criação de tilápia
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TILPIA-DO-NILO
Criao e cultivo em viveiros no
estado de Paran
Gisele Ferreira da Silva
Lidiane Marcondes Maciel
Marcos Vinicios Dalmass
Mariana Tiepo Gonalves
Capa
Danielle Jacob
Ilustraes
Renan Gustavo Rodrigues da Luz
Fotos
Patrick Nereu Tetu
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APRESENTAO
Este livro resultado do trabalho desenvolvido pelos
autores, como produto final do projeto da disciplina de
Piscicultura do Curso de Zootecnia da Universidade Federal
do Paran - UFPR. Consiste em uma reviso bibliogrfica,
atravs de livros, artigos cientficos de revistas da rea e
bibliografia literria.
Trata-se de um material que informa alunos de
graduao e ps-graduao dos cursos de Zootecnia,
Medicina Veterinria, Agronomia, Engenharia de Pesca e
Aquicultura, em relao criao e ao cultivo de tilpia-do-
Nilo em viveiros no estado do Paran.
O presente trabalho foi escrito para ser utilizado por
estudantes. Deste modo, aborda conceitos e manejos
referentes construo dos viveiros, qualidade da gua,
nutrio e alimentao, elementos fundamentais para a
sanidade, melhoramento gentico, reproduo, larvicultura
e alevinagem, despesca e abate.
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Talvez no tenhamos conseguido fazer o melhor.
Mas lutamos para que o melhor fosse feito.
No somos o que deveramos ser,
no somos o que iramos ser,
mas graas a DEUS,
no somos o que ramos.
Martin Luther King
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SUMRIO
1 A TILAPICULTURA NO PARAN 11
1.1 INTRODUO DA TILPIA-DO-NILO NO BRASIL 12
1.2 A TILPIA-DO-NILO NO PARAN 15
1.3 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 17
2 A TILPIA-DO-NILO (OREOCHROMIS NILOTICUS) 20
2.1 CARACTERSTICAS GERAIS DA ESPCIE 22
2.2 ANATOMIA E MORFOLOGIA EXTERNA 23
2.3 ANATOMIA E FISIOLOGIA 27
2.3.1 SISTEMA CIRCULATRIO 27
2.3.2 SISTEMA NERVOSO 30
2.3.3 SISTEMA RESPIRATRIO 32
2.3.4 SISTEMA DIGESTRIO 35
2.3.4.1 Cavidade bucal, faringe e esfago 36
2.3.4.2 Estmago 37
2.3.4.3 Intestino e reto 39
2.3.4.4 Fgado, pncreas e vescula biliar 41
2.4 SISTEMA REPRODUTOR 42
2.4.1 OVRIOS 42
2.4.2 TESTCULOS 43
2.4.3 MATURIDADE SEXUAL E CICLO REPRODUTIVO 44
2.5 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45
3 CONSTRUO DE VIVEIROS 47
3.1 REGULAMENTAO AMBIENTAL 48
3.1.1 LICENCIAMENTO AMBIENTAL 48
3.1.1.1 Obteno de licena ambiental 51
3.1.2 OUTORGA DA GUA 54
-
3.2 REQUISITOS PARA A CONSTRUO DE VIVEIROS 56
3.2.1 REA E TOPOGRAFIA 57
3.2.2 TIPO DE SOLO 57
3.2.3 DISPONIBILIDADE DE GUA 59
3.3 ESTRUTURA DE VIVEIROS 60
3.3.1 DIMENSIONAMENTO 60
3.3.2 SISTEMA DE ABASTECIMENTO 62
3.3.2.1 Estimativa de vazo de gua 64
3.3.3 CONSTRUO DOS VIVEIROS 69
3.3.3.1 Taludes 69
3.3.3.2 Largura da crista 70
3.3.3.3 Borda livre ou borda de segurana 71
3.3.3.4 Fundo 72
3.3.3.5 Sistema de drenagem 72
3.3.3.6 Lagoa de decantao 75
3.4 ENCHIMENTO 77
3.5 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 77
4 QUALIDADE DA GUA NA TILAPICULTURA 80
4.1 FATORES FSICOS DA GUA 81
4.1.1 TEMPERATURA 81
4.1.2 TRANSPARNCIA E TURBIDEZ 83
4.2 FATORES QUMICOS DA GUA 84
4.2.1 PH 84
4.2.2 ALCALINIDADE 85
4.2.3 DUREZA 86
4.2.4 SALINIDADE 86
4.2.5 OXIGNIO DISSOLVIDO 87
4.2.6 DIXIDO DE CARBONO (CO2) 89
4.2.7 COMPOSTOS NITROGENADOS 90
4.2.7.1 Amnia (Nh4+
+ NH3) 90
4.2.7.2 Nitrito (NO2-) 91
4.2.7.3 Nitrato (NO-3) 92
-
4.3 FATORES BIOLGICOS DA GUA 92
4.3.1 FITOPLNCTON 92
4.3.2 ZOOPLNCTON 93
4.3.3 BENTOS 93
4.3.4 MACRFITAS 94
4.4 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 94
5 NUTRIO E ALIMENTAO 97
5.1 EXIGNCIAS NUTRICIONAIS DAS TILPIAS 98
5.1.1 FATORES QUE INFLUENCIAM AS EXIGNCIAS NUTRICIONAIS 99
5.1.2 PROTENA E AMINOCIDOS ESSENCIAIS 101
5.1.3 ENERGIA 105
5.1.4 CARBOIDRATOS 110
5.1.5 VITAMINAS 111
5.1.6 MINERAIS 116
5.2 ALIMENTAO 121
5.2.1 ALIMENTO NATURAL 121
5.2.2 RAO 122
5.2.3 TIPOS DE RAES 123
5.2.3.1 Processamento 123
5.2.3.2 Umidade 124
5.2.3.3 Funo 125
5.3 INGREDIENTES PARA A FORMULAO DE DIETAS PARA TILPIA 127
5.3.1 FONTES PROTEICAS DE ORIGEM ANIMAL 128
5.3.2 FONTES PROTEICAS DE ORIGEM VEGETAL 131
5.3.3 FONTES ENERGTICAS 134
5.4 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 136
6 SANIDADE E PROFILAXIA 140
6.1 IMUNOLOGIA EM PEIXES 141
6.1.1 RESPOSTA IMUNE INATA 141
-
6.1.2 RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA 142
6.2 PRINCIPAIS DOENAS EM TILPIAS-DO-NILO 143
6.2.1 DOENAS AMBIENTAIS 144
6.2.1.1 Sndrome do sangue marrom 144
6.2.1.2 Sndrome da bolha de gs 145
6.2.1.3 Doena ambiental das brnquias 146
6.2.2 DOENAS FNGICAS 147
6.2.2.1 Saprolegniose 148
6.2.3 DOENAS BACTERIANAS 149
6.2.3.1 Estreptococcose 150
6.2.3.2 Columnariose/ Boca de algodo/ Cauda comida 153
6.2.3.3 Septicemias causadas por Aeromonas e Pseudomonas 155
6.3 PRINCIPAIS PARASITOS 157
6.3.1 PROTOZORIOS 157
6.3.1.1 Ichthyophthirius multifiliis 158
6.3.1.2 Chilodonella spp. 160
6.3.1.3 Tricodindeos 162
6.3.1.4 Epistylis, Ambiphrya e Apiosoma 164
6.3.1.5 Ichthyobodo necator 165
6.3.1.6 Piscinoodinium pillulare 166
6.3.1.7 Myxobolus cerebralis 168
6.3.2 TREMATODOS MONOGENTICOS 170
6.3.3 MICROCRUSTCEOS 171
6.3.3.1 Argulus sp. e Dolops sp. 172
6.3.3.2 Lernaea sp. 173
6.3.3.3 Ergasilus sp. 175
6.4 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 178
7 REPRODUO, LARVICULTURA E ALEVINAGEM 180
7.1 ESTRATGIAS DE REPRODUO EM AMBIENTE NATURAL 181
7.2 REPRODUO ARTIFICIAL 186
7.2.1 ESCOLHA DOS REPRODUTORES 186
7.2.2 SEXAGEM DOS REPRODUTORES 188
-
7.2.3 QUANTIDADE NECESSRIA DE REPRODUTORES 190
7.2.4 SISTEMAS DE PRODUO 191
7.2.4.1 Uso de hapas 191
7.2.4.2 Reproduo em viveiros 192
7.2.5 COLETA DE OVOS 193
7.2.6 INCUBAO DOS OVOS 194
7.2.7 COLETA DE NUVENS DE LARVAS 195
7.2.8 ESTOCAGEM DAS LARVAS 198
7.3 REVERSO SEXUAL 198
7.3.1 CARACTERSTICAS DAS RAES 201
7.3.2 PREPARO PARA O TRANSPORTE 204
7.3.2.1 Tratamento preventivo 204
7.3.2.2 Classificao dos animais 205
7.4 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 206
8 MELHORAMENTO GENTICO DE TILPIA-DO-NILO 209
8.1 ESPCIES, LINHAGENS E HBRIDOS 210
8.1.1 A LINHAGEM GIFT 212
8.2 FUNDAMENTOS DA GENTICA QUANTITATIVA 215
8.3 SELEO GENTICA 217
8.3.1 CARACTERSTICAS DE CRESCIMENTO 217
8.3.2 CARACTERSTICAS REPRODUTIVAS 218
8.3.3 CARACTERSTICAS DE CARCAA 219
8.3.4 OUTRAS CARACTERSTICAS 220
8.4 CRUZAMENTO E ACASALAMENTO 221
8.4.1 ENDOGAMIA OU CONSANGUINIDADE 221
8.4.2 HIBRIDAO 223
8.5 INTERAO GENTIPO-AMBIENTE 224
8.6 MANIPULAO CROMOSSMICA 225
8.7 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 228
9 PRINCPIOS E TCNICAS DE MANEJO 231
-
9.1 MANEJO DE PREPARAO DOS VIVEIROS 232
9.1.1 LIMPEZA E DESINFECO 232
9.1.2 CALAGEM 233
9.1.3 FERTILIZAO 235
9.1.3.1 Fertilizantes Qumicos 237
9.1.3.2 Fertilizantes orgnicos 240
9.2 TRANSPORTE E POVOAMENTO 243
9.2.1 TRANSPORTE 243
9.2.2 POVOAMENTO 244
9.2.3 DENSIDADE 247
9.3 MANEJO DA QUALIDADE DA GUA 248
9.3.1 SISTEMAS DE AERAO 248
9.3.2 SISTEMA DE RENOVAO DA GUA 249
9.3.3 CONTROLE DA TEMPERATURA 250
9.3.4 CONTROLE DE PH 251
9.3.5 CONTROLE DE MACRFITAS 251
9.3.5.1 Controle mecnico 251
9.3.5.2 Controle qumico 252
9.3.5.3 Controle biolgico 254
9.4 MANEJO ALIMENTAR 254
9.4.1 FATORES QUE INFLUENCIAM NA INGESTO DO ALIMENTO 256
9.4.2 CARACTERSTICAS DAS FASES DE CULTIVO 258
9.4.2.1 Larvicultura e alevinagem 259
9.4.2.2 Recria 261
9.4.2.3 Engorda 262
9.4.2.4 Reproduo 263
9.4.3 HORRIO DE ARRAOAMENTO 264
9.5 MANEJO PROFILTICO 265
9.5.1 LIMPEZA E DESINFECO DAS ESTRUTURAS DE CULTIVO 266
9.5.2 LIMPEZA E DESINFECO DOS EQUIPAMENTOS 266
9.6 MANEJO PR-ABATE 268
9.6.1 JEJUM 270
9.6.2 DESPESCA 270
-
9.6.2.1 Redes de arrasto 271
9.6.2.2 Drenagem do viveiro e caixas de despesca 272
9.6.3 DEPURAO 274
9.6.4 TRANSPORTE PARA O ABATE 276
9.7 MANEJO DE ABATE 279
9.7.1 INSENSIBILIZAO 279
9.7.2 MTODOS DE INSENSIBILIZAO 280
9.7.2.1 Eletronarcose 280
9.7.2.2 Atordoamento cerebral 280
9.7.2.3 Percusso 281
9.7.2.4 Termonarcose 281
9.7.2.5 Seco de medula 282
9.7.2.6 Dixido de carbono (CO2) 282
9.7.3 ABATE 283
9.7.3.1 Anxia 283
9.7.3.2 Choque trmico 283
9.7.3.3 Eletronarcose e percusso 284
9.7.3.4 Asfixia por mistura gasosa (CO2 N) 285
9.7.3.5 Sangria das brnquias 285
9.8 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 285
-
1 A TILAPICULTURA
NO PARAN
Gisele Ferreira da Silva Lidiane Marcondes Maciel
Marcos Vinicios Dalmass Mariana Tiepo Gonalves
-
12
1.1 Introduo da tilpia-do-Nilo no Brasil
A tilpia-do-Nilo oriunda de diversos pases
africanos, sendo a espcie mais cultivada em todo o
mundo. Ela se sobressai das demais, pelo crescimento
acelerado, reproduo mais tardia (atingindo maior
tamanho antes da primeira reproduo) e alta prolificidade
(proporcionando a produo de grandes quantidades de
alevinos).
