desenvolvimento de uma metodologia de clculo de risco...
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UNIVESIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA
GEOGRÁFICA, GEOFÍSICA E ENERGIA
Determinação de Risco de Incêndio em Zonas Urbanas
utilizando a Análise Multi-Critério
Rui Pedro Marques Costa
Mestrado em Engenharia Geográfica
2009
UNIVESIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA
GEOGRÁFICA, GEOFÍSICA E ENERGIA
Determinação de Risco de Incêndio em Zonas Urbanas
utilizando a Análise Multi-Critério
Rui Pedro Marques Costa
Trabalho de Projecto orientado por:
Na CML-DMPCST-DPC:
Dr.ª Maria João Telhado
Na FCUL:
Prof. Dr.ª Cristina Catita
Mestrado em Engenharia Geográfica
2009
Agradecimentos
Os meus agradecimentos são para todos que de forma directa ou indirecta contribuíram
para a realização deste trabalho, no entanto, gostaria de agradecer de uma forma muito
especial às seguintes pessoas e entidades:
À professora Cristina Catita pela orientação inicial, encorajamento e discussões que deram
origem a este trabalho. Agradeço, ainda, a leitura atenta e sugestões realizadas na revisão do
texto final.
A todos os colegas do Gabinete de Análise de Riscos da Protecção Civil de Lisboa, na
pessoa da doutora João Telhado, pela sua orientação, encorajamento, amizade e
discussões que resultaram no trabalho desenvolvido e apresentado. Agradeço, também,
a leitura atenta e sugestões realizadas na revisão do texto final.
À doutora Maria Antónia Valente, do Instituto Geofísico do Infante D. Luís, pela sua
prontidão na disponibilização de dados para a execução deste trabalho.
Quero também agradecer a todos os amigos e colegas de faculdade pelo apoio dado
durante o tempo que frequentei o Curso de Engenharia Geográfica, em especial ao
Rodrigo Dourado pela disponibilidade e amizade que sempre demonstrou.
As últimas palavras são de agradecimento aos meus pais, ao meu irmão e à minha
namorada Ana que, mais do que ninguém, acreditaram em mim e me apoiaram em todos
os momentos ao longo deste percurso.
_____________________________________________________________________
I
Resumo
Neste estudo pretende-se definir uma metodologia para a determinação do risco de
incêndio em zonas urbanas, utilizando a análise multi-critério. Como área de estudo
definiu-se a Baixa Pombalina da cidade de Lisboa pela sua importância e significado
histórico-urbanístico tanto a nível local como nacional.
A metodologia utilizada baseou-se no modelo recomendado pela Direcção Geral dos
Recursos Florestais no Guia Técnico para a elaboração do Plano Operacional Municipal
de 2008, na determinação do risco de incêndio florestal, e no Decreto-Lei nº 220/2008,
de 12 de Novembro que engloba as actuais disposições regulamentares de segurança
contra incêndio aplicáveis a todos os edifícios e recintos.
Foram utilizados dois métodos de análise multi-critério, a Combinação Linear
Ponderada e a Média Ponderada Ordenada, para o cruzamento das variáveis, sendo que
os pesos foram determinados através da Análise Hierárquica de Processos, por meio de
uma matriz de comparação par a par de variáveis. Por fim, foi utilizado o modelo
autoregressivo Conditional AutoRegressive de modo a validar a metodologia utilizada.
Palavras-chave: Análise multi-critério, Combinação Linear Ponderada, Média
Ponderada Ordenada, Análise Hierárquica de Processos, Risco Incêndio Urbano
_____________________________________________________________________
II
Abstract
In this study i intend to define a methodology for determination of urban zones fire risk,
using multi-criteria analysis. Lisbon downtown was defined as study area for its
urbanistic-historical meaning such as local as national level.
The used methodology it was based on the recommended model by Forestall Resources
General Direction on the Technical Guide for elaboration of 2008's Municipal
Operational Plan, in forestall fire risk determination, and in November 12 Law-Decret
number 220/2008 which contains the actual regulamentary against fire safety displays
aplyable to all buildings and theatres.
It was been used two multicriteria analysis methods: the Weighed Linear Combination
and the Ordered Weighed Average for the variable's crossing, in which the weights had
been determined through the Analytic Hierarchy Process, by means of a comparison
matrix pair along with the variables.
Finally it was used the Conditional AutoRegressive model in way to validate the used
methodology.
Keywords: Multicritério Analysis, Weighed Linear Combination, Ordered
Weighed Average, Analytic Hierarchy Process, Urban Fire Risk
_____________________________________________________________________
III
Índice
Resumo .............................................................................................................................. I
Abstract ............................................................................................................................. II
Índice .............................................................................................................................. III
Acrónimos ...................................................................................................................... IX
Glossário ........................................................................................................................... 1
1 Introdução ...................................................................................................................... 1
1.1 Questões sob investigação ...................................................................................... 3
1.2 Caracterização da área de estudo ............................................................................ 4
1.3 Contribuição do trabalho ........................................................................................ 6
1.4 Estrutura da Tese .................................................................................................... 8
2. Enquadramento ............................................................................................................. 9
2.1 Introdução ............................................................................................................... 9
2.2 Terminologia ........................................................................................................... 9
2.3 Revisão bibliográfica ............................................................................................ 11
2.3.1 Contribuições Científicas ............................................................................... 11
2.3.2 Resumo Analítico dos estudos referidos ........................................................ 19
2.4 Tipo de dados e Software utilizado....................................................................... 21
2.5 Análise Multi-Critério .......................................................................................... 22
2.5.1 Método da Combinação Linear Ponderada .................................................... 23
2.5.2 Método da Média Ponderada Ordenada ......................................................... 24
2.5.3 Definição de Pesos ......................................................................................... 26
3. Metodologia ................................................................................................................ 29
3.1 Introdução ............................................................................................................. 29
3.2 Definição das variáveis ......................................................................................... 31
3.3 Perigosidade .......................................................................................................... 32
3.3.1 Carta de Probabilidade ................................................................................... 33
3.3.2 Variáveis da Susceptibilidade ........................................................................ 35
3.3.3 Cálculo dos Pesos da Susceptibilidade .......................................................... 44
3.3.4 Carta de Susceptibilidade obtida através da CLP .......................................... 46
3.3.5 Carta de Susceptibilidade obtida através da MPO ......................................... 46
3.3.5 Carta de Perigosidade ..................................................................................... 49
3.4 Dano Potencial ...................................................................................................... 50
3.4.1 Carta de Valor Económico ............................................................................. 51
3.4.2 Variáveis da Vulnerabilidade ......................................................................... 56
3.4.3 Cálculo dos Pesos da Vulnerabilidade ........................................................... 70
3.4.4 Carta de Vulnerabilidade obtida através da CLP ........................................... 72
3.4.4 Carta de Vulnerabilidade obtida através da MPO .......................................... 73
3.4.5 Carta de Dano Potencial ................................................................................. 76
3.5 Carta de Risco obtida pela Combinação Linear Ponderada .................................. 77
3.5 Carta de Risco obtida pela Média Ponderada Ordenada ....................................... 77
4. Análise de Resultados ................................................................................................. 81
5. Conclusão ................................................................................................................... 87
5.1 Síntese Conclusiva ................................................................................................ 87
5.2 Sugestões para trabalhos futuros........................................................................... 88
Referências ..................................................................................................................... 91
Bibliografia ..................................................................................................................... 93
Anexos ............................................................................................................................ 96
Anexo A – Decreto-Lei nº 220/2008 de 12 de Novembro ............................................ a
Anexo B – Portaria n.º 1532/2008 de 29 de Dezembro ................................................ b
Anexo C – Aplicação AHP ............................................................................................ c
Anexo D – Aplicação MPO ........................................................................................... e
Anexo E – Decreto-Lei nº 287/2003 de 12 Novembro .................................................. i
Anexo F – Portaria n.º 1240/2008 de 31 de Outubro ..................................................... j
Anexo G – Despacho n.º 2074/2009 ............................................................................. k
Anexo H – Decreto Regulamentar n.º 1/92, de 18 de Fevereiro ................................... l
_____________________________________________________________________
V
Lista de Figuras
Figura 1 - Área de estudo ................................................................................................. 4
Figura 2 – Baixa Pombalina antes do terramoto de 1755, com os projectos dos novos
arruamentos (Circa 1760) ................................................................................................. 5
Figura 3 - Organograma da DMPCST .............................................................................. 7
Figura 4 - Classes de risco da variável estrutura dos edifícios na Baía de São Francisco
........................................................................................................................................ 12
Figura 5 - Classes de risco da variável tipo de Vegetação na Baía de São Francisco .... 12
Figura 6 - Modelo de risco de incêndio na cidade de Hornsby Shire ............................. 13
Figura 7 - Modelo de risco de incêndio da cidade de Kohima, Índia ............................. 14
Figura 8 Aplicação simulação risco de incêndio desenvolvida para Anchorage, Alaska
........................................................................................................................................ 17
Figura 9 – Carta de risco de incêndio no centro histórico de Évora ............................... 19
Figura 10 – Espaço de decisão Estratégica ..................................................................... 25
Figura 11 - Escala de comparação critérios .................................................................... 28
Figura 12 - Modelo de Risco Adoptado ......................................................................... 30
Figura 13 - Modelo de risco utilizado ............................................................................ 31
Figura 14 – Modelo de cálculo da componente Perigosidade ........................................ 33
Figura 15 – Carta de probabilidade de risco de incêndio para a Baixa Pombalina ........ 35
Figura 16 - Exposições solares em formato vectorial tipo ponto ................................... 36
Figura 17 - Exposições solares reclassificadas ............................................................... 38
Figura 18 - Declives em formato vectorial tipo ponto ................................................... 39
Figura 19 - Declive reclassificado .................................................................................. 40
Figura 20 – Ocupação do solo reclassificado ................................................................. 43
Figura 21 – Aplicação AHP - Matriz comparação das variáveis da susceptibilidade .... 45
Figura 22 - Resultado do cálculo dos pesos da susceptibilidade .................................... 45
Figura 23 - Carta de susceptibilidade ............................................................................. 46
Figura 24 - Carta susceptibilidade obtida através da MPO - espaço estratégico de
decisão risco médio/baixo .............................................................................................. 47
Figura 25 - Carta susceptibilidade obtida através da MPO - espaço estratégico de
decisão risco médio ........................................................................................................ 48
Figura 26 - Carta susceptibilidade obtida através da MPO - espaço estratégico de
decisão risco médio/alto ................................................................................................. 48
Figura 27 - Carta de perigosidade................................................................................... 49
Figura 28 - Modelo dano potencial ................................................................................ 50
Figura 29 - Valor patrimonial do edificado .................................................................... 55
Figura 30 - Valor patrimonial normalizado .................................................................... 56
Figura 31 – Vulnerabilidade do edificado segundo Decreto-Lei nº 220/2008 ............... 59
Figura 32 - Vulnerabilidade época de construção .......................................................... 61
Figura 33 - Vulnerabilidade risco estado de conservação .............................................. 63
Figura 34 - Rede gás reclassificada ................................................................................ 65
Figura 35 - Vulnerabilidade da rede eléctrica normalizada ............................................ 68
Figura 36 – Vulnerabilidade da rede água normalizada ................................................. 70
Figura 37 - Matriz de comparação par a par ................................................................... 71
Figura 38 - Pesos Considerados na Vulnerabilidade ...................................................... 71
Figura 39 - Carta de vulnerabilidade .............................................................................. 73
Figura 40 – Carta de Vulnerabilidade obtida através da MPO - espaço estratégico de
decisão risco Médio/Baixo ............................................................................................. 74
Figura 41 - Carta de vulnerabilidade obtida através da MPO - espaço estratégico de
decisão risco Médio ........................................................................................................ 75
Figura 42 - Carta de vulnerabilidade obtida pela MPO - espaço estratégico de decisão
risco médio/alto .............................................................................................................. 75
Figura 43 - Carta de dano potencial ............................................................................... 76
Figura 44 - Carta de risco ............................................................................................... 77
Figura 45 - Carta de risco obtida pela MPO - espaço estratégico de decisão risco
médio/baixo .................................................................................................................... 78
Figura 46 - Carta de risco obtida pela MPO - espaço estratégico de decisão risco médio
........................................................................................................................................ 78
Figura 47 - Carta de risco obtida pela MPO - espaço estratégico de decisão risco
médio/alto ....................................................................................................................... 79
Figura 48 - Exemplo do resultado obtido através do Índice de Moran .......................... 83
Figura 49 - Cartas de Risco geradas pela MPO .............................................................. 84
Figura 50 - Histogramas de distribuição dos resíduos .................................................... 85
Figura 51 - Índice de Moran dos resíduos obtidos através da CLP ................................ 85
_____________________________________________________________________
VIII
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Quadro resumo de autores ............................................................................ 21
Tabela 2 - Escala de comparação critérios ..................................................................... 27
Tabela 3 - Reclassificação das exposições solares ......................................................... 37
Tabela 4 – Reclassificação dos declives ......................................................................... 39
Tabela 5 - Características das vias .................................................................................. 41
Tabela 6 – Reclassificação da ocupação do solo ............................................................ 42
Tabela 7 - Pesos de ordenação para a susceptibilidade .................................................. 47
Tabela 8 - Coeficientes de Afectação ............................................................................. 52
Tabela 9 - Coeficientes de Afectação Considerados ...................................................... 54
Tabela 10 – Utilizações-tipo e variáveis de avaliação de categoria de risco .................. 57
Tabela 11 - Reclassificação da época de construção ...................................................... 61
Tabela 12 - Reclassificação do estado de conservação .................................................. 63
Tabela 13 - Reclassificação rede gás .............................................................................. 65
Tabela 14 - Pesos de Ordenação para a Vulnerabilidade ............................................... 74
Tabela 15 - Classificação do número de edifícios gerados pela MPO e CLP para Carta
de Risco na Baixa Pombalina em Lisboa ....................................................................... 84
Acrónimos
AHP – Análise Hierárquica Par a Par
AMC – Análise Multi-Critério
CAR - Conditional AutoRegressive
CIMI – Código do Imposto Municipal sobre Imóveis
CIMT – Código do Imposto Municipal sobre Transmissões Onerosas de Imóveis
CLP – Combinação Linear Ponderada
CML – Câmara Municipal de Lisboa
DIGC – Departamento de Informação Geográfica e Cadastral
DPC – Departamento de Protecção Civil
ESRI – Environmental Systems Research Institute
IMI – Imposto Municipal sobre Imóveis
MPO – Média Ponderada Ordenada
POM – Plano Operacional Municipal
SIG – Sistemas de Informação Geográfica
SIGIMI - Sistema de Informação Geográfica do Imposto Municipal sobre Imóveis
TC- Taxa de Consistência
OLS – Ordinary Least Squares
_____________________________________________________________________
IX
Glossário
ArcToolbox – Conjunto de ferramentas para conversão de dados e análise espacial.
Carga de Incêndio – Quantidade de calor susceptível de ser libertada pela combustão
completa da totalidade de elementos contido num espaço, incluindo o revestimento das
paredes, divisórias, pavimentos e tectos.
Categorias de Risco – Classificação em quatro níveis de risco de incêndio de qualquer
utilização-tipo de um edifício e recinto, atendendo a diversos factores de risco como a
sua altura, o efectivo, o efectivo em locais de risco, a carga de incêndio e a existência de
pisos abaixo do plano de referência.
Edifícios – Toda e qualquer edificação destinada à utilização humana que disponha, na
totalidade ou em parte, de um espaço interior utilizável.
Efectivo – Número máximo estimado de pessoas que pode ocupar em simultâneo um
dado espaço de um edifício ou recinto.
Efectivo de Público – Número máximo estimado de pessoas que pode ocupar em
simultâneo um dado espaço de um edifício ou recinto que recebe público, excluindo o
número de funcionários e quaisquer outras pessoas afectas ao seu funcionamento.
Local de Risco – Classificação de qualquer área de um edifício ou recinto, em função
da natureza do risco de incêndio, com excepção dos espaços interiores de cada fogo e
das vias horizontais e verticais de evacuação.
Plano de Referência – Plano de nível, à cota de pavimento do acesso destinado às
viaturas de socorro, medida na perpendicular a um vão de saída directa para o exterior
do edifício.
Recintos – Espaços delimitados ao ar livre destinados a diversos usos.
Utilização-Tipo – Classificação do uso dominante de qualquer edifício ou recinto.
Fogo - Resulta de uma reacção química (combustão), entre um combustível e um
comburente (o oxigénio), que se inicia caso exista energia suficiente (energia de
activação) para desencadear essa reacção. A estes três elementos (combustível,
comburente e energia de activação), que constituem o triângulo do fogo e que são os
elementos necessários para existir combustão, junta-se um quarto, designado por
_____________________________________________________________________
1
_____________________________________________________________________
2
reacção em cadeia, que permite o desenvolvimento e a manutenção da combustão com
presença de chama [Castro, 2005].
Incêndio Urbano - Combustão, sem controlo no espaço e no tempo, dos materiais
combustíveis existentes em edifícios, incluindo os materiais de construção e de
revestimento [Castro, 2005].
