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AMAZONAS INDÍGENA: UM MAPEAMENTO DAS INSTITUIÇÕES E DA PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE OS POVOS INDÍGENAS NO ESTADO Proponente: Gilton Mendes dos Santos RELATÓRIO FINAL Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas / FAPEAM Manaus 2009

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AMAZONAS INDÍGENA: UM MAPEAMENTO DAS INSTITUIÇÕES E

DA PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE OS POVOS INDÍGENAS

NO ESTADO

Proponente: Gilton Mendes dos Santos

RELATÓRIO FINAL

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas / FAPEAM

Manaus

2009

EQUIPE

Coordenador

Gilton Mendes dos Santos

Pesquisadores

Carlos Machado Dias Júnior

Deise Lucy Oliveira Montardo

Frantomé Bezerra Pacheco

Maria Helena Ortolan de Matos

Colaborador permanente

José Exequiel Basini Rodriguez

Estagiários bolsistas

Ângela Andrade da Silva

Aquiles Santos Pinheiro

Erick Marcelo Lima de Souza

Inara do Nascimento Tavares

Ivanilson Barbosa da Costa

Márcia Elisa Freire Meneghini

Rogério Marinho Ribeiro

Colaboradores eventuais

Clayton Rodrigues de Souza

Danilo Paiva Ramos

Elione Angelim Benjó

Juan Carlos Peña Marques

Laise Lopes Diniz

Marcelo Pedro Florido

Neon Solimões Paiva Pinheiro

ÍNDICE

APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 8

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12 a) Do contexto indígena na Amazônia ............................................................................... 12

b) Dos objetivos e da metodologia do mapeamento ........................................................... 15

c) Dos resultados do projeto Amazonas indígena .............................................................. 17

Referências Bibliográficas .................................................................................................. 22

ANÁLISE DA PRODUÇÃO SOBRE AS LÍNGUAS DOS POVOS INDÍGENAS DO

AMAZONAS ........................................................................................................................... 24 Introdução ........................................................................................................................... 24

Situação das línguas indígenas e áreas de grande diversidade linguística no Estado ......... 25

Alguns resultados extraídos do Banco bibliográfico - Área temática: Línguas indígenas . 29

Pesquisas vinculadas ao Projeto Amazonas Indígena ........................................................ 30

LEVANTAMENTO DA PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFIOCA SOBRE AS LÍNGUAS

INDÍGENAS FALADAS AO SUL DO ESTADO DO AMAZONAS ................................ 31 Introdução ........................................................................................................................... 31

Metodologia ........................................................................................................................ 33

Atividades desenvolvidas no decorrer da pesquisa ............................................................ 35

Resultados ........................................................................................................................... 38

Considerações finais ........................................................................................................... 47

Referências Bibliográficas .................................................................................................. 48

LEVANTAMENTO DA PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE AS LÍNGUAS

INDÍGENAS FALADAS AO NORTE DO ESTADO DO AMAZONAS .......................... 49 Introdução ........................................................................................................................... 49

Metodologia ........................................................................................................................ 49

As línguas faladas ao Norte do Estado do Amazonas ........................................................ 54

Lista de povos indígenas do Amazonas .............................................................................. 55

Relação das 248 obras sobre línguas indígenas faladas no norte do estado do Amazonas

que se encontram registradas no banco de dados bibliográficos (Dados de 2008): ........... 59

Relação de quantidade de obras que tratavam do tema línguas indígenas da parte Norte do

Estado; listadas por tronco linguístico e suas respectivas famílias (dados de 2008) .......... 61

Considerações finais ........................................................................................................... 62

Referências Bibliográficas .................................................................................................. 63

O LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO SOBRE ORGANIZAÇÃO SOCIAL E

PARENTESCO ....................................................................................................................... 65 Noroeste da Amazônia ........................................................................................................ 66

Juruá – Purus ...................................................................................................................... 67

Amazônia Centro-Meridional ............................................................................................. 68

Alto Amazonas ................................................................................................................... 68

Maciço Guianense Oriental ................................................................................................ 69

Maciço Guianense Ocidental .............................................................................................. 69

Juruá-Ucayali ...................................................................................................................... 69

Considerações finais ........................................................................................................... 70

ÍNDIOS EM CONTEXTOS URBANOS: O QUE SABEMOS EM MANAUS? .............. 71 Do que informa o Banco ..................................................................................................... 71

1. Tipos de obras e ano ....................................................................................................... 71

2. Regiões abordadas .......................................................................................................... 72

3. Povos estudados .............................................................................................................. 72

4. Temas privilegiados ........................................................................................................ 73

Apontamentos preliminares para uma análise do material ................................................. 73

Considerações finais ........................................................................................................... 75

Referências Bibliográficas .................................................................................................. 78

PRODUÇÃO FONOGRÁFICA E BIBLIOGRÁFICA SOBRE A MÚSICA DOS

POVOS INDÍGENAS DO ESTADO DO AMAZONAS ..................................................... 80 Compact Discs - Cds. ......................................................................................................... 82

Referências Bibliográficas .................................................................................................. 85

Referências Fonográficas ................................................................................................... 87

ANÁLISE DA PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE OS POVOS INDÍGENAS NO

RIO NEGRO ........................................................................................................................... 88 Estudos por região .............................................................................................................. 90

Etnologia do Rio Negro ...................................................................................................... 95

Considerações finais ........................................................................................................... 98

Referências Bibliográficas .................................................................................................. 99

A PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE OS POVOS DOS CURSOS MÉDIOS DOS

RIOS JURUÁ E PURUS ...................................................................................................... 103 Relatos do século XIX e início do XX ............................................................................. 103

Linguísticos ...................................................................................................................... 107

Educação ........................................................................................................................... 109

Relatórios de Situação e Demarcação de Terra ................................................................ 109

Etnobotânica ..................................................................................................................... 111

Mitos e Histórias ............................................................................................................... 111

Etnológicos ....................................................................................................................... 111

Outros ............................................................................................................................... 115

Considerações finais ......................................................................................................... 115

A PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE OS POVOS DO VALE DO JAVARI ..... 117 Análise Etnológica ............................................................................................................ 119

Linguística ........................................................................................................................ 123

Educação ........................................................................................................................... 125

Ecologia ............................................................................................................................ 125

Gênero .............................................................................................................................. 126

Cosmologia ....................................................................................................................... 126

Considerações finais ......................................................................................................... 129

MAPEAMENTO DAS INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS E NÃO -

GOVERNAMENTAIS NA AMAZÔNIA INDÍGENA: CENÁRIOS A

SEREM REFLETIDOS .................................................................................................. 132 Introdução: A relevância e os limites da pesquisa ............................................................ 132

Desenvolvimento da pesquisa .......................................................................................... 134

Dados coletados: contextos, programas e projetos .......................................................... 136

Organizações governamentais .......................................................................................... 137

Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa em Políticas Públicas em Áreas Estratégicas

- PPOPE ...................................................................................................................... 152

Programa Amazonas de Apoio à pesquisa em Políticas Públicas em Áreas

Estratégicas- PPOPE .................................................................................................. 153

Centros Culturais das Comunidades Indígenas urbanas - CCCI‟s ................................... 156

Organizações não-governamentais (ONGs) ..................................................................... 157

Associação Serviço e Cooperação com o povo Yanomami – SECOYA ......................... 158

Operação Amazônia Nativa – OPAN ............................................................................... 159

Centro de Trabalho Indigenista – CTI .............................................................................. 160

Terre dês Hommes- Suíça (TdH) ...................................................................................... 161

Equipe de Conservação da Amazônia – ACT Brasil (Amazon Conservation Team) ...... 161

The Nature Conservancy - TNC ....................................................................................... 162

Conselho Indigenista Missionário – CIMI ....................................................................... 163

Agência Norueguesa de Cooperação ao Desenvolvimento – NORAD ............................ 164

Cenários a serem refletidos ............................................................................................... 165

Algumas observações sobre as organizações indígenas e ONGs ..................................... 167

Desdobramentos da investigação proposta no projeto ..................................................... 169

Monografia ....................................................................................................................... 170

Projetos de Pesquisa para o Mestrado em Antropologia .................................................. 170

Projeto de extensão ........................................................................................................... 170

Referências Bibliográficas ................................................................................................ 171

REGIME DE ALTERIDADES E DINÂMICA TERRITORIAL NA REGIÃO

AMAZÔNICA ....................................................................................................................... 173 Objetivos ........................................................................................................................... 173

Principais pressupostos teórico-metodológicos ................................................................ 174

Agenciamentos ................................................................................................................. 175

Questões chaves ................................................................................................................ 175

Instituições consultadas na pesquisa em andamento ........................................................ 176

Considerações a respeito da base de dados institucionais ................................................ 176

Considerações gerais sobre a base de dados bibliográficos do projeto Amazonas Indígena

.......................................................................................................................................... 179

Referencias Bibliográficas ................................................................................................ 181

Lista de Tabelas

Tabela 1: Total de títulos levantados no banco de dados bibliográficos ................................. 18

Tabela 3: Distribuição da produção monográfica entre as principais bacias hidrográficas .... 21

Principais detentores da produção bibliográfica ....................................................................... 22

Tabela 1: Línguas faladas no Noroeste Amazônico separadas por famílias linguísticas 27

Tabela 2: Percentagem de cognatos entre as línguas Arawá a partir da comparação de

um léxico comum .................................................................................................. 27

Tabela 2: Amostragem das línguas mais investigadas constantes no Banco de Dados

Bibliográficos (BDB) (acima de 5 produções sobre o tema Língua) ................ 29

Tabela 1: Tronco Linguístico Tupi ...................................................................................... 40

Tabela 2: Famílias linguísticas não agrupadas em troncos ................................................ 42

Tabela 5: Resultados da produção bibliográfica refrente aos povos da família linguística

Pano ........................................................................................................................ 46

Tabela 1: Línguas indígenas do Norte do Estado do Amazonas listadas por família

linguística ............................................................................................................... 60

Tabela 1: Distribuição anual das produções 1854-1980 ...................................................... 105

Tabela 2: Distribuição anual das produções 1971-2009 ...................................................... 106

Tabela 1: Organizações governamentais pesquisadas ...................................................... 138

Tabela 2: Projetos Premiados ............................................................................................... 140

Tabela 3: Projeto, local de atuação e povos indígenas do programa Carteira Indígena -

MDS/ MMA ......................................................................................................... 143

Tabela 6: Projeto e local de atuação do programa Amazonas de Apoio à pesquisa em

Políticas Públicas em Áreas Estratégicas - PPOPE/FAPEAM ........................ 155

Lista de Quadros e Figuras

Figura 1: Mapa do Estado do Amazonas ................................................................................ 38

Figura 2: Áreas Etnográficas no Estado do Amazonas ........................................................... 39

Figura 3: Mapa da Produção Bibliográfica sobre línguas Indígenas no Estado do Amazonas

.................................................................................................................................. 44

Quadro 1: Obras Monográficas ............................................................................................... 72

Quadro 2: Regiões Abordadas ................................................................................................ 72

Quadro 3: Povos Estudados .................................................................................................... 72

Quadro 4: Temas Privilegiados ............................................................................................... 73

Figura 1: Mapa com indicação dos projetos premiados em 2007 e 2008 com o Prêmio

“Culturas Indígenas”............................................................................................... 142

Figura 2: Mapa com indicação dos locais contemplados com o programa “Carteira Indígena”

(projetos 2008 e 2009) ............................................................................................ 145

Figura 3: Mapa com indicação dos locais de atuação dos Projetos PDPI/MMA (2008/2009)

................................................................................................................................ 151

Figura 4: Mapa infográfico das ações da FAPEAM ............................................................. 153

Lista de Gráficos

Gráfico 1: Distribuição da produção bibliográfica por tipo .................................................... 18

Gráfico 2: Quantidade de obras por décadas entre o período de 1745 a 2009 ........................ 20

Gráfico 1: Percentual da produção bibliográfica sobre as línguas indígenas dos povos

indígenas faladas ao sul do estado do Amazonas ................................................... 43

Gráfico 1: Levantamento da Produção bibliográfica............................................................... 89

Gráfico 2: Produção por Região .............................................................................................. 91

Gráfico 3: Obras por Período e Região ................................................................................... 91

Gráfico 1: Mapeamento das organizações ............................................................................. 136

APRESENTAÇÃO

Apresenta-se aqui o Relatório Final do Projeto Amazonas Indígena: um mapeamento

das instituições e da produção bibliográfica sobre os povos indígenas no Estado, financiado

pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas/FAPEAM (Edital

MCT/CNPq/FAPEAM N.015/2006 Programa de Infra-estrutura para Jovens Pesquisadores

Programa Primeiros Projetos – PPP) através do Termo de Outorga e Aceitação de Auxílio n.

113/2007.

O tempo de execução desse projeto foi de dois anos (agosto de 2007 a julho de 2009),

tendo sido prorrogado por mais quatro meses. Seus objetivos foram: a) agrupar e sistematizar

as informações produzidas sobre os povos indígenas e a atuação recente de instituições junto

aos povos indígenas no Estado do Amazonas e b) promover e subsidiar as pesquisas no

Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, área de Etnologia Indígena, da

Universidade Federal do Amazonas (UFAM) (professores, estudantes e pesquisadores) e

outras instituições de ensino, pesquisa e extensão.

Importante sublinhar que a proposta do projeto Amazonas Indígena surgiu no contexto

da criação do Departamento de Antropologia da UFAM, a partir da contratação de dez

professores doutores em Antropologia Social, dentre os quais seis com formação na área de

Etnologia Indígena. Desse modo, conhecer a Amazônia indígena – tomando como ponto de

partida a presença das instituições e, principalmente, o que se produziu em termos de

conhecimento publicado (bibliográfico e áudio-visual) sobre a região e seus povos – era um

passo importante para se delinear as novas ações que ora se descortinavam no novo contexto

antropológico na UFAM e na Amazônia. A proposta, portanto, era de interesse coletivo dos

etnólogos do novo Departamento. Com isso, o projeto se revelou como uma possibilidade real

de agregar os professores pesquisadores, seus alunos e aqueles interessados no tema. Desse

modo, a proposta permitiu que cada pesquisador envolvido pudesse explorar o material

levantado realizando análises temáticas de acordo com sua área de especialidade.

O projeto Amazonas Indígena estimulou também a criação e incremento do Núcleo de

Estudos da Amazônia Indígena (NEAI), grupo de pesquisa vinculado ao Programa de Pós-

Graduação em Antropologia Social da UFAM, com sede na antiga Faculdade de Direito, onde

montou sua infra-estrutura e contou, por sua vez, com o apoio integral para seu pleno

desenvolvimento.

9

No primeiro ano de execução do projeto, cada professor pesquisador recrutou um ou

dois alunos de graduação, com aporte de Bolsa de Iniciação Científica, para juntos levantar o

material para formação dos Bancos de Dados e ensaiar as primeiras análises do que havia sido

coletado naquele período.

Ao longo desse período a equipe realizou dois seminários de pesquisa para debater a

metodologia do levantamento, identificar os principais temas e discutir seus resultados

preliminares (conf. memória dos seminários em Anexo).

Os resultados preliminares do levantamento começaram a aparecer já no final do

primeiro ano – discriminados no relatório técnico parcial encaminhado à FAPEAM, podendo

ser assim resumidos:

Relatórios de Iniciação Científica:

1) Mapeamento das instituições e da bibliografia: a formação do banco de dados.

Bolsista/CNPq: Rogério Marinho Ribeiro (Orientador: Prof. Dr. Gilton Mendes

dos Santos);

2) Produção bibliográfica sobre as línguas indígenas faladas ao Norte do Estado do

Amazonas Bolsista/CNPq: Erick Marcelo Lima de Souza (Orientador: Prof. Dr.

Frantomé Pacheco);

3) Produção bibliográfica sobre as línguas indígenas faladas ao Sul do Estado do

Amazonas. Bolsista/CNPq: Aquiles Santos Pinheiro (Orientador: Prof. Dr.

Frantomé Pacheco);

4) Produção bibliográfica sobre os povos indígenas da Bacia do Rio Solimões.

Bolsista/ CNPq: Márcia Meneghini (Orientador: Prof. Dr. Gilton Mendes dos

Santos);

5) Registro fonográfico de música indígena: estudo sobre a pesquisa, produção e

comercialização. Bolsista/ CNPq: Ivanilson Costa (Orientadora: Profa. Dra. Deise

Lucy Montardo);

6) Índios em contextos urbanos: o que sabemos em Manaus? Voluntária: Ângela

Andrade (Orientador: Prof. Dr. Carlos Dias Jr);

7) Mapeamento das Instituições governamentais e não-governamentais na Amazônia

Indígena: cenários a serem refletidos. Bolsista/CNPq: Inara do Nascimento

(Orientadora: Profª. Dra. Maria Helena Ortolan).

10

Viagem de intercâmbio do bolsista Rogério Ribeiro Marinho à cidade de São Paulo

(Universidade de São Paulo/USP e Instituto Socioambiental/ISA) para apresentação

dos resultados preliminares da pesquisa e troca de experiências sobre Banco de

Dados e Sistema de Informações Geográficas.

Artigo de autoria de Rogério Ribeiro Marinho (bolsista CNPq) e Gilton Mendes dos

Santos (orientador) intitulado “Os Índios na escrita: a produção bibliográfica sobre

povos indígenas no Estado do Amazonas”. In: Fronteira, Diálogo e Intervención

Social em el Contexto Pan-Amazônico. In: José Rodríguez et. al. (org.), Universidad

de Guadalajara, Universidade Federal do Amazonas e Editorial Nordan-Comunidad,

Guadalajara, 2009.

Participação na 60ª Reunião Anual da SBPC, de 13 a 18 de julho de 2008, na cidade

de Campinas-SP, com a apresentação do trabalho intitulado Mapeamento da

produção bibliográfica sobre os povos indígenas no Estado do Amazonas,

publicado nos Anais da 60ª Reunião Anual da SBPC, Unicamp: Campinas, 2008.

(Rogério Ribeiro Marinho & Gilton Mendes dos Santos)

Matéria de capa, publicada no site da FAPEAM: http://www.fapeam.am.gov.br em

30 de junho de 2008.

Matéria intitulada Pesquisa sobre a Amazônia será reunida, publicada pela Agência

boletim eletrônico da FAPESP: http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro

Matéria e entrevista concedida ao Jornal Em Tempo, Manaus, 02 de agosto de 2008.

Quanto aos resultados do levantamento bibliográfico e áudio visual faz-se necessário

registrar algumas limitações ou dificuldades enfrentadas pela pesquisa ao longo desses anos:

primeiro que as informações levantadas referem-se aos povos indígenas localizados num

espaço geográfico definido, isto é, ao Estado do Amazonas; segundo, as fontes primárias

(relatórios, cartas, mapas e outros documentos) não foram levantados e contabilizados no

Banco de Dados, isto é, a produção bibliográfica levantada é constituída, na sua quase

totalidade, de trabalhos publicados ou acessíveis ao público. Terceiro, as obras presentes em

acervos estrangeiros não foram alcançadas pelo levantamento, o qual priorizou as instituições

nacionais, especialmente os arquivos das instituições localizadas na cidade de Manaus.

O levantamento de dados sobre as instituições atuantes junto aos povos indígenas,

sejam elas indígenas e indigenistas, governamentais e não governamentais, foi limitado pelo

11

acesso a determinadas informações, muitas delas indisponíveis ao público e/ou ocultadas

propositalmente pelas instituições.

Obstante as dificuldades imanentes a este tipo de levantamento, o que se apresenta

como resultado da pesquisa, tanto sobre a produção bibliográfica quanto sobre as instituições

que atuam junto aos povos indígenas no Estado do Amazonas, é um retrato fiel e “estrutural”

sobre ambos os temas. Isto é, embora os levantamentos não tenham alcançado todas as fontes,

sejam elas bibliográficas ou informativas sobre as organizações, o que conseguimos levantar,

mapear e sistematizar ao longo da pesquisa é algo representativo e indicador da dinâmica de

ambas as questões, a saber, o que existe produzido de textos sobre os povos indígenas no

Estado, e a atual presença institucional junto a estes povos.

Embora o que temos mapeado seja uma mostra bastante representativa, é importante

frisar que os resultados alcançados por esta pesquisa não é algo conclusivo ou acabado. Muito

pelo contrário, trata-se de considerações preliminares, tanto o que foi levantado em termos de

dados quantitativos (formação dos Bancos de Dados) quanto das análises qualitativas

(temáticas e por região etnográfica) efetuadas sobre o material coletado.

O último ano de atividades do projeto foi dedicado particularmente à correção e

padronização dos Bancos de Dados e análises temáticas efetuadas pelos pesquisadores e

colaboradores. Seus resultados estão apresentados nas páginas abaixo. As tabelas de dados

sobre as instituições estão organizadas em Excel, e os dados das fichas bibliográficas em

programa Access. Ambas foram convertidas para a plataforma web e estarão disponíveis para

consulta no site do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI/PPGAS) da

Universidade Federal do Amazonas: www.neai.ufam.edu.br. Este formato permitirá melhor

visualização dos dados, bem como consultas e novas inserções de novos dados.

Este relatório final está composto de duas partes, ou melhor, de dois temas, um sobre a

produção bibliográfica (e áudio-visual) e outro sobre as instituições atuantes junto aos povos

indígenas. A primeira parte, por sua vez, está organizada sob duas diferentes abordagens

debruçadas sobre o material levantado, uma temática, que privilegia assuntos como línguas

indígenas, organização social, índios urbanos e produção áudio-visual e outra que aborda

regiões ou complexos etnográficos, como Rio Negro, Javari e Médios rios Juruá-Purus.

Ambas as abordagens, temáticas e geográficas se justificam pelo interesse, atuação e

especialidade de cada pesquisador envolvido no projeto.

12

INTRODUÇÃO

Gilton Mendes dos Santos

Coordenador do projeto Amazonas Indígena, professor do Departamento de Antropologia da

UFAM e pesquisador do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena do Programa de Pós-Graduação

em Antropologia Social da UFAM (NEAI/PPGAS)

a) Do contexto indígena na Amazônia

Embora os estudos de arqueologia, de ecologia histórica e linguística revelem que a

presença humana na Amazônia se deu há mais de oito mil anos (Balée, 1989, 1993;

Roosevelt, 1998; Fausto, 2000), os primeiros registros históricos sobre as sociedades nativas

da Amazônia datam do começo da ocupação do continente pelos europeus, a partir do século

XVI.

As narrativas das viagens de Francisco de Orellana e Pedro Teixeira, registradas,

respectivamente por Gaspar de Carvajal e Cristoban de Acuña trazem informações muito

dispersas e profusas sobre os povos nativos da região, mas atestam a densidade populacional

dos habitantes das margens do grande Rio das Amazonas. Tempos depois ganham

notoriedade as descrições e os mapeamentos elaborados pelos missionários Samuel Fritz e o

padre João Daniel, que viveram na Amazônia colonial entre os séculos XVII e XVIII. Neste

período, vale destacar o resultado das primeiras expedições científicas à Amazônia,

inauguradas pelo astrônomo francês La Condamine e a Viagem Filosófica do luso-brasileiro

Alexandre Rodrigues Ferreira. O século XIX, por sua vez, é fortemente marcado pelas

expedições dos viajantes naturalistas à Amazônia, que tomaram a região como um imenso

laboratório, um lugar para a Ciência, de descobertas e revelações, o lugar cobiçado pelos

cientistas do Velho Mundo, que revelaria e responderia ao intrigante problema da origem das

espécies, que corroboraria suas teses e hipóteses. Para isso, a Amazônia foi a fonte

inesgotável das espécies animais, plantas, insetos e pássaros coletados pelos naturalistas e

remetidos aos montes para os museus de seus países.

