as necessidades em saúde e a integralidade do cuidado prof. luiz cecilio, abril de 2010
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As necessidades em saúde são social e historicamente produzidas
As necessidades em saúde só podem ser escutadas e atendidas, com radicalidade, na
dimensão individual
As necessidades em saúde nos obrigam a pensar a relação entre
INDIVÍDUO E SOCIEDADE!
Uma “cartografia” das necessidades em saúde
Boas condições
de vida
Consumo de tecnologias
para melhorar e prolongar a
vida
Vínculo Autonomia no modo de
andar a vida
Saúde e doença são dimensões da vida dos homens e mulheres vivendo em sociedade e
se influenciando mutuamente
Não há história “natural” da doenças, mas sempre história social da doença
NO HOMEM, A DOENÇA NUNCA É NATURAL. A DOENÇA NO HOMEM É SEMPRE E DESDE SEMPRE UM FATO
SOCIAL.
As doenças têm sempre um caráter histórico social:
O perfil epidemiológico varia entre grupos populacionais diferentes (entre países, entre classes sociais, entre gêneros) de forma sincrônica, em função de suas condições de vida.
Região Exp.Vida Mort.Infantil Leitos Hosp./hab Lig. D´água Lig. Esg. Taxa alf.
NE 51 124.5 2.6 42.6 15.8 60
SUL 67.2 60.9 5.1 61.7 48.9 85.7
Fonte: IBGE, 1984.
O perfil epidemiológico varia dentro de um mesmo país no correr do tempo, em função das mudanças sócio-econômicas
Dados gerais de mortalidade no Brasil (% sobre o total de mortes)
Ano d. infecciosas Cardio-vascul. Causas externas
1930 45.7% 11.8% 2.6%
1990 6.5% 37.5% 7.8%
Fonte: Barreto & als apud Nunes, 2000.
Modelos teórico-conceituais para se trabalhar o caráter social da doença
A História Natural da Doença: o modelo ecológico.
A História Social da Doença: o modelo da produção social
A doença como processo simbólico
PERÍODO DE PRÉ-PATOGÊNESE PERÍODO DE PATOGÊNESE
MORTE
DEFEITO, INVALIDEZ
SINAIS E SINTOMASHORIZONTE HORIZONTE CLÍNICOCLÍNICO
ALTERAÇÕES TECIDOS
INTERAÇÃO REAÇÃO
RECUPERA-ÇÃO/ CURA
Interação AGENTE, HOSPEDEIRO,
AMBIENTE
ESTÍMULO À DOENÇA
PROMOÇÃO DA SAÚDE
PROTEÇÃO ESPECÍFICA
DIAGNÓSTICO PRECOCE E
TRATAMENTO
IMEDIATO
LIMITAÇÃO DA INCAPACIDADE REABILITAÇÃO
PREVENÇÃO PREVENÇÃO PRIMÁRIA PRIMÁRIA
PREVENÇÃO SECUNDÁRIA PREVENÇÃO TERCIÁRIA
Críticas à “História Natural” da Doença
Considera, num mesmo plano, fatores físicos, químicos, econômicos e sociais, como componentes do “meio”, sem
levar em conta o caráter histórico-social concreto das sociedades humanas.
Seria uma forma de atuar sobre causas mais imediatas das doenças, viáveis, sem enfrentar suas causas mais
estruturais.
A doença como produção social: o exemplo da aids
Regras “acumulações” fatos o problema conseq.
. Estigma
. Perdas econômicas
. Sofrimento
. Mortes precoces
. Sobrecarga dos serviços de saúde.
A epidemia de aids.
Descritores *incidência
*prevalência.
*mortalidade
*sobrevida
Geral
.por grupos
.por regiões
.municípios
Relações homossexuais sem proteção
Relações heterossexuaissem proteção
Uso de seringascontaminadas
Transmissão vertical
Transfusão com sangue contaminado
Difícil acesso aos servi-ços de saúde
Diagnóstico tardio
Sexualidade na sociedade
Organização Sistema de saúde
Política Públicasno país
Marco jurídico-
institucional do país
Globalização
Estrutura familiar
Narcotráfico
Organizações homossexuais
Consumo de droga e Lei
Pesquisas em medicamentos
Urbanização
Industrialização
Conceitos para operacionalizar a idéia do caráter social do processo saúde-doença.
Modo de vida = condições de vida (condições materiais necessárias à subsistência) mais estilo de vida (forma social e culturalmente
determinadas de vida).
Condições de trabalho = OCUPAÇÃO = inserção numa dada estrutura ocupacional e num dado mercado de trabalho, para entender tanto a
exposição contínua a um processo de trabalho específico, como a mobilidade entre processos de trabalhos distintos.
Modo de vida + Condições de Trabalho Saúde/Doença
Cristina Possas. Epidemiologia e Sociedade.
