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AMAZÔNIA, OS ÚLTIMOS 500 ANOS Obra: O Livro de Ouro da Amazônia Autor: João Meirelles Filho 5º Edição Editora: Ediouro

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Page 1: Amazonia, Os Ultimos 500 Anos

AMAZÔNIA, OS ÚLTIMOS 500 ANOS

Obra: O Livro de Ouro da AmazôniaAutor: João Meirelles Filho5º EdiçãoEditora: Ediouro

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Na Amazônia pré-colombiana estima-se que havia mais de mil etnias e línguas indígenas diferentes. É unânime entre os cientistas a afirmação de que as margens do rio Amazonas tenham sido uma das regiões mais populosas das Américas, com mais de um milhão de habitantes.

O CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES – O EUROPEU CHEGA À

AMAZÔNIA

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Há um completo desprezo pela pessoa humana do indígena, sem falar na falta de percepção do europeu para a capacidade de adaptação à floresta tropical.

A história da Amazônia é um suceder de erros enormes, nos quais a ganância não mediu as consequências. Ela pode ser compreendida em três grandes momentos:

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1º: O de saque e coleta;

2º: Dedicado à borracha, e;

3º No qual se busca integrar as regiões ocupadas de países como o Brasil, Peru e Equador ao universo amazônico – o ciclo desenvolvimentista – no qual estamos, e do qual ainda não conseguimos nos desembaraçar.

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Em 1499 o capitão espanhol Vicente Yañes Pinzón, deixa o Caribe e ruma para o sul até encontrar água doce em pleno oceano. Navega rio a dentro e depara-se com um emaranhado de ilhas no estuário do grande rio. Batiza-o de Santa Maria de la Mar Dulce.

AS PRIMEIRAS VISITAS EUROPÉIAS À AMAZÔNIA

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Quatro décadas após, partindo da cordilheira andina no Equador, Francisco Orellana, em uma das muitas expedições em busca de ouro (do Eldorado) após a perda de muitas vidas e motins, é obrigado a descer o rio Napo e daí o grande rio (o Amazonas).

O frei dominicano Vicente de Gaspar de Carvajal é o cronista da viagem. Seu diário torna-se o primeiro livro da Amazônia: Relación Del Nuevo Descubrimiento del Famoso Rio Grande de las Amazonas.

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A partir desse relato, o rio Amazonas adquire fama e atiça a cobiça de aventureiros europeus em busca de riquezas fáceis. Ademais, a Amazônia é vista pelos portugueses como um dos caminhos para se alcançar a prata e o ouro do Peru, sob domínio espanhol. No final do século XVI, a Amazônia é visitada por dezenas de embarcações das mais diferentes potências europeias.

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A origem do El Dorado é de mitos indígenas. Os europeus interpretaram-na livremente e passaram a acreditar que havia um local na Amazônia onde o ouro era farto.

Essas lendas, criadas inteiramente pela mentalidade mercantilista europeia, só serviram para encerrar prematuramente muitas vidas, inclusive de índios escravizados.

A LENDA DO ELDORADO

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Avivados pelas lendas do El Dorado, dezenas de expedições espanholas seguem o trajeto de Orellana, descendo os Andes por um de seus rios.

Assim como os espanhóis, outros europeus penetram o Amazonas a partir de sua foz.

O INTERESSE EUROPEU PELA AMAZÔNIA

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O interesse do europeu pela Amazônia não difere do que tem por outras regiões do globo, como África ou Índia. O objetivo é muito pragmático: encontrar produtos que sejam de grande valor, não sejam perecíveis e possam ser transportados para as metrópoles europeias com segurança, e sejam capazes de gerar lucros muito altos para compensar os grandes riscos das empreitadas.

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O primeiro estabelecimento definitivo na Amazônia continental é uma colônia alemã. Ao final do século XVI cresce o interesse da Inglaterra, França, Espanha, Portugal, Holanda, Alemanha e cidades italianas estabelecer feitorias permanentes.

Ao longo do Amazonas há irlandeses. Os ingleses se instalam na boca do rio Jari. Os franceses ocupam o Maranhão por muitos anos.

