caracterizaÇÃo fÍsico-quÍmica e microbiolÓgica no

Post on 09-Jan-2017

230 Views

Category:

Documents

8 Downloads

Preview:

Click to see full reader

TRANSCRIPT

  • RAQUEL SANTOS AZEVEDO

    CARACTERIZAO FSICO-QUMICA E MICROBIOLGICA NO PROCESSO DA COMPOSTAGEM NA PRODUO DO

    COGUMELO Agaricus brasiliense E A UTILIZAO DO COMPOSTO DE Pleurotus sp.

    NA SUPLEMENTAO DE RAO DE FRANGO DE CORTE

    LAVRAS - MG

    2014

  • RAQUEL SANTOS AZEVEDO

    CARACTERIZAO FSICO-QUMICA E MICROBIOLGICA NO PROCESSO DA COMPOSTAGEM NA PRODUO DO COGUMELO

    Agaricus brasiliense E A UTILIZAO DO COMPOSTO DE Pleurotus sp. NA SUPLEMENTAO DE RAO DE FRANGO DE CORTE

    Tese apresentada Universidade Federal de Lavras, como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Cincias dos alimentos, rea de concentrao em Microbiologia de Alimentos, para a obteno do ttulo de Doutor.

    Orientadora

    Dra. Rosane Freitas Schwan

    LAVRAS - MG

    2004

  • Ficha Catalogrfica Elaborada pela Coordenadoria de Produtos e Servios da Biblioteca Universitria da UFLA

    Vieira, Raquel Santos Azevedo. Caracterizao fsica e microbiolgica do processo de compostagem do cogumelo Agaricus blasei e sua utilizao em frangos de corte / Raquel Santos Azevedo Vieira. Lavras : UFLA, 2014.

    115 p. : il. Tese (doutorado) Universidade Federal de Lavras, 2014. Orientador: Rosane Freitas Schwan. Bibliografia. 1. Compostagem. 2. Agaricus blasei. 3. Nutrio. 4.

    Monogstricos. I. Universidade Federal de Lavras. II. Ttulo. CDD 576.163

  • RAQUEL SANTOS AZEVEDO

    CARACTERIZAO FSICO-QUMICA E MICROBIOLGICA NO PROCESSO DA COMPOSTAGEM NA PRODUO DO COGUMELO

    Agaricus brasiliense E A UTILIZAO DO COMPOSTO DE Pleurotus sp. NA SUPLEMENTAO DE RAO DE FRANGO DE CORTE

    Tese apresentada Universidade Federal de Lavras, como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Cincias dos alimentos, rea de concentrao em Microbiologia de Alimentos, para a obteno do ttulo de Doutor.

    APROVADA em 12 de maro de 2004. Dr.Antonio Gilberto Bertechini UFLA Dr.Romildo da Silva UFLA Dr. Eustquio Souza Dias UFLA Dr. Henrique Csar Pereira Figueiredo UFLA

    Dra. Rosane Freitas Schwan Orientadora

    LAVRAS - MG

    2004

  • Ao senhor Deus e ao grande autor dessa vitria alcanada e uma grande

    pessoa que foi todo o estmulo para ter chegado at aqui depois de tanta luta

    (meu pai Haroldo).

    AOS MEUS PAIS,

    OFEREO

    A minha querida me Irene,

    Aos meus irmos Henrique e Iara,

    Aos meus filhos Henrique, Daniel e Bernardo.

    A minha grande companheira V Celeste,

    A minha grande amiga Cladia Braga,

    Ao Breno pelo apoio e estmulo,

    DEDICO

  • AGRADECIMENTOS

    Estamos sempre agradecidos de tudo que nos ocorre, desde o momento

    em que se acorda, pois para existirmos necessitamos da presena de algum.

    Ningum vive no mundo sozinho, portanto fazer o melhor que pudermos para os

    outros como forma de agradecimento por algum dia algum ter estendido a mo

    onde no se esperava existir ajuda. Isso agradecimento!!!

    Ao Departamento de Cincia dos Alimentos, da Universidade Federal de

    Lavras-UFLA, pela oportunidade de realizao deste curso.

    Coordenao de Aperfeioamento Pessoal de Nvel Superior (CAPES)

    pela concesso da bolsa de estudos.

    professora Dra. Rosane Freitas Schwan pelos poucos 4 anos, mas

    muito representativos na base da confiabilidade, orientao, ensinamentos,

    conselhos, crticas e auxlios durante os anos experimentais e tambm pessoais,

    MUITO OBRIGADA!!!

    Ao professor Antonio Gilberto Bertechini pela oportunidade de

    continuar na esperana dos estudos e nos ensinamentos a cada dia, desde a

    graduao.

    Aos professores Eustquio Souza Dias e Romildo da Silva pela

    orientao, sugestes e amizade durante todo trabalho.

    Ao professor Henrique Csar Pereira Figueiredo pela disponibilidade e

    auxilio para a finalizao do trabalho.

    Aos funcionrios no Laboratrio de Nutrio Animal pela

    disponibilidade e auxlio nas anlises.

    Aos alunos do Laboratrio de Anatomia Vegetal pela pacincia e

    disponibilidade do espao e material cedido durante a execuo das lminas do

    intestino.

  • Aos funcionrios da avicultura Borginho, Senhor Geraldo, Borginho

    filho e Preto.

    Aos companheiros da Microbiologia, Mirian (tambm pelo xilol),

    Aramlia, Fernanda, Sheila, Cristina, Lus, Euziclei, Claudinelli, Cladia

    Eugnia, Cidinha, Ivani, Luziane, Dborah, Evnia, Cladia Labory, Pascoal,

    Marisa, Alexandre, Mrcia, Luana e Magda.

    A minha grande amiga Cladia Braga vulgo Claudinha por toda ajuda

    necessria e desnecessria durante todo o perodo de trabalho experimental,

    pelas horas de trabalho no computador, horas e dedos nas confeces das

    lminas... AGRADEO DE MONTO!!! Fora tudo, pela amizade, ateno,

    apoio e dedicao. OBRIGADA!!!!

    Universidade Federal de Lavras pela oportunidade de realizao deste

    curso de Doutorado.

    A todo o corpo docente e aos funcionrios do Departamento de Cincias

    dos Alimentos e do Departamento de Biologia.

  • RESUMO GERAL

    O trabalho objetiva caracterizar o estado fsico-quimico e microbiolgico do processo da compostagem para a produo do cogumelo Agaricus blazei e a utilizao do composto para a alimentao de animais monogstricos. O experimento laboratorial de produo de cogumelos na UFLA, onde utilizou para a compostagem 50% de bagao de cana e 50% de capim coast cross e mais as suplementaes. Para resultados fsico-qumicos o material da compostagem apresentou em condies propcias com colorao, e maciez ao tato, sendo os valores de Fibra Detergente Neutro de 68,60%, Fibra Detergente cido 52,90%, lignina 53,50%, Protena Bruta 6,26% e celulose 0,60%. Sucesso microbiana na seguinte ordem: bactrias, fungos e actinimicetos. A populao bacteriana esteve constante em nmero de 3x108 UFC (Unidade formadora de colnia)/g durante todo o processo de compostagem; predominando os gneros Bacillus, Pseudomonas e Serratia. Os actinomicetos com importante representao na parte mesoflica e termoflica, populao inicial de 6,6x 107 UFC/g no primeiro dia de coleta e aumentando para final de 3,0x 108 UFC/g predominando os gneros Streptomyces e Micronospora. Os fungos filamentosos tiveram carter termoflico ocorrendo na temperatura mais elevada durante a compostagem, sendo a populao de 1,7x108 UFC/g reduzindo no final do processo, sendo o gnero predominante o Aspergillus fumugatus denominado produtor de celulase. Todos os microrganismos tiveram grande importncia devido s transformaes ocorridas no material por ocasio da produo de enzimas, que degradam as fibras. A produo do cogumelo Agaricus blazei teve uma mdia de 1,53g/ 100g de composto, sendo uma boa resposta. O segundo experimento foi realizado no Departamento de Zootenia da Universidade Federal de Lavras em que se utilizou 500 pintinhos de 1 dia da linhagem Cobb 500, onde foram divididos em 20 parcelas com 25 pintos. Foi utilizado Delineamento Inteiramente Casualizado em que foram fornecidos 5 tratamentos na qual se avaliou desempenho das aves e alturas das vilosidades do jejuno. Para desempenho o consumo de rao no apresentou diferena significativa, converso alimentar no perodo de 1-39 e 21-39 dias foi significativo pela anlise de regresso mostrando que na medida em que se aumentam os nveis do composto piora a converso, sendo o mesmo resultado para ganho de peso no perodo de 1-39 dias. O rendimento de carcaa o melhor nvel o de 1,5 % de composto, e para vilosidades do jejuno a maior altura foi para a testemunha e subsequente o nvel de 1,5% de composto na rao. No geral o nvel de 0,5% de composto na rao teve melhor resposta para desempenho e vilosidades

    Palavras-chave: Compostagem, Agaricus blazei, nutrio e monogtricos.

  • GENERAL ABSTRACT

    This work had as objective to characterize the physical-chemical and microbiological composting process for mushroom Agaricus blazei production and the composite utilization for monogastric animals feeding (broiler). Where it was utilized for the composting 50% of sugar-cane bagasse and 50% of coast-cross grass, adding together supplements with limestone, plaster, phosphate, KCl and wheat crumb. For physical-chemical results, the composting material appears itself in favourable conditions with brown colouring, white points and softness to touch, being the values of NDF 68.60%, ADF 52.90%, lignine 53.50%, CP 6.26% and cellulose 0.60%. During t following order: bacteria, fungi and actinomycetus. The bacterial population was constant in number of 3x108 (clony forming unit)/g during the whole composting process; predominant genera Bacillus, Pseudomonas and Serratia. The actinomycetus with important representation in the mesophylic and thermophylic part, presenting an initial population of 6.6 x 107 UFC/g on the first day of collection and with an increase to the final stage of 3.0 x 108 UFC/g predominant genera Streptomyces and Micronospora. The filamentous fungi had thermophilic character occurring in the highest temperature during the composting, and the population of 1.7 x108 UFC/g reducing in the final of composting process is the predominant genus Aspergillus fumugatus called producer of cellulase. All microorganisms had a great importance due to transformations occurred on the material because of the enzymes productionwhich degrade the fibers. The mushroom Agaricus blazei production had an average 1,53g/100g of compound being a good response to the conditions of the substrate preparation during the composting. The second trial was accomplished at the DZO/UFLA and 500 young chicken of one-day ancestry Cobb 500, which were divided into 20 plots of 25 chicks. It was completely randomized design in which 5 treatments were given, being 0; 0.5; 1.0; 1.5; 2.0% of compound during feeding in which evaluated performance from the birds and at the same time the height of villosity jejunum thereof. For performance the feed intake was not significantly different (P

