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1
Filipenses: O coração de pastor de Paulo
Autor
José Alfredo Perdomo Molina
Seminário Internacional de Miami
2014
2
ÍNDICE
Prefácio
Introdução
Lição 1: Introdução a Filipenses
I. Introdução II. Informação geográfica e histórica III. Dados biográficos do autor IV. Data e local de redação V. Propósito da epístola VI. Conclusão Perguntas para a lição 1
Lição 2: “Os tenho no meu coração” (1:1-11)
I. Introdução II. Saudação III. Destinatários IV. Ação de graças e intercessão V. Conclusão Perguntas para a lição 2
Lição 3: `”O viver é Cristo” (1:12-30)
I. Introdução II. Acontecimentos imediatos (1:12-17) III. Expressão de alegria: “alegro-me, seguirei alegrando-me” (1:18-19) IV. Testemunho de vida (1:20-26) V. Exortações pastorais (1:27-30) VI. Conclusão Perguntas para a lição 3
Lição 4: “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo” (2:1-30)
I. Introdução II. Exortações pastorais (2:1-5) III. Ensinamento teológico (2:6-11) IV. Exortações pastorais (Cont.) (2:12-15)
3
V. Testemunho de vida (2:16-17) VI. Expressão de alegria: “estou alegre e me regozijo com vocês” (2:17-18) VII. Acontecimentos imediatos (2:19-30) VIII. Conclusão Perguntas para a lição 4 Lição 5: “Por causa de Cristo” (3:1-11)
I. Introdução II. Expressão de alegria: “Alegrem-se no Senhor” III. Exortações pastorais (3:2-3) IV. Testemunho de vida (3:4-7) V. Ensinamento teológico (3:8-11) VI. Conclusão Perguntas para a lição 5 Lição 6: “Nossa cidadania está nos céus” (3: 12-21; 4:1)
I. Introdução II. Testemunho de vida (3:12-14) III. Exortações pastorais (3: 15-17) IV. Ensinamento teológico (3:18-21) V. Expressão de alegria: “vocês são a minha alegria” (4:1) VI. Conclusão Perguntas para a lição 6 Lição 7: “Pensem nessas coisas. Ponham em prática” (4:2-9)
I. Introdução II. Acontecimentos imediatos (4:2-3) III. Expressão de alegria: “alegrem-se sempre no Senhor” (4:4) IV. Exortações pastorais (4:5-7) V. Ensinamento teológico (4:8-9) VI. Conclusão Perguntas para a lição 7 Lição 8: “As suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus” (4:10-20)
I. Introdução II. Expressão de alegria: “alegro-me imensamente no Senhor” (4:10) III. Testemunho de vida (4:11-13 IV. Acontecimentos imediatos (4:14-18) V. Ensinamento teológico (4:19) VI. Saudação final (4:20-23) VII. Conclusão
Perguntas para a lição 8
5
Prefácio
Desde pequeno, até onde me alcança a memória, recordo ter sentido um
grande interesse e fascínio pelo livro que, ao meu modo de ver, havia motivado
tantos cristãos sinceros – santos e mártires – a viver vidas fora do comum; a
realizar atos heroicos; a sacrificar o conforto; a deixar atrás seres queridos e
interesses pessoais para seguir o chamado de Deus. Aprendi de minha mãe a
desfrutar da leitura das biografias de tais homens e mulheres e, mais que
nada, a valorizar e respeitar as Escrituras Sagradas as que, juntamente com o
Espírito Santo, são os agentes responsáveis por tudo de bom, bonito e nobre
que já tenha sido realizado pelos seguidores de Cristo.
Ao longo dos anos, o interesse pelo estudo das Escrituras Sagradas e seu
efeito na história continuou crescendo em mim. Pude comprovar pessoalmente
seu poder transformador e vi, de primeira mão, o efeito que produz na vida dos
meus seres queridos e até daqueles que me eram desconhecidos até se
converterem em meus irmãos na fé.
É com esse respeito e fascínio que escrevo este breve estudo daquela que
poderíamos considerar a carta mais íntima e familiar de um dos grandes heróis
da fé de todos os tempos. Há muito para aprender do exemplo, da ternura e
dos valores que norteavam a vida deste grande apóstolo. Espero e desejo que a
proposta de estudo que apresento de tal epístola possa, antes de tudo,
glorificar a Deus e só então lançar um novo lampejo de compreensão neste
texto que tem sido tratado e examinado por tantos e tão capazes servos de
Deus. A eles sou devedor e me considero entre os agraciados por ter
participado de seus ensinamentos.
Desejo agradecer, antes de tudo, ao Senhor porque a Ele devemos tudo;
ao MINTS e, em particular, ao professor Jaime Andrés pela oportunidade de
aprender e compartilhar o aprendido; ao meu bom amigo Guillermo, por seu
encorajamento, apoio e exemplo no momento de escrever; à minha fiel esposa,
por estar ao meu lado durante todos estes anos; aos meus filhos e netos -todos
e cada um- por terem sido, e continuarem sendo, o maior desafio e a melhor
influência em minha vida.
6
Introdução
Filipenses é a epístola paulina predominantemente pastoral. Como em
nenhuma outra, o apóstolo abre seu coração e comenta seus sentimentos e
experiências pessoais, enquanto atravessa um momento crítico no desempenho
de seu ministério e se vê submetido a enormes pressões de diferentes índoles.
Em suas linhas, podemos perceber o calor e a sinceridade do pastor que ensina
e exorta através de seu próprio exemplo, de uma perspectiva de serviço,
dedicação e humildade.
Paulo, nesta epístola, se manifesta como um pastor, ancião,
compreensivo e sofrido, que reconta de maneira íntima suas próprias
experiências, suas vitórias e derrotas, seus temores e esperanças, suas
necessidades e desejos a respeito de seu antigo rebanho, pelo qual se sente
responsável e orgulhoso ao mesmo tempo. É o pastor terno que ensina , exorta,
mostra o caminho, mas que acima de tudo, manifesta grande fé, confiança e
carinho por seus ouvintes. Nesta epístola, como em nenhuma outra, declara
sinceramente sua satisfação e agradecimento pelo carinho e apoio
demonstrado com relação à sua pessoa e ministério no decorrer dos anos.
Nesta oportunidade, escolhemos realizar o estudo da epístola aos
filipenses seguindo a análise temática do seu conteúdo Pretendemos classificar
os diferentes recursos pastorais que, de maneira recorrente, encontramos em
cada uma das seis seções nas quais consideramos por bem dividi-la para nosso
estudo. À medida que formos repassando as seções mencionadas, veremos
como, em cada uma delas, Paulo, ao dirigir-se à sua audiência, utiliza o mesmo
padrão de pensamento, o mesmo esquema lógico que torna a repetir-se --ainda
que alterando a ordem dos elementos que o compõem– a cada nova seção.
Temos classificado por categorias os recursos pastorais que utiliza.
Assinalaremos ao decorrer do texto o uso de tais recursos, apesar de que em
algumas ocasiões apresentam-se de forma simultânea. Conheceremos seu
testemunho de vida, que inclui detalhes de sua biografia, experiência pessoal
e a exposição de seus valores e princípios. Examinaremos o tratamento
dispensado aos acontecimentos imediatos. Estudaremos seus ensinamentos
teológicos aplicados. Revisaremos as exortações pastorais que dirige aos
filipenses. Por último, examinaremos a motivação que impulsiona cada uma
das expressões de alegria que caracterizam esta epístola.
7
A alegria do cristão: quer de Paulo diante do comportamento dos
filipenses ou deles próprios no Senhor, apesar das dificuldades que
enfrentavam, é o fio condutor que transparece em cada seção. Este tema é tão
central à epístola que poderíamos perfeitamente ter realizado nosso estudo a
partir desta perspectiva, mas preferimos nesta ocasião enfocá-lo no coração de
pastor de Paulo e assim aproximarmos de maneira estruturada ao conteúdo
desta maravilhosa epístola.
Iniciaremos o estudo analisando os elementos característicos e comuns
às epístolas paulinas e em geral aos escritos epistolares da época: seções que
incluem a saudação, ação de graças e intercessão, agradecimentos, ordens
pessoais e saudações finais. Comentaremos brevemente estas seções que
aparecem no começo e no final da epistola para nos concentrar no estudo
detalhado do conteúdo das outras seis seções.
Iniciaremos a primeira lição do nosso estudo com a introdução geral, na
qual examinaremos o contexto histórico e geográfico entre outros detalhes. Na
segunda lição, nos concentraremos na análise da seção introdutória da
epístola: a saudação, a ação de graças e os destinatários. A partir da terceira
seção até a oitava, analisaremos de maneira temática o conteúdo do corpo
principal da epístola segundo o tema que traçamos uma seção por lição. Na
conclusão de cada lição, ofereceremos comentários que sintetizem os ensinos
de cada perícopa estudada. Por último, cabe apontar que escolhemos a Nova
Versão Internacional (NVI) como texto base do estudo.
A epístola aos filipenses contém valiosos ensinamentos de grande
utilidade prática para todos os que queiram desempenhar o ministério
pastoral. Consideremos, portanto, o conteúdo teológico da mesma e prestemos
cuidadosa atenção ao tom, ao comportamento e à atitude que o próprio
apóstolo manifesta no trato de seu antigo rebanho.
A epístola aos filipenses proporciona um maravilhoso exemplo de
aplicação prática dos ensinos pastorais do também apóstolo Pedro: “Portanto,
apelo para os presbíteros que há entre vocês, e o faço na qualidade de presbítero
como eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, como alguém que participará
da glória a ser revelada: pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus
cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus
quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como
dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho.
Quando se manifestar o Supremo Pastor, vocês receberão a imperecível coroa da
glória“ (1 Pedro 5:1-4).
8
Lição 1: Introdução a Filipenses
I. Introdução
Antes de entrar propriamente na análise temática do conteúdo da
epístola aos filipenses que realizaremos nas lições posteriores, vamos tentar
estabelecer algumas questões periféricas à própria epistola, que nos vão servir
para fixar o contexto geral da mesma.
Dedicaremos a primeira seção desta lição a localizar o marco geográfico e
histórico da antiga cidade de Filipos. A região da República Helena (Grécia),
onde se encontra inserida a pequena cidade de Krinides, na atualidade se
denomina Macedônia Oriental e Tracia. O sítio arqueológico da Filipos original
se encontra na periferia do seu raio urbano.
A fim de nos familiarizar com as circunstâncias e os antecedentes dos
receptores da epístola, examinaremos alguns detalhes topográficos do lugar e
estudaremos os principais acontecimentos históricos que antecederam a visita
de Paulo e seus colaboradores. Aproveitaremos esta seção para caracterizar a
sociedade da época em sua vertente cultural, econômica, política e religiosa.
Dedicaremos a seção seguinte ao estudo dos dados biográficos do autor,
o próprio Paulo, e revisaremos algumas de suas experiências na cidade de
Filipos, segundo relata Lucas no livro de Atos. Vamos nos interessar em
conhecer os detalhes da fundação da primeira igreja em terras europeias pelo
apóstolo e os personagens que participaram da mesma.
Na próxima seção determinaremos a autoria e a provável data de redação
da epístola segundo testemunhos externos. Na segunda lição de nosso estudo,
quando volvamos a revisar o tema da autoria da epístola o faremos a partir do
testemunho interno da mesma.
Por último, comentaremos os propósitos gerais que podemos atribuir ao
apóstolo ao escrever a epistola. À medida que estudemos cuidadosamente seu
conteúdo em seções futuras, comprovaremos como tais propósitos irão se
materializando.
Na conclusão, mencionaremos algumas características particulares desta
epístola que a diferenciam do resto do corpo de epístolas paulinas.
II. Informação geográfica e histórica
9
Topografia
A cidade de Filipos1 estava situada ao pé de uma abrupta colina próxima
ao pequeno rio Gangites. Este regava uma ampla e fértil planície quase
totalmente rodeada por cadeias montanhosas, cuja única entrada se abria em
direção oeste (Anfipolis e Tessalonica). A cidade estava localizada ao norte de
tal planície; ao sudeste se encontravam os montes Pangeo, cuja vertente
oriental fecha a passagem em direção ao sul, ao mar. A população costeira
mais próxima era a cidade de Neapolis (hoje em dia, Kavala) a uns 16 km de
distância.
A região era rica em minas de ouro, prata e cobre e a extensa planície,
particularmente depois de terem sido drenadas as áreas pantanosas, era muito
fértil e intensamente cultivada.
A via Egnatia, que unia a capital do império romano com as regiões da
Ásia e do Mar Negro, atravessava-a e aliviava do relativo isolamento que a sua
localização geográfica lhe impunha.2
História
Por volta dos anos 680 A.C, chegaram ao norte da vizinha ilha de Tasos,
situada a oito km do continente em uma região habitada por tracios, alguns
colonos gregos assaltados pela fome e fundaram a cidade homônima que se
desenvolveu notavelmente. Os tasios exploraram as minas de ouro da ilha que
tinham sido exploradas anteriormente por fenícios e sitas. Descobriram
pedreiras de mármore, introduziram o cultivo da videira e cunharam moedas.
Por carecerem de suficiente terreno para cultivo na ilha, os colonos tasios
se transladaram ao continente, onde podiam dispor de extensões maiores para
essa necessidade. Seu interesse, sem dúvida, se centrava na exploração das
ricas minas de ouro da região, particularmente as do monte Pangeo muito mais
produtivas do que as da ilha e que tinham sido exploradas anteriormente pelos
tracios. Fundaram, pois, no lugar que acharam mais propício, a colônia tasia
de Crenides (lugar de fontes) por sua centralidade na região ocupada.
No ano 357-358 A.C, Filipo II de Macedônia, pai de Alexandre Magno,
capturou-a das mãos dos tasios durante suas campanhas de conquista,
1 Coordenadas: 41°00′47″N 24°17′11″E – Cortesia: Google Maps.
2 http://es.wikipedia.org/wiki/Filipos_(ciudad)
10
reedificou-a como sua residência real e colocou nela seu nome, Filipos. A
cidade cresceu rapidamente ao encontrar-se bem comunicada pela estrada real
macedônia que unia as cidades de Anfipolis a oeste e Neapolis ao sul.
O descobrimento de novas minas de ouro, desta vez na região
montanhosa de Asyla, a drenagem e saneamento dos pântanos, a construção
de fortificações, o estabelecimento de uma oficina de cunhagem de moedas,
assim como o desenvolvimento de suas próprias instituições políticas,
contribuíram para o auge e crescimento da nova cidade apesar de contar
apenas com uns 2000 habitantes.
Com a derrota do último rei macedônio no ano de 167 A.C, a cidade de
Filipos passou às mãos romanas. No ano de 43 A.C, Roma estava dividida pela
guerra civil como resultado do assassinato de Julio Cesar por parte dos
senadores que viam perigo para o futuro da república. Os arredores de Filipos
foram o palco da sangrenta batalha na que se enfrentaram as tropas de Casio e
Brutus as de Otavio e Antonio.
A vitória das legiões lideradas por Antonio sobre as de Casio e seu
posterior suicídio, compensaram a derrota de Otavio diante de Brutus. Vinte
dias depois, Otavio e Antonio finalmente derrotaram Brutus, assinalando o
final da guerra. A conclusão da campanha militar e o posterior licenciamento
de parte das tropas nas imediações da cidade facilitaram sua refundação como
colônia romana com o nome de Colonia Victrix Philippensium.3
A nova colônia romana, cujas autoridades dos magistrados castrenses
respondiam diretamente a Roma e não à administração regional, regia-se pelo
Ius italicum (direito de Itália) que entre outras regalias lhes garantia a isenção
de impostos. No ano de 27 A.C. seu nome oficial mudou para Colonia Augusta
Iulia Philippensis. 3
A cidade contava com grande quantidade de cidadãos romanos. Em
termos gerais, os habitantes utilizavam indumentárias romanas,
frequentemente se comunicavam em latim e, quanto à religião, veneravam as
mesmas divindades romanas e celebravam seus festivais. Muitos filipenses
eram militares aposentados que tinham recebido dotes de terra cultiváveis nos
arredores e que, por sua vez, serviam como presença militar na região. A
reforma e ampliação de vários recintos monumentais: foro, anfiteatro,
3 http://edc.evidenciasdelcristianismo.com/?page_id=809
11
biblioteca e muralhas servem para ressaltar sua abundância proveniente das
ricas minas e do comércio e a importância de suas instituições.
III. Dados biográficos do autor
A autoria paulina da epístola tem sido amplamente aceita desde os
primeiros séculos com muito pouco desacordo.
“Entre os primeiros apoios extra bíblicos da
paternidade paulina está Clemente de Roma em sua carta a
Corinto, Ignácio em sua carta a Esmirna, Policarpo em sua
carta a Filipos, Ireneu, Clemente de Alexandria e Tertuliano.4
O testemunho externo é, pois, contundente.
Lightfoot afirma: “A epístola aos filipenses aparece em
todos os cânones de Escritura durante o segundo século: nas
listas do herege Marción e o fragmento Muratori, assim como
nas versões Vetus Latina e a Siríaca Peshita.”5
Quanto ao testemunho interno, o autor identifica a si mesmo como
Paulo. O estilo, o vocabulário utilizado e os ensinamentos são tipicamente
paulinos.
Por outro lado, apesar de não haver dúvidas quanto à autenticidade da
epístola, alguns intérpretes questionam sua homogeneidade, assinalando a
possibilidade de a mesma ser, na realidade, uma recopilação de várias
comunicações que o apóstolo manteve com a igreja de Filipos. Oportunamente
comentaremos tal possibilidade, assinalando no texto as ocasiões nas quais
parece que o apóstolo se dispõe a concluir a epístola e esboça algum tipo de
despedida.
Quanto aos acontecimentos que relacionam originalmente o autor com a
fundação da igreja de Filipos, Lucas nos conta o seguinte:
“No sábado saímos da cidade e fomos para a beira do
rio, onde esperávamos encontrar um lugar de oração.
Sentamo-nos e começamos a conversar com as mulheres que
haviam se reunido ali. Uma das que ouviam era uma mulher
temente a Deus chamada Lídia, vendedora de tecido de
purpura da cidade de Tiatira. O Senhor abriu seu coração 4 Motyer, J. Alec. “El mensaje de Filipenses” (p.9).
5 Motyer, J. Alec. “El mensaje de Filipenses” (p.18).
12
para atender à mensagem de Paulo. Tendo sido batizada,
bem como os de sua casa, ela nos convidou, dizendo: ‘Se os
senhores me consideram uma crente no Senhor, venham ficar
na minha casa’. E nos convenceu” (Atos 16:13-15).
Portanto, Paulo e seus companheiros: Silas, Timóteo e provavelmente o
próprio Lucas, iniciaram seu trabalho missionário no lugar de oração habitual,
junto ao rio Gangites, visto que a cidade não dispunha de uma sinagoga
constituída.6 A conversão de Lidia e seu convite posterior a hospedar-se em sua
própria casa dão início à primeira igreja européia.
Durante “muitos dias” (Atos 16: 18), Paulo e seus companheiros
ministraram aos residentes nesse mesmo lugar de oração junto ao rio. O
acontecimento que Lucas relata a seguir: o exorcismo da jovem pitonisa (Atos
16: 16-18), terminaria com a prisão injusta, tortura e aprisionamento de Paulo
e Silas por parte dos magistrados da cidade. A conversão do carcereiro7 e sua
família acrescentam novos crentes à igreja primitiva. A primeira visita a Filipos
do apóstolo concluirá com a sua expulsão da cidade, a pedido dos próprios
magistrados, depois de terem apresentado suas desculpas por terem
determinado sua prisão e castigo corporal de maneira ilegal ao não terem
reconhecido sua condição de cidadãos romanos. Timóteo e Lucas
permaneceram em Filipos temporariamente para cuidar da nova igreja.
A cidade de Filipos experimentou grande auge nos primeiros séculos e da
importância de sua igreja atesta o próprio Policarpo de Esmirna ao dedicar-lhe
uma de suas epístolas no ano 160 D.C. Durante o século V e VI se
multiplicaram as construções religiosas, chegando a ter sete igrejas de maior
porte.8 A partir desse momento, o destino da cidade fica ligado ao instável
império bizantino, herdeiro do romano. As constantes invasões de búlgaros, de
francos por um breve período, de sérvios e otomanos, assim como o surgimento
da peste e o abandono das rotas comerciais , precipitaram sua inexorável
decadência.
A cidade foi abandonada no século XIV seguindo a invasão otomana, as
ruínas de seus monumentos foram utilizadas pelos habitantes da localidade
6 “Realmente havia tão poucos judeus em Filipos que não havia sinagoga (eram necessários dez
homens casados para estabelecer uma) por isso os judeus que viviam ali se reuniam na beira do rio Gangites para orar” Tenny, Merril C. Pictorial Encyclopedia of the Bible vol. 4 (p. 762). 7 Para um soldado romano, era vergonhoso deixar escapar um prisioneiro. Tal descuido se pagava com a vida. Não é estranho que o carcereiro reagiu daquela maneira. Carballosa. Evis L. “Filipenses: Um comentário exegético y práctico”. (p.13). 8 http://www.esacademic.com/dic.nsf/eswiki/486823.
13
como pedreira e suas ruínas só voltaram a ver a luz em meados do século XIX.
A exploração arqueológica se completaria em 1978 pelo serviço arqueológico
grego e a Universidade de Tessalonica.9
IV. Data e lugar da redação
A própria epístola revela que foi escrita na prisão. Tradicionalmente tem
sido aceito como o lugar provável de sua redação a cidade de Roma, durante a
temporada que antecedeu a primeira defesa diante de Cesar, coincidindo com a
narração dos últimos capítulos do livro de Atos.
Contudo, existem outros dois possíveis lugares que disputam esta versão
tradicional. Trata-se das cidades de Éfeso e Cesarea, onde o apóstolo também
sofreu encarceramento. Vamos considerar a seguir ambas alternativas:
A cidade de Éfeso seria uma alternativa plausível, já que sua
proximidade à cidade de Filipos facilitaria sucessivas visitas e o contínuo
intercâmbio que a carta atesta, além de coincidir com a prolongada
permanência do apóstolo nessa cidade (três anos, segundo Atos 19; 31). Por
outro lado, não existem registros específicos de um suposto período em prisão
nessa cidade embora, em termos gerais, Pablo mencione (II Coríntios 6:5;
11:23) ter padecido diversas detenções e prisões que antecedem os principais
que aparecem relatados no livro de Atos e são: Cesarea (Atos 23:33; 26:32) e
Roma (Atos 28:16-31). A data de redação da epístola, neste caso, não poderia
ser posterior ao ano de 54 D.C.
