desde sua introdução na inglaterra em 1863 o futebol...
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BRUNO BAQUETE
INVESTIGAÇÃO DOS MODELOS E DAS SEQUÊNCIAS
OFENSIVAS DO REAL MADRID E DO F.C. BARCELONA
Campinas
2014
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Faculdade de Educação Física
BRUNO BAQUETE
INVESTIGAÇÃO DOS MODELOS E DAS SEQUÊNCIAS OFENSIVAS
DO REAL MADRID E DO F.C. BARCELONA
Dissertação apresentada à Faculdade de
Educação Física da Universidade Estadual
de Campinas como parte dos requisitos
exigidos para obtenção do título de Mestre,
na área de Biodinâmica do Movimento e
Esporte.
Orientador: ANTONIO CARLOS DE MORAES
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE Á VERSÃO FINAL
DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO BRUNO
BAQUETE E ORIENTADA PELO PROF. DR. ANTONIO
CARLOS DE MORAES
_________________________________________________
CAMPINAS
2014
iv
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Faculdade de Educação Física
Dulce Inês Leocádio dos Santos Augusto - CRB 8/4991
Baquete, Bruno, 1986-
B229i BaqInvestigação dos modelos e das sequências ofensivas do Real Madrid e do F.
C. Barcelona / Bruno Baquete. – Campinas, SP : [s.n.], 2014.
BaqOrientador: Antonio Carlos de Moraes.
BaqDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de
Educação Física.
Baq1. Futebol. 2. Jogos. 3. Tática. I. Moraes, Antonio Carlos de. II. Universidade
Estadual de Campinas. Faculdade de Educação Física. III. Título.
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: Investigation about models and ofensive sequences of Real Madrid
and F. C. Barcelona
Palavras-chave em inglês:
Soccer
Games
Tactical
Área de concentração: Biodinâmica do Movimento e Esporte
Titulação: Mestre em Educação Física
Banca examinadora:
Antonio Carlos de Moraes [Orientador]
Laércio Luis Vendite
Miguel de Arruda
Data de defesa: 19-09-2014
Programa de Pós-Graduação: Educação Física
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BAQUETE, Bruno. Investigação dos modelos e das sequencias ofensivas do Real
Madrid e do F.C. Barcelona. 2013. 61f. Dissertação (Mestrado em Educação Física)-
Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2013.
RESUMO
O futebol de alto rendimento é notoriamente um desporto altamente competitivo onde cada
vez mais os detalhes fazem a diferença entre ganhar e perder. O ambiente dessa modalidade
esportiva é altamente complexo e cada jogador deve resolver os problemas emergentes de
uma forma integral levando em conta as ações coletivas de seus companheiros, para isso
eles precisam compartilhar de referências comuns. Tais referências se integram e formam
um modelo de jogo, que é o norte balizador do comportamento das equipes nos momentos
de defesa, ataque, transição defensiva (ataque-defesa) e transição ofensiva (defesa-ataque).
Cada equipe possui um modelo de jogo particular que contribui diretamente para a
organização do jogo e dá ferramentas para os jogadores resolverem os problemas neste
ambiente caótico. É fato que equipes com diferentes modelos obtêm destaque no futebol
mundial e se tornam referências, caso do Barcelona e do Real Madrid. No ano de 2012
essas equipes se confrontaram em diferentes competições e alternaram vitórias e derrotas
tendo como base modelos de jogo diferentes. Visto isso, seus modelos e as sequências
ofensivas terminadas em finalizações de ambas as equipes foram analisadas a fim de
identificar o que levou as equipes ao êxito. A partir dos dados encontrados verificou-se que
a equipe do Barcelona apresentou o mesmo modelo padrão em todos os jogos exceto
quanto aos princípios estruturais predominantes que se alternaram conforme a necessidade
das partidas. Já o Real Madrid apresentou modificações nos princípios de defesa, transição
ataque-defesa e nos princípios estruturais de ataque e defesa ao longo dos jogos, mantendo
apenas os princípios operacionais de ataque e de transição ofensiva. Analisando apenas o
modelo de jogo predominante não pode ser verificado o que levou cada uma delas ao êxito.
Indo além do modelo e analisado as sequências ofensivas terminadas em finalização pode
se observar que neste momento emergencial do jogo onde o resultado pode ser definido as
equipes adotaram respostas diferentes das encontradas no modelo de jogo predominante.
Dentro das sequências ofensivas as referências do modelo davam lugar a referências
situacionais para a resolução dos problemas do jogo. Sendo que a Progressão dos jogadores
e da bola para a baliza adversária (princípio operacional de ataque), o Jogo Vertical
(princípio operacional de transição ofensiva) e a Penetração (princípio estrutural de ataque)
se destacaram como os principais princípios nas sequências ofensivas terminadas em
finalização em ambas as equipes, mesmo possuindo diferentes modelos de jogo
predominantes. Além disso, foi observado que para o êxito das equipes elas buscam
respostas além das questões táticas do jogo.
Palavras-chaves: Análise tática; Modelo de jogo; Jogo; Tática; Futebol.
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ABSTRACT
High performance soccer is notoriously a real competitive sport where details increasingly
make the difference between winning and losing. The environment of this sport is highly
complex, where each player must solve the emerging problems in a comprehensive manner
taking into account the collective actions of the other players, and in order to do so the
players need to share common references. Such references are integrated and create a game
model which is the north beacon of the teams behavior in times of defense, attack,
defensive transition (offense-defense) and offensive transition (defense-attack). Each team
has a particular game model that directly contributes to the game organization and gives
players the tools to solve the problems in this chaotic environment. It is fact that teams
with different models get featured in world football and become references, Barcelona and
Real Madrid are good examples of this. In 2012 these teams faced each other in different
competitions and rotated in winning and losing based on different game models. Based on
that, its models and offensive sequences ending in finishes from both teams were analyzed
in order to identify what led these teams to success. As of the data found it was found that
Barcelona´s team model showed the same pattern in every game except for predominant
structural principles that alternated accordingly to the need on the matches. On the other
hand, Real Madrid showed changes in the principles of defense, attack-defense transition
and structural principles of attack and defense throughout the game, keeping only the
operational principles of attack and offensive transition. Analyzing only the predominant
form of the game, it is not possible to verified what led each of them to succeed. Going
beyond the model and analyzing the offending sequences ending in finishes, it is possible to
observe that in this emergency moment of the game where the outcome can be defined,
teams adopted different responses of those found in the predominant game style. Within
the offensive sequences, references of the model lead to situational references to solve
game problems. Whereas the progression of the players and the ball to the opponent's goal
(operating principle of attack), the Vertical Game (operating principle of offensive
transition) and Penetration (structural principle of attack) stood out as the main principles in
offensive sequences ending in fininshes of both teams, even though they had different game
models. Moreover, it was observed that for the success of the teams, they seek answers
beyond the tactical issues of the game.
Key-words: Match analysis; Model of the game; Game; Tactical; Soccer.
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SUMÁRIO
1 Introdução .................................................................................................................. 1
1.1 Objetivos................................................................................................................... 2
2 Revisão de Literatura ................................................................................................ 5
2.1 Futebol ...................................................................................................................... 5
2.1.1 Paradigma .............................................................................................................. 5
2.1.2 A Lógica ................................................................................................................ 7
2.1.3 O Caos ................................................................................................................... 9
2.1.4 O Jogo ................................................................................................................... 12
2.2 O Fractal Tático ........................................................................................................ 18
2.2.1 O Modelo de Jogo ................................................................................................. 18
2.2.2 A Análise de Jogo ................................................................................................. 22
3 Materiais e Métodos .................................................................................................. 25
4 Resultados e Discussão............................................................................................... 31
4.1 Os Jogos ........................................................................................................ 31
4.2 O Modelo de Jogo ............................................................................................... 33
4.3 Sequências Ofensivas ............................................................................................... 44
5 Considerações Finais.................................................................................................. 52
Referências ................................................................................................................. 55
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Dedico este trabalho ao
meu pai José Carlos, a minha mãe Maria
Abadia e a minha futura esposa Bianca Muciacito.
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Os Princípios operacionais do jogo............................................................... 15
Quadro 2 Os Princípios operacionais de transição .................................................... 17
Quadro 3 Jogos das equipe do Real Madrid e Barcelona no ano de 2012.................... 31
Quadro 4 Modelo de jogo do Barcelona ...................................................................... 34
Quadro 5 Modelo de jogo do Real Madrid .................................................................. 36
Quadro 6 Confronto entre princípios de ataque e defesa das equipes 1 ...................... 37
Quadro 7 Confronto entre princípios de ataque e defesa das equipes 2...................... 37
Quadro 8 Princípios estruturais de ataque e defesa das equipes.................................. 43
Quadro 9 Modelo de jogo nas sequencias ofensivas do Barcelona............................. 46
Quadro 10 Comparação entre o modelo de jogo observado nas sequências ofensivas da
equipe (determinante) e o modelo de jogo predominante da equipe do
Barcelona............................................................................................................................ 46
Quadro 11 Modelo de jogo nas sequencias ofensivas do Real Madrid......................... 48
Quadro 12 Comparação entre o modelo de jogo observado nas sequências ofensivas da
equipe (determinante) e o modelo de jogo predominante da equipe do
Barcelona........................................................................................................................... 49
Quadro 13 Princípios estruturais das equipes................................................................ 50
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Aproveitamento de pontos das equipes no Campeonato Espanhol de
2011/2012............................................................................................................ 32
Tabela 2 Aproveitamento da equipe utilizando cada um dos princípios de defesa e
transição defensiva.............................................................................................. 38
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Campograma................................................................................................. 26
Figura 2 Jogadores analisados em suas posições para definição do esquema tático
da equipe...................................................................................................... 28
Figura 3 Equipe do Real Madrid impedindo progressão, jogador do Barcelona no
campo de ataque com muitas opções de
passe.............................................................................................................. 39
Figura 4 Equipe do Real Madrid buscando recuperar a posse de bola e
pressionando jogador adversário que se vê sem opções de passe para
conservação da bola no campo de
ataque............................................................................................................ 40
Figura 5 Equipe do Barcelona acaba de recuperar a posse de bola e equipe do Real
Madrid inicia a recomposição deixando o jogador adversário sem
pressão.......................................................................................................... 41
Figura 6 Logo após a perda da bola os jogadores do Real Madrid já realizam a
pressão no adversário no campo de
ataque............................................................................................................ 42
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1. INTRODUÇÃO
O futebol é um fenômeno que desperta interesse em milhões de pessoas ao
redor do mundo. Seu impacto na sociedade é grande e entendê-lo seja em seu nível social,
econômico ou esportivo em si é fundamental nos dias atuais. (GIL, 2012).
No âmbito esportivo, principalmente no alto rendimento, a vitória é uma
necessidade constante para a sobrevivência de equipes e treinadores. Sendo assim a busca é
para que os atletas e as equipes atinjam níveis elevados de desempenho e obtenham sucesso
nos jogos e em competições. (SILVA, 2005).
Para o êxito nessa modalidade esportiva se faz necessário um bom
entendimento do jogo e de informações adequadas, pois para se chegar a excelência os
treinadores e clubes devem adotar os melhores meios e métodos existentes para otimizar o
desempenho de seus atletas. (CARLING, 2001; GARCIA, 2000).
Certamente, a maior dificuldade dos técnicos (como qualquer
profissional) é obter informação. Não a informação presente nos jornais
ou na mídia em geral e sim a informação científica, que lhe dê subsídio
sustentado para tomar decisões e agir em benefício do seu trabalho. Como
avaliar de maneira precisa e concreta as situações táticas de uma partida
sem se basear em “achismos”? (LEITÃO, 2004, p.1).
Entender o jogo não é algo simples nem pode ser baseado em dados infundados
e em “achismos populares”, que emergem de nossa cultura futebolística onde todos
acreditam conhecer a fundo esse esporte. Esses “achismos” na verdade nos levam para
muito longe dos reais problemas do jogo, que na sua essência obedecem às leis do caos e
precisam ser analisados a fim de traçarmos hipóteses adequadas. Caso contrário, olharemos
para o jogo e pela falta de entendimento levantaremos a hipótese que uma equipe ganhou
ou perdeu pelo acaso ou por circunstâncias aleatórias.
O resultado de uma partida carrega em si muitas respostas e em suma é a
manifestação complexa de tudo o que ocorreu no jogo, nenhuma equipe vence ou perde
uma partida por mera obra do acaso, até os menores detalhes influenciam o resultado final.
TUDO precisa ser analisado e entendido a fim de que se tracem hipóteses sobre o que
2
realmente foi determinante e o que levou uma equipe a vitória ou a derrota.
