aula - o sonho de cipião

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O SONHO DE O SONHO DE CIPIÃOCIPIÃO

CIC., CIC., DE REPDE REP . VI, 9-29. VI, 9-29

106-43 a.C.106-43 a.C.

formação formação - retóricaretórica- fi losofiafilosofia

- Viajou pela - Viajou pela GréciaGrécia

0. INTRODUÇÃO0. INTRODUÇÃO0.1. CÍCERO: SUA VIDA, SUA OBRA0.1. CÍCERO: SUA VIDA, SUA OBRA

Marco Túlio Cícero, em latim Marcus Tullius Cicero (Arpino, 3 de Janeiro de 106 a.C. — Formia, 7 de Dezembro de 43 a.C.).

Cícero não era "Romano" no sentido tradicional, e sempre se sentiu envergonhado disto durante toda a sua vida.

O pai de Cícero era um rico equestre com bons contatos em Roma. Apesar de ter problemas de saúde que o impediam de entrar na vida pública, compensou por isto ao estudar extensivamente.

Cícero queria seguir uma carreira no serviço público civil nos passos do Cursus honorum. Em 90 a.C.–88 a.C., Cícero serviu Cneu Pompeu Estrabão e Lúcio Cornélio Sula durante a Guerra Social, apesar de não ter interesse nenhum na vida militar.

Cícero era, antes de tudo, um intelectual. Cícero começou a sua carreira como advogado a cerca de 83-81 a.C.

O seu primeiro caso importante de que se tem registo aconteceu em 80 a.C., e é a defesa de Sexto Róscio, acusado de parricídio. Aceitar este caso foi um ato corajoso: parricídio era considerado um crime horrível, e as pessoas acusadas por Cícero, o mais famoso sendo Crisógono, eram favoritos do ditador Sula.

Nesta altura, teria sido fácil para Sula mandar alguém assassinar o desconhecido Cícero. A defesa de Cícero foi um desafio indireto ao ditador, e o seu caso foi forte o suficiente para absolver Róscio.

INFORMAÇÕES BIOGRÁFICAS

63 a.C.:63 a.C.:

cônsul;cônsul;

Ele desmascarou Ele desmascarou uma conjuração de uma conjuração de Catil inaCatil ina

Em 79 a.C., Cícero partiu para a Grécia, Ásia Menor e Rodes, talvez devido à ira potencial de Sula. Estudou filosofia.

Cícero foi eleito Cônsul em 63 a.C. O seu co-cônsul nesse ano, Caio Antônio Híbrida, teve um papel menor. Nesse cargo, ele destruiu uma conspiração para derrubar a República, liderada por Lúcio Sérgio Catilina.

Catão então defendeu a pena de morte e todo o Senado concordou. Cícero ordenou que os conspiradores fossem levados a Tullianum, onde

foram estrangulados. O próprio Cícero acompanhou o ex-cônsul Públio Cornélio Lêntulo Sura,

um dos conspiradores, a Tullianum. Cícero recebeu o honorífico "Pater Patriae" por ter suprimido a

conspiração, mas desde então viveu com medo de ser julgado ou exilado por ter condenado cidadãos Romanos à morte sem julgamento.

Está no fim de «  República »Está no fim de «  República » Obra que trata da melhor constituição do EstadoObra que trata da melhor constituição do Estado = a constituição romana= a constituição romana É uma constituição mistaÉ uma constituição mista• Cic., de rep., I, 69 ... De fato, parece bem que exista na constituição algo superior e

real, que haja algo concedido e atribuído à autoridade dos cidadãos de primeira, que haja algumas coisas reservadas à decisão e à vontade da multidão.

0.2. O « SOMNIUM SCIPIONIS » NA 0.2. O « SOMNIUM SCIPIONIS » NA « REPÚBLICA »« REPÚBLICA »

Afastado da política ativa, Cícero escreveu, entre 54 e 51, dois tratados complementares de filosofia política: Tratado da República, publicado no verão de 51, e Tratado das Leis.

6.9-29 — SONHO DE CIPIÃO 6.9-10 (INTRODUÇÃO): Numa visita ao seu cliente Masinissa, amigo de

seu avô, ―excelente e sempre invito varão , Cipião queda-se a conversar ‖com o rei berbere até altas horas da noite sobre os facta e os dicta do avô. Quando se vai deitar, este aparece-lhe em sonhos.

