espiritismo tudo o que vocÊ precisa saber
Post on 04-May-2022
11 Views
Preview:
TRANSCRIPT
ESPIRITISMO,
TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER
ESPIRITISMO
TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER
Richard Simonetti
IBSN
Capa:
1ª Edição – OUTUBRO de 2004
10.000 exemplares
Copyright 2004 by
Centro Espírita Amor e Caridade
Bauru SP
Edição e Distribuição
CEAC-Editora
Rua 7 de Setembro, 8-56
FONE/FAX 014 3227 0618
CEP 17015-031 – Bauru SP
O Espiritismo progrediu principalmente
depois que foi sendo mais bem compreendido na
sua essência íntima, depois que lhe perceberam
o alcance, porque tange a corda mais sensível
do Homem: a da sua felicidade, mesmo neste
Mundo.
Aí a causa da sua propagação, o segredo
da força que o fará triunfar.
Allan Kardec, em O Livro dos
Espíritos.
Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o
Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas
as coisas e vos fará lembrar de tudo o que tenho
dito.
Jesus (João, 14:26)
SUMÁRIO
Pinga-Fogo
O que é o Espiritismo
Novo Espiritualismo
Perenidade do Espiritismo
Allan Kardec
Centro Espírita
Contato com os Espíritos
Literatura Espírita
Deus
Morte
Espírito
Nascimento dos Espíritos
Reencarnação
Lei de Causa e Efeito
Ainda a Lei de Causa e Efeito
Céu
Inferno e Purgatório
Anjos
Demônios
Jesus
Moisés
Mediunidade
Vida Espiritual
Corpo Celeste
Sonhos
Ainda os Sonhos
Fatalidade
Transplante de órgãos
Ecologia
Eutanásia
Prática do Bem
Vícios
Aborto
Pluralidade dos Mundos Habitados
Suicídio
Pena de Morte
Planejamento Familiar
Reino de Deus
PINGA-FOGO
Há anos nos submetemos, no Centro Espírita Amor e
Caridade, em Bauru, a um pinga-fogo, realizado no início do
mês.
A expressão é originária de um programa da antiga TV
Tupi. Entrevistadores sagazes submetiam o convidado a uma
bateria de perguntas, geralmente impertinentes, autênticos
“pingos de fogo”.
Algo se evidencia, no desdobramento desse trabalho: as
pessoas que buscam o Centro Espírita, movidas por vários
propósitos, não têm a mínima noção do que é o Espiritismo.
Isso pode ser observado nas perguntas que formulam, tipo:
Espiritismo é religião?
Quem foi Allan Kardec?
Os espíritas aceitam Jesus?
É possível conversar com os mortos?
Quando eu morrer, reencontrarei meus familiares?
Onde ficam o Céu e o Inferno?
Como o Espiritismo vê os anjos e os demônios?
Por que dizem que o Espiritismo é obra do diabo?
O Espírito é criado no momento da concepção?
O que é o carma?
Quando será o juízo final?
Longe de evocar o questionamento abrasivo dos
contestadores, revelam a simplicidade dos catecúmenos.
Fique tranquilo, prezado leitor. Não é nenhum palavrão.
Refiro-me ao título que davam, na primitiva comunidade cristã,
àqueles que faziam a iniciação evangélic).
Daí a ideia de escrever este livro, selecionando centenas de
indagações, classificando-as e respondendo-as em linguagem
prática e objetiva, que favoreça o entendimento de quem não
conhece a Doutrina.
É, portanto, modesto manual de iniciação espírita, que,
espero, venha a constituir-se em opção a ser sugerida por
livrarias e Centros Espíritas aos que estão chegando.
Que seja um convite à reflexão para quem já se instalou
no majestoso edifício doutrinário.
Atrevo-me, ainda, a imaginar que os companheiros que
fazem uso da palavra, nas reuniões no Centro Espírita,
encontrarão aqui subsídios para o desenvolvimento de temas
relevantes.
Será, também, uma opção para os que, contestando o
Espiritismo, estejam dispostos ao mínimo que a honestidade
recomenda: conhecer o objeto de suas críticas, superando a
condição de meros detratores, como costuma ocorrer.
Oportuno destacar que incluí assuntos de atualidade,
sempre evocados no pinga-fogo, como doação de órgãos,
ecologia, eutanásia, vícios, aborto, suicídio, pena de morte,
planejamento familiar…
Seja qual for a sua motivação, ficarei feliz, leitor amigo, se
você encontrar o que procura nestas páginas.
Que encontre, sobretudo, o estímulo ao contato mais
estreito com a revolucionária obra de Allan Kardec, onde
nenhum “pingo de fogo”, por mais candente, fica sem resposta.
Bauru, dezembro de 2004
O QUE É O ESPIRITISMO
1 – Como podemos definir o Espiritismo?
Trata-se de uma filosofia, com bases científicas e
consequências religiosas.
2 – O que é a filosofia espírita?
Partindo da ideia platônica de que filosofar é
procurar o sentido para a vida, podemos dizer que a
filosofia espírita é essa busca, a começar do contato com
o Mundo Espiritual. Quem mora “do outro lado”, tem
visão mais ampla sobre o assunto, sem as limitações
impostas pela armadura de carne, que inibe nossas
percepções.
3 - E o que nos dizem os que vivem “do outro lado”?
Dizem de onde viemos, o que fazemos na Terra e
para onde vamos, dentro de um continuum evolutivo
destinado a nos conduzir à perfeição. Nesse contexto,
explicam os porquês das desigualdades, nas condições
social, financeira, moral, cultural, intelectual e outras
mais que costumam fazer a perplexidade das pessoas,
levando-as a duvidar da justiça divina.
4 – E a ciência espírita?
Se a Doutrina propõe o contato com o Além, de
onde colhemos informações sobre a Vida, quem nos
garante que essas informações estão corretas, exprimem
a verdade? Aí entra a Ciência, em pesquisas sobre a
autenticidade dos fenômenos de intercâmbio.
5 – Como se faz essa pesquisa?
Avaliando o trabalho de grandes médiuns, que
produzem fenômenos mediúnicos ostensivos, como a
materialização de Espíritos. Se vamos a uma reunião e
surge um familiar falecido; se ele se faz visível e tangível,
permitindo que o toquemos; se evoca fatos que
marcaram nossa convivência, com detalhes que ninguém
conhece, obviamente temos uma demonstração
inquestionável do intercâmbio com os mortos. Haverá,
talvez, alguma dúvida para quem ouve falar sobre o
assunto, mas é de inconfundível autenticidade para
quem passa pela experiência. Acontece com muitos
pesquisadores.
6 – Chico Xavier também participava dessa comprovação
científica?
O grande médium de Uberaba fez mais que isso:
encarnou o próprio aspecto científico da Doutrina
Espírita, porquanto, durante setenta e cinco anos de
profícuo labor mediúnico recebeu milhares de
mensagens assinadas por Espíritos desencarnados,
verdadeiras cartas do outro mundo. Os signatários
identificavam-se pela terminologia, as lembranças, os
nomes citados, as datas significativas, as circunstâncias
de sua morte… Isso tudo revelando a maneira de ser do
comunicante, inconfundível e impossível de ser imitado.
Como enuncia o velho aforismo, o estilo é o homem. Não
há outro modo de explicar o fenômeno Chico Xavier
senão admitindo que os mortos podem comunicar-se com
os vivos.
7 – E o aspecto religioso? Espiritismo é religião?
Se a Doutrina Espírita proclama a existência de
Deus; se defende a sobrevivência do Espírito; se adverte
quanto às consequências das ações humanas no plano
espiritual; se enfatiza a necessidade de reforma íntima;
se exalta o esforço do Bem, valores que nos aproximam
do Criador, é, sem dúvida, uma religião.
8 – As religiões costumam ser absolutistas, proclamando-se
depositárias da verdade e da salvação. O que nos diz o
Espiritismo?
A verdade fundamental está toda contida no amai-
vos uns aos outros, recomendado por Jesus, o caminho
perfeito para nossa integração nos ritmos do Universo. À
medida que a vivenciarmos estaremos salvos das dores e
desajustes que fazem nossa infelicidade. É o que ensina a
Doutrina Espírita.
NOVO ESPIRITUALISMO
1 – Espiritismo e espiritualismo têm o mesmo significado?
Não. Espiritualismo é a crença na existência e
sobrevivência do Espírito, o ser pensante. Por isso,
católicos, evangélicos, budistas, maometanos, enfim, os
religiosos em geral, são espiritualistas.
2 – E o espírita?
Também, pelo mesmo motivo. A diferença é que o
Espiritismo descortina o novo espiritualismo, uma
maneira avançada de apreciar a sobrevivência da alma.
3 – Qual seria a diferença entre as religiões espiritualistas e
esse “novo espiritualismo”?
Em se tratando da vida espiritual, elas são
especulativas. À falta de informações precisas, os
teólogos que formularam seus princípios imaginaram
como seria o Além. A Doutrina Espírita faz diferente:
alicerça seus princípios em informações colhidas no
contato com a dimensão extrafísica. Começa onde
terminam as religiões, desbravando o vasto continente
espiritual.
5 – A ideia seria separar a realidade da fantasia?
Exatamente. Se, tentando descobrir como vivem os
franceses, partirmos para a imaginação, resvalaremos
para a fantasia, com noções distanciadas da realidade.
Mais prático entrevistar alguns franceses, de várias
camadas sociais, a nos oferecerem a visão perfeita de
como é a vida na França.
5 – Ainda que a ciência espírita garanta a autenticidade do
intercâmbio com o Além, como podemos ter certeza de que
as informações colhidas exprimem a realidade?
Pelo critério de universalidade. Se perguntarmos a
um francês sobre a vida na França, e ele mentir, seremos
confundidos. Mas, se perguntarmos a vários franceses,
isoladamente, cotejando as respostas, teremos a verdade.
O mesmo acontece no intercâmbio com o Além. Vários
Espíritos entrevistados, com o concurso de vários
médiuns, nos oferecem visão objetiva de como vivem.
6 – Exorcistas, nas religiões tradicionais, atribuem ao
demônio essas manifestações…
Trata-se de fantasia teológica. Seria superada com
facilidade se os exorcistas se dessem ao trabalho de
pesquisar, usando a metodologia espírita. Constatariam,
então, que são as almas dos mortos que se manifestam.
7 – Como podem os mortos entrar em contato com os vivos se
estão dormindo, num sono que se prolongará até o
chamado juízo final, quando retomarão seus corpos para o
retorno à vida?
Não é o que informam os mortos. O Espírito, o ser
pensante, não necessita do corpo para existir e exercitar
suas faculdades. A morte apenas o libera das limitações
físicas, restituindo-lhe a liberdade que perdera ao
reencarnar. E, porque não vive em compartimentos
estanques, pode comunicar-se com os homens.
8 – Se os princípios espíritas são tão claros e objetivos, com
essa ampla visão das realidades espirituais, por que as
pessoas têm dificuldade em aceitar?
A única dificuldade está na falta de disposição para
apreciá-los. Há preconceitos e condicionamentos
negativos, relacionados ao assunto. Qualquer pessoa que
estude o Espiritismo acabará por converter-se. A
Doutrina é racional e, sobretudo, consoladora. Que o
digam aqueles que chegam ao Centro Espírita motivados
por situações aflitivas e dolorosas.
PERENIDADE DO ESPIRITISMO
1 – Há quem diga que o Espiritismo existe desde o
aparecimento do Homem. É assim mesmo?
Podemos fazer tal afirmativa em relação aos
princípios espíritas, como a Reencarnação, a Lei de
Causa e Efeito, a Sintonia Mediúnica… São leis divinas
enunciadas pela Doutrina Espírita, de caráter
atemporal. Há noções a respeito delas em todas as
culturas e religiões.
2 – Quando surgiu a Doutrina Espírita?
Oficialmente, no dia 18 de abril de 1857, com o
lançamento de O Livro dos Espíritos, que resume os
princípios espíritas. Tudo o mais que se escreva sobre a
Doutrina será sempre desdobramento dessa obra maior.
Está para o Espiritismo assim como o Evangelho está
para o Cristianismo, o Alcorão para o Islamismo e a
Torá para o Judaísmo.
3 – Se os princípios espíritas estão em todas as culturas e
religiões, podemos dizer que estão presentes também no
Cristianismo?
Sem dúvida. Exemplo típico, a reencarnação. Em
inúmeras passagens, Jesus reporta-se a João Batista
como o profeta Elias de retorno à carne. No célebre
diálogo com Nicodemos, mostra como o Espírito
reencarna. Há a passagem sobre o cego de nascença. Os
discípulos lhe perguntam se ele tinha nascido cego por
ter pecado, a evidenciar que aceitavam a chamada
palingenesia, familiarizados a partir das informações de
Jesus.
4 – A Lei de Causa e Efeito, o carma da filosofia hindu,
também está presente no Evangelho?
Sem dúvida. Quando Jesus proclama que a cada
um será dado segundo suas obras, evidencia o princípio
de ação e reação. Quando despede os beneficiários de
suas curas, alertando, vai e não peques mais para que te
não suceda pior, define a relação entre nossos males e as
faltas cometidas.
5 – E a mediunidade, na sintonia com os Espíritos?
Jesus cultivou o intercâmbio com o Além,
conversando com Espíritos perturbadores e afastando-
os de suas vítimas. Ele próprio esteve em contato com o
colégio apostólico, após o Drama do Calvário, em
aparições e materializações notáveis, que levantaram o
ânimo dos discípulos.
6 – Se Jesus mantinha o intercâmbio com o Além, por que não
se manifestam os Espíritos no seio de suas igrejas,
mostrando a realidade da vida espiritual, a fim de corrigir
seus equívocos?
Porque suas portas estão fechadas ao fenômeno
mediúnico, que consideram fruto de mentes perturbadas
ou obra do demônio. Não há nem mesmo interesse em
examinar o assunto.
7 – Agem na base do não provei e não gostei?
Sim, em atitude preconceituosa. Traz lamentáveis
prejuízos àqueles que a adotam. Há multidões de
Espíritos desencarnados a enfrentar sérias dificuldades
de adaptação à vida espiritual, por estarem imbuídos de
ideias fantasiosas sobre o Além.
8 – No futuro teremos sessões mediúnicas nas igrejas católicas
e templos protestantes?
Já acontecem, em reuniões do movimento
carismático, na igreja católica, e no pentecostal, das
igrejas evangélicas. Mas, são realizadas sem a disciplina
e o conhecimento das técnicas de intercâmbio, conforme
a orientação espírita. Os participantes nem mesmo
percebem que estão lidando com as almas dos mortos.
Poderiam fazer bem melhor, se lessem O Livro dos
Médiuns, de Allan Kardec, esse esclarecedor tratado
sobre o intercâmbio com o Além.
ALLAN KARDEC
1 – Quem foi o fundador da Doutrina Espírita?