Parece-nos assim imprescindível que os treinadores e investigadores que
trabalham na área de análise do jogo identifiquem as razões do sucesso
das equipas, bem como procurem identificar os fatores que influenciam o
desempenho individual e coletivo nos desportos coletivos, mais
especificamente no futebol. Desta Forma para o treinador e para o
investigador deverá ser útil tentar estudar simultaneamente a evolução do
resultado do jogo e os fatores que de uma forma direta ou indireta
determinam ou influenciam esse mesmo resultado. A este propósito, Silva
(2005) acrescenta que a análise da evolução do marcador/ resultado
permite distinguir em que momento a capacidade ofensiva de uma equipa
foi superior à oposição defensiva do adversário e se essa superioridade,
nesse momento de jogo, definiu ou influenciou decisivamente o resultado
final. (GIL, 2012, p.20).
Dessa forma, os esportes que carregam em si a imprevisibilidade em sua
essência em especial os jogos de oposição e invasão vem obtendo destaque crescente nos
estudos científicos. (DUFOUR, 1993; LANHAM, 1993; GARGANTA, 1997;
GREHAIGNE,1998; MOMBAERTS, 2000; VENDITE et al., 2004; LEITÃO, 2009;
TENGA et al., 2010; GIL, 2012; LAGO, et. al., 2012).
Segundo Garganta (2001) o volume de estudos sobre o jogo a partir da
observação do comportamento de equipes e jogadores aumentou consideravelmente nos
últimos 30 anos e os mesmos vem se aperfeiçoando ao longo do tempo.
Para Moraes (2002) treinadores e investigadores procuram analisar o jogo em
busca de benefícios para incrementar seu entendimento sobre o mesmo e assim
desenvolverem a prestação esportiva de seus jogadores e equipes.
A partir de observações sistemáticas de equipes de futebol pode-se encontrar
padrões de organização que permitem tirar conclusões sobre o comportamento
predominante da equipe e de seus jogadores. Para Garganta (2001) esses padrões de
organização caracterizam o chamado modelo de jogo.
O modelo de jogo se refere ao conjunto de princípios e referências que orientam
a organização coletiva da equipe. Através dessa organização pode-se identificar a forma de
jogar da equipe nos diferentes momentos do jogo (Ofensivo, Defensivo, Transição
Defensiva, Transição Ofensiva). No modelo de jogo são definidos comportamentos
3
específicos que orientarão individual e coletivamente os jogadores nos momentos de
ataque, defesa e transições.
Além das questões táticas de jogo, as sequências ofensivas segundo Lago et al.
(2012) constituem uma área de grande interesse dentro da análise de uma partida de
futebol, pois se trata de um momento decisivo. Vários estudos vêm contribuindo para o
desenvolvimento da visão crítica nesse momento específico do jogo (BATE, 1988;
DUFOUR, 1993; LARSEN, 1997; TENGA, LARSEN, 1998; HUGHES, FRANKS, 2005;
OLSEN, TENGA et al., 2010; LAGO, et. al. 2012).
Todas as referências e conteúdos apresentados acima mostram inúmeros
caminhos para o entendimento do jogo e nos dão possibilidades de intervenção prática no
dia a dia de trabalho. Há ainda diversos estudos que tentam trazer luz as questões que
envolvem o jogo e suas variáveis de rendimento (KOMELINK, SEEVERENS, 1999;
JAMES et al., 2002; CARLING et al., 2005; LAGO, MARTIN, 2007; LAGO, 2009;
TAYLOR et al., 2010; TENGA, HOLME, 2010).
Entretanto poucos estudos integram diversas variáveis buscando entender o
jogo a partir de uma ótica mais ampla. Esse estudo não tem a pretensão de explicar o jogo
nem de mostrar todos os pormenores de sua magnífica complexidade, pois isso seria
impossível, contudo buscando dar um passo rumo à integração do conhecimento esse
estudo buscou conectar e analisar conteúdos táticos e de jogo, conteúdos predominantes e
determinantes a fim de traçar relações que aproximem as equipes do êxito dentro de uma
partida de futebol.
1.1 Objetivo
Esse trabalho pretende analisar os modelos de jogo das equipes do Real Madrid
e do Barcelona nos jogos entre as mesmas no ano de 2012 a fim de verificar se algum
princípio tático foi determinante para a vitória ou para a derrota.
Essas equipes foram escolhidas, pois no ano de 2012 figuravam entre as
melhores do mundo com modelos de jogos distintos e se enfrentaram 6 vezes durante o ano
4
em diferentes competições obtendo resultados equilibrados (2 vitórias para cada equipe e 2
empates).
5
2. Revisão de Literatura
2.1 Futebol
2.1.1 O paradigma
Ao longo do tempo a ciência buscou respostas nas partes reduzindo o todo em
inúmeros fragmentos isolados. Acreditava-se que entender as partes se entenderia o todo.
Esses postulados refletiam o pensamento analítico fragmentador que norteou a ciência por
muitos anos. Muito se avançou através dessa perspectiva, contudo ao longo dos anos novas
formas de pensar e investigar os fenômenos surgiu a fim de trazer respostas complexas aos
fenômenos científicos. (LEITÃO, 2009).
Para Morin (1997) não se pode subestimar os avanços obtidos através das
teorias reducionistas, pois muitas descobertas como a molécula, o átomo e a partícula são
frutos de tais paradigmas. Contudo os fenômenos não podem ser analisados única e
exclusivamente a partir de suas partes.
Em meio aos avanços científicos surge a “Teoria Geral dos Sistemas” do autor
Ludwing Von Bertalaffy, que trouxe uma visão voltada para o todo. Tal teoria buscava
entender de uma maneira global o comportamento e o funcionamento do todo.
Agora aprendemos que para uma compreensão não bastam apenas os
elementos, mas são necessárias suas inter-relações: quer dizer, a interação
de enzimas numa célula, de muitos processos mentais conscientes e
inconscientes, da estrutura e da dinâmica de sistemas sociais e afins. [...]
A teoria geral dos sistemas é então uma investigação científica de
“conjunto” e “totalidades” que, não faz muito tempo, eram considerados
noções metafísicas, transcendendo os limites da ciência. (BERTALAFFY,
2009, p 14).
Tal teoria se propagou rapidamente e trouxe grandes avanços científicos,
contudo deixou lacunas a serem preenchidas.
Para Morin (1997) a Teoria Geral dos Sistemas não se aprofundou nos seus
próprios fundamentos e nunca tentou uma teoria geral DO sistema, trazendo assim uma
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aparente organização a todos os fenômenos que escondia a real complexidade dos mesmos.
Além disso, a busca pelo todo e seu entendimento acabou negligenciando as
partes enquanto partes e a organização quanto organização, pois na perspectiva dessa teoria
o todo subjulgava as partes que eram deixadas de lado do ponto de vista de sua análise.
Levando para o futebol, tal teoria analisaria o jogo a partir de dois sistemas:
equipe A e equipe B. Esses sistemas seriam analisados a partir do todo formado por eles, os
jogadores e suas características individuais não seriam levados em conta. Se houvesse
alguma alteração dentro do modelo de jogo da equipe A, por exemplo, um novo sistema
seria gerado, pois o todo foi alterado.
A busca pelo entendimento sobre o todo que não trilhava a compreensão
das partes, cada vez mais fragmentadas, passou a tentativa de entendê-lo a
partir da compreensão de uma visão própria do todo, através de suas inter-
relações. Mas como compreender o todo ou as partes sem entendê-los em
função um do outro ou de forma isolada? (LEITÃO, 2009, p. 32).
Para Morin (2004) o entendimento de um sistema não pode se reduzir apenas ao
entendimento das partes, nem tão pouco ao todo pelo todo, pois ambas a unidade complexa
é reduzida ou as partes ou ao todo.
Dessa forma se fez necessário uma nova ruptura paradigmática, dessa forma a
teoria da complexidade vem para tentar exprimir de uma maneira simultânea a unidade, a
totalidade, a organização e a complexidade. (MORIN, 1997).
Dessa forma a compreensão do todo passa pela necessidade da compreensão
dos elementos (com suas particularidades, suas inter-relações, na visão do todo que ele se
integra) e do todo (Definido pela relação entre seus elementos, suas inter-relações e sua
própria organização) (LEITÃO, 2009). Dessa forma é formado um circuito de relações
onde à organização assume o centro das interações do sistema (MORIN, 1997).
Para se entender o todo é preciso que se considerem as particularidades dos
elementos ao mesmo tempo em que se considere as inter-relações entre esses elementos e a
sua organização. Concebendo o todo pode se fazer com que o todo seja superior ou inferior
à soma de suas partes.
7
Dessa maneira, a essência da magnitude que diferencia partes e todo (um
superior ou inferior ao outro), está na compreensão dos ajustes auto-
organizativos, que norteados pelas imposições, podem ou não favorecer o
surgimento de emergências no sistema (potencializando ou não a
autonomia de seus elementos). E da mesma forma que os elementos do
sistema sofrem imposições do todo, sofrem também de outros elementos e
faz imposições ao próprio todo, de maneira que a autonomia pode, não
havendo objetivo comum entre os elementos do sistema para manutenção
da identidade organizacional, levar a inferiorizarão do todo frente às
partes. (LEITÃO 2009, p.35).
Dessa forma é preciso entender o fenômeno dentro de sua complexidade, a
partir de suas partes, de suas inter-relações e do todo que é constituído.
2.1.2 A lógica
Para o entendimento do jogo de futebol é necessário um conhecimento do jogo
como um todo e de sua lógica. Para Freire (2002) todos os jogos apresentam uma lógica
comum. O conhecimento desta lógica é a chave para o entendimento do jogo e
consequentemente para uma intervenção precisa sobre o mesmo.
Para Leitão (2009) como o objetivo do jogo é fazer mais gols do que o
adversário, “[...] seria mais lógico, conseguir cumpri com esse objetivo através de um único
lance [...]”, contudo nem sempre é possível cumprir esse objetivo dessa forma então o autor
defini a lógica do jogo de futebol “[...] é conseguir fazer que a bola entre na meta
adversária, e com o menor número de ações possível.” Tal afirmação pode até parecer
trivial, mas carrega em si toda a complexidade que o jogo de futebol contém.
Em uma perspectiva matemática a Teoria do jogo é a ciência da estratégia. Ela
aborda aspectos lógicos e matemáticos sobre as atitudes que os jogadores devem tomar para
obter êxito em um determinado conjunto de “jogos”.
Segundo Ditix e Nalebuff (2001) a essência do jogo se baseia na
interdependência de estratégias sequenciais e simultâneas. Estratégias sequenciais são onde
os jogadores se movem em sequência, conscientes das ações anteriores dos outros. Nas
estratégias simultâneas, os jogadores agem concomitantemente desconhecendo as ações dos
outros jogadores, porém ele deve estar ciente de que há outros jogadores agindo e
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interagindo no mesmo ambiente que por vezes é caótico. Este jogador deve se colocar no
lugar dos outros jogadores e assim tentar prever o resultado final da jogada.
Para os mesmos autores, um jogador num jogo de estratégia sequencial
deve ter como princípios gerais para se guiar antecipar o futuro e
raciocinar sobre o passado. Cada jogador deve procurar perceber o modo
como os outros jogadores vão reagir à sua jogada, como ele próprio vai
por sua vez reagir, e assim por diante. O jogador antecipa as
consequências das suas decisões iniciais, e utiliza essa informação para
definir a sua melhor opção em cada momento. Quando pensa no modo
como os outros jogadores vão reagir à sua jogada, como ele próprio vai
por sua vez reagir, deve colocar-se na sua pele e pensar como eles; não
deve impor a eles a sua própria linha de raciocínio. (LEITÃO, 2004,
p.28).
Os jogos sequenciais podem ser “resolvidos” se terminarem após uma
sequência finita de jogadas. Entretanto os jogos simultâneos não podem ser resolvidos, mas
possuem segundo Ditix e Nalebuff (2001) um círculo lógico, que não o torna previsível,
porém é possível se guiar, antecipar o futuro e raciocinar sobre o passado.
O jogo de futebol contém elementos sequenciais e simultâneos. Pensemos no
pênalti para clarificar essa ideia. No pênalti se o goleiro agir independente da ação do
cobrador o jogo para ele é simultâneo onde ele age concomitantemente com o cobrador, se
colocando no lugar dele, tentando prever o desfecho da jogada. Caso o goleiro tome a
decisão de agir de determinada forma após a ação do cobrador este jogo se torna um jogo
sequencial para ele, pois ele age sequencialmente a ação do cobrador. O cobrador toma a
decisão e a partir desta análise o goleiro toma a sua própria decisão.
