a importÂncia do trabalho de campo para a … · inclusive de você, e reflita sobre todos os...
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1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG
Instituto de Ciências da Natureza
Curso de Geografia – Licenciatura
VINÍCIUS ARCANJO MONTEIRO
A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE CAMPO PARA
A GEOGRAFIA E A FORMAÇÃO DO GEÓGRAFO:
Uma contribuição para o pensamento Cultural/Humanística
Alfenas - MG
2014
2
VINÍCIUS ARCANJO MONTEIRO
A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE CAMPO NA
GEOGRAFIA E NA FORMAÇÃO DO GEÓGRAFO. Uma
contribuição para o pensamento cultural/ humanístico
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentada como parte dos requisitos
para obtenção do título de Licenciado
em Geografia pelo Instituto de Ciências
da Natureza da Universidade Federal de
Alfenas- MG, sob orientação do Prof.
Dr. Flamarion Dutra Alves.
Alfenas – MG
2014
3
4
VINÍCIUS ARCANJO MONTEIRO
A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE CAMPO NA
GEOGRAFIA E NA FORMAÇÃO DO GEÓGRAFO.
Uma contribuição para o pensamento cultural/humanístico
A Banca examinadora abaixo-assinada, aprova a
Dissertação apresentada como parte dos requisitos para
obtenção do título de Licenciado em Geografia pelo
Instituto de Ciências Naturais da Universidade Federal de
Alfenas, Minas Gerais. Área de Concentração: Geografia
Cultural. Aprovada em: Profº. Dr. FLAMARION DUTRA ALVES Instituição: Universidade Federal De Alfenas Assinatura (UNIFAL/MG) Profª. Drª. SANDRA CASTRO DE AZEVEDO Instituição: Universidade Federal De Alfenas Assinatura (UNIFAL/MG) Profº. Me. ADRIANO CORRÊA MAIA
Instituição: Universidade Estadual Paulista Assinatura
(UNESP/RIO CLARO)
5
Aos pontos a representação dos nossos destinos, sonhos, chegadas. Às linhas, os
caminhos que temos que escolher para alcançar os destinos, sonhos ou pontos de
chegada. Mas os caminhos também são destinos e devem ser observados no trajeto.
Entre um ponto e outro, os borrões. São os espaços para possibilidades. No pequeno
príncipe, chegando ao seu sexto país é que explico a poética dos caminhos e os
instantes poéticos dos trajetos. O geógrafo mapeia os rios, os lagos, as montanhas e
depressões. Mas se o geografo não for explorador e deixar-se levar pelos caminhos,
não conseguirá definir as linhas que encontram o próximo ponto.
Expedição. O caminho explorado revela outros caminhos a serem seguidos.
Caminhos, estes, melhores e mais claros. Assim, podemos levar nas linhas os amigos e
a mala de conhecimento de toda a exploração. O ponto de chegada poderá parecer
menos desejável que no início da expedição. A partir daquele ponto, novos pontos e
novas linhas para serem seguidas e para chegar ao ponto. Mas não é que o ponto é
pior do que pensava, é que a expedição, com o olhar atento a todos e a tudo que nos
cerca, traz o conhecimento, as experiências e as pessoas que nos deixaram
“experenciar”.
Na teia de linhas, as pessoas, que nos deixam ir e nos fazem ser o que somos. A
cada um, atribui-se experiência que nos tocam e nos passam e nos modificam. Ter claro
as pessoas, porém, as pessoas que potencializam as experiências e nos ajudem a
crescer mantendo-as conosco. As demais, que sejam experiências válidas para não
repetir erros.
Refletir sobre tudo é algo que acrescentei na minha vida. Afaste todo dia,
inclusive de você, e reflita sobre todos os pontos a que deseja. Quanto às linhas, esteja
atento e observe o caminho. É uma expedição!
Por Vinícius Arcanjo Monteiro.
6
RESUMO
Inspirado em estudos da Geografia Cultural, o presente trabalho apresenta
resultados da pesquisa interessada em traçar a importância do Trabalho de Campo na
Geografia, para formação do geógrafo e as circunstâncias que envolvem esta metodologia
no período contemporâneo. Considerando os propósitos deste estudo, foram identificados
os principais dados do Boletim Paulista de Geografia (nº 84), que indicam–nos a refletir
sobre as semelhanças nas discussões que figuram como subsídios teórico-metodológicos
sobre o Trabalho de Campo na/para a Geografia. Os temas e conceitos recolhidos
permitem indicar que, apesar da pluralidade de experiências no Trabalho de Campo,
permanece em constante construção, evoluindo e constituem-se de acordo com a própria
construção da ciência geográfica, permitindo-nos assim, avançar na análise sobre o
Trabalho de Campo na Geografia Cultural, ou seja, a sistematização de ideias
humanísticas e a aplicabilidade no Trabalho de Campo. Para tanto, será proposto o
Projeto “Geografia Postais”, como forma de exposição das experiências em Trabalhos de
Campo na Geografia.
Palavras-chave: Trabalho de Campo; Geografia Humanística-Cultural; História do
Pensamento Geográfico; Expedição/Exposição.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................ 8
OBJETIVOS............................................................................................. 10
Objetivo Geral.................................................................................. 10
Objetivos Específicos....................................................................... 10
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...........................................11
DESENCOLVIMENTO...........................................................................12
CAPÍTULO 1 A evolução do Trabalho de Campo no Pensamento Geográfico.................12
1.2. Considerações do capítulo..........................................................17
CAPÍTULO 2
Boletim Paulista de Geografia número 84: Referência teórico-prática para o
Trabalho de Campo ................................................................................... 20
2.1. Análise do quadro síntese......................................................... 20
2.2. Análise das referências........................................................... 38
2.3. Considerações do capítulo.................................................... 39
CAPÍTULO 3 A importância do Trabalho de Campo na Universidade e na Escola......... 44
3.1. O Trabalho de Campo na Universidade Federal de Alfenas..... 44
3.2. O Trabalho de Campo e o Ensino de Geografia........................ 48
3.3. Considerações do capítulo......................................................... 52
CAPÍTULO 4
O Trabalho de Campo na Geografia Cultural- Humanística..................... 59
4.1. Considerações do capítulo......................................................... 65
CONCLUSÕES.........................................................................................67
REFERÊNCIAS........................................................................................70
APÊNDICE...........................................................................................72
8
INTRODUÇÃO
Durante a formação do geógrafo, o Trabalho de Campo se faz presente como um
legado de experiências e constatações que evidenciam, sobretudo, parte da sua atuação e
utilidade na construção de sua ciência. Na atualidade, a transformação do espaço tem-se
constituído de forma mais acelerada e cada vez mais articulada (SERPA, 2006. p. 10),
exigindo, de quem deseja estuda-lo, a tomada de consciência do seu papel e daqueles
que, diretamente ou indiretamente, participam deste processo, e que procuram a
compreensão das dinâmicas, naturais, sociais, econômicas e culturais do espaço.
Através da Geografia Humanística, entende-se que o método discorre sobre os
fenômenos geográficos com o propósito de alcançar um melhor entendimento do
homem e da sua condição, procurando desta forma, “um entendimento do mundo
humano através dos estudos das relações sociais com a natureza do seu comportamento
geográfico, bem como dos seus sentimentos e ideias a respeito do espaço e do lugar”
(TUAN, 1976), sendo que:
As abordagens científicas para o estudo do homem tendem a minimizar o
papel da conscientização e do conhecimento humano. A Geografia
Humanística, em contraste, tenta especificamente entender como as
atividades e os fenômenos geográficos revelam a qualidade de
conscientização humana. (TUAN, 1976 p. 143)1
Com base nesta perspectiva, esta pesquisa tem o objetivo de discutir a
importância do Trabalho de Campo. A partir da publicação clássica do Boletim Paulista
de Geografia (nº. 84, 2006)2 que trata nesta edição especial o tema Trabalho de Campo.
A Revista contém 7 artigos que discorrem sobre o papel do geógrafo no Trabalho de
Campo, o uso dos conceitos e teorias aliados a prática entre outros assuntos.
Convém mencionar os artigos brasileiros analisados como: Ângelo Serpa,
Ricardo Baitz, Paulo Alentejano e Otávio Miguez da Rocha Leão, Luís Antônio Bittar
Venturini e Valéria de Marcos, e geógrafos Franceses como Bernard Kaiser e Yves
Lacoste, que apontaram e se mostraram como fontes primordiais na análise do Trabalho
1 Yi Fu Tuan - Capítulo transcrito dos Annals of the Association Of American Geographers, 66: (2),
julho de 1976. Título original: Humanistic Geography. Tradução de Maria de Queiróz. TUAN, Y. F. A
Geografia Humanística. In: CHRISTOFOLETTI, A. (Org.). Perspectivas da Geografia. São Paulo: Difel,
1982. Cap. 7, p. 143-164
2 Boletim Paulista de Geografia (nº. 84; 2006) que iniciou as atividades em 1949 e circula até hoje,
totalizando 91 edições e que trata, nesta edição especial, o tema Trabalho de Campo. (ALVES, 2010 p.
34)
9
de Campo. Em conformidade com Alentejano é da mais significativa relevância,
respaldar:
A contribuição da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) para a
difusão dos Trabalhos de Campo como ferramenta fundamental dos
geógrafos, pois seus primeiros congressos representavam um espaço
privilegiado de produção da Geografia brasileira, com destaque para as
excursões que promovia, as palestras que organizava e os textos que
publicava no âmbito do Boletim Geográfico. (ALENTEJANO, 2002, p. 146
apud ALENTEJANO, 2006. p. 54)
Aliado a esse Boletim foram consultados alguns artigos que exploram a temática
do Trabalho de Campo, mas como é um assunto que não tem muitas obras de referência,
torna-se necessário a nosso estudo com este tema. Primeiramente, será realizado uma
retrospectiva do Trabalho de Campo na geografia partindo das quatro escolas do
pensamento geográfico (geografia clássica-tradicional, geografia quantitativa-teorética,
geografia crítica e geografia humanística) salientando os principais métodos, técnicas e
conceitos empregados em cada momento, partindo do entendimento de que:
As pesquisas acerca da história do pensamento geográfico são de grande
importância para a avaliação do comportamento da ciência, as verificações da
evolução e das tendências dos estudos garantem a mudança de teorias,
conceitos e metodologias na geografia. A ciência geográfica passou, e ainda
passa, por grandes transformações quanto à utilização de métodos, teorias e
conceitos, e o estudo dessas mudanças é necessário para entendermos os
rumos que a geografia está seguindo. (ALVES, 2010)
Posteriormente, foram realizadas entrevistas com professores do Curso de
Geografia do Instituto de Ciências da Natureza - UNIFAL-MG abarcando questões
pertinentes ao tema. Construímos com estas análises, correlações entre a teoria e a
prática acadêmica, além de debater o papel do Trabalho de Campo no ensino de
Geografia em nível escolar, explorando pontos da articulação da universidade-sociedade
e o aprofundamento teórico, sendo de interesse da universidade a formação para a
pesquisa:
Se queremos que a geografia logo não desapareça das Universidades por
causa de seus estudantes é preciso orientar muito mais sua formação para a
pesquisa e desde o começo dos seus estudos. Aqueles que poderão ainda
encontrar um lugar nos ‘Liceus’ e nos colégios serão somente os melhores
professores e serão capazes de iniciar seus alunos na pesquisa prática,
politicamente muito útil, para todos os futuros cidadãos. Para que a relação
pesquisa se modifique pouco a pouco, é preciso que na universidade a grande
maioria dos jovens seja iniciada na pesquisa e no trabalho de campo, a fim
que possa, (...) explicar ás pessoas sua utilidade, porque é preciso conhecer os
resultados e como estes podem ser utilizados. (LACOSTE, 2006, p. 86)3
3 Yves Lacoste, In: Boletim Paulista de Geografia (2006): “A pesquisa e o trabalho de campo: um problema
político para os pesquisadores, estudantes e cidadãos”, é um texto publicado originalmente em francês, em 1977,
pela revista Heródote (nº 8, out./dez. páginas 3 à 20). Título Original: “L’enquête et le terrain: um
ploblème politique por le churchus, les éstudiants at les cittoyens”.
10
Apoiado na constatação dos professores que creditam o envolvimento/
desenvolvimento do conhecimento através do Trabalho de Campo e que os Trabalhos
de Campo atingem, de uma maneira geral, os resultados esperados pela disciplina,
entendo que é preciso ir além, outrossim, propor soluções, que ao menos indiquem a
sistematização de ideias humanísticas e a aplicabilidade no Trabalho de Campo, apoiado
no conceito de exposição das experiências em Trabalhos de Campo na Geografia.
O melhor entendimento do conceito de expedição/exposição, até então também
trabalhado pelos autores no Boletim Paulista de Geografia, melhor se organiza nas
palavras de Yves Lacoste, pautado na ramificação dos resultados de Trabalho de
Campo:
A expedição/exposição parece ser um método muito eficaz de formação dos
estudantes para a pesquisa. (...) Os estudantes que participaram destas
expedições/exposições experimentaram em sua maioria um certo entusiasmo
(sobretudo se são militantes) com a ideia de dar conta à população dos
resultados de sua pesquisa. (LACOSTE, 2006, p. 90)
É importante ressaltar que de uma iniciação à pesquisa, o Trabalho de Campo
exposto, a partir da interação dos meios de comunicação na relação universidade-
sociedade ou universidade-escola, sugere a ampliação do espaço educativo, que, através
deste, poderá repercutir em outros níveis de escala de uma maneira mais líquida e
universal, e ser o começo de uma verdadeira expedição.
- Objetivos
Objetivo Geral
Discutir a importância do trabalho de campo na produção do conhecimento
geográfico.
Objetivos Específicos
Analise de conteúdo de teoria e conceitos sobre trabalho de campo na evolução
do pensamento geográfico;
Entender o Trabalho de Campo na prática docente e na formação do geógrafo;
Analisar os procedimentos de sistematização das pesquisas de campo em
geografia, enfatizando a geografia cultural.
11
- Procedimento Metodológico
A pesquisa sobre a importância do Trabalho de Campo em geografia parte de
publicação clássica do Boletim Paulista de Geografia (nº. 84, 2006) que trata nesta
edição especial o tema Trabalho de Campo. A Revista contém 7 artigos que discorrem
sobre o papel do geógrafo no trabalho de campo, o uso dos conceitos e teorias aliados a
prática entre outros assuntos.
Aliado a esse Boletim foram consultados alguns artigos que exploram a temática
do Trabalho de Campo, mas como é um assunto que não tem muitas obras de referência,
torna-se necessário a nosso estudo com este tema. Primeiramente, será realizado uma
retrospectiva do Trabalho de Campo na geografia partindo das quatro escolas do
pensamento geográfico (geografia clássica-tradicional, geografia quantitativa-teorética,
geografia crítica e geografia humanística) salientando os principais métodos, técnicas e
conceitos empregados em cada momento.
Isso servirá, entre outros, para correlacionar os avanços técnicos com os tipos de
métodos empregados nos Trabalhos de Campo; relacionar contexto político e histórico
com as técnicas e os métodos empregados pelos geógrafos em cada momento. E
também delimitar nessas escolas qual a importância do Trabalho de Campo na
construção de seus resultados.
Posteriormente, foram realizadas entrevistas com cinco professores do Curso de
Geografia do Instituto de Ciências da Natureza - UNIFAL-MG abarcando questões
pertinentes ao tema. Pretende-se construir com estas análises correlações entre a teoria e
a prática acadêmica, além de debater o papel do Trabalho de Campo no ensino de
Geografia em nível escolar.
Por fim, será realizado uma análise conclusiva sobre a importância do Trabalho
de Campo e a Geografia Cultural, sob enfoque Humanista, ou seja, a sistematização de
ideias humanísticas e a aplicabilidade no Trabalho de Campo.
12
DESENVOLVIMENTO
CAPÍTULO 1
A evolução do Trabalho de Campo no pensamento Geográfico
O primeiro capítulo está interessado em construir os momentos do conhecimento
geográfico mediante ao tema. Isso porque a ciência Geográfica surge em meio a reunião
de relatos de viajantes, expedições que visavam a descrição da superfície terrestre, esses
trabalhos deram origem e suspendem a importância dos Trabalhos de Campo. Vamos
analisar os métodos utilizados no Trabalho de Campo desde o início do pensamento
geográfico até o momento geográfico humanístico/cultural.
As expedições dos naturalistas são as “raízes” dos Trabalhos de Campo, ou seja,
concomitantes ao nascimento da ciência geográfica, isso significa que a observação da
paisagem, enquanto manifestação estética da realidade, já participava ativamente da
formação do pensamento geográfico, ao lado dos relatos e das descrições. “Nas
imagens, tanto o ponto de vista como o espaço visto são relativos e subjetivos. Mais do
que tanto a cosmografia como a geografia, a corografia dá espaço para o papel
imaginativo e criativo do individual”, escreveu Denis Cosgrove (1999, p. 107 apud
MARQUES, 2009, p. 71). Assim, quando “[...] faltam palavras para falar das formas do
relevo ou das rochas”, os geógrafos recorrem à expressividade das técnicas do
diagrama, da gravura e da pintura mesclando conhecimento científico e emoção estética
em gravuras ressaltando os fatores físicos (figura 1): (MARQUES, 2009):
Figura 1: Alexander von Humboldt. Planta, topografia e mapa de altitude do Monte Chimborazo. 1807. Fonte: http://www.humbot.org, (apud MARQUES, 2009 p. 73)
13
Com a publicação do primeiro volume de Antropogeografia do
alemão Friedrich Ratzel, em 1882, inicia-se uma tentativa de delinear a
relação da ciência geográfica com os homens que escrevem essas grafias.
Neste percurso, o determinismo de Ratzel é seguido pelo pensamento
possibilista do francês Paul Vidal de la Blache, na virada para o século XX.
Responsável pelo legado do pensamento sobre a unidade terrestre, Paul
Vidal de la Blache escreve uma obra na qual a geografia é feita de história
natural, da física da terra. Tal pensamento fundamenta o desenvolvimento da
geografia moderna. As chamadas geografias pós-modernas, em menor escala
do que as ainda predominantes geografias modernas, investigam as relações
da produção histórica do espaço e as suas implicações políticas, econômicas e
culturais, aproximando-se da antropologia, da sociologia, da filosofia, das
artes. (MARQUES, 2009 p. 25)
Para compreender como o Trabalho de Campo se comporta por meio do
método, recordamos Eliseu Sposito quando explica que um método significa: “um
conjunto de procedimentos racionais, baseados em regras, que visam atingir um
objetivo determinado. Então um método científico, apresenta-se tal como leis e
categorias, que estão historicamente relacionados, à procedimentos específicos e teorias
disseminadas pela comunidade científica” (SPOSITO, 2004 p. 25).
Por assim entender um método, constata-se que pelo período vivenciado, os
métodos de análise da geografia nascem para descrição da Terra e para assinalar sua
diversidade. Já avançando no percurso, à atualidade, os geógrafos procuram responder a
essas questões até então consideradas inovadoras: Em que medida o destino dos povos
está ligado ao país onde estão instalados? Há influência deste sobre os homens? Ou
harmonia sutil entre a ordem natural e a ordem social?
As relações sociedade/meio tornam-se centrais para a disciplina.
Antropogeografia designada por Frederich Ratzel e adotada pela maioria
dos jovens pesquisadores. Na França, Vidal de La Blache e o grupo por ele
estimulado, traduzem por geografia humana o termo que se derivava de
análises da evolução humana. O termo Geografia Humana e a nova noção
impõe-se nos últimos anos do século XIX. (CLAVAL, 2007, p. 7)
Então, quando do surgimento da geografia científica, as principais técnicas
utilizadas nos Trabalhos de Campos era observação, elaboração de croquis,
comparação, descrição, ou seja, técnicas simples, sem um grande aparato tecnológico
era suprido pelo tempo de envolvimento no lugar em análise, o que La Blache chama de
Monografia Regional.
