amilde gb a_importancia_da_musica_na_educacao_infantil
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE INHUMAS
CURSO DE PEDAGOGIA
Amilde Gomes Brito
A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Inhumas 2009
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Amilde Gomes Brito
A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Pedagogia, da Unidade Universitária de Inhumas, da Universidade Estadual de Goiás, para obtenção do título de Pedagogo (a). Orientador (a): Profª Mestre Anália Cássia Gonçalves de Souza
Inhumas 2009
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Amilde Gomes Brito
A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Pedagogia, da Unidade
Universitária de Inhumas, da Universidade Estadual de Goiás, para a obtenção do grau
de licenciada em Pedagogia, aprovada em_____________ de________de________,
pela Banca Examinadora constituída pelos seguintes Professores:
Profª Mestre Anália Cássia Gonçalves de Souza – UEG Presidente da Banca
Profª Especialista Júlia Ferreira de Oliveira Leão-UEG Leitora
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, pelo exemplo de coragem e simplicidade em
suas metas, e com muito carinho me ensinou o caminho da justiça, e a meu querido e
lindo sobrinho Bruno que foi uma das fontes para as minhas inspirações e aos meus
irmãos e todas as pessoas que contribuíram para o meu crescimento e aprendizagem.
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AGRADECIMENTO
A DEUS que me proporciona tudo, especialmente durante esta etapa da minha vida, que
me socorreu espiritualmente, dando-me serenidade e forças para continuar.
À professora Mestre Anália Cássia Gonçalves de Souza, minha orientadora, por ter
acreditado na possibilidade da realização deste trabalho, pelo seu incansável e
permanente encorajamento, pela disponibilidade dispensada em todas as situações e
pelas suas sugestões que foram preciosas para a concretização deste projeto.
Aos meus pais, agradecer seria pouco, com eles compartilho a realização deste trabalho
porque eles têm sido co-autores dos momentos mais importantes da minha vida.
À todos dessa instituição (UEG -INHUMAS) que permitiram que eu chegasse onde
estou. Meus colegas de classe que foram muitos e bons colegas, mas amizades
verdadeiras e que vou agradecer para sempre, são as minhas amigas Dayanny, Ianí e
Flávia Drika e Wanessa. Essas têm grande parcela de culpa na minha graduação e
sempre serei muito grato por isso.
Agradeço especialmente aos professores, que mesmo não recebendo seu devido valor,
tiveram paciência, empenho, conhecimento e vontade de ensinar. E fizeram isso de
forma brilhante.
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Epigrafe
A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou
de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as
práticas e de (re) construção permanente de sua identidade pessoal. Por isso é
tão importante investir a pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência.
(NÓVOA,1995, p. 25)
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SUMÁRIO
RESUMO
INTRODUÇÃO...............................................................................................................09
CAPÍTULO I HISTÓRIA DA MÚSICA.......................................................................10
1.1 História da música no Brasil......................................................................................14
1.2 A influência da música na educação da criança........................................................16
CAPÍTULO II A CONSTRUÇÃO DE CONCEPÇÕES TEÓRICAS SOBRE
EDUCAÇÃO INFANTIL..............................................................................................19
2.1 A História da Educação Infantil................................................................................23
2.2 O papel da música na Educação Infantil...................................................................28
CAPÍTULO III A ARTE/MÚSICA NA SALA DE AULA DA EDUCAÇÃO
INFANTIL......................................................................................................................31
3.1 Arte/Educação...........................................................................................................31
3.2 A música segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil......33
3.2.1 Práticas musicais na Educação Infantil..................................................................35
3.2.2 Vigotsky e o desenvolvimento dos processos mentais da criança.........................38
3.2.3 Piaget e os estágios do desenvolvimento da criança..............................................39
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................42
REFERÊNCIAS..............................................................................................................44
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RESUMO
O presente estudo teve como finalidade mostrar a importância da música na
educação das crianças, considerando esta como parte da cultura e como
conhecimento a ser trabalhado no contexto da Educação Infantil. Portanto, a escolha
deste tema surgiu das necessidades de compreender, conhecer importância e como
trabalhar a música com as crianças para proporcionar um ensino de qualidade,
desenvolvendo habilidades, o senso crítico, o senso musical, e inseri-los no mundo
musical com amplo universo sonoro. Dessa forma, foi problematizado, o seguinte:
Qual a importância da música para a Educação Infantil e como esta auxilia no
desenvolvimento e na aprendizagem das crianças nessa faixa etária? E a pesquisa
procurou no seu decorrer responder alguns questionamentos, tais como: Se a música
é capaz de expressar e comunicar sentimentos e pensamentos, então ela desenvolve
os aspectos cognitivos, afetivos e psicomotores? E a música desenvolve o
autoconhecimento, socializa, integra, estimula o raciocínio lógico, a criatividade, a
memorização e a atenção da criança? A pesquisa bibliográfica foi conduzida através
do levantamento da história da música no Brasil e sua influência na educação da
criança procurando compreender a Educação Infantil seu contexto histórico e como
é conceituado a música segundo Rosa (1990); Jeandot (1990); Schineide (1957);
Salzman (1970); França (1980); Fonterrada (2008) e os teóricos Piaget (1999 ) e
Vygotsky (1998) por tratarem do desenvolvimento da criança, e constituírem a base
teórica do Referencial Curricular para a Educação Infantil e PCN de Artes, informa
“aprender música significa integrar experiências que envolvem a vivência, a
percepção e a reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez mais elaborados.[...]
A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do
equilíbrio, da auto-estima e autoconhecimento, além de poderoso meio de
integração social. Sendo assim, a contribuição deste estudo foi buscar na
fundamentação teórica e dados bibliográficos conhecer a importância da música, e
perceber seus efeitos na aprendizagem das crianças através de leituras e pesquisas
conhecer o desenvolvimento dos aspectos cognitivos, afetivos e psicomotor. E seus
efeitos na sala de aula da Educação Infantil.
Palavras Chave: Arte/Música; Educação Infantil
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INTRODUÇÃO
Esta pesquisa investiga o papel que a música desempenha dentro das instituições
de Educação Infantil. Partindo de uma análise teórica que a considera elemento
essencial para a formação da criança. Faço uma reflexão sobre as práticas e suas
possibilidades de utilização, preconizadas por estudiosos do tema. Para atingir esses
objetivos e construir o quadro referencial teórico, sistematizei leituras sobre: História da
música; a música e a Educação Infantil; Arte/ Educação na sala de aula e os teóricos que
trabalham o desenvolvimento da criança.
A primeira parte do trabalho é de ordem histórica, isto é, a história da música em
geral e especifica no Brasil; a influência da música e seu papel no desenvolvimento
infantil e a história da Educação Infantil; a conceitualidade de Música; Arte/Educação,
música segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil; práticas
musicais na Educação Infantil; Vigotsky e o desenvolvimento dos processos mentais da
criança; Piaget e os estágios do desenvolvimento da criança. A música é uma linguagem universal que varia de cultura para cultura envolvendo a maneira de cantar, de organizar os sons, e de definir as notas básicas e seus intervalos e que se traduz em diferentes formas sonoras, capazes de expressar e comunicar sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio.(Marius Schnuder in Jeandot,1990, p.14)
A música é um poderoso recurso educativo a ser trabalhado na Educação
Infantil, pois ela se traduz em diferentes formas. Ao nascer à criança entra em contato
com o universo sonoro que a cerca, sons produzidos pelos seres vivos e pelos objetos,
antes ainda de falar, podemos ver o bebê cantar, gorjear, experimentando os sons que
podem ser produzidos com a boca, observando uma criança pequena cantarolando um
versinho, uma melodia ou emitindo algum som repetitivo, balançando-se de uma perna
para outra como que produzindo movimentos do acalanto. Essa movimentação
desempenha o papel importante em todo o meio de expressão que se utiliza do ritmo
seja a música, a linguagem verbal, a dança etc.
E a partir dessa relação entre o gesto e o som que a criança ouvindo cantando
dançando constroem seu conhecimento sobre a música.
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CAPÍTULO I
HISTÓRIA DA MÚSICA
Este capítulo tratará da história da música na humanidade, sua origem no Brasil
e a influência desta na educação da criança.
Nos tempos primórdios, a música parece ter estado sempre presente na vida dos
seres humanos. As manifestações musicais se desenvolveram com traços característicos
de cada sociedade. Sabe-se que o homem primitivo teve a necessidade de se comunicar.
Por isso usavam, sinais sonoros como: gritos, sons corporais, batimentos com pedras ou
com ramos de árvores. No entanto, não tinha a intenção de fazer música, mas desde o
momento que o homem começou a produzir sons com a intenção de fazer música, pode-
se afirmar que deu início ao longo percurso da história da música.
Segundo Rosa (1990, p.12) o homem e a música sempre viveram juntos, eles
reproduziam o som que ouviam da natureza, como os cantos dos pássaros, o vento forte
e seu sussurrar nas folhagens, as águas dos rios, os estalarem dos galhos entre tantos
outros.
De acordo Jeandot (1990, p.14): Aos poucos, o homem aprendeu a selecionar entre a matéria, o que produzia sons agradáveis como a ressonância da madeira preparada, da pele esticada, da corda vibrando tudo isso o encantou, ele destaca e produz os primeiros timbres, o som melódico parece fascinando-o. É o despertar da consciência estética.
No decorrer dos tempos, as civilizações foram se desenvolvendo e começaram a
apresentar a música como uma forma de atividades ligadas à magia, à metafísica, à
saúde e até mesmo em rituais religiosos, festas e guerras.
Rosa (1957, p.58) afirma que até poucas décadas atrás o termo “história da
música” significava meramente a história da música erudita européia. Foi apenas
gradualmente que o objetivo da música foi estendido para incluir a fundação
indispensável da música pré-histórica. A música primitiva não constitui uma arte
propriamente dita, mas um instrumento indispensavel à vida cotidiana do homem
natural, para expressar seus sentimentos e suas vontades.
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O homem foi se desenvolvendo e criando ao longo dos tempos vários estilos de
músicas e instrumentos, porém não existe conhecimento sobre como eles faziam seus
instrumentos. Sabe-se que no Egito as pessoas usavam paus, batendo uns contra os
outros e cantavam. Eles treinavam cantos de rituais nos templos dos deuses e na corte
tocavam instrumentos de sopro e percussão, usavam também nas bandas militares
instrumentos como tambores e trompete.