No jogo de futebol são as estratégias simultâneas que se mostram
predominantes, nessas estratégias os jogadores não tem o privilégio de observar as ações
dos outros para agir, por isso o conhecimento da lógica interna do jogo é fundamental para
o entendimento do mesmo e para a antecipação de alguns comportamentos do sistema
(jogo). Entendendo a lógica, a antecipação das jogadas ganha rumos vantajosos para os
jogadores e para a equipe.
Grandes jogadores de futebol parecem agir em tempos mínimos resolvendo
problemas emergenciais. No estudo de Leitão (2009) um jogador dentro da área ofensiva
9
em situação de finalização tem menos que 0,5 segundos para resolver o problema, dessa
forma para a obtenção de um bom resultado é preciso que a decisão seja antecipada e
baseada na lógica do jogo, caso contrário é muito difícil o jogador decidir e agir em um
espaço de tempo tão pequeno quanto esse.
Compreender a lógica e tomar as decisões baseadas nela se torna essencial para
um jogo com problemas emergenciais e complexos como o futebol.
2.1.3 O caos
A humanidade, em um passado distante, considerava a natureza como uma
“criatura” ausente de padrões, que era governada por divindades sem leis onde o caos
reinava (STEWART, 1991). Dessa forma todos acreditavam na sorte e no azar, e nenhum
fenômeno podia ser previsto como a previsão do tempo, o resultado dos jogos e os
acontecimentos em geral. (LEITÃO, 2009).
A desordem trazia insegurança e dominava os homens que não tinham o
entendimento necessário sobre suas leis. O desconhecimento das leis do caos e dos
fenômenos que não obedeciam sequencias lineares de acontecimentos, criaram barreiras
para que os antigos fenômenos fossem vistos e analisados a partir de novos paradigmas.
Para Stewart (1991), ordem e caos eram tomados como opostos que não se
conectam. Contudo novas descobertas científicas no âmbito da teoria quântica tem
superado essa cisão entre esses dois conceitos, ocasionando uma nova forma de ver o caos.
Caos que com os avanços científicos observados passa a ser centro e objeto de
estudo da Teoria do Caos que é o estudo dos sistemas não lineares. Tal teoria busca o
entendimento de eventos aparentemente aleatórios, imprevisíveis e desordenados a fim de
encontrar padrões. (GLEIKM, 1989).
Stewart (1991) atribui três significados básicos para o vocábulo Caos:
- É a matéria desordenada e sem forma que supostamente existia antes do
universo ordenado.
- Uma completa desordem, absoluta confusão.
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- Um comportamento estocástico1 que ocorre em um sistema determinístico.
Para Stancey (1995) e Gleick (1989) o caos é uma teoria mais de processos do
que de estados, sendo mais que uma teoria, mas um modo de fazer ciência. É uma tentativa
de explicação para os fenômenos que residem na fronteira entre ordem e desordem /
estabilidade e irregularidade.
Para Prigogine (2002) os sistemas dinâmicos precisam ter seu comportamento
observado e analisado em longo prazo, pois a ordem e a desordem aparecem em tempos
diferentes dos encontrados nos sistemas lineares comuns que se repetem de tempos em
tempos.
O Caos é sensível a mínimas alterações iniciais. Um dos conceitos mais
difundidos e que explica tal característica do caos é a expressão de Edward Lorenz “Efeito
Borboleta” que Postula:
O bater de uma única asa de borboleta hoje, produz uma minúscula
alteração no estado da atmosfera. Após certo tempo, o que esta
efetivamente faz, diverge do que teria feito, não fosse aquela alteração.
Assim, ao cabo de um mês, um ciclone que teria devastado o litoral da
Indonésia não acontece. Ou acontece um que não iria acontecer.
(STEWART, 1991, p.115).
No caos pequenas alterações iniciais levam a resultados, ao longo do tempo,
caóticos. O ambiente do jogo de futebol reside na fronteira entre o caos e a ordem, em
muitos casos, a ordem do jogo parece nascer do caos, a ordem por um lado regida pelas
regras formais do jogo e pelas leis organizacionais do jogo, por outro lado o caos dos
problemas e soluções emergenciais do jogo, onde os jogadores buscam manter a ordem e
caminhando sobre a desordem momentânea e passageira criada e solucionada pelos
mesmos.
Nessa fronteira entre caos e ordem as equipes buscam sempre manter seu
equilíbrio sistêmico, pois a perda do mesmo quase sempre caracteriza um momento de
vulnerabilidade e uma queda de rendimento. No momento em que há uma perturbação o
1 Estocástico – Não determinístico, varia em grau imprevisível em um dado espaço de tempo, normalmente
aleatório. O lançamento de dados pode ser um exemplo de um processo estocástico, pois cada uma das 6 faces
tem iguais probabilidades de ficar para cima após um lançamento do dado, seu resultado é imprevisível e se
repete de forma aleatória ao longo do tempo.
11
sistema fica instável e busca uma nova ordem a partir da aparente desordem.
(GARGANTA, 2000).
Toda perturbação faz com que novas formas de organização surjam para que as
relações não lineares se mantenham em um processo de auto-organização2 constante do
sistema.
Em meio a esse processo surgem as regularidades que se olhadas em pequena
escala podem aparentar um comportamento caótico, mas em grande escala se tornam
visíveis e passíveis de análise. (PIVETTI, 2012).
Dessa maneira, o conceito de caos se aplica ao jogo e ao treino de futebol, pois
os mesmos apresentam padrões de ações em meio a um contexto de aparente desordem que
se repetem ao longo do tempo.
Os padrões revelam uma ordem organizante, que é explicada a partir das
regularidades do sistema. Regularidade que não podem ser representadas a partir da
geometria analítica clássica, dessa forma a geometria fractal surgiu para dar forma ao caos
e aos seus modelos matemáticos quase que indecifráveis.
Maldebrot desenvolveu a Teoria da Geometria Fractal a fim de descrever e
analisar a irregularidade estruturada do mundo natural. Em pouco tempo pesquisadores e
cientistas começaram a associar as duas teorias (Caos/Fractal). Desta forma grandes
avanços surgiram no entendimento da irregularidade, aleatoriedade e imprevisibilidade dos
fenômenos do caos. (LEITÃO, 2009).
Uma definição mais clara sobre fractais, desprendendo-se didaticamente
do seu significado matemático, é a de que são objetos gerados pela
repetição de um mesmo processo recursivo, apresentando auto-
semelhança e complexidade infinita, onde um pequeno pedaço seu, é
similar ao todo (SIQUEIRA, 2005).
Isso quer dizer, que, em uma figura fractal, qualquer mínimo pedaço seu,
será em forma e conteúdo, a expressão idêntica de sua figura maior (o
todo) a qual está contida, ou de um pedaço menor (o qual está contido
nele). Em outras palavras, um pedaço fractal, é a representação do próprio
todo do qual ele faz parte. (LEITÃO, 2009, p.50)
2 Auto-organização – Capacidade do sistema em sofrer mudanças de organização interna a fim de manter sua
ordem organizativa a partir das múltiplas interações entre suas unidades constituintes. Pode ocorrer a partir de
estímulos internos ou externos.
12
Isso significa que todo pedaço de um fractal contém a representação do todo.
Para exemplificar, pode-se citar nosso DNA que mesmo sendo um pedaço microscópico de
um ser humano contém todo o material genético que o representa. (LEITÃO, 2009).
Um Fractal é a representação de uma parte de um sistema caótico em sua
estrutura e funcionalidade e se mantém dessa forma independente da escala utilizada. Dessa
maneira se um sistema caótico for fragmentado em subsistemas em qualquer escala, estes
serão uma forma de representação do todo. (PIVETTI, 2012).
A fractalidade é um modelo interpretativo, um registro organizador, uma
linguagem que permite entender o funcional, (GARGANTA, 2006)
podendo garantir maior visibilidade aos fenômenos complexos, por
exemplo, a dinâmica de treino e jogo de futebol. (GARGANTA, 2000) O
Jogo de futebol pode ser então, entendido como um sistema caótico com
organização fractal. (OLIVEIRA, 2006) No meio do caos aparente é
possível sustentar regularidades organizacionais, caracterizadas por
determinados padrões que podem se repetir em uma escala de tempo
(PIVETTI, 2012, p.72).
A Geometria Fractal nos ajuda a entender as partes não como itens isolados,
mas sim como constituintes que contém e representam o todo. Dessa maneira pode-se olhar
para cada uma das “partes do jogo” e notar que o jogo está contido dentro delas. Pode-se
analisar a “parte tática” e observar que o jogo está presente. Isso tudo só é possível se
entendermos realmente a essência do jogo, pois é essa essência que está nas partes e garante
a fractalidade da mesma.
2.1.4 O jogo
O jogo de futebol faz parte do conjunto definido como Jogos Desportivos
Coletivos (JDC) (TEODURESCO, 1984; GARGANTA, 1997, 1998; CASTELO, 2006).
Tais jogos se caracterizam pelo confronto de duas equipes que disputam e agem sobre o
objeto do jogo (bola) criando um complexo conjunto de relações de cooperação e oposição,
num ambiente repleto de imprevisibilidade e aleatoriedade (GARGANTA; GREHAIRE,
1999).
13
Todos eles possuem um objeto de disputa (a bola), um terreno de jogo, um
alvo a atacar e outro a defender, companheiros de equipe, adversários e
todos têm suas regras específicas. Essas regras garantem a diferença entre
cada jogo e fazem com que cada um tenha a sua própria especificidade.
(BAQUETE, 2011, p.36).
Para Garganta (1997) os JDC são atividades em suma caracterizadas por
situações de imprevisibilidade onde cada jogador tem que resolver os problemas
circunstanciais do jogo levando em conta a interligação complexa entre os elementos
táticos, técnicos, físicos e psicológicos. O jogo é uma construção ativa onde o seu
desenvolvimento é fruto da afirmação e atualização das escolhas e decisões dos jogadores,
realizadas em um ambiente de alto grau de complexidade e possibilidades.
Para Leitão (2004) o jogo é um “um sistema complexo num ambiente
(contexto) também complexo”, onde o acaso e suas regras o moldam e são seus elementos
constituintes. Sendo assim, para entender o jogo é preciso entender o acaso, o caos e a
imprevisibilidade, que por sua vez faz o jogo ser jogo e está na sua essência. (EINGEN,
WINKLER 1989; GARGANTA, 1997; FREIRE, 2002; LEITÃO, 2004).
O jogo pede que o jogador tenha uma capacidade de adaptação a novas
situações aleatórias e complexas que acontecem a todo o momento dentro do jogo. Outro
traço fundamental que o autor coloca é a cooperação entre os elementos da mesma equipe
para vencer a oposição da equipe adversária, onde cada indivíduo pode manifestar sua
individualidade, mas os interesses da equipe não podem ser esquecidos.
Segundo Gréhaine e Guillon (1992 citado por GARGANTA, 1994) no contexto
do jogo podem-se enumerar três grandes categorias de problemas:
No plano espacial temporal
No momento ofensivo – problemas na utilização da bola, individual e
coletivamente, na tentativa de ultrapassar os adversários.
No momento defensivo – problemas na produção de obstáculos, com a
finalidade de dificultar ou parar o movimento da bola e da equipe adversária, no intuito de
recuperar a posse da mesma.
14
No plano da informação
Problemas na produção de incertezas para os adversários e certezas para seus
companheiros de equipe. O aumento da incerteza do adversário está ligado às alternativas
propostas pela sua equipe.
No plano da organização
Problemas na transição de um projeto individual para um projeto coletivo,
dando o melhor de si para a equipe, integrando o projeto coletivo na ação individual.
Partindo da observação destes planos, as equipes se comportam como coletivos,
organizando-se em função de regras, princípios, prescrições e de acordo com uma lógica
particular. As ações dos jogadores de uma mesma equipe tendem a convergir na medida em
que as estratégias e ações individuais são direcionadas para um objetivo comum.
(GARGANTA, 1997; BAQUETE, 2011).
Segundo Bayer (1994) os JDC possuem princípios comuns e idênticos que
regem a ação dos atletas em momento de ataque e de defesa. Esses princípios devem ser
idênticos para todos os jogadores de uma mesma equipe a fim de possibilitar uma
compreensão mútua dos mesmos em situações complexas e aleatórias de jogo. E estes não
são fatores de mecanização e repressão dos atletas, mas sim balizadores de suas ações onde
cada princípio da equipe deve ter um significado para o jogador que a partir desse
referencial “deve compreender e antecipar as situações que se desenrolam, para agir de
maneira vantajosa durante situações nas quais se encontra implicado.” (BAYER, 1994). Os
princípios operacionais são descritos pelo mesmo autor em 3 de ataque e 3 de defesa que se
contrapõem como mostra o Quadro1:
15
Quadro 1 – Os Princípios operacionais do jogo - BAYER (1994).
