américa barroca integral1

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AMÉRICA BARROCA. JANICE THEODORO. TEXTO INTEGRAL. INTRODUÇÃO O livro América Barroca: tema e variações reúne uma série de estudos sobre as Américas, escritos durante a década de 80. Embora cada um dos nove capítulos possa ser compreendido de forma isolada, somente o conjunto dos textos permite ao leitor penetrar nos substratos teóricos que estruturam a obra, dando a ela unidade. Algumas questões foram básicas para a elaboração do estudo: quais são as raízes culturais da América? Como compreender a nossa formação cultural e, a partir dela, a vida política e econômica? Como se realizou a comunicação intercultural ao longo do nosso período colonial, e qual os resultados destes vínculos? Por que a América portuguesa e a espanhola, diferentemente da América inglesa, encastelaram-se em um universo arcaico negando a modernidade? Qual a importância, para compreender nosso passado, em diferenciar conceitos como miscigenação e policulturalismo? Qual o significado barroco na história latino-americana e de que forma a nossa independência realizou-se como um projeto barroco? Em cada um dos capítulos que compõem este livro, procuro responder essas questões, que foram gestadas lentamente. Sua versão inicial deu origem a roteiros de aulas proferidas no Departamento de História da Universidade de São Paulo. Posteriormente, aprofundei as pesquisas e elaborei uma série de conferências, que foram realizadas no Brasil, México e Espanha. Grande parte das idéias, de forma simplificada, foram publicados ou estão em vias de publicação em periódicos nacionais e estrangeiros. Neste sentido, muitas questões tratadas em um capítulo, com pequenas mudanças de enfoque, voltam a ser tratadas em outro. Contudo, ao reunir os capítulos, acabei por reformulá- los, de forma a que os fragmentos passassem a

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AMRICA BARROCA. JANICE THEODORO.TEXTO INTEGRAL.INTRODUOO livro Amrica Barroca: tema e variaes rene uma srie de estudos sobre asAmricas, escritos durante a dcada de 80. Embora cada um dos nove captulospossa ser compreendido de forma isolada, somente o conjunto dos textospermite ao leitor penetrar nos substratos tericos que estruturam a obra, dandoa ela unidade. Algumas uest!es foram b"sicas para a elabora#$o do estudo% uais s$o as ra&esculturais da Amrica' (omo compreender a nossa forma#$o cultural e, a partirdela, a vida poltica e econ)mica' (omo se reali&ou a comunica#$o interculturalao longo do nosso perodo colonial, e ual os resultados destes vnculos' *oruea Amricaportuguesaeaespan+ola, diferentementeda Amricainglesa,encastelaram,se emumuniverso arcaico negando a modernidade' -ual aimport.ncia,para compreender nosso passado, em diferenciar conceitos comomiscigena#$o e policulturalismo' -ual o significado barroco na +ist/ria latino,americana e de ue forma a nossa independ0ncia reali&ou,se como um projetobarroco' Emcadaumdoscaptulosuecomp!emestelivro, procuroresponderessasuest!es, ue foramgestadas lentamente. 1ua vers$o inicial deuorigemaroteiros de aulas proferidas no 2epartamento de 3ist/ria da 4niversidade de 1$o*aulo. *osteriormente, aprofundei as pesuisas e elaborei uma srie deconfer0ncias, ue foram reali&adas no 5rasil, 6xico e Espan+a. 7rande partedas idias, de forma simplificada, forampublicados ou est$o emvias depublica#$o emperi/dicos nacionais e estrangeiros. 8este sentido, muitasuest!es tratadas em um captulo, com peuenas mudan#as de enfoue, voltam aser tratadas em outro. (ontudo, ao reunir os captulos, acabei por reformul",los,de forma a ue os fragmentos passassema constituir ummosaico ueexplicitasse min+a +ip/tese de trabal+o.8essesentido, omais importanteaser observadoatrajet/riate/ricauepermeia estes escritos. *rocurei mostrar ao leitor como fui superando os entravesdeuma postura marcadapor umcertonominalismo, procurandoresgatar oconceito derazo. Evidentemente, defrontei,me com9eber, 6arx, :reud,5enjamin e :oucault. 6as, como +istoriadora, optei por uma trajet/ria em ue odocumentomesmopoderiatra&erlu&aumasriedeuest!eslevantadasporessesfil/sofosesoci/logos.Asindaga#!esforamsurgindo;medidaueeuprocurava compreender (olombo, (orts, 6endieta, 1a+agn, ala, o usoaprimoradodaret/rica. *elomesmocamin+o, observamosapossibilidadedeapreens$o, pelas popula#!es ndias do 6xico e *eru, do conceito derepresentao. Estas s$o uest!es primordiais para ue possamos compreender aproposi#$o ue orienta a feitura deste trabal+o.7rande parte das uest!es te/ricas, discutidas ao longo de todos os captulos,resultam tambm de um ol+ar marcado pelas transforma#!es ocorridasprincipalmente nos anos ?0, e ue deixaram sinais profundos na +istoriografia.Os textos reunidos tra&emmuitos resduos das pol0micas travadas pelopensamento marxista, revistas ; lu& das profundas transforma#!es