amílcar cabral: o que foi e o que dele faremos

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Mestres Do Mundo Trabalho final do Seminário Conhecimentos, Sustentabilidade e Justiça Cognitiva Amílcar Cabral: o que foi e o que dele faremos. Fig. 1- Amílcar Cabral e os mísseis terra-ar. Fotografia do espólio pessoal de Manecas dos Santos Catarina Laranjeiro Fevereiro de 2014

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Page 1: Amílcar Cabral: o que foi e o que dele faremos

Mestres Do Mundo

Trabalho final do Seminário

Conhecimentos, Sustentabilidade e Justiça Cognitiva

Amílcar Cabral: o que foi e o que dele faremos.

Fig. 1- Amílcar Cabral e os mísseis terra-ar.

Fotografia do espólio pessoal de Manecas dos Santos

Catarina Laranjeiro

Fevereiro de 2014

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Introdução

Este trabalho foi impulsionado pela vontade de concretizar uma análise sobre o

pensamento de Amílcar Cabral, à luz do impacto que teve na emancipação dos

povos africanos. Amílcar foi um engenheiro agrónomo, que após uma análise

detalhada das diferentes peças que compunham a sociedade guineense,

desenvolveu uma estratégia de luta de libertação nacional que tomava a cultura

como recurso fundamental. Proponho-me aprofundar e repensar a vida e obra

daquele que foi um dos mais importantes pensadores africanos do século XX e cuja

morte prematura nos permite problematizar o presente e o passado da Guiné-

Bissau, enquanto projeto nacionalista africano. Assim, vai-se procurar realizar uma

análise crítica dos usos políticos da sua memória.

Fig. 2- Amílcar Cabral.

Fotografia do espólio pessoal de Manecas dos Santos

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Amílcar Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano para a Independência da

Guiné-Bissau e Cabo-Verde (PAIGC) e a ele se deve a sua liderança ideológica,

militar e política. O aspecto carismático da liderança de Cabral, reside na sua

capacidade sem precedentes de combinar uma atividade política efetiva e

pragmática, com o respeito pelos direitos humanos e uma ambição de estabelecer

uma estrutura de Estado de carácter socialista (Lopes, 2005:85).

Cabral analisou o sistema colonial da então Guiné colónia portuguesa, identificando

as características dos diversos grupo étnicos (aos quais chamava povos) e das

relações e dinâmicas que cada um destes grupos estabelecia com o domínio

colonial português. Assim, antes de desenhar a estratégia para a luta de libertação

nacional, procurou compreender as dinâmicas coloniais impostas e como elas

tinham moldado os povos que compunham o território. Um dos aspectos mais

carismáticos desta luta foi ela ter assumido um carácter continental, ao englobar os

povos da Guiné-Bissau e Cabo Verde.

Metodologicamente, esta reflexão centra-se na análise de diferentes intelectuais e

académicos, que escreveram sobre a vida e obra de Amílcar Cabral, dos quais se

destacam Julião Soares de Sousa, Leopoldo Amado, Mário Pinto de Andrade, Basil

Davidson, Patrick Chabal, Carlos Lopes e José Neves. Contudo, serão também

incorporados na presente análise elementos e informações recolhidas no âmbito do

trabalho de campo da minha tese de mestrado, cujo objecto de estudo foi a memória

da luta de libertação/guerra colonial na Guiné-Bissau.

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A morte e a imagem de Amílcar Cabral

No filme “O Regresso de Cabral” (1976) podemos ver o caixão de Amílcar Cabral a

regressar à sua terra, ao seu país, agora independente e soberano. O filme a cores,

foca-se no transladação do seu corpo, desde o aeroporto de Conacri até ao quartel

da Amura, na parte velha e histórica da cidade de Bissau. Enfatiza a dor e o

desespero de quem se via confrontado com a sua dor e a sua perda. No filme

podemos ver Luís Cabral, meio irmão de Amílcar Cabral, que ocupou o lugar de

Presidente da Guiné-Bissau, dirigentes do PAIGC, antigos combatentes e populares.

São imagens de uma multidão em pesar que queria acompanhar o seu líder até à

sepultura final e se via confrontado com o seu desaparecimento. As imagens do luto

e do sofrimento são justapostas com as imagens do caixão (que nos dizem ele está

ali, já morreu), com as cerimónias militares de homenagem, reveladoras da

importância da vida deste homem para o Estado da Guiné-Bissau. Como escreveu

Julião Soares de Sousa no livro “Amílcar Cabral (1924-1973), Vida e Morte de um

Revolucionário Africano”:

muito embora se saiba (...) o quão perigoso é atribuir o sucesso de uma revolução, de uma batalha, ação particular e filosofia a um indivíduo, no que diz respeito à luta armada na Guiné-Bissau, não hesitamos em atribuir o seu êxito (...) à força e personalidade de um homem – Amílcar Cabral. A ele se deveu, sem dúvida alguma, grande parte das conquistas do PAIGC no período pré-revolucionário e revolucionário (...) (Sousa, 2011:31).

Sana N´Hada foi um dos jovens escolhidos por Amílcar Cabral para ir estudar

cinema em Cuba, com o intuito de filmar a luta de libertação do povo da Guiné-

Bissau. Anos mais tarde, graças a uma bolsa sueca, Sana N’Hada decide registar as

cerimónias fúnebres em honra de Amílcar Cabral em Bissau, durante a transladação

do corpo de Conacri, onde tinha sido assassinado a 20 de Janeiro de 1973, em

“condições incompletamente esclarecidas” (Neves, 2005:2). “Morre o Guevara de

África” foi o título do Financial Times no dia seguinte. Algumas mortes possuem uma

importância pública que é evidenciada pela repercussão mediática, principalmente

ao nível das imagens. No caso específico da morte de Amílcar Cabral, esta situação

é muito evidente, razão pela qual Sana N’Hada decidiu imortalizar a transladação do

corpo de Cabral para Bissau:

Fazer um filme sobre Cabral era uma grande responsabilidade, mas tinha no meu espírito a vontade de o tornar imortal (...) Quando as pessoas vão a um funeral querem paz, vão devagar; e é esse o ritmo do

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filme. Queria dar tempo para que as pessoas pensassem no que aconteceu.1

Por esse motivo, se o guião do “Regresso de Cabral” parte da transladação do corpo

do líder político para a capital guineense, ao longo do filme são recuperados vários

dos seus discursos sobre a educação, a luta e o trabalho, a partir de textos e de

imagens de arquivo. Assim, além das imagens da transladação do corpo são

colocadas fotografias, o que contradiz a noção tradicional segundo a qual o cinema

vive de imagens em movimento.

