amor de perdição (exceto cap. vi, vii, viii) de camilo castelo branco

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A Narrativa

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Page 1: Amor de Perdição (exceto cap. VI, VII, VIII) de Camilo Castelo Branco

A Narrativa

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Narrativa

Modalidades: . Em verso – poema épico

- romances históricos

. Em prosa:

• O conto : narrativa centrada numa só ação; tempo e espaço concentrados; número reduzido de personagens.

• A novela : narrativa com mais do que uma ação; a ação principal é narrada de forma linear e as sequências sucedem-se de forma encadeada, habitualmente; ritmo rápido dos acontecimentos e ausência de análise psicológica.

• O Romance : narrativa com várias ações que podem acontecer em simultâneo, influenciando-se reciprocamente; número ilimitado de personagens; liberdade total de tempo e espaço; longas descrições; ritmo narrativo lento; espaço para a exploração do espaço psicológico das personagens, diálogo, monólogos interiores…

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Tipologia da narrativa:

• O conto, a novela e o romance caracterizam-se tendo em conta a predominância das categorias:

• Narrativa de ação – a atenção é dada aos acontecimentos. Exemplo: romances de aventuras, ficção científica…

• Narrativa de personagem – dá-se importância à psicologia e comportamento de uma personagem.

• Narrativa de espaço/histórica – dá-se primazia à pintura do meio histórico ou social em que se desenrola a ação.

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Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco

1825-1890

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Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu a 16 de março de 1825, em Lisboa, e suicidou-se a 1 de junho de 1890 em S. Miguel de Seide, Famalicão.Órfão de mãe aos dois anos e de pai aos nove, passou, a partir desta idade, a viver em Vila Real com uma tia paterna.

Aos 16 anos, casou-se com Joaquina Pereira, em Friúme, Ribeira de Pena. Abandonou a esposa e a filha em 1842. Morreram pouco depois.

Em 1844, instalou-se no Porto com o intuito de cursar Medicina, acabando por não passar do 2.o ano.

Em 1845, estreou-se na poesia e no ano seguinte no teatro e também no jornalismo -atividade, aliás, que nunca abandonaria.

Viúvo desde 1847, fixou-se definitivamente no Porto a partir de 1848 (onde, em 1846, já estivera preso por ter raptado Patrícia Emília, um dos seus tumultuosos amores, de quem teria uma filha, mas que acabaria por abandonar).

De 1849 a 1851 consolidou a sua atividade jornalística, retomou o teatro, estreou-se no romance com Anátema (1851), conheceu a alta-roda portuense bem como os meios boémios e foi protagonista de aventuras romanescas.

Em 1853, abandonou o curso de Teologia no Seminário Episcopal, fundou vários jornais e em 1855 tornou-se o redator principal de O Porto e de Carta. ( Oscila entre a fé e a descrença)

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Nessa altura, o seu nome começava a soar nos meios jornalísticos e literários do Porto e de Lisboa: já alimentara várias polémicas e publicara alguns romances. Mas foi a partir de 1856 que atingiu a maturidade literária (no domínio dos processos de escrita) com o romance (por alguns autores considerado novela) Onde Está a Felicidade?.

Foi ainda neste ano que iniciou o relacionamento amoroso com Ana Plácido, casada desde 1850 com Manuel Pinheiro Alves.

Por proposta de Alexandre Herculano, foi eleito sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa em 1858 - ano em que nasceu Manuel Plácido, filho de Camilo e de Ana Plácido.

Em 1860, Manuel Pinheiro Alves desencadeou o processo de adultério: em junho foi presa a mulher e a 1 de outubro Camilo entregou-se na cadeia da Relação do Porto.

D. Pedro V visitou-o, em 1861, na cadeia, e a 16 de outubro desse ano os réus foram absolvidos.

Era intensa a atividade literária de Camilo (não sendo a esse facto de todo alheias as dificuldades económicas): entre 1862 e 1863, o escritor publicou onze novelas e romances atingindo uma notoriedade dificilmente igualável. Em 1864, fixou-se na quinta de S. Miguel de Seide (propriedade de Manuel Pinheiro Alves que, entretanto, falecera em 1863) e nasceu-lhe o terceiro filho, Nuno.

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Quatro anos depois, dirigiu a Gazeta Literária do Porto; em 1870 iniciou o processo do viscondado (o título ser-lhe-ia atribuído em 1885).

Em 1876, tomou consciência da loucura do segundo filho,Jorge. No ano seguinte morreu Manuel Plácido.

A partir de 1881, agravaram-se os padecimentos, incluindoa doença dos olhos que o afetava.

Em 1889, por ocasião do seu aniversário, foi objeto de calorosa homenagem de escritores, artistas e estudantes, promovida por João de Deus.

No ano seguinte, já cego, impossibilitado de escrever (a escrita foi, no fim de contas, a sua grande paixão), suicidou-se com um tiro de revólver.

A casa de Seide é hoje o museu do escritor e na sua vizinhança foram inauguradas, a 1 de junho de 2005, as novas instalações do Centro de Estudos Camilianos.Camilo foi o primeiro escritor profissional entre nós.

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As suas obras principais são:

A Filha do Arcediago, 1855;Onde está a Felicidade?, 1856; Vingança, 1858;O Romance dum Homem Rico, 1861; Amor de Perdição, 1862; Memórias do Cárcere, 1862; O Bem e o Mal, 1863; Vinte Horas de Liteira, 1864;A Queda dum Anjo, 1865; O Retrato de Ricardina, 1868;A Mulher Fatal, 1870;O Regicida, 1874; Novelas do Minho, 1875-1877;Eusébio Macário, 1879; A Brasileira de Prazins, 1882.

Temperamento arrebatado, nervoso,insatisfeito que o leva a condenar a sociedadevazia de conteúdo espiritual: fidalgosprepotentes, moralmente falhados; umaclasse promovida pelo dinheiro, um cleroadulterado. Surgem neste ambiente oshipócritas, os sedutores, os criminosos, asvítimas inocentes…

O valor da obra de camilo está na denúnciaduma nobreza fossilizada e de uma burguesiatriunfante, cuja mola real é o dinheiro

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Amor de Perdição“ Memórias de uma família”

. Factos reais;

. Acontecimentos vividos;

. A evocação de acontecimentos nos quais o autor tenha tomado parte e que sobre si exerceram algum tipo de influência.

. Promessa de peripécia narrativa;

. Invenção romanesca;

. Ficção…

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Os prólogos e o processo criativo: (leitura do prefácio da segunda edição)

. Frequente confissão da fundamentação real do que escreve;

. Histórias de vidas passadas;

. Elementos memorialistas:. Assentamento da entrada de Simão Botelho, tio de Camilo, na cadeia da

relação do Porto;. História abreviada da mocidade, casamento, vida familiar e profissional de

Domingos José Correia Botelho de Mesquita e Meneses, avô de Camilo, casado com Rita Preciosa, pais de Simão (página 15)

. Assassinato praticado por luís Botelho, tio-avô de Camilo, numa pendência de amores…

. Amores e desamores de Manuel Botelho, pai de Camilo, por uma senhora açoriana casada.