Capítulo 1 – Introdução ______________________________________________________________________
1 Introdução
O primeiro contacto do homem com o fogo terá ocorrido, através da observação das
árvores serem atingidas por raios, eclosões de fogo em jazidas de petróleo, ou
proveniente de actividades vulcânicas. Destes encontros casuais, o homem aprendeu
quais as propriedades inerentes ao fogo, como o calor, a luz e a possibilidade de vários
materiais se incendiarem. Com a descoberta da possibilidade de transportar o fogo, por
meio de tochas, até às suas cavernas, o homem verificou que estas se tornavam casas
melhores, pois tinham luz, calor e tornavam-se mais seguras, mantendo afastados os
animais perigosos.
Mais tarde o Homo Erectus descobriu como produzir faíscas, por meio de fricção de
pedras ou de pedaços de madeira. O homem finalmente tinha como originar o fogo.
Na verdade, a história da humanidade está directamente ligada ao domínio do fogo.
Desde os primórdios, à medida que os homens se espalhavam pelo mundo, o fogo
tornava-se vital como fonte de luz e aquecimento. De facto, o fogo foi um factor
preponderante para o desenvolvimento de toda a civilização humana até aos nossos dias.
No entanto, é também um dos seus maiores inimigos em potencial, podendo ser um dos
principais causadores de elevados prejuízos materiais e humanos.
Devido à facilidade com que hoje se obtém o fogo, tanto por meio de fósforos,
isqueiros, etc., assistimos a uma crescente preocupação, não tanto na forma como este
se obtém, mas sim, no seu controle, extinção e prevenção de eclosão de grandes
incêndios, tanto florestais como urbanos, que possam ser causadores de prejuízos.
Os incêndios urbanos apresentam-se como uma das ameaças à segurança da população
das grandes cidades, que têm vindo a receber grande parte da população mundial.
Segundo os dados da Divisão da População do Departamento de Assuntos Sociais e
Económicos das Nações Unidas, em 2050 viverão nas cidades 6.400 milhões de
pessoas, perto de 70% da população mundial. De acordo com os dados do Relatório
bianual “O Estado as Cidades 2008/2009”, do programa Habitat, as cidades dos países
em desenvolvimento receberam, nas últimas duas décadas, uma média de três milhões
de habitantes por semana.
_____________________________________________________________________
1
Capítulo 1 – Introdução ______________________________________________________________________
Tendo em conta que os acidentes naturais são cada vez mais frequentes e ferozes, as
Nações Unidas referem no relatório World Economic and Social Survey 2008;
Overcoming Economic Insecurity, que “entre 2000 e 2006 os desastres foram quatro
vezes mais numerosos que durante a década de 1970. Os custos dos danos para uma
média anual de 83 000 milhões de dólares, são sete vezes superiores”. Refere ainda o
mesmo relatório que “ Segundo algumas estimativas, na próxima década, num ano com
registo superior de desastres naturais, estes poderão causar danos superiores a um bilião
de dólares, podendo comprometer a relação custo/eficácia de medidas de prevenção,
combate e socorro.”
“Nós não conseguimos parar as forças da natureza, mas devemos preveni-las de modo a
diminuir os danos económicos e sociais” [Annan, 1999].
O aumento de desastres naturais, aliado ao progressivo aumento da população nas
grandes cidades, tem impactos na própria economia e ambiente dos países e das cidades
afectadas, causando elevados danos materiais e atingindo milhares de pessoas, que
ficam desalojadas, devido à destruição dos seus bens.
A ocorrência de incêndios nos grandes centros urbanos, devido ao número de pessoas
afectadas e aos prejuízos materiais que daí advêm é um dos principais causadores de
insegurança e preocupação junto da população que aí reside.
Os incêndios urbanos passam despercebidos a grande parte da população, quando
comparados com os incêndios florestais, devido ao seu menor número de ocorrências e
menor visibilidade. No entanto, estes são os maiores responsáveis por mortes civis. Só
em 2008 causaram a morte a 32 pessoas, e em 2007 este número foi ainda superior com
um registo de 37 mortes em Portugal, segundo o diário iol citando fonte da Autoridade
Nacional da Protecção Civil.
A adopção de medidas de prevenção e de caracterização de zonas susceptíveis de serem
afectadas poderão nestes casos ajudar a minimizar os danos, tanto materiais como
humanos, uma vez que permite tomar medidas de prevenção de combate aos diferentes
tipos de desastres. Neste sentido, têm vindo a ser desenvolvidos vários estudos com o
intuito de definir zonas de risco, sendo os incêndios urbanos, uma das principais
preocupações.
_____________________________________________________________________
2
Capítulo 1 – Introdução ______________________________________________________________________
1.1 Questões sob investigação
A impossibilidade de eliminar o risco de incêndio, quer este se deva a causas naturais,
ou não, é um facto incontroverso [Coelho, 2000]. De facto, a total eliminação do risco
de incêndio é uma situação utópica. No entanto, a sua prevenção e determinação de
áreas mais susceptíveis de ocorrência deve ser um dos aspectos a ter em conta no
planeamento e desenvolvimento de zonas urbanas.
Surge então a necessidade de definir quais os aspectos a ter em conta para a
determinação de risco de incêndio. Qual a probabilidade de ocorrência de um incêndio
num determinado local? Quais as componentes que têm influência na eclosão de um
incêndio? Existirão locais com mais propensão à ocorrência e propagação de incêndios
do que outros? Todos os incêndios têm origem pela mão do homem? Ou existirão
determinados factores que actuando em simultâneo poderão levar à sua ocorrência?
Todas estas questões e muitas mais serão legítimas na hora de definir quais as variáveis
a ter em conta na determinação do risco de incêndio em zonas urbanas.
Posto isto, este trabalho tem como principais objectivos:
Definição de um modelo de risco de incêndio urbano
Definição das variáveis a utilizar no modelo
Determinação dos pesos a atribuir às diferentes variáveis
Aplicação de 2 métodos multi-critério no cruzamento das variáveis
Obtenção da Carta de Risco Incêndio Urbano para a área de estudo
Validação dos modelos obtidos
Após a definição das variáveis que vão ser utilizadas, torna-se necessário definir a
metodologia que melhor se adapta ao objectivo final proposto. A atribuição de
diferentes pesos às variáveis, em função da sua importância e “contribuição” no modelo,
para a ocorrência de incêndios, bem como o posterior cruzamento de todas as variáveis,
são um dos principais desafios deste estudo. Após a definição da metodologia a ser
empregue, pretende-se criar um mapa, que represente as zonas de maior e menor risco
de ocorrência de incêndios urbanos.
_____________________________________________________________________
3
Capítulo 1 – Introdução ______________________________________________________________________
1.2 Caracterização da área de estudo
A área de estudo situa-se no concelho de Lisboa e corresponde à zona tradicionalmente
designada por “Baixa Pombalina”, conforme ilustra a figura seguinte.
Marquêsde Pombal
Aeroporto
Monsanto
ParqueNações
Belém
SantaApolónia
Benfica
®
São NicolauMártires
SacramentoEncarnação
Madalena
Sé
Santiago
Castelo
Socorro
São Cristovãoe São Lourenço
Santa Justa
Pena
Socorro
São Paulo
-88000,000000
-88000,000000
-87800,000000
-87800,000000
-87600,000000
-87600,000000
-87400,000000
-87400,000000
-87200,000000
-87200,000000
-87000,000000
-87000,000000
-86800,000000
-86800,000000
-106
400,0
0000
0
-106
400,0
0000
0
-106
200,0
0000
0
-106
200,0
0000
0
-106
000,0
0000
0
-106
000,0
0000
0
-105
800,0
0000
0
-105
800,0
0000
0
-105
600,0
0000
0
-105
600,0
0000
0
-105
400,0
0000
0
-105
400,0
0000
0
Beja
Evora
Faro
ViseuGuarda
Santarem
Braganca
Portalegre
Vila Real
Coimbra
Braga
Porto
Lisboa
Setubal
Leiria
Aveiro
Castelo Branco
Viana do Castelo
Sistema de Projecção Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum 73
Concelho Lisboa
Limite Distrito
0 50 100 km 0 1 2 km
Baixa Pombalina
Limite Concelho
Baixa Pombalina
Limite freguesia
0 100 200 m
®
®
_____________________________________________________________________ Figura 1 - Área de estudo
4
Capítulo 1 – Introdução ______________________________________________________________________
Apesar da área da Baixa integrar as freguesias de São Nicolau, Mártires, Santa Justa,
Madalena, Encarnação, Sacramento e São Paulo, para este estudo apenas foram
analisadas as freguesias de São Nicolau, Mártires, Madalena, Sacramento e parte de
Santa Justa, por serem estas as que integram a zona do Plano de Pormenor da Baixa.
Pretende-se assim, delimitar a zona de estudo de acordo com a área deste instrumento,
adicionando as freguesias de Mártires e Sacramento, de modo a obter uma área de
estudo mais diversificada em termos morfológicos e quanto às características do parque
edificado, sem no entanto comprometer a exequibilidade do projecto em termos de
tempo e de volume de informação a processar.
A Baixa Pombalina foi edificada por ordem do Marquês de Pombal, então primeiro-
ministro do Rei D. José I e mantém ainda hoje as características da arquitectura
implementada na sua reconstrução após o grande terramoto de 1755. A figura seguinte
ilustra o projecto de reconstrução de novos arruamentos sobre a baixa pombalina antes
do terramoto.
Figura 2 – Baixa Pombalina antes do terramoto de 1755, com os projectos dos novos arruamentos (Circa 1760)
Fonte IGEO
_____________________________________________________________________
5
Capítulo 1 – Introdução ______________________________________________________________________
É formada por um conjunto de ruas rectas perpendiculares entre si, organizadas para
ambos os lados de um eixo central constituído pela Rua Augusta, tornando-se hoje uma
das mais importantes e emblemáticas zonas históricas do país.
Em 1988, ocorreu nesta zona, um dos maiores incêndios de que há memória, causando
dois mortos, milhares de desempregados, destruindo várias lojas, escritórios e edifícios
do século XVIII, que foram posteriormente reconstruídos mantendo as suas fachadas
originais. O rés-do-chão dos edifícios é por norma utilizado para comércio, sendo os
pisos superiores utilizados para habitação e escritórios. Nesta zona situam-se hoje
alguns dos actuais ministérios, centralizados na Praça da Figueira, bem como na Praça
do Município, pelo que esta área se revela de grande importância não só no contexto da
cidade mas também no próprio contexto nacional.
A área de estudo é constituída por um conjunto de 809 edifícios com grande parte a
apresentar uma construção concretizada pelo sistema de gaiola, em madeira, de modo a
resolver as situações mais graves verificadas durante o desastre de 1755, como a
derrocada de edifícios e a propagação de incêndios. No entanto, hoje em dia alguns
edifícios da baixa encontram-se bastante fragilizados com as alterações a que os
mesmos foram sujeitos, a ausência de cuidados nas construções clandestinas, bem como
o uso de materiais de construção pré-fabricados, desvirtuam a estrutura pombalina.
1.3 Contribuição do trabalho
Face à possibilidade de desenvolver um estudo de investigação com interesse para uma
instituição pública, pretende-se desenvolver uma aplicação com uma metodologia
específica e utilizar informação geográfica referente a um caso de estudo. O serviço em
questão é o Departamento Protecção Civil (DPC), que se encontra integrado na
Direcção Municipal protecção Civil Segurança e Tráfego (DMPCST) da Câmara
Municipal de Lisboa (CML).
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6
Capítulo 1 – Introdução ______________________________________________________________________
Figura 3 - Organograma da DMPCST
Deste modo, pretende-se que este estudo possa contribuir para a análise de situações de
risco de incêndio.
De acordo com as atribuições do (DPC), que tem como principal missão prevenir e
minimizar riscos e de atenuar os efeitos da ocorrência de acidentes graves, catástrofes e
calamidades, e com os estudos previstos para o ano de 2009/10 do Gabinete de Análise
de Riscos deste serviço, foi possível constatar a necessidade da criação de uma
metodologia para obtenção de uma carta de Risco de Incêndio Urbano, direccionada
para o município de Lisboa, área de jurisdição desta autarquia. A urgente necessidade
de avaliação deste risco concelhio vem colmatar um vazio existente neste domínio e
simultaneamente integrar um conjunto diversificado de outros riscos já avaliados para o
espaço em questão, como sejam o risco sísmico, a inundação por temporal, o acidente
com aeronaves e o transporte fluvial/marítimo, o transporte e/ou armazenamento de
mercadorias perigosas e o incêndio florestal.
Pretende-se assim, com este projecto, colmatar a falta a nível nacional de estudos
robustos sobre esta temática. Sendo este projecto aplicado concretamente à área da
Baixa Pombalina, pretende-se no entanto que, tanto as variáveis utilizadas, como a
metodologia empregue e a flexibilidade do modelo possam permitir o alargamento da
análise de risco a todo o concelho de Lisboa, podendo ainda ser aplicado a diferentes
zonas do país.
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Capítulo 1 – Introdução ______________________________________________________________________
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8
Utilizando uma análise multi-critério, para cruzamento das diferentes variáveis que
integram o modelo, e aplicando uma atribuição de pesos a cada uma delas, tendo em
conta a sua importância no modelo de risco, este projecto pretende relacionar uma
componente científica de avaliação das variáveis com as potencialidades facultadas
pelas ferramentas de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) para apresentação de
cartas de risco.
1.4 Estrutura da Tese
O presente trabalho encontra-se dividido em 4 capítulos, correspondendo cada um deles,
a diferentes temas.
Após uma breve introdução o Capítulo 2, Enquadramento, disserta sobre a terminologia
utilizada ao longo do estudo, uma vez que esta não é consensual entre a comunidade
científica. É efectuado uma revisão bibliográfica de trabalhos já existentes, referindo de
seguida as suas principais contribuições no desenvolvimento deste projecto. Ainda neste
capítulo, é apresentada a técnica de análise multi-critério, tendo em conta os dois
métodos que se pretendem utilizar, bem como o método de atribuição de pesos aplicado
às diferentes variáveis.
O Capítulo 3, Metodologia, apresenta o modelo proposto para a obtenção da carta de
risco, definindo as variáveis que irão ser utilizadas juntamente com o tratamento
efectuado.
O Capítulo 4, Análise de Resultados, apresenta a discussão sobre a metodologia usada,
as variáveis consideradas, bem como os métodos de análise multi-critério utilizados e o
método de atribuição de pesos às variáveis. Ainda neste capítulo é discutido o método
de validação dos resultados obtidos.
Concluindo esta pesquisa, o Capítulo 5, intitulado Considerações finais, apresenta os
pontos mais significativos da investigação, as suas conclusões e sugestões para
continuidade da pesquisa e de aplicação prática.
Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
2. Enquadramento
2.1 Introdução
Este capítulo visa definir a terminologia utilizada durante este trabalho, abordando de
seguida alguns estudos similares já efectuados em termos de metodologia.
De modo a melhor definir o modelo a adoptar e os conceitos que lhe servem de base,
torna-se necessário clarificar a terminologia utilizada. De facto, não é fácil conseguir
consensos quanto à terminologia dos modelos de risco, uma vez que existem diferentes
tipos e significados para o conceito de risco, alguns dos quais também definidos por
vulnerabilidade, susceptibilidade, probabilidade, severidade entre outros. Dependendo
da área a que se refere esse risco, a sua definição será com certeza diferente, tendo em
conta a sua especificidade. É de referir desde já, que a tradicional classificação das
situações de risco natural e tecnológico encontra-se desactualizada, uma vez que só
existem situações de risco, desde que o espaço esteja “humanizado”, caso contrário
haverá desconhecimento do seu registo e como tal não se poderá falar em tal
acontecimento.
Ao abordar estudos similares, pretende-se verificar se já existem respostas publicadas
para algumas das questões iniciais deste projecto, bem como saber, quais os métodos
utilizados em investigações similares, de modo a servirem de apoio à decisão de qual o
melhor método a utilizar para a determinação de susceptibilidade de ocorrência de
incêndios urbanos.
2.2 Terminologia
Em termos financeiros, o risco poderá ser definido, por exemplo, como a tentativa de se
medir o grau de incerteza na obtenção de retorno esperado para um determinado
investimento ou aplicação financeira. Já em termos de risco de crédito, este poderá ser
definido como a possível incapacidade da instituição financeira em cumprir os seus
compromissos, assumidos com investidores.
O próprio Decreto-Lei nº 220/2008 de 12 Novembro (anexo A) que estabelece o regime
jurídico da segurança contra incêndios em edifícios atribui uma classificação ao
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9
Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
edificado em categorias e factores de risco sem no entanto definir, o conceito de risco de
incêndio em concreto.
Se no domínio comum, a utilização de termos como risco, perigosidade, entre outros,
não carece de uma definição rigorosa, já em termos científicos, estes devem ser
cuidadosamente definidos.
Já Bachmann e Allgöwer [1999] alertam para a necessidade da correcta definição dos
termos associados aos modelos de risco, de modo a não ocorrerem enganos nas suas
interpretações e análises. No entanto, os modelos de risco devem ser sempre
considerados meios de suporte e ajuda à decisão e não como meios, a partir dos quais se
tomam decisões.
Torna-se portanto necessário a correcta definição de termos como perigosidade,
vulnerabilidade, susceptibilidade ou risco. Para este trabalho, os termos referidos são
entendidos como:
Susceptibilidade – propensão de uma dada área ou unidade territorial para ser afectada
pelo fenómeno estudado, avaliada a partir das propriedades que lhe são intrínsecas
[Verde et al., 2007]
Perigosidade – a probabilidade de ocorrência de fenómenos potencialmente
destruidores num determinado intervalo de tempo e numa dada área, Idem, p.