Fig. 3- Amílcar Cabral fotografado por Bruna Polimeri2

Esta é uma das fotografias presentes no filme e uma das mais conhecidas de

Amílcar Cabral. Apesar de não estar sozinho, o barco tem mais oito pessoas,

incluindo duas mulheres, este é claramente o retrato de um líder rebelde. Cabral

está de pé, com as mãos a segurar firmemente a fivela do cinto. Cabral, olha, sem

receio, a objectiva diretamente. Apesar de estar num contexto de guerrilha, não há

armas visíveis. Esta fotografia é assim, um ícone da determinação heroica dos

povos africanos que almejam alcançar a independência e soberania do seu território

(Medeiros, 2002: 99).

1 http://www.berlinda.org/pt/reportagens/filmes/a-luta-nao-acabou-ii/ 15/01/2014 2 https://www.google.pt/search?q=Am%C3%ADlcar+Cabral+num+barco&client=firefox-a&hs=h1q&rls=org.mozilla:enUS:official&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=bKXbUpn8NsmN7Abq2YCYCg&ved=0CAcQ_AUoAQ&biw=984&bih=465#q=Am%C3%ADlcar+Cabral+&rls=org.mozilla:en-US:official&tbm=isch&facrc=_&imgdii=_&imgrc=H_tXzRNMZvU8jM%253A%3B_qt5MiSk53hFRM%3Bhttp%253A%252F%252Fvoiceseducation.org%252Fsites%252Fdefault%252Ffiles%252Fimages%252Fac.jpeg%3Bhttp%253A%252F%252Fvoiceseducation.org%252Fcontent%252Familar-cabral-poet-revolutionary-politician-and-military-strategist%3B378%3B253 15/01/2014

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O facto de Cabral nos surgir vivo através de fotografias e morto através da imagem

em movimento, introduz um elemento deveras perturbante: a fotografia, ao

“capturar” um tempo, sugere sempre e irremediavelmente um “passado”. A ilusão do

“presente”, que o cinema concebe tradicionalmente, está totalmente afastada da

génese da fotografia, uma vez que esta é sempre a memória de algo que já

aconteceu: “All photographs are memento mori. To take a photograph is to

participate in another person’s (or thing’s) mortality, vulnerability, mutability (Sontag,

1977:15). Por outro lado, ao eliminar o movimento, a ilusão do imediato, o tempo

presente parece não existir. Alessando Portelli reinventa o conceito de Ucronia

(utilizado na ficção científica), propondo-o para designar a realidade caso um

determinado evento do passado não tivesse acontecido (Portelli, 1991:99-116). É

para a ucronia que esta justaposição de Amílcar morto em movimento e vivo numa

imagem fixa nos remete: o que poderia ter acontecido caso Amílcar Cabral não

tivesse sido assassinado. Porque na memória colectiva do povo da Guiné-Bissau,

permanece o que me disse Xico Bá, dirigente do PAIGC quando o questionei sobre

a instabilidade política da Guiné-Bissau: “Se Cabral não tivesse morrido tudo teria

sido diferente” (2013).

Por esse motivo, houve uma tentativa notória, à semelhança de outros líderes

revolucionários da década de 60 e de 70, de imortalizar Amílcar Cabral através da

imagem. Na sua grande maioria (para não dizer exclusivamente) as imagens são de

jornalistas e ativistas estrangeiros, que queriam mostrar ao mundo que aquele

homem não era um terrorista, mas um líder que se movia pela justa emancipação

africana. Como ele próprio escreveu:

Camaradas, eu jurei a mim mesmo, nunca ninguém me mobilizou, trabalhar para o meu povo, eu jurei a mim mesmo, que tenho que dar a minha vida, toda a minha energia, toda a minha coragem, toda a capacidade que posso ter como Homem, até ao dia em que morrer, ao serviço do meu povo, na Guiné e Cabo Verde. Ao serviço da causa da humanidade, para dar a minha contribuição, na medida do possível, para a vida do Homem se tornar melhor no mundo. Este é o meu trabalho. (Cabral citado por Mendy, 2005:774).

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Da questão colonial à luta pela independência

Amílcar Cabral nasceu em Bafatá, cidade no centro leste da Guiné-Bissau, a 12 de

Setembro de 1924. Em 1932, com 8 anos de idade, muda-se para Cabo Verde, de

onde a sua família era originária, e só regressará à Guiné-Bissau no início da

década de 50. Por esse motivo, hoje não é fácil atribuir-lhe uma nacionalidade. O

único poder soberano que lhe reconheceu a nacionalidade foi o português, que

Cabral recusou:

Houve um tempo na minha vida em que eu estive convencido que eu era português porque assim é que me ensinaram, eu era menino. Mas depois aprendi que não, porque o meu povo, a História de África, até a cor da minha pela...Temos de ter paciência, diabo! Não somos meninos, não é? Aprendi que não era português nada, não era português (citado por Sousa, 2011:75).

Ainda, a sua militância no movimento anticolonialista ficou marcada pelo facto de ter

fundado um partido que não se definia nacionalmente, uma vez que não lutava pela

independência de um território mas sim de dois (Neves, 2005:5). Assumindo como

argumento o carácter artificial das fronteiras coloniais, Cabral defendeu que unidade

entre os dois países permitiria uma melhor compreensão e análise sobre o sistema

colonial que os dominava e, paralelamente, a elaboração de estratégias coletivas de

luta contra o domínio português.

Retomando a biografia de Cabral, é relevante mencionar que frequentou o Liceu Gil

Eanes, onde para além de se ter destacado como aluno brilhante, foi confrontado

com a discriminação a que a população africana estava sujeita, quando o liceu foi

encerrado. Cabral refere este episódio num texto intitulado “Partir da Realidade da

Nossa Terra”:

Mas a certa altura barraram o caminho duma vez, nem mais do que um certo número de escolas primárias, nem mais do que um liceu, um liceu apenas, que aliás Vieira Machado, antigo Ministro do Ultramar, queria transformar em escola de pescadores e carpinteiros na altura em que eu entrei para o liceu. Estive três meses sem frequentar o liceu, porque o fecharam. Para eles, já bastava o que tinham feito, não era preciso mais. A partir de então, só as escolas para pescadores e carpinteiros. A população é que se levantou, protestou, e o liceu começou a funcionar de novo (Cabral, 1976:139).

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Quando terminou os seus estudos liceais, Cabral conseguiu uma bolsa de estudo

para ir estudar para Lisboa, no Instituto Superior de Agronomia (ISA), onde se

licenciou em engenharia agrónoma. À semelhança de muitos intelectuais

nacionalistas africanos, é em Lisboa que se dá a descoberta de África por Cabral.