O povo palestino quase não criou músicas quanto aos egipcios. A história bíblica
conta que Davi tocava harpa para o rei Saul. Incluía trompetes e canto coral no
acompanhamento de instrumentos de corda, no templo de Salomão em Jerusalém, no
séc. X a.C. são mensionados vários instrumentos como a gaita, harpas, instrumentos de
corda e canto coral entre outros. Ainda na Bíblia contém a letra de muitas canções e
cânticos hebraicos, como os salmos, que eram uma forma de adoração a Deus.
Quanto aos chineses acreditavam que a música possuia poderes mágicos e que
refletia a ordem do universo. Os músicos chineses tocavam a cítara, várias especies de
flautas e instrumentos de percussão.
E na India o povo tinha a música como um processo fundamental, a vida
humana, criaram músicas religiosas e elaboraram teorias musicais. A música indiana era
baseada num sistema de tons e semitons, os músicos tocavam instrumentos de sopro, de
cordas e percussão.
Na Grécia eles usavam as letras do alfabeto para representar as notas musicais e
construiram teorias mais elaboradas do que qualquer outro povo da antiguidade.
Pitágoras, um grego que viveu no séc. Vl a. C, achava que a “música e a matemática
poderiam fornecer a chave para os segredos do mundo”. Acreditava que o planeta
produzia diferentes tonalidades harmônicas e que o próprio universo cantava.
Segundo Rosa (1990, p.13) “Coube aos gregos a valorização da linguagem
musical na educação e a difusão do início da música na educação. A música era
considerada fator fundamental na formação dos cidadãos”.
A história segundo alguns estudos, dizem que os romanos copiavam as músicas
dos gregos e diziam que era produção própria, e quase não acrecentou nada nas
músicas, porém eles inventaram instrumentos como o trompete que chamavam de tuba. A música tornou uma linguagem universal, mas com muitos dialetos que varia de cultura para cultura envolvendo a maneira de cantar, de tocar, de organizar os sons e de definir as notas musicais e seus intervalos. (Jeandot,1990, p 12)
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No séc. XlX o ensino da música fica cada vez mais acessivel a todos, tanto para
crianças quanto para jovens. Para Oliveira (2002, p.1) o séc. XIX trouxe uma mudança
no paradigma do ensino da música. Isto é, o acesso a educação, advindo com a cultura
de massa, forçou esta mudança estabelecendo um padrão alternativo, agora não mais
baseado em uma relação bastante estreita e individual entre professor e discípulo, e sim
experimentando o uso de situações coletivas.
Nos primeiros anos do séc. XIX, os direitos do homem a democracia e a
liberdade de expressão tomavam conta da mentalidade européia, modificando os seus
critérios de valores. O espírito religioso passa a ser um plano de fundo e a arte se
desligava do passado, a música deixava os salões, pondo se ao alcance do povo, os
compositores passaram a valorizar e a colorir suas peças com produtos da cultura
popular. Nos EUA, durante o séc XIX, especialmente depois da geurra civil, a vida musical se tornou esfervescente: a cultura europeia se expandiu atraves de turnês e de músicos menos sofisticados começaram a formar bandas e orquestras que supriam a demanda da música popular e da dança . (Oliveira,1998, p.5)
O séc XIX teve presente o desenvolvimento de aspectos importantes na história
da música: o espirito nacionalista sempre crescente, o aparecimento de vários
compositores e o surgimento dos vários estilos musicais. A música se tornou essencial
na educação, através de atividades e experiências.
Rosa diz que: Os criadores dos métodos ativos outorgam à música um papel impotante dentro dos sistemas educacionais, reconhecendo o ritimo como elemento ativo da música e favorecendo as atividades de expressao e criação. Ainda segundo ela “na metade do século passou a predominar o ponto de vista de que “um estudo de desenvolvimento musical envolve necessáriamete a observação das reações do ser humano ao primeiro contato com a música. (1990, p.14)
Em relação à música do século XX, constitui-se uma longa tentativa e
experiências que levaram a uma série de novas tendências, técnicas e também à criação
de novos sons, tudo contribuindo para que este seja um dos períodos mais empolgantes
da história da música. Pois, enquanto a música nos períodos anteriores podia ser
identificada por um único e mesmo estilo, comum a todos os compositores da época, no
século XX ela se mostra como uma mistura complexa de muitas e diferentes tendências.
Dentre as tendências e técnicas mais importantes da música do século XX
destacam se: o Impressionismo, Nacionalismo, a Atonalidade e o Expressionismo.
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A intenção da música no impressionismo era a de afastar do pesado estilo
romântico alemão. O primeiro compositor impressionista foi Cláudio Debussy, utilizava
harmonia e timbres novos trabalhando efeitos vagos e fluídos.
Os compositores nacionalistas pesquisavam o folclore de seus países, alguns
deles foram Charles Ives (1874), Villas Lobos (1887), Camargo Guarnieri (1907),
Lourenzo Fernandez (1897) entre outros.
Atonalidade significa a ausência da tonalidade. A música atonal evita qualquer
tonalidade ou modo, fazendo livre uso das notas e escalas cromáticas, a atonalidade
tornou-se a própria essência do estilo dos compositores expressionistas. Na música
expressionista começaram como um exagero, em que os compositores passaram a
despejar em suas obras toda a carga de suas emoções mais profundas, eles usavam o
estilo atonal, caracterizados por harmonias desafinadas, melodias agitadas, contraste
violentos e explosivos.
Na música existem vários componentes, dentre eles destacam-se quatro dos mais
importantes, por exemplo: melodia, harmonia, ritmo e timbre. Melodia é a combinação
de sons sucessivos (dados uns após o outro). Harmonia é a combinação dos sons
simultâneos (vários ao mesmo tempo). Ritmo é a combinação dos valores (maior ou
menor). Timbre é o caráter próprio de cada som, que permite distinguir cada
instrumento ou voz.
Portanto, isso trouxe nova liberdade e maior experimentação com novos rítmos
de músicas e formas que desafiaram os sistemas de períodos anteriores. O surgimento
de instrumentos eletrônicos e a revolução e a popularidade, aceleraram o
desenvolvimento de novas formas de música. Os sons de diferentes continentes
começaram a se fundir de alguma forma em todas as partes do mundo.
Salzman diz que: A música do Séc XX apresenta ser tao fundamental diferente da música do passado, e se apresenta de maneira tão variada e tão abrangente em si mesma que se torna dificil conceber que a música dos nossos dias tenha raizes profundas na que lhes antecedeu, e ao mesmo tempo, possa ter uma exaustiva unidade que a distingue do seu proprio passado. (1970, p.1)
A música está inserida na sociedade como elemento cultural importante, que tem
o poder de transformar o ser humano, tanto no âmbito individual quanto no coletivo. A música como veículo de história, mitos e lendas, contribuindo para a continuidade cultural, utilizada na educação, auxiliam no controle dos membros “desviantes” da sociedade, ou seja, ensinando à sociedade o que é certo contribuindo para a estabilidade cultural; e no cultivo de indivíduos, transmitindo ensinamentos sobre o ambiente natural e seus valores do grupo, no sentido de dar continuidade à cultura. (Cruvinel,2005, p. 54)
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A autora ainda coloca que a música realiza a função de integrar a sociedade
reduzindo seu desequilíbrio, promovendo um ponto de união em torno do qual as
pessoas se congregam, sendo cobrada a cooperação grupal. Afinal a música tem uma
influência decisiva no caráter da pessoa.
1.1 História da música no Brasil
A música no Brasil surgiu ainda no período Colonial brasileiro, com a mistura
de vários estilos, como as cantigas populares, os sons de origem africana, músicas
religiosas e música erudita, trazidas por colonizadores portugueses e escravos, e
também os cantos e sons tribais dos indígenas. Assim foram introduzindo a maioria do
instrumental, o sistema harmônico, a literatura músical entre outros. Os africanos
contribuiram com a diversidade rítimica e algumas danças e instrumentos, que levaram
um importante papel no desenvolvimento da música popular e folclorica brasileira.
Segundo França : Inexistem de fato em nossa formação histórica, períodos sem música da vida coletiva”. As investigações do passado brasileiro, no tempo e no espaço estabelecem, via de regra, nao só a presença, mas a intensdade das manifestações do nosso povo. (1980, p. 13)
Ao longo dos anos com o crescente intercâmbio entre as diferentes culturas, os
elementos musicais encotraram no Brasil um terreno fértil para a transformação, com
uma atividade bastante intensa em todas as partes do país, uma estrutura institucional e
educacional estabilizada, um público apreciador em todas as classes sociais as
orquestras se multiplicaram, as irmandades atuaram intensamente, as igrejas
apresentaram uma rica variedade de música, as corporações militares possuiam suas
bandas, salões de concertos e o teatro apareceram em diversas cidades, como em São
Paulo, Recife , Rio de Janeiro e Salvador.
França (1980, p.14) coloca que a música artística, no Brasil colonial teve índole
predominante religiosa, outros fatores já mesmo antes do advento da república entre os
quais a voga familiar do piano foram influir poderosamente no cultivo da música
profana, social e burguesa.
Portanto, existem várias modalidades de produção musical, como a música
erudita, a música folclorica e a música popular. A relação existente entre essas
modadlidades é uma questão muito polêmica, principalmente o valor estético de cada
uma. A música erudita é menos vulgarizada por que os adeptos dessa costitui uma arte,
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enquanto a música popular é mero entreterimento, o que chama mais atenção e tem um
público mais numeroso.
Um grande florescimento musical aconteceu em Minas Gerais, tanto na vida
musical pública quanto na privada, religiosos ou secular, foram muitos previlegiados,
registrando a importação de instrumentos como órgãos para as igrejas. Nesse período
surgiram vários compositores importantes naturais do Brasil, escrevendo em um estilo
com elementos derivados de uma matriz classica, muitos deles eram mulatos, os mais
dignos foram José Joaquim, Manoel Dias, Francisco Gomes, Marco Coelho entre
outros. Pode-se dizer também de Chiquinha Gonzaga (1847) marcou com a encantadora
originalidade de talento, a música popular de todo o largo periodo do nascimento de
suas composições.Teve rapidamente espalhada a popularidade do nome e da obra pelo
Brasil inteiro alcançando mesmo o privilégio de ver repercutir em alguns centros
europeus, suas características. “A capacidade de ação de Chiquinha Gonzaga de fato,
estendeu-se muito além dos limites da arte” diz França (1980, p. 37) .
