américa latina - comunidade andina vol. 2

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O S P AÍSES DA COMUNIDADE ANDINA Comunidade Andina Vol.2.pmd 22/8/2012, 16:52 503

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FUNAG

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  • O S P A S E S D ACOMUNIDADE ANDINA

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  • MINISTRIO DAS RELAES EXTERIORESMinistro de EstadoEmbaixador Celso Amorim

    Secretrio-GeralEmbaixador Samuel Pinheiro Guimares

    FUNDAO ALEXANDRE DE GUSMOPresidenteEmbaixadora Thereza Maria Machado Quintella

    INSTITUTO DE PESQUISA DE RELAES INTERNACIONAIS - IPRIDiretoraEmbaixadora Helosa Vilhena de Araujo

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  • Volume 2

    PERUSeminrio realizado em So Paulo

    no dia 20 de novembro de 2003

    EQUADORSeminrio realizado em Belo Horizonte

    no dia 24 de novembro de 2003

    O BRASIL E OS PASES DACOMUNIDADE ANDINA DE NAES

    Seminrio realizado em Brasliano dia 27 de novembro de 2003

    O S P A S E S D ACOMUNIDADE ANDINA

    Fundao Alexandre de Gusmo - FUNAGInstituto de Pesquisa de Relaes Internacionais - IPRI

    Braslia, 2004

    Helosa Vilhena de AraujoOrganizadora

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  • Coordenao Editorial: Edelcio Jos Ansarah

    Reviso: Renato

    Editorao Eletrnica: Isnaldo Martins

    Direitos de Publicao Reservados ao:

    Instituto de Pesquisa de Relaes Internacionais - IPRIEsplanada dos Ministrios, Bloco H, Anexo I, s. 70870.170-900 - Braslia - DFTel.: (61) 411-6800/6816Fax.: (61) [email protected]

    As idias, opinies e propostas apresentadas neste livro so de responsabili-dade exclusiva dos autores, no expresando, necessriamente, o pensamentoou as posies do Ministrio das Relaes Exteriores (MRE), ou da Funda-o Alexandre de Gusmo (FUNAG).

    ISBN 85-7631-020-1

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  • Universidade Cndido Mendes, UFGRS, PUC-Minas eUNESP/UNICAMP/PUC-So Paulo O Instituto de Pesquisa deRelaes Internacionais (IPRI), vinculado Fundao Alexandre deGusmo (FUNAG), organizou, em colaborao com universidadesbrasileiras UnB, uma srie de cinco seminrios sobre os pasesmembros da Comunidade Andina de Naes, realizados durante oms de novembro de 2003. Cada universidade foi a sede de um dosseminrios. Finalmente, realizou-se, em Braslia, sob o patrocnio doMinistrio das Relaes Exteriores, um sexto seminrio, que tratou daComunidade enquanto tal. Ao terminar o ciclo, os trabalhosapresentados pelos expositores esto sendo publicados no presentelivro.

    O objetivo do projeto, de acordo com as atribuies do IPRI,foi o de estimular o estudo e o debate sobre pases que esto no focodas prioridades da poltica externa brasileira e sobre os quais no seencontra bibliografia adequada. A publicao do livro, reunindo ostrabalhos dos expositores participantes, destina-se, portanto, acontribuir para a formao dessa bibliografia. Tendo em conta osesforos do Brasil de aproximao com a Comunidade Andina deNaes, em especial visando uma integrao entre aquela Comunidadee o Mercosul, o encontro de especialistas na regio propiciou umconhecimento mais aprofundado da realidade poltica, econmica,social e cultural dos pases membros, de seus interesses nacionais eregionais, e da maneira como estes interesses podem harmonizar-secom os do Brasil, numa cooperao frutfera.

    Cada seminrio tratou, em princpio, de quatro grandes temas,em alguns casos, como no seminrio sobre o Equador, subdivididosde acordo com o parecer da universidade hospedeira: 1) poltica internae externa; 2) economia nacional e suas relaes com a economiaregional e mundial; 3) sociedade, educao e cultura; 4) integrao decada pas na Comunidade, no ambiente da Amrica do Sul e suasposies no tema da ALCA. O seminrio final, por outro lado, tratoudos seguintes temas: 1) A Comunidade Andina de Naes, natureza,

    APRESENTAO

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  • estrutura e funcionamento; 2) aspectos polticos das relaes entre oBrasil e os pases da Comunidade; 3) aspectos econmicos das relaesentre o Brasil e os pases da Comunidade, em especial a relao entreo BNDES e a CAF; 4) cooperao entre o Brasil e os pases daComunidade; 5) relaes CAN-Mercosul.

    Instituto de Pesquisa de Relaes Internacionais.

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  • SUMRIO

    PARTE I

    VENEZUELA

    La crisis poltica en Venezuela ..................................................... 13Carlos A. Romero.

    A poltica exterior da Venezuela .................................................. 53Amado Luiz Cervo

    La economia Venezolana: pasado,presente y retos para el futuro ...................................................... 85

    Jos Manuel Puente

    Venezuela: economia, relaes externas eintegrao continental. ............................................................... 103

    Rosala Raquel Pesoa eJorge Madeira Nogueira

    A sociedade venezuelana em movimento ................................... 123Bencio Viero Schmidt

    A Venezuela e a Integrao Regional ......................................... 149Antnio Carlos Lessa

    COLMBIA

    Colmbia: Economia nacional e suas relaes com aeconomia regional e internacional .............................................. 171

    Carlos Eduardo Vidigal

    Integracin de Colombia con Amrica del Sur y ALCA ............. 197Socorro Ramrez

    Marcas e controles: aspectos polticos daeducao colombiana ................................................................. 227

    Thiago Rodrigues

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  • Evoluo da poltica interna e externa da Colmbia .................. 249Clvis Brigago

    BOLVIA

    Bolvia: a contruio da democracia e a avoluodo processo poltico ................................................................... 273

    Wilhelm Hofmeister

    Bolvia: Histria e Identidade. Uma abordagem sobre aCultura e a Sociedade contemporneas. ..................................... 323

    Claudia Wasserman

    As Relaes Internacionais da Bolvia:Os desafios da globalizao e integrao ................................... 351

    Paulo G. Fagundes Vizentini

    Las negociaciones comerciales de Bolivia con laUnin Europea, en el ALCA y con MERCOSUR ...................... 397

    Julio G. Alvarado

    A insero de Bolvia na Comunidade Andina de Naes:uma experincia difcil? .............................................................. 427

    Martha Luca Olivar Jimenez

    Economia boliviana: estrutura interna einsero internacional ................................................................. 473

    Andr Moreira Cunha

    PARTE II

    PERU

    Poltica e Relaes Internacionais no Peru .................................. 515Monica Herz

    A Evoluo da economia Peruana no perodo 1950 - 2000:meio sculo de transformaes e a procura de RelaesInternacionais ............................................................................. 537

    Hugo Eduardo Meza Pinto

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  • Peru: Sociedade, Cultura e Educao, 1945-2003. ...................... 575Enrique Amayo Zevallos

    El Peru en la Comunidad Andina y frente al Mercosur,el Alca y la Union Europea ........................................................ 613

    Jos Antonio Garca Belaunde

    EQUADOR

    O sistema poltico equatoriano: Continuidades davelha poltica atravs da moderna poltica ................................. 633

    Rafael Duarte Villa

    Evolucin de la Poltica Internacional del Ecuador ................... 667Benjamn Ortiz Brennan

    La economa ecuatoriana y sus relaciones con laeconoma regional y mundial ...................................................... 703

    Fander Falcon Bentez

    Equador: O spero caminho das Obragens ALCA ................. 727Raul David do Valle Jr.

    Sociedade, Educao e Cultura no Equadorn ............................ 815Jos Carlos Brandi Aleixo

    El Ecuador En La Integracin Andina Y En Amrica DelSur. Su Posicin Frente Al Alca Y A La Unin Europea. ........... 833Washington Herrera

    O BRASIL E OS PASES DACOMUNIDADE ANDINA DE NAES

    MERCOSUR-CAN .................................................................... 877Reginaldo Braga Arcuri

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  • A Cooperao Tcnica do Brasil com os pases daComunidade Andina ................................................................... 893Marcia Moreschi

    PROGRAMA .............................................................................. 925

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  • Peru

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    POLTICA E RELAES INTERNACIONAIS NO PERU*

    Monica Herz*

    I - Introduo

    No momento em que avanam as negociaes para a integraosul americana atravs de acordos bilaterais e da unio do Mercosul edo Pacto Andino uma melhor compreenso da realidade poltica e dainsero internacional dos pases andinos torna-se fundamental. Arelevncia do debate sobre a intensificao das relaes com os pasesandinos se insere no projeto articulao entre a insero internacionale regional brasileira.

    A fragilidade institucional dos Estados na regio umapreocupao geo estratgica fundamental para o governo brasileiro,considerando-se o interesse em aprofundar os trs eixos dedesenvolvimento: o amaznico, o transocenico e o interocenico,alm da necessidade de lidar com o fluxo de atividades criminosastransnacionais na regio fronteiria. O Peru, em particular, tem umpapel crucial na abertura do comrcio com o Pacfico. Desta forma,trata-se de melhorarmos o conhecimento da realidade e histria polticade pases como o Peru, alm de intensificar o fluxo de conhecimentomtuo.

    Aps uma dcada conturbada, em que o pas conviveu com aturbulncia poltica, movimentos insurgentes violentos, um conflitofronteirio com o Equador, alm de desastres climticos e umaepidemia de clera, os ltimos anos foram marcados pela tentativa dereestabelecer a ordem democrtica e os laos com os pases sulamericanos, sempre mantendo-se a relao preferencial com os EstadosUnidos. Os resultados destes movimentos iniciais ainda so incertose convidam o apoio dos parceiros regionais.

    * Trabalho Apresentado no Seminrio Sobre os Pases membros da Comunidade Andina deNaes UNESP/UNICAMP/PUC-So Paulo

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    Neste trabalho ser apresentada uma explanao histrica,tendo como referncia a fragilidade das instituies polticas peruanase uma anlise das tendncias da poltica externa peruana, com nfasesobre as transformaes que marcaram os ltimos quinze anos.

    II - Poltica Peruana

    Os ltimos cinqenta anos da histria poltica peruana forammarcados pela fragilidade das instituies democrticas, por violaesaos direitos humanos e pela incapacidade de lidar com os conflitoscaractersticos de uma sociedade marcada pela excluso social nombito das instituies polticas1. A universalizao dos direitos decidadania no ocorreu, tendo os movimentos de incluso sidorechaados ou suprimidos. O processo de democratizao nos anos80 sofreu as conseqncias da violncia poltica, e do pndulo depolticas econmicas ora em direo ao neo liberalismo, ora com nfasesobre polticas protecionistas.

    A industrializao e urbanizao no perodo posterior a II Guerragerou profundas transformaes na sociedade Peruana, tendo sidodeslanchado um processo de modernizao cujas contradies aindapermeiam o debate poltico. O sistema oligrquico tradicional foi entosubstitudo por um regime democrtico com uma base social ampliada,sem contudo prover os meios de universalizao da cidadania. O maisimportante par tido de massas peruano, a Aliana PopularRevolucionria Americana (APRA), fundada em 1924 por Haia de LaTorre foi excludo do poder poltico at 1985. A classe media buscourepresentao partidria na Ao Popular e no Partido DemocrataCristo, promovendo uma agenda de reforma social moderada duranteos anos 50 e 60, mas as tenses sociais e ausncia de canais derepresentao e participao mais universais no foram enfrentadas.