Ataque Defesa
Conservação da Bola Recuperação da bola
Progressão dos jogadores e da bola para a
baliza adversária
Impedir a progressão dos jogadores e da bola
para a minha própria baliza
Atacar a baliza adversária Proteção da minha baliza e do meu campo.
Cada princípio baliza de uma maneira específica às regras de ação dos
jogadores, como descrito abaixo, segundo Bayer (1994):
Princípio Operacional: Atacar a baliza adversária
Regras de ação individual (Portador da bola): Lançar com precisão e muitas
vezes com potência a bola num ou sobre um alvo, após estar ou ter sido desmarcado:
criação duma situação de superioridade numérica ou 1 contra o goleiro.
Regras de ação coletiva (sem portadores de posse de bola): Pressionar o
adversário do seu parceiro para manter mais tempo o espaço livre aberto e facilitar a sua
desmarcação; colocar-se em apoio em caso de sucesso do remate ou na impossibilidade
deste.
Princípio Operacional: Progressão para a baliza adversária no ataque
Regras de ação individual: Levar a bola para a baliza adversária realizando
corrida para o espaço livre para a baliza e manobras contra adversários diretos.
Regras de ação coletiva: Trocas de posições curtas e longas a fim de criação de
linhas de passes e desmarcações em progressão.
Princípio Operacional: A conservação da posse no ataque
Regras de ação individual: Manter o controle da bola, transmissão (passe) da
bola.
Regras de ação coletiva: Desmarcação, chamada da bola, troca com os
16
parceiros.
Princípio Operacional: A recuperação da bola na defesa
Regras de ação individual: Agir ativamente sobre o portador da bola; sobre os
não portadores da bola; sobre a trajetória da mesma. Pressionar em contato; muito próximo
ao portador da bola.
Regras de ação coletiva: Agir sobre toda a equipe adversária a fim de recuperar
a posse de bola pressionando tanto o portador da bola (recuperação a partir de um combate
direto) como o restante da equipe (recuperar a bola através de interceptações).
Princípio Operacional: Perturbar a progressão do adversário na defesa
Regras de ação individual: Agir sobre o portador da bola para impedir a
progressão do adversário nos espaços livres do portador da bola.
Regras de ação coletiva: Marcação dos adversários não portadores da bola para
impedir os passes.
Princípio Operacional: A proteção da baliza na defesa
Regras de ação individual: Agir sobre a trajetória do remate, pressionar,
interceptar, dissuadir o portador da bola.
Regras de ação coletiva: Criar superioridade numérica no lado da bola; ajudar o
companheiro defensor responsável pelo portador da bola.
Bayer não contempla os momentos de transição ofensiva e defensiva. As
transições se configuram como os momentos imediatamente a perda da bola, transição
defensiva e imediatamente após a recuperação da posse de bola, transição ofensiva.
Nesses momentos específicos de jogo a equipe também necessidade de regras
de ação que orientem os atletas. Dessa maneira Leitão (2008) apresenta 3 princípios de
transição ofensiva e 3 de transição defensiva conforme Quadro 2.
17
Quadro 2 – Os Princípios operacionais de transição - Leitão (2008).
Transição Ofensiva Transição Defensiva
Tirar a bola da zona de recuperação Pressão na bola
Jogo vertical Recomposição
Manter a bola na zona de recuperação Manter a posição
Assim como os princípios operacionais de ataque e defesa, cada uns dos
princípios de transição orientam a ação dos jogadores de maneira específica.
Princípio Operacional: Tirar a Bola da Zona de Recuperação
Regras de ação individual: Retirar a bola da zona onde foi recuperada através
de passes para zonas seguras (sem marcação adversária) do campo.
Regras de ação coletiva: Criar linhas de passe em zonas seguras do campo.
Princípio Operacional: Jogo Vertical
Regras de ação individual: Buscar passes para frente assim que a bola é
recuperada.
Regras de ação coletiva: Criar linhas de passe para frente e movimentar-se a
fim de criar espaços em locais avançados no campo.
Princípio Operacional: Manter a Bola na Zona de Recuperação
Regras de ação individual: Manter a bola na região onde a mesma é recuperada.
Regras de ação coletiva: Manter a posição no campo de jogo.
Princípio Operacional: Pressão na Bola
Regras de ação individual: Pressionar o Portador da bola assim que a mesma é
perdida
Regras de ação coletiva: Fechar linhas de passe do portador da bola e pressionar
18
o mesmo.
Princípio Operacional: Recomposição
Regras de ação individual: Recompor-se atrás da linha da bola ou outra
referência construída dentro do modelo de jogo.
Regras de ação coletiva: Recompor-se fechando linhas de passe para frente da
equipe adversária.
Princípio Operacional: Manter Posição
Regras de ação individual: Manter a posição no campo de jogo.
Regras de ação coletiva: Manter a posição no campo de jogo.
2.2 O fractal tático
2.2.1 O modelo de jogo
No âmbito do ensino e treino do futebol, o conhecimento dos princípios
fundamentais do jogo com suas dinâmicas e interações para a resolução dos problemas no
contexto do futebol operacionalizam e caracterizam o modelo de jogo de cada equipe.
(GARGANTA, 2011).
Para Garganta (1997) o modelo de jogo se configura como o padrão de
organização da equipe observado ao longo de vários jogos e que permite entender o
comportamento de equipes e jogadores.
O modelo se refere ao conjunto de regras e referências que orientam a
organização coletiva da equipe. Através dessa organização pode-se identificar a forma de
jogar da equipe nos diferentes momentos do jogo. No modelo de jogo são definidos
comportamentos específicos que orientarão individual e coletivamente os jogadores nos
momentos de ataque, defesa e transições.
Tais comportamentos são orientados por princípios de jogo, que podem ser
divididos em Princípios Estruturais (LEITÃO, 2008) e Princípios Operacionais do Jogo
19
(BAYER, 1994; LEITÃO, 2008).
Os Princípios Estruturais orientam a ação dos jogadores em relação à ocupação
do espaço de jogo (LEITÃO, 2008). Com base em Hughes (1974); Vásquez Folgueira
(2002); Bangsbo, Peitersen (2002) e Parreira (2005) Leitão (2008) propõem os princípios
estruturais de ataque e defesa da seguinte maneira:
Ataque:
Amplitude, ou abertura: distância entre os jogadores mais “abertos” na
largura do campo de jogo (de uma linha lateral à outra).
Penetração: movimentação com o objetivo de ocupar os espaços nas costas
das linhas de defesa adversária.
Profundidade: tentativa de levar a linha de defesa da equipe adversária em
direção ao seu próprio gol, fazendo com que ela recue.
Mobilidade: movimentação inteligente, coordenada, ritmada e sincronizada
dos jogadores da equipe que ataca.
Apoio: distribuição dos jogadores durante todo o jogo, a fim de dar o maior
número possível de opções de passe para o jogador que estiver em posse da
bola.
Ultrapassagem: conceito coletivo no qual os jogadores da equipe se
deslocam para frente passando a linha da bola e criando opções de passe à
frente do jogador que tem a posse de bola.
Compactação ofensiva: proximidade dos jogadores quando a equipe ataca.
Defesa:
Retardamento, desaceleração ou temporização: posicionamento dos
jogadores para diminuir a velocidade de jogo do jogador que está com a
posse da bola.
Cobertura: Em linhas gerais, cobertura é a ocupação do espaço defensivo
entre o jogador da equipe adversária que está com bola e o gol.
Equilíbrio: distribuição dos jogadores em campo de forma homogênea, em
20
largura.
Basculação ou flutuação: orientação em largura para a equipe movimentar-se
quando a bola, estando com o adversário, é passada de um lado ao outro do
campo de jogo.
Recuperação: ocupação inteligente do espaço de jogo, de maneira a orientar
os jogadores no retorno ou recomposição na defesa.
Compactação: orientação espacial que visa manter as linhas de ataque, meio-
campo e defesa próximas umas às outras quando a equipe se defende.
Bloco: movimentação vertical de todos os jogadores da equipe em conjunto
(da direção da linha de fundo da defesa à outra)
Direcionamento: ocupação do espaço de jogo buscando conduzir o
adversário com bola para regiões menos favoráveis para que ele progrida no
campo de jogo e ao mesmo tempo, mais favorável para a retomada da posse
da bola pela equipe que defende.
Leitão (2008) define ainda os princípios que orientam os jogadores
estruturalmente nos momentos de transição ofensiva e defensiva da seguinte maneira:
Transição ofensiva:
Densidade ofensiva, ou de ataque: relação entre jogadores de ataque da
equipe sem a posse de bola e de defesa da equipe que está com a posse de
bola.
Balanço ofensivo, ou de ataque: distribuição espacial dos jogadores
responsáveis pelo ataque da equipe que está sem a posse de bola.
Proporção ou equilíbrio vertical de ataque: relação entre jogadores de defesa
e de ataque da mesma equipe.
Transição defensiva:
Densidade defensiva, ou de defesa: relação entre jogadores de defesa da
equipe com a posse de bola e de ataque da equipe que está sem a posse de
bola.
21
Balanço defensivo, ou de defesa: distribuição espacial dos jogadores
responsáveis pela defesa da equipe que ataca.
Proporção ou equilíbrio vertical de defesa: relação entre jogadores de defesa
e de ataque da mesma equipe.
Segundo Garganta (1997) partindo da observação destes planos, as equipes se
comportam como coletivos, organizando-se em função de regras, princípios e prescrições
particulares. As ações dos jogadores de uma mesma equipe tendem a convergir na medida
em que as estratégias e ações individuais são direcionadas para um objetivo comum,
contudo o mesmo autor alerta que tais referências do modelo de jogo não podem ser
entendidas como um fator de mecanização de gestos e ações.
Pois, como afirma Garganta (2001), o jogo de futebol se caracteriza como um
entrelaçado de ações que se somam e se opõem dentro do jogo. O jogador precisa resolver
os problemas do jogo face ao contexto que se apresenta com base no seu entendimento das
relações apresentadas, de seu conhecimento do jogo e do modelo de jogo da equipe. Sendo
assim, o modelo de jogo se apresenta como uma ferramenta que fornece informação sobre a
resolução coletiva e individual dos problemas do jogo.
Silva (2008) afirma que o modelo deve se transferir para o plano prático e se
constituir como a finalidade para quais os jogadores e equipes deve ser preparada. Para
Leitão (2009) “é a partir do modelo de jogo que a preparação da equipe, o desenvolvimento
do jogador e a análise real do desempenho surgem”.
Para Tamarit (2007) o modelo de jogo deve ser construído com base em
comportamentos específicos que se pretende para a equipe quando se joga.
Para Mourinho (2006), o modelo de jogo se configura como a direção ou o
norte que faz com que os jogadores pensem sobre a mesma perspectiva nos diferentes
momentos do jogo. Para Silva (2008) o modelo de jogo é determinante para configurar o
próprio jogo, pois se a forma de jogar de uma equipe preconizar a manutenção da posse de
bola, a dinâmica da mesma será distinta de uma equipe que preconiza as transições, com
isso os diferentes princípios de jogo são condicionados e é parte integrante do modelo.
Para Mourinho (2006) os princípios do modelo de jogo não deve se alterar em
22
função do adversário, pois é algo característico e é a identidade da equipe. Segundo o autor
o modelo deve ser construído ao longo do tempo e não se altera mais se solidifica com o
passar do tempo.
Contrário a esses autores Bota e Colibaba-Evulet (2001) apontam que os
modelos de jogo precisam ser visto constantemente e se apresentar-se ineficiente deve sofre
ajustes e se necessário outros devem ser construídos
Para Leitão (2008) uma equipe deveria ter seu modelo de jogo corrigido e
alterado sempre que necessário além de ter capacidade de jogar a partir de modelos de
jogos distintos. Benitez (2008) afirma que uma equipe precisa saber jogar de várias formas
e saber operacionalizar mais de um modelo de jogo.
Para Leitão (2008) novas discussões precisam ser feitas em relação ao modelo
de jogo. Esse estudo vem contribuir para a discussão sobre os diferentes modelos de jogo
adotados em equipes distintas e de como cada um deles influencia na realização dos gols
em diferentes culturas de jogo.
2.2.2 Análise de jogo
A análise tática surgiu para auxiliar os profissionais envolvidos no fenômeno
futebol. Para Hughes e Franks (1997) as informações advindas da análise dos
comportamentos de jogadores e equipes são fundamentais no aprendizado e no desempenho
esportivo por parte dos jogadores e treinadores.
Sobre esse tema Garganta (2001, p.39) afirma:
Por isso, o conhecimento a cerca da proficiência com que os jogadores e
as equipas realizam as diferentes tarefas tem-se revelado fundamental para
aferir a congruência da sua prestação em relação aos modelos de jogo e de
treino preconizados.