polticas deue foram palco os anos 80.Estetrabal+ofrutodeumareflex$ote/ricasobrea Amrica. @eflex$oueprocura deixar claro para o leitor, na forma como foi escrita, ue supon+o ser aneutralidade impossvel. *ortanto, trata,se de um ensaio onde procuro,conscientemente, deixar as marcas de uem tece a teia emaran+ada da +ist/ria.Embora este estudo trate de nossa +ist/ria colonial, ficar" claro para o leitor ueprocuro compreender o nosso passado, uebrando alguns mitos, formados tantopela direita uanto pela esuerda, e ue t0mdificultado, a meu ver, areestrutura#$o das sociedades latino,americanas. Express$o ue sou dos anos ?0, vivi como tantos outros brasileiros, por dentro epor fora, osinmerosproblemas geradospelogolpedeAB?C. Essagera#$odebateu,se contra o capitalismo e a favor do socialismo, procurando descobrirnovos rumos para a nossa Amrica. O final da dcada de D0 e, principalmente,os anos 80 foram marcados por um colapso desse modelo de an"lise, ue t$obem se nutria ; base da oposi#$o capitalismo versus socialismo. Evidentemente,a pol0mica entre os dois lados assumiu inmeros mati&es, ; medida ue v"riastransforma#!es criavam um novo euilbrio mundial. A guerra do Eietn$ +avia,nos ensinado a ol+ar a +ist/ria por uma janela, mas aueda do muro de 5erlim, as transforma#!es ocorridas na 4ni$o 1ovitica, ouainda,acapacidade doFap$o de tornar,segrandepot0nciaecon)micaemumperodo t$o curto tin+am colocado em uest$o os antigos referenciaisordenadores das duas grandes vertentes +ist/ricas.Apesar das mudan#as ocorridas na ltima dcada, ainda +oje tendemos a seguiruma, dentre as duas grandes tril+as abertas a toue de tanue, bombardeios eviol0ncias pela ltima guerra. Amarrados ao bipolarismo, percorremos o mesmoitiner"rio toda a ve& ue nos defrontamos com os impasses econ)mico,sociaisdos pases latino,americanos. -uando temos ; m$o um estudo sobre a Amrica,repetimosumgestoantigo, procurandosemprecatalogar, colocar umr/tulo,para enuadr",lo no grande invent"rio iniciado com a guerra fria. A percep#$oda +ist/ria nop/s,guerra, passados muitos anos, parecia n$oconseguir sedesvencil+ar dos fantasmas por ela criados, cuja base +avia sido o uso arbitr"riodo poder.6esmo os +istoriadores, ue trabal+aram com documentos coloniais, tenderamsempre a selecionar os manuscritos, classificando,os ou na vertenteGconservadoraG dos vencedores, ou na vertente Grevolucion"riaG dos vencidos. Hmais f"cil concordar e ser aplaudido uando dividimos as coisas em certo ouerrado, bom ou mau, esuerda ou direita. As ambigIidades, ue s$o pr/prias da+ist/ria, freIentemente, desualificavam o narrador. Jdentificava,se aambigIidade com falta de determina#$o, cuja conseI0ncia inevit"vel era criarconfus$onoleitor.8estesentido, balan#ar osmitoscompostosemtornodedualidades nem sempre foi um projeto f"cil de ser consumido.O historiador da cultura, ao balan#ar esta "rvore de enormes ra&es, plantada ;pocadosdescobrimentos, freIentementefoi consideradoconservador.*araele, era inevit"vel mati&ar seu objeto de an"lise, considerando as diferen#as entreos processos cognitivos das culturas em uest$o. 8esse sentido, podia parecer aoleitor, acostumado ; ret/rica europia, faltar ; +ist/ria da cultura uma defini#$oclara, concisa e unvoca, da realidade descrita. *ara ele, era sempre necess"riorelativi&ar. 8esta perspectiva, as Amricas n$o eram seuer tr0s, mas muitas. AsAmricas carregariamperfis variados, emacordocomas diversas culturasnativas espal+adas pelo continente, emconflu0ncia comoutras vari"veisculturais, tanto europias uanto africanas, transplantadas para o outro lado doOceano Atl.ntico.*artindodestepressuposto, comofalaremidentidadelatino,americana, seastradi#!esindgenass$oextremamentevariadasemtodaa Amrica'6as, aomesmo tempo, parecia l/gico contrapor a Amrica ri# !ur#%!uA descoberta da Amrica, reali&ada por (olombo, um tema ue deu origem amuitapol0mica.A maiscon+ecidaedifundidanestesanosueprecedemascomemora#!esdi&emrespeitoaofatodeuea Amrican$onecessitavadoseuropeus para existir. E, nesse sentido, nada se tem a comemorar. A Amricaencontrada, ac+ada por (olombo, em meio a Gmares nunca dantesnavegadosGMA0N, incorporou,se ao imagin"rio europeu comuma srie deatributos ue j" +aviam sido delegados a ela muito antes de ser descoberta. Ouseja, a Amrica j" fa&ia parte do imagin"rio europeu, representando para(olombo apenas a comprova#$o de tudo o ue +avia sido produ&ido pela suaimagina#$o e pela imagina#$o de seus contempor.neos.8esse sentido, todos os documentos ue se cru&am em torno do nome (rist/v$o(olombo representam a possibilidade de navegarmos em um universo plural doual fa&em parte, igualmente, os son+os irreali&ados de (olombo e as fa#an+asue ele desempen+ou, e ue, por conting0ncias +ist/rico,institucionais,mantiveram,se na mem/ria por terem sido registradas por escrito.A Amrica surgiu primeiro pelo gosto, pelo