colunistasdasemana quinta: clóvisrossi; domingo ... · tecer,por que há um recru-descimento de...

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Segunda-Feira, 4 de Setembro de 2017 ★ ★ ★ mundo a17ab

Talvezvenhaaser lembradaco-mo uma das primeiras jogadas demestre das eleições de 2018: o pre-feito João Doria encontrou o pre-sidente emmanuel Macron, para-digma para aspirantes a portado-res da renovação política do mun-do inteiro.O encontro teve valor meramen-

te simbólico. no Palácio do eliseu,Doria eraapenasmaisumconvida-dodeumarecepção.Conhecidoporse afastar dos que tentam se bene-ficiar da sua aura, Macron evitouqualquer tentativa de instrumenta-lização durante a breve confrater-nização,queas redessociaisdopre-feito qualificaram de “reunião”.O Palácio do eliseu usou outros

termos para descrever o aconteci-mento. “ele foi saudado pelo presi-dente”, disse Barbara Frugier, doserviço de comunicação do eliseu.OadventodeemmanuelMacron

é um terremoto dificilmente repetí-vel, provocado por um contexto es-pecifico—o naufrágio da presidên-ciadeFrançoishollande—econtin-gências inéditas—ocolapsodacan-didatura do seu rival de centro-di-reita, François Fillon. Completandoas circunstâncias favoráveis, a che-gada da candidata de ultradireitaMarine le Pen ao segundo turnoconsolidou a vitória deMacron.agora, Macron tem de governar

paraumeleitoradoque,emboapar-te, oelegeucomomalmenor.amai-oria absolutadedeputados nopar-lamentodopartidodeMacronagra-va a situação. O presidente tem de

travar a batalha pelas reformas di-retamente com a oposição nas ru-as. Durante seus primeiros cem di-as de mandato, sua popularidadedespencou de 62% para 37%.Curiosa, portanto, a insistência

deDoriaemtentarsecolarnumpre-sidente impopular e, sobretudo, de-fensor de um programa diametral-mente oposto ao seu.entre suas principais iniciativas,

constaaestatização temporáriadeum estaleiro, um plano de investi-mentopúblicode€50bilhões,alémdeuma lei que instituimultas a em-presas que não pratiquem a igual-dade salarial entre os gêneros. emtermosdevisãodeestado,Doriaes-tá para Macron como MargaretThatcher estava para Tony Blair.a comunicação é outro elemento

no qual Doria diverge deMacron.Opresidente francêsadotouuma

atitudequeeleprópriodefine como“jupiteriana”: umapresençapúbli-ca rara e ritualizada. Doria estámais próximo de nicolas Sarkozy,idealizador da “hiperpresidência”,

que consistia em ocupar frenetica-mente todooespaçomidiático.Ma-cron resumiuaestratégiadeSarko-zy a “golpes de queixo solitários”.Mas existe, com efeito, um ponto

emqueas trajetóriasdeDoriaeMa-cronpodemse tornar similares. Pa-ra se lançar como candidato em2018,Doria teráde fazer comGeral-do alckmin o que Macron fez comFrançois hollande: atraiçoar o seupadrinhopolíticoàsvésperasdadis-puta presidencial.enquantoorganizavasuaprópria

campanha,Macronparticipavadasreuniões do pré-candidato hollan-de. essa conspiração, calculista eobjetiva,suscitouadmiraçãodapró-pria vítima. “Fui traído com méto-do”, sentenciou o ex-presidentefrancês. Para chegar àpresidência,Doria terá de se inspirar no melhore no pior deMacron.Mas, para darcerto, terá de ser commétodo.

Acuriosa paixãoM A T H I A S A L E N C A S T R O

É curiosa a insistência deDoria em tentar se colarnum presidente impopulare com programa oposto

COLUNISTAS DA SEMANA quinta: Clóvis Rossi; domingo: Clóvis Rossi; segunda: Jaime Spitzcovsky

Patrícia camPosmelloDe SãoPaulo

Na semana passada, líde-res europeus se reunirammais uma vez para tentar es-tancar o fluxo de refugiadosvindos da África. Só nesteano, mais de 120 mil africa-nos chegaram na Europausando a rota da Líbia, ondemorreram 2.410migrantes.E, mais uma vez, os euro-

peus propuseram maior se-gurança nas fronteiras dospaíses africanos e recursospara a Guarda Costeira líbia.Para a moçambicana Gra-

çaMachel,71,ativistaquetra-balhacomadefesadosdirei-tos humanos no continentehá décadas, o foco está erra-do. A solução para o proble-ma precisa partir dos paísesafricanos,nãodoseuropeus.“Deveríamos criar condi-

çõesparaqueaspessoasnãotivessem tanta necessidadede sair de seus países de ori-gem.Para isso,ospaísesafri-canos precisam desenvolveragendasprópriasequemqui-ser trabalhar conosco, seráguiado pelas prioridades de-finidas por nós, de maneiraque não sejam os países eu-ropeusadizerquequeremfa-zer isto ou aquilo.”Machel foi ministra da

EducaçãoeCulturanogover-nomoçambicanopor14anos,é viúvadoex-presidentemo-çambicanoSamoraMachel edo ex-presidente sul-africa-no NelsonMandela.Ela está no Brasil a convi-

te do Fronteiras do Pensa-mento Salvador, onde apre-sentará uma conferência so-bre migrações e conflitos naÁfricanapróximaquarta (6).Em São Paulo, ministrará

palestra realizadapeloFron-teirasdoPensamentoempar-ceria com o Centro Ruth Car-doso nesta segunda (4).