….

Novela passional – amor cego e obstinado, (longe do amor idealizado) que precisade obstáculos como incentivo (porque depois de realizado conduz aoaborrecimento)A mulher é vítima do sedutor ou é a mulher fatal que só traz consigo a desgraça. Ohomem é galanteador, sedutor, egoísta, mas não é mau.(leitura da Introdução – página 12)

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Simão Botelho

Rita PreciosaDomingos Botelho

Maria Botelho

Manuel Botelho

Ana Botelho

Rita Botelho

Luís Botelho

Camilo Castelo Branco

Capítulo I – Memórias duma família

A quase totalidade dos factos são produto da imaginação do autor!

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AMOR DE PERDIÇÃO

• Camilo Castelo Branco conquistou fama com a novela passional Amor de Perdição.

• Bem ao gosto romântico, a característica principal da novela passional é o seu pendor trágico.

• As personagens estão sempre em luta contra terríveis obstáculos para alcançar a felicidade no amor.

• Normalmente, essa busca é frustrante. Mesmo quando os amantes ficam juntos, isso é conseguido à custa de muito sofrimento.

• Os direitos do coração, frequentemente, vão de encontro aos valores sociais e morais.

• Segundo o autor, Amor de Perdição foi escrito em 15 dias em 1861, quando ele estava preso na cadeia da Relação, no Porto, por ter-se envolvido em questões de adultério.

• Como o drama de Romeu e Julieta, a obra focaliza dois apaixonados que têm como obstáculo para a realização amorosa a rivalidade entre as famílias.

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A ação passa-se em Portugal, no século XIX. O narrador diz contar factos ocorridos com seu tio Simão. Residentes em Viseu, duas famílias nobres, os Albuquerques e os Botelhos, odeiam-se por causa de um litígio em que o corregedor Domingos Botelho deu ganho de causa contrário aos interesses dos primeiros. Simão é um dos cinco filhos do corregedor.

Devido ao seu temperamento explosivo, Simão envolve-se em confusões. Seu pai manda -o estudar para Coimbra, mas ele envolve-se em novas confusões e é preso. Liberto, volta para Viseu e apaixona-se por Teresa Albuquerque, sua vizinha.

A partir daí, opera-se uma rápida transformação no rapaz. Simão regenera-se, torna-se estudioso, passa a ter como valor maior o amor, e todos os seus princípios são dele decorrentes. Os pais descobrem o namoro.

O corregedor manda o filho para Coimbra. Para Teresa restam duas opções: casar-se com o primo Baltasar ou ir para o convento. Proibidos de se encontrar, os jovens trocam correspondência, ajudados por uma mendiga e por Mariana, filha do ferreiro João da Cruz. Mariana encarna o amor romântico abnegado.

Resumo:

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Mariana apaixona-se por Simão, embora saiba que esse amor jamais poderá ser correspondido, seja pelo facto de Teresa dominar o coração do rapaz, seja pela diferença social: ela era de condição humilde, filha de um ferreiro. Mesmo assim, ama a tal ponto de encontrar felicidade na felicidade do amado.

Depois de ameaças e atentados, Teresa rejeita o casamento. Por isso será enviada para o convento de Monchique, no Porto.

Simão resolve raptá-la, acaba por matar o seu rival e entrega-se à polícia. João da Cruz oferece-se para ajudá-lo a fugir, mas ele não aceita, pois é o típico herói romântico.

Matou por amor à Teresa, portanto assume seu ato e faz questão de pagar. Enquanto Simão vai para a cadeia, sua amada vai para o convento. Mariana, por sua vez, procura estar sempre ao lado de Simão, ajudando-o em todas as ocasiões. Condenado à forca, a sentença é comutada e Simão é degredado para a Índia.

Resumo:

Quando ele parte, Teresa, moribunda, pede que a coloquem no mirante do convento, para ver o navio que levará seu amado para longe. Após acenar dizendo adeus, morre. Seu amor exagerado leva-a à perdição.

Durante a viagem, Mariana, que acompanha Simão, mostra-lhe a última carta de Teresa. Ele fica sabendo da sua morte, tem uma febre inexplicável e morre. Seu amor exagerado leva-o à perdição. Na manhã seguinte, seu corpo é lançado ao mar. Mariana não suporta a perda e atira-se ao mar, suicidando-se abraçada ao cadáver de Simão. Seu amor exagerado leva-a à perdição.

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- Introdução

Aspetos fundamentais:• Apresentação do início do processo criativo;• Apresentação das fontes;• Apresentação do herói: Simão Botelho – vitimização do herói

• Filiação,• Exploração sobre a inocência e a força dos dezoito anos,• “Amou, perdeu-se e morreu amando”.

• Interpelação à “sua leitora”.• A forma como esta história inspira no narrador “ amargura, respeito” e “ódio”.• A forma como o narrador se assume em simultâneo, participante e não participante

desta história.

Questionário:

1 – Qual a intencionalidade da apresentação das fontes documentais desta obra?

2 – Os dezoito anos estão associados a uma forma de ver o mundo e de viver. Justifica.

3 – O degredo é aqui apresentado, antecipando o final da personagem. De que forma é encarado o degredo?

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- Capítulo I

Aspetos fundamentais:• Apresentação dos pais de Simão Botelho

• Domingos Botelho Mesquita e Meneses• Fidalgo de linhagem de Trás-os-Montes;• Juiz de fora de Cascais• Casado com D. Rita Teresa Castelo Branco;• Bacharel provinciano;• Provinciano;• Enamorado, malsucedido;• Extremamente feio;• Sem dotes físicos;• Sem fortuna;• Sem grandes dotes de espírito;• Alcunha de Brocas;• Excelente flautista;• Chegado à rainha D. Maria I• Frequentava o paço e recebia uma pensão da rainha;

• D. Rita Teresa Castelo Branco • Dama da corte;• O casamento não lhe traz felicidade,• Vive com saudade do paço;• Teve cinco filhos: Manuel, Simão, Maria; Ana; Rita.

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Questionário:

1 – Retira do texto expressões que mostrem o caráter pejorativo na caracterização de Domingos Botelho.

2 – A chegada a Trás-os-Montes põe em evidência o provincialismo e o desajuste de D. Rita. Explica de que forma.

• Domingos e Rita vão para Trás-os-Montes, seguindo a vontade de Domingos (1874).• Provincialismo evidente e desajuste de D.Rita.

• Descrição da chegada,• Descrição da casa,• Descrição da relação de D. Rita com as gentes e com o marido.

