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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS, DA TERRA E DO MAR - CTTMAR.
MESTRADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL
“A sustentabilidade da produção artesanal nos municípios catarinenses da
península de Porto Belo - SC”.
DANIELA VICENTE VERAS
ORIENTADOR: Dr. MARCUS POLETTE.
Itajaí - SC 2007
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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS, DA TERRA E DO MAR - CTTMAR.
MESTRADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL
“A sustentabilidade da produção artesanal nos municípios catarinenses da península de
Porto Belo - SC”.
DANIELA VICENTE VERAS
Dissertação apresentada ao programa de
Mestrado do Centro de Ciências Tecnológicas, da
Terra e do Mar da Universidade do Vale do Itajaí –
SC.
ORIENTADOR: Dr. MARCUS POLETTE.
Itajaí - SC 2007
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FICHA CATALOGRÁFICA Veras, Daniela Vicente
A sustentabilidade da produção artesanal nos municípios catarinenses da península de Porto Belo - SC/ Daniela Vicente Veras: Itajaí, UNIVALI, 2007. 198 pg. Dissertação de Mestrado, Universidade do Vale do Itajaí, 2007. 1.Produção Artesanal. 2. Gestão Ambiental. 3. Sustentabilidade
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Para os artesãos e toda equipe da Agenda 21
Local de Bombinhas, grandes parceiros e amigos!
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AGRADECIMENTOS
Ao companheiro de pesquisa de campo, Ricardo Dalbosco, pelo dinamismo.
A Prefeitura e Colônia de Pesca de Porto Belo - SC, por cederem dados
norteadores à pesquisa.
Ao professor e orientador, Marcus Polette, pelo conhecimento e paciência.
Aos meus pais, Marco Antonio e Lélia, por acreditarem neste
aperfeiçoamento.
Aos meus irmãos, Mônica, Eliana e Alexandre, por darem apoio.
Aos amigos de Navegantes, Itajaí e Bombinhas, por serem minha “família”
rica em ser e viver.
Ao surfe, por ser importantíssimo para o bem estar e os “insights”.
A minha “chefinha” Janete R. Vasques, por compartilhar o sonho.
A amiga Rosane Luchtenberg, por acreditar na cultura e auto estima de
pessoas que vêem sua terra natal ser alterada diariamente pela especulação
imobiliária e ganância que compartilha prejuízos e privatiza ganhos financeiros .
Aos artesãos de Bombinhas, por serem os artesãos que deram razão à
minha pesquisa.
A amiga Ghisleyne e o amigo Erick, por aparecerem em momentos difíceis.
A todas as pessoas que contribuíram para a realização deste trabalho.
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SIGLAS: AMFRI – Associação dos Municípios da Região da Foz do Rio Itajaí APA – Área de Preservação Ambiental APP – Área de Preservação Permanente ARIE – Área de Relevante Interesse Ecológico CASAN – Companhia Catarinense de Águas e Saneamento CDS – Comissão do Desenvolvimento Sustentável CMMAD – Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento CNPT – Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicionais CNPU - Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas e Política Urbana CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente CNUMAD – Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento CPDS – Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável CTTMAR – Centro de Tecnologia da Terra e do Mar DRT – Direito de Recursos Tradicionais EJA – Ensino para Jovens e Adultos EMBRATUR – Empresa Brasileira de Turismo EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação FUNATURA – Fundação Pró-Natura GAAMB – Grupo de Artistas e Artesãos do Município de Bombinhas GERCO – Gerenciamento Costeiro IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano MMA – Ministério do Meio Ambiente OIT – Organização Internacional do Trabalho ONG – Organização Não Governamental ONU – Organização das Nações Unidas PIB – Produto Interno Bruto PIPG - Programa Integrado de Pós-Graduação e Graduação PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PROZEE - Fundação de Amparo à Pesquisa na Zona Econômica Exclusiva REBIOMAR – Reserva Biológica Marinha RESBIO – Reserva Biológica SC – Santa Catarina SDM – Secretaria de Estado de Desenvolvimento Municipal SDS – Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável
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SEAP – Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação UC – Unidade de Conservação UMA – Universidade do Meio Ambiente UNCED – Cúpula da Terra UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí WIPO – World Intelectual Property Organization ZPP – Zona de Preservação Permanente ZR – Zona de Uso Rural ZUE – Zona de Uso Especiais ZUR – Zona de Uso Restrito ZURBb – Zona de Uso Urbano – Baixa Densidade ZURBm – Zona de Uso Urbano – Média Densidade ZURBa - Zona de Uso Urbano – Alta Densidade
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ÍNDICE: TÓPICO PÁGINA 1. INTRODUÇÃO 1 1.1. PROBLEMÁTICA 2 1.1.1. URBANIZAÇÃO 2 1.1.2. TURISMO 4 1.1.3. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 5 1.1.3.1. COSTEIRA DE ZIMBROS 7 1.1.3.2. PARQUE MUNICIPAL DA GALHETA 8 1.1.3.3. PARQUE MUNICIPAL DO MORRO DO MACACO 8 1.1.3.4. RESERVA BIOLÓGICA MARINHA DO ARVOREDO10 1.1.4. PRODUÇÃO INDUSTRIAL 10 2. A PESQUISA 12
2.1. PERGUNTAS DE PESQUISA 18 2.2. OBJETIVO 19
2.2.1. GERAL 19 2.2.2. ESPECÍFICOS 19
2.3. JUSTIFICATIVA 20 3. REVISÃO BIBLIOGRAFICA 21 3.1 SUSTENTABILIDADE 21 3.2 PRODUÇÃO ARTESANAL 40 3.2.1 PESCA 45 3.2.2 ARTESANATO 51 4. METODOLOGIA 55 4.1. ÁREA DE ESTUDO 55 4.1.1 REGIÃO LITORAL CENTRO NORTE CATARINENSE 55 4.1.2 A PENINSULA 59 4.1.2.1 BREVE HISTÓRICO 59 4.1.3 OS MUNICIPIOS 62 4.1.3.1 BOMBINHAS 64 4.1.3.1.1 RECURSOS NATURAIS 64 4.1.3.1.2 RECURSOS HUMANOS 66 4.1.3.2 PORTO BELO 69 4.1.3.2.1 RECURSOS NATURAIS 69 4.1.3.2.2 RECURSOS HUMANOS 71 42. PRODUÇÃO ARTESANAL NA PENINSULA 74 4.2.1 PROCEDIMENTOS DO MÉTODO 74 4.2.1.1. IDENTIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA PRODUÇÃO ARTESANAL NA PENÍNSULA DE PORTO BELO 81 4.2.1.1.1. PESCA ARTESANAL 81 4.2.1.1.2. ARTESANATO 83
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4.2.2 IDENTIFICAÇÃO DAS RELAÇÕES ENTRE A ATIVIDADE ARTESANAL E OS AGENTES DE TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO DA PENÍNSULA. 84
4.2.3 ANÁLISE E PROJEÇÃO DO DESENVOLVIMENTO URBANO E DEMOGRÁFICO DA PENÍNSULA QUANTO À SUSTENTABILIDADE DA PRODUÇÃO ARTESANAL. 84
4.2.4. ANÁLISE DO PROCESSO DE PRODUÇÃO ARTESANAL DIANTE A ORGANIZAÇÃO E O USO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO DA PENÍNSULA DE PORTO BELO – SC. 86 5. RESULTADOS 87 5.1 DIAGNÓSTICO SOCIOECONOMICO DOS PESCADORES E PRODUTORES DE ARTESANATOS 88 5.1.1 PESCA ARTESANAL 88 5.1.2 ARTESÃOS 90 5.1.3. PRODUTORES ARTESANAIS 94 5.2 IDENTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO ARTESANAL 106 5.2.1 PESCA ARTESANAL 106 5.2.1.1 IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE 106 5.2.1.2 RELAÇÃO COM OS RECURSOS NATURAIS 110 5.2.1.3 MAPEAMENTO 115 5.2.2. ARTESANATO 117 5.2.2.1 IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE 117 5.2.2.2 RELAÇÃO COM OS RECURSOS NATURAIS 120 5.2.2.3 MAPEAMENTO 129 5.3 PERCEPÇÕES DOS ENTREVISTADOS SOBRE A ÁREA ESTUDADA 130 5.4 PARTICIPAÇÃO DA PRODUÇÃO ARTESANAL NO USO E OCUPAÇÃO DA PENINSULA DE PORTO BELO – SC 133 5.4.1 PESCA ARTESANAL 133 5.4.2 ARTESÃOS 140 5.5 OBSERVAÇÔES 143 6. CONCLUSÕES 149
6.1. DIAGNÓSTICO E IDENTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO ARTESANAL NA PENÍNSULA DE PORTO BELO. 149 6.2 RELAÇÕES AMBIENTAIS HARMONICAS E DESARMONICAS ENTRE A PRODUÇÃO ARTESANAL E OS AGENTES POLÍTICOS, SOCIAIS, ECONOMICOS E AMBIENTAIS 150 6.3 TRATAMENTO DADO À COMUNIDADE ARTESÃ NO ZONEAMENTO ESPACIAL E NO DESENVOLVIMENTO URBANO E DEMOGRÁFICO DA PENÍNSULA, A FIM DE PROJETAR A SUSTENTABILIDADE NA PENÍNSULA DE PORTO BELO – SC. 154 6.4 ANÁLISE DO PROCESSO DE PRODUÇÃO ARTESANAL DIANTE A ORGANIZAÇÃO E O USO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO DA PENÍNSULA DE PORTO BELO – SC SOB A ÓTICA DO PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE, CONSIDERAÇÕES FINAIS. 159
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 165 8. ANEXOS 175 ANEXO 1: QUESTIONÁRIO COM PESCADORES 176 ANEXO 2: QUESTIONARIO COM ARTESÕES 178 ANEXO 3: CADEIA CAUSAL ELABORADA NO CURSO DE CAPACITAÇÃO DO CORPO DOCENTE DA REDE PÚBLICA DE BOMBINHAS DURANTE O PROJETO AGENDA 21 ESCOLAR/ AGENDA 21 LOCAL DE BOMBINHAS “EVOLUINDO SEM DESTRUIR” – PROJETO ORLA 180
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FIGURAS: FIGURA PÁGINA FIGURA 1: Unidades de Conservação Terrestres 6 FIGURA 2: Localização da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e sua respectiva zona de amortecimento 9 FIGURA 3: Fluxograma - Capacidade de Suporte e Sistema Complexo 15 FIGURA 4: Tripé do Desenvolvimento Sustentável 30 FIGURA 5: Relação entre as esferas: humana e natural e sustentabilidade 30 FIGURA 6: “Seu Leonel” criando uma Canoa de “um pau só” 46 FIGURA 7: Zoneamento Econômico Ecológico Litoral Centro Norte Catarinense 56 FIGURA 8: Imagem de Satélite da Península de Porto Belo e Bombinhas – SC 63 FIGURA 9: Procedimentos do método para a execução da análise 74 FIGURA 10: Tripé da sustentabilidade da produção artesanal 78 FIGURA 11: Relações entre os critérios e o tripé de sustentabilidade 79 FIGURA 12: Estrutura da Pesquisa sócio-ambiental 85 FIGURA 13: Artesão do bairro Araçá – Porto Belo – SC 91 FIGURA 14: Trabalho do artesão do bairro Araçá 91 FIGURA 15: Produção de Papel Machê 104 FIGURA 16: Produção de Papel Machê 104 FIGURA 17: Arte com elementos “da terra” 104 FIGURA 18: Arte com elementos “da terra” 104 FIGURA 19: Arte com elementos “da terra” 105 FIGURA 20: Arte com elementos “da terra” 105 FIGURA 21: Professores na Agenda 21 107 FIGURA 22: Cadeia Causal 107 FIGURA 23: Botes (Costeira de Zimbros) 111 FIGURA 24: Canoa de um pau só (Praia dos Ingleses) 111 FIGURA 25: Bote (praia de Morrinhos) 112 FIGURA 26: Barco de Arrasto (Porto Belo) 112 FIGURA 27: Bote com cabine (Praia da Sepultura) 112 FIGURA 28: Chata (costeira de Zimbros) 112 FIGURA 29: Rancho de Pesca 115 FIGURA 30: Rancho no Canto Grande 115 FIGURA 31: Artesanato de Retalhos 121 FIGURA 32: Oficina de Cerâmica 121 FIGURA 33: Trapiche danificado em Porto Belo 134 FIGURA 34: Passarela do Trapiche (visualização de embarcações: industriais e artesanais na baia de Porto Belo) 134 FIGURA 35: Estrutura de embarque e desembarque usada na pesca artesanal em Porto Belo 135 FIGURA 36: Marina, Indústria de Pescados Pioneira Ltda. Na baia de Porto Belo 135 FIGURA 37: Cadeia Causal construída partir das transformações observadas pelos entrevistados 145 FIGURA 38: Sustentabilidade da Produção Artesanal 163
xii
FIGURA 39: As instituições e a sustentabilidade da produção artesanal 163 FIGURA 40: Cadeia Causal construída junto com os professores da pré-escola em Bombinhas – SC 180
xiii
GRÁFICOS: GRÁFICO PÁGINA GRÁFICO 1: Distribuição das entrevistas com os pescadores por município 88 GRÁFICO 2: Distribuição das entrevistas com os pescadores por bairro 88 GRÁFICO 3: Faixa etária 89 GRÁFICO 4: Tempo como residente 89 GRÁFICO 5: Distribuição das entrevistas com os artesãos por “cidade” 92 GRÁFICO 6: Distribuição das entrevistas com os artesãos por bairro. 92 GRÁFICO 7: Sexo 93 GRÁFICO 8: Tempo de residência 93 GRÁFICO 9: Faixa etária 94 GRÁFICO 10: Tipo de calçamento da via pública da residência dos pescadores 95 GRÁFICO 11: Tipo de calçamento da via pública da residência dos artesãos 95 GRÁFICO 12: Local de onde o entrevistado é oriundo (“origem”) – pescadores 95 GRÁFICO 13: Local de onde o entrevistado é oriundo (“origem”) – artesão 95 GRÁFICO 14: Auto - definição étnica pelos entrevistados – pescador 96 GRÁFICO 15: Auto - definição étnica pelos entrevistados – artesão 96 GRÁFICO 16: Religião dos entrevistados – pescador 97 GRÁFICO 17: Religião dos entrevistados – artesão 97 GRÁFICO 18: Nível escolar dos entrevistados: pescadores em 2005. 98 GRÁFICO 19: Nível escolar dos entrevistados: artesãos em 2005. 98 GRÁFICO 20: Integração dos filhos no sistema educacional – pescador 99 GRÁFICO 21: Integração dos filhos no sistema educacional – artesão 99 GRÁFICO 22: Estado civil dos entrevistados: pescadores em 2005. 100 GRÁFICO 23: Estado civil dos entrevistados: artesãos em 2005. 100 GRÁFICO 24: Quantidade de filhos dos entrevistados: pescadores em 2005 100 GRÁFICO 25: Quantidade de filhos dos entrevistados: artesãos em 2005 100 GRÁFICO 26: Quantidade de residentes no núcleo doméstico dos entrevistados: pescadores em 2005. 101 GRÁFICO 27: Quantidade de residentes no núcleo doméstico dos entrevistados: artesãos em 2005. 101 GRÁFICO 28: Número de compartimentos das residências dos entrevistados: pescadores em 2005. 102 GRÁFICO 29: Número de compartimentos das residências dos entrevistados: artesãos em 2005. 102 GRÁFICO 30: Fonte da água usada (abastecimento) nos núcleos domésticos dos entrevistados em 2005 - pescador. 102 GRÁFICO 31: Fonte da água usada (abastecimento) nos núcleos domésticos dos entrevistados em 2005 - artesão. 102 GRÁFICO 32: Destino dado ao esgoto dos núcleos domésticos dos entrevistados em 2005 - pescador. 103 GRÁFICO 33: Destino dado ao esgoto dos núcleos domésticos dos entrevistados em 2005 - artesão. 103
xiv
GRÁFICO 34: Destino dado aos resíduos sólidos (“lixo”) dos núcleos domésticos dos entrevistados em 2005 - pescador. 105 GRÁFICO 35: Destino dado aos resíduos sólidos (“lixo”) dos núcleos domésticos dos entrevistados em 2005 - artesão. 105 GRÁFICO 36: Profissão “Pescador” (em anos) 107 GRÁFICO 37: Quem ensinou a pescar 108 GRÁFICO 38: Mão de obra 108 GRÁFICO 39: Para quem ensina a arte 108 GRÁFICO 40: Mercado consumidor do pescado 116 GRÁFICO 41: Tempo como artesão 118 GRAFICO 42: Mão de obra 119 GRÁFICO 43: Vínculo com o turismo na região 137 GRÁFICO 44: Integração a uma Organização Social em 2005. 138 GRÁFICO 45: Conhecimento dos pescadores sobre o projeto Agenda 21 Local 139 GRÁFICO 46: Interesse em participar do projeto Agenda 21 Local 139 GRAFICO 47: Renda do artesanato suficiente 140 GRÁFICO 48: Participação em Organização Social 141 GRÁFICO 49: Conhecimento dos artesãos sobre o projeto Agenda 21 Local 142 GRÁFICO 50: Interesse em participar do projeto Agenda 21 Local 142
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QUADROS: QUADRO PÁGINA QUADRO 1: Arte de pesca e respectiva captura 47 QUADRO 2: Arte de pesca e respectiva captura 47 QUADRO 3: Situação pesqueira de determinadas espécies na costa sul e sudeste brasileira. 50 QUADRO 4: Relação entre Ambiente e Condições de Vida Humana 66 QUADRO 5: Alteração ambiental prejudicou a atividade pesqueira? 66 QUADRO 6: Prejuízo na atividade pesqueira por redução da quantidade ou diversidade do pescado 71 QUADRO 7: Perguntas dos questionários relacionadas com os objetivos 77 QUADRO 8: Informações levantadas relevantes aos objetivos da pesquisa 78 QUADRO 9: Relação das perguntas com os critérios de classificação “artesanal” 80 QUADRO 10: Relação das perguntas com os critérios de classificação “artesanal” 80 QUADRO 11: Artesãos de Porto Belo e suas respectivas matérias primas 83 QUADRO 12: Artesãos cadastrados e suas respectivas matérias primas 90 QUADRO 13: Lista dos Artesãos cadastrados no Grupo de Artistas e Artesãos de Bombinhas – SC 91 QUADRO 14: Aspectos essenciais dos artesãos entrevistados 122
xvi
TABELAS: TABELA PÁGINA TABELA 1: Atividade artesanal a partir da técnica ou recurso básico 52 TABELA 2: Atividade artesanal a partir da técnica ou recurso básico 53 TABELA 3: Índice de crescimento populacional na região de Itajaí 58 TABELA 4: População residente nos municípios, por década. 58 TABELA 5: Taxa de crescimento e migração - Período: 2000 a 2007 59 TABELA 6: Caracteristicas das Microbacias do muncipio de Bombinhas – SC 65 TABELA 7: Empresas prestadoras de serviços em Bombinhas (2004) 68 TABELA 8: Nível educacional da população jovem em 1991 e 2000 68 TABELA 9: Nível educacional da população adulta (25 anos ou mais) em 1991 e 2000 69 TABELA 10: Empresas prestadoras de serviços em Porto Belo (2004) 72 TABELA 11: Nível educacional da população jovem em 1991 e 2000. 73 TABELA 12: Nível educacional da população adulta (25 anos ou mais) em 1991 e 2000. 73 TABELA 13: Membros da Colônia de Pesca Z – 08 82 TABELA 14: Qualidade atribuída à profissão “pescador artesanal” 109 TABELA 15: Suposições para haver melhorias na pesca artesanal 109 TABELA 16: Equipamentos de pesca 111 TABELA 17: Tamanho das embarcações 113 TABELA 18: Quantidade de exemplares segundo os tipos de embarcações. 113 TABELA 19: Distribuição dos pescados 116 TABELA 20: Quem foi o “mestre” 118 TABELA 21: Para quem ensina 119 TABELA 22: Fonte de inspiração 120 TABELA 23: Mercado consumidor 129 TABELA 24: Transformações percebidas pelos pescadores e artesãos entrevistados, respectivamente, em 2005 131 TABELA 25: Infra-estrutura pra atividade pesqueira 135 TABELA 26: Fontes de renda alternativas levantadas nas entrevistas 136 TABELA 27: Motivo da participação (interesse) na Organização Social. 138 TABELA 28: Razões para os pescadores participarem à Agenda 21 Local 140 TABELA 29: Outras fontes de renda 141 TABELA 30: Interesse em participar da Organização Social 141 TABELA 31: Motivos para a participação no projeto Agenda 21 Local 143
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RESUMO/ SUMMARY
A pesquisa desta dissertação de mestrado centraliza a produção artesanal na península de Porto Belo - SC, evidenciando suas características de ser uma atividade econômica, social, cultural e ambiental, atuante na parcial subsistência da comunidade artesã. Também, apresenta traços tradicionais em uma região que se configura como destino turístico durante a temporada de verão, seguindo um ritmo acelerado de crescimento urbano e demográfico. Através de entrevistas (com a aplicação de questionários diferenciados: para a pesca artesanal e para os produtores de artesanatos), e ainda do convívio em uma Organização Social (Instituto Boimamão) que visa o resgate e o fomento da cultura local, e do desenvolvimento da meta de Educação Ambiental do projeto de Agenda 21 Local de Bombinhas, foram obtidos dados que contextualizaram a sustentabilidade da produção artesanal, criando-se um diagnóstico que poderá basear um projeto de planejamento cujo objetivo pode auxiliar no entendimento da realidade econômica, social e ambiental da península de Porto Belo. Palavras chaves: Produção Artesanal, Sustentabilidade, Gestão Ambiental.
The lecture research for this master’s degree is focused on the handcraft production of Porto Belo Peninsula in Santa Catarina, especially for been an economic, social, cultural and environment activity, partially supporting the handcraft community. As well, it presents traditional traces in a region configured as a touristy destiny in the summer season, with an accelerated rhythm of urban and demographic growth. Using interviews, where were applied different questionnaires for traditional fishing and handcraft manufacturers, the intimacy with a Social Organization (Boimamão Institute) which works on rescuing and promoting the local culture, and the developing of Environment Education target in the local “Agenda 21” of Bombinhas, we were obtained data that situate the sustainability of the handcraft production, by creating a diagnosis that may be the basis of a project of a plan which objective helps on the understanding of Porto Belo Peninsula economic, social and environment reality. MAIN KEYS: Handcraft Production, Sustainability, Environment Management.
1
1. INTRODUÇÃO
"Conservação da natureza e crescimento
contínuo são fundamentalmente incompatíveis” Paul. Ehrlich.
A península de Porto Belo – SC localiza-se numa formação geográfica
peculiar, rara no território brasileiro, e que vem passando por transformações em
âmbitos: demográfico, econômico e ambiental, onde as características da
população residente acompanham as condições políticas, econômicas, naturais e
sociais vigentes.
Na península, há a concentração de espécies marinhas em águas territoriais
e remanescentes da Mata Atlântica1 influenciados pelas áreas de exploração de
seus recursos naturais e pela expansão urbana de um acelerado processo de
urbanização promovido pelo fenômeno “Turismo”.
A produção artesanal se faz presente em áreas marginais às Unidades de
Conservação2. E as Unidades de Conservação da península são:
- Reserva Biológica Marinha Federal do Arvoredo (município de
Bombinhas)
- Parque Municipal do Morro dos Macacos (município de Bombinhas)
- Parque Municipal da Galheta (município de Bombinhas)
- Reserva Particular do Patrimônio Natural de Zimbros (município de Porto
Belo)
- Área de Relevante Interesse Ecológico Municipal da Costeira de Zimbros
(município de Bombinhas) 1 Grande parte da Mata Atlântica foi desmatada pela ação do fogo - herança das técnicas de ocupação humana indígena (coivara) e européia, cujas cinzas eram usadas como adubos de solos pobres (como é o caso da península de Porto Belo e Bombinhas), proporcionando o cultivo de mandioca, cana de açúcar, café, espécies frutíferas, além da formação de pastagens para criação bovina e eqüina, garantindo a subsistência dos grupos humanos que se espalharam no território brasileiro (DIEGUES, 1995). 2 Unidade de Conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. - LEI No 9.985, DE 18 DE JULHO DE 2000.
2
Assim, a pesquisa centraliza a produção artesanal (produção de artefatos
para diversos fins: decoração, utensílio doméstico, instrumento de trabalho,
vestuário, etc.; também o adjetivo “artesanal” é associado à pesca tradicional)
diante o modelo de desenvolvimento presente em Porto Belo e Bombinhas, e
quais são as influências e interferências sob a ótica da sustentabilidade. Aponta-
se como a comunidade artesã mantém o saber fazer artesanal, representando
uma minoria com traços tradicionais (como a pesca e a produção de determinados
artesanatos cuja matéria prima é oriunda dos recursos naturais). Além de
acrescidos os agentes de transformação atuantes nas atuais propostas de
adequação energética da humanidade para a satisfação da vida no planeta Terra,
como é o caso do emprego dos “3 R´s: reduzir, reutilizar e reciclar” o que seria
resíduo do modelo industrial urbano.
Através da realização de entrevistas, a pesquisa localiza as atividades
artesanais em seu contexto ambiental, as condições favoráveis e desfavoráveis
(conflitos e facilidades), a renda gerada, o aspecto cultural (identidade, tradição), e
as suas percepções sobre o ambiente, da convivência com projetos culturais e do
desenvolvimento do projeto de educação ambiental da Agenda 21 Local de
Bombinhas.
1.1 PROBLEMÁTICA:
1.1.1 URBANIZAÇÃO
Produto da especulação imobiliária, o crescimento urbano na península tem
acrescido pela migração e, conseqüentemente, uma maior demanda por infra-
estrutura urbana, saneamento básico, rede escolar, assistência médica, etc.
Também, pressiona áreas anteriormente preservadas e APA´s (restinga,
manguezais, remanescentes de Mata Atlântica, matas ciliares, encostas e topos
de morros).
3
A falta do planejamento e ordenamento adequados tem causado a
decadência da qualidade ambiental, carência de infra-estrutura (abastecimento de
água, energia elétrica, saneamento básico, recolhimento e tratamento de lixo)
entre outros, que, por fim, compromete a qualidade ambiental da península,
inclusive como destino turístico.
A maior procura por serviços e infra-estrutura devido ao crescimento
demográfico na região tem promovido o aumento do custo de vida na região
(efeito inflacionário), e como aponta COUTINHO (1999), Bombinhas, após a
emancipação, teve um aumento de 72% nas tarifas do imposto territorial urbano, o
que encareceu o custo de vida no município, e estimulou a aprovação de projetos
de expansão e ocupação urbana.
Alem dos efeitos no ambiente natural, devem-se considerar os efeitos no
ambiente socioeconômico e nas propriedades comunais, importantes para o
coletivo social, econômico e cultural, estando sujeitas às pressões das
transformações tecnológicas e econômicas importadas pelo fenômeno da
urbanização, do crescimento demográfico e da especulação imobiliária.
Também, comum em todo território litorâneo brasileiro (SERRANO e BRUHN,
1997; VERAS, 2001; PANIZZA et all, 2005), a valorização financeira dos lotes tem
incentivado a venda de propriedades por aqueles que habitam a região há tempos
e cuja atividade socioeconômica tradicional não se insere nas perspectivas de
desenvolvimento da realidade local.
No caso da produção artesanal, esta transformação espacial compromete a
disponibilidade da matéria prima quando os recursos naturais terrestres são
usados na produção de artefatos. No relato dos artesãos que usufruem a fibra da
vegetação encontrada nos banhados do bairro de Quatro Ilhas (Bombinhas), esta
área tem sido aterrada para que possibilite amplie a área para a construção civil.
Os artesãos que usam as taquaras das encostas de morros (Porto Belo) observam
o rareamento e a dificuldade no acesso devido a um loteamento de “segundas
residências”.
Em relação à pesca, a ocupação da orla da praia, o comprometimento da
qualidade da água (poluição), a destruição de ecossistemas integrados à atividade
4
pesqueira e o aumento do custo de vida na localidade exercem pressão negativa
tanto no exercício da atividade quanto na renda gerada, daí outras atividades
econômicas.
O esgoto sanitário tratado inadequadamente compromete seriamente
algumas atividades socioeconômicas que dependem dos recursos marinhos como
é o caso da maricultura, caracterizada como uma atividade econômica alternativa
das comunidades pesqueiras tradicionais.
1.1.2. TURISMO Ambos municípios pontuam o TURISMO como principal potencial
socioeconômico e ambiental a ser explorado, redirecionando a sociedade e o
ambiente como um pólo receptivo, se estruturando para tal, gerando sua
dependência em relação ao fluxo turístico.
O terceiro setor econômico (inclusive a venda dos artesanatos) em escala
local visa montantes que lhe garanta a renda necessária no ano, dependendo
economicamente do movimento esperado na estação quente.
Muitos estabelecimentos e prestadores de serviço são oferecidos apenas
durante o verão, cujo proprietário e responsável não é residente apesar de manter
propriedade nos municípios da península.
No verão, alguns proprietários de embarcações oferecem passeios à
comunidade visitante, diminuindo suas atividades pesqueiras. Aqueles que não
oferecem este tipo de serviço também competem pelo espaço marinho devido às
diversas embarcações que transitam em torno da península, e nos atracadouros
públicos. Deste trânsito marítimo, cabe salientar as colocações de CAMACHO et
all, (2006) que destacam o potencial poluente do elevado número de embarcações
(pesqueiras industriais, artesanais, lazer entre outras) que compromete a
qualidade da balneabilidade das praias e dos recursos marinhos, quando
considerados os riscos de acidente na operacionalização, manutenção e
conservação inadequada.
5
O turismo é um dos principais fatores de transformação da região,
estimulando a migração à região, ao usufruir a paisagem e conseqüente, na
redefinição do uso e da ocupação do espaço geográfico, e os principais atrativos
turísticos da península oferecidos são seus recursos naturais e suas condições de
balneabilidade.
No nível sócio-cultural: a arquitetura, a moda, os hábitos e os valores de
consumo, as atividades de lazer, a tecnologia e outras criações são trazidos à
península, influenciando o modo de viver da comunidade local, influenciando os
quesitos “consumo” e “status social”.
Os trabalhos de HOYEDO (in VIEIRA, 2002), e ALDEMANN (2003) indicam o
vínculo do movimento turístico na península ao fluxo turístico no litoral centro norte
catarinense, e a freqüente ocorrência de excursionistas que pernoitam em meios
de hospedagem dos demais municípios da região, sob influência do município de
Balneário Camboriú.
Conforme o trabalho de ADELMAN (2003), o pulso populacional da
temporada quente compromete as áreas estuarinas e a balneabilidade das praias,
considerando o sistema de fossas sépticas ligadas à rede pluvial ser predominante
na solução dada aos efluentes residuais domésticos, além de fossas rudimentares
e valas negras que despejam diretamente nos leitos encontrados na península.
Ocorrendo ocasionalmente o transbordamento em períodos de chuva, em
conseqüência do tipo de solo e da superficialidade do lençol freático.
Nas demais estações do ano, o fluxo turístico não é intenso e constante, o
que diminui a expressão da atividade turística em seu âmbito demográfico, quanto
econômico, tornando evidente a má distribuição do fluxo turístico no decorrer do
ano.
1.1.3. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
A área terrestre da península faz parte da zona de amortecimento das
Unidades de Conservação que se encontram na região (POLETTE, 1997) e como
6
tal, deve compor um plano de gestão diferenciado (GODT in VIEIRA, 2003),
visando o que se propõe como “Sustentável” para estas áreas (COMISSÃO
MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1988; HOGAN e
VIEIRA, 1995).
Dependendo da categoria da UC, o uso dos seus recursos naturais pela
comunidade artesã da península é vetado, quando esta comunidade poderia
exercer a função de fiscalização e de indicador da qualidade ambiental destas
UC´s.
As Unidades de Conservação terrestres, presentes na península são:
FIGURA 1: Unidades de Conservação Terrestres
Fonte: Google Earth, acesso em 10 de abril de 2006, modificada pela autora.
7
1.1.3.1 COSTEIRA DE ZIMBROS3:
Contextualização: composta pela Reserva Particular do Patrimônio Natural de
Zimbros, localizada no município de Porto Belo englobando uma área de 0,45
km2, e pela Área de Relevante Interesse Ecológico Municipal da Costeira de
Zimbros, localizada no município de Bombinhas (Decreto Municipal 418 de 20 de
junho de 2001, com 18,79 km2), é importante remanescente de Mata Atlântica da
península, contendo espécies de fauna e flora ameaçadas de extinção. Abriga
núcleos comunitários tradicionais do município de Bombinhas (comunidade
pesqueira de Santa Luzia, por exemplo), além de ser importante cenário do
processo histórico de ocupação da península.
Problemas: por não haver um trabalho de fiscalização e controle da ocupação
humana, tem ocorrido a abertura de vias de circulação inadequadas,
desrespeitando fatores como declividade, área de preservação permanente,
capacidade de suporte, promovendo também o desmatamento acelerado,
descaracterizando a paisagem local. É um importante vetor manancial,
encontrando-se nascentes e leitos pluviais usados na captação de água da
CASAN que abastece bairros residenciais marginais à costeira. Atividades
3 A Costeira de Zimbros foi definida como a área de intervenção piloto do Projeto Orla por contar com um conjunto excepcional de atributos ecológicos e paisagísticos ameaçados pelo uso desordenado e especulação imobiliária. Objetivos específicos são (PROJETO ORLA): 1. Coibir a pesca de arrasto 2. Plano de Manejo da ARIE 3. Gestão municipal dos terrenos de marinha 4. Plano de Manejo 5. Diagnóstico do potencial hídrico 6. Fortalecimento da associação e cooperativa de maricultores e Parceria com o Comitê da Bacia do Rio Tijucas Base legal para as ações previstas •Lei Municipal 327/97 – Zoneamento e usos do solo •Lei Municipal 328/97 – Política Municipal de Meio Ambientes •Lei Municipal 329/97 – Parcelamento do solo •Lei Municipal 330/97 – Código de Obras •Decreto Municipal 418/01 – criação da Área de Relevante Interesse Ecológico da Costeira de Zimbros. •Lei Orgânica de Bombinhas. Restringe a ocupação acima da cota de 20 metros sobre o nível do mar •Decreto Federal 99.142/90 – criação da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo. •Lei Federal 4771/65 – Código Florestal. •Lei Federal 9605/98 – Lei de crimes ambientais. •Lei Federal 9985/00 – Sistema nacional de Unidades de Conservação (SNUC).
8
minerais em suas bordas têm causado a erosão de algumas encostas e
contaminação de leitos hídricos.
Artesanalmente: o acesso aos recursos naturais é limitado (domínio particular das
áreas terrestres) e a pressão imobiliária para ocupação desta área compromete a
estada das comunidades tradicionais e o uso de seus recursos.
1.1.3.2 PARQUE MUNICIPAL DA GALHETA:
Contextualização: engloba zonas de preservação especial e de interesse turístico
dos municípios de Bombinhas (Lei Federal nº 4.771/93, com 1,28 km2) e de Porto
Belo (Plano Diretor, sem limites definidos), estando sob a administração das
Secretarias Municipais de Turismo e de Meio Ambiente de ambos municípios. A
porção localizada no município de Porto Belo foi ocupada por construções
residenciais.
Problemas: sua desconectividade com outras áreas verdes conservadas isolou
suas espécies endógenas e por isto, não houve intercambio e fluxo genético,
comprometendo suas populações. É proibida a extração de seus recursos com
caráter comercial.
Artesanalmente: o acesso aos recursos naturais é proibido.
1.1.3.3 PARQUE MUNICIPAL DO MORRO DO MACACO:
Contextualização: localizado integralmente no município de Bombinhas (Lei 4.177
de 1994, com 0,95 km2), envolve a Ilha do Amendoim e é administrado também
pela Secretaria Municipal de Turismo e Meio Ambiente. Parte de seu território é
Zona de Preservação Especial (passível de ser edificável), outra, Zona de
Preservação Permanente, além de parte de seu território já ser ocupado por um
luxuoso condomínio de casas de veraneio. Em sua porção mais alta, há a vista
panorâmica de toda península, RESBIO do Arvoredo e parte da baia norte da Área
de Proteção Ambiental Federal Anhatomirim.
Problemas: por ser passível de ser edificável, está sujeita à especulação
imobiliária. A abertura de vias de circulação tem acentuado o processo erosivo,
comprometendo a paisagem, a balneabilidade de usas praias e os recursos
9
hídricos presentes. A ocupação residencial em sua parte sul apresenta problemas
de caráter sanitário (adoção do sistema de fossas sépticas além da dificuldade no
recolhimento do lixo deixado no local).
O Parque do Morro do Macaco compõe a paisagem da baia onde se concentra
grande parte das embarcações pesqueiras artesanais e a maricultura do município
de Bombinhas.
Artesanalmente: o acesso aos recursos naturais é proibido.
Em território marinho, há a RESBIO do Arvoredo demarcada em contexto
regional em cuja área de influencia se encontra a península de Porto Belo (figura
2).
FIGURA 2: Localização da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo (tracejado
vermelho) e sua respectiva zona de amortecimento (linha verde) - 2006
Foto: Daniela V. Veras, acervo Agenda 21 Local de Bombinhas.
10
A Placa educativa foi encontrada na praia de Quatro Ilhas, ou praia de Fora
(Bombinhas), onde é possível observar as quatro ilhas que compõem o
arquipélago da Reserva.
1.1.3.4 RESERVA BIOLÓGICA MARINHA FEDERAL DO ARVOREDO:
Contextualização: criada em 1990 (Decreto Federal nº 99.142/90, com 17,8
hectares), importante criadouro e berçário de espécies endêmicas; situa-se em
grande parte no domínio do município de Bombinhas.
Problemas: sua categoria como UC restringe a interação e o usufruto dos recursos
naturais contidos em sua área, proibindo a atividade pesqueira comercial. Isto tem
gerado conflitos entre Instituições ambientalistas e a comunidade local,
principalmente da pesca artesanal, tradicional na região e importante fonte de
renda de grupos domésticos locais.
Artesanalmente: o acesso aos recursos naturais é proibido. 1.1.4 PRODUÇÃO INDUSTRIAL
A produção industrial representa competição (competição por recursos,
mercado, mão de obra, entre outros fatores) e desarticulação da produção
artesanal tanto na pesca quanto na produção de manufaturados.
A pesca artesanal da península de Porto Belo e Bombinhas localiza-se numa
região explorada e vizinha ao pólo industrial pesqueiro de Navegantes/ Itajaí,
(principal pólo pesqueiro nacional), deparando-se também com indústrias
pesqueiras no município de Porto Belo e Tijucas, deslocando, inclusive, mão de
obra e processamento do pescado.