  • LISTA DE FIGURAS

    CAPTULO 1

    Figura 1 Formula esquemtica da molcula de lignina de confera ............. 34

    Figura 2 Esquema geral do processo de degradao da lignina ................... 35

    Figura 3 Dinmica da temperatura (C) e umidade relativa do material

    (%) durante o processo da compostagem ...................................... 36

    CAPTULO 2

    Figura 1 Frequncia de bactrias, actinomicetos, leveduras e fungos

    filamentosos isolados do composto durante o processo de

    compostagem e seu material de origem bagao de cana-de-

    acar e feno de capim Coast-Cross na 2a repetio .................... 74

    Figura 2 Frequncia de bactrias, actinomicetos, leveduras e fungos

    filamentosos isolados do composto durante o processo de

    compostagem e seu material de origem bagao de cana-de-

    acar e feno de capim Coast-Cross na 3a repetio ..................... 74

    CAPTULO 3

    Figura 1 Efeito dos nveis de adio do composto sobre o ganho de peso

    de frangos no perodo de 0 a 21 dias de desenvolvimento .......... 104

  • LISTA DE TABELAS

    CAPTULO 1

    Tabela 1 Produo de cogumelo Agaricus blazei ........................................ 30

    CAPTULO 2

    Tabela 1 Espcies de bactrias, actinomicetos e fungos filamentosos

    isolados do composto durante o processo de compostagem e

    seu material de origem cana-de-acar (bagao) e feno de

    capim coast-cross. Entre parnteses o nmero de isolados

    identificados .................................................................................. 82

    CAPTULO 3

    Tabela 1 Composio percentual das raes experimentais de acordo

    com a fase de criao .................................................................... 98

    Tabela 2 Composio qumica do composto exaurido do crescimento do

    cogumelo Pleurotus sajor caju...................................................... 99

    Tabela 3 Mdias das temperaturas em C de mxima e mnimas durante

    o perodo Experimental ............................................................... 101

    Tabela 4 Desempenho de frangos de corte em diferentes perodos de

    idade alimentados com raes adicionadas de composto

    exaurido do cultivo do cogumelo Pleurotus ssp ......................... 103

    Tabela 5 Caractersticas da carcaa e altura das vilosidades do jejuno das

    aves no perodo experimental de 1 a 39 dias com diferentes

    nveis de adio do composto exaurido do cogumelo rao ..... 106

  • SUMRIO

    CAPTULO 1 Introduo Geral .......................................................... 13 1 INTRODUO ..................................................................................... 13 2 REFERENCIAL TERICO ................................................................ 16 2.1 Sistema de cultivo .................................................................................. 16 2.2 Cultivo do cogumelo do gnero Agaricus............................................. 17 2.2.1 Formulao do composto e compostagem ........................................... 18 2.2.2 Pasteurizao e condicionamento (Fase II) ......................................... 21 2.3 Produo de inoculantes ....................................................................... 22 2.4 Inoculao e incubao - corrida do miclio (Fase III) ...................... 25 2.5 Camada de cobertura e induo de primrdios .................................. 25 2.6 Instalaes e condies de frutificao ................................................ 27 2.7 Colheita e processamento ...................................................................... 29 2.8 Doenas, contaminantes e pragas ......................................................... 31 2.9 Compostagem ......................................................................................... 31 2.10 Agaricus blazei ........................................................................................ 38 2.11 Fungos termoflicos................................................................................ 42 3 COMPOSTO .......................................................................................... 45 3.1 Substrato ps-produo de cogumelo .................................................. 47 3.2 Composto na alimentao animal ........................................................ 48 3.3 Probiticos .............................................................................................. 50 3.3.1 Modo de ao dos probiticos............................................................... 51 3.4 Modo de ao dos antibiticos .............................................................. 52 3.5 Antibiticos versus Probiticos ............................................................. 53 3.6 Microvilosidades .................................................................................... 55 REFERNCIAS .................................................................................... 57 CAPTULO 2 Diversidade microbiana durante a compostagem

    de bagao de cana para a produo de Agaricus brasiliensis ............. 65 1 INTRODUO ..................................................................................... 67 2 MATERIAIS E MTODOS ................................................................. 69 2.1 O preparo, composio qumica e amostragem do composto ............ 69 2.2 Pasteurizao ......................................................................................... 69 2.3 Anlise microbiolgica .......................................................................... 70 2.4 Identificao de Bactrias ..................................................................... 71 2.5 Identificao de actinomicetos .............................................................. 71 2.6 Identificao de fungos filamentosos ................................................... 72 3 RESULTADOS E DISCUSSO ........................................................... 73 3.1 Microbiota da fase I da compostagem ................................................. 73 3.2 Microbiota da fase II da compostagem ................................................ 80 4 CONCLUSO ........................................................................................ 86

  • REFERNCIAS .................................................................................... 87 CAPTULO 3 Utilizao do composto exaurido de Pleurotus spp.

    no desempenho de frango de corte ....................................................... 92 1 INTRODUO ..................................................................................... 94 2 MATERIAL E MTODOS .................................................................. 97 3 RESULTADOS E DISCUSSO ......................................................... 102 4 CONCLUSO ...................................................................................... 108 REFERNCIAS .................................................................................. 109 ANEXOS .............................................................................................. 112

  • 13

    CAPTULO 1 Introduo Geral

    1 INTRODUO

    A compostagem praticada desde a histria antiga, porm at

    recentemente, de forma emprica. Gregos, romanos e povos orientais j sabiam

    que resduos orgnicos podiam ser retornados ao solo ou para alguma outra

    forma de utilizao. No entanto, s a partir de 1920, com Albert Howard, que

    o processo passou a ser pesquisado cientificamente e realizado de forma

    racional. Nas dcadas seguintes, muitos trabalhos cientficos lanaram as bases

    para o desenvolvimento desta tcnica, que hoje pode ser utilizada em escala

    industrial. Esse processo pode ser definido como uma bioxidao aerbica

    exotrmica de um substrato orgnico heterogneo, no estado slido.

    denominada uma ecotecnologia por permitir o retorno da matria orgnica para

    outros fins.

    Os componentes orgnicos biodegradveis passam por etapas sucessivas

    de transformao sob a ao de diversos grupos de microrganismos, resultando

    num processo bioqumico altamente complexo (EPSTEIN, 1998).

    Durante a compostagem, h proliferao de populaes complexas de

    diversos grupos de microrganismos (bactrias, fungos e actinomicetos), que vo

    se sucedendo de acordo com as caractersticas do meio, sendo essa elevao da

    temperatura ser varivel de acordo com o local da meada. No incio do processo

    da compostagem h forte crescimento dos microrganismos mesfilos, com

    aumento da temperatura, resultante da biodegradao, a populao de mesfilo

    diminui e os termfilos proliferam com maior intensidade, eliminando os

    microrganismos patognicos. Embora a maior parte do metabolismo na

    compostagem seja devido s fermentaes, as transformaes ideais ocorrem nas

    regies onde predominam condies aerbicas ou semiaerbicas, que impedem

  • 14

    o estabelecimento de microrganismos anaerbicos estritos, razo pela qual o

    composto deve ser revolvido com frequncia. Com esse procedimento se tem o

    melhor fracionamento das fibras e uma alta atividade microbiana na

    decomposio do composto (CHANG, 1989). O carbono a principal fonte de

    energia e o nitrognio importante para a sntese celular. Os microrganismos

    tambm necessitam de micronutrientes como: Cu, Ni, Mo, Fe, Mg, Zn e Na,

    sendo utilizados nas reaes enzimticas, porm detalhes desses processos so

    pouco conhecidos.

    O cultivo de Agaricus blazei em moldes comerciais muito recente e,

    no entanto tem se utilizado as tcnicas j existentes para o cultivo de outros

    fungos como Champignon (Agaricus bisporus) e Shiitake (Lentinula

    edodes).

    O crescimento de cogumelos comestveis e/ou medicinais em substratos

    com resduos agrcolas j tem sido estudado (CHANG; QUIMIO, 1982;

    IMBERNON; LEAPLAE, 1972; LAMBERT, 1941), no entanto so escassas as

    informaes quanto s transformaes qumicas, fsicas e microbiolgicas que

    ocorrem no decorrer do preparo desse composto.

    O sucesso da produo est sempre correlacionado com as etapas que

    precedem esse processo que so: escolha dos materiais para compostagem que

    tenham uma boa relao C/N, aerao, umidade, pH, temperatura,

    acondicionamento, pasteurizao, inoculao e incubao. Como se observa o

    cultivo do Agaricus blazei composto de vrias etapas interdependentes e

    essenciais para obteno da mxima produtividade. Dessa forma, aes

    unilaterais que proporcionam incremento em apenas uma das etapas de cultivo,

    podem representar muito pouco no resultado final de produtividade, sendo

    necessria uma atuao equilibrada em todas as etapas de cultivo, para se obter

    maior produtividade.

  • 15

    Assim sendo, o presente trabalho teve por objetivo caracterizar o

    substrato da compostagem microbiolgica, fsica e quimicamente, e a produo

    do cogumelo Agaricus blazei.

  • 16

    2 REFERENCIAL TERICO

    2.1 Sistema de cultivo

    A escolha da tecnologia de cultivo e o preparo do substrato de cultivo

    dependem da espcie de cogumelo que se pretende cultivar, da disponibilidade e

    custo de resduos agroindustriais e outros insumos e, de forma ainda mais bvia,

    do custo de produo e mercado.

    Basicamente, o cultivo de qualquer cogumelo pode ser realizado em

    condies naturais no asspticas ou sob condies axnicas, isto , o substrato

    deve ser submetido esterilizao e as tcnicas de cultivo so asspticas at a

    colonizao total de substrato pelo cogumelo (EIRA, 2000).

    Sob condies naturais no asspticas, os cogumelos podem ser

    cultivados em quatro grupos de substratos: em hospedeiros vivos (micorrzicos

    ecologicamente dependentes e aqueles que causam doenas em essncias

    florestais); substratos in natura com relao C/N maior que 100/1, tais como

    troncos de madeira sem qualquer preparao prvia (usados para cultivo de

    Shiitake, Pleurotus spp. e fungos medicinais como o Ganoderma lucidum,

    Pycnoporus spp. e outros); resduos agroindustriais com relao C/N entre 50

    e100/1, tais como palhas pr-tratadas por compostagem curta e pasteurizao

    severa (Pleurotus spp. Volvariella volvacea e outros) ou apenas pasteurizao

    severa, como no caso de cavacos de madeiras obtidos pela triturao de galhos

    finos e/ou serragem fresca (Shiitake, Auricularia sp e outros); e palhas e

    resduos agroindustriais com relao entre 25 e 50/1, com prvia compostagem

    (Fase I), pasteurizao e condicionamento (Fase II), utilizados para o cultivo de

    Agaricus spp.

