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Análise da Relação entre a massa corpórea e a massa das mochilas em
escolares do 4º e 5º ano do Ensino Básico em Santarém-PA
Leilane de Aguiar Silva1
leilaneaguiar@hotmail.com
Pós-graduação em Traumato-ortopedia com Ênfase em Terapia Manual– Faculdade Ávila
Resumo
Esta pesquisa tem como objetivo pesquisar a relação entre as massas das cargas escolares e
a massa corpórea das crianças e verificar se ocorrem excessos. Foram selecionadas 120
crianças de ambos os sexos com idades entre 08 e 09 anos, cursando o 4 º e 5º anos do
Ensino fundamental em duas escolas públicas e duas escolas particulares, perfazendo 30
crianças por escola. As crianças e suas mochilas foram pesadas. Então, inferiu-se se o
resultado ultrapassava ou não os 10% de peso das cargas escolares em relação à massa
corpórea. Como principais resultados, obteve- se que: 54,2% das crianças carregavam
mochilas dentro da carga recomendada, e 45,8% carregavam cargas escolares acima do
recomendado, dentre estas 74,97% eram provindos de escolas particulares. Com relação à
variável sexo 52,5% dos meninos carregavam carga escolar acima do recomendado e 39%
das meninas sofriam do mesmo problema. Com relação à variável série 50% das crianças no
4º ano e 34,4% das crianças no 5º ano transportavam mochilas acima do recomendado.
Concluiu-se, portanto que os alunos de Escolas Particulares, meninos e alunos do 5º ano são
os que mais transportam mochilas com peso acima do recomendado pela OMS.
1. Introdução
À medida que os membros posteriores progressivamente assumiram a função locomotora, a
coluna vertebral assumiu um novo papel. Não sendo mais mantida horizontalmente onde está
sob pressão, mas é sendo um bastão de sustentação de peso, mantido ereto por ligamentos e
músculos (PALASTANGA; FIELD; SOAMES, 2000).
Na segunda infância, a criança tem estrutura anatômica bastante flexível e sujeita a possíveis
sobrecargas. Assim, a coluna começa a suportar todos os tipos de cargas sofrendo
compressões diversas. Uma das compressões sofridas especialmente por crianças em idade
escolar diz respeito ao uso da mochila com carga excessiva. Neste contexto, “A mochila
escolar, que se propunha a facilitar o transporte de material escolar tem representado muitas
vezes um risco para a saúde de crianças e adolescentes”. (PEREZ, 2002)
Entretanto tal excesso pode ter conseqüências, pois “as cargas impostas durante o período de
crescimento podem modelar o tamanho, o formato e a estatura da coluna vertebral e levar ao
aparecimento de curvaturas posturais anormais da coluna vertebral do indivíduo jovem.”
(HONG e CHEUNG, 2003).
Conhecer uma realidade é o primeiro passo para mudá-la. Desta forma, saber se as crianças da
rede pública e particular que cursam 4º e 5º anos estão carregando massa equivalente a mais
que 10% de sua massa corporal, é de relevância para prevenir complicações que podem levar
a danos irreversíveis a saúde da criança. Portanto, identificar o transporte de carga excessiva
em mochilas dos escolares torna-se uma questão de saúde pública de suma importância para a
sociedade.
Ante o exposto, esta pesquisa tem como objetivo geral pesquisar a relação entre as massas das
cargas escolares e a massa corpórea das crianças e como objetivos específicos verificar a
razão entre a massa das crianças e a massa das cargas, analisar se as crianças estão carregando
1Pós-graduando em Fisioterapia Traumato-ortopédica .
2
em suas mochilas mais que 10% do seu peso corpóreo e observar se ocorrem diferenças
significativas entre os resultados das escolas estudadas.
