drageas literarias 001
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A20
0120
16
POR QUE AMAMOS CAFÉ
" BIOGRAFIA" CLARICE LISPECTOR
" UMA GALINHA" CLARICE LISPECTOR
CLABORADORES
"QUE DOMINGO ENSOLARADO" MARIA APARECIDA SOARES FERREIRA
"SPARCE NOTES" RODRIGO LOPES
+ qualidade sonora
+ horas de áudio
+ dias de felicidade
+ qualidade sonora
+ horas de áudio
+ dias de felicidade
Quando se afirma que o café é a
bebida mais popular em território
verde-amarelo, acredite, não é
mera força de expressão. Na
Pesquisa de Orçamentos
Familiares divulgada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi
constatado que o brasileiro toma
de 4 a 5 xícaras todos os dias, o
que leva o líquido à base do fruto
do cafeeiro a liderar a lista que
avalia a média de consumo per
capita de vários alimentos. Só para
ter uma ideia, o feijão e o arroz,
outros itens comuns à nossa mesa,
ficaram em segundo e terceiro lugar,
respectivamente. No resto do mundo, o
consumo também surpreende. Enquanto
aqui cada pessoa ingere cerca de 6 quilos do
grão por ano, em países nórdicos, como
Finlândia, Noruega e Dinamarca, esse número
chega aos 13 quilos anuais. Aqueles que cultivam
esse hábito mandam para dentro do organismo uma
série de substâncias. Entre elas sobressai a cafeína, célebre
por sua ação estimulante. Mas o que aparece em maior
quantidade no pequeno grão são os ácidos clorogênicos,
compostos antioxidantes. A xícara ainda concentra vitamina B3 e
minerais como potássio, manganês e ferro. Tal combinação vem à tona
constantemente nos laboratórios de cientistas planeta afora. No universo
das pipetas e buretas, ela não é uma unanimidade. "Porém, a maioria dos
estudos confirma seus benefícios", diz Adriana Farah, cientista do Núcleo
de Pesquisa em Café Professor Luiz Carlos Trugo, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Fato é que o pretinho básico de todas as manhãs
segue gerando contradições - as mais curiosas você conhece a seguir.
drágeas 5literárias *
sumárioPOR QUE AMAMOS CAFÉ - 5
" BIOGRAFIA" CLARICE LISPECTOR - 8
" UMA GALINHA" CLARICE LISPECTOR - 12
DRÁGEAS LITERÁRIAS
" OS AMORES E SUAS DORES" ROBERTO PRADO - 14
CLABORADORES
"QUE DOMINGO ENSOLARADO" MARIA APARECIDA SOARES FERREIRA - 16
"SPARCE NOTES" RODRIGO LOPES
HAICAS DE ROBERTO PRADO - 17
MICROTEXTO
" A TRAVESSIA: A INCRÍVEL JORNADA DE DOUGLAS WALTON" ALEXANDRE COSTA - 18
PARA LER SEM PRESSA
DICA DOS MELHORES LIVROS PARA LER - 20
QUADRINHOS COLABORATIVOS - 21
CRÔNICAS DO PRADO - 22
MICROCONTOS - 23
GUIA DE CAFÉS DO BRASIL - 26
Revista Drágeas Literárias | n. 001 | Ano I | 2016
Arte, editoração, design, criação: Alexandre Costa
Conteúdo programático: Roberto Prado
O café proporciona benefícios ao bebermosde 3 a 4 xícaras por dia
Quando se afirma que o café é a
bebida mais popular em território
verde-amarelo, acredite, não é
mera força de expressão. Na
Pesquisa de Orçamentos
Familiares divulgada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi
constatado que o brasileiro toma
de 4 a 5 xícaras todos os dias, o
que leva o líquido à base do fruto
do cafeeiro a liderar a lista que
avalia a média de consumo per
capita de vários alimentos. Só para
ter uma ideia, o feijão e o arroz,
outros itens comuns à nossa mesa,
ficaram em segundo e terceiro lugar,
respectivamente. No resto do mundo, o
consumo também surpreende. Enquanto
aqui cada pessoa ingere cerca de 6 quilos do
grão por ano, em países nórdicos, como
Finlândia, Noruega e Dinamarca, esse número
chega aos 13 quilos anuais. Aqueles que cultivam
esse hábito mandam para dentro do organismo uma
série de substâncias. Entre elas sobressai a cafeína, célebre
por sua ação estimulante. Mas o que aparece em maior
quantidade no pequeno grão são os ácidos clorogênicos,
compostos antioxidantes. A xícara ainda concentra vitamina B3 e
minerais como potássio, manganês e ferro. Tal combinação vem à tona
constantemente nos laboratórios de cientistas planeta afora. No universo
das pipetas e buretas, ela não é uma unanimidade. "Porém, a maioria dos
estudos confirma seus benefícios", diz Adriana Farah, cientista do Núcleo
de Pesquisa em Café Professor Luiz Carlos Trugo, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Fato é que o pretinho básico de todas as manhãs
segue gerando contradições - as mais curiosas você conhece a seguir.
drágeas 5literárias *
sumárioPOR QUE AMAMOS CAFÉ - 5
" BIOGRAFIA" CLARICE LISPECTOR - 8
" UMA GALINHA" CLARICE LISPECTOR - 12
DRÁGEAS LITERÁRIAS
" OS AMORES E SUAS DORES" ROBERTO PRADO - 14
CLABORADORES
"QUE DOMINGO ENSOLARADO" MARIA APARECIDA SOARES FERREIRA - 16
"SPARCE NOTES" RODRIGO LOPES
HAICAS DE ROBERTO PRADO - 17
MICROTEXTO
" A TRAVESSIA: A INCRÍVEL JORNADA DE DOUGLAS WALTON" ALEXANDRE COSTA - 18
PARA LER SEM PRESSA
DICA DOS MELHORES LIVROS PARA LER - 20
QUADRINHOS COLABORATIVOS - 21
CRÔNICAS DO PRADO - 22
MICROCONTOS - 23
GUIA DE CAFÉS DO BRASIL - 26
Revista Drágeas Literárias | n. 001 | Ano I | 2016
Arte, editoração, design, criação: Alexandre Costa
Conteúdo programático: Roberto Prado
O café proporciona benefícios ao bebermosde 3 a 4 xícaras por dia
gera estímulos cerebrais, especialmente nas áreas que controlam as atividades
motoras e o sono, explica a nutricionista Camila Leonel, da Universidade
Federal de São Paulo. Para um paciente com Parkinson, doença caracterizada
por tremores no corpo, é de supor que a cafeína piore o quadro, certo?
Errado. Em estudo realizado no Instituto de Pesquisa da Universidade McGill,
no Canadá, observou-se que ela ameniza o sintoma. Para chegar ao achado,
os cientistas acompanharam 61 pacientes. Enquanto
uma parte recebeu placebo, uma pílula inócua,
a outra ganhou uma cápsula com 100
miligramas de cafeína duas vezes ao dia,
por três semanas. Nos 21 dias seguintes, o
valor passou para 200 miligramas - dose
encontrada em cerca de 2 xícaras de
café. A melhora motora entre aqueles
que ingeriram a substância foi
semelhante à de remédios indicados na
fase inicial da doença, comenta o
neurologista Renato Puppi, coordenador
da Associação Paranaense dos Portadores
de Parkinsonismo, em Curitiba, e um dos
autores do trabalho.
Dor de cabeça
Está aí um tópico que rende pano para mangas.
