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IV CONGRESSO SERGIPANO DE HISTÓRIA & IV ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA DA ANPUH/SE
O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64
GESPS e a oposição em Sergipe
Amanda Marques dos Santos: Graduanda do curso de História Licenciatura, da
Universidade Federal de Sergipe.
amandamarques.ufs@gmail.com
Introdução
Esse trabalho visa principalmente traçar considerações sobre o GESPS, um
grupo de esquerda vinculado ao catolicismo que articulou-se em Sergipe, em meados da
década de 60 do século XX. Ele pode ser enquadrado como um grupo que se articulou
na resistência à Ditadura Civil-Militar de 1964. Esse artigo é um dos primeiros
resultados de uma pesquisa realizada por mim sobre o GESPS (Grupo de Estudos
Sociais e políticos de Sergipe). O interesse em estudar esse grupo deu-se a partir da
leitura do livro Tutela Militar em Sergipe, de Ibarê Dantas1, no qual o referido autor faz
um amplo estudo sobre a ditadura em Sergipe, e assim, analisa alguns grupos que
atuaram em oposição ao regime em Sergipe.
Além de descrever e analisar os anos de existência do GESPS, pretendo também
analisar de forma secundária outros grupos que atuaram em Sergipe nos anos iniciais da
Ditadura. A exemplo do PCB, PCdoB, da AP (Ação Popular), e da POLOP (Politica
Operária). Farei isso com o objetivo de mostrar que em Sergipe também existiu pessoas
1 Nascido em Riachão do Dantas, além de bancário é historiador sergipano de grande destaque.
Atualmente dedica-se apenas a pesquisas. Possui vários livros sobre a história política de Sergipe. Além
de A tutela Militar em Sergipe teve O tenentismo em Sergipe, A Revolução de 1930 em Sergipe- Dos
Tenentes aos Coronéis, Coronelismo e dominação e os Partidos Políticos em Sergipe- 1889/1964.
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que se articularam em movimentos para manifestar a sua insatisfação com o regime
instaurado. Afinal, pouco se fala desse tipo de articulação. Outro objetivo deste trabalho
é relacionar o GESPS aos demais grupos que existiram em Sergipe. Isso porque como
pesquiso o Grupo de Estudos Sociais e Políticos de Sergipe (GESPS), pretendo colocá-
lo na totalidade.
O grupo GESPS foi formado por intelectuais de Sergipe, que visavam articular
ideias sobre o que ocorria naquele momento, existiu por quatro anos, ou seja, de 1964 a
1968, quando com a adição do Ato Institucional número 5 (AI-05) ficou impossível
manter as reuniões. Contou com a participação de homens importantes do Estado de
Sergipe, como jornalistas, juízes, professores, advogados, além desses intelectuais
contou também com a participação de alguns estudantes que já faziam parte da AP
(Ação Popular). Esse grupo foi marcado principalmente por uma luta ideológica, se
afastando da luta física, ou seja, eles se reuniam e discutiam questões de cunho
filosófico, político e social, e não chegaram a ir para as ruas. Isso porque eles
acreditavam que poderiam fazer algo contra a ação dos militares dessa forma.
Podemos, no entanto, notar que os demais grupos analisados nesse trabalho se
distanciou um pouco dos ideais dos membros do GESPS. Isso porque eles atuaram com
uma mobilização política mais efetiva. Essas agremiações de esquerda existiam também
em outros Estados do país, diferente do GESPS, que era um grupo exclusivamente
sergipano. O PCdoB e a POLOP (Organização Revolucionaria Marxista- Política
Operária) antes mesmo do golpe dos militares representavam em Sergipe grupos
pequenos, que contavam com a participação de funcionários públicos, estudantes e
sargentos. A AP era em Sergipe um grupo maior, que possuía grande destaque no
Movimento de Educação de Base (MEB), e também tinha uma grande representação
dentro da JUC (Juventude Universitária Católica). Em Sergipe havia também a
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participação do PCB na oposição aos militares, era este, o grupo de maior destaque e
influência em Sergipe.
Outros textos foram de fundamental importância para um maior aprofundamento
sobre o período trabalhado nesse artigo. A exemplo de Resistência e mistificação da
resistência armada contra a ditadura: armadilhas para pesquisadores Marcelo Ridenti.