Sendo assim, os treinadores e investigadores estão buscando esclarecimentos a
cerca do desempenho dita diferencial dos jogadores e das equipes, com o intuito de
identificarem padrões que elucidem o rendimento desportivo e de como os conteúdos dos
modelos de jogo e treino induzem ou não a eficácia e a eficiência das equipes e dos
23
jogadores de futebol. (GARGANTA, 2001).
Para Garganta (2001) a tendência da análise desportiva é de configurar modelos
de jogo a partir de análise de base de dados quantitativas e qualitativas que permitam
definir táticas eficazes para a vitória. Sendo o jogo um ambiente de elevada complexidade e
aleatoriedade faz-se necessário uma definição adequada de seus procedimentos e
propósitos.
Mesmo sendo uma ferramenta fundamental para o entendimento do jogo a
análise tática ainda é vista com certa resistência por alguns profissionais envolvidos com o
fenômeno como afirma Garganta (2001, p. 45):
Não obstante a análise do jogo possa disponibilizar informação
importante, permanece ainda certa resistência à sua utilização, baseada na
visão tradicional de que os treinadores experientes podem observar um
jogo sem qualquer sistema de apoio à observação, e que retêm com
precisão os elementos críticos do jogo.
Com o entendimento do jogo através da análise do mesmo é possível manipular
a estrutura formal e funcional do jogo. Essas alterações são fundamentais, pois permitem
adequar a complexidade das atividades aos níveis de conhecimento e desempenho dos
atletas. (HOLT, STREAN, BENGOECHEA, 2002; LEE, WARD, 2009).
24
25
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Esta pesquisa terá como base uma abordagem qualitativa, onde os dados serão
coletados através de análises descritivas e interpretativas. (THOMAS, NELSON, 2007).
Foram analisados 6 jogos entre as equipes do Real Madrid e do Barcelona no
ano de 2012. Esses confrontos ocorreram no Campeonato Espanhol, Super Copa da
Espanha e Copa do Rei. Foram escolhidas tais equipes pelos motivos apresentados nos
objetivos do estudo.
Para análise foi feito o download dos vídeos dos 6 jogos através da plataforma
Wyscout. Os vídeos foram analisados diversas vezes para a obtenção de todos os dados
necessários.
A análise inicial foi feita em cima do modelo de jogo da cada uma das equipes
da seguinte maneira:
a) Princípios Operacionais (Ataque, Defesa, Transição Ofensiva e Defensiva).
b) Princípios Estruturais (Ataque, Defesa).
c) Esquema Tático
Todos os itens acima conforme apresentados nas referências bibliográficas.
Para coleta dos dados do modelo de jogo foi observado o esquema tático e cada um dos
Princípios Operacionais e Estruturais Predominantes a cada 15 minutos de jogo de cada
uma das equipes de maneira separada, ao final da partida foi determinado a partir desses
dados quais princípios predominantes compõe o modelo de jogo de cada uma das equipes.
Para definição dos Princípios Operacionais (Ataque, Defesa, Transição
Ofensiva e Transição Defensiva) foram observadas as regras de ação individuais e coletivas
da equipe em cada um dos momentos do jogo conforme apresentado no referencial teórico.
Para análise dos Princípios Estruturais (Ataque e Defesa) foi utilizado o
campograma a seguir:
26
Figura 1 – Campograma
Para análise de cada um dos Princípios Estruturais forma utilizados
procedimentos próprios conforme apresentados a seguir.
Os princípios de ataque foram avaliados quando equipe estava com bola e a
sequência ofensiva chegou até o campo de ataque (Zonas 4, 5 e 6). Tais princípios foram
avaliados da seguinte maneira:
Amplitude – Foi considerado que a equipe tinha amplitude quando os dois
corredores laterais (Direito e Esquerdo) eram ocupados por jogadores da equipe com posse
de bola simultaneamente no campo de ataque (Zonas 4, 5 ou 6).
Penetração – Foi considerado quando jogador do ataque progrediu sem bola
em direção ao espaço nas costas da ultima linha de defesa adversária com possibilidade de
recebimento de um passe.
Profundidade – Foi considerado quando jogador do ataque sem bola obrigou a
defesa adversária a ocupar uma zona mais próxima ao seu gol (defendido pela equipe
adversária).
27
Mobilidade – Foi considerado quando 3 ou mais jogadores trocaram de
quadrante simultaneamente criando novas linhas de passe.
Apoio – Foi considerado quando portador da bola possuía linhas de passe em
seu quadrante ou nos quadrantes subjacentes.
Ultrapassagem – Foi considerado quando portador da bola fez um passe para
frente e logo após progrediu sem bola criando uma linha de passe para frente para o novo
portador da bola.
Compactação Ofensiva – Foi considerado quando equipe ocupava 3 zonas
consecutivas do campo.
Os princípios de defesa foram avaliados quando equipes estavam sem bola e
sequência ofensiva do adversário chegava até o campo de ataque:
Retardamento – Foi considerado quando marcador direto do portador da bola
e os jogadores de defesa próximos tiveram ação sobre o mesmo sem a intenção do desarme
a fim de evitar a progressão do adversário.
Cobertura – Foi considerado que havia cobertura quando entre o portador da
bola e o gol havia mais do que um jogador da equipe de defesa.
Equilíbrio – Foi considerado quando havia jogadores da equipe de defesa em 3
ou 4 corredores atrás da linha da bola.
Basculação – Foi considerado quando jogadores se movimentavam de corredor
lateral (direito para esquerdo ou esquerdo para direito) acompanhando a movimentação da
bola sem perder o princípio do equilíbrio.
Recuperação – Foi considerado quando equipe sem bola passou a ocupar uma
zona mais próxima ao seu gol defendido assim que adversário progredia no campo de jogo.
Compactação – Foi considerado quando equipe sem bola ocupava de 3 a 2
zonas consecutivas atrás da linha da bola.
Bloco – Foi considerado quando equipe se movimentava entre a zonas do
campo (de 1 em direção à 5 ou de 5 em direção à 1) sem perder o princípio da
compactação.
Direcionamento – Foi considerado quando equipe sem bola obrigava
adversário a ir para quadrantes onde havia menos opções de passe sem progredir no campo
de jogo.
28
Para definição do esquema tático foi observado à disposição espacial e a relação
estabelecida entre jogadores da mesma linha de marcação. Foram definidos esquemas
táticos com até 5 linhas (1 do goleiro mais 4 dos jogadores de linha) de cada um dos
jogadores em suas devidas posições, conforme Figura 2:
Figura 2 - Jogadores analisados em suas posições para definição do esquema tático da equipe.
Na Figura 2 o Barcelona está posicionado no 1-4-3-3. O goleiro não aparece na
figura por conta da filmagem. Os jogadores destacados em amarelo representam a linha de
defesa, os destacados em azul a linha de meio campo e os destacados em vermelho da linha
de ataque.
Cada uma das sequências ofensivas terminadas em finalização - arremate da
bola com a intenção aparente da realização do gol – foram coletadas e analisadas
separadamente (as sequências ofensivas originadas de faltas e escanteios cobrados de
maneira direta, onde menos de 2 passes foram realizados foram excluídos da análise, pois o
comportamento das equipes tem outras referências, específicas a esse momento do jogo).
As sequências ofensivas terminadas em finalização são momentos determinantes dentro de
uma partida, onde há a possibilidade iminente da alteração do placar. Nas sequências
ofensivas foram observados os Princípios Operacionais (Ataque, Transição Ofensiva) e
Princípios Estruturais (Ataque) da equipe que tem a bola na sequência ofensiva e os
29
Princípios Operacionais (Defesa, Transição Defensiva) e Princípios Estruturais (Defesa) da
equipe que está sem a bola seguindo os mesmos procedimentos descritos acima em cada
uma das sequências.
Em relação às sequencias ofensivas terminadas em finalização foram analisadas
ainda os seguintes itens conforme adaptado de Leitão (2004):
a) Tempo de jogo decorrido
b) Tempo de realização do ataque
c) Forma de recuperação da bola
- Desarmes – “Forma direta de interrupção da progressão da jogada do adversário
quando a bola está de posse do jogador adversário” (Leitão, 2004).
- Interceptações – “Forma de interrupção direta de passes, cruzamentos e/ou
lançamentos da equipe adversária” (Leitão, 2004).
d) Número de passes em cada sequência ofensiva
- Passes – Incluindo passes, cruzamentos e lançamentos “Esses fundamentos são
caracterizados pela transmissão da posse de bola entre dois jogadores da mesma
equipe”. (Leitão, 2008).
e) Números de passes para o lado/trás e para frente em cada sequência ofensiva
- Passes para Lado/Trás - Caracterizado pela transmissão da posse de bola entre
dois jogadores da mesma equipe onde o jogador que recebe está mais longe ou a
mesma distância do gol adversário do que o jogador que transmite a bola.
- Passes para Frente – Caracterizado pela transmissão da posse de bola entre dois
jogadores da mesma equipe onde o jogador que recebe está mais próximo do gol
adversário do que o jogador que transmite a bola.
f) Número de toques do jogador que finaliza
g) Forma de Finalização
- Pé – Arremate com um dos pés (Direito ou Esquerdo)
- Cabeça – Arremate com a cabeça
- Outra parte do corpo – Arremate com outra parte do corpo
h) Local da Finalização
- Dentro da área – Dentro da Grande Área (Incluindo Pequena Área)
- Fora da área – Fora da Grande Área
30
31
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Os jogos
O universo da pesquisa contemplou 6 jogos entre as equipes do Real Madrid e
do Barcelona no ano de 2012, conforme apresentado no Quadro 3:
Quadro 3: Jogos das equipes do Real Madrid e Barcelona no ano de 2012
Jogo Competição Data Mandante Placar
(M x V) Visitante
1 Copa do Rei 18/01/2012 Real Madrid 1 x 2 Barcelona
2 Copa do Rei 25/01/2012 Barcelona 2 x 2 Real Madrid
3 Espanhol 21/04/2012 Barcelona 1 x 2 Real Madrid
4 Super Copa 23/08/2012 Barcelona 3 x 2 Real Madrid
5 Super Copa 29/08/2012 Real Madrid 2 x 1 Barcelona
6 Espanhol 07/10/2012 Barcelona 2 x 2 Real Madrid
Pode-se observar nos jogos que o equilíbrio entre as equipes foi marcante nas
diferentes competições. Nenhuma vitória ocorreu por mais de um gol de diferença. Cada
uma das equipes venceu 2 jogos e houve 2 empates. Esse equilíbrio mostra que as equipes
estão em patamares equivalentes e os detalhes é que fazem a diferença entre a vitória ou a
derrota. Tais detalhes são fractais do todo e interagem de maneira complexa com os demais
elementos do fenômeno.
Tendo em vista o postulado da teoria do caos que afirma que qualquer alteração
inicial no fenômeno gerar resultados caóticos ao longo do tempo, pode-se dizer que a
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alteração no campo de jogo pode gerar tais resultados (caóticos) e influir diretamente no
resultado da partida. No caso do Real Madrid dentro dos 6 jogos analisados apenas 2 foram
em seus domínios (em Madrid) porém esse fato não fez com que seu percentual de
aproveitamento de pontos fosse menor que o da equipe do Barcelona. Ambas as equipes na
soma de todos os jogos obtiveram um aproveitamento de 44%.
Como o número de jogos é reduzido para tirarmos conclusões, foi feita uma
análise adicional sobre o desempenho das equipes nos jogos dentro e fora de casa no
Campeonato Espanhol na temporada de 2011/2012 (Na Espanha as temporadas ne iniciam
no segundo semestre do ano e só terminam no inicio do ano subsequente). A Tabela 1
mostra o percentual de aproveitamento de cada uma das equipes dentro e fora de casa no
campeonato em questão:
Tabela 1 – Aproveitamento de pontos das equipes no Campeonato Espanhol de
2011/2012
Aproveitamento de pontos
como mandante
Aproveitamento de pontos
como visitante
Real Madrid 87,7% 87,7%
Barcelona 91,2% 68,4%
Assim como nos confrontos analisados o Real Madrid não teve queda de
aproveitamento nos jogos fora de casa já o Barcelona teve um aproveitamento maior em
casa que não se repetiu longe de Barcelona.
Pode-se inferir que a equipe do Real Madrid em busca de manter seu equilíbrio
sistêmico frente às alterações iniciais advindas do mando de campo (jogando fora de casa)
gerou uma organização (auto-organizativa) mais evoluída do que a equipe do Barcelona e
assim obteve melhores resultados no Campeonato Espanhol na temporada de 2011/2012, já
a equipe do Barcelona gerou uma organização (auto-organizativa) mais evoluída dentro de
casa, mas fora não repetiu seu desempenho.