No Brasil, a tilpia-do-Nilo cultivada praticamente
em todo o pas, em criaes frequentemente realizadas em
viveiros e em tanques-rede. A mesma adquiriu este espao
na piscicultura nacional, devido tima relao
custo/benefcio para os consumidores, a alta qualidade da
sua carne, de sabor suave, cor branca e textura firme.
Dentre os peixes que podem ser cultivados em cativeiro, a
tilpia destaca-se por sua resistncia a doenas, tolerncia
ao cultivo em altas densidades e em ambientes adversos e
estressantes, o que a tornou rapidamente a espcie
preferida pela piscicultura brasileira.
A primeira introduo conhecida da tilpia-do-Nilo no
Brasil ocorreu em 1971. Um nmero pequeno de
exemplares foi trazido de Bouak (Costa do Marfim
-
13
frica) para Pentecostes no Cear no Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Porm, essa
introduo no foi eficiente, pois houve uma diminuio
drstica da variabilidade gentica, acarretando na reduo
no desempenho e elevao do aparecimento de anomalias
genticas, isso pode ter acontecido devido s
especificidades reprodutivas das tilpias associado s
dificuldades de evitar os acasalamentos entre indivduos
aparentados.
A segunda importao conhecida ocorreu em 1996
no estado do Paran, de 20.800 alevinos, provenientes da
Tailndia (sia).
Nos anos de 2002 e 2005, foram inseridas duas
linhagens decorrentes de programas de melhoramento
gentico, a GenoMar Supreme Tilpia (GST), produzida por
uma empresa da Noruega (GENOMAR) e inserida no Brasil
pela piscicultura Aquabel, que fica em Rolndia no Paran e
a linhagem Genetically Improved Farmed Tilapia (GIFT),
em portugus: Melhoramento gentico de tilpias criadas
em cativeiro, proveniente da Malsia, desenvolvida
inicialmente pela ICLARM (International Center for Living
Aquatic Resources Management), atual WorldFish Center,
-
14
cultivada e selecionada no Brasil por pesquisadores da
Universidade Estadual de Maring (UEM).
A linhagem GIFT foi formada a partir do
acasalamento de oito linhagens, sendo quatro
reprodutores naturais de linhagens de tilpia-do-Nilo
vindos do Egito, de Gana, do Senegal e do Qunia e, mais
quatro linhagens utilizadas em criaes nas Filipinas, Israel,
Taiwan e Tailndia.
O Brasil obteve no ano de 2009, a sexta posio do
ranking mundial na produo de tilpias, com 133.000
toneladas. Em relao aos pases da Amrica Latina, o Brasil
se encontra na primeira posio, tanto no quesito
produo quanto no consumo de tilpias.
A tilapicultura progrediu de 12.000 para 133.000
toneladas de 1995 a 2009. Nos ltimos 15 anos a produo
de tilpia aumentou a uma taxa mdia de 17% ao ano e
representa no momento aproximadamente 40% da
produo da piscicultura brasileira.
Os principais fatores que colaboraram com o
progresso da tilapicultura no Brasil foram:
Melhora na qualidade dos alevinos, atravs da
reverso sexual e do uso de linhagens melhoradas;
-
15
A adeso de criao em tanques-rede, que
viabilizou um aumento da criao em vrios
estados;
A reao da indstria de rao na elaborao de
linhas completas para cada fase de
desenvolvimento das tilpias;
O mercado interno do pas, que rapidamente
percebeu a qualidade dos produtos de tilpia
ofertados pelos frigorficos e produtores.
1.2 A tilpia-do-Nilo no Paran
A produo comercial, at 2004, foi liderada pelo
estado do Paran, a partir deste mesmo ano, o estado do
Cear despontou na liderana como maior produtor,
produzindo 13.000 toneladas, enquanto o Paran produziu
12.782 toneladas. No ano de 2007 produziu prximo de
12.500 toneladas, mas foi ultrapassado por So Paulo,
ficando em terceiro no ranking nacional. A partir de 2008,
por meio da adeso de um modelo de produo integrado,
parecido ao realizado pela avicultura e suinocultura, a
tilapicultura no oeste do Paran apresentou ligeiro
aumento na produo, atravs da reativao de
-
16
pisciculturas que estavam paradas, assim como o ingresso
em produo de novos empreendimentos. O Paran
tambm foi o precursor na produo de alevinos e na
importao de material gentico.
A tilpia-do-Nilo produzida em todas as regies do
estado do Paran, desde o leste onde predomina um clima
mais frio at o oeste em que a regio mais quente. Isto
porque a tilpia uma espcie que suporta variao da
temperatura da gua e oxignio dissolvido. No entanto, h
regies em que esta espcie se adaptou melhor, devido ao
clima favorvel, associado ao grande potencial hdrico,
sendo a regio Oeste o polo principal com 61% da
tilapicultura do estado, seguido da regio Norte com 23% e
os 6% restantes pertencem as demais regies.
A regio Oeste do Paran conta com a utilizao de
viveiros no sistema de produo, sendo que este
recomendado para propriedades rurais em que so
realizadas escavaes com reas de at 1 ha, onde se
emprega a integrao com cooperativas e utilizada a
mo-de-obra familiar. Em geral, o ciclo de produo da
tilpia encontra-se em torno de 210 a 250 dias, atingindo
um peso mdio de 750 g. A densidade de estocagem e a
produtividade normalmente encontrada nessa regio so
-
17
de 2,5 tilpias/m e 1,19 kg/m, respectivamente. As
principais cidades produtoras nesta regio so Toledo,
Cascvel, Marip, Nova Aurora, Assis Chateaubriand,
Tupssi, Marechal Cndido Rondon.
Na regio Norte predomina a utilizao de tanques-
rede, o que torna o custo de produo maior, pois a rao
mais cara pela necessidade de incluso de mais
ingredientes nutritivos, e em razo da gua utilizada ser
menos favorvel a engorda. As principais cidades
produtoras nesta regio so Maring e Londrina.
1.3 Bibliografia consultada
BARROSO, R. M.; PEDROZA FILHO, M. X.; ROS, J. L. O mercado da tilpia em 2014. Boletim tcnico Embrapa Pesca e Aquicultura. Disponvel em: . Acesso em: 09 de junho de 2015.
FIGUEIREDO JNIOR, C. A.; VALENTE JNIOR, A. S. Cultivo
de tilpias no Brasil: origens e cenrio atual. IN: Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural, 46., Rio Branco. Anais... Rio Branco: SOBER, 2008.
HEIN, G.; PARIZOTTO, M. L. V.; BRIANESE, R. H. Tilpia: uma
atividade que agrega renda a propriedade em reas marginais. Maio de 2004. Disponvel em:
-
18
. Acesso em: 09 de junho de 2015.
HEIN, G.; BRIANESE, R. H. Modelo Emater de produo de
tilpia. Novembro 2004. Disponvel em: . Acesso em: 30 de abril de 2015.
HESS, J. Atividade de piscicultura no Paran. Boletim
tcnico Sistema da Federao da Agricultura do Estado do Paran. Disponvel em: . Acesso em: 09 de junho de 2015.
KUBITZA, F. Tilpias na bola de cristal. Panorama da
Aquicultura, vol.17, n.99, p.14-21, jan./fev. 2007. KUBITZA, F. Aquicultura de tilpias no mundo e no Brasil.
IN: KUBITZA, F. Tilpia: tecnologia e planejamento na produo comercial. 2 Edio. Jundia: F. Kubitza, 2011. p.1-11.
OLIVEIRA, C.A.L.; RESENDE, K.E.; LEGAT, A.P. et al.
Melhoramento gentico de peixes no Brasil: Situao atual e perspectivas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA, 20., 2010, Palmas. Anais... Palmas: ZOOTEC, 2010. p. 237-249.
RESENDE, E. K.; OLIVEIRA, C. A. L.; LEGAT, A. P. et al.
Melhoramento animal no Brasil: uma viso crtica espcies aquticas. In: SIMPSIO BRASILEIRO DE MELHORAMENTO ANIMAL, 8., 2010, Maring. Anais... Maring: SBMA, 2010.
-
19
SUSSEL, F. R. A tilpia vem se ajustando a novos cenrios e regies. Anurio da Pecuria Brasileira, ANUALPEC, 2010.
SUSSEL, F. R. Planejamento na produo de tilpias.
Pesquisa e Tecnologia, vol.9, n.2, jul./dez. 2012.
-
2 A TILPIA-DO-NILO
(Oreochromis niloticus)
Lidiane Marcondes Maciel
-
21
Ao longo da evoluo das espcies, surgiram diversas
formas de adaptao dos peixes em relao ao ambiente
aqutico em que esto inseridos. Com isso, encontram-se
hoje diversas espcies de peixes que apresentam hbitos
alimentares diversificados, estruturas sensoriais bastante
eficazes, formas variadas, dentre outros aspectos, como
temperatura, pH e oxignio, por exemplo, que influenciam
na sobrevivncia dessas espcies em gua doce. Para que a
criao ou explorao racional de peixes seja efetiva,
necessrio conhecer a organizao e o funcionamento do
organismo desses animais.