Geralmente, a confusão começa com a dificuldade
de estabelecer se a bebida é realmente o estopim da
dor de cabeça ou se as pessoas que sentem o incômodo a
veem como válvula de escape. Para esclarecer a dúvida,
diminua aos poucos a ingestão de cafeína, até tirá-la da dieta,
recomenda a pesquisadora Adriana Farah, da UFrj. Lembre-se de
que alguns chás e refrigerantes também carregam a substância. Daí,
se a dor não sumir, procure um médico. Em muitos casos, a cafeína é a
salvação. Prova disso é que está na fórmula de analgésicos. Algumas
cefaleias são caracterizadas pela vasodilatação cerebral. Por deixar os vasos
mais estreitos, a cafeína pode atuar como coadjuvante no tratamento, justifica
a especialista.
Fonte: http://mdemulher.abril.com.br/saude/saude/o-cafe-faz-bem-ou-mal-para-a-saude
Fertilidade
Segundo cientistas do Hospital Universitário Aarhus, na Dinamarca, mais de
cinco doses diárias de café reduzem em 50% a chance de sucesso no
tratamento de fertilização.
Câncer de pele
Depois de acompanhar mais de 110 mil pessoas por 20 anos,
esquisadores da Universidade Harvard, nos Estados
Unidos, descobriram que o café está
inversamente associado ao tipo mais comum
de tumor de pele. "Qualquer alimento
antioxidante, caso do café, pode auxiliar na
prevenção. Mas é cedo para indicá-lo com
essa finalidade", analisa a dermatologista
Flávia Addor, da Sociedade Brasileira de
Dermatologia.
Expectativa de vida
Uma investigação do Instituto Nacional do
Câncer, nos Estados Unidos, mostra que
beber de 3 a 4 xícaras faz você viver mais. O
ganho na expectativa de vida é de 10% para
homens e 13% para mulheres.
Problemas no coração
As pesquisas que se dedicaram a analisar a relação
entre o café e a incidência de insuficiência cardíaca -
condição em que o coração não consegue bombear
quantidade suficiente de sangue para o corpo - sempre
geraram dados discrepantes. Intrigada, a pesquisadora
Elizabeth Mostofsky, da Escola de Saúde Pública da Universidade
Harvard, nos Estados Unidos, decidiu conduzir uma revisão sobre o
tema. Nela, foram avaliados mais de 140 mil indivíduos, dos quais 6 522
mil tiveram o mal. Percebemos que quatro doses diárias de café
diminuíram em até 11% o risco de ter o problema, conta a cientista. Os
compostos bioativos da bebida - o destaque vai para os antioxidantes -
provavelmente estão por trás da benesse. Ao afastar o diabete tipo 2, eles
também protegeriam contra essa doença cardíaca, raciocina.
Tremores do Parkinson
Quantas vezes você já ouviu alguém alegar que está mais acelerado porque
bebeu café? Isso acontece por causa da cafeína. A exposição à substância
drágeas 7literárias *6 drágeasliterárias*
gera estímulos cerebrais, especialmente nas áreas que controlam as atividades
motoras e o sono, explica a nutricionista Camila Leonel, da Universidade
Federal de São Paulo. Para um paciente com Parkinson, doença caracterizada
por tremores no corpo, é de supor que a cafeína piore o quadro, certo?
Errado. Em estudo realizado no Instituto de Pesquisa da Universidade McGill,
no Canadá, observou-se que ela ameniza o sintoma. Para chegar ao achado,
os cientistas acompanharam 61 pacientes. Enquanto
uma parte recebeu placebo, uma pílula inócua,
a outra ganhou uma cápsula com 100
miligramas de cafeína duas vezes ao dia,
por três semanas. Nos 21 dias seguintes, o
valor passou para 200 miligramas - dose
encontrada em cerca de 2 xícaras de
café. A melhora motora entre aqueles
que ingeriram a substância foi
semelhante à de remédios indicados na
fase inicial da doença, comenta o
neurologista Renato Puppi, coordenador
da Associação Paranaense dos Portadores
de Parkinsonismo, em Curitiba, e um dos
autores do trabalho.
Dor de cabeça
Está aí um tópico que rende pano para mangas.
Geralmente, a confusão começa com a dificuldade
de estabelecer se a bebida é realmente o estopim da
dor de cabeça ou se as pessoas que sentem o incômodo a
veem como válvula de escape. Para esclarecer a dúvida,
diminua aos poucos a ingestão de cafeína, até tirá-la da dieta,
recomenda a pesquisadora Adriana Farah, da UFrj. Lembre-se de
que alguns chás e refrigerantes também carregam a substância. Daí,
se a dor não sumir, procure um médico. Em muitos casos, a cafeína é a
salvação. Prova disso é que está na fórmula de analgésicos. Algumas
cefaleias são caracterizadas pela vasodilatação cerebral. Por deixar os vasos
mais estreitos, a cafeína pode atuar como coadjuvante no tratamento, justifica
a especialista.
Fonte: http://mdemulher.abril.com.br/saude/saude/o-cafe-faz-bem-ou-mal-para-a-saude
Fertilidade
Segundo cientistas do Hospital Universitário Aarhus, na Dinamarca, mais de
cinco doses diárias de café reduzem em 50% a chance de sucesso no
tratamento de fertilização.
Câncer de pele
Depois de acompanhar mais de 110 mil pessoas por 20 anos,
esquisadores da Universidade Harvard, nos Estados
Unidos, descobriram que o café está
inversamente associado ao tipo mais comum
de tumor de pele. "Qualquer alimento
antioxidante, caso do café, pode auxiliar na
prevenção. Mas é cedo para indicá-lo com
essa finalidade", analisa a dermatologista
Flávia Addor, da Sociedade Brasileira de
Dermatologia.
Expectativa de vida
Uma investigação do Instituto Nacional do
Câncer, nos Estados Unidos, mostra que
beber de 3 a 4 xícaras faz você viver mais. O
ganho na expectativa de vida é de 10% para
homens e 13% para mulheres.
Problemas no coração
As pesquisas que se dedicaram a analisar a relação
entre o café e a incidência de insuficiência cardíaca -
condição em que o coração não consegue bombear
quantidade suficiente de sangue para o corpo - sempre
geraram dados discrepantes. Intrigada, a pesquisadora
Elizabeth Mostofsky, da Escola de Saúde Pública da Universidade
Harvard, nos Estados Unidos, decidiu conduzir uma revisão sobre o
tema. Nela, foram avaliados mais de 140 mil indivíduos, dos quais 6 522
mil tiveram o mal. Percebemos que quatro doses diárias de café
diminuíram em até 11% o risco de ter o problema, conta a cientista. Os
compostos bioativos da bebida - o destaque vai para os antioxidantes -
provavelmente estão por trás da benesse. Ao afastar o diabete tipo 2, eles
também protegeriam contra essa doença cardíaca, raciocina.
Tremores do Parkinson
Quantas vezes você já ouviu alguém alegar que está mais acelerado porque
bebeu café? Isso acontece por causa da cafeína. A exposição à substância
drágeas 7literárias *6 drágeasliterárias*
drágeas 9literárias *
Clarice Lispector nasce em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de
dezembro de 1920, tendo recebido o nome de Haia Lispector, terceira
filha de Pinkouss e de Mania Lispector. Seu nascimento ocorre durante a
viagem de emigração da família em direção à América. Aos dois anos,
seu pai consegue, em Bucareste, um passaporte para toda a família no
consulado da Rússia. Era fevereiro quando foram para a Alemanha e, no
porto de Hamburgo, embarcam no navio "Cuyaba" com destino ao
Brasil. Chegam a Maceió em março desse ano, sendo recebidos por
Zaina, irmã de Mania, e seu marido e primo José Rabin, que viabilizara a
entrada da biografada e de sua família no Brasil mediante uma "carta de
chamada". Por iniciativa de seu pai, à exceção de Tania — irmã, todos
mudam de nome: o pai passa a se chamar Pedro; Mania, Marieta; Leia —
irmã, Elisa; e Haia, em Clarice. Pedro passa a trabalhar com Rabin, já um
próspero comerciante.