pra&er de narrar, de expor os fatoscom sutis mati&es, capa&es de restaurar o imagin"rio do interlocutor,despertando nele o interesse pela aventura, pelo maravil+oso, pelo con+ecimentodo descon+ecido. A primeira roupa com ue a Amrica se travestiu, aos ol+os do europeu, foi dadapor (olombo atravs da palavra Vndias. (olombo pensou ter c+egado ;s Vndias,e, portanto, tudo o ue viu correspondia a um indcio capa& de comprovar sua+ip/tese.A. 7erbi noslembracomo(olomboseesuivadeanalisarafloraamericana, pois n$o podia identific",la com a flora das Vndias ou das 6olucas.1em se preocupar com as diferen#as, (olombo se utili&a deste mesmo espa#ocriado por elas Mpelas diferen#asN para se lan#ar ; recria#$o de tudo auilo ueele pretendia encontrar. O seu imagin"rio era regido por inmeras informa#!es,tra&idas por viajantes Mcomo 6arco *olo, por exemploN ue gostavam de contarsuas fa#an+as, semue os interlocutores estivesseminteressados empedirprovas. O pra&er de produ&ir uma narra#$o de acordo com as suas expectativas,construdas bem antes da viagem, era superior ; sua capacidade de descrever umcontinente descon+ecido. 8esse sentido, (olombo vai estruturar em seu di"rion$oapenas oseuson+omas, principalmente, umson+oitaliano, umson+oeuropeu intercalado de informa#!es retiradas de cartas elaboradas pornavegadores experientes e observa#!es astron)micas recol+idas em viagens. Arealidade e a fantasia se entrela#am. A. 7erbi nos fala de forma muito sensvelsobre os sentimentos de (olombo capa&es dedemarcara nature&a com a suasensa#$o%Crente a tanta e.uberancia, ,oln se nos muestra dominado por tressentimientos: entusiasmo por la novedad de la lora antillana,admiracin por su e.cepcional hermosura, / angustia de no estar enposibilidad 7por escasez de tiempo / de conocimientos bot-nicos8 deapreciar sus virtudes medicinales / su valor nutritivo+ &n el planocognoscitivo, lanaturezaamericanaesdiversa/sorprendente, deotra orma: FdisormeF+ &n el plano esttico2hedonista, es hermosa /placentera, eurica+ &n el plano pr-tico, tiene que ser util!sima /buen!sima, pero esto ,oln no lo sabe+ Antes que nada, tiene prisade encontrar oro: Fpuede haber muchas cosas que /o no s, porquenomequierodetenerporcalar/andarmuchasislasparaallaroroF+MAAN8a verdade s$o alguns sentimentos e percep#!es poticas, construdas a partir danature&a europia, ue aproximamos dois continentes. Aincapacidade de(olombode ver a Amrica corresponde, aomesmo tempo, a uma grandecapacidade de criar afinidadesMARN. *ara (olombo, os objetos s$o semel+antesou diferentes Gdos nossosG, ou seja, sempre s$o organi&ados de forma aaproximar cultura europia da cultura indgena, criando uma unidade capa& deabranger todas as vari"veis por ele observadas.O compromisso de (olombo com a f crist$ ativa sua imagina#$o, obrigando,o ainterpreta#!es adeuadas ; espiritualidade crist$. E, ao fa&0,lo, (olombo iniciaum longo trajeto de visualizao da Europa na Amrica. (olombo v0 mais coma imagina#$o do ue com a vista. E, uando se encanta com uma nature&a ueescapa aos modelos j" con+ecidos, ele mesmo di& n$o saber como expressar,se%&sestepa!s, *r!ncipes5eren!simos, entantamaravilhahermoso,que soprepu3a a los dem s en amenidad / belleza, como el d!a en luza la noche+ *or lo cual sol!a /o decir a mi gente muchas veces, quepor mucho que me esorzase en dar entera relacin de l a 0uestrasAltezas, nopodr!ami lenguadecir todalaverdad, ni mi manodescribirla+ E en verdad, qued tan asombrado viendo tantahermosura, que no s cmo e.pressarme+MASNEste um momento excepcional no texto, uando o narrador, por n$o conseguircomparar, preferen$oseexpressar. Omesmon$oocorreuando(olombonecessita explicar aos indgenas uemeramos @eis (at/licos e a uemdeveriamprestarservi#os. Oscontatosparecemsempreresultaremumbomentendimentoentreas partes. Ouseja, acomunica#$osereali&aatravs degestos, palavras ininteligveis, um verdadeiro ritual ue se transforma em formade comunica#$o. 8a perspectiva do europeu, a prosa corre solta,independentemente do entendimento do indgena.Da i,a&i$a./# ? a%r#=i,a./#Anarrativa, assimconstituda, supondo ser muitas ve&es desnecess"ria apresen#adotradutor, umelementodeaproxima#$o. (olombo, comoseuscontempor.neos, aodarumsentidovisualatudoouenarraeescreveeaoapresentar, ; sua moda, a Amrica aos europeus, mantmo mesmo eixonarrativo e a mesma forma com ue sabia apreender os objetos na Europa.Assim, ele criouuma Amrica, aomesmotempo,ricaeinveross!mil,ueagradava ao leitor acostumado ao luxo e ; riue&a presentes nas descri#!es deumOrienteex/tico. Essascaractersticastpicasdesuanarra#$ofa&empartetanto do romance de cavalaria como das tape#arias e pinturas do sculo OJE.