O estudo da anatomia, morfologia e fisiologia dos
peixes, auxilia no entendimento sobre o comportamento,
estratgias de adaptaes adotadas pela espcie e suas
devidas particularidades, para que dentro de um regime de
criao, possa existir um controle quanto instalao,
alimentao, reproduo e outros aspectos pertinentes ao
desenvolvimento do animal.
Nesse captulo sero abordadas algumas
caractersticas gerais sobre a tilpia-do-Nilo, conceitos
anatmicos e morfolgicos e as principais funes e
caractersticas do sistema fisiolgico dos peixes quanto ao
sistema circulatrio, nervoso, respiratrio e digestrio.
-
22
2.1 Caractersticas gerais da espcie
A tilpia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) um peixe
do grupo dos Telesteos, Ordem Peciforme, pertencente
Famlia Cichlidae, Subfamlia Pseudocrenilabrinae.
Originou-se da bacia do rio Nilo, no leste da frica,
encontrando-se distribuda em regies tropicais e
subtropicais, como em Israel, no Sudoeste Asitico e no
Continente Americano. Por intermdio do Departamento
Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), em 1971, a
espcie foi introduzida nos audes do Nordeste do Brasil,
difundindo-se para o resto do pas.
A tilpia-do-Nilo apresenta um timo
desenvolvimento em ambientes com temperaturas que
variam de 25 a 30C, abaixo desse valor comea a ocorrer
um declnio no crescimento dessa espcie. Em
temperaturas abaixo de 11C as tilpias no resistem e
comeam a morrer, e abaixo de 7C h existncia de uma
mortalidade em massa da populao.
Segundo sua descrio fsica, a tilpia-do-Nilo
apresenta listras verticais, colorao acinzentada e corpo
comprimido lateralmente. Apresentam crescimento
-
23
acelerado, podendo os adultos chegar at 60 cm em
comprimento, variando seu peso de 4,3 kg a 9,5 kg.
A tilpia tem hbito alimentar onvoro. Em ambiente
natural alimentam-se de fitoplncton, plantas aquticas,
pequenos invertebrados, fauna bentnica1, entre outros, e
em sistemas de produo se adapta bem ingesto de
rao.
As tilpias possuem alta taxa de fertilidade e
excelente capacidade de reproduo, mesmo antes de
atingir sua maturidade sexual, o que geralmente ocorre
entre o 3 e o 4 ms aps a estocagem de alevinos. Por
ser uma espcie que apresenta maturao sexual precoce,
se indica o cultivo de populaes monossexo, para evitar
problemas de heterogeneidade do lote e menor
crescimento das fmeas.
2.2 Anatomia e morfologia externa
O corpo da tilpia pode ser dividido em trs regies:
cabea, tronco e cauda. A cabea estende-se da ponta do
focinho at a abertura do oprculo, o tronco vai do
1Fauna Bentnica: organismos da epifauna e da endofauna. Epifauna so
aqueles que permanecem no substrato, consolidado ou no. Os da endofauna so organismos que escavam ou ficam enterrados no sedimento ou nas rochas.
-
24
oprculo at o orifcio anal, a partir da se tem o incio da
cauda. A boca encontra-se na posio terminal, e em cada
lado da cabea contm um olho, os quais no possuem
plpebras. Atrs dos olhos existe uma placa em forma de
meia-lua, o oprculo, que serve como tampa para a
cavidade branquial. Tm-se quatro pares de brnquias,
cada uma formada por um arco branquial, no qual se
inserem os filamentos branquiais. Entre as brnquias esto
s fendas branquiais, por onde passa a gua.
As nadadeiras so estruturas externas que auxiliam a
natao e o equilbrio dos peixes. Sua funo fazer com
que as tilpias tenham estabilidade na gua, ajudando na
movimentao, dando direcionalidade e, no caso de
algumas espcies, ajudam a ficar em repouso. As
nadadeiras pares (peitorais e plvicas) tm funo de
equilbrio e manobra enquanto as mpares (dorsal e anal),
geralmente servem para dar estabilidade, controlando os
movimentos, enquanto que a caudal, na maioria dos casos,
serve para propulso. As nadadeiras peitorais tambm so
utilizadas por alguns peixes na poca reprodutiva com o
intuito de manter o fluxo de gua com os ovos, auxiliando
na cpula.
-
25
Assim como em outros vertebrados, os peixes so
recobertos por pele as quais secretam muco. A pele
composta por duas camadas sendo uma de origem
ectodrmica (epiderme) e outra mesodrmica (derme). na
derme que se formam as escamas, possuem funo protetora
e reduzem o atrito ao nadar. As escamas que ficam sobre a
linha lateral do corpo dos peixes, contm pequenos
orifcios que ligam clulas sensoriais e terminaes
nervosas a parte exterior do animal.
A tilpia-do-Nilo apresenta um formato comprimido
do corpo, ou seja, seu corpo achatado lateralmente,
composto por escamas do tipo ciclides, com colorao
acinzentada, que se sobrepem umas as outras, de forma a
cobrir o corpo todo do animal. Dispe de um focinho curto
com uma boca anterior, dotada de pequenos dentes, quase
que imperceptveis. Possui olhos laterais com colorao
clara e seus rastros branquiais so curtos e grossos. A
morfologia e anatomia desta espcie podem ser
observadas na Figura 1.
-
26
Figura 1. Anatomia e morfologia externa da tilpia-do-Nilo.
O. niloticus apresenta nadadeira dorsal, a qual
dividida em duas partes, uma anterior espinhosa, que serve
como defesa contra predadores, e outra posterior
escamosa. Alm disso, apresenta um par de nadadeiras
peitorais transparentes e um par de nadadeiras plvicas,
uma nadadeira anal e uma caudal composta por estrias
verticais a qual do tipo protocerca, sendo assim simtrica
(Figura 2).
-
27
Figura 2. Nadadeira caudal da tilpia-do-Nilo.
2.3 Anatomia e fisiologia
2.3.1 Sistema circulatrio
Os peixes so animais heterotrmicos, ou seja,
apresentam variaes trmicas corpreas conforme
existncia de oscilaes na temperatura do ambiente.
Apresentam sistema circulatrio fechado e simples, no qual
o sangue bombeado pelo corao em um nico sentido
para o restante do corpo do animal e, somente sangue no
oxigenado passa pelo corao, caracterizando um fluxo
nico.
-
28
O corao situa-se atrs das brnquias e
estruturalmente constitudo por duas cavidades (trio e
ventrculo) e divide-se em quatro regies, sendo elas, seio
venoso, trio, ventrculo e bulbo uretral. A parede do seio
venoso delgada e est separada do trio atravs de duas
vlvulas. O trio apresenta uma parede mais espessa e
impulsiona o sangue para o ventrculo pelo orifcio
atrioventricular. O ventrculo possui parede espessa e a
parte contrtil do corao, o qual impulsiona o sangue para
as brnquias e para o corpo. O bulbo arterial composto
por uma parede espessa, com musculatura lisa e fibras
elsticas as quais se ligam diretamente a aorta.
O sangue que sai do corao segue para as brnquias,
onde ocorrem as trocas gasosas, na sequncia perfunde os
capilares do corpo e no final do ciclo volta para o corao
(Figura 3). Assim, o sangue venoso chega ao corao atravs
de veias, indo em seguida para o trio e para o ventrculo,
onde bombeado para fora, passando ento pelo cone
arterioso e percorrendo em direo aorta ventral. Da
aorta ventral o sangue segue para as brnquias, atravs dos
vasos branquiais aferentes onde ocorre a troca gasosa e,
finalmente, sai atravs das alas coletoras eferentes, num
processo de contracorrente com a gua vindo do meio
-
29
externo e indo para a aorta dorsal. Portanto, o corao dos
peixes recebe o sangue com pouco oxignio (venoso), no
recebendo o arterial (com muito oxignio).
Figura 3. Sistema circulatrio dos peixes. (Ilustrao: Renan da Luz).
-
30
2.3.2 Sistema nervoso
O sistema nervoso responsvel pelo controle das
aes do corpo, mediante a conduo por clulas
individuais nervosas (os neurnios), que eventualmente
provocam resposta em algum outro sistema. Nas tilpias,
ele dividido em sistema nervoso central SNC (crebro e
medula), no qual as informaes so recebidas,
processadas e interpretadas; e sistema nervoso perifrico
SNP (autnomo simptico, parassimptico e somtico) que
tem como funo transmitir as informaes dos rgos
sensoriais para o SNC, e do central para os rgos.
As tilpias possuem um crebro subdividido em oito
regies e dispe em geral de dez pares de nervos craniais
sendo eles: olfatrio, tico, culomotor, pattico ou
troclear, trigmeo, abdutor, facial, acstico, glossofarngeo
e vago.
A regio chamada medula oblonga ou bulbo
raquidiano (miencfalo), controla a funo dos rgos
internos como batimentos cardacos, presso sangunea,
processos de digesto e excreo. Tambm tem como
funo receber e transmitir informaes do telencfalo e
mesencfalo. O telencfalo ou crebro anterior
-
31
dominado pelos lobos olfatrios, que tem funo de
interpretar os estmulos nervosos do olfato. As tilpias
apresentam a viso, como rgo de sentido mais
importante, por isso seus lobos olfatrios so menores em
relao a outras espcies de peixes existentes. O
telencfalo responsvel pela memria e funo cognitiva.
O mesencfalo constitudo pelos lbulos pticos
que tem como funo interpretar as informaes da viso,
que chegam atravs do nervo ptico. O metencfalo d
origem ao cerebelo que controla a coordenao muscular e
importante na manuteno do equilbrio. A medula ou
corda espinhal localiza-se na parte superior da coluna
vertebral, levando e trazendo informaes para o restante
do corpo (SNP). O hipotlamo secreta hormnios que
estimulam a hipfise e regulam funes como sono e fome,
por exemplo. J a hipfise uma importante reguladora do
metabolismo, reproduo, entre outros.
Fora do encfalo e medula espinhal (SNC), percorre
uma rede de nervos (SNP), que atravs de impulsos
eltricos transmitem as informaes pelas diversas partes
do corpo. Os nervos que nascem na medula espinhal so
conhecidos como nervos espinhais e os que iniciam no
encfalo so chamados de nervos cranianos. Na Tabela 1
-
32
encontram-se as divises do sistema nervoso perifrico e
suas respectivas funes.
Tabela 1. Diviso do sistema nervoso perifrico (SNP) e suas respectivas funes
SNP FUNO
Autnomo simptico
Acelerao dos batimentos cardacos; Aumento da presso arterial; Aumento da concentrao de glicose no sangue; Ativao do metabolismo geral do corpo; Vasoconstrio; Liberao do neurotransmissor noroepinefrina.
Autnomo parassimptico
Reduo do ritmo cardaco; Reduo da presso arterial; Estmulo de atividades relaxantes; Liberao de acetilcolina.
Somtico Inervao dos msculos sensitivos e motores; Locomoo dos peixes.
