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Fotografia no Brasil

Hércules Florence: Centro de Memória da Unicamp abriga autobiografia do pioneiro

Hercules Florence, como ficou internacionalmente conhecido a partir da publicação do livro de Kossoy, "1833: a Descoberta Isolada da Fotografia no Brasil" (editora Duas Cidades, 1980), nasceu em 1804, em Nice, e, com a ajuda do pai, pintor autodidata, estudou artes plásticas. Aos 20 anos, sua natureza inquieta e uma insistente falta de emprego o conduzem a um desconhecido Rio de Janeiro, onde passa um ano como modesto caixeiro de uma casa comercial e, depois, vendedor de livros.

Pelos jornais descobre a vinda do famoso naturalista russo Langsdorff e é aceito como segundo desenhista daquela que viria a ser uma das maiores e mais profícuas expedições científicas realizadas no Brasil dos séculos passados. A contribuição de Florence à ciência, às artes e à história estava apenas começando.

Em 1829, com o fim da expedição, ruma para São Paulo, e, em 1830, inventa seu próprio meio de impressão, a Poligrafia –técnica similar à do mimeógrafo – que permitia a impressão das cores simultaneamente. Gosta da idéia de procurar novos meios de reprodução e descobre isoladamente um processo de gravação através da luz, que batizou de Photografie, em 1832, três anos antes de Daguerre. A ironia histórica, oculta por 140 anos, é que o processo era mais eficiente do que o de Daguerre. Já em 1833 utilizou uma chapa de vidro em uma câmara escura, cuja imagem era passada por contato para um papel sensibilizado.

Temáticas registradas pelos fotógrafos que contribuíram para a construção da imagem do país:

• Avanços da técnica- obras de implantação de estradas de ferro.• Agricultura (plantio, mecanização, colheita, etc.)• transformações urbanas (aberturas de vias públicas, instalação de rede elétrica)• industrialização (edifícios industriais, equipamentos, máquinas, etc.)• obras de engenharia civil (edifícios, pontes, estradas, etc.)

Outros temas:

• triunfos militares (Canudos por ex.)• natureza (matas, selvas, cataratas)• manifestações artísticas, culturais e educacionais• expedições científicas• retratos dos dirigentes da nação

Os 58 anos do reinado de Dom Pedro 2º (1841-1889) coincidiram com o desenvolvimento da fotografia no Brasil. O imperador reuniu uma coleção pessoal de mais de 20 mil imagens, que ele deixou à Biblioteca Nacional.

Mulher com dois escravos, Bahia (1860)O autor desta foto é desconhecido

Rua das Casinhas, SP (1862)O carioca Militão Augusto de Azevedo é o único brasileiro entre os melhores fotógrafos do Império. Em apenas alguns meses de 1862, Azevedo fez mais de cem fotos de uma São Paulo de apenas 25 mil habitantes, onde a presença de um fotógrafo nas ruas causava espanto à população.

Cachoeira de Piabanha (1865)O paisagista francês Auguste Stahl é considerado o maior talento da fotografia brasileira do século 19. Stahl se instalou inicialmente em Recife, em 1853, mudando-se depois para o Rio.

A avenida Central: e seus edifícios, ainda em construção, tendo ao fundo o Pão de Açúcar, c. 1905-1906 Marc Ferrez. In: KOK, Glória. Rio de Janeiro na época da Av. Central.

A avenida Central, já plenamente integrada à paisagem carioca, c. 1910 MarcFerrez & Filhos. In: KOK, Glória. Rio de Janeiro na época da Av. Central.

Apesar do esforço de construir o imaginário de identidade nacional, o que o receptor europeu queria ver e consumir ao se tratar do Brasil era muito diferente. Eles estavam interessados em imagens de etnias “inferiores”, que mostravam o exotismo das populações tropicais e reforçava com o testemunho fotográfico o atraso reforçando o clima preconceituoso daquele momento.

A quitandeira "condenada" a desaparecer, tal como o quiosque, c. 1895.Marc Ferrez. In: KOK, Glória. Rio de Janeiro na época da Av. Central.

Alto Amazonas (1865)O alemão Albert Frisch foi o primeiro fotógrafo a realizar imagens de indíos no Amazonas.

À fotografia como documento, opõe-se a idéia de fotografia como ramo das belas-artes, uma idéia já em discussão em fins do século XIX. As intervenções no registro fotográfico por meio de técnicas pictóricas foram amplamente realizadas numa tentativa de adaptar o meio às concepções clássicas de arte, no que ficou conhecido como fotopictorialismo.