As desvantagens da pesca artesanal na proximidade com este pólo são tais
como pontuados por PEREIRA (2004):
→ Produção artesanal não atua no mercado dos grandes centros consumidores
→ Venda da produção a empresas industriais e da força de trabalho temporária
→ Competição entre os barcos das frotas empresariais e das frotas artesanais
11
Centralizando as características de rivalidade na competição e não
exclusividade dos estoques pesqueiros, somados à incerteza econômica (retorno
financeiro), há o máximo aproveitamento da pesca - exercendo forte pressão
sobre os recursos, pois “tudo aquilo que não é pescado agora por um pescador,
outro o fará, logo em seguida”. (MARRUL FILHO, 2001). Entretanto, os órgãos
responsáveis pela gestão dos recursos naturais segundo o relatório do IBAMA
(2001) alertam sobre a condição decadente da produção pesqueira.
No caso dos manufaturados, em “feiras e lojas de artesanato”, muitas vezes
no mesmo ponto comercial, é comum encontrar artesanatos vendidos juntamente
com outros artigos industriais, sem haver diferenciação e contextualização da
produção artesanal.
Em destinos turísticos: com o fim de criar souvenires (“lembranças” do local),
é comum ocorrer a transformação e industrialização do artesanato local, onde o
artesanato é padronizado, produzido em série com técnicas menos elaboradas e
sem atribuir personalidade à obra.
12
2. A PESQUISA
O espaço geográfico é formado na interação entre as atividades humanas e
os recursos naturais, modelando a natureza e a diversidade de vida em uma
paisagem composta por um mosaico de habitats. Este espaço é condicionante
para o desenvolvimento das ações humanas no planeta e na Natureza (SANTOS,
1997). A partir da ação do ser humano neste espaço, é construído o território
histórico4 composto por cenários resultantes da interação entre as atividades e os
processos naturais (DIEGUES e ARRUDA, 2001).
Dinamicamente, o desenvolvimento da sociedade no espaço geográfico
justifica-se pela somatória da alocação de recursos (naturais e humanos), da
política econômica (estímulos e princípios) e das atividades sociais (OLIVEIRA e
LIMA, 2003). Culturalmente, os princípios inerentes e vigentes na satisfação dos
anseios humanos são responsáveis pelo caráter da humanidade como agente de
transformação do natural.
A influência das atividades econômicas permeia diversos fatores culturais da
sociedade e do ambiente onde vive, produzindo estilos e meios de vida. No uso,
produção e consumo, os seres humanos estabelecem escolhas e desencadeiam
um processo de relações sociais e econômicas que se sustentam na organização
social e no espaço geográfico, construindo os territórios históricos.
No sistema capitalizado, as atividades econômicas decorrem do conjunto das
relações mercantis, do conhecimento tecnológico e dos interesses individuais,
visando à acumulação de capital (seja ele financeiro ou patrimonial) numa
dinâmica exógena e complexa, formada, inclusive, pela interação entre os
diversos grupos sociais e interesses individuais.
A industrialização (beneficiada pelos recursos tecnológicos, muitas vezes
oriundos dos centros intelectuais e científicos), a padronização da produção, a
4 A diferença entre espaço geográfico e território histórico deriva do primeiro ser uma composição das esferas: Natureza e Humanidade determinando o momentum de um lugar. Já o território histórico remete à cultura e às memórias sociais, presentes no consciente e inconsciente coletivo, podendo haver sobreprojeções de territórios históricos num mesmo espaço geográfico.
13
otimização do tempo e do produto (máxima produção em mínimo tempo ou menor
custo econômico) seguem um ritmo desassociado do tempo natural e dos
complexos ecológicos.
Acompanhando a industrialização, o processo de urbanização segue o
mesmo ritmo, criando pólos demográficos, ascendentes culturalmente na
satisfação das necessidades vitais, onde as interações capitalizadas baseiam as
relações necessárias para esta satisfação e, inclusive, sujeita os objetos que
compõem os territórios históricos, juntamente ao acesso e ao domínio dos
recursos naturais.
O desenvolvimento social e econômico acelerado (e mal-planejado) somado
ao resultado de pressões humanas crescentes como a densidade demográfica, a
urbanização, a industrialização, o transporte marítimo e o turismo têm causado
acentuada alteração física, química e biológica da natureza. A destruição ou a
alteração dos ecossistemas e dos habitats representam uma grave ameaça ao
ambiente planetário (PNUMA et all, 2006).
As demandas do contínuo crescimento populacional e econômico em escala
global superam o que se compreende por “produção sustentável” e os conflitos
regionais, freqüentemente relacionados à disputa por recursos em diversas partes
do mundo e ao desvio de recursos escassos destinados a outras prioridades,
causam diretamente danos sociais e ambientais (PNUMA et all, 2006).
Economicamente, o processo produtivo e mercadológico defronta-se com os
limites dos recursos que lhes são necessários e a projeção de sua existência por
tempo indeterminado.
Paralelamente, algumas atividades têm se mantido por diversas gerações,
sustentando técnicas e o uso do ambiente que garantem, no mínimo, a
subsistência de seu pequeno grupo social, atribuindo a qualidade “tradicional” por
apresentar determinados padrões há tempos e sujeitos às influências naturais e
culturais de uma dinâmica endógena. Como exemplo, tem-se a pesca artesanal na
península de Porto Belo que somada às atividades agrícolas com baixa
produtividade garantiu a subsistência dos grupos humanos peninsulares desde os
primórdios da ocupação colonial (LAGO, 1966).
14
As transformações que ocorrem na substituição de um sistema tradicional por
um sistema capitalizado refletem em determinados traços culturais, quando há
mudanças na estrutura econômica e nos princípios que orientam os anseios
humanos5.
Os conflitos emergentes na relação: tradicional x capitalizado emergem na
alteração das atividades econômicas, exaltando um sistema de domínio e
dominados, onde “o novo padrão de uso do espaço e suas definições
socioeconômicas trazem impactos irreversíveis cujos efeitos são fluentes por
diversas gerações tanto humanas quanto silvestres” (DE CARVALHO, 2001, pg.
35).
Neste processo, as atividades tradicionais são condicionadas pela
configuração do espaço geográfico, definidos os novos usos e domínios cujos
princípios transcendem a subsistência tradicional para se adequar à dinâmica
capitalizada da sociedade global e do padrão de centros turísticos urbanizados.
Esta influencia ascende sobre a pesca artesanal e a produção de artesanatos os
quais se tornam objetos de paisagem e do produto turístico com padrão
transnacional.
Sob o paradigma da sustentabilidade, analisam-se as características culturais
desses pequenos grupos humanos, de onde se extraem elementos que atendem
aos princípios de sustentabilidade devido ao uso que fazem dos recursos naturais
e de sua estrutura social e econômica.
As comunidades não industrializadas apresentam formas alternativas de
interação do ser humano com os recursos naturais e que há tempos garantem a
vida com qualidade, usufruindo de um acervo de conhecimentos e experiências
tradicionais, ligadas às suas origens ancestrais e integradas aos ecossistemas
empiricamente, mesmo os mais complexos (CMAD, 1988).
5 Em Bombinhas, observou-se esta influência num evento que ocorreu no Instituto BOIMAMÃO – com o objetivo de resgate e fomento cultural – quando uma senhora nativa, ao estar cozendo o biju (espécie de biscoito típico do litoral catarinense, feito artesanalmente a partir da farinha de aipim) ofereceu um biju ao neto. Seu neto desprezou o biscoito artesanal alegando preferir outros biscoitos industrializados e ressaltou que o consumo das marcas dos mesmos é símbolo de status social.
15
A sustentabilidade ambiental está relacionada com a capacidade de suporte
da natureza, isto é, a manutenção da capacidade de carga e a recuperação dos
ecossistemas, relacionando-os à dinâmica demográfica. O trabalho de CARNEIRO
e FARIA (2001) apresenta um fluxograma abordando os elementos que devem ser
considerados na analise de capacidade de suporte (figura 3):
FIGURA 03: Fluxograma - Capacidade de Suporte e Sistema Complexo
Fonte: CARNEIRO e FARIA, 2001.
A sustentabilidade sociocultural objetiva a melhoria da qualidade de vida sem
exclusões, baseando-se no direito humano à boa vida (AUMOND, 1999). A
sustentabilidade econômica está condicionada à capacidade de promoção das
condições de vida.
O desafio é elaborar um modelo de desenvolvimento em harmonia com a
Natureza e com as necessidades das gerações futuras, dando especial atenção à
relação entre desenvolvimento, pobreza e deterioração ambiental local (HOGAN,
1995).
Segundo DIEGUES (1995), as necessidades das populações locais e suas
atividades econômicas tradicionais devem atuar nos processos de decisão da
configuração do espaço geográfico, o que faz necessário um estudo minucioso
16
sobre as relações econômicas, culturais, políticas e sociais fluentes no ambiente
onde vive.
A proteção dos direitos tradicionais deve ser acompanhada de medidas para
melhorar o bem-estar da comunidade de forma adequada ao seu estilo de vida,
garantindo o acesso aos recursos que lhes são necessários e definindo os
domínios para este propósito. (CMAD, 1988). Também, deve-se considerar que
uma atividade tradicional mantida por meio oral em grupos sociais menores
dependem da qualidade e da quantidade dos recursos naturais disponíveis.
Ai se insere esta pesquisa de mestrado, analisando e avaliando o caráter
"tradicional” e “sustentável” da produção “artesanal” da comunidade local da
península de Porto Belo, no litoral centro norte do estado de Santa Catarina,
Brasil: cenário da especulação imobiliária responsável pelo acelerado processo de
urbanização e em um pólo de exploração dos potenciais marinhos: pesca,
maricultura, navegação e esportes aquáticos..
Analisar a produção artesanal, considerando sua sustentabilidade em
contexto regional, estadual, nacional e planetário, permeia as condições
geográficas, a vulnerabilidade ambiental e as influências sociais de uma atividade
socioeconômica com traços tradicionais e relações ambientais dependentes da
oferta de recursos naturais ou da transformação de resíduos em artefatos práticos
e/ ou decorativos.
Algumas peculiaridades da produção artesanal: ser baseada em técnicas
rústicas na extração ou coleta de recursos naturais (mesmo na pesca e na
produção de manufaturados) cujo uso e o conhecimento empírico têm garantido a
subsistência dos pequenos adensamentos humanos6, sendo conservados
6 “Tais comunidades (locais e distintas do grupo social maior) são depositárias de um vasto acervo de conhecimentos e experiências tradicionais, que liga a humanidade a suas origens ancestrais. Seu desaparecimento constitui uma perda para a sociedade, que teria muito a aprender com suas técnicas tradicionais de lidar com sistemas ecológicos muito complexos...”. “O ponto de partida para uma política justa e humana em relação a esses grupos é o reconhecimento e a proteção de seus direitos tradicionais à terra e a outros recursos nos quais se apóia seu modo de vida – direitos que eles podem definir em termos que não se enquadram nos sistemas legais regulares. As próprias instituições desses grupos para regulamentar direitos e obrigações são fundamentais para a manutenção da harmonia com a natureza e da consciência ambiental característica de seu modo de vida tradicional. Por isso, o reconhecimento dos direitos tradicionais deve se associar a medidas de proteção das instituições locais que enfatizam a
17
remanescentes florestais e a diversidade de espécies da fauna e da flora nativas.
Atualmente, a atividade artesanal é uma fonte de renda (ANDRADE, 2001 e
WENCESLAU, 2004). Com o levantamento e a análise das informações coletadas,
estabeleceu-se a relação entre a produção artesanal e os agentes de
transformação do espaço geográfico da península, evidenciando a vulnerabilidade
desta produção diante a ação destes agentes, os conflitos e as condições
favoráveis para a sua sustentabilidade.
A carência de um projeto de gestão ambiental adequado às peculiaridades
da península e a não efetivação participação da população local nas decisões
norteadoras do desenvolvimento da região, evidenciam o antagonismo entre a
tendência observada e a proposta de sustentabilidade como projeto de presente e
futuro visando à qualidade de vida.
Apesar das estratégias de zoneamento espacial e a criação de Unidades de
Conservação, não se reverteu o quadro de deterioração cultural, ambiental, e
econômica, onde poucas pessoas “privatizam os lucros” do modelo de
desenvolvimento vigente e compartilham com todos os danos gerados por tal.
As políticas públicas e os projetos de gestão propostos e atuantes na
península não prevêem o uso do espaço geográfico pela produção artesanal, nem
mesmo o fato de gerar renda e autonomia à população local.
Como colocado por STROH, “apenas o profundo conhecimento da realidade
social envolvida permite o planejamento sócio-ambiental das intervenções,
condizente com as especificidades da realidade a ser transformada.” (in
CAVALCANTI, 1995, p.281). A partir daí, a produção artesanal oferece um modelo
de sustentabilidade atribuído de valores estéticos, qualidade ambiental e
integração harmônica entre ser humano e Natureza.
A partir deste diagnóstico, tem-se um material que poderá dar suporte para
futuras políticas públicas e os projetos de gestão que integrem a comunidade na
proposta de qualidade de vida local.
responsabilidade no uso dos recursos. Faz parte também desse reconhecimento dar voz ativa às comunidades locais nas decisões referentes ao uso dos recursos das áreas onde vivem. “A proteção dos direitos tradicionais deveria ser acompanhada de medidas positivas para melhorar o bem-estar da comunidade de forma adequada ao estilo de vida do grupo“. (COMISSÂO MUNIDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1988, p. 125 e 126)
18
2.1. PERGUNTAS DA PESQUISA:
2.1.1. O QUE SE DEFINE COMO TÉCNICA ARTESANAL E PRODUÇÃO
ARTESANAL?
2.1.2. QUAIS SÃO OS ASPECTOS DA PRODUÇÃO ARTESANAL QUE A
ENQUADRAM NO CONCEITO TEÓRICO “TRADICIONAL”?
2.1.3. COMO OCORRE O PROCESSO DA PRODUÇÃO ARTESANAL NOS
MUNICÍPIOS BOMBINHAS E PORTO BELO? QUAL A IMPORTÂNCIA
CULTURAL, SOCIAL E ECONÔMICA DA PRODUÇÃO ARTESANAL PARA
COMUNIDADE LOCAL?
2.1.4. QUAIS SÃO OS AGENTES RESPONSAVEIS PELA TRANSFORMAÇÃO
DESTE CENÁRIO GEOGRÁFICO?
2.1.5. COMO PROMOVER A SUSTENTABILIDADE DA PRODUÇÃO
ARTESANAL CONSIDERANDO A REALIDADE ECONÔMICA, POLÍTICA,
SOCIAL E AMBIENTAL DA PENÍNSULA?
19
2.2 OBJETIVOS
2.2.1 GERAL:
Analisar o processo de produção artesanal diante a organização e o uso do
espaço geográfico da península de Porto Belo – SC sob a ótica do paradigma da
sustentabilidade.
2.2.2 ESPECÍFICOS:
1 – Identificar e diagnosticar a produção artesanal na península de Porto Belo,
apontando os aspectos tradicionais e a importância cultural, social, econômica e
ambiental da atividade artesã.
2 – Apontar as relações desarmônicas e harmônicas entre a atividade artesanal e
os agentes de transformação do espaço geográfico da península.
3 – Localizar o tratamento dado à comunidade artesã no zoneamento espacial e
no desenvolvimento urbano e demográfico da península, a fim de projetar a
sustentabilidade da produção artesanal no cenário geográfico estudado.
20
2.3. JUSTIFICATIVA
A identificação e o diagnóstico da produção artesanal na península de Porto
Belo permitem lhe atribuir o caráter de agente econômico (fonte de renda e
geração de trabalho), ambiental (uso de recursos naturais como matéria prima e
os efeitos do processo de produção no ambiente) e social (conhecimento da
técnica de produção: know how - em diferentes etapas do processo produtivo,
muitas vezes baseada no empiricismo e na transmissão oral, além das relações
sociais encontradas durante a atividade artesanal).
Uma vez diagnosticada e apontada a importância: ambiental, social,
econômica e cultural da produção artesanal, pode-se avaliar as relações
desarmônicas e harmônicas entre a produção e outros agentes influentes na
realidade do espaço geográfico da península. Também, quais são as condições da
comunidade artesã diante o zoneamento espacial e o desenvolvimento urbano e
demográfico da península, focando o tratamento recebido nos projetos de gestão
que atuam na localidade estudada.
Legalmente, as comunidades tradicionais têm recebido especial atenção nos
projetos de gestão do planeta Terra. Isto porque parte-se do principio que suas
peculiaridades culturais e sua diminuta influência em atividades econômicas,
sociais e ambientais se mantiveram por tempos (objetivo da sustentabilidade),
gerando a satisfação daqueles que as exerceram, e mantendo a qualidade natural
conservada até o momento de interação com comunidades “não tradicionais”.
Quando a produção artesanal e sua respectiva comunidade se enquadram no
que se compreende como “tradicional”, recebem os mesmos tratamentos daquelas
que são reconhecidas como “comunidades tradicionais”.
Para se projetar a sustentabilidade da produção artesanal no cenário
geográfico estudado constrói-se o “tripé”: ambiente, economia e sociedade, os
quais são focos e objetivos do paradigma de sustentabilidade. Também, quais
podem ser as medidas para resolver os conflitos entre os agentes, e fortalecer as
interações e as inter-relações benéficas entre os mesmos agentes.
21
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA:
3.1 SUSTENTABILIDADE
“Não foi o homem quem teceu a teia de vida: ele é
meramente um fio da mesma. Tudo que ele fizer a ela, a si próprio fará”.
(Chefe Indígena Seattle da tribo Duwamish, 1855.).
Sustentabilidade é um conceito criado pelo ser humano ao almejar conciliar
sua existência com as condições de vida no planeta Terra.
A maneira como a humanidade vive neste planeta é marcada pelos
conhecimentos e os recursos tecnológicos que compõem o cenário econômico,
político, social, místico e natural de um sistema social e sua estrutura funcional7,
permeada por valores e princípios culturais do grupo humano. Ali são construídas
relações que definem papéis e funções fluentes na configuração da sociedade e
do espaço geográfico.
No espaço planetário, criaram-se diferentes sistemas sociais, cuja
diversidade é baseada nas esferas: natural (características biogeográficas) e
cultural (meramente humana), onde os conhecimentos peculiares e os recursos
tecnológicos próprios se evidenciam no cenário econômico, político, social, místico
e natural de seus sistemas.
Numa visão sistêmica dos processos dinâmicos onde as relações presentes
nas esferas: natural e cultural (e em sua intersecção), as interações e as
interdependências dos sistemas sociais, econômicos, políticos, naturais e culturais
compõem uma teia complexa, como bem colocada em MADUREIRA e TAGLIANI
7 Entende-se como estrutura funcional a maneira como o grupo humano (social) organiza as relações e as ações pra satisfação de suas necessidades vitais (orgânicas) e culturais, utilizando-se os recursos naturais e tecnológicos: produtos do conhecimento humano.
22
(1997), sendo que desta interação e dos fenômenos interdependentes resultam
diferentes formas de apropriação da natureza.
No intercâmbio de matéria e energia entre as esferas: natural e cultural no
âmbito econômico (satisfação da vida) e no âmbito ecológico (inter-relações), o
primeiro âmbito produz bens e serviços enquanto o segundo oferece os recursos
necessários para a produção destes bens e serviços, bem como processa
assimiladamente os detritos gerados.
No artigo de TONHASCA8, encontram-se enumerados os ‘serviços
ecológicos’ prestados pela esfera natural e essenciais ao ser humano, tais como:
1. Manter a qualidade do ar com a regulação da composição dos gases
atmosféricos;
2. Controlar a temperatura e o regime de chuvas através do ciclo ecológico do
carbono e da vegetação;
3. Regular o fluxo de águas superficiais e controlar enchentes;
4. Formar e manter o solo pela decomposição da matéria orgânica e pelas
relações entre raízes de plantas e micorrizos;
5. Degradar dejetos e realizar a ciclagem de minerais;
6. Controle biológico de pragas e doenças;
7. Assegurar a polinização de plantas agrícolas e silvestres.
No documento organizado por DIEGUES (2000), se ressalta a participação
do ser humano no ecossistema onde cada sociedade se caracteriza como um
subsistema de um sistema composto pelas relações bioenergéticas entre
humanos e os demais seres vivos, sendo possível quantificar o fluxo de energia
circulante, o potencial de resiliência9 e a capacidade de suporte10 (= carrying
capacity) do ecossistema.
8 in revista CIÊNCIA HOJE • vol. 35 • nº. 205 9 “Resilience is a measure of (1) the amount of change the system can undergo and still retain the same controls on function and structure; (2) the degree to which the system is capable of self-organization; and (3) the ability to build and increase the capacity for learning and adaptation (resilience Alliance, 2001)” in DIEGUES & MOREIRA (2001) - pg.313 10 “Capacidade de suporte. População limite de uma espécie num sistema natural. Densidade populacional que pode ser sustentada por recursos limitados”. (Fonte: www.ambientebrasil.com.br – acesso em 23 de agosto de 2005)
23
Quando a produção dos resíduos provenientes das atividades humanas
supera a capacidade da esfera natural em recompô-los, ocorrem alterações das
características físicas, químicas e biológicas dos solos, da água e da atmosfera,
culminando no fenômeno correntemente denominado de “poluição”.
FEENY et all (in DIEGUES & MOREIRA, 2001) fazem uma análise da relação
que o ser humano cria socialmente no uso do espaço natural, criando domínios
definidos como “propriedade” e a partir daí são definidos o acesso aos recursos,
projetando então as possíveis conseqüências do potencial de ação das pessoas
sobre tal espaço.
Daí, tem-se a relação entre domínio, recursos naturais e o respectivo uso:
1. LIVRE ACESSO: sem direitos de propriedade definidos e o acesso aos
recursos é livre a qualquer pessoa. Entretanto, este livre acesso ao espaço natural
e seus recursos pode gerar a degradação, a falência e o esgotamento dos
mesmos, incluindo o comprometimento dos fluxos de energia e dos ciclos
ecológicos, essenciais na conservação dos recursos envolvidos.
2. PROPRIEDADE PRIVADA: o domínio e a exploração dos recursos são
delegados ao indivíduo proprietário, sendo transferível o direito de exploração. O
uso dos recursos naturais, a qualidade e a quantidade deste uso são sujeitos aos
interesses daquele que tem o direito e este, limitado pelos recursos disponíveis
(não somente natural, como também econômico e sócio-cultural).
3. PROPRIEDADE COMUNAL: os recursos são manejados por uma
comunidade identificável de usuários interdependentes, excluindo indivíduos
externos e regulando o uso por membros da comunidade local. Os direitos do
grupo são reconhecidos e o uso é condicionado pela comunidade.
4. PROPRIEDADE ESTATAL: o domínio é exclusivamente do governo que, por
sua vez toma decisões em relação ao acesso aos recursos e sua exploração,
definidos pelos objetivos de gestão governamental para aquele determinado
espaço.
24
Particularmente, a propriedade estatal pertence a um sistema social baseado
numa estrutura funcional onde são criadas e organizadas inúmeras instituições11
com caráter político, econômico e social, que cumprem determinadas funções
para a satisfação orgânica e cultural. E a legitimação do domínio das propriedades
encontra respaldo nos princípios regentes deste sistema institucionalizado,
criando-se então as relações entre instituições e entre pessoas através de seus
papéis sociais.
Entretanto, devem-se considerar os interesses individuais que participam da
configuração dos espaços: natural e cultural e da organização social, envolvidos
na forma como a humanidade interage e usa os recursos naturais do espaço.
ROSSETTO (2004) lembra como as marcas das sociedades na paisagem
natural são restritas às reações ecológicas; destacando ainda a dinâmica onde as
relações dos seres humanos entre si e destes com a natureza transformam-se
através dos tempos, envolvendo mudanças nos aspectos imateriais e materiais da
cultura, muitas vezes transformando técnicas de trabalho seculares, sendo
adotados padrões e novos modelos como resultados dos anseios individuais, ou
coletivos de um grupo, ou através de interações com sistemas exógenos (naturais
e/ou culturais).
A organização do grupo social estruturada em instituições deriva de um
fenômeno social ao qual foi atribuído o caráter de “fenômeno de civilização”,
integrando o grupo social a um sistema comum em âmbito extra nacional (DE
OLIVEIRA, 1979) e dominante nas relações econômicas, políticas, sociais,
científicas. Ou seja, para ser civilizado, o ser humano deve pertencer a um grupo
organizado institucionalmente, e regido por regras que definem as funções e
papeis das instituições. À observação da relação da humanidade no tempo sob a
ação do tempo é atribuída a qualidade “desenvolvimento”.
Segundo NICÁCIO (2002), na organização do sistema institucionalizado
vigente em âmbito planetário, o conceito “desenvolvimento” é baseado na política
11 Instituição corresponde à associação de atores sociais que desempenham papeis e funções pontuais, especificados de acordo com o fundamento e com a organização da instituição, e que participam da configuração da sociedade e do espaço natural, sem, necessariamente, ter um local fixo de convergência destes atores.
25
econômica, cuja principal premissa é aumentar a oferta de bens e serviços
produzidos para a satisfação humana, além de gerar riqueza, sanear dívidas,
equilibrar e estabilizar as relações econômicas; fluentes nas condições sociais do
grupo. Excluindo a dinâmica ecológica nos parâmetros de “desenvolvimento”.
ROSSETTO (2004), em seu estudo sobre grupos que vivem no Pantanal,
ressalta o conflito entre os elementos culturais diante do “desenvolvimento”. Uns
resistem às inovações e outros são transformados ou substituídos com a adoção
de novas tecnologias, gerando a reestruturação econômica e cultural, alterando os
saberes do grupo social pantaneiro para que se adaptem e convivam com a nova
ordem.
Somada à questão, encontram-se as pontuações de MADUREIRA e
TAGLIANI (1997) onde “é interessante apontar o processo de globalização que, no
entendimento de Rattner (1993), afeta a vida em todas as suas manifestações,
com a expansão dos meios de comunicação e dos mercados, através de ações de
empresas transnacionais que dominam e controlam, crescentemente, a maior
parte da produção, do comércio, da tecnologia e das finanças internacionais.
Estas ações refletem-se em todas as instâncias, definindo um modo de vida,
aumentando as diferenças sociais, com a concentração de renda nas mãos de
minorias; eliminando fronteiras; definindo políticas e criando padrões
transnacionais”. (pg. 16)
No momento atual, marcado pela tecnologia que permite a humanidade
transcender os ciclos e os fluxos energéticos naturais, o discurso foca a projeção
do sistema vigente em tempos futuros, baseando-se o argumento no quadro
econômico, nos efeitos observados na Natureza e na ocorrência de fatos sociais,
os quais repercutem na qualidade da vida planetária.
A transformação que a humanidade tem observado em si mesma e sua
influencia no planeta têm evidenciado a vulnerabilidade humana em relação aos
fenômenos naturais, à degradação dos ecossistemas e dos biomas do espaço
planetário, aos princípios da organização funcional da estrutura vigente, e ao
consumo (ou contato) de substâncias físico-químicas sintetizadas, que refletem na
qualidade e nas condições de vida, principalmente, humana.
26
Com o advento das tecnologias de produção de energia, das tecnologias de
transporte, da Revolução Verde, das tecnologias industriais, da impermeabilização
do solo (produto do fenômeno de urbanização e adensamento demográfico), e dos
resultados na área de saúde, somados ao exponencial do crescimento vegetativo
da população humana, os efeitos das ações humanas no ambiente foram
intensificados.
Exemplo destas transformações: no âmbito cultural e natural – pode ser
encontrado no trabalho de ALLUT (2005) que estudou os pescadores artesanais
do nordeste mexicano:
“En otras poblaciones pesqueras más pequeñas como Lira, Malpica (A Coruña).... se desguazan o se venden los barcos por la dificultad de encontrar gente dispuesta a trabajar en el mar. El despoblamiento trae, entre otras consecuencias, la pérdida de recursos humanos disponibles a nivel local pero también conduce a la desaparición de un potencial cultural susceptible de transmitir valores y conocimientos beneficiosos a una sociedad dominada por una racionalidad económica productivista. Un mundo cada vez más globalizado en lo económico implica, en términos generales, um abandono de los modelos de producción tradicionales y la pérdida de elementos culturales asociados”.
“En este proceso, lo local se torna frágil y se devalúa en su interacción con lo global. Lo que ocurre con la pesca artesanal en el mundo constituye un buen ejemplo de ello. Las poblaciones pesqueras artesanales ven amenazados su estilo de vida, su riqueza, su cultura... por la acción incontrolada de las flotas industriales al diezmar éstas sus caladeros. En Senegal, India, Madagascar... muchos pescadores han emigrado hacia otras regiones y países por el efecto de la pesca industrial en sus áreas de pesca tradicionales (Mathew, S 2001). En el caso concreto de Galicia, son numerosos los conflictos que se han dado entre las flotas industriales y las artesanales por ingerencia de las primeras sobre las zonas de pesca de éstas últimas (García-Allut, A 1994a; Casanova, C, 1999)”.
“La pesca a pequeña escala, al carecer de representatividad efectiva en los órganos de decisión política, está a merced del poder de los intereses económicos que detentan las grandes empresas pesqueras”. (pg. 01)
Devido à emergência da transformação e do “desenvolvimento” globalizado,
encontros institucionais de âmbito mundial destacaram a necessidade de se
27
assegurar a qualidade de vida no planeta Terra e dos diversos grupos culturais,
criando documentos que estabeleceram metas e princípios que deveriam permear
a gestão política e econômica das nações. Abaixo, são pontificadas observações
fluentes nestes cenários de discussão e planejamento:
“Todos os povos têm direito a um meio ambiente geral
satisfatório, propício ao seu desenvolvimento.” — Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, 27 de junho de 1981.
“Os povos indígenas são a base do que poderia ser
chamado de sistema de segurança ambiental. Para muitos de nós, no entanto, os últimos séculos significaram uma grande perda de controle sobre nossas terras e águas. Ainda somos os primeiros a sentir as mudanças no meio ambiente, mas agora somos os últimos a ser questionados ou consultados sobre o assunto.” — Louis Bruyère, presidente do Native Council do Canadá, audição pública da CMMAD, Ottawa, Canadá, Maio de 1986
A importância de se dimensionar os efeitos desta transformação planetária,
enfocando a dependência da humanidade à qualidade da esfera natural é
observada no documento do PNUMA et all (2002), que relata que, em 1983, a
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), também
conhecida como a Comissão Brundtland.
O objetivo desta Comissão, inicialmente, foi realizar audiências ao redor do
mundo, concluindo um relatório formal onde se analisava a qualidade da vida e
das organizações e dos grupos culturais do planeta.
Foram levantadas questões relacionadas ao ambiente (somadas esferas
natural e humana) e ao desenvolvimento, contextualizando-os em suas diversas
realidades (global, nacionais, regionais, locais), e indicando padrões que
garantiram a satisfação orgânica12 e cultural do grupo analisado.
12 Compreende-se como “satisfação orgânica”, a capacidade de atender a necessidade de abrigo (moradia), de alimentação, e de saúde (bem estar na funcionalidade do organismo) A economia apresenta a peculiaridade de estabelecer relação entre a esfera natural e a esfera cultural dos grupos humanos, tanto na satisfação orgânica quanto cultural, tendo-se como “cultura” toda criação humana fluente na existência dos grupos humanos.
28
Este relatório foi publicado após três anos de audiências e intitulado “Nosso
Futuro Comum” (Our Common Future)13, propondo que o modelo de
desenvolvimento do sistema vigente não encontra condições de se manter a
médio e longo prazo e, ainda, é responsável pelo empobrecimento de grandes
parcelas da população mundial.
A proposta era construir um novo paradigma, tendo-se como principio
“Pensar global, agir local”, focando as seguintes diretrizes:
1. Limitação do crescimento populacional;
2. Garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) em longo prazo;
3. Preservação da biodiversidade e conservação dos ecossistemas;
4. Diminuição do consumo de energia e adoção de fontes energéticas
renováveis;
5. Incentivo a produção industrial com base em tecnologias “ecológicas”;
6. Controle da urbanização e integração entre campo e cidades;
7. Atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia).
Almejou-se, então, a adoção de um novo modelo de “desenvolvimento”,
permeado pelos diversos conhecimentos baseados no principio da conservação
do planeta vivo e da garantia das satisfações humanas priorizando o bem estar, o
que integraria a evolução das ações humanas no tempo. Além de acrescentar a
dinâmica ecológica dos recursos naturais, dos fluxos de energia, das
transformações geradas pelas diversas interações no cenário planetário (seja na
esfera humana quanto na esfera natural).
Como reafirma SACHS (in ROSSETTO, 2004): a necessidade de uma
simbiose duradoura entre os seres humanos e a natureza, a fim de garantir às
13 “Surge um novo paradigma de meio ambiente e desenvolvimento em resposta ao desafio da sustentabilidade, apoiado por valores e instituições novos e mais eqüitativos. Prevalece uma situação mais visionária, em que as mudanças radicais na forma em que as pessoas interagem umas com as outras e com o mundo em torno delas estimulam e apóiam medidas de políticas sustentáveis e um comportamento responsável por parte das empresas. Há uma colaboração muito mais ampla entre os governos, os cidadãos e outros grupos de interesse na tomada de decisões sobre questões de preocupação comum. Chega-se a um consenso sobre o que precisa ser feito para satisfazer as necessidades básicas e alcançar metas pessoais sem empobrecer outros ou estragar as perspectivas para a posteridade”. PNUMA et all (2002) – pg. xxix/ síntese/ textos iniciais
29
gerações futuras um planeta habitável, via conservação dos elementos naturais
necessários ao bem-estar da humanidade.
A partir do resultado deste relatório, inúmeros estudos centralizaram a
problemática entre a conservação da vida e o sistema social, econômico e político
vigente, criando teorias e conceitos depois de observados os diversos tipos de
modelo de desenvolvimento dos grupos sociais.
Para compreender estas diferentes formas de apropriação, MADUREIRA e
TAGLIANI (1997) apontou a importância de tratar, filosófica e politicamente a
questão, a partir das relações entre a sociedade e a natureza, em toda a sua
complexidade, além da revisão do conceito de desenvolvimento; a partir daí
diagnosticar as condições presentes das formas de aproveitamento dos recursos e
então planejar ações integradas e novas propostas de “desenvolvimento”.
Outro recurso epistemológico para se compreender as condições dos grupos
sociais e daí a interação entre as esferas natural e cultural, é identificar o modelo
de domínio dos espaços e de seus respectivos recursos, onde são definidos os
princípios de propriedade que transitam do coletivo ao individual, atribuído sócio e
culturalmente (FEENY et all in DIEGUES e MOREIRA, 2001).
Também, relevar a organização em instituições, e as características do
desenvolvimento das mesmas, isto porque as instituições permeiam as
interdependências da teia construída pelas relações da sociedade global
(BREKES, in VIEIRA, 2003). Acrescentado, no mesmo trabalho, a necessidade de
se conhecer o potencial de adaptação destas mesmas instituições diante às
transformações que ocorrem no âmbito dinâmico desta teia. “The goal of adaptive management is different from
conventional management. In adaptive management, the goal is not to produce the highest biological or economic yield, but understand the system and to learn more about uncertainties by probing the system. Feedback from management outcomes provides for corrections to avoid thresholds that may that threaten the ecosystem and the social and economic system based on it. Thus, adaptive management depends on feedbacks from environment in shaping policy, followed by further systematic experimentation to shape subsequent policy, and so on; the process is iterative (Holling, 1986; Holling et al., 1998)”. (p. 312)
30
A CMMAD, em 1987, definiu o desenvolvimento sustentável14 como “o
desenvolvimento que atende às necessidades das gerações presentes sem
comprometer a capacidade de gerações futuras de suprir suas próprias
necessidades”.
O desenvolvimento sustentável se apóia em três pilares (figura 4): a
sociedade, a economia e o ambiente que deverão ser abordados para garantir sua
existência. E este tripé dever-se-á permear as esferas: humana e natural para que
as relações que transformam o espaço geográfico estejam integradas (figura 5).
FIGURA 04: Tripé do Desenvolvimento Sustentável
Fonte: Daniela V. Veras, 2007.
FIGURA 05: A Relação entre Esferas: humana e natural e sustentabilidade.
Fonte: Daniela V. Veras, 2007.
14 “Esse é o tipo de desenvolvimento que proporciona melhorias reais na qualidade da vida humana e ao mesmo tempo conserva a vitalidade e a diversidade da terra. O objetivo é um desenvolvimento que seja sustentável. Hoje isso pode parecer visionário, mas é um objetivo alcançável. Para um número cada vez maior de pessoas, essa também parece ser a única opção sensata.” — Estratégia de Conservação Mundial – IUCN, UNEP e WWF, 1980
Sociedade:Paradigmas, cosmologias
Ambiente: Relações, recursos e ecossistemas.
Economia: satisfação e organização da vida humana
Cenário político Cenário econômico Cenário social Cenário cultural
31
Um sinônimo paradigmático do conceito “desenvolvimento sustentável” é
desenvolvidas nas teses de SACHS, denominando o modelo proposto como ”eco
desenvolvimento”.
Na leitura da obra organizada por HOGAN e VIEIRA (1995), o
desenvolvimento sustentável é fundamentado nos conceitos de “necessidades”
(sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, que devem receber
a máxima prioridade); e das “limitações” (da tecnologia e da organização social
sobre o ambiente, visando atender às necessidades presentes e futuras), partindo
dos princípios de:
1. Um planeta sem fronteiras, compartilhando a atmosfera, os fluxos
energéticos e os ciclos dos recursos naturais, a diversidade de vidas.
2. As características e condições da recomposição dos recursos renováveis e o
limite do uso dos recursos não renováveis no paradigma econômico.
3. Abordar, num paradigma ecológico, os efeitos das ações econômicas.
4. A dimensão da população humana, uma vez que exerce influência como
integrante da esfera natural e da esfera cultural (meramente humana).
5. A diversidade cultural dos grupos humanos espalhados no espaço planetário,
contextualizados pelas peculiaridades locais.
6. A satisfação das necessidades humanas orgânicas e do bem estar social,
sob a ótica da boa qualidade de vida.
7. A estabilidade e a harmonia nas relações entre sociedade e suas instituições,
como também em sua organização política e econômica.
GADOTTI (2006) 15 destaca a importância de expandir o domínio e o acesso
à ciência e do conhecimento humano, quando a “Teoria de Gaia”, difundida após a
visualização espacial do planeta Terra, justifica a planetariedade e a concepção da
humanidade como ser um elemento de um planeta “vivo” a partir do conceito
holístico que interpreta o planeta Terra como “único organismo vivo”.