    Outro padro de substrato enriquecido com relao C/N entre 15 e 25/1,

    pode ser utilizado no sistema de cultivo de cogumelo sob condies axnicas,

  • 17

    tais como Shimeji (Pleurotus ostreatus), o Shiitake (Lentinula edodes), a

    Flammulina velutipes, Pholiota nameko e vrios outros, inclusive qualquer dos

    cogumelos normalmente cultivados sob condies naturais no asspticas. A

    principal razo da utilizao de substratos com relao C/N estreita, no cultivo

    axnico obter elevadas produtividades, visando cobrir os custos dos processos

    de esterilizao e assepsia e, principalmente, para obter produes no tempo e

    quantidades requeridas pelo mercado consumidor. Sempre que a relao C/N for

    estreita (15 a 20:1) e ocorram acares, aminocidos, vitaminas e outros

    compostos de baixo peso molecular, prontamente disponveis.

    H ainda uma tcnica chinesa de cultivo, que envolve a pasteurizao

    severa de substratos base de capim, denominada Jun-Cao. Essa tcnica

    envolve substratos de relao C/N abaixo de 50/1, mas submetidos

    pasteurizao severa (vapor fluente durante 8 a 12 horas).

    2.2 Cultivo do cogumelo do gnero Agaricus

    O cultivo de cogumelos Champignon e Cogumelo do Sol envolve as

    seguintes etepas (WUEST; DUFFY; ROYSE, 1980): obteno das matrizes e

    sementes (inoculantes ou spawn), compostagem. Fase I; pasteurizao e

    condicionamento do substrato. Fase II; inoculao e incubao. Fase III;

    cobertura do substrato colonizado (camada de cobertura); induo dos

    primrdios e produo dos basidiomas.

    O cogumelo Agaricus blazei, vulgarmente chamado cogumelo do Sol

    de ocorrncia natural nas regies serranas da Mata Atlntica do Estado de So

    Paulo. Seu cultivo vem seguindo as mesmas tcnicas utilizadas para o

    Champignon, quanto formulao, compostagem, pasteurizao e

    condicionamento do substrato, inoculao, incubao e colocao da camada de

    cobertura, exceto para a frutificao, que requer temperatura entre 20 e 30oC.

  • 18

    2.2.1 Formulao do composto e compostagem

    Os cogumelos possuem enzimas lignolticas (lacase), celulolticas e

    hemicelulolticas. Entretanto, deve-se salientar que os cogumelos nutrem-se de

    acares, mas sob condies naturais no asspticos, se tais compostos tiverem

    presentes, a microbiota meso e termoflica que prevalecer no sistema e no

    permitir a colonizao do substrato pelo cogumelo inoculado. Essa a razo

    pela qual, sob condies naturais, faz-se necessrio o pr-tratamento do

    substrato de cultivo (composto) atravs do processo de compostagem,

    pasteurizao e condicionamento do composto, para que estabelea uma

    microbiota responsvel pela biostase favorvel ao cultivo de cada cogumelo.

    Os cogumelos so aptos para crescer em grande variedade de resduos

    agrcolas, dentre eles, o bagao de cana (BUSWELL; CAI; CHANG, 1996). O

    Agaricus blazei produzido em vrios tipos de substratos ricos em lignina e

    celulose, inclusive o bagao de cana (LIZUKA, 1997), pois tem a habilidade de

    utiliz-los como fonte de nutrientes. A utilizao de substratos lignocelulsicos

    pelo fungo depende da sua capacidade de secretar celulases, hemicelulases e

    ligninases, enzimas que hidrolisam as macromolculas celulose, hemicelulose e

    lignina, respectivamente, liberando nutrientes para o seu crescimento

    (BUSWELL; CAI; CHANG, 1996). Esse mesmo autor relatou que a produo

    de enzimas parte crucial do processo de colonizao do substrato, e importante

    na determinao do rendimento da produo de cogumelo.

    Um dos fatores mais importantes no desenvolvimento prspero do

    cultivo em escala industrial a alta disponibilidade de substratos na regio de

    instalao da produo, onde certamente so mais baratos (WORRAL; YANG,

    1992). O bagao de cana apresenta-se como uma boa alternativa para o cultivo

    do Agaricus blazei, pois alm de ser amplamente disponvel nas regies

    produtoras de acar, lcool e cachaa, segundo Nussio e Balsalobre (1993)

  • 19

    matria-prima relativamente homognea em termos de composio qumica,

    caractersticas fsicas e bromatolgicas. Pequenas variaes nessas

    caractersticas, decorrentes das diferentes origens do bagao, so devidas a

    fatores como: variedades de cana-de-acar (NUSSIO; BALSALOBRE, 1993),

    tipos de solo e processos de extrao do caldo pelas indstrias. Embora sejam

    escassas as publicaes sobre o cultivo de Agaricus blazei em bagao de cana,

    outros cogumelos j foram cultivados nesse substrato com sucesso.

    Por ter caracterstica fibrosa, o bagao quando prensado pode

    condicionar espaos com aerao suficiente para suportar o crescimento

    micelial. Assim, o fungo consegue miceliar no substrato de bagao in natura,

    mesmo que em baixa velocidade, mas a produo de corpos de frutificao pode

    ser reduzida devido escassez de nutrientes. As suplementaes com nutrientes,

    de preferncia solveis para estarem prontamente disponveis para o fungo, so

    necessrias.

    Todo composto para o cultivo de cogumelo do gnero Agaricus tem

    como regra geral, o componente volumoso base de palhas, capim ou outros

    materiais fibrosos, geralmente muito ricos em carbono (C) e pobres em

    nitrognio (N) e fsforo (P) e, componentes concentrados (normalmente farelos

    e tortas), incorporados em quantidades adequadas para atingir as relaes C:N:P:

    30:1:0,2. Alm desses nutrientes principais esto presentes macroelementos,

    microelementos K, S, Ca e alguns traos como Mg, Mn, Zn, Bo, Co, Mo,etc., j

    esto presentes nos materiais em quantidades suficientes ao metabolismo global

    da compostagem nas fases I, II e III (STANIER; DOUDOROFF; ADELBERG,

    1969). A incoporao do sulfato de clcio (gesso) facilita a aerao; aumenta a

    capacidade de reteno de gua e, os ons de Ca++ e SO4-do gesso so utilizados

    pelo fungo. O gesso tambm flocula coloides, propiciando uma estrutura mais

    granular ao composto, que aumenta a produtividade do A. bisporus (VAN

    GRIENSVEN,1988).

  • 20

    Na fungicultura moderna vem sendo mais utilizados os cogumelos

    sintticos, mas, cada formulao influencia na produtividade, tal como foi

    observado por Gibbons, Maher e Todd (1991). Cada fungicultor, entretanto,

    busca uma combinao mais prxima s matrias-primas existentes em sua

    regio que, se corregidas convenientemente, formaro um substrato de qualidade

    e de baixo custo. Assim, cada tonelada de capim (componente volumoso) pode-

    se combinar materiais concentrados e insumos, visando atingir a relao C/N

    requerida (aproximadamente 30/1). Para Agaricus blazei, ao contrrio do

    propalado em alguns livros, deve-se alargar essa relao at aproximadamente

    37/1 (KOPYTOWSHI, 2002). Com relao C/N larga e/ou reviragens frequentes

    a Fase I de compostagem pode ser completada entre 7 e 14 dias, processo

    tambm chamado de short composting. Ao final da fase I deve-se obter as

    seguintes caractersticas no substrato: umidade em torno de 70%; pH entre 7,5 e

    8,0; colorao da palha de amarelo a marrom, com manchas brancas de

    actinomicetos e outros microrganismos trmfilos (camadas externas da meada)

    e odor de amnia (STEINECK, 1987; STRAATSMA, 1994a, 1994b).

    Na compostagem, a reteno de nitrognio na biomassa depende do teor

    inicial de nitrognio e da presena de carbono mais prontamente disponvel no

    composto (VAN GRIENSVEN, 1988). Formulaes de composto com elevado

    teor inicial de nitrognio, mas baixos teores de carbono assimilveis redundam

    em maior perda por volatilizao do NH3 e menor incorporao de N na

    biomassa.

    O Brasil como maior produtor e exportador mundial de caf, sua

    agroindstria gera mais de um milho de toneladas de resduos slidos (casca,

    borra, polpa e folha) por ano. Apesar de alguns desses resduos apresentarem

    concentraes elevadas de acar, protena e lipdios, jamais foram aproveitados

    na alimentao animal devido presena de compostos txicos e

  • 21

    antinutricionais, como cafena e taninos. Esses resduos causam igualmente

    problemas de poluio ao meio ambiente.

    Soccol e Fan (2002) estudaram a possibildade de se produzir cogumelos

    do gnero Pleurotus a partir de resduos da agroindstria do caf, sendo que os

    resultados obtidos demonstram que a cafena apresenta reao negativa ao

    crescimento do fungo e cido tnico at 100 mg/L estimula o crescimento do

    miclio. Com relao degradao da cafena e tanino na casca de caf aps o

    crescimento do cogumelo, foi possvel demonstrar que esse fungo no degrada

    cafena, s absorve-a, por isso no corpo de frutificao encontraram cafena.

    Dessa forma, o uso da casca de caf poder dar origem a um novo tipo de

    cogumelo do tipo Pleurotus contendo pequenos teores de cafena no corpo de

    frutificao. Por fim, demonstra que resduo da agroindstria de caf apresenta

    rendimentos semelhantes aos obtidos com esses substratos tradicionais.

    2.2.2 Pasteurizao e condicionamento (Fase II)

    A pasteurizao para Agaricus spp. visa elevao uniforme da massa de

    composto at a temperatura de 62oC/ 6 horas, para saneamento do composto,

    seguindo-se o condicionamento fsico, qumico e biolgico do composto, a

    47oC, durante 7 a 10 dias .O pasteurizador deve possibilitar o controle da

    temperatura, atravs do sistema de ventilao, ajustando-se as propores de

    reciclagem do ar quente (150 a 200 m3/t.h) e o ar novo e filtrado (10 a 40

    m3/t.h), mantendo-se o regime de ventilao constante durante toda a

    pasteurizao e condicionamento e, quando o odor amonaco desaparece (teor ,

    10 ppm de NH3) promove-se o resfriamento rpido at 25 oC, para efetuar-se a

    inoculao. O dimensionamento do pasteurizador e ventilador um problema

    pela quantidade de material a ser pasteurizado e o fluxo de ar a ser liberado.

  • 22

    No resfriamento para a inoculao do Agaricus, os termfilos entram em

    latncia e a estrutura celular dessa biomassa digerida e assimilada pelo

    Agaricus.

    Ao final do processo de pasteurizao e condicionamento, a quantidade

    de carboidratos degradveis diminui, formando um complexo lignina-hmus

    mais estvel; grande parte do NH3 incorporada biomassa (protenas); a

    relao C/N estreita-se entre 16 a 17/1; o ndice pH diminui para 7,5; a

    temperatura para 25 oC e, a umidade, para 60 a 65% (VEDDER, 1996).

    2.3 Produo de inoculantes

    Os fungos reproduzem-se sexuadamente por intermdio de esporos ou,

    assexuadamente (reproduo vegetativa), pela multiplicao de qualquer

    fragmento do corpo de frutificao ou do miclio.