2.3.3 Sistema respiratrio
Todos os animais necessitam de oxignio para o
metabolismo celular e precisam eliminar o gs carbnico,
atravs da respirao. A baixa concentrao de oxignio do
-
33
meio aqutico contribuiu para o desenvolvimento das
brnquias, ao longo da evoluo dos peixes sseos. A fase
em que os peixes se encontram que determina a forma
como eles respiram. Peixes telesteos, como o caso da
tilpia-do-Nilo, realizam a respirao na fase adulta atravs
das brnquias, as quais so ricamente vascularizadas,
porm na fase larval dependem da respirao cutnea por
no possurem hemoglobina circulante.
As brnquias so compostas por quatro arcos
branquiais que possuem duas fileiras de filamentos
branquiais, os quais dispem de inmeras lamelas
branquiais, onde ocorre a troca gasosa (Figura 4Erro! Fonte
e referncia no encontrada.). O interior das lamelas
composto por pequenos canais que liberam a passagem de
uma clula sangunea por vez, o que ocasiona uma troca
gasosa eficiente.
A respirao branquial ocorre por fluxo contra
corrente, onde o fluxo de gua entra pela boca, percorre a
faringe e passa pelos arcos branquiais. Nos arcos branquiais
encontra o sangue que corre em direo oposta, e esse por
sua vez, capta o oxignio diludo na gua, ao mesmo tempo
em que o gs carbnico passa do sangue para a gua por
-
34
meio das lamelas. Finalmente a gua expelida do
organismo atravs do oprculo (Figura 5).
A B
C
BFilamentos branquiais
Arco branquial
Rastros branquiais
Corao
Figura 4. Filamentos branquiais, lamela branquial e rastros branquiais (A e B); corao, filamentos e lamelas branquiais (C).
-
35
Figura 5. Sistema respiratrio dos telesteos.
2.3.4 Sistema digestrio
Assim como os animais terrestres os peixes
necessitam de nutrientes para auxiliar no crescimento,
reproduo e outras funes fisiolgicas do organismo.
Esses nutrientes so obtidos de alimentos naturais
disponveis no ambiente, ou atravs de raes
disponibilizadas no cultivo. As espcies de peixes
apresentam hbitos alimentares distintos, os quais esto
relacionados s variaes na estrutura bsica do trato
gastrointestinal, pois influenciam na presena, posio,
formato e tamanho de um rgo em particular.
-
36
A tilpia-do-Nilo, por sua vez, classificada como
peixe de hbito alimentar onvoro, ou seja, se alimenta de
todo tipo de material orgnico disponvel na gua,
moluscos, sementes, vegetais de qualquer espcie,
crustceos, entre outros. Na escassez de alimentos slidos
possuem capacidade de filtrar e ingerir organismos
planctnicos.
O trato gastrointestinal o tubo que tem incio na
boca e termina no orifcio anal, por onde passam os
alimentos. Pode ser subdividido em cavidade
bucofaringeana, intestino anterior (esfago e estmago),
intestino mdio (intestino propriamente dito) e intestino
posterior (reto).
2.3.4.1 Cavidade bucal, faringe e esfago
A cavidade bucal e a faringe so compostas por
lbios, boca, dentes, lngua e arcos branquiais, onde ocorre
a seleo, apreenso e conduo do alimento at o
esfago. Os onvoros apresentam boca de tamanho
mediano, posio terminal e dentes molariformes com
superfcie achatada servindo para triturar e roer o
alimento. A lngua usualmente rgida e pouco mvel, no
-
37
contm glndulas salivares, porm apresentam botes
gustativos.
A faringe composta por arcos branquiais e pouco
evidente seu limite com a cavidade bucal. Os rastros
branquiais das tilpias so longos, numerosos e prximos
entre si, contribuindo para que o alimento seja filtrado
juntamente com o muco das brnquias. Os rastros tambm
protegem as brnquias contra partculas que possam vir a
machuc-las caso sejam ingeridas.
O esfago que tem como funo transportar o
alimento para o estmago um tubo, frequentemente
curto, possui grande capacidade de distenso, apresenta
epitlio estratificado e isento de glndulas. Na maioria dos
telesteos de difcil identificao, por no possuir o
esfncter crdico, muitas vezes, que o separa do estmago.
2.3.4.2 Estmago
O estmago pode ser dividido em trs regies:
crdica (entrada), fndica (saco) e pilrica (sada). o local
onde o alimento armazenado temporariamente e onde
ocorrem as funes mecnicas e qumicas que vo
contribuir para a triturao do alimento e inicio do
processo digestivo.
-
38
Em espcies no vorazes, como o caso da tilpia, o
estmago pouco desenvolvido e apresenta formato
sacular com regies aglandulares (funo mecnica) e
glandulares (funo gstrica). Na regio glandular
encontram-se a poro crdica e fndica, onde ocorre
produo do suco gstrico, constitudo de pepsina, cido
clordrico e muco, j a regio pilrica isenta de glndulas
e possui musculatura forte. Ao contrrio dos carnvoros, os
onvoros no apresentam estmago volumoso e elstico,
devido ao hbito de realizarem maior nmero de refeies
dirias com menor quantidade de alimento por refeio.
Espcies de peixes que apresentam regime alimentar
no voraz, no possuem esfncter pilrico, que o limite
entre o estmago e o intestino, permitindo-lhes engolir
alimento at que o intestino esteja repleto
completamente. Na Figura 6 possvel, est representado
esquematicamente, o sistema gastrointestinal de
telesteos.
-
39
2.3.4.3 Intestino e reto
A poro do intestino inicia-se na vlvula pilrica e
termina no reto, no sendo demarcado em delgado e
grosso. um tubo longo responsvel pela digesto qumica
e grande parte da absoro dos nutrientes, ons e gua da
dieta. Os telesteos apresentam como particularidade uma
regio proximal onde se tem maior capacidade de digesto
Figura 6. Sistema gastrointestinal de Telesteos. Esfago Ef; Estmago - Et; Cecos - Cp; Vescula biliar - Vb; Fgado - Fi; Intestino - In; Reto - Rt. (Ilustrao: Renan da Luz).
-
40
e absoro de nutrientes menores como monossacardeos,
aminocidos e cido graxo, enquanto a distal responsvel
pela entrada de macromolculas por pinocitose
(mecanismo de penetrao de fludos na clula atravs da
invaginao da membrana celular com a formao de
vesculas internas), ou seja, predomina-se a absoro de
ons e gua. Possui forma e comprimento varivel
conforme a espcie, sendo intermedirio nos onvoros.
Algumas espcies, como o caso das tilpias,
apresentam no incio do intestino cecos pilricos, que so
projees em forma de saco, que tem como funo o
aumento da superfcie de digesto, atravs da ativao da
hidrlise de componentes proteicos, e a absoro de
nutrientes.
Peixes onvoros e herbvoros apresentam capacidade
de alterar a estrutura e as propriedades absortivas do
sistema digestivo, devido a mudanas na dieta, pois estes
esto sujeitos a variaes na composio bromatolgica
das mesmas. Uma maior quantidade de glicdios na
alimentao pode desencadear aumento no comprimento
do intestino e absoro de glicose por alguns telesteos.
No final do intestino mdio se encontra uma regio
mais delgada e esbranquiada, com grande capacidade de
-
41
distenso que corresponde ao reto. Pode ser diferenciado
do intestino, devido ao decrscimo da vascularizao,
presena de clulas secretoras e maior nmero de clulas
produtoras de muco vistas histologicamente. A abertura
anal tambm o local de terminao dos ductos urinrios e
reprodutivos.
2.3.4.4 Fgado, pncreas e vescula biliar
O fgado situa-se dentro da cavidade abdominal e
separado da cavidade pericrdica por um septo transversal.
Possui formas distintas, com lobos pares e mpares e de
colorao escura. Contm a vescula biliar como anexo
responsvel por excretar bile quando o alimento chega ao
intestino. O fgado o rgo produtor da bile, a qual
armazenada na vescula biliar, e ao ser conduzido ao lmen
do intestino realiza a emulsificao da gordura e
neutralizao da acidez do quimo. Atravs da corrente
sangunea o fgado recebe os nutrientes absorvidos pelo
trato intestinal, faz o processamento dos mesmos e
distribui para outros tecidos do corpo.
O pncreas no um rgo nico, sendo difcil de ser
identificado por encontrar-se espalhado no mesentrio ou
dentro do fgado ou bao. Possui ductos com aberturas na
-
42
regio intestinal, onde desembocam as enzimas digestivas
e bicarbonato. Tem a digesto como funo bsica,
encontrando nele a produo de amilase, lpase, tripsina e
erepsina. Tambm responsvel pela secreo de glucagon
e de insulina em resposta a absoro de nutrientes.
2.4 Sistema reprodutor As tilpias apresentam um sistema reprodutor
simples, formado de ovrios nas fmeas e testculos nos
machos.
2.4.1 Ovrios
As fmeas de tilpia apresentam um par de ovrios,
os quais se localizam ventralmente bexiga natatria e
longitudinalmente ao corpo e so suspensos atravs do
mesentrio. As variaes do peso e do tamanho dos
ovrios esto relacionadas idade da tilpia e
consequentemente ao estgio de maturidade que a mesma
se encontra. Logo adiante do ovrio encontra-se o oviduto,
que tem funo de deposio, incubao ou apenas a
conduo dos vulos, e em seguida o aparelho reprodutor
finalizado com o poro urogenital.
-
43
Os vulos da tilpia-do-Nilo caracterizam-se por
possuir membrana corinica e vitelnica com espao
perivitelnico, e por apresentar externamente a micrpila,
por onde passa o espermatozide.
2.4.2 Testculos
Os machos de tilpia-do-Nilo possuem nmero par de
testculos, os quais so longitudinais, compactos e
retangulares, e localizam-se da mesma maneira, em relao
forma e a regio, que os ovrios. O peso, forma e
tamanho tambm esto relacionados com o estgio de
maturao das gnadas.
Os espermatozides so liberados a partir do
momento em que os testculos apresentam-se maduros.
Em seguida seguem atravs do ducto espermtico at
abertura urogenital por onde so liberados para o
ambiente externo. Os espermatozides tornam-se ativos e
aptos a fecundar os vulos, a partir do momento em que
entram em contato com a gua, pois ocorre a diluio do
potssio presente no smen proporcionando eficincia
para a fecundao.
-
44
2.4.3 Maturidade sexual e ciclo
reprodutivo
As tilpias atingem sua maturidade sexual ou est
sexualmente madura quando suas gnadas (ovrios e
testculos) comearem a produzir gametas viveis. A
maturidade depende de diversos fatores como idade,
tamanho, temperatura, fotoperodo, alimentao,
presena do sexo oposto para ser alcanada, e
normalmente as fmeas tendem a ser mais tardias em
relao aos machos.
Diversos processos fisiolgicos esto associados
reproduo dos peixes, dentre eles encontra-se a
diferenciao das gnadas, gametognese, liberao de
gametas e ecloso dos ovos. Esses processos por sua vez,
so controlados por fatores endcrinos ao longo do eixo
hipotlamo-hipfise-gnadas. O ciclo reprodutivo da
tilpia-do-Nilo, como de outras espcies de peixes,
controlado por estmulos ambientais, onde tecidos e rgo
especficos do sistema sensorial captam e traduzem esses
estmulos em mensagens neuroendcrinas e os direcionam
para o crebro atravs de sinais neurais. Esses sinais
chegam ao hipotlamo e fazem com que ocorra a liberao
-
45
de peptdeos hipotalmicos, os quais chegam at a hipfise
estimulando a liberao dos hormnios gonadotrficos,
que atuaro nas gnadas. As gnadas tm como funo
produzir os hormnios esterides sexuais, ou seja,
estrgenos e andrgenos, os quais so responsveis por
formar e desenvolver os gametas, regular caractersticas
sexuais secundrias, colorao nupcial e comportamento
reprodutivo. Desta forma, a desova est diretamente
relacionada a fatores endcrinos e ambientais.
