a indústria cultural - o grande público - edgar-morin (aulas 13 e 14)
Post on 18-Feb-2018
215 Views
Preview:
TRANSCRIPT
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 1/27
9•
edição/4 reimpressão - 2007
Traduzido
de:
L'Esprit du Temps
© opyright
1962, by Editions Bernard Grasset
CIP-Brasil. Catalogação-nu-fonte
Sindicnto
Nacional
<los
Editores
de Livros
RJ.
M85c Morin Edgar
9.e<l. Cultura de massas no século XX: neurose/Edgar Morin: tradução de Maura
97-0446.
Ribeiro Sardinha -
9.cd - Rio de Janeiro: Forense Univcrsit.:iria, 2007.
208p. - 0 espírito
do
tempo; 1
Trndução de: L'csprit du tcmps
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-218-0209-9
1.
Civilização moderna. 2. Cultura
de
massu.
1
Título. li. Título: O espiríto
do
tempo
Proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma
ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico, sem permissão
expressa do Editor (Lei 11°9.610, de 19.2.1998).
Reservados os direitos de propriedade desta edição pela
EDITORA FORENSE UNIVERSITÁRIA
CDD
909.82
CDU 008
Rio de Janeiro Rua do Rosário,
100-Centro-CEP
20041-002
Tels./Fax: 2509-314812509-7395
São Paulo
Senador Paulo Egídio, 72 - slj
/sala
6 -
Centro-CEPO
l006-0 lO
Tels./Fax:
3104-2005/3104-0396/
3107-0842
e-mail: editora@forenseuniversitaria.com.br
http://www.forenseuniversitaria.com.br
Impresso no Brasil
Pri ted i Brazil
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 2/27
Indústria
Cultural
s invenções técnicas foram
necessárias
para que a
cultura industrial
se tornasse possível: o
cinematógrafo
e
o telégrafo
sem
fio,
principalmente. Essas
técnicas
foram
utilizadas
com freqüente
surpresa
de
seus
inventores:
o
cinematógrafo aparelho destinado a registrar o movimen-
to,. foi
absorvido
pelo
espetáculo
o
sonho
e o lazer; o
T.S.F.,
primeiramente
de uso utilitário foi por sua vez
absorvido pelo
jogo, a música e o
divertimento.
O
vento
que
assim
as arrasta
em direção à
cultura
é
o vento do
lucro capitalista. É para e pelo lucro que se desenvolvem
as novas artes técnicas. Não há dúvida de que, sem o
impulso prodigioso
do
espírito
capitalista essas
invenções
não teriam conhecido um desenvolvimento
tão
radical e
maciçamente orientado. Contudo
, uma vez
dado
esse im-
pulso o
movimento
ultrapassa o
capitalismo propriamen-
te dito: nos começos
do
Estado Sovietico, Lenine e Trotsky
reconheceram a
importância
social do
cinema.
A indústria
cultural
se desenvolve em
todos
os regimes, tanto no qua-
dro do
Estado
quanto no da iniciativa privada.
ois sistemas
Nos
sistemas
ditos
socialistas
o Estado
é
senhor abso
luto, censor,
diretor produtor.
A ideologia do Estado pode
portanto desempenhar um papel capital.
No entanto
mesmo nos Estados
Unidos, a iniciativa
privada nunca
fica inteiramente
entregue à sua
própria
evolução: o
Estado
é
pelo
menos
po íq
ia
.
Do
Estado
-soberaho · cultura- aô º Estado-polícia
há
urna gama de situações intermediárias. Na
França
por
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 3/27
exemplo, o F.stado só interfere na imprensa para dar auto
rização prévia,
mas tem
sob
sua proteção
a agência nacio
nal
de
infonnação
(A.F.P.);
no
cinema, ele autoriza e proí
be, subvenciona
em parte
a
indústria do
filme,
controla
uma sociedade de produção; no rádio, ocupa
um
monopó-
lio de direito,
mas
tolera
a concorrência eficaz de emisso
ras
periféricas (Luxemburgo,
Europa
n.
0
1, Monte
Carla,
Andorra);
na televisão, esforça-se por
manter
seu mono-
pólio. ·
Os
c o n t e ú d o ~
c ~ t u r a i s
diferem
mais ou
menos radical
mente
segµndo o.
tipõ de
i n t e r v ~ n ç ã o do
Estado
- negativo
(ceJ18ura, êontroJe)
ou
positivo ·(orientação, doxnesticaÇão,
p o
l ( ~
~ ~ b )
- s e g i : i n
g o
ô caráter
liberar oq a ~ t o r i t á r i o da
inter.Vençãp, s ~ g t g l d q t ~ p õ ·de Estadó
i n ~ ~ r v e n i e i i l e
·-' ·
Não
levando
em conta
essas variáveis, pode-se dizer
que se há igualmente a preocupação de atingir o maior pú-
blico possível.no
sistema privado
(busca do máximo lu
cro) e no sistema do Estado (interesse político e ideoló-
.L gico),
o
sistema
privado quer, antes de
tudo,
agradar ao
consumidor.
Ele
fará
tudo para
recrear, divertir,
dentro
dos limites da censura. O sistema de Estado quer conven
cer,
educar: por w lado, tende
a propagar
uma
ideologia
que
pode
aborrecer
ou
irritar,
por
outro
lado,
não
é
esti
nmlado pelo lucro e pode
propor
valores de alta
cultura
(palestras
científicas,
música erudita, obras clássicas).
O
sisteP,la g
rivado é
vivo,
porque
divertido. Quer
adaptã
r·
sua
c\q.tui·ã a c
t '
p
lJ.p
Jicg
_
Oj:üste.
lfi
i .dé
Estàdo
:.
é a f é t a ( : : l o ~
for
çada.
·
u
e r ~
à d á p t a r
·publicô à'S
ua
=cwtura.
f
a aiférriativa
e n t t ~ à v e ã g õ v e r n a n t ç i . d e s e r o t i z a d 4
A,nastácià - e
à
p i n u q y ~ e r ê a b ê o ~ l ~ ;
· · · · ·
Sendo preciSô colocar o
problema em
termos
norma-
tivos,
não
existe, a
meu
ver, escolha a fazer
entre
o sis
tema
de Estado e o sistema privado,
mas
a necessidade
de instituir uma nova
combinação.
Enquanto isso,
é
na concorrência,
no
seio de
uma
mesma nação, entre sistema privado e sistema de Estado
(para
o rádio, a televisão e o
cinema) que os aspectos
mais inquietantes de
um
e de outro têm as melhores opor
tunidades
de
se neutralizarem, e que seus aspectos mais
interessantes
(irivestimento
cultural
no
sistema de
Estado,
consumo cultural
imediato
no
sistema privado) podem
3
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 4/27
desenvolver-se. Isso, bem entendido, colocado
abstrata
mente .
Não examinarei neste ensaio o problema dos apêndices
culturais
da
política de
Estado
nem
o
sistema cultural
dito "socialista",
ainda
que,
com
exceção feita
à
China,
exista em seu seio penetração de elementos
da
cultura de
massa à americana. O objeto de meu estudo são os pro
cessos culturais que se desenvolveram fora da esfera de
orientação estatal (religiosa ou pedagógica) sob o impulso
primeiro do capitalismo privado e que podem, de resto ,
se difundir com o tempo
até
nos
sistemas
culturais esta
tais.
Para
'evitar qualque.
:r:
confúsãci,"empregarêi -o termo
de Ct ltUra ihdu,st_ial
par
á designáí
OS
caracteres
-com
uns
a toéfos Õssistêiii'as: pifvados
ou
de Estadó de Oes
ê
e·de
Leste, reservando o termo de cultüra
de
m s s ~
--
p
ã à a
cultura
industrial dominante no
oes
e
~ ~ ' ; . ~ : ; ; f , ~ : · ~
Produção Criação:
o modelo burocrátic<>- industrial
Em um
e
em outro
caso,
por
mais diferentes que
sejam os conteúdos culturais,
há
concentração
da
indús
tria
cultural.
A imprensa, o rádio, a televisão, o cinema são indús
trias ligeiras pelo aparelhamento produtor são ultraligei
ras pela
mercadoria produzida: esta
fica gravada
sobre
a
folha do
jornal
sobre a película cinematográfica. voa
sobre
as
ondas
e, no
momento
do
consumo torna-se
impalpável,
uma
vez
que
esse
consumo
é psíquico.
Entretanto
essa
indústria ultraligeira está organizada segundo o modelo
da indústria
de maior concentração técnica e econômiea.
No quadro privado, alguns grandes grupos de
imprensa
algumas grandes cadeias de rádio e televisão, algumas so
ciedades cinematográficas concentram em seu poder o
aparelhamento {rotativas estúdios) e dominam as comu
nicações de
massa. No
quadro
público, é o
Estado que
assegura a concentração.
A
essa concentração
técnica corresponde
uma
concen
tração
burocrática . Um jornal, uma estação de rádio e
de
televisão são·
burocraticamente
organizados. A organiza-
4
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 5/27
ção
burocrática filtra
a idéia criadora, submete-a a exame
antes
que ela chegue às mãos daquele que decide - o pro
dutor,
o redator-chefe. Este decide em função de conside
rações anônimas: a rentabilidade eventual do assunto pro
posto (iniciativa privada), sua oportunidade política (Es
tado), em
seguida remete o projeto
para as
mãos
de
téc
nicos ·que o
submetem
a suas próprias .manipulações. Em
um e outro sistema, o
poder
cultural , aquele do autor
da
canção, do artigo,
do
projeto de filme, da idéia radio
fônica se
encontra
imprensado
entre
o
poder
burocrático
e o poder técnico.