Vulnerabilidade – grau de perda a que um determinado elemento está sujeito em face
da ocorrência do fenómeno tratado, Idem, p.
Probabilidade – razão entre o número de casos favoráveis à ocorrência de um evento e
o número total de casos possíveis.
Dano Potencial - O dano potencial é o produto entre a vulnerabilidade e o valor
económico do elemento em risco.
Risco – é a probabilidade de um incêndio ocorrer num local específico, sob
determinadas circunstâncias, e as suas consequências esperadas, caracterizadas pelos
impactos nos objectos afectados [Bachmann et al., 1999].
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10
Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
2.3 Revisão bibliográfica
2.3.1 Contribuições Científicas
Vários estudos têm sido efectuados no sentido de determinar a perigosidade de
ocorrência de incêndios em grandes centros urbanos, a fim de prevenir e eliminar danos
materiais e humanos que possam vir a ocorrer.
“Uma cidade Utópica, onde não exista qualquer tipo de risco, não é possível de
encontrar no planeta terra” [Khatsü, 2005].
São referidos de seguida alguns dos trabalhos efectuados no domínio deste estudo, e que
servem de referência a esta pesquisa. Sendo eles, o estudo efectuado por Radke (1995),
em São Francisco Califórnia, Bhaskaran et al (2001) em Bathurst Austrália, Petevilei
(2005) em Kohima India, Banwell et al (2005) em Anchorage Alaska, Jing Rong em
Hebei, China e Calmeiro (2007) que desenvolveu uma carta de risco de incêndio urbano
para o centro histórico de Évora.
A terminologia utilizada para descrever os diferentes estudos é a utilizada pelos autores,
de modo a manter a maior integridade possível da obra citada. Conforme referido
anteriormente, estes conceitos poderão diferir de autor para autor, existindo sempre que
necessário uma tentativa de correspondência com os termos que nos propomos aqui
utilizar.
Na Califórnia foi efectuado um estudo na baía de São Francisco por Radke (1995), onde
o objectivo era criar um modelo de cálculo de risco de incêndio sobre uma zona
heterogénea em termos de tipo de utilização de solo. Para tal, foram criados dois
modelos em formato vectorial, um para os fogos florestais e outro para os fogos
urbanos, de modo a posteriormente serem utilizados em conjunto com o objectivo de
criar um mapa multi-riscos de incêndio. O autor definiu diferentes variáveis para cada
modelo, não sendo estas correlacionadas. O modelo de incêndios urbanos foi suportado
por duas variáveis, a estrutura dos edifícios (materiais e tipo de construção)
representada na fig.4 e a vegetação envolvente fig.5. Estas variáveis são constituídas por
diferentes critérios aos quais foram atribuídos ponderadores que variam entre um e
quatro, sendo o valor máximo correspondente aos valores de maior risco. Para a classe
dos materiais de construção foi considerado o tipo de material utilizado no telhado, (se é
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Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
mais ou menos combustível) e o tipo de protecção contra incêndio que as habitações
dispõem. Para a classe de tipo de vegetação, foi tido em consideração, o tamanho das
árvores, densidade de combustível, o seu grau de ignição, entre outros. A cada classe foi
atribuída uma percentagem, com objectivo de atribuir pesos às variáveis, sendo esta
multiplicada pelos ponderadores anteriormente atribuídos.
O modelo de risco de incêndio urbano foi dividido em 3 categorias: baixo, moderado e
alto conforme é apresentado nas figuras anteriormente referidas
O autor alerta para a necessidade de, em trabalhos futuros, incorporar como factores de
risco, as infra-estruturas existentes de combate a incêndio e a sua capacidade de resposta
em caso de emergência [Radke, 1995].
Figura 4 - Classes de risco da variável estrutura dos edifícios na Baía de São Francisco Fonte: Radke (1995)
Figura 5 - Classes de risco da variável tipo de Vegetação na Baía de São Francisco Fonte: Radke (1995)
Em Bathurst, uma cidade na Austrália Bhaskaran et al, [2001] desenvolveu um modelo
de risco de incêndio urbano (em formato raster), que foi depois testado na cidade de
Hornsby Shire, que tem maior densidade populacional e de edifícios quando comparada
com Bathurst. O objectivo final deste estudo foi desenvolver um sistema multi-agente
de distribuição de meios de combate a incêndio com base no mapa de risco
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Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
anteriormente criado. Bhaskaran et al, [2001], determina o risco de incêndio utilizando
diferentes variáveis como, o tipo de uso do solo, utilização e densidade dos edifícios e a
densidade da população na área de estudo, entre outras, atribuindo diferentes pesos às
variáveis e cruzando-as de seguida. Obtido o mapa de risco fig.6, do qual resultaram 4
classes, o autor utilizou-o para sobrepor as várias cooperações de bombeiros,
verificando quais as que tinham a sua área de actuação em zonas maior ou menor risco.
Sobre este mapa de risco, definiu-se o sistema multi-agente de distribuição de meios em
caso de ocorrência de incêndio, identificado na figura atrás descrita. Este estudo reflecte
uma das diversas potencialidades deste tipo de modelos de risco, a ajuda e suporte na
tomada de decisão e distribuição de meios.
Figura 6 - Modelo de risco de incêndio na cidade de Hornsby Shire Fonte: Bhaskaran (2001)
O trabalho que Petevilei Khatsü [2005] efectuou na cidade de Kohima, Índia, pressupõe
a determinação de um mapa que reflicta vários tipos de perigo em simultâneo, como os
perigos sísmicos, deslizamentos de terras ou incêndios urbanos. Apesar de estes
acontecimentos poderem estar interligados, e a ocorrência de um poder originar outro,
estes também podem acontecer isoladamente. O autor optou por determinar os mapas de
risco correspondentes a cada tipo de perigosidade isoladamente para depois os conjugar
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Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
de diferentes modos. Tendo em conta o estudo efectuado somente sobre os incêndios
urbanos, verifica-se que o autor utilizou ponderadores para classificar as variáveis do
modelo, consoante estas, na sua perspectiva, contribuíam com maior ou menor
perigosidade para a ocorrência de incêndios urbanos. Para a área de estudo considerada,
foi dada grande relevância aos materiais de construção utilizados, uma vez que grande
parte das habitações é construída à base de madeira e bambu, que são de fácil
combustão. Embora com menos peso, o modelo em estudo considerou também, o
espaço entre os edifícios vizinhos, uma vez que este parâmetro conjugado com os
materiais de construção se revela fulcral na propagação rápida das chamas entre
edifícios.
Adoptando os valores entre zero e dez, em que zero corresponde ao valor de menor
perigosidade, o autor optou por atribuir ao espaço entre edifícios peso (6), à distância de
um edifício à estrada (4), à distância a um quartel de bombeiros (2), ao material de
construção (10) e à distância às estações de abastecimento combustíveis (3).
Para determinar a perigosidade da zona de estudo, o peso de cada variável é
multiplicado pelo valor do seu ponderador que varia entre zero e dez, e que é atribuído
consoante as características da variável em questão e são somados posteriormente os
valores obtidos em relação a cada variável. O autor utilizou o ArcGIS SQL vector
operations para determinar os diferentes níveis de perigosidade dividindo-os nos níveis:
bastante elevado, elevado, moderado e baixo como é apresentado na fig. 7.
Figura 7 - Modelo de risco de incêndio da cidade de Kohima, Índia Fonte: Petevilei Khatsü (2005)
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Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
No município de Anchorage, Alaska, o trabalho desenvolvido por Barnwell et al, [2005]
tinha como objectivo detectar qual o risco a que a cidade estava exposta devido à
ocorrência de incêndios florestais, uma vez que nesta zona, grande parte deste tipo de
incêndios se transformam em incêndios urbanos devido à proximidade das zonas
habitacionais com as zonas florestais. O estudo desenvolvido utilizou um modelo
composto por diferentes variáveis que compõem quatro classes principais:
Comportamento do incêndio, em função das condições do terreno e do tipo de
vegetação, condições estas, que podem levar à deflagração de um incêndio ou
que tenham influência na sua propagação;
Factores potenciadores de ignição, como por exemplo as estradas, as quais
funcionam como factor potenciador de transporte de fontes de ignição, ou tipo
de uso do solo;
Pessoas e bens que possam ser afectados, e que possam influenciar o risco, como
a população afectada, os recursos naturais, etc.
Dispositivos de combate, como por exemplo, o tempo de resposta a uma
emergência, a distância a pontos de água, entre outros.
Estas quatro categorias foram calculadas individualmente, em função de ponderadores
atribuídos às diferentes variáveis que as compõem. Para o comportamento do incêndio,
as variáveis utilizadas foram:
O combustível, que foi reclassificado em termos do tamanho de chama que
origina,
O declive que foi também reclassificado tendo em conta o tamanho de chama
que a inclinação pode originar, utilizando um simulador de crescimento e
efeitos do fogo.
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A perigosidade associada ao comportamento do incêndio, foi determinada
multiplicando as diferentes variáveis. Como factores de risco de ignição, foram
utilizadas as seguintes variáveis: o tipo de edifício (comercial, residencial, etc.), o tipo
de estradas e a susceptibilidade de ignição da vegetação, quando em contacto com a
chama. A estas variáveis foram atribuídos ponderadores entre zero e cinco, sendo zero o
valor de menor risco, que depois foram somadas para determinar o risco associado aos
factores de ignição.
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Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
Na determinação dos valores de risco de bens e pessoas afectadas, foi utilizado o tipo de
uso do edifício (privado, publico, recreativo), com ponderadores entre zero e quinze,
com zero a corresponder ao menor risco dos edifícios, o número de pessoas afectadas,
com ponderadores entre zero e cinco e a área ocupada pelos diferentes edifícios. Estas
três variáveis foram convertidas em raster tendo-se posteriormente procedido a uma
série de cálculos: a multiplicação do tipo de uso do edifício pela sua área ocupada,
somando posteriormente o risco de edifícios em função do número de pessoas afectadas.
A classe correspondente aos dispositivos de combate, foi determinado utilizando como
variáveis, o tempo de resposta, a proximidade dos quartéis de bombeiros e dos postos de
abastecimento de água. A estas variáveis foram atribuídos ponderadores entre zero e
cinco, que depois foram somados para determinar o valor correspondente a esta classe.
O modelo de risco final foi obtido, combinando os valores determinados anteriormente
para as quatro classes principais, tendo-se atribuído diferentes pesos a cada classe de
risco.
Este modelo tem como principal objectivo, servir como base de suporte e ajuda à
decisão no momento exacto das ocorrências, ou seja, pretende funcionar como um
simulador, em que o utilizador comum, mudando somente algumas variáveis das
características locais, obtém um modelo de risco da zona afectada. Deste modo, foi
desenvolvido em simultâneo com a definição do modelo, uma aplicação que permita
esse tipo utilização.
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Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
Figura 8 Aplicação simulação risco de incêndio desenvolvida para Anchorage, Alaska Fonte: Barnwell et al (2005)
Foi desenvolvido por Jing Rong um método de avaliação de risco de incêndio em zonas
urbanas com o objectivo de servir de suporte ao planeamento e desenvolvimento de
zonas residenciais em Hebei, China. Foram analisados os vários factores que podem
influenciar os incêndios urbanos e estabelecer diferentes níveis de risco.
O método de determinação de risco de incêndio que foi desenvolvido na China utiliza
várias variáveis para a determinação de diferentes níveis. Neste modelo, o autor divide
as variáveis em três níveis distintos, sendo que a conjugação de diferentes variáveis de
nível três, origina uma variável de nível dois e a conjugação destas, origina variáveis de
nível um, podendo no entanto existir variáveis de nível dois e um que não têm origem
em variáveis de nível inferior e são determinadas directamente através de atribuição de
pesos.
Os ponderadores atribuídos às variáveis são determinados em função de intervalos de
valores que estas podem tomar, aos quais é atribuído um valor de zero a dez, com zero a
corresponder aos intervalos de menor risco. Depois de atribuído o ponderador a cada
variável, é lhes atribuído uma determinada percentagem em função da sua importância,
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Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
servindo como peso no calculo do modelo. Ou seja, o somatório das percentagens
atribuídas a cada variável de um determinado nível corresponde a um total de 100%.
Como variáveis de nível um, são considerados, os factores climáticos com peso de 5%,
características dos edifícios (35%), capacidade de resposta dos meios de combate a
incêndios (25%), fontes de água existentes na zona de estudo (15%) e densidade
populacional (20%). À excepção da densidade populacional, o peso das restantes
variáveis é determinado em função de variáveis de nível inferior. Na determinação do
valor correspondente aos factores climáticos, o autor considera a humidade relativa com
peso de (75%) e o vento (25%) como características importantes. No cálculo do valor
correspondente às características dos edifícios, foi considerado, a densidade de edifícios
com peso (25%), resistência ao fogo (10%), rede gás (10%), antiguidade circuito
eléctrico (10%), tipo de edifícios (25%), estado de conservação dos equipamentos de
protecção contra incêndios (10%) e acessibilidades (10%). Para as fontes de água teve
em consideração, o número de fontes existentes (20%), o seu estado de conservação
(50%) e a sua capacidade de abastecimento (30%). Na determinação da capacidade de
resposta dos meios de combate, entra em consideração com o equipamento existente
(30%), quartéis bombeiros (20%), corpo activo (30%) e preparação dos bombeiros no
combate a incêndios (20%).
O cálculo final do grau risco é determinado pelo somatório dos valores obtidos de cada
variável de classe um.
Em Portugal os estudos existentes neste âmbito não são muito extensos, sendo de
destacar o estudo desenvolvido por Calmeiro [2007] para o centro histórico de Évora. A
autora opta neste caso por aplicar o método de Gretener, que tem origem no nome do
engenheiro Max Gretener que o idealizou.
Deste modo foi efectuado uma identificação dos pontos perigosos e nevrálgicos, análise
das infra-estruturas, análise individualizada de estabelecimentos e análise global do
risco de incêndio.
Assim, foi necessário proceder a uma recolha exaustiva de diferentes dados para a
aplicação do referido método. Os dados recolhidos têm como objectivo principal a:
Determinação da carga de incêndio (natureza e quantidades dos materiais
combustíveis);
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Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
Condições de desenvolvimentos do incêndio (dimensões dos compartimentos,
ventilação, tipologia geral do edifício, numero de fogos por edifício, etc.);
Condições de propagação interna e externa do incêndio (resistência ao fogo de
paredes, tectos e pisos, distribuição carga de incêndio, estado de degradação);
Determinação do risco de activação (população residente, processos
desenvolvidos (habitação, comercio, industria, etc.), estado das instalações
eléctricas, exame do estado das instalações de gás, etc.);
Medidas de protecção (equipamentos dos bombeiros, tempo de resposta dos
bombeiros, disponibilidade de agua, meios de detecção e alarme, etc.)
Figura 9 – Carta de risco de incêndio no centro histórico de Évora Fonte: Calmeiro (2007)
2.3.2 Resumo Analítico dos estudos referidos
Dos estudos analisados, verifica-se que as variáveis utilizadas podem variar bastante em
cada projecto. As escolhas efectuadas pelos autores das obras analisadas, em relação às
variáveis a utilizar no modelo, tiveram em conta não só, o objectivo final do projecto,
mas também as especificidades das diferentes áreas de estudo. Existem, no entanto,
variáveis que pela sua importância na determinação da susceptibilidade de ocorrência de
incêndios urbanos, são utilizadas em quase todos os modelos, como o tipo de uso do
solo, de clima, ou a distância a uma corporação de bombeiros por exemplo.
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Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
Tendo em conta as variáveis utilizadas nos diferentes projectos, verificou-se que os
pesos atribuídos variam consoante a sua importância no modelo, a qual reflecte a
realidade local de cada área em estudo.
Petevilei Khatsü, na Índia, por exemplo, deu grande importância aos materiais de
construção dos edifícios, uma vez que grande parte são construídos em Bambu. Radke,
na Califórnia, deu maior relevo ao material de construção do telhado, uma vez que
tendo em conta o estudo efectuado, é um dos principais meios de propagação de
incêndio. Já Jing Rong, na China, deu maior importância às características dos edifícios
e à capacidade de resposta dos meios de combate.
Em termos de metodologia, para a determinação dos mapas de susceptibilidade de
incêndios urbanos, esta varia de autor para autor. Embora quase todos atribuam pesos às
variáveis e as cruzem posteriormente, a ordem e a forma como o efectuam é que difere
nas várias obras.
Petevilei Khatsü, opta por multiplicar os pesos das variáveis, pelos ponderadores de
perigosidade que atribuiu a cada variável.
Jing Rong, na China, divide as variáveis em diferentes classes e atribui-lhes pesos
percentuais, multiplicando esses valores pelos ponderadores de risco das variáveis,
somando de seguida os valores obtidos para definir o valor final de risco de incêndio.
Metodologia semelhante é também utilizada por Barnwell, no Alaska. No entanto, este
não atribui pesos às variáveis em forma de percentagens, optando por dividir as
variáveis em quatro classes, às quais são atribuídos pesos entre zero e cinco, com zero a
corresponder ao valor de menor risco, sendo posteriormente multiplicado.
Já Alice Calmeiro em Évora utilizou uma metodologia diferente dos outros autores,
apoiando-se no método de Gretener que visava inicialmente atender às necessidades das
companhias de seguro, tendo sido posteriormente proposto pela corporação de
bombeiros Suíça como um método de avaliação dos meios de protecção contra incêndio
das edificações, e servindo inclusive de base a várias normas internacionais de avaliação
de risco de incêndio. Este método exige no entanto, uma vistoria exaustiva e detalhada a
cada uma das edificações em avaliação, de modo a poder contar com todos os
parâmetros necessários à sua aplicação.