2. Revisão de Literatura
2.1.A Coluna Vertebral
A coluna vertebral constitui o eixo ósseo do corpo e tem que conciliar dois imperativos
mecânicos contraditórios: oferecer resistência (rigidez) de um pilar de sustentação e
elasticidade (flexibilidade) necessária à movimentação do tronco, tem como função ainda
proteger a medula espinhal a qual está alojada no seu interior, servir de pivô para suporte e
mobilidade da cabeça, permitir movimentos entre as diversas partes do tronco e dar fixação a
numerosos músculos (DANGELO, 2000).
A coluna vertebral é dividida em segmentos que, no sentido crânio-caudal, classifica-se em
cinco grupos: coluna cervical – formada por 7 vértebras que se localizam no pescoço; coluna
torácica ou dorsal – formada por 12 vértebras localizadas na região do tórax; coluna lombar –
formada por 5 vértebras localizadas na região do abdome; osso sacro – formado por 5
vértebras que se situam imediatamente abaixo das vértebras lombares e se fundem em uma
única peça, que é o alicerce da pelve e se articula com os ossos do quadril; cóccix: formado
por 4 vértebras coccígeas (HALL, 2000).
As 33 vértebras que formam a coluna vertebral são sobrepostas umas sobre as outras no
sentido longitudinal, de modo a formar um conjunto que se estende pela nuca, tórax, abdome
e pelve. Esses ossos assumem um alinhamento característico para exercer a função de
sustentação, equilíbrio e postura (MERCÚRIO, 1997).
Segundo Oliver (1999), apresenta-se entre os corpos vertebrais, um disco, depressível, capaz
de absorver os aumentos de pressão numa súbita sobrecarga da coluna e conferir mobilidade
entre as vértebras adjacentes. Estes discos que se intercalamsão de fibrocartilagem (com uma
polpa gelatinosa central), chamados discos intervertebrais que são envolvidos por uma
estrutura fibrosa entrecruzada e firmemente ajustada (anéis fibrosos). Os discos intervertebrais
suportam enormes esforços, de modo que os anéis têm de ser fortes e elásticos.
Quanto aos movimentos Bhnke (2004), descreve três planos e três eixos e são tidos como
movimentos fundamentais (ações cumulativas de todas as articulações das 33 vértebras) que
consistem de: flexão, extensão, flexão lateral e rotação.
O maior número de movimentos da coluna vertebral ocorre nas regiões cervical e lombar ,
sendo que a amplitude de movimento para flexão/extensão nas regiões cervical e lombar
atingem até 17º na articulação vertebral C5-C6 e até 20º em L5-S1. O movimento é mais
restrito na região torácica devido à fixação das costelas e não existe movimento nas regiões
sacrais e coccígeas porque as vértebras são fundidas(BHNKE, 2004; HALL, 2000).
Com relação às curvaturas estas aparecem à medida em que o recém-nascido adquire controle
sobre seu corpo, a forma da coluna progressivamente se altera. Nas regiões torácica e sacral, a
curvatura original permanece, ou seja, com concavidade anterior; e, nas regiões cervical e
lombar a curvatura primitiva desaparece e, gradualmente, aparecem as curvaturas em sentido
oposto, suas presenças aumentam a resistência aos esforços de compressão axial (DANGELO,
2000; KAPANDJI, 2000).
Acerca disso Kisner & Colby (1998) explicitam que as curvaturas anteriores estão nas
regiões cervical e lombar sendo que lordoseé também um termo usado para denotar a
curvatura anterior, embora algumas fontes usem lordose para denominar condições
anormais como hiperlordose lombar e que cifose é o termo usado para denominar uma
curvatura posterior. Postura cifótica refere-se a uma curvatura posterior excessiva na
coluna torácica.
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2.2. Desenvolvimento na Segunda Infância
A idade é fator primordial na modificação dos discos intervertebrais, dos ligamentos. A
criança possui uma coluna vertebral extremamente móvel e flexível, características estas que
vão diminuindo com a idade, (LATARJETE apud CARVALHO, 2004).
Crianças na segunda infância estão em um período intermediário entre o 1º estirão de
crescimento, que ocorre do nascimento até o terceiro ano de idade, e o 2º que acontece na
adolescência (COSTA, 1997).