Com a crescente multiculturalidade e a globalização no Brasil, seus
compositores foram mostrando em suas raizes históricas, o maior conhecimento, a
valorização e a divulgação de suas músicas, apresentando uma variedade e originalidade
nas riquezas de gêneros musicais como: o samba, o rock, o hip hop, forró, funk, frevo,
músicas eletrônicas entre muitas outras. Dentre as mais típicas estão a dança folclórica
de origem africana da região nordeste do país, os rituais religiosos, gênero de desafios
musical e improviso que difundiu em todo o país com diversos estilos inclusive as
cantigas de rodas que fazem parte do universo infantil e constitui num riquíssimo acervo
musical.
No contexto educacional, surgiram propostas de natureza artística, capazes de
atuar nos âmbitos individuais e coletivos, buscando aperfeiçoar as qualidades e a
sensibilidade humana, graças à aproximação com a arte. Fonterrada (2008, p.96).
Segundo a autora durante o período colonial a educação musical, assim como a
educação geral, estava diretamente vinculada à igreja e, portanto estreitamente ligada às
formas e a repertórios europeus, a preceitos básicos de organização, ordenação de
conteúdos, que evoluíram dos mais simples ao mais complexo e que se utilizavam de
repetições, memorizações e averiguações do aprendizado.
Fonterrada (2008, p.212) diz que Mario de Andrade defendia a função social da
música e importância e valor do folclore e da música popular. Assim a identidade
brasileira começava a ganhar espaço entre os educadores musicais. Na mesma época
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surgia Villa Lobos, (1887) companheiro de Mario de Andrade (1893), que se tornou um
dos mais importantes nomes da educação musical no Brasil ao intitular o canto
orfeônico em todas as escolas públicas brasileiras.
As características do método que chamavam atenção de Villa Lobos foram o uso
de materiais folclóricos e popular da própria terra, e deu ênfase no ensino da música por
meio do canto coral, o que democratizou o acesso a essa arte.
No Brasil as idéias nacionalistas provocavam o fortalecimento da identidade
nacional; como os pesquisadores húngaros, os brasileiros embrenhavam-se pelos sertões
e restingas cruzavam rios e abriam caminhos nas matas; iam aos mais distantes
lugarejos, buscando deles arrancar a alma brasileira expressa na música, na dança e nas
outras formas de artes. Assim o folclore ganhava status nacional segundo Fonterrada
(2008, p.213).
Sekeff (2007, p.20.) afirma que a música é representada em um contexto social,
ideológico; e é igualmente definida por um tempo e época e fundamentada em teorias,
princípios e leis que garantem a sua identidade.
1.2- A influência da música na educação da criança
A música é uma das manifestações culturais que sempre esteve presente na
sociedade. Sendo um poderoso recurso educativo a ser trabalhado na educação infantil,
e se traduz de diferentes formas.
Segundo Sekelf (2007, p.17) “a música é um poderoso agente de estimulação
motora, sensorial, emocional e intelectual”.
Sendo assim a música deve ser considerada uma verdadeira “linguagem de
expressão”, parte integrante da formação global da criança influenciando no
desenvolvimento dos processos de aquisição do conhecimento, sensibilidade,
sociabilidade e criatividade.
De acordo com Jeandot (1990, p.14) ao nascer a criança entra em contato com o
universo que a cerca e começa a produzir sons e ouvir sons produzidos pelos seres vivos
e pelos objetos. A criança começa a se integrar ao meio e inserir através dos estímulos
sonoros e outros. Sua relação com a música é imediata, seja através do acalanto da mãe
e do canto de outras pessoas ou sons produzidos no espaço.
Nesse sentido a música possibilita uma diversidade de estímulo, por seu caráter
relaxante, podendo estimular também obsorção de informações, ou seja, aprendizagem.
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Para Parise (2007) a música é um dos estímulos mais potente para os circuitos
do cérebro. Além de ajudar no raciocínio lógico-matemático, contribuindo para a
compreensão da linguagem e para o desenvolvimento da comunicação, para o
aprimoramento de outras habilidades.
No desenvolvimento linguístico, Piaget explica a capacidade do conhecer como
sendo a capacidade do individuo de estabelecer relações, pois ao imitar o canto dos
pássaros a criança descobre seus próprios poderes e a sua relação com o ambiente que
vive. (Piaget, 1978, p.353)
A linguagem musical tem sido uma das áreas de conhecimento mais importante
a ser trabalhada na Educação Infantil, ao lado da linguagem escrita oral, dos
movimentos, das artes visuais. A música também influencia muito no campo da
maturação social e individual da criança isto é do aprendizado da regras sociais. Quando
uma criança brinca, por exemplo, ela tem oportunidade de vivenciar várias situações
como: a escolha, a perda, as dúvidas e as decepções.
Quando a criança canta ou toca em conjunto sente que faz parte de um todo,
onde todos os elementos são igualmente importantes. Compreende, portanto, que cada
pessoa precisa colaborar individualmente, mas que todos precisam trabalhar em
harmonia. Conforme a visão cognitivista, o conhecimento musical se inicia por meio da
interação com o ambiente, através de experiências concretas, que aos poucos levam à
abstração. A criança se envolve integralmente com a música e a modifica
constantemente, transformando-a, pouco a pouco numa resposta estruturada.
Assim a música vem atendendo a vários objetivos na vida da criança, e tem
atendido a vários propósitos como a formação de hábitos e atitudes comportamentos.
Rosa (1990, p.21) diz que o ensino da música favorece o desenvolvimento do
gosto estético e da expressão artística, alem de promover o gosto e o senso musical.
Formando um ser humano com uma cultura musical desde criança.
Existem várias funções que podem ser desenvolvida através da música.
MERRIAM apud CRUVINEL (2005). Categoriza as funções sociais da música da
seguinte maneira: função expressão emocional; do prazer estético; do divertimento; da
representação simbólica; da contribuição para integração da sociedade e da
comunicação.
De acordo com a autora a função de expressão emocional tem como referência o
papel da música como meio de expressar idéias e emoções não reveladas no discurso
comum e que por meio da musica sentimentos serão expresso, havendo libertação de
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idéias, expressão emoções e sentimentos. A função do prazer estético enfoca tanto o
criador quanto o contemplador da música. A função do divertimento que a música
possui, em todas as sociedades distingue a diversão “pura”, que seria uma característica
da musica de tradição ocidental, e da diversão “combinada” com outros elementos que
seria uma característica da música primitiva. A função da comunicação tem como
pressuposto o fato de que a música comunica alguma coisa, mesmo que não tenha
consciência do que como e nem pra quem. A função da representação simbólica, advém
do principio de que a música funciona como representação simbólica das idéias e
comportamento em todas as sociedades.
Para Merriam (1964, p.74) o simbolismo em musica pode ser identificado da
significação e do simbolismo que as letras das canções nos trazem. A função para a
contribuição da sociedade prega que a música realiza a função de integrar a sociedade
reduzindo seus desequilíbrios.
Rosa (1990, p.19) diz que a criança de certa forma desenvolve-se de maneira que
reproduz a própria história do desenvolvimento de sua espécie, ela cresce em seu
conhecimento da música descobrindo os sons e os ritmos desenhando, garatujando,
experimentando e descobrindo novos sons.
Portanto constata-se que a partir das funções descritas que a música está inserida
na sociedade como um elemento cultural e pode levar a transformação da criança afinal
a música está presente em diversas situações da vida do ser humano.
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CAPÍTULO II
A CONSTRUÇÃO DE CONCEPÇÕES TEÓRICAS SOBRE
EDUCAÇÃO INFANTIL
O objetivo desde capítulo é o de, abordar a construção de concepções sobre a
história da Educação Infância, o conceito de música e o papel da música para a
educação infantil.
A concepção de infância é uma construção histórica e social, coexistindo em um
mesmo momento múltiplo de crianças e de desenvolvimento infantil. Segundo o
dicionário de língua portuguesa (SILVEIRA BUENO, 2000), Infância significa período
de crescimento, no ser humano em que se estende do nascimento até a puberdade.
Infância na educação grega referia-se a seres com tendências selvagens a serem
dominados pela razão e pelo bem ético e político. Já o pensamento medieval entendia a
infância como evidencias da natureza pecadora do homem, pois nela a razão, reflexo da
luz divina, não se manifestaria.
De acordo com Postman (1994, p.94) a infância é um artefato social, e é só no
primeiro ano de vida que pode ser considerada uma categoria biológica. Ele coloca que
não devemos confundir, de inicio, fatos sociais com idéias sociais. Para ele, a idéia de
infância é uma das grandes invenções da renascença, o autor afirma que a infância como
estrutura social e como condição psicológica, surgiu por volta do século XVI.
Áries diz que [...] as crianças na idade média, tem um papel social mínimo, sendo muitas vezes consideradas no mesmo nível que os animais (sobretudo pela altíssima mortalidade infantil, que impedia um forte investimento afetivo desde o nascimento), mas não na sua especificidade psicológica e física, a tal ponto que são geralmente representadas como “pequenos homens”, tanto na vestimenta quanto na participação na vida social. Até seus brinquedos são os mesmos dos adultos, e só com a época moderna é que se irá delineando uma separação. ( 1981, p.176)
Sônia Kramer (1995, p.19) destaca que a infância aparece com a sociedade
capitalista urbano-industrial na medida em que muda a inserção e o papel social da
criança na comunidade. Se na sociedade feudal, a criança exercia um papel produtivo
direto de “adulto” assim que ultrapassava o período de alta mortalidade, na sociedade
burguesa ela passa a ser alguém que precisa de cuidados, escolarização e preparação
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para a atuação futura. Este conceito de infância é, pois, determinado historicamente pela
modificação e organização da sociedade.
Jean-Jacques Rousseau (1973) ,(apud Drouet,1990, p.11), um dos precursores da
educação pré-escolar diz que: A criança era considerada um adulto em miniatura. Foi
ele que “descobriu” a infância, fazendo com que se passasse a pensar na criança como
um ser com idéias próprias, diferentes das dos adultos. Ele percebeu também que a
educação do homem começa com o seu nascimento: antes mesmo de falar, antes de
compreender, ele já se instrui.
Para Sabine (1993, p 48.) “infância é um período especial do desenvolvimento”.
Durante séculos não se atribuía direito a infância, só era considerada sujeito quando
chegava a uma idade, ou seja, a idade da razão. Para Arroyo (1994, p.88) era
simplesmente, algo a margem da família, considerada como um vir a ser. Arroyo afirma
que a infância não existe como categoria estática, mas como algo que está em
permanente construção.