SOBRE O TRATADO

6.11-28 — NARRAÇÃO DO SONHO 6.11-13: De um alto lugar, cheio de estrelas18, o avô profetiza o futuro

do neto Emiliano. A referência ao cognome de Africano, que Cipião Emiliano herdara dos antepassados, é um apelo às virtudes tradicionais, nas quais caberá o papel de salvador do Estado em momento de grave crise (intermezzo de Lélio). Em tom de preceito paternal, o avô anuncia-lhe a existência de um lugar no além reservado para o bom governante e define a política como missão divina, merecedora de uma vida sempiterna.

6.14-15: A ideia de prêmio no além implica a teoria da sobrevivência da alma e obriga a uma reformulação dos conceitos de vida e morte quando se assevera que ―estão vivos aqueles que se evolaram da prisão do corpo como de um cárcere. A confirmar a teoria, Cipião Emiliano vê aproximar-se seu pai natural, Paulo Emílio, que está vivo e a quem logo seu filho deseja juntar-se.

Porém, recorrendo a fraseologia platónica (―libertar-se da cadeia do corpo; reter a alma na cadeia do corpo; não emigrar da vida humana), Paulo Emílio, o pai biológico, explica que o suicídio tem de ser legitimado: é que a obrigação do homem, sem nunca bater em retirada (para a metáfora militar, cf. Rep.1.3 ad finem), é cumprir ―a missão que foi destinada aos homens por deus , isto é, zelar pela Terra, situada no centro do globo terrestre. ‖

Esta antecipação da visão cósmica posterior, baseada na ciência helenística, junta-se a um registo estóico para afirmar que a alma é feita do fogo sempiterno dos astros divinos.

6.16-19: Num breve momento de parênese, Paulo Emílio convida o filho a cultivar a justiça e a piedade, que são as vias para a imortalidade, para o céu e para a Via Láctea, uma perspectiva ausente de Platão. Num momento que alia platonismo e estoicismo à doutrina helenística da apoteose, logo se proclama que é esse o lugar onde habitam os que se libertaram dos corpos, não sem se recordar que a terra é pequena e o império romano um pequeno ponto dessa Terra (cf. Rep.1.26). Mas como o neto continuava a olhar para baixo.

6.20-25: Como Cipião não consegue deixar de olhar para a Terra, o avô convida-o a considerar o relativismo da glória terrestre, mesmo para além da exiguidade cósmica da Terra, onde são escassas e dispersas as zonas habitadas, e sem comunicação.

Também a teoria das cinco zonas climáticas, de origem pré-socrática, mostra que só duas dessas zonas são habitáveis e que não têm contato. Na própria oikoumene são poucas e compartimentadas as regiões habitadas.

Apresentam-se aqui as noções de devir cíclico, ekpyrosis ou incendium e diluuium, logo seguidas pelas de ano cósmico ou magnus annus (6.24), o último dos quais se teria iniciado com a apoteose de Rómulo27, e pela distinção entre gloria eterna e diuturna.

Estamos perante um conglomerado de ideias de pré-socráticos, de Platão e do estoicismo.

6.25-28: O avô convida Cipião a olhar para o alto, para o prémio da virtude, que é esplendor verdadeiro, não a glória dada pelas opiniões do vulgo ou por uma posteridade curta, contraposta à imortalidade astral como recompensa da virtude. Rendido, Cipião Emiliano promete tornar-se benemérito da pátria para alcançar esse prémio.

6.29 (CONCLUSÃO): De acordo com a parênese final, a salvação da pátria (cf. Rep.1.1, 12; 6.13) liberta a alma encerrada no corpo, que assim pode subir para os astros; em contrapartida, as almas que se submetem às paixões e violam as leis dos homens e dos deuses são condenadas a andarem à volta da Terra muitos séculos, numa evocação do mito do Fedro de Platão. O uso do imperativo futuro dá tonalidade diatríbica à parénese.

« Somnium « Somnium Scipionis »Scipionis »

Circulação isoladaCirculação isoladaGrande número de Grande número de

manuscritosmanuscritosComentada por Comentada por

Macróbio (400 d.C.)Macróbio (400 d.C.)

