educação financeira para inclusão autônoma. um estudo de caso
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8/18/2019 Educação Financeira para Inclusão Autônoma. Um Estudo de Caso.
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INTRODUÇÃO
A ocorrência cada vez maior de crises financeiras atingindo diversos setores da
economia decorre das contradições e complexidades da atual etapa imperialista do capitalismo
financeiro globalizado. O consumismo e a expansão das oportunidades de crédito e
financiamento mascaram algumas das contradições deste sistema. Em um cenário como este,
de grandes instabilidades econômico-financeiras, é indispensável que os indivíduos busquem
orientações para uma vida estável.
Em meio a essa necessidade, surgem inúmeras iniciativas no âmbito da educaçãofinanceira com o propósito de conduzir o indivíduo à satisfação de seus desejos e
necessidades a partir de um bom comportamento, adquirindo, assim, uma vida financeira
saudável.
Diante deste quadro de complexidades, tornam-se pertinentes alguns
questionamentos. As iniciativas de educação financeira, consideradas tradicionais, são
responsáveis pela manutenção da lógica de dominação da esfera financeira do capital e, desta
forma, conduzem o indivíduo a uma inclusão financeira subordinada? Há possibilidade de seformular uma alternativa de educação financeira que vá além destes princípios e promova
uma inclusão financeira autônoma? Já existem alternativas no âmbito da educação financeira
que tratam de temas complexos do modo de funcionamento do sistema capitalista e, ainda,
contribuam para o desenvolvimento, conscientização e emancipação pessoal?
A partir de tais questões é possível formular a seguinte hipótese: Uma inclusão
financeira autônoma somente é possível a partir de iniciativas de educação financeira que
incorporem a crítica ao sistema, ou seja, delineie os principais atores envolvidos na lógicafinanceira do capital e seus respectivos interesses, propondo esclarecer as contradições e
complexidades do sistema capitalista em sua fase atual.
Desta forma, este estudo tem por objetivo geral mostrar uma alternativa de educação
financeira voltada para inclusão financeira autônoma e crítica. Mais especificamente, deve ser
entendida a adequação e pertinência da interpretação crítica fornecida pela economia política
marxiana aos programas de educação financeira; a complexidade que envolve o tema do
capital financeiro em termos de suas relações de poder e subordinação e, por fim, o estudo de
caso do Programa de Educação Financeira para Inclusão Socioeconômica Sustentável –
PEFISS.
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No primeiro capítulo, o estudo do funcionamento do sistema de crédito dentro da etapa
atual do capitalismo, decorrente da crescente acumulação e concentração de capital a juros, é
fundamental para o entendimento de que há uma tendência a autonomização do valor no
capitalismo, causador de crises e contradições existentes em nossa sociedade. Nesta parte será
mostrado, ainda, por que o movimento de concentração e centralização de capitais, iniciado
no século XX, é fruto da abolição da livre concorrência que dá lugar à formação de trustes e
cartéis, da expansão das Sociedades Anônimas – SAs e da relação cada vez mais intrínseca
entre o capital industrial e o capital bancário.
No segundo capítulo, em um primeiro momento é feita uma breve caracterização das
estratégias ortodoxas de educação financeira no Brasil e no mundo, assim como, as linhastradicionais de educação financeira.
Em um segundo momento, apresenta-se uma alternativa de educação financeira, o
Programa de Educação para Inclusão Financeira Sócio-econômica Sustentável – PEFISS .
Esta iniciativa de educação não formal se distancia das abordagens tradicionais tanto por sua
concepção teórico-metodológica crítica, quanto por seus conteúdos ministrados, e suas formas
de avaliação.
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1. REFERENCIAL TEÓRICO
O entendimento acerca do domínio global da lógica financeira do capital é
fundamental para a análise da superficialidade teórica das linhas tradicionais de educação
financeira, reforçando a importância de se discutir o funcionamento do sistema capitalista, em
sua fase atual, de maneira crítica, sob a ótica da economia política marxiana.
O estudo de Marx é fundamental para a compreensão de questões contemporâneas
como, crises financeiras, especulação, volatilidade dos preços dos ativos, bem como o
desenvolvimento do conceito de dinheiro, tendência à autonomização do valor e odetalhamento da idéia de valor e fetichismo1.
A discussão envolvendo conflitos sociais, em escala nacional e mundial,
acompanhados da nova concentração da riqueza, da maior centralização de capitais, do
progresso técnico contínuo, da mecanização e das economias de escala, deve compor o campo
teórico das iniciativas de educação financeira, pois evidenciam as contradições do dinheiro,
sua circulação e posse.
Na primeira seção, o estudo do funcionamento do sistema de crédito dentro da etapaatual do capitalismo, decorrente da crescente acumulação e concentração de capital a juros, é
fundamental para o entendimento de que há uma tendência a autonomização do valor no
capitalismo. Ou seja, segundo Marx, o dinheiro e o valor tendem a se libertar do plano da
troca e da produção. Em conseqüência disto, a esfera autônoma do capital financeiro passa a
valorizar-se independentemente do que ocorre na esfera real da economia, ou seja, a esfera
produtiva, comprometendo sua capacidade de produção.
A tendência de autonomia do capital traduz-se no chamado, capital fictício ou ilusório.É aquele que, ao ser emprestado, o dinheiro concentrado nos bancos se duplica em dinheiro e
em títulos que representam direitos sobre dinheiro. Desse modo, a mesma soma de dinheiro
pode dar origem a um grande número de títulos de crédito — elementos do capital fictício.
Daí nasce um dos aspectos mais destacados da economia capitalista, que “é a multiplicação
ilusória da riqueza realmente existente, com base no capital portador de juros, por intermédio
dos mecanismos monetários e financeiros”. (MARX, 1984, p.13).
Na segunda seção, “o movimento de concentração e centralização de capital, iniciado
1 GERMER, C. O Sistema de Crédito e o Capital Fictício em Marx, 1994 p.183
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no século XX é fruto da abolição da livre concorrência que dá lugar à formação de trustes e
cartéis, da expansão das Sociedades Anônimas – SAs e da relação cada vez mais intrínseca
entre o capital industrial e o capital bancário”. (HILFERDING, 1912, p.339).
A reflexão sobre cada um destes fatos mostra a importância dos momentos históricos
de formação e evolução da sociedade capitalista, tanto para compreender o desenvolvimento
imperialista do capitalismo por todo o globo, como para refletir sobre as conseqüências
negativas trazidas para a sociedade em geral, em especial aquelas de classe de renda inferior.
Na terceira seção, destacam-se, também, os momentos importantes ao longo da
história de formação dos regimes monetários do pós-guerra, além de alguns episódios
especulativos característicos dos eufóricos ciclos econômicos. Dentro de uma visão
panorâmica, finalizar com a etapa histórica é conveniente para entender a crise atual daeconomia capitalista globalizada e seus impactos.
1.1. A perspectiva marxiana do capital portador de juros
Discutir Marx é de suma importância diante do quadro atual de crises econômicas. A
absurda ampliação do capital financeiro, principalmente de sua fração fictícia ou ilusória, é a
principal causa das crises especulativas, por causa dos derivativos acumulados em escala cadavez maior. A lógica de giro do capital portador de juros mostra a tendência de
autonomização do valor do capital fictício.
No capítulo 3, livro I de O Capital, Marx apresenta as três funções básicas do dinheiro
– medida de valor 2 (unidade de conta); meio de circulação3 (intermediário na troca de
mercadorias4) e meio de entesouramento5. Esta última função divide-se na função de ‘tesouro
abstrato’ – somente guardar o dinheiro – e, ‘fundo de reserva de meio de pagamento’, o qual
será objeto desta análise.
Deve-se notar que, na economia capitalista, o dinheiro não assume novas funções,assim como não assume uma nova natureza ou definição. Apenas se altera a
2 Sendo todas as mercadorias, enquanto valores, trabalho humano objetivado e, portanto, sendo em si e para sicomensuráveis, elas podem medir seus valores, em comum, na mesma mercadoria específica e com isso transformar estaúltima em sua medida comum de valor, ou seja, em dinheiro (MARX, p.207).3 Como tais quantidades de ouro, elas se comparam e medem entre si e se desenvolve tecnicamente a necessidade derelacioná-las a um quantum fixado de ouro como sua unidade de medida (MARX, p.210).4 O processo de intercâmbio da mercadoria se completa, portanto, na seguinte mudança de forma:Mercadoria — Dinheiro — Mercadoria ( M — D — M). Segundo seu conteúdo material, o movimento é M — M , troca demercadoria por mercadoria, metabolismo do trabalho social, em cujo resultado o próprio processo se extingue. (MARX, p.217).
5 Esta função, dentro de uma análise neoliberal caberia, apenas, a função de ‘tesouro abstrato’.
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hierarquia das suas funções e surgem novas formas de dinheiro para realizá-las, doque é exemplo o uso de notas bancárias, em lugar do ouro, para realizar a função demeio de pagamento. Por outro lado, o conteúdo das suas funções pode alterar-se,como é o caso, em particular, do entesouramento, cuja fonte e papel se alteramsubstancialmente (GERMER, 1994, p.180).