A
concentração técnico-burocrática pesa universal
mente
.sqbre .a produção
cultural
de massa. Donde a ten- 1
1
dêI}cia à despersonalização
da
criação, à predominância da
organização racional
àe
p:rodµção (técnica, comercial,
po-
líticaf s h ~ r e a invenção, à desintegração do poder cultural.
No entanto, essa tendência
exi_gida
pelo sistema indus-
t r i a
R
~ ~
?
g m ~
~ i ~ ~ ; ~ ê ~ ~ ê ~ t
~ ~ ~
Õ ~
t t á r l a
n a ~ p 1 Q . a
da ':
IJ.ai:y.reza
J?
f .f>Pria o consumo. Ç } l ~ t m : a \ que
sempre r ê c l ~ a
um....
p:rõcltltQ in_dipidp àfizado
e,.?.émme
. ;,, __ · • ~ . · L... ~ ~ ..... ~ ~ - : · ·. ,_,;:
A
indústria
do detergente produz
sempre
o mesmo pó,
limitando-se a
variar as
embalagens de
tempos
em
tempos.
A
indústria
automobilística só pode individualizar as sé
ries anilais
por
renovações técnicas ou de formas,
enquanto
as
unidades são idênticas umas às outras, com apenas
algumas diferenças-padrão de cor e de enfeites. No entan
to, â indústria- cultural precisa de unidades necessaria
mente individualizadas. Um filme
pode
ser concebido em
função
de algµmas receitas-padrão (intriga amorosa, happy
end
.mas d e v e ~ ter -su$1._personalidade, sua originalidade,
sua
unicidade
: fio mesmo modo,
um
programa
de rádio,
umà c a n ç ã o ~ P o r outro lado, a informação, a
grandê
im
prensa pescam c a d ~ dia, o novo, o contingente, o acon
tecimento , isto é, o individual. Fazem o acontecimento
passar
nos seus moldes para restituí-lo
em
sua unicidade.
A indústriª cultura} deve, pois, superar constantemen:
te uma contradiçi}o fundamental entre suas
estruturas
bu-
rocratizadâS:pq droniZadas
e a originalidade (individuali
dade
e
riovÍdadé
f
do
produto
que ela deve fornecer. Seu
próprio funcionamep.to se
operará ~
partir desses dois pa-
5
f
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 6/27
res antitéticos: b u r o c r a c i a - i n v e n ç ~ o , ?padrão-individuali-
dade .:i· · -;- · . . ._. · ' . ~ ··· · - -
Esse paradoxo é de tal ordem que se pode perguntar
de que modo é possível
uma
organização burocrático-in
dustrial
da
cultura
. Essa possibilidade reside,
sem
dúvida,
n
própri estrutura do imaginário. O imaginário se es
trutura
segundo arquétipos: existem figurinos-modelo do
espírito humano que ordenam os sonhos e, particularmen
te, os sonhos racionalizados que são os temas míticos ou
romanescos. Regras, convenções, gêneros artísticos
impõem
estruturas exteriores às obras, enquanto situações-tipo e
personagens.,tipo lhes fornecem as
estruturas internas. A
análise
estrutural
nos
mostra
que
se
pode reduzir
os
mitos a
estruturas
matemáticas. Ora, toda estrutura cons
tante
pode se conciliar com a norma industrial. A ind · s tia
c \ l B t ' ; : f i l . ~ ~ E ~ ~ i l l ~ . 1 ~ ~ : l ~ f l ~ J : ~ ~
~
~ . : ~ ; . ~ j , ~ ~ ~ ~ ~ , õ -
mzandn os grandes temas. i:omanescos,.J
azen Cio
cllcl)es
dqs
a r q e t i p o s ~ e i n " ê ' s t ê r e
õ t i
p o s
=
. _ . , , ~ , , . , , , < ..
e ·
.
- .......... , - ' - 1 , - ~ ...... .:.w;; .: -.., ,...,
.-fll .;·..-..;..
- ~ ~ P r a
~ J . . l f i l l t e , f a b r c á ~ - s e f Q J i l ª ' l S e Q . t i m e n t a . i s em
cadeia, á partir de cêr
tõs
modelos tornados cónscfe ntes
e racionalizàêios. Também ~ c o r a ç ã o
pode
se r--
_po1
õ
·em
......
1<.
•yot:
·
;... -
- 0 ~ ~
, . · . ~ ~ ' l r >
· ~ .
~ . . -
.
· - -
conserya.
~
• õin a condição, porém, de que os produtos
resultantes
da cadeia sejam individualizados.
Existem técnicas-
padrão
de individualização que con
sistem
em modificar o conjunto
dos
diferentes elementos,
do mesmo modo
que se
pode obter os mais variados obje
tos a
partir
de peças-padrão de
meccano.
Em determinado momento precisa-se de. mais, preci
sa-se da invenção. :É aqui que a produç_ão
não
chega a
abafar
a criação, que a
burocracia
é obrigada a
procurar
a invenção,
que
o padrão se detém
para ser
aperfeiçoado
pela originalidade.
Donde esse princípio fundamental : a criação cultural
não pode ser totalmente
integrada num sistema
de produ-
ção industrial. Daí um certo
número
de conseqüências :
por um
lado, contratendência
à
descentralização e
à
con
corrência, por outro lado, tendência à autonomia relativa
da
criação no seio
da
produção.
3
PETER
BAECHLIN História Econôrrtlca do Cinema
referência
na
Eibliografia
.
pág.
195.
6
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 7/27
De qualquer maneira, há, variável segundo as indús
trias,
um
limite
à
concentração absoluta. Se, por exemplo,
o mesmo truste de sabão (Lever) é levado não só a lançar
concorrentemente sobre o mercado várias marcas de de
tergente (Orno, Rinso, Sunil, Tide, Persil), mas ainda a
dotar
cada
marca
de
uma
certa
autonomia, principalmen
te na organização
da
publicidade, é porque existe, mesmo
nesse nível elementar,
uma
necessidªde de variedade .e in
dividualidade
··
no çonsutn9. e porque a máxima eficáCiâ co
mer2iâf se
encontrª _riessa
f q r n m
estranha, mas rel,ativa.:
mente.descentralizadora de autoconcorrência. · ·
-o Ümite à êoncentraÇão aparece bem mais nitidamen
te na indústria cultural. Se há concentração na escala
financeira é não só concebível,
mas
freqüente
(por
exem
plo, vários jornais concorrentes .dependem, de fato, do
mesmo oligopólio, como
France Soir
e
Paris-Presse
a
concentração em um só jornal, uma só emissora de rádio,
um
só organismo de produção cinematográfica contradiz
demais as necessidades de variedade e de individualidade,
a flexibilidade minima de jogo que é vitalmente necessá
ria à
indústria cultural.
O equilíbrio concentração-descentralização,
até
mes
mo
concentração-concorrência, se estabelece e se modifica
em
função de múltiplos fatores. Donde as
estruturas
de
produção luôridas e moventes. Na França, por exemplo,
após a crise de 1931, os trustes de cinema desmoronaram;
a produção se fragmentou
ém
pequenas ~ i r m a s indepen
dentes; somente a distribuição ficou conrtolada
em algu
mas grandes sociedades que,
por
efeito retrospectivo
de
reconcentração relativa, controlam freqüentemente a pro
dução por avanço sobre receitas.- Nos Estados Unidos.
após a concorrência
da
televisão,
as
grandes sociedades
como a Fox se descentralizaram, deixando as responsabili
dades de individuação a produtores semi-independentes.
Em outras palavras, o sistema, cada vez que é força
do a isso, tende a voltar ao clima de concorrência do
capitalisJli9 anterior.
Do
mesmo modo, cada vez que é
forçadQ ·a isso, se deixa penetrar por antídotos eontra o
burocratismo. No sistema
de
Estado, de uma outra ma
nefra, mantêm-se permanentemente grandes resistências
antiburocráticas:
estas
se
tomam
virulentas desde
que
uma
brecha
racha o sistema; em alguns casos, as possi-
; 7
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 8/27
bilidades criadoras dos autores
podem ser
maiores do
que
no sistema capitalista, uma vez que as considerações
a respeito de lucro comercial são secundárias nesse tipo
de
sistema.
Foi
o caso do
cinema
polonês de 1955 a 1957.
o
equilíbrio - e o desequilíbrio - entre -
as
forças
contrárias burocráticas
e antiburocráticas depende igual
mente do
próprio
produto. A·irnprensa de massa é
mais
burocratizada do que no cinema, porque a originalidade
e a individualidade já lhe são
pré-fabricadas
pelo aconte
cimento
porque o
ritmo de
publicação é diário
ou
semanal,
e porque a leitura de um jornal está ligada a
fortes
á
bitos. O filme deve, cada vez, encontrar seu público, e,
acima de
tudo, deve
tentar
cada
véz,
uma
s í n t e s e
düícil
do_padrão e do original: o padrão se beneficia: do suces
.so passado e o original é a
garantia
.
do-
novo sUcessÔ, ma.S·
o já conhêCido corre o risco de f a t i g a r
enquanto
o novo
corre o risco de desagradar. É por isso que o cinema pro
cura a vedete que tine o
arquétipo
ao
indi
y idual ª p ~ r t i r
daí compreende-se que a vedete seja O melhor anti-risco
da
cultura de massa, e principalmente, ·dó cinema.
