a arquitetura internacional para o apoio ao haiti no pós-terremoto
Post on 08-Jan-2017
216 Views
Preview:
TRANSCRIPT
C2011 ESG
Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG
_________________________________
Assinatura do autor
BIBLIOTECA GENERAL CORDEIRO DE FARIAS
Aversa, Carlos Ernesto Miranda A Arquitetura Internacional para o Apoio ao Haiti no Pós-Terremoto e
a Participação de Forças Militares nessa Operação / Carlos Ernesto Miranda Aversa - Rio de Janeiro : ESG, 2011.
84 f.: il.
Orientador: Juíza Heloisa Correa da Costa e Paula
Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2011.
1. Relações Internacionais. 2. Ajuda Humanitária. 3. Forças Armadas. I.Título.
Ao povo haitiano, torcendo para que
alcancem um futuro digno.
Aos estrangeiros que se dispõem a
deixar seus lares para ajudar o próximo
no Haiti, buscando um mundo melhor.
Dentre estes, aos brasileiros, que o
fazem com um diferencial de
competência e solidariedade.
AGRADECIMENTOS
Aos Generais Floriano Peixoto Vieira Neto e Luiz Guilherme Paul Cruz, pela
confiança depositada no meu trabalho, o que me propiciou participar de um
momento histórico e singular das operações de paz.
Ao Embaixador Edmond Mulet, à alta administração da MINUSTAH e às pessoas
com quem convivi naquela missão, pela gentileza com que me receberam e me
integraram àquela vitoriosa equipe.
Ao Embaixador Igor Kipman, Embaixatriz Roseana Kipman e equipe da
Embaixada do Brasil em Porto Príncipe, pelos melhores exemplos de brasilidade
e liderança em nome do Governo Brasileiro.
Ao Coronel Gerson Pinheiro Gomes, por um ano de edificante convivência,
parceria e aprendizado. Aos integrantes dos 11º, 12º e 13º Contingentes
Brasileiros no Haiti, pelo apoio prestado.
Ao Corpo Permanente da ESG, por indicarem o caminho marcado pelo
conhecimento, que me permitiu alçar mais este degrau no aperfeiçoamento
pessoal e profissional.
Aos estagiários da Turma Segurança e Desenvolvimento do CAEPE 2011, pelo
longo, divertido e gratificante convívio.
A minha família, pela compreensão da importância de muitas horas de estudos e
pesquisa para chegar a este resultado.
"Por sorte tínhamos uma missão de
manutenção da paz no Haiti"
Edmond Mulet
RESUMO
Esta monografia aborda as ações tomadas pela comunidade internacional no Haiti,
após o terremoto que assolou o país em janeiro de 2010, sendo considerado um dos
maiores desastres naturais da história da humanidade. O Haiti é um dos mais pobre
países do mundo e o mais pobre do hemisfério ocidental e sofreu, ao longo de todo
o Século XX, diversas intervenções de forma a pacificar uma série de conflitos
originados de crises políticas somadas à pobreza extrema. Desde 2004 as Nações
Unidas estão presentes no país com uma missão de estabilização criada após
violentos conflitos na ocasião em que o ex-presidente Jean Bertrand Aristide deixou
a presidência. Por estabilização entende-se uma forte presença militar para reduzir
os índices de violência e garantir a segurança dos atores nacionais e internacionais
que vem prestar ajuda humanitária e de desenvolvimento. A missão era uma das
maiores e mais complexas gerenciadas pelas Nações Unidas e uma das que melhor
vinham apresentando resultados positivos. Já havia suficiente segurança para a
presença internacional e as eleições nacionais estavam em andamento. Eis que em
janeiro de 2010 tudo muda, tendo o país sofrido perdas da ordem de 220.000
mortos, 300.000 feridos e mais de 3 milhões de pessoas afetadas. As perdas
materiais somaram mais de 100% do PIB e o governo central perdeu 30% de seu
pessoal. A crise humanitária, econômica e de governabilidade estava instalada.
Entretanto, as Nações Unidas estavam desdobradas no país e contavam ainda com
forte presença militar. Uma operação humanitária sem precedentes, seja na
grandeza, seja nas circunstâncias particulares foi estabelecida sob liderança das
Nações Unidas, com o aporte de comunidade internacional, incluindo atores
humanitários e forças militares sob acordo bilateral. O autor aproveita sua
experiência de duas passagens como militar no Haiti, a primeira em 2004 abrindo a
missão e a segunda imediatamente após o terremoto, para subsidiar métodos de
pesquisa, muitas delas sobre fontes primárias, e concluir sobre os ensinamentos
decorrentes da Arquitetura Internacional para o Apoio ao Haiti após o desastre e a
participação de forças militares nessa operação.
Palavras chave: Operação de paz. Forças Armadas. Ajuda humanitária.
Comunidade internacional. Haiti. Nações Unidas.
ABSTRACT
This monograph discusses the actions taken by the international community in
Haiti after the country has been struck by the January 2010 earthquake that is
considered one of the largest natural disasters in human history. Haiti is one of
the poorest countries in the world and the poorest in the Western Hemisphere and
suffered throughout the twentieth century several interventions in order to pacify
conflicts arising from a series of political crises coupled with extreme poverty.
Since 2004 the United Nations is present in the country with a stabilization
mission set up after violent clashes at the time former President Jean Bertrand
Aristide left the presidency. Stabilization stands for a strong military presence to
reduce the levels of violence and ensure the safety for national and international
actors that are providing humanitarian aid and helping development. The mission
was one of the largest and most complex managed by the United Nations and one
that had the best results. There were sufficient security for the international
presence and national elections were underway. In January 2010 everything
changes, and the country suffered losses of 220,000 dead, 300,000 injured and
more than three million people affected. The material losses amounted to more
than 100% of GDP and the central government lost 30% of its staff. The
humanitarian, economic and governance crisis was installed. However the United
Nations was deployed in the country and still had a strong military presence. An
unprecedented humanitarian operation, whether in its magnitude, whether in its
particular circumstances was established under the leadership of the United
Nations, with the contribution of international community, including humanitarian
actors and military forces under bilateral agreement. The author uses his
experience in two tours of military duties in Haiti, the first in 2004 opening the
mission and the second immediately after the earthquake, to subsidize research
methods, many of them on primary sources, and conclude on the lessons learned
from the international architecture to support Haiti after the disaster and on the
involvement of military forces in this operation.
Keywords: Peacekeeping operation. Military Forces. Humanitarian aid.
International community. Haiti. United Nations.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Organograma da MINUSTAH em 12/01/2010. ........................................... 21
Figura 2: Relacionamento do OSOCC com outras entidades ................................... 25
Figura 3: Situação de navios de nações amigas no dia 22 de janeiro de 2010 ......... 29
Figura 4: Efetivos militares não subordinados à MINUSTAH .................................... 31
Figura 5: Enviado Especial Bill Clinton, em reunião com o SRSG Edmond Mulet, na sede da MINUSTAH, em 23/10/2010 .................................................. 33
Figura 6: Autoridade, comando e controle em missões de paz das Nações Unidas ...................................................................................................... 44
Figura 7: Arquitetura da Coordenação Internacional no Haiti .................................... 45
Figura 8: O JOTC na arquitetura da coordenação internacional no Haiti .................. 50
Figura 9: Fluxograma do processo de trabalho do JOTC em ações humanitárias .... 51
Figura 10: Composição do PMCC ............................................................................. 53
Figura 11: Estrutura do HACC ................................................................................... 54
Figura 12: Coordenação Internacional segundo o Comandante do USSOUTHCOM ........................................................................................ 56
Figura 13: Inspeção conjunta em campo de desabrigados ....................................... 59
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas aplicáveis ao Haiti, a partir de 2004, desde o estabelecimento da MIF .................... 19
Tabela 2: O efetivo existente do componente militar da MINUSTAH, no final de 2009: ........................................................................................................ 22
Tabela 3: Distribuição geográfica do desdobramento das tropas, no final de 2009 .. 23
Tabela 4: Clusters ativados em novembro de 2010 .................................................. 26
Tabela 5: Resumo do desdobramento militar dos diversos países ........................... 29
Tabela 6: Faseamento de ações da MINUSTAH ...................................................... 39
Tabela 7: Níveis de coordenação e responsabilidade ............................................... 43
Tabela 8: Variação dos efetivos de tropas não subordinadas à MINUSTAH ............ 78
Tabela 9: Membros do Comitê de Coordenação de Alto Nível (HLCC) .................... 79
Tabela 10: Dirigentes e membros do Comitê de Coordenação de Apoio (CSC) ....... 80
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ARGAVN Unidade de Aviação da Argentina
ARGBAT Batalhão da Argentina
ARGHOSP Hospital da Argentina
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
BOLCOY Companhia da Bolívia
BRABAT Batalhão do Brasil
BRAENGCOY Companhia de Engenharia do Brasil
CAP Consolidated Appeal Process
CARICOM Comunidade do Caribe
CCCM Camp Coordination & Camp Management
CEPAL Comissão Econômica para América Latina e Caribe
CERF Central Emergency Response Fund
CHIANV Unidade de Aviação do Chile
CHIBAT Batalhão do Chile
CHIECUENGCOY Companhia de Engenharia do Chile e Equador
CIMIC Civil-Military Cooperation
CIRH Commission Intérimaire pour la Reconstruction d'Haïti
CMS Chief of Mission Support
CSC Coordination Support Committee
DPA Department of Political Affairs (United Nations)
DPKO Department of Peacekeeping Operations (United Nations)
DSRSG Deputy Special Representative of the Secretary General
DSRSG/RC/HC Deputy Special Representative of the Secretary-General /
Resident Coordinator / Humanitarian Coordinator
ECLAC Economic Commission for Latin America and the Caribbean
ERC Emergency Relief Coordinator
FAO Food and Agriculture Organization
FC CIR Force Commander Critical Information Requirements
FMI Fundo Monetário Internacional
GBV Gender Based Violence
GdH Governo (da República) do Haiti
GoH Government of the Republic of Haiti
GUAMPCOY Companhia de Polícia Militar da Guatemala
HACC Humanitarian Assistance Coordination Center
HCT Humanitarian Country Team
HLCC Hi-Level Coordination Committee
HOM Head of Mission
HOMC Head of Military Component
HOPC Head of Police Component
IASC Inter-Agency Standing Committee
IDB Inter-American Development Bank
IFAD International Fund for Agricultural Development
IHRC Interim Haiti Recovery Commission
IMF International Monetary Fund
IMTF Integrated Mission Task Force
IOM International Organization for Migration
ISF Integrated Strategic Framework
ISS Integrated Support Service
JLOC Joint Logistics Operations Centre
JMAC Joint Mission Analysis Centre
JOC Joint Operations Centre
JORBAT Batalhão da Jordânia
JOTC Joint Operations and Tasking Center
JTF-H Joint Task Force - Haiti
MINUSTAH Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti
MOC Military Operations Center
NEPBAT Batalhão do Nepal
NFA Non Food Items
OCHA Office for the Coordination of Humanitarian Affairs
OIM Organização Internacional para as Migrações
OMS Organização Mundial da Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
OPS Organização Panamericana da Saúde
OSE Office of the Special Envoy (United Nations)
OSOCC On-Site Operations Coordination Centre
PAHO Pan American Health Organization
PaP Port-au-Prince
PDNA/RF Post Disaster Needs Assessment and Recovery Framework
PDSRSG Principal Deputy Special Representative of the Secretary General
PERCOY Companhia do Peru
PHILCOY Companhia das Filipinas
PMCC Project Management Coordination Cell
PNH Police Nationale d'Haïti
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
POC Police Operations Center
SOC Security Operations Center
SRIBAT Batalhão do Sri Lanka
SRSG Special Representative of the Secretary General
TO Tasking Order
UN HABITAT United Nations Human Settlements Programme
UNAIDS Joint United Nations Programme on HIV/AIDS
UNCT UN Country Team
UNDAC United Nations Disaster Assessment and Coordination
UNDP United Nations Development Programme
UNEP United Nations Environment Programme
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
UNFPA United Nations Population Fund
UNICEF United Nations Children's Fund
UNIFEM United Nations Development Fund for Women
UNOPS United Nations Office for Project Services
UNPOL United Nations Police
URUAVN Unidade de Aviação do Uruguai
URUBAT Batalhão do Uruguai
USAID United States Agency for International Development
USSOUTHCOM United States Southern Command
WASH Water, Sanitation and Hygiene
WB World Bank
WFP World Food Programme
WHO World Health Organization
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 14
2 PRINCIPAIS ATORES E SEUS REFERENCIAIS TEÓRICOS E
PRÁTICOS ................................................................................................... 19
2.1 MINUSTAH ................................................................................................... 19
2.2 AGÊNCIAS, FUNDOS E PROGRAMAS DAS NAÇÕES UNIDAS................ 24
2.3 ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS ......................................................... 27
2.3.1 Organizações Não Governamentais ......................................................... 27
2.3.2 Organizações Intergovernamentais Internacionais ................................. 28
2.4 FORÇAS MILITARES NÃO SUBORDINADAS À MINUSTAH ..................... 28
3 SOLUÇÕES ADOTADAS PARA APOIO AO HAITI .................................... 32
3.1 ANTECEDENTES ......................................................................................... 32
3.2 CONSOLIDATED APPEAL FOR HAITI ........................................................ 33
3.3 CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS .......................................................... 34
3.3.1 Conferência Ministerial Preparatória sobre o Haiti (Montreal) ............... 35
3.3.2 Conferência Preparatória de Santo Domingo .......................................... 35
3.3.3 Conferência Internacional de Doadores (Nova Iorque) ........................... 36
3.3.4 Conferencia Mundial para o Futuro do Haiti (Punta Cana) ..................... 37
3.4 PLANOS ....................................................................................................... 37
3.4.1 Avaliação de Necessidades Pós-Desastre ............................................... 37
3.4.2 Plano de Ação Nacional para Recuperação e Desenvolvimento ............ 38
3.4.3 Operações de Apoio em Resposta à Operação de Ajuda Humanitária no
Haiti .............................................................................................................. 39
3.4.4 Visão Compartilhada da Função das Nações Unidas no Haiti ............... 40
3.4.5 Integrated Strategic Framework (ISF) ....................................................... 41
4 ESTRUTURAS ORGANIZADAS PELA COMUNIDADE
INTERNACIONAL ........................................................................................ 43
4.1 MECANISMOS DE COORDENAÇÃO (NAÇÕES UNIDAS) ......................... 43
4.1.1 Grupo Estendido de Amigos do Haiti ....................................................... 46
4.1.2 Comitê de Coordenação de Alto Nível (HLCC)......................................... 46
4.1.3 Comitê de Coordenação de Apoio (CSC) ................................................. 46
4.1.4 Centro Conjunto de Operações e Tarefas (JOTC) ................................... 47
4.2 ESTRUTURAS NORTE AMERICANAS ....................................................... 52
4.2.1 Célula de Coordenação e Gerenciamento de Projetos (PMCC).............. 52
4.2.2 Centro de Coordenação de Assistência Humanitária (HACC) ................ 53
4.3 ESTRUTURAS LIGADAS AO GOVERNO DO HAITI ................................... 54
4.3.1 Comissão Interina para a Reconstrução do Haiti (CIRH) ........................ 54
4.3.2 Fundo de reconstrução do Haiti (FRH) ..................................................... 55
4.4 RESUMO DA COORDENAÇÃO................................................................... 56
5 PARTICIPAÇÃO DE FORÇAS MILITARES ................................................ 58
5.1 Cooperação entre Forças (MINUSTAH e JTF-H) ......................................... 58
5.2 Cooperação civil-militar ................................................................................ 60
6 CONCLUSÃO............................................................................................... 62
6.1 APLICAÇÃO IMEDIATA ............................................................................... 62
6.2 POSSIBILIDADES FUTURAS ...................................................................... 62
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 64
APÊNDICE A – ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS .................. 70
APÊNDICE B – TROPAS NÃO SUBORDINADAS À MINUSTAH .............. 77
APÊNDICE C – REPRESENTANTES DE COMITÊ NO NÍVEL
OPERACIONAL ........................................................................................... 78
ANEXO A – DIAGRAMA DA ESTRUTURA DAS NAÇÕES UNIDAS ........ 80
ANEXO B – EXEMPLO DE REQUISIÇÃO AO JOTC ................................. 81
ANEXO C – EXEMPLO DE TASKING ORDER ........................................... 82
14
1 INTRODUÇÃO
Em 12 de janeiro de 2010 um violento terremoto sacudiu o Haiti, o país mais
pobre o hemisfério ocidental. Este terremoto atingiu 7,3 graus na escala Richter,
uma magnitude considerada significativa, segundo o U.S. Geological Survey1. Vários
choques secundários atingiram a mesma região nos dias subsequentes, incluindo
um de 5,9 graus no dia 20 de janeiro.
Alguns fatores adicionais contribuíam para a gravidade do desastre:
- ocorrência do sismo à uma pequena profundidade de 13 Km, que tem por
efeito transmitir grande parte da energia liberada para a superfície;
- região atingida composta em boa parte por planície sedimentária, o que
amplifica o movimento do terreno na superfície;
- epicentro localizado numa região de grande densidade populacional: a
menos de 10 Km da cidade de Leogane, cerca de 26 Km do palácio presidencial no
centro de Porto Príncipe, capital do país, e próximo de outras cidades; e
- a deficiente infraestrutura do país, incluindo a baixa qualidade e resistência
das construções.