Ainda, enfatiza que na analise do desenvolvimento de vê-se ir além dos
elementos racionais e pragmáticos, incluindo o fato que os sistemas sociais de
15 Gadotti, Moacir - “PEDAGOGIA DA TERRA E CULTURA DA SUSTENTABILIDADE” in www.paulofreire.org – acesso em 10 de novembro de 2006
32
escala local devem ser compatíveis com os de escala planetária, com a
possibilidade de decidir autonomamente sobre o seu próprio destino.
Isto seria oportunizado pela rede de relações (teia) formada entre as
pessoas, a sociedade civil, e o Estado, focando a “qualidade de vida” (satisfação
econômica e cultural da vida humana).
Para tanto, são necessários centralizar:
1. Respeito ao desenvolvimento cultural tradicional milenar, baseando-se nos
povos e nações indígenas têm muito a ensinar no que diz respeito à pedagogia da
Terra.
2. Equilíbrio dinâmico entre economia e ecologia: desenvolver a sensibilidade
social.
3. Respeito e harmonia entre as diferenças: seres humanos do planeta que
convivem com outros seres animados e inanimados.
4. Ética integral: conjunto de valores fundamentais ao equilíbrio dinâmico e à
congruência harmônica e que desenvolve a capacidade de auto-realização.
5. Racionalidade intuitiva: conhecer os limites da lógica e não ignorar a
afetividade, a vida, a subjetividade, além de desenvolver a capacidade de atuar
como um ser humano integral.
6. Consciência planetária: desenvolver a solidariedade planetária.
NICÁCIO (2002) analisando as relações da teia, e os elementos fluentes
nestas relações, destaca os fatores orientados pelo paradigma da
“sustentabilidade” quando consideradas as relações de domínio, condicionadas
pelas necessidades, pelos interesses e pelas ações das instituições e dos atores
sociais.
Os fatores são denominados como “capital” e, como tais, representam os
pontos chaves e diferenciais encontrados entre os grupos humanos e em seus
contextos naturais, geográficos, econômicos e políticos que compõem a soma das
esferas natural e cultural. São capitais: natural, físico, humano, e social.
Estes capitais devem ser dimensionados, resgatados e valorizados na
formação da teia, a fim de evitar relações de domínio, a mutação destrutiva
33
daquele que seria dominado e a inércia de exploração por aquele que seria o
dominante, havendo desequilíbrio na troca energética entre os pólos da relação.
OLIVEIRA e LIMA (2003) destacam a similaridade entre “desenvolvimento
sustentável” e “eco desenvolvimento”, e ampliam a dimensão a ser focada no
desenvolvimento, acrescentando estratégias de ação que visam a sustentabilidade
(qualidade do objeto sustentável) das dimensões da esfera cultural, tais como:
1. Sustentabilidade social – baseada no poder aquisitivo e redução da diferença
entre ricos e pobres;
2. Sustentabilidade econômica – a eficiência econômica social e não em termos
institucionalizados;
3. Sustentabilidade ecológica – transformação das relações desarmônicas
(parasitismo, predação, etc.) geradas pela humanidade na esfera natural, o que
recebeu o codinome de prudência ecológica;
4. Sustentabilidade espacial – partindo da premissa que o ser humano se
desloca no espaço planetário e este deslocamento é imbuído de energia ecológica
e cultural; balancear a distribuição e a densidade dos grupos humanos no planeta
considerando as peculiaridades do espaço natural em diversas escalas.
5. Sustentabilidade cultural – respeitar as diferenças, os valores e saberes
locais dos grupos sociais a fim de elaborar políticas de desenvolvimento e gestão.
Com as propostas emergentes de “desenvolvimento sustentável”,
MADUREIRA e TAGLIANI (1997) questionam a adoção do termo quando adotado
um conjunto de medidas de ajustamento para o pleno funcionamento da
sociedade capitalista, onde são incorporados, por exemplo, novos indicadores de
desenvolvimento, como o bem-estar humano e a proteção ambiental, o controle da
poluição, políticas de financiamento mais brandas, de reciclagem industrial e de
controle demográfico e outras medidas deste tipo, o que atribuiria à qualidade
“sustentável” a característica “suportável”, que não resgata o ser humano de sua
alienação perante o sistema produtivo dominante.
34
Ainda estes autores dissertam sobre os conceitos construídos sobre o termo
“desenvolvimento sustentável”, apontando a variação da interpretação segundo
àquele se apropria deste paradigma16 no nível das instituições ou de grupo social.
Por exemplo, o significado dado por ambientalistas que utilizam a expressão
simbolizando mudanças-chave na estrutura de produção e consumo; uma nova
ética de comportamento humano, a recuperação do primado dos interesses
sociais coletivos e a consideração com a qualidade da esfera natural na relação
humanidade e espaço planetário; e o significado dado por instituições econômicas
que, a partir do princípio do lucro e do mercado, visam o “desenvolvimento
sustentável” da produção.
Assim se apóia na teoria na qual desenvolvimento sustentável tem dois
significados: desenvolvimento de dimensão política e ética (projetos de gestão) e o
gerenciamento sustentável dos recursos naturais, desassociando o termo
“desenvolvimento” ao conceito “progresso” e, no campo econômico, a
crescimento, sob a ótica quantitativa e não qualitativa.
Esta abordagem sobre o conceito de “desenvolvimento sustentável” é
coerente à proposta de MARRUL FILHO (2001), onde o termo “desenvolvimento
sustentável” devera ser compreendido como uma unidade conceitual formada pela
integração de dois conceitos (ou noções) autônomos. Assim, sustentável não seria
um simples qualificativo para determinado tipo de desenvolvimento, mas “um
projeto de sociedade alicerçado na consciência crítica do que existe e um
propósito estratégico como processo de construção do futuro." (pg.)
MADUREIRA e TAGLIANI (1997) indicam as transformações dos termos
envolvidos no conceito da sustentabilidade, quando são acrescentadas ou
alteradas as estratégias do modelo proposto de desenvolvimento ao reconhecer a
vinculação da questão ambiental à desigualdade existente entre os países e ao
aumento da pobreza, e também a preponderância das necessidades sociais sobre
os objetivos ambientais de longo prazo, mas é considerada contraditória a
16 “O certo é que estes termos têm permitido diversas interpretações e têm se moldado a diferentes interesses, conforme o agente que deles se aproprie, não tendo saído ainda dos documentos oficiais para uma prática efetiva, sendo porém amplamente utilizados em justificativas políticas”.(pg.)
35
proposta de crescimento econômico dos países subdesenvolvidos tal como os
desenvolvidos como solução para os problemas.
O termo “desenvolvimento sustentável” é substituído gradativamente pelo
termo “desenvolvimento sustentado”, adotado na maioria dos documentos oficiais
de âmbito internacional resultantes das Conferências das Nações Unidas.
Conforme ressaltado no trabalho de MARRUL FILHO (2001), na eficácia do
discurso e a relação entre anunciante e autoridade, “há que se observar a posição
ocupada pelos atores sociais no próprio espectro social, pois, se aí se encontram
dominando ou sendo dominados, dominantes ou subordinados, serão suas
representações e idéias e aqueles privilegiados é que darão conteúdo à noção de
sustentabilidade”. (pg. 62)
Ou seja, “a dimensão analítica - requer que as condições de sustentabilidade
e não sustentabilidade para um sistema sócio - natural sejam identificadas no
tempo e no espaço. Aqui, sustentabilidade/ não sustentabilidade significam a
qualificação de estados e processos contínuos, sendo que primeiro deve ser
identificado o que não é sustentável para, em seguida determinar os vários
caminhos possíveis para a construção de estados e processos sustentáveis”.
(MARRUL FILHO, 2001, pg. 71)
Para entender o objeto de sustentabilidade, é preciso torná-lo ponto central
na observação de sua existência diante das condições que lhe são necessárias.
A sustentabilidade, compreendida como um conceito: é um processo de
aperfeiçoamento do conjunto de valores, que estão ligados à capacidade do
homem em viver em sociedade com as múltiplas dimensões: econômicas,
políticas, tecnológicas, sociais, e ambientais, privilegiando a qualidade de vida em
níveis equilibrados socialmente e de forma harmônica ecologicamente.
No âmbito da ‘sustentabilidade cultural’, o primeiro paradigma a ser rompido
é a manutenção de aspectos culturais preservados das influências externas,
sendo conveniente enfatizar que os valores, conhecimentos, hábitos e técnicas
que o grupo social considera mais significativo se mantêm como legado para as
gerações futuras num processo continuo de seletividade em seus aspectos
materiais e imateriais (ROSSETTO, 2004).
36
Centrando a sustentabilidade municipal brasileira, NICÁCIO (2002) faz uma
retrospectiva do paradigma de desenvolvimento brasileiro, ressaltando a política
agrária fundiária que apóia o crescimento dos complexos agroindustriais em
detrimento da agricultura familiar. Isto tem gerado um intenso fluxo populacional
em direção aos principais centros urbanos industriais e, consequentemente o
“inchaço” das cidades (crescimento desordenado), com atraso e a acelerada
deterioração física do sistema de:
1. Transporte (rodoviário, ferroviários, navegação de cabotagem e aéreo),
2. Telecomunicações,
3. Portuário,
4. Energia elétrica,
5. Saneamento básico,
6. Controle de poluição (água, solo e ar) e;
7. Ciência e tecnologia17.
Para o autor, a infra-estrutura é o suporte para a sustentabilidade,
promovendo o desenvolvimento econômico e melhorias na qualidade da vida. Esta
infra-estrutura deve acompanhar as tendências tecnológicas e conceituais da
produção econômica, cujo atual modelo tem como características a flexibilidade, a
diversificação e a descentralização das atividades, tendo como principal objetivo
“conquistar” o consumidor.
Assim, sugere que o desenvolvimento sustentável seja permeado pelas
seguintes estratégias:
1. Suprir suas necessidades imediatas nas dimensões: humana, social,
econômica;
2. Descobrir ou despertar suas vocações e desenvolver potencialidades
específicas;
17 “Alem de se exigir uma nova qualificação da população economicamente ativa onde “o núcleo de conhecimentos, habilidades e atitudes adquiridas ao longo do processo educacional constituem um requisito essencial para a formação do trabalhador, estimulando-o a ampliar suas oportunidades de inclusão e de desenvolvimento no mercado de trabalho, objetivando sua valorização pessoal e profissional”. (pg. 81)
37
3. Ter estratégias de gestão e crescimento que atendam às necessidades
econômicas, do ser humano, da população, ao mesmo tempo em que mantém os
recursos naturais para as próximas gerações.
E sobre a questão em escala municipal, coloca:
“Apesar das pressões, poucos setores da economia têm se preocupado com estas transformações, em parte, talvez, porque as mudanças têm sido rápidas e violentas o suficiente para lançar dúvidas e novas questões, para quem acreditava que o Brasil havia alcançado, em meados dos anos 80, uma estrutura industrial “completa, integrada e diversificada”, O vendaval, que começou no rescaldo da crise da dívida externa e se estendem até a fase de estabilização, com a abertura comercial e financeira dos dias de hoje (para não falar da globalização e seus efeitos, um pouco melhor compreendidos e escassamente estudados sobre os pequenos e médios municípios), abateu teses, projetos, conceitos e preconceitos, o que fica uma é pergunta: Para onde vamos, neste mar de intensas transformações?” (NICÁCIO, 2002, pg.85)
Os desafios do desenvolvimento sustentável e a situação emergencial do
planeta motivaram diversos outros encontros entre os membros da Organização
das Nações Unidas (ONU), sendo realizada a Conferência das Nações Unidas
para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) em 1992 na cidade do Rio
de Janeiro, Brasil, conhecida como ECO-92, Rio-92, Cúpula ou Cimeira da Terra.
Deste evento, são oriundos documentos e compromissos visando melhorias
na qualidade ambiental e social da vida no planeta, tendo criada a Carta da Terra,
contendo o código ético planetário.
Este documento declara diversos princípios do código de ética e propõe uma
intensa revisão sobre as condições da biodiversidade, do processo de
desertificação e das mudanças no clima previstas e observadas, os quais foram
temas das Convenções respectivas e conseqüentes.
Também, neste encontro 175 paises assinaram o compromisso de adotar a
estratégia de buscar soluções para os problemas sócio-ambientais durante o
século XXI, sob o codinome de Agenda 21, envolvendo diversas instituições e
38
diferentes escalas de governo, sendo importante instrumento para se alcançar o
desenvolvimento sustentável.
Em dezembro de 1992, foi instaurada a Comissão do Desenvolvimento
Sustentável (CDS), de âmbito global, composta por 53 membros eleitos com
mandato de três anos, e cujo papel é:
Examinar o progresso alcançado em âmbito internacional, regional e nacional
na implementação de recomendações e compromissos contidos nos documentos
finais da UNCED18: Agenda 21, Declaração do Rio Sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento e Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas;
Elaborar diretrizes e opções para atividades futuras como uma continuação à
UNCED e para alcançar o desenvolvimento sustentável;
E promover o diálogo e formar parcerias para o desenvolvimento sustentável
com os governos, a comunidade internacional e os principais grupos identificados
na Agenda 21 como os atores chave fora de administrações centrais que
desempenham um papel essencial na transição para o desenvolvimento
sustentável.
No Brasil, sob o objetivo de se oportunizar o que se compreende como
“desenvolvimento sustentável”, foi criada a Comissão de Políticas de
Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional (CPDS), sendo criadas
também Agendas 21 Estaduais, Regionais, e Locais.
Revendo os produtos da Eco - 92, em 1995 ocorre o Seminário Internacional
sobre a Carta da Terra, realizado em Haia, na Holanda. Em 1997, em Nova
Iorque, sede da ONU, a Conferencia Rio + 5.
Em 2000, também em Nova Iorque, adota-se uma agenda complementária
com as metas do desenvolvimento do milênio (Millenium development goals),
enfatizando as políticas de globalização e erradicação da pobreza e da fome,
adotadas por 199 países na 55ª Assembléia da ONU.
Em 2002, reuniram-se chefes de Estado e Governo, representantes
nacionais e líderes de organizações não-governamentais, da indústria e de outros
18 Estes documentos concluem estratégias e programas de ação visando o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade da vida, compromissos firmados pelos paises signatários.
39
grupos relevantes na Cúpula de Johannesburgo19 (cidade sul-africana) ou Cúpula
Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, para se rever a proposta de
desenvolvimento sustentável e adaptá-las às exigências e condições econômicas,
políticas, sociais, culturais e naturais do planeta.
Desde então, o termo sustentabilidade tem permeado diversos setores da
sociedade como objetivo das mais diversas instituições, adequando o conceito de
“permanência no tempo” de sustenbilidade aos objetivos e propósitos destas
instituições.
19 “Uma tarefa importante da Conferência de Johannesburgo é mostrar que o desenvolvimento sustentável é uma oportunidade excepcional para a humanidade – do ponto de vista econômico, na construção de mercados e na criação de empregos; social, no combate à exclusão; político, na redução das tensões em relação aos recursos que podem levar à violência; e, claro, ambiental, na proteção dos ecossistemas e recursos dos quais todas as formas de vida dependem – e que, portanto, merece uma atenção imediata e um nível mais alto de comprometimento” (PNUMA et all, 2004)
40
3.2 PRODUÇÃO ARTESANAL
O ato de produzir a partir do uso e da transformação dos elementos naturais
criando coisas úteis aos anseios vitais e manifestações do intelecto são
fundamentais na diferenciação do ser humano diante os demais seres da
natureza.
O processo de reconstrução interna da atividade do ser cognoscente permite
perceber e conceber sua condição histórica, assimilando de forma criativa e
inventiva os contornos biofísicos e socioculturais, incorporando e apreendendo os
recursos e as potencialidades do mundo vivido (ZART, 2002). Por fim, representa
sua cultura material e está subordinada a ecologia local e arraigada à tradição (DE
CARVALHO, 2001).
A percepção e a sensação dependem de estímulos externos, e o indivíduo
processa sua percepção através da organização das sensações pontuais e
independentes umas das outras, sendo que a repetição dessas sensações é a
base para a elaboração do conhecimento. Ao mesmo tempo, o conhecimento do
sujeito permeia a percepção, sendo um ato realizado pelo intelecto do sujeito do
conhecimento, que confere organização e sentido às sensações (DA SILVA,
2006).
A percepção que o mesmo tem de seu meio circundante desencadeia um
processo criativo de onde são geradas tecnologias e formas de domínio partindo
do âmbito individual para o coletivo, elaborando conhecimentos cuja experiência
empírica transforma-os em sabedoria.
Nos âmbitos: individual e coletivo, os lugares circundantes assumem o
caráter de espaço, o qual é constituído pela experiência corporal em movimento
(WERLEN, 1993 in SANTOS, 1997) e o conhecimento das potencialidades dos
recursos que o compõem, sendo criados territórios e respectivos usos e domínios.
A constituição do sujeito provém dos grupos humanos, onde são formados os
indivíduos, e permeia os grupos domésticos até o agrupamento de indivíduos que
41
compartilham percepções, concepções e domínios, organizando relações fluentes
na satisfação das necessidades vitais no nível orgânico e no nível intelectual.
Daí são formadas as comunidades culturais como um conjunto de pessoas
com interesses mútuos que vivem no mesmo local e se que organizam dentro dum
conjunto de normas legitimadas pelo consenso coletivo e dum conjunto complexo
de padrões de comportamento, fortemente marcados por valores éticos, religiosos
e por pressão social (DIEGUES e ARRUDA, 2001).
A atividade artesanal acompanha a formação das comunidades desde seus
primórdios, sendo o meio para a satisfação dos anseios vitais de acordo com o
espaço e tempo, produzindo coisas, sem ensino formal, levado pela necessidade
com técnicas tradicionais elementares e para melhor servir a subsistência, no
primitivismo imposto pelo meio (ARAÚJO, 1964) 20.
A cerâmica e a tecelagem a partir de fibras vegetais e animais foram
essenciais para a sobrevivência dos grupos humanos, desenvolvendo a arte de se
conhecer as potencialidades e o uso dos recursos naturais, acrescidos de
tecnologias meramente humanas.
Precedente a revolução industrial, as Corporações de Ofícios (núcleos de
produção artesanalmente) atendiam às necessidades das cidades medievais.
O mercado capitalista imbuído de individualismo e utilitarismo, ao definir as
relações sociais, altera as instituições tradicionalmente construídas nas
comunidades artesanais, tendo, como conseqüências, as externalidades e as
características de rivalidade e não exclusividade pros recursos naturais,
características típicas de uma apropriação regida pelo mercado (MARRUL FILHO,
2001).
Com o advento da Revolução Industrial, houve a desvalorização da atividade
artesanal, sendo gradativamente substituída pela mecanização no processo
produtivo. Com a mecanização industrial, a atividade artesanal é associada à
cultura popular, onde se mantinham os modelos de produção de acordo com
meios de produção que eram acessíveis à grande parte da população.
20 In http://www.artesanators.com.br/- acesso em 15 de abril de 2006
42
No planeta, há um mosaico de comunidades que apresentam diversas
formas particulares de manejo dos recursos naturais, reproduzindo percepções e
representações em relação ao mundo natural permeadas pela associação da
natureza com a dependência de seus ciclos, em simbiose com ecossistemas e
mantendo por longo tempo o uso dos recursos naturais (DIEGUES e ARRUDA,
2001).
Em escala global, há predominância da sociedade industrializada, distribuída
por diversos pontos do planeta e interligada por uma economia global, de alto
consumo e poder de transformação da natureza, em cujo modo de produção
capitalista: a complexa rede da cadeia produtiva, a força de trabalho, a própria
natureza, são objetos de compra e venda (mercadoria). Esta sociedade apresenta
grande mobilidade demográfica, configurando os espaços de acordo com a divisão
do trabalho e da cadeia produtiva desta organização socioeconômica.
Em contraposição, há comunidades que apresentam traços culturais e
econômicos, como: pequena produção, tecnologia rústica, reduzida acumulação
de capital (bens), transmissão informal e oral do conhecimento21, manutenção de
ecossistemas, ocupação de determinados lócus por varias gerações, atividades
exercidas dentro dum conjunto de relações domésticas ou comunais, subsistência,
elementos simbólicos e místicos fluindo na produção, auto-identidade e
identificação social que distinguem o grupo dos demais. Estes traços são
requisitos conceituais que definem estas comunidades como “tradicionais”
(IBAMA/ CNPT).
Nesse sentido, a concepção e representação do mundo natural e seus
recursos entre a sociedade global e as comunidades tradicionais são
essencialmente diferentes (DIEGUES e ARRUDA, 2001).
Ambas são dinâmicas, mas com princípios distintos, enquanto a tecnologia e
as leis de mercado regem a sociedade global num continum de transformação
21 “De inicio, a tradição oral, que nossas sociedades parece ser única, e que, desde a origem da humanidade as caracteriza... Quando uma geração passa à outra geração a ciência de seus gestos e de seus atos manuais, há tanta autoridade e tradição social quanto a transmissão se faz pela linguagem. Há verdadeira tradição, continuidade; o grande ato é a entrega das ciências, dos saberes e dos poderes dos mestres aos alunos. Por que tudo pode se perpetuar assim”.(OLIVEIRA, 1979, pg.199)
43
(ocorrem substituições), nas comunidades tradicionais, as mudanças tecnológicas,
ecológicas e sociais são guiadas pelo intelecto produtivo num processo permeado
por sua tradicional relação: tempo e espaço (ocorrem adaptações).
Como ocorre na pesca artesanal, cujo “conocimiento ecológico es una
especialización del conocimiento ecológico tradicional. Los componentes mas
importantes de este conocimiento incluyen: 1) categorías usadas por los grupos
para clasificar componentes del medioambiente y la organización de esas
categorias dentro de un sistema de representación; 2) datos empíricos sobre el
medioambiente, incluyendo distribución espacial de los elementos
medioambientales, conductas, relaciones entre especies, interpretación de
fenómenos naturales...;3) sistemas informales de gestión para regular los
recursos, incluyendo prácticas de conservación y mecanismos para evaluar el
estado de los recursos y 4) uma visión "universal" del grupo que accede a los
recursos” (ALLUT, 2005, pg. 05)22.
No Brasil, muitas técnicas artesanais indígenas (herdadas do convívio entre
colonos e indígenas) foram essenciais na adaptação e sobrevivência dos colonos,
sendo incorporadas no cotidiano coletivo e permeadas pelas condições
econômicas, culturais e ambientais emergentes.
No litoral catarinense e riograndense a partir de meados do século XVIII, a
maior ocupação colonial ocorreu com a chegada dos imigrantes açorianos,
madeirenses e portugueses continentais e seus descendentes.
Estes resguardaram traços culturais próprios, adaptando a tradição agrícola e
pesqueira dos lugares de origem ao combinar técnicas e espécies cultivadas dos
brasilienses com quem conviveram, onde a atividade artesanal é presente em
diversos aspectos da cultura. Com isto, garantiram sua subsistência em lugares
desintegrados do mercado colonialista de âmbito internacional (DIEGUES e
ARRUDA, 2001).
A pesca artesanal era a atividade principal e determinante em importantes
aspectos da comunidade, enquanto a agricultura assegurava a subsistência do
grupo. A agricultura era praticada com as técnicas da coivara e do pousio, e a
22Fonte: http://www.udc.es/dep/bave/ - acesso em 11 de setembro de 2005
44
farinha de aipim (mandioca), um importante alimento produzido nos engenhos
constituídos por um complexo aviamento entre ralador, prensa, cocho e forno. A
produção envolvia toda família, ou mesmo a vizinhança (DE CARVALHO, 2001).
Estas comunidades artesanais inseridas no contexto mais abrangente da
sociedade capitalista (industrial e urbana) se transformaram devido a interação
com esta sociedade global, “cuja relação se caracteriza por uma apropriação
desigual do capital cultural, pela elaboração especifica de suas condições de vida
e pela interação conflituosa com os sistemas mais hegemônicos” (DE
CARVALHO, 2001, pg. 37).
Atualmente, a atividade artesanal é definida como um produto de uma cultura
remanescente que transforma a arte da técnica num produto exótico, popular23 e
folclórico, podendo participar da composição do produto turístico de determinados
lugares como elemento da paisagem ou na produção de souvenires.
A mensuração do valor econômico dos produtos artesanais, e daí
apresentado no mercado, é composta pelos valores: de uso (conteúdo que define
sua utilidade, bem como a preferência de consumo) e de produção (composto pela
cadeia produtiva, divisão do trabalho, tempo, relações socioeconômicas do
produto, interferências de mercado), formando o valor de troca (comercial) onde
são acrescidos os valores para a venda (DE CARVALHO, 2001). Diante tal
composição, comumente, o valor de mercado dos produtos artesanais são
superiores aos similares produzidos industrialmente, dependendo das estratégias
de marketing (objetivos, políticas, e seqüências de ação ) para se sobressair nesta
competição.
23 “El término popular se encuadra dentro de una dinámica de aceptación en la población y adquiere su expresión elevándola a cultura nacional como consecuencia de una voluntad unificadora. Pero en la realidad cotidiana el término popular hace alusión al conocimiento y a las costumbres resultantes de la experiencia directa del individuo en su cultura, el término popular se aplica a lo que proviene de la gran masa social, del amplio sector de población que, por su situación económica y social, contrasta con los grupos minoritarios que cuentan con el poder y la riqueza”.(GIL TEJEDA, 2002, pg. 39)
45
3.2.1 PESCA
A pesca artesanal é narrada no cenário brasileiro de tempos anteriores a
colonização, e com a ocupação européia no espaço americano, a pesca assumiu
um importante papel no abastecimento alimentício e de outros produtos (óleo para
iluminação, por exemplo). A salga era o principal método de conserva da carne do
pescado, e é usado em determinadas regiões até a atualidade (DE SOUZA e
SERPA FILHO, 1995).
A pesca da baleia foi uma atividade integrada ao mercado colonialista,
estando sujeita aos interesses e incentivos da metrópole. Na época, o modelo de
produção era basicamente artesanal devido aos recursos tecnológicos
disponíveis.
A atividade pesqueira faz parte do folclore nacional com narrativas sobre o
envolvimento do pescador com a natureza: a pesca com os botos na região de
Laguna - SC, os folguedos em homenagem a entidades místicas e as crenças
populares sobre o sucesso ou insucesso da pesca (CASCUDO, 1972).
O caiçara, os descendentes de açorianos, madeirense, ericeiros, e de outros
portugueses e demais grupos culturais distribuídos pela costa brasileira se
ressaltaram como pescadores e agricultores. Com o advento da urbanização, do
turismo e da industrialização, as atividades agrícolas têm sido abandonadas nesta
região, e de pescadores/ agricultores para são caracterizados como “pescadores
artesanais” (DIEGUES, 1983).
A pesca artesanal se caracteriza24 pelo uso de embarcações rústicas -
desavantajadas na competitividade com a produção industrial (VIEIRA in
24 “As tecnologias empregadas se caracterizam por um relativo baixo grau de impacto ambiental, sendo todo o processo produtivo presidido por um saber-fazer baseado no conhecimento tradicional da dinâmica dos mares e de seus seres, abrangendo desde o processo de localização de cardumes até os métodos e técnicas de captura, apropriados para determinadas espécies, em certas épocas do ano, e tendo as cercanias marítimas de suas comunidades como o raio de ação máxima de suas operações pesqueiras. A utilização de máquinas se restringia ao motor propulsor da embarcação, não tendo portanto, a não ser nas pescarias de arrasto, implicações consideráveis na relação pescadores - ambiente explotado” (MARRUL FILHO, 2001, pg. 12).
46
CAVALCANTI, 1995) - que exploram as regiões estuarinas e próximas à costa25,
pelo uso das redes: de fundear (malha mais grossa para cação e rede fina para
peixe), de arrasto, de tainha, de camarão (puçá), de mergulho para lagosta (quase
desaparecida), da tarrafa: tainha e parati, os apetrechos: caniço e linho: para
sororoca, garopa, badejo, carapeba, espinheis pequenos: peixes de escamas, e
outras espécies menores, e espinheis grossos: cação, arraia e outros (DA SILVA,
1954).
A Canoa de “um pau só” (esculpida de um único tronco por fogo e talhada
artesanalmente), os remos, o arpão, a fisga, algumas redes de emalhar e de
envolver, armadilhas fixas e flutuantes, o espinhel e o anzol são heranças
indígenas. As técnicas ibéricas complementam a ciência de pescar (VERAS,
2001). As figuras abaixo ilustram a produção de uma canoa “de um pau só”:
FIGURA 06: “Seu Leonel” criando uma Canoa de “um pau só”
Fonte: www.paratii.com.br/artesanato/canoa.htm - acesso em 02 de junho de 2000.
Somando os tipos de embarcações aos apetrechos usados na arte da pesca,
é possível identificar a qualidade da pesca desenvolvida na região (esportiva, de
subsistência, artesanal ou industrial), e dai contextualizar esta pesca de acordo
com as condições e os recursos pesqueiros encontrados na região da península.
No conhecimento da pesca, o uso dos apetrechos e das embarcações são
direcionados segundo a espécie a ser capturada. Nos quadros 01 e 02 são
apresentados exemplos da relação entre artes de pesca e espécies almejadas:
25 A pesca industrial percorre, além das regiões costeiras, as regiões oceânicas mais profundas, com o uso de embarcações de maior tamanho, autonomia de navegação e tecnologia (ANDRADE, 2001).
47
QUADRO 01: Arte de pesca e respectiva captura Método de pesca Espécie almejada Arrasto Camarão (diversas espécies) Fundeio Pescada (Cynoscion spp), corvina (Micropogonias fumieri), espécies de
elasmobrânquios, bagre (Netuma barba), linguado (Paralichthys spp), salteira (Oliglopites spp) e betaras (Menticirrhus americanus e M. littoralis)
Espinhel Badejo (Mycteroperca sp), garoupa (Epinephelus sp) e caranha (Haemulidae)
Tarrafa Tainha (Mugil platanus), parati (Mugil spp), robalo (Centropomus spp), garoupa (Epinephelus sp), manjuba (Engraulidae), pescadas (Cynoscion spp) e sardinha (Clupeidae)
Fonte: CHAVES e ROBERT (2003), adaptado pela autora.
QUADRO 02: Arte de pesca e respectiva captura ARTE DE PESCA APETRECHO ESPÉCIE ALMEJADA ESTAÇÃO
PREDOMINANTE Fundeio Rede de espera de fundo Corvina, abroea -
Rede de palmo Rede de espera Linguado -
Boiada Rede de espera de superfície Anchova, robalo Final do inverno
Arrasto de praia Rede arrastante (envolvente) Tainha, tanhota Outono, inverno
Caça e malha Rede de volta Tainha, tanhota Outono, inverno
Arrasto de fundo Rede de arrasto de portas simples Camarão Verão
Cerco Rede de rede de cerco fixo flutuante Espada -
Caceio Rede de deriva Anchova, corvina Final do inverno Zangarilho Zangarilho Lula Verão Espinhel de
fundo Linha e anzol Garoupa Ano todo
Linha de mão Linha e anzol Garoupa Ano todo Fonte: MEDEIROS R., 2001, adaptado pela autora.
O trabalho da pesca é predominantemente de domínio masculino, uma vez
que é associada a uma atividade “pesada”. Por muito tempo, os ranchos das
embarcações e canoas foram territórios vetados às mulheres (WOLFF e RECHIA
in BRANCHER, 1.999). Atualmente, muitas mulheres estão envolvidas nas ações
complementares, de preparo do pescado como um produto comercial.
A formação do grupo de trabalho é constituída a partir das relações
domésticas e compadrescas, sendo que os produtores são proprietários de seus
meios de produção (embarcações, redes, apetrechos). A produção é baseada no
48
sistema de partilha ou quinhão, e daí dirigida para o mercado, estando dotada de
valor de troca (MARRUL FILHO, 2001).
Na década de 30, apareceram os barcos a motor, propiciando o maior
desenvolvimento da pesca artesanal e a pesca embarcada com caráter industrial
(ALDEMANN, 2003).
Após a Segunda Guerra Mundial, a tecnologia naval militar: construção naval
com novos materiais para os cascos, radares e ecossondas, e sistemas de
refrigeração e congelamento a bordo, foi sendo apropriada e adaptada para as
embarcações pesqueiras cujos proprietários têm poder aquisitivo suficiente para
adquiri-las (MARRUL FILHO, 2001).
Com isto, o saber-fazer, baseado no conhecimento tradicional sobre a
dinâmica dos oceanos e no ciclo de vida dos recursos pesqueiros, gradativamente
é somada a tecnologia que permitem a produção em grande escala, e exigem
saber lerem gráficos e interpretar informações, sobretudo o mestre que emprega o
conhecimento empírico da mesma forma que os pescadores de pequena escala,
grupo social do qual, geralmente provêm (MARRUL FILHO, 2001).
“A partir de 1950, houve uma verdadeira revolução na produção, com a
entrada de camarão sete-barbas no mercado consumidor em âmbito nacional” (DE
SOUZA e SERPA FILHO, 1995, pg. 16). As características deste recurso
pesqueiro proporcionam sua exploração tanto pela pesca artesanal quanto
industrial, sendo o sistema de arrasto, o mais usado.
O setor pesqueiro nacional até meados da década de 1960 apresentava um
baixo desenvolvimento produtivo e a pesca artesanal era hegemônica no processo
produtivo, o que constituiu um dos pontos fundamentais para que se mantivesse
certo grau de equilíbrio entre o esforço de pesca e o potencial capturável dos
recursos, não se constatando sinais de sobrepesca nos principais recursos base
da produção nacional (MARRUL FILHO, 2001).
Com esta incapacidade de acumular excedentes de capital para se
reproduzir ampliadamente, o Estado Brasileiro edita o Decreto-lei n° 221, de 28 de
fevereiro de 1967, como instrumento pro desenvolvimento pesqueiro nacional
(MARRUL FILHO, 2001).
49
Apesar dos esforços e estímulos, a pesca artesanal continua
desempenhando um importante papel no cenário da pesca nacional.
A pesca artesanal (ou de pequena escala) almeja capturas com o objetivo
comercial associado à obtenção de alimento para as famílias dos participantes
(IBAMA, 2001). Além do importante produto de alimentos, a pesca artesanal é um
forte indicador social, gerando empregos diretos e contribui para a fixação de
famílias nas suas regiões litorâneas de origem, evitando o êxodo para os centros
urbanos e sua desvalorização como individuo social (PEREIRA, 2004).
No Código de Conduta de Pesca Responsável (FAO), citam-se as
importantes contribuições socioeconômicas da pesca em pequena escala, e que
os direitos dos pescadores artesanais deveriam ser assegurados pelo Estado,
tanto no acesso dos recursos quanto o domínio em águas em jurisdição deste
Estado (ALLUT, 2005).
No litoral de Santa Catarina, os pescadores artesanais estão espalhados em
regiões costeiras: estuarinas e lagunares, participando com 45% do valor total da
captura de peixes e com 85% de crustáceos - desconsiderando os moluscos
(VIEIRA in CAVALCANTI, 1995), cuja produção se manteve entre 20 e 30 mil
toneladas anuais até 1984 (ANDRADE, 2001).
A partir de meados da década de 80, a produção se manteve inferior a 12 mil
toneladas anuais, tendendo ao colapso.
Em 1993, a pesca industrial passou a compor mais de 94% da produção
pesqueira no estado de Santa Catarina, apesar de representar apenas 92,5% da
movimentação monetária oriunda das atividades pesqueiras, uma vez que em
média o valor de comercialização dos produtos da pesca artesanal é maior
(ANDRADE, 2001).
A queda na produtividade e a tendência ao colapso da pesca artesanal são
promovidas por um conjunto de fatores dos quais se podem destacar: o estilo de
vida urbano industrializado e a industrialização pesqueira.
O fenômeno de urbanização acompanhado da expansão dos pólos
indústrias, sem o devido planejamento, tem ocupado ou comprometido (poluição)
áreas importantes para o equilíbrio do ecossistema marinho, como mangues,
50
estuários, áreas de preservação permanente (APP´s) em bacias hidrográficas
(VIEIRA in CAVALCANTI, 1995).
A pesca industrial, além de competir pelos mesmos recursos, dada à
escassez cada vez maior dos estoques pesqueiros nas áreas costeiras, e o alto
custo da manutenção das embarcações (PEREIRA, 2004), tem sido atrativa para
as populações mais jovens, que têm abandonado as atividades tradicionais em
busca de garantia de retorno financeiro através do sistema de assalariamento do
trabalho26.
Muitas espécies são exploradas tanto na pesca artesanal quanto industrial. E
os efeitos da sobrepesca e o esgotamento de um determinado recurso repercutem
na atividade pesqueira e no ecossistema marinho, uma vez que este é composto
por relações ecológicas, cadeia alimentar e outros fluxos de energia que
disponibilizam o recurso sobrexplotado e outros recursos.
Pelas características de territorialidade do espaço marinho, o acesso aos
recursos pesqueiros irrestrita facilita a ocorrência da sobrepesca27, evidenciando a
questão sobre a “tragédia dos bens comuns”, com maior pressão sob a população
carente que depende destes recursos pra sua sobrevivência (PNUMA et all, 2004).
Para se exemplificar espécies vulneráveis a sobrepesca, toma-se o
levantamento de MARRUL FILHO (2001) onde:
QUADRO 03: Situação pesqueira de determinadas espécies na costa sul e sudeste brasileira
Recurso Localização Situação Camarão sete -barbas SE - S Sobrepesca
Camarão rosa SE - S Sobrepesca Sardinha verdadeira SE - S Sobrepesca
26 “Los procesos productivos de la pesca artesanal posibilitan una redistribución más equitativa de los recursos naturales y de los ingresos, por la similar escala a la que trabajan todos los productores y por la modalidad de remuneración que emplean ("sistema a la parte"), normalmente a partes iguales y en función de las capturas. Em la pesca industrial, las embarcaciones se gestionan como empresas netamente capitalistas en las que los tripulantes participan como fuerza de trabajo por un salário más un porcentaje mínimo sobre las capturas. La división del trabajo por especializaciones dentro del barco genera también importantes diferencias económicas entre los tripulantes” (ALLUT, 2005 pg. 02). 27 Sobrepesca corresponde a uma situação onde uma determinada espécie é muito explorada e, quanto mais se utilizar esforço de pesca, menores serão os rendimentos, quer do ponto de vista biológico, quer económico. (fonte: pt.wikipedia.org/ - acesso em 02 de julho de 2007)
51
Goete SE Em declínio Peixes demersais SE - S Sobrepesca
Albacora azul ASO Sobrepesca Albacora laje ASO Em equilíbrio
Albacora branca ASO Sobrepesca Albacora bandolim ASO Sobrepesca
Espardate ASO Incerta Cações oceânicos ASO Em declínio
Bonito - barriga listrada SE - S Limitada Fonte: MARRUL FILHO, 2001, pg. 25, adaptada pela autora.
