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Análise das demonstrações contábeis de uma mineradora, à luz da
Norma Brasileira de Contabilidade NBC TG 25 (R1) no que se refere às
divulgações de provisões e aos passivos contingentes ambientais
Daiane Alves
Renata Oliveira
Resumo:
O presente trabalho teve como objetivo analisar as demonstrações contábeis de uma empresa,
à luz da Norma Brasileira de Contabilidade NBC TG 25 (R1) no que se refere às divulgações
de provisões e aos passivos contingentes ambientais. A pesquisa foi classificada como
bibliográfica, documental, estudo de caso, qualitativa. Para atender ao objetivo, foram
analisadas as demonstrações financeiras da empresa de 2008 a 2015, comparando-as com os
itens 84, 85 e 86 da referida norma contábil. O resultado da análise identificou que a empresa
atende parcialmente aos itens da norma. Observou-se, também, que falta clareza nas
informações, pois o uso inadequado de termos como provisões e contingencias, estando em
desacordo com a norma contábil. A demonstração financeira com mais informações, sobre a
divulgação de provisões e passivos contingente, foi a de 2015.
Palavras-chave: Provisões; Passivos Contingentes; Provisões Ambientais
1. Introdução
Um dos assuntos mais abordados na atualidade e com ramificações em diversas áreas
do conhecimento, inclusive na contabilidade, porém com uma abrangência que já se faz
marcante desde o século XIX. O tema sustentabilidade vem tomando forma já há algumas
décadas, tornando-se tema para debates mundiais.
Embora a preocupação com o meio ambiente date do século XIX, somente no século
XX e, principalmente, a partir dos anos 70 passou a ter repercussão na sociedade, com a visão
de que o problema não poderia ser de responsabilidade localizada, mas de responsabilidade
globalizada (FERREIRA, 2011, p. 12). Ainda segundo a autora, “pensar globalmente, agir
localmente é um resumo do pensamento que passou a dominar os organismos ambientalistas
de várias partes do mundo” (FERREIRA, 2011, p. 12).
Conforme já abordado pela autora a questão sustentabilidade passou a ser abordada de
forma generalizada, forçando as entidades a se adequarem à contabilidade ambiental.
Para Ferreira (2011, p.59) “a contabilidade ambiental não se refere a uma nova
contabilidade, mas a um conjunto de informações que relatem adequadamente, em termos
econômicos, as ações de uma entidade sobre o meio ambiente que modifiquem seu
patrimônio”.
Apesar da contabilidade ambiental, ser uma área da contabilidade, existem normas
contábeis que tratam, especificamente, dos passivos contingentes no que se refere aos critérios
de reconhecimento e bases de mensuração. No entanto, além de reconhecer e mensurar, é
necessário que a empresa divulgue as informações pertinentes aos passivos contingentes.
Em estudos anteriores, buscou-se identificar grau de divulgação dessas informações.
Os resultados encontrados nas pesquisas de Caetano et al. (2010), Oliveira et al (2011), Silva
(2012) e Matias (2013) mostraram que as divulgações exigidas pela norma contábil, não são
atendidas pelas empresas.
Diante deste cenário surge a seguinte questão: a empresa que teve o maior desastre
ambiental do país, atende às exigências de divulgação da norma contábil de provisão e
passivos contingentes ambientais?
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Diante do exposto, o presente trabalho tem por objetivo analisar as demonstrações
contábeis da empresa mineradora à luz da Norma Brasileira de Contabilidade NBC TG 25
(R1) no que se refere às divulgações de provisões e aos passivos contingentes ambientais.
A pesquisa justifica-se pela contribuição para investigação do cumprimento das
normas brasileiras de contabilidade, bem como pela importância do tema para a sociedade.
2. Revisão de Literatura Segundo a Resolução CFC (Nº. 1.121/08, p. 5), a finalidade da estrutura Conceitual é
dar suporte ao desenvolvimento de novas normas e à revisão das existentes
quando necessário; dar suporte aos responsáveis pela elaboração das
demonstrações contábeis na aplicação das normas e no tratamento de
assuntos que ainda não tiverem sido objeto de normas; auxiliar os auditores
independentes a formar sua opinião sobre a conformidade das demonstrações
contábeis com as normas; apoiar os usuários das demonstrações contábeis na
interpretação de informações nelas contidas, preparadas em conformidade
com as normas; e proporcionar, àqueles interessados, informações sobre o
enfoque adotado na formulação das normas (CFC, 2008).