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Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
De seguida, apresenta-se um quadro resumo com as principais variáveis e os pesos a si
atribuídos por cada um dos autores anteriormente analisados.
Autor Principais Variáveis utilizadas Peso atribuído
Radke - Material de construção do telhado - Protecções exteriores dos edifícios
75% 25%
Bhaskaran
- Tipo de uso do solo - Utilização e densidade do edificado - Densidade da populacional - Locais de Risco
Não especificado
Petevilei
Khatsü
- Material de construção - Espaço entre edifícios - Proximidade à estrada - Distância a bombas gasolina - Proximidade Quartéis bombeiros
10 6 4 3 2
Barnwell
- Comportamento do incêndio, - Factores potenciadores de ignição - Pessoas e bens que possam ser afectados - Dispositivos de combate
Definidos pelo utilizador
Jing Rong
- Características dos edifícios - Capacidade de resposta dos meios de combate a incêndios - Densidade populacional - Fontes de água existentes na zona de estudo - Factores climáticos
35% 25% 20% 15% 5%
Calmeiro
- Densidade da Carga de incêndio - Condições Desenvolvimento do incêndio - Condições Propagação interna e externa do incêndio - Determinação do risco de activação - Medidas de Protecção
Não aplicável
Tabela 1 – Quadro resumo de autores
2.4 Tipo de dados e Software utilizado
Com o objectivo de se conhecer o zonamento da área em estudo face ao risco de
incêndio urbano, recorreu-se às potencialidades dos SIG para cruzamento de dados
georreferenciados ao nível do edifício. Apesar de esta ferramenta permitir utilizar
estruturas de dados vectorial e/ou raster, neste trabalho optou-se pelo primeiro tipo, o
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Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
vectorial, por grande parte da informação se encontrar nesta estrutura e pelo facto da
mesma estar associada a um banco de dados alfanuméricos diversificado. O software
utilizado foi o ArcGIS 9.3 versão ArcINFO da ESRI, por ser este o software utilizado
na Câmara Municipal de Lisboa.
2.5 Análise Multi-Critério
O processo de decisão envolve diversos aspectos, sendo esta uma etapa muito
importante e que serve como plataforma directa de análise e de apoio às tomadas de
decisão. A análise multi-critério (AMC) é uma ferramenta de avaliação de alternativas,
particularmente interessante quando se exploram as diversas hipóteses de combinação
de critérios, permitindo considerar diferentes cenários de avaliação. Como resultado do
seu reconhecido potencial e da sua cada vez maior utilização, esta técnica está
actualmente integrada nas ferramentas disponibilizadas por vários programas de SIG.
Esta integração, foi considerada um avanço face ao procedimento convencional
utilizado, que consistia no cruzamento de planos de informação para a determinação de
áreas de risco e de áreas prioritárias [Malczewski, 1999].
Segundo Malczewski (2004) a avaliação multi-critério envolve a utilização de dados
georreferenciados, os conceitos definidos pelos decisores e a manipulação desses dados
e conceitos com base em regras de decisão específicas. Para o autor a capacidade do
SIG de adquirir, armazenar, recuperar, manipular e analisar os dados georreferenciados
aliados à capacidade de combinar esses dados e os conceitos dos decisores em
alternativas de decisão são de extrema importância na avaliação multi-critério.
Os procedimentos de decisão multi-critério definem a relação entre os dados de entrada
e os de saída. Ao longo do tempo, têm aumentado os processos de avaliação multi-
critério incorporados nos SIG, sendo os mais conhecidos a Combinação Linear
Ponderada (CLP) e as suas variantes, Método do Ponto Ideal, Análise de Concordância
e Análise Hierárquica de Processos (AHP) [Vettorazzi, 2006].
A AMC em ambiente SIG tem sido utilizada em diferentes estudos como por exemplo,
a análise de Áreas Vulneráveis a Cheias (Yalcin, 2004), Avaliação Multicriterial no
Mapeamento de risco de Incêndios Florestais, na Bacia do Rio Corumbataí (Silveira,
2008), Estudo de Avaliação dos Impactos dos Centros Comerciais na Cidade de Leiria
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Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
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(Cachinho, 2005), Avaliação da vulnerabilidade do perigo de sismos através análise
espacial multi-critério em áreas urbanas (Rashed, 2003) entre outros.
Tendo em conta o objecto deste projecto, serão abordados os métodos CLP e MPO
como métodos de análise de risco e o método AHP como definição dos pesos a atribuir
aos diferentes critérios.
2.5.1 Método da Combinação Linear Ponderada
O método da CLP é um dos modelos de análise multi-critério mais utilizados em SIG,
sendo este frequentemente utilizado em análises de adequação do uso do solo a diversas
finalidades, selecção e priorização de áreas e problemas de avaliação de recursos. A
principal razão da sua popularidade é a sua fácil implementação em SIG, usando-se
operações de álgebra de mapas e modelação cartográfica [Malczewski, 2000].
Na CLP, os critérios são combinados pela aplicação de um peso a cada um deles,
seguida pela soma dos resultados, como é apresentado na seguinte fórmula:
i i (1)
Onde:
wi corresponde ao peso de cada critério
xi corresponde ao valor do atributo.
Na estrutura de dados raster, nos casos em que são aplicadas restrições booleanas, o
procedimento é modificado multiplicando-se o valor obtido em (1) pelo produto das
restrições, onde estas tomam o valor unitário se a célula é para ser considerada e 0 se
não é para ser considerada.
Na estrutura de dados vectorial, uma vez que não aplicadas restrições booleanas, o
resultado é o obtido directamente da aplicação da fórmula (1).
Este é um processo bastante utilizado em SIG, sendo a questão principal a normalização
dos valores dos critérios utilizados e dos pesos a atribuir às variáveis.
Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
Devido às diferentes escalas utilizadas para cada critério, é necessário que os seus
valores sejam normalizados de modo a que todos os critérios sejam correlacionados
positivamente com (1). Segundo (Voogd, 1983), existem vários processos de
normalização de valores, sendo que o mais indicado quando é utilizado o método AHP
para a determinação de pesos é dado pela fórmula (2)
Xi= (Ri-Rmin)/ (Rmax-Rmin)*m (2)
Onde:
Ri corresponde ao valor da variável a normalizar,
Rmin corresponde ao valor mínimo
Rmax corresponde ao valor máximo
m - intervalo a normalizar.
2.5.2 Método da Média Ponderada Ordenada
Yager (1988) introduziu uma nova perspectiva de análise através de um novo
procedimento de agregação de factores. Esta técnica, para além de utilizar os pesos de
compensação usados no procedimento CLP, considera outro conjunto de pesos que não
estão especificamente ligados a quaisquer factores, mas que lhes são aplicados por uma
ordem que depende do valor dos factores após a aplicação normal do primeiro conjunto
de pesos. São os chamados pesos de ordenação [Ramos, 2001].
Depois da aplicação do primeiro conjunto de pesos aos critérios (tal como no
procedimento CLP), os valores obtidos (agora pesados) são ordenados do valor mais
baixo para o mais elevado. Ao factor com o valor pesado mais baixo (o primeiro da lista
ordenada) é aplicado o primeiro peso de ordenação, ao factor com o segundo valor mais
baixo é aplicado o segundo peso de ordenação, e assim sucessivamente. Trata-se
portanto de pesar os factores com base na sua ordem, do mínimo para o máximo
[Ramos, 2001].
Qualquer variação dos pesos de ordenação pode ser considerada permitindo assim uma
vasta gama de operadores de agregação. Num processo de decisão, pode-se produzir
uma solução adversa ao risco, equivalente ao operador lógico AND, se aplicar todo o
peso de ordenação ao critério com menor peso de compensação. Pelo contrário
_____________________________________________________________________
24
Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
produzir-se-ia uma solução de risco elevado, equivalente ao operador lógico OR, caso
se aplique todo o peso de ordenação ao critério de maior peso de compensação. Por sua
vez um vector de pesos de ordenação em que seja considerado igual peso para todos os
factores, origina uma solução de risco intermédio, equivalente ao operador CLP [Soares,
2004].
Este método permite ainda medir a compensação entre os diferentes critérios. A
compensação pode ser pensada como uma taxa de substituição, ou seja, quanto é que o
decisor está disposto a prescindir de um critério em favor de outro. Enquanto os pesos
dos critérios estão associados à importância relativa de um critério, em particular no
conjunto de decisão, os pesos de ordenação controlam a posição do operador de
agregação no contínuo entre os extremos AND (risco mínimo) e OR (risco máximo),
bem como o grau de compensação [Vettorazzi, 2006], conforme é apresentado na figura
seguinte.
Figura 10 – Espaço de decisão Estratégica Fonte: Soares, 2004
A variável ANDness que mede a atitude de risco é dada pela seguinte equação:
11
(3)
_____________________________________________________________________
25
Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
O Trade-off ou compensação é definido por:
1∑ 1⁄
1 (4)
Onde:
n é o número total de factores,
i é a ordem do factor
Oi é o peso ordenação para o factor de ordem i.
2.5.3 Definição de Pesos
Uma das técnicas mais utilizadas para a atribuição de pesos é a comparação par a par de
factores, desenvolvida por Saaty nos anos 80, que ficou conhecida como Análise
Hierárquica de Processos (AHP) ou método de Saaty.
Para desenvolver o método, Saaty procurou inspiração na forma como a mente humana
trabalha. Ao defrontar-se com um grande número de elementos, numa situação
complexa, a nossa mente agrupa-os em prioridades comuns, formando um certo nível na
sistemática resolução do problema. Esses elementos também podem ser agrupados,
observando-se um outro conjunto de propriedades, o que leva a um nível mais elevado,
e, assim sucessivamente, até se atingir um elemento único máximo que, muitas vezes,
pode ser identificado como o objectivo do problema [Silva, 2007].
Este método tem sido utilizado para situações de definição de prioridades, decisões
estratégicas, negociação e resolução de conflitos, previsão de cenários, análise de
decisão sob risco, etc.
A estruturação de um problema AHP começa na definição de um objectivo final, sendo
posteriormente definidos todos os critérios.
Este método está baseado em três princípios do pensamento analítico:
Construção de hierarquias (no AHP o problema é decomposto em níveis
hierárquicos, como forma de obter uma melhor compreensão e avaliação do
mesmo);
_____________________________________________________________________
26
Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
Estabelecimento de prioridades (o ajuste das prioridades, neste método,
fundamenta-se na habilidade do ser humano de perceber o relacionamento entre
objectos e situações observadas, comparando pares, à luz de um determinado
foco, critério ou julgamentos paritários);
Consistência lógica (no AHP é possível avaliar o modelo de priorização
construído em termos da sua consistência).
Esta técnica baseia-se numa matriz quadrada n x n, onde as linhas e colunas
correspondem aos n critérios analisados para o problema em questão. Assim, o valor aij
representa a importância relativa do critério da linha i face ao critério da coluna j. Como
esta matriz é recíproca, apenas a metade triangular inferior necessita ser avaliada, já que
a outra metade deriva desta e a diagonal principal assume valores iguais a 1 [Zambon,
2005].
Para a normalização, é utilizada uma escala para comparações par a par dos critérios,
conforme é apresentado na tabela 2.
Valor Definição Explicação
1 Igual importância Os dois critérios contribuem de forma idêntica
para o objectivo
3 Pouco mais importante A análise e a experiência mostram que um critério
é um pouco mais importante que o outro
5 Muito mais importante A análise e a experiência mostram que um critério
é claramente mais importante que o outro
7 Bastante mais importante A análise e a experiência mostram que um critério
é um predominante para o objectivo
9 Extremamente mais
importante
Sem qualquer dúvida um dos critérios é
absolutamente predominante para o objectivo
2,4,6,8 Valores intermédios Também podem ser utilizados
Tabela 2 - Escala de comparação critérios Fonte: Zambon (2005)
_____________________________________________________________________
27
Capítulo 2 – Enquadramento ______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
28
Figura 11 - Escala de comparação critérios Fonte: Zambon (2005)
Segundo Saaty (1980), a taxa de consistência (TC) indica a probabilidade de que os
valores de comparação entre os factores tenham sido gerados aleatoriamente. O referido
autor citou que os valores de TC devem sempre estar abaixo de 0.10 e, no caso de
estarem acima desse valor, há a necessidade de reorganizar a matriz, alterando-se os
valores de comparação entre os factores [Silveira, 2008].
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
3. Metodologia
3.1 Introdução
Admitindo que o oxigénio existe em abundância na atmosfera e portanto está sempre
presente e “disponível” para a reacção, de modo a determinar o risco de incêndio, resta-
nos analisar se existe combustível e energia de activação na zona de estudo que possa
completar o triângulo do fogo e desencadear um incêndio urbano.
Ao longo deste capítulo, é apresentada a metodologia aplicada no presente trabalho,
pretendendo-se dar uma ideia das principais etapas desenvolvidas, as quais serão
posteriormente analisadas individualmente.
O modelo utilizado neste trabalho baseia-se no modelo utilizado pela Direcção Geral
dos Recursos Florestais no Guia Técnico para Elaboração do Plano Operacional
Municipal (POM) de 2008, na determinação do risco de incêndio florestal, conforme é
apresentado na fig. 12, tende este sido adaptado posteriormente ao modelo urbano,
devido à inexistência de estudos robustos sobre esta temática. De modo a colmatar esta
lacuna procedeu-se também à aplicação do Decreto-Lei nº 220/2008 de 12 de
Novembro (anexo A) que engloba as actuais disposições regulamentares de segurança
contra incêndio aplicáveis a todos os edifícios e recintos na determinação da
vulnerabilidade dos edifícios.
Assim, e tendo em conta o modelo adoptado (fig.12), o risco de incêndio resulta da
soma da Perigosidade com o Dano Potencial, sendo estas duas componentes resultantes
respectivamente da soma da Susceptibilidade com a Probabilidade e da Vulnerabilidade
com o Valor Económico.
_____________________________________________________________________
29
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
Figura 12 - Modelo de Risco Adoptado
Com o objectivo de obter o risco de incêndio urbano, são determinadas as cartas de cada
uma das componentes do risco, em que cada uma delas integram uma ou mais variáveis,
que permitam caracterizar a zona de estudo em função das suas propriedades
intrínsecas. Deste modo, foi efectuado um levantamento de todo o tipo de variáveis
geográficas que poderão de algum modo influenciar o grau de risco a que um
determinado espaço está sujeito.
Definidas as variáveis e as fontes de informação, o passo seguinte consistiu na criação
de uma Base de Dados (BD) georreferenciada, para centralizar e compatibilizar toda
essa informação geográfica e identificar possíveis lacunas.
Tendo por base a legislação de suporte e o modelo em análise, foram identificados para
cada uma das variáveis os critérios ideais de estudo, para posteriormente seleccionar
quais as variáveis possíveis estudar tendo em conta a informação disponível no
Departamento de Protecção Civil da CML. Estes dados são disponibilizados para todos
os departamentos da Câmara Municipal de Lisboa pelo Departamento de Informação
Geográfica e Cadastral (DIGC) da CML, responsável pela centralização da informação
relativa aos diferentes levantamentos efectuados pelos restantes departamentos e pela
Risco
+ Dano Potencial
Vulnerabilidade Valor Económico +
+Probabilidade Susceptibilidade
Perigosidade
30
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
actualização da informação na Base de Dados. Toda a informação geográfica utilizada
encontra-se no sistema de referência dos dados Hayford-Gauss, Datum73, com
projecção Transversa Mercator.
3.2 Definição das variáveis
As variáveis utilizadas neste estudo foram definidas com base na revisão bibliográfica
anteriormente efectuada e no Decreto-Lei nº 220/2008, dando origem ao modelo
representado na figura seguinte.
Risco
+Perigosidade
SusceptibilidadeProbabilidade
+Histórico Ocupação do Solo
+
Declive
Exposições
=
==
+Dano Potencial
Valor Económico Vulnerabilidade+
Tipo de Ocupação
Valor Económico
Época de Conservação
+
Época de Construção
+
Rede de Gás
+
Rede de Eléctrica
+
Rede de Água
+
==
=
=
Figura 13 - Modelo de risco utilizado
Esta informação encontra-se toda ela numa estrutura vectorial excepto o Modelo Digital
do Terreno que se encontra em estrutura raster. Este modelo foi produzido pelo DPC,
com base nos dados altimétricos da cartografia digital produzida à escala de 1/1.000 que
permitiu a construção das cartas de declives e de exposições solares.
Numa primeira fase começou-se por proceder à actualização da informação referente à
altura do edificado através do número de pisos. Para tal, utilizou-se o site da base de
dados de Lisboa (LxBD), procedendo-se à selecção individual de cada edifício e através
da análise de fotografias procedeu-se à contagem do respectivo número de pisos, de
_____________________________________________________________________
31
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
modo a actualizar este campo da BD. O número de pisos foi determinado tendo em
conta o número de patamares visíveis na fachada principal1. Este procedimento foi
efectuado para todos os edifícios da área de estudo.
Verificou-se ainda que, para a época de construção, estado de conservação, postos de
abastecimento de água e utilização dos edifícios, a informação disponível se encontrava
incompleta. Para colmatar estas lacunas de informação, em termos de edificado foi
necessário recorrer ao trabalho de campo de modo a obter esta informação. Este
levantamento foi efectuado durante o mês de Maio de 2009.