AS PRIMEIRAS TENTATIVAS DE COLONIZAÇÃO

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A reação portuguesa começa em 1615, derrotando os franceses no Maranhão.

Comandados por Francisco Caldeira Castelo Branco, os portugueses partem para o rio Amazonas. Na colônia portuguesa, quem determina o que fazer com a Amazônia é a metrópole. A coroa também define o que deve ser trazido para a Europa, que índios combater, como dividir as terras, o que fazer com os espólios de guerra e todos os aspectos da vida na colônia.

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A estratégia portuguesa é de longo prazo. Em 1616 surge Belém. O lugar escolhido é denominado Forte do Presépio, em frente à baía de Guajará, na foz do rio Guamá no rio Pará. A vila que se segue denomina-se Santa Maria de Belém, e a região é chamada de Feliz Lusitânia. Por algum tempo os portugueses conseguem a paz com os vizinhos Tupinambá.

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Portugal cria o Estado do Maranhão e Grão-Pará em 1624, separando-o do Brasil. Belém e São Luís são administrados diretamente por Lisboa.

A união das coroas de Portugal e Espanha, entre 1580 e 1640, permite ainda mais ganhos aos portugueses. Para garantir esta posse é preciso estabelecer povoações permanentes, marcos e fortificações, significando colônias agrícolas, que demandam braço escravo.

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Entre inúmeras expedições espanholas, uma e particular chama a atenção dos portugueses, a de dois franciscanos, Domingos Brieva e Andres de Toledo, que chegam a Belém em 1636, vinda de quito, no Equador.

Em 1637, Pedro Teixeira parte para Quito à frente de grande tropa, contando mais de mil pessoas e 40 embarcações.

A ROTA DOS ANDES PARA O ATLÊNTICO

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Em seu retorno, é acompanhado pelo padre jesuíta Cristóbal de Acunã. Em clara afronta à Espanha, Pedro Teixeira toma posse de extensa área da Amazônia, e mais, em nome de Felipe IV, rei da Espanha. Só que essa conquista é feita para Portugal.

A partir desse momento a arrogância portuguesa não terá limites. Os capitães não mais temerão sais das proximidades de Belém e prear (buscar) índios a dois ou três km de distância , nos rios Negro, Japurá, Madeira e onde houver nações indígenas a escravizar.

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Desde a fundação de Belém e São Luís chegam cada vez mais colonos para desenvolver os plantios de cana-de-açúcar, algodão, tabaco e diversas culturas de exportação.

O colono português , realizará o cultivo da escravidão e da monocultura, tal qual o praticara há centenas de anos na Europa.

A COBIÇA PELA MÃO-DE-OBRA INDÍGENA

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A solução é buscar a mão-de-obra do nativo. Tornando muitas vezes as suas missões e fazendas reserva de escravos indígenas e gado bovino.

Durante as próximas décadas a administração portuguesa da colônia se especializará em capturar índios sob os mais diferentes argumentos.

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Portugal imagina repetir com as drogas do sertão o sucesso das especiarias do caminho das Índias, perdido para outras potências europeias. Nessa categoria estão dezenas de produtos vegetais e animais, tais como condimentos, tinturas, fibras, tabaco, ervas medicinais, castanhas, peles de felinos, jacarés e lontras, animais vivos como papagaios e araras, ovos de tartaruga, gordura do peixe-boi, etc.

AS DROGAS DO SERTÃO

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A partir de 1615 Portugal adota uma estratégia clara de expansão de seus domínios. Seu interesse é puramente comercial: dominar o mercado de cana-de-açúcar, tabaco, especiarias e outros produtos.

DE 1615 A 1780 – A EXPANSÃO TERRITORIAL

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Inúmeras expedições militares são organizadas para aumentar o território português. Pedro Teixeira, em 1626, a frente de uma tropa de resgate, penetra o rio Tapajós pela primeira vez. É o choque entre o dogma católico, a rigidez da autoridade militar e a visão mítica do nativo, plenamente adaptado ao meio, em sua cultura da floresta tropical.

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A experiência portuguesa na África e na Índia leva a Portugal a reeditar um sistema que se compõe de postos comerciais, fortificações militares, missões religiosas e vilas agrícolas.

