amigos da histÓria -...

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AMIGOS DA HISTÓRIA A história está presente na vida de todos nós. A história está acontecendo todo o dia. O que aconteceu ontem no mundo é passado, é história. Remete ao tempo, ao espaço e aos personagens. O que você lê no jornal de hoje, poderá ser história no futuro. A notícia conta o fato, o lugar onde ocorreu, a data e fala dos personagens envolvidos. Esses são os instrumentais da nossa história, inclusive da história de vida de cada um. Cada pessoa tem data e local de nascimento, filiação, acontecimentos marcantes em sua vida, uma trajetória. Esta publicação vai fazer uma viagem na história do Brasil, na história de vida de cada um e na história da comunidade escolar. Uma história viva, construída por todos, composta por gente de diferentes lugares, raças e idades, por épocas de guerra e acordos de paz, por homens e mulheres que mudaram o mundo com seus sonhos e esperanças, mas também com suas ações. Você, amigo da escola, vai ajudar as crianças e os jovens a se transformarem em Amigos da História. PORQUE CONHECER O PASSADO? Conhecer o passado de uma sociedade é como conhecer o passado de uma pessoa. Quando encontramos um novo amigo, queremos saber coisas sobre a sua história; quando e onde nasceu, em que colégios estudou e tantas outras curiosidades ... Essas “curiosidades” conformam o perfil da pessoa que estamos conhecendo. Sabendo do seu passado, entendemos muito mais sobre a sua personalidade atual e podemos ajudá-la a superar obstáculos, medos e problemas presentes que foram criados lá atrás, no passado. Com uma sociedade acontece o mesmo: conhecer a história das sociedades, ajuda a entender melhor o mundo em que se vive e a resolver os problemas do presente. Conhecer e compreender o passado, tornará o sujeito consciente de como o mundo em que vive chegou no ponto em que está e o ajudará a tomar a decisão de não ficar parado, esperando acontecer ... O QUE O HOMEM É NO PRESENTE DEPENDE DE SEU COMPORTAMENTO ATUAL, MAS TAMBÉM DAS CONQUISTAS QUE A HUMANIDADE JÁ REALIZOU.

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AMIGOS DA HISTÓRIA

A história está presente na vida de todos nós. A história está acontecendo todo o dia. O que aconteceu ontem no mundo é passado, é história. Remete ao tempo, ao espaço e aos personagens. O que você lê no jornal de hoje, poderá ser história no futuro. A notícia conta o fato, o lugar onde ocorreu, a data e fala dos personagens envolvidos. Esses são os instrumentais da nossa história, inclusive da história de vida de cada um. Cada pessoa tem data e local de nascimento, filiação, acontecimentos marcantes em sua vida, uma trajetória. Esta publicação vai fazer uma viagem na história do Brasil, na história de vida de cada um e na história da comunidade escolar. Uma história viva, construída por todos, composta por gente de diferentes lugares, raças e idades, por épocas de guerra e acordos de paz, por homens e mulheres que mudaram o mundo com seus sonhos e esperanças, mas também com suas ações. Você, amigo da escola, vai ajudar as crianças e os jovens a se transformarem em Amigos da História. PORQUE CONHECER O PASSADO? Conhecer o passado de uma sociedade é como conhecer o passado de uma pessoa. Quando encontramos um novo amigo, queremos saber coisas sobre a sua história; quando e onde nasceu, em que colégios estudou e tantas outras curiosidades ... Essas “curiosidades” conformam o perfil da pessoa que estamos conhecendo. Sabendo do seu passado, entendemos muito mais sobre a sua personalidade atual e podemos ajudá-la a superar obstáculos, medos e problemas presentes que foram criados lá atrás, no passado. Com uma sociedade acontece o mesmo: conhecer a história das sociedades, ajuda a entender melhor o mundo em que se vive e a resolver os problemas do presente. Conhecer e compreender o passado, tornará o sujeito consciente de como o mundo em que vive chegou no ponto em que está e o ajudará a tomar a decisão de não ficar parado, esperando acontecer ... O QUE O HOMEM É NO PRESENTE DEPENDE DE SEU COMPORTAMENTO ATUAL, MAS TAMBÉM DAS CONQUISTAS QUE A HUMANIDADE JÁ REALIZOU.