Observou - se a tendência mundial quase inexorável a uma exploração cada
vez mais intensa e à conseqüente exaustão dos estoques pesqueiros, onde três.
quartos desses estoques foram explorados ao máximo, e vários já se esgotaram
(PNUMA et all, 2004). Diante a emergência do caso “pesca” em âmbito global, a
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) ressalta a
importância de se diminuir o esforço de pesca cabendo: a União Européia reduzir
em 40% sua frota pesqueira, a Federação Russa, reduzir em 2/3, os Estados
Unidos (dependendo da pescaria) reduzirem em 75% de sua frota e o Brasil,
reduzir o esforço de até 2/3, conforme o tipo de pescaria empregada (MARRUL
FILHO, 2001).
3.2.2 ARTESANATO
As características da produção artesanal com a criação de manufaturados
(artefatos) de diferentes fins e caracteres e sem o emprego de maquinarias
(WENCESLAU NETO, 2004) são: trabalho predominantemente manual, utilização
dos recursos locais, caráter utilitário e funcional da obra, bagagem cultural
permeia a criação individual, expressão e fator de identidade cultural.
Nas comunidades tradicionais, o artesanato possui um caráter utilitário,
produzindo suprimentos das necessidades da comunidade na produção de
ferramentas, moradia, canoas, etc. (DE CARVALHO, 2001), presente nos eventos
culturais (inclusive como adorno em rituais), nos sistemas de transporte (carro de
52
boi, por exemplo), nas atividades econômicas e, por vezes, na ornamentação de
ambientes e vestimentas.
O artesanato vinculado à tradição de uma comunidade faz parte de seu
capital cultural por conter traços culturais desta comunidade, e com isto recebe o
caráter “folclórico”. Este artesanato é valorizado por sua estética enriquecida pelos
elementos naturais da região de onde provém: barro, madeira, fibras vegetais,
couros, penas, palha, metal, peles, conchas, papel, sementes, seixos, moluscos,
ouriços, estrelas-do-mar, etc. (WENCESLAU NETO, 2004).
Em localidades que participam da composição dos destinos turísticos, a
atividade artesanal recebe o estimulo na produção do souvenir, adquirindo a
função de um objeto de arte comerciável para que o turista adquira um produto
associado às características do produto turístico desta localidade. A matéria-prima
deste objeto é aquilo que o artesão tem à mão e, normalmente, o processo de
produção é simplificado (WENCESLAU NETO, 2004). Neste caso, o artesanato
não é necessariamente composto por aspectos tradicionais ou utilitários, e sobre o
risco de ser descaracterizado culturalmente pelas leis do mercado (RUSCHMANN,
1997).
Observando-se os dados oferecidos pelo IBGE (tabelas 01 e 02), pode-se
dizer que as atividades artesanais estão concentradamente localizadas em
municípios com população até 50.000 habitantes, o que remete ao principio das
atividades artesanais não serem atividades valorizadas em pólos industriais ou
urbanos.
TABELA 01: Atividade artesanal a partir da técnica ou recurso básico
Municípios Principais atividades artesanais desenvolvidas
Grandes Regiões e classes de tamanho da população dos
municípios Total
Bordado Barro Couro Fios e fibras
Fibras vegetais
Frutas e sementes Madeira
Brasil 5 564 4 184 1 304 567 827 812 502 2 396 Até 5 000 1 362 1 022 194 121 188 163 91 461
De 5 001 a 10 000 1 310 1 003 278 115 208 206 112 528 De 10 001 a 20 000 1 298 1 000 328 160 198 193 110 589 De 20 001 a 50 000 1 026 766 325 114 151 175 110 522 De 50 001 a 100 000 313 232 98 29 43 44 44 154 De 100 001 a 500 000 220 143 66 23 32 29 31 124
Mais de 500 000 35 18 15 5 7 2 4 18
53
Sul 1 188 990 90 107 277 119 61 581 Até 5 000 435 370 24 38 99 34 30 170
De 5 001 a 10 000 301 250 18 19 75 38 11 148 De 10 001 a 20 000 209 179 17 15 49 18 11 120 De 20 001 a 50 000 144 114 16 21 33 20 4 83 De 50 001 a 100 000 54 48 6 6 10 5 2 34 De 100 001 a 500 000 43 28 9 7 10 4 3 25
Mais de 500 000 2 1 - 1 1 - - 1 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa
de Informações Básicas Municipais 2005.
TABELA 02: Atividade artesanal a partir da técnica ou recurso básico (continuação) Municípios
Principais atividades artesanais desenvolvidas Grandes Regiões e classes de tamanho da população dos
municípios Material
reciclável Metal Pedras Pedras preciosas Tecelagem Tapeçaria Renda
Brasil 931 111 256 86 546 792 585 Até 5 000 201 12 53 16 104 192 131
De 5 001 a 10 000 191 19 50 17 130 175 130 De 10 001 a 20 000 185 22 68 23 130 192 151 De 20 001 a 50 000 183 22 60 17 115 141 112 De 50 001 a 100 000 92 17 14 8 33 58 38 De 100 001 a 500 000 66 15 10 5 27 31 19
Mais de 500 000 13 4 1 - 7 3 4 Sul 302 26 32 25 125 209 112
Até 5 000 105 6 11 8 27 64 42 De 5 001 a 10 000 68 1 9 5 35 59 32 De 10 001 a 20 000 61 6 4 5 22 40 23 De 20 001 a 50 000 32 7 5 5 26 26 10 De 50 001 a 100 000 20 2 3 1 8 12 4 De 100 001 a 500 000 16 2 - 1 7 8 1
Mais de 500 000 - 2 - - - - - Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa
de Informações Básicas Municipais 2005.
Na classificação do artesanato, tem–se (DE CARVALHO, 2001):
1. Artesanato popular = arte manual com caráter tradicional e a utilização da
matéria prima regional
2. Artesanato artístico = bens acessórios: decorativo ou ornamental que
expressam o senso estético individual e o imaginário de seu autor.
3. Artesanato utilitário = produz artigos sem a caracterização artística especial,
de uso cotidiano na comunidade, face aos condicionamentos do meio.
4. Artesanato misto = combinação do utilitário com o artístico, ampliando o fim
dado ao artefato.
54
5. “Industrianato” = objetos cuja matéria prima é industrializada e são feitos em
série, utilizando na maioria das vezes, moldes, formas ou máquinas. Sua cópia
pode ser praticada, por não possuir identidade que garanta originalidade. Pode ser
utilitário ou decorativo.
Somando-se o advento das máquinas e dos industrializados à expansão do
sistema capitalista, a importância da atividade artesanal é vulnerável aos recursos
tecnológicos que atendem às necessidades do grupo. Para aquele que domina a
arte (técnica), assume o caráter de ser uma fonte de renda alternativa, cuja fonte
de matéria prima não se limita apenas aos recursos naturais, usando também os
recursos que seriam residuais (recicláveis) deste sistema social.
Segundo o SEBRAE28, o artesanato é uma forma espontânea de expressão
cultural, sendo criada de acordo com o modo de vida, se caracterizando como um
ícone da identidade local. Ainda, garante o sustento das pessoas envolvidas no
processo de produção, como a geração de renda em todos os estados,
posicionando-se como um dos eixos estratégicos de valorização e
desenvolvimento dos territórios onde se encontra.
28 Fonte: www.artesanatobrasil.com.br – acesso 22 de agosto de 2006
55
4. METODOLOGIA
4.1. ÁREA DE ESTUDO:
4.1.1 REGIÃO LITORAL CENTRO NORTE CATARINENSE:
O presente estudo abrange os municípios de Bombinhas e Porto Belo
localizados em áreas contíguas do “Litoral Centro Norte” do estado de Santa
Catarina (Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro - GERCO/SC - figura 06,
onde está definido o zoneamento econômico e ecológico presente e o que seria
adequado para esta região) e está sob gerencia da Secretaria Regional de Itajaí
do governo estadual.
Para melhor compreensão do mapa da figura 06, tem-se da “Legenda”:
ZPP – Zona de Preservação Permanente: não apresenta alterações nos
ecossistemas primitivos, capacitada para mantê-los em equilíbrio.
ZUR – Zona de Uso Restrito: apresenta alterações nos ecossistemas
primitivos, mas capacitada para manter em equilíbrio os ecossistemas e proteger
os recursos hídricos, mesmo com a ocorrência de ocupação humana de baixo
impacto;
ZR – Zona de Uso Rural: apresenta os ecossistemas primitivos parcialmente
modificados, com dificuldades de regeneração natural pela exploração, supressão,
ou substituição de alguns de seus componentes pela ocorrência de produções
culturais;
ZUR – Zona de Uso Urbano: apresenta a maior parte dos ecossistemas
primitivos, degradados ou suprimidos e organização funcional eliminada devido ao
desenvolvimento de áreas urbanas e de expansão urbana contínua, bem como
atividades industriais, de apoio, terminais de pequeno a grande porte,
consolidados e articulados. Podendo ser:
56
ZURBb – Zona de Uso Urbano – Baixa Densidade
ZURBm – Zona de Uso Urbano – Média Densidade
ZURBa - Zona de Uso Urbano – Alta Densidade
ZUE – Zona de Uso Especiais: apresenta os ecossistemas primitivos em
estados diversos estágios de conservação ou completamente degradados, e, que
estão ou deverão estar submetidos a normas específicas de manejo, uso e
ocupação.
FIGURA 07: Zoneamento Econômico Ecológico - Litoral Centro Norte Catarinense
Fonte: www.sds.sc.gov.br – acesso em 13 de agosto de 2006, adaptada pela autora.
Área de estudo
57
A região é ligada pela rodovia federal BR-101, agrega alto grau de
conurbação e sujeita às ações de agentes sociais que as desenvolvem em
estruturas e instituições determinadas, sob influência de valores e de perspectivas
em práticas e disposições, criadoras de realidades novas e que definem as
trajetórias históricas dos grupos sociais e culturais (ZART, 2002). Configura-se um
mosaico de atividades socioeconômicas - e seus respectivos usos dos recursos
naturais, criando pólos turísticos, centros prestadores de serviços (terceiro setor
econômico), zonas industriais, portos turísticos e comerciais, áreas agrícolas,
áreas de exploração mineral, áreas de pesca (industrial e artesanal) e maricultura
(POLETTE, 1997) - agregando outras atividades presentes neste cenário e
influenciando os objetivos almejados pela população local.
A atividade veranista e a construção de “casas de praias”, fenômeno
observado deste o início do século XX, são promovidas, principalmente, por
pessoas oriundas dos centros urbanos das regiões e das capitais: paulista,
paranaense e gaúcha (importantes centros emissores demográficos e de
investimento), com ascensão nos aspectos econômicos, sociais e culturais locais
(HOYEDO et all in VIEIRA, 2002), inclusive sobre a capital catarinense (OLIVEIRA
in BRANCHER, 1.999).
O processo de ocupação intensificou-se a partir da década de 1970, com a
construção da rodovia BR – 101, “ocasionando perdas significativas da sua beleza
paisagística e comprometimento de sua qualidade ambiental” (ALDEMAN, 2003).
A rodovia viabilizou melhorias no acesso e na logística da produção econômica
desta região, quando há a emergência do capital industrial (GOULARTI FILHO,
2005) e o intuito de se integrar à região ao mercado nacional.
Os trabalhos de HOYEDO (in VIEIRA, 2002), e ALDEMANN (2003) indicam o
vínculo do movimento turístico na península de Porto Belo ao fluxo turístico que
circula por todo litoral centro norte catarinense. A ligação da península com a
ampla estrutura de transporte terrestre restringe-se a entrada via BR 101 ou as
ruas oriundas da conurbação entre Porto Belo e o município vizinho de Itapema. O
principal acesso de Bombinhas é a rodovia estadual SC-412, pavimentada em
58
1995, que se inicia na BR-101 (rodovia interestadual), atravessa Porto Belo e
termina em Bombas, município de Bombinhas (COUTINHO, 1.999).
Sob influencia do crescimento demográfico da região, Bombinhas e Porto
Belo apresentaram, no período entre 1996 e 2000, taxas de crescimento de
10,30% e 8,86% respectivamente, superando a média regional (PRETO NETO,
2003). Na península, o acréscimo populacional com as migrações teve maior
ascensão na quantidade demográfica do que nos demais municípios (observe
tabelas 09 e 10), uma vez que a população nativa era reduzida.
TABELA 03: Índice de crescimento populacional na península de Porto Belo Período
Município 1970/ 1980 1980/ 1991 1991/1996 1996/ 2000 2000/ 2006
Porto Belo 1,44 3.03 - 8,24 8,92 3,97 Bombinhas - - - 10,35 5,04
Fonte: Plano Diretor de Porto Belo, 2007, pg. 75, adaptada pela autora.
TABELA 04: População residente nos municípios, por década. Município 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2001 Balneário Camboriú1
- - 575 21.858 40.233 73.455 77.187
Bombinhas2 - - - - - 8.716 9.164 Itajaí 52.057 54.996 63.139 86.460 119.631 147.494 150.631
Itapema3 - - 3.492 6.589 12.161 25.869 27.411 Porto Belo4 7.721 9.111 7.298 8.242 11.626 10.704 11.126
Fonte: NEMETZ, 2004. Observações: 1 – O município de Balneário Camboriu era distrito do município de Camboriú; em 20 de julho de 1964, foi desmembrado e elevado a condição de município.
2 – O município de Bombinhas era distrito do município de Porto Belo e sua história ver-se–á a seguir. 3 – O município de Itapema era distrito do município de Porto Belo e, em 21 de abril de 1962, foi desmembrado e elevado à condição de município. 4 – As reduções populacionais observadas entre as décadas de 60 e 70 e, posteriormente, entre 1991 e 2000 são conseqüências dos desmembramentos dos distritos de Itapema e Bombinhas, respectivamente.
59
TABELA 05: Taxa de crescimento e migração - Período: 2000 a 2007
Município (SC)
População - 2000
População -2007
Diferença 2000 - 2007
% de crescimento médio anual 2000 - 2007
Nº de óbitos 2000 - 2007
Nº de nascidos
vivos 2000 - 2007
Migração
Porto Belo 10.704 13.894 3.190 3,797 332 1.049 2.473
Bombinhas 8.716 12.104 3.388 4,803 243 1.038 2.593
NO ESTADO 5.356.360 6.049.234 692.874 -1,72 180.177 520.838 352.213
Fonte: www.mp.sc.gov.br/ - acesso em 14 de abril de 2007
4.1.2 A PENÍNSULA:
4.1.2.1 BREVE HISTÓRICO:
Durante a colonização brasileira, o litoral catarinense participou das rotas dos
navegadores de diversas nações com destino a região da prata, e estando sujeito
aos ataques de piratas cujas lendas e “tesouros” compõem ainda hoje o folclore
local (DE HARO, 1996). A enseada de Porto Belo era denominada “Enseada das
Garoupas” por ser possível encontrar muitos exemplares desta espécie piscícola.
As características do solo e do relevo da península não estimulavam a
criação de empresas coloniais e a extração de minerais era ínfima. Porém, devido
aos recursos florestais e às características portuárias, era um importante
atracadouro natural das embarcações que necessitavam de reparos (LAGO,
1966).
No século XVIII, a região tinha inexpressiva ocupação, composta
basicamente por naufragados (de diversas nações) e vicentinos que se
integravam aos gentios da região. Viviam basicamente da subsistência, das
atividades nos estaleiros, dos reparos que faziam nas embarcações circulantes e
do escambo com estes navegantes. O óleo usado na iluminação era retirado de
peixes e baleias.
Com o advento da pesca da baleia e a chegada de 60 casais oriundos dos
arquipélagos dos Açores e da Madeira que se espalharam pela península, funda-
60
se a povoação na Enseada das Garoupas em 1775. Em 1818, foi elevada à
condição de Colônia, com o nome de Nova Ericeira devido à chegada de
imigrantes oriundos de Ericeira, Portugal. Em 13 de outubro de 1832, passou a
chamar-se Vila de Porto Belo, devido à sua beleza natural, e em 13 de dezembro
do mesmo ano foi criado o município de Porto Belo, desmembrado do município
de Tijucas - consolidado núcleo estaleiro (DA LUZ e CORREA, 2000).
Os colonos mantiveram suas atividades agrícolas e pesqueiras, adaptando-
as e integrando àquelas que já existiam na península (por exemplo, a adoção da
canoa de voga, canoa de um pau só, e a pesca da tainha entre maio e agosto).
O desenvolvimento de atividades agrícolas atendidas pelo beneficiamento da
cana de açúcar (produzindo melado, açúcar e aguardente) e do aipim (produção
de farinha e biju) nos engenhos construídos na península gerou riquezas
suficientes para que Porto Belo tivesse, em meados do século XIX, 10% da
população livre e escrava da província de Santa Catarina (COUTINHO, 1999) – o
que justifica a presença do remanescente quilombola no Sertão do Valongo em
seu território municipal.
Paralelas às atividades de engenho, se produziam café (daí o típico licor
tradicional “consertada”), feijão, batata, frutas, ervas medicinais, cestarias (tipitins,
balaios, samburás etc), louças de barro e outras olarias, sabão, teares e peixes
escalados (salgas), o que garantia certa autonomia (subsistência) dos clãs que se
espalhavam na península29.
O sistema de transporte marítimo era o principal meio de acesso, e os carros
de boi e as trilhas e estradas precárias (ainda presentes em ambos municípios)
atendiam ao trânsito local.
Com a introdução das embarcações motorizadas, o que permitia a
exploração de pontos de pesca mais longínquos e maior tempo de permanência
na atividade pesqueira, aumentando a produção, aqueles que conseguiram obter
este tipo de embarcação, priorizaram a dedicação à atividade pesqueira. A mulher
29 Fonte: www.achetudoeregiao.com.br/SC/bombinhas/historia_bombinhas.htm (acesso em 14 de abril de 2006)
61
passa a auxiliar esta produção com atividades complementares como a limpa e a
salga dos pescados.
Isto fez com que alterasse a relação que os peninsulares mantinham com o
uso, o domínio e o acesso a “terra”, muitos abandonaram as roças cultivadas nas
áreas interiores e morrarias (cujas condições de solo são mais propícias à
agricultura), para viver junto às praias. Até 1960, a ocupação e o crescimento da
região ocorreram de forma espontânea, principalmente em função da atividade
pesqueira, com o crescimento maior na região de Porto Belo (ALDEMANN, 2003).
Com o advento da indústria automobilística e da construção e pavimentação
das estradas a partir das décadas de 50 e 60 do século XX, o turismo teve
ascensão nas atividades sociais e a emergência do veranismo como atividade de
lazer das elites urbanas industriais se beneficiava do baixo valor de compra das
terras costeiras. As áreas mais valorizadas eram (e ainda são) aquelas próximas à
orla devido à proximidade da praia (principal produto turístico).
A proximidade ao Vale do Itajaí, as transformações decorrentes dos avanços
tecnológicos na indústria, nos sistemas de transporte, a ascensão do estilo de vida
urbano industrial e sua relação com o tempo lúdico (estimulando a atividade
turística) tiveram grande influencia nas transformações sociais, econômicas e
ambientais que ocorreram na península.
Entre o final da década de 60 e inicio da década de 90, Bombinhas foi levada
à condição de Distrito de Porto Belo (Lei nº. 1062/67), ressaltando sua dinâmica e
condições próprias, diferenciadas do que ocorria na sede municipal.
Em Bombinhas, os primeiros loteamentos para as “segundas residências”
ocorreram em Bombas e promovidos por investidores de Blumenau. Ainda em
Bombas, locais com sítios arqueológicos (sambaquis) e formações florestais em
áreas planas vêm sendo transformados em áreas de expansão urbana turística.
Pela falta de perspectiva na administração de Porto Belo com os problemas e
necessidades bombinense, membros da comunidade criaram um Comitê,
lançando o plebiscito sobre a Emancipação cujo resultado foi a Lei Estadual nº.
8.558, de 30 de março de 1992 que criava o município de Bombinhas.
62
O município de Bombinhas possui a menor área municipal catarinense
(IBGE, 1995) e vem passando por intenso processo de verticalização e
adensamento demográfico (vide a Lei Municipal 0046/2006), tendo o preço do
metro quadrado em Bombinhas entre os mais caros do litoral catarinense, e, na
construção civil, um importante segmento da economia (PROJETO ORLA).
Na década de 90 devido às características abrigadas das enseadas da região
o cultivo de mexilhão e ostra foi estimulado e atualmente Bombinhas é um dos
principais produtores de marisco do Estado e do Brasil (PROJETO ORLA).
Atualmente, ambos municípios da península focalizam o turismo como
importante atividade socioeconômica cuja população e espaço territorial vêm se
dedicando e especializando, respectivamente, neste setor econômico, seguindo o
padrão urbano e paisagístico da região.
4.1.3 OS MUNICIPIOS:
Os municípios de Porto Belo e Bombinhas estão localizados numa península
cuja formação geográfica é rara em todo litoral brasileiro (vide figura 09). A
paisagem natural30 é composta por praias, ilhas, promontórios, enseadas,
restingas, e remanescentes florestais, ilustrada na imagem a seguir: Tanto
Bombinhas quanto Porto Belo são contemplados pela Lei Federal 6.513/77, sendo
definidos como Áreas de interesse turístico nacional na orla marítima.
Ambos municípios pertencem a micro região e a mesoregião do vale do Itajaí.
Participam da Associação dos Municípios da Região da Foz do Rio Itajaí (AMFRI)
e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tijucas. Apresentam AGENDA 21 Local/
Projeto ORLA. Também fazem parte da Zona de Amortecimento da Reserva
Biológica31 Marinha do Arvoredo32.
30 Bombinhas é uma das áreas especiais e locais de interesse turístico nacional na orla marítima, segundo a Lei n°. 513/77, por possuir bens de valor histórico, artístico, arqueológico ou pré-histórico, reservas, áreas destinadas à proteção dos recursos naturais renováveis, acidentes naturais sob a responsabilidade da Embratur (IBAMA/FUNATURA, 1989). 31 As águas dos mares da Península estão sob a influência do fenômeno da convergência subtropical do encontro da Corrente do Brasil com as águas da Corrente das Malvinas, possibilitando grande biodiversidade de flora e fauna marinha (COUTINHO, 1.999).
63
Os recifes de pedra são criadouros de peixes de valor comercial como a
garoupa (Epinephelus marginatus) e o badejo (Mycteroperca acutirostris), além de
espécies de rara beleza como o paru (Pomachantus paru). Nos meses de inverno,
os cardumes de tainha (Mugil sp.) se aproximam da costa e mantêm a tradição da
pesca artesanal (PROJETO ORLA).
FIGURA 08: Imagem de Satélite da Península de Porto Belo e Bombinhas - SC
Fonte: Google Earth, acesso em 10 de abril de 2005, adaptada pela autora.
A população de ambos municípios se concentram nas áreas urbanas, sendo
que a população rural, que representava mais de 30%, em 1970, caiu para
aproximadamente 2%, em 2.000 (IBGE, 2.000) devido a urbanização de áreas
rurais e cuja falta de um planejamento adequado tem promovido o processo de
descaracterização com a expansão urbana e turística (POLETTE, 1997) . Cabe
salientar que 100% da população de Bombinhas encontra-se em área urbana
(IBGE, 2000).
32 “É patrimônio natural integrante da segunda Reserva Biológica Marinha do Brasil, a REBIOMAR Arvoredo (Decreto Federal n°. 9.142/90), junto com as Ilhas do Arvoredo, Galés, Deserta e Calhau de São Pedro, pertencendo a sua zona tampão num raio de dez quilômetros conforme a Resolução Conama n.° 13/90. (Conama, 1992)” (COUTINHO, 1999, pg. 29)
64
Somente 12% da população é atendida por esgoto sanitário, e 85% utiliza
fossas sépticas ligadas à rede pluvial, enquanto que o restante é lançado em
fossas rudimentares e valas negras (IBGE, 2.000), com transbordamento em
períodos de chuva, em conseqüência do tipo de solo e da superficialidade do
lençol freático.
4.1.3.1 BOMBINHAS 4.1.3.1.1 RECURSOS NATURAIS
Bombinhas possui uma área territorial de 36,6 Km2 cujos limites fronteiriços
são: Oceano Atlântico, ao norte, sul e leste; o município de Porto Belo, a oeste.
Com o abandono das atividades agrícolas e da exploração da madeira, o
poder de resiliência das formações vegetais garantiu que a Mata Atlântica cobrisse
47.8% do solo os estágios entre médio e avançado de regeneração (mata
secundária), e 27,5% é coberto por capoeira indicando o estágio inicial de
recuperação. Há corredores florestais nas encostas dos morros, e, nas planícies,
os fragmentos de mata são substituídos pela expansão urbana. Na mata nativa, se
destacam o tié preto (Tachyphonus coronatus), cuja presença e o tangará
(Chiroxiphia caudata) são indicadores de ambiente conservado (PROJETO
ORLA).
As informações encontradas na tese de POLETTE (1997) associam as
características geográficas aos recursos florísticos e hídricos do território
municipal, dividindo este território em três microbacias33 - vide tabela 06:
33 Microbacia é uma unidade geográfica delimitada por uma rede de drenagem (córregos) que deságua em um rio principal. (Fonte: www.planetaorganico.com.br – acesso em 03 de março de 2005)
65
TABELA 06: Caracteristicas das Microbacias do muncipio de Bombinhas – SC
Fonte: POLETTE (1997), pg. 18.
Estas microbacias são vulneráveis à ocupação das áreas marginais (Áreas
de Preservação Permanente – “mata ciliar”) e ao processo de urbanização e sua
conseqüente contaminação dos leitos hídricos e lençóis freáticos devido ao fim
dado ao esgoto produzido. Os rios: da Barra, e José Estevam (em Bombas), o rio
Passa Vinte (em Zimbros), e o rio Barreiro (em Bombinhas) estão assoreados
devido à destruição de suas faixas marginais de vegetação e à retificação dos
seus leitos para a drenagem. Além de serem usados como terminais do
esgotamento sanitário. (COUTINHO, 1999)
A água que abastece o município provém do rio Perequê (no município de
Porto Belo), da cachoeira da praia da Lagoa (Costeira de Zimbros) e água do
subsolo, porém esta pode estar inadequada para consumo já que parte do subsolo
da cidade se encontra contaminado. O volume dos mananciais é suficiente para
atender a demanda, exceto nas temporadas quentes de turismo (PROJETO
ORLA) com o incremento populacional e de atividades econômicas (muitos
estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços só estão abertos durante
este período).
MICROBACIA BOMBAS MARISCAL ZIMBROS Área Total (Km2) 11,3 11,1 14,7 Área das planícies (Km2)
2,7 5,5 4,9
Planícies (%) 43,7 49,6 18,3 Área das Morrarias (Km2)
8,6 6,1 9,8
Morrarias (%) 56,3 51,4 81,7 Altitudes (m) 0 – 239 0 – 218 0 – 558
Elementos da paisagem natural
Restinga, Mata Atlântica, Manguezal,
Marisma, Estuário, Córregos e ribeirões,
Praia, Costões, Afloramentos rochosos
Restinga, Mata Atlântica, Córregos e
ribeirões, Praia, Costões, Ilhas,
Afloramentos rochosos
Restinga, Mata Atlântica, Manguezal,
Marisma, Estuário, Córregos e ribeirões,
Praia, Costões, Afloramentos rochosos
66
As condições dos recursos hídricos terrestres e marinhos são muito
importantes para o turismo (balneabilidade das praias), pesca e a maricultura
(qualidade do produto), principais atividades socioeconômicas.
Os quadros 08 e 09 apresentam o diagnostico feito pelo IBGE (2002) sobre
as condições encontradas do ambiente de Bombinhas:
QUADRO 04: Relação entre Ambiente e Condições de Vida Humana O Meio Ambiente afetou as condições da vida humana Sim
Contaminação de rio, baia etc. Sim
Redução do estoque pesqueiro Sim
Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros - Meio Ambiente 2002
QUADRO 05: Alteração ambiental prejudicou a atividade pesqueira? Redução da quantidade ou diversidade ou qualidade do pescado
Redução da quantidade e/ou diversidade ou qualidade
Por contaminação da água por esgoto doméstico Sim
Por outras alterações Sim
Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros - Meio Ambiente 2002
4.1.3.1.2 RECURSOS HUMANOS:
Segundo o levantamento do IBGE (2006), conta-se 11.659 habitantes,
resultando um adensamento demografico de 318,55 hab/ km2.
Na Costeira de Zimbros e nas morrarias do Mariscal, é possível encontrar
vestígios de edificações feitas com pedras e óleo de baleia e construções de
taipas de épocas longínquas e desconhecidas por grande parte da população de
épocas coloniais não definidas. Deve-se considerar que o nome “Atalaia” (praia ao
norte da praia do Mariscal) tem origem indígena e significa "ponto alto de onde se
vigia".
As praias de Zimbros, Morrinhos e Canto Grande foram ocupadas por
açorianos e descendentes por volta de 1753, e suas comunidades mantêm
67
características mais estáveis e com menor miscigenação sociocultural
(COUTINHO, 1999), sendo os principais redutos da pesca artesanal e maricultura.
Os bairros de Bombas e Bombinhas têm sua formação sociocultural mais
heterogênea, desde os primórdios da ocupação colonial, e foram palcos da
verticalização e adensamento urbano e demográfico presentes no território
municipal, contendo os centros comerciais e políticos da cidade.
Os bairros do Zé Amandio, contínuo a Bombas, e do Sertãozinho, contínuo a
Zimbros, são “interiores” (sem praia) e seu processo de ocupação deriva das
atividades agropecuárias (onde é possível localizar alguns engenhos
remanescentes de farinha e cana de açúcar) e da expansão urbana, configurando-
se como pólo de migrantes.
As principais atividades do municipio são: turismo, maricultura, pesca, sendo
que no levantamento do IBGE (2004 e 2005), não foram constatadas lavouras
permanentes e temporárias, nem foram localizadas empresas associadas às
atividades pesqueiras.
Segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano (2007), indica-se o acréscimo
do poder aquisitivo da população no período entre 1.991 e 2.000: aumento da
renda per capita e queda nos extratos compostos pelos mais pobres. Porém,
também há indícios de concentração de renda.
O terceiro setor é formado basicamente por pequenas empresas (resultado
da divisão do número do pessoal ocupado pelo número de unidades empresarias)
muitas atendem à estrutura necessária para o Turismo – vide tabela 19:
68
TABELA 07: Empresas prestadoras de serviços em Bombinhas (2004)
Serviço No de
unidades Pessoal
empregado Serviço
No de unidades
Pessoal empregado
Produção e distribuição de eletricidade34, gás e água.
01 Não consta
Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas.
131 263
pessoas
Construção 20 65 pessoas Administração pública, defesa e seguridade social.
03 616
pessoas
Comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos.
334 980 pessoas Educação 04 13 pessoas
Alojamento e alimentação
242 980 pessoas Saúde e serviços sociais
05 24 pessoas
Transporte, armazenagem e comunicações.
21 50 pessoas Outros serviços coletivos, sociais e pessoais.
46 60 pessoas
Fonte: IBGE, Cadastro Central de Empresas 2004.
Na área da educação, o município oferece diversos níveis pedagógicos, com
cursos de nível superior durante os sábados. Não há instituições de ensino
privadas.
TABELA 08: Nível educacional da população jovem em 1991 e 2000
Taxa de analfabetismo % com menos de 4 anos de estudo
% com menos de 8 anos de estudo
% freqüentando a escola
Faixa etária (anos) 1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000
7 a 14 8,6 6,0 - - - - 83,4 96,2 10 a 14 3,7 1,0 47,9 28,5 - - 77,7 94,9 15 a 17 2,3 0,2 12,2 3,6 76,5 50,0 42,5 77,0 18 a 24 5,2 1,8 14,0 7,5 63,9 43,4 - -
Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil
O projeto EJA (projeto EJA – Ensino para Jovens e Adultos), a migração de
pessoas com maior grau de escolaridade, alem da ascensão da importância do
34 “A chegada das redes de energia elétrica em Bombinhas mudou o grau de dependência em relação a atividades econômicas desenvolvidas dentro da Península de Porto Belo. A ligação é do ano de 1977, para as comunidades de Bombinhas e Bombas, e de 1978, para as comunidades de Zimbros e Canto Grande”.(COUTINHO, 1.999, pg. 44)
69
grau de instrução na vida socioeconômica têm garantido taxas menores em
tempos menores de estudo entre a população com mais de 25 anos, conforme
observado na tabela: Nível Educacional da População Adulta (25 anos ou mais),
1991 e 2000.
TABELA 09: Nível educacional da população adulta (25 anos ou mais) em 1991 e 2000
Grau de escolaridade 1991 2000 Taxa de analfabetismo 12,7 7,0 % com menos de 4 anos de estudo 37,8 23,1 % com menos de 8 anos de estudo 81,8 66,1 Média de anos de estudo 4,4 6,0
Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil
Os resultados dados na tabela acima são coerentes aos encontrados nas
entrevistas da presente pesquisa de mestrado.
4.1.3.2 PORTO BELO 4.1.3.2.1 RECURSOS NATURAIS:
Porto Belo tem uma área territorial de 93,8 Km2, abrangendo uma área de
planície bastante significativa, além de morros e morrarias. Os limites fronteiriços
são: Oceano Atlântico, a nordeste e sudeste; o município de Itapema, a norte a
noroeste; município de Camboriu, a noroeste; município de Tijucas, a noroeste,
oeste, sudoeste e sul; e município de Bombinhas, a sudeste, leste e nordeste.
Naturalmente, a cobertura vegetal é formada pela Floresta Ombrófila Densa
(“Mata Atlântica”), áreas de restinga e manguezais. As restingas e a Mata Atlântica
encontram-se extremamente reduzidas em pequenas manchas esparsas e
isoladas, pressionadas pelo processo de urbanização e conurbação entre os
municípios de Porto Belo e Itapema. As matas naturais e matas plantadas
70
representam 18,9% e 3,6% respectivamente. As lavouras temporárias utilizam
176,2 ha. (5,1%) e as lavouras permanentes ocupavam apenas 68,4 ha. (2%) das
terras do município (PLANO DIRETOR DE PORTO BELO, 2006).
Nas encostas situadas entre aproximadamente 20m e 600 m, há maior
diversidade vegetal nas áreas remanescentes e maior representatividade
paisagística, principalmente nos morros da região de Santa Luzia e na morraria
mais a oeste do território, resultante da característica dos solos e maior dificuldade
de uso dos terrenos com certa declividade.
Em função do uso e ocupação da região da orla, as restingas têm ínfima
representatividade e em raras regiões, sobre as dunas frontais não consolidadas.
As praias sofrem intenso processo erosivo pela ocupação desordenada da orla
(PLANO DIRETOR DE PORTO BELO, 2006).
Os mangues se localizam na foz dos rios Perequê, Rebelo, da Vina, cuja
formação está muito comprometida devido à ocupação irregular das áreas de
APP. O mangue do rio Perequê, entre os municípios de Itapema e Porto Belo, está
extremamente diminuto, na iminência de desaparecer (PLANO DIRETOR DE
PORTO BELO, 2006).
A água que abastece os bairros: Perequê, Alto Perequê, Vila Nova, Centro,
Enseada Encantada e Araçá além dos municípios de Bombinhas e parte do
município de Itapema, em forma bruta é oriunda do Rio Perequê e captada pela
CASAN.
O estado de conservação das bacias hidrográficas do município mostra-se
deficiente, em decorrência do uso das áreas marginais às bacias pela ocupação
urbana, agropastoril e o plantio de arroz irrigado junto à jusante da captação da
CASAN. A deficiência dos sistemas de coleta e tratamento de esgoto também tem
contribuído para a degradação destas bacias, já que grande parte da população
utiliza o sistema Fossa Séptica/Sumidouro nas edificações, e há muitas ligações
clandestinas que despejam o esgoto in natura nos leitos que atravessam o
município. (PLANO DIRETOR DE PORTO BELO, 2006)
71
Particularmente, no levantamento feito pelo IBGE sobre os municípios
brasileiros (2002), aponta-se que o atual sistema de pesca presente na região tem
comprometido uma importante economia municipal (quadro 14).
QUADRO 06: Prejuízo na atividade pesqueira por redução da quantidade ou diversidade do pescado
Por prática de pesca predatória Sim Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros - Meio Ambiente 2002.
4.1.3.2.2 RECURSOS HUMANOS:
No levantamento feito pelo IBGE (2006), conta-se 13.475 habitantes,
gerando o adensamento demográfico de 143,66 hab/ km2.
Na configuração territorial e urbana, tem-se, a partir da década de 60 do
século XX, a expansão urbana em direção ao oeste, resultando na criação de
bairros como Vila Nova e Perequê. A praia do Perequê é ocupada
predominantemente por casas de veraneio. O bairro de Vila Nova representa uma
área de expansão urbana composta principalmente por residentes, e concentra
atividades comerciais e de prestação de serviços ao longo da rodovia SC - 412 e
Avenida Governador Celso Ramos (PLANO DIRETOR DE PORTO BELO, 2006).
As praias das Vieras e do Baixio, na área central, são usadas para esportes
náuticos e há casas de veraneio na orla. Na área central, há empreendimentos
comerciais de pequeno porte e residências de moradores do município, o núcleo
formado pelas construções antigas participa da formação do produto turístico
histórico cultural do município.
As praias do Araçá e do Caixa d’Aço possuem ocupações urbanas
espontâneas e irregulares, predominantemente residencial por comunidades
pesqueiras, na estreita faixa entre o mar e os morros existentes.
A praia do Estaleiro localiza-se no morro de Porto Belo, sendo relativamente
mais isolado, onde predominam condomínios fechados de residências para
veraneio.
72
As principais economias são: turismo e pesca e no cenário econômico
encontram-se: 67 estabelecimentos agropecuários (que utilizavam uma área total
de 3.480,9 hectares) (EPAGRI, 2003); 02 unidades de pesca, 01 unidade industrial
extrativista, 82 unidades industriais de transformação (sem especificação), 807
unidades empresariais como prestadoras de serviços (terceiro setor) (IBGE,
2004).
O setor agropecuário de Porto Belo desenvolve-se nas áreas “interiores”,
como o Sertão de Santa Luzia e Sertão do Valongo (onde se localiza o
remanescente Quilombola). Há um matadouro no Sertão Santa Luzia e um
alambique de aguardente no bairro Alto Perequê. Em 2005, não foi localizada
qualquer produção agrícola permanente (lavoura permanente), cabendo apenas
as informações relevantes às lavouras temporárias (IBGE).