Por exemplo, é na capital portuguesa que Cabral frequenta a Casa dos Estudantes

do Império (CEI), criada pelo Estado Novo enquanto associação capaz de contribuir

para o fortalecimento da mentalidade imperial e do sentimento da portugalidade

entre os estudantes das colónias. Contudo, o convívio entre africanos de diferentes

colónias na metrópole despertou nestes uma consciência crítica sobre as

desigualdades sociais a que o sistema colonial os sujeitava e uma vontade de

descobrir e valorizar as culturas dos povos colonizados (Castelo, 2011:2). Neste

contexto, foi criado o Centro de Estudos Africanos, que tinha por objectivo estudar

as várias facetas da cultura africana, à semelhança do Movimento “Vamos Descobrir

Angola” da “Geração Mensagem”. Este facto é referido por Mário Pinto de Andrade

numa palestra proferida em Conacri, intitulada “A Geração de Cabral”:

A nossa primeira tentação natural, digamos o nosso primeiro instinto, foi o de nos encontrar, entre estudantes africanos. Era natural que nos reuníssemos para medir a nossa força e, sobretudo, para pensar em conjunto os problemas próprios dos africanos, não só estudantes, mas sobretudo do nosso povo. Nós começámos a criar a consciência de representarmos as aspirações dos nossos povos oprimidos e de sermos, por assim dizer, a esperança da nossa sociedade. Mas havia já alguns movimentos que estavam em curso nalguns dos nossos países. Em Angola, por exemplo, havia um movimento cultural com esta palavra de ordem: “Vamos descobrir Angola”. Esse movimento ocupava um lugar importante nos nossos encontros, nas nossas conversas em Portugal, porque era também um dos caminhos que nos havia de levar á luta política, à organização dos partidos políticos. Porque é que esse movimento se chamava “Vamos descobrir Angola?” Como sabem, nas escolas daquela época dizia-se que os portugueses tinham descoberto Angola, que os primeiros descobridores tinham chegado aos nossos países e que não tinham encontrado nada, que tinham encontrado selvagens a quem tinham levado a “civilização”. Ora isso aparecia nos nossos livros de estudo, quer nas escolas, quer nos liceus e até mesmo nas Universidades. Tudo isso constituía um verdadeiro insulto à nossa própria personalidade cultural, à nossa história (...) Assim começamos a definir a nossa identidade de estudantes africanos, filhos da nossa terra, filhos do povo, que tinham tido a oportunidade, a “chance” de se infiltrar naqueles lugares vazios que deixava a administração colonial portuguesa para prosseguir os nossos estudos, para sermos os melhores alunos no liceu, e poder triunfar sobre o racismo (1973:6-8).

Foi neste processo de descoberta e de identificação cultural que esses estudantes e

intelectuais perceberam que pertencia à sua geração a responsabilidade histórica de

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denunciar a situação colonial e de assumirem o compromisso e o engajamento na

luta pela independência.

Foi assim que os intelectuais africanos em Lisboa, nos quais Cabral se enquadrava,

começaram a estabelecer contacto com o ideário pan-africanista e com o movimento

de negritude (fundado em Paris por Aimé Césaire, Léon Damas e Léopold Sédar

Senghor). A partir de então, Cabral vai defender que é um privilégio dos intelectuais

africanos o acesso à literatura nacionalista africana e pan-africanista que estão se

começava a editar. Consequentemente, a luta pela dignidade da vida das massas

africanas devia ser o objectivo primordial de todas as atividades dos intelectuais

africanos, que no quadro colonial ocupavam o lugar dos “civilizados/assimilados” em

oposição aos indígenas. À semelhança da França, Portugal também implementou

uma política de assimilação com o intuito de destruir a tradição cultural das suas

colónias africanas, através da formação de uma elite privilegiada e europeizada que

colaborava com os colonizadores. Contudo, e dada a necessidade sentida por estes

intelectuais de inverter a situação e em virtude da sua situação um tanto ou quanto

privilegiada na sociedade colonial, quando comparada com a da grande maioria das

massas, caberia a estes “intelectuais civilizados” defender os compatriotas

considerados pela legislação portuguesa de “indígenas” (Sousa, 2011:154).

Sendo um dos mais importantes líderes conhecedores dos ideais pan-africanistas,

dos nacionalismos e das formas de consecução da independência, Cabral vai

tornar-se numa voz ativa na Frente Revolucionária Africana para a Independência

Nacional (FRAIN) e na Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias

Portuguesas (CONCP), que tiveram o objectivo de coordenar as lutas de libertação

das colónias portuguesas. Com uma grande preparação teórica que era capaz de

executar na prática, um grande domínio do discurso e da retórica capaz de mobilizar

quem o ouvia, Cabral vai-se tornar no líder incontestado da luta de libertação

nacional na Guiné-Bissau.

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O Socialista Indisciplinado

Cabral não era um líder nacionalista comum. Desafiando o marxismo em voga nas

décadas de 60 e 70, vai defender, na linha de Fanon, que a contradição

revolucionária principal era a que opunha os povos dominados aos dominadores,

mais do que o proletariado contra a burguesia dos países colonizadores: “O colono

criou o colonizado e é este que está fadado a destruí-lo, libertando-se e libertando-o”

(Fanon citado por Lopes 2005:86). Cabral não se revia na ideia de que a força

motora da História é a luta de classes, uma vez que a considera pouco pertinente e

com escassa validade para o contexto guineense para, por si só, mobilizar energias

revolucionárias (Neves, 2005:7). Assim, não parte da premissa que a História de um

povo apenas se inicia a partir do momento em que se desencadeia o fenômeno de

classe e consequentemente a luta de classes, reivindicando a identidade cultural

africana na História antes da dominação colonial.

Paralelamente, reconhece a existência de outros motores da História, valorizando no

caso específico da luta que lidera, o nível das forças produtivas e o regime de

propriedade. Estes dois conceitos são fundamentais para Cabral, dado que a sua

concepção de libertação nacional ultrapassa os marcos da conquista formal da

independência e implica a “libertação das forças produtivas humanas e materiais da

nossa terra, no sentido delas se poderem desenvolver plenamente de acordo com

as condições históricas que a gente está a viver hoje em dia” (Cabral, 1976:205).

Uma das grandes preocupações de Cabral, é o regresso da dominação colonialista

desempenhada pelas elites nacionais africanas após a conquista da independência.

Por esse motivo, alerta que, tanto no colonialismo como no neocolonialismo,

permanece a característica essencial da dominação imperialista: a negação do

processo histórico do povo dominado, por meio da usurpação violenta do processo

de desenvolvimento das forças produtivas nacionais.