Na Estrutura Conceitual, um dos atributos que tornam as demonstrações contábeis
úteis ao usuário, são as características qualitativas fundamentais. Elas são relevância e
representação fidedigna, cujo intuito é transmitir as informações para que sejam
verdadeiramente úteis e fiéis em sua essência. E além desses atributos fundamentais, ainda
como forma de aperfeiçoamento da informação ao seu devido usuário, tem-se as
características qualitativas de melhoria, que incluem comparabilidade, verificabilidade,
tempestividade e compreensibilidade.
Sendo assim, tudo que foi citado anteriormente, incluindo todas essas características
somadas e traduzidas em uma palavra, define-se como transparência nas informações para
com o usuário.
A norma brasileira de contabilidade NBC TG 25 (R1) trata de Provisões, Passivos
Contingentes e Ativos Contingentes, com o objetivo “estabelecer que sejam aplicados
critérios de reconhecimento e bases de mensuração apropriados a provisões e a passivos e
ativos contingentes e que seja divulgada informação suficiente nas notas explicativas para
permitir que os usuários entendam a sua natureza, oportunidade e valor” (CFC, 2014, p.2).
Portanto, define-se ativo contingente como “um possível ativo que surge de eventos
passados e cuja existência será confirmada somente pela ocorrência ou não de um ou mais
eventos futuros incertos, não totalmente sob controle da entidade” (CARVALHO, LEMES E
COSTA, 2006, p.192);
Quanto ao passivo contingente é definido como “uma obrigação presente que surge de
eventos passados e cuja existência será confirmada pela ocorrência ou não ocorrência de um
ou mais eventos futuros incertos, não totalmente sob controle da entidade, ou é uma obrigação
presente que surge de eventos passados, mais que não é reconhecida como uma obrigação
porque não é provável o desembolso para quitar a obrigação ou o valor da obrigação não pode
ser confiavelmente mensurado” (LEMES E CARVALHO, 2010, p.170).
Segundo a NBC TG 25 (R1), “provisão é um passivo de prazo ou de valores incertos”.
Deve-se assumir uma provisão somente quando os seguintes requisitos forem atendidos: a)“a
entidade tem uma obrigação presente (legal ou não formalizada) como resultado de evento
passado; b) seja provável que será necessário uma saída de recursos que incorporam
benefícios econômicos para liquidar a obrigação; e c)possa ser feita uma estimativa confiável
do valor da obrigação” (CFC, 2014, p.5).
Para a mensuração de uma provisão, leva-se em conta riscos e incertezas e usa-se as
melhores estimativas disponíveis. Na existência de uma faixa contínua, usa-se o ponto médio
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da faixa e quando o efeito do valor do dinheiro no tempo é material, o valor da provisão deve
ser o valor presente dos desembolsos que se espera que sejam exigidos para liquidar a
obrigação (CFC, 2014, p.18)
Quanto a divulgação, segundo o CFC que aprova esta norma, para cada classe de
provisão, a entidade deve divulgar: a)o valor contábil no início e no fim do período;
b)provisões adicionais feitas no período, incluindo aumentos nas provisões
existentes;
c)valores utilizados (ou seja, incorridos e baixados contra a provisão)
durante o período;
d)valores não utilizados revertidos durante o período; e
e)o aumento durante o período no valor descontado a valor presente
proveniente da passagem do tempo e o efeito de qualquer mudança na taxa
de desconto (CFC, 2014, p.14)
O item 85 da referida norma determina que a entidade deve divulgar, para cada classe
de provisão: (a)uma breve descrição da natureza da obrigação e o cronograma esperado
de quaisquer saídas de benefícios econômicos resultantes;
(b)uma indicação das incertezas sobre o valor ou o cronograma dessas
saídas. Sempre que necessário para fornecer informações adequadas, a
entidade deve divulgar as principais premissas adotadas em relação a
eventos futuros, conforme tratado no item 48; e
(c)o valor de qualquer reembolso esperado, declarando o valor de qualquer
ativo que tenha sido reconhecido por conta desse reembolso esperado (CFC,
2014, p.15).