Similar a Bombinhas, os empreendimentos empresariais de Porto Belo se
encaixam no perfil das pequenas e medias empresas. Porém, o setor imobiliário e
a prestação de serviços usufruída pelo Turismo (alojamento e alimentação) têm
menor representatividade (tabela 26)
TABELA 10: Empresas prestadoras de serviços em Porto Belo (2004)
Serviço No de
unidades Pessoal
empregado Serviço
No de unidades
Pessoal empregado
Produção e distribuição de eletricidade, gás e água.
01 Não consta Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas.
78 193
Construção 18 38 pessoas Administração pública, defesa e seguridade social.
03 257
Comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos.
320 831 Educação 06 18
Alojamento e alimentação
107 311 Saúde e serviços sociais 08 13
Serviço No de
unidades Pessoal
empregado Serviço
No de unidades
Pessoal empregado
Transporte, armazenagem e comunicações.
21 57 Outros serviços coletivos, sociais e pessoais.
51 234
Fonte: IBGE, Cadastro Central de Empresas 2004.
73
Segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano (2007), indica-se o acréscimo
do poder aquisitivo da população no período entre 1.991 e 2.000: aumento da
renda per capita e queda nos extratos compostos pelos mais pobres. Porém,
também há indícios de concentração de renda.
Na área de educação, o número de instituições de ensino presentes no
município é: 10 com gestão municipal (que oferecem os níveis: pré-escola e
ensino fundamental em apenas 09), 01 de caráter privado (com pré-escola e
ensino fundamental), e 01 com gestão estadual (de ensino fundamental a médio).
Também, em Porto Belo, há o projeto EJA.
E o nível escolar da população pode ser observado nas tabelas a seguir:
TABELA 11: Nível educacional da população jovem em 1991 e 2000.
Taxa de analfabetismo % com menos de 4 anos de estudo
% com menos de 8 anos de estudo
% freqüentando a escola
Faixa etária (anos) 1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000
7 a 14 11,3 5,1 - - - - 83,9 93,6 10 a 14 5,1 1,7 51,0 37,0 - - 80,1 92,6 15 a 17 3,4 1,1 12,2 8,3 80,8 58,7 34,8 60,6 18 a 24 5,6 2,8 14,7 11,5 69,9 49,2 - - - = Não se aplica
Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil
TABELA 12: Nível educacional da população adulta (25 anos ou mais) em 1991 e 2000
Grau de escolaridade 1991 2000 Taxa de analfabetismo 13,8 9,9 % com menos de 4 anos de estudo 37,5 26,1 % com menos de 8 anos de estudo 78,6 66,2 Média de anos de estudo 4,6 5,9
Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil
Os resultados dados na tabela acima são coerentes aos encontrados nas
entrevistas da presente pesquisa de mestrado.
74
4.2. PRODUÇÃO ARTESANAL NA PENÌNSULA
4.2.1. PROCEDIMENTOS DO MÉTODO
Para o desenvolvimento da presente pesquisa, houve o levantamento de
dados primários (oriundos de diversos estudos realizados nos municípios da área
de estudo), na realização de entrevistas (pesquisa de campo) e no trabalho de
educação ambiental na execução do projeto Agenda 21 Local do município de
Bombinhas – SC, sendo realizadas nas seguintes fases de execução (Figura 08 ):
FIGURA 09: Procedimentos do método para a execução da pesquisa
Identificação das relações entre a
atividade artesanal e os agentes de
transformação do espaço geográfico da
Península.
Análise e projeção do desenvolvimento
urbano e demográfico da
península quanto a sustentabilidade da produção artesanal.
Análise do processo de produção
artesanal diante a organização e o uso
do espaço geográfico da
Península de Porto Belo– SC
Identificação e diagnostico da
produção artesanal na península de Porto Belo
Saídas de Campo
Entrevistas
Entrevistas
Agenda 21
Agenda 21
Instituto Boimamão
Instituto Boimamão
Instituto Boimamão
75
As ações desenvolvidas na pesquisa foram.
1. Saídas de campo: realização de entrevistas com a aplicação de
questionários após a localização dos núcleos artesanais, a partir de dados cedidos
pela Secretaria Municipal de Cultural de Porto Belo e pela Colônia de Pesca Z –
08, também localizada no município de Porto Belo.
2. Instituto Boimamão35:, a permanência e a estadia neste Instituto (cujas
atividades sociais são compostas por folguedos e eventos gastronômicos,
organizados pela comunidade local juntamente à equipe da Organização)
possibilitaram vivenciar o estilo de vida remanescente das épocas de subsistência
e produção agrícola. Também, foram feitas entrevistas com a aplicação dos
questionários, além de conversas informais ricas em informações relevantes para
a pesquisa.
3. Agenda 21 Local de Bombinhas: os projetos “Agenda 21” têm por finalidade
elaborar estratégias de desenvolvimento visando qualidade de vida e a sua
sustentabilidade, para isto são necessárias informações sobre o local onde será
desenvolvido, daí, o levantamento de dados primários oriundos de diversos
trabalhos já realizados na área de estudo. Particularmente, a meta de educação
ambiental do projeto “Agenda 21 Escolar”, vinculado ao projeto de Agenda 21
Local de Bombinhas, estabeleceu parceria com o GAAMB(Grupo de Artistas e
Artesãos de Bombinhas) para a realização de oficinas de artesanatos e
aproveitamento de embalagens, a serem dadas nas escolas públicas de
Bombinhas – SC. Também, em diversos encontros, foram colocadas informações
relevantes para o desenvolvimento da pesquisa sobre a sustentabilidade da
produção artesanal, condizentes aos objetivos da Agenda 21 Local, cabendo a
construção de textos baseados nos discursos correntes.
Para a execução da AGENDA 21 ESCOLAR, durante os 14 meses de projeto, a
pesquisadora residiu no município de Bombinhas.
35 O Instituto BoiMamão está sediado no "Engenho do Sertão", apresentando um antigo engenho de farinha reconstituído, aberto a visitação pública. O objetivo da instituição é desenvolver projetos de resgate e conservação da memória cultural, através da gastronomia, arte, folclore, tradição e costumes do município de Bombinhas. O espaço tornou-se um ponto de referência histórica para acadêmicos, alunos da rede de ensino, palestras para a comunidade e encontros culturais. (Fonte: www.guiabombinhas.com.br – acesso em 16 de março de 2006)
76
Foram realizadas 20 entrevistas com pescadores e 15 entrevistas com
artesãos (durante as saídas de campo e vivência no Instituto Boimamão). O
número de entrevistas contempla uma pequena parcela (02,50 %) do número total
de pescadores presentes na lista da Colônia de Pesca Z - 08 (Porto Belo)36; e
aproximadamente 70,58% dos artesãos cadastrados junto a Secretaria Municipal
de Cultura de Porto Belo.
A partir do conceito de “Produção artesanal” correspondente a toda produção
baseada em técnicas rústicas que mantém o caráter tradicional/ folclórico/ exótico
tanto na produção quanto no produto final, e cuja matéria prima é oriunda de
recursos extraídos diretamente do ambiente natural. Também, é característico
desta forma de produção: ter a cadeia produtiva relativamente curta (sem
processos complexos), baixa produtividade, domínio da técnica rústica por aquele
que desenvolve a atividade (cujo conhecimento baseia-se na transmissão oral),
laços empregatícios vinculados aos grupos domésticos e ser influenciada pelas
formas sócio-culturais dominantes nos aspectos: econômico, social e cultural.
Este conceito é base na elaboração dos questionários aplicados com os
pescadores artesanais e outro, com os artesãos.
a aplicação desencadeou entrevistas que, pela qualidade de determinadas
respostas em ter sido abertas e outras, gerarem a reflexão pelo entrevistado
baseada no tema da questão, complementaram as informações almejadas nos
questionários.
Nas entrevistas, a liberdade do entrevistador em abordar além das questões
relevantes permitiu se obter respostas sobre a subjetividade das concepções e as
percepções criadas pelo entrevistado sobre seu universo, expressas em seu
depoimento, refletindo as designações dadas aos espaços geográficos pela
comunidade artesã, conforme sugere WERLEN37 (in SANTOS, 1997, p.68, nota
36 Na lista cedida pela Colônia de Pesca Z – 08, não são diferenciados os pescadores nas categorias “artesanal” e “industrial”. 37 “O espaço no mundo físico é constituído via a experiência corporal do próprio sujeito através do eu consciente em movimento. O agente experimenta assim o mundo físico e representa as suas dimensões espaciais da perspectiva de seu próprio corpo. Similarmente, a materialidade do mundo físico é experimentada pelo contrato corporal direto com esse mesmo mundo. Essa visão do mundo físico centrada no sujeito também afeta a definição dos sistemas de coordenadas espaciais
77
de rodapé) e TUAN (1980); e a obtenção de dados mais fidedignos aos objetivos
da pesquisa.
Os dados levantados nas entrevistas (e preenchimento dos questionários)
geraram a informação não pelo volume total (quantidade) levantado, mas pela
abrangência da informação coletada (qualidade), conforme propõe CHIZZOTTI
(1995) 38.
Para a elaboração dos questionários, buscou-se vincular as perguntas dos
questionários (em anexo) aos objetivos da pesquisa, conforme é exposto a seguir:
QUADRO 07: Perguntas dos questionários relacionadas com os objetivos
correspondentes. A perspectiva subjetiva principia com a idéia de que por intermédio do corpo, o agente assume uma posição concreta no mundo físico.”( in SANTOS, 1997, p.68, nota de rodapé) 38 “A pesquisa qualitativa privilegia algumas técnicas que coadjuvam a descoberta de fenômenos latentes, tais como a observação participante, história ou relatos de vida, análise de conteúdo, entrevista – não diretiva etc – que reúnem um corpo qualitativo de informações que, segundo Habernas, se baseia na racionalidade comunicacional. Observando a vida cotidiana em seu contexto ecológico, ouvindo as narrativas, lembranças e biografias, e analiando documentos, obtém-se um volume qualitativo de dados originais e relevantes, não filtrados por conceitos operacionais, nem por índices quantitativos” – pg 85.
PERGUNTAS NO QUESTIONARIO BLOCO
COM PESCADORES COM ARTESÃOS LIGAÇÃO COM OS
OBJETIVOS DA PESQUISA
Perfil 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17,
18 e 19
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18 e 19
Diagnóstico
Oficio
24, 25, 26, 27, 28, 30, 32
29
31
24, 25, 26, 31, 34, 35, 36, 39, 40, 41 27, 28, 29, 30, 32,
33,
37, 38,
Importância sócio-cultural
Uso e dependência dos recursos naturais
Mapeamento da produção
Percepções 20, 21, 22 e 23 20, 21, 22 e 23 Tratamento dado à produção artesanal e a qualidade das
relações entre agentes
Aspectos socioeconômicos
33, 34, 35, 36, 37 42, 43, 44, 45 Posicionamento da produção
artesanal diante o uso e ocupação da península
78
QUADRO 08: Informações levantadas relevantes aos objetivos da pesquisa.
Também, as questões foram vinculadas aos critérios de classificação do que
caracteriza a produção artesanal, conforme explorado na revisão bibliográfica.
Baseando-se na figura do “Tripé do Desenvolvimento Sustentável”(figura 4),
elabora-se a relação dos critérios de classificação “artesanal” com a
sustentabilidade da produção artesanal:
FIGURA 10: Tripé da sustentabilidade da produção artesanal
Fonte: Daniela V. Veras, 2007.
Estes critérios são bases para se elaborar a sustentabilidade da produção
artesanal, onde as relações entre os aspectos da produção artesanal e as
características do espaço geográfico onde a produção ocorre são
BLOCOS OBJETIVOS ALMEJADOS INFORMAÇÕES LEVANTADAS
Perfil Caracterização socioeconômica
Condições de moradia e sua respectiva qualidade ambiental Religião (aspecto cultural) Definição do grupo doméstico
Oficio
Identificar e Ressaltar as qualidades culturais (tradição) e
ambientais das atividades artesãs
Aspectos tradicionais Transmissão de conhecimento Recursos naturais necessários Aspectos econômicos
Percepções Apontar as transformações ambientais mais eminentes diante a comunidade local
A interpretação do crescimento urbano e suas conseqüências segundo a cosmologia dos artesãos
Aspectos socioeconômicos
Atuação do individuo na sociedade além da qualidade de
artesão e pescador artesanal Envolvimento e participação social
Economia
Produção Artesanal
Sociedade Ambiente
79
interdependentes e daí relevantes para a sustentabilidade da produção artesanal,
tendo-se as seguintes relações:
FIGURA 11: Relações entre os critérios e o tripé de sustentabilidade
CRITÉRIO VÉRTICE
Fonte: Daniela V. Veras, 2007.
Nos questionários, estes critérios são encontrados nas perguntas e estas
vinculadas aos objetivos da pesquisa, de acordo com os quadros a seguir:
Matéria prima oriunda de recursos naturais
Caráter tradicional/ folclórico/ exótico
Cadeia produtiva curta
Baixa produtividade
Técnica rústica
Laços empregatícios
Vulnerabilidade às transformações do espaço geográfico
AMBIENTE
SOCIEDADE
ECONOMIA
80
QUADRO 09: Relação das perguntas com os critérios de classificação “artesanal”
QUADRO 10: Relação das perguntas com os critérios de classificação “artesanal”
39 “Tradicional. Adj. 2 g. 1. Relativo ou pertencente à tradição. 2. Conservado na tradição. Tradição.[Do lat. traditione] S.f. 1. Ato de transmitir ou entregar. 2. Transmissão oral de lendas, fatos, etc., de idade em idade, geração em geração. 3 Transmissão de valores espirituais através de gerações. 4. Conhecimento ou pratica resultante de transmissão oral ou de hábitos inveterados. 5. Recordação, memória”. (FERREIRA, 1986, pg. 1696) 40 “Folclórico. Adj. Relativo ao folclore; folclorístico. Folclore [Do ing. folk-lore.] S.m. 1. Conjunto das tradições, conhecimentos ou crenças populares expressas em provérbios, contos ou canções. 2. Conjunto das canções populares de uma época ou região. 3. Estudo e conhecimento das tradições de um povo, expressas nas suas lendas, crenças, canções e costumes; demologia, demopsicologia. [Sin. ger., brás.: populario]”. (op. cit., pg. 793 e 794) 41 “Exótico. (z). [Do gr. exotikos, pelo lat. exoticu] Adj. 1. Que não é indígena; estrangeiro. [Opõe-se a autóctone (1 e 2).] 2. Esquisito, excêntrico, esdrúxulo, extravagante. 3. Fig. Fam. Malfeito; desajeitado”.(op. cit., pg. 742)
PERGUNTAS NOS QUESTIONÁRIOS CRITÉRIO
PESCADORES ARTESÃOS
Matéria prima oriunda de recursos naturais
Os recursos explorados na pesca artesanal na península estudada são recursos marinhos: fauna e flora
24, 25
Caráter tradicional39/ folclórico40/ exótico41
24, 25 e 26 26, 34, 35
Cadeia produtiva curta 30, 31 27, 28, 32, 33, 37 Baixa produtividade 34 30, 42 Técnica rústica 29 24, 25 Laços empregatícios 27, 28 31, 36 Vulneráveis às transformações do espaço geográfico
20, 21, 22, 23, 32 e 33 21, 22, 23, 38, 39,
40
CRITÉRIO OBJETIVO DA PESQUISA Matéria prima oriunda de recursos naturais
Dependência dos recursos naturais
Caráter tradicional/ folclórico/ exótico Importancia sócio cultural Cadeia produtiva curta Mapeamento da cadeia produtiva Baixa produtividade Sustentabilidade econômica Técnica rústica Tipo de uso do recurso ambiental Laços empregatícios Importancia socioeconômica Vulneráveis às transformações do espaço geográfico
Qualidade das relações entre agentes
81
4.2.1.1. IDENTIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA PRODUÇÃO ARTESANAL NA PENÍNSULA DE PORTO BELO
A localização daqueles que seriam pesquisados permitiu que se
acompanhasse o processo e as características de urbanização nos municípios da
península de Porto Belo – SC, sendo expressiva a relação entre a localização do
entrevistado/ sua origem e o fenômeno de crescimento urbano e demográfico,
distribuindo e definindo a ocupação do espaço municipal segundo o processo
histórico de ocupação, a valorização imobiliária, o uso econômico e a identidade
social dos espaços, pontualmente, o que constrói o conceito de “nichos” no
mosaico formado no processo de urbanização.
Também, o fator “tipo de calçamento da rua” é vinculado ao momento da
expansão urbana e a idade da ocupação do local onde reside o artesão,
representando, inclusive, os deslocamentos da população na península.
A localização das vias asfaltadas nos municípios de Porto Belo e Bombinhas
é um indicador das principais vias de trânsito e de acesso para o fluxo da
comunidade local e transitante; normalmente são vias vinculadas ao processo
mais antigo de ocupação da península. As vias calçadas também indicam as vias
principais, porém o custo do calçamento é menor do que o asfalto além de seu
aspecto estético, valorizado setor turístico. Ambos tipos indicam o poder aquisitivo
daqueles que são proprietários de imóveis na via.
4.2.1.1.1. PESCA ARTESANAL:
Com o intuito de localizar os pescadores para a realização das entrevistas,
adotou-se a estratégia de se visitar os ranchos de pesca, observar aqueles que
manuseavam apetrechos e embarcações encontrados na orla das praias além de
buscar informações nas Colônias de Pesca.
82
A pesquisa de campo no município de Porto Belo42 basicamente ocorreu
durante a saída de campo, usufruindo os recursos disponibilizados pela
universidade. Quanto ao material de pesquisa, sentiu-se a necessidade de um
gravador para se registrar as conversas que ocorriam durante as entrevistas.
Neste município, a Colônia de Pesca disponibilizou uma lista com o nome de
seus membros e a partir da localização de suas moradias, estabeleceu-se um
roteiro para a aplicação dos questionários e conseqüente entrevistas.
A tabela 13 apresenta a distribuição destes membros na península.
TABELA 13: Membros da Colônia de Pesca Z – 08
Fonte: Colônia de Pesca Z – 08, Porto Belo – SC, 2005, adaptação da autora.
Também, adotou-se o comprimento das embarcações como um parâmetro
para a identificação da pesca artesanal, uma vez que o tamanho e a estrutura da
embarcação são condicionantes no tempo de permanência, na distancia
percorrida e na qualidade da pesca e estão vinculadas à rusticidade da produção.
Em Bombinhas, constatou-se que a pesca na orla (desembarcada) dos
bairros de Bombas (Praia Grande), Bombinhas, Sepultura, Ingleses (Retiro dos
Padres), Conceição e Tainha é inexpressiva, dificultando a localização dos
42 Este município sustenta a característica de ser um núcleo tradicional (histórico cultural) do litoral centro norte, estando rodeado pelo crescimento urbano nos municípios de Itapema (onde é notável a ocupação vertical, dividindo a enseada do Perequê e Meia Praia com o município) e do município de Bombinhas, onde se tem desenvolvido uma ampla rede hoteleira e outros serviços que atendem à demanda turística num palco da especulação imobiliária estimulada pelo fluxo turístico e da atividade veranista (promovendo o alto índice de crescimento urbano e demográfico).
MUNICIPIO BAIRRO Nº. DE PESCADORES ZIMBROS 38 BOMBINHAS 49 CANTO GRANDE 57
BOMBINHAS
BOMBAS 79 ARAÇA 167 CENTRO 265 PORTO BELO 49 SANTA LUZIA 62 PEREQUE 65
PORTO BELO
VILA NOVA 58
83
pescadores. Exceto no período da pesca da tainha43 (entre maio e agosto) quando
fazem “vigia” à espera do cardume e daí fazer o “cerco” (a pesca), o que envolve
diversas pessoas, inclusive não pescadores que espreitam ter seu “quinhão” no
montante capturado.
4.2.1.1.2. ARTESANATO:
Em Porto Belo, a localização dos artesãos foi baseada em uma lista
contendo os endereços e os respectivos tipos de trabalho dos artesãos
cadastrados na SECRETARIA DE CULTURA deste município, servindo de guia na
elaboração do roteiro das saídas de campo.
QUADRO 11: Artesãos de Porto Belo e suas respectivas matérias primas
BAIRRO CERÂMICA MADEIRA/ BAMBUSEMENTES/ CONCHAS
TEAR
ARAÇA Cleonice
CENTRO Patrícia e Miguel
Carlos Alberto Jaime Claudinei
SANTA LUZIA Eliseu Vitor
PEREQUE Alvina Regina
Mauricio
VILA NOVA Maria MargaridaRichard
Julio César Nilda
Manoel Rosana
Neris
Fonte: Secretaria Municipal de Cultura, Porto Belo , 2005, adaptação da autora.
Em Bombinhas, as entrevistas ocorreram durante a permanência no Instituto
Boimamão, e as informações foram complementadas após a parceria com o
GAAMB para a execução dos objetivos da Agenda 21 Escolar.
43 A pesca da tainha é uma atividade socioeconômica tradicional e responsável pela renda das famílias que vivem dos recursos marinhos e quem, muitas vezes, dedicam-se ao movimento turístico durante a temporada de verão.
84
4.2.2 IDENTIFICAÇÃO DAS RELAÇÕES ENTRE A ATIVIDADE ARTESANAL E OS AGENTES DE TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO DA PENÍNSULA.
Para destacar os agentes que atuam neste espaço geográfico, o estudo
baseia-se nas propostas categóricas apresentadas por SANTOS44 (1997)
centrando: as atividades econômicas mais significativas, o conjunto legal, as
organizações civis, e a estrutura gestora (administrativa, fiscal, consultiva, etc.).
Depois de identificados os agentes, a leitura dos trabalhos já realizados na
área de estudo e as respostas obtidas em determinadas perguntas dos
questionários estabelece-se as relações harmônicas e desarmônicas entre estes
agentes de transformação e a produção artesanal.
4.2.3. ANÁLISE E PROJEÇÃO DO DESENVOLVIMENTO URBANO E DEMOGRÁFICO DA PENÍNSULA QUANTO À SUSTENTABILIDADE DA PRODUÇÃO ARTESANAL.
A análise de STROH (in CAVALCANTI, 1995) em propostas de gestão do
espaço geográfico ressalta a relação proporcional entre qualidade de vida e a
disponibilidade e acesso no uso e na qualidade dos recursos naturais. Para tal, a
dinâmica envolve a economia (satisfação das necessidades vitais), o ambiente
(soma das esferas: natural e humana) e a tradição (relação entre economia e
tempo, sustentada pelos traços culturais e sociais), visando tanto a qualidade de
vida as pessoas como dos recursos naturais.
44 “A partir da noção de espaço como um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações podemos reconhecer suas categorias analíticas internas. Entre elas, estão a paisagem, a configuração territorial, a divisão territorial do trabalho, o espaço produzido ou produtivo, as rugosidades e as formas conteúdo. Da mesma maneira, e com o mesmo ponto de partida, levanta-se a questão dos recortes espaciais, propondo debates de problemas como a da região e do lugar; o das redes e das escalas.”(p. 19)
85
Estruturando-se as vertentes exploradas, têm-se os seguintes focos (vértices
da figura 12) a serem levantados junto à comunidade artesã quanto a sua
atividade socioeconômica:
FIGURA 12: Estrutura da Pesquisa sócio-ambiental
Fonte: Daniela V. Veras, 2007.
Diante os focos: ECONOMIA, AMBIENTE (observação sobre os fenômenos e
ciclos naturais que participam direta e indiretamente da cadeia produtiva
artesanal), e TRADIÇÃO, um dos objetivos da pesquisa é enquadrar os resultados
no cenário político, econômico, social e ambiental da península.
O ambiente assume o papel de ser determinante nas atividades humanas
mais condizentes com a vocação natural dos ecossistemas, assim, para se
garantir o bem estar humano, é necessário demonstrar o efeito ecológico e
socioeconômico do ambiente e do uso de seus recursos naturais (DIEGUES,
1995).
Para se avaliar a qualidade de vida, são adotados indicadores baseados em
dados que permitem simular o cenário onde são oferecidas as condições de bem
estar e satisfação, correspondendo a questões específicas presentes nos
questionários aplicados durante as entrevistas.
Os recursos para qualidade da vida no ambiente doméstico são relacionados
aos indicadores, tais como: densidade da ocupação (influenciando a privacidade,
o conforto, a capacidade de produção, etc.), tratamento dos resíduos (além de
interferir na percepção sensorial do ambiente, tem ascensão na salubridade ou
Tradição
Ambiente
Economia
86
insalubridade do local), oferta de água potável e sua respectiva origem (indicando
suas contextualizações físico-químicas).
Para se calcular a densidade do núcleo doméstico, é preciso conhecer a
estrutura residencial para então simular a distribuição das pessoas residentes.
Entretanto, após feitas algumas entrevistas, emergiu a dúvida por um entrevistado
se a pergunta sobre o número de “cômodos” era referente ao número de quartos
da residência, alertando, então, sobre as interpretações errôneas que poderiam ter
ocorrido nas entrevistas já realizadas, comprometendo a veracidade dos dados
expostos nos gráficos “número de cômodos”.
4.2.4. ANÁLISE DO PROCESSO DE PRODUÇÃO ARTESANAL DIANTE A ORGANIZAÇÃO E O USO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO DA PENÍNSULA DE PORTO BELO – SC
Primeiramente, se analisa os programas de gestão e o conjunto legal
vigentes na península, tais como a Lei Federal 6.513/77 (definido as Áreas de
Interesse Turístico Nacional na orla marítima), a presença de UC´s e o SNUC, a
participação em Associações e Comitês, as Agendas 21 Locais vinculadas ao
Projeto ORLA além das perspectivas e da tendência do desenvolvimento (leitura
das Leis Orgânicas Municipais e das propostas de Plano Diretor) para a península,
fluentes na organização e no uso do espaço geográfico.
Após isto, identifica-se a abordagem dada à produção artesanal e como esta
se contextualiza no espaço geográfico, projetando-se os empecilhos e as
facilidades geradas nesta organização e uso.
87
5. RESULTADOS
A pesquisa de campo no município de Porto Belo basicamente ocorreu
durante o período de bolsa de pesquisa (programa PIPG/ UNIVALI) usufruindo os
recursos disponibilizados pela a universidade. Quanto ao material de pesquisa,
sentiu-se a necessidade de um gravador para se registrar as conversas que
ocorreram durante as entrevistas.
A permanência e a estadia no Instituto Boimamão45, que oferece atividades
sociais compostas por oficinas culturais, folguedos e eventos gastronômicos,
possibilitou vivenciar um estilo de vida remanescente das épocas de subsistência
e produção agrícola.
Na execução do trabalho de educação ambiental do projeto “Agenda 21
Local – Bombinhas - SC” Evoluindo sem destruir / Projeto Orla, foi criada a
parceria entre a Agenda 21 Escolar e o GAAMB (Grupo de Artistas e Artesãos do
Município de Bombinhas) para a realização de oficinas de artesanatos e de
aproveitamento de embalagens, dadas nas escolas municipais de Bombinhas –
SC. Em diversos encontros, foram colocadas informações relevantes para o
desenvolvimento da pesquisa sobre a sustentabilidade da produção artesanal,
porém estas informações não foram registradas (fotos, gravações), cabendo
apenas a construção de textos baseados nos discursos decorrentes.
Especialmente, no primeiro encontro, foram distribuídos os questionários
padrão da pesquisa para que os artesãos presentes preenchessem em suas
residências, mas não houve retorno destes questionários.
O registro fotográfico das atividades foi direcionado aos interesses do projeto
Agenda 21 Local, sendo do domínio da meta: “estratégias de comunicação”.
Além dos membros do GAAMB, a Agenda 21 Local de Bombinhas interagiu
com outros artesãos, não integrantes deste grupo, que exploram os recursos
encontrados na região para o desenvolvimento de sua arte.
45 As telhas do engenho encontrado no instituto foram feitas do bairro de Zimbros artesanalmente, cuja atividade era baseada no conhecimento sobre cerâmica e o potencial de uso do recurso natural (barro), que foi abandonada.
88
5.1 – DIAGNÓSTICO SÓCIOECONOMICO DOS PESCADORES E PRODUTORES DE ARTESANATOS
5.1.1 - PESCA ARTESANAL
Com o intuito de localizar os pescadores para a realização das entrevistas,
adotou-se a estratégia de se visitar os ranchos de pesca, observar aqueles que
manuseavam apetrechos e embarcações encontrados na orla das praias além de
buscar informações nas Colônias de Pesca.
Foram feitas 20 entrevistas, todas com o público masculino, A distribuição
espacial das entrevistas foi:
GRÁFICOS 1 e 2: Distribuição das entrevistas com os pescadores por município (“cidade”) e bairro, respectivamente.
Cidade
50%50%Porto BeloBombinhas
Em Porto Belo, foram visitados apenas os bairros com maior incidência de
pescadores conforme identificado na lista gentilmente cedida pela Colônia de
Pesca Z – 08, localizada no município, porém não especifica a localização e o
número dos pescadores artesanais nos diversos bairros da península.
Curiosamente, na Colônia de Pesca do município de Porto Belo, o presidente
é um membro tradicional da pesca artesanal, porém não é proprietário dos
recursos e equipamentos necessários para o exercício de seu oficio, trabalhando
como camarada em embarcações de outros. Já o vice-presidente é proprietário de
apetrechos e embarcações (com maior poder aquisitivo), pouco se aventurando
em “saídas ao mar”, priorizando sua atuação na Colônia.
Bairro residencial
10%
30%
15%
35%
10%
Morrinhos
Zimbros
Centro (Porto Belo)
Araçá
Canto Grande
89
Na saída de campo para o bairro do Araçá, segundo o apontamento dos
pescadores entrevistados, dos 167 pescadores registrados, apenas 07 se dedicam
à pesca artesanal, sendo que o restante trabalha no parque industrial da região.
Em Bombinhas, as visitas e entrevistas foram realizadas durante o período
de bolsa pesquisa e do trabalho da Agenda 21 Local, sendo que a pesca na orla
das praias dos bairros de Bombas (Praia Grande), Bombinhas, Sepultura, Ingleses
(Retiro dos Padres), Quatro Ilhas (Praia de Fora), Mariscal, Conceição e Tainha
não é constante, dificultando a localização dos pescadores. Exceto no período da
pesca da tainha (entre maio e agosto) quando fazem “vigia” à espera do cardume
e daí fazer o “cerco” (a pesca), o que envolve diversas pessoas, inclusive não
pescadores que espreitam ter seu “quinhão” no montante capturado.
Com as entrevistas, teve-se que os entrevistados apresentam idade superior
a 30 anos e, no mínimo, têm 21 anos de residência; o que assegura a integração
dos pescadores entrevistados na composição da sociedade da península
(formação de núcleos domésticos e sua influencia na configuração do espaço
geográfico, partindo do potencial de agente socioambiental de cada individuo).
GRÁFICO 03: Faixa etária GRÁFICO 04: Tempo como residente
Idade - pescadores0%
0%
15%
15%
35%
35%
menos de 2121 a 3031 a 4041 a 5051 a 60mais de 61
Tempo de residência (em anos)
0%0%0% 20%
80%
0% 0 a 05
06 a 10
11 a 15
16 a 20
mais de 21
nativo
90
5.1.2 – ARTESÃOS
Em Porto Belo, o empecilho para a aplicação dos questionários, realizando
as entrevistas, era localizar os artesãos, uma vez que suas oficinas, normalmente,
se localizam em sua própria residência.
Para tal, a Secretaria Municipal de Cultura de Porto Belo forneceu uma lista
contendo os endereços e os respectivos tipos de trabalho dos artesãos
cadastrados, a qual serviu de guia para a localização de alguns na saída de
campo.
QUADRO 12: Artesãos cadastrados e suas respectivas matérias primas
BAIRRO CERÂMICA MADEIRA/ BAMBUSEMENTES/ CONCHAS
TEAR
ARAÇA Cleonice
CENTRO Patrícia e Miguel
Carlos Alberto Jaime Claudinei
SANTA LUZIA Eliseu Vitor
PEREQUE Alvina Regina
Mauricio
VILA NOVA Maria MargaridaRichard
Julio César Nilda
Manoel Rosana
Neris
Fonte: Secretaria Municipal de Cultura, Porto Belo , 2005, adaptação da autora.
No bairro do Araçá foi encontrado um senhor não cadastrado que realiza
trabalhos com bambu, cujos produtos são utilizados por muitos pescadores de seu
bairro. Por enquanto, sendo único a fazer trabalhos de cestaria na localidade e,
por não ter aprendizes, acredita que o tipo de seu trabalho irá terminar assim que
deixar de desempenhar seu oficio. As fotos a seguir (figuras 13 e 14), ilustram a
arte e seu autor.
91
FIGURAS 13 e 14: Artesão do bairro Araçá, Porto Belo, e seu trabalho (2005):
Fonte: Daniela V. Veras.
Para a programação e organização das oficinas da Agenda 21 Escolar, além
do auxilio no desenvolvimento da pesquisa do mestrado, o GAAMB cedeu uma
lista contendo os membros do grupo e seus respectivos ofícios. O item
“observação” do quadro 13 (a seguir) deriva das informações constatadas nos
encontros citados e em conversas informais entre a pesquisadora e o artesão
respectivo.
QUADRO 13: Lista dos Artesãos cadastrados no Grupo de Artistas e Artesãos de Bombinhas – SC
ARTESÃO OFICIO OBSERVAÇÃO Erivanda Bijuteria de tear Artesanato é hobby Francisca Crochê, boneca de pano, fuxico. Vende para lojas da região Daguimar Balões, móbile. Vende para lojas de decoração Lurdes Tricô, crochê, pintura em tecido. Nadir Crochê, patchwork, costura. Trabalho sob encomenda
Lena Tecelagem, bijuteria, cerâmica. Prepara alimentos macrobióticos como fonte de renda alternativa
Roger Cerâmica Vende para lojas de decoração e em casa
Regina Bijuteria com recursos naturais e industriais (miçangas)
Processo produtivo desde a coleta do recurso natural até o artigo final
Piana Tecelagem: tear de pedal Vende na feira de Florianópolis
Olga Artista plástica, tecelagem, pintura em tecido.
Artesanato é hobby
Facunda Trabalho em prata Kátia Aproveitamento de embalagens Trabalho de educação ambiental
92
João Quadros em madeira Coleta material natural local Marinete e Marcelo Luminárias, bijuterias.
Teresinha Conchas, madeiras, pinturas. Reaproveitamento de cascas de marisco da maricultura
Dulce Papel machê, aproveitamento de embalagens.
Trabalho de educação ambiental/ utilidades domésticas
Eliane Aproveitamento de embalagens Trabalha sob encomenda Cleuci Arte em retalho Foca o resgate cultural Kátia Fantoches Brinquedos Neuza Trabalho em couro Vestuário Olga Marionete e fantoches Reaproveitamento de retalhos (é costureira)Luci Pintura Mari Luci Alimentos
Márcia Madeira, pintura em tecido e em tela.
Naurides Crochê, pintura, madeira. Priscilla Pintura em tecido Benta Crochê, tricô, bijuteria. Miltom Telas, painéis, tapetes.
Foram feitas 15 entrevistas no primeiro e segundo momento da pesquisa,
ocorrendo em maior número no município de Porto Belo, como demonstrado nos
gráficos a seguir:
GRÁFICOS 5 e 6: Distribuição das entrevistas com os artesãos.
Cidade do artesão
80%
20%
Porto BeloBombinhas
Bairro
7%
21%
51%
14%7%
Santa Luzia
Centro (Porto Belo)
Vila Nova
Sertãozinho
Araçá
Na lista oferecida pela Secretaria Municipal de Cultura de Porto Belo há o
predomínio de artesãos “homens”, enquanto na lista da GAAB, haver o contrario:
predomínio de artesãs “mulheres”. Por isto não se atribui à qualidade de gênero
(masculino ou feminino) da atividade artesanal.
93
O público entrevistado teve composição mista no quesito “sexo”, sendo
maioria o publico feminino devido à facilidade de encontrá-las em suas respectivas
residências, o que não aconteceu com o publico masculino.
GRÁFICO 7: Sexo
Sexo do artesão
60%
40% femininomasculino
O conhecimento e a relação destas pessoas com o espaço onde vivem
derivam do tempo em que residem ali; inclusive este tempo é indicativo da
ascensão social e cultural do cotidiano deste espaço geográfico na
contextualização e na criatividade do artesão. Nas entrevistas, teve-se:
GRÁFICO 8: Tempo de residência
A composição mista dos resultados remete à diversidade de contextos e
históricos da comunidade artesã entrevistada, não havendo um padrão a ser
construído como base.
O próximo gráfico apresenta as faixas etárias dos artesãos entrevistados que,
segundo a composição das características dos entrevistados, 100% dos
Tempo de residência em anos
7%
33%
13%7%
13%
27% 0 a 0506 a 1011 a 1516 a 20mais de 21nativo
94
entrevistados estão dentro da faixa etária classificada como “população
economicamente ativa”, ou “população em idade ativa”, isto é, com potencial para
compor o quadro de mão de obra disponível para as atividades econômicas.
GRÁFICO 9: Faixa etária
Idade do artesão
0%
7%
13%
33%20%
27%menos de 21
21 a 30
31 a 40
41 a 50
51 a 60
mais de 61
5.1.3 PRODUTORES ARTESANAIS
A apresentação dos resultados estabelece uma comparação entre as
condições e perfis dos pescadores e artesãos a fim de evidenciar as diferenças
sociais entre ambos.
Através da localização dos pescadores e artesãos, o fator “tipo de
calçamento da rua”, levantado nas entrevistas, evidencia a relação tradicional
entre a pesca e a história da península, enquanto a produção de artesanatos não
mantém esta relação, conforme os gráficos 10 e 11.
95
GRÁFICOS 10 e 11: Tipo de calçamento da via publica da residência dos entrevistados: pescadores e artesãos, respectivamente, em 2005.
Os gráficos a seguir indicam de onde os entrevistados são oriundos, referidos
na observação sobre a relação entre a ocupação histórica da península e a
participação do entrevistado, indicada pelo tipo de via pública de sua residência.
GRÁFICOS 12 e 13: Local de onde o entrevistado é oriundo (“origem”)
Também, através dos gráficos acima, é possível concluir que a pesca
artesanal é uma atividade exercida por nativos, considerando-se a estreita relação
entre os municípios da península e Tijucas – município vizinho - o que insere o
entrevistado no contexto sociocultural da região da península. Inclusive, a
maternidade da região é encontrada em Tijucas, fato questionado quanto à origem
da pessoa durante o trabalho da Agenda 21 Local de Bombinhas quando os
alunos da rede pública indagavam se aquele quem nasceu em Tijucas, apesar de
crescer na península, era tido como “nativo”.
