desigualdade de renda e mobilidade intergeracional · sobre a sociedade (falta de coesão social,...
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Desenvolvimento socioeconômico: teoria e aplicações
Desigualdade de renda e mobilidade
intergeracional
Aula 2
Valéria Pero
Atikinson: Que tipo de desigualdade?
Desigualdade de oportunidades e desigualdade de resultados:
analogia com a corrida da vida
A preparação para corrida
A corrida
Por que desigualdade de renda importa?
Desigualdade de resultados importa por 3 motivos:
1. Sorte e azar na vida – inaceitável ignorar o que acontece depois da
corrida.
Mesmo se esforçando, pode tropeçar e cair na pobreza.
Não dá para ignorar aqueles para quem o resultado é um sofrimento.
Sociedade humana, ajuda sem condicionar a uma avaliação
2. Igualdade de oportunidades competitiva e não competitiva
Todos temos a mesma chance de participar da corrida em que os prêmios
são desiguais
A distribuição altamente desigual de prêmios justifica a importância para
garantir uma corrida justa. O sistema social e econômico determina esse
sistema de prêmios.
3. Desigualdade de resultados afeta diretamente a desigualdade de
oportunidades da geração seguinte, sendo uma fonte de vantagem
injusta recebida por essa geração.
Preocupações instrumentais e
intrínsecas
The spirit level: desigualdade de renda tem más consequências
sobre a sociedade (falta de coesão social, maior criminalidade,
problemas de saúde etc)
https://www.ted.com/talks/richard_wilkinson?language=pt-br
Piora econômica explicada pelo aumento da desigualdade
(FMI)
Motivos intrínsecos para nível atual da desigualdade ser
excessivo, enquadrados em termos de uma teoria mais ampla
de justiça
Preocupações instrumentais e
intrínsecas
Utilitaristas: bem estar individual considerando nível de
utilidade atribuído a cada pessoa, então a desigualdade
excessiva reduz soma da utilidade total
Critica por não levar em conta a distribuição interpessoal corrigida
com pesos distributivos para medir a desigualdade, sendo maior para
quem tem pior situação
Pesos dependem dos valores sociais em relação à redistribuição e
representam uma base para as preocupações quanto à desigualdade
Preocupações instrumentais e
intrínsecas
Se todo o peso fosse dados aos mais pobres, cai na teoria de
justiça do Rawls – radical, pois maximização do bem estar dos
mais pobres pode levar à distribuição muito desigual
Acesso aos bens primários do Rawls foi criticado por Sen por
não levar em consideração a capacidade de transformar esses
bens em uma vida boa (capabilities)
Medida de renda
Comparação internacional
Vimos o aumento da desigualdade
depois da 2ª guerra mundial
Vimos o aumento da desigualdade
depois da 2ª guerra mundial
Vimos o aumento da desigualdade depois da
2ª guerra mundial
Anos 80: Mudança na direção da desigualdade
Vários fatores contribuíram para isso, incluindo mudanças
para as mulheres:
Após 2ª guerra mundial, quando a participação feminina na
força de trabalho cresceu rapidamente, os homens ganhavam
altos salários e se casavam com mulheres que tinham baixos
salários. Aumento do número de mulheres que trabalham
reduz da desigualdade domiciliar.
A partir de 1980, por contraste, os homens e as mulheres
tendem a casar com pares de renda semelhante; crescente
participação feminina na força de trabalho exacerbada
desigualdade.
A economia da desigualdade
Fatores que contribuíram para o aumento da desigualdade:
1. Globalização
2. Mudança tecnológica
3. Redução do papel dos sindicatos
4. Crescimento dos serviços financeiros
5. Mudança nas regras de remuneração
6. Diminuição da política de redistribuição de impostos e
transferências
Globalização e avanço tecnológico
Demanda muda em direção a trabalhadores qualificados,
aumentando o premio salarial
Modelo H-O: Quanto mais alto o premio salarial para
trabalhadores qualificados, maior o peço relativo dos bens
que dependem desse tipo de trabalho
Demanda por trabalhadores qualificados cresceu mais do
que oferta
Será que TIC gera aumento de demanda de trabalhadores
qualificados? Depende da elasticidade substituição de
trabalhadores não qualificados por qualificados
Gap depende também da velocidade da resposta da oferta
Mercado de trabalho e sindicatos
Oferta e demanda não determinam totalmente salário,
mas estabelecem limite.
Resultado depende do grau de barganha sobre o
excedente, que por sua vez são influenciadas por normas
sociais e pelas instituições
O aumento da desigualdade na distribuição dos salários
coincidiu com a diminuição do papel dos sindicatos e das
barganhas coletivas
Capital e regras de remuneração
Queda da desigualdade associada ao aumento da
participação dos salários na renda. Em décadas recentes,
aumenta a participação dos lucros
Solow: economia cresce conforme estoque de capital e
força de trabalho. O que acontece se aumenta capital e
trabalho constante?