    Dentro da igreja e do exrcito posies reformistas ganharamassento no debate sobre a reorganizao das relaes entre Estado e1 Julio Cotler (1991) , Peru Since 1960 in Leslie Bethell (ed), The Cambridge Historyof Latin America, vol. VIII, Cambridge, Cambridge University Press.Maxwell A. Cameron and Philip Maruceri (ed.)(1997) The Peruvian Labyrinth:Politics, Society and Economy, University Park,PA Pensivalnia State UniversityPress.

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    sociedade no Peru. As transformaes sofridas pelo exrcito chilenoa partir do final dos anos 50 racionalizaram o aparato militar,fortalecendo o servio de inteligncia, que passou a focalizar parte desuas atenes para o controle dos movimentos sociais que emergiamento, tanto no campo o quanto no meio urbano. A defesa nacionalpassou a ser compreendida como um problema interno e externo. Aomesmo tempo, propostas reformistas e nacionalistas emergiram. Seriaa partir da caserna que o mais robusto projeto de incluso social seriaimplementado, trazendo em si as inevitveis limitaes de sua origem.

    O processo de modernizao que caracterizou a maior parteda Amrica Latina na segunda metade do sculo XX delineou, nocaso peruano, uma clara diferenciao regional entre a serra e a costa.Esta dualidade gerou um processo migratrio e confrontos entrecamponeses e proprietrios de terras na regio montanhosa. Estadiviso, que vinha crescendo desde os anos 20, gerou intensamobilizao social nos anos 50 e 60.

    A Ao Popular chegou ao poder em 1963 no que parecia serum momento de reforma atravs do sistema representativo. De fato,Fernando Belande Terry (1963-68, 1980-85) implementou uma sriede reformas visando lidar com a crise social. Contudo, a perspectivade transformar o regime oligrquico pela via institucional mostrou-seinvivel naquele momento. Belande Terry foi deposto em 1968 porum golpe militar liderado pelo General Velasco Alvarado.

    Uma nova gerao de militares, fruto de uma limitadamobilidade social, tendo tido a experincia de enfrentar a guerrilhaem moldes similares queles encontrados em outras regies do TerceiroMundo, buscou implementar mudanas mais radicais, sem osempecilhos que estes viam no regime democrtico. A Doutrina deSegurana Nacional, que propunha a associao entre odesenvolvimento e a segurana, foi gerada no Centro de Altos EstudosMilitares nos anos 50 e 60. Um novo papel para o Estado no processode desenvolvimento econmico, a nacionalizao de setores daeconomia, ressaltando-se o setor petrolfero, uma reforma agrriaefetiva e a substituio do modelo de desenvolvimento baseado naexportao pelo modelo de substituio de importaes foram a marcado perodo. O crescente autoritarismo, a radicalizao do regime em

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    um contexto de crise das relaes entre o Estado e a sociedade, adoena terminal de Velasco Alvarado, a dissidncia dentre a lideranamilitar, a crise do petrleo de 1973, a espiral inflacionaria, dentreoutros fatores, favoreceram a substituio do regime.

    Finalmente, o General Morales Bermdez, que havia assumidoa segunda fase do governo militar, levou o pas s eleies de 1978para uma assemblia constituinte. Durante este segundo perodo deregime militar, as polticas de reforma social e econmica mais radicaisdo governo anterior foram abandonadas, uma nova etapa decooperao entre o Estado e os grupos empresariais foi alcanada e oprocesso de negociao para a transio ao regime democrtico foideslanchado.

    A nova constituio foi aprovada em 1979, tendo a presidnciada Assemblia constitucional sido exercida pelo lder do APRA , Hayade la Torre. A carta, que substituiu a de 1933, estabeleceu o sufrgiouniversal e instituiu um sistema presidencialista, em que o congressotinha privilgios executivos.

    Em 1980, Fernando Belande voltou ao poder com expressivoapoio e aplicou reformas neo liberais, com a orientao caractersticade uma gerao de especialistas com experincia em organizaesfinanceiras internacionais. O crescimento baseado na exportao, aprivatizao de empresas estatais e a liberalizao do mercado de bensprimrios caraterizaram o perodo. Contudo, o modelo implementadono gerou os resultados esperados e o comeo da dcada de 80 foimarcado pelo colapso econmico, na verdade dando continuidade aum longo ciclo de declnio iniciado no final dos anos 60. O incio dosanos 80 lembrado como perodo de forte convulso social, por longasgreves e confrontaes violentas entre os movimentos sociais e oEstado.

    A deteriorao da situao social estimulou o ativismo domovimento Sendero Luminoso. Fundado por Abimel GuzmnReynoso, em 1970, a guerrilha peruana propunha uma revoluo sociala partir de uma sntese particular das idias marxistas - leninistas, do

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    maoismo e de propostas do pensador peruano Jos Carlos Maritegui2.Tendo iniciado suas atividades na provncia de Ayacucho, o movimentose espalhou pelo pas, incorporando camponeses de regies destitudase a classe mdia urbana. Nos anos 80, intensificou sua luta contra oEstado peruano, chegando a contar com 10000 guerrilheiros. A partirde meados dos anos 80 possvel detectar seu envolvimento com otrafego de drogas na regio do vale Huallaga, onde a despeito daposio da liderana do movimento, o comit regional da organizaoprotegia produtores e traficantes3.

    O governo de Fernando Belande no obteve sucesso emconter a insurgncia, tendo ainda tido de enfrentar a guerrilha urbanapr sovitica Tupac Amaru. Ademais, neste perodo ocorre umincremento na produo e trafego de drogas nos Andes peruanos, oque tornava o Sendero Luminoso uma organizao com recursosnotveis ao protegerem os camponeses produtores de coca e taxaremos traficantes.

    Em uma eleio marcada pela tendncia do eleitorado debuscar opes esquerda do espectro poltico, Alan Perz Garcia (1985-1990) do APRA foi eleito presidente. Alan Garcia teve sucessoem reformar seu partido e recuperar a retrica nacionalista e populistausada por Haya de la Torre nos anos 30. O aumento da violncia dosgrupos insurgentes e de milcias, a decadncia econmica, ahiperinflao e o dficit pblico, alm de escndalos referentes acorrupo nos mais altos escales do governo e a quase paralisaodas funes estatais finalizam a conturbada administrao de Garcia.Ao final de seu governo, ele props a nacionalizao do setor bancrio,gerando uma reao quase unnime contra um movimento que pareciater carter redestributivo. A falncia de sua estratgia anti guerrilha,inclusive das propostas de negociao, levaram a transferncia docontrole da poltica anti-subversiva para o alto comando militar,com a conseqente exacerbao da violao dos direitos humanos.2 Para uma viso ampla sobre o movimento ver David Scott Palemr (1992),Shining Path of Peru , Nova York, St Martins; Cyntiha McClintock (1998),Revolutionary Movements in Latin America, Washington, DC, U.S. Institute of PeacePress.3 Jeremy Weinstein (2003), A New Threat of Terror in the Western Hemisphere,SAIS Review, inverno, p.3.

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    A dcada da administrao Fujimori (1990-2000)4foi marcadapela centralizao da autoridade poltica, o sistema tendo movido-seprogressivamente em direo a um maior autoritarismo. O controlesobre o congresso e o poder judicirio, o funcionamento efmero dogabinete ministerial, o desprezo pelo sistema partidrio e o fortepersonalismo so os principais componentes do estilo de governoimplementado. Ao mesmo tempo, a oposio ainda sobreviveu eeleies ocorreram, mantendo-se a formalidade democrtica. Destaforma, segundo John Crabtree5, podemos falar de um regime hbrido.A luta contra o Sendero Luminoso, o Movimento RevolucionrioTupac Amaru e o narcotrfico marcaram a agenda poltica, permitindoo desrespeito pelos direitos humanos. Finalmente, os protagonistasdo regime envolveram-se em atividades criminosas, hojedocumentadas no contexto do julgamento de Montesinos.

    O regime Fujimori estabeleceu desde seus primrdios umarelao estreita com as foras armadas, tornando o prestgio dainstituio e a necessidade de enfrentar o conflito interno um dosalicerces de seu governo, em um contexto em que o presidente notinha outro suporte organizado na sociedade peruana. Um pequenogrupo de generais liderados pelo General Nicols Hermoza Rosmantinha o controle das foras armadas . Por sua vez as mesmas forasarmadas, que apoiaram o auto golpe de 1992, perderam suaautonomia, como resultado da poltica de manipulao de promoesimplementada por Motesinos. Como afirma Rut Diamit, um casoparticular em que as foras armadas perdem autonomia a partir dafragmentao das mesmas e de uma coalizo centrada nos aparatosde inteligncia.6

    No campo econmico foi seguida uma poltica neo liberal,baseada na austeridade fiscal e disciplina monetria, com aprivatizao de empresas estatais e a tentativa de criar um ambiente

    4 Ver Sally Bowen (2000), El Expediente Fufimori: Per y su Presidente 1990-2000,Lima, Monitor Peru.5 John Crabtree (2001), The Collapse of Fujimorismo: Authoritarianism and ItsLimits, Bulletin of Latin American Research, vol. 20, n.3 pp.287-303.6 Rut Diamint ( 2001), Democracia Y Seguridad En Amrica Latina, Buenos Aires,Neuvohacer , p.145.

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    atrativo para o capital financeiro internacional . O programa,fundamentado no modelo proposto pelo FMI, teve sucesso emcontrolar a espiral inflacionaria peruana, tendo o ndice de inflaoatingido 3.73% em 1999. Programas sociais localizados garantirampor um longo perodo a popularidade do governo, mesmo em umcontexto em que no ocorreu uma efetiva redistribuio de renda.

    A reverso do conflito contra o Sendero Luminoso tem comomarco a priso de Abimael Guzmn lder da organizao armada, em1992, juntamente com outros membros proeminentes. Embora em 1995ataques foram retomados a partir dos departamentos ao oeste do pas,sob a nova liderana do comandante Feliciano, a priso de Guzmnsimbolizou a reverso da presena do movimento no cenrio poltico emilitar peruano. Ao final da dcada Feliciano estava preso. A violnciapresente no cenrio peruano entre o comeo da dcada de 80 e o finaldos anos 90 foi responsvel pela morte de certa de 25000 pessoas .Enquanto as administraes de Belande e Garca adotaram uma polticafragmentada, expressando posies divergentes dentro do governo7,Fujimori ps em prtica uma poltica de represso seletiva, criandotribunais militares sem rosto, expandindo a atividade anti guerrilhanas zonas rurais e nas favelas urbanas, concedendo ampla autonomiaaos militares nesta esfera8. Uma das explicaes para a reeleio deFujimori em 1995 certamente a percepo de que ele havia garantidoque a violncia poltica no era mais uma ameaa ao Estado.

    Em 1992, o auto golpe dissolveu o congresso e reestruturoua ordem constitucional, suspendendo a constituio de 1979. Umanova constituio que permitia a reeleio do presidente foi aprovadaem 1993. No entanto j durante seu segundo mandado Fujimoripromoveu o desrespeito nova constituio. A liberdade de impressadeteriorou-se e o servio Nacional de Inteligncia, atravs de seudiretor exercia controle sobre as foras armadas, as cortes, o fisco, ocongresso.7 Philip Mauceri (1995), State Reform, Coalitions and the Neoliberal Autogolpein Peru, Latin American Research Review 30 , n.1, p.7-37.8 Enrique Obando (1998), Civil-Military Relations in Peru 1980-1996:How toControl and Co-opt the Military (and the Consequences of Doing So) , in SteveStern (ed.), Shining and Other Paths:War and Society in Peru , 1981995, Durham,Duke University Press.

