contar histórias lapidar memórias · a importância do ato de contar histórias já vem sendo...
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Contar Histórias... Lapidar Memórias
Helena Maria de Oliveira Silva 1 Hiudéa Tempesta Rodrigues Boberg2
RESUMO
O artigo aborda aspectos importantes a acerca da fundamentação teórica sobre a oralidade no processo de contação de histórias. A pesquisa foi desenvolvida com educandos do sexto ano do Colégio Estadual Professor Segismundo Antunes Netto, em Siqueira Campos - PR. Sabendo-se da necessidade de se priorizar o desenvolvimento afetivo e o imaginário dos alunos, acredita-se que o ato de contar histórias poderá despertar o gosto de ouvir o outro, de se reparar no outro, e isso poderá resgatar valores referenciais que estão se perdendo. A grande expectativa é que por meio da contação de histórias se possa despertar a auto-confiança da criança e que os alunos venham, mesmo que a médio ou longo prazo, mostrar um maior interesse pela leitura, já que esta prática é importantíssima para a vida social e em comunidade do ser humano..
Palavras-chave: Oralidade, história, memória, imaginação.
1 Professora PDE da disciplina de Língua Portuguesa do Colégio Estadual Prof. Segismundo Antunes
Netto - EFMN 2 Professora Doutora Pró-Reitora da Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP.
INTRODUÇAO
A importância do ato de contar histórias já vem sendo analisada e discutida
por muitos estudiosos. É possível que num passado distante, narrar histórias fosse
até uma missão sagrada, realizada somente pelos mais sábios e experientes.
Porém, com o tempo, as pessoas comuns também passaram a contar histórias,
talvez menos míticas e mais próximas de cada povo, com novas características. São
inúmeros os autores que defendem sua relevância para o desenvolvimento
intelectual, moral e afetivo do ser humano, em especial dos alunos.
Todos os dias, no início das atividades escolares, contando-lhes uma
história, busco aguçar-lhes a curiosidade e o interesse. A contação de história faz
parte de minha história de vida, e talvez essa aptidão tenha início em minha infância,
porque meu pai e minha mãe não possuíam diplomas, mas “sabiam” que contar
histórias era algo que fazia parte do contexto familiar em que eles viveram e, por
alguma razão, passaram a desenvolver o mesmo hábito. Pude perceber, durante
toda minha vida, que aquelas histórias estiveram bem vivas em meu cotidiano, e
hoje, constatando como isso foi enriquecedor nos mais variados aspectos, acredito
que também irá contribuir imensamente na vida de meus alunos, uma vez que
muitos pais, devido às questões urgentes do cotidiano, não conseguem participar
ativamente da formação de seus filhos, especialmente no que consiste à educação
afetiva. Assim, a contação de histórias acaba sendo algo inexistente no contexto
familiar.
Sabendo da necessidade de se priorizar o desenvolvimento afetivo e do
imaginário dos alunos, pode-se constatar que os educadores necessitam “olhar”
para os alunos com mais atenção, pois se percebe que é disso que eles têm
carência, desse “olhar” mais humanizado, que despertará neles o desejo de ser
diferente num mundo conturbado, onde o “ter” e o “descartar” constituem uma
filosofia de vida que tanto distancia o ser humano de si mesmo e do convívio com o
outro.
O ato de contar histórias pode despertar o gosto de ouvir o outro, de se
reparar no outro, e isso pode resgatar valores referenciais que estão se perdendo,
ou até mesmo já inexistentes, devido à má estrutura familiar, pois os pais, como já
foi dito, não têm tempo para os filhos, que em sua maioria sobrevive à solidão e à
carência das figuras paternas.
Em suma, a grande expectativa é que por meio da contação de histórias se
possa despertar a auto-confiança da criança e que os alunos mostrem, mesmo que
a médio ou longo prazo um maior interesse pela leitura, já que esta prática é
importantíssima para a vida social e em comunidade do ser humano.
Este artigo aborda o desenvolvimento do Projeto de Implementação/PDE
efetivado com alunos do 6º ano do Colégio Estadual Professor Segismundo Antunes
Netto, de Siqueira Campos, PR, que priorizou o trabalho com contação de história.
Geralmente se percebe a dificuldade de interpretação e produção textual na sala de
aula e sabe-se que a prática da leitura é fator preponderante para que tanto a
interpretação dos textos quanto a produção se desenvolvam plenamente.
Devido à geração atual ter descartado o valor da reunião familiar, ou seja, as
famílias tornaram-se famí-ilhas, onde cada um tem seu espaço, sua TV, seu
computador, etc, não se passa pela experiência do contar e ouvir histórias. Diante de
estatísticas que afirmam o fato de as crianças estarem se tornando depressivas e
isoladas é que a Escola tem a missão de torná-las mais felizes e criativas.
O projeto desenvolvido tem como meta principal criar subsídios para que na
disciplina de Língua Portuguesa seja encontrado um espaço especial para a
contação de histórias, já que a oralidade é um dos eixos relevantes para a
aprendizagem. Portanto, é extremamente necessário exercitá-la, acreditando-se que
a narrativa oral aguça o imaginário dos alunos, despertando a capacidade de ouvir,
imaginar e sonhar.