Todos estes fatores levaram a uma tragédia de grandes proporções, definidas
pelo então Ministro de Estado das Relações Exteriores, Celso Amorim, como de
"proporções bíblicas"2.
De fato, segundo números disponibilizados pelo OCHA em fins de 2010, foi o
terceiro maior terremoto ocorrido desde 1900, em número de mortos, com 222.570
vítimas fatais3. Entretanto, sendo computados os mais de 300.000 feridos e mais de
3 milhões de pessoas afetadas (desabrigadas, deslocadas, desempregadas, com
perdas na família etc), alguns autores consideram a tragédia como a maior da
humanidade nos tempos modernos.
Do ponto de vista material a situação não foi menos grave. As perdas
econômicas estimadas em US$ 7,804 bilhões correspondem a cerca de 100% a
1 Evento identificado por "US2010RJA6", dados disponíveis em <http://earthquake.usgs.gov> 2 Segundo relato do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, disponível em <http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?mostra=4647> 3 Dados disponíveis em <http://reliefweb.int/sites/reliefweb.int/files/resources/C3E23D35282256BF85257801006CD704-map.pdf>
15
120% do PIB haitiano de 20094. Mais de 100.000 residências foram perdidas e mais
de 200.000 foram danificadas. Danos extensivos afetaram a infraestrutura do país.
Estima-se que o governo do Haiti tenha perdido 30% de seus recursos humanos no
desastre. Um trecho de relatório do Ministério da Economia e das Finanças, tratando
da perda de arrecadação, dá idéia do que sofreu a administração haitiana:
"[...] Os principais edifícios – tanto a administração fiscal e sede aduaneira, quanto o escritório dos grandes contribuintes, além de outras unidades operacionais – entraram em colapso ou estão seriamente danificados. Para a administração fiscal, 1.300 de 1.920 pessoas estão agora sem local de trabalho. Vinte e cinco pessoas estão confirmadas mortas, incluindo o chefe e quatro gerentes seniores. Para ambos os ambas as administrações fiscais e aduaneiras, apenas 60 por cento dos funcionários existentes antes do terremoto foram localizados. Não há informações sobre os outros. [...]"
A comunidade internacional, aí compreendidos diversos estados,
organizações internacionais e organizações não governamentais, acorreu ao
encontro do Haiti e das necessidades de sua população e de seu governo. Uma
complexa e variada estrutura de apoio, organizada nos níveis político, estratégico,
operacional e tático estabeleceu-se envolvendo os atores acima, com os mais
variados mecanismos e fontes de recursos financeiros.
Ao chegarem ao país, esses atores com suas mais variadas origens,
especializações e capacidades encontraram um ator em especial: a Missão das
Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), já estabelecida no país e
desdobrada no terreno desde junho de 2004. O desastre ocorreu no país
considerado o mais pobre do ocidente e que sofre de instabilidade institucional
crônica, tendo sido alvo de diversas intervenções estrangeiras e de diversas missões
das Nações Unidas na sua história.
Além de ser fundamental na coordenação de certos esforços, como será
mostrado adiante, a MINUSTAH dispunha de um recurso essencial para garantir o
apoio inicial e a segurança necessários para viabilizar a ajuda subsequente: seu
componente militar, versátil e treinado, articulado em todas as regiões e nas
principais cidades do país, que se pretende demonstrar ter sido fator fundamental e
essencial para o sucesso da empreitada internacional. Em virtude do caos que se
4 Perdas segundo a Avaliação de Necessidades Pós Desastre ("Post Disaster Needs Assessments" – PDNA), anexo ao Plano de Ação para Recuperação e Desenvolvimento Nacionais do Haiti ("Action Plan for National Recovery and Development of Haiti"). O percentual varia segundo diferentes valores do PIB de 2009, conforme diferentes fontes. Mais detalhes sobre o PDNA no capítulo 3.
16
instalou, a ajuda imediata apoiou-se fortemente na capacidade das Forças da ONU
e Forças de outros países – Brasil inclusive – desdobradas imediatamente em
decorrência de acordos bilaterais com o Haiti.
Esta participação da comunidade internacional deu-se em duas frentes
fortemente interdependentes: ajuda humanitária – incluindo o alívio imediato –, e a
reconstrução do país – ou refundação, como sugeriu na ocasião a mídia e alguns
setores sociais e políticos haitianos. As estruturas de coordenação da ajuda
internacional tiveram que moldar-se a essas circunstâncias e à necessidade de
intensa coordenação de iniciativas, nos quatro níveis de atuação.
Não sendo a primeira vez que uma mobilização semelhante ocorre e não
sendo prudente supor que ela ocorreu em bases empíricas e improvisadas, surge o
grande questionamento motivador deste trabalho: quais os fundamentos teóricos e
experiências práticas que balizaram a comunidade internacional na montagem da
arquitetura do apoio ao Haiti no período que se sucedeu ao terremoto de 12 de
janeiro de 2010? Qual o papel das Forças Armadas no processo?
Este questionamento tem por objetivo analisar, a partir da experiência da
ação internacional na crise do Haiti, os modos de atuação, de coordenação e
também os resultados alcançados, a fim de estabelecer um referencial teórico e
prático que: oriente as estratégias e ações do poder nacional, particularmente da
expressão militar; e balize as estratégias da atuação brasileira em futuras situações
de crise, em ambiente multinacional, particularizando a atuação de Forças Armadas
nestas crises. Será considerado o período de aproximadamente um ano após o
terremoto.
Como forma de atingir este objetivo central foram estabelecidos alguns
objetivos específicos:
- Identificar os principais atores e segmentos presentes na crise e,
sucintamente, seus referenciais teóricos e suas experiências prévias em situações
semelhantes;
- Identificar as principais estruturas organizadas pela comunidade
internacional para apoio ao governo e população do Haiti e as principais realizações
destas estruturas;
- Avaliar as soluções encontradas em função da base de conhecimento
anterior, das particularidades do país e das circunstâncias do momento; e
17
- Analisar de forma particular o papel das Forças Armadas, de diversos
países, sob a bandeira da ONU ou não, no apoio imediato à crise.
Como requisito ao caráter científico e como base orientadora da linha de
pesquisa foram formuladas três hipóteses que, se confirmadas, validarão a
formulação teórica pretendida:
H1. A preexistência de uma missão de paz das Nações Unidas na área
atingida pela catástrofe natural estabeleceu uma circunstância inédita para a
coordenação inicial da assistência internacional, voltada para a segurança e
assistência humanitária, moldando assim as soluções implementadas;
H2. As forças armadas já presentes no país e aquelas desdobradas
imediatamente após o desastre foram fundamentais como suporte para as diversas
iniciativas de ajuda. Características inerentes às forças armadas como hierarquia,
disciplina, comando e controle e logística foram a chave para o desempenho
diferenciado destas forças, servindo de apoio e suporte para os mais variados
atores; e
H3. O Brasil tem defendido e oferecido um modus operandi alternativo,
baseado na preponderância da cooperação sobre o assistencialismo. Essa atuação
ocorre nos campos militar, político, diplomático, econômico e comercial, na esfera
governamental ou não. A crise pós-terremoto potencializou os resultados e
possibilidades da participação brasileira, ao mesmo tempo em que expôs a atuação
brasileira de forma mais clara e contundente ao resto do mundo.
A pesquisa será predominantemente de natureza exploratória e baseada no
seguinte tripé:
a. documentos da época emitidos pelas Nações Unidas, pelo Governo do
Haiti e principais atores envolvidos no processo considerado;
b. avaliações de órgãos de governos, de forças de segurança, de ajuda
humanitária e de desenvolvimento, que participaram do processo considerado, por
intermédio de pesquisas e relatórios realizados após os eventos considerados; e
c. experiência e observações pessoais do autor, que participou do processo
em posição privilegiada na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti; e
Sendo os objetivos específicos listados acima relativamente amplos, faz-se
necessário limitar o escopo da pesquisa:
a. Será avaliado o período de aproximadamente um ano após o terremoto.
Este período corresponde fortemente às fases emergencial e de estabilização
18
estabelecidas pelas Nações Unidas no seu planejamento estratégico. Ficam
excluídas, portanto as ações internacionais para a reconstrução e o
desenvolvimento do Haiti, estas em andamento durante o período da pesquisa.
Alguns documentos referentes às fases consideradas, ocorridas em 2010 só foram
produzidos e/ou publicados em 2011 e foram considerados;
b. O referencial teórico da atuação dos diversos atores será estudado limitada
e sucintamente, limitado ao aplicável no tema;
c. Para determinadas categorias de atores, por exemplo Forcas Armadas e
organizações não governamentais serão escolhidos para aprofundamento apenas
alguns exemplos principais que se pretende serem representativos dos demais; e
d. Não haverá abordagem dirigida especificamente para a atuação da tropa
brasileira (contingente) além do que lhe coube como o maior efetivo da Força da
ONU.
O assunto será apresentado em quatro capítulos, distribuídos conforme a
estruturação dos objetivos específicos:
a. principais atores e seus referenciais teóricos e práticos;
b. soluções adotadas em função da base de conhecimento anterior, das
particularidades do país e das circunstâncias do momento; e
c. estruturas organizadas pela comunidade internacional e suas principais
realizações;
d. o papel das Forças Armadas, de diversos países, sob a bandeira da ONU
ou não, no apoio imediato à crise.
19
2 PRINCIPAIS ATORES E SEUS REFERENCIAIS TEÓRICOS E PRÁTICOS
2.1 MINUSTAH
Após a queda do presidente Jean Bertrand Aristide, em 28 de fevereiro de
2004, o Conselho de Segurança das Nações Unidas autorizou, por intermédio da
Resolução 1529, de 29 de fevereiro de 2004, o desdobramento de uma Força
Multinacional Interina (MIF5) por um período de três meses e declarou-se pronto
para:
"estabelecer uma subsequente força de estabilização das Nações Unidas para apoiar a continuação de um pacífico e constitucional processo política e à manutenção de um ambiente seguro e estável, e neste sentido, solicita ao Secretariado-Geral [...] o tamanho, estrutura e mandato de uma força, incluindo o papel de polícia internacional e os meios de coordenação com a Missão Especial da OEA, e para a implantação posterior da Força das Nações Unidas não mais de três meses a contar da aprovação desta resolução;" (CSNU, 2004, tradução nossa)
Em consequência foi estabelecida a Missão das Nações Unidas para a
Estabilização do Haiti (MINUSTAH6), por intermédio da Resolução 1542, de 30 de
abril de 2004, com mandato de seis meses a partir de 1º de junho do mesmo ano,
mandato este que vem sendo renovado por sucessivas Resoluções, até a data da
conclusão deste trabalho.
Tabela 1: Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas aplicáveis ao
Haiti, a partir de 2004, desde o estabelecimento da MIF
Conteúdo resumido
Resoluções
Data Resumo
Resolução 1529 29/02/2004 Estabelece a MIF
Resolução 1542 30/04/2004 Estabelece a MINUSTAH
Resolução 1576 29/11/2004 Estende o mandato até 01/06/2005
Resolução 1601 31/05/2005 Estende o mandato até 24/06/2005
5 do original em inglês "Multinational Interim Force" 6 do original em francês "Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti"
20
Conteúdo resumido
Resoluções
Data Resumo
Resolução 1608 22/06/2005 Estende o mandato até 15/02/2006; aumenta o efetivo do componente militar e UNPOL em vista das eleições
Resolução 1658 14/02/2006 Estende o mandato até 15/08/2006
Resolução 1702 15/08/2006 Estende o mandato até 15/02/2007; reduz o efetivo do componente militar e aumenta levemente o da UNPOL
Resolução 1743 15/02/2007 Estende o mandato até 15/10/2007
Resolução 1780 15/10/2007 Estende o mandato até 15/10/2008; reduz o efetivo do componente militar e aumenta levemente o da UNPOL
Resolução 1840 15/10/2008 Estende o mandato até 15/10/2009
Resolução 1892 13/10/2009 Estende o mandato até 15/10/2010; reduz levemente o efetivo do componente militar e aumenta levemente o da UNPOL
Resolução 1908 19/01/2010 Aumenta o efetivo do componente militar e o da UNPOL, em função do terremoto
Resolução 1927 04/06/2010 Aumenta o efetivo da UNPOL
Resolução 1944 14/10/2010 Estende o mandato até 15/10/2011; condiciona a variação de efetivos a uma avaliação de segurança após o processo eleitoral
Fonte: MINUSTAH (http://www.minustah.org)
O mandato da MINUSTAH previa três pontos chave: manutenção de um
ambiente seguro e estável, processo político e direitos humanos. A demanda por um
ambiente seguro e estável já se mostrava presente na criação da MIF e foi uma
constante na atuação da MINUSTAH nos anos subsequentes.
Para cumprir este requisito a missão foi autorizada a atuar sob os preceitos
do Capítulo VII da Carta das Nações Unidas, que trata de "ação em caso de ameaça
à paz, ruptura da paz e atos de agressão", o que de maneira prática autorizava o
uso da força para fazer cumprir a resolução, ou seja, manter o ambiente seguro e
estável.
21
A Resolução 1542 autorizou um efetivo teto de 6.700 militares, subordinados
diretamente ao Representante Especial do Secretário Geral por intermédio do
Comandante da Força, um oficial general, o que dava a medida da importância da
atuação do componente militar para o cumprimento do mandato da missão.
A MINUSTAH estava, no momento do terremoto, organizada conforme figura
abaixo:
Figura 1: Organograma da MINUSTAH em 12/01/2010. Fonte: Organização do Autor7.
O chefe da missão (Head of Mission – HOM) é o Representante Especial do
Secretário Geral (Special Representative of the Secretary General – SRSG). A ele
subordinam-se três grandes componentes8:
- Principal Representante Especial Adjunto do Secretário Geral (Principal
Deputy Special Representative of the Secretary General – PDSRSG), com funções
logísticas e administrativas internas, por intermédio da Divisão de Apoio à Missão, e
de relações com o governo do Haiti, o que inclui a Polícia das Nações Unidas
(United Nations Police – UNPOL) e as Seções de Justiça, Assuntos Civis, Direitos
Humanos, e Unidade Correcional.
- Representante Especial Adjunto do Secretário Geral / Coordenador
Residente / Coordenador Humanitário (Deputy Special Representative of the
7 Conforme Orçamento para a Missão das Nações Unidas para Estabilização no Haiti para o período de 1 de julho de 2009 a 30 de Junho de 2010: Relatório do Secretário-Geral, publicado pela Assembléia Geral sob número A/63/709 e MINUSTAH Factsheet 2009. 8 Durante o ano de 2010 a estrutura da MINUSTAH sofreu ligeiras modificações e acréscimos, devido ao ano eleitoral e às consequências do terremoto, conforme o "Orçamento para a Missão das Nações Unidas para Estabilização no Haiti para o período de 1 de julho de 2010 a 30 de Junho de 2011: Relatório do Secretário-Geral", publicado pela Assembléia Geral sob número A/65/535.
SRSG (HOM)
PDSRSG MC DSRSG
Seções e Assessorias
22
Secretary-General/Resident Coordinator/Humanitarian Coordinator –
DSRSG/RC/HC), com funções nas áreas de desenvolvimento e assuntos
humanitários. Coordenador Residente refere-se ao desenvolvimento, sendo o
representante local no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(United Nations Development Programme – UNDP). Coordenador Humanitário
refere-se aos assuntos humanitários locais, tendo ligação com o OCHA e a
coordenação de todas as agências, fundos e programas das Nações Unidas9. Além
disso estão subordinadas as seções de Assistência Eleitoral, Redução de Violência
Comunitária, Unidade de Desenvolvimento e Coordenação Humanitária, Proteção da
Criança, Unidade de Gênero e de HIV/AIDS.
- Componente Militar (Military Component – MC), composto de militares de
forças armadas dos diversos países contribuintes (Troops Contributing Countries –
TCC). O efetivo autorizado pela Resolução 1892 era de 6.940, embora a MINUSTAH
contasse em 1º de dezembro de 2009 com 7.031 militares10 de 17 países11. Após o
terremoto a Resolução 1908 aumentou este efetivo em 2.000 militares, perfazendo
um total de 8.940.
Tabela 2: O efetivo existente do componente militar da MINUSTAH, no final de 2009:
País Estado Maior Contingente
Total Masc. Fem. Masc. Fem.
Argentina 11 - 674 30 715
Bolívia 3 - 185 19 207
Brasil 23 - 2150 14 2187
Canadá 7 3 - - 10
Chile 5 - 489 7 501
Equador 1 - 66 - 67
França 2 - - - 2
Guatemala 5 - 129 13 147
9 A ONU tem mais de 30 organizações afiliadas, com variados graus de autonomia, regimes jurídicos e estrutura de financiamento. Os representantes dessas organizações atuando num determinado país são chamados de "country teams" 10 A título de comparação, na mesma data o efetivo da UNPOL era de 2.030 policiais e os civis da missão eram 1928, dos quais 1.236 haitianos e 692 internacionais. 11 Argentina, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Croácia, Equador, EUA, Filipinas, França, Guatemala, Índia, Jordan, Nepal, Peru, Sri Lanka e Uruguai. Alguns não tinham contingente, apenas oficiais de Estado Maior
23
País Estado Maior Contingente
Total Masc. Fem. Masc. Fem.