Para Behrman et al(2002), durante o período da segunda infância (6 aos 12 anos) as crianças
enfrentam novos desafios. O crescimento durante este período é, em média, de 3 a3,5 kg e 6
cm por ano.
Este período intermediário é descrito por como um período de crescimento linear regular enão
existem diferenças marcantes entre meninos e meninas até o final da segunda
infância.(BRADFORD et al., 2004;ROMAM, 2004)
Rosa Neto apud Lima et al (2007) relatam que dos 7 aos 12 anos, a postura da criança sofre
grande transformação na busca do equilíbrio, compatível com as novas proporções de seu
corpo. Nessa idade, em que sua mobilidade é extrema, a postura se adapta à atividade que ele
está desenvolvendo.
Para Almeida (2006) esta imaturidade do sistema músculo esquelético de crianças de 9 a 11
anos,facilita a ação de fatores de risco que devem ser r imediatamente detectados e
eliminados, a fim de prevenir danos futuros ao indivíduo.
2.3. O Peso ideal da mochila escolar
As mochilas escolares tem sido tema de constante discussão atualmente devido seu peso,
considerado, por vezes não adequado. Para Teixeira (1997), a idade escolar é uma fase em
que os alunos são obrigados a carregar muito material escolar diariamente.
Estudos sobre o peso adequado a ser carregado por escolares foram desenvolvidos por Hong
et al (2000) que ao examinarem crianças na faixa etária de 10 anos através da cinemática e do
padrão da marcha – mensuraram a freqüência cardíaca, pressão arterial e gasto energético em
crianças carregando mochilas que pesavam 10, 15 e 20% do próprio peso corporal. Neste
estudo, os resultados mostraram uma significante diferença volume de oxigênio, o gasto
energético e a recuperação da pressão arterial para cargas entre 10 e 20% do peso corporal. Os
autores recomendaram o peso ideal como 10% do peso corporal, uma vez que não foi
encontrada significante diferença entre os parâmetros medidos entre a condição de marcha
sem carga e a condição com carga de 10% do peso corporal.
Hong e Cheung (2003) analisaram o comportamento cinemático da coluna vertebral durante
o carregamento de mochilas de duas alças de ombros em escolares. Verificaram uma maior
inclinação para frente do tronco no plano sagitalquando a carga das mochilas de 15% a 20%
era transportada. No entanto, a marcha sem carga ou com carga de 10% não apresentavam
inclinação significante.
Carvalho (2004) relata em seu estudo de análise cinemática da marcha com mochilas em
escolares sem carga e com carga de 10% e 20% do peso corporal. O pesquisador concluiu que
o transporte de carga de 20% do peso corporal apresenta comprometimento do aparelho
locomotor com inclinação e rotação do dorso. O transporte de carga de 10% apresentou
variação postural mais similar ao padrão sem carga.
Em pesquisa realizada por Perez (2002) com médicos (traumatologistas e ortopedistas),
fisioterapeutas e professores de educação física em Curitiba – Paraná, a maioria (65,7%) dos
pesquisados consideraram que o peso adequado para o transporte da mochila escolar, com
menor probabilidade de causar disfunção na coluna vertebral da criança e do adolescente é no
máximo 10% do peso de seu portador. Temos ainda que a Organização Mundial da Saúde
4
(OMS) o peso de mochilas, pastas e similares não deve ultrapassar 5% do peso de criança da
pré-escola e 10% do peso do aluno do ensino fundamental (MARTÍNEZ& ZÁCARO, 2006).
Considerando os resultados descritos na literatura este trablaho adotará como peso ideal para
as cargas escolares o máximo de 10% em relação à massa corpórea do indivíduo.
Apesar das inúmeras pesquisas e constações acima, percebemos que em todo o mundo as
cargas escolares têm sido utilizadas de forma abusiva. Segundo Hong et al. (2000), estudos
publicados pelo Departament of Orthopaedic Surgery at the University of Hong Kong, a
comunidade estudantil local transportava peso correspondente, em média, a 20% do peso
corporal.
