análise qualiquantitativa dos resíduos de serviço … quanto à origem, eles foram subdivididos...
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Análise qualiquantitativa dos resíduos de serviço de saúde
gerados em um hospital de Governador Valadares - MG
Marco Antônio Pereira Batista - Aluno do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do
IFMG, campus Governador Valadares. marcko190@hotmail.com
Luiz Fernando da Rocha Penna - Professor Mestre do Curso de Tecnologia em Gestão
Ambiental do IFMG, campus Governador Valadares.
RESUMO
Com o progressivo acréscimo nos atendimentos hospitalares e, consequente aumento da geração de “lixo”, tornou-se necessário estabelecer uma legislação abrangente neste setor, a NBR 10.004/04, juntamente com a resolução 283/01 do CONAMA e finalmente a Lei 12.305/10, vieram para orientar quanto à correta administração do manuseio dos resíduos gerados. O objetivo geral deste trabalho é analisar qualiquantitativamente os resíduos gerados no hospital pela observação não participativa e analise criteriosa dos dados que foram fornecidos pelo PGRSS local. Essa e uma pesquisa de natureza qualitativa, quantitativa, exploratória e descritiva. Os resultados encontrados mostram que os resíduos não estão sendo gerenciados adequadamente como preconizam as leis vigentes atualmente, sendo a falta de conhecimento da maneira correta de manipular os resíduos gerados uma possível causa dos problemas encontrados no decorrer da apresentação deste trabalho. Após chegar a estas conclusões foi então possível sugerir que houvesse algumas mudanças para um melhor gerenciamento no setor analisado. PALAVRAS-CHAVE: atendimentos hospitalares; analisar; gerenciamento.
ABSTRACT With the progressive increase in attendances and hospital, the consequent increase of the generation of ' junk ', it became necessary to establish a comprehensive legislation in this sector, the NBR 10,004/04, together with the resolution CONAMA 283/01 and finally the law 12,305/10, came to guide as to the correct handling of waste generated administration. The overall objective of this work is to analyze qualiquantitativamente waste generated in the hospital for observation and careful analysis of participatory not data that were provided by the PGRSS site. This is a qualitative research, quantitative, exploratory and descriptive. The results show that the residues are not being properly managed as advocate the laws currently being the lack of knowledge of the correct way to handle waste generated a possible cause of the problems encountered during the presentation of this work. After arriving at these conclusions it was then possible to suggest that there were some changes to better manage the sector analysed. KEY-WORDS: hospital attendances; analyze; management.
1 INTRODUÇÃO
A questão dos resíduos sólidos no Brasil tomou um novo rumo a partir das
novas normas ambientais, tais como: resolução do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA 358/05), Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 306/04 da
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Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Norma Brasileira de
Regulamentação (NBR 10.004/04) e a Lei 12.305/10. Note-se que antes havia
regulamentação, porém com a criação destes instrumentos que norteiam melhor o
seu gerenciamento, tornou-se possível seus geradores realizá-lo corretamente.
A quantidade de resíduos sólidos gerados no Brasil em 2011 totalizou 61,9
milhões de toneladas, 1,8% a mais do que no ano anterior, de acordo com os
dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2011, lançado pela
Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais
(ABRELPE), durante a 11ª Conferência de Produção Mais Limpa e Mudanças
Climáticas da Cidade de São Paulo. Segundo a publicação, do total coletado, 42%
do lixo acabam em local inadequado (ALBUQUERQUE, 2012).
Segundo a NBR n.º 10.004/04, resíduos sólidos são definidos como:
“Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem
industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição"
(ABNT, 2004). A Lei nº 12.305, que instituiu a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS), define resíduos sólidos como sendo:
Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (PNRS, 2010, p.1).
