar e comprou uma
linda faixa.
– Que formosa és! – exclamou a velha –Deixa-me ajudar-te.
A menina sem desconfiar, sem desconfiar de nada, deixou-a atar-lhe a faixa à
cintura. Mas, a velha atou-a com tal força que a deixou sem respiração e a pobre infeliz
caiu no chão e perdeu os sentidos.
– A tua beleza não voltará a preocupar-me! – exclamou a madrasta e afastou-se
rapidamente.
Quase na mesma altura, os anões regressaram a casa, pois estava a anoitecer.
Ao encontrarem a sua querida Branca de Neve caída no chão, correram em seu
auxílio, temendo o pior. Vendo a faixa apertada à cintura, cortaram-na. A menina
suspirou e, pouco a pouco, foi voltando a si.
Quando a Branca de Neve lhes contou o que tinha sucedido, os anões perceberam
que a velha não podia ser outra senão a malvada rainha disfarçada. E voltaram a insistir
para que não abrisse a porta a nenhuma pessoa.
A rainha, ao chegar ao palácio, correu a consultar o espelho:
– Espelho meu, espelho meu,
Há alguém mais bela do que eu?
E o espelho respondeu como da última vez:
– Vois sois bela como a rosa
Mas Branca de Neve
Na casa dos sete anões
É ainda mais formosa.
Ao ouvir estas palavras, o despeito e a deceção deixaram o seu coração sem pinga
de sangue, pois percebeu que o seu plano tinha falhado.
"Usarei os meus poderes diabólicos e não escaparás", disse para si.
Desta vez, o seu plano não poderia ter falhas e Branca de Neve não poderia
sobreviver. Recorreu a magia e preparou um pente envenenado.
Depois, disfarçou-se de novo de velha e foi até à casa dos sete anões. Bateu à
porta e disse em voz alta:
– Comprem algo a esta pobre velha!
– Desculpe - disse Branca de Neve, assomando à janela -, mas não posso deixar
entrar ninguém.
– Mas ao menos podes olhar - disse a velha e mostrou-lhe o pente envenenado.
O pente agradou tanto à menina que ela se deixou tentar, abriu a porta e decidiu
comprá-lo.
– E agora, não te importas que te penteie?
A ingénua e dócil Branca de Neve, cujo vestido cor de sangue lhe cobria os pés,
consentiu com agrado sem suspeitar de nada.
A velha, que parecia bondosa e simpática, trazia um vestido negro e comprido
como o carvão, sobre os seus ombros uma capa roxa como violetas e interior amarelo
como o sol numa manhã de verão. No momento em que lhe cravou o pente, cintilante de
ouro maciço com safiras da cor do mar e dentes afiados, numa madeixa de cabelo
longo, negro, perfumado, macio e levemente ondulado como as ondas do mar, a bela
princesa, pálida, tombou no chão, desfalecida.
A poção fez efeito!14
– Acabou-se, minha linda! - exclamou a malvada madrasta - A partir de agora
serei a mais bela!
Felizmente, os sete anões voltaram para casa antes que o veneno fizesse efeito e
quando tiraram o pente dos seus cabelos, a menina recobrou os sentidos.
E, mais uma vez, a aconselharam a não abrir a porta a quem quer que fosse.
– Não deves confiar em ninguém. Era de novo a tua madrasta disfarçada. Por
sorte, chegamos a tempo. Lembra-te que não deves abrir a porta a ninguém.
Uma vez chegada ao palácio, a rainha correu a consultar o seu espelho mágico:
– Espelho meu, espelho meu,
Há alguém mais bela do que eu?
E o espelho respondeu:
– Vois sois bela como a rosa
Mas Branca de Neve
Na casa dos sete anões
é ainda mais formosa.
Ao ouvir o espelho falar assim, estremeceu de cólera:
– Branca de Neve tem de morrer, nem que isso me custe a vida!- gritou
ameaçadora.
Dirigiu-se à cave do palácio e com os seus feitiços, preparou uma maçã
envenenada que, por fora, era uma maçã como as outras, vermelha e brilhante. Depois
vestiu-se de camponesa e foi bater a porta da casa dos anões.