De acordo com Oliveira:
Crianças são aquelas “figurinhas” curiosas e ativas, com direitos e necessidades que precisam de um espaço diferente tanto do ambiente familiar, onde são objetos do afeto do adulto, quanto do ambiente escolar tradicional, frequentemente orientado para padronização de condutas e ritmos e para avaliações segundo parâmetros externo às crianças. (2002, p. 45).
Sendo assim Infância não é um espaço vazio, silencioso ou alguém muito frágil,
pelo contrário, desde muito cedo, ou seja, desde o nascimento, já começam a ser
construídos sistemas de comunicação entre o bebe e sua mãe, por meio do choro,
sorriso, gestos, pois perceber gestos e movimentos sob forma de vibrações sonoras é
parte de nossa interação com o mundo em que vivemos.
Para Rousseau (1973) infância pode ser útil por que é natural, e que o
desenvolvimento mental pode ser regulado por leis constantes, através da intuição, e
não por experiências cientificas.
O conceito de infância não é fixo e abstrato, ele é determinado por questões
estruturais mais amplas, e vem se modificando assim como se modifica a sociedade.
Cerizara (2001, p. 45).
A fase da infância pode ser prolongada ou não, dependendo das circunstâncias
de vida de cada criança, muitos tem sua infância reduzida devido o ingresso mais cedo
no mundo do trabalho. As crianças do século passado não eram amamentadas por suas
mães, por isso Rousseau baseia essa praxe no fato de as mulheres, influenciadas pelos
21
prazeres da vida social ter abandonado as atribuições da maternidade. É ainda ele quem
afirma que o problema da amamentação das crianças não se restringe aos aspectos
físicos, pois o mais importante do que amamentar é a vontade de fazê-lo.
Diz Oliveira (2002, p. 126) “Não há uma essência humana, mas uma construção
do homem em sua permanente atividade de adaptação a um ambiente”. Ao mesmo
tempo em que a criança modifica seu meio, é modificado por ele, adotando formas
culturais de ações que transformam sua maneira de expressar, de pensar, agir e sentir.
A constituição federal evidencia a educação da infância no âmbito dos direitos e
garantias fundamentais em que se integram os princípios da legalidade e os da
igualdade. Consequentemente não assegurar esses direitos e/ou agredi-los será à
indignidade maior. (Demo, 1994, p. 55).
O principio da igualdade está adotado pela constituição Federal nas dimensões
estáticas e dinâmicas. O artigo 5° acolhe o sentido estático (“ todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer natureza”). O artigo 3° inciso III prevê em sua segunda
parte, o sentido dinâmico, pois fixa como objetivo do país “ reduzir as desigualdade
sociais e regionais” ( Grinover, 1990, p.34).
A constituição federal não só define de forma clara, a responsabilidade do poder
público para a educação das crianças de zero a seis anos em creches e pré – escolas (art.
208, inciso IV), como também, o direito dos trabalhadores (homens e mulheres) à
assistência gratuita aos seus filhos e dependentes, desde o nascimento até os seis anos
de idade, em creches e pré-escolas (art. 7°, inciso XXV).
O estatuto da criança e do adolescente (ECA), foi considerado pelo UNICEF1
uma da legislação mais avançada do mundo, na área do direito da criança e do
adolescente, por isso foi considerada “a carta dos direitos da criança”, com o principio
enfatizando a vida, a educação, a saúde,, proteção, liberdade, convivência familiar,
lazer. O seu alcance de objetivos e ações permite associar educação e assistência, na
efetivação do atendimento global à criança, o que torna um instrumento convincente na
percepção da democracia e da cidadania. Ser cidadão significa ser tratado com humanidade e aprender a fazer o mesmo em relação às demais pessoas, ter acesso a formas mais interessantes de conhecer e aprender a enriquecer-se com troca de experiência com outros indivíduos. (Oliveira, 2002, p. 52).
1- Fundo das Nações Unidas para a Infância (em inglês United Nations Children's Fund )
22
A partir da lei nº 9394/96, que estabelece novas diretrizes e bases para educação
nacional o atendimento a crianças em creches (até 3 anos de idade) e pré-escola (4 a 6
anos) constitui a educação infantil, nível de ensino integrante da educação básica.
A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança até 6 anos de idade, em seus aspectos físicos,
psicológicos, intelectual, social, complementando a ação da família e da
comunidade.(lei 9394/96, artigo 29).
Os sistemas de Educação Infantil em diferentes países divergem quanto ao
percentual de crianças atendidas nas diversas faixas etárias. Essas diferenças são
ocasionadas pela heterogeneidade de tradições históricas culturais e políticas que
permeiam a vida do país, da região, e da cidade e pela existência de concepções
variadas a respeito das funções da Educação Infantil. Oliveira (2002, p.36). E ainda
afirma: Assim a aprendizagem e o desenvolvimento da criança envolvem organizar condições para que elas interajam com outras crianças e com adultos em situações variadas. Na Educação Infantil, hoje, busca-se ampliar certos requisitos necessários para adequada inserção da criança no mundo atual: sensibilidade (estética pessoal) senso crítico (autonomia, pensamento divergente) Solidariedade (intelectual e comportamental (idem, p.49)
A ampliação do conhecimento é feita através das experiências, portanto deve-se
considerar a importância dos aspectos sócio emocionais na aprendizagem e a criação de
ambiente interacional, rico de novas situações que envolvem atividades infantis como
brincadeiras e exploração do lúdico e músicas.
De acordo com o PCN de Arte v.6 (1998) “A criança é um ser sincrético, ou
seja, sua percepção de mundo é multidimensional e simultânea, aberta a todos os canais,
a criança pequena vive intensamente cada descoberta, colocando-se por inteiro em cada
situação. Quando brinca, brinca com toda a seriedade, pinta, desenha, a criança explora
sons, inventa música [...] “Aprender música significa integrar experiência que envolve a
vivência a percepção e a reflexão”, encaminhando-as para níveis cada vez mais
elaborados.
Rosa (1990, p.21) diz que: Há necessidade de se desenvolver nas crianças pequenas o senso rítmico. O mundo que nos rodeia vive numa profusão de ritmos evidenciados sob diversos aspectos: no relógio, no andar das pessoas, no voar dos pássaros, nas batidas do coração [...].
23
Ouvir, cantar e dançar, é atividade presente na vida de quase todos os seres
humanos, ainda que seja e diferentes maneiras. As crianças mesmo ainda antes do
nascimento são envolvidas com o universo sonoro, pois na fase intra – uterina os bebes
convivem com um ambiente de sons provocados pelo corpo, movimentos e pela voz da
mãe, constituindo assim um material sonoro para eles.
Brito (2003, p.35) afirma que “o processo de musicalização dos bebês e crianças
começam espontaneamente, de forma intuitiva, por meio do contato com toda a
variedade de sons do cotidiano, incluindo aí a presença da música”.
A música no dia a dia das crianças vem atendendo a diversos propósitos como
suporte para a formação de hábitos, atitudes, disciplina, condicionamento da rotina,
comemorações de datas diversas etc. Assim o emprego de diferentes tipos de música é
uma questão vinculada a cada situação, mas muitas vezes e sempre acompanhadas de
gestos e movimentos que pela repetição se torna mecânicos e estereotipadas.
Gainza (1982, p.01) diz que não “importa a porta de entrada para a experiência
musical, seja ela iniciada pela recepção do estimulo externo, ou pela expressão que flui
do individuo para o exterior. O que vai importar é que de imediato estabeleça-se o
equilíbrio que fecha o circuito com a adição da atividade complementar resultando num
movimento de recepção-expressão ou expressão - recepção.”
2.1 A História da Educação Infantil
Segundo Ariès (1981), somente a partir do século XVII, surge o sentimento da
infância; pois até então, a criança era vista pela família e pela sociedade como ser
insignificante.
Ao longo dos séculos, assistimos a um crescente movimento pelo conhecimento
da criança em vários campos. Portanto está havendo um esforço mundial pela
educação, por isso, é que vem ampliando-se a consciência cidadã da importância da
realidade Infantil e o reconhecimento da criança como sujeito de plenos direitos para
com a qual o poder público e a sociedade têm compromisso.
Entendia-se criança como um ser diferente do adulto, diferenciando na idade, na
maturidade, além de ter certos comportamentos típicos, o limite entre criança e adulto é
complexo, pois este limite está associado à cultura, ao momento histórico e aos papéis
determinados pela sociedade. Estes papéis dependem da classe social-econômica em
que está inserida a criança e sua família. Não têm como tratar a criança analisando
24
somente sua ‘natureza infantil’ desvinculando-a das relações sociais de produção
existente na realidade.
Na Idade Média encontramos uma sociedade feudal, onde os senhores de terras
possuíam domínios e poderes, construindo suas leis, sua cultura, seus valores etc. Nesta
época a criança era vista como um adulto que executava as mesmas funções dos mais
velhos.
Segundo Ariès (1981, p. 99) na sociedade medieval, o sentimento da infância
não existia e o sentimento da infância não significava o mesmo que afeição pelas
crianças: corresponde á consciência da particularidade que distingue essencialmente a
criança dos adultos, mesmo jovem. Essa consciência não existia. Por essa razão assim
que a criança tinha condições de viver sem solicitude constante de sua mãe ou ama, ele
ingressava na sociedade adulta e não se distinguiam mais destes.
Dizem que a história segundo alguns estudos: crianças aos sete anos (tanto rica
como pobres) eram colocadas em outra família para aprender os trabalhos domésticos e
valores humanos, através de aquisição de conhecimento e experiências práticas. Essa
ida para outra casa fazia com que a criança saísse do controle da família, não
possibilitando a criação do sentimento entre pais e filhos. Nesta época as escolas que
existiam era dirigidas pelas igrejas, e atendia um pequeno grupo de clérigos
(principalmente do sexo masculino); de todas as idades. Com o passar do tempo à igreja
perde o poder com o surgimento da burguesia, e assim surgem duas atitudes
contraditórias na que se refere á concepção de criança. Assim uma delas considerava a
criança um ser ingênuo, inocente e enquanto a outra considerava imperfeita e
incompleta e era traduzida pela necessidade do adulto moralizar a criança.
Essas atitudes começam a modificar a base familiar existente na idade média. Já
na idade moderna com a revolução industrial e a constituição dos estados, trouxeram
modificações sociais e intelectuais, modificando assim a visão que se tinha da criança.