'
- Em-'cada caso , portanto sé estabelece uma relação es
pecífica
entre
a lógica industrial-burocrática-monopolística
centralizadora-padronizadora e a contralógica individualis
ta-inventiva-concorrencial-autonomista-inovadora. Essa co
nexão complexa pode ser
alterada
por
qualquer
modifica
ção que afete um só
de
seus aspectos. É uma relação_de
r ç s
submetida_ ao
conjwito
das fa_r:ça&
& o c ü ~ i s as
qúais
mediatizam a relação entre d ·
âuto
f e. s ~ u público; dess_a
conexãc
f
ae
J
or
Ç
as
~ e p e r i d e fÍÍlàlmente, a riqueza
ar
ístiea
. . . . : ._ ;<.-11-
~ . . . . - . •
e
humana da obra
produzida. · · -
_ Éssa conexão crucial se opera segundo equilíbrios e
desequilíbrios. A contradição invenção-padronização é a
contradição dinâmica da cultura
de
massa. É seu meca
nismo
de
adaptação
ao público e de adaptação do público
a ela. É
sua
vitalidade.
1 : a existência dessa contradição que permite
compre
ender, por um lado, esse universo imenso estereotipado no
filme,
na
canção,
no
jornalismo, no rádio, e,
por outro
lado,
essa invenção perpétua .
no
cinema, na canção, no jornalis
mo no rádio, ess zona de criação e de t lento no seio
do
conformismo padronizado Pois a cultura industrializada
8
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 9/27
integra os Bressons e os Brassens, os Faulkners e os
Welles, ora sufocando-os, ora desabrochando-os.
Em.
outras
palavras, a . indústria_cultural precisa
de
Ulll_e.Iého_do e g a t i v o pªfa fÜÍlcionãr positivamente.
Esse
elétrodo negativo vem a ser uma certa l b_erdade no seio de
estruturas
rígidas.
Essa
<iberdade
p o ~
ser
muito
restrita,
essa
libetaade
_pode ~ e r v i r ,
.
na maioria
das
vezes, para dar
acabamento·à produção-padrão, portanto,
para
s e r v i ~ i J.
pa-
dronização; pode; algumas vezes, suscitar uma espécie de
corrénte
de
Humboldt,
à
margem
ou no interior de grandes
águas (a corrente "negra'; do filme americano de 1945 a
1960,
de
Dmytrik, Kazan a Lazlo Benedeck, Martin
Ritt,
Nicho as Ray, a corrente anarquista
da
canção francesa
com Brassens e Léo Ferré, etc.).
Ela
pode, algumas vezes,
brilhar
de
maneira fulgurante:
Karwl,
Cinzas e
Diamantes.
Produção e Criação:
a criação· industrializada
O criador ,
isto é,
o autor,
criador da
substância e
da
forma de sua obra, emergiu tardiamente na história da
cultura:
é
o
artista
do século XIX. Ele
se
afirma' precisa
mente
no
momento
em que
começa a era industrial. Tende
a se desagregar com a introdução
das
técnicas industriais
na
cultura.
A
criação
tende a se
tornar
produção
As
novas
artes
da cultura industrfal .
e s s u s c i t a m ,
em
certo sentido, o antigo coletivismo
dÕ
trabalho artístico,
aquele
das epopéias anônimas, dos construtores de cate
drais, dos ateliers de pintores,até Rafael e Rembrandt. E
surpreendente a analogia entre os heróis homéricos ou os
cavaleiros
da
Távola Redondà cantadÔs
por
vagas sucessi
vas de poetas esquecidos, Ef os _ 1erói.s das
epQpÇ,_i
_
s
de re-
vistas .em quadrinhos
da
imprensa de massa ilusttãdos
• • .:. · - ; - - -
.....
--- ~ ~ 0 : : ' 1
por o.ndas sucessivas de desenhistas.que .recaem.no .anoni-
mã?o: '·A8sim7""'pôr"
êx
empló: t
Jôhn -ca
rt
e·r,
J:lerói
êiê
' :Edgar
Rke Burroughs,
inaugura
sob
forma
romanesca o western
interplanetário Em 1934, o King Thatures Syndicate
acusa o desenhista Alex Raymond de pôr
em
quadrinhos
as
aventuras desse herói que se transforma em Flash Gor-
don. Depois
da
morte
acidental
de
Alex Raymond, Austin
Briggs o sucede (1942-1949).
Este
último é substituído
por
29
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 10/27
Marc Raboy e Dan
Barry.
. . Do mesmo modo o destino
de Tarzan passa ·de mão
em
mão Também assim, na Fran-
ça, os Pieds-Nickelés feitos por diversos desenhistas, de
pois da morte de Forton, atualmente o são p r Pellos. O
novo coletivismo, porém, não fez
nada
mais que se recon
ciliar com as formas primitivas
da
arte.
Pelª
- pi:4neira vez
na
história, é a ci visãQ ,industrial.
do
tr. loballió gue faz
su,rgir, a unidade_da criaÇ,ãoº i t í s t i ~ •. êomo- á 'mantifatura
faz surgir o
tràoalh6
a t t ~ s a n a l .
~
' ~ · ~
-7.
· A grande àrte
móveí,
ãrte
industrial típica, o cinema,
·nstituiu uma divisão de trabalho rigorosa, análoga àquela
que se passa numa fábrica, desde a entrada da
matéria
bruta até a saída do produto acabado; a a p r i m Q . o
filme é o
~ c r j , Q t
9 u Q P l ª 1 Ç e que deve ser a d a p t á é f o a ca
deià -êcimeça com- os adaptadores, os cenaristas, os dialo
gistas,
às
vezes até especialistas
em gag
ou
em
human
touch
depois o realizador intervém ao mesmo tempo
que
o decorador, o operador, o engenheiro de som, e, final
mente, o músico e o montador dão acabamento à obra co
letiva.
É
verdade que o realizador aparece como
autor do
filme, mas este é o produto de uma criação concebida se
gundo
as
normas especializadas de produção.
A divisão do trabalho se estende, inegavelmente, aos
demais setores da criação industrial :
a
produção televisada
obedece às mesmas regras, ainda que em grau menor do
que a produção cinematográfica. Já a produção radiofô
nica obedece de modo diverso, segundo as emissões, a essa
divisão de trabalho. Na imprensa periódica e, às vezes,
diária, o trabalho redacional sobre a informação
bruta
(despachos de agência, comunicações de correspondentes) ,
a colocação
em
linguagem que constitui o
rewriting
teste
munham a planificação da divisão racional do trabalho
em ·detrimento do antigo jornalismo.
Essa divisão de trabalho tomado coletivo é
um
aspecw
geral da racionalização que chama o sisterhà industrial,
racionalização que começa
na
fabricação dos produtos, se
segue nos planejamentos de produção, de distribuição, e
. ter:rtlina nos estudos do mercado
cultural.
A essa racionalização corresponde a
padronização
a
padronização impõe ao
produto
cultural verdadeiros mol
des espaço-temporais: o filme deve ter aproximadamente,
2.500m de película, isto é, cobrir
uma
hora e meia; os
3
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 11/27
artigos de
jornais
devem
comportar um
determinado nú
mero
de sinais fixando antecipadamente suas dimensões;
os programas de rádio são cronometrados. Na imprensa, a
padronização do estilo se
dá no rewriting. Os
grandes te
mas do imaginário (romances, filmes) são, eles mesmos.
em
certo sentido,
arquétipos
e estereótipos constituídos
em
padrão. Nesse sentido, segundo as palavras de Wright Mills
em
White. Collar a fórmula substitui a forma .
A divisão do trabalho, porém, não é, de modo nenhum,
incompatível com a individualização da obra : ela já pro
duziu
suas
obras-primas no cinema, se bem que, efetiva
mente,
as
condições ideais da criação
sejam
aquelas em
que o criador possa assumir, ao mesmo tempo, as diversas
funções industrialmente separadas (a idéia,
o
cenário, a
realização e a montagem) .
A
padronização
em
si
mesmà
não
ocasiona, necessariamente, a desindividualização; ela
pode ser o equivalente industrial das regras clássicas
da
arte, como
as
três unidades que
impunham
as formas
e os temas. Os constrangimentos objetivos
ou
sufocam, ou,
ao contrário, aumentam a
obra
de arte. O western não é
mais rígido que a tragédia clássica e seus temas canônicos
permitem as variações, mais requintadas, da Cavalgada
Fàntástica
a Bronco High Noon Shane Johnny Guitar
Rio Bravo.
Portanto, nerµ a _divisão dp t r ~ b . a l h o nem a paqroni
zação ~ ã o , em si, obstáculos
à
individualização .
da
obra. Na
r e a í f d ~ c f e . ê í ' à - t e n d e m a sufocá-la-e aumentá la ao· mesmo
tempo:
quanto
mais
· a .indústria cultural se desenvolve,
m a i ~
~ 1 a â n
é 1 ã t ? . ã r ã ã ' : : l t i d l i l ' ; f q
â
Ç ª O , ~ t ê õ
a :
; r
t a m ô
e
n C a
· ' - · .
~ ~ . . . , . , , . , · ~ · " l i " ' ~ · ~ -
... . - . . . r ~ - - ........ .. ~ - - ~ * " t ' Í l " ' i · - ~
p a d
u >
~
e ~ ~ ~ g i y i j i
~ ~ Ç ã õ
Não ·foi em seús começos
de artesanato que Hollywood fez apelo aos escritores de
talento
para
seus roteirbs; é no momento do apogeu
do
sistema industrial que a
usina
de sonhos prende
Faulkner
por contrato ou compra os direitos de :Hemingway. Esse
impulso
em
direção ao grande escritor que traz õ máximo
de individuação é ao mesmo tempo .contraditório, porque,
apenas contratado, Faulkner se viu, salvo
uma
exceção,
na impossibilidade de escrever cenários faulknerianos e se
limitou a fazer floreios sobre temas padrões.