Os naturalistas contaram em suas expedições – que tinham as mais diferentes

finalidades, científica, filosofia natural, econômica, geográfica e de história natural – com a

imprescindível presença do “elemento nativo”, trazendo sobre estes importantes relatos e

informações sobre seus costumes. Dentre as tantas expedições científicas que exploraram a

Amazônia, podemos destacar aquelas realizadas pela dupla austríaca Spix & Martius entre os

anos 1817-1820; a dos ingleses Alfred Wallace e Henry Bates, entre os anos 1848 e 1859 e a

13

do casal de americanos Luis e Elizabeth Agassiz nos anos 1865-1866. Importante registrar

que é somente no século XIX que a etnologia alcança o status de ciência, ou seja, um campo

especializado da investigação antropológica: na segunda metade deste século é que aparecem

obras de etnólogos propriamente ditos.

No inicio do século XX tem destaque a viagem de exploração de Koch-Grunberg ao

noroeste amazônico, resultando numa das mais expressivas contribuições para a etnologia

indígena do continente sulamericano.

Em 1914, o etnógrafo alemão naturalizado brasileiro, Curt Nimuendajú, publicou sua

primeira obra, um estudo sobre a religião dos Apapocuva-Guarani. Nos anos seguintes entre

1914 e 1932, este autor produziu cerca de vinte e um trabalhos, versando sobre as mais

diferentes áreas do conhecimento: linguística, psicologia, organização social, história etc.

Na segunda metade do século XX, depois das contribuições do Handbook of South

American Indians, editado pelo antropólogo americano Julian Steward (1946-1950), ganham

evidência na Amazônia indígena os trabalhos dos etnólogos Eduardo Galvão, Hebert Baldus e

Charles Wagley, e na década de 1970 têm destaque as pesquisas arqueológicas e

antropológicas de Beth Meggers e Anna Roosevelt. Neste mesmo período aparecem as

primeiras etnografias inauguradas por Roberto Cardoso de Oliveira e João Pacheco de

Oliveira sobre os Ticuna do Alto Solimões, as de Reichel-Dolmatoffe e do casal inglês

Stephen & Christine Hugh-Jones no Alto Rio Negro. Ainda nesta década e início dos anos

1980 surgem os trabalhos de pesquisa de campo de Berta Ribeiro, Janet Chernela, Robin

Wright e Jonatham Hill na bacia do Rio Negro e as de Bruce Albert entre os Yanomami.

Estes autores abriram caminho e iluminaram uma considerável produção

antropológica nos últimos 30 anos sobre as diferentes sociedades amazônicas [cf. Carneiro da

Cunha (org.) 1992; Descola & Taylor (orgs.) 1993; Viveiros de Castro & Carneiro da Cunha

(orgs.) 1993; Viveiros de Castro, 2002]. Isto é, a partir dos anos 1980 assistimos a uma

explosão de trabalhos etnográficos sobre os povos indígenas amazônicos, com centenas de

etnografias produzidas até os dias atuais, destacando-se ainda as sínteses teóricas, baseadas no

corpus etnográfico produzido pelos trabalhos de campo, elaboradas pelo antropólogo francês

Philippe Descola (1992) e o brasileiro Eduardo Viveiros de Castro (1996).

Por outro lado, vale destacar o crescente aumento de instituições de pesquisas,

entidades não-governamentais, religiosas, entre outras, atuantes junto aos povos indígenas na

região. Esta atuação associa-se diretamente com a crescente perda de atribuições do órgão

oficial indigenista (Funai e outros), o que tem levado o poder público a partilhar suas

14

responsabilidades com outras agências governamentais, com missões religiosas e com

instituições não-governamentais. Após a promulgação da Constituição Brasileira de 1988 e,

particularmente a partir após a Eco 92, a Amazônia foi palco de atuação de inúmeras

instituições vinculadas aos mais diferentes interesses e linhas de ação. Nesse contexto, os

povos indígenas foram associados à biodiversidade, figurando como promotores da

conservação ambiental e detentores de saídas inteligentes contra as formas predatórias de

exploração dos recursos naturais perpetrado pelo modelo em vigor na Amazônia (cf. Posey,

1984, 1987, e 1992).

Instituições de pesquisa, órgãos do Estado e esferas da Igreja marcaram aí posições, e,

pari passu com as organizações não-governamentais, surgiram ou multiplicaram as

associações e federações indígenas, utilizando-se da imagem, difundida nacional e

nacionalmente, do índio como guardião da diversidade na Amazônia. De modo geral, como

revela uma pesquisa encomendada pela Coordenadoria das Organizações Indígenas da

Amazônia Brasileira (Silva, 2000), as mais de trezentas organizações indígenas existentes na

região surgiram no afã da disputa por um “mercado de projetos”, até então de exclusividade

das agências externas de apoio à “causa indígena”.

O resultado dessa atuação multi-institucional e acadêmica na Amazônia resultou numa

significativa produção, nas mais diferentes áreas, vindo à luz na forma de relatórios técnicos,

dossiês, textos, monografias, mapas, teses, livros e outras publicações. Por outro lado, várias

agências cresceram e expandiram, outras minguaram ou sucumbiram ao longo desse tempo. E

o que se verifica, de modo geral, é uma dispersão e fragmentação dessa produção, bem como

certo desconhecimento do que de fato foi conduzido entre os povos, as atividades e os

resultados de uma atuação ainda em curso na Amazônia.

O quadro atual apresenta-se complexo e diverso quanto às atividades desenvolvidas

por estas agências: a natureza de suas ações e objetivos, seu interesse, o tempo de atuação, a

área de abrangência, etc. A visualização global desse cenário, com sua conseqeente produção,

se encontra na maioria das vezes desconhecida e inacessível ao grande público e aos próprios

grupos indígenas, objetos de investigação ou atuação.

Atualmente, o Estado do Amazonas detém a maior diversidade cultural e maior

contingente populacional indígena do Brasil. De acordo com a Fundação Estadual dos Povos

Indígenas (FEPI, 2007) existe no Estado cerca de 60 povos com uma população estimada em

100 mil indivíduos, distribuída em 178 Terras Indígenas. Estas Terras, por sua vez,

compreendem cerca de 27% da área territorial do Amazonas.

15

b) Dos objetivos e da metodologia do mapeamento

Esta pesquisa teve como objetivo levantar, agrupar, sistematizar e analisar a produção

bibliográfica sobre os povos indígenas, bem como a atuação recente das diferentes instituições

entre estes povos no Estado do Amazonas. Para tanto, propôs reunir em um banco de dados

geográficos, informações que permitiram, de um lado, obter a distribuição espacial da

produção bibliográfica, e de outro verificar a presença das diversas instituições envolvidas

com os povos indígenas no Estado do Amazonas. Para dar cabo à organização do material foi

criado um banco de dados alfanumérico e um banco de dados geográficos através de um

conjunto de softwares denominados de Sistema de Informações Geográficas (SIG), que

possuem atributos sobre a produção bibliográfica e as instituições atuantes entre os povos

indígenas. Este SIG permitiu a elaboração de mapas temáticos com a análise espacial da

presença institucional e da produção bibliográfica1.

No que diz respeito à produção bibliográfica, o levantamento centrou-se sobre os mais

diferentes tipos de referências, a saber: livros, capítulos de livros, artigos, trabalhos

acadêmicos de conclusão de curso (relatórios de iniciação científica, monografias de

graduação, especialização, mestrado e doutorado); mapas, cartilhas, multimídias (CD-ROM,

DVD, CD, VHS, Fitas Cassete), jornais temáticos e os diversos guias de referência para

pesquisas que envolvem povos indígenas.

Para a coleta de dados a pesquisa foi elaborada uma ficha catalográfica com

informações básicas sobre a obra: autor, data, a região estudada, conteúdo da obra, povo alvo,

etc. (cf. Anexo a este relatório).

De igual modo, para o levantamento das instituições foi construída uma ficha de

identificação. As análises dos dados, por sua vez, abordam questões como localização da

sede, tipo de instituição, área de atuação, grupos alvos e locais de atuação. Assim como no

levantamento bibliográfico, foi elaborada uma ficha que permitisse ir além destas questões

norteadora como os programas, projetos, recursos envolvidos (em Anexo).

A primeira etapa da pesquisa consistiu na elaboração das fichas de levantamento de

dados, as quais foram, posteriormente, inseridas no banco de dados. Este primeiro banco foi

1 O referido sistema foi montado pelo estudante de Geografia Rogério Marinho, que participou do primeiro ano

do projeto como bolsista de IC. Seu relatório de Pibic, subsidiário desta pesquisa, é um mapeamento analítico

de toda a produção bibliográfica levantada no primeiro ano do projeto. Rogério Marinho ingressou no ano de

2009, no Mestrado do INPE, seguindo carreira na área de geo-processamento. Infelizmente o projeto não

contou com sua atuação para elaboração dos mapas temáticos nesta fase final.

16

criado na plataforma Microsoft Access contendo todos os campos que constam nas duas

fichas. A principal função desta primeira base foi de armazenar os “dados brutos”. Assim,

com os dados inseridos nesta base, realizamos consultas com critério nos campos de interesse

para espacialização das informações. Os principais campos do Banco são: Região, Povo e

Conteúdo, o que permite a análise espacial. Exemplificando, temos as seguintes questões que

podem ser respondidas com a construção de consultas com critérios: “Quais as publicações

identificada sobre o povo X?” ou mais especificamente “em quais povos se concentram as

pesquisas na região do Alto Rio Negro?”. Para questões como estas, utilizamos os campos

acima mencionados.

A segunda etapa da pesquisa centrou-se na montagem do banco de dados Geográfico

através de um conjunto de softwares que aqui denominamos de SIG, que permitiu a coleta, o

armazenamento, edição e visualização dos dados.

A terceira etapa, que foi o levantamento dos dados propriamente dito, se desenvolveu

ao longo dos dois anos de pesquisa, sendo tal levantamento mais intenso no primeiro ano,

entre setembro de 2007 e maio de 2008. Inicialmente, tomamos como fonte de informações o

livro de Herbert Baldus “Bibliografia Critica da Etnologia Brasileira - Volume I, II e III” e o

levantamento com fichas nas diferentes bibliotecas setoriais da Universidade Federal do

Amazonas (UFAM), da Universidade Estadual do Amazonas e universidades particulares.

Foram investigadas bibliotecas públicas e particulares, acervos particulares e de núcleos de

pesquisas, bancos de teses e dissertações disponíveis on-line. Foram também explorados os

acervos do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA), da Fundação Oswaldo Cruz

(FIOCRUZ-Amazônia), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),

do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), do Conselho Indígena Missionário

(CIMI), dentre outros em Manaus e na cidade de Lábrea. Foi também realizado um

levantamento nos arquivos do Museu Paraense Emilio Goeldi, particularmente sobre o tema

Línguas indígenas. Fontes alternativas na web como a Plataforma de Currículo Lattes,

mantida pelo CNPq e a lista de verbetes do site do Instituto Socioambiental (ISA)

contribuíram sobremaneira para o incremento do banco de dados bibliográficos.

Para as informações sobre as instituições indígenas e indigenistas foram utilizados os

dados obtidos junto às instituições atuantes no Estado do Amazonas, bem como de

instituições sediadas em Brasília, a exemplo do Instituto Socioambiental, Conselho

Indigenista Missionário, Ministério da Cultura (Prêmio Culturas Indígenas), Ministério do

17

Meio Ambiente (Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas/PDPI) e Carteira Indígena,

Fundação Nacional do Índio/FUNAI e outros órgãos governamentais. As informações foram

ainda levantadas em sítios e wbsites.

Vale sublinhar que no ano de 1954, o antropólogo alemão Herbert Baldus publicou o

maior e mais completo levantamento bibliográfico até então realizado sobre a temática

indígena no Brasil. Trata-se do primeiro volume de sua obra intitulada “Bibliografia Critica

da Etnologia Brasileira”, com 1.785 trabalhos que fazem referências a povos indígenas no

Brasil desde 1500 até o ano de 1953. Além das informações catalográficas, cada referência

bibliográfica é acompanhada de um comentário crítico do autor. Depois do grande

reconhecimento de sua empreitada, Herbert Baldus apresentou o segundo volume desta obra

em 1967, com mais 1.049 referências, as quais foram publicadas entre os anos de 1954 e

1967.

Dando continuidade a este inventário das publicações sobre o índio no Brasil, a

pesquisadora do Museu Paulista, Thekla Hartmamm organizou o terceiro volume da

“Bibliografia Critica da Etnologia Brasileira”, somando-se assim ao esforço de Herbert

Baldus. Esta autora conseguiu levantar, em um período de 15 anos, mais 1.765 trabalhos

publicados entre 1967 e 1982.

Assim, estes três volumes (Baldus, 1954; Baldus 1967; Hartmamm, 1984)

possibilitaram o avanço do conhecimento sobre a vasta literatura indigenista no Brasil e no

mundo, e um conhecimento específico sobre cada grupo indígena em seus mais variados

temas e abordagens.

Desse modo, consideramos que os resultados do levantamento do projeto Amazonas

Indígena, que ora apresentamos é, de certa forma, uma continuidade da bibliografia crítica

produzida nos anos 1950 pelo antropólogo Herbert Baldus.

c) Dos resultados do projeto Amazonas indígena

O banco de dados bibliográficos conta, até o momento (outubro de 2009), com 1575

registros, distribuídos conforme se tabela abaixo: Importante registrar que, desse total, 79 não

contam com aquelas informações básicas como título e/ou autor, o que faz cair para 1496 o

número de registros completos, isto é, daqueles que possuem informações catalográficas

essenciais2.

2 Em anexo a este relatório segue um catálogo de todos os registros constantes do Banco de Dados.

18

Tabela 1

Total de títulos levantados no banco de dados bibliográficos

TIPO QUANTIDADE

Livro 415

Dissertação 173

Tese 89

Monografia 43

Artigo 524

Mapa 2

Relatório 74

Cd-Rom 5

Video 8

Outros 17

PIBIC 39

Capitulo 104

Fonte: NEAI, 2009

Org: Gilton Mendes dos Santos

Gráfico 1

Distribuição da produção bibliográfica por tipo

P roduç ão bibliog ráfic o por tipo

0100200300400500600

Livro

Dis

serta

ção

Tes e

Monogra

fia

Arti

go

Mapa

Re la

tório

Cd-R

om

Vid

eo

Outro

s

PIB

IC

Capitu

lo

Quantidade

Fonte: NEAI, 2009

Org: Gilton Mendes dos Santos

Cronologicamente, podemos classificar as obras em dois grandes períodos: de 1745 à

1930 e de 1931 a 2009. O primeiro tem início com a Relation abrégée d'um voyage dans

l'intérieur de l'Amerique méridionale. Depuis la côte de la mer du Sud, jusqu'aux côtes du

Brésil et la Guiane, em descendant la rivière des Amazones, do astrônomo francês Charles

Marie de La Condamine, que faz menção específica sobre alguns povos da Amazônia

brasileira, trazendo um relato de suas incursões sobre o rio Amazonas e seus principais

tributários, descrevendo as características da flora, da fauna, dos lugares e de seus habitantes,

como os Omágua e os Manaós. À exemplo da obra de La Condamine, este primeiro período é

19

marcado por relatos de viajantes, naturalistas e missionários, em que os povos nativos da

Amazônia aparecem em linhas breves e imiscuídos à paisagem natural, principal alvo das

observações e interesses dos exploradores dos séculos XVIII e XIX.

O segundo período (1930 em diante) tem como referência o início da vasta obra do

alemão naturalizado brasileiro, Curt Nimuendajú, um dos pioneiros e mais importantes

etnólogos das sociedades indígenas do Brasil. Nimuendajú dedicou-se a compreender as

formas de vida social dos povos indígenas observando-os por dentro, revelando dimensões

nunca antes vistas pelos etnólogos: suas estruturas sociais, seus sistemas de parentesco e seus

esquemas cosmológicos de modo amplo e em conexão com a vida social dos grupos.

Nimuendajú colaborou com o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) na Amazônia e também com

o Museu Paraense Emilio Goeldi, para quem recolheu importante acervo de bens culturais

para suas coleções museológicas. O conjunto de sua obra inaugura uma nova fase dos estudos

e das abordagens sobre os povos da região, que perdura até os dias atuais.

Vale sublinhar, no entanto, que os escritos do missionário alemão Theodor Koch-

Grünberg, no início do século XX, entre os anos 1903-1905, alguns anos antes de

Nimuendaju, podem ser considerados como a pré-fase etnográfica da Amazônia indígena.

Vejamos abaixo a tabela com a distribuição da produção bibliográfico ao longo de

cada década, bem como o acumulado ao longo de todo o período:

Tabela 2

Distribuição da produção bibliográfica por década

Período Produção Acumulado

Até 1900 40 40

1900 a 1909 18 58

1910 a 1919 16 74

1920 a 1929 28 102

1930 a 1939 18 120

1940 a 1949 33 153

1950 a 1959 48 201

1960 a 1969 83 284

1970 a 1979 138 422

1980 a 1989 184 606

1990 a 1999 448 1054

2000 a 2009 478 1532

Fonte: NEAI, 2009

Org: Gilton Mendes dos Santos

20

O gráfico a seguir mostra como se distribui cronologicamente (por década) a produção

bibliográfica sobre os povos indígenas no Estado do Amazonas.

Gráfico 2

Quantidade de obras por décadas entre o período de 1745 a 2009

P roduç ão bibliog ráfic a por déc ada

0200400600800

1000120014001600

até 1

900

1900 a 1

909

1910 a 1

919

1920 a 1

929

1930 a 1

939

1940 a 1

949

1950 a 1

959

1960 a 1

969

1970 a 1

979

1980 a 1

989

1990 a 1

999

2000 a 2

009

P rodução

Fonte: NEAI, 2009

Org: Gilton Mendes dos Santos

Tomando os números registrados na tabela3 e o gráfico acima, podemos inferir que: a)

a produção bibliográfica anterior ao século XX é bastante baixa, num total de 40 até o ano de

1900; b) há uma escalada crescente da produção bibliográfica ao longo do tempo, desde os

primeiros registros, no século XVIII até o ano 2009; c) a década de 1940 computou um

número (33 registros) quase que o dobro da produção da década anterior (18); d) o número de

registros na década de 1990 (448) é mais que o dobro daquele levantado na década de 1980

(184): certamente este significativo aumento seja consequência da atuação institucional

indígena e indigenista amplamente desencadeada a partir desse momento; e) a década de 1960

é marcada pelo aparecimento das obras monográficas4: o primeiro trabalho identificado nesta

categoria é a dissertação de Homer Firestone (1962), resultado de uma pesquisa lingüística

com os Siriano da região do Rio Negro, desenvolvida na Universidade do Novo

México/EUA; o segundo é a tese do antropólogo Napoleon Chagnon (1966) sobre a

organização social e política dos Yanomami, defendida na Universidade de Michigan.

3 Para este cálculo, o número total de registros (1532) foi superior ao número de “registros completos” (1496),

uma vez que contabilizou também algumas fichas com dados incompletos. 4 Consideramos aqui como obras monográficas as teses (doutorado), dissertações (mestrado), monografias de

Especialização, trabalhos de conclusão de curso e relatórios técnicos e de iniciação científica.

21

Vale destacar que do total de 1575 registros cadastrados, 347 são obras monográficas,

correspondendo a 22% de toda a produção bibliográfica levantada. Os centros de ensino que

mais se destacam na produção da pesquisa etnológica são: Universidade Federal do

Amazonas (UFAM), com 118 trabalhos, a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),

com 33 obras, a Universidade Federal do Rio de Janeiro/Museu Nacional (UFRJ/MN) com 26

títulos e a Universidade de São Paulo (USP), responsável por 24 trabalhos monográficos.

Se dividirmos toda a produção bibliográfica entre as duas principais bacias que

banham o território do Estado do Amazonas, a do Rio Solimões (com os seus principais

tributários Japurá, Javari, Juruá e Purus) e a do Rio Negro (com os seus afluentes Uaupés,

Içana e Xié), encontraremos um acervo distribuído relativamente igual entre ambas: os povos

do Rio Negro aparecem em 503 títulos e os do Rio Solimões em 562 obras – excetua-se aqui a

região do Baixo Amazonas e seus tributários, isto é, a jusante do encontro das águas dos rios

Negro e Solimões. Mas, se esta produção for alocada entre as regiões ou mosaicos

etnográficos notaremos uma distribuição muito desigual dessa produção. Vejamos a tabela

abaixo:

Tabela 3

Distribuição da produção monográfica entre as principais bacias hidrográficas

Rio Negro Vale do Javari Médio Juruá-Purus Baixo Amazonas

503

(112 monografias)

70

(19 mon.)

231

(52 mon.)

197

(41 mon.)

Fonte: NEAI, 2009

Org: Gilton Mendes dos Santos

Importante ressaltar que a região do Alto Rio Negro (noroeste amazônico), conhecida

também como “cabeça do cachorro” apresenta uma elevada diversidade cultural, com 23

sociedades, uma das mais expressivas da América do Sul, abarcando quase toda a produção

bibliográfica da Bacia rionegrina (maiores detalhes sobre esta região seguem abaixo em ítem

específico sobre a região). Na região etnográfica do Vale do Javari somam-se cerca de 73

obras sobre os povos indígenas na região, das quais 19 são monografias acadêmicas (maiores

detalhes no ítem sobre a região do Javari, páginas abaixo). Na região dos Médios rios Juruá e

Purus, que conformam um mosaico etnográfico, o total de títulos levantados é de 231, dos

quais 52 são resultados de pesquisas etnológicas (maiores detalhes no ítem sobre o Médio

Purus-Juruá, páginas abaixo).

22

Os principais temas (“conteúdos”) abordados pela massa bibliográfica levantada

encontram-se assim distribuídos:

Cultura Língua Mitologia Política Saúde Educação História Etnoconhecimento

446 373 133 129 116 115 88 86

O banco de dados traz registros sobre 70 povos (do presente e do passado) habitantes

do atual Estado do Amazonas. Desse conjunto se destacam:

Tabela 4

Principais detentores da produção bibliográfica

Povo Quantidade de referências

Total Monográfica

Yanomami 157 24

Ticuna 151 35

Tukano 114 32

Baniwa 92 20

Fonte: NEAI, 2009

Org: Gilton Mendes dos Santos

Dos povos em destaque na tabela acima, com exceção dos Ticuna, todos são

habitantes do Alto Rio Negro, região de maior concentração da literatura bibliográfica.

Se, por um lado, como vimos acima, povos como os Yanomami, os Ticuna e os

Tukano contam com um número de referências na casa dos cem, por outro há povos que não

alcançam mais que um dígito, como é o caso dos Makuna, com duas referências, e dos Miriti-

Tapuya, Kanamanti e Hi-Merimã, dentre outros, com apenas dois títulos.

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23

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24

ANÁLISE DA PRODUÇÃO SOBRE AS LÍNGUAS DOS POVOS INDÍGENAS DO

AMAZONAS

Frantomé Bezerra Pacheco

Professor do Departamento de Antropologia da UFAM e pesquisador associado do Museu Amazônico

e do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI/PPGAS)

Introdução

Há, no Estado do Amazonas, 56 línguas ainda faladas, segundo um levantamento

realizado em Rodrigues (1986; cf. tb. Rodrigues 2000; Queixalós & Lescure, 2000). Mas,

atualmente, podemos sustentar que há, a partir dos levantamentos propostos por Moore (2009)

e Rodrigues (2006), entre 50 e 56 línguas indígenas ainda faladas no Estado. A determinação

do número de línguas depende de fatores como: 1) distinção entre línguas e dialetos, como no

caso Baniwa-Kuripako; 2) o alcance de uma língua, que pode se estender além das fronteiras

étnicas, como o Tukano e o Nheengatu; 3) falta de um levantamento sociolinguístico que

verifique quais línguas indígenas os povos indígenas falam, principalmente em situações que

envolvem línguas indígenas em contato (como é caso da região do Nhamundá-Mapuera); 4) a

mobilidade de famílias e pessoas de uma etnia entre as fronteiras políticas e transnacionais.