O entesouramento próprio do desenvolvimento da produção capitalista, o
entesouramento exigido pelo processo de troca, é um fundo de reserva de que necessita o
capitalista produtivo, quando ocorre à variação dos preços da mercadoria. Seu crescimento
acompanha o desenvolvimento capitalista. Surge quando há a quebra temporal entre a compra
e a venda ( M — D / D — M). Posso comprar antes de vender minha mercadoria, ou seja,
necessito adquirir mercadorias a serem compradas no futuro. Se há dívida, há a necessidade
de remunerar o capital emprestado pelo tempo que ele foi disponibilizado.As funções entesouramento e meio de pagamento já pressupõem o capital a juros. No
entesouramento é a taxa de juros que determina a conversão de tesouro em dinheiro. Se há
taxa de juros há capital a juros. A análise do capital a juros é fundamental para o
entendimento de que há uma tendência a autonomização do valor no capitalismo. Ou seja,
segundo Marx, o dinheiro e o valor tendem a se libertar do plano da troca e da produção.
Passam a valorizar-se independentemente do que ocorre na esfera real da economia.
Para Marx, o entesouramento no capitalismo, diferentemente do que ocorre na
economia de circulação simples, consiste na soma global das reservas monetárias dos
capitalistas, concentrada nos bancos como capital emprestável ou capital portador de juros.
O capital real que visa mais dinheiro, tem maior autonomia (enquanto valor) porque
assume a forma de mercadorias sem perder a finalidade de se valorizar (D – M – D’). Porém,
o capital real não tem autonomia total enquanto valor: para se valorizar ele precisa assumir a
forma de mercadorias. Portanto, só no capital a juros a autonomia será plena.
No ciclo D – D – M – D’ – D’, tudo é capital. É imprescindível que, para o dinheiro e
a mercadoria exercerem a função de capitais, sejam desembolsados como capital na compra
de meios de produção (capitais industriais, por ex.). Se ao final do processo houver acréscimo
de valor, tudo é capital; senão, nada será capital. Aqui o juro substantiva-se como forma
autônoma de remuneração, ao contrário do que acontece com o capital real, que precisa
transformar-se em mercadorias para depois voltar à forma genérica do dinheiro.
Por acumulação financeira, entende-e a centralização em instituições especializadas
de lucros industriais não reinvestidos e de rendas não consumidas, que têm porencargo valorizá-los sob a forma de aplicação em ativos financeiros – divisas,obrigações e ações – mantendo-os fora da produção de bens e serviços.(CHESNAIS, 2005, p.37).
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Para Marx, o crédito aparece antes mesmo do sistema capitalista esteja instalado. Uma
forma antiga de crédito é a usura. Este tipo de crédito diferencia-se do crédito moderno, no
qual predomina o Sistema de Crédito correspondente à fase do domínio do capital industrial.Este sistema de crédito envolve bancos, crédito comercial entre capitalistas e todos os títulos
de dívida.
Em sua teoria, Marx define uma das funções do dinheiro como meio de realizar
pagamentos diferidos, em contraste com os pagamentos à vista — função de meio de
circulação do dinheiro o meio de pagamento. A forma geral e dominante do dinheiro, na
economia capitalista desenvolvida, é o dinheiro de crédito, que se baseia na dominância da
função de meio de pagamento. Ao lado do ouro circulam títulos de crédito que são as
diferentes formas de existência do dinheiro de crédito, como notas bancárias, letras de
câmbio, cheques, etc.
A base do dinheiro de crédito é constituída pelo crédito comercial, que consiste nos
créditos que os capitalistas industriais e/ou comerciais se concedem uns aos outros, através do
deferimento dos pagamentos, no decorrer do processo de produção e comercialização. O
conjunto dos títulos correspondentes a esses créditos pode ser representado pelas letras de
câmbio (ou duplicatas, no Brasil). A letra de câmbio substitui o dinheiro em espécie e
apresenta-se como a forma originária do dinheiro de crédito.
A generalização do dinheiro de crédito decorre de uma das funções essenciais do
crédito que é a de economizar meios de circulação. O crédito bancário forma-se por um
processo independente do crédito comercial. O crédito bancário nasce como comércio de
dinheiro, por isso também é denominado de crédito monetário. Desta forma, a economia
capitalista conquistou uma relativa liberdade, isto é, uma margem mais ampla, para expandir-
se sem se chocar com os limites impostos pela base metálica.
O surgimento e a expansão do dinheiro de crédito apresentam-se como condição
essencial de expansão do capitalismo, que não ocorreria na escala conhecida se permanecesse
atada ao sistema monetário, ao crédito comercial e à base metálica comparativamente
modesta.
O sistema bancário combina duas funções básicas. Em primeiro lugar, a de executar as
operações monetárias rotineiras dos capitalistas industriais e comerciais — pagamentos,
cobranças, guarda dos fundos de reserva, etc. No que diz respeito a essa função, o capital
bancário forma-se de modo semelhante ao capital comercial, isto é quando a parcela do
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capital industrial necessário à realização das operações monetárias se destaca do capital-
matriz, adquirindo autonomia funcional.
A segunda função é a de administrar o capital monetário do conjunto dos capitalistas,
englobando as frações temporariamente inativas dos capitalistas industriais e comerciais e o
capital rentista, além de todas as demais frações de dinheiro existentes na economia, como,
por exemplo, a forma-dinheiro do rendimento, sobretudo a parte da mais-valia destinada ao
consumo capitalista, que se deposita nos bancos para ser gasta ao longo do tempo
Nessa segunda função, o sistema bancário centraliza e redistribui o capital monetário
agregado da economia, transformando-o em capital de empréstimo.
Por um lado, a acumulação do capital industrial, que produz sucessivamente novas
parcelas de capital monetário que se acrescentam à massa preexistente do capital monetário propriamente dito. Assim, o capital industrial, ao crescer, promove o crescimento do capital
monetário.
Por outro lado, o capital monetário autônomo previamente existente — o capital
rentista — se acumula com base nos juros obtidos pelas suas aplicações correntes na esfera
monetário-financeira, que são a sua razão de existir. Tais juros constituem parte do lucro
obtido pelo capital industrial e resultam da sua divisão em juro e lucro empresarial.
Assim, a acumulação do capital rentista depende, claramente, do movimento doslucros do capital industrial, na medida em que os juros constituem uma parcela destes.
O lucro, como manifestação da mais-valia criada pelos trabalhadores é, em parte, apropriado
pelos capitalistas financeiros.
A parte do capital monetário que advém da acumulação do capital rentista é, sem
dúvida, a que mais cresce. Daí nasce um dos aspectos mais destacados da economia
capitalista, que “é a multiplicação ilusória da riqueza realmente existente, com base no capital
portador de juros, por intermédio dos mecanismos monetários e financeiros”. (MARX, 1984, p.13).
Conhecido como capital ‘fictício’ ou ‘ilusório’ é aquele que, ao ser emprestado, o
dinheiro concentrado nos bancos se duplica em dinheiro e em títulos que representam direitos
sobre dinheiro. Assim, um único valor monetário transformou-se aparentemente em dois
valores, o que obviamente é impossível, pois só um deles, o dinheiro, é que constitui valor
real.
O capital fictício diferencia-se não somente do capital real — isto é, capital produtivo
e capital-mercadoria — , como também do capital monetário, que não é capital real, mas é
forma monetária do capital ou é simplesmente dinheiro o depósito que um capitalista faz no
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seu banco, de capital monetário momentaneamente desocupado, duplica-se em dinheiro
depositado no banco e título de crédito — certificado de depósito — nas mãos do capitalista;
Desse modo, a mesma soma de dinheiro pode dar origem a um grande número de títulos de
crédito — elementos do capital fictício.
As características dessas transações revelam o fato de que o capital fictício também se
distingue por possuir um movimento próprio, diferente do movimento do capital monetário e
do capital real.
O fetichismo inerente e imanente às formas de ser da produção capitalista seencontra efetivada de maneira cabal naquela do capital a juros, na medida em queaparece como capital em sua imediatidade como forma capital pura. Forma na qual ovalor se valoriza tendo por mediação apenas e tão-somente, aparentemente, atemporalidade estabelecida em nexos sociais contratuais. É um dinheiro que se fazmais dinheiro num intervalo de tempo determinado, sem nenhum elementointermediário que lhe seja exterior e estranho. (ALVES, 2009, p.03).
Por exemplo, os títulos que dão direito a uma fração do rendimento são denominados
ação. Seu preço é determinado pelo valor presente dos rendimentos futuros ou lucros incertos,
o que as diferencia do capital portador de juros, não dependendo diretamente do valor do
capital ativo. Dependente torna-se, então, do montante do lucro, sendo este variável e incerto
e, ainda, da taxa de juros vigente que traz para o presente o valor do rendimento esperado.A variação do preço das ações não afeta diretamente o capital industrial ativo. O
mesmo ocorre com o capital fictício. O dinheiro adiantado pelos acionistas se transforma
irreversivelmente em capital industrial, Dá direito a um rendimento, mas este é incerto
(depende do lucro e da taxa de juros). Após a venda das ações o dinheiro obtido não retorna
para a empresa.
As ações têm uma esfera própria de circulação e valorização, vejamos como funciona.
Primeiramente observa-se a circulação ações são emitidas (A) e vendidas contra pagamento
em $ (D); esse dinheiro se divide em duas partes: uma (d1) constitui o lucro do fundador (de
direito do banco emissor, geralmente, corresponde apenas à transformação do capital produtor
de lucros em capital que rende juros); a outra (D1) se transforma em capital produtivo: D = d1
+ D1.