Antes mesmo de entrar na discussão propriamente dita do trabalho pode-se
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inferir que ao contrário do que se preconiza o fator casa para a equipe do Real Madrid na
temporada de 2011/2012 não fez com que a equipe perdesse desempenho, fato que pode ser
melhor explorado em outros trabalhos.
Voltando para o foco do estudo, a partir de agora a busca será em identificar o
que levou cada uma das equipes ao êxito nos jogos analisados. As análises se iniciarão
pelos modelos de jogo apresentados pelas equipes ao longo das partidas.
4.2 O modelo de Jogo
O modelo de jogo como descrito no referencial teórico é o norte orientador da
ação coletiva dos jogadores em campo. Através de sua análise pode-se observar que
determinadas equipes tem referências sólidas que não se alteram conforme o campeonato e
a competição em questão. Outras, no entanto tem modificações sistemáticas em suas
referências conforme a necessidade e contexto do jogo.
Para Morin (1996) todo sistema pode-se organizar melhor se sua identidade
potencializar as características do todo e dos elementos, sem retirar-lhes autonomia.
Fortalecer a equipe e a autonomia dos jogadores representa dar significado comum tanto às
ações individuais como as ações coletivas, proporcionando uma melhor compreensão do
jogo aos seus praticantes.
A compreensão dos jogadores manifesta-se coletivamente a partir de suas ações
para manter o sistema organizado e para cumprir a lógica do jogo. Para observar a
inteligência coletiva pode-se analisar, por exemplo, o esquema tático e os princípios de
jogo. (LEITÃO, 2009).
Nesse estudo como se trata de duas equipes do mais alto nível, a inteligência
coletiva reside na compreensão apurada que os jogadores possuem sobre o jogo e pelas
referências construídas ao longo do tempo.
A partir das análises do presente estudo pode-se notar que as equipes do Real
Madrid e do Barcelona apresentaram modelos de jogo distintos a partir de referências
marcantes.
O Barcelona apresentou um modelo de jogo com menos variações do ponto de
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vista da predominância. Os princípios operacionais, estruturais e do esquema táticos
sofreram poucas alterações ao longo dos jogos analisados.
No Quadro 4 pode-se observar o modelo de jogo da equipe:
Quadro 4 – Modelo de jogo do Barcelona
Modelo de Jogo Predominante
Esquema Tático 1-4-3-3 (5) / 1-3-4-3 (1)
Princípio Operacional de Ataque Conservação da Posse de Bola (6)
Princípio Operacional de Defesa Recuperação da Posse de Bola (6)
Princípio Operacional de Transição Ofensiva Retirar a Bola da Zona de Recuperação (6)
Princípio Operacional de Transição Defensiva Pressão na Bola (6)
Princípios Estruturais de Ataque Mobilidade (6) / Apoio (6) / Amplitude (4) /
Penetração (1) / Compactação Ofensiva (1)
Princípios Estruturais de Defesa Direcionamento (5) / Cobertura (5) /
Compactação (4) / Bloco (2) / Recuperação (2)
Valores entre parênteses apresentam o número de partidas em que a equipe apresentou esses
comportamentos como predominantes.
Em linhas gerais a equipe do Barcelona apresentou um modelo de jogo bem
definido com variações pontuais que não mudavam drasticamente a forma da equipe jogar.
Para Moreno (2010) a equipe do Barcelona apresenta uma cultura própria que não se altera
frente aos adversários e não retira a autonomia e a interação inteligente de seus jogadores.
Cabe destacar que o Modelo de Jogo em si é um orientador das ações dos
jogadores em campo, porém deve-se tomar cuidado para não reduzir o jogo ao modelo. Se
o jogo ficar reduzido ao cumprimento do modelo, ou seja, se os jogadores começarem a
jogar o jogo para cumpri os princípios táticos ao invés de utilizar os seus conceitos para
cumprir a lógica, a autonomia dos atletas fica reduzida. A autonomia dos jogadores reside
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na capacidade de resolução de problemas do jogo e não na manutenção dos princípios de
seu modelo.
Ter uma identidade própria baseada em um modelo fixo não garante o
resultado, pois essa identidade deve ter a lógica do jogo como o norte maior de orientação
aos jogadores.
Analisando apenas as questões predominantes do modelo pode-se inferir
erradamente que talvez o Barcelona jogue para cumprir suas referências táticas, porém
olhando para seu retrospecto vitorioso nos anos de 2011/2012/2013 não se pode dizer que a
equipe não cumpre bem a lógica do jogo.
Com base no modelo de jogo predominante e no resultado dos jogos analisados
não se pode afirmar que houve algum princípio da equipe do Barcelona que levou a equipe
a vitória.
Por outro lado, em uma das derrotas da equipe, jogo 3, foi observado duas
referências que estiveram presentes apenas nesse jogo:
- O esquema tático: 1-3-4-3
- O princípio estrutural de ataque: Compactação Ofensiva.
Pode-se inferir assim que nos confrontos analisados essas referências não
potencializaram o êxito da equipe. Para se afirmar que tais referências não potencializam a
vitória da equipe de uma maneira geral é preciso que seja feita uma análise sobre uma gama
maior de partidas.
Iniciando as análises sobre o modelo de jogo da equipe do Real Madrid pode-se
observar no Quadro 5 que se trata de uma equipe com referências distintas e que se
alternaram muito mais dentro dos jogos analisados em relação aos dados encontrados na
equipe do Barcelona.
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Quadro 5 – Modelo de jogo do Real Madrid
Modelo de Jogo Predominante
Esquema Tático 1-4-4-1-1 (3) / 1-4-2-3-1 (2) / 1-4-3-3 (1)
Princípio Operacional de Ataque Progressão no Campo de Jogo (6)
Princípio Operacional de Defesa Recuperação da Posse de Bola (3) / Impedir
Progressão (3)
Princípio Operacional de Transição Ofensiva Jogo Vertical (6)
Princípio Operacional de Transição Defensiva Pressão na Bola (3) / Recomposição (3)
Princípios Estruturais de Ataque Ultrapassagem (6) / Apoio (5) / Profundidade
(3) / Penetração (3) / Amplitude (1)
Princípios Estruturais de Defesa Equilíbrio (5) / Compactação (5) / Flutuação (4)
/ Bloco (3) / Direcionamento (1)
Valores entre parênteses apresentam o número de partidas em que a equipe apresentou esses
comportamentos como predominantes.
O Real Madrid apresentou maior variação nos parâmetros observados,
contradizendo uma definição de seu próprio treinador, José Mourinho, que afirma que os
princípios do modelo de jogo não devem se alterar em função do adversário, pois é a
identidade da equipe e ao longo do tempo se solidifica e não se altera. Essa definição vai ao
encontro dos dados observados na equipe do Barcelona, mas nãodo Real Madrid. O
treinador nesse caso manteve apenas os princípios de ataque e transição ofensiva
inalterados.
A equipe de Madrid apresentou uma pela busca pela progressão no campo de
jogo a fim da obtenção do gol de maneira rápida sem uma preocupação pela conservação da
posse de bola. Pode-se observar que esses princípios se contrapõem aos apresentados pela
equipe do Barcelona.
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Mesmo apresentando princípios com regras de ação distintas o número de gols
feitos por cada equipe foi igual, sendo assim, através da análise das predominâncias, não se
pode afirmar que a Conservação da Posse de Bola aliado a Retirada da Bola da Zona de
Recuperação foi mais efetiva que a Progressão no Campo de Jogo aliado ao Jogo Vertical.
Como o jogo de futebol é baseado em uma disputa entre duas equipes as
análises se voltaram para os confrontos entre os princípios de cada uma delas (Defesa-
Ataque/Ataque-Defesa, assim como os de transição) em seus respectivos modelos de jogo.
No Quadros 6 estão representados os Princípios Operacionais de Ataque e
Transição Ofensiva da equipe do Real Madrid se opondo com os Princípios Operacionais
de Defesa e Transição Defensiva do Barcelona:
Quadro 6 – Confronto entre princípios de ataque e defesa das equipes 1
Real Madrid Barcelona
Princípio Operacional Ataque /
Defesa Progressão no Campo de Jogo Recuperação da Posse de Bola
Princípio Operacional
Transição Ofensiva /
Defensiva
Jogo Vertical Pressão na Bola
No Quadros 7 estão representados os Princípios Operacionais de Ataque e
Transição Ofensiva da equipe do Barcelona se opondo com os Princípios Operacionais de
Defesa e Transição Defensiva do Real Madrid:
Quadro 7 – Confronto entre princípios de ataque e defesa das equipes 2
Barcelona Real Madrid
Princípio Operacional Ataque /
Defesa Manutenção da Posse de Bola
Impedir Progressão /
Recuperação da Posse de Bola
Princípio Operacional
Transição Ofensiva /
Defensiva
Retirar a bola da Zona de
Recuperação
Pressão na Bola /
Recomposição
Nos Quadros 6 e 7 pode-se observar que ocorreram 2 confrontos distintos. No
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Quadro 6 o Real Madrid apresentou a progressão no campo de jogo e o jogo vertical, esses
princípios se confrontaram com a recuperação da posse de bola e a pressão na bola do
Barcelona, em todos os jogos os confrontos se mantiveram dessa forma, não houve
alterações em nenhum deles. Em todas as partidas o Real Madrid realizou 11 gols e em
nenhuma partida ficou sem marcar ao menos 1 gol. Nesse confronto o que se viu ao longo
dos jogos foi que cada uma das equipes buscava cumprir melhor o seu princípio para se
sobressair ao do adversário. Mesmo dentro das partidas não houve alterações.
Por outro lado no Quadro 7 pode-se observar que o Barcelona apresentou a
manutenção da posse de bola e retirar a bola da zona de recuperação, contudo ao contrário
do seu rival o Real Madrid modificou seu princípio operacional de defesa e o de transição
defensiva ao longo dos jogos alternando impedir progressão e recuperação da posse de bola
na defesa e pressão na bola e recomposição na transição. Antes de discutir as alterações na
defesa do Real Madrid, nota-se que no ataque mesmo as equipes apresentando princípios
operacionais de ataque e transição distintos, o número de gols marcados por ambas foi o
mesmo, 11. Sendo assim não se pode inferir que houve um princípio de ataque e um de
transição superior, ambos apresentaram o mesmo índice de gols.
Em relação aos princípios de defesa da equipe do Real Madrid pode-se observar
que sempre que alterou o princípio de defesa alterou também o princípio de transição
defensiva, em ambos os casos a equipe do Barcelona manteve como princípio de ataque e
transição ofensiva a conservação da posse de bola e retirar a bola da zona de recuperação,
respectivamente, dessa forma pode-se analisar como o resultado se modificou frente às
mudanças da equipe do Real Madrid, conforme Tabela 2:
Tabela 2 – Aproveitamento da equipe utilizando cada um dos princípios de defesa e
transição defensiva
Princípio de Defesa /
Transição Defensiva Gols Sofridos Aproveit. de Pontos
Recuperação da Posse de Bola
/ Pressão na Bola 5 55,5%
Impedir Progressão /
Recomposição 6 33,3%
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Na Tabela 2 podemos observar que quando a equipe de Madrid utilizou a
recuperação da posse de bola e a pressão na bola como princípios de defesa e transição
defensiva, respectivamente, sofreu menos gols e teve um aproveitamento maior de pontos.
Dessa maneira pode-se afirmar que nos jogos observados foi mais vantajoso para a equipe
do Real Madrid utilizar tais princípios na defesa e na transição defensiva.
Na observação dos jogos foi notório que quando o Real Madrid adotava o
princípio de defesa impedir a progressão o Barcelona conseguia conservar a posse de bola
em seu campo de ataque com certa facilidade, assim que o Real Madrid deixava algum
espaço o Barcelona buscava um passe ou uma infiltração gerando perigos para a defesa
madrilena.
Figura 3 - Equipe do Real Madrid impedindo progressão, jogador do Barcelona no campo de
ataque com muitas opções de passe.
Na Figura 3 pode-se notar que a equipe do Real Madrid (equipe branca) não
está pressionando o portador da bola do Barcelona (circulado em vermelho), mas sim
tentando impedir a progressão da equipe adversária no campo de jogo. Sem ser pressionado
o jogador do Barcelona consegue analisar suas possibilidades de passe e executar sua ação
com certa facilidade. Além do mais, o Real Madrid mesmo adotando o princípio de impedir
progressão não está fechando as linhas de passe para à frente do Barcelona (setas
vermelhas), ou seja, não está cumprindo bem tal princípio de jogo, fato que corrobora com
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a queda de desempenho quando a equipe adotou tal princípio.
Já quando a equipe do Real Madrid adotava a Recuperação da Posse como
princípio de defesa o Barcelona tinha dificuldades em manter a bola no campo de ataque,
pois seus jogadores estavam sempre sobre pressão e não conseguiam realizar passes
seguros.