A partir da conquista do território sobre outras nações europeias , Portugal preocupa-se em estabelecer uma rede de fortificações para garantir sua posse.

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São construídas fortalezas na foz do Amazonas, nos pontos mais distantes do novo território, como Forte Príncipe da Beira , no Guaporé, o forte São Joaquim, nas margens do rio Branco, Roraima, próximo à fronteira do Brasil com a Venezuela, o Forte de São Gabriel da Cachoeira e o de São José das Marabitanas (Barcelos), ambos no Alto rio Negro, na região conhecida como “Cabeça do Cachorro”.

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A coroa portuguesa sabe quão importantes é “domesticar” a alma do índio.

Em 1617chegam os primeiros religiosos, formando missões no estuário do rio Amazonas, a partir de Belém.

O primeiro interesse dos missionários é fortalecer a sua própria ordem religiosa na estrutura da igreja católica.

A CONQUISTA ESPIRITUAL

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O segundo grande interesse é fortalecer a Igreja perante os poderes laicos.

Em terceiro lugar há o interesse de produzir pra gerar renda, competindo até com os colonos.

Só em quarto lugar vem o interesse em proteger os índios da cobiça dos colonos e dos militantes.

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A concentração de nativos também facilitou a propagação de doenças contra as quais não possuíam resistência natural, como a varíola e a gripe, responsáveis pela dizimação de nações inteiras em questão de meses.

A conquista espiritual tem força na primeira metade do século XVIII. A pressão dos colonos aumenta tanto, que a coroa portuguesa prefere expulsá-los.

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O moralismo religioso europeu consegue em poucas décadas destruir milhares de anos de desenvolvimento cultural. No entanto, do ponto de vista da coroa portuguesa, o trabalho dos missionários é muito bem-sucedido. Ele efetivamente garante a consolidação da presença portuguesa no território amazônico.

Até a chegada do Marquês de Pombal, no final do século XVIII, as ordens religiosas disputam passo a passo as autorizações para a “conquista” de novos territórios.

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Missionários e colonos crescentemente entraram em atrito, especialmente os jesuítas que em 1661 são expulsos do Pará e, em 1684, do Maranhão, Carmelitas, franciscanos, mercedários e capuchos são mais condescendentes com a escravidão A chegada de Pombal ao poder, após o terremoto de Lisboa, resulta na definitiva expulsão dos jesuítas da Amazônia, como todo, em 1759.

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O período pombalino, a partir de 1750, resulta em grande estímulo aos colonos vindos de Açores e outras partes do reino português. São levados a Mazagão (Amapá), a Bragança e Ourém (Pará) para uma agricultura nos moldes europeus, de exportação. Como previsto, o primeiro momento da colonização é de absoluto fracasso, até que os colonos compreendam o saber indígena, do qual surge o saber caboclo.

A COLONIZAÇÃO COM AGRICULTORES PORTUGUESES

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Para apoiar a expansão nos longínquos territórios no interior da Amazônia, a coroa portuguesa decide fundar em 1669 o Forte de São José da Barra do Rio Negro, atual Manaus, hoje Estado do Amazonas. A disputa pelo território só será acertada em 1750, a partir do Tratado de Madri, que se baseia no lema “cada parte há de ficar com que atualmente possui”, uti possedetis.

A OCUPAÇÃO DO RIO NEGRO E O TRATADO DE MADRI

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A conclusão de inúmeros estudiosos é que o massacre tenha dizimado mais de 90% da população original da Amazônia. A maioria sucumbe no primeiro choque, durante os séculos XVI e XVII. Os que sobrevivem ou se refugiam em locais inacessíveis, ou se tornam a base do que são hoje os caboclos.

AS CONSEQUÊNCIAS DO PRIMEIRO CHOQUE

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Muito conhecimento da cultura da floresta se perdeu para sempre. Destas antigas sociedades restam apenas arremedos de conhecimentos, por meio de técnicas de navegação, uso da flora e fauna, moradia e outras técnicas, passadas às nações indígenas presentes e ao caboclo amazônico,

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Não é propriamente na Amazônia que o ouro será descoberto. É nas bordas do Planalto Central do Brasil, região coberta de savanas de Cuiabá, atual Mato Grosso e de Goiás.