Uma monografia regional deveria, na perspectiva lablachiana, conter uma
análise detalhada do meio físico, das formas de ocupação, das atividades
humanas e de como o homem se ajusta a natureza. O olhar sobre a natureza
deveria conter uma perspectiva histórica na análise da relação homem-meio.
Fundamentalmente, a monografia regional deveria estabelecer a integração
dos elementos físicos e sociais e acrescentar uma visão sintética da região.
(LENCIONI, 2003, p.105 Apud ALVES, 2010, p. 37).
Também era apresentado, pela rotina do Geógrafo Tradicional “em observar,
localizar e descrever”, destacando o Trabalho de Campo como um importante território
14
da geografia como ciência. “A riqueza de detalhes nas inúmeras monografias regionais
predominou nas décadas de 1940 e 1960, sendo referência e etapa primordial na
metodologia geográfica”. (ALVES, 2010. p. 39)
Os geógrafos, desta época, começaram a desenvolver uma ciência em torno de
diferenciações regionais na superfície terrestre, constituindo-se então a partir da análise
de pesquisas e relatos de campo elaborados pelos viajantes, naturalistas, preocupados na
conquista de territórios, fato que explora os primórdios da Geografia, apontando os
Trabalhos de Campo e o método descritivo em grande parte fundamentais no método de
trabalho dos Geógrafos e constituição da ciência. (ALENTEJANO, 2006, p. 53).
Fortalecido, assim, pelos olhares naturalistas, o Trabalho de Campo acompanhou
as transformações do sistema capitalista, atingindo a Geografia até a contemporaneidade
e, no entanto, apresenta-se como o principal ponto comum entre os geógrafos. De
acordo com Venturi (2006):
[...] o campo é onde a complexidade da realidade é revelada e conduzida à
compreensão do geógrafo, munido de seus principais conceitos, como
paisagem, espaço, região e lugar, por exemplo, os quais materializam na
realidade, dão sentido a ela e dela obtém sentido. É onde as fronteiras
acadêmicas das disciplinas deixam de fazer sentido e são substituídas por
inúmeras conexões entre os fatos observados, num processo de reconstrução
conceitual.
O objeto, no método descritivo da Geografia, havia prevalência sobre o sujeito,
ou seja, o objeto estudado era o “alvo”, observado de cima, influenciando o pesquisador
e seus conhecimentos, inclusive. Ainda que houvesse uma tendência à “neutralidade da
ciência” (um pressuposto) o real era descrito por meio de hipóteses e dedução.
A mudança de paradigma Geografia Tradicional para a Geografia Teorética /
Quantitativa, deve-se pelas dúvidas e falta de precisão de alguns trabalhos descritivos,
no qual se calcavam apenas no “objeto observado”. (ALVES, 2010 p. 139). Afirmando
a revolução, pautava-se na necessidade da geografia de um aporte teórico-metodológico
que a sustente como ciência. Neste sentindo [...] os métodos quantitativos na geografia
representam uma nova e poderosa arma para a análise dos fenômenos geográficos,
capazes de tornar a geografia um ramo do conhecimento humano igual aos outros de
natureza científica, pela sua capacidade de precisar os fenômenos e estabelecer
princípios gerais, segundo os quais os mesmos ocorrem. (GALVÃO & FAISSOL, 1970,
p.5 apud ALVES, 2010. P. 139) e que, segundo Paulo Alentejano:
Todo este acúmulo foi jogado por terra a partir dos anos de 1960, quando no
rastro da hegemonia da Geografia Teorético-Quantitativa os Trabalhos de
Campo passaram a ser execrados e praticamente riscaram do mapa das
práticas dos geógrafos, sob o argumento de que as tecnologias da informação
15
e os modelos matemáticos seriam instrumentos mais adequados para a
investigação da realidade.” (ALENTEJANO, 2006, p. 55)
Claval, desperta um enfoque interessante ao revelar “que a geografia ocupa
desde seu nascimento um lugar importante nas realidades culturais, mas as capta numa
ótica reducionista”, segundo CLAVAL (2007): devido a ênfase colocada as técnicas, os
utensílios e as transformações das paisagens.
Já a Geografia Brasileira revela que o segundo momento da história da
geografia, quando o Trabalho de Campo deixa de ser primordial, ou seja, suas análises
centram-se na interpretação de dados secundários, sobretudo o uso dos Censos do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre as técnicas empregadas,
está o uso da estatística, mapas temáticos, modelos espaciais-localização, entre outros.
O Trabalho de Campo ao levantamento de dados estatísticos provenientes de
fontes secundárias, a partir de variáveis compiladas pelos censos ou outras
pesquisas institucionais, ainda sim estas pesquisas apresentam uma unidade
quantificável, (...) base a partir do qual se comparam situações com a
utilização de técnicas quantitativas. (ROCHA, 1999) os dados provenientes
de censos institucionais, o pesquisador não tem o poder de realmente escolher
as variáveis de analisadas, (...) muitas vezes os dados são coletados através de
técnicas e procedimentos que se revelam incompatíveis com as questões de
pesquisa. (apud SERPA, 2006. p. 14)
No entanto, não que dizer que os estudos deste momento não avançaram na
própria constituição da “identidade geográfica”, porém, indica um hiato na concepção
humana, pois muitas das obras eram formatações formais da análise. Muitas
contribuições são avanços técnicos “momentâneos” que se superam em novas
perspectivas.
Assim, a partir da década de 1970, o modelo de pesquisa na geografia, baseado
na estatística, foi duramente questionado, pois deixava de lado as questões sociais,
políticas e culturais. A historicidade ganha espaço no Trabalho de Campo. A abordagem
histórico-dialética representa o intuito de entender e desvendar a realidade social, esta
abordagem permite resgatar a história e fazer o movimento contraditório das ideias e
dos atores e agentes envolvidos. Conforme Alves (2010) sobre a estrutura do
pensamento materialista histórico marxista:
A base do sistema materialista-histórico é dada pelas regras que determinam
o tipo de relação de produção frente ao desenvolvimento das forças
produtivas; estes dois elementos são os termos fundamentais que definem um
modo de produção e, ao mesmo tempo, constituem a causa da transformação
dialética. (GOMES, 2005, p.283). O método dialético tem várias nuances e
distinções, desde a dialética do idealismo de Hegel ao materialismo histórico-
dialético de Marx e Engels. Entretanto, a perspectiva marxista foi
hegemônica nesse pensamento, no Brasil. (apud ALVES, 2010. P. 39/40)
16
Deste modo, no método dialético o sujeito se constrói e se transforma frente ao
objeto e vice-versa, os trabalhos que se utilizam deste método se caracterizam por ser
mais críticos da realidade, por sua concretude e pelo fato de mostrarem a contradição
histórica existente no objeto estudado. (SPOSITO, 2004)
Tal como o movimento inicial da Geografia crítica, sob a radicalização crítica ao
empirismo dominante na Geografia Tradicional levou a uma negação da validade do
Trabalho de Campo como instrumento de construção do pensamento geográfico, em
função da ênfase conferida à teoria marxista. (ALENTEJANO, 2006). A difícil aliança
entre a teoria e a prática instrumental tem de ser perseguida e sempre alicerçada na
pesquisa de campo. (RUA, 1997, p. 45 apud ALENTEJANO, 2006. p. 55)
Ângelo Serpa contribui na desmistificação deste processo que, segundo o autor,
se pensarmos na perspectiva dialética estamos no terreno da informação estruturante e
dos dados agregados, com maior tendência a homogeneidade, enquanto que pela
fenomenologia, adentramos no terreno da informação factual e dos dados individuais,
com maior tendência a heterogeneidade. (SERPA, 2006. p. 18)
Consiste em admitir que não há um método privilegiado quando adotamos uma
unidade de observação e atribuímos atributos que estão associados ao conhecimento
geográfico, pois segundo Lacoste, “Nenhum deles é suficiente quando consideramos algum
espaço para observação apreendemos tais fenômenos na mesma proporção que deforma ou
oculta outros e outras estruturas, das quais não se pode prejulgar o papel e, portanto, não pode
negligencia-lo”.
Assim, no início da década de 1980 se insere na geografia brasileira a
perspectiva Humanística, convergindo as Pesquisas de Campo para uma análise do
lugar tal que utiliza, por sua vez, da fenomenologia valorizando a experiência vivida do
sujeito, descrevendo a qualidade da emoção experimentada em casos específicos. No
método fenomenológico, o sujeito quem descreve o objeto e suas relações a partir do
seu ponto de vista, depois de se apropriar intelectualmente. (SPOSITO, 2004). Como
técnicas importantes tem-se: a história oral e pesquisa participativa:
É necessário que o cientista e sua ciência sejam, primeiro, um momento de
compromisso e participação com o trabalho histórico e os projetos de luta do
outro, a quem, mais do que conhecer para explicar, a pesquisa pretende
compreender para servir. A partir daí uma nova coerência de trabalho
científico se instala e permite que, a serviço do método que a constitui,
diferentes técnicas sejam viáveis: o relato de outros observadores, mesmo
quando não cientistas, a leitura de documentos, a aplicação de questionários
(...), a observação da vida e do trabalho. Estava inventada a participação da
pesquisa. (BRANDÃO 1987, p. 12 Apud MARCOS, 2006. p. 108-109)
.
17
De acordo com Yi-Fu Tuan, o método humanístico representa o pesquisador
cientificamente (e a ciência) porque constrói, de modo crítico e reflexivo, sobre o
conhecimento científico. (...) “O geógrafo Humanísta deve estar agudamente atento aos
empecilhos sobre a liberdade humana; preocupado com a qualidade de conscientização
humana e com o aprendizado” (TUAN, 1976) e colabora em indagações pertinentes à
uma ciência:
De que maneira as pessoas adquirem habilidades e conhecimentos espaciais?
De que maneira as pessoas se tornam emocionalmente envolvidas com um
lugar? Tais indagações mostram que o geógrafo humanista compartilha da
preocupação do psicológico do comportamento. Suas indagações são
semelhantes embora endereçadas aos fenômenos de diferentes complexidades
e escala. Até mesmo suas técnicas de campo têm em comum a observação
detalhada do comportamento individual na vida real. (TUAN, 1976. P 159).
Na fenomenologia de Anne Buttimer, em que sugere a apreensão do
dinamismo do mundo vivido, e sobre o modo como a(s) representação(ções) da
experiência humana formam-se no espaço ela compreende a função dos
“fenomenologistas”, nos ensaios sobre “espaço vivido e existencial”, partem da noção
de que cada pessoa tem seu lugar natural, mas, cercada de “camadas” concêntricas de
espaço vivido:
A fenomenologia convida-nos a explorar algumas das forças unificadoras na
experiência humana do Mundo. Supondo-se (...) que tais condições podem
residir nas facetas rotineiramente pela vida diária, esta noção oferece um bom
diálogo entre fenomenologia e Geografia. (...) “Mundo” para o
fenomenologista, é o contexto dentro do qual a consciência é revelada.
(BUTTIMER, 1976. P. 172)
Com base nestas reflexões da humanística e da fenomenologia, os Trabalhos de
Campo ganham sentido por ser um processo de identificação mediado pelos signos
culturais e sociais, na medida em que transporta ao lugar o valor cientifico da pesquisa
de campo, sendo na Humanística um absoluto método de exploração.
1.2. Considerações do Capítulo: A realidade e a essência dos espaços são capazes de admitir-se a partir
comunicação dos métodos, assim, Ângelo Serpa discute a possibilidade de tanto a
fenomenologia quanto a dialética trabalharem em conjunto no Trabalho de Campo,
funcionando como estratégias complementares, buscando sempre, a construção da
síntese entre sujeito e objeto:
18
Afinal não deveria haver incompatibilidade, em termos de procedimento,
entre uma análise individualidade dos fenômenos e o resgate de sua dimensão
histórica, nem mesmo entre a concepção da ciência interessada na história e
na mediação homem-natureza e uma outra voltada para a essência dos
fenômenos” (SERPA, BPG, 2006. P 29)
O Gráfico 1, procura sintetizar as “variáveis” “avanços” e “recessos” na
utilização do Trabalho de Campo sob os momentos da Geografia, sugerindo a evolução
(amadurecimento) dos métodos frente a utilidade dos Trabalhos de Campo. As
expedições naturalistas, são as “raízes” da ciência que fora avançando sua concepção
baseada na relação do homem com o meio e sua completa interação através dos séculos
(XVIII – XXI), sugerindo a análise do gráfico 1.
Entretanto o avanço progressivo do Trabalho de Campo não indica a
superioridade de um método sobre o outro, as análises de campo são parte dos métodos.
Advindos de um método Tradicional, ainda se nota a atualidade da discussão,
pertinentes na construção e em absorver as responsabilidades desta construção no
Trabalho de Campo dada a observação, apreensão e a crítica do objeto que proporciona.
Segundo as fontes podemos refletir que o Trabalho de Campo caracteriza-se
como uma ferramenta do experimental, a serviço dos geógrafos e também um meio
tradicional de fazer Geografia. Assim, após confissões naturais, podemos pensar que o
Trabalho de Campo oferecendo esse contato com a realidade e sendo uma característica
da geografia, seja para a realização de pesquisa científica, (com uso de técnicas,
tecnologias e instrumentalização ou apenas na observação imediata) individuais ou
coletivos, é um projeto essencial para a formação do geógrafo e para a confissão da
realidade nos saberes geográficos da contemporaneidade.
19
Gráfico 1:
A EVOLUÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO NA CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO
Organização: Vinícius Arcanjo Monteiro, 2014.
20
CAPÍTULO 2
Boletim Paulista de Geografia número 84: Referência teórico-prática
para o Trabalho de Campo
A pesquisa sobre a importância do Trabalho de Campo em Geografia parte de
publicação clássica do Boletim Paulista de Geografia* (nº. 84, 2006) que trata nesta
edição especial o tema Trabalho de Campo. Autores acima citados são também parte da
Revista (7 artigos), e que discorrem sobre o papel do geógrafo no Trabalho de Campo, o
uso dos conceitos e teorias aliados a prática entre outros assuntos.
A síntese dos artigos disponíveis no Boletim (em anexo), são fontes preciosas
para a assimilação deste conteúdo, sendo plausível e possível explorar as temáticas
contidas, prevista para análise, de modo a selecionar/organizar os conteúdos em vista da
importância que o tema surge na construção do conhecimento geográfico e no Ensino de
geografia.
Os conteúdos dos artigos de Ângelo Serpa, Ricardo Baitz, Alentejano, Luis
Antônio Bittar Venturi, Yves Lacoste, Bernard Kaiser e Valéria de Marcos, foram
agrupados segundo conceitos, temas e debates e análise do referencial teórico. Propondo
uma análise dos dados agrupados assumindo o resultado de temas geradores para
debate.
2.1. Análise de conteúdo
Este tópico está organizado de acordo com as fontes do Boletim Paulista de
Geografia (nº 84, 2006), são resumos que trazem as principais discussões em cada
artigo analisado. Trata-se de uma análise descritiva sobre o conteúdo do Boletim
Paulista de Geografia, pontuando os conceitos e salientando a importância do Trabalho
de Campo.
No apêndice encontra-se o quadro síntese completo. Organizando os métodos,
conceitos, temas e debates e as referências que cada autor utilizou de modo compactar a
revisão bibliográfica.
21
BPG: Conceitos e Temas presentes nos Artigos do Boletim Paulista de Geografia
(NÚMERO 84. SÃO PAULO-SP, JUL.2006 – O Trabalho de Campo)
Análise Síntese: Conceitos, Temas e discussões:
1- Ângelo Serpa
Conceitos:
Espaço; Recorte espacial de conceituação; Paisagem; (Vertical/ Cultural); elementos; totalidade.
Temas para debate:
Reflexão teórico-metodológica sobre a importância do Trabalho de Campo na construção do
conhecimento geográfico na contemporaneidade;
O Trabalho de Campo como especificidade disciplinar da geografia;
Articulação de conceitos, teorias e procedimentos metodológicos na geografia;
O Trabalho de Campo e a possibilidade de recortar, analisar e conceituar o espaço, de acordo
com as questões, metas e objetivos definidos pelo sujeito da pesquisa;
O Trabalho de Campo como instrumento para a superação de dicotomias na ciência geográfica;
Teoria- método.
Ângelo Serpa:
SERPA, A. S. P. O Trabalho de Campo em Geografia: Uma Abordagem Teórico-
Metodológica. Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 7-24, 2006.
O artigo tem como título: O Trabalho de Campo em Geografia: Uma
abordagem teórico-metodológica. Este artigo procura fazer uma reflexão teórico-
metodológica, sobre a importância do trabalho de campo para a produção do
conhecimento geográfico na contemporaneidade.
O autor se ampara em quatro dos pressupostos que considera principal na
geografia e assim procura conceituar e dar significado ao trabalho de campo para a
geografia:
1º pressuposto: especificidade disciplinar da geografia;
2º pressuposto: o recorte dos espaços de conceituação e a centralidade do
conceito de espaço;
3º pressuposto: o trabalho de campo para a superação das dicotomias e
ambiguidades da geografia;
4º pressuposto: teoria e métodos são inseparáveis no trabalho de campo em
geografia.
O tema o trabalho de campo como especificidade disciplinar da geografia, o
autor evidencia que ”um recorte espacial significante conceitua o geógrafo em seu
objetivo para a análise espacial consonante ao próximo pressuposto”. Através do
22
trabalho de campo diversas possibilidades de recortar, analisar e conceituar o espaço, de
acordo com as questões, metas, objetivos definidos pelo sujeito da pesquisa.
Ângelo Serpa sugere a geografia como ciência do espaço, ressaltando a
especificidade nas produções científicas da geografia. De forma a valorizar o recorte do
espaço, tornando-o como questão central de operacionalização do trabalho de campo
para conceituação da realidade em coerência com os fenômenos que se deseja estudar.
A possibilidade de divisão do espaço é assumido em conjunção ao método e de forma
interdisciplinar.
Ainda que observado as relações do espaço, o autor indica o conceito de escala
como mediadora, sendo então formada a relação: pesquisador – escala – unidade de
observação e atributos; suspendendo a escala como problema fundamental do trabalho
de campo, pois há uma tendência a homogeneizar atributos importantes na análise.
Desta maneira podemos concluir que os recortes mais abstratos vão favorecer e
dar visibilidade a uma informação estruturante, aos dados agregados, aos
fenômenos latentes e a tendência a homogeneidade e ao modelo, enquanto os
recortes mais concretos vão valorizar a informação factual os dados individuais
ou desagregados, os fenômenos manifestos e a tendência a heterogeneidade.
Há uma tendência a homogeneidade com a diminuição progressiva da escala,
enquanto a heterogeneidade aumenta proporcionalmente à medida que os
recortes tornam-se mais concretos e a escala aumenta. (SERPA, 2006 p. 13)
O autor aponta também a relação do pesquisador com os dados do trabalho de
campo. Desta forma, a variável de pesquisa deve suprir o objetivo da pesquisa, ou seja,
a segurança de trabalhar com a variável desejada, entendendo as fontes de dados
primários como de “posse” do pesquisador.
Outro pressuposto apontado por Ângelo Serpa são as ambiguidades que a
geografia ainda “carrega” como marca da sua história. O autor afirma que para a
superação das dicotomias, o trabalho de campo ganha importância quando não favorece
a análise somente dos fatores humanos ou naturais, em suas palavras: “O Trabalho de
Campo deve se basear na totalidade do espaço, sem esquecer dos arranjos específicos que
tornam cada lugar, cidade, bairro, ou região uma articulação particular de fatores físicos e
humanos em um mundo fragmentado, porém (cada vez mais) articulado”.