    Na reproduo assexuada, a partir da germinao de dois basidisporos

    em substrato e condies favorveis, origina-se um miclio de hifas haploides

    (n) com interseptos uninucleados (poro da hifa delimitada por dois septos), o

    miclio primrio. Quando duas hifas do miclio primrio se encontram, ocorre a

    fuso de citoplasma (Plasmogamia) resultando clulas binucleadas ou dicariotas

    (n+n). Assim, inicia-se o processo de formao do miclio secundrio por

    crescimento vegetativo. Em certa fase do desenvolvimento do miclio

    secundrio, inicia-se a diferenciao do miclio tercirio (basidioma) e a

    formao dos basdios. Os ncleos fundem-se resultando um ncleo diploide

    (2n); h o incio de formao dos esterigmas e o ncleo sofre novas divises

    (meiose e mitose), resultando 4 ncleos, com nmero haploide de cromossomos

    que, cercando-se de protoplasma, migram para os esterigmas e formam os

    basidisporos.

  • 23

    As matrizes primrias so obtidas pelo isolamentodos fragmentos do

    basidioma (via assexuada para manter as caractersticas genticas do basidioma

    desejado) e atravs dos basidisporos (via sexuada pelo isolamento monosprico

    e/ou multiesprico, quando se visa o melhoramento gentico seguido da seleo

    massal desejada). Na obteno das matrizes, ressalta-se, a utilizao de meios de

    cultura muito ricos e completamente diferentes dos substratos de cultivo, pode

    levar seleo de mutantes nutricionais (saltaes paramorfognicas adaptadas

    ao meio), com possveis alteraes simultneas de outras caractersticas

    importantes.

    A fuso dos protoplastos aumenta a frequncia de cruzamentos de

    organismos nos quais os cruzamentos naturais so infrequentes ou inexistentes,

    alm de possibilitar o avano na engenharia gentica nesse campo (VAN

    GRIENSVEN,1998).

    A preservao das matrizes primrias implica na reduo do

    metabolismo latncia para que as linhagens possam ser conservadas viveis

    pelo maior tempo possvel. Alguns cogumelos (A. blazei e Volvariella volvacea

    entre outros) no resistem s temperaturas e devem ser conservados em cmara

    climatizada a 22+ ou 1oC. A maioria dos outros cogumelos, entretanto, pode

    ser mantida em geladeira (4 + ou - 1oC) e, as matrizes primrias podem durar at

    seis meses, desde que acondicionadas em tubos de ensaio, vedados com tampa

    hermtica para evitar a desidratao do meio de cultura e da matriz. O uso de

    leo mineral, previamente esterilizado, tem-se mostrado importante, pois

    protege o miclio contra a dessecao resultante da condensao de vapor nas

    variaes de temperatura durante o armazenamento. Algumas culturas,

    preservadas dessa forma, podem continuar viveis por at dois anos. Tambm

    pode ser usado com bons resultados discos de cultura preservados em frascos

    hermticos contendo gua estril.

  • 24

    O nitrognio lquido e a liofilizao so os mtodos mais utilizados nas

    colees de culturas internacionais (SAN ANTONIO,1978), mesmo para

    cogumelos de clima quente como A. blazei (criopreservao a 80oC ou N2

    lquido a - 186 oC, desde que o inculo seja suspenso em glicerol a 10% e o

    protocolo de descongelamento, seja rpido a 35 oC (MONTINI et al., 2002).

    A matriz secundria obtida pela transferncia de pequenas pores de

    miclio da matriz primria para frascos contendo substrato do tipo gros,

    serragem ou fibras (composto). O substrato acondicionado em frascos com

    tampas forradas internamente com discos de papel de filtro, e submetidos

    esterilizao durante 2 a 4 horas a 1 atm ou 120 oC, ou tindalizao, repetindo-se

    o processo aps 12 horas. Os frascos so inoculados em condies asspticas e

    incubados temperatura de 25 oC durante 20 a 30 dias, perodo suficiente para

    que ocorra a colonizao total do substrato. Obtidas as matrizes secundrias,

    sero usadas para a produo do inculo (semente ou spwan) (EIRA;

    MINHONI, 1997; GIBBONS; MAHER; TODD, 1991).

    Dessa forma, quando as hifas de cogumelos crescem em grandes

    quantidades de substratos (gros, serragem, materiais celulsicos ou minerais

    enriquecidos), sob condies axnicas, recebem o nome de inculo (termo

    diretamente ligado aos propgulos viveis do fungo, as hifas), inoculantes (que,

    alm do inculo, inclui o veculo slido ou substrato, como serragem, gros e

    outros), semente (pelas suas relaes com a propagao que, no caso de

    inoculantes para cultivo de cogumelos, seria assexuada e vegetativa) e ainda

    spawnm que um termo genrico na literatura mundial prximo a inoculante ou

    semente (FLETCHER; WHITE; GAZE, 1986; RAJARATHANAM; BANO,

    1987; SAN ANTONIO, 1984).

  • 25

    2.4 Inoculao e incubao - corrida do miclio (Fase III)

    A semente utilizada razo de 1 a 2% da massa de composto em base

    mida. O perodo de colonizao do substrato varia com o tipo de inculo,

    qualidade do composto e condies da cmara de cultivo, mas de modo geral,

    oscila entre 14 e 21 dias, quando o miclio aflora superfcie do composto e

    procede-se a cobertura do substrato colonizado com solo ou outros materiais

    (camada de cobertura ou casing layer).

    A fase III (vulgarmente denominada corrida do miclio), nos cultivos

    mais tecnificados efetuada em massa, sob condies de temperatura e aerao

    controladas, em tneis similares aos de pasteurizao com reciclagem,

    resfriamento (temperatura controlada entre 24 e 25 oC) e renovao do ar (cerca

    de 2 a 3 vezes o seu volume por dia) uma vez que, nessa fase, os teores de CO2

    permanecem muito elevados (VAN GRIENSVEN, 1988).

    Modernas tecnologias de cultivo vm utilizando suplementao do

    composto com materiais orgnicos em nitrognio (VAN GRIENSVEN, 1988),

    como por exemplo, o Champfood de uma companhia da Holanda, proposto para

    suplementar o substrato com relao C/N inicialmente mais larga (at 50/1). O

    adubo adicionado aps a colonizao total do substrato pelo cogumelo (a Fase

    III que, nessa tecnologia realizada em massa). Os produtos comerciais usam o

    farelo de soja com disponibilidade controlada, base de 1 a 1,4 Kg/m2 de cama

    de cultivo (densidade de substrato entre 85 e 95 Kg de substrato mido/m2).

    2.5 Camada de cobertura e induo de primrdios

    A camada de cobertura representa um dos principais fatores para o

    incremento a produtividade, qualidade e uniformidade na colheita do

    champignon (COLAUTO, 2002). Modernamente, utiliza-se uma mistura de

  • 26

    turfa negra ou black peat (80%) e turfa fibrosa marrom ou brown peat

    (20%), neutralizada com carbonato de clcio calctico (VAN GRIENSVEN,

    1988). Para evitar nematoides e outros problemas da fungicultura, a camada de

    cobertura dever ser submetida a processos de pasteurizao (60-65 oC), ou

    desinfeco com formol (a 10%, 10L/m3), volatilizado temperatura a 15 oC.

    A camada de cobertura proporciona variao ambiental necessria para a

    mudana fisiolgica do comportamento do miclio, que passa de um estado

    vegetativo para reprodutivo, com consequente induo e desenvolvimento de

    primrdios. Alm disto, a camada de cobertura proporciona superfcie uniforme,

    regula a temperatura entre o substrato e o ambiente, retem gua para evitar o

    ressecamento do substrato, fornece gua para o basidiocarpo, suporta

    mecanicamente o desnvolvimento do corpo de frutificao, permiti trocas

    gasosas, uma barreira de proteo para os microrganismos, permite o

    crescimento de bactrias favorveis e no fonte de nutrientes para o

    desenvolvimento do miclio.

    Diversos fatores fsicos, qumicos e biolgicos colaboram

    concomitantemente para que o fenmeno da induo ocorra. Dentre eles esto a

    profundidade, porosidade, gua, potencial osmtico, gases, principalmente o

    hormnio, substncias qumicas volteis ou no, microrganismos,

    principalmente bactrias, filtrados de fungos, bactrias e metablitos da camada

    de cobertura. No entanto, devido complexidade de interao dos mesmos,

    muitas pesquisas apresentam mais sugestes que concluses por no

    conseguirem isolar todas as variveis que interferem na induo de primrdios.

    Diversas camadas de cobertura so relatadas como: esterco de vaca

    decomposto, polpa de papel modo de resduos industriais, resduos de madeira,

    bagao, composto exaurido, terra orgnica, terra de minhoca, cristais de gua,

    cinzas de diversos materiais, fibra de coco, rockwool (l mineral). Resduo de

    carvo, resduo de fibra de plantas, bolo de cal (Cal + gua), abeto, casca de

  • 27

    ervilhas, perlite, vermiculita, espuma de poliuretano picada e tijolos quebrados

    finamente (COLAUTO, 2002).

    Quanto camada de cobertura para o A.blazei, um pequeno ganho em

    relao ao uso da terra de barranco, foi obtido pela incorporao de 30% de

    carvo vegetal (resduo de carvorarias), passando-se de uma produtividade de

    5% para 8 a 12% em base mida (80 a 120g de cogumelo fresco por Kg de

    substrato mido). Para esse tipo de cobertura, a produtividade foi

    significativamente maior na espessura entre 5 e 8 cm. Entretanto, o incremento

    mais significativo na produtividade (100% acima da terra + carvo), foi

    alcanado com a turfa de Zanta Catarina e Xisto calctico, para duas linhagens

    de A. blazei, que foram estatisticamente similares, nas suas respostas aos tipos

    de cobertura testados (COLAUTO, 2002).

    No Brasil h o predomnio do uso de camadas de cobertura base de

    terra argilosa ou mista alm de turfas brasileiras mais recentemente. Entretanto,

    o manejo desse material requer a devida ateno para se atingir uma elevada

    produtividade.

    2.6 Instalaes e condies de frutificao

    A cultura do A. blazei, por exigncia de alguns compradores estrangeiros

    (principalmente o japons), ocorre de forma rudimentar em canteiros no campo.

    Nesse particular, esse tipo de tecnologia de cultivo outdoor que originou a

    denominao popular desse cogumelo como cogumelo do sol. Deve-se frisar,

    entretanto, que os canteiros so cobertos com espessa camada de capim,

    formando um microclima indispensvel frutificao nessas condies rsticas,

    mas sob a camada de capim, praticamente no h luz (intensidade menor que 50

    Lux, s 12 horas).

  • 28

    Na etapa de frutificao, esto as maiores diferenas no cultivo do A.

    blazei em relao ao A. bisporus: condies de temperatura entre 25 e 30 oC,

    procedidas de baixa temperatura (15 a 20 oC), teor de CO2, abaixo de 500 ppm e

    abundante irrigao da camada de cobertura. Para o A.bisporus, a induo de

    primrdios tambm depende da aerao (teor de CO2 ao redor de 600 ppm), mas

    a induo, ocorre com o resfriamento gradual de 22 para 16 a 17 oC.

