como avaliar os nÍveis de leitura na … · elementos menos explícitos no texto, chegando...
Post on 08-Nov-2018
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COMO AVALIAR OS NÍVEIS DE LEITURA NA
ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS�Ler é mais importante que estudar�.
por Alexandre Lobão
A frase tem o respaldo de quem sabe o que está falando �
Ziraldo, um dos mais bem sucedidos escritores de livros
infantis no Brasil. Unem-se a Ziraldo outros escritores e
educadores de expressão, como Monteiro Lobato, com sua já
famosa frase �Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê�, e
Jean Foucambert, que diz que os �Alunos devem ser
leiturizados, e não alfabetizados�.
O que tanto pais quanto educadores precisam
ter sempre em mente � especialmente nos
primeiros anos da alfabetização � é que aprender
a ler não é o mesmo que aprender a decodi�car as
letras e conhecer a estrutura da língua; ler bem
envolve a criação de uma relação profunda entre
escrita e pensamento, que precisa ser tão natural
quanto a relação entre a fala e o pensamento.
Para garantir que a alfabetização (ou a �leiturização�,
como sugere Foucambert) está sendo efetiva, é necessário
que adultos na escola e em casa assumam ativamente a
posição de pesquisadores, analisando a evolução dos alunos
para descobrir eventuais de�ciências e poder saná-las o mais
cedo possível.
Para tanto, é necessário que o professor ou responsável
(que será chamado aqui de �pesquisador� por questão de
simplicidade) tenha noção que a leitura se dá em pelo menos
três níveis:
Leitura Objetiva: Trata-se do nível mais básico de
leitura, o famoso �be-a-bá�, onde o estudante aprende a
decodi�car as letras e montar palavras e frases. Quando
iniciando neste nível, a criança consegue reconhecer
palavras e explicar o signi�cado de frases curtas, sendo
capaz de falar dos elementos explícitos do texto. À medida
em que evolui, o aluno melhora seu domínio do texto,
aumentando o vocabulário e reconhecendo elementos de
ligação, sendo inclusive capaz de reconhecer eventuais
falhas de coerência na história. Já na transição para o nível
de leitura inferencial está a capacidade de situar o texto no
ambiente em que ele ocorre, o contexto espacial e temporal
da história.
Leitura Inferencial: Quando atinge este nível, o
estudante se torna capaz de reconhecer não apenas o que
está escrito, mas também deduzir elementos implícitos no
texto. É o chamado infratexto, aquele conjunto de
informações que todo bom leitor apreende sem se dar conta,
mas que na verdade estão apenas sugeridos na história.
Como esta capacidade inferencial está intimamente ligada à
bagagem de conhecimento do leitor, ela se amplia conforme
a quantidade de leituras realizadas, até que se chega
�nalmente ao nível da leitura avaliativa.
Leitura Avaliativa: Leitores que estão neste nível têm a
capacidade não só de ler o texto e responder questões sobre
o que está explicitamente ou implicitamente sendo dito, mas
também de fazer conexões com outros textos e informações
sobre os temas tratados aprendidas de outras fontes. É o que
os pedagogos chamam de intertexto, e que no fundo é a
capacidade do leitor de dar sua opinião do leitor sobre o
texto baseada em suas experiências anteriores.
Quando avaliando o nível de leitura de um estudante ou
uma turma de estudantes, o pesquisador deve tomar o
cuidado de propor atividades que sejam lúdicas, em um
ambiente natural e sem cobranças, até porque é essencial
que a criança reconheça o hábito da leitura como algo
prazeroso desde seus primeiros contatos com a língua
escrita.
PARTINDO PARA A AVALIAÇÃO
Nesta linha, uma boa dica é realizar estas atividades em
quatro etapas:
Etapa de Motivação: Nesta etapa, o pesquisador
deve se dedicar exclusivamente a estimular a curiosidade da
criança sobre o texto a ser lido. Para isso, uma ótima tática é
mostrar a capa do livro e o título do livro e perguntar ao
estudante como ele acha que é a história do livro. Se não
houver uma resposta objetiva, é possível mostrar algumas
ilustrações ou dar sua opinião, sempre buscando mostrar o
quão divertida deve ser aquela história. As perguntas que o
pesquisador pode fazer nesta etapa são tipicamente
inferenciais a partir do título e imagens da capa do livro,
como: �Veja só este título, o que esta história deve contar?�,
�Se você escrevesse uma história com este título, como ela
seria?�, �Quem você acha que é o personagem principal
desta história?�, �Onde será que esta história acontece?� e
outras do gênero.