A maioria dessas línguas conta com alguma produção acadêmica (teses, dissertações,

artigos em periódicos, livros, capítulos, verbetes em enciclopédias) que versam sobre os mais

diversos aspectos da estrutura e uso da língua (Franchetto, 2000). Grande parte dessa

produção se encontra nas bibliotecas digitais disponibilizadas pelas Universidades nas quais a

pesquisa foi realizada, no caso de teses e dissertações. Há várias bibliotecas virtuais em sites

voltados para a discussão da temática indígena, como a etnolinguística (cf.

www.etnolinguistica.org). Trata-se aqui, portanto, de uma explanação sobre a área temática

Línguas Indígenas dentro do Projeto, aqui relatado, intitulado “Amazonas indígena: um

mapeamento das instituições e da produção bibliográfica sobre os povos indígenas do

Estado”, que tinha por objetivo um levantamento da produção bibliográfica e das instituições

que trabalham com os povos indígenas do Estado do Amazonas, bem como a disponibilização

dos dados em formato digital, coordenado pelo Prof. Dr. Gilton Mendes do

PPGAS/NEAI/UFAM. Para que os objetivos do subprojeto dedicado às línguas indígenas

fosse alcançado, pelo menos em suas linhas mais gerais, foram realizadas duas pesquisas de

PIBIC, apresentadas adiante, que procuraram fazer um levantamento da produção

bibliográfica realizada sobre as línguas do Estado, agrupadas geograficamente como línguas

ao Norte e ao Sul da calha do Amazonas-Solimões, que é o grande curso de água que corta ao

meio a Amazônia brasileira. Essas pesquisas procuraram pesquisar essas informações de

25

forma a contemplar os seguintes aspectos: língua, região onde é falada, população aproximada

de falantes, tipo de produção e, quando possível, o impacto no meio acadêmico e entre as

organizações indígenas e não indígenas, atentando-se, igualmente, para as eventuais lacunas

referentes a aspectos da estrutura e uso da língua que podem ser abordados em futuras

pesquisas sobre essas línguas.

Pode-se, afirmar, dessa forma, que os objetivos acima traçados foram em grande parte

alcançados e espera-se que as pesquisas realizadas acerca da produção sobre as línguas

indígenas do Amazonas possam contribuir para a realização de novas pesquisas que

considerem, a partir da produção encontrada no banco de dados, os avanços já obtidos ao

longo dos estudos das línguas em foco.

Situação das línguas indígenas e áreas de grande diversidade linguística no Estado

As línguas indígenas são línguas de minorias étnicas e correm o risco de desaparecer,

pois seu uso é restrito, seus falantes são em número bastante reduzido e só recentemente há

uma política do Estado para a sua revitalização e uso como línguas de instrução e ensino nas

escolas indígenas. A urgência da documentação e descrição dessas línguas é grande e

sustenta-se que a produção científica sobre elas contribua para valorizá-las como línguas de

expressão legítimas dos povos que as falam, para criar políticas de proteção da diversidade

lingüística, além de contribuir para as pesquisas sobre o conhecimento tradicional expresso

através delas, sendo elas próprias uma das formas de conhecimento tradicional.

Conforme foi informado, o número de línguas ainda faladas no Estado do Amazonas

varia entre 50 e 56. E estima-se que houvesse, na época da colonização da Amazônia, pelos

portugueses, pelo menos o dobro disso (Rodrigues, 2000). Entre as línguas que desapareceram

diante do contato com os não-indígenas estão o Baré, o Mura, o Torá e o Kokama. Note-se

que há membros dessas etnias que se identificam como pertencentes a elas, mesmo

empregando uma variedade regional/indígena do português. Ao lado das línguas vinculadas

tradicionalmente às etnias, há a Língua Geral Amazônica (o Nheengatu) que deriva,

historicamente, do Tupinambá e foi adotada como língua franca no período colonial,

estabelecendo a comunicação entre indígenas e não-indígenas, até ser proibida pelo Marquês

de Pombal em 1758 através do “Diretório que se deve observar nas povoações dos índios do

Pará e maranhão”. Atualmente, essa língua é falada ainda no Rio Negro, sendo empregada por

muitos povos como língua de identidade étnica, conforme se observa entre os Baré, cuja

língua tradicional já não é mais falada.

26

A seguir, apresentamos um panorama, baseado no levantamento feito por Moore

(2009), da situação das línguas com relação ao número de falantes, a partir do qual podemos

fazer prognósticos do futuro dessas línguas como formas de comunicação entre os membros

de suas respectivas sociedades.

Entre as línguas indígenas com maior número de falantes no Estado do Amazonas

(acima de 4.000 falantes) estão: Sateré [6.219 falantes, Moore, 2009]; Baniwa [5.811 falantes,

Moore, 2009]; Tikuna [35.000 falantes, Moore, 2009]; Tukano (Ye‟pã-masa) [8.000 falantes,

Moore, 2009]; Yanomami [6.000 falantes]; Yanomam [4.000 falantes]; Língua Geral

Amazônica (Nhenngatu) [6.000 falantes, Moore, 2009].

A maioria das línguas conta com poucos falantes (abaixo de 100 falantes), como os

Bará e Barasana, com 21 e 34 falantes, respectivamente; Makúna (Tukano), com 32?

Falantes; Siriano (Tukano) com 71? falantes; Kawahíb, falado pelos Jiahui e Juma,

respectivamente, com 6 falantes; Kawahíb, falado pelos Parintintin, com 10 falantes; Kaixána

com 1 falante; Korubo com 25 falantes; Kulina (20 falantes); Katukina-kanamari com 30?

Falantes; Warekena do Xié, falado por 20 a 40 falantes. Há outras sobre as quais não se tem

informação, como por exemplo, o Yuriti (Tukano)5.

Acima de 100 falantes (até 1.000), temos as línguas: Yuhup (617 fal.);

Kotíria=Wanano (650 falantes); Tuyuka (825? fal.); Kawahíb (Tenharim) (350 fal.); Paumari

(290 fal.); Katukina-kanamari (Katukina do Rio Biá) (450 fal.); Matis (322 fal.); Kubewa

(150-220 fal.); Katukina (Pano) (404 fal.); Jamamadi (884 fal.), Deni (875 fal.) e Jarawara

(180 fal.). E entre 1.000 e 4.000 falantes, destacam-se as línguas Apurinã (2.000-3.000 fal.);

Hup (1.900 fal.); Kanamari (1.654 fal.); Marúbo (1.252 fal.); Wai-wai e subgrupos

relacionados (2.914 fal.); o Waimiri-Atroarí (1.120 fal.).

Há ainda regiões da Amazônia em que se encontra o multilinguismo, como é o caso do

Noroeste Amazônico, no qual, devido aos casamentos orientados pela exogamia linguística,

há várias línguas convivendo numa comunidade. Como consequência, encontram-se falantes

que dominam três ou mais línguas, que são faladas no cotidiano da sua família (além de

compreender outras línguas faladas na comunidade). Nessa região, têm-se o seguinte quadro

de línguas faladas:

5 A interrogação indica que o número de falantes precisa ser confirmado, sendo incerto ou aproximativo.

27

Tabela 1

Línguas faladas no Noroeste Amazônico separadas por famílias linguísticas

Tukano Aruák Maku Yanomami Tupi-Guarani

Tukano Baniwa Hupda Yanomami Nheengatu

Desana Kuripako Yuhupde

Kubeo Warekena Dow

Wanano Tariano Nadöb

Tuyuca ?Baré Kakwa

Pira-Tapuya Nukak

Arapaso

Karapanã

Bará

Siriano

Makuna

*Tatuyo

*Yuruti

*Barasana

*Taiwano

Obs: Note-se que asterisco indica as línguas faladas além das fronteiras brasileiras.

Investigar essas línguas, numa situação de contato de línguas e poliglotismo, é um dos

desafios da pesquisa acadêmica sobre a cultura e línguas dessa região da Amazônia.

Outras áreas do Amazonas onde se encontra um panorama linguístico bastante

diversificado são:

1) Juruá-Purus: com predominante presença de povos da família Arawá. Vivem

nessa região, igualmente, o povo Apurinã, da família linguística Aruák. As línguas

Arawá apresentam bastante proximidade, conforme se pode ver na comparação lexical

entre elas abaixo esboçada (as setas indicam a direção da leitura/comparação):

Tabela 2

Percentagem de cognatos entre as línguas Arawá a partir da comparação de um léxico

comum

Paumari

50 Madi

34 37 Suruwahá

43 61 34 Kulina-Deni

54 79 53 72 Arawá

Fonte: Dixon (2004: 12)

28

Note-se que o termo Madi inclui o Jarawara, Jamamadi e Banawá. A língua Arawá, do

qual provém o nome da família, está extinta desde século XIX. O contato entre os Jarawara e

os Apurinã influenciou o léxico de ambas as línguas, conforme mostra Dixon (2004: 12-13).

2) Vale da Javari: (Sudoeste do Amazonas): região com numerosos povos da família

Pano (Korubo, Kulina Pano, Marubo, Matis, Matsés), família Katukina (Kanamari,

Tsohom-djapá, Katukina do Biá/Jutaí, Katawixi) e outros 4 povos isolados, possui

uma grande variedade de línguas, sendo algumas bastante próximas, como Matis e

Matsés e outras bem distantes, quando se trata de famílias distintas.

3) Tapajós-Madeira: com concentração elevada de povos do Tronco Tupi (Sateré-

Mawé, Munduruku, Diahui, Parintintin, Tenharim), da família Mura (Mura e

Pirahã), Família Txapakura (Torá), família Aruák (Apurinã), família Katukina

(Kanamari). Note-se que os representantes das três últimas famílias não empregam

mais sua língua tradicional, sendo o caso também dos Mura.

4) Nhamundá-Mapuera: essa área tem uma concentração de povos Karíb, que

habitam terras na fronteira do Amazonas com o Pará. São eles: Hixkaryana,

Kaxuyana, Waiwai e seus subgrupos (Wawai karafawyana, Wawai Mawayana,

Wawai Xerewyana). Não se sabe, com certeza, como é quadro etnolinguístico dessa

região, por ser de difícil acesso e por terem ficado os povos dessa área em relativo

isolamento, devido à presença de missões evangélicas. Muitas das descrições

encontradas foram feitas por missionários do SIL, como as da língua Hixkaryana

(Derbyshire, 1986) e Waiwai (Hawkins, 1990).

5) Alto Solimões: apesar de não ser considerada uma área com numerosas línguas,

nela se encontrar uma das línguas com maior população de falantes, o Tikuna. No

entanto, essa área já abrigou grande diversidade cultural e lingüística conforme se

observa nas numerosas citações ao longo dos estudos e relatos realizados desde o

período colonial (cf. Porro, 1996, para um panorama histórico desses estudos).

Além disso, há poucas informações sobre os subgrupos dialetais do Tikuna, sendo

uma área de investigação que precisa ser enfatizada.

29

Alguns resultados extraídos do Banco bibliográfico - Área temática: Línguas indígenas

A partir de um levantamento no Banco de dados bibliográficos, observa-se que há um

grupo de línguas que conta com poucos estudos como Kubeo (2 artigos e 2 livros); Banawa-

Yafi (3 artigos); Baré (1 artigo e 1 dissertação); Desana (2 livros; 1 artigo); Zuruahá (1 artigo

e 1 relatório); Warekena (1 artigo); Siriano (1 dissertação e 1 artigo), bem como as línguas da

família Makú e Pano, faladas no Estado.

Abaixo, apresentamos uma tabela com o número de produções encontradas no banco

de dados que versam sobre o tema língua, acima de 5 entradas:

Tabela 2

Amostragem das línguas mais investigadas constantes no Banco de Dados Bibliográficos

(BDB) (acima de 5 produções sobre o tema Língua)

Língua Tipo de produção Quantidade

no BDB

Conteúdo das produções

Apurinã 4 livros; 1 tese; 8 artigos; 1

dissertação 14

Descrição gramatical; material didático

Baniwa-

Kuripako

7 livros; 3 artigos; 1 tese 11

Léxico, Discurso, Fonética, Escrita,

Bilinguismo

Deni 5 livros; 2 artigos 7

Léxico, Gramática e alfabetização em

língua indígena

Hixkaryana* 4 livros; 1 artigo 5

Discurso; Gramática; Comparação

Linguística

Jamamadi 2 livros; 4 artigos 6

Discurso; Alfabetização em língua

indígena; Léxico e Gramática

Jarawara 1 livro; 1 tese; 4 artigos; 1

dissertação 7

Fonologia; Léxico; Gramática; Discurso

Kulina 2 artigos; 5 livros 7

Gramática; Discurso; Léxico;

Alfabetização; Notas linguísticas

Matis 2 artigos; 2 dissertações; 2

teses 6

Fonologia; Gramática; Léxico; Notas

linguísticas (etnografia)

Matsé 3 artigos; 1 dissertação; 1 tese 5

Gramática; Léxico; Discurso

Sateré-mawé

(Maués)

3 dissertações; 2 artigos; 6

livros 11

Fonologia; Discurso; Gramática (escrita na

língua); Alfabetização; Notas linguísticas

Munduruku* 4 dissertações; 4 artigos; 3

livros; 1 relatório 12

Gramática; Léxico; Fonologia;

Sociolinguística

Mura-Pirahã 3 dissertações; 5 artigos e 1

livro 8

Fonologia; Gramática; notas linguísticas

Paumari 15 livros; 8 artigos. 23

Léxico; Alfabetização; Gramática

Tariana 3 livros; 2 artigos; 1

dissertação 6

Léxico; Discurso;

Tikuna 11 artigos; 7 livros; 2 teses; 1

relatório 21

Fonologia; Gramática; Discurso; Notas

linguísticas

Tukano 13 livros; 6 artigos; 1

relatório; 2 dissertações;

22 Gramática; Fonologia; Discurso;

Alfabetização; Notas linguísticas

Wai-Wai* 4 livros; 2 artigos; 1 relatório 7 Fonologia; Morfologia; Léxico; Gramática;

Alfabetização

Wanano 2 teses; 4 artigos 6 Fonologia; Gramática; Multilinguismo

Yanomami 14 livros; 3 relatórios; 5

artigos

22 Gramática; Fonologia; Léxico;

Alfabetização; Notas linguísticas

Nota: *línguas faladas na fronteira do Amazonas com Pará.

30

Será necessário, portanto, continuar alimentando o banco de dados de forma a

adicionar no rol de produções linguísticas aquelas referências que ficaram de fora, bem como

relacionar a produção linguística com a área em que são faladas as línguas. Certamente, o

projeto Amazonas Indígena e sua área temática “Línguas Indígenas”, que resultou no banco

de dados das produções linguísticas e apresentou resultados acadêmicos, como a formação de

quadros de pesquisadores iniciantes nas áreas temáticas com as quais trabalharam, precisará

de continuidade, pois as questões que suscitou precisarão ser aprofundadas através de

pesquisas específicas não apenas sobre a produção, mas acerca dos temas das produções sobre

as línguas amazônicas.

Pesquisas vinculadas ao Projeto Amazonas Indígena

Do ponto de vista da produção que tomou por base o projeto, trabalhando com o tema

língua indígena, houve dois PIBICs, realizados por Aquiles Santos Pinheiro e Erick Marcelo

Lima de Souza, sendo que ambos se encontram no mestrado (o primeiro iniciou seu curso no

PPGAS/UFAM em 2009 e o segundo iniciando seu curso no DL/IEL/UNICAMP em 2010).

Atualmente, há um aluno de PIBIC, André da Silva Leocádio, trabalhando com a produção

sobre os Baniwa, em particular sobre o tema língua, mostrando que o projeto continua a

abrigar novos pesquisadores iniciantes, que contribuem para a alimentação do banco de dados

e são beneficiados pelas informações nele constantes. Assim, cada vez mais as informações

são rediscutidas e aprofundadas através de pesquisadores que se interessam pela temática

indígena e buscam no banco de dados suporte confiável para suas pesquisas. Abaixo, seguem

os relatos acerca do desenvolvimento dos dois projetos de PIBIC já concluídos.

31

LEVANTAMENTO DA PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFIOCA SOBRE AS LÍNGUAS

INDÍGENAS FALADAS AO SUL DO ESTADO DO AMAZONAS

Aquiles Santos Pinheiro

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFAM

Introdução

O projeto intitulado “Levantamento das Línguas Indígenas faladas ao sul do

Amazonas” teve como objetivo principal, coletar e sistematizar o maior número possível de

informações sobre: a) o número de falantes de cada língua indígena; b) o tipo de produção

bibliográfica existente e; c) o impacto dessas produções no meio acadêmico e nas

organizações indígenas e não-indígenas. Como um desdobramento do objetivo geral,

pretendeu-se ainda expor as eventuais lacunas referentes a aspectos da estrutura e do uso

prático (pragmático) das línguas indígenas, os quais, se preenchidos, poderiam ser

investigados em pesquisas futuras. Os dados obtidos nesta pesquisa estão alocados no banco

de dados do projeto Amazonas Indígena, podendo ser acessados por toda a comunidade

acadêmica no site: www.neai.ufam.edu.br.

A realização desta pesquisa se justifica pelo fato de que a região amazônica apresenta

um grande número de línguas indígenas e que, apesar disso, pouco tem se desenvolvido em

pesquisa científica na área de antropologia linguística. Assim sendo, do ponto de vista da

investigação e produção do conhecimento científico, a realização dessa pesquisa revela-se da

maior importância. Em primeiro lugar, porque o levantamento e a sistematização de dados

bibliográficos são imprescindíveis à realização de qualquer pesquisa, pois a bibliografia é a

fonte de consulta que propicia uma visão geral dos trabalhos desenvolvidos sobre qualquer

tema. Nesse sentido, essa pesquisa se propôs a coletar e reunir o maior número possível de

informações sobre a produção bibliográfica existente sobre as línguas indígenas faladas no

Sul do estado do Amazonas e, em seguida, sistematizá-las e alocá-las num banco de dados

que seja fosse capaz de mostrar a situação atual de cada grupo indígena localizado no estado

do Amazonas.

No que se refere à produção bibliográfica sobre os grupos indígenas do Estado do

Amazonas, ela se reveste de maior importância, quando se constata, na literatura existente,

pelo menos duas dificuldades: a primeira, é que ainda há muitas lacunas sobre aspectos

importantes relativos à língua e a cultura dos povos indígenas do Amazonas; a segunda, é que

grande parte desta produção se encontra dispersa e, não raro, o acesso a ela é dificultado ou

restrito a um público especializado. Por exemplo, quando se procuram informações sobre

32

determinados grupos linguísticos, encontram-se lacunas com relação à pelo menos quatro

aspectos: (i) quantas e quais línguas são faladas; (ii) o número de falantes dessas línguas; (iii)

situação sociolingüística e de bilinguismo da comunidade de falantes e (iv) quais aspectos da

estrutura e uso da língua foram investigados e publicados por pesquisadores ou por programas

de educação escolar indígena e entidades que lidam com a questão indígena, incluindo-se aí,

as organizações e os movimentos indígenas. Nesse sentido, vale ressaltar que para se

estabelecer uma política linguística no Estado ou incrementar programas de educação para os

povos indígenas, é fundamental que se disponha do maior número de informações possíveis,

tendo em vista a orientação das ações do Estado, bem com das organizações indígenas e não-

indígenas.

No que se refere à pesquisa na área das Ciências Humanas, um diagnóstico básico,

contemplando, minimamente, um dos itens acima, é fundamental e estratégico, pois do

contrário, corre-se o risco de propor pesquisas desconectadas da realidade dos grupos étnicos

ou povos investigados. Além disso, mesmo em outras áreas das Ciências, essas informações

básicas são imprescindíveis ao planejamento da pesquisa, bem como à prevenção de seus

impactos sobre os povos desta região.

Portanto, quaisquer iniciativas no sentido de reunir o que existe, em termos de

produção bibliográfica sobre grupos indígenas tendo em vista o estudo científico da língua,

cultura e outras particularidades materiais e simbólicas desses povos, representam, sem

dúvida, um esforço considerável e de grande relevância para pesquisadores em geral, visto

que poupa tempo e esforço empregado na procura pela produção bibliográfica existente.

Nesse sentido, as ações empreendidas nesta pesquisa em conjunto com os alunos e

professores pesquisadores dos outros projetos que cooperam com o projeto “AMAZONAS

INDÍGENA”, do NÚCLEO DE ESTUDOS DA AMAZÔNIA INDÍGENA (NEAI) vem facilitar a árdua

primeira tarefa do pesquisador em línguas indígenas brasileiras, bem como em outras áreas

das ciências.

Em sua constituição, o Brasil mostra uma surpreendente sociodiversidade étnica,

cultural e linguística, com aproximadamente 206 etnias e 180 línguas indígenas, das quais

mais de 70% encontram-se na região Amazônica. Mais recentemente, Melatti (2006)

contabiliza um total de 160 línguas a partir dos levantamentos realizados por Rodrigues

(1986). Das cerca de 400 línguas indígenas faladas na América Latina, quase 50% são

próprias aos povos indígenas brasileiros. Entretanto, por apresentarem uma distribuição de

poucos falantes por língua, tais sociedades são definidas como minorias étnicas e linguísticas

(Monte, 2000 Apud Queixalós; Renault-Lescure, 2000).

33

De acordo com Adelaar (2000 apud Queixalós; Renault-Lescure, 2000), a perda da

diversidade linguística tem preocupado não só os linguistas, mas também os próprios

membros das comunidades cujas línguas estão ameaçadas, principalmente porque o

desaparecimento de uma língua acarreta na perda de grande parte da cultura de um povo.

Nesse sentido, Krauss (1992 apud Renault-Lescure, 2000), afirma que aproximadamente 95%

das línguas do mundo estão ameaçadas e considera que a extinção de uma língua é iminente e

inevitável no momento em que a língua deixa de ser ensinada as crianças ou quando estas

deixam de utilizá-la no seu quotidiano.

Diante desse cenário nada promissor, é de vital importância todo e qualquer esforço

que se oriente no sentido de registrar e estudar aspectos das culturas e das línguas ainda

faladas pelos povos indígenas da Amazônia. Inúmeros estudos têm sido realizados e muitos

outros ainda estão em curso, objetivando a compreensão de aspectos importantes sobre o

modo de vida desses povos. Nesse sentido, muitos estudos linguísticos têm sido realizados

junto a estes povos, resultando na produção de um conhecimento que pode e deve ser

revertido em prol dos interesses das comunidades indígenas em suas relações com os não-

indígenas e o Estado brasileiro (cf. Queixalós; Renault-Lescure, 2000).

Metodologia

A metodologia utilizada na execução da pesquisa baseia-se na que foi proposta no

projeto mais amplo, intitulado “Amazonas Indígena: um mapeamento das instituições e da

produção bibliográfica sobre os povos indígenas do estado do Amazonas”, coordenado pelo

Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI). Entretanto, deve-se ressaltar que a

pesquisa mais especifica, ou seja, a que tem a ver mais diretamente com aspectos linguísticos,

adotou, em sua execução - com algumas mudanças e/ou adequações - procedimentos

metodológicos próprios, tendo em vista o alcance dos objetivos predefinidos no projeto mais

específico, intitulado “Levantamento da Produção Bibliográfica sobre as Línguas Indígenas

faladas no sul do estado do Amazonas”, coordenado pelo Prof. Dr. Frantomé Bezerra Pacheco

e executada pelos alunos-bolsistas (CNPq): Aquiles Santos Pinheiro e Erick Marcelo Lima de

Souza.

De acordo com a metodologia indicada no projeto de maior alcance supramencionado,

todas as informações recolhidas deveriam ser compartilhadas nas fases finais da pesquisa com

os outros pesquisadores para busca de interesses afins. Essa busca de dados foi realizada, num

primeiro momento, nas bibliotecas e centro de documentações das universidades públicas e

privadas, bem como em museus, secretaria de cultura, bibliotecas públicas localizadas na

cidade de Manaus. Numa segunda etapa, se pretendia ampliar a pesquisa para outras capitais

34

brasileiras. Além disso, o projeto previa a realização de pesquisa em bancos de teses e

dissertações das bibliotecas virtuais de universidades brasileiras ou disponíveis por qualquer

outro meio eletrônico, como em endereços eletrônicos da rede mundial de computadores.