De facto, a ideia de que “a luta de classes é a força motriz da História” exclui dela

todas as regiões do mundo e épocas nas quais o desenvolvimento de forças e

relações de produção não se tinham submetido à categoria de classes sociais.

Assim, a sua visão mais globalizante nasce da preocupação de incluir na História os

povos africanos, asiáticos e latino-americanos, que por estarem submetidos à

dominação colonial, o seu nível de produção não constituía um factor para a luta de

classes. Neste sentido, Cabral traz para a luta pela soberania dos povos a

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importante reflexão marxista de que o modo produção é a base e a força motriz do

processo histórico: “Nós não hesitamos em dizer que este factor na História de cada

grupo humano é o modo de produção (o nível de forças produtivas e o sistema de

propriedade) característico desse grupo” (1976:204).

Assim, embora Cabral se tenha limitado a contextualizar o uso do marxismo como

ferramenta indispensável para a interpretação histórica, acabou por oferecer um dos

complementos mais importantes ao Manifesto Comunista, ao defender que o nível

das forças produtivas é um elemento determinante do conteúdo e da forma da luta

de classes (Lopes, 2005:87).

Essa reinterpretação da ideologia marxista deve-se, entre outros factores, ao facto

de considerar que esta teria pouca relevância para a politização da população em

geral e dos guerrilheiros em particular. A consciência deste facto foi um dos factores

mais determinantes do sucesso da luta armada. Cabral defendia que não se devia

mobilizar as pessoas com base na luta contra o colonialismo porque apesar de

viverem sobre dominação colonial, este era um conceito demasiado abstrato.

Argumentando que o povo não lutava por ideais, mas sim por vantagens materiais e

concretas, isto é, para viver melhor e em paz, propunha que a adesão da população

para a luta armada deveria ter por base problemas concretos:

Nunca mobilizamos as pessoas com base na luta contra o colonialismo. Isso não dava nada. Falar da luta contra o imperialismo não dava entre nós. Em vez disso, falávamos uma linguagem direta e acessível a todos (...) Já pagaste os teus impostos? Quanto ganhas com a tua mancarra? Já pensaste o que lucras com a tua mancarra? E o trabalho que ela custou à tua família? (1974:19).

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“A Luta de Libertação Nacional é acima de tudo um ato de cultura” (1974:35)

Tomar a Luta de Libertação como um ato de cultura é, entre todos os pensamentos

de Cabral, aquele que maior impacto teve. Cabral construiu um argumento forte de

que a libertação nacional era simultaneamente um facto de cultura e um factor

cultural, uma vez que acreditava que a resistência cultural era a mais efetiva forma

de resistência: o valor da cultura como elemento de “resistência ao domínio

estrangeiro reside no facto de esta ser a manifestação da realidade material e

histórica da sociedade a dominar” (Cabral, 1976:223). A cultura, é assim, um

elemento essencial da História de um povo, sendo o fundamento da libertação

nacional o direito que qualquer povo tem de ter a sua própria História. Em

contraponto, “a característica principal de qualquer projeto colonial é a negação do

processo histórico do povo dominado por meio da usurpação violenta da liberdade

do processo de desenvolvimento das forças produtivas” (ibidem).

Consequentemente, “se o domínio imperialista tem como necessidade vital praticar

a opressão cultural, a libertação nacional é, necessariamente, um ato de cultura”

(ibidem). É na cultura que encontra a capacidade e a possibilidade de construir os

meios e princípios que assegurem a continuidade da História, assim como

determinar as possibilidades de progresso ou regressão da sociedade. Deste forma,

Cabral estabelece uma correlação entre cultura e História:

Fruto da História de um povo, a cultura determina ao mesmo tempo a História, pela influência positiva ou negativa que ela exerce sobre a evolução do homem e do seu meio, bem como entre os homens ou grupos humanos no seio de uma sociedade ou ainda entre sociedades diferentes(...) A cultura, sejam quais forem as características ideológicas ou idealistas das suas manifestações, é, por conseguinte, um elemento importante da História de um povo (1976:226).

A cultura transforma-se numa arma privilegiada para a luta de libertação, uma vez

que existe uma relação de dependência e reciprocidade entre a luta de libertação

nacional e a cultura, enquanto ato de construção da História. A cultura é assim tida

simultaneamente como uma expressão e a personificação da História de um povo:

Quaisquer que sejam as características ideológicas ou idealistas da expressão cultural, a cultura é um elemento essencial da História de um povo. Talvez a cultura seja produto dessa História, tal como a flor é o produto de uma planta. Tal como a História, ou por ser História, a cultura tem como base material o nível das forças produtivas e o modo de

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produção. A cultura mergulha as suas raízes numa realidade física do húmus ambiental na qual se desenvolve e reflete a natureza orgânica da sociedade, o que será mais ou menos influenciado por factores externos. A História permite-nos conhecer a natureza e a extensão dos desequilíbrios e dos conflitos (económicos, políticos e sociais) que caracterizam a evolução as sociedade; a cultura permite-nos conhecer as sínteses dinâmicas que tem sido desenvolvidas e estabelecidas pela consciência social para resolver esses conflitos em cada estágio da sua evolução, na procura da sobrevivência e do progresso (1976:224).

Muito baseado no “retorno às fontes” propagado pela negritude, está no texto acima

citado muito presente a mística da "re-africanização dos espíritos" (Cabral,

1971:238). Contudo, Cabral salienta que é importante não subestimar a importância

dos contributos positivos do opressor e de outras culturas, ao mesmo tempo que

não se deve proceder a uma excessiva valorização de todos os elementos da

cultura ancestral africana, alertando para a necessidade de proceder a uma análise

crítica:

É importante estar consciente do valor das culturas africanas no quadro da civilização universal, mas também comparar este valor com o das outras culturas, não tendo em vista decidir a sua superioridade ou a sua inferioridade, mas para determinar no quadro geral da luta pelo progresso, qual o contributo que a cultura africana já deu e pode dar e quais as contribuições que pode ou deve receber de outras partes (1976:330).