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AMIGOS DA HISTÓRIA

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CAPÍTULO 1 pág. 3 O Tempo: O tempo e a cronologia em história são diferentes do tempo do relógio. Saiba como motivar seu grupo com atividades relacionadas à cronologia. Utilize linhas de tempo para contar diversas histórias. O relógio da história e o relógio da vida de cada um, acontecimentos marcantes na história do Brasil Imperial e as revoltas que encurtam o tempo são alguns temas desse capítulo. CAPÍTULO 2 pág. 6 O Espaço: A organização do espaço é importante em todos os âmbitos da vida: na sala de aula, na escola, no bairro, na cidade e no país. Saiba como estimular crianças e jovens a conhecer os espaços de socialização e respeitá-los. Entre os temas desse capítulo estão: as divisões administrativas do Brasil ao longo da história, os estados e as regiões brasileiras, as características de cada região, suas diferenças e as disputas pelo espaço na história. CAPÍTULO 3 pág. 9 O Personagem: os homens fazem a história, o papel das mulheres na história do Brasil, as revoltas e seus personagens, a história de alguns personagens conhecidos da história e os anônimos, os amigos da História. CAPÍTULO 4 pág.13 As Revoltas: no Brasil Imperial ocorreram várias revoltas, entre elas, a Farroupilha, a Cabanagem, Malês, a Sabinada e a Balaiada. O imperador era menor de idade, regentes governavam o país e algumas regiões reclamavam por autonomia, atenção e eficiência do governo central. Um quadro do Brasil na época da “Casa das Sete Mulheres”.

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AMIGOS DA HISTÓRIA

CAPÍTULO 1 Quantas vezes ouvimos a expressão: “Esse ano passou voando...”? O modo das pessoas se relacionarem com o tempo na vida cotidiana se dá através dos minutos, horas, meses, anos e até décadas. Seria muito estranho ouvir a frase: “Esse século passou voando ...”. Na história da humanidade, o tempo se conta aos milhares de anos, séculos e décadas. Os historiadores falam de “eras”, “períodos” e “épocas”. Dividem o tempo para explicar melhor as mudanças sociais e o modo de vida da humanidade em tempos diferentes. Na vida das pessoas também existem as “fases”: a infância, a adolescência ou juventude, a vida adulta e a velhice ou terceira idade. A passagem de uma fase para outra varia muito, de pessoa para pessoa, mas, em geral, um conjunto de acontecimentos importantes marcam as mudanças de comportamento social e pessoal dos indivíduos. Com as sociedades acontece o mesmo. Um fato ou vários acontecimentos importantes determinaram mudanças tão grandes na vida de todas as pessoas, que deram origem à periodização da história. O próprio aparecimento da História foi marcado por um desses acontecimentos extraordinários: a invenção da escrita, por volta de 4000 anos a.C. Chamamos o período anterior ao aparecimento da escrita de Pré-história, estudada através de vestígios, como objetos domésticos, armas, pinturas e desenhos nas cavernas. As divisões da história têm origem nessas mudanças, mas variam de lugar para lugar. Por exemplo, somente a história do Ocidente divide-se em Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. No Oriente, a periodização é outra. Os marcos de passagem, as datas, são um pouco arbitrários porque revelam apenas um acontecimento entre muitos que, juntos, determinaram as transformações da sociedade.

Expedição Colonizadora 1530

Engenho do Período Colonial

As grandes fatias de tempo em que se divide a história do Brasil estãoligadas aos regimes políticos que existiram em nossa história: PeríodoColonial, começa com a chegada dos portugueses, em 1500, etermina com a Independência do Brasil, em 1822; Período Imperial,começa com a Independência e termina com a Proclamação daRepública, em 1889; e Período Republicano, que começa com aProclamação e no qual vivemos até hoje. Essa divisão, emboradidática, suprime o período anterior à conquista do Brasil por Portugal,quando aqui existia uma sociedade organizada em tribos. Osestudiosos desse período, chamam-no de Período Pré Cabralino.