A circulação A – D2 – A se desenrola num mercado próprio (Bolsa). Uma vez criada,
a ação nada mais tem a ver com o giro real do capital industrial.
Os conceitos estudados nesta seção são para esclarecer as contradições internas ao
funcionamento da etapa financeira do capital, dentro do sistema de crédito. A autonomização
do valor do capital portador de juros ao deslocar-se numa esfera própria na forma de capital
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fictício é o principal aspecto que evidencia duas principais contradições presentes na atual
etapa do modo de produção capitalista.
O capital fictício é a forma mais avançada de capital e, suas contradições explicitam a
origem e natureza da instabilidade sistêmica. Primeiro, porque é um capital ‘irreal’, ou seja,
prescinde da dimensão material para seu processo de valorização. Contudo, de forma
contraditória, esta autonomia é apenas relativa uma vez que, segundo Marx, o lócus por
excelência da mais valia e, portanto do próprio sistema capitalista, é a produção. Assim, o
capital financeiro tende a minar a base mesma de sustentação sobre a qual se assenta
Este é o caso da valorização especulativa dos derivativos que gerou a crise financeira
atual, pois o capital fictício não tem condições de manter seu valor, é fetiche.
1.2. A Expansão das Sociedades Anônimas – SAs e a Formação dos Monopólios
O estudo da expansão das Sociedades Anônimas – SAs por Hilferding e Lênin mostra
como o capital monopolista se desenvolve e a importância determinante do capital financeiro
para viabilizar isso e, como, a partir disso, a dimensão financeira subordina a dimensão
produtiva, reforçando aquilo que Marx previa.
“O movimento de concentração e centralização de capital, iniciado no século XX éfruto da abolição da livre concorrência que dá lugar à formação de trustes e cartéis, da
expansão das Sociedades Anônimas – SAs e da relação cada vez mais intrínseca entre o
capital industrial e o capital bancário”. (HILFERDING, 1912, p.339).
O imperialismo europeu do final do século XIX é, portanto, um aprofundamento dos
mecanismos de exploração que já funcionavam desde o século XVI, sob o nome de
colonialismo.
O capitalismo, chegado à sua fase imperialista, conduz à beira da socializaçãointegral da produção; ela arrasta os capitalistas, seja como for, independente de suavontade e sem que eles tenham consciência disso, para uma nova ordem social,intermédia entre a livre concorrência e a socialização integral. (LÊNIN, 1985, p.25)
A expansão das SAs é fundamental para se compreender o desenvolvimento capitalista
na medida em que se considera a separação entre a propriedade e a gestão, ou seja,
consideram-se os proprietários capitalistas como capitalistas de dinheiro.
O capitalista convertido em acionista está liberado da função empresarial. Sua nova
função, a de acionista, passa a arriscar apenas uma soma que ele mesmo determina, não sendo
responsável por mais do que essa soma. Diferentemente do capitalista industrial, o acionista
tem apenas direito a apenas uma parte do lucro, mas pode recuperar o capital investido
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rapidamente como, por exemplo, vendendo em um mercado próprio, como a Bolsa de
Valores, pois as ações são a riqueza na forma mais líquida.
Conseqüentemente, o capital do acionista investido na SA passa a se comportar como
capital monetário, ou seja, a juros. É a existência de um mercado organizado que dá ao capital
do acionista o caráter de capital a juros. Dividendos tomam a forma de juros, mesmo
incorporando lucro e juros.
Há a concessão ao capitalista individual (que detêm o controle acionário) de um
enorme poder de disposição sobre o capital e o trabalho alheio. Através do controle acionário
é possível controlar um capital muito superior àquele que foi aportado.
Portanto, as SAs são, de um lado, instrumentos fantásticos de centralização por
potencializarem as capacidades produtivas e, de outro, instrumentos que convertem lucro em juros, evidenciando a tendência de autonomização do valor. “O processo de concentração do
desenvolvimento industrial apresenta-se como característica importante do sistema
capitalista” (Lênin, 1985, p.16).
Na fase inicial das SAs, no contexto tecnológico e científico da II Revolução
Industrial, a composição de seu capital se dava através da adesão direta de capitais individuais
que, separadamente, compravam ações de grandes empresas, pois eram pequenos demais para
desempenhar isoladamente a função industrial.Já com o desenvolvimento do sistema bancário a situação é diferente, pois os capitais
individuais já se encontram reunidos nos bancos, estando estes encarregados da mediação
entre os pequenos capitais e as SAs. São eles que vendem fundos de ações aos seus clientes,
sendo que, atualmente, somente grandes investidores costumam ir à Bolsa. “Esta
transformação de uma massa de modestos intermediários em um punhado de monopolistas
constitui um dos processos essenciais da transformação do capitalismo em imperialismo
capitalista” (LÊNIN, 1985, p.30). Em sua relação com as empresas familiares, os bancos geralmente concedem crédito
de pagamento (liquidez, capital de giro, duplicatas) porque as empresas desse tipo só podem
pagar tais empréstimos através de seus lucros.
Já na relação com as SAs, os bancos coordenam a subscrição de ações adiantando
capitais as SAs, realizando o levantamento das cotas e oferecendo as ações aos clientes. A
capacidade de obtenção de crédito das SAs junto aos bancos é muito maior, pois eles podem
ser pagos não apenas com o lucro advindo da produção, mas também pela emissão de novas
ações.
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É grande o interesse dos bancos nisso, pois é uma atividade que lhes dá o lucro do
fundador. Os bancos também costumam adiantar crédito de capital (e não apenas capital de
circulação) as SAs com mais freqüência, já que, nesse caso, há maior segurança de
recebimento, pois as SAs têm mais opções de capitalização: lucros correntes e novas emissões
que dão lucro ao próprio banco. Os bancos também podem investir em ações ao invés de
apenas intermediar sua venda. Tornam-se agentes ativos no mercado de capitais. Com isso,
nasce um interesse duradouro do capital bancário pelo capital industrial (capital financeiro).
Deste modo, não é tão clara hoje em dia a diferenciação entre empresários produtivos e
financeiros, pois os bancos passam a ser representados nos conselhos fiscais e diretorias das
SAs e, ainda, fiscalizam as SAs.
Dadas a superioridade no tocante à capacidade de crédito e acumulação, as SAsgeralmente obtêm lucros muito maiores que as empresas individuais. A totalidade dos lucros
não precisa ser distribuída entre os acionistas (dividendos), necessariamente. O acionista se
comporta como capitalista do dinheiro; nesse sentido um dividendo levemente superior à taxa
de juros já o satisfaz. Ou seja, as SAs geralmente retêm parte dos lucros e criam reservas para
o futuro.
Portanto, num contexto de acirramento da concorrência ou recessão, as SAs podem
fixar preços abaixo dos custos de produção e, mesmo assim, distribuir dividendos iguais oulevemente inferiores à taxa de juros. Vê-se aqui mais uma maneira pela qual as SAs
promovem a centralização de capital: na guerra de preços eliminam concorrentes menores.
À concentração da produção nessas organizações, determinando o fim da livre
concorrência, segundo Lenin é o que caracteriza a atual etapa do modo de produção capitalista
como monopolista ou imperialista. As integrações e fusões atuam sob a forma de trustes ou
cartéis.
Lênin (1985, p. 22) divide em três fases a história de formação e evolução dosmonopólios.
A primeira fase, entre os anos de 1860 a 1880, corresponde à etapa da livre
concorrência e do livre comércio; os oligopólios já estão se formando, mas ainda são
embriões. Os processos de industrialização de nações como Alemanha, da França e dos EUA
foram beneficiados pelo avanço da importação de bens de capital ingleses a baixos preços.
Como a técnica era a da I Revolução Industrial, era fácil promover a implantação de setores
industriais copiando os processos produtivos ingleses (a contratação de operários
especializados ingleses – homens práticos – garantia a cópia dos processos). Característica
importante para justificar a evolução crescente na formação de oligopólios.
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Na segunda fase, dos anos 1880 até a crise de 1900-03, os cartéis são transitórios. A
grande depressão de 1870 é a primeira crise marcada por superprodução e deflação da história
do capitalismo. Nessa fase há grande desenvolvimento dos cartéis, pois estes são meios que
evitam que a queda de preços (e de lucros) se prolongue.
A integração elimina as diferenças de conjuntura e assegura, também, à empresa
integrada uma taxa de lucro mais estável. A integração elimina o intermediário.
Possibilita aperfeiçoamentos técnicos e, por conseguinte, a obtenção de lucros
suplementares por confronto com os da empresa não-integrada. (HILFERDING,
1985, p. 286-287).
Na terceira e última fase, a partir de 1903, os cartéis já apresentam maior estabilidadee seu número avança significativamente. Tornam-se uma das bases de toda a vida econômica.
O capitalismo se transforma em imperialismo. Eles estabelecem entre si acordos sobre as
condições de venda, as trocas etc. Repartem os mercados entre si, determinam a quantidade
dos produtos a fabricar, fixam os preços e repartem os lucros entre as diversas empresas. Na
Alemanha, por exemplo, os 250 cartéis existentes em 1896 passam para 385 em 1905. Estas
12 mil empresas integradas consomem mais da metade do vapor e da eletricidade; Já nos
EUA o número de cartéis era 185 em 1900 e 250 em 1907, reunindo cerca de 25% dasempresas.
