cantar de galo, autor juan toro
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Cantar de Galo
Uma obra de:Juan Toro
São Carlos2015
Diagramação:Vagner Shirikawa
Fotografia Cantar de Galo:Manuel Andrade
SumárioCantar de GaloContrabandoMelodiasManifestaçõesVentosSímbolosPólvoraDesprovidoSabedoriaAmanhecendoVamos brigar?HistóriasMetáforasMundo do gigante senhorPolítica de letrasLáAquiCorpoDia frioMundo costumaTrama-seSonsRodasIdade passaDiferenciarFiguraOriundoTempoFechadura
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Cantar de GaloJuan Toro
Cantar de Galo
O cantar dos bárbaros selvagens dos dias tênues estão sendo alterados pelos olhares das pessoas urbanas e cotidianas. Secretas inundações e pontes que-bradas ultrapassadas pela força da natureza que urge e insiste em falar mais alto, em declarar o fim de uma arquitetura falha ou seja negativa. Queda econômica, não importa. Com o que há dá e sobra, com ordem e vontade o homem voa para onde quiser, instaurando a razão desvelada e agora pronunciada. Poder ao presente, poder às mãos ativas e incansáveis das gerações que brotam.
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Cantar de GaloJuan Toro
Contrabando
Contrabando de peixes gordosfamintos de peixinhosde sardinhas apenascontrabando de corposenlatados com etiqueta do impérioregistrado pelo sorriso do bom negocioque deu certo
contrabando de pessoasde um lado a outrocontrabando e roubo da paisagemdo gado e das hortas.
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Cantar de GaloJuan Toro
Melodias
Melodias que expulsam as autoridadesMelodias vitoriosasMelodias popularesExpulsam autoridades
Sons de diversas marcaçõesVibração da forçaAtitudes populares
Guerra civil em pleno cenário Praças e casas governamentaisAtacadasPor quebra de contrato
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Cantar de GaloJuan Toro
Manifestações
Manifestação inconscienteDas palavras que se escrevemSem notar o tempoNem o desapego
Manifestação corrente que caminha sem destinoSem hora definidaNem da saída nem da volta
Manifestação em ruas e edifíciosTranscurso conhecido
Inconsciente até que não tantoCompartilha carinho e calor do mesmo asfaltoEstica as mãos ou faz comentário
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Cantar de GaloJuan Toro
Ventos
Ventos que mordem o sossego Corrompidos fios em estômago rígidoVentos que dissipam telhadosIncorretos augúrios do não planificado
Lerdos sintomas da fatiga em manteigaAmortecida pela luz que entra da janelaAberta
Cortinas fugitivas e erguidasDinâmica paranóia Contagiosa rima
Eloquência da pouca razãoFeito migalha de ontemFeito sobra de ontemFeito aproveitamento de ontemFeito de ontem e de ontem de ontem
Ventos fuzileiros da tarefa Aniquilada ficção do cego perpetuo Sem nexoAberto por inteiro Esfaqueado e abertoGarganta AtéUmbigo Aberto
Lerdos intestinos que morrem Hemorragia deste corpo abertoFatalidade em ventoForma de verso sem temperoÁgua sem oxigênio.
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Cantar de GaloJuan Toro
Símbolos
Símbolos são metáforasMetamorfoseada com o tempoCom a corrente que leva e transformaInvisível no arEternos signos sem prevalência universal
Dizeres e só comentaresIrados se tiverem sorteMornos caso sejam rasos
Murmúrios apenas
Letras esparramadasConvulsionadas no corpo do homemEspécie vaga e imprecisa
Devota por natureza ao entornoFormador e castradorDias de semanasHoras de relógiosMeses personificados em astrosDistantesNunca tocados
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Cantar de GaloJuan Toro
Pólvora
Pólvora em forma de grama verdeCrescendo solitária na terra desertaMistura de nada e todo no abandono
Infertilidade forçada pelo galope Marchas sangrentas com cheiro mutiladoCom pedaços de orelhas esparramadasEntre tanta extensão de terra e nadaDe deserto e todo despedaçado
Assassinos modernos sem presença nos ilustres dicionários Enciclopédias que omitemOu fazem parteDo todo e nada da grama solitária.
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Cantar de GaloJuan Toro
Desprovido
Desprovido dia quenteSem manteiga e sem pão velhoSem água e sem luzSem roupa limpaSem nenhuma necessidade sendo atendida
descuidado dia quentemodifica a geografia populações urbanas ignoradas e afastadas
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Cantar de GaloJuan Toro
Sabedoria
Algumas sabedorias se escondem em sombras de insetos minúsculosAlgumas informações transitam pelos viadutos Pelos corredores de má reputação onde a mulher ou homem de pouca sorte matam as horas
Golpes Manchetes de jornais especuladoresDifamadores e caricaturistas convictos
Algumas boas e inteligentes palavras estão escondidas em templos sem tetoInformações que voam sem destinos nem receptoresNada
Algumas boas redações que perdem-se na água infetada por químicosPor corrente elétrica
Fluída Extensa matéria
Inaudita e prosaica figuraIlesa e ofensiva molécula de massa pensante Transportadora de expressões em tom forteRetumbante sem sossegoAtento e medronhoPalavras de caráter universal sem roupagemNem etiquetas
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Cantar de GaloJuan Toro
Amanhecendo
Antes de amanhecer devo lembrar algumas palavras de educa-ção corrente, antes de sair de casa puxo toda informação perti-nente, desde o caminho a ser percorrido até a hora de voltar. An-tes de mais nada pretendo estar ajustado nas atividades que irão vir, sejam elas gratas ou ingratas. A linguagem cotidiana possui a sua mala que é esvaziada e preenchida todos os dias da semana, do mês, da década.