Japão 2 - 223 - 225
Jordânia 10 - 599 - 609
Nepal 15 - 1044 16 1075
Paraguai 1 - 130 - 131
Peru 5 1 365 - 371
Filipinas 2 - 155 - 157
Coréia do Sul 2 - 236 4 242
Sri Lanka 10 - 949 - 959
Uruguai 13 - 1085 30 1128
EUA 8 1 - - 9
TOTAL 125 5 8479 133 8742
Fonte: MINUSTAH (http://www.minustah.org).
O Componente Militar da MINUSTAH havia sido reorganizado nos anos de
2008 e 2009. Segundo VIEIRA NETO (2009, p. 29 e 30), as prioridades do
componente militar eram: "Ajustar a configuração da Força em função das atuais
necessidades", "Prover segurança e assistência logística durante as eleições de
2010"; "Continuar o esforço de patrulhamento nas fronteiras terrestre e marítima"; e
"Maximizar o emprego dos meios existentes".
Tabela 3: Distribuição geográfica do desdobramento das tropas, no final de 2009
Departamento Unidade País Observação
Grand Anse
URUBAT-1 Uruguai Infantaria Sud
Nippes
Sud-Est SRIBAT Sri Lanka Infantaria
Ouest
BRABAT Brasil Infantaria
JORBAT Jordânia Infantaria
NEPBAT-2 Nepal Infantaria
BOLCOY Bolívia Infantaria
PERCOY Peru Mantinha três destacamentos na fronteira terrestre
24
Departamento Unidade País Observação
GUAMPCOY Guatemala Polícia Militar (equivalente à Polícia do Exército no Brasil)
PHILCOY Filipinas Companhia de Comando
BRAENGCOY Brasil Engenharia
CHIECUENGCOY Chile e Equador Engenharia
ARGAVN Argentina Aviação
CHIANV Chile Aviação
URUAVN Uruguai Aviação
ARGHOSP Argentina Hospital
Centre NEPBAT-1 Nepal Infantaria
Artibonite ARGBAT Argentina Infantaria
Nord-Ouest CHIBAT Chile Infantaria
Nord
Nord-Est URUBAT-2 Uruguai Infantaria
Fonte: compilação do autor12
A tabela mostra dois aspectos essenciais: equilíbrio da distribuição de tropas
de infantaria por todo o país e concentração de tropas especializadas na capital
Porto Príncipe (Departamento de Oeste). Este distribuição foi fundamental para o
apoio emergencial do componente militar ao pós terremoto, tanto no esforço
principal na capital, quanto no apoio de segurança às populações que se
deslocaram para outras regiões, como veremos adiante.
2.2 AGÊNCIAS, FUNDOS E PROGRAMAS DAS NAÇÕES UNIDAS
A presença das Nações Unidas no Haiti vem de antes da criação da
MINUSTAH, por intermédio de representações locais de agências especializadas,
fundos e programas das Nações Unidas. As agências são organizações autônomas
que trabalham no âmbito das Nações Unidas e no nível intergovernamental, sob
coordenação do ECOSOC. Fundos e programas são vinculados à Assembléia Geral.
Estas representações locais nos diversos países são denominadas de United
12 A partir dos mapas: "Haiti: MINUSTAH Military and UNPOL Deployment Reconfiguration, Phase 3-AOR Reconfiguration" (Outubro de 2009, MINUSTAH) e "Haiti Map No. 3955 Rev. 4" (Junho de 2008, Nações Unidas)
25
Nations Country Team (UNCT). O Anexo 1 apresenta um diagrama esquemático da
estrutura das Nações Amigas.
Por ocasião do terremoto, compunham o UNCT representantes dos seguintes
órgãos: WFP, PNUD, UNESCO, OMS/OPS, FAO, UNICEF, UNFPA, OIM, UNOPS,
UNIFEM, UNAIDS, UNEP e IFAD, além do Banco Mundial e do FMI.
A atuação do UNCT pode ser dividida em ações de desenvolvimento e ações
humanitárias. A atuação para o desenvolvimento essencialmente fica a cargo de
projetos patrocinados pelo PNUD/UNDP e não serão alvo deste estudo, exceto
quando tiverem relação com ações humanitárias e/ou com forças militares.
As ações humanitárias das diversas agências são coordenadas pela
representação local do OCHA, sob supervisão do DSRSG/RC/HC, segundo o
prescrito nas "On-Site Operations Coordination Centre Guidelines" (OSOCC
Guidelines). Particularmente em casos de desastres é estabelecido uma equipe de
coordenação e avaliação (United Nations Disaster Assessment and Coordination –
UNDAC). Estas estruturas coordenam a ajuda humanitária dos diversos atores
possíveis (autoridades locais, equipes de busca e salvamento etc) e estabelecem
relação com outras agências e outros atores humanitários através dos "cluster
systems". A figura abaixo mostra este arranjo de coordenação:
Figura 2: Relacionamento do OSOCC com outras entidades (Fonte: OSOCC Guidelines)
26
O sistema de clusters13 foi introduzido muito recentemente, em decorrência de
reunião diretora do IASC, em setembro 200514, para ser introduzido a partir de 2006.
No Haiti o sistema de clusters havia sido implementado pela primeira vez15 em
função dos desastres naturais causado pelos furações Fay, Gustav, Hanna e Ike que
assolaram o país em 2008 (HAITI, 2008), e foi ampliado para a ajuda humanitária
decorrente do terremoto.
Tabela 4: Clusters ativados em novembro de 2010
Cluster Denominação Original Órgão Responsável Observações
Agricultura Agriculture FAO
Coordenação e Gerenciamento de Campos
CCCM IOM / OIM No Haiti os campos eram de desabrigados
Recuperação Inicial Early Recovery UNDP / PNUD Inclui frentes de trabalho
Educação Education UNICEF
Telecomunicações de Emergência
Emergency Telecom WFP / PMA
Saúde Health WHO / OMS
Alimentação Food WFP / PMA
Inter-Cluster Inter-Cluster OCHA Composto por representantes dos demais clusters
Logística Logistics WFP / PMA
Nutrição Nutrition UNICEF
Proteção Protection MINUSTAH
Proteção da Criança Child Protection UNICEF Sub cluster de proteção
Proteção contra violência de gênero
GBV UNFPA Sub cluster de proteção
13 "Cluster" pode ser traduzido como "um agrupamento de pessoas ou objetos próximos ou em associação". Este trabalho adota o termo "sistema de clusters", sem tentar um termo equivalente em português, sob pena de perda de significado. 14 IASC Ad Hoc Principals Meeting “Strengthening Humanitarian Response”, 12 September 2005,
New York, Final Summary Record and Action Points. Uma lista de decisões do IASC referente a abordagem por clusters está disponível em <http://www.humanitarianreform.org/humanitarianreform/Portals/1/cluster approach page/List of IASC Decisions on the Cluster Approach.doc>. Consulta em 17 de julho de 2011. 15 O ano de implementação do sistema de clusters nos diversos países encontra-se em <http://oneresponse.info/Coordination/ClusterApproach/Pages/Cluster Approach.aspx>. Consulta em 17 de julho de 2011.
27
Cluster Denominação Original Órgão Responsável Observações
Abrigo Shelter UN HABITAT
Itens não alimentícios
NFA UN HABITAT
Água, higiene e saneamento
WASH UNICEF
Fonte: tabulação do autor16
2.3 ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS
Trataremos da participação de diversas organizações internacionais no apoio
ao Haiti no pós terremoto. Adotamos como definição aquela de HERTZ; HOFFMANN
(2004):
"As Organizações Intergovernamentais Internacionais (OIG), formadas por Estados, e as Organizações Não-Governamentais Internacionais (ONGI) são a forma mais institucionalizada de realizar a cooperação internacional."
Considerando que as Nações Unidas são também uma Organização
Internacional, vale ressalvar que somente serão tratadas as organizações do
sistema ONU não citadas anteriormente. Da mesma forma, no que se refere às
ONG, serão incluídas também aquelas locais do Haiti, por não ser objetivo deste
estudo fazer tal diferenciação.
2.3.1 Organizações Não Governamentais
As Organizações Não Governamentais (ONG) presentes no Haiti, em 2010,
atuaram de duas formas distintas: aquelas que registraram-se junto ao sistema de
clusters das Nações Unidas e as que operaram independentemente, o que deveria
pressupor uma autorização do Governo do Haiti, o que nem sempre ocorreu, devido
à relativa inoperância daquele governo nas semanas e meses subsequentes ao
terremoto, como citado anteriormente.
O termo ONG é demasiadamente genérico para permitir generalizações e
comparações coerentes e científicas. Existem ONG regionais, nacionais e
16 Segundo dados do "Cluster Fact Sheet 25 June 2010" disponível em <http://haiti.oneresponse.info>. Consulta em 30 de junho de 2011.
28
internacionais, algumas operando com poucos indivíduos e outras operando com
estruturas complexas e onerosas.
Este trabalho não pretende individualizar a atuação de nenhuma delas, mas
apenas destacar a adesão das mesmas ao sistema de clusters descrito
anteriormente. Desta forma, uma análise da atuação das ONG em operações de
ajuda humanitária em situações complexas pode ter como base o referido sistema.
Como exemplo, listamos no Apêndice A as ONG presentes no Haiti, em 2010,
conforme metodologia lá descrita, deixando o tema em aberto para uma eventual
pesquisa futura.
2.3.2 Organizações Intergovernamentais Internacionais
Algumas OIG terão sua participação no apoio ao Haiti analisada sob a forma
de sua contribuição dentro das estruturas internacionais montadas ad Hoc para a
situação. Trataremos da participação das seguintes OIG: Banco Mundial, Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), Comissão Econômica para América
Latina e Caribe (CEPAL) das Nações Unidas e Comissão Européia.
2.4 FORÇAS MILITARES NÃO SUBORDINADAS À MINUSTAH
Além dos capacetes azuis da MINUSTAH, diversas forças militares estiveram
presentes no Haiti por força de acordos bilaterais entre os países de origem e o
Governo do Haiti. Em alguns casos, como o Brasil, um mesmo país tinha Forças na
MINUSTAH e fora dela.
Alguns países enviaram forças navais, tendo ou não capacidade de projetar
poder sobre terra, seja por desembarque de tropa, por emprego de meios aéreos ou
ambos. Alguns meios tiveram participação ativa no apoio emergencial.
Os navios presentes na região eram de diversos tipos, entre eles fragatas,
destróieres, aeródromos, de transporte, de assalto, logísticos, hospitais etc. A bordo
do navio-aeródromo italiano “Cavour” encontravam-se embarcados dois
destacamentos aéreos (com duas aeronaves) e um destacamento médico Marinha
do Brasil17.
17 Conforme noticiado em <http://www.mar.mil.br/menu_h/noticias/ccsm/op_brasil_italia/ op_brasil_italia.html>. Acesso em 17 de agosto de 2011.
A figura a seguir, tabulada pelas Forças norte americanas, mostra a situação
de navios de nações amigas
Figura 3: Situação de navios de nações amigas no dia 22 de janeiro
As forças desdobradas em terra, da mesma forma, tinham composição,
natureza e capacidades variadas, como se pode observar na tabela a seguir.
Tabela 5: Resumo do desdobramento militar
País Localização principal
Argentina Leogane
Bélgica Delmas 33
Brasil Tabarre
Canadá Leogane, Brache, Jacmel,
PaP
Colômbia Cité Soleil
Espanha Petit Goave (+ navio
Castilla
, tabulada pelas Forças norte americanas, mostra a situação
de navios de nações amigas, no dia 22 de janeiro de 2010.
ituação de navios de nações amigas no dia 22 de janeiro(Fonte: United States Fleet Forces)
As forças desdobradas em terra, da mesma forma, tinham composição,
natureza e capacidades variadas, como se pode observar na tabela a seguir.
: Resumo do desdobramento militar dos diversos países
Localização principal Tipo de apoio
Leogane Hospital de Campanha
Delmas 33 Hospital de Campanha
Tabarre Hospital de Campanha /
aeródromo (FAB)
Leogane, Brache, Jacmel,
Hospital de Campanha, equipes
médicas, Engenharia, Infantaria,
elementos de Força Aérea e Marinha
Cité Soleil Equipe médica
Petit Goave (+ navio
Castilla)
29
, tabulada pelas Forças norte americanas, mostra a situação
ituação de navios de nações amigas no dia 22 de janeiro de 2010
As forças desdobradas em terra, da mesma forma, tinham composição,
natureza e capacidades variadas, como se pode observar na tabela a seguir.
dos diversos países
Hospital de Campanha
Hospital de Campanha
Hospital de Campanha / apoio de
mpanha, equipes
médicas, Engenharia, Infantaria,
elementos de Força Aérea e Marinha
30
País Localização principal Tipo de apoio
França Jacmel Equipe médica e de apoio de alimentos
/ apoio de Engenharia
Guatemala Montana Equipe SAR
Itália PaP & Petit Goave (+ navio
Cavour)
Exército, Aviação Naval, Saúde
Jamaica Killick Equipe Médica, Infantaria
Japão Leogane Equipe médica
Jordânia Cazeau
EUA PaP, Killick, Brache,
Leogane, Carrefour,
Jeremie, Les Cayes, Port de
Paix, Cap Haitienne (+
navios)
Infantaria, Fuzileiros Navais,
Engenharia, Logística, Operação de
Porto, Operação de Aeroporto, Hospital
de Campanha, Navio Hospital, Aviação,
etc
Venezuela Brache Exército
Fonte: tabulação do autor18
Os efetivos disponíveis e desdobrados variaram muito, atingindo um auge no
período de duas a três semanas após o terremoto e decaindo desde então. A figura
abaixo mostra os efetivos conhecidos pela MINUSTAH, sejam informados pelas
próprias tropas ou estimados, entre 28 de janeiro e 17 de junho de 2010:
18 A partir de relatórios "Force Commander Critical Information Requirements" (FC CIR) elaborados pelo componente militar da MINUSTAH.
31
Figura 4: Efetivos militares não subordinados à MINUSTAH (Fonte: tabulação do autor, segundo relatórios FC CIR)
O Apêndice B mostra o detalhamento dos efetivos de cada país entre as
datas acima.
Sobre esses efetivos e sua variação no tempo, duas observações devem ser
feitas: os efetivos disponíveis no Haiti fora do controle da MINUSTAH foram, durante
dois meses (final de janeiro até final de março) maiores do que os seus próprios; o
maior efetivo presente na região era dos EUA, que juntamente com o Canadá,
compunham a Joint Task Force – Haiti (JTF-H), desempenhando a "Operação
Resposta Unificada – Operation Unified Response". Deste efetivo apenas uma
minoria desembarcou em solo haitiano, tendo uma maioria permanecido em reserva,
embarcado em navios ao largo da costa do Haiti. Ainda assim, o efetivo total em
terra superou por vezes o da MINUSTAH, este ligeiramente inferior a 7.000 militares
por ocasião do terremoto.
As circunstâncias da operação conjunta dessas tropas serão descritas no
Capítulo 5.
0
5000
10000
15000
20000
25000
28
-ja
n
4-f
ev
11
-fe
v
18
-fe
v
25
-fe
v
4-m
ar
11
-ma
r
18
-ma
r
25
-ma
r
1-a
br
8-a
br
15
-ab
r
22
-ab
r
29
-ab
r
6-m
ai
13
-ma
i
20
-ma
i
27
-ma
i
3-j
un
10
-ju
n
17
-ju
n
Efetivo conhecido
Efetivo conhecido
32
3 SOLUÇÕES ADOTADAS PARA APOIO AO HAITI
3.1 ANTECEDENTES
Em maio de 2009, antes portanto do terremoto de 2010, o Secretário Especial
das Nações Unidas designou o antigo presidente dos Estados Unidos da América,
Bill Clinton, como Enviado Especial das Nações Unidas no Haiti19. Esta nomeação
sucedeu-se aos pesados danos causados pela passagem de quatro furações pelo
Haiti, em 200820, e levou em consideração suas ações anteriores junto ao Haiti e
como Enviado Especial das Nações Unidas para a recuperação de áreas atingidas
pelo tsunami de 2007 na Ásia.
A nomeação como Enviado Especial para o Haiti foi feita de forma que o Sr
Clinton pudesse desempenhar a tarefa de potencializar doações internacionais,
investimentos no setor privado, ações filantrópicas e outras, com o objetivo de
reconstrução ("build back better").
Após o terremoto, o Secretário Geral das Nações Unidas Ban Ki-Moon
estendeu as funções do seu Enviado Especial, para além das anteriores. Contando
com um escritório em Nova Iorque (Office of the Special Envoy – OSE) e outro no
Haiti, o Enviado Especial passou a atuar também em estruturas de coordenação
internacional junto ao GdH, por intermédio do Comitê de Alto Nível, como será
detalhado no capítulo 4. Com isso o Sr Clinton passou a visitar o Haiti mais
frequentemente, tendo reuniões com a chefia da MINUSTAH, com a Presidência do
Haiti e outros setores.
