drogas: proibir é legal? - colegiosale.com.br · faturou us$ 12 bilhões. só a fabricação da...

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Drogas: proibir é legal?

• Será que a legalização das drogas pode acabarcom o ciclo de tráfico e violência que afeta atodos?

Histórico das drogas

• Há cerca de 5 mil anos, uma tribo de pigmeusdo centro da África saiu para caçar. Algunsdeles notaram o estranho comportamento dejavalis que comiam uma certa planta. Osanimais ficavam mansos ou andavamdesorientados. Um pigmeu, então, resolveuprovar aquele arbusto. Comeu e gostou.

• Recomendou para outros na tribo, que tambémadoraram a sensação de entorpecimento. Logo,um curandeiro avisou: havia uma divindadedentro da planta. E os nativos passaram a veneraro arbusto. Começaram a fazer rituais que seespalharam por outras tribos. E são feitos atéhoje. A árvore Tabernanthe iboga, conhecida poriboga, é usada para fins lisérgicos em cerimôniascom adeptos no Gabão, Angola, Guiné eCamarões.

• Á milênios o homem conhece plantas como aiboga, uma droga vegetal. O historiador gregoHeródoto anotou, em 450 a.C., que a Cannabissativa, planta da maconha, era queimada emsaunas para dar barato em freqüentadores. “Obanho de vapor dava um gozo tão intenso quearrancava gritos de alegria.”

• Bálsamo ou veneno? Comida dos deuses oumaldição do diabo? Hábito natural ou desvioda sociedade moderna? Não há resposta certaou fácil quando o assunto são as drogas. Aspesquisas de opinião refletem essaambiguidade...

• Legalizar, descriminalizar, diminuir os riscos eos danos, mudar a política de combate. Aquantidade de ações envolvendo as drogasmostra que o assunto, que nunca saiu demoda, está ainda mais em pauta que onormal.

• Quando abordam o tema, em geral mostramque estamos longe de um consenso. Mas aspesquisas revelam algo mais. Em meio aosnúmeros, nota-se que quase não há indecisossobre o assunto. Ou seja, não importa de quelado as pessoas estejam, o fato é que todaselas têm opinião formada – e arraigada –sobre o uso de drogas.

• Se a história de alucinógenos pode seconfundir com a própria trajetória dahumanidade, a criminalização de derivados decertas plantas – como a canábis, a coca e apapoula – é bem mais recente.

• Curiosamente, até o século XIX, e mesmo emalguns casos mais específicos, o início doséculo XX, não havia, em nosso arcabouçojurídico, uma lei que abordasse a questão dasdrogas. Por outro lado, algumas substâncias,principalmente os venenos, já tinham suavenda controlada, antes mesmo da nossaindependência.

• A 1ª lei da qual se possui registro histórico[sobre as drogas] é uma postura da CâmaraMunicipal do Rio de Janeiro que regulamentaa venda de gêneros e remédios pelosboticários de 4 de outubro de 1830, queproibia a venda e uso do “pito de pango”(cachimbo para se fumar maconha).

• Havia multa ao vendedor e três dias de cadeiaaos que usarem, explicitando-se aí escravos edemais pessoas. O critério, por explicitarescravos, era certamente de controle social,demonstrando que pode haver na lei,inclusive, um viés discriminatório.

• O Código Penal do Império, de 1851, nãotocava na questão de proibição, mas regulavao uso e a venda de medicamentos, enquantoo Republicano, de 1890, determinava umamulta a quem vendesse ou ministrassesubstância venenosa sem prescrição nosregulamentos.

• É importante reparar a não referência adeterminadas substâncias como maconha,cocaína ou ópio. O decreto legislava com autilização do termo substâncias venenosas e,atrelado, notadamente, à prática sanitária.

Drogas “Legais”

• Um paralelo possível e sempre citado com ahistória das drogas é a trajetória dosmedicamentos.

• As drogas legais que alteram a consciência - éinteressante ressaltar – estão sempre entre asmais vendidas, mesmo com todas asexigências para a sua compra.

O ansiolítico Rivotril ficou em segundo lugar na lista de 2010 no Brasil, por exemplo

Nação Rivotril

• O Brasil é o maior consumidor de Rivotril domundo - 2,1 toneladas.

• Na farmácia não se encontra produto descritocomo "paz em drágeas" ou "xarope de paz".Mas muita gente acha que é isso o quedeveria dizer o rótulo do Rivotril, umansiolítico (ou, popularmente, um calmante)

Drogas Legais

Quais são os riscos para a saúde?

• O de dependência química e o dedependência psicológica. Na química, oprocesso é parecido com o gerado por drogascomo álcool e cocaína. O uso prolongadotorna o cérebro dependente daquelasubstância para funcionar corretamente. Aoutra dependência é a psicológica.

• Em casos mais graves, a abstinência podelevar o paciente a uma internação. A pessoapode ver, ouvir e sentir coisas que nãoexistem, apresentar delírios (como serperseguida por extraterrestres), agitação,depressão, apatia, entre outros sintomas

• As razões para o sucesso dessas vendagens:

1. o atual sistema de patentes, que prioriza asgrandes companhias farmacêuticas, emdetrimento do pequeno produtor que nuncafez segredo de suas descobertas;

2. o monopólio médico da prescrição, que deixana mão de uma classe específica o poder dereceitar este ou aquele remédio;

3. O mercado publicitário voltado tanto paraquem toma como para quem ministra essesmedicamentos, criando ou, pelo menos,reforçando novas demandas e necessidades.