A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA: UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA
Ao longo dos tempos, vários pensadores e educadores vêm mostrando a
importância de se contar histórias. Aliás, o encanto da palavra, a beleza da fala, que
podem transformar fisionomias, iluminar olhares ou mover pensamentos, quando
usadas na contação de histórias, tornam-se ainda mais extraordinários.
Busatto (2003, p. 9-10), por exemplo, afirma que contar histórias é uma arte
rara, cuja matéria-prima é o imaterial, e que nos liga ao indizível, trazendo respostas
às nossas inquietações, expressando e corporificando o simbólico, tornando-se a
mais pura expressão do ser.
Belinki (apud BUSATTO, 2003, p. 17) diz que o conto é um treino para as
emoções. Já os povos orientais consideravam o conto oral mais do que um estilo
literário a serviço do divertimento, e uma possibilidade de indicar condutas, resgatar
valores e até curar doenças.
Segundo Malba Tahan (1961, p. 24), até nossos dias, todos os povos
civilizados ou não, têm usado a história como veículo de verdades eternas, como
meio de conservação de suas tradições, ou da difusão de ideias novas.
Para PRIETTO (1999, p. 41), a voz é como a impressão digital, única,
reveladora, inesquecível. A performance oral é, por natureza, totalmente singular.
Para a autora, há até quem diga que a palavra falada contém um elemento vital, o
hálito, que desaparece dela quando escrita.
Segundo ABRAMOVICH (1991, p.16), ouvir histórias é um momento especial
e encantador, capaz de seduzir, maravilhar, dar prazer, divertir:
É ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem ouve com toda amplitude, significância e verdade que cada uma delas fez (ou não) brotar... Pois é ouvir, sentir
e enxergar com os olhos do imaginário! (ABROMOVICH, 1991, p.17)
BUSATTO (2003, p. 28) relata que o conto de literatura oral é uma das mais
genuínas expressões culturais da humanidade, mas não é possível afirmar com
certeza quem o criou, pois ele se modifica conforme o meio e momento em que é
narrado. Cada contador, em cada época, vai acrescentando suas emoções, suas
vivências, sua cultura. Quando se fala em contadores de histórias, é impossível não
mencionar alguns nomes ilustres, como os de Charles Perrault, os irmãos Jacob e
Wilhelm Grimm, Shakespeare, Katherina Wieckmann, lembrados por Busatto e, no
Brasil, Câmara Cascudo. Segundo a mesma autora, pode-se dizer ainda que Jesus
Cristo também foi um exímio contador de histórias. O conto de tradição oral é um
retrato da magia e do encantamento, uma fantástica criação da mente humana.
A importância do ato de contar histórias é imensa, pois se trata de uma
atitude multidimensional (BUSATTO, 2003, p. 45), e ao contá-las, pode-se atingir
não somente o plano prático, mas também o nível do pensamento e, sobretudo, as
dimensões do mítico-simbólico e do mistério:
Assim, conto histórias para formar leitores; para fazer da diversidade cultural um fato; valorizar as etnias; manter a História viva; para se sentir vivo; para encantar e sensibilizar o ouvinte; para estimular o imaginário; articular o sensível; tocar o coração; alimentar o espírito; resgatar significados para nossa existência e reavivar o sagrado. (BUSATTO, 2003, p. 45-46).
Não há registro exato de quando a contação de história começou.
Pamplona, no livro O homem que contava história (2005, p. 64), afirma aquilo que
todos nós intuitivamente já sabemos: se o berço da civilização é a África, então lá
também devem ter iniciado as primeiras tradições orais.
A pedagoga Maria Cecília A. Rosa (2011, p. 45) relata a possibilidade dessa
atividade ter se originado com a própria linguagem verbal, antes do surgimento da
escrita.
Comungando o mesmo raciocínio, Cléo Busatto (2006, p. 95) aponta que a
oralidade tem a idade do homem, porém a escrita, um pouco mais de 2.700 anos.
Se é verdade que o surgimento dos contos deve-se a uma necessidade do
homem de explicar a sua origem e a origem das coisas, pode-se até dizer que eles
surgiram com a primeira categoria do ser humano, o Homo Sapiens.
Calvino (apud PRIETO, 1999, p. 38-41) toma como ponto de partida um
primeiro contador de histórias em uma tribo pré-histórica. Naquela época, afirma, os
homens já trocavam alguns sons para comunicar-se sobre suas necessidades
práticas. O contador de histórias começou a proferir palavras não porque imaginasse
obter respostas, mas para descobrir se essas palavras realmente se encaixariam e
fariam sentido. Contava histórias sobre animais, peixes, aves, ou ainda, sobre os
antepassados:
Quando o professor se senta no meio de um círculo de alunos e narra uma história, na verdade cumpre um desígnio ancestral, pois ocupa o lugar de xamã, do bardo celta, do cigano, do mestre oriental, daquele que detém a sabedoria. Nesse momento ele exerce a arte da memória. (PRIETTO, 1999, p. 41)
Griots, assim eram chamados os contadores de histórias africanos. Sua
importância era tão grande que, sendo considerados verdadeiras bibliotecas
ambulantes, eram poupados até pelos inimigos nas guerras. E quando um griot
falecia, seu corpo era colocado dentro de uma enorme árvore chamada Baobá, para
que suas histórias e canções continuassem brotando e alegrando a todos.