O Espiritismo tem um codificador, não um
fundador. Nascido em Lyon, na França, em três de
outubro de 1804, Hyppolite Léon Denizard Rivail, que
ficaria conhecido pelo pseudônimo de Allan Kardec. Ele
foi uma espécie de secretário de sábias entidades com as
quais travava contato, servindo-se de vários médiuns, e
das quais colhia as informações que deram origem ao
Espiritismo. Daí dizer-se Doutrina dos Espíritos. Isso está
bem caracterizado no título da obra primeira, básica,
fundamental: O Livro dos Espíritos.
2 – O que fazia Hippolyte Léon antes da codificação da
Doutrina Espírita?
Foi destacado pedagogo francês. Publicou várias
obras versando sobre educação, gramática, aritmética e
outras disciplinas. Foi, sobretudo, um humanista,
interessado em assuntos relacionados com o bem-estar
do Homem e a definição dos porquês da existência.
3 – Por que o pseudônimo?
Para não confundir o professor com o codificador.
Allan Kardec era o seu nome numa encarnação remota,
quando foi druida, uma classe de sacerdotes celtas que
acumulavam as funções de educadores e juízes.
4 – Há registros históricos sobre os celtas?
Embora sejam precários, sabemos que a cultura
céltica floresceu na Europa antes do advento do
Cristianismo. Povo evoluído para os padrões da época.
Admitia a Reencarnação e a Lei de Causa e Efeito,
princípios consagrados pela Doutrina Espírita. Faz
sentido saber que o Codificador veio de lá, revivendo
aquelas ideias num patamar mais elevado de
conhecimento, a partir do contato com os Espíritos.
5 – Podemos dizer, então, que Allan Kardec era um Espírito
milenar, dotado de grande cultura?
Basta analisar sua contribuição para constatar isso.
Seu primeiro contato com os Espíritos foi em 1855. Em
1857, passados apenas dois anos, lançava O Livro dos
Espíritos. Quem conhece essa obra básica não pode
deixar de admirar sua fulgurante inteligência e o
prodigioso trabalho que realizou, em tempo tão breve.
6 – Tendo em vista a grandeza e a extensão do trabalho que se
propusera realizar, atendendo à convocação da
espiritualidade, Kardec desencarnou cedo, aos sessenta e
cinco anos. Não teria sido conveniente uma moratória?
Ele realizou em catorze anos, de maio de 1855,
quando entrou em contato com o fenômeno mediúnico, a
março de 1869, quando desencarnou, um trabalho que
demandaria existência secular. Exercia múltiplas
funções, em atividades profissionais, publicação dos
livros da Codificação, a Revista Espírita, de
periodicidade mensal, palestras e vasta correspondência,
além da direção da Sociedade de Estudos Espíritas de
Paris, da qual era o fundador e presidente. Para tão
intenso brilho foi vela que queimou dos dois lados,
consumindo-se mais rápido.
7 – Nos círculos religiosos hostis ao Espiritismo circula a
ideia de que teria cometido suicídio. É verdade?
Trata-se de deslavada mentira. Evidencia o caráter
daqueles que a veiculam. Kardec faleceu de aneurisma
cerebral, em 31 de março de 1869, conforme registram
seu atestado de óbito e o testemunho de seus familiares,
amigos e companheiros de Doutrina.
8 – Kardec tinha esposa e filhos?
Apenas esposa, Amélie Gabrielle Boudet Rivail,
também professora, com quem se casou em 1832. Foi
companheira dedicada, ligada também ao Espiritismo e
deu continuidade ao seu trabalho. Faleceu, em 1883, aos
87 anos. Foi sepultada no cemitério de Père Lachaise, em
Paris, ao lado do marido.
O CENTRO ESPÍRITA
1 – O que é o Centro Espírita?
É o local onde as pessoas se congregam para tratar
de assuntos relacionados com a Doutrina Espírita.
2 – Por que “Centro”?
Como ocorre com frequência na língua portuguesa,
esse termo tem vários significados. Em se tratando de
Doutrina Espírita, podemos considerá-lo sinônimo de
sociedade, expressão mais adequada, que vem sendo
usada na denominação das instituições doutrinárias
espíritas.
3 – Como poderíamos definir as atividades do Centro
Espírita?
São várias, às quais as pessoas têm acesso à medida
que se integram. Num primeiro momento o Centro
Espírita tem sido para a maior parte dos que chegam um
hospital para tratamento de males do corpo e da alma.
4 – Quais os recursos mobilizados nesse “hospital”?
Há os passes magnéticos, as entrevistas fraternas,
os trabalhos de vibração, as reuniões de desobsessão…
Considere-se, entretanto, que esses recursos são de
superfície. Cuidam de efeitos decorrentes da visão que as
pessoas têm da vida e sua maneira de viver. Para que
tenham efeito duradouro devem os interessados buscar
um segundo estágio.
5 – Qual seria?
A escola, onde frequentarão cursos de Espiritismo
para a visão objetiva dos porquês da existência e,
sobretudo, das origens de seus problemas de saúde. A
doença é sempre o espelho da alma, mostrando-nos que
algo não vai bem em nossas concepções de vida, em
nossa maneira de viver. O aprendizado espírita faculta-
nos esse entendimento.
6 – As pessoas buscam ajuda e aprendem que é preciso que
ajudem a si mesmas?
Isso é elementar em Espiritismo. Não existe um
destino pontuado, onde as coisas acontecem porque está
escrito. Vivemos num regime de causa e efeito em que
colhemos o que semeamos hoje, ontem, no ano passado,
em existências pretéritas… Se quisermos futuro
diferente devemos mudar nosso presente, buscando
comportamento compatível com a moral evangélica, que
resume os designíos divinos a nosso respeito.
7 – Hospital e escola. O que mais?
Num terceiro estágio, o Centro Espírita é
abençoada oficina de trabalho onde, pelo empenho de
servir, neutralizamos o grande mal de nossa
personalidade – o egoísmo. É a partir do comportamento
voltado para os interesses pessoais que resvalamos para
a inconsequência, a desonestidade, o vício, a
agressividade, e tudo o mais que nos compromete.
8 – E a comunhão com Deus? O Centro Espírita não funciona
também como um templo divino?
Templo é o Universo, a casa de Deus. Vivemos nela.
O Centro Espírita é a escola/oficina que nos permite,
com as iniciativas que sugere, um padrão vibratório
adequado à comunhão com o Pai Celeste. Esse programa
renovador está maravilhosamente definido por Léon
Denis, ao proclamar: Tende por templo o Universo; por
imagem, Deus; por lei, a Caridade; por altar, a
Consciência.
CONTATO COM OS ESPÍRITOS
1 – Desde quando há o intercâmbio com o Além?
Desde o aparecimento do Homem. Está em todas as
culturas. No Velho Testamento, ressalta o contato de
Saul com o Espírito Samuel, na famosa consulta à
necromante de Endor.
2 – Necromante?
Era o nome que se dava às pessoas que
conversavam com os mortos. Usava-se também a
expressão pitonisa, mulher capaz de adivinhar o futuro.
3 – Ela adivinhou o futuro de Saul?
Mais exatamente, transmitiu a manifestação do
Espírito de Samuel, que informou a Saul que ele
morreria no dia seguinte, em batalha contra os filisteus.
4 – Então o Espiritismo não trouxe novidade nesse particular?
A novidade foi a disciplina desse intercâmbio,
estabelecendo normas para que seja cultivado de forma
produtiva, favorecendo melhor entendimento a respeito
da vida no Além e da relação que há entre o plano físico
e o espiritual.
5 – Que dizer da proibição de Moisés, a ameaçar com a pena
de morte quem evocasse os mortos?
Moisés ameaçou muita gente com a pena de morte,
até mesmo os que se atreviam a realizar qualquer tarefa
no sábado, iniciativa inconcebível nos dias atuais.
Legislou para o seu tempo, para as necessidades de sua
época. Nada tem a ver com os dias atuais.
6 – Mas não era Deus quem o inspirava?
Dizer que Deus inspirava normas como cortar a
mão dos que roubacem ou condenar à morte por
apedrejamento a mulher adúltera, seria amesquinhar o
Criador. Moisés tinha o mau hábito de atribuir ao Todo-
Poderoso suas extravagâncias, a fim de que fossem
observadas.
7 – Por que Moisés proibiu o contato com os mortos?
Os judeus estavam viciados em consultar os
Espíritos, a pretexto de interesses pessoais. Ao invés de
coibir os abusos, Moisés encasquetou de suprimir o
intercâmbio. Foi um erro. Agiu como o pai que proíbe o
filho de comer porque ele se comporta mal à mesa. Seria
mais razoável ensinar-lhe boas maneiras.
8 – Ante a propagação das ideias espíritas, a teologia ortodoxa
acabará por reconhecer a possibilidade de contato com os
mortos?
Sem dúvida. Dia virá em que os teólogos
lamentarão o tempo perdido e a veemência com que
combateram esse intercâmbio. Se o exercitassem, seriam
menos especulativas, mais condizentes com a realidade.
as suas ideias a respeito da Vida Espiritual.
LITERATURA ESPÍRITA
1 – Que livro poderíamos eleger para a iniciação espírita?
A obra básica do Espiritismo, fundamental para a
iniciação adequada, é O Livro dos Espíritos. Nele
encontramos a síntese filosófica, com as questões mais
importantes relacionadas com nossa gloriosa destinação
e como fazer para chegar lá mais depressa.
2 – É regra para todos os iniciantes?
É o ideal. Impossível aprender a ler sem conhecer o
alfabeto. Impossível o conhecimento razoável do
Espiritismo sem estudar essa obra monumental, o nosso
bê-á-bá espírita.
3 – E os demais livros escritos por Allan Kardec?
Todos eles são importantes, compondo o majestoso
edifício doutrinário, mas são complementares,
desdobramentos de O Livro dos Espíritos. A Gênese
aprofunda a primeira parte; O Livro dos Médiuns, a
segunda; O Evangelho segundo o Espiritismo, a terceira;
e O Céu e o Inferno, a quarta. Em conjunto constituem o
Pentateuco Espírita, as obras básicas do Espiritismo.
4 – Poderíamos definir os demais livros de Kardec como obras
menores?
Não há nada menor na literatura kardequiana.
Todos os seus livros são importantes e merecem o
interesse dos estudiosos. Vale destacar a Revista Espírita,
que ele publicou durante dez anos, compondo valioso
painel das repercussões da Doutrina em seu tempo. Há
ali vasto material para estudo, que o próprio
Codificador aproveitaria em seus livros.
5 – Se a pessoa não está familiarizada com a leitura, ainda
assim deve começar por O Livro dos Espíritos?
Não seria recomendável. Kardec foi emérito
professor e pedagogo francês. Escreveu suas obras num
tempo em que Paris era a Cidade Luz, capital cultural do
Mundo, pelo brilho de seus intelectuais e artistas. Não
obstante o Codificador primar pela simplicidade, sua
literatura tem a marca do contexto em que estava
inserida.
6 – Há alternativas?
Sem dúvida. A literatura espírita é vastíssima.
Temos no Brasil dezenas de escritores e médiuns
psicógrafos, com milhares de livros editados, atendendo
a todos os gostos literários e a todos os graus de cultura.
7 – Nesse universo literário, como situar Francisco Cândido
Xavier?
Chico cumpriu duas funções, com seus
quatrocentos e tantos livros publicados. À maneira de
escritores contemporâneos de Kardec, suas obras
complementam a codificação. Mas foi mais longe,
situando-se como um médium revelador, com notícias
importantes sobre o Mundo Espiritual, com destaque
para a coleção André Luiz, médico desencarnado que
transmitiu livros notáveis por seu intermédio.
8 – André Luiz serve à iniciação espírita?
Não é recomendável. É preciso ter conhecimento
doutrinário para ler André Luiz, sob pena de julgarmos
fantasiosa sua contribuição. Para os iniciantes, teríamos
que atentar ao gosto e tendências literárias do leitor. Há
romances, contos, poesia, história, filosofia, ciência,
psicologia, mediunidade, Evangelho. Livrarias e
bibliotecas espíritas poderão orientar o leitor nesse
particular.
DEUS
1 – Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec aborda como
tema inicial a existência de Deus. Alguma razão especial?
Deus é a ideia primeira, a base de nossas convicções
religiosas e de nossa orientação moral. Sem um Criador
com objetivos definidos para a Criação, sem uma meta a
alcançar, a Vida perde o sentido.
2 – A existência de Deus é princípio de fé, ideia religiosa. Não
compromete a racionalidade em que se situa o
Espiritismo?
O objetivo da Doutrina é dar à crença substância
de racionalidade, como bem exprime o próprio
Codificador na máxima: Fé verdadeira é aquela que pode
encarar a razão face a face, em todas as épocas. Kardec
instituiu o princípio da fé racional.
3 – Pesquisas constatam que perto de cem por cento dos
brasileiros acreditam em Deus, na sobrevivência da alma e
nas consequências das ações humanas. Essa crença
parece não repercutir em seu comportamento. Prevalecem
mentiras, traições, adultérios, corrupção, vícios, isso sem
falar dos que se dedicam ao crime. Como explicar essa
contradição?
A crença em Deus é superficial, distante para o
homem comum. A própria noção de que há uma justiça
divina, a premiar os bons e castigar os maus, não chega a
repercutir no comportamento dos religiosos.
4 – O Espiritismo consegue superar esse descompasso entre a
crença e a vivência?
Sem dúvida. Num primeiro momento, a Doutrina
racionaliza a ideia de Deus, a partir da resposta do
mentor espiritual a Kardec, na questão número quatro:
podemos provar a existência de Deus considerando que
não há efeito sem causa. O Universo é um efeito
inteligente. Forçoso ter uma causa inteligente.
5 – E num segundo momento?
Mostra-nos de forma clara e objetiva como é a Vida
Espiritual e o que nos espera, se não atendermos à
ordem universal, disciplinando nosso comportamento.
6 – Parece não haver espaço entre os cientistas para a ideia de
um Criador. Concebem que o Universo construiu-se a si
mesmo, atendendo às leis que o regem.
Incrível que pessoas tão inteligentes desenvolvam
raciocínios tão simplistas! Se o Universo criou-se a si
mesmo, atendendo às leis que o regem, quem fez essas
leis, quem as sustenta, quem as faz funcionar? Como
dizia Tomaz de Aquino, se tudo é movimento na Vida
Universal, desde o verme que nas profundezas do solo o
fertiliza, aos mundos que se equilibram no espaço, é
imperioso conceber um motor que sustenta essa
movimentação. Por isso Voltaire, não obstante sua
irreverência proclamava: Se Deus não existisse seria
preciso inventá-lo.
7 – Como é Deus, sob o ponto de vista espírita?
O Deus mostrado pelo Espiritismo é o mesmo pai
generoso revelado por Jesus, que aponta caminhos,
acenando-nos com glorioso porvir.