O golpe militar de 64 como fenômeno de política internacional de Moniz Bandeira. E
também 1964: Temporalidade e interpretações de Lucília Neves Delgado.
As lacunas existentes neste trabalho devem-se em grande parte a ausência, até o
momento, de maiores informações e documentos sobre estes grupos, afinal essa
pesquisa está em seu momento inicial. As fontes utilizadas para este estudo limitam-se
aos livros Tutela Militar em Sergipe de Ibarê Dantas, e Os estudos filosóficos em
Sergipe de Jackson da Silva Lima e uma entrevista feita com o professor e historiador
sergipano Ibarê Dantas.
Ditadura Militar em Sergipe
No dia do golpe o governador de Sergipe Seixas Dória estava no Rio de Janeiro,
chegando a Aracaju na tarde do dia 01.04.1964. Quando ele chegou foi bem claro ao
manifestar sua oposição ao movimento que estava ocorrendo, e por este motivo, em
seguida foi preso e encaminhado para Salvador. De salvador foi transferido para a ilha
de Fernando de Noronha, onde passou mais de 100 dias. Nesse contexto quem assumiu
o governo do Estado foi o atual vice-governador Sebastião Celso de Carvalho.
Em Sergipe a categoria que mais se movimentou contra o regime autoritário foi
a dos estudantes. Onde o primeiro movimento que teve repercussão de fato foi o caso
dos estudantes do Atheneu. Nesse episódio seis alunos foram expulsos do colégio,
sendo eles: Wellington Mangueira, Alceu Monteiro, Jackson de Sá Figueiredo, Mário
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Jorge de Menezes Vieira, Abelardo Silva Souza e José Anderson Nascimento. Isso
porque, segundo Wellington Mangueira, eles negaram o juramento de fidelidade a uma
associação criada pelos militares a caça aos comunistas. Eles foram até presos.
Entretanto, como eram filhos de pessoas importantes do Estado de Sergipe, o caso
repercutiu na sociedade expondo os abusos dos militares. O movimento estudantil era
considerado pelos militares como um grupo de grande potencial subversivo.
Nos dois primeiros anos as movimentações em oposição ao regime foram bem
discretas em Sergipe. Isso porque nos primeiros meses ocorreram muitas prisões, o que
de certa forma reprimiu a população. Somente no ano de 1966 as manifestações contra o
Regime Militar atingiram maiores proporções. Principalmente quando as agremiações
de esquerda tornaram-se mais evidentes
Outro caso importante que podemos citar de Sergipe é o Congresso da UNE. Em
outubro de 68 a UNE mesmo na ilegalidade se mobilizou para mais um encontro. Em
Sergipe um grupo de universitários fez uma campanha para arrecadar dinheiro para a
viagem. De Aracaju saíram representantes das 3 agremiações- AP, POLOP, e PCB- que
militavam na área estudantil- que foram para Ibiúna no Estado de São Paulo. Mas as
forças policiais invadiram o local e todos estudantes foram presos. Durante o período
em que ficaram presos em São Paulo houve em Sergipe arrecadação de dinheiro para
pagar os advogados, como também passeatas pelas ruas de Aracaju. Após algum tempo,
foram soltos e voltaram para o Estado.
Com relação às operações armadas em Sergipe não houve notícias, mas existem
informações de treinamento. Na esfera do PCB por volta de 64 a direção promoveu um
curso teórico e prático do qual participaram 2 estudantes de Sergipe, Francisco Varela e
Wellington Mangueira. Apesar do pacifismo que podemos enxergar na orientação
oficial do PCB, nem por isso deixou de estar atento a outras formas de lutas.
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Entre os membros do POLOP em Sergipe teve-se notícias apenas de
movimentações no município de Capela. Seus membros discutiam projetos guerrilheiros
mirabolantes, chegando apenas ao treinamento de tiro ao alvo. Eles realizaram esses
encontros em uma fazenda de José Figueiredo, localizado no município de Capela.
Entre os membros da AP, em 1968 ocorreu um estágio para seus militantes, onde
cerca de quatro sergipanos participaram. Eles trabalhavam no campo, em uma fazenda
no interior do Estado, entre Laranjeiras e Riachuelo, em trabalhos pesados, e a noite
estudavam o pensamento de Mao Tse-Tung.
