especial comprar acoes petrobras
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É A HORA OU NÃO É DE COMPRAR AÇÕES DA PETROBRAS?
"O petróleo é nosso!". Pouco mais de 60 anos atrás, em 1953, a Petrobras nascia no embalo
dessa campanha, em meio ao ápice do nacionalismo brasileiro registrado durante o governo de
Getúlio Vargas. A nova empresa era vista como o símbolo da independência do Brasil que, para
muitos, só poderia ser alcançada com a exploração do petróleo brasileiro.
Os anos se passaram e muitas transformações aconteceram por aqui. Mas algo permaneceu
o mesmo ao longo destas décadas: a expectativa de que a Petrobras seria a solução de boa parte
dos problemas do Brasil, principalmente daqueles que travam o desenvolvimento da sociedade. Um
dos momentos de maior euforia foi em 2007, quando houve a descoberta do présal, algo que foi
classificado pelo expresidente. O então presidente Lula chegou a dizer, na época, que o "Brasil
ganhou na loteria".
Os bilhões de barris de petróleo descobertos na camada profunda de rocha salina da costa
brasileira se reverteram em esperanças de dias melhores para o Brasil e, claro, também para a
Petrobras a expectativa era de que 100% dos royalties do présal iriam para a educação, o que
impulsionaria o "futuro do País". Poucos anos depois, contudo, o cenário de euforia foi substituído
por um ambiente de desalento: a produção da Petrobras enfrenta desafios ao mesmo tempo em que
ela enfrenta uma forte crise de credibilidade, com a sua dívida conquistando o posto de maior do
mundo e com o mercado cada vez mais reticente com a ingerência política acima do normal que a
empresa sofre.
Além disso, a Operação Lava Jato deflagrou que o "buraco" realmente era muito mais
embaixo: diretores e políticos se envolveram em um grande esquema para conseguir dinheiro de
propina através de contratos pela estatal, num esquema que, segundo procuradores, pode ter
gerado perdas de até R$ 20 bilhões para a petroleira.
A consequência disso tudo tem sido clara: as ações da Petrobras acumulam duras perdas ao
longo dos últimos anos: de 2010 pra cá, ela perdeu cerca de 70% de valor de mercado, muito além
da queda registrada pelo Ibovespa no período em torno de 30%. E essa queda é justamente o que
tem feito muitos leitores nos perguntarem se chegou a hora de comprar ações da Petrobras com
foco no longo prazo, por acreditarem que a empresa já ficou muito barata e assim que esse inferno
astral acabar, ela pode alcançar uma forte valorização.
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Afinal, será que essa tese de investimento isso faz sentido?
Dada a tamanha complexidade do assunto, o InfoMoney elaborou um um relatório super
completo sobre a Petrobras. Tratase de um ebook contando toda a tese de investimento da
empresa, quais são os maiores desafios que ela enfrenta e quais que ela pode controlar ou não ,
quais as estimativas para suas principais variáveis (política e petróleo, por exemplo) e quais as
análises sobre o que esperar para a estatal, tanto do ponto de vista da análise fundamentalista
quanto da análise técnica.
Com base em um consenso de diversas análises, o cenário que se aponta é de que, apesar
das fortes quedas, a Petrobras não apresenta uma relação riscoretorno satisfatória no curto prazo,
por conta do cenário de incertezas que rondam a estatal. Além do alto endividamento e da pressão
para que participe de diversos projetos, a queda do preço do petróleo podendo afetar a viabilidade
do présal e as dúvidas sobre a governança corporativa da companhia, há outro fator que joga
contra a estatal: a Operação Lava Jato, que ninguém sabe ao certo por quanto tempo e quantas
empresas serão atingidas, devem seguir como um fator imponderável para as ações da companhia.
Contudo, para um longo horizonte de investimento, a companhia pode se tornar uma boa opção
caso a empresa consiga “sobreviver” às turbulências de curto prazo e consiga reverter seus
problemas de dívida e geração de caixa. Porém, é difícil saber o quanto durará o “curto prazo” da
estatal.