8 – A tradição religiosa sugere um pai à moda de Moisés.
Misericordioso com aqueles que o obedecem, não vacila
em castigar com requintes de crueldade os desobedientes.
É assim para o Espiritismo?
Deus não castiga ninguém. O suposto castigo
divino, quando nos transviamos, é apenas a reação de
nossa consciência. Fomos programados para o Bem.
Quando praticamos o mal é como se agredíssemos a nós
mesmos, habilitando-nos a sofrimentos regeneradores.
MORTE
1 – Como o Espiritismo define a morte?
A palavra mais adequada é retorno. A morte é o
regresso à pátria, à morada espiritual, de onde viemos e
para onde iremos quando chegar a nossa hora.
2 – Se é tão simples assim, como um viajante que regressa ao
lar, por que as pessoas encaram com constrangimento a
perspectiva da própria morte ou a do familiar?
Há várias causas: o instinto de conservação; a
condição moral (gente comprometida com a indiferença
e a irresponsabilidade pressente que não será agradável
o retorno) e apego às situações transitórias. Sobretudo, a
ignorância; as pessoas temem o desconhecido.
3 – Com o espírita é diferente?
Sem dúvida. A Doutrina nos coloca em contato com
os Espíritos, não raro amigos e familiares
desencarnados. Então a morte perde aquela atmosfera
pesada, densa, escura, terrível. Prevalece a ideia do
retorno ao lar.
4 – Se há uma pátria espiritual, como situar a experiência
humana?
A Terra pode ser para nós um hospital, uma escola,
uma prisão, um albergue – depende de como vivemos, do
que pensamos, de como encaramos a existência. Em
última instância, ela atende à nossa evolução. As
limitações impostas pela carne, a inibir nossas
percepções espirituais, bem como aflições e dores
decorrentes delas, atuam como lixas grossas, que
desbastam nossas imperfeições mais grosseiras.
5 – O que seria, fundamentalmente, a Terra?
Uma escola, sem dúvida, onde colhemos
experiências redentoras que nos fazem amadurecer,
aprendendo, com os rigores da Lei de Causa e Efeito, o
que devemos ou não fazer.
6 – A morte é igual para todos?
Biologicamente, sim. Haverá o momento em que,
por causas variadas, o coração deixará de bater.
Espiritualmente, depende de outros fatores. O principal
é o grau de comprometimento do morto com a vida
física. Pessoas apegadas às situações transitórias, às
voltas com vícios e paixões, ambições e interesses
materiais, enfrentarão dificuldades.
7 – Qual a alternativa?
O cultivo da virtude, a prática do Bem, o
alargamento dos horizontes culturais, o estudo dos
porquês da existência, e, sobretudo, a reforma moral…
São valores que, segundo Jesus, as traças não roem nem
os ladrões roubam. Estarão conosco na grande jornada,
compondo precioso capital a nos garantir hotel de cinco
estrelas na Espiritualidade.
8 – O tipo de morte tem alguma influência em nossa situação
futura?
Não importa tanto como saímos da Terra. O
importante é como chegaremos ao continente espiritual.
A pessoa pode morrer num acidente de trânsito e logo se
adaptar. Outra, que morra em avançada idade, após
doença de longo curso, terá problemas, se não cultiva
comportamento disciplinado, voltado para os valores do
bem e da verdade.
ESPÍRITO
1 – Qual o significado da palavra Espírito?
Como costuma acontecer com boa parte dos
termos, na língua portuguesa, ela tem vários
significados: entidade sobrenatural, sopro criador de
Deus, princípio vital, pensamento, mente, inteligência,
tendência, fantasma, bebida alcoólica… Para o
Espiritismo, conforme está em O Livro dos Espíritos,
questão 76, são os seres inteligentes da Criação. Povoam o
Universo, fora do mundo material.
2 – Esse “fora do mundo material” significa que não estão na
Terra? Por que, então, são observados, com frequência
entre os homens?
Vivem numa dimensão espiritual que interpenetra
a nossa. Se morrêssemos neste momento, afastando-nos
do corpo, estaríamos de imediato nela, embora na crosta
terrestre, ao lado de nosso corpo. Imaginemos que
vivêssemos num mundo de duas dimensões, como ocorre
com as sombras. Se viéssemos para a terceira dimensão,
continuaríamos em contato com a segunda, observando-
a, mas não seríamos vistos por seus habitantes.
3 – Os Espíritos ficam sempre ao lado dos homens?
A dimensão espiritual, muito além do plano físico,
estende-se ao infinito. Permanecem na Terra, jungidos
aos homens, os Espíritos ainda presos às paixões e
seduções da vida material.
4 – Isso significa que à medida que o Espírito evolui, tende a
desligar-se dos laços afetivos da Terra?
Ao contrário. Quanto mais evoluído é o Espírito,
mais se estreitam os laços de afetividade. Apenas tendem
a desaparecer os impulsos passionais, o amor egoístico
que pretende controle sobre o ser amado. Aqueles que
nos amam, nos acompanham, nos inspiram, nos ajudam,
sem nada impor ou violentar nossa vontade, a espera de
que nos ajustemos às Leis Divinas, para que o
reencontro no Plano Espiritual ocorra em bases de
vitória sobre as fragilidades humanas.
5 – Qual a diferença entre Alma e Espírito?
São sinônimos. Kardec estabelece distinção. Alma
seria o Espírito encarnado. Espírito seria a alma
desencarnada. No Brasil, não pegou. Aqui dizemos
Espírito encarnado e Espírito desencarnado.
6 – Qual o objetivo de Deus ao criar Espíritos?
Bboa pergunta para fazermos ao próprio Criador,
cujos desígnios são indevassáveis para a frágil
mentalidade humana.
7 – Deus cria o Espírito no momento da concepção, como
ensinam as religiões tradicionais?
Se, conforme a questão citada, os Espíritos povoam
o Universo, fora do mundo material, forçoso admitir que
já existiam antes de sua vinda à Terra. Sua criação não
pode ser vinculada à concepção.
8 – Isso significa que nossos filhos têm uma história anterior,
que desconhecemos?
Sim, todos nós. Não é novidade. No célebre diálogo
com Nicodemos, Jesus explica que o Espírito sopra onde
quer; não sabemos de onde vem, nem para onde vai. Se
surgisse a partir da concepção, saberíamos que fora
criado naquele momento, vindo de Deus.
NASCIMENTO DOS ESPÍRITOS
1 – Como nascem os Espíritos?
Questões dessa natureza são inabordáveis para a
frágil inteligência humana. Não obstante, sabemos que o
Espírito não é criado num átimo, no momento da
concepção, como sugere a teologia ortodoxa.
2 – O ser humano nasce a partir da gestação no ventre
materno, que se estende por nove meses. E o Espírito?
Diríamos que há uma gestação no ventre da
Natureza, com prolongado estágio entre os seres
inferiores, sob orientação de técnicos da Espiritualidade
e estímulos do instinto.
3 – Isso significa que animais e vegetais têm Espírito?
Possuem um princípio espiritual. Ao perpassar de
longas eras ele cresce em complexidade, até atingir o
estágio que lhe permita exercitar a razão. Paralelamente,
conquista o livre arbítrio e passa a desdobrar suas
experiências evolutivas não mais sob o domínio dos
instintos, mas a partir de suas próprias iniciativas.
4 – Um rato, um cachorro, um inseto, uma ave, um peixe ou
qualquer vegetal, todos possuem um princípio espiritual
em evolução? E todos serão, um dia, Espíritos?
Exatamente. Não há vida sem a contraparte
espiritual. O princípio espiritual que a todos anima, será
Espírito, o ser pensante, um dia. Há unidade de vistas na
obra da Criação. Deus não admite privilégios. Estamos
todos a caminho de gloriosa destinação.
5 – Isso explica por que há indivíduos que guardam um jeito
animalizado, agressivos como um leão, covardes como
uma hiena, venenosos como uma cobra… Estagiaram por
lá há pouco?
Comportamentos assim exprimem nossa natureza
ainda mais próxima da animalidade, distante da
angelitude. Todavia, não revelam vivência recente,
porquanto a transição do princípio espiritual, a alma dos
seres inferiores, para o ser pensante, não ocorre na
Terra, mas em outros planos do Infinito, demandando
largo tempo.
6 – Há escalonamento a ser observado pelo princípio
espiritual em evolução, entre espécies e raças, no reino
vegetal e animal? Arbusto, árvore, inseto, peixe, ave,
mamíferos…
A lógica nos diz que existe essa sequência. Não
sabemos como se opera e não deve abranger todas as
espécies e todas as raças, mesmo porque, no dinamismo
da evolução, surgem e desaparecem espécies ao longo de
milhões de anos.
7 – Se o princípio espiritual passa por vários estágios nos
reinos inferiores, isso significa que ele está submetido à
reencarnação?
Sim. O princípio espiritual desdobra experiências
reencarnatórias, conduzido pelo instinto, conquistando
estágios superiores, até atingir condições para
transformar-se num Espírito.
8 – Se o princípio espiritual que anima o cachorro é imortal e
irá para a Espiritualidade quando morrer seu corpo, isso
significa que poderemos reencontrar animais de estimação,
quando partirmos para o Além?
É possível, mas não frequente, já que, conforme
está em O Livro dos Espíritos, a alma dos animais
permanece pouco tempo na Espiritualidade. É logo
reconduzida à vida física.
REENCARNAÇÃO
1 – O tema reencarnação é sempre evocado quando se fala em
Espiritismo. Trata-se de um dogma espírita?
A reencarnação não é simples princípio espírita,
nem dogma religioso. Como já comentamos, trata-se de
lei divina que orienta a evolução dos Espíritos. O
Espiritismo apenas a enuncia.
2 – Seria, então, tema de caráter científico?
Sem dúvida. Mais cedo ou mais tarde, a Ciência
comprovará que retornamos à carne muitas vezes, no
desdobramento de experiências necessárias à nossa
evolução.
3 – Se a reencarnação é lei divina, por que não foi adotada
pelas religiões?
Isso não é novidade. Princípios bem mais palpáveis,
sob o ponto de vista científico, como os movimentos de
rotação e translação da Terra foram rejeitados pelas
autoridades religiosas durante séculos. Galileu Galilei,
que acumulou provas matemáticas desses movimentos,
teve que se desdizer para não ser conduzido à fogueira,
porquanto os teólogos insistiam na tese delirante de que
a Terra seria imóvel e o centro do Universo.
4 – Qual a finalidade da reencarnação?
Promover nossa evolução. No estágio primário em
que nos encontramos, necessitamos das limitações
impostas pela carne. Elas agitam nossa alma ao mesmo
tempo em que nos habituam às disciplinas do trabalho.
A simbologia bíblica, ganhar o pão de cada dia com o
suor do rosto, é bastante sugestiva.
5 – É possível comprovar a reencarnação com os recursos da
ciência?
Como não podemos levar a alma para o
laboratório, submetendo-a a testes variados, devemos
buscar essa comprovação nas experiências de vida, com
pessoas que recordam existências passadas; regressão de
memória por hipnose ou técnicas de relaxamento,
crianças geniais, marcas de nascença… No somatório,
fatos dessa natureza evidenciam a reencarnação.
6 – Nota-se que quem não está familiarizado com a
reencarnação tem dificuldade para conceber que possa ter
sido outra pessoa. Como explicar de forma objetiva e
clara?
Imaginemos ator desempenhando sucessivos papéis
– homem, mulher, velho, criança, europeu, asiático,
branco, negro, são, doente… Mudará de trajes e de
aparência, mas será sempre ele mesmo, transvestido.
Assim é o Espírito, que assume sucessivas
personalidades, mas é sempre a mesma individualidade.
7 – A questão crucial é o esquecimento. Por que não
lembramos das existências pregressas se somos sempre a
mesma individualidade?
O esquecimento funciona em nosso benefício, por
inúmeras razões. A principal é que se lembrássemos
haveria perturbadora sobreposição de experiências. Há
pessoas que vão parar em hospitais psiquiátricos por
lembrarem da existência passada, embaralhando duas
personalidades em sua cabeça. Imaginemos se isso
ocorresse em relação a incontáveis personalidades de
vidas anteriores…
8 – De que valem as experiências reencarnatórias, se não
guardamos lembrança delas?
Guardamos seu substrato, a manifestar-se em
ideias, sentimentos, tendências e vocações. Ninguém
revela facilidade para determinada atividade por mera
influência genética. Tudo é fruto de experiências
passadas, inclusive no relacionamento afetivo e familiar.
Tendemos a reencontrar afetos e desafetos do pretérito,
a fim de consolidar afeições e desfazer aversões. Não
lembramos, mas experimentamos sentimentos fortes,
que transcendem o presente. Remontam a vivências
anteriores.
LEI DE CAUSA E EFEITO
1 – Ouve-se sempre o espírita falar em débito cármico, quando
alguém passa por determinado sofrimento. O que é o
carma?
A expressão não é espírita. Está no Hinduísmo e no
Budismo. Define as consequências de nossas ações, boas
ou más, que geram reações que nos atingem na mesma
intensidade, nesta encarnação ou nas próximas.
2 – Mas é usada no Espiritismo...
É usada pelos espíritas. Não consta da Codificação.
Mais correto falar em ação e reação ou causa e efeito.
3 – Qual é a diferença?
A expressão carma costuma ter sentido passivo. A
pessoa deve sujeitar-se aos males que lhe são impostos,
sem reagir, para fazer jus a um futuro melhor. A partir
daí temos situações lamentáveis como o sistema de castas
que vige na Índia, a consagrar a discriminação,
principalmente dos párias, a casta inferior.
4 – O pária não está pagando dívidas?
Sendo a Terra planeta de provas e expiações,
habitada por Espíritos comprometidos com o egoísmo,
podemos dizer que todos estamos em prova ou expiação,
pobres e ricos, em qualquer segmento da sociedade. A
condição social pode ser apenas contingência, como
nascer numa favela, por falta de melhor localização.
Não é pela vontade de Deus que surgem as favelas e as
castas, mas pela incúria humana. Deus cria e sustenta a
Vida. A qualidade dela é obra do Homem.
5 – Se não é cármica, essa situação pode ser modificada?
Sem dúvida! Ainda que se trate de medida
disciplinar relacionada com comprometimentos do
passado, é passível de ser amenizada a partir da
conscientização da sociedade e pelo esforço do pária em
favor de situação melhor, condizente com a dignidade
humana.
6 – Digamos que alguém tenha matado um desafeto, dando-
lhe um tiro no peito. Numa existência futura não deveria
morrer assim também, para resgate de sua dívida?
Isso apenas perpetuaria o mal, porquanto alguém
deveria fazê-lo, assumindo carma idêntico. Esse retorno
implacável, na mesma proporção, evoca a pena de talião,
o olho por olho, dente por dente, de Jeová, o sanguinário
deus mosaico, substituído pelo Deus de amor e
misericórdia, revelado por Jesus.