Outra alternativa situa a redação da epístola durante o prolongado
período de encarceramento, à espera do juízo, que o apóstolo padeceu na
cidade de Cesaréia. Ainda que a enorme distância entre Cesaréia e Filipos,
assim como as próprias circunstâncias do aprisionamento inviabilizariam a
interação entre as partes que a própria epístola sugere. A possibilidade de
apelar a Cesar era o recurso legítimo ao qual Paulo podia submeter-se a
qualquer momento neste seu primeiro cativeiro, pelo que durante esse
prolongado período de prisão, o apóstolo não apresentaria o mesmo nível de
angústia que lhe proporcionaria seu posterior encarceramento romano. A data
de redação da epístola seria posterior ao ano 58 D.C.
Apesar de existir certo apoio de alguns intérpretes, nenhuma dessas
alternativas poderia validar-se sem encontrar maiores dificuldades. No caso da
origem romana, a data que originalmente se atribui à redação da epístola seria
9 Ibíd.
14
o ano 61 D.C. Provavelmente, teriam transcorrido dez anos desde a primeira
visita, tempo suficiente para que a igreja alcançasse o grau de desenvolvimento
que fica patente na própria epístola.
V. Propósito da epístola
A diversidade de temas que o apóstolo deseja tratar com os irmãos de
Filipos caracteriza esta epístola. Classificamos esses temas em categorias e
dessa forma os estudaremos no decorrer deste curso.
O propósito primordial da epístola era atender acontecimentos
imediatos relevantes a essa ocasião. Entre estes se sobressai a sincera
manifestação de agradecimento do apóstolo pela oferta recebida por intermédio
de Epafrodito. Outros temas destacados seriam: o anúncio da próxima visita de
Timóteo e as notícias do estado de saúde e pronto regresso de Epafrodito, uma
vez cumprida sua missão junto ao apóstolo.
O apóstolo também deseja transmitir seus próprios sentimentos e
atitudes frente às circunstâncias adversas que atravessa; comparte por tanto
extensamente seu testemunho de vida: a maneira que suporta o
encarceramento que padece; a relação com os evangelistas rivais que desejam
provocar-lhe ciúmes; sua adaptabilidade diante das diversas condições de vida
– abundância e escassez – que ocasionalmente se vê obrigado a suportar; a
atitude com a qual encara acontecimentos de sua vida passada e suas raízes
judaicas; a disposição presente que o motiva a esforçar-se por alcançar o
conhecimento experimental de Cristo; seus anseios por terminar a jornada na
terra e estar com o Senhor.
Outro propósito importante seria a transmissão de exortações pastorais
oportunas. Este tema ocupa uma parte destacada da epístola e tem a
finalidade de: encorajar os filipenses a se manter firmes diante da perseguição;
animá-los a manifestar atitudes de humildade e união entre os irmãos;
mostrar-lhes o modelo de vida que considera digno dos “cidadãos do céu”,
incentivá-los a imitar seu exemplo de comportamento.
A transmissão de valiosos ensinamentos teológicos ocupa lugar
destacado na epístola, entre os quais sobressaem as relativas à humilhação e
exaltação de Cristo. Contém também advertências à igreja quanto à presença
em seu meio tanto de ensinamentos doutrinais de mestres judaizantes como os
de daqueles cujo comportamento lhes vale a qualificação de “inimigos da cruz
de Cristo” (3: 18), com a intenção de anular sua influência.
15
Por último, o apóstolo deseja compartir suas sentidas expressões de
alegria diante de tantas e tão diversas circunstâncias.
VI. Conclusão
Concluímos esta lição introdutória destacando algumas características
particulares da epístola que a distinguem do resto dos escritos paulinos:
A epístola não contém qualquer citação das Escrituras do Antigo
Testamento, foi redigida originalmente em grego Koiné, assume a forma e o
estilo da correspondência helênica habitual da época.
O estilo de vida cristão que propõe distingue-se pelo alto nível de
dedicação e compromisso que o apóstolo exibe pessoalmente e, em
consequência, exorta que seja imitado por todos.
Algumas características deste estilo de vida diferenciado são: a
humildade pessoal; a união com os irmãos; o esforço concentrado para chegar
à meta; a tranquilidade; a capacidade de enfrentar as situações difíceis e o
contentamento diante de qualquer circunstância da vida.
Podemos qualificá-la também como epístola da alegria pela importância
que o apóstolo concede à expressão da mesma em diversas ocasiões, para citar
algumas: a pregação do evangelho; sua futura libertação em resposta às
petições dos filipenses; a fé e o comportamento exemplar dos mesmos; o
carinho dos filipenses pelo próprio apóstolo; seu agradecimento pela
participação monetária em seu ministério.
Finalmente, assinalaremos que contém uma das passagens cristológicas
mais profundas do Novo Testamento (2:6-11)
Perguntas para a lição 1
1. Assinale alguns benefícios característicos das colônias romanas.
2. Quais foram algumas das principais razões da decadência da cidade
de Filipos?
3. Quais são os possíveis lugares e datas de redação da epístola aos
filipenses?
4. A que passagem cristológica faz referência o autor?
16
5. Quais são os motivos das principais expressões de gozo do apóstolo?
6. Qual era a condição do apóstolo Paulo no momento da redação da
epístola?
7. Qual seria o motivo principal para que o carcereiro de Filipos se
apressar em atentar contra sua própria vida?
8. Recorda-se da primeira pessoa a converter-se em Filipos?
9. Que personagens notáveis da história voltaram a fundar a cidade de
Filipos como colônia romana: Colonia Vitrix Philippensium?
10. Cite alguns dos recursos pastorais que o apóstolo utilizou nesta
epístola com os filipenses.
17
Lição 2: “Os tenho no meu coração” (1:1-11)
I. Introdução
Os versículos iniciais do primeiro capítulo da epístola aos filipenses
contêm – em quantidade e intensidade superiores às de qualquer outra
epístola paulina – expressões ternas de carinho, assim como cálidos e
sentidos elogios da parte do apóstolo dirigidos a uma congregação pela
qual sentia uma consideração especial.
Os filipenses não eram para Paulo simplesmente uma congregação
a mais, das várias que fundara durante suas longas viagens missionárias
nas regiões que hoje compõem os países da Turquia, Macedônia e Grécia.
Considerava-os seus colaboradores: “Todos vocês participam comigo da
graça que Deus” (1:7), “por causa da cooperação que vocês têm dado ao
evangelho, desde o primeiro dia até agora” (1:5). A igreja em Filipos,
portanto, destacava-se nesta característica singular, e esta
particularidade se refletia no tratamento recebido da parte do apóstolo.
Sobressai o ambiente de confiança íntima que se estabelece através
das sentidas declarações de amor sincero por parte do apóstolo nesta
parte introdutória da epístola: “Deus é minha testemunha de como tenho
saudade de todos vocês, com a profunda afeição Cristo Jesus” (1:8), as
condições são propícias para que o apóstolo desenvolva seu trabalho
pastoral apesar da distância que os separa.
O tom da epístola aos filipenses, tal qual se estabelece nesta
perícopa introdutória, se caracteriza pela franqueza, a candidez, a
intimidade e, sobretudo, a perspectiva alegre do serviço cristão que
manifesta o coração de pastor de Paulo.
18
II. Saudação
“Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus” (1:1a). A saudação ao
início da carta é um elemento característico da correspondência
helenística.10 Os autores se identificam como Paulo e Timóteo.
Hendriksen explica que Paulo era evidentemente o autor principal, visto
que ao largo da mesma utiliza a primeira pessoa do singular (“eu” e
“meu”) em lugar de (“nós” e ”nosso”) e quando se refere a Timóteo usa a
terceira pessoa (“seu” e “ele”).11
As razões pelas quais Timóteo aparece como coautor da epístola,
ainda que desde o início não se mantenha essa autoria plural, não estão
totalmente claras. Somente na epístola de Filemon (também escrita desde
o cativeiro) encontramos uma situação semelhante. Nesse caso, as razões
óbvias da natureza pessoal do pedido de Paulo a Filemon justificariam de
certo modo a mudança de pessoa verbal. Na primeira epístola aos
Coríntios (de coautoria de Sóstenes) sucede a mesma mudança de pessoa
verbal desde o início da mesma. Nas outras epístolas comuns a ambos os
autores (Colossenses e 2 Coríntios) ou as escritas conjuntamente com
Silvano (1 e 2 Tessalonicenses) o uso da primeira pessoa do plural se
matem ao início, ainda que durante o corpo da carta possa utilizar-se
simultaneamente a primeira pessoa do singular, neste caso Paulo. O Dr.
Carballosa afirma que a menção de Timóteo ao início da epístola não
sugere coautoria, mas sim que este estava presente e de acordo com o
que Paulo escrevia.12
Poderíamos contribuir com alguns outros fatores que explicariam a
inclusão de Timóteo como coautor da epístola: Timóteo formava parte da
”equipe missionária” original que iniciou a obra na cidade de Filipos (Atos
16:1). Passou mais tempo exercendo o ministério nessa cidade que o
próprio apóstolo (Atos 17:1). Formava parte da “equipe pastoral” que
acompanhou o apóstolo Paulo em sucessivas visitas (Atos 20:4). O
apóstolo planejava enviar o próprio Timóteo como seu representante em
uma curta visita posterior (Filipenses 2:19).
10 Em geral, as epístolas de Paulo parecem o modelo normal das cartas gregas. Cuja forma
básica consiste em cinco seções principais: 1. Prólogo (Remetente, destinatário, saudação) 2.
Ação de graças ou bendição. 3. Tema central da carta (fracionamentos e citações de fontes
clássicas) 4. Perénesis (instrução ética, exortação) 5. Conclusão (menção de planos pessoais,
amigos mútuos, bênção) Broadman&Holman. Anotações Pastorais: Filipenses, (p.5). 11
Hendriksen, William. “Exposición de Filipenses” (p.34). 12
Carballosa, Evis L. “Filipenses: Un comentario exegético y práctico” (p.17).
19
Além do exposto, consideramos que o provável motivo que teria
levado a Paulo a deixar de lado a autoria plural da epístola, bem poderia
estar relacionado à intimidade que o apóstolo imprime às suas palavras.
Esta é a característica mais notável que queremos ressaltar no nosso
estudo da epístola: o coração de pastor de Paulo. A epístola aos filipenses
não se destaca por conter extensos ensinamentos teológicos (ao exemplo
de Romanos) ou admoestações e correções diante dos desvios de
comportamento da igreja (como as duas epístolas aos Coríntios). Nesta
epístola, Paulo comparte seu coração; expressa seus sentimentos e
emoções; declara seus valores e experiências; manifesta seu sofrimento e
suas esperanças como em nenhuma outra.
Paulo e Timóteo se referem a si mesmos como “servos de Cristo
Jesus”. O termo grego utilizado douloß (doulos = servos) poderia ser
traduzido literalmente como “escravos”. As obras consultadas de vários
comentaristas bíblicos parecem favorecer esta tradução literal do termo
“escravos” porque enfatiza a humildade, pertinência integral e
dependência de espírito dos autores da epístola para com o Mestre. Pelo
contrario nesta ocasião o Dr. Hendriksen assinala acertadamente que:
“um douloß em sentido espiritual, é aquele que serve ao
seu Senhor com alegria de coração, em novidade de espírito e
no gozo da perfeita liberdade, recebendo dele uma gloriosa
recompensa. Em português associamos imediatamente ao
termo a conceito de serviço involuntário, sujeição forçada e
(muitas vezes) maus tratos.”13
Portanto, o uso que Paulo dá ao termo douloß poderia ser traduzido
mais precisamente para o português como “empregado subalterno,”
“funcionário responsável” ou “mordomo,” desta maneira se respeitaria o
sentido original do termo utilizado pelo próprio Mestre nas parábolas:
a) os “douloß” eram responsáveis por enormes quantidades de
dinheiro e operavam de maneira autônoma (Mateus 18:23-35; 25;
14,21 e 23).
b) o Mestre concedeu este privilégio singular aos seus
discípulos no aposento alto, “Já não os chamo “douloß” (doulos)
servos chamo-os... filouß (filous) amigos.” (João 15:14-15).
13
Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento. Filipenses” (p.35).
20
III. Destinatários
“A todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os
bispos e diáconos” (1:1b). Paulo se dirige a “todos os santos”, nesse
sentido o Dr. Zapata assinala que o termo é sinônimo de “todos os
crentes”14 não de uma classe particular dos mesmos. Por sua vez, o Dr.
Escobar ressalta a condição de separados (do mundo) que o título
“santos” representa, não que estes fizessem parte de uma categoria
particular de discípulos dentro do Corpo de Cristo.15
Notemos que esta é também a fórmula coletiva de saudação
utilizada por Paulo nas outras epístolas escritas desde a prisão (“aos
santos”). O resto das epistolas coletivas escritas com anterioridade (com
exceção de Romanos), utiliza a fórmula “a igreja que está em...”
Entendemos, portanto, que “santos” deve referir-se a todos os crentes
que compõem a igreja de Filipos.
O uso de termos “bispos” e “diáconos” dá a entender o avançado
grau de organização da igreja em Filipos em dia com outras igrejas
situadas em cidades maiores que, por sua importância e localização,
haviam recebido maior atenção apostólica. Posteriormente, ao redor do
ano 63 D.C, Paulo instará seus companheiros de serviço, Timóteo e Tito,
a regular as condições de acesso ao bispado e diaconato nas igrejas,
urgindo a Tito, em particular, a nomear em cada povoado de Creta os
anciãos responsáveis, dando a entender que era necessária uma
intervenção exterior para organizar estas igrejas que não tinham
alcançado um grau de desenvolvimento similar.
Além disso, bispos “episkopos” e anciãos (presbíteros) são
títulos que se podem aplicar de maneira intercambiável à mesma
pessoa.16 Enquanto que bispos e diáconos são funções diferentes a serem
exercidas dentro da igreja.17
14
Zapata, René C. “Comentario Bíblico del Continente Nuevo: Filipenses” (p.14). 15
Escobar, Samuel. “Comentario Bíblico Mundo Hispano: Filipenses” (p.155). 16 “O Novo Testamento aplica esses termos (presbítero) e (episkopos) com flexibilidade aos lideres da igreja que descreve como anciãos e bispos. Os dois títulos podem descrever a mesma pessoa de maneira intercambiável.” Motyer, J. Alec. “El mensaje de Filipenses” (p.39). 17 Escrituras similares se tornam fundamentais para o estudo da Eclesiologia, pois ajudam a determinar os diferentes estilos de organização da igreja: Episcopalismo, Presbiterianismo, Congregacionalismo de um ou vários lideres. Sendo o modelo de igreja Episcopal o predominante nas igrejas a partir da metade do segundo século até a Reforma.
21
IV. Ação de graças e intercessão
“Agradeço a meu Deus” (1:3). Como sinalamos ao começo, a partir
desta seção o apóstolo Paulo “toma a palavra” e acontece uma mudança
na pessoa verbal. Paulo começa a manifestar seu carinho, interesse e
agradecimento pessoal pelos destinatários da epístola.
A frase “agradeço... toda vez que me lembro de vocês” e “sempre oro
com alegria” denotam o tipo de oração de intercessão que Paulo
praticava.18 A ação de graças por seus seres queridos era, nas próprias
palavras de Paulo, parte importante de suas orações diárias de
intercessão. Mas, não eram estas as únicas preces que saíam de seus
lábios: “Esta é a minha oração: Que o amor de vocês aumente cada vez
mais em conhecimento e em toda a percepção” (1.9).
“Por causa da cooperação que vocês tem dado no evangelho desde o
primeiro dia até agora” (1:5), “todos vocês participam comigo da graça de
Deus” (1:7). Sem querer ler mais do que o texto diz, encontramos nas
suas palavras o objeto direto a que o apóstolo alude quando declara suas
mais profundas convicções. “Estou convencido de que aquele que começou
boa obra em vocês vai completa-la até o dia de Cristo Jesus” (1:6). A obra
a que se refere é a participação dos filipenses na difusão do evangelho
que realizava o apóstolo. Carballos explica:
“O contexto assinala uma referência direta à constante
comunicação entre Paulo e os filipenses. Tal relação era, sem
dúvida, produto da obra de Deus neles.”19
Concluímos assinalando as tenras expressões de amor de Paulo
pelos “santos em Cristo Jesus que estão em Filipos” no versículo oito:
“Deus é minha testemunha de como tenho saudade de todos vocês com a
profunda afeição de Cristo Jesus,” depois de ter declarado no versículo
sete: “os tenho no meu coração.” Imaginemos por um momento a
sensação de carinho e aceitação que os destinatários de tal cálida
declaração de amor devem ter experimentado. Podemos supor que o
coração dos mesmos estaria igualmente aberto e predisposto a aceitar
qualquer conselho e admoestação, qualquer pedido e apelo que surgisse
18
Exemplos de orações semelhantes em Colossenses 1:3; 1 Tessalonicenses 1:2; 2Tessalonicenses 1:3. 19
Carballosa, Evis L. “Filipenses: Un comentario Exegético y Práctico” (p.25).
22
da boca do apóstolo. Não é possível reagir de outra maneira diante de
tais expressões genuínas de amor e agradecimento.
V. Conclusão
Esta seção introdutória resume os sentimentos do apóstolo em
relação à congregação em Filipos que vai caracterizar o tom da totalidade
da epístola.
Encontramos na mesma os elementos característicos da literatura
epistolar da época: identificação do autor e dos destinatários ao início da
mesma, seguido de uma saudação pessoal e ação de graças a Deus.
Assinalamos como características principais da epístola: o carinho
pessoal que o apóstolo manifesta pelos filipenses e a atitude alegre diante
das circunstâncias adversas que atravessa.
A identificação do autor da epístola fica confirmada pelo
testemunho interno. Ele mesmo se identifica ao início da mesma e a
natureza do escrito exige um reconhecimento tácito da parte dos
receptores da epístola de que seu autor era genuinamente o apóstolo
Paulo.
A presença de Timóteo como coautor da epístola se produz em
função de seu ministério junto ao apóstolo como fundador de tal igreja,
sua relação pessoal com os membros da mesma e a possibilidade de uma
futura visita como representante do apóstolo.
A menção de bispos e diáconos entre os membros da igreja denota
o grau de organização que tinham alcançado algumas das comunidades
cristãs da época.
23
Perguntas para a Lição 2
1. Na saudação “aos santos” (v.1), refere-se o apóstolo a uma classe
particular de crentes (similar aos ofícios de bispos e diáconos) ou
considera assim todos os membros da igreja?
2. Quem o apóstolo cita como coautor da epístola?
3. Qual é a razão da alegria do apóstolo em sua ação de graças a Deus
(1:5)?
4. Quais são os pedidos de oração de Paulo com relação aos filipenses
(1:9-11)?
5. De que se declara Paulo convencido em relação aos filipenses (1:6)?
6. Mencione alguns elementos característicos à literatura epistolar da
época.
7. Considerava o apóstolo os filipenses como membros de uma
congregação que este fundara ou como colaboradores genuínos em seu
ministério?
8. Quê fatores poderiam explicar a inclusão de Timóteo como coautor da
epístola?
9. O termo grego douloß deve traduzir-se nesta perícopa como “escravos”
no sentido que o português transmite ao conceito de escravidão (serviço
involuntário, sujeição forçosa e muitas vezes maus tratos)?
10. Assinale como Verdadeira ou Falsa esta frase do autor: “A ação de
graças por seus seres queridos era, nas próprias palavras de Paulo,
parte importante de suas orações diárias de intercessão.”
24
Lição 3: “O viver é Cristo” (1:12-30)
I. Introdução
A perícopa que estudaremos nesta lição se estende do décimo-
segundo versículo até o final do capítulo. Passemos, pois, a examinar a
primeira seção em que dividimos a epístola aos filipenses, concentrando-
nos na análise temática.
A narração de acontecimentos imediatos na vida do apóstolo e a
explicação dos mesmos ocupam uma boa parte desta terceira lição. Neste
preciso momento, Paulo se encontrava na prisão, sua possível libertação
não havia sido confirmada, as duvidosas intenções de alguns irmãos na
sua pregação do evangelho causavam confusão nas igrejas. Paulo
proveria as explicações necessárias a cada um desses acontecimentos, a
fim de consolar os filipenses e informá-los de seu parecer.
Encontraremos nos versículos décimo oitavo e décimo nono a
primeira expressão de alegria do apóstolo e a explicação dos motivos de
tal alegria.
Na próxima seção, do versículo vigésimo ao vigésimo sexto, o
apóstolo compartilha seu testemunho de vida, os princípios e valores
que o norteavam, neste caso em relação à morte e vida por Cristo.
O apóstolo dirige sua atenção ao tipo comportamento que esperava
dos filipenses nos versículos que vão do vigésimo sétimo ao trigésimo.
Inicia esta nova seção com os termos “não importa o que aconteça” (1:27)
em referência às possibilidades mencionadas na seção anterior. Nela
encontramos uma valiosa série de exortações pastorais, com as quais
concluiremos a lição.
II. Acontecimentos imediatos (1:12-17)
As notícias de sua detenção e posterior prisão devem ter produzido
grande perturbação não só nos filipenses, mas em todas as igrejas da
vasta região que Paulo havia coberto em suas três viagens missionárias.
Os filipenses e todas as igrejas da região estavam a par de sua projetada
viagem a Jerusalém e conheciam as advertências que o Espírito lhe havia
dado: (Atos 20: 22-23) “Agora, compelido pelo Espírito, estou indo para
25
Jerusalém, sem saber o que me acontecerá alí.Só sei que, em todas as
cidades, o Espírito Santo me avisa que prisões e sofrimentos me esperam.”
Paulo inicia este primeiro discurso relatando as razões e os
resultados dos acontecimentos recentes. Apesar de ser conhecida a
notícia de sua prisão, Paulo lhes recorda os motivos da mesma, “que
estou na prisão por causa de Cristo” (1:13) e confessa que está
experimentando uma forte dose de sofrimento a nível pessoal “podem
causar sofrimento enquanto estou preso” (1:17), mas não duvida em
compartilhar com os filipenses os benefícios que tais acontecimentos
produziram. “(A)quilo que me aconteceu tem, ao contrário, servido para o
progresso do evangelho” (1:12).