Autores do relatório:
Thiago Salomão, CNPIT
Lara Rizério
Paula Barra
Rodrigo Umpieres
Ricardo Sousa
Marcos Mortari
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Sumário:
1. Tese de Investimento pág. 5
2. Análise fundamentalista de PETR4 pág. 7
3. Análise técnica de PETR4 pág. 9
4. Os impactos do petróleo pág. 10
5. Os efeitos da valorização do dólar pág. 12
6. Dívida pág. 14
7. Reajuste de combustíveis pág. 16
8. Governança Corporativa pág. 16
9. Política no olho do furacão pág. 18
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1. Tese de investimento:
A Petrobras está no centro de uma verdadeira tempestade nos últimos meses, e precisa de
uma forte combinação de catalisadores positivos para reconstruir seu nome no mercado. O
desempenho das ações em Bolsa tem sido bastante insatisfatório nos últimos anos (queda de 74%
desde 2010, bem acima de outras blue chips da bolsa e do próprio Ibovespa, que caiu 32% no
mesmo período) e mesmo assim os analistas mostramse bastante resistentes em recomendar a
compra dos papéis da empresa. Segundo dados compilados pela Bloomberg, das 13 casas de
análise que fazem a cobertura da petrolífera, apenas 2 recomendam a compra das ações. 8 delas
têm recomendação neutra e outras 2 sugerem a venda do ativo uma casa está com a
recomendação em revisão.
Há pouco mais de uma década a companhia conseguiu emergir com as descobertas do
présal, se tornando um modelo para empresas similares na América Latina, África e Ásia.
Infelizmente, a empresa falhou em suas estratégias e encontrase hoje no maior esquema de
corrupção da história brasileira, com prejuízo com corrupção podendo superar os R$ 20 bilhões.
A companhia já perdeu seu grau de investimento e é, hoje, a mais endividada dentre as 10
maiores petrolíferas do mundo em valor de mercado, com uma dívida líquida atual somando US$
106,23 bilhões. Isso torna a Petrobras o case mais alavancado dentre essas companhias. A dívida
líquida sobre o Ebitda da empresa, que mensura em quantos anos sua geração de caixa vai pagar
seu endividamento líquido, bate em 4,78 vezes – com estimativas de que atinja 5,03 vezes ao final
de 2015. Para se ter uma ideia, a segunda petrolífera mais alavancada nesse ranking, a China
Petroleum & Chemical, tem esse indicador em 1,34 vez.
Para ajudar a construir o case tumultuado que se tornou a empresa, seu principal produto, o
petróleo, acumula desvalorização de mais de 50% em relação à metade de 2014 e as perspectivas
não são muito favoráveis para o preço do barril da commodity. Somase a isso a deterioração da
economia brasileira, que culminou em um ambiente político no mínimo conturbado, o que vem
resultando em uma forte desvalorização do real frente a importantes moedas internacionais, como o
dólar.
Fora os óbvios impactos dos preços do petróleo sobre a empresa, assim como os já
mencionados efeitos do câmbio sobre endividamento da empresa (70% em dólar), a desvalorização
do real também traz incertezas sobre um dos grandes trunfos da empresa, sua exploração no
présal. Há quem admita que o preço atual o petróleo torna o présal inviável – uma cotação de
equilíbrio estimada seria algo em US$ 55 o barril (cerca de 10% abaixo dos valores atuais). No plano
de negócios da companhia, atualizado em outubro, ela usa uma projeção de petróleo a US$ 54 e
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dólar a US$ 3,28 em 2015 para fazer frente aos seus investimentos de US$ 25 bilhões em 2015 e
gastos operacionais gerenciáveis em US$ 29 bilhões.
Estimativas de investimentos que foram revisadas em outubro pela empresa, mas que ainda
assim trazem apreensão ao mercado, já que a companhia precisa, em contrapartida, conseguir
concretizar um robusto plano de venda de ativos, em meio a condições macroeconômicas e da
indústria nada favoráveis. Pelas projeções do Morgan Stanely que recentemente cortou o
preçoalvo dos ADRs da estatal para US$ 4,00 , a Petrobras tem caixa suficiente para cobrir suas
necessidades apenas pelos próximos seis trimestres.
