excursÃo geolÓgica Á regiÃo de maÇÃo projecto ciência
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EXCURSÃO GEOLÓGICA Á
REGIÃO DE MAÇÃO
Projecto ciência Viva – PIV-0161
“A cartografia geológica:
um instrumento de leitura das Ciências da Terra”
Orientada por: José Romão
Teresa A. Cunha Rita F. Silva
Março de 2004
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Projecto PV – 0161 – “A Cartografia Geológica-um instrumento de
leitura das Ciências da Terra”
INTRODUÇÃO
A Carta Geológica é um documento científico e técnico onde se sintetiza, sobre um fundo
topográfico adequado, informação relativa aos materiais rochosos que ocorrem na região
abrangida pela carta e aos fenómenos geológicos que os originaram.É um instrumento de
trabalho indispensável ao planeamento e ordenamento do território e essencial para o
desenvolvimento de outras actividades como a prospecção e exploração de matérias
primas para a indústria (minas de ferro, cobre, etc.) e para a construção (areias, calcários,
cascalhos, etc.), e das fontes de energia (petróleos, carvões), a exploração e preservação
das águas subterrâneas que contribuem para o abastecimento de água, a inventariação e
prevenção de riscos naturais de origem geológica tais como os riscos vulcânicos e
sísmicos, os escorregamentos de vertentes, os riscos de erosão, entre outros.
Depende ainda do conhecimento geológico do solo e sub-solo a adequada escolha dos
locais para a construção das grandes obras de engenharia e da construção civil em
geral. Outros problemas que afectam e preocupam cada vez mais as populações, tais como
o armazenamento de resíduos domésticos e industriais e a preservação do ambiente,
dependem em grande parte do correcto conhecimento da geologia local.
Pretende-se com esta excursão geológica exemplificar o trabalho de campo desenvolvido
pelo geólogo na elaboração das Cartas Geológicas. Reproduziremos algumas das
actividades exercidas pelo geólogo de campo tais como:
A distinção entre diferentes tipos litológicos a olho nu e com auxílio da lupa de
bolso e a recolha de amostras para posterior classificação e análise, aprendendo a
utilizar correctamente o martelo de geólogo.
A observação e recolha de fósseis para datação das formações geológicas que os
contêm.
É muito importante ter em mente que a actividade de recolha de amostras de
rochas e de fósseis deve ser feita de modo moderado e com o único objectivo de
constituir uma colecção que ficará preservada na escola para utilização
durante as aulas das disciplinas que comtemplam as Ciências da Terra. A
recolha de amostras de rochas e de fósseis de modo selvático constitui um acto
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Projecto PV – 0161 – “A Cartografia Geológica-um instrumento de
leitura das Ciências da Terra”
de vandalismo e de atentado ao património natural, contribuindo para a perca
irremediável de uma página da história da evolução do nosso Planeta.
A observação de estruturas tectónicas tais como dobras, falhas e discordâncias e
a medição de atitudes das camadas com utilização da bússola de geólogo e do
clinómetro.
A elaboração do esboço do levantamento geológico no campo, com marcação
sobre a carta topográfica dos limites das diferentes unidades geológicas e
elaboração da coluna estratigráfica.
Esta experiência prática proporciona aos alunos o fortalecimento dos conceitos adquiridos
nas aulas teóricas e permite a aquisição de algumas competências ao nível do “saber-fazer”
nomeadamente a utilização dos instrumentos de campo do geólogo. Por outro lado, dar-
lhe-á uma percepção da Geologia da região que habitam, e simultaneamente da
importância desta ciência no desenvolvimento sustentável do país e da sociedade.
ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO
O conjunto de rochas que constitui a região de Mação-Amêndoa, bem como os processos
geológicos que lhes deram origem, estão relacionados entre si, e correspondem a
elementos que documentam a sua História Geológica. Se imaginarmos que a Terra é um
livro gigantesco, os diferentes estratos geológicos serão as páginas dos diversos capítulos
da sua História.