• Domingos e Rita vão para Lamego• D. Rita continua a considerar aquela terra intratável

• Domingos e Rita vão para Viseu – 1801• Manuel tem 22 anos – 2º ano jurídico• Simão tem 15 anos – estuda humanidades em Coimbra• O comportamento de Simão é arruaceiro e perturbador• Inicialmente o pai até parece ter orgulho do comportamento do rapaz• Depois o comportamento torna-se excessivo:

• Episódio dos cântaros da fonte

• Os pais deixam de o apoiar e o pai chega a pedir a prisão do filho.

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• “Amou, perdeu-se e morreu amando”.

Capítulo II

Primeira função nuclear – simão amou• A primeira fase de simão corresponde ao comportamento típico da

adolescência, quando o jovem tenta libertar-se da autoridade paterna. A frieza afetiva gera nele a agressividade.

• Dominado por força instintiva e por ideologias extremistas.

- Simão, numa sociedade do antigo regime, destaca-se pela posições ousadas;- Inconformado política e socialmente;- Adesão aos ideais da Revolução francesa- Contexto histórico: corte no Brasil, Invasões francesas; revoluções liberais

- Espaço social – tensões permanentesmundo de tensões sistema judicial está ao serviço dos interesses das classes

sociais e famílias mais influentes- Primeira prisão de Simão – ideias revolucionárias e regicidas

- Capítulo II

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.

• Segunda fase – rejeição da família

• Terceira fase Simão amava• Hybris - Teresa e Simão desafiam a moral tradicional, a honra familiar e social e

os valores representados pelos pais. Seguem um código incompatível com a sociedade em que vivem

• Ódio – eixo da oposição/ típico em Camilo• Mudança de atitude – Teresa = mulher anjo

- Caráter excecional do amor de Teresa;• Primeiro amor: lírico e supremo• Metamorfose graças ao poder do amor• Existência de uma personagem funcional : a mendiga• Ainda a mudança – apesar dos obstáculos, Simão retira do seu amor a coragem

de esperar e suportar a espera, parecendo-lhe um preço relativo a pagar;- aproxima-se das normas consideradas corretas: quer formar-se,

ter bases para construir o futuro; sustentar a esposa;- convertido à honra, à sociedade e a Deus pelo amor.

• Introdução de uma narrativa secundária – Manuel Botelho

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Questionário:

1- Explica de que forma o perfil de Simão permite fazer uma contextualização histórica e social? Demonstra com frases do capítulo.

2 – De que forma podemos dizer que os elementos típicos da tragédia estão presentes?

3 – Apresenta a caracterização de Teresa e justifica o facto de esta se associar ao modelo de mulher-anjo.

A partir daqui:. a ação é constituída por um tecido de relações, encontros e desencontros físicos e afetivos entre as personagens principais

. Os amantes irão lutar contra o ódio das famílias ciosas dos seus princípios tacanhos (provincialismo). O ódio imprime o carater trágico à novela.

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Estão aqui muito presente as características da tragédia clássica:- Conflito entre famílias;- O desafio – hybris;- Personagens nobres;- Peripécias;- Premonições- Agon e pathos crescente

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- Capítulo III

“Amou, perdeu-se e morreu amando”.Segunda fase nuclear – perdeu-se.• Tadeu pretende casar Teresa com Baltasar;• Teresa recusa a proposta de casamento;• Ameaça de clausura;• Tadeu e Domingos são velhos fidalgos que agem em nome da honra: preferem a

desgraça dos filhos a verem manchados os seus brios familiares;• Eles personificam preconceitos ultrapassados e desumanos;

• Crítica à aristocracia que mantém tradições a que não se adapta a realidade da vida moderna – ideal para conflitos – ideal para o romantismo.

• Rita é apresentada como uma personagem adjuvante;• Baltasar apresenta-se como anti-herói – por oposição a Simão; provoca “terror” e

“repugnância” em Teresa.

• Abordagem à psicologia feminina:“ Em cada mulher há quatro mulheres incompreensíveis, pensando alternadamente

como se hão de desmentir umas às outras”.

. Teresa revela-se com grande capacidade de argumentação, demonstra inteligência e frieza.

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• Baltasar mostra que conhece o segredo de Teresa e apresenta-se como seu protetor“ (…) salvá-la das garras de Simão Botelho”

• Tadeu quer castigar Teresa, mas Baltasar considera que não deve ter uma posição muito extrema;

• Ainda assim reafirma a sua posição de a casar com Baltasar; reafirma a sua oposição à união de Teresa com Simão; usou a fragilidade da sua idade avançada; considerou a filha morta para ele.

• Teresa sente que tem de cumprir um dever imposto pela sociedade, dever que assume sentido apenas dentro de estrutura social vigente: esta obrigação moral é a obediência total à autoridade paterna.

Questionário:

1 - Como descreves a postura de Baltasar Coutinho ao longo deste capítulo.

2 - De que forma se afirma como anti-herói?

3 - A Rita aparece-nos como personagem adjuvante. Justifica apresentando o seu

papel neste capítulo.

4 - Que traços de caráter demonstra Teresa neste capítulo? Justifica com excertos

do texto.

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- Capítulo IV

• Tadeu impõe o casamento de Baltasar e Teresa;• Teresa recusa casar com Baltasar e é ameaçada de clausura;• Simão vai a Viseu para se encontrar com Teresa;• Baltasar sugere que Tadeu espere pela vinda de Simão a Viseu.

• O narrador mostra a sua adesão à personagem de Teresa. Esta foge ao convencionalismo da personagem feminina romântica.

“ A mulher do romance quase nunca é trivial, e esta de que falam os meus apontamentos era distintíssima.”

• Teresa está consciente do seu compromisso amoroso e da sua dignidade, mas vai reger-se por princípios diferentes daqueles que lhe impõe a educação tradicional burguesa.

• Tadeu assume uma postura de tirano, simbolizando a sociedade repressiva.• Realce para a oposição entre a atitude de relativa serenidade de Teresa e a violência e a

determinação obstinada do pai.

• Teresa mostra-se forte moralmente, nada parece abalar a sua resistência . Tal como Simão, na impossibilidade de consumar o seu amor, deixa que o amor a consuma.

“ Teresa ergueu-se sem lágrimas e entrou serenamente no seu quarto.”

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• Baltasar é o rival que convém a Simão, em termos novelísticos, pois realça o prestígio de Simão: presumido, cínico, arrogante, vaidoso, sem brios – anti-herói.

• Baltasar opõe-se à ideia de clausura com o objetivo de criar uma emboscada a Simão.

• Depois de receber a carta de Teresa, Simão revela-se impulsivo, animado por sentimentos contraditórios. Conflito interior explorado pelo narrador através de focalização interna e exploração do espaço psicológico de Simão.

• Simão está ainda preocupado com o facto de poder ter sido difamado. Mais uma vez a honra.

• O arrieiro é mais uma personagem funcional. Fará a ligação Com o ferrador João da Cruz, com quem Simão contará numa ida escondida a Viseu.

