documento protegido pela lei de … revistas, questionários e a resposta, após coleta de dados,...
Post on 09-Feb-2019
212 Views
Preview:
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
GESTÃO DE DOCUMENTOS PÚBLICOS DIGITAIS
Por: Flavio Monteiro da Trindade
Orientadora
Prof.ª M ª. Flávia Martins de Carvalho
Rio de Janeiro
DOCU
MENTO
PRO
TEGID
O PEL
A LE
I DE D
IREIT
O AUTO
RAL
2012
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
GESTÃO DE DOCUMENTOS PÚBLICOS DIGITAIS
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Gestão Pública.
Por: Flavio Monteiro da Trindade.
3
AGRADECIMENTOS
A todos que me apoiaram nessa
conquista.
4
DEDICATÓRIA
Ao meu Pai, João Gomes, minha mãe,
Ângela Monteiro e meu irmão, Felipe
Trindade.
5
RESUMO
O presente trabalho de conclusão de curso consiste em um estudo de caso e
aborda a gestão arquivística dos documentos digitais e da natureza destes
documentos. A Gestão de Documentos, um dos princípios mais importantes da
Arquivologia, aponta para estudos avançados que tratam das preocupações
concernentes às atividades de produção e manutenção das características
principais dos documentos arquivísticos digitais, quais sejam autenticidade e
confiabilidade. Para tanto são tomadas como exemplo as práticas
desenvolvidas pela IBM, adaptadas às rotinas de trabalho da Justiça Federal
no Rio de Janeiro, durante o desenvolvimento das atividades concernentes à
realização do Projeto de Digitalização dos documentos do Órgão. Avalia,
ainda, as normas e procedimentos prescritos pela Câmara Técnica de
Documentos Eletrônicos (CTDE) do Conselho Nacional de Arquivos
(CONARQ) do Arquivo Nacional, descritos no Modelo de Requisitos para
Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de Documentos – e-ARQ
Brasil e analisa a metodologia utilizada no Projeto, no tocante à gestão
arquivística de documentos digitais, a fim de investigar se os mesmos estão
em consonância com o disposto pelo referido documento.
Palavras-chave: Documento digital. Gestão arquivística de documentos
digitais. Preservação digital.
6
METODOLOGIA
Os métodos que levam ao problema proposto, como leitura de livros,
jornais, revistas, questionários e a resposta, após coleta de dados, pesquisa
bibliográfica, pesquisa de campo, observação do objeto de estudo, as
entrevistas, os questionários, etc. Contar passo a passo o processo de
produção da monografia. É importante incluir os créditos às instituições que
cederam o material ou que foram o objeto de observação e estudo.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Quadro Teórico-conceitual 11
CAPÍTULO II
A Justiça Federal e a Implantação do Sistema
de Gestão de Documentos Digitais 21
2.1 - A Justiça Federal do Brasil 21
2.2 - Sistema de Gestão de Documentos Digitais 22
CAPÍTULO III
Aplicabilidade do E-Arq Brasil 30
CONCLUSÃO 34
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37
8
INTRODUÇÃO
Dentre as mudanças causadas pelo advento das novas tecnologias,
uma das que mais provocam discussões entre os diversos profissionais da
informação é o documento digital. Sempre haverá a necessidade do registro de
informações, como sempre houve, desde o início da escrita. Dos registros
gravados nas paredes de cavernas até chegar aos registros em papel, o
homem acompanha a evolução tecnológica e, hoje em dia, a informação é
comumente registrada em formato digital.
Nem todo registro documental é um documento arquivístico. Para tal, é
necessário que o documento possua determinadas características como
organicidade e naturalidade na acumulação. Assim sendo:
[...] considera-se documento arquivístico como a informação registrada, independente da forma ou do suporte, produzida e recebida no decorrer das atividades de um órgão, entidade ou pessoa, dotada de organicidade e que possui elementos constitutivos suficientes para servir de prova dessas atividades. CONARQ (2004).
Documento digital é aquele que, além dessas características, foi criado
e armazenado em ambiente eletrônico, ou na definição do CONARQ (2004):
[...] considera-se documento arquivístico digital o documento arquivístico codificado em dígitos binários, produzido, tramitado e armazenado por sistema computacional.
Para assegurar o valor probatório dos fatos que atesta é necessário que
o documento seja autêntico, fidedigno e, portanto, deve ser preservado a fim
de garantir o acesso ao seu conteúdo pelo tempo que for necessário.
Entre os problemas geralmente encontrados nos documentos digitais
está a facilidade em ser adulterado por alguém não autorizado, além da
degradação dos suportes eletrônicos e da obsolescência tecnológica, que
pode causar sua destruição ou a perda da informação de forma irreversível.
9
A presente pesquisa abordará a gestão arquivística de documentos
digitais da Justiça Federal no Rio de Janeiro, primeiro órgão público federal a
implantar esse tipo de gestão na Administração Pública Federal.
Os documentos produzidos pelo órgão durante a realização de suas
atividades são fontes de prova do desenvolvimento do projeto, assim, a
investigação a ser desenvolvida pretende descrever e examinar os
procedimentos utilizados para a criação, manutenção e guarda dos
documentos arquivísticos digitais, pois, de acordo com Rondinelli (2004, p. 64),
a gestão arquivística desses documentos é:
[...] um instrumento capaz de garantir a criação e a manutenção de documentos eletrônicos confiáveis ou, segundo a diplomática arquivística contemporânea preconizada por Duranti, de documentos eletrônicos arquivísticos fidedignos e autênticos.
Para dar suporte à análise do sistema de gestão de documentos
arquivísticos digitais serão utilizados os procedimentos indicados pelo e-ARQ
Brasil, o qual é definido como um “Modelo de Requisitos para Sistemas
Informatizados de Gestão Arquivística de Documentos (...) elaborado no
âmbito da Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos (CTDE) do Conselho
Nacional de Arquivos (CONARQ) no período de 2004 a 2006”. (2006, p.5).
Os requisitos apresentados pelo e-ARQ Brasil especificam “todas as
atividades e operações técnicas da gestão arquivística de documentos desde a
produção, tramitação, utilização e arquivamento até a sua destinação final”
(ibid.), ou seja, esses requisitos deverão ser utilizados para o gerenciamento
de toda documentação arquivística digital produzida na instituição.
De acordo com o e-ARQ Brasil, a gestão de documentos digitais deve
ser feita por meio de um sistema informatizado de gestão arquivística de
documentos que envolva o conjunto dos princípios, métodos e operações
concernentes ao tratamento arquivístico.
Diante dos conceitos enunciados nos parágrafos anteriores, é possível
afirmar que o sistema de gestão de documentos digitais utilizado pela Justiça
Federal se assemelha a um SIGAD, já que todos os documentos são criados,
gerenciados e armazenados em ambiente eletrônico.