Já o item 86 exige que a empresa informe “a menos que seja remota a possibilidade de
ocorrer qualquer desembolso na liquidação, a entidade deve divulgar, para cada classe de
passivo contingente na data do balanço, uma breve descrição da natureza do passivo
contingente”. No referido item ainda consta que quando praticável, a empresa informe (a) a
estimativa do seu efeito financeiro; (b)a indicação das incertezas relacionadas ao valor ou
momento de ocorrência de qualquer saída; e (c)a possibilidade de qualquer reembolso.
O Quadro 1 resume as exigências da norma contábil NBC TG 25 (R1). Quadro 1 – Provisão e passivo contingente
São caracterizados em situações nas quais, como resultado de eventos passados, pode haver uma saída
de recursos envolvendo benefícios econômicos futuros na liquidação de: (a) obrigação presente; ou (b)
obrigação possível cuja existência será confirmada apenas pela ocorrência ou não de um ou mais
eventos futuros incertos não totalmente sob controle da entidade.
Há obrigação presente que
provavelmente requer uma
saída de recursos.
Há obrigação possível ou
obrigação presente que pode
requerer, mas provavelmente não
irá requerer, uma saída de recursos.
Há obrigação possível ou
obrigação presente cuja
probabilidade de uma saída de
recursos é remota.
A provisão é reconhecida
(item 14).
Nenhuma provisão é reconhecida
(item 27).
Nenhuma provisão é reconhecida
(item 27).
Divulgação é exigida para a
provisão (itens 84 e 85).
Divulgação é exigida para o
passivo contingente (item 86).
Nenhuma divulgação é exigida
(item 86).
Fonte: CFC, 2014, p. 16.
Sendo assim, para atender ao objetivo proposto foram analisados os itens 84, 85 e 86
da norma NBC TG25 (R1), em comparação com as demonstrações financeiras da empresa,
estudo de caso, de 2008 a 2015.
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3 – Metodologia
As pesquisas utilizam como procedimentos, o estudo de caso, o levantamento, a
pesquisa bibliográfica, documental, participante e experimental (RAUPP; BEUREN, 2009).
Esta pesquisa é classificada quanto aos procedimentos como pesquisa bibliográfica, porque
utilizou livros, artigos, relatórios, sites institucionais (GIL, 2010). A pesquisa é também
documental e estudo de caso, já que analisou as demonstrações contábeis de 2008 a 2015,
disponíveis no site da empresa.
Quanto aos objetivos, esta pesquisa é classificada como descritiva, porque segundo
Gressler (2003, p. 54) é “usada para descrever fenômenos existentes, situações presentes e
eventos, identificar problemas e justificar condições (...)”. Já que neste trabalho identificou o
atendimento da norma contábil quanto às provisões e passivos contingentes ambientais.
A classificação quanto à abordagem é pesquisa qualitativa, pois segundo Richardson
(2012, p. 70) “esses métodos se diferenciam não só pela sistemática pertinente a cada um
deles, mais sobretudo pela forma de abordagem do problema”.
Neste contexto Raupp e Beuren (2006) afirmam que a utilização da abordagem
qualitativa é comum nas pesquisas em contabilidade, explicando que apesar de lidar com
números, ela é uma ciência social.
A coleta de dados ocorreu no site da empresa e o tratamento dos dados foi feito a
partir de recortes das notas explicativas envolvendo as provisões e passivos contingentes. Em
seguida foram analisados os recortes, para serem selecionados apenas os recortes que
tratavam de provisões e passivos contingentes ambientais.
Também foi necessária uma análise das notas explicativas às demonstrações
financeiras de cada ano, pois foi identificado o uso de termos como provisões e contingencias,
estando em desacordo com a norma contábil.