Depende da elasticidade substituição entre capital e trabalho.
Se e>1: queda pequena na taxa de retorno e a parcela de
lucros aumenta conforme aumenta o capital por trabalhador.
Se e<1, parcela de lucros cai.
Capital e regras de remuneração
Modelo Solow poderia ser aplicado e contado assim:
Aumento da proporção capital-trabalho leva ao aumento dos salários
e queda da taxa de retorno
A parcela do capital aumenta apenas se e>1
Porém, além de certo ponto, a relação salario-taxa de retorno chega
ao valor critico e robôs começam a substituir trabalho humano
Crescimento da economia conforme aumenta proporção de capital
mas relação salario-taxa de retorno permanece constante
Assim, modelo de crescimento modificado sem conclusões sobre
elasticidade, destacando o dilema: benefícios do crescimento advém
do aumento dos lucros
Automação leva ao aumento da desigualdade??
Medida de desigualdade de renda
Duas questões principais: a dimensão do bem-estar sob
investigação e o indicador de desigualdade (incluindo
fonte dos dados).
Concentrar na renda familiar derivada do mercado (MI) e
não sobre riqueza, consumo ou outras dimensões
Focamos rendimento disponível das famílias (DHI –
mercado= lucro líquido de impostos diretos e de
contribuições para segurança social, incluindo
transferências de renda do setor público)
Indicador usado é o indice de Gini
Situação da desigualdade nos países ricos
Situação da desigualdade nos países ricos
Situação da desigualdade nos países ricos
Desigualdade de renda e mobilidade
intergeracional
Hipótese da perspectiva de mobilidade ascendente:
“the idea that those with lower incomes are not especially
strong advocates of redistributive policies because of the belief
that they, or in the least their children, are likely to climb the
income ladder” (Benabou e OK, 2001)
No entanto, literatura mostra que países com maior
desigualdade, o papel do background familiar sobre a
posição socioeconômica dos filhos, dos jovens tende a ser
mais forte, enfraquecendo o papel do esforço para
conquista de resultados
Limites da desigualdade ao desenvolvimento
Meritocracia x Herança:
Mobilidade intergerancional de renda e a questão da
desigualdade de oportunidades
Mobilidade intergeracional de renda é menor em países
com alta desigualdade - como Itália, EUA e Inglaterra - e
maior nos países nórdicos, onde a distribuição da renda é
mais uniforme
Questão: o aumento da desigualdade de renda pode
limitar a mobilidade econômica das futuras gerações de
jovens adultos?
Mobilidade intergeracional
how to interpret the common statistic measuring
intergenerational earnings mobility and its relationship to
the broader concept of equality of opportunity.
the causal factors determining intergenerational mobility
is based upon a frame-work drawn from some influential
economic models often used to examine the
intergenerational transmission of inequality.
This framework focuses attention on the investments
made in the human capital of children influencing their
adult earnings and socioeconomic status.
Mobilidade intergeracional
Mobilidade de classes
Mobilidade de estratos socioeconômicos
Mobilidade ocupacional
Mobilidade educacional
Mobilidade de renda
Mobilidade intergeracional
Modelos sobre posição/status socieconômico dos filhos
depende em alguma medida da posição do pai
Matrizes de transição
Regressão
Mobilidade intergeracional
Na linha introduzida por Becker e Tomes [1979],Becker e Tomes
[1986], diversos autores têm analisado mobilidade intergeracional
a partir da elasticidade entre as rendas de pais e de filhos, onde
valores mais elevados expressam uma sociedade com menor
mobilidade.
Formalmente, o modelo econométrico a ser estimado pode ser
descrito como
ysi = a+ byfi + ei , (1)
onde Cov(e, yf)=0, e yfi é o logaritmo da renda permanente do pai
da família i e ysi o análogo para o filho.
Mobilidade intergeracional
Quanto maior o valor de b, maior a chance de conhecendo a
posição do pai na distribuição da renda saber a posição esperada
do filho
Quanto menor elasticidade renda intergeracional, a renda relativa
dos pais será um fraco preditor da renda das próximas gerações
Mobilidade intergeracional
Resultados – comparação internacional
De uma maneira geral, a evidência reunida na Tabela parece apontar para uma associação positiva entre os dois tipos de desigualdades: os países nórdicos são os que apresentam maior grau de mobilidade,
seguidos de países da Europa central e dos EUA,
enquanto os países em desenvolvimento - em especial os da América Latina - são os que possuem os menores graus de mobilidade.
As exceções ficam por conta do Canadá e da Alemanha, que apresentam alto grau de mobilidade e de desigualdade.