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Bandeira do Brasil Império

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AMIGOS DA HISTÓRIA

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LINHA DE TEMPO Instrumento muito usado pelos historiadores e professores de história para visualizar a periodização. As periodizações podem ser alteradas, em função dos aspectos ressaltados pelo historiador (políticos, econômicos, sociais, culturais e outros) ou em função de novas pesquisas. A linha de tempo também permite ressaltar, ao mesmo tempo, vários aspectos da vida dos homens em sociedade: artísticos, culturais, políticos, econômicos, sociais e outros.

Período Colonial Período Imperial Período Republicano 1500 – 1822 1822 – 1889 1889 – atual Neste caderno, abordamos o Período Imperial brasileiro, época de formação do Estado Nacional e quando o regime monárquico supunha a presença da família real portuguesa no poder central. D. Pedro I e D. Pedro II governaram o país entre 1822 e 1889. Com a abdicação de D. Pedro I, em 1831, o país passou a ser governado por “regentes”, pois seu filho, D. Pedro II, tinha apenas 5 anos de idade. A fase das “Regências” foi muito conturbada; várias revoltas eclodiram nas mais diversas regiões do país. O romance “A Casa das Sete Mulheres”, da escritora gaúcha Leticia Wierzchowski, conta a história das mulheres da família de Bento Gonçalves, líder da Revolução Farroupilha. Elas ficaram confinadas numa estância, durante os dez anos da luta. O tempo passou diferente para os sul-rio-grandenses que lutaram nos campos de batalha contra o Império brasileiro e para aquelas mulheres, praticamente isoladas do mundo. Linha do Tempo do Período Imperial 1822 – Proclamação da Independência do Brasil 1824 – Primeira Constituição Brasileira, Monárquica 1824 – Confederação do Equador 1831 – Abdicação de D. Pedro I, Início das Regências 1831 – Motins em Pernambuco 1932 – Guerra dos Cabanos (Pernambuco) até 1834 1834 – Reforma na Constituição do Brasil: Ato Adicional 1835 – Revolução Farroupilha (Rio Grande do Sul) até 1845 1835 – Revolta Cabanagem (Pará) até 1840

Proclamação da Independência do Brasil

1835 – Revolta dos Malês (Bahia) 1837 – Revolta Sabinada (Bahia) 1838 – Revolta Balaiada (Maranhão) até 1841 1840 – Maioridade de D. Pedro II 1842 – Revoltas Liberais no Rio de Janeiro e São Paulo 1845 – Paz do Poncho Verde (fim da Revolução Farroupilha) 1848 – Revolução Praieria em Pernambuco 1888 – Abolição da Escravidão no Brasil 1889 – Proclamação da República

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SUGESTÃO DE ATIVIDADE Objetivos: Para crianças e jovens, a contagem do tempo histórico é muito abstrata porque os períodos são muito longos e distantes de sua própria realidade. Essa atividade pode ajudar a conectar acontecimentos coletivos e públicos com a história particular da vida de cada um. Construindo a sua história, eles vão entender o trabalho do historiador na busca de documentos, vestígios de uma época e na construção das periodizações. Execução:

Uma idéia é começar propondo uma conversa sobre as unidades de tempo conhecidas por eles para que construam uma linha de tempo de um determinado dia na vida de uma pessoa: hora de acordar, hora do almoço, hora de ir para o colégio e assim por diante;

Que tal contar a sua própria história com data de nascimento, filiação, colégios onde estudou, etc.? Mostre fotografias e documentos como identidade, carteira profissional, boletins escolares?

Você pode procurar os arquivos de jornais de sua cidade e consiguir cópias de exemplares antigos, de 10 à 15 anos atrás, a época do nascimento das crianças e dos jovens da escola;

Outra sugestão é o registro da história de cada um deles, através de uma pesquisa. Eles podem recorrer aos pais, irmãos, avós, tios e outros para compor um quadro do que viveram até o presente numa autobiografia;

Você pode completar a história com ilustrações, fotos, fotocópia de documentos como certidão de nascimento, depoimentos e até uma linha e tempo da história de cada um;

Ao final, que tal propor a troca dos trabalhos entre eles e a prazerosa leitura sobre as histórias uns dos outros?

Essa atividade vai ajudar todos a se conhecerem melhor, criando uma autoconfiança nas crianças e jovens que poderão visualizar o próprio crescimento.