Ainda que tenha agregado uma função expressamente política, sua missão
principal parece ter permanecido inalterada, ou seja, auxiliar no levantamento, em
escala mundial, de fundos para o apoio ao Haiti. Em setembro de 2011, o OSE ainda
estava trabalhando com este levantamento de fundos, o que podia ser
acompanhado através do seu endereço eletrônico21, que disponibilizava análises
19 "UN Special Envoy for Haiti" no original em inglês. 20 Os Furacões Faye, Gustav, Hanna e Ike deixaram um saldo de quase 3.500 mortos no segundo semestre de 2008, segundo o Special Report "Hurricane Season” 2008: from 24 August to 15 September, da MINUSTAH 21 Disponível em <http://www.haitispecialenvoy.org>
33
concisas do levantamento de fundos para o Haiti, processo este que será detalhado
a seguir.
Figura 5: Enviado Especial Bill Clinton, em reunião com o SRSG Edmond Mulet, na sede da
MINUSTAH, em 23/10/2010 (Fonte: arquivo pessoal do autor)
3.2 CONSOLIDATED APPEAL FOR HAITI
O Consolidated Appeal Process (CAP)22 surgiu como consequência da
Resolução 46/182 da Assembléia Geral das Nações Unidas, que trata do
"Fortalecimento da coordenação de assistência das Nações Unidas a emergências
humanitárias", de forma a assegurar prioridades, integrar atividades até onde
possível, promover a colaboração entre todos os atores humanitários e fortalecer as
capacidades nacionais e governamentais dos estados atingidos.
O CAP visa atender a demandas de vulto e emergências complexas. Envolve
as agências operacionais das Nações Unidas e pode envolver elementos de Cruz
Vermelha – Comitê Internacional, Federação Internacional ou instâncias locais -,
IOM, ONGs, doadores bilaterais e outras estruturas locais e regionais.
22 Numa tradução literal "Processo de Apelo Consolidado". Por razões de clareza, será empregado o termo original em inglês e, sobretudo, sua abreviatura – CAP
34
Trata-se de uma ação programática em cinco fases a saber: planejamento
pré-desastre, reconhecimento de necessidades, planejamento estratégico,
formulação do apelo e atividades pós-apelo. A formulação do apelo deriva do
reconhecimento de necessidades e do planejamento estratégico. Em princípio, o
Coordenador Residente (RC) é o responsável pelo apelo inicial, por intermédio das
estruturas do OCHA. Por visar integração e colaboração, pressupões que atores de
fora do sistema das Nações Unidas sejam capazes de ter seus programas incluídos
no CAP.
Para emergências, como no caso do Haiti, a ONU criou em 2005 o "Fundo
Central de Resposta de Emergência" (Central Emergency Response Fund – CERF),
um fundo humanitário com uma componente de subvenção de até US$ 450 milhões
e um componente de empréstimo de US$ 50 milhões23. Nos primeiros dias de crise
o CERF disponibilizou para a ajuda humanitária no Haiti US$ 25 milhões para ações
iniciais.
Nestes casos de emergência o CAP é substituído por um Flash Appeal (apelo
instantâneo). Em 16 de janeiro, foi emitido um Flash Appeal no valor de US$ 575
milhões. Este valor seria revisado em 18 de fevereiro para US$1,4 bilhões e em
maio para US$1,5 bilhões.24
Os fundos de ajuda humanitária foram e ainda vem sendo amplamente
utilizados no Haiti. Tendo em vista o incomum – para os padrões da ONU – e
extenso intercâmbio entre a comunidade humanitária e as Forças Militares, alguma
parte desta verba foi e está sendo utilizada por estas últimas, direta ou
indiretamente. Na maior parte dos demais casos, em ações sob sua segurança.
3.3 CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS
Com o objetivo de coordenar a arquitetura da assistência da comunidade
internacional para um eficiente apoio ao Haiti, algumas conferências foram levadas a
cabo.
23 Para maiores detalhes sobre o CERF consultar os documentos "CERF Fact Sheet 2010" e "CERF Member States Briefing 2010", disponíveis em <http://reliefweb.int>. 24 Para uma análise atualizada de valores, consultar <http://www.haitispecialenvoy.org/assistance-tracker/>. Os documentos contendo os apelos, inclusive com detalhamento por cluster de destino, podem ser acessados nas páginas <http://reliefweb.int> e <http://ochaonline.un.org/OCHAHome/WhereWeWork/Haiti/DonatingforHaiti/AgencyContributionsContactList/tabid/6418/language/en-US/Default.aspx>.
35
3.3.1 Conferência Ministerial Preparatória sobre o Haiti (Montreal)
A primeira delas foi realizada em Montreal, organizada pelo governo do
Canadá, no dia 25 de janeiro, portanto menos de duas semanas depois da data do
terremoto, reunindo Ministros de Relações Exteriores e delegados de diversas
organizações. Países: Haiti, Grupo de Amigos do Haiti (Argentina, Brasil, Canadá,
Chile, Costa Rica, Estados Unidos, França, México, Peru, e Uruguai), Japão,
Espanha e República Dominicana, além da Comunidade Européia. Organizações
Internacionais: Nações Unidas, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional,
Banco de Desenvolvimento do Caribe, Banco Interamericano de Desenvolvimento
Organização dos Estados Americanos e CARICOM.
Tendo por objetivo estabelecer uma visão comum a respeito da recuperação
imediata e reconstrução de longo prazo, foi concluída com a emissão de um curto
comunicado, definindo os princípios para orientação dos procedimentos futuros:
propriedade, coordenação, durabilidade, eficiência, inclusão e responsabilidade.25
Nesta reunião foi apresentada uma primeira proposta com o esboço da
arquitetura de coordenação internacional, que será tratada no próximo capítulo.
3.3.2 Conferência Preparatória de Santo Domingo
Esta conferência foi organizada em conjunto pelo governo da República
Dominicana e pelo Banco Mundial. Além da questão da estabilidade política,
abordou temas em torno do princípio de propriedade, do calendário eleitoral e da
responsabilidade mútua.
Nesta conferência foram apresentados pelo GdH o "Plano de Governo de
Ação Nacional para Recuperação e Desenvolvimento" e a "Avaliação de
Necessidades Pós-Desastre" (Post-Disaster Needs Assessment – PDNA), esta
realizada com o apoio do BID, União Européia, Nações Unidas e Banco Mundial.
Ambos os documentos serão detalhados a seguir.
25 Maiores informações em <http://www.international.gc.ca/humanitarian-humanitaire/haiti_reconstruction_haiti.aspx>
36
Pela primeira vez surgiu oficialmente o valor estimado de US$11,5 bilhões
para a reconstrução do Haiti no longo prazo. Essencialmente foi uma antecessora da
conferência de doadores de Nova Iorque.26
3.3.3 Conferência Internacional de Doadores (Nova Iorque)
Esta Conferência foi realizada em Nova Iorque, em 31 de março de 2010, co-
hospedada pelos Estados Unidos da América e pelas Nações Unidas, em
cooperação com o Governo do Haiti. Teve como co-organizadores os governos do
Brasil, Canadá, França, Espanha e União Européia. Todos os 192 membros das
Nações Unidas foram convidados.
Segundo a organização do evento27:
"O objetivo da conferência foi mobilizar o apoio internacional para as necessidades de desenvolvimento do Haiti, em um esforço para estabelecer as bases para a recuperação do Haiti a longo prazo. Na conferência, o Haiti apresentou sua visão para o futuro do país e como o apoio internacional pode ajudar. Países, organizações internacionais e outros parceiros tiveram a oportunidade de prometer recursos, para um coordenar o apoio à recuperação do Haiti a longo prazo e se comprometer com um esforço sustentado para apoiar Haiti".
A conferência foi precedida de uma série de consultas28:
- em 15 de março: consulta com os cidadãos no Haiti por meio de discussões
em grupo, chamada de "Voz dos Sem-Voz", liderada pelo Escritório do Enviado
Especial das Nações Unidas no Haiti.
- em 15 de março: consulta com representantes do setor privado haitianos e
internacionais, organizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento em Porto
Príncipe.
- em 23 de março: consulta com haitianos da diáspora29, organizada pela
Organização dos Estados Americanos em Washington, EUA.
- em 23 de março: consulta com as partes interessadas da MINUSTAH,
organizado pelo Governo do Brasil e o Governo do Haiti, realizada em Nova York.
26 Uma descrição detalhada encontra-se no CODE CABLE CHY-143 "Santo Domingo Preparatory Conference", de 19 de março de 2010, da MINUSTAH para o DPKO e outros membros do Secretariado. 27 Texto disponível em <http://www.haiticonference.org>. Acesso em 15 de agosto de 2011. Tradução nossa. 28 Uma descrição adicional dos eventos pode ser vista em <http://www.securitycouncilreport.org/site/c.glKWLeMTIsG/b.5888361/k.69AF/April_2010brHaiti.htm> 29 Haitianos residentes no exterior.
37
- em 23 de março: consulta com autoridades do governo local hospedado pela
França na Martinica.
- em 25 de março: consulta com ONGs organizada pelo Gabinete do Enviado
Especial de Interação da União Européia que terá lugar em Nova York, com
participação de ONGs do Haiti, das Américas e da Europa.
O comunicado final da conferência ratificou os princípios definidos em
Montreal. Do ponto de vista financeiro, diversas promessas foram realizadas por 58
diferentes doadores, cuja análise e totalização podem ser encontradas no endereço
eletrônico do OSE30.
3.3.4 Conferencia Mundial para o Futuro do Haiti (Punta Cana)
Seguindo-se à Conferência de Nova Iorque, foi realizada em Punta Cana,
República Dominicana, a "Conferencia Mundial para o Futuro do Haiti", co-presidida
pelos presidentes daquele país, Leonel Fernández Reyna, do Haiti, René Preval, e
do Enviado Especial das Nações Unidas para o Haiti, William (Bill) Clinton.
A reunião, realizada em 02 de junho de 2010, tratou essencialmente de
reforçar as demandas de doações internacionais para a reconstrução do país.31
3.4 PLANOS
3.4.1 Avaliação de Necessidades Pós-Desastre
A "Avaliação de Necessidades Pós-Desastre" ou "Post-Disaster Needs
Assessment" (PDNA) é um modelo conceitual baseado em duas metodologias em
uso pelas Nações Unidas:
- Avaliação de Perdas e Avaliação de Danos (Damage Assessment & Loss
Assessment – DALA), desenvolvida pela Comissão Econômica para a America
Latina e o Caribe (CEPAL); e
30 . Ver <http://www.haitispecialenvoy.org/download/International_Assistance/6-ny-pledge-status.pdf>. Para informações detalhadas, consultar o Financial Tracking Service (FTS) do OCHA no endereço <http://fts.unocha.org> 31 Maiores detalhes em <http://www.haitispecialenvoy.org/relief-and-recovery/world-summit-for-the-future-of-haiti/>
38
- Avaliação das Necessidades para Recuperação Humana (Human Recovery
Needs Assessment – HRNA), que avalia necessidades de recuperação nas diversas
comunidades.
O PDNA já havia sido empregado no Haiti por ocasião das perdas causadas
pelos furacões de 200832, portanto já havia sido testado no próprio país. Entre os
dias 18 de fevereiro e 24 de março, o GdH, mediante auxílio das Nações Unidas, do
BID, da CEPAL, do Banco Mundial e da Comissão Européia, preparou o "Avaliação
de Necessidades Pós-Desastre do Terremoto no Haiti: Avaliação de perdas, danos,
necessidades gerais e setoriais33", também conhecido como "PDNA 2011 Haiti".
Este documento tornou-se um anexo do Plano de Governo de Ação Nacional
para Recuperação e Desenvolvimento. Está disponível para consulta34 e contém um
resumo da metodologia empregada.
3.4.2 Plano de Ação Nacional para Recuperação e Desenvolvimento
Este plano foi formulado pelo GdH e foi derivado do PDNA, de onde obteve o
levantamento inicial de valores. Entretanto, o plano não se restringiu às
consequências diretas do terremoto, mas apresentou uma projeção para 18 meses,
onde já previa ações de desenvolvimento.
Nestes 18 meses uma necessidade total de US$ 5.853 milhões foi
apresentada, sendo destes US$ 1.180 milhões de dotação orçamentária para uso
pelo GdH.
Essa questão orçamentária viria a ser o principal ponto de cautela por parte
dos doadores, principalmente considerando que o governo que o elaborou já estava
com seu mandato vencido, prorrogado extraordinariamente por ter o terremoto
impedido a realização das eleições previstas para o início de 2010.
O plano, por outro lado apresentou duas estruturas fundamentais para o
esforço de reconstrução do Haiti, que seria levado a termo a partir de 2011: a
32 O relatório deste PDNA de 2008 pode ser consultado em <http://www.ht.undp.org/_assets/fichier
/publication/pubdoc35.pdf>. Acesso em 20 de junho de 2010. 33 "Haiti Earthquake PDNA: Assessment of damage, losses, general and sectoral needs", no original. 34 Relatório completo do PDNA disponível em <http://reliefweb.int/sites/reliefweb.int/files/resources/C8D475D8DBEDAEFD49257705000819F9-Full_Report.pdf>.Para maiores informações sobre a metodologia ver <http://www.recoveryplatform.org/pdna/about_the_pdna>. Acesso em 09 de agosto de 2011.
39
Comissão Interina para Reconstrução do Haiti (CIRH) e o Fundo de Reconstrução
do Haiti (FRH)35.
3.4.3 Operações de Apoio em Resposta à Operação de Ajuda Humanitária no
Haiti
Em 27 de janeiro de 2010, o Representante Especial do Secretário Geral no
Haiti, na época ainda interino36, aprovou o "Conceito das Operações de Apoio em
Resposta à Operação de Ajuda Humanitária No Haiti". Este documento orientou a
ação de todos os setores da MINUSTAH, particularmente estabelecendo
cronograma de prioridades, com objetivos sucessivos para cada fase:
Tabela 6: Faseamento de ações da MINUSTAH
Estágio Prazo Objetivos
1. Resposta à
Crise
janeiro a abril de
2010
1. Apoiar e permitir operações de ajuda
2. Segurança e ordem públicas
3. Retomada da capacidade da missão
2. Recuperação abril a dezembro
de 2010
1. Apoiar e permitir ações de ajuda e de
recuperação
2. Segurança, legalidade e direitos humanos
3. Retomada da capacidade essencial do
Estado
4. Apoio ao calendário eleitoral
3. Normalização janeiro a dezembro
de 2011
1. Apoiar e permitir ações de recuperação
2. Segurança, legalidade e direitos humanos
3. Aumento da capacidade do Estado
4. Apoio ao calendário eleitoral
Fonte: tabulação do autor
35 O documento completo pode ser consultado em <www.haiticonference.org/Haiti_Action_Plan_ENG.pdf>. Acesso em 29 de abril de 2011. 36 O Sr Edmond Mulet foi posteriormente confirmado no posto pelo Secretário Geral Ban Ki-Moon, em 31 de março de 2010, para seu segundo período no cargo. Maiores detalhes em <http://www.un.org/News/Press/ docs/2010/sga1228.doc.htm>. Acesso em 15 de julho de 2011.
40
No mesmo documento ficou estabelecido que a MINUSTAH e o HCT haviam
concordado com o estabelecimento do Centro Conjunto de Operações e Tarefas
(Joint Operations and Tasking Centre – JOTC). Este centro foi fundamental para o
sucesso da coordenação internacional, nos níveis de execução, e será tratado no
capítulo 4.
Ficou estabelecida, ainda, uma revisão posterior do plano para revisão dos
objetivos, estabelecimento de metas e critérios de avaliação. Este plano foi
comunicado pela MINUSTAH ao DPKO e ao DFS em 29 de janeiro de 201037
3.4.4 Visão Compartilhada da Função das Nações Unidas no Haiti
Em 30 março de 2010, por ocasião da Conferência de Doadores de Nova
Iorque, as Nações Unidas publicaram sua "Visão Compartilhada da Função das
Nações Unidas no Haiti"38. Este documento foi endossado pelo Integrated Mission
Task Force (IMTF), que inclui alguns representantes do Secretariado das Nações
Unidas, de algumas de suas agências e do OSE.
Através desta "Visão", as Nações Unidas declaram que:
"As autoridades haitianas estão ansiosas para aproveitar este momento histórico e prontas para entrarem em uma nova parceria com a comunidade internacional. As Nações Unidas estão comprometidas a se colocarem no centro desta nova parceria, que deve repousar nos princípios da liderança haitiana e na responsabilidade mútua pelos resultados." (Nações Unidas, 2010a, p. 1, tradução nossa)
O plano estabelece cinco áreas principais de atuação: coordenação da
assistência humanitária pós-terremoto, manutenção do ambiente seguro e estável,
promoção da governança democrática através da estabilidade política, suporte ao
fortalecimento do Governo do Haiti e suporte ao desenvolvimento.