A História Geológica da Terra é marcada pelo conceito de Ciclo Geológico (Fig. 1) -
processo pelo qual o material quente e em estado de fusão que se encontra no interior da
Terra, ascende à superfície para dar origem às rochas ígneas ou magmáticas. Estas
sofrem processos de erosão por acção dos agentes atmosféricos e dão origem a detritos que
se depositam nas grandes bacias oceânicas e/ou continentais dando origem às rochas
sedimentares. Os processos associados à tectónica de placas dão origem a cadeias de
montanhas a partir destas rochas, as quais voltam a ficar sujeitas aos processos erosivos
voltando a constituir novos sedimentos, ou podem por outro lado ser arrastadas ainda pelos
processos ligados à tectónica de placas para profundidades elevadas onde, por acção de
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Projecto PV – 0161 – “A Cartografia Geológica-um instrumento de
leitura das Ciências da Terra”
condições de pressão e temperatura altas, se transformam em rochas metamórficas. Se
descerem a profundidades muito elevadas voltam à condição de magma, reiniciando-se um
novo ciclo.
A região de Mação-Amêndoa enquadra-se no Ciclo Hercínico ou Varisco o qual se
iniciou há cerca de 550-500 Milhões de Anos (MA) (Fig. 3) por uma fase de rift
intracontinental (Fig. 2), ou
seja, a abertura de um oceano a
partir da partição de uma placa
continental devido à ascenção de
um magma. Este novo oceano
foi preenchido por sucessões de
sedimentos que resultaram da
erosão de regiões montanhosas
localizadas, a NE e a SW da
bacia, tendo tido uma evolução
prolongada no tempo, durante o
Pré-Câmbrico e Câmbrico.
(ver Quadro da Figura 3)
Fig. 1- Ciclo Geológico
Fig. 2 - Estabelecimento de rift intracontinental e formação de um novo oceano
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Projecto PV – 0161 – “A Cartografia Geológica-um instrumento de
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Fig. 3 - Quadro Estratigráfico com a divisão dos tempos fossilíferos em Eras,
Períodos e Andares
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No Ordovícico inferior o rift sofre uma inversão tectónica relacionada com o
levantamento da sua margem sul. Esta inversão tectónica causou variações acentuadas e
rápidas do ambiente de deposição, o aparecimento de episódios de deformação e o
desenvolvimento de fenómenos de magmatismo. Esta evolução é marcada por uma fase
transgressiva que se inicia em ambiente de delta passando a litoral, que finalmente
transita para ambiente de plataforma externa. Nesta fase intercalam-se episódios
regressivos areníticos de pequena amplitude e curta duração e fases erosivas marcadas por
períodos de condensação marcados pela formação de horizontes de ferro-oolítico.
Posteriormente ocorreu a diminuição da velocidade de alastramento das cristas dorsais
médio-oceânicas,
contemporânea do período
de glaciação no final do
Ordovícico. As formações
depositadas durante esta
regressão passam de
plataforma externa a
ambientes de origem
glaciária litorais com alguma
influência continental. Neste
período de tempo, os
episódios transgressivos são
de pequena amplitude e
marcados por períodos
erosivos.
Após este episódio a
velocidade da deriva
continental aumenta
substancialmente até ao
Devónico. Este ciclo
sedimentar inicia-se por uma
sucessão silto-pelítica
terrígena transgressiva, à Fig. 4 - Formação de Cadeia de Montanhas
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Projecto PV – 0161 – “A Cartografia Geológica-um instrumento de
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qual sucede um horizonte condensado constituído por pelitos com nódulos; culminando
esta série por uma sequência quartzítica de carácter regressivo.
Neste ciclo observa-se a passagem de litofácies de ambientes de plataforma interna a
litofácies de características litorais.
A transição de margem passiva - abertura de oceano - a activa - fecho de oceano - é
marcada por um processo de colisão orogénica, continente-continente (Fig. 4), que se
desenvolveu gradualmente ao longo da margem SW do Maciço Ibérico durante o
Paleozóico superior, com junção tectónica sucessiva dos vários terrenos que constituem
actualmente o Maciço Ibérico.