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CAPÍTULO 2

“Esse é o meu lugar”, reclama a criança ao entrar na sala de aula e ver sua cadeira ocupada pelo colega. Além do sentimento de posse, muito característico de algumas faixas etárias, sobressai o sentimento de pertencer a algum lugar. O “lugar”, pensado como espaço ou território, constitui o local onde se vive, de onde se pode enxergar o mundo e onde se realizam as atividades necessárias à sobrevivência e ao prazer. No seu “lugar”, as pessoas conseguem identificar a paisagem, sua beleza e seus problemas, e conseguem ver como ela se modifica ao longo do tempo. Na sala de aula professores e alunos discutem, de modo sistemático, a organização do espaço, seja em função de problemas disciplinares ou em função de tipos de atividades que exigem uma nova distribuição das classes. As modificações do espaço são realizadas em função das necessidades humanas. Ao longo da história, os homens introduziram atividades produtivas como plantações e criação de animais; construíram casas, prédios, usinas hidrelétricas, vias de transporte e fábricas... Com isso, as sociedades humanas modificaram as paisagens, definindo seus usos e criando normas de utilização dos espaços. É muito difícil encontrar um lugar do planeta que não tenha sido modificado pela ação humana; praticamente todos os lugares do mundo são constituídos por espaços modificados, conseqüência da ação do homem sobre a natureza. Os espaços modificados pelo homem, que deveriam resultar de ações planejadas, refletidas e harmônicas, nem sempre têm essas características. A poluição e a desordem são frutos, muitas vezes, de uma má utilização do meio ambiente e de ações impensadas dos homens sobre a ocupação e uso dos espaços disponíveis. Ao longo da história do Brasil, a paisagem natural foi sendo modificada de acordo com as necessidades humanas e com os objetivos econômicos e políticos daqueles que estavam no poder. Diante de um espaço tão grande, a organização territorial do país sempre foi motivo de grandes preocupações. O país já foi dividido em Capitanias Hereditárias, Norte/Sul, Províncias, Estados, Regiões, Municípios... Algumas dessas divisões foram fruto de atos administrativos, outras foram resultado das características naturais de cada paisagem e das atividades econômicas nelas desenvolvidas.

Ilustração de mapa do Brasil feito na época das expedições colonizadoras

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VEJA O CASO DA BAHIA: A Bahia foi Capitania, entre os séculos XVI e XVIII, tornou-se província, no século XIX e Estado no século XX. Entre 1548 e 1763, Salvador foi a capital do poder central da Colônia, sede do Governo Geral. E a Bahia foi transformada em Capitania Real ou da Coroa. Em 1763, a Bahia perdeu seu lugar para o Rio de Janeiro porque a atividade de mineração desenvolvida no centro do país deslocou os interesses portugueses do Nordeste para o Sudeste. Essas mudanças administrativas, realizadas por força dos interesses econômicos, provocavam conseqüências graves na relação das regiões com o poder central. Durante o período Imperial, a organização territorial e o papel de cada região do Brasil nas decisões dos destinos políticos do país, foram motivos de grandes disputas e controversas. O Brasil era dividido em “províncias”, que praticamente deram origem aos atuais estados da federação. A importância de cada uma, sua autonomia econômica e política e os benefícios que recebiam do poder central estavam entre os principais problemas das províncias.

A capitania da Bahia tinha como donatário Francisco Pereira Coutinho e possuía 50 léguas que iniciava-se na foz do rio São Francisco e prolongava-se até a foz do rio Jaguaripe.

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SUGESTÃO DE ATIVIDADE Objetivos: Todos possuem uma identidade regional e nacional. Mesmo assim, esses sentimentos de pertencer a algum lugar mais amplo do que o bairro ou a cidade são abstrações que poderão ser vivenciadas a partir de conhecimentos e de jogos de interação sobre esses espaços. Essa atividade pode ajudar a ampliar a percepção das dimensões do Brasil, de suas particularidades e os interesses de cada região. Brincando de conhecer os Estados e suas capitais, jovens e crianças podem trocar experiências sobre tradições, modos de vida e costumes diferentes dos seus. Execução:

Que tal começar propondo uma conversa sobre o lugar em que se encontra a escola, o bairro e a comunidade?