7 – E como fica o assassino?
Terá desajustes espirituais, decorrentes de seu ato
criminoso. Tenderão a refletir-se em seus estados físicos
e emocionais, na presente existência ou em futuras,
originando males que lhe ensinarão a superar a
agressividade. E será chamado ao compromisso de
reajustar-se com sua vítima, compensando-a pelo mal
que lhe fez.
8 – Todos estamos sujeitos a essas consequências?
Sim, mas o grau de comprometimento do criminoso
dependerá de sua capacidade em distinguir o bem do
mal, o certo do errado. Quanto maior o seu
discernimento, maior a responsabilidade.
AINDA A LEI DE CAUSA E EFEITO
1 – Nossos sofrimentos estão sempre associados ao pagamento
de dívidas contraídas em vidas anteriores?
Estão mais relacionados com nosso estilo de vida no
presente: o que comemos, o que fazemos, como
pensamos… A gordura excessiva, que sobrecarrega o
organismo, é mera consequência de um regime
alimentar desregrado, sem nenhuma vinculação com
existências passadas.
2 – O indivíduo obeso sabe que está pagando pela indisciplina
na alimentação e pelo sedentarismo, o que o ajudará a
superá-los. Quando se trate de débitos de vidas anteriores,
não seria interessante ter consciência deles para suportar
melhor suas consequências e ter estímulo para não
incorrer nos mesmos enganos?
O esquecimento do passado, como já dissemos, é
altamente benéfico. Favorece abençoado recomeço, sem
as lembranças do pretérito, a fim de que superemos
paixões e fixações que determinaram nossos fracassos.
Nem por isso deixamos de aprender as lições da mestra
Dor. Por reflexo condicionado, o criminoso que mata
alguém, e sofre as consequências, incorporará o
sentimento de que a agressividade lhe é danosa.
3 – Como saber se nossos males têm sua origem em vidas
anteriores ou se são resultantes de nosso comportamento
na vida atual?
Os males cármicos são mais entranhados e, não
raro, nos acompanham pela vida toda. A perda de um
membro, a doença crônica, a esterilidade, a grave
limitação física ou mental… Os resultantes dos maus
cuidados com nossa vida e nosso corpo desaparecem à
medida que nos tornamos mais disciplinados.
4 – É possível amenizar os rigores da Lei de Causa e Efeito?
Deus nos concede duas moedas para resgate de
nossas dívidas – a dor e o amor. Se não há amor,
aumenta a dor. Quanto mais amor, menos dor.
5 – Que amor é esse?
O amor fraterno preconizado por Jesus, que se
exprime em fazer ao próximo o bem que gostaríamos nos
fizessem. Ele cobre a multidão dos pecados, como dizia o
apóstolo Pedro em sua Primeira Epístola aos Coríntios
(4:8).
6 – Os sofrimentos e o exercício do amor promovem a
quitação de nossos débitos perante a Justiça Divina?
A quitação definitiva, que exprime a tranquilidade
de consciência, será alcançada com a reparação de
nossas faltas, compensando as vítimas pelos prejuízos
que lhes causamos.
7 – Se alguém mata seu próprio irmão para entrar na posse de
sua fortuna, como irá compensá-lo pelo mal que lhe fez?
Como se trata de alguém de seu círculo familiar,
poderá recebê-lo como filho, com o que estará lhe
restituindo a vida e os bens roubados. Ressalte-se que
estamos no terreno das possibilidades. Se a vítima for
um Espírito mais amadurecido, seguirá seus próprios
caminhos, sem necessidade do concurso daquele que o
agrediu. O ofensor também encontrará caminhos
alternativos, no esforço do Bem.
8 – As dificuldades de relacionamento no lar podem ter sua
origem na convivência de inimigos do passado, ligados
pela consangüinidade, visando a harmonização?
Os problemas de relacionamento estão associados à
inferioridade humana. Deus não reúne desafetos do
passado no lar para se amassarem, mas para se amarem,
a partir do exercício das virtudes evangélicas. Perdão,
tolerância, caridade, paciência, são remédios infalíveis,
no presente, para neutralizar a animosidade do passado.
CÉU
1 – Os antigos situavam a Terra como a parte central de céus
concêntricos que constituíam a Vida Eterna. Falava-se em
“sétimo céu” como o estágio mais alto. É mais ou menos
isso?
Embora as fantasias de que se revestiam suas
concepções teológicas, os antigos intuíam essa realidade,
hoje demonstrada pela Doutrina Espírita. Desdobra-se o
plano espiritual em vários planos, lembrando as
camadas de uma cebola.
2 – Onde fica o primeiro plano?
Na crosta. Aqui permanecem os Espíritos recém-
desencarnados ainda vinculados aos interesses humanos,
não raro inconscientes de sua nova situação, a se
imiscuírem em nossa existência.
3 – A crosta terrestre, como sabemos, está longe de ser um
céu, no sentido teológico. Está mais para inferno. E os
demais planos?
Nos livros da série Nosso Lar, psicografia de
Francisco Cândido Xavier, o Espírito André Luiz situa
as regiões adjacentes como regiões umbralinas, habitadas
por Espíritos atormentados, às voltas com desajustes e
sofrimentos decorrentes de seus desvios, durante a
jornada humana. Estagiam ali até que possam retornar
ao cadinho purificador da reencarnação.
4 – E os planos mais altos?
São habitados por Espíritos depurados, que já
superaram impulsos egoísticos que caracterizam a
Humanidade, conscientes de suas responsabilidades
perante o Criador.
5 – Todos chegaremos aos estágios mais altos?
Chegaremos e os transcenderemos, rumo aos
mundos divinos, atendendo à dinâmica da evolução.
Situemos essa jornada como a escada que nos conduz à
perfeição. Vamos galgando novos degraus, subindo
sempre, à medida de nosso esforço e de nossas
experiências.
6 – Os antigos concebiam que as almas virtuosas viveriam em
contemplação eterna, no seio de Deus. Como é a
concepção espírita?
Diz Jesus (João, 5:17): Meu Pai trabalha desde
sempre, e eu também. O Mestre deixa claro que o
trabalho é lei universal. Inconcebível, cansativo, tedioso
e desajustante o perene não fazer nada. Trabalho para
Espíritos superiores é sinônimo de bem-aventurança.
7 – E no que consiste o trabalho dos Espíritos puros e
perfeitos, que atingiram o ápice da evolução?
Tornam-se prepostos de Deus, participantes da
obra divina, integrados nos ritmos da harmonia
universal. Lembrando, ainda, Jesus, diz ele, citando o
profeta Oseias (João, 10:34): Sois deuses.
8 – O Espírito puro e perfeito iguala-se a Deus?
Jamais. Deus é o Eterno, o Onipotente, o
Onisciente. Por mais cresçamos em conhecimento,
virtude e poderes, estaremos sempre nos domínios do
relativo, diante do Absoluto, criaturas, diante do
Criador.
INFERNO E PURGATÓRIO
1 – O Espiritismo admite a existência do inferno?
Não como local geográfico. Trata-se de um estado
de consciência. Jesus dizia que o Reino de Deus está
dentro de nós. O inferno também. Depende do que
fazemos e pensamos. Não obstante, se reunirmos vários
Espíritos atormentados pela consequência de suas ações,
onde estiverem será o inferno.
2 – E quanto aos tormentos de fogo, as almas perenemente
devoradas pelas chamas, sem se consumirem?
Trata-se de interpretação ao pé da letra dos textos
evangélicos. Jesus referia-se ao fogo para representar os
sofrimentos morais das almas comprometidas com o
mal, ao retornarem à vida espiritual. Nos círculos mais
esclarecidos, em vários segmentos do Cristianismo, não
há nenhuma dúvida de que estamos diante de um
simbolismo.
3 – Os antigos situavam o inferno no interior da Terra. Há
Espíritos por lá?
Os mentores espirituais falam de regiões abismais,
habitadas por seres atormentados, em decorrência dos
crimes cometidos durante a existência. Suas penas,
entretanto, não têm caráter de perene. Ali permanecem
como doentes em tratamento de choque para que se lhes
desperte a consciência, habilitando-os à renovação.
4 – Seria o purgatório católico?
Sim. É a ideia mais compatível com a Doutrina
Espírita e com a Justiça Divina. A própria Terra,
considerada planeta de provas e expiações, habitado por
Espíritos orientados pelo egoísmo, é um purgatório.
Aqui, dores e dissabores desbastam nossas imperfeições
mais grosseiras.
5 – Esses sofrimentos são impostos pela justiça divina?
São impostos por nossa própria consciência. Fomos
programados para o Bem. O exercício do mal é uma
agressão que fazemos a nós mesmos. A partir daí, onde
estivermos levaremos o nosso purgatório, até que nos
ajustemos às leis divinas.
6 – Funciona o arrependimento?
Na Terra ou no Além, o arrependimento, a
consciência dos males que praticamos, aquele cair em si,
da maravilhosa Parábola do Filho Pródigo, contada por
Jesus, é o primeiro passo para que o Espírito deixe o
purgatório.
7 – Por que o primeiro passo? Não é isso que Deus espera de
nós?
O arrependimento é abençoada mudança de rumo
em nossos descaminhos, mas há que se retornar à
estrada principal. Isso demanda esforço de renovação,
reparação dos prejuízos causados ao próximo. Ainda na
parábola, o exemplo perfeito. Após cair em si, o filho
pródigo teve longa jornada pela frente, no retorno à casa
paterna.
8 – Digamos que o Espírito em tormentos purgatoriais, caindo
em si, reconheça-se tão miserável, tão comprometido pelos
males praticados, que não se sinta merecedor da
misericórdia divina. Não estaria justificado o tormento
eterno, não por imposição de Deus, mas por imperativo de
sua própria consciência?
Seria a negação da Onipotência Divina. Deus, o
Senhor Supremo do Universo, que nos criou para a
perfeição, revelaria lamentável incompetência se não
conseguisse demover um filho da louca ideia de
submeter-se a perene sofrimento, sem cogitar da própria
redenção. Ouvi, certa feita, culto sacerdote a admitir o
inferno irremissível como mera hipótese. Não acreditava
que alguém ficasse lá para sempre.
ANJOS
1 – Existem seres angelicais?
Em termos. A Doutrina Espírita admite, assim
como o Islamismo, o Cristianismo e o Judaísmo, que os
anjos atuam como prepostos de Deus, intermediários
entre o Céu e a Terra. Todavia, não foram criados à
parte, com privilégios de que não desfrutam os homens.
2 – Que tipo de privilégios?
Não teriam passado pelas atribulações humanas.
Teriam nascido com a plenitude do conhecimento e das
potencialidades que fariam deles seres especiais.
Semelhante ideia constitui flagrante injustiça. Por que
eles e não nós? Não somos todos filhos de Deus? Não é o
Senhor a equidade perfeita, sem preferências, sem
eleitos?
3 – E o que nos diz o Espiritismo sobre os anjos?
São irmãos nossos, Espíritos como nós, em estágios
superiores de evolução. Ao longo dos milênios sem fim
aprimoraram suas potencialidades, superaram suas
imperfeições, harmonizaram-se com o Universo,
aprenderam a vivenciar as leis divinas.
4 – Se são Espíritos como nós, mas à nossa frente na jornada
evolutiva, podemos dizer que são mais velhos, mais
experientes?
Exatamente. Poderiam até estar bem longe nos
caminhos que levam à perfeição, antes que existíssemos.
5 – E o anjo da guarda?
Mais perto de nós, na jornada evolutiva, pode ser
alguém ligado ao nosso coração, desde existências
pregressas, que se propõe a nos guiar, ajudando-nos a
superar dificuldades e limitações.
6 – Todos têm seu anjo da guarda? E aqueles que se
comprometem no vício e no crime?
Ninguém vive ao desamparo. Mesmo os piores
criminosos têm alguém que lamenta seus desvios e busca
reconduzi-los aos roteiros do Bem. O problema é que
seus tutelados comprometem-se de tal forma em
caminhos escusos que perdem a sintonia com eles.
7 – Nos momentos de dificuldade podemos apelar para nosso
anjo da guarda?
Sem dúvida. Se concentrarmos nosso pensamento
em oração, pedindo que nos ajude, estabeleceremos a
sintonia necessária, habilitando-nos a receber sua
orientação pelos condutos do pensamento. Ficaríamos
espantados se tivéssemos noção de quantas vezes
protetores espirituais se aproximam de nós, nos
momentos difíceis, buscando inspirar-nos a fazer o
melhor.
8 – Entidades angelicais, que atingiram altos estágios de
evolução, também encarnam na Terra?
Sim, e o fazem com frequência em gloriosas missões
em favor das coletividades terrestres ou para ajudar
entes queridos. No livro Renúncia, psicografia de
Francisco Cândido Xavier, temos a história de Alcione,
anjo que transitou, quase no anonimato, pelas lides
humanas, mas beneficiando todos aqueles que
gravitaram em torno de sua figura sublime. É um
romance maravilhoso e inesquecível.
DEMÔNIOS
1 – O diabo existe?
Não como força a contrapor-se ao poder divino,
devotado ao mal eterno. É apenas um filho transviado de
Deus, sujeito a leis inexoráveis de evolução que o
reconduzirão, mais cedo ou mais tarde, aos caminhos do
Bem.
2 – Segundo as tradições religiosas, os demônios são anjos
que se rebelaram desde a criação do Mundo. São tão
resistentes à renovação que insistem, perenemente, no
exercício do mal…
Assim como na Terra, temos no Além os rebeldes
sem causa, orientados pela própria imaturidade, ainda
que, não raro, de atilada inteligência. Mas não são
impermeáveis à renovação. Mais cedo ou mais tarde,
todos acabam submetendo-se às Leis Divinas, que
objetivam conduzir-nos à perfeição. Para esse glorioso
destino fomos criados por Deus, que jamais falha em
seus objetivos.
3 – Dentre os meios usados pelo Criador para converter seres
demoníacos ao Bem, inclui-se a reencarnação?
Sem dúvida. Muitos deles transitam entre nós,
ainda dominados pela rebeldia e pela ambição de
domínio, destacando-se por iniciativas que geram a
conturbação e a desordem. Adolf Hitler, Joseph Stalin,
Saddam Hussein e Slobodan Milosevic são bons exemplos.
4 – Foi inútill a experiência reencarnatória, já que
conservaram suas tendências à dominação e à maldade?
Deus não tem pressa, nem impõe sua vontade aos
filhos rebeldes. Deixa que aprendam, ao longo dos
séculos, à custa de dolorosas experiências, que o mal não
é opção inteligente na economia da Vida Eterna.
5 – O que dizer da afirmativa de que o demônio manifesta-se
no Centro Espírita?