Neste sentido, cabe-nos observar a afirmativa que coloca o Trabalho de Campo
como uma “análise do particular na totalidade”. Observada a partir da impulsão que o
autor sugere aos novos geógrafos pela “busca não somente pelas semelhanças como as
diferenciações entre os lugares, regiões, paisagens e territórios que expressam a
totalidade do espaço”, pensando o espaço como algo dinâmico e mutável.
A paisagem é pontuada como um elemento importante na contemporaneidade e
trabalhada como a chave para a superação destas ambiguidades, pois o autor trabalha
23
com o conceito de paisagem vertical considerando as visões de mundo privilegiadas na
geografia através das análises espaciais e utiliza a paisagem cultural também como
contribuição ao olho do geógrafo, sendo ela ao mesmo tempo portadora de símbolos
próprios que intercambiam com símbolos e sentidos estrangeiros:
As paisagens e os mapas podem “mentir”, se não admitirmos que não é
somente a “realidade objetiva” que deve reter nossas atenções , mas também
como esta realidade fala aos sentidos do sujeito que observa e pesquisa. É
preciso reconhecer a paisagem enquanto conivência, “explorando seus fios
cruzados e trocas recíprocas”. Vendo assim, a paisagem é ao mesmo tempo
marca e matriz, já que ao que parece, “as sociedades organizam seus
ambientes em função da percepção que elas têm deles, e, reciprocamente,
parece que elas se percebem em função da organização que dão a eles”.
(SERPA, 2006, p. 12 )
Assim, podemos constatar a soma de um olhar de visitante, quando falamos do
trabalho de campo, a um olhar que disponha de mapas, fotografias aéreas e pesquisas
sobre (...) este aparato demanda um olhar geográfico em relação ao espaço.
Umas das partes que soou mais fundamental deste artigo, Ângelo Serpa traz o
seguinte pressuposto: teoria e método são inseparáveis no trabalho de campo. Consiste
em admitir que não há um método privilegiado quando adotamos uma unidade de
observação e atribuímos atributos que estão associados ao conhecimento geográfico,
pois segundo Lacoste, “Nenhum deles é suficiente quando consideramos algum espaço para
observação apreendemos tais fenômenos na mesma proporção que deforma ou oculta outros e
outras estruturas, das quais não se pode prejulgar o papel e, portanto, não pode negligencia-lo.”
A realidade e a essência dos espaços são capazes de admitir-se a partir
comunicação dos métodos. Em que o autor possibilita uma nova metodologia e
ferramentas ao geógrafo, quando discute a possibilidade de tanto a fenomenologia
quanto a dialética marxista de trabalharem em conjunto no trabalho de campo,
funcionando como estratégias complementares, buscando sempre, a construção da
síntese entre sujeito e objeto.
A título de conclusão, o autor reafirma o trabalho de campo na geografia como a
como a base da pesquisa e da produção do conhecimento geográfico. Reafirmando a
posição central do conceito de espaço. Aproximando os conceitos, teorias e
procedimentos metodológicos como uma análise orgânica e coerente nos trabalhos de
campo/pesquisa desenvolvidos pelos geógrafos.
24
Ricardo Baitz:
BAITZ, Ricardo. A implicação: um novo sedimento a se explorar na Geografia?
Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 25-50, 2006.
Com o título: A implicação um novo sedimento a se explorar na geografia,
Ricardo Baitz procura introduzir as aplicações da “implicação” no Trabalho de Campo.
Apresentando o pesquisador implicado, implicação sem limites/ sobreimplicação;
implicação e pedagogia; implicação e foco na pesquisa; (im)possibilidade da
implicação, o autor sugere este, como o conceito central das discussões deste artigo
baseado na sociologia e pedagogia. “A implicação significa reunião e seu pressuposto é
a divisão que deve ser trabalhada de modo a remontar a unidade cindida, agora em
outro patamar, de forma complexa, com as partes costuradas pelo seu interior”.
(BAITZ, 2006, p. 32)
A exceção de alguns trabalhos, a pesquisa de campo é um pressuposto na
geografia. Transcrição (descrição), representação (cartografia) e modificação
(planejamento) são atividades desempenhadas pelos geógrafos que se remetem, em
algum momento, ao trabalho no terreno.
A apropriação da ciência para esta e técnica, aponta incialmente uma discussão
do “esquartejamento” do mundo em partes, que apontou “progresso” na medida em que
saía do estágio primitivo da separação e adentra à articulação, que foi inicialmente
externa e posteriormente interna, chegando a dialética.
Ainda sim observa que ao sair do gabinete e ir a campo, os cientistas (etnólogos)
romperam a ética instituída até então, que foi na época considerado como uma audácia,
nos revela Baitz. Esta prática, revelou uma nova objetividade a ciência, como se segue:
“Ir a campo e senti-lo tornava mais completa e complexa a pesquisa, além de suscitar
questões até então ofuscadas”. (BAITZ, 2006. p. 29)
2 - Ricardo Baitz
Conceitos:
Implicação; instituições, exposição.
Temas para debate:
A implicação como metodologia para o Trabalho de Campo
A relação sujeito implicado x objeto implicado; (sujeito-objeto)
A aproximação com o objeto/pesquisador sujeito ativo
A não neutralidade da ciência
Implicação e pedagogia
Implicação e participação
25
O processo de conhecimento é aliada a junção do sujeito e objeto, ou seja, sem
hierarquização das relação de ensino e além disso, relação de conhecimento. Desta
maneira, o autor adverte e observa a ética na pesquisa sobre uma possível interferência
do sujeito (pesquisador) em relação ao objeto: A ética nos obriga a tomar distância e a
nos afastar desse “contato”, pois estaríamos “contaminados” por emoções e outros
sentimentos que ofuscariam a objetividade da ciência.
A auto-análise é tratada como um “testemunho” para a “descontaminação”.
Baitz, ironiza que ninguém gosta de ser objeto de análise, nem mesmo a ciência e os
cientistas. O autor cita o dito popular “em casa de ferreiro o espeto é de pau”
comparando o mundo científico atual, observando que “nem todos estão dispostos a
arcar com o peso de suas próprias verdades”. Ou ainda assim, quando o objeto é seu
próprio habitat, é aconselhável que outros também venham a contribuir de modo a
manter o rigor científico, quando também implica em deixar-se analisar, analisar os
motivos mais íntimos de uma pesquisa. As relações do sujeito objeto e demais
pertencimentos institucionais de uma pessoa, lembrando o mandato social do
pesquisador.
Todos estes são pressupostos da implicação, vão dar a “unicidade” e montar um
quadro complexo. Baitz recorre a Morin4:
O problema chave não é reduzir nem separar, mas diferenciar e juntar.
O problema-chave é o de um pensamento que uma, por isso, a palavra
complexidade, (...) é tão importante, já que complexus significa “o que
é tecido junto”. O pensamento complexo, é o pensamento que se
esforça em unir, não na confusão, mas operando diferenciações.
(MORIN, 1999 apud BAITZ, 2006 p. 32)
No subtema “sobreimplicação” ou implicação sem limites, o autor posiciona-se a
favor de uma avaliação, objetivando uma qualidade significativa do aluno. Na análise
sobreimplicação, o autor coloca que a implicação não é neutra, ela é participativa,
dialética e remete a um pesquisador enquanto um sujeito ativo no campo e é sempre
presidida por mais de uma pessoa, que nem sempre está na academia, explorando o
movimento de participação e comunhão do conhecimento.
Também é anunciado nos debates sobre o sujeito e objeto neste tipo de pesquisa
no campo, a referência sobretudo nas ciências sociais por ter uma relação muito íntima
com o objeto. Soma-se a este, o olhar sociológico, que então, o autor resume a
implicação como um “estado da arte”, em suas palavras parece que é algo que abarca
4 MORIN, Edgar. Por uma reforma do pensamento in PENAVEGA, Alfredo e NASCIMENTO, Edgar
Pinheiro do. O Pensar complexo: Edgar Morin e a crise da modernidade. Garamond, Rio de Janeiro,
1999, p. 33.
26
todas as “atmosferas”. E organiza o objeto como o atravessador do sujeito. “Por
definição a escolha do ofício implica em tempo integral”.
Nas práticas pedagógicas por um esforço ao conhecimento, quando cita Paulo
Freire, em que coloca a relação educador – educando – conteúdo, o Trabalho de Campo
é como um meio para a implicação. Também faz parte da prática a apresentação da
análise, o autor indica na obra de Lefrebvre quando ele cita a respeito do que Baitz diz
ser o método mais clássico: “após a análise, vem a exposição. Se esta se realiza com
êxito, a vida do objeto considerado e o movimento da matéria estudada reflete-se nas
ideias expostas. A tal ponto que os leitores imaginam, por vezes, encontra-se perante
uma construção a priori do objeto”.
A relação entre o pesquisador e o objeto, entre pesquisador e instituição, entre o
pesquisador e a ciência (...). A aproximação se faz como combate à propensa
(inexistente) neutralidade revelada como forma de obter maior objetividade. (BAITZ,
2006. p. 43)
O autor convida-nos a refletir sobre a hierarquia, a dialética como uma
apontamento de um progresso no modo de se pensar e compreender o mundo não
significa que haja uma hierarquia entre os pensamentos. “A história demonstra o
contrário, pois o movimento de progresso admitiu também o retrocesso, especialmente
quanto a adoção de formas dogmáticas de entendimento (...). Deste modo a implicação
projeta-se contra as formas hierarquizadas, na questão de que os fragmentos
demonstram o todo, e o que é banal e latente aos olhos, conduz complexidade,
lentamente e ruma ao essencial”.
Por fim, o autor convida a implicar-se, a refletir sobre as suas próprias
implicações e a pratica-las. Parece convidar a uma metodologia de questionamentos e
apontamentos no trabalho de campo. Como um diálogo entre o sujeito e além dos
campos de visão que o norteiam. Ainda que exaustivo, o conceito de implicação é
interessante porque aponta e evidencia a necessidade de busca em outras ciências.
Mostra também o trabalho de campo como uma metodologia de pesquisa, participativa,
sugerindo uma relação interessante de mundo, oportunizando a busca e compreensão
através da implicação.
27
3 - Alentejano, Paulo R.R & Rocha-Leão, Otávio M
Conceitos:
Modelos de evolução da paisagem; Monitoramento de campo; escala,
expedição/exposição
Temas para debate:
Trabalho de Campo e teorias geográficas; articulação entre teoria e prática
Importância do Trabalho de Campo para a pesquisa e o ensino de geografia
O Trabalho de Campo como ferramenta à serviço do geógrafo
A AGB como difusor da ciência a partir das práticas com Trabalho de Campo
Perigos que rondam a banalização do Trabalho de Campo
Teoria e método
Dicotomias na Geografia
Ação transformadora
Tecnologias da Informação
Alentejano, Paulo R. R. e Otávio Miguez da Rocha Leão
(Rocha-Leão, Otávio M. )
ALENTEJANO, Paulo Roberto Raposo; Otávio M. ROCHA-LEÃO. Trabalho de
Campo: uma ferramenta essencial para os geógrafos ou um instrumento banalizado?
Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 51-67, 2006.
Neste artigo: “Trabalho de campo: uma ferramenta essencial para os geógrafos
ou um instrumento banalizado?”, os professores geógrafos da Universidade Estadual do
Rio de Janeiro (UERJ), trabalham a importância do Trabalho de Campo para os
geógrafos, bem como os problemas que envolvem esta ferramenta.
Com um conteúdo emblemático sobre geografia, o artigo é construído a partir de
um “diálogo” entre os professores. Um geógrafo geomorfológico, já o outro geógrafo
humano, tendencioso no campo da sociologia, sugerem assuntos como: o Trabalho de
Campo e a teoria; a importância do trabalho de campo para a pesquisa e para o ensino
de geografia, e; sobre os perigos que rondam a banalização do Trabalho de Campo.
Iniciam com uma formulação da geografia como ciência e a função do Trabalho
de Campo desde os primórdios e comentam sobre o legado empirista que da geografia,
entretanto, que:
(...) se o legado foi fundamental para a consolidação da Geografia como
ciência, deixou também uma forte marca empirista. Assim, nos primórdios, o
trabalho de campo que era parte fundamental do método, aos poucos vai se
transformando no próprio método, isto é, de parte do método, torna-se o
método, fruto do predomínio de uma concepção empirista que despreza a
28
teoria e atribui à descrição da realidade a condição de critério de verdade.
(ALENTEJANO & ROCHA-LEÃO, 2006 p. 53)
Ressaltando esta dimensão do empirismo presente na Geografia, (THOMAZ Jr.
2005 apud ALENTEJANO & ROCHA-LEÃO, 2006 p. 53) sustenta que as principais
concepções formuladas a respeito do Trabalho de Campo são: (1) “sem pesquisa de
campo ninguém tem direito a falar” Mao Tsé Tung; (2) “chega de teoria, o importante é
fazer”; (3) primado da descrição sobre a reflexão teórica; (4) espaço da síntese entre os
– mantidos separados – elementos físicos e humanos.
Tais concepções revelam não apenas o empirismo dominante na Geografia, mas
também a separação entre uma Geografia dos homens e uma Geografia da natureza,
como se fossem realidades absolutamente distintas. Neste sentido, revela o caso da
geografia brasileira e a permanência dos paradigmas da geografia.
É da mais significativa relevância, respaldar a teoria que tenho às mãos, neste
sentido, Alentejano destaca “a contribuição da Associação dos Geógrafos
Brasileiros (AGB) para a difusão dos trabalhos de campo como ferramenta
fundamental dos geógrafos, pois seus primeiros congressos representavam
um espaço privilegiado de produção da Geografia brasileira, com destaque
para as excursões que promovia, as palestras que organizava e os textos que
publicava no âmbito do Boletim Geográfico.” (ALENTEJANO, 2002, p. 146
apud ALENTEJANO 2006, p. 54)
Todo este acúmulo foi jogado por terra a partir dos anos de 1970, quando no
rastro da hegemonia da Geografia Teorético-Quantitativa os trabalhos de campo
passaram a ser execrados e praticamente riscados do mapa das práticas dos geógrafos,
sob o argumento de que as tecnologias da informação e os modelos matemáticos seriam
instrumentos mais adequados para a investigação da realidade. (ALENTEJANO &
ROCHA-LEÃO, 2006)
Também no movimento inicial da Geografia crítica, a radicalização crítica ao
empirismo dominante na Geografia tradicional levou a uma negação da validade do
trabalho de campo como instrumento de construção do pensamento geográfico, em
função da ênfase conferida à teoria. (ALENTEJANO & ROCHA-LEÃO, 2006)
(...) chegou-se ao exagero de somente valorizar as contribuições teóricas de
fundamentação marxista (...) e negligenciaram-se as contribuições anteriores
e, principalmente, o conhecimento empírico produzido com base em
trabalhos de campo. Quando hoje se volta a valorizar a técnica, com apoio
nos novos instrumentais (sensoriamento remoto, SIGs), deve ser ressaltado
que são, somente, instrumentos e não fundamentos. A difícil aliança entre a
teoria e a prática instrumental tem de ser perseguida e sempre alicerçada na
pesquisa de campo.” (RUA, 1997, p. 45 apud ALENTEJANO & ROCHA-
LEÂO, 2006. p. 55)
As dificuldades de articulação entre teoria e prática se entrecruzam com o
problema da dicotomia entre Geografia Física e Humana, pois, apesar dos discursos que
29
pregam uma visão integradora da Geografia, no sentido de não se isolarem as variáveis
físicas e sociais responsáveis pela produção do espaço geográfico, o olhar do
pesquisador, historicamente já impregnado da dicotomia físico-humana, acaba por
produzir, na maioria das vezes, uma abordagem eminentemente social ou natural sobre
os fenômenos manifestados na superfície terrestre. (ALENTEJANO & ROCHA-LEÃO,
2006, p.55)
Nesse sentido, com exceção da Geografia Regional francesa do início do século
XX, as pesquisas de campo em Geografia trilharam o caminho da especialização em
fenômenos da natureza ou da sociedade, sendo portanto necessária, embora dolorosa,
uma separação entre Geografia Física e Humana, pelo menos para uma avaliação de
como os procedimentos de campo evoluíram até aqui, e como refletiram na produção de
um conhecimento fragmentado da realidade, via fortalecimento das especialidades.
(ALENTEJANO & ROCHA-LEÃO, 2006. p.56)
Por tratar-se de um diálogo entre os geógrafos Físicos e Humanos, era esperado
que tais conclusões levassem para este caminho mesmo. Mas é relevante observar, o
percurso do pensamento geográfico, a importância da AGB para a difusão dos
resultados dos trabalhos de campo desenvolvidos, apesar de ter sido interrompida, a
corrente do pensamento geográfico baseado na ferramenta de campo, volta as páginas
da AGB, embora sem a centralidade que era lhe dada. As Além de outras ferramentas
advindas do movimento de avanço tecnológico que dão suporte à geografia.
Observa-se neste sentido uma bifurcação na história do pensamento geográfico,
pois, tanto a Geografia Humana quanto a Geografia Física trilharam o caminho do
positivismo e do neopositivismo, porém, o mesmo não se verificou em relação ao
materialismo dialético e à fenomenologia, que se desenvolveram na Geografia Humana,
mas praticamente não tiveram penetração no âmbito da Geografia Física, na qual, por
sua vez, desenvolveu-se a teoria geral dos sistemas – que teve menos expressão no
âmbito da Geociências.
Outro subtema que o autor se preocupa em responder é sobre a relação teoria e o
método. Salienta que o Trabalho de Campo é o momento de articulação entre a teoria e
o método e não somente reduzido ao mundo empírico. Neste sentido, o autor cita a
prática-teórica, ou seja, o Trabalho de Campo como um processo de construção do
conhecimento, que, aliado a teoria vão revelar a essência dos fenômenos geográficos.
Deste modo, a observação da paisagem apenas torna-se inviável, pois não se
pode reduzir a este exercício apenas. Para isso a relevância dos conceitos geográficos de
mediar as dinâmicas ocorridas no espaço. Neste artigo também, evidenciamos a
30
centralidade do conceito de espaço, assim como os conceitos que vão mediar, como por
exemplo, a articulação das escalas.
Bernard Kaiser é citado por compreender o Trabalho de Campo como uma
ferramenta a serviço do geógrafo, desde que seja articulada com a teoria, capaz
possibilitar uma conexão da empiria com a teoria, ou seja, o Trabalho de Campo é um
meio para o geógrafo e não um objetivo em si mesmo.
Deve-se acrescentar ainda a este artigo, o Trabalho de Campo e sua utilização
para fins de pesquisa, ressaltando o método e a teoria, a utilização de tecnologias como
instrumentos para o método.