~ 1 l s 9 } U L ~ P ~ ~ ~ Y ' ª ' s , __
~ l é t
~ ~ R ~ f t r ~ ~ ~ 9 ~ ~ i I J < i V 1 -
duaçao tende frequentemente a se
amorteeer
êt
um
es-
p ~ q l ~ ª ~ : J i f i ã ~ µiédío
·
·
-
~ ~ - ?e· · - · , . ~ · ~ ~ · - ~
3
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 12/27
O impulso no sentido da individuação não se traduz
somente pelo apelo ao elétrodo negativo (o criador ),
ele se efetua pelo refúgio em superindividualidades, as ve
detes. A presença de uma vedete superindividualiza o filme.
A imprensa consome e
cria
sem cessar vedetes calcadas
sobre o modelo de estrelas de cinema: as Elizabeth, Mar
garet, Bobet, Coppi, Hergog, Bombard, Rubirosa. As ve
detes são personalidades estruturadas (padronizadas) e in
dividualizadas, ao mesmo tempo, e, assim, seu hieratismo
resolve, da melhor maneira, a contradição fundamental.
Isto pode
ser
um dos meios essenciais
da
vedetização ( so
bre
o qual não insisti suficientementé em meu livro a res
peito
das estrelas) .
Entre
esses dois pólos de individualização, a vedete
e o autor (cenarista ou realizador de filme, de emissão,
redator do artigo) , funciona uma dialética
na
maioria das
vezes repulsiva. Quanto mais aumenta a individualidade
da
vedete, mais diminui a do autor e vice .versa. Na maioria
das vezes a vedete tem precedência sobre o autor. Diz-se
um
filme de Gabin;'. A individualidade do autor é esma
gada pela da vedete. Esta individualidade se afirma num
filme
sem
vedetes.
Podemos
abordar
aqui o problema do
autor
que a in
dústria
cultural utiliza e engana ao mesmo tempo em
sua
tríplice qualidade de artista, de intelectual e de criador.
A indústria cultural atrai e prende por salários muito
altos os jornalistas e escritores de talento: ela, porém, não
faz frutificttr senão a parte desse talento conciliável com
os p a d r õ ~ s c o , 1 1 : ~ J ~ ~ ~ . . : t i ~ p t o _ z o . e w .. dJ2.._ r r 1 ~ ~ d a
cultura mdustrrnl, . uma .
mtelzgentsza
cnaaora,
· sobre a
q
~ ~
n ~ ~ ~ 7 J i
g i
o
~
s ê J r â
m
~ c l ~
a ; . ~ . Y ~ ~ 9 :
ª 9 1 5 ~ 2 a : J ~ 9
e
r;
;
pür
o-
cracià.é·cujas i:>óss1bilictaaes sao subdesenvõlvJâ.as. o copy
a e i l ê ã n ó ã
e
n t e , âã :
f
mâ s â V é
h f u r a ~ c t
~
Margaret
no France--:Dimanche. Conta o 17 de
Outubro
como um
suspense em que Lenine seria o terceiro homem. O rotei
rista constrói descuidadamente roteiros que ele despreza.
Um Dassin se submete à Lollobrigida
para rodar La.Loi
um
Lazlo Benedeck,
para
escapar ao silêncio, aceita a ni
nharia convencional de um script. E assim vemos freqüen
temente autores que dizem: Isso
não
é
meu
filme, fui
obrigado a aceitar esta vedete, - tive que aceitar este
h ppy end - fui forçado a fazer este artigo mas não o
3
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 13/27
assinarei, - é realmente preciso que eu diga isso neste
programa de ~ á d i o . No seto. da
.._
fil9ústria cultural .s.$ l' lul
ti:Qlica:
g_ µ t o r ~
o e q v
e r g o ~ o
de s ~ _ b . J
mas tam,bém ,neganup que sua
obra
seJa obra sua. O autor
nãó,
;@ ?fiLJ:AA is s e i c , e n t f t - i c â r p o m sue:
-.'.
ólirá: En,
trê
â l lbos
crio.
u".'se
.
uma
extraordinária reptílsa.
:f;p.tão.
,
~ . s m a f ê c e
a
-·
• .. • ·"<:'" ' -
< (-
. , • • - · · • •
.;.,.
:'li- ............. \ -
·C
. . •
maior.
satisfaçãO do àrtista,
qye
é
a-
dê se-identificar cõfn
"
;,
.,.,. . - . . . .
- :
... " " " " · - ~ - - - ·
·-
'
·- - ···-·. . . .
,...
·· ·
suà
..óbra, isto é, qe se j u s t i f i c ~ r r ~ v é s -de § ~ , 1 - 0 Q r ã . , de
tunãar neta:· suà própfiã
t rãllsêeriaênéia: ' ·
'" ' :É uni fenôiiiêrtó 'de aÚenáção não sem analogia com
o do operário industrial,
mas
em condições subjetivas e
objetivas particulares, e com essa diferença essencial: o
autor
é excessivamente bem pago.
O _
rabalho
mais . e s p r . ~ ~ a d o pelo --ª_ ltor é, freqüente
mente
;"
q u ê
lliEn:iá melhôr- remunéraÇiio
.ê
d.êssa desmora
lizãllte correla-çãô nascem o ,cinismo,
'a
gressividade
ou
a f ° ê õ n S c i ê n c i a gtie se' nüsturain' a in.$aÜsfaÇa6,profunda
nasc
1dã
da" rústraÇãõ ã rfiSfiCàõü lntelêêlúal.
É
o que ex
pliêa qúé, -negada
Pelo sistemá
;
t
unia fração dessa inteli-
gentsia
criadora negue, por sua vez, o sistema, e coloque
no que ela crê seja o anti-sistema, o de Moscou,
suas
espe
ranças de desforra e de liberdade. É o que explica que um
surdo
progressismo,
um
virulento anticapitalismo
se
te
nham desenvolvido junto aos roteiristas mais bem pagos
do mundo, aqueles
de
Hollywood (a "caça às
bruxas" de
McCarthy revelou que a Cidade dos Sonhos padronizada
estava subterraneamente minada pela mais radical con
testação. Do mesmo modo,
na imprensa
francesa, no cine
ma
francês, uma
parte da inteligentsi
acorrentada e bem
remunerada nutria sua contestação no progressismo) .
Contudo,
sob
_
ll
_l rópria pressão que ele_sofre, o
autor
espremê
s u c o
q u i
t
1 J o : c i e
r r r 1 g ã
r
~
ã
obra
':''
Além
dis'sõ, a
l i b e r d
ã
~ c t e ' jogo
entrê
padronização e . Índividualização
lhe permite
às vezes, na medida de seus sucessos,
ditar
suas condições. A relação padronização-invenção nunca é
.,..
~
. .
; .-.
,. . , - •
estável
nem
parada, ela
Sé
modifica a Gad.a__Qbra nova,
....... , ... - . . . . . , . : ~ _ .. . __ - , q ; ·
..
_..... _. ---;- . . · ~ -
segundo relaçoes de forças smgulares e detalhadas. Assim,
a - nouve lle vague cinematográfica provocou um recuo real
da
padronização,
embora
não se saiba até
que
ponto e
por
quanto tempo.
Enfim, existe
uma
zona margip.al e
uma
zona central
da i }d Ístria_culfüirâl. Os autores podem expressar.:.se em
33
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 14/27
filmes marginais, feitos com um mínimo de despesas nos
progrãíiiãS''j5eriféricos o rádio e de televisão, nos jornais
~ § J ~ } . l > J s 9 - l l m i 1 ~ i
9 ·
Inversamente, a paaron1zaçao restrin
ge a p rte d invenção (levando-se em conta a1gumas gran
des exceções) no setor fechado
d
indústria cu1tura1, o
setor ultraconcentrádo, o setor' onãe ftlnciona a tendência
ap c o n s u : r n o r u , i : r ~ m o . · ---' ' . . . - ~ '' · ·
1 . . . ~ ~
4
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 15/27
O
rande
Público
Mesmo
fora
da procura de lucro, todo
sistema
indus
trial tende ao crescimento, e toda p_.rodução de massa des
tinada
ao
consumo
tem
SU&
.próRrÍa
°j
Ógica
qÜe
é-
a de
m ~
:
' _ ~ ~ •• , , _ . . _ , ~ • • - e V
x i r n o ~ o r t s u t n o
~ ~ A i l laustria cultural não escapa a essa lei. Mais que
isso, nos sêus setores os mais concentrados, os
mais
dinâ
micos, ela tende ao público universal.
Revistas como Li/e ou Paris-Match grandes jornais
ilustrados
como o France.-Soir
superproduções
de Holly
wood ou
grandes
co-produçôes cosmopqlitas se dirigem e:í:e-
- ~
........
- ;\
...
-,..._;,;.;; ' '\ . •• • • .• - ;o ;:..
tivamente a todos e a ninguém, às ,diferentes idaâes, aos
u: ' .
,
.l
ili - ..
~ ~ ~ ~ ; p . ;
~ J . . - , .
. l i a ~ ~ ';•·,...,..,.,
dois sexos,
às
diversas cfasses
da
sociêdade, is
.
Q.i.
,
ao .con-
j u
S f ~ ..
u' ..
p,tíolico ifacionãr e evênttrar nente, ao púb llco
m ~ p . i a J .
A procura de
um
público variado implica a procura
de variedade na informação ou
no
imaginário; a a pro
cura de um grande público implica a
procura
de um de-
nominador comum. ... .