É essencial que o educador também leia, não
apenas para dar o exemplo do que ensina, mas
para auxiliar, assim, o desenvolvimento do gosto
pela leitura no educando.
Etapa de Leitura: Nesta etapa a criança deve ser
deixada à vontade para ler o livro, sem pressa e sem nenhum
tipo de comparação com outras crianças. Quando lendo na
escola, devem ser evitadas questões como �Quem já acabou
de ler?� para que os que leem mais lentamente não se sintam
constrangidos ou compelidos a mentir sobre sua evolução;
antes, o professor deve ir de aluno em aluno, acompanhando
com os olhos e registrando em suas anotações aqueles que
demoram mais tempo para poder realizar atividades de
reforço nos momentos apropriados.
Etapa de Avaliação do Nível de Leitura: É neste
momento que o pai ou professor deve agir mais ativamente
como pesquisador, de forma a poder avaliar o nível de leitura
da criança e poder dar atividades apropriadas a este nível.
No caso dos professores, é essencial registrar as observações
de forma a permitir que seja dada a atenção adequada a
cada criança. Nesta etapa devem ser sugeridas atividades
que iniciam nos níveis mais básicos de leitura, indo de
maneira crescente até os níveis mais so�sticados - lembrando
que as crianças não devem sentir que estão sendo cobradas
ou avaliadas, mas sim que estão participando de uma
conversa descontraída sobre o livro que leram.
Comumente, as perguntas do pesquisador devem,
inicialmente, tratar dos elementos explícitos do livro, e ser
bem objetivas, como, por exemplo: �Qual o nome do
personagem principal?�, �Que idade tem ele?� ou �Qual é o
bicho que é vizinho do sapo?�.
Gradualmente, as perguntas devem contemplar
elementos menos explícitos no texto, chegando àqueles que
podem ser inferidos a partir do que está escrito. Nesta parte,
as perguntas começam a voltar-se mais para a opinião do
leitor, como em �O que você acha que os pais das crianças
descobriram no bosque, que fez com que eles �cassem tão
espantados?�, �Que idade deve ter Aninha?� ou �Qual será
a cor do bicho-folha?�.
Por �m, as perguntas devem chegar ao nível da leitura
avaliativa, levando os alunos a darem sua opinião sobre os
assuntos, explorando possibilidades e veri�cando sua
capacidade de cruzar informações das histórias com
informações de outras fontes. Nesta linha, perguntas comuns
seriam: �Como será viver na terra em que vive o Papai Noel,
onde faz tanto frio que a chuva congela e vira neve?�,
�Alguém conhece outra história, ou alguma piada, que
também fale sobre sapos?�, �Quem já viu algum �lme que
conte uma história parecida?�. Conforme as respostas,
seguem-se perguntas: �Você acha que esta outra história se
parece com a outra? Por quê?�, �Qual a diferença do sapo
desta história para o sapo da outra?�, �A casa do Papai Noel
deste �lme se parecia com a do livro?�.
Fase de Consolidação dos Resultados: O trabalho
do professor ou pai como pesquisador só se conclui com a
consolidação dos resultados, porque, mesmo em se tratando
de avaliar apenas uma criança, raramente se consegue uma
posição de�nitiva com a leitura de apenas um livro. À medida
que as forças e fraquezas da leitura da criança se tornam
evidentes, cabe ao educador estimular a criança elogiando
seus pontos fortes e trabalhando sutilmente seus pontos
fracos, de forma a garantir sua formação como leitor
independente.
Em um país onde o hábito de leitura ainda não faz parte
da rotina de grande parte da população, os educadores
devem conscientizar-se de que sua responsabilidade não é
meramente alfabetizar as crianças, mas sim desenvolver
nelas o gosto pela leitura que levarão pelo resto de suas
vidas.
Para isso é essencial que o educador - seja ele o professor
ou o responsável - também seja um leitor, não só porque a
criança aprende muito pelo exemplo, mas também porque é
impossível imitar o brilho no olhar daqueles que
verdadeiramente amam a leitura, este brilho que é a maior
inspiração no desenvolvimento destes novos leitores.
Nunca é tarde para descobrir o prazer da leitura...
Então, qual foi o último livro que você leu, simplesmente pelo
prazer de ler?
Alexandre Lobão é escritor, roteirista e realizador de
Workshops de Escr i ta de F icção. In formações:
h t t p : / / w w w . a l e x a n d r e l o b a o . c o m
|http://escritacriativa.net/3Wef
http://linguaportuguesa.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortogra�a/39/
como-avaliar-os-niveis-de-leitura-na-alfabetizacao-de-criancas-275033-1.asp
(Acessado em: 25/03/2013)
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