4 – Análise da Pesquisa
Visando atender ao objetivo do trabalho, que é analisar as demonstrações contábeis da
empresa à luz da Norma Brasileira de Contabilidade NBC TG 25 (R1), referente às
divulgações sobre as provisões ambientais, foram separadas as demonstrações por período e
analisadas com base nos itens 84, 85 e 86 da referida norma.
Nas Notas Explicativas de 2008, conforme Anexo 1, a empresa informa que “com
base nas informações e avaliações de seus assessores legais, internos e externos, constituiu
provisão para as contingências em montante considerado suficiente para cobrir as perdas
consideradas prováveis e para as obrigações legais”.
De acordo com a norma contábil, o termo “contingente é usado para passivos e ativos
que não sejam reconhecidos, porque a sua existência somente será confirmada pela ocorrência
ou não, de um ou mais eventos futuros incertos, não totalmente sob o controle da entidade”
(CFC, 2014, p. 4). Sendo assim, “o termo passivo contingente é usado para passivos que não
satisfaçam os critérios de reconhecimento” (CFC, 2014, p. 4). Então, visando a qualidade da
informação, o termo contingente não deve constar das explicações das provisões.
Também, foi observado que as provisões ambientais, tiveram uma variação de R$
84.000,00 para R$109.000,00. No entanto, contrariando a norma contábil, não há divulgação
completa das informações solicitadas nos itens 84 e 85 da norma contábil.
Cabe ressaltar, tais valores aparecem nos termos contingencias ambientais, porém a
forma correta é provisões ambientais, uma vez que eles estão reconhecidos no Passivo no
Balanço Patrimonial.
Pela norma contábil um passivo contingente classificado como perda remota, não são
reconhecidos nem divulgados. Porém, foram identificados tais passivos na nota explicativa
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referente ao risco de taxa de câmbio, constante do Anexo 2. Na referida nota conta a rubrica
passivos não registrados no balanço, dentre eles está a contingência ambiental, dividida em
duas partes: a) expectativa de perda remota com R$ 18.000,00; e expectativa de perda
possível com R$ 1.525.000,00.
Cabe ressaltar que não foram fornecidas informações sobre as classificações da
contingência ambiental, contrariando o item 86 da norma contábil, anteriormente descrito.
No ano de 2009, para s provisões ambientais referentes não houve alteração. Portanto,
permaneceram R$ 109.000,00, sem adições ou reversões no período.
No recorte das notas explicativas relativo ao risco da taxa de câmbio em 2009,
também não houve alteração na contingência ambiental, por expectativa de perda remota.
Porém, os passivos contingentes ambientais, classificados como perda possível, tiveram
aumento de R$ 394.000,00, representando quase 26%, conforme Anexo 3. Não foi encontrada
explicação para tal fato, contrariando o item 86 da norma contábil.
Em 2010, as provisões ambientais foram utilizadas em R$ 33.000,00, conforme
demonstra a figura 1, adiante. Não foram encontradas explicações para a utilização desse
valor. O saldo das provisões ambientais foi de R$ 76.000,00.
Figura 1 – Movimentação das Provisões
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2010, p. 98).
No Balanço Patrimonial de 2010, há uma rubrica Outros, no Passivo Circulante
perfazendo R$ 55.827.000,00. Nas notas explicativas, a empresa esclarece a rubrica,
conforme Figura 2, a seguir:
Figura 2 – Divulgação de Outros Passivos
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2010, p. 103).
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No entanto, não foram encontradas informações sobre a classificação da provisão
ambiental de R$ 6.741.000,00, seja Passivo Circulante ou Não Circulante. Também, não há
descrição da referida provisão.
Cabe ressaltar, que o número de páginas da demonstração de 2010 foi de 136,
significativamente, maior que as de 2008 e 2009, apenas 10 páginas. Observa-se que a partir
deste período as normas contábeis passaram adotar o padrão internacional, com o advento da
Lei 11.638/2007 e da Lei 11.941/2009.
Nas notas explicativas, referente aos passivos contingentes, a empresa informa que
existe processo envolvendo riscos ambientais, que não foi classificado como provável, porque
o “valor não pode ser determinado com segurança”, conforme as demonstrações da empresa
de 2010, p.101, com probabilidade de perda possível.