Um semanário como Paris-Match ou Li/e tende siste- -
maticamente ao ecletismo:
num
mesmo número há espiri-
tualidade e erotismo, religião, esportes, humor, política, "
1
jogos, viagens, exploração, arte, vida privada de vedetes
ou princesas,
etc.
. . Os filmes-padrão
tendem
igualmente
a oferecer amor,
ação, humor, erotismo em doses variáveis;
misturam
os conteúdos viris (agressivos) e femininos (sen
timentais), os temas juvenis e ·os temas adultos. A varie
dade,
no
sei.o
de
um jornal, de um filme, de
um
progra
ma de rádio, visa a satisfazer todos os interesses e gostos ..
de modo a
obter
o máximo de consumo.
Essa
variedade
é,
ao mesmo
tempo
,
uma
variedade
sistematizada, homogeneizada a
palavra
é de Dwight Mac
35
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 16/27
Donald), segundo
normas
comuns. O .
~
e s t i l o s i : r p p l e s
c ~ a r o
direto do ç o p y < f _ ~ s k s a a tornar a m e i ; : i s a g e m t _ r ~ ~ a r e n -
te, a cõnferir-lhe .
uma
inteligibilidade imediata. O JTYY-
desk dá
um estilo h o m
o g f o e ~ a d o
_:_ l.un.., estilo
_illii
vérs-al
-
êess
â
'
únivet
sâU:dàêre
ocUJ.fa
'
õs
m ~ i s
çiiy(;lrsàs
~ o
n
t e ú d o s .
De
modo- ainda mais profundo, q ~ a . _ p ç l o T cU.re§
~
um
grande jornal ou produtor de um filme dizem meu pµbll
co , eles se 'rêferem â. uma imãgem
h
omem méêtiô, ~ e -
sultante de cifras de v enda, visão em sl .mesma- Jiomoge
nefzada ..Eles_ mputam gosios ~ q . e s g g ~ a ~ s s e h c ; > m
médio ideal; este poçle com:preender que Van d'og tenha
sido
um
pintor amâldiçoado, Ínas n ã o
- q u
é te
rih
á s
iàõh
o
mõssexual; pode consumir Coctéàu ol:r bali, ãs ãü•Bre-
tõit'õii Péret. A
o m o g
e n
~ i ~ ~ ã
~
v i s .
a
a
, , t z r ~
r ~ , u f
o r i c a m e n t e
assimiláveis a um h
omem m é d I Q
\ d e ~ çs mais . ~
f e r
~ l t e s
conteúdos. ·
~
· ·
Sincretismo é a palavra mais
apta
para traãuzir a
tendência a homogeneizar sob um
denominador
comum
a
diversidade dos conteúdos.
O cinema, a partir do reinado da longa metragem,
tende ao sincretismo. A maioria dos filmes sincretiza te
mas
múltiplõ
S '
ri
b
seio dos grandes gêneros
ã
ssim,
num
filme de aventura, haverá
amor
e comicidade,
num
filme
de amor haverá aventura e comicidade e num filme cômico
haverá amor e aventura.
Ao mesmo tempo, porém, uma linguagem homogenei.
zada (ainda que uma infinídade de formas fossem possí
veis) exprime esses temas. O rádio tende ao sincretismo
variando a série de canções e programas, mas o conjunto
é homogeneizado no estilo da apresentação dita radiofô
nica. A grande
imprensa
e a revista ilustrada tendem ao
sincretismo se esforçando por satisfazer toda a gama
e
interesses, mas por meio de uma
retórica
permanente.
O sincretismo tende a unificar
numa
certa medida os
dois setores da cultura industrial : o setor da informação
e o setor do romanesco. q ~
s e t o r
da informação, é m ~ i t o
procurado o sensacionalismo (isto e: essã Taixa de -real
onde o· inesperado; .o biza:rro, o h o m i c í d i o o âCidente, a
aventura irrompem nà vida quotidiana) e .ás
é
es que
parec
em
viver
.
'.ã
oã ixo
d.a
realidade quofiâ.ianã.
ó
que
na vida real se assemelhà
ao rõmãiíêScô
ôu
ao
sonho
é
privilegiado. Mais que isso, a informação se reveste de ele-
6
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 17/27
mentos romanescos, freqüentemente inventados, ou
ima
ginados pelos
jornalistas
amores
de
vedetes e.de prince
sas). Inversamente,
no setor
imaginário, o realismo do
mina, isto é, as ações e
intrigas
romanescas que têm as
aparências
da
realidade. A
cultura
de massa
é
animada
por esse duplo movimento do imaginário arremedando o
real e do real pegando as cores do imaginário. Essa dupla
contaminação do real e do imaginário o filme A Princesa.
e o Plebeu assemelha-se à realidade e os amores de Mar:
garet assemelham-se .ao filme) , esse prodigioso e supremo
sincretismo se inscreve
na busca
do máximo
de
consumo
e dão à
cultura
de massa um
de seus
caracteres funda
mentais.
O novo público
No começo do século XX, as barreiras das classes
sociais,
das
idades. do nível de educação delimitavam as
zonas respectivas de
cultura.
A imprensa
de
opinião se
diferençava grandemente da imprensa de informação, a
imprensa burguesa da imprensa popular, a
imprensa
séria
da
imprensa
fácil. A
literatura popular
era
solidamente
estruturada
segundo os modelos melodramáticos ou ro
cambolescos. A literatura infantil era rosa ou verde, ro
mances para crianças quietas
ou para
imaginações viajan
tes. O cinema nascente era um espetáculo estrangeiro.
Essas
barreiras
não estão abolldas. Novas estratifica
ções foram formadas: .uma
imprensa
feminina e uma im
prensa
infantil
se desenvolvem depois de
cinq4enta
anos
e
criam
para si públicos específicos.
Essas novas ·estratificações
não
devem mascarar o di
namismo fundamental da cultura de massa. A partir da
década dos 30, primeiramente nos Estados Unidos e depois
nos países ocidentais, emerge um novo
tipo
de imprensa,
de
rádio,
de
cinema, cujo
caráter próprio
é o de se dirigir
a todos.
á Q ª Fnmça o _nascimento do Paris Sair
.diário
dirigindo-se
tanto
aos cultos como ao·s incU ltos, aos bur-
~ - - y • • '
gueses como aos populares, aos homens como às
mulheres,
aos_
o
t j Í
c
ct
án
o a
o S
à
µ
o s
o
..
Paris Soir
te
m
=
m
vista
a universalidade e, de fato; á alcança. Ele não abarca todos
os leitores, mas abrange ieitores de todas as ordens, cie
7
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 18/27
todas as categorias. Depois, há a transformação do
atcn
de revista esportiva em revista
para
todos, pai do atual
Paris-Match
que
também
busca a universalidade. Parale
lamente, cria-se a
Radio-Cité
o
Paris-Sair
radiofônico. A
Radio-Cité
cria
um
novo pólo de atração,
um
estilo dinâ
mico de variedades. Nesse meío tempo o cinema passa do
espetáculo estrangeiro a espetáculo de todos. . .
A guerra, a ocupação esgotam a cultura de massa, de
pois o· movimento se recupera e hoje, com
à
Rádio-Lu
xemburgo e Europa n.
0
1, com o
France-Soir Paris-Match
Jours e Frànce
com os filmes
de
vedetes e
as
grandes
produções, pode-se
constatar
que o
setor
mais dinâmico,
mais concentrado
da
indústria cultural é
ao
mesmo tempo
aquele que efetivamente criou e ganhou "o grande público",
a "massa", isto é, as camadas sociais, as idades e os sexos
diferentes.
Concorrentemente se desenvolvem a imprensa infantil
e a imprensa feminina. A grande cadeia internacional
Ope
ra undi cria na França a nova imprensa infantil com
Tarzan
e a nova imprensa feminina com
Confidences.
De
pois essas duas imprensas conquistam para a cultura de
massa o mundo infantil e o mundo feminino.
E,
vista mais
de perto, a imprensa feminina não se opõe à masculina.
A grande imprensa não
é
masculina, ela é feminino-mas
culina como veremos mais adiante. A imprensa feminina
se especializa maciçamente nos conteúdos femininos diluí
dos ou circunscritos
na
imprensa masculino-feminina.
A }mprensa infantil, literalmente criada pela inçl.ústria
CUltll,ral,. e·'que '.flóre scé '
at
úãlmente êorii
Mickey_,
. l'l'í1bn,
Spirou, · Flintstones, se "
es
peciâJ.lzã rios · éonteúdÕs
'
in-
, ....
~ ; e >
• -
. ~ · · - .
~
..
~ . l t . ; : . ~
fantis que
por
aí,
na
imprensa adulta, estão. diluídos
os
é'ircy
n15critos
(página·
s
crianças,_quadri
Íl
hos
',
j
ogÔs .
~
~ ~ f u é i
k ela é ,ao mesmo
.,,
tertipo u, Ila, : P r e ~ ª ' r ã Ç
o p
~ ~ a
1mp
r53nsa Jlo . Pundo ad_ulto. ·
...., A existência de uma imprensa infantil de massa é .o
sinal de que
uma
mesma estrutura industrial comanda a
imprensa inafntil e a imprensa adulta. Esses sinais
de
dife
renciaçao são, portanto,
também
elementos
de
comuni
cação.
Ao
mesmo tempo, o fosso que separa o mundo in
fantil do mundo dos adultos tende a desaparecer: a grande
imprensa
para
adultos está impregnada de conteúdos in
fantis (principalmente a invasão das histórias
em
quadri-
38
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 19/27
nhos) e m
~ J t
i p l i c o u o emp,rego da magem (fotos e dese
nhos),
isto é, de uma linguagem
imediatamente
inteligível
e
a
1
r ~
e n t ~ ~ r a -
Êl:gr
i™1s;a; a9
.,
.