Neste sentido, a luta de libertação é também portadora e criadora de cultura. Não se

pretende assim cristalizar a cultura tradicional como um momento do passado, mas

sim usar o seu potencial libertador para a luta de armada nacional. Como referido

anteriormente, Cabral previa e temia que certas elites esperassem que a sua

participação na luta fosse tomada como um processo válido para que, servindo-se

dos sacrifícios das classes sociais mais baixas, conseguissem eliminar a opressão

colonial sobre a sua própria classe e estabelecer assim o domínio político sobre a

população. Para evitar esse fenómeno de colonialismo interno, o pensamento e o

comportamento dos líderes que iniciaram a luta deveriam convergir e fundir-se com

o pensamento e o comportamento das classes populares, de forma a que cada um

destes grupos se alterassem mutuamente. Cabral argumentava que este encontro

entre classes promoveria uma “re-africanização” dos líderes, que os levaria a perder

o seu “sentimento de superioridade”. Paralelamente:

A massa de trabalhadores (...) que em geral são analfabetos e nunca ultrapassaram os limites do universo da sua aldeia, poderão ver que a sua situação é decisiva para a luta. Podem quebrar as grilhetas desse universo da aldeia e integrarem-se gradualmente no país e no mundo (1976:226).

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Cabral e a agricultura como metáfora

Quer a sociedade tradicional, quer a sociedade colonial foram estudados por Cabral,

peça a peça de forma a considerar como seriam usados na construção de uma

máquina inteiramente diferente e pronta a servir uma sociedade justa e igualitária

(Davidson,1975:11). Para este pensamento analítico em muito contribuiu a formação

em engenharia agrónoma de Cabral.

No início da década de 50, Cabral foi contratado enquanto funcionário colonial para

realizar um recenseamento rural na Guiné-Bissau. Através deste trabalho, teve a

possibilidade de contactar com agricultores, líderes comunitários, jovens e mulheres,

apercebendo-se das diferentes lógicas de pensamento e de ação de cada grupo

étnico, das suas potencialidades e fraquezas, face à dominação colonial. Por este

motivo, este recenseamento viria a servir muito mais aos interesses do PAIGC do

que aos do governo colonial, uma vez que este contacto foi decisivo para o

planeamento da atuação da guerrilha. O historiador José Neves chamou este

período “um tempo de aprendizagem, conhecimento e ação a partir de baixo” no

qual Cabral ultrapassa os critérios exigidos pelo inquérito e leva a cabo uma

“etnografia espontânea” “que vai implicar em todos os seus escritos daí em diante,

analisando a estrutura social da Guiné, a sua organização económica e social, os

universos religiosos, as variedades étnicas e as hierarquias de poder” (Neves,

2005:5). Não deixa de ser paradoxal que a partir de um quadro ultramarino imperial

foram internamente observadas e identificadas as peças que compõem a Guiné-

Bissau, permitindo a produção de uma obra que viria a ser fundamental para

desenhar a luta armada.

A agricultura na década de 50 na Guiné-Bissau baseava-se na produção de arroz

para autoconsumo e na produção de amendoim para exportação na Europa.

Perante este contexto, Cabral vai questionar o sistema de agricultura baseado na

monocultura, uma vez que o predomínio da cultura do amendoim para exportação

representava um perigo para a economia com as flutuações anuais dos preços nos

mercados externos, o que colocava o agricultor numa situação de dependência,

risco e incerteza. Além disso, a cultura do amendoim provocava uma irreversível

degradação dos solos, em especial através da sua erosão. Dado que a grande

maioria da população era camponesa e vivia no meio rural, Cabral decide associar

os desafios políticos da luta da independência a um desenvolvimento centrado na

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agricultura. Tomando a monocultura como uma metáfora da ditadura em Portugal,

Cabral argumenta que à semelhança do amendoim, o regime colonial não permite a

cultura de outras culturas, ao enfatizar que o amendoim não é fascista, mas quem

determina a sua cultura talvez o seja. Consequentemente, preconiza a melhoria das

condições de vida das populações através da melhoria consensual da agricultura, na

base da diversificação das culturas e aumento do rendimento.

Aqui não se pode deixar de observar que a práxis de Cabral, na área rural e na

cidade, estava em sintonia com o papel do intelectual colonizado, preconizado por

Franz Fanon, para quem o “intelectual colonizado que quer fazer uma obra autêntica

deve saber que a verdade nacional é, primeiramente, a realidade nacional”

(2005:239).

Em Bissau, tenta fundar uma estrutura semelhante ao anteriormente referido Centro

de Estudos Africanos, que Cabral fundara em Lisboa com outros intelectuais

africanos, com o objectivo de estudar a cultura, a história e a civilização africana,

assim como de sensibilizar os jovens para as injustiças de ordem social impostas

pela administração colonial. Contudo, quando a administração colonial se apercebeu

desse projeto, Cabral foi expulso do país, tendo-lhe sido permitido que regressasse

anualmente para visitar a família. Numa destas visitas, vai cofundar o PAIGC, que

anos mais tarde Patrick Chabal descreverá como “o partido político mais bem

sucedido em África e o primeiro de todos a ganhar a independência através da luta

armada” (2002:6).

Além do recenseamento agrícola que Cabral realiza, foi essencial para o

desenvolvimento de uma ação libertadora baseada na agricultura e no contexto rural

o contacto com o movimento revolucionário chinês, na sua visita oficial à China em

1963. Segundo o historiador José Neves, é nesta visita que ganha corpo a “ideia de

atacar o sistema colonial a partir do interior, erguendo-se do campo e cercando a

cidade” (2005: 8). Esta estratégia foi essencial para a adesão das populações ao

partido e para a possibilidade do movimento guerrilheiro subsistir. Como me explicou

Xico Bá:

(...) o guerrilheiro é como peixe na água, precisava da água. O nosso principal suporte era a população, o material era carregado à cabeça. Se não fosse o apoio do povo, não passávamos na História. Foi fundamental! Eles é que nos davam a comida e tudo, a gente chegava e eles preparavam a comida para os combatentes (Xico Bá, 2013).

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Fig. 4- Reunião com a população.

Fotografia do espólio pessoal de Teodora Gomes.

Por outro lado, a estratégia de partir do campo para a cidade possibilitou um

envolvimento gradual dos camponeses e a constituição de zonas libertadas do

poder colonial, facilitando novas formas de organização económica e política. Assim,

nas zonas libertadas foram-se criando novas formas de exercício do poder,

rejeitando-se a ideia da capital ser o local aonde concentram as necessidades das

massas camponesas. Num diálogo com Basil Davidson, Cabral argumenta:

todas as decisões estruturais devem ser baseadas nas necessidades do campesinato que constitui a grande maioria do nosso povo (...).É uma das razões que nos leva a pensar que Bissau não continuará a ser a capital do ponto de vista administrativo. Na realidade, nós somos contra a ideia de uma capital. Porquê os Ministérios não serão dispersos pelo país? Porquê embaraçar-nos com o peso morto de palácios presidenciais, de grande concentração de ministérios, sinais evidentes de uma elite emergente que em breve se poderia transformar em grupo privilegiado (citado por Davidson, 1975: 84).