As grandes cidades brasileiras enfrentam sérios problemas com a falta de
local adequado para a destinação final de seus resíduos, devido ao aumento da
população, o que leva ao aumento na geração de resíduos sólidos. Em relação aos
resíduos de serviços de saúde (RSS), Piccoli afirma:
Quando falamos em resíduos hospitalares ou resíduos de serviços de saúde vemos outra situação peculiar, Não estamos tratando de algo homogêneo e hermético. As diferentes etapas como: acondicionamento, manuseio, transporte e tratamento devem ser observados com responsabilidade, porque o problema dos resíduos sólidos de serviços de saúde que é gerado abrange discussões relacionadas ao conceito de inesgotabilidade e aos reflexos da poluição do meio ambiente. Este resíduo disposto de forma inadequada, sem qualquer forma de tratamento, pode ser uma séria ameaça à saúde pública. O principal risco associado ao serviço hospitalar é o infectocontagioso (PICCOLI, 2008, p. 1).
Quando estes resíduos são lançados de forma inadequada no ambiente,
podem alterar o solo, a água e o ar, além de causarem danos a diversas formas de
vida. Doenças respiratórias, epidêmicas, intestinais, além das doenças
infectocontagiosas são causadas por organismos presentes neste tipo de resíduos
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(OLIVEIRA, 2002). Os RSS gerados em locais prestadores de serviços de saúde
necessitam de uma atenção particular devido à natureza implícita dos mesmos.
Até muito pouco tempo, os resíduos de serviços de saúde eram
denominados de “hospitalares”, em uma alusão explícita ao tipo de material gerado
pelos hospitais (ANVISA, 2006). Porém, na intenção de criar uma política
adequada aos resíduos oriundos de locais prestadores de serviços de saúde, seja
humana ou animal, utilizou-se a denominação Resíduos Sólidos de Serviços de
Saúde (RSSS) ou simplesmente Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) (ABNT,
1993). Além dos hospitais, outros estabelecimentos tais como: farmácias,
laboratórios, consultórios médicos e odontológicos, clínicas e hospitais veterinários,
bancos de sangue, também geram resíduos que se enquadram nos RSS (ANVISA,
2006). Em alguns locais de serviços de saúde tais como os hospitais há também a
geração de resíduos típicos de cozinhas e de escritórios, resíduos estes com as
mesmas características especiais devendo, portanto, receber o mesmo tratamento
dos resíduos sólidos de saúde. Neste sentido a cartilha Orientações técnicas diz:
... A segregação adequada dos RSS é um ponto critico do processo da minimização de resíduos potencialmente infectantes e químicos. Sem uma segregação adequada e no momento da geração, cerca de 70% a 80% dos resíduos gerados em serviços de saúde que não apresentam risco acabam potencialmente contaminados, aumentando os custos e impossibilitando sua reciclagem/reaproveitamento (BRASILIA - S. L. U., 2009, p. 11).
A Lei Estadual nº 13.317 de 24 de setembro de 1999 que institui o Código
de Saúde de Minas Gerais, diz em seu artigo 54 que:
Cabe ao Poder Público regulamentar o Plano Estadual de manejo de Resíduos Domésticos e Hospitalares segundo as normas legais pertinentes nos âmbitos federal, estadual e municipal, incluindo:
III – a obrigatoriedade nos estabelecimentos e serviços de saúde, de segregação dos resíduos perigosos no local de origem, de acordo com a legislação e com a orientação das autoridades competentes, sob a responsabilidade do gerador de resíduos;
IV – a definição do fluxo interno, do acondicionamento, do armazenamento e da coleta dos resíduos sólidos domésticos e hospitalares em estabelecimentos e serviços de saúde, de acordo com a legislação e as normas técnicas especiais vigentes.
V - o estabelecimento do reaproveitamento de materiais oriundos dos resíduos sólidos domésticos e de esgoto sanitário, obedecendo à legislação vigente, às especificações e às normas do órgão competente;
VI - a proibição de se agregarem materiais e resíduos tóxicos a materiais e resíduos inertes para uso que possa afetar a saúde humana e o ambiente... (MINAS GERAIS, 1999).