1E;ê.S.IJ10
f a w p o
..ª ~ J _ I J .
p r e n s a
infant ir 'tornou-se
um instrumento
d ~ aprendizagem para
~ ~ ' . · ..
< - ~ , _ , , .
• ...._
a cµltura de massa. Pode-se considerar que quª torze anos
é a
j
' [ f
d
j
~
e
~
~
- ~
p
à ç u l
~
:
~ N § j ~ ~ I
..
7êlade
em q g ~ J ~ s e : . . . f i l . e d ~ } I B § . § 9 J t Q S g ê ~ Q ê _(exceto,
evidentemente, os ce'nsurados) ~ m q u
~
_ . , .
s e
. . . . , ç ~ s m ~ i x o
nado pelas r
e. _
vistas em ,que
já
se ef>c.
utçi.m
,. os -mesmos
pro
grâffiãs
ãe"ráêiio ou de teléV
isãC
n
tu
e:ôs adultos.
- . , ~ " l , " l ' J > · . 0 : ' < 1 d . - - - ~ ... . ~ - - ~ ..
t,,...c,,._- '
. ---.._____ _
Pode-se dizer que a cultura de massa, em seu setor
infantil, leva precocemente
a
criança ao alcance do setor
adulto, enquanto em seu setor adulto ela se coloca ao
al
cance
da
criança.
Esta
cultura
cria
uma
criança com ca
racteres pré-adultos ou um adulto acriançado? A resposta
a essa,
pergunta
não é necessariamente alternativa. Horkhi
mer vai mais longe, longe demais, porém indica
uma
ten
dência: "O desenvolvimento deixou de existir. A criança
é adulto desde que sabe andar e o adulto fica, em princí
pio, estacionário."
Assim,
uma
homogeneização da produção se prolonga
em homogeneização do consumo que tende a atenuar as
barreiras entre
as idades. Não
há
dúvida de que essa ten
dência ainda não realizou todas as suas potencialidades,
isto é, ainda não atingiu seus limites. ·
Essa homogeneização das idades tende a se .uxar
numa
nota dominante: a dominante juvenil. Esbocemos aqui
uma
observação que reencontraremos mais
adiante:
a te
mática
da juventude é um dos elementos fundamentais da
nova cultura. Não são apenas os jovens e os adultos jo
vens os grandes consumidores de jornais, revistas, discos,
programas de rádio
(a
televisão, como veremos, é exceção) ,
mas os temas
da
cultura de massa (inclusive a televisao)
são também temas. "jovens".
·Embora a cultura de massa tenha desenvolvido
uma
imprensa feminina, .não desenvolveu, salvo exceções isola
das, uma imprensa especifica masculina. Algumas vezes a
grande
imprensa
chega a ser, mesmo, mais feminina que
· masculina ·(se se pensa no lugar dado aos temas sentimen
tais).
O cinema,
por sua
vez, conseguiu
ultrapassar
a alter
nativa que caracteriza a época do mundo, entre · filr:p.es
com características femininas, ternas, lacrimosas, doloro-
9
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 20/27
sas, e filmes com características viris, violentas,
a g r e s s ~ v a s :
ele
produz
filmes sincretizados, nos quais o conteúdo sen
timental se mistura com o conteúdo violento.
Há
, portanto,
uma
tendência ao mixage
4
de conteúdos
de iilteresses femininos e masculinos, com
uma
ligeira do
minante
feminina no interior desse
mix ge
e, fora dele,
uma
imprensa feminina especializada
em
economia domés
tica, moda e assuntos amorosos.
A cultura tradicional, a cultura humanista se detinham
nas fronteiras das classes: o mundo camponês e operário,
mesmo quando entrou no circuito da cultura primária
da alfabetização, ficou à
margem
das humanidades: o
.
tea
tro
era
e continua
a
s e r
...
um
privilégio de
4
consumo burgilês.
• ' ;o.•
. . . ~
·
' . . . , . . , . .
·
. . . .
_ _ _ ..........,.. 1 .
A cultura camponesa ainda
per
manecia folclórica nas pri-
meiras décadas do século XX. Da mesma maneira, a cul
tura operária se achava fechada nos subúrbios industriais
ou então era elaborada
no
interior dos sindicatos
ou parti
dos socialistas.
Ora, o cinema foi o primeiro a reunir
em
seus circui
tos os espectadores de todas
as
classes sociais urbanas e
mesmo camponesas. Os inquéritos nos Estados Unidos, In
glaterra e
França
nos indicam que a percentagem de fre
qüência
para
as classes sociais é aproximadamente a mes-
ma. ~ ~ Q i i > . º ~ ~ ~ ~ ~ u l ~ S J ? . . ( ) r t i _ y ~ ~ § Y ~ ~ ~ c : J J : r e n a -
ram um público saído de
toda§
ás camadas da.,§Qciedade .
: • .
~ - . . : . ; . : . . ~
_
~ - ~ - ' - : . - ~ - - . . . ' l ' : I J l e
A partir da década dos 30, o raaio irrigou rapidamente
todo o campo social. A televisão tomou impulso tanto nos
lares populares quanto nos ricos. Enfim, a grande im
prensa de informação no estilo France-Soir as grandes re
vistas ilustradas no gênero
Paris-Miatch
se difundiram, de
sigualmen.te, é verdade, mas incontestavelmente, em todas
as bancas.
As Jronteiras_ çulturais são abolidas no mercado co
mum das
s
s media. Na· verdade â s e'
stràt
illéâÇÕes s ão
r ~ R ó ~
~ ~ L ~
~ ~ s
~ 9 ~ . i l l ~ t 2 f
s ~ ; J \ é i ~ : Ç i i ~ " 1 ~ ~ ~ : 2 1 i i ~ f r f i f ~
e
~ f  ~ ; t õ ~ 1 1 i ~ f c i ~ } [
~
~ t t a ? é i ~ ~ y ~ 1 d § ~ f f ã _ ~ S ~ ~ x ~ t ~ ~ ~ ~
_ ; . : 1 ' ( ~ , , ; . . ; ; o ; . . 1 , ' ? ' ; ( , i 1 ' ~ ~ ' . - - ~ " " " ' . - i - ~ : A ; · ' _; ._ · ~ . : . . < ' " ' " " " ' ~ ~ V \ . . ~ - ~ , , r . - : - ~ ~ · · . : . : , _ ; , l , : ' Ç .,' ..;>.;,.'.• ; ; . ~ _ ~ ~ . . . . . , . . _ ~ .
a
l
J E
ª s } a s ~ ~
9
~ ~ ~
s
2 s P .
2
~ ~ ~
; 1 , 1 ~
~ ~
S ~ ~ g , 2
~ 9 ' º
4
Gravação simultânea
dos diversos
sons necessários
sobre a
trilha
sonora de um filme. - N.T.
40
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 21/27
c i n ~ m
~
~ ~ ~ r ~
}
}
~
J A P J ~ . Q l l ~ ~ L g g _ n t º - ~ J B ~ ç
u i
t o s s o 1 1 ~ s " t iªs · 1 1 1 \ l t a s y ~ ~ ~ §
. ~ º
Q s J l
~ ~ o s .
·
bs
ouvintes
de
rádio se diferenciam pela
escolha das
estações e dos programas e essa düerenciação de gostos é
também uma
diferenciação social
parcial. As
revistas são
difundidas
muitas
vezes segundo
as
estratüicações
sociais:
a
France-Dimanche
é
mais popular,
Noir
et
Blanc menos
popular que
Paris-Match.
A
Paris Presse
é
mais
burguesa,
Le
Monde
mais
intelectual que France-Soir; o s ~ ~ t i g ; J l O -
dem
ser ª
C i
o s d e ;naneira q i f
~ . r :
e n t e p e ~ o o ~ r ~ r i g ou
pelo burguês
nos mesmos jornais, II .as
Paris-Match
Fran-
~ ~
- ·
·•b_o:,.• ......
-
...... · ~ · · '
ce-:S
_
oir p ~ L . J 1 . . , ~
e p ~ _ . l
o s
_,
grancyes_ e í c u l 9 s _
ç _ 9 m u n s
_ Q d a ~
as clàsses. ·
_.
S
éá
Íguém
pensar
que
nos Estados
Unidos e
na
Europa
Ocidental
às
classes
ou
categorias sociais
permanecem
se
paradas no trabalho por relações de autoridade ou relações
de vendedor a
comprador, separadas
no
habitat
por
quar
teirões ou blocos (isso, ainda, apesar
das
novas
unidades
de alojamento), pode-se adiantar que
a
cultura industrial
é o
único
grande.
terreno
de comunicação
entre
as ai.asses
sociais:
o operário e o
patrão
cantarolarão Piaf ou Dalida,
terão visto o mesmo programa na TV,
terão
seguido as
mesmas
séries
desenhadas
do
France-Soir
terão
(quase no
mesmo
instante)
visto o
mesmo
filme. E se alguém pensa
nos
lazeres comuns
com
temporadas de férias comuns
para
operários, empregados, "quadros", comerciantes (perma
nece a diferença entre o lugarejo de barracas e as casas
de
campo), já
s_e
pode
_Rerceber que a .nova cultura se pro
longa .no , sen.ticto ~ um
ã
ho inõgeneizá'.Ção ..de éostUmes.