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17

O Programa Maior e o Programa Menor do PAIGC

Ao longo das entrevistas que fiz no âmbito da minha tese de mestrado, uma das

perguntas que fazia parte do meu guião de entrevista era: “Aonde estava na

Proclamação da Independência?” E logo os meus entrevistados me corrigiam: “Você

quer dizer, na Proclamação do Estado?” De facto, são duas perguntas que

aparentemente podem ser iguais, mas apontam para caminhos diferentes, como me

explicou Manecas dos Santos:

A Proclamação do Estado tratou de dar uma existência de júri, a um Estado que já existia de facto. Cabral definiu a Guiné como um Estado que tinha sido ocupado parcialmente por forças armadas estrangeiras, que era o exército colonial. Então a assembleia reuniu-se e proclamou o Estado da Guiné-Bissau (Manecas dos Santos, 2013).

Fig. 5- Luís Cabral na Proclamação do Estado

Fotografia do espólio pessoal de Manecas dos Santos.

Para defender e consolidar a ideia de que a Guiné-Bissau era um Estado ocupado

por forças estrangeiras, era essencial organizar e criar uma estrutura de Estado nas

áreas libertadas. Assim, apesar de dedicar especial enfoque à luta armada pelo

facto de se estar em guerra, Cabral concebeu a luta pela independência como dois

processos, como me explicou Francisca Pereira: “O partido tinha dois programas: o

programa maior que era o desenvolvimento socioeconómico do país, e o programa

menor que era contra o colonialismo para a libertação do país” (Francisca Pereira,

2013).

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18

Os dois programas encontravam-se extremamente interligados, pois a organização

das zonas libertadas era a condição necessária para garantir o sucesso da luta

armada, razão pela qual Cabral defendia que as características fundamentais para a

libertação são:

Prática da democracia, da crítica e da autocrítica; a responsabilidade crescente das populações pela administração das suas próprias vidas; a criação de escolas e de serviços de saúde; a formação de quadros originários das classes camponesa e trabalhadora (1974:23).

Argumentava assim, que os combatentes não eram militares, mas sim “militantes

armados”, considerando que o recurso às armas era apenas um momento

circunstancial e que o mais importante era o desenvolvimento integral do país.

Salienta-se que Cabral sempre se propôs a negociar com o governo colonial

português e só apelou o uso à violência quando se apercebeu que não poderia

deixar que a violência da ditadura colonial e dos seus exércitos governasse os seus

próprios projetos. Como ele próprio repetiu e foi citado inúmeras vezes:

Não somos contra Portugal - já o repetimos mil vezes. Somos contra o colonialismo português. Queremos ter as melhores relações com Portugal depois da independência. Nunca confundimos o colonialismo português com o Povo de Portugal (...) Somos pelo diálogo. Mas até agora, o Governo de Portugal não quis dialogar senão por meio de armas. Contudo, estamos prontos a negociar, não importa em que momento, tendo em vista a soberania do nosso povo (1974:45-46).

Desta forma e a partir de 1969, quando o controlo militar estava assegurado em

grande parte do território, o PAIGC concentrou grande parte dos seus esforços na

criação de uma nova ordem social. Para tal, em todas as aldeias da Guiné libertada,

eram organizadas eleições das comissões do partido que se chamavam “comissões

de tabanca” 3 (CT) (Davidson, 1975:101) e que constituíam o centro nevrálgico

político e administrativo de cada tabanca. Cada comissão incluía cinco membros

eleitos pelos próprios moradores, sendo que dois tinham de ser mulheres. De

acordo com o regulamento do PAIGC, cada um dos cinco membros tinha funções

muito claramente definidas na tabanca: o presidente era o responsável pelo

funcionamento geral do CT pela gestão da produção agrícola; o vice-presidente

tinha responsabilidades mais específicas relativas à segurança e à defesa local; o

terceiro membro era responsável pela saúde, educação e outros serviços sociais; o

3 Em crioulo guineense tabanca significa aldeia

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quarto era responsável pelo armamento e pelo alojamento dos guerrilheiros nas

tabancas; finalmente, o quinto membro era responsável pelos registos e pela

contabilidade (Chabal, 2002: 105).

Os movimentos da América Latina tiveram muito impacto na formação ideológica de

Cabral. Especificamente, Cabral privou com Ernesto Che Guevara, partilhando com

este a valorização da educação na luta de libertação e acreditando que um líder

revolucionário era acima de tudo, um pedagogo eminente e um educador da

revolução (Escobar, 1994: 81-83). Ainda, foi muito importante no pensamento de

Cabral a influencia de Paulo Freire, na medida em que Cabral defendia que os

professores eram a vanguarda da luta, na linha do que Freire (1975) denomina de

educação como prática de liberdade. Cabral defendia que não seria a sua geração

a ganhar a luta, mas sim a geração que se seguiria, uma vez que mais importante

que a libertação armada era a libertação intelectual, razão pela qual se tornava

imprescindível a formação de quadros.

Assim, no processo pela luta de libertação nacional foi dado um especial enfoque à

educação, organizando-se escolas nas zonas libertadas. Cabia às escolas ensinar a

população a ler, a escrever, num processo paralelo com a incorporação dos valores

da luta do PAIGC. Segundo Mário Pinto de Andrade:

Ensinava-se-lhes a ler, escrever e a contar, sem se preocupar, naquele momento, com questões de ordem pedagógica, pois os professores não possuíam uma formação abrangente nessa área de ensino-aprendizagem. No entanto, foram implementadas algumas alternativas: estes professores davam cursos de formação militante, noções de política que abriam horizontes de reflexão sobre as razões da luta do país, da África e do mundo (1981: 125-126).

A educação era assim concebida como uma arma política de primordial importância.

Para tal, em 1960, o PAIGC criou em Conacri a Escola-Piloto, que apostava na

formação de quadros políticos e que, simultaneamente, dava cursos elementares de

instrução primária. Em 1965, é fundado o Instituto Amizade, cuja finalidade era dar

acolhimento, proteção e educação às crianças vítimas da guerra. Os objectivos

destas duas escolas era a formação de quadros, capazes de construir um país de

paz e progresso. Paralelamente, e graças à solidariedade internacional dos países

não-alinhados, foram muitos os quadros que se formaram em Cuba, ex-Jugoslávia e

ex-União Soviética. Na fotografia abaixo podemos ver alunos de uma escola de

formação para enfermeiros em Kiev, URSS.

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Fig. 6- Alunas de Enfermagem em Kiev. Fotografia do espólio pessoal de Teodora Gomes.