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    Em 1995, Fujimori foi reeleito, levando adiante o projeto dede uma terceira reeleio consecutiva que acabaria por desembocar nacrise poltica que finalizaria o perodo de domnio do Fujimorismo noPeru. Ao final da dcada de 90 o ambiente internacional havia mudadosignificativamente, tendo sido estabelecido o paradigma democrticono hemisfrio americano. Em contraste com a reao discreta ao auto-golpe de 1992, ao final da dcada o ambiente internacional no erapropcio para a sobrevivncia de um regime autoritrio no continente.

    Desta forma, a presso externa contribuiu para o desfecho doprojeto de continusmo. As eleies de 2000 no foram consideradasjustas e idneas pelos observadores internacionais e a OEA enviouuma misso para promover reformas democrticas no pas. Aorganizao inter-americana instalou uma misso em Lima, que deveriaapoiar um dialogo democrtico entre o governo e a oposio, alm demonitorar a realizao de reformas recomendadas pela mesma. Poroutro lado, a relao estabelecida entre Vladimiro Montesinos e a CIAperdia relevncia no contexto da poltica externa norte-americana. Oenvolvimento do diretor do servio secreto peruano com a venda dearmas para a guerrilha colombiana parecia indicar o estertor de suautilidade9.

    As eleies de 2000 marcaram o final do perodo de degradaodo regime democrtico no Peru. Aps o primeiro turno das eleies osobservadores internacionais (OEA, Carter Center ) e a OrganizaoTransparncia cessaram suas atividades no pas. O ento candidato quedisputaria o segundo turno contra Fujimori decidiu retirar-se, defendendoo boicote ao processo eleitoral. Embora Fujimori tenha sido empossadoem julho de 2000, ele acabou por convocar novas eleies e o Congressoperuano destituiu o presidente, que buscou refgio no Japo.

    O movimento de oposio ao governo de Fujimori cresceudurante o perodo e os escndalos envolvendo o diretor do sistemanacional de inteligncia (SIN), Vladimiro Montesinos, deram o impulsofinal para a transio um regime democrtico10. O projeto de reeleio9 The New York Times 8 de Outubro de 200, www.nytimes.com10 As fitas gravadas por Montesinos entre 1991 e 1999 tornaram-se pblicas quandoFujimori as retirou da sede do Servio Nacional de Inteligncia, deixando claro os esquemade corrupo em curso.

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    acabou por matar a galinha dos ovos de ouro . Quando acriminalidade e o autoritarismo tornaram-se ainda mais evidentes, aoposio adquiriu novo alento utilizando-se em parte do canal criadopela OEA para negociar uma transio pacfica para a democracia epromovendo demonstraes pblicas.11 No dia 16 de setembro de2000, diante da crise de legitimidade que havia se estabelecido, opresidente anunciou a cessao das atividades do servio deinteligncia e a realizao de novas eleies. O governo interino deValentin Paniagua foi instalado e novas eleies presidenciais elegislativas foram marcadas para 2001.

    Quando em 2001, Alejandro Toledo Manrique assumiu apresidncia aps uma dcada do governo de Alberto Fujimori, tendoento iniciado-se o processo de democratizao do pas. O governode Alejandro Toledo tem mantido uma poltica econmica neo liberale buscado se mover em direo a uma democratizao do aparatode Estado. O Servio Nacional de Inteligncia foi substitudo poruma agncia sob controle civil e sob superviso do Congresso. Deuma forma geral, o brao legislativo tem assumido um papel maisativo na poltica peruana e o poder judicirio est sendo reformado.O Congresso criou uma srie de comisses para investigar a atuaodo governo Fujimori : a comisso sobre a influncia irregular sobreo judicirio e outros poderes do Estado, a comisso sobre anegociao da dvida peruana com instituies multilaterais e bancosprivados e a comisso sobre crimes econmicos e financeiros12.Buscando gerar um clima de reconstruo das bases normativas dasociedade peruana, uma comisso de verdade e reconciliao foicriada, nos moldes da mesma experincia em diversos pases ao longoda dcada de 9013.11 Este processo analisado por Catherine M. Conaghan (2001). Making and UnmakingAughoritarian Peru: Re-Election, Resistance, and Regime Transition, North South Center ,University of Miami, Paper 47.12 Carlos Marichal (2002), Cleaning Up Corruption: Perus Example, Nacla Report on theAmericas, vo. XXXVI , n.2 , setembro/outubro.13 A comisso publicou seu relatrio em agosto de 2003 afirmando que mais de 69000pessoas foram mortas entre 1980 e 2000, sendo a guerrilha responsvel por mais da metadedas mortes e trs em cada quatro eram ndios de lngua quechua. A maior parte das vtimasmorreram durante os governos de Fernando Belaunde e Alan Garca nos anos 80. A legislaoanti-terrorista de Fujimori foi duramente criticada. Juan Forero, Peru Report Says 69000Died in 20 Years of Rebel War, The New York Times, 28 de agosto de 2003.

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    Contudo, as dificuldades encontradas em lidar com a criseinstitucional peruana so imensas. Os planos econmicos daadministrao Toledo foram modificados no segundo ano de seumandato, tendo a privatizao de companhias eltricas sido suspensae o gabinete sido reestruturado, adquirindo um contorno maisintervencionista. Em junho de 2003, uma segunda reestruturao dogabinete tornou-se necessria A tenso entre as demandas sociais euma poltica econmica neo-liberal, alm de escndalos pessoais14,levaram a um declnio da popularidade do presidente. As altasexpectativas trazidas pela ascenso do novo regime foram em grandemedida frustradas, particularmente no campo social. A tenso entre apoltica de ajuste fiscal e as promessas no campo social e econmico,como ocorre em tantos outros pases, abrem o debate sobre aviabilidade do programa de governo. Ademais, as contnuasinvestigaes sobre a rede de corrupo do governo anterior abalamprofundamente a elite peruana, levantando questes sobre agovernabilidade do pas.

    Como resultado do Plano Colmbia, a produo de coca epapoulas no Peru tem crescido, trazendo de volta a lembrana doperodo em que o pas era o maior produtor de coca no mundo.Enquanto nos anos 90 houve uma diminuio de cerca de 70% daproduo de coca, dados da ONU mostram um pequeno aumento narea de produo15. Toledo, por sua vez, assumiu o compromisso deerradicao das plantaes, at 2006, com o governo americano, masacordou o ano de 2008 para substituio de cultivo com os produtoresde coca, j que h um mercado legal de coca no Peru. 16

    Ao mesmo tempo, um renascimento tmido da guerrilha peruanaj detectado a partir da regio amaznica, onde a presena do Estado rarefeita, tendo o exrcito diminudo sua atuao em funo decortes oramentrios e da desmoralizao sofrida pela instituio aolongo do processo de democratizao . Em junho de 2003, sessenta

    14 O presidente tentou evitar um processo de paternidade, no qual ele seria derrotado.15 United Nations Office on Drugs and Crime, Peru Coca Survey, for 2002, Maro de 2003.http://www.unodc.org/unodc/en/cnd.html.16 Kevin G.Hall, Knight, As trafficking rises in Peru, farmers want larger legal market, 30 deJulho de 2003, Knight Ridder News Service, Miami Herald. www.americas.org

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    trabalhadores que construam um gasoduto em Ayacucho, no sudoestedo pas, foram seqestrados, abrindo o debate sobre as atividades doSendero Luminoso, que contaria hoje com um pequeno grupo deguerrilheiros. Podem ser detectados sinais de atividades da guerrilhaperuana nos vales Monzon e Apurimac17, em um contexto em que osmais graves problemas sociais peruanos ainda no foram enfrentados.A especulao sobre as relaes entre este grupo armado, as FARCcolombianas e o narcotrfico acrescentam mais um elemento ao quadrode fragilidade institucional que no foi superado, mesmo no contextode transio para um regime democrtico.

    3. Poltica Externa e Insero Internacional

    A poltica externa peruana incorpora os contornos da polticaexterna de pases pequenos, estando, tanto no mbito regional, quantono mbito global, em uma posio modesta diante da estratificaointernacional de poder. Tendo incorporado esta percepo ao seuquadro cognitivo, as elites locais optaram tradicionalmente pelosuporte legalidade internacional. A escassez de recursos reflete-seainda na dependncia, particularmente quanto aos mercados paraexportaes e inverses externas em sua economia, tendo assimenfrentado as dificuldades de realizao de sua soberania, da mesmaforma que a maior parte dos pequenos pases que habitam o sistemainternacional. Ademais, as condies geopolticas peruanas no sofavorveis18. Trs regies separadas - a costa desrtica, onde seencontram os centros comerciais e industriais, a sierra, habitadapredominantemente por quechuas e aymaras, e os Andes orientais oua montaa, e a plancie amaznica, cruzada por afluentes do Amazonas,dificultam a integrao do pas. As reas fronteirias enfrentaram, aolongo da histria peruana, o isolamento e o conflito potencial comEstados vizinhos.

    17 The Americas:Spectres Stir in Peru; Drugs in the Andes, The Economist, 16 de fevereiro de2002, p.56.

    .18 Philip Kelly (1997 ) , Checkerboards & Shatterbelts The Geopolitics of South America, Austin,University of Texas.

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    As relaes internacionais do Peru foram dominadas at osanos 90 pelos contenciosos fronteirios com seus dois vizinhos, oEquador e o Chile, em particular este ltimo19. A derrota na Guerrado Pacfico (1879-1883) e a conseqente perda de uma parteimportante de seu territrio definiu em grande medida a identidadedo pas. A integridade territorial e o desenho das fronteiras foram atos anos 90 questes em aberto, entendidas pelas elites peruanas comofontes de ameaa.

    A Guerra do Pacfico20 fez parte de uma longa disputa pelocontrole da costa americana no Pacfico sul, alm de incorporar oproblema boliviano de acesso ao mar. O conflito envolveu a ocupaode trs provncias peruanas - Tarapac, Tacna e Arica , tendo o exrcitochileno ocupado Lima. O protocolo de Washington de 1929 permitiuao Chile anexar Arica, regio rica em nitrato, e ao Peru receber Tacnade volta. A poltica de balano de poder regional exercida pelo Chileaps o conflito, atravs de uma aproximao com o Equador e aColmbia, alm da perda territorial, manteve viva a percepo deameaa.

    O conflito com o Equador referia-se demarcao da fronteiraamaznica entre os dois pases e gerou uma srie de conflitos armados,sendo as guerras de 1941 e a de 1995 os mais significativos. As relaesbilaterais, durante as cinco dcadas entre a ratificao do protocolode 1942 e a guerra de 1995, foram dominadas pelas divergncias sobrea demarcao da fronteira. A disputa sobre a validade do protocoloassinado em janeiro de 1942, sob os auspcios dos quatro pasesgarantes - Brasil, Estados Unidos, Argentina e Chile-somente tevefim com a assinatura de um tratado definitivo em Braslia, em 1998.

    A insero internacional do Peru caracteriza-se por uma ntidaaceitao dos principais regimes internacionais no campo da segurana,meio ambiente e dos direitos humanos e pela participao na maiorparte das organizaes internacionais, alm de coalizes especficas.