Passivos contingentes que não estão registrados no Balanço Patrimonial, devido à sua
classificação, seja perda remota ou perda possível, aparecem nas notas explicativas da
empresa, na nota sobre o risco da taxa de câmbio.
Sendo assim foram identificados como passivos contingentes de perda remota o total
de R$ 18.000,00, o mesmo valor desde 2008. Para os classificados como perda possível,
houve um aumento expressivo de R$ 26.693.000,00, conforme anexo 4, mas não foram
encontradas informações que explicassem o motivo de tal aumento, o que contraria o item 86
da norma contábil.
No Balanço Patrimonial de 2011, no Passivo Não Circulante, consta uma rubrica
Provisões para Obrigações Presentes, que está detalhada em nota explicativa, conforme Figura
3, adiante. No detalhamento consta em provisões ambientais uma reversão de R$ 74.000,00,
porém não consta o motivo de tal reversão. Desta forma, o saldo das provisões ambientais
passou a ser de apenas R$ 2.000,00. Figura 3 – Provisões para Obrigações Presentes
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2011, p. 79).
Também no Balanço Patrimonial de 2011, consta a rubrica Outros Passivos,
classificados tanto no Circulante como no Não Circulante. A Figura 4 mostra o recorte da
nota explicativa da rubrica. Observa-se que o valor da provisão para passivo ambiental, não
sofreu alteração de 2010 para 2011. Porém, não se pode identificar se a provisão está
classificação no Passivo Circulante ou Não Circulante.
Figura 4 – Outros Passivos
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2011, p. 83).
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Na observação da Figura 4, caso a provisão ambiental esteja classificada no Passivo
Não Circulante, qual o motivo para a separação de provisões ambientais? Por que a provisão
de R$ 6.741.000,00 aparece em 2010 sem nenhuma nota explicativa e permanece em 2011 na
mesma situação?
Nas notas explicativas foram identificados passivos contingentes classificados como
perda remota e perda possível, na nota referente ao risco de taxa de câmbio. Como perda
remota, a empresa possui R$ 18.000,00, sendo que este valor não sofreu alteração desde 2008.
No entanto, os passivos contingentes classificados como perda possível, tiveram um aumento
de R$ 756.000,00 em relação ao período anterior, conforme Anexo 5.
Cabe ressaltar que a norma contábil NBC TG 25 (R1), em seu item 86, exige que a
entidade divulgue “para cada classe de passivo contingente na data do balanço, uma breve
descrição da natureza do passivo contingente”. O referido item não foi atendido, já que não
foram encontradas informação a respeito do fato.
Quanto à movimentação das provisões ambientais em 2012, não houve alteração em
relação ao período anterior conforme Anexo 6. Porém, foi possível identificar a descrição da
provisão, que se refere a auto de infração, aguardando análise da defesa apresentada,
conforme Anexo 7. Sendo assim, a empresa atendeu parcialmente o item 85, alínea a da
norma contábil.
A provisão para passivo ambiental de 2011, constante da Figura 5, adiante foi
reconhecida no exercício de 2010, na rubrica Outros Passivos. Tal rubrica aparece com nota
explicativa, mas sem a informação da sua classificação como Passivo Circulante ou Não
Circulante. No entanto, neste período de 2012, o mesmo valor é apresentado como Passivo
Não Circulante, mas a nota explicativa (e) não esclarece o motivo do aumento de R$
386.000,00.
Na referida nota consta apenas que o “valor registrado de acordo com a política
ambiental da Companhia e as exigências legais aplicáveis. A provisão para recuperação
ambiental é constituída quando da identificação de uma área impactada que gera uma
obrigação para a Companhia” (EMPRESA, 2012, p.101). Figura 5 – Recorte da Nota Explicativa de Provisões Diversas em 2012
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2012, p. 100).
No que se refere aos passivos contingentes classificados como perda remota e perda
possível, na nota referente ao risco de taxa de câmbio, foram encontradas informações a
respeito da expectativa de perda remota, sendo que esta não sofreu alteração desde 2008.
