a minha história

Post on 09-Jul-2015

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De certeza para muitos de nós, na nossa vidaescolar, o primeiro dia de aulas é aquele quemais nos marcou, sobretudo por abrir a portapara o mundo do saber.

Desse primeiro dia é da figura domeu pai que mais recordo, que maisme marcou pela autêntica lição devida que me deu.

Primeiro dia, primeira vez no quadro, mas aocontrário do quadro de ardósia com algumas letrasencontrava-me em branco.

Naquele tempo perdido antes do vinte cinco de Abril, numa pequena vila do interior do país, ainda não se partilhavam histórias de jardins-de-infância.

A professora, vinda da grandecidade, muito para lá dosmontes que nos rodeavam, masque ao mesmo tempo nosprotegiam estava habituada auma realidade bem diferente.

A professora que tinha trabalhado um ano, nojardim Escola João de Deus, habituada a crianças jácom outras aprendizagens com outras vivências.

Perante uns rabiscos que se encontravam noquadro demonstrei desconhecimento.Instintivamente, a professora deu-me umapequena bofetada, presumo, porque a dor jádesapareceu faz muito, no pescoço que meimpeliu para diante embatendo com a testano quadro.

Espantado, chocado, habituada às brincadeirada rua, do jogo do pião, da bola detrapos, muito raramentecastigado, fisicamente nempensar, simplesmente saí porta fora, semsequer ouvir os gritos da professora a chamar-me de volta.

Muito ofendido contei aos meus pais, paraencontrar neles o apoio para não voltar mais àEscola.

O meu pai de sorriso nos lábios, concordavacomigo, que aquilo tinha sido um ultraje, doqual resultara um galo que cantaria maistarde.

Grande “ofensa”, e isso agora de saber quais eram as letras. Para que aprender isso, continuava o meu pai.

Entretanto, chamou-me atenção parauma carta que tinha recebido de umsobrinho a trabalhar numa terra queficava tão longe, tão longe, de quaseum dia de viagem que era Lisboa.

Na carta vinha uma referência de uma prenda paramim. O meu pai deu-me a carta para mão edaquele emaranhado de letras não conseguiaretirar nenhuma informação, mas também nãocontei com ajuda do meu pai.

O meu pai de uma forma pausada, com a mãono meu ombro disse-me: “Ó rapaz, não serámelhor aprenderes a ler?”.

Disse-lhe que sim com cabeça, e acompanhadopelo meu pai voltei à Escola.

Na escola, o meu pai a pedir desculpa pelomeu gesto, ao mesmo tempo, a professora apedir desculpa pelo que aconteceu.

Desde esse dia, até aos dias de hoje, guardouma imagem de grande carinho e de grandeamizade pela minha professora que meensinou a ler e a escrever, sobretudo por terdescoberto a importância da Escola no meufuturo.

Já agora, a coisa que aludia a carta era umabola de couro, grande bola, grandesmomentos que vivemos com ela e que veiosubstituir a bola de trapos dos nossos jogos defutebol.

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