Ademais, apesar dos entraves e dos paradigmas da geografia, o autor sustenta a
utilização do Trabalho de Campo como instrumento de pesquisa, como vimos acima e
para fins didáticos para o Ensino de Geografia, ressaltando principalmente os problemas
que professores se envolvem ao optar por esta ferramenta. “Os professores nas
diferentes paradas que previam no percurso, fazem um discurso diante dos estudantes
passivos”, sabiamente colocado por Lacoste (LACOSTE, 1985. p 13 apud
ALENTEJANO & ROCHA-LEÃO, 2006 p. 63)
Talvez, seja interessante retratar este momento, porém outros aspectos devem
ser considerados ao sair à campo com os alunos de ensino médio e fundamental. Estas
excursões, como são chamadas, se forem previamente preparadas, podem efetivar um
olhar problematizador do aluno e preparar para o que vão observar. Muito embora, que
é no campo que a realidade social e naturais se entrecruzam. Nesse sentido:
(...) a elaboração de roteiros de campo com a preocupação de evidenciar os
fenômenos naturais e sociais (e principalmente a integração entre eles) que
modelam a superfície terrestre pode se tornar um importante instrumento
integrador, na formação de novas gerações de geógrafos mais atentos a
relação físico-humana, sem necessariamente negligenciar o avanço-
verticalização das espacialidades. (ALENTEJANO & ROCHA-LEÃO, 2006
p. 64)
Ou seja, no ensino também constata-se a articulação de escalas de análise,
cuidados para não fragmentar a realidade, ficando preso ao terreno humano e/ou físico,
além de implementação de atividades de monitoramento, ligadas diretamente à
geografia física.
Para além destas questões sobre pesquisa e o ensino, o Trabalho de Campo
ganha espaço novamente no cenário geográfico. Advertiu-se durante o artigo, a opção
pela escolha do Trabalhos de Campo com objetivo de servir a acumulação privada,
porém, diga-se de passagem, isto é opcional. Um trabalho de campo elaborado com
rigor, que fuja da crise de instrumento banalizado, precisa estar comprometido em
31
desvendar os mecanismos de construção de dominação e exploração, comprometido,
sobretudo, com a transformação da realidade. Paralelamente a isto:
É interessante para estes resultados de pesquisa de campo que sejam
transmitidos para o povo, deste modo, o trabalho de campo deve vim
associado a duas faces: a articulação entre teoria e prática; e olhar crítico da
realidade associada à ação transformadora. (ALENTEJANO & ROCHA-
LEÃO, 2006 p. 64)
Algumas observações sobre este capítulo, podemos perceber que ao iniciar um
diálogo entre os autores, procura-se uma (re)aproximação dos campos da geografia,
desde que, contudo, estejam dispostos em revisar a teoria e a prática para a construção
de conhecimento.
4 - Luis Antônio Bittar Venturi
Conceitos:
“Pensar e Fazer”, trabalho científico, Instrumentos tecnológicos – “sedução da tecnologia”, Laboratório,
Trabalho de Campo, “gabinete”.
Temas para debate:
Método e técnica são complementares;
Trabalho técnico x trabalho científico;
As técnicas evoluem segundo a necessidade do homem;
Domínio da técnica = complexidade das novas tecnologias x opção de utilização de instrumentos
mais simples.
Técnicas de laboratório
Técnicas de trabalho de campo = planejamento flexível.
Objetos de estudo específicos para técnicas específicas;
Luis Antônio Bittar Venturi
VENTURI, Luis Antônio. O papel da técnica no processo de produção científica. In:
Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 69-76, 2006.
Iniciaremos a análise do texto de Venturi, observando o papel da técnica no
processo de construção do conhecimento, pois “as ciências que trabalham os mais
diferentes aspectos do mundo real, (...) as técnicas exercem um importante papel no
processo de produção científica”, observando que o método e a técnica e instrumentos
são complementares, ou ainda que o uso da técnica possibilita obter dados sobre a
realidade que embasarão os caminhos percorridos pelo método.
A essas afirmações o autor comenta sobre a técnica utilizada no trabalho
científico (diferenciando o trabalho técnico x trabalho científico), garantindo ao método
32
lugar privilegiado na problematização da pesquisa. Para o pesquisador, Venturini alerta
sobre a consciência do significado da técnica e de seu papel no processo de produção
científica, para isso, deve prescindir um verdadeiro domínio da técnica.
Impulsionados pelo mercado, o avanço tecnológico, possibilita e cria
possibilidades para as técnicas evoluírem. Estas são impulsionadas de acordo com as
necessidades de seu tempo e ganham complexidade à medida que desvenda outras. Vale
admitir que o homem que cria suas técnicas para suas próprias necessidades e se
colocam diante de um jogo de sedução tecnológica (ainda que inconscientemente).
Na lógica do mercado, muitos instrumentos (como variados softwares e
satélites) e técnicas a eles associadas desenvolvem-se com espantosa rapidez.
A tecnologia desenvolvida para atentar as necessidades de produtividade e
lucro, inegavelmente traz muitos benefícios para a humanidade em diversas
áreas (...). Novas descobertas tecnológicas podem tanto atender as
necessidades reais quanto aquelas criadas artificialmente para manter a
dinâmica de mercado (telefones celulares com jogos, câmeras fotográficas
digitais cada vez mais potentes, etc...). Entretanto se seu acesso é restrito pelo
pode aquisitivo iníquo. Ainda que haja o discurso da massificação da
tecnologia, paradoxalmente, o acesso a ela não é universal. (VENTURI,
2006, p. 71)
Ademais, o processo de produção científica corresponde por três etapas: 1.
Escolha da técnica; 2. Custo benefício; 3. Viabilidade. Isso significa, que a utilização de
uma técnica atual requer complexidade de manuseio, coisa que, se optar por uma
técnica mais simples acaba dando o mesmo resultado em menos utilização de
complexidade. Solução das técnicas, é a escolha de técnicas simples para um processo
que supra os itens 2 e 3.
Ao fim ao cabo, o autor diferencia o laboratório das práticas de campo,
resolvendo a equação de produzir ciência da seguinte maneira: No trabalho de campo o
planejamento deve ser flexível, já no laboratório a previsão é mais estática. De qualquer
maneira, o uso da técnica específica para o objeto específico se faz tanto nos trabalhos
de campo, quanto nos laboratórios.
33
5 - Yves Lacoste
Conceitos:
Responsabilidade do pesquisador; resultados de pesquisa; expedição/exposição; sujeito-objeto de
pesquisa; paisagem; evocação da paisagem; relação homem-natureza;
Temas para debate:
A pesquisa e o Trabalho de Campo: problemas de ordem política;
O papel da universidade; - pesquisa coletiva x pesquisa individual;
O papel social do pesquisador; - propor soluções/comunicar os resultados, o que provocará no
grupo estudado?
Compromisso com a organização;
Formação teórica + prática + articulação de escala;
O “poder” da pesquisa;
O papel do Estado e das grandes empresas;
O monopólio das tecnologias;
Dificuldades orçamentárias;
Expedição/Exposição
Yves Lacoste:
LACOSTE, Yves. A pesquisa e o trabalho de campo: um problema político para os
pesquisadores, estudantes e cidadãos. Revista Heródote nº 8, out./dez. páginas 3 à 20,
1977. In: Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 77-92, 2006.
“A pesquisa e o trabalho de campo: um problema político para os
pesquisadores, estudantes e cidadãos”, é um texto publicado originalmente em francês,
em 1977, pela revista Heródote (nº 8, out./dez. páginas 3 à 20) em que Yves Lacoste
argumenta sobre problemas da pesquisa de campo que são raramente evocados, talvez
porque sejam fundamentais.
É preciso uma estruturação para a operação de construção do saber, onde
reconhecer e denominar os elementos em função de uma problemática e pressupostos
inerentes. “Sobretudo, colocar problemas políticos, e primeiramente a
responsabilidade do pesquisador face aos homens e mulheres que estuda e cujo território
analisa”. Ainda sim, o que se torna evidente é a multiplicação de pesquisas de toda
ordem, fator este que implica em inumeráveis publicações científicas, que privilegiam o
Estado e os grupos privados de grande ordem para elaborar e executar projetos que por
razões de impossibilidade de revisão de todo o material, tornam vãos.
Ao ilustrar tal situação, Lacoste induz a uma reflexão sobre os paradigmas da
geografia, “que mesmo uma pesquisa que recaem sobre as características físicas de um
território, não deixam por isso, de dizer menos a respeito da população que ali vive, na
34
medida em que seus resultados tornam mais eficazes uma intervenção ali”. (LACOSTE,
2006, p.77)
A propósito de Pierre Gorou e das belezas do Delta, Lacoste procura elucidar
questões que foram criticadas em relação á “evocação da paisagem” do Delta, que
tratavam de descrições longas da paisagem. As respostas às críticas vieram da
organização dos fatos e o fator de esconder a miséria e posteriormente as guerras que
aconteceram nesta localidade.
A Respeito do conceito de paisagem, Lacoste colocou as belezas do Delta
(texto) foi um meio, inconsciente, para Pierre Gorou afastar-se do problema da miséria e
escamoteá-la, pois também não comentara no texto sobre a repressão e a terrível fome
que a população passara. Ainda sim, havia escrito que o Delta era um exemplo da
harmonia perfeita entre homem e natureza, também, chamada de “harmonia das
paisagens”.
Outrossim, com mais forte razão, a população ignorará todo o resultado que
fora lhe inscrito. Por esta razão, Lacoste insiste que é preciso a responsabilidade frente a
população que estudou também “no esforço em comunicar os resultados aos homens e
mulheres que foram objetos de pesquisa, pois estes resultados conferem poder a quem
os detém.”
Quanto ao problema da responsabilidade do pesquisador e ao das relações
que deveriam estabelecer-se entre o intelectual e a população que é seu centro científico.
Como Lacoste diz: são homens e mulheres que tomamos partidos, traduzido como
objeto de pesquisa. Por isso, é preciso estabelecer uma relação pesquisador-pesquisado,
de quem é importado problemas políticos, para que possibilite o confronto de
experiências.
Também é colocado quando a lógica do poder, o monopólio em relação as
novas tecnologias de informação e arquivamento de dados por meio de computadores,
sendo o Estado o financiador de investimentos para estas pesquisas. No tocante à
universidade, críticas rebatedoras quanto a dificuldade orçamentária para o fomento de
produção de tecnologias e organização de pesquisas de campo.
Outro problema instaurado na universidade é a experiência do estudante em
pesquisas, limitando-se como objeto de reprodução. O que é importante, segundo
Lacoste, é a organização da pesquisa e o compromisso com a responsabilidade na
relação sujeito –objeto. Tanto numa pesquisa coletiva (geralmente associada a uma
pesquisa da gradação) quanto numa pesquisa individual (mestrado).
35
Para isso Lacoste propõe uma renovação do pensamento para uma
transformação democrática da relação da pesquisa de campo, organizando a relação
“expedição/exposição”. Trata-se de compartilhar a formação teórica, as práticas, que
são insuficientes se não trabalhadas em harmonia, e articulação da escala sob a questão
e o que este estudo provocará no grupo estudado. Desta maneira, são colocados
problemas que lhe dizem diretamente e para Lacoste, os resultados obtidos, tem poder
na mão de quem os detém por isso a importância de apresentação os resultados.
6- Bernard Kaiser
Conceitos:
Sub-sistema; análise de situação, análise local, análise histórica; local/global
Temas para debate:
A importância da pesquisa de campo;
Pesquisador = cidadão;
Tipologia do trabalho de campo para o levantamento social;
Pesquisa geográfica de campo específica?;
Proposta de metodologia: referências bibliográficas do local + formação teórica + repercussão
da hipótese;
Proposta social: conflitos e problemas; lutas de classes;
O cotidiano = o indecifrável;
Justificativa da pesquisa e a responsabilidade do pesquisador;
Valorização da utilização do saber da população local;
Bernard Kaiser:
KAISER, Bernard. A implicação: um novo sedimento a se explorar na Geografia? In:
Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 25-50, 2006.
Em O geógrafo e a pesquisa de campo, Bernard Kaiser propõem uma releitura
do artigo publicado pelo autor na revista na Revista HERODOTE nº IX, sob o título:
Sans Enquête, pas de iroit à la parole. Traduzido do original em francês por Antonia D.
Erdens e publicado no Seleção de Textos nº 11.
O artigo procura trabalhar os fundamentos, métodos e práticas para as pesquisas
de levantamentos sociais. Inicialmente a questão do Trabalho de Campo como
instrumento obrigatório para o cidadão, guiado pelos pensamentos de que pesquisador
não se destaca do homem, do cidadão, frequentemente, ele é ao mesmo tempo um
professor, o que multiplica suas responsabilidades.
Existirá realmente uma pesquisa geográfica de campo específica? Em resposta
pode-se recortar do texto que: “na verdade os objetivos são bem mais amplos, (...) pois
36
trata-se de descobrir, dentro da sua complexidade e globalidade, a realidade de um sub-
sistema social localizado”. E ainda que “Se o levantamento, deseja atingir o cerne da
realidade para coletar elementos necessários á análise e à explicação , ele deverá
penetrar nas forças e nas relações de produção, explorar os níveis ideológicos e cultural
da dinâmica social.”
Não se trata pois, de uma receita metodológica. A análise da situação, é um
projeto, sendo o método fundamental para se conhecer uma situação. Sendo a situação,
na ótica social, complexa, condicionada a processos e mecanismos interpenetrados cujo
estudo aprofundado necessita da exploração de todos os aspectos econômicos, culturais,
políticos e ideológicos, tanto no presente, quanto no passado.
Como fazer esta análise. Segundo Kaiser, o quadro de referencias de análise
local. É a pesquisa indispensável à análise da situação social, vendo como uma
justificativa a pesquisa de campo a serviço do povo. A situação social é antes de mais
nada um produto da história, das lutas das classes e do modo como ela traduz-se no
terreno. Estes processos intervém os mais diversos atores: grupos sociais, aparelhos do
Estado, instituições, mídias e ideologias.
Por fim, para Kaiser, a visão é social e não espacial. O espaço, segundo ele, não
pode ser estudado pelos geógrafos como uma categoria independente e sim como
estratégia, somando-se a articulação local/global.
7- Valéria de Marcos
Conceitos:
Pesquisa-participante; produção-comunitária; processo ensino-aprendizagem, ação educativa, totalidade.
Temas para debate:
Discute a importância do Trabalho de Campo na geografia;
A pesquisa participativa como metodologia e experiência;
A forma de realização da pesquisa participante;
A finalidade da pesquisa e os resultados que poderia deixar às comunidades estudadas;
A postura do pesquisador durante sua aproximação com a comunidade - “A chegada e a
permanência do estranho” - ;
A diferença da compreensão temporal para o pesquisador e a comunidade que estuda; visão
local;
A importância do olhar na realização da pesquisa;
Valéria de Marcos:
MARCOS, V. Trabalho de campo em Geografia: reflexões sobre uma experiência de
pesquisa participante. Boletim Paulista de Geografia, v. 1 n 84, p. 105-136, 2006.
37
Este artigo discute a importância do trabalho de campo na geografia, a partir de
uma experiência na comunidade Japonesa (localizada em São Paulo). Trata-se de uma
discussão do Trabalho de Campo participativo na geografia, principalmente as formas
de realização de uma pesquisa participante, envolvendo o compromisso do pesquisador
com a comunidade e a postura do pesquisador durante a aproximação e permanência na
comunidade. “Pensar o trabalho de campo enquanto técnica e trazer para a reflexão
questões que devem nortear nossa prática e postura enquanto pesquisadores”.
A chagada a área de estudo é um momento delicado no artigo, em que a autora
procura elucidar sua experiência em relação a apresentação e sua (com)postura para que
haja um elo de ligação entre o pesquisador e a comunidade. O momento da aceitação da
comunidade torna-se algo fundamental no início da pesquisa, pois é assim que conquista
detalhes que parecem funcionais na análise final. Desde sempre, o pesquisador deve
então, manter o olhar estrangeiro, aceitando as dinâmicas e de certo modo deixando
participar, a fim de contribuir com a realização de seu estudo.
A importância do Trabalho de Campo na visão de Valéria de Marcos já vem
comunicada como um instrumento didático e de pesquisa de fundamental importância
para o ensino e pesquisa em geografia.
Enquanto recurso didático: é o momento em que o aluno visualiza tudo
aquilo que foi visto em sala de aula, em que a teoria se torna realidade, se
“materializa”. Ainda comento que assim o planejamento é um momento de
importar-se pela produção do conhecimento, ou seja, a relação ensino-
aprendizagem. Enquanto instrumento de pesquisa: é um dos mais importantes
para a construção do conhecimento geográfico, momento em que o tema se
torna realidade, exercitando o olhar com profundidade e observação para
além daquilo que havia sido considerado. (MARCOS, 2006, p. 106)
A discussão também é feita a partir de uma análise da dimensão temporal do
pesquisador em relação à comunidade que estuda, o olhar na realização da pesquisa, a
escolha da finalidade da pesquisa e os resultados previstos. Estes fatores são os atributos
que caracteriza a pesquisa participante. Além disso, o papel do pesquisador é uma das
reflexões que são cabíveis na preparação para a ida a campo.
A ida a campo significa a participação na pesquisa (conhecer melhor os
pesquisados) por isso, apesar do planejamento, a abordagem deve ser flexível, podendo
haver a soma ou extração de conteúdo.
Ainda sim, é colocado a questão da ética na pesquisa, sob a indagação: O que
fazer com os dados coletados? Como forma de resposta podemos recortar o seguinte
conceito: ação educativa, que Valéria de Marcos assimila com o conhecimento
produzido na pesquisa deve ser restituído a comunidade, de modo a permitir, a um só
38
tempo, o aumento da consciência que possuem de si próprios e de sua capacidade de
iniciativa transformadora.
Neste artigo, também são colocadas questões relativas a teoria e a prática e sobre
o método. Chama a atenção a problemática que é dada na experiência em uma
comunidade de camponeses, extraindo a possibilidade da visualização de um outro
conceito geográfico, a relação campo/cidade, mostrando-se como um “passaporte” para
pesquisas culturais.
2.2. Análise das referências
- Tabela de Referências:
Referência citadas nos artigos Ocorrências YVES LACOSTE (1,2,3,4,5,6) 6 MAO TSÉ TUNG (3,6,7) 3 BERNARD KAISER (3,4,6) 3 MILTON SANTOS (1;4) 2 HENRI LEFBVRE (1,2) 2
PAULO FREIRE (2) 1 ANTÔNIO CHRISTOFOLETTI 1 PAUL CLAVAL (1) 1
Obs.: As referências estão organizadas dos mais referenciados e na sequencia oferecida pela BPG.
Diante desta tabela, devemos considerar as citações em Yves Lacoste,
privilegiando um debate a cerca da reponsabilidade política do pesquisador, “É preciso
sobretudo colocar problemas políticos, e primeiramente, a responsabilidade do
pesquisador face aos homens e mulheres que estuda e cujo território analisa”
(LACOSTE, 2006, p. 77); o poder da pesquisa:
“É normal que o pesquisador se desinteresse da sorte da população
que estudou? É normal que esta permaneça na ignorância das
pesquisas das quais foi objeto? Este problema, da responsabilidade do
pesquisador face aos homens e às mulheres que estuda e cujo território
analisa, Hérodote colocou em seu primeiro número, e pelo menos em
meu conhecimento, somos ainda quase os únicos a afirmar que é
preciso não parar a pesquisa, atitude negativa e perfeitamente
irrealista, mas esforçar-se em comunicar os resultados aos homens e às
mulheres que foram objetos delas, pois estes resultados conferem
poder a quem os detém. (LACOSTE, 2006, p. 78)
Também, questiona o papel da universidade, contemplando a discussão de
pesquisa coletiva x pesquisa individual; O papel social do pesquisador; propondo
soluções/comunicar os resultados, sob o questionamento: “o que provocará no grupo
estudado?”; O trabalho de Campo deve haver compromisso com a organização; além
da formação teórica + prática + articulação de escala; Lacoste comenta também sobre
o papel do estado e das grandes empresas e o monopólio das tecnologias.
39
Isso acaba oportunizando um debate sobre Trabalho de Campo com base na
publicação original de Yves Lacoste e são diversos os autores optam por utiliza-lo como
referência para pesquisa quanto o assunto é Trabalho de Campo em Geografia.