A seguir, Paulo explica o efeito que sua prisão teve no ânimo da
maioria dos cristãos “E os irmãos, em sua maioria, motivados no Senhor
pela minha prisão estão anunciando a palavra com maior determinação e
destemor” (1:14). Tal reação positiva por parte dos irmãos que
diretamente poderiam ver-se afetados pela prisão de Paulo, devido à sua
proximidade física, é uma notícia maravilhosa que os filipenses, devido à
distância, desconheciam. Ao ouvirem estes esclarecimentos da própria
pluma de Paulo, o coração dos ouvintes deve ter-se enchido de consolo e
compreensão do propósito divino na prisão do apóstolo.
Esta preocupação, acima de tudo pelo ânimo de seu rebanho
diante dos sofrimentos que o próprio Paulo estava experimentando, nos
mostra a condição do coração de pastor de Paulo. Não queria deixar seus
seres queridos sem consolo e explicações nem que nada a seu respeito
pudesse acarretar-lhes tropeço e desânimo.
A partir do décimo - quinto versículo, o apóstolo acrescenta um
novo acontecimento imediato que poderia produzir mal-estar no coração
dos crentes, caso o próprio apóstolo não revelasse sua atitude positiva.
“É verdade que alguns pregam a Cristo por inveja e rivalidade, mas outros
o fazem de boa vontade” (1:15). Da forma que está expresso aqui, o
apóstolo não faz mais que confirmar uma verdade já conhecida pelos
ouvintes “É verdade que..” Em outras palavras, ainda entre os que
pregam verdadeiramente o evangelho existem diferentes motivações. Este
fato, aparentemente de comum conhecimento dos filipenses, seria
também conhecido das demais igrejas da época.
Notemos tal como disse Hendriksen:
26
“Até onde se pode entender do texto, nenhum desses
pregadores ensinava uma doutrina falsa. Nenhum deles, por
exemplo, concede importância indevida à observação da Lei
como meio de salvação. Nenhum deles é “cão” ou “mal-
obreiro”. Mas, apesar de que todos proclamam o verdadeiro
evangelho, nem todos o fazem por motivo digno.”20
Os filipenses poderiam supor que a diferença entre “os que pregam
a Cristo... por amor” (1:16), respeitando a autoridade do apóstolo
“sabendo que aqui me encontro para a defesa do evangelho” e os que o
faziam “por ambição egoísta, sem sinceridade, pensando que me podem
causar sofrimento enquanto estou preso” (1:17), talvez pensando em
despertar sentimentos de rivalidade no coração do próprio apóstolo, o
que de alguma maneira afetaria o ânimo de Paulo.21
Diante deste acontecimento imediato, o apóstolo declara
vigorosamente sua postura: “Mas, quê importa? O importante é que de
qualquer forma, seja por motivos falsos o verdadeiros, Cristo está sendo
pregado, e por isso me alegro” (1:18). Sem dúvida, tal posição generosa e
bem intencionada diante das atitudes negativas de seus supostos rivais,
deve ter impressionado aos irmãos de Filipos da importância de manter a
união em Cristo, acima das diferenças pessoais e inimizades entre
irmãos. Não podemos menos que agradecer a Deus por tão tremendo
bom exemplo de desprendimento em todos os sentidos, que o apóstolo
demonstrava quanto à missão encomendada pelo Senhor.
III. Expressão de alegria: “Me alegro e continuarei a alegrar-
me” (1:18-19)
Como mencionamos anteriormente, o tema recorrente da epístola
aos filipenses, que encontraremos em todas as lições, é a alegria. Cairw
(Jairo = alegría). Como disse Motyer: “Jesus Cristo, nossa alegria.”22 O
tipo de alegria centrado nas coisas do Senhor.
Duas são as razões pelas quais o apóstolo anuncia sua alegria
nesta perícopa. As duas estão diretamente relacionadas aos temas que
tratou nos versículos décimo segundo ao décimo oitavo. Ambos os
20Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.54). 21 Motyer, J. Alec. “El mensaje de Filipenses” (p.76). 22
Ibíd., (p.147).
27
acontecimentos poderiam ser catalogados pelos receptores da epístola
como motivos de tristeza: sua prisão e a má motivação de alguns
pregadores rivais. Para consolo dos ouvintes, assegura-os de que em
ambas as situações encontra motivo de alegria:
a) O primeiro motivo de sua alegria coincide com a meta de
sua vida: a pregação do Evangelho, apesar das rivalidades
e más intenções. “Cristo está sendo pregado, e por isso me
alegro” (1:18).
b) O segundo motivo de alegria é a confiança que manifesta
de que “o que me aconteceu resultará em minha libertação,
graças às orações de vocês e ao auxílio do Espírito de
Jesus Cristo” (1:19). Paulo se alegra antecipadamente, tal
é sua confiança em sua futura libertação.
Seu coração de pastor não somente se preocupa pelo bem-estar
espiritual de seu antigo rebanho, mas também aproveita cada
acontecimento para animá-los e incentivá-los em seu caminhar com o
Senhor.
O efeito provável de seus comentários acerca deste segundo motivo
de sua alegria, sua futura libertação, tal como a apresenta “graças às
orações de vocês,” deve ter renovado a intensidade das orações de
intercessão dos filipenses a seu favor.
Dessa maneira, os filipenses uma vez mais teriam
manifestado a “cooperação que têm dado ao evangelho, desde o primeiro
dia até agora” (1:5).
IV. Testemunho de vida (1:20-26)
Iniciaremos agora a seção em que o apóstolo compartilha alguns de
seus íntimos desejos e anseios e, valendo-se desta franqueza, consegue
transmitir também seus valores e princípios. Denominamos este tipo de
ensinamento de “Testemunho de vida,” pois configuram o método
pastoral que utiliza. Não pretende gabar-se, nem exibir sua
espiritualidade, senão exaltar a Cristo valendo-se de seu próprio exemplo
pessoal, digno de ser imitado.
“Aguardo ansiosamente e espero...” (1:20). Notemos o caráter
pessoal que imprime à declaração a seguir: “Que em nada serei
envergonhado. Ao contrario, com toda a determinação de sempre, também
28
agora Cristo será engrandecido em meu corpo, quer pela vida, quer pela
morte” (1:20). Hendriksen23 explica que a frase “será engrandecido em
meu corpo” se refere integralmente à pessoa de Paulo.
A seguir, o apóstolo explica por que, ainda que lhe custar a vida,
exaltar a Cristo lhe é primordial: “Porque para mim, o viver é Cristo e o
morrer é lucro” (1:21). Esta frase contém dois valores importantíssimos
que desejava transmitir à sua audiência em forma de testemunho
pessoal com a frase “para mim...”
Esta maneira íntima e ao mesmo tempo humilde, com a qual
comparte seus valores pessoais, serve sem dúvida para animar aos
filipenses a se comportarem de maneira semelhante:
a) “Viver é Cristo.” A vida de Paulo carecia de interesses
egocêntricos. Seguir vivendo no corpo significava fazê-lo
pelo Senhor, defendendo os interesses de Sua obra,
mantendo a comunicação com os irmãos.
b) “Morrer é lucro.” A morte24 não representava para Paulo
um processo trágico que deve ser evitado ou posposto por
todos os meios, como se de algum inimigo ou tremendo
contratempo trata-se. A morte significava para Paulo o
final desta jornada vitoriosa, a linha da meta da corrida a
que o atleta se dirige com alegria, com ânsia de chegar e
pela que espera receber uma coroa de vencedor (2 Timoteo
4:6-8).
Por um lado, Paulo reconhece que: “Caso continue vivendo no corpo,
terei fruto do meu trabalho” (1:22). Sua vida por Cristo haveria de
traduzir-se em trabalho frutífero, não estava buscando comodidades e
benefícios pessoais. De acordo com as metas que havia traçado para si
mesmo e que definia por estas palavras: “para mim o viver é Cristo”
(1:21).
Por outro lado, admite que seu desejo pessoal fosse: “desejo partir e
estar com Cristo, o que é muito melhor” (1:23). Seu desejo e esperança,
como o de todo verdadeiro cristão, deveriam ser, e em seu caso eram,
23
“Cristo será glorificado na pessoa de Paulo; literalmente corpo, palavra que aqui indica toda a sua personalidade (cf. Também Ro. 12:1; Ef. 5:28). 24
”(No original diz: “ter morrido”). Desta maneira o autor tem em mente não o ato de morrer, mas sim as consequências de morrer ou o estado depois da morte.” Carballos, Evis L. “Filipenses” (p.44)
29
“partir” deste mundo para estar com o Mestre, desfrutando das
verdadeiras riquezas.
Diante desta alternativa, uma opção boa e a outra melhor, Paulo
mostra-se a si mesmo titubeante: “E já não sei o que escolher!” Como
bom pastor, antecipa as necessidades, o bem-estar e as preferências de
seu rebanho às suas próprias “contudo, é mais necessário, por causa de
vocês, que eu permaneça no corpo” (1:24). Esta afirmação pública é uma
manifestação a mais do amor que Paulo sentia pelos filipenses.25
Conclui seu testemunho pessoal com a declaração: “Convencido
disso, sei que vou permanecer e continuar com todos vocês para o seu
progresso e alegria na fé” (1:25). Suas palavras estão cheias de esperança
em relação à sua pronta libertação e deseja transmitir esta esperança aos
filipenses, convencido de que tal notícia produzirá neles que “a exultação
de vocês em Cristo Jesus transborde por minha causa” (1:26).
V. Exortações pastorais (1:27-30)
Como não poderia faltar nas epístolas paulinas, o estudo desta
perícopa conclui com uma seção de exortações pastorais. A partir deste
ponto o apóstolo, concentra-se nas atitudes e no comportamento dos
filipenses.
A seção anterior conclui com a expressão de seus desejos e
preferências, mas agora manifesta sua disposição ao submeter-se à
vontade eterna de Deus. “(N)ão importa o que aconteça” (1:27). O tom da
epístola se transforma e Paulo assume a autoridade apostólica e a
posição de pastor responsável pelo bem-estar espiritual do rebanho.
A primeira exortação trata da conduta que espera ver pessoalmente
(“quer eu vá e os veja”), ou através de informes (“quer apenas ouça a seu
respeito”), nos filipenses. A exortação não deixa lugar a dúvidas:
“exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo”
(1:27).
Vale ressaltar que o léxico grego concede à expressão que a NVI
traduz como “cidadania” politeuesqe (politeuesthe) no sentido de
25
“O apóstolo opõe ao seu próprio desejo esta necessidade objetiva. Está convencido de que deve considerar seriamente o fato de que sua vida possa ser prolongada aqui na terra, podendo consagrar de novo seus cuidados pastorais aos crentes de Filipos. A igreja não tinha mais que dez anos de vida.” Hendriksen, William. “Comentário al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.59)
30
“comportar-se como cidadão” ao que Hendriksen26 dá o significado de:
“exercer os direitos e deveres dos cidadãos de maneira digna do evangelho
de Cristo”. Se isto é assim, poderíamos nos perguntar a que cidadania se
refere o apóstolo: a romana? A celestial? Poderia tratar-se de ambas, na
realidade seria indiferente, a chave estaria em agir sempre e em toda
ocasião “de maneira digna do evangelho de Cristo” (1:27).
As exortações continuam: “(ficarei) eu sabendo que vocês
permanecem (a) firmes num só espírito, (b) lutando unânimes pela fé
evangélica, (c) sem de forma alguma deixar-se intimidar por aqueles que se
opõem a vocês” (1:27-28).
Examinemo-las separadamente:
(a) A firmeza de propósito (sthjkete = estar firmes27) é uma
petição recorrente por parte do apóstolo à igreja (ver 1 Coríntios 16:13;
1Tessalonicenses 3:8; 2 Tessalonicenses 2:15).
Hendriksen assinala:
“Devem estar firmes no Senhor, arraigados nele,
amando-o, esperando nele, aferrados às tradições, às
doutrinas autorizadas que vocês receberam, à fé (o conjunto
da verdade redentora) relativa ao evangelho e que é revelada
nele.”28
(b) A união e a harmonia com os irmãos (“lutando unânimes
pela fé”) qualificam a maneira como se deve manifestar a firmeza de
propósito da exortação anterior.
(c) A terceira e última exortação se refere à superação de
qualquer temor diante dos adversários.
Termina essa seção com palavras de consolo destinadas a
fortalecer os filipenses: “pois a vocês foi dado o privilegio de não apenas
crer em Cristo, mas também de sofrer por ele” (1:29). Apesar da aparente
26
Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.93). 27 “O verbo “estai firmes” é o presente indicativo, voz ativa de stéko. Este verbo significa “estar de pé”, “estar firme”, “erguer-se”. Na linguagem militar se usava para descrever a ação de um soldado que se mantém firme em seu posto sem ceder nem um milímetro de território ao inimigo” Carballosa, Evis L. “Filipenses: Un comentario exegético y práctico” (p.51). 28
Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.64).
31
contradição, o apóstolo considera que o sofrimento por causa de Cristo é
concessão de um privilégio divino.
A declaração a seguir sem dúvida dever ter animado os filipenses e
preparado para encarar de maneira vitoriosa qualquer experiência, pois
sabiam que o apóstolo os considerava colaboradores na obra e nos
sofrimentos: “já que estão passando pelo mesmo combate que me viram
enfrentar e agora ouvem que ainda enfrento” (1:30).
VI. Conclusão
No estudo desta seção da epístola aos filipenses temos comentado
elementos distintos que, de acordo com nosso estudo, representam o
estilo pastoral do apóstolo Paulo.
Analisamos primeiramente a maneira que o apóstolo relata e
interpreta de maneira animadora os acontecimentos imediatos de
aspecto negativo que tiveram notícia:
(a) Sua prisão
(b) As rivalidades de certos irmãos quanto à pregação do
evangelho.
Paulo os conforta com a explicação do acontecido; revela as razões
e motivos; e expressa sua reação pessoal positiva diante dos mesmos.
Dar explicações dos acontecimentos imediatos e interpretar o sentido dos
mesmos, manifestando uma atitude positiva, é o método que Paulo
utilizava neste escrito pastoral.
A seguir examinaremos os motivos de suas expressões de alegria:
(a) A pregação do evangelho de Cristo
(b) A iminência de sua libertação.
Ambas são, no fundo, motivos de regozijo e de grande alegria no
Senhor. Esta é a atitude que tenta transmitir aos filipenses.
Analisamos a seguir a maneira como compartia com sua audiência
seus anseios e motivações mais profundas, assim como os valores e
princípios que o norteavam, seu testemunho de vida. Neste caso em
particular, vimos como manifestava suas preferências pessoais ante o
dilema de continuar sua vida de serviço por Cristo e a possibilidade de
morrer para encontrar-se na presença do Senhor.
32
Conclui o apóstolo com umas valiosíssimas exortações
pastorais. Pede que se comportem de maneira digna do evangelho de
Cristo, ao que acrescenta a tríplice admoestação de perseverar firmes na
fé; agir em união e harmonia com os irmãos; e desfazer-se de qualquer
temor que os adversários pudessem infundir-lhes. Finalmente, anuncia-
lhes os privilégios que Deus lhes tem concedido: Primeiro, crer em Cristo
e depois, e não menos importante, sofrer por Ele.
Perguntas para a Lição 3
1. Quais são os motivos principais de alegria do apóstolo (1: 18-19)?
2. A que se refere o apóstolo com a frase: “Para mim o viver é Cristo”?
3. Quais as duas interpretações possíveis que podemos extrair do uso do
vocábulo grego “exerçam a sua cidadania” politeuesqe (politeuesthe) que
Paulo faz (1:27)?
4. Quais as três admoestações importantes que dirige Paulo aos
Filipenses nos versículos 27 e 28?
5. Qual é a declaração do apóstolo que, segundo o autor, contradiz as
expectativas dos cristãos que consideram seu direito estar livres de
sofrimento?
6. A quais acontecimentos imediatos se refere o apóstolo que poderiam
ser mal interpretados pelos filipenses?
7. Quais eram os privilégios concedidos por Deus à igreja de Filipos?
8. Quais eram as opções alternativas que Paulo tinha no momento de
redigir a epístola?
9. Que duas atitudes principais o apóstolo Paulo assinala como as
principais motivações dos pregadores rivais na difusão do evangelho?
10. Que efeito pretendiam os pregadores rivais provocar no apóstolo
com sua pregação mal intencionada?
33
Lição 4: “Seja a atitude de vocês a mesma de
Cristo” (2:1-30)
I. Introdução
O segundo capítulo da epístola Paulina aos Filipenses, de extensão
similar ao primeiro, revela o padrão de pensamento e o modelo de
comunicação íntima e pessoal que o apóstolo manifesta em cada uma
das lições em que dividimos esta epístola.
Começa o segundo capítulo retomando as exortações pastorais
com as que concluíram o primeiro capítulo. Esta série de exortações
difere, em objetivo e conteúdo, das que a precedem e o apóstolo as
apresenta como consequência necessária das primeiras, utilizando a
frase adverbial (vers. 1) “se há, pois...” 29 (João Ferreira de Almeida, RA)
As admoestações desta seção se estendem desde o primeiro versículo até
a primeira metade do décimo-sexto, pelo que constituem o trecho mais
extenso da epístola dedicado a este propósito.
Encontramos também neste capítulo uma extraordinária e única
perícopa, que no desenvolvimento do texto se apresenta como explicação
parentética do quinto versículo: “Seja a atitude de vocês a mesma de
Cristo Jesus”. Este inciso, perfeitamente diferenciado em forma e
conteúdo do resto da epístola, que vários intérpretes do Novo Testamento
consideram um hino30 cristão primitivo, se estende deste o sexto até o
décimo–primeiro versículo. Analisaremos os ensinos teológicos contidos
nesta perícopa, em particular a questão da kenosis –do grego ejkevnwsen
(ekeinosen)– traduzido como rebaixar.
Depois de considerar o conteúdo teológico deste inciso e apreciar
suas qualidades líricas e doxológicas, acompanharemos o apóstolo na
nova série de exortações pastorais, nas quais insiste que os filipenses
29
“A interpelação do apóstolo começa com a expressão “Ei’ tiV oujvn” (“se há, pois”). Tal expressão indica que o escritor vai dizer algo baseado no que enunciou anteriormente.” Carballosa, Evis. L. “Filipenses: Un comentario exegético y práctico” (p. 56). 30
“Os especialistas continuam em descordo sobre a questão de se o hino foi composto por Paulo ou se o usou aqui como uma citação pertinente sobre a qual ele colocava sua “imprimátur” apostólica. Como na verdadeira poesia, cada palavra tem seu peso, ainda que o pensamento seja mais bem alusivo.” (Motyer, J. Alec. “El mensaje de Filipenses” (p. 109).
34
praticassem a obediência cristã e se comportassem de maneira a se
destacar “como estrelas no universo” (2:15).
O Apóstolo nos versículos décimo-sexto e decimo-sétimo, conclui
as exortações que precedem e confere um toque pessoal e íntimo a seus
escritos. Nesta oportunidade, seu testemunho de vida da fé de seu
caráter e transmite seus princípios e valores expressados em sua
satisfação e disposição no tocante aos filipenses.
As expressões de alegria que encontramos em todas as seções
desta epístola aparecem nos versículos decimo-sétimo e décimo–oitavo:
“estou alegre e me regozijo com todos vocês...” (vers. 18). Examinaremos,
pois, os motivos que o apóstolo assinala como responsáveis de tais
sentimentos pessoais de alegria.
Conclui o apóstolo anunciando outros acontecimentos imediatos,
neste caso em relação à proposta visita de Timóteo e Epafrodito.
Aproveita a apresentação destas boas notícias para elogiá-los
individualmente e para descrever suas atitudes pessoais. Desta maneira
transmite uma serie de características positivas que considerava valiosas
e dignas de imitação.
Passemos então a examinar separadamente cada uma dessas
propostas.
II. Exortações pastorais (2:1-5)
As exortações pastorais com as quais o apóstolo conclui o primeiro
capítulo animam os receptores da epístola a “exerçam a cidadania de
maneira digna do evangelho de Cristo” (1:27). Este comportamento digno
devia manifestar-se diante das pessoas que não formam parte da igreja
ou que até lhe sejam opostas. As exortações desta segunda seção
definirão principalmente a relação dos crentes com outros membros da
igreja. Segundo exortação apostólica, este comportamento em relação a
outros crentes deve manifestar certos sentimentos, atitudes e
interesses que determinarão a relação entre os irmãos da fé. 31
31
“Não era seu costume (do apóstolo) tratar de noções abstratas como união e deixá-las sem definir. Seu procedimento no caso que tratamos é típico do que ele faz muitas vezes em suas cartas; primeiro apresenta os fatos e em seguida as exortações.” Mortyer, J. Alec. “El mensaje de Filipenses” (p.104).
35
“Se por estarmos em Cristo nós temos alguma
motivação, alguma exortação de amor, alguma comunhão no
Espírito, alguma profunda afeção e compaixão, completem a
minha alegria, tendo o mesmo modo de pensar, o mesmo
amor, um só espírito e uma só atitude Portanto, se sentem
algum estímulo em sua união com Cristo, algum consolo em
seu amor, algum companheirismo no Espírito, algum afeto
profundo, encham-se de alegria, tendo um mesmo parecer,
um mesmo amor; unidos em alma e pensamento” (2:1-2).
As quatro frases condicionais que aparecem no texto original,
precedidas de “se... alguma,”32 do grego “ei jvtiV”, introduzem os leitores
da epístola, sendo sentimentos dignos de serem cultivados pelos
crentes, estes são: a) “motivação” b) “exortação de amor” c) “comunhão do
Espírito” d) “profunda afeção e compaixão” .O apóstolo não questiona a
existência de tais sentimentos entre os filipenses, mas sim expressa sua
satisfação completa “completem a minha alegria” quando estes se
manifestem exteriormente em união de: “modo de pensar,” “de
amor,”“num só espírito” e “uma só atitude” (2:2). A conclusão é que uma
vez cultivados os sentimentos e afetos acima mencionados, seu resultado
deve manifestar-se em benéfica união entre os irmãos.
No terceiro versículo, o apóstolo assinala bruscamente com a
locução adverbial (“nada façam”) duas atitudes a serem evitadas:
“ambição egoísta” e “vaidade” e as contrapõe às atitudes dignas de se
cultivar que geram união entre os irmãos “humildade” e “alta estima
pelos outros”. Conclui esta exortação especificando a atitude que o
apóstolo desejava que os crentes cultivassem em suas relações
interpessoais, “considerem os outros superiores a si mesmos.”