« De Re Publica »« De Re Publica »Durante muito Durante muito

tempo, conhecido tempo, conhecido por citaçõespor citações

en 1819, foi en 1819, foi encontrado um encontrado um manuscritomanuscrito

= um palimpsesto= um palimpsesto

A TRADIÇÃO MANUSCRITAA TRADIÇÃO MANUSCRITA

Manuscrito do tipo “reescriptus” do século VI, encontrado no século XIX

MSS DE “SONHO DE CIPIÃO”

O diálogo ocorre em 129 a.C.O diálogo ocorre em 129 a.C.Publius Cornelius Scipio Aemilianus Publius Cornelius Scipio Aemilianus

Africanus Numantinus = Cipião Emiliano, Africanus Numantinus = Cipião Emiliano, que destruiu Cartago na 3a Guerra que destruiu Cartago na 3a Guerra Púnica (149-146 a.C.)Púnica (149-146 a.C.)

Seu avô adotivo = Cipião Africano, Seu avô adotivo = Cipião Africano, venceu Aníbalvenceu Aníbal (202 a.C.)(202 a.C.)

Seu pai, Paulo Emílio, consquistador de Seu pai, Paulo Emílio, consquistador de Pidna (168 a.C.)Pidna (168 a.C.)

0.3. O CONTEXTO HISTÓRICO DOS DIÁLOGOS 0.3. O CONTEXTO HISTÓRICO DOS DIÁLOGOS DE « REPÚBLICA »DE « REPÚBLICA »

1.1. Cícero e Platão1.1. Cícero e Platão

1.1. 0 « 0 «  SOMNIUM SCIPIONIS »SOMNIUM SCIPIONIS » E O MITO DE « ER » DE PLATÃOE O MITO DE « ER » DE PLATÃO

• Ecletismo de CíceroEcletismo de Cícero• Tradutor de PlatãoTradutor de Platão• Nutria uma grande admiração Nutria uma grande admiração

pela filosofia gregapela filosofia grega

• « deus ille noster « deus ille noster Plato »Plato »

(ad Att., IV, 16, 3)

• « errare mehercule « errare mehercule malo cum Platone, malo cum Platone,

quam cum istis uera quam cum istis uera sentire »sentire » 

(Cic. Tusc. I, 39)

CÍCERO SOBRE PLATÃO

O fim de ambas as obras tratam da república O f im de ambas as obras tratam da república ideal.ideal.

Ambas conferem uma dimensão cósmica à suas Ambas conferem uma dimensão cósmica à suas teroias polít icas.teroias polít icas.

Ambas tratam da visão do que se entende por Ambas tratam da visão do que se entende por «  justiça ».«   justiça ».

1.2. OS PARALELOS ENTRE OS DOIS TEXTOS1.2. OS PARALELOS ENTRE OS DOIS TEXTOS

Cic., de amic., 102

(Laelius, o protagonista do diálogo, fala a seu amigo Cipião)

Por mim, Cipião, o que estou a buscar é as coisas elevadas, viver e deixar viver; em efeito, o que amo é a virtude deste homem admirável, e para este não há morte..

A imortalidade da alma a A imortalidade da alma a vida após a morte)vida após a morte)Recompensas e deméritosRecompensas e deméritosA dimensão cósmicaA dimensão cósmica

1.3. OS PONTOS COMUNS PRINCIPAIS1.3. OS PONTOS COMUNS PRINCIPAIS

Imortalidade pressuposta por PlatãoImortalidade pressuposta por Platão Reafirmada por Cícero nos critérios Reafirmada por Cícero nos critérios

platônicos.platônicos.

1.3.1. A IMORTALIDADE DA ALMA E A VIDA 1.3.1. A IMORTALIDADE DA ALMA E A VIDA APÓS A MORTEAPÓS A MORTE

• Cic., de sen., 84 (Catão, o Antigo, fala sobre a sua

morte futura) • O dia da luz, no qual eu partirei

para esta divina assembleia das almas, quando eu me apartarei desta torpeza (…) ; mas a sua alma (e dos seus filhos) não me abandonará, pelo contrário, ela retornará para mim quando ela partir.

1.3.2. RECOMPENSAS E PENAS1.3.2. RECOMPENSAS E PENAS

• Destino do porvir é selado na vida terrestre.Destino do porvir é selado na vida terrestre.• Caráter normativo, condição da vida determina a Caráter normativo, condição da vida determina a

vida após a morte.vida após a morte.• Conceito fundamental para as recompensas e penas: Conceito fundamental para as recompensas e penas:

justiça (equilíbrio).justiça (equilíbrio).