    Os mecanismos de induo dos primrdios para o A. blazei, esto

    relacionados s variaes de temperatura e umidade, normalmente, ocorrem nos

    ciclos dia-noite, principalmente na entrada e sada do inverno. Verificou-se

    experimentalmente, que a produtividade em ambiente de estufa de lona plstica

    (amplitude trmica entre 15 e 35 oC) foi maior (14% em base mida) que a

    obtida em cmara de cultivo com temperatura constante a 25 oC (11,8%) e, em

    ambiente rstico (estufa de bambu) com amplitude trmica entre 10 e 30 oC. Por

    outro lado, sob condies constantes de 15oC no houve induo dos primrdios,

    os quais prontamente surgiram, quando os substratos de cultivo foram

    recolocados temperatura de 25 oC. No cultivo em estufa plstica, a

    produtividade foi significativamente maior na densidade de 60 Kg do

    substrato/m2 foi significativamente mais produtiva (COLAUTO, 2002).

    A primeira colheita ocorre em aproximadamente 20 dias aps a

    colocao da cobertura, mas para o A. blazei, pode levar meses na dependncia

    do ambiente de cultivo, linhagens e outros fatores biticos e abiticos no

    controlados ou desconhecidos. Por exigncia do mercado, o cogumelo deve ser

    colhido quando alcanar seu maior tamanho, ainda no estgio imaturo, com o

    chapu de formato cilndrico, vu fechado estirpe curto e espesso. Aps uma

    primeira colheita, realizam-se normalmente outras, espaadas de 10 a14 dias,

    denominados fluxos. Todo o ciclo de cultivo completa-se em aproximadamente

    120 dias, quando a colheita comea a tornar-se invivel economicamente. Isso

    significa que sero possveis 3 a 4 ciclos por ano na mesma instalao. O

  • 29

    rendimento economicamente vivel deve ser de 10% de cogumelos frescos ou

    1% de cogumelos desidratados em relao ao peso do composto mido. Quanto

    maior o perodo de colheita menor a quantidades de cogumelos, tanto em massa

    quanto em aspecto, devido incidncia de pragas e doenas (KOPYTOWSKI,

    2002). Dessa forma, a exemplo dos efeitos da amplitude trmica e dos valores

    extremos da temperatura mxima e da mnima, sob condies sanitrias pouco

    controladas maior produtividade obtida com menor densidade de composto por

    rea de cultivo.

    A umidade relativa do ar deve ser controlada entre 70 a 80% (mais baixa

    que o A. bisporus). As irrigaes devem ser feitas de preferncia nos intervalos

    das colheitas, pois os cogumelos tendem a apresentar doenas e nematoides.

    Uma ventilao adequada essencial para reduzir o teor de CO2 a um

    nvel de 400 a 500 ppm, gerado durante as fases de desenvolvimento do

    cogumelo. Na frutificao o efeito danoso provocado pelo elevado teor de CO2

    o alongamento da estirpe, e a prematura abertura do pleo, reduzindo a

    qualidade e produtividade (EIRA, 2002)

    2.7 Colheita e processamento

    Iniciando a frutificao o ponto de colheita deve ser aquele em que o

    cogumelo atinge seu maior peso, associado sua maior qualidade comercial.

    Atualmente, os padres comerciais so estabelecidos pelo mercado exportador

    japons.

    Qualquer que seja o padro, o produtor deve seguir rigorosas regras de

    higiene e limpeza, pois se trata-se sobre tudo de um alimento, lembrando-se

    tambm que ser direcionado a um mercado de exportao que muito exigente

    e, portanto, os riscos de rejeio so grandes.

  • 30

    Assim, uma vez ocorrida s frutificaes o momento correto da colheita

    da Agaricus blazei deve ser estabelecido, pois se for atrasada, o cogumelo

    desenvolve-se muito ocasionando a abertura do chapu (pleo) e, logo em

    seguida, o rompimento do vu, momento a partir do qual inicia-se o processo de

    esporulao e de reaes qumicas que escurecem o cogumelo, diminuindo em

    muito seu valor comercial. Por outro lado, no deve ser colhido muito cedo, pois

    seu peso ser reduzido.

    Na colheita, os cogumelos so escovados, lavados e submetidos

    desidratao (7 a 10% de umidade, em secadores de bandeja vertical ou

    horizontal temperatura de 45 a 60 oC). Apesar desses procedimentos de ps-

    colheita, foram detectados problemas na qualidade sanitria desses produtos

    (ROSA et al., 1999) e, ainda, no existe qualquer legislao para controle de

    qualidade na comercializao do A. blazei no Brasil.

    Os processos de secagem precisam ser bem desenvolvidos, para

    assegurar maior rapidez, evitando-se a proliferao do grupo de bactrias coli-

    aerogenes (Escherichia coli e Aerobacter aerogenes, ambas isoladas em meio

    presuntivo VRB - Violet red bile Agar) no prprio cogumelo e, suas

    caractersticas putrescveis, fazem com que a microbiota aumente a nveis

    imcompatveis com a comercializao do produto (ROSA et al., 1999).

    Tabela 1 Produo de cogumelo Agaricus blazei

    Repetio Peso do cogumelo (g/100 g de composto)

    1 1,54

    2 1,54

    3 1,53

    Mdia 1,53

  • 31

    2.8 Doenas, contaminantes e pragas

    No Brasil, tanto no cultivo do A. blazei como no A. bisporus, o baixo

    ndice de desnvolvimento tecnolgico (qualidade de composto, camada de

    cobertura, geralmente solo sem qualquer tratamento e a rusticidade das

    instalaes de cultivo) so as causas da baixa produtividade, que se agrava com

    incidncia de pragas (moscas Sciaridae) e doenas (COUTINHO, 2000; EIRA,

    2000; FIGUEIREDO; MUCCI, 1985).

    Pragas so animais agentes patognicos, nocivos para os vegetais ou

    produtos vegetais (insetos, caros, fungos, bactrias vrus nematoides, plantas

    invasoras, camundongos, etc.).

    A contaminao em meio de cultura normalmente causada por fungos

    presentes e pertencentes, em sua maioria, classe desses fungos imperfeitos.

    Tambm existem os fungos competidores (saprfitas), que so aqueles que

    competem com o cogumelo o mesmo substrato de cultivo. Alguns desses so:

    mofo verde oliva (aps a pasteurizao) - Chaetomixam olivaceo, mofo rosa-

    Geotrichum sporendonema (fungo do solo), mofo cinza, falsa trufa -

    Diehilomyces microspora, Aspergillus spp e Trichoderma spp.(I seminrio do

    cogumelo Agaricus blazei Murril de MG, 2003).

    2.9 Compostagem

    A compostagem definida como a decomposio biolgica e a

    estabilizao de substratos orgnicos em condies que permitam o

    desenvolvimento de temperaturas termfilas, resultando na produo de calor de

    origem biolgica, com obteno do produto final suficientemente estvel,

    higinico, semelhante a um material rico hmico para disposio e utilizao

  • 32

    sobre os solos, e outras finalidades sem impacto negativo sobre o ambiente

    (MUSTIN, 1987).

    A compostagem um processo dinmico que envolve a atividade

    combinada de microrganismos sendo estes, bactrias, fungos, actinomicetos e

    outras populaes biolgicas; cada gnero de microrganismo ativo na

    decomposio de algumas partculas da matria orgnica. Os mais ativos so

    aerbios e anaerbios facultativos, sendo que a atividade de cada um completa a

    do outro.

    A sucesso da populao reflete o meio ambiente presente devido

    temperatura e os substratos que esto no estado contnuo de fluxo. O substrato

    est envolvido no rompimento de substncias complexas em substncias mais

    simples (RODALE, 1971).

    O conhecimento de como variam as caractersticas fsico-qumicas e

    microbiolgicas do substrato, durante o processo de compostagem, importante

    porque permite, em um dado momento, analisar microrganismos que se generem

    como produtos intermedirios e tenham importncia biolgica e industrial.

    Todos os parmetros ambientais so de grande importncia no processo

    da compostagem e que influi sobre a populao de microrganismos, a grande

    maioria deles esto presentes em grande quantidade em todos os substratos

    orgnicos destinados a ser decomposto. As bactrias, actinomicetos e fungos so

    responsveis por mais de 95% da atividade microbiana que ocorre no processo

    da compostagem (MUSTIN, 1987).

    A identificao da microflora presente no composto permite realizar o

    estudo das funes especficas de cada grupo de microrganismos e determinar

    sua ao potencial, em que rea da nutrio poder se encaixar, sendo

    importante substrato para o cultivo do cogumelo.

    Blandn-Castano, Rodrguez-Valencia e Dvila-Arias (1998)

    encontraram maior quantidade de aerbios mesfilos, leveduras e actinomicetos

  • 33

    no composto onde a umidade est no valor de 74,83% comparada a de 87,90%, e

    tambm no composto onde se tinha maior quantidade de carboidratos solveis

    que era de 69,31% em contrapartida com 61,44%. Permite com isso observar

    que onde se tem maior disponibilidade de nutrientes, ocorreu melhor

    estabelecimento dos microrganismos e as condies fsicas do meio propiciaram

    o crescimento, como aerao e pH.

    Esse mesmo trabalho mostrou que medida que transcorria o processo

    de transformao da matria orgnica, aumentava-se os microrganismos

    aerbios mesfilos e actinomicetos, pois sendo esses importantes na

    transformao da matria orgnica.

    Ocorrem no processo de compostagem inmeras modificaes, pois

    maior parte do metabolismo na compostagem devido s fermentaes, sendo

    que as transformaes ideais ocorrem nas regies onde predominam condies

    aerbicas ou semiaerbicas, que impedem o estabelecimento de microrganismos

    anaerbios estritos, razo pela qual o composto deve ser revolvido com

    frequncia, para que as condies sejam homogneas em todo material

    (BRAGA, 1997).

    O produto da compostagem pode ter inmeras finalidades. A aplicao

    do material no solo produz mltiplos benefcios como: aumentar

    permeabilidade, agregao de partculas, macro e microelementos; corrige a

    acidez, incrementa a populao de microrganismos e melhora a eficincia e o

    uso de nutrientes por parte da planta (RODALE, 1971). usado tambm como

    substrato para a produo de cogumelos comestveis, por ser um composto

    slido com nutrientes necessrios para o desenvolvimento dos mesmos por

    serem organismos saprfitos, ou seja, necessitam do fornecimento de

    substncias orgnicas em decomposio (BRAGA, 1997).