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Cantar de GaloJuan Toro
Vamos brigar?
Briguemos pela igualdade imediataDesde hojeBriguemos e compartilhemos tudo
As excentricidades úteis eAs casas luxuosas são dos órfãosDos idososDos doentes
Vilarejos para todos nós Quintal com arvores frutíferasBrincadeiras de criançasPlantio perto
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Cantar de GaloJuan Toro
Histórias
Histórias em guerras caóticasPessoas ilustres que sacrificam a gargantaPor uma bala que nada pesaQue não vale nada
Morto por mortoPor estorvo nos bolsos dos interesses dos bigodesDos modernos empresáriosCarismáticos e comprometidos com o ambiente sem eco
Morto por ser pedra entre os dedinhos dos pésPor ser aquele que pelas noites atormentaPor ser um vivo por morrer
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Cantar de GaloJuan Toro
Metáforas
Metáforas que mexem na cabeça do boiUma coisa colada na testaDa metade que se foi
Eternamente nasceNa face indecente da genteQue se dá na cidade
Abra sua caraPor trás do morto moçoSerpenteCabra Moço sem ossosNada vemos na verdadeMas ganhamos e abrigamos na cidade
Antigos dentes densosQue não misturam nem entendemA doença que não tem curaMas que de repente desafia o menino saudávelQue cresce sem mal nem febreAlma que se doa a simplicidade
Um ar coadoUm quadro que produz liraUma luz em paralelepípedoUm olhar lá em GréciaCristandade refrataria
Por ser cidadeUrbana sem dor
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Cantar de GaloJuan Toro
Mundo do gigante senhor
No mundo do gigante senhorHá uma princesa que está à vendaAcorrentada em pescoços de bois
Uma senhorinha que choraQue possui marcas de escravidão
No mundo gigante há um senhorQue vende crianças virtuosasEm canto ou dançaArtes de máxima articulação
No mundo do gigante senhorHá espaço para sofisticaçãoHá pessoas para grandes obrasEtcétera e tal
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Cantar de GaloJuan Toro
Política de letras
Ela espalhou o melhor que podiaPelas nossas máximas expressõesGrande e suave mentiraQue late e faz suor no contato que tomou formaFez natureza virgem ser constrangidaEm minutas não lidasGuardadas por alguns que povoam religiõesMitos submetidos aos encantamentos das feras em floresInfantis refletores de tristezasSem peso nem transcendênciaRomances Ficção em literaturaEm prateleira na livreiraDia seguinte morre sem suspiroPor ser indefinidaPolítica de letras
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Cantar de GaloJuan Toro
Lá
Do outro lado da nação observo corpos que entregam-se à dor e ao prazerEspalhando cáries entre os filhos que não possuem de chão nem sombraSomente silêncio e a reza que costuma insinuar a residênciaDo menino ou mamilo da criança assumida, adolescenteIndolente futuro de um cotidiano um pouco obscuroIntransigente para o singelo pulmãoQue somente ativa no respiroDiário espinho da vidaEstranha e familiarSem ponto final
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Cantar de GaloJuan Toro
Aqui
Um versoSe faz de letras fortesEm muros de batalhasPenetrantes nas fronteirasInteragindo com aliados distantesAcordando e estreitando laços consoantesEntre rimas e obstáculos distintivos e decorativosEspalhados pelos ventos, esparramando pelo ar vestígios em frasesMisturam toda sabedoria acumulada em um corpo queimado pelo solDiário e que asfixia as entranhas, costelas, garganta e estômago nas noites.
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Cantar de GaloJuan Toro
Corpo
Aventura pessoalDe mostrar que o corpo pode maisDo que aparentaO corpo é instrumento de lutaForça social em estrutura
Única verdade absolutaMaior ferramenta de luta!