2.5 Bibliografia consultada
BALDISSEROTO, B. Fisiologia de peixes aplicada piscicultura. 2 Edio. Santa Maria: Editora UFSM, 2009. 352 p.
BEMVENUTI, M. A.; FISCHER, L. G.; Peixes: morfologia e
adaptaes. Cadernos de Ecologia Aqutica. Universidade Federal do Rio Grande, Instituto de Oceanografia, 2010. Acesso em: 01 de abril de 2015.
CHACON, D. M. M.; LUCHIARI, A. C. Fisiologia e
Comportamento de Peixes. Texto publicado no site do Grupo de Estudos de Ecologia e Fisiologia de Animais Aquticos. Disponvel em: . Acesso em: 04 de abril de 2015.
MORO, G. V.; RODRIGUES, A. P. O.; TORATI, L. S. et al.
Anatomia e fisiologia de peixes de gua doce. IN:
-
46
RODRIGUES, A. P. O. et al. Piscicultura de gua doce: multiplicando conhecimentos. 1 Edio. Braslia, DF: Ed. Embrapa, 2013. p.301-336.
MOREIRA, H. L. M.; VARGAS, L.; RIBEIRO, R. P. et al.
Fundamentos da Moderna Aquicultura. Canoas: Ed. da ULBRA, 2001. p.17-28.
MUNAKATA, A.; KOBAYASHI, M. Endocrine control of sexual
behavior in teleost fish. General and Comparative Endocrinology, n.165, 2010. p.456468.
RIBEIRO, C. S.; MOREIRA, R. G. Fatores ambientais e
reproduo dos peixes. Revista da Biologia, n.8, p.58-61, 2012.
ROTTA, M. A. Aspectos gerais da fisiologia e estrutura do
sistema digestivo dos peixes relacionados piscicultura. Corumb: Embrapa Pantanal, 2003. 48p (Embrapa Pantanal - Documentos 53).
-
3 CONSTRUO DE
VIVEIROS
Marcos Vinicios Dalmass
-
48
A construo dos viveiros representa o maior
investimento dentro da piscicultura, sendo o seu custo
diretamente relacionado com a quantidade de terra a ser
movida para a construo das estruturas. Portanto, o
planejamento da atividade muito importante, pois alm
de representar o principal custo de investimento da
produo, ele ser uma benfeitoria que ir perdurar por
vrios ciclos de cultivo. Por isso devem ser levados em
considerao todos os aspectos que influenciam na
construo do viveiro, desde a escolha do local at o seu
dimensionamento.
Neste captulo sero abordados aspectos em relao
construo de viveiros como regulamentao ambiental,
requisitos para a construo, estrutura e enchimento.
3.1 Regulamentao ambiental
3.1.1 Licenciamento ambiental
Assim como outras atividades, a piscicultura gera
impacto ambiental, portanto necessrio ser licenciada
para garantir sustentabilidade ambiental futura. No Paran
-
49
o rgo responsvel pelo licenciamento ambiental o
Instituto Ambiental do Paran (IAP).
Os empreendimentos de aquicultura seguem as
regras gerais para o licenciamento ambiental, conforme
definidas na Lei n6.938/81 Lei da Poltica Nacional do
Meio Ambiente e na Resoluo CONAMA n237, de 19 de
dezembro de 1997. Podendo exercer o licenciamento
ambiental os municpios e estados, exceto em reas
indgenas, fronteirias e outros. Nesse caso, o
licenciamento cabe ao Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e dos recursos Naturais Renovveis (IBAMA).
Para efeito de licenciamento, o potencial de impacto
ambiental o critrio principal de classificao dos
empreendimentos de aquicultura. A classificao baseada
no porte (rea de lmina dgua) e no potencial de
severidade. Mais informaes sobre como definido o
porte da atividade e o potencial de severidade das espcies
vide a Resoluo CONAMA n413, de 26 de julho de 2009.
Existem nove classes de empreendimentos que definem os
procedimentos de licenciamento adequados para cada um,
conforme apresentado na Tabela 2.
-
50
Tabela 2. Potencial de impacto ambiental
Potencial da severidade da espcie
Baixo (B) Mdio (M) Alto (A)
Porte
Pequeno (P) PB PM PA
Mdio (M) MB MM MA
Grande (G) GB GM GA Fonte: Resoluo CONAMA n 413, de 26 de julho de 2009. PB: Pequeno porte com baixo potencial de severidade da espcie; PM: Pequeno porte com mdio potencial de severidade da espcie; PA: Pequeno porte com alto potencial de severidade da espcie; MB: Mdio porte com baixo potencial de severidade das espcies; MM: Mdio porte com mdio potencial de severidade pela espcie; MA: Mdio porte com alto potencial de severidade pela espcie; GB: Grande porte com baixo potencial de severidade pela espcie; GM: Grande porte com mdio potencial de severidade pela espcie; GA: Grande porte com alto potencial de severidade pela espcie.
Sendo assim, quanto maior o grau de impacto
ambiental, maiores sero as exigncias pelo rgo
ambiental, seja ele municipal, estadual ou federal. Para os
empreendimentos classificados como de mdio ou alto
impacto ambiental, so exigidas trs etapas no processo de
licenciamento ambiental: Licena prvia, Licena de
Instalao e Licena de Operao.
-
51
3.1.1.1 Obteno de licena ambiental
Primeiramente o empreendedor dever procurar o
Instituto Ambiental do Paran (IAP), e fazer o requerimento
de licenciamento ambiental, aonde o empreendedor ir se
cadastrar e apresentar as caractersticas da atividade que
deseja executar. Mediante isso o IAP far a abertura do
processo, no qual ser elaborado o termo de referncia
que ser entregue ao empreendedor para orientar o
estudo ambiental. Depois de realizado o estudo ambiental
e entregue ao IAP juntamente com os documentos de
estudo e relatrio de impacto ambiental (EIA/RIMA), o
documento passar por avaliao e ser emitido um
parecer tcnico, a partir do qual o IAP ir deferir ou
indeferir a Licena prvia (LP). Lembrando que a licena
prvia no autoriza a realizao de obras de implantao
do empreendimento.
Para a obteno da Licena de Instalao (LI), o
empreendedor dever elaborar o Plano Bsico Ambiental
(PBA) que detalha os programas ambientais necessrios
para a minimizao dos impactos negativos e maximizao
dos impactos positivos, identificados na elaborao do EIA.
Este documento dever ser enviado para o IAP que ir
-
52
analisar e emitir um parecer tcnico a partir do qual ir
deferir ou indeferir a Licena de Instalao (LI). Esta licena
autoriza o incio das obras de implantao.
A Licena de Operao (LO) a ltima fase antes do
incio das atividades, para obt-la o empreendedor dever
elaborar um conjunto de relatrios, descrevendo a
implantao dos programas ambientais e medidas
mitigadoras previstas nas etapas de LP e LI. O
empreendedor entregara os relatrios ao IAP, que
analisar e verificar os resultados, emitindo um parecer
tcnico que servir de base para decidir se ir deferir ou
indeferir a licena de operao.
Atividades que estiverem em fase de ampliao e no
possurem Licena de Operao devero solicitar, ao
mesmo tempo, a LO da parte existente e a LP para a nova
situao. No caso de j possurem a LO devero solicitar LP
para a situao pretendida.
Licena de Aquicultor o ltimo documento
necessrio para o incio da atividade legal, a obteno da
Licena de Aquicultor emitida pelo MPA. O
empreendedor dever apresentar a licena ambiental de
operao (LO), a outorga da gua, alm de outros
documentos. Para pequenos empreendimentos ser
-
53
necessria a apresentao do documento de dispensa de
licenciamento ambiental e outorga da gua.
A solicitao de qualquer uma das licenas deve estar
de acordo com a fase em que se encontra o
empreendimento: concepo, obra, operao ou
ampliao, mesmo que o empreendedor no tenha obtido
anteriormente a Licena prevista em Lei. As licenas
deveram ser renovadas ao fim do seu prazo de validade (5
anos).
Ainda poder ser realizado o Licenciamento
Ambiental Simplificado (LAS), para empreendimentos de
pequeno porte ou de baixo potencial de impacto
ambiental. Se adequam aos LAS empreendimentos com at
5 ha de lmina dgua e com produtividade inferior a
10.000 kg/ha/ano. Para a obteno da LAS o
empreendedor dever procurar o IAP, da mesma forma
como j foi descrita anteriormente e aps entregar todos
os documentos necessrios, poder requisitar a LAS. uma
licena nica, com taxa de licenciamento reduzida. Esta
licena tem durao mnima de 4 anos e mxima de 6 anos
quando comprovada a implementao do programa de
gesto ambiental voluntrio, cuja eficincia tenha sido
atestada pelo rgo ambiental.
-
54
3.1.2 Outorga da gua
A outorga da gua representa a concesso do direito
de uso da mesma, sob condio e prazo determinado pelo
poder pblico estadual (Superintendncia de
Desenvolvimento de Recursos Hdricos e Saneamento
Ambiental SUDERHSA) ou Federal (Agncia Nacional de
guas ANA), dependendo da classificao do recurso que
se d em funo da sua localizao geogrfica.
A outorga da gua serve como instrumento do
governo para a avaliao qualitativa e quantitativa do seu
uso, seja pela captao ou pela liberao de efluentes, para
assegurar o direito de acesso a gua, conforme est
disposto na Lei Federal n9.433/1997.
A agncia Nacional de guas (ANA) responsvel
pela emisso de outorgas de direito de uso de recursos
hdricos que dividem ou passam por dois ou mais estados,
ou ainda aqueles que passam pela fronteira entre o Brasil e
outros pases. Para aqueles recursos hdricos que se
encontrarem exclusivamente dentro do estado do Paran,
a outorga caber a Superintendncia de Desenvolvimento
de Recursos Hdricos e Saneamento Ambiental.
-
55
A emisso da Outorga Prvia e da Outorga de Direito
de Uso de Recursos Hdricos pela SUDERHSA para novos
empreendimentos, como tambm para empreendimentos
existentes, deve estar integrado com os procedimentos
adotados pelo Instituto Ambiental do Paran IAP no que
se refere ao Licenciamento Ambiental.
Outorga prvia: um requisito para a obteno da
Licena de Operao concedida pelo IAP, portanto
requerida anteriormente ao efetivo funcionamento do
empreendimento.
Outorga de direito: concedida a empreendimentos
que fazem a utilizao dos recursos hdricos em alguma de
suas formas, seja na captao ou na liberao de efluentes.
Poder ser requisitada por empreendimentos j existentes.