Entretanto, nesse primeiro momento, a participação dos grupos de esquerda em
Sergipe foi relativamente discreta, se comparada ao que ocorria em outros centros do
país. Mesmo assim, os estudantes acompanharam com atenção os acontecimentos
nacionais. Diferente do que aconteceu no âmbito nacional que os grupos de esquerda já
haviam feito opção pela luta armada, em Sergipe o movimento estudantil, sendo a
maioria do PCB, tendia a desenvolver ações mais moderadas.
Surgimento do GESPS
Durante o período de 1964 a 1985 ocorreu a Ditadura Militar no Brasil. Em
Sergipe houve alguns grupos que trabalharam na oposição do regime militar. O GESPS,
Grupo de Estudos Sociais e Políticos de Sergipe foi um grupo de esquerda, onde os seus
membros professavam o catolicismo. Podemos afirmar que eles não realizaram uma
ação política de fato, eles discutiam ideias de caráter filosófico, político e social.
Esse grupo surgiu em 1964 a partir das reuniões de alguns intelectuais de
formação católica em suas residências. Esse primeiro momento foi utilizado para
articular ideias, assim, somente no ano de 1965 foi que seus membros passaram a
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chamar o grupo de Grupo de Estudos Sociais e Políticos de Sergipe (GESPS). A
necessidade da realização de reuniões para conversar sobre os assuntos da atualidade
surgiu com a desarticulação que houve após o golpe por parte dos militares dos grupos
já existentes. Ou seja, com o golpe dos Militares instaurado não havia a possibilidade
desses homens realizarem reuniões para conversar e analisar o que estava acontecendo
não somente em Sergipe, mas em também em todo o Brasil, assim, após alguns meses
eles passaram a reunir-se, o que deu origem ao GESPS.
É interessante destacar que segundo o professor Ibarê Dantas os militares
subestimavam o grupo, isso aconteceu porque eles apenas discutiam questões
filosóficas, políticas e sociais. Assim, os militares inicialmente não viram naquele grupo
algum tipo de ameaça concreta, no entanto, com a repercussão de seus eventos, e a
vontade de alguns membros em resistir fez com que o atual regime proibisse suas
articulações.
No primeiro ano de sua existência as reuniões eram mais fechadas para alguns
membros em suas próprias residências. Somente no ano seguinte é que suas reuniões
foram planejadas para a participação de um grupo maior de pessoas, para isso eles
conseguiram um espaço em uma sala no prédio da Ação Católica. A primeira reunião
após essa ampliação ocorreu com cerca de quarenta pessoas. Segundo o professor Ibarê
Dantas em uma entrevista concedida a mim “Tratou-se de alguns temas de ocasião,
inclusive da reforma agrária, que havia entrado em pauta a partir das referências do
presidente marechal Humberto de Alencar Castelo Branco”. É interessante destacar que
as reuniões, como também os eventos desse grupo eram sempre vigiados por militares,
o que de certa forma, limitava a ação desse grupo.
Após esse momento inicial as reuniões passaram a ocorrer uma vez por semana
inicialmente no prédio da Ação Católica, na Rua Própria, localizada no Centro de
Aracaju, com uma média de quinze pessoas, onde atualmente encontrasse o prédio da
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comunidade Shalom. Tendo em vista o clima de desconfianças que estava vivendo todo
o Brasil naquela época, a ideia dessas reuniões não agradou muito ao monsenhor
Luciano Duarte, que representava em Sergipe o lado que era favorável ao novo regime,
ele possuía também grande influência na diocese, e este acabou proibindo a realização
dessas reuniões na sede da Ação Católica. Com a proibição, o grupo passou a se reunir
em uma sala do palácio Episcopal, com o apoio do arcebispo D. Vicente Távora.