Surgem as primeiras propostas de educação e moralização infantil. O ensino era
primeiramente, para os meninos e só a partir do século XVII é que as meninas ganham o
direito de frequentar escolas. Nessa época a educação se torna mais pedagógica, menos
empírica, surge também o castigo corporal como forma de disciplinar, essa prática era
utilizada tanto na família como nas escolas.
De acordo com Drouet (1990, p.20) Com a revolução industrial, muitas mulheres
foram obrigadas a deixar as manufaturas caseiras e trabalhar nas fabricas que passaram
a multiplicar. Surgiram às primeiras creches que consistiam em refúgios, era uma sala
25
na casa de uma mulher que não trabalhava fora a “Guardiã”, que reunia várias crianças
de todas as idades, filhas de vizinhos, as quais davam alimentação e cuidados. Ainda
segundo a autora por volta de 1840 apareceram na França à primeira instituição que
cuidava das crianças recém nascidas até completarem a idade de cinco anos. Eram
filhos de trabalhadores que não tinham onde deixar seus filhos durante o serviço.
Chamavam-se Creches, pois em francês creche significa berço.
Com a primeira Guerra mundial aumentou - se a necessidade de creches, devido
o número de mulheres trabalhando nas indústrias em substituição aos homens que se
alistavam para as guerras.
Com o crescente número de crianças órfãs as creches públicas não conseguiam
mais abrigar todas as crianças de modo que foram surgindo os berçários e creches
particulares.
Drouet (1990, p.21) afirma que atualmente as creches têm leis especificas para o
funcionamento em quase todos os países e são controlados pelos ministérios da saúde e
da educação. As crianças do século XVIII que ficaram órfãos dos pais que perdiam a
vida nas guerras, nessa época os de quatro a sete anos eram empregadas pelas fabricas
para fazerem serviços que os adultos não conseguiam fazer, como limpar chaminés,
fazer lubrificação das partes inferiores das máquinas pesadas etc. Essas crianças
chegavam a trabalhar até 14 horas diárias como aprendizes, cedidos aos patrões pelo
comissionario dos pobres. Ao atingirem a idade de sete anos era devolvido ás ruas
completamente ignorantes (idem, p.22).
Apos a segunda guerra mundial, as crianças passam a necessitar de cuidados e
atenção quanto á saúde emocional, prejudicados pela mortes e a ausência dos pais ou
mesmo pelo afastamento das mães que trabalhavam fora.
Da década de 50 em diante teve inicio a preocupação com um maior
entendimento ás crianças de baixa renda, na tentativa de evitar os seus repetidos
fracassos ao entrarem na escola elementar (equivalente ao 1° grau). Daí surge a
denominação pré-escolar, que passou a significar "ensino que antecedia a escola
elementar ou que preparava para a escola elementar.” Drouet, (1990, p.23)
Segundo Sônia Kramer: As aspirações educacionais aumentam à proporção em que ele acredita que a escolaridade poderia representar maiores ganhos, o que provocava frequentemente a inserção da criança no trabalho simultâneo à vida escolar. [...] A educação tem um valor de investimento a médio ou longo prazo e o desenvolvimento da criança contribuirá futuramente para aumentar o capital familiar. (1992, p.23)
26
Houve uma mudança radical no objetivo das escolas maternal, pois no inicio as
escolas só se preocupava apenas com a formação de bons hábitos e com a saúde física
e mental da criança, só depois é que acrescentou a função de preparar a criança
evitando a repetência e a evasão escolar. Essas mudanças de objetivos influenciaram a
educação infantil de muitos países inclusive o Brasil.
No Brasil, o surgimento das creches foi um pouco diferente de outros países, as
creches atendiam as mães que trabalhavam nas indústrias e as que trabalhavam de
domesticas também.
Nessa época as creches só atendiam o que se referia á alimentação, higiene e
segurança física. Caberia ao estado manter essas instituições, mas na realidade foi
mantida por doações. A partir dos anos 30 com o estado de bem estar social,
manifestaram-se elevados graus das políticas sociais, assim como a centralização do
poder. Houve-se da década de 60 e meados da década de 70 um período de inovação de
políticas sociais na área da educação. Nos anos 80 a educação pré-escolar sofre com
problemas, pois há falta de uma política global e integrada, problemas esses que foram
pela falta de coordenação entre programas educacionais e de saúde, insuficiência de
docentes, escassez de programas inovadores e falta de participação familiar e da
sociedade.
Surgiram também os jardins de infância com uma diferença em relação às
creches e escolas maternas, quase todos eram particulares e muitos caros, destinados a
elite e várias escolas eram famosas e situavam nos grandes centros. Nessas escolas
havia a preocupação em trabalhar a educação física, assim, surgem os parques infantis
para as crianças praticar esportes e jogos.
De acordo com Drouet (1990, p. 25) no Brasil, o primeiro parque foi criado em
são Paulo em 1935, destinado a desenvolver o gosto pelo esporte, criando hábitos
saudáveis e de grande alcance moral e higiênico. Esses parques constituíam-se na
maioria de grandes áreas verdes com um galpão que abrigava as salas de aula,
diretoria, refeitórios, possuíam parquinho com brinquedos e quadra de esportes tanques
de areia e muitos jogos.
A educação pré-escolar é a que atende desde o nascimento até a entrada para a
escola obrigatória. Drouet (1990, p. 27) o objetivo da educação pré-escolar era o
desenvolvimento intelectual e socialização, preparação para a escola elementar, vida
física e desenvolvimento da linguagem, aspecto efetivos morais e religiosos.
27
Segundo Drouet (1990, p.27) os programas usados em quase todos os países
foram os de Montessori (1970) e de Declory (1871), foram citados métodos ativos,
baseados no jogo, outros baseados em Freinet (1896), Dewey (1954), Piaget (1896) e
outros psicólogos e educadores.
Com os avanços da legislação brasileira e outros aspectos no âmbito das
políticas públicas vieram assumindo a Educação Infantil. No Brasil os avanços no
campo da legislação estão contidos na Constituição Federal de 1988, no estatuto da
criança e do adolescente (ECA) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN) de n° 9394/96 e a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) n° 8.742.1993.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional trouxe ao principio jurídico o
sentido dinâmico do principio equalizador, seja estabelecendo critérios com objetivos de
dar oportunidades iguais ás pessoas, materializando os preceitos constitucionais sobre a
educação que atribuem deveres ao estado, inclusive com atendimento em creches e pré-
escolas às crianças de zero a seis anos de idade (EI) Educação Infantil.( Constituição
Federal) C.F art. 205, 206 e 208).
A educação infantil organiza se em creches e pré-escolas de modo que de zero a
três anos haja uma articulação de políticas sociais que, liberados pela educação,
interagem desenvolvimento com a vida individual, social e cultural num ambiente onde
as formas de expressão, dentre elas a linguagem verbal, corporal ocupem ligar
privilegiados, num contexto de jogos e brincadeiras, em que as famílias e as equipes das
creches convivem intensa e construtivamente, cuidando e educando. E para as de quatro
a seis anos haja uma progressiva e prazerosa articulação das atividades de comunicação
e de ludicidade com o ambiente escolarizado, no qual o desenvolvimento, socialização e
construção de identidades singulares afirmativas, protagonistas das próprias ações,
possam relacionar-se, gradualmente com ambientes distintos dos da família, na
transição para educação fundamental (Regina Assis, Parecer -22/98/CNE) A base do cuidado humano é compreender como ajudar o outro a se desenvolver como ser humano. Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que possui dimensões expressivas e implica em procedimentos específicos. O desenvolvimento integral depende tanto dos cuidados relacionais, que envolve a dimensão afetiva e dos cuidados com os aspectos biológicos do corpo,com qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde quanto da forma como esses cuidados são oferecidos e das oportunidades de acesso a conhecimento variados”. (Brasil /MEC, 1998 p 24)
Nesse sentido Foucult (1977, p. 5) alerta-nos para as práticas sociais que não
somente fazem aparecer novos objetivos, novos conceitos, novas técnicas, mas também
28
fazem nascerem formas totalmente novas de sujeitos [...]. O autor considera ainda que,
o sujeito não pertence ao domínio de uma suposta natureza humana. Na perspectiva da
diferença, sujeito e objeto vão se constituindo em processos.
Assim sendo, de acordo com Stuart Hall (1980 apud SOUZA 1999, p. 13) não
existe uma identidade prévia inata, mas processos desmitificatórios que vão se
constituindo ao longo da existência. Assim sendo refletir sobre identidade para a
Educação Infantil remete nos à reflexão, sobre uma proposta pedagógica norteadora do
trabalho junto às crianças de zero a seis anos. Quanto a isso, Kramer afirma que toda
proposta pedagógica nasce de uma realidade que pergunta e ao mesmo tempo busca
uma resposta emanada eminentemente do diálogo e diz mais: […] toda proposta é situada em um contexto histórico determinado, traz consigo o lugar de onde fala e a gama de valores que constitui; traz também as dificuldades que enfrenta os problemas que precisam ser superados e a direção que orienta. Essa fala é a fala de um desejo, de uma vontade política, no caso de uma proposta educativa, é sempre humana... Não é nunca uma fala acabada, não aponta o lugar a resposta, pois se traz "a" resposta , não é mais pergunta. (1996, p.18)
Sendo assim, uma programação pedagógica deve ser pensada a partir do
conhecimento dos alunos em suas múltiplas dimensões e das necessidades sociais de
aprendizagem que lhes são propostas.
2.2- O papel da música na Educação Infantil
Sabe-se que a música tem um papel relevante na educação infantil. Pois o
envolvimento da criança com o universo sonoro começa ainda antes do nascimento.
Ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos
rítmicos, são atividades que despertam, estimulam e desenvolve o gosto pela atividade
musical. Além de propiciar vivência de elementos estruturais dessa linguagem.
A criança relaciona-se com o mundo através de brincadeiras que a cada dia
descobre, e é dessa forma que faz música, brincando, cantando, tocando ou dançando. A
música de boa qualidade proporciona diversos benefícios e é uma grande aliada no
desenvolvimento da criança. Assim como diz Rosa (1990, p.19) a música é uma
linguagem expressiva e as canções são veículos de emoções e sentimentos, e podem
fazer com que a criança reconheça nela seu próprio sentir.