Para o alcance deste objetivo, elaborou-se uma ficha única, de natureza genérica para

ser utilizada em todos os subprojetos, onde estão sendo registradas todas as informações

referentes aos trabalhos encontrados nas bibliotecas públicas e privadas. Estas informações,

depois de sistematizadas foram inseridas no banco de dados idealizado e construído na

plataforma Acess, especialmente para este projeto. O arranjo ou estrutura do banco foi

construído de modo a permitir o cruzamento de informações e fornecimento de dados

quantitativos, isto é, a matéria-prima para futuras análises etnológicas e linguísticas.

Quanto às informações de interesse de cada projeto em particular, foram registradas

em fichas especialmente elaboradas pelos professores orientadores e seus orientandos, de

acordo os objetivos pré-estabelecidos no projeto maior e os demais projetos abrigados por ele,

bem como para atender o interesse de cada linha de pesquisa nas respectivas áreas e de acordo

com o objeto de investigação científica de interesse dos alunos bolsistas.

Para esse projeto, cujo objeto de estudo é a situação sociolinguística, a ficha mais

específica foi elaborada de modo a que se pudesse registrar nela, informações tais como:

tipo do material; nome do pesquisador; instituição; identidade étnica; localização do grupo

étnico; síntese do trabalho científico; data de publicação; conteúdo do trabalho científico;

bem como, outras informações mais pertinentes e específicas da área de linguística e

etnolinguística.

Note-se ainda que todos os dados recolhidos e inseridos no banco de dados foram

utilizados na formação do Sistema de Informações Geográficas (SIG), possibilitando,

dessa maneira, disponibilizar essas informações com maior praticidade, e com a vantagem

de relacionar cartografia e textos (cartas-imagens). Ou seja, este sistema possibilitou a

produção de um mapa virtual interativo, onde se podem obter informações sobre as

particularidades de cada povo indígena localizado em quaisquer regiões do estado do

Amazonas.

Depois de inseridos no banco de dados, todo esse conjunto de informações estará

disponível (online) ao público acadêmico e não-acadêmico para pesquisas e consultas, e

fazem parte do acervo da UFAM, do NEAI e do Museu Amazônico, e servindo,

principalmente, como fonte de pesquisa para os professores do Departamento de

Antropologia e do Instituto de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal do

Amazonas (ICHL/UFAM). Além de disponibilizar um roteiro das fontes para o estudo das

35

línguas indígenas ao Norte do estado, tais informações poderão servir para subsidiar

trabalhos de pesquisa em outras áreas do conhecimento do referido instituto e demais

unidades educacionais da UFAM.

Durante as etapas de execução do projeto foram realizadas as seguintes atividades:

1. Elaboração de lista de línguas com informações gerais sobre o povo, seguindo-se

Rodrigues (1986), Ricardo e Ricardo (2006) e outros autores que deverão ser

pesquisados durante o desenvolvimento do projeto.

2. Levantamento da produção bibliográfica sobre as línguas indígenas disponível nas

bibliotecas e arquivos de Manaus.

3. Levantamento da produção bibliográfica disponível na Internet, com informações

sobre o lugar onde esse material está localizado.

4. Organização dos dados obtidos por categoria e relacionados aos obtidos pelos

demais pesquisadores.

A organização dos dados foi orientada, prioritariamente, pelo mapeamento de Terras e

Povos Indígenas apresentado na última edição do livro “Povos Indígenas no Brasil”,

publicado pelo Instituto Socioambiental (cf. RICARDO & RICARDO, 2006) e

disponibilizado no site www.sociambiental.org, que tem atuado como parceiro do Núcleo de

Estudos da Amazônia Indígena (NEAI) num importante intercâmbio de informações e

também por ser uma das principais fontes de informação no que se refere à questão indígena.

Atividades desenvolvidas no decorrer da pesquisa

O desenvolvimento da pesquisa ocorreu de acordo com o estava previsto no

cronograma de atividades. Durante o mês de agosto de 2007 me concentrei na elaboração de

uma lista das línguas ainda faladas pelos povos indígenas localizados no sul do estado do

Amazonas. Para tanto, utilizei como referência, entre outras, as obras de Aryon Rodrigues

(1986; 2000), Ricardo e Ricardo (2006), o banco de dados do ISA. Neste período, participei

ainda de duas reuniões de planejamento e treinamento para uso das fichas, tanto a ficha

genérica como a mais específica, correspondentes, respectivamente ao projeto de maior

alcance do NEAI, bem como ao projeto mais especifico.

A primeira reunião foi coordenada pelo professor doutor Frantomé Bezerra

Pacheco, que elaborou a ficha mais específica utilizada no levantamento bibliográfico

mais específico, isto é, que trata de questões relacionadas à linguística (fonologia,

morfologia, sintaxe, texto-discurso etc.). Nesta reunião, ficou decidido que utilizaríamos

esta ficha em caráter experimental, para verificar a sua funcionalidade e possíveis

36

limitações, e caso fosse necessário, faríamos os ajustes necessários. Entretanto, na prática,

esta ficha não foi utilizada, pois se priorizou o uso da ficha mais genérica.

Fomos orientados ainda a fazer uma revisão bibliográfica nas obras pertinentes às

línguas amazônicas, sendo sugerida a leitura da obra “As Línguas Amazônicas Hoje” de

autoria de F. Queixalós e Renault-Lescure et al., (2000), bem como as obras indicadas na

bibliografia do plano de curso da disciplina: “Tópicos Especiais em Antropologia: relação

língua, cultura e identidade” (IHS 388), da qual havíamos participado no 1o semestre de

2007. Tais leituras foram indicadas para que pudéssemos ter uma visão mais ampla sobre

o estado da arte na literatura mais atualizada sobre este tema.

A segunda reunião, ainda no mês de agosto de 2007, foi dirigida pelo professor

doutor Gilton Mendes dos Santos, coordenador do projeto mais amplo denominado

“Amazonas Indígena: um mapeamento das instituições e da produção bibliográfica sobre os

povos indígenas do estado do Amazonas” ao qual este projeto está vinculado. Nesta reunião

fomos esclarecidos sobre os objetivos do referido projeto, sobre a sua área de abrangência

e os possíveis desdobramentos da pesquisa, bem como os deveres e responsabilidades de

cada membro da equipe (professores e alunos-bolsistas). Na ocasião, recebemos o modelo

de ficha que seria utilizada no levantamento da produção bibliográfica sobre os povos

indígenas do Amazonas, a qual, segundo o professor Gilton Mendes já havia sido testada e

produzido resultados satisfatórios. Tal ficha foi elaborada tendo em vista o registro das

informações necessárias à identificação e localização institucional da produção

bibliográfica sobre os povos indígenas do Amazonas, contendo informações, tais como

título da obra, autor, tipo de trabalho, local, editora, ano da edição, palavras chave,

localização institucional, resumo do conteúdo, entre outras.

Ainda nesta oportunidade, nos foi entregue uma lista com os nomes e endereços

das instituições que deveriam ser visitadas pelos alunos bolsistas encarregados de realizar

o levantamento bibliográfico. Em seguida, a equipe foi dividida em quatro duplas, sendo

que, para cada dupla foram designados um ou mais setores. Ficou decidido ainda, que

iniciaríamos a pesquisa pela biblioteca setorial norte e salas de documentação da

Universidade Federal do Amazonas (UFAM), seguida do Museu Amazônico (MUSA),

Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e

demais instituições públicas e privadas que porventura tivessem em suas bibliotecas, obras

acerca dos povos indígenas do Amazonas.

Ainda no mes de agosto de 2007, iniciei o levantamento bibliográfico na biblioteca

setorial-norte da Ufam, e salas de documentação, onde consegui preencher 48 fichas

37

referentes a teses e monografias sobre os povos indígenas do Amazonas, todos localizados

na biblioteca da Ufam. Participei ainda, de um mutirão de limpeza do local (Pólo

Avançado da Faculdade de Direito da Ufam) que até o presente tem servindo de sede do

Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI), bem como auxiliei na instalação dos

equipamentos (computadores, impressoras, scanners, nobreaks, mesas, armários etc.)

destinados à instalação do banco de dados.

Nos meses de setembro e outubro de 2007, prossegui com o levantamento

bibliográfico e também com as leituras e fichamentos dos textos recomendados pelo

professor orientador, Prof. Dr. Frantomé B. Pacheco, tendo em vista a análise posterior do

material coletado, particularmente os trabalhos pertinentes aos aspectos linguísticos do

complexo linguístico dos povos amazônicos localizados no sul do estado do Amazonas.

No mês de novembro de 2007, participei de duas reuniões para orientação da

apresentação do PIBIC. Uma delas coordenadas pelo Prof. Dr. Gilton Mendes onde tive a

oportunidade de fazer um ensaio prévio da apresentação de slides (ppt) com informações

sobre o andamento da pesquisa, em preparação para a avaliação parcial do PIBIC. A outra

reunião foi coordenada pelo professor orientador, doutor Frantomé B. Pacheco, com o

objetivo de fazer as últimas correções e ajustes finais no conteúdo dos slides para a

apresentação oral dos resultados parciais da pesquisa (PIB - H - 057/2008). No dia 9 de

novembro de 2007, fiz a defesa oral do projeto no auditório Rio Negro do ICHL/UFAM.

De 3 a 7 de dezembro de 2007, participei da conferência “A Estrutura das Línguas

Amazônicas: fonologia e gramática”, onde tive a oportunidade de assistir a apresentação de

vários trabalhos científicos sobre linguística, bem como apresentei um painel (banner) com

um resumo dos resultados parciais do projeto.

No mês de janeiro de 2008, me ocupei em realizar uma busca na Internet; nos bancos

de teses de várias universidades brasileiras, com a finalidade de levantar a produção

bibliográfica sobre as línguas indígenas do Sul do estado do Amazonas.

No mes de fevereiro de 2008, pesquisei a biblioteca da Universidade Luterana (ULBRA),

onde levantei um total de (12) doze trabalhos. Ainda neste mês, participei de duas reuniões de

avaliação do andamento da pesquisa. Nessa reunião, decidiu-se colocar como meta, a finalização

da pesquisa nas universidades privadas até o final de Março de 2008.

Durante todo o mes de Março de 2008, concentrei meus esforços em pesquisar as

universidades particulares: Uniniltonlins, Ciesa, Uninorte e Faculdade Salesiana Dom Bosco.

Entretanto, só consegui realizar a pesquisa na Faculdade Salesiana Dom Bosco, onde

38

consegui levantar (oito) 8 trabalhos. Portanto, não me foi possível concluir a pesquisa nas

demais instituições, conforme ficou estabelecido na última reunião realizada no mes anterior.

No mes de Abril de 2008, conclui a pesquisa na Faculdade Salesiana Dom Bosco e em

seguida fui pesquisar no setor de documentação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI),

onde consegui levantar um total de (16) dezesseis trabalhos.

Durante o mes de Maio de 2008, fiz mais duas visitas ao CIMI, catalogando mais

quatro (04) trabalhos sobre linguística. No corrente mês, estive empenhado em separar e

sistematizar os dados obtidos na pesquisa, tendo em vista a elaboração do relatório parcial que

deveria ser entregue ao NEAI.

Resultados

Nesta seção apresentarei os resultados do levantamento da produção bibliográfica das

línguas indígenas faladas no Sul do estado do Amazonas. Objetivando uma melhor divisão do

trabalho de coleta de dados e distribuição dos resultados obtidos, decidimos dividir o estado

do Amazonas em duas grandes áreas tomando como referência o curso do rio Solimões em

toda a sua extensão; ficando uma grande área ao norte e outra ao sul do curso do rio,

conforme exemplificado no mapa da figura seguinte.

Figura 1

Mapa do Estado do Amazonas

39

Essas duas grandes áreas foram ainda subdivididas a partir das “Áreas Etnográficas”

propostas por Melatti (2007), assinaladas pelo tracejado sobreposto ao mapa do estado do

Amazonas, conforme observado na figura seguinte.

Figura 2

Áreas Etnográficas no Estado do Amazonas

Os números dentro do tracejado indicam as “áreas etnográficas” formuladas por

Melatti (2007) enquanto que as letras indicam subáreas ou subdivisões das áreas etnográficas.

Observa-se que na área 3 (Solimões) que corresponde ao Sul do estado do Amazonas, estão

localizadas as subáreas a, onde estão localizados grupos indígenas que falam a língua Tikuna,

considerada “isolada”, ou seja, não classificada em um tronco linguístico específico. Na

subárea b, se encontram os Uitotos, Cambebas (língua mista) e os Miranhas (da família

Bora), bem como os Maiouruna, da família linguística Pano.

Na área 4, estão as subáreas a, b e c, onde predominam os grupos falantes de línguas

da família linguística Pano; matis, matsés, maias, marubos e corubos, bem como outros

grupos que não são da família Pano e são mais numerosos na área. São eles, os canamaris da

família linguística Katukina e culinas, da família linguística Arawá.

Na área 5 (haxuriada), estão as subáreas a, no curso inferior do Juruá, onde

predominam os culinas, da família Arawá, que também estão presentes em outros locais,

como no curso médio do mesmo rio ainda na área 4. Na subárea b, no curso médio do mesmo

rio estão os canamaris, que também vivem na área 4. Na subárea c, vivem os apurinãs que

40

também se fazem presente à jusante, ao longo do curso do rio Purus. Na subárea d, vivem

grupos menos dispersos: denis, zuruahás, jarauaras, canamantis, banauás, todos pertencentes

à família linguística Arawá. Na área e, estão os paumaris também da família linguística

Arawá.

Na área 6, correspondente à Amazônia Centro-Meridional, estão as subáreas d, onde

estão os maués,da família linguística Mawé, na fronteira do Pará com o Amazonas. Na

subárea e, estão localizados os mura da família linguística do mesmo nome. Na subárea f,

encontram-se os cauaíbas, representados por seus ramos: os thenharins e parintitintins

pertencentes ao tronco Tupi-Guarani, situados no estado do Amazonas; e os caripunas e

urueu-uau-uau do tronco Tupi, localizados em Rondônia.

Na subárea g, estão os uáris, da família linguística txapacura. Estão divididos em

vários grupos regionais, agrupados em diferentes postos indígenas. Na subárea h, no baixo

Guaporé, há ainda vários pequenos grupos de distintas famílias do tronco linguístico tupi que

vivem em dois postos da Funai, mas se mantêm como grupos autônomos: tupari, macurap,

uaioró, canoê, mequém, aruá.

Observe-se que, muito embora as áreas etnográficas de Melatti (2007) possam servir

como ferramenta teórico-metodológica importante para se compreender melhor o complexo

cultural e lingüístico dos povos nativos da Amazônia, há, contudo, limitações nessa

proposição, por exemplo, no caso da área 1, que deixa de fora uma grande extensão

geográfica, onde, historicamente, viveram e ainda vivem inúmeros povos indígenas em

intenso intercâmbio cultural tanto com outras etnias como com a sociedade envolvente. Por

essa razão é de se perguntar por que essa grande área não foi contemplada na área etnográfica

nº. 1, de Melatti.

Tabela 1

Tronco Linguístico Tupi

Família

Linguística

Língua Nº.

de Falantes

Povo Localização

1 Língua mista Kokáma (Omágua,

Cambeba)

0 (BR) Kokáma Sul

(Solimões)

2 Mawé Mawé (Sateré, Sateré-Mawé) 8.378 / N Sateré-

Mawé

Sul

3 Mundurukú Mundurukú 10.065 Mundurucu Sul

4 Diahói (Diarroi) 88 Diahói Sul

5 Juma 5 Sul

Tupi-Guarani Nheengatú 10.000 Baré Norte

6 Parintin 284 Sul

7 Tenharim 699 Sul

41

Segundo Rodrigues (2002), as línguas do mundo são classificadas em famílias

segundo um critério genético (aqui compreendido no sentido de gênese ou origem). De acordo

com esse critério, uma família linguística é um grupo de línguas para as quais se formula a

hipótese de que tem uma origem comum, no sentido de que todas as línguas da família são

manifestações diversas – modificadas no correr do tempo –, de uma única língua anterior.

O conhecimento dessas línguas é obtido mediante estudos histórico-comparativos, a

partir de correspondências regulares de sons, palavras e formas gramaticais entre duas ou

mais línguas. Tais comparações possibilitam a formulação de hipóteses sobre as propriedades

que deveriam ter a língua ancestral, permitindo explicar, com certo grau de precisão, a

derivação diferenciada das línguas atuais.

Tomando por base esse critério listamos na tabela 2, as famílias linguísticas

classificadas no tronco linguístico Tupi. As línguas Kokáma (Omágua/Cambeba), são

consideradas língua mista, porém, não há mais falantes dessas línguas. Os cambeba,

descendentes dos Omágua, falam o Nheengatu. Temos ainda no tronco linguístico Tupi, as

famílias linguísticas Mawé, Munduruku e Tupi-Guarani. Na tabela seguinte, listamos as

famílias não agrupadas em troncos linguísticos: Aruák, Bora, Karíb, Katukína, Makú, Mura,

Pano, Tikúna, Tukano, Txapakúra e Yanomámi.

42

Tabela 2

Famílias linguísticas não agrupadas em troncos

Família Linguística Língua Nº. de falantes Povo Localização

Arawá

Banawá

Dení

Jamamadí (Kanamantí)

Jarawára

Kulína (Madihá)

Paumarí

Zuruahá

Apurinã (Ipurinã)

Baniwa do Içana

101

875

884

175

2.537

892

144

3.256

5.811

Paumarí

Sul

Sul

Sul

Sul

Sul

Sul

Sul

Sul

Norte

Aruák

Kámpa (Axáninka)

Kuripáco

Maxinéri (Manchineri)

969 (BR)

1.332

937

Sul

Norte

Sul

Aruák

Tariána

Warekéna

55

805 (BR)

Norte

Norte

Bora

Miranha

Hixkaryána

836

631

Norte

Norte

Karíb

Waimirí (Waimirí-Atroarí)

Waiwái

Kanamarí

1.120

2.805

1.654

Norte

Norte

Sul

Katukína

Katawixí

Katukína

Txunhuã-djapá (Tsohom-djapá)

Dâw (Kamã)

?

550

100

94

Sul

Sul

Sul

Norte

Makú

Húpda

Nadêb

Yuhúp

1.431?

300?

400?

Norte

Norte

Norte

Mura

Mura

Pirahã

Amawáka

Katukína

?

389

220?

404

Sul

Sul

Sul

Sul

Pano

Kaxarari

Kulíno (Kulína)

Marúbo

Matsés

323

125

1.252

1.592 (BR)

Sul

Sul

Sul

Sul

Tikúna Tikúna(Tukúna) 30.0000 (BR) Norte/Sul

Tukano

Arapáso

Bará

Barasána

Desána

Juriti

Karapanã

Kubéwa (kubéo)

Mirití-Tapúya

Pirá-Tapúya

Siriána

Tukáno (Ye‟pa-masã)

Tuyúka

Wanána

569

21

34 (BR)

2.204 (BR)

35?

1 (BR)

381 (BR)

75

1.438 (BR)

71 (BR)

6.241 (BR)

925 (BR)

735 (BR)

Arapaso

Tariana,

Tuyuka

Norte

Norte

Norte

Norte

Norte

Norte

Norte

Norte

Norte

Norte

Norte

Norte

Norte

Txapakúra Tora 51 Sul

Yanomámi Yanomámi (Ninám, Sanumá,

Yanomám, Yanomámi)

15.682 (BR) Norte

43

Tabela 3

Resultados parciais da produção bibliográfica sobre as línguas indígenas dos povos

indígenas faladas ao sul do estado do Amazonas

Tipo de Publicação Nº de Titulos %

Artigo 55 35

Livro 71 44

Dissertação 14 9

Tese 3 2

Relatório 6 4

Monografia 2 1

PIBIC 5 3

Cd-Rom 1 1

Jornal 1 1

Total 158 100

Gráfico 1

Percentual da produção bibliográfica sobre as línguas indígenas dos povos indígenas faladas ao

sul do estado do Amazonas

44%

35%

3%

1%

1%4%

2%

9%

1%Artigo

Livro

Dissertação

Tese

Relatório

Monografia

PIBIC

Cd-Rom

Jornal

Fonte: Banco de dados bibliográficos (plataforma Acess). Dados acessados até o dia 30/04/2008.

De todo o volume de produção bibliográfica sobre línguas indígenas faladas ao sul do

estado do Amazonas, considerando-se os dados reunidos, até o momento, pelo banco de dados

bibliográficos, a maior incidência recai sobre livros, com um percentual de 44%, seguida de

artigos científicos, com 35% e dissertações com 9%. Os demais índices variam de 1 a 4% e

estão distribuídos entre teses (2%) monografias (1%), relatórios de PIBICs, (3%) jornais e

44

CD-ROM com 1% cada. Note-se, entretanto, que estes números correspondem aos dados

inseridos no banco de dados até o dia 30 de abril de 2008, quando o trabalho de alimentação

do banco de dados foi interrompido para que os alunos bolsistas pudessem se dedicar à

elaboração do presente relatório. Posteriormente a essa data, encontramos, em sites

eletrônicos, um volume muito grande de bibliografias que foram acrescentadas as já existentes

no banco de dados do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI).

Figura 3

Mapa da Produção Bibliográfica sobre línguas Indígenas no Estado do Amazonas

Fonte: ISA, 2007. (Org. Rogério Marinho, 2008)

Os círculos verdes no mapa indicam que há maior incidência de produção

bibliográfica no Purus, com um total de 175 obras, das quais 76 versam sobre aspectos

linguísticos. A segunda maior concentração de produção bibliográfica é na região do rio

madeira, com 115 obras, dos quais 30 tratam do tema “Língua”. E em seguida vêm as regiões

dos vales do Juruá e Javari; a primeira com 73 títulos, onde somente 15 tocam na questão da

língua; a segunda com 71 títulos, dos quais 23 são dedicados a esse tema.

Acrescente-se que para além dos resultados já mencionados, outro resultado indireto

gerado a partir do trabalho de coleta e análise de dados para o banco de dados bibliográficos,

foi que em decorrência de minha participação neste empreendimento e, por sugestão do

comitê de avaliação parcial do PIBIC, resolvi analisar mais especificamente a produção

45

bibliográfica existente sobre a família linguística Pano, com vistas à realização de um estudo

sociolinguístico contemplando os seguintes aspectos: a) organização social e parentesco; b)

população; c) situação de bilinguismo e; d) graus de contato interétnico.

Com base na pesquisa preliminar tomando como base os dados do banco de dados

bibliográficos, avaliou-se que a realização desta pesquisa se fazia necessária e era bastante

oportuna, principalmente porque o grupo indígena em questão (matis) vive em uma região

ainda insuficientemente investigada do ponto de vista da produção do conhecimento

científico, principalmente no tocante a questão etnolinguística. No âmbito dessas questões, os

seguintes objetivos foram estabelecidos: (a) listar vocábulos e terminologias de parentesco

dos matis; (b) analisar os sistemas terminológicos e comparar os termos (ou vocábulos) de

parentesco; (c) identificar no sistema terminológico, o padrão de trocas matrimoniais;

prescrições, interdições e preferências.

A pesquisa foi desenvolvida a partir da leitura e reflexão de dados recolhidos de

etnografias sobre o povo matis referenciados no banco do NEAI, conforme apresentado na

tabela n. 4. Esta pesquisa resultou na elaboração do meu trabalho de conclusão de curso

(TCC) com o qual obtive a graduação em Ciências Sociais em dezembro de 2008, e me

permitiu ingressar no Mestrado em Antropologia Social do Programa de Pós-Graduação em

Antropologia Social (PPGAS/UFAM), onde atualmente estou desenvolvendo uma pesquisa

sobre a Língua Geral Amazônica (Nheengatu) e Identidade Étnica, em Santa Izabel do Rio

Negro.