Em meio a isso, a Petrobras enfrenta uma rápida deterioração de sua estruturação de capital
vista pelos últimos três anos. Desde 2012, a companhia observou um aumento de sua dívida líquida,
que deve encerrar 2015 em US$ 106,4 bilhões. Um movimento que veio combinado com severos
fatores, incluindo anos de subsídio nos preços dos combustíveis, inflação no capex (investimentos
em bens de capital), alocação ineficiente de capital (conectada às investigações da Operação Lava
Jato e demora nos projetos) e desvalorização do real contra o dólar.
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2. Análise Fundamentalista de PETR4 Paula Barra
A ação da companhia ainda não traz um risco/retorno satisfatório, em meio à fundamentos
deteriorados e múltiplos ainda elevados quando comparados com seus pares globais.
Segundo cálculos do Morgan Stanley, os ADRs (American Depositary Receipts) da empresa
negociam a um prêmio de 18% em relação a seus pares mundiais do setor de petróleo e gás. Isto
significa que, mesmo com queda de 22% esse ano, a ação estaria “cara” quando comparada aos
seus concorrentes externos.
Uma análise, que juntamente com a projeção de corte de 10% na curva de produção da
empresa no longo prazo, fez o banco revisar para baixo o preçoalvo das ações da Petrobras para
os próximos 12 meses (agora em US$ 4,00).
A explicação é que o corte do seu plano de negócios para 2015 e 2016 da companhia virá,
principalmente, do seu segmento de exploração e produção, impactando, consequentemente sua
curva de produção no longo prazo. A Petrobras planeja cortar em US$ 11 bilhões seu capex
(investimentos em bens de capital) até o ano que vem. Até 2025, o Morgan estima um capex de US$
198 bilhões, corte de US$ 25 bilhões frente à expectativa anterior.
O que comentase é que faltam catalisadores positivos para a ação, enquanto ventos
contrários como queda do preço do petróleo e alta do dólar trazem um panorama desafiador para a
empresa, que sofre no horizonte com um cenário de elevada alavancagem.
As dúvidas nesse case de investimento ainda seguem embasadas se a companhia terá
capacidade de sustentar a queda dos preços do petróleo, se seu conselho terá uma postura mais
transparente para tornar efetiva uma metodologia de reajuste dos preços e se a companhia será
capaz de entregar seu plano de desinvestimentos, em meio ao cenário econômico desafiador.
Abaixo um gráfico que mostra a evolução das ações da companhia na Bolsa, frente ao LPA
(Lucro por Ação) e alavancagem (medida pela dívida líquida/Ebitda). Enquanto a alavancagem da
companhia teve uma forte escalada de 2012 a 2014, as ações da companhia se desvalorizaram
(lembrando que esse período traz o efeito das eleições no papel, quando as ações tiveram um forte
rali na Bolsa para devolverem todos os ganhos meses depois) e o LPA se deteriorou. Aqui cabe
salientar também que no último trimestre do ano passado a empresa mostrou prejuízo, explicando a
derrocada vista no gráfico.
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Gráfico 1: Evolução comparativa entre LPA x P/L x Dívida Líquida/Ebitda
Fonte: Bloomberg
A seguir, mais um gráfico que mostra a delicada situação da empresa. Enquanto o LPA se
deteriorou de 2010 a 2014, a dívida líquida em reais registrou forte arrancada e a receita líquida, que
até mostrou avanço até 2013, afundou no ano passado, impactada pela queda dos preços do
petróleo.
Gráfico 2: Evolução comparativa entre Receita x LPA x dívida líquida em reais
Fonte: Bloomberg
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3. Análise técnica de PETR4 Thiago Salomão e Paula Barra
A ação PN da Petrobras encontrou em setembro seu menor patamar desde 2004 (R$ 6,44),
acumulando queda de 55% desde maio, época em que estava na máxima do ano (R$ 14,95). Essa
movimentação negativa, no entanto, não limita uma leitura de alta. O trader profissional e parceiro do
InfoMoney, Wagner Caetano, vê uma formação gráfica de uma figura de reversão conhecida como
OCOI (ombrocabeçaombroinvertido), o que pode abrir caminho para ganhos no médio prazo.