Segundo o Relatório “A Educação na Guiné-Bissau” de 1977 (citado por Chabal

2002:115), em 10 anos, o PAIGC formou mais quadros que o colonialismo em 5

séculos. De facto, até 1961 apenas foram formados 14 guineenses com curso

superior e 11 ao nível do ensino técnico. Contrapondo, entre 1963 e 1973, foram

formados 36 guineenses com cursos superiores, 46 com curso técnico médio, 241

com cursos profissionalizantes e de especialização e 174 quadros políticos e

sindicais.

Ainda, foi dado uma especial importância à justiça, através da criação de tribunais

do povo, compostos por três moradores e onde o professor tinha a função de

funcionário administrativo do tribunal; e à saúde, através da criação de nove

hospitais (cinco no sul, dois no norte e dois no leste) e de postos sanitários (que

passaram de 28 em 1968 para 117 em 1971). De igual relevância, foi a criação de

armazéns do povo, que tinha por objectivo a comercialização de produtos de uma

forma justa e livre de taxas coloniais. Esta nova forma de comércio firmava a certeza

de Cabral de que uma “guerra económica” com Portugal seria um determinante

estratégico da luta (Chabal, 2002: 114-124).

A organização do Estado da Guiné-Bissau foi um factor muito importante para

conquistar o apoio da comunidade internacional. Amílcar foi um brilhante articulador

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no âmbito das relações internacionais, dentro e fora do continente africano, sendo

as suas capacidades diplomáticas reconhecidas como um dos grandes

catalisadores da luta pela emancipação dos povos que representava. Ele garantiu a

ligação entre diferentes lideranças políticas africanas, sendo muito atuante ao nível

da ONU, das Conferências Afro-Asiáticas, de Belgrado e na Tricontinental de

Havana. Destaca-se ainda que Cabral, juntamente com Eduardo Mondlane

(Moçambique) e Agostinho Neto (Angola), foi recebido pelo Papa Paulo VI, o que

fracturou a imagem de Portugal no mundo e em muito contribuiu para o

reconhecimento do direitos dos povos africanos das então colónias portuguesas à

sua emancipação.

Outro momento crucial no campo diplomático, foi a visita de um grupo de

observadores do Comité de Descolonização da ONU em Abril de 1972 às zonas

libertadas. Este grupo de 3 diplomatas percorreu durante oito dias o interior da

Guiné-Bissau, cujo domínio (em dois terços) era reivindicado pelo PAIGC, o que

alterou a percepção do mundo sobre aquele território, como recorda Joseph Turpin:

A ONU fez uma visita porque quando PAIGC dizia que controlava 2/3 do território o mundo não queria acreditar, mas depois dessa visita do PAIGC, em loco...a ONU constatou efetivamente que o PAIGC controlava boa parte do território nacional. Foi uma vitória para o PAIGC (Joseph Turpin, 2013).

Fig. 7 - Reunião com o comité de descolonização da ONU. Fotografia gentilmente cedida por Aurora Almada.

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22

Conclusão: Cabral Ka Murí

A capacidade de articular a diplomacia, com a construção de um novo Estado e uma

luta armada bem organizada possibilitaram que a 24 de Setembro 1973, se

proclamasse unilateralmente o Estado da Guiné-Bissau. Hoje, a História desta luta é

citada como um “modelo” ao nível do continente africano, uma vez que resultou dos

esforços realizados pelos combatentes e pelas populações guineenses para libertar

o país do colonialismo português, através da criação de um Estado independente

(Programa Menor do PAIGC) e do estabelecimento dos pressupostos para a

afirmação e desenvolvimento de um Estado democrático (Programa Maior do

PAIGC) (Gomes, 2010:3). Esta articulação está bem presente nas palavras de

Manecas dos Santos:

Você não pode ter o apoio da população, se não tiver hospitais, escolas, abastecimentos...essas coisas todas...se não tiver o apoio da população, não pode fazer a guerra porque não tem homens...as forças armadas do PAIGC eram constituídas a 100% por voluntários...não havia gente que estava lá obrigada, nem podia ser...sem uma diplomacia forte que foi conseguida, sobretudo por Cabral, nós não íamos conseguir os meios necessários para a luta, meios financeiros, meios logísticos, etc...não se pode dissociar uma coisa da outra. E eu penso que a eficiência da luta deveu-se a todas essas coisas bem feitas (Manecas dos Santos, 2013).

E é inegável que estas estratégias se devem ao contributo teórico e prático do

filósofo político Amílcar Cabral, que permanece na memória colectiva da luta

anticolonial como um homem de ação e que chamou à luta de libertação “um ato de

cultura”. Os anos passaram e Amílcar Cabral desapareceu do debate público para

se instalar no culto dos heróis. Contudo, tendo em conta que a “gigantesca revolta

dos povos colonizados contra o imperialismo foi esquecida e recobertas por outras

representações do “Sul” do mundo (...)” (Traverso, 2012:127) talvez seja útil

regressar a ele e ao que escreveu, uma vez, que como defende Carlos Lopes (2005)

o seu legado ético de intelectual orgânico, na linha de Gramsci, pode ser útil para

entender os seus desafios contemporâneos.

O sucesso da luta armada de libertação acabaria por despertar esperanças e

expectativas, tanto no seio do povo guineense, quanto no continente e no mundo; e

este sucesso é atribuído à vida deste homem, sendo o posterior fracasso do

desenvolvimento da Guiné-Bissau atribuído à sua morte prematura. Cabral surge

como uma figura redentora, na qual residia toda a esperança, uma espécie de Cristo

do processo de descolonização e democratização. E hoje, pessoas de diferentes

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facções e partidos, social-democratas, marxistas, neocolonialistas, reclamam a

memória de Amílcar Cabral, sendo esta luta pela memória uma forma de luta política

que frequentemente se transforma em fonte de abusos. Como me disse um antigo

combatente que encontrei num antigo aquartelamento do PAIGC no norte da Guiné-

Bissau:

Males que fizeram aqui, nenhum dia nos vão esclarecer dos males que fizeram aqui...falam só no nome de Cabral...Cabral, Cabral, Cabral, mas Cabral já morreu, mataram-no, porque é que o mataram...se é verdade que todos o queriam, porque é que o mataram? E agora enganam-nos com o nome de Cabral (Mota, 2013).