    20 Bruce Farcau (2000), The Tem Cents War: Chile, Peru and Bolivia in the War of the Pacific1879-1884,Westport, Conn, Praeger.

    19 Peter Flindell Klarn, (2000), Peru: Society and Nationhood in the Andes, New York, OxfordUniversity Press. Ronald Bruce St. Johns (1992), The Foreign Policy of Peru.

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    Desde 1949 o pas membro da ONU, tendo Javier Perez de Cuelarservido como Secretrio-Geral da organizao entre 1981 e 1991. Opas, alm de membro da OMC e da Comunidade Andina, o nicopas andino a fazer parte da APEC ( Asia-Pacific Economic Association).

    As relaes bilaterais com os EUA so o centro da agendainternacional peruana, embora a Europa seja um parceiro comercialigualmente importante, alm de fornecer a maior parte dos fundos emajuda para o desenvolvimento. As exportaes peruanas se concentramem vendas para os EUA (28%), assim como as importaes (27%)21.

    As relaes entre os dois pases so estreitas desde quefazendeiros americanos, em busca de fertilizantes mais eficazes,importaram guano e nitratos do Peru. Os EUA apoiaram asreinvindicaes territoriais peruanas aps a Guerra do Pacfico e osinvestimentos americanos em minerao, estradas de ferro e agriculturacresceram ao longo do sculo XIX. Durante a primeira metade dosculo XX esta tendncia teve continuidade, incluindo ento otreinamento de oficiais das Foras Armadas peruanas.

    A poltica externa voltada primordialmente para as relaesbilaterais com os EUA foi modificada nos anos 70, tendo anacionalizao da Companhia Internacional de Petrleo e a extensodas guas territoriais estado no centro dos contenciosos do perodo. Aadministrao de Velasco Alvarado buscou diversificar as relaesinternacionais peruanas, aproximando-se do movimento no-alinhado,de pases comunistas, da Europa Ocidental e da sia. As relaesmilitares, em particular, entre o Peru e os pases do bloco sovitico sefortaleceram durante os anos 70, tendo o pas se tornado o maisimportante cliente de armamentos do bloco na Amrica do Sul.

    Durante o mesmo perodo, observa-se uma intensificao dasrelaes com os pases latino-americanos. O governo peruano foi umdos atores mais relevantes na criao do Pacto Andino em 1969. Aomesmo tempo, uma confrontao com os EUA foi evitada e em 1974os dois governos assinaram acordos em que os EUA fornecia

    21 The World Factbook 2002, www.cia.gov/publications/factbook; Lawrence Clayton (1999),Peru and the United States:The Condor and the Eagle, Athens, University of Georgia Press.

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    emprstimos para a indenizao de empresas americanas nacionalizadase os investimentos americanos tiveram continuidade.

    Contudo, ao final da dcada o experimento nacionalistaperuano mostrava sua fragilidade e o governo Belande voltou aenfatizar as relaes bilaterais com os EUA . Na verdade, o apoio dogoverno Carter transio para a democracia no Peru ao final dosanos 70, em contraposio ao modelo ento vigente no cone sul,aproximou os dois pases. Apesar da postura do governo de AlanGarcia frente ao sistema financeiro internacional e de seu apoio aossandinistas na Nicargua, as relaes bilaterais com os EUAmantiveram-se cordiais, em parte devido s possibilidades decooperao na luta contra o narcotrfico e da preocupao norte-americana com os efeitos desestabilizadores das aes do SenderoLuminoso. O confronto entre a administrao de Alan Garciaestabeleceu um teto de 10% dos ganhos com exportaes para opagamento da dvida; o FMI acabou por tornar o Peru inelegvel fundos do FMI em 1986 e o pas chegou a sofrer ameaas de expulsoem 1989.

    Durante o primeiro perodo da administrao Fujimori asrelaes bilaterais voltaram a se estreitar, tendo como pano de fundoa cooperao no combate produo e comercializao de drogas, apoltica de combate guerrilha e a liberalizao da economia. A opodo governo pela criao de um dos mais abertos regimes parainvestimentos estrangeiros do mundo estava em total acordo com oprojeto liberal americano para o ps-Guerra Fria. Entre 1990 e 2001,a assistncia bilateral norte americana ao Peru alcanou 1,4 bilho dedlares22.

    A produo e comercializao de drogas uma questo centralda agenda internacional peruana, assim como dos demais pasesandinos. At meados dos anos 90 o pas era o maior produtor de cocado mundo. Como resultado da cooperao entre o Washington e Lima,particularmente aps a escalada do combate s drogas durante aadministrao Clinton, a produo e o comrcio ilcito de cocana

    22 U.S. Department of State Backgroun Note:Peru , www.state.gov/r/pa/ei/bgn acesso em30/07/2003.

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    diminuram significativamente no Peru, tendo grande parte destasatividades migrado para a Colmbia. Entre 1994 e 1998, a produoe o trfico de cocana diminuiu como resultado da polticaimplementada pelo governo Fujimori e a coordenao de atividadesentre Montesinos e as agncias norte-americanas. A partir de umtrabalho em colaborao com a USAID (Agncia Americana para oDesenvolvimento Internacional) um programa de substituio decultivo foi realizado. Contudo, o pas ainda um grande produtor demateriais usados para sintetizar a droga e as operaes com herona,sendo a papoula, ao contrrio da coca, uma planta importada, seexpandem em funo de mudanas no mercado mundial. Por outrolado, o plano Colmbia, como j mencionado, favorece o renascimentoda indstria no pas.

    Durante os anos 90 a relao estreita entre Montesinos e aadministrao norte-americana, em particular a CIA, permitiu aogoverno norte americano obter acesso direto ao centro do poderperuano, auferindo ganhos econmicos e uma via no legal decoordenao de polticas anti-drogas. Contudo, ao final da dcada de1990, Montesinos passou a ser visto como um problema e oDepartamento de Estado sustou o financiamento da unidade denarcticos do Servio de Inteligncia Peruano e a assistncia de umaforma geral. Ademais, a venda de armas jordanianas para as guerrilhascolombianas tornou-se pblica e o Congresso norte americano exerceupresso para que houvesse um afastamento definitivo23.

    Alm do estreitamento das relaes com os EUA, os anos 90foram marcados pela resoluo dos conflitos bilaterais que dominarama poltica externa peruana desde o sculo XIX. O governo Fujimoriadotou uma poltica externa voltada para resolver velhas disputas, nocontexto de uma poltica de abertura ao investimento internacional.Em janeiro de 1992, o presidente fez uma visita histrica Quito eapresentou uma proposta para a negociao do conflito pendente.Contudo, o auto-golpe de 1992 gerou um relativo isolamentointernacional do pas e Fujimori esteve distante de fruns como oGrupo do Rio e o Pacto Andino. Mas, em outubro de 1998, o Peru e

    23 Alex Stone (2003), A Wayward Path: The Failure of US Policy in Peru, HarvardInternational Review. P.3.

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    o Equador assinaram um acordo de paz que resolveu de formadefinitiva o contencioso fronteirio entre os dois pases. Entre 1995 e1998 um processo de mediao internacional do qual participaram osquatro pases garantes do Protocolo do Rio de Janeiro de 1942 - Brasil,Estados Unidos, Argentina e Chile-logrou modificar a natureza darelao entre o Peru e o Equador24.

    Em novembro de 1999, Peru e Chile assinaram trs acordosque permitiram a implementao do tratado de 1929, delimitando afronteira bilateral, questo esta ainda pendente aps a guerra doPacfico, de 1879. Em dezembro de 1999, Fujimori fez a primeiravisita ao Chile por chefe de Estado peruano.

    A busca de uma reinsero no sistema financeiro internacionalmarcou o incio do governo de Fujimori, tendo a situao seestabilizado com o emprstimo - ponte de 800 milhes de dlaresrepassados pelo FMI. A liberalizao da economia se expressa na buscade acordos comerciais em diferentes esferas. Alm das negociaescom o Mercosul, sobre a ALCA e a incorporao APEC, o Peruassinou acordos comerciais com o Chile e o Equador. A participaono Conselho Econmico da Bacia do Pacfico (1990) e na Confernciade Cooperao Econmica do Pacfico (1991) deve ainda ser lembrada.O pas no participa da tarifa externa comum andina justamente porqueesta no condiz com o nvel de liberalizao de sua economia.25

    Contudo, o auto-golpe de 1992 gerou uma reao internacionalnegativa, dificultando o plano inicial de reativao de relaesinternacionais do pas em instncias multilaterais. Projetos de ajuda eemprstimos foram suspensos por pases como os EUA, a Alemanhae a Espanha. A Venezuela suspendeu relaes diplomticas e aArgentina retirou seu embaixador de Lima.

    As relaes com o Brasil adquiram gradualmente maiorrelevncia ao longo dos anos 90. Historicamente as relaes bilaterais

    24 Monica Herz & Joo Pontes Noguiera (2002), Ecuador vs. Peru Peacemaking AmidRivarly, Boulder Co, Lynne Rienner.25 Josefina del Prado (1999), La Neuva Agenda Del Per en Materia de Poltica Exterior,Agenda Internacional, n.13 julho, dezembro, pp.167-173.

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    foram influenciadas pela negligncia de ambos os pases em relao sua fronteira amaznica e pela disposio das populaes brasileiras eperuanas na direo oposta fronteira comum. Como afirma GinoCosta, no caso brasileiro as relaes com o mundo externo secanalizaram atravs do oceano Atlntico e no caso peruano atravsdo Pacfico.26 A posio brasileira como um dos garantes do protocolode 1942, que se aproximava da postura peruana para resoluo doconflito com o Equador, tambm marcou as relaes bilaterais.

    Na dcada de setenta, mudanas na poltica externa brasileira,as quais favoreceram a aproximao com os pases amaznicos, aassinatura do Tratado de Cooperao Amaznico em 1978, e oabandono dos aspectos mais radicais do modelo scio-econmico doregime peruano permitiram uma maior cooperao entre os dois pases.Nos anos 80, modificaes importantes no cenrio regional, como aaproximao entre o Brasil e a Argentina e entre a Argentina e o Chileproduziram um maior interesse pela aproximao com o Brasil,deixando os laos tradicionais com a Argentina de se apresentaremcom um mecanismo primordial de preservao do balano de poderregional. Em junho de 1981, durante a visita do Presidente Figueiredo Lima, o Tratado de Amizade e Cooperao foi assinado, abrindo apossibilidade de maior cooperao no campo econmico. Naquelemomento, a necessidade de melhorar as ligaes virias entre os doispases j era assinalada. Contudo, os avanos deste perodo no geraramuma efetiva intensificao das relaes bilaterais, tendo os problemaseconmicos dos anos 80 e a nfase dada pelo plo mais poderoso darelao integrao no cone sul impedido uma mudana qualitativa.

    O plano de Ao de Lima, criado durante a visita do presidenteFernando Henrique Cardoso Lima em 1999, contempla sete gruposde trabalho e compreende programas de ao para a fronteira comum,para a segurana e desenvolvimento da Amaznia, cooperao entreas Foras Armadas, combate ao trfico de drogas, cooperao tcnicae relaes culturais. Ademais, o comrcio entre os dois pases cresceude forma significativa durante a dcada de 90. Entre 1990 e 2001, o

    26 Gino F. Costa (1988) , Relaciones Del Peru Com Brasil, Relaciones Del Peru Com LosPaises Vecinos Lima, CEPEI.

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    valor do comrcio bilateral passa de US$ 260 milhes a US$ 526milhes, sendo as exportaes peruanas dominadas por produtosprimrios27.