Para Busatto (2003, p. 20), o conto de literatura oral se perpetuou na história
da humanidade, por meio da voz desses contadores de histórias, até o dia em que
antropólogos, folcloristas, historiadores, literatos, linguistas e outros entusiastas do
imaginário popular saíram a campo para coletar e registrar estes contos.
Antigamente, o contador de histórias contava o que sabia de memória, o que
ouvia em seu cotidiano, desde histórias dos clássicos da literatura popular até
contos de fadas ou lendas. Porém, com o passar do tempo, percebe-se que somente
a fala não foi suficiente e as pessoas começaram a pensar em suportes e maneiras
criativas para organizar sua memória, inventando a escrita. E registrou seus saberes
no barro, na pedra, no papel, e até na tela digital (BUSATTO, 2006, p. 88). E, como
diz Havelock (apud BUSATTO, 2006, p.88): “o homem deixa de ser um bardo para
se tornar um pensador”.
Na visão da mesma autora, enquanto falar se configura como um fato
histórico-biológico, a escrita, por sua vez, é concebida como uma técnica aprendida.
A autora ainda recorre a Havelock:
Uma consideração da oralidade (se assim posso dizer) do animal humano do ponto de vista da evolução exige-nos reconhecer que a linguagem oral é fundamental em nossa espécie, enquanto ler e escrever têm todo o jeito de um acidente recente (apud BUSATTO, 2006, p. 91).
Mais tarde, as avós, os professores de educação infantil e as babás
passaram também a dedicar-se à arte da contação de histórias. Porém, aos poucos,
tal hábito foi deixado de lado, dando lugar aos programas de televisão e ao
computador. Mas, recentemente, aparece novamente a figura do contador de
histórias, provando que o gosto por ouvir boas histórias continua vivo dentro das
pessoas. Apesar de o narrador da atualidade ser diferente, a beleza e o
encantamento desta arte continuam os mesmos.
Na concepção de Busatto (2006, p.111) os contadores contemporâneos
deveriam corresponder aos narradores míticos das sociedades primitivas.
[...] àqueles a quem era dado o direito e o poder de transmitir a sabedoria e os conteúdos arquetípicos que pairavam na sua sociedade; os portadores da voz poética de todos os tempos, e que na contemporaneidade ressurgiu como uma pessoa detentora da
técnica da narração, ou seja, que não apenas transmite a história que ouve, mas antes se apropria dessa história, embebe-se da sua vivência e a transforma numa cena, num ato performático que é construído conjuntamente, emissor, receptor.
Segundo a mesma autora (2003, p. 88), para um contador de histórias narrar
com propriedade é importante ter consciência da técnica e refletir sobre os aspectos
filosóficos e formais da contação de histórias, porém não se trata de uma tarefa
impossível, e um contador não é feito pelo número de horas de curso, mas pelas
histórias que ele conta, cada conto que recupera, em cada afeto que ele lança.
Para quem pretende contar histórias, é aconselhável observar os traços estilísticos da narração e da estrutura sintática da história em contos de fadas, histórias em quadrinhos, desenhos animados e na publicidade que se utiliza do gênero épico. Melhor exercício ainda seria o de usá-los na prática de contar as próprias histórias (FANTINATI e MARTHA, 2004, p. 16).
A respeito da contação de histórias no século XXI, é importante lembrar que
a criança contemporânea, mesmo pertencente às classes mais pobres, já está
envolvida num imaginário construído por altas tecnologias, e a facilidade que ela tem
de manipular o suporte digital faz com que esta nova linguagem seja pensada como
mais um instrumental importantíssimo no contexto educacional e cultural (BUSATTO,
2006, p. 97)
As linguagens usadas na contação de histórias pelos meios tradicionais de
comunicação, como uma narração oral, por meio de um livro, cinema, televisão ou
rádio, são conhecidas e previsíveis, pois o suporte determina uma qualidade
imutável. Já no meio digital, vê-se uma reviravolta na recepção de uma história, pois
aqui aparece o interagir com a mutabilidade e a transitoriedade. Nesta interação com
o leitor cibernético pode-se transformar uma produção digital em uma outra, bem
diferente (BUSATTO, 2006, p.105). Segundo a autora,
Os conceitos, até então cômodos e que remetiam à idéia de linearidade, foram rapidamente substituídos pela multiplicidade de pontos de apoio, pontos de vista, como a descontinuidade nas leituras, a pluralidade de significações, a polifonia que traz consigo tantos ruídos geradores de outras significações. Tudo se dissolve e se fragmenta no tempo do ciberespaço. (2006, p.116-117)
Ela afirma ainda que a narração em tempo presente cria significados a partir
do corpo do narrador, e do entorno em que ele e o ouvinte estão envoltos. Já no
meio digital existe uma produção de sentidos sendo construída não apenas por
esses dois elementos, mas também pela estrutura e organização do sistema, em
que novos significantes, como o mouse, barra de ferramentas e barra de rolagem,
dividem o espaço com outros signos já familiares, como palavras, imagens e sons
(BUSATTO, 2006, p.120)
Voltando ao aspecto da primitiva prática da contação de histórias, é
importante destacar que no meio indígena ela continua sendo vivenciada. Em abril
de 2011, durante uma visita realizada por mim à tribo Takoa Porã, em Itaporanga,
São Paulo, ouvi um relato sobre a vida familiar dos índios Tupi Guarani, feito pelo
cacique Darã. Ele contou que todas as tardes, após os afazeres domésticos da
escola dos curumins, a tribo se junta no centro da aldeia, lugar sagrado, onde são
realizados os rituais, os cultos, as danças e, todos em comum acordo, cantam,
fazem seus adornos, artesanatos, e a contação de história é a principal atividade
cultural, pois segundo ele é relatando o passado da tribo que o presente continua
vivo. E assim, quando cansam destas atividades, eles dançam, e como toda dança
tem seu ritual e o seu por que, inicia-se novamente o contar histórias. Darã afirma
que o povo indígena ainda continua em pé, lutando para não cair no esquecimento,
graças à contação de histórias.