De acordo com os PCNs:
29
[...] a expressão existe em toda a ação humana. Podemos identificar à presença da expressão em tudo aquilo que o ser humano faz. Quer dizer, toda a forma criadora representa múltiplas significações que abrangem o plano psicológico, social e cultural de um momento específico da história do homem. (1998, p.80)
Partindo desse principio a musica é um dos estímulos do mundo externo que
contribui na formação de ser humano, e assim, a mesma desempenha papel importante
nas fases e etapas do desenvolvimento infantil. O processo de musicalização começa
espontaneamente de forma intuitiva por meio do contato com toda a variedade de sons
do cotidiano.
No entanto ao observar que a fala, além de facilitar a efetiva manipulação de
objetos pela criança, interfere também no seu comportamento. Por isso a linguagem age
decisivamente na estrutura do pensamento e é a ferramenta básica para a construção do
conhecimento.
A criança vai interagindo e adquirindo novas palavras e ampliando a capacidade,
pois ao relacionar a música com esses níveis de desenvolvimento podemos notar que ela
se torna mediadora nessa fase, já que a musica atua em vários processos, socializando a
criança com o mundo.
Para Ganiza:
[...] por princípio, todo o conceito deverá ser precedido e apoiado pela participação e manipulação ativa do som: a expressão do ambiente sonoro, a invenção e construção dos instrumentos, o uso sem preconceito dos instrumentos tradicionais, a descoberta e a valorização do objeto sonoro. Na pedagogia como na arte a única constante é o movimento, a busca interna e a exploração da realidade circundante. (1988, p.109)
Segundo Martins (1985, p.47) educar musicalmente é propiciar à criança uma
compreensão progressiva da linguagem musical, através de experimento e convivências
orientadas. O conhecimento é construído a partir da interação da criança com o meio
ambiente, e o ritmo é parte primordial do mundo que o cerca.
Rosa (1990, p.21) fala que cabe ao educador fazer com que a criança descubra,
analisa e compreenda os ritmos do mundo, por meio da observação e do contato com
instrumentos musicais, com teatro, dança folclore e etc.
Rosa afirma que: As atividades musicais contribuem para que o indivíduo aprenda a viver na sociedade, abrangendo aspectos comportamentais como disciplina, respeito, gentileza e polidez e aspectos didáticos como a formação de hábitos específicos, tais como os relativos, as datas comemorativas,a noção de higiene, a , as manifestações folclóricas e outros. (1990, p. 21)
30
Assim a presença da música nas datas comemorativas deve ser muito bem
analisada e adequadamente aproveitada, evitando que seja vista apenas como passa
tempo ou como recreação.
Libâneo (1996, p.17) acredita que a prática educativa não se constitui apenas
como uma exigência social, mas também o “processo de prover os indivíduos dos
conhecimentos e experiências culturais que os tornam aptos a atuar no meio social e a
transformá-la em função de necessidades econômicas, sociais e políticas da
coletividade”.
Assim a linguagem musical deve ser um dos meios para alcançar esta educação,
pois a educação através das artes proporciona à criança a descoberta das linguagens e
seu próprio potencial criativo, tornando-a mais capaz de criar, inventar e reinventar o
mundo que a circunda.
31
CAPÍTULO III
A ARTE/MÚSICA NA SALA DE AULA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Neste capítulo, abordarei através da pesquisa bibliográfica e estudos
relacionados às políticas que tratam sobre a Arte/Música na sala de aula da Educação
Infantil, sua importância e contribuição para o desenvolvimento cognitivo das crianças e
o processo de ensino/aprendizagem das crianças de (0 a 4 anos).
A nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) n° 9.394, aprovada em 20 de Dezembro
de 1996, que estabelece em seu artigo 26 parágrafo 2º “o ensino da Arte constituirá
componentes curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação Básica, de forma a
promover o desenvolvimento cultural dos alunos”.
3.1 Arte e Educação
Até hoje não houve ninguém que conseguisse definir o que seria Arte, pois é um
fenômeno complexo tanto material quanto espiritual. Toda tentativa de conceituar um
fenômeno como a Arte é uma problemática, pois tudo que se observa é produto de um
ato criativo.
Desde os povos primitivos até hoje a Arte tem contribuído para uma melhor
espiritualização do ser humano, pois procura a cada vez mais conhecer-se e atuar de
forma consciente e livre no mundo em que vive.
Para Ferraz (1999, p.29) a preocupação com a educação em arte tem mobilizado
pesquisadores, professores, artistas e outros que procuram fundamentar e intervir nessas
práticas educativas. Desde o final dos anos 80 procuram divulgar vários trabalhos desta
ordem, isto é são propostas, tais como:
- a arte como proposta para suprir as necessidades psicológicas dos alunos e suas
necessidades ambientais, comunitárias e sociais;
- no ensino e aprendizagem pensados a partir da própria arte, como sistema de
conhecimento do mundo;
32
- o conhecimento da arte a partir do fazer artístico e também da apreciação e
história da arte;
- as articulações das percepções e verbalização dos alunos como base na
experiência estética;
- vencer limites e alcançar através da interdisciplinaridade os diversos métodos
de ensinar e aprender os conhecimentos de arte;
- as necessidades de mudanças da formação do educador em arte, procurando
visando à melhoria da qualidade de escolarização desde a Educação Infantil.
Então, o papel da arte na educação segundo Barbosa (1975) é grandemente
afetado pelo modo como o professor e aluno vêem o papel da arte fora da escola, no
cotidiano.
Ferraz e Fusari (1992, 1993), num significativo trabalho destinado ao ensino das
artes, discorrem sobre conceitos de Arte/Educação – métodos, objetivos, princípios e
conteúdos, disciplinares e também sobre a formação desse docente.
Segundo as autoras, o educador de Arte deve saber arte e saber ser educador de
Arte, o que ressalta o que disse sobre as propostas para o ensino de Arte, que deve ser
articulado com a compreensão da arte enquanto movimento histórico-cultural, que
reflete através do meio social e que compreende a importância da mediação do
educador, pois, ainda segundo as autoras: [...] Quando estamos diante de uma pintura ou ouvimos uma música, por exemplo, estamos articulando diferentes graus de conhecimento específico dessas modalidades artísticas, o que permite uma nova integração com as obras e com seus autores. Para completar as dimensões da práxis artística é preciso verificar como se dá a difusão da obra de arte no mundo da cultura e no contexto histórico-social. (Ferraz e Fusari, 1993, p.54)
Como cada uma das modalidades artísticas, a música é uma arte com
características próprias. Desde a pré- história o ser humano não apenas transformou os
materiais da natureza com a finalidade de fabricar instrumento para facilitar suas vidas,
como também produziu obras de arte. Na natureza, há sons dos mais diversos que se
combinam de diferentes maneiras, sendo agradáveis ou não para os ouvidos.
O ensino de Arte em geral e, também, Educação Musical, sofre diversos
preconceitos dentro da escola e, mesmo tendo passado a ser reconhecida como
disciplina obrigatória, continua sendo percebida pelos educadores como momento de
lazer ou conhecimento “menor” em relação aos demais conhecimentos. Nesse contexto,
o ensino da Arte realmente não se apresenta como contribuição efetiva do
desenvolvimento global da personalidade de crianças e jovens.
33
Segundo Sleiman (2009, p.31 e 32) a Educação Musical deve ser a Educação
Musical dentro do processo de conhecimento e desenvolvimento humano, e isso só
ocorrerá com esforços, tanto dos educadores, quanto da escola, da comunidade no geral
e do poder público através de sua legislação.
Wegel fala que: A música, assim como a dança, o teatro e o cinema é uma arte que se
desenvolve no tempo e se concretiza no momento de sua manifestação. Todas
essas formas de expressão artística compartilham uma mesma característica.
Não podem ser apreciadas em um único momento, mas em todo momento de
duração. (1988, p.102)
Neste aspecto a comunicação tem um papel importante em arte, pois não se
limita somente ao campo da empatia, mas envolve o homem físico, psicológico, moral e
intelectualmente.
3.2 A música segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, afirma que a
integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a
promoção de interação e comunicação social, confere caráter significativo à linguagem
musical.
A música no contexto da Educação Infantil vem, ao longo de sua história,
atendendo a vários objetivos, alguns dos quais alheios às questões próprias dessa
linguagem. Tem sido em muitos casos, suporte para atender a vários propósitos, como a
formação de hábitos, atitudes e comportamentos: lavar as mãos antes do lanche, escovar
os dentes, respeitar o farol etc.; a realização de comemorações relativas ao calendário de
eventos do ano letivo simbolizados no dia da árvore, dia do soldado, dia das mães etc.; a
memorização de conteúdos relativos a números, letras do alfabeto, cores etc., traduzidos
em canções. Essas canções costumam ser acompanhadas por gestos corporais, imitados
pelas crianças de forma mecânica e estereotipada.
Ainda que esses procedimentos venham sendo repensados, muitas instituições
encontram dificuldades para integrar a linguagem musical ao contexto educacional.
34
Mesmo que as formas de organização social e o papel da música nas sociedades
modernas tenham se transformado, algo de seu caráter ritual é preservado, assim como
certa tradição do fazer e ensinar por imitação e “por ouvido”, em que se misturam
intuição, conhecimento prático e transmissão oral. Essas questões devem ser
consideradas ao se pensar na aprendizagem, pois o contato intuitivo e espontâneo com a
expressão musical desde os primeiros anos de vida é importante ponto de partida para o
processo de musicalização.
Compreende-se a música como linguagem e forma de conhecimento. Presente
no cotidiano de modo intenso, no rádio, na TV, em gravações, jingles etc. E por meio de
brincadeiras e manifestações espontâneas ou pela intervenção do professor ou
familiares, além de outras situações de convívio social, a linguagem musical tem
estrutura e características próprias, devendo ser considerada como: produção —
centrada na experimentação e na imitação, tendo como produtos musicais13 a
interpretação, a improvisação e a composição; apreciação — percepção tanto dos sons e
silêncios quanto das estruturas e organizações musicais, buscando desenvolver, por
meio do prazer da escuta, a capacidade de observação, análise e reconhecimento
reflexão — sobre questões referentes à organização, criação, produtos e produtores
musicais.
O trabalho com Música deve se organizar de forma a que as crianças
desenvolvam as seguintes capacidades: ouvir, perceber e discriminar eventos sonoros
diversos, fontes sonoras e produções musicais; brincar com a música, imitar, inventar e
reproduzir criações.
A organização dos conteúdos para o trabalho na área de Música nas instituições
de Educação Infantil deverá, acima de tudo, respeitar o nível de percepção e
desenvolvimento (musical e global) das crianças em cada fase, bem como as diferenças
socioculturais entre os grupos de crianças das muitas regiões do país.