Essas áreas eram essencialmente aquelas cujas tarefas que já vinham sendo
cumpridas de acordo com a formulação da missão de estabilização do país,
previstas nas sucessivas resoluções do Conselho de Segurança, mas que na sua
execução vinham apresentando cada vez mais um afastamento das tarefas
essenciais voltadas para a estabilização, passando a adotar um viés de
37 Por intermédio do CODE CABLE CHY-041. Ver Referências. 38 Por "visão compartilhada" entende-se a visão conjunta entre a MINUSTAH, vinculada ao Secretariado das Nações Unidas e o UNCT, cujos órgãos são vinculado ao ECOSOC ou à Assembléia Geral. Este termo será empregado subsequentemente com o mesmo significado. Ver referência.
41
desenvolvimento, à medida que os desafios da segurança vinham sendo superados.
Com o terremoto, a ajuda humanitária assumiu importância capital, ao menos no
decorrer do ano de 2010, como indicado na Tabela 6.
3.4.5 Integrated Strategic Framework (ISF)
Com essa progressão de prioridades foi estabelecido em julho de 2010 o
"Balizamento Estratégico Integrado das Nações Unidas para o Haiti"39, que
articulava uma estratégia conjunta para a própria MINUSTAH e as equipes locais
das agências da ONU (UNCT) em apoio à estabilidade e reconstrução após o
terremoto.
A relação de continuidade do ISF com os esforços anteriores das Nações
Unidas e do GdH fica explícita na sua própria introdução:
[...] o ISF para o Haiti articula a estratégia conjunta da MINUSTAH e do UNCT para apoiar os esforços de estabilidade e reconstrução do Governo após o terremoto de janeiro de 2010. Com base em uma visão compartilhada sobre o papel da ONU no Haiti em sua vantagem comparativa, o ISF identifica os objetivos estratégicos e os resultados esperados que a ONU vai coletivamente alcançar até dezembro de 2011, com total alinhamento com o Plano de Ação Nacional para Recuperação e Desenvolvimento de março de 2010. Ele estabelece uma divisão de responsabilidades entre entidades das Nações Unidas para permitir tarefas que se reforçam mutuamente para a consolidação da paz, a recuperação social e econômica e desenvolvimento a longo prazo. Enquanto o ISF e o CAP 2011 têm objetivos diferentes – o primeiro tem como objetivo apoiar a consolidação da paz e recuperação, enquanto o último é impulsionado por necessidades humanitárias – elementos relevantes do CAP estão em alinhamento com o ISF, e ambos documentos contribuem para uma visão compartilhada da ONU para o Haiti. [...]" (Nações Unidas, 2010b, p. 2, tradução nossa)
O ISF estabelece cinco pilares de atuação: reconstrução institucional,
territorial, social e econômica – estes quatro oriundos do Plano de Ação Nacional do
GdH -, além de um quinto referente à criação de um ambiente propício para
estabilidade e reconstrução.
Este plano nitidamente concentra esforços no estado desejado em fins de
2011, culminando com o término do estágio de normalização, tal como definido em
março de 2010. Afasta-se, portanto, das questões mais imediatas de ajuda
humanitária em curso no ano de 2010, que permanecem sendo alvo dos sucessivos
CAP e Flash Appeal.
39 "UN Integrated Strategic Framework (ISF) for Haiti", no original em inglês. Ver referência.
42
Pelo seu horizonte temporal e objetivos, o ISF deveria estar fora do escopo
deste trabalho. Entretanto a prática mostra ser muito difícil separar ações de ajuda
inicial das de reconstrução. A continuidade e o inter-relacionamento entre as
diversas ações da comunidade internacional no Haiti, como explicado acima,
recomendam a sua inclusão neste trabalho.
43
4 ESTRUTURAS ORGANIZADAS PELA COMUNIDADE INTERNACIONAL
4.1 MECANISMOS DE COORDENAÇÃO (NAÇÕES UNIDAS)
As Nações Unidas propuseram na Conferência Ministerial Preparatória sobre
o Haiti, em 25 de janeiro, em Montreal, uma "Arquitetura da Coordenação
Internacional no Haiti", coerente com a "Visão Compartilhada" de sua nova função
no Haiti, onde a própria organização se compromete a ser a protagonista desta
coordenação, valendo-se de sua substantiva presença no país com a MINUSTAH e
o UNCT.
A tônica da proposta foi a abordagem cooperativa:
"Uma coordenação coerente ajudará a garantir ajuda prestada de forma rápida e eficaz para os mais necessitados, a restaurar os serviços públicos essenciais e a permitir ao Haiti acelerar o seu caminho para a estabilização e desenvolvimento sustentável. A coordenação deve ser orientada a resultados, liderada pelo Governo, e sustentada por uma avaliação compartilhada dos desafios comuns e dos princípios acordados para a coordenação da resposta. A abordagem deve gerar planos e atividades estreitamente coordenadas entre atores políticos e militares e de ajuda".(Nações Unidas, 2010a. p. 3, tradução nossa)
A arquitetura foi desenhada em três níveis, com quatro estruturas encadeadas
verticalmente, segundo a tabela abaixo.
Tabela 7: Níveis de coordenação e responsabilidade
Nível Estrutura Responsabilidade
Internacional
(estratégico)
Grupo Estendido de
Amigos do Haiti
Grupo de coordenação
estratégica
Nacional
(operacional)
Comitê de Coordenação
de Alto Nível
Grupo de coordenação política
Comitê de Coordenação
de Apoio
Grupo de coordenação
operacional
Programático
(tático)
Centro Conjunto de
Operações e Tarefas
Centro de coordenação para
segurança e apoio.
Fonte: tabulação do autor
44
É necessário destacar que os níveis de coordenação descritos seguem a
formulação original das Nações Unidas, derivada da Doutrina Capstone40, cujo
resumo é mostrado na figura 6 abaixo, onde o nível estratégico é internacional e o
nível político é interno ao país. Não houve tentativa de adaptar aos níveis de
responsabilidade geralmente utilizados pelas Forças Armadas no Brasil nos seus
planos, do mais alto para o mais baixo: político, estratégico, operacional e tático.
Figura 6: Autoridade, comando e controle em missões de paz das Nações Unidas (fonte: Nações Unidas)
40 "United Nations Peacekeeping Operations: Principles and Guidelines", do DPKO e DFS. Ver referências.
45
Uma visão esquemática da arquitetura implementada no Haiti está resumida
na figura abaixo:
HAITI INTERNATIONAL COORDINATION ARCHITECTURE
Strategic coordination groupQuarterly ministerial consultations
CO-CHAIRS: Government of Haiti, UN
Special Envoy
MEMBERS: UN, major donors, regional
countries and partner organizations
HIGH LEVEL COORDINATION COMMITTEEPolitical coordination groupIn-country representation at Ambassador / Resident
Representative levels building on core group in PAP
CO-CHAIRS: Prime Minister and UN SRSG
MEMBERS: Argentina, Brazil, Canada, Chile, Costa
Rica, France, Mexico, Peru, United States, Uruguay,
Japan, Spain, Germany, World Bank, OAS, EU, IADB
COORDINATION SUPPORT COMMITTEEOperations coordination groupCommittee of major donors and operational
responders
CO-CHAIRS: Govt of Haiti and UN DSRSGs
MEMBERS: MINUSTAH (military, police and
civilian) United States, Canada, EU, World Bank,
IADB, JTF-H, CTF.
JOINT OPERATIONS AND TASKING CENTRE (JOTC)Joint coordination centre for security support.Links MINUSTAH, JTF, CTF receiving priority
security support requests from OCHA Cluster
system, Government and others.
LEAD: UN; MEMBERS: MINUSTAH, JTF/USAID,
Canada TF, OCHA, GoH Liaison office.
International (strategic) Level
Programme (tactical) Level
Country (operational) Level
JOTC
Figura 7: Arquitetura da Coordenação Internacional no Haiti (fonte: MINUSTAH)
Esta estrutura proposta pelas Nações Unidas foi paulatinamente colocada em
prática a partir dos primeiros dias de fevereiro e foi formalizada pela MINUSTAH, em
19 do mesmo mês, em correspondência destinada ao Enviado Especial, Sr Clinton,
com cópia para os dirigentes do DPKO, DFS, OCHA e PNUD41.
41 Por intermédio do CODE CABLE CHY-087, do qual a figura 7 faz parte. Ver Referências.
46
4.1.1 Grupo Estendido de Amigos do Haiti
Co-presidido pelo Presidente do Haiti, Sr René Preval e pelo Enviado
Especial das Nações Unidas, Sr Bill Clinton, o grupo tinha como objetivos
estabelecer princípios e objetivos, fixar prioridades estratégicas e canalizar as
necessidades identificadas em Porto Príncipe na direção da comunidade
internacional de forma a receber apoio e recursos.
Seus participantes originais incluíam o Grupo de Amigos do Haiti acrescido de
grandes doadores, organizações regionais (OEA, CARICOM) e instituições
financeiras (Banco Mundial, BID, FMI).
4.1.2 Comitê de Coordenação de Alto Nível (HLCC)42
Co-presidido pelo Primeiro Ministro do Haiti, Sr Jean-Max Belllerive e pelo
SRSG Sr Edmond Mulet, o grupo reunia-se periodicamente em Porto Príncipe,
sendo formado por embaixadores de países chave, representantes da Comunidade
Européia e de organismos humanitários, de desenvolvimento e de financiamento. Os
membros iniciais estão listados no Apêndice C.
As funções do grupo incluíam as tarefas de identificação e tomada de decisão
referentes a programas de ajuda, dirigir em alto nível o estabelecimento de
prioridades e objetivos das tarefas de planejamento, sincronizas as necessidades
com os objetivos e princípios da comunidade internacional e oferecer ao GdH
aconselhamento e assistência política coordenados.
O Comitê de Alto Nível foi apoiado em suas tarefas pelo Comitê de
Coordenação de Apoio.
4.1.3 Comitê de Coordenação de Apoio (CSC)43
Co-presidido por representante do GdH no nível ministerial e por
representantes da MINUSTAH no nível DSRSG, era composto também por: chefes
dos principais doadores programas de ajuda com significativas atividades
operacionais; representantes do Banco Mundial e do BID; Comandante da Força e o
Comissário de Polícia da MINUSTAH; comandantes de outras forças militares
42 Referente à designação "Hi-Level Coordination Committee", em inglês 43 Referente à designação "Coordination Support Committee", em inglês
47
internacionais significativas, que não estavam sob comando e controle das Nações
Unidas; e outros participantes, mediante convite.
As tarefas a cargo do Comitê eram:
- auxiliar na identificação e priorização de alívio e de exigências de
recuperação entre os principais atores operacionais;
- garantir que avaliações, planos, prioridades e relacionamentos
organizacionais adequadamente integrados e coordenadas aos projetos no nível
tático;
- oferecer decisões ou orientações sobre questões e preocupações que não
pudessem ser resolvidas no nível tático;
- supervisionar o desenvolvimento de indicadores, monitorar e avaliar o
progresso dos esforços de alívio e recuperação; e
- reportar-se e aconselhar o Comitê de Coordenação de Alto Nível, quando
solicitado.
Deve-se notar que fazem parte deste comitê o Comandante da Força das
Nações Unidas (além do Comissário de Polícia) e os comandantes militares das
principais forças presentes no país, como membros efetivos do mais alto nível de
planejamento do esforço internacional.
Posteriormente foi vinculada à estrutura do CSC a Célula de Coordenação e
Gerenciamento de Projetos (PMCC)44, que será abordada adiante.
4.1.4 Centro Conjunto de Operações e Tarefas (JOTC)45
As Nações Unidas, no seu esforço de incrementar o desenvolvimento de
missões de paz, baseando-se 60 anos de experiência e considerando o caráter
complexo que estas operações tem tomado recentemente, editou em 2008 a sua
Doutrina Capstone, dividida em três partes, livremente descritas como: evolução e
conceitos, planejamento e implementação das missões.
Na seção de implementação é dada ênfase à integração de diversos
componentes da missão sob autoridade do chefe da missão (HOM) e
implementados sob a forma de uma série de estruturas conjuntas integrando
44 Referente à designação "Project Management Coordination Cell ", em inglês 45 Referente à designação "Joint Operations and Tasking Centre", em inglês
48
representantes dos diversos setores da missão – civil, polícia, militar e pessoal de
apoio.
Estas estruturas são o Centro Conjunto de Operações (Joint Operations
Centre – JOC) responsável pela consolidação de relatórios de situação e
informações operacionais, o Centro Conjunto de Análise da Missão (Joint Mission
Analysis Centre – JMAC) que realiza análises de risco, o Serviço de Apoio Integrado
(Integrated Support Service – ISS) que controla e emprega os recursos da missão e
o Centro Conjunto de Operações Logísticas (Joint Logistics Operations Centre –
JLOC) que coordena a provisão de apoio logístico aos diversos componentes.
O JOC é uma reunião entre três centros de operações: de segurança, policial
e militar.46 Atua regularmente como um concentrador das ações de coordenação de
crises. Por ocasião do terremoto a crise humanitária ganhou um vulto significativo
em relação às crises de segurança que são normalmente o alvo de atenção do JOC.
Temia-se, entretanto, a possibilidade de retomada em grande escala de violência, a
qualquer momento, em decorrência da desestabilização social e governamental
causada pela tragédia.
Eram duas situações distintas e simultâneas a serem tratadas pela missão,
que havia se colocado como o centro da coordenação internacional do apoio ao
Haiti, pela sua presença anterior no país e conforme o desejo das Nações Unidas.
Em consequência, nos primeiros dias de reorganização da MINUSTAH47 foi
estabelecida a evolução do JOC para o JOTC (Joint Operations and Tasking
Centre), sob a autoridade do SRSG e em conjunto com o OCHA e outros parceiros,
que agregou às funções que facilitaram a realização de ajuda humanitária.
Conforme descrição do Cluster de Logística:
46 Respectivamente SOC (Security Operations Centre), POC (Police Operations Centre) e MOC (Military Operations Centre), que operam integrados. 47 A própria missão teve perdas significativas, incluindo as mortes do SRSG e DSRSG, o colapso do seu Quartel General e um total de mais de 100 mortos entre civis, policiais e militares. Foi a maior perda das Nações Unidas em sua história.
49
"O Centro Conjuntas de Operações e Tarefas é um mecanismo de coordenação posto em prática para melhor integrar as atividades diárias de resposta do DPKO, atores humanitários e militares presentes no território do Haiti. O JOTC foi estabelecido pela MINUSTAH, OCHA, Cluster de Logística e outros parceiros chave, incluindo CARICOM, os EUA, Canadá e outros países, para tornar disponíveis os recursos militares e policiais para apoiar a resposta terremoto Haiti. O JOTC visa proporcionar uma conscientização operacional comum (com foco principalmente em segurança, mas abrangendo também atividades de apoio e humanitárias, como transporte e obras de engenharia), e gerenciamento de processos de assistência, oferecendo um único ponto de entrada para os pedidos. O objetivo é proporcionar uma utilização mais eficaz, eficiente e coordenada dos recursos militares e policiais, evitando a duplicação de esforços." (Nações Unidas, Logistic Cluster in Haiti,.2010, p. 1, tradução e grifo nossos)
Segundo o IASC (2010, p. 9, tradução e grifo nossos):
"A MINUSTAH, em coordenação com o OCHA, o Cluster de Logística, e outros parceiros chave, estabeleceu um Centro Conjunto de Operações e Tarefas (JOTC), para facilitar a prestação de assistência a partir da ampla gama de forças militares para agilizar as atividades da comunidade humanitária – em essência, para servir como um "balcão único" para os atores humanitários que procuram assistência dos militares da MINUSTAH e as capacidades da polícia. O JOTC, composto por representantes de OCHA, MINUSTAH, outros militares internacionais, o Cluster de Logística, e representantes do governo, serviu como um órgão centralizado de coordenação para o uso de meios militares para apoio logístico, assistência, segurança e assistência técnica em apoio a operações humanitárias, permitindo em todo o uma país coordenação para evitar a duplicação de esforços de apoio. Os pedidos de apoio militar para o transporte de commodities humanitárias ou outro tipo de apoio,foram examinados através de cada Agência que tinha liderança sobre um cluster"
Deve-se notar, segundo duas fontes distintas, a importância dada à
integração de forças militares ao esforço de ajuda humanitária, apesar da conhecida
resistência da comunidade humanitária internacional em utilizar de estruturas
políticas, militares e policiais para suas ações. Esta independência deve-se a uma
tentativa de manter isenção e imparcialidade, de forma a obter a aceitação das
populações atingidas e apoiadas48.
No caso do Haiti, com o colapso do GdH e com as estruturas civis da
MINUSTAH – e igualmente de outros organismos internacionais – seriamente
abaladas, foi necessário recorrer às forcas militares que mantiveram sua capacidade
48 Adicionalmente, ao priorizar o emprego de ativos próprios em detrimento de outros ativos, sobretudo militares, pode-se suspeitar uma busca por prioridade na distribuição de recursos de orçamentos e doações. A tentativa de validação desta hipótese não faz parte do presente trabalho, mas merece um aprofundamento posterior.