Outorgas de captao: para consegui-las preciso
realizar o preenchimento do Requerimento de captao
(RCA) e apresenta-lo junto com os documentos
obrigatrios SUDERHSA. A captao pode ser superficial
ou subterrnea, sendo que cada uma possui uma outorga
especfica. Para a outorga de captao de gua subterrnea
preciso ainda realizar uma anlise fsico-qumica e
bacteriolgica dessas guas.
-
56
Outorgas de lanamento de efluentes: para
consegui-la necessrio preencher o Requerimento de
Lanamento de Efluentes (RLE) e entregar a SUDERHSA,
juntamente com os demais documentos obrigatrios. Aps
aceito o requerimento, o rgo necessitar realizar uma
vistoria tcnica, para analisar o local onde ser liberado o
efluente.
Devero ser requisitadas a SUDERHSA,
simultaneamente, as outorgas de captao da gua e de
liberao de efluentes. Apesar de estarem relacionadas,
so processos totalmente distintos e que devem ser
apresentados de forma separada ao rgo.
3.2 Requisitos para a construo de viveiros
A construo dos viveiros necessita de planejamento,
pois representa a maior parte dos custos de investimento
da piscicultura. Por isso antes de iniciar o projeto de
construo, alguns pontos devem ser observados, como:
rea, topografia, tipo de solo e disponibilidade de gua.
Estes fatores sero determinantes na alocao dos viveiros
na rea e no custo de implantao.
-
57
3.2.1 rea e topografia
A rea e a topografia iro determinar a forma, o
tamanho e o nmero de viveiros possveis de serem
construdos, bem como, definir o quanto de terra precisar
ser movimentado na propriedade, para a construo das
instalaes, o que implica diretamente de quanto ser o
investimento financeiro.
Para a construo de viveiros essencial que sejam
escolhidas as reas que apresentarem pouca declividade
(at 2%), ocasionando assim uma menor movimentao de
terra para a construo das instalaes.
3.2.2 Tipo de solo
Faz-se importante conhecer o tipo de solo que ir ser
trabalhado, principalmente devido infiltrao de gua, o
que implicar em uma maior ou menor perda deste
insumo.
Os solos mais apropriados para a construo de
viveiros so aqueles que de maneira geral possuem uma
textura muito argilosa (mais de 60% de argila) ou argilosa,
contendo entre 35 e 60% de argila na sua composio
-
58
(argila, argila siltosa, argila arenosa e franco-argilosa).
Considerando que a argila composta por partculas
menores que a da areia (Tabela 3), o que possibilita assim
maior coeso das partculas, levando assim a uma maior
plasticidade e impermeabilidade do solo. indesejvel que
o solo seja muito arenoso e/ou ainda apresente grande
quantidade de cascalhos e razes de grandes rvores,
favorecendo assim a infiltrao da gua no mesmo.
Tabela 3. Tamanho de partculas do solo na escala de Atterberg
Frao do Solo Tamanho de Partcula (mm)
Argila < 0,002
Silte 0,002 0,02
Areia Fina 0,02 0,2
Areia Grossa 0,02-2
Fonte: Brady e Weil (2010).
Para descobrir se o solo a ser trabalhado possui
caractersticas desejveis, pode se proceder de duas
formas: anlise fsica do solo em laboratrio, e se no
houver laboratrio, pode ser realizado um teste prtico
para medir a permeabilidade ou a textura do solo
conforme a seguinte descrio:
-
59
Teste de permeabilidade: escavar um buraco com
profundidade de 1,80 m (ou profundidade que se deseja
construir o viveiro) e encher de gua. Ao final do dia deve-
se observar o nvel da gua e se for necessrio, completar
at o nvel mximo. Na manh seguinte, caso a gua tenha
desaparecido, significa que o solo no possui boa aptido
para piscicultura.
Teste de textura: Uma amostra do solo abaixo da
cobertura vegetal deve ser retirada e passada em uma
peneira comum (malha de 2,0 mm). O solo peneirado
precisa ser molhado e uma pequena quantidade ser
apertada em uma das mos. Ao abrir a mo, se permanecer
a marca dos dedos na amostra, significa que o solo
indicado para a piscicultura.
3.2.3 Disponibilidade de gua
A disponibilidade de gua um aspecto muito
importante a ser considerado na implantao dos viveiros,
principalmente na regio do extremo noroeste do Paran
que sofre um curto perodo de estiagem durante o inverno.
Mesmo nos perodos de estiagem a quantidade de gua
-
60
deve ser o suficiente para atender mnima exigncia do
viveiro (evaporao, infiltrao).
A captao da gua pode se dar atravs de diferentes
sistemas de coleta como: nascentes, pequenos crregos,
barragens, poos artesianos.
Para coletas de pequenos crregos e poos
artesianos recomendado que se faa um aude-
reservatrio, para no prejudicar o curso natural e
melhorar a qualidade da gua subterrnea que pobre em
oxignio e microrganismos. Neste caso, recomenda-se que
a coleta de gua seja realizada da parte superior do viveiro,
por possuir maior qualidade em relao quantidade de
oxignio dissolvido e fitoplncton.
3.3 Estrutura de viveiros
3.3.1 Dimensionamento
O formato e a disposio dos viveiros sero dados em
funo do terreno, visando sempre ocupar a maior rea
possvel, e ainda levar em considerao as atividades que
sero realizadas, como: despesca, arraoamento,
-
61
carregamento dos peixes, tipo de maquinrio que circular
entre os viveiros, entre outros.
Quando o terreno permitir, dar preferncia a viveiros
retangulares, na proporo de 1:4 em largura e
comprimento, pois apresentam maior praticidade no
manejo e melhor fluxo de gua, sendo mais comumente
utilizados em pisciculturas. Lembrando que a construo de
viveiros menores implica em um menor aproveitamento da
rea, considerando que uma maior proporo do terreno
ser gasta com a construo dos taludes.
Por outro lado, viveiros grandes (maiores que 1 ha)
possuem um fundo mais irregular que promove a
permanncia de predadores e agentes patognicos,
ocasionando o aparecimento de poas que prejudicam o
processo de desinfeco do viveiro. E apresentam
problemas com algumas atividades, principalmente a
despesca com rede de arrasto e o esvaziamento do viveiro.
No existe uma regra nica a ser seguida na
construo de um viveiro. Sendo que para pisciculturas
voltadas para a produo de alevinos, so recomendados
viveiros menores, entre 250-1.000 m de lmina da gua
(dependendo da escala de produo) e de 0,8 a 1,5 m de
profundidade, para facilitar o manejo, evitando assim que
-
62
um grande nmero de indivduos se comprometam, caso
ocorra alguma infeco por parasitos ou outros patgenos.
Para a manuteno dos reprodutores so utilizados
viveiros com cerca de 250-2.000 m com at 1 m de
profundidade, pois o macho costuma fazer o ninho em
guas mais rasas.
Para viveiros destinados a terminao dos animais as
dimenses sero maiores, normalmente entre 2.000 a
10.000 m de lmina dgua, com profundidade entre 1-1,5
m, para que possa ser realizada a despesca mesmo com o
viveiro no seu nvel mximo de gua.
3.3.2 Sistema de abastecimento
O sistema de abastecimento deve possuir gua com
qualidade e em quantidade suficiente para atender as
necessidades dos viveiros, sejam elas para renovao da
gua ou para repor o que perdido devido infiltrao e
evaporao.
Preferencialmente o abastecimento dever ser
realizado por gravidade, para reduzir os custos com energia
(eltrica e combustveis). Podem ser usadas fontes de gua
que estejam localizadas acima do nvel dos viveiros, ou a
-
63
construo de barragens para que o nvel da gua se eleve.
A captao da gua deve ser realizada conforme os
aspectos discutidos no item 3.2.3 deste captulo.
Sua distribuio ser realizada por condutos que
podem ser abertos, feitos de concreto, de terra
compactada ou condutos fechados como canos de PVC.
Para a determinao das dimenses do conduto, leva-se
em considerao a quantidade de gua necessria por
hectare. De acordo com dados da EMBRAPA, a vazo ideal
seria de dez litros por segundo por hectare (10 L/s/ha),
estimados no perodo em que h menor disponibilidade
hdrica, para saber qual ser sua cota mnima.
Caso seja necessrio bombeamento, devido fonte
de gua se encontrar abaixo do nvel dos viveiros, ou como
forma suplementar, recomendvel que primeiro a gua
seja bombeada para uma represa, para depois ser
distribuda por gravidade aos viveiros. Dessa maneira
haver economia de energia e menor susceptibilidade a
problemas como falta de energia eltrica ou falhas
mecnicas.
Em ambos os casos conveniente instalao de
filtros mecnicos para evitar a entrada de resduos
orgnicos (folhas, galhos entre outras) e espcies
-
64
indesejveis para a piscicultura. Estes filtros devem ser
planejados de forma que possam ser removidos para
realizar limpezas peridicas.
A entrada de gua no viveiro dever sempre ficar na
extremidade oposta ao sistema de drenagem, para
favorecer a renovao da gua, devendo estar a uma altura
de aproximadamente 0,50 m favorecendo a oxigenao.
Lembrando-se de colocar pedras no fundo do viveiro na
regio onde h queda de gua, para evitar que ocorra
eroso e ressuspenso de material.
3.3.2.1 Estimativa de vazo de gua
Aps as consideraes feitas a respeito da
disponibilidade de gua no item 3.2.3 deste captulo, de
grande importncia fazer a estimativa de vazo de gua
para o abastecimento, sendo que esta definir o porte da
piscicultura a ser implantada.
Por definio vazo (Q) o volume de gua em litros
(L) ou metros cbicos (m), que passa por um conduto em
um perodo de tempo (t). A estimativa pode ser feita
atravs de duas formas principais, sendo que a sua
utilizao varia em funo do sistema de abastecimento:
conduto fechado normalmente com canos de PVC ou
-
65
conduto aberto, podendo ser um canal dgua escavado,
riacho, entre outros.
Para condutos fechado o procedimento a ser
realizado o seguinte:
Utiliza-se um recipiente com volume conhecido
exemplo: balde ou bacia;
Com um cronmetro, coleta-se o tempo que
demorou para encher o recipiente, repetindo isso por 3
vezes;
Calcula-se:
Exemplo 1: Tempo para encher um tambor de 100
litros completamente (3 vezes): 3 s, 4 s, 6 s. Mdia de
tempo: 4,3 s.
Considerando que a vazo ideal seria de 10L/s/ha,
podemos estimar que essa vazo suficiente para
abastecer cerca de 2,3 ha de lmina dgua.
-
66
Estimativa de vazo de gua para conduto aberto:
escolhido um trecho do conduto que seja mais uniforme,
para facilitar a medida da vazo, depois so escolhidos 2
pontos com uma distncia de 10 m entre si.
Utilizando uma garrafa PET de refrigerante com do
seu volume preenchido por gua, ser possvel estimar o
tempo que a gua leva para passar entre os dois pontos. A
garrafa solta cerca de 5 m antes do ponto inicial, para que
alcance a velocidade de deslocamento da gua, e aps
passar pelo primeiro ponto do trecho iniciada a contagem
do tempo com um cronmetro at passar pelo segundo
ponto. Este procedimento realizado trs vezes, para
obter um nmero mais acurado.