O arcebispo D. Vicente Távora ao ceder uma sala mostrava que era um homem
que não estava intimidado pelos militares. Isso porque ele já estava sofrendo algumas
perseguições por causa do trabalho que desenvolvia no Movimento de Educação de
Base (MEB), e também pela sua participação na organização dos trabalhadores urbanos
e rurais. Por este motivo ele estava sendo confinado no Palácio Episcopal, onde não
podia receber visitas, e inclusive comenta-se que ele só não foi preso porque tinha um
grau de parentesco com o marechal Juarez Távora. Como ele já estava com uma saúde
bem debilitada, inclusive por causa de toda essa pressão e repressão, não resistiu ao
terceiro infarto, e acabou falecendo no dia 3 de abril de 1970. No entanto, não possuo
informações se ele chegou a participar das reuniões do GESPS, mas o grupo em alguns
momentos contou com sua ajuda, tendo em vista que ele representava na Igreja Católica
o lado que era contrário ao Regime em Sergipe.
Como já foi citado anteriormente esse grupo existiu por quatro anos, de 1964 a
1968. Houve também por parte desse grupo dois eventos de grande importância que
contou coma participação de muitas pessoas, inclusive de fora do Estado, foi a
realização de dois seminários, um em junho de 1966, e o outro em fevereiro de 1967. Já
no ano de 1968 houve rumores sobre um novo evento arquitetado pelo grupo, mas ele
não pode acontecer por causa da proibição dos militares.
Os principais participantes desse grupo foram: José Silvério Leite Fontes, Padre
Ovídio Valois Correia, Stefânio de Farias Alves, João Oliva Alves, José Ibarê Dantas,
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Jose Amado Nascimento, Luiz Rabelo Leite, Eliana Bellini. Esses são apenas alguns
nomes, isso porque outras pessoas começaram a frequentá-lo. A exemplo de Beatriz
Gois Dantas, Gizelda Moraes Iara Menezes, José Rolemberg Côrtes, Carlos Roriz.
Todavia, as informações sobre essas pessoas são escassas, o que impossibilita assim, um
maior aprofundamento em suas biografias.
O professor José Silvério Leite Fontes foi um dos intelectuais mais conhecidos
do Estado de Sergipe, formado em Direito na Bahia possuía um grande conhecimento,
como também uma grande autoridade. Ele foi, inclusive, uma espécie de líder do grupo,
já que estava sempre à frente das reuniões. Eliana Bellini era uma jovem socióloga de
São Paulo, que veio para Aracaju antes de 1964 para ser Secretaria de Educação do
Estado, e participou das reuniões do grupo. O Padre Ovídio Valois Correia foi um dos
fundadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS), e também do GESPS. Estudou
filosofia e sociologia, e acabou se formando em Roma na Pontifica Universidade
Gregoriana.
Stefânio de Farias também fez parte do GESPS. Foi um importante advogado,
formou-se em Direito na turma do ano de 1965. E é também considerado como um
Jornalista muito importante do Estado de Sergipe. Joao Oliva Alves foi outro intelectual
sergipano que também participou desse grupo. Nasceu em Riachão do Dantas,
município sergipano, e foi um jornalista de grande nome. Iniciou sua vida pública em
sua cidade natal, e quando mudou-se para Aracaju foi redator-chefe Gazeta de Sergipe.
Exerceu também o cargo de Secretário de Imprensa no Governo Seixas Dórea.
Ibarê Dantas é um importante historiador sergipano. Além da publicação de
vários livros sobre a história política de Sergipe, tem vários artigos em anais, revistas e
jornais. Podemos considerá-lo como um dos historiadores sergipanos mais importantes
do século XX. Outro importante membro foi José Amado Nascimento, foi formado em
contabilidade e em Direito. Destacou-se como pensador, critico, poeta, jornalista,
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esportista e professor universitário. E foi também um dos fundadores do Tribunal de
Contas do Estado de Sergipe.
Luiz Rabelo Leite também fez parte do GESPS. Ele é membro da família Rabelo
Leite, importante família do interior do Estado. Juiz de muita influência em Sergipe, e
foi também Secretário da Educação do Governo de Seixas Dórea. Estudou Direito em
Salvador, e lá se envolveu em movimentos religiosos estudantis, foi inclusive presidente
da Juventude Universitária de Salvador. Foi Secretário de Educação, Cultura e Saúde do
Estado de Sergipe no governo de Seixas Dórea. Quando os militares assumiram o poder
ele fez um discurso de demissão, após pedir demissão, isso porque ocupava um cargo de
confiança do governador deposto João de Seixas Dórea.
Dos membros que fizeram parte do GESPS apenas dois estão vivos atualmente.
Sendo um deles o Historiador sergipano Ibarê Dantas, e o outro, Joao Oliva Alves.