• Como qualquer outro setor da economia, aindústria farmacêutica visa o lucro. Nada deerrado com isso, e tem dado certo: em 2015,ela movimentou US$ 725 bilhões - o Brasilfaturou US$ 12 bilhões. Só a fabricação daaspirina movimenta US$ 700 bilhões por ano.Seu princípio ativo, o ácido acetilsalicílico, éconsiderado um dos produtos mais bem-sucedidos da história do capitalismo.

• Outra contrapartida indispensável [para ocrescimento dessas vendas de remédioslegais] é a proibição concomitante do uso dediversas plantas psicoativas de uso tradicional– como a canábis, a papoula e a coca.

• As funções psicoterapêuticas que estas têmem medicinas tradicionais passaram a sersubstituídas por pílulas farmacêuticas e omaior número de usuários e dependentes dedrogas na sociedade contemporânea são osconsumidores de produtos da indústriafarmacêutica.

Frasco de heroína comercializado pela farmacêutica Bayern, no fim do século XIX e início do XX

Vidros com rótulos que remetem a coca, cannabis e ópio, em uma farmácia antiga

O vinho de coca da Metcalf era um de uma grande quantidade de vinhos quecontinham coca disponíveis no mercado. Todos afirmavam que tinham efeitosmedicinais, mas indubitavelmente eram consumidos pelo seu valor“recreador” também.

O Vinho Mariani (1865) era o principal vinho de coca do seu tempo. OPapa Leão XIII carregava um frasco de Vinho Mariani consigo epremiou seu criador, Angelo Mariani, com uma medalha de ouro.

Esse vinho de coca foi feito pela Maltine ManufacturingCompany de Nova York. A dosagem indicada diz: “Uma taçacheia junto com, ou imediatamente após, as refeições.Crianças em proporção.”

Um peso de papel promocional da C.F. Boehringer & Soehne(Mannheim, Alemanha), “os maiores fabricantes do mundo de quininoe cocaína”. Este fabricante tinha orgulho em sua posição de líder nomercado de cocaína.

Propaganda de heroína da Martin H. Smith Company, de Nova York. A heroínaera amplamente usada não apenas como analgésico, mas também comoremédio contra asma, tosse e pneumonia. Misturar heroína com glicerina (ecomumente açúcar e temperos) tornada o opiáceo amargo mais palatávelpara a ingestão oral.

Esse National Vaporizer Vapor-OL era indicado “Para asma e outrasafecções espasmódicas”. O líquido volátil era colocado em uma panelae aquecido por um lampião de querosene.

Estes tabletes de cocaína eram “indispensáveis para cantores,professores e oradores”. Eles também aquietavam dor de garganta edavam um efeito “animador” para que estes profissionais atingissem omáximo de sua performance.

• Você acha que a nossa vida moderna éconfortável? Antigamente para aquietar bebêsrecém-nascidos não era necessário um grandeesforço dos pais, mas sim, ópio.

• Esse frasco de paregórico (sedativo) da Stickneyand Poor era uma mistura de ópio de álcool queera distribuída do mesmo modo que os temperospelos quais a empresa era conhecida.

• “Dose – [Para crianças com] cinco dias, 3 gotas.Duas semanas, 8 gotas. Cinco anos, 25 gotas.Adultos, uma colher cheia.”

• O produto era muito potente, e continha 46% deálcool.

• A partir de 1920, houve uma “onda mundialde combate ao uso de determinadas drogas”,agravada no Brasil com a troca, em 1932, dapalavra “venenosa” para “entorpecente”, doartigo 159 do Código Penal.

• A mudança do termo concebeu uma alteraçãopara além da questão semântica, representouuma nova postura, um novo olhar dos governossobre as drogas, implicando em uma moralizaçãocrescente e, consequentemente, legislações cadavez mais rigorosas e a institucionalização de umaparato burocrático para cuidar da questão erepressivo para fazer cumprir a lei. A partir deentão, as legislações foram sendo modificadaspara criminalizarem não somente o comérciodessas drogas, mas também o cultivo e oconsumo

• Após as Guerras do Ópio, no século XIX, houvediversos encontros entre as nações para sediscutir os procedimentos que os paísesdeveriam tomar para combater certosentorpecentes.

• Após as reuniões de 1909, 1911, 1912 e 1921com nenhuma referência à maconha, em1924, o representante brasileiro, PedroPernambuco Filho, afirmou que os efeitos dacanábis eram piores que os do ópio em nossopaís.

A Maconha

• Segundo dados da ONU, 147 milhões depessoas fumam maconha no mundo, o que fazdela a terceira droga psicoativa maisconsumida do mundo, depois do tabaco e doálcool.

• A Liga das Nações, no século XX, condenou amaconha. Depois que a ONU foi criada houvea primeira Convenção Única de Entorpecentesem 1961, assinada por mais de 200 paísescolocando a Cannabis numa lista, junto com aheroína, como droga particularmenteperigosa.

• “É algo que não tem razão científica nos diasde hoje”, diz o médico Elisaldo Carlini, doCentro Brasileiro de Informações sobre DrogasPsicotrópicas (Cebrid), e membro do comitêde peritos da Organização Mundial da Saúde(OMS) sobre álcool e drogas - deixando claro,porém, que era contra o uso da maconha – ouqualquer outra droga – para recreação.