    Mais relacionado a este tipo de finalidade que a produo do substrato

    podemos dividir a compostagem em 2 fases. A fase I inclui a seleo e a mistura

  • 34

    dos ingredientes, onde os mesmos devem estar com grandes disponibilidade e

    volume. Normalmente, isso depender da regio de produo para se obter

    resduos agrcolas e aps sua anlise de composio efetuar o processo. Nessa

    fase a temperatura chega 80C com aquecimento prprio. A fase II comea

    com pasteurizao por 8h com 56-60C e continua com condicionamento por um

    perodo de 7 dias na temperatura de 45C, para volatilizao do NH3 (FLEGG;

    SPENCER; WOOD, 1985; VAN GRIENSVEN, 1988).

    Figura 1 Formula esquemtica da molcula de lignina de confera

    Fonte: Baseada em Adler (1977)

  • 35

    Figura 2 Esquema geral do processo de degradao da lignina

    Fonte: Adaptado de Field e col. (1993)

    Existem vrios parmetros fsico-qumicos fundamentais no processo de

    compostagem que se aborda para um bom resultado no processo de produo do

    cogumelo sendo. Aerao - a compostagem um processo aerbico, sendo vital

    para a atividade microbiana, pois necessitam de O2 para oxidar a matria

    orgnica. Durante o processo a demanda de O2 bastante elevada e a falta pode

    tornar um fator limitante prolongando o ciclo da compostagem.

    Temperatura - a compostagem pode ter regies de temperatura

    termoflica (45 85C) como mesoflica (25 43C). Esse um parmetro que

    serve como fator indicativo do equilbrio biolgico, pois temperatura de 40 a

    60C no segundo ou terceiro dia sinal de que o ecossistema est em equilbrio.

  • 36

    Umidade, no composto este valor est entre 50 e 60%, sendo

    fundamental para a vida microbiana. Um teor de gua muito alto pode impedir a

    eficincia de outros parmetros, como a passagem de oxignio, podendo

    provocar zonas de anaerobiose, mas se esse teor for abaixo de 40% inibe a

    atividade microbiana.

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    0 2 4 6 8 10 12 14

    Tempo (dias)

    %

    Temperatura

    Umidade

    Figura 3 Dinmica da temperatura (C) e umidade relativa do material (%) durante o processo da compostagem

    Relao C/N, os microrganismos necessitam de carbono como fonte de

    energia, e de nitrognio para sntese de protenas. Essa relao deve situar em

    torno de 30; se for mais baixa pode ocorrer grande perda de nitrognio por

    volatilizao da amnia, se for muito elevada os microrganismos no

    encontraram N suficiente para sntese de protenas e tero seu desenvolvimento

    limitado. Independe da relao C/N inicial, no final da compostagem a relao

    C/N converge para 10 a 20.

    A relao C/N pode ser diminuda pela adio de suplementos, pode

    haver inibio do crescimento do fungo. Singh e Verma (1996) estudando fontes

  • 37

    de carbono e nitrognio e interferncia da relao entre esses elementos sobre o

    crescimento de linhagens de Lentinula lateritia constataram que o

    desenvolvimento do fungo foi menor quando a razo foi menor, ou seja, grande

    quantidade de N no substrato em relao ao teor de C, pode ter um efeito

    inibitrio sobre o crescimento desses fungos. Maziero (1990) observou que o

    nitrognio em elevada concentrao reprime a degradao da lignina, retardando

    ou at inibindo completamente o desenvolvimento do fungo. Tambm comenta

    que substratos ricos em N no devem ser utilizados isoladamente para o cultivo

    de cogumelo, devido ao fato de no proporcionarem uma total colonizao do

    substrato e no permitirem a produo de corpos de frutificao.

    Song, Cho e Nair (1987) constataram mximo crescimento micelial com

    a relao C/N de 30:1 e, medida que aumentavam ou diminuam essa razo,

    obtinham menores valores de biomassa microbiana.

    Jong e Birminghan (1992) citaram que a razo entre C e N afetou a

    velocidade de crescimento micelial, qualidade do cogumelo, integridade e

    longevidade dos blocos de substrato durante o ciclo da produo.

    Estrutura - estudos demonstraram que a disponibilidade da rea de

    superfcie diminuiu com o aumento do tamanho da partcula do substrato,

    diminuindo a atividade hidroltica, causando um limitante para agentes

    hidrolticos (ZADRIAZIL; PUNIYA , 1995). Sendo assim, quanto mais fina a

    granulometria, maior a rea exposta atividade microbiana, o que promove o

    aumento das reaes qumicas, visto que aumenta a rea superficial em contato

    com o oxignio.

    PH - no um fator crtico na compostagem, mas nveis muito baixos ou

    muito altos reduzem ou at inibem a atividade microbiana. A passagem fase

    termoflica acompanhada de rpida elevao do pH, que se explica pela

    hidrlise das protenas e liberao da amnia. O pH do meio da compostagem

    depende do substrato de partida. Entretanto, pode ser modificado pelo

  • 38

    metabolismo do microrganismo em crescimento. Os microrganismos anaerbios

    tendem a neutralizar o seu prprio meio se tornando assim mais favorvel

    (MUSTIN, 1987).

    No que se refere composio do substrato, existem inmeras fontes de

    resduos para a produo do composto, isso depender da regio que se encontra

    para facilitar a aquisio, disponibilidade e custo do transporte.

    Bisaria, Madan e Vasudevan (1997) obteviveram um timo resultado na

    produo de cogumelo comestvel utilizando como substrato farelo de arroz e

    trigo.

    Straatsma et al. (2000), utilizando bagao de cana e palha de trigo

    obtiveram um aumento de produtividade de 20% comparado com a formulao

    tradicional que base de palha de capim e esterco de cavalo fresco.

    Em geral, podem-se fazer inmeras formulaes desde que para a

    finalidade que se propem, que o substrato para a produo de cogumelo,

    observa-se a porcentagem de carbono e nitrognio presente nos resduos.

    Dependendo da formulao efetuada, pode apresentar alguma que necessita de

    suplementao devido baixa disponibilidade ou ausncia de alguns nutrientes.

    2.10 Agaricus blazei

    O Agaricus blazei um macrofungo, pertencente ao Reino Fungi,

    Diviso: Eumycota, Subdiviso: Basidiomycotina, Classe: Hymenomicetes

    (Basidiomycetes), Ordem: Agaricales, Famlia: Agaricaceae e Gnero: Agaricus.

    um cogumelo comestvel e apresenta diversas propriedades farmacolgicas,

    com amplo estudo em virtude de sua grande capacidade de aumentar as defesas

    naturais do organismo. Em relao s propriedades nutricionais, o fungo

    apresenta elevado teor de protenas em forma de aminocidos, contm vitaminas

    como: niacina, tiamina e riboflavina (RIBEIRO, 2002).

  • 39

    H mais de 30 anos, o botnico Takatoshi Furomoto, descobriu nas

    regies serranas da Mata Atlntica do Estado de So Paulo, mais

    especificamente na Regio de Piedade, um cogumelo que denominou de

    cogumelo Piedade. Ele verificou que o cogumelo possua propriedades

    medicinais e sem recursos tcnicos para aprofundar os seus estudos, decidiu

    enviar o produto para os Centros de Pesquisas da Argentina e Japo. Os estudos

    no Japo foram iniciados no ano de 1975, mas s em 1996 que os

    pesquisadores classificaram o cogumelo com o nome de Agaricus blazei Murril

    (ABM) e deram incio as pesquisas de suas propriedades medicinais

    (KAWAGISHI; INAGAKI; KANAO, 1989; MIZUNO; HAGIWARA;

    NAKAMURA, 1990).

    Aps a identificao, comearam as pesquisas e descobriram um

    polissacardeo (principalmente b-glucan) que atuava como substncia

    antitumoral. Pesquisas revelam que o polissacardeo b-glucano atua no

    organismo humano aumentando as funes imunolgicas, acarretando o

    aumento de macrfagos, NATURAL KILLER CELL (NKC), clulas T, clulas

    B e clulas complementares, evitando a regenerao e metstase do cncer

    (MIZUNO; HAGIWARA; NAKAMURA, 1990).

    No Japo, o Agaricus blazei recebe o nome comercial de Himematsutake

    ou Kawariharatake. Atualmente cultivado no Brasil, principalmente nos

    estados de So Paulo, Paran e Minas Gerais. No Brasil recebe o nome

    comercial de Cogumelo do Sol e tambm conhecido popularmente como

    cogumelo de Deus, cogumelo princesa e cogumelo piedade (KAWAGISHI;

    INAGAKI; KANAO, 1989).

    Os pases da sia e da Europa tm a tradio no consumo e cultivo de

    cogumelos. Agaricus bisporus e Lentinula edodes so cogumelos mais

    consumidos no mundo.

  • 40

    Toda a tecnologia da produo do Agaricus blazei segue os passos do

    cogumelo Agaricus bisporus, em que sua histria vem a partir de produtores de

    melo que utilizavam palha suja de esterco para aquecer o seu cultivo

    verificaram o aparecimento de champignon na palha. Essa palha foi levada para

    cavernas e nelas os produtores comearam a obter cogumelos aps 4 a 12 meses

    de espera. No Reino Unido o cultivo data de 1870. A tecnologia de produo de

    miclio ou matriz para a cultura foi descoberta entre 1893 e 1905 e foi sem

    dvida o passo fundamental para o desenvolvimento da produo de

    champignon em todo o mundo.

    Durante a 1a. e 2a Guerra Mundial quando a Frana foi invadida, esse

    cultivo de champignon em cavernas permitia a produo de alimentos fora das

    vistas do inimigo e, portanto mais difcil de ser perdido. Confiscada a

    necessidade e outras dificuldades advindas a guerra levou ao desenvolvimento

    da cultura do champignon e principalmente da produo de blanche ou

    spawn ou seja, o material necessrio para semear a espcie (CHALLEN et al.,

    2000).

    A partir da a evoluo do cultivo foi rpida. A produo passou a ser

    realizada em casa de alvenaria, modulares, com estantes permitindo o mximo

    aproveitamento de espao e controle das condies ambientais. Da Frana o

    cultivo se espalhou por outros pases da Europa e Estados Unidos onde

    peculiaridades locais introduziam novidades no cultivo (BONONI, 2002).

    O cultivo de cogumelo est diretamente ligado a reciclagem econmica

    de resduos agrcolas e agroindustriais, tais como o esterco bovino, equino, de

    aves, porcos e outros animais domsticos, palhas e outros resduos do trigo,

    arroz, milho, algodo, madeira, bagao de cana, resduos de serrarias e muitos

    outros (COCHRAN,1978; CHANG; MILES, 1984, 1989).

    Alm da versatilidade metablica, outro apecto que ressalta a

    importncia dessas fontes alternativas de protena no convencional, o elevado

  • 41

    potencial metablico desses microrganismos, pois o tempo de gerao da

    maioria dos fungos de apenas algumas horas (PRYBYLOWICZ;

    DONOGHUE, 1990; ZADRAZIL; DUBE, 1992).