Para os passivos contingentes classificados como perda possível, houve aumento, de
R$ 1.328.000,00 em relação ao período anterior, conforme Anexo 8. Diferentemente dos
outros períodos, consta das notas explicativas da empresa, a descrição do passivo contingente
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ambiental de perda provável, a posição e os valores referentes aos períodos atual e anterior.
Desta forma, a empresa atendeu ao item 86 da norma contábil NBC TG 25 (R1).
Em 2013, não houve alteração em relação ao período anterior das provisões
ambientais, que a empresa denomina obrigações presentes, conforme Figura 6, a seguir.
Figura 6 – Movimentação das Obrigações Presentes
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2013, p. 95).
A nota explicativa (e), para a provisão do passivo ambiental, da Figura 7, é semelhante
à que consta nas demonstrações do período anterior. No entanto, o houve um amento de R$
5.934.000,00, mas não foi esclarecido o motivo do aumento.
Figura 7 - Provisões
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2013, p. 99).
Cabe esclarecer que no Balanço Patrimonial da empresa, constam no Passivo Não
Circulante, as rubricas “provisões para contingências” e “provisões diversas”. Ambas,
incluem valores referente a provisões ambientais, conforme as figuras 6 e 7. Sendo que, na
rubrica provisões para contingências, a empresa apresenta a descrição de obrigações
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presentes, subitem de ações ambientais, que trata do auto de infração no valor de R$ 2.000,00.
Já na rubrica provisões diversas, a empresa apresenta a provisão de passivo ambiental, que
trata da provisão para recuperação ambiental, no valor de R$ 13.061.000,00.
Os passivos contingentes classificados como perda remota e perda possível, foram
encontrados na nota referente ao risco de taxa de câmbio. Os valores de expectativa de perda
remota, não sofreram alteração. Porém, os passivos classificados como perda possível
aumentaram para R$ 36.478.000,00. Em nota explicativa, a empresa informa tratar-se de
“processos envolvendo riscos ambientais referentes aos Estados de Minas Gerais e Espírito
Santo, no que se referem a autuações pelos órgãos de fiscalização” (EMPRESA, 2013, p. 98).
Afirma, também, que tais processos estão em diversas fases processuais, nas esferas
Administrativa e Judicial. Desta forma, atendeu ao item 86 da norma contábil, quanto a breve
descrição do passivo contingente.
Referente ao período de 2014, a empresa apresentou a movimentação da rubrica
provisões para contingências, com a descrição de obrigações presentes, subitem de ações
ambientais, que trata do auto de infração que passou de R$ 2.000,00 para R$ 91.000,00.
Já na rubrica provisões diversas, a empresa apresenta a provisão de passivo ambiental,
que trata da provisão para recuperação ambiental, citada no período anterior, teve uma
redução passando de R$ 13.061.000,00 para R$ 4.262.000,00 (EMPRESA, 2014, p. 73). No
entanto, não foi informado se a redução foi decorrente de reclassificação para possível,
reversão ou utilização da provisão.
No que se refere aos passivos contingentes classificados como perda remota e perda
possível, foram encontrados na nota referente ao risco de taxa de câmbio. Os valores de
expectativa de perda remota, sofreram alteração passando de R$ 18.000,00 para R$
45.000,00, sendo este o primeiro aumento desde 2008.
Quanto os passivos classificados como perda possível, houve aumento de R$
18.975.000,00. Em nota explicativa, a empresa informa tratar-se de “processos envolvendo
riscos ambientais referentes aos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, no que se referem
a autuações pelos órgãos de fiscalização” (EMPRESA, 2014, p. 72). Afirma, também, que tais
processos estão em diversas fases processuais, na esfera judicial. Desta forma, atendeu
parcialmente ao item 86 da norma contábil, quanto a breve descrição do passivo contingente.
Na Figura 8, adiante, no período de 2015, a empresa apresentou a movimentação da
rubrica provisões para contingências, com a descrição de obrigações presentes, subitem de
ações ambientais, passando o total para R$ 155.000,00. Tal provisão refere-se ao auto de
infração, anteriormente mencionado. Figura 8 – Movimentação das Provisões
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2015, p. 60).