• Poucos assuntos dão margem a tanta mentira,tanta deturpação, tanta desinformação. Afinal,quais os verdadeiros motivos por trás daproibição da maconha? A droga faz mal ounão? E isso importa?

• Diga-se de passagem, nenhum mal sério àsaúde foi comprovado para o uso esporádicode maconha. A guerra contra essa planta foimotivada muito mais por fatores raciais,econômicos, políticos e morais do que porargumentos científicos. E algumas dessasrazões são inconfessáveis.

• Tem a ver com o preconceito contra árabes,chineses, mexicanos e negros, usuáriosfrequentes de maconha no começo do séculoXX. Deve muito aos interesses de indústriaspoderosas dos anos 20, que vendiam tecidossintéticos e papel e queriam se livrar de umconcorrente, o cânhamo.

• Tem raízes também na bem-sucedidaestratégia de dominação dos Estados Unidossobre o planeta. E, é claro, guarda relação como moralismo judaico-cristão (e principalmenteprotestante-puritano), que não aceita a ideiado prazer sem merecimento – pelo mesmomotivo, no passado, condenou-se amasturbação.

Por que é proibido?

“O corpo esmagado da menina jazia espalhadona calçada um dia depois de mergulhar doquinto andar de um prédio de apartamentos emChicago. Todos disseram que ela tinha sesuicidado, mas, na verdade, foi homicídio. Oassassino foi um narcótico conhecido naAmérica como marijuana e na história comohaxixe. Usado na forma de cigarros, ele é umanovidade nos Estados Unidos e é tão perigosoquanto uma cascavel.”

• Começa assim a matéria “Marijuana: assassinade jovens”, publicada em 1937 na revistaAmerican Magazine.

• A cena nunca aconteceu. O texto era assinadopor um funcionário do governo chamadoHarry Anslinger. Se a maconha, hoje, é ilegalem praticamente todo o mundo, não éexagero dizer que o maior responsável foi ele.

• Aqui no Brasil, maconha era “coisa de negro”,fumada nos terreiros de candomblé parafacilitar a incorporação e nos confins do paíspor agricultores depois do trabalho

• Na Europa, ela era associada aos imigrantesárabes e indianos e aos incômodosintelectuais boêmios. Nos Estados Unidos,quem fumava eram os cada vez maisnumerosos mexicanos – meio milhão delescruzaram o Rio Grande entre 1915 e 1930 embusca de trabalho. Muitos não acharam. Ouseja, em boa parte do Ocidente, fumarmaconha era relegado a classesmarginalizadas e visto com antipatia pelaclasse média branca.

Maconha faz mal?

• Depois de mais de um século de pesquisas, aresposta mais honesta é: faz, mas muitopouco e só para casos extremos.

• A preocupação da ciência com esse assuntocomeçou em 1894, quando a Índia fazia partedo Império Britânico.

• Havia, então, a desconfiança de que o bhang,uma bebida à base de maconha muito comumna Índia, causava demência.

• Grupos religiosos britânicos reivindicavam suaproibição.

• Formou-se a Comissão Indiana de Drogas daCannabis, que passou dois anos investigandoo tema. O relatório final desaconselhou aproibição: “O bhang é quase sempreinofensivo quando usado com moderação e,em alguns casos, é benéfico. O abuso dobhang é menos prejudicial que o abuso doálcool”.

• A partir dos anos 60, várias pesquisasparecidas foram encomendadas por outrosgovernos. Relatórios produzidos na Inglaterra,no Canadá e nos Estados Unidosaconselharam um afrouxamento nas leis.Nenhuma dessas pesquisas foi suficiente paraforçar uma mudança.

• Mas a experiência mais reveladora sobre amaconha e suas consequências foi realizadafora do laboratório. Em 1976, a Holandadecidiu parar de prender usuários demaconha desde que eles comprassem a drogaem cafés autorizados.

• Resultado: o índice de usuários continuacomparável aos de outros países da Europa. Ode jovens dependentes de heroína caiu –estima-se que, ao tirar a maconha da mão dostraficantes, os holandeses separaram essadroga das mais pesadas e, assim, dificultaramo acesso a elas.

• Nos últimos anos, os possíveis males damaconha foram cuidadosamente escrutinados– às vezes por pesquisadores competentes, àsvezes por gente mais interessada emconvencer os outros da sua opinião.

Câncer

• Não se provou nenhuma relação direta entrefumar maconha e câncer de pulmão, traqueia,boca e outros associados ao cigarro. Isso nãoquer dizer que não haja. Por muito tempo, osriscos do cigarro foram negligenciados e sónas últimas duas décadas ficou claro que haviauma bomba-relógio armada – porque osdanos só se manifestam depois de décadas deuso contínuo.

• Há o temor de que uma bomba semelhanteesteja para explodir no caso da maconha, cujouso se popularizou a partir dos anos 60. O quese sabe é que o cigarro de maconha tempraticamente a mesma composição de umcigarro comum – a única diferença significativaé o princípio ativo.

• Também é verdade que o fumante demaconha tem comportamentos maisarriscados que o de cigarro: traga maisprofundamente, não usa filtro e segura afumaça por mais tempo no pulmão (o que,aliás, segundo os cientistas, não aumenta osefeitos da droga).