Uma sugestão é fazer um passeio pelo bairro, observando e anotando o que viram: as belezas naturais, os espaços modificados pelos homens que proporcionaram melhoria na qualidade de vida do bairro, e também os principais problemas locais. Procure os mais velhos e peça que eles venham à escola para contar como era o bairro há 20 ou trinta anos atrás. Os alunos também podem compor um painel com fotos de antes e depois, discutir os problemas e propor soluções;

Localizar no seu grupo pessoas que já viveram em outros bairros para que eles falem sobre as diferenças entre o lugar onde viveram e o lugar atual também é uma boa idéia;

Você pode distribuir, aleatoriamente, crachás com o nome dos Estados do Brasil e suas respectivas capitais, pedir que cada um encontre o seu par e depois formem grupos de acordo com as cinco regiões do país. Proponha aos grupos uma pesquisa sobre os costumes, modos de falar, comidas, roupas típicas, danças e música de cada região do Brasil;

Ao final, que tal fazer a montagem de pequenas e divertidas encenações sobre cada região do país e apresentar para a comunidade escolar?

Essa atividade vai ajudar todos a conhecerem melhor o lugar onde vivem. Reconhecer o próprio lugar como espaço de identidade pode ampliar o desenvolvimento das responsabilidades em relação ao meio ambiente.

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CAPÍTULO 3 E quem garante que a História é carroça abandonada Numa beira de estrada ou numa estação inglória A História é um carro alegre, cheio de gente contente Que atropela indiferente, todo aquele que a negue! A música de Chico Buarque de Holanda e Pablo Milanez revela o motor da história: a gente. Homens e mulheres fazem a história, e ainda que os homens apareçam mais do que as mulheres nos livros didáticos como os grandes personagens da História, a humanidade não existiria sem elas. Durante as revoltas, guerras e rebeliões ocorridas no período das Regências no Brasil, os principais personagens foram homens. Eram eles que elaboravam os jornais de resistência ao regime imperial, liam autores estrangeiros e se influenciavam pelos ideais liberais da Europa naquela época. Eram os homens que participavam dos ataques às forças oficiais, enquanto outros homens participavam do exército imperial e defendiam a posição centralizadora do governo. O que faziam as mulheres? Muitos acharam que elas apenas dedicavam-se ao trabalho doméstico e do cuidado com as crianças; que elas ficavam em casa, esperando aflitas os pais, esposos e filhos voltarem da guerra; que elas pouco entendiam porque os homens estavam lutando; e que enquanto eles lutavam, os negócios minguavam, porque as mulheres pouco sabiam do mundo do trabalho. Isso não é verdade. As mulheres tiveram uma participação na história que nem sempre foi descrita pelos historiadores, assim como o importante papel desempenhado por milhares de homens anônimos; que também fizeram a história, mas cujos nomes não entraram para os compêndios da matéria. Alguns historiadores reexaminaram fontes documentais do período colonial e imperial e concluíram que embora a maior parte das mulheres da elite estivessem de acordo com aquele padrão “mulher submissa”, adequado à família patriarcal, muitas outras fugiram à regra. Muitas negras, mestiças e brancas pobres, mas também mulheres de elite sós, viúvas, solteiras ou abandonadas pelos maridos, trabalhavam para o seu sustento e dos filhos, como padeiras, quitandeiras, lavadeiras, costureiras, cozinheiras e parteiras, mas algumas manejavam importantes negócios familiares. Eram poucas as mulheres que possuíam terras ou escravos, mas recentes pesquisas demonstram que existiam alguns exemplos. O combate ao poder colonial ou imperial foi restrito: algumas mulheres desafiavam as regras morais impostas pela família patriarcal e outras tantas dedicavam-se ao comércio informal, sem pagar impostos, atividade considerada uma afronta ao poder.

Anita Garibaldi acompanha Giuseppe no campo de batalha. (Cena da minissérie “A Casa das Sete Mulheres”)

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OS PERSONAGENS E SEUS NOMES

o Cara Preta, o vaqueiro que começou o conflito. Mas, talvez o caso mais interessante, tenha sido daqueles que entraram para história conhecidos pelo parentesco e pelo sobrenome, os Irmãos Vinagre, lideranças da Cabanagem, no Pará.