Em relação aos RSS, a Resolução Nº 358/05 do CONAMA veio classifica-
los por grupos, criando assim os resíduos do grupo A que são os resíduos que
apresentam risco à saúde pública e ao meio ambiente devido à presença de
agentes biológicos: são os inóculos, vacinas vencidas ou inutilizadas; Filtros de ar
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e gases aspirados da área contaminada, membrana filtrante de equipamento
médico hospitalar e de pesquisa, entre outros similares; Sangue, hemoderivados e
resíduos que tenham entrado em contato com estes; Tecidos, membranas, órgãos,
placentas, fetos, peças anatômicas; Animais, inclusive os de experimentação e os
utilizados para estudos, carcaças, e vísceras, suspeitos de serem portadores de
doenças transmissíveis e os mortos a bordo de meios de transporte, bem como, os
resíduos que tenham entrado em contato com estes; Objetos perfurantes ou
cortantes, provenientes de estabelecimentos prestadores de serviços de saúde;
Excreções, secreções, líquidos orgânicos procedentes de pacientes, bem como os
resíduos contaminados por estes; Resíduos de sanitários de pacientes; Resíduos
advindos de área de isolamento; Materiais descartáveis que tenham entrado em
contato com paciente; Lodo de estação de tratamento de esgoto (ETE) de
estabelecimento de saúde; e Resíduos provenientes de áreas endêmicas ou
epidêmicas definidas pela autoridade de saúde competente.
Compreende os resíduos do grupo B aqueles que apresentam risco à saúde
pública e ao meio ambiente devido as suas características físicas, químicas e
físico-químicas, tais como drogas quimioterápicas e outros produtos que possam
causar mutagenicidade e genotoxicidade e ainda os materiais por elas
contaminados; Medicamentos vencidos, parcialmente interditados, não utilizados,
alterados e medicamentos impróprios para o consumo, antimicrobianos e
hormônios sintéticos; e os demais produtos considerados perigosos, conforme
classificação da ABNT (tóxicos, corrosivos, inflamáveis e reativos) (ABNT, 2004).
Enquadram-se nos resíduos do grupo C os resíduos radioativos ou
contaminados com radionuclídeos, provenientes de laboratórios de análises
clínicas, serviços de medicina nuclear e radioterapia, segundo a Resolução da
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
Os resíduos do grupo D são todos os demais que não se enquadram nos
grupos descritos anteriormente, também chamados de resíduos comuns.
No grupo E são considerados os Materiais perfuro cortantes ou
escarificantes, tais como: lâminas de barbear, agulhas, escalpes, ampolas de vidro,
brocas, limas endodônticas, pontas diamantadas, lâminas de bisturi, lancetas;
tubos capilares; micropipetas; lâminas e lamínulas; espátulas; são considerados
ainda todos os utensílios de vidro quebrados no laboratório (pipetas, tubos de
coleta sanguínea e placas de Petri) e outros similares.
A lei Nº 12.305/10, que Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), alterando a Lei no 9.605 de Fevereiro de 1998, veio a classificar os
resíduos sólidos de duas formas: quanto à origem e quanto à periculosidade.
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Quanto à origem, eles foram subdivididos em: resíduos domiciliares, resíduos de
limpeza urbana, resíduos sólidos urbanos, resíduos de estabelecimentos
comerciais e prestadores de serviços, resíduos dos serviços públicos de
saneamento básico, resíduos industriais, resíduos de serviços de saúde, resíduos
da construção civil, resíduos agrossilvopastoris, resíduos de serviços de
transportes, resíduos de mineração; quanto à periculosidade, eles são classificados
como resíduos perigosos e resíduos não perigosos (BRASIL, 2010).
A realização do presente trabalho se justifica pelo fato de que mesmo
havendo um programa de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde
(PGRSS) no hospital estudado, há ainda a necessidade de um melhor
gerenciamento no setor, que tenha por metas levar em conta as legislações atuais
pertinentes ao correto acondicionamento, manuseio, disposição e descarte dos
RSS.
Considerando essa justificativa, a pergunta que se faz é: quais os tipos e
quantidades de RSS são gerados no hospital?