'
Ess
emovlmento
é tan
h 1âis Ímportante quâ
nt
o se
gue o sentido de uma evolução sociológica: a formação de
uma
gigantesca
camada
salarial,
no
ocidente industrial,
para onde confluem, de
um
lado, o antigo proletariado
operário que tem acesso a um nível de vida consumidor
e a seguros sociais, de outro lado, a
antiga
classe
média
que se escoa no salariado moderno (pequenos artesãos,
pequenos proprietários, pequenos comerciantes que se tor
nam
quadros
; empregados, assalariados nos
grandes con
juntos industriais, comerciais ou
administrativos).
Esse novo
"salariado"
permanece
heterogêneo:
múlti
plos
compartimentos
são
mantidos ou construídos
entre
os diferentes status sociais: os funcionários públicos
re-
4
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 22/27
cusam a identificar-se com os operários, os operários per-
manecem' com sua consciência de classe, a
fábrica
conti
nua
sendo o ,gueto da civilização industrial. ~ ~ t 2 §
_
c Q : r : 1 -
v e ç Q . ~ s , _hierarquias, v i n d i c 9 - Ç Q ~ A ~ ~ 1 1 ç l l l ~ d j y _ ç i ~
· e_sa
grande
camada a s s a l a r i a d ~ M ~ s
J?
9 : - ~
~
i L
h g m o ~ ~
~
e í z a
n a
a p ~ n a ~ <?. e _ ~ 1 q r y , ~ f l
i E : l
( S e I T T ; r o
~ __
Q C ~ ~
apose r: _
taaor
.ias, ~ s . . . . .
e z e ~
s e g u r q
~
~
d e ~ m y
r i t g O ~
P
i . < J f Z J j , g - g ~ - ~ ~ ; } , à Í Q s < J , e - < ? J : J § ~
~
~ es ~
_ a l ~
ç o
n:lJ;l iS , q q ~ X h C J 1 l a l l \ ~ J , . S ~ ~ ~ d ) : ; ; : ~ ; ~ § , ª , ) J J l ~ ~ z : i e
caracteriza,., a
cultura
de massa.
· ·
.,,.;,· Assim, à limã
no
va"câmada
salarial
em vias de
homo-
geneização (essas duas tendências contraditórias se efe
tuando em
diferentes níveis) corresponde
uma
cultura
,
ela
mesma, em vias de homogeneização e de heterogeneização.
Não quero dizer que as estratificações
culturais
correspon-
dam às estratificações
da
nova camada,
quero assinalar
uma correspondência sociológica mais vasta e global. Esta
cultura
industrial
seria, pois, em certo sentido, a cultura
cujo meio
de
desenvolvimento seria o novo salariado. Al-
guns problemas podem ser colocados de imediato, se
bem
que
só mais adiante
possamos examiná-los a fundo. Se é
verdade
que
o novo
salariado
é caracterizs.do pela progres
são \dos "colarinhos brancos'', isto é, dos
empregados
em
firmas (de 1930 a 1950 o número dos white coll rs jobs
passou de
30
%
para
37'/'o
nos
Estados Unidos), se é
ver
dae que segundo Leo Bogart: "Os
Estados
Unidos são hoje
em dia
um país
de classe média, não apenas em sua renda,
mas em
seus
valores",
5
pode-se
supor que
a
nova cultura
corresponde igualmente à preponderância
(ou
à progres
são) dos valores
de
"classe média
no
seio
do
novo salaria
do, com a condição, evidentemente, de
não
se pensar tanto
nas antigas
classes
médias
(pequenos proprietários, peque
nos artesãos, pequenos camponeses)
quanto
com a con
fluência de valores pequeno-burgueses nos valores do wel-
f re moderno.
Em
outras
palavras, a nova cultura se inscreve no
complexo sociológico constituído pela economia
capitalista,
a democratização do
conswno,
a
formação
e o desenvolvi
mento
do novo salariado, a progressão
de
determinados va-
T·he
ge
of
Telcv
·ision
pág. 2, ref. cit. na
Bibliografia,
púg. 204.
42
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 23/27
lares. Ela é - quando consideramos
as
classes
da
socieda
de, quando consideramos os estatutos sociais no seio do
novo sa_lariado - o lugar-comum, o meio de comunicação
entre esses diferentes estratos e as diferentes classes.
Em
certos
centros
de férias, como o clube Mediterianée,
já
se
podem
encontrar
operários, empregados, quadros, técni
cos, fisicamente misturados, e não mais apenas imagina
riamente. confundidos no isolamento do ouvinte de rádio,
da
leitura
do jornal ou da
sala
escura.
Pode-se
também,
como Leo Bogart,
adiantar que o
nivelamento das diferenças· sociais faz parte
da
padroniza
ção dos gost.os ·e interesses aos quais as mass media dão
uma expressão e
para
a
qua
l contribuem .6 Abordamos aí,
ainda
uma
vez,
uni
problema de
fundo . Fiquemos,
porém,
no momento, na verificação
.do
caráter sincretizante e ho
mogeneizante da
cultura
industrial.
Esse uaráter se verifica, enfim, sobre o plano das na
ções. A tendência homogeneizante
é
ao mesmo tempo uma
tendência cosmopolita que tende a enfraquecer as dife
renciações·
u l t u r a i ~
nacionais em prol de uma
cultura das
grandes áreas transnacionais. A cultura industrial, no
seu
setor mais c9ncentrado, mais
d i n â n i c o
Já está Ôrganizada
de
m o d
Ô
~
i n t e r n a ê i o n
ã
As grandes cadeias
de
imprensa
como à
·
opera Mund
·Ç a
cadeia
Del
Duca
fornecem mate
riais
que são
adaptados
para
múltiplos idiomas, principal
mente
no domínio dos
comics
e
da
imprensa amorosa. O
cine.ma de_H9llywood visa não apenas ao público am ericâ
no, m
ás
áo
pÜblico
'rri
und.Íal, e 'há mais de rôanos
as
agên-
.... ~ 1 o . l t ; \ . . . . _ . . . . _
-
~ . . . . . . .
, ,
,,>;-;' ,.._ , ;. - ~ f r ~ t .
cia,s especializadàs
eliminam
os
temas
suscetíveis de cho-
carem ·as.l >Iatéia éürópéias,-asiáticas ouafricanà s. Ao mes
mo t e p o ~ S ê f o s e n v o i v e u m
novo cinema
estr
u
turalmente
cosmopolita, o cinema de co-produção, reunindo
não
ape
nas capitais, mas vedetes, autores, técnicos de diversos paí
ses. É o caso, por exemplo, de Barrage contre
le
Pacifique
co-produção franco-ítalo-americana, que foi rodada na Tai
lândia
por
um diretor francês, baseado numa adaptação
americana feita
por
Irving Shaw do romance francês de
Marguerite Duras, com vedetes italiana (Silvana Mangano)
e americana (Anthony Perkins).
6 The
ge
of
Telcvision
pá g . 5.
4
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 24/27
Todo filme subtitulado
já
é cosmopolita. Todo filme
dublado é um estranho produto c·osmopolitizado cuja
lín
gua foi retirada para ser substituída por outra. Ele não
obedece às leis da tradução, como o livro, mas às leis
da
hibridação industrial.
A cultura industrial adapta temas folclóricos locais
transformando-os em temas cosmopolitas, como o western
o jazz, os .ritmos tropicais (samba, mambo, chá-chá-chá,
etc.). Pegando esse impulso cosmopolita, ela favorece,
por
um lado, os sincretismos culturais (filmes de co-produção,
transplantação para uma área de cultura de temas prove
nientes de
uma outra área
cultural) e, por outro lado,
os
temas antropológicos , isto
é,
adaptados a
um
denoln.ina
dor comum de humanidade.
Esse cosmopolitismo se
irradia
a
partir
de um pólo
de desenvolvimento que domina todos os outros: os Es ...
tados Unidos. Foi lá que nasceu a cultura· de massa. É lá
que se encontra concentrado seu máximo de potência e
energia mundializante.
A cultura industrial se desenvQlve po p l ~ o do merca-
: . do mundiàl.
tia.f
sua formidável tendência aõ s i . p c r ~ t í s í n o -
J
ectetísmo
e
a
o m o g ~ n e i z a ç ã o ,
seu
f l u x
o _
i m a g
lúélíco,
l e s t é t i c o , atenta contra as carreiras locais, étnicas,, .sociais,
· ª c
J o n ~ i s ,
de idade, sexo, educação; ela separa dos
f ~ ~ c l o -
i
~ s
e d ~ s
t r ~ ~ ç ~ e s
t e ~ a s . que
~ l ~
universaliza, ela ir}ve:i
ta
ten:ias imediatamente universais.
En._contramos novamente o problema do denominador
coµmm, do homem ao· mesmo tempo " m é à i o " ~ '
7.
úiiiver-
i \ s â T
; ~
:
~ s s ~
o ~ ~ ~
~
~ r i
a ~ i d ~ ~
~ s t r a t ~ J ..ÔUtro,
s l c r ~ t i c o
e múltiplo
da
cultura de
m à s s
. . . : ~
O homem mé io
Qual é esse homem universal?
É
o homem puro e
simples, isto
é o grau de humanidade comum a todos os
homens? Sim e não. Sim, no sentido
em
que se trata do
homem imaginário, que em toda a parte responde às
imagens pela identificação ou projeção. Sim, se se
trata
do homem-criança que se encontra
em
todo homem, curio
so, gostando do jogo, do divertimento, do mito do conto.
Sim, se se
trata
do homem que
em
toda
parte
dispõe
de
44
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 25/27
um tronco_
comum
de razão pe:i;:.ceptiva, de ROSsibilidades
de ~ e c i f r a ç ~ o
~
e i n t E l
g
~ ~ i t i - : , · - . - ~
···
· · ..