A família muda-se para Recife, Pernambuco, onde Pedro
pretende construir uma nova vida. A doença de sua mãe, Marieta, que
ficou paralítica, faz com que sua irmã Elisa se dedique a cuidar de todos
e da casa.
Em 1928 passa a freqüentar o Grupo Escolar João Barbalho,
naquela cidade, onde aprende a ler. Durante sua infância a família
passou por sérias crises financeiras. Anos depois inscreve-se para o
exame de admissão no Ginásio Pernambucano. Já escrevia suas
historinhas, todas recusadas pelo Diário de Pernambuco, que àquela
época dedicava uma página às composições infantis. Isso se devia ao
fato de que, ao contrário das outras crianças, as histórias de Clarice não
tinham enredo e fatos — apenas sensações.
Pedro, pai de Clarice, em Dezembro de 1934, decide transferir-se
para a cidade do Rio de Janeiro. Cinco anos depois, inicia seus estudos
na Faculdade Nacional de Direito. Faz traduções de textos científicos
para revistas em um laboratório onde trabalha como secretária.
Trabalha, também como secretária, em um escritório de advocacia.
Seu conto, Triunfo, é publicado em 25 de maio de 1940 no
semanário "Pan", de Tasso da Silveira. Em outubro desse ano, é
publicado na revista "Vamos Ler!", editada por Raymundo Magalhães
Júnior, o conto Eu e Jimmy. Clarice ganha o lugar de redatora e repórter
da Agência Nacional. Inicia-se, ai, sua carreira de jornalista. Em 1942,
escreve seu primeiro romance, Perto do coração selvagem.
**
biografiaClarice Lispector
8 drágeasliterárias*
drágeas 9literárias *
Clarice Lispector nasce em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de
dezembro de 1920, tendo recebido o nome de Haia Lispector, terceira
filha de Pinkouss e de Mania Lispector. Seu nascimento ocorre durante a
viagem de emigração da família em direção à América. Aos dois anos,
seu pai consegue, em Bucareste, um passaporte para toda a família no
consulado da Rússia. Era fevereiro quando foram para a Alemanha e, no
porto de Hamburgo, embarcam no navio "Cuyaba" com destino ao
Brasil. Chegam a Maceió em março desse ano, sendo recebidos por
Zaina, irmã de Mania, e seu marido e primo José Rabin, que viabilizara a
entrada da biografada e de sua família no Brasil mediante uma "carta de
chamada". Por iniciativa de seu pai, à exceção de Tania — irmã, todos
mudam de nome: o pai passa a se chamar Pedro; Mania, Marieta; Leia —
irmã, Elisa; e Haia, em Clarice. Pedro passa a trabalhar com Rabin, já um
próspero comerciante.
A família muda-se para Recife, Pernambuco, onde Pedro
pretende construir uma nova vida. A doença de sua mãe, Marieta, que
ficou paralítica, faz com que sua irmã Elisa se dedique a cuidar de todos
e da casa.
Em 1928 passa a freqüentar o Grupo Escolar João Barbalho,
naquela cidade, onde aprende a ler. Durante sua infância a família
passou por sérias crises financeiras. Anos depois inscreve-se para o
exame de admissão no Ginásio Pernambucano. Já escrevia suas
historinhas, todas recusadas pelo Diário de Pernambuco, que àquela
época dedicava uma página às composições infantis. Isso se devia ao
fato de que, ao contrário das outras crianças, as histórias de Clarice não
tinham enredo e fatos — apenas sensações.
Pedro, pai de Clarice, em Dezembro de 1934, decide transferir-se
para a cidade do Rio de Janeiro. Cinco anos depois, inicia seus estudos
na Faculdade Nacional de Direito. Faz traduções de textos científicos
para revistas em um laboratório onde trabalha como secretária.
Trabalha, também como secretária, em um escritório de advocacia.
Seu conto, Triunfo, é publicado em 25 de maio de 1940 no
semanário "Pan", de Tasso da Silveira. Em outubro desse ano, é
publicado na revista "Vamos Ler!", editada por Raymundo Magalhães
Júnior, o conto Eu e Jimmy. Clarice ganha o lugar de redatora e repórter
da Agência Nacional. Inicia-se, ai, sua carreira de jornalista. Em 1942,
escreve seu primeiro romance, Perto do coração selvagem.
**
biografiaClarice Lispector
8 drágeasliterárias*
As inúmeras e profundas cicatrizes fazem com que a escritora caia
em depressão, apesar de todo o apoio recebido de seus amigos.
Em 1967 lança o livro infantil O mistério do coelho pensante, pela
José Álvaro Editor. Em maio do ano seguinte, o livro é agraciado com a
"Ordem do Calunga", concedido pela Campanha Nacional da Criança.
Em 1971 publica a coletânea de contos Felicidade clandestina,
volume que inclui O ovo e a galinha, escrito sob o impacto da morte do
bandido Mineirinho, assassinado pela polícia com treze tiros, no Rio de
Janeiro.
Dois anos depois, em 1973 publica o romance Água viva, após três
anos de elaboração, pela Editora Artenova, que lançaria também, nesse
ano, A imitação da rosa, quinze contos já publicados anteriormente em
outras coletâneas. Alberto Dines, em carta à escritora, diz sobre Água
viva: "[...] É menos um livro-carta e, muito mais, um livro música. Acho
que você escreveu uma sinfonia".
Para manter seu nível de renda, aumenta sua atividade como
tradutora. Verte, entre outros, "O retrato de Dorian Gray", de Oscar
Wilde, adaptado para o público juvenil, pela Ediouro.
Seu filho Paulo casa-se com Ilana Kauffmann em 1976.
Clarice grava depoimento no Museu da Imagem e do Som, no Rio
de Janeiro, em outubro, conduzido por Affonso Romano de Sant'Anna,
Marina Colasanti e por João Salgueiro, diretor do MIS.
Enquanto escreve A hora da estrela com a a ajuda da amiga Olga,
toma notas para o novo romance, Um sopro de vida.
Vai à França e retorna inesperadamente. Publica A hora da estrela,
pela José Olympio, com introdução — "O grito do silêncio" — de
Eduardo Portella. Esse livro seria adaptado para o cinema, em 1985, por
Suzana Amaral.
Clarice morre, no Rio, no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes
do seu 57° aniversário vitimada por uma súbita obstrução intestinal, de
origem desconhecida que, depois, veio-se a saber, ter sido motivada
por um adenocarcinoma de ovário irreversível. O enterro aconteceu no
Cemitério Comunal Israelita, no bairro do Caju, no dia 11.
Fonte: http://www.releituras.com/clispector_bio.asp
drágeas 11literárias *
Casa-se com o colega de faculdade Maury Gurgel Valente em
1940, e termina o curso de Direito. Seu marido, por concurso, ingressa
na carreira diplomática.
Muda-se para Belém do Pará (PA), acompanhando seu marido.
Fica por lá apenas seis meses. Seu livro recebe críticas favoráveis de
Guilherme Figueiredo, Breno Accioly, Dinah Silveira de Queiroz, Lauro
Escorel, Lúcio Cardoso, Antonio Cândido e Ledo Ivo, entre outros.