• O capítulo termina com a antecipação do encontro. Simão está à espera.

Questionário:

1 – O narrador sustenta a interpretação do capítulo anterior e reforça o valor de algumas personagens. Justifica a afirmação.

2 – Este capítulo é dominado por dois conflitos: o conflito entre Tadeu e Teresa e o conflito interno de Simão.Explica cada um deles, tendo em conta as razões que suportam o(s) conflito(s).

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Capítulo V

• Simão encontra-se com Teresa e é surpreendido por Baltasar.• Combinam novo encontro;• Mariana e João da Cruz – adjuvantes• A história de João da Cruz• Este capítulo e o capítulo seguinte apresentam cenas do exterior com grande

movimentação, peripécias romanescas e suspense.

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Capítulo VI

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Capítulo VII

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Capítulo VIII

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Capítulo IX

• Simão pensa que Mariana o quer afastar de Teresa;• A mentira de João da Cruz e Mariana;• Teresa escreve a Simão contando a vida no convento;• Teresa avisa Simão da sua transferência para o Porto;• Mendiga é descoberta e perde-se o elo de ligação entre os apaixonados;• Mariana oferece-se para levar a carta;

• Simão volta a oscilar entre a fúria irrefletida e a razão;• O narrador explora o espaço psicológico de Simão;• O narrador assume uma perspetiva omnisciente, demostrando conhecer as implicações

emocionais da personagem:• “ O que tu sofrias, nobre coração de mulher pura!”• O uso de pontuação expressiva mostra o envolvimento emocional do narrador.• O narrador assume um discurso dominado por digressões pessoais que surgem a

propósito da análise do espaço psicológico das personagens.

• No final deste capítulo, Mariana assume-se como mulher decidida, mulher de trabalho, mulher do campo por oposição às “fidalgas de Viseu”.

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Capítulo X

• Teresa é transferida para Monchique;• Acrescenta-se ainda um cómico de situação que acentua a crítica ao clero ( ciúme da freira); • Mariana visita Teresa e leva-lhe uma carta: este encontro põe em evidência a mulher

apaixonada que é Mariana , mas também o seu sentido de abnegação.“ Se eu fosse como ela”“ Não lhe bastava ser fidalga e rica: e além de tudo, linda como nunca vi outra! E o coração

da pobre moça, (…) chorava.”• Caracterização de Mariana - nobreza de caráter;

• Caracterização de João da Cruz;• Simão vai ao convento; Deseja ir sozinho assumindo os perigos e as consequências dos seus

atos; afirma-se como herói romântico;“ Lutar sozinho”; “ fazer o que a honra e o coração me aconselharem”

• Confusão de Simão/ desorientação;• A escrita desta carta é dominada pelo romantismo:

• Efusão lírica introspetiva;• Adiamento do encontro para o plano metafísico – depois da morte;• Metáforas associadas à paixão excessiva; • Dominado pela ideia de morte: frio, sepultura, sangue, ossos, agonia, rancor, inferno,

esposo do céu, outro mundo, trevas , abismo.• Simão morre porque se recusa a compactuar com a ordem estabelecida e a renegar-se a si

mesmo.• A morte – é o meio e o fim absoluto que persegue Simão e que irá contagiar todos os que o

rodeiam;

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• Mariana continua a desempenhar a sua função de coro, anunciando a desgraça:“ evidência antecipada do vaticínio”;

• Simão intercepta Teresa; o narrador escolhe apenas os elementos fundamentais para descrever a situação. Faz uma descrição seletiva dos factos, sem se arrastar em pormenores. Ritmo rápido.

• Oposição entre a natureza e o estado emocional das personagens: • Natureza inspirada por Deus – calma;• Estado de alma – agitação e desespero;

• Baltasar defende a educação baseada na submissão e na obediência, mostra-se frio face à tristeza de Tadeu;

• Teresa assume o seu destino, preferindo ser considerada má filha , mas não mentirosa;• Mata Baltasar e não oferece resistência – rende-se/assume a sua perdição;• Mais uma vez são postas a descoberto algumas falhas do sistema judicial;

• Este é o capítulo mais dramático e marca o meio da narrativa.• A partir daqui os dois apaixonados afastam-se definitivamente e o ritmo narrativo torna-se mais

lento.• A coragem e a nobreza moral vão ser os principais traços de Simão que o definirão como ser de

exceção. – conquista o leitor mesmo sendo um assassino.• Simão e Teresa afastam-se no espaço físico. Os espaços amplos vão ser substituidos pelas

respetivas celas.

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Capítulo XI

• Simão fica sozinho – a mãe e o pai abandonam-no.• Até aqui houve a insubmissão e a resistência. A partir daqui o par amoroso

encontra-se separado, subjugado e transformado em objeto passivo do ódio.• Os protagonistas deixam-se dominar pela fragilidade física e moral.• Tadeu e Domingos tentam atingir-se mutuamente, passando por cima do “cadáver

dos filhos”• Demonstram um carácter dominado por mesquinhices associadas à nobreza

caduca, com uma mentalidade retrograda.“ Eu não sou pai; sou corregedor” – falsa integridade; tirania paternal

• D. Rita não tem uma posição clara – por contradição/ por afeto maternal/ por ser mulher (???);

• Carta de D. Rita ao filho:• Confirma a predestinação para a morte “ Oxalá tivesses morrido ao nascer!”• Fatalismo;• Clarifica a situação com João da Cruz e Mariana, relativamente ao dinheiro;• Afirma-se Simão como herói solitário que abandonado por todos se encaminha

para a morte – romantismo;

• Mariana assume o seu papel ao lado de Simão;

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Capítulo XII

• Momento de analepse; (57 anos antes da narrativa/depois dos acontecimentos)• Momento de focalização interna – Ritinha.• Carta de Ritinha contando alguns acontecimentos já ocorridos outros que ainda não

ocorreram na narração.• Nova estratégia narrativa que traz dinamismo à ação.

- Domingos é apresentado como pouco tolerante;- Mais ríspido e feroz com a esposa;- Controla as suas cartas;- D. Rita aparece nesta carta mais fragilizada;- Sabe-se da condenação de Simão à forca.- Influência da família e conhecidos não parece demover Domingos de não proteger o

filho;- O ultimato de um tio-avô que ameaça matar-se na presença de Domingos se este não

ajudar o filho. Elogio da honra familiar.- Simão vê comutada a sua pena.