Seguidamente procedeu-se à análise individual de cada uma das variáveis que permitem
definir o zonamento do risco de incêndio da área em estudo, tendo por base as
componentes definidas por este modelo. Para cada uma das componentes é referida a
informação utilizada e o tratamento efectuado. No capítulo seguinte procede-se à
apresentação dos resultados.
3.3 Perigosidade
A perigosidade é obtida pela soma da carta de probabilidade com a carta de
susceptibilidade. Se a probabilidade é determinada através do histórico de incêndios,
para obter a carta de susceptibilidade, torna-se necessário definir quais as variáveis que
a podem fazer variar. Assim, a figura seguinte representa o modelo utilizado na
determinação da perigosidade.
_____________________________________________________________________
1 As antenas, clarabóias, estatuárias, etc., presentes no topo do edifício não são consideradas para o
cálculo do número de pisos.
Os edifícios em obras, demolidos, ou outras situações não fotografadas, não foram actualizados na BD.
32
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
. Perigosidade
SusceptibilidadeProbabilidade
+
Histórico Ocupação do Solo
+
Declive
Exposições
=
==
+
Figura 14 – Modelo de cálculo da componente Perigosidade
3.3.1 Carta de Probabilidade
A carta de probabilidade é determinada através dos registos históricos referentes à área
em análise. Ao se utilizar o histórico de incêndios, pretende-se introduzir um modelo de
recorrência no cálculo, distinguindo assim, os locais onde o foco de incêndio é mais ou
menos frequente.
A probabilidade é determinada através da razão entre o número de vezes que um
edifício ardeu e o número de anos da série utilizada. Assim, um edifício que ardeu duas
vezes em dez anos terá uma probabilidade de 20%, bem como um edifício que nunca
ardeu terá uma probabilidade de 0%.
O período considerado neste estudo é compreendido entre 2003 e 2008. Esta limitação
prende-se com o facto dos dados informatizados disponibilizados no DPC se cingirem a
este período. O ideal seria o levantamento dos dados do Regimento Sapadores
Bombeiros (RSB), para um período mais alargado. No entanto, esta informação não se
encontra disponível pelo facto do RSB registar os pedidos de socorro por hora de
chamada e não por causa, embora parte desta informação se encontre já informatizada,
mas ainda não disponível.
_____________________________________________________________________
33
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Recorrendo ao registo de intervenções do DPC, catalogado por datas e tipo de
ocorrência, procedeu-se à filtragem das ocorrências correspondentes a:
Explosões
Incêndio Parcial
Fuga de Gás
Incêndio Total
Risco de Explosão
Risco de Incêndio
Cada ocorrência foi associada ao edifício por meio do número de polícia. De seguida,
foi determinada a probabilidade de ocorrência de incêndio em cada edifício tendo
somado o número de ocorrências registadas em cada um deles e dividido pelos anos da
série considerada, segundo a fórmula,
P= (Ocorr03+ Ocorr04+ Ocorr05+ Ocorr06+ Ocorr07+ Ocorr08) / 6 (5)
Onde,
Ocorr03 – representa as ocorrências de 2003
Ocorr04 – representa as ocorrências de 2004
Ocorr05 – representa as ocorrências de 2005
Ocorr06 – representa as ocorrências de 2006
Ocorr07 – representa as ocorrências de 2007
Ocorr08 – representa as ocorrências de 2008
O valor máximo obtido corresponde a 0.33, e o valor mínimo a 0. De seguida os valores
foram normalizados de forma crescente entre zero e quatro através da fórmula (2)
apresentada no capítulo 2.5.1.
Ao se passar a informação quantitativa para a qualitativa fig.13, foram consideradas as
seguintes classes: reduzida, moderada, elevada e muito elevada.
Da leitura desta carta conclui-se que a área em estudo apresenta uma reduzida
probabilidade de incêndio, encontrando-se 96,89% dos edifícios na classe de risco
reduzido _____________________________________________________________________
34
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidoModeradoElevadoMuito Elevado
®
-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 15 – Carta de probabilidade de risco de incêndio para a Baixa Pombalina
3.3.2 Variáveis da Susceptibilidade
A carta de susceptibilidade representa o potencial que uma determinada área apresenta
para a ocorrência do fenómeno em estudo, uma vez que é determinada com base nas
propriedades que lhe são inerentes. Esta carta é obtida pelo cruzamento de variáveis
como:
Exposições Solares
Declives
Ocupação do Solo
Clima
3.3.2.1 Exposições Solares
Recorrendo ao ficheiro correspondente às exposições solares em estrutura raster, (obtida
do Modelo Digital do Terreno anteriormente referido) com uma resolução de 5m x 5m,
procedeu-se à sua conversão para a estrutura vectorial.
_____________________________________________________________________
35
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Na conversão para estrutura vectorial do tipo ponto, a localização do ponto, corresponde
às coordenadas do centro da célula.
Com o objectivo de fazer corresponder a cada edifício o valor da exposição solar
respectiva, foi efectuada uma intersecção das exposições através da ferramenta Intersect
do Overlay do Analysis Tools.
Com o intuito de se conhecer a interferência das exposições solares face ao incêndio
urbano, procedeu-se a uma análise das fachadas por quadrantes. Enquanto as fachadas
viradas de S a SW são as que se consideram mais soalheiras por receberem maior
exposição solar e atingirem temperaturas mais elevadas, apresentando-se assim menos
húmidas, as que se encontram viradas de NE a NW, por receberem menos exposição
apresentam-se assim mais húmidas. As fachadas expostas a Este estabelecem uma zona
de transição. A figura seguinte representa a distribuição das exposições solares na área
de estudo.
-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000
-86800,000
-86800,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
®
Legenda
-1-0 - 22,522,5 - 67,567,5 - 112,5112,5 - 157,5157,5 - 202,5202,5 - 247,5247,5 - 292,5292,5 - 337,5337,5 - 360
0 110 220 33055m
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
Figura 16 - Exposições solares em formato vectorial tipo ponto
_____________________________________________________________________
36
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Este valores foram posteriormente reclassificados segundo a tabela seguinte,
Exposição Grau Susceptibilidade Descrição
Sul (157.5 -202.5º) 4 Muito Elevada
Oeste (247.5-292.5º) 4 Muito Elevada
Sudoeste (202.5-247.5º) 4 Muito Elevada
Este (67.5-112.5º) 3 Elevada
Sudeste (112.5-157.5º) 3 Elevada
Nordeste (22.5-67.5º) 2 Moderada
Noroeste (292.5-337.5º) 2 Moderada
Norte (0-22.5º/337.5-360º) 2 Moderada
Plano (-1) 2 Moderada
Tabela 3 - Reclassificação das exposições solares
De seguida foi utilizada a ferramenta Dissolve do Generalization do Data Management
Tools, de modo a fazer corresponder a cada edifício um só valor de exposição solar,
sendo este o valor médio de todos os pontos inseridos no edifício após a intersecção.
_____________________________________________________________________
37
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ModeradaElevadaMuito Elevada
®
-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 17 - Exposições solares reclassificadas
Da leitura da informação contida na fig.16 conclui-se que a área em estudo apresenta
57,95% do edificado com uma susceptibilidade muito elevada, 34,53% elevada, 7,53%
moderada, não existindo qualquer edifício com susceptibilidade reduzida tendo em
conta as exposições solares.
3.3.2.2 Declive
Para a análise desta variável socorreu-se do ficheiro correspondente aos declives, em
estrutura raster, (obtida do Modelo Digital do Terreno anteriormente referido) com uma
resolução de 5m x 5m.
O tratamento efectuado a esta variável seguiu os mesmos passos anteriormente descritos
para as exposições solares.
Em termos de declive, salientam-se como zonas mais críticas as de declive mais
acentuado, uma vez que a maior ou menor inclinação de uma encosta tem influência
determinante na propagação de um incêndio.
_____________________________________________________________________
38
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
0,00 - 4,314,32 - 11,8611,87 - 23,5723,58 - 41,2041,21 - 69,28
®
-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 18 - Declives em formato vectorial tipo ponto
A reclassificação do declive teve em consideração a inclinação máxima (10%)
permitida numa via, tendo em conta o Regulamento técnico de segurança contra
incêndio, para acessibilidade dos veículos de socorro ao edificado com altura superior a
9 metros. Assim, o declive foi reclassificado segundo a tabela seguinte,
Declive (%) Grau Susceptibilidade Descrição
0-5 2 Moderada
5-10 3 Elevada
>=10 4 Muito Elevada
Tabela 4 – Reclassificação dos declives
_____________________________________________________________________
39
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ModeradaElevadaMuito Elevada
®
-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 19 - Declive reclassificado
Da leitura da informação contida na fig.18 conclui-se que a área em estudo apresenta
44,09% do edificado com uma susceptibilidade muito elevada, 9,80% elevada, 46,12%
moderada, não existindo qualquer edifício com susceptibilidade reduzida tendo em
conta os declives.
3.3.2.3 Ocupação do Solo
Para o tipo de ocupação do solo foram considerados dois tipos de espaço: o edificado e
o não edificado.
Para o não edificado, é tido em conta o tipo de uso do solo, uma vez que um incêndio
em descampados, dependendo do coberto vegetal pode significar maior ou menor risco
para o edificado, tendo em conta a maior ou menor velocidade de propagação de um
incêndio aos edifícios vizinhos.
Assim, as classes existentes na área de estudo para esta variável são, o edificado,
espaços verdes, terraplanados e empedrados ou alcatroados.
_____________________________________________________________________
40
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
A análise do edificado foi efectuada tendo em conta a rede viária. As características das
vias são definidas pela Portaria n.º 1532/2008 de 29 de Dezembro (anexo B) tendo por
base a altura dos edifícios, conforme a tabela abaixo indicada.
Tabela 5 - Características das vias
Características Altura=< 9m Altura> 9m
Largura útil 3,5m 6 ou 10m
Altura útil 4m 5m
Raio de curvatura mínimo medido ao eixo 11m 13m
Inclinação máxima 15 % 10%
Peso Total suportado 130 kN 260 kN
As propriedades das vias indicadas na tabela 4 são as consideradas ideais em termos de
segurança contra incêndios, tendo em conta as condições de acesso dos meios de
combate, sendo estas as características exigidas na construção de novos troços. No
entanto, alguns destes parâmetros não são conhecidos, tendo sido apenas possível
classificar as vias segundo a sua largura, sendo esta a característica mais marcante no
acesso dos meios de socorro ao edificado. Para tal socorreu-se da classificação
desenvolvida pelo DPC, para análise de redes em termos de percursos de emergência.
Esta rede viária encontra-se dividida em 5 classes hierárquicas, nomeadamente:
Prioridade 1 - Rede Viária Infra-local - (traçado tortuoso, de largura estreita, e
em que a circulação é feita para fins de estacionamento ou para entrada/saída de
transeuntes)
Prioridade 2 - Rede Viária Local – (como vias de acesso local, troços de via de
sentido único (com excepção para as Avenidas Novas), ou de escoamento de
tráfego de bairro)
Prioridade 3 - Rede Viária Secundária – (vias com largura superior a 20m, com
2 sentidos de trânsito por troço, acessos ou ramais de ligação a vias de
prioridade superior)
_____________________________________________________________________
41
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Prioridade 4 - Rede Viária Principal com Cruzamentos – (largura é superior a
20m, apresentam cruzamentos de nível ou troços com semáforos, duas ou mais
faixas de rodagem por sentido e dois sentidos de trânsito obrigatório)
Prioridade 5 - Rede Viária Principal sem Cruzamentos – (rodovias principais de
acesso ou circulação na cidade, ou outras artérias sem cruzamentos de nível e/ou
sem semáforos)
Na zona de estudo apenas se encontram vias até à prioridade 4, dado tratar-se de uma
zona histórica da cidade a qual não é atravessada por vias principais sem cruzamentos
de nível.
Face ao anteriormente exposto, em termos de ocupação do solo, cada uma das classes
definidas, foi reclassificada segundo o grau de susceptibilidade que representam na
deflagração de um incêndio, segundo a tabela seguinte.
Variável Grau de Susceptibilidade
Espaços Verdes urbanos 3
Terraplanado, Empedrado ou Alcatroado 2
Rede Viária Edificado
Altura (H)=<9 Altura (H)>9
Prioridade 1 3 3,5
Prioridade 2 2 2,5
Prioridade 3 2 2,5
Prioridade 4 2 2,5
Tabela 6 – Reclassificação da ocupação do solo
A atribuição do grau de susceptibilidade ao parque edificado, teve em atenção a
prioridade das vias que lhe são adjacentes, tendo-se recorrido à operação Spatial Join,
operação que permite a junção dos atributos de uma tabela na outra, com base num
campo comum às duas, utilizando o atributo número de polícia como factor de união,
para fazer a correspondência entre os temas edificado e vias. O valor de atribuído aos
_____________________________________________________________________
42
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
edifícios, que são rodeados por mais do que uma via, corresponde ao valor mais baixo
de prioridade das mesmas.
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ModeradaElevadaMuito Elevada
®
-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 20 – Ocupação do solo reclassificado
A área em estudo apresenta 15,17% do edificado considerado com susceptibilidade
muito elevada, 76,94% como elevada, 7,89% como moderada, não apresentando
susceptibilidade reduzida em termos de ocupação do solo
3.3.2.4 Clima
O clima, por se tratar de uma variável dinâmica, ao contrário das restantes que
correspondem a variáveis estáticas, não foi considerado na determinação da carta de
susceptibilidade. No entanto, foi efectuada uma caracterização climática da área de
estudo, tendo por base os dados facultados pelo Instituto Geofísico do Infante D. Luís
da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Em termos de clima, as principais variáveis que têm influência no comportamento de
um incêndio são a temperatura, a humidade relativa do ar e o rumo e velocidade do
vento.
_____________________________________________________________________
43
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
A temperatura é uma grandeza física, característica de um dado corpo (sólido, liquido
ou gasoso), que é superior, ou inferior, consoante esse corpo absorveu mais ou menos
energia. Quanto maior for a temperatura ambiente, mais secos ficam os materiais,
aumentando as condições para a deflagração de incêndios. Quanto a Lisboa, as
temperaturas mínimas apresentam médias anuais na ordem dos 12,76ºC enquanto a
máxima apresenta valores na ordem dos 19,93ºC.
Nos meses mais frios (Dezembro a Fevereiro) as temperaturas médias variam entre
8,95ºC para mínima e 14,68ºC para a máxima, sendo que, nos meses mais quentes
(Maio a Outubro), apresentam valores médios de 15,60ºC e 23,80ºC para a mínima e
máxima respectivamente.
A humidade relativa exprime a quantidade de vapor de água existente na atmosfera.
Quanto mais alta ou mais baixa for a temperatura, maior ou menor a quantidade de
vapor de água na atmosfera. A humidade apresenta valores médios a variar entre o
mínimo de 66,22% em Julho e máximo de 81,38% em Dezembro. Nos meses mais
húmidos (Novembro a Fevereiro) apresentam valores superiores a 77%, ao passo que
nos meses menos húmidos (Junho a Agosto), os valores variam entre 66,22% e 68,73%.
O vento é o movimento do ar e pode ocorrer em qualquer direcção. Existem vários tipos
de ventos, uns ligados à circulação atmosférica geral e outros a mecanismos locais. O
resultado da conjugação dos dois tipos de vento determina o sentido e a intensidade de
propagação dos incêndios. Lisboa é influenciada predominantemente por vento vindo
do quadrante norte, com velocidades médias na ordem dos 12,71 km/h, por ventos com
rumo Noroeste e Nordeste com grande significado, também com velocidades médias de
12,26 km/h, sendo ainda afectada com algum significado, por ventos vindos dos
quadrantes Oeste e Sudoeste com velocidades na ordem dos 12,56 km/h.
3.3.3 Cálculo dos Pesos da Susceptibilidade
Após a determinação de cada uma das variáveis anteriormente descritas, foram então
determinados os pesos a atribuir a cada uma delas. Para a determinação dos pesos foi
utilizado o método AHP, através de uma aplicação desenvolvida no ArcGIS (Anexo C)
para o efeito, onde foi considerada a matriz de comparação par a par representada na
figura seguinte,
_____________________________________________________________________
44
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Figura 21 – Aplicação AHP - Matriz comparação das variáveis da susceptibilidade
Os pesos obtidos foram então, 0,2 para o declive e para as exposições solares e 0,6 para
a ocupação do solo. A taxa de consistência para esta matriz é igual a zero, pelo que
podemos aceitar o resultado, conforme demonstra a figura seguinte.
Figura 22 - Resultado do cálculo dos pesos da susceptibilidade
_____________________________________________________________________
45
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
3.3.4 Carta de Susceptibilidade obtida através da CLP
Neste momento, é possível calcular a carta de susceptibilidade tendo em conta as
variáveis anteriormente descritas, utilizando os pesos calculados. Assim, a
susceptibilidade é determinada pela formula,
Susceptibilidade= 0,2 x Exposições Solares + 0,2 x Declive + 0,6 x Ocupação do Solo (6)
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ModeradaElevadaMuito Elevada
®
-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 23 - Carta de susceptibilidade
Assim, a carta obtida para a susceptibilidade, apresenta 0,12% do edificado com
susceptibilidade moderada, 72,76% com susceptibilidade elevada e 30,47% com
susceptibilidade muito elevada. Verifica-se que o edificado com maior susceptibilidade,
corresponde às zonas onde
3.3.5 Carta de Susceptibilidade obtida através da MPO
Para a carta de susceptibilidade, obtida pela MPO, antes da criação da carta final para
cada cenário, foi necessária a atribuição de um segundo conjunto de pesos, chamados de
ordenação, indicados na tabela seguinte. Para a obtenção desta carta foi desenvolvida
uma aplicação no software ArcGIS (Anexo D) que permitisse conjugar os dois tipos de
pesos.
