gravuras: técnicas, procedimentos e contribuições para arte contemporânea

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aula preparada por Ana Paula Santos Pessoa (mestra em processos criativos nas artes visuais pelo PPGAV - UFBA) para concurso público UFOB em 2015. A aula trata superficialmente das diferentes técnicas e procedimentos das gravuras pontuando algumas contribuições para arte contemporânea.

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Concurso UFOB Técnicas da gravura: procedimentos e

contribuições para as artes contemporâneas.

Ana Paula Santos Pessoa2015

O que é uma gravura?Denominamos gravura, a diversos processos que permitem obter imagens por meio da impressão de matrizes.

Conceitos-chave:Matriz – imagem original - geradoraImpressão – reprodução – tiragem: P.A, P.I, Provas numeradas em fração para cada matriz (1/1, 10/50, 20/100, 30/200 ou 100/300)

“ o ato de gravar sobre uma superfície dura e resistente é muito anterior às práticas de impressão que foram usadas e sistematizadas no ocidente desde meados do século XIV, senão antes ainda.” (TORRE, 1994, p.6)

A cova das mãos, arte rupestre, Argentina, 9000 anos

SUTRA DO DIAMANTE, 868 a.C., é o mais antigo “livro” gravado em madeira e impresso em papel que se conhece

• Imprensa - tipografia e reprodução de textos e imagens.

• Uma revolução da era moderna: uma existência serial (movimentos de massa).

• A reprodução de imagens e o início da perda da “aura”. (Walter Benjamin)

Invenção da impressa, De Vinne, xilogravura, Londres, 1877.

Tipos de gravura ou técnicas de gravar:

• Stencil ou molde vazado• Monotipia• Xilogravura - linóleo• Gravura em metal ou calcografia• Litografia • Fotografia• Serigrafia • Infogravura ou gravura digital• Xerox

Stencil: • Matriz: placas de diferentes materiais que

possam ser cortados como: papelão, acetato, plástico etc.

• Impressão: em diferentes suportes que aceite a tinta utilizada (pigmentos naturais, tipográfica, acrilica, spray etc), tiragem a depender do material da matriz.

• Técnica de corte: criação de pontes e ilhas na matriz, uso de mais de uma matriz para detalhes e cores diferentes.

A técnica provavelmente alcançou seu pico de sofisticação, no surgimento do Katazome e outras técnicas usadas em sedas para roupas durante o período Edo, no Japão (de 1600 a 1800).

Alexandre Orion, stencil e fotografia, S.P

Banksy, arte urbana, Inglaterra.

Roadsworth, arte urbana, Montreal - Canadá

Monotipia: mono (único) tipia (impressão)

• Matriz: diversos suportes que possam servir de “carimbo” devidamente entintados e transferidos para outros suportes como papel ou tecido.

• Processo híbrido, entre a pintura, o desenho e a gravura. Aproxima-se do gesto da pintura, da mancha de tinta, ou do traço, da linha; ao mesmo tempo possui características próprias da gravura, como a inversão da imagem.

• Impressão: em diferentes suportes que aceitem a tinta utilizada. Tiragem de prova única, em alguns casos há a possibilidade de se conseguir mais de uma cópia, evidentemente cada vez mais tênue, mais clara, permanecendo apenas um "fantasma"/ vestígio da imagem.

Fotografias das oficinas MAM – BA

Prof. Evandro Sybine

Sumiganashi, monotipia e marmorização, Japão

Mira Schendel, sem título, monotipia s/ papel de arroz japonês

Carlos Vergara, monotipia sobre lona- pigmentos e cola

F24, Consales Rodrigue, monotipia, 30 x 42 cm, Brasil, 2013.

Xilogravura: xilo (madeira), tipia (impressão)

• Matriz: madeira ou linóleo esculpidos em baixo relevo, podendo inserir por meio de colagem outros materiais para criar efeitos de texturas e relevos.

• Impressão em diferentes suportes

• Usa-se uma matriz de madeira escavada por instrumentos cortantes (como a goiva). Na linoleogravura, substitui-se a matriz de madeira pelo material emborrachado chamado linóleo, que é mais macio.