    As propriedades medicinais e nutracuticas de alguns cogumelos

    tambm vm incrementando o seu valor agregado. Os cogumelos j eram

    utilizados desde os tempos mais remotos com finalidades medicinais para

    combater hemorragias, clicas, feridas, asma, e outros problemas. Algumas

    tribos indgenas brasileiras usavam Pycnoporus sanguineus (orelha de pau cor

    vermelho intenso), para a cicatrizao de feridas. (BONONI et al.,1995).

    Os cogumelos so riqussimos em vitaminas e sais minerais, o que os

    qualificam como nutricuticos dotados de comprovada capacidade nutririva,

    juntamente com vrios princpios ativo neles contidos, dotados de elevada

    capacidade, imunomoduladores, inclusive antitumoral e antiviral. O isolamento

    e identificao bioqumica e molecular dos princpios ativos dos cogumelos so

    glucanas, AHCC (Componente ativo de hemi-celulose), ergosterol e

    adrenocromo.

    Glucanas: o cogumelo de sol foi profundamente estudado pelo Prof.

    Ghoneun na UCLA, um dos mais conceituados centros de pesquisas do mundo,

    em cancerologia, que demonstrou que o extrato aquoso do Cogumelo do Sol,

    injetado em camundongos, fazia aumentar de maneira significativa a contagem

    de clulas NK (CD- 56), as quais so componentes do sistema imunolgico com

    poder destrutivo por citlise de clulas neoplsicas citado por Veronese (2002).

    Ergosterol: recentemente em 2001, Takaku & Cols., no Japo, isolaram

    uma frao lipdica do cogumelo Agaricus blazei, com atividade antitumoral que

    foi identificada como Ergostrol. Administrado por via oral em camundongos

    com Sarcoma 180 permitiu aps 20 dias, uma reduo significativa do tumor,

    sem quaisquer efeitos colaterais. O mecanismo de ao do ergosterol foi

    comprovado ser a inibio da angiognese. Tais achados permitiram incluir o

  • 42

    ergosterol como substncia antiangiognica natural, contida no cogumelo

    Agaricus blazei e, desse modo ampliando o atual armamentarium antitumoral.

    Recentemente, estudos in vivo em laboratrios do Japo, utilizando

    fraes de extratos hidro-alcolicos de Agaricus blazei, apontaram para uma

    substncia com forte atividade antitumoral, polissacardeos de ligao beta (beta

    glucanas), associado a protenas, formando um complexo glico-proteco de

    ligao (1-6) b-D-glucan-protena (MIZUNO; HAGIWARA; NAKAMURA,

    1990).

    Por outro lado, existem dvidas quanto s propriedades nutracuticas

    dos cogumelos, quando consumidos na forma de ch, tal como propolado pela

    mdia sobre extratos hidrossolveis, obtidos por fervura, j existindo dados sobre

    efeitos hepatotxicos desses tipos de extratos (EIRA et al., 2000). Outras

    dvidas esto relacionadas s linhagens em cultivos, doses e estgio de

    desenvolvimento do basidioma.

    A quimioproteo do cogumelo Agaricus blazei na hepatocarcinognese

    induzida, est sendo estudada em leso pr-neoplsicas no fgado de

    camundongos machos Wistar, nas etapas de pr e ps-iniciao, induzidas pela

    dietilnitrosamina. Os resultados indicam que o tratamento com A. blazei no

    causam toxidade heptica e renal e apresentam efeitos hepatoprotetores, para

    doses moderadas do agente hepatocarcinignico dietilnitrosamina (BARBISAN

    et al., 2002).

    2.11 Fungos termoflicos

    Entre os fungos, somente algumas poucas espcies tm a capacidade de

    crescer a temperatura relativamente alta e podem ser subdivididas em 2

    categorias: a dos fungos termfilos (aqueles que possuem temperatura mnina de

  • 43

    crescimento acima de 20oC e temperatura mxima de crescimento acima de 50

    oC).

    Esses fungos fornecem um excelente sistema para estudos bioqumicos e

    fisiolgicos, principalmente para aqueles fatores relacionados com estabilidade

    de suas enzimas e protenas. Fungos termoflicos podem ser empregados em

    vrias atividades humanas de interesse econmico, atuando diretamente na

    produo da compostagem, por exemplo, e apresentando alto potencial em

    matria-prima para a indstria, devido estabilidade de suas enzimas a altas

    temperaturas. Normalmente, a ocorrncia de fungos termfilos est relacionada

    a trs fatores: disponibilidade de matria orgnica para decomposio, umidade

    adequada e condies de aerobiose. Entre os fungos termfilos podemos

    encontrar representantes dos gneros Phycomycetos, Ascomycetos e outros

    fungos imperfeitos.

    A celulase uma das enzimas secretadas pelos fungos termfilos em

    ocasies que lhe convm. O sistema celulase em fungos compreende 3 enzimas:

    a endo (1,4) b-D- glucanase (ou simplesmente endoglucanase) a qual cliva

    aleatoriamente ligaes b-glicosdicas, normalmente nas partes amorfas da

    celulose, a exo (1,4) b- glucanase (exoglucanase) a qual libera celobiose das

    extremidades redutoras e no redutoras, geralmente da poro cristalina da

    celulose e a b- glucosidase (celobiase), que libera glicose da celobiose

    (BHARADW; MAHESHWARI, 1999).

    Diversas observaes tm correlacionado a liberao das enzimas do

    sistema celulase com a degradao da celulose e o crescimento do miclio. Em

    geral, a celulose cristalina parece ser superior na induo das enzimas da

    celulase em fungos termfilos em relao s formas amorfas (HAASUM et al.,

    1991), embora alguns fungos tremfilos tenham apresentado comportamento

    oposto, com altas produes de enzimas do sistema celulase quando crescidos

    em meio contendo hemicelulose (KALOGERIS et al., 2001).

  • 44

    As endoglucanases de fungos termfilos so termoestveis, com massa

    molecular de 30 a 100 kDa, com atividade tima entre 55 e 80 oC entre pH 5,0 a

    5,5. As exoglucanases (40 a 70 kDa) so mais ativas entre 50 a75 oC e so

    tremoestveis. Ambas as enzimas so glicoprotenas e ensaios realizados aps

    desglicosilao indicaram forte reduo na atividade cataltica, sugerindo que a

    presena do carboidrato importante na estabilizao da estrutura enzimtica

    (KALOGERIS et al., 2001).

    Xilana um polissacardeo estrutural mais abundante na natureza. Sua

    completa degradao requer a ao cooperativa de uma variedade de enzimas

    hidrolticas: a endoxilanases (cliva aleatoriamente resduos de xilose ligados por

    b-1,4), b-xilosidases (hidrolisa xilooligmeros); e diversas enzimas (a-

    glucoronidase,a- arabinosidase, etc.) que liberam outros acares que esto

    ligados lateralmente ao esqueleto de xilana (BIELY, 1985). As xilanases de

    fungos termfilos tm recebido especial ateno pela possibilidade de sua

    utilizao na indstria de papel, onde a remoo enzimtica das cadeias laterais

    de xilana ligadas lignina elimina o tratamento qumico realizado com o cloreto,

    reduzindo custo do processo de clarificao do papel.

    Tendo essas enzimas termoestveis no processo de compostagem, pela

    alta presena de fungos termfilos, ocorre o interesse de se estudar os

    metablitos presentes durantes o processo para uso posterior nas indstrias como

    forma de degradao da fibra sem produtos qumicos que podem afetar o meio

    ambiente, trazendo degradaes futuras.

  • 45

    3 COMPOSTO

    A compostagem praticada desde a histria antiga, porm at

    recentemente, de forma emprica. Gregos, romanos, e povos orientais j sabiam

    que resduos orgnicos podiam ser retornados ao solo ou para alguma outra

    forma de utilizao. No entanto, s a partir de 1920, com Albert Howard, que

    o processo passou a ser pesquisado cientificamente e realizado de forma

    racional. Nas dcadas seguintes, muitos trabalhos cientficos lanaram as bases

    para o desenvolvimento dessa tcnica, que hoje pode ser utilizada em escala

    industrial. Esse processo pode ser definido como uma bioxidao aerbica

    exotrmica de um substrato orgnico heterogneo, no estado slido.

    Os componentes orgnicos biodegradveis passam por etapas sucessivas

    de transformao sob a ao de diversos grupos de microrganismos, resultando

    num processo bioqumico altamente complexo (EPSTEIN,1998).

    A quebra da parte lignocelulsica consiste em trs maiores

    componentes: celulose, hemicelulose e lignina co 50%, 20-30% e 10-20%

    respectivamente. Contudo tecnologias fsicas e qumicas, em alguns casos,

    importantes associaes ocorrem para o tratamento ou reutilizao dessa quebra,

    semelhantes bioconverses so essenciais para uma rpida converso prtica

    desses processos. Existem processos economicamente viveis para a

    bioconverso da quebra da parte lignoceluloltica que o cultivo de cogumelos.

    (CHANG; MILES, 1991). Os cogumelos so alimentos de funo nutricional

    (BUSWELL; CHANG, 1993), e mais recentemente, a ateno foi focada para

    uma rea secundria de explorao com a descoberta que alguns cogumelos

    produzem metablitos de grande interesse nutricional e farmacutico

    (antitumorais, agentes de imunomodulao e agentes hipocolesterol) (LIU; OOI;

    CHANG, 1995; MIZUNO et al., 1995) e alimento (componentes de flavours)

    industriais (JONG; BIRMINGHAM, 1992).

  • 46

    Cogumelos so adaptados a se desenvolver em vrias fontes

    lignocelulolticas, incluindo dessa maneira materiais como gros de cereais,

    palhas, algodo de indstrias txtil (CHANG, 2001), bagao de cana e polpa de

    caf. A utilizao desses subprodutos insolveis por cogumelos dependente da

    produo e secreo de enzimas hidrolticas (xilanase e celulase) e oxidativas

    (lacase, peroxidase e glicosidase) que quebram as macromolculas de celulose,

    hemicelulose e lignina em molculas menores, importantes para seu

    desenvolvimento (BUSWELL; CHANG, 1993). A produo dessas enzimas no

    miclio do cogumelo parte crucial para o processo de colonizao. A

    proliferao das enzimas varia de acordo com o cogumelo e o substrato utilizado

    no cultivo.

    Como se sabe o Brasil rico em subprodutos da agricultura, sendo a

    cana-de-acar de grande importncia scioeconomica para o pas. Sendo o

    bagao um subproduto da indstria aucareira, e de interesse para os

    produtores de cogumelo por ser rico em fibras, com 48% do seu peso, sendo

    utilizado posteriormente ao processo de compostagem.

    Dessa maneira, aps a produo de cogumelos se tem um subproduto

    das indstrias de cogumelos, sendo um material com baixo teor de fibra e rico

    em protenas, pela presena de miclio envolto no substrato e nitrognio

    aminoacdico devido atividade de proteases e, estudos in vitro durante

    fermentao slida, essa presena justifica-se pela perda de CO2.

    (RAJARATHNAM; BANO, 1988).

    O grau de decomposio do substrato pode ser avaliado atravs da

    medida das substncias solveis em gua liberadas ou acares liberados.