_____________________________________________________________________
46
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Cenário Ocupação Solo Exposições Declive Risco Compensação
Risco médio/baixo
Compensação média 0,5721 0,2565 0,1714 0,7000 0,634
Risco médio
Compensação Total
(equivalente CLP)
0,3333 0,3333 0,3333 0,5000 1,0000
Risco médio/alto
Compensação média 0,1714 0,2565 0,5900 0,5721 0,320
Tabela 7 - Pesos de ordenação para a susceptibilidade
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ModeradaElevadaMuito Elevada
®
-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 24 - Carta susceptibilidade obtida através da MPO - espaço estratégico de
decisão risco médio/baixo
_____________________________________________________________________
47
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ModeradaElevadaMuito Elevada
®
-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 25 - Carta susceptibilidade obtida através da MPO - espaço estratégico de
decisão risco médio
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ModeradaElevadaMuito Elevada
®
-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 26 - Carta susceptibilidade obtida através da MPO - espaço estratégico de decisão risco médio/alto
_____________________________________________________________________
48
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Analisando os resultados obtidos para a susceptibilidade pelos dois método multi-
critério, verifica-se que à medida que se avança no espaço estratégico de decisão para
um risco médio/alto, o número de edifícios com susceptibilidade muito elevada e
elevada aumenta. Tal como seria de esperar, caso se opte por um risco médio no espaço
estratégico de decisão (AND=0,5), o resultado obtido é igual ao resultado obtido através
da CLP.
3.3.6 Carta de Perigosidade
A Carta de perigosidade conforme referido anteriormente é determinada pela soma da
susceptibilidade com a probabilidade. Como estas duas variáveis não têm a mesma
influência no modelo final, foram atribuídos diferentes pesos a estas duas variáveis.
Assim, a carta de perigosidade obtida através da Combinação Linear Ponderada é
determinada através da formula,
Perigosidade = 0.15 x Probabilidade + 0.35 x Susceptibilidade (7)
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ModeradaElevadaMuito Elevada
®
-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 27 - Carta de perigosidade
Para o cálculo da perigosidade, optou-se por utilizar o resultado obtido através da CLP,
uma vez que este corresponde simultaneamente ao espaço de decisão correspondente ao
_____________________________________________________________________
49
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
risco médio na MPO. Assim, verificou-se que não existem áreas de perigosidade
reduzida nem muito elevada, distribuindo-se 55,66% pela classe moderada e 44,44%
pela elevada.
3.4 Dano Potencial
Conforme referido anteriormente, o dano potencial é determinado em função da
vulnerabilidade e do valor económico. Deste modo, torna-se necessário definir quais as
variáveis que correspondem a cada um deste componentes. A figura seguinte representa
o modelo utilizado na determinação do dano potenial.
Dano Potencial
Valor Económico Vulnerabilidade+
Tipo de Ocupação
Valor Económico
Época de Conservação
+
Época de Construção
+
Rede de Gás
+
Rede de Eléctrica
+
Rede de Água
+
==
=
Figura 28 - Modelo dano potencial
_____________________________________________________________________
50
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
51
3.4.1 Carta de Valor Económico
A carta de valor económico tem como principal objectivo quantificar o investimento
necessário para a reconstrução de um edifício em caso de destruição total, uma vez que
torna-se extremamente difícil quantificar o investimento necessário à reconstrução de
parte de um edifício, sem se saber exactamente quais os danos a reparar.
Definir um valor de reconstrução de um edifício, não é uma tarefa fácil, tendo em conta
os diversos factores que podem ser considerados para valorizar o edificado, como o seu
estado de conservação, a sua localização, o seu valor cultural, etc. Deste modo, o valor
atribuído a esta variável foi definido com base no Decreto-Lei nº 287/2003 de 12
Novembro (anexo E), que procede à reforma da tributação do património, aprovando os
novos Códigos do Imposto Municipal sobre Imóveis (CIMI) e do Imposto Municipal
sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (CIMT).
Assim, o valor patrimonial tributário dos edifícios para habitação, comércio, indústria e
serviços é determinado pela expressão:
Vt = Vc×A×Ca×Cl×Cq×Cv (8)
Onde,
(Vt) representa o valor patrimonial tributário,
(Vc) o valor base dos prédios edificados,
(A) a área bruta de construção mais a área excedente à área de implantação,
(Ca) o coeficiente de afectação,
(Cl) o coeficiente de localização,
(Cq) o coeficiente de qualidade e conforto,
(Cv) o coeficiente de vetustez.
O valor base dos prédios edificados (Vc) corresponde ao custo médio de construção por
metro quadrado, um parâmetro que é definido todos os anos por uma Portaria, a qual
deverá ser publicada durante o mês de Outubro, para vigorar no ano seguinte. Deste
modo, o valor base de construção para o ano de 2009, foi definido pela Portaria nº
1240/2008 de 31 de Outubro (anexo F) que estabelece para a zona de Lisboa o valor de
741.48€/m2.
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
A área bruta de construção do edifício e a área excedente à de implantação (A), resultam
da expressão:
A = Aa × Ab × Ac × Ad (9)
Onde,
(Aa) representa a área bruta privativa,
(Ab) representa as áreas brutas dependentes,
(Ac) representa a área do terreno livre até ao limite de duas vezes a área de
implantação,
(Ad) representa a área do terreno livre que excede o limite de duas vezes a área
de implantação.
Neste estudo, para a determinação do valor (A), considera-se somente a área bruta de
construção, desprezando assim a área excedente de implantação, uma vez que se
pretende saber somente o valor do edificado como valor indicativo em caso de
reconstrução. A área bruta de cada edifício é calculada com base na área do polígono
correspondente ao edifício, multiplicada pelo seu número de pisos.
O coeficiente de afectação (Ca) depende do tipo de utilização dos prédios edificados,
sendo atribuídos segundo a tabela seguinte:
Utilização Coeficientes
Comércio 1,20
Serviços 1,10
Habitação 1
Habitação social sujeita a regimes legais de custos controlado 0,70
Armazéns e actividade industrial 0,60
Estacionamento coberto 0,40
Prédios não licenciados, em condições muito deficientes de habitabilidade 0,45
Estacionamento não coberto 0,08
Tabela 8 - Coeficientes de Afectação
_____________________________________________________________________
52
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
O coeficiente de Localização (Cl) varia entre 0,4 e 2, podendo, em situações de
habitação dispersa em meios rurais, ser reduzido para 0,35 e em zonas de elevado valor
de mercado imobiliário ser elevado até 3, podendo ainda variar conforme se trate de
edifícios destinados a habitação, comércio, serviços ou indústria.
Para a zona de estudo, segundo o Sistema de Informação Geográfica do Imposto
Municipal sobre Imóveis (SIGIMI), simulador de coeficientes de avaliação prédio
urbano para efeitos de cálculo do IMI, este coeficiente varia entre 2,4 e 3 para habitação
e comércio, 2,6 e 3 para os serviços, e 2,1 para a indústria na área de estudo.
O coeficiente de qualidade e conforto (Cq) é aplicado ao valor base do edifício,
podendo ser minorado até 0,5 e majorado até 1,7. O valor obtém-se adicionando à
unidade os coeficientes majorativos e subtraindo os minorativos que constam das
tabelas do anexo C.
O Coeficiente de vetustez (Cv) é função do número inteiro de anos decorridos desde a
data de emissão da licença de utilização, ou da data de conclusão das obras. Este valor
varia consoante a tabela do Anexo C do Decreto-Lei acima referido. Para a área de
estudo e tendo em conta a época de construção dos edifícios este valor varia entre 0,35
para os edifícios com mais de 80 anos e 0,55 para os edifícios entre 51 e 60 anos.
Conforme descrito anteriormente, o cálculo do valor económico do edificado foi
determinado com base no valor do IMI. Assim, e tendo em conta as variáveis
necessárias a este calculo, foram definidas as áreas financeiras com base na informação
do SIGIMI de modo obter os coeficientes de qualidade e conforto, de vetustez e de
localização. Para o cálculo final do coeficiente de afectação, foi considerado ainda o
tipo de utilização de cada edifício indicado no Decreto-Lei nº 220/2008, tendo-se
associado os valores constantes na tabela seguinte.
_____________________________________________________________________
53
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
54
Utilização Tipo Utilização de Afectação
considerada Coeficiente Afectação
VI, VII, VIII e IX Comércio 1.2
III, IV, V, X, XI Serviços 1.1
I Habitação 1
XII Armazéns e actividade industrial 0.6
II Estacionamento coberto 0.4
Tabela 9 - Coeficientes de Afectação Considerados
Deste modo, o valor patrimonial foi calculado para cada piso individualmente tendo em
conta o seu tipo de utilização, sendo atribuído ao edifício a soma do valor patrimonial
de todos os pisos.
Para os espaços livres o valor foi determinado tendo em conta o método de cálculo do
valor patrimonial de terrenos que não se destinam à construção, resultando o seu valor
da fórmula,
V = A x Cf x Pc x 0.005 (10)
Onde
A= área do terreno,
CF= Coeficiente de Localização
Pc= Preço de construção definido por Portaria nº 1240/2008 de 31 de Outubro.
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda481,37€ - 204800,42€
204800,42€ - 709999,23€
709999,23€ - 2083195,76€
2083195,76€ - 6828469,00€
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 29 - Valor patrimonial do edificado
Os valores obtidos foram posteriormente normalizados segundo a fórmula (2)
apresentada no capítulo 2.5.1. para o intervalo entre 0 e 4, correspondendo os valores
entre 0 e 1 à classe de risco reduzido, entre 1 e 2 ao risco moderado, entre 2 e 3 ao risco
elevado e entre 3 e 4 à classe de risco muito elevado conforme a fig.27.
_____________________________________________________________________
55
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
56
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidoModeradoElevadoMuito Elevado
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 30 - Valor patrimonial normalizado
3.4.2 Variáveis da Vulnerabilidade
A vulnerabilidade define o grau de perda a que um determinado elemento em risco está
sujeito.
Para determinar a vulnerabilidade do parque edificado foram definidos um conjunto de
atributos, nomeadamente:
Tipo de ocupação (baseado no Decreto-Lei nº 220/2008 de 12 de Novembro)
Época de construção,
Estado de conservação,
Rede de gás,
Rede eléctrica,
Rede de abastecimento de água.
3.4.2.1 Tipo de ocupação
De acordo com o diploma legal atrás referido, os edifícios encontram-se classificados
em 12 utilizações-tipo, podendo cada uma delas ser subdividida em 4 categorias de
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
risco, respectivamente, risco reduzido, risco moderado, risco elevado e risco muito
elevado, após a sua avaliação segundo os diferentes parâmetros indicados na tabela
seguinte.
Tipo utilização
Parâmetros de avaliação
Altura do
edifício
Número de pisos
abaixo do plano de
referência
Área
bruta
Efectivo
Ar
Livre
Carga de
incêndio
modificada
Habitacional X X
Estacionamento X X X X
Administrativos X X
Escolares X X
Hospitais/lares
idosos X X
Espectáculos e
reuniões públicas X X X X
Hotéis e
restauração X X
Comerciais e gares
de transporte X X X
Desportivos e lazer X X X X
Museus e galerias X X
Bibliotecas e
arquivos X X X X
Industrias oficinas
e armazéns X X X
Tabela 10 – Utilizações-tipo e variáveis de avaliação de categoria de risco
Para além das diversas utilizações-tipo apresentadas na tabela 1o, um edifício pode
apresentar uma utilização mista, desde que apresente mais do que um tipo de utilização.
Deste modo, foi verificado aquando das “vistorias” aos edifícios, qual o seu tipo de _____________________________________________________________________
57
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
utilização e nos casos em que este apresentava uma utilização mista, foi contabilizado o
número de pisos afectos a cada utilização tipo, sendo que, a habitação, foi a utilização
considerada por defeito e em caso de dúvida, uma vez que é este, o tipo de utilização
mais comum no edificado local.
Neste estudo, apenas foram consideradas algumas das variáveis referidas na tabela
anterior para classificação dos edifícios nas diferentes categorias de risco, dada a falta
de informação disponível com o grau de desagregação desejado.
Variáveis como o número de pisos abaixo do plano de referência ou o efectivo, são
difíceis de determinar uma vez que, no caso do efectivo, os censos de 2001 são
referentes ao quarteirão e o considerado pelo Decreto-Lei na determinação das classes
de risco é respeitante ao edifício.
Segundo a Portaria n.º 1532/2008 de 29 de Dezembro, que determina as disposições
técnicas gerais e específicas de segurança contra incêndios em edifícios, o efectivo de
um determinado local pode ser estimado segundo a área e o uso dos espaços, através de
um índice de pessoas/m2, arredondado para o inteiro superior. No entanto, na
determinação das classes de risco, esta variável não foi considerada, uma vez que não se
conhece o uso específico de cada edifício.
O número de pisos abaixo do plano de referência, apenas foi considerado para os
parques de estacionamento, uma vez que estes se encontram abertos ao público,
permitindo deste modo a sua determinação aquando das “vistorias” aos edifícios.
A carga de incêndio, utilizada na determinação das classes de risco das utilizações tipo
XI e XII, correspondendo a bibliotecas, arquivos, indústrias, oficinas e armazéns foi
calculada segundo o Despacho n.º 2074/2009, elaborado pela Autoridade Nacional de
Protecção Civil (anexo G). Segundo este diploma, o cálculo é baseado no prévio da
quantidade e da qualidade de materiais existentes no compartimento em causa, ou
baseado em resultados estatísticos do tipo de actividade exercida no compartimento.
Neste caso, o cálculo da carga de incêndio foi calculado baseado nos resultados
estatísticos do tipo de actividade, uma vez que não se conhece a quantidade e a
qualidade dos materiais existentes. Durante as vistorias aos edifícios, apenas foi
encontrada uma oficina em que o material existente correspondia à madeira, sendo que,
as livrarias foram consideradas como arquivos em que o material encontrado é o papel.
_____________________________________________________________________
58
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
O factor de risco de cada edifício foi calculado tendo por base as condições do Decreto-
Lei (anexo A), anteriormente referido. Deste modo, foi criado um novo campo na tabela
de atributos, onde foi adicionada esta informação. A figura seguinte ilustra o resultado
obtido para o valor do factor de risco do edificado.
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidoModeradoElevadoMuito Elevado
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 31 – Vulnerabilidade do edificado segundo Decreto-Lei nº 220/2008
Do resultado obtido, verifica-se que grande parte do edificado (70,85%) apresenta um
grau de risco moderado, sendo que 21,74% apresenta um risco reduzido, 6,09% risco
elevado e 1,31% risco muito elevado.
3.4.2.2 Época de Construção
Para a época de construção, tendo em conta a área de estudo, são definidas quatro
classes, baseadas no manual de construção civil da Escola Nacional de Bombeiros:
Edifícios construídos entre 1755 e 1880, em que era praticado o tipo de
construção em gaiola, onde as paredes eram construídas por ripas de madeira
recobertas por argamassa de cal. Perante um incêndio, este tipo de edifício
apresenta problemas acrescidos por terem elementos de compartimentação e de
construção em madeira, apresentando por vezes escadas também em madeira,
_____________________________________________________________________
59
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
facilitando assim a propagação do incêndio, agravado pela facilidade de colapso
quando os elementos de construção entram em combustão.
Edifícios com época de construção entre 1880 e 1940 com paredes de alvenaria
sem ligações horizontais (mas com “tabiques” em madeira no interior das
paredes), pavimentos em madeira e fachadas de tardoz. O comportamento destes
edifícios face a um incêndio é semelhante aos anteriores.
Edifícios construídos entre 1940 e 1960 com maior número de pisos, pavimentos
em betão armado e paredes com uma certa espessura, em alvenaria de tijolo e
pedra. Por norma, só em incêndios de maior dimensão, é que começam a surgir
problemas estruturais.
Edifícios posteriores a 1960 apresentam estruturas em pórtico (conjunto
pilares/vigas), lajes maciças em betão armado, paredes divisórias em alvenaria
de tijolo furado e ainda varandas salientes e escadas em betão armado. O
comportamento destes edifícios perante incêndios é ligeiramente menos gravoso
do que o apresentado anteriormente.
Embora um determinado tipo de construção apresente características específicas da sua
época, e possa ser determinado com base nas suas formas geométricas ou no seu estilo
decorativo, uma vez mais, a sua correcta determinação só seria possível com uma
vistoria individualizada ao interior de cada edifício. Assim, a época de construção
atribuída aos edifícios sem informação referente a este parâmetro foi determinada com
base na observação exterior dos edifícios e por comparação com os edifícios vizinhos,
de modo a completar a informação geográfica disponível pelo INE, a qual associa a
cada edifício uma época de construção.
Na área de estudo considerada, os edifícios mais antigos foram construídos em datas
anteriores ao século XVII (14 edifícios), e os mais recentes depois da década 50 (29
edifícios), sendo que a grande maioria (511 edifícios) foi construída durante o século
XVIII.