50
de operação, por conterem com estruturas de comando e controle e logísticas
autônomas e desenhadas para a operação no terreno sob condições adversas e
extremas. Não havia outra opção. Posteriormente as próprias forças militares e
policiais da MINUSTAH receberam um aumento de efetivo e a elas se juntaram
forças militares diversas, como descrito no capítulo 2.
Do ponto de vista da arquitetura internacional o JOTC relacionava-se com as
estruturas anteriormente citadas conforme o esquema abaixo:
Joint Operations and Tasking Centre
JOTC
High Level Coordination committee
HLCC
Coordination Support Committee
CSC
CSC Planning Task Force
Management Oversight Board
Project Management Coordination Cell
PMCC
International Coordination Architecture(From 8 March 2010)
Figura 8: O JOTC na arquitetura da coordenação internacional no Haiti (fonte: MINUSTAH)
O fluxograma mostrado na figura 9 mostra de maneira simplificada o processo
de solicitação e atendimento de demandas. Os solicitantes (em azul), que podem ser
atores do UNCT, ONG, agentes internacionais, o próprio GdH, entre outros,
apresentam suas solicitações para os diversos clusters (descritos na tabela 4), que
encaminham aquelas solicitações não atendidas pelos próprios clusters ao JOTC
(estruturas em amarelo e laranja). Este avalia a necessidade, estabelece uma
prioridade e tenta encontrar um provedor para aquela necessidade, dentro das
condições e prazos descritos nas solicitações originais. Estes provedores podem ser
os mais diversos atores, muitos voluntários que colocavam suas capacidades
disponíveis à disposição da comunidade humanitária,
inclusive forças militares não subordinadas à MINUSTAH.
Desta forma, a seguinte situação hipotética poderia ocorrer: uma ONG que
tivesse um material em depósito para ser distribuído em uma determinada localidade
poderia solicitar apoio de transporte, escolta de comboio e segurança na
distribuição. Este transporte poderia ser realizado pelas tropas da JTF
escolta feita por uma por uma unidade da MINUSTAH e com a segurança para a
distribuição feita por uma unidade da MINUSTAH
pela Polícia das Nações Unidas (UNPOL) conjuntamente com a
d'Haïti (PNH).
O balanço entre demanda e oferta era feito diariamente em reuniões de
priorização e distribuição de tarefas. As tarefas distribuí
cumpridas segundo procedimentos internos destes. Uma tarefa a ser cumprida pela
Força da MINUSTAH era alvo da emissão de uma
unidade que cumpriria a tarefa. O Anexo
ao JOTC.
Figura 9: Fluxograma do processo de trabalho do JOTC em ações humanitárias
disponíveis à disposição da comunidade humanitária, por intermédio do JOTC,
inclusive forças militares não subordinadas à MINUSTAH.
a seguinte situação hipotética poderia ocorrer: uma ONG que
tivesse um material em depósito para ser distribuído em uma determinada localidade
apoio de transporte, escolta de comboio e segurança na
distribuição. Este transporte poderia ser realizado pelas tropas da JTF
escolta feita por uma por uma unidade da MINUSTAH e com a segurança para a
distribuição feita por uma unidade da MINUSTAH e a segurança na distribuição feita
pela Polícia das Nações Unidas (UNPOL) conjuntamente com a
O balanço entre demanda e oferta era feito diariamente em reuniões de
priorização e distribuição de tarefas. As tarefas distribuídas aos diversos atores eram
cumpridas segundo procedimentos internos destes. Uma tarefa a ser cumprida pela
Força da MINUSTAH era alvo da emissão de uma Tasking Order
unidade que cumpriria a tarefa. O Anexo B mostra um exemplo de
: Fluxograma do processo de trabalho do JOTC em ações humanitárias(fonte: MINUSTAH)
51
por intermédio do JOTC,
a seguinte situação hipotética poderia ocorrer: uma ONG que
tivesse um material em depósito para ser distribuído em uma determinada localidade
apoio de transporte, escolta de comboio e segurança na
distribuição. Este transporte poderia ser realizado pelas tropas da JTF-H, com
escolta feita por uma por uma unidade da MINUSTAH e com a segurança para a
e a segurança na distribuição feita
pela Polícia das Nações Unidas (UNPOL) conjuntamente com a Police Nationale
O balanço entre demanda e oferta era feito diariamente em reuniões de
das aos diversos atores eram
cumpridas segundo procedimentos internos destes. Uma tarefa a ser cumprida pela
Tasking Order (TO) para a
mostra um exemplo de uma requisição
: Fluxograma do processo de trabalho do JOTC em ações humanitárias
52
4.2 ESTRUTURAS NORTE AMERICANAS
Os Estados Unidos da América desempenharam um papel importante na
crise haitiana que se seguiu ao terremoto. A operação Unified Response foi
conduzida com a participação de duas importantes organizações governamentais: o
Comando Sul Americano (USSOUTHCOM) e a Agência Americana para o
Desenvolvimento Internacional (USAID). Juntos estavam o braço militar e o braço de
assistência (humanitária e de desenvolvimento) do governo norte americano.
A coordenação geral das ações coube ao Sr Rajiv Shah (USAID), sendo o
comandante do SOUTHCOIM o General Douglas Fraser. As tropas locais, o JTF-H
já descrito no capítulo 2, estavam sob o comando do General de Divisão P. Ken
Keen.
A operação Unified Response desdobrou duas estruturas de coordenação e
projetos, uma delas internacional conjunta, que se integraram às estruturas das
Nações Unidas descritas anteriormente, complementando-as: a Célula de
Coordenação e Gerenciamento de Projetos (PMCC) e o Centro de Coordenação de
Assistência Humanitária (HACC).
4.2.1 Célula de Coordenação e Gerenciamento de Projetos (PMCC)49
Tal como descrito no capítulo 3, o PMCC foi organizado como o braço
operacional e o escritório de projetos que operava em apoio do CSC, responsável
pelos mais altos níveis de planejamento.
Segundo o USAID (2010b, p. 2 e 3, tradução nossa):
"O apoio de projetos do PMCC se concentra em três atividades interrelacionadas. Ele trabalha para coordenar ajuda humanitária, reconstrução e atividades entre os doadores (Componente A), fornece assistência técnica de alta qualidade, gerenciamento de projetos para tarefas que requerem a participação de doadores múltiplos, e conselhos de especialistas sobre as tarefas que são de natureza complexa (Componente B), além de fornecer serviços de planejamento que mapeiam os objetivos a longo prazo com meios e métodos alternativos (Componente C)"
O PMCC foi formado por representantes da JTF-H, MINUSTAH, OCHA, de
doadores (inclusive o próprio USAID) e dos clusters CCCM, abrigo, WASH e
proteção. Inicialmente foi chefiado por um militar dos EUA, com um subchefe civil da
49 Project Management Coordination Cell (PMCC), no original em inglês.
53
MINUSTAH. Este assumiu a chefia da Célula após a desativação da JTF-H. Havia
um representante militar da MINUSTAH na composição da equipe.
O PMCC integrava-se perfeitamente ao JOTC. O primeiro tratava de projetos
mais estruturantes, sobretudo ligados a remoção de destroços, construção de
abrigos e recolocação de desabrigados. Estes projetos eram quantificados e
faseados no PMCC e repassados ao JOTC sob forma de pequenas tarefas, coerente
com o ritmo diário de atendimento de demandas deste último. Geralmente os projeto
oriundos do PMCC empregavam apoio de engenharia militar da MINUSTAH.
Project Management Coordination Cell (PMCC) Staffing
CIDA
ACTION PLAN 2PROJECT MGRKevin Tokar
CO-CHAIRMr. Brun (GoH)
OCHANiels Scott
AGENCY
TBDVacant
AGENCY
TBDVacant
AGENCY
TBDVacant
AGENCY
TBDVacant
AGENCY
TBDVacant
AGENCY
TBDVacant
AGENCY
TBDVacant
JOTC
LNOShayne Gilbert
UN HABITAT
Erik Vittrup
MTPTC
ACTION PLAN 3PROJECT MGRWilson Etienne
JTF-H J7
ACTION PLAN 4PROJECT MGR
Mel Acree
MINUSTAH
Several LNOs
MINUSTAH
ACTION PLAN 6PROJECT MGRJessica Duplessis
JTF-H J7
ACTION PLAN 5PROJECT MGRVince Sobash
UNPOL HNP
Cmdt Marceau
JTF-H J7
WATCH OFFICERCapt Reyes
USEMB
USAID LNOMario Nicoleau
SHELTER CLUSTER
Giovanni Cassini
CCCM CLUSTER
Igor Chantefort
USACE
ACTION PLAN 1PROJECT MGRRick Benoit
NAVFAC
LNOKevin Catlin
UNOPS
Ian Gough
CO-CHAIRMr. Byrne (USAID)
PMCC DIRECTORLTC Blackwell
CO-DMOC DIRECTORVacant
BRIEFCOP
DEBRISSME
REGIONALDEB SITES
SOLINOCHANNEL
FOCUSAREAS BDA
COR
PaP DEBSITE
14 Mar 2010
COMMSTRATEGY
BDACOP
CCCM CLUSTERJTF-H J7 MINUSTAH MINUSTAH
TABARRE ISSAPROJECT MGR
Paulo Oliveira-Martins
REGISTRATIONPROJECT MGRIgor Chantefort
MOVEMENTPROJECT MGRMaj Ivo Werneck
SETTLEMENTPROGRAM MGR
LTC Wong
MGMT OVERSIGHTBOARD
JTF-H J7
PERI-URBAN SITESPROJECT MGRLT Wil Melchor
Figura 10: Composição do PMCC (Fonte: MINUSTAH)
4.2.2 Centro de Coordenação de Assistência Humanitária (HACC)50
Pode-se afirmar que o HACC era o espelho do JOTC. Enquanto este era
essencialmente uma estrutura civil destinada a coordenar o apoio militar a ações
humanitárias, o primeiro era uma estrutura vinculada a uma força militar, que
50 Humanitarian Assistance Coordination Center (HACC), no original em inglês.
54
operava dentro da Embaixada Americana em Porto Príncipe e destinada a facilitar o
trabalho de interface com ONG e parceiros interagências.
A coordenação com a estrutura das Nações Amigas era feita com o
desdobramento de uma equipe avançada junto ao JOTC. O HACC era organizado
em 4 células: operações, informações civis, médico/logística e comunicações,
conforme a figura abaixo:
Figura 11: Estrutura do HACC (Fonte: JTF-H)
4.3 ESTRUTURAS LIGADAS AO GOVERNO DO HAITI
4.3.1 Comissão Interina para a Reconstrução do Haiti (CIRH)51
O Governo do Haiti criou, por decreto presidencial de 21 de abril de 2010 a
Comissão Interina para a Reconstrução do Haiti (CIRH), co-presidida pelo Primeiro
Ministro Jean-Max Bellerive e pelo Representante Especial das Nações Unidas Sr.
Bill Clinton.
51 "Commission Intérimaire pour la Reconstruction d'Haïti" (CIRH), denominação original em francês, ou "The Interim Haiti Recovery Commission" (IHRC), na versão em inglês.
55
O objetivo da comissão é auxiliar o GdH na estruturação de um
direcionamento estratégico amplo para assegurar a coerência e a eficiência de
aprovação e financiamento de projetos.
Fazem parte da comissão 12 haitianos e 12 estrangeiros com direito a voto e
4 outros representantes sem direito a voto. Os haitianos são 4 membros do conselho
executivo e representantes de autoridades locais, setor produtivo, do senado, da
câmara, dos sindicatos e do judiciário. Entre os internacionais estão representantes
de países (Brasil, Canadá, Espanha, Estados Unidos da América, França, Noruega e
Venezuela) e de organizações (Nações Unidas, União Européia, CARICOM, BID e
Banco Mundial). Os não votantes representam ONG haitianas, ONG internacionais,
diáspora haitiana e a OEA.
A apresentação oficial da Comissão ocorreu em 7 de junho de 2010, com a
primeira reunião executada uma semana após. Ainda em fins de 2010 a comissão
tinha:
[...] mais de 74 projetos de desenvolvimento, num valor estimado de mais de US$ 3 bilhões foram aprovados pela Comissão, dos quais US$ 1,6 bilhões já tinham financiamento. Durante sua reunião de 14 dez 2010, a Comissão priorizou setores-chave, tais como remoção de entulhos de construção de habitação, educação, energia, saúde, criação de emprego, água e saneamento, e desenvolvimento de capacidades". [Nações Unidas, 2010b ,p 32]
O processo executivo da comissão implica no recebimento de projetos de
variadas origens e finalidades, para fins de aprovação, o que significa um aval para
o financiamento por parte de doadores e instituições financeiras. A comissão
trabalha em sintonia com o Fundo de Reconstrução do Haiti.52
4.3.2 Fundo de Reconstrução do Haiti (FRH)53
Definido como uma parceria do GdH com a comunidade internacional, tem
participação do PNUD, Banco Mundial e do BID. Tornou-se efetivo em 11 de maio
de 2010, com uma contribuição inicial do Governo Brasileiro de US$ 55 milhões. Até
março de 2011, as contribuições já somavam US$282 milhões.54
52 Mais detalhes sobre a comissão estão disponíveis em <http://www.haitireconstructionfund.org/hrf/fr/> 53 "Fonds de Reconstruction d'Haïti" (FRH), denominação original em francês, ou "Haiti Reconstruction Fund" (HRC), na versão em inglês. 54 Conforme <http://www.haitireconstructionfund.org/hrf/fr/>. Consulta em 23 de setembro de 2011.
56
O Fundo trabalha com quatro premissas para custear projetos:
- Ser aprovado pela Comissão Interina para a Reconstrução do Haiti (CIRH);
- Estar alinhado com o Plano de Nacional de Ação (que é um requisito para
aprovação do CIRH);
- Têm a aprovação técnica por pelo menos um dos parceiros do Fundo
(PNUD, BID, Banco Mundial); e
- Financiar uma das três categorias de atividades: a cooperação técnica
(incluindo o desenvolvimento de capacidades), ajuda para investimento ou apoio ao
orçamento.
4.4 RESUMO DA COORDENAÇÃO
O melhor exemplo da importância e do sucesso dos mecanismos de
coordenação foi dado pelo Comandante Sul dos EUA, General Fraser, no
encerramento da "Conferência de Operações de Estabilidade, Segurança, transição
e Reconstrução", realizada no "Centro de Informações Técnicas de Defesa". Uma
das lâminas da sua apresentação resume de forma clara todo o conteúdo deste
capítulo e parte dos capítulos anteriores, conforme a figura a seguir:
Figura 12: Coordenação Internacional segundo o Comandante do USSOUTHCOM
(Fonte: FRASER, 2010)
57
Na figura está representada a esquerda a estrutura das Nações Unidas, com
destaque para o sistema de clusters implementado no Haiti. À direita, acima, o
Governo do Haiti. À direita, no centro, toda a estrutura do Governo Americano, tanto
as vinculadas ao USAID, quanto ao SOUTHCOM. À direita, abaixo, a comunidade
internacional e os parceiros militares bilaterais. E no centro da figura a estrutura de
coordenação das Nações Unidas, verticalizadas e tendo por centro o JOTC e as
demais estruturas da MINUSTAH abaixo, incluindo as Força Militar.
Junto ao JOTC vem a observação "liderança das Nações Unidas". Trata-se do
reconhecimento da legitimidade do papel das Nações Unidas no processo e valida a
decisão da criação do JOTC, uma das reais razões do sucesso da coordenação, sob
quaisquer prismas que se queira ver o assunto: civil-militar, segurança-humanitário,
nacional-internacional, Nações Unidas-ONG, doadores-executores, etc.
58
5 PARTICIPAÇÃO DE FORÇAS MILITARES
Ainda que formalmente a participação das forças militares seja alvo deste
último capítulo, muito do tema já foi abordado desde o capítulo 2, tendo em vista que
a participação de forças dos diversos países sob a bandeira da ONU ou não, no
apoio imediato à crise foi fator que permeou toda a ação internacional no Haiti após
o terremoto de janeiro de 2010.
Por razões de coerência, portanto, o assunto foi sendo apresentado
paulatinamente de forma a não comprometer a compreensão de um assunto tão
complexo e com tantos atores intervenientes.
Este capítulo final abordará pontualmente dois tópicos: a cooperação entre
forças e a coordenação civil-militar.
5.1 Cooperação entre Forças (MINUSTAH e JTF-H)
Um dos fatores de sucesso das ações foi a coordenação nos níveis
operacional e tático entre os diversos comandos militares da MINUSTAH e da JTF-
H, que paulatinamente se estendeu a praticamente todas as demais forças
presentes no terreno, conforme listadas no capítulo 2.
Sobre o assunto, um longo artigo escrito a 8 mãos pelos então comandantes
da Força da MINUSTAH, General Floriano Peixoto e da JTF-H, General Ken Keen,
além de assessores, publicada na edição norte americana de maio de 2010 da
Revista Militery Review, denominado "O Relacionamento Importa"55 dá a exata
noção da importância do relacionamento, tanto organizacional quanto pessoal para
as facilitar ações de cooperação nos diversos níveis.
Esta cooperação se refletiu no terreno por intermédio de consultas mútuas
entre os comandantes, reuniões periódicas de comando e de estados maiores,
briefings mútuos e diários de operações, inteligência e cooperação cívico-militar.