10
Assim sendo, o objetivo geral da pesquisa é identificar de que maneira
esses documentos digitais são tratados pelo órgão, analisando os
procedimentos utilizados na gestão de seus documentos arquivísticos digitais
de acordo com os requisitos especificados no e-ARQ Brasil.
Já os objetivos específicos são: entender como os documentos
arquivísticos digitais são criados, gerenciados e armazenados pelo órgão; e
identificar os procedimentos utilizados para garantir que os documentos
arquivísticos digitais sejam autênticos, fidedignos e acessíveis durante o
período de vigência dos mesmos.
Para a realização deste trabalho, a metodologia adotada compreendeu
a revisão bibliográfica sobre os conceitos de documento arquivístico digital,
gestão arquivística de documentos, autenticidade e fidedignidade, metadados
e preservação de documentos digitais, os quais serão apresentados no
segundo capítulo.
O objeto de estudo deste trabalho de conclusão de curso é o sistema
utilizado pela Justiça Federal. Assim, no terceiro capítulo será apresentado o
sistema de gerenciamento de documentos digitais utilizados pelo órgão e, no
quarto capítulo, serão analisados os procedimentos utilizados para a gestão de
seus documentos digitais, de acordo com os requisitos funcionais
estabelecidos pelo e-ARQ Brasil.
Dessa forma, ao final da pesquisa, será possível indicar se o órgão
atende aos requisitos para a criação, manutenção e preservação de
documentos arquivísticos digitais propostos pelo e-ARQ Brasil.
11
CAPÍTULO I
QUADRO TEÓRICO CONCEITUAL
Este capítulo visa apresentar conceitos importantes para a
compreensão, sob a luz da Arquivologia, das especificidades e potencialidades
de uso dos documentos digitais no ambiente de grandes empresas.
Para isso, é necessário abordar os conceitos de documento arquivístico
digital, gestão arquivística de documentos, autenticidade e fidedignidade,
metadados e preservação de documentos digitais, para que seja alcançado o
objetivo dessa pesquisa, qual seja, a análise do sistema de gestão de
documentos da Justiça Federal.
De maneira geral, entende-se documento como sendo a informação
registrada em um suporte e, mais especificamente, de caráter oficial, tais
como: certidões, diplomas, registros de identificação pessoal, etc.
O documento arquivístico possui certas especificidades, que dizem
respeito à própria criação, pois os documentos de arquivo decorrem do
exercício de atividades específicas de órgãos públicos, instituições de caráter
público e entidades privadas, bem como de pessoa física durante o exercício
de suas funções, ou seja, estão vinculados ao processo pelos quais foram
criados e devem refletir as atividades a que se vinculam. Tem, portanto, o
potencial de prova, de evidência, de comprovação dos fatos.
Sendo assim, os documentos de arquivo, como recursos de prova e
informação, dão suporte ao processo decisório e às atividades administrativas
e técnicas da instituição produtora.
A Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991, que regulamenta a Política
Nacional de Arquivos Públicos e Privados, em seu art. 2º, capítulo I, apresenta
a seguinte definição de arquivos:
[...] conjunto de documentos produzidos e recebidos por órgãos públicos, instituições de caráter público e entidades privadas, em decorrência do exercício de atividades
12
específicas, bem como por pessoa física, qualquer que seja o suporte da informação ou a natureza dos documentos.
O documento arquivístico é definido como “unidade de registro de
informações, qualquer que seja o suporte ou formato”, de acordo com o
Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística Arquivo Nacional (2005, p.
73).
Se a definição diz “qualquer que seja o suporte ou formato”, o
documento arquivístico digital difere de um documento arquivístico tradicional
apenas pelo formato em que é registrado, que é o formato digital.
Assim, de acordo com a definição encontrada no e-ARQ Brasil,
documento arquivístico digital é o:
[...] documento arquivístico codificado em dígitos binários, produzido, tramitado e armazenado por sistema computacional. São exemplos de documentos arquivísticos digitais: textos, imagens fixas, imagens em movimento, gravações sonoras, mensagens de correio eletrônico, páginas web, bases de dados, dentre outras possibilidades de um vasto repertório de diversidade crescente. (ARQUIVO NACIONAL, 2006, p. 4).
Santos (2002, p.33) levanta a seguinte questão: “[...] será que todo
arquivo eletrônico é um documento de arquivo?” E continua:
Da mesma forma que existem documentos em suportes tradicionais que não são documentos de arquivo, também existem documentos eletrônicos que não pertencem a arquivos eletrônicos, no sentido arquivístico, ou seja, que não foram criados e/ou acumulados em decorrência das atividades de pessoa física ou jurídica, pública ou privada.
Para responder esta pergunta, o autor cita Roberts (1993, p. 417), que
enumera um conjunto de elementos usados para identificar arquivos
eletrônicos (electronic records), que são:
13
1. Informação; 2. Criado e usado na execução de um negócio ou
atividade; 3. Mantido como evidência dessa atividade; 4. Com capacidade de ser processado em um sistema de
computador; 5. Armazenado em um meio que requer equipamento
eletrônico ou computador para ser recuperado.
A partir dessa análise, Santos conclui que “o documento eletrônico seria
então definido pelas duas últimas características, sendo que sua identidade
arquivística é estabelecida pelas três primeiras”.
Assim como Santos, Rondinelli toma como base para a análise desses
documentos as características enunciadas pela professora Luciana Duranti, da
Universidade de British Columbia, em Vancouver no Canadá, que integrou os
conceitos e princípios da diplomática aos da arquivologia gerando “o que ela
mesma chama de diplomática arquivística contemporânea”. (2004, p.45).
Essas características seriam, de acordo com Duranti (apud SANTOS,
2002, p.36):
1. Imparcialidade – os registros são inerentemente verdadeiros;
2. Autenticidade – os documentos são autênticos porque são criados tendo-se em mente a necessidade de se agir por meio deles;
3. Naturalidade – diz respeito à maneira como os documentos se acumulam no curso das transações de acordo com as necessidades da matéria em pauta;
4. Inter-relacionamento – os documentos estabelecem relações no decorrer do andamento das transações e de acordo com suas necessidades;
5. Unicidade – cada registro documental assume um lugar único na estrutura documental do grupo ao qual pertence e no universo documental.
Ou seja, “todas as características acima são inerentes a quaisquer
documentos, eletrônicos ou não, produzidos por uma pessoa ou instituição”.
(IBID).
14
Aqui se faz necessário abordar a diferença entre os termos “documento
eletrônico” e “documento digital”.
A Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos - CTDE do Conselho
Nacional de Arquivos – CONARQ, define documento arquivístico eletrônico
como:
[...] um documento arquivístico codificado em forma analógica ou em dígitos binários, acessível por meio de um equipamento eletrônico.
Sendo o documento arquivístico digital o registro produzido, tramitado e
armazenado em formato digital. (ROCHA e SILVA, 2007, p. 115), ou na
definição do CTDE: “Documento arquivístico codificado em dígitos binários,
produzido, tramitado e armazenado por sistema computacional”.