A fundação de Cuiabá, com a descoberta acidental de ouro por um escravo de Miguel Sutil, 1723, altera esse quadro.

1723 – A DESCOBERTA DE OURO EM CUIABÁ

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Cuiabá e Vila Bela da Santíssima Trindade servirão como ponto de partida para a conquista do vale do Guaporé e do alto rio Tapajós. Ao mesmo tempo em que se descobre ouro em Cuiabá, encontra-se metal em Goiás (1722). Novamente, a vítima da cobiça portuguesa é o índio.

O ciclo do ouro nessas regiões é curto. A estagnação vem logo no início do século XIX. No entanto, sua descoberta altera o tratamento da cora para o grande oeste, o mato Grosso, que passa a ser uma região prioritária, pelo menos durante o século XVII, quando há ouro.

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O período Pombal significa mudanças radicais na Amazônia. Apressam-se o povoamento e a demarcação de fronteiras para garantir a efetiva posse do território conquistado pelos portugueses nos tratados e aumenta a intolerância portuguesa perante as nações indígenas,

O PERÍODO POMBAL

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Aumenta consideravelmente o poder dos comerciantes. A burocracia estatal passa a ser mais organizada e presente. Forma-se uma classe dominante rural, moradora de cidades como Belém, diretamente ligadas a Lisboa.

Pombal expede diversas ordens, as “cartas pombalinas”. Em 1754, para efetivar o Tratado de Madri, Portugal organiza grande expedição, com mais de mil pessoas, incluindo engenheiros, para definir as fronteiras.

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O próximo comandante será Lobo D’almada, fundador de São Gabriel, no rio Negro. Ele realiza diversas incursões militares demarcatórias, garantindo a expansão da fronteira portuguesa em detrimento da espanhola. Em 1764 inicia-se a construção da Fortaleza de São José, em Macapá (Amapá).

E neste contexto que surge Ricardo Franco, construtor do forte Príncipe da Beira, no rio Guaporé, fronteira do Brasil com Bolívia, uma obra-prima da engenharia colonial na Amazônia.

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Esse é um período de relativo crescimento econômico, com o desenvolvimento da agricultura do cacau e do algodão. O cacau será a primeira cultura genuinamente amazônica a ser plantada em larga escala, ainda que dispersa em muitos sítios nas décadas da várzea do Amazonas.

No fim do século XVIII Belém recebe uma série de melhorias a partir dos planos portugueses de ali instalar uma capital ultramarina, uma Veneza sul-americana, para o que é construído um palácio de governo que não conhecerá o uso pretendido.

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A proclamação da independência do Pará, em relação a Portugal, ocorre somente um ano após a independência das demais províncias do0 Brasil. Parte da elite local, bastante ligada a Portugal, hesita muito em apoiar essa decisão. Inicia-se aí um longo processo de desavenças locais que irá culminar na maior revolta nativista da Amazônia, a Cabanagem, pois novamente a população local foi preterida nas negociações para que a elite se mantivesse no poder.

A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

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A partir do século XVIII cresce a curiosidade científica e o interesse das coroas europeias sobre as grandes regiões selvagens como a Amazônia.

Paul Le Cointe e Henry Condreau são contratados pelo governo do Estado do Pará no início do século XX para descrever e medir a natureza. Jacques Cousteau, mais recentemente, na década de 1980, traz a televisão e a parafernália tecnológica e motorizada.

A CIÊNCIA ENCONTRA A SELVA

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O cientista pioneiro foi Charles Marie de La Condamine, astrônomo francês, que desce o Amazonas em 1742, é o primeiro europeu a descrever a borracha, o curare, o tucupi, o urucum, além de narrar sobre o golfinho de água doce (boto) e reforçar a informação da existência do canal de Cassaquiare, ligando as bacias do Amazonas e Orenoco, e ainda questionar: “Mas a quina, a ipecacuanha, a simaruba, a salsaparrilha, o guático, o cacau, a baunilha, seriam as únicas plantas úteis que a américa encerraria em seu seio?