• A xilogravura teve um papel importante nos diversos momentos da história. Foi a primeira forma de repetir imagens em série. Era usada para ilustrar as notícias de jornal, como a fotografia nos dias de hoje, ou para fazer rótulos.

Fotografias das oficinas MAM – BAProf. Evandro Sybine

Ramona na Espanha, Antonio Bernini, xilocolagem, 1968. Matriz e impressão

ALBRECHT DÜRERxilo edição de 1515

http://www.artebr.com/lambelambe/historia.html

Katsushika, HOKUSAI (1760 –1849)

Xilogravura Popular A xilogravura tem forte

tradição no nordeste do país, através de mestres dedicados ao ofício de xilógrafo, profissão que se liga diretamente aos contadores de histórias, poetas repentistas. Com influências holandesas, francesas e portuguesas. Também contribuíram os ensinamentos jesuítas, embora esbarrando na proibição de impressão feita pelo governo português. A temática variada refletia o imaginário e também o constrói. Os primeiros cordéis são do início do séc. XIX.

J. Borges, O futebol no inferno, xilogravura

Hansen Bahia, xilogravura, 1954

Goeldi, Chuva, xilogravura, 1957

Gravura em metal:

• Matriz: placa de cobre, zinco ou latão• Prensa calcográfica – papel de

algodão umidecido• Modalidade direta: ponta seca e buril• Modalidade indireta: usos controlado

de queima com ácido: água forte, água-tinta, verniz mole, transferência…

Fotografias das oficinas MAM – BAProf. Evandro Sybine

Ponta-SecaProcesso em que se usa um instrumento com ponta fina diretamente sobre a placa de metal. O resultado é um desenho com traços nítidos e refinados.

ÁGUA-TINTAA placa é coberta por finas camadas de breu, que são fixadas nela por calor. A seguir, aplica-se asfalto ou verniz nas partes em que não se quer que a imagem apareça e, finalmente, a placa é submersa em uma bacia com ácido. Esta é uma técnica que permite imagens com grandes variações tonais.

IBERÊ carretéis com frutos1959 água tinta IBERÊ manequim e ciclista 1992 água forte

Amilcar de Castro, Sem título, água tinta, 2002

ÁGUA-FORTEO desenho é traçado sobre uma placa coberta por verniz. Essa placa é mergulhada no ácido que corrói as linhas traçadas, que serão mais fortes ou mais fracas dependendo de quantidade de tempo que a placa ficar exposta ao ácido. Ao final, retira-se o excesso de tinta da superfície da matriz, restando só o desenho que será impresso.

Doctor Faustus, Rembrant, gravura em metal, água forte.

Série: Disparates ou Provérbios – Modos de voar, Francisco de Goya, gravura em metal – água forte, 1816 - 1823

Litografia: Lithos = pedra , Graphein = escrever

• É uma técnica plana, não escultórica como a xilogravura ou a gravura em metal, que abrem sulcos na matriz.

• A imagem é colocada na pedra com tinta gordurosa. As partes que não contem imagem, são preparadas (ácidos, goma arábica) para não aceitarem tinta. O princípio da litografia é a repulsão mútua de água e gordura.

• Grandes mestres da litografia são Goya, Gericault, Daumier, Bonnard, Toulouse-Lautrec, Munch etc.

• Matriz: pedra calcária, desengordurada. A imagem é criada com lápis, tuche ou crayon feitos com material gorduroso que é fixado na pedra por uma solução ácida. Transferência de imagem invertida (tonner) com gasolina ou tinner (solvente). Monotipia feita na pedra para transferir texturas de materiais diversos (folhas, tecidos, linhas etc).

• Impressão: papel umidecido em prensa especial que arrasta uma cunha com couro por cima da pedra, com muita pressão.

Pedra calcária porosa e polida Com as bordas protegidas por goma arábica

Pedra desenhada para gravação

Museu do Trabalho com Paulo Chimendes

Impressão na prensa litográfica – MAM – BA , Prof. Renato Fonseca.

Jane Avril, litogravura, Henri Toulouse Lautrec, 1892.