Como a figura ainda não foi formada e o papel ainda não saiu do processo corretivo, a ação
teria espaço para cair até R$ 7,53 (fundo de agosto) ou mesmo R$ 7,44 (retração de Fibonacci),
sem alterar essa perspectiva de recuperação. Uma correção vista como sinônimo de oportunidade
de compra para quem quer se arriscar no “call” e comprar a ação com um certo desconto, mas
lembrando que o menor ponto mencionado acima deveria ser usado como stop loss da operação
(R$ 7,44).
A reversão se dará somente quando o papel ultrapassar os R$ 9,07, quando montará um
pivot de alta, que poderia ser capaz de ultrapassar a resistência dos R$ 9,39, mostrando força e
revertendo a tendência de baixa para alta. Nesse caso, esse seria um ponto interessante para
aumentar a posição comprada no papel, tendo como alvo os R$ 10,93.
Abaixo um gráfico semanal das ações da Petrobras desde agosto de 2011.
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4. Os impactos do petróleo Ricardo Sousa
Como maior produtora de petróleo do País e uma das maiores do mundo do setor de óleo e
gás, é sempre importante olhar para os preços do petróleo para entender o que ocorre com a ação
da Petrobras. Frequentemente, quando não estamos lidando com uma nova denúncia da Lava Jato,
uma nova regulamentação do governo ou uma troca inesperada na diretoria, os preços das ações da
nossa maior estatal seguem de perto os preços do petróleo no mercado internacional.
No entanto, mais do que apenas olhar para a cotação, pura e simplesmente, o investidor fará
bem ao ficar atento para os detalhes que regem esta relação entre a Petrobras e o seu principal
produto.
Para começar, vamos lembrar de qual é o petróleo que temos que olhar para acompanhar as
ações. Existem dois tipos importantes da commodity, o WTI, sigla para West Texas Intermediate, e o
Brent.
O WTI é o tipo de petróleo produzido nos EUA, com estoques em Cushing, Oklahoma, de
onde ele sai. Importante destacar que as ações das petrolíferas americanas respondem às variações
de preço do WTI porque são elas que produzem o petróleo desse tipo. Isso parece óbvio, mas é
bom lembrar para ter em mente por que devese acompanhar também o WTI. Afinal, essas
empresas fazem reajuste diário ou semanal do preço dos combustíveis, o que traz a famosa
defasagem entre o valor praticado aqui e lá fora, já que, ao contrário delas, a Petrobras não costuma
reajustar seu preço livremente. E nós sabemos que quando o combustível aqui está mais barato do
que lá fora, a nossa petroleira perde dinheiro.
Já o Brent é o tipo de petróleo retirado no Mar do Norte na Europa e usado como preço de
referência global. Antes era mais restrito a Europa, mas de alguns anos para cá virou benchmark
também no leste africano e Mediterrâneo e também para alguns países do sudeste asiático.
O mais importante para a Petrobras é justamente esse Brent, que em outubro de 2011,
tornouse a precificação oficial do petróleo para a estatal. Isso ocorreu porque ele estava na época
quase US$ 25 acima do WTI. E, curiosidade, quem avisou o mercado desta mudança de padrão foi
o exdiretor de fornecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, aquele mesmo que apareceu nas
primeiras delações premiadas da Operação Lava Jato.
Dito isso, precisamos lembrar que uma das mais importantes fontes de receita da Petrobras
são as reservas do présal, que vão perdendo atratividade quanto mais perto o barril do petróleo
chega dos US$ 40. Por que? Como as reservas do présal ficam a mais de 6 quilômetros de
profundidade e precisam de mais tecnologia e, portanto, mais custo para serem exploradas, o
“breakeven” delas, ou seja, o preço no qual as receitas cobrem os custos, é maior. Atualmente, as
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estimativas da própria Petrobras são de que explorar estas reservas seja viável apenas se o preço
do barril do Brent estiver, no mínimo, a US$ 45.