Este movimento originou heterogeneidade tectónica à escala do maciço e é responsável
pela migração da deformação de SW para NE. No centro do maciço, as rochas estão mais
deformadas e metamorfizadoas relativamente às zonas mais externas, que apresentam
vergências opostas para o exterior da cadeia de montanhas varisca ou hercínica. (Fig.5)
Fig. 5 - Localização do Maciço Ibérico na Cadeia de Montanhas Hercínica ou Varisca
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Projecto PV – 0161 – “A Cartografia Geológica-um instrumento de
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OBJECTIVOS
Os principais objectivos a atingir durante a saída de campo, são os seguintes:
1. Observação dos diferentes tipos de rochas que afloram na região de Mação;
2. Observação de aspectos mais pormenorizados, como minerais constituintes das rochas,
tipos de texturas, presença de fósseis, icnofósseis, entre outros;
3. Observação dos efeitos da actuação de vários agentes erosivos nas diversas litologias;
4. Observação de estruturas de natureza tectónica, como, falhas, dobras, clivagens,
lineações.
Esta saída de campo tem ainda o propósito de sensibilizar os alunos à preservação do
património geológico. Deste modo, chamamos a atenção para as colheitas aleatórias de
amostras de rochas, sem um objectivo definido e cujo fim, muitas vezes, mais não é que o
caixote de lixo.
Recordamos que em cada rocha está escrita uma página da história da evolução do
nosso planeta, pelo que a sua destruição sem qualquer fim, eliminará definitivamente a
possibilidade de lermos a história que tem para nos contar.
Desta forma, o grupo de alunos, sob orientação dos geólogos, fará um levantamento e
recolha de amostras representativas de cada tipo de rochas: sedimentares, magmáticas e
metamórficas. Posteriormente, serão classificadas para que com elas, possam constituir
uma colecção representativa da região, que será entregue na respectiva escola para apoio
às aulas que versam unidades temáticas relacionadas com a área das Ciências da Terra.
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Projecto PV – 0161 – “A Cartografia Geológica-um instrumento de
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ITINERÁRIO
Na página seguinte está representado geograficamente, o percurso que vai ser seguido ao
longo da saída de campo e assinaladas as paragens de interesse geológico que se irão
observar.
Estas paragens, descritas mais à frente no guião, foram seleccionadas tendo em conta
aspectos geológicos de interesse didáctico, pedagógico e paisagístico, aliados a uma fácil
acessibilidade.
No quadro seguinte apresenta-se um plano do itinerário proposto, para uma melhor
orientação das actividades a desenvolver:
Horário Local
9h 00m Partida da Escola Secundária de Torres Novas
Paragem 1 – Corte Geológico da Carregueira
Paragem 2 – Discordância angular da Queixoperra
Paragem 3 – Cavalgamento de Quiexoperra-Louriceira
12h 30m Almoço – Parque de Merendas de Bando dos Santos
Paragem 4 – Formação de Cabeço do Peão do Ordovícico
para observação de fósseis
Paragem 5 – Corte Geológico de Ladeira de Envendos
18 h 00m Regresso à Escola Secundária de Mação
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Localização das paragens sobre as Cartas Corográfica e Geológica
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PARAGEM 1 - CORTE GEOLÓGICO DA CARREGUEIRA
Localização: estrada de Mação para Carregueira.
Objectivos:
• Contacto entre o lacólito granítico de Mação-Penhascoso (πγm) e a Formação do
Quartzito Armoricano (OQA).
• .Marcas de corrente e pistas de cruziana na formação do Quartzito Armoricano
O lacólito granítico (πγm) contacta de modo intrusivo com estratos quartzíticos da
Formação do Quartzito Armoricano OQA de idade Ordovícico inferior (Arenigiano).
Na bordadura do lacólito, ou seja na zona de contacto com os quartzitos, ocorre
uma ligeira diminuição da granularidade do granito, constituindo uma margem de
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Projecto PV – 0161 – “A Cartografia Geológica-um instrumento de
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arrefecimento mais rápido de cerca de 1-2mm de espessura, que se manifesta normalmente
por uma auréola de alteração marcada por óxidos de ferro.