    A perspectiva de criao de ligaes virias entre os dois pasese em direo aos oceanos Pacfico e Atlntico, permitindo odesenvolvimento da economia amaznica, est contida na Iniciativapara a Integrao da Infra-estrutura da Regio Sul-Americana, acordadadurante a Primeira Reunio de Cpula Sul-Americana em setembrode 2000. O Peru faz parte de quatro dentre os nove eixos de integraoe desenvolvimento programados: o eixo andino, unindo a Venezuela,a Colmbia, o Equador, o Peru e a Bolvia; o eixo inter-ocenicovoltado para a ligao Peru-Chile-Bolvia-Paraguai-Brasil; o eixomultimodal do Amazonas, unido os portos pacficos de Paita, no Peru,Esmeraldas, no Equador e Tumaco, na Colmbia com Macap e Belmno Brasil, e o eixo Peru-Bolvia-Brasil. A cooperao no uso do Sistemade Vigilncia da Amaznia (SIVAM ) com o Peru, assim como com aColmbia, melhora significativamente as condies de combate aonarcotrafico na regio. As iniciativas neste sentido carregam o potencialde transformar a relao entre os dois pases que dividem uma fronteirade 2823 quilmetros, em meio selva amaznica com baixssimadensidade demogrfica.

    Finalmente, a assinatura do acordo comercial entre o Mercosule o Peru em 2003 constituiu um passo crucial na aproximao entreos pases andinos e aqueles que compe o Mercosul. O acordo prevuma gradual diminuio de barreiras alfandegrias e a total liberaodo comrcio dentro de dez anos.

    A poltica externa de Alexandro Toledo voltou-se inicialmentepara a recuperao da legitimidade internacional do Peru enquantopas democrtico. A cooperao com organizaes internacionais nocampo dos direitos humanos foi enfatizada. Na verdade, j em janeirode 2001, ainda durante o governo interino de Valentn Paniagua, opas retornou a jurisdio da Corte Inter-Americana de Direitos

    27 Arturo Jarama, las Relaciones Comerciales Per-Brasil. Importancia del Eje Multimodaldel Amazonas para la Integracin Binacional.

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    Humanos28 e, em novembro de 2001, a ratificao do estatuto deRoma da Corte Penal Internacional foi depositada. Por outro lado, aintegrao fsica atravs de projetos de infra-estrutura e odesenvolvimento das regies fronteirias manteve-se como prioridadeda poltica externa peruana.

    No contexto do debate sobre a reestruturao do sistema desegurana americano, o governo Toledo tem salientado a relevnciada reduo coordenada de gastos militares e da criao eimplementao de medidas de confiana mtua. Em setembro de2001, os ministros das relaes exteriores do Peru e do Chileadotaram a deciso de realizar um processo de consultas sobre ocontrole de armas convencionais e de abrir os trabalhos do comitpermanente de consulta e coordenao poltica entre o Peru e oChile, integrado pelos ministros das relaes exteriores e defesa dosdois pases. No ms seguinte, ocorreu a primeira reunio do comitde segurana e defesa dos dois pases e iniciou-se o processo dehomologao da contabilidade dos seus gastos de defesa. Emfevereiro de 2001, a comisso Binacional Peruano-Equatoriana sobreMedidas de Confiana Mtua e Segurana iniciou seus trabalhos,tambm visando a um processo de homologao a contabilidade degastos defesa. Uma zona de integrao fronteiria foi criada nasprovncias de Mynas e Ramn Castilla no Peru e Amazonas ePutumaio na Colmbia. Foi criado o comit de Fronteiras Iapari-Assis Brasil, visando, alm da integrao fronteiria, aoestabelecimento de um plo de desenvolvimento como parte docorredor de desenvolvimento Puerto Maldonado-Rio Branco.

    O interesse em uma maior cooperao com os pases sulamericanos tambm foi manifestado, expressando-se tanto no dilogointra-andino, quanto nas relaes com o Brasil. Contudo, a prioridadeda poltica externa peruana continua sendo a relao bilateral com osEstados Unidos. Neste sentido, mantm-se um grau significativo decontinuidade em relao ao perodo anterior.

    28 Durante a administrao Fujimori o pas havia se retirado parcialmente da Corte depoisque esta determinou que quatro chilenos condenados por aes terroristas em uma cortemilitar deveriam ser julgados novamente em uma instncia civil.

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    4. Concluso

    O Peru encontra-se hoje diante de duas encruzilhadas, comperspectivas ainda incertas quanto aos prximos passos. Trata-se dareestruturao do Estado e das relaes Estado-sociedade, no contextode um processo de redemocratizao e tambm da redefinio de suapoltica externa, diante das possibilidades abertas para a cooperaoregional .

    Por um lado, est em curso um processo de redemocratizaoem que as instituies so timidamente reformadas e a sociedade sereorganiza. Contudo, o Estado ainda tem dificuldade de acesso recursos,inclusive devido ao baixo nvel de controle sobre a cobrana de impostose sobre a poltica macroeconmica. Um estado de bem-estar social nofoi criado e a utilizao da violncia como meio de ao poltica poderetornar na forma de novas aes do Sendero Luminoso.

    Ademais, a ajuda norte-americana no combate s drogas noPeru favorece o envolvimento das Foras Armadas em operaes anti-drogas em um movimento similar quele que ocorre na Colmbia .Dentro da lgica do combate ao terrorismo em escala global, a esferade segurana priorizada no que concerne ajuda bilateral. Nosprximos cinco anos os EUA prover 10 milhes de dlares anualmentepara o fortalecimento de instituies democrticas somente em 2003a ajuda ao combate s drogas chegara a 150 milhes29. Devemoslembrar, contudo, a deciso peruana de no assinar um acordo deimunidade bilateral para processos da Corte Criminal Internacional, oque levou o governo Bush a suspender a ajuda militar ao pas 30.

    Assim, uma srie de questes se impe quanto perspectivade fortalecimento das instituies democrticas no Peru, desde aestrutura e o funcionamento do aparato estatal at formas derepresentao da sociedade e a gestao de um projeto nacional maisbem definido. O contexto de instabilidade regional no favorece oavano neste campo.

    29 Dados citados por Jeremy Weintein, op. cit., p.6.30 The Boomerang Effect: U.S. Aid Suspension and the Andes Drug War, 10 de julho de2001, Stratfor, www.stratfor.info.

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    Por outro lado, o movimento de aproximao com seus vizinhossul-americanos convive de forma tensa com a prioridade dada relaocom os Estados Unidos em um contexto em que a poltica externanorte-americana enfatiza as relaes bilaterais na regio, tendo suazona de influncia mais imediata se expandido em direo regioandina.

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    A EVOLUO DA ECONOMIA PERUANA NO PERODO 1950- 2000: MEIO SCULO DE TRANSFORMAES E A PROCURADE RELAES INTERNACIONAIS

    Hugo Eduardo Meza Pinto1

    Resumo

    O objetivo deste artigo mostrar a evoluo da economiaperuana no perodo 1950-2000, bem como analisar as diferentesestratgias de integrao regional estabelecidas pelo pas,especialmente, na ltima dcada do sculo XX.

    O artigo demonstra que as tentativas de industrializaoadotadas no Peru nesse perodo (Modelo primrio-exportador -Industrializao por Substituio de Importaes e Processo deLiberalizao Econmica) no conseguiram modificar estruturalmentea capacidade produtiva e tampouco conseguiram atender as demandassociais crescentes do pas.

    Nesse contexto, tambm so analisados os processos deintegrao regional estabelecidos pelo Peru, principalmente na dcadade 1990, como opes vlidas de criao de novos mercados eoportunidades de crescimento econmico.

    Abstract

    The objective of this article is to show the evolution of thePeruvian economy in the period 1950 to 2000, as well as to analyze

    * Mestre em Desenvolvimento Econmico e Doutorando pelo Programa em Integrao daLatino Amrica (Prolam) - Universidade de So Paulo (USP); Coordenador do Curso deEconomia das Faculdades Integradas Santa Cruz de Curitiba, [email protected]. O autoragradece a grande colaborao dos economistas Jefferson Gross das Faculdades IntegradasSanta Cruz de Curitiba, Daniel Alfaro e Melissa Baradiarn da Universidade del Pacfico delPer.

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    the different strategies of regional integration established by thiscountry, especially in the last decade of the century XX.

    It s demonstrated that the attempts of adoptingindustrialization in Peru (Model primary exporter - Industrializationfor Substitution of Imports and Process of Economical Liberalization),they couldnt modify structurally the productive capacity and to assistthe high social demands of this country.

    In this context, its also analyzed the process of regionalintegration established by Peru, mainly in the decade of 1990, as validoptions of the creation of the new markets and the opportunities ofeconomic growth.

    1. Introduo

    A segunda metade do sculo XX foi caracterizada por profundastransformaes na economia peruana. Esta se iniciou com umconsidervel processo de crescimento econmico no perodo 1950-1974 identificado como Golden Age, que depois levaria fase de quedada produo e crise no perodo 1975-1980, e terminaria na ltimadcada do sculo com a liberalizao da economia e sua tentativa deinsero econmica internacional.

    Do ponto de vista poltico, o Peru sofreu modificaesproduzidas pelos vrios tipos de governos instaurados nessa poca.Desde o vaivm dos governos civis e militares (1950-1980) e suastentativas de instaurao de modelos de desenvolvimentosdescontnuos (Primrio-exportador e Industrializao atravs deSubstituio de Importaes) passando pela volta democracia, em1980, at o fim de um processo ambguo de democracia e ditadura eda falta de um Estado de direito no final dos anos noventa.

    O perodo 1950-2000 mostrou, tambm, a reconfigurao dasdemandas sociais, que se iniciaram a partir dos grandes fluxosmigratrios campo-cidade na dcada dos anos cinqenta e que tmcontinuidade ao longo desse perodo pelos desequilbrios sociais daguerrilha e o narcotrfico. Nesse contexto, os processos de

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    desenvolvimento econmico, ocorridos no perodo, no se traduziramem crescimento econmico sustentado capaz de satisfazer s demandassociais e econmicas da populao.

    Contudo, esse panorama adverso no desencorajou as tentativasde insero econmica desse pas. Pelo contrrio, vislumbrou-se nosacordos regionais e extra-regionais opes de ampliao de mercadose oportunidades de superao do subdesenvolvimento. Atualmente opas possui diferentes graus de integrao econmica com os principaisblocos e acordos de integrao. Neste sentido, o objetivo deste artigo mostrar a evoluo da economia peruana no perodo 1950-2000,assim como analisar as diferentes estratgias de integrao regionalestabelecidas pelo pas, especialmente na ltima dcada do sculoXX.

    Este artigo est dividido em trs partes: na primeira, analisam-se as transformaes econmicas e polticas ocorridas no Peru, nosperodos de 1950-1974 e 1975-1990. Na segunda parte, analisa-secom mais especificidade a dcada de noventa, destacando a polticade liberalizao e de insero econmica mundial do pas.

    Na ltima parte, analisam-se as relaes comerciais e regionaisestabelecidas pelo Peru com os diferentes blocos econmicos balizadospor acordos de livre comrcio.

    Finalmente, importante chamar a ateno s oportunidadesque a integrao regional oferece para economias, como a peruana,que mesmo portadoras de carncias e demandas estruturais, apresentampotencialidades e chances de integrao.