Infelizmente até o momento não consegui entrar em contato com Joao Oliva. Sei, no
entanto que ele é irmão de Terezinha Oliva, historiadora sergipana, muito conhecida no
Estado, que atualmente é Presidente do IPHAN2 em Sergipe.
Demais Agremiações e Partidos que atuaram em Sergipe
O PCdoB, surgiu no Brasil em 1962, quando alguns insatisfeitos com o PCB
criaram esse novo partido. No início de 1964 era um pequeno grupo liderado
por Antônio Gonçalves da Silva. Quando o partido começou a crescer foi justamente no
momento em que os militares assumiram o poder. Seus militantes foram detidos e se
afastaram da militância. Gonçalves foi preso e demitido do Banco do Brasil, logo nos
2 Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Foi criado em 30 de Novembro de 1937, com o
objetivo de preservar os bens culturais do país.
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primeiros dias da “revolução”3. Ele ficou muito abatido e após sair da prisão, deixou
a militância. O PCdoB ficou sem representação em Sergipe, e só voltou a se estruturar
em 1980.
A POLOP (Política Operaria) foi criada em 1961, por estudantes de outras
agremiações. Em janeiro de 1964 também representava em Sergipe um pequeno grupo.
Fazia parte dela dois oficias, um sargento da aeronáutica e outro do exército. Com o
golpe eles foram presos e a organização praticamente acabou. Em 1966 a POLOP
voltou a contar com a militância de algumas pessoas, dentre eles estudantes e bancários.
Apesar da existência desse grupo, onde seus membros discutiam e seguiam orientações,
formalmente ninguém era registrado como filiado. No plano nacional possuía uma
estrutura pouco rígida, e por este motivo não chegou a ter influência de destaque no
movimento estudantil, chegou entretanto, a exercer alguma influência no diretório de
economia. Podemos citar como figuras de destaque desse grupo: Antonio Vieira da
Costa, José Alves Filho e Rivaldo Maynard. Eles tinham basicamente como objetivo
uma revolução de caráter socialista, mas a repercussão não foi das maiores.
A AP ( Ação Popular) originou-se do movimento da esquerda católica em 1962,
e foi composta basicamente por estudantes. Com a mudança de regime foi um dos
grupos mais afetados. Perdeu a influência que tinha no Movimento de Educação de
Base (MEB). Joaquim Acioly, um dos seus principais líderes assim que foi solto
deixou Sergipe de forma definitiva. Desde então a maioria dos membros da AP eram
remanescente da JUC (Juventude Universitária Católica), participando do movimento
estudantil. Na fase de reestruturação da AP em Sergipe os nomes que mais se
destacaram foram José Rolemberg Cortes, aluno de medicina, que trouxe para o
movimento seu irmão João Bosco Rolemberg cortes, e sua cunhada Ana Maria Santos
3 O Golpe Militar de 1964 foi visto pelos militares, e também por parte da população, como uma
Revolução. Na medida em que o Brasil necessitava de ação desse tipo, para salvar o país do comunismo.
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da Faculdade de Serviço Social. Gilza Luiza Mota Gomes, da Faculdade de Serviço
Social e Carlos Roriz estudante de Química. Os militantes de Sergipe eram orientados
pelos de Salvador, onde o Partidão estava mais estruturado sob a direção de
Jorge Gonçalves. Em 66/7 o interesse da AP era a luta política nas ruas, vista como
forma de denunciar a ditadura. O pensamento deles era basicamente a ideia de que em
manifestações públicas os militares mostrariam suas armas, e isto poderia ser usado
como forma de desmascará-los.
O movimento estudantil dos militantes da AP exerceu grande influência em
Sergipe. Os jovens distribuíam panfletos pelos bairros, faziam pichações,
faziam campanha pelo voto nulo nas eleições de 66. E com essa participação efetiva
ficaram conhecidos como uma das siglas mais radicais, justamente por causa dessa
postura mais desafiadora.