Como se pode concluir dos conceitos elencados, documento eletrônico
é uma unidade de registro acessível mediante um equipamento eletrônico, tal
como uma fita cassete de áudio ou uma fita VHS de vídeo, enquanto
documento digital se diferencia pelo formato, é o documento codificado em
dígitos binários.
A gestão de documentos arquivísticos é um procedimento fundamental
na vida de uma empresa pública ou privada. Para tomar decisões, recuperar a
informação e preservar a memória institucional é preciso estabelecer um
conjunto de práticas que garanta a organização e preservação dos arquivos.
Diante das mudanças mercadológicas, que exigem das organizações
maior competitividade aliada à redução de custos, a gestão documental
passou a ser indispensável para a recuperação da informação necessária às
tomadas de decisões.
A preocupação com a organização dos documentos em uma instituição
surge diante da necessidade de garantir que a informação esteja disponível
quando e onde seja necessária; que documentos sem valor administrativo e
legal sejam eliminados, evitando o acúmulo de massa documental; e que o uso
de recursos informacionais seja eficaz, evitando desperdício de recursos
humanos e materiais.
15
A gestão de documentos, como um conjunto de procedimentos técnicos
e científicos para o tratamento de documentos de arquivo tem como objetivo
mantê-los organizados e acessíveis, tornando-os parte fundamental nos
processos de negócios das organizações, oferecendo as condições
necessárias para uma correta avaliação da documentação da instituição, de
acordo com sua missão e propósitos.
Em se tratando de documentos digitais, há certa confusão entre os
termos GED – Gerenciamento Eletrônico de Documentos - e a Gestão de
Documentos Arquivísticos Digitais.
O GED pode ser usado tanto para o gerenciamento de documentos
digitais como em ambientes híbridos, ou seja, constituído de documentos
digitais e, também, convencionais, porém seu uso é limitado à ação de
recuperação da informação nele armazenada.
Para Lucca, Charão e Stein (2006, p.71), a “Gestão Eletrônica de
Documentos (GED) tem se destacado como uma ferramenta estratégica para
garantir agilidade na recuperação de documentos”, porém “nem todas as
ferramentas de GED disponíveis no mercado estão em consonância com os
princípios arquivísticos de gestão de documentos”.
A gestão arquivística abrange todo o ciclo de vida dos documentos e
envolve o conjunto dos princípios, dos métodos e das operações que se
aplicam à organização e ao tratamento dos arquivos. Assegura a produção,
tramitação, manutenção e destinação dos documentos, refletindo as
informações registradas em seu contexto. Uma gestão eficaz garante o
tratamento adequado às informações de acordo com métodos e princípios
arquivísticos.
No e-ARQ Brasil encontramos a definição de um SIGAD – Sistema
Informatizado de Gestão Arquivística de Documentos, que é:
um conjunto de procedimentos e operações técnicas, característico do sistema de gestão arquivística de documentos, processado por computador. Pode compreender um software particular, um determinado número de softwares integrados, adquiridos ou desenvolvidos por encomenda, ou uma combinação desses. O sucesso do SIGAD dependerá
16
fundamentalmente da implementação prévia de um programa de gestão arquivística de documentos. (CONARQ, 2006, p. 6-7).
Continuando:
Um SIGAD inclui operações como: captura de documentos, aplicação do plano de classificação, controle de versões, controle sobre os prazos de guarda e destinação, armazenamento seguro e procedimentos que garantam o acesso e a preservação a médio e longo prazo de documentos arquivísticos digitais e não digitais confiáveis e autênticos. No caso dos documentos digitais, um SIGAD deve abranger todos os tipos de documentos arquivísticos digitais do órgão ou entidade, ou seja, textos, imagens fixas e em movimento, gravações sonoras, mensagens de correio eletrônico, páginas web, bases de dados, dentre outras possibilidades de um vasto repertório de diversidade crescente.
Dessa forma, o documento conclui que:
Um GED trata os documentos de maneira compartimentada, enquanto o SIGAD o faz a partir de uma concepção orgânica, ou seja, os documentos possuem uma inter-relação que reflete as atividades da instituição que os criou. Além disso, diferentemente do SIGAD, o GED nem sempre incorpora o conceito arquivístico de ciclo de vida dos documentos; [...] um SIGAD é um sistema informatizado de gestão arquivística de documentos e como tal sua concepção tem que se dar a partir da implementação de uma política arquivística no órgão ou entidade.
Sendo assim, torna-se fundamental descrever e examinar os
procedimentos utilizados para a criação, manutenção e guarda dos
documentos arquivísticos digitais elaborados pela Justiça Federal.
Sobre as ações utilizadas pelas instituições para garantir a preservação
de documentos digitais, Rocha e Silva concluem que:
O grande desafio apresentado pelos documentos digitais é a garantia da produção de documentos confiáveis e a manutenção de sua autenticidade e acesso de longo prazo. (2007, p. 115).
17
A autenticidade do documento arquivístico está ligada ao valor
probatório da informação nele registrada. Para Fonseca apud Rondinelli (2004,
p. 47):
[...] a autenticidade está ligada ao processo de criação, manutenção e custódia; os documentos são produto de rotinas processuais que visam ao cumprimento de determinada função, ou consecução de alguma atividade, e são autênticos quando criados e conservados de acordo com procedimentos regulares que podem ser comprovados, a partir de rotinas estabelecidas.
O conceito de fidedignidade foi definido por MacNeil apud Rondinelli
(2004, p.64) pela “capacidade de um documento arquivístico sustentar os fatos
que atesta”. Ainda segundo a autora, esta capacidade “está relacionada ao
momento de criação do documento e, portanto, refere-se ao grau de
completude da sua forma intelectual e de controle dos seus procedimentos de
criação”.
Nos documentos digitais, a completude se refere aos elementos que
compõe a estrutura formal do documento, que são os elementos extrínsecos e
intrínsecos. Na definição da CTDE, elementos extrínsecos são:
Conjunto de elementos que constituem a forma externa do documento arquivístico. Os tipos de elementos extrínsecos incluem: tipo, cor e tamanho da letra; apresentação textual, gráfico, sonoro ou multimídia, selo, logomarca; assinatura digital; links e outros. (CONARQ, 2004, p.8).
E os elementos intrínsecos são:
Conjunto de elementos que constituem a forma interna do documento arquivístico. Os tipos de elementos intrínsecos incluem: autor, destinatário, data, local, assinatura, assunto e outros.
Na Parte I do e-ARQ Brasil, Gestão Arquivística de Documentos, em seu
item 5 – Planejamento e Implantação do Programa de Gestão Arquivística de
Documentos -, encontramos as definições de confiabilidade e autenticidade.