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A cabanagem é um dos mais importantes movimentos sociais do Brasil e, de caráter nativista, certamente, o de maior significado para a Amazônia brasileira. Com duração de cinco anos (1835-1840), resulta na morte de pelo menos ¼ dos 150 mil habitantes da província do Grão-Pará e rio Negro (Amazonas).

A CABANAGEM – 1835 A 1840

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A cabanagem completou o processo de esvaziamento político das lideranças locais, visando tornar a região uma fronteira econômica para os anseios do Centro-sul do Brasil, sepultando os dois séculos do que era uma província que respondia diretamente a Portugal, Grão-Pará.

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Durante boa parte do século XIC a economia da Amazônia passa por outro forte ciclo econômico recessivo.

Em termos de espaço ocupado pelo homem, até o ciclo da borracha a ocupação da Amazônia brasileira está restrita às mesmas áreas utilizadas durante o século XVIII. A exceção é para um pequeno número de núcleos urbanos, como Manaus, fundada em 1848.

DA CABANAGEM AO CICLO DA BORRACHA

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Após muitas pressões, as potências estrangeiras, como Grã-Bretanha, Estados Unidos e França, obtêm do Império brasileiro a abertura do rio Amazonas à navegação internacional. Isto facilitará o acesso às áreas longínquas, como o atual Estado do Amazonas e a Amazônia peruana. Com a era da borracha e a abertura do rio Amazonas a navegação de barcos estrangeiros, ele se torna estrada por excelência.

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A passagem da Amazônia da coroa portuguesa para a coroa brasileira e desta última para a recém-declarada República Federativa do Brasil significa poucas mudanças para a grande maioria das pessoas. O que irá efetivamente modificar o cenário é a abrupta valorização da borracha na Europa e nos Estados Unidos.

1870 a 1918 – O CICLO DA BORRACHA

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O primeiro ciclo econômico de grande envergadura, envolvendo toda a região, toma folego na década de 1890. A Amazônia se transforma na maior produtora de borracha natural do mundo. É um ciclo muito curto, com menos de um quarto de século, de 1890 a 1911.

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Diversas nações indígenas das encostas andinas utilizavam a borracha como impermeabilizante há muitos séculos. Desde a visita do francês Charles Marie de La Condamine.

É a indústria automobilística e seus pneus, no entanto que levam a borracha a se transformar em commodity e tem de primeira necessidade de no mercado mundial.

O CONHECIMENTO SOBRE A BORRACHA

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Para explorar a borracha o empresário baseia-se no sistema de aviamento. O proprietário da área onde há seringais, o aviador ou seringalista, forma um sistema comercial em que ele é o único autorizado a comprar a borracha do seringueiro. Ele também é o único a lhe vender mercadorias (facão, instrumentos de coletar a borracha, pólvora, sal, açúcar, mantimentos e material para iluminação).

O SISTEMA DE EXTRAÇÃO DA BORRACHA

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Para começar a trabalhar, o seringueiro é obrigado a contrair uma divida com o seringalista no seu barracão e pagar o próprio custeio de viagem até a colocação.

Em alguns casos, onde o seringueiro é um homem de menos posses, existe um intermediário, o regatão. O seringalista endivida-se com as grandes casas comerciais dos centros urbanos, Manaus, Belém, no Brasil, Iquitos, Peru e Letícia, na Colômbia, dos quais compra os bens de primeira necessidade e para os quais vende a borracha

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O elo mais fraco, naturalmente, é o seringueiro, isolado e solitário na mata, com poucas condições de mudar o rumo de sua história. Os preços praticados no barracão pelo seringalista são sempre aviltantes. A cada nova comprar o seringueiro afunda-se mais e mais e dívidas, passando a viver num regime de total dependência e semiescravidão.

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Desde o princípio, empresas estrangeiras principalmente inglesas, estabelecem-se nas cidades de Belém. Manaus (Brasil), Letícia (Colômbia) e Iquitos (Peru) para controlar o comércio da borracha.