Parceiro do InfoMoney, o analista Flávio Conde, da consultoria independente WhatsCall, avisa
para tomar cuidado com estes “números mágicos”. Isso porque o custo depende também da escala
da exploração. Explorando um campo de uma escala maior, o custo é menor porque você vai
produzir mais. Além disso, Conde lembra que quando os primeiros cálculos de viabilidade do présal
foram feitos, os custos eram maiores porque os preços cobrados pelos fornecedores da Petrobras
eram também maiores, já que o petróleo custava US$ 100 e a China puxava a economia mundial
crescendo 10% todo ano. Como nenhum dos dois fatores é uma realidade atualmente, podemos
imaginar que os custos do présal estejam em trajetória de queda, com a Petrobras ganhando mais
poder de barganha com os seus fornecedores, que sofrem os efeitos da crise aqui e lá fora.
Outra questão que o investidor da Petrobras precisa ficar atento é que a petroleira importa
óleo leve internacional para leválo até os nossos carros nos postos de abastecimento da BR
Distribuidora e exporta o óleo pesado que extrai aqui para refinarias lá fora. Durante a sua vida
inteira, esta relação de exportações menos importações foi negativa, de modo que a companhia
mais comprava petróleo de fora do que vendia. Isso mudou nos últimos anos com a queda do
consumo de combustível aqui no Brasil, sendo que a conta que dava 600 mil barris por dia foi para
apenas 27 mil barris por dia no segundo trimestre de 2015. Ou seja, a companhia está quase
invertendo a regra e se tornando uma exportadora de petróleo. Ponto positivo para ela, já que com o
dólar a R$ 4,00, todo exportador está rindo à toa.
Mas e com relação especificamente ao petróleo? o que o investidor deve olhar? Quem já
acompanhou algo das cotações no último ano sabe que os preços foram de US$ 100 o barril para
US$ 49 o barril. Tamanha queda se explica porque os árabes da OPEP (Organização de Países
Exportadores de Petróleo), especialmente a Arábia Saudita e o Kuwait ficaram preocupados com o
avanço da produção de gás do xisto nos Estados Unidos, um substituto do petróleo, e decidiram
aumentar a produção mesmo com a demanda menor pra “quebrar as pernas” dos produtores
americanos. O problema, como Conde disse à nossa equipe, é que muita gente além dos produtores
de xisto foi morrendo no caminho, caso de Venezuela e Rússia. Esperase que os russos se
encontrem com os árabes em breve para discutir uma redução conjunta na produção, o que pode
aliviar os preços do petróleo.
O grande problema, é que um novo player do mercado retornou. O Irã, que estava fora do
mercado, está voltando aos poucos depois do acordo nuclear assinado com as potências ocidentais,
e com um potencial de produção de 2,5 milhões de barris por dia. Se isso ocorrer, não há acordo
entre russos e árabes que segure a queda das cotações do petróleo. Então é bom ficar ligado.
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5. Os efeitos da valorização do dólar Rodrigo Umpieres
A Petrobras é uma das empresas mais impactadas pelo movimento cambial, tanto no lado
dos custos quanto em sua receita. Porém, no atual cenário o impacto da alta do dólar tem sido mais
negativo do que positivo para a estatal, isso porque ela se encontra na incomoda posição de
empresa mais endividada do mundo.
No ápice da recente disparada da moeda americana, que superou os R$ 4,00, a dívida da
Petrobras ficou em torno dos R$ 513 bilhões, o que equivale a 9,4% do PIB (Produto Interno Bruto)
do Brasil. Deste total, 70% está atrelado ao dólar (cerca de R$ 360 bilhões). A cada R$ 0,10 de
valorização do dólar, a dívida da estatal aumenta em R$ 10 bilhões.
Com uma projeção média da moeda americana em R$ 4,04 durante o terceiro trimestre deste
ano, a dívida em dólar da estatal chegaria a R$ 442,3 bilhões uma alta de 28% em relação ao
último trimestre, quando a petrolífera contabilizou em seu balanço financeiro uma cotação média do
dólar de R$ 3,10.
Passado a questão da dívida, a petrolífera tem outro grande problema em relação ao dólar: a
falta de ajuste de preços. Cerca de 40% da receita da companhia está relacionada com a venda de
derivados (gasolina e diesel), que por sua vez ocorrem em moeda local. Sem um ajuste para se
adequar aos valores internacionais, o gap dos preços aumenta e as perdas no segmento de refino
ficam maiores, dada a necessidade de continuar importando derivados para abastecer o mercado
interno.