18
Aqui cabe acrescentar a explicação acerca da substituição do termo
fidedignidade para confiabilidade, apresentada no e-ARQ Brasil, na nota 12:
“Confiabilidade é sinônimo de fidedignidade, tradução do termo em inglês
reliability.” (CONARQ, 2006, p. 21)
No caso da Justiça Federal, os documentos devem ser armazenados e
mantidos acessíveis durante o período estabelecido pela Tabela de
Temporalidade dos Documentos. Portanto, deverão ser observadas as práticas
para preservação e acesso desses documentos pelo tempo necessário.
De acordo com Rocha e Silva “não é suficiente que o documento seja
confiável e autêntico, é preciso também assegurar que este possa ser lido e
compreendido pelas gerações futuras”. (2007, p. 115).
O grande problema do suporte eletrônico é a substituição constante de
uma tecnologia por outra mais avançada, provocando a rápida obsolescência
do suporte utilizado. Os disquetes, por exemplo, utilizados no final da década
de 1980 e início da década de 1990 do século passado, quando as instituições
começaram a utilizar a informática de forma mais ampla, não podem mais ser
lidos. Não só pela provável degradação e desmagnetização da mídia, como
pela quase inexistência de computadores com dispositivos necessários para a
leitura do disquete. Este é o problema da obsolescência tecnológica inerente
ao hardware.
Há também a obsolescência do software. Se fosse encontrado um
computador com tecnologia atual, com um dispositivo para operar um disquete
perfeitamente conservado, provavelmente não haveria como executar um
editor de textos utilizado naquela época. Talvez o conteúdo do disquete
pudesse ser acessado e algumas informações importantes recuperadas, mas
sem o programa que o gerou, sua forma e funcionalidades originais estariam
comprometidas.
Para evitar a perda do documento antes que seja impossível acessar
seu conteúdo é necessário que seja implantada uma política de preservação
digital na instituição.
A aplicação dos princípios de preservação deve, a princípio, ocorrer
desde a fase da produção dos documentos como forma de garantir, em
19
qualquer etapa do tempo de vida dos documentos, o acesso às informações
neles contidas.
Para os fins dessa pesquisa, utilizaremos a definição de preservação
digital encontrada no glossário da CTDE, que são:
Ações destinadas a manter a integridade e a acessibilidade dos objetos digitais ao longo do tempo. Devem alcançar todas as características essenciais do objeto digital: físicas, lógicas e conceituais. (CONARQ, 2004, p.12).
A dificuldade fundamental da preservação digital advém da natureza dos
próprios objetos que busca preservar. Diferentemente dos formatos
tradicionais, os documentos digitais são acessíveis somente através de
combinações específicas de componentes de hardware, software e mídias. Até
bem pouco tempo atrás, a atenção dos profissionais da área concentrava-se,
apenas, na preservação do suporte físico onde a informação era armazenada.
Porém, isso não é suficiente em se tratando de documentos digitais. Há que se
considerar a fragilidade de preservação do suporte digital, pois todos os meios
disponíveis apresentam problemas de preservação física. Para além da
manutenção da integridade física, é necessário prever uma série de
procedimentos de transposição de dados de equipamentos e programas
antigos para novos.
Para tanto, a instituição pode optar por ações como a preservação da
tecnologia; a migração; a emulação; o encapsulamento; o uso de formatos
abertos, que estejam plenamente documentados em especificações
disponíveis publicamente e que tenham uma vida útil esperada de longa
duração; além de uma política pública que inclua pesquisa científica, e também
de legislação apropriada.
Além disso, os arquivistas apontam o uso de metadados para apoiar as
ações de preservação de longo prazo. Os metadados devem documentar
procedimentos associados à preservação, especificar direitos de acesso,
apoiar a verificação da autenticidade do conteúdo digital, unir os diversos
componentes constituintes de um objeto complexo e as diversas versões do
mesmo objeto.
20
Os padrões de metadados fornecem subsídios para as questões de
descrição, acessibilidade e interoperabilidade, propiciando o acesso futuro,
objetivo da preservação digital.
O e-ARQ Brasil não incluiu os modelos de metadados em sua primeira
versão. Uma série de audiências públicas está sendo realizada sobre o
“Esquema de Metadados do Modelo de Requisitos para Sistemas
Informatizados de Gestão Arquivística de Documentos - e-Arq BRASIL -
Versão 1”, para serem incluídos na próxima versão do documento.
A preservação digital é uma função que não pode ser evitada. Cada vez
mais as instituições dependem, a médio e longo prazo, de informação
produzida e mantida em formato digital. Por isso, é fundamental que haja uma
política de preservação digital nas instituições.
21
CAPÍTULO II
A JUSTIÇA FEDERAL E A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA
DE GESTÃO DE DOCUMENTOS DIGITAIS
2.1 - A JUSTIÇA FEDERAL DO BRASIL
Regulamentada pelo Decreto nº 848 de 11 de outubro de 1890, a
Justiça Federal tem sua origem 66 anos antes, mais especificamente com a
promulgação da primeira Constituição brasileira, ainda na época do Império,
em 25 de março de 1824, a qual determinava que a estrutura do Estado era
unitária, assim como o Poder Judiciário.
Em 1891, com a primeira Constituição republicana, as esferas
estaduais são instituídas, diminuindo a competência da federal. Já em 1937,
com a instituição do Estado Novo, a Justiça Federal é extinta junto com a
recém-criada Justiça Eleitoral, sendo os órgãos do Poder Judiciário então o
Supremo Tribunal Federal; os Juízes e Tribunais dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios e os Juízes e Tribunais militares.
Após isso, somente em 1967, durante o Regime Militar, o Ato
Institucional nº 2 reinstaura a 1ª Instância na Justiça Federal, ao modificar a
Constituição. Dois anos depois, a 5º Constituição consagra a instituição ao
dispor sobre sua jurisdição e competência.
Com a Constituição de 1988 a Justiça Federal foi reestruturada com a
criação de cinco Tribunais Regionais Federais e do Superior Tribunal de
Justiça. Após isso, as mudanças mais significativas se deram na década de 90
com a ampliação da Justiça Federal em 1º grau e a criação de novas Varas em
todas as regiões e, em 2001, com a Lei nº 10.259/2001, que instituiu os
juizados especiais federais.
No Rio de Janeiro, está localizada a Seção Judiciária do Rio de Janeiro
(SJRJ) que tem competência em todo o estado nos feitos de competência da
22
Justiça Federal, com valor de causa acima de 60 salários-mínimos e pena
máxima superior a dois anos ou multa.
2.2 – SISTEMA DE GESTÃO DE DOCUMENTOS DIGITAIS
Quando é firmado um contrato para a execução de serviços, neste caso
em estudo o Projeto de Digitalização de Documentos do Judiciário Federal,
todas as atividades relativas à elaboração e execução do projeto são
registradas, desde o início até a finalização. No encerramento do mesmo toda
a documentação é entregue por meio do Data Book, que é o conjunto de
documentos e registros que evidenciam as realizações técnica e operacional.