Milton Santos, as citações ficaram por conta da relação do espaço na formatação
do Trabalho de Campo. Este é uma das “faces” em que o geógrafo se detém a ser
referenciado constantemente, entre outros, quanto à compreensão da relação e interação
dos “elementos” do espaço, a noção de “causa-efeito”, “espacialização funcional” e
“totalidade verdadeira”, este contidos em Henri Lefbvre, citado também como
referência para o ensino de geografia.
Bernard Kaiser também é referência, quando os autores se apoiam na ação do
sujeito da pesquisa e a valorização do saber local na pesquisa. Mao Tsé Tung marcou
presença com a frase: “sem Trabalho de Campo ninguém tem direito a falar.” Outras
discussões presentes, serão requisitadas durante o texto, como o caso de Antônio
Christofoletti (ver livro: Perspectivas da Geografia, DIFEL, 1985 – Capítulo 2. Paul
Vidal de La Blache As características próprias da Geografia; Capítulo 7. Yi-Fu Tuan,
Geografia Humanística e Capítulo 8. Apreendendo o Dinamismo do Mundo Vivido –
Anne Buttimer), Paul Claval (A Geografia Cultural) e Paulo Freire (Trabalho de Campo
e Pedagogia – métodos de síntese na relação sujeito-objeto), pois tratam-se de leituras
complementares.
2.3. Considerações do Capítulo:
O conteúdo do Boletim revela a reflexão teórico-metodológica, introduzida
pelos autores com nomenclaturas diferenciadas na análise, mas que tencionam a mesma
leitura tais como: teoria e metodologia, teoria e método, Trabalho de Campo e teorias
geográficas (remete-se a história do pensamento geográfico),estes termos comportam-se
como a “tradução” do Trabalho de Campo:
Aos poucos tal prática foi assimilada, especialmente porque – e isso é
por demais importante – descobriu-se que ela não rompia com a
ciência, mas trazia à tona uma nova objetividade; ir ao campo e “senti-
lo” tornava mais complexa e completa a pesquisa, além de suscitar
questões ofuscadas até então. Tratava-se, enfim, de um magnífico
avanço, uma atualização da ciência! (BAITZ, 2006, p. 29)
Entre os artigos, as constatações a respeito do Trabalho de Campo e sua
importância para a geografia, transitam ora como fator de relevância para construção do
conhecimento geográfico e para o ensino de geografia, mas também quanto a
40
responsabilidade do pesquisador e revelação do objeto através de métodos, experiências
metodologias e visões de mundo diferenciadas.
Podemos então selecionar seis subconjuntos de análise que vão mediar e
construir a importância do Trabalho de Campo na Geografia (incluindo-se como
subconjunto), a partir da revisão dos conceitos e temas presentes nos Artigos do
Boletim Paulista de Geografia (BPG, NÚMERO 84. SP, JUL.2006 – O Trabalho de
Campo) e a partir da análise do quadro síntese (apêndice 1 – Quadro Síntese -
Completo):
A importância do Trabalho de Campo para a Geografia;
Trabalho de Campo e a construção do conhecimento geográfico;
A relação sujeito-objeto;
O “lugar” na realização do Trabalho de Campo e a “escala”;
A inserção de tecnologia na Pesquisa de Campo.
Teoria e Prática
Ângelo Serpa o primeiro artigo do BPG, traz o tema Trabalho de Campo como
uma especificidade disciplinar da Geografia, o autor evidencia que ”um recorte espacial
significante conceitua o geógrafo em seu objetivo para a análise espacial”. (...) É através
do Trabalho de Campo que o geógrafo organiza “as diversas possibilidades de recortar,
analisar e conceituar o espaço, de acordo com as questões, metas, objetivos definidos
pelo sujeito da pesquisa” e que Bernard Kaiser contribui com diferenciações:
A pesquisa de campo é um meio e não um objetivo em si mesma. É a
pesquisa indispensável à análise da situação social. Trata-se, repetimos, de
situação social e não de situação espacial. O espaço não pode ser estudado
pelos geógrafos como uma categoria independente de vez que ele nada mais é
que um dos elementos do sistema social. (KAISER, 2006, p. 58)
A importância do Trabalho de Campo, na visão de Valéria de Marcos já vem
comunicada como um instrumento didático e de pesquisa de fundamental importância
para o ensino e pesquisa em geografia. Nos artigos do Boletim Paulista os autores,
convergem a esse pensamento. O Trabalho de Campo é um instrumento que torna
“eficiente” e presente em todos os objetos que se propõem a analisar da Geografia, e
que:
Embora contestada, a prática da separação sujeito-objeto infelizmente
enraizou-se profundamente. Paulo Freire, para citar apenas o campo da
Educação, suplicou pela extinção da educação bancária; ou seja, O
apontamento de um progresso no modo de pensar e compreender o mundo
não significa que haja uma hierarquia entre os pensamentos. A história
demonstra o contrário, pois o movimento de progresso admitiu também o
41
retrocesso. (...) Ele intensamente declarou que o professor e/ou o
conhecimento não são sujeitos face aos alunos (que por sua vez não são
objetos), mas que ambos estão em relação, indo para além do método
analítico na Educação. Embora isso, o professor que se declara aprendiz na
sala de aula nos dias de hoje continua a ser visto com suspeição de
incompetência e incapacidade tanto pelos alunos quanto pelos pais de alunos
ou pelos colegas de profissão... “Professor e aluno não se confundem”, é o
que eles dizem, hierarquizando as relações e o próprio conhecimento,
respaldando-se e dando um uso à teoria de Piaget que o entristeceria
(BAITZ, 2006, p. 27)
Em se tratando do sujeito pesquisador é nítido o debate em torno da
problematização do sujeito e do objeto, que evolui a “não” neutralidade da ciência:
Outra questão que havia também ficado clara era aquela relativa à discussão
sobre a neutralidade da ciência. Concluí o curso convencida de que não existe
ciência neutra, porque não existe ciência sem compromisso. De fato, a opção
do tema de pesquisa e de quem nos auxiliará a trilhar esta estrada revela, a
um só tempo, o compromisso e a ciência que pretendemos fazer. (MARCOS,
2006 p. 107)
Por exemplo, “a chegada e a permanência na área de estudo”, é no artigo de
Valéria de Marcos, a maneira pela qual a autora procurou elucidar sua experiência em
relação a apresentação e sua (com)postura mostrando a relação sujeito-objeto. Afirma
ainda, que deve procurar o “elo de ligação” entre o pesquisador e a comunidade. Sendo
o momento da aceitação da comunidade, algo fundamental no início da pesquisa, pois é
assim que conquista detalhes que parecem funcionais na análise final. Desde sempre, o
pesquisador deve então, manter o “olhar estrangeiro”, aceitando as dinâmicas e de certo
modo deixando participar, a fim de contribuir com a realização de seu estudo.
Anteriormente as idas a campo é importante ressaltar como o método é
importante para a análise da importância do Trabalho de Campo e na suspensão da
síntese entre sujeito e objeto e que se segue nas conclusões de Serpa:
Enquanto métodos (falando da dialética e da fenomenologia) podem
funcionar como estratégias complementares, buscando-se sempre a
construção da síntese sujeito-objeto, própria ao ato de conhecer, ora
utilizando-se da história enquanto categoria de análise, ora buscando-se
intencionalmente abstrair a historicidade dos fenômenos, visando à
explicitação de sua “essência”. (SERPA, 2006, p. 20)
Um conceito pertinente a discussão para conhecimento geográfico são as
diversificadas relações sujeito-objeto, notado uso de técnicas específicas para objetos
específicos. (VENTURI, 2006, p.76). Este tema abre um debate para as dicotomias
entre Geografia Física e Geografia Humana e os métodos que deles provém. Ainda que
haja os objetivos diferenciados cabe-nos refletir sobre a unificação ou um melhor
aproveitamento de situações gerais do Trabalho de Campo num âmbito da pesquisa
para, e somente para, o conhecimento geográfico.
42
O Trabalho de Campo deve se basear na totalidade do espaço, sem esquecer
os arranjos específicos que tornam cada lugar, cidade, bairro ou região uma
articulação particular de fatores físicos e humanos em um mundo
fragmentado, porém (cada vez mais) articulado. O trabalho de campo em
Geografia deve perseguir, portanto, a ideia de particularidade na totalidade,
abandonando de modo enfático a ideia de singularidade de lugares, cidades,
bairros ou regiões. (SERPA, 2006, p.10)
Valéria de Marcos cita algumas preocupações iniciais quanto a realização do
Trabalho de Campo. Chama a atenção a relação com o “lugar”:
Como “chegar” ao local? Como nos aproximarmos das pessoas? Como
conquistar a confiança delas? Como garantir a cientificidade exigida pela
academia? Essas, e tantas outras dúvidas que nos norteiam durante a
pesquisa, fazem com que muitas vezes o tema propriamente dito assuma um
segundo plano neste momento inicial. A escolha do modo de realização da
pesquisa irá depender do tema e dos objetivos da pesquisa que devemos
desenvolver. (MARCOS, 2006, p. 106)
Devemos apreender deste conhecimento, que a escala é um conceito pertinente
na análise pois estaremos diante de um conjunto de “sub-sistema” (KAISER, 2006) ou
também por Ângelo Serpa que propõem a escala como mediadora da análise do espaço,
e que aproximam-se ao conceitos geográficos até a ampliação aos lugares.
De acordo com este conceito de “sub-sistema”, podemos nos aproximar do
conceito de “sub-cultura” emergentes nas discussões de Geografia Cultural e
principalmente no cenário social contemporâneo. Na análise de Bernard Kaiser, isto se
revela através do conceito de análise da situação:
A análise da situação deve levar tudo em conta: no fundo, é o que se chama
hoje uma análise de sistema. A situação local é, na realidade, um sub-sistema,
de meta sistema representando a formação social. É preciso, pois, o apreender
em termos sistêmicos, recusando o inventário das determinantes – o trabalho
geográfico comum – e o estudo cartesiano das estruturas para ir direto ao
funcionamento, aos processos. (KAISER, 2006)
Lacoste por sua vez, define o Trabalho de Campo como pesquisa em grande
escala que precisa, necessariamente, ser articulada com outras escalas: “O trabalho de
campo para não ser somente um empirismo, deve articular-se à formação teórica que é,
ela também, indispensável. Saber pensar o espaço não é colocar somente os problemas
no quadro local; é também articulá-los eficazmente aos fenômenos que se desenvolvem
sobre extensões muito mais amplas.” (apud ALENTEJANO, 2006, p. 58)
Para este autor, portanto, o campo só é válido se articulado com sistemas globais
de interpretação da realidade. É através da articulação das escalas que podemos
43
efetivamente construir uma interpretação geográfica da realidade, indo do particular ao
geral, e retornando a este, assim como da prática à teoria e vice-versa.
Outro ponto que sustenta as discussões é sobre a introdução das novas
tecnologias na formatação do Trabalho de Campo, outros autores indicaram como
“sedução da tecnologia” (VENTURI, 2006) e a duvidosa universalidade das tecnologias
aplicadas á geografia:
À exceção de alguns trabalhos, a pesquisa de campo é um pressuposto na
Geografia. Transcrição (descrição), representação (Cartografia) e
modificação (planejamento) são atividades desempenhadas pelos geógrafos
que se remetem, em algum momento, ao trabalho no terreno. Por isto é
possível dizer que desenvolvemos, em nossa formação, uma intimidade quase
tátil com o campo, sendo-nos um grande prazer a ida ao campo. Essa
intimidade, entretanto, não nos torna totalmente livres nas atividades de
pesquisa, pois não vamos, simplesmente, ao campo. A “ida” é precedida de
muitas técnicas e tecnologias. Carregamos certos instrumentos, como o diário
de pesquisa, e sempre o conhecimento das técnicas e procedimentos da
análise. (BAITZ, 2006, p. 26)
Na lógica do mercado, muitos instrumentos (como variados softwares e
satélites) e técnicas a eles associadas desenvolvem-se com espantosa rapidez.
A tecnologia desenvolvida para atender a necessidades de produtividade e
lucro, inegavelmente traz muitos benefícios para a humanidade em diversas
áreas, entre as quais podem ser citadas a Medicina, as Comunicações etc.
Novas descobertas tecnológicas podem tanto atender a necessidades reais
quanto àquelas criadas artificialmente para manter a dinâmica do mercado
(telefones celulares com jogos, câmeras fotográficas digitais cada vez mais
potentes etc.). Entretanto, seu acesso é restrito pelo poder aquisitivo iníquo.
Ainda que haja o discurso da massificação da tecnologia, paradoxalmente, o
acesso a ela não é universal. (VENTURI, 2006, p 71)
Contudo, é preciso entender o avanço tecnológico como tendência e
possibilidade, o desenvolvimento de novas tecnologias de informação não tornará
desnecessária a realização de Trabalhos de Campo, principalmente para a obtenção de
dados que dialoga com a realidade e de acordo com a necessidade do geógrafo:
As novas tecnologias facilitam o campo, mas sem método não há produção
de conhecimento, afinal instrumentos são meios de trabalho. De acordo com
esta autora, pesquisar é buscar respostas para perguntas instigantes, num
processo em que sujeito e objeto interagem, o sujeito construindo o objeto e o
objeto reconstruindo o sujeito. (SUERTEGARAY 2002, apud
ALENTEJANO, 2006, P. 59)
44
CAPÍTULO 3
O Trabalho de Campo na Universidade e na Escola
Devemos ressaltar inicialmente os objetivos diferentes da academia e da escola:
a primeira tem como pretensão a formação profissional de nível superior, e a segunda
pretende uma formação cidadã com base em conhecimentos específicos da disciplina. A
disciplina de geografia escolar não se constitui, no entanto, do resultado de uma simples
transposição didática, simplificação de um saber acadêmico para o escolar,
(PONTUSCKA 2009), mas apoia-se na ciência de referência, para que elas próprias se
tornem meios de construir conhecimento.
3.1. O Trabalho de Campo na UNIVERSIDADE FEDERAL DE
ALFENAS
Por assim entender esses dois campos de ensino, a Universidade Federal de
Alfenas, propõem para formação do docente na UNIFAL, competências e habilidades, e
que, entre elas, está o “Planejar e executar atividades de campo referentes à investigação
geográfica e ambiental”5; sendo assim, para nós futuros professores, uma atividade
formativa essencial.
Os Trabalhos de Campo na UNIFAL são organizados de maneira individual,
como o Trabalho de Campo de Geomorfologia – para Nazareno – SP e também a
Campos do Jordão – SP (Professora Responsável pela disciplina: Marta Felícia Marujo
Ferreira) e também com a mesma professora para Ubatuba – SP com a disciplina de
Geomorfologia Litorânea. Ao triângulo Mineiro, com a disciplina de Geografia
Regional (Professora Responsável pela disciplina: Ana Rute do Vale) e São João Del
Rey e Tiradentes com a disciplina de Formação do Território Brasileiro (Professora
Responsável pela disciplina: Ana Rute do Vale) e para São Paulo com a disciplina de
Planejamento Urbano e Geografia Urbana (Professor Responsável pela disciplina:
Evânio dos Santos Branquinho). Bem como outras disciplinas que aplicam o Trabalho
de Campo na própria região de Alfenas - MG, de modo a explorar esta a região e os
fenômenos geográficos que a caracterizam.
5 Disponível em PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CURSO DE GEOGRAFIA – licenciatura
2011. <http://www.unifal-mg.edu.br/graduacao/?q=geolic> e no sítio da Geografia UNIFAL-MG que se
segue:< http://www.unifal-mg.edu.br/geografia/?q=node/3>
45
Mas também aconteceram, com uma maior frequência nos últimos anos, o
Trabalho de Campo Integrado. O último aconteceu com as disciplinas de Geografia
Urbana (Professor responsável pela disciplina: Evânio dos Santos Branquinho) e
Geografia Econômica. (Professor Responsável pela disciplina: Flamarion Dutra Alves).
E também o Trabalho de Campo para Prado – BA, em que foi organizado um debate em
torno de Geografia Regional (Professora Responsável pela disciplina: Ana Rute do
Vale) e Recursos Naturais do Brasil (Professor Responsável pela disciplina: Clibson
Alves dos Santos) (esta prática é enriquecedora, complementa Ana Rute), além de
outras práticas como o Trabalho de Campo, que demonstram assim a presença do
geógrafo da UNIFAL em diversas locais do Brasil.
Deste modo, pretende-se verificar através dos questionários aplicados, as
relações entre a teoria e práticas acadêmicas realizadas pelos Professores do Instituto de
Ciências Naturais – ICN – Geografia da Universidade Federal de Alfenas. A se saber,
foram questionados sobre os lugares que são pesquisados e para qual disciplina? Já
trabalhou alguma dinâmica integradora no Trabalho de Campo, com disciplinas de
outras áreas? (acima descritos) Em seu Trabalho de Campo há intensão de explorar a
realidade sociocultural do lugar? Quais os pontos de êxito e os limites para a realização
do(s) trabalho(s) de campo?
Dentre as questões, podemos agrupá-los nos seguintes tópicos:
Prática acadêmica e aprofundamento teórico:
Neste primeiro tópico, podemos verificar a pertinência do Trabalho de Campo
como objetivo (disciplinar) da Geografia na UNIFAL. Muito se discute sobre estas
práticas (integradoras ou não), e que na Geografia, há debates ainda conflituosos na
constituição da própria ciência, mas é inegável, que esta seja uma necessidade da
disciplina já que fazem parte da visualização da prática acadêmica:
Em primeiro lugar, defendemos a ideia de que há uma especificidade
disciplinar na discussão aqui proposta, própria à Geografia e à produção do
conhecimento geográfico. Uma reflexão sobre a importância do trabalho de
campo nesta disciplina requer a compreensão de sua especificidade frente às
outras disciplinas, sobre seus trunfos e seus handcaps frente às outras ciências
naturais e sociais. Afinal, o que há de epistemologicamente diferente na
produção do conhecimento geográfico? (SERPA, 2006. p. 9)
Apesar deste pressuposto, na Geografia UNIFAL cada grupo de pesquisa
formaliza-se na expressão de resultados cada vez menos articulados com a realidade do
46
Geógrafo Bacharel e Licenciado, sendo este, um ponto a ser mencionado. Observando a
fala de Ana Rute do Vale, em que cita que “durante a graduação, muitos alunos da
licenciatura não participam das práticas”, implicando no descompasso entre a teoria e a
prática na formação destes profissionais.
O Trabalho de Campo na Geografia, segundo Marta Ferreira: “deve ser o
momento de se fazer estudo, dentro de uma sequência que o professor propôs para
aquela disciplina para que o aluno possa atingir a totalidade, o todo”.
Professora Marta, comenta que o Trabalho de Campo em sua disciplina
(geomorfologia), pretende construir uma noção de “trascecto” de Alfenas ao ponto
escolhido, buscando assim, um entendimento das dinâmicas ao longo do trajeto.
Professor Evânio Branquinho compreende que para estar nos lugares é preciso
conhece-los antecipadamente, por isso, acontece na sua prática a presença de
convidados e/ou próprios moradores, ou os próprios alunos que vivenciaram as
experiências do local visitado, a fim de proporcionar noções “mais abertas” ao Trabalho
de Campo.
Êxitos e limites:
1. Teoria e Prática:
Os professores questionados exaltaram a possibilidade da visualização da teoria
na prática. Isto porque ao organizar o Trabalho de Campo para a sua disciplina, ou
quando opta por faze-la integrada, o professor já está diante de uma das faces desta
metodologia, a teoria em sala de aula. A prática, sendo obrigatória das disciplinas,
“carregam” um sentido de observação dos fenômenos e é, na realização dos relatórios
de campo, que a junção da teoria e da prática se fazem, de um modo mais claro.