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Quanto à provisão de passivo ambiental, que trata da provisão para recuperação
ambiental, que no período anterior o saldo foi de R$ 4.262.000,00, em 2015 foi zerado.
(EMPRESA, 2015, p. 64). Também, não foi informado se a redução foi decorrente de
reclassificação para possível, reversão ou utilização da provisão.
Devido ao desastre ambiental ocorrido no dia 05 e novembro de 2015, a empresa
reconheceu provisão para recuperação socioambiental e socioeconômica, no Passivo
Circulante o montante de R$ 1.949.964.000,00 e no Passivo Não Circulante R$
8.054.838.000,00, conforme Figura 9, a seguir: Figura 9 – Provisões Diversas
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2015, p. 64).
A nota explicativa (c) da figura 9, esclarece que a provisões referentes ao rompimento
da barragem de rejeitos de Fundão, remetendo para o descrito na Nota 3 das Notas
Explicativas às Demonstrações Financeiras da empresa, em 2015. Na referida Nota 3, a alínea
g, trata das provisões diversas, com informações sobre a constituição das provisões, tendo
sido considerado o fluxo de desembolso esperado nos próximos 15 anos, até 31 de dezembro
de 2030 (EMPRESA, 2015, p.35). Cabe ressalatar, que o item 85da norma contábil NBC TG
25 (R1) foi atendido completamente.
Os passivos contingentes classificados como perda remota, passaram para o total de
R$ 54.000,00, já os de perda possível, passaram para R$ 62.893.000,00.
A tabela 1, adiante, mostra a evolução das provisões, dos passivos contingentes de
perda possível, bem como os de perda remota das notas explicativas dos períodos estudados.
Tabela 1 – Resumo das Contingências Ambientais
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Passivo Circulante 0 0 0 0 0 0 0 1.949.964
Passivo Não Circulante 0 0 0 0 0 0 0 8.054.838
Provisão Ambiental (1) Passivo Não Circulante 0 0 6.741 6.741 7.127 13.061 4.262 0
Provisão Ambiental (2) Passivo Não Circulante 109 109 76 2 2 2 91 155
Perda Possível Não classificado 1.525 1.919 28.612 29.368 30.696 36.478 55.453 62.893
Perda Remota Não classificado 18 18 18 18 18 18 45 54
Períodos/Valores em milhares de ReaisClassificação no
Balanço Patrimonial Passivos Ambientais
Provisão p/ recuperação
socioambiental e
socioeconômica
Fonte: Demonstrações Contábeis da empresa de 2008 a 2015.
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Cabe esclarecer na tabela 1 que a provisão ambiental (1) é referente à provisão de
passivo ambiental, que trata da provisão para recuperação ambiental, conforme figura 7. Já a
provisão ambiental (2) é referente ao que se refere a auto de infração, aguardando análise da
defesa apresentada, conforme Anexo 7. Quanto às contingências com perda possível, são
referentes aos “processos envolvendo riscos ambientais referentes aos Estados de Minas
Gerais e Espírito Santo, no que se referem a autuações pelos órgãos de fiscalização”
(EMPRESA, 2015, p. 64).
O que se apurou quanto ao atendimento dos itens 85 e 86 da NBC TG 25(R1) no que
se refere a divulgação exigida, foi que a empresa atende parcialmente aos itens. Apenas o ano
de 2015, foi o que teve mais informações sobre as provisões ambientais e passivos
contingentes ambientais.
5 – Considerações Finais
O presente trabalho teve como objetivo analisar as demonstrações contábeis da
empresa Empresa Mineradora S.A. à luz da Norma Brasileira de Contabilidade NBC TG 25
(R1) no que se refere às divulgações provisões e aos passivos contingentes.
Foi observado que as notas explicativas referentes às provisões, são mais extensas em
explicação quando são referentes às provisões tributárias. Também, cabe ressaltar que as
demonstrações financeiras de 2008 e 2009 tinham apenas 10 páginas, enquanto as posteriores,
de 2010 a 2015, tinham 136, 108, 123, 126, 93, 88, respectivamente.