Aps isso deve ser definida a rea da seco, onde
esto os pontos. feito uma mdia das duas seces, que
multiplicada pela distncia entre os pontos (10 m) ir
fornecer a informao sobre o volume da gua. As reas
das seces sero definidas de acordo com a sua forma
geomtrica (Figura 7). Ento, a vazo poder ser calculada.
-
67
Forma da seo rea (m)
b.h
(b+m.h)h
m.h
1/8(-sen).D
=RAD
h=D/2
Figura 7. Formas geomtricas, e clculo de suas respectivas
reas.
Exemplo 2:
Realizar as medidas das reas das duas seces de
um conduto, ponto inicial (1,20 m) e ponto final (1,32 m);
-
68
mdia da rea de seco do canal = 1,26 m. Distncia
entre os dois pontos = 10 m, portanto:
Onde: V = volume (m); A = rea (m) e D = distncia
(m).
Tempo de deslocamento da garrafa entre os dois
pontos (25 s, 27 s, 22 s). Tempo mdio de deslocamento =
24,66 s:
Onde: Q = vazo
Porm este valor no absoluto, ele deve ser
multiplicado por 0,85 que representa um fator de correo
da rugosidade do fundo do canal (pois a velocidade no
fundo do canal menor):
Considerando que a vazo ideal seria de 10 L/s/ha,
podemos estimar que essa vazo suficiente para
abastecer cerca de 26,4 ha de lmina dgua.
-
69
3.3.3 Construo dos viveiros
3.3.3.1 Taludes
Os taludes so as paredes inclinadas dos viveiros. Sua
construo deve ser bem executada, caso contrrio, podem
resultar em um maior custo com reparos posteriores. Os
principais problemas que podem aparecer so: infiltrao e
eroso.
Os taludes (Figura 8) devem ser construdos em
camadas de terra mida com aproximadamente 20 cm de
altura e depois realiza-se a compactao da terra com um
rolo compactador.
A inclinao do talude ir depender de fatores fsicos
do solo (Tabela 4), mas de maneira geral o talude a
montante (rea de contato com a gua), possui uma
inclinao menos acentuada, devido aos efeitos erosivos
das ondas.
Figura 8. Inclinao dos taludes do viveiro.
-
70
Tabela 4. Inclinao recomendada por tipo de solo.
TIPO DE SOLO
TALUDE INTERNO TALUDE EXTERNO
Areno-argiloso
2,5 a 3 m de base para cada metro de
altura
1,5 a 2 m de base para cada metro de
altura
Silto-argiloso
2 a 2,5 m de base para cada metro de
altura
1 a 1,5 m de base para cada metro de
altura
Argiloso 1,5 a 2 m de base
para cada metro de altura
1 m de base para cada metro de altura
Adaptado de Proena e Bittencourt (1994).
3.3.3.2 Largura da crista
A crista o ponto mais alto dos taludes. Sua largura
definida em funo do porte da piscicultura, tendo em vista
sempre a facilidade ao realizar os manejos do viveiro como:
transporte de insumos, despescas, trfego seguro de
pessoas e veculos entre outros.
Nos taludes principais, a largura da crista deve
possuir no mnimo de 3 a 4 m, sendo que deve ser
proporcionalmente maior, em relao ao tamanho do
veculo que circular entre os viveiros, exemplo:
Para caminhes de despesca a crista dever possuir
no mnimo 4 m de largura.
-
71
Para empreendimentos de menor porte, onde com
apenas um trator seja possvel realizar a despesca e
transporte de insumos, a crista dever possuir no mnimo 3
m de largura.
Nos taludes secundrios a largura pode ser menor,
porm deve permitir que a roada mecnica da crista seja
realizada.
3.3.3.3 Borda livre ou borda de segurana
Representa a distncia entre o nvel mximo da gua
e a crista do talude. Essa distncia muito importante,
para evitar que ocorra o transbordamento do viveiro,
principalmente em perodos chuvosos. A borda livre ir
variar de acordo com o tamanho do viveiro, mas de
maneira geral em viveiros de at 5.000 m adotado uma
borda de 30-40 cm, e para viveiros maiores uma borda de
no mnimo 50 cm.
Devem ser praticadas medidas de preservao dos
taludes, como o plantio de gramneas que no apresentem
um porte elevado, por aumentar o custo de manuteno
do viveiro devido a maior necessidade de realizar roadas.
recomendado o plantio de gramneas dos gneros
Cynodon e Paspalum, por apresentarem um menor porte e
-
72
uma boa capacidade de crescimento vegetativo, cobrindo
rapidamente a rea de solo exposto logo aps a construo
dos viveiros. No recomendado o plantio de rvores nos
taludes e cristas, pois estas favorecem a infiltrao de gua.
3.3.3.4 Fundo
O fundo dos viveiros deve ser bem compactado
para evitar que haja a infiltrao da gua e ainda favorecer
o manejo de despesca. O fundo deve apresentar uma
inclinao de 0,5% at 2% no sentido longitudinal (no
sentido do maior comprimento), favorecendo o
esvaziamento do viveiro por gravidade no momento de
despesca.
3.3.3.5 Sistema de drenagem
O sistema de drenagem dever ser construdo na
parte mais profunda do viveiro visando o seu esgotamento
completo. O tamanho do viveiro ir influenciar diretamente
sobre o tipo de sistema de drenagem que ser utilizado,
podendo ser o monge ou cachimbo/cotovelo.
Monge: o sistema mais utilizado em viveiros de
maiores que 1.000 m. Essa estrutura permite que a gua
-
73
seja coletada do fundo do viveiro, onde possui menos
qualidade por ter uma concentrao baixa de oxignio
dissolvido e uma concentrao de resduos orgnicos alta,
favorecendo assim a renovao da gua no viveiro.
O monge, conforme mostra a Figura 9, consiste em
uma caixa que pode ser de alvenaria ou tbuas de madeira,
com altura igual ao nvel da crista dos taludes. Esta caixa
est fixada 10 cm abaixo do fundo do viveiro e acoplada
tubulao de esgotamento que se encontra perto da base
do talude. Nas paredes internas do monge, h ranhuras ou
canaletas verticais, com cerca de 2 a 3 cm de abertura onde
sero sobrepostas e encaixadas as tbuas que iro fazer a
vedao e controle do nvel da gua. As tbuas sero
distanciadas paralelamente entre si com 20 cm e este
espao poder ser preenchido com serragem ou terra, para
evitar a passagem de gua. Na base do monge, por onde a
gua passar, ser instalada uma tela de conteno
compatvel com o tamanho dos peixes do viveiro para
evitar fugas.
Em viveiros de maior porte onde so utilizados os
monges, aconselhvel fazer a construo de um
vertedouro, para retirar o excesso de gua quando o nvel
do viveiro subir, principalmente em pocas chuvosas.
-
74
Figura 9. Drenagem por sistema de monge.
Cotovelo/cachimbo: um sistema simples e barato,
representando uma alternativa para pequenos
empreendimentos, utilizado em viveiros com at 2.000 m
de lmina da gua. O cotovelo ser acoplado ao tubo de
esgotamento do viveiro, que se localiza na base do talude
interno. Primeiro adicionada uma curva no tubo de
esgotamento (normalmente utilizado tubo de 100 mm),
depois colocado uma barra de cano de 100 mm que
dever possuir altura igual ao nvel da gua desejado. Uma
barra de cano com 150 mm, com um corte e tela de
proteo na parte inferior, dever ser sobreposta barra
de 100 mm (Figura 10).
Aps a captao dos efluentes atravs de um
conduto dimensionado, os resduos de todos os viveiros
-
75
sero conduzidos para a lagoa de decantao. Esse conduto
deve ser construdo com uma declividade mnima de 0,5%,
para garantir o transporte por gravidade e facilitar a
limpeza peridica. Eles podem ser construdos a cu
aberto, escavados no solo (necessitando de compactao)
ou ainda podero ser feitos em alvenaria, que apesar de
possurem um custo maior, no apresentam problemas
com eroso e assoreamento da lagoa de decantao.
3.3.3.6 Lagoa de decantao
Os efluentes coletados dos viveiros no podem ser
liberados diretamente para o meio ambiente, por
apresentarem uma qualidade muito baixa, devido ao
material que se encontra na gua, como: excretas dos
Figura 10. Drenagem por sistema de cotovelo/cachimbo.
-
76
peixes e restos de rao em decomposio, excesso de
nutrientes como nitrognio e fsforo, entre outros. Porm
esse problema se agrava nos perodos em que ocorre a
despesca, pois, todo o material orgnico que estava no
fundo do viveiro entra em suspeno devido ao manejo
realizado.
Nas lagoas de decantao a gua deve permanecer
tempo suficiente para que todo o material seja depositado
no fundo da lagoa. Devem possuir plantas aquticas como
aguap e taboa, para que utilizem os nutrientes dissolvidos
e assim diminuam a sua concentrao. Tambm
importante ter exemplares adultos de peixes nativos com
hbitos alimentares diferentes, como: carnvoros, para que
possam comer eventuais peixes que escapem dos viveiros,
filtradores e onvoros, para diminuir a quantidade de
microrganismos e matria orgnica.
As caractersticas da lagoa de decantao so as
mesmas que as dos viveiros em relao aos taludes, fundo
e outros aspectos abordados anteriormente. Sua rea
dever ser o equivalente a 10% da soma de toda a rea
alagada com os viveiros.
-
77
3.4 Enchimento
O enchimento do viveiro ser realizado logo aps a
sua fertilizao, portanto recomenda-se que ele seja feito
em duas etapas. Primeiro deve ser colocado
aproximadamente de 50 a 70 cm de gua no viveiro,
esperando de 4 a 8 dias para que possa haver o
crescimento do fitoplncton, depois o viveiro poder ser
completado at seu nvel mximo. Espera-se de 2 a 4 dias
para que o plncton (fitoplncton e zooplncton) possa se
multiplicar, para garantir uma boa disponibilidade de
alimento natural para os alevinos. Durante o enchimento
do viveiro muito importante que seja monitorado a
qualidade da gua, por meio da medio de temperatura,
oxignio, transparncia e pH conforme abordado no
captulo 4.
3.5 Bibliografia consultada
AGNCIA NACIONAL DE GUAS. Manual de procedimentos tcnicos e administrativos de outorga de direito de uso de recursos hdricos. Braslia - DF, 2013. 252 p.
BRADY, N.C.; WEIL R.R. Arquitetura e Propriedades Fsicas
do Solo. IN: BRADY, N.C.; WEIL R.R. Elementos da
-
78
natureza e propriedades do solo. Porto Alegre RS, 2013. p.106-144.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolues
vigentes publicadas entre setembro de 1984 e janeiro de 2012. Braslia: MMA, 2012, 1126 p.
FARIA. S. H. G. et al. Manual de criao de peixes em viveiros. Braslia: Codevasf, 2013, 136 p.
IBAMA. Processo de licenciamento. Disponvel em
. Acesso em: 4 de junho de 2015.
IBAMA. Licenciamento ambiental. Disponvel em
. Acesso em: 4 de junho de 2015.