(ervantes, por exemplo, trataemseulivro1omPui.otedela;anchadarela#$o entre o son+o e a realidade, e seu +er/i, ue ;s ve&es nos fa& lembrar(olombo um grande leitor dos romances de cavalariaMACN. ,olomboguardaamesmaambigVidadesemdelarir. -uanto;pintura, seuisermos citar um exemplo ue nos lembra o gosto pelo trato constante com oinverossmil, basta lembrar a obra de 5ernardo 6artorel,5o Lorge matando o1rago. 4m drag$o ue dificilmente meteria medo, mas cuja exist0ncia ajudavaa imagina#$o a florescer. O relato de (olombo em seu di"rio, de B de janeiro deACBS, nos fa& ver a import.ncia do inverossmil para o re2conhecimento do maroceano%8essa terra toda +" muitas tartarugas, ue os marin+eiros capturaramem 6onte (risti, uando vin+am desovar em terra, e eram enormes,feito grandes escudos de madeira. Ontem, uando o Almirante ia ao@io del Oro, di& ue viu tr0s sereias ue saltaram bem alto, acima domar, mas n$o eram t$o bonitas como pintam, e ue, de certo modo,tin+am cara de +omem.MATNA narrativadeviagemde(olombocomp!e,seatravsdeumarededeinter,rela#!es, na ual o conceito organi&ador, contido na mem/ria do narrador, defineo espa#o no ual a Amrica passa a fa&er parte da cultura europia. Observem%Asimismo digo que tambin debemos estimar mucho su honestidad /vergVenza, porque si al entrar en la nave ocurr!a que les quitasenalguno de los panos con que cubr!an sus vergVenzas, en seguida elindio, paracubrirlas, pon!adelantelasmanos/nolaslevantabanunca: / las mu3eres se tapaban la cara / el cuerpo, como tenemosdicho que hacen las moras en >ranada+ &sto movi al Almirante atratarlosbien, arestituirleslacanoa, /adarlesalgunascosasacambio de aquellas que los nuestros les hab!an tomado paramuestra+ Enoretuvodeellos consigosinoaunvie3o, llamadoEumb, el cual parec!a de ma/or autoridad / prudencia, parainormarse de las cosas de la tierra, / para que animase a los otros aplaticarconloscristanos9loquehizopronta/ielmentetodoeltiempo que anduvimos por donde se entend!a su lengua+ *or lo queen premio / recompensa de esto, cuando llegamos a donde no pod!aserentendido, el Almiranteledialgumascosas/loenviasutierra mu/ contento+ &sto sucedi antes de llegar al cabo de >raciasa 1ios, en la costa de la 6re3a+MA?NEste texto nos deixa antever uma trama ue encamin+a o receptor da mensagema uma determinada percep#$o dos objetos. A disposi#$o das palavrashonestidadeevergonha,autoridadeeprudncia, ou ainda,prmioerecompensaestruturaocontedodainforma#$o. Ou, mel+or di&endo, estaspalavras, retiradasmuitasve&esdapica, conformaramorecon+ecimentodaAmrica atravs de seu protagonista% o narrador.*alavrascomohonestidadeouautoridadedefinemoscontornosdanarra#$o,sendo estas palavras, mais ue os verbos, respons"veis pelo significado do texto.A+armoniacriadapelos substantivos eadjetivos aosedescrever aviagemaproximaos dois continentes, deixando, por ve&es, transparecer peda#os deinforma#!es ue di&emrespeito ; cultura indgena. (olombo constr/i suanarrativa da mesma formaue o construtorrenascentista dispun+apedrasemcamadas, compondoumaparedesemesconderosdesen+os.A conuistaeadestrui#$o da Amrica est$o presente na narrativa Mn$o se omite nem se disfar#aa viol0nciaN, ao mesmo tempo em ue ele transforma em obedincia e quietude aa#$o do indgena, comprovando,se, assim, a superioridade do cristianismo.,onlaprisindeestos/conlavictoriaobtenida, sucedieronlascosas de los cristianos tan prsperamente, que no siendo entoncesm-s deseiscientos treinta, /lamaior parteenermos, /muchasmu3eres/muchachos, enel espaciodeuna@oqueel Almiranterecorrilaisla, sintenerquevolveradesenvainarlaespada, laredu3o atal obediencia/ quietudque todos prometieronpagartributo a los Ge/es ,atlicos cada tres meses, a saber: de los quehabitanen,ibao, dondeestabanlasminasdeoro, pagar!atodapersona ma/or de catorce anos un cascabel grande lleno de oro enpolvo9/todoslosdem-s, veinticincolibrasdealgodncadauno+MADN(olombooavalistadapa&organi&adaeesperadapor elesobagidedocristianismoK o organi&ador de um governo marcado pela vontade de 2eus e pelasabedoriados@eis(at/licosK introdutor naAmricadafigura, t$opoderosauanto imagin"ria, dos @eis (at/licos, personifica#$o de um princpio de poderKvirtuoso e cort0s, ele capa& de deixar inscrito no seu di"rio, n$o o ue ele viuna Amrica, mas o seu ideal, do ual pretendia ser porta,vo&.Os bi/grafos e compan+eiros de (olombo na descri#$o da Amrica interpretamo ue v0em invocando um universo mental marcado pelo pensamento crist$o.Ao cronista cabe a miss$o primeira de integrar a +ist/ria da Amrica na obra decria#$oMA8N. (olombo inicia comseu di"rio umlongo trajeto, ue ser"percorrido por inmeros cronistas, procurando ordenar sua explica#$o de formaauecadapalavra encontrassesuas correspond0ncias. A Amrica, o8ovo6undo, ex/tica, apenas, na sua apar0ncia, pois fa& parte da grande obra decria#$o, contendo, em ess0ncia, a mesma verdade contida no relato bblico.Da" a$al#&ia" ?" a0i$i+a+!"