Calçamento da via pública - pescadores
20%
55%
25%terra batidaasfaltocalçamento
Calçamento da via pública - artesãos
54%
13%
33% terra batidaasfaltocalçamento
Origem - artesãos
33%
7%
13%0%
0%
7%
7%
33%0%
nativo
Tijucas
Balneario Camboriu/ Itajai
Interior de SC
SP
RS
PR
Origem - pescadores
90%
0%0%0%0%0%
5%0%
5% nativoTijucasBalneario CamboriuItajaiInterior de SCSPRSPROutro país da América do Sul
96
No caso dos artesãos, há o predomínio de pessoas não nativas (60%) que se
reflete na “identidade” do artesanato local, uma vez a atividade artesanal baseia-
se na criatividade de seu autor, e esta criatividade, em sua individualidade.
Nos quesitos “identidade” e “criatividade”, a auto-definição étnica e a
influencia religiosa atuam na configuração cultural do produtor artesanal,
expressas nas técnicas e nos princípios fluentes na produção. Os gráficos a seguir
apresentam tais resultados nas entrevistas:
GRÁFICOS 14 e 15: Auto - definição étnica pelos entrevistados
As respostas expressas nos gráficos anteriores derivavam da interpretação
sobre a ascendência étnica do entrevistado, referindo-se inclusive a percepção
sobre a origem e residência de seus antepassados.
O termo “brasileiro” remeteu a percepção de ser descendente daqueles que
há tempos são presentes no território nacional, considerando-se os aspectos
híbridos da cultura e da miscigenação da população local, e, como no caso da
pesca artesanal, contrapondo-se a definição “açoriana” para seus traços culturais.
Outro traço cultural condiz à religiosidade, atuante nas relações sociais e na
percepção ambiental (econômica, social, natural) do individuo, onde, entre os
entrevistados, teve-se:
Identidade e referência cultural -artesãos
39%
13%7%
13%
7%
7%
7%
7% brasileiraaçorianaargentinaindigenaitaliano e alemãouruguaiaindigena e alemãoitaliana
Identidade e referência cultural - pescadores
10%
60%
5%
5%
5%
5%
10% italiana e açorianabrasileiraaçoriana e alemãaçorianoportuguesa indigena negraalemãportuguesa
97
GRÁFICOS 16 e 17: Religião dos entrevistados
A diferenciação entre praticante e não praticante dá-se pelo envolvimento
com as manifestações e ações da religião, e os 55% dos pescadores, católicos,
participam da homenagem a Nossa Senhora dos Navegantes, manifestação da
cultura hibrida brasileira, uma vez que a festa aproxima-se da homenagem feita a
Iemanjá, entidade do candomblé.
O domínio do cristianismo entre as religiões nacionais permanece nos
resultados das entrevistas. Porém, como em muitos estudos sobre as
comunidades litorâneas brasileiras, há a tendência de haver o deslocamento do
catolicismo para o evangelismo e, conforme observado entre os pescadores, o
número de católicos não praticantes é similar ao numero de evangélicos.
Entre os artesãos, o catolicismo abrange 60% dos entrevistados sendo que
deste montante, a maior parte (55,5%) é praticante.
A importância do catolicismo na cultura brasileira é presente em eventos de
integração social e em diversas manifestações do folclore como, por exemplo, a
Folia de Reis, tradicional na península.
Outro fator social de relevância cultural é o grau de escolaridade do
pesquisado, o qual indica a base de seu conhecimento formal, fundamental para a
integração na sociedade moderna, além da escola ser palco dos valores e
princípios desta sociedade moderna, tendo influencia, principalmente, sobre
crianças e jovens no âmbito social. O nível escolar (ou grau de escolaridade),
atualmente, é tido como um indicador de: integração social, acesso à informação,
formação da cidadania e, por isto, de qualidade de vida.
Religião - pescadores
0%
5%
15%
40%
40%
0%ateu
sem religião definida
católico praticante
católico não praticante
evangélico
outra
Religião - artesãos
27%
33%
27%
13%
0% sem religião
católico praticante
católico não praticante
evangélico
outra
98
Os gráficos a seguir permitem comparar duas realidades de gerações
distintas (entrevistados e seus filhos) no âmbito da educação institucionalizada e
formal.
GRÁFICOS 18 e 19: Nível escolar dos entrevistados: pescadores e artesãos, respectivamente, em 2005.
Escolaridade do pescador
10%
40%40%
10%0%0%0%0%0%
analfabetoensino básico incompletoensino básico completoensino fundamental incompletoensino fundamental completoensino médio incompletoensino médio completoensino superior incompletoensino superior completo
Escolaridade do artesão
13%
13%
28%13%
7%
0%
13%
0%
13%
analfabetoensino básico incompleto
ensino básico completoensino fundamental incompleto
ensino fundamental completoensino médio incompletoensino médio completoensino superior incompletoensino superior completo
Entre os pescadores, 100% dos entrevistados não têm o ensino fundamental
completo, justificado pelo ingresso juvenil nas atividades pesqueiras que
comprometia o desenvolvimento escolar. Isto ressalta a valorização dada pela
comunidade local (90% dos entrevistados são nativos da península e 5% é
oriundo do município vizinho, Tijucas) em priorizar as atividades econômicas no
cotidiano das pessoas, precocemente.
99
Já a composição dos artesãos entrevistados é variada, tanto na origem
quanto em sua característica social (expressa no nível escolar).
Outro apontamento levantado durante o questionamento sobre o nível
escolar do entrevistado deu-se pelas instituições de ensino presentes na
península oferecem, no período diurno, até o ensino fundamental completo, o que
dificultou a continuidade nos estudos.
A integração ao sistema educacional é predominante entre a filiação dos
entrevistados, sendo que as exceções encontradas entre os filhos dos pescadores
foram justificadas pelo exercício da pesca pelos filhos que não estudaram, sendo
dada a resposta “são pescadores” durante as entrevistas. Os gráficos com estes
resultados acompanham os dados sobre a quantidade de filhos de cada
entrevistado (gráficos 24 e 25). Os gráficos a seguir (20 e 21) apresentam os
resultados obtidos nas entrevistas sobre o nível educacional dessa filiação.
GRÁFICOS 20 e 21: Integração dos filhos no sistema educacional
A partir do estado civil do entrevistado, é formado o núcleo doméstico onde é
mensurado o número de residentes, o número de cômodos (e ai, simular a
densidade de ocupação doméstica).
Estudam ou estudaram - artesãos
100%
0% simnão
Estudam ou estudaram - pescadores
90%
10% simnão
100
GRÁFICOS 22 e 23: Estado civil dos entrevistados: pescadores e artesãos, respectivamente, em 2005.
Basicamente, a não presença de divórcios entre ambas categorias de
entrevistados: pescadores e artesãos remete a núcleos domésticos estáveis. Os
gráficos a seguir indicam a presença de filhos, os quais dimensionam e podem
estar presentes na composição dos núcleos domésticos:
A grande maioria dos entrevistados acompanha a tendência da sociedade
brasileira de criar “famílias” menores, com 01 a 03 filhos (IBGE). Os que tiveram
mais de 06 filhos disseram que alguns destes já eram mortos por motivos
diversos, além de serem entrevistados com mais de 61 anos de idade. Os
entrevistados que não apresentaram filiação correspondem aos 03 artesãos
solteiros (não casados). Os gráficos abaixo trazem os resultados sobre o numero
de filhos:
GRÁFICOS 24 e 25: Quantidade de filhos dos entrevistados: pescadores e artesãos, respectivamente, em 2005.
Entre os pescadores, foi comum o núcleo doméstico ser composto pelo casal
formado pelo entrevistado e cônjuge acompanhados pelos filhos e respectivos
Filhos (artesãos)
20%
53%
20%
7%não1 a 34 a 6mais de 6
Filhos (pescadores)
0%
80%
15%
5% não1 a 34 a 6mais de 6
Casado (a) - pescadores
90%
0%
10%0%
sim
não
viuvo (a)
divorciado(a)
Casado (a) - artesãos
67%
20%
13% 0%
sim
não
viuvo (a)
divorciado(a)
101
cônjuges (quando casados), fato este não observado entre os artesãos
entrevistados, devido a diferença de idade entre ambas filiações e o histórico do
núcleo doméstico (origem das pessoas).
Também, o núcleo doméstico é participativo nas relações de trabalho e no
caráter tradicional da atividade artesanal: na composição da mão de obra, dos
mestres e aprendizes e das atividades complementares.
Na composição do núcleo doméstico, tiveram-se os seguintes resultados:
GRÁFICOS 26 e 27: Quantidade de residentes no núcleo doméstico dos entrevistados: pescadores e artesãos, respectivamente, em 2005.
Os recursos pra qualidade da vida no ambiente doméstico são relacionados
aos indicadores, tais como: densidade da ocupação (influenciando a privacidade,
o conforto, a capacidade de produção, etc.), tratamento dos resíduos (além de
interferir na percepção sensorial do ambiente, tem ascensão na salubridade ou
insalubridade do local), oferta de água potável e sua respectiva origem (indicando
suas contextualizações físico-químicas).
Para se calcular a densidade do núcleo, é preciso conhecer a estrutura
residencial para então simular a distribuição das pessoas residentes. Entretanto,
após feitas algumas entrevistas, emergiu a dúvida por um entrevistado se a
pergunta sobre o número de “cômodos” era referente ao número de quartos da
residência, alertando, então, sobre as interpretações errôneas que poderiam ter
ocorrido nas entrevistas já realizadas, comprometendo a veracidade dos dados
expostos nos gráficos a seguir:
Número de residentes - artesãos
40%
20%
20%
13%7%
1 a 2345mais de 5
Número de residentes - pescadores
20%
30%10%
30%
10%1 a 2345mais de 5
102
GRÁFICOS 28 e 29: Número de compartimentos das residências dos entrevistados: pescadores e artesãos, respectivamente, em 2005.
Na relação dos núcleos com o ambiente municipal, descrevendo o tipo de
uso dos recursos hídricos e o tratamento dado as águas residuais: esgoto, o
tratamento dado aos resíduos sólidos, são apresentados nos próximos gráficos.
GRÁFICOS 30 e 31: Fonte da água usada (abastecimento) nos núcleos domésticos dos entrevistados em 2005.
Existem alguns entrevistados entre os pescadores que possuem mais de
uma fonte de água, tendo o uso alternado conforme a oferta e a qualidade da
água.
Número de cômodos - artesãos
7%
13%
27%13%
40%
1 a 2345mais de 5
Número de cômodos - pescadores
5%15%
15%
40%
25% 1 a 2345mais de 5
Abastecimento de água - pescadores
25%
8%63%
4%cachoeira(rio)ponteira
CASAN
poço
Abastecimento da água - artesãos
27%
7%66%
cachoeira (rio)
ponteira
CASAN
103
GRÁFICOS 32 e 33: Destino dado ao esgoto dos núcleos domésticos dos entrevistados em 2005.
O sistema dominante de fossa e sumidouro entre os entrevistados deriva da
carência da coleta coletiva nos municípios, cabendo às unidades familiares
construírem as fossas e sumidouros de suas residências. No trabalho de
BORGES e BONILHA (1999), são indicados alguns pontos prejudicados pelo
excesso de coliformes fecais, possivelmente oriundos dos sistemas caseiros de
tratamento de águas residuais e do acúmulo de matéria orgânica em áreas de
banhados e alagados.
Em relação aos resíduos sólidos, seu potencial de separação e reciclagem
não é explorado pelo sistema vigente, sendo que os municípios da península
terceirizam o serviço de coleta cujo destino final é o lixão de Biguaçu, na grande
Florianópolis.
Em conversas informais com antigos residentes do bairro do Canto Grande,
Bombinhas, destacou-se a transformação na composição do lixo, onde a
introdução de produtos industrializados substitui o consumo de produtos oriundos
da atividade agrícola e dinâmicos na reutilização e reciclagem (compostagem) dos
que seriam resíduos.
A incidência do aproveitamento de embalagens para criação de artesanato
foi observada durante o trabalho de educação ambiental do projeto Agenda 21
Local. As fotos a seguir ilustram algumas oficinas, produto da parceria: Agenda 21
Local e GAAMB.
Tratamento do esgoto - pescadores
5%
85%
10%despejo direto
fossa
sistema coletivo
Tratamento de esgoto - artesãos
7%
93%
0%
despejo direto
fossa
sistema coletivo
104
FIGURAS 15 e 16: Produção de Papel Machê (2006)
Fonte: Acervo da Agenda 21 Local de Bombinhas - SC.
As fotos acima correspondem, respectivamente, a artesã Sra. Dulce, gaúcha,
dando sua oficina de papel machê, e um oratório, produto de seu trabalho.
No evento em Homenagem a Mata Atlântica no dia 29 de maio de 2006, o
artesão Josias, nativo, apontou a carência de espaços para exposições artísticas
no município de Bombinhas, porém não teve interesse em preencher o
questionário da pesquisa. Na época, era funcionário do Instituto Kate Schurmann,
sua principal fonte de renda.
A seguir, fotos de seu trabalho (figura 17 a figura 20):
FIGURAS 17 e 18: Arte com elementos “da terra” (2006)
Fonte: Acervo da Agenda 21 Local de Bombinhas - SC.
105
FIGURAS 19 e 20: Arte com elementos “da terra” (2006)
Fonte: Acervo da Agenda 21 Local de Bombinhas - SC.
A ultima foto a direita é do trabalho de educação ambiental proposto pelo
artista, criando uma obra com o “lixo” coletado na trilha do Parque Municipal da
Galeta.
Durante o trabalho na Agenda 21 Local de Bombinhas, foi alarmante o caso
do acúmulo de lixo em determinadas localidades do município, agravado pela
quantidade de animais domésticos livres no espaço urbano que dificultam a coleta
após vasculharem o lixo em busca de alimento.
GRÁFICOS 34 e 35: Destino dado aos resíduos sólidos (“lixo”) dos núcleos domésticos dos entrevistados em 2005.
Outro problema vinculado ao comprometimento da qualidade ambiental nos
municípios é percebido pela alta ocorrência de enfermidades na pele (micoses,
“bichos geográficos”, “bichos de pé”, etc.) e da incidência de parasitas como
piolho, sarna, todas constatadas no cenário escolar.
Lixo - artesãos
88%
6%
0%
6%
0%prefeitura (serviço de coleta)
queima
enterra
reciclagem e reutilização
sem qualquer tratamento
Lixo - pescadores
95%
0%0%0%0% 5% prefeitura (serviço de coleta)
queima
enterra
reciclagem e reutilização
sem qualquer tratamento
compostagem (residuo úmido)
106
5.2 – IDENTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO ARTESANAL
5.2.1 - PESCA ARTESANAL:
5.2.1.1 – IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE
A pesca da tainha é uma atividade socioeconômica tradicional e responsável
pela renda das famílias que vivem dos recursos marinhos e quem, muitas vezes,
dedicam-se ao movimento turístico durante a temporada de verão.
Durante o diagnóstico realizado pela Agenda 21 Local de Bombinhas no dia
06 de maio de 2006 junto com os professores da rede municipal do nível pré-
escolar, utilizando-se a metodologia da “Construção da Cadeia Causal”, foram
apontados os conflitos presentes na pesca da tainha.
Os conflitos foram: a competição pela pesca da tainha entre pescadores da
orla (vigias e camaradas que aguardam a aproximação do cardume na praia) e
embarcados que capturam o cardume em território exclusivamente marítimo.
Um outro conflito evidenciado foram os direitos e os usos do espaço da praia,
já que esportes náuticos e mulheres grávidas são proibidos pelos pescadores
devido à crença de que interferem maleficamente na pesca da tainha,
comprometendo inclusive o uso deste espaço pelas atividades turísticas. Em
contra ponto, a atividade tradicional da pesca da tainha fecha as praias apenas
por dois meses e gera renda para grande parte das famílias nativas.
O enfoque neste tema deu-se pelos fatos de que a maioria dos presentes são
membros da comunidade nativa e têm vínculos com a pesca da tainha.
As fotos a seguir ilustram o evento (Construção da Cadeia Causal) e o
resultado obtido, respectivamente:
107
FIGURA 21: Professores na Agenda
21 (2006)
FIGURA 22: Cadeia Causal (2006)
Fonte: Acervo da Agenda 21 Local de Bombinhas - SC.
A pesca da tainha não tem tamanha ascendência sobre a pesca
desembarcada em Porto Belo, porem neste município é organizada a festa da
Tainha, em homenagem a esta pesca tradicional.
A característica “tradicional” da pesca artesanal atende a dois requisitos: seu
tempo de ocorrência num determinado local e a relação entre diversas gerações
no exercício da arte.
GRÁFICO 36: Profissão “Pescador” (em anos)
Tempo como pescador0%
5%
10%
25%
15%
45%
menos de 05 anosentre 05 e 10 anosentre 10 e 20 anosentre 20 e 30 anosentre 30 e 40 anosmais de 40 anos
Pode-se constatar que a pesca artesanal é uma atividade desenvolvida a
partir da juventude. Durante as entrevistas com os mais velhos, foi comum ser
108
ressaltado que a dedicação a esta atividade vem desde o tempo de garoto (entre
08 e 10 anos de idade), trabalhando junto aos familiares, conforme é apontado a
seguir:
GRÁFICO 37: Quem ensinou a pescar
Mestre
13%
5%
54%
5%
9%
9% 5%autodidata (era pescador eagricultor)acompanhava adultos quandocriançapai
convivencia com o mar
tios
pescadores industriais
nativo
GRÁFICO 38: Mão de obra GRÁFICO 39: Para quem ensina a arte
Mão de obra
30%
5%45%
20%sozinho
pesca de parelha
camaradas
familia
Alunos
5%13%5%
40%
14%
9%
14%
pescador industrialnãocunhadocamaradasfilhossobrinhofamilia
Relacionando os gráficos, percebe-se a transformação que ocorreu na
composição daqueles que exercem a pesca artesanal, onde na atualidade as
relações de trabalho não são meramente domésticas, sendo compostas pelas
relações sociais alem do âmbito doméstico, compondo o quadro de trabalhadores
da pesca artesanal. Inclusive, nestas interações, é transmitido o conhecimento da
pesca artesanal para o exercício da pesca industrial onde o domínio desta arte
não é condição determinante no exercício do trabalho.
109
O tempo de exercício na pesca artesanal e o retorno da satisfação deste
exercício são atributos de sustentabilidade, pois incentivam a permanência desta
atividade no decorrer do tempo. Por isto, foram feitas duas perguntas durante a
entrevista para que se compreendesse a perspectiva do pescador diante sua
atividade artesanal:
TABELA 14: Qualidade atribuída à profissão “pescador artesanal” Caráter Como é ser pescador (profissão) Ocorrência
Vai de mal a pior (ridícula) 2 Ambiental Sem segurança 2
Descrença 4 Vida sofrida 2 Liberdade 1 Dom 1
Social
Sem apoio 3 Opção de emprego 2 Condição miserável 1 satisfatória 4 Ingrata 1 Independência 1
Econômico
Opção de trabalho e renda para o nativo 2
TABELA 15: Suposições para haver melhorias na pesca artesanal Caráter O que fazer pela pesca Ocorrência
pesquisas 1 Fechar a baia de Zimbros para a pesca do camarão, evitando a pesca de arrasto que não discrimina o que é capturado. 2
Voltar a ter peixe 2 Puxada de barcos 2 Evitar traineiras na pesca da corvina 1 Demarcação da baia de Tijucas (competição por espaço) 1
Ambiental
Proibir tipos de pesca extremamente predatória 1 Apoio para o pescador 2 Proteção contra roubos 1 Curso de carpintaria para registro legal 1 Fiscalização adequada 4 Projetos que conquistassem a confiança do pescador 1 Curso para capitães de barco 1
Social
Autorização de navegação: acesso e domínio de territórios 1 subsídios 2 Industrialização no local 1 Resolver conflito com embarcações maiores 2 Estrutura: cais, redes, melhorias em barcos (material), estaleiro. 1
Econômico
Aumentar rendimento 1
110
A competição entre a pesca artesanal e a pesca industrial foi ressaltada em
diversas respostas, alem da competição por pescadores que usufruem de artes de
pesca distintas à encontrada na península (traineiras, por exemplo).
Também, é comum entre os caiçaras do litoral norte paulista e com os
pescadores artesanais entrevistados se referirem aos agentes socioeconômicos
responsáveis pelo desenvolvimento: industrialização e especulação imobiliária,
dos municípios, como “tubarões”, análogos aos grandes predadores de espécies
menores.
Outro conflito emergente deu-se com as decisões ambientes legais
estabelecidas pelas autoridades federais responsáveis na determinação do
tamanho do entralhe da rede de pesca. O poder de aquisição é acessível a
poucos pescadores artesanais, o que favorece a pesca industrial já que esta
dispõe de mais e maiores recursos de investimento.
Também, alguns pescadores alem de artesanais são “embarcados”
(industriais), pois, apesar de se ganhar menos na pesca industrial, há maior
garantia de renda, acesso aos meios de produção: embarcações, redes, etc.
A profissionalização da atividade pesqueira artesanal é outro fator notável
pela proposta de cursos e na diferenciação no acesso e domínio de determinados
territórios.
5.2.1.2 – RELAÇÃO COM OS RECURSOS NATURAIS
A pesca artesanal litorânea tem basicamente como recurso natural
explorado, os recursos marinhos, onde o método de produção é condicionante na
exploração e na extração das espécies.
Os instrumentos de pesca levantados nas entrevistas foram:
111
TABELA 16: Equipamentos de pesca Equipamentos QuantidadeBarco 4 Barco de rede de arrasto 2 caiaque 1 Rede de arrasto 7 Espinhel 2 Malha 7 Rede de espera 6 Rede de camarão 3 Rede de tainha 2 Linha de mão 1 Rede de porta 2 Rede de fundeio 2 Rede de arrasto de praia 1
Foi denunciada durante as entrevistas a desobediência por ambos tipos de
pesca na adoção de redes cujo entralhe não permite a fuga de qualquer espécie e
tamanho capturado. Sobre fiscalização, denunciou-se a falta de ética de membros
da equipe responsável.
Analisando-se os tipos de barco entre os municípios da península, é possível
criar uma perspectiva das pescas desenvolvidas em cada município. Isto inclui o
tamanho da embarcação e sua respectiva capacidade de navegação e transporte.
São exemplos de embarcações da pesca artesanal na península:
FIGURA 23: Botes (Costeira de
Zimbros) (2006)
FIGURA 24: Canoa de um pau só
(Praia dos Ingleses) (2006)
Fonte: Acervo da Agenda 21 Local de Bombinhas - SC.
112
FIGURA 25: Bote (praia de
Morrinhos) (2006)
FIGURA 26: Barco de Arrasto (Porto
Belo) (2005)
Fonte: Daniela V. Veras
Na foto do barco de arrasto, é possível compará-lo a uma embarcação
industrial ao fundo.
FIGURA 27: Bote com cabine (Praia
da Sepultura) (2006)
FIGURA 28: Chata (costeira de
Zimbros) (2006)
Fonte: Acervo da Agenda 21 Local de Bombinhas - SC.
No levantamento feito pelo SEAP/IBAMA/PROZEE (2004), há a quantificação
em seu estudo das embarcações encontradas na península e seus respectivos
comprimentos, o que nos permite dimensionar a produção pesqueira artesanal em
ambos municípios.
As tabelas a seguir apresentam tais resultados:
113
TABELA 17: Tamanho das embarcações Classes de Comprimento
Município Tipo de
embarcação < = 4m 4 -] 6m 6 -] 8m 8 -] 12m > 12m NI Total
Bombinhas Bateira Bote com cabine Bote sem cabine Caico Canoa
- - - 4 -
- - 1 2 -
- 9 12 - 1
- 39 29 - 1
- - - - -
1 3 - - -
1 51 42 6 2
Total BB 4 3 22 69 0 4 102 Porto Belo Arrasteiro camarão
Baleeira Barco de Arrasto (camarão 7 barbas) Barco de Emalhe (costeiro) Bateira Bote com cabine Bote sem cabine Caico
- - - - - - -
23
- - - -
7 - 6 21
- - - -
4 3 11 -
- 2 - -
7 44 8 -
1 - 1 2 - - - -
- - - - - - - -
1 2 1
2
18 47 25 44
Total PB 23 34 18 61 4 0 140 Total Pen. 27 37 40 130 4 4 242
Fonte: SEAP/IBAMA/PROZEE, 2004, adaptado pela autora.
TABELA 18: Quantidade de exemplares segundo os tipos de embarcações Tipo de Embarcação
Município Bateira
Bote S/ Cabine
Bote C/ Cabine
Canoa Baleeira Caico Prancha Barco Emalhe
Chalupa Lancha Traineira Arrasteiro Total
Porto Belo 18 25 47 0 2 44 0 2 0 0 0 2 140 Bombinhas 1 42 51 2 0 6 0 0 0 0 0 0 102 Total 19 67 98 2 2 50 0 2 0 0 0 2 242 Total SC 1879 1123 482 1167 213 292 58 37 22 9 22 9 5313
Fonte: SEAP/IBAMA/PROZEE, 2004, adaptado pela autora.
Através dos dados das tabelas, é possível constatar que diante o cenário
catarinense, a península apresenta mais de 20% da frota de botes com cabine e
aproximadamente 17% da frota de caicos, tendo pouca representatividade nas
frotas de: bateira, canoa, baleeira, barco de emalhe e arrasteiro (pesca de
camarão), presentes no estado catarinense, e nenhum representante de: prancha,
chalupa, lancha e traineira.
O comprimento das embarcações é um parâmetro para a identificação da
pesca artesanal, uma vez que o tamanho e a estrutura da embarcação são
114
condicionantes no tempo de permanência, na distancia percorrida e na qualidade
da pesca.
O rancho corresponde à estrutura espacial de apoio ao pescador, onde ele
pode guardar apetrechos e embarcações de pequeno porte; localizado próximo ao
mar (em área de restinga ou duna), ali ocorrem as relações sociais fluentes na
produção pesqueira.
Tomando-se o depoimento do Sr. Marino da Silva46, pode-se ter uma
referencia da estrutura da pesca artesanal em Bombinhas:
“Este rancho tem uns 40 anos, foi do “Vilson dos
Santos”, eu comprei dele, ai comecei a trabalhar como pescador. A família trabalha junto, mas agora a família vai sair, depois que fiquei viúvo, to batalhando sozinho”.
... “Os filhos no começo trabalhavam, mas depois que casaram foram procurar o lado eles, ai fiquei sozinho, lutando ai. Vai fazer o que, a vida é essa”.
... “O peixe que nos pescávamos agora ai é mais a pescadinha... Tinha muita pesca, mas agora acabou tudo. Aqui dava linguado, dava muito bagre, corvina, muito peixe ai, mas agora se agastou tudo, muito pega camarão também ai acaba com o arrasto de peixe, criação do peixe. Nem pode dizer que esse mar era um mar de pescaria, não dá nem para a dizer, esse mar de hoje em dia não é o mar que nós via naquele tempo”.
O relato do Sr. Marino é coerente aos resultados encontrados nas
entrevistas.
A foto (figura 29) ilustra um rancho de pesca tipicamente encontrado na costa
catarinense, comum nas praias de Canto Grande e Morrinhos, no município de
Bombinhas – SC. À esquerda, casa de pescador no Canto Grande, Bombinhas
(figura 30), tendo nos domínios de seu quintal, o rancho de pesca a beira mar (em
destaque).
46 In “Tu visse?!” – revista cultural do município de Bombinhas – SC – Brasil Edição 04, ano 01, maio/ 2006
115
FIGURA 29: Rancho de Pesca (data
desconhecida)
Fonte: www.ilhasdobrasil.org.br –
acesso em 13 de janeiro de 2007
FIGURA 30: Rancho no Canto
Grande (2006)
Fonte: Acervo da Agenda 21 Local de
Bombinhas - SC.
5.2.1.3 - MAPEAMENTO
Nas saídas a campo, para averiguar a proveniência do pescado
comercializado, teve-se a informação que algumas peixarias negociam com as
indústrias dos municípios de Navegantes e Itajaí e com os pescadores locais
(principalmente camarão – mês de maio/ junho) os quais também mantém
relações com as indústrias pesqueiras da região. (Houve a denúncia da pesca de
arrastão, realizada na captura do camarão que não estava respeitando as
restrições do defeso).
As peixarias cujo proprietário não é o pescador (foram 3 pesquisadas)
alegaram que os produtos oferecidos em seu estabelecimento são oriundos,
significativamente, da produção pesqueira do parque industrial de Itajaí/
Navegantes, tendo poucos pescadores artesanais como fornecedores. Estes,
quando não são proprietários (ou têm grau de parentesco com o proprietário) de
suas próprias peixarias distribuídas nos bairros de desembarque de pescado
(Araçá e Zimbros, por exemplo), costumam fornecer seu produto aos restaurantes
locais.
116
TABELA 19: Distribuição dos pescados
Peixe (%) Camarão (%) Município Fica na
comunidade Sede do município
Outros locais
Fica na comunidade
Sede do município
Outros locais
Porto Belo 20 10 70 20 10 70 Bombinhas 17 47 46 17 47 46
Fonte: SEAP/IBAMA/PROZEE, 2004, adaptado pela autora.
Analisando as informações levantadas em campo e a tabela anterior, depara-
se que, em Porto Belo, grande parte da produção pesqueira é destinada para o
mercado não local (o que justifica a informação dada nas peixarias sobre a relação
com o parque industrial dos municípios de Porto Belo, Itajaí e Navegantes).
Entretanto, em Bombinhas, há diversos restaurantes e hotéis na sede do
município, o que compõem o quadro de consumidores da produção pesqueira do
município, atribuindo o vinculo entre a produção pesqueira e fluxo turístico na
localidade.
Uma experiência da pesquisa de campo, durante o trabalho na Agenda 21
Local de Bombinhas – SC, foi o intercâmbio com o proprietário do restaurante no
bairro de Bombas que compra diretamente o pescado de pescadores artesanais, e
de suas peixarias, dando preferência ao pescado “fresco”. (o pescador o avisa
quando chega determinada espécie de peixe). Estas informações conferem com o
quadro de consumidores levantado nas entrevistas onde:
GRÁFICO 40: Mercado consumidor do pescado
Para quem vende o pescado
17%
13%
3%
7%20%
10%
3%
3%
24%
turistaconsumo proprioentrepostointermediariopeixariapeixaria própriarestaurantevarejoindustrias
117
Por sua posição geográfica, as indústrias pesqueiras de Tijucas e a região ao
sul da península também são consumidores da produção pesqueira bombinense,
fato este tradicional como relatado no depoimento do Sr. Celino João dos
Santos47:
“A agricultura e a pesca determinaram a economia das
famílias que viviam nessa região. Como diz Seu Celino, a pesca e o trabalho na roça formavam uma equação matemática, pois tudo virava produto para ser vendido em outras localidades, como Florianópolis, Tijucas, dentre outras. “Meu pai era pescador, trabalhou muito na roça, teve venda, aposentou-se do comercio, naquele tempo era lancha a vela, depois veio o motor. Naquela época ele levava lenha rachada para a lá, levava o café, levava ate aquela “baga de nozes” que fazia o sabão. De lá, ele trazia louça do oleiro, que hoje chama louça do oleiro. Ele trazia de lá para cá para a venda”. Como o meio de transporte na época era limitado, os pescadores se lançavam ao mar para negociarem seus produtos”.
5.2.2 – ARTESANATO
5.2.2.1 – IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE
O caráter “tradicional” da produção artesanal liga-se ao tempo em que esta
atividade vem sido exercida pela comunidade da península de Porto Belo e
Bombinhas, estando vinculada à estrutura econômica e cultural da mesma. Não
sendo tradicional, caracterizando-se como uma fonte de renda alternativa, a
produção é presente há menos tempo na vida do artesão, baseando-se em
aptidões e afinidades individuais. O gráfico a seguir ilustra o tempo da atividade
artesanal entre aqueles que foram entrevistados:
47 In “Tu visse?!” – revista cultural do município de Bombinhas – SC – Brasil Edição 04, ano 01, maio/ 2006
118
GRÁFICO 41: Tempo como artesão
Tempo como artesão
20%
13%
13%13%
13%
28%
menos de 05 anos
entre 05 e 10 anos
entre 10 e 20 anos
entre 20 e 30 anos
entre 30 e 40 anos
mais de 40 anos
A produção dos artesanatos tem diversas vertentes culturais, algumas
remanescentes de atividades tradicionais dos tempos quando basicamente
produziam grande parte do que lhes era necessário (subsistência) em atividades
agrícolas e pesqueiras (como o artesanato de crivo, criação de embarcações,
cestarias, e outras utilidades domésticas).
Estas atividades, muitas vezes, foram aprendidas com a observação do
potencial natural do recurso usado como matéria prima, daí autodidatas, ou
quando auxiliavam parentes nas atividades econômicas do grupo doméstico
(sendo respondidos: “pai”, “mãe”, “avó”, simultaneamente, quando questionado
quem havia sido seu “mestre”).
Aqueles que apontaram instituições especializadas na formação de artistas e
artesãos como mestres destacavam a importância do auto-aperfeiçoamento no
desenvolvimento do oficio, o que remetia juntamente a resposta “autodidata” além
de apontar tal instituição.
A tabela abaixo ilustra as respostas obtidas nas entrevistas:
TABELA 20: Quem foi o “mestre” Mestre Ocorrência Autodidata 9 Curso de oleiras (Florianópolis) 1 Mãe 3 Avó 1 Escola Nacional de Belas Artes (Argentina) 1 Companheiro de trabalho 1 Pai 1
119
Atualmente, na pesquisa sobre a atividade artesanal (produção de
manufaturados) na península, teve-se que 60% desta produção é feita
isoladamente, ou seja, o artesão trabalha sozinho. Quando respondida “família” na
pergunta sobre mão de obra, referia-se ao auxilio do cônjuge ou de agregados
(afilhado), o qual se dava esporadicamente porem relevante. O gráfico abaixo
apresenta os resultados das entrevistas:
GRAFICO 42: Mão de obra
Mão de obra
20%
7%
59%
7%
7%
familiafilhossozinhasóciopai
O caráter solitário da produção tem contraste com o perfil daqueles que
aprende a arte da técnica artesanal, a qual é difundida em instituições e por
interesse da comunidade, que procura os artesãos em suas residências.
TABELA 21: Para quem ensina Aluno OcorrênciaAlunos de escola pública 3 Escola própria 1 Instituto Boimamão 2 Comunidade 5 Filhos 2 não 6
A qualidade “gênero” depara-se no quesito “inspiração” tendo como base
elementos qualificados socialmente e constatados nas entrevistas. Por exemplo:
revistas e vestuário são associados ao universo feminino e foram apontados pelas
artesãs como fonte de inspiração. A apreciação de paisagens, estilos de vida
(presente nas respostas: “criatividade”, “natureza”, “esoterismo”) e o caráter
120
utilitário da peça artesanal forma presentes como reposta em ambos públicos:
homens e mulheres.
Mesmo as atividades dominadas por um gênero especifico: por exemplo, a
pesca artesanal ser composta por homens basicamente, as mulheres auxiliam na
produção dos apetrechos de pesca (tecer rede de pesca, por exemplo) e exercem
atividades complementares como a limpeza e a comercialização dos pescados. A
tabela a seguir apresenta os resultados tidos, apontando as fontes de inspiração
reconhecidas pelos artesãos entrevistados:
TABELA 22: Fonte de inspiração Caráter Inspiração Ocorrência
Natureza 3 Ambiental Pesca 2 criatividade 3 Folclore local 2 Esoterismo 1
Social
Revistas 3 Vestimenta 1 Útil na roça e pesca 1 Utilidades domésticas 2
Econômico
Atividade tradicional 1
5.2.2.2 – RELAÇÃO COM OS RECURSOS NATURAIS
A exploração e a coleta dos recursos naturais da península para a produção
de artesanatos dependem do tipo do produto e da arte exercida pelo artesão,
sendo que nem toda produção de artesanato tem como matéria prima, um recurso
natural.
Outra forma de relação entre os recursos naturais e a produção de
artesanatos dá-se quando os recursos naturais são elementos da composição da
paisagem e esta paisagem é tema da arte.
Como exemplos, têm-se:
121
FIGURA 31: Artesanato de Retalhos
(2006)
FIGURA 32: Oficina de Cerâmica
(2006)
Fonte: Acervo da Agenda 21 Local de Bombinhas - SC.
A foto à esquerda corresponde à oficina de aproveitamento de retalhos, dada
pela artesã Sra. Cleuci, nativa, que enfoca temas do cotidiano da península em
suas obras. Esta artesã é entusiasta em divulgar a tradição do “pão por deus” nas
escolas.
A foto à direita corresponde à oficina de cerâmica, dada pelos artesãos
Roger, argentino, e Mauro, mato-grossense e não cadastrado no GAAMB.
O barro utilizado nas oficinas de cerâmica é oriundo de uma olaria desativada
no município de Porto Belo, o qual foi processado e preparado pelos artesãos para
que pudesse ser usado nas oficinas, sendo considerado de qualidade mediana a
ruim.
Todos os artesãos que trabalham com o bambu apontaram a destruição de
um bambuzal no costão onde esta sendo feito um loteamento em área de morro.
Entre os entrevistados, tiveram-se as seguintes informações:
122
QUADRO 14: Aspectos essenciais dos artesãos entrevistados
Localização Idade do artesão Oficio Material Conhecimento Aspectos econômicos Observação
Santa Luzia 23 anos Construtor de barcos para pesca artesanal
Compra madeira do Mato Grosso ou do Perequê Usa sobras de madeira para fazer obras menores com caráter decorativo ou no acabamento dos barcos, a serragem é acrescentada na alimentação do gado (reaproveitamento e fonte alternativa de renda e alimento)
Trabalha com o pai desde os dez anos de idade e não tem aprendiz
Vive basicamente desta produção. São necessários 04 meses para construir um barco inteiro Os barcos são vendidos para os pescadores artesanais e as miniaturas, para turistas, tendo maior procura no verão devido ao fluxo turístico.
O processo burocrático de financiamento destinado à produção pesqueira nas instituições financeiras dificulta a liberação da verba que poderia estimular o aumento da produção embarcações.
Centro de Porto Belo 43 anos
Trabalho de reciclagem e reutilização de embalagens que coleta nas vias públicas
Ela e a filha ensinam pessoas que lhes procuram.
Cria artesanatos há oito anos. Vendem as peças para os turistas que transitam no município.