País β Gini a
Equador b
1.13 0.437
Peru b
0.67 0.498
Brasil 0.66 0.589
Chile b
0.55 0.571
Malásia b
0.54 0.492
Inglaterra 0.5 0.36
Itália 0.47 -
EUA 0.47 0.408
Paquistão b
0.46 0.33
Africa do Sul b
0.44 0.578
Nepal b
0.43 0.367
França 0.39 0.327
Portugal 0.38 -
Bélgica 0.37 -
Espanha 0.34 -
Alemanha 0.32 0.283
Grécia 0.32 0.36
Singapura b
0.28 0.425
Suécia 0.26 0.25
Canadá 0.19 0.331
Noruega 0.18 0.258
Finlândia 0.18 0.269
Austrália 0.15 -
Dinamarca 0.14 0.247
Estimativas da Persistência de Status
Três problemas são encontrados ao se tentar estimar a
equação (1):
Um primeiro problema, originalmente notado por Friedman
[1957], vem do fato de que o pesquisador com posse de dados
em cross-section observa apenas proxies de yf contaminadas
tanto por flutuações transitórias de renda como por erros
aleatórios de medida. Conseqüentemente, há um viés
atenuador, o que significa que para valores positivos de b
espera-se um viés negativo nas estimativas de MQO.
Estimativas da Persistência de Status
A solução clássica para o problema de erros-nas-variáveis é o uso de
variáveis instrumentais (VI), e aqui encontra-se o segundo problema com
(1).
A dificuldade em se encontrar um instrumento não-correlacionado com ys
introduz vieses no estimador de VI. Solon [1992] e Zimmerman [1992]
mostram que para um instrumento I, correlações positivas entre ys e I e
entre yf e I garantem que o viés em seja positivo.
Por isso, Solon utiliza a educação do pai como instrumento, propondo
assim o uso dos estimadores de MQO e de VI para que se obtenham,
respectivamente, limites inferiores e superiores de b.
Alternativamente, Solon (1992) e Zimmerman (1992) sugeriram o uso da
média de várias observações de yfi ao longo do tempo, caso o pesquisador
disponha de tais dados. Apesar de não eliminar totalmente o viés
decorrente de erros-nas-variáveis, este procedimento possui a vantagem de
não basear-se nas hipóteses necessárias para a validade de variáveis
instrumentais.
Estimativas da Persistência de Status
No entanto - e aqui se encontra o terceiro problema -, os estimadores de
MQO e de VI requerem dados longitudinais com uma janela longa o
suficiente para que se observem pais e filhos em estágios comparáveis dos
seus ciclos de vida. Dados deste tipo são obtidos apenas a custos muito
altos, o que torna a sua disponibilidade rara. De fato, para a maioria dos
países, inclusive o Brasil, tais dados são inexistentes.
Comparação EUA e Canadá
Mobilidade intergeracional e
desigualdade de oportunidades
A elasticidade renda intergeracional pode ser considerada uma medida que
sintetiza o grau em que a desigualdade é transmitida entre gerações
Mas não significa necessariamente uma medida de desigualdade de
oportunidade
Roemer (2004, 2012): distinguir entre diferenças nas circunstâncias – em
que os indivíduos devem ser de alguma maneira compensados – e escolhas
pessoais, que será responsável pelas consequencias.
Circunstancias: escolaridade da mãe e do pai, raça, região de nascimento, ocupação do
pai, entre outros
Estudos empíricos mostram que indices de desigualdade de oportunidades estão
altamente correlacionados com indicadores de mobilidade intergeracional, tanto de
renda quanto educacional
Mobilidade intergeracional e
desigualdade de oportunidades
Desenvolvimento da criança para desempenho social e no
mercado de trabalho dos adultos através de um processo
recursivo
Status socioeconomico influencia a saúde e aptidões das crianças nos
primeiros anos, que por sua vez influencia a desenvolvimento
cognitivo e social, e prepração para leitura
Esses resultados e o sucesso da influencia da familia na educação
básica, que nutre o sucesso no ensino medio e universitario.
Recursos e conexões familiares afetam acesso aos bens escolares e
empregos, e o grau de desigualdade no mercado de trabalho
determinam tanto os recursos dos pais quanto o retorno a
escolaridade dos filhos
Esse processo inteiro forma os salarios na fase adulta
Mobilidade intergeracional e
desigualdade de oportunidades
Razões para diferenças nas elasticidades de renda
intergeracionais entre os países tem a ver com o balanço da
influencia:
Da familia
Do mercado de trabalho
Da política pública
Na determinação das oportunidades de vida das crianças
Mobilidade intergeracional e
desigualdade de oportunidades
Papel do retorno à escolaridade
Quanto maior retorno maior desigualdade no mercado de trabalho
e menor mobilidade geracional
Crescimento do retorno salarial com ensino superior foi
acompanhado de um aumento da elasticidade renda intergeracional
Renda dos trabalhadores no topo da distribuição salarial tem se
tornado mais desigual depois dos anos 70 nos EUA (BR?)
Políticas progressivas para os menos favorecidos, mais
recursos para ensino fundamental e médio e menos para
ensino superior
Mobilidade intergeracional e retorno à
escolaridade
Mobilidade intergeracional e retorno à
escolaridade
Mobilidade intergeracional: papel da
mãe
Mobilidade intergeracional: papel da
mãe
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