Em diversas situações, “o uso sem critério do rótulo impede” faz com o
aprofundamento teórico desta prática pedagógica que, se reduzida a uma visita, a um
passeio, a uma aula de campo, perde, na perspectiva que aqui defendemos, grande parte
de seu valor formativo e educativo (KAISER, 2006).
2. Dificuldades orçamentárias e burocráticas;
Os professores da UNIFAL-MG apontaram, também de forma unanime, como
um dos grandes “vilãos” para a realização dos Trabalhos de Campo: dificuldades
47
orçamentárias. Semelhante ao que Lacoste aponta: “Mas mesmo estas excursões
tornam-se cada vez mais raras na maioria das universidades, em razão, seguramente, das
graves dificuldades orçamentárias (...)” (LACOSTE, 2006) de acordo com os
professores, ainda se torna maior essa questão, quando a universidade (reitoria)
negligencia a experiência de campo como fonte principal de pesquisa para a Geografia:
Para a maioria dos estudantes, a experiência da pesquisa se limita a isto; a
este exercício suplementar de reprodução de conhecimentos já elaborados
sem que tenham tomado consciência das possibilidades que teriam de
produzir, por si mesmos, elementos de um saber novo. Todavia, a
aprendizagem do trabalho de campo, a iniciação à pesquisa, começa a se
tornar uma das reivindicações principais dos estudantes de Geografia.
(LACOSTE, 2006, p. )
A preocupação latente pela questão financeira, é orquestrado pelo tempo de
envolvimento no lugar, sendo assim, os Trabalhos de campo da Geografia UNIFAL-
MG, não passam de 4 dias, exceto os Trabalhos de campo à Prado na Bahia e ao
Pantanal com a disciplina de Biogeografia. Essa evidencia contribui para a solicitação
de gastos e viabilidade de técnicas visando a relação custo-benefício. Muito embora, a
Universidade preste o serviço de transporte, ainda é necessária reinvindicações, de
carácter exclusivos da geografia, que possibilitem uma melhora significativa na
condição dos Trabalhos de Campo.
Realidade sociocultural como “plano de fundo”?
Entende-se que a realidade sociocultural do lugar visitado é preeminente ao
Trabalho de Campo, ou seja, “está lá” mesmo que isto não seja evocado. Nas diversas
disciplinas que acontecem os Trabalhos de Campo na UNIFAL, por exemplo, a
Professora Marta Felício, comenta que “os objetivos dos Trabalhos de Campo são
direcionados à disciplina, mas que não se pode fechar os olhos para tal realidade”. E
Ana Rute, responde que “mesmo que em ‘plano de fundo’ a realidade sociocultural
surge”. Para Evânio: No Trabalho de Campo o aluno tem a opção de ter as diversas
visões diferentes, para construir uma visão, mesmo que rápida (porque o Trabalho de
Campo é rápido) e genérica (...), uma visão daquele lugar, dos problemas daquele lugar,
porque senão ficaria um trabalho com lacunas, somente a visualização do material e da
paisagem sem entrar nas relações sociais.
48
3.2. O Trabalho de Campo e o ensino de geografia
Princípio de que “escola é vida”: O problema das relações ESCOLA
e VIDA tem sido colocado, não de hoje, pelos educadores, tanto na
Europa quanto na América. Mais de uma vez afirmou-se como
verdade pacífica, neste plenário mesmo, o princípio de que ESCOLA
É VIDA e não pode fechar-se, portanto, em relação àquilo que
constitui, em cada momento, o próprio contexto em que o homem faz
sentido, não pode continuar a ser um compartimento fechado, pseudo-
preparando para a vida, fora da vida. O Estudo do Meio seria um
“recurso por excelência” para que se pudessem “[...] suprimir as
fronteiras entre a escola e a vida” (MAGALDI, 1965, p. 69 e 70 apud
PONTUSCHKA, Nídia N. 2009. p 5).
Uma questão que se mostrou inspiradora no BPG, ainda que vamos resgatar
aqui: a utilização do Trabalho de Campo no ensino de Geografia. Devida sua
pertinência e significados frente à formação dos professores nesta época, os artigos
apontaram: 1. A construção do conhecimento geográfico a partir do Trabalho de
Campo; 2. A superação na relação ensino-aprendizagem; 3. A escolha do tema
significativo à comunidade, como formas de melhor aproveitamento desta prática.
Enquanto recurso didático, o trabalho de campo é o momento em que
podemos visualizar tudo o que foi discutido em sala de aula, em que a teoria
se torna realidade, se “materializa” diante dos olhos estarrecidos dos
estudantes, daí a importância de planejá-lo o máximo possível, de modo a
que ele não se transforme numa “excursão recreativa” sobre o território, e
possa ser um momento a mais no processo ensino/aprendizagem/produção do
conhecimento. MARCOS
De certa forma, os Estudos de Claudivan S. LOPES e Nídia N
PONTUSCHKA: Estudo do meio: teoria e prática, serviram em quase sua totalidade,
para a reflexão e compreensão dos momentos históricos da Escola Brasileira e assim
para análise do tema o Trabalho de Campo no Ensino (e sua interpretação curricular no
ensino) de Geografia. Segundo os autores o “estudo do meio” não é uma prática
pedagógica nova no universo educacional brasileiro:
Faz parte, na verdade, de uma “tradição escolar” e cota inspirada em
educadores tais como Francisco Ferrer y Guardia (1859-1909) e Célestin
Freinet (1896-1966),tem por objetivo proporcionar aos estudantes uma
aprendizagem “mais perto da vida”, ou seja, um contato mais direto com a
realidade estudada, seja ela, natural ou social. (LOPES, PONTUSCHKA,
2009)
Uma das etapas fundamentais dos Estudos do Meio é o Trabalho de Campo. O
roteiro e o cronograma das atividades a serem desenvolvidas durante a pesquisa de
campo deve conter textos e mapas de apoio, roteiro para pesquisa, espaço para
anotações, textos e croquis, sem que se chegar ao exagero de tornar isso uma receita,
pois:
49
A pesquisa de campo é reveladora da vida, ou seja, por meio dela pretende-se
conhecer mais sistematicamente a maneira como os homens e as mulheres de
um determinado espaço e tempo organizam sua existência, compreender suas
necessidades, seus desejos, suas lutas com vitórias e fracassos. Assim,
durante o trabalho de campo, educadores e educandos devem submergir no
cotidiano do espaço a ser pesquisado, buscando estabelecer um rico diálogo
com o espaço e, na condição de pesquisadores, com eles mesmos. É o
momento de descobrir que o meio ou o espaço, na inter-relação de processos
naturais e sociais, é uma Geografia viva (PONTUSCHKA, 2006 apud 2009.
P 14).
Segundo os autores ainda é preciso ir a campo:
[...] sem pré-julgamentos ou preconceitos: liberar o olhar, o cheirar, o ouvir, o
tatear, o degustar. Enfim, liberar o sentir mecanizado pela vida em sociedade,
para a leitura afetiva que se realiza em dois movimentos contrários – negar a
alienação, o esquema a rotina, o sistema, o preconceito – e afirmar o afeto da
comunidade e da personalidade (PONTUSCHKA, 2006, p. 12). Ao romper as
fronteiras dos territórios institucionalizados de aprendizagem – a sala de aula
e a escola –, a pesquisa de campo permite a ampliação desse território
levando, ao mesmo tempo, a “a sala de aula e a escola” para o mundo – um
lugar ou situação mais específica ou particular deste mundo para ser
pesquisado e estudado –, e o mundo – mais real ou concreto –, para dentro da
sala de aula e da escola. Trata-se, portanto, de uma oportunidade, como
afirma Thompson (1998) falando mais especificamente do trabalho de campo
na realização da História Oral, de gerar ocasiões de aprendizagem para além
de seus tradicionais abrigos institucionais. (PONTUSCHKA, 2009. p. 15).
Neste sentido podemos fazer uma coesão com aquilo que se produz no Trabalho
de Campo Participativo ou pesquisa participativa, apresentado por Valéria de Marcos
em que importância do Trabalho de Campo, já vem comunicada como um instrumento
didático e de pesquisa de fundamental importância para o ensino porque enquanto
recurso didático é o momento em que o aluno visualiza tudo aquilo que foi visto em sala
de aula, em que a teoria se torna realidade, se “materializa”. Ainda sim, o planejamento
do Trabalho de Campo “sustenta” a produção do conhecimento, ou seja, a relação
ensino-aprendizagem torna-se mais palpável e flexível.
Apesar de haver um procedimento metodológico o Trabalho de Campo se
comporta como uma prática flexível, (MARCOS, 2006) sendo o êxito dependente de
um trabalho de planejamento flexível (mas, certamente rigoroso pelo menos nas etapas
ou momentos). Os autores apontam que este roteiro a seguir não deve ser visto como
negação de outras possibilidades de organização e, sim, como um determinado
“esquema estratégico”, baseado na experiência acumulada pelos autores a respeito do
tema.
Todas as etapas e respectivas ações que o estruturam são realizadas na busca
de acordos e contratos pedagógicos possíveis que, sem negar os conflitos
consubstanciais a qualquer relação social, têm, como ponto de partida e
chegada, a realidade vivida pelas pessoas envolvidas na construção de um
50
projeto educativo em uma determinada unidade escolar. (LOPES,
PONTUSCHKA, 2009. P. 7)
Iniciando um processo de modificações desta prática em momentos específicos
da história política e educacional Brasileira, o Estudo do Meio (levando em
consideração o Trabalho de Campo como parte fundamental desta metodologia) se
disseminou e se popularizou nos anos 1960 no interior do movimento da Escola Nova e
dos educadores preocupados com a constituição de um ensino atraente e uma
aprendizagem significativa.
Ainda sim, há registros que mostram sua realização em escolas fundadas por
grupos de imigrantes europeus (início do séc. XX). A vinda demonstra a crescente
industrialização que abria postos de trabalho na época, e que, inspirados nas ideias
pedagógicas de Ferrer, as escolas criadas pelos militantes do movimento anarquista
tinham como princípio oferecer um ensino racional, fundamentado em observações de
campo, em discussões e na formação do espírito crítico sobre o meio circundante. (XX)
Avanço na compreensão, o acirramento da censura e a repressão política
promovidas pelo governo militar por meio do Ato Institucional n. 5 (AI-5), os Estudos
do Meio ficaram proibidos e com a crise do governo militar, a partir de 1978-1979, e o
consequente processo de redemocratização do país, os “Estudos do Meio” retornaram à
agenda dos educadores. (LOPES , PONTUSCHKA, 2009)
Segundo a autora o retorno às agendas foi inspirados pela pedagogia de Paulo
Freire e na sua experiência enquanto Secretário da Educação (1989-1990) em que o
Estudo do Meio desempenhou a função de elo integrador de práticas interdisciplinares
no âmbito da escola básica com resultados muito positivos, (PONTUSCHKA 2004, p.
260-268 apud LOPES, PONTUSCKA, 2009).
As pesquisas mais recentes sobre o Estudo do Meio têm mostrado sua
significância e atualidade. Contudo, é preciso acrescentar que a utilização
indiscriminada das experiências fora do ambiente escolar, ainda que possuam valor
pedagógico e lúdico, pode constituir-se em empecilho ao aprofundamento do tema e
ampliação de seu significado e potencial na elaboração do currículo escolar. Avaliemos
o Gráfico:
51
Na atualidade e de acordo com as pesquisas que foram salientadas pela autora,
o Estudo do Meio” têm contribuído para o fortalecimento da autonomia da instituição
escolar e dos professores de maneira geral, em que se segue nas palavras de Pontuschka
(2009):
Da instituição escolar porque é uma alternativa às políticas e propostas
vindas das secretarias de educação e dos professores porque podem
desenvolver seus saberes profissionais sem serem teleguiados pelos materiais
didáticos oficiais. Podem corroborar, sem dúvida, o processo de
desenvolvimento da profissionalidade docente. Dimensão pública da
educação: Trata-se da organização de fóruns de discussão para os problemas
vividos coletivamente pela comunidade onde a escola está inserida. Ao
desvelar as injustiças sociais e outras questões que afetam o bem-estar de
uma determinada comunidade escolar, os Estudos do Meio podem ser
valiosos instrumentos para a compreensão e superação daquelas injustiças
que, de acordo com Santos (1993 apud PONTUSCHKA, 2009. P.6), “[...]
devem ser corrigidas em nome da cidadania” (p. 112). Podemos falar, assim,
de uma escola que “enraizada no lugar”, se alimenta de sua potencialidade e
de sua força.
Entre as propostas para este tipo de atividade, o Trabalho de Campo, pode ser
compreendido na formação docente através de propósitos de habilidades oferecidos na
UNIFAL-MG, e que através dos quais, estes profissionais formados estarão
“capacitados” para desenvolver pesquisas e alternativas para o ensino da Geografia.
Deverá ainda “ter sólida formação interdisciplinar, capacidade de liderança e de gestão
52
democrática, bem como de busca permanente do conhecimento, com capacidade de
construção de conhecimentos que lhe permita atuar como docente, pesquisador e
participante na gestão de espaços educativos”. Muito condizente com a proposta de
Estudo do Meio apresentada por Nídia Pontuschka e que La Blache explicita que:
A ideia de meio, nas diversas expressões da geografia, se precisa como
correlativo e sinônimo de adaptação. Ela manisfesta-se através das séries de
fenômenos que encadeia entre si e são postas em movimento por causas
gerais. É por essas causas que incessantemente retornamos as causas do
clima, de estrutura, de concorrência vital, que impulsionam muitas atividades
especiais das formas e dos seres. (LA BLACHE, 1982 p. 43)
Parte fundamental afirmada é uma proposta interdisciplinar “fortalece o ensino
interdisciplinar”, enquanto também, visa proporcionar para alunos e professores contato
direto com uma determinada realidade, um meio qualquer, rural ou urbano, que se
decida estudar (PONTUSCHKA, 2009). Também apontado por Ângelo Serpa: “A
possibilidade de divisão do espaço é assumido em conjunção ao método e de forma
interdisciplinar”. (SERPA, 2006)
Há uma questão particular sobre a seleção do lugar a ser visitado, bem como a
formulação das principais questões a serem respondidas na pesquisa de campo, todas as
etapas de sua realização, o planejamento, a execução e a avaliação, são orientadas, por
um lado, pela “dialogicidade” e, por outro, pelo despertar da “curiosidade” de todos os
membros da comunidade escolar (FREIRE, 2000 apud PONTUSCHKA, Nídia N. 2009.
P 3).
3.3. Considerações do capítulo
Como é de se esperar na relação UNIVERSIDADE – ESCOLA, não se pode
negligenciar a participação dos alunos, direto ou indiretamente, nas diversas etapas do
Trabalho de Campo, porque é o momento em fazem destes, próximos a uma experiência
completa e curiosa.
Na universidade a possibilidade para a formação neste período é sugerido
justamente pelo visualização da teoria na prática, apoiado na sistematização do
professor no Trabalho de Campo através dos objetivos da pesquisa e na
responsabilidade na relação ensino-aprendizagem e com o objeto de sua disciplina.
Os registros do campo tornam-se uma verdadeira busca, presença e
participação com os objetos (disciplinares) de pesquisa e a teoria compartilhada em
53
dialogo com o conhecimento novo. Por isso, pode ser uma ressalva interessante, a
organização de uma disciplina que contemple o Trabalho de Campo na Geografia
UNIFAL-MG, ou mesmo a portabilidade de experiências de campo nas aulas inaugurais
do curso ou nas disciplinas de métodos de pesquisa em geografia ou metodologia de
pesquisas.
Apenas é válido ressaltar que as habilidades e competências previstas (Plano
Político Pedagógico Geografia licenciatura - UNIFAL-MG) na formação do profissional
geógrafo (ao passo que são conquistadas pelo discente), são percebidas mais facilmente
pelos professores como envolvimento/ desenvolvimento na compreensão do
conhecimento através do Trabalho de Campo, atingindo de uma maneira geral os
resultados esperados.
Contudo é preciso ir além. Em consonância com os objetivos específicos da
minha pesquisa, proponho discorrer através do melhor entendimento do conceito de
expedição/exposição, até então também trabalhado pelos autores no Boletim Paulista de
Geografia, mas que se melhor organiza nas palavras de Yves Lacoste:
A expedição/exposição parece ser um método muito eficaz de formação dos
estudantes para a pesquisa. (...) Os estudantes que participaram destas
expedições/exposições experimentaram em sua maioria um certo entusiasmo
(sobretudo se são militantes) com a ideia de dar conta à população dos
resultados de sua pesquisa. (LACOSTE, 2006)
Portanto, os Trabalhos de Campo são indispensáveis, mas não suficientes, pois,
ao pesquisar lugares significa, sobretudo, que o pesquisador é responsável pelo
resultado, sendo a comunicação parte indispensável nesta concepção de exposição dos
resultados à comunidade e continuidade a pesquisa:
Seria pueril imaginar que a população que é objeto da pesquisa é social e
politicamente homogênea: os documentos apresentados na exposição não
agradam a todo mundo, e mesmo aqueles que consideram com simpatia o
projeto dos estudantes ficam um pouco embaraçados, de ver que estrangeiros
exponham em esquemas, planos e gráficos a vida e o cotidiano desta
coletividade. Este embaraço em se vê assim exposto, mesmo quando nada de
escandaloso é revelado, manifesta-se particularmente diante do painel onde
se encontra esboçada a imagem e hipótese que teria o grupo em um ou dois
decênios, no caso onde se realizaria o cenário negativo e imaginado.
(LACOSTE, 2006. P. 92)
. Os Trabalhos de Campo de uma maneira geral produzem uma diversidade de
experiências que quase nunca são valorizados. Expor os resultados é também expor
fotos, poemas, croquis, e toda uma produção que se inicia naquele lugar e sobre aquele
lugar:
54
Alguns professores já podem tirar destas algumas experiências.
Primeiramente, que os estudantes de Geografia, mesmo iniciantes em boa
parte, podem apresentar após uma dezena de dias de trabalho intensivo – este
tempo não é, alias, suficiente – um conjunto coerente de informações em
grande proporção inéditas. Elas contribuíram para a tomada de consciência
por uma parte da população estudada (mas não somente os notáveis e os
intelectuais) de um certo número de problemas que, até então, ela não se
colocava, e cujas soluções determinarão seu futuro. Seguramente, só se trata
de uma iniciação à pesquisa, mas é o começo de uma verdadeira pesquisa.
(LACOSTE, 2006)
Este é o objetivo de uma proposta de PROJETO chamado “GEOGRAFIA
POSTAIS”, de uma iniciação à pesquisa, o Trabalho de Campo exposto através de um
website (ampliação do espaço educativo: através da junção das experiências de Campo e
os meios de comunicação), poderá refletir em uma escala local-regional-global de uma
maneira mais líquida e universal, (ainda restam dúvidas desta “universalidade”), e ser o
começo de uma verdadeira pesquisa. Há alguns objetivos específicos que devem ser
regidos ao aplicar o projeto no contexto do ensino:
Compartilhamento dos diferentes olhares presentes no Trabalho de Campo
mediante as visões diferenciadas dos sujeitos sociais envolvidos no projeto;
Coleta de dados e informações específicas do lugar, de seus frequentadores e
das relações que mantêm com outros espaços; Emersão de conteúdos
curriculares disciplinares e interdisciplinares a ser contemplados na
programação; Criação de recursos didáticos baseados nos registros;
Divulgação dos processos e do resultado. (LOPES, PONTUSCKA, 2009)
O Projeto “Geografia Postais” compreende também como uma prática que
assume a produção do espaço de forma autorreflexiva, que reconhecem que a produção
cultural e a produção do espaço não podem estar separadas e que a produção cultural e
intelectual é uma prática espacial (MARQUES, 2009):
Trata-se de um movimento de exteriorização da subjetividade, entendendo-a
não como um traço interior e construído subcutaneamente, mas antes a
subjetividade como uma espacialização, uma prática espacial. Em vez de
associar à subjetividade noções de introspecção e isolamento, incorpora-se a
ela a prática do deslocamento e do trânsito. (MARQUES, 2009)
“GEOGRAFIA POSTAIS” NA UNIVERSIDADE
O site da Geografia- UNIFAL/MG é o meio ao qual podemos visualizar desde o
histórico do curso até notícias, links úteis e atualidades. Por meio deste site, a Geografia
expõem fotos e os locais onde os Trabalhos de Campo são realizados. Através deste
portal pretende-se criar um novo: “Geografia Postais”, e que também tem o propósito de
55
criar uma reunião de dados sobre Trabalho de Campo na Geografia, compartilhando os
diferentes olhares presentes no Trabalho de Campo mediante as visões diferenciadas
dos discentes e docentes envolvidos.