Os conteúdos deverão priorizar a possibilidade de desenvolver a comunicação e
expressão por meio dessa linguagem. Serão trabalhados como conceitos em construção,
organizados num processo contínuo e integrado que deve abranger: a exploração de
materiais e a escuta de obras musicais para propiciar o contato e experiências com a
matéria-prima da linguagem musical: o som (e suas qualidades) e o silêncio; a vivência
da organização dos sons e silêncios em linguagem musical pelo fazer e pelo contato
com obras diversas; a reflexão sobre a música como produto cultural do ser humano é
importante forma de conhecer e representar o mundo.
35
O fazer musical requer atitudes de concentração e envolvimento com as
atividades propostas, posturas que devem estar presentes durante todo o processo
educativo, em suas diferentes fases. Entender que fazer música implica organizar e
relacionar expressivamente sons e silêncios de acordo com princípios de ordem é
questão fundamental a ser trabalhada desde o início. Nesse sentido, deve-se distinguir
entre barulho, que é uma interferência desorganizada que incomoda, e música, que é
uma interferência intencional que organiza som e silêncio e que comunica. A presença
do silêncio como elemento complementar ao som é essencial à organização musical. O
silêncio valoriza o som, cria expectativa e é, também, música. Deve ser experimentado
em diferentes situações e contextos.
A escuta musical deve estar integrada de maneira intencional às atividades
cotidianas dos bebês e das crianças pequenas. É aconselhável a organização de um
pequeno repertório que, durante algum tempo, deverá ser apresentado para que
estabeleçam relações com o que escutam. Tal repertório pode contar com obras da
música erudita, da música popular, do cancioneiro infantil, da música regional etc. A
música, porém, não deve funcionar como pano de fundo permanente para o
desenvolvimento de outras atividades, impedindo que o silêncio seja valorizado.
O trabalho com a apreciação musical deverá apresentar obras que despertem o
desejo de ouvir e interagir, pois para essas crianças ouvir é, também, movimentar-se, já
que as crianças percebem e expressam-se globalmente. A produção musical de cada
região do país é muito rica, de modo que se pode encontrar vasto material para o
desenvolvimento do trabalho com as crianças. Nos grandes centros urbanos, a música
tradicional popular vem perdendo sua força e cabe aos professores resgatar e aproximar
as crianças dos valores musicais de sua cultura.
Assim sendo, a música é um dos fatores, talvez o mais importante, responsáveis
pelo despertar dos sentidos, que são o elo de conexão entre o ser humano e o mundo a
sua volta. Despertar esses sentidos na criança é particularmente importante, já que é
nessa fase que ela está descobrindo o mundo. A música é uma das principais formas de
expressão e comunicação, além de transmitir a cultura, a história e identidade social a
que pertence.
36
3.2.1 Práticas musicais na Educação Infantil
A Educação Infantil no seu dia a dia vivencia muitas atividades musicais, pois
desde a chegada da criança na creche ou na escola infantil esta é recebida com músicas
que alegram o ambiente e faz com que a criança possa desejar permanecer na sala de
aula. Existe por parte dos professores um costume de ter a música da chegada na sala de
aula, a música para fazer o silêncio, a música para lavar as mãos e lanchar, a música do
descanso e outros. A música neste caso é usada para a aquisição de hábitos, onde a
música facilita a memorização e faz com que algo que é repetitivo se fosse apenas com
uso de palavras deixaria a criança cansada e em pouco motivaria a criança “fazer o
silêncio”, ou “organizar para o momento do lanche”, a música aqui então foi uma
ilustração da aula.
Segundo Brito (2003, p.43) O processo de aquisição da linguagem também
facilita a comparação com a expressão musical: da fase da exploração vocal a etapa de
reprodução, criação e reconhecimento das primeiras letras.
Pouco se sabe a respeito do trabalho pedagógico desenvolvido a partir da
linguagem musical. A música está presente no cotidiano das crianças, através dos
brinquedos musicais fazem parte da vida da criança desde muito cedo. Por meio do
acalanto, dos brinquedos ritmados, que se estabelecem as primeiras experiências lúdicas
musicais da vida humana. Nesse sentido Brito afirma:
[...] as cantigas de ninar, as canções de rodas, as parlendas e todo tipo de jogo musical têm grande importância, pois é por meio das interações que se estabelecem que os bebês desenvolvem um repertorio que lhes permitirá comunicar-se pelos sons, os momentos de trocas e comunicação sonora musicais favorecem o desenvolvimento afetivo e cognitivo, bem como a criação de vínculos com adultos quanto com a musica.(2003, p. 35)
Contudo a pesquisa acerca da música nos ambientes da educação básica
especialmente na Educação Infantil, permanece tímida. Da mesma forma os encontros e
congressos realizados no Brasil, trabalhos que envolvem a linguagem musical nas
creches e pré-escolas são raros e, quando existem são poucos relevantes, quase não
apresentam avanços significativos.
Segundo Brito (2003, p. 51): [...] ainda hoje, quando a educação infantil, de modo geral redimensionou conceitos e abordagens e modos de atuação, sob a influencia de novas
37
pesquisas e teorias pedagógicas, percebemos que o trabalho com a linguagem musical avança a passos lentos rumo a uma transformação conceitual.
Portanto é perceptível que o domínio de concepções pedagógicas tradicionais,
nas quais a música, quase sempre reduzida à forma de canção, não tem especificidade
ou conteúdos próprios. Serve sempre de estratégias para a obtenção de padrões de
comportamento ou para fixação de conteúdos (canções para conhecer as vogais, para
aprender os números etc.). [...] continuamos apenas cantando canções que já vem prontas, tocando instrumentos única e exclusivamente de acordo com as indicações do professor, batendo o pulso,o ritmo etc. quase sempre excluindo a interação com a linguagem musical, que se dá pela exploração, pela pesquisa e criação, pela integração de subjetivos e objetivos, de sujeitos e o objeto, pela elaboração de hipótese e comparação de possibilidades, pela ampliação de recursos, respeitando experiências prévias,a maturidade, a cultura do aluno, seus interesse e sua motivação interna e externa. (Brito, 2003, p. 52)
A prática da utilização da música dentro de um rígido calendário escolar de
festividades: música para o dia dos pais, para o dia das mães, para o dia do índio, para a
páscoa e etc. Muitas vezes o educador na preocupação de cumprir com esse extenso
calendário, deixa de explorar as possibilidades expressivas da música, deixando de
propiciar à criança um contato mais exploratório e prazeroso com a linguagem, ou seja,
a riqueza do processo de exploração é menosprezada em função de uma ênfase na
apresentação de um produto final, mecânico e estereotipado.
Brito afirma que para a [...] grande maioria das pessoas, incluindo os educadores (especializados ou não), a música era (e é) entendida como algo “pronto”, cabendo a nós a tarefa máxima de interpretá-la. Ensinar música, a partir dessa óptica, significa ensinar a reproduzir e interpretar música, desconsiderando a possibilidade de experimentar, improvisar, inventar como ferramenta pedagógica de fundamental importância no processo de construção do conhecimento musical. (2003, p.52)
Percebe-se que as práticas musicais presentes nas creches e pré-escolas
encontram-se defasada em relação a algumas áreas de conhecimento.
O Referencial Curricular também afirma que existe uma defasagem entre o
trabalho realizado na área da música e nas demais áreas de conhecimento, evidenciada
pela realização de atividades de reprodução e imitação em detrimento de atividades
voltadas à criação e a elaboração musical. Nesse contexto, a música é trata como se
fosse um produto pronto que se aprende a reproduzir, e não uma linguagem cujo
conhecimento se “constrói”.
38
Para Maffiolette o desenvolvimento da capacidade de imitar mostra que as
imitações que acontecem nas escolas estimulam respostas corporais sem que estas
representem alguma coisa pensada pela criança. Sem dúvida, pedir que a criança imite
um modelo à sua frente, ou oferecer-se como se fosse um sinal excitante para que a
criança reaja corporalmente está longe de ser uma forma de ajudá-la a pensar ou
desenvolver sua inteligência. A autora ainda diz que “é preciso que as imitações deixem
espaços para evocar, pensar e criar meios próprios de expressão, para que realmente
representa o movimento interior de compreensão das situações vivenciadas”. (2000, p.
33).
Assim sendo o ensino da música no contexto da Educação Infantil tem sido
muito limitada. Se o objetivo da educação atual é fazer da música um recurso didático
privilegiado é necessário criar condições para que essa linguagem musical faça parte da
vida escolar dos alunos a partir da Educação Infantil.
KONDER, informa que:
Qualquer objeto que o homem possa perceber ou criar é parte de um todo. Em cada ação empreendida, o ser humano se defronta, inevitavelmente, com problemas interligados. Por isso, para encaminhar uma solução para os problemas, o ser humano precisa ter uma certa visão de conjunto deles: e a partir da visão de conjunto que a gente pode avaliar a dimensão de cada elemento. (1999, p.37)
Para que o trabalho com música contribua para o desenvolvimento integral da
criança é importante que toda a atenção seja voltada para eles, pois é nessa fase que a
criança estabelece uma relação entre o conhecimento sensorial e os desenvolvimentos
de seus aspectos cognitivos e afetivos, além de contribuir para a formação de sua
personalidade.
3.2.2 Vigotsky e o desenvolvimento dos processos mentais da criança.
Vigotsky caracteriza os aspectos tipicamente humanos do comportamento,
elaborando hipótese de como essas características se formaram ao longo da história
humana e de como se desenvolvem durante a vida de um individuo. O desenvolvimento,
o aprendizado e as relações entre eles são temas centrais nos seus trabalhos. Ele busca
compreender a origem e o desenvolvimento dos processos psicológicos ao longo da
história. Vigotsky afirma que desde o nascimento da criança:
39
[...] o aprendizado está relacionado ao desenvolvimento e é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especialmente humanas. É o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimentos, que, se não fosse o contato do individuo com certo ambiente cultural, não ocorreriam. (Vigotsky, 1998, 127)
Segundo Vigotsky para criar métodos eficientes para a instrução das crianças em
idade escolar no conhecimento sistemático, é necessário entender o desenvolvimento
dos conceitos científicos na mente da criança (...) ele afirma que, a partir das
investigações sobre o processo da formação de conceitos, um conceito é mais do que a
soma de certas conexões associativas formadas pela memória, é mais do que um
simples habitat mental, é um ato real e complexo de pensamentos que não pode ser
ensinados por meio de treinamentos, só podendo ser realizados quando o próprio
desenvolvimento mental da criança já tiver atingido o nível necessário...o
desenvolvimento dos conceitos ou dos significados das palavras, pressupõe o
desenvolvimento de muitas funções intelectuais: atenção deliberada, memória lógica,
abstração, capacidades para comparar e diferenciar. Esses processos psicológicos
complexos não podem ser denominados apenas através da aprendizagem inicial.