Até aqui vimos que, na economia capitalista, a propriedade do capital é financiada
pela emissão de ativos financeiros. Os mercados financeiros que criam e negociam esses
ativos são, portanto, elementos centrais na operação das economias capitalistas. A
autonomização de seu valor na esfera financeira caracteriza o capital fictício, compromete os
investimentos em novos ativos de capital e, assim, os mercados financeiros dominam o ritmo
de crescimento e o potencial de emprego das economias capitalistas.A expansão das SAs, nas palavras de Hilferding e Lênin, é fundamental para se
compreender o desenvolvimento imperialista na medida em que se considera a fusão do
capital financeiro com o capital produtivo, reforçando o que Marx previa.
A seção a seguir analisará o funcionamento da etapa financeira do capital globalizado
destacando os interesses do mercado e do Estado. Com o objetivo de mostrar como o processo
de desregulamentação bancária, ocorrida ao longo dos últimos anos dentro do Regime Dólar-
Wall Street (RDWS), contribuiu para perpetuar o domínio da esfera financeira sobre a esfera
produtiva.
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1.3.A Globalização Financeira – O Regime Dólar-Wall Street (RDWS)
O tema da globalização financeira, da instabilidade e das crises do mercado de
capitais, estudados nesta seção, serve para mostrar como se caracteriza e evoluem tais
fenômenos, sob a perspectiva da economia política. Seu objetivo é demonstrar que a atual
etapa do modo de produção capitalista potencializa e explicita todas as contradições presentes
na análise de Marx, Hilferding e Lênin. Tais desenvolvimentos são fundamentais para uma
proposta crítica de educação financeira voltada para a autonomia.
Globalização financeira é o processo de integração dos mercados financeiros locais -tais como os mercados de empréstimos e financiamentos, de títulos públicos e
privados, monetário, cambial, seguros, etc. - aos mercados internacionais. No limiteos mercados nacionais operariam apenas como uma expressão local de um grandemercado financeiro global. (PRADO, 2001, p.47).
O fenômeno da integração não trata apenas do crescimento de transações financeiras
com o exterior, mas na integração dos mercados financeiros nacionais na formação de um
mercado financeiro internacional. Este processo de integração dos mercados financeiros locais
só tornou-se possível, de forma sistemática e organizada, a partir do Regime Dólar-Wall
Street (RDWS).
Na análise da globalização financeira, merece destaque o papel dos mercados e do
Estado, no qual se desenvolve o processo de autonomia da esfera financeira e seu domínio
sobre a esfera produtiva.
Entre os serviços financeiros6 que têm crescido aceleradamente nas últimas décadas
temos as atividades bancárias internacionais, as operações com moedas e o mercado de
derivativos. Desde a Crise do Petróleo em 1973 observou-se um rápido crescimento da
atividade bancária com euromoeda, estimulada pela grande demanda por empréstimos dos países importadores de petróleo. O número de bancos, especialmente os norte-americanos,
com filiais no exterior também cresceu rapidamente desde essa década.
Com a crise da dívida na década de 1980 a expansão dos bancos através da abertura de
filiais no exterior desacelerou-se, para retomar um processo de crescimento acelerado na
década de 1990. Esta última década foi marcada não apenas por um grande crescimento da
6 Um estudo recente do Grupo dos Dez, definiu serviços financeiros como as atividades dos Bancos Comerciais,
Bancos de Investimentos, Seguro, Gestão de Ativos. A estes podemos acrescentar as atividades do mercadofinanceiro internacional associadas a diversificação de risco (inclusive mercados câmbial e de derivativos),desenvolvimento e vendas de produtos financeiros, garantia de transações (custódias, confirmação de contratosetc). (PRADO, 2001, p. 36).
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internacionalização de empresas financeiras, mas também de um elevado nível de fusões e
aquisições dessas firmas nos principais países industrializados. Nesse sentido, o número de
firmas bancárias caiu em todos os países durante a década e a concentração da atividade
bancária, medida como percentagem dos depósitos bancários controlados pelos grandes
bancos, cresceu continuamente7.
A globalização financeira, no entanto, tem sido fonte de grande instabilidade. O
crescimento dos fluxos financeiros internacionais e a desregulamentação dos serviços
financeiros internacionalmente vêm sendo acompanhados por crises cuja freqüência vem
aumentando na última década. (PRADO, 2007, p. 55).
Isto não ocorre por acaso. O colapso do sistema monetário internacional criado na
conferência monetária de Bretton-Woods em 1944, e a ordem internacional que surgiu nadécada de 1970 em substituição a este sistema, explica em grande parte esta instabilidade.
O sistema de Bretton-Woods foi negociado para reorganizar as relações econômicas e
internacionais depois da 2ª Guerra, com objetivo de evitar a repetição da grande instabilidade
monetária que acompanhou as tentativas de recriação do Padrão Ouro no período entre
guerras; o dólar seria a moeda de referência do sistema, e deveria ser trocado pelo Tesouro
Norte-Americano à taxa de câmbio fixa; as outras moedas deveriam manter-se com regime de
taxas de câmbio fixas, mas ajustáveis, com relação ao dólar; seriam controlados movimentosespeculativos na conta de capital; O FMI seria a organização internacional responsável por
supervisionar a operação do novo sistema monetário.
O Sistema de Bretton-Woods, combinado com a política keynesiana empreendida
pelos países da Europa Ocidental e os EUA, viabilizou que os países industrializados tivessem
entre 1948 e 1971 as maiores taxas de crescimento econômico registradas na história
econômica contemporânea. (PRADO, 2001).
Entretanto na segunda metade da década de 1960 este sistema já dava mostras de crise.Por um lado, as políticas macroeconômicas de promoção do pleno emprego começaram a
pressionar o nível de preço de forma mais significativa que seus efeitos sobre a taxa de
desemprego.
Uma explicação para este fenômeno seria a desaceleração da taxa de crescimento da
produtividade, associada ao esgotamento das oportunidades abertas com a tecnologia da
época, baseadas no uso intensivo de equipamentos eletro-mecânicos, em rendimentos
crescentes de escala e na organização fordista da produção. Entretanto, tal fato, associado as
7 Ver Group of Ten, 2000,p.3
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políticas monetárias expansivas dos países industrializados, e em especial aos elevados
déficits da Balança de Pagamentos norte-americanas, pressionavam não apenas a inflação
mundial, mas a taxa de câmbio dólar-ouro.
A década de 1970 foi marcada por uma crise financeira no início da década, pela
primeira crise do petróleo em 1973, e pela crise gerada pela elevação da Taxa de Juros nos
EUA a partir de 1979, nos governos Regan e Carter, o que acarretou mudanças profundas na
política econômica da maioria dos países do mundo.
Inicialmente, essas transformações ocorreram nos países desenvolvidos, com o
abandono das taxas de câmbio fixa e a progressiva liberalização no movimento de capitais de
curto prazo.
Em um segundo momento, sob a pressão da negociação da crise da dívida externa, os países em desenvolvimento foram também obrigados a realizar profundas mudanças na suas
políticas econômicas e reavaliar suas estratégias de desenvolvimento.
Em um terceiro momento os países socialistas da Europa Oriental, em uma revolução
comparável com as ocorridas após a Primeira Guerra Mundial, reverteram em alguns poucos
anos a economia de seus países, até então totalmente centralizadas e, na maioria dos casos,
completamente estatizadas, em um capitalismo desorganizado e selvagem.
O quarto movimento foi a desvalorização do peso mexicano em 1994-95, que marca a primeira crise de nova geração latino-americana, isto é, a primeira crise latino-americana pós-
Plano Brady. Posteriormente, as economias desenvolvimentistas da Ásia oriental entraram em
crise, encerrando um longo ciclo de crescimento acelerado.
Em um quinto e dramático movimento, em maio de 1998, a Rússia mergulhada no
caos político e na corrupção crescente desvaloriza o rublo, marcando a primeira crise
financeira pós-socialista. Finalmente, a crise alcança a América Latina com a desvalorização
do Real e a pressão crescente sobre o regime de taxa de câmbio fixa argentina.Com a crescente instabilidade internacional, a partir da década de 1970, nas
universidades, nos governos e nas organizações internacionais, começaram a ascender, em
substituição aos economistas keynesianos, partidários das novas correntes liberais que
sustentavam a necessidade da redução do estado para a um nível similar ao período anterior a
Segunda Guerra Mundial, com liberdade de movimento de capitais, aliada a uma rápida
desregulamentação e confiança no papel do mercado, mesmo em atividades antes exclusivas
do setor público.
O argumento apresentado era de que os avanços tecnológicos e organizacionais,
depois da difusão da microinformática na década de 1980, levaram a erosão dos obstáculos
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geográficos, ideológicos e políticos às transações internacionais e a ação das firmas
transnacionais.
Essas novas forças, que estes economistas chamavam de globalização, levariam a um
crescimento mais rápido, principalmente dos países mais pobres, permitindo a convergência
nos níveis de renda e dos padrões de consumo, no mundo todo. Neste caso, política
econômica seria ainda relevante, mas apenas na medida em que regimes dirigistas resistiam a
uma rápida e ampla liberalização e desregulamentação das atividades domésticas que lhes
facultasse o aproveitamento das novas oportunidades.
Nesse contexto, a globalização financeira, que como vimos foi consequência de um
conjunto de acontecimentos históricos, foi considerada através dessa interpretação, por um
lado, como produto inevitável das transformações econômicas e tecnológicas recentes, e poroutro lado, como altamente desejável para os mercados e instituições financeiras.
