curadoria de rua

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Universidade do Estado de MInas Gerais | Escola Guignard Programa de Pós-graduação Lato Sensu: Artes Plásticas e Contemporaneidade Museologia e Arte Contemporânea Prof. Elisa Campos Alessandro Aued Bernardo Biagioni Catarina Leite Henrique Bastos Lucas Nogueira Rafaela Ianni Tiago Macedo 1a Edição Maio de 2015 Belo Horizonte - MG

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Universidade do Estado de MInas Gerais | Escola GuignardPrograma de Pós-graduação Lato Sensu: Artes Plásticas

e ContemporaneidadeMuseologia e Arte Contemporânea

Prof. Elisa Campos

Alessandro AuedBernardo Biagioni

Catarina LeiteHenrique BastosLucas Nogueira

Rafaela IanniTiago Macedo

1a Edição Maio de 2015

Belo Horizonte - MG

Conexões possíveis

Uma experiência. Espaço de circulação, de apropriação. Vozes que se articulam para redefinir o espaço urbano. Ora como gritos, rasuras, nos pixos espalhados nos topos dos prédios, e suas inscrições para serem ou não lidas; ora o grafite e suas cores, traços e figuras.

Da avenida Antônio Carlos, passando pelo centro da cidade, pela avenida do Contorno a referências à Nova Iorque. Propostas em espaços públicos e privados. Fotografias. Sinais de trânsito, placas, muros e a passagem do tempo impressa em cada re-gistro. No muro, a frase “A cegueira amola a faca”, enquanto em uma outra, um rapaz sussurra ao pé do ouvido da menina.

A pergunta que fica: e na arte contemporânea? Será tudo vá-lido? Seria possível destacarmos apenas uma definição, um caminho? Em O museu é o mundo – arte e vida cotidiana na ex-periência de Helio Oiticica, Elida Starosta Tessler parte da expe-riência de Helio Oiticica para destacar que arte é fazer; levanta questões sobre a morte da pintura e a importância das cores, além de citar a ideia de Duchamp de que “são aqueles que olham que fazem o quadro”. Elementos que transpostos para a proposta do trabalho levantam novas questões.

Entre elas, está própria ideia do curador, dos espaços e supor-tes para a apresentação dos trabalhos. Da teoria à prática, da seleção das obras, das formas de mediação até o público final. Uma variedade de conexões possíveis, mediações e subjetivida-des pautados na experiência, lugares e anseios de cada um.

Catarina Leite

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Rua, que lugar é esse? Território da transitoriedade e ambiente público de uso comum, o espaço urbano vem sendo utilizado como suporte por grafiteiros, pixadores e artistas de rua desde a década de 1980. Impossível introduzir esta apropriação sem mencionar Nova York e sua expressão visceral daqueles tempos; o graffiti invadindo as linhas de trem, os vagões bombardeados partindo do Queens, do Brooklyn, do Bronx, para ganhar a quase luxuosa Manhattan, ainda mergulhada em insegurança e violência latente. Os throw-ups estavam por toda parte, como que garantissem a vitalidade e a angústia de uma cidade que sempre esteve em contínua e efervescente transformação. Bastava olhar para os lados (ou para o alto) para ler o que Nova York gostaria de dizer.

Os grafismos urbanos atuam como relatos particulares de uma cidade. Criam identificação com regiões, bairros, grupos e comunidades de relacionamentos e posicionamentos específicos. São carregados de mensagens expressivas, políticas, religiosas, amorosas e agressivas; e, por vezes, espelham uma opressão conduzida por governos que cerceiam os canais de comunicação. Historicamente relacionado aos bairros de periferia, os grafites invadem os centros urbanos com o intuito de serem notados, observados, odiados e contestados. Os primeiros grafiteiros não buscavam ser aceitos como artistas, mas serviram de plataforma para a projeção de uma nova categoria de pintura intimamente relacionada à arte contemporânea; a Arte de Rua.

Artistas anônimos e auto-didatas. Criminosos pela lei, mas responsáveis por um movimento que vem transformado os espaços públicos em suportes adequados à produção de arte. Paul Goldberger, crítico de arquitetura, diz que as pessoas não reparam em arquitetura porque são bombardeados por informações arquitetônicas a todo momento. Diferente de outras artes, como o cinema ou teatro, em que escolhemos o dia e horário para assistirmos a uma sessão, a arquitetura não tem hora para ser visitada. É assistida a todos os momentos de transitoriedade pela cidade. Assim como a arte urbana.