Designa-se por lacólito um corpo granítico em forma de cogumelo que se injecta
entre estratos sedimentares pré-existentes, arqueando-os e normalmente não rompendo até à
superfície. O seu afloramento em superfície resulta da erosão dos estratos suprajacentes.
O modelo de
formação do lacólito
de Mação-
Penhascoso está
representado no
esquema da Figura
ao lado
No estado inicial
ocorre a deposição
de sedimentos de
idades que vão do
Precâmbrico até ao
Ordovícico Inferior
(Formação do
Quartzito
Armoricano).
Posteriormente,
ocorre a intrusão do
lacólito, originando-
se um corpo
granítico em forma
de cogumelo; os
estratos acima da
intrusão arqueiam e
elevam-se, constituindo um alto fundo que são rapidamente erodidos por erosão marinha. Os
produtos resultantes da erosão são re-sedimentados, originando a formação que está
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Projecto PV – 0161 – “A Cartografia Geológica-um instrumento de
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imediatamente por cima do OQA e que em alguns locais contacta directamente com o lacólito
granítico.
Estes dados sugerem que a instalação do lacólito granítico terá ocorrido logo após a
deposição do OQA portanto no Ordovícico Inferior e antes da sedimentação da unidade que
lhe está imediatamente por cima - a formação de Brejo Fundeiro do Ordovícico Médio.
Na Formação do Quartzito Armoricano (OQA), que é constituída por quartzitos e siltitos,
podem observar-se marcas de corrente do tipo " ripple marks" (Foto 1) que são idênticas às
marcas que se vizualizam actualmente nas praias principalmente na maré vazia. A existência
deste tipo de marcas que ficaram preservadas nos sedimentos do Quartzito Armoricano,
indicam que esta formação se formou num ambiente semelhante ao das actuais praias onde
existiam correntes marinhas de alguma intensidade.
Podem ainda observar-se alguns fósseis designados por Cruziana (Foto 2) e que são
interpretados como sulcos deixados no sedimento mole por um animal marinho -
Trilobite- (Fig. 1) que pertencente à classe dos artrópodes- e que viveu nos mares de há
cerca de 300 milhões de anos - na era paleozóica.
Foto 1 - "Ripple Marks" Formação do Quartzito Armoricano-Ordovícico Inferior
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Foto 2 - Cruziana Formação do Quartzito Armoricano-Ordovícico Inferior
Fig.1 - Cruziana - rasto deixado no sedimento mole pela locomoção do animal
marinho paleozóico designado por Trilobite
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PARAGEM 2 - DISCORDÂNCIA ANGULAR DA QUEIXOPERRA
Localização: no bordo S da Serra do Carvalhal, à saída da povoação de Queixoperra
seguindo o caminho de terra batida Queixoperra-Serra.
Objectivos:
• Realização do corte AB para observação da discordância angular entre os xistos
da Unidade de Padrão do Grupo das Beiras (NCp) e os conglomerados da
Formação do Quartzito Armoricano (OQA).
• distinção entre estruturas tectónicas associadas a diferentes fases da Orogenia
Varisca ou Hercínica
• observação de acidentes tectónicos - falhas normais e dobras
• observação de pistas fósseis - scolithus
Legenda:
A observar:
Segundo a Folha 28A-Mação da
Carta Geológica de Portugal à escala
1/50.000, edição de 2000 do Instituto
500 m
A
B
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Projecto PV – 0161 – “A Cartografia Geológica-um instrumento de
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O OQA - Formação do Quartzito Armoricano do Ordovícico inferior, apresenta uma
sequência trangressiva, com 22±2m de espessura constituída da base para o topo por
sedimentos de granularidade decrescente (Fig.1):
Na base ocorrem 10±2m de
conglomerados com textura de
suporte clástico, seguindo-se 10m
de arenitos arcósicos, aos quais se
sobrepõem 4m de alternâncias de
bancadas de quartzitos, arenitos
arcósicos finos e grosseiros e
arenitos bioturbados.