A partir da década de 1910 o planalto em larga escala em fazenda exclusivas para a borracha, em sistema de plantation, no Sudeste Asiático, derruba o preço internacional e leva a participação brasileira a cifras desprezíveis.

A ECONOMIA INTERNACIONAL DA BORRACHA

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Antes do ciclo da borracha a população da Amazônia lentamente. Em 1820, são 140 mil habitantes no Brasil e um número inferior a vinte mil habitantes entre Peru, Bolívia e Equador. Em 1870, já supera a perda populacional da Cabanagem no Brasil, os amazônidas são 320 mil. Daí para a frente o crescimento é rápido. Em 1920, a população na Amazônia brasileira é de 1,2 milhões.

O AUMENTO DA POPULAÇÃO DA AMAZÔNIA

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Entre os poucos marcos desse breve ciclo que permanecem para a região está aparelhamento de Belém e Manaus como cidades modernas, como jamais se vira no Brasil.

As cidades recebem calçamento, sistema de águas pluviais, paisagismo, luz elétrica e bondes.

A BELLE ÉPOQUE

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A exploração da borracha faz surgir inúmeras vilas ao longo dos rios onde a seringueira é mais abundante. Isso acontece em rios como Tapajós, Madeira, Juruá, Purus e tantos outros. A penetração não se restringe ao Brasil. Os seringueiros brasileiros avançam a partir de Manaus e financiados pela elite, sobre a Bolívia, penetrando os rios Acre, Purus e Juruá.

A COLONIZAÇÃO PELA BORRACHA

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Ao longo das cabeceiras dos rios Juruá, Purus e Madeira e seus fornecedores, seringueiros brasileiros penetram em busca da borracha. Nos últimos anos do século XX o conflito está armado. Depois de idas e vindas, algumas envolvendo atos heroicos, brasileiros liderados por Plácido de Castro expulsam bolivianos da região, bem como a empresa Bolivian Sindicate, e criam a República do Acre.

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Esse território, com 193 mil km² tem praticamente a área igual à do estado do Paraná ou duas vezes a de Portugal. Como parte do acordo o país comprometeu-se a construir a Estrada de Ferro Madeira Mamoré, para superar as dificuldades de navegação do rio Madeira, em função da série de cachoeiras que se inicia nas proximidades da atual Porto Velho (Rondônia). Poucos anos depois de concluída, a ferrovia foi abandonada por seu pouco uso.

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A partir de 1912 a borracha passa a representar pouco para a economia da Amazônia. Foi um choque cultural muito forte para uma região que acreditava que o monopólio seria eterno. Durante 50 anos, até a década de 1960, a Amazônia viverá praticamente do extrativismo e da agricultura.

ENTRE 1912 E A SEGUNDA GRANDE GUERRA

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Nesse momento a participação da região no cenário brasileiro é insignificante: menos de 5% da população e de 2% do PIB, mesmo ocupando mais da metade do território do país.

Os investidores estrangeiros pouco compromisso demonstram com a região. O governo brasileiro tenta, sem sucesso, criar mecanismos para recuperar a região, com em 1912, a Superintendência de Defesa da Borracha.

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A partir do século XX, a ciência brasileira iniciará seus esforços no sentido de conhecer a Amazônia. Entre os pioneiros destacam-se Emilio Goeldi, domingos Soares Ferreira Pena, João Barbosa Rodrigues e Oswaldo Cruz.

Inicia-se também um fértil período de intercâmbio com cientistas estrangeiros, como o anatomista suiço Hans Bluntschli, que viaja em 192 para a região.

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Durante 40 anos o militar brasileiro Cândido Mariano Rondon palmilha o oeste brasileiro, fincando0 postes para uma linha telegráfica que significará um marco de posse do Brasil.

Rondon é o primeiro indigenista brasileiro, fundador do Serviço nacional de Proteção ao Índio e autor da frase “morrer se preciso for, matar nunca”.

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Sem a principal fonte de suprimentos de borracha natural, o governo norte-americano e os países aliados voltam-se para a Amazônia.

Em 1942, em plena ditadura de Getúlio Vargas, Brasil e Estado Unidos assinam o “Acordo de Washington” para recuperação e produção extrativista.

DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL AO GOLPE DE 1964