Deste modo, procedeu-se a uma reclassificação da época de construção tendo em conta
os intervalos anteriormente definidos, considerando como classe de maior
vulnerabilidade os edifícios com época de construção mais antiga, conforme a tabela
seguinte,
_____________________________________________________________________
60
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Época de Construção Vulnerabilidade Designação
Anterior Século XVII 4 Muito Elevada
Século XVII, XVIII e XIX 4 Muito Elevada
Entre 1900 e 1920 3 Elevada
Entre 1921 e 1940 3 Elevada
Entre 1941 e 1950 2 Moderada
Anteriores Anos 50 2 Moderada
Depois Anos 50 1 Reduzida
Tabela 11 - Reclassificação da época de construção
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidaModeradaElevadaMuito Elevada
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 32 - Vulnerabilidade época de construção
Uma vez que se trata de uma zona histórica, e face ao parâmetro em análise, a área em
estudo apresenta uma vulnerabilidade muito elevada, com 92,10% do edificado a situar-
se nesta classe de risco.
_____________________________________________________________________
61
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
3.4.2.3 Estado de Conservação
O estado de conservação de um determinado edifício pode indiciar uma maior ou menor
propensão para a deflagração de incêndios.
Tendo em conta o estado de conservação dos materiais de construção utilizados, caso
este seja bastante degradado, as suas propriedades encontram-se alteradas, como por
exemplo a resistência ao fogo, pelo que estes passam a constituir um bom meio de
propagação de incêndio, surgindo também como potenciais focos de incêndio. Para o
estado de conservação dos edifícios foram considerados quatro níveis, que se dividem
em muito mau, mau, regular e bom.
Uma avaliação exaustiva e com precisão do estado de conservação dos edifícios só é
possível com uma vistoria integral aos edifícios, ou seja, verificando não só o seu
exterior mas também o seu interior, uma vez que podem ocorrer situações em que num
primeiro olhar pelo exterior, os edifícios apresentam um bom estado de conservação,
enquanto o seu interior se encontra em estado de degradação, sendo que, o contrário
também é passível de ocorrer, ou seja, edifícios que apresentam uma fachada em
avançado estado de degradação, apresentarem o seu interior em bom estado de
conservação.
No entanto, e uma vez que não seria exequível em tempo útil uma vistoria individual ao
interior de cada edifício, nos casos em que faltava informação foi considerado o estado
de conservação visível do exterior, um atributo do parque edificado revisto neste estudo.
A informação inicial relativa ao estado de conservação dos edifícios considera as
seguintes classes: em Obra, Muito Mau, Mau, Regular e Bom. Deste modo, os edifícios
foram reclassificados, tendo em conta que os que apresentam melhor estado de
conservação correspondem ao grau de menor vulnerabilidade conforme a seguinte.
_____________________________________________________________________
62
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Estado de Conservação Vulnerabilidade Descrição
Bom 1 Reduzida
Regular 2 Moderada
Obra 2 Moderada
Mau 3 Elevada
Muito Mau 4 Muito Elevada
Tabela 12 - Reclassificação do estado de conservação
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidaModeradaElevadaMuito Elevada
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 33 - Vulnerabilidade risco estado de conservação
Do resultado obtido, verifica-se que, 33,33% do edificado se situa na classe reduzida de
vulnerabilidade, 47,90% na classe moderada, 14,20% na classe elevada e 4,57% na
classe de vulnerabilidade muito elevada, concluindo que praticamente metade do
edificado se encontra na classe moderada de risco.
_____________________________________________________________________
63
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
3.4.2.4 Rede de Gás
O termo gás significa o estado físico de uma substância que, em condições normais de
pressão e temperatura, não tem forma nem volume, mas que toma a forma e a totalidade
do volume do espaço que a contém. Os gases destinados à utilização doméstica, ou
industrial, são liquefeitos, uma vez que neste estado, ocupam muito menos espaço,
trazendo vantagens para o seu transporte e armazenamento. Existem vários tipos de gás,
sendo o inflamável, o que apresenta risco de, em presença de uma fonte de ignição,
entrar em combustão com as concentrações normais de oxigénio existentes no ar.
Os gases inflamáveis são caracterizados pelos limites inferiores (concentração mínima
do ar abaixo da qual a propagação da chama resultante do contacto com a fonte de
ignição não se produz) e limites superiores (concentração máxima do ar acima da qual a
propagação da chama resultante do contacto com a fonte de ignição não se produz) de
inflamabilidade.
Os gases utilizados para uso doméstico são, o gás natural, o gás propano e o gás butano.
O gás propano e o butano são distribuídos ao público em garrafas de 11 e 13Kg
respectivamente, enquanto o gás natural é distribuído através da rede de gás canalizada.
A densidade em relação ao ar mostra que o gás natural ocupa, em caso de fuga níveis
superiores, ao passo que o gás propano e o gás butano ocupam locais mais baixos dos
edifícios, aumentando assim o perigo de explosão. Quanto aos limites superior e inferior
de inflamabilidade, o gás natural principalmente constituído por metano apresenta
valores de 15% e 5.3% respectivamente, enquanto para o propano estes valores são de
10.1% e 2.1% e o butano de 8.4% e 1.9%, o que indicia um maior risco de
inflamabilidade por parte do propano e do butano que necessitam de menores
quantidades de concentração no ar para entrar em combustão quando em contacto com
fonte de ignição.
_____________________________________________________________________
A rede de gás é constituída por vários componentes. No entanto, e tendo em conta o
acima exposto, para a determinação do edificado que se encontra menos exposto ao
risco, importa saber quais os que são abastecidos pela rede de gás natural. Deste modo,
foi utilizada a informação linear referente aos ramais da rede de gás natural que
abastecem os edifícios da área em estudo, partindo do pressuposto que os restantes são
servidos por garrafas de gás. Esta informação foi introduzida como um novo atributo da
tabela do parque edificado.
64
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Assim, foi criada uma shape a partir da rede de gás de modo a isolar os ramais de
alimentação, para efectuar uma intersecção espacial entre os ramais e o edificado,
obtendo assim os edifícios que são alimentados por gás natural, sendo posteriormente
reclassificados conforme a tabela seguinte.
Rede Gás Vulnerabilidade Descrição
Propano/Butano 4 Muito Elevada
Natural 2 Moderada
Sem Gás 1 Reduzida
Tabela 13 - Reclassificação rede gás
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidaModeradaElevadaMuito Elevada
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 34 - Rede gás reclassificada
Conforma a fig.31, após a reclassificação, 76,22% do edificado encontra-se na classe de
vulnerabilidade muito elevada, sendo que 20,55% se enquadra na classe de
vulnerabilidade moderada. Os livres, por não terem associado qualquer rede de gás,
enquadram-se na classe de vulnerabilidade reduzida.
_____________________________________________________________________
65
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
3.4.2.5 Rede Eléctrica
Os centros de produção de electricidade encontram-se a longas distâncias dos centros de
consumo, pelo que se torna necessário o seu transporte até estes locais. Este transporte é
efectuado em diversos níveis de tensão. O sistema de distribuição é composto
essencialmente por:
Redes Primárias (60Kv)
Subestações de distribuição
Redes secundárias de distribuição (10-15-30Kv)
Postos de transformação
Redes de distribuição de baixa tensão (400/230 V)
Uma subestação é uma instalação eléctrica de alta ou média tensão, onde se encontram
instalados transformadores, que elevam ou diminuem a tensão da rede de transporte de
distribuição.
Os postos de transformação são locais onde se efectua a transformação da média para a
baixa tensão. Destes postos saem cabos que vão alimentar os quadros gerais de baixa
tensão, dos diversos consumidores.
Todas as linhas de transporte e de distribuição de electricidade são perigosas. No
entanto, à medida que a tensão aumenta, a possibilidade de existir uma descarga por
arco eléctrico também aumenta e, por conseguinte, as distâncias a guardar têm de ser
maiores.
Por outro lado, os efeitos de passagem da corrente eléctrica mais conhecidos são o
luminoso e o calorífico. Tendo em conta o objecto deste trabalho, importa também
abordar o poder calorífico da electricidade, uma vez que a corrente eléctrica que passa
ao longo de um condutor faz aumentar a sua temperatura, podendo provocar a
deterioração do seu isolamento levando ao início de um foco de incêndio.
Os principais perigos associados à rede eléctrica prendem-se com a sobrecarga
(aumento para além do limite admissível da carga dos condutores), curto-circuito
(ligação acidental entre pontos do mesmo circuito com tensões diferentes), defeito de
isolamento (ligação acidental por falha de isolamento, entre dois pontos que podem não
_____________________________________________________________________
66
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
67
pertencer ao mesmo circuito) e resistência eléctrica (resultante de uma ligação eléctrica
através de um contacto defeituoso).
Estes parâmetros tornam-se difíceis, se não mesmo impossíveis de medir sem uma
vistoria individual a cada edifício, uma vez que estão directamente relacionados com a
utilização individual e em cada momento, da rede eléctrica de cada fracção de um
edifício.
O Regulamento de Segurança das Linhas de Energia em Alta Tensão – RSLEAT,
aprovado pelo Decreto Regulamentar n.º 1/92, de 18 de Fevereiro (anexo I), define
distâncias mínimas dos condutores das linhas de alta tensão ao solo, às árvores, aos
edifícios, às vias e a outras linhas aéreas, não apresentando contudo, qualquer critério
condicionante às subestações e postos de transformação.
Uma vez que na zona de estudo a rede eléctrica de transporte e distribuição é toda
subterrânea e de baixa tensão, existindo somente uma subestação e dois troços de alta
tensão (60Kv), foi considerado como distância de segurança dos edifícios aos postos de
transformação, subestações e postos de seccionamento e corte, a distância definida para
as linhas de Alta Tensão aos edifícios, prevista no referido Decreto Regulamentar, dada
pela expressão:
D=3,0 + 0,0075U (11)
Onde,
U é dado pela tensão nominal da linha em (Kv)
D representa a distância mínima a considerar, sendo que esta não deve ser
inferior a 4 m
Para a rede eléctrica, foi considerada a distância dos postos de transformação, de
seccionamento e corte aos edifícios. Conforme indicado anteriormente, esta distância
deve ser calculada através da expressão (5) que é função da potência da rede existente.
Na área de estudo, a potência máxima nos postos de transformação e nos postos de
seccionamento é de 10 Kv, sendo que na subestação a potência é de 60 Kv. Assim, a
distância mínima de segurança que obtemos é de 3.45m. Neste caso, e conforme o
decreto regulamentar acima referido, a distância mínima de segurança deverá ser de 4m.
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Deste modo, uma vez que a informação dos postos de seccionamento e dos Postos de
transformação se encontravam em forma de polígono, foi calculado o seu centroide
através da ferramenta Feature to Point do Features do Data Management Tools. De
seguida foi efectuado um zonamento de 4m ao centroide de modo a representar a
distância mínima de segurança anteriormente referida. Por último foi utilizada a
ferramenta Near do Analysis Tools para determinar a distância mínima a que cada
edifício se encontra dos Postos de transformação.
Esta distância foi então normalizada para os valores entre zero e quatro, por ordem
decrescente, de modo a fazer corresponder o valor máximo de vulnerabilidade (4) à
distância mínima entre o edificado e a rede eléctrica, e o valor mínimo de
vulnerabilidade à distância máxima calculada. A figura seguinte ilustra o resultado
obtido.
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidaModeradaElevadaMuito Elevada
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 35 - Vulnerabilidade da rede eléctrica normalizada
Assim, na área de estudo mais de metade do edificado (61,77%), encontra-se na classe
de vulnerabilidade muito elevada, 27,24% na classe elevada, 7,53% na moderada e
0,12% na classe de vulnerabilidade reduzida.
_____________________________________________________________________
68
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
69
3.4.2.6 Rede de Abastecimento de Água
A rede de abastecimento de água é um dos principais auxílios aos meios de combate nos
incêndios. Estes servem de abastecimento aos veículos de socorro, bem como às
condutas secas existentes nos edifícios, sem necessitar de bombeamento.
Segundo a Portaria nº 1532/2008 de 29 de Dezembro, os marcos de incêndio devem
ficar localizados a uma distância não superior a 30m, enquanto que a boca-de-incêndio,
deve ficar localizada a cada 15m de parede, ou fracção quando esta exceder os 7,5m.
Para este projecto assume-se que todos os pontos de abastecimento de água são marcos
de água, que se encontram em funcionamento e com a pressão necessária ao auxílio no
combate aos incêndios.
Esta informação não se encontrava disponível, pelo que foi efectuado um levantamento
da localização dos marcos de água aquando das vistorias, sendo estas referenciadas ao
edifício.
De modo a considerar a rede de abastecimento de água, foi efectuado um Buffer de 30m
a cada ponto de abastecimento, tendo sido utilizada de seguida a ferramenta Near do
Analysis Tools para calcular a distância mínima a que se encontra cada edifício do
Buffer anteriormente calculado. Posteriormente, esta distância foi normalizada para
valores entre zero e quatro, de forma crescente, de modo a fazer corresponder o maior
valor de vulnerabilidade (4) à maior distância registada.
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidaModeradaElevadaMuito Elevada
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 36 – Vulnerabilidade da rede água normalizada
Como se pode verificar a partir da fig.36, praticamente toda área de estudo se encontra
na classe de vulnerabilidade mais baixa.
3.4.3 Cálculo dos Pesos da Vulnerabilidade
Os pesos para o cálculo da carta de vulnerabilidade foram determinados através do
método AHP, através da aplicação desenvolvida para o efeito, tendo sido considerada a
matriz que se contra na figura seguinte
_____________________________________________________________________
70
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Figura 37 - Matriz de comparação par a par
Assim, os valores obtidos para cada uma das variáveis são apresentados na figura
seguinte.
_____________________________________________________________________
Figura 38 - Pesos Considerados na Vulnerabilidade
71
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
O índice de consistência obtido para esta matriz foi de 0,03, ou seja, inferior a 0,10 o
que significa que a taxa de consistência pode ser aceite, pelo que se adoptou os
resultados obtidos para os pesos das variáveis.
3.4.4 Carta de Vulnerabilidade obtida através da CLP
Neste momento, é possível calcular a carta de vulnerabilidade tendo em conta as
variáveis anteriormente descritas, utilizando os pesos calculados. Assim, a
susceptibilidade é determinada pela formula,
Vulnerabilidade = 0,37653 x TO + 0,23189 x ECons+ 0,22123 x EConst +
0,07329 x RG + 0,05552 x RE + 0,04154 x RA (12)
Onde,
TO – representa o Tipo de Ocupação
ECons – representa a Época de Construção
EConst – representa a Época de Construção
RG – Rede de Gás
RE – Rede Électrica
RA - Rede Água
_____________________________________________________________________
72
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidaModeradaElevadaMuito Elevada
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 39 - Carta de vulnerabilidade
Obtida a carta de vulnerabilidade pela CLP, verifica-se que 3,35% do edificado se
encontra na classe de vulnerabilidade reduzida, 10,27% na moderada, 84,23% na classe
elevada e 2,25% na classe de vulnerabilidade muito elevada.
3.4.5 Carta de Vulnerabilidade obtida através da MPO
Para a carta de vulnerabilidade, obtida pela MPO, antes da criação do mapa final para
cada cenário, foi necessária a atribuição de um segundo conjunto de pesos, chamados de
ordenação, indicados na tabela seguinte.
_____________________________________________________________________
73
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Cenário TO ECons EConst RG RE RA Risco Compensação
Risco
médio/baixo
Compensação
média
0,3911 0,2019 0,1399 0,1129 0,0920 0,0622 0,7000 0,7070
Risco médio
Compensação
Total
0,1667 0,1667 0,1667 0,1667 0,1667 0,1667 0,5000 1,0000
Risco
médio/alto
Compensação
média
0,0622 0,0920 0,1129 0,1399 0,2019 0,3911 0,3000 0,7070
Tabela 14 - Pesos de Ordenação para a Vulnerabilidade TO - Tipo Ocupação; ECons - Estado de Conservação; EConst - Época de Construção; RG -
Rede de Gás; RE- Rede Eléctrica; RA - Rede Água
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidaModeradaElevadaMuito Elevada
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 40 – Carta de Vulnerabilidade obtida através da MPO - espaço estratégico de decisão risco Médio/Baixo
_____________________________________________________________________
74
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidaModeradaElevadaMuito Elevada
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 41 - Carta de vulnerabilidade obtida através da MPO - espaço estratégico de decisão risco Médio
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidaModeradaElevadaMuito Elevada
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 42 - Carta de vulnerabilidade obtida pela MPO - espaço estratégico de decisão risco médio/alto
_____________________________________________________________________
75
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Analisando os resultados obtidos, verifica-se que, tal como para a susceptibilidade, as
cartas de vulnerabilidade obtidas pelos dois método multi-critério, reflectem o espaço
estratégico de decisão para um risco médio/alto, o número de edifícios com
vulnerabilidade muito elevada e elevada aumenta. Tal como seria de esperar, caso se
opte por um risco médio no espaço estratégico de decisão (AND=0,5), o resultado
obtido é igual ao resultado obtido através da CLP.
3.4.6 Carta de Dano Potencial
A Carta de Dano Potencial conforme referido anteriormente é determinada pela soma do
valor económico com a vulnerabilidade. Como estas duas variáveis não têm a mesma
influência no modelo final, foram atribuídos diferentes pesos a estas duas variáveis.