O casal volta ao Rio e, em 13/07/44, muda-se para Nápoles, em
plena Segunda Guerra Mundial, onde o marido da escritora vai
trabalhar. Já na saída do Brasil, Clarice mostra-se dividida entre a
obrigação de acompanhar o marido e ter de deixar a família e os
amigos. Quando chega à Itália, depois de um mês de viagem, escreve:
"Na verdade não sei escrever cartas sobre viagens, na verdade nem
mesmo sei viajar." Termina seu segundo romance, O lustre. Recebe o
prêmio Graça Aranha com Perto do coração selvagem, considerado o
melhor romance de 1943. Conhece Rubem Braga, então
correspondente de guerra do jornal "Diário Carioca".
Em 1948 nasce Pedro, primeiro filho de Clarice. Inicia em 1952, o
esboço do romance A veia no pulso, que viria a ser A Maçã no Escuro,
livro publicado em 1961.
Em 10 de fevereiro de 1953, nasce Paulo, seu segundo filho.
É lançada em 1954 a primeira edição francesa de Perto do coração
selvagem, pela Editora Plon, com capa de Henri Matisse, após inúmeras
reclamações da escritora sobre erros na tradução.
Separa-se do marido e, em julho de 1959, regressa ao Brasil com
seus filhos, e um ano depois publica, finalmente, Laços de Família, seu
primeiro livro de contos, pela editora Francisco Alves.
Em 1961 publica o romance A maçã no escuro. Recebe o Prêmio
Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, por Laços de família. Em 1964
publica o livro de contos A legião estrangeira e o romance A Paixão
Segundo G. H., ambos pela Editora do Autor. Em dezembro, o juiz
profere a sentença que poria fim ao processo de separação de Clarice e
Maury.
Na madrugada de 14 de setembro de 1866 a escritora dorme com
um cigarro aceso , provocando um incêndio. Seu quarto ficou
totalmente destruído. Com inúmeras queimaduras pelo corpo, passou
três dias sob o risco de morte — e dois meses hospitalizada. Quase tem
sua mão direita — a mais afetada — amputada pelos médicos. O
acidente mudaria em definitivo a vida de Clarice.
10 drágeasliterárias*
As inúmeras e profundas cicatrizes fazem com que a escritora caia
em depressão, apesar de todo o apoio recebido de seus amigos.
Em 1967 lança o livro infantil O mistério do coelho pensante, pela
José Álvaro Editor. Em maio do ano seguinte, o livro é agraciado com a
"Ordem do Calunga", concedido pela Campanha Nacional da Criança.
Em 1971 publica a coletânea de contos Felicidade clandestina,
volume que inclui O ovo e a galinha, escrito sob o impacto da morte do
bandido Mineirinho, assassinado pela polícia com treze tiros, no Rio de
Janeiro.
Dois anos depois, em 1973 publica o romance Água viva, após três
anos de elaboração, pela Editora Artenova, que lançaria também, nesse
ano, A imitação da rosa, quinze contos já publicados anteriormente em
outras coletâneas. Alberto Dines, em carta à escritora, diz sobre Água
viva: "[...] É menos um livro-carta e, muito mais, um livro música. Acho
que você escreveu uma sinfonia".
Para manter seu nível de renda, aumenta sua atividade como
tradutora. Verte, entre outros, "O retrato de Dorian Gray", de Oscar
Wilde, adaptado para o público juvenil, pela Ediouro.
Seu filho Paulo casa-se com Ilana Kauffmann em 1976.
Clarice grava depoimento no Museu da Imagem e do Som, no Rio
de Janeiro, em outubro, conduzido por Affonso Romano de Sant'Anna,
Marina Colasanti e por João Salgueiro, diretor do MIS.
Enquanto escreve A hora da estrela com a a ajuda da amiga Olga,
toma notas para o novo romance, Um sopro de vida.
Vai à França e retorna inesperadamente. Publica A hora da estrela,
pela José Olympio, com introdução — "O grito do silêncio" — de
Eduardo Portella. Esse livro seria adaptado para o cinema, em 1985, por
Suzana Amaral.
Clarice morre, no Rio, no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes
do seu 57° aniversário vitimada por uma súbita obstrução intestinal, de
origem desconhecida que, depois, veio-se a saber, ter sido motivada
por um adenocarcinoma de ovário irreversível. O enterro aconteceu no
Cemitério Comunal Israelita, no bairro do Caju, no dia 11.
Fonte: http://www.releituras.com/clispector_bio.asp
drágeas 11literárias *
Casa-se com o colega de faculdade Maury Gurgel Valente em
1940, e termina o curso de Direito. Seu marido, por concurso, ingressa
na carreira diplomática.
Muda-se para Belém do Pará (PA), acompanhando seu marido.
Fica por lá apenas seis meses. Seu livro recebe críticas favoráveis de
Guilherme Figueiredo, Breno Accioly, Dinah Silveira de Queiroz, Lauro
Escorel, Lúcio Cardoso, Antonio Cândido e Ledo Ivo, entre outros.
O casal volta ao Rio e, em 13/07/44, muda-se para Nápoles, em
plena Segunda Guerra Mundial, onde o marido da escritora vai
trabalhar. Já na saída do Brasil, Clarice mostra-se dividida entre a
obrigação de acompanhar o marido e ter de deixar a família e os
amigos. Quando chega à Itália, depois de um mês de viagem, escreve:
"Na verdade não sei escrever cartas sobre viagens, na verdade nem
mesmo sei viajar." Termina seu segundo romance, O lustre. Recebe o
prêmio Graça Aranha com Perto do coração selvagem, considerado o
melhor romance de 1943. Conhece Rubem Braga, então
correspondente de guerra do jornal "Diário Carioca".
Em 1948 nasce Pedro, primeiro filho de Clarice. Inicia em 1952, o
esboço do romance A veia no pulso, que viria a ser A Maçã no Escuro,
livro publicado em 1961.
Em 10 de fevereiro de 1953, nasce Paulo, seu segundo filho.
É lançada em 1954 a primeira edição francesa de Perto do coração
selvagem, pela Editora Plon, com capa de Henri Matisse, após inúmeras
reclamações da escritora sobre erros na tradução.
Separa-se do marido e, em julho de 1959, regressa ao Brasil com
seus filhos, e um ano depois publica, finalmente, Laços de Família, seu
primeiro livro de contos, pela editora Francisco Alves.
Em 1961 publica o romance A maçã no escuro. Recebe o Prêmio
Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, por Laços de família. Em 1964
publica o livro de contos A legião estrangeira e o romance A Paixão
Segundo G. H., ambos pela Editora do Autor. Em dezembro, o juiz
profere a sentença que poria fim ao processo de separação de Clarice e
Maury.
Na madrugada de 14 de setembro de 1866 a escritora dorme com
um cigarro aceso , provocando um incêndio. Seu quarto ficou
totalmente destruído. Com inúmeras queimaduras pelo corpo, passou
três dias sob o risco de morte — e dois meses hospitalizada. Quase tem
sua mão direita — a mais afetada — amputada pelos médicos. O
acidente mudaria em definitivo a vida de Clarice.
10 drágeasliterárias*
drágeas 13literárias *12 drágeasliterárias*
Uma GalinhaClarice Lispector
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas
da manhã.
Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não
olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram,
apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou
magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.
Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o
peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda
vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do
vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em
adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com
urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa,
lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de
almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da
galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula,
escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De
telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma
luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos
a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador
adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada.
Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz
galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E
então parecia tão livre.
Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é
que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade
que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo,
como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que
morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a.
Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa
através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta,
sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De
pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro.
Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe
habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e
desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as
penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava
perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do
acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:
— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso
bem!
Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente.
Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não
era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a
mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento
qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se
com certa brusquidão:
— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha
vida!
— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a
família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida
para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a
correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o
sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas
capacidades: a de apatia e a do sobressalto.
Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-
se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o
corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena
cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já
mecanizado.
Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se
recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia
os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não
cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de
sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando
milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos
séculos.
Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.
Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998,
pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores
Contos Brasileiros do Século”.
drágeas 13literárias *12 drágeasliterárias*
Uma GalinhaClarice Lispector
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas
da manhã.
Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não
olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram,
apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou
magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.
Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o
peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda
vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do
vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em
adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com
urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa,
lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de
almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da
galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula,
escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De
telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma
luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos
a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador
adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada.
Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz
galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E
então parecia tão livre.
Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é
que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade
que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo,
como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que
morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a.
Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa
através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta,
sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De
pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro.
Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe
habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e
desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as
penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava
perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do
acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:
— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso
bem!
Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente.
Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não
era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a
mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento
qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se
com certa brusquidão:
— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha
vida!
— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a
família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida
para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a
correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o
sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas
capacidades: a de apatia e a do sobressalto.
Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-
se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o
corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena
cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já
mecanizado.
Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se
recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia
os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não
cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de
sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando
milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos
séculos.
Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.
Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998,
pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores
Contos Brasileiros do Século”.
drágeas 15literárias *
atrair freguesia.
Feito um vereador em cima de caixote, ele continuava com seu discurso
inflamado: "Tenho certeza". – disse peremptório. "Aquele cafetão." – disse seguido
de um soco na minha mesa. Não fosse o susto, juro que o aplaudiria!
Tive vontade de colocar mais lenha na fogueira e acrescentar que ela gosta
de coentro e quem gosta disso boa gente não é. Mas ele sabe da minha
implicância com esse vegetal. Além do mais, se a minha mesa sem dizer nada
levou um murro, imagine eu? Guardei para a mim o comentário.
- Sim, afinal a comida no restaurante dela não era mesmo grande coisa, não
é? – ai não sei bem se ele se engava ou tentava me convencer.
- E aquele negócio do careca falando toda hora “bom dia senhores, bom dia
cavalheiros, bom dia senhoritas.”, aquilo me irritava deveras... Coisa pouco máscula
para um restaurante no porto... Só lamento o mau-gosto dela.
- Quase, quase falei no coentro! – disse, seguido de mais um suspiro capaz
de fazer estátuas chorarem.
Tive vontade de discordar. Mas diante daquele olhar de cachorro
abandonado na chuva não tive ânimo.
- Mas no português tem a... – ele me interrompe. Não lhe agrada que eu o
lembre de seus amores frustrados. Senti uma vontade muito grande de descrever
a pele de seda dela, o gingado, o tratamento diferenciado, mas o medo falou mais
alto, outra vez!
- Sim, tem ela, mas já a superei. Hoje a vejo com outros olhos. Sinto-me um
quase irmão dela... – dessa vez sou eu que o interrompo.
- Não se iluda seu velho descarado.
Tive ganas de perguntar-lhe se já havia comprado umas borboletas azuis,
mas o meu bom-senso achou melhor deixar isso prá lá. Me arrependi de tê-lo
xingado. Pude ver mais um futuro-pretérito desfazendo-se à minha frente. Lá se ia
o sonho do casamento, da família, do Juninho, do labrador chamado Bonifácio, a
criação de curiós. Tudo se desfazia. Do cenário idílico só sobraram os pombos
voando sob um céu que há pouco tempo era azul, era promessas, era um mundo
que... Poetizo, deliro, viajo nesses momentos.
Sou um sentimental incurável! E há quem diga que não tenho coração.
Ficamos em silêncio por um tempo. Ele olhou para o teto, achei que fosse
reclamar das rachaduras, das paredes descascadas, das sujeiras das janelas,
quando ele me sai com essa:
- Hora de irmos ao quinto andar!
- Voltou a fumar passivamente?
- Não sei como consigo viver nesse mundo sem o seu cigarro!
Eu ia tocar no assunto das borboletas azuis, mas resolvi deixar esse assunto
pra lá...
ROBERTO PRADO | ESCRITOR E POETA
14 drágeasliterárias*
OS AMORES E SUAS DORES
Esse pobre escriba vive uma vida secreta, uma vida de cronista de um único assunto.
Escrevo, descrevo , devaneio e viajo na vida de um sujeito que conheço. Não darei nome
aos bois tampouco o dele, mas é tudo verdade.
Nos próximos números continuarei a descrever a lenta decadência desse pobre homem,
que reforço, existe de verdade, em carne, osso e sem o canino direito, quebrado comendo
torresmo e, bem, vocês verão.
Boa leitura!
Dia cheio quando ele chegou. Um daqueles dias em que o cristão se
pergunta por que não nasceu um Rockefeller, Gates, ou mesmo um “Seu Manuel”
da quitandinha, que tem mais dinheiro que eu.
- Ela é casada com o careca, o garçom que nos atende – Falou-me assim de
chofre enquanto eu pensava nas minhas dívidas.
-Quem? Casada com que careca? Então é por isso que ele vive com aquele
chapéu?
- Luzia – murmurou, entre suspiros dolorosos.
Longos cabelos negros escorridos, olhos lindos e profundos, pés pequenos,
mãos brancas de dedos longos, unhas vermelhas, e sempre muito simpática, pensei
naquele momento, mas guardei para mim.
Ainda atordoado pela chegada súbita dele, fiquei a olhar para o nada.
- Vi no facebook do restaurante a foto dela abraçada com o careca...
- Mas você não achava que eles eram irmãos? Guardei para mim a decepção,
mas logo a compartilharia com os outros colegas que iam almoçar lá só por causa
dela. Afinal, quem divide, multiplica!
- Me iludia, me enganava – resmungava o pobre homem. Tentava cobrir o sol
com a peneira. Ela me hipnotiza.
-... Sem palavras. Segurava o riso. Tenho medo dele!
- Pobrezinha, li que ela não tem mais a mãe...
- Perdeste a chance de ser feliz duplamente. - sou um cínico, eu sei!
- Como? – indagava quase babando.
- Ter a Luzia e não ter uma sogra. - por pura piedade deixei de falar que
ainda assim teria um cunhado!
- Essa é a história da minha vida.
- E agora? – senti que a pergunta era como passar sal na ferida. Eu não
presto mesmo!
- Volto ao Português... – declarou decidido - Lá como à vontade e pago
menos. Acho que o marido a explora. Ele a colocou ali, linda daquele jeito só para
Série Drágeas Lietrárias
drágeas 15literárias *
atrair freguesia.
Feito um vereador em cima de caixote, ele continuava com seu discurso
inflamado: "Tenho certeza". – disse peremptório. "Aquele cafetão." – disse seguido
de um soco na minha mesa. Não fosse o susto, juro que o aplaudiria!
Tive vontade de colocar mais lenha na fogueira e acrescentar que ela gosta
de coentro e quem gosta disso boa gente não é. Mas ele sabe da minha
implicância com esse vegetal. Além do mais, se a minha mesa sem dizer nada
levou um murro, imagine eu? Guardei para a mim o comentário.
- Sim, afinal a comida no restaurante dela não era mesmo grande coisa, não
é? – ai não sei bem se ele se engava ou tentava me convencer.
- E aquele negócio do careca falando toda hora “bom dia senhores, bom dia
cavalheiros, bom dia senhoritas.”, aquilo me irritava deveras... Coisa pouco máscula
para um restaurante no porto... Só lamento o mau-gosto dela.