A ignorância é sempre atrevida. Pior que ela só a
má-fé dos que têm algum conhecimento sobre o assunto
e insistem em confundir as pessoas ingênuas. Não raro,
depois de desencarnados, esses críticos manifestam-se
em nossas reuniões mediúnicas, convertidos em almas
penadas, a lamentar seus equívocos.
6 – O Espiritismo é contrário ao exorcismo?
O exorcismo parte do princípio de que estamos
lidando com representantes do mal, que devem ser
expulsos. A experiência em reuniões de intercâmbio com
o Além nos ensina que são irmãos nossos em estado de
desequilíbrio, necessitados de orientação, não de
exorcização.
7 – São sempre malévolos os propósitos de Espíritos
perturbadores?
Negativo. Não raro, lidamos com Espíritos
inconscientes de sua situação, que se aproximam de
familiares encarnados e lhes transmitem algo de suas
perplexidades, perturbando-os. Não há a intenção de
prejudicar. São como náufragos que se agarram a uma
tábua de salvação.
8 – Se são as almas dos mortos que se manifestam,
influenciando, como não o percebem aqueles que lidam
com elas, nas reuniões de exorcismo, em determinados
grupos religiosos?
Não percebem porque não se dão ao trabalho de
dialogar, procurando definir as motivações e
necessidades dessas entidades. Partem do pressuposto de
que é o demônio e tratam logo de exorcizá-lo com
palavras de ordem. Lamentável!
JESUS
1 – Quem é Jesus para o Espiritismo?
Allan Kardec define, na questão 625 de O Livro dos
Espíritos: Para o Homem, Jesus constitui o tipo da
perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na
Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e
a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do
Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm
aparecido na Terra, o Espírito Divino o animava. Está
claro: Jesus é o Mestre Maior.
2 – Jesus é Deus encarnado?
O Mestre referia-se a si mesmo como enviado,
servo de Deus. E usava, também, a expressão filho do
homem. Queria dizer que era um ser humano, um
Espírito encarnado, como todos nós.
3 – Por que, admitindo Jesus como a maior figura da
Humanidade, não está o Espiritismo ligado às religiões
cristãs?
É que não admitem possa o Espiritismo avançar
além das fantasias teológicas sobre o destino humano.
Considere-se, ainda, que todas são salvacionistas, situam-
se como portas de ingresso das almas às regiões
celestiais. A Doutrina Espírita derruba essa concepção,
explicando que nosso futuro espiritual depende de como
vivemos, não de nossa vinculação religiosa.
4 – Jesus aceitava o intercâmbio com o Além?
Não só aceitava como o exercitava. São inúmeras as
passagens em que conversa com os Espíritos, afastando
entidades perturbadoras de suas vítimas. Fala-se em
demônios, em relação a elas, mas as traduções fiéis aos
textos originais registram Espíritos impuros, definindo
melhor o fato de que são irmãos nossos, agindo no Além
de conformidade com suas imperfeições. Jesus
evidenciou esse intercâmbio nas maravilhosas
materializações diante do colégio apostólico.
5 – Os princípios evangélicos estão presentes na Doutrina
Espírita?
Estão presentes em todas as obras básicas,
particularmente em O Evangelho segundo o Espiritismo.
Nesse livro Kardec estuda a moral cristã, sob orientação
dos Espíritos que o inspiravam.
6 – Apenas a moral?
Em outras obras o Codificador estuda aspectos
variados do apostolado de Jesus – os milagres, as
predições, as curas… Em O Evangelho segundo o
Espiritismo privilegia o aspecto moral, por entender que
é o mais importante, em relação ao qual não há
controvérsias entre as religiões.
7 – Por exemplo?
Quando Jesus diz que o amor a Deus acima de
todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos resume
toda a revelação do Velho Testamento, está nos
ensinando o fundamental. Quando as religiões se unirem
em torno do amor, que se exprime em fazer ao próximo
o bem que gostaríamos nos fosse feito, estaremos às
portas do Reino de Deus.
8 – Se o amor sintetiza a revelação de Jesus, o que sintetiza o
Espiritismo?
O dever. A Doutrina evidencia ser indispensável
cultivar o amor, ao revelar as consequências das ações
humanas na Espiritualidade. Dores e amarguras
aguardam quem não estiver disposto a exercitar a
solidariedade, que é o amor atuante e empreendedor,
preconizado por Jesus.
MOISÉS
1 – Nas igrejas cristãs, em especial as chamadas pentecostais,
valoriza-se o estudo do Velho Testamento, colocado em pé
de igualdade com a trajetória de Jesus. Isso não acontece
no Espiritismo. Por quê?
O Velho Testamento é a história do povo judeu,
sem maior relevância como fundamento religioso. O
deus ali apresentado é um tirano sanguinário, que
orientava os judeus a passarem a fio de espada, em terra
inimiga, tudo o que tivesse fôlego, homens e mulheres,
velhos e crianças, sãos e doentes, animais, aves, peixes…
Bem diferente do Pai de infinito amor e misericórdia
revelado por Jesus.
2 – Não está ali “a palavra de Deus”, conforme se apregoa?
Deus não escreve livros. Os textos do Velho
Testamento englobam a tradição oral, histórias e
ensinamentos que se fixaram na memória popular ao
longo dos séculos, antes de serem organizados nos livros
que os contêm.
3 – Como situar Moisés nesse contexto?
Foi um missionário. Veio consolidar o monoteísmo,
a crença num único deus, base necessária, a fim de que a
Humanidade recebesse a primeira revelação divina: a
Justiça.
4 – Sabemos que Moisés foi um grande legislador. Há
centenas de orientações atribuídas a ele, nos livros Êxodo,
Levítico, Números e Deuteronômio. Temos nelas a
revelação da justiça?
É preciso distinguir a legislação transitória, por ele
instituída, que servia à sua época e ao seu povo, da
orientação de caráter universal e perene, contida na
Tábua dos Dez Mandamentos, que recebeu, por via
mediúnica, no Monte Sinai.
5 – Por que a revelação da justiça, se já no primeiro
mandamento há grande injustiça, quando Deus diz que se
vinga até a quarta geração daqueles que o aborrecem?
Semelhante expressão deve ser debitada à
preocupação de Moisés quanto à observância daquelas
orientações. Um pouco de medo estimularia o povo a
cumprir os mandamentos.
6 – E quanto aos demais?
Em alguns temos também o dedo de Moisés. Ele se
situou como o médium que põe algo dele mesmo no
intercâmbio. No terceiro mandamento há preocupação
excessiva com o descanso no sábado, num texto
demasiado longo; o quarto passa a equivocada ideia de
que quem não honrar pai e mãe viverá pouco.
7 – Eliminados esses equívocos, como sintetizaríamos a Tábua
dos Dez Mandamentos?
É a revelação do que não devemos fazer. Não usar o
nome de Deus em vão, não matar, não roubar, não trair,
não mentir, não cobiçar, não cometer adultério… Os
nossos direitos terminam onde começam os direitos do
próximo.
8 – Se esses princípios fossem observados eliminaríamos o mal
na Terra. Não obstante, o que se verifica é o contrário. Por
quê?
A Humanidade ainda engatinha na observância da
justiça. Crescemos intelectualmente. Moralmente,
permanecemos subdesenvolvidos, não obstante os quase
três mil anos da revelação mosaica.
MEDIUNIDADE
1 – O que significa o termo mediunidade?
Vem de médium, do latim medius, o que está no
meio ou intermediário. Na terminologia espírita,
possuem mediunidade as pessoas capazes de favorecer
fenômenos de contato com os Espíritos.
2 – Todas as pessoas possuem mediunidade?
Sim, todas as pessoas podem sofrer a influência dos
Espíritos, mas nem todas possuem essa faculdade
suficientemente apurada para transmitir seus
pensamentos.
3 – Seria uma condição orgânica?
Costuma-se dizer que os Espíritos comunicam-se
pelo pensamento. Quando encarnados, o corpo físico
situa-se como armadura a inibir suas percepções,
dificultando o contato com os desencarnados. No
médium há condição orgânica especial, ainda não
detectada pela ciência humana, que o ajuda a superar as
limitações impostas pela carne.
4 – Nota-se que as pessoas dotadas dessa sensibilidade
enfrentam, em princípio, perturbações variadas, de ordem
mental e física. Isso é normal?
Se fôssemos todos surdos congênitos, alguém que
começasse a ouvir ficaria, em princípio, perturbado por
algo desconhecido, a agitar seus ouvidos e sua mente,
com extrema dificuldade para definir sons e palavras.
5 – O que pode acontecer com pessoas que experimentam
esses fenômenos, sem a mínima noção a respeito do
assunto?
Tendem a procurar tratamento médico, sem
resultado, já que mediunidade não é doença. Trata-se de
da sensibilidade exacerbada que as faz confundir
influências espirituais com problemas físicos e mentais.
6 – Um exemplo…
Digamos que se aproxime do médium o Espírito de
familiar que faleceu vitimado por câncer no estômago.
Ele começará a sentir dores na mesma região, o que lhe
trará grandes preocupações. O médico nada descobrirá
e nenhum tratamento surtirá efeito, até que o Espírito
seja esclarecido e afastado.
7 – Isso pode ser feito no Centro Espírita?
É onde mobilizamos os melhores recursos, com
pleno entendimento do processo mediúnico e a
orientação adequada.
8 – E se a pessoa não é espírita e não quer procurar o
Espiritismo?
Se impossibilitados de levar alguém que fraturou a
perna ao centro médico especializado em ortopedia,
podemos quebrar o galho num ambulatório. O mesmo
ocorre em relação aos problemas espirituais. A Doutrina
Espírita vem numa vanguarda de esclarecimento e
ajuda, quanto aos problemas gerados pela influência dos
Espíritos. Se não há possibilidade ou interesse em
procurar o Centro Espírita, que o paciente busque
auxílio em sua igreja.
VIDA ESPIRITUAL
1 – Os relatos da Doutrina Espírita sobre a vida além-túmulo
passam a ideia de existência semelhante à Terra, com
cidades, construções, veículos, escolas, hospitais… Não
são meras fantasias?
Quem assim pensa deve informar como imagina a
Vida Espiritual. Seria diferente da Terra, sem formas,
sem nada disso? Podemos conceber que a paisagem é
diferente, mas não podemos afirmar que inexistam
paisagens.
2 – Um mundo de formas sugere a existência de matéria. A
dimensão espiritual também é feita de matéria?
Os cientistas admitem hoje a existência de
universos paralelos, em múltiplas dimensões.
Obviamente, são feitos de matéria também, em outra
faixa de vibração, inacessíveis aos sentidos humanos. O
chamado mundo espiritual ocupa uma dessas dimensões.
3 – Admitidas essas ideias, podemos conceber a existência de
cidades no Além?
Sim, com grande diferença: na Espiritualidade os
Espíritos se congregam por afinidade. Cidades como
Nosso Lar, descrita por André Luiz, no livro homônimo,
psicografia de Francisco Cândido Xavier, são habitadas
por Espíritos já conscientes de suas responsabilidades,
empenhados em cumprir as leis divinas.
4 – As cidades da Terra têm governante eleito pelo voto. Ele
forma o secretariado com pessoas ligadas ao seu partido
ou de acordo com suas conveniências. Isso também
acontece no plano espiritual?
As cidades espirituais do tipo Nosso Lar têm o
modelo que lembra os antigos ideais de um governo
aristocrático, no bom sentido, uma sociedade dirigida
pelos mais experientes e sábios.
5 – São eleitos pela população?
Não há eleições. Os governantes são nomeados por
instâncias superiores da Espiritualidade, como um
prefeito que fosse escolhido pelo governador ou um
governador empossado pela Presidência da República.
6 – Esse critério lembra as ditaduras, em que governantes são
impostos ao povo, atendendo às conveniências dos
ditadores. Isso não poderia acontecer nas cidades
espirituais?
Não, porque as nomeações obedecem ao critério do
mérito. São indicados os mais sábios e experientes, sem
favorecimentos, sem interesses pessoais, lembrando o
ensinamento evangélico: serão escolhidos os que mais
estiverem dispostos a servir.
7 – Os Espíritos mais atrasados também vivem em cidades?
Congregam-se em agrupamentos transitórios que
podem ser tomados à conta de favelas espirituais. Para
ali são atraídos Espíritos que guardam afinidade com
aquele ambiente.
8 – Também têm governantes?
Sim, na base do mais forte e astuto, semelhante aos
regimes tribais da Terra. Inteligências refinadas, mas
moralmente subdesenvolvidas, que lembram a figura
mitológica do demônio, exercem ali um domínio
transitório. Isso porque estão todos submetidos a leis
inexoráveis de evolução que, mais cedo ou mais tarde,
modificarão as disposições de governantes e governados,
convocando-os a experiências redentoras na carne.
CORPO CELESTE
1 – Se o Espírito movimenta-se e interage no Mundo
Espiritual de matéria sutil, podemos dizer que também é
feito de matéria?
Na questão 88, de O Livro dos Espíritos, está
registrado que o Espírito pode ser representado por uma
chama. Não temos informações sobre a sua constituição,
mas sabemos que se reveste de matéria etérea, veículo de
sua ação no plano onde atua.
2 – Seria um corpo espiritual?
Sim, e não é novidade. Em todas as culturas temos
referências a respeito. No budismo esotérico era
chamado de kama-rupa; Pitágoras fala em carne sutil da
alma; Leibnitz, corpo fluídico; era o corpo astral para
hermetistas e alquimistas. Kardec o chama de perispírito
(em torno do Espírito).
3 – Há alguma referência nos textos evangélicos?
Na Primeira Epístola aos Coríntios, o apóstolo Paulo
fala de um corpo celeste, com o qual o Espírito transita
no plano espiritual. Mesmo durante a vida física isso
seria possível, durante o sono. É o que dá a entender na
Segunda Epístola aos Coríntios, 12:2: Conheço um
homem em Cristo que há quatorze anos foi arrebatado até
o terceiro céu. Se no corpo, não se;, se fora do corpo, não
sei; Deus o sabe.
4 – Não diz quem foi?
Segundo Emmanuel, no livro Paulo e Estêvão,
psicografia de Francisco Cândido Xavier, seria o próprio
Paulo, que se sentiu transportado ao Além, onde se
avistou com sua noiva desencarnada, Abigail. Encontro
emocionante de influência decisiva em seu futuro.
5 – A ortodoxia religiosa baseia-se nas afirmações de Paulo
para informar que o corpo celeste seria o próprio corpo
físico, ressuscitado no juízo final e revestido de
imortalidade…
É a fantasia que poderia atender às necessidades do
passado, mas não atende à racionalidade do presente. O
próprio Paulo afirma na Primeira Epístola aos Coríntios:
Nem toda a carne é a mesma: uma é a carne dos homens,
e outra a dos animais, outra a das aves e outra a dos
peixes. E há corpos celestes e corpos terrestres. Fica
evidente que o corpo celeste não é a carne restaurada e
imortalizada.