Por outro lado, o dólar mais alto favorece as exportações da companhia, já que o preço do
petróleo, sua principal commodity, é em moeda americana. Ou seja, os ganhos da estatal acabam
sendo em dólar. Porém, nem neste segmento a companhia tem conseguido ter alguma vantagem, já
que com a recente derrocada dos preços do petróleo para níveis abaixo de US$ 50, analistas
avaliam que os possíveis ganhos com o dólar acabam completamente anulados.
Agora, o ponto mais complicado não depende da Petrobras: a cotação do dólar. A moeda
chegou ao máximo de R$ 2,24 em setembro, mas voltou para o nível de R$ 3,80 um mês depois. E
este é o maior exemplo do que devemos ver daqui para frente, já que ninguém tem certeza do que
vai acontecer. Basicamente, o dólar tem oscilado seguindo duas variantes principais: a expectativa
pela alta de juros nos EUA e a tensão política/econômica do Brasil.
No primeiro caso, as projeções que apontavam para elevação das taxas em setembro,
mudaram para março de 2016 após dados ruins da economia norteamericana. Com isso, o dólar
acabou perdendo força não só no Brasil, mas contra outras grandes divisas pelo mundo.
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Enquanto isso, no ambiente doméstico os investidores seguem de olho sobre o futuro da
presidente Dilma Rousseff, que continua ameaçada por um impeachment. Além disso, a perda do
grau de investimento do País também levaria a uma forte saída de capitais do Brasil, fazendo com
que a moeda disparasse.
Especialistas acreditam que enquanto estes fatores não se resolverem, a moeda deve
permanecer em torno dos R$ 4,00, podendo ganhar ou perder força com notícias pontuais. Uma
projeção de longo prazo permanece em aberto enquanto não há uma confirmação sobre a economia
global e as questões políticas domésticas, mas há quem projete o câmbio em mais de R$ 4,50. Tudo
isso só alimenta os medos e a aversão dos investidores diante da Petrobras, que a cada dia vê suas
contas mudando por causa do dólar.
Veja o efeito do dólar na evolução da dívida da Petrobras no último ano:
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6. Dívida Lara Rizério
Em 2015, a companhia chegou ao fim do primeiro semestre com uma relação entre a dívida
líquida e o Ebitda (sigla em inglês para Lucro antes de Juros, Impostos, Depreciação e
Amortização) em 4,64 vezes, praticamente o dobro do que deveria ficar (2,5 vezes). Assim, a a
Petrobras precisaria de 4,64 anos de Ebitda estável para liquidar montante equivalente a seu
endividamento líquido, algo que preocupa sobremaneira os investidores principalmente pela
relação inversa que as duas variáveis têm mostrado nos últimos balanços divulgados.
O indicador de alavancagem líquida da Petrobras, que é medido pela relação entre
endividamento líquido e o patrimônio líquido, também é um fator de preocupação, fechando o
semestre em 51%. Este indicador chamou a atenção em 2010, quando a estatal realizou sua
megacapitalização de mais R$ 120 bilhões. Quando a capitalização ocorreu, um dos motivos foi a
preocupação para o indicador superar 35%, o que elevaria o risco de perder o grau de investimento.
A alavancagem caiu de 34% para 16% quando houve a operação, mas o indicador, nos últimos
anos, manteve a tendência de alta.
Em fevereiro, aliás, o grande temor para a companhia acabou se concretizando. O rating da
dívida da companhia em moeda estrangeira foi rebaixado em dois degraus pela Moody’s, passando
de Baa3, que é a última nota da escala considerada grau de investimento, para Ba2. Além do
escândalo de corrupção que afeta a companhia, um dos pontos destacados pela agência foi a alta
dívida. Assim, o rebaixamento da companhia para grau especulativo trouxe uma sinalização forte
para o mercado em relação à deterioração financeira da empresa e da elevação dos riscos de
atrasos e pagamento de dívidas.
A decisão da Moody’s foi seguida no início de setembro pela Standard & Poor’s, o que trouxe
forte impacto para os títulos e ações da companhia. Isso porque muitos gestores de fundos só
podem investir em empresas que são classificadas como grau de investimento por pelo menos duas
agências de classificação de risco.