    1.1 O perodo de 1950 a 1990: Os vaivens entre o militarismo e a democracia

    O perodo 1950-1990 pode ser dividido em dois momentos. Oprimeiro de 1950 a 1974, denominado Golden Age1, caracterizou-sepela passagem do modelo Primrio-exportador, inserido na dcada de1940, para o de Industrializao por Substituio de Importaes (ISI).

    1 O Perodo de 1950 a 1974 denominado de Golden Age pelo expressivo crescimentoeconmico, em mdia de 5,5% ao ano.

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    Nesse perodo, o Peru foi governado por seis presidentes, quatro dosquais militares: Manuel A. Odria, de 1950 a 1956, Ricardo PerezGodoy/Nicolas Lindley entre 1962-1963 e Juan Velasco Alvarado1968-1975 e dois civis: Manuel Prado Ugarteche 1956-1962 e FernandoBelande Terry 1963-1968.

    O segundo ciclo compreende o perodo de 1975 a 1990. Opas foi governado por trs presidentes: um militar, Francisco MoralesBermudez 1975-1980, e dois civis Francisco Belande Terry 1980-1985 e Alan Garcia Prez 1985-1990. Esta fase marca o fim da ISI, oretorno da democracia, em 1980, e o perodo de recesso e criseeconmica.

    1.2 O modelo primrio exportador dos anos cinqenta: O inciodo golden age

    A dcada de 1950 foi marcada por expressivas mudanas na estruturascio-econmica do Peru. Do ponto de vista econmico, esta dcadafoi caracterizada pela preocupao com o crescimento e modernizaodo pas. Neste sentido, se abriu a economia para o ingresso de capitalestrangeiro e se sustentou o crescimento econmico a partir dasexportaes primrias.

    Do ponto de vista social, esses anos se caracterizaram pelasignificativa migrao da populao andina para a capital, incentivadaa partir do crescimento econmico urbano, da construo de infra-estrutura viria e produtiva, do processo de expropriao das terrascamponesas e do grau de explorao dos trabalhadores rurais. Estima-se que, entre 1940 a 1946, a populao de Lima passou de 644.253habitantes para 1.749.407, com uma variao de 8,9% ao ano (Soares,2000).

    No incio da dcada de 1950, o ento governo do GeneralManuel A. Odria2 (1948-1956) implementou polticas de infra-estrutura social (obras urbanas, moradias populares e gastoseducacionais), de importao de alimentos e de controle de preos deprodutos agrcolas nacionais, tudo isso com a finalidade de atender s

    2 O General Odria tomou o poder em 1948 atravs de um golpe de Estado ao presidenteBustamante e Rivero, eleito democraticamente em 1945.

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    demandas instauradas a partir das migraes rurais. Porm, estaspolticas no tiveram muito sucesso3.

    Em 1956, Manuel Prado Ugarteche, ex-presidente do perodo1939-1945, ganhou as eleies convocadas por Odria e governou opas at 1962. Prado deu continuidade estrutura econmica do seuantecessor, apoiado pelas elites exportadoras, dando condies legaise tributrias favorveis para penetrao do capital estrangeiro nessesetor.

    Este modelo Primrio-exportador, caracterizado por um Estadoreduzido e de cmbio livre, diferencia-se profundamente das polticasde Substituio de Importaes instauradas na Amrica Latina, nessemesmo perodo. Segundo Dancourt et al. (1997), existem duasexplicaes para esta realidade: a primeira seria a notvel influnciada oligarquia exportadora nos governos de Odria e de Ugarteche, e asegunda, a expanso da demanda internacional pelas exportaes dematrias-primas, durante o perodo 1950-1965.

    Segundo Soares (idem), embora na dcada de 1950 ascondies favorveis para as exportaes peruanas permitiram umconsidervel crescimento da economia peruana, esta no se traduziuem desenvolvimento industrial.

    No perodo 1962 - 1963, atravs de um golpe militar que depsUgarteche, se estabeleceu uma junta militar, tendo como presidentesos Generais Ricardo Perez Godoy e Nicols Lindley. Esta junta seencarregaria de corrigir ameaas polticas e sociais internas4 e depreparar as condies polticas para o governo do ento candidato repblica Fernando Balande Terry. Estas tarefas foram cumpridas.

    3 Apesar dos investimentos em infra-estrutura, Lima revelou-se incapaz de absorvereconomicamente as migraes, assim como a economia industrial no incorporou relaes detrabalho modernas. Isto provocou um aumento da informalidade na capital e uma deterioraodas condies de trabalho.4 Em 1962, o partido de esquerda Aliana Popular Revolucionria Americana (APRA),liderado pelo seu presidente Victor Ral Haya de La Torre, estabeleceu alianas polticascom o ento presidente Prado, configurando-se em potencial candidatura presidncia darepblica. Ao mesmo tempo, desataram-se focos subversivos nos Andes, conduzidos porcamponeses que procuravam expropriar terras.

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    1.3 A industrializao por substituio de importaes (isi)

    Em 1963, o arquiteto Fernando Belande Terry venceu a eleiopresidencial, apoiado amplamente pela junta militar, pelos EstadosUnidos5, pela classe mdia e pequenos agricultores e empresrioindustriais. Este triunfo tambm se deu em meio a uma crise do Estadoperuano oligrquico6.

    Com a clara inteno de promover a indstria nacional, noperodo 1964-1967, Belande Terry iniciou o processo deIndustrializao por Substituio de Importaes (ISI). Nesse perodo,as taxas de proteo efetiva industria aumentaram notoriamente8assim como a iseno tributria8 e o aumento de crdito a este setor.

    Durante 1960 e 1967, o PIB e a produo industrial crescerama taxas anuais de 6,9% e 7,8%, respectivamente. Os investimentosno sistema financeiro e no setor manufatureiro cresceram tambm(Jimenez, 1997). Desta maneira, a ISI criou um setor industrial lder(indstrias tipicamente produtoras de bens de consumo e de mquinas),porm com deficincias de insumos e tecnologia. Da mesma maneira,no houve uma articulao entre a economia e o mercado interno,assim como no se modificou estruturalmente a composio docomrcio exterior.

    Os crescentes gastos pblicos e a posterior restrio creditciaaumentaram expressivamente o endividamento externo, o qual triplicouentre 1963 e 1967, passando de 237 para 685 milhes de dlares.

    5 Tendo em vista a afinidade entre os planos de governo de Belande Terry e do entopresidente americano Kennedy, os estados Unidos apoiaram a candidatura do peruano como objetivo de afastar o comunismo na Amrica Latina. Segundo Cotler (1978), os anos 1960 se iniciaram com uma generalizada crtica aberta ordem defendida pelas empresas estrangeiras e a burguesia nacional. Tanto a propriedadeagrria e o capital estrangeiro, eixos da dominao, foram questionados e se erigiram comopontos centrais do debate e da polarizao poltica durante a campanha que elegeu BelandeTerry.5 A taxao importao de automveis aumentou 18 vezes no incio do governo (Jimenez,1997).9 Segundo Cotler (1978), a participao dos impostos diretos na receita governamentalpassou de 32%, em 1963, para 24,5%, em 1964. Se em 1960 os impostos das empresasconstituam 26% da arrecadao, em 1965 esta proporo caiu para 16%.

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    Perante este quadro, a inflao aumentou em mdia 11,6%,em 1967, instaurando insatisfao nos diversos setores econmicos epolticos do pas. Para diminuir o impacto inflacionrio, o governomanteve fixo o cmbio, quadro que favoreceu a elevao dasimportaes, enquanto as exportaes permaneciam estacionadas.Dada a insustentabilidade do regime fixo, a desvalorizao da moedafoi uma medida inevitvel, ocorrida em setembro de 1967, sob pressodas elites exportadoras que viam na desvalorizao, no corte de gastospblicos e na reduo de subsdios a produtos populares, a sada paraa crise instaurada. A moeda foi desvalorizada 44% em relao ao dlar.Esta medida contribuiu para o descrdito do governo Balande Terry.

    Dada a acumulao de problemas macroeconmicos eestruturais, assim como o descontentamento dos diversos setoressociais e polticos, em 3 de outubro de 1968, ocorreu um golpe deEstado dado pelo General Velasco Alvarado, que assumiu o poder.

    1.4 Os governos militares

    No regime militar do General Velasco Alvarado (1968-1975),a ISI foi levada ao extremo. O grau de proteo interno e o nvel deinterveno estatal foram polticas usadas freqentemente. Atravsda nacionalizao de uma frao substancial do investimentoestrangeiro e da estatizao de uma parte dos ativos da oligarquia,constitui-se um forte setor de empresas pblicas que chegou a controlaraproximadamente 30% do PIB peruano10.

    Este regime introduziu medidas orientadas para reduzir adependncia internacional, os desequilbrios setoriais, as desigualdadesde ingressos e para modernizar a infra-estrutura social, com maiornfase na educao. Apesar desta poltica de industrializao estaramparada em um elevado grau de proteo, os investimentos privadoe estatal no foram suficientes para reativar o crescimento sustentado.O projeto de modernizao econmica desse Governo fracassouporque no eliminou o atraso produtivo primrio-exportador e

    9 Alm de iniciar uma agressiva reforma agrria, o Estado ficou responsvel pelas trs quartaspartes das exportaes, a metade das importaes, mais da metade dos investimentos fixos,dois teros do crdito bancrio e uma terceira parte do emprego no setor empresarial (Fitzgerald,1985).

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    descuidou da articulao industrial e setorial. A poltica protecionistaprovocou uma crise generalizada entre economia e estado sem inserodas empresas peruanas no comrcio internacional.

    Durante o perodo de 1968 a 1974 o PIB e a produoindustrial cresceram a taxas anuais de 4,5% e 4,9%, respectivamente.Estas taxas foram menores do que as registradas no perodo 1960-1967 e revelavam o incio da desacelerao do crescimento econmico.

    A ISI, em lugar de modificar a natureza do dficit comercial ede criar um sistema integrado de insumo-produto, intensificou adependncia por tecnologia, por bens de capital e insumos importados,desviando, assim, os efeitos estimulantes do crescimento em direoaos mercados internacionais. A indstria foi o nico setor que absorveuos impactos deste processo, liderando o crescimento da economiaperuana. Porm, foi incapaz de se inserir eficientemente no comrciointernacional. A composio da necessidade de importao no mudoudepois deste processo. Os insumos e bens de capital importadosmantiveram sua predominante participao no total. Tampouco semodificou a composio das exportaes. As exportaes tradicionais(agricultura, pesca, minerais e petrleo) constituam 84% do total, em1961, e 87%, em 1974 (Jimenez, 1997).

    Em 29 de agosto de 1975, o General Francisco MoralesBermdez assumiu o poder, perante um quadro de descontentamentogeneralizado das camadas menos favorecidas, as quais se manifestavamatravs de greves e paralisaes nacionais.

    Este governo foi caracterizado por estabelecer uma poltica deabertura democrtica e de procura da estabilizao econmica. Paraisto, enrijeceu-se a poltica econmica estabilizadora, que afetou,sobretudo, os setores populares e gerou uma nova onda de protestos.Entre outras medidas, reduziu-se a participao dos trabalhadores nasempresas, estimularam-se os investimentos privados e estrangeiros eprocurou-se uma aproximao s camadas mdias e altas. Com MoralesBermdez, a cpula militar abriu mo, definitivamente, de qualquerprojeto de construo de uma nova ordem social.

    Em 1977, este governo convocou a eleies para uma

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    Assemblia Constituinte a fim de substituir a Constituio e, assim,conduzir o pas para uma democracia em 1980.