• Interrupção da carta, por motivos de economia da narrativa. O narrador justifica-se com o facto de a carta adiantar pormenores por enquanto em espera. – narrador omnisciente

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• Simão refere a forca como a festa do povo;• Observações sobre o prazer do povo ante o espetáculo da forca – realismo;• O desatino de Mariana, querendo morrer antes de Simão faz este preocupar-se

com Mariana:“ Por momentos se lhe esvaiu do coração a imagem de Teresa, se é isso possível

assim pensá-lo.”• Apresentação das duas mulheres como vítimas, como mulheres-anjo, como

mártires;• A fatalidade também se abate sobre Mariana;• A loucura de Mariana é a consequência do arrebatamento de sentidos;• Durante sete meses:

• Simão doente ou prostrado;• Mariana prostrada escreve o nome Simão repetidas vezes;• “o que o salvava do suicídio não era, pois, esperança em Deus, nem nos

homens; era este pensamento: Afinal Cobarde! Que bravura é morrer quando não há esperança de vida?! A forca é um triunfo, quando se encontra ao cabo do caminho da honra!”

• A ação centra-se em Simão e Mariana, mas o narrador, adivinhando as expetativas das leitoras, centrar-se-á em Teresa no próximo capítulo.

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Capítulo XIII

• Teresa sabe da prisão de Simão;• Teresa chega ao Porto após cinco dias e confessa a sua paixão à tia;• Teresa adoece, definha dia para dia;• Carta a Simão – despedida;• Carta a Teresa – Incute-lhe a esperança;

• Narrador – autor contando as suas memórias• Narrador – produtor de ficção – o que conta a história apaixonadamente, comenta,

apela ao narratário.• Expressa a efusão lírica num tom arrebatado;• Introdução de uma nova personagem funcional: Constança.

• Constança informa sobre a morte de Baltasar e prisão voluntária de Simão;

• A tia apresenta-se como mulher e depois como freira. Primeiro partilhando as dores deste amor e depois aplicando as medidas impostas por Tadeu;

• “ Se o amas cuida em salvá-lo…”• A freira não lhe revela como Simão parece condenado à forca, mantendo-a afastada

da dor;

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• Teresa adoece, definha dia para dia;• “ que não a desejava morta; mas se Deus a levasse, morreria mais tranquilo, e com a

sua honra sem mancha.”• A Honra – um conceito importante, mas irónico.• A carta de despedida:

• “Aqui está o nosso fim, Simão! Olha as nossas esperanças!”• Repleta de frases exclamativas, reticentes – emoção com que reconta o

passado;• Teresa e Simão são seres excecionais que acabam por ser castigados porque a

sua extrema felicidade faz inveja aos deuses;• Comprazimento na dor – ela não admite que Simão viva sem ela;

• Carta de Simão:• Mais otimista : “ Posso amar-te no degredo. (…) Vive, Teresa, vive!”• Teresa fica dividida. Por um lado quer viver, por outro acha que está condenada

à morte e teme morrer com esperança.

Exercício:- Respeitando a estrutura da carta, elabora uma carta de amor para um homem ou

para uma mulher.

Pode ser num contexto de amor possível, impossível, antigo, recente, escondido, conhecido… pode ocorrer nos nossos dias, no passado distante ou no futuro.

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Capítulo XIV

• Simão é condenado ao degredo;• Tadeu quer tirar a filha do convento, mas ela nega-se a sair;• Tadeu pretende demover as autoridades judiciais do perdão de Simão.

• A manipulação da justiça e o uso dos filhos como arma entre as famílias continua.• Tadeu sente-se comovido pelo estado decadente de Teresa, mas isso não o demove

de a querer levar para Viseu, pois sabe que Simão ficará no Porto.• A firmeza de Teresa é inabalável:• “ Sei que tenho dezoito anos; as leis não sei quais são, nem me incomoda a minha

ignorância. Se pode ser que mão violenta venha arrancar-me daqui, convença-se, meu pai, de que essa mão há-de encontrar-me cadáver. (…) Enquanto eu puder dizer que não vou, juro-lhe que não vou, meu pai.”

• Rege-se pelas leis do amor, não pelas leis dos homens;

• “A minha glória neste martírio seria a forca levantada ao lado do assassino.”• Dominada pelo romantismo – a morte como libertação do esgotamento físico e

moral.

• Tadeu não encontra o apoio para a sua fúria junto da prima, pois esta não quer violar as regras do convento e o respeito por Teresa e pelo seu estado;

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• Tadeu – “hedionda raiva”;- vai à polícia para que lhe entregassem a filha, mas a polícia não tinha esta

competência;- vai ao intendente para que Simão fosse proibido de escrever, mas o

intendente não tinha este poder;- vai ao corregedor do Porto, mas este era amigo de Domingos;- vai falar com os desembargadores, mas acha-os mais inclinados para a

clemência;- ficou desorientado.- é humilhado com a verdade que sai da boca do desembargador Mourão

Mosqueira. (pág. 175). Honra de Simão;. Nobreza de caráter;. Acusação de mau pai;. Nobreza e valor da família de Simão.

Exercício:Simulação de julgamento:Parte A – argumentação acusatória ( pode haver o recurso a inquirição de testemunhas);Parte B – argumentação de defesa ( pode haver o recurso a inquirição de testemunhas);

Parte C – decisão do coletivo de juízes/ fundamentação.

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Capítulo XV

• Reflexões de Simão;• João da Cruz traz boas notícias: Mariana recupera o juízo e quer ficar ao serviço de

Simão;• D. Rita pede a João da Cruz que ajude o filho;• Tadeu tenta tirar Teresa do convento;• João da Cruz entrega uma carta de Simão a Teresa;• Mariana virá viver para o Porto.

• Camilo põe a descrição ao serviço da sequência da ação. Habitualmente Camilo não perde tempo com os pormenores que constituem o decor que as rodeia.

• A natureza opõe-se à dor de Simão. A manhã de Primavera indicia as promessas de Liberdade e alegria.

• A natureza faz as personagens afastarem-se e encararem a realidade. Porque não se coaduna com o seu estado de alma.

“ E Simão Botelho, fugindo à claridade da luz e o voejar das aves, meditando, chorava e escrevia assim as suas meditações:”

• Momento de efusão lírica; tom declamatório, hiperbólico;• Descrição da mulher-anjo/ imaculada;• Processo de depuração;• Sentido tipicamente romântico.

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• Evidencia-se a humildade de Simão e a prontidão de João da Cruz;• D. Rita intercede, apoiando o filho, por meio de João da Cruz;• Simão pede para João da Cruz entregar uma carta a Teresa;• João da Cruz consegue entregar a carta, pondo em evidência a lealdade de João da

Cruz e a simpatia da freira:• “ Muito engenhoso é o amor, Teresinha… (…) não cuides que a tua velha tia é

menos esperta que o pai da rapariga da aldeia”.

• A presença de Mariana desperta em Simão a culpa, não quer “tolher o destino” dela.

• O discurso de João da Cruz volta a mostrar-se cheio de dinamismo. Registo popular;• Reforço das diferenças sociais; destaque para a situação de resignação;• João da Cruz revela a sua fragilidade: Chora.

• Não falemos nisto, que eu por milagre choro; mas quando pego a chorar, sou chafariz…”

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Capítulo XVI

• Manuel visita Simão;• A pena é comutada;• Desfecho da história de Manuel Botelho;

• É readmitido no exército;• A açoriana retorna à ilha do Faial.