Cic., de off., III, 6 No que diz respeito ao destino final de Falaris, é muito fácil dar um julgamento. Não há qualquer ligação entre nós e os tiranos, por causa de uma oposição suprema. Não que haja algo contra o tirano, mas porque tal homem não procede com justiça. Ele faz cessar a comunidade dos homens, toda esta raça maldita e ímpia.

Representação do universo.Representação do universo. A alma faz parte do universo cósmico . A alma faz parte do universo cósmico . = um mundo ordenado, que faz sentido.= um mundo ordenado, que faz sentido. Duas visões geocêntricas.Duas visões geocêntricas. Descrição pouco clara, como Platão.Descrição pouco clara, como Platão.

1.3.3. A DIMENSÃO CÓSMICA1.3.3. A DIMENSÃO CÓSMICA

ESQUEMAS

CíceroCícero Sonho, explicação, Sonho, explicação,

verossimilhança e verossimilhança e superstição, superstição, elementos elementos romanos.romanos.

Personagem real, Personagem real, exemplum pela exemplum pela vertu romana (cf . vertu romana (cf . le mos maiorum), le mos maiorum), implicações implicações pessoais.pessoais.

PlatãoPlatãoRecitação Recitação

fantástica, fantástica, ambiência mítica.ambiência mítica.

Personagens Personagens inventadas, inventadas, observador observador distanciado.distanciado.

1.3. AS DIFERENÇAS1.3. AS DIFERENÇAS

PlatãoPlatão Modelo político geral, Modelo político geral,

aplicável a qualquer aplicável a qualquer cidade.cidade.

Insistência nas punições Insistência nas punições (pessimismo grego).(pessimismo grego).

Juízos míticos.Juízos míticos.

CíceroCícero• Redação do « Somnium Redação do « Somnium

Scipionis » em uma época de Scipionis » em uma época de crise; descrição do homem crise; descrição do homem político capaz de salvar o político capaz de salvar o Estado.Estado.

• Recompensas e penas futuras.Recompensas e penas futuras.

• Explicação mais racional, com Explicação mais racional, com elementos míticos.elementos míticos.

CíceroCícero

• Música esférica: explicação Música esférica: explicação mecânica (e exemplificação mecânica (e exemplificação racional)racional)

• Esquema quase científico.Esquema quase científico.• Ligação entre prática política e Ligação entre prática política e

destino no porvir.destino no porvir.

PlatãoPlatão

• Música esférica: produto de sirenes Música esférica: produto de sirenes e hierofantes.e hierofantes.

• Mundo mítico.Mundo mítico.• Especulação filosófica.Especulação filosófica.

primum uiuere, primum uiuere,

deinde philosophari!deinde philosophari!

2. OS VALORES ROMANOS:2. OS VALORES ROMANOS:

Texto pertence a um contexto histórico.Texto pertence a um contexto histórico. Personagens reais (exempla).Personagens reais (exempla). Referência às « mos maiorum »Referência às « mos maiorum » Redação em uma época de crise.Redação em uma época de crise. Texto fi losófico a serviço do Estado.Texto fi losófico a serviço do Estado. Apresentação científ ica e mecânica do universo.Apresentação científ ica e mecânica do universo. Recurso eventual ao mito.Recurso eventual ao mito.

2.1. O PRAGMATISMO ROMANO2.1. O PRAGMATISMO ROMANO

A religião romana:A religião romana:ritualistaritualistaTodos os atos políticos têm conotação Todos os atos políticos têm conotação religiosa. Todos os atos religiosos têm religiosa. Todos os atos religiosos têm conotação política.conotação política.

O casamento:O casamento:Meio de aliança social e política.Meio de aliança social e política.Possibil idade de Divórcio.Possibil idade de Divórcio.

A adoção:A adoção: Homens jovens que tenham um « cursus Homens jovens que tenham um « cursus honorum » podem ser adotados por alguém honorum » podem ser adotados por alguém importante.importante.

2.2. A IMPORTÂNCIA DA RES PUBLICA 2.2. A IMPORTÂNCIA DA RES PUBLICA NA ANTIGUIDADENA ANTIGUIDADE

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