O Data Book contém toda a documentação técnica referente à execução
do projeto, de acordo com as exigências. Os documentos são registrados em
suporte eletrônico, visando facilitar a comunicação entre o contratante e a
contratada durante a execução do projeto.
Na Justiça Federal, os documentos gerados durante a execução de
suas atividades passarão a ser criados, gerenciados e armazenados por meio
do CDoc, um sistema de gerenciamento eletrônico de documentos,
desenvolvido pela IBM e adaptado às necessidades do Órgão.
As principais funções e finalidades do CDoc são definidas da seguinte
forma:
• Registrar toda a documentação;
• Armazenar e gerenciar eletronicamente os documentos;
• Encaminhar e distribuir os documentos para cada equipe de
trabalho envolvida nas diversas fases da execução dos serviços;
• Permitir o acesso, a recuperação, a análise e a aprovação dos
documentos produzidos por cada equipe de trabalho.
Os documentos são criados pelas equipes de trabalho e passam por
revisões internas no Órgão. Cada revisão feita é identificada por um número,
em ordem crescente, iniciando-se pelo número 1. Quando o documento está
23
finalizado e pronto para ser transmitido para a base de dados passa a ser
identificado como revisão 0 – Emissão Original. A partir da emissão do
documento, as revisões passam a ser identificadas por letras.
O CDoc permite que as equipes de trabalho acessem não só as
revisões atuais dos documentos, bem como seu histórico, além de fornecer
informações sobre o status de cada documento criado.
Os envolvidos na elaboração e no trâmite dos documentos são os
técnicos de cada área administrativa ou Vara Federal, além dos arquivistas
responsáveis pela gestão destes documentos e estão assim classificados:
• Discipline Controller ou Controlador de área específica: a pessoa
responsável pela preparação da documentação técnica do
projeto;
• Checker ou Verificador: Aquele que, por experiência e
competência na área tem como responsabilidade a revisão da
documentação técnica do projeto;
• Document Control Lead ou Arquivista (Coordenador):
Responsável pela criação dos procedimentos para a gestão dos
documentos e pela coordenação das atividades envolvidas no
processo de gestão;
• Document Controller ou Arquivista: Responsável pela
implementação dos procedimentos para a gestão dos
documentos referente ao projeto;
• Project Manager ou Gerente de Projeto: Responsável por
assegurar que a documentação emitida está em conformidade
com os requisitos específicos de cada área;
• Technical Manager ou Gerente Técnico: Responsável pela
análise, aprovação e autorização da utilização / execução
documentação técnica do projeto.
O sistema exige uma padronização dos documentos criados, que
atendem as normas N-1710 – Codificação de Documentos Técnicos do
24
Judiciário - e N-381 – Execução e Outros Documentos Técnicos em Geral do
Serviço Público.
Sendo assim, todos os documentos digitalizados deverão estar em
conformidade com as exigências do contrato e com o cronograma do projeto.
Os documentos utilizados pela Justiça Federal internamente seguem
uma classificação pré-estabelecida, que identifica o projeto e a área a que se
refere.
Os documentos são numerados de acordo com a seguinte classificação:
A primeira parte identifica a Seção Judiciária do Rio de Janeiro, por
meio da sigla SJRJ, e a área principal por meio de números, que são:
• 0 – Gestão do Projeto;
• 1 – Varas Federais;
• 2 – Juizados Especiais Federais;
• 3 – Turmas Recursais e
• 4 – Administração.
Em seguida são utilizadas siglas para identificar a área a que se refere o
documento, que pode ser:
• 1VFRJ – Primeira Vara Federal do Rio de Janeiro - Esta engloba as
Varas Cíveis e Previdenciárias, mudando o dígito inicial quando o
documento for de outra Vara Federal (ex: 13VFRJ); Com relação às
Varas Federais sediadas fora da capital, muda-se a sigla RJ para
letras que identifiquem o município sede da Vara Federal, mas
mantém-se o documento em um mesmo fundo. (ex: 1VFVR – 1º
Vara Federal de Volta Redonda ou 1VFNI – 1º Vara Federal de Nova
Iguaçu);
• VFCRJ – Referente às Varas Criminais de Rio de Janeiro e interior,
valendo-se o mesmo critério anterior para identificar as Varas e
municípios onde estão sediadas;
25
• VFEFRJ – Referente às Varas Federais de Execução Fiscal de Rio
de Janeiro e interior.
• JEFRJ – Referentes aos Juizados Especiais Federais, incluindo-se
na frente o número do juizado, e quando preciso, alterando a sigla
RJ para a referente ao município onde está sediado o Juizado.
• TR – Referente às Turmas Recursais, colocando-se na frente o
número da turma e no fim da sigla o número do Juiz Relator. (ex:
1TR3 – 1º Turma Recursal – 3º Juiz Relator). Ainda em caso de
Extinta Turma, utilizar a letra E à frente da sigla. (ex: E1TR4 – Extinta
1º Turma Recursal – 4º Juiz Relator);
• ADM – Referente aos documentos administrativos da Justiça
Federal;
Por último é utilizada uma sequência numérica, dividida de acordo com
a primeira parte, apresentada da seguinte forma:
• SJRJ = 00001 to 09999;
• SJRJ = 10001 to 19999;
• SJRJ = 20001 to 29999;
• SJRJ = 30001 to 39999 e
• SJRJ = 40001 to 49999.
Dessa forma, tem-se a seguinte estrutura, por exemplo: SJRJ1-1VFRJ-
00001.
O responsável por cada documento deve notificar todos os envolvidos
na sua criação a cada nova revisão feita, já que cada revisão incorpora os
comentários e modificações sugeridas. Quando o trâmite interno do documento
for cumprido, ele está pronto para ser encaminhado ao sistema. Estes
documentos seguem a classificação ditada pelas normas N-1710 e N-381.
Antes de ser encaminhado para guarda, o documento deve ser
aprovado pelo Responsável pela área onde foi criado e/ou Diretor do Projeto.
26
Cabe ao criador do documento imprimir a folha de rosto e recolher as
assinaturas dos responsáveis. Esta folha de rosto é arquivada e guardada
como evidência de que o documento foi verificado e aprovado antes de ser
emitido.
A transmissão dos documentos é realizada pelo CDoc por meio do
CATS - Correspondence and Action Tracking System (Sistema de
rastreamento de correspondência). O CATS controla as ferramentas que
compõe o sistema de comunicação, tais como: telefone, fax, correio eletrônico,
além do próprio sistema de arquivamento, já que o sistema permite
acompanhar o trâmite dos documentos, um dos requisitos para garantir a
segurança das informações registradas no sistema.