O “Geografia Postais” deve ser compreendida, como um meio exposição dos
dados e informações específicas dos lugares visitados (que são verdadeiros cartões
postais), de seus frequentadores (moradores) e das relações que mantêm com outros
espaços. No site, por meio de um aplicativo (exemplo 1 e 2), o aluno traduzirá seu
mapa, desenhos, croquis, fotografias do Trabalho de Campo em cartão postal, que será
“gravado” no mapa do aplicativo. Esta é uma prática antiga de trocas de cartão postais,
desta vez, será trocado com outras pessoas do mundo, por meio do site e que formarão
uma significativa “troca cultural”, a partir da “troca dos postais”.
Figura 2. Exemplo (modelo) Geografia Postais no site.
56
Figura 3. Exemplo (modelo) Geografia Postais no site da geografia (UNIFAL-MG)
Este movimento que o Projeto Geografia Postais produzirá, são materiais de
interessante para a Geografia Cultural, trabalhando o website como um passaporte de
trocas de experiências de campo. Além de ressaltar que a universidade não é o único
espaço para ficar “retido” essas trocas.
Para o fortalecimento deste Projeto, o curso de Ciências da Computação poderá
atuar na execução deste website. Tratar-se de pensar a “geografia portátil”, pontuando a
interdisciplinaridade e fortalecendo a junção de áreas de saberes que estão localizadas
num mesmo Campus da UNIFAL em Alfenas, (Campus II - Bairro Santa Clara). Pensar
a “Geografia Postais” é sobrepor, num mesmo site, “o sujeito e paisagem, experiência e
conhecimento, espaço e prática espacial”:
A condição portátil desencadeia a autonomia de ação e a liberdade de criação
de novas ficções vitais, praticando uma micropolítica – “[…] uma analítica
das formações do desejo no campo social […]” – de entendimento e de
proposição de formas de coexistência. O portátil é aquilo que se pode
transportar com facilidade. E se pode ser transportado, algo portátil pode ser
também compartilhado, distribuído, disponibilizado. Por isso, as geografias
portáteis são uma espécie de produção cultural e intelectual que se encaixa na
categoria de geografia experimental, como a definiu Trevor Paglen: os
geógrafos, ao invés de simplesmente estudar a geografia, criam geografias
que são, por sua vez, geografias compartilháveis. As geografias portáteis
57
comportam uma produção de espaço que reflete criticamente sobre os
mecanismos da própria produção do espaço. (MARQUES, 2009)
GEOGRAFIA POSTAIS NA COMUNIDADE E PARA A ESCOLA
Um dos pontos a se destacar no projeto é a observação da demanda da
comunidade onde deverá ser efetivado a ampliação do espaço educativo dos Trabalhos
de Campo na Geografia (UNIFAL-MG), sendo esta, uma premissa do conceito
expedição/exposição, considerando os problemas encontrados e propor soluções que, ao
menos, modifiquem o olhar dos alunos.
Portanto, conservo o pensamento de que o Projeto Geografia Postais poderia
adentar em um terreno social, de extensão e pesquisa - identificando as demandas das
escolas e da sociedade -. No caso de Alfenas, pude observar que a casa da Cultura e
Eventos, encontra-se parada. Nenhuma exposição. Seria um destino interessante para
abrigar, inicialmente, algumas das nossas reflexões a respeito da Geografia Postais.
O lugar escolhido para leva-los é a Casa da Cultura de Alfenas, poderia também
ser a própria Universidade, realizando assim a relação UNIVERSIDADE –
COMUNIDADE – ESCOLA. A partir do espaço educativo que se encontra na Casa da
Cultura, pretende-se convidar as escolas para participar desta “exposição”:
“GEOGRAFIA POSTAIS”. As práticas de campo serão expostas por meio de textos,
fotos, mapas, desenhos, croquis, ou seja, ramificar as experiências de campo através da
exposição dos resultados em outros ambientes.
A “Geografia Postais” na comunidade e para a escola, deve ser compreendida
como um modo de exposição dos dados e informações específicas dos lugares visitados
nos Trabalhos de Campo. Os frequentadores (escola e sociedade) da Casa da Cultura,
manterão o propósito do projeto que são as trocas de relações que o sujeito mantêm com
outros espaços, através da troca dos postais. Na Casa da Cultura, por meio de um
datashow, o aluno poderá escolher uma imagem dos Trabalhos de Campo e tirar uma
foto em forma de cartão postal, que será enviado para o destino que ela solicitou. Esta é
uma prática antiga de trocas de cartões postais, desta vez, será trocado com outras
pessoas e que formarão uma significativa “troca cultural”, a partir da “troca dos
postais”, ampliando o espaço para a pesquisa.
Este movimento do Projeto, produzirá também, materiais de interessante para a
Geografia Cultural-Humanística, trabalhando cada um dos envolvidos, como um
“passaporte” de trocas de experiências, de vida e da ciência.
58
Para inspirá-los, as ideias contidas no Projeto Geografia Postais, servem como
ponto de partida para os professores da escola, pensarem e, através da reunião deste
material, poderão encontrar material teórico que os auxilie a construir este tipo de
metodologia também com seus alunos.
59
CAPÍTULO 4
O Trabalho de Campo na Geografia Cultural - Humanística
“Do Lugar onde estou, já fui embora”
Manoel de Barros
Para referenciar a proposta anterior, neste Capítulo, vamos verificar o Trabalho
de Campo na Geografia Cultural, propondo discorrer principalmente sobre o método
humanístico-fenomenológico no Trabalho de Campo. Este movimento é importante
porque vamos estudar uma prática que está associada a uma visão de mundo. (BPG,
2006). Será este um marco definidor nos Trabalhos de Campo em Geografia e para as
respostas fixadas no “Projeto Geografia Postais”?
A linha histórica da Geografia Cultural apresenta-se como tal a partir da
diversidade de gêneros de vida e das paisagens. Estes contrastes, segundo Paul Claval,
origina-se da disparidade de “fome x riquezas” em alguns países e que seguem uma
organização. Primeiramente seria explicada pela natureza (1) que impõem aos povos a
maneira de se alimentar, vestir de construir suas casas (“tornando-os em sedentários
pacíficos ou nômades agressivos”). Outro ponto a ser considerado é a raça (2), que
equivale-se a diferenças biológicas de ordem física (força ou aptidão ao trabalho) e
sobretudo intelectuais, que provocam as diferenças culturais maiores. A história (3),
outro ponto colocado pelo autor, é comentado como se fosse uma justificativa cômoda
da colonização. A diversidade de cultura e das situações as quais ela é colocada,
relacionam-se então, com os “atrasos” na evolução dos grupos. A realidade superior (4)
explicada como imposições que condicionam os grupos. (5) a unificação e
esfacelamento de culturas, aparentemente condenada ao declínio pela uniformização da
técnica, reencontra seu dinamismo, ligando-se as representações e aos sentimentos de
identidade que lhe estão vinculados. (CLAVAL, 2007, p. 10/11/12) Nesta análise
inicial, o autor observa a diferença no arsenal de ferramentas de um grupos e de técnicas
que fabricam para proteger-se dos excessos do clima e explorarem os recursos naturais.
Os primórdios da Geografia Cultural foi Alemão. (CLAVAL, 2007, p. 20)
Frederich Ratzel introduz o conceito de cultura como fator –chave da geografia humana.
Ratzel elabora nos meados destes mesmos anos uma nova concepção da geografia. Ele
observa as lições dos grandes mestres alemãos da disciplina, Alexandre de Humbolt e
Carl Ritter, e retira de sua formação naturalista a ideia de que a repartição dos homens e
60
das civilizações merece atenção particular: propõe o nome de antropogeografia (1881-
1891) para qualificar o novo capítulo três princípios guiam: 1) a antropogeografia
descreve as áreas onde vivem os homens, e as mapeia; 2) procura estabelecer as causas
geográficas da repartição dos homens na superfície terrestre; 3) propõe-se definir a
influência da natureza sobre os corpos e os espíritos dos homens (BUTTMAN, 1997, p
63).
Ratzel dedica os anos de 1880 ao estudo dos fundamentos culturais da
diferenciação regional da Terra, em três obras, em que Ratzel reconhece nos povos um
atributo que pertence à sua essência, a mobilidade. Eles dominam as técnicas que
asseguram sua adaptação ao e meio próximo e dependem da história e do nível de
desenvolvimento (espaço vital). A geografia concebida por Ratzel atribui um lugar
importante aos fatos de cultura. Mas esta cultura é sobretudo analisada sob os aspectos
materiais, como um conjunto de artefatos utilizado pelos homens em sua relação com o
espaço. As ideias que subentendem e a linguagem que a exprimem não são mais
evocadas. (CLAVAL, 2007)
Muitos geógrafos alemães estavam à procura de uma definição que oferecesse a
vantagem de circunscrever um objeto claro e de explica-lo, evitando as querelas de
fronteiras com as disciplinas vizinhas. Otto Schlüter (1872-1959), estabeleceu a
paisagem como objeto da geografia humana, porém vale definí-los:
Numa distinção inicial da escola alemã sugere que para Ratzel, o estudo
geográfico da cultura confundia-se com o dos artefatos utilizados pelos
homens para dominar o espaço; para Shlüter e para a maioria dos geógrafos
alemães das primeiras décadas do século XX, é a marca que os homens
impõem à paisagem que constitui o objeto da geografia é de apreender esta
organização, de descrever aquilo que se qualifica desde então de morfologia
da paisagem cultural e de compreender sua gênese. (CLAVAL, 2007, p. 24)
A geografia cultural americana (Carl Ortwin Sauer – 1889 - 1975) trabalha em
cima da lógica alemã, até então interessada em estudos sobre as paisagens, pelas
relações de cultura e espaço. Nos Estados Unidos, a escola dominante de 1910 até a
Segunda Guerra Mundial, ignorava-as totalmente. Muito preocupada com o rigor,
dedicava muito atenção á coleta de dados e às representações, geralmente confundida
geografia cultural com Geografia Humana. A geografia limita-se, entretanto, para ele
àquilo que é legível na superfície da Terra e como os geógrafos alemães, ignora as
dimensões sócias e psicológicas da cultura, (CLAVAL, 2007) e que define geografia:
61
Nossa seção ingenuamente selecionada da realidade, a paisagem, submete-se
a múltiplas alterações. Este contato do homem com seu domicílio, mutante,
tal como se exprime através da paisagem cultural, é nosso campo de estudo.
Concerne a nós a importância que tem o sítio para o homem, e também as
transformações que impõem ao sítio. Em síntese tratamos das interrelações
do grupo, ou das culturas, com o sítio, tal que exprime através das diversas
paisagens da Terra. (Sauer, 1974, 1 ed. 1925. “The morphology of
landscape” University of California Publications in Geography apud
CLAVAL, 2007)
Como seus contemporâneos, Sauer vê a cultura, primeiramente como o conjunto
de instrumentos e de artefatos que permitem ao homem agir sobre o mundo exterior,
mas vai mais longe que eles: a cultura também é composta de associações de plantas e
de animais que as sociedades aprenderam a utilizar para modificar o ambiente natural e
torna-lo mais produtivo, sendo este um dos traços maiores que as culturas devem ser
julgadas. Por isso, Claval adverte, que para fazer uso das teorias de Sauer, o geógrafo
deve ter uma sólida formação naturalista (CLAVAL, 2007, p.31)
A dimensão cultural da geografia francesa, sobresaem o gênero de vida e
paisagens, apoiados no legados de Alexandre de Humbolt, Carl Ritter e Friedrich
Ratzel: é o caso de paul Vidal de La Blache. La Blache, parte da concepção da
geografia Humana proposta por Ratzel (estudo das influências do meio sobre as
sociedades humanas). Para analisa-la, interessa-se também, pelo conjunto de técnicas e
utensílios que os homens fabricam para transformar o contexto onde vivem e que esses
elementos não ganham sentido se não são compreendidos como componentes do gênero
de vida, sendo esta uma especificidade a geografia: os estudos dos lugares, mas a
análise dos gêneros de vida mostra como a elaboração das paisagens reflete a
organização social do trabalho, ganhando na versão de La Blache uma dimensão social
e ideológica que estão ligadas a seu aspecto ecológico.
A noção de gênero de vida introduz, assim, na geografia humana francesa, uma
lógica, que estimula a integração, em seu campo, de aspectos comportamentais cada vez
mais variados e complexos. Naturalista pela sua origem e suas justificações, ela deriva
rapidamente para posições mais humanistas.
Na primeira metade da década de 70 podemos destacar os nomes de Tuan e
de Butttimer como os que mais contribuíram na busca por uma identidade
própria para a geografia humanista. Esses autores foram pioneiros na
utilização dos conceitos de lugar e de mundo vivido, ambos associados a uma
base teórica fenomenológico existencialista, aporte que mais tarde permitiria
a identificação de seus trabalhos como humanistas. (HOLZER, 2003)
62
Através da humanística, Yi-Fu Tuan*, um dos expoentes na elaboração e a
sistematização da Geografia Cultural - Humanística no séc. XIX, aponta que “este
método reflete sobre os fenômenos geográficos com o propósito de alcançar melhor
entendimento do homem e da sua condição, procurando desta forma, um entendimento
do mundo humano através dos estudos das relações sociais com a natureza do seu
comportamento geográfico bem como dos seus sentimentos e ideias a respeito do
espaço e do lugar” e ainda formaliza a apresentação através da crítica as abordagens
científicas para o estudo do homem tendência em minimizar o papel da conscientização e do
conhecimento humano. A Geografia Humanística, em contraste, tenta especificamente entender
como as atividades e os fenômenos geográficos revelam a qualidade de conscientização
humana.” (TUAN, 1976, p. 143)
Os temas para a análise científica da Geografia Humanística, estão disponíveis
na obra (páginas 147-155), de modo a oferecer um novo modo de enxergar os
fenômenos geográficos, deste modo Tuan apresenta como temas de interesse geral para
os geógrafos:
1. Conhecimento geográfico que é um “instinto animal”, necessário à
sobrevivência. Em contraste o conhecimento geográfico cultuado no âmbito dos
departamentos acadêmico que é altamente cônscio e especializado. Sabemos pouco
sobre como as “habilidades espaciais” se desenvolvem de grupo para grupo, e a
diferenciação de mais primitivo e mais evoluído na habilidade cartográfica, por
exemplo, quando outro grupo mais especializado com o grau de apreensão do
conhecimento geográfico menor;
2. Território e Lugar: Território é uma ideia de área que comunica-se por
caminhos e lugares. “Os lugares humanos variam grandemente de tamanho e indica-nos
a refletir sobre as emoções e pensamentos ligados ao lugar. (...) Como um mero espaço
se torna um lugar intensamente humano é uma tarefa para o geógrafo humanístico, para
tanto, ele apela a interesses distintamente humanísticos, como a natureza da experiência,
a qualidade da ligação emocional aos objetos físicos, as funções dos conceitos e
símbolos na criação da identidade do lugar”;
3. Aglomeração Humana e privacidade: O impacto da alta densidade da
população na qualidade de vida tem chamado a atenção dos cientistas e planejadores
sociais. As aglomerações podem produzir tensões, levando a doenças e comportamentos
anti-sociais? Segundo a teoria humanística a cultura é medianeira entre a densidade e o
comportamento, porém o grau de como isto ocorre é um grande desafio. O enfoque
63
humanista distintivo está em descrever as qualidades da emoção experimentada em
casos específicos;
4. Modo de vida e economia: Todas as atividades humanas, parecem ser
econômicas e funcionais, no sentido de que suportam o sistema social, sem o qual as
pessoas não poderiam viver. A perspectiva humanística sobre a vida econômica pode
ser apresentada como uma resposta para duas questões. Primeiramente na resposta ao
significado dos termos “atividade de sustentação de vida” e “modo de vida”, sugerindo
um momento de reflexão na necessidade de adaptação ao meio ambiente. Esse processo,
que atinge com intensidades diferentes os comportamentos da vida. No mundo
moderno, a nitidez como que o comportamento da vida do homem é identificado como
econômico, principalmente na observação de sua produção e intercâmbio de bens
materiais, variando amplamente de sociedade para sociedade e dentro de cada
sociedade.
5. Religião: A religião também está presente em vários graus em todas as
culturas. Um geógrafo humanista busca considerar que uma pessoa religiosa é aquela
que busca coerência e significado no seu mundo, e uma cultura religiosa é aquela que
tem uma visão do mundo claramente estruturada. Uma abordagem humanística à
religião iria requerer que tivéssemos consciência das diferenciações por desejo humano
por coerência, e que notássemos como estas diferenças então manifestadas na
organização do espaço e do tempo e nas atitudes para com a natureza.
Ainda em diálogo com a teoria de Tuan (1976), os temas são sugeridos para uma
dimensão local que consolida a ramificação na análise regional e ainda apoiam-se no
entendimento da história para a Geografia Humanística:
A história, não é somente a passagem dos acontecimentos, mas a sua
reconstrução consciente na memória do grupo para as necessidades correntes.
Ainda sim, definida, a história exerce um papel essencial no sentido humano
de territorialidade e lugar. O humanista deve conhecer o passado factual do
lugar, mas compreender que o passado não determina a atual identidade do
lugar. Sua atual identidade está sendo criada (...) através do uso seletivo de
seu passado. (TUAN, 1976, p 155)
Sendo assim a “descrição vivida” pode ter sido uma das grandes conquistas da
Geografia Regional. Entendendo as definições da Geografia Humanística, coloca a
geografia regional como um estudo do tipo: “estudo de arte”, pois segundo o autor, a
percepção humanística tem êxito em capturar a essência de lugar (a região é o resultado
64
da arte de uma pessoa multiplicada várias vezes). Que é um trabalho de arte. (TUAN,
1976, 156).