Os anos 1940 são considerados um momento de virada no que diz respeito à construção de uma estética moderna na fotografia brasileira. Trata-se de pensar novas formas de aproximação entre fotografia e artes, longe da trilha aberta pelo pictorialismo.(O movimento pictorialista eclodiu na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos a partir da década de 1890, os fotógrafos tentavam imitar a aparência e o acabamento de pinturas, gravuras e desenhos ao invés de tentarem explorar os novos campos estéticos oferecidos pela fotografia).

Em São Paulo, no interior do Foto Cine Clube Bandeirantes, observa-se a experimentação de uma nova linguagem fotográfica, em trabalhos como os de Thomaz Farkas (1924) e Geraldo de Barros (1923 - 1998). Os trabalhos de Farkas desse período permitem flagrar a preocupação com pesquisas formais, exploração de planos e texturas, além da escolha de ângulos inusitados.

Thomaz Farkas (1946)

Geraldo de Barros, por sua vez, notabiliza-se pelas cenas montadas, pelos recortes e desenhos que realiza sobre os negativos. Afinado com o movimento concreto dos anos 1950 e com o Grupo Ruptura, inaugura uma vertente abstrata na fotografia brasileira, como indica sua mostra Fotoformas, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, em 1950.

Geraldo de BarrosCastelo de Carcassone, França, 1951

"O gato e o rei" (SP, 1949) - desenho sobre negativocom ponta seca e nanquim.

formas,

São

Paulo

photo

Geraldo de BarrosFotoformasphotograph28.9 x 28.8 cm1949

Fotoformas , 1950 40 x 30 cm Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro, RJ)

Ainda nas décadas de 1940 e 1950, em que se observa a aproximação da fotografia com as artes plásticas, nota-se a franca expansão do fotojornalismo no país, nas revistas O Cruzeiro e Manchete. Jean Manzon (1915 - 1990), José Medeiros (1921 - 1990), Luís C. Barreto, Flávio Damm (1928) e outros, fizeram da fotografia elemento ativo da reportagem.

Primeira edição de Cruzeiro(10 de Novembro de 1928)

José MedeirosAparecida, São Paulo, 1949

Foto: Jean ManzonEssa fotografia foi feita em plena guerra, quando os tanques e os aviões de nazistas punham de joelhos a Europa inteira.

Quanto aos jornais, o Última Hora parece ter sido o primeiro a dar destaque à fotografia, recrutando profissionais como Orlando Brito (1950), Walter Firmo (1937) e Pedro Martinelli (1950).

Os anos 1950 marcam ainda o anúncio de um mercado editorial ligado à fotografia, seguido pela criação de revistas especializadas; entre as mais importantes estão a Iris, fundada em 1947, e a Novidades Fotoptica, depois Fotoptica, criada em 1973 por Thomas Farkas.

Fotografias Etnográficas Em 1960 e 1970 Maureen Bisilliat (1931) e Claudia Andujar(1931), e posteriormente Milton Guran (1948), Marcos Santilli(1951), Rosa Gauditano (1955).

Claudia Andujar

Rosa Gauditano

O nome de Sebastião Salgado (1944) deve ser acrescentado àlista. Repórter fotográfico desde a década de 1970, Salgado realiza ensaios temáticos dedicados às questões sociais e políticas candentes, como os da década de 1990: Trabalhadores, Serra Pelada, Terra e Êxodos.

Sebastião SalgadoSerra Pelada- 1986

Sebastião SalgadoLivro Êxodos- 1993-99

A realidade social, as cenas urbanas e os pobres conhecem novo tratamento nos trabalhos de Miguel Rio Branco (1946), desde os anos 1980, quando fotografa o cotidiano de Salvador.

Miguel Rio Branco, Blue Tango1984-1996

A explosão de cores, a granulação da imagem e os ângulos inéditos recolocam o problema da relação entre a fotografia e a pintura As contribuições recentes de Rochelle Costi (1961), VikMuniz (1961), Arthur Omar (1948), Rosângela Rennó (1962) e Cassio Vasconcellos (1965) e muitos outros apontam para as possibilidades abertas no campo das experimentações fotográficas.

Muniz questiona a natureza e a tradição da representação visual fazendo uso engenhoso de materiais inusitados para desenhar seus motivos que serão fotografados. Ele começa fazendo fotografias Polaroid. Elas são suas referências para criar desenhos com xarope de chocolate, sujeira, açúcar, e aí ele fotografa o resultado.

Valentine, The Fastest. From "The Sugar Children Series." 1996.

Individuals, 1998Vik Muniz

Clouds, 2000Vik Muniz

Rosângela RennóPuzzles (homem e mulher), 1991

Rosângela RennóObituário transparente, 1991 (84 negativos 4x5", resina de poliéster e parafusos)

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