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A teoria de Urie Bronfenbrenner e osmúltiplos mundos da infância

Jonathan TudgeDepartamento de Desenvolvimento Humano, Universidade daCarolina do Norte em Greensboro, EUAProfessor Collaborador, pôs-graduação em psicologia, UFRGSApresentação 23 de novembro de 2006, Universidade Federal do Rio Grande

Urie Bronfenbrenner (1917-2005)

IntroduçãoComparação de atividades cotidianas emquatro grupos culturais, mas não“extremamente diferentes”

Comparar pesquisas no Quênia, Brasil ecomparações Negros-Brancos nos EUAHeterogeneidade dentro das sociedadesVariações nas experiências pré-escolares

Foco em atividades que provavelmente sãorelevantes para o desempenho escolarNão uma única escala

Um design de Processo-Pessoa-Contexto-Tempo (PPCT)Processo

processos proximais—os “motores do desenvolvimento” (Bronfenbrenner, 1995, p. 620)

Pessoaas características individuais

Contextovários níveis de contexto (microssistema,mesossistema, exossistema e macrossistema)

Tempoo cronossistema (situando a pesquisa no seu espaçohistórico)fazer pesquisa longitudinal

Processos proximais

As interações “entre um organismo humano bio-psicológico ativo em evolução e as pessoas, objetos e símbolos em seu ambiente imediato”(Bronfenbrenner, 1995, p. 620), as quais se tornam pouco a pouco mais complexasEstas interações diferem de acordo com:

as características individuaisas características do contexto

As características individuais

Características de “força”características instigantes do desenvolvimento (crenças diretivas, nível de atividade, índole, objetivos e motivações)

Características dos “recursos”experiências, inteligência, habilidades

Características de “demanda”características de “estímulo pessoal” (idade,cor de pele, gênero)

O contexto

A necessidade de fazer pesquisa no mínimoem uma microssistema (por exemplo, emcasa, na creche, para avaliar processosproximais) e em 2 macrossistemasO macrossistema é um ambiente com os mesmos valores, crenças, práticas, recursos, identidade, etc.Portanto, para Bronfenbrenner, omacrossistema é uma cultura

Tempo

Estudar os processos no tempoColetar dados, no mínimo, em dois momentosMacrotempo (o cronossistema)

Situar a pesquisa no tempo históricoAcontecimentos históricos, eventos econômicos e políticos

A pessoa

P

Microsystem

…engaja-se em processos proximais em ummicrossistema

P

MicrosystemMesosystem

…ou, melhor dito, em vários microssistemas

P

MicrosystemMesosystem

Exosystem

com influência de pessoas fora do microssistema

P

microsystem

MicrosystemMesosystem

Macrosystem

…dentro de um macrossistema

P Exosystem

MacrossistemaS

P

Ou,melhordito,dentro deváriosmacro-ssistemas

P

os quaismudamatravés do

tempo

A teoria na prática (minha pesquisa):Observação dos processos proximais

Cada criança é acompanhada por 20 horas durante uma semana“Blocos” de 2 ou 4 horas, com “janelas” paracódigos de 30 segundosO equivalente de um dia completo de sua vidaQualquer ambiente em que ela esteja inserida: no parque, nas ruas ou nas lojas, em casa e na pré-escolaOs parceiros (amigos, parentes, professores) nestas atividades, os papéis desempenhados etc.

Atividades enfocadasAtividades enfocadas

Lições (4 subcategorias)foco neste apresentação em lições escolares,interperssoais e sobre “o mundo”

Trabalho (15 subcategorias)Brincadeira (incluindo exploração e entretenimento)(12 subcategorias)

foco aqui em brincadeira de faz-de-conta ebrincadeira com objetos escolares

Conversação (3 subcategorias)foco aqui em conversação com adultos

Outras (atividades não enfocadas) (6 subcategorias)

As características individuais

o Características de temperamento das criançaso Gênero das criançaso Mais importante, para nós, até que ponto as

crianças tomam iniciativa nas atividadeso Coletamos dados sobre valores e crenças dos

pais, especialmente, sobre a educação das crianças

Contexto

Países: EUA (Greensboro), Rússia, Estônia, Finlândia, Coréia do Sul, Quênia (Kisumu) eBrasil (Porto Alegre)Apenas uma cidade em cada paísCada cidade é de tamanho médioFamílias: 50% os pais têm educação superior e uma ocupação profissional e 50% não