Juarez Paraíso, Homus Polutus, litografia, 1970

Folhas, Frans Kracjberg, litogravura, 50x42cm

Fotografia: Foto (luz), grafia (escrita) = escrita da luz

• Matriz: suporte fotosensível, celulóide• Impressão: analógica em papel fotográfico ou suporte fotosensível; digital em

papéis fotográficos, tecidos, adesivos, emborrachados etc.• Modalidades: fotograma, pin hole, analógico (película – negativo e positivo),

digital.

• CONCEITO DE AURA Originalidade, Autenticidade e Unicidade (W. Benjamin) • “com a reprodução técnica o que é atingido na obra de arte é sua aura.” Pela

primeira vez no processo de reprodução da imagem, a mão foi liberada das responsabilidades artísticas mais importantes, que agora cabem unicamente ao olho. Surge uma indústria Cultural para negociar uma arte serial para um público de massas.

Atelier do artista, Daguerreotipo por Daguerre, 1837

Photogenics drawins, Fox Talbot, 1860.

Solarização e Rayograma, Man Ray.

“Eu não fotografo a natureza, eu fotografo as minhas fantasias…” (Man Ray)

Mario Cravo Neto, Torso de mulher com pedra do mar, fotografia analógica, 1990

Serigrafia: silk-screen – grego – sericos (seda) e graphos (grafia) escrever. Processo de transferência de imagem que segue o mesmo principio do stencil, criação de máscara que veda áreas onde a tinta não deve atingir o suporte. • Matriz: tela serigráfica feita de polyéster ou nylon

esticada num bastidor de metal ou madeira. A garvação da matriz ocorre ao ser fotossensibilizada juntamente com o fotolito da imagem. Matriz + fotolito – mesa de luz

• Impressão: manual utilizando rodo ou puxador com tinta serigráfica sobre suportes variados ou através de máquinas.

Fotografias da EBA – UFBA Prof. Evandro Sybine

Andy Warhol, “Mao”, serigrafia, 620x245cm, 1972

Rubem Valentim, s/ titulo, serigrafia, 1989.

Arte – magia; ritual; poiésis + teckiné; representação; expressão; imaginação (pensar por imagens); sensibilização estética-ética; experimentação; conceito; pensamento sensível; processo criativo; circuito criativo…

“os procedimentos não são apenas manipulações técnicas, são também portadores de significados. Este conjunto de relações circunscreve o campo da pesquisa.” (REY, 2004, p.132)

Poética = forma de pensar Poéticas do processo Processo = modo de agir

Campo expandido: “Portanto, o campo estabelece tanto um conjunto ampliado, porém finito, de posições relacionadas para determinado artista ocupar e explorar, como uma organização de trabalho que não é ditada pelas condições de determinado meio de expressão. Fica óbvio, a partir da estrutura acima exposta, que a lógica do espaço da práxis pós-modernista já não é organizada em torno da definição de um determinado meio de expressão, tomando-se por base o material ou a percepção deste material, mas sim através do universo de termos sentidos como estando em oposição no âmbito cultural.” (KRAUSS, 1984, p.136)

Richard Long, A Line Made By Walking, 1972.

 Hibridismos na arte contemporânea:

“De repente, pintura não era só pintura, poesia não era só poesia, e começaram a se misturar as linguagens. Então a escultura deixou de ter uma posição privilegiada, quer dizer, de ter um pedestal, a pintura não era mais só pintura, pois tinha elementos, problemas de espaço, que foram a quebra da moldura e outras coisas, a poesia também não era uma palavra sobre um suporte de papel, quer dizer, a dobradura, o corte do papel participavam como expressão também.” (Lygia Pape, em depoimento de 1987)

Caixa das formigas, Lygia Pape, 1967

Poemas visuais / Língua apunhaladaLygia Pape, 1968.

Intermídia / multimídia: “Num primeiro caso, a montagem de vários deles (meios) pode fazer surgir outro que é a soma qualitativa daqueles que o constituem. Neste caso a hibridação produz um dado inusitado, que é a criação do novo meio antes inexistente. Temos, assim, processos de coordenação (sinergia) entre linguagens e meios, uma intermídia. Uma segunda possibilidade é superpor diversas tecnologias, sem que a soma resolva o conflito. Neste caso, os múltiplos meios nem sequer chegam a realizar uma síntese qualitativa, resultando então numa espécie de collage que se conhece como multimídia.” (PLAZA, 1999, p.78) 

Fluxus boxes

Sinfonia monotônica ou monótona, Ives Kleins, performance – monotipia, 1947 - 1961

CARLOS VERGARAPreparação dos recortes de papelão que funcionarão como “matrizes” na monotipia.