- Quase, quase falei no coentro! – disse, seguido de mais um suspiro capaz
de fazer estátuas chorarem.
Tive vontade de discordar. Mas diante daquele olhar de cachorro
abandonado na chuva não tive ânimo.
- Mas no português tem a... – ele me interrompe. Não lhe agrada que eu o
lembre de seus amores frustrados. Senti uma vontade muito grande de descrever
a pele de seda dela, o gingado, o tratamento diferenciado, mas o medo falou mais
alto, outra vez!
- Sim, tem ela, mas já a superei. Hoje a vejo com outros olhos. Sinto-me um
quase irmão dela... – dessa vez sou eu que o interrompo.
- Não se iluda seu velho descarado.
Tive ganas de perguntar-lhe se já havia comprado umas borboletas azuis,
mas o meu bom-senso achou melhor deixar isso prá lá. Me arrependi de tê-lo
xingado. Pude ver mais um futuro-pretérito desfazendo-se à minha frente. Lá se ia
o sonho do casamento, da família, do Juninho, do labrador chamado Bonifácio, a
criação de curiós. Tudo se desfazia. Do cenário idílico só sobraram os pombos
voando sob um céu que há pouco tempo era azul, era promessas, era um mundo
que... Poetizo, deliro, viajo nesses momentos.
Sou um sentimental incurável! E há quem diga que não tenho coração.
Ficamos em silêncio por um tempo. Ele olhou para o teto, achei que fosse
reclamar das rachaduras, das paredes descascadas, das sujeiras das janelas,
quando ele me sai com essa:
- Hora de irmos ao quinto andar!
- Voltou a fumar passivamente?
- Não sei como consigo viver nesse mundo sem o seu cigarro!
Eu ia tocar no assunto das borboletas azuis, mas resolvi deixar esse assunto
pra lá...
ROBERTO PRADO | ESCRITOR E POETA
14 drágeasliterárias*
OS AMORES E SUAS DORES
Esse pobre escriba vive uma vida secreta, uma vida de cronista de um único assunto.
Escrevo, descrevo , devaneio e viajo na vida de um sujeito que conheço. Não darei nome
aos bois tampouco o dele, mas é tudo verdade.
Nos próximos números continuarei a descrever a lenta decadência desse pobre homem,
que reforço, existe de verdade, em carne, osso e sem o canino direito, quebrado comendo
torresmo e, bem, vocês verão.
Boa leitura!
Dia cheio quando ele chegou. Um daqueles dias em que o cristão se
pergunta por que não nasceu um Rockefeller, Gates, ou mesmo um “Seu Manuel”
da quitandinha, que tem mais dinheiro que eu.
- Ela é casada com o careca, o garçom que nos atende – Falou-me assim de
chofre enquanto eu pensava nas minhas dívidas.
-Quem? Casada com que careca? Então é por isso que ele vive com aquele
chapéu?
- Luzia – murmurou, entre suspiros dolorosos.
Longos cabelos negros escorridos, olhos lindos e profundos, pés pequenos,
mãos brancas de dedos longos, unhas vermelhas, e sempre muito simpática, pensei
naquele momento, mas guardei para mim.
Ainda atordoado pela chegada súbita dele, fiquei a olhar para o nada.
- Vi no facebook do restaurante a foto dela abraçada com o careca...
- Mas você não achava que eles eram irmãos? Guardei para mim a decepção,
mas logo a compartilharia com os outros colegas que iam almoçar lá só por causa
dela. Afinal, quem divide, multiplica!
- Me iludia, me enganava – resmungava o pobre homem. Tentava cobrir o sol
com a peneira. Ela me hipnotiza.
-... Sem palavras. Segurava o riso. Tenho medo dele!
- Pobrezinha, li que ela não tem mais a mãe...
- Perdeste a chance de ser feliz duplamente. - sou um cínico, eu sei!
- Como? – indagava quase babando.
- Ter a Luzia e não ter uma sogra. - por pura piedade deixei de falar que
ainda assim teria um cunhado!
- Essa é a história da minha vida.
- E agora? – senti que a pergunta era como passar sal na ferida. Eu não
presto mesmo!
- Volto ao Português... – declarou decidido - Lá como à vontade e pago
menos. Acho que o marido a explora. Ele a colocou ali, linda daquele jeito só para
Série Drágeas Lietrárias
Flying so freely
he never understood
when he was too close to the
sun
Voando tão livremente
ele nunca entendeu
quando estava perto demais
do sol
I’m a foreign in life,
always trying to learn
but mostly just making mistakes
Eu sou um estrangeiro na vida,
sempre tentando aprender
mas na maior parte do tempo só
cometendo erros
The night is so kind
trying not to hurt me
every time I get lost
A noite é tão gentil
tentando não me ferir
cada vez que me perco
*16 drágeasliterárias
RODRIGO LOPESLONDRESLead techinical Architect at Transport for
London and Internet Entrepreneur
Blog: Sparce Notes
ust a little bit of sunshine
COLABORADORES
Café nas tardes de domingo
Que domingos ensolarados! Não me
lembro que o calor fosse tão intenso
como o de hoje, nesta cidade do litoral.
Em minha casa almoço: macarrão com
frango e salada, todos os domingos!
Com o sol a pino, do alto víamos o porto,
as ruas, as casas, paisagem cotidiana e
privilegiada para quem morava na Vila!
Um frei dizia que olhando debaixo para
cima parecia um presépio encrustado na
montanha.
Lembranças que se perderam no tempo,
um esforço de memória não traz de volta
o que fazíamos após o almoço de
domingo sempre com o mesmo
cardápio. Porém, um perfume deixou
traços mnemônicos, o de bolo assando
no forno para o café da tarde, nas tardes
de todos os domingos pontualmente às
quinze horas.
Sentávamos todos à mesa para saborear
o perfumado bolo degustado com café
puro ou com leite.
Alguns componentes da mesa, já não
estão mais entre nós, se foram três,
restamos a metade e quando os visito
tem a mesma tradição do café com bolo
vespertino.
MARIA APARECIDASOARES FERREIRA
RPROBERTO PRADO
HAICAISBOLA
cara-a-cara com o gol
correu-rezou-chutou
a bola no ar - errou!
BORBOLETA.
O noroeste sopra
a borboleta,
azul, de volta
CAÇADOR
corre o gato perseguindo
- desesperado predador -
a folha seca que o vento sopra
GALO
canta o galo no
terreiro, e mostra
quem manda no dia
nasce o dia no
terreiro - e, supremo senhor
canta o galo
*drágeasliterárias 17
Flying so freely
he never understood
when he was too close to the
sun
Voando tão livremente
ele nunca entendeu
quando estava perto demais
do sol
I’m a foreign in life,
always trying to learn
but mostly just making mistakes
Eu sou um estrangeiro na vida,
sempre tentando aprender
mas na maior parte do tempo só
cometendo erros
The night is so kind
trying not to hurt me
every time I get lost
A noite é tão gentil
tentando não me ferir
cada vez que me perco
*16 drágeasliterárias
RODRIGO LOPESLONDRESLead techinical Architect at Transport for
London and Internet Entrepreneur
Blog: Sparce Notes
ust a little bit of sunshine
COLABORADORES
Café nas tardes de domingo
Que domingos ensolarados! Não me
lembro que o calor fosse tão intenso
como o de hoje, nesta cidade do litoral.
Em minha casa almoço: macarrão com
frango e salada, todos os domingos!
Com o sol a pino, do alto víamos o porto,
as ruas, as casas, paisagem cotidiana e
privilegiada para quem morava na Vila!
Um frei dizia que olhando debaixo para
cima parecia um presépio encrustado na
montanha.