Tabela 4

Resultados da produção bibliográfica sobre as línguas da família linguística Pano

TIPO POVO CONTEUDO AUTOR TITULO DATA

Artigo Marubo Língua Raquel Guimarães

Romankevicius Costa

Case marking in Marubo

(Panoan) : a diachronic

approach

2000

Artigo Marubo Língua Raquel Guimarães

Romankevicius Costa

A expressão da posse em

Marubo e Matsés (Pano)

2005

Artigo Matis Língua Philippe Erikson La griffe des aieux : marquage

du corps et demarquages

ethniques chez les Matis

d'Amazone

1996

Artigo Matis Língua Centro de Trabalho

Indigenista

Escola Matis 2002

Artigo Matsé Língua Carmen Teresa Dorigo Ergatividade cincida em

Matsés (Pano)

2002

Artigo Matsé Língua David William Fleck Under differentiated tax and

sub lexical categorization :an

example from Matses

classification of bats.

2002

46

Continuação da Tabela 4

Tabela 5

Resultados da produção bibliográfica refrente aos povos da família linguística Pano

TIPO POVO CONTEUDO AUTOR TITULO DATA

Artigo

Matsé,

Maioruna

Língua Fidelis de Alviano Ensaios da língua dos índios

magironas ou maiorunas do

rio Jandiatuba (Alto

Solimões)

1957

Disser.

Marubo Língua Raquel Guimarães

Romankevicius Costa

Padrões rítmicos e marcação

de caso em Marubo

1992

`

Disser.

Matis Língua Vitória R. Spanhero

Ferreira

Língua Matis (Pano): uma

análise fonológica

2000

Disser. Matis Língua Rogério Vicente

Ferreira

Língua Matis :aspectos

descritivos da morfossintaxe

2001

Disser. Matsé Língua Carmem Tereza Dorigo

de Carvalho

A decodificação da estrutura

frasal em matsés

1992

Disser. Jaminawa,

Yawanawa,

Kaxarari,

Kaxinawa,

Matsés,

Katukina,

Arara,

Shanenawa

e Poyanawa

Língua

Elder José Lanes

Mudança fonológica em

línguas da família pano

2000

Tese Matis Língua Rogério Vicente

Ferreira

Língua Matis (Pano) :uma

descrição gramatical

2005

Tese Matis Língua,

etnohistória

Vitória Regina

Spanhero Ferreira

Estudo lexical da língua Matis

:subsídios para um dicionário

bilíngüe

2005

Tese Matsé Língua David William Fleck A grammar of Matses 2003

GRUPO ÉTNICO N.0 DE ARTIGOS N.

0 DE DISSERTAÇÕES N.

0 DE TESES

Matsé 02 01 01

Matis 02 02 02

Marubo 02 01

Maiorunas 01

Vários grupos 01

TOTAL 07 05 03

47

Considerações finais

O complexo cultural e sociolinguístico das línguas amazônicas impõe aos

pesquisadores das diversas áreas da ciência, inclusive aos linguistas, um enorme desafio. Isto

porque, se, de um lado a quantidade e variedade de línguas e culturas ainda existentes, de

outro lado, muitas dessas línguas se encontram em um estado anêmico, ou seja, correm o risco

de desaparecerem. E o mais grave é que os estudos histórico-comparativos das línguas

amazônicas estão ainda num estágio muito incipiente, pois aspectos quantitativos e

qualitativos ainda carecem de descrição, análise e explicação científica. Tais deficiências ou

lacunas sobre o conhecimento das línguas amazônicas ficam mais evidentes quando

analisamos a quantidade de trabalhos científicos produzidos sobre elas.

Por exemplo, um aspecto que chama a atenção é a dispersão e fragmentação da

literatura sobre as línguas amazônicas, havendo poucas obras sobre os principais aspectos

linguísticos e sociolinguísticos, tais como, as situações de bilinguismo, a atitude dos falantes

em relação à língua tradicional de suas comunidades linguísticas de origem, o impacto

sociolinguístico devido, entre outros fatores, à expansão das fronteiras agrícolas e do

agronegócio no estado do Amazonas.

Acreditamos que este cenário só irá se modificar mais decididamente quando estudos

descritivos e histórico-comparativos se intensificarem e cobrirem a grande maioria das línguas

na região. Isso requer a formação mais sistemática de linguistas interessados na documentação

análise e interpretação dos dados linguísticos. Para que esse processo se acelere é necessário o

esforço conjunto das universidades, organizações governamentais e não-governamentais, bem

como dos movimentos e organizações indígenas, pois um empreendimento dessa envergadura

não pode ser realizado pelo trabalho de um único pesquisador ou entidade isolada, mas requer

ação coletiva coordenada baseada no projeto político-pedagógico e ideológico de cada etnia.

Portanto, quaisquer iniciativas no sentido de reunir o que existe, em termos de

produção bibliográfica sobre grupos indígenas tendo em vista o estudo científico da língua,

cultura e outras particularidades desses povos, representa um esforço considerável e de grande

relevância para pesquisadores em geral, visto que poupa tempo e esforço na medida em que

disponibiliza antecipa a descrição ou qualquer outro estudo científico. Nesse sentido, o

esforço empreendido nesta pesquisa em conjunto com os alunos e professores pesquisadores

dos outros projetos que cooperam com o projeto “Amazonas Indígena...”, do Núcleo de

Estudos da Amazônia Indígena (NEAI) vem facilitar a árdua primeira tarefa do pesquisador

em línguas indígenas brasileiras, bem como em outras áreas das ciências.

48

É com esse espírito de cooperação, que a equipe do NEAI está determinada e

motivada a dar continuidade à consolidação a esta fonte extraordinária e segura de

informações que é o Banco de dados bibliográficos, que muito tem contribuído para o

desenvolvimento das pesquisas sobre as línguas e culturas indígenas do Estado, bem como

poderão ser empregadas pelas organizações indígenas e não-indígenas na elaboração de

projetos de valorização da lingua e cultura dos povos amazônicos, bem como o

desenvolvimento de programas de educação e auto-sustentação política e econômica das

comunidades indígenas.

Referências Bibliográficas

MELATTI, Julio Cezar. Índios do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo -

EDUSP, 2007.

______. Por que áreas etnográficas? In: Índios da América do Sul – Áreas Etnográficas.

Disponível em: http://www.geocities.com/RainForest/Jungle/6885 (Página do Melatti).

QUEIXALÓS, F.; RENAULT-LESCURE, O. As línguas amazônicas hoje. São Paulo:

IRD/ISA/MPEG, 2000.

RICARDO, C. A.; RICARDO, F. (org.) Povos indígenas no Brasil - 2001-2005. São Paulo:

Instituto Socioambiental, 2006.

RODRIGUES, Aryon Dall‟Igna. Panorama das línguas indígenas da Amazônia. In:

QUEIXALÓS, F.; RENAULT-LESCURE, O. (org.), p. 15-28. São Paulo: IRD/ISA/MPEG,

2000.

49

LEVANTAMENTO DA PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE AS LÍNGUAS

INDÍGENAS FALADAS AO NORTE DO ESTADO DO AMAZONAS

Erick Marcelo Lima de Souza

Mestrando do Curos de Letras da Unicamp

Introdução

O presente texto é fruto do relatório de Pibic, orientado pelo professor Dr. Frantomé

Bezerra Pacheco na Universidade Federal do Amazonas. Teve como propósito principal,

contribuir para a criação de um Banco de Dados que contem informações sobre o tipo de

produção, língua estudada e o impacto da produção nos meios acadêmicos e entre as

organizações indígenas e não-indígenas. Além disso, pretendeu divulgar as informações sobre

a diversidade linguística no Estado do Amazonas, bem como disponibilizar informações sobre

as fontes bibliográficas para o seu estudo, obtidas durante a pesquisa. O que se espera é que

isso possa ser realizado por meio da internet com um link na página do Museu Amazônico.

Nesta pesquisa, buscam-se compreender melhor a atual situação das pesquisas relacionadas às

línguas indígenas faladas por povos que habitam a parte norte do Estado do Amazonas tendo

por base, para essa divisão, o curso de rio Solimões-Amazonas e as áreas etnográficas

propostas por Melatti (2007). Para isso, foram realizadas várias pesquisas em bibliotecas

institucionais de Manaus e bibliotecas virtuais de várias instituições que trabalham com

pesquisas voltadas para as línguas indígenas. Foram realizadas também outras pesquisas na

internet para tentar descobrir novas produções como livros, dicionários, gramáticas, artigos,

cartilhas, jornais, CD-ROMs, CDs de áudio, e outros.

Serão apresentadas, aqui, as línguas indígenas do Amazonas, levando-se em

consideração a localização das línguas a partir da localização dos povos, que geralmente

habitam as calhas dos rios, bem como a localização dos povos seguindo o modelo de áreas

etnográficas propostas por Melatti (2007), que são áreas de concentração de povos indígenas,

levando em consideração a articulação social e (não-) similaridade cultural, pois se acredita

que assim pode-se englobar numa mesma área aquelas sociedades que mantém entre si

intercâmbio amistoso ou hostil, pois nem sempre as que se parecem se conhecem ou se

relacionam.

Metodologia

A metodologia utilizada na presente pesquisa foi adotada de acordo com o que foi

proposto pelo projeto “Amazonas Indígena: um mapeamento das instituições e da produção

bibliográfica sobre os povos indígenas do Estado”, uma vez que esse projeto faz parte

50

juntamente com outros desse projeto conjunto. Entretanto, como esse é um projeto

independente, seguiu caminhos próprios.

A busca de dados foi feita nas bibliotecas, virtuais ou físicas, da cidade de Manaus,

para saber o que há aqui e, posteriormente, consultando outras fora da cidade, nesse caso as

virtuais. Entretanto, havia inicialmente uma ficha única para todos os projetos cujas

informações foram passadas para alimentação de um banco de dados do projeto maior que

será construído em plataforma Acces, cujo arranjo ou estrutura permitirá cruzar informações e

fornecer dados quantitativos, matéria prima para análises etnológicas e linguísticas

posteriores.

As informações foram registradas em fichas catalográficas de acordo os interesses de

cada linha de pesquisa em suas devidas áreas. Para esse projeto, que é de caráter linguístico,

foi elaborada também uma ficha atendendo às exigências do presente trabalho. Ela consta de

informações como tipo do material, nome do pesquisador, instituição, etnia, localização da

etnia, síntese da obra, data de publicação, assunto da obra, etc.

Todos os dados recolhidos e inseridos no banco de dados serão trabalhados na

formação de SIG (Sistema de Informações Geográficas), assim, será possível disponibilizar as

informações com maior praticidade, relacionando cartografia e textos. Esse trabalho com SIG

será realizado por um bolsista da área de geografia e conta com o apoio da Fapeam e do

CNPq. Todas essas informações permitirão análises etnológicas e linguísticas a partir de

temas definidos de acordo com temas de interesse pelos outros pesquisadores(as) ao longo do

projeto.

Pretende-se que todas as informações sejam disponibilizadas para o público para

pesquisa e consultas e elas farão parte do acervo da UFAM e do Museu Amazônico e servirá

principalmente como fonte de pesquisa para os professores do Departamento de Antropologia

e do Instituto de Ciências Humanas e Letras da UFAM. Além de disponibilizar um roteiro das

fontes para o estudo das línguas indígenas ao Norte do Estado, esta pesquisa poderá permitir

ou estimular levantamentos quantitativos em outras áreas do conhecimento do ICHL e demais

unidades da UFAM.

Foram previstas para esse projeto de pesquisa as seguintes fases ou atividades:

1. Elaboração de lista de línguas com informações gerais sobre o povo, seguindo-se

Rodrigues (1986), Ricardo e Ricardo (2006) e outros autores que deverão ser

pesquisados durante o desenvolvimento do projeto.

2. Levantamento da produção bibliográfica sobre as línguas indígenas disponível nas

bibliotecas e arquivos de Manaus.

51

3. Levantamento da produção bibliográfica disponível na internet, com informações

sobre o lugar onde esse material se encontra.

4. Organização dos dados obtidos por categoria e relacionados aos obtidos pelos

demais pesquisadores.

A organização dos dados foi orientada, prioritariamente, pelo mapeamento de Terras e

Povos Indígenas apresentado na última edição do livro “Povos Indígenas no Brasil”,

publicado pelo Instituto Socioambiental (RICARDO; RICARDO, 2006) e disponibilizado no

site: www.sociambiental.org, que está atuando como parceiro do nosso núcleo de estudos

indígenas numa importante troca de dados e também por ser uma das principais fontes de

informação no que se refere à questão indígena.

Vale muito ressaltar que esse projeto não trabalhou com dados de fonte primária, mas

sim secundária. Também não trabalha com pesquisa entre os grupos indígenas, mas sim

pesquisa para coleta de materiais bibliográficos e informações sobre o andamento da pesquisa

em línguas indígenas.

A realidade da produção bibliográfica do Estado ainda não é bem conhecida. Um

razoável número de obras têm já sido produzidas principalmente na forma de teses e

dissertações sobre várias áreas dentro da temática indígena. Nesse o projeto de pesquisa para

tentar amenizar um pouco essa situação.

Durante os três primeiros meses, a pesquisa voltou-se para uma busca geral de toda

produção bibliográfica sobre os povos indígenas do Amazonas, independentemente dos seus

objetos de pesquisa. Inicialmente, foi feita uma divisão de setores a serem pesquisados entre

os bolsistas que fazem parte do projeto “Amazonas Indígenas: um mapeamento das

instituições e da produção bibliográfica sobre os povos indígenas do Estado”. Ao autor dessa

pesquisa coube fazer uma busca das teses, dissertações e livros que se encontram na

Biblioteca do INPA e dos relatórios de PIBIC que se encontram na biblioteca setorial do

ICHL - Instituto de Ciências Humanas e Letras da UFAM.

Durante os três meses seguintes, a pesquisa foi conduzida com foco voltado para a

elaboração de uma listagem dos povos indígenas que habitam o norte do estado do Amazonas.

Nesse mesmo período foi também feita uma busca em outras bibliotecas e também algumas

bibliotecas virtuais de outras universidades para tentar fazer outros registros de produção

bibliográfica sobre povos indígenas amazonenses.

Após as investigações, baseado em informações do ISA (2005), pôde-se chegar a uma

tabela sobre povos indígenas que habitam a parte norte do estado do Amazonas que informa o

nome da etnia, língua falada por ela, população, localização e o ano do último levantamento.

52

Esses dados foram recolhidos do site do Instituto Sócio-Ambiental, do livro “Índios do

Brasil” de Melatti (2005) e do livro de Rodrigues (2005).

Para melhor compreender a situação linguística das línguas indígenas no Brasil, no

presente trabalho, vamos seguir a demarcação etnográfica de áreas proposta por Melatti

(2007). Segundo ele, áreas etnográficas são áreas demarcadas levando em conta mais a

articulação social que a similaridade cultural, pois, segundo ele, acredita-se que assim

englobar-se-ia numa mesma área aquelas sociedades que mantém entre si intercâmbio

amistoso ou hostil, pois nem sempre as que se parecem se conhecem. Como exemplo Melatti

(2007) cita o caso dos Canela que têm longa história tanto de choque quanto de convívio

amistoso com seus vizinhos guajajara do mesmo estado do Maranhão, no entanto segundo

Melatti são mais parecidos culturalmente aos Bororo que vivem a mais de mil quilômetros de

distância no Mato Grosso. Assim depende do critério que leva em conta a demarcação dessas

áreas. No caso do norte do estado do Amazonas pode-se observar que existem três grandes

áreas etnográficas, conforme anexo B e C. São elas as áreas etnográficas 1 e 2 e 3. Além

disso, vamos tomar como base o curso do rio Solimões-Amazonas como base para

delimitação geográfica de norte e sul.

Quanto à área etnográfica 1, de acordo com Melatti (2007), percebe-se que somente

suas regiões C e E fazem parte do território do estado do Amazonas. Na área E que

corresponde à fronteira entre o estado do Amazonas com Roraima, a sudoeste deste, encontra-

se a língua Yanomami da família Yanomami, falada pelo povo de mesmo nome, conforme

anexo A. Na região C, região de fronteira entre Amazonas, Pará e Roraima. Encontram-se aí

línguas da família Karib, a saber Hixkariana, Waimiri-Atroari e Waiwai.

Quanto a área etnográfica 2, a esta corresponde à região do Alto rio Negro, no

noroeste do Amazonas, nessa área encontram-se línguas da família Maku, Tukano e Arawak.

Na área do rio Içana, principalmente, encontram-se as línguas da família arawak, a saber

Baniwa do Içana,, Kuripáco, Tariána e Warekéna, majoritariamnete. Já na área dos rios

Uaupés e Tiquié, encontram-se as línguas da família Tukano, a saber Desána, Juriti,

Karapanã, Kubéwa (kubéo), Bará, Barasána, Mirití-Tapúya, Pira-Tapúya, Siriána, Tukáno

(Ye‟pa-masã), Tuyúka, Wanána e Arapaso. Quanto a família Maku, esta localiza-se numa

diagonal noroeste-sudeste desde as cachoeiras do Guaiana, como é conhecido o alto curso do

Rio Negro na Colômbia, até o japurá, são elas Dâw (Kamã), Húpda, Nadêb e Yuhúp

Quanto a área 3, ela é subdividida em dua regiões a A e a B. A área a corresponde às

famílias, Miranha, Kulina, Karapanã e Tikuna que possui apenas uma língua Tikuna, segundo

o que apresenta Rodrigues (2006, p. 63). Essa língua é falada pela extensão do Alto-Solimões

53

em ambas margens do rio, sendo portanto classificada aqui como pertencente tanto ao sul

quanto ao norte do Estado.

Para avaliar e acompanhar o andamento da pesquisa, foram realizadas várias reuniões

com os outros bolsistas membros do mesmo projeto para traçar novas metas e objetivos a

serem cumpridos. Além dessas reuniões de acompanhamento, foram realizados dois

seminários com o intuito de preparar as apresentações dos projetos junto aos professores

avaliadores do PIBIC.

Durante o decorrer da pesquisa foi recomendado pelo professor Dr. Frantomé Pacheco

a leitura da seguinte bibliografia para dar suporte ao trabalho:

LARAIA, R. de B. (2000). Nessa obra pode-se ter uma visão global dos índios

brasileiros, nele os autos apresenta os povos que sobreviveram ao massacre europeu e lutam

para preservar sua identidade.

RODRIGUES, Aryon Dall‟Igna (1986) - Nessa obra o autor mostra de maneira

bastante didática a realidade das línguas brasileiras, sua variedade e a luta pela defesa e

preservação de tais línguas, além de fazer referência ao estudo de tais línguas no Brasil.

WRIGHT, ROBIN M. (2005) - Nessa obra o autor mostra a história dos povos

indígenas do Alto rio Negro, seus povos, os conflitos internos, as línguas, a cultura, faz uma

descrição de toda a região fazendo um mapeamento da localização geográfica de cada povo,

trata das situações de bilingüismo e substituição de línguas.

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA) Amazônia Brasileira, 2004

(www.socioambiental.org) Nessa obra, trata-se a realidade sócio-ambiental e lingüística da

região Amazônica brasileira. Nele pode-se observar a realidade desses povos e sua busca por

manutenção da cultura e suas raízes, além de uma abordagem descritiva dos povos nativos da

Amazônia.

RAMIREZ, H. (2001) - Nessa obra, o autor faz um apanhado histórico e descritivo das

línguas da família Arawak, seu trabalho é enriquecido com ilustrações e descrições

geográficas de localização das línguas. Nele além das descrições dos povos e da situação

histórica e geográfica dos falantes de Arawak, o autor também faz uma descrição linguístico-

comparativa das línguas dessa família.

CÂMARA JR, J. M - (1965). Nessa obra, pode-se ter uma boa noção da classificação

das línguas brasileiras. Aqui o autor faz uma separação das línguas em troncos e famílias,

além disso, faz uma descrição dos estudos de línguas indígenas no Brasil.

SEKI, Lucy (1999) - Nessa obra, a autora descreve toda a trajetória da Lingüística

indígena no Brasil, faz um apanhado desde as primeiras gramáticas feitas pelos missionários

54

até os mais arrojados estudos atuais. Descreve ainda as instituições que se dedicam a

pesquisas de línguas nativas brasileiras e também alguns dos principais linguistas dedicados a

tal estudo.

ALMEIDA, Alfredo Wagner B. (2007) - Essa obra é uma reunião de vários artigos

publicados sobre a questão do multilinguismo no Alto rio Negro mais precisamente no

município de São Gabriel da Cachoeira.

MAIA, Marcos. (2006) - Essa obra aborda a questão do multilinguismo no Amazonas,

mais precisamente na região do alto rio negro no município de São Gabriel da cachoeira, é

uma junção de artigos de vários autores diferentes sobre o tema e sobre a aprovação da lei de

oficialização de outras línguas indígenas ao lado do português.

MELLATI, J. C. (2007) - Nessa obra, o autor dedica uma seção para falar das línguas

indígenas. Nela o autor defende a idéia de áreas etnográficas em vez de culturais para definir

áreas de concentração de povos indígenas.

As línguas faladas ao Norte do Estado do Amazonas

O Estado do Amazonas é o maior dos 26 estados brasileiros. Ele está localizado ao

norte do país, bem ao centro da região amazônica. Tradicionalmente, ele é conhecido como

um estado que tem conseguido preservar, quase que em sua totalidade, sua flora e sua fauna,

conseqüentemente, ele também tem conseguido preservar mais que outros estados suas

populações nativas, ainda que o número dessa população tenha se reduzido drasticamente

desde a chegada dos europeus. O Amazonas tem conseguido manter-se como o estado que

apresenta maior diversidade de povos e o maior número de população indígena em todo o

Brasil. De acordo com o ISA, Instituto Sócio-Ambiental, em seu levantamento (1986; cf. tb.

RODRIGUES, 2000; QUEIXALÓS; LESCURE, 2000), no Amazonas há, atualmente, 54

línguas indígenas espalhadas por todo território do estado, faladas por 54 etnias, somando

uma população estimada de 83.996 pessoas, ainda que nem todo esse total continue falando

sua língua de origem. A maioria delas conta com alguma produção acadêmica (teses e

dissertações) que versam sobre os mais diversos aspectos da estrutura e uso da língua

(Franchetto, 2000). De acordo com fontes do ISA – Instituto Sócio-Ambiental, pôde-se

catalogar 28 línguas indígenas faladas por 25 povos na parte note do estado do Amazonas.

Nessa parte do estado encontram-se línguas de diversas famílias linguísticas não classificadas

em tronco, apenas uma do tronco Tupi, e nenhuma língua do tronco Jê é encontrada no estado.

Grande parte dessa produção se encontra nas bibliotecas digitais disponibilizadas pelas

Universidades nas quais a pesquisa foi realizada. Há várias bibliotecas virtuais em sites

voltados para a discussão da temática indígena.

55

Lista de povos indígenas do Amazonas

1- Apurinã . Aruák, AM 4.087, (Funasa, 2003)

2 - Arapaso. Arapaço Tukano AM 328 (2001)

3 - Banawá. Banawá Yafi Arawá AM 100 (1999)

4 - Baniwa. Baniua, Baniva, Walimanai, Wakuenai Aruak AM Colômbia Venezuela. 141 6.790,

3.236, 2.002, (2000/2000)

5 - Bará. Waípinõmakã Tukano AM Colômbia 39 296 (2001 1988)

6 - Barasana. Hanera Tukano AM Colômbia 61 939 (2001, 1988)

7 - Baré. Nheengatu AM Venezuela 2.790, 1.210 (1998, 1992)

8 - Deni. Arawá AM 736 (2002)

9 - Desana. Desano, Dessano, Wira, Umukomasá falta strike no 'u' Tukano AM Colômbia 1.531

(2036) (2001, 1988).