Tempo

É necessário situar a pesquisa em seu contexto históricoAs observações acontecem quando as criançastêm 3 anosImediatamente depois, entrevistas e questionários com os paisQuando as crianças têm 7-9 anos, entrevistas e questionários com os pais e professores sobre o comportamento, desempenho escolar e social das crianças

Colaboradores e assistentes

Greensboro (GBO): Sarah Putnam, Judy Sidden,Fabienne Doucet, Nicole TalleyKisumu: Dolphine OderoPorto Alegre: Tania Sperb, Cesar Piccinini, Rita Lopes; Giana Frizzo, Fernanda Marques, Rafael Spinelli (Angela Marin, Joice Sonego, Ana Paula Freitas, Cristina Soling, Maúcha dos Santos)

Participantes

20*201920N

8154WC CC

24.621.628.628.9WC SES

36.140.839.836.9WC idade

8629MC CC

55.257.350.252.1MC SES

37.039.338.336.6MC idade

POAKisumuGbo BGbo W

Observations in different settingsObservations in different settings

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GSOW mid

GSOW work

GSO Bmid

GSO Bwork

KISmid

KISwork

POAmid

POAwork

% o

f obs

erva

tions

Own homeOthers' homeChildcarePublic

Onde as crianças passam seu tempo?

A maior parte do tempo em casa e perto decasaCrianças negras em Greensboro, mais que emoutros grupos, estavam em casa de outraspessoas (creches “comunitárias” privadas)As crianças de classe trabalhadora de Kisumu estavam menos em creches que outrasAs crianças de classe média de Porto Alegre estavam mais em creches que outras

Envolvimento em atividades(lições, trabalho, brincadeira e conversação)

0

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20

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40

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60

70

Gbo WMC

Gbo WWC

Gbo BMC

Gbo BWC

Kis MC Kis WC POA MC POAWC

% o

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erva

tio

LsonWorkPlayConv

Como elas passam seu tempo?

Elas têm 3 anos—a maior parte do tempo brincandoCrianças brancas de classe média em Greensborobrincaram menos; um pouco mais deconversação, mais “outras” (dormindo)Crianças de classe trabalhadora em Kisumuestiveram muito mais envolvidas com trabalhoque outrasCrianças de Porto Alegre, particularmente as de classe trabalhadora, estiveram engajadas emmuito poucas lições

Trabalho em uma família de classetrabalhadora em Kisumu

Brendah está olhando uma de suas irmãsmais velhas cortar vegetais para prepararuma refeição. Brendah pergunta se ela podeajudar. Uma faca de pão cega lhe é dadapara que ela possa participar. Mais tarde,Brendah está olhando sua mãe limpar a casa. Esta pergunta-lhe se ela gostaria de ajudar epede-lhe que busque roupas sujas, as quaisBrendah primeiro enxagua e, então, alcançapara sua mãe para que sejam penduradas(Nota de Campo 1402).

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4

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Gbo WMC

Gbo WWC

Gbo BMC

Gbo BWC

Kis MC Kis WC POAMC

POAWC

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f obs

erva

tio Ac lsonInt lsonWrld lsonPrt playAc playC w/ ad

Envolvimento em atividades relevantes

Quanto elas se envolvem em atividadesrelevantes para a escola?

Crianças brancas de classe média em Greensboroforam as que tiveram mais conversas com adultosCrianças de classe média em Kisumu foram as quemais tiveram lições escolares e brincaram comobjetos escolaresCrianças de classe trabalhadora em Porto Alegre tiveram poucas lições escolares e brincaram poucocom objetos escolaresCrianças de classe média, em geral, tiveram maislições escolares e brincaram mais de faz-de-contae com objetos escolares

Envolvimento em atividades relevantes emrelação à freqüência ou não à creche

0

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Gbo Wno

Gbo Wyes

Gbo Bno

Gbo Byes

Kis no Kis yes POA no POAyes

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erva

tio Ac lsonInt lsonWrld lsonPrt playAc playC w/ ad

Freqüentar a creche faz diferença?