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Não é instituída, aprovada e regulamentada - apesar de algumas tentativas frustradas de políticas públicas verificadas na última década. Apesar das diferenças com o grafitti - sobretudo no ponto da agressão e da subversão à assimilação pelo mercado da arte - a Arte de Rua mantém o gosto pelo não-autorizado, pela não-permissão, e pela apropriação espontânea dos espaços urbanos. São corriqueiras e efêmeras. A primazia da obra é o suporte, o contexto. Raramente é assinada.

Porém, são públicas. São oferendas gratuitas às paisagens errantes de um cotidiano sufocado pela péssima qualidade do sistema de mobilidade urbana. Painéis aleatórios que contam e escrevem a história das cidades e de seus habitantes. Esteticamente atraentes - ou não - expressam desejos, cores e valores de criadores que criam à margem do sistema regular da Arte, baseado em galerias, museus, instituições e instituidores.

Por meio de uma Curadoria de Rua, visamos elucidar os astros ocultos de um espetáculo rotineiro. Como uma ironia às avessas, “museficamos” o espaço público instalando sinalizações usuais de instituições que oferecem contato com obras de arte. A partir de registros fotográficos, destacamos o contexto como matriz da mensagem, e atuamos como curadores desta difusa expressão pública. Transformamos o espaço público em espaço expositivo gratuito, horizontal, democrático. Promovendo acesso e informação ao espectador atento, que percebe a cidade como uma leitura literal.

Contudo, criamos também um tensionamento entre a ideia de Exposição contra a busca pelo Anonimato, tornando evidente o que não quer ser assimilado. Descortinamos a subversão de pixadores, grafiteiros e artistas de rua - e interpelamos suas produções à esfera de propositores de arte e expressão. Reféns do espaço público, são publicados aqui por um grupo de estudos de uma instituição de arte. Uma vez instituídas, estas obras deixam de ser rua? Ou deixam de ser arte?

Bernardo Biagioni - Maio de 2015

Alessandro Aued

GOMA Tinta acrílica s/ edificação predial belorizontina

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Bernardo Biagioni

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Henrique Bastos

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Lucas Nogueira

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Rafaela Ianni

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Tiago Macedo

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Casa/atelier localizado na Avenida Dom Pedro II, 2119.

Composição de Iron, Gust e Piores de Belô.

Composição de Iron, Gust e Piores de Belô.

Composição de Macedo e Pekena

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Vsita do muro com interveções de Macedo (BH), Goura Mandal (Chile), Mosh (BH).

Lambe-lambes de Desali e Xeréu.

Lambe-lambe de André Nakau e Macedo.

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Graffiti de Iron (BH).

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A seleção das obras aqui apresentadas foi concebida a partir da proposta de um exercício simples: encontrar pelo “vasto sa-lão de exposição da cidade” trabalhos artísticos que despertam em cada um dos participantes um olhar diferente sobre o diver-sificado tecido urbano belo-horizontino.

Em diálogo com a bibliografia abordada em aula na disciplina “Museologia e Arte contemporânea”, retomamos a questão que discute o lugar do museu na arte contemporânea. Hélio Oiticica, na década de 1960, declarou que “o museu é o mundo, é a expe-riência cotidiana”, num convite aberto ao público para a fruição e interação criativa com o “museu-mundo”. Renata Marquez, curadora da exposição “Outros lugares”, propõe uma reflexão sobre arte e espaço urbano, ao apresentar as obras das artistas Louise Ganz, Ines Linke, Mônica Nador, que deslocam os traba-lhos artísticos para espaços banais da cidade. Em sintonia com tais discursos, procuramos “museficar” o espaço urbano com os elementos oriundos das instituições museológicas.

Neste exercício, buscamos reconhecer nas diversas manifesta-ções plásticas aqui expostas a pluralidade dos discursos, faces e vozes espalhados pela cidade. Mostramos este corpo urbano em constante mutação e transformação, cheio de poesia e vida. Assim, apresentamos aqui não somente um registro de alguns dos espaços públicos da cidade de Belo Horizonte, mas também um convite para uma nova maneira de olhar e se relacionar com a cidade.

Lucas Nogueira

Próxima ediçãoCuradoria de Rua Rio.

Guaicurus Editora Belo HorizonteMaio de 2015

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