Os estudantes italianos avaliados por Negrini et al(1998) transportavam carga média de 22%
do peso corporal. A pesquisa realizada por Grimmer et al (apud CARVALHO, 2004), na
Austrália, detectou a metade dos estudantes (50%), na faixa etária até os 18 anos,
transportando material escolar com peso acima de 10% do peso corporal. Nos Estados
Unidos, Fojuoh et al (2003), pesquisaram em escolares na faixa etária de 5 a 12 anos ,
concluiu que 26 % dos alunos carregavam mochilas com carga igual ou superior a 10% de sua
massa corpórea.
No Brasil, não tem sido diferente, Ferst (2003) verificou os alunos carregavam mais que 10%
de sua massa corporal em um colégio militar de Curitiba e detectou que 70,47% deles na
primeira avaliação; e 80% na segunda avaliação estavam carregando mais que 10% de sua
massa corpórea em suas mochilas.
Almeida (2006) em pesquisa realizada com alunos do 5º ano em Tubarão (SC) relatou que
69,67% transportavam carga escolar acima dos 10% recomendados.Os resultados dos autores
acima mostram-se preocupantes na medida em que o mesmo autor considera que o transporte
de mochilas constitui um fator de risco para o surgimento de algias vertebrais. Garavelo &
Silvia (1997) concordam, relatando que se a criança errar na maneira de carregar as mochilas,
desvios ortopédicos podem aparecer facilmente.
3.Metodologia
Após aprovação em comitê de ética e pesquisa, prosseguimos com o trabalho que contou com
prévia autorização das escolas envolvidas através de uma declaração de autorização; bem
como a autorização dos pais das crianças que foram pesadas, feita através de um termo de
consentimento livre e esclarecido.
A escolha da amostra ocorreu de forma aleatória, considerando como critérios de inclusão
crianças que tinham idade de 8 ou 9 anos e cursavam a 4ºou 5º anos do Ensino Fundamental,
podendo ser de ambos os sexos, posto que nesta faixa etária não existem diferenças
significativas no sistema músculo esquelético entre o sexo masculino e feminino.As crianças
estudadas tinham idade de 8 ou 9 anos de ambos os sexos e cursavam a 4º ou 5ºanos do
ensino fundamental em duas escolas públicas e duas escolas particulares distintas, perfazendo
30 crianças por escola em um total de 120 crianças na pesquisa.
Nas escolas selecionadas, foi realizado o seguinte procedimento: fizemos a pesagem das
crianças em balança digital da marca Glicomed® (290 x 290 x43 mm) com divisão de 100
gramas e capacidade máxima de 150 kg sendo que, entre as pesagens, a balança era limpa e
era colocado um peso padrão de 2 quilogramas da marca Toledo®, certificado pelo Instituto
Nacional de Metrologia (INMETRO) e previamente pesado em balança de alta precisão, que
era usado para aferir a balança entre as pesagens, permitindo saber se a mesma estava pesando
corretamente, não sendo observado em todo o trabalho diferenças na detecção dos dois
quilogramas colocados na balança.
Ao serem pesadas as crianças estavam descalças, podendo estar de meias, e todas estavam
com o uniforme escolar. As crianças subiram na balança e ficaram nela na posição ortostática
5
até que massa fosse detectada e registrada.
De forma subseqüente, pesamos suas mochilas que foram acomodadas na balança na posição
horizontal, a massa das mochilas foi registrada ao lado da massa da criança em um
formulário. Armazenamos os resultados de cada escola em um banco de dados e procedemos
com as análises estatísticas.
4.Resultados e Discussão
Para melhor entendimento dos gráficos foi utilizado o termo “recomendado” para denominar
a quantidade de alunos que possui massa da mochila escolar inferior ou igual a 10% de sua
massa corpórea. Consequentemente, os alunos fora deste grupo representam os que carregam
cargas escolares acima do recomendado, sendo descritos como “acima”.Denominaremos
usualmente as escolas perquisadas como: Escola Pública A; Escola pública B; Escola
Particular A e Escola Particular B.