A maioria dos personagens das revoltas regenciais entrou para a históriacom seu nome completo, como Bento Gonçalves, que liderou a Guerrados Farrapos, Antônio de Souza Neto, que proclamou a República Rio-grandense, ou Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, que editava ojornal “Novo Diário da Bahia”, onde reclamava das arbitrariedades dopoder central. Outros personagens ficaram conhecidos apenas pelo primeiro nome,como “Cosme”, o escravo que reuniu o maior número de fugitivos numquilombo no Maranhão. Houve ainda aqueles cujo apelido entrou para aHistória, como é o caso do líder da revolta maranhense, o fazedor decestos, conhecido como “Balaio”, que deu origem ao nome da revolta, e

Confronto entre negros e tropas imperiais na Revolta dos Malês A Revolta Lugar Data Personagens Cabanagem Pará 1835-1840 Francisco Pedro, Manuel e Antônio (Os Irmãos

Vinagre), Eduardo Angelim e Félix Antônio Clemente Malcher.

Guerra dos Farrapos

Rio Grande do Sul

1835-1845 Bento Gonçalves, Giuseppe Garibaldi, Anita Garibaldi, Antônio de Souza Neto e Davi Canabarro.

Revolta dos Malês Bahia 1835 Manuel Calafate, Aprígio e Pai Inácio. Sabinada Bahia 1837 Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira. Balaiada Maranhão 1838-1841 Raimundo Gomes (Cara Preta), Manuel Francisco

dos Anjos Ferreira (o Balaio) e o preto Cosme.

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SUGESTÃO DE ATIVIDADE Objetivos: Estimular os estudantes a aproximarem-se das pessoas de outras gerações e perceberem que suas preocupações foram, muitas vezes, além dos problemas do cotidiano. Essa atividade vai ajudar a construir o Centro de Memória da comunidade escolar, atraindo para a escola as lembranças daqueles que vivenciaram momentos fundamentais na história do Brasil e do mundo. Execução:

Uma sugestão é começar propondo uma conversa sobre o papel dos homens e das mulheres na construção da história, nas mudanças políticaS e sociais ocorridas no Brasil atual e no próprio âmbito estadual ou municipal;

Você pode propor que eles elaborem um questionário (abaixo você encontra uma proposta de ficha para as entrevistas) e saiam para entrevistar pessoas idosas da família, amigos ou conhecidos. Podem planejar uma visita a um asilo para realizar algumas entrevistas. Além do nome, data de nascimento e outros dados pessoais do entrevistado, propõe-se a seguinte questão: “Relate algum acontecimento da história do Brasil ou do mundo que você tenha participado, vivenciado ou que marcou a sua existência, mudou seu cotidiano, ou simplesmente tornou-se importante marco na sua vida”;

Que tal estimular o grupo a registrar os depoimentos com a maior fidelidade possível às palavras do entrevistado, usando quantas fichas forem necessárias?

Outra idéia é realizar a leitura dos depoimentos em grupo. Vão surgir muitas lembranças sobre o dia do suicídio de Getúlio Vargas, a imigração, a II Guerra Mundial, enchentes ou secas que abalaram a região, alistamentos voluntários ou forçados, participação em movimento estudantil, em comícios, sindicatos e partidos, repressão política, Campanha das Diretas, Impeachment e outros temas. Solicite a presença do professor de história para que ele vá ajudando na compreensão de certos acontecimentos e realize o vínculo entre a história do cotidiano e a história social;

Como sugestão de atividade final, você pode estimular a organização um banco de depoimentos, um verdadeiro Centro de Memória da comunidade escolar e propor que alguns depoentes venham à escola para uma confraternização e para contar oralmente as suas experiências. Planeje, com o seu grupo, uma forma de homenagear e agradecer aos entrevistados.

Essa atividade vai ajudar jovens e crianças a descobrir nos pais, avós e bisavós, pessoas que, além das preocupações diárias, fizeram a história do Brasil e que as suas lembranças sirvam de lição para aqueles, que poderão contribuir, de modo consciente, na construção do futuro.