Padrão epidemiológico (estrutura de causalidade): distribuição de determinantes
relativamente homogêneos de risco de morbimortalidade em uma população (ou grupo) em função de sua inserção sócio-
econômica (modo de vida e de trabalho).
A doença como processo simbólico
Dando a voz para os “pacientes”...
Um outro jeito de sentir, de ver, de falar...
VIVER a doença.
O estudo das doenças não se esgota nas suas dimensões epidemiológicas estruturais.
Alguns conceitos para a compreensão da vivência da doença como processo simbólico.
Illness versus disease: de que “doença” estamos falando?
O doente VIVE a doença. O médico VÊ a doença na sua objetividade (sinais e sintoma bem definidos, com lesões
detectáveis ao nível do órgãos).
Experiência da doença: grupos sociais e culturais diferentes VIVEM suas doenças de forma diferente, de
forma que a definição que o médico faz do “problema de saúde” nunca coincidirá totalmente com que cada paciente
vive.
“Sistema leigo de referência”
Corpo de conhecimentos, crenças e ações através da qual a doença é
definida pelos diversos grupos sociais. Tal sistema está baseado em premissas que diferem do modelo biomédico e é resultante de estruturas específicas de
cada sociedade.
Tecnologias em saúde: o conjunto de saberes, de práticas, de
“materialidades” (equipamentos, fármacos, exames diagnósticos)
disponíveis para produzir, interferir, potencializar,
prolongar, intensificar a VIDA VIDA E BIOPOLÍTICAVIDA E BIOPOLÍTICA
A SAÚDE E A VIDA SÃO UMA PRODUÇÃO SOCIAL...
A DOENÇA É UMA PRODUÇÃO SOCIAL...
NO HOMEM NADA É NATURAL!NO HOMEM NADA É NATURAL!
Tecnologias durasequipamentos
fármacos
procedimentos diagnósticos
Tecnologias leve-durasos saberes
os protocolos
Tecnologias levesvínculo
escuta
“explorar, conhecer, manipular e intervir na materialidade dos corpos”
“os saberes em ação, produzindo decisão e condutas”
“espaço de encontros de sujeitos e produção de possibilidades, de novidades, de inesperados, de
singularidades”
Origens: a clínica liberal
O vínculo é uma relação intersubjetiva entre dois sujeitos marcada por confiança, troca, apoio, compartilhamento,
cumplicidade
O vínculo é, por natureza, fortemente terapêutico
Nesse sentido, o vínculo comporta sempre uma dimensão “social”.
Complicando...
Quando um não quer, dois não brigam? Ou, é possível um “vínculo unilateral”? Ou dá para manter uma paixão não
correspondida?
As dificuldades de construção de vínculo nos serviços atuais
A rotatividade dos profissionais
A institucionalização da medicina: “o paciente é do hospital e não mais do médico”...
A produção de vínculo também é um fato social...
Georges Canguilhen: o Normal e o Patológico. Por uma nova definição de “ter saúde”.
Informação e Educação em saúde não bastam para produzir autonomia.
AUTONOMIA = INFORMAÇÃO + PROTAGONISMO + ESCOLHA
Fazer da vida uma obra de arte.
Todas as pessoas têm a mesma possibilidade de produzir sua autonomia?
Necessidades em saúde
Problemas de saúde
Boas condições de vida
Acessos às tecnologias de saúde
vínculo autonomia
Problemas sentidos
Problemas não sentidos
demandas
Não demanda
A INTEGRALIDADE do cuidado é orientada para a escuta e busca de respostas para as NECESSIDADES EM SAÚDE das
pessoas, a partir dos PROBLEMAS DE SAÚDE que elas apresentam aos serviços.
Integralidade “focalizada”
Integralidade “ampliada”
Três situações para serem exploradas pelos alunos, produzindo uma narrativa livre que contemple, da melhor forma possível as várias dimensões das
necessidades em saúde.
Situação 1: Paulo tem 52 anos de idade, tendo apresentado uma forte dor no peito, palidez e sudorese, foi levado ao PS onde foi diagnosticado infarto agudo do miocárdio. Após quatro dias de
internação, foi encaminhado para atendimento ambulatorial, com receita e recomendações gerais de mudanças de hábitos de
vida.
Situação 2: Vanessa tem 14 anos de idade e conseguiu esconder da família que estava gravada até os cinco meses de gestação.
Fez pré-natal com uma equipe de PSF e deu à luz, via cesárea, a uma criança de baixo peso, que após quase um mês de
internação no CTI está sendo acompanhada pela mesma equipe de PSF que fez seu pré-natal.
Situação 3- Alice tem 48 anos e descobriu, há um mês um nódulo no seio esquerdo. Assustada, procurou o médico que, após os
exames, fez o diagnóstico de câncer de mama, aparentemente sem metástases. Tendo passado por cirurgia de mastectomia radical,
agora enfrenta penosas sessões de quimio e radioterapia.
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