Figura 4 - Equipe do Real Madrid buscando recuperar a posse de bola e pressionando jogador
adversário que se vê sem opções de passe para conservação da bola no campo de ataque.
Na figura 4 pode-se observar que a equipe do Real Madrid (equipe branca) está
pressionando o portador da bola da equipe do Barcelona (circulado em vermelho) e o
direcionado para o seu campo de defesa. Dessa forma as linhas de passe se resumem a
passes para trás e para o campo de defesa do Barcelona.
Outro ponto importante a ser levantado é o confronto dos princípios nas
transições. Começando pelo confronto entre os princípios de transição defensiva do Real
Madrid contra o de transição ofensiva do Barcelona temos basicamente duas situações
distintas. Na primeira situação a equipe do Real Madrid adotou a recomposição contra a
retirada da bola da zona de recuperação do Barcelona, e na outra o Real Madrid adotou a
pressão na bola contra a mesma retirada da zona de recuperação do Barcelona.
Quando o Real Madrid adotou o princípio da recomposição o Barcelona
conseguia com certa facilidade retirar a bola da zona onde ela foi recuperada e se organizar
para atacar.
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Figura 5 - Equipe do Barcelona acaba de recuperar a posse de bola e equipe do Real Madrid inicia
a recomposição deixando o jogador adversário em pressão.
Na Figura 5 pode-se notar a recomposição da equipe do Real Madrid (as setas
indicam a direção da movimentação dos jogadores após a foto) e a falta de pressão no
portador da bola que acaba de recuperá-la (circulo vermelho). Nesse caso a preocupação da
equipe do Real Madrid foi de ocupar os espaços prioritários (cada jogador tem o seu) mais
próximos ao seu gol defendido e deixar o portador da bola do Barcelona livre para retirar a
bola da zona onde ela foi recuperada. Dessa forma o Barcelona retirava a bola dessa zona,
ou por vezes a mantinha na mesma, pois não havia pressão e se organizava para iniciar sua
fase de ataque. Por outro lado a equipe do Real Madrid realizava a recomposição e se
organizava para se defender e impedir a progressão no campo de jogo do adversário, como
foi citado acima.
Quando a equipe do Real Madrid exercia a pressão no portador da bola
imediatamente após a sua perda, o Barcelona já tinha dificualdes para retirar a bola da zona
onde ela foi recuperada e assim se organizar para o momento ofensivo.
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Figura 6 - Logo após a perda da bola os jogadores do Real Madrid já realizam a pressão no
adversário no campo de ataque.
Na Figura 6 o portador da bola do Barcelona tinha acabado de recuperá-la
(através de uma interceptação) nesse momento os jogadores do Real Madrid já iniciam a
pressão na bola (as setas indicam a direção da movimentação dos jogadores após a foto) a
fim de recuperá-la e de evitar com que o adversário retire a bola desta zona. Pode-se notar
ainda na Figura 6 que o jogador do Barcelona que está com a bola tem poucas opções de
passe e pouco tempo para agir (observado através da análise do vídeo). Dessa forma o Real
Madrid dificultava a transição do Barcelona e por vezes já recuperava a bola nesse
momento da partida.
Outro ponto importante a se destacar é que quando a equipe de Madrid buscava
recuperar a posse de bola, por vezes o fazia em zona avançadas do campo o que
privilegiava sua transição ofensiva e seu ataque, pois a progressão em direção ao gol
adversário era menor e com havia menos jogadores adversários entre a bola e o gol.
Partindo para a análise dos princípios estruturais pode-se observar que tanto no
ataque como na defesa as equipe apresentaram princípios distintos, o que era esperado, pois
os demais princípios analisados foram divergentes entre as equipe e os princípios
estruturais deve se integrar com os mesmos. No Quadro 8 pode-se observar os princípios
que mais foram observados em cada uma das equipes dentro dos jogos, valores entre
parênteses apresentam o número de partidas em que a equipe apresentou esses
comportamentos como predominantes:
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Quadro 8 – Princípios estruturais de ataque e defesa das equipes
Real Madrid Barcelona
Princípio Estrutural Ataque
Ultrapassagem (6) / Apoio
(5) / Profundidade (3) /
Penetração (3)
Mobilidade (6) / Apoio (6) /
Amplitude (4)
Princípio Estrutural Defesa
Equilíbrio (5) /
Compactação (5) /
Flutuação (4)
Direcionamento (5) /
Cobertura (5) /
Compactação (4)
Analisando a equipe de Madrid foi verificado que no ataque os princípios
estruturais e operacionais se completam, pois como a equipe busca um jogo de progressão,
a ultrapassagem, a profundidade e a penetração são fundamentais para que as regras de
ação sejam cumpridas a partir de uma boa estruturação espacial potencializada por tais
princípios estruturais.
O Barcelona por sua vez apresentou os princípios de mobilidade, apoio e
amplitude, que auxiliam na conservação da posse de bola, integrando de maneira sinérgica
com o princípio operacional da equipe.
Através da análise dos princípios estruturais das equipes no momento defensivo
pode-se observar que ambas apresentaram princípios que buscavam a anulação dos
princípios estruturais de ataque de seu adversário. Como o Barcelona quando estava com a
bola tinha amplitude, mobilidade e apoio para a circulação da bola de lateral a lateral no
campo de ataque o Real Madrid apresentou em seu modelo de jogo predominante a
compactação para com que o Barcelona não tivesse apoio por entre suas linhas de
marcação, a flutuação para fechar os espaços do Barcelona quando o mesmo circulava a
bola de lateral a lateral e o equilíbrio para garantir que o lado oposto da bola não ficasse
desprotegido.
O Real Madrid quando tinha a bola já buscava a ultrapassagem, a
profundidade, a penetração e o apoio a fim de criar espaços em progressão nas costas das
linhas de marcação adversária, por isso o Barcelona tinha a compactação para evitar
espaços por entre suas linhas de marcação, a cobertura para evitar as bolas em
44
profundidade nas costas da defesa e o direcionamento para as laterais para dificultar os
lançamentos em profundidade pela região central.
Sobre os princípios estruturais nesses jogos pode-se concluir que os princípios
estruturais de ataque são diretamente ligados aos princípios operacionais de ataque e dá
ferramentas para o cumprimento do mesmo. Já os princípios estruturais de defesa se
relacionaram diretamente com os princípios estruturais do adversário e não apenas com os
princípios operacionais da equipe, haja visto que a equipe do Real Madrid alterou seu
princípio operacional de defesa ao longo dos jogos, mas seus princípios estruturais não se
alteraram por conta disso.
Silva (2013) afirma que equipes vencedoras apresentam superioridade em
relação aos perdedores em princípios táticos específicos e possuem uma postura tática
distinta, contudo esse estudo, analisando apenas os princípios de jogo e o modelo fica
evidente que essas referências são norteadoras da ação dos jogadores nos diferentes
momentos da partida e se integram de maneira complexa, porém não se pode inferir que do
ponto de vista da predominância houve um modelo de jogo superior. Pode-se sim afirmar
que determinados princípios potencializaram a performance das equipes em determinados
jogos, mas ainda é preciso analisar aquilo que é determinante, para isso partimos para as
sequências ofensivas terminadas em finalização, pois são nesses momentos que a
inteligências circunstancial coletiva e individual se aflora e o resultado é definido.
4.3 Sequências ofensivas
As sequências ofensivas possuem em si uma gama impar de situações e
possibilidade de análise que já foram discutidas por diversos autores. (REEP, BENJAMIN,
1968; TENGA, BATE, 1988; BATE, 1988; OLSEN, 1988; DUFOUR, 1993;
GARGANTA, 1997; LARSEN, 1997; GRANT et al., 1999; MOMBAERTS, 2000;
HOOK, HUGHES, 2001; JONES et al., 2004; SUZUKI, NISHIJIMA, 2004; OLSEN et
al., 2005; HUGHES, CHURCHILL, 2005; POLMAN, O´DONOGHUE, 2005;
MESONERO, SAINZ, 2006; SEABRA, DANTAS, 2006; BLOOMFIELD et al., 2007;
TAYLOR et al., 2008; LEITÃO, 2009; TENGA et al., 2010; LAGO, 2012). Contudo
45
poucos ainda se focaram nas questões táticas envolvidas nesse momento específico do jogo.
Para Lago et. al. (2012) dentro dessas diferentes abordagens na hora de analisar
o momento ofensivo pode-se encontrar aspectos de três tipos: temporal, espacial e modal.
Em relação à questão temporal pode-se encontrar estudos que falam sobre a duração das
jogadas de ataque (GARGANTA, 1997; MOMBAERTS, 2000, HOOK, HUGHES, 2001;
LEITÃO, 2004). Em relação ao espaço pode-se encontrar estudos que falam do local onde a
jogada de ataque ocorre (REEP, BENJAMIM, 1968; MOMBAERTS, 2000; LEITÃO,
2004; HUGHES, CHURCHILL, 2005). Em relação aos aspectos modais pode-se encontrar
estudos que analisam o tipo de ataque e o tipo de progressão da equipe. (OLSEN,
LARSEN, 1997; TENGA et al., 2010). Outros estudos ainda analisam a conduta defensiva
dos adversários. (HARRIS, REILLY, 1988; GREHAIGNE, 1991). No presente estudo
foram analisados questões dos três tipos (temporal, espacial e modal), contudo o foco das
análises se voltou prioritariamente para as questões modais, pois os estudos ainda são
escassos sobre tal assunto.
Para identificação de tais questões modais foram analisadas 82 sequências
ofensivas terminadas em finalização, dessas 40 foram da equipe de Madrid e 42 da equipe
de Barcelona. Em cada uma das sequências ofensivas foi observado quais princípios
estavam presentes a fim de gerar um modelo de jogo determinante de cada uma das
equipes.
Começando a discussão pela equipe de Barcelona, pode-se observar no Quadro
9 os princípios de ataque e transição ofensiva que mais estiveram presentes nas sequências
ofensivas terminadas em finalização da equipe.
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Quadro 9 – Modelo de jogo nas sequências ofensivas do Barcelona
Modelo de Jogo Determinante
Princípio Operacional de Ataque Progressão no Campo de Jogo (75%)
Princípio Operacional de Transição Ofensiva Jogo Vertical (45%)
Princípios Estruturais de Ataque Penetração (32,5%) / Mobilidade (30%) /
Amplitude (17,5%)
Valores entre parênteses apresentam o percentual em que a equipe apresentou esses comportamentos dentro
das sequências ofensivas observadas.
Com base nos dados encontrados acima se pode verificar que o Barcelona
apresentou referências diferentes dos analisados no modelo de jogo predominante conforme
Quadro 10:
Quadro 10 – Comparação entre o modelo de jogo observado nas sequências ofensivas
da equipe (determinante) e o modelo de jogo predominante da equipe do Barcelona
Modelo de Jogo Determinante Predominante
Princípio Operacional de Ataque Progressão no Campo de Jogo Conservação da Posse de
Bola
Princípio Operacional de
Transição Ofensiva Jogo Vertical
Retirar a Bola da Zona de
Recuperação
Princípios Estruturais de Ataque Penetração / Mobilidade /
Amplitude
Mobilidade / Apoio /
Amplitude
Através das análises pode-se notar que o princípio da Conservação da Posse de
Bola foi predominante durante o jogo, mas esteve presente em apenas 26% das sequências
ofensivas terminadas em finalização. Por outro lado a Progressão no Campo de Jogo não
esteve presente de maneira predominante em nenhuma partida, mas esteve presente em
74% das sequencias ofensivas terminadas em finalização da equipe. Ou seja, na maior parte
do tempo a equipe conservou a posse de bola, mas criou mais situações de finalização
47
adotando um princípio de progressão no campo de jogo.
Analisando apenas os dados desse estudo pode-se inferir que o princípio de
ataque progressão no campo de jogo foi mais vantajoso para o Barcelona, pois apesar de
não ser predominante esteve presente na grande maioria de jogadas determinantes. Contudo
não podemos afirmar que a equipe deveria adotar tal princípio como predominante a fim de
criar ainda mais chances de gol, pois em sua história recente a equipe construiu uma cultura
baseada no espetáculo da manutenção da posse de bola, onde a equipe preza além da
criação das jogadas de gol um belo jogo de passes atraente ao público. O Barcelona
mantem a posse de bola também a fim de tentar manter o controle da partida, ditando o
ritmo de jogo.