Vigotsky chama a atenção para o fato de que [...] compreender adequadamente o desenvolvimento, devemos considerar não apenas o nível de desenvolvimento real da criança, mas também seu desenvolvimento potencial, isto é sua capacidade de realizar tarefas com a ajuda de um professor ou de companheiros mais capacitados. Antes de controlar o seu próprio comportamento, a criança começa a controlar o ambiente com ajuda da fala. Isso produz novas relações com o ambiente, alem de uma nova organização do próprio comportamento. (1998, p. 111)
As criações dessas formas características humanas de comportamentos
produzem, mais tarde, o intelecto, e constitui a base do trabalho produtivo: a forma
especificamente humana do uso de instrumentos, segundo Vigotsky: A fala não só acompanha a atividade prática como também, tem um papel especifico na sua realização [...] a capacitação especificamente humana para a linguagem habilita as crianças a providenciarem instrumentos auxiliares na solução de tarefas difíceis, a superar a ação impulsiva, a planejar uma solução para um problema antes de sua execução e a controlar seu próprio comportamento. (1998, p. 37)
Vigotsky chama atenção também para a enorme influencia do brinquedo no
desenvolvimento de uma criança. Para uma criança com menos de três anos de idade, é
essencialmente impossível envolver-se numa situação imaginária, uma vez que isso
seria uma forma nova de comportamento que liberaria a criança das restrições impostas
pelo ambiente imediato. “Para ele no brinquedo, os objetos perdem suas forças
40
determinadoras.” O autor revela que apesar da relação brinquedo-desenvolvimento
poder ser comparada à relação instrução – desenvolvimento, o brinquedo fornece ampla
estrutura básica para as mudanças das necessidades e da consciência. A esfera imaginativa, numa situação imaginária, a criação das intenções voluntárias e a formação dos planos da vida real e motivações, tudo aparece no brinquedo, que se constitui, assim, no mais alto nível de desenvolvimento pré-escolar. A criança desenvolve-se essencialmente, através de atividades de brinquedos. (Vigostky, 1998, p. 124)
Vigostky (1998, p.40) afirma que a memória natural está muito próxima da
percepção e surge como consequência da influência direta dos estímulos externos sobre
os seres humanos.
3.2.3 Piaget e os estágios do desenvolvimento da criança.
Piaget preocupou-se com varias áreas do conhecimento dando ênfase primeira
ao estudo da natureza do desenvolvimento de todo o conhecimento principalmente, no
desenvolvimento intelectual da criança. Sua preocupação principal foi o “sujeito
epistêmico”, isto é, o estudo dos processos de pensamentos presentes desde a infância.
Procura mostrar o homem num processo ativo de continua interação, buscando entender
quais os mecanismos mentais que o sujeito usa nas diferentes etapas da vida para poder
entender o mundo.
Piaget diz que: [...] a adaptação à realidade externa depende basicamente do conhecimento e procurou estudar cientificamente quais processos que o individuo usa para reconhecer a realidade. Considera que só o conhecimento possibilita ao homem um estado de equilíbrio interno que o capacita a adaptar-se ao meio ambiente. (1999, p. 19)
Piaget entendeu a mente como dotada de estruturas do mesmo modo que o
corpo, ele usou o termo “esquema” para ajudar a explicar porque as pessoas apresentam
respostas mais ou menos estáveis aos estímulos e para explicar muitos fenômenos
associados à memória. Ele chegou à formulação de inúmeros conceitos continuamente
reavaliados em função de novos dados, os conceitos são: hereditariedade, adaptação,
esquema e equilíbrio.
Em relação à hereditariedade, ele afirma que não herdamos a inteligência,
herdamos um organismo que vai amadurecer em contato com o meio ambiente. Em
relação a adaptação ele diz que o conhecimento possibilita novas formas de interação
com o ambiente proporcionando uma adaptação cada vez mais completa e eficiente.
41
O desenvolvimento segundo Piaget: [...]é um processo que procura atingir formas de equilíbrio cada vez melhores e sucessivos, ele afirma que os processos de assimilação e acomodação são necessário para o crescimento e o desenvolvimento cognitivo, segundo ele equilíbrio é um questão de balanço entre assimilação e acomodação e pode ser considerado como um estado de conflito cognitivo, que ocorre quando expectativas ou predições não são confirmadas pela experiência. (1999, p 76)
O equilibro é, dividido por Piaget em vários períodos: período sensório motor (0
a 24 meses), período pré-operacional, (2 a 7 anos), período das ações concretas (7 a 12
anos), período das operações formais.
Período Sensório Motor: representa a conquista através da percepção e dos
movimentos, de todo o universo prático que cerca a criança. Isto é, a formação dos
esquemas sensoriais- motores irão permitir ao bebe a organização inicial dos estímulos
ambientais, permitindo que ao final do período, ele tenha condições de lidar, embora de
modo rudimentar, com a maioria das situações que lhes são apresentadas. Neste período
a criança está trabalhando ativamente no sentido d formar uma noção do “eu”.
Período Pré-Operacional: ao aproximar dos 24 meses a criança estará
desenvolvendo ativamente a linguagem, o que lhe dará possibilidade de além de utilizar
a inteligência prática decorrente dos esquemas sensoriais motores formado na fase
anterior, iniciar a capacidade de representar uma coisa por outra, ou seja, formar
esquemas simbólicos.
Período das Operações Concretas: observa se um crescente incremento do
pensamento lógico. A realidade passará a ser estruturada pela razão e não mais pela
assimilação egocêntrica. Assim, a tendência lúdica do pensamento será substituída por
uma atitude crítica. A criança percebe-se como um individuo entre outros, como
elementos de um universo que pouco a pouco passa a estruturar pela razão.
Período das Operações Formais: O sujeito é capaz de formar esquemas
conceituais abstratos como amor, justiça, democracia, etc. e realizar com ele operações
mentais que seguem os princípios da lógica formal. Com isso adquire capacidade para
criticar os sistemas sociais e propor novos códigos de conduta. Constrói valores morais,
torna-se consciente do seu próprio pensamente. Do ponto de vista Piagetiano, portanto
ao adquirir estas capacidades o individuo atingiu sua forma final de equilíbrio.
O pensamento formal é, portanto, ‘hipotético-dedutivo’, isto é, capaz de deduzir as conclusões de puras hipóteses e não somente através de uma observação real. Suas conclusões são válidas, mesmo independentemente da realidade de fato, sendo por isto que esta forma de pensamento envolve uma
42
dificuldade e um trabalho mental muito maior que o pensamento concreto. (Piaget, 1995, p. 59)
Para Piaget, o desenvolvimento é então um processo contínuo, gradual e possível
graças à equilibração cognitiva. Para que se construa o conhecimento, é necessária, a
interação entre o sujeito e o objeto, que não se podem pular etapas ou estágios diante do
modo de pensar construtivista, pois em cada contexto há uma transformação. O
desenvolvimento cognitivo não é imposto pela maturação ou pela perspectiva do meio,
logo, ele é o resultado da interação do sujeito e objeto. O que permite a passagem de um
estágio de inteligência para outro, é a ação de adaptação do sujeito ao meio. Isso desde
os primeiros anos de vida, mostrando a constante busca de um equilíbrio melhor.
43
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa objetivou investigar e refletir sobre as capacidades desenvolvidas
na Educação Infantil, através do trabalho com a música, buscando assim compreender
aspectos de nossa língua, de nossos costumes, de nossa história e de nossa realidade
auxiliada por uma educação musical adequada e bem trabalhada.
Rosa (1990, p. 19) afirma que a melhor forma do trabalho pedagógico é aquela
que proporciona a educação da pessoa inteira criativa e crítica. A linguagem musical
deve ser um dos meios para se alcançar esta educação, e os bons resultados no ensino da
música serão alcançados pela adequação das atividades, pela postura reflexiva e crítica
do professor, facilitando a aprendizagem, proporcionando situações enriquecedoras,
organizando experiências que garantam a expressividade infantil.
Portanto é necessário refletir sobre as capacidades presentes em cada fase do
desenvolvimento infantil, e considerar o processo único e singular de cada ser humano,
pois isso se dá na interação com o meio, num ambiente de respeito, amor e afeto, no
entanto o trabalho com música deve ser realizado em contextos educativos que
entendam a música como processo contínuo de construção, que envolve perceber,
sentir, experimentar, imitar, criar e refletir.
Nesse sentido, importa em primeiro lugar, a criança, o sujeito da experiência e
não a música como muitas situações de ensino musical insistem em considerar. A esse
respeito Brito (2003, p. 46) diz que a educação musical não deve visar à formação de
possíveis músicos do amanhã, mas sim a formação integral das crianças de hoje.
Segundo Vasconcellos (2005, p. 57) para a elaboração efetiva do conhecimento
deve se possibilitar o confronto entre o sujeito e o objeto, onde o educando possa
penetrar no objeto, compreende-lo em suas relações internas e externas, captar - lhe a
essência.
Assim o professor deve compreender a essência da linguagem musical, e, a
partir de suas próprias experiências e de seu processo criador, mediador e facilitar o
contato da criança com as diversas linguagens, proporcionando lhe condições em que a
própria possa olhar o mundo e se expressar.
A música é necessária, assim como toda arte é necessária. A música é uma
manifestação cultural que sempre esteve presente na vida do homem. Ela reflete
pensamentos, sentimentos e valores. Quando se fala em música também se fala em
respeito e amor à natureza, enfim, ao mundo na qual se vive. (Cruvinel, 2005, p.244)
44
Portanto é necessário um espaço dedicado às linguagens artísticas, em particular
a música, na formação de educadores infantis. Tanto pedagogos quanto especialistas em
música têm muito a contribuir no avanço do trabalho musical com a criança pequena.
Contudo o educador tem grande responsabilidade em relação à educação das
crianças, cabe a ele fazer um bom trabalho consciente de que sua formação deve ser de
forma continuada à medida que surgirem as necessidades, este deverá repensar suas
práticas, refletir sobre a maneira de agir e pensar, tornando a educação um meio de
transformação para formar cidadão críticos e mais humanos.
45
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