Portanto, diante deste relato tão profundo e verdadeiro, pode-se afirmar que
a contação de história, para muitos povos em pleno século XXI, continua sendo o
“ápice” de sua cultura, pois é a forma fascinante de pessoas tão puras e despojadas
de si mesmas manterem seu povo cheio de esperança em dias melhores.
Num país como o Brasil, riquíssimo culturalmente, onde cada estado tem
suas peculiaridades folclóricas, é uma ofensa, um desrespeito não dividir
conhecimento. Por isso, é imprescindível desenvolver uma prática de contação de
histórias que vise construir, junto àquele que tem fome de histórias, meios que
ampliem o universo libertário, desperte o interesse pela leitura e estimule a
imaginação.
Etapas da implementação do projeto “Contação de História: um resgate da
sensibilidade”.
Percebe-se que muitos educandos demonstram desinteresse pela leitura,
não entendem sua importância para o desenvolvimento intelectual e só querem ler
os textos didáticos. Por isso, é de suma importância motivá-los, propiciando
momentos de contação de histórias para incentivá-los a ler e que sejam capazes de
aprofundarem-se nas múltiplas leituras para torná-las significativas na vida, visto que
a leitura enriquece o imaginário do aluno. Dessa forma, o professor estará
desenvolvendo a competência linguística e a formação de seus alunos leitores. Para
desenvolver a pesquisa e propor práticas que depois serão desenvolvidas em sala
de aula, uma questão fundamental foi levantada: como a contação de histórias pode
oportunizar a superação das dificuldades de leitura e interpretação de textos dos
alunos?
As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná enfatizam a importância do
trabalho com a oralidade em Língua Portuguesa:
Tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio, as possibilidades de trabalho com os gêneros orais são diversas e apontam diferentes caminhos, como: apresentação de temas variados (histórias de família, da comunidade, um filme, um livro); depoimentos sobre situações significativas vivenciadas pelo aluno ou pessoas do seu convívio; dramatização; recado; explicação; contação de histórias... (DCEs, 2008 p. 66)
O Programa de Desenvolvimento Educacional PDE/SEED criou a
oportunidade de crescimento profissional e pessoal, pois no momento que me
propus a desenvolver este projeto, foi uma expectativa muito grande para mim, fiquei
ansiosa, porque contar histórias requer muito sabedoria, pois temos que dar vida
àquele momento, temos que prender a atenção do ouvinte, buscar dentro dele a
sabedoria também para vivenciar a história. Esse momento de ficar em prontidão
para ouvir o outro é uma tarefa árdua, para as crianças e adolescentes, pois é da
sua característica fisiológica a inquietação, então cabe ao contador todo o
envolvimento com o grupo, mexer com o intelecto, com a afetividade. Enfim, o ser
humano, neste delicado momento, passa a viver o sonho do outro, e isso é
fascinante, especialmente quando despertamos nele o gosto para apreciar histórias.
Isso foi uma grande etapa na minha vida como educadora, porque naquele
momento, não estava presente ali só o meu lado profissional, mas tudo de mais
sagrado, ali estava, minha alma, minha essência como ser humano, mulher e mãe.
Apresentação do Projeto de Contação de Histórias
Para o desenvolvimento do Projeto proposto nessa Unidade Didática, foi
necessário observar e investigar aspectos importantes, como:
Propor aos alunos um diálogo sobre a importância de Contação de
histórias ao núcleo familiar. Investigar se em suas famílias há contadores de
histórias. E quais histórias são as mais contadas.
Esta contação de história faz parte do cotidiano? Ou raramente se conta?
Ou ainda necessita de algum motivo, tal como reunião familiar, ou alguma
reunião específica? Se não há contação de história, quais os motivos?
Aos que não são agraciados com contadores como pais, avós, tios ou
alguém mais próximo, será proposto que eles mesmos sejam os
contadores, movendo assim o desejo dos mais velhos a buscarem na
memória as histórias da família.
Nesse momento, foi proposto para que ficassem bem à vontade, para se
sentirem co-participantes do projeto, que viessem somar ideias e ideais, que fossem
eles os grandes protagonistas dessa viagem ao fantástico mundo da contação de
histórias.
A implementação do projeto aconteceu no período de agosto a dezembro de
2010. No início, os detalhes de tal aplicação foram repassados à equipe pedagógica
e direção do colégio, que afirmaram ser muito interessante seu desenvolvimento, por
acreditarem na importância do tema no encaminhamento da prática da oralidade, já
que esta é parte integrante das diretrizes educacionais do estado do Paraná. Este
repasse se deu em julho, e em agosto aconteceu a aula inaugural com apresentação
do projeto aos alunos da 6º D, vespertino, iniciando com relaxamento, e em seguida
contando a história de NEOQEAV. Depois, houve divulgação do projeto contação de
histórias nas demais séries.