NascimentoManjacaze, 17 de outubrode 1945 (71 anos)

Formação acadêmicaBacharel em filologia alemãna Universidade de Lisboa

atividade PolíticaMinistra da Educação deSamora Machel, presidenteda comissão de educaçãoda Unesco e atual chefeda Parceria para SaúdedaMãe, do Recém-Nascido e da Criança

raio-X

adriano Vizoni/Folhapress

a ativista de direitos humanos Graçamachel, em entrevista à Folha neste domingo (3)

Viúva demandela dizlamentar abandono dapolítica brasileira nospaíses africanos e oneocolonialismo chinês

Para GraçaMachel, fluxo de africanos rumo à Europa só se resolverá comamelhora de condições no continente

Áfricadeveresolveremigração,dizativista

“ Ospaísesafricanos precisamdesenvolver agendaspróprias e quemquiser trabalharconosco, será guiadopelas prioridadesdefinidas por nós

Possodizer semhesitar que aabertura para aÁfrica é umdoslegados de Lula;hoje, a presençadoBrasil émuitomenorgRAçAMACHELativista política moçambicana

palestra serána segundaem são paulo

c serViço

GraçaMachelfaráapalestra“TerritórioAfricano:Confli-tos e Migrações” nesta se-gunda (4), às 19h, no audi-tório do Centro Ruth Car-doso (ruaPamplona, 1005,Jardim Paulista). O eventoé gratuito e os lugares sãodistribuídos por ordem dechegada, segundo a limita-ção do espaço. Ao fazer suainscrição,oparticipanteau-torizaousode imagem/voznasmídias da RedeSol.

“Naturalmente os paíseseuropeus têm de contribuir,mas os países africanos têmque assumir a responsabili-dade, tudooqueosoutrospu-derem fazer é umacontribui-çãoaumasoluçãoquetemdeser genuinamente interna.”Machel lutou clandestina-

mente comaFrentedeLiber-tação deMoçambique (Freli-mo) durante a guerra da in-dependência do país. Em1976, casou-se com SamoraMachel e se tornou a primei-ra-dama do país.Apósamortedomaridoem

um acidente de avião, em1986, ela manteve a ativida-depolítica e, em1990, foi no-meada pela ONU para coor-denar um estudo sobre o im-pacto dos conflitos armadosna infância. Em 1998, casou-se com Nelson Mandela. Pe-losseusdoiscasamentos, tor-nou-se a única pessoa nomundo a ser primeira-damademais de uma nação.Machel lamentaqueoBra-

sil tenhaabandonadosuapo-lítica externa assertiva naÁfrica, desde o governo Dil-ma. “Posso dizer semhesitarque a abertura para a Áfricaéumdos legadosdaadminis-traçãoLula; hoje, apresençadoBrasilnocontinenteémui-to menor, para ser honesta.”A China, que sofre muitas

críticaspor supostamente terumaposturaneocolonialistana África e é grande investi-dora em Moçambique, rece-be elogios deMachel.“Temos algumas reservas

pela forma como a China es-tá a penetrar o continenteafricano,masháumelemen-topositivo: emMoçambique,Moçambiquequediz àChinasequerconstruir linhaférrea,ouaeroportos, centrosde sa-úde ou escolas. Não estou adizer que a situação com aChina é perfeita, mas é fatoque os programas de desen-volvimento são ditados porpaíses africanos. “Machel vive entreMoçam-

bique e Maputo. Ela fundoua Graça Machel Trust, umaorganização que tem comoobjetivo auxiliar mulheresempreendedoras no conti-nente africano.

Nesta viagem ao Brasil,não se encontrará com ne-nhum representante do go-verno. “Sou uma ativista so-cial, sinto-me melhor no re-lacionamento compessoas einstituiçõesque representampessoasalinhadas comaqui-lo que eu estou a fazer.”Da última vez que esteve

no país, reuniu-se com a en-tão presidente Dilma Rous-seff. “Havia uma aproxima-ção que não era necessaria-mentedegoverno,eradepes-soa, de opções e valores quecomungamos.”Uma das principais ban-

deiras de Machel é a luta pe-los direitos das mulheres edascrianças.Segundoela, asrelações de gênero não sãoumdesafioapenasdaÁfrica,são um desafio global.“Esseproblemaprecisaser

visto comoumdesafio da ra-ça humana. Temos de nosperguntar o que está a acon-tecer, por que há um recru-descimento de uma relaçãode agressividade, e os ho-mens se julgamnodireito dematar mulheres.“Sua própria filha, Josina

Machel, foi vítima de violên-ciadoméstica.Emoutubrode2015, ela levou tantos socosdo namorado que perdeu avisão do olho direito. No co-meço de 2017, ele foi conde-nado. “Para a minha filha, éa bandeira da vida dela, por-que ela nunca mais vai ser amesmapessoa.Nuncamais”,disse GraçaMachel.“Mas em relação a conde-

nações de violência contramulher, ainda é muito pou-co. O que está ocorrendo ho-je estámuito longedecorres-ponder à magnitude do pro-blema, da capacidade dasinstituições de responder, emais ainda vontade das pes-soas que representam insti-tuições de olhar para a ques-tãodeviolênciacontraasmu-lheres como uma causa quetemdeseratendida.Àsvezes,as instituições respondemmelhor a uma ocorrência deroubo do que a uma de vio-lência doméstica. É uma ati-tude que tem demudar.”

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