(olombooprimeiroartes$oaenunciarinforma#!escol+idasalm,mardeacordocomelementos doimagin"rioeuropeu, aproximando, pela narrativa,povos ue at ent$o estavam isolados geogr"fica e culturalmente. A aproxima#$omuitas ve&es deixava visvel, num primeiro momento, a diferen#a, mas, logo aseguir, por analogia, a aproxima#$o reali&ava,se atravs de afinidades.@esgatavam,se antigas sobreviv0ncias pag$s presentes na +ist/ria europia, uepassavam a ser referenciais para a compreens$o do ue se supunhaser a nossa+ist/ria indgena.A pena, a tinta e o papel nos indicam de ue forma feita a aproxima#$o entredois acervos culturais atravs de uma +ist/ria provavelmente narrada por(olombo.E al d!a siguiente, ba3ando a tierra el Adelantado para tenerinormacin de aquellas gentes, se acercaron dos de los principalesa la barca donde l estaba, / tom-ndolo por los brazos en medio deellos, losentaronenlahierbadelaorilla9 /preguntandoles elAldelantado algunas cosas, mand a los escribanos de la nave queanotasenloquerespond!an+ *eroviendoel papel /laplumasealborotaron de tal orma que la ma/or parte de ellos se dieron a lauga+ 4ocual, seg?nse pudocon3eturar, u por el miedoquetuvieron a ser hechizados con palavras o signos aunque en realidaderan ellos quienes nos parec!ana nosostros grandeshechiceros, /con razn+MABN-ual Gra&$oG estariam os europeus invocando 'Anarrativa, emborasepareaspersonagensdacena, oindgenadoeuropeu,inauguraumdi"logouepressup!eelementos semel+antes naaparncia. Aaparncia o espa#o de comunica#$o ue inaugura a possibilidade de convviointercultural. (olombo n$o sente necessidade de compreender a lngua indgena,nem anseia por um tradutor, o ue l+e favorece a comunica#$o. A aproxima#$ose reali&a por uma suposi#$o prvia de ue ele con+ecia o outro. *ara o europeu,o descon+ecido sempre sugere magia, um universo marcado pela idolatria, sendoestes os elementos de distin#$o entre b"rbaros e civili&ados.A conjectura de ue os indgenas teriam fugido com medo de serem encantadoscom pena,tinta,papele escritaera igualmente proporcional ao medo ue elessentiam ao observar o indgena. (ontudo, jamais somos informados da presen#adealgumobjetoindgenauepudessedespertartemorconfesso, porescrito,entre os europeus. A possibilidade do sortilgio, a princpio, se apresenta comoelemento de correla#$o entre ambos para logo a seguir +ierarui&ar aspersonagens em cena. O espanto, o medo e a fuga caracteri&am a conduta doindgena, figurante na cena protagoni&ada pelo europeu. Este n$o se espanta coma cultura do outroMR0N, porue a seus ol+os, ela n$o tem valor pr/prio, diverso doseu, portantooindgenan$o, nemnuncafoi, umdescon+ecido. E, nessesentido, a razo, assim denominada no texto, depositada nas m$os dos crist$os.Essas observa#!es poderiam, num primeiro momento, nos fa&er pensar ue umapartedaGverdade+ist/ricaGest"sendoencobertanessesrelatos, constitudosdentro da perspectiva do europeu. Este tipo de formula#$o deu origem a uma+istoriografia ue contrap)s a Gvis$o do vencedorG ; Gvis$o do vencidoG.(olombo e seus contempor.neos n$o estavam preocupados, ao escrever di"rios,cartas oucr)nicas, emreprodu&ir, apenas, oue seus ol+os poderiamver.Estavam preocupados em simboli&ar algum conceito moral ou doutrinal, tendocomo suporte um universo descon+ecido. O ue era descon+ecido representavaum desafio ; interpreta#$o ue j" estava elaborada desde +" muito.Himportanteobservarueanossapersonagemsabedecomporoselementospara, em seguida, reorgani&",los dentro da sua /ptica. (olombo n$o elabora umaGdistin#$o +ist/ricaG das culturas emuest$o, ele apenas separa aueleselementos ue sabe como agregar. 1eu texto n$o envolve +ostilidade,emboranos informe sobre a viol0ncia. A sua superficialidade ao descrever fauna, flora e+omem corresponde ao desejo de +armoni&ar atravs da apar0ncia.:reIentemente a +istoriografia busca caracteri&ar, nesses primeiros documentosue contam a +ist/ria da Amrica, a destrui#$o dos indgenas e de sua cultura.Jstoparteda+ist/ria. A+ist/riadaAmrica, emseuperodocolonial, marcada pela presen#a de uma popula#$o com ascend0ncia ndia, espan+ola enegra. Os primeiros cronistas das Vndias, ao narrarema conuista, est$oprofundamente marcados por uma epopia +er/ica medieval. 8ela aaproxima#$ocoma realidade n$oconstitua a uest$omais importante. Oelementocentral destas narrativas eratornar a+ist/riavividapor (olomboexpress$o do ideal caval+eiresco, e este processo envolve a montagem de umcar"ter fictcio para o +er/i e para as a#!es por ele desenvolvidas.A bele&adapersonagem, (olombo, constituiu,se;medidaueconseguimosperceb0,lo com um +omem afastado do real. E. Auerbac+ definiu com precis$o oue a cultura cortes$ deixou de +eran#a na Europa%]...^ o nobre, o grande e o importante nada t0ma procurar narealidade comum , uma convic#$o muito mais pattica e arrebatadorado ue as antigas formas de afastamento do real tais como as oferecea tica est/ica.MRANEste(olombo, um+omemauemn/s, como+istoriadores, n$odevemoscobrar um compromisso com averdadeou com adestruio. Esses fatos e aviol0ncia nocontatointercultural s$oapenas parteda verdade. As rela#!esinterculturais freIentemente s$o conflitivas. Ao constituir um universo,marcado tambm pelo seu imagin"rio, (olombo aproxima as personagens comuem se confronta, tornando,se o primeiro artes$o das rela#!es interculturais naAmrica.