    Durante o perodo de 1978-1980 instituiu-se, portanto, umplano estabilizador com a finalidade de reduzir o dficit fiscal perantea contrao da demanda interna. Para isto, em 1979, o governo militariniciou uma poltica de abertura econmica e de fomento sexportaes tradicionais, aumentando, desta maneira, o comrciointernacional.

    1.5 A volta da democracia e s incertezas scio-econmicas

    Convocadas as eleies, em 1980 o arquiteto FernandoBelande Terry venceu e iniciou seu segundo mandato durante operodo 1980-1985. Com uma coalizo de centro-direita no Congresso,o governo colocou em prtica uma poltica de Estado baseada nopluralismo econmico e em uma economia social de mercado.

    O palco social que aguardaria este governo estava marcado peloincio de atividades subversivas por parte dos grupos guerrilheiros doSendero Luminoso (SL), do Movimento Revolucionrio Tupac Amaru(MRTA) e pelo grupo paramilitar Comando Rodrigo Franco10.

    Nos dois primeiros anos de governo, Belande Terry eliminouo programa de promoo s exportaes no-tradicionais, aumentoua abertura comercial e valorizou a taxa de cmbio. Porm, a crise dabalana de pagamentos, entre 1982 e 1983, terminou com estatentativa de liberalizao das importaes.

    Em 1982, como produto da moratria mexicana e da recessodas economias industrializadas, os fluxos financeiros se reduziram eobrigaram o governo a aumentar as tarifas de importao e, assim,voltar a proteger a economia com fins arrecadatrios.

    A mistura de problemas macroeconmicos, sociais e polticosqualificaram inexpressivamente o segundo mandato do Belande Terry,que fortaleceu as chances da esquerda peruana de chegar ao poder.

    10 O grupo guerrilheiro Sendero Luminoso surgiu em 1980, j o Movimento RevolucionrioTupac Amaru (MRTA) e o grupo paramilitar comando Rodrigo Franco, em 1984.

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    Em 1985, o advogado Alan Garca foi eleito presidente da repblicapelo partido Aprista.

    Qualificado como populista, o governo Aprista instaurou umplano de governo heterodoxo, o qual estava centralizado em polticasmacroeconmicas expansionistas e intervencionistas. Entre 1985 e1987, se reduziu a inflao e se reativou o crescimento econmico, oque aumentou expressivamente os ndices de aprovao do presidente.Porm, posteriormente, com o aumento do consumo e de salriosestimulados pelo prprio governo, a inflao atingiu nveisestratosfricos, chegando a ser de 2775,3% ao ano, em 1989 (ver grfico1).

    Segundo Parodi (2000), o governo de Alan Garca pode serdividido em trs etapas: o auge do curto prazo (Agosto de 1985 aDezembro de 1986), a crise e a nacionalizao do sistema financeiro(1987) e a administrao dos desajustes macroeconmicos (1989).

    Grfico 1: Variao inflacionria no governo Alan Garcia(1985-1990)

    FONTE: Polticas Econmicas y Sociales en entornos cambiantes (Parodi, 2000)

    Na primeira etapa (1986-1987), o Plano de Emergncia deCurto Prazo teve como objetivo expandir a demanda e congelar ospreos bsicos (tipo de cmbio, taxas de juros e tarifas pblicas); istorefletiu no aumento do PIB e no controle da inflao. A seguinte fasefoi caracterizada pela consertao, que consistia no planejamento de

    0

    500

    10001500

    2000

    25003000

    1986 1987 1988 1989

    %

    Inflao

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    projetos de investimento entre o setor privado e o governo. Foramcondicionadas todas as importaes obteno de licenas cambiaisoutorgadas pelo Banco Central e constituiu um oramento oficial dedivisas para serem assinadas s importaes com a finalidade deenfrentar a perda de reservas internacionais. O Banco Central comeoua desvalorizar o tipo de cmbio. Porm, talvez a medida mais polmicatenha sido a nacionalizao dos bancos comerciais, as sociedadesfinanceiras e as empresas de seguro com a finalidade de democratizaro crdito. Finalmente, na ltima fase do governo, com o cenrio dehiperinflao e estagnao econmica, se optou por uma poltica deajustes graduais da economia, atravs de aumentos de tarifas pblicas,taxas de cmbio, taxas de juros e salrios (Parodi, 2000).

    O retorno do intervencionismo praticado pelo governo de AlanGarcia, no foi de grande ajuda para a democracia. O descrdito dospartidos polticos se tornou generalizado, assim como o desequilbriosocial, prejudicado pelo incremento da violncia das guerrilhas, asquais contariam com o financiamento do narcotrfico, atividade emexpanso no interior do Peru11.

    1.6 O Balano econmico do perodo 1950-1990

    Como pode ser observado no Quadro 1, os diferentes planosde desenvolvimento econmicos e sociais instaurados no perodo1950-200012 se caracterizaram pela ineficincia em atingir o objetivocentral do desenvolvimento. Observou-se que as caractersticasconjunturais, bem como os interesses de determinados grupos,pautaram a lgica dos mesmos. Desde os governos militares at osgovernos civis, no existiu uma estratgia de longo prazo que pudesseconsolidar o desenvolvimento do pas, ou ao menos estabelecer umaestrutura produtiva capaz de absorver o excedente de mo-de-obramigrante expulsa do interior pelas atividades subversivas.

    11 Alfredo Torero, lingista, diz que o Quechua no foi o idioma original dos Incas. Mas estes,habilidosos governantes, tomaram o idioma que estava muito difundido no espao de seusdomnios e o passaram de lngua franca a idioma oficial. (V. Torero).12 Mais adiante ser discutido com maior nfase os acontecimentos polticos e econmicosdos governos Fujimori na dcada de 1990.

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    No seu estudo Ciclos y Determinantes del Crecimiento Econmico13,Felix Jimenez (1997) observa dois fatos em relao ao PIB peruano,durante o perodo de 1950 a 1990: por um lado, a desacelerao dataxa de crescimento, a partir do ano de 1975, e, por outro, apronunciada volatilidade das suas variaes no perodo 1975-1990.Enquanto, no perodo 1950-1974, o PIB cresceu a uma taxa mdiaanual de 5,5%, no perodo 1975-1990 cresceu somente 1,7% ao ano.A produo industrial acompanhou esta tendncia e, durante osmesmos perodos, cresceu a taxas de 6,7% e 0,8%, respectivamente.

    Quadro 1: governos peruanos e seus modelos dedesenvolvimento econmico (1950 2000)

    P residente Modelo de Desenvolvimento Caractersticas da poltica econmica 1956 M anuel A. Odria Interveno Estatal - Investimentos pblicos em infra-estrutura

    urbana, habitacional e educacional. - Incentivo s exportaes.

    1962 M anuel Prado Ugarteche Liberalismo Econmico - Polticas fiscais expansionistas. - Inseno tributria industrial . - Incremento dos investimentos estrangeiros

    nos setores exportadores. 1963 Ricardo Perez Godoy / Nicols

    Lindley Plano preparatrio para a Substituio de Importaes

    - Protecionismo industrial.

    1968 Fernando Belande Industrializao por Substituio de Importaes (primeira fase).

    - Protecionismo Industrial. - Investimentos pblicos em infra-estrutura. - Polticas fiscais expansionistas. - Polticas redistributivas. - Atraso cambial. - Incremento da dvida externa.

    1975 Governo Revolucionrio das Foras Armadas (GRFA). Primeira fase do General Juan Velasco Alvarado.

    Capitalismo de Estado - Reforma agrria. - Acirramento da substituio de Importaes. - Investimentos pblicos em infra-estrutura. - Retrica nacionalis ta. - Atraso cambial. - Incremento da dvida externa.

    1980 Segunda Fase del Gobierno M ilitar. General Francisco M orales Bermdez

    Ajuste e inicio de modelo de crecimiento para fora

    - Promoo s exportaes tradicionais. - Liberalizao comercial. - Desvalorizaes da taxa de cmbio. - Ajuste Fiscal. - Renegociao da dvida externa.

    1985 Fernando Belande Liberalismo y populismo - Polticas fiscais expansionistas: investimentos pblicos.

    - Liberalizao comercial e posterior reverso desta poltica.

    - M ini desvalorizaes. - Fatores exgenos: crises da dvida externa e

    o fenmeno del nio - Fatores endgenos: Violncia poltica e

    surgimento de grupos guerrilheiros. 1990 Alan Garca Populismo macroeconmico - Controle de preos.

    - Polticas fiscais e monetrias expansionistas. - Reativao econmica a partir do consumo. - Protecionismo comercial.

    2000 Alberto Fujimori Estabilizao, liberalizao e abertura comercial

    - Reformas estruturais de livre mercado. - Estabilizao econmica (controle de

    preos). - Abertura econmica. - Renegociao da dvida. - Setor privado com o motor do crescimento

    FONTE: Wise, Carol. State Policy and Social Conflict in Per, en Cameron, Maxwell yPhilip Mauceri (eds.), The Peruvian Labyrinth, Pennsylvania University Press, 1997, pp. 74-75.

    Elaborado por Carlos Parodi (2000: 52-53).13 Para determinar esse ciclos econmicos, Jimenez usa distintas variveis macroeconmicasutilizando o filtro de Hodrick-Prescott e correlaciona com o ciclo do PIB peruano.

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    O Grfico 2 mostra a evoluo do PIB no perodo 1950-1990por governo.

    Grfico 2 - Peru: ciclo econmico nos governosperuanos do perodo 1950-1990

    FONTE: Jimenez, 1997

    Em contrapartida, durante o perodo 1950-1974, o dficit naconta corrente foi, em mdia, de 2,1% do PIB, e o ndice mdio doPIB per capita, a preos e ano-base de 1979, foi de 78,1%. J no perodo1975-1990, o dficit na conta corrente aumentou notoriamente a umataxa mdia de 4,2% do PIB, que correspondeu a um ndice mdio doPIB per capita de 96%.

    Analisando o desempenho geral da indstria peruana noperodo 19901995, observou-se que existiu um processo dedesindustrializao que se iniciou na metade da dcada de 1970 e seintensificou-se nos anos 1990. No incio do chamado Golden Age, asindstrias de consumo no-durveis representavam cerca de 50% dovalor agregado industrial, enquanto que as produtoras de bens durveise mquinas representavam 6,3% da produo total.

    Esta situao foi mudando paulatinamente ao longo do perodo,as primeiras reduziram sua participao cerca de 40%, enquanto queas segundas aumentam para 16,6% (ver Tabela 1). Depois de 1975,ocorreu um processo inverso: as indstrias de consumo no-durveisvoltaram a ser dominantes na gerao do valor agregado industrial:sua participao chegou prxima aos 50%, enquanto a produo das

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    indstrias produtoras de bens durveis e de mquinas diminuiu at 4,9%,em 1994.

    As reas mais dinmicas durante o Golden Age, foram asprodutoras de bens durveis e mquinas, que somadas s produtorasde bens intermedirios, como indstria de produtos de papel, indstriaqumica e a indstria de petrleo e carvo,impulsionaram o crescimentoeconmico do pas. A partir de 1974, observou-se que o grupo deprodutoras de bens de consumo, representadas pelas indstrias debebidas, vesturio e calado, imprensa e publicidade, mveis eacessrios e outras manufaturas, ganhavam participao. No grupodas produtoras de bens intermedirios destacaram-se as madeireiras eindstria qumica. Ao mesmo tempo, o setor produtor de bens deconsumo durveis e mquinas perderam participao.