O NCp - Unidade de
Padrão do Grupo das Beiras
de idade Neoproterozóico-
Câmbrico consta de
alternâncias decimétricas a
centimétricas de
metagrauvaques, metassiltitos
e metapelitos, de
características turbidíticas.
Os estratos da sequência transgressiva do OQA assentam em discordância angular de
alto ângulo sobre as bancadas do NCp (Fig. 2).
Fig.1 - Coluna litostratigráfica das formações NCp OQA
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Projecto PV – 0161 – “A Cartografia Geológica-um instrumento de
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A existência desta
discordância pode ser
explicada pela sucessão de
fenómenos geológicos
sintetizados na Fig. 3
Fig.2 - Discordância angular entre a Unidade de Padrão do Grupo das Beiras (NCp) e a formação do Quartzito Armoricano OQA.
Fig. 3 - Origem da discordância angular entre a Unidade de Padrão do Grupo das Beiras (NCp) e a formação do Quartzito Armoricano OQA
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Na parte superior da Formação do Quartzito Armoricano (OQA) ocorre um conjunto de
bancadas quartzíticas e quartzo-areníticas com espessura de 30-50cm a 1m, onde se
observam numerosos icnofósseis (pistas) do tipo Skotithos.
As bancadas quartzíticas estão muitas vezes amalgamadas e exibem gradação incipiente,
marcas de ondulação e estratificação entrecruzada, em particular nas bancadas menos
espessas.
O conjunto está afectado por algumas falhas normais (Foto 2) e por dobras (Foto 3):
Foto 1 - Skotithos - Formação do Quartzito Armoricano (OQA
Fig. 4 - Origem das pistas do tipo Skotithos
Foto 2 - Folha normal Foto 3 - Dobra
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PARAGEM 3 - CAVALGAMENTO DE QUIEXOPERRA-LOURICEIRA
Localização: Junto à estrada camarária nº 1280 (Serra-Louriceira), a 500m do
cruzamento desta estrada com a EN nº 2, Abrantes-Castelo Branco, e cerca de 500m da
povoação da Louriceira.
Objectivos:
• Reconhecimento da zona de cisalhamento Queixoperra-Louriceira
• Características sedimentológicas e paleontológicas das unidades geológicas
Nesta paragem observa-se o cavalgamento que coloca os quartzitos da Formação do
Quartzito Armoricano (OQA) do Ordovícico inferior, sobre os xistos negros da
Formação de Aboboreira (SAb)do Silúrico inferior.
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A zona de cisalhamento Queixoperra-Louriceira (representada na Foto 1 por uma linha
amarela a tracejadomostra orientação geral NNW-SSE.
Faz sobrepor a sequência arenosa da Formação do Quartzito Armoricano (OQA) do
Ordovícico Inferior aos xistos negros grafitosos da Formação de Aboboreira (SAb) do
Silúrico Inferior. Com efeito, as bancadas quartzíticas e os horizontes metassilto-pelíticos
quartzosos da OQA, contactam com estratos maciços ou laminados de xistos negros, ricos
em graptólitos da SAb O limite entre estas unidades é marcado por um plano de
esmagamento vergente para E, com brecha de quartzo e óxidos de ferro de espessura
decimétrica..
Fig.1 - Secção esquemática da zona de
cisalhamento Queixoperra-Louriceira,
onde se observa uma componente de
movimentação cavalgante para ESE.
Este acidente coloca as bancadas de
quartzitos do OQA (Ordovícico
Inferior) sobre os pelitos grafitosos da FA
(Silúrico Inferior).
Foto 1 - Zona de cisalhamento Queixoperra-Louriceira
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Na base das bancadas quartzíticas da Formação do Quartzito Armoricano, ocorrem vários
icnofósseis e estruturas de base de bancada designadamente, figuras de carga. Notam-se
bilobites gigantes identificadas como Cruziana sp. e Cruziana furcifera, e Planolites sp..
Os xistos grafitosos da SAb são muito ricos em graptólitos, tendo sido reconhecidos
numerosos Monograptus sp., normalmente, deformados.