Pode-se, portanto, concluir que o funcionamento do sistema capitalista em sua fase
atual é produto de uma assimetria de poder e dominação existente na lógica financeira do
capital.
Portanto, o capital financeiro assume o controle do Estado hegemônico norte-
americano. Ao reformular o sistema financeiro internacional de acordo com a lógica do
capital financeiro, generaliza pelo conjunto do sistema um regime permissivo edesregulamentado para as instituições financeiras. Dá plena liberdade para que elas atuem
Como é dever do Estado estabelecer regras de regulação, vê-se, desta forma, subordinado à
dominação financeira do capital.
A idéia geral consiste em mostrar que dentro da lógica do capital financeiro, a
tendência de autonomização do seu valor frente à esfera produtiva leva ao colapso.
Historicamente, isto se manifestou através da expansão das SAs e formação de monopólios,
presentes nas palavras de Lênin e Hilferding. Nesse período, já havia uma crescente importância do capital financeiro perante o
capital produtivo, porém, ainda havia algum tipo de regulamentação que freava este
desenvolvimento. Ao passo que os mercados foram sendo cada vez mais desregulamentados,
a superioridade do capital financeiro tornou-se inevitável. A globalização financeira nada
mais é que a etapa atual orientada pelas regras do RDWS, potencializando e legitimando a
acumulação de capital fictício.
Ao mesmo tempo em que a primeira década do novo milênio chega ao fim, grande
parte da população do mundo sofre com desemprego e capacidade ociosa. A produção foi
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paralisada por causa da violenta crise financeira vivida nos países mais ricos do mundo e que
interrompeu a atividade econômica em todo o planeta.
Recontar a história de formação do sistema capitalista ajuda a entender a magnitude
das implicações desta etapa madura e contraditória. Porém, a regulação e segmentação dos
mercados de capitais não são suficientes para garantir a solidez e eficiência do sistema
financeiro num contexto de crises.
Uma forma de amenizar as desigualdades sociais a partir de um entendimento acerca
dos conceitos e produtos financeiro dá-se através da promoção de iniciativas de educação
financeira. Sejam elas públicas ou privadas, as iniciativas de educação financeira devem
contribuir para a autonomia das decisões individuais e coletivas, envolvendo a correta gestão
dos gastos e receitas, o entendimento crítico do funcionamento do sistema capitalista em suaetapa atual e, ainda, contribuir para a emancipação social e política a partir de métodos
interdisciplinares de ensino.
Para tanto, o próximo capítulo tem por objetivo mostrar ao leitor como e porque
nasceram as iniciativas de educação financeira no Brasil e no mundo, destacando algumas
linhas tradicionais no tratamento do tema.
E, ainda, será apresentada uma iniciativa inovadora de educação financeira, que
propõe uma educação crítica e autônoma, considerando o contexto atual de funcionamento domodo de produção capitalista e suas contradições.
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II – A EDUCAÇÃO FINANCEIRA
A educação financeira é um tema com crescente interesse por parte da sociedade não
só pela importância que as decisões financeiras têm ao longo da vida, mas também devido ao
atual cenário de crise econômico-financeira, afirma Pinheiro (2008).
A partir do quadro das Estratégias de Educação Financeira proposto pela OCDE8 em
vários países, inclusive no Brasil, inúmeras ações voltadas para a educação financeira têm se
desenvolvido. Órgãos governamentais, instituições financeiras (bancárias ou não) e, até
mesmo, iniciativas particulares estão cada vez mais mobilizados em disseminar a educaçãofinanceira à sociedade em geral.
Na primeira parte deste capítulo, é feita uma breve caracterização das estratégias
ortodoxas de educação financeira no Brasil e no mundo, assim como, as linhas tradicionais de
educação financeira. Na segunda parte, será apresentada uma perspectiva alternativa de
educação financeira, o Programa de Educação para Inclusão Financeira Sócio-econômica
Sustentável – PEFISS . Esta iniciativa de educação não formal se distancia das abordagens
tradicionais tanto por sua concepção teórico-metodológica crítica, quanto por seus conteúdosministrados, e suas formas de avaliação.
O objetivo principal é demonstrar que, diferentemente das abordagens tradicionais, tal
iniciativa permite compreender da maneira mais aprofundada e crítica a dinâmica de
funcionamento da economia, em particular do capital financeiro. Além disto, o programa
apresenta outra faceta inédita ao articular a sustentabilidade financeira também à sua
dimensão ambiental, contribuindo, assim, para a conscientização, desenvolvimento e
emancipação pessoal.
2.1. A Educação Financeira: características e linhas tradicionais
A globalização, o desenvolvimento tecnológico e alterações regulatórias e
institucionais de caráter neoliberal, são as principais forças que produziram mudanças
fundamentais nas relações econômicas e sociopolíticas mundiais nas últimas décadas, levando
países desenvolvidos a reduzirem o escopo e o dispêndio de seus programas de seguridade
8 Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) fundada em 1960 então como OCEE(Organização para Cooperação Econômica Européia).
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social, ou seja, houve o rompimento do paradigma paternalista do Estado. (SAVOIA, et. al.,
2007).
Até meados da década de 90, o ambiente de inflação crônica então existente no Brasil,
dificultava o planejamento adequado das finanças das famílias brasileiras, uma vez que era
difícil conciliar os constantes acréscimos nos preços com seus ganhos. Essa situação colocava
à margem do sistema financeiro parcela significativa da sociedade brasileira, cujos recursos
não eram suficientes para atender às exigências das instituições financeiras quanto à obtenção
de crédito e à realização de investimentos. (SANTOS, 2009).
O acesso aos serviços financeiros, afirma Pinheiro (2008), tornou-se condição
necessária para a vida econômica e social dos indivíduos. Todavia, na maioria dos países, em
especial no Brasil, há uma relevante parcela da sociedade que enfrenta dificuldades emacessar e utilizar de maneira adequada os produtos dessa natureza.
A educação financeira sempre foi importante aos consumidores, para auxiliá-los aorçar e gerir a sua renda, a poupar e investir, e a evitar que se tornem vítimas defraudes. No entanto, sua crescente relevância nos últimos anos vem ocorrendo emdecorrência do desenvolvimento dos mercados financeiros, e das mudançasdemográficas, econômicas e políticas. (OCDE, 2004, p.223)
Tais mudanças econômicas, sociais e tecnológicas dos últimos anos têm apontado para
a urgência em implementar ações com o objetivo de educar financeiramente a população no
Brasil e no mundo.
Na área legislativa, a aprovação da Estratégia Nacional de Educação Financeira
(ENEF), foi um ponto onde se constata que, é agora, e pouco a pouco, o Brasil esta dando a
devida importância para a educação financeira. Instituída pelo Decreto Nº 7.397 de 22 de
dezembro de 2010, possui a finalidade de promover a educação financeira e previdenciária e
contribuir para o fortalecimento da cidadania, a eficiência e solidez do sistema financeiro
nacional e a tomada de decisões conscientes por parte dos consumidores.
Objetivando fomentar a cultura de educação financeira no país; ampliar o nível decompreensão do cidadão para efetuar escolhas conscientes relativas à administraçãode seus recursos e contribuir para a eficiência e solidez dos mercados financeiro, decapitais, de seguros, de previdência e de capitalização (Site Vida e Dinheiro)
É através da Educação Financeira que consumidores e investidores aperfeiçoam sua
compreensão dos produtos financeiros e também desenvolvem habilidades e segurança para
se tornarem mais conscientes dos riscos e oportunidades financeiras, para fazerem suas
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escolhas e para saberem onde buscar ajuda, melhorando assim a relação com suas finanças
(Site Vida e Dinheiro9).
Segundo a OCDE10, educação financeira é o processo pelo qual agentes financeiros
melhoram sua compreensão de produtos e de conceitos financeiros, mediante informação,
instrução e aconselhamento direto, o que promove a habilidade e a confiança necessárias para
que os indivíduos se tornem mais conscientes dos riscos e das oportunidades financeiras, para
que façam escolhas fundamentadas e para que saibam onde podem encontrar ajuda.
O quadro a seguir contempla os princípios e recomendações propostos pela OCDE no
âmbito da educação financeira.
Princípios e recomendações de educação financeira
1. A educação financeira deve ser promovida de uma forma justa e sem vieses, ou seja, o desenvolvimento dascompetências financeiras dos indivíduos precisa ser embasado em informações e instruções apropriadas, livresde interesses particulares.2. Os programas de educação financeira devem focar as prioridades de cada país, isto é, se adequarem àrealidade nacional, podendo incluir, em seu conteúdo, aspectos básicos de um planejamento financeiro, como asdecisões de poupança, de endividamento, de contratação de seguros, bem como conceitos elementares dematemática e economia. Os indivíduos que estão para se aposentar devem estar cientes da necessidade deavaliar a situação de seus planos de pensão, necessitando agir apropriadamente para defender seus interesses.3. O processo de educação financeira deve ser considerado, pelos órgãos administrativos e legais de um país,como um instrumento para o crescimento e a estabilidade econômica, sendo necessário que se busquecomplementar o papel exercido pela regulamentação do sistema financeiro e pelas leis de proteção ao
consumidor.4. O envolvimento das instituições financeiras no processo de educação financeira deve ser estimulado, de talforma que a adotem como parte integrante de suas práticas de relacionamento com seus clientes, provendoinformações financeiras que estimulem a compreensão de suas decisões, principalmente nos negócios de longo
prazo e naqueles que comprometam expressivamente a renda atual e futura de seus consumidores.5. A educação financeira deve ser um processo contínuo, acompanhando a evolução dos mercados e a crescentecomplexidade das informações que os caracterizam.6. Por meio da mídia, devem ser veiculadas campanhas nacionais de estímulo à compreensão dos indivíduosquanto à necessidade de buscarem a capacitação financeira, bem como o conhecimento dos riscos envolvidosnas suas decisões. Além disso, precisam ser criados sites específicos, oferecendo informações gratuitas e deutilidade pública.7. A educação financeira deve começar na escola. É recomendável que as pessoas se insiram no processo
precocemente.