• Episódio de Manuel Botelho, irmão de Simão, pai de Camilo constitui um encaixe.• Narrador revela as suas escolhas; Narrador apresenta outros pontos de ação;• D. Rita surge com atenções especiais em relação ao filho mais velho;• D. Rita aproveita-se do afastamento do marido.• Encontro com o irmão – frio/ distante

• O desembargador Mourão Mosqueira visita Manuel e aí revela-se a sua personalidade: dissimulado, mentiroso.

• Descoberta a situação de Manuel, o narrador explora a situação da açoriana, simulando um diálogo com uma “leitora sensível”.

• Domingos compara os filhos, considera os dois desgraçados, mas apoia imediatamente Manuel.

• Crítica ao exército: Manuel que era desertor apenas tem que mudar de regimento.

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Exercício:

. Escreve um texto narrativo, onde contes a viagem e chegada da açoriana ao Faial;. Podes explorar:

1 - descrição da noite passada em Lisboa antes de embarcar;2 - a descrição da viagem até aos Açores;3 - o momento de desembarque;4 - receção pela mãe e pelo pai;5 - a reação do marido, quando sabe do regresso da esposa fugitiva;6 - visita do padre da aldeia e conselhos dados à esposa;7 - visita do corregedor, alertando para o crime de infidelidade;8 - primeiro encontro entre o marido abandonado e mulher fugitiva;9 – resolução deste caso. Situação final da açoriana.

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Capítulo XVII

• João da Cruz parece prever a sua morte;• Morte de João da Cruz – ajuste de contas (remate para a história de João da Cruz);• Simão pede-lhe que continue a seu lado.

• “estou cá por dentro negro” – Anteriormente, já tinha mostrado alguma fragilidade, agora os indícios da morte parecem mais presentes;

• Capítulo marcado pela tragédia• índicios que remetem para a ideia de morte;• No momento da morte, há ainda uma despedida para Mariana;• A morte de João da Cruz é importante para que Mariana fique livre para seguir

Simão;• Narrador parcial – faz o elogio desta alma;• Simão e Mariana choram como filhos João da Cruz;• Simão põe em destaque a necessidade que tem do seu apoio.

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Capítulo XVIII

• Mariana recolhe a herança paterna, desfaz-se de todos os bens e regressa ao Porto; está livre para acompanhar Simão;

• Mariana está decidida a acompanhar Simão; este ainda tenta fazer-lhe um retrato realista do degredo;

• Tentativa pouco convicta de dissuadir Mariana de o acompanhar;• Mariana como camponesa não tem sonhos de intimidade espiritual como Teresa. Ela

leva um oculto projeto de amor repleto de realismo;• Insinua-se uma vida futura construída por ambos;• Anuncia-se o caráter violento e fatalista de Mariana:

“ Se o senhor morrer, eu saberei morrer também.”

• Mariana compara-se com Teresa para demonstrar que também saberá morrer de amor;• Simão reforça a ideia de que só lhe poderá dar amizade ao que ela mostra um orgulho

muito próprio, dizendo que nunca lhe pediu nada;• Mariana encarna tudo o que Simão perdeu: amigos, parentes, pais;• Simão vê nela uma vida que não pôde alcançar;• Mariana anuncia a sua morte como resultado óbvio da sua solidão, anuncia a catástrofe

final;• Simão consente que Mariana vá com ele para o degredo; Mariana consegue o que

queria: ser indispensável a Simão;

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• “Desde este dia, um secreto júbilo endoidecia o coração de Mariana,• O seu amor não é totalmente desinteressado;• Assume-se o seu ciúme;• Aspira a posse plena de Simão;• Deseja amar Simão longe de outras intervenções;• Ela sabe que a sua atuação é dominada pela tentação;

• Depois de cinco meses de prisão, Simão escreve a Teresa para a preparar para o seu degredo;

• Tadeu ainda luta por manter a pena de enforcamento

• Quando pode optar por cumprir a pena em Vila Real (pela intervenção do pai) ou ir para o degredo, opta pela liberdade do degredo, pois não quer ser apenas um instrumento da vontade paterna.

• Simão caracteriza-se pelo novo radicalismo extremista e o seu percurso pauta-se pelo protesto, recusa, em pactuar com a ordem estabelecida (hybris);

• Até o desterro e a morte são preferíveis à situação que o subjugaria novamente ao poder do pai. Reforço do seu caráter (ethos).

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Capítulo XIX

• Longa digressão do narrador;• Teresa pede a Simão que espere dez anos na prisão;• Simão recebe a intimação para partir para o degredo.

• O narrador reflete sobre a importância e valor da verdade; desgraça e amor: reflexão romântica que termina na valorização do “leitor inteligente”;

• Afirma que traz “factos e não teses” – querendo passar, neste momento, a imagem de um narrador imparcial que na verdade não é;

• Alteração do perfil de Simão:“ ânsia de viver era a sua; não era já ânsia de amar.”

• Acentua-se a diferença entre Simão e Teresa. Esta frase era impossível em Teresa. Ela prefere morrer a pôr em causa o amor dos dois. Fruto de dezoito meses de prisão.

• “ Assim te sentias tu, infeliz, quando (…)• O narrador entrega-se às sua divagações sobre as personagens e sobre os

sentimentos, construindo momentos verdadeiramente líricos“ O que é o coração, o coração dos dezoito anos, o coração sem remorsos, o

espírito anelante ( ofegante) de glórias, ao cabo de dezoitos meses de estagnação?”• Teresa sabe que está a exigir demais de Simão. Sabe que o perderá.• É mais evidente a doença e o estado débil de Teresa. Mesmo que Simão escolhesse

ficar, o narrador mostra como ela não poderia suportar ou vencer esses dez anos;

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• O discurso epistolar mistura-se com a prosa narrativa, o que resulta, neste caso numa prosa poética.

• Ao longo de toda a obra as cartas tiveram a função de:• Construir uma pausa narrativa;• Assegurar a comunicação entre os dois protagonistas;• Comunicar decisões;• Pôr o outro ao corrente e levá-lo a tomar decisões.• Exprimir sentimentos.

• Simão aceita o degredo e despede-se como desgraçado, “ Esquece-te de mim e adormece no seio do nada.”“ Salva-te, se podes, Teresa.”

• Teresa incapaz de resistir assume a sua morte e a desistência perante o amor, perante a vida e chega a desejar que ele viva para a chorar.

• Estas despedidas terminam a intensa história de amor;• Teresa quer que Simão viva, mas em sofrimento;• Mariana quer que Simão viva feliz, mesmo que não faça parte dessa

felicidade;• Passam ainda seis meses até à data da partida – 17 Março de 1807.• Simão está dominado, consumido pelo sofrimento. Deseja, enlouquecido,

que saibam, pelo menos da morte um do outro.