Este trabalho tem como objetivo geral analisar qualiquantitativamente a
geração de RSS no Hospital Municipal, e como objetivos específicos, identificar
através da analise da “tabela de controle” do PGRSS do hospital, os tipos e
quantidade de resíduos de serviço de saúde gerados no hospital.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
2.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DO ESTUDO
O município de Governador Valadares está localizado no leste de Minas
Gerais e possui uma população de 263.000 situa-se entre os paralelos 18º00 e
19º00 S e entre os meridianos 41º00 e 42º00 W (IBGE,2010). O hospital estudado
localiza-se na Rua Teófilo Otoni, nº 361, no Centro (Figura 1) desta cidade.
Governador Valadares possui 151 estabelecimentos de saúde, sendo 78
deles privados e 73 municipais entre hospitais, prontos-socorros, postos de saúde
e serviços odontológicos. A cidade possui 620 leitos para internação em
estabelecimentos de saúde. Na cidade, existem 2 hospitais especializados (ambos
privados) e 7 gerais, sendo 1 público, 2 filantrópicos e 4 privados. Governador
Valadares conta ainda com 152 médicos cirúrgicos, 175 clínicos, 52
complementares, 73 obstétricos, 146 pediátricos e 01 de outra especialidade,
totalizando 599 profissionais (DATASUS,2013).
O Hospital Municipal, objeto do estudo, é considerado de médio porte,
sendo o único existente na cidade de Governador Valadares que é atendido 100%
pelo SUS, sendo assim uma instituição de suma importância para a população de
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Governador Valadares e região. O referido hospital atende toda a região do Vale
do Rio Doce atingindo 86 municípios, têm 42 leitos cirúrgicos, 104 leitos clínicos,
56 leitos complementares, sendo: 14 leitos na unidade intermediaria, 10 leitos
unidade intermediaria neonatal, 4 leitos de isolamento, 8 leitos em UTI adulto tipo
II, e 20 leitos na UTI neonatal tipo II, totalizando assim 231 leitos para internação.
Em média seu atendimento diário em pronto socorro é de 660 pacientes (adulto e
infantil), possuindo em seu quadro atual de funcionários aproximadamente 900
profissionais entre efetivos e contratados (WIKIPEDIA,2013).
Figura 1 - Localização do hospital Municipal
Fonte - Google (2014)
2.2 TIPO DE ESTUDO
Segundo Sampieri (2006), este trabalho é de caráter quantitativo
exploratório, também chamado de estudo multimétodos por se tratar de um estudo
com varias abordagens em um assunto pouco estudado, trazendo a oportunidade
explorar, descobrir e formular novas hipóteses. É descritivo, por ser realizado no
local dos fenômenos a ser estudados descrevendo-os, analisando e coletando
dados. É também de caráter qualitativo, pois serão analisados os tipos de resíduos
gerados.
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2.3 TÉCNICAS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS
Para atingir os objetivos propostos, foram realizadas várias observações na área
de estudo, atuando como observador passivo, com o propósito de diagnosticar a
maneira como os funcionários da limpeza e da gestão administrativa estão
envolvidos com as diversas etapas do processo de gestão de RSS no hospital.
Foram feitos registros fotográficos em julho de 2013 e o acompanhamento de
pesagem durante o período de 01/03/2013 até o dia 31/03/2013, para a análise
quantitativa e qualitativa dos resíduos gerados, sendo que para realizar esta
analise foi criada uma tabela separando os resíduos gerados no hospital por
quantidade e por tipos. As datas para realização do registro fotográfico e o
acompanhamento da pesagem foram escolhida s aleatoriamente, sem o uso de
qualquer técnica.