Carlos Vergara, Auê, monotipia e vinil sobre tela 2001

Gilvan Samico, A fonte, xilogravura, 89,5 x 53,5 cm , 1990

S/ título, serigrafia, Ana Maria Maiolino, 114x85cm

Kiki Smith, livro de artista – gravura em metal s/ papel

Sojourn instalação, Kiki Smith, 2010.

Edith Derdyk e o livro de artista expandido

Tabuleiro, instalação, 2010.

Ana Bella Geiger, Gravura em metal, serigrafia e colagem, 1996.

Geraldo de Barros, Fotoforma Pampulha, fotografia analógica, 1951

Local/Global, Rodrigo Valente, evento: Fotografia de rua, BH, 2014.

Rosangela Rennó, Experiência de cinema, projeção de fotografias em fumaça

Ryosuke Cohen, Arte Postal – carimbos s/ papel, 2012.

Eneida Sanches, S/ título da série: “Transe – deslocamento de dimensões”, objeto, 2011.

Provas de movimento, Rachel Mascarenhas, instalação – caixas de fósforo, gravura em metal, folhas de ouro, 2004.

Imagens do arruinamento, Evandro Sybine, Instalação – matrizes de metal e madeira.

João Oliveira, gravura em metal, 2013.

Vozes ancestrais, Elias Santos, infogravura, 2013.

Love me tender, Rosa Bunchaft, instalação - pin hole e fotograma s/ papel fotográfico, 2013.

Feels like homie, Clara Domingas, instalação de parede (video + stencil), 2011

Um ritual, Ana Paula Pessoa, ação, fotografia e livro de artista – gravura em metal, 2012.

Referências:• Benjamin, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. Cap. “A obra de arte na era de sua

reprodutividade técnica”. P. 165-196. SP: Ed. Brasiliense, 1996. • Jorge, Alice; Gabriel, Maria Técnicas de gravura artística; Livros Horizontal, 2000.• KRAUSS, Rosalind. A escultura no campo expandido. In: Passagens da escultura

moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1984.• PLAZA, Julio. O livro como forma de arte. São Paulo: Arte em São Paulo, n.6, abr.,

1982.• PLAZA, Julio. As imagens de Terceira geração, tecnopoéticas. In: Imagem-máquina,

a era das tecnologias do virtual. Org. André Parente. Rio de Janeiro: editora 34, 1999.

• SYBINE, Evandro. Imagens do arruinamento: o excesso gráfico. Dissertação de mestrado, UFBA, 2010.

• REY, Sandra. A pesquisa e o ensino nas artes visuais. Revista do Instituto Arte das Américas, Belo Horizonte: Instituto Arte das Américas; C/Arte distribuidor, v.2, n. 1, p.128-133, jul-dez/. 2004.

• TORRE, Martha. Ensaio fotográfico: 12 gravadores paulistas/ Martha Torres. São Paulo: M. Torre, 1994.

• PECCININI, Daisy [coordenadora]; SILVA, Luciana B. [mestranda]. Arte no século XX /XXI: Visitando o MAC na web / mapeamento

• do módulo V / Instalação. São Paulo. Homepage. <http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/

• modulo5/instalacao.html>• https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/9857• www.banksy.co.uk• http://www.artisopensource.net/network/artisopensource/2010/12/

08/fluxus-boxes-augmented-reality-and-innovative-publishing/

• http://www.lygiapape.org.br/pt/obra50.php• http://www.semeiosis.com.br/a-fotografia-expandida-no-contexto-da

-arte-contemporanea-uma-analise-da-obra-experiencia-de-cinema-de-rosangela-renno/

• http://www.rosangelarenno.com.br/obras/exibir/33/1• http://www.taringa.net/posts/imagenes/7918867/Los-mas-grandes-d

el-mundo-del-stencil-Megapost.html

• http://www.cravoneto.com.br/pb/masp/po/pag_14.htm

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