Dependência

• Algo entre 6% e 12% dos usuários,dependendo da pesquisa, desenvolve um usocompulsivo da maconha (menos que a metadedas taxas para álcool e tabaco).

• A questão é: será que a maconha é a causa dadependência ou apenas uma válvula deescape. Dependência de maconha não éproblema da substância, mas da pessoa.

• Há um perfil claro do dependente demaconha: em geral, ele é jovem, quasesempre ansioso e eventualmente depressivo.Pessoas que não se encaixam nisso nãodesenvolvem o vício. E as que se encaixampodem tanto ficar dependentes de maconhaquanto de sexo, de jogo, de internet.

• Muitos especialistas apontam para o fato de quea maconha está ficando mais perigosa – namedida em que fica mais potente. Ao longo dosúltimos 40 anos, foi feito um melhoramentogenético, cruzando plantas com alto teor de THC.Surgiram variedades como o skunk. No últimoano, foram apreendidos carregamentos demaconha alterada geneticamente no Lesteeuropeu – a engenharia genética é usada paraaumentar a potência, o que poderia aumentar opotencial de dependência.

• Segundo o farmacólogo Leslie Iversen, autordo ótimo The Science of Marijuana (A ciênciada maconha, sem tradução para o português)e consultor para esse tema da Câmara dosLordes (o Senado inglês), esses temores sãoexagerados e o aumento da concentração deTHC não foi tão grande assim.

• Para além dessa discussão, o fato é que, paraquem é dependente, maconha faz muito mal.Isso é especialmente verdade para crianças eadolescentes.

• O sujeito com 15 anos não está com apersonalidade formada. O uso exagerado demaconha pode ser muito danoso a ele

• O maior risco para adolescentes que fumammaconha é a síndrome amotivacional, nomeque se dá à completa perda de interesse que adroga causa em algumas pessoas. A síndromeamotivacional é muito mais frequente emjovens e realmente atrapalha a vida – é quasecerteza de bomba na escola e de crise nafamília.

Danos cerebrais

• “Maconha mata neurônios.” Essa frase,repetida há décadas, não passa de mito.Bilhões de dólares foram investidos paracomprovar que o THC destrói tecido cerebral –às vezes com pesquisas que ministravamdoses de elefante em ratinhos –, mas nada foiencontrado.

• A maior preocupação é com a memória. Sabe-se que o usuário de maconha, quando fuma,fica com a memória de curto prazoprejudicada. São bem comuns os relatos depessoas que têm idéias que parecem geniaisdurante o “barato”, mas não conseguemlembrar-se de nada no momento seguinte/

• Isso acontece porque a memória de curtoprazo funciona mal sob o efeito de maconha e,sem ela, as memórias de longo prazo não sãofixadas (é por causa desse “desligamento” damemória que o usuário perde a noção dotempo). Mas esse dano não é permanente.Basta ficar sem fumar que tudo volta afuncionar normalmente.

• Na comparação com o álcool, a maconha levagrande vantagem: beber muito provoca danoscerebrais irreparáveis e destrói a memória.

Coração

• O uso de maconha dilata os vasos sangüíneose, para compensar, acelera os batimentoscardíacos. Isso não oferece risco para amaioria dos usuários, mas a droga deve serevitada por quem sofre do coração

Infertilidade

• Pesquisas mostraram que o usuário frequentetem o número de espermatozoides reduzido.Ninguém conseguiu provar que isso possacausar infertilidade, muito menos impotência.Também está claro que os espermatozoidesvoltam ao normal quando se para de fumar.

Loucura

• No passado, acreditava-se que maconhacausava demência. Isso não se confirmou, massabe-se que a droga pode precipitar crises emquem já tem doenças psiquiátricas.

Maconha faz bem?

• No geral, não. A maioria das pessoas nãogosta dos efeitos e as afirmações de que aerva, por ser “natural”, faz bem, não passamde besteira. Outros adoram e relatam que elaajuda a aumentar a criatividade, a relaxar, amelhorar o humor, a diminuir a ansiedade. Éinevitável: cada um é um.

Hoje...

• A droga é proibida em boa parte do mundo,mas, desde que a Holanda começou a tolerá-la, na década de 70, alguns outros paíseseuropeus seguiram os passos dadescriminalização. Itália e Espanha há temposaceitam pequenas quantidades da erva –embora a Espanha esteja abandonando aposição branda e haja projetos de lei, na Itália,no mesmo sentido.

• O Reino Unido acabou de anunciar quedescriminalizou o uso da maconha – a partirdo ano que vem, a droga será apreendida e oportador receberá apenas uma advertênciaverbal. Os ingleses esperam, assim, poderconcentrar seus esforços na repressão dedrogas mais pesadas.

• No ano passado, Portugal endureceu as penaspara o tráfico, mas descriminalizou o usuáriode qualquer droga, desde que ele sejaencontrado com quantidades pequenas. Portede drogas virou uma infração administrativa,como parar em lugar proibido.

• Nos últimos anos, os Estados Unidos tambémmudaram sua forma de lidar com as drogas.Dentro da tendência mundial de ver a questãomais como um problema de saúde do quecriminal, o país, em vez de botar na cadeia,obriga o usuário a se tratar numa clínica paradependentes.

• Essa ideia é completamente equivocada.Primeiro porque nem todo usuário édependente. Segundo, porque um tratamentonão funciona se é compulsório – a pessoa temque querer parar. No sistema americano,quem recusa o tratamento ou o abandona vaipara a cadeia.