(olomboasaproximaaotornarsublimea+ist/riauevive. Elen$oprocurauma motiva#$o pr"tica, camin+a em dire#$o inversa ; experi0ncia ao procurar orio ue emana do *araso. 2i& ele%Eoltoaomeu assunto daterra de7racia,do rioe do lagouealiencontrei, t$o grande ue seria mais justo consider",lo mar, pois lago lugar de "gua e, sendo grande, se di& GmarG, como se c+amou aomar da 7alilia e ao mar 6orto, e eu afirmo ue este rio emana do*araso terrestre e de terra infinita, pois do Austro at agora n$o setevenotcia, masamin+aconvic#$obemfortedeueali, ondeindiuei, fica o *araso terrestre, e em meus ditos e afirma#!es meap/io nas ra&!es e autoridades supracitadas.MRRN-uando lemos a 5blia M>nesis, cap.R, vers.8 a R0N, recon+ecemos o espa#o ueoriginouasreflex!esdescritivasde(olombo. Hinteressanteretomarotextooriginal, at mesmo pelo t)nus da narra#$o%Ora, o 1en+or 2eus tin+a plantado um jardim no Hden, do lado doOriente, e colocou nele o +omem ue +avia criado. O 1en+or 2eusfe& brotar da terra toda sorte de "rvores, de aspecto agrad"vel, e defrutos bons para comerK e a "rvore da vida no meio do jardim, e a"rvore da ci0ncia do bem e do mal. 4m rio saa do Hden para regar ojardim, e dividia,se emseguida emuatro bra#os. Onome doprimeiro :ison,e aueleue contornatodaaregi$odeEvilat,onde se encontra o ouro. MO ouro desta regi$o puroK encontra,se alitambem o bdlio e a pedra )nixN. O nome do segundo rio 7eon, e auele ue contorna toda a regi$o de (usc+. O nome do terceiro rio =igre, ue corre ao Oriente da Assria. O uarto rio o Eufrates. ]...^O 1en+or 2eus disse% G8$o bom ue o +omem esteja s/K vou dar,l+e uma ajuda ue l+e seja adeuadaG. =endo, pois, o 1en+or 2eusformado a terra, todos os animais dos campos, e todas as aves doscus, levou,os ao +omem, para ver como ele os +avia de c+amarK etodoonomeueo+omemp)s aos animais vivos, esseoseuverdadeiro nome. O +omem p)s nomes em todos os animais, a todasas aves dos cus e a todos os animais dos camposK mas n$o se ac+avapara ele uma ajuda ue l+e fosse adeuada.Ao considerar,se apto para esta miss$o, encontrar o camin+o do *araso,(olomboconcebe,seeleitoparaumatarefagrandiosa, ue, apesardealgunspercal#os, resultar" na forma#$o de uma comunidade ordenada.Essa comunidade, atravs deumconvviocotidianointercultural, imp)s aoindgena a cria#$odeuma unidade lingIstica. Aimplementa#$oda lnguaespan+ola na Amrica n$o representou o desaparecimento das lnguas indgenas.6as acria#$odesta lnguacomum, oespan+ol, representoucapacidade deaproxima#$o, de incorpora#$o do acervo cultural europeu em toda a Amrica.Apesar de tanta viol0ncia, criaram,se formas de convvio sem ue se tornassenecess"ria a nega#$o da cultura europia implementada e difundida na Amrica.O primeiro artfice desse nosso patrim)nio, dessa nossa capacidade de convviointercultural, foi (rist/v$o (olombo,ao transormar um mundo desconhecidoem um universo de semelhanas.1)(onfer0nciareali&adanainaugura#$odamostraG(ristoforo(olombo, il7enoveseG emR0 de agosto de ABB0, no 2epartamento de 3ist/ria da4niversidade de 1$o *aulo.1)(onvm lembrar os relatos de Antonio *igafetta.*rimer 0ia3e Alredor del>lobo. 5arcelona, Ediciones Orbis, AB8?. A obra original foi escrita em italianoe tevesuaprimeira edi#$o emA800comottulo%*rimo0iaggioin torno alglobo terracqueo. Este livro n$o o di"rio de viagem mas uma correspond0nciaelaboradaapedidode(lementeEJJ, daual fa&parteinforma#!essobreaprimeira viagemde circunavega#$o. :ern$o de 6agal+$es foi umde seusartfices cuja meta maior era fa&er investiga#!es sobre o c"lculo de longitudes. Aviagem durou tr0s anos contando com a participa#$o de du&entos e trinta e sete+omens distribudos emcincoembarca#!es, dos uais sobreviveramapenasde&oito em um navio. :ern$o de 6agal+$es perde a vida nesta viagem.2)Eitorino6agal+$es 7odin+o.6s descobrimentos eaeconomiamundial.re marcou profundamente a +istoriografia brasileira.1eutextomais con+ecido,asa2grandeXsenzala+ Cormaodaam!liabrasileira sob o regime de economia patriarcal, ACY edi#$o, @io de Faneiro, FosOl>mpio, AB?B.4)1rgio 5uarue de 3olanda. 0iso do *ara!so+ 1$o *aulo, 8acional, AB?B.5)A reflex$oelaboradapor1rgio*aulo@ouanet emseulivro$magin-rioedominao, @iodeFaneiro, =empo5rasileiro, ABD8, bastanteesclarecedorasobre o uso destes conceitos tanto na obra de Alt+usser uanto na de 7ramsci.6)@ubn 5onifa& 8uno, op+ cit+, p.R0.7)Olivro de[ngel@ama,A cidadedasletras, 1$o*aulo,5rasiliense,AB8T,discute com maior detal+e esta uest$o.8)Facuesala em discriminar as culturas, separar com perfei#$o todososelementosuen$oseadeuassemaosprop/sitosdaordemcolonial Mporseremoriundos da cultura localN, eliminando,os da narrativa, bastantesignificativa. O cronista utili&ou,se, em seu discurso, apenas auelasinforma#!esueseadaptavam;argumenta#$obblica. (omp)sumacrtica,cujacapacidadedeestrutura#$oexigiacon+ecimentobastanteelaboradodasformas de argumenta#$o.A c+amada miscigena#$o corresponderia a esse esfor#o de narrar similitudes en$odediscutir opluralismocultural possvel deser por elecompreendido.