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Capítulo XX

• Desamado pela mãe e desprezado pelo pai, Simão não pode resistir à perda de Teresa. O amor de Mariana a quem queria como irmã não bastava à sua solidão;

• D. Rita envia dinheiro, que Simão aceita para distribuir pelos outros degradados –nobreza de carácter até ao final;

• Simão não quer a ajuda da mãe e renega-a, afirmando que não tem mãe;• Simão vê o vulto de Teresa no convento de Monchique;• O narrador descreve numa analepse os últimos dias de Teresa: já se despedira de

todas as freiras, já recebera os sacramentos…• Esta lenta descrição pretende mostrar o espaço psicológico de Teresa.• As flores desfazem-se simbolizando o desfazer de um sonho, de uma vida;• O ritmo narrativo arrastado tem o objetivo de prolongar os últimos momentos de

vida da Teresa e de mostrar o quão dolorosos foram;• Simão vê Teresa e nem a reconhece;• Mariana adivinha que Simão não suportará aquela dor/pressagia a morte de

Simão;• A natureza comunga do estado de espírito das personagens e impede a

continuidade da viagem.• O comandante é o portador da notícia da morte de Teresa, mostra-se

compadecido e conta-lhe a história da morte de Teresa;• “Que desgraçada menina e que desgraçado moço o senhor é.”

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• O capitão dispõe-se a ajudar Simão no degredo;• Simão começa a despedir-se da vida e quer assegurar a vida de Mariana, por isso

pede a sua proteção ao capitão;• Mariana está tranquila pensando na morte, antevendo o final;• A natureza continuava agreste, partilhando as dores de Simão.

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Conclusão

• Simão lê a carta que Teresa escreveu;• Começa pela última carta: É uma carta de despedida; é como se ela

falasse do sepulcro: “ É já o meu espírito que te fala(…)”• Teresa culpa Simão de lhe roubar a esperança, mas não lhe quer

acrescentar remorsos;• Teresa condena Simão à morte e à dor, numa efusão lírica;• “ Tu nunca hás de amar, não, meu esposo?”• “ Adeus! À luz da eternidade parece-me que já te vejo, Simão!”

• Visão metafísica do amor;• Antevisão do final de Simão;

Simão morre de amor, de febre maligna;Mariana já não consegue chorar continua tranquila;

A nau parte e o narrador marca o avançar do tempo de forma lenta para fazer aumentar a expectativa do leitor e o sofrimento do Simão – exploração do tempo psicológico.

Simão entra em delírio e diz a Mariana que ela se juntará a Simão e Teresa e que serão “irmãos no céu”;

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• Simão tem uma morte rápida tal como Teresa. Apesar da rapidez há elementos que anunciam a morte:

• - apagar a luz – símbolo e vida;• - escuridão – sem sensações visuais táteis e auditivas

• Mariana atira-se ao mar• O corpo de Simão pertence a Mariana, até as cartas de Teresa vêm à

tona, mas os dois ficam abraçados no mar;

• Mariana + Simão = união física no mar / união impossível;• Teresa + Simão = união metafísica no céu / restam as cartas.

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História de amor– porque existem personagens que vivem um amor;- Função : amor

História de amores contrariados - há oposição a esses amores- função: oposição

História dramática de amores contrariados- porque nela os indivíduos mantêm as funções que assumiram: amor e

oposição, fazendo da intransigência da sua posição a fonte do desfecho dramático da ação em curso.

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Ideologia – intencionalidade crítica

Camilo Castelo Branco, nesta obra, mostra uma visão mais ampla da sociedade da sua época, como por exemplo, sobre a moral vigente.

Discute a questão do casamento por encomenda. O casamento era mais um acordo financeiro do que propriamente para a busca da felicidade.

Discute-se, ainda o poder da burguesia que tem força para mudar as leis, ao seu bel-prazer. Isso fica evidenciado ao longo do processo de prisão e julgamento de Simão, onde tanto Domingos como Tadeu usam o seu prestígio.

A sociedade é vista de forma crítica, Camilo denuncia a hipocrisia burguesa. O vazio de verdadeiros sentimentos que se esconde atrás da honra familiar e de uma falsa moral.

Já podemos perceber uma certa influência do movimento Realista, o qual já se firmava no resto da Europa.

A igreja é vista de forma negativa. Teresa quando pensa que vai encontrar a salvação no convento, depara-se com a falsidade, com as intrigas e, sobretudo, com os vícios das freiras.

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Teresa de Albuquerque

- Adolescente de 15 anos, bonita e bem nascida. Aparentemente frágil, porém, com forte carácter, ela contraria o seu pai em nome do seu amor. -Essa mudança comportamental faz com que ela seja também uma personagem redonda.- Revela a coragem, que caracteriza as heroínas românticas, rompe com os desígnios da sociedade e de sua família em defesa de seus sentimentos. - Obstinada e apaixonada por Simão, Teresa luta para não se casar com Baltasar, porém, vê-se obrigada a cumprir as ordens do seu pai, o dominador Tadeu de Albuquerque. - Marginalizada e enclausurada num convento, Teresa mantém a sua fé na justiça divina e espera pelo fim dos obstáculos que se interpunham entre ela e a felicidade. Felicidade essa que não se realiza.

Simão António Botelho

- Personagem redonda caracterizado por várias mudanças do seu comportamento. - Dezoito anos.-No início da obra, temos contacto com um jovem inconsequente, que, motivado pelo amor, se transforma num homem maduro.- Simão é transformado pelo amor. Típico herói romântico, esta personagem apresenta uma grandiosa nobreza de carácter, é extremamente corajoso e fiel aos seus sentimentos e ideais. A sua nobreza e coragem aparecem de forma explícita no episódio em que, após matar Baltasar e tendo a possibilidade de fugir, Simão se entrega à polícia. Facto que determina seu fim.

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Mariana

- A amante silenciosa, mulher de 24 anos, portanto mais velha do que Simão.- Pertencia a uma camada popular. Possuindo as características típicas de uma camponesa, Mariana dedicava todo seu tempo aos afazeres do lar. -Era segundo o narrador dona de “formas bonitas” e de um rosto “belo e triste”.- Para realçar a grandeza de seu amor por Simão, Mariana renúncia aos seus sentimentos em favor da felicidade do amado.- Dotada de uma forte nobreza de sentimentos, a amante silenciosa, limita-se a amar de forma furtiva e à distância o jovem herói.- Porém, ao renunciar à sua felicidade, Mariana reveste-se de uma abnegação incontida, capaz de ajudar o seu amado a aproximar-se de Teresa. - Mariana é uma personagem altamente romântica, jamais diz uma palavra sobre os seus sentimentos e controla obstinadamente o ciúme, sofre, mas é fiel a Simão.- símbolo da gratidão desinteressada; de generosidade discreta e delicada; da abnegação sem limites; símbolo de amor humilde, puro. Ou não???