Sobre as drogas...

TABACO - A nicotina é uma droga mais letal quea maconha e vicia com mais facilidade que aheroína; no entanto, é bem mais acessível queas outras duas

ECSTASY - As drogas sintéticas, fabricadas emgeral nos países ricos, são as que tiveram maioraumento de consumo nos últimos anos

COCAÍNA - A política de redução de danos, quesubstitui drogas mais letais por outras menosagressivas

HEROÍNA - Os opiáceos (substâncias derivadas dapapoula) são a droga usada há mais tempo pelahumanidade. Há registros de 8 000 anos sobre opoder da papoula

MACONHA - Uma das razões para a criminalizaçãoda maconha foi o lobby da indústria farmacêutica,cujos produtos concorriam com a erva

CRACK - Uma das raras notícias boas sobre o crackfoi um teste brasileiro que curou dependentesusando a maconha como degrau para chegar àabstenção

Como estamos lidando com o problema?

• O modelo atual de combate às drogas buscanada mais nada menos que a abstinênciacompleta das substâncias ilegais. Qualqueroutro resultado que não passe pelo abandonodessas substâncias de uma vez por todas éconsiderado um fracasso. O argumento parachegar lá é forte: quem não largar o baseadoou a seringa vai para a cadeia.

• Essa guerra tem três frentes de batalha. Aprimeira é tentar acabar com a oferta, ou seja,combater os fornecedores, osnarcotraficantes.

Resultado...

Brasil tem seis assassinatos por hora, a maioriade homens negros: O Brasil também é um dospaíses onde a polícia mais mata e mais morre domundo

Fonte: El País

Violência no Brasil: 50 vezes mais mortos que na Faixa de Gaza.

• Os números provavelmente são maiores, poisos pesquisadores ainda enfrentam a falta detransparência de muitos Estados que mantêmlacunas na contabilização das ações letais dassuas Forças de Segurança, entre eles Sergipe,Ceará, e Mato Grosso do Sul.

• Polícia Federal brasileira, que apreendetoneladas de entorpecentes todo ano,trabalha nessa frente.

A Polícia Federal divulgou em seu site, nestaquinta-feira (15), um levantamento dasapreensões em Foz do Iguaçu no ano de 2014. Ainstituição teve a maior quantidade de cocaínaapreendida de sua história, mais de 1 tonelada.

• Entorpecentes

Maconha (gr) - 21.702.050.

Cocaína (gr) 1.014.514.

Crack (gr) - 369.663.

Haxixe (gr) - 89.325.

Ecstasy - 407 unidades + 501 gr.

Lança Perfume - 636 unidades

Vez ou outra...

'Aqui está a droga que meu neto usava', diz avôde jovem morto no Borel: Antônio Trigo Alvesjogou sobre um túmulo o boné perfurado pelabala, a camiseta ensaguentada e o saco depipoca que família alega que Jonathansegurava.

• A segunda frente de combate é a redução dademanda. Há duas maneiras de convencer osujeito a não usar drogas, ou seja, de preveniro uso das drogas. Além de ameaçar prendê-lo,processá-lo e condená-lo – ou seja, reprimi-lo–, pode-se tentar educá-lo: ensinar-lhe osriscos que determinada substância traz à suasaúde e colocá-lo em contato com pessoasque já foram dependentes.

• O Brasil que, com mais de 574.000, é o quartopaís que mais encarcera do mundo, tem nospresídios um calcanhar de Aquiles, segundo osespecialistas. Os dados do relatório revelamum sistema penitenciário congestionado porcrimes relacionados com o tráfico de drogas eonde 40% dos presos ainda esperamjulgamento

• A terceira frente de batalha é o tratamento.Chegar à eliminação das drogas não peloataque à oferta ou ao consumo, mas tratandoaqueles que já estão dependentes da drogacomo vítimas que precisam de ajuda médicaem vez de algozes que merecem repressãopolicial.

• Das três estratégias, a que tem recebido maisatenção e recursos é, disparado, o combate aotráfico.

A abordagem atual funciona?

• Os burocratas resistem a admitir, mas omundo já perdeu a guerra contra as drogas.

• A política antidrogas é um fracasso. As drogasestão mais baratas, mais puras e maisacessíveis do que nunca. E o consumo dedrogas aumenta ao redor do mundo

• Traduzindo suas palavras em números: nocombate à oferta, as forças policiaisapreendem apenas 20% da droga emcirculação.

• Já pelo flanco da demanda, os tratamentosque visam a abstinência curam só 30% dosusuários.

• A ONU estima que o tráfico movimenta 400bilhões de dólares no mundo, equivalente aoPIB do México. Para comparar, a indústriafarmacêutica global fatura 300 bilhões; a dotabaco, 204 bilhões; a do álcool, 252 bilhões.

• O irônico é que a própria repressão sustentaesse vigor, graças a uma famosa lei demercado – “quanto maior o risco, maior olucro”. No caso da heroína, essa margemchega a ser de 322 000%. Um quilo de ópiocusta 90 dólares no Afeganistão e 290 000dólares nas ruas americanas. E 90% do preçofinal fica com os traficantes do paísconsumidor.

• No Brasil, a CPI do Narcotráfico calculou que otráfico emprega pelo menos 200 000 pessoasno país, mais que o Exército, cujo efetivo é de190 000 pessoas.