6 – O que acontece com o perispírito quando o Espírito
reencarna?
Funciona como elo, intermediário entre o Espírito,
o ser pensante, e a carne. Por isso se diz, sob o ponto de
vista doutrinário, que o Homem é constituído de três
partes: Espírito, perispírito e corpo físico.
7 – O perispírito exerce alguma influência na formação do
corpo?
O perispírito é o chamado organizador biológico,
espécie de fôrma que modela a vestidura carnal, segundo
as necessidades e programas do Espírito, ao encarnar,
em consonância com as leis da genética, que determinam
detalhes como a estrutura física, a cor dos olhos e da
pele…
8 – Um exemplo:
Um Espírito comprometido com a violência terá
impresso em seu corpo espiritual desajuste
correspondente aos seus crimes. Ao reencarnar poderá
ter problemas neurológicos que lhe afetarão a
mobilidade dos braços, de forma a conter a tendência de
resolver suas pendências na base do bato e arrebento.
SONHOS
1 – Há quem diga que durante o sono temos contato com o
mundo espiritual. É possível?
Essa é a realidade demonstrada pela Doutrina
Espírita. Quando dormimos, podemos transitar pelo
Além. Por isso costuma-se dizer que o sono é o mergulho
na eternidade.
2 – Os sonhos são lembranças de nossas atividades no plano
espiritual, durante o sono?
Nem sempre. Diríamos que há três tipos de sonhos:
fisiológicos, psicológicos e espirituais, definindo situações
diferentes vivenciadas durante o repouso noturno.
3 – O que é o sonho fisiológico?
É aquele que dramatiza o que acontece com nosso
corpo. Se está frio e nos descobrimos, sono pesado, sem
despertar, poderemos nos ver num campo de neve,
tiritando. Pessoas com incontinência urinária sonham
que estão satisfazendo essa necessidade fisiológica,
enquanto molham a cama. Adolescentes sonham que
estão mantendo relação sexual quando experimentam
poluções noturnas, naturais em sua idade.
4 – O que é o sonho psicológico?
É aquele que exprime nossos estados íntimos. Nos
velhos tempos, quando não havia os recursos da
informática, eu passava dias e dias procurando
diferenças nas fichas gráficas de contas correntes, no
Banco do Brasil, onde trabalhava. À noite sempre me
via, durante o sono, na agência, repetindo intermináveis
verificações. Era a dramatização de meu envolvimento
com aquele problema.
5 – E o sonho espiritual?
É o resíduo de uma atividade desenvolvida pelo
Espírito, afastado do corpo durante o sono. Kardec
denomina essa situação como emancipação da alma.
6 – Como podemos saber se um sonho exprime atividade
espiritual ou se trata de simples dramatização de situações
fisiológicas ou psicológicas?
Os sonhos de caráter fisiológico ou psicológico são
fugidios, mal delineados. Os sonhos espirituais são mais
nítidos, mais claros. Guardamos melhor. E um detalhe:
geralmente são coloridos, o que não costuma ocorrer
com as demais formas, que se apresentam em branco e
preto.
7 – Há sonhos repetitivos. A pessoa se vê sempre na mesma
situação, não raro dramática. Está se afogando, ou
envolvida num incêndio, ou sofrendo um acidente. Tem a
ver com o mundo espiritual?
Chamam-se recorrentes os sonhos repetitivos.
Geralmente reportam-se a experiência dramática, em
passado próximo, na vida atual, ou remoto, em vidas
anteriores. Esses registros, sepultados no inconsciente,
podem aflorar na forma de sonhos, principalmente
quando passamos por alguma tensão ou preocupação
exacerbada.
8 – Freud concebia que, interpretando os sonhos de seus
pacientes, poderia ajudá-los a vencer traumas e desajustes.
É possível?
Freud estava no caminho certo. Faltou-lhe a crença
na imortalidade e na reencarnação para perceber que
sonhos perturbadores podem ter origem em influências
espirituais ou em reminiscências de vidas anteriores.
AINDA OS SONHOS
1 – Existem sonhos proféticos, em que a pessoa tem visões de
acontecimentos futuros?
A experiência o demonstra. A Bíblia é repositório
de fatos dessa natureza. Destaque especial para os
sonhos do faraó, interpretados por José, filho de Jacó,
sobre anos de fartura e de escassez que se aproximavam.
2 – Os sonhos do faraó falavam de sete vacas gordas e sete
vacas magras, imagem nebulosa. É assim mesmo?
Sonhos proféticos exprimem, geralmente,
intervenção de mentores espirituais. Eles não falam de
forma simbólica, mas a pessoa registra como simbolismo,
diante da dificuldade em fazer a transposição da
experiência extracorpórea para o cérebro físico.
3 – Por que isso acontece?
Nosso cérebro tem registro objetivo apenas para
experiências que passam pelos cinco sentidos – tato,
paladar, olfato, visão e audição. Essa é uma das razões
pelas quais não lembramos das existências anteriores. Ao
reencarnar, ficamos na dependência de um cérebro zero-
quilômetro, sem registros do pretérito. Guarda
semelhança com o que ocorre em relação ao nosso
trânsito no plano espiritual, durante o sono.
4 – É sempre assim?
Há exceções, pessoas dotadas de mediunidade
especial, chamada onirofania, que permite o registro
objetivo das experiências vividas no mundo espiritual
durante as horas de sono. Exemplos típicos são os sonhos
de José, pai de Jesus, que, em inúmeras oportunidades,
foi orientado durante o sono por Gabriel, mentor
espiritual de elevada hierarquia que o acompanhava.
5 – Pode não se cumprir um sonho profético?
Sim, mesmo porque, não raro, sonhos
premonitórios apenas exprimem uma fantasia
relacionada com nossas preocupações. O familiar viaja.
Apreensivos, sonhamos com um acidente.
6 – Quando ocorre legítimo sonho premonitório, fatalmente
se concretizará?
Não, necessariamente. A premonição pode apenas
exprimir o aviso da Espiritualidade para que sejamos
cuidadosos. É como se nossos mentores avisassem: “Há
problemas na estrada. Seja prudente! Vá com cuidado!”
Lembro, ainda José. Se ele não seguisse as orientações de
Gabriel, a história de Jesus ficaria limitada a alguns
dias.
7 – Há premonições que não são meros avisos, mas a
antecipação do que ocorrerá?
Sim, sinalizando situações difíceis, doenças,
problemas e até a morte. A literatura psíquica é pródiga
em exemplos dessa natureza. O presidente Lincoln
sonhou que acordava em plena noite e, dirigindo-se para
o salão principal da Casa Branca, surpreendeu-se com
um velório. Perguntou a um soldado quem era o morto.
Respondeu-lhe tratar-se do presidente, que fora
assassinado. Comparecendo a um teatro, naquele mesmo
dia, Lincoln foi morto num atentado.
8 – Há pessoas que têm horror a esses sonhos, situando-os “de
mau agouro”. Afinal, constituem um bem ou um mal?
Vêm para o bem, a fim de que a pessoa haja com
prudência no que possa ser evitado, ou se prepare para o
inevitável, com a convicção, neste caso, de que não terá
sido fruto de circunstâncias fortuitas.
FATALIDADE
1 – Os construtores do navio Titanic apregoavam: “Nem
Deus afundará nosso navio”. Deus castigou?
O despótico Jeová da tradição mosaica, que se
vinga até a quarta geração daqueles que o aborrecem,
como está no texto bíblico, é mera fantasia. Somente um
Deus antropomórfico, a refletir as fraquezas humanas,
promoveria aquela tragédia para castigar alguns
presunçosos.
2 – Se não foi Deus, quem afundou o grande navio?
Em primeiro lugar, a desonestidade. Recentes
pesquisas revelam que o aço empregado na construção
daquele gigante dos mares era quebradiço e poroso, de
qualidade inferior. Jamais poderia ser usado em
embarcação de tal porte. Deu mais lucro para os
construtores, mas irreparável prejuízo de vidas
humanas, vitimando mil, quinhentas e treze pessoas.
3 – E o que mais?
A imprudência e a incompetência. Havia a intenção
de bater o recorde de tempo na travessia do Atlântico. O
navio seguia a pleno vapor, uma temeridade num mar
gelado, minado de icebergs. Por outro lado, a desastrada
manobra do timoneiro que jogou seu frágil costado no
gigante de gelo.
4 – Não poderíamos debitar a tragédia à fatalidade?
A morte é uma fatalidade – todos morreremos! Mas
não há dia certo para morrer. Depende das
contingências geradas pelas ações humanas. Tragédias
como a do Titanic seriam evitadas se os homens agissem
sempre orientados pela prudência, à distância das
ambições e paixões que costumam inspirá-los.
5 – As pessoas que morreram no naufrágio do Titanic não
estavam pagando dívidas?
Se alguém, pela sua índole e pelos crimes que
cometeu, é remetido à prisão para condenados de alta
periculosidade, poderá ser assassinado, seviciado,
agredido, sem que isso faça parte de sua pena. O
egoísmo, motivação maior do espírito humano, nos
sujeita a residir num planeta de provas e expiações, onde
inúmeros males podem nos atingir, sem que façam parte
de nosso destino. Nós os merecemos, pelo simples fato de
estarmos aqui.
6 – Então aquelas mortes não estavam “escritas”, conforme o
maktub da tradição oriental?
Sabe-se que a maioria dos que morreram estava na
terceira classe, destinada aos passageiros de baixa renda.
Não havia barcos salva-vidas para eles. Só o mais
retrógrado e fantasioso preconceito poderá imaginar
entre os pobres a quantidade maior de pecadores,
cumprindo suposto carma. Foram vitimados pela
lamentável discriminação. Deus nos dá o dom de viver.
As condições de vida e as contingências da morte, nós as
fazemos.
7 – E como fica a ideia de que “não cai folha de uma árvore
sem ser pela vontade de Deus”, conforme ensina Jesus?
É preciso entender essa vontade como
consentimento. Não posso imaginar assassinatos e
estupros, genocídios e atrocidades cometidos pela
vontade de Deus. O Senhor da Vida consente,
permitindo-nos exercitar o livre-arbítrio, mas
responderemos por nossas ações, sempre que levarem
prejuízo ao semelhante.
8 – Isso significa que no futuro, numa Humanidade
disciplinada e moralizada, tragédias como a do Titanic não
acontecerão?
Positivo. Observemos que nos últimos anos houve
redução no número de mortes nas estradas brasileiras.
Haverá menos problemas cármicos hoje? Negativo! Esse
resultado é fruto do novo código de trânsito. Mais
rigoroso, impõe multas pesadas e sanções severas aos
infratores, disciplinando o comportamento dos
motoristas.
TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS
1 – Qual o ponto de vista espírita sobre transplante?
Ponto de vista espírita seria o que está na
Codificação, a obra de Allan Kardec. Como ele não
abordou o assunto, podemos ter a opinião dos espíritas. A
minha é favorável.
2 – A retirada de seus órgãos não poderá ocasionar problemas
para o Espírito?
A situação do Espírito, no trânsito para o Além,
depende dele próprio, de seus patrimônios morais e
culturais, não das circunstâncias de sua morte.
3 – O paciente cujos órgãos foram aproveitados para
transplante não terá repercussões em seu perispírito? Se
lhe tiraram os olhos, não poderá, por exemplo,
experimentar a cegueira no plano espiritual?
Se assim fosse, como ficaria alguém cujo corpo foi
desintegrado numa explosão? Nosso perispírito é afetado
pelo que fazemos, não pelo que fazem ao nosso corpo.
4 – Sendo indispensável retirar o órgão ainda vivo, a fim de
viabilizar o transplante, a Medicina adotou o conceito de
morte cerebral. O paciente é declarado morto, embora o
coração ainda esteja funcionando. Isso não é eutanásia?
Há apenas vida vegetativa, a morte em vida
sustentada por aparelhos. Quando forem desligados, ou
mesmo antes disso, o paciente não tardará em exalar o
último suspiro.
5 – Alguns dias ou horas a mais no corpo não o preparariam
melhor para o desencarne?
Talvez, dependendo das pessoas ao redor. Às vezes
os familiares cercam o paciente em tal onda de desespero
e inconformação que lhe impõem mais atribulações do
que as supostamente decorrentes dos procedimentos
cirúrgicos para o aproveitamento de seus órgãos.
6 – Se a retirada é feita à revelia do paciente terminal, não
poderá ele converter-se num obsessor da pessoa
beneficiada pelo transplante?
Essa fantasia daria belo filme de horror, mas não
tem nada a ver com a realidade. O aproveitamento do
órgão antecipa-se algumas horas ao banquete dos
vermes, preservando-o. Motivo maior teria o Espírito de
aborrecer-se com os nauseantes invasores que lhe
devoram o corpo inteiro.
7 – O coração é situado como a sede dos sentimentos. Isso não
poderá causar embaraços à pessoa que receba o coração
de alguém em desajuste, como um suicida, por exemplo?
O coração é uma bomba, cuja função primordial é
fazer circular o sangue no organismo. A sede dos
sentimentos está na alma, não no corpo ou em algum
órgão específico.
8 – Aos cinquenta anos um homem está no fim da existência,
com grave problema cardíaco. No entanto, recebe
coração “novo”, em transplante, e vive mais 20 anos. Não
estaria a ciência médica interferindo nos desígnios de
Deus?
A Medicina é instrumento de Deus. Suas conquistas
fazem parte do planejamento divino em favor da
longevidade da espécie humana, programada para viver
perto de um século.
ECOLOGIA
1 – Organizações não governamentais de proteção ao meio
ambiente advertem que o Homem poderá acabar com sua
própria espécie se continuar perturbando a Natureza com
seus desatinos. É possível que isso aconteça?
Está acontecendo. A poluição da atmosfera e dos
mananciais de água e do oceano, a devastação das
florestas, a dizimação de espécies animais e vegetais, são
alguns dos crimes que o Homem vem perpetrando,
incapaz de uma convivência pacífica com a Natureza. Os
resultados serão desastrosos.
2 – E onde fica Deus nessa tragédia? Não pode o Criador
conter a ambição e a estultice humanas?
Vale repetir: Deus nos dá o dom da Vida. A
qualidade de vida é fruto de nossa iniciativa. A ecologia,
que nos ensina a respeitar o meio ambiente, pode ser
considerada a ciência do bem viver. É de fundamental
importância nos ajustemos à Natureza, para que não
sejamos suprimidos por ela.
3 – E se isso acontecesse? O que seria da imensa população
encarnada e desencarnada que evolui na Terra?
Certamente Deus arranjaria outro lugar para
morarmos. Antes que isso ocorra é imperioso que
desenvolvamos uma consciência ecológica, aprendendo a
respeitar a Natureza.
4 – As religiões podem contribuir em favor dessa consciência
ecológica?
Podem e devem. O Espiritismo tem mensagem
esclarecedora a respeito do assunto, falando-nos,
inclusive, de uma ecologia espiritual, que deve merecer
nossa atenção, em favor do bem-estar humano.