8. As instituições financeiras devem ser incentivadas a certificar que os clientes leiam e compreendam todas asinformações disponibilizadas, especificamente, quando forem relacionadas aos negócios de longo prazo, ou aosserviços financeiros, com conseqüências relevantes.9. Os programas de educação financeira devem focar, particularmente, aspectos importantes do planejamentofinanceiro pessoal, como a poupança e a aposentadoria, o endividamento e a contratação de seguros.10. Os programas devem ser orientados para a construção da competência financeira, adequando-se a gruposespecíficos, e elaborados da forma mais personalizada possível.
Fonte: OCDE, 2005.
9 Disponível em http://www.vidaedinheiro.gov.br10 Pinheiro, R. P. Educação financeira e previdenciária, a nova fronteira dos fundos de pensão. Artigo publicadono Livro “Fundos de Pensão e Mercado de Capitais”. Lançado pelo Instituto San Tiago Dantas de Direito eEconomia e Editora Peixoto Neto, em set/2008 na cidade de São Paulo-SP.
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Os princípios e recomendações da OCDE para a educação financeira no Brasil estão
disponíveis no site ‘vida e dinheiro’11, do governo federal, já citado neste capítulo. Nele
encontra-se presente o plano diretor da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) e
seus anexos, como instrumento política nacional de incentivo às práticas de educação
financeira.
Capitaneadas pela OCDE, propostas de Estratégias nacionais sobre o tema, estão
sendo desenvolvidas em vários países. O discurso dominante é de que na atualidade os
indivíduos precisam dominar certas habilidades que lhes permitam tomar decisões financeiras
acertadas, controlando suas finanças pessoais e alcançando assim seu bem estar . (PINHEIRO
2008).
Logo, a principal dificuldade do indivíduo é planejar adequadamente suas ações delongo prazo; é preciso poupar por conta própria para a aposentadoria, reavaliar as decisões
sobre a compra de sua casa própria, e dos bens duráveis, bem como entender as novas
modalidades de crédito e dominar a tecnologia disponível para a realização das transações
financeiras básicas. (SAVOIA, 2007).
Se, de um lado, a educação financeira pode ajudar as pessoas a tomarem melhores
decisões sobre seu dinheiro, por outro lado, a ausência de conhecimento básico de finanças
expõe os cidadãos a ações de pessoas mal intencionadas. Adicionalmente, a falta deinformação consistente leva o indivíduo a agir de forma financeiramente irresponsável, seja
por não estar preparado para enfrentar situações de dificuldades financeiras, seja por assumir
compromissos superiores à sua capacidade financeira, levando a um aumento dos níveis de
inadimplência. (SANTOS, 2009).
A educação financeira tornou-se uma preocupação crescente em diversos países,gerando um aprofundamento nos estudos sobre o tema. Embora haja críticas quanto
à abrangência dos programas e seus resultados, principalmente entre a populaçãoadulta, é inegável a importância do desenvolvimento de ações planejadas dehabilitação da população. (SAVOIA, J. ET. AL., 2007, p.1123)
Para agravar esse quadro, a população, despreparada para dimensionar o volume de
comprometimento do seu orçamento, avança com ímpeto ao crédito fácil e, endividada, busca
caminhos para restaurar o seu equilíbrio. O crescimento desorientado do crédito produz a
inadimplência. A partir daí, os empréstimos são interrompidos e a economia reduz a sua
atividade. Como conseqüência dessas ações, surge um círculo vicioso de expansão e retração
do crescimento.
11 Disponível em http://www.vidaedinheiro.gov.br
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Portanto, “a educação financeira é entendida como um processo de transmissão de
conhecimentos para que os indivíduos possam tomar decisões fundamentadas e seguras,
melhorando o gerenciamento de suas finanças pessoais”. (SAVOIA, ET. AL., 2007, p.1122).
Já, para significativa parcela da sociedade, a educação financeira revela-se um
instrumento necessário para preparar essas pessoas para os desafios do complexo mundo
financeiro que hoje se apresenta. Diante da diversidade de ofertas inerentes ao estágio atual
dos mercados e da crescente inclusão de pessoas com maior capacidade financeira, é
necessário um esforço para que essas pessoas ampliem cada vez mais suas informações sobre
gestão do dinheiro, de modo a permitir o planejamento e a tomada de decisões adequada às
suas reais necessidades. (SANTOS, 2009).
Desse modo, a educação financeira pode ser definida como a habilidade que osindivíduos apresentam de fazer escolhas adequadas ao administrar suas finanças
pessoais durante o ciclo de sua vida. Usuários desse tipo de produto, quandodevidamente instruídos, têm a capacidade lidar com as questões financeiras docotidiano e as imprevistas, avaliar o impacto das decisões para a sua vida e a de suafamília, compreender seus direitos e suas responsabilidades e ter o conhecimento defontes confiáveis de consulta. (PINHEIRO, 2008, p.2)
Diante deste quadro, exemplificaremos algumas iniciativas tradicionais de educação
financeira, destacando seus objetivos e propostas.A primeira iniciativa no campo da educação financeira, o Programa de Educação
Financeira da BM&F-BOVESPA e TV Cultura, trata-se de uma ação pioneira no país em prol
da popularização dos conceitos de economia, finanças pessoais e tipos de investimento a
partir da televisão.
Sua proposta é fazer com que os ensinamentos já contemplados nos programaseducacionais da BM&F BOVESPA possam, agora, atingir uma parcela ainda maiorda população brasileira por se tratar de um veículo de comunicação de massa. O
programa oferece um conteúdo didático, de linguagem fácil e enfoque bemhumorado.12
Esse conhecimento deve permitir que os clientes tenham visão integrada das suas
decisões de crédito, poupança, investimento e consumo, o que deve ser compatível com a sua
realidade financeira.
“Os programas de educação financeira devem ajudar os consumidores de produtos e
serviços financeiros a encontrar soluções adequadas às suas necessidades e, ao mesmo tempo,
a ampliar a compreensão sobre os riscos inerentes a esse mercado”. (OCDE, 2005).12 Disponível em http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/educacional/iniciativas/tv-educação-
financeira.aspx?idioma=pt-br
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Outra iniciativa de educação financeira, também considerada tradicional, é o
Programa de Educação Financeira do Banco Central . Destinado à sociedade brasileira em
geral, com foco nos clientes e usuários dos produtos e serviços financeiros, seu compromisso
é manter o sistema sólido e eficiente “o Banco Central busca atingir três dimensões: cognitiva,
atitudinal e comportamental. [...] além de incentivar o hábito de poupança, estimular a
responsabilidade no uso do crédito e promover mudanças de comportamentos com base nas
boas práticas de finanças pessoais”.
Com informação, formação e orientação claras, as pessoas adquirem os valores e ascompetências necessários para se tornarem conscientes das oportunidades e dosriscos a elas associados e, então, façam escolhas bem embasadas, saibam onde
procurar ajuda e adotem outras ações que melhorem o seu bem-estar. Assim, a
Educação Financeira é um processo que contribui de modo consistente para aformação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro.13
No âmbito das iniciativas particulares de educação financeira, tem destaque o DSOP –
Educação Financeira. Idealizado pelo educador e terapeuta financeiro, Reinaldo Domingos, o
DSOP fornece ferramentas e produtos financeiros aos consumidores, empresas e clientes
bancários com o propósito de conduzi-los a um comportamento correto no planejamento das
finanças pessoais para realização de seus sonhos e objetivos.
A Educação Financeira hoje se mostra muito maior que apenas um termo da moda,sendo uma necessidade para todos os consumidores, para isso a DSOP EducaçãoFinanceira desenvolveu materiais que possibilitam a inserção do tema nos maisdiversos setores da sociedade. São produtos para escolas, empresas, famílias,governo, entre outros, que mudam a forma com que as pessoas lidam com odinheiro14.
A utilização da metodologia ‘diagnosticar, sonhar, orçar e poupar’ o DSOP –
Educação Financeira entende que a educação financeira de qualidade tem que ser
responsável pela mudança comportamental de se adequar ao sistema no planejamento das
finanças pessoais. O conhecimento nessa área traz muitos benefícios à sociedade como umtodo e, desta forma, as pessoas aprendem que o mais importante é atingir objetivos e, que o
dinheiro, é apenas um meio para se conseguir. “Educação financeira é do ramo das ciências
humanas, que lidam diretamente com o comportamento e costumes, gerando o hábito correto
de como administrar o dinheiro”. (DSOP).