• Na Inglaterra, um estudo da Universidade deCambridge calculou que dependentes dedrogas são responsáveis por 32% dos crimes.Mas, ao contrário do que se pensa, a violêncianão é decorrente do uso da droga, mas docomércio ilegal.

• Por outro lado, há nas cadeias uma multidãode pessoas pouco violentas presas porenvolver-se com drogas. Nos Estados Unidos,são 400 000 pessoas (20% da populaçãocarcerária), sendo 180 000 por posse e 220000 por tráfico. Detalhe: só em 12% dos casoshouve arma de fogo envolvida. Ou seja, há340 000 presos por envolvimento não-violento com drogas.

• Enfim, são altos os custos da atual abordagemsobre as drogas. Mas os benefícioscompensam? Nem de longe. Há, hoje, 180milhões de usuários de drogas no mundo,segundo a ONU. Pior: dados de 112 paísesdivulgados no mês passado pela entidademostram que o consumo de maconha,cocaína, heroína e anfetamina aumentou em60% das nações

Se perdemos a guerra contra as drogas, quem ganhou?

• Do ponto de vista econômico, há ao menoscinco grandes beneficiados pelo modelo atualde combate às drogas.

1) O produtor - No caso da heroína, estãoincluídos aí o agricultor que planta papoulas e oprocessador que faz da planta uma droga paraconsumo. Da renda obtida na venda final, olavrador fica com 6% e o processador, com 2%,segundo estudo da ONU.

2) Traficante - Nos mercados de ópio da Ásia, ointermediário é mal remunerado: morde 2% dareceita. Os outros 90% acabam no bolso dotráfico internacional, que arca com o risco detransportar a mercadoria até o consumidor.

3) Mercado financeiro - A dinheirama geradapelo negócio não fica guardada no colchão dotraficante, é claro. Quem presta esse serviço sãoos bancos que operam em paraísos fiscais e osgovernos dessas localidades, em que o sigilo é aalma do negócio.

4) Indústria de armas - Além de sustentar umavida de rei para os criminosos, a renda do tráficotambém é, digamos, reinvestida na produção.Em um negócio em que não se pode ter umasede vistosa, isso significa proteção, armamento.O tráfico financia indiretamente mais da metadedas armas ilegais em circulação no país. Nasfavelas do Rio, os traficantes têm até mísseisantiaéreos.

5) Forças de repressão - O curioso é que,embora 90% da renda da droga fique nos paísesconsumidores, ou seja, as nações ricas, essareceita ilegal faz mais diferença nos paísesprodutores, em geral muito pobres. Comparadacom o PIB dos Estados Unidos, de 11 trilhões dedólares, nem a receita global do tráfico fazmedo: não chega a 4% da pujança americana.Mas, na Colômbia, o narcotráfico injeta no paíso equivalente a 10% do PIB.

Drogas: proibir é legal?

"O dano que o vício dos outros causa em nósnasce quase completamente do fato de asdrogas serem ilegais"

• Desde os anos 60, o mundo trata osentorpecentes como problema de polícia.Nesse período, o consumo cresceu e aviolência atingiu a todos - usuários ou não.Será que a guerra às drogas ainda faz sentido?

• O álcool faz mal à saúde. E não só à de quembebe. Ele corrói famílias, causa acidentes ecobra uma alta conta do sistema público desaúde. Mas, como o álcool é uma droga legal,seu comércio gerou uma indústria saudável,que movimenta a economia como qualqueroutro bem de consumo: rende impostos aogoverno, lucro para empresas e empregospara quem quer trabalhar. A cada ano, aindústria global do pileque fatura US$ 450bilhões.

• A cocaína, a heroína e o ecstasy tambémfazem mal à saúde. E também giram ummercado que rende um belo dinheiro: cercade US$ 330 bilhões por ano. Da ilegalidade,porém, germinou uma indústria doente: emvez de gerar impostos, o dinheiro dosnarcóticos chega ao Estado sob a forma depropinas que fomentam a corrupção.

• O lucro do negócio é investido em armas quealimentam a violência. Em lugar de empregos,o tráfico oferece às crianças e jovens uma vidade crimes.

• Parece fácil a solução, então: tratemos asdrogas como tratamos o álcool. Há muitagente boa acreditando nisso: economistas,médicos, políticos. Mas, para cada defensor,existe uma opinião contrária. Afinal, ninguémsabe exatamente quais os efeitos dalegalização: ela jamais foi plenamentecolocada em prática. Quais drogas poderiamser liberadas? O crime organizado e o tráficoperderiam força? O consumo aumentaria?Como isso afetaria a sociedade?

• Colocar as drogas na ilegalidade foi a soluçãosistematicamente adotada no século 20, emtodas as partes do globo. Infelizmente, a leinão controlou o consumo - e há quemdefenda que ela o aumentou. De quebra, nosjogou numa guerra contra traficantes, que porsua vez estão em guerra contra todos nós.

Por que proibir?

• Discutir se as drogas devem ser legalizadasesconde uma questão anterior: por queproibi-las?

• Drogas sempre existiram. E, com rarasexceções, sempre foram toleradas. A primeirapolítica moderna para colocar osentorpecentes na ilegalidade nasceu nos EUA,em 1914, com o Ato de Narcóticos

• Era uma reação aos crescentes problemas dedependência e overdose com ópio e cocaína,uma novidade num país tão religioso.