@olena Adorno discute esta mesma uest$o uando nos di& ue 9aman *umaGescreveu n$o com os relatos orais dos tempos legend"rios mas com o =ratadodas do&e dvidas, plataforma da restaura#$odeuma autonomia nativa nosAndes.G @esta a pergunta% ual era a bagagemcultural da ual A>ala eraportador,uel+epermitia, aoterdomniodalinguagem, penetrarcomtanta+abilidadenoc/digoret/ricoeuropeusemdesejar, ounecessitar, contraporpressupostos'Esta uest$o de extrema import.ncia para n/s porue o ue n/s c+amamos demiscigena#$orepresentaparaoindgenaumexerccioderepetioen$odecon3ugao da sua cultura com a cultura europia. A>ala define seus prop/sitose, a partir deles, procura encontrar no discurso religioso o substrato necess"rio ;sua argumenta#$o. 4tili&a,se, por exemplo, do Antigo =estamento para explicarsuaancestralidade, aomesmotempoemueadotapartedareflex$odealaapenas pintacomcoresnativasasmesmas formula#!es ueregem o pensamento europeu. :a&,se Gmesti#oG ao gosto, e na medida desejadapelos seus interlocutores, pelos seus mestres, ue, contraditoriamente, professamafcrist$. *aracompreendh0,lonecess"riosupor ues/adissimula#$opoderia tlo feito demarcar com tanto cuidado o espa#o das suas omiss!es e dassuas aparentes conjuga#!es.1-8$oestouaui pensandoemcronologia, pois ela, entreos princpiosordenadores, o mais explcito,o ue permite ao receptor comp),la,formandoaueles conjuntos ue l+e pare#am mais significativos. A ordena#$o a ue merefiro di& respeito ; vis$o teleol/gica ue +ierarui&a e sistemati&a para explicaro fim das coisas.1- @amiro, ,oleccin de c-nones / decretos de todoslos concilios de la $glesia de &spa@a / de Amrica. 6adri, A8CB,A8TB, t.JJJ, p.8A0.12-)@ubn5onifa&8uno,&sculturaaztecaenel ;useoAacional deAntropolog!a,p.RR.13-)Estas formas serpentinas est$o presentes tanto na escultura barroca como tambmnas representa#!es indgenas. 5onifa& nos mostra, no mesmo trabal+o citadoanteriormente Mp.R0N, comoFes posible suponer que en esta presencia escultrica seemplea la orma serpentina para e.presar una entidad que con mucho la e.cede+ &staescultura no solo igura una serpiente9 ni siquiera igura principalmente una serpiente:es m-s bien la representacin de un principio din-mico, la s!ntese maniestada de laenerg!aquelocrea/lomantiene9 lacondensacindeunpoder queanuncialapresencia de una accin perpetua+F14-)Eric+ Auerbac+. ;imesis, p. AS. 2i& o autor comparando a lenda ao relato bblico%GO Eel+o =estamento fornece +ist/ria universalK come#a com o princpio dos tempos,com a cria#$o do mundo, e uer acabar com o fim dos tempos, com o cumprimento dapromessa, com a ual o mundo dever" encontrar o seu fimG. 8esse sentido, o relatobblico indica, de uma maneira tir.nica, uma meta ue dever" ser respeitada por todos,pois, ao contr"rio dos textos legend"rios, reivindica a condi#$o de verdade +ist/rica.15-)@ubn 5onifa& 8uno, $magen de Rl-loc, 6xico, 4niversidad 8acional Aut/nomade 6xico, AB88, p.ASC.16-)@ubn5onifa&8uno,&sculturaAztecaemel ;useoAacional deAntropologia+p.RS,RC.17-) @obert @icard, 4a conquista espiritual de ;.ico, p. RDR.18-)9alter 5enjamin, 6rigem do drama barroco alemo. 1$o *aulo, 5rasiliense, AB8C,p.ABB.Balta o ar"ui$o JAMRICA BARROCA: A:AR;NCIAS E TRANS:AR;NCIAS(1)

,hegou2se adiscutir qual ametade maisbela+Aenhuma dasduas eratotalmentebela+& carecia optar+,ada um optouconormeseu capricho,suailuso, suamiopia+,orpo,(arlos2rummond deAndrade O +istoriador, por ve&es, procura lan#ar m$o da literatura para obter informa#!es uecomparadasoucru&adascomfatos+ist/ricos, comprovadoscientificamente, possamesclarecer, ainda mel+or, o tema ou o perodo estudado.Este camin+o sup!e, do ponto de vista conceitual, umestudo combinado dasinforma#!esretiradasdaliteraturaeda+ist/ria. 8$oesseotrajetouepretendopercorrer. A aproxima#$o entre literatura e +ist/ria pode nascer atravs de uma an"liseesttica locali&ada no tempo e no espa#o. 4tili&ada como ponto de conflu0ncia, espa#oconceitual, a estticanos permiteuma reflex$oconjuntados significados liter"riose+ist/ricosMRN.*ara esclarecer esta proposi#$o, tomemos, por exemplo, a esttica barroca. 8$o f"cilcaracteri&",la, especialmente se a demarca#$o n$o for cronol/gica, ou ainda, resultantede determinadas conjunturas +ist/ricas como(ontra,reforma oucrise dos Estadoseuropeus, por exemploMSN.A buscadessaunidadeconceitual nosaproximadostrabal+osde3einric+ 9jlfflin.