Simão, Teresa e Mariana formam uma tríade romântica. Amam, mas não se realizam sentimentalmente, se isso não fosse o bastante, suas vidas têm um desfecho trágico.

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Antagonismo/ oponentes:Com relação ao antagonismo pode-se dizer que os personagens de Amor de Perdição vivem em conflito com a sociedade, uma verdadeira inadaptação ao mundo. Mundo esse que impõe limites à realização dos seus sonhos e desejos.O obstáculo a ser superado, no caso, é a família, tanto a de Simão como a de Teresa. Os representantes da “família” e, portanto, os antagonistas são:Domingos Botelho; Tadeu de Albuquerque e Baltasar Coutinho.

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Domingos Botelho

-patriarca da família Botelho, foi corregedor e Viseu.- Ele era um fidalgo de linhagem, mas “faltavam-lhe bens de fortuna”. -Domingos Botelho era desprovido de dotes físicos e, segundo o autor, era extremamente feio. O chefe da família Botelho era um homem autoritário e inflexível.

Tadeu de Albuquerque

- também possuía como características o autoritarismo e a inflexibilidade. Juntamente com Domingos Botelhos, criam obstáculos que impossibilitam a realização da felicidade de Teresa e Simão.

Baltasar Coutinho

-primo de Teresa, se aproveita da rivalidade entre Tadeu e Domingos, para conseguir herdar a fortuna de seu tio. Para isso pretendia desposar a jovem heroína. Ao ver seu plano fracassar, diante da negativa da moça, Baltasar induz seu tio a confinar Teresa em um convento. -O burguês interesseiro vê seu intento dissolver, porém, seu ódio e deu desejo de destruir o amor de Teresa e Simão concretiza-se num duelo, no qual Baltasar é mortalmente ferido por Simão.-Baltasar faz o contraponto com o herói, na medida em que ambos vêm de família abastada. O primeiro é norteado por intenções medíocres, e Simão Botelho é movido pelos mais nobres sentimentos. Esses ideais opostos faz de Baltasar um anti-herói.

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Personagem coadjuvante

João da Cruz

- pai de Mariana, ele era um rústico camponês. Personagem popular se transforma em protector do jovem Simão quando este volta furtivamente a cidade de Viseu atrás da amada. Em princípio cuida do rapaz porque o pai de Simão livrara-o de uma complicação judicial, depois se envolve emocionalmente com o rapaz a ponto de matar para defendê-lo.

- Assim, João da Cruz é classificado como coadjuvante por auxiliar os personagens principais na realização do seu intento.

Personagens secundárias

D. Rita Botelho, Manuel Botelho (respectivamente mãe e irmão de Simão); a Mendiga e as demais personagens que contribuem para concretização do enredo.

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Antagonismo/ oponentes:Com relação ao antagonismo pode-se dizer que os personagens de Amor de Perdição vivem em conflito com a sociedade, uma verdadeira inadaptação ao mundo. Mundo esse que impõe limites à realização dos seus sonhos e desejos.O obstáculo a ser superado, no caso, é a família, tanto a de Simão como a de Teresa. Os representantes da “família” e, portanto, os antagonistas são:Domingos Botelho; Tadeu de Albuquerque e Baltasar Coutinho.

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Tragédia – Poema dramático que representa uma ação importante em que figurampersonagens ilustres e cujo o fim é exercitar o terror e a piedade.

Elementos fundamentais da tragédia, segundo Aristóteles:

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Ágon - Conflito (a alma da tragédia) que decorre da hybris desencadeadapelo(s) protagonista(s) e que se manifesta na luta contra os que zelam pelaordem estabelecida.

Hybris - Sentimento que conduz os heróis da tragédia à violação da ordemestabelecida através de uma acção ou comportamento que se assume como umdesafio aos poderes instituídos (leis dos deuses, leis da cidade, leis da família,leis da natureza).

Pathos - Sofrimento, progressivo, do(s) protagonista(s), imposto pelo Destino(Anankê) e executado pelas Parcas, como consequência da sua ousadia. Talsofrimento será progressivo.

Ethos – Caráter do herói – O herói revolta-se, revela o seu caráter adquirindoum estatuto superior.

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Anankê - É o Destino. Preside às Parcas e encontra-se acima dos própriosdeuses, aos quais não é permitido desobedecer-lhe.

Peripécia - Um acontecimento imprevisível que altera o normal rumo dosacontecimentos da acção dramática, ao contrário do que a situação até entãopoderia fazer esperar e precipita o desenlace.

Anagnórise (Reconhecimento) - Segundo Aristóteles, "o reconhecimento,como indica o próprio significado da palavra, é a passagem do ignorar aoconhecer, que se faz para a amizade ou inimizade das personagens que estãodestinadas para a dita ou a desdita." Aristóteles acrescenta: "A mais bela detodas as formas de reconhecimento é a que se dá juntamente com aperipécia." O reconhecimento pode ser a constatação de acontecimentosacidentais, trágicos, mas, quase sempre, se traduz na identificação de umanova personagem.

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Katharsis (Catarse) - Purificação das emoções e paixões (idênticas às daspersonagens), efeito que se pretende da tragédia, através do terror e dapiedade que deve provocar nos espectadores.

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Katástrophé ( catástrofe) - Desenlace trágico, que deve ser indiciado desde oinício, uma vez que resulta do conflito entre a hybris (desafio da personagem)e a anankê (destino), conflito que se desenvolve num crescendo de sofrimento(pathos) até ao clímax (ponto culminante). Segundo Aristóteles, a catástrofe "é uma acção perniciosa e dolorosa, como o são as mortes em cena, as doresveementes, os ferimentos e mais casos semelhantes."

Clímax – ponto culminante, geralmente coincide com a anagnórise.

Coro – ( personagem colectiva) comenta ou anuncia o desenrolar dos acontecimentos sem interferir neles. A linguagem é em verso.

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Outros elementos:

Unidade de Acção« Todos os acontecimentos se devem suceder em conexão tal que,uma vez suprimido ou deslocado um deles, também se confunda oumude a ordem do todo. Pois não faz parte de um todo o que, querseja quer não seja, não altera esse todo.» Aristóteles, Poética, 51 a

Unidade de Tempo« A tragédia procura, o mais que é possível, caber dentro de umperíodo do sol, ou pouco excedê-lo, porém a epopeia não tem limitede tempo - e nisso diferem [...] Aristóteles, Poética, 49 b

«Aristóteles exigia para a tragédia um tempo de história muitocurto, isto é, a acção devia começar, desenvolver-se e terminar noespaço de 24 horas.»

Unidade de EspaçoA tragédia deve desenvolver-se num só espaço, evitando assim a dispersão.

«Os doutrinadores clássicos italianos e franceses foram apologistasdas três unidade: tempo, lugar e acção.»

Barreiros, António José, História da Literatura Portuguesa, vol. I

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