• Em 1918, o governo criou uma comissão paraavaliar os efeitos da legislação.

O grupo concluiu que:

1) um mercado negro havia surgido paraatender à a procura pelas drogas;

2) esse mercado estava organizadonacionalmente para importar e distribuir ocontrabando;

3) o uso de ópio aumentara significativamente.

• O ciclo que começou em 1914 - repressãoaumenta o preço, que valoriza o tráfico, queestimula o consumo, que aumenta a repressão- iria se repetir, sob influência americana, peloplaneta

• Em 1961, os americanos conseguiramemplacar a assinatura de um pacto globalcontra as drogas na ONU. Com o acordo, omundo achou que estava pronto paraenfrentar o problema.

• O documento ficou bonito no papel, mas não serviu para frear a história. A década, que começou com todos os países prometendo combater o uso de drogas, termino...

• Diante desse quadro, o presidente americanoRichard Nixon resolveu lançar a Guerra àsDrogas, como batizou sua política detolerância zero com a venda e o consumo. Osresultados pífios fariam a Guerra no Iraqueparecer um sucesso estratégico: a repressãoàs drogas mais populares da época serviu paraa cocaína, que andava sumida, retomar acarreira de sucesso nos EUA - e dali para omundo.

• Assim nasceram os primeiros cartéis daColômbia e megatraficantes como ...

• Enquanto as drogas viviam seu milagreeconômico, o pesadelo social ganhavadimensões catastróficas. Nos EUA, apopulação carcerária de crimes relacionados adrogas pulou de 50 mil para 500 mil em 30anos.

• Enquanto isso, o país chegava ao 10 lugar noranking de consumidores.

• No cenário mundial, a produção de drogasdeu origem a narconações - a Colômbia com acocaína, o Afeganistão com o ópio, o Marrocoscom o haxixe e o Paraguai com a maconha -onde o comércio de drogas responde por umaparcela relevante da economia.

Existe outra saída?

• Na década de 1970, o governo da Suéciaestava preocupado com os costumes dossuecos. O país tinha fama de ser a capitalmundial da troca de casais, era um doscentros hippies da Europa e, maispreocupante, via aumentar o consumo dedrogas, em especial a heroína.

• O Parlamento reagiu à americana: baixou umdecreto com ar megalomaníaco que pretendiaresgatar valores morais e criar uma "sociedadelivre de drogas para não apenas reduzir maseliminar o uso delas". A pena para o consumofoi endurecendo gradativamente até chegar àcadeia.

• O resultado foi exatamente o previsto: deucerto. Hoje, os suecos não são maisconhecidos por emprestar a mulher para osamigos e consomem 2,5 vezes menos drogasdo que nos anos 70. O número de usuários nopaís é 3 vezes menor do que a médiaeuropeia. A proibição funcionou.

• Experiências tão contrastantes como as dosEUA e da Suécia são surpreendentes. A partirdelas, porém, podemos tirar apenas duasconclusões: proibir drogas dá errado nos EUAe dá certo na Suécia. Daí para a frente, restamsuposições.

• A Suécia, porém, não é o único caso desucesso no combate à heroína. Ali perto, aHolanda também foi invadida pela droga nosanos 70. A reação foi diferente, masigualmente bem-sucedida.

• Os holandeses fizeram o seguinte raciocínio:boa parte dos usuários de drogas pesadaseram jovens que iam ao traficante em buscade maconha, mas acabavam comprando aheroína, que era oferecida no mesmo lugar.Assim, se a ligação maconha-heroína fossequebrada, os jovens consumiriam apenas a 1a,considerada pelo governo pouco nociva, emdetrimento da 2a, vista como um risco social.

• A ideia deu origem aos koffeshops,estabelecimentos onde o usuário podeescolher variedades da erva no cardápio. Asdrogas continuam na ilegalidade, mas, naprática, o país deixou de processar e punirquem consome maconha.

• Resultado: o número de pessoas que jáprovaram maconha pulou de 15% para 34%.Mas o sucesso da política está no resultado doconsumo de heroína - era esse o alvo, afinal. AHolanda é hoje um dos 10 países europeuscom menos usuários da droga.

• A experiência holandesa é, também, o melhorindício que temos de que é verdade que amaconha serve de porta de entrada para ovício. Mas não por características intrínsecasdela, e sim porque a legislação a empurra aesse posto. Mais importante, mostrou que ummercado de drogas legalizado pode não terefeitos catastróficos. Será, então, que legalizaras drogas é uma alternativa viável paracombatê-las?

Vender droga é crime?

• Imagine que o comércio das drogas fosseexplorado por empresas, com fiscalizaçãoséria e punições para quem não cumprisse alei - nada de "liberou geral". O comércioaconteceria apenas em locais autorizados - eas drogas mais perigosas seguiriam o modelodos remédios controlados: venda regulada.Quem comprasse demais seria convocado poruma junta médica para avaliar a necessidadede tratamento.

• Para o governo, as drogas deixariam de serprejuízo para se tornar fonte de renda. Em vezde gastar com a repressão, ele arrecadariaimpostos. O dinheiro poderia ser investido emprevenção, tratamento e na fiscalização domercado.