Antes do golpe militar o PCB, que foi criado em 1922, era o partido ilegal como
maior número de militantes, o mais organizado e o mais envolvido com o projeto de
reformas do governo Seixas Dória. Com a repressão nem todos os principais líderes
foram presos. Isso porque o comitê do partido em Salvador providenciou a transferência
de alguns deles, através de sua organização do Socorro Vermelho4. Um exemplo foi o
caso do líder operário e vereador Manoel Vicente Nascimento, conhecido como Nuca
Ferroviário, que foi levado para a Bulgária. Tiveram vários outros nomes. Contudo, a
maioria das velhas lideranças permaneceu no Estado, submetendo-se a prisões e
respondendo processos. Entre eles estava José Nunes da Silva, que vinha sendo preso
desde 1935, assim como o Major do Exército João Teles de Menezes. Este último em
1964 apesar da idade avançada voltou a enfrentar a prisão.
4 Uma espécie de organização, onde as pessoas arrecadavam dinheiro. Nessa época várias personalidades
sergipanas contribuíram, para ajudar os homens do Partidão mais visados pelos militares.
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Os membros da AP sentiam-se mais próximos da POLOP e distanciados, ou até
mesmo adversários, do PCB. Isso porque, o PCB era uma das siglas mais moderadas e
seus membros acreditavam que deveriam lutar contra a ditadura evitando provocações e
violência.
Quando Vladimir Palmeira, era vinculado ao PCB e era uma das principais
lideranças do movimento estudantil do âmbito nacional, foi preso todos queriam dar
repercussão ao caso. Diversas greves ocorreram nos Estados, e em Sergipe não foi
diferente, começando na Faculdade de Direito, a partir daí os diretórios das outras
escolas de ensino superior também optaram pela paralisação e o movimento tomou
proporções enormes, tanto entre universitários como entre secundaristas.
Ações do GESPS em oposição à Ditadura Militar
Como já foi falado anteriormente os membros dos GESPS não optaram por uma
resistência física, ou ação política. Eles formavam um grupo que se reuniam para
discutir e fazer análises do que estava ocorrendo em Sergipe, e no Brasil. Assim, de
modo geral, não houve a participação dos seus membros com os enfrentamentos que
existiu no Estado, entre os militares a esquerda. Eles discutiam e articulavam ideias,
mas não chegaram a colocá-las em prática.
Mesmo esse grupo não tendo participado de articulações, não significa que eles
não realizaram nenhum evento para combater o regime instaurado, mesmo que no
campo das ideias. Se trata de dois seminários realizados em 1966 e em 1967. No
entanto, é possível afirmar que não contou com a participação de grande número da
sociedade sergipana. A ideia para a criação desses eventos surgiu a partir das reuniões
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do grupo, pensaram em um evento que contasse com a participação de pessoas de fora
do grupo, e também que ele ocorresse em um local público.
O primeiro foi realizado em janeiro de 1966, no entanto, não teve muito
abrangência, isso porque não foi muito divulgado, como também não existe nada
documentado sobre o referido evento. Como também não houve anotações e não há
muitas lembranças por parte das pessoas que participaram dele.
Já o segundo realizado entre 18 e 25 de fevereiro de 1967, e teve um maior
destaque, com relação ao primeiro. Esse seminário foi realizado durante uma semana, e
recebeu o nome de “Semana de Filosofia sobre A visão do Homem na Filosofia
Contemporânea”, e ocorreu no auditório da parte superior da Galeria Álvaro Santos na
Praça Olímpio Campos em Aracaju. A partir do nome que o seminário recebeu é
possível notar que se tratou de um encontro para falar de questões filosóficas. Contou
com a participação de vários palestrantes, entre os quais, podemos citar: Jorge
Montalvão que falou sobre a visão do homem em Marx, José Silvério falou sobre Karl
Jaspers, Giselda Santana Moraes ficou com o filósofo Jean Sartre, Ovídio Valois falou
sobre o pensamento de Gabriel Marcel, Juan José Rivas falou sobre a visão do homem
no neotomismo. Jose Amado ficou com Theilard de Chardin, e por fim, o padre Pierre
Averan que falou sobre a visão do homem em Emmanuel Mounier.
Esse evento deve mais destaque principalmente por causa de Stefânio de Farias
Alves. Isso porque como ele trabalhava no Jornal Gazeta de Sergipe anunciou com
certa antecedência, e inclusive, divulgou a programação de todo o evento. E após o
evento ele publicou uma síntese das palestras. Foi esse o material que Jackson da Silva
Lima reproduziu em seu livro Os Estudos Filosóficos em Sergipe.