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MODELO DE FOLHA DE ENTREVISTA:

Escola xxxxxxxxxxxxxxxx

Projeto Centro de Memória Nome: _________________________________________Data de nascimento: ______________________________Local de nascimento: _____________________________Data aproximada do depoimento:____________________ “Você já viveu muitos acontecimentos da história doBrasil e do Mundo. Fale sobre um desses acontecimentos,mas não de qualquer um. Fale sobre aquele que marcou asua vida, que você ou conhecidos seus estiveramenvolvidos, fatos que tenham mudado o seu cotidiano oude pessoas próximas; fatos que depois entraramhistória” ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Nome do entrevistador e data da entrevista: _______________________________________________

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Capítulo 4 As revoltas que sacudiram o Brasil no Período das Regências estiveram ligadas ao exercício do poder e ocorreram no momento em que D. Pedro I abdicou do trono em favor de seu filho de apenas 5 anos de idade, abrindo espaço para todo o tipo de reivindicação. As elites das províncias queriam autonomia política, reivindicavam a defesa da economia local e uma maior participação no poder central. Ao mesmo tempo, surgiram movimentos populares que criticavam a escravidão e visavam melhores condições de vida para os menos favorecidos. A Guerra dos Farrapos começou em 1835, no Rio Grande do Sul, durou dez anos e foi motivada pelos impostos que pesavam sobre o charque do Estado, enquanto o charque dos países vizinhos (Uruguai e Argentina) chegava ao centro do Brasil com preços mais vantajosos. Os gaúchos também não aceitavam a nomeação do presidente da província, escolhido pelos regentes, e seus atos. As elites do Rio Grande do Sul lutaram contra o Império brasileiro, a ponto de optarem pela separação e proclamarem uma República, em 1836. Na província do Grão-Pará (hoje Amazonas, Pará e Acre) eclodiu, em 1835, uma revolta bem diferente da Farroupilha. Apesar de ter iniciado como uma luta das elites contra o Império, os fatos evoluíram para uma rebelião popular. Líderes radicais identificaram-se com a população pobre da região, sertanejos que viviam em habitações muito precárias e que deram nome aos revoltosos: cabanos. Eram índios aldeados ou tapuios, negros escravos e caboclos, que conseguiram tomar a capital, proclamaram uma República e separaram a província do Império. Na Bahia, foram duas revoltas. Em 1835, escravos de origem muçulmana e negros libertos organizaram uma insurreição. Planejavam libertar os escravos, dizimar os brancos e mulatos e tomar a cidade. O plano foi denunciado. No dia marcado para a rebelião, as tropas do Império estavam mobilizadas e os rebeldes foram massacrados. Em 1837, as classes médias de Salvador revoltaram-se, estimuladas pela continu-idade da Guerra dos Farrapos e as notícias da Cabanagem. Os rebeldes, que denunciavam a centralização e o despotismo do governo central, tinham pretensões separatistas e tomaram a capital, empossaram um novo presidente na província e constituíram um governo autônomo. Em 1838, eclodiu, no Maranhão, um movi- mento de negros, vaqueiros e fazedores de balaios; sertanejos que tinham como objetivo melhorar suas condições de vida na província, cuja economia havia sido muito prejudicada pela concorrência com o algodão norte-americano. Centenas de sertanejos atacavam fazendas, enquanto os escravos aproveitavam a rebelião para realizar fugas em massa e formar quilombos na região. A Balaiada consistiu numa série de levantes que colocavam em cheque a dominação dos latifundiários locais e a ordem escravista, mas não apresentava uma alternativa objetiva ao regime imperial.

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A VIOLÊNCIA GARANTIU A ORDEM As revoltas regenciais foram reprimidas com muita violência pelas forças imperiais. Em alguns lugares, como Salvador, em 1835, houve um verdadeiro massacre de escravos. A Sabinada foi combatida pelo General João Crisóstomo Calado e, em meio à violência que se estabeleceu, alguns combatentes foram queimados vivos. A repressão aos cabanos no Pará ficou a cargo de Soares de Andrea, e calcula-se que foram 40 mil mortos numa população com menos de 100 mil habitantes. Para o Maranhão e o Rio Grande do Sul foi enviado o Coronel Luis Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias, cuja estratégia era usar a repressão e a cooperação de rebeldes que aceitassem a oferta de anistia. Em todos os casos, com maior ou menor violência, a sociedade nunca mais voltaria a ser a mesma; todos sofreram muito com o clima de instabilidade. Desorganizou-se a sociedade, a política, a economia e o dia a dia das pessoas comuns foi muito alterado, resultando em casos como o das mulheres da família de Bento Gonçalves, que tiveram suas vidas totalmente alteradas pela luta da qual elas não participavam diretamente.

