crianças vamos sonhar?

Post on 13-Mar-2016

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CRIANÇAS… VAMOS SONHAR?

 

Naquele dia, não se ouviam risos ou gargalhadas, ralhetes ou

reprimendas, nem sequer birras ou amuos… era um dia cinzentão,

feio, triste e sem graça nenhuma… nem uma flor aberta nos

jardins… e sem flores, claro está! Não se via nem uma borboleta,

nem uma abelhinha, e as andorinhas, essas rasavam os seus voos

bem baixo à procura, desesperadas, dos pontinhos coloridos no meio

da relva… mas sem sucesso!

O Sr. Joaquim passou a mão na farta cabeleira, coçou a

barba crescida e apoiou melhor a sua mão esquerda na sua

bengala…

- O que será que aconteceu? Estará o mundo de pernas para o

ar? Onde está a Alegria?

E decidiu ir ao cimo da montanha mais alta, pois só de lá

poderia fazer-se ouvir a quem tudo sabe: a sra. Nuvem Rainha do

Céu!

Caminhou todo o dia com muito esforço, os seus passos eram

vagarosos e faziam doer as costas e as solas dos pés…. Às sete

horas em ponto chegou ao seu destino! Sabia que eram sete horas e

 

 

não oito porque a sua barriga estava a “dar horas”… isso acontecia

sempre à hora do jantar! E o sr. Joaquim era um senhor com

muitos hábitos: nunca saía de casa sem colocar a chave no bolso

esquerdo do casaco, bebia sempre água na “Fonte da Magia” por

uma folha da nespereira que ficava bem perto, falava à dª Natália

que lavava a roupa no tanque da aldeia e jantava sempre, sempre

às sete horas em ponto!

Aprumou a farta cabeleira, ajeitou o casaco, puxou as calças

para cima e tentou falar com uma voz decidida (a sra. Nuvem

Rainha do Céu podia ser um pouco autoritária e ele não era

homem de mostrar medos ou vergonhas):

- Sra. Nuvem Rainha do Céu! Posso falar-lhe?

Esperou um longo momento… e mais outro… mas sabia que

não devia chamar de novo (a sra. Nuvem Rainha do Céu podia

ser um pouco impaciente também… e constava-se que sofria de

preguiça! Mas isso, era segredo para todos… - pensava ela).

Ouviu-se um roçar de nuvens, uma brisa soprou e desalinhou

a farta cabeleira do sr. Joaquim.

- O que me queres? – perguntou a sra Nuvem Rainha do Céu.

- Sabe… – hesitou um pouquinho – não sei o que se passa na

aldeia, não se ouviam risos ou gargalhadas, ralhetes ou

 

 

reprimendas, nem sequer birras ou amuos… está, está… não sei, está

tudo diferente!

- Ah! Já tinha percebido… hoje até o céu está triste, sabes? (a voz

da sra. Nuvem Rainha do Céu ficou mais baixa e quase num

sussurro…) Os sonhos foram-se embora! E quando os sonhos se vão

embora, as crianças não conseguem acordar, e quando isso

acontece, o mundo fica triste, cinzento, sem cores, sem músicas, sem

poesias, sem alegrias, o mundo fica de pernas para o ar começa a

encolher… fica tudo mais pequenino e apertado!

- Os sonhos?! Mas como?! O que posso fazer?!

- Hum… é simples… tão simples que pode ser muito difícil… (pronto!

Lá estava a sra. Nuvem Rainha do Céu a ficar teimosa e

complicada – pensou o sr. Joaquim - mas sabia que só ela o

podia ajudar…)

- Diga-me o que fazer… e farei!

A sra. Nuvem Rainha do Céu encheu os seus fofos montes brancos

de ar e soprou ao ouvido do sr. Joaquim:

- Olha, vai e embala todos os meninos e meninas… embala-os com

a tua ternura, com palavras doces, com mimos, abraços e beijos

ternos… só assim elas poderão sonhar!

 

 

O sr. Joaquim voltou o mais depressa que as suas pernas

cansadas conseguiam andar, pé ante pé, e percebeu com espanto que

voava sobre o chão como se asas tivesse! Nunca na sua vida se

sentira tão ansioso e sabia que tinha em mãos uma tarefa de

muita responsabilidade: devolver os sonhos a todos os meninos e

meninas, não deixar que a Alegria fugisse para não mais voltar!

Durante aquela noite, o sr. Joaquim foi a todas as casas, a

todas e não esqueceu nenhuma!

Em todas as casas havia um menino ou uma menina a quem

ele cantava doces melodias, recitava lindas poesias que nem ele

sonhava saber de cor, as suas mãos afagavam os seus cabelos com

uma ternura que ele nunca imaginara ter… e depois, ah! Depois!

Os meninos e meninas sorriam a dormir, com um sorriso de

mel e flores… e o sr. Joaquim chorava baixinho, como só os anjos

conseguem fazer….

Quando o sr. Joaquim acordou no dia seguinte, às sete horas

em ponto (era outro hábito seu…), correu para a janela… olhou para

o seu jardim… cheirou o ar da manhã… apurou os seus ouvidos…

tudo estava sereno e em paz!

O que era o mesmo que dizer que se ouviam risos e

gargalhadas, ralhetes e reprimendas, sequer birras e amuos… era

 

 

um dia azul e violeta, laranja e amarelo, rosa e lilás, um dia feito

de todas as cores do arco iris, lindo, alegre e cheio de vida! Viam-

se flores de mil cores, abelhas zumbiam em seu redor, borboletas

saltitavam para trás e para a frente e as andorinhas, essas

rasavam os seus voos, felizes pela natureza em plena vida!

As crianças sonharam! As crianças sonharam! As crianças

sonharam!

O sr. Joaquim parou de repente! As crianças… eu… quem foi

que sonhou? Não sabia…

Mas uma coisa o sr. Joaquim sabia: sem Crianças não há

sonhos… sem sonhos não há vida…

Voltou para dentro e escreveu num lindo cartaz de todas as

cores:

FELIZ DIA DA CRIANÇA !!!

Luísa Campos

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