    Tabela 1 Composio do Valor Agregado da IndstriaPeruana (Anos Selecionados)

    195 5 1965 1966 1967 1969 197 0 197 1 1972 1973 1974 1985 198 6 1987 1988 1989 199 0 1991 1992 1994 I. Industrias tip icam ente pro dutoras de bens d e consum o

    47,3 40 41,5 42 40 39,7 41,8 39,5 37 36,4 42,6 44,2 48,7 49,1 49,9 52,7 54,8 53,1 48,8

    Processadores de alim entos, exclusive Pescados

    27 17,1 17,4 17,9 17,2 16,1 16,1 20,6 18,1 18,5 15,3 12 10,5 11,3 11,8 13,6 12,9 13,4 13,5

    Bebidas 8,6 9,4 9,3 9 ,6 8,9 7 ,4 8 ,9 6 ,2 6,3 5 ,5 8 9 12,3 13,1 12,1 15,1 14 13,4 10,9 Tabaco 0 1,2 1,9 2 ,3 2,8 2 ,6 2 ,8 1 ,5 1,4 1 ,2 1 ,9 1,4 1 ,7 1,6 1 ,2 1,6 1,2 1 0 ,7 Ro upas e C alado s 3,5 4,2 4 3 ,6 3,1 3 ,5 4 ,1 3 ,3 3,4 3 ,3 4 ,9 8,7 10,1 9,4 10,7 8,4 7,8 6,8 5 ,1 Im prensa e publicidade 2,1 3,1 3,4 3 ,1 3 3 ,3 3 ,2 2 ,4 2,4 2 ,2 3 ,3 3,2 3 ,5 3,7 3 ,6 5,2 6,5 7,9 6 ,6 Prod uto s de couro 1,5 0,8 0,8 0 ,8 0,5 0 ,8 0 ,7 0 ,9 1 0 ,9 0 ,5 0,4 0 ,5 0,3 0 ,3 0,2 0,2 0,2 0 ,2 M veis e acessrios 1,5 1,4 1,6 1 ,4 1,4 1 ,7 1 ,8 1 0,9 1 ,1 1 ,8 3,3 4 4,1 4 ,4 3,7 7,1 5,7 6 ,2 M isce lneos 0,9 2,8 3,1 3 ,3 3,1 4 ,3 4 ,2 3 ,6 3,5 3 ,7 6 ,9 6,1 6 ,1 5,6 5 ,9 4,8 5,2 4,7 5 ,7

    2. Ind stria tip icam ente pro dutora d e bens in term ed irios

    46,4 49,4 46,8 45,6 46,7 46,8 11,5 13,1 46,3 47,1 46,6 45 38,3 38,7 41 40 38,5 41,9 46,3

    Txtil 18,1 13,4 11,9 10,4 9,4 9 ,7 1 ,5 1 ,6 13,5 13,1 8 8,3 7 ,4 6,3 7 ,2 4,9 4,7 4 4 ,4 Prod uto s de M ad eira 1,3 1,1 1,2 1 ,2 1,3 1 ,3 2 ,7 3 ,2 1,4 1 ,3 3 ,9 4,2 5 ,3 4,1 4 ,5 4,9 4,2 6 8 ,3 Prod uto s de papel 1,7 2,4 2,7 3 1,9 2 ,5 2 ,7 3 ,2 3 3 1 ,7 1,3 1 ,3 1,9 1 ,5 2,1 1,1 0,7 0 ,9 Prod uto s de Borracha 1,3 1,5 1,9 2 ,3 2 1 ,9 2 ,1 1 ,4 1,3 1 ,3 0 ,7 0,4 0 ,3 0,7 1 0,5 0,4 0,3 0 ,4 Qum ica 4,9 9,7 10,8 11,6 10,6 11,6 11,5 9 ,9 9,9 9 ,6 5 ,9 5,1 5 8,5 9 11,3 13,4 14,7 14,8 Petrleo e Carvo 0,2 6,2 4,2 3 ,1 7,1 6 ,8 5 ,5 4 ,9 4,7 5 10,4 14,7 8 ,3 4,6 3 ,2 5 4,3 5,3 5 M inrio s no m etlicos 5,1 5,7 5,7 5 ,8 4,8 5 ,1 5 ,5 3 ,9 3,7 3 ,3 6 ,2 5,7 5 ,7 5 5 4,9 4,5 4,5 6 ,6 M etalurgia bsica 13,8 9,4 8,4 8 ,2 9,6 7 ,9 4 ,1 7 ,4 8,8 10,5 9 ,8 5,4 5 7,6 9 ,5 6,3 6 6,3 5 ,9 3. Ind stria tip icam ente pro dutora d e bens de consum o durveis e m qu inas

    6,3 10,6 12 12,6 13,3 13,6 13,6 14,9 16,2 16,6 10,8 10,8 13 12,3 9 7,3 6,7 4,9 4 ,9

    Fabricao de p rodutos de m etal 2,6 2,9 3,2 2 ,9 3,1 3 ,3 4 4 4 4 ,2 1 ,4 1,4 1 ,5 1 0 ,7 0,5 0,5 0,5 0 ,7

    M quinas no eltricas 0,4 2 2,4 2 ,2 2,6 2 ,8 2 ,9 2 ,5 2,5 2 ,4 1 ,7 1,7 1 ,5 1,2 1 0,7 0,7 0,7 0 ,7 M quinas e equipam entos eltricos 0,4 1,2 1,8 2 ,4 3 3 ,2 3 ,5 3 ,4 3,4 4 ,3 2 ,9 2,9 3 ,1 3,5 3 ,4 2,5 2,5 1,5 0 ,9

    M aterial d e transpo rte 2,9 4,5 4,6 5 ,1 4,6 4 ,3 3 ,2 5 5 5 ,7 4 ,8 4,8 6 ,9 6,6 4 3,5 3,5 2,2 2 ,6

    FONTE: Jimnez et all, 1998.

    Sobre a origem dos problemas macroeconmicos (estagnaodo PIB e crescente estrangulamento externo), existem duas explicaes:a primeira estaria ligada ao excesso de intervencionismo estatal, quedistorceu os mecanismos de preos, provocando desequilbrios internoe externo, os quais acabaram bloqueando, no longo prazo, o crescimento

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    econmico. Desta maneira, o dficit comercial seria resultado de umapoltica protecionista que permitiu o desenvolvimento de uma indstriaque no dispunha de vantagens comparativas e mesmo assim subsistiuem um ambiente protegido. A segunda explicao est ligada insuficincia de poupana interna e ao intervencionismo estatal nomercado financeiro, o qual manipulou artificialmente as taxas de juros.Estas explicaes, somadas s variveis exgenas (como crise financeiramundial e fenmenos climticos) e desequilbrios sociais (guerrilha,narcotrfico e aumento de pobreza), constituram pea-chave para oentendimento do sub desenvolvimento peruano.

    2. O processo de abertura econmica e comercial nos anosnoventa: De fujimori a toledo

    Em 1990, o engenheiro agrnomo Alberto Fujimori Fujimorichegou ao poder como um outsider poltico, depois de derrotar o escritorMario Vargas Llosa, dado pelas pesquisas como presidente eleito atduas semanas antes das eleies. O triunfo de um candidato de umpartido totalmente inexpressivo (Cambio 90), criado especificamentepara estas eleies, mostrou claramente o descrdito da populaopelos partidos tradicionais e as tentativas polticas fracassadas dosgovernos anteriores. Este triunfo significava tambm um duro golpe burguesia peruana que h cinqenta anos se revezava no governo.

    Do ponto de vista econmico e seguindo as recomendaesdo Consenso de Washington14, o governo Fujimori iniciou uma profundareforma na economia peruana, abrindo o mercado com a inteno dereduzir a hiperinflao, aumentar as taxas de juros e as contas decapitais. Alm disso iniciou o processo de flexibilizao do mercadode trabalho e de incentivo ao investimento nacional e estrangeiro.Com esta ampla reforma de Estado, a economia peruana se caracterizoupor instaurar processos de austeridade fiscal e monetria, de

    14 O Banco Mundial e o Fundo Monetrio Internacional institucionalizaram o Consenso deWashington sobre as reformas econmicas, com a finalidade de resolver desequilbriosestruturais das economias emergentes, optando pelo paradigma de livre mercado e a eliminaoda interveno econmica do Estado. Dentre estas medidas podem ser includas: a estritadisciplina fiscal, a restrio monetria, a abertura comercial, a liberalizao financeira e aflutuao do cmbio, a privatizao das empresas pblicas, a desregulamentao do mercadode trabalho, a reforma tributria e a promoo do investimento estrangeiro.

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    privatizaes de empresas, de diminuio dos monoplios estatais ede racionalizao da estrutura administrativa pblica.

    No aspecto de poltica comercial, em setembro de 1990, serealizou a primeira mudana tarifria significativa, reduzindo-se onmero dos tipos tarifrios de 25 para 3. Assim, a tarifa mdia diminuiude 66% para 26%. Somente se mantiveram exoneraes nos casosdos convnios internacionais, zonas francas, doaes e importaesafetadas pelo Banco Central (Boloa e Illescas, 1998).

    Politicamente, estas mudanas foram inicialmente aceitas, dadaa necessidade de simplificar os instrumentos de poltica comercial.Porm, posteriormente, dada a pouca representatividade poltica dogoverno no Congresso, a reforma encontraria srias resistncias.

    2.1 O autogolpe e a reforma do estado

    Durante os dois primeiros anos do governo Fujimori, existiramtenses e disputas entre o legislativo e o executivo. O governo precisavada aprovao do Congresso para consolidar a reforma de Estado eassim evitar o incremento inflacionrio e o dficit fiscal. Da mesmamaneira, a guerrilha que ocupava cada dia mais destaque no interior ena capital do pas precisava ser combatida drasticamente. Fujimoriutilizou ambas razes econmica e social para dar o denominadoautogolpe de Estado em abril de 1992, o qual dissolveu o Congresso,suspendeu a constituio, reorganizou o poder judicirio e instaurouo Governo de Emergncia e Reconstituio Nacional.

    Este autogolpe no provocou a reao pblica que a oposioesperava. A imagem de autoridade e austeridade apartidria, nocorrompida, que Fujimori construiu cuidadosamente at ento,contrastava com a imagem que a poltica peruana tinha, sendocatalogada de corrupta e incompetente. Aps o autogolpe, Fujimoriconseguiu manter uma popularidade superior a 70% .

    O Governo de Emergncia e Reconstruo Nacional, alm deapressar as reformas econmicas, na rea de segurana interna, colocoucomo meta eliminar a guerrilha. Para isto as Foras Armadas, que

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    apoiaram o autogolpe, passariam a ter um papel preponderante.Formou-se uma aliana implcita entre o governo Fujimori e as ForasArmadas15, a qual teve seu maior triunfo em setembro de 1992 com acaptura do lder do Sendero Luminoso Abimael Guzmn dando incioa um processo de controle violncia social.

    Esta combinao de fatores atraiu capitais produtivosestrangeiros e incentivou a produo interna. No perodo de 1993 a1997, o PIB peruano cresceu significativamente (41,1%) e aeconomia do pas passou por um aquecimento acompanhado pelareduo da inflao (de 7.650 %, no ano de 1990, para 15% no anode 1994).

    Neste primeiro mandato, a preocupao pelos fatoresmacroeconmicos e de segurana interna deixou de lado a realizaode polticas que enfrentassem o