Lembranças que se perderam no tempo,
um esforço de memória não traz de volta
o que fazíamos após o almoço de
domingo sempre com o mesmo
cardápio. Porém, um perfume deixou
traços mnemônicos, o de bolo assando
no forno para o café da tarde, nas tardes
de todos os domingos pontualmente às
quinze horas.
Sentávamos todos à mesa para saborear
o perfumado bolo degustado com café
puro ou com leite.
Alguns componentes da mesa, já não
estão mais entre nós, se foram três,
restamos a metade e quando os visito
tem a mesma tradição do café com bolo
vespertino.
MARIA APARECIDASOARES FERREIRA
RPROBERTO PRADO
HAICAISBOLA
cara-a-cara com o gol
correu-rezou-chutou
a bola no ar - errou!
BORBOLETA.
O noroeste sopra
a borboleta,
azul, de volta
CAÇADOR
corre o gato perseguindo
- desesperado predador -
a folha seca que o vento sopra
GALO
canta o galo no
terreiro, e mostra
quem manda no dia
nasce o dia no
terreiro - e, supremo senhor
canta o galo
*drágeasliterárias 17
MICROTEXTO
ALEXANDRE COSTA
A TRAVESSIAA incrível jornada de Douglas Walton
Não se dizia outra coisa na cidade que não fosse sobre Douglas Walton e em como ele atravessou o rio Brugery sem as duas pernas e um dos braços, perdidos na guerra do Vietnã, quando ainda tinha lá seus vinte e dois anos. A façanha ganhou destaque em todos os jornais de Abbetown, inclusive um pequeno espaço de quatro minutos na rádio local, onde pode dar seu depoimento e ser aclamado pela população. Não havia um único cidadão que não tivesse ouvido falar ou acompanhado a história de Douglas desde seu início, quando ainda se preparava para a empreitada. Seu patrocinador deu um depoimento revelador quando disse: - Eu apenas liguei o barco, foi ele quem ficou o tempo todo no manche!
GISHACELEBRANDO
SEU CORPOw
18 drágeasliterárias*
MICROTEXTO
ALEXANDRE COSTA
A TRAVESSIAA incrível jornada de Douglas Walton
Não se dizia outra coisa na cidade que não fosse sobre Douglas Walton e em como ele atravessou o rio Brugery sem as duas pernas e um dos braços, perdidos na guerra do Vietnã, quando ainda tinha lá seus vinte e dois anos. A façanha ganhou destaque em todos os jornais de Abbetown, inclusive um pequeno espaço de quatro minutos na rádio local, onde pode dar seu depoimento e ser aclamado pela população. Não havia um único cidadão que não tivesse ouvido falar ou acompanhado a história de Douglas desde seu início, quando ainda se preparava para a empreitada. Seu patrocinador deu um depoimento revelador quando disse: - Eu apenas liguei o barco, foi ele quem ficou o tempo todo no manche!
GISHACELEBRANDO
SEU CORPOw
18 drágeasliterárias*
drágeas 21literárias *20 drágeasliterárias*
A Montanha Mágica, de Thomas Mann
É o segundo grande romance de formação alemão. O
livro conta a história do jovem Hans Castorp, que, ao
visitar uma clínica para tuberculosos na Suíça,
amadurece, participa de debates filosóficos. Enfim, vive
e cresce. Mann escreveu: “E que outra coisa seria de fato
o romance de formação alemão, a cujo tipo pertencem
tanto o ‘Wilhelm Meister’ como ‘A Montanha Mágica’,
senão uma sublimação e espiritualização do romance
de aventuras?”
(Nova Fronteira, tradução de Herbert Caro.)
Reparação, de Ian McEwan
Pense em Ian McEwan como uma espécie de Henry
James modernizado, pós-jazz e pós-rock. O autor, talvez
o mais refinado escritor inglês vivo — acima de pares
como Martin Amis e Julian Barnes (este, às vezes
subestimado, ao menos no Brasil) —, aparentemente
mistura, aqui e ali, tanto Virginia Woolf quanto Henry
James em suas histórias. Mas sua dicção para mostrar a
ambivalência dos indivíduos é moderna, não é do
século 19, quando James, o Henry, se formou. McEwan
conta, em “Reparação”, uma história extraordinária, mas
o modo como a relata, com personagens “manipulados”
pelo meio e pelas próprias personagens, ou por uma
delas, é que torna o romance interessante. Fica-se com
a impressão de que há duas histórias — uma dominante
e uma alternativa. O que é e o que poderia ter sido.
São Bernardo, de Graciliano Ramos
O romance mais importante de Graciliano Ramos é
“Vidas Secas? Sem dúvida. Mas, num tempo de
hegemonia dos estudos de gênero — que matam a
literatura em nome de uma ideologia primária —, nada
mais significante do que indicar “São Bernardo”. Este
livro, se as feministas atuais lessem — as que leem são
exceções —, se tornaria uma bíblia. Mas uma bíblia sem
concessões moralistas. Poucos autores patropis, mesmo
entre as mulheres, construíram tão bem um homem
autoritário, até totalitário, quanto o Velho Graça.
(Editora Record)
QUADRINHOS
VOU POSTAR MINHA FOTO MALHANDO
NA ACADEMIA, QUERO SABER O QUE
MEUS AMIGOS ACHAM.
OS GORDOS DIZEM QUE ESTOU
MAGRO, E OS MAGROS DIZEM
QUE ESTOU GORDO.
ACHO MELHOR POSTAR UMA
FOTO DE PAISAGEM!!!
a vida online
TEXTO: ALEXANDRE COSTA
notícias da repartição
TEXTO: ALEXANDRE COSTA
JORGE, OS PAPÉIS DA
APOSENTADORIA JÁ
CHEGARAM!
FINALMENTE. ESSA É
UMA BOA NOTÍCIA
MAS FORAM OS MEUS
QUE CHEGARAMESPERA AÍ.
ONDE VOCÊ VAI?
O PESSIMISTA DE PLANTÃO!
TEXTO: ROBERTO PRADO
MESES E MESES RECLAMANDO
DO AR-CONDICIONADO.
MESES E MESES ENVIANDO
RECLAMAÇÕES, MEMORANDOS,
FAZENDO AMEAÇAS... E QUANDO VOLTA A FUNCIONAR,
ESFRIA!
ESSA É UMA NOTÍCIA
MELHOR AINDA
PEGAR SEU
GRAMPEADOR
PRA MIM
drágeas 21literárias *20 drágeasliterárias*
A Montanha Mágica, de Thomas Mann
É o segundo grande romance de formação alemão. O
livro conta a história do jovem Hans Castorp, que, ao
visitar uma clínica para tuberculosos na Suíça,
amadurece, participa de debates filosóficos. Enfim, vive
e cresce. Mann escreveu: “E que outra coisa seria de fato
o romance de formação alemão, a cujo tipo pertencem
tanto o ‘Wilhelm Meister’ como ‘A Montanha Mágica’,
senão uma sublimação e espiritualização do romance
de aventuras?”
(Nova Fronteira, tradução de Herbert Caro.)
Reparação, de Ian McEwan
Pense em Ian McEwan como uma espécie de Henry
James modernizado, pós-jazz e pós-rock. O autor, talvez
o mais refinado escritor inglês vivo — acima de pares
como Martin Amis e Julian Barnes (este, às vezes
subestimado, ao menos no Brasil) —, aparentemente
mistura, aqui e ali, tanto Virginia Woolf quanto Henry
James em suas histórias. Mas sua dicção para mostrar a
ambivalência dos indivíduos é moderna, não é do
século 19, quando James, o Henry, se formou. McEwan
conta, em “Reparação”, uma história extraordinária, mas
o modo como a relata, com personagens “manipulados”
pelo meio e pelas próprias personagens, ou por uma
delas, é que torna o romance interessante. Fica-se com
a impressão de que há duas histórias — uma dominante
e uma alternativa. O que é e o que poderia ter sido.