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Cantar de GaloJuan Toro
Dia frio
Dia frio de sabor frescoSem cachorros na ruaO bairro esta em silêncioTodos fugiram da praga que está vindoDe algum local sem procedência ReconhecidaOlhadaImpossível fazer combateNestes dias onde o ar é o maior inimigoDo corpo humano deste bairroDesta vila despovoada
Dia frio e solitárioDia fresco com ar correndoVento que dizem infetadoTodos correm e euDou-me a chance de dormirEm cada noite num lugar diferenteNuma casa abandonada pelos medrosos que não ficamPor medo da morte que eu não tenho
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Cantar de GaloJuan Toro
Mundo costuma
O mundo costuma ser agradável Para com quem se arriscaUma ida sem voltaGloria ou enterroCidadão modernoOu atrasado na precariedade De pensar e atuar No tempoCorrido e até planejadoEstratégico dia mundanoEm cristal que quebraOu é adorado
Sorte para quem arriscaNão ser cozinhado
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Cantar de GaloJuan Toro
Trama-se
Enquanto trama-se alguma fábulaA primavera vá tecendo seus sentidosGrudando folhas com tintasEnquanto o sol corre, surge e someEnquanto a lua corre, surge e someHomem que correSurge e someEnquanto haja vontade cria-seMelhores histórias explicativasObjetivas em metáforas lembradasTransmitidas de orelha em orelha.
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Cantar de GaloJuan Toro
Sons
Sons que surgem por trás das sombrasDos tambores ou cordasSons que surgem e detonam Fossem bombas
Dentro do ouvido um ritmoMexendo os sentidosCutucando os batimentos cardíacosUm som que desprende invisível Sensações forçadasAtivas pelas notas pronunciadasEm cada som emitidoNos assobios e gritos prolongadosQue entram fazendo estrago
Sons que surgem caindo das nuvensOu brotando por terraTransportada por bicos emplumados Constantes
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Cantar de GaloJuan Toro
Rodas
Falar das rodas que giram com forçaAvançando e comendo corpos que cruzam Explodindo o crânioJoelhos sem nexo com as coxas
As rodas
Falar do pedaço de ferro elétricoDo carente de educação As rodas que correm com velocidade de fantasiaEstúpido movimento que não me dá tempo
Desviar nuncaPor que não existe essa remota chancePor que não dá tempoNão se anda a lugar nenhum de forma seguraAs rodas comandam a história das ruasSujas rodasViolentas estruturas
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Cantar de GaloJuan Toro
Idade passa
A idade passa sem ser notadamesmo que sendo rabiscadacomprometo esta históriaassim como as outrasnuma pura sanidadede um mundo que afronta compromissos dignos de serem lutadospor ser tão injusto
repúdio avaliadorespermissivos senhores que controlamo dizer ou calaro fazer ou esperar.
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Cantar de GaloJuan Toro
Diferenciar
Consigo distinguir o diferente do igualSaber discernir é fundamentalCaso contrarioQueda livre e sem almofadas esperandoCairá rápido como fruta podreSem descansoVirando alimento para mosquitosLarvas e passarinhos.
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Cantar de GaloJuan Toro
Figura
Uma pedra ouPedaço de papel ouIngrato fragmento de pele Carcomido na deformidadeDos dias ímpares e sem tonsDos braços curtos que não alcançam almofadasSonhos distantes feitos em tinta que não agarra
Água limpa como torrenteSujeira de cores que mentem sem descontentoOcultam e camuflamConsagração de aglomerados uniformesEm tonalidades identificáveisSombras com brilho autônomo
Corredor de luas internasConformando o pouco ouInsignificante troço de espuma ouÁgua em vaporAmostra da pele rasgadaTransformada em nuvemDensa figura
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Cantar de GaloJuan Toro
Oriundo
Alguém que sabeQue conheceE desfruta com seu saberOriundo de um lugar qualquerFeito vida em leituras e correria feita em dorDe mágoa da sociedade que castigaFalta da sorteIngrata vez da tômbola que gira e escolheLocal inseguro Para todosNascer
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Cantar de GaloJuan Toro
Tempo
O tempo não sabe de sossego o tempo nem quer sabero tempo é cegoe atletacorredor sem freio nem sede
O tempo não sabe de descansoo tempo nem quer sabero tempo é eternoonipresente.
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Cantar de GaloJuan Toro
Fechadura
Orifício desafiador da fechadurafecha dura, ingrata e sem graxa banhada de aço feito ferrugem corroída pela violência da chavecastiga a estrutura do sem oficioburaco inerte que sempre invertea situação fechada ou de saídasituação de entrada ou bem-vinda de uma porta sem nome nem honra aberta e fechada sem dor nem medidasem hora datada nem nenhum aviso
Juan Toro é um autor parte brasileiro, parte chileno que escreve no idioma de ambos os países, é graduado em Comunicação Social e mestrando em Estudos Literários pela Universidade Federal de São Carlos no Brasil (2014) . Foi diretor e roteirista do curta-metragem Silvano (2013), além de possuir diversas publicações em coletâneas e anto-logias poéticas tanto no Brasil quanto em outros países ao redor do globo, como Argentina, Espanha e Portugal. O autor também assina pelo pseudôn-imo de Juan Castelo D., pelo qual possui outras duas obras publicadas.
Obras do autor: Cantar de Galo (2015)
Nacadema (2015)Estado de Poesia e Prosa (2014)
Puxando a Rede (2014)
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