• A polícia estaria livre para resolver crimesmais relevantes. O polígono da maconha, emPernambuco, deixaria de ser uma das regiõesmais pobres e violentas do país parafinalmente encontrar sua vocação econômica:a agricultura da Cannabis sativa. E o tráfico dedrogas que domina as favelas do Rio morreriatão naturalmente quanto o mercado demáquinas de escrever: ninguém mais seinteressaria pelos produtos do ComandoVermelho.

• É mais eficiente controlar o consumo dedrogas via legalização, porque ela é muitomais barata que a proibição. O único entraveao início dessa nova era é a opinião pública: oestudo não deixa dúvidas de que a classemédia seria a mais prejudicada.

• A proibição beneficia as famílias mais ricas,porque mantém seus filhos afastados daoferta. Ela só não é boa para os pobres, quemoram nas regiões de tráfico e estão maissuscetíveis a trabalhar para o crime", afirma. Alegalização inverteria esse quadro: com amaconha vendida em toda esquina, seria maisfácil para um universitário comprá-la. E, comoaconteceu na Holanda, essa superofertaaumentaria o consumo.

Chegamos, então, ao seguinte dilema

• As consequências da legalização - ela traráaumento no consumo. Imaginar um mundosem drogas é uma ideia sem parâmetro nahistória. Ou seja: quando discutimos selegalizar ou proibir é a melhor opção, estamoscolocando problemas na balança e escolhendoqual caminho é o menos ruim. Qual deles écapaz de reduzir mais o custo social da droga,ou a soma de todos os malefícios que elacausa.

Vejamos para o Brasil

• Primeiro problema: se mais pessoas usaremdrogas, precisaremos de um sistema de saúdeque absorva dependentes.

• Outro argumento contrário à legalização é queliberar apenas as drogas leves, como amaconha, praticamente não atrapalharia opoder dos traficantes - a erva representa umlucro marginal para eles

• Ao legalizar a cocaína, porém, teríamos deconviver com outro tipo de violência: a dosusuários.

• Muitos duvidam que a legalização acabe como crime organizado. Se a polícia não estiverpreparada, os criminosos se reorganizarão emoutras atividades. Com o poder de fogo quetêm nas mãos, eles vão tentar fazer dinheirode outra maneira.

• Não acabaria com a violência, mas acabariacom o poder do tráfico nas favelas,respondem os defensores da legalização. Enão ter bandidos armados controlando asfavelas, seduzindo meninos, é um enormeavanço.

• Moral da história: legalizar é uma ideia tãosedutora quanto polêmica - existem incertezasentre a nossa realidade e todos os benefíciosque ela promete. Mas, quando se discutedrogas, há duas questões bem distintas. Umacoisa é o debate sobre a proibição da venda.Outra coisa é condenar quem compra.

• Liberar ou proibir as drogas é um jogo muitodelicado, com perdas e ganhos.

• A legalização total acabaria com onarcotráfico, por exemplo. Ao mesmo tempo,facilitaria o acesso da população aentorpecentes.

• Legalizadas, as drogas poderiam ser taxadaspelos governos. Impostos, além de encarecero produto – e, portanto, afastar parte dopúblico – garantiriam fundos para a criação deprogramas de recuperação de dependentes(provavelmente mais numerosos do que hoje)e para campanhas de prevenção do uso

Lei conforme o tipo

• Cada droga teria pontos de venda e legislaçãoespecíficos. É provável que maconha fossevendida só para maiores de idade e em barescom alvará especial, como acontece naHolanda. Substâncias como cocaína e LSDteriam venda controlada. Já cogumelos e chásalucinógenos poderiam ser comprados até emlojinhas de produtos naturais

Nada de pressa

• A legalização seria em etapas, começando porsubstâncias leves. A sociedade levaria muitosanos para lidar naturalmente com a ideia dedrogas legais. Também não seriam legalizadostodos os tipos.

Consumo estável

• Num primeiro momento, haveria aumento doconsumo. Mas com o tempo, ele seestabilizaria. Pesquisas já mostraram que aposição do governo não afeta o uso de drogas.

• O “aprendizado social” tambémdesestimularia o consumo de algumassubstâncias. Hoje, depois de tantas mortespor causa de drogas injetáveis, quase não sevê esse tipo de droga no Brasil.

A violência não Para

• A legalização diminuiria os números dehomicídios e roubos relacionados ao tráfico,mas haveria outros tipos de violência ligadosàs drogas. O álcool é a causa da maior partedos acidentes de trânsito, homicídios e casosde violência doméstica no mundo. Se outrasdrogas fossem liberadas, esse tipo de violênciaaumentaria muito.

Lobby em hollywood

• É provável que houvesse restrições àpropaganda de drogas e, por isso, a indústriainvestiria em lobby para glamourizar aimagem do consumidor e, assim, atrair novosusuários. Jovens, mais influenciáveis, seriam oalvo principal

Pressão no trabalho

• Hoje, tomamos café para aguentar o pique doescritório. Com a legalização, é possível quealgumas empresas incitassem funcionários ausar drogas estimulantes, para virar a noite eterminar um projeto, por exemplo. Isso seriamais comum nos casos em que a relação detrabalho fosse por tempo limitado.

Mudança de rota

• O crime organizado é capaz de mudar deatividade em pouco tempo. Nos EstadosUnidos, com o fim da Lei Seca, os chefões docrime passaram a investir na indústriacinematográfica e nos cassinos. A situaçãoseria pior para pequenos criminosos. Elesiriam cometer assaltos e roubos até acharemalgo menos arriscado para fazer.

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