Esta narrativa possibilita-nos imaginar uma reviravolta falhada no curso da História e

implicitamente exprime um juízo de condenação ou desilusão com a história real,

com o mundo como o foi e como é (Traverso, 2012:84). Hoje o povo da Guiné-

Bissau não é mais visto como um povo que conduziu uma luta bem sucedida contra

o regime colonial, luta essa que conduziu a um golpe militar em Portugal, que pôs

fim à ditadura colonial fascista. Vivemos uma época de humanitarismo (e não de

humanismo) e neste contexto já não há vencidos mas apenas vítimas. Hoje, o povo

da Guiné-Bissau é outra vez vítima (ou mesmo colonizado) na medida em que

continua a ser objecto de salvamento dos países desenvolvidos (como Portugal) que

continuam a cumprir a sua “missão civilizadora” agora envolta na capa ideológica do

apoio ao desenvolvimento (Traverso, 2012:22).

Paralelamente, continua-se a aceitar que as expropriações coloniais são o preço a

pagar pelo progresso ou pelo menos, por um processo geralmente “benigno” de

desenvolvimento (Davidson, 1988:289). Por seu turno, o subdesenvolvimento de

África obrigou os seus governos a integrarem-se no sistema capitalista de trocas

desiguais, onde à semelhança da era colonial, exportam-se matérias-primas em

bruto, para comprar os produtos elaborados com alto valor acrescentado (Gomes,

2013:135).

Desta forma, na formação da Guiné-Bissau enquanto Estado-Nação, herdaram-se

as estruturas sociais do colonialismo e o ideal de desenvolvimento social e

económico (que tomou como referencia o Norte desenvolvido) calou “os

sobreviventes étnicos desta luta” (Davidson, 1988:55). Ainda que o carácter de

participação popular na vida política criada durante a luta impusesse a sua marca, o

final da guerra trouxe consigo emergências sociais e económicas extremamente

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difíceis de resolver, que remeteram para segundo plano os discursos defendidos

pelos movimentos pan-africanistas. Coube à elite intelectual e assimilada tomar os

destino da nova nação, e Aquino Ribeiro descreve-a deste modo:

O grupo social que constituía o alfobre das elites dirigentes africanas, à cabeça dos movimentos nacionalistas, era a pequena burguesia urbana. Minoria consciente de si própria, defendendo pela ação colectiva de massas os interesses particulares dos seus membros – uma vez adquirida a independência – ela usou e abusou muitas vezes da sua posição para explorar o povo (1976:05).

Esta elite foi formada na sua maioria pela necessidade do colonialismo criar quadros

africanos para melhorar a eficácia da atividade exploradora e embora tenha no

decorrer do seu percurso tomado para si a necessidade e a responsabilidade de

representar e defender as aspirações emancipatórias das massas africanas

subjugadas ao imperialismo, após a independência levaram a cabo o único objectivo

que lhes restou: criar um Estado-Nação e governá-lo, replicando o que já existia

(Gomes, 2013:135). Confrontados com a tensão criada entre a “utopia revolucionária

em que haviam fundado as suas justificações para a luta” e “realidade da herança

colonial”, aceitaram “reescrever a história das colónias que queriam promover as

nações de acordo com as fronteiras definidas pelos Europeus na conferência de

Berlim, o ato fundador do colonialismo (...)” (ibidem).

Cabral Ka muri (que significa Cabral não morreu) é hoje um ditado popular na

Guiné-Bissau, ao qual se recorre quando se pretende invocar o espírito da luta de

libertação e o sacrífico e unidade que esta memória faz ressurgir. Apesar da

instabilidade política da Guiné-Bissau (há uma média de um golpe de Estado por

ano desde 1980) e da memória da guerra civil de 1998-1999, Cabral representa

ainda hoje a imagem e a esperança de uma possível estabilidade (Mendy,

2005:759). Contudo, todos escritos de Cabral foram catalogados e remetidos para a

época dos “utópicos” das décadas de sessenta e setenta. E aí permanecem. Como

nos sugere Boaventura de Sousa Santos:

As lutas anticoloniais constituíram, sem dúvida, um abalo tectónico às linhas abissais globais. No entanto, a memória longínqua e esquiva que o Norte guarda dessas lutas, travadas na zona colonial, é um reflexo portentoso de como o pensamento abissal nesse norte sobreviveu ao mundo que foi criado (2013:11).

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Enzo Traverso (2012) distingue entre “memórias fortes” e “memórias fracas”, sendo

as primeiras as memórias celebradas e validadas pelo Estado e as segundas as

memórias subalternas e sem visibilidade no espaço público. Se por um lado, a figura

de Cabral continua hoje a ser muito celebrada, dado que são inúmeras as

publicações, teses, biografias, simpósios, etc. que sobre ele se têm realizado; a

reinterpretação do que ele escreveu à luz da África contemporânea está

completamente afastada do debate público. Arriscaria a dizer que a celebração da

sua memória contribui para o seu esquecimento, uma vez que não promove e até

invisibiliza a controvérsia que existe entre o que Cabral defendeu que eram os

princípios orientadores da luta e o que o que se concretizou no pós-independência.

Mais especificamente, celebrar os contributos teóricos e práticos que Cabral trouxe

à luta de libertação nacional na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, assim como à luta

dos povos africanos em geral, permite-nos esquecer que os seus ideais não foram

cumpridos, veiculando a ideia de que a construção de um Estado-Nação que tomou

como referencia o Norte desenvolvido era o único projeto possível de se concretizar.

Tudo isto nos remete para a Ucronia (Portelli): como seria a Guiné se a ideologia de

Cabral se tivesse cumprido? E por esse motivo, a reinterpretação da sua obra, mais

do que um debate sobre o passado da luta de libertação nacional, possibilitaria um

debate sobre as relações pós-coloniais hoje; isto é, não seria tanto “sobre o passado

como foi, mas sobre o passado como é (significa/importa) para o presente”

(Meneses e Gomes: 2011:5).

Consequentemente, mais do que perguntar, impõe-se procurar responder ao que

podemos aprender com o legado de Cabral. Porque se a pergunta nos possibilita

imaginar uma reviravolta falhada no curso da História, a procura da resposta talvez

nos possibilite insistir na necessidade de reclamar uma versão mais ampla da

História, capaz de incluir as realidades que foram silenciadas e marginalizadas. E

assim reivindicar para a História política africana o que Boaventura de Sousa Santos

propõe como “uma nova teoria da História que nos permita voltar a pensar a

emancipação social a partir do passado e, de algum modo, de costas viradas para

um futuro supostamente predeterminado” (2010:53).

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Fontes Orais:

Entrevista a Manecas dos Santos realizada em Bissau em Março de 2013. Entrevista a Xico Bá realizada em Bissau em Março de 2013. Entrevista a Joseph Turpin realizada em Bissau em Março de 2013. Entrevista a Francisca Pereira realizada em Bissau em Março de 2013.

Espólios Fotográficos:

Espólio Fotográfico de Manecas dos Santos

Espólio Fotográfico de Teodora Gomes

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