Realizou-se estatística descritiva utilizando média e desvio padrão, com as massas corporais,
as massas das mochilas e as razões massa da mochila / massa corpórea obtendo a Tabela 1.
Escola
Pública A
Escola
Pública B
Escola
Particular A
Escola
Particular B Total
Massa Corporal 25,36 ± 3,91 30,93 ± 8,45 31,62 ± 5,33 33,20 ± 9,52 30,28 ± 7,68
Massa da Mochila 1,92 ± 0,59 2,01 ± 0,72 3,91 ± 1,23 4,08 ± 0,94 2,98 ± 1,36
CorporalMassa
MochiladaMassa
0,08 ± 0,02 0,07 ± 0,03 0,13 ± 0,04 0,13 ± 0,04 0,10 ± 0,04
Tabela 1- Média da massa corporal, da massa da mochila e da razão massa da mochila / massa corporal,
acompanhados de seus respectivos desvios padrões.
Em relação às médias da massa córporea, observou-se pouca diferença entre as escolas
estudadas, exceto pela média obtida na Escola Pública A que foi inferior as demais escolas.
Em relação as massas das mochilas, o resultado obtido revela que a carga escolar dos alunos
de escolas particulares é aproximadamente o dobro dos alunos de escolas públicas. A massa
das mochilas das escolas particulares, encontra-se fora do sugerido pelo estudo de Rebelattoet
al (1991), os quais recomendam que entre 8-9 anos, as crianças devem transportar no máximo
0,929 quilogramas em mochilas com fixação dorsal, e 1,151 quilogramas em mochilas com
fixação escapular. Diferentemente da pesquisa de Rebelattoet al (1991), a atual pesquisa não
deu relevância para a variável tipo de mochila escolar, todavia a maioria dos alunos de escolas
públicas pesquisados encontra-se transportando carga escolar dentro do recomendado por
Rebelattoet al (1991).
Em relação as razões massa da mochila / massa copórea, percebemos que tanto as médias
quanto os devios padrões são maiores nas escolas particulares observanso-se que as escolas
públicas possuem valores aceitáveis bem como as escolas particulares apresentam valores
acima dos aceitáveis, tomando em conta que a média das razões aceitável é inferior ou igual a
0.10 ou 10%. Entretanto, na totalidade dos dados, o valor encontrado é aproximandamente
igual a 0.10 ou 10%.
As razões das escolas particulares A e B que são em torno de 13% ainda são menores que os
encontrados na literatura em outros lugares do mundo como os 20 % detectados em Hong
6
Kong (Hong et al, 2000) e a carga média de 22% nos estudantes italianos (NEGRINI,
CARABALONA E PINOCHI, 1998).
Considerando todos os 120 pesquisados, a porcentagem de alunos com carga escolar
recomendada é descrita no gráfico 1.l
Gráfico 1- Percentual de escolares que possuem carga escolar dentro do recomendado ou acima deste.
O gráfico 1 mostra que a maioria dos pesquisados(54,2%) possuem carga escolar dentro do
recomendado, sendo destes 41,6% de escolas públicas e 12,6% de escolas particulares. Porém,
a porcentagem de pesquisados que possuem carga escolar acima do aceitável é relativamente
expressiva. Observa-se que 45,8% dos escolares nesta pesquisa carregavam mais que 10%,
destes, 8,3% eram de escolas públicas e 37,5% eram de escolas particulares. Entretanto, os
resultados demosntram-se menores que os resultados obtidos na pesquisa de Ferst (2004) e
Grimmeret al(apud CARVALHO, 2004)
A análise das quatro escolas em relação os resultados alcançados da razão massa da mochila /
massa corpórea nos permite uma estudo mais detalhado entre as escolas públicas e
particulares (Gráfico 2).
7
ráficocolares que carregam a carga até
10% e ace Gráfico 2- Percentual de escolares que carregam a carga recomendada e acima dela por escolas.