A transmissão dos documentos é feita por meio do SIGEM – “Sistema
Integrado de Gerenciamento de Empreendimentos”. O SIGEM é um sistema
de gerenciamento eletrônico de documentos desenvolvido pela originalmente
pela Petrobras e que está sendo adotado na esfera do Serviço Público Federal
para a transmissão oficial de documentos.
O SIGEM gera um log automático de confirmação de recebimento. Log
é um registro de atividades gerado por programas de computador, por isso o
log gerado pelo SIGEM é utilizado como prova de que o documento enviado foi
recebido pelo destinatário.
27
CAPÍTULO III
APLICABILIDADE DO e-ARQ BRASIL
A gestão e a preservação de documentos arquivísticos digitais tem sido
objeto de vários estudos e de diversos grupos de pesquisa no mundo todo. No
Brasil, foi criada a Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos (CTDE), órgão
do Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ), que tem por objetivo sugerir
normas e procedimentos técnicos, bem como instrumentos legais, para a
gestão arquivística e a preservação dos documentos eletrônicos das
instituições públicas e privadas.
Neste contexto, em 2006 foi publicado o e-ARQ Brasil - “Modelo de
Requisitos para Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de
Documentos” (CONARQ, 2006, p. 4), que é definido como:
[...] uma especificação de requisitos que estabelece um conjunto de condições a serem cumpridas pela organização produtora/recebedora de documentos, pelo sistema de gestão arquivística e pelos próprios documentos a fim de garantir a sua confiabilidade e autenticidade, assim como seu acesso.
O e-ARQ Brasil especifica todas as atividades e operações técnicas da
gestão arquivística de documentos, desde as etapas de produção, tramitação,
utilização e arquivamento, até sua destinação final e pode ser usado em
sistemas que gerenciam documentos digitais e documentos convencionais. No
caso da Justiça Federal, em que todos os documentos são criados em formato
digital, os requisitos apresentados pelo e-ARQ Brasil serão utilizados para
analisar seu sistema de gerenciamento de documentos a fim de avaliar se
suas ações garantem que esses documentos sejam confiáveis, autênticos e
acessíveis ao longo do tempo.
Como já foi visto anteriormente, o e-ARQ Brasil especifica os requisitos
para um Sistema Informatizado de Gestão Arquivística de Documentos –
28
SIGAD - independente da plataforma tecnológica em que for desenvolvido e/ou
implantado. (CONARQ, 2006, p. 5). Esses requisitos foram classificados em
obrigatórios, altamente desejáveis e facultativos, de acordo com o grau maior
ou menor de exigência para que o SIGAD possa desempenhar suas funções.
(CONARQ, 2006, p. 12).
O e-ARQ Brasil está dividido em duas partes, quais sejam:
• Parte I – Gestão arquivística de documentos - contém cinco
capítulos e trata da política arquivística, do planejamento e da
implantação do programa de gestão arquivística de documentos,
dos procedimentos e controles do SIGAD e dos instrumentos
utilizados na gestão de documentos. (CONARQ, 2006, p. 11).
• Parte 2 – Especificação de requisitos para sistemas
informatizados de gestão arquivística de documentos – descreve
os requisitos necessários para desenvolver o SIGAD. Está
organizada em Aspectos de Funcionalidade, Metadados,
Aspectos de Tecnologia, Glossário e Referências. Aspectos de
funcionalidade contêm onze capítulos, divididos em seções e
trata de: organização dos documentos (incluindo o plano de
classificação), produção, tramitação, captura, destinação,
recuperação da informação, segurança, armazenamento,
preservação, funções administrativas e técnicas e requisitos
adicionais. Cada seção compreende um preâmbulo e a relação
dos requisitos relativos àquela seção. Os requisitos são
apresentados em quadros numerados com o enunciado
correspondente e a classificação dos níveis de obrigatoriedade.
Para que seja possível avaliar o sistema de gestão de documentos
arquivísticos digitais da Justiça Federal, será analisado o conjunto de ações
indicado no Item 6 da Parte I, que são os “procedimentos e operações técnicas
29
do sistema de gestão arquivística de documentos digitais e convencionais”
(CONARQ, 2006, p. 27-40) e que estão divididos em:
• Captura (registro, classificação, indexação, restrição de acesso e
arquivamento);
• Avaliação e destinação;
• Pesquisa, localização e apresentação;
• Segurança;
• Armazenamento;
• Preservação.
Além disso, o e-ARQ Brasil indica no Item 7 da Parte I – Instrumentos
utilizados na gestão arquivística de documentos – “o desenvolvimento de uma
série de instrumentos para apoiar os procedimentos e operações técnicas de
gestão arquivística de documentos” (CONARQ, 2006, p. 40-44), que são os
seguintes:
• Plano de classificação, codificado ou não, baseado nas funções e
atividades do órgão ou entidade;
• Tabela de temporalidade e destinação;
• Manual de gestão arquivística de documentos;
• Esquema de classificação referente à segurança e ao acesso aos
documentos.
Além de outros instrumentos adicionais, que são:
• Glossário, vocabulário controlado e tesauro.
A avaliação do sistema será realizada por meio da análise das
especificações indicadas na Parte II, que estão divididas em 384 requisitos.
Mas para os fins desta pesquisa serão analisados apenas alguns itens,
30
julgados mais compatíveis com as especificidades dos documentos
arquivísticos digitais gerados pela Justiça Federal.
Assim, serão apresentados os aspectos de funcionalidade, seguidos
pelos requisitos funcionais, de acordo com a estrutura exposta no e-ARQ
Brasil. Esses requisitos são representados por um número, que representa a
referência; em seguida o requisito é descrito e, por fim, apresenta-se a letra
correspondente à obrigatoriedade, que pode ser:
• O – obrigatório
• AD – altamente desejável
• F - facultativo
PLANO DE CLASSIFICAÇÃO E MANUTENÇÃO DOS DOCUMENTOS A organização dos documentos arquivísticos é feita com base num plano ou código de classificação. Tal instrumento se constitui no núcleo central de qualquer SIGAD. Por meio dele se estabelece a hierarquia e a relação orgânica dos documentos devidamente demonstradas na forma pela qual tais documentos são organizados em unidades de arquivamento. As atividades de gestão de documentos, como o controle da temporalidade e destinação dos documentos, são feitas com base nas unidades de arquivamento. Desta forma, no momento do arquivamento os documentos devem ser inseridos em uma unidade de arquivamento, que está subordinada hierarquicamente ao plano de classificação. (CONARQ, 2006, p. 46-104)
Avaliação:
A Classificação consiste em organizar os documentos produzidos e
recebidos pela organização no exercício de suas atividades, de forma a
constituir-se um referencial para a sua recuperação. Existem basicamente três
métodos de classificação: estrutural (conforme a estrutura administrativa da
entidade produtora), funcional (conforme as funções desempenhadas pela
entidade produtora) ou por assunto (conforme o conteúdo dos documentos e
suas relações com as atividades desempenhadas pela entidade produtora). Os
instrumentos utilizados no processo de classificação são: o Plano de
31
Classificação, utilizado para arquivos correntes e intermediários e o Quadro de
Arranjo Documental, utilizado para arquivos permanentes. Ambos são
representados hierarquicamente, através da divisão dos conjuntos de
elementos em níveis e sub-níveis (classes, subclasses, grupos, subgrupos,
séries, sub-séries, dossiês, etc.).