Foto 2- Conteúdo fossilífero da Formação do Quartzito Armoricano: A-Icnofóssies; B-Cruziana
A
B
Foto 3 - Conteúdo fossilífero da Formação de Aboboreira do Silúrico Inferior:Graptólitos
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PARAGEM 4 - ESTRATOTIPO DA FORMAÇÃO DE CABEÇO DO PEÃO
Localização: Estrada de Aboboreira para Mação
Objectivos: Observação de fósseis da Base da Formação de Cabeço do Peão
A formação de Cabeço do Peão, constituída por
xistos, arenitos e quartzitos, possui um conteúdo
fossilífero abundante que permitiu atribuir-lhe
uma idade Caradociano - andar da base do
Ordovícico Superior.
Podem com facilidade ser encontrados fósseis de:
Braquiópodes Briozoários Trilobites
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Projecto PV – 0161 – “A Cartografia Geológica-um instrumento de
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PARAGEM 5 - CORTE GEOLÓGICO DE LADEIRA DE ENVENDOS
Localização: Estrada n.º 351, Envendos - Ladeira de Envendos - S. Pedro de Esteval,
folha 28-A (Mação) (Fig. 5).
Objectivos: Esta paragem situa-se no flanco N do sinforma maior F3 de Amêndoa-
Carvoeiro. Observa-se um conjunto de unidades litostratigráficas da sucessão ordovícico-
silúrica discordante sobre metassedimentos do Grupo das Beiras (GB). São ainda visíveis
dobras mesoscópicas associadas com as fases F1 e F3 da orogenia varisca e evidências da
deformação ante-varisca na cobertura paleozóica. Considerando que esta secção
apresenta um comprimento de cerca de 1km vão-se centrar as observações em:
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1 - Passagem do Ordovícico superior ao Silúrico inferior materializado pela sucessão
Formação de Casal Carvalhal (FCC) - Formação de Vale da Ursa (FVU) - Formação
da Aboboreira (FA), (localiza-se a cerca de 900m a S do balneário da Ladeira
Envendos)
Neste local observa-se, da base para o topo, a sucessão de unidades sedimentares
Formação de Casal Carvalhal - Formação de Vale da Ursa - Formação da
Aboboreira.
A Formação de Casal Carvalhal (~100m) corresponde no seu todo a uma sequência
regressiva, constituída por conjuntos de bancadas de silto-pelitos maciços ou ligeiramente
gradados, com fragmentos disseminados aleatoriamente e esporadicamente de quartzito,
arenito, ferro oolítico e quartzo, de dimensões normalmente milimétricas a centimétricas,
mas podendo atingir os 15-20 cm (diamictitos). Os diamictitos são caracterizadas por
apresentar, de um modo constante, uma forma esferoidal, originando estruturas
arredondadas com dimensões que podem atingir vários metros de comprimento. Contudo,
algumas destas formas parecem corresponder a estruturas ball and pillow, confinadas a um
estrato específico, com melhor desenvolvimento e definição na base e com passagem
gradual em direcção ao topo, marcadas por convexidade inferior. Outras parecem apenas
resultar de alteração diferencial “em escamas”. Intercalados nestas litofácies ocorrem dois
conjuntos de bancadas quartzo-areníticas, junto à base (5m) e outro na parte superior
(10m). Esta unidade é interpretada como depositada em ambiente glaciogénico marinho
com desenvolvimento próximo da linha costa. O modelo deposicional sugerido envolveria
plumas turbidíticas para a descarga de sedimentos a partir de glaciares basais ricos em
fragmentos (Fig. 3). A Formação de Casal Carvalhal tem sido datada do Asghilliano.