No quarto versículo, o apóstolo explica o tipo de interesses que
devem prevalecer no coração do crente “Cada um cuide, não somente dos
seus interesses, mas também dos interesses dos outros.” Poderíamos
pensar que a exortação paulina ao traduzir os termos (ajllav kaij) por “mas
também” anima os crentes a velarem pelos interesses dos demais, ao
mesmo tempo, da mesma maneira e com semelhante intensidade com
que se vela pelos próprios.
32
O quádruplo “se” condicional do versículo primeiro na tradução enfatiza inadequadamente as condições que governam a exortação, como se o resultado fosse incerto. Traduzido com mais exatidão, se poderia substituir pela palavra já que, ou já que há. Walvoorrd, John F. “Comentário Bíblico Portavoz: Filipenses, triunfo en Cristo” (p.47).
36
Se levarmos em consideração o contexto imediato anterior
“considerem os outros superiores a si mesmos” (2:3) e o posterior “Seja a
atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus” (2:5) devemos ineludivelmente
entender que a exortação não dá licença ao cristão para cuidar de seus
próprios interesses com a mesma atenção que cuida dos interesses dos
irmãos, mas sim a atuar contrariamente às inclinações naturais,
antepondo os interesses dos demais aos seus próprios.
Conclui o apóstolo esta seção no versículo quinto, colocando a
comparação que justificará o inciso esclarecedor dos versículos sexto ao
décimo–primeiro: “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus.” Esta
comparação complementa a exortação anterior com relação a que
sentimentos, atitudes e interesses os crentes devem cultivar em suas
relações interpessoais.
O apóstolo estabelece essa comparação, salvo as diferenças,
porque representa o ideal de comportamento cristão.
III. Ensinamento Teológico (2:6-11)
Para facilitar a análise da interessante perícopa que encontramos a
seguir devemos considerar que os seis versículos que a compõem se
apresentam debaixo da estrutura literária do quiasma, comum ao
pensamento semítico e de grande utilidade nas composições líricas. O
versículo sexto, sétimo e oitavo compõem a primeira seção do quiasma e
tratam do tema da “humilhação de Cristo;” os quais se contrapõem
(entrecruzam) com o nono, décimo e décimo-primeiro que replicam os
primeiros, atendendo a “exaltação de Cristo.”
A primeira seção nos leva em três breves versículos “desde a glória
até a cruz”, desde a posição original que Cristo desfrutava de retentor da
completa plenitude da natureza divina, à sua encarnação em semelhança
aos seres humanos e, nessa condição, assumir a natureza de servo dos
homens, obediente até a cruz. Cristo é o agente que se despoja, se
rebaixa, se esvazia literalmente: ejkenwsen (ekenosen, daí o termo
kenosis), de maneira voluntária, a si mesmo.33
33
“Apesar de que se apresentava como uma exortação, a passagem tem uma importância teológica suprema para definir o que se chama kenosis. Esta palavra se deriva da palavra grega ekenosen, que significa esvaziar... Um exame cuidadoso da passagem revelará que Cristo reteve sua deidade completa, mas restringiu sua manifestação e não utilizou seus poderes divinos para seu próprio benefício.” Comentário Bíblico Portavoz: Filipenses, triunfo en Cristo” John F. Walvoord. (p.50).
37
Os termos utilizados nesta primeira seção deram origem a
interessantes debates teológicos. O mais importante surge do uso do
termo morfh (morfe) “forma” que aparece no versículo sexto34 e o termo
scema (schema) “condição” que aparece no versículo oitavo. “pois ele,
subsistindo em forma de Deus...”(2:6) “tornando-se em semelhança de
homens; e, reconhecido em figura humana” (2:7) (Almeida, RA).
O quê quer dizer que Cristo existia em forma de Deus? O que
significa assumir a semelhança de homens? Podemos afirmar que Cristo
é plenamente Deus e homem verdadeiro? A teologia liberal do século XIX
encontraria no mau uso desses dois termos alguns questionamentos que
utilizariam para tratar de negar a plena divindade de Cristo.
Estes textos têm sido cuidadosamente examinados pelos eruditos na literatura clássica e nos outros textos bíblicos que utilizam suas formas derivadas. Hendriksen35 realiza um interessante estudo comparativo que conclui:
“De várias passagens do Novo Testamento nos quais ocorre uma das duas palavras ou ambas, geralmente como elementos componentes de verbos, podemos deduzir evidentemente que esses contextos citados (morfe) forma faz referência a algo íntimo, essencial e permanente na natureza da pessoa; enquanto que (schema) condição aponta para um aspecto externo, acidental e transitório.”
Kenosis (ejkenosen) é outro termo desta perícopa ao que os eruditos
têm dedicado suas atenções, em particular às implicações que o próprio
termo trás em si. De quê atributos da divindade se despojou Cristo?
Deixou em algum momento de ser Deus? Carballosa36 concorre ao
debate com esta interessante contribuição:
“A kenosis bíblica não significa em modo algum que
Cristo se esvaziou de sua essência nem que renunciou aos
atributos inerentes à sua pessoa divina. A kenosis bíblica
significa que Cristo, sem diminuir de maneira alguma sua
divindade, deixou sua posição pré-encarnada e tomou as
34 O versículo seis não oferece grandes dificuldades para sua compreensão na versão NVI (“embora sendo Deus”) na versão Ferreira de Almeida RA diz: “subsistindo em forma de Deus” neste caso a tradução é literal da versão original em koine. 35
Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.75). 36
Carballosa, Elvis L. “Filipenses un comentario exegético y práctico” (p.67).
38
características de perfeita humanidade para poder morrer na
cruz em lugar dos pecadores.”
Devemos lembrar-nos que, apesar de interessantes e instrutivos,
tais debates teológicos escapam do propósito original de Paulo ao redigir
este hino. Sem querer entender mais do que o autor queria dizer,
devemos recordar ao examinar o contexto anterior (2:5) que a perícopa
em questão forma parte das exortações pastorais que Paulo dirige ao
filipenses ao definir a atitude de Cristo que eles mesmos deviam imitar.37
A segunda seção corresponde à segunda parte desta construção
gramatical (quiasma) e percorre em sua temática o caminho inverso “da
cruz à glória”. Nesta seção, o agente é o próprio Deus que exalta “à mais
alta posição” a Jesus Cristo, o qual não se exalta a si mesmo, senão que
recebe a adoração e o reconhecimento como Deus de todos os que
habitam “no céus e na terra e debaixo da terra” (2:10).
O versículo nono “Por isso Deus o exaltou á mais alta posição e lhe
deu o nome que está acima de todo nome” descreve a ação do Deus Pai
em relação a Cristo Jesus como consequência de sua disposição humilde
e obediente até a cruz. Por um lado, recebe a exaltação máxima38 (38) e
por outro recebe o nome que39 lhe concede a autoridade sobre todos os
nomes ou autoridades que existem.
O versículo seguinte, para não deixar lugar à dúvida, repete
novamente de quem se trata e quem recebe a suprema exaltação e
autoridade: a pessoa de Jesus, diante de quem “se dobre todo joelho,”
quer dizer receba a submissão e homenagem de todos os seres
inteligentes criados em todas as esferas da criação. Hendriksen explica:
Notem-se as três classes de seres inteligentes criados:
37
“Não é que Paulo tenha se sentado como teólogo acadêmico para escrever uma cristologia para a posteridade: O que está oferecendo é conselho pastoral a uma igreja local e, para dar base a esse conselho, recorre a um hino. No apóstolo Paulo, a teologia não é um exercício acadêmico, mas sim está a serviço da vida da igreja e da ação pastoral. Além disso, no caso de ter sido deveras um hino, anterior a Paulo ou composto por ele, esta passagem tem como finalidade a adoração mais do que a especulação e se cita num contexto missionário e pastoral”. Escobar, Samuel. “Comentário Bíblico Mundo Hispano: Filipenses” (p.167). 38
O Senhor retornou à glória que tinha antes de sua encarnação. (João 17:5) “E agora, Pai, glorifica-me em tua presença com a glória que tive contigo antes que o mundo existisse.” Zapata, René C. Comentário Bíblico do Continente Novo: Filipenses (p.40). 39
O conceito bíblico dos nomes tinha suas raízes na ideia do mundo antigo do qual o nome expressava a essência. Saber o nome de uma pessoa era sinônimo de conhecer completamente seu caráter e natureza. Calçada, S. Letícia. Dicionário Bíblico Ilustrado Holman (p.1160).
39
a) Os que estão nos céus: querubins, serafins e
todos os milhões e milhões de anjos bons, inclusive
arcanjos. Também, naturalmente, todos os homens e
mulheres redimidos que já partiram desta vida terrena.
b) os que estavam em terra: todos os homens e
mulheres que vivem neste mundo.
c) os que estão debaixo da terra: todos os
condenados ao inferno, tanto humanos como anjos maus
ou demônios.40
No versículo décimo-primeiro encontramos a menção do nome
completo em grego que retrata a essência da pessoa: KujrioV IhsouV CrstoV
(Senhor Jesus Cristo). Neste nome se combina sua natureza humana
“Jesus” (Salvador), seu título messiânico “Cristo” (Messias) e sua
natureza divina “Senhor” (Deus).41
Cabe por último mencionar que o reconhecimento de “toda língua”
com respeito à plena divindade e autoridade de Jesus Cristo não significa
uma aceitação salvadora por parte de toda a humanidade e todos os
anjos.42
IV. Exortações pastorais (cont.) (2:12-15)
Depois deste breve hino cristão de intenso conteúdo teológico, o
apóstolo retoma as exortações pastorais que ficaram pendentes a partir
do versículo quinto, onde menciona a atitude de Cristo que deviam
imitar: “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus!” Esta nova série
de exortações pastorais, que se inicia com a exclamação “Assim, meus
amados,” faz referência ao descrito nos versículos sexto ao décimo-
primeiro com respeito à humilhação e a exaltação de Cristo como
premissas necessárias para as exortações a seguir.
40
Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.85). 41 “Na Septuaginta, versão grega do Antigo Testamento, “YAHWEH” ou “JEHOVA” foi traduzida como “Kurios”, que é o equivalente a “Senhor”. De maneira que a palavra “Deus” e “Senhor” tinham ou têm o mesmo significado” Escobar, Samuel. “Comentário Bíblico Mundo Hispano: Filipenses” (p.169). 42
“Isto nos leva à conclusão de que todos os homens, quer justos ou injustos, e todos os anjos, quer santos ou caídos, serão um dia obrigados a confessar e inclinar-se diante do Senhor Jesus Cristo. O triste fato é, no entanto, que a confissão para os relutantes será demasiado tarde”. Walvoord, John F. Comentário Bíblico Portavoz: Filipenses (p.57).
40
A atitude de confiança e alta estima que o apóstolo manifesta
diante dos filipenses desde o início desta segunda série de exortações:
“meus amados, como sempre vocês obedeceram...! (2:12) se destaca por
sua sinceridade e calor. Não se trata de uma atitude lisonjeira e
interessada por parte do apóstolo, com o propósito de obter algum
benefício pessoal, não se percebe a sensação de falsa ou gratuita
adulação, esse não é o caráter nem o estilo de pastorear de Paulo. O
objetivo deste terno apelo redundará em benefício espiritual dos próprios
filipenses. “(P)onham em ação a salvação de vocês com temor e tremor”
(2:12).
Para evitar qualquer equívoco neste ponto, devemos esclarecer que
o apóstolo não se refere a que os filipenses deveriam, de alguma maneira,
contribuir com boas obras para obter a própria salvação em meio a
dúvidas e ansiedades (“com temor e tremor”) relacionadas à incerteza da
mesma. Muito pelo contrário, o apóstolo lhes exorta a ter a vontade
disposta, com a devida devoção e reverência, para manifestar os
resultados da salvação em seus sentimentos, atitudes e interesses nas
relações com os outros membros da comunidade da fé, assim como da
“geração corrompida e depravada” (2:15) em que viviam.
Ao solicitar aos filipenses que “ponham em ação a salvação de
vocês” (2:12) lhes pede a sua colaboração na obra santificadora43 do
Espírito Santo.
As palavras do próximo versículo deixam sem lugar à dúvida a
procedência e o desempenho de tal pedido: “pois é Deus quem efetua em
vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele”
(2:13).
O décimo-quarto versículo: “Façam tudo sem queixas nem
discussões” contém um imperativo categórico que fora do contexto
poderia interpretar-se como admoestação diante de uma debilidade
pecaminosa dos filipenses. Mas, o décimo-quinto versículo esclarece qual
é o propósito desta exortação: “para que venham a tornar-se puros e
irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração
corrompida e depravada” (2:15). O pastor volta a insistir na importância
43
”A santificação é uma obra progressiva de Deus e o homem que nos faz mais e mais livres do pecado e mais semelhantes a Cristo em nossa vida atual. A justificação se refere à nossa posição legal diante de Deus, a santificação à nossa condição interna.” Grudem, Wayne “Doutrina Bíblica” (p.326).
41
do comportamento piedoso dos filipenses como testemunho diante de
sua geração. Para isso, devem evitar “queixas e discussões”, para chegar
a ser “puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis”. A exortação não
pressupõe necessariamente a existência de “queixas e contendas” entre
os filipenses, mas sim uma nova exortação ao “comportamento digno do
evangelho” (1:27). Posteriormente encontraremos (4:2) uma exortação
particular a dois membros da igreja (Evódia e Síntique) neste sentido.
A segunda parte do versículo décimo-quinto e a primeira do
décimo- sexto: “Na qual vocês brilham como estrelas no universo, retendo
firmemente a palavra de vida” conclui esta seção de exortações pastorais
afirmando que os filipenses já desfrutam de uma posição privilegiada
(brilham como estrelas no firmamento) diante de sua geração, uma vez
que põem em prática as exortações paulinas e se “apegam” (ejpecontevV) à
palavra de vida.
V. Testemunho de vida (2:16-17)
Em cada uma das seções em que temos classificado os
ensinamentos desta epístola, o apóstolo imprime seu “selo pessoal”, seu
testemunho de vida, as coisas que considera importantes em seu
ministério. Neste caso o faz em estes termos: “Assim, no dia de Cristo eu
me orgulharei de não ter corrido nem me esforçado inutilmente. Contudo,
mesmo que eu esteja sendo derramado como oferta de bebida sobre o
serviço que provém da fé que vocês têm, o sacrifício que oferecem a Deus,
estou alegre...” (2:16-17).
O apóstolo encontra satisfação nas realizações que procedem do
sacrifício e serviço da fé dos filipenses. E ainda que sua vida fosse
derramada como libação, valeria a pena e o apóstolo não sentiria que
teria corrido, nem trabalhado, em vão.
Esta atitude amorosa de Paulo em relação aos filipenses, que
antepõe seu bem-estar e o serviço que procede da fé de seu rebanho,
manifesta de maneira exemplar os ensinamentos do Mestre quando no
décimo capítulo do evangelho segundo João explicou que:
“O bom pastor dá sua vida por suas ovelhas” (João 10:11).
42
VI. Expressão de gozo: “estou alegre e me regozijo com vocês”
(2:17-18)
A expressão de alegria nesta seção corresponde à segunda parte do
versículo decimo-sétimo e ao décimo-oitavo: “estou alegre e me regozijo
com todos vocês. Estejam vocês também alegres, e regozijem-se comigo.”
O objeto direto da alegria de Paulo se encontra nos próprios
filipenses, em sua fé e seu comportamento que faz com que estes já
“brilham como estrelas no universo.”
È a alegria do pastor diante da maturidade e a plenitude de fé de
seu rebanho. O pedido do apóstolo é que eles mesmos possam também
desfrutar da alegria que produzem sua própria fé e sua vida piedosa e
que sejam partícipes de tal alegria.
VII. Acontecimentos imediatos (2:19-30)
Na seção de acontecimentos imediatos, o apóstolo relata os planos
que tem para as futuras visitas de dois enviados e colaboradores seus
conhecidos bem pelos filipenses. Nesta oportunidade o apóstolo aproveita
para recomendar e elogiar o comportamento dos dois irmãos em questão,
dando testemunho e propondo-os como modelos de fé a imitar. Os
versículos que vão do décimo-nono ao vigésimo-quarto descrevem
carinhosamente a Timóteo e do vigésimo-quinto ao final do capítulo
(versículo trigésimo) informam o pronto regresso de Epafrodito depois de
ter superado uma grave enfermidade.
Examinemos alguns detalhes destas visitas:
A visita de Timóteo seria rápida, com o propósito de retornar
a presença de Paulo com algumas notícias animadoras de sua
parte. Recomenda a integridade de caráter de Timóteo e sua
atitude altruísta, ressalta sua preocupação verdadeira pelo bem
estar dos filipenses, elogia os serviços que lhe havia proporcionado
“como um filho ao lado de seu pai” e afirma que “vocês sabem que
Timóteo foi aprovado”. Conclui expressando seu desejo de visitar
lhes pessoalmente, repetindo desta maneira sua preferência por tal
possibilidade que havia expressado anteriormente (1:26).
No caso de Epafrodito, o apóstolo menciona a necessidade de
“enviar-lhes de volta” esse “meu irmão, cooperador e companheiro de
43
lutas”. Entendemos que ele mesmo tinha sido encomendado pelos
filipenses para atender as necessidades de Paulo,
provavelmentelevando-lhe uma quantia monetária determinada.
Epafrodito, por sua vez, “tem saudades de todos vocês” e por
outro lado “está angustiado” pelas notícias negativas que possam
ter recebido os filipenses sobre sua saúde. Paulo menciona sua
determinação de enviá-lo “urgentemente” para atenuar a
preocupação dos filipenses e sua própria por esta situação.
Conclui ressaltando a boa disposição de Epafrodito de
arriscar sua própria vida pela obra de Cristo no serviço a Paulo e
insta que seja recebido “no Senhor com grande alegria e (que)
honrem homens como este.”
VIII. Conclusão
Em nossa análise do segundo capítulo de Filipenses examinamos
as exortações pastorais com as que se inicia a primeira seção do capítulo
e seguidamente passamos à análise em profundidade da seção que trata
da kenosis.
Encontramos nos seis versículos que compõem essa perícopa a
revelação de verdades teológicas profundas expressadas de maneira
admirável. Este bem poderia ser um dos primeiros hinos cristológicos de
conhecimento comum entre as igrejas da época. Esta apresentação
progressiva e ordenada das verdades fundamentais da fé antecede e, de
certa maneira abre passo, a aparição posterior dos primeiros credos
como forma de transmitir os ensinamentos cristãos de maneira uniforme
e de fácil retenção e assimilação.
Examinamos as carinhosas e muito pessoais exortações pastorais
com as quais o apóstolo se dirige à igreja dos filipenses. Desfrutamos das
expressões de alegria do apóstolo e de sua disposição de ser derramado
como libação pelo bem dos mesmos, considerando sua grande satisfação
o “não ter corrido nem me esforçado inutilmente” (2:16) a seu respeito.
Concluímos com a descrição que Paulo faz do caráter e da condição
de dois dos seus valiosos colaboradores. Revisamos os acontecimentos
imediatos e as viagens que em breve iriam realizar com a esperança de
compartilhar as alegrias do serviço do Senhor.
44
Podemos apreciar, portanto, nesta seção a variedade de recursos
que Paulo, como pastor amoroso, utiliza no cuidado espiritual de seu
rebanho, entendemos que tudo isso nasce de um coração íntegro, uma
motivação pura e de uma dedicação comprovada.
Perguntas para a Lição 4
1. Que quatro sentimentos dignos de serem cultivados pelos crentes
encontramos neste capítulo?
2. Que duas atitudes devem evitar os cristãos e que duas devem cultivar?
3. Que tipo de interesses devem prevalecer no coração do crente? (2:4)
4. Explique algumas implicações do termo kenosis. (2:6-11)
5. Quais são os acontecimentos imediatos desta seção? (2:19-30)
6. Quais são os três tipos de seres inteligentes criados Por Deus segundo as
explicações de Hendriksen?
7. Seria possível considerar esta perícopa que se estende do versículo sexto
ao decimo-primeiro algum tipo de hino cristão que o apóstolo compõe
para a ocasião ou recita por já ser conhecido pelos filipenses?
8. Quais são os motivos de satisfação que o apóstolo relata nos versículos
décimo-sexto e decimo-sétimo?
9. Ao pedir aos filipenses que “levem a cabo sua salvação” (2:12) o apóstolo
lhes está pedindo sua colaboração na obra ------------------- do Espírito
Santo.
10.Escreva o termo completo grego que retrata a essência da pessoa do
Filho?
45
Lição 5: “Por causa de Cristo” (3:1-11)
I. Introdução
Temos dividido o terceiro capítulo da epístola aos filipenses em
duas seções, a primeira se estende desde o primeiro até o décimo-
primeiro versículo e a segunda, que estudaremos na próxima seção,
desde o décimo-segundo até o vigésimo primeiro. Os objetivos principais
para esta divisão são: facilitar seu estudo com base na perspectiva que
nos orienta: “o coração de pastor de Paulo” e ressaltar as formas de
comunicação que utiliza com esta amada igreja.
Tal como viemos estudando, os dois primeiros capítulos da epístola
aos filipenses estão repletos de ternura, de valiosos ensinamentos e de
suaves admoestações, concluindo com a boa notícia da iminente visita de
Timóteo e Epafrodito. O terceiro capítulo, que se inicia com a expressão
“To loipon” (“finalmente”) assinala a transição a uma nova seção
determinada por uma mudança no tom e conteúdo das palavras do
apóstolo.44 O tratamento continua sendo o mesmo “ajdelfoi mou” (“meus
irmãos”) (1:12 e 2:25), denotando seu carinho e respeito pelos
filipenses.45 (45) A referência à expressão de alegria tampouco poderia
faltar nesta seção.
A partir do segundo versículo, as admoestações pastorais tomam
um aspecto mais sombrio e urgente. As desta lição vão dirigidas a
advertir os membros da igreja sobre os falsos ensinamentos e práticas
que provavelmente tinham se originado com os cristãos judaizantes,46
problema que afetava outras igrejas do século primeiro e que o apóstolo
expõe e refuta detalhadamente em algumas epístolas de composição
anterior a esta, em particular as dirigidas aos gálatas e romanos.