@etomando a sua reflex$o, como ponto de partida, poderemos iniciar nossas indaga#!esa partir do car"ter pict/rico do barroco. A aruitetura pict/rica auela marcada pelaimpress$o, pelo ue parece ser, pela massa ue se estrutura do claro ao escuro,iluminada por mati&es de lu&MCN. Ao inverso da esttica renascentista, o barroco nega alin+a, nega a busca de elementos +omog0neos, tem avers$o pelo .ngulo reto.Em ue medida essas categorias estticas podem nos introdu&ir em uma reflex$o sobreofen)meno+ist/rico'Ocamin+omais con+ecidoaueleuenos explicaser, aesttica barroca, a esttica da miscigena#$o. O exemplo mais con+ecido a Eirgem de7uadalupe. A virgem de 7uadalupe *aramuitos+istoriadores, entreelese, porexemplo, assistimos;forma#$odeumaconsci0nciacrioula, umaidentidadenacional mexicana, atravs daEirgemde7uadalupeMTN. Apartir desta perspectiva, a Eirgemrepresentaria a fus$o de duaspersonagens% =onant&in, considerada por 1a+agn e outros cronistas como a deusa,m$e,e7uadalupe, EirgemdeExtremadura. Esteeuilbrio, entreavertenteindgenaeavertenteeuropia, representaria, na+ist/rialatino,americana, oembri$odaidiademiscigena#$o, caracterstica sempre arrolada pela +istoriografia para descrever obarroco.O barroco, nesse sentido, corresponderia a uma esttica capa& de incorporar elementosnativos, tornando a Eirgem morena mais adeuada ; contempla#$o indgena. Ou seja,ambas as culturas sefariamrepresentar atravs daimagemhumana,conformadaecolorida de acordo com os princpios tpicos do barroco.Este trajeto, elaborado em detal+e pela +istoriografia, procura uma +omogenei&a#$o daigurahumana,consideradaprincpioorgani&adordediferentesculturas. 8aestticarenascentista, este pressuposto verdadeiro. Afigura +umana, o auto,retrato s$oprofundamente valori&ados pela esttica renascentista, servindo, na poca dosdescobrimentosedaconuista, comoexpress$ob"sicaparaoaprendi&ado, entreosindgenas, da lngua e da cultura europias. Esta forma de representa#$o levou artes$oseuropeus e indgenas a pintaremcenas pedag/gicas Mbatismos, matrim)nios, etcNcapa&es de auxiliar na obra de cateuese. 8esse sentido, a comunica#$o entre europeuse indgenas dependia dessas imagens. F", as composi#!es aleg/ricas ue propiciavam acontempla#$o s/ podiam ser pintadas no interior dos conventos, aos uais o indgenan$o tivesse acessoM?N. Emboraaconuistaten+arepresentadoaimposi#$odas formas europias entreosindgenas, tal imposi#$on$ogerouabandonodas antigas formas derepresenta#$oescult/ricas indgenas. H importante ressaltar tambm, no espet"culo escult/ricobarroco, otratamentodamassa, permitindovaria#!esdemaneiraagerartens$onosvolumes e superfciesMDN, varia#!es ue atendiam a acervos culturais distintos. 1imetrias e assimetrias americanas Obarroco, aovalori&ar opict/rico, amassa, aaus0nciadesimetria, rompecomaesttica renascentista ue produ&ia uma vis$o espel+ada entre culturas. Jmpressionandopela apar0ncia de todo o conjunto, desmobili&ando o significado ue remetia ;s figurasperdidasemmeioaumemolduramentopovoadodedinamismo, obarrocodeixavaespa#o para a cultura indgena significar. Esva&iando os sentidos atribudos adeterminadas formas, negandoafixa#$odeumeixocentral, obarrocopermitiuaeclos$o de formas cuja presen#a pl"stica deixara evidente um ncleo de energia.Exprimindo,se atravs do excesso Mse tivermos como refer0ncia a estticarenascentistaN, da fragmenta#$o da cultura indgena e da morte do significado, o barrocopermitia a dissimula#$o do universo indgena, apresentando,o aparentemente integradoem uma arte sacrali&ada. As culturas indgenas manipulavam as formas e, atravs delas,procuravamdarumaGapar0nciasensvel et"til aumconceitodemundoedevida,ess0ncia pura e central do poder origin"rioGM8N.8essesentido, obarrocona Amricarepresentavaapossibilidadedesobreviv0ncia,atravs da forma, de conceitos significativos para as popula#!es indgenas sem ue estestivessem sido, de fato, miscigenados. H interessante lembrar ue o trabal+o escult/rico earuitet)nicodoindgenan$ofoi muitoobservadopeloeuropeu, emboraelefosseimportante deposit"rio dessa cultura. A tradi#$o ue possuam, em termos de estili&a#$oda forma, dera ao indgena meso,americano grande mobilidade intercultural. A pinturafoi umespa#opedag/gicoporexcel0ncia, ondeoindgenadeveriacompreender asformas de representa#$o religiosas, conforme +aviam sido concebidas na Europa crist$.2e acordo com 7. Xluber, interessante notar ue o =erceiro (onclio, em ATTT, n$ofe&men#$oexplcita;arteescult/rica, emboraten+asereferidoexplicitamente;pintura, submetendo,a ; supervis$o rigorosa dos religiosos. Estas uest!es, ue podemparecerdeimport.nciamenor,noslevamaconsideraroscontatosinterculturaisemdiversos nveis. 8em sempre a cultura indgena foi absorvida pela europia, portanto, delicado enveredar apenas pela tril+a da miscigena#$o.A +ip/tese ue sup!e pluralismo de padr!es cognitivos foi elaborada a partir de umareflex$o sobre a esttica barroca. *artindo desta proposi#$o, uestionamos a idia de aAmrica