Nos meses seguintes, foram desenvolvidas ações que fortaleceram o
interesse pelas histórias. Ações como audição de histórias por meio de CD e
elaboração de relatório, dando opinião sobre o que sentiram ao ouvirem histórias
gravadas. Pesquisa sobre a história do nome, por exemplo:. Quem escolheu? Por
quê? Ele tem algum significado? E também relatar a história do seu nome. Relato de
histórias coletivas, trazidas de casa para pequenos grupos; e em seguida, narrar
para o grande grupo. Narração do conto “Fungo” e produção de texto (carta) para Lú
(personagem do conto). Dramatização da fábula “A estrela verde”, quando as
crianças apresentariam para a comunidade escolar. Outra atividade: círculo da
palavra. Esta tarefa auxilia o aluno a expressar-se de diferentes maneiras:
linguagem formal/coloquial. Apresentação de um “sarau” de contação de histórias
pelos alunos para as turmas de 6º ano. Finalmente, foi proposta a elaboração de um
portfólio referente às atividades desenvolvidas durante a implementação do projeto.
As ações abordadas foram realizadas, o que fortaleceu a certeza de que a contação
de história, na família ou na escola, é extremamente importante e necessária.
Descrição das atividades desenvolvidas no Projeto de Implementação
Iniciou-se o projeto levando ao conhecimento dos alunos cada etapa que
deveria ser desenvolvida, bem como a importância das mesmas. Para que houvesse
uma participação satisfatória, seria necessária a compreensão do que representa a
contação de história para o desenvolvimento humano. Esta interação foi de suma
importância, porque os alunos ouviram com muita atenção cada etapa que seria
desenvolvida, sabendo que a participação deles é que daria vida a esse projeto.
Então, puderam-se ouvir as dúvidas que surgiram entre eles, quando ficaram
preocupados e ao mesmo tempo eufóricos com o início das atividades. Sentiu-se
desde o começo que eles amaram saber que seriam os protagonistas de todo o
sucesso que queriam alcançar, ao poderem ouvir, contar e vivenciar todas as
histórias selecionadas. A princípio, ficaram curiosos e apreensivos, mas no segundo
momento, quando passaram a ouvir algumas histórias, que foram selecionadas
especialmente para iniciar as atividades, ficaram apaixonados ao ouvi-las, por
estarem ali num momento único, saboreando contos que para eles eram novidades.
Pode ser visto no semblante e no brilho do olhar de cada um, que aquele projeto
seria uma experiência de grande proporção na vida deles.
No segundo momento, para que houvesse maior cumplicidade entre os
alunos, foram selecionadas algumas atividades de jogos dramáticos, como
“presença de palco”, para que pudessem desenvolver a postura corporal, como a
gesticulação, a expressão facial e a oralidade, que são aspectos fundamentais para
um bom contador de histórias.
Uma atividade muito importante é o relaxamento, pois os leva a encontrar-se
consigo mesmo, é aquele momento que proporciona ao aluno um mergulho em sua
própria existência, numa verdadeira busca do “eu”, experiência esta muitas vezes
deixada de lado devido ao estresse do mundo contemporâneo. Afinal, crianças e
adolescentes também são estressados. É o momento apropriado de motivá-los a
buscar serenidade, fazendo-os perceber o ar entrando e saindo do corpo, inflando e
esvaziando os pulmões, o sangue irrigando o corpo, as células, os órgãos internos,
desde o couro cabeludo até a ponta dos pés.
Essa atividade é riquíssima, e pôde-se perceber o quanto gostaram, pois a
serenidade que transmitiram foi visível e sentida até por eles. Numa roda de
conversações, os alunos falaram dos sentimentos mais profundos e das
experiências que vivenciaram.
Estes relaxamentos, normalmente aconteciam em sala de aula ou debaixo
das árvores, ouvindo o canto dos pássaros e a calmaria do silêncio. Nesses
momentos, sempre buscávamos a compreensão de que contar histórias é resgatar
aquilo que por vezes está adormecido, que são as nossas ideias, as fantasias e o
mundo infantil que temos dentro de nós.
Uma breve narração sobre a história a ser contada aguça o interesse e faz
com que estejam em prontidão para ouvirem e serem levados ao mundo do faz-de-
conta.
Num outro momento, fazíamos uma pausa para resgatar em cada um o
porquê estávamos ali, qual a finalidade daquele momento e qual objetivo estávamos
em busca, então, neste breve espaço, os alunos relatavam os motivos daquela
experiência, reunidos em círculo, daquele momento único. Este é um meio de levá-
los a falar de suas impressões, dar opiniões e tirar dúvidas. Esta reflexão foi lhes
ajudando a perder o medo de falar, de errar em suas exposições, porque em
momento algum, alguém poderia ridicularizar o que o outro expunha, pois desde o
primeiro momento essa era uma regra de boa convivência e educação, já que cada
um é único e capaz de ter sentimentos exclusivos.
Uma das primeiras histórias que contavam foi a história de seu nome, e para
tanto os alunos tiveram um tempo para pesquisar junto à família.