Foram realizadas conversas informais com a coordenação do serviço de
limpeza para conhecimento da realidade dos funcionários deste setor.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A quantidade média dos resíduos de serviços de saúde gerados diariamente
no hospital é de 265,33 Kg/dia, sendo nomeados, segundo as normas, como
sendo: resíduos biológicos, perfuro cortantes e químicos, pertencendo aos grupos
A, B e E respectivamente. Braga (2012) em sua dissertação encontra valores
parecidos, com uma media diária de 208,4 kg que é o responsável por 64,4 % do
volume de RSS de todo o hospital. Porém, nota-se que no hospital de Caratinga o
resíduo gerado, por exemplo, na cozinha, pertencente ao grupo D, também é
analisado e seus dados se juntam aos dados encontrados nos outros setores.
O resíduo infectante, também chamado nesta tabela de resíduos biológicos,
pertencente ao grupo A, representa todos os dias, a maior quantidade gerada.
Podemos observar que em alguns dias há um maior acumulo de resíduos que são
pesados, enquanto que em outros este peso é menor. Não encontrado nenhum
estudo que aponte as razões para este fenômeno.
Outro fato que também chama a atenção é que não há nenhum pré-
tratamento para promover a redução da carga microbiana nos resíduos do grupo A
que são gerados, conforme orientações constantes nos artigos 15,16 e 19 da
Resolução 358 (CONAMA, 2005).
Em uma conversa informal com a coordenadora do setor de limpeza,
quando questionada a respeito da capacitação dos funcionários do setor, a mesma
informou desconhecer qualquer curso de capacitação e/ou treinamento para os
mesmos. Segundo ela o que é oferecido a estes são informações que, repassadas
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em reuniões organizadas pelo setor, atualiza-os sobre uma melhor forma de
gerenciar os resíduos que são gerados no hospital.
Segundo a NR 32, que trata da segurança e saúde no trabalho em serviço
de saúde, em seu item 32.8.2, consta que deve ser oferecido a todos os
funcionários que realizam serviços de limpeza, a capacitação e treinamento
inicialmente e de forma continuada, para evitar futuros vícios de procedimentos
passados por colegas.
A Tabela 01 mostra que o resíduo químico (grupo B) é o menor montante
gerado no mês inteiro, tendo sido recolhido apenas no dia 22/03. A presença desta
quantidade se explica pelo fato de que não são monitorados os resíduos de todos
os setores do hospital que geram este tipo de resíduo. Sendo focada a atenção
apenas na farmácia e esta quantidade representa os medicamentos vencidos que
são recolhidos apenas uma vez no mês. Outros setores, como o setor de raios x e
tomografia são terceirizados, ficando, portanto, sob a responsabilidade das
empresas que gerenciam estes setores darem a destinação final ambientalmente
adequada aos resíduos gerados.
Na tabela 01 observa-se a ausência do chamado “lixo comum” ou resíduo
do grupo “D”, isto acontece porque o mesmo não é gerenciado, apesar de constar
no PGRSS que ele deve ser monitorado, juntamente com os outros tipos de
resíduos.
Foram encontrados 637,80 kg de resíduos do grupo E, também chamado de
resíduos perfuro cortantes, representando 9% dos resíduos gerenciados no
hospital, que é um valor muito acima do encontrado por Braga (2012) em seu
trabalho que somou um total de 4%.
Observa-se que há uma grande quantidade de resíduos na segunda feira,
chegando às vezes quase a dobrar o peso ao ser comparado com a geração dos
resíduos que são recolhidos nos outros dias da semana. Uma possível explicação
para este fato é porque o caminhão da empresa SERQUIP não coleta os RSS aos
domingos, ficando assim acumulados para a segunda feira.
Para uma melhor compreensão dos resultados encontrados foi criada a
seguinte tabela, sendo analisados os resíduos por dia e ainda sendo anotadas
suas quantidades e seus tipos segundo a classificação introduzida com a resolução
358/05 do CONAMA.