Assim, a carta de dano potencial é determinada através da seguinte formula,
Dano Potencial = 0.15 x Valor Económico + 0.35 x Vulnerabilidade
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidoModeradoElevadoMuito Elevado
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 43 - Carta de dano potencial
A carta vulnerabilidade utilizada para o cálculo do dano potencial, foi a obtida pelo
método da CLP. Assim, 4,42% do encontra-se na classe de dano potencial reduzido,
86,38% na classe moderada, 9,08% na classe elevada e 0,12% na classe muito elevada.
_____________________________________________________________________
76
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
3.5 Carta de Risco obtida pela Combinação Linear Ponderada
A Carta de Risco final é obtida da soma do dano potencial com a perigosidade. Assim, a
carta de risco obtida para a área de estudo utilizando o método da Combinação Linear
Ponderada foi a apresentada na figura seguinte.
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidoModeradoElevadoMuito Elevado
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 44 - Carta de risco
A carta de risco obtida por este método apresenta 2,27% do edificado na classe de risco
reduzido, 77,78% na classe de risco moderado, e 19,95% na classe de risco elevado, não
existindo nenhum edifício classificado como de risco muito elevado.
3.6 Carta de Risco obtida pela Média Ponderada Ordenada
Utilizando a MPO, foram criadas diferentes cartas de risco conforme os cenários criados
para a susceptibilidade e vulnerabilidade. Assim, as cartas de risco obtidas representam,
conforme o cenário em questão, uma maior ou menor aversão ao risco.
_____________________________________________________________________
77
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidoModeradoElevadoMuito Elevado
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 45 - Carta de risco obtida pela MPO - espaço estratégico de decisão risco médio/baixo
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidoModeradoElevadoMuito Elevado
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 46 - Carta de risco obtida pela MPO - espaço estratégico de decisão risco médio
_____________________________________________________________________
78
Capítulo 3 – Metodologia ______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
79
Sistema de Coordenadas Hayford-GaussSistema de Coordenadas Datum73
0 100 200 30050m
Legenda
ReduzidoModeradoElevadoMuito Elevado
®-87800,000
-87800,000
-87600,000
-87600,000
-87400,000
-87400,000
-87200,000
-87200,000
-87000,000
-87000,000-106
400,
000
-106
400,
000
-106
200,
000
-106
200,
000
-106
000,
000
-106
000,
000
-105
800,
000
-105
800,
000
-105
600,
000
-105
600,
000
-105
400,
000
-105
400,
000
Figura 47 - Carta de risco obtida pela MPO - espaço estratégico de decisão risco médio/alto
Das cartas obtidas pela MPO, verifica-se um aumento do número de edifícios nas
classes de risco mais elevadas, à medida que se caminha no espaço estratégico de
decisão, no sentido de maior risco.
Capítulo 4 – Análise de Resultados ______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
81
4. Análise de Resultados
Existem diversas ferramentas que permitem efectuar análises de resultados. De entre
estes, um dos mais utilizados em estudos geográficos com informação poligonal, são os
modelos de regressão. Estes modelos de regressão são ferramentas estatísticas que
utilizam a relação existente entre duas ou mais variáveis, de maneira a que uma delas
possa ser descrita, ou o seu valor estimado, a partir da(s) restante(s). Quando se faz uma
análise de regressão procura-se encontrar um bom ajuste entre os valores iniciais do
modelo e os valores observados da variável dependente. Os testes estatísticos permitem
avaliar o próprio modelo e a importância individual das variáveis incluídas, indicando a
qualidade geral do modelo formulado. Um modelo convencional assume um formato
como a equação seguinte
Y=Xβ+ε, ε~N(0, σ2), ou (13)
11
1
(14)
Este formato é chamado de “modelo linear clássico”, no qual
Y – é a variável dependente composta num vector (n x 1)
X – é uma matriz (n x k) com k-1 variáveis independentes observadas em cada
uma das n áreas,
β - é o vector (k x 1) com os coeficientes de regressão,
ε – é um vector (n x 1) dos erros aleatórios dos resíduos.
Quando se faz uma análise de regressão, procura-se alcançar dois objectivos:
Encontrar um bom ajuste entre os valores iniciais do modelo e os valores
observados da variável dependente;
Descobrir quais das variáveis explicativas que contribuem de forma significativa
para este relacionamento linear.
Capítulo 4 – Análise de Resultados ______________________________________________________________________
A hipótese padrão é que as observações não são correlacionadas, e consequentemente,
que os resíduos ε do modelo também são independentes e não-correlacionados com a
variável dependente, têm variância constante, e apresentam distribuição normal com
média zero [Câmara, 2002].
No entanto, no caso de dados espaciais, onde está presente a dependência espacial, o
mais comum, é os resíduos continuarem a apresentar a autocorrelação espacial presente
nos dados.
Assim, foi utilizado o índice global de Moran (I) de modo a medir a autocorrelação
existente nas variáveis do modelo de risco em análise.
O índice global de Moran (I), varia de -1 a +1, para dados normalizados, e indica quanto
cada área analisada é semelhante à sua vizinhança imediata. Após a determinação de I,
há que verificar a sua validade estatística. Autocorrelação com significância superior a
95% indica, em princípio, áreas com grande semelhança em relação aos seus vizinhos.
Assim, foi utilizada a ferramenta Spatial Autocorrelation (Morans I) do Analysing
Patterns do Spatial Statistics Tools do ArcGIS 9.2 de modo a verificar se as variáveis
apresentavam autocorrelação.
Todas as variáveis apresentaram autocorrelação positiva para um intervalo de confiança
de 99%, conforme o exemplo da figura seguinte referente ao resultado obtido para a
vulnerabilidade.
_____________________________________________________________________
82
Capítulo 4 – Análise de Resultados ______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
83
Figura 48 - Exemplo do resultado obtido através do Índice de Moran
Face à autocorrelação nas variáveis do modelo, foi necessário utilizar um modelo que
considere a interferência provocada pela mesma. Assim, foi utilizado um modelo
espacial autoregressivo CAR (Conditional AutoRegressive), através do Spatial Statistics
Toolbox do Matlab. Este é um modelo de regressão espacial global, onde a
autocorrelação espacial é considerada como um factor que precisa ser removido, sendo
então associada ao termo de erro ε, podendo ser expresso por,
Y=Xβ+ε, ε=λWε+ξ (15)
onde,
Wε - é a matriz de proximidade espacial
λ - é o coeficiente autoregressivo
ξ – é a componente do erro com variância constante e não correlacionada
Capítulo 4 – Análise de Resultados ______________________________________________________________________
A matriz de proximidade foi calculada através da triangulação de Delaunay, a partir das
coordenadas do centroide de cada polígono. O critério utilizado nesta triangulação é o
de maximização dos ângulos mínimos de cada triângulo, originando assim, triângulos o
mais próximos possível de triângulos equiláteros [Felgueiras, 2002].
Este modelo de regressão foi então aplicado aos três modelos de risco obtidos, com o
objectivo de verificar qual destes, apresenta melhores resultados.
A tabela seguinte ilustra a variação do número de edifícios enquadrado nas diferentes
classes de risco, consoante o método utilizado e o grau de risco adoptado.
Risco
Risco Médio/Baixo
And=0,700
Trade Off =0,634
Risco Médio
And=0,500
Trade Off =1
(CLP)
Risco Médio/Alto
And=0,300
Trade Off=0,634
Reduzida 24 (2,87%) 0 (2,27%) 19 (2,27%)
Moderada 798 (95,34%) 651 (77,78%) 137 (16,37%)
Elevada 15 (1,79%) 167 (19,95%) 681 (81,36%)
Muito Elevada 0 (0,00%) 0 (0,00%) 0 (0,00%)
Tabela 15 - Classificação do número de edifícios gerados pela MPO e CLP para Carta de Risco na Baixa Pombalina em Lisboa
And=0,700
And=0,500
And=0,300
Figura 49 - Cartas de Risco geradas pela MPO
Após a aplicação do modelo autoregressivo, torna-se necessário analisar os resíduos
obtidos de modo a verificar qual o que melhor se adapta às variáveis. Assim, interessa
_____________________________________________________________________
84
Capítulo 4 – Análise de Resultados ______________________________________________________________________
saber se os resíduos apresentam uma distribuição normal, e se já não apresentam
autocorrelação.
Risco Médio/Baixo
Risco Médio
Risco Médio/Alto
Figura 50 - Histogramas de distribuição dos resíduos
Da análise dos histogramas de distribuição dos resíduos, verifica-se que os resíduos
obtidos para o método MPO risco médio (equivalente à CLP) são os únicos que
apresentam uma distribuição normal. Resta então analisar se os resíduos obtidos através
deste método estão autocorrelacionados. Deste modo, foi novamente utilizado o índice
de Moran onde se verificou que os resíduos apresentam um padrão aleatório, conforme
se pode verificar na figura seguinte.
Figura 51 - Índice de Moran dos resíduos obtidos através da CLP
_____________________________________________________________________
85
Capítulo 4 – Análise de Resultados ______________________________________________________________________
Deste modo, verifica-se que o método que melhor se adapta à metodologia adoptada, e
que melhores resultados apresenta é o método CLP, uma vez que os resíduos obtidos
após a aplicação do modelo autoregressivo para este método, são os únicos que
apresentam uma distribuição normal e um padrão aleatório, bem como uma média igual
a zero e variância constante, condições necessários a um bom modelo de
relacionamento entre as variáveis independentes e a variável dependente.
_____________________________________________________________________
86
Capítulo 5 – Conclusão ______________________________________________________________________
5. Conclusão
5.1 Síntese Conclusiva
Dos objectivos propostos inicialmente para este projecto, nomeadamente,
Definição de um modelo de risco de incêndio urbano
Definição das variáveis a utilizar no modelo
Determinação dos pesos a atribuir às diferentes variáveis
Aplicação de 2 métodos multi-critério no cruzamento das variáveis
Obtenção da Carta de Risco Incêndio Urbano para a área de estudo
Validação dos modelos obtidos
foram alcançados.
A escolha das variáveis e do modelo de risco para o desenvolvimento deste estudo foi
definida de acordo com a bibliografia consultada, a informação geográfica disponível, a
escala de análise e a legislação existente referente às condições de segurança do
edificado. Assim, foi possível analisar as variáveis de modo a que estas pudessem ser
utilizadas tendo em conta a sua influência no modelo de risco definido.
O modelo de risco, modificado do recomendado pela Autoridade Florestal Nacional,
permitiu a utilização de variáveis normalizadas, uma vez que deixa de ser um
instrumento multiplicativo, admitindo assim valores iguais a zero para as variáveis
escolhidas.
A normalização e reclassificação das variáveis revelou-se de extrema importância pois
permitiu utilizar as diferentes variáveis geográficas, com estas a variarem entre os
mesmos valores máximo e mínimo, independentemente dos seus valores iniciais. As
variáveis qualitativas, uma vez que não são normalizáveis, foram reclassificadas, no
mesmo intervalo de valores das quantitativas. Deste modo, possibilita o posterior
cruzamento de variáveis, uma vez que estas se encontram na mesma “escala”; não
afectando negativamente o resultado final obtido devido à não escalabilidade dos
valores individuais das diferentes variáveis.
_____________________________________________________________________
87
Capítulo 5 – Conclusão ______________________________________________________________________
O Método de Análise Hierárquica Par a Par, revelou-se igualmente importante, uma vez
que permitiu quantificar o grau de importância das variáveis, umas em relação às outras,
tarefa esta que, nem sempre se revela fácil quando se pretende tratar um grande número
de variáveis, como foi o caso deste estudo.
Este método permite ainda, através da taxa de consistência da matriz de comparação das
variáveis, verificar se existem incongruências na avaliação das mesmas, permitindo ao
utilizador rectificar a sua avaliação.
Os métodos CLP e MPO são dos métodos mais utilizados em análise multi-critério pela
sua fácil implementação em SIG’s, fazendo mesmo parte de alguns dos software deste
tipo de ferramenta.
O método CLP utiliza operações de álgebra de mapas, modelação cartográfica, sendo de
fácil compreensão para os seus utilizadores. No fundo, a CLP é um caso particular da
MPO, correspondendo ao caso particular de risco médio e compensação total. Por
outras palavras, a MPO é uma extensão da CLP, apoiando-se nas características
importantes daquele método, sendo a sua principal vantagem, a introdução do conceito
de compensação de factores.
O facto de se poder utilizar diversas possibilidades em relação ao risco/compensação,
dentro do espaço triangular de decisão, torna este método bastante flexível e, portanto,
adequado a análises e tomadas de decisão nas situações em que a inexistência de uma
determinada característica num dado local, favorável à ocorrência do acontecimento em
estudo, pode ser compensada por outra característica com maior influência na análise.
No entanto, e conforme se verificou na análise dos resultados obtidos através dos dois
métodos, o CLP é o que melhor se adapta à metodologia utilizada, uma vez que foi este
método que apresentou um melhor ajuste entre as variáveis independentes e a variável
dependente. Quer isto dizer, que é este o modelo que melhor expressa as características
da probabilidade, susceptibilidade, valor económico e vulnerabilidade na carta de risco
obtida, verificando-se assim, uma forte predominância do risco moderado de incêndio.
5.2 Sugestões para trabalhos futuros
No futuro, seria estrategicamente relevante ou mesmo crucial, automatizar os
procedimentos de tratamento das variáveis até estas se encontrarem prontas para serem
_____________________________________________________________________
88
Capítulo 5 – Conclusão ______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
89
utilizadas no modelo de risco definido, sendo para isso necessário criar uma
padronização dos dados de base de modo a não existirem incongruências no seu
tratamento.
Um correcto levantamento das características interiores e exteriores (estado de
conservação, carga incêndio, tipo de rede gás, etc.) do edificado, bem como o seu
efectivo, traria uma grande mais-valia à metodologia definida, permitindo assim uma
melhor percepção da vulnerabilidade do edificado e consequentemente do seu risco de
incêndio. Esta limitação poderia ser parcialmente colmatada, com o desenvolvimento de
um trabalho conjunto com o corpo de bombeiros, entidade competente pela realização
de vistorias na área da segurança contra incêndio.
Seria igualmente muito importante, desenvolver uma aplicação que permitisse criar uma
carta de risco utilizando variáveis estáticas e dinâmicas em simultâneo. Assim, seria
possível criar cartas de risco em cada momento, tendo em conta as variações
climatéricas registadas diariamente.
Uma vez que este estudo foi desenvolvido no âmbito dos trabalhos que se encontram
em desenvolvimento no DPC da CML, seria interessante estender esta carta de risco de
incêndio urbano a todo o concelho de Lisboa.
Concluída esta plataforma de avaliação de riscos, a sua divulgação por outros
organismos de Protecção Civil, autarquias locais e serviços centrais, revela-se
igualmente uma preocupação, dada a especificidade e originalidade deste estudo.
______________________________________________________________________
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htm imagem da baixa antiga
______________________________________________________________________
Anexos
Anexo A – Decreto-Lei nº 220/2008 de 12 de Novembro
Anexo B – Portaria n.º 1532/2008 de 29 de Dezembro
Anexo C – Aplicação AHP
Anexo D – Aplicação MPO
Anexo E – Decreto-Lei nº 287/2003 de 12 Novembro
Anexo F – Portaria n.º 1240/2008 de 31 de Outubro
Anexo G – Despacho n.º 2074/2009
Anexo H – Decreto Regulamentar n.º 1/92, de 18 de Fevereiro
_____________________________________________________________________
96
______________________________________________________________________
Anexo A – Decreto-Lei nº 220/2008 de 12 de Novembro
_____________________________________________________________________
a
______________________________________________________________________
Anexo B – Portaria n.º 1532/2008 de 29 de Dezembro
_____________________________________________________________________
b
Anexo C – Aplicação AHP
Anexo C – Aplicação AHP ______________________________________________________________________
Anexo C – Aplicação AHP
Fig. C1 – Botão de Iniciação da Aplicação
Fig. C2 – Interface de escolha do número de variáveis
_____________________________________________________________________
c
Anexo C – Aplicação AHP ______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
d
Fig. C3 – Interface de atribuição de nome e peso às variáveis
Fig. C4 – Interface de apresentação do resultado final
______________________________________________________________________
Anexo D – Aplicação MPO
______________________________________________________________________
Anexo D – Aplicação MPO
Fig. D1 – Botão de iniciação da aplicação
Fig. D2 – Interface com o utilizador
_____________________________________________________________________
e
Anexo D – Aplicação MPO ______________________________________________________________________
Fig. D3 – Introdução dos pesos de critério
Fig. D4 – Introdução dos pesos de ordenação
_____________________________________________________________________
f
Anexo D – Aplicação MPO ______________________________________________________________________
Fig. D5 – Escolha da atitude de risco
Fig. D6 – Indicação do risco e da compensação considerada
_____________________________________________________________________
g
Anexo D – Aplicação MPO ______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
h
Fig. D7 – Criação da Coluna com resultado
______________________________________________________________________
Anexo E – Decreto-Lei nº 287/2003 de 12 Novembro
_____________________________________________________________________
i
______________________________________________________________________
Anexo F – Portaria n.º 1240/2008 de 31 de Outubro
_____________________________________________________________________
j
______________________________________________________________________
Anexo G – Despacho n.º 2074/2009
_____________________________________________________________________
k
______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
l
Anexo H – Decreto Regulamentar n.º 1/92, de 18 de
Fevereiro
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