Solicita um espaço para os artesãos trabalharem, a ser providenciado pelo poder público municipal.
123
63 anos Tecelão de redes de pesca
Aproveita as sobras do fio de nylon para pequenas peças
Ensina a arte de tecer para quem o procura e aprendeu com um camarada de trabalho (Sr. Canor Rebelo) quando era pescador
Atualmente trabalha sozinho e faz isto desde os 16 anos de idade. As redes são vendidas para os pescadores artesanais, conforme é solicitado. Para entranhar uma rede nova inteira, são necessários mais de um dia, porém apenas um dia é necessário caso sejam necessários apenas remendos na rede.
Pescador aposentado lamenta não ter recebido o seguro desemprego durante o período de reprodução do camarão.
40 anos Ceramista
Compra barro de Palhoça que já vem processado (deixar ideal para a modelagem e queima) e tintas. A cerâmica é toda reaproveitada.
Aprendeu o oficio com a professora de Oleiras de Florianópolis. Em seu espaço funciona uma escola própria de cerâmica e dá aulas no instituto Boi Mamão e escolas públicas de Bombinhas.
Vende para lojas de artesanatos e de decoração, tendo maior procura no verão. A mão de obra é familiar. Faz 04 a 05 anos (2005) que vem desenvolvendo a arte.
Recebeu o Troféu Ilha das Flores48 em 2006. Tem interesse nas manifestações folclóricas que ocorrem nos eventos sociais, porem tem dificuldade em ter acesso à cultura popular.
48 Homenagem feita para um artista plástico que, através de sua arte, registra, divulga, e, com o seu toque pessoal, embeleza mais ainda a cultura Açoriana. O Premio é dado pelo Conselho Deliberativo do Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina, conselho formado por 56 representantes das Prefeituras Municipais, Universidades Regionais e Fundações Culturais que atuam no litoral catarinense.
124
48 anos Vestimentas tricotadas e crochê
As peças que produz variam com a estação do ano, buscando modelos em revistas.
Aprendeu o oficio com a mãe e a avó.
Alem do artesanato, vende coco (vindo do norte do país), caldo de cana (Porto Belo) e milho (CEASA). Trabalha com a filha e a sócia
Interesse em ir para Balneário Camboriu por ter mais oportunidades.
Vila Nova
23 anos
Escultor: faz totens, artefatos de decoração, abajur, filtro dos sonhos, etc.
Usa madeira, plantas e bambu. Coleta a matéria prima na praia e na mata Com os tocos das peças maiores, cria peças menores.
Não tem qualquer aprendiz e foi autodidata
Trabalha com um sócio e vive da renda gerada pelo artesanato. Por produzir artigos de decoração, seus principais consumidores são pousadas e lojas da região que procuram seus produtos na iminência do verão, quando estão se organizando para a temporada.
A urbanização nas áreas florestais tem dificultado e escasseado a matéria prima, dificultando a produção do artesanato. Gostaria que a Prefeitura Municipal desse mais incentivo ao artesão local, valorizando seu trabalho, divulgando os produtos locais e criando um local de venda.
Vila Nova 58 anos Pintora e escultora
Compra o material necessário em Florianópolis devido ao alto preço na região de Porto Belo
È formada na Escola Nacional de Belas Artes da Argentina Sendo professora, dá aula de artes para crianças estimulando a representação da identidade local,
Vive basicamente de seu trabalho como professora da rede pública e da aposentadoria do marido Vende suas peças para Casa do Turista e em exposições em espaço
Por ter sido turista na região, optou viver em Porto Belo. A transformação geográfica e sociocultural de Porto Belo tem comprometido a inspiração de seu
125
sendo observada à falta de conhecimento sobre o lugar onde moram, seus nomes, paisagens e traços culturais.
público. Há 38 anos tem se dedicado à arte plástica
trabalho: paisagens, pescadores, vista para o mar. Também, pontua o fato dos artesãos não fortalecerem a identidade de suas obras com o local, havendo muitas cópias com interesse meramente comercial e falta de incentivo para a produção.
54 anos
Cria quadros, bolsas, utilidades domésticas, caixas, porta canetas.
Reutilização de artigos que seriam transformados em lixo, complementando a reciclagem com pintura, bordado e crochê cuja matéria prima é comprada. Os resíduos também são matérias-prima.
Esporadicamente tem o auxilio de pessoas interessadas em aprender o oficio.
Seu marido colabora no trabalho e há seis anos tem se dedicado a esta atividade.
Alega que a Prefeitura Municipal deveria ceder um espaço para oficinas, venda e divulgação do artesanato local, visando oportunizar lazer, área de trabalho e acesso à sociedade.
Vila Nova
42 anos Produtor de rede de pesca
A empresa de pesca de Itajaí fornece o fio de nylon e a corda necessária. Não aproveita os fragmentos de fio que sobram.
Autodidata, não ensina ninguém.
Faz redes há 23 anos, e trabalha também como pescador embarcado. Vende suas redes para a empresa de pesca, cuja procura é bem distribuída por todo ano.
126
35 anos
Produz luminárias, vassouras e tochas de bambu e cipó.
Retira do mato de preferência na lua minguante, para garantir a qualidade da madeira.
Ultimamente tem ensinado seu filho mais novo que o acompanha na coleta da matéria prima.
Trabalha sozinho com artesanato há três anos Vende suas obras para lojas durante o verão, quando há significativo movimento turístico no município. Durante o inverno, trabalha como pedreiro.
Atualmente tem dificuldade para obter a matéria prima, pois foi autorizado um loteamento no costão onde há o bambuzal, mesmo havendo conflito com fiscalização ambiental por causa de ser acima da cota 20. Gostaria que o poder público proporcionasse o ensino desta arte pra comunidade, como também facilitasse a venda.
Vila Nova 61 anos
Confecção de peças de vestuário utilizando-se da técnica do macramé, tricô e crivo.
esporadicamente ensina as pessoas que a procuram. É autodidata e exerce esta atividade há 45 anos
Aposentada (sua principal fonte de renda) Trabalha sozinha Seus principais compradores são as lojas da região.
Deu uma abandonada no crivo, pois exige do poder de visão além do extenso tempo para produção de cada peça – causa do valor comercial da peça ser elevado. Reclama por um espaço para a venda do artesanato que deveria ser providenciado pela Prefeitura Municipal.
127
Araçá 71 anos
Produz cestarias, balaios, peneiras, gaiolas utilizadas tanto no trabalho da roça quanto na pesca: para transportar os artigos cultivados ou pescados.
Taquara (bambu) Antes cultivava taquara, agora retira da mata. Os resíduos da produção do artesanato são queimados.
É autoditada e não tem qualquer aprendiz.
Trabalha sozinho e faz a cestaria desde os 12 anos de idade. Também vende para pessoas que o procuram em casa. Vive do dinheiro da aposentadoria e do serviço como segurança da casa de veraneio, vizinha a sua residência.
Antigo lavrador cultiva horta e está desmembrando seu terreno para vender lotes para o loteamento em construção no morro do Araçá Acredita que a posse da propriedade dá o direito de usar os recursos naturais encontrados na área conforme os interesses de seu proprietário. Perdeu 02 filhos e a única filha é casada com pescador.
Sertãozinho de Bombinhas 54 anos
Por cultivar gêneros alimentícios, principalmente café, é produtora da bebida tradicional “consertada”.
A partir de março, com a florada do urucum, produz Cloral de Urucum para consumo próprio e para quem a procura. Também, reutiliza óleo usado de restaurante e doméstico para produzir sabão.
são ofícios aprendidos com a mãe
As atividades têm finalidade doméstica Vive da venda dos produtos da roça e artesanais.
128
68 anos
Ceramista, produz panelas, Maricotas, estatuas e outros utensílios domésticos.
Obtém o barro do morro ou da lagoa, tendo que comprá-lo.
Aprendeu este oficio com a mãe na Bahia Esporadicamente, ensina cerâmica no Instituto Boi Mamão.
A venda das peças se dá durante a temporada do verão quando há um intenso fluxo turístico no município.
Lamenta não haver mais oportunidades para a produção artesanal, como por exemplo: um espaço dedicado à produção, facilidades da obtenção de matéria-prima e incentivo ao trabalho, gerando assim a revitalização desta atividade socioeconômica.
47 anos
Trabalha com sisal (comprado) e bambu (coletado no mato de Porto Belo).
Para ter auxilio na produção, está ensinando o oficio à filha.
A produção é integralmente vendida na feira do artesão, porém a renda gerada é insuficiente e, para complementar, trabalha como confeiteira autônoma.
Gostaria que a Prefeitura Municipal promovesse viagens para divulgar e vender o artesanato local em outros municípios.
129
5.2.2.3 – MAPEAMENTO
Em ambos municípios da península, as lojas especializadas na venda de
artesanatos oferecem produtos oriundos de diversas partes do Brasil assim como
artesanatos feitos com recursos naturais internacionais (conchas estrangeiras, por
exemplo), exceto as lojas de artesanato cujos proprietários são os próprios artesãos.
Tratando-se do mercado consumidor do artesanato produzido, este se especifica
de acordo com o tipo de artesanato produzido, como ocorre com a produção de redes,
embarcações e outros instrumentos de pesca, ou então, peças decorativas e atrativas
ao publico turístico e a todo segmento que trabalha com este setor econômico.
Os artigos que têm utilidade apresentam um mercado consumidor misto, composto
tanto por turistas quanto pessoas residentes do local. A tabela abaixo quantifica os
resultados obtidos nas entrevistas:
TABELA 23: Mercado consumidor Vende para quem OcorrênciaTuristas 7 Pescadores 2 Exposição em espaço público 1 Casa do Turista (Porto Belo) 1 Consumo próprio 1 Pousadas 1 Lojas 5 Empresa de pesca 1 População residente 1
130
5.3. – PERCEPÇÕES DOS ENTREVISTADOS SOBRE A ÁREA ESTUDADA.
Pensar em sustentabilidade é pensar na existência de algo ou de uma atividade no
decorrer do tempo, dispondo de condições suficientes e necessárias para tal. Também,
diferentes gerações são envolvidas e aí garantidas as condições para que estas
gerações possam optar em manter ou não o sujeito de sustentabilidade.
Um exemplo sobre o envolvimento das gerações e as opções individuais foi
presenciado no Instituto Boimamão: o conflito entre costumes e valores de gerações
tornou-se evidente quando uma criança, neta de uma senhora que produzia biju no
engenho, negava-se comê-lo, dando preferência para os biscoitos industrializados,
ressaltando o status no seu consumo.
As opções individuais são coerentes ao seu momento histórico e, adaptadas às
características sociais, ambientais e econômicas do local onde vive. Daí a importancia
de se conhecer quais são as percepções dos produtores artesanais sobre o lugar onde
estão localizados.
A tabela a seguir pontua quais foram as percepções por pescadores e artesãos
apontadas durante as entrevistas, inclusive, permeadas pela cosmologia e a relação
dos entrevistados no uso e na ocupação da península:
131
TABELA 24: Transformações percebidas pelos pescadores e artesãos entrevistados, respectivamente, em 2005. Pescadores Artesãos
Caráter Transformações Ocorrência
(entre o total 20) Transformações Ocorrência
(entre o total 15) Mudanças climáticas (ventos intensos) 5 Desmatamento acelerado 3
Não há mais dunas em Mariscal 1 A proibição de queimadas possibilita o nascimento de árvores 1
Praia suja 1 A elevação da maré cheia tem feito à praia desaparecer 1
Escassez de água 2 O aterro de leitos hídricos tem gerado falta de água (Sertãozinho) 1
Mar era mais "bravo" 1 Devastação e desmatamento dos morros 1
Desmatamento 4 Verão comprometido (clima), muitas chuvas e alagamento. 1
Sem inverno (temperaturas frias) 1 Alteração climática 1
Contaminação do lençol freático 1 Ruas feitas indevidamente, facilitando a exploração da vegetação nativa. 1
Ambiental
Crescimento de arvores onde antes era roça 1 Degradação ambiental 1
Peixe tem maior valor comercial 1 Antes os morros eram destinados ao cultivo de roças 1
Pesca "fraca" 6 A Resbio do Arvoredo gera conflito com a pesca, incentivando o roubo e a ilegalidade. 1
inflação 2 Crescimento urbano é benéfico para pousadas e comércio locais 1
Aumento tributário 1 Quando há queda no movimento turístico, a economia e o comércio local são prejudicados. 1
Casas residências viram de aluguel (verão) 2 Aumento na procura por artesanatos (verão) 1
Pescador desempregado 1 O ritmo do crescimento não acompanha a demanda de infra-estrutura 1
Maricultura dificultada por excesso de controle 1 Aumento do mercado consumidor 2 Reserva Biológica favorece os “grandes” 1 Oportunidade de oferecer passeios de barco 1
Econômico
Concorrência com a pesca industrial
2
Especulação imobiliária: ocupação da orla da praia
1
Crescimento urbano precisa ser controlado 4 Não se observa melhorias 1 Social desassossego 1 Porto Belo estagnado 1
132
Urbanização acelerada 4 O crescimento urbano trouxe benefícios à sociedade 1
migração 2 O turista está virando morador 1
Perda de segurança 1
O isolamento e a rusticidade do Araçá quando era jovem promoveu a migração da família par o centro de PB, Rio de Janeiro e Itajaí. 1
Destruição generalizada 1 Compete-se pelo espaço da praia do Estaleiro uma vez que jets sky e lanchas circulam pela baia 1
ganância 1 Destruição de casarios antigos 1 pobreza 1 Benfeitorias para atender o turista 1 Invasão turística 4 Perda de identidade 1 Ocupação da orla: deslocamento dos pescadores 5 Não há grandes realizações 1 veranismo 1 Choque de culturas: comparações e conflitos 1 conflitos 1 Competição pelo espaço (marina) 4 Turismo é agente de transformação 2 Resbio do Arvoredo piorou a pesca 2 Dificuldade no manejo dos apetrechos de pesca quando “em terra” 1 Porto Belo cresce devagar 2 Falta de zoneamento e respectivos domínios 2
Urbanização: melhorias e ocupação benéficas 1
133
Algumas transformações são decorrentes de questões ambientais de âmbito
global como mudanças climáticas e perda de diversidade e quantidade biológica, outras
condizem com problemas gerais presentes na pesca artesanal em todo território
brasileiro.
Também, indicam o fenômeno “Turismo” como agente ambiental, social e
econômico.
As transformações apontadas indicam as mudanças no uso do espaço onde áreas
de roça foram “abandonadas” enquanto áreas florestais estão sendo ocupadas.
No caso do município de Porto Belo, comparando-o aos demais municípios
vizinhos, alguns entrevistados indicam a não valorização da especulação imobiliária
(crescimento mais lento) devido às características de seus produtos turísticos,
competindo com os demais municípios: Itapema, com uma rede de serviços mais
ampla, e Bombinhas que oferece praias mais apreciadas para o banho de mar e sol.
5.4 – PARTICIPAÇÃO DA PRODUÇÃO ARTESANAL NO USO E OCUPAÇÃO DA PENINSULA DE PORTO BELO - SC
5.4.1 – PESCA ARTESANAL
Porto Belo possui um núcleo comercial antigo dentro da tradição pesqueira,
inclusive com a modernização e industrialização de sua frota como foi apontado por
LAGO (1966).
Este município sustenta a característica de ser um núcleo tradicional (histórico
cultural) do litoral centro norte, estando rodeado pelo crescimento urbano nos
municípios de Itapema (onde é notável a ocupação vertical, dividindo a enseada do
Perequê e Meia Praia com o município) e do município de Bombinhas, onde se tem
desenvolvido uma ampla rede hoteleira e outros serviços que atendem à demanda
turística num palco da especulação imobiliária estimulada pelo fluxo turístico e da
atividade veranista (promovendo o alto índice de crescimento urbano e demográfico).
134
Os reparos nas embarcações e nas redes e algumas delas são feitas no próprio
município de Porto Belo (atividade que antigamente se beneficiava da riqueza de seus
recursos florestais porem, os mestres de estaleiros entrevistados alegaram comprar a
madeira de carregamentos de madeiras vindas do norte brasileiro. Também, apontaram
a concorrência com os estaleiros do Itajaí e Navegantes como fator condicionante
economicamente, de onde são trazidas também as malhas de pesca).
O presidente da Colônia de Pesca Z – 08 (Porto Belo), no ano de 2005, apontou a
carência financeira em acompanhar as alterações nas tralhas das malhas de pesca
conforme são exigidas pelos órgãos ambientais, também, é autor de um DVD onde se
ressalta a importância e a necessidade de se criar uma estrutura de apoio: como a
reforma e construção de passarelas para embarque e desembarque, uma rádio de
apoio (informação sobre as condições do mar e do tempo e comunicação embarcação/
terra), e um núcleo organizado e bem estruturado para a venda dos pescados.
As fotos a seguir mostram a baia de Porto Belo, onde os pescadores artesanais
desta localidade atracam suas embarcações. Alem dos problemas apontados nas
entrevistas e referentes ao uso (ocupação) desta baia: competição pelo espaço,
precária estrutura de embarque e desembarque e carência num ponto de apoio (rádio,
espaço para guardar equipamentos de pesca, etc.)
FIGURA 33: Trapiche danificado em
Porto Belo (2005)
FIGURA 34: Passarela do Trapiche
(diversas embarcações: industriais e
artesanais na baia de Porto Belo) (2005)
Fonte: Daniela V. Veras
135
FIGURA 35: Estrutura de embarque e desembarque usada na pesca artesanal
em Porto Belo (2005)
FIGURA 36: Marina, Indústria de Pescados Pioneira Ltda. na baia de
Porto Belo (2005)
Fonte: Daniela V. Veras
Para o desenvolvimento da arte da pesca, é necessária uma estrutura social e
espacial que dê condições à atividade pesqueira (acesso, mão de obra, etc.), e à
conservação do pescado para que este chegue ao consumidor final (os quais são
agregados no valor de mercado e geração de renda da atividade pesqueira). Assim é
criada uma rede de relações e atividades econômicas que se configura no espaço
geográfico, apresentando-se como infra-estrutura da atividade pesqueira. No relatório
da SEAP/IBAMA/PROZEE (2004), encontra-se o seguinte levantamento:
TABELA 25: Infra-estrutura para a atividade pesqueira
Fonte: SEAP/IBAMA/PROZEE, 2004, adaptado pela autora.
A partir destes dados, é possível constatar que a tradição de salgar o pescado
(método de conservação) é justificada pela carência na oferta de gelo. Também, esta
Infra-estrutura cadastrada de apoio à produção pesqueira
Município Trapiche de
atracação
Barracão de pesca
Salgadeira Revenda
de petrecho
Fabrica de gelo
Câmara de
estocagem
Freezer cadastrados
Bombinhas 1 1 2 3 1 4 820 Porto Belo 4 2 2 3 0 1 506 Península 5 3 4 6 1 5 1326 Total SC 43 21 15 35 35 47 13292
136
carência é suprida pela proximidade das indústrias de pescados em Porto Belo e em
Tijucas.
Esta carência também acarreta no desenvolvimento da pesca embarcada,
limitando o tempo de permanência e a distancia percorrida, a fim de evitar a
deterioração do pescado.
Conforme constatado nas entrevistas, em 55% dos casos, a renda gerada na
venda do pescado é complementada por outras atividades, entretanto a atividade
agrícola não foi relatada dentro das atividades apresentadas.
TABELA 26: Fontes de renda alternativas levantadas nas entrevistas Fonte de renda alternativa Ocorrência Ajuda do governo quando perdeu o barco com o vendaval 1 Compra fiado 3 Roça 1 Dono de barco (fretes) 3 Taxista 1 Trabalho na construção civil 2 Demais familiares 1 Conserto de rede 2 Aposentadoria 1 Peixaria 1 Pesca industrial 1 Produção de rede de pescar 1 Cozinheiro de embarcações 1
A relação com a atividade pesqueira, participando de diferentes fases da cadeia
produtiva como: produção ou conserto de rede, usufruto da embarcação para fretes,
trabalho na pesca industrial, etc. ressalta a especificação e qualidade produtiva destas
pessoas. Mesmo quando apontado “compra fiado”, o pagamento desta divida é previsto
com o sucesso da pesca em épocas posteriores, destacando a importância e a
dependência dos recursos pesqueiros.
Outra fonte de renda alternativa dos pescadores é a criação de mariscos na baia
de Zimbros/ Canto Grande, fato encontrado no trabalho da LAMA DIOGO (2002) que
analisa a criação da Cooperativa de Maricultores do Canto Grande, Bombinhas – SC.
Como destaca a revista “Tu visse!”49: “O cultivo de Marisco em Bombinhas começou em
49 “Tu visse?!” – revista cultural do município de Bombinhas – SC – Brasil
137
meados dos anos 80, para que o pescador artesanal agregasse mais uma fonte de
renda familiar. Com o crescimento desta atividade, criou-se a Festa do Marisco no
município, que hoje o evento é de grande destaque no Calendário Oficial de
Bombinhas”. (pg. 03)
Um fato observado nas entrevistas é a dedicação às atividades vinculadas ao
turismo de verão, onde os pescadores paralisam suas atividades na pesca para
oferecerem passeios de barco.
GRÁFICO 43: Vínculo com o turismo na região
Relação com o turista
26%
11%
11%16%
5%
31%
sem resposta
venda do pescado
frete para Ilha (passeio debarco)comercial
casa de aluguel
amigavel
Devido à rusticidade na oferta de passeios de barco e no atendimento ao público
turístico, a Agenda 21 Local de Bombinhas – SC promoveu o Curso de Capacitação
(em setembro de 2006) dado aos pescadores integrantes da Associação dos
Maricultores do Canto Grande, os quais usufruem a Ilha do Macuco (pertencente ao
Parque Municipal do Morro do Macaco) como produto turístico.
Entre os entrevistados, apenas 75% são integrados alguma organização social
(vide gráfico abaixo) e 100% destes que participavam de uma organização social, eram
membros das Colônias de Pesca Z - 08 (Porto Belo) e Z - 22 (Bombinhas):
Edição 01, ano 01, fevereiro/ 2005
138
GRÁFICO 44: Integração a uma Organização Social em 2005.
Participação em Organização Social
75%
25%
simnão
Os interesses em tal participação foram levantados durante a pesquisa para que
se compreendessem os papéis cobrados e esperados de tais instituições:
TABELA 27: Motivo da participação (interesse) na Organização Social
Caráter Motivo da participação na Organização Social Ocorrência (entre o total 20)
Empréstimo: atender às emergências 1 Promissórias geraram dividas (extinta Cooperativa) 1 Patrocínio 1 Melhorias estruturais 1
Econômico
Beneficio do seguro desemprego 1 Dragagem do rio (segurança para os barcos) 1 Ambiental maricultura 1 Puxada de barcos e caiaques 2 Representatividade 1 desorganização 1 Corrupção 1 contribuição 1 aposentadoria 3 Município desestruturado para pesca artesanal 1 conselhos 1 defesa 1 Apoio social 2 cursos 1 documentação 1 Profissionalização da pesca artesanal 1 Reinvidicar interesses do bairro (moradores) 1 Serviços de saúde 2
Social
Organização: divulgação, placas, guias 1
Com as entrevistas, constatou-se que os projetos de Agenda 21 Local, presente
em ambos municípios da península: Porto Belo e Bombinhas em 2005, são
139
desconhecidos pela comunidade pesqueira, expresso na porcentagem que 55% dos
entrevistados desconhecia o projeto, conforme o gráfico a seguir:
GRÁFICO 45: Conhecimento dos pescadores sobre o projeto Agenda 21 Local
Entre os 60% que responderam a questão, 66,7% sentiram-se motivados a
participar do projeto de sustentabilidade e qualidade de vida proposto pela Agenda 21
(vide gráfico abaixo), e em muitos casos, foi necessário explanar quais seriam os focos
de atuação de tal projeto, para então saber se havia, ou não, motivação.
GRÁFICO 46: Interesse em participar do projeto Agenda 21 Local
Os que não manifestaram interesse em participar do projeto, alegaram falta de
tempo e descrença em projetos de gestão de cunho político; e entre aqueles que
demonstraram interesse em participar, não houve aprofundamento sobre como seria a
participação, ressaltando a distancia entre os projetos de gestão e a dinâmica cotidiana
da comunidade pesqueira.
A tabela abaixo pontua as colocações colhidas nas entrevistas sobre qual seria a
importância de se participar do projeto Agenda 21 Local:
Conhece a Agenda 21 Local - pescadores
5%
55%
40%sim
não
sem resposta
Participação na Agenda 21 Local - pescadores
67%
33% simnão
140
TABELA 28: Razões para os pescadores participarem à Agenda 21 Local
5.4.2 - ARTESÃOS
Na pesquisa, é eminente o fato da atividade artesanal ser, convencionalmente,
uma fonte extra de renda na maioria dos casos dos artesãos pesquisados (seja por
meio de entrevistas ou pela convivência no trabalho da Agenda 21 de Bombinhas).
Diante dos 60% dos entrevistados que têm outras atividades econômicas, a atividade
artesanal se caracteriza como uma atividade complementar, desenvolvida em
expedientes extras onde:
GRÁFICO 47: Artesanato como única fonte de renda
Renda gerada pelo artesanato é suficiente?
40%
60%
simnão
Entre as atividades alternativas na geração de renda, não há um perfil padrão,
exceto entre aqueles com mais de 60 anos, porem, no decorrer da entrevista, não
especificaram quais eram suas atividades antes de receberem a aposentadoria. A
tabela abaixo apresenta os resultados obtidos nas entrevistas:
Motivo de participação na Agenda 21 Ocorrência Dentro do que lhe for possível 1 Bom participar dos projetos de gestão do município 1 Possibilidade de melhoria de vida 1 segurança 1 Melhorias para a vida dos filhos 1
141
TABELA 29: Outras fontes de renda Fonte de renda alternativa Ocorrência Professora 1 Aposentadoria 4 Venda dos produtos da roça 1 Confeiteira 1 Diarista 1 Demais familiares 1 Pescador industrial 1 Pedreiro 1 Quiosque (venda de alimentos) 1
Entre os entrevistados, apenas 66,7% são integrados alguma organização social
(vide gráfico abaixo) das mais diversas naturezas: ONG’s, Associação, Colônia de
Pesca, etc.
GRÁFICO 48: Participação em Organização Social
Participação em Organização Social
33%
67%
simnão
Os interesses em tal participação foram levantados durante a pesquisa para que
se compreendessem os papéis cobrados e esperados de tais instituições:
TABELA 30: Interesse em participar da Organização Social Caráter Motivo da Participação na Organização Social Ocorrência
Ambiental Preservação dos municípios da península 1 Gostaria de montar uma cooperativa 1 Interação e integração social 1 A Cooperativa de Porto Belo faliu e a Colônia de Pescadores facilita visto e documentação diante a Capitania dos Portos 1
Assistência médica e dentista 1 A Associação dos Artesãos de Porto Belo não atende às expectativas, uma vez que restringe as oportunidades, já estas são proporcionais à verba dada por cada artesão.
2
Social
Estímulo 1
142
Incentivo a empréstimos 1 Segura desemprego (colônia de pesca Tijucas) 1 Vontade de trabalhar 1 Associação responsável pela distribuição e a divulgação 1
Econômico
Capacitar projetos e gerar recursos 1
Também, com as entrevistas, constatou-se que os projetos de Agenda 21 Local,
presente em ambos municípios em Porto Belo e Bombinhas em 2005, também são
desconhecidos pela comunidade artesã, expresso na porcentagem que 66,7%
conforme o gráfico a seguir:
GRÁFICO 49: Conhecimento dos artesãos sobre o projeto Agenda 21 Local
Similar ao trabalho feito junto aos pescadores, questionou-se o interesse em atuar
em tal projeto, sendo que aqueles que manifestaram a “não” motivação neste projeto
também o desconheciam, não apresentando qualquer justificativa para o não
envolvimento ou alegando falta de tempo por trabalhar como pescador industrial.
O gráfico 42 mensura entre os entrevistados que responderam a questão sobre
Agenda 21 Local quais sentiam-se motivados a participar do projeto e, na seqüência, as
justificativas (razões) para a participação ou não, considerando-se que não foram todos
que as ofereceram.
GRÁFICO 50: Interesse em participar do projeto Agenda 21 Local
Conhece a Agenda 21 Local - artesãos
20%
53%
27%sim
não
sem resposta
Participação na Agenda 21 Local - artesãos
73%
27%simnão
143
TABELA 31: Motivos para a participação no projeto Agenda 21 Local Motivo da participação na Agenda 21 OcorrênciaAssistir às decisões do poder público 1 Se houver lei que obriga a participação no processo da Agenda 21, o sujeito terá que esse sujeitar. 1
Colaborar para um futuro melhor 2 Trabalha como embarcado (falta de tempo) 1 Procura participar das ações municipais 1 Lutar pela natureza 1
5.5 – OBSERVAÇÕES:
Os artesãos membros da GAAMB, durante os encontros com a Agenda 21,
apontaram as seguintes questões sobre suas condições:
1. Durante a temporada de verão (de dezembro até o feriado de carnaval), a
prefeitura disponibiliza uma rua no centro para a feira de artesanato, porém o espaço
destinado para tal, não atende a toda comunidade de artesãos o que gera conflito entre
os membros do GAAMB.
2. Nas demais épocas do ano, alguns artesãos conquistaram um espaço na feira de
artesanato de Florianópolis, onde conseguem gerar uma renda satisfatória com a venda
do artesanato.
3. Também, nas demais épocas do ano não há um espaço destinado exclusivamente
para a venda dos artesanatos de Bombinhas, cabendo a cada artesão negociá-los com
lojas especializadas na venda de tais artigos, ou criar um espaço próprio para a venda.
4. Não há uma característica especial que distinga o artesanato de Bombinhas com
os encontrados no litoral catarinense (Identidade).
5. A expansão urbana tem comprometido a oferta de sementes, fibras vegetais,
madeira, etc. para aqueles que usam recursos naturais como matéria prima,
6. O barro necessário para a cerâmica é escasso e de qualidade mediana a ruim na
região da península, sendo necessário buscar ou comprar de outras regiões.
7. A atividade artesanal é uma fonte de renda secundária ou uma fonte de renda
alternativa do núcleo doméstico do artesão.
144
No geral, em toda pesquisa, observou-se que:
Ao analisar os resultados obtidos durantes as entrevistas que resultaram nos
gráficos e nas tabelas apresentadas, observa-se que a composição sociocultural dos
pescadores artesanais distingue-se dos artesãos produtores de artesanatos, o que
permite desassociar a produção artesanal em dois segmentos distintos com respectivos
diagnósticos.
Enquanto não há um perfil padrão dos artesãos (homens e mulheres) no que
tange algum predomínio de gênero na atividade, o nível escolar do artesão, a origem
(de onde é oriundo), a identidade cultural, o poder aquisitivo, a não necessidade do
vínculo com uma organização social, a relação com a produção: aptidão individual,
tradição, criação de instrumento de trabalho, ação socioambiental, interesse na arte,
subsistência, etc.
Na pesca artesanal, observa-se um padrão composto pelo predomínio de homens
na atividade, com baixo nível escolar, predominantemente nativos que herdaram a
atividade dos tempos remotos da ocupação da península, também, 100% são
cadastrados nas Colônias de Pesca encontradas na península (Z 08 – porto Belo e Z 22
– Bombinhas) das quais visam assistência nos períodos de defeso, na estrutura de
produção e nos prejuízos causados por fenômenos naturais, assim como dependem da
qualidade ambiental dos recursos marinhos como recurso de vida (seja no exercício da
maricultura, como na oferta de passeios turísticos).
Comumente, ambos segmentos da produção artesanal: pesca e artesanato têm
apresentado grupos domésticos com o número da filiação reduzida.
Também, no quadro geral da produção artesanal, esta é complementada com
outras atividades para gerar a renda necessária.
As problemáticas apresentadas na pesquisa: Turismo, Urbanização, Unidades de
Conservação, e Produção Industrial permeiam as colocações coletadas durante as
entrevistas em ambos segmentos, sendo percebidas como agentes de transformação
da realidade socioambiental da península e, consequentemente, têm ascensão sobre
as condições e a situação da produção artesanal.
Das transformações socioambientais pontuadas nas entrevistas, estabeleceu-se a
rede de ligações entre os fatores consideráveis, beneficiando-se da metodologia de
145
construção da “Cadeia Causal” (próxima figura) onde é possível visualizar o efeito em
cadeia da influência dos agentes que configuram o espaço geográfico (terrestre e
marítimo) da península estudada, envolvendo, inclusive, os setores institucionais por
onde são geradas ou proporcionadas estas ações com seus respectivos agentes.
FIGURA 37: Cadeia Causal a partir das transformações observadas pelos entrevistados
Fonte: Daniela V. Veras, 2007.
Separados os segmentos, entre os pescadores entrevistados observou-se que:
Os pescadores cadastrados na Colônia de Pescadores Z – 08, em Porto Belo,
apresentam diferenças socioeconômicas como o caso de comparação presidente e o
vice-presidente desta instituição e organização social e a informação obtida no bairro do
Araçá que apontava apenas 07 pescadores artesanais entre os 167 cadastrados e
moradores deste bairro.
146
Outro fato observado é o envolvimento da comunidade nativa de Bombinhas
(somada aos demais residentes) na pesca da tainha e da anchova nos meses frios (de
maio a final de agosto), sendo uma importante fonte de renda e de alimento.
Tanto em Bombinhas quanto em Porto Belo, a comunidade pesqueira é composta
basicamente por nativos e aqueles que seriam exceção residem há tempos na região.
Esta condição é relevante na definição dos domínios espaciais usufruídos na arte da
pesca (e da maricultura, consequentemente) e, também, fluente no enquadramento
teórico sobre o caráter “tradicional” da pesca artesanal.
Entre os estudos teóricos etnográficos e os fatos históricos, na identidade cultural
das populações litorâneas catarinenses associa-se sua formação aos traços açorianos
dos imigrantes que chegaram neste litoral a partir do século XVIII, porém esta
identidade não foi constatada entre os entrevistados, descrevendo sua identidade como
“brasileira” oriunda da miscigenação entre diversos grupos étnicos encontrados na
população catarinense.
Em futuros projetos de gestão da pesca artesanal, deve-se considerar a parceria
entre os clãs e os grupos domésticos que compõem os grupos de trabalho neste ofício,
além do baixo nível escolar comum entre os pescadores devido ao ingresso juvenil nas
atividades pesqueiras. Porém, o conhecimento “acumulado” (empírico) na pesca
tradicional tem beneficiado a produção industrial com o deslocamento do pescador
artesanal para a pesca industrial, onde os domínios e hierarquias são definidos e
regidos por elementos distintos aos da pesca artesanal.
Muitas vezes, as dificuldades em acompanhar as exigências ambientais postas
sob a pesca e definidas por órgãos governamentais geram antagonismos entre os
pescadores e ambientalistas, onde os primeiros tornam-se descrentes dos projetos de
gestão de cunho político, transgredindo as exigências (e evidenciando a deficiência no
trabalho de fiscalização) quando estas comprometem a atividade pesqueira.
A satisfação no exercício da pesca varia de acordo com a realidade
socioeconômica do pescador (vide TABELA 15: Qualidade atribuída à profissão
“pescador artesanal”), onde ser proprietário de embarcações, ou ter vinculo com o
parque industrial próximo a península ou peixaria própria são fatores de diferenciação,
147
contornando a fragilidade e a decadência do banco pesqueiro explorado na pesca
artesanal.
Enquanto que o envolvimento da comunidade científica e das organizações sociais
(projetos e cursos) oferecendo soluções para esta fragilidade é percebido como
oportunidades de resolução (vide TABELA 15: Suposições para haver melhorias na
pesca artesanal). Também, nesta mesma tabela, a competição com a pesca industrial,
os domínios espaciais não especificados nem protegidos (fiscalização, por exemplo) e a
desvantagem diante a carência nas estruturas de produção são apontados como
agravantes da fragilidade da pesca artesanal.
A competição com a pesca industrial vai além da captura dos recursos marinhos,
sendo transformada na concorrência de mercado como observado nas peixarias
visitadas durante a pesquisa.
No caso da produção de artefatos (artesanatos), observou-se que:
A atividade artesanal exercida por mulheres complementa a renda do núcleo
doméstico, não sendo a principal atividade feminina e é executada nos domínios
residenciais. No caso das atividades por homens, a produção artesanal se caracteriza
como importante fonte de renda, ocupando grande parte de seu tempo, e as demais
atividades econômicas que exerce são caracterizadas como secundárias ou eventuais.
Diante os resultados obtidos na pesquisa, comumente, o artesão trabalha sozinho,
muitas vezes sendo autoditada da técnica e tendo o auxilio de familiares (ou sócio)
esporadicamente, o que reflete na propagação do “saber fazer” da técnica artesanal.
Outro fato constatado é a falta de incentivo e valorização da produção artesanal
local nas múltiplas fases do processo produtivo: desde a extração ou coleta da matéria
prima até a comercialização do produto, estando sujeitos à competição, concorrência,
ou mesmo a inibição da produção artesanal.
O fluxo turístico na península e o parque pesqueiro na região se configuram como
importantes mercados consumidores dos artefatos artesanais, porém este mesmo fluxo
turístico promove a urbanização da península com o veranismo e o parque pesqueiro
desloca grande parte dos pescadores da atividade artesanal para a industrial, além de
exercer uma pressão de saturação no aproveitamento do banco pesqueiro explorados
por ambos tipos de pesca, comprometendo a pesca no todo.
148
Outra questão relevante é a transformação social proporcionada pela urbanização
e pelo Turismo (como vetor de costumes e valores sociais) a qual ascende sobre a
produção artesanal; e a produção de instrumentos de trabalho remanescentes de
épocas de subsistência vem desaparecendo por não encontrar cenário propício para
sua ocorrência e, num processo dinâmico de agente socioambiental, a transformação
dos resíduos em arte e utilidades para diversos fins se beneficia da tendência cultural
de exercer cidadania quando se responsabilidade por o que se compreende como
“reciclagem”.
A produção dos artesanatos oriundos de atividades tradicionais como o artesanato
de crivo, criação de embarcações, cestarias, e outras utilidades domésticas é
basicamente exercida por nativos.
E no quesito identidade, o fato de 60% dos artesãos entrevistados não serem
nativos, sendo oriundos de diversas localidades, a criatividade e a inspiração individual
configuram o artefato, cabendo a sensibilidade e o interesse em associar o artesanato à
identidade da península, considerando aspectos do cotidiano peninsulares percebidos
individualmente.
Assim, quando se observa um artesanato, os elementos que o configuram (desde
sua matéria prima até a arte final) representam as percepções e o conhecimento de seu
produtor sobre as múltiplas etapas do processo produtivo e do cenário onde é feito.