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Tabela 01 - Quantidade e os tipos de resíduos gerados durante o mês de março/2013
Data
Biológico Grupo A
Químico Grupo B
Perfuro cortante Grupo E
Total geral diário
Sexta-feira 01/03/2013 268,00
2,20 270,20
Sábado 02/03/2013 182,80
8,00 190,80
Segunda-feira 04/03/2013 362,10
62,90 425,00
Terça-feira 05/03/2013 230,30
31,50 261,80
Quarta-feira 06/03/2013 212,80
8,50 221,30
Quinta-feira 07/03/2013 271,10
30,40 301,50
Sexta-feira 08/03/2013 183,40
20,70 204,10
Sábado 09/03/2013 328,00
328,00
Segunda-feira 11/03/2013 352,20
57,00 409,20
Terça-feira 12/03/2013 203,00
57,70 260,70
Quarta-feira 13/03/2013 161,30
17,10 178,40
Quinta-feira 14/03/2013 215,30
29,40 244,70
Sexta-feira 15/03/2013 160,60
17,00 177,60
Sábado 16/03/2013 184,60
16,40 201,00
Segunda-feira 18/03/2013 350,00
46,20 396,20
Terça-feira 19/03/2013 226,40
23,40 249,80
Quarta-feira 20/03/2013 223,20
13,30 236,50
Quinta-feira 21/03/2013 218,00
33,00 251,00
Sexta-feira 22/03/2013 150,00 269,50 19,00 438,50
Sábado 23/03/2013 182,10
10,30 192,40
Segunda-feira 25/03/2013 438,00
35,50 473,50
Terça-feira 26/03/2013 116,20
20,30 136,50
Quarta-feira 27/03/2013 232,00
11,00 243,00
Quinta-feira 28/03/2013 219,10
38,20 257,30
Sexta-feira 29/03/2013 173,90
22,10 196,00
Sábado 30/03/2013 147,00
6,70 153,70
TOTAL GERAL 5.991,40 269,50 637,80 6.897,70
Fonte: PGRSS organizado por Marco Antônio julho/2013
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Na Figura 02 vemos um gráfico para comparação da geração de resíduos no mês
de março/13, gerado a partir dos dados fornecidos pela tabela 01, onde podemos
observar a diferença entre os pesos dos resíduos biológicos, perfuro cortantes e
químicos.
Fonte: Adaptado do PGRSS (março/2013)
Figura 02 - Gráfico da geração de resíduos
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Foi observada a presença de um local em que são depositados resíduos
potencialmente recicláveis como papelão, plásticos e outros resíduos. (Figuras 03).
Estes resíduos também não são gerenciados e são destinados à Associação dos
Catadores de Materiais Recicláveis Natureza Viva – ASCANAVI. Analisando a
Figura 03, podemos deduzir que não há preocupação com a forma correta de
acondicionamento destes recicláveis.
Figura 03 - Depósito de recicláveis destinados à ASCANAVI
Fonte: Marco Antônio julho/2013
A Figura 04 mostra que há uma grande porcentagem dos resíduos do tipo
biológicos (87%). Há uma forte evidência que se trata de resíduos sendo
acondicionados de maneira incorreta, tornando possível a especulação de que haja
resíduos comuns e de cozinha misturados, visto que estes resíduos não são
monitorados pelo PGRSS.
Observa-se ainda no gráfico que o valor de 9% refere-se aos resíduos
perfuro cortantes gerados no hospital no período de 1º a 31 de março do ano de
2013. Braga (2012), que em sua dissertação “Diagnostico da produção de resíduos
de serviços de saúde de um hospital do leste mineiro: estudo de caso”, realizado
em um hospital de porte parecido com hospital de Governador Valadares, cita que
para a realização de seu trabalho encontrou uma media diária de 85,1 kg de
perfuro cortante totalizando 12,2 %. Isto pode significar um melhor controle no
hospital de Caratinga e, consequentemente falta de controle efetivo por parte dos
profissionais do hospital de Governador Valadares.
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Os resíduos químicos representados pelo valor 4% representam os resíduos
gerados na farmácia central do hospital, que conforme já relatado é formado pelos
medicamentos vencidos. Nota-se que há outros locais geradores de resíduos
químicos como os setores de raios X e tomografia, porém, como estes setores são
terceirizados eles gerenciam seus próprios resíduos diminuindo assim a quantia do
que é gerado no hospital.