A IMPRENSA REBELDE Durante as Regências houve quase uma centena de jornais no Brasil. Eram pasquins de quatro páginas, com pouca informação e muita crítica política. A população brasileira era de mais ou menos 4, 6 milhões, sendo que pouquíssimos, menos de 0,1%, eram alfabetizados. Entre os jornais editados pelos críticos do Império estavam o “Novo Diário da Bahia”, publicado por Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, jornalista que emprestou seu nome ao movimento e usava as páginas do jornal para criticar o Império e divulgar idéias separatistas. No Pará, o jornal “A Sentinela Maranhense na Guarita do Pará”, editado por Félix Antônio Malcher, denunciava as arbitrariedades dos governantes. Os principais jornais farroupilhas foram O Mensageiro, O Americano, A Estrela do Sul e O Povo. Os jornais farroupilhas circulavam em dias irregulares e por pouco tempo. Publicavam idéias liberais, faziam a propaganda republicana e serviam para divulgar decretos de Bento Gonçalves, atas da Assembléia Constituinte e o projeto constitucional, além de versos revolucionários. Todos eram muito moderados quanto à participação popular. O mais importante jornal farroupilha, O Povo, adotou, em 1839, o lema da Revolução Francesa, “liberdade, igualdade e fraternidade”. Apesar de divulgar as idéias da França revolucionária e republicana, o jornal publicava anúncios sobre a fuga e aluguel de escravos, de acordo com os interesses dos latifundiários gaúchos.

Page 15: AMIGOS DA HISTÓRIA - download.globo.comdownload.globo.com/amigosdaescola/fasciculo_amigos_historia.pdf · 1835 – Revolta dos Malês (Bahia) 1837 – Revolta Sabinada (Bahia) 1838

AMIGOS DA HISTÓRIA

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SUGESTÃO DE ATIVIDADE Objetivos: Essa atividade tem como objetivo pensar o período imperial brasileiro, suas revoltas e seu cotidiano, reconstruindo a história, através dos principais meios de comunicação da época, os pasquins. Execução:

Você pode começar com uma conversa sobre modos de comunicação no passado, tentar convidar algum conhecido jornalista local para dar uma palestra sobre o tema (a história da imprensa e o quais são os passos para fazer um jornal);

Para essa atividade os jovens podem estar divididos em grupos e fazer uma pesquisa sobre a (as) revolta (s) ocorrida (s) em sua região no período imperial brasileiro;

Que tal propor que os grupos criem pequenos jornais de época, com quatro páginas, contendo as notícias, opiniões políticas, esportes, publicidade, poesia, cartuns etc.?

Caso você execute esta atividade, uma sugestão é cuidar para que figurem, em cada grupo, os profissionais necessários para fazer um jornal – jornalistas, editor, cartunista, revisor e outros;

Outra sugestão é solicitar aos professores de português, história, geografia, artes, informática e outros a participar da pesquisa, da redação e da organização dos jornais;

Ao final, uma dica é fazer pequenas e divertidas encenações para apresentar os resultados do trabalho dos “Amigos da História” de forma bem criativa.

Interagindo com esses conhecimentos e envolvendo-se num clima de origens, lembranças e identidades, jovens e crianças poderão ter uma participação mais solidária na sociedade, fazer escolhas mais conscientes e ajudar a construir um futuro mais promissor para o Brasil e para a humanidade.

AMIGOS DA HISTÓRIA REALIZAÇÃO TV Globo Projeto Amigos da Escola DIREÇÃO Lacy Barca COORDENAÇÃO Vera Rodrigues REDAÇÃO E EDIÇÃO DE TEXTO: Claudia Wasserman ILUSTRAÇÃO: Michele Lacoca FOTOS: Minissérie “A Casa das Sete Mulheres” DIAGRAMAÇÃO: Sabrina Falcão