Nesse ponto pela complexidade da situação não se pode afirmar que o mais
vantajoso para a equipe de Barcelona seria mudar o seu princípio de jogo predominante,
pois além de tudo o jogo obedece às leis do caos, onde a alteração em um dos princípios
geraria uma nova ordem caótica podendo levar a equipe a um nível superior ou não. A
grande questão nesse caso, não seria apenas mudar um ou outro princípio, mas sim fazer
com que os jogadores saibam dar as melhores respostas para cada uma das circunstâncias
da partida.
Vale destacar ainda que apesar de ter um modelo predominante bem definido e
com poucas variações ao longo dos jogos o Barcelona possui uma flexibilidade
circunstancial nos momentos emergenciais determinantes da partida.
Segundo Moreno (2010) a equipe do Barcelona não se altera frente aos
adversários, isso foi verificado, mas foi verificado também que a equipe possui alterações
circunstanciais dentro de seu modelo de jogo que se manifestam em partes fractais do jogo
como nas observadas nas sequências ofensivas. Pode-se afirmar que essas alterações fazem
parte do modelo de jogo, pois quando elas ocorreram foi verificado que as respostas forma
coletivas e não individuais apenas, ou seja, quando um princípio foi modificado toda a
equipe agiu conforme suas regras de ação e não apenas 1 ou 2 jogadores.
Pensando em um modelo de jogo ideal, todos os jogadores deveriam entender e
ser capazes de agir a partir de diferentes princípios de acordo com as necessidades
circunstanciais e momentâneas da partida. Isso só é possível se um processo de treino
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adequado fosse estruturado e aplicado ao longo do tempo, pois toda mudança de
comportamento coletivo requer um entendimento muito grande por parte de todos os
jogadores.
Moreno (2010) afirma ainda que o modelo de jogo da equipe não retira a
autonomia e as interações inteligentes, nesse caso pode-se observar que os jogadores
podem decidir fora do que é predominante e inclusive criar oportunidades a partir de
jogadas de improviso e ações individuais (15% das sequências ofensivas terminas em
finalização da equipe ocorreram a partir de jogadas individuais). Todos esses fatos nos
ajudam a entender um pouco do sucesso vivido pela equipe do Barcelona.
Partindo para análise da equipe do Rela Madrid, pode-se observar no Quadro 11
os princípios encontrados nas sequências ofensivas terminadas em finalização:
Quadro 11 – Modelo de jogo nas sequências ofensivas do Real Madrid
Modelo de Jogo Determinante
Princípio Operacional de Ataque Progressão no Campo de Jogo (80%)
Princípio Operacional de Transição Ofensiva Jogo Vertical (65%)
Princípios Estruturais de Ataque Penetração (37,5%) / Ultrapassagem (30%) /
Amplitude (27,5%)
Valores entre parênteses apresentam o percentual em que a equipe apresentou esses comportamentos dentro
das sequências ofensivas observadas.
Com base nos dados encontrados acima pode-se verificar que o Real Madrid ao
contrário do Barcelona apresentou os mesmo princípios operacionais de ataque e transição
ofensiva nos momentos determinantes e predominantes da partida, houve diferença apenas
nos princípios estruturais conforme Quadro 12:
49
Quadro 12 – Comparação entre o modelo de jogo observado nas sequências ofensivas
da equipe (determinante) e o modelo de jogo predominante da equipe do Real Madrid
Modelo de Jogo Determinante Predominante
Princípio Operacional de Ataque Progressão no Campo de Jogo Progressão no Campo de
Jogo
Princípio Operacional de
Transição Ofensiva Jogo Vertical Jogo Vertical
Princípios Estruturais de Ataque Penetração / Ultrapassagem /
Amplitude
Ultrapassagem / Apoio /
Profundidade / Penetração
O Real Madrid apresentou os mesmos princípios de ataque e transição ofensiva
no modelo de jogo predominante e nas sequencias ofensivas terminadas em finalização,
porém não apresentou nenhum parâmetro de desempenho (numero de gols, finalizações ou
vitórias) diferente da equipe do Barcelona que teve diferença entre os princípios
predominantes e determinantes. Dessa maneira pode-se inferir que a diferença entre os
princípios encontrados no modelo de jogo predominante e nas sequências ofensivas
terminadas em finalização não foram relevantes para o êxito, pois ambas as equipes
apresentaram dados distintos e seus desempenhos foram os mesmos.
Ainda sobre a equipe de Madrid, foi notório que nos jogos que as variações na
forma de jogar ocorreram na fase defensiva apenas, nas questões ofensivas a equipe
apresentou o mesmo comportamento em todos os jogos. Sempre que recuperava a posse de
bola os jogadores da equipe buscavam trocas de passes em progressão. Em raras vezes
houve tentativa de manutenção da posse de bola. Dessa maneira pode-se inferir que em
comparação com o Barcelona no momento ofensivo a equipe de Madrid dispunha de menos
possibilidades táticas e seus jogadores decidiam a partir de um determinado comportamento
pré-estabelecido. Além disso, analisando as sequencias ofensivas terminadas em finalização
foi verificado que apenas 5% das sequências ofensivas terminadas em finalização da equipe
foram criadas a partir de jogadas individuais.
Um ponto importante a ser destacado é o fato de que a Progressão no Campo de
Jogo e o Jogo Vertical estiveram presentes no modelo de jogo determinante das duas
50
equipes. Somando todas as sequências ofensivas do estudo a Progressão do Campo de Jogo
aparece em 75% das sequencias enquanto o Jogo Vertical ocorrem em 53,6%. Como os
dois estiveram presentes nas duas equipes, mesmo um delas apresentando princípios
predominantes diferentes, pode-se inferir que esses princípios aproximaram as equipes do
gol e assim do êxito, dessa forma fica aqui uma possibilidade de análise de um universo
maior de jogos a fim de verificar se esses são dois princípios fundamentais para a vitória,
pois além de tudo os dois princípios tem objetivos que de certa maneira se aproximam do
cumprimento da lógica do jogo, ambos visam a obtenção da progressão da bola e da equipe
em direção ao gol adversário.
Partindo para a analise dos princípios estruturais pode-se verificar que o Apoio
esteve presente em ambos os modelos de jogos determinantes, mas nas sequências
ofensivas terminadas em finalização a Penetração e a Amplitude é que figuraram em ambas
as equipes.
Comparando os 3 princípios que mais apareceram nos modelos e nas
sequências temos a seguinte configuração:
Quadro 13 – Princípios estruturais das equipes
Barcelona Real Madrid
Princípios Predominantes no
Modelo
Mobilidade / Apoio /
Amplitude
Ultrapassagem / Apoio /
Profundidade / Penetração
Princípios Predominantes nas
sequencias ofensivas
Penetração / Mobilidade /
Amplitude
Penetração / Ultrapassagem /
Amplitude
Nos princípios estruturais podemos observar que o Apoio esteve presente no
modelo de jogo predominante das duas equipes, isso pode ser explicado pelo fato do
futebol ser um jogo de passes e o apoio é o princípio que está intimamente ligado a
transmissão da posse de bola de maneira vertical, caso do Real Madrid, ou de maneira
horizontal e para trás, caso do Barcelona.
No momento determinante a penetração e a amplitude estiveram presentes em
51
ambas as equipes pois os mesmo buscam a criar espaços entre os jogadores da linha de
defesa e nas costas da mesma. Isso tem o objetivo de gerar desequilíbrios na defesa
adversaria para a criação de jogadas de finalização. Dessa forma no estudo podemos inferir
que esses dois princípios de ataque estiveram ligados com o cumprimento da lógica do jogo
por parte das duas equipes.
Todos os dados levantados mostram que além de observar aquilo que é
predominante precisamos ir a fundo nas questões determinantes e sempre ter em vista que
o jogo é mais que tático. A tática é uma das partes fractais do jogo caótico e complexo
chamado futebol.
52
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Encontrar os caminhos para a vitória em um jogo caótico e complexo como o
futebol não é tarefa fácil, muito menos será obra de apenas um estudo. Dentro das
condições propostas por esse trabalho podemos encontrar alguma evidências sobre o êxito,
porém todas as respostas não são definitivas e sim fazem parte de uma caminhada sem
pontos finais. Dessa forma podemos considerar nesse estudo os seguintes itens abaixo:
O Real Madrid e o Barcelona apresentaram modelos de jogo predominantes
distintos, porém tiveram o mesmo desempenho do ponto de vista dos resultados das
partidas, 44% de aproveitamento.
No momento ofensivo e na transição ofensiva foram observadas as maiores
diferenças entre as equipes, por um lado o Barcelona apresentou a Conservação da Bola e a
Retirada da Zona de Recuperação, já o Real Madrid apresentou a Progressão no Campo de
Jogo e o Jogo Vertical, porém as equipes fizeram o mesmo número de gols, ou seja do
ponto de vista da predominância não podemos inferir que houve um princípio operacional
de ataque mais relevante para a vitória.
No momento defensivo e na transição defensiva por um lado o Barcelona
apresentou o mesmo comportamento em todos os jogos, Recuperação da Posse de Bola e
Pressão na Bola, já o Real Madrid apresentou a Recuperação da Posse de Bola e a Pressão
na Bola em metade dos jogos e Impedir Progressão e Recomposição na outra metade, no
geral as equipe sofreram o mesmo número de gols, contudo para a equipe do Real Madrid
foi mais vantajoso nesse confronto a utilização da Recuperação da Posse de Bola e a
Pressão na Bola, com esses princípios a equipe tomou menos gols e teve um melhor
aproveitamento de pontos.
Nos princípios estruturais foi observado que no momento ofensivo os princípios se
integravam com os princípios operacionais de ataque e auxiliaram no cumprimento do
mesmo. Já os princípios estruturais de defesa se relacionaram diretamente com os
princípios estruturais do adversário e não apenas com os princípios operacionais da equipe,
haja visto que a equipe do Real Madrid alterou seu princípio operacional de defesa ao longo
dos jogos, mas seus princípios estruturais não se alteraram por conta disso.
53
A partir da análise dos modelos de jogo predominantes podemos concluir que não
houve um modelo superior, porém a Recuperação da Posse de Bola e a Pressão na Bola
foram princípios que notoriamente forma mais vantajosos para a equipe do Real Madrid no
confronto. Por outro lado o esquema tático 1-3-4-3 e a compactação ofensiva não foram
vantajosos para a equipe do Barcelona nos jogos analisados.
No que tange as questões predominantes o mais importante foi verificar que o
modelo é um norte para o comportamento da equipe mas é preciso olhar mais a fundo nas
questões determinantes do jogo para saber o que está levando uma equipe ao êxito.
Analisando apenas os princípios de jogo e o modelo fica evidente que essas referências são
norteadoras da ação dos jogadores nos diferentes momentos da partida e se integram de
maneira complexa, porém não se pode inferir que do ponto de vista da predominância
houve um modelo de jogo superior. Pode-se sim afirmar que determinados princípios
potencializaram a performance das equipes.
Nas sequências ofensivas terminadas em finalização foi observado que os conteúdos
determinantes não eram necessariamente os mesmos observados no modelo de jogo
predominante.
No caso do Barcelona foi observado que apenas 2 princípios estruturais de ataque
estiveram presentes no modelo de jogo predominante e no modelo de jogo determinante
(Mobilidade e Amplitude) os demais princípios observados foram diferentes nos dois
modelos. Na equipe de Barcelona foi observado ainda que a Progressão no Campo de Jogo
esteve presente em 74% das sequencias ofensivas terminadas em finalização da equipe e o
Jogo Vertical em 45%. Nenhum desses dois princípios figuraram como predominantes nos
jogos analisados, o que nos fez refletir que nos momentos emergências de criação de
jogadas de gol o Barcelona adotava princípios distintos. Além disso, podemos inferir que o
Jogo Vertical e a Progressão no Campo de Jogo foram mais efetivos para o cumprimento da
lógica do jogo por parte da equipe.
Na equipe do Real Madrid os modelos de jogo predominante e determinante
apresentaram maior similaridade, houve diferença apenas em dois princípios estruturais,
mesmo assim a equipe de Madrid marcou o mesmo número de gols e teve o mesmo
desempenho da equipe de Barcelona.
54
No confronto entre todos os dados podemos afirmar que nas jogadas emergenciais
circunstanciais terminadas em finalização as equipes buscaram resolver os problemas do
jogo da melhor maneira possível com base em referencias circunstanciais. As referências
táticas que aproximaram as equipes do êxito nesse estudo foram a Progressão no Campo de
Jogo, o Jogo Vertical a Penetração e a Amplitude pois estiveram presentes nos dois
modelos de jogo determinantes e auxiliaram na criação de jogadas com finalização. Para
afirmar que essa afirmação é verdadeira de uma maneira geral é preciso que um universo
maior de jogos seja analisado.
A proposta de análise tática desse estudo pode ser explorada em outros estudos e é
um caminho para analisar os comportamentos predominantes e determinantes de equipes de
futebol.
55
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