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Veja abaixo a evolução da dívida da Petrobras:
Fonte: Bloomberg
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7. Reajuste de combustíveis Lara Rizério
Uma das causas para a forte dívida da companhia, que beira os R$ 500 bilhões em 2015, foi
justamente o modelo de repressão dos preços de combustíveis adotado durante alguns anos para
segurar a inflação. Ou seja, o uso político da companhia acabou afetando a estatal. A Petrobras
ficou com seus preços muito defasados entre 2011 e 2014, o que colaborou em para a formação da
enorme dívida da empresa. Com a forte valorização do dólar no ano, os custos financeiros são ainda
maiores.
No ano de 2015, com nova diretoria e um compromisso com a saúde financeira da estatal, a
companhia busca corrigir a defasagem de preços. É interessante notar que o anúncio do começo de
outubro de elevar o preço da gasolina em 6% e do diesel em 4% nas refinarias foi um indicativo
disso, ainda mais em um momento de queda dos preços de petróleo (quando não havia tanta
necessidade de elevar os preços dos combustíveis). Contudo, eles foram feitos para elevar a
geração de caixa da companhia. Por outro lado, muitos analistas de mercado seguem criticando a
gestão da empresa e destacando que a elevação dos preços deveria ser ainda maior, de 10% a
12%, para recuperar o caixa da companhia. Com a inflação beirando os 10% em 2015, novas altas
poderiam ser vistas como pouco prováveis.
8. Governança Corporativa Lara Rizério
Associado ao cenário político, está o ambiente bastante desafiador sobre a governança
corporativa da empresa. Se, no primeiro semestre de 2015, em meio aos escândalos de corrupção e
a saída da presidente da estatal Graça Foster, o Conselho de Administração e a diretoria tinham
sido reformuladas, de modo a dar mais força ao corpo técnico em meio às últimas decisões, vistas
como políticas e que incharam a empresa, fazendo com que ela se tornasse a petroleira mais
endividada do mundo.
Em 2013, inclusive o Ministério Público Federal chegou a dizer que, com tal dívida
estratosférica, a Petrobras poderia ir à falência inclusive analistas de investimentos que
acompanhavam a empresa já disseram que, se ela não fosse estatal, já estaria quebrada. No final
de setembro de 2015, em meio a alta do dólar, que atingiu a maior cotação da história do real ao
ultrapassar os R$ 4,00, a dívida da companhia teria subido R$ 100 bilhões desde junho, chegando a
R$ 513 bilhões no final de setembro.
Os últimos anos foram de escolhas tidas como erradas para a empresa, que expandiu
demasiadamente os seus projetos e foi pressionada por conta da mudança do modelo regulatório no
présal, que obriga a companhia a uma participação mínima de 30% nos projetos. Além disso, casos
como a compra da refinaria americana de Pasadena, que gerou US$ 792 milhões de prejuízo para a
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companhia, de acordo com o TCU (Tribunal de Contas da União). A compra foi efetuada em 2006,
quando a presidente do Conselho era a então ministra da Casa Civil e futura presidente, Dilma
Rousseff.
Nove anos depois, em abril, o presidente da Vale, Murilo Ferreira, foi eleito para a cadeira da
Petrobras que um dia foi da atual comandante da República. Esta mudança foi vista como bastante
positiva, já que ele seria um nome prómercado que tem uma grande experiência em gestão.
Aliás, no mesmo mês, o presidente da Petrobras Aldemir Bendine afirmou que a Petrobras
poderia adotar parcerias como as que implementou quando era presidente do Banco do Brasil, o que
indicava até mesmo abertura de capital da BR Distribuidora. Contudo, pouco mais de dois meses
depois, uma notícia mostrou que os desafios de governança da estatal continuam. Murilo Ferreira
anunciou o seu afastamento do conselho da Petrobras até 30 de novembro. Muito se falou que o
executivo teria saído para não voltar mais por motivos pessoais ou para se dedicar à Vale em
meio ao ambiente desafiador para a empresa com a queda dos preços de minério de ferro e
desaceleração da China.