5 – No que consiste essa ecologia espiritual?
Nossas ações afetam o ambiente físico. Nossos
sentimentos afetam o ambiente psíquico, com vibrações
que, em conjunto, no somatório de bilhões de Espíritos
encarnados e desencarnados, formam a atmosfera
psíquica na qual estamos mergulhados.
6 – Não é boa?
Diria que é muito ruim. Diz Emmanuel, o mentor
espiritual de Chico Xavier, que a Terra é chamada
planeta das faixas escuras, em virtude do baixo padrão
vibratório da maioria de seus habitantes, ainda mais
próximos da animalidade do que da angelitude.
7 – Seria o chamado umbral, a que se refere o Espírito André
Luiz, em seus livros?
Exatamente. Uma de suas surpresas, no Além, foi
constatar a existência dessas faixas, habitadas por
Espíritos atormentados, não preparados para a Vida
Espiritual. Os teólogos medievais intuíram a sua
existência ao falar sobre o purgatório.
8 – Como podemos contribuir para o exercício de uma
ecologia espiritual, de maneira a reduzir a densidade do
umbral e nos livrarmos de indesejável estágio por aquelas
paragens?
É só imitar cidades como Nosso Lar que, não
obstante situadas em plena zona umbralina, possuem
atmosfera psíquica livre desses miasmas mentais. Isso
porque os seus habitantes assumem o compromisso de
agir com integridade e respeito à própria consciência,
exercitando os valores do Evangelho e a disposição de
servir.
EUTANÁSIA
1 – A mídia vem abrindo grande espaço para o debate sobre a
eutanásia. Nota-se que hoje é encarada com alguma
simpatia por muita gente. Como explicar essa mudança?
É lamentável. Embora condenada por todas as
religiões, a chamada morte branda ganha espaço porque
as pessoas não estão levando a sério os princípios
religiosos. Pensa-se demais em termos de imediatismo,
sem cogitações quanto às implicações espirituais. Mesmo
países que a consideram crime, não exercitam
fiscalização rigorosa, no sentido de evitá-la. Uma dose
mais forte de anestésico e o paciente morre por falência
múltipla dos órgãos, eufemismo para esse assassinato
cometido em nome da piedade.
2 – Quais as consequências para o Espírito?
Enfrentando uma morte que não tem nada de
branda, porque é um ato de violência, o Espírito situa-se,
em estado de torpor no plano espiritual, com maior
dificuldade de adaptação. Por outro lado, estará
interrompendo o cumprimento de seu carma, porquanto
não é por acaso que enfrenta agonia prolongada.
3 – Há dois termos que entram no debate sobre a eutanásia. O
primeiro é a distanásia. Poderia falar a respeito?
Trata-se da morte lenta, com grande sofrimento. É
usado hoje para caracterizar a utilização de aparelhos
que suprem deficiências orgânicas e mantêm o paciente
vivo. Discute-se se não seria lícito desligá-los quando se
trata de paciente terminal, alguém com câncer
disseminado por exemplo, sem nenhuma possibilidade de
recuperação, em sofrida agonia.
4 – Sustentar o corpo com aparelhos não seria uma maneira
de ajudar o paciente a cumprir o seu carma?
Talvez estivéssemos apenas retardando a libertação
do prisioneiro que cumpriu sua pena, como o faz a
família, junto ao leito do moribundo, orando, vibrando,
torcendo para ele não morrer, a sustentar uma teia de
retenção. Não evita a morte; apenas prolonga a agonia.
5 – E quanto à ortotanásia?
O termo define a morte sem sofrimento. Se Deus
inspirou a descoberta de medicamentos para aliviar a
dor, eles devem ser usados no paciente terminal, em
favor de morte suave, sem tormentos para ele e para os
familiares.
6 – E como fica o carma, o pagamento das dívidas?
Dizem os mentores espirituais que todos os
sofrimentos decretados pela justiça divina são
amenizados pela divina misericórdia, quando nos
apresentamos para o resgate. Isso explica a presença dos
analgésicos.
7 – Os efeitos colaterais de drogas potentes contra a dor
podem apressar a morte. Não teríamos aqui uma
eutanásia?
Sim. Por isso é preciso usar com critério esses
medicamentos, evitando excessos passíveis de provocar a
falência dos órgãos.
8 – Essas questões são complicadas. Não seria razoável
deixar nas mãos dos médicos?
Não é aconselhável. E se eles forem favoráveis à
eutanásia? Evitando generalizações, pois cada caso tem
suas particularidades, compete à família dialogar com os
médicos, enfatizando não usarem excesso de medicação,
capaz de provocar a morte do paciente ou de recursos
tecnológicos que apenas prolonguem sua agonia. E
entregar nas mãos de Deus, cultivando confiança e
resignação, formando ambiente que favoreça a
assistência dos mentores espirituais, a definirem quando
e como se dará o desenlace.
PRÁTICA DO BEM
1 – Os espíritas revivem o trabalho da primitiva comunidade
cristã, dedicando-se a obras assistenciais. Não é pouco
para a edificação de uma sociedade melhor?
Sem dúvida, mas é um começo. Podemos não
resolver os problemas sociais, mas estamos ajudando a
criar uma mentalidade participativa, em que as pessoas
disponham-se a trabalhar pelo próximo.
2 – Jesus, há dois mil anos, já ensinava que devemos fazer ao
semelhante todo o bem que gostaríamos nos fosse feito.
Suas palavras têm motivado muita gente, ao longo dos
milênios, mas o apelo da Doutrina Espírita parece ser bem
maior, porquanto, embora numa minoria em nosso país,
os espíritas realizam significativo trabalho nesse campo. A
que atribuir esse comportamento?
Jesus nos convidava ao Bem. O Espiritismo,
descortinando ampla visão das realidades espirituais,
demonstra ser indispensável exercitemos a bondade ou
incorreremos em crimes de omissão e indiferença, pelos
quais responderemos.
3 - Não há aí ameaça velada, inspirando a adesão pelo medo?
Negativo. O Espiritismo é a doutrina da consciência
livre. Não ameaça com o inferno nem promete o Céu.
Apenas confirma que, conforme ensinava Jesus, o Céu e
o inferno são estados de consciência. E enfatiza que o
empenho de servir é a porta de acesso a estados de
consciência que nos situam em paraíso interior.
4 - O jeito é irmos todos para a periferia socorrer os pobres?
Seria pouco. Não basta determinado compromisso –
a visita a enfermos ou à favela, por exemplo. O exercício
da caridade é uma postura diante da vida, com a
convicção de que, onde estivermos poderemos ajudar o
próximo.
5 - Poderia citar alguns exemplos?
São incontáveis – a atenção ao familiar; o empenho
de preservar a paz no ambiente doméstico; o perdão
diante das ofensas; a palavra branda contrapondo-se à
agressividade; a oração por alguém em dificuldade; o
silêncio diante de fofocas que denigrem reputações; a
cooperação ativa no ambiente profissional; o esforço por
preservar a ordem e a limpeza no logradouro público; a
participação em mutirões que visam realizar
determinada obra comunitária…
6 – Considerando assim, sempre haverá um bem a exercitar,
mesmo que enfrentemos limitações?
Lembro-me de uma senhora paralítica que eu e
companheiros visitávamos, prestando-lhe assistência
material e espiritual. Com todas as suas limitações, ela
mais nos dava do que recebia, oferecendo eloquente
exemplo de coragem e otimismo. Enfrentava sua
provação sempre alegre, risonha e corajosa. Quando nos
despedíamos, seu Deus os abençoe iluminava nosso dia.
7 – No fundo ela fazia bem a si mesma?
Sim. Não estava apenas resgatando o passado. Com
sua atitude construía glorioso futuro. Não apenas
depurava o Espírito. Dava-lhe brilho e luz.
8 - Também podemos exercitar o bem em favor de nosso
corpo?
É imperioso o façamos. O corpo é uma máquina.
Deus o empresta para nossas experiências na carne.
Responderemos por todos os prejuízos que lhe
causarmos. Costumamos imaginar a enfermidade como
problema cármico. Nem sempre isso ocorre. Os
problemas do corpo são decorrentes, não raro, de mau
uso – ausência de exercícios, comportamento
indisciplinado, vícios, gula e, sobretudo, a pressão
violenta exercida sobre ele quando nos deixamos
dominar por irritação, ressentimento, mágoa, rancor,
impaciência e outros sentimentos próprios de nossa
imaturidade.
VÍCIOS
1 – Há algum componente espiritual em vícios como o álcool,
o fumo, as drogas?
Sem dúvida. Os viciados de lá sempre procuram
viciados de cá para se satisfazerem.
2 – O viciado desencarnado continua sob o domínio do vício?
O vício atinge também o corpo espiritual, o
perispírito. Como no Além não há as substâncias de que
é dependente, o viciado desencarnado liga-se aos viciados
encarnados, a fim de que, por associação psíquica, possa
satisfazer-se.
3 - O encarnado atuaria como médium para satisfazer o
Espírito?
Exatamente. Seria um transe mediúnico às avessas.
Ao invés de o médium captar as impressões do Espírito,
este capta as sensações do viciado. Em perfeita simbiose,
fumam, bebem, consomem drogas…
4 - Considerando essa pressão, podemos dizer que há
indivíduos que caem no vício em virtude de assédio
espiritual?
Os Espíritos não impõem o vício. Apenas exploram
o viciado.
5 - A experiência demonstra que poucos vencem o vício. Isso
não seria decorrente da pressão espiritual?
Ela é apenas um dos fatores. O problema maior é
que raramente o viciado reconhece seu envolvimento.
Engana a si próprio e acaba regressando ao plano
espiritual na condição de suicida inconsciente, alguém
que nunca tomou consciência de que estava se matando.
6 - Vai ser outro obsessor?
É possível. Isso apenas ampliará seus
comprometimentos diante das Leis Divinas, o que
resultará em penosas experiências de resgate e reajuste.
7 - Como será?
Poderá reencarnar com graves limitações físicas e
mentais, reflexos dos comprometimentos perispirituais
provocados pelo vício. Atuarão como elementos de
reajuste e, ao mesmo tempo, o impedirão de reincidir nos
mesmos desvios.
8 - O que deve fazer o alcoólatra que deseja livrar-se do vício?
Em primeiro lugar, não se isolar. Reconhecer que
precisa de ajuda. No Centro Espírita há recursos
importantes, em reuniões de atendimento fraterno,
fluidoterapia, esclarecimento, desobsessão... Participar
de grupos de apoio como os Alcoólicos Anônimos,
benemérita organização internacional que oferece
inestimável ajuda aos dependentes do álcool. Evitar a
ociosidade. A compulsão para o vício chega mais forte na
hora vazia. Trabalhar em favor do semelhante. Quando
nos empenhamos no Bem, as sugestões do mal não nos
atingem. E dispor-se a enfrentar com coragem e fé as
primeiras semanas de abstenção, as mais difíceis e
decisivas.
ABORTO
1 – Há uma tendência, na legislação humana, de permitir o
aborto em casos de estupro ou grave risco de vida para a
gestante. Qual o ponto de vista espírita?
A posição espírita está bem definida na questão
359, de O Livro dos Espíritos. Só se justifica o aborto na
segunda situação. Ao tempo de Kardec, ocorria, não
raro, no momento do nascimento. Por problemas
variados, a criança não nascia. Morreriam mãe e filho.
Então, o médico optava por salvar a mãe, sacrificando a
criança. Hoje isso não aconteceria. A cesariana
resolveria o assunto. Mesmo em casos de grave
cardiopatia, é possível levar a gestação até o fim, com
cuidados médicos especializados.
2 – Considerando a tendência mundial de deixar a mulher
decidir, diante da gravidez indesejada, não seria correto a
revisão dos postulados espíritas nesse sentido, iniciativa
que o próprio Kardec admitia?
Kardec admitia que a Doutrina é dinâmica. Deve
acompanhar o progresso da Ciência e a evolução
humana. Jamais, entretanto, proclamou que deveríamos
mudar a postura espírita de respeito à Vida.
3 – Não seria admissível o aborto em casos de estupro,
considerando que a concepção foi resultante de um ato de
violência contra a mulher?
Um crime não justifica outro. A agressão sexual
que sofreu não outorga à mulher o direito de exercitar
violência mais grave e comprometedora – um assassinato
intrauterino.
4 – Não seria impor uma carga psicológica que nem sempre a
vítima está em condições de suportar? Há mulheres
estupradas que não conseguem sequer conceber que
asilam um filho no seio. Referem-se a ele como uma
“coisa” ou um “monstro”.
Não é fácil. Não obstante, em seu próprio benefício,
deveria evitar a comprometedora iniciativa, corrigindo
sua postura. Não traz dentro de si uma coisa ou um
monstro. Trata-se de um filho de Deus, irmão nosso,
iniciando uma nova experiência na carne. Pelo menos
conceda ao reencarnante a bênção do nascimento. Se não
quiser ficar com ele, entregue-o à adoção. Há casais que
receberiam de bom grado um recém-nascido, sem
necessidade de conhecer a mãe ou as circunstâncias de
seu nascimento.
5 – Hoje, exames sofisticados permitem detectar graves
deficiências físicas na criança, em pleno seio materno.
Não seria benéfico o aborto, evitando problemas para
ambos?
Sim, se eliminarmos a ideia de Deus e adotarmos a
postura de Hitler que, a pretexto de favorecer uma raça
ariana forte e saudável, recomendava a eliminação dos
recém-nascidos nessas condições.
6 – E numa situação mais drástica? O exame revela que a
criança sofre de anencefalia, falta de cérebro. Nascerá
morta ou morrerá em seguida…
Admitindo a presença de Deus e a existência de um
reencarnante, com a carga de seus compromissos e
débitos, que originaram a má-formação, não há como se
justificar o aborto, a não ser que essa situação represente
grave risco para a gestante.
7 – Quais são as consequências do aborto para a mulher?
Ela agride o perispírito com o ato de violência
contra si mesma, contrariando a Natureza. Terá lesões
perispirituais que se refletirão no corpo, nesta existência
ou numa próxima, gerando problemas como fibromas,
tumores, esterilidade, frigidez, depressão… A extensão
dessas consequências dependerá do grau de
envolvimento da gestante. A jovem de doze anos,
obrigada pelos pais a submeter-se ao aborto, terá
consequências brandas. Já a mulher adulta, consciente
do que é o aborto, estará mais comprometida.
8 – Há mulheres que se apavoram ao tomar conhecimento das
consequências do aborto, por tê-lo praticado. Haverá
condições para minimizar seus males?
Que tenham outros filhos ou os adotem. Se não for
possível, dediquem-se a crianças carentes. Simão Pedro
diz em sua epístola universal, lembrando o ensinamento
de Jesus, que o amor cobre a multidão dos pecados.
PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS
1 – O Espiritismo aceita a existência de vida fora da Terra?
Antes que a ciência humana e as religiões
tradicionais admitissem essa possibilidade, revelaram os
Espíritos, na questão 55, de O Livro dos Espíritos, que
são habitados todos os mundos que giram no espaço e
que a Terra está longe de ser o único planeta a abrigar
vida inteligente.
2 – Não há exagero nessa afirmativa? Tomando por base
nosso sistema solar, está demonstrado que apenas a Terra
guarda condições para a vida…
Se assim for sob o ponto de vista biológico – essa
concepção não é definitiva –, consideremos a vida
espiritual. Todos os mundos são habitados por Espíritos,
na dimensão extrafísica, constituindo populações
situadas em variados estágios de evolução.
3 – Diríamos, então, que Marte, Júpiter, Saturno e os demais
planetas de nosso sistema são habitados por Espíritos?
Pode parecer estranha essa ideia, mas mais
estranho seria imaginar que Deus houvesse criado
miríades de mundos, apenas para enfeitar o Universo ou
para contemplação do Homem, como imaginavam os
teólogos na antiguidade.
4 – Há, na Terra, Espíritos originários de outros planetas do
sistema solar?
Certamente. Há os Espíritos que chegam e os que
partem, atendendo à dinâmica da evolução e ao salutar
intercâmbio entre mundos.
5 – As obras de ficção científica abordam com frequência a
possibilidade de a Terra ser invadida dia por alienígenas.
Isso poderia acontecer?
Se recebermos a visita de seres extraterrestres, suas
intenções não serão belicosas. A tecnologia necessária
para vencer as grandes distâncias e os problemas
decorrentes, somente será alcançada por civilizações em
alto estágio de desenvolvimento intelectual, o que se fará
acompanhar pelo desenvolvimento moral. Banida estará
dessas civilizações a ambição de poder e domínio que
caracterizam a inferioridade humana.
6 – E quanto à aparência? Seriam monstruosos, como
costuma situar a ficção científica?
A beleza obedece a padrões de simetria e estética
universais. Seres mais evoluídos terão harmonia de
formas, belos, ao olhar humano, ainda que diferentes.
Temos exemplo típico na comparação entre os
hominídeos que viveram há duzentos mil anos e o
homem de hoje.
7 – Há um grande movimento científico, na atualidade, em
vários países, visando estabelecer contato com seres de
outros mundos por meio da radioastronomia, que capta as
ondas hertzianas. Acontecerá?
Sem dúvida. Mais cedo ou mais tarde, os grandes
radiotelescópios captarão transmissões de outros
mundos. Mas não pensemos em diálogos. Considerando
que a velocidade limite do Universo é trezentos mil
quilômetros por segundo, e que planetas com vida
inteligente situam-se a trilhões de quilômetros, uma
simples troca de mensagens demandaria décadas ou
séculos anos para se consumar.
8 – O Espiritismo teria contribuição a respeito do assunto,
favorecendo contatos extraterrestres?
Segundo Emmanuel, no livro A Caminho da Luz,
psicografado por Francisco Cândido Xavier, há um
planeta do sistema Capela, na constelação de Cocheiro, a
quarenta e dois anos-luz da Terra, habitado por
civilização capaz de nos enviar mensagens, via rádio. O
difícil é convencer os cientistas de que não se trata de
mera fantasia e que deveriam apontar seus
radiotelescópios naquela direção.
SUICÍDIO
1 – Em circunstâncias adversas, o suicídio é a saída para
muita gente. O que diz o Espiritismo?
Nenhuma religião admite o suicídio. Essa
unanimidade evidencia tratar-se de decisão infeliz,
contrária às leis divinas. O Espiritismo corrobora essa
ideia. Em qualquer tipo de morte podemos dizer que se
cumpriram os desígnios divinos. No suicídio, não. Deus
não quer que ninguém elimine a própria vida.
2 – Fundamentalistas islâmicos vêm se matando, explodindo
como bombas humanas, levando consigo muita gente. E se
dizem religiosos...
Não conheço nenhum princípio islâmico que
recomende o suicídio ou o assassinato. Os que o fazem
são fanáticos movidos pelo ódio, negação da
religiosidade, e por total ignorância quanto às
consequências do suicídio.
3 – Quais são?
Todo ato de violência que cometemos contra nós
mesmos, ferindo ou aniquilando o corpo, atinge o
perispírito, nosso corpo espiritual. Em lamentável
destrambelho, os suicidas são confinados em regiões de
tormentos indescritíveis que, segundo eles próprios, não
têm similar na Terra.
4 – Todos sofrem na mesma intensidade?
Depende do tipo de suicídio, das circunstâncias
agravantes, como é o caso dos homens-bomba, ou
atenuantes, como depressão grave, desequilíbrio
mental…
5 – A obsessão é circunstância atenuante?
Sem dúvida. Há suicídios que se afiguram como
verdadeiros assassinatos, cometidos por inimigos
desencarnados. Influenciam de tal forma a vítima que a
induzem a matar-se.
6 – Nesse caso o suicida isenta-se de responsabilidade?
Negativo! Sempre há responsabilidade no ato do
suicídio. Nenhum obsessor nos obriga ao suicídio. Ele
nos induz. A decisão é sempre nossa. Mesmo nos casos
de subjugação, em que o obsessor domina a vítima, esta
tem o instinto de conservação a seu lado e tenderá a
resistir, a não ser que a ideia a seduza.
7 – Em incêndios de edifícios tem ocorrido de pessoas presas
em andares superiores saltarem para a morte, ante a
proximidade das chamas. É suicídio?
É apenas um gesto instintivo de fuga. O calor, nessa
situação, é tão intenso que, literalmente, pode derreter a
vítima.
8 – O que podemos fazer pelos suicidas?
Esquecer as circunstâncias de sua morte. Deixar de
lembrar deles morrendo em decorrência da
autoagressão. Pensar neles vivos, no mundo espiritual, e
orar por eles. Dizem os suicidas que as orações em seu
benefício constituem abençoado refrigério para suas
almas.
PENA DE MORTE
1 – O Espiritismo é favorável à pena de morte?
É frontalmente contrário. Lembrando Jesus, os
doentes devem ser medicados, não eliminados.
2 – Se assim é, por que Moisés instituiu a pena de morte para
determinados crimes?
Nos mandamentos da Tábua da Lei, recebida pelo
próprio Moisés, no Monte Sinai, base da justiça humana,
está registrado que não é lícito ao homem matar o
semelhante. Ao instituir a pena de morte, ele sobrepôs
sua vontade aos desígnios divinos, num lamentável
exemplo do faça como falo, não como faço.
3 – A pena de morte não pode funcionar como medida
extrema de contenção da criminalidade?
A experiência demonstra que onde ela é instituída
não há redução nos índices de criminalidade. A razão é
simples: nenhum criminoso cogita da possibilidade de
ser preso. Sente-se sempre mais esperto do que os
representantes da lei.
4 – De qualquer forma não teríamos um criminoso a menos?
Pura ilusão. O criminoso executado ganha o
benefício da invisibilidade e passa a assediar pessoas
com tendência à criminalidade, ampliando-a.
5 – Mas o criminoso executado não é confinado em regiões
purgatoriais, a distância das cogitações humanas?
As regiões purgatoriais começam na crosta
terrestre. Em princípio ele tende a ficar por aqui,
envolvido com suas paixões e vícios, ligando-se a pessoas
que guardam suas mesmas tendências, exacerbando-as.
6 – Esses criminosos desencarnados também formam grupos
no Além?
Sim, atendendo às suas tendências. Causam
estragos nas pessoas dominadas por vícios e mazelas,
vulneráveis à sua influência.
7 – Enquanto encarnados, sua motivação era o dinheiro? E
quando desencarnados?
O exercício do poder, o prazer em dominar, o
espírito de vingança e, também, o atendimento de suas
viciações.
8 – Em relação aos criminosos encarnados, trancamos nossas
casas e nos cercamos de medidas de prevenção. E quanto
aos desencarnados?
Seria fechar nossa casa mental às suas investidas,
cultivando os valores do Bem e da Verdade, definidos
por Jesus em suas lições. Toda influência espiritual
relaciona-se com o fator sintonia. Se sintonizarmos com
os bons, os maus não terão acesso à nossa Alma.
PLANEJAMENTO FAMILIAR
1 – É lícito o planejamento familiar, o casal definir quantos
filhos deseja?
Quem cuidará deles? Quem os sustentará,
alimentará, protegerá, medicará, orientará, educará?
Então, se os pais assumem tão sérios compromissos,
guardam o direito de decidir quantos serão os seus
filhos.
2 – Não devemos deixar que Deus decida?
Quando conquistamos a inteligência, Deus
concedeu-nos o livre arbítrio, a liberdade de decidir
quanto à nossa vida. Isso inclui a prole. É assim que
crescemos para a responsabilidade. Deixar que venham
filhos à vontade, sem depois cuidar deles, como acontece
com casais menos esclarecidos, está longe de representar
o cumprimento da vontade de Deus.
3 – Aprendemos com a Doutrina Espírita que muitas vezes a
família é planejada na Espiritualidade. O casal que limita
a natalidade não corre o risco de estar negligenciando
seus deveres?
Colocaríamos melhor a questão dizendo que
algumas vezes esse planejamento é feito, porquanto
poucos Espíritos revelam, ao reencarnar, suficiente
maturidade para assumir tal compromisso. Se há o
planejamento, o casal tende a observá-lo. Reencarna
com essa ideia. Ambos, por intuição, desejam
determinado número de filhos, e acabam por consumar
o que foi planejado.
4 – E se o casal resolver limitar a natalidade, aquém do que
foi planejado?
Pode acontecer. Nossa visão no mundo espiritual é
mais ampla e esclarecida. Do outro lado identificamos
melhor nossas necessidades. Aqui, de percepções
bloqueadas pela armadura física, temos visão limitada e,
inspirados pelo egoísmo, nem sempre cumprimos nossos
compromissos.
5 – O casal planejou, ao reencarnar, receber determinados
Espíritos como filhos. Se não o faz, o que acontece com
eles?
Depende de sua condição evolutiva. Espíritos mais
esclarecidos irão cuidar da vida. Desafetos, que viriam
para harmonizar-se com os pais, podem persegui-los.
Amigos carentes, em estado de desequilíbrio, que
deveriam reajustar-se na nova existência física, podem
vincular-se ao lar, agindo como almas penadas a
perturbá-los.
6 – Nos países subdesenvolvidos a prole é numerosa. Os
pobres são mais fiéis ao planejamento espiritual?
Não se trata de fidelidade ao planejamento, mas da
incapacidade para planejar, decorrente da própria
condição cultural. Os nascimentos em lares assim
obedecem à Natureza. Espíritos vinculados ao psiquismo
do casal são atraídos à reencarnação pelo campo
vibratório formado na comunhão carnal.
7 – Não há interferência da Espiritualidade?
Um evento tão importante como a reencarnação
jamais ocorre sem a assistência de mentores espirituais.
Podem até favorecer que determinado Espírito seja
conduzido àquele lar, num planejamento sumário.
8 – Nota-se que, à medida que a população evolui no terreno
cultural e econômico, há uma tendência para a limitação
da natalidade. Isso não representa um “fechar de portas”
aos Espíritos que precisam reencarnar?
Há excessos. Casais com maior poder aquisitivo
podem não querer compromissos dessa natureza, a fim
de gozar a vida. A virtude está no meio. Nem
despreocupação com a quantidade de filhos, nem
limitação excessiva. Nem porta escancarada, nem porta
trancada antes da hora. Os filhos dão trabalho e
preocupações, mas oferecem, também, significado e
objetivo à existência, contribuindo para a mudança de
pessoa na conjugação do verbo de nossas ações. Da
primeira do singular – eu, sob orientação do egoísmo,
para a primeira do plural – nós, iniciando-nos nos
domínios abençoados da fraternidade.
REINO DE DEUS
1 – As religiões tradicionais proclamam que o terceiro milênio
será marcado pelo advento do Reino de Deus, quando as
coletividades terrestres se habilitarão à vivência plena do
Evangelho. Há tempo certo para isso?
Um milênio tem mil anos. Não há data marcada.
Talvez aconteça nos próximos séculos.
2 – Por que essa imprecisão?
O Reino de Deus será edificado quando superarmos
o egoísmo, característica fundamental do comportamento
humano, que faz da Terra um Mundo de Provas e
Expiações. Aprendendo a exercitar o altruísmo,
favoreceremos a promoção de nosso planeta a Mundo de
Rregeneração. Semelhante conquista não está
subordinada a decretos divinos. Depende de nós.
3 – O que será fundamental em favor desse advento?
Sem dúvida, a educação. O Espiritismo situa-se
numa vanguarda, nesse particular. À medida que as
coletividades terrestres assimilarem noções sobre a
imortalidade, com o conhecimento claro e objetivo do que
vai nos acontecer na vida espiritual, em decorrência de
nosso comportamento, decisivas transformações
acontecerão.
4 – Será a religião do futuro?
Mais correto dizer que será o futuro das religiões,
como afirmava Léon Denis, notável escritor espírita. Seus
princípios, que exprimem leis divinas, serão assimilados
por todos os movimentos religiosos.
5 – E a ciência?
Será a primeira a admitir a legitimidade dos
princípios espíritas, a começar pela reencarnação. Há
muitas pesquisas em torno do assunto, apontando para as
vidas sucessivas. O reconhecimento oficial operará uma
revolução no campo das ideias, semelhante àquelas
promovidas por Galileu, com a teoria heliocêntrica, e por
Darwin, com a teoria evolucionista.
6 – O Reino de Deus parece ainda distante, tendo em vista o
mal que há no Mundo…
Temos entre nós a minoria barulhenta, Espíritos
recalcitrantes, que insistem em ignorar os valores do
Bem, dominados pelos impulsos egocêntricos. Estes,
quando chegar a hora deixarão o planeta. Serão
degredados para mundos inferiores, onde as limitações
maiores trabalharão como lixas grossas, a desbastarem
sua impertinência.
7 – Teríamos a prometida separação do joio e do trigo, dos
bodes e das ovelhas, da expressão evangélica?
Sem dúvida. Quando nos habilitarmos à vivência
dos princípios cristãos, estaremos próximos da Nova Era,
marcada pelo afastamento daqueles que não se
enquadrarem.
8 – Um milênio será suficiente para vencer o egoísmo?
Creio que sim. Vamos atingindo um estágio de
desenvolvimento mental e intelectual que nos habilitará a
admitir quão imperiosa é essa transformação. Como dizia
o apóstolo Paulo (I Coríntios, 13:11), …quando eu era
menino, falava como menino, pensava como menino,
raciocinava como menino. Mas, logo que cheguei a ser
homem, acabei com as coisas de menino. Já não somos
meninos. É tempo de assumir nossas responsabilidades.
top related