– Desculpe, mas os anões proibiram-me de abrir a porta - disse a menina, pondo a
cabeça fora da janela.
– Paciência - disse a camponesa - Só queria oferecer-te uma maçã.
– Obrigada - disse Branca de Neve -, mas não posso aceitar nada.
– Tens medo que esteja envenenada? - disse a rainha
disfarçada - Olha vou cortá-la ao meio: tu comes esta metade
vermelha mais brilhante e eu a outra.
A madrasta disfarçada de camponesa e com uma cara
furiosa, zangada e má, tirou a maçã mais brilhante e
envenenada do cesto das maçãs e ofereceu-a à Branca de
Neve.15
A maçã tinha sido habilmente preparada e a parte envenenada era exatamente a
mais brilhante. Quando Branca de Neve viu aquela metade sumarenta e apetitosa, e a
camponesa a comer a outra metade, não resistiu à tentação, estendeu a mão, agarrou na
metade envenenada e trincou-a. E como o veneno era muito forte, a menina caiu como
morta de imediato.
A rainha olhou-a com os olhos cheios de rancor e inveja e exclamou:
– Acabou a tua formosura! - e soltando uma gargalhada, acrescentou - Desta
vez os anões não poderão acordar-te.
E quando, ao chegar ao palácio se olhou ao espelho mágico e disse:
– Espelho meu, espelho meu,
Há alguém mais bela do que eu?
E o espelho respondeu finalmente:
– Minha rainha
v6s sois a mais bela.,
E assim, o fogo da inveja que ardia no seu coração pareceu apagar-se.
Quando a noite voltaram para casa, os anões encontraram Branca de Neve caída
no chão e aproximaram-se para tentar reanimá-la como das outras vezes. Mas era inútil.
A sua querida Branca de Neve estava morta. Colocaram-na numa padiola e os sete,
sentados a sua volta, choraram três dias e três noites.
Depois pensaram em enterra-la, mas ela parecia viva, continuando com as belas
faces rosadas. Então, decidiram mandar fazer uma urna de cristal e gravaram o seu
nome, “ Princesa Branca de Neve” com letras de ouro.
De seguida colocaram-na próxima da casinha deles e puderam continuar a
observá-la contemplando a sua imensa beleza. Todos os anõezinhos concordaram com
esta decisão e, a partir desse momento nunca a deixaram sozinha.
O tempo foi passando e Branca de Neve continuava tão bela e tão radiante na sua
urna de cristal como se estivesse
adormecida16.
Mas um dia, quis a sorte que um
príncipe perdido no bosque descobrisse
a casa dos anões e fosse bater a sua
porta, pedindo-lhe guarida para passara
noite.
Os anõezinhos alojaram-no como
puderam na sua pequenina casa.
Numa manhã de nevoeiro, no meio da
floresta, junto à casa dos sete anões, estava o
príncipe ajoelhado a olhar para a Branca de
Neve.
O príncipe era um homem bonito, com
o cabelo loiro e estava muito bem vestido,
com umas calças pretas, uma camisola azul,
um colete vermelho e uma capa da mesma
cor da camisola. Trazia calçadas umas botas
altas de cor castanha.
O príncipe tinha uma espada do lado esquerdo da cintura e um punhal do lado
direito. As mãos do príncipe estavam sobre o coração, porque ele estava muito triste
por a princesa ter morrido.
E, ela era tão linda que ele ficou apaixonado!17
– Entreguem-me a princesa - disse ele aos anões - e, em troca, eu dar-vos-ei tudo
o que pedirem.
Ao que os sete anões responderam:
– Nem por todo o ouro do mundo nos separaremos da princesa Branca de Neve.
– Nesse caso, suplico-vos que me deixeis levá-la para o meu palácio, já que
depois de a ver já não sei viver sem ela. Prometo-vos que a honrarei e venerarei com
todo o meu amor.
Ao ouvi-lo falar assim, os bondosos anões tiveram pena dele e acederam à sua
súplica.
O príncipe mandou que os seus criados a levassem sobre os ombros. Mas quando
desciam o monte, um dos criados tropeçou e, com o abanão, o pedaço da maçã
envenenada que Branca de Neve tinha trincado saltou-lhe da garganta. E, pouco depois,
ela abriu os olhos e ganhou vida. Ergueu a tampa da urna, levantou-se e disse:
– Onde estou?