44
“O termo adverbial “finalmente”, é empregado por Paulo em outras cartas ao aproximar-se da conclusão. Não é certo, no entanto, que esta expressão demonstre que Paulo estava por
terminar a carta nesse ponto, porque “To loipon” também pode introduzir simplesmente um novo parágrafo, no qual o apóstolo procede a discutir um tema diferente do anterior, um tema que lhe parece tão importante que agora deseja enfatizar.” Hendriksen, William “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.105). 45
“Ao chamar-lhes de “meus irmãos”, Paulo indica que ele não assume nenhum plano de superioridade apostólica, mas sim que sua exortação está baseada na relação próxima que existe entre crentes” Carballosa, Elvis L. “Filipenses un comentario exegético y práctico” (p.85). 46
Nome para distinguir os cristãos judeus que tentavam impor aos seus semelhantes gentios à observação da lei como meio de salvação (Atos 15:15). Calçada, S. Leticia. Diccionario Bíblico Ilustrado Holman.
46
O testemunho de vida que o apóstolo apresenta é mais extenso
que em ocasiões anteriores e se compõem de duas seções diferenciadas:
na primeira enumera, com certa dose de ironia, suas credenciais
judaicas; na segunda procede a desacreditar a importância das mesmas,
enfatizando a importância do conhecimento experimental de Cristo ao
qual qualifica de “incomparável valor.”
Os valiosos ensinamentos teológicos, com os quais conclui esta
seção relativa à justificação pela fé em Cristo, são comuns às outras
epístolas do apóstolo, ainda que nesta ocasião as expressa em termos
muito mais pessoais (“Ser encontrado nele, não tendo a minha própria
justiça... mais a que vem mediante a fé em Cristo”). Em contraste, as
expressões negativas utilizadas pelo apóstolo (“passei a considerar como
perda... as considero como esterco”) (3:8) nos ajudam a entender o
intensamente pessoal que o apóstolo sentia as verdades enunciadas.
II. Expressão de gozo: “Alegrem-se no Senhor” (3:1)
Apesar de que a expressão de alegria do primeiro versículo
“Alegrem-se no Senhor” se encontra no modo imperativo, não reflete no
contexto a imposição de um mandamento, mas sim atua como resumo
de tudo que foi dito anteriormente nos capítulos que a precedem:
“Finalmente, meus irmãos, alegrem-se no Senhor!” Desta maneira não só a
procedência da alegria do cristão se encontra “no Senhor,” como também
Ele é o objeto primário da mesma.
A frase seguinte “Escrever-lhes de novo as mesmas coisas não é
cansativo para mim, e é uma segurança para vocês” apresenta algumas
incógnitas, visto que não sabemos por certo a que exatamente se refere o
apóstolo. João Calvino sustentava que se tratava de algum ensinamento
oral prévio; H. Alford considerava que fazia referência à exortação
precedente de alegrar-se no senhor; J. B. Lightfoot faz alusão às
admoestações anteriores contra a dissensão entre os irmãos; R. C. H.
Lenski menciona que as mesmas se dirigem principalmente às
advertências contra os judaizantes que virão a seguir.47
Para nossos propósitos, independentemente da natureza do
assunto que requereria sua repetição, tal frase reflete claramente a
disposição amorosa do apóstolo com respeito ao seu rebanho e seu
interesse pelo bem-estar e progresso espiritual do mesmo. Esta é uma
47
Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.106),
47
das características do pastoreio efetivo que Paulo desenvolvia: a
disposição em repetir pacientemente os ensinamentos se tal repetição
comprovadamente resultasse benéfica aos ouvintes.
III. Exortações pastorais (3:2-3)
O segundo versículo contém uma advertência tríplice: “Cuidado
com os “cães”, cuidado com esses que praticam o mal, cuidado com a falsa
circuncisão!”48 Tal advertência, dirigida a recordar os seus ouvintes da
influência perniciosa que tinha se originado com os judaizantes, utilizava
uma terminologia que surpreende por sua severidade e conotação
pejorativa: “cães,” “praticam o mal,” “falsa circuncisão.”
Na terceira lição de estudo desta epístola examinamos a atitude
paciente e perseverante que o apóstolo recomenda exercitar em relação
aos não crentes, sejam ou não adversários da fé em Cristo (1:28; 2:15).
Na quarta lição, fizemos o mesmo em relação aos irmãos na fé em Cristo,
a quem devemos amar e ter em alta estima (2:1-3). Então, a quem se
refere o apóstolo nesta parte da epístola? Quem são esses “cães... que
praticam o mal... falsa circuncisão?” Qual é a gravidade do caso que
requer advertências tão exaltadas por parte do apóstolo? De quem o
apóstolo insiste repetidamente que os filipenses devem “ter cuidado?”
Existia um importante conflito doutrinário, difundido e debatido no
seio da igreja de Filipos. Este conflito, promovido por certas pessoas de
influência agrupadas num bando, se opunha aos ensinamentos
apostólicos com respeito à salvação por fé em Cristo. Aparentemente
seguiam desfrutando de certa influência e uma aceitação relativa no meio
de algumas igrejas do século primeiro e haviam se estendido pelas
regiões da Macedônia
Este grupo de cristãos, indeterminado quanto a número, mas
composto principalmente por mestres de origem judaica,
desconsideraram as determinações apostólicas do Concílio de Jerusalém
(ano 50 D.C; Atos 15) e continuaram ensinando que a circuncisão e a
observação da Lei eram requisitos indispensáveis para a salvação dos
48
“Agora, quando Paulo descreve os inimigos como cães, maus obreiros, a mutilação, ele tem em mente só um tipo de adversários e não três tipos diferentes deles. Isto se vê claramente no contexto, o qual no parágrafo presente trata somente de um inimigo: a mutilação em contraste com a circuncisão. Assim mesmo, se dá uma descrição tríplice de um tipo de pessoa, a saber, os verdadeiros adoradores de Deus”. Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.107).
48
cristãos de origem gentia. Com o passar dos anos, tais ensinamentos
encontraram certo enraizamento e se tornaram atraentes, ainda que o
efeito fosse pernicioso, entre as igrejas do primeiro século.
Ao revisar outros escritos apostólicos do NT, entendemos que não
se tratava de uma simples diferença de opiniões doutrinais entre cristãos
em relação às questões soteriológicas. O apóstolo Paulo se refere a essas
pessoas como “falsos irmãos” em Gálatas 2:4; como “falsos apóstolos,
obreiros enganosos” em 2 Coríntios 11:13; o apóstolo Pedro os qualifica
de” falsos mestres... que introduzirão heresias destrutivas” (2 Pedro 1:1-
21) e o apóstolo João como “enganadores... os quais não confessam que
Jesus Cristo veio em corpo” (1 João 2:19, 26; 2 João 7). O próprio
apóstolo Paulo numa ocasião anterior, já havia advertido os efésios
energicamente contra essas pessoas: “Cuidem de vocês mesmos e de todo
o rebanho... Sei que, depois da minha partida, lobos ferozes penetrarão no
meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se
levantarão homens que torcerão a verdade a fim de atrair os discípulos”
(Atos 20:28-31).
A severidade do tom e a gravidade com a qual os apóstolos
trataram do tema dos falsos irmãos concordam com os ensinamentos do
próprio Mestre com relação aos falsos profetas.”Cuidado com os falsos
profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles, mas por dentro são lobos
devoradores” (Mateus 7: 15-16). Podemos extrair dos ensinamentos
destes personagens, segundo as palavras do próprio apóstolo, que
negavam a cruz de Cristo e desvirtuavam a Boa Notícia ao ensinar que se
podia obter a justificação diante de Deus através de “esforços
humanos.”49
Para qualificar a gravidade do conflito existente e as razões para
esta potente advertência apostólica, devemos compará-la à tríplice
definição do que “nós é que somos” que aparece no versículo seguinte:
“Pois nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos pelo Espírito de
Deus, que nos gloriamos em Cristo Jesus e não temos confiança alguma na
carrne” (3:3). A diferença não poderia ser mais extrema. O conflito estava
servido e as posições de ambos os lados eram irredutíveis.
49
“Os judeus, no tempo de Paulo, ensinavam que a menos que um homem fosse circuncidado não era salvo. O apóstolo ataca essa posição errônea chamando-a não de circuncisão, mas sim mutilação. Os judaizantes não tinham direito algum de apoderar-se da circuncisão e, portanto, Paulo os compara com sacerdotes pagãos, que não circuncidavam, mas sim mutilavam.” Carballosa, Elvis L. “Filipenses un comentario exegético y práctico” (p.88).
49
IV. Testemunho de vida (3:4-7)
A partir do quarto versículo, o apóstolo utiliza seu testemunho de
vida para transmitir novos ensinamentos valiosos. O tom da
apresentação que segue é claramente irônico, dando a entender que,
segundo as abordagens desses judaizantes, o próprio apóstolo tinha
“razões para ter tal confiança” e inicia uma exposição de suas credenciais
que devia exceder a da maioria de seus contemporâneos. Em suas
próprias palavras, e sem falsa modéstia: “eu ainda mais” (3:4).
Começa sua apresentação desta maneira: “circuncidado no oitavo
dia de vida, pertencente ao povo de Israel, á tribo de Benjamim, verdadeiro
hebreu; quanto a Lei, fariseu; quando ao zelo, perseguidor da igreja;
quanto à justiça que há n Lei, irrepreensível” (3:5-6).
Ao concluir a exposição de seus supostos “lucros”, encontramo-nos
com a surpreendente e contraditória conclusão que o apóstolo apresenta
como experiência pessoal: “Mas o que para mim era lucro, passei a
considerar como perda por causa de Cristo” (3:7). Quer dizer, que
considerava um inconveniente e um obstáculo o que os seus adversários
consideravam vantajoso.
O efeito desta afirmação é duplo: por um lado despoja os
judaizantes de supostas vantagens e privilégios, igualando a condição de
cristãos de procedência gentia e judia; por outro exalta a Cristo como
único e suficiente autor da salvação.
V. Ensinamento teológico (3:8-11)
A partir do oitavo versículo até o décimo-primeiro, Paulo apresenta
ensinamentos de alto conteúdo teológico na primeira pessoa. Quer dizer,
refere-se a questões muito objetivas sobre a justiça que procede de Deus
e a salvação por fé, apresentando-as de maneira pessoal e subjetiva. Este
método de apresentação pessoal de verdades teológicas é tremendamente
efetivo e convincente.
Vamos examiná-las cuidadosamente: “Mais do que isso, considero
tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento
de Cristo Jesus, meu Senhor” (3:8). Neste caso, “tudo” panta (panta) não
somente inclui o tipo de “credenciais” que os judaizantes tinham em alta
estima, mencionadas no versículo anterior, mas também inclui tudo o
mais na vida do apóstolo. Nada se compara em valor com o
50
conhecimento pessoal de Cristo. “(P)or quem perdi todas as coisas. Eu as
considero como esterco para poder ganhar a Cristo e ser encontrado nele”
(3:8-9). O apóstolo não só afirma considerar todas as coisas como
perdas, mas também admite tê-las efetivamente perdido e até mais, tê-
las desprezado, para que nada pudesse servir de obstáculo ao seu
conhecimento experimental de Cristo e sua união com ele. Que
maravilhoso exemplo de dedicação exclusiva a Cristo!
Continua o apóstolo: “não tendo a minha própria justiça que
procede da Lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça que
procede de Deus, e se baseia na fé” (3:9). Paulo publicamente renuncia a
sua busca de justiça através da observância da Lei como sugerem os
judaizantes. Paulo busca a justiça que procede de Deus e se baseia na fé
em Cristo. Desta maneira o profundo e verdadeiro ensinamento teológico
da justificação pela fé em Cristo fica vividamente personalizado na
renúncia pública de Paulo à busca de sua própria justiça. Que maneira
mais efetiva de ensinar teologia!
Os versículos décimo e décimo-primeiro contêm uma breve lista
dos benefícios pelos quais Paulo esteve disposto a “considerar tudo como
perda”. Esta recopilação breve denota sua busca fervente pela
identificação com o Mestre em todos os sentidos. “Quero (a) conhecer
Cristo, (b) o poder da sua ressurreição, (c) e a participação em seus
sofrimentos (d) tornando-me como ele em sua morte. Para, de alguma
forma alcançar a ressurreição dentre os mortos.”
Os dois primeiros benefícios poderiam parecer atrativos aos leitores
contemporâneos desta epístola. São, na verdade, metas dignas de
qualquer renúncia por parte dos cristãos de todas as eras. “Quero
conhecer Cristo, (e) o poder da sua ressurreição” são, sem dúvida, duas
experiências extraordinárias.
Mas, a identificação com a obra e o exemplo do Mestre ficaria
incompleta se Paulo não acrescentasse as duas restantes: “e a
participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte”.
Paulo está decidido a seguir o exemplo de Cristo com todas as suas
consequências, está consciente do custo do verdadeiro discipulado e
manifesta sua disposição de aceitá-lo.
Seu compromisso com Cristo é integral e quer vê-lo cumprido até
as últimas consequências, até o final de sua vida, como também afirma:
“para de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos.” Ao
51
comunicar desta maneira sua teologia, seus valores pessoais e seus
próprios anseios espirituais, os filipenses tinham a oportunidade de
comparar a profundidade das realidades espirituais que o apóstolo
ensinava com os limitados e rudimentares ensinamentos dos
judaizantes.
VI. Conclusão
A perícopa estudada, apesar de sua brevidade, contém os
elementos característicos do estilo pastoral de Paulo que transparece no
decorrer desta epístola.
A relação do autor com os receptores se mantém terna e próxima.
As advertências mordazes dirigidas aos judaizantes têm o propósito de
expor a insensatez de seus postulados com respeito à circuncisão. A
ironia que o apóstolo exibe ao ostentar pomposamente suas credenciais
judaicas se contrapõe ao desprezo que posteriormente manifesta pelas
mesmas, e ressalta a inutilidade dos esforços humanos para alcançar o
conhecimento vivenciado de Cristo. Seus ensinamentos ressoam os do
Mestre que, em uma ocasião, dirigindo-se aos fariseus de sua época, os
admoestou pela superficialidade de sua religião: “Ele lhes disse: Vocês
são os que se justificam a si mesmos diante dos homens, mas Deus
conhece o coração de vocês. Aquilo que tem muito valor entre os homens é
detestável aos olhos de Deus” (Lucas 16:15).
As declarações do apóstolo quanto à sua relação com Cristo, e o
alto custo pessoal que implica obter conhecimento experimental,
manifestam uma disposição que, sem dúvida, serviria de estímulo aos
receptores da epístola a esforçar-se por imitar seu exemplo.
A sinceridade e profundidade com a qual o apóstolo expressa suas
experiências pessoais com Cristo servem para reafirmar de maneira
tangível a realidade das verdades teológicas a respeito da justificação e a
circuncisão que defende.
É difícil ler esta breve perícopa sem nos comover profundamente ao
conhecer os sentimentos íntimos do autor, sua humildade e dependência
de Cristo e o custo que alegremente se dispôs a pagar para obtê-lo. O
apóstolo, como bom pastor, ensina teologia com sua própria vida.
52
Perguntas para a lição 5
1. A que grupo o apóstolo qualifica de: “cães,” “que praticam o mal,” “falsa
circuncisão” (3:2)?
2. Que 3 distintivos caracterizam aos filipenses que Paulo define como:
“nós é que somos a circuncisão” (3:3)?
3. Paulo se considera à altura dos mestres judaizantes? (3:4)
4. Que tipo de justiça Paulo confessa não desejar que se manifeste em sua
vida? (3:9)
5. Como podemos entender a frase: “Por quem perdi todas as coisas... para
poder ganhar Cristo” (3:10)?
6. Que aspectos positivos resultariam da atitude de desprendimento de
Paulo? (3:10)
7. Que sacrifícios implicariam a identificação de Paulo com o Mestre?
8. Qual seria o motivo do apóstolo exibir suas “credenciais” judaicas?
9. Ao considerar um obstáculo o que os seus adversários consideravam
vantajoso, qual seria o efeito duplo desta afirmação?
10. A disposição do apóstolo de repetir pacientemente seus
ensinamentos manifestava seu coração de pastor?
53
Lição 6: “Nossa cidadania está nos céus” (3:12-21; 4:1)
I. Introdução
Estudaremos a seguir a segunda seção do terceiro capítulo que se
estende desde o versículo décimo-segundo até o vigésimo primeiro.
Incluiremos no nosso estudo a tenra expressão de alegria que inicia o
quarto capítulo: “vocês que são a minha alegria” (4:1) que serve de
conclusão ao conteúdo desta perícopa. Os ensinamentos do capítulo
terceiro e em particular as que compõem esta seção se encontram entre
as mais pessoais e íntimas de toda a epístola.
Os lampejos de intimidade que encontramos nos dois primeiros
capítulos ganham intensidade e profundidade nesta seção, a gravidade
dos temas tratados e seu efeito sobre as emoções do apóstolo (“e agora
repito com lágrimas”) (3:18) servem para contrapor a chamada ao alegria
que é o fio condutor de toda a epístola.
O estilo de pastoreio de Paulo também se destaca nitidamente
nesta perícopa. Quanto mais graves os assuntos a tratar, quanto mais
severas suas exortações e advertências, mais pessoais se tornam suas
manifestações de ânimo e tanto mais íntimas suas expressões de
carinho.
Do versículo décimo-primeiro ao décimo-quarto encontramos outro
testemunho de vida por parte do apóstolo. Neste caso, e ao contrário do
que estudamos na lição anterior (3:4-6), Paulo não faz uso da ironia, mas
utiliza uma dose de realismo e humildade para descrever o conceito que
tem de si mesmo. Como em outras ocasiões aproveita a oportunidade
para transmitir-lhes seus valores, os princípios que o orientam e seus
objetivos vitais.
Os versículos da próxima seção (3: 15-17) contêm várias exortações
pastorais. A exortação a imitar o exemplo e modelo que ele mesmo traçou
vem precedida do humilde reconhecimento de suas limitações e do
esforço progressivo que se dispõe a realizar no prosseguimento de seus
objetivos. Suas palavras exortação se tornam por tanto reconfortantes e
encorajadoras.
Na próxima seção que se estende desde o versículo décimo-oitavo
ao vigésimo encontraremos dois tipos de ensinamentos teológicos
valiosos:
54
O primeiro caracteriza os que a seguir define como “inimigos
da cruz de Cristo.”
O segundo descreve alguns dos benefícios que estão à espera
daqueles que tem a “cidadania... nos céus.”
Esta é a seção mais extensa e significativa de toda a perícopa.
Concluiremos a seção considerando outra série de carinhosas e
sentidas declarações de afeto pelos filipenses: “a quem amo e de quem
tenho saudade” (4:1).
II. Testemunho de vida (3:12-14)
A exposição do testemunho de vida do apóstolo é o elemento
predominante de toda a seção. Os ensinamentos teológicos e as
exortações pastorais que vêm a seguir partem das experiências, dos
conceitos e dos valores que expõe nestes três versículos.
Nos versículos imediatamente anteriores (3:10-11), tal como
estudamos na seção passada, o apóstolo alegremente admite ter-se
desfeito de “tudo” a fim de poder: “(a) conhecer Cristo, (b) o poder da sua
ressurreição, (c) e a participação em seus sofrimentos (d) tornando-me
como ele em sua morte.”
Esta seção se inicia com a humilde admissão que estas metas
pessoais tão elevadas não foram completamente alcançadas: “Não que eu
já tenha obtido tudo isso ou que” (3:12). A frase “tenha sido aperfeiçoado”
hdhteteleiwmai (literalmente: “alcançado a perfeição”) apresenta algumas
dificuldades interessantes.50
Para o Dr. John Walvoord tal perfeição se manifesta em três etapas
as quais qualifica de: posicional, progressiva e definitiva.51 Entendemos
que a primeira equivaleria ao processo de justificação, obra já finalizada
no crente; a segunda ao processo de santificação, ainda em
50
“A frase ‘Ser perfeito’ significa chegar a ser cada vez mais como nosso Senhor Jesus Cristo, com sua justiça, não só como um dom espiritual interior, mas também como um estilo de vida exterior”. Motyer, J. Alec. “El mensaje de Filipenses” (p.178). 51
“Nas escrituras se revela que a perfeição tem três etapas: 1) Perfeição posicional quanto a que está relacionada a nossa salvação e que já se deu a todo cristão verdadeiro, como afirma Hebreus 10:14. 2) Perfeição progressiva ou relativa, que se relaciona com a maturidade em espiritualidade, da qual se fala em 2 Corintios 7:1. 3) Perfeição definitiva que se possuirá no céu.” Walvoord, John F. “Comentário Bíblico Portavoz: Filipenses, triunfo en Cristo” (p.85).
55
desenvolvimento; e a terceira a glorificação, que tão ansiosamente
esperava alcançar o apóstolo.
Na segunda parte do décimo-segundo versículo: “mas prossigo para
alcança-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo” encontramos
outro notável exemplo do uso do testemunho de vida do apóstolo para
alentar os crentes de Filipos.
A humildade com que reconhece sua falta de “perfeição” na
primeira parte do versículo não é uma exposição lamentosa de sua
incapacidade, pelo contrário, serve de fundo para ressaltar sua
determinação férrea de “prosseguir” até alcançar a perfeição final.
Nos versículos décimo-terceiro e décimo-quarto: “Irmãos, não penso
que eu mesmo já o tenha alcançado. Mas, uma coisa faço: esquecendo-me
das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante,
prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de
Deus em Cristo Jesus.” O apóstolo volta a repetir, e neste caso aproveita
para acrescentar comentários esclarecedores aos conceitos apresentados
no versículo décimo-segundo.
O apóstolo insiste em declarar-se consciente de suas limitações
quanto a realização de suas metas, mas se manifesta também
determinado a realizar duas coisas:
a) Esquecer-se do que fica trás.52
b) Seguir esforçando-se para alcançar a meta e ganhar o
prêmio.
Desta maneira o conceito de “prosseguir” fica precisamente
determinado quanto à sua realização. A maneira em que o apóstolo põe
em prática e propõe aos filipenses “prosseguir,” consiste em se esquecer
do passado, esforçar-se no presente, tendo sempre em vista a meta que
se pretende alcançar no futuro.
52
“Esquecendo-me das coisas que ficaram para trás” (3:13). Tal como propõe o profeta Isaías: “Esqueçam as coisas do passado; já não vivam no passado” (Isaías 43:14). Sem dúvida resta um elemento da memória do passado que não convém esquecer nunca, se trata, segundo as palavras do próprio Isaías, de tudo o relativo à glória de Deus: “Lembrem-se das coisas passadas, aquelas do passado; Eu sou Deus, e não há nenhum outro, Eu sou Deus, e não há ninguém igual a mim” (Isaías 46:9).