1. A classificação utilizada pela Justiça Federal estabelece a relação
orgânica entre os documentos, já que identifica o projeto, a área e a
classe a que pertence a atividade que o gerou. Porém, não existe um
plano de classificação que contemple o ciclo vital dos documentos e,
portanto, não há Tabela de Temporalidade, cuja estrutura básica
contempla a classificação dos documentos, seus prazos de guarda nas
fases corrente e intermediária, bem como a destinação final - eliminação
ou guarda permanente.
TRAMITAÇÃO E FLUXO DE TRABALHO Um participante de um fluxo de trabalho pode ser um indivíduo específico, um grupo de trabalho ou mesmo um software. Um participante é o responsável pela realização de uma tarefa estabelecida ao longo de um fluxo de trabalho predefinido. No caso do participante ser um indivíduo, a tarefa é direcionada para um usuário com uma identificação específica. No caso do participante ser um grupo de trabalho, a tarefa é direcionada para o grupo (formado por vários usuários, cada um com sua identificação no sistema). A tarefa tem que ser distribuída entre os usuários do grupo e após, ser cumprida por um membro do grupo, o documento segue o fluxo previsto. Quando o participante é um software, a tarefa é direcionada uma função de programa, que a realiza automaticamente e reencaminha o documento ao fluxo previsto.
Avaliação:
1. Os documentos são primeiramente criados na Justiça Federal e passam
por revisões internas, entre aqueles que pertencem à área a que o
assunto está submetido. Todos os comentários realizados no
documento ficam destacados, de modo que todos podem ver quem
comentou e o quê foi acrescentado. Depois de revisado, o documento
retorna ao responsável para que as alterações sejam incluídas e uma
32
nova versão seja emitida. Cada emissão feita é direcionada ao grupo
para que sejam feitos novos comentários, até que o documento esteja
finalizado e, se for o caso, seja emitido. Todo este trâmite é realizado
pelo próprio sistema e as notificações são enviadas por meio do correio
eletrônico, já que o CDoc é um sistema produzido pela IBM baseado no
Lotus Notes.
CAPTURA A captura consiste em declarar um documento como sendo um documento arquivístico ao incorporá-lo num SIGAD por meio das seguintes ações: registro, classificação, indexação, atribuição de metadados e arquivamento.
Avaliação:
Todos os documentos gerados durante o desenvolvimento do projeto
são registrados no CDoc, incluindo as revisões feitas até a aprovação do
documento. Todas as informações são salvas no sistema e podem ser
recuperadas, de forma a identificar as alterações realizadas. Cada documento
recebe um número único, que identifica o projeto, a área de atividade e a
classe. Apesar de a empresa não possuir um código de classificação e uma
tabela de temporalidade, a partir da classificação utilizada é possível recuperar
os documentos dentro do sistema, utilizando esse conjunto de informações.
SEGURANÇA Esta seção contém um conjunto de requisitos para serviços de segurança: cópias de segurança, controle de acesso (tanto baseado em papéis de usuário quanto grupos de usuários), classes de sigilo, trilhas de auditoria de sistemas, criptografia para sigilo, assinatura digital e marcas d’água digitais.
Avaliação:
O CDoc possui trilhas de auditoria que registram as modificações feitas
em cada documento, evitando que haja perda ou adulterações de informações
relevantes. Além disso, o sistema também possui controles de acesso aos
33
documentos, identificando os usuários como leitores ou editores, por meio de
senhas, que restringem o acesso àqueles autorizados a leitura e/ou alteração
dos documentos armazenados no sistema.
PRESERVAÇÃO Exatamente como no caso dos documentos convencionais, a preservação de documentos arquivísticos digitais não é um fim em si mesmo. Antes, possui um propósito que deve ser considerado na definição e na implementação das estratégias de preservação. A razão para preservação de um determinado documento pode ser seu valor probatório e/ou informativo.
Avaliação:
Além do controle de acesso e das trilhas de auditoria utilizadas pelo
sistema para garantir a integridade dos documentos, o setor de Tecnologia da
Informação (TI) da Justiça Federal faz cópias de segurança (backup) do
sistema periodicamente. Essa rotina inclui backups diários, sendo que de
segunda a quinta-feira somente os arquivos que sofreram modificações são
copiados, e às sextas-feiras o backup full, ou seja, todo o conteúdo é copiado.
O backup de sexta-feira é copiado para fitas chamadas ‘primárias’ e,
aos sábados, o conteúdo é copiado para as chamadas ‘fitas auxiliares’. As fitas
‘primárias’ ficam na própria Empresa, caso seja necessário uma rápida
recuperação de dados que tenham sido danificados. Já as fitas ‘auxiliares’ são
armazenadas por uma empresa contratada, em ambiente seguro, climatizado e
em um local diferente de onde estão os servidores da empresa.
Em relação à obsolescência tecnológica das mídias utilizadas para o
armazenamento dos documentos, a empresa adota a migração para tecnologia
superior. Contudo, antes de realizar a migração, a equipe de TI realiza testes
para garantir a integridade da informação armazenada. Dessa forma é possível
garantir que não haja perda da documentação produzida.
34
CONCLUSÃO
Com o número crescente de documentos que as organizações vêm
criando e mantendo, a busca por informações importantes pode se tornar uma
tarefa difícil se não houver uma política de gestão de documentos delineada
pela instituição. Muitas das funções desempenhadas em uma organização só
são possíveis de ser realizadas se houver um gerenciamento eficiente das
informações produzidas e recebidas pela mesma e este gerenciamento passa,
necessariamente, pela gestão de seus documentos. Uma correta gestão de
documentos está diretamente ligada com o uso de técnicas arquivísticas, que
facilitam a localização, o acesso a informações, o relacionamento com outros
documentos e evitam perdas de prazos e acúmulo de documentos
desnecessários.
Neste contexto, a Gestão Eletrônica de Documentos (GED) tem se
destacado como uma ferramenta estratégica para garantir agilidade na
recuperação de documentos e, consequentemente, facilitar o acesso ao
conhecimento explícito das organizações (LUCCA, Charão, Stein, 2006, p. 71).
Neste caso em estudo em que a Justiça Federal tem que registrar toda a
documentação em formato digital, foram observados alguns aspectos do seu
sistema de gerenciamento de documentos, com o objetivo de avaliar a criação,
o armazenamento e a preservação dos documentos arquivísticos digitais
produzidos.