Em busca da arte de fazer geografia, o geógrafo humanista segundo Tuan, inicia-
se nas habilidades linguísticas (e não somente no sentido de escrever bem), dentro desta
fazer uso das habilidade de reconhecer as nuanças da linguagem e o significado
ambíguo das palavras-chave. Deve desenvolver uma sensibilidade para com a
linguagem (..) “ler as entrelinhas e ouvir o que não foi dito.” Ou ainda, segundo Claval,
a cultura é herança e resultado do jogo da comunicação, e em grande medida feita de
palavras, articula-se no discurso e realiza-se na representação. Mas ainda é válido
ressaltar o modo de chegada e a abordagem que segundo Valéria de Marcos:
(...) a principal fonte de dados o depoimento das pessoas envolvidas e que a
única maneira de garantir que este depoimento seja verdadeiro é
conquistando a confiança dos sujeitos da pesquisa. Infelizmente, muitas
pesquisas são feitas desconsiderando estas questões. Ainda é uma prática
entre tantos pesquisadores chegar à área de estudo com questionários
longuíssimos construídos em gabinete, “metralhar” os “objetos de estudo”
com suas perguntas muitas vezes incompreensíveis e ir embora. Do
pesquisador, e do estudo que ele realizou, muitas vezes a comunidade não
tem mais notícias. Ora, diante da repetição destas situações a comunidade
aprende a não mais confiar em estranhos e, aos poucos, vai construindo suas
próprias defesas: ora se fecha aos próximos pesquisadores e impede a
realização de novas pesquisas, ora prepara um discurso “pronto”,
“empacotado” como os questionários aplicados, para ser “respondido” ao
próximo pesquisador que ali chegar. (MARCOS, 2006. p. 114)
Ao que se prese, a geografia na perspectiva humanística utiliza-se da
fenomenologia, convergindo as pesquisas de campo para esclarecer o significado dos
conceitos, dos símbolos e das aspirações, a medida que dizem respeito ao espaço e ao
lugar, que por sua vez, repousa na interpretação da experiência humana em sua
ambiguidade, ambivalência e complexidade (TUAN, 1976, p 162). Como técnica
importante tem-se a história oral:
Esta reflexão teórica iria se sofisticando ao longo das décadas seguintes na
medida em que a "Geografia Cultural", enquanto produto acadêmico desta
reflexão, se tomava a disciplina mais lecionada nos cursos de geografia norte-
americanos e a que mais gerava pesquisas de campo. Neste contexto não se
discutia mais o aporte teórico, mas manteve-se seus fundamentos de se
observar o fator em suas relações (espaço vivido). (HOLZER, 2003)
Tuan afirmava que "espaço" e "lugar" são os conceitos que definem a natureza
da geografia. Introduzia também o tempo como conceito em constante interação com o
espaço. O autor defendia a importância de sua investigação: "Todo trabalho acadêmico
aumenta o campo da consciência. Os estudos humanistas contribuem, ademais, para a
auto-consciência, para o crescente conhecimento que o homem tem das fontes do seu
65
saber. Em cada grande disciplina existe um subcampo humanista que é a filosofia e a
história daquela disciplina. Através do subcampo, por exemplo, a geografia ou a física
conhecem a si próprias, isto é, as origens de seus conceitos, pressuposições e viés nas
experiências de seus sábios e cientistas pioneiros." (TUAN, 1979 apud HOLZER, 2003)
O espaço na perspectiva humanista referenciar-se-ão aos sentimentos espaciais e
à experiência. Experiência definida como: "a totalidade de meios pelos quais nós
chegamos a compreensão do mundo: nós conhecemos o mundo através da sensação
(sentimento), percepção e concepção. (TUAN, 1979 apud HOLZER, 2003). Para Tuan
"A importância do ‘lugar’ para a geografia cultural e humanista, deveria ser, óbvia:
Como nós funcionais no espaço, os lugares sujeitam-se as técnicas da anfilise
espacial. Mas como um único e complexo conjunto - enraizado no passado e
crescendo no futuro - e como símbolo, o lugar clama pelo entendimento
humanista. Na tradição humanista os lugares tem sido estudados a partir das
perspectivas histórica e literário-artística. (HOLZER, 2003)
Os trabalhos de Geografia Cultural contemporâneos indicam-nos a refletir, a
cerca das várias estratégias de resistência desenvolvidas por grupos subordinados para
contestar a hegemonia daqueles que detêm o poder. Rejeitando aquilo que rotulam de
preferências elitistas e antiquadas dos estudos culturais tradicionais, e exploram uma
vasta gama de subculturas. Para uma reflexão final:
Como prática cultural crítica, a geografia se dispersa permitindo-nos pensar
outras formas de conhecimento do espaço através de um conjunto de
artesanias de práticas, termo proposto por Boaventura de Sousa Santos. O
imaginário da artesania incorpora a portatibilidade do saber, a pequena escala
da produção e a interseção obrigatória com um ponto de vista e um modo de
fazer personalizados. Assim, a artesania é capaz de aproximar a ciência e a
arte interessadas no estudo do espaço e discutir os seus mecanismos de
expressão e disseminação. Boaventura de Sousa Santos emprega o termo
artesania das práticas para designar os saberes que podem ser detectados
através da sociologia das ausências e da sociologia das emergências, ou seja:
aqueles saberes que não fazem parte do conhecimento hegemônico exalado
pelos centros mundiais de poder – poder científico excludente, poder de
dominação econômica, poder de colonização cultural. A artesania das
práticas localiza-se em campos não epistemológicos no sentido convencional
do termo, ou seja, em lugares distintos daqueles tais como universidades e
centros de pesquisa científica. (MARQUES, 2009)
4.1. Considerações do Capítulo
Com base nestas reflexões da humanística e da fenomenologia, os Trabalhos de
Campo ganham sentido por ser um processo de identificação mediado pelos signos
culturais e sociais, na medida em que transporta ao lugar o valor cientifico da pesquisa
de campo, sendo na Humanística um absoluto método de exploração.
66
No Brasil, devemos ressaltar que a riqueza na diversidade cultural e sua
participação na produção do espaço contemporâneo são alvo de diversas publicações.
Para tanto, além de apontar a diversidade cultural é preciso valorizar traços culturais
retidos. Pontos importantes que Geógrafos Brasileiros, como Roberto Lobato Corrêa,
Zeny Rosendahl, Welther Holzer e outros nomes da Geografia Acadêmica Cultural
Brasileira se dedicam a investigar.
67
CONCLUSÕES
Como é de se esperar neste tipo de pesquisa ocupo grande parte do texto na
reflexão do pensamento teórico, procurando evidenciar a metodologia prevista, o
método de análise e, de certo modo, contribuir em alternativas práticas para as
experiências nos Trabalhos de Campo da Geografia.
A percepção inicial sobre a importância do Trabalho de Campo é assim
compreendida como uma prática fundamental na formação da ciência geográfica, uma
parte devido às observações e aos relatos de campo – evocação da paisagem e o homem
nos significados diversos de adaptação ao meio -, outra justaposta pela preocupação em
suspender a dialética (im)perfeita entre homem-natureza e explorar, na realidade
verdadeira, os conhecimento geográficos, atribuindo-lhes qualidades.
Contudo, o Trabalho de Campo por si só, não “salvará” as discussões próprias da
Geografia. Especialmente no âmbito da Universidade, ainda que se tratando do
“específico” na Geografia, é preciso, se queremos alcançar o designo da ciência
geográfica, uma prática responsável com os objetos de estudo e valorizando, sobretudo,
as experiências dos sujeitos em Trabalho de Campo.
Tenciona-se a creditar na valorização dos estudantes, que muitas vezes, não se
sentem preparados para atuação profissional (pois ainda estão em formação) fato este
que acaba impedindo o desenvolvimento pleno a partir do Trabalho de Campo. Acredito
que deva ser esta, uma atividade organizada a partir de um desenho curricular fundado
para “funcionar” em equipes, contribuindo para a aplicação do conhecimento em
pesquisas inicialmente coletivas, destacando a exposição dos grupos e a síntese dos
grupos, bem como a exposição das consequentes conclusões a respeito do Trabalho de
Campo, como o início de uma verdadeira pesquisa!
As questões de formação docente, contudo, remetem a “transpor” a própria
trajetória do sujeito porque ele carrega consigo uma “bagagem”, uma concepção
espontânea. Deste modo, tentar trabalhar o potencial individual para transpor limites,
entre mitos, hábitos e tentar investir em criatividade e sabedoria para organizarmos de
forma crítica os diversos campos de atuação do geógrafo em um mundo cada vez mais
dinâmico...
Fica evidente que deve haver uma preparação não só para relacionar a teoria e a
prática, mais sobretudo são muitos os fatores que influenciam uma boa prática tanto na
68
Universidade quanto na escola, isso quer dizer que a valorização do rigor científico
(teoria e prática) quer queira, quer não, apoia-se além do aporte teórico, na experiência
de campo responsável.
A importância voltada para a sistematização do método humanístico nos
Trabalhos de Campos, mostra-se, tanto na Universidade quanto na escola como um
prática que vem comprovar a própria identidade – a ideia de patrimônio da identidade.
Por isso, a importância do Trabalho de Campo surge numa ambiência de novas
comunicações e tecnologias que podem potencializar a atuação dos professores num
pensar localmente e atuar globalmente. As experiências, tornando-se compartilháveis
por meio da exposição, projetam significado a realidade, cujas circunstâncias
apresentam-se na vida e como ela é em seu cotidiano.
Então, pensar nas preposições do Projeto Geografia Postais, significa sobretudo
a reunião desses relatos de Campo, para que eles não se percam. Foi a forma a qual
invisto para promover uma experiência significativa (experiências próprias) com o
contato direto com os saberes, constituindo-se por meio de conhecimentos e vivências
que se entrelaçam. Esta metodologia da geografia é a potencialidade no processo da
experiência e não pode ficar “retida” apenas aos universitários, a extensão é primordial
quando falamos da necessidade de construir algo em Alfenas a partir das nossas
experiências de campo.
Assim sendo, o Trabalho de Campo e o Projeto Geografias Postais passam a ser
um convite a não aceitação da atuação profissional submissa à institucionalização, seja
ela, particular ou pública. Inquietante, é pensar em uma formação, em que as
concepções parecem estar “enterradas” em uma visão limitada, e que, pensando em
minha própria “função” profissional, preconizo o “vestir o uniforme da instituição”, no
sentido de que impeça a inovação e desenvolvimento de novas ações.
Por fim, ressalto que a metodologia utilizada nesta pesquisa, através do Boletim
Paulista de Geografia e de todos os “caminhos” (aproveito a oportunidade de orientação
do Professor Flamarion Dutra Alves, que me apoiou em momentos até então duvidosos
bem como os Professores responsáveis pelos Trabalhos de Campo que realizaram uma
experiência incrível na minha formação) designados ao estudo do Trabalho de Campo,
são fontes primordiais para a análise do Tema proposto. Apesar de analisa-las como tal,
compreendo que não é suficiente, devido a complexidade que cada Trabalho de Campo
está organizado dentro da Geografia, gerando experiências diversas que refletem no
potencial “construtor de conhecimento” que este tipo de atividade assume.
69
Enquanto estudante de geografia (licenciatura) e portanto, futuro professor,
dediquei-me na (re)construção do pensamento geográfico enquanto possibilidade de
entender a “arte de fazer geografia” através da importância do Trabalho de Campo.
Indico a relevância, contemporaneidade e eficácia, compreendo-o como:
aprofundamento e construção teórica na geografia e a exposição, como o novo olhar da
realidade, atento as ingenuidades dos estudantes e convicto de que o expedição ainda
está só começando...
70
REFERÊNCIAS
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brasileira: a produção em periódicos científicos de 1939 – 2009. Tese (Doutorado)
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71
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SPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do
pensamento geográfico. São Paulo: Editora da UNESP, 2004.
72
APÊNDICE I – Quadro Síntese (completo)
BPG: conceitos e temas presentes nos Artigos do Boletim Paulista de Geografia (NÚMERO 84. SÃO PAULO-SP, JUL.2006 – O Trabalho de Campo)
Quadro síntese
Artigo Formação/Biogr
afia
Escola Geográfica/
Método de Análise
Temas/debates Conceitos Referências
1- Ângelo
Serpa
(Ângelo
Szaniecki
Perret
Serpa)
Brasileiro..
É professor titular
de Geografia
Humana da
Universidade
Federal da Bahia;
doutor em
Planejamento
Paisagístico e
Ambiental pela
Universitaet Für
Bodenkultur
Wien (1994), com
pós doutorado em
Estudos de
Organização do
Espaço Exterior e
Planejamento
Urbano-Regional
e Paisagístico
realizado na
Universidade de
São Paulo (1995-
1996) e em
Geografia
Cultural e Urbana
realizado na
Université Paris
IV
(Sorbonne/2002-
2003) e na
Humboldt
Universität zu
Berlin (2009).
Geógrafia Crítica e
Geografia Cultural -
fenomenológica.
- Reflexão teórico-
metodológica sobre
a importância do
trabalho de campo
na construção do
conhecimento
geográfico na
contemporaneidade;
- O Trabalho de
Campo como
especificidade
disciplinar da
geografia;
- Articulação de
conceitos, teorias e
procedimentos
metodológicos na
geografia;
- O Trabalho de
campo e a
possibilidade de
recortar, analisar e
conceituar o espaço,
de acordo com as
questões, metas e
objetivos definidos
pelo sujeito da
pesquisa;
- O Trabalho de
campo como
instrumento para a
superação de
dicotomias na
ciência geográfica.
Espaço;
Recorte
espacial
significant
e;
Paisagem;
Paisagem
Vertical;
Paisagem
Cultural;
Teoria-
método;
elementos;
totalidade
Milton
Santos, Paul
Claval, Yves
Lacoste, Iná
Elias de
castro;
Roberto
Lobato
Corrêa;
Hannah
Arendt;
Odeiblier
Guidugli;
Racine,
J.B.;Raffestin,
C.;Ruffy, V.;
Márcio
Mendes
Rocha;
Edward W.
Souza;
Marcelo José
de Lopes
Souza; Eliseu
Saverio
Sposito, Henri
Lefbvre.
2-Ricardo
Baitz
Geógrafo
FFLCH/ USP.
Advogado pela
PUC/SP e Pós-
Graduação em
Direito Público –
ESA/SP
Geografia Crítica. - A implicação
como metodologia
para o trabalho de
campo;
- A relação sujeito
implicado x objeto
implicado;
- A aproximação
com o
objeto/pesquisador
sujeito ativo;
- A não
neutralidade da
ciência;
- Implicação e
Implicação
sujeito-
objeto;
instituições
exposição
Henri
Lefbvre;
Remi Hess;
René Lourou;
Edgar Morin;
Friedrich
Nietzsche;
Paulo Freire;
Piaget
73
pedagogia;
- Implicação e
participação;
3-
Alentejan
o, Paulo
R.R
& Rocha-
Leão,
Otávio M.
Brasileiros.
Professores do
Departamento de
Geografia da
UERJ-FFP
Geografia Crítica;
(Diálogo entre
geógrafo físico e
geógrafo humano)
- Trabalho de
campo e teorias
geográficas;
articulação entre
teoria e prática;
- Importância do
trabalho de campo
para a pesquisa e o
ensino de geografia;
- O trabalho de
campo como
ferramenta à
serviço do
geógrafo;
- A AGB como
difusor da ciência a
partir das práticas
com trabalho de
campo;
- Perigos que
rondam a
banalização do
trabalho de campo
- Teoria e método,
- Dicotomias na
geografia,
- Ação
transformadora,
Modelos
de
evolução
da
paisagem;
Monitoram
ento de
campo;
escala;
teoria e
prática;
Yves Lacoste;
Bernard
Kaiser,
Antônio
Tomaz
Junior,
Maurício de
Almeida
Abreu, David
Harvey,
Manoel
Corrêa de
Andrade,
Richard J.
Chorley,
Antônio
Christofoletti,
Ana Luiza
Coelho Netto,
João Rua,
Armen
Mamigonian,
Milton Santos,
Arthur N.
Stralher, Dirce
M.
Suertegaray,
Mao Tsé
Tung.
4- Luis
Antônio
Bittar
Venturi
Brasileiro.
Professor Doutor
do departamento
de Geografia da
USP. Atua nas
áreas de
Geografia dos
Recursos
Naturais, Teoria,
Método e
Técnicas de
Campo e
Laboratório da
pesquisa em
Geografia, temas
sobre os quais
tem proferido
palestras,
publicado artigos
e livros, a
exemplo do
"Geografia -
práticas de
campo,
laboratório e sala
- Método e técnica
são
complementares;
- Trabalho técnico x
trabalho científico;
- As técnicas
evoluem segundo a
necessidade do
homem;
- domínio da
técnica =
complexidade das
novas tecnologias x
opção de utilização
de instrumentos
mais simples.
- Técnicas de
laboratório
- Técnicas de
trabalho de campo
= planejamento
flexível.
“Pensar e
fazer”,
“trabalho
científico”,
instrument
os
tecnológic
os –
“sedução
da
tecnologia
”,
laboratório
, trabalho
de campo,
“gabinete”,
“objeto” de
estudo,
T. R. Giles,
Yves Lacoste,
Bernard
Kaiser, G.G.
Granger, A. G
Cunha,
74
de aula' (Ed.
sarandi, 2011)
5- Yves
Lacoste
Geógrafo
Francês. Lançou
no início de 1970
a revista
Hérodote, que nos
trinta anos
seguintes
procurou revelar
a face oculta da
Geografia, isto é,
seu caráter
político. Em
1976, Lacoste
escreveu o livro:
“A geografia -
isso serve, em
primeiro lugar,
para fazer a
guerra.” Em 1980
Lacoste e os
membros do
Hérodote se
dedicaram aos
problemas de
geopolítica
interna e externa,
em escala
regional,
nacional,
continental e
internacional.
Geografia Crítica - A pesquisa e o
trabalho de campo:
problemas de
ordem política;
- O papel da
universidade; -
pesquisa coletiva x
pesquisa individual;
- O papel social do
pesquisador; -
propor
soluções/comunicar
os resultados, o que
provocará no grupo
estudado?;
- Compromisso
com a organização;
- Formação teórica
+ prática +
articulação de
escala;
- O “poder” da
pesquisa;
- O papel do estado
e das grandes
empresas;
- O monopólio das
tecnologias;
- dificuldades
orçamentárias;
Responsab
ilidade do
pesquisado
r;
resultados
de
pesquisa;
expedição/
exposição;
sujeito-
objeto de
pesquisa;
paisagem;
evocação
da
paisagem;
relação
homem-
natureza;
6-
Bernard
Kaiser Geógrafo francês,
professor na
Universidade de
Toulouse-le-
Mirail, e um dos
criadores da
Geografia Ativa,
movimento que
defendia a
geografia como
fator ativo e de
mudança no
mundo,
movimento esse
que influenciou a
propiciou a
criação da
Geografia Crítica.
Geografia Ativa - A importância da
pesquisa de campo;
- pesquisador =
cidadão;
- tipologia do
trabalho de campo
para o levantamento
social;
- pesquisa
geográfica de
campo específica?;
- proposta de
metodologia:
referências
bibliográficas do
local + formação
teórica +
repercussão da
hipótese;
- proposta social:
conflitos e
problemas; lutas de
classes;
- o cotidiano;
- justificativa da
Sub-
sistema;
análise de
situação,
análise
local,
análise
histórica;
local/globa
l
Mao Tsé
Tung, Yves
Lacoste,
75
pesquisa e a
responsabilidade do
pesquisador;
- valorização da
utilização do saber
da população local;
7- Valéria
de
Marcos
Brasileira.
Formada na USP;
Professora
Doutora do
Departamento de
Geociências
CCNE UFPB e
do PPGG CCEN
UFPB.
Geografia
Humanística-
Cultural.
- Discute a
importância do
trabalho de campo
na geografia;
- A pesquisa
participativa como
metodologia e
experiência;
- A forma de
realização da
pesquisa;
- o compromisso do
pesquisador com a
comunidade;
- a postura do
pesquisador durante
sua aproximação
com a comunidade;
- a diferença da
compreensão
temporal para o
pesquisador e a
comunidade que
estuda;
- a importância do
olhar na realização
da pesquisa;
Pesquisa-
participant
e;
produção-
comunitári
a; processo
ensino-
aprendizag
em, ação
educativa
Mao Tsé
Tung, José de
Souza
Martins, C. R.
Brandão, E. P
de Godói, S.
Cardoso, J. G.
C Magnani, A.
U. de Oliveira
76
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