À Formação de Casal Carvalhal sucede a sequência regressiva Formação de Vale da
Ursa (40m), constituída por bancadas de quartzitos cinzentos, por vezes piritosos, cada vez
mais espessos e frequentes para o topo da série (Fig. 3). Os quartzitos estão intercalados de
bancadas areno-siltíticas muito micáceas, de cerca de 30-70cm de espessura, e de estratos
pelíticos com cor negra e possança centimétrica, muitas vezes amalgamados. No topo das
bancadas de quartzitos ocorrem, por vezes, abundantes nódulos achatados de pirite com
diâmetro de 5-10cm e, ocasionalmente, ripples de oscilação da corrente. As bancadas
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Projecto PV – 0161 – “A Cartografia Geológica-um instrumento de
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areno-siltíticas, de cor cinzento escuro e de composição micácea, são normalmente
maciças, com ténues, ou mesmo ausentes, traços de estratificação. Associados a estas
bancadas ocorrem, por vezes nódulos de pirite, de dimensão milimétrica a centimétrica,
dobras sin-sedimentares, slumps, estruturas de ball and pillow e estruturas de escape de
água. Esta unidade foi interpretada como depositada em ambiente marinho litoral. A
Formação de Vale da Ursa foi datada do Silúrico inferior (Landoveriano inferior) com
base em graptólitos.
Aos quartzitos escuros regressivos da Formação de Vale da Ursa sobrepõem-se 10m de
pelitos negros grafitosos impregnados de sulfuretos de ferro da Formação da Aboboreira.
As litologias desta unidade estão afectadas tectonicamente por acção de fracturação, daí o
seu aspecto esmagado. Contudo, observam-se ocasionalmente fragmentos de graptólitos
nas litofácies mais finas e escuras. Esta unidade corresponde a uma sucessão condensada,
transgressiva, que é interpretada como depositada em ambiente mal oxigenado de
características euxínicas. Foi datada do Landoveriano médio a superior.
3
3
1
2
Nível do mar
Glaciar rico em fragmentos
Glaciar pobre em fragmentos
Fig. 3- Modelo deposicional em pluma turbidítica que requer descarga de sedimentos a partir
de glaciares basais ricos em fragmentos. 1- Local gerador de diamictitos; 2- Local gerador
de dropstones; 3- Local gerador de interlaminados de argila/areia
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2 - Limite entre a Formação de Ribeira do Casalinho (FRC) e a Formação de Cabeço
do Peão (FCP), Caradociano inferior (localiza-se a cerca de 700m a S do balneário da
Ladeira de Envendos)
Neste local
observa- se que
o horizonte de ferro oolítico (“Camadas de Favaçal”) da base da Formação de Cabeço
do Peão está sobre 9m de bancadas de quartzitos ferruginosos incluídos no Membro de
Cabril, da Formação de Ribeira do Casalinho. No topo deste membro são visíveis sobre
a última bancada de quartzito, ainda restos de pelitos erosionados do Membro de
Carregueira, da Formação de Ribeira do Casalinho. Assim, existe uma descontinuidade
erosiva, recoberta por um horizonte de ferro oolítico constituído por oóides de chamosite e
material remobilizado que inclui clastos e nódulos fosfatados com microfósseis
(quitinozoários) procedentes das unidades subjacentes. Esta composição evidencia um
período de intensa erosão, em particular das unidades subjacentes à Formação de Cabeço
do Peão. Este episódio erosivo é o responsável pelo desaparecimento da totalidade (cerca
de 24m) das litologias que constituem o Membro da Carregueira e à escala macroscópica
5Km
EW
2b 3a2a 3b 3c1
Fig. 2- Esquema representativo da dircordância cartográfica entre a Formação
de Ribeira do Casalinho (FRC) e a Formação do Cabeço do Peão
(FCP), no sinforma Amêndoa-Carvoeiro. 1- Formação de Monte de
Sombadeira; Formação de Ribeira do Casalinho: 2a- Membro de Cabril,
2b- Membro de Carregueira; Formação de Cabeço do Peão, 3a- Camada
de Favaçal, 3b- Membro de Queixoperra, 3c- Membro de Aziral
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Projecto PV – 0161 – “A Cartografia Geológica-um instrumento de
leitura das Ciências da Terra”
ressalta uma clara discordância cartográfica entre a Formação de Ribeira do Casalinho e
Formação de Cabeço do Peão que se observa, em particular no flanco N da estrutura
maior Amêndoa-Carvoeiro (Fig. 2).