Sim, mas o seu significado varia nas diferentesculturasMais lições interpessoais e brincadeiras comobjetos escolares na crecheMais lições escolares em Greensboro (brancas enegras) e Kisumu, mas não em Porto AlegreMais conversação em Greensboro (brancas enegras) e Porto Alegre, mas não em KisumuCreche, em Kisumu, é para coisas escolares

Creche comunitária em Greensboro

Andrea, uma criança negra de classe trabalhadora,passa boa parte de seu tempo (quase metade das18 horas que nós a observamos) em uma creche,geralmente com sua irmã de dois anos e duas outrês outras crianças mais novas. As criançaspassam a maior parte do tempo brincando comblocos e outros brinquedos disponíveis, comendo(snacks) e vendo televisão, na qual passava anovela diurna na primeira tarde que nósobservamos Andrea e desenhos animados namanhã seguinte. As principais lições que ascrianças tiveram foram sobre a importância decompartilhar os brinquedos e não machucar unsaos outros (Nota de Campo 0405).

Creche em KisumuFredah, uma menina de classe média, está emsua aula, em uma sexta-feira um pouco após às 8horas da manhã. A professora acaba de escreveralgumas letras no quadro e pede às crianças paraque digam seus nomes. O alfabeto gradualmenteaparece e as crianças têm que repeti-lo. Fredahfas isto, brincando com seus dedos por ummomento, mas também olhando duas outrascrianças brincando com as mãos uma da outra,tudo isso enquanto repetem o alfabeto. A professora continua com a lição por quase umahora, ocasionalmente repreendendo as criançaspor não sentarem direito (Nota de Campo 1304).

Creche em Porto AlegreNo início do período de observação, uma de suas professorasestá lendo uma história, a qual as crianças devem ilustrarenquanto ela a lê. Mariana continua fazendo isso por 10minutos. Todavia, durante o resto da observação, seu tempo éocupado dançando, brincando no pátio em um escarregador,em uma casa de bonecas, em um gira-gira com duas outrascrianças, com um fogãozinho e na areia, onde ela e uma outramenina brincam de cozinhar. Após ir ao banheiro, Mariana, com um telefone de brinquedo, faz de conta que telefona a pessoase, depois, brinca com chaves e faz bolinhas de sabão. Elacontinua brincando com essas várias coisas até ir ao banheiropara lavar suas mãos. Lá, outras duas crianças estãoconversando; Mariana conversa com elas, enquanto uma dasprofessoras dá água para as crianças beberem (Nota de Campo 16106).

Envolvimento em atividades relevantes para aescola dentro e fora da creche

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Gbo Wno

Gbo Wyes

Gbo Bno

Gbo Byes

Kis no Kis yes POA no POAyes

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in e

ach

set

Ac lsonInt lsonWrld lsonPrt playAc playC w/ ad

Enfocando apenas aquelas crianças quefreqüentam creche

Talvez aquelas que freqüentam crechediferem das que não freqüentamUma maior percentagem de conversação forada creche (em todos os grupos)Uma maior percentagem de lições escolares einterpessoais na creche (mas muito pouco emPorto Alegre)Uma maior percentagem de brincadeiras comobjeto escolares dentro da creche (masapenas significativa em Kisumu)

ConclusõesConsiderar as implicações das relativas pequenasdiferenças percentuais, de um total de 90 minutosde observação real, se levadas a cabo em um diainteiro (10 vezes mais) ou uma semana (70 vezesmais) se as crianças estiverem acordadas 15 horaspor diaNecessidade de considerar cuidadosamente aintersecção entre cultura e classe social (verparticularmente Kisumu e Greensboro)Considerar os diferentes papéis da pré-escola nosdiferentes gruposTempo? É necessário esperar!

Muito obrigado!

Quero agradecer a vocês pela atenção.jrtudge@uncg.eduhttp://www.uncg.edu/hdf/hdfs_faculty/jon_tudge/jon_tudge.htm

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