Em seguida, a história da família à qual pertenciam, buscando por
peculiaridades engraçadas para irem perdendo o medo. Neste contexto, todos
ficaram conhecendo um pouco de cada família, alguns trouxeram fotografias para
enriquecer este momento. Foi uma experiência gratificante, pois até a família teve
sua parcela de presença, e esta parceria foi de grande valia para que pudessem ter
um momento exclusivo do aluno e sua família para a contação das histórias de cada
fato importante, dando sustentabilidade aos laços que os uniam.
Outra atividade que contribuiu para amenizar a timidez foi o uso do
Palanquinho, no qual os alunos subiam e viam seus colegas do alto, dando a
impressão de que, assim, quem dominava o tempo e o espaço era quem estava lá
em cima, sendo o centro das atenções.
A dramatização foi outra experiência muito fascinante. Para que se
realizasse foram usadas pequenas histórias que, em grupos de 2, 3, ou 4 alunos,
foram dramatizadas utilizando-se alguns artifícios para enriquecê-las, como objetos,
vestuários, maquiagem e até adereços. Foram experiências que deram muitos
frutos, porque os alunos ficavam mais corajosos e criativos durante o desfecho.
Nestes momentos de dramatização, assim que terminavam as apresentações,
fazíamos o grande círculo para opinarmos sobre cada grupo, quando foram capazes
de surpreender e quando poderiam ter ousado mais. Como sempre, o combinado
era não brigar, mas aceitar as críticas para crescer.
Uma atividade que foi muito legal é que, em círculo, todos ganhavam uma
pequena história e, a princípio, a pessoa que estava com a bola da vez contava a
verdadeira história e, ao jogar a bola para outro colega, o mesmo tinha que discordar
daquela versão apresentada e recontá-la em outra versão. Isso vai criando a ideia
de que uma história, ao passar por novas falas, vai ganhando “algo a mais”, e é por
isso que uma história pode ter várias vertentes e vários olhares.
Ouvimos histórias por meio de CD de Malba Tahan, “Uma fábula sobre a
fábula”. Após ouvir a narração, alguns disseram que não gostaram, porque ouvindo o
CD, tudo parece muito distante e irreal, sendo que as histórias contadas pelo
professor têm mais vida, parece ser algo verdadeiro e real . Em seguida, foram
distribuídas cópias do texto para os alunos lerem e comentarem, e responderem
algumas questões.
Uma atividade que foi marcante deu-se quando estudamos o conto “Fungo”.
A história do amigo que queria ser escritor, de Eva Furnari, ocasião em que os
alunos escreveram uma carta para a personagem Lú. Nesse momento, passaram da
reflexão exposta oralmente para a escrita, sem perceberem, escreveram sem
reclamar, os textos ficaram ricos, e pudemos até reestruturá-los, com ajuda de todos.
Como por exemplo, a aluna Nátali, que produziu a carta:
Querida Lú. Não fique magoada comigo, vou explicar o que aconteceu de
verdade, fui eu quem escrevi, ou melhor, fiz sua tarefa. Bem, não fiz, eu apenas dei uma ajeitada nas suas palavras.
Não fiz por mal, é que eu queria que você tirasse uma nota dez, e eu achei que sua historinha estava muito pequenininha, não falou de seus irmãos, nem um elogio para seus pais. Me atrapalhei, e coloquei algumas palavras que eu gostaria de escrever em meu livro, se um dia eu pudesse escrever um.
Por isso, fica de bem comigo, me leve dentro da mochila, eu prometo me comportar e te ajudar a escrever coisas bem legais.
Beijos de seu amigo Fungo.
Foi também utilizada a caixa surpresa, quando a história ia sendo
acumulada de acordo com o objeto surpresa que o aluno pegava, então tornava-se
uma história bem interessante, dando espaço à criatividade de cada aluno. Como
produção escrita que fizeram foi, que num grupo de cinco alunos, conversavam entre
si e construíam uma história que depois apresentaram à turma.
Nesta história, o grupo utilizou os seguintes objetos: livro, folhas, língua de
sogra, fone de ouvido, nariz de palhaço, elástico, dentadura:
O Chá Mágico Era uma vez um menino muito linguarudo, mas é porque ele
tinha alguns poderes, tudo o que ele pensava se transformava em letrinhas que saíam pelos ouvidos, pelo nariz e pela boca, então ele era conhecido como dicionário ambulante, ele sofria muito com isso.
Para que as letrinhas não começassem a sair, ele usava fones de ouvido, nariz de palhaço e aparelhos com elásticos. Então ele resolveu procurar ajuda com o Mago da floresta encantada, que deu a ele umas folhas para fazer chá. Essas folhas o ajudariam a controlar as letras e transformá-las em pequenas histórias.
A partir daí o menino começou a contar muitas histórias e passou a ser conhecido como o contador de histórias. (Fernanda, Luana, Moisés, Danilo e Willian)
As últimas atividades que fizemos compreenderam a contação de histórias
que, no primeiro momento, foi em duplas para os colegas da classe e para outras
turmas e, em seguida, a contação individual, primeiro para a turma e em seguida
para outras turmas da escola.
Todas essas atividades foram de suma importância para que pudessem
chegar ao final do projeto, prontas para enfrentar o medo, a timidez e contar
histórias. Puderam sentir que quando temos um objetivo à frente, temos que
enfrentar obstáculos para alcançá-lo, e isso foi o que aconteceu, pois todas as
etapas implicaram uma vivência e toda vivência provocava uma reflexão sobre
aquilo que fazemos, se fazemos bem, ou deixamos algo a ser feito.