Através de diversos tipos de produtos e pacotes – livros, cursos e palestras – o DSOP –
Educação Financeira preocupa-se com a saúde financeira dos indivíduos e empresas. Dentre
as principais lições, gastar menos do que ganha, saber investir e como comprar com13 Disponível em http://www.bcb.goc.br/?BECEDFIN14 Disponível em http://www.dsop.com.br/educacao-financeira
http://www.dsop.com.br/educacao-financeirahttp://www.dsop.com.br/educacao-financeira
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consciência, o DSOP – Educação Financeira acredita que só é possível educar
financeiramente a partir de experiências individuais, como é o caso do seu presidente e
consultor, Reinaldo Domingos. Segundo ele, sua experiência aos 12 anos, ao realizar sua
primeira conquista comprando uma bicicleta, foi após ter planejado sua poupança consciente
de seus ganhos. “Foi priorizando seus sonhos e sabendo exatamente quanto custavam e
quanto deveria poupar para alcançá-los, que aprendeu a ter o dinheiro como aliado, usando-o
com responsabilidade e foco na satisfação pessoal e familiar”.
À guisa de conclusão, pode-se afirmar que não obstante tais iniciativas, representativas
da visão hegemônica da educação financeira, ao se apresentarem como instrumentos para
mudança de comportamento, verifica-se que, tratam tão somente de conhecimentos
transmitidos com o objetivo de adequar o comportamento individual às condiçõesestabelecidas. Isto é, estimular a adoção de atitudes compatíveis com a lógica do
funcionamento do sistema financeiro.
Em síntese, capacitam os indivíduos a ter um “bom comportamento” para lidar com
um sistema econômico e financeiro cujo modo de operação de suas instituições e regras de
funcionamento são pré-determinadas e não sujeitas à crítica, senão de forma meramente
superficial. Tratam-se de abordagens orientadas, portanto a promover a inclusão financeira de
forma subordinada.
2.2. Programa de Educação Financeira para Inclusão Sócio Econômica Sustentável -
PEFISS
A partir do exposto na seção anterior, torna-se evidente a necessidade de promover
alternativas de educação financeira que atuem no sentido de uma educação libertadora. É
assim que o Programa de Educação Financeira para Inclusão Socioeconômica Sustentável – PEFISS atua, no sentido de promover o desenvolvimento e emancipação pessoal de maneira
consciente. A seguir, será mostrada a concepção do referido programa, bem como seus
objetivos e metodologias, a fim de mostrar o tratamento crítico do programa ao tema da
educação financeira15.
2.2.1. Justificativa
15 Os fragmentos apresentados a seguir foram extraídos da versão original do PEFISS, 2013, enviada à PROEX.
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` A guisa de justificativa são apresentados abaixo alguns fatos estilizados que, em
diferentes níveis analíticos, retratam o quadro atual da realidade social que demonstra a
necessidade do programa.
Em nível internacional, o processo de transnacionalização capitalista (“globalização”) com
as seguintes características essenciais:
Elevação extraordinária dos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais;
Acirramento da concorrência nos mercados internacionais;
Maior integração entre os sistemas econômicos nacionais;
Liberalização e desregulamentação dos mercados nacionais;
Como resultado verifica-se que, em dimensão produtiva, o surgimento de novos
produtos e novas oportunidades (e custos), o acirramento da concorrência por novosmercados, a elevação dos gastos em P&D; e o encurtamento do ciclo de vida dos produtos.
No âmbito comercial, ocorre a elevação das pressões liberalizantes, mas também do
protecionismo.
Na dimensão financeira, a forte instabilidade monetário-financeira, com alta
volatilidade das taxas de câmbio e de juros e elevada capacidade de propagação com forte
impacto sobre o sistema financeiro nacional, finanças públicas e capacidade de gerenciamento
da economia. Destacando um aspecto positivo: a redução do custo (spreads) e a alongamentodos prazos de intermediação financeira.
O imperativo da sustentabilidade fica explícito no capítulo 36 da AGENDA 21, par.04:
O ensino, inclusive o ensino formal, a consciência pública e o treinamento devem serreconhecidos como um processo pelo qual os seres humanos e as sociedades podemdesenvolver plenamente suas potencialidades. O ensino tem fundamental importânciana promoção do desenvolvimento sustentável e para aumentar a capacidade do povo
para abordar questões de meio ambiente e desenvolvimento. Assim como o ensinoformal, o ensino informal é indispensável para modificar a atitude das pessoas, para queestas tenham capacidade de avaliar os problemas do desenvolvimento sustentável eabordá-los. Para ser eficaz, o ensino sobre meio ambiente e desenvolvimento deveabordar a dinâmica do desenvolvimento do meio físico/biológico e do socioeconômicoe do desenvolvimento humano (que pode incluir o espiritual), deve integrar-se em todasas disciplinas e empregar métodos formais e informais e meios efetivos decomunicação.
Em nível nacional houve aumento, diversidade e complexidade dos produtos/serviços
financeiros e previdenciários; crescimento econômico (a partir de 2003), com inclusão social
(parcial e imperfeita): elevação do emprego formal; elevação do nível de renda, consumo e ao
acesso ao crédito no caso dos segmentos até então excluídos; reorientação e desenvolvimento de
negócios direcionados para a “nova classe média”.
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Os resultados da 5ª Pesquisa de Orçamento Familiar – POF realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE entre os anos de 2008-2009, na categoria
Avaliação do grau de dificuldade para chegar ao fim do mês com o rendimento, afirma que
‘Cerca de 75% das famílias brasileiras referiram dificuldades e somente 25% fizeram
referência a facilidades’. (POF 2008-2009, p. 80). As dívidas entre cheque pré-datado, cartão
de crédito, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguros são os maiores
vilões, ‘apresentando leve alta após sete meses consecutivos de queda, alcançando 58,8% em
janeiro de 2012, ante 58,6% em dezembro de 2011’ (PEIC, 2012).
Assim como, alcance e abrangência limitados dos métodos tradicionais de educação
financeira.
2.2.2. Objetivos
O objetivo geral do PEFISS é contribuir para a conscientização, desenvolvimento e
emancipação pessoal, exercício da cidadania para inclusão econômica e financeira a partir da
adoção de atitudes (saber – ser) sustentáveis.
O objetivo específico do programa é contribuir para a formação, no campo econômico-
financeiro e ambiental, de competências transversais sociais, comportamentais e técnicasorientadas para o desenvolvimento pessoal, familiar e coletivo de forma a orientá-los rumo ao
desenvolvimento sustentável.
Trata-se, portanto de dominar linguagem, compreender fenômenos, enfrentar situações-
problemas, construir argumentação e elaborar propostas a partir dos conhecimentos apresentados
em cada módulo do programa. Os conhecimentos são de natureza quantitativa (dados e
informações mensuráveis) e qualitativa (os conceitos, definições, relações, etc.) e abrangem não
só a perspectiva meramente técnica e (e.g. matemática-financeira), mas também um arcabouçoteórico-metodológico mínimo necessário ao desenvolvimento, de forma crítica, das capacidades
cognitivas, reflexivas e criativas (abrangendo conceitos e significados de história econômica geral,
economia política, política monetária e política fiscal, desenvolvimento sustentável e educação
ambiental).
A partir dos conhecimentos adquiridos são desenvolvidas as habilidades básicas
necessárias à mudança para um comportamento sustentável a partir do saber-fazer planejamento
orçamentário. A peça orçamentária operacionaliza as habilidades de identificar variáveis,
compreender fenômenos relevantes, correlacionar informações, analisar situações- problema,
sintetizar, julgar e decidir.
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“saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda
numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão. (Freire, 2011, pag. 80)
A crença de Paulo Freire no potencial humano de constante aprendizado e busca de
soluções para seus problemas norteia o pensamento pedagógico desta proposta, que conta com
a iniciativa dos alunos para buscar as aulas oferecidas, trazer dados de sua realidade objetiva
para análise e buscar o desenvolvimento de suas próprias competências, saberes e habilidades,
em uma constante reinvenção do indivíduo.
Segundo Paulo Freire, “[...] a inclusão do ser humano, sua inserção num permanente
movimento de procura [...]” (2003, p. 14) é o que o impulsiona a um permanente estado de
formação, mais do que puramente treinamento. Parece que o mercado de trabalho e o mercado
de consumo ditam as regras sob as quais a sociedade deve viver. Esta proposta quer colocar-se contra este aparente fatalismo oferecendo instrumentos através dos quais seja possível
repensar suas atitudes em relação ao consumo, crédito uso dos recursos naturais, etc.
Em Adorno a ideia de emancipação se coloca de forma a complementar a noção de
autonomia em Paulo Freire, porém com um foco mais político. Adorno (2000, p. 169) trata do
tema dizendo que “a exigência de emancipação parece ser evidente numa democracia”. Ao
mesmo tempo em que diz que “a democracia repousa na formação da vontade de cada um”.
Com esta preocupação focada na capacidade de atuação político-social de um cidadão quedetém informações e ferramentas para determinar seu próprio futuro e intervir no seu contexto
sócio político nosso projeto se insere.
Nesta mesma direção se coloca a educação matemática crítica pela qual o ensino não
deve ser processar sem que esteja articulado com da realidade objetiva de estudantes e
professores, nem tampouco dos fatores históricos, socioeconômicos e ambientais que a
determinam. Neste sentido, de acordo com Skovsmose (2000), a educação tradicional, na qual
a execução de exercícios apenas para a fixação do conhecimento ensinado previamente pelo professor, esvaziada de qualquer espírito investigativo e questionador , impede o
desenvolvimento da capacidade crítica e transformadoras da sociedade.