São Bernardo, de Graciliano Ramos
O romance mais importante de Graciliano Ramos é
“Vidas Secas? Sem dúvida. Mas, num tempo de
hegemonia dos estudos de gênero — que matam a
literatura em nome de uma ideologia primária —, nada
mais significante do que indicar “São Bernardo”. Este
livro, se as feministas atuais lessem — as que leem são
exceções —, se tornaria uma bíblia. Mas uma bíblia sem
concessões moralistas. Poucos autores patropis, mesmo
entre as mulheres, construíram tão bem um homem
autoritário, até totalitário, quanto o Velho Graça.
(Editora Record)
QUADRINHOS
VOU POSTAR MINHA FOTO MALHANDO
NA ACADEMIA, QUERO SABER O QUE
MEUS AMIGOS ACHAM.
OS GORDOS DIZEM QUE ESTOU
MAGRO, E OS MAGROS DIZEM
QUE ESTOU GORDO.
ACHO MELHOR POSTAR UMA
FOTO DE PAISAGEM!!!
a vida online
TEXTO: ALEXANDRE COSTA
notícias da repartição
TEXTO: ALEXANDRE COSTA
JORGE, OS PAPÉIS DA
APOSENTADORIA JÁ
CHEGARAM!
FINALMENTE. ESSA É
UMA BOA NOTÍCIA
MAS FORAM OS MEUS
QUE CHEGARAMESPERA AÍ.
ONDE VOCÊ VAI?
O PESSIMISTA DE PLANTÃO!
TEXTO: ROBERTO PRADO
MESES E MESES RECLAMANDO
DO AR-CONDICIONADO.
MESES E MESES ENVIANDO
RECLAMAÇÕES, MEMORANDOS,
FAZENDO AMEAÇAS... E QUANDO VOLTA A FUNCIONAR,
ESFRIA!
ESSA É UMA NOTÍCIA
MELHOR AINDA
PEGAR SEU
GRAMPEADOR
PRA MIM
CRÔNICAS DO PRADO
UMA MOEDA, POR FAVOR!
Estava na rua fumando meu
cigarrinho, o segundo do dia - o
primeiro foi dirigindo até o serviço –
olhando para o céu e tentando
adivinhar como seria o resto do dia,
se com chuva, vento, chuva e vento,
chuva, vento e frio, quando um
sujeito de chinelos havaiana, gasto
por sinal, aproximou-se de mim.
Antes que ele pronunciasse a
primeira palavra, escolado que estou
nessa vida, já fui logo dizendo:
- Amigo, se seu negócio é
dinheiro já te aviso que não tenho.
Veja só, hoje é dia cinco, e ainda
estou longe do pagamento, aliás, eu
e todos nestes prédios aqui em volta
dessa praça.
Ele olhou desconsolado e logo
em seguida começa a desfiar a
história triste de sua vida. Não
pensem por essas palavras mal
digitadas que sou um homem duro
de coração, não, não sou, se sou
duro é de bolso. Às vezes penso em
invadir a seara dos pedintes para
descolar mais alguns trocados, mas
falta-me ainda a cara de pau para
tanto.
Contou-me ele que vinha do
norte, como quase noventa e nove
por cento dos que vejo e encontro
pelas ruas. Mostrou-me a carteira de
trabalho, quase desfeita, disse-me
que estava desempregado e que
queria voltar para casa, mas para tal,
faltava-lhe dinheiro.
Explicou-me que precisava de
uma determinada quantia – que não
declinarei aqui, pois por não ter a
quantidade que ele precisava, não
quero de forma alguma a piedade
de meus leitores – para completar a
passagem de ônibus. Olhei bem para
o sujeito, estava sujo, maltrapilho, e
tenho certeza que se ele tivesse a tal
“parte” do dinheiro para voltar,
gastaria num pão com mortadela.
Não sou desumano, quero
frisar bem isso. Enquanto ele
desabafava eu fumava meu
cigarrinho que estava se tornando a
cada tragada mais e mais amargo.
Após alguns minutos de
conversa, ele se dispõe a ir embora,
avança uns passos para a rua, e
quando penso que ele vai-se enfim
embora, ele pára, volta atrás e, como
tentando uma última cartada ou o
blefe final, fala:
- Sabe – disse-me olhando
para o alto – eu não disse para o
céu, eu disse para o alto – estou
pensando em subir ali na passarela
(passarela que as pessoas civilizadas,
utilizam para atravessar a via férrea e
a avenida lotada de caminhões e
pegarem a barca para o outro lado
do canal) e me jogar lá de cima...
Olhei para a mesma direção
que ele, talvez para lhe dar um certo
sentimento de cumplicidade, ou para
medir a altura e computar o estrago,
sei lá. Passados alguns segundos,
bem poucos por sinal, afinal meu
cigarro já havia acabado e precisava
voltar para a minha sala e
encarar o serviço que lá me
esperava, respondi:
- Pense bem rapaz,
você quer pular para a
morte, para o descanso final,
mas pense bem, se ao invés
da morte você ficar
mutilado? Aqui passam
muitos trens e nem sempre
atropelamento por eles quer
dizer que resulte em
mortes...
Ele olhou-me entre
espantado e horrorizado, ele
esperava de mim talvez
alguma compaixão, algum
milagre que fizesse surgir
alguns trocados em meus
bolsos, alguma coisa ele
esperava de mim, menos
aquela resposta. E antes que
ele completasse qualquer
pensamento que estivesse
lhe cruzando a cabeça,
concluí:
- É ainda melhor pedir
assim inteiro como você está
agora, que ficar mutilado na
porta de alguma igreja
mendigando moedas, pense
nisso.
Ele atravessou a rua, e
quando chegou do lado
olhou-me de uma forma que
não consegui traduzir, não
consegui mesmo.
Penso que salvei uma
vida hoje.
drágeas 23literárias *22 drágeasliterárias*
CRÔNICAS DO PRADO
UMA MOEDA, POR FAVOR!
Estava na rua fumando meu
cigarrinho, o segundo do dia - o
primeiro foi dirigindo até o serviço –
olhando para o céu e tentando
adivinhar como seria o resto do dia,
se com chuva, vento, chuva e vento,
chuva, vento e frio, quando um
sujeito de chinelos havaiana, gasto
por sinal, aproximou-se de mim.
Antes que ele pronunciasse a
primeira palavra, escolado que estou
nessa vida, já fui logo dizendo:
- Amigo, se seu negócio é
dinheiro já te aviso que não tenho.
Veja só, hoje é dia cinco, e ainda
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Ele olhou desconsolado e logo
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pensem por essas palavras mal
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Contou-me ele que vinha do
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queria voltar para casa, mas para tal,
faltava-lhe dinheiro.
Explicou-me que precisava de
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ESTADOS UNIDOS | EUROPA | ÁSIA | OCEANIA
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MODAEM TUDO
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de 230 cafeterias com serviço
completo e em 80 cidades pelo
País
O Brasil é o maior produtor e
exportador do grão e está em
segundo lugar no consumo
mundial, atrás dos Estados Unidos.
Com tantos lugares para apreciar o
café, o objetivo do Guia é ajudar a
encontrar as opções mais
completas e que oferecem
variedade. O Guia chega com a
missão de facilitar a busca por
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jornal, revistarias e livrarias por todo o País
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