Pudemos perceber que as etapas foram tão importantes quanto a conclusão
com a contação de histórias, porque todo o processo que vivenciamos foi
maravilhoso. Tivemos alguns empecilhos, porque nem tudo é perfeito, em alguns
momentos os alunos discutiam, mas fazia parte do processo, porque, até nas
discussões, nós firmamos nosso ponto de vista. Durante todo o processo, havia
alunos que nem saíam da carteira devido à timidez, e ao passar pelas atividades
foram participando do jeitinho de ser de cada um, e puderam fazer o melhor de si,
compartilhando ideias, aceitando ou discutindo, por vezes recusando a fazer algo,
mas, estavam ali firmes em toda etapa. O que foi mais gratificante é que no
momento da história a dois, os alunos se encheram de coragem e puderam contar a
história sozinhos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a aplicação deste projeto em contação de histórias, pude sentir na
prática, na ação, e no retorno que tive dos alunos, a sensação de dever cumprido.
Eles corresponderam às expectativas, pois colocaram o projeto em prática, inclusive
seus familiares foram parceiros, restabelecendo vínculos com os mesmos, contando
as histórias pitorescas e revivendo a memória que, por sua vez, estava inerte. Só por
esta razão, sinto que valeu o empenho, pois percebi que as famílias, quando
solicitadas, dão retorno. Pude constatar que o mais importante é o percurso
percorrido, cada etapa vivenciada, com suas fragilidades e sucessos, visando não
somente um resultado final. Enfim, foi muito gratificante ver o empenho dos alunos
durante cada meta vencida, porque deram sempre o melhor que podiam, querendo
mostrar o que sabiam, o que aprenderam.
Durante o percurso vivenciado, tivemos muitas dificuldades, porque a
contação de histórias para muitos foi uma novidade, visto que nas famílias do mundo
moderno, mesmo nas que são da zona rural, a mídia se faz presente, sufocando
aquele encontro prazeroso de diálogo. Com este projeto foi possível perceber o
fortalecimento dos laços afetivos em várias famílias, porque no momento do contar e
ouvir histórias as almas se entrelaçam, criando um vínculo amoroso fértil, como se
um sustentáculo fosse sendo suturado. Isso é de grande valia na relação familiar,
porque essa sutileza de contar e ser ouvido, ou mesmo a sintonia entre as pessoas
vai dando a sustentabilidade necessária entre pais e filhos e outros familiares.
A justificativa para a realização do projeto de contação está exposto por
alguns depoimentos de professores que participaram do Grupo do Trabalho em
Rede (GTR) e de alunos participantes da implementação. Como se pode conferir na
fala de uma professora:
Helena, o tema de seu estudo é muito oportuno, pois é mais uma estratégia para aproximar o aluno do gosto pela leitura, além de ser muito gostoso de desenvolver e de trabalhar, porém os resultados serão percebidos ao longo do tempo. Você coloca na sua justificativa que no passado os pais conversavam (contavam histórias) para seus filhos e que você foi uma criança que ouviu muita história. Que bom! (GTR – 2011)
Nos depoimentos dos alunos participantes, o entusiasmo e a importância do
projeto também foram destacados, como este, de uma aluna:
Ouvir histórias é um meio de viajar pelo mundo sem sair do lugar, histórias reais de famílias sofridas, faz nós dar mais valor nas nossas vidas; para um leitor de verdade a história pode virar realidade; a professora mostrou o quanto a história é importante, ela conseguiu um jeito da história ser diferente; ter prazer de ler um livro com atenção, a história faz muito bem, pois ler é aprender; contar história que ouviu é um método de deixar que ela não morra; ler e ouvir história é abrir uma porta para um mundo surreal.
A equipe pedagógica do colégio também destaca a relevância do projeto de
contação, quando nos fala que
(...) a equipe Pedagógica concluiu que foi excelente trabalho, considerando que a contação de histórias tem muita receptividade por parte do aluno em qualquer nível de ensino e neste caso como foi com os alunos do 6º ano do Ensino Fundamental foi ainda maior e melhor. A professora encaminhou as atividades visando atrair a atenção do aluno para o momento de ler e de ouvir a contação da história, usando de materiais diversificados e de suportes tecnológicos que enriqueceram e auxiliaram no estudo dos temas propostos. Os alunos apreciaram o projeto e comentaram que a contação de história deveria ser extensiva para outras séries, porque é um momento diferente que compartilharam entre os colegas e a professora em sala de aula e que os tocou de forma especial: ou para melhorar a concentração, ou para despertar o interesse pela leitura. Enfim, o projeto cumpriu seus objetivos e deixará novas aprendizagens aos alunos que tiveram o privilégio de participar dele.
Refletindo sobre a importância do encantamento que as histórias fazem
brotar no coração das crianças e adolescentes, é lastimável saber que em nossas
escolas existam muitos adultos lógicos, práticos, realistas, desconfiados que se
irritam demasiadamente por qualquer coisa que os faça sair da sua zona de conforto
e não acreditam que o mundo encantado possa fazer tanto bem às crianças. Em
pleno século XXI, apesar de tantas novidades tecnológicas, as histórias, os contos,
as fábulas ainda os fazem parar para ouvir e sentir a magia, o encantamento e
porque não o feitiço que os leva a tornar-se adultos mais sensíveis e aptos a
encantar. É pertinente mencionar Dom Elder Câmara, que numa de suas falas
mostra um compadecimento dos corações que deixaram de ter a beleza e o encanto
da infância, com cheirinho de contos de fadas, do mundo do Faz de Conta, citado
em ABRAMOVICK (1991, p.130).