Vê-se que a Educação Matemática Crítica tem profunda relação com a Pedagogia de PauloFreire. Também nas duas se pretende promover a consciência do que está sendo aprendido
pelos educandos, e na Educação Matemática Crítica isso é ainda mais importante. Na EducaçãoMatemática Crítica, os conteúdos não são considerados neutros, livres de amarras e contextosque propiciaram o seu surgimento. Quando o professor os ensina não levando em conta tudo oque esse conhecimento representa, está se comportando como um mero reprodutor desse
conhecimento, que não foi desenvolvido por ele, cuja história não conhece. Os alunos, semsaberem de tudo que pode estar envolvido no conteúdo aprendido acabam por deixar-seformatar pela matemática na qual estão inseridos, tomando suas decisões em sociedade demaneira condicionada e não crítica. (SOARES, 2008, p. 64)
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O terceiro referencial teórico empregado refere-se ao tema do desenvolvimento sustentável,
conforme estabelecido pelos documentos Educação para um futuro sustentável: uma visãotransdiciplinar para ações compartilhadas, produzido pela Conferência Internacional sobre
Meio Ambiente e Conscientização Pública para a Sustentabilidade da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), e Agenda 21 em seu
Capítulo 36: Promoção do Ensino, da conscientização e do Treinamento.
Entorno da questão ambiental é possível distinguir duas perspectivas antagônicas
diametralmente opostas. Por um lado, no caso das classes e/ou frações de classe com maior
poder, a degradação ambiental é tratada como sendo de natureza técnica e seus riscos e
impactos como um problema comum a todos, isto é cujos custos são igualmente distribuídos
pelo conjunto da sociedade. Neste caso, os instrumentos de mercado seriam os mais eficientes
para proteger o meio-ambiente, dado o progresso tecnológico e o suposto consenso político
quanto ao imperativo de “economizar o planeta” (razão utilitária).
Por outro lado, do ponto de vista dos movimentos sociais a degradação do meio
ambiente é indissociável da problemática que envolve a desigualdade social. Assim sendo,
seus impactos e riscos se concentram nas classes ou frações de classe subordinadas, com
menor poder e, portanto escassa capacidade de enfrentar com chance de sucesso tais
impactos.
A degradação ambiental e seus efeitos não são “democráticos”, em outras palavras a
justiça ambiental depende da justiça social. Para tanto, a luta em defesa do meio ambiente
exige o respeito e a garantia de condições de vida dignas a partir do enfrentamento da
segregação socioterritorial e da desigualdade ambiental vinculadas ao movimento permanente
de expansão dos mercados. Esta é a perspectiva com a qual o presente programa se identifica
e se propõe a adotar como referência, como sugerido pela noção de desenvolvimento
sustentável de Jacobi (2003, p. 07):
O desenvolvimento sustentável somente pode ser entendido como um processo noqual, de um lado, as restrições mais relevantes estão relacionadas com a exploraçãodos recursos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e o marco institucional.De outro, o crescimento deve enfatizar os aspectos qualitativos, notadamente osrelacionados com a equidade, o uso de recursos – em particular da energia – e ageração de resíduos e contaminantes. Além disso, a ênfase no desenvolvimento devefixar-se na superação dos déficits sociais, nas necessidades básicas e na alteração de
padrões de consumo, principalmente nos países desenvolvidos, para poder manter eaumentar os recursos-base, sobretudo os agrícolas, energéticos, bióticos, minerais, are água.
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2.2.4. Metodologia
Projeto possui três eixos estruturantes, quais sejam:
Noções básicas aplicadas de história e economia; Educação financeira sustentável
(compreensão, organização das receitas e despesas pessoais/familiares através do orçamento,
planejamento, prudência, prevenção, controles e ajustes. Noções sobre desenvolvimento
sustentável e meio-ambiente;
Considerando que as atividades de extensão devem não só levar a universidade até a
comunidade, mas também levar a comunidade à universidade, os encontros serão realizados
no Campus Dom Bosco. Tanto a divulgação, quanto as inscrições serão efetuadas diretamente junto aos parceiros estabelecidos.
O oferecimento do programa envolve a realização de um encontro semanal, com
duração entre três e quatro horas, para turmas com, no máximo, 50 alunos. Cada turma tem
dois ciclos de trabalho de três meses cada. O primeiro, de caráter presencial, além das aulas
expositivas e interativas, envolve também atividades diversas, tais como: apresentação de
vídeos, vivências, dinâmicas de grupo, debates, apresentação de vídeos, simulações, palestras
abertas, etc. No segundo ciclo, não presencial, os participantes devem elaborar e gerenciar
orçamentos mensais a partir dos quais se pode avaliar (através reuniões de acompanhamento
quinzenais), em que medida são (ou não) aplicados os conhecimentos adquiridos no primeiro
ciclo. O desempenho é avaliado segundo a assiduidade e participação ativa nas aulas e
atividades desenvolvidas.
O programa contou com a participação voluntária de seis alunos do curso de graduação
em ciências econômica da UFSJ distribuídos, em duplas, pelos três módulos na etapa presencial, etrabalhando conjuntamente, na etapa não presencial. Os encontros semanais com os participantes,
durante os três módulos presenciais, foram estruturados em três tipos de atividades: (i) parte
expositiva, ministrada por um dos extensionistas; (ii) atividade em sala, conduzida por outro
extensionista; e, proposta de atividade extra-sala. Exemplo desta estrutura pode ser observado a
seguir:
Na parte expositiva, os determinantes das decisões de gasto consumo, nos
determinantes das decisões de aplicação de capital: liquidez (o que é), risco, rentabilidade,
expectativas e aspectos comportamentais; Orçamento familiar como lidar com consumo e
aplicação.
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Nas atividades em sala, são realizados estudos de caso, depoimentos com experiências
pessoais, sobre decisões de consumo e aplicação tomadas e seus resultados; Debate.
Nas atividades extra-sala, o acompanhamento da economia do dia-a-dia (experiência
pessoal, TV, mídia impressa, internet), identificar e trazer material de promoção ao consumo e
aplicações de dinheiro atraentes e seus níveis de risco. O orçamento consiste em elaborar
proposta de planejamento de gastos mensal, atentando para as despesas do grupo familiar e as
despesas individuais dos membros do grupo. Organizar e as faturas de cartão de crédito,
recibos de contas de energia, água, telefone etc. entre outros gastos, bem como, as entradas de
salários, aluguéis e outras fontes de rendimento.
2.2.5. Detalhamento do Público-alvo
O público-alvo apto a integrar o programa compõe-se de jovens (a partir faixa etária
de dezesseis anos de idade) e adultos, cujas famílias possuem renda de até quatro salários
mínimos (R$ 2.488). É a partir desta idade que, de modo geral, se situa a maioria da chamada
população economicamente ativa (PEA).
Em segundo lugar, o segmento padece de extrema vulnerabilidade e suscetibilidade a
estímulos orientados para adoção acrítica de um perfil de consumo insustentável, seja do ponto de vista financeiro, seja da perspectiva socioambiental.
Em terceiro lugar, tal público dispõe, ao menos em princípio, de base prévia de
conhecimentos elementares e experiências de vida necessárias ao programa.
Desta forma, o público alvo compõe-se de:
Público alvo Público atingido
Escola Estadual Dr. Garcia de Lima
São Gonçalo do Rio das Mortes Pequeno
Associação de Moradores do Alto das Mercês, em São João del-Rei
Quilombos Palmital e Jaguará, na cidade de Nazareno
Associações de Produtores Rurais Senhora das Dores e Vargem dosCochos em Barbacena (Comunidades da zona rural de São João del-Rei)
80
20
20
30
50
Fonte: PEFISS, 2013
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2.2.6. Acompanhamento e avaliação
O acompanhamento do PEFISS realiza-se através da avaliação, ao final de cada uma
das etapas de oferecimento ao público, das atividades propostas e da assiduidade dos
participantes. As diversas etapas deverão ser avaliadas de acordo com suas próprias
especificidades, por exemplo: no ato das inscrições serão mapeadas as expectativas do
público, no decorrer das aulas e vivências a forma de avaliação coletiva através de seminários
poderá verificar a compreensão e aplicação dos conteúdos ministrados, na conclusão do
programa um questionário de avaliação indicará a qualidade e adequação do programa.
2.2.7. Resultados
O programa teve inicio em maio de 2011 a partir de parceria firmada junto à Escola
Estadual Dr. Garcia de Lima com o cadastramento de cerca de duzentos interessados dentre os
quais cinquenta foram sorteados para participar desta primeira edição. Foram criadas duas turmas
(com vinte e cinco participantes em cada uma delas), com aulas ministradas às quartas-feiras, para
os estudantes com disponibilidade de horário no período vespertino, e aos sábados, para os
estudantes sem possibilidade de frequentar as aulas diurnas. Em 2012, por um lado, o PEFISS ampliou seu escopo de atuação através da elevação do
número de participantes, no âmbito da parceria já estabelecida com a Escola Estadual Dr. Garcia
de Lima, passando para duas turmas com cinquenta inscritos cada. Além disso, nova parceria foi
firmada junto a Escola Estadual Ministro Gabriel Passos com a abertura de uma turma com
quinze estudantes inscritos.
Ainda no ano de 2012, o PEFISS agrega mais uma área disciplinar do saber: o Teatro,
decorrente da parceria com o Núcleo de Arte e Sustentabilidade – NAST . O NAST é derivadodos ‘grupos de estudo’ reali
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