Cheio de alegria, o príncipe respondeu-lhe:
- Estas comigo, minha adorável princesa.
E depois de lhe contar tudo o que se tinha passado, ajoelhou--se diante dela e
expressou-lhe apaixonadamente o seu desejo de levá-la para o palácio do seu pai e casar
com ela.
A princesa Branca de Neve acedeu e acompanhou-o, radiante de alegria.
O rei ordenou que os preparativos para o casamento se iniciassem com toda a
pompa e que toda a nobreza fosse convidada. E portanto, a madrasta de Branca de Neve
também recebeu um convite.
Vestiu as vestes mais luxuosas e, convencida que a todos deslumbraria com a sua
inigualável beleza, quis antes escutar os elogios do seu espelho mágico e perguntou-lhe:
-Espelho meu, espelho meu,
Há alguém mais bela do que eu
E o espelho respondeu:
- Minha rainha,
sois mais bela que a rosa,
Mas a jovem que vai ser rainha e mil vezes mais formosa.
Quase a desmaiar perante aquela inesperada resposta, amaldiçoou-a e, ferida no
mais fundo do seu coração, decidiu não ir a boda. Mas o seu despeito foi superado pela
curiosidade em saber quem poderia ser aquela jovem rainha.
Ao entrar no salão reconheceu de imediato Branca de Neve e tal foi o seu espanto
que caiu morta.
O casamento aconteceu no salão do palácio do pai do príncipe.
Os convidados eram todos nobres. Mas, especiais eram os sete anões que
estavam mesmo entusiasmados, até o Zangado. Eles estavam com roupa nova, cuidada
e bem vincada.
O príncipe vestiu uma gravata preta, com uma camisa branca, um casaco de
cetim preto, umas calças pretas e uns sapatos brancos. Parecia elegante. Os olhos
estavam brilhantes. O seu rosto afirmava que estava apaixonado por Branca de Neve.
Tinha lábios sorridentes, braços musculosos, mãos fortes e voz grossa.
Ela vestiu um vestido branco, rodado e com diamantes oferecidos pelos anões.
Por cima dos seus cabelos pretos usou um véu e uma tiara. Os olhos estavam vivos e
alegres como de costume.
Havia muita música.
A ementa era um javali com salada, fruta e arroz. No segundo menu havia:
porco com feijão galego e batatas cozidas. O bolo de noivos tinha três andares e estava
decorado com corações de caramelo. Nos lados estavam escritos os seus nomes e os
dos sete anões. Tinha ainda velas e foguetes.
A lua-de-mel foi um passeio a cavalo pela floresta onde se conheceram.
E viveram casados e felizes para sempre. 18
FIM
1 Descrição e ilustração elaborada por: Turma 1 da EB1 de Donim
2Descrição elaborada por: Turma 1 da EB1 de Souto Stª Maria
3 Descrição elaborada por: Turma 3 da Eb1 de Domim
4 Descrição elaborada por: Turma 4 de EB1 de Barco
5 Descrição elaborada por: Turma 2 da EB1 de S. Salvador de Briteiros
6 Descrição elaborada por: Turma 3 da EB1 de Barco
7 Descrição elaborada por: Turma 2 da EB1 de Barco
8 Descrição elaborada por: Turma 1 da EB1 de Barco
9 Descrição elaborada por: Turma 2 da EB1 de Souto Stª Maria
10 Descrição elaborada por: Turma 1 da EB1 de Fafião
11 Descrição elaborada por: Turma 2 da EB1 de Souto S. Salvador
12 Descrição elaborada por: Turma 1 da EB1 de S. Salvador de Briteiros
13 Descrição elaborada por: Turma 3 da EB1 de S. Salvador de Briteiros
14 Descrição elaborada por: Turma 2 de Bb1 de Fafião
15 Descrição elaborada por: Turma 1 da EB1 de Serrado
16 Descrição elaborada por: Turma 2 da EB1 de Serrado
17 Descrição elaborada por: Turma 2 da EB1 de Donim (aula de apoio)
18 Descrição elaborada por: Turma 1 da EB1 de Souto S. Salvador
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