Tem pena Senhor
Tem carinho especial
Com as pessoas muito lógicas
Muito práticas
Muito realistas
Que se irritam
Com quem crê
No cavalinho azul.
Durante o desenvolvimento do projeto, em todas suas etapas, em nenhum
momento houve a pretensão de demonstrar alguma mágica fabulosa; ao contrário,
pude verificar que no espaço educacional as mudanças são lentas, e, sendo assim,
necessitam ser repensadas, dando espaço ao encanto, ao mesmo tempo
acalentando corações que na fase adulta poderão transformar-se em pessoas
menos sisudas ou rancorosas, com o coração amoroso de uma criança amada.
Conclusão
Pode-se afirmar que o desenvolvimento do projeto Contação de História
favoreceu grandes momentos e importantes mudanças na forma do ouvir o outro.
Interessante foi ouvir o relato de uma aluna sobre a importância de ouvir histórias
contadas pelas pessoas idosas da família, pois devido ao mundo moderno, muitas
vezes elas são deixadas de lado. Ela relatou que adorou parar e ouvir seus avós, e
que as histórias deles eram engraçadas e por vezes longas demais, pois na verdade
eram relatos de suas vidas, causos acontecidos com eles desde a infância.
A fala desta aluna nos leva a reforçar que a contação e o ouvir histórias são
necessários à aprendizagem, uma vez que desperta um olhar mais atento, mais
perspicaz, desvelando o conhecimento antes ignorado. Vale lembrar que a presença
da família foi determinante no decorrer deste projeto, pois auxilia no resgate do
convívio, do diálogo e da própria história na qual os alunos estão inseridos. Aliás, é
de extrema relevância que eles saibam e aprendam a valorizar suas origens para
que permaneça na memória tudo o que se deseja perpetuar.
Quanto ao objetivo principal deste Projeto, pode-se afirmar que ele foi
atingido, visto que, muitas vezes, logo após ouvirem a história contada pela
professora, pediam para ir à biblioteca ou à sala de informática para lerem a história
na íntegra. Aconteceu por várias vezes o fato de encontrarem desfechos diferentes
da mesma história e então percebiam como isso só enriquecia aquelas narrativas.
Também se observou o interesse em buscar nos livros novas histórias para
que eles pudessem ler para também poderem contar durante o Projeto.
É importante destacar que, devido às atividades de relaxamento
desenvolvidas no projeto, surgiu uma eficácia de grande proporção na
aprendizagem, porque, mesmo nas aulas regulares de Língua Portuguesa, as quais
eram iniciadas com um pequeno relaxamento, o efeito era percebido durante o
restante da aula: eles ficavam mais atentos, mais calmos, e a produção era
pertinente à aprendizagem dos conteúdos em pauta, e assim que iam terminando
suas atividades, saíam de seus lugares, selecionando livros expostos na prateleira
improvisada na sala, ou iam buscar na biblioteca algum exemplar que gostariam de
ler. Atitudes como estas vêm confirmar que o projeto de contação de história teve
uma grande importância neste despertar para o mundo da leitura.
Portanto, cabe aos professores compromissados com a disciplina de Língua
Portuguesa repensar e perceber que há muito a refletir sobre a oralidade e que a
prática de “contar histórias” é uma grande aliada no estímulo à leitura. Fecho esse
texto com uma citação de Cléo Busatto: “Os contos estão aí, à espera de uma voz
para torná-los matéria viva, significante e transformadora”.
REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil, gostosuras e bobices. 2. ed. São Paulo: Scipione, 1991.
BUSATTO, Cléo - Contar e encantar: pequenos segredos da narrativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
______________. A arte de contar histórias no século XXI: tradição e ciberespaço – Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
FANTINATI, Carlos Erivany e Martha, Alice Aurea Penteado. Ora (Direis) contar histórias! À roda da leitura: língua e literatura no jornal de Proleitura / Sonia Aparecida Lopes Benites e Roni Farto Pereira (org.). São Paulo: Cultura Acadêmica: Assis: ANEP, 2004.
MACHADO, Regina – Acordais: fundamentos teóricos – poéticos da arte de contar historias. – São Paulo: DCL, 2004.
PAMPLONA, Rosane – O homem que cantava histórias. São Paulo: Brinque – Book, 2005.
PRIETO, Heloisa – Quer ouvir uma história? São Paulo: Angra, 1999. ROSA, Maria Cecília Amaral de. Contadores de histórias. Conhecimento Prático. Revista Literatura. São Paulo: Edição nº 34. Janeiro 2011.
TAHAN, Malba – A arte de ler e contar histórias. 3. ed. Rio de Janeiro: Conquista,1961.
VIRGOLIM, A. M. R., FLEITH, D. S., NEVES-PEREIRA, M.S. (2003). Toc, Toc... Plim Plim. Lidando com as emoções, brincando com o pensamento através da criatividade. 5. ed. Campinas: Papirus, 1999.
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