Porém, Ferreira teria saído justamente porque Bendine estaria tentando tirar o poder do
Conselho, indicando que os desafios de governança se seguiam. Além disso, as questões
estruturais de cortes de gastos e vendas de ativos estão sendo conduzidas de forma mais lenta do
que deveriam por interesses do governo, comentou. Mais uma vez, as questões de governança
corporativa da empresa seguem no radar.
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9. No olho do furacão político Marcos Mortari
Todas as contradições imagináveis para uma empresa com raízes estatais mas com ações
negociadas no mercado de capitais aparecem no caso Petrobras. Não raro, os interesses dos
acionistas são colocados em segundo plano para que a companhia respeite as diretrizes da política
econômica implementada pelo governo Federal. Da participação na exploração de campos do
présal brasileiro ao repasse dos preços dos combustíveis pela variação do barril do petróleo no
mercado internacional e pelo sobe e desce do dólar, todas as movimentações da companhia
passam por ensaio prévio no plano estatal. É uma constante queda de braço entre o público e o
privado e a disputa retórica que se desenha em torno da polarização. Na carona de toda essa
discussão, entra o embate entre eficiência em comparação com a iniciativa privada e a possibilidade
de se gerar ruídos no livre mercado.
No ano passado, no calor da disputa eleitoral e no afã de combater o avanço da inflação, a
instrumentalização da Petrobras se manifestou pelo congelamento dos preços dos combustíveis,
apesar das altas no exterior. Nos cálculos de quem acompanha de perto o setor, o prejuízo por litro
pago pela estatal superou os R$ 0,20 por quatro meses consecutivos. A defasagem corroeu caixa e
elevou de maneira expressiva o nível de endividamento da companhia. Em 2015, algumas
sinalizações de mudanças e um cenário externo mais favorável com o preço do petróleo mais baixo
trouxeram ganhos para a Petrobras, mas não suficientes para zerar o sacrifício do ano anterior.
Foram dois aumentos para gasolina e diesel em menos de um ano. Decisões como essa, além de
serem importantes para o resultado da empresa, são novos ferramentas para que se decifrem as
estratégias do governo.
Mais do que a interferência política nas operações da Petrobras, também pesa sobre o menor
interesse dos investidores pelo papel a falta de transparência sobre a tomada de decisões dos
controladores. Hoje, o conselho de administração reúne dez membros, sendo sete indicados pelo
governo. No capital social, a União concentra 50,26% das ações ordinárias da companhia, enquanto
BNDES e o Fundo de Participação Social detêm, juntos, 9,98%.
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O envolvimento político nas operações da Petrobras ganhou na operação Lava Jato maior
clareza, com a maior exposição da relação entre partidos e gestores por cargos em organismos
públicos e lobbies empresariais para favorecimentos ilícitos. A supremacia de nomes da política em
detrimento à demanda por técnicos em determinadas áreas sempre preocupou os agentes
econômicos quanto aos resultados da companhia. Em tese, tratase de mais um obstáculo para a
priorização dos interesses dos acionistas nas estratégias a serem implementadas. As investigações
que têm revelado esquemas de corrupção dentro da companhia deixam no ar a esperança de
melhores práticas de governança para o futuro.
Em momentos em que o fator político é observado com mais atenção pelos investidores na
tomada de posições no mercado, companhias estatais tendem a responder com ainda maior
volatilidade, tendo em vista a grande sensibilidade a quaisquer mudanças na esfera federal. No ano
passado, durante o clímax da corrida eleitoral, quem apostava nas ações da Petrobras sofreu fortes
emoções com o sobe e desce dos ativos ao sabor dos resultados prévios das pesquisas. Hoje,
mesmo superada a indefinição de quem seria o novo presidente do Brasil, as incertezas sobre como
a crise política será superada criam um clima de expectativas no mercado similar àquele de um ano
atrás. Portanto, quem quer investir em Petrobras precisa acompanhar de perto o noticiário político,
ser capaz de interpretálo com a perspectiva do mercado e estar preparado para enfrentar fortes
ressacas nos mares agitados da Bovespa.
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Disclaimer:
Este relatório tem caráter meramente informativo e tem como objetivo ajudar o investidor a tomar
uma decisão de investimento. É importante ressaltar, porém, que ele não tratase de uma
recomendação direta de compra ou venda das ações objeto de estudo.
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