A forte erosão do topo da Formação de Ribeira do Casalinho, a variabilidade de
espessura dos membros que constituem a Formação de Cabeço do Peão, no interior do
sinforma de Amêndoa-Carvoeiro, e a presença de níveis centimétricos de rochas
subvulcânicas estratiformes, de espessura decimétrica, intercaladas nos primeiros estratos
da Formação de Cabeço do Peão sugere que possa haver um condicionamento tectónico
à escala regional de distensão crustal que ocorreu durante este período de tempo no bordo da
plataforma do Gondwana. A amplitude máxima deste evento ocorreria eventualmente no SW
da Sardenha e estaria associado à discordância sárdica s. s., consequência da movimentação
do soerguimento sárdico-turco.
3 - Limite entre o Grupo das Beiras e a Formação do Quartzito Armoricano (localiza-
se no balneário da nascente da Ladeira de Envendos)
Neste local observa-se a discordância angular de alto ângulo entre os estratos da Unidade
de Padrão-Silveira, incluída na parte intermédia da sucessão do Grupo das Beiras (GB),
e as bancadas de quartzito da Formação do Quartzito Armoricano. Assim, os estratos
quartzíticos de atitude N70W, 50SW repousam discordantemente sobre bancadas
subverticais de filitos e metagrauvaques do GB. Esta discordância cartográfica é uma
consequência de movimentos de grande raio de curvatura associados com instabilidade
tectónica ao nível do substracto (fase sarda s. l.).
A Unidade de Padrão-Silveira é caracterizada por alternâncias de filitos escuros, muitas
vezes laminados, e metagrauvaques, por vezes grosseiros. Os estratos metagrauváquicos,
de geometria lenticular, amalgamados e com espessura métrica são constituídos por areia
grosseira a muito grosseira (areão), e diminuem de granularidade progressivamente para
areia fina no topo das bancadas. São constituídos por clastos isolados de quartzo, lidito,
fragmentos de rocha vulcânica, feldspato e intraclastos argilosos de cor escura fosfatados
(?), de dimensão variável entre 0.1mm a 3-4mm, no seio de uma matriz silto-argilosa de
cor cinzenta. As bases destas bancadas são fortemente erosivas, observando-se por vezes
figuras de carga que apresentam desenvolvimento em forma de “chama”. O topo encontra-
se muitas vezes erosionado pelas camadas sobrepostas ou com termos litológicos finos de
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Projecto PV – 0161 – “A Cartografia Geológica-um instrumento de
leitura das Ciências da Terra”
decantação. As bancadas de metagrauvaques mais finas apresentam granularidade mais
homogénea, e por vezes estão laminadas. Os filitos apresentam normalmente laminação
paralela e, mais espaçadamente, laminação ondulada e ocasionalmente slumps.
A Formação do Quartzito Armoricano, de espessura de cerca de 80m, é constituida por
uma sequência quartzítica transgressiva com icnofósseis (Scolithos e Cruziana). As
bancadas de quartzitos, de granularidade fina e cor branca, diminuem de frequência e
espessura para o topo da série. Intercalados nos quartzitos observam-se finos estratos de
arenitos finos e siltitos micáceos cinzento-esverdeados, muitas vezes laminados ou com
desenvolvimento lenticular. A esta unidade sucedem pelitos escuros da Formação de
Brejo Fundeiro (FBF). Neste local observam-se ainda dobras associadas à F1 varisca com
geometrias complexas, nomeadamente dobras com flancos delaminados e vergências
opostas. Estas geometrias podem ser eventualmente explicadas como consequência de
problemas relacionados com a heterogeneidade das características reológicas das próprias
bancadas e/ou a falta de espaço, quando são dobradas. Estas dobras, de orientação N35-
55W, 30-55NE, são caracterizadas por apresentar clivagem primária penetrativa de plano
axial ou em leque convergente.
Foto 1 - Dobra na Formação do Quartzito Armoricano
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