Diversos reconhecimentos combinados foram realizados como o ilustrado na figura
abaixo:
55 O título original é "Relationships Matter: Humanitarian Assistance and Disater Relief in Haiti". A versão eletrônica do texto está disponível em <http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/English/MilitaryReview_20100630_art004.pdf>. Acesso em: 25 de junho de 2010.
59
Figura 13: Inspeção conjunta em campo de desabrigados56
(Fonte: Military Review, edição de maio de 2010)
Do ponto de vista legal a coordenação das ações de segurança e assistência
humanitária se deu de forma a respeitar os imperativos e mandatos respectivos:
"Ambos os líderes sabiam que era imperativo identificar claramente o papel de cada parceiro para evitar confusão e duplicação de esforços. A missão da MINUSTAH era garantir a segurança e a estabilidade no Haiti e permaneceria como estava. JTF-H iria prestar assistência humanitária com as forças dos EUA executando de tarefas de segurança apenas ao realizar tais operações. A partir deste início, ficou claro que as forças dos EUA operariam dentro do envelope de um ambiente seguro e seguro, controlado por forças da ONU, cuja missão era garantir a segurança."
Este relacionamento cooperativo entre os comandos de Força foi incentivado
até os níveis mais baixos da cadeia hierárquica, de forma que o conhecimento
mútuo obtido no terreno e durante as ações permitiu a superar as barreiras iniciais
de descoordenação e desconfiança mútuas entre militares de países os mais
diversos possíveis, diferenciados por idiomas, costumes e religiões diversas, mas
que lograram operar combinadamente em prol da segurança e apoio à assistência
humanitária.
56 Na foto aparecem, a partir da esquerda, o comandante da JTF-H General de Divisão Ken Keen (EUA), o gerente do campo e o Comandante da Força da MINUSTAH, General de Brigada Floriano Peixoto Vieira Neto. O autor deste trabalho aparece à direita, portando uma câmera.
foto: Spike Call (U.S. Navy)
60
5.2 Cooperação civil-militar
O emprego de meios (pessoal, material, estruturas) militares em operações
de alívio após desastres e em ações humanitárias em geral foi regulado em 1994
num esforço colaborativo de diversos países e organismos internacionais durante 2
anos, culminando com a publicação em Oslo, Noruega, em 1994, do guia que ficou
conhecido por "Oslo Guidelines" e que foi adotado como política oficial pelo OCHA.
O documento foi atualizado em 2006, tendo sofrido uma revisão em 2007:
"O emprego sem precedentes em 2005, de forças e meios militares em apoio à resposta humanitária às catástrofes naturais, seguindo uma tendência crescente nos últimos anos, confirmou a necessidade de atualização das Oslo Guidelines 1994".
Apesar desses precedentes, o guia ainda prescreve que:
Portanto, como princípio geral, agências humanitárias da ONU deve evitar tornar-se dependentes de recursos militares e os Estados-Membros são encorajados a investir no aumento da capacidade civil em vez do uso ad hoc de forças militares para apoiar os atores humanitários. p8-9
A experiência de apoio de tropas militares à comunidade humanitária, por ser
a única opção viável e até mesmo possível, como já explicado anteriormente, levou
a uma grande quebra de paradigmas, ao menos de fato. Não se sabe se haverá
uma mudança de normas de forma a facilitar toda a estrutura de cooperação civil-
militar e aproveitar melhor os meios militares que em geral permanecem em reserva
e tem disponibilidade de mobilização rápida.
Entretanto, algumas indicações já foram dadas pelo IASC, que responde por
uma série de organismos importantes na comunidade humanitária internacional, num
relatório de avaliação de lições aprendidas após 6 meses de ações humanitárias no
Haiti. Este relatório, no seu item 4.3.2 "Trabalhando com militares" trata a questão de
forma clara e direta, deixando uma porta aberta para futuras mudanças:
"A comunidade humanitária no Haiti foi esmagada pela escala e pela brusquidão da catástrofe; simplesmente não havia a capacidade de responder a todas as necessidades humanitárias, especialmente considerando a logística e as restrições de acesso. Sem dúvida, o imperativo humanitário exigiu da comunidade humanitária envolver outros atores de forma adequada, incluindo as forças militares.
61
As Oslo Guidelines definem claramente as considerações a se ter em conta e as condições em que isso deve acontecer. No Haiti, a comunidade humanitária e os militares terem colaboraram de forma produtiva, nomeadamente através do Cluster de Logística e os mecanismos de coordenação diversos estabelecido (JOTC, CIMIC), para apoiar a segurança de transporte e distribuição de alimentos e não alimentos.No entanto, a clara relutância por parte da comunidade humanitária para trabalhar com os militares podem ter impedido a coordenação e uma utilização eficiente de todos os ativos disponíveis.
No futuro, as evidências de que a comunidade humanitária em qualquer contexto específico não tenha efetivamente liderado ou coordenado a resposta poderá servir de impulso para uma resposta humanitária liderada por forças militares, que já é o caso, por exemplo, em algumas partes da Ásia. Claramente, o envolvimento com entidades militares em ambientes de resposta a catástrofes sem conflito merecem discussões mais extensas. É, portanto, relevante e imprescindível para a comunidade humanitária internacional resolver este problema de forma holística, incluindo a revisão de protocolos existentes de coordenação civil-militar, considerando como fazer melhor uso das habilidades de forças militares na liderança e tomada de decisões, nas operações de ajuda lideradas por atores humanitários." (IASC, 2010a, p. 26 e 27, tradução nossa)
Ponto de vista semelhante foi externado pelo então Comandante da Força da
MINUSTAH, General de Brigada Luiz Guilherme Paul Cruz57, por ocasião de sua
apresentação na 6370ª Reunião do Conselho de Segurança58, no QG da ONU, em
agosto de 2010:
"Não obstante o novo mandato concedido à componente militar da MINUSTAH na sequência do terremoto, a ajuda humanitária tem sido sempre uma área chave de [nossa] atenção, juntamente com programas de redução da violência. Melhores comunicação e abordagens para lidar com o povo haitiano se tornaram necessárias após os incidentes que ocorreram no início da missão. Assim, a coordenação da ação entre civis e militares, e, portanto, da assistência humanitária, tornou-se uma prioridade para o sucesso da missão da componente militar na MINUSTAH. (Nações Unidas, Conselho de Segurança, 2020, p. 10, tradução e grifo nossos).
57 Assumiu o comando da Força em 09 de abril de 2010, em substituição ao General Floriano Peixoto. 58 A reunião trata de missões de paz, com a presença de cinco Comandantes de Força, entre eles o da MINUSTAH. Os trechos do extenso relatório que tratam da MINUSTAH, sobretudo as intervenções do General Paul Cruz, são fonte importante para a compreensão mais detalhada do contexto das forças militares no Haiti em 2010.
62
6 CONCLUSÃO
6.1 APLICAÇÃO IMEDIATA
Entendemos que os objetivos específicos definidos no processo de
construção deste trabalho científico tenham sido atingidos, quais sejam,
resumidamente:
- identificar os principais atores presentes na crise;
- as principais estruturas montadas ou existentes;
- as soluções encontradas; e
- o papel das Forças Armadas no apoio imediato à crise.
Os resultados alcançados podem, a priori, interessar aqueles ligados de uma
forma ou outra com relações internacionais, com ajuda humanitária e com operações
militares. Os limites acadêmicos impostos, sobretudo a limitação de prazo e de
páginas impede uma abordagem mais detalhada e que o tema certamente
possibilita. Entretanto, supõe-se, a sequência de apresentação permitiu um bom
entendimento da complexa realidade que envolveu toda aquele período e os que
nela atuaram.
No campo estritamente militar, fica claro que está aberto um campo para o
aperfeiçoamento de mecanismos de cooperação e de coordenação civil-militar, na
instrução e no adestramento das Forças, de forma a consolidar no cenário
internacional um novo modelo de atuação para o Século XXI, sobretudo nas
operações de não-guerra.
Entendemos que as hipóteses formuladas como requisito de caráter científico
foram explicitamente comprovadas exceto a última, pois a realidade da pesquisa
mostrou que seriam necessários aprofundamentos muito maiores para contemplar a
questão do assistencialismo, que foi abordado apenas superficialmente.
Ficam abertas, assim, possibilidades futuras de aprofundamento da pesquisa.
6.2 POSSIBILIDADES FUTURAS
Como disse anteriormente, o assunto abordado é substancialmente vasto e
permite ser abordado com maior profundidade do que prevê o programa acadêmico
do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia da Escola Superior de Guerra no
63
que se refere aos limites dos limites sugeridos para este Trabalho de Conclusão de
Curso.
Desta forma sugiro três possibilidades de expansão da pesquisa e conclusões
derivadas que podem advir deste tema. A primeira delas é simplesmente revisar
todo o estudo ora realizado aprofundando-o com base nas extensas fontes
disponíveis, sobretudo na internet, muitas delas fontes primárias, que carecem de
uma mais profunda sistematização e análise.
A segunda possibilidade é focar nas questões apresentadas nos capítulos
três e quatro, tentando definir os passos tomados pela comunidade internacional em
busca das soluções possíveis e adotadas para fazer face à crise sofrida pelo Haiti,
para identificar mais detalhadamente as questões doutrinárias e conjunturais que
levaram às diversas soluções, assumindo que em crises futuras, semelhantes ou
não, as soluções serão semelhantes. Esta abordagem pode interessar ao
balizamento de ações futuras no nível governamental, sobretudo em ações
conjuntas dos ministérios de Relações e Exteriores e da Defesa em crises de
segurança e/ou humanitárias no exterior.
Por fim, a última sugestão é tomar a abordagem anterior apenas como
moldura e aprofundar a tendência crescente de emprego de forças militares em
crises humanitárias, processo derivado do direito do homem, das teorias de
intervenção humanitária e que culminou na atuação do Haiti, onde diversos
paradigmas foram quebrados e que favoreceram sobremaneira a cooperação
internacional inter-forças e entre forças e civis, de forma que já se cogita rever o
marco regulatório sugerido para este tipo de atuação.
64
REFERÊNCIAS
AMARAL JÚNIOR, Alberto do. O Direito de Assistência Humanitária. 1. ed.
Rio de Janeiro: Renovar, 2006. 312 p.
ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de Direto Internacional Público. 6.
ed. Rio de Janeiro: Forense, 1988. 418 p. Edição revista por Maria Yvette
Sampaio Araújo.
BRAUMAN, Rony. A Acção Humanitária. 1. ed. Porto Alegre: Instituto Piaget,
1997. 150 p.
BYERS, Michael. A Lei da Guerra: Direito Internacional e Conflito Armado.
Tradução de Clóvis Marques. 1. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007. 263 p.
CARDOSO, Affonso José Sena. O Brasil e as Operações de Paz das Nações
Unidas. 1. ed. Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 1998. 169 p.
CASTRO, Therezinha de. A Organização das Nações Unidas. Rio de Janeiro:
ESG, 2001. 28 p. (Textos de leitura selecionada).
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. United States Agency for International
Development (USAID). Project Management Coordination Cell Support
Project: Revised Time-Phased Staffing Plan. Porto Príncipe. 2010. 7 p.
Disponível em: <http://pdf.usaid.gov/pdf_docs/PDACR549.pdf>. Acesso em: 22
de agosto de 2011.
______. ______. Project Management Coordination Cell Support Project:
Performance Monitoring Plan. Porto Príncipe. 2010. 13 p. Disponível em:
<http://pdf.usaid.gov/pdf_docs/PDACR671.pdf>. Acesso em: 22 de agosto de
2011.
FERRAZ, Daniel Amin; HOUSER, Denise (Org.). A Nova Ordem Mundial e os
Conflitos Armados: El Nuevo Orden Mundial y los Conflictos Armados. 1. ed.
Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. 448 p.
65
FONTOURA, Paulo Roberto Campos Talarisse da. Brasil: 60 Anos de
Operações de Paz. 1. ed. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da
Marinha, 2009. 306 p.
______. O Brasil e as Operações de Paz das Nações Unidas. 1. ed. Brasília,
DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 1999. 448 p.
FRANÇA, Paulo Roberto C. De Castilhos. A Guerra do Kosovo: A OTAN e o
conceito de intervenção humanitária. 1. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2004. 227 p.
(Série estudos internacionais).
FRASER, Douglas. International Coordination: Keynotes. Arlington, 2010.
Apresentação na Conferência de Operações de Estabilidade, Segurança,
Transição e Reconstrução. 2 p.
HAITI. Governo da República. Key Elements of the Post-Earthquake
Strategy for Revenue Administration and Fiscal Policy. Porto Príncipe,
2010. 6 p. Disponível em: <http://www.haiticonference.org/documents.html>.
Acesso em: 20 de setembro de 2011.
______. ______. Rapport d'evaluation des besoins après désastre
Cyclones Fay, Gustav, Ike Hanna et Ike. Porto Príncipe: 2008. 138 p. Com
apoio do Banco Mundial, Nações Unidas e Comissão Européia. Disponível em:
<http://www.ht.undp.org/_assets/fichier/publication/pubdoc35.pdf>. Acesso em:
13 de julho de 2011.
HAMANN, Eduarda (Org.). Revisiting borders between civilians and
military: Security and Development in Peace Operations and Post-conflict
Situations. Rio de Janeiro: Viva Rio, 2009. 168 p.
HERTZ, Mônica; HOFFMANN, Andrea Ribeiro. Organizações Internacionais:
Histórias e Práticas. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 268 p.
INTER-AGENCY STANDING COMMITTEE (IASC). Civil-Military Guidelines
& Reference For Complex Emergencies. Nova Iorque. 2008. 90 p. Disponível
em:
66
<http://www.humanitarianinfo.org/iasc/downloadDoc.aspx?docID=4650&type=p
df>. Acesso em: 20 de julho de 2011.
______. Consolidated Appeal Process Guidelines. Genebra. 1994. 15 p.
Disponível em:
<http://www.humanitarianinfo.org/iasc/downloaddoc.aspx?docID=4398&type=p
df>. Acesso em: 20 de julho de 2011.
______. Response to the Humanitarian Crisis in Haiti Following the 12
January 2010 Earthquake: Achievements, Challenges and Lessons to be
Learned. Genebra. 2010. 44 p. Disponível em:
<http://www.humanitarianinfo.org/iasc/downloaddoc.aspx?docID=5366&type=a
ny>. Acesso em: 20 de julho de 2011.
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR MIGRATION (IOM). Haiti Camp
Coordination Camp Management Cluster: Registration Strategy. Porto
Príncipe. 2010. 12 p. Disponível em:
<http://www.cccmhaiti.info/pdf/100423_CCCM_Registration_Methodology.pdf>.
Acesso em: 22 de agosto de 2011.
JOINT TASK FORCE-HAITI (JTF-H). Humanitarian Assistance Coordination
Center (HACC): Command Brief. Porto Príncipe, 2010. 31 p. Palestra
ministrada em 28 de fevereiro.
LOCKWARD, Ángel. Haití: La Tragedia. 1. ed. Bogotá: Cangrejo, 2010. 216 p.
MAGNOLI, Demetrio. Relações Internacionais: Teoria e História. 1. ed. São
Paulo: Saraiva, 2004. 370 p.
MATTOS, Irene Badaró. O Poder da ONU: As Forças de Intervenção. 1994.
Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Altos Estudos de Política e
Estratégia), ESG, Rio de Janeiro, 1994. 42 p.
NAÇÕES UNIDAS. Charter of the United Nations. San Francisco, 1945.
Disponível em: <http://www.un.org/en/documents/charter/>. Acesso em: 20 de
junho de 2011.
67
______. A shared vision for the UN’s role in Haiti. Porto Príncipe, 2010. 4 p.
Disponível em: <www.ht.undp.org/_assets/fichier/publication/pubdoc58.pdf>.
Acesso em 02 de abril de 2011.
______. Integrated Strategic Framework for Haiti. Porto Príncipe, 2010. 57 p.
Disponível em: <http://www.onu-haiti.org/wp-content/uploads/2011/07/ISF-
ENGLISH-VERSION-FINAL-FOR-WEBSITE-v2.pdf>. Acesso em 25 de
setembro de 2010.
______. International Coordination Architecture Proposal: Haiti Earthquake
Relief and Recovery 2010. Nova Iorque, 2010. 4 p.
______. Report of the United Nations in Haiti 2010: situation, challenges and
outlook. Porto Príncipe, 2010. 66 p. Disponível em: <http://www.onu-
haiti.org/Report2010/docs/Haiti_Report_E.pdf>. Acesso em: 13 de julho de
2011.
______. Assembléia Geral. Budget for the United Nations Stabilization
Mission in Haiti for the period from 1 July 2009 to 30 June 2010: Report of
the Secretary-General. Nova Iorque, 2009.
______. ______. Budget for the United Nations Stabilization Mission in
Haiti for the period from 1 July 2010 to 30 June 2011: Report of the
Secretary-General. Nova Iorque, 2010.
______. ______. Resolução 46/182: Strengthening of the coordination of
humanitarian emergency assistance of the United Nations, Nova Iorque, 1991.