56
III. Exortações pastorais (3:15-17)
Após concluir a apresentação do seu testemunho de vida, Paulo
dirige aos filipenses uma série de exortações que inicia com o apelativo
ounv tleloi (oun tleloi) (“nós que alcançamos maturidade” - literalmente “os
aperfeiçoados”), neste caso os maduros espiritualmente entre os quais se
encontra o próprio Paulo.53
“Todos nós... devemos ver as coisas dessa forma”. Desta maneira
estende aos irmãos que se considerem a si mesmos espiritualmente
maduros o mesmo código de conduta que ele pessoalmente observa. Por
“ver as coisas dessa forma” entendemos que faz alusão aos princípios
que regem sua vida e que expôs na seção anterior (3:12-14): a) seu
conceito de si mesmo; b) sua disposição em deixar o passado atrás; c)
sua determinação de avançar em direção à meta e ganhar o prêmio de
Deus. Verdadeiros sinais da verdadeira maturidade espiritual que Paulo
ensina.
“E, se em algum aspecto vocês pensam de modo diferente, isso
também Deus lhes esclarecerá” (3:15). O apóstolo concede aos irmãos
maduros a possibilidade de discordar das atitudes que ele mesmo
exercitava e ensinava como conducentes para alcançar a maturidade
espiritual. Acima de tudo está a confiança em que Deus os ajudaria
eventualmente a pensar de maneira semelhante. Em todo caso, esta
abertura à discordância quanto ao pensamento não pode dar lugar à
discordância quanto ao comportamento de tais pessoas. “Tão somente
vivamos de acordo com o que já alcançamos” (3:16).
A seguinte exortação utiliza o termo familiar (adelfoi) “Irmãos,” e não
se dirige exclusivamente aos irmãos maduros, tal como na exortação
anterior, mas sim a todos os membros da igreja em Filipos: “sigam
unidos ao meu exemplo e observem os que vivem de acordo com o padrão
que lhes apresentamos” (3:17). A possível divergência quanto aos modos
de pensar em relação à maturidade cristã em nenhum momento poderia
traduzir-se em diferenças de comportamento e conduta. Os filipenses
deviam observar o comportamento segundo o modelo ensinado por Paulo.
53
“A palavra “aperfeiçoados” aqui não tem o mesmo sentido que em 3:12. No versículo 12, Paulo usa o tempo perfeito, que significa ação completada ou perfeição absoluta. No versículo 15, a palavra “perfeitos” é uma perfeição relativa que poderia se traduzir melhor como “maturidade espiritual”. Paulo se inclui a si próprio no grupo dos que são adultos espiritualmente.” Carballosa, Elvis L. “Filipenses un comentario exegético y práctico” (p.101).
57
IV. Ensino Teológico (3:18-21)
A seção de ensinamentos teológicos, que aparecem no versículo
décimo-oitavo e se estendem até o final do capítulo, se desenvolve a
partir de um contexto extremamente pessoal. Não se trata de ensinos
doutrinais teóricos, mas sim de profundas e muito sentidas inquietações
que o coração de pastor de Paulo sente por seu rebanho amado e os
perigos que o ameaçam.
O comportamento de certos falsos irmãos (nas palavras de Paulo
“muitos”) o têm preocupado até as lágrimas, pois está consciente do
enorme dano que pode causar. “Como já lhes disse repetidas vezes, e
agora repito com lágrimas, há muitos que vivem como inimigos da cruz de
Cristo” (3:18).
Determinar a identidade deste grupo de falsos irmãos, cujo
comportamento era digno de repreensão e contra os quais Paulo havia
proferido repetidas advertências, não é tarefa fácil. Existe, como em
tantos outros temas, diversidade de opiniões entre os comentaristas:
Hewlett54 assegura que se trata de cristãos carnais e libertinos;
Hendriksen55 sustém algo parecido; Walvoord56 os qualifica de “gnósticos
incipientes”, Motyer57 aporta umas observações interessantes a respeito
de tentar precisar exatamente sua identidade.
Para nossos propósitos, de acordo com a linha de pensamento que o
apóstolo vem desenvolvendo, entendemos por contraposição que se refere
54
“Não se trata aqui de ensinamentos falsos como o segundo versículo, mas de comportamento malvado; os libertinos, não os judaizantes, estão na mira. Estes inimigos reclamam os benefícios da cruz, mas negam o poder em suas vidas” Hewlett, H.C. “New International Bible Commentary: Philippians” Zondervan (p.1448) 55
“De acordo com grande número de intérpretes, eu estou convencido de que se trata de sensualistas, pessoas que compraziam os apetites da carne, glutões, grosseiramente imorais, os quais apesar disso, fingiam ser cristãos.” Hendriksen, William. “Comentario al Nuevo Testamento: Filipenses” (p.128). 56
“Paulo não está falando de cristãos extraviados, mas sim daqueles que não são cristãos em absoluto... esta mordaz denúncia seria mais apropriada para o incipiente grupo gnóstico de Filipos, opostos aos legalistas, e que tendiam a eliminar as restrições morais” Walvoord, John F. “Comentário Bíblico Portavoz: Filipenses, triunfo en Cristo” (p.89) 57
“Alguns dizem que estes “inimigos da cruz”, são os judaizantes que descreve no versículo 2. Alguns dizem que está advertindo contra o antinomianismo, o pecado daqueles que abusam da sua liberdade em Cristo, convertendo-a em licença aberta para todo tipo de indulgências. O que poderia estar apelando contra a influência do mundo. Na perspectiva final, não interessa demasiado saber a quem está desacreditando, motivo pelo qual não convém atribuir com demasiada firmeza os versículos a alguma situação do passado. A ameaça está sempre presente e a descrição é bem clara ainda que os nomes não apareçam”. Motyer, J. Alec “El mensaje de Filipenses” (p.189).
58
a certos irmãos que não se comportam segundo “o padrão” ensinado pelo
apóstolo. Nada se menciona a respeito de seus possíveis ensinamentos
doutrinais, mas claramente se identifica seu comportamento: “O destino
deles é a perdição, o seu deus é o estômago e eles têm orgulho do que é
vergonhoso; só pensam nas coisas terrenais” (3:19).
A descrição que o apóstolo faz deste grupo de falsos irmãos começa
com o iniludível destino que os aguarda: “a perdição” Descreve três
características notáveis de seu comportamento: a) “seu deus é o
estômago”; b) “eles têm orgulho do que é vergonhoso” e por fim c) “Só
pensam nas coisas terrenais.” Com estas informações podemos formular
o tipo de problemas que as igrejas do primeiro século, durante a era
apostólica, tinham que enfrentar no seu meio.
Os versículos da perícopa que se estendem desde o vigésimo até o
vigésimo-primeiro, descrevem o contraste de comportamento, as atitudes
e o destino que aguarda os verdadeiros irmãos. O tom do apóstolo muda,
suas expressões estão cheias de notícias esperançosas, a seção está a
ponto de concluir e novamente o apóstolo deseja fazê-lo com uma nota
positiva.
“A nossa cidadania, porem, está nos céus”. As diferenças estão
marcadas, Paulo e os filipenses não são como aqueles falsos irmãos que
“só pensam no terrenal”, nem tampouco são simples cidadãos romanos
por mais cobiçado que fosse tal privilégio. “Nossa cidadania está no céus”
afirma categoricamente, não como promessa de futuro, mas sim como
ato consumado, sem condições pendentes de cumprimento, senão
possuindo o direito à cidadania eterna.
Paulo dá por certo que tanto ele como os filipenses, em razão da
cidadania que acaba de descrever, manifestavam a seguinte
característica “esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus
Cristo” (3:20).
Esta deveria ser a esperança, ou melhor, o anseio do coração de
cada crente. Paulo esperava que o comportamento e as atitudes que
resultassem de viver com tal anseio se manifestassem nos crentes de
Filipos como sinal de sua verdadeira cidadania.
59
Esta expectativa anelante pelo retorno do Senhor é sinal
característico dos verdadeiros cristãos e deveria manifestar-se em seu
comportamento neste mundo.
Por último, a promessa que tem servido de consolo aos crentes de
todas as gerações ”Pelo poder que o capacita de colocar todas as coisas
debaixo do seu domínio, ele transformará os nossos corpos humilhados,
tornando-os semelhantes a seu corpo glorioso.” (3:21). Por “Ele”
entendemos que se refere ao Senhor Jesus Cristo; a garantia de que
dispõe o cristão da tão esperada ressurreição da carne descansa no
próprio poder de Deus. O poder com que sujeita todas as coisas do
universo a si mesmo é o mesmo que garante a transformação do nosso
corpo.
V. Expressão alegre: “Vocês são a minha alegria” (4:1)
O motivo da expressão de alegria desta seção são os próprios
irmãos filipenses e a relação de carinho com o apóstolo. “Portanto, meus
irmãos, a quem amo e de quem tenho saudade, vocês que são a minha
alegria e a minha coroa, permaneçam assim firmes no Senhor, ó amados.”
O apóstolo aproveita esta oportunidade para declarar seu profundo
amor e o orgulho que sente por esses amados irmãos e para exortá-los a
permanecer firmes no Senhor. O pastor que ensina profundas verdades
teológicas; que se preocupa pelo bem-estar do rebanho; que não duvida
em abrir seu coração e compartir suas experiências vitais; que os exorta
pacientemente segundo crescem até a perfeição; também os ama
profunda e ternamente.
A profundidade e sinceridade desse amor determinam a influência
dos ensinamentos do pastor e sua relação com a igreja em Filipos.
VI. Conclusão
A seção estudada nos permite examinar algumas das crenças,
atitudes e princípios que governavam a vida do apóstolo, permite-nos
familiarizar-nos com a relação amorosa que havia estabelecido com a
igreja. O humilde reconhecimento de suas próprias limitações (“Não que
eu já tenha conseguido tudo isso ou já tenha sido aperfeiçoado”) lhe dá a
oportunidade de compartilhar com os filipenses quais são as metas que
pretende alcançar. Em suas próprias palavras: “mas uma coisa faço.”
60
Sua exortação aos que se consideravam maduros espiritualmente a
imitar seu modo de pensar não é autoritária e manipuladora. Permite
discrepâncias na forma de pensar a respeito das atitudes que promovem
a maturidade espiritual, mas não abre mão às discrepâncias que se
referem à forma de viver, o comportamento dos cristãos tem que ser
semelhante em todas as partes, em todas as ocasiões “sigam unidos o
meu exemplo e observem os que vivem de acordo com o padrão que lhes
apresentamos.”
A seguir os recorda das severas advertências que lhes havia
transmitido anteriormente a respeito daqueles irmãos que devido ao seu
comportamento manifestassem ser “inimigos da cruz de Cristo.” O
comportamento destes irmãos libertinos e hedonistas terá o final que
merece, adverte Paulo.
O lembrete que Paulo dirige aos filipenses de valorizar que “a nossa
cidadania esta nos céus” nos remete a outros trechos desta epístola onde
os adverte: “Não importa o que aconteça. Exerçam a sua cidadania de
maneira digna do evangelho de Cristo” (1:27). Os filipenses entendiam
que apesar de viverem à considerável distância de Roma, desfrutavam
legalmente dos plenos privilégios que dita cidadania concedia.
Por sua vez, os cristãos, como cidadãos do céu, desfrutam à
distância dos privilégios que serão plenamente realizados pelo poder de
Deus quando Cristo regresse. Neste caso, a transformação de “os nossos
corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso” (4:21).
61
Perguntas para a lição 6
1. O apóstolo Paulo reconhece que tenha chegado ao nível de perfeição e
que tenha conseguido alcançar as metas que se havia proposto.
(Verdadeiro ou Falso)
2. Qual é o conselho prático que transmite através de seu testemunho
pessoal aos crentes para perseverarem na santificação?
3. O que motiva o apóstolo Paulo a avançar em direção à meta? O que
espera obter?
4. A quem qualifica Paulo, segundo o autor, de “perfeitos” no décimo-
quinto versículo?
5. O apóstolo permite discrepâncias quanto às maneiras de sentir em
relação à santificação, mas não em relação ao comportamento do
cristão. (Verdadeiro ou Falso)
6. A quem qualifica de “inimigos da cruz de Cristo”? (3:18)
7. Cite três características do comportamento desses “inimigos da cruz de
Cristo”
8. Qual é o anseio do coração que esperam receber os cidadãos do céu?
9. Quê promessa de Deus esperava Paulo receber em seu próprio corpo?
(3:21)
10. Qual é o objeto da alegria do apóstolo no primeiro versículo do
quarto capítulo?
62
Lição 7: “Pensem nessas coisas... ponham em prática” (3:2-9)
I. Introdução
A quinta seção da epístola aos filipenses que estudaremos a seguir
contém, apesar de sua brevidade, vários elementos característicos que
configuram o estilo pastoral paulino. A seção anterior conclui com a
expressão alegre do primeiro versículo do capítulo quarto58 e a exortação
“permaneçam assim firmes no senhor” (4:1).
Alguns acontecimentos imediatos reclamam a atenção do
apóstolo, a situação particular da igreja em Filipos necessita ser tratada
e novos personagens vão aparecer em cena. Descobriremos o tipo de
relações que estabelece com tais personagens e a maneira prudente com
a qual aborda esses acontecimentos.
Como não poderia faltar nesta epístola, uma nova expressão
alegre, desta vez repetida com ênfase, “Alegrem-se sempre no Senhor.
Novamente direi: Alegrem-se!” (4:4), serve de ponte entre os
acontecimentos imediatos e uma nova série de exortações de caráter
geral.
Estas valiosas admoestações e exortações pastorais contidas nos
versículos quinto e sexto concluem no versículo sétimo com uma
promessa surpreendente “a paz de Deus... guardará o coração e a mente
de vocês em Cristo Jesus” (4:7), que examinaremos detidamente, pois
contêm ensinamentos que parecem proceder de sua própria experiência
pessoal e testemunho de vida.
Os versículos oitavo e nono estabelecem uma relação direta entre a
maneira de pensar a que todos os cristãos devem aspirar e a maneira de
atuar em relação ao modelo apostólico. Incluem duas listas de
ensinamentos éticos explicados com maior clareza. A primeira lista
conclui com as palavras: “pensem nessas coisas...” (4:8) e a segunda se
inicia com estas: “ponham em prática” (4:9). Temos classificado como
ensinamentos teológicos pelo valor didático que contêm apesar de
estarem configurados à maneira de exortações pastorais.
58
“Alguns têm sugerido que o primeiro versículo do capítulo quarto deveria ser o último versículo do terceiro capítulo, pois parece apresentar uma conclusão do exposto em 3:17-21.” Zapata, René C. Comentario Bíblico do Continente Novo: Filipenses (p.144).
63
II. Acontecimentos Imediatos (4:2-3)
A amorosa declaração do apóstolo no primeiro versículo dirigida a
todos os membros da igreja de Filipos em geral: ”vocês que são a minha
alegria e a minha coroa” serve de telão de fundo para as gentis
admoestações com as que, publicamente e por nome, expõe a má relação
existente entre dois valiosos membros da congregação.
Não existe hipocrisia ou encobrimento nas palavras do apóstolo na
maneira de encarar tal lamentável situação, tampouco existe tom
condenatório ou autoritário. Roga a ambas igualmente: “Rogo a Evodia59
e também (rogo) a Síntique,”60 o termo parakalw (parakalo) significa
literalmente “suplico,” “que vivam em harmonia no Senhor.” A este
respeito o Dr. Motyer assinala:
“A exortação tem mais força pelo fato de não se
mencionar a causa do desacordo. Era doutrinal, ética,
eclesiástica ou pessoal? Que era? Não sabemos. O que aflige
Paulo e o que o leva a fazer uma exortação não é que essas
pessoas tenham caído em algum ponto em particular, mas
simplesmente que caíram e que tinham trazido divisão dentro
da comunidade.”61
Não se trata de praticar o tipo de conciliação que consiste em
esclarecer mal-entendidos, fazer as pazes, pedirem desculpas e
perdoarem-se mutuamente, ainda que isto seja provavelmente também
parte necessária. O apóstolo, com muito tato, as convida a: “to auto fronein
en Kurw” (“que vivam em harmonia no Senhor”). Quer dizer, transcender
suas diferenças e praticar o tipo de união cristã que havia descrito nesta
mesma epístola:
“Completem a minha alegria tendo o mesmo modo de
pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude” (2:2).
Não devemos supor que a petição devia ser fácil de realizar para
esta duas irmãs e ainda que Paulo manifestasse enorme confiança no
resultado positivo, também está consciente que seria conveniente contar
59
O nome Evodia” significa “viagem próspera” ou também “fragrância agradável.” Calçada, S. Leticia. Dicionário Bíblico Ilustrado Holman (p.594). 60
“Nome de pessoa que significa “amizade agradável” ou também “boa sorte”. Calçada, S. Leticia. Didionário Bíblico Ilustrado Holman (p.1501). 61
Motyer, J. Alec. “El mensaje de Filipenses,” (p.204).
64
com a ajuda de uma terceira pessoa para mediar suas diferenças. No
próximo versículo invoca a mediação de uma pessoa de sua confiança, a
quem solicita que lhes dê sua ajuda para tal tarefa. Trata-se de um
personagem de difícil identificação: “”Sícigo” (leal companheiro de jugo”).
O Dr. Walvoord sintetiza as possibilidades desta maneira:
“Esta exortação, dirigida a um indivíduo, parece
complicada pela falta de um nome específico. Muller crê que
a palavra “Syzyqus” que se traduz “companheiro fiel”, é o
próprio nome de alguém da igreja de Filipos... Outras
sugestões que se têm dado é que o descritivo título possa se
referir a Timóteo, Silas, a esposa de Paulo ou aos esposos de
Evodia e de Síntique... Lightfoot sugere que se dirige a
Epafrodito, o qual iria levar esta carta à igreja em Filipos,
ainda que continue considerando os outros significados
alternativos, inclusive a possibilidade de que se trate de um
nome próprio.”62
O apóstolo conclui com as palavras de reconhecimento a essas
duas mulheres, depois da admoestação pública, recordando a história
que lhes era comum e quão úteis ambas haviam sido à obra do
evangelho.
Finalmente menciona um novo personagem “Clemente”63 e outros
colaboradores seus a quem reconhece, sem mencionar por nome, que
figuram no quadro de honra dos registros do Senhor “Os seus nomes
estão no livro da vida” (4:3).
III. Expressão alegre: “alegrem-se sempre no Senhor” (4:4)
A expressão alegre que vem a seguir: “Alegrem-se sempre no
Senhor. Novamente direi: Alegrem-se!” (4:4) irrompe com força no texto
com a utilidade dupla de servir de conclusão ao relato dos
acontecimentos imediatos que acaba de descrever e ao mesmo tempo
servir de prólogo a uma nova série de admoestações e exortações
pastorais de caráter geral.
A insistência paulina na sua chamada alegria (gozo) no senhor
enfatiza a importância que o apóstolo concede à prática desta disciplina
62
Walvoord, John F. “Comentario Bíblico Portavoz: Filipenses, triunfo en Cristo” (p. 98). 63
“Não se menciona em nenhum outro lugar do NT..” Bíblia de Estudo NVI, Editorial Vida.
65
cristã. Não se trata de manter uma atitude mental positiva e uma
perspectiva otimista diante das circunstâncias da vida. Em que consiste
a alegria que o apóstolo propunha? Segundo a definição do Dicionário
Bíblico Holman, o termo “gozo” no N.T. implica:
“Estado de deleite e bem-estar que resulta de conhecer
e servir a Deus... O gozo é o fruto de uma relação correta com
Deus. Não é algo que as pessoas possam criar por esforço
próprio. A Bíblia distingue “gozo” de “prazer”. O gozo na vida
cristã está em proporção direta ao caminhar dos crentes com
o Senhor.” 64
A alegria do cristão se encontra, segundo Paulo, olhando
continuamente para o que está por vir “esperamos ansiosamente o
salvador, o Senhor Jesus Cristo” (3:20) e prosseguindo “para o alvo, a fim
de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.” (3:14).
Esta alegria é também uma experiência corporativa da qual participam
outros crentes, seja comoo motivo de alegria “vocês que são a minha
alegria” (4:1) seja como experiência compartilhada “Estejam vocês
também alegres, e regozijem-se comigo” (2:18).
IV. Exortações pastorais (4:5-7)
Uma nova série de admoestações e exortações pastorais de caráter
geral e de aplicação prática tem início a partir do quinto versículo e se
estende até o sétimo. Estas exortações têm o propósito de definir o
padrão de conduta que Paulo espera de todas as igrejas, por não
conterem menção a acontecimentos imediatos sua aplicação é, portanto,
universal.
Não deve nos surpreender a mudança abrupta de estilo dessas
exortações que se tornam um tanto impessoais. O gênero epistolar da
época continha a figura da parêneses65 que consistia numa seção da
correspondência culta dedicada a conselhos morais e práticos, o tom e
estilo desta perícopa podia ser classificada desta maneira.
64
Calçada,S. Leticia. Dicionário Bíblico Ilustrado Holman (pp.701-702). 65
“(Do grego parainesis, exortação). Sermão que tem por objetivo levar os ouvintes à prática das virtudes cristãs.” Correa de Andrade, Claudionor “Dicionário Teológico.” Editorial Patmos, 2002.
66
A primeira exortação diz: “Seja a amabilidade de vocês conhecida
por todos” (4:5).66 Entendida como parêneses, esta exortação não implica
uma crítica velada por parte do apóstolo a uma igreja carente de tal
virtude. Não é esse o estilo pastoral de Paulo, nem é um método de
aproximação efetivo na hora de assinalar os problemas de qualquer
congregação. O apóstolo ao largo desta epístola não titubeou na hora de
assinalar com nitidez as atitudes particulares que considerava dignas de
censura.
A próxima exortação “Perto esta o Senhor” (4:5) poderia ser
entendida tanto no sentido do iminente retorno do Senhor”67, como no
sentido de sua proximidade pessoal com o cristão.68 As duas opiniões
parecem aceitáveis e cumprem o propósito de confortar e animar o
crente.