INSTITUTO DAS GUAS DO PARAN. Outorga de Uso de
Recursos Hdricos. Disponvel em . Acesso em 5 de junho de 2015.
OSTRENSKY, A.; BOEGER, W. Piscicultura: fundamentos e
tcnicas de manejo. Guaba: Ed. Agropecuria, 1998. 211 p.
ONO, E. A.; KUBITZA, F. Construo de viveiros e de
estruturas hidrulicas para o cultivo de peixes - parte II. Panorama da Aquicultura, v.12, n.73, p. 15-29. 2002.
-
79
ONO, E. A.; CAMPOS, J.; KUBITZA, F. Construo de viveiros e de estruturas hidrulicas para o cultivo de peixes - parte III. Panorama da Aquicultura, vol.12, n.74, p. 15-30. 2002.
REZENDE. P.F.; BERGAMIN.T. G. Implantao de piscicultura
em viveiros escavados e tanques-redes. IN: RODRIGUES, A. P. O. Piscicultura de gua doce: multiplicando conhecimentos. 1 Edio. Braslia, DF: Ed. Embrapa, 2013. p.109-139.
SEBRAE. Licenciamento ambiental da aquicultura: Critrios
e procedimentos. 43 p. SUPERINTENDNCIA DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS
HIDRICOS E SANEAMENTO AMBIENTAL. Manual Tcnico de Outorgas. Novembro de 2006. 106 p.
-
4 QUALIDADE DA
GUA NA
TILAPICULTURA
Mariana Tiepo Gonalves
-
81
A gua um dos fatores bsicos na criao, sendo
assim a sua qualidade representa um dos fatores mais
importantes para a criao e cultivo de peixes, se no o
mais importante. A tilpia uma espcie que apresenta
grande adaptao a condies adversas da qualidade da
gua, sendo por esse motivo entre outros uma das
espcies mais utilizadas para cultivo.
Neste captulo sero abordados fatores fsicos,
qumicos e biolgicos referentes qualidade da gua, visto
que o controle e a manuteno destes fatores iro
influenciar diretamente no desenvolvimento dos peixes e
no sucesso da produo.
4.1 Fatores fsicos da gua
4.1.1 Temperatura
A temperatura da gua apresenta grande importncia
sobre as funes vitais dos peixes, as variaes desse fator
podem afetar a disponibilidade de nutrientes, causar
doenas, falta de apetite, levar a problemas no crescimento
dos peixes e de micro-organismos presentes na gua. A
tilpia um peixe originrio de guas quentes, por isso a
faixa de conforto trmico dessa espcie varia entre 25 a
-
82
30oC. Na Tabela 5, se encontram os valores de temperatura
da gua, bem como as respostas fisiolgicas da tilpia a
estas temperaturas.
Tabela 5. Respostas fisiolgicas em diferentes faixas de temperatura
TEMPERATURA RESPOSTAS FISIOLGICAS
> 38 oC Morte
30 a 38 oC Falta de apetite, maior incidncia de doenas, resistncia ao manejo.
25 a 30 oC Conforto trmico.
20 a 25 oC Queda no consumo de
alimento e no crescimento.
14 a 20 oC Queda no crescimento,
maior incidncia de doenas e resistncia ao manejo.
< 14 oC Morte
Adaptado de Kubitza (2011).
Grande parte da criao e do cultivo de tilpia no
Paran realizada na regio Oeste, onde as temperaturas
apresentam-se mais elevadas. Em regies do estado com
temperaturas mais amenas a criao tem um perodo de
estagnao em pocas mais frias do ano devido reduo
da atividade dos peixes em temperaturas abaixo do ideal.
-
83
4.1.2 Transparncia e turbidez
A transparncia dada atravs em funo da
quantidade de luz solar que consegue penetrar na coluna
dgua. Este fator de suma importncia j que a luz a
fonte de energia utilizada por plantas e micro-organismos
aquticos para a realizao da fotossntese. A transparncia
da gua pode oscilar de acordo com a profundidade e a
turbidez da gua.
A turbidez um fator inversamente proporcional
transparncia, uma vez que se refere ao grau de reduo
da penetrao da luz na gua, quanto mais turva a gua for
menor ser a penetrao de luz. Isto ocorre devido
presena de slidos em suspenso ou ao florescimento de
micro-organismos aquticos.
Para medir a transparncia da gua utilizado um
equipamento chamado disco de Secchi (Figura 11). Esse
disco feito de chumbo ou um material pesado suficiente
para afundar, apresenta duas partes pretas e duas partes
brancas intercaladas entre si, no centro do disco a um
basto graduado. O disco posto na gua e observa-se a
profundidade na qual no se pode mais distinguir entre as
cores do disco, medida utilizada para estimar o ponto que
-
84
recebe incidncia de luz solar suficiente para que ocorra
fotossntese, sendo a transparncia de 40 cm ideal. O
controle da transparncia e da turbidez importante, visto
que tanto a gua muito turva quanto a muito clara geram
problemas na produtividade.
Figura 11. Disco de Secchi
4.2 Fatores qumicos da gua
4.2.1 pH
O potencial hidrogeninico (pH) representa a
quantidade de ons H+ presentes na gua, a atividade
desses ons dada a partir da seguinte equao:
[ ]
O pH pode ser medido atravs de mtodos
colorimtricos, papel tornassol, fenolftalena ou utilizando
-
85
um pHmetro. A escala de medida do pH varia de 0 a 14,
sendo pH igual a 7 em guas neutras, quando os ons H+
apresentam quantidade semelhante aos ons OH-. Quando
a quantidade de ons H+ for superior s de OH- o pH
apresenta-se cido, ou seja, menor que 7. Quando os ons
OH- apresentarem concentraes maiores que as de ons H+
o pH ser superior a 7, bsico.
Para a tilpia o pH ideal da gua encontra-se entre 6
e 8,5 e adapta-se a variaes de pH entre 5 e 11. Em pH
muito baixo mostram sinais de asfixia. A exposio dessa
espcie a pH cido (abaixo de 5,0) leva um aumento na
secreo de muco, irritao e inchao nas brnquias,
gerando problemas no tecido branquial. A tilpia apresenta
queda de crescimento em guas com valores de pH fora do
ideal, mas as taxas de mortalidade no so significativas,
pois buscam conforto em guas mais fundas.
4.2.2 Alcalinidade
A alcalinidade est relacionada concentrao de
bases existentes na gua, expressa por equivalentes de
carbonato de clcio (CaCo3). Este fator medido atravs da
quantidade, principalmente, de ons bicarbonato (HCO3) e
-
86
carbonato (CO3-2). Altas concentraes de ons carbonato e
bicarbonato impedem a variao do pH, por isso a
alcalinidade responsvel pelo tamponamento da gua.
Para tilpias a gua do viveiro deve apresentar uma
alcalinidade em torno de 40 mg/l de CaCO3. Assim como
para o pH, a adio de calcrio ir aumentar a alcalinidade
da gua.
4.2.3 Dureza
A dureza representa a quantidade de minerais
presentes na gua, referindo-se principalmente ao
magnsio (Mg) e ao clcio (Ca). A unidade de medida
mg/l de CaCO3 como na alcalinidade. Os ons de clcio e de
magnsio geralmente esto ligados aos ons de bicarbonato
e carbonato, fazendo com que os valores de dureza e
alcalinidade sejam prximos. Valores ideias de dureza para
a criao de tilpias situam-se entre 40 e 60 mg/l de CaCO3.
4.2.4 Salinidade
A salinidade um parmetro relacionado
quantidade de sais dissolvidos na gua. medida atravs
da quantidade de sal por litro de gua. Dentre suas muitas
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caractersticas tilpias so peixes eurialinos, ou seja,
tolerantes a uma extensa faixa de variao no nvel de
salinidade da gua. Essa capacidade de adaptar-se a
flutuaes de salinidade possibilita a criao de tilpias em
ambientes diversos. A tilpia-do-nilo cresce em guas com
salinidade de at 18%, apresentando maior faixa de
crescimento a 12%, reproduzem-se em guas com
salinidade de at 15%. As tilpias em condies de
salinidade maiores a 18%, e que apresentem temperaturas
elevadas, mostram-se mais susceptveis a doenas. Quando
exposta a adaptaes graduais pode acabar por tolerar
salinidades mais altas. No estado do Paran, a tilapicultura
implantada exclusivamente em gua doce, essa prtica
poderia ser adotada em guas salobras no Litoral, porm
como considerada uma rea de conservao ambiental
esta forma de cultivo impraticvel.
4.2.5 Oxignio dissolvido
O oxignio dissolvido na gua difunde-se atravs das
brnquias e utilizado na respirao celular. Ele tambm
possibilita que a energia proveniente dos alimentos seja
aproveitada nas funes vitais. O oxignio presente na
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gua de suma importncia tanto para os peixes quanto
para os micro-organismos existentes nos viveiros.
As principais fontes de oxignio em um viveiro so:
Fotossntese, realizada pelo fitoplncton que
absorvem gs carbnico e liberam oxignio durante o
processo, levando a um aumento da concentrao de
oxignio durante o dia.
Oxignio proveniente do ar atmosfrico que
penetra a superfcie da gua de acordo com os ventos.
Sendo intensificado com o uso de sistemas de aerao.
Renovao de gua do viveiro (abordada com
maior detalhe no captulo 9).
A falta de oxignio dissolvido na gua pode ser
observada quando os peixes rumam para a superfcie em
busca de maiores quantidade de ar. A quantidade de
oxignio presente na gua medida atravs de um
equipamento chamado oxmetro.
A concentrao de oxignio dissolvido na gua
menor noite, quando no h a realizao de fotossntese
e todos os organismos vivos presentes na gua esto
consumindo oxignio, levando diminuio do mesmo. O
volume de oxignio tambm influenciado pela oxido-
reduo da matria orgnica que consome o oxignio
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ofertado na gua, ocorre na maioria das vezes no fundo
dos viveiros, por isso a quantidade de oxignio menor no
fundo do que na superfcie.
As tilpias apresentam tolerncia a baixas
concentraes de oxignio dissolvido e at conseguem
sobreviver por curtos perodos em situaes de anxia,
mas quando so frequentemente expostas a baixas
concentraes de O2 apresentam reduo de desempenho
e susceptibilidade a doenas. Em concentraes de 3 a 3,5
mg/l de oxignio dissolvido as tilpias reduzem o grau de
atividade, para diminuir a utilizao de oxignio. Tilpias
em guas com concentraes de oxignio dissolvido abaixo
de 3 mg/l apresentaram comportamento de fuga. Nveis
altos de mortalidade podem ocorrer quando os peixes
esto bem alimentados e a concentrao de oxignio
dissolvido na gua baixa. Sendo a faixa de oxignio ideal
de 4 a 5 mg/l.
4.2.6 Dixido de carbono (CO2)
Assim como a fotossntese auxilia no aumento da
concentrao de oxignio dissolvido durante o dia, a noite
ocorre o inverso. Ao longo da noite os micro-
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organismos que realizam a fotossntese, consomem o
oxignio da gua e liberam gs carbnico (CO2). O gs
carbnico armazenado na gua na forma de bicarbonato
(HCO3-), sendo altamente toxico e em altas concentraes
pode
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