10 - Jamamadi. Yamamadi, Kanamanti Arawá AM 800 2000

11 - Jarawara. Jarauara Arawá AM 180 2006

12 - Jiahui. Djahui, Diarroi Tupi-Guarani AM 50 2000

13 - Juma. Yuma Tupi-Guarani AM 5 2002

14 - Kaixana. Caixana Português AM 224 1997

15 - Kambeba. Cambeba, Omágua Tupi-Guarani AM 156 2000

16 - Kanamari. Tüküná, Canamari Katukina AM 1.327 1999

17 - Karapanã. Carapanã, M*u*teamasa, *U*kopinôpôna Tukano AM Colômbia 42 (412) 2001 1988

18 - Katukina. Pano AC/AM 318 1998

19 - Katukina do Rio Biá. Tüküná Katukina AM 450 2007

20 - Kaxarari. Caxarari Pano AM/RO 269 2001

21 - Kocama. Cocama Tupi-Guarani AM Peru Colômbia 622 (10.705) (236) 1989 1993 1988

22 - Korubo. Pano AM 250 2000

23 - Kubeo. Cubeo, Cobewa, Kubéwa, Pamíwa Tukano AM Colômbia 287 (4.238) 2001 1988

24 - Kulina Madihá. Culina, Madija, Madiha Arawá AC/AM Peru 2.318 (300)1999 1993

25 - Kulina Pano. Culina Pano AM 20 1996

26 - Kuripako. Curipaco, Coripaco Aruak AM Colômbia 1.115? (2002)

27- Maku (subgrupos Yuhupde, Hupdá, Nadöb, Dow, Cacua e Nucak).(4) Macu Maku AM Colômbia

56

2.548 678 1998 1995

28 - Makuna. Macuna, Yeba-masã Tukano AM Colômbia 168 528 2001 1988

29 - Marubo. Pano AM 1.043 2000

30 - Matis. Pano AM 239 2000

31 - Matsé. Mayoruna Pano AM Peru 829 (1.000) 2000 1988

32 - Miranha. Mirãnha, Miraña Bora AM Colômbia 613 (445) 1999 1988

33 - Mirity - Tapuya. Miriti-Tapuia, Buia-Tapuya Tukano AM 95 1998

34 - Mura. Mura AM 5.540 2000

35 - Parintintin. Tupi-Guarani AM 156 2000

36 - Paumari. Palmari Arawá AM 870 2000

37 - Pirahã. Mura Pirahã Mura AM 360 2000

38 - Pira-tapuya. Piratapuia, Piratapuyo, Pira-Tapuia, Waíkana Tukano AM Colômbia 1004 (400)

2001 1988

39 - Sateré-Mawé. Sataré-Maué Mawé AM/PA 7.134 2000

40 Siriano. Siria-Masã Tukano AM Colômbia 17 665 2001 1988

41 Tariana. Tariano, Taliaseri Aruak AM Colômbia 1.914 205 2001 1988

42 Tenharim. Kagwahiva Kagwahiva, da família Tupi-Guarani AM 585 2000

43 Ticuna. Tikuna, Tukuna, Magüa Ticuna AM Peru Colômbia 32.613 (4.200) (4.535) 1998 1988

1988

44 - Torá. Txapakura AM 51 1999

45 - Tsohom Djapá. Tsunhum-Djapá, Tyonhwak Dyapa, Tucano Katukina AM 100, 1985

46 - Tukano. Tucano, Ye'pã-masa, Dasea Tukano AM Colômbia 4.604 6.330 2001 1988

47 - Tuyuka. Tuiuca, Dokapuara, *U*tapinõmakãphõná Tukano AM Colômbia 593 570 2001 1988

48 - Wai Wai (subgrupos Karafawyana, Xereu, Katuena e Mawayana).(4) Waiwai Karib RR/AM/PA

Guiana 2.020 130 2000 2000

49 - Waimiri-Atroari. Kinã, Kinja Karib RR/AM 931 2001

50 - Wanana. Uanano, Wanano Tukano AM Colômbia 447 1.113 2001 1988

51 - Warekena. Uarequena, Werekena Aruak AM Venezuela 491 (409) 1998 1992

52 - Witoto. Uitoto, Huitoto Witoto AM Colômbia Peru ? (5 .939) (2.775) 1988 1988

53 - Yanomami (subgrupos Yanomam, Sanumá e Ninam).(4) Ianomãmi, Ianoama, Xirianá Yanomami

Yanomami Yanomami Yanomami RR/AM Venezuela 11.700 (15.193) 2000 1992

54 - Zuruahã. Sorowaha, Suruwaha Arawá AM 143 1995

Fontes do ISA - Instituto Sócio-Ambiental.

57

A lista acima baseada em fontes do ISA nos ajuda a entender um pouco melhor a

realidade dos povos indígenas do Amazonas, numa demonstração clara da nossa riqueza

étnica. Note-se, no entanto, que os limites entre uma etnia e outra podem ser determinados por

fatores de ordem mais política do que cultural (cf. Melatti, 2006).

Na região do noroesteamazônico, há uma grande concentração de línguas e povos

indígenas, isto gera naturalente intensa troca cultural e linguística por conseguinte um povo

acaba por precisar aprender a língua do outro. Assim alguns povos vão perdendo suas línguas

de origem e adotando a de seus conquistadores ou a de seus inimigos mais fortes. Esse

aspecto acaba por provocar multilingüismo, em que um mesmo indivíduo precisa saber a

língua geral, a língua do pai, a da mãe e dos povos mais fortes.

O presente texto teve como frutos principais a elaboração de uma lista das línguas

indígenas faladas no Amazoas e conseqüentemente uma lista de línguas indígenas faladas ao

norte do estado do Amazonas. Ela foi classificada levando-se em conta o rio do Solimões-

Amazonas (cf. informações apresentadas no Projeto 1).

Aqui pode-se ver as línguas do tronco Tupi, bem como um número aproximado de

falantes e seus rerspectivos povos. Entretanto, desse tronco apenas uma encontra-se na parte

norte do Estado como apresentado na próxima lista. Há, ainda, 24 obras que tratam de línguas

da família Tukano, muitas delas versando sobre várias línguas da família e não a uma em

particular.

O total da produção sobre línguas indígenas catalogadas durante a pesquisa foi da

ordem de 248 e são todas referentes ao norte do estado do Amazonas (dados de 04/2008).

Essas informações bibliográficas, que constam no NEAI, estarão disponíveis num site em

elaboração.

Entretanto, apesar de tanta diversidade, percebe-se claramente que ainda não há

suficiente produção bibliográfica e, conseqüentemente, suficientes pesquisas sobre tais

línguas e povos. A atual situação da produção bibliográfica já existente dessas línguas é ainda

pouco conhecida e não se sabe exatamente quais são as línguas mais estudadas e quem são os

pesquisadores responsáveis por alguns estudos. Entretanto, pode-se afirmar seguramente que

o número de pesquisas voltadas para as línguas indígenas no Amazonas é pequeno, apesar da

enorme riqueza linguística encontrada no Estado e do crescimento do interesse de novos

pesquisadores por tais tipos de estudo. Segundo MOORE, Denny & Nilson Gabas JÚNIOR

(2005), um futuro para o estudo científico das línguas indígenas brasileiras deve ser visto com

um otimismo cauteloso, que já está deixando de ser trabalho apenas de missionários. Segundo

58

os mesmos autores, nos últimos quinze anos, 23 teses de doutorado sobre línguas indígenas

brasileiras foram defendidas no país, das quais 16 são análise científica de língua indígena

brasileira. Os mesmos autores ainda acrescentam que 17 teses de doutorado foram defendidas

no exterior, das quais 15 envolvem análise de língua indígena. Isso mostra como a da pesquisa

científica relacionada a línguas brasileiras tem crescido, porém esse número ainda é muito

pequeno se relacionamos a vasta quantidade de línguas indígenas no Amazonas e no país

inteiro.

De acordo com essa pesquisa e analisando os números de obras por língua, levantadas

no projeto de PIBIC, verifica-se que línguas como Tikuna (com 37 obras), Yanomami (com

31), Nheengatu (com 23) e Baniwa do Içana (com 15) são as línguas que contam com maior

produção sobre aspectos da linguagem.

O total de obras que consta no banco de gráficos é de 307 obras sobre línguas

indígenas do estado do Amazonas e de 141 obras de línguas faladas por povos que habitam a

parte norte do curso do rio Solimões-Amazonas. Além dessas obras, serão ainda inseridas no

banco de dados bibliográficos mais 110 obras que foram encontradas após o fechamento dessa

fase da pesquisa (em 30 de abril de 2008), e isso continuará a acontecer porque o banco de

dados será periodicamente realimentado com novas produções sobre povos e línguas

indígenas. Acrescentamos que um dos resultados do Projeto foi a elaboração de uma lista

contendo as línguas indígenas faladas no Estado, sendo ainda necessário associar essas

informações às áreas etnográficas propostas por Melatti (2007), tendo em vista oferecer

informações mais precisas sobre as línguas e os povos que as falam. Esse trabalho pode

contribuir muito para novas pesquisas relacionadas às línguas indígenas uma vez que ele

procura mapear as áreas de pesquisas anteriores sobre as línguas nativas do estado do

Amazonas, mostrando quais línguas, povos ou áreas indígenas do Estado precisam de mais

investimento em pesquisa. Pode-se constatar que tal produção ainda é reduzida comparada à

produção de línguas indo-européias. Tal fato pode ser comprovado pela quantidade de obras

encontradas e também pela dificuldade de encontrar produções sobre línguas de certas regiões

do Estado. Pôde-se constatar que há uma quantidade maior de produção das línguas Geral

(Nheengatu) do tronco Tupi, o Tikuna da família Tikuna, a língua Yanomami da família

Yanomami e que há mais estudos comparativos entre as línguas Tukano, e estudos sobre a

protolíngua Maku. Por outro lado, as línguas menos estudadas são as Bará, Miriti-Tapúya e

Karapanã, da família Tukano.

59

Essa produção ainda em pequena escala abre espaço para que outros pesquisadores

possam dar continuidade e aperfeiçoar vários estudos de línguas que ainda carecem de mais

estudos. Também os pesquisadores amazonenses interessados em investigar as línguas do seu

próprio estado podem no NEAI encontrar um panorama para saber que línguas são essas e

quais são as obras de referências já publicadas sobre cada língua. Isso tem um impacto no

meio acadêmico porque pode auxiliar no desenvolvimento da Linguística no Amazonas e do

Amazonas com um maior número de pesquisas da diversidade linguística do estado, tanto

qualitativos quanto quantitativos.

A partir dessa pesquisa, puderam-se elaborar os seguintes itens:

1. Lista de línguas indígenas do Estado do Amazonas.

2. Classificação das obras encontradas em gêneros (dicionário, gramática, tese ou

dissertação, artigo, revista, cd-rom ou cd de áudio.

3. Lista bibliográfica de obras sobre línguas indígenas faladas ao norte do estado do

Amazonas.

Relação das 248 obras sobre línguas indígenas faladas no norte do estado do Amazonas

que se encontram registradas no banco de dados bibliográficos (Dados de 2008):

• 50 artigos

• 148 livros

• 10 dissertações

• 13 teses

• 6 relatórios

• 2 monografias

• 5 relatório de PIBIC

• 1 CD-Rom

• 12 Dicionários

• 1 revista

60

Tabela 1

Línguas indígenas do Norte do Estado do Amazonas listadas por família linguística

Família Linguística Língua

Baniwa do Içana

Aruák Kuripáco

Tariána

Warekéna

Hixkaryána

Karíb Waimirí (Waimirí-Atroarí)

Dâw (Kamã)

Makú Húpda

Nadêb

Yuhúp

Tikúna Tikúna(Tukúna)

Arapáso

Bará

Barasána

Desána

Juriti

Karapanã

Tukáno Kubéwa (kubéo)

Mirití-Tapúya

Pira-Tapúya

Siriána

Tukáno (Ye‟pa-masã)

Tuyúka

Wanána

Yanomámi Yanomámi

Tupi-Guarani Nheengatú

Bora Miranha

Pano Kulino (kulina)

61

Relação de quantidade de obras que tratavam do tema línguas indígenas da parte Norte

do Estado; listadas por tronco linguístico e suas respectivas famílias (dados de 2008)

TRONCO TUPI

FAMÍLIA TUPI-GUARANI

• Língua Nheengatú - 23 obras

FAMÍLIA YANOMAMI

• Língua Yanomami - 31 obras

FAMÍLIA TIKUNA

• Língua Tikúna - 37 obras

FAMÍLIA ARAWAK

• Língua Baniwa - 15 obras

• Língua Kuripáco - 10 obras

• Língua Warekena - 6 obras

• Tariano - 12 obras

FAMÍLIA KARIB

• Língua Hixkaryána - 6 obras

• Língua Waimiri-Atroari - 7 obras

• Língua Wai-Wai - 10 obras

FAMÍLIA MAKÚ

• Língua Dâw - 4 obras

• Língua Hupda - 8 obras

• Língua Nadeb - 2 obras

• Língua Yuhúp - 9 obras

FAMÍLIA TUKÁNO - 23 obras

• Língua Bará - 0 obras

• Língua Barasána - 2 obras

• Língua Desána - 5 obras

• Língua Juriti - 1 obra

• Língua Karapanã - 0 obras

• Língua Kubewa - 10 obras

• Língua Tuyúka - 3 obras

• Língua Wanána - 10 obras

• Língua Arapáso - 1 obras

• Língua Píra-Tapúya - 1 obra

• Língua Siriano - 4 obras

• Língua Ye‟pa-masã - 1 obra

• Língua Mirití-tapúya - 0 obras

62

Considerações finais

A real situação sociolinguística das línguas indígenas do Amazonas, que envolve o

número de línguas, quantidade de falantes, grau de vitalidade da língua tradicional em relação

ao português, bem como as atitudes do falante em relação à língua historicamente empregada

por sua etnia, ainda está longe de ser conhecida do ponto de vista acadêmico. Isso pode ser

notado quando analisamos o número da produção sobre elas, que é esparsa e fragmentada,

havendo poucas obras que abrangem os principais aspectos linguísticos e sociolinguísticos

(incluindo-se o bilinguismo e a atitude de seus falantes em relação à língua tradicional de sua

comunidade linguística). Assim, verifica-se, a partir dos dados coletados e analisados que há

ainda muita pesquisa por fazer. Para que isso possa acontecer é preciso o apoio e o trabalho

em conjunto da academia, de órgãos estatais, das organizações e associações indígenas, bem

como de outros envolvidos com a questão indígena. Descobrir quais e quantas pesquisas há

sobre tais línguas é uma tarefa que exige não apenas o trabalho de um pesquisador ou

entidade isolada, mas uma ação coletiva, calcada no projeto político de cada etnia.

Esse trabalho tenta contribuir para um maior conhecimento acerca dos trabalhos sobre

essas línguas, seu papel nas ações desenvolvidas junto a essas comunidades e na legitimação

desse conhecimento diante dos órgãos estatais e da opinião pública, contribuindo para a auto-

estima linguística de seus falantes e para o fortalecimento político-étnico dos povos que a

empregam milenarmente.

Ao final desse projeto, que deverá ser continuado, na medida em que novas pesquisas

sobre a produção das línguas e de suas famílias forem sendo realizadas, conclui-se que:

Precisa haver um investimento na formação de alunos que se preparem para

enfrentar as pesquisas sobre a diversidade étnica e lingüística encontrada no

Amazonas;

É necessária uma maior divulgação das pesquisas e publicações sobre essa

diversidade lingüística e cultural no Estado;

Novas análises dos dados que estão sendo inseridos no banco de dados

bibliográficos, relacionando a produção sobre as línguas a outros parâmetros como

as áreas etnográficas, tipo de produção e os meios de publicação, verificando o

papel das comunidades de falantes na produção desse material.

Entre os aspectos a serem retomados, destaco: a) re-análise do material bibliográfico

pesquisado, separando-o por tipo de produção lingüística (gramática, fonologia, léxico,

material de alfabetização e outros); b) verificar os impactos dessa produção nas áreas de

63

conhecimento a elas relacionadas, bem como nos meios ligados à política indígena estatal e

dos próprios indígenas. Esses temas, previstos no projeto original, foram parcialmente

discutidos, pois se privilegiou uma pesquisa mais ampla sobre os povos e línguas indígenas,

procurando implementar e testar a viabilidade de organização do banco de dados

bibliográficos, nas bases previamente propostas. O Mapa em anexo, com a distribuição

especial dos resultados das pesquisas encontradas nesse banco de dados, é a demonstração de

que ao serem dispostas espacialmente, temos uma clara noção das lacunas sobre a produção e

de onde é necessário mais investimento.

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65

O LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO SOBRE ORGANIZAÇÃO SOCIAL E

PARENTESCO

Marcelo Pedro Florido

Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP

O levantamento sobre a produção bibliográfica a respeito das populações indígenas no

Estado do Amazonas do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI) indica a existência

de 66 textos que focalizam a temática do parentesco e/ou organização social. A maior parte

desse conjunto é composta por artigos em um total de 22, os restantes são 3 relatórios, 6

monografias, 15 dissertações, 13 teses e 7 livros. O escrito mais antigo data de 1963 e há certa

regularidade na produção sobre o tema desde então, existindo 3 trabalhos nos anos 1960, 12

nos 1970, 10 nos 1980, 21 nos 1990 e 20 nos 2000. Essa regularidade não se verifica no que

diz respeito à distribuição geográfica e às populações estudadas.

Na distribuição linguísticas, temos 4 trabalhos que abordam populações da família

linguística Pano, sendo 2 textos que consideram os Marubo, 1 os Matsé e 1 os Matis. Do

tronco linguístico Tupi, há 11 estudos, sendo 5 da família Tupi-guarani, 2 que abordam os

Kambeba e 3 os Tenharim; 3 da Munduruku; e 3 da Maués, sobre os Sateré-Mawé. Há 9

trabalhos da família Arawá, 2 que se focalizam os Deni, 1 os Kulina, 3 os Paumari, 2 os

Zuruahá e 1 que considera os Deni, Jamamadi, Kulina e Paumari. Há 10 produções sobre a

família Tukano, a maioria dos quais centrados na população homônima, mas também existem

2 sobre os Tuyuka e 1 dos Karapanã. Há 6 que descrevem as populações de línguas Maku e 6

sobre a Tikuna. Foram levantados 8 estudos sobre a organização social e parentesco dos

Karib, 4 que abordam os Waimiri-Atroari e os outros 4 os Waiwai. Há 4 estudos sobre os

Yanomami e 3 sobre os Pirahã da família lingüística Mura. Só há 1 estudo da família Arawak,

que descreve os Baniwa e um da Bora, que considera os Miranha.

Geograficamente6, a maioria dos trabalhos abarca populações da área do Noroeste da

Amazônia, com um total de 17 trabalhos. Na área do Juruá-Purus foram localizados 12 textos

sobre organização social e parentesco, na Amazônia Centro-Meridional também 12. A

respeito dos povos da área Alto Amazonas, existe 9 referências, da área Maciço Guianense

Oriental há 8, da Maciço Guianense Ocidental há 4, e da área Juruá-Ucayali há também 4.

6 Por conveniência, seguimos aqui a divisão das áreas culturais proposta por Melatti. Disponível em http://e-

groups.unb.br/ics/dan/juliomelatti/ (12/12/2009)

66

Noroeste da Amazônia

Dentre a produção sobre o Noroeste da Amazônia encontramos alguns artigos que

focalizam a descrição das terminologias de parentesco. Este é o caso de Adélia Engrácia de

Oliveira (1975), autora do único trabalho sobre os Baniwá e; de Marcos Fulop (1965) e P.

Van Eenst (1979), que escrevem sobre terminologias de parentesco Tukano. Excetuando-se

estas três referências, e a monografia de Geraldo Veloso Ferreira (2001) que aborda a relação

do xamanismo e do parto, as outras produções não são facilmente distinguíveis no que diz

respeito à temática. Nessa região o parentesco e a organização social estão entrelaçados de

forma particular formando sistemas que envolvem diversas comunidades unidas por laços de

parentesco.

A descrição do sistema regional e sua relação com domínios do parentesco e da

organização social é o tema de parte significativa da produção apontada pelo levantamento

bibliográfico para essa área. O artigo de Janet Chernela (1983) apresenta as características do

sistema regional do rio Uaupés formado a partir da exogamia de grupo lingüístico, Pedro

Rocha de Almeida Castro (2007) aborda na sua dissertação a questão da transmissão de

nomes e do parentesco para esse mesmo rio. A monografia de Estevão Lemos Barreto (2001)

observa essa organização social multi local no contexto do rio Tiquié. Aloísio Cabalzar Filho

(2000) aborda o sistema em um artigo a partir das idéias de descendência e aliança Tuyuka.

Aloísio Cabalzar Filho (1995) em sua dissertação foca especificamente a organização

social Tuyuka. Este tema entre os Tukano é considerado por Stephen Hugh-Jones (1993) em

um artigo e por Jean Elizabeth Jackson (1983) em seu livro, e entre a população Karapanã por

Carlos Alberto Uribe Clopatofsky (1972) em sua dissertação.

Jorge Pozzobon em sua dissertação (1983), também publicada como livro (1984),

descreve e analisa a forma como se organizam os Maku. Em sua tese (1991), este mesmo

autor focaliza questões relacionadas ao parentesco e a demografia. Elementos da sociologia

Maku podem ser encontrados também na descrição que Peter L. Silverwood (1990) fornece

da população e na análise das narrativas sobre as relações econômicas presentes na

monografia de Elias Coelho de Assis (2001).

O levantamento bibliográfico mostra que apesar da grande quantidade de estudos

dirigidos a organização social e parentesco das populações localizadas na área do Noroeste

Amazônico, há uma concentração nos Tukano e Maku, sendo os povos de línguas Arawak

deixados de lado.

67

Juruá – Purus

A segundo maior conjunto de estudos diz respeito à área compreendida entre os rios

Juruá e Purus, que conta com 12 produções. Os dois livros de Gordon Koop e Sherwood G.

Lingenfelter sobre a organização social e parentesco dos Deni correspondem, na verdade, a

duas versões, uma em inglês (1980) e a outra em português (1993), de um mesmo texto. Este

trabalho fornece algumas informações sobre o parentesco, tal como a terminologia, regra de

casamento, etc., e aborda alguns temas da organização social, como a chefia, ocupação

territorial, divisão do trabalho, entre outros.

O levantamento aponta a existência de uma monografia de Miguel Aparício Suárez

(2008) que fornece informações a respeito dos grupos nomeados que caracterizam a

organização social das populações falantes de línguas da família lingüística arawá localizadas

na região do rio Purus, os Zuruahã, Deni, Jamamadi, Paumari e Kulina. Este mesmo autor

assina uma espécie de diário-relatório (2003) a respeito do seu contato, enquanto atuava como

indigenista, com os Zuruahã, no qual fornece diversas informações sobre a organização desta

população. Existe outro relatório sobre este povo, o de Jonia Teresinha Fank e Edinéia Lacir

Porta (1986), indigenistas ligadas ao Conselho Indígena Missionário (CIMI) e a ONG

Operação Amazônia Nativa (Opan), que informa sobre as atividades econômicas, o ciclo

ritual e o parentesco.

Sobre a população Paumari há um artigo de Mary-Anne Odmark e Rachel M. Landin

(1985) que tem como eixo principal a sua terminologia de parentesco, fornecendo também

informações acerca da regra de residência, e outros costumes relacionados. Os dois outros

trabalhos a respeito dos Paumari devem-se a Oiara Bonilla, um artigo (2005) preocupado com

a análise das relações da cosmologia com a organização social e, sua tese (2008) que dedica

dois capítulos no tratamento de temas ligados ao parentesco.

A última produção a abordar uma das populações Arawá da área é a tese de Claire

Lorrain (1994) que analisa a organização social Kulina. O foco principal da autora são as

relações de gênero. Ela fornece, contudo, dados sobre o parentesco, como terminologias, a

manutenção de relações de parentesco pela realização de casamentos entre agrupamentos que

surgem a partir da cisão de uma aldeia original, onomástica, etc..

Os outros trabalhos levantados para a área são os dedicados a populações falantes de

línguas da família katukina, uma dissertação que aborda questões relacionadas à organização

social Katukina, de Edilene Coffaci de Lima (1994) e a tese de Luiz Antonio Costa (2007)

que investiga o parentesco Kanamari.

68

Embora o levantamento aponte que existem trabalhos para muitas das populações da

área, a maioria só conta com único estudo. Isso aponta que seria produtiva a realização de

novas pesquisas sobre a temática na região.