A exortação dupla do sexto versículo contém valiosos
ensinamentos. Começa com uma proibição taxativa redigida no modo
imperativo: “Não andem ansiosos por coisa alguma”. Para evitar o
desânimo diante da dificuldade de tal proposta, o apóstolo vai ao resgate
explicando a maneira de empreender uma proeza de tamanha
magnitude: “Mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças,
apresentem seus pedidos a Deus” (4:6). A fórmula apostólica para evitar
inquietude a respeito das eventualidades consiste em apresentar
qualquer petição a Deus em oração e dar-lhe graças.
Esta fórmula, apesar de simples, poderia ser de difícil execução se
dependesse primordialmente do esforço humano. Manter-se
constantemente livre de inquietações seria uma tarefa hercúlea, para não
dizer impossível, por requerer um nível de perfeição cristã e disciplina
difíceis de alcançar. Mas, o apóstolo, consciente da dificuldade,
acrescenta à sua exortação a seguinte promessa, que parece surgir de
sua própria experiência pessoal, seu testemunho de vida:
“A paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o
coração e a mente de vocês em Cristo Jesus” (4:7).
66
“Um cristão deveria estar caracterizado por usa gentileza e paciência em atitude diante dos demais, sendo razoável em suas demandas. O apóstolo quer que esta seja uma atitude bem conhecida, não somente entre os cristãos, mas “de todos os homens” Walvoord, John F. Comentário Bíblico Portavoz: Filipenses (p.100). 67
Hendriksen, William. “Exposición de Filipenses” (p.217). 68
Carballosa, Elvis L. “Filipenses um comentário exegético e prático” (p.114).
67
Observamos que o apóstolo não assegura a resolução por parte de
Deus da situação que origina a inquietação, algo que poderia em
algumas ocasiões não acontecer em absoluto. Mas, tendo-o comprovado
inúmeras vezes, pode assegurar aos crentes que Deus lhes garante paz
sobrenatural que sobre passa a compreensão humana. Que formidável
conforto para os crentes de todas as épocas!
V. Ensinamento teológico (4:8-9)
Passamos a seguir à continuação do último ensinamento desta
seção. O apóstolo parece querer concluir a epístola nesse ponto
(“Finalmente”), tal como em ocasiões anteriores (3:1 e 4:1) continua a
epístola nos versículos que vão do décimo ao vigésimo, que estudaremos
na próxima lição. Vamos nos familiarizar com o texto:
“Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o
que for nobre, tudo que for correto, tudo que for puro, tudo
que for amável, tudo que for de boa fama, se houver algo de
excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas” (4:8).
“Ponham em prática tudo o que vocês aprenderam,
receberam, ouviram, e viram em mim, e o Deus da paz
estará com vocês” (4:9).
Não podemos qualificar de parêneses os versículos oitavo e nono
tal como fizemos com os versículos anteriores, já que não são
exortações gerais para incentivar a prática das virtudes cristãs.
Encontramos duas razões principais para isso:
a) a amplitude de temas que o apóstolo recomenda
considerar é simplesmente avassaladora. Por um lado, o
cristão goza de uma variedade inesgotável de coisas nas
quais pensar “tudo o for excelente”, por outro, ficam
implicitamente excluídas todas as contrárias.
b) a recomendação de colocar em prática os
ensinamentos recebidos pessoalmente do próprio Paulo (“o
que aprenderam, receberam, ouviram e viram em mim”)
resultam extremamente específicas quanto ao modelo de
atuação e não permitem a transposição em pé de igualdade
aos cristãos de outra eras, os quais não tivemos a
oportunidade pessoal tão gloriosa de aprender diretamente
68
de Paulo e vê-lo em ação. Para os filipenses estes
ensinamentos estavam clara e especificamente definidos.
Na primeira, o apóstolo se dirige carinhosamente aos filipenses
como “irmãos” e lhes recomenda “pensem nessas coisas” no sentido de
“examinar com atenção e trazer na lembrança”. Surpreende o leque de
opções que oferece: “tudo o que for verdadeiro... nobre... correto... puro...
amável... de boa fama... se houver algo de excelente ou digno de
louvor”. Certamente entendemos que exclui tudo o que não se sujeita,
ou seja contrário, a estas condições descritas, que definem os objetos
dignos de consideração por parte dos filipenses.
Temos examinado anteriormente que essa amplitude que o
apóstolo permite com relação à maneira de pensar se restringe
notavelmente quando se trata da maneira de agir. Examinamos essa
proposta na lição passada: “E, se em algum aspecto vocês pensam de
forma diferente... Tão somente vivamos de acordo com o que já
alcançamos” (3:15-16).
Neste caso, a recomendação de colocar em prática se
restringe exclusivamente ao modelo que pessoalmente conheceram em
Paulo. “Ponham em prática tudo o que vocês aprenderam, receberam,
ouviram e viram em mim.”
Isto não deveria desanimarmos na hora de por em prática o modelo
de vida cristã, pois ainda que precisemos levar em consideração as
diferentes condições históricas e culturais, o conjunto das epístolas
paulinas, e certamente o resto das Escrituras como um todo,
proporcionam ao leitor cuidadoso todas as chaves necessárias para
identificar os princípios que devem reger o comportamento dos cristãos
do século XXI.
Conclui esta série de ensinamentos teológicos e práticos com
a animadora promessa, similar em forma à que apresenta na conclusão
do parêntesis “E a paz de Deus...” (4:7) neste caso: “e o Deus de paz...”
(4:9) e agora a maravilhosa promessa da presença de Deus no meio de
seu povo: “estará com vocês” (4:9).
69
VI. Conclusão
A breve perícopa que se estende desde o segundo ao nono versículo
do quarto capítulo tem sido o objeto da nossa lição. Esta perícopa bem
poderia considerar-se como uma brevíssima epístola completa, da qual
se extraíram, tão só, as seções introdutórias, visto que contém a maioria
dos elementos característicos das mesmas.
Analisamos a maneira do apóstolo de enfrentar uma questão
imediata de extrema urgência devido às suas possíveis repercussões e ao
potencial de causar divisões no seio da igreja em Filipos. Tivemos
oportunidade de descobrir também a enorme consideração e o tato que o
apóstolo empregou na resolução do conflito entre as irmãs Evodia e
Síntique. Aprendemos, pois, a maneira paulina de lidar com estas
situações conflitantes entre pessoas notáveis na igreja.
Notamos a maneira carinhosa e digna com a que o apóstolo se
dirige a seus colaboradores na obra do senhor. Esta lealdade e trato
respeitosos dizem muito no tocante à sua própria humildade e o valor
que concedia ao trabalho em equipe.
Novamente encontramos uma expressão de alegria em seus
escritos, desta vez em forma de exortação insistente: “Alegrem-se sempre
no Senhor. Novamente direi: “Alegrem-se!” (4:4). Para o apóstolo, a alegria
do Senhor não é a sensação positiva que se pode desfrutar como fruto de
uma vida de serviço em condições favoráveis. Neste caso, o apóstolo a
considera como um ato de vontade independente de qualquer
circunstância com o que permanentemente se deve glorificar a Deus.
As recomendações e exortações gerais de ordem moral (parêneses),
não são simples exortações relativamente impessoais, mas sim servem de
lembrança do estilo de vida que devem praticar os crentes.
Finalmente, os ensinamentos teológicos contidos no versículo
oitavo e as recomendações específicas do nono concluem com broche de
ouro nosso estudo desta interessante perícopa.
70
Perguntas para a lição 7
1. A quem solicita o apóstolo sua mediação no conflito entre Evodia e
Síntique?
2. Considerava o apóstolo Evodia e Síntique, juntamente com Clemente,
como colaboradores seus na obra do evangelho?
3. O apóstolo insiste repetidamente que os filipenses devem alegrar-se no
Senhor. (Verdadeiro ou Falso)
4. Que virtude solicita o apóstolo Paulo aos filipenses cuja prática devia ser
evidente a todos?
5. Em lugar de inquietar-se por questões circunstanciais, o apóstolo
recomenda aos filipenses apresentarem suas petições e súplicas a Deus,
com ações de graça. (Verdadeiro ou Falso)
6. Como descreve Paulo a paz que Deus proporciona aos crentes no sétimo
versículo?
7. Que atitude contrapõe nesta perícopa o apóstolo ao seu pedido insistente
de alegrar-se no Senhor?
8. Que tipo de coisas deseja Paulo que sejam objeto das considerações dos
filipenses no versículo oitavo?
9. Que tipo de ensinamento deseja o apóstolo que os filipenses ponham em
prática no versículo nono?
10. Segundo Paulo, qual é o resultado de considerar e praticar o
recomendado nos versículos oitavo e nono?
71
Lição 8: “As gloriosas riquezas em Cristo” (4:10-23)
I. Introdução
Esta última seção da epístola aos filipenses, apesar de sua
brevidade, contém alguns temas interessantes que retratam o coração de
pastor de Paulo e terminarão por definir o conjunto de valores e
comportamento que esperava que os crentes imitassem: “Irmãos, sigam
unidos o meu exemplo” (3:17).
Tal como assinalamos na lição anterior, os versículos oitavo e nono
do quarto capítulo parecem indicar que o apóstolo concluiu seus
ensinamentos e pretende despedir-se69 nestes termos: “Finalmente,
irmãos” (4:8) e “O Deus da paz estará com vocês” (4:9). Mas, não é assim,
ficaram ainda pendentes alguns assuntos importantes e, como é
característica sua, aproveitará cada oportunidade para transmitir novos
ensinamentos.
A expressão de alegria desta seção está relacionada à alegria que
sente diante do manifesto interesse que os filipenses tinham
demonstrado por sua pessoa e suas circunstâncias.
Valendo-se desta oportunidade, o apóstolo expõe as diretrizes pelas
quais rege a sua vida em relação à possessão e desfrute dos bens
materiais. Este poderoso testemunho de vida reflete não só seu
desapego pelas riquezas materiais, mas particularmente sua vontade
disposta a padecer escassez, até a falta das necessidades básicas, tendo
aprendido a depender da graça de “Cristo que me fortalece” (4:13).
Os acontecimentos imediatos que relata a continuação, seguem
a mesma linha de pensamento que a seção anterior e proporcionam
novas perspectivas da vida do apóstolo, sua relação com a igreja em
Filipos e seu interesse pelo bem-estar da mesma.
Encontramos finalmente um ensinamento teológico valioso que
descreve a promessa de provisão de Deus com respeito ao “sacrifício
aceitável e agradável a Deus” (4:18). Uma breve doxologia antecede a
saudação final no comum estilo epistolar da época.
69
Alguns eruditos têm sugerido a possibilidade da epístola aos filipenses, como a conhecemos na atualidade, ser uma compilação de várias comunicações de Paulo com a tal igreja.
72
II. Expressão de alegria: “Alegro-me grandemente no Senhor”
(4:10)
“Alegro-me grandemente no Senhor” é a expressão alegre que com
que inicia esta nova seção da epístola. O motivo da alegria do apóstolo
era a satisfação de sentir o interesse que os filipenses tinham por sua
pessoa. Tal interesse se manifestou de maneira tangível através do envio
de uma contribuição econômica e substancial (“Recebi tudo, e o que tenho
é mais que suficiente.”) (4:18) para seu mantimento pessoal.
O apóstolo esclarece que a materialização do interesse dos
filipenses por sua pessoa nesta ocasião, não significa que por algum
tempo este houvesse deixado de existir, mas sim que não tinha tido
oportunidade de se manifestar, e o faz desta maneira tão considerada;
“De fato, vocês já se interessavam, mas não tinham oportunidade para
demonstra-lo” (4:10). Desta maneira a expressão de alegria do apóstolo
não pode ser interpretada como uma irônica reclamação diante da
negligência dos filipenses ou como uma manifestação de alegria
desproporcional diante da provisão de suas necessidades materiais.70
Vale a pena ressaltar a cuidadosa apresentação do apóstolo e sua
amorosa preocupação em não ferir a sensibilidade e evitar qualquer mal-
entendido por parte dos receptores desta epístola. Poderia nos parecer
excessiva ou desnecessária a abundância de explicações, mas todo
cuidado é pouco em qualquer comunicação, e particularmente na escrita,
para deixar constância das verdadeiras intenções e atitudes que neste
caso moviam o apóstolo.
III. Testemunho de vida (4:11-13)
A seção que agora se inicia no décimo-primeiro versículo e se
estende até o décimo–terceiro contém alguns dos mais valiosos
ensinamentos de toda a epístola em relação aos valores pessoais que
norteavam o apóstolo, neste caso em relação aos bens materiais,
transmitidos por meio do relato de seu testemunho de vida.
No versículo décimo-primeiro o apóstolo completa as explicações
com as quais conclui o versículo anterior: “Não estou dizendo isso porque
70
“Paulo não nega o fato de encontrar-se necessitado, mas nega que o motivo principal de sua alegria seja que suas necessidades tenham sido supridas.” Carballosa, Elvis L. “Filipenses un comentario exegético y práctico” (p.118).
73
esteja necessitado”. Quer deixar claro que as experiências que vai relatar
a partir deste ponto não estão condicionadas às suas necessidades
econômicas atuais.
A valiosa lição de vida que o apóstolo compartilha nesta ocasião
consiste da atitude de contentamento e satisfação que adquiriu e
desenvolveu através das sofridas experiências pessoais. “Pois aprendi a
adaptar-me a toda e qualquer circunstância.” Conhecendo, tal como o
faziam os filipenses, algumas das experiências que o apóstolo havia
enfrentado,71 entendemos quão alto preço deve ter pagado para poder
dizer com confiança e total veracidade estas palavras: “aprendi o segredo
de viver contente em toda e qualquer situação.”
No versículo décimo-segundo volta a repetir, para não deixar
sombra de dúvida, a que experiências se refere: “Sei o que é passar
necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente
em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo
muito, ou passando necessidade.” Vivenciar ambas experiências, ainda
que não necessariamente a nível tão extremo, são necessárias para
desenvolver no cristão maduro a atitude de contentamento.
O apóstolo havia experimentado as duas situações e dava a
entender que sua condição econômica, fosse qual fosse nunca deveria ser
impedimento para manifestar sua atitude de contentamento em Cristo.
Qual era a chave que Paulo havia encontrado? Não se tratava de
alguma virtude inerente ao seu caráter ou de posterior desenvolvimento.
A resposta, ele a resume nestas contundes palavras: “Tudo posso em
aquele que me fortalece” (4:13). Somente a graça que Cristo proporciona
poderia ser a fonte de fortaleza suficiente para manter essa atitude de
contentamento diante de todas e cada uma das situações da vida.
Paulo não se orgulha das dificuldades que havia sido capaz de
suportar, tampouco se manifesta indiferente ou impassível diante das
71
“Cinco vezes recebi dos judeus trinta e nove açoites. Três vezes fui golpeado com varas, uma vez apedrejado, três vezes sofri naufrágio, passei uma noite e um dia exposto á fúria do mar. Estive continuamente viajando de uma parte a outra, enfrentei perigos nos rios, perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos dos gentios; perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar e perigos dos falsos irmãos. Trabalhei arduamente; muitas vezes fiquei sem dormir, passei fome e sede, e muitas vezes fiquei em jejum; suportei frio e nudez.” II Coríntios 11: 24-27.
74
mesmas— sentimentos apregoados pelos filósofos estoicos72 de sua
época. Pelo contrário, a atitude do apóstolo manifesta dependência em
Cristo como o meio de obter a fortaleza necessária para superar
dificuldades e privações, assim como enfrentar os perigos espirituais que
a abundância e a comodidade trazem.
Aqueles cristãos que tendo experimentado “passar necessidade” e
agora sentem pavor da mesma e desejariam nunca mais ter que passar
por semelhante experiência; ou os que tendo desfrutado de “ter fartura”
se aferram desesperadamente à essa condição; ou também os que
orgulhosamente se jactam de sua capacidade para suportar estoicamente
todo tipo de privações, deveriam considerar atentamente o testemunho
de vida de Paulo para encontrar o equilíbrio apropriado nessa importante
faceta da vida cristã.
IV. Acontecimentos imediatos (4:14-18)
A seção que começa agora contém as explicações de vários
acontecimentos imediatos, ainda que em certa forma volte a tratar de
temas abordados nos dois apartados anteriores. São temas relacionados
com a generosa doação que Paulo tinha recebido das mãos de Epafrodito
da parte da igreja em Filipos.
Na seção anterior, Paulo tinha manifestado sua disposição em
manifestar contentamento diante de qualquer situação, por mais difícil
que fosse. Mas agora, para que suas palavras não pudessem ser mal
interpretadas como ato de ingratidão, felicita os crentes com estas
palavras: “Apesar disso, vocês fizeram bem em participar de minhas
tribulações” (4:14). Não quer mostrar-se ingrato diante da ajuda recebida
da parte dos filipenses e reconhece que se encontrava em dificuldades
que o angustiavam, não deve referir-se às dificuldades econômicas neste
caso, mas sim à sua condição de preso, esperando sentença.
Com gratidão se lembra da disposição que tinham manifestado em
ocasiões anteriores em contribuir economicamente com seu ministério:
72 “Os estoicos eram os seguidores de Zenon de Chipre, possivelmente de origem semita quem
viveu entre 340-265 A.C. Zenón não cria em um Deus pessoal e ensinava que o universo estava controlado por uma Razão Absoluta. Os estoicos criam que a conformidade com a razão era o bem supremo. A meta do estoico era o perfeito controle de si mesmo, completamente inamovível por considerações emocionais.” Carballosa, Elvis L. “Filipenses un comentario exegético y práctico” (p.119).
75
“Como vocês sabem, filipenses, nos seus primeiros
dias no evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma
igreja partilhou comigo no que se refere a dar e receber,
exceto vocês; pois estando eu em Tessalônica, vocês me
mandaram ajuda, não apenas uma vez, mas duas, quando
tive necessidade” (4:15-16).
Com muito tato, o apóstolo volta a explicar o motivo pelo qual trás
à memória às ações dos filipenses. Quer deixar claro que não está
buscando arrecadar novas oferendas, mas sim que se importa pelo bem-
estar eterno de suas almas: “Não que eu esteja procurando ofertas, mas o
que pode ser creditado na conta de vocês” (4:17).
Novamente reafirma sua gratidão pelas ofertas recebidas que
plenamente supriram todas as suas necessidades e lhes confirma
resoluto: “Recebi tudo, e o que tenho é mais que suficiente. Estou
amplamente suprido, agora que recebi de Epafrodito os donativos que
vocês enviaram” (4:18).
A doação recebida pelo apóstolo para suprir suas necessidades é
qualificada aqui como “uma oferta de aroma suave, um sacrifício aceitável
e agradável a Deus” (4:18). Tal como as oferendas de incenso no Templo
eram agradáveis a Deus, assim a oferenda monetária recebida por ele era
na realidade uma oferta que entregavam a Deus.
V. Ensinamento teológico (4:19)
Em resposta à desinteressada manifestação de amor por parte dos
filipenses, que se materializou na doação remetida por mãos de
Epafrodito, Paulo lhes assegura de que: “O meu Deus suprirá todas as
necessidades de vocês, de acordo com as suas gloriosas riquezas em
Cristo Jesus.” A oferenda de aroma suave, os sacrifícios aceitável e
agradável a Deus, trazem como consequência a garantia de provisão de
parte de Deus de todas suas necessidades materiais.
Mas, o apóstolo não está prometendo abundantes riquezas
materiais da parte de Deus para seus seguidores fieis. A frase seguinte:
“conforme as gloriosas riquezas que tem em Cristo” (4:19) esclarece que
tipo de riquezas lhes garante da parte de Deus: “a incomparável riqueza
de sua graça, demonstrada em sua bondade para conosco em Cristo
Jesus” (Efésios 2:7), riquezas que também define como: “riquezas da sua
76
bondade, tolerância e paciência ... que a bondade de Deus o leva ao
arrependimento” (Romanos 2:4).73
VI. Saudação final (4:20-23)
A saudação final inclui uma breve doxologia: “Ao nosso Deus e Pai
seja a glória para todo o sempre. Amém” (4:20). Sua despedida: “Saúdem
a todos os santos em Cristo Jesus” (4:21). Em referência à igreja de
Filipos.
A continuação, Paulo transmite as saudações de seus
colaboradores próximos sem mencioná-los por nome: “Os irmãos que
estão comigo enviam saudações” (4:21).
Finalmente a despedida de todos os irmãos em geral da cidade de
onde escreveu esta epístola e, em particular, os que serviam na casa do
imperador, aos que provavelmente, por causa do seu próprio
encarceramento, Paulo tinha acesso: “Todos os santos lhes enviam
saudações, especialmente os que estão no palácio de César” (4:22).
A benção final de Paulo conclui a epístola: “A graça do Senhor
Jesus Cristo seja com o espírito de vocês. Amém” (4:23).
VII. Conclusão
Nesta breve seção final, na qual dividimos a epístola aos filipenses,
encontramos que o apóstolo utiliza recursos didáticos semelhantes aos
de seções precedentes. Novamente o estilo de seus ensinamentos
descobre o coração de pastor de Paulo.
Inicia a despedida da epístola com a expressão de gratidão aos
filipenses pelo donativo recebido das mãos de Epafrodito e aproveita a
oportunidade para, com tato e delicadeza, transmitir alguns valores
pessoais que esperava que os filipenses soubessem imitar.
Paulo se encontrava diante de uma delicada situação: não queria
manifestar ingratidão, nem menosprezar a importância da doação
recebida e sua necessidade da mesma; muito menos queria dar a
entender que estava procurando novos donativos. Queria, não obstante,
transmitir algumas valiosas experiências pessoais com respeito ao
contentamento cristão e ao poder que se encontra em Cristo. 73
Ver também Romanos 2:4; 9:23; 11:33. Efésios 1:18; 3:8,16, Colossenses 1:27; 2:2 y Hebreus 11:26.
77
A maneira como encara esta tão árdua tarefa e as cuidadosas
matizações com as que evita mal-entendidos refletem seu grande apreço
e agradecimento pelos irmãos da igreja de Filipos e seu terno cuidado e
dedicação pastoral aos mesmos.
Concluímos nesta lição a análise temática da epístola aos filipenses
tendo classificado os recursos didáticos que o apóstolo utiliza em seu
trato com os membros de tal igreja. Temos tentado enfatizar ao decorrer
do curso o coração de pastor de Paulo, pois consideramos seu
comportamento e o trato terno que manifesta à igreja como o modelo
prático a ser seguido por todos os que, de alguma maneira, se encontram
em posições de responsabilidade dentro do Corpo de Cristo.
Sirva esta exortação paulina como resumo e despedida de nosso
estudo desta bonita e sentida epístola:
“No importa o que aconteça, exerçam a sua cidadania (a celestial) de
maneira digna do evangelho de Cristo” (Filipenses 1:27).