Temos que nas escolas públicas o resultado obtido foi semelhante e com relação às escolas
particulares, estas também apresentam resultados semelhantes entre si. O gráfico 2 mostra que
há semelhanças entre as escolas públicas e semelhanças entre as escolas particulares. Por
outro lado, é percebido o quanto as escolas públicas se diferenciam significativamente das
escolas particulares em nível de carga escolar.
Em nosso estudo a “Escola Particular A” teve 23 escolares (76,6%) e a “Escola Particular B”,
22 escolares (73,3%) que utilizam cargas escolares acima do recomendado Desta forma,
temos resultados que diferem pouco em relação à rede particular, indicando um alto número
de crianças de escolas particulares que transportam cargas escolares acima do recomendado.
Para uma análise mais detalhada investigamos a infliência da variável sexo na porcentagem de
crianças que carregavam carga escolar dentro do recomendado ou acima desta, conforme o
apresentado no Gráfico 3
Gráfico 3- Porcentagem de menino e meninas que possuem carga escolar dentro do recomendado ou acima deste
Observou-se que 52,5 % dos meninos carregam massa nas mochilas acima do recomendado e
que 39% das meninas sofrem do mesmo problema. Consequentemente, uma porcentagem
maior de meninas está dentro do recomendado para as cargas escolares.
25 25
7 8 5 5
23 22
0
5
10
15
20
25
30
EscolaPública A
EscolaPública B
EscolaParticular A
EscolaParticular B
RECOMENDADO ACIMA
47,5%
61,0%
52,5%
39,0%
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
MENINOS MENINAS
RECOMENDADO ACIMA
8
Em relação à variável sexo, os resultados mostram-se consonantes com os estudos de Ferst
(2004) no qual os meninos também formavam a maioria dos que carregavam massa acima do
recomendado em suas mochilas sendo 66,2% em primeira avaliação e 70,2% em segunda
avaliação. O mesmo autor verificou que entre que carregavam massa acima do recomendado
33,8% em primeira avaliação e 29,8% em segunda avaliação eram meninas.
De forma subseqüente averiguamos quantos meninos faziam uso das cargas escolares acima
do recomendado considerando as escolas públicas e particulares (Gráfico 4). Sendo possível
apreender que os resultados anteriores persistem: o maior número de meninos que carregam
cargas escolares acima do recomendado está concentrado nas escolas particulares. Enquanto
que nas escolas públicas temos que 76,9% dos meninos (n = 20) estão dentro do
recomendado, demonstrando que a estatística de meninos que está usando carga escolar acima
do recomendo se torna mais evidente nas escolas particulares.
Grafico 4 -Porcentagem de meninos que possuem carga escolar dentro do recomendado ou acima deste
De modo análogo, em relação às meninas o Gráfico 5 demonstra que a porcentagem de
meninas que possuem cargas escolares acima do recomendado é maior nas escolas
particulares, sendo que a porcentagem de meninas que tem a mesma situação em escolas
públicas é 11, 8% (n = 4 ), sendo esta porcentagem menor que a dos meninos de escola
pública (23,1%). Em contrapartida, nas escolas particulares, a porcentagem de meninas que
transportam cargas escolares acima de 10% de seu peso corpóreoé maior que os meninos
destas escolas.
76,9%
25,7% 23,1%
74,3%
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
80,0%
90,0%
PÚBLICAS PARTICULAR
RECOMENDADO ACIMA
9
Grafico 5 -Porcentagem de meninas que possuem carga escolar dentro do recomendado ou acima deste
Por fim, inferimos sobre os alunos de 4º e 5º ano, como o demonstrado através do Gráfico 6,
com a finalidade de verificar se com o avançar das séries há um aumento das cargas
transportadas.