Na Figura 04 analisamos a porcentagem dos tipos dos resíduos separados
como: biológicos, perfuro cortantes e químicos, através do gráfico de pizza gerado
a partir dos dados encontrados na Tabela 01.
Figura 04 - Porcentagem dos resíduos de acordo com a análise qualiquantitativa
Fonte: Marco Antônio julho/2013
Os resíduos sólidos gerados no município de Governador Valadares
atualmente estão sendo encaminhados para um aterro sanitário em Santana do
Paraíso. Os resíduos comuns são recolhidos todos os dias pelos funcionários do
serviço de limpeza urbana do município. Não há nenhum tipo de controle quanto
aos resíduos comuns.
Os resíduos de serviço de saúde que são gerados no hospital são
encaminhados para a cidade de Belo Horizonte, onde recebem o tratamento
térmico ambientalmente adequado. Estes resíduos são recolhidos por um
caminhão (Figura 05), da empresa SERQUIP, com funcionários próprios e
treinados para este serviço (Figura 06). Conforme a RDC da ANVISA estes
funcionários devem receber treinamento e EPI’s da empresa. A empresa SERQUIP
possui um centro de triagem no bairro Industrial onde são recolhidos os resíduos
87%
9%
4%
Biologico
Perfuro
Quimico
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do hospital, de outros serviços de saúde da cidade e arredores, e são
encaminhados para a sede, devendo então receber o tratamento ambientalmente
adequado para cada tipo de resíduo recolhido.
Figura 05 - Caminhão da empresa SERQUIP recolhendo os RSS no hospital.
Fonte: Marco Antônio julho/2012
Figura 06 - Resíduos perfuro cortantes sendo pesados.
Fonte: Marco Antônio julho/2012
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise criteriosa dos procedimentos adotados pelos profissionais
envolvidos diretamente como gerenciamento dos RSS no hospital e a forma
adotada nos procedimentos de manipulação usados pelos profissionais de outros
setores, faz-se necessário propor que se analise e que possivelmente indique
algumas linhas de ação tais como:
Sugerir seminários, reuniões, cursos e palestras para todos os funcionários,
em especial e inicialmente para o setor de enfermagem, com o intuito de formar
multiplicadores, estendendo depois para os outros setores. Isso poderia prevenir
possíveis acidentes com perfuro cortantes. Visto que este setor é o que mais sofre
com este tipo de acidentes, é preocupante o fato de não ter uma programação que
tenha por metas uma atualização destes profissionais referente à forma como são
geridos os resíduos gerados pelos mesmos.
Sugerir controle dos resíduos gerados nos setores terceirizados do hospital
para um efetivo conhecimento da grandeza e da natureza da geração de resíduos
do tipo químico.
Sugerir que seja reavaliada a qualificação dos funcionários do serviço de
limpeza referente a cursos de capacitação para manipulação dos resíduos. Foi
detectada uma deficiência na capacitação destes, e isso acaba refletindo na
maneira como os resíduos são manipulados e influi assim na quantidade dos
resíduos contaminados que são gerados.
Questionar a forma como são tratados os resíduos recicláveis que são
encaminhados para a ASCANAVI, pois segundo a legislação deve haver o
monitoramento sendo incluída a pesagem como forma de controle destes resíduos.
Recomendar que fosse reavaliada a questão dos resíduos comuns, pois,
assim como os recicláveis, este tipo de resíduo também deve ser monitorado e
pesado para que haja controle do PGRSS referente a todos os tipos de resíduos
gerados nos hospitais e serviços de saúde.
Propor futuros trabalhos nesta unidade de saúde para avaliar questões
relevantes que não foram levantadas neste trabalho tais como os resíduos líquidos
com possibilidade de contaminação, que são gerados nos banheiros e direcionados
para o sistema de esgotos do município sem qualquer tipo de tratamento prévio.
5 REFERÊNCIAS
ABNT. (2004). NBR/ISO-10004:2004 - Classificação de Resíduos Sólidos. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
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