No caso dos souvenires, estes normalmente são condicionados a representar um
elemento da paisagem ou da cultura local, que faz parte do produto turístico explorado
como atrativo. E também são suscetíveis à competição, concorrência, ou mesmo a
inibição da produção.
149
6. CONCLUSÕES
6.1. DIAGNÓSTICO E IDENTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO ARTESANAL NA PENÍNSULA DE PORTO BELO.
A produção artesanal na península de Porto Belo – SC é uma atividade
socioeconômica que há tempo participa da subsistência, parcial ou integral, e geração
de renda daqueles que vivem na região.
No caso da pesca, há a predominância de nativos no exercício desta arte e esta
atividade assume o caráter profissional, sendo definida como a principal atividade
econômica, coerente às potencialidades naturais da península estudada. Por isto, as
transformações do ambiente social e natural têm grande ascendência sobre a mesma,
justificando o deslocamento da pesca artesanal para a pesca industrial com o propósito
de manter a especificação e o talento inerentes no exercício da arte diante a
decadência dos bancos pesqueiros.
Devido ao baixo nível de escolaridade destes pescadores, os efeitos ambientais
dos projetos de zoneamento e ocupação do solo, além da definição das Unidades de
Conservação, não são interpretados como ativos em suas condições de pescador,
exceto a Reserva Biológica do Arvoredo que representa um empecilho para sua
atividade econômica. Isto evidencia sua não participação política na gestão espacial e
na implantação desses projetos, que, ao serem elaborados e implantados, devem
apresentar suas justificativas.
No caso da produção de artesanatos, a composição social é variada onde a
atividade artesanal se caracteriza como uma atividade socioeconômica remanescente
das épocas de isolamento terrestre e subsistência. Ou como uma atividade exercida por
aqueles que têm este talento e interesse no âmbito individual, favorecidos pelo turismo
presente na península o qual inclui este tipo de atividade e produção na formação do
produto turístico.
150
Devido aos limites na obtenção de matéria prima, a produção de artesanatos
mantém uma percepção estreita à situação do ambiente natural da península, onde os
projetos de zoneamento, de ocupação do solo, e as Unidades de Conservação têm
ascendência direta nas condições de trabalho; e as transformações fluentes no espaço
geográfico interferem diretamente, levando à adaptação ou ao abandono da produção
de determinados artesanatos.
Este envolvimento e sensibilidade ambiental, inclusive, estimulam o
direcionamento da arte para as soluções de outras questões ambientais, como é o caso
da reciclagem e o aproveitamento de embalagens.
As lacunas em definir a produção artesanal como uma atividade profissional, por
fim, não integram a importancia e a representatividade desta atividade nos projetos de
gestão ambiental. Fato agravado pelos conflitos nas Organizações Sociais que tratam
desta atividade e pelo exercício de outras atividades socioeconômicas para a geração
de renda necessária às satisfações vitais.
6.2. RELAÇÕES AMBIENTAIS HARMÔNICAS E DESARMÔNICAS ENTRE A PRODUÇÃO ARTESANAL E OS AGENTES POLÍTICOS, SOCIAIS, ECONÔMICOS, CULTURAIS E AMBIENTAIS.
Para se definir as relações harmônicas e desarmônicas entre a produção artesanal
e os agentes que atuam na península de Porto Belo, o parâmetro conceitual adotado
baseia-se nas relações ecológicas que existem na Natureza. Ou seja, a produção
artesanal assume metaforicamente o caráter de ser um organismo (um ser) e os
agentes, seres de outras ou mesma espécies.
Na ciência Ecologia, as relações entre seres da mesma espécie são harmônicas
quando formam sociedades e colônias, e desarmônicas, quando ocorre o canibalismo.
Assim, a presença de Associações, Organizações Sociais, Cooperativas, Grupos e
Colônias de Pesca, potencialmente representariam benefícios à produção artesanal.
Porem, o que se observa na população humana, é que de fato, os interesses individuais
se sobrepõem ao potencial desta união, comprometendo o papel que poderia exercer.
151
Os relatos dos artesãos de Porto Belo, desmotivados a participar da Organização
Social específica a produção artesanal, são exemplos deste caso (o que remete a
relação de competição e de “canibalismo” quando os artesãos de maior poder aquisitivo
levam vantagens sobre os demais).
No caso das Colônias de Pesca, estas estão sujeitas às características da
atividade pesqueira onde há união apenas entre elementos dum mesmo clã e
desarticulação entre o conjunto de clãs, podendo haver animosidades entre estes
grupos. Política, social e representativamente, as Colônias ficam reduzidas a garantir os
benefícios do seguro-desemprego (durante os períodos de defeso), facilitar a
burocracia necessária para o exercício da pesca, e oferecer serviços de saúde.
Tanto em Bombinhas quanto em Porto Belo, a necessidade de se reestruturar os
terminais de pesca para garantir a segurança das embarcações (contra a pirataria e as
intempéries da natureza) e facilitar o embarque e o desembarque. Entretanto, o que
acontece em Bombinhas, o galpão construído para atender os anseios dos pescadores
desrespeita uma área de preservação permanente, mais especificamente a área de
mangue da baia de Zimbros (desembocadura do rio Passa Vinte), de grande
importância para a manutenção do ecossistema marinho explorado pelos pescadores
da região.
Os parques industriais pesqueiros localizados na região do litoral centro norte
catarinense e no município de Tijucas se sobrepõem nas áreas costeiras exploradas
pela pesca artesanal, acentuando a pressão sobre os recursos pesqueiros, e
estabelecendo relações de competição, “predação” (com o deslocamento dos
pescadores artesanais para a atividade industrial) e “parasitismo” (beneficiando-se dos
conhecimentos ancestrais e tradicionais para a geração de capital particular), senão
dizer a relação de “sinfilia” (uma vez que a redução dos bancos pesqueiros compromete
a subsistência e a renda gerada pela pesca artesanal).
A perda do “how know”, do conhecimento empírico dos ecossistemas e da
ancestralidade da produção artesanal é comum tanto na pesca quanto na atividade dos
artefatos, pois o pouco volume de capital gerado, o esforço de trabalho, e o não
prestígio social desestimulam as gerações mais jovens a darem continuidade a este tipo
152
de atividade socioeconômica. Entretanto, representa uma alternativa para aqueles que
não atendem aos requisitos da nova ordem socioeconômica em escala global.
Economicamente, nos valores de mercado não está inserido o diferencial entre os
custos unitários monetários dos métodos sustentáveis e dos métodos não –
sustentáveis de exploração dos recursos e os preços prevalecentes correspondem aos
custos privados de exploração dos recursos naturais. Isto foi denominado como
“externalidade”: os danos causados por alguma atividade a terceiros, sem que esses
danos sejam incorporados no sistema de preços. Ou seja, tais atividades apresentam
“custos sociais” (efeito da atividade na qualidade de vida) superiores aos seus “custos
privados” (expressos em transações mercantis e atuam no espaço dos direitos jurídicos
de propriedade) (ACSLRAD in CAVALCANTI, 1988).
O acúmulo de custos sociais ignorado diante os custos privados justifica-se
particularmente na liberdade das pessoas em agirem no ambiente segundo seus
próprios interesses, sendo eqüitativo poder de ação para todas as pessoas. Como
colocado por FEENY et all (in DIGUES e MOREIRA, 2001), “a extensão do
reconhecimento comunitário em relação à legitimidade dos direitos de propriedade
privada influencia os custos das ações de coerção, sendo que as dificuldades de impor
reivindicações privadas a recursos de propriedade comum são ampliadas por
reivindicações conflitantes de direitos comunais sobre os mesmos recursos.” (pg. 24).
A propriedade privada é a base do fenômeno que vem trazendo intensas
transformações no cenário da península de Porto Belo e Bombinhas: a urbanização50.
A falta de planejamento adequado, comprometendo a qualidade dos recursos
naturais, e a transformação do espaço natural em artificial, comprometendo o acesso e
o uso dos recursos encontrados em sua região, estabelecem relações de
“amensalismo” em ambas produções artesanais. Por mais que o processo de
urbanização amplie o mercado consumidor, os efeitos dessa transformação
50 “Nas ultimas duas décadas, o município de Bombinhas sofreu um processo de urbanização acelerado e desordenado, sem nenhum planejamento, gerando uma ocupação caótica. Problemas como falta de balneabilidade nas praias, contaminação dos lençóis freáticos, ocupação caótica de encostas e topos de morros, uso desordenado do solo geraram inúmeros problemas desde congestionamentos enormes, assoreamento dos leitos dos rios, turbidez das águas entre outras tantas conseqüências que surgiram com este modelo de desenvolvimento”. (ALDEMAN, 2003, pg 2)
153
energeticamente são mais maléficos do que benéficos, pois as dificuldades geradas na
produção artesanal irão compor os “custos sociais” da urbanização.
O modelo de urbanização adotado em pólos receptivos do turismo de verão segue
um padrão linear, onde a identidade do local torna-se figurativa (elemento da paisagem)
e, como tal, é secundária (ou terciária) nos princípios e nos objetivos de
desenvolvimento destes pólos. A prioridade é a criação de lugares funcionais,
prestadores de serviço, que complementam o produto turístico e reproduzam o estilo de
vida dos centros emissores (de turistas).
Alguns lugares são tão padronizados em escala global que recebem o codinome
de “não lugares”, por estarem desassociados de peculiaridades culturais, como é o
caso de shopping-centers, aeroportos, etc. Estes lugares se configuram como
intermediários entre o espaço onde estão localizados e o “mundo” do individuo que ali
circula.
Esta reprodução de lugares sem identidade e padronizados interfere na produção
artesanal quando focadas a reprodução cultural desta atividade e a peculiaridade
ambiental do local51. O meio espacial circulante ao individuo tem ascendência sobre
seu processo criativo, assim como sobre aquele que visita a região.
A consciência52 humana remete a percepção que o ser tem sobre o ambiente,
permeada por suas referências históricas: individual e cultural, e marcada pelos
elementos condizentes aos seus traços psicológicos.
A percepção é uma atividade, um estender do ser através dos sentidos orgânicos
acrescidos pelos estímulos culturais. Visualmente, o mundo é abstrato e composto por
cores e luzes, focadas na observação e interpretada a qualidade de beleza (estética) do
objeto observado (TUAN, 1980).
51 “O desenvolvimento urbano não pode se basear em esquemas padronizados, importados ou não. As possibilidades de desenvolvimento são particulares a cada cidade e devem ser avaliadas no âmbito de sua própria região. O que funciona para uma cidade pode ser totalmente inadequado para outra. Embora possa haver necessidade de ajuda técnica por parte de agências centrais, somente um governo local forte pode garantir que as necessidades, os hábitos, as formas urbanas, as prioridades sociais e as condições ambientais da área se reflitam nos planos locais de desenvolvimento urbano” (CMMAC, 1988, pg. 276) 52 Consciência sf. 1. atributo pelo qual o homem pode conhecer e julgar sua própria realidade. 2. Faculdade de estabelecer julgamentos morais dos atos realizados. 3. Conhecimento, noção. (FERREIRA, 1985, pg. 121)
154
A partir da percepção, para a satisfação de suas necessidades e anseios, o
individuo desencadeia um processo de descobertas progressivas refletidas em práticas
e cria sua concepção do espaço, sendo formado por um conjunto de objetos e de
ações. Se o local não transmite sensações pontuais, próprias de suas condições
territoriais, as percepções do individuo são orientadas por seu “mundo” interior,
particular, numa relação de “inquilinismo” com a paisagem.
Este indivíduo visitante, ao procurar o pescado, ao artesanato, estará em busca de
seu anseio, motivado por suas particularidades, criando uma relação de
“comensalismo” com a produção artesanal, onde as características do produto
consumido são percebidas apenas por seus estímulos sensoriais, sem atribuir
personalidade à ação da produção artesanal.
Quando contextualizada, a relação entre a produção artesanal transmuta-se e
assume o caráter de ser uma protocooperação ou simbiose.
6.3 TRATAMENTO DADO À COMUNIDADE ARTESÃ NO ZONEAMENTO ESPACIAL E NO DESENVOLVIMENTO URBANO E DEMOGRÁFICO DA PENÍNSULA, A FIM DE PROJETAR A SUSTENTABILIDADE NA PENÍNSULA DE PORTO BELO – SC.
Num projeto de sustentabilidade da produção artesanal, esta produção assume
mais que o caráter de uma atividade socioeconômica com traços culturais. Deverá ser
abordada como um instrumento e indicador de sustentabilidade da qualidade local,
sendo valorizada como identidade e diferencial da península onde a gestão do espaço
geográfico segue uma base holística, que se configura no exercício da cidadania
sustentada pelos princípios básicos dos direitos humanos53, da solidariedade e justiça
social.
53 “Os DRT (Direitos de Recursos Tradicionais) têm se transformado numa questão muito central nos debates em campos importantes da política e do direito internacionais, incluindo direitos humanos, lei trabalhista, meio ambiente e desenvolvimento, comércio, liberdade religiosa e herança / propriedade cultural. Problemas para a implantação das ferramentas existentes de DRT (direito de autor, patente, sigilo comercial, apelação de origem, marca registrada, etc.) incluem a natureza coletiva do saber tradicional e a necessidade de identificar o iniciador ou inventor de certo conhecimento e/ou de recursos genéticos. A Convenção 169 da OIT – Organização Internacional do Trabalho - estabeleceu um precedente internacional para o reconhecimento de direitos “coletivos”, como também a Comissão das
155
Partindo dos conceitos de sustentabilidade (ALVARES e CARSALADE, 2005):
Cultural - respeito à identidade local, inclusive na manutenção da paisagem, da
personalidade local e da cultura material e imaterial (patrimônio cultural). Embora a
transformação seja inerente à própria dinâmica da cultura e inevitável face à presença
do outro (“estrangeiro”), devem-se operar bases respeitáveis dos processos e ritmos
locais de transformação, num processo dialético e não por substituição ou imposição.
Ambiental – preservação da biodiversidade e a utilização e conservação racional
dos recursos naturais dentro de uma perspectiva de longo prazo, considerando os
efeitos irreversíveis do uso do solo, os impactos do consumo de espaços geográficos, o
potencial de resiliência dos ecossistemas, os ciclos dos recursos renováveis e as
conseqüências do uso de recuso não renováveis. Também, garantir o equilíbrio entre a
atividade e a proteção ambiental respeitando-se as capacidades de carga locais e os
limites de expansão do setor, estimulando-se a interação entre os profissionais do
turismo e os ambientalistas.
Econômico – atividades econômicas estáveis, baseadas nos princípios de
prevenção, em projetos a médio e longo prazo que consideram a oferta dos recursos, a
qualidade do recurso e do serviço, as possíveis relações desarmônicas e harmônicas, a
geração de renda de modo eqüitativo.
Particularmente no Brasil, o papel de mediador entre os interesses dos atores
sociais é exercido pelo Estado, o qual possui o poder para decidir, intervir e/ou autorizar
a intervenção para transformar o ambiente. Assim, para se minimizar os conflitos entre
estes interesses, os projetos de gestão e zoneamento devem evidenciar seus objetivos,
bem como a forma de condução do processo, respondendo as questões: O QUÊ?
COMO? PARA QUEM? (RODRIGUES, 2003)
Nações Unidas de Direitos Humanos e a Convenção sobre Biodiversidade. “Direitos de vizinhança”, tais como por primeira vez descritos no Modelo de Normas sobre Folclore da WIPO - World Intelectual Property Organization, mas reconhecidos em seguida num amplo leque de lei relativas a expressões de artistas, servem como um grande avanço na proteção do saber tradicional. O saber indígena / tradicional como “ciência”, entretanto, foi apenas marginalmente concebido, mas se nutre a esperança de que irá ser desenvolvido como resultado da Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas e outros desdobramentos requeridos pelo Secretário Geral das Nações Unidas. Garantias de liberdade religiosa, até agora, não têm sido adequadamente utilizadas para a defesa de DRT, enquanto as clausulas da Convenção sobre Biodiversidade (junto a Agenda 21) somente agora estão sendo analisadas a fim de se desenvolverem estratégias efetivas de atribuição de poderes a comunidades locais e povos indígenas.” (POSEY in CAVALCANTI, 1998, p.188)
156
Assim como os recursos de subsolo são de jurisdição e de integridade nacional, as
necessidades das populações locais e os padrões tradicionais de uso dos recursos
naturais devem orientar os projetos de domínio, de uso e de ocupação de solo,
formando-se arranjos especiais no zoneamento do território histórico.
Na definição de zonas e nos programas de reconstituição dos ecossistemas
degradados, deve-se reavaliar os domínios atribuídos socioeconomicamente dos
espaços geográficos54, especialmente a estrutura fundiária. E o objetivo do
planejamento e do gerenciamento ambiental deve ser resolver conflitos entre as várias
utilizações possíveis. (DIEGUES, 1995).
Propõe-se, então, um modelo de gestão participativa do espaço geográfico, onde a
comunidade artesã participa como “ator” e “agente” nos âmbitos econômico e social,
ressaltando suas qualidades “local” (responsabilidade ambiental) e “tradicional”
(identidade cultural).
Como colocado em DE OLIVEIRA e SOUZA LIMA (2003), falar em
desenvolvimento significa falar em diálogo permanente, em participação efetiva das
sociedades locais, pois, caso contrário, estar-se-á sempre reproduzindo as imagens
perversas do “bom civilizado” parasitando o “mau selvagem”, lembrando-se sempre que
uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz suas necessidades sem diminuir as
perspectivas das gerações futuras. Também, a sustentabilidade implica numa
preocupação com a equidade social entre gerações, que deve, evidentemente, ser
extensiva à equidade em cada geração. (CMMAD, 1988)
A península de Porto Belo e Bombinhas foi enquadrada na Lei nº. 6.513 de 20 de
dezembro de 1977 que, ao estabelecer a criação de Áreas Especiais de Interesse
Turístico, insere os bens de valor cultural e natural, protegidos pela legislação
específica, e especialmente as manifestações culturais ou etnológicas e os locais onde
ocorrem (Artigo 1, parágrafo IV).
54“A partir da noção de espaço como um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações podemos reconhecer suas categorias analíticas internas. Entre elas, estão a paisagem, a configuração territorial, a divisão territorial do trabalho, o espaço produzido ou produtivo, as rugosidades e as formas conteúdo. Da mesma maneira, e com o mesmo ponto de partida, levanta-se a questão dos recortes espaciais, propondo debates de problemas como o da região e do lugar; o das redes e das escalas.” (SANTOS, 1997, pg.19)
157
Segundo a mesma Lei, estas áreas incluem as águas territoriais e todo território
que devem ser preservados e valorizados no sentido cultural e natural, e destinados à
realização de planos e projetos de desenvolvimento turístico, sob o intermédio da
EMBRATUR, IPHAN, IBDF, do Ministério da Agricultura, IBAMA, CNPU (criado pelo
Decreto no 74.1564, de 6 de junho de 1974), do Ministério do Interior, e SEAP.
Estes projetos devem assegurar a preservação e valorização do patrimônio
cultural e natural, estabelecer normas de uso e ocupação do solo e orientar a alocação
de recursos e incentivos necessários a atender aos objetivos e às diretrizes desta Lei
(Artigo 11, parágrafos II, III e IV, respectivamente). Caso descumprida, é passível
penalidades e multas.
Também, se as Unidades de Conservação zelam pela Natureza, deve-se
considerar que o ser humano é seu criador e sua ameaça. Para serem inseridas na
dinâmica de desenvolvimento da sociedade local e global, e ai atingirem sua
sustentabilidade, devem partir do pressuposto que os recursos, funções e processos
dos ecossistemas permitem o uso múltiplo de seu espaço e de seus recursos.
No caso do Plano de Manejo da RESBIO do Arvoredo, aprovado em 2004, as
Colônias de Pesca poderiam assegurar os direitos da pesca artesanal nas zonas de
amortecimento contribuindo no trabalho de fiscalização e da proteção dos recursos
naturais necessários à subsistência de populações tradicionais; respeitando e
valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e
economicamente, conforme compreendido por objetivo das Unidades de Conservação
(Sistema Nacional de Unidades de Conservação - Lei nº. 9.985, de 18 de julho de 2000,
Artigo 4º, Parágrafo. XIII). Isto teria como respaldo, o Artigo 5º da mesma lei.
Este mesmo artigo, quando aplicado às Unidades de Conservação terrestres da
península, favoreceria o uso dos recursos naturais: barro, taquara, sementes, fibras
vegetais, etc., pelos artesãos em áreas sujeitas à expansão urbana, onde a construção
civil e a infra estrutura urbana comprometem e inviabilizam a coleta e o uso destes
recursos.
Deve-se reconhecer que as atividades tradicionais se adaptaram e se
reproduziram a partir do conhecimento ancestral sobre a ecologia das espécies e tipos
de tecnologia apropriada (rústica), mantendo uma relação de equilíbrio entre as práticas
158
de manejo e a natureza. As populações tradicionais estão ligadas à preservação da
biodiversidade (ADAMS, 2000).
A questão vai além, e se fundamenta no artigo 3º, parágrafo II, da Lei nº. 7.661 de
16 de maio de 1988 (Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro), que fortalece o
estabelecimento de zonas visando a conservação e proteção de sítios ecológicos de
relevância cultural.
Assim, os programas de gestão ambiental devem viabilizar, estimular, administrar
e financiar o uso de tecnologias integradas aos ciclos ecológicos e inibir ou impedir a
presença de técnicas predatórias, mesmo que tenham vantagens na competição pelos
espaços e recursos naturais (ASCLRAD in CAVALCANTI, 1988).
Como proposta, a criação de uma Certificação Sócio-ambiental seria um
importante instrumento de defesa dos recursos naturais e das práxis tradicionais.
A tendência global de se fortalecer os espaços locais como estratégia de
sustentabilidade estimula a criação de programas de geração de empregos e renda
associada à preservação da cultura e da qualidade ambiental (COUTINHO, 1999),
O Programa Nacional de Desenvolvimento do Artesanato (Decreto nº. 80.098 de
08 de agosto de 1977), o Programa do Artesanato Brasileiro (Decreto 1.508, de 31 de
maio de 1995) e Programa do Artesanato Catarinense ressaltam o potencial de geração
de trabalho e renda, de maneira descentralizada, além da preservação das culturas
locais na elaboração (processo e cadeia de produção) do produto artesanal.
O estimulo a produção artesanal na península de Bombinhas e Porto Belo se
beneficiaria destas atividades estarem presentes no cotidiano da população residente
que mantém traços remanescentes das épocas de subsistência, quando a atividade
artesanal complementava a pesca e a agricultura.
O resgate e o fomento à cultura são mecanismos que fortalecem a auto-estima
individual e, consequentemente, torna o grupo social menos dependente e vulnerável
às oscilações da sociedade global.
Não se deve considerar a produção artesanal como algo estático, que não
acompanha as condições do momento histórico, pois a tecnologia rústica e os
conhecimentos ancestrais são bases de uma produção que se adequa às necessidades
daquele que a produz e ao fim almejado. Entretanto, sob a influencia dos meios de
159
comunicação e das descobertas científicas difundidas socialmente, o conteúdo estético,
histórico, cultural e ambiental da produção artesanal devem ser destacados como
diferenciais (GIL TEJEDA, 2002).
O turismo, outra vocação da península, assume então uma relação de simbiose e
protocooperação quando se favorece da qualidade ambiental e social sustentada pela
produção artesanal, ao mesmo tempo em que representa o mercado consumidor dos
pescados e dos artefatos oriundos desta produção.
Esta colocação está presente na Constituição do Estado de Santa Catarina, que,
no artigo 192, alega transformar o turismo como agente de desenvolvimento econômico
e social, de divulgação, de valorização e preservação do patrimônio cultural e natural,
respeitando as peculiaridades locais, coibindo a desagregação das comunidades
envolvidas e assegurando o respeito ao meio ambiente e à cultura das localidades
exploradas, estimulando sua auto-sustentabilidade.
6.4 ANÁLISE DO PROCESSO DE PRODUÇÃO ARTESANAL DIANTE A ORGANIZAÇÃO E O USO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO DA PENÍNSULA DE PORTO BELO – SC SOB A ÓTICA DO PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE, CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Analisar a produção artesanal, considerando sua sustentabilidade em contexto
regional, estadual, nacional e planetário, permeia as condições geográficas, a
vulnerabilidade ambiental e as influências sociais duma atividade socioeconômica com
traços tradicionais e relações ambientais dependentes da oferta de recursos naturais ou
da transformação de resíduos em artefatos práticos e/ ou decorativos.
Estamos vivendo na era da tecnologia e da comunicação onde a informação e os
preceitos das ações humanas no planeta Terra são difundidos em escala global,
compartilhando questões que interferem no âmbito social, econômico e ambiental.
Neste cenário, os meios de comunicação: televisão, estações de rádio, revistas,
etc., e os meios de transporte são veículos dos valores culturais, das tendências sociais
160
e da economia que refletem no estilo e modo de viver de diversas comunidades,
distintas por seus traços culturais e contextos regionais. Também, estes valores,
tendências e a economia repercutem e as decisões políticas agem na configuração do
especo geográfico e a partir daí são oferecidos os cenários, os recursos e os requisitos
para o desenvolvimento das atividades socioeconômicas.
Sistematicamente, o espaço geográfico é planejado e organizado em
componentes ecossistêmicos (naturais e antrópicos), em cujos fragmentos são
definidos os domínios e os usos socioeconômicos entre distintos grupos sociais.
A natureza é alvo de transformações, sendo explorada e valorizada conforme as
necessidades e ambições humanas, onde os fatores culturais dão forma à utilização do
espaço, e o "estilo de vida" influencia o modo de perceber as coisas que acontecem
neste ambiente (COUTINHO, 1999); onde os elementos naturais são substituídos por
objetos manipulados, técnicos, mecanizados, os quais se tornam objetos sociais, cujo
valor e importância derivam e dependem do uso e da função que lhe são atribuídas
(SANTOS, 1997).
O trabalho humano de transformar os elementos naturais em objetos sociais
caracteriza a evolução do ser humano na criação do espaço geográfico, tanto
morfologicamente, quanto das funções e dos processos sociais. “É assim que as
épocas se distinguem uma das outras” (SANTOS, 1997, pg. 77). As funções atribuídas
a estes objetos sustentam o sistema estrutural responsável pelo cenário econômico,
político, social, místico e natural onde são construídas as relações que definem papéis
e funções fluentes na configuração da sociedade e do espaço geográfico.
A organização da sociedade no espaço geográfico deriva desse processo de
atribuição das funções e dos usos dos objetos sociais (NICÁCIO, 2002). Assim, “os
movimentos da sociedade, atribuindo novas funções às formas geográficas, transforma
a organização do espaço, criam novas situações de equilíbrio e ao mesmo tempo novos
pontos de partida para um novo movimento. Por adquirem uma vida, sempre renovada
pelo movimento social, as formas – tornadas assim formas - conteúdo – podem
participar de uma dialética com a própria sociedade e assim fazer parte da própria
evolução do espaço” (SANTOS, 1997, p.86).
161
Além dos meios de comunicação e decisões políticas, o deslocamento no espaço
das pessoas para diversos fins lhes permitem ter contato e conhecer outros costumes,
produtos e tecnologias, que poderão exercer influencia no cotidiano e nos hábitos das
mesmas. Outra maneira destes costumes, produtos e tecnologias serem trazidos a um
determinado local dá-se com a vinda daqueles que os detêm, seja observada com o
fluxo turístico seja com a migração vinculada ao crescimento urbano.
Particularmente, a urbanização turística e o veranismo têm intensa participação na
transformação das características do espaço geográfico e do perfil sociocultural deste
espaço, sendo vetores dos costumes, produtos e tecnologias exógenas. As pessoas
constroem seus espaços numa uma relação particular com o local, elaborando seu
“mundo” como o centro embora permaneça sendo um entre muitos. Este “mundo”
particular é exportado para as diversas localidades por onde transita, o alienando duma
eventual relação intersubjetiva mais aprofunda com os outros nessa multidão.
(CORREA55).
O desenvolvimento do espaço urbano é vinculado a projetos políticos, alicerçados
no papel das cidades exercerem a base do desenvolvimento, onde tudo se dá: as
oportunidades de trabalhar e de lazer, a difusão da educação e da cultura, o exercício
mais imediato da cidadania (NICÁCIO, 2002).
As transformações no espaço remetem aos efeitos ambientais e nos
ecossistemas, tendo influência na qualidade ambiental deste espaço (daí a importancia
de se estimar a capacidade de suporte e o período de resiliência dos recursos naturais
nos projetos de desenvolvimento turístico). As transformações sociais também geram
efeitos na qualidade ambiental deste local, quando desarticulam atividades tradicionais
nos âmbitos: econômico, social e cultural (com a introdução de novos valores,
costumes, produtos e tecnologias).
Por isto, para lhe atribuir a qualidade “sustentável”, as ações vinculadas à ao
Turismo (agente socioambiental e econômico) devem considerar os aspectos locais:
geográficos, naturais, históricos sociais, culturais, etc. e a participação da comunidade
local na configuração do destino turístico, a fim de evitar a deterioração do mesmo.
55 CORREA, João Carlos “A EMERGENCIA DO INDIVIDUALISMO NA CULTURA MEDIATRICA CONTEMPORANEA” – fonte: www.bocc.ubi.pt/ - acesso em 01 de agosto de 2005.
162
A carência de um projeto de gestão sócio-ambiental adequado às peculiaridades
da península e a não efetiva participação da população local nas decisões norteadoras
do desenvolvimento da região, evidenciam o antagonismo entre a tendência observada
e a proposta de sustentabilidade como projeto de presente e futuro visando qualidade
de vida.
A carência de projetos específicos que abordem a produção artesanal e vise gerar
meios benéficos a sua existência, mesmo reconhecido seu caráter como agente social,
ambiental e político, remete a opção individual do artesão e pescador em manter sua
arte e conhecimento, difundindo-os entre as gerações.
Os fatores ambiental, econômico e cultural são vertentes fluentes na permanência
das atividades artesanais, inclusive no “saber e fazer” e no conhecimento empírico dos
potenciais de uso dos recursos ambientais (sejam eles um recurso natural, ou resíduo
das ações econômicas: “lixo”, colchas de marisco, de sobras de madeira, de retalhos,
etc.). Na península de Porto Belo, além da produção de artefatos para diversos fins
(decoração, utensílio doméstico, instrumento de trabalho, vestuário, etc.), o adjetivo
“artesanal” é associado à pesca tradicional; e ambas produções geram renda e
autonomia à população local.
A produção artesanal configura-se como uma importante atividade econômica
(como é o caso da pesca), ou integrada a outra importante atividade (como é o caso da
produção artesanal). Porém, é condicionada ao crescimento urbano e demográfico que
não prevêem sua permanência no uso e ocupação do solo. Outro fator condicionante é
a proximidade aos pólos industriais e comerciais da região do litoral catarinense.
Quando o pescador e o artesão encontram estímulos e condições sociais,
ambientais e econômicas adequadas para o exercício de suas respectivas artes,
geram-se a satisfação econômica e emocional, proporcionando a valorização da
atividade no âmbito individual ao coletivo. Entretanto, quando não há tais estímulos e
condições, desencadeia-se o processo inverso e o exercício da arte torna-se vulnerável
ao contexto do artista e da atividade.
A sustentabilidade da produção artesanal permeia as diversas etapas de seu
processo produtivo: desde a existência, disponibilidade e acesso do recurso ambiental
até o uso final do produto artesanal, seja para uso próprio ou a comercialização do
163
mesmo. A figura 39 ilustra os elementos da produção na sustentabilidade da atividade
artesanal.
FIGURA 38: Sustentabilidade da Produção Artesanal
Fonte: Daniela V. Veras, 2007.
Diante tal estruturação de sustentabilidade, o envolvimento das instituições na
produção é representado na figura abaixo (figura 40):
FIGURA 39: As instituições e a sustentabilidade da produção artesanal
Fonte: Daniela V. Veras, 2007.
164
A importância das Organizações Sociais é presente nas distintas fases da
atividade artesanal, o que enfatiza a atuação das organizações como Colônias de
Pesca, Grupo de Artistas e Artesãos, Cooperativas, Associações, entre outras. Esta
importância desde o envolvimento da gestão do recurso ambiental, necessário para a
atividade artesanal, quanto à projeção do produto no mercado.
Junto à iniciativa privada, e visando o mercado, a criação de certificados que
associam o produto a sua responsabilidade socioambiental, o que se beneficiaria de um
marketing diferenciado, senão o “marketing verde” associado a produtos éticos.
As instituições intelectuais, somadas ao trabalho de determinadas organizações
sociais, oferecem um respaldo cientifico e empírico com o objetivo de auxiliar na
definição do Zoneamento espacial e no uso adequado do recurso ambiental e da
técnica artesanal, podendo, inclusive, apresentar soluções para eventuais empecilhos.
Tanto o zoneamento quanto o uso adequado do recurso e da técnica artesanal são
materiais a serem explorados em projetos de educação ambiental, para que se amplie o
envolvimento da sociedade na sustentabilidade da atividade artesanal, assim como
fortalecer e difundir sua responsabilidade socioambiental.
A iniciativa privada participa tanto no aspecto econômico da produção artesanal,
quanto na sua viabilidade em espaços de domínios privados, além de sua influência
nos valores e costumes fluentes no cenário social.
A atual desarticulação da produção artesanal na península de Porto Belo evidencia
a deficiência na ação destas instituições no que tange a sustentabilidade da produção,
menosprezando sua atuação e sua função como gestor ambiental, vinculada a
qualidade ambiental e social de um local de rara beleza, descaracterizado pela carência
de projetos adequados as suas condições naturais, históricas, culturais, seguindo um
padrão de descaracterização socioambiental e perda de identidade adotado na região
onde está inserido.
165
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175
8. ANEXOS
176
ANEXO. 1 QUESTIONÁRIO COM PESCADORES: PERFIL: 1. Município 2. Nome 3. Idade 4. Ascendência (origem étnica) 5. Escolaridade 6. Casado? 7. Profissão do cônjuge 8. Quantos filhos e quantos anos? 9. Freqüentam escola? 10. Crença religiosa? 11. Tempo de residência 12. Se for migrante de onde: Residência 13. Tipo de calçamento das vias públicas 14. Numero de residentes? 15. Quem são? 16. Número de cômodos 17. Tratamento do esgoto 18. Tratamento do lixo 19. Abastecimento de água? PERCEPÇÕES: 20. Qual a sua opinião sobre o crescimento urbano do município? 21. Observa alguma alteração na natureza? 22. Como tem influenciado em seu trabalho? 23. O que gostaria que fosse feito pelo município? OFÍCIO: 24. Há quanto tempo exerce a atividade artesanal? 25. O que acha da profissão: ser pescador? 26. Quem foi seu Mestre? 27. Ensina alguém? 28. Mão de obra? 29. Quais os equipamentos de pesca usados? 30. Quem produz tais equipamentos? 31. Para quem vende a produção pesqueira? 32. O que espera ser feito pela pesca?
177
ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS 33. Qual sua relação com o público turístico? 34. A renda gerada pela pesca artesanal é suficiente para atender as necessidades básicas? 35. Caso negativo, quais são as outras atividades que complementam a renda familiar? 36. Participa de alguma organização social (Cooperativas, Associações, ONGS, etc.)? Qual? 37. Qual o interesse em participar desta organização social?
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ANEXO. 2: QUESTIONÁRIO COM ARTESÕES: PERFIL: 1. Município 2. Nome 3. Idade 4. Ascendência (origem étnica) 5. Escolaridade 6. Casado? 7. Profissão do cônjuge 8. Quantos filhos e quantos anos? 9. Freqüentam escola? 10. Crença religiosa? 11. Tempo de residência 12. Se for migrante de onde: Residência 13. Tipo de calçamento das vias públicas? 14. Numero de residentes? 15. Quem são? 16. Número de cômodos 17. Tratamento do esgoto 18. Tratamento do lixo 19. Abastecimento de água? PERCEPÇÕES: 20. Qual a sua opinião sobre o crescimento urbano do município? 21. Observa alguma alteração na natureza? 22. Como tem influenciado em seu trabalho? 23. O que gostaria que fosse feito pelo município? OFÍCIO (especificar trabalho artesanal): 24. Tipo: 25. Produtos: 26. Há quanto tempo exerce a atividade artesanal? Matéria prima: 27. De onde vem? 28. Como se obtém? 29. Há algum empecilho para se conseguir a matéria prima? Processo artesanal: transformação/ criação
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30. Quanto é produzido (tempo/ quantidade)? 31. Mão de obra? 32. Qual é o resíduo? 33. Há algum proveito do mesmo? 34. Inspiração? 35. Quem foi seu Mestre? 36. Ensina alguém? 37. Para quem vende? 38. Quando há uma maior procura pelos produtos artesanais? 39. O que espera ser feito pela produção artesanal? 40. Por que? 41. Quem deve fazê-lo? ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS 42. A renda gerada pela produção artesanal é suficiente para atender as necessidades básicas? 43. Caso negativo, quais são as outras atividades que complementam a renda familiar? 44. Participa de alguma organização social (Cooperativas, Associações, ONGS, etc.)? Qual? 45. Qual o interesse em participar desta organização social?
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ANEXO. 3: CADEIA CAUSAL ELABORADA NO CURSO DE CAPACITAÇÃO DO CORPO DOCENTE DA REDE PÚBLICA DE BOMBINHAS DURANTE O PROJETO AGENDA 21 ESCOLAR/ AGENDA 21 LOCAL DE BOMBINHAS “EVOLUINDO SEM DESTRUIR” – PROJETO ORLA
FIGURA 40: Cadeia Causal construída junto com os professores da pré-escola em Bombinhas – SC
IMPACTO
AMBIENTAL
IMPACTO SÓCIO
CULTURAL
IMPACTO
ECONOMICO
PROBLEMAS CAUSA IMEDIATA SETOR
RESPONSAVEL
CAUSA RAIZ
Falta de água
limpa nos rios
Comprometime
nto do mangue
Comprometime
nto da restinga
Redução do
estoque
Doenças
Comprometime
nto da
qualidade de
vida do
morador
Perda de
identidade
Depreciação
Falência da
atividade
Falta de
saneamento
Esgoto
Construções
Pesca
artesanal X
realidade da
região
Falta de
respeito à
pesca da
tainha
Corrupção
Ocupação
irregular dos
Superar a
capacidade de
carga
Despejo direto
Especulação
Falta de
fiscalização
Falta de
controle
governamental
Plano Diretor
Aparato legal
Falta de
consciência
Descaso
Privacidade no
acesso a praia
Status social
Egoísmo
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