Amazônia Centro-Meridional

Esta área apresenta a melhor proporção da produção, os trabalhos se dividem em 2 que

investigam os Munduruku, 2 sobre os Sateré-Mawé, 3 a respeito dos Mura-Pirahã e 3 dos

Tenharim. Os escritos sobre organização social Munduruku abordam a questão da mudança

social, no artigo de Alcida Rita Ramos (1978), e da relação sócio-ambiental, na dissertação de

Susy Rodrigues Simonetti (2004).

Os estudos sobre os Sateré-Mawé se focam um no parentesco e o outro na temática da

organização social. O artigo de Seth Leacock (1973) propõe uma análise da terminologia de

parentesco. A monografia de Luiz Boas Maciel (2004) explora as formas de organização dos

Sateré-Mawé entre os anos de 1980 e 1990.

A produção sobre os Mura-Pirahã se concentra no tema do parentesco. O artigo de

Adélia Engrácia de Oliveira (1978) fornece uma descrição da terminologia de parentesco,

explorando principalmente o vocabulário. Marco Antônio Teixeira Gonçalves produziu dois

textos sobre o tema, um artigo (1995) que investiga a maneira como se produz a afinidade

dentro do sistema, e outro (1997) que se dedica a entender o sistema de parentesco e a forma

da aliança.

As bibliografias levantadas sobre o parentesco e organização social Tenharim são

todas de autoria de Edmundo Antônio Peggion. Sua dissertação (1996) descreve o sistema de

parentesco da população, seu artigo (2003) estuda alguns elementos da dinâmica faccional e o

sistema político, já sua tese (2005) se dedica a investigação pormenorizada da organização

social, analisando o sistema dualista Tenharim.

Alto Amazonas

Sobre as populações da área do Alto Amazonas existem 8 trabalhos, sendo 6 sobre os

Tikuna, 1 sobre os Kambeba e 1 que, além dos Kambeba, considera também os Miranha. Este

último corresponde à dissertação de Priscila Faulhaber Barbosa (1983), que aborda os

indígenas na cidade de Tefé, e investiga as formas como identidade, parentesco e aliança se

processam no contexto urbano. Outro estudo que abarca os Kambeba diz respeito também aos

índios em contexto urbano, a dissertação de Raimundo Nonato Pereira da Silva (2001), que

69

explora a forma como se organizam os Sateré-Mawé, Dessano, Tukano, Tariano, Ticuna,

Wanano, Kambeba e Pira-Tapuya, na cidade de Manaus.

Os textos sobre os Tikuna correspondem a um artigo de Roberto Cardoso de Oliveira

(1983) centrado no parentesco, que descreve a forma como se processam as alianças

matrimoniais entre os clãs. Sobre a organização social há a dissertação de João Pacheco de

Oliveira Filho (1977) cujo foco são as facções e o sistema político e um artigo de Guy Desire

(1994) que explora os modelos simbólicos e sociais desta população. A dissertação de

Edmundo Marcelo Mendes Pereira (1999) investiga alguns elementos da reorganização social

Tikuna, mas seu estudo abarca também os Witoto e os Bora.

Maciço Guianense Oriental

Os textos desta área correspondem a 4 escritos que tratam dos Waimiri-Atroari e 4 dos

Waiwai. Sobre os Waimiri-Atroari há um artigo de José Aldemir de Oliveira (1996) que

aborda a questão da organização social e território e três estudos de Marcio Ferreira da Silva

cujo foco é o parentesco. Este autor assina um artigo (1993) que apresenta uma breve análise

do parentesco, outro artigo (1995) que relaciona o sistema Waimiri-Atroari com outros

sistemas dravidianos, e em sua tese (1993) realiza uma descrição e análise pormenorizadas do

parentesco desta população.

Os estudos sobre os Waiwai são mais centrados na organização social, tema abordado

no livro de Niels Fock (1963) e que também é considerado na produção de Carlos Machado

Dias Junior sobre a população: sua dissertação (2001), um artigo (2003) e sua tese (2006).

Maciço Guianense Ocidental

O banco de dados aponta a existência de 4 referências sobre os Yanomami, população

que se localiza nesta área. O texto de Giovanni Saffirio (1985) tem como foco principal o

parentesco, o de Napoleon A.Chagnon (1966) aborda este tema, mas tece também

considerações sobre a organização social. Judith Era Shapiro (1972) e Alcida Rita Ramos

(1972) analisam a organização social Yanomama e Sanumá, respectivamente.

Juruá-Ucayali

A produção sobre a área do Juruá-Ucayali é composta por um artigo de Julio Cezar

Melatti (1977) que investiga o parentesco e a organização social Marubo, abordando temas

como a terminologia de parentesco, etc. Elementos da organização social e parentesco

70

Marubo são também fornecidos em um relatório assinado por Delvair Montagner e Julio

Cezar Melatti (1975).

O levantamento aponta a existência da tese de Philippe Erikson (1990) que investigou

os Matis. Este trabalho fornece informações sobre o parentesco e a organização social desta

população.

Considerações finais

A partir da produção bibliográfica levantada pelo banco de dados é possível afirmar

que existem muitos estudos que focalizam a questão do parentesco e da organização social.

Há estudos de origem variada e que abordam populações distribuídas geograficamente.

Devemos considerar, contudo, que em alguns casos há concentração de trabalhos, como na

região do Noroeste Amazônico, em que a maior parte dos estudos está centrados nos Tukano,

enquanto quase não há trabalhos sobre as populações da família lingüística Arawak. Outros

casos, como o da área do Juruá-Purus, há trabalhos que consideram diferentes populações,

contudo, a produção é rarefeita, existindo apenas uma para cada grupo.

71

ÍNDIOS EM CONTEXTOS URBANOS: O QUE SABEMOS EM MANAUS?

Carlos Machado Dias Júnior

Professor do Departamento de Antropologia da UFAM e pesquisador do Núcleo de Estudos da

Amazônia Indígena

Ângela Andrade

Aluna do Curso de Ciências Sociais da UFAM

Do que informa o Banco

A busca no Banco de dados bibliográficos sobre o tema “coletivos urbanos” revelou

um total de 33 títulos (cf. em anexo). No que segue, proponho reagrupá-los em quatro

categorias para, em seguida, estabelecer algumas considerações menos voltadas para

contribuições analíticas do que em apontar indicadores sugestivos que possam estimular o

debate sobre o tema em tela. Desse modo, visando inspirar novas investigações e abordagens

associadas à questão dos coletivos urbanos no Amazonas, proponho levantar quatro categorias

para este primeiro recorte junto ao material que o banco disponibiliza, a saber:

1. Tipo de obra e ano

2. Região abordada (capital e bacias fluviais)

3. Povos estudados (Baniwa, Tukano, Tikuna, Baré, Sateré, etc.)

4. Temas privilegiados (religião, identidade étnica, cultura, educação, etc.).

Antes de entrar no ponto propriamente dito, vale destacar alguns trabalhos importantes

que abordaram a temática dos coletivos urbanos e ainda não foram cadastrados no banco do

Neai, entre eles, Andrello (2006); Cesarino (2008); Lasmar (2005 e 2006); Eloy & Lasmar,

(2006). Ademais, considerando que o presente levantamento pressupõe apontamentos e novas

perspectivas sobre a temática índios e cidades, é importante destacar outras contribuições

produzidas em outros contextos para alem do estado do Amazonas. Assim, destaco os

trabalhos de Carneiro da Cunha, M. 1998; Heckenberger, M et alii. 2003 e 2008; Iglesias, M.

2008; Saez, O 2006 e 2000; Santos Granero, F. 1986 e Viveiros de Castro, E. 2006. Passemos

aos dados do banco e as categorias sugeridas acima.

1. Tipos de obras e ano

As obras levantadas são teses, dissertações, artigos, monografias e trabalhos de pibics.

O ano correspondente é o que aparece na fonte, não se confundindo com datas de eventuais

publicações que foram lançadas posteriormente. Desse modo, observamos os seguintes

números: 01 (uma) tese de doutorado; 11 (onze) dissertações de mestrados; 10 (dez)

monografias; 6 (seis) artigos; e 5 (cinco) trabalhos de pibics. Olhando para o quadro abaixo

72

veremos que ele estabelece uma relação entre o ano e a quantidade de títulos levantados, onde

podemos notar um expressivo aumento da produção na última década: 04 títulos nos anos

1980; 05 nos anos 1990 e 24 nos anos 2000. Vale notar que os registros do banco, na ocasião

deste levantamento, ficaram limitados à produção até o ano de 2007.

Quadro 1

Obras Monográficas

2. Regiões abordadas

A região mais estudada no Amazonas, no que diz respeito ao tema em foco, foi a

cidade de Manaus com 22 dos 33 títulos correspondendo a 66.6% do total produzido. Em

seguida temos os povos do Rio Negro, com 08 títulos totalizando 24.2% e, por fim, os povos

do Rio Solimões com 03 obras relativas a 9.2% da produção.

Quadro 2

Regiões Abordadas

3. Povos estudados

Os Sateré foram os povos mais abordados. Curiosamente, superando até mesmo os

povos do Alto Rio Negro. Em seguida, os povos do Solimões, em especial os Tikuna, e, por

fim, uma pequena produção voltada aos demais povos do Amazonas.

Quadro 3

Povos Estudados

Década/

ano

1980 90 2000 ST

1982 83 87 96 97 99 00 01 02 04 05 06 07

Tese 01 01

Dissert. 02 01 02 02 01 01 02 11

Artigo 01 01 01 01 02 06

Monog. 02 01 04 03 10

Pibic 03 01 01 05

Total 33

Local Nº Títulos %

Manaus 22 66.6

Rio Negro 08 24.2

Solimões 03 9.2

Povo Nº Títulos %

Sateré 13 39.4

Rio Negro 12 36.4

Solimões 05 15.1

Diversos da AM 03 9.1

Total 33 100

73

4. Temas privilegiados

Diferente das demais categorias listadas, a que diz respeito aos temas de estudo

privilegiados se nota uma particularidade, pois, podemos enquadrar os trabalhos em mais de

uma temática. Assim, compreende-se que possa haver um número maior de temas (43) sem

com isso alterar o número de títulos (33). Noutros termos, encontramos obras que podem ser

enquadradas em mais de uma temática. A imprecisão neste caso não invalida, nem reduz a

relevância desta categoria uma vez que se nota uma expressiva recorrência associada aos

temas da identidade étnica e da cultura. Vejamos o quadro.

Quadro 4

Temas Privilegiados

Apontamentos preliminares para uma análise do material

O primeiro ponto que se faz notório é o pequeno número de obras que abordaram a

temática dos coletivos urbanos no estado do Amazonas. Considerando que o número de

cadastros no Banco é de 1575 títulos, os 33 que trataram do tema em foco correspondem tão

somente a 2% do total. Neste contexto, vimos também, a cidade de Manaus é a região de

maior incidência dos estudos com 22 títulos correspondendo a 64.7%. Em seguida os estudos

incidiram sobre os povos do Rio Negro com 09 títulos (05 no alto e 04 no curso médio do

Rio) resultando 25.4% e, por fim, 03 obras que focalizaram os “coletivos urbanos” no Rio

Solimões, totalizando 8.8% do total. Portanto, além da pequena produção associada ao tema,

nota-se ainda uma grande concentração desses estudos em apenas três localidades, fazendo

com que as cidades do interior do estado sigam expressando grandes vazios etnográficos.

Uma das possíveis razões que respondem pela grande concentração dos estudos na

capital pode estar associada aos tipos de trabalhos produzidos. Se olharmos para a tabela tipos

de obras notaremos que as dissertações e monografias respondem por mais da metade da

produção. Somando-se a esse aspecto a maior concentração da produção universitária na

Capital, a falta de recursos para a pesquisa na graduação e os curtos prazos para o mestrado,

de certo modo, ajudam a compreendermos a razão pelo maior número dos títulos abordando o

Título Temática %

Identidade étnica 14 32.5

Cultura 13 30.2

Educação, saúde e

políticas públicas

08 18.6

Migração 04 9.3

Economia e religião 03 6.9

Línguas 01 2.3

Total 43 100

74

contexto urbano de Manaus em detrimento de qualquer outra cidade do interior.

Nota-se também que as primeiras dissertações foram defendidas no início dos anos de

1980 por alunos da Universidade Nacional de Brasília, com destaque para a tese de doutorado

defendida em 2006 na Universidade Federal do Rio de Janeiro como o trabalho de maior

fôlego. O longo intervalo (16 anos) entre as primeiras dissertações e a primeira tese se faz

notório, sobretudo, quando se sabe que a partir do final dos anos de 1980 os estudos em

antropologia que abordaram a questão (índios e cidades) se fizeram cada vez maiores em

outras regiões do Brasil, e mais intensamente no nordeste. Este fato merece atenção, pois,

como também se nota no quadro 1 acima (Tipos de obras e ano), no estado do Amazonas,

somente nos últimos cinco anos é que esses estudos passaram a ser mais intensos. Vinte

títulos produzidos em apenas três anos, entre 2004 e 2007.

Mais do que atenção, esse fato merece uma investigação mais densa, pois, além de

revelar que enquanto outras regiões do Brasil o ponto (índios e cidades) se fazia “emergente”,

no Amazonas ele estava adormecido ou, de algum modo, silenciado. O fenômeno, se é que

podemos tratar assim da questão, trás mais um indicador importante que nos remete para a

diferença histórica e social não só do estado do Amazonas, mas do Brasil indígena como um

todo. Conforme nos tem anunciado estudos etnológicos recentes, a diferença social, política e

cosmológica dos povos ameríndios se ancoram em bases epistemológicas radicalmente

distintas daquelas que erigiram a vida social, política e cosmológica do Ocidente moderno (cf.

Viveiros de Castro, 2002; Descola, 1986; Dias Jr. & Mendes Santos, no prelo; e outros).

Desse modo, considerando a grande presença indígena nos contextos urbanos da região Norte,

em especial no estado do Amazonas, talvez possamos levantar a hipótese de que a

“emergência” indígena não se deu seguindo o modelo e o momento histórico de outras

regiões, pelo fato dos povos indígenas aqui nunca terem sido sucumbidos a uma ordem outra

ou processo colonizador tal qual nos demais estados brasileiros. Afinal, para “emergir” é

preciso antes estar submerso, ter sido vencido. E este, aparentemente, não parece ser o ponto

de vista dos próprios indígenas no Amazonas.

A hipótese, ainda que pouco elaborada, nos leva um pouco adiante. Olhando para os

quadros 1 e 4 acima (obras e temas privilegiados), nota-se além da particularidade amazônica

anunciada uma expressiva concentração temática associada aos estudos de “identidade étnica”

e “cultura”. Somam mais de 60% dos títulos registrados no banco. O passo adicional que se

faz relevante é buscar na própria temática da etnicidade as razões para o silêncio, o

ocultamento e o baixo rendimento de tais teorias para se pensar a presença indígena nos

contextos urbanos do Amazonas.

75

Podemos mesmo partir do pressuposto de que no Amazonas (e quiçá alhures) os povos

indígenas possuem razões e estratégias para se situarem nos contextos urbanos que as teorias

acadêmicas ainda desconhecem. Sobretudo, aquelas da etnicidade que sustentam a maioria

dos estudos e mesmo quando foram mais ousados, abordando processos de “revitalização

cultural”, trataram pela mesma chave teórica da etnicidade. Ou mais e melhor, como bem

observou Marshal Sahlins (2006), tais teorias mais atrapalham do que ajudam a

compreendermos a questão. A saída, portanto, estaria na busca de outras orientações teóricas

para se tratar do tema. Conforme também anunciei acima, novas abordagens começam a ecoar

no cenário dos estudos etnográficos contemporâneos, tais como propuseram Carneiro da

Cunha, M. 1998; Gow, P. 2003; Heckenberger, M et alii. 2003 e 2008; Iglesias, M. 2008;

Saez, O 2006 e 2000; Santos Granero, F. 1986, Viveiros de Castro, E. 2006 e outros.

Considerações finais

Sabe-se da presença de um expressivo componente indígena nos contextos urbanos da

Amazônia. Fenômeno este que se constata seja pela história das cidades que, no Estado do

Amazonas, emergem sem exceção de uma aldeia indígena (Marcoy 2001); seja pelos sensos

demográficos (Batista 2007); os aspectos linguísticos (Freire 2004), sociais e simbólicos

culturais (Porro 1996); sejam ainda as expressões e comportamentos, as artes, os modos e

vitualhas cotidianos (Cunha 2003, Peres 2002).

Podemos ir adiante e notar a presença desse componente indígena contemplado nas

políticas públicas governamentais, na economia do mercado local de (re)produção tecnológica

e industrial; na expressão literária consagrada no Brasil e internacionalmente de Milton

Hatoum, Marcio Souza, Thiago de Melo e outros. Enfim, pode-se mesmo notar a presença

indígena registrada pela história, refletida no folclore e presente no universo mitológico

constitutivo da vida social manauara. Neste contexto, uma etnografia que busque registrar e

analisar o pensamento, o dito e a interpretação dos povos indígenas sobre os contextos

urbanos na Amazônia seria de suma importância para os estudos etnográficos nas Terras

Baixas.

Não obstante, a despeito deste expressivo componente é quase inexpressivo o que

sabemos em termos antropológicos sobre a presença indígena nos contextos urbanos

amazônicos. Conforme vimos no levantamento acima, limita-se a trinta e três títulos e,

ademais, pautados fortemente pelas teorias da etnicidadade, em especial as formulações de

Frederic Barth (1979); e a noção de fricção interétnica, elaboradas por Roberto Cardoso de

76

Oliveira (1972). O que, de certo modo, explica o inevitável tema da identidade étnica quando

o olhar antropológico fechou o foco sobre a questão.

Considerando o acumulo etnográfico e as construções teóricas elaboradas pela

etnologia sul-americana nas últimas décadas, especialmente a noção de pessoa (Seeger,

DaMatta & Viveiros de Castro, 1979), a afinidade (Overing, 1975, 1977; Rivière, 1979, 1986

e Viveiros de Castro, 1993) e o perspectivismo (Viveiros de Castro, 1996), podemos acreditar

que é hora de analisar a participação indígena nos contextos urbanos amazônicos à luz dessas

ferramentas. Sabe-se que essas teorias muito iluminaram os estudos etnológicos nas Terras

Baixas possibilitando as comparações mais refinadas entre as diferenças sociais e

cosmológicas indígenas.

Tanto as teorias auxiliaram as descrições localizadas quanto o acumulo etnográfico foi

importante para o refinamento das comparações. Hoje, não há quem duvide dos avanços

teóricos dos estudos americanistas que tanto contribuíram para o desenvolvimento da

antropologia em sentido mais amplo, quanto na sua eficácia para o entendimento da

complexidade das sociedades indígenas na América.

Se estivermos de acordo que a noção de pessoa é o princípio que estrutura a vida

social; que a afinidade é o esquema sociológico que pauta a organização do socius; e que a

filosofia desses mundos, de algum modo, estão circunscritas ao perspectivismo, não devemos

descartar essas ferramentas como possibilidade promissora para focarmos os povos indígenas

situados nos contextos urbanos da Amazônia. Elas poderão minimamente nos ajudar a

percebê-los, descrevê-los e analisarmos a participação indígena no arranjo desses coletivos.

Este é um dos desafios que se faz atual e, conforme o levantamento junto ao banco do

Neai revelou, promissor. Noutras palavras, fechar o foco sobre a presença indígena nos

contextos urbanos da Amazônia e suas extensões (cidades, comunidades e aldeias do interior)

à luz das contribuições americanistas anunciadas. Se, por um lado, sabemos que essas teorias

foram cunhadas em aldeias e, portanto, expressam socialidades muito específicas; por outro,

entendemos também que princípios, esquemas e filosofias não são como as roupas que se

trocam todos os dias. Portanto, o componente indígena nas cidades Amazônicas não pode

prescindir das contribuições antropológicas e suas noções e teorias cunhadas nas aldeias.

77

Tabela

Produção Bibliográfica sobre o Tema

TIPO TITULO

Dissertação A reinvenção das formas de controle social: um estudo sobre a participação indígena no

Conselho Municipal de Saúde de São Gabriel da Cachoeira

Monografia Os índios Baré na cidade de Manaus

Artigo Mulheres indígenas e artesãos do Alto Rio Negro em Manaus

Artigo Indígenas na cidade de Manaus: os Sateré-Maué no bairro da Redenção

Monografia O reflexo da sociedade envolvente na identidade das crianças Sateré-Mawé da aldeia em

contexto urbano - Y'Apyrehyt

PIBIC Multi e/ou bilingüismo e valor funcional das línguas indígenas em Manaus

Monografia A criança indígena na escola regular: os alunos Sateré-Mawé da comunidade Y'Apyrehyt

na escola regular em Manaus

Dissertação Etnia e urbanização no Alto Rio Negro: São Gabriel da Cachoeira – AM

Monografia Os Mediadores do mundo indígena frente a dinâmica do controle social no Distrito

Sanitário Especial Indígena de Manaus

PIBIC Índios urbanos: um grupo Ticuna na cidade de Manaus

Monografia Ritos de passagem: ritual Sateré-Mawé em contexto urbano de Manaus

PIBIC Quem são os donos do guaraná? representações sociais sobre os índios Sateré-Maué

Dissertação A identidade com os bravos: política e religião em um núcleo urbano Ticuna

Dissertação Negociando a identidade com os brancos : política e religião em um núcleo urbano

Ticuna

Dissertação Índios proletarios em Manaus: el caso de los Sateré-Mawé citaditos

Monografia O artefato como instrumento para a preservação e a sobrevivência da etnia Sateré-Mawé

no contexto urbano

Artigo Barés, Manaos, Tarumãs: o processo histórico da urbanização de Manaus

Monografia Uso de plantas medicinais entre os Sateré-Mawé nos processos saúde/cura/doença

Dissertação Identidade etnica y regional: trayecto constitutivo de una identidade social

Monografia Identidade e tradição: a mulher indígena Sateré-Mawé da comunidade "Yapyrehyt"

Monografia Movimento indígena urbano da associação das mulheres indígenas Sateré-Mawé

Dissertação A criança indígena na escola urbana: um desafio inter-cultural

Tese Estudar e experimentar na cidade: trajetórias sociais, escolarização e experiência urbana

entre “jovens” indígenas ticuna, Amazonas

Dissertação Metaformofes em Yauareté: em direção ao urbano (1985-2005)

Artigo Entre a aldeia e a cidade

Artigo De Aldeados a urbanizados: aspectos da identidade étnica indígena na cidade de Manaus

Artigo Fazer etnográfico entre as mulheres: o processo social e político das Númia-Kurá no

espaço urbano da cidade de Manaus/AM. In: 23ª Reunião Brasileira de Antropologia

Dissertação O universo social dos indígenas no espaço: identidade étnica na cidade de Manaus

Dissertação Movimentos migratórios da população Sateré-Mawé: povo indígena da Amazônia

Dissertação Situação epidemiológica da tuberculose e condições de vida no município de São Gabriel

da Cachoeira

PIBIC Universidade e povos indígenas no Amazonas

Monografia Ente a educação na aldeia e a escola na cidade: a educação escolar entre os ticunas no

bairro Cidade de Deus

PIBIC Trajetórias alimentares entre os índios Baniwa urbanizados

PIBIC Índios em contextos urbanos: o que sabemos em Manaus?