~ - -
. ·
- Nesl?e ~ e n t 1 d o , o homem media e
uma
espécie de
an-
thropos univeri:;al.
'
' ··
A íifigµagen.Ladaptada a esse
nthropos é a
udi
.
ovi-
sual
lingliagem de
qua
t ro
ins
1ii;unentos :
im
âgem, so.m
mu-
sical; palavrá ; escrita. Llnguag
em
"tanto mais 'ac
es
sível na
med ida 'err
tcf
uee
eYi
volvimeritó politôriico
dé
tod
as: ã
s lin
g u
~ ~ d
s
..
Lfn
guag
em7 ~ m f i j p . q u e ~ d é s e n v o l v e
tanto
_e
mais sobre o tecido do imaginário e do jogo que sobre o
tec
iâo
ctãVlµà p r á t i c a . d r . a frorite'irãS ..gue separam . os
• -
111'
•
~
., .- • ' -
· - ~ - ' •
. , . , ~ . . . . ... _ ....;;-.
. '
r e m ~ ~
..
I ] ~ & ; n ~ t . ~ ~ , . . J l m d q 1 f e r ~ n e l l l ~ I l t e da
q u ~ que sépáram os remos ãa erra. "Üm 101pem P Q d e
mais ·
fã
cilrhent
&'
pà
l t
ieip·
::tr
'êi
as 'lendas de
um
ã oú
fra
civi-
- - · \ - • , ~ - 1 ,
-
.,.,..
z-
,
-::-;,
' - ·_
.,
, . _
_,..•:...'
-
· - ~ - ; , , , . , . _ ~
, ·
lizÇtção do
qué
'S
e ·
aqflptat
a·
vida
desta
givilização. -
Assinl,'"e
Sb
'bre .,..essês"'
fund:a
méntos
ant
ropológicos
que
'
se
apóia
a tendênci 'L da
culttitâ
de·
massa
à universalidade.
Ela reve lá e des
perta
tima universalidade primeira
• > - ç . . . . ~ : - ' . • . • 1 •
Ao
mesmo tempo, porem, ela .cria
uma
nova umversar
idade a partir de elementos
culturais particulares
à civili
zação moderna e, singularmente, á civilização americana.
E
por
isso que o
homem
universal não é apenas o
homem
comum
a todos os homens. E o
homem
novo
que
desen
volve uma civilização nova que tende à universalidade.
A tendência à universalidade se funde, portanto, não
apenas sobre o
nthropos
elementar,
mas sobre
a
corrente
dominante da era planetária.
O consumo cultur l
Em certo sentido aplicam-se as palavras de Marx: a
produção cria
o consumidor . . . A produção produz
não
só um
objeto
para
o sujeito,
mas
também
um
sujeito
para
o objeto."7
De fato, a produção cultural cria o público
de
massa,
o público universal: Ao mesmo tempo, porém, ela redes
cobre o que estava subjacente: um tronco
humano
comum
ao público de massa.
Em outro sentido, a produção cultural é determinada
pelo
próprio
mercado.
Por
esse traço, igualmente, ela se
7
ontribution
à
la crit ique de l économie poli tique,
Apêndice.
45
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 26/27
diferencia
fundamentalmente
das outras culturas: estas
utilizam também, e cada vez mais, as
mass
media (impres
so, filme, programas de rádio ou televisão), mas tem
um
caráter normativo são impostas, pedagógica ou autorita
riamente
na
escola, no catecismo,
na
caserna),
sob
forma
de injunções ou proibições. A cultura e
massa
no uni
verso capitalista, não é imposta pelas instituições sociais ,
ela depende da indústria e do comércio, ela é proposta.
8
Ela
se
sujeita
aos
tabus
da religião, do Estado, etc.),
mas
não os cria; ela propõe modelos, mas não
ordena nada.
Passa sempre pela mediação do proqu t.o vendável e por
~ ; ~ ~ . e
•
_..,,. ........
--
._.
-
. J S;>- .
• • •
isso · mesmo
toma
emprestadas certas caractenstlcas ··do
prod
üto
v e n d á v e ~
c o m o
à
de
:se dob
ra
r
à
·
1e
(
ct
õ mér
ça
do,
a Ó f e t f ~ ~ e da: p r o c ~ r a .. ~ ª ~ L f ~ . m d â j l l a l
é
a
r ê a d o
Daí sua relativa
elasticidade.
4,.cultura de
massa
é o
· , , . . ~ , : <; .
produto
de um diálogo
entre uma
produção e um consumo.
Éssê ·êÍiálogo é desiglia1: A priori é
uni
diáÍogoe
ntre
um
prolixo e um
mudo
. A produção (o jornal, o filme, o pro
grama de rádio) desenvolve as narrações, as histórias, ex
pressa-se através de uma linguagem. O consumidor - o
espectador - não responde, a não ser por sinais pavlovia
nos; o
sim
ou o não, o sucesso
ou
o fracasso. O
consumidor
não fala. Ele ouve, ele vê ou se recusa a
ouvir
ou a ver.
Teoricamente, só se pode concluir que
haja uma
concor
rência infinitamente fraca (10% no máximo)
entre essa
oferta e essa
procura
.
No entanto, se nos colocamos do
ponto
de vista dos
próprios mecanismos de consumo
e do ponto de vista do
8
Mesmo nos
sistemas totalmente
estatizados,
a
ida
ao
cinema
, o
ouvir
o
rádio
ou televisão, a leitura dos
jornais não são obrigatórios.
9 A auto-seleção é o
princípio
mesmo de consumo,
isto significa
que o
consumidor
pode
desligar
seu
rádio ou sua TV
,
não comprar
o
jornal, deixar
a
sala
do cinema. A
influência da publicidade não
é
absoluta,
porque
as
opinion-leaders guiam
as escolhas de
sua roda
no escritório,
na fábrica,· na
família
ou
entre amigos.
Enfim,
a
fre-
qüência
do
efeito
boomerang
(no
qual
o público interpreta a men
Mgem
ao
inverso das
intenções
emitidas)
nos
mostra que
o consumi
dor dificilmente assimila
o que
contraria seus próprios
processos de
projeção,
identificação
e intelecção. Isso
não significa
que
ele
tenha
livre
arbítrio.
Mas não
há
ação
unilateral
das
ma11s
media
sobre
o
público.
As pesquisas americanas,
porém,
chegam
naturalmente à
se
guinte
conclusão: uma coisa deve finalmente aparecer de modo
claro
na
discussão sobre os
efeitos das mass media
sobre a opinião
pública.
46
7/23/2019 A Indústria Cultural - O Grande Público - Edgar-Morin (Aulas 13 e 14)
http://slidepdf.com/reader/full/a-industria-cultural-o-grande-publico-edgar-morin-aulas-13-e-14 27/27
tempo podemos considerar
que
ao longo dos anos os temas
que desabrocham ou desfalecem, evoluem ou se estabilizam
no cinema, na imprensa, no rádio ou na televisão tradu
zem
uma
certa dialética
da
relação produção-consumo.
Não
se
pode colocar a alternativa, simplista: é a im
prensa
ou
o cinema,
ou
o rádio etc.)
que
faz
o público,
ou
é o público que faz a imprensa?
A cultura de massa é imposta do exterior ao público
(e lhe fabrica pseudonecessidades, pseudo-interesses)
ou
reflete as necessidades do público? É evidente que o verda
deiro
problema
é o da dialética entre o sistema de
produ
ção cultural e as necessidades culturais dos consumidores.
Essa dialética é muito complexa, pois,
por
um lado, o -que
chamamos de público é
uma
resultante econômica abstrata
da
lei
da
oferta
e
da procura
(é o público médio ideal
do qual falei) e, por outro lado, os constrangimentos do
Estado
censura) e as regras do
sistema
industrial capi
talista pesam sobre o
caráter
mesmo desse diálogo.
A
cultura
de
massa
é, 2ortanto,
o
~ n r o d u t o de .uma dia
lética pi ódüçã'O:. cà
nsüfiió:Il
ó. céií r o êie 'Uníã -ã
iâ
iéticã-glo
b a
l í
u ~
e a y
ã"g
ôcffciã iteffi
s µ
ã
t ó
a j f ê l ã e í e ~ - . ~ ~ ; - - < - .. - -
-
~ ~
- +' ' -:-:_ ~ - ~ - ; - __ - . ~ J _ , . · • . ; . . .. : . . _ . : . ~ , : '.""(°. - <:-.
É
que
os
efeitos
.sobre o público
não estão
em conseqüência e em
relaç,ão í-firei a com ·a · ~ e i : i ç õ e s -d
a .
quele
qu
e, o n i u n i c ~ 'ií_m • c<:i-;n o
c o n t e ú d g ~ c o m u n i c a ç ã - ~ p
i:
e9isp_Q,(?iÇõ_s,_ dq.. lê itQI ou d ~ oit,vinte
e ~ t ~ o rofµn<J:ime
11te
e
w ~ t a d a s ~ à ~
u a
Ç ã o
e
p9de
m bloquear
ou
mo
d
1f1
ca ~ ~ ~ ~
~ ~ a d o
e
a
~
p r o v o e a
_ pm ef e
ito
_ boo m
erang .
B BERELSON,
Com riiunications
and
Public Opinions
in The
Process
and Eff
e
ts
of Mass - Communication
ref. cit. in Bibliografia),
pá g.
355. (Auto-seleção.
opinian-lcader efeito boomerang
cf. LAZARS
FELD,
Tenden
ce
s
actu
elles de la sociologie des cowmunications et com
portame
nts
du
public de
l q
rodi
o-télévision
amér
icaine
referência
tada na
Bibliogr
a
fia,
pág.
196
.)
top related