Já em 1968, último ano de existência do GESPS por causa das pressões de
alguns membros em aumentar a participação do grupo nos acontecimentos da
atualidade, houve a programação de uma palestra no auditório do Instituto Histórico e
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Geográfico de Sergipe. No entanto, como o evento foi divulgado com antecedência, os
órgãos de segurança impediram a sua realização. Uma parte dos membros quiseram
entrar no Instituto e resistir, para assim da maior repercussão ao caso, mas a maioria dos
membros decidiu por dispersar-se, e o evento acabou não ocorrendo.
Com a publicação do AI-5 a repressão aumentou, e o GESPS foi extinto. O
Grupo de Estudos Sociais e políticos de Sergipe (GESPS) passou a ser mais vigiado
pelos órgãos de repressão. E isso fez com que não houvesse mais condições para o
grupo continuar suas reuniões.
Conclusão
Esse trabalho teve como principal objetivo mostrar que em Sergipe houve alguns
grupos que se movimentaram para fazer uma oposição ao regime instaurado pelos
militares no ano de 1964. Como foi falado anteriormente, dei um destaque maior ao
GESPS (Grupo de Estudos Sociais e Políticos de Sergipe) por pesquisar com mais
avinco esse grupo. Pretendi dessa forma, trabalhar mostrando a totalidade em que o
GESPS estava inserido.
Um ponto que foi possível concluir a partir desse trabalho é que o GESPS
possuiu características distintas dos demais grupos citados nesse trabalho. O que,
evidentemente, não diminui a importância de nenhuma das formas de luta adotadas
pelos homens que presenciaram esse período.
Apesar das limitações metodológicas do presente trabalho, é possível destacar
que ele possui uma importância fundamental, pois ajuda a reforçar a ideia de que houve
no Estado de Sergipe uma oposição ao Regime Militar instaurado no Brasil com a
deposição do Presidente João Goulart. Através desta pesquisa foi possível conhecer
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melhor a história dos GESPS, dos seus membros, como também a sua atuação em
Sergipe. Além de conhecer outros grupos e partidos que atuaram em Sergipe na
oposição aos militares. Este artigo é apenas o resultado inicial dessa pesquisa, que com
certeza terá outros resultados no futuro.
No decorrer do texto é possível notar que apesar de existir por apenas quatro
anos esse grupo conseguiu se destacar na oposição em Sergipe à ditadura que ocorreu
no Brasil de 1964 a 1985. Não posso deixar de destacar que esses intelectuais e
estudantes não fizeram uma oposição baseados na luta política, mas sim no campo das
ideias. Considero isso importante, pois eles discutiam ideias, e não podemos esquecer
que qualquer ação política inicia no campo das ideias. Esse grupo podia iniciar a
qualquer momento uma ação política, e talvez ao ver essa possibilidade os militares se
empenharam para vê-lo extinto. O que acabou ocorrendo no ano de 1968.
Referência
BANDEIRA, L. A. Moniz Bandeira. “O golpe militar de 64 como fenômeno de política
internacional”. In: TOLEDO, Caio Navarro de Toledo (org.). 1964: visões críticas do
golpe. Democracia e reformas no populismo. Campinas-SP, Editora da UNICAMP,
1997.
DANTAS, Ibarê. A tutela militar em Sergipe, 1964/1984: partidos e eleições num
estado autoritário. Rio de Janeiro: Tempo Brasilerio,1997.
DANTAS, Ibarê. Grupo de Estudos Sociais e Políticos de Sergipe (GESPS). Aracaju,
Sergipe. 24 de agosto de 2013. Entrevista concedida a Amanda Marques.
DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. “1964: temporalidades e interpretações”. In:
REIS, Daniel Aarão, RIDENTI, Marcelo & MOTTA, Rodrigo Patto Sá (Orgs). O golpe
e a ditadura militar. 40 anos depois (1964-2004). Bauru-SP, EDUSC, 2004.
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LIMA, Jackson da Silva. Os Estudos Filosóficos em Sergipe. Aracaju: Sociedade
Editorial de Sergipe, 1995.
RIDENTI, Marcelo. “Resistência e mistificação da resistência armada contra a ditadura:
armadilhas para pesquisadores”.
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