A gestão dos documentos digitais na empresa é realizada por meio do
CDoc, descrito no capítulo 3. Aplicado à definição de um SIGAD, especificado
no e-ARQ Brasil, podemos concluir que o sistema utilizado pela empresa
contempla parcialmente as operações enunciadas, que são:
captura de documentos, aplicação do plano de classificação, controle de versões, controle sobre os prazos de guarda e destinação, armazenamento seguro e procedimentos que garantam o acesso e a preservação a médio e longo prazo de documentos arquivísticos digitais e não digitais confiáveis e autênticos. (CONARQ, 2006, p. 7).
35
De acordo com a definição de autenticidade encontrada no e-ARQ
Brasil, “um documento arquivístico autêntico é aquele que é o que diz ser, [...]
que é livre de adulterações ou qualquer outro tipo de corrupção”, ou seja, o
sistema deve prevenir possíveis adulterações para que sejam mantidas suas
características ao longo de todo seu ciclo de vida. O e-ARQ Brasil diz ainda
que “um documento autêntico é aquele que se mantém da mesma forma como
foi produzido e, portanto, apresenta o mesmo grau de confiabilidade que tinha
no momento de sua produção”.
Para o Projeto em questão foi criado o procedimento nº I-MD-3A17.00-
6521-910-ADB-5506, seguindo as normas exigidas. Esse procedimento
detalha o trâmite do documento e também define as responsabilidades das
partes envolvidas na criação, emissão e guarda dos documentos. O
procedimento citado também estabelece a classificação e a numeração de
cada documento.
Sendo assim, podemos afirmar que com estes procedimentos a justiça
Federal é capaz de garantir a autenticidade e a confiabilidade dos documentos
digitais produzidos durante a realização de suas atividades.
Além disso, o e-ARQ destaca:
para assegurar a autenticidade dos documentos arquivísticos, o programa de gestão arquivística tem que garantir sua identidade e integridade. Para tanto deve implementar e documentar políticas e procedimentos que controlem a transmissão, a manutenção, a avaliação, a destinação e a preservação dos documentos, garantindo que os mesmos estejam protegidos contra acréscimos, supressão, alteração, uso e ocultação indevidos. (CONARQ, 2006, p. 22).
Ao final do projeto a Justiça Federal deverá encaminhar toda a
documentação técnica por meio do Data Book, em suporte eletrônico e em
suporte papel. No caso do projeto, há a exigência de que a documentação seja
enviada por meio do SIGEM, sistema de gerenciamento eletrônico de
documentos desenvolvido pela própria instituição.
36
O volume de documentos produzidos em suportes eletrônicos tem
crescido consideravelmente ao longo dos últimos anos, acompanhando a
evolução das tecnologias de informação. Porém, os meios utilizados para
armazenar esses documentos são instáveis e a tecnologia necessária para seu
acesso tem sido rapidamente substituída por novas gerações mais poderosas
que, ao final, se tornam incompatíveis com suas predecessoras. Neste
contexto, a Justiça Federal se mostra preparada para lidar com a
obsolescência tecnológica e com a segurança das informações registradas no
CDoc, por meio de procedimentos específicos e técnicas apropriadas para
manutenção por longo prazo de documentos confiáveis e autênticos que
permitam sustentar os fatos que atestam, serem o que dizem ser e serem
livres de adulteração ou quaisquer tipos de corrupção.
37
BIBLIOGRAFIA
ARQUIVO NACIONAL (Brasil). Conselho Nacional de Arquivos. e-ARQ Brasil: Modelo de requisitos para sistemas informatizados de gestão arquivística de documentos. Rio de Janeiro: 2006. ARQUIVO NACIONAL (Brasil). Conselho Nacional de Arquivos. Resolução n. 20 de 16 de junho de 2004. Dispõe sobre a inserção dos documentos digitais em programas de gestão arquivística de documentos dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Arquivos. Disponível em <http://www.conarq.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm> Acesso em: 06 set. 2008. ARQUIVO NACIONAL. (Brasil). Dicionário brasileiro de terminologia arquivística. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005. 232 p. BRASIL. Lei n. 8.159, de 8 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados e dá outras providências. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 9 jan. 1991. Disponível em: <http://www.conarq.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/star.html>. Acesso em: 30 out. 2008. BRASIL. Lei n. 9.478, de 6 de agosto de 1997. Dispõe sobre a política energética nacional, as atividades relativas ao monopólio do petróleo, institui o Conselho Nacional de Política Energética e a Agência Nacional do Petróleo e dá outras providências. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 6 ago. 1997. Disponível em: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=124849. Acesso em: 21 fev. 2009. CONSELHO NACIONAL DE ARQUIVOS. (Brasil). Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos. Glossário. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, jul. 2008. Disponível em: <http://www.documentoseletronicos.arquivonacional.gov.br/media/publicacoes/glossario/2008ctdeglossariov4.pdf>. Acesso em: 06 set. 2008. DOLLAR, Charles M; LEITE, S. U (Trad.). O impacto das tecnologias de informação sobre princípios e práticas de arquivos: algumas considerações. Revista acervo, Rio de Janeiro, v. 7, n. 102, p. 3-38, jan./dez. 1994.
38
DURANTI, Luciana. Registros documentais contemporâneos como provas de ação. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 7, n. 13, p. 49-64, 1994. FONSECA, Maria Odila. Arquivologia e ciência da informação. 1. ed. Rio de Janeiro: FGV. 2005. 121 p. INSTITUTO DOS ARQUIVOS NACIONAIS (Portugal). Torre do Tombo. Instituto de Informática. Modelo de requisitos para a gestão de arquivos eletrônicos. In: Recomendações para a gestão de documentos de arquivos eletrônicos. Lisboa. O Instituto, 2002, v.2. LUCCA, Giana; CHARÃO, Andrea Schwertner; STEIN, Benhur de Oliveira. Metadados para um sistema de gestão eletrônica de documentos arquivísticos. Arquivística.net, Rio de Janeiro, v.2, n.1, p.70-84, jan./.jun. 2006. Disponível em: <http://www.arquivistica.net/ojs/viewarticle.php?id=54. Acesso em: 21 fev. 2009. ROCHA, Claudia C. M. Lacombe; SILVA, Margareth da. Padrões para garantir o acesso e a preservação aos documentos digitais. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional. Revista acervo, v.20, p.113-124, 2007. RONDINELLI, Rosely Curi. Gerenciamento arquivístico de documentos eletrônicos: uma abordagem teórica da diplomática arquivística contemporânea. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. 160p. SANTOS, Vanderlei Batista dos. A prática arquivística em tempos de gestão do conhecimento. In: SANTOS, V. B. (org.). Arquivística: temas contemporâneos. Distrito Federal: SENAC, 2007, p. 173-223. SANTOS, Vanderlei Batista dos. Gestão de documentos eletrônicos: uma visão arquivística. Brasília: ABARQ, 2002. 140 p.
top related