Disponível em:
<http://www.un.org/Docs/journal/asp/ws.asp?m=A/RES/46/182>. Acesso em:
05 de agosto de 2011.
______. Conselho de Segurança. Resolução 1529, Nova Iorque, 2004.
Disponível em: <http://minustah.org/?page_id=7565>. Acesso em: 11 de junho
de 2011.
68
______. Conselho de Segurança. Resolução 1542, Nova Iorque, 2004.
Disponível em: <http://minustah.org/?page_id=7565>. Acesso em: 11 de junho
de 2011.
______. Conselho de Segurança. 6370th Meeting Record (S/PV.6370). Nova
Iorque, 2010. 42 p. Disponível em: <http://daccess-dds-
ny.un.org/doc/UNDOC/PRO/N10/477/17/PDF/N1047717.pdf>. Acesso em: 23
setembro de 2011.
______. Departamento de Operações de Paz. United Nations Peacekeeping
Operations: Principles and Guidelines (Capstone Doctrine). Nova Iorque, 2008.
Revisão 2010. 100 p. Disponível em:
<http://www.peacekeepingbestpractices.unlb.org/pbps/library/capstone_doctrine
_eng.pdf>. Acesso em: 06 de junho de 2011.
______. Logistic Cluster in Haiti. The Joint Operations Tasking Centre. Porto
Príncipe, 2010. 1 p. Disponível em:
<http://www.logcluster.org/mobile/ops/hti10a/snapshot-the-joint-operations-
tasking-center/Logistics-Cluster_Haiti_Snapshot_JOTC_120216.pdf>. Acesso
em: 22 de agosto de 2011.
______. Missão para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH). Special Report
"Hurricane Season” 2008: from 24 August to 15 September 2008. Porto
Príncipe, 2008. 41 p.
______. ______. MINUSTAH structure, processes and policies: Interoffice
Memorandum. Porto Príncipe, 2010. 7 p.
______. ______. MINUSTAH Concept of supporting Operations in
Response to the Humanitarian Relief Operations in Haiti: Code Cable CHY-
041. Porto Príncipe, 2010. 15 p.
______. ______. Haiti Earthquake Relief and Recovery International
Coordination Architecture: Code Cable CHY-087. Porto Príncipe, 2010. 5 p.
______. ______. Santo Domingo Preparatory Conference: Code Cable CHY-
143. Porto Príncipe, 2010. 6 p.
69
______. Lettre aux membres du Comité de Coordination de Hait Niveau.
Porto Príncipe, 2010. 10 p.
______. Office for the Coordination of Humanitarian Affairs. Oslo Guidelines:
Guidelines on The Use of Foreign Military and Civil Defense Assets In Disaster
Relief. Revision 1.1, Oslo. 2007. 40p. Disponível em:
<http://ochaonline.un.org/OCHALinkclick.aspx?link=ocha&docid=1112394>.
Acesso em: 17 de agosto de 2011.
______. ______. On-Site Operations Coordination Centre Guidelines. 2.
ed., 2009. 29p. Disponível em:
<http://ochanet.unocha.org/p/Documents/OSOCC Guidelines.pdf>. Acesso em:
17 de agosto de 2011.
______. Office of the Special Envoy for Haiti. Mission Statement. Disponível
em: <http://www.haitispecialenvoy.org/about-us/our-mission/>. Acesso em: 13
de julho de 2011.
RIBEIRO, Manuel de Almeida. A Organização das Nações Unidas. 1. ed.
Coimbra: Almedina, 2001. 313 p.
RICOBOM, Gisele. Intervenção humanitária: A Guerra em Nome dos Direitos
Humanos. 1. ed. Belo Horizonte: Forum, 2010. 404 p.
RUPPENTHAL, Taylon. Um Soldado Brasileiro no Haiti: Depoimento a
Ricardo Lísias. 1. ed. São Paulo: Globo, 2007. 161 p.
SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. Manual das Organizações
Internacionais. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. 384 p.
TAKAMURA, Júlio Sadao. Organismos Multilaterais: Desafios e
Possibilidades para o Brasil. 2001. 53 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia), ESG, Rio de Janeiro, 2001.
UNESCO. O Direito à Assistência Humanitária. 1. ed. Rio de Janeiro:
Garamond, 1999.
70
VIEIRA NETO, Floriano Peixoto. O Componente Militar da MINUSTAH:
Desafios e Perspectivas. Tecnologia & Defesa, São Paulo, ano 26, n. 19,
p.28-33, 2009. Suplemento especial.
VON HIPPEL, Karin. Democracia pela Força: Intervenção Militar dos EUA no
Mundo Pós-Guerra Fria. 1. ed. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2003.
273 p. (Coleção General Benício).
71
APÊNDICE A – ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS
1. METODOLOGIA
A lista abaixo mostra as Organizações Não Governamentais (ONG) presentes
no Haiti, incluindo apenas aquelas que voluntariamente registraram-se no sistema de
clusters das Nações Unidas implementado no Haiti e sob coordenação do OCHA
local.
A fonte de consulta foram os diversos relatórios denominados "Presence of
Partners and Activities" emitidos entre os meses de abril e setembro de 2010 pelos
diversos clusters implementados no Haiti, conforme dados disponíveis em
<http://reliefweb.int/taxonomy/term/113>
As ONG são listadas nestes relatórios de formas diversas, seja pela sua
designação por extenso, seja por sua sigla, ora em inglês, ora em francês, ora na
língua de origem da organização. Desta forma uma mesma ONG pode aparecer sob
designações diversas, conforme se mostra parceira de diferentes clusters.
Procurou-se eliminar duplicações e inconsistências, entretanto sem procurar
ser um guia definitivo sobre o assunto, antes uma mera indicação da ordem de
magnitude da participação das ONG na "comunidade humanitária". Há 211
organizações na lista fornecida.
Ainda assim a relação indica apenas a quantidade de ONG, sem se preocupar
em estabelecer seus efetivos e orçamentos disponíveis, sua distribuição geográfica,
associações e atividades.
Desta forma o assunto fica em aberto para uma eventual pesquisa futura.
2. LISTA DE ONG
- ACDI / PADESS
- ACDI /VOCA/
- ACF
- ACLAM World Concern (ACLAM)
- ACT Alliance
- ACTED
- Action Aid
- Action Contre la Faim (ACF)
72
- Action Secours Ambulance
- ADEMA
- ADF
- Adventist Development and Relief Association (ADRA)
- Agency for Technical Cooperation and Development
- Agro Action Allemande
- Aide et Action
- Aide Médicale Internationale
- America Continental 2000
- American Institute of Research (AIR)
- American Refugee Committee
- America's Development Foundation
- AME-SADA
- AME-SADACRS
- AMI
- AMURT
- Antenne Sante / FONHSAD
- ARC
- Architectes de l'Urgence
- ASR
- Associação de Profissionais de Cuidados de Saúde em Português
- Association of Volunteers in International Service
- Association Volontaires Service International
- Austrian Red Cross
- BB
- Brigham and Women's Hospital / Harvard Humanitarian Initiative
- CAD
- Canadian Red Cross
- CARE International (CARE)
- Caritas
- Catholic Relief Services (CRS)
- CECI
- Centre de Coopération Internationale en Sante et Développement
- Centre de Formation et de Développement Communautaire
73
- Centre de Sante et de Développement Intégré
- CESAL
- CESVI
- CHF
- Children's Nutrition Program of Haiti
- Christian Aid
- Christianville Foundation
- Church World Service
- Circle of Health International
- CISP
- Civil Society
- Clinique Repheka de la Première Eglise Baptiste de Pernier
- Colectiva Mujer y Salud
- Concern Worldwide
- Cooperation Swiss
- COOPI
- CordAid
- CPFO
- CR
- CRAD
- CRE
- CRF
- Croix Rouge en Haiti
- CROSE
- CRS
- CRUDEM
- CRWRC
- Cubans
- CVM
- Danish People's Aid
- DDC Cooperation Suisse
- Deep Springs International
- Diakonie
- Eagles Wings Foundation (EWF)
74
- EPER / HEKS Aide Humanitaire Haiti
- Family Health Ministries
- Feed The Children
- FLB
- Foi et Joie
- Fondasyon Limyè Lavi/ Beyond Borders
- Fondation Digicel
- Fondation Le Mabouya
- Fondation Mission de l'Espoir (FME)
- Fondation Saint Boniface
- Fondefh
- Fonds de Parrainage National (FPN)
- Food for the Hungry
- FPGL
- French Red Cross
- Fundacion CUME
- Global Grassroots
- Glow Ministries International (GLOW)
- GOAL
- GTZ
- Habitat for Humanity
- HAI
- Haiti Participative (HP)
- Haiti Union
- Haiti Village Health
- Haiti Vision Inc.
- Haitian Health Foundation (HHF)
- Haitian Red Cross
- Handicap International
- Haven
- Heart Fundation
- Heartland Alliance
- Help Age International
- Hilfswerk Austria International
75
- Hopital Sacré-Coeur de Milot
- Housing Works
- Humedica
- International Committee of the Red Cross (ICRC)
- IMC
- Initiative Développement
- INTERAID
- Intermon Oxfam
- International Federation of Red Cross and Red Crescent (IFRC)
- International Medical Corps (IMC)
- International Missionary Fellowship
- International Organization for Migration (IOM)
- Internews
- Intersos Humanitarian Aid Organization
- IRD
- Islamic Relief Worldwide
- JCICS
- JEN
- Jesuit Relief Services
- LGF
- Love A Child
- Loving Family care Association
- Loving Hands for the needy
- Lutheran World Federation
- MDM Canada
- Medair
- Médecins du Monde Belgique
- Médecins du Monde France
- Médecins du Monde Suisse
- Médecins du Monde Espagne
- Médecins Sans Frontières Belgique
- Médecins Sans Frontières France
- Médecins Sans Frontières Holland
- Médecins Sans Frontières Spain
76
- Médecins Sans Frontières Suisse
- Medico International
- Médicos do Mundo
- Meds & Food For Kids
- Mercy And Sharing
- Mercy Corps (MC)
- Mission E4 Inc
- MUH
- NCA
- Nippon International Cooperation
- Norwegian Church Aid (NCA)
- Norwegian Red Cross
- OCCED'H
- ODEMAH
- OHCHR/HRS
- OJFA
- Oxfam
- Oxfam Québec
- PADESS/ACDI
- Pan American Development Foundation
- Parole et Action
- People in Need
- Perspectives pour la Sante et le Développement
- Pharmaciens Sans Frontières
- PIH
- Plan International
- Plan International Haiti
- Planete Urgence
- Planning Assistance
- Prodev (Progres et Developpement)
- Project Concern International
- Project Helping Hands
- Project Hope
- Saint John Congregation Sisters
77
- Salvation Army (SA)
- Samaritan’s Purse (SP)
- SAS Haiti
- Saúde Primários dos Países de Língua Portuguesa
- Save the Children (SC)
- Secours Islamique France
- Seven
- ShelterBox
- SIF
- Social (FRADES)
- SOFA: Solidarite Fanm Ayisyen
- SOIL
- Solidarite pour le Developpement National
- Solidarités
- Solidarity Women’s Organization of Fonds-Verrettes
- SOS Village d'Enfants (SOS)
- TDH
- TEAR FUND
- Tearfund
- Terre des Hommes (TH)
- The Children's Nutrition Program Of Haiti
- The Congregation of Saint John the Evangelist
- The International Rescue Committee (The IRC)
- Tout n’est pas perdu
- UMCOR (United Methodist Committee On Relief)
- Unité de Recherche et d'Action Médico Légale URAMEL
- United Methodist Committee On Relief "UMCOR"
- Viva Rio (VR)
- War Child Canada
- Welthungerhilfe
- World Hope International
- World Vision International (WVI)
- Zanmi Lasante
78
APÊNDICE B – TROPAS NÃO SUBORDINADAS À MINUSTAH
Tabela 8: Variação dos efetivos de tropas não subordinadas à MINUSTAH
datas (2020) => 28 jan 31 jan 02 fev 22 fev 25 fev 12 mar 17 mar 07 abr 15 abr 21 abr 24 abr 01 mai 11 jun 19 jun
País Localização principal Tipo de apoio Observações
Argentina Leogane Hospital de Campanha 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16
Bélgica Delmas 33 Hospital de Campanha efetivo não conhecido
Brasil Tabarre Hospital de Campanha / Apoio de aeródromo (FAB)
110 110 110 110 110 110 177 177 177 177 177
Canadá Leogane, Brache, Jacmel, PaP
Hospital de Campanha, equipes médicas, Engenharia, Infantaria, elementos de Força Aérea e Marinha
1625 1625 1625 1585 1585 1145 613 67
Colômbia Cité Soleil Equipe médica 45 45 45 45 45 45 45 45 45 45 45 45
Espanha Petit Goave (+ navio) 160 em solo; demais embarcados
484 484 484 484 484 484 484 484 432
França Jacmel Equipe médica e de apoio de alimentos / Engenharia
45 45 65 200 200 200 200 200 200
Guatemala Montana Equipe SAR 20 20
Itália PaP & Petit Goave Exército 30 200 260 260 260 260 260 260 260 260
Jamaica Killick Equipe Médica, Infantaria Missão da CARICOM 42 150 150 150 150 150 150
Japão Leogane Equipe médica 40 40 40 40 154 154 154 154 154 154 154
Jordânia Cazeau 26 26 26 26 26 26 26 26 26 26 26
EUA PaP, Killick, Brache, Leogane, Carrefour, Jeremie, Les Cayes, Port de Paix, Cap Haitienne (+ navio)
Infantaria, Fuzileiros Navais, Engenharia, Logística, Operação de Porto, Operação de Aeroporto, Hospital de Campanha, Navio Hospital, Aviação, etc
Efetivo estimado até 12/03. Grande parte do efetivo declarado não desembarcou
18628 20400 20400 13000 12000 8000 7012 2217 2217 2069 2046 1092 548 508
Venezuela Brache Exército 75 75 75 75 75 75 75 75 75 40 40
total => 20421 22477 22507 15731 14791 10465 8945 3521 3654 3506 3483 2477 788 748 Fonte: tabulação do autor59
59 A partir de relatórios "Force Commander Critical Information Requirements" (FC CIR) elaborados pelo componente militar da MINUSTAH.
79
APÊNDICE C – REPRESENTANTES DE COMITÊ NO NÍVEL OPERACIONAL
Tabela 9: Membros do Comitê de Coordenação de Alto Nível (HLCC)60
Membro Função / Cargo
Exmo. Jens Peter Voss Embaixador da Alemanha
Exmo. José Maria Vasquez Ocampo Embaixador da Argentina
Exmo. Igor Kipman Embaixador do Brasil
Exmo. Gilles Rivard Embaixador do Canadá
Exmo. Marcel Young Embaixador do Chile
Exmo. Paulino G. Férnandez Corugedo Embaixador da Espanha
Exmo. Kenneth Merten Embaixador dos Estados Unidos da
América
Exmo. Didier Le Bret Embaixador da França
Exmo. Nobutaka Shinomiya Embaixador do Japão
Exmo. Everardo Suarez Embaixador do México
Exmo. Ruben Silié Embaixador da República Dominicana
Sra. Kim Bolduc DSRSG/RC/HC
Sr. Eduardo Almeida Representante do BID
Sr. Eustache Ouayoro Representante do Banco Mundial
Sr. Graeme Justice Representante do FMI
Sr. Ricardo Seitenfus Representante Especial da OEA
Sr. Jean-Marc Ruiz Encarregado de Negócios da União
Européia
60 Conforme carta convite da MINUSTAH para a reunião inicial. Os Embaixadores da Costa Rica e Peru, não constavam desta relação.
80
Tabela 10: Dirigentes e membros do Comitê de Coordenação de Apoio (CSC)
Membro Função / Cargo
Mr. Patrick DELATOUR (Dirigente) Ministro do Turismo, GdH
Sra. Kim Bolduc (Dirigente) DSRSG/RC/HC
Sr. Anthony BANBURY (Dirigente) DSRSG interino
Sr Benoît-Pierre LARAMÉE Chefe da Agência de Desenvolvimento
Internacional do Canadá
Sr. Eduardo Almeida Representante do BID
Gen Floriano Peixoto Vieira Neto Comandante da Força / MINUSTAH
Gen Gerardo CHAUMONT Comissário de Polícia / MINUSTAH
Gen Guy LAROCHE Comandante das Forças Canadenses
no Haiti
Sr. Jean-Marc Ruiz Encarregado de Negócios da União
Européia
Gen Ken Keen Comandante da JTF-H
Sr. Lewis LUCKE Coordenador Especial para Alívio e
Reconstrução do Haiti, Estados Unidos
da América
Sra. Mary MORISSON Representante do Banco Mundial
81
ANEXO A – DIAGRAMA DA ESTRUTURA DAS NAÇÕES UNIDAS
82
ANEXO B – EXEMPLO DE REQUISIÇÃO AO JOTC
ONG Global Aid Network (GOAL) solicita trabalhos de engenharia para
nivelamento e compactação de solo para construção de hospital. Tarefas desta
natureza eram normalmente atribuídas à Engenharia militar da MINUSTAH.
83
ANEXO C – EXEMPLO DE TASKING ORDER
84
85
top related