No entanto, maior quantidade de páginas não significa melhoria da qualidade, pois foi
verificado que a norma NBC TG 25(R1), no que se refere aos itens de divulgação, não foi
atendida em sua totalidade. Principalmente, na divulgação de passivos contingentes, pois a
norma exige que para a empresa deve divulgar, para cada classe de passivo contingente na
data do balanço, uma breve descrição da natureza do passivo contingente.
Observou-se, também, que falta clareza nas informações, pois o uso inadequado de
termos como provisões e contingencias, estando em desacordo com a norma contábil. A
demonstração financeira com mais informações, sobre a divulgação de provisões e passivos
contingente, foi a de 2015
A presente pesquisa revelou que a empresa precisa, também, ajustar suas
demonstrações financeiras para atender à norma contábil de provisões e passivos
contingentes. Sendo assim, surge a seguinte questão: estão sendo atendidas em sua totalidade,
as exigências das outras normas brasileiras de contabilidade?
O resultado encontrado no presente trabalho, não foi diferente das pesquisas de
Caetano et al. (2010), Oliveira et al (2011), Silva (2012) e Matias (2013). Porém, a adesão da
norma em sua totalidade melhora a qualidade das demonstrações financeiras, beneficiando,
principalmente, seus usuários.
Como trabalhos futuros, sugere-se a ampliação da pesquisa para as empresas do
mesmo setor econômico, visando comparação dos resultados.
6 – Referências Bibliográficas
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EMPRESA, Mineração S.A.. Relatório da Administração e Demonstrações Financeiras 2013.
Disponível em http://www.empresa.com/wp-content/uploads/2015/11/Relatorio-da-
Administra-o-e-Demonstra-es-Financeiras-20131.pdf. Acesso em 13/11/2016.
EMPRESA, Mineração S.A.. Relatório da Administração e Demonstrações Financeiras 2012.
Disponível em http://www.empresa.com/wp-content/uploads/2015/11/Relatorio-da-
Administra-o-e-Demonstra-es-Financeiras-20121.pdf. Acesso em 13/11/2016.
EMPRESA, Mineração S.A.. Relatório da Administração e Demonstrações Financeiras 2011.
Disponível em http://www.empresa.com/wp-content/uploads/2015/11/Relatorio-da-
Administra-o-e-Demonstra-es-Financeiras-20111.pdf. Acesso em 13/11/2016.
EMPRESA, Mineração S.A.. Relatório da Administração e Demonstrações Financeiras 2010.
Disponível em http://www.empresa.com/wp-content/uploads/2015/11/Relatorio-da-
Administra-o-e-Demonstra-es-Financeiras-20101.pdf. Acesso em 13/11/2016.
EMPRESA, Mineração S.A.. Relatório da Administração e Demonstrações Financeiras 2009.
Disponível em http://www.empresa.com/wp-content/uploads/2015/11/Relatorio-da-
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EMPRESA, Mineração S.A.. Relatório da Administração e Demonstrações Financeiras 2008.
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14
ANEXOS
Anexo 1 – Recorte das Notas Explicativas da Empresa sobre Provisões em 2008
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2008, p. 08).
15
Anexo 2 – Recorte das Notas Explicativas da Empresa sobre Riscos da Taxa de Câmbio
em 2008.
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2008, p. 10).
16
Anexo 3 - Recorte das Notas Explicativas da Empresa sobre Riscos da Taxa de Câmbio
em 2009.
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2009, p. 10).
17
Anexo 4 – Passivos Contingentes – Classificação em 2010
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2010, p. 123).
18
Anexo 5 - Recorte das Notas Explicativas da Empresa sobre Riscos da Taxa de Câmbio
em 2011
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2011, p. 98).
19
Anexo 6 – Obrigações Presentes
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2012, p. 96).
20
Anexo 7 –Recorte das Provisões reconhecidas pela Companhia para litígios
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2012, p. 98).
21
Anexo 8 – Passivos Contingentes
Fonte: Demonstrações Financeiras da Empresa (2012, p. 117).
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