Gráfico 6 - Porcentagem de alunos na 3ª e 4ª série com carga escolar dentro do recomendado ou acima deste
Em relação às escolas públicas e particulares observamos que neste critério um maior número
de alunos da 4º ano de escolas particulares carregam cargas escolares com massa acima do
recomendado (76,6%), enquanto que nas escolas públicas é maior o número de alunos que
carregam cargas escolares dentro do recomendado (80,5%), tais achados contrastam com os
achados de Ferst (2004) que concluiu que ocorre um aumento de peso das mochilas, conforme
a evolução das séries, um pouco mais de 1 quilograma para os meninos e, de
aproximadamente 900 gramas para as meninas.Gráfico1: Porcentagem de alunos na 3ª série
que possuem carga escolar dentro do recomendado ou acima deste
88,2%
24,0%
11,8%
76,0%
0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%70,0%80,0%90,0%
100,0%
PÚBLICAS PARTICULAR
RECOMENDADO ACIMA
50,00%
65,60%
50,00%
34,40%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
4° ANO 5° ANO
RECOMENDADO ACIMA
10
Gráfico 7- Porcentagem de alunos na 3ª série com carga escolardentro do recomendado ou acima deste
Para os alunos de 5º ano, proporcionalmente, ocorre uma maior porcentagem de alunos com
cargas escolares dentro do recomendado , tanto para as escolas públicas (89,5%) quanto para
as escolas particulares (30,8%), conforme o gráfico 8 abaixo.na 4ª série que possuem carga escolar dentro do
recomendado ou acima deste
Gráfico 8- Porcentagem de alunos na 4ª série com carga escolardentro do recomendado ou acima deste
5 Conclusão Nesta pesquisa houve uma percepção da realidade encontrada nas escolas de Santarém (PA).
De uma forma geral, a maioria dos alunos estava com as cargas escolares dentro do limite
recomendado.Entretanto, nas escolas públicas as crianças carregam mochilas com massa em
torno de 2 quilogramas (7 a 8% de sua massa corpórea), com a carga máxima chegando à
15% de sua massa corpórea. Em contrapartida, crianças de escolas particulares carregam
mochilas com massa em torno de 3,8 quilogramas (12 a 14% de sua massa corpórea) sendo
observado também que o valor destas cargas chegam a ultrapassar 20% de massa das
mochilas em relação à massa corpórea em alguns alunos das escolas particulares pesquisadas.
Vários fatores podem ter influenciado nos resultados alcançados como:a condição sócio-
econômica dos pesquisados de escolas públicas e particulares, a quantidade de material diário
obrigatório levado pelos alunos e o dia da semana em que o trabalho foi realizado, de forma
que estudos mais aprofundados podem ser realizados para constatar tais situações.
80,5%
23,4% 19,5%
76,6%
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
80,0%
90,0%
PÚBLICAS PARTICULAR
RECOMENDADO ACIMA
89,5%
30,8%
10,5%
69,2%
0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%70,0%80,0%90,0%
100,0%
PÚBLICAS PARTICULAR
RECOMENDADO ACIMA
11
Como escolas mais atingidas pelos problemas, as escolas particulares poderiam partir para a
instalação de armários que possibilitassem ao aluno deixar parte do material escolar na
própria escola. Outra sugestão seria a elaboração de programas de prevenção que destaquem o
quanto é prejudicial o excesso de carga em mochilas escolares, conscientizando pais e
crianças.
Outras medidas podem ser adotadas seguindo o exemplo de alguns estados brasileiros, por
exemplo, Santa Catarina, Rio de Janeiro, e o Município de Vitória no Espírito Santo
decretaram uma lei que prevê que o peso máximo do material escolar transportado por alunos
em mochilas, pastas ou similares, não poderá ultrapassar 5 ou 10% do seu peso. (ALMEIDA,
2006; MARTINEZ & ZACARO, 2006; LEI MUNICIPAL DE VITÓRIA 4340/1996).
Sugerimos ainda que futuros trabalhos levem em consideração outras variáveis como: forma
de transporte das mochilas, tempo de transporte das mesmas, desvios posturais relacionados
ao transporte de carga que não foram estudadas neste devido a exigüidade do tempo.
Referências
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