    Segundo estudos apresentados por Rajarathnam e Bano (1988) h um aumento

    progressivo das substncias solveis em gua durante o cultivo de Pleurotus

    flabelattus em palha de arroz e palha de trigo, sendo que o substrato residual

    apresentou 4 vezes mais acares solveis que a palha no degradada.

  • 47

    Constatou-se tambm uma diminuio progressiva dos compostos

    fenlicos com o aumento do perodo de incubao, devido atividade das

    enzimas oxidativas, secretadas pelo Agaricus e que degradam fenis.

    Estudos com Pleurotus e Agaricus demonstraram que a diminuio no

    teor de celulose encontrada foi maior durante a frutificao devido alta taxa

    metablica do cogumelo nessa fase de construo dos corpos de frutificao

    (RAJARATHNAN; BANO, 1989).

    A degradao de lignina por Agaricus spp atravs da lacase maior

    durante a fase de colonizao do substrato pelo miclio. A quebra da lignina

    permite a liberao de celulose e hemicelulose nessa primeira fase do ciclo de

    vida facilitando o acesso das mesmas para a degradao enzimtica

    (RAJARATHNAN; BANO, 1989).

    3.1 Substrato ps-produo de cogumelo

    O grau de decomposio do substrato pode ser avaliado atravs da

    medida das substncias solveis em gua liberadas ou acares liberados.

    Segundo estudos apresentados por Rajarathnam e Bano (1988) h um aumento

    progressivo das substncias solveis em gua durante o cultivo de Pleurotus

    flabelattus em palha de arroz e palha de trigo, sendo que o substrato residual

    apresentou 4 vezes mais acares solveis que a palha no degradada.

    De acordo com os mesmos autores h uma tendncia de aumento no teor

    de nitrognio aminoacdico no substrato residual devido atividade de proteases

    e estudos in vitro durante fermentao slida, esse aumento justifica-se pela

    perda de CO2.

    Constatou-se tambm uma diminuio progressiva dos compostos

    fenlicos com o aumento do perodo de incubao, devido atividade das

    enzimas oxidativas, secretadas pelo Agaricus e que degradam fenis.

  • 48

    A diminuio no teor de celulose do substrato depende da espcie

    cultivada e da quantidade produzida. Estudos com Pleurotus e Agaricus

    demonstraram que a diminuio no teor de celulose encontrada foi maior

    durante a frutificao devido alta taxa metablica do cogumelo nessa fase de

    construo dos corpos de frutificao (RAJARATHNAN; BANO, 1988).

    A degradao de lignina por Agaricus spp atravs da lacase maior

    durante a fase de colonizao do substrato pelo miclio. A quebra da lignina

    permite a liberao de celulose e hemicelulose na primeira fase do ciclo de vida,

    facilitando o acesso das mesmas para a degradao enzimtica

    (RAJARATHNAN; BANO, 1988).

    3.2 Composto na alimentao animal

    Aps o ciclo de produo, os substratos utilizados podem servir como

    fertilizantes no solo, uma vez que so ricos em nutrientes. Esses substratos

    podem ainda ser reciclados, misturando-se a outros materiais orgnicos e

    servindo como material para terra de cobertura no cultivo do champignon.

    Resduos lignocelulsicos podem ainda ser aproveitados como rao

    animal aps o processo de bioconverso por fungos basidiomicetos. Nesses

    casos, a fermentao slida aumenta a digestibilidade do substrato

    lignocelulsicos destinados para alimentao de ruminantes. A digestibilidade

    da palha de trigo pode ser incrementada utilizando-se Pleurotus spp. em

    experimentos em reatores, em larga escala. Por outro lado, no Chile pode-se

    observar a ocorrncia de um processo de biodegradao em condies naturais,

    denominado de Palo Podrido. Troncos de rvores que ocorrem naquele pas,

    como Drymis winteri, Eucriphia cordifolia, Laurelia phippiana e Nothofagus

    dombeye, so degradados por uma espcie de basidiomiceto causador de

    podrido branca, Ganoderma applanatum. O material resultante desse processo

  • 49

    de degradao utilizado como forragem para ruminantes, uma vez que aps a

    degradao da lignina o substrato torna-se mais digervel e h ainda, um

    aumento do teor proteico do substrato (BONONI,1999).

    Zhang, Gong e Li (1995), estudando compostos de Pleurotus ostreatus

    com inculo de Aspergillus candidus, concluiram que ocorreu um aumento de

    protena bruta de 24,1 para 36,7 e uma diminuio de fibra bruta de 14,8% para

    9,8%. E quando analisou aminocidos houve um aumento tanto nos totais como

    essenciais, concluindo a efetiva utilizao pelo composto na alimentao animal.

    Bisaria, Madan e Vasudevan (1997) estudaram a bioconverso do farelo

    de arroz e de trigo com Pleurotus sajor-caju, analisando degradao de

    hemicelulose, celulose e lignina ocorrendo um decrscimo de 25,6% para

    14,4%; 35,8% para 17,9% e 17,2% para 9,5%, respectivamente. A protena

    bruta aumentou de 2,87% para 6,3%; e a digestibilidade in vitro aumentou de

    19,7% para 29,8%. O segundo experimento analisou suplementao de

    nitrognio orgnico e inorgnico na bioconverso avaliando os mesmos fatores

    acima; o nitrato de amnio resultou no mximo 34,7% de matria orgnica

    devido provvel boa assimilao de nitrognio. A atividade mxima de

    xilanase ocorreu aps 20 dias da fermentao.

    Zadrazil e Puniya (1995) estudaram a degradao do composto para

    aumentar a digestibilidade da lignina presente no bagao de cana com Pleurotus

    spp, com diferentes fraes. Concluindo que nas fraes de bagao no

    apresentaram diferenas significativas para porcentagem de lignina e carbono,

    mas houve um acrscimo na digestibilidade e contedo de nitrognio na menor

    frao de bagao (< 1mm).

    Alm de se observar pesquisas em nvel de substrato de cogumelo, para

    alimentao, temos que ressaltar a importncia do corpo de frutificao

    (basidiocarpo), em nvel de substituio ou suplementao na rao animal.

    Sendo relevante seu interesse por atuar em vrios campos de funcionamento no

  • 50

    organismo, tanto animal como humano podendo citar: nvel de protena, ao

    anticoccidiana, ao antibitica e ao sobre a vitamina D2 (ergosterol).

    Mizuno et al. (1998) trataram fmeas de ratos, via oral com fraes

    solveis de gua quente de Agaricus blazei e compararam com ratos tratados

    somente com soluo salina. O principal componente ativo do polissacardeo foi

    complexo de a-1,6 e a-1,4 glucanas. Os resultados demonstraram que os

    polissacardeos de Agaricus blazei iniciam uma atividade antitumoral atravs da

    modulao da resposta do sistema imune em fmeas de ratos de laboratrio com

    tumores.

    Fuini (2001) testando a utilizao do cogumelo Agaricus blazei com

    funo de antibitico na rao de frango de corte analisou o desempenho e

    espessura das microvilosidades e os resultados mostraram que no houve

    diferena significativa para consumo de rao, mas que a porcentagem de 0,25%

    do cogumelo na rao, melhorava o ganho de peso e a converso alimentar no

    perodo de 1 a 21 dias de idade. Com relao resposta do sistema imune no

    foi influenciado comparado com a testemunha, isso foi devido ao tempo

    pequeno de atuao do composto ser reduzindo para sua ao visto que, os

    resultados so observados com mais de quarenta dias.

    3.3 Probiticos

    Os probiticos foram definidos por vrios autores, como organismos ou

    substncias que contribuem para o equilbrio da microbiota, sendo atualmente

    utilizados como promotores de crescimento, em substituio aos antibiticos

    (PARKER citado por SUIDA, 1994).

    Os probiticos podem ser definidos ainda como uma cultura de

    microrganismos vivos, principalmente o Lactobaccilus sp, que alcanam o trato

    digestivo do animal por meio do alimento e garantem o efetivo estabelecimento

  • 51

    da populao intestinal de microrganismo. A cultura deve consistir de uma

    quantidade especfica da bactria presente, ser mantida na forma desidratada

    para fins de armazenamento e produzir uma resposta tima de uma dose

    especfica (CRAWFORD, 1979). Os probiticos so microrganismos naturais do

    intestino que, aps dosagem oral estabilizam e colonizam o trato gastrintestinal,

    evitando a colonizao de microrganismos patognicos, assegurando assim

    melhor utilizao dos alimentos (WOLTER; HENRY citado por SUIDA, 1994).

    Outro conceito, o de Fuller (1988) define que probitico um

    suplemento aditivo de rao constitudo por um agente microbiano vivo, que

    atua beneficamente no hospedeiro, melhorando o equilbrio da microflora do

    intestino. O autor menciona tambm que o efeito dos probiticos nulo quando

    os animais no esto contaminados com microrganisamos patognicos.

    Os probiticos em sua maioria tm como organismos ativos os

    Lactobaccilus, os Streptococcus, os Bacillus a as leveduras, usados isoladamente

    ou associados (ZUANON, 1995).

    3.3.1 Modo de ao dos probiticos

    O modo de ao dos probiticos no est totalmente esclarecido,

    existindo vrios conceitos, explicaes e hipteses, de acordo com os diversos

    pesquisadores.

    Os probiticos atuam inibindo a proliferao de bactrias patgenas pela

    produo de cidos orgnicos e substncias antibiticas ou pela reduo do pH.

    Bactrias como os Lactobaccilus so capazes de produzir grandes quantidades

    de cido lctico e tambm cidos orgnicos, como o cido actico prejudicial

    para E.coli, e algumas bactrias gram-negativas. Essas bactrias benficas

    tambm atuam produzindo enzimas digestivas, sintetizando vitaminas,

    produzindo metablitos capazes de neutralizar toxinas bacterianas in loco ou

  • 52

    inibindo sua produo; ainda aumentam a imunidade da mucosa intestinal, em

    resposta s bactrias enteropatognicas que proliferam no trato digestivo,

    competindo assim, com as bactrias patognicas (FERKER, 1999).

    Ewing e Cole (1994) descreveram que os Lactobacilos so capazes de

    influenciar a atividade das enzimas dos microvilos, as quais esto envolvidas no

    processo de absoro dos nutrientes e dessa forma, beneficiar o hospedeiro.

    A maioria das teorias descritas, a que tem se destacado a teoria da

    excluso competitiva. A excluso de bactrias patognicas pode ocorrer devido

    competio por stios de adeso s clulas do epitlio do intestino delgado, onde

    bactrias como Lactobacillus retardam e previnem a proliferao de bactrias

    patognicas, ocupando os stios de adeso ou produzindo um biofilme, que

    protege fisicamente as clulas epitelias, inclusive contra viroses (GEDEK citado

    por ZUANON,1995).

    Os probiticos devem ser estveis nos alimentos e resistentes ao de

    agentes antimicrobianos presentes nas raes e no trato digestivo, sendo tambm

    estvei

top related