78
Perguntas para a lição 8
1. Qual era o motivo principal de alegria do apóstolo nesta seção da
epístola?
2. Qual era a lição que Paulo havia aprendido através de suas experiências
de abundância e escassez?
3. Que tipo de circunstâncias rodeiam e qualificam a declaração paulina de
que “Tudo posso em Cristo que me fortalece?
4. Qual era a missão de Epafrodito?
5. Descreva os cuidados de Paulo na hora de agradecer aos filipenses pela
doação recebida.
6. A que se refere Paulo com “oferta de aroma suave”
7. O apóstolo Paulo utilizava a adulação para conseguir mais oferta?
8. Quantas igrejas participaram do sustento do apóstolo no princípio da
obra do evangelho?
9. Ao mencionar “os santos da... casa do imperador”, segundo o autor a que
tipo de pessoa se refere provavelmente. (Escolha uma resposta)
a) A família pessoal do imperador
b) Os servos e a guarda do palácio do imperador
c) O próprio imperador e sua esposa
10. A garantia paulina de que Deus supriria tudo o que os filipenses
necessitassem (4:19) estava relacionada diretamente com a disposição
dos mesmos de contribuir para a obra que este realizava. (Verdadeiro ou
Falso)
79
Bibliografia
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80
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Walvoord, John F. Comentário Bíblico Portavoz: Filipenses, Triunfo em Cristo.
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http://es.wikipedia.org/wiki/Tasos
http://es.wikipedia.org/wiki/Filipos_(ciudad)
http://es.wikipedia.org/wiki/Ep%C3%ADstola_a_los_filipenses
http://www.esacademic.com/dic.nsf/eswiki/486823
http://www.wikicristiano.org/diccionario-biblico/484/filipos/
http://www.lugaresbiblicos.com/filipos.htm
81
Anexo I
Respostas aos questionários:
Lição 1
1. Assinale alguns benefícios característicos das colônias romanas. (Respostas
possíveis:)
a) Suas autoridades, normalmente dos magistrados castrenses,
respondiam diretamente a Roma e não às autoridades regionais.
b) Se regia pelo Ius Italicum, não pela legislação local.
c) Estava isenta de pagar impostos.
2. Quais foram algumas das principais razões para a decadência da cidade de
Filipos? (Respostas possíveis:)
a) Instabilidade do império bizantino.
b) Sucessivas invasões de: búlgaros, francos, sérvios e otomanos.
c) Incidência da peste.
d) Abandono progressivo das rotas comerciais (Via Egnatia).
3. Quais são os possíveis lugares e datas de redação da epístola aos Filipenses?
a) Éfeso (ano 54 d.C.)
b) Cesarea (ano 58 d.C.)
c) Roma (ano 61 d.C.)
4. A que passagem cristológica faz referência o autor?
Filipenses 2:6 -11.
5. Quais são os motivos das principais expressões de alegria do apóstolo?
(Respostas possíveis:)
a) a pregação do evangelho.
b) sua futura libertação em resposta às petições dos filipenses.
c) a fé e o comportamento exemplar dos filipenses.
d) ser receptor do amor e consideração dos filipenses.
e) a participação pecuniária em seu ministério.
6. Qual era a condição do apóstolo Paulo no momento de redação da epístola?
Encontrava-se em prisão esperando ser julgado.
7. Qual seria o motivo principal para que o carcereiro de Filipos se apressasse a
atentar contra sua própria vida?
Deixar escapar aos prisioneiros se pagava com a própria vida.
8. Lembra-se do nome da primeira pessoa a converter-se em Filipos?
Lidia, a comerciante de telas de púrpura natural da cidade de Tiatira.
9. Que personagens notáveis da história voltaram a fundaram a cidade de Filipos
como colônia romana: Colônia Victrix Philippensium?
Octavio Augusto e Marco Antonio.
10. Cite alguns dos recursos pastorais que, segundo o autor, o próprio apóstolo
utilizou em seu trato com os filipenses. (Respostas possíveis:)
a) seu próprio testemunho de vida.
82
b) os acontecimentos imediatos.
c) ensinamentos teológicos.
d) exortações pastorais.
e) expressões de gozo.
Lição 2 1. Na saudação “aos santos” (v.1), refere-se o apóstolo a um tipo particular
de crentes (similar aos ofícios de bispos e diáconos) ou assim considera todos os
membros da Igreja?
Todos os membros da igreja.
2. Quem o apóstolo cita como coautor da epístola?
Timóteo.
3. Qual é a razão da alegria do apóstolo em sua ação de graças a Deus (1:5)?
A participação dos filipenses no ministério de Paulo.
4. Quais são os pedidos de oração de Paulo em relação aos filipenses (1:9-
11)? (Respostas possíveis:)
a) que seu amor abunde no conhecimento e toda percepção.
b) que saibam discernir o melhor.
c) que sejam puros e irrepreensíveis.
d) que estejam cheios de frutos de justiça.
5. De que se declara Paulo convencido em relação aos filipenses (1:6)?
A perfeição continuada por parte de Deus da boa obra de participação
dos filipenses no ministério do apóstolo.
6. Mencione alguns elementos característicos da literatura epistolar da época.
Menção ao início da mesma do autor, destinatários, seguidos da
saudação e ação de graças.
7. O apóstolo considerava os filipenses como membros de uma congregação
que este fundara o como colaboradores genuínos em seu ministério?
Considerava-os colaboradores seus no ministério.
8. Quê fatores poderia explicar a inclusão de Timóteo como coautor da
epístola? (Respostas possíveis:)
a) formava parte da “equipe missionária” original.
b) era bem conhecido dos filipenses.
c) voltaria a visitá-los em breve a pedido de Paulo.
9. O termo grego doulos deve ser traduzido nesta perícopa como “escravos”
no sentido que o português transmite o conceito de escravidão (“serviço
involuntário, sujeição forçosa e muitas vezes maus tratos”)?
Não. Acepções mais exatas seriam:
a) “empregado subalterno”.
b) “funcionário responsável”.
c) “mordomo”.
83
10. Assinale como Verdadeira ou Falsa esta frase do autor: “A ação de graças
por seus seres queridos era, nas próprias palavras de Paulo, parte importante
de suas orações diárias de intercessão”
Verdadeira.
Lição 3
1. Quais são os dois motivos principais de alegria do apóstolo? (1:18,19)
a) se prega a Cristo.
b) sua futura libertação.
2. A que se refere o apóstolo com a frase: “Para mim o viver é Cristo”?
a) a vida de Paulo carecia de interesses egocêntricos.
b) a morte não representava um processo trágico.
3. Quais as duas interpretações possíveis que podemos extrair do uso do
vocábulo grego politeuesqe (politeuesthe) “comportem-se como cidadãos” que
Paulo faz em (1:27)?
a) Seu comportamento como cidadãos romanos.
b) Seu comportamento como cidadãos do céu.
4. Quais as três admoestações importantes que dirige Paulo aos Filipenses
nos versículos 27 y 28?
a) Manterem-se firmes no propósito.
b) Unânimes entre os irmãos.
c) Superar o temor dos adversários.
5. Qual é a declaração do apóstolo, que segundo o autor, contradiz as
expectativas dos cristãos que consideram seu direito estar livres de sofrimento?
O sofrimento é para o cristão uma concessão especial de Deus.
6. A quais acontecimentos imediatos se refere o apóstolo que poderiam ser
mal interpretados pelos filipenses?
a) A prisão de Paulo.
b) A rivalidade entre os pregadores do evangelho.
7. Quais eram os dois privilégios concedidos por Deus à igreja de Filipos?
a) Crer em Cristo.
b) Padecer por Cristo.
8. Quais eram as opções alternativas que Paulo tinha no momento de redigir
a epístola?
a) Partir e estar com Cristo.
b) Seguir seu trabalho frutífero neste mundo.
9. Que duas atitudes principais o apóstolo Paulo assinala como as principais
motivadoras dos pregadores rivais na difusão do evangelho?
a) A inveja.
b) A rivalidade.
10. Que efeito, no apóstolo, pretendiam alcançar os pregadores rivais com sua
pregação mal- intencionada?
84
Aumentar as angústias que o apóstolo sofria na prisão.
Lição 4
1. Que quatro sentimentos dignos de serem cultivados pelos crentes
encontramos neste capítulo? (2:1-2)
a) “estímulo em sua união com Cristo”.
b) “consolo em seu amor”.
c) “companheirismo do espírito”.
d) “afeto profundo”.
2. Que duas atitudes devem evitar os cristãos e que duas devem cultivar? (2:3)
Evitar:
a) “o egoísmo”.
b) “a vaidade”.
Cultivar:
a) “humildade”.
b) “alta estima dos demais”.
3. Que tipo de interesses devem prevalecer no coração do crente? (2:4)
“Não só seus próprios interesses, mas também pelos interesses
dos demais”.
4. Explique algumas implicações do termo Kenosis. (2: 6-11)
a) não significa que Cristo se esvaziou de sua essência divina nem
que renunciou aos atributos divinos.
b) significa que Cristo deixou sua posição pré-encarnada e tomou
as características de perfeita humanidade.
5. Quais são os acontecimentos imediatos desta seção? 2:19-30)
A futura visita de dois dos seus enviados:
a) Timóteo.
b) Epafrodito.
6. Quais são os três tipos de seres inteligentes criados por Deus, segundo as
explicações de Hendriksen?
a) os que estão no céu: seres angelicais, homens e mulheres
redimidos.
b) os que estão na terra: homens e mulheres vivos na atualidade.
c) os condenados ao inferno: anjos caídos e homens e mulheres
não redimidos.
7. Poderia considerar-se a perícopa que se estende do versículo sexto ao décimo-
primeiro, um tipo incipiente de hino cristão que o apóstolo compõe para a
ocasião ou recita por ser conhecido pelos filipenses?
Sim.
8. Quais são os motivos de satisfação que o apóstolo relata nos versículos
décimo sexto e décimo sétimo?
85
a) a fé e o comportamento dos próprios filipenses.
b) a oportunidade de derramar sua vida por eles.
9. Ao pedir aos filipenses que “levem a cabo sua salvação” (2:12) o apóstolo
lhes está pedindo sua colaboração na obra _______________ do Espírito Santo.
“Santificadora”.
10. Poderia escrever o nome completo grego que retrata a essência da pessoa do
Filho?
KujrioV IhsouV CrstoV (Senhor Jesus Cristo):
a) sua natureza divina “Senhor.” (Deus).
b) sua natureza humana “Jesus” (Salvador).
c) seu título messiânico “Cristo” (Messias, Ungido).
Lição 5
1. A que grupo o apóstolo qualifica de: “cães”, “praticam o mal”, “falsa
circuncisão”? (3:2)
Os mestres cristãos judaizantes.
2. Que três distintivos caracterizam os que Paulo qualifica de “a circuncisão somos
nós”? (3:3)
a) os que por meio do Espírito de Deus adoramos.
b) nos orgulhamos em Cristo Jesus.
c) não colocamos nossa confiança em esforços humanos.
3. Considera Paulo a si mesmo à altura dos mestres judaizantes? (3:4)
Suas próprias “credenciais judaicas” excediam às da maioria de seus
contemporâneos.
4. Que tipo de justiça confessa Paulo desejar mais em sua vida? (3:9)
A que se obtém mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus,
baseada na fé.
5. Como podemos entender a frase: “Perdi tudo a fim de conhecer a Cristo? (3:10)
Para o apóstolo nada se comparava ao valor do conhecimento pessoal de
Cristo.
6. Que aspectos positivos resultariam da atitude de desprendimento de Pablo?
(3:11)
a) conhecer a Cristo.
b) experimentar o poder que se manifestou em sua ressurreição.
7. Que sacrifícios implicariam a identificação de Paulo com o Mestre?
a) participar em seus sofrimentos.
b) chegar a ser semelhante a ele em sua morte.
8. Qual seria o motivo do apóstolo exibir suas “credenciais” judaicas?
Dar testemunho que aquilo que seus adversários poderiam considerar
vantajoso era na realidade um inconveniente e um obstáculo na causa de
Cristo.
86
9. Ao considerar um obstáculo o que seus adversários consideravam vantajoso, qual
seria o efeito duplo desta afirmação?
a) Despojar os judaizantes de supostas vantagens e privilégios,
igualando a condição dos cristãos de procedência gentia e judia.
b) Exaltar a Cristo como único, y suficiente, autor da salvação.
10. Manifestava a disposição do apóstolo de repetir pacientemente seus
ensinamentos seu coração de Pastor? (Verdadeiro ou Falso)
Verdadeiro.
Lição 6
1.- O apóstolo Paulo reconhece que tenha chegado ao nível de perfeição e que havia
conseguido alcançar as metas que se havia proposto. (Verdadeiro ou Falso)
Falso.
2.- Qual é o conselho prático que transmite, através de seu testemunho pessoal, aos
crentes para perseverar na santificação? (3:13)
a) esquecer-se do que fica atrás.
b) esforçar-se por alcançar o que está adiante.
3.- Que é o que motiva o apóstolo Paulo a avançar em direção à meta? Quê espera
obter? (3:14)
O prêmio que Deus oferece mediante seu chamamento celestial em Cristo
Jesus.
4.- A quem qualifica Paulo, segundo o autor, de “perfeitos” no versículo décimo -
quinto?
Neste caso, os maduros espiritualmente entre os quais se encontra o
próprio Paulo.
5.- O apóstolo permite discrepâncias quanto às maneiras de sentir relativas à
santificação, mas não quanto ao comportamento do cristão. (Verdadeiro ou Falso)
Verdadeiro.
6.- A quem qualifica de “inimigos da cruz de Cristo”? (3:18)
Certos irmãos cujo comportamento não se ajustava “ao exemplo e
modelo” ensinados pelo apóstolo.
7.- Cite três características do comportamento destes “inimigos da cruz de Cristo”.
a) “adoram seus próprios desejos”.
b) “se orgulham de suas vergonhas”.
c) “Só pensam no terrenal”.
8.- Qual é o anseio do coração que esperam receber os cidadãos do céu?
O regresso do Salvador: O Senhor Jesus Cristo.
9.- Que promessa de Deus espera Paulo receber no seu próprio corpo? (3:21)
A transformação de seu corpo miserável em um corpo glorioso.
10.- Qual é o objeto de alegria do apóstolo no versículo primeiro do capítulo quarto?
Os próprios filipenses.
87
Lição 7
1.- A quem solicita o apóstolo sua mediação no conflito entre Evodia e Síntique?
Ao fiel Sícigo (Companheiro).
2.- Considerava o apóstolo Evodia e Síntique, juntamente com Clemente, como
colaboradores seus na obra do evangelho?
Sim.
3.- O apóstolo insiste repetidamente que os filipenses devem alegrar-se no Senhor.
(Verdadeiro ou Falso)
Verdadeiro.
4.- Que virtude solicita o apóstolo Paulo aos filipenses, cuja prática devia ser
evidente a todos? (4:5)
A amabilidade.
5.- Em lugar de inquietar-se por questões circunstanciais, o apóstolo recomenda aos
filipenses apresentarem suas peticiones e súplicas a Deus, com ações de graça.
(Verdadeiro ou Falso)
Verdadeiro.
6.- Como descreve Paulo a paz que Deus proporciona aos crentes no versículo
sétimo?
Paz que excede todo entendimento.
7.- Que atitude contrapõe, nesta perícopa, o apóstolo Paulo ao seu pedido insistente
de alegrar-se no Senhor?
Sentir inquietude por alguma cosa.
8.- Que tipo de coisas deseja Paulo que sejam objeto das considerações dos
filipenses no versículo oitavo?
Tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto,
tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se
houver algo de excelente ou digno de louvor.
9.- Que tipo de ensinamentos deseja o apóstolo que os filipenses ponham em prática
no versículo nono?
Tudo o que aprenderam, receberam, ouviram e viram no apóstolo.
10.- Segundo Paulo qual é o resultado de considerar e praticar o recomendado nos
versículos oitavo e nono?
“O Deus da paz estará com vocês”.
Lição 8
1.- Qual era o motivo principal de alegria do apóstolo nesta seção da epístola?
O renovado interesse dos filipenses por sua pessoa.
2.- Qual era a lição que Paulo havia aprendido através de suas experiências de
abundância e escassez?
Havia aprendido a estar satisfeito em qualquer situação em que se
encontrasse.
88
3.- Que tipo de circunstâncias rodeiam e qualificam a declaração paulina de que
“Tudo posso em Cristo que me fortalece”?
O apóstolo havia experimentado ambos os extremos e dependia de Cristo
para obter a fortaleza necessária para superar dificuldades e privações, assim
como os perigos espirituais que a abundância e a comodidade representam.
4.- Qual era a missão de Epafrodito?
Transportar até o apóstolo a doação dos filipenses.
5.- Descreva os cuidados de Paulo no momento de agradecer aos filipenses pela
doação recebida.
Quer deixar claro que não está buscando arrecadar novas ofertas, mas
que se importa pelo bem-estar eterno de suas almas.
6.- A que se refere Paulo com “oferta de aroma suave”?
A doação recebida pelo apóstolo para suprir suas necessidades. Tal como
as oferendas de incenso no Templo eram agradáveis a Deus.
7.- O apóstolo Paulo utilizava da adulação para conseguir mais ofertas?
Não.
8.- Quantas igrejas participaram do sustento do apóstolo no princípio da obra do
evangelho?
Só a dos filipenses.
9.- Ao mencionar “os santos da… casa do imperador”, segundo o autor, a que tipo
de pessoas se refere provavelmente. (Escolha uma resposta)
a) A família pessoal do imperador.
b) Os servos e a guarda do palácio do imperador.
c) O próprio imperador e sua esposa.
Resposta b).
11. A garantia paulina de que Deus supriria tudo o que os filipenses
necessitassem (4:19) estava relacionada diretamente com a disposição dos
mesmo de contribuir para a obra que este realizava. (Verdadeiro ou Falso)
Verdadeiro.
89
Anexo II
Guia de Estudo
Filipenses: O coração de pastor de Paulo
Propósito
A epístola paulina aos Filipenses cumpre, a nosso modo de ver, com três
propósitos principais: Por um lado, a nível pessoal, nos põe em contato com os
pensamentos íntimos, os propósitos vitais e os acontecimentos imediatos que
condicionaram a vida desse grande apóstolo. Por outro lado, como crentes, nos
enriquece com os profundos ensinamentos doutrinais e as abundantes
exortações e conselhos que contém. Finalmente, a nível pastoral, provê, através
do exemplo e das atitudes do apóstolo, a oportunidade de apreciar como se
relacionava com seus colaboradores diretos; com os responsáveis pela igreja
em Filipos (bispos e diáconos); e finalmente com os crentes em geral.
No estudo tópico da epístola aos filipenses que apresentamos neste curso
pretendemos ressaltar de maneira sucinta estas três características.
Materiais
O presente curso utiliza a Nova Versão Internacional (NVI) que por sua
fluência e atualidade se acomoda aos propósitos do curso como base de
estudo. Convida-se, sem dúvida, os estudantes a ler a epístola em sua
integridade nas versões Joao Ferreira de Almeida RA e NTLH (“Nova Tradução
na Linguagem de Hoje”).
Objetivos
1. Conhecer dados gerais sobre a epístola aos filipenses: (autor,
propósito, destinatários, data de redação), assim como o marco geográfico e os
acontecimentos históricos que condicionaram sua redação.
2. Familiarizar-se com a pessoa do apóstolo Paulo para compreender
seus pensamentos e atitudes pessoais, assim como os princípios e valores que
regiam sua vida de serviço ao Senhor.
3. Examinar os profundos ensinamentos teológicos e doutrinais que o
apóstolo comparte nesta epístola com a congregação cristã em Filipos.
4. Aplicar à atualidade os valiosos ensinamentos éticos e exortações
pastorais que o apóstolo dirige aos filipenses.
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Metodologia
Em sua modalidade presencial, o curso tem um enfoque eclético
combinando a exposição magistral à participativa. Na modalidade on line, se
fará uso de foros de diálogo para promover a participação do estudante.
Requisitos
1. O aluno assistirá a 15 horas de aulas (presencial) ou participará de 8
foros de diálogo (on line).
2. O aluno cumprirá com os questionários ao final de cada lição.
3. O aluno se familiarizará com as leituras relacionadas com o tema.
4. O aluno participará de um projeto especial.
5. O aluno fará o exame final.
Avaliação
1. Assistência dos foros de diálogo. Para cada hora que o aluno assistiu
se lhe dará um ponto (15%). Se participar on line, para cada foro de diálogo em
que participe receberá 2 pontos.
2. Para cada questionário ao final das 8 lições, se lhe podem dar dois
pontos (15%).
3. Leituras adicionais. Os alunos do programa de licenciatura lerão 300
páginas e devem entregar um informe de leitura de 3 páginas. Os alunos do
programa de mestrado lerão 500 páginas e devem entregar um informe de
leitura de 5 páginas (20%). Recomenda-se a leitura do comentário ao Novo
Testamento de William Hendriksen.
4. Projeto especial: O estudante pode fazer um ensaio que contenha uma
análise exegética de alguma perícopa desta epístola. (30%).
5. Exame final. O aluno demonstrará seu conhecimento dos conceitos e
conteúdos dos materiais do curso (20%).
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Biografia
Natural de Las Palmas nas Ilhas Canárias (Espanha). Reside há mais de
20 anos no Brasil, onde se estabeleceu depois de realizar um périplo de vários
anos por outros países latino-americanos. Licenciado em teologia (Hokenah) e
filosofia (FATEBB) e Mestrado em Estudos Teológicos do Miami International
Seminary.
Com experiência direta na educação de crianças e adolescentes na
Espanha, Peru e Argentina, realizou obras de evangelização em vários Estados
da região nordeste do Brasil. Foi fundador do colégio cristão “Nuevo Mundo” em
Córdoba, Argentina e diretor de vários outros centros cristãos no Rio de
Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. Presentemente dirige a “Associação
Cristã, Beneficente, Educativa e Cultural – CIMA” uma ONG fundada junto com
sua esposa e outros líderes cristãos em 1998 para atender as necessidades
educativas e sociais de centenas de crianças e jovens de bairro na periferia da
cidade de Fortaleza, Brasil.
Pai de dez filhos e avô de treze netos, reside com sua esposa Celia
Alonso, que é conselheira pastoral, missionária e fundadora da Associação
CIMA em Cabo Verde, África.
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