78

Referências Bibliográficas

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80

PRODUÇÃO FONOGRÁFICA E BIBLIOGRÁFICA SOBRE A MÚSICA DOS

POVOS INDÍGENAS DO ESTADO DO AMAZONAS

Deise Lucy Oliveira Montardo

Professora do Departamento de Antropologia da UFAM e pesquisadora do Núcelo de Estudos da

Amazônia Indígena (NEAI/PPGAS)

Este relatório dá ênfase a produção fonográfica e bibliográfica sobre a música dos

povos indígenas do Estado do Amazonas, o qual inicialmente não foi previsto no escopo do

projeto. Destaco como resultados o relatório do aluno de iniciação científica Ivanilson

Barbosa da Costa (2008) intitulado “Registro fonográfico de música indígena: estudo sobre a

pesquisa, produção e comercialização” desenvolvido sob minha orientação, bem como o

artigo “Índios na cidade: Facetas da Arte no encontro intercultural” (Montardo 2009)

publicado no livro “Estigmatização e território” organizado por Almeida e Santos (2009)

As referências a música indígena se espalha em produções tais como as dos viajantes,

em etnografias clássicas, em etnografias especializadas e centradas na questão em foco e em

materiais fonográficos das mais diversas ordens. Não vamos aqui dedicar atenção a

referências esparsas que aparecem geralmente no contexto de descrição dos rituais e vida

cerimonial dos indígenas.

Um dos registros mais recuados no tempo e, por sua vez, também mais detalhados a

cerca da música e dos instrumentos musicais indígenas no Estado do Amazonas, está na obra

de Theodor Koch-Grünberg (2005). O pesquisador tinha um interesse especial na cultura

material e estava coletando peças para o acervo de museus (Montardo 2007). Além disto ele

trazia consigo um fonógrafo, máquina inventada a pouco tempo e que permitia o registro de

sons em cilindros de cera. Abro uma nota aqui para enfatizar que este acervo de cerca de 86

cilindros que encontram-se no arquivo fonográfico de Berlim, foram selecionados 36 que

foram lançados em um cd da viagem que Koch-Grünberg fez entre 1911 e 1913 na Amazônia

brasileira (Koch & Ziegler 2006). Este cd conta com um livreto, em alemão e português, com

textos de etnomusicólogos com análises sobre a gravação e a música dos povos ali

representados, que são Taulipáng, Makuschi, Wapischana, Tukano, Yekuana, Desana e

Baniwa (Mendivil 2006).

Koch-Grünberg não era musicólogo e suas gravações foram analisadas por Erich

Moritz Von Hornbostel, em escritos publicados no terceiro volume de sua obra “De Roraima

ao Orinoco”(1923), ainda não traduzida para o português.

81

Em meados do século XX, o padre salesiano Alcionilio Brüzzi Alves da Silva

publicou vasta pesquisa acompanhada de discos intitulada “Discoteca etno-linguístico-

musical das tribos dos rios Uaupés, Içana e Cauaburi (1961).

Trabalhos desenvolvidos por antropólogos sobre a temática musical na região passam

a ocorrer na década de 1990. Citamos a dissertação de mestrado de Domingos Silva (1997)

“Música e pessoalidade: por uma Antropologia da música entre os Kulina do Alto Purus”, no

qual o autor explora a música como central num ciclo de transformações simbólicas entre

cultura e natureza.

Na região do Alto Rio Negro, Acácio Piedade realizou a dissertação de mestrado

”Música Ye´pâ´masa: por uma antropologia da música no Alto Rio Negro”, no qual o autor

faz um levantamento dos instrumentos musicais e analisa gêneros vocais musicais masculinos

e femininos, assim como a música instrumental dos aerofones cariço, flauta de pã e japurutu,

flauta.

No Vale do Javari, Guilherme Werlang (2001) escreveu sua tese de doutorado

“Emerging Peoples: Marubo myth-chants” sobre a relação entre o mito e a música Marubo,

grupo de língua Pano.

Se fossemos considerar aqui a produção de monografias sobre música indígena na

região Amazônica, o número de trabalhos cresceria, porém não muito. Teríamos, entre outros,

Seeger (1997) para os Suyá, Menezes Bastos (1978, 1990) para os Kamayurá, Mello (1999,

2005) e Piedade (2004) para os Wauja, região do Xingu; Beaudet (1983, 1997) para os

Waiãpi, região das Guianas, Hill (1993, 1997) para os Wakuenái, na Venezuela, Lourenço

(2009) para os Javaé, Ilha do Bananal. Teríamos ainda coletâneas como a organizada por

Tugny & Queiroz (2006) “Músicas africanas e indígenas no Brasil, bem como as

enciclopédias editadas por Olsen & Sheehy (2000), “The Garland Handbook of Latin

American Music” e por Kuss (2004) “Music in Latin America and Caribbean, volume 1,

Performing Beliefs Indigenous peoples of South America, Central America and Mexico.

Todos os trabalhos citados neste parágrafo são acompanhados de CDs.

Nos limitamos, no entanto, aqui, para o escopo deste projeto aos trabalhos feitos nos

limites do Estado do Amazonas.

Já no que se refere aos cds de música indígena a maior dificuldade é realizar um

levantamento exaustivo, devido as peculiaridades deste tipo de produção. Não há um lugar

onde se centralizem as informações sobre a produção fonográfica, como ocorre com teses e

dissertações, por exemplo, nos bancos de teses. Esta situação é abordada no Relatório de

Iniciação Científica de Ivanilson Costa (2008), citado acima.

82

Quanto ao material sonoro registrado em campo por pesquisadores e outros atores,

abro um parênteses para ressaltar que no Brasil, não há a prática do depósito destes registros

em instituições o que os torna, o mais das vezes, praticamente inacessíveis. Seeger (2008) tem

ressaltado a importância do cuidado com o material registrado em campo, gravações e diários,

pois estes estão sob suportes perecíveis e, muitas vezes, esquecidos nas casas dos

pesquisadores. Isto ocorre, principalmente quando o tema central da pesquisa não eram as

músicas.

Compact Discs - Cds.

Neste relatório optamos por escolher alguns exemplos de cds e destacar neles aspectos

tais como, agentes da produção, tiragem, conteúdo informativo, entre outros. Vamos inverter

o sentido e iniciar por um trabalho em andamento, que trata-se do Projeto Acalanto, canções

das mulheres indígenas do Rio Negro. Este cd está sendo produzido por Ricardo Franco de Sá

e Andréa Prado com patrocínio da Petrobrás. O projeto aprovado no edital de Patrimônio

Imaterial do Petrobrás cultural de 2004/2005, devido aos trâmites burocráticos comuns nestes

casos pode ser iniciado em 2007. Segundo relato da viagem da equipe do projeto para as

gravações, realizada em agosto de 2008 , o objetivo principal foi o registro das canções das

mulheres indígenas do tronco lingüístico Tukano Oriental residentes em comunidades ao

longo dos rios Balaio, Uaupés e Tiquié. O trabalho encontra-se em fase de finalização, mas,

por comunicação pessoal, podemos adiantar que estão sendo feitas traduções dos letras dos

cantos, o que provavelmente irá constar no encarte.

O Cd duplo Magüta arü wiyaegü, Cantos Tikuna (Pereira & Pacheco 2009) foi

lançado neste ano como parte da Coleção Documentos Sonoros do LACED/Museu Nacional,

Rio de Janeiro. O livreto do encarte vem com a apresentação da Petrobrás, a empresa

patrocinadora e de Nino Fernandes, presidente do Conselho Geral da Tribo Tikuna, CGTT e

diretor do Museu Magüta, o museu indígena que se localiza em Benjamin Constant. Este é um

exemplo de trabalho feito com preocupações acadêmicas o que se demonstra pelo cuidado

com as informações do livreto que trazem mapas, fotografias e textos de João Pacheco de

Oliveira sobre os Tikuna e o seu principal ritual, o ritual da moça nova e de Emundo Pereira e

Gustavo Pacheco sobre a música e os instrumentos musicais deste povo. Muito interessante

também neste trabalho é que ele se propõem a trazer, além da música “tradicional” aprendida

nos tempos primordiais, a música que os tikuna tem feito nos dois últimos séculos e que tem

elementos das músicas de baile, músicas dos países vizinhos, forro, brega, toadas de boi e

músicas feitas para evangelizar.

83

Os produtores Pereira e Pacheco concluem sua apresentação narrando como se deu a

produção do cd e enfatizando que de 13 horas de gravação, foi feita, junto com os

interlocutores indígenas, uma seleção que compõem os dois cds. O conjunto total das

gravações está depositado no Museu Magüta e representam parte da riqueza musical dos mais

de 35 000 tikunas. O telefone e endereço eletrônico do Museu Magüta é fornecido para

contato: (97) 3415 6077 e [email protected], bem como a página do Laced, o

laboratório de pesquisas em etnicidade, cultura e desenvolvimento, www.laced.mn.ufrj.br.

O Cd Reahu He à – Cantos da festa yanomami (Kopenawa Yanomami & Wesley de

Oliveira 2008) foi realizado pela Hutukara Associação Yanomami e o Som das Aldeias, com

apoio da ONG CCPY Pró-Yanomami e Patrocínio do Projeto Demonstrativo dos Povos

Indígenas (PDPI) do Ministério do Ambiente (MDA). O encarte é apresentado e traz

depoimentos da liderança David Kopenawa Yanomami, o qual é presidente da Associação. Os

depoimentos sobre os cantos foram recolhidos, traduzidos e editados pelo antropólogo Bruce

Albert e são entremeados com desenhos de cenas da festa. As gravações tiveram participação

de cantores das comunidades do Watoriki, Toototobi, Catrimani e Baixo Catrimani e foram

feitas na aldeia Watoriki (Serra dos Ventos), estado do Amazonas, em março de 2005.

Destaco a apresentação das letras dos cantos acompanhados de tradução e em especial o texto

de David Kopenawa sobre “As árvores dos cantos” com o qual introduz os Cantos Xamânicos

do qual transcrevo o seguinte trecho:

“Onama plantou as árvores dos cantos nos confins da floresta, onde a terra

se acaba e onde estão fincados os pés do céu. Destes lugares, eles distribuem

sem trégua seus cantos para todos os espíritos que acorrem até eles São

árvores grandes, cobertas de lábios que não param de se mexer, umas encima

das outras. Deixam escapar melodias magníficas que se seguem sem fim, tão

inumeráveis quanto as estrelas no peito do céu. Suas palavras nunca se

repetem e nunca se esgotam. É só um canto acabar que um outro começa,

Eles não param de proliferar em suas bocas sem número. Por isso os

xaripiripë, tão numerosos quanto possam ser, podem adquirir todos os

cantos que desejarem, sem nunca esgotá-los. Eles escutam as árvores

amoahiki com muita atenção. O som dos cantos penetra neles e grava-se em

seu pensamento. Eles os capturam assim como se fossem gravadores dos

Brancos, nos quais Omama também colocou uma imagem de árvores dos

cantos. É desta maneira que eles podem aprendê-los. Sem estes cantos não

poderiam fazer suas danças de apresentação.”

No final do encarte encontra-se o telefone e e-mail da Associação Hutukara para

interessados em adquirir o cd: (95) 3224-6767 e [email protected].

84

Um exemplo bastante diferente dos anteriores encontramos no Cd Cantos Indígenas

(2007). Este trabalho foi uma ação da Secretaria Municipal de Cultura e segundo os agentes

foi uma demanda dos grupos musicais que se apresentavam mensalmente na Feira indígena

Pukaá. A demanda foi acoplada ao projeto Regatão Cultural, que previa gravações de artistas

locais o que resultou no cd. O que ressalto como diferencial deste trabalho é que enquanto os

anteriores mostram uma preocupação em dar os créditos para os músicos apresentando

informações sobre as etnias a qual pertencem, este não traz nenhuma informação neste

sentido. Ou melhor, traz o nome do cantor ou compositor, fotos das apresentações, o nome do

grupo e a tradução das letras das canções, mas sem preocupação em explicar para quem não

conhece os universos ali referenciados. Por exemplo, há canções em tukano, tikuna, ñengatu,

mas não há referências a isto. Os nomes parecem ser dos grupos musicais, mas podem ser

interpretados como sendo o nome da etnia, pois em alguns casos coincidem. A impressão que

tenho é que o trabalho foi feito pensando no próprio público, diferentemente dos anteriores

em que há uma preocupação com um público mais amplo, e uma intenção de tratar da cultura

indígena de etnias específicas. Os grupos são aicünã, bayaroá, inhã-bé, magüta,

wotchimaucü, ikerpy, munduruku, mypynukuri, myryhu.

Outro exemplo de produção é o DVD “Danças Indígenas”, produzido caseiramente

pelo Antônio Sodré (s/d), músico Tariano. Ele reproduziu uma gravação feita para um

programa da TV Cultura para a venda. Tem apenas uma capa com uma foto dos músicos

dançando e cerca de 5 minutos de imagem e som. Na capa consta o título e uma frase que diz:

“Autorizada comercialização de acordo com a portaria n. 177/PRES, de 16 de fevereiro de

2006 – FUNAI.

O CD “Cantigas Tikuna wotchimaucü” foi produzido por Braga & Barroncas (2004).

Traz as letras dos cantos somente em português e não menciona quem patrocinou. Na ficha

técnica agradece a UFAM na pessoa da Profa. Dulce e a OGPTB e a CGTT. Uma diretora da

organização de mulheres indígenas Tikuna em comunicação pessoal me informou que a

primeira edição do cd foi patrocinada e que se esgotou. A partir daí a associação pagou uma

reimpressão, cujos exemplares elas vendem em feiras juntamente com o artesanato.

O livreto do CD “União dos Povos” traz uma apresentação assinada pelos, então

presidente da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB),

Jecinaldo Barbosa, gerente técnico do PDPI, Gersem dos Santos Luciano, assessora da GTZ

no PDPI, Sondra Wentzel, na qual o mesmo é considerado o primeiro de música indígena da

cidade de Manaus. O material, conta também, com textos explicativos das faixas que são

apresentadas como uma pequena amostra do universo musical da Amazônia, contemplando

85

quatro etnias de três regiões do Estado do Amazonas (Franco de Sá 2003). O Cd inicia com

uma vinheta instrumental Tariano, seguida de cantos Tikuna, Tukano e Satere-mawé. Os

textos de Gabriel Gentil, Cláudia Tikuna e Wellington Cabral falam do significado da música

e dos instrumentos musicais para cada uma destas etnias. O livreto contempla ainda as letras

das canções na língua em que são cantados e em português e os créditos de todos os

instrumentistas e cantores.

É muito difícil se restringir as fronteiras do Estado do Amazonas quando tratamos de

populações indígenas, que tem configurações muito anteriores as atuais fronteiras sócio-

políticas tanto quando nos referimos as unidades da federação como quando isto acontece em

relação aos Estados-nações atualmente constituídos. Fizemos questão de incorporar neste

relatório o Cd “Caxiri na Cuia: o forró da maloca” produzido por Wesley de Oliveira com os

Macuxi e Wapixana da Terra Indígena Raposa da Serra do Sol, e patrocinado pelo PDPI,

MDA. Considero ser este um exemplo de trabalho que reflete a autonomia dos povos

indígenas em escolher o que gravar em termos dos gêneros musicais de sua preferência. Neste

CD várias das letras falam do processo de reivindicação pela homologação daquela Terra

Indígena e outras lutas deste povo.

Finalizamos ressaltando que o registro das músicas e produção de cds e dvs é uma

demanda dos povos indígenas e que tem sido, em certa medida contemplada por editais de

empresas como a Petrobrás, do Ministério da Cultura e também através do PDPI, com sua

linha de financiamento referente a valorização cultural.

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88

ANÁLISE DA PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE OS POVOS INDÍGENAS NO

RIO NEGRO

Laise Lopes Diniz

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFAM

Danilo Paiva Ramos

Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP

Neste trabalho é apresentada uma revisão da bibliografia sobre a região do médio e

alto Rio Negro, realizada em consulta ao Banco de Dados Bibliográficos do projeto Amazonas

Indígena, que reuniu artigos, livros, dissertações e teses, que abordam a região do médio e

alto rio Negro. A pesquisa concentrou-se em publicações direcionadas ao estado do

Amazonas, no Brasil.

A região do médio e alto rio Negro está ao noroeste do estado do Amazonas, o limite é

o município de Barcelos do Rio Negro, ao sul pelo rio Japurá, a oeste e a norte pela fronteira

do Brasil com a Colômbia e Venezuela. O alto rio Negro faz fronteira com a Colômbia e

Venezuela, e, em 1998, foram homologadas as 5 terras indígenas demarcadas: Alto Rio

Negro, Médio Rio Negro I, Médio Rio Negro II, Apapóris e Tea. Esta região compreende os

municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel e Barcelos, cidades localizadas na

margem esquerda do rio Negro.

É formada por um sistema complexo de pluralismo étnico, são 23 povos indígenas

falantes de línguas das famílias Tukano Oriental, Aruak e Maku; organizados em suas áreas

tradicionais. Desses povos indígenas se destaca a diversidade lingüística, que é refletida na

organização social, na ocupação de territórios, no papel dentro da cultura material e simbólica

e acesso a recursos naturais.

O grupo Tukano Oriental habita principalmente a bacia do Uaupés e seus afluentes:

Tiquié, Papuri, Querari, Iauaira e Japú. Atualmente existe mais de 200 comunidades e sítios,

com uma população em torno de 6.000 pessoas, sendo que quase a metade vive no distrito de

Iuaretê. A população indígena dessa região é divida em cerca de 15 grupos lingüísticos

exogâmicos e patrilineares, as etnias na bacia do Uaupés são: Arapaço, Barassano, Bara,

Dessano, Cubeo, Karapanã, Makuna, Miriti-Tapuia, Siriano, Tariano, Taiwano, Tatuyo,

Tukano, Tuyuka e Wanano.

Os grupos Aruak são: Baniwa, Coripaco, Baré, Werekena e Tariana. Estes não estão

concentrados majoritariamente em uma única região, os Baniwa e Coripaco habitam o Içana e

seus afluentes Ayari, Cuiari e Cubate; os Baré estão principalmente na região do Rio Negro;

os Werekena no rio Xié e os Tariana na região do Uaupés. Estes últimos vivem há muito

89

tempo na região do Uaupés, onde estabeleceram uma rede matrimonial e sócio-político junto

aos povos Tukano e hoje apenas um pequeno grupo fala a língua tariana.

Os grupos de língua maku são: Hupde, Yuhup, Nadeb e Dow (Kamã). Estes

apresentam características que os diferenciam dos outros grupos na região do Rio Negro,

vivem no interior da floresta, nos igarapés ao invés dos grandes rios, característica esta que na

etnologia passou-se a adotar a distinção como os índios do mato, e os grupos Tukano e Aruak

adota-se a oposição dos índios do rio. Os Maku se caracterizam pela mobilidade por terra,

com maior sofisticação nas técnicas de caça, enquanto os Tukano e Aruak tem maior

mobilidade por rio e técnicas mais desenvolvidas na agricultura.

A produção etnográfica do Alto Rio Negro costuma utilizar a subdivisão da região de

acordo com seus principais cursos de rio, os quais equivalem aos sítios ancestrais de moradia

de grupos étnicos específicos.

A divisão geográfica das sociedades locais tem orientado o processo histórico,

principalmente relacionado a política de contato; e ainda é presente, inclusive influenciando a

atuação da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro - FOIRN, atualmente

organizada em cinco regiões políticas: Uaupés, Tiquié e baixo Uaupés, alto rio Negro, médio

rio Negro e Içana. Esta divisão política vai ser assumida como orientação de contagem das

produções encontradas no banco de dados.

O Banco de Dados bibliográficos do projeto Amazonas Indígena reuniu 572 obras, que

para fins deste relatório foram classificados em dez grupos de tipos de produção: artigo,

capítulo, dissertação, livro, monografia, PIBIC, relatório, tese, vídeo e outros.

Gráfico 1

Levantamento da Produção bibliográfica

90

A primeira obra no registro do banco de dados data 1853, na segunda metade do

século XIX, Travels on the Amazon an rio Negro de Alfred Russel Wallace, mas é perceptível

uma irregularidade, com destaque ao fato de não haver registro entre 1854 a 1872. A maioria

das produções levantadas no banco de dados se dá após 1966, onde se verifica maior

constância da produção bibliográfica, que pode ser vista nas tabelas em anexo.

Estudos por região

No rio Negro tendo como base as regiões políticas, podemos dividir as 572 obras de

acordo com as regiões: Uaupés, Tiquié, Içana, alto Negro e médio Negro. Sendo que a maior

produção é encontrada na região do Rio Negro, que inclui estudos de maior amplitude na

região, muitas das vezes envolvendo o rio Negro e os afluentes, são 203 obras escritas.

Os estudos no rio Negro enfatizam características peculiares do ecossistema associado

a etnologia, apontando as determinações ecológicas do ambiente que é formado por escassez

de nutrientes e a vida das populações indígenas. O principal enfoque, se dá em torno das

ações adaptativas das populações nesta região, exaltando o profundo conhecimento indígena

da ecologia e da elaboração de técnicas de manejo e relações sociais adequadas a vivência.

Nesta abordagem destaca-se o trabalho de Berta Ribeiro(1995), “Os índios e águas

preta”, no qual a autora aponta as estratégias e técnicas de manejo do meio ambiente. Um

estudo detalhado das técnicas de pesca, horticultura e botânica do grupo Desana, destacando o

sistema de processo da mandioca brava, como principal fonte de nutrientes na alimentação

dos povos que vivem no rio Negro.

Outra característica dos estudos relacionados ao rio Negro está diretamente ligada a

região do médio Negro, que teve um período de pouca produção de pesquisa etnográfica, um

dos motivos é a linha de estudos de aculturação desenvolvidos por Eduardo Galvão e Adélia

Engrácia de Oliveira, na década de 70. Com o foco no processo de assimilação das sociedades

indígenas a sociedade regional, os estudos apontavam que os grupos do rio Negro podiam ser

considerados “camponeses”, definindo que os índios desta região haviam sido destribalizados

e aculturados. Eduardo Galvão (1955, 1959, 1979) e Oliveira (1971) em seus trabalhos

indicam que os índios da região a partir da integração com a sociedade nacional ou regional

tornaram-se camponeses e perderam os valores da cultura indígena, o que gerou que a

pesquisa etnográfica tivesse menor interesse por parte dos pesquisadores das ciências sociais.

Em relação a Terra Indígena Yanomami, as produções relacionadas no banco de dados

engloba a região do alto e médio rio Negro e a parte ocidental do Estado de Roraima. Foram

124 produções, sendo Bruce Albert o autor que mais se destaca no conjunto das obras, tem 23

91

produções que englobam uma etnografia fina dos povos Yanomami, abordando temas como:

cosmologia, parentesco, saúde e política.

Gráfico 2

Produção por Região

Gráfico 3

Obras por Período e Região

Na região do rio Uaupés e os seus afluentes, foram registrada 107 obras, esta é uma

região importante referente a produção etnográfica, composta majoritariamente por povos

indígenas das famílias lingüísticas Tukano e Maku, e que possuem relações guiadas pela regra

de exogamia lingüística, fundamentada num sistema de troca de mulheres. Os primeiros

trabalhos bibliográficos na região do Uaupés são dos viajantes no século XVI, como

Francisco Orellana e Perez de Quesada, há também os relatos dos missionários, como o padre

espanhol Cristobal de Acun (Companhia de Jesus).

92

Wright (1992), afirma que o contato efetivo se deu no de 1730, quando realmente

ocorreu o comércio de escravos indígenas, que em seguida gerou os descimentos e também a

aproximação dos programas governamentais, como é o caso da catequese. Uma história

marcada pela exploração da mão de obra da população indígena e a inclusão da religião cristã,

o que provocou mudanças na ideologia nativa e na forma tradicional de vida.

Os missionários investiram desde o inicio contra as práticas nativas, os rituais e o

modo de vida comunal nas malocas; tendo esta prática articulada ao sistema educacional

escolar, isto se deu a partir da instalação da Ordem dos Salesianos em 1914. Esta prática

tornou-se mais forte com a chegada das missões evangélicas no final dos anos 40, o que

resultou numa disputa pelos índios de acordo com Jackson (1982). A missão Salesiana teve

maior sofisticação em relação às técnicas de catequese, assumiram as narrativas indígenas

adaptadas as histórias bíblicas e vale ressaltar os importantes trabalhos etnográficos dos

padres Casimiro Béksta (1985), Alcionilio Brüzzi Alves da Silva (1975, 1977, 1979, 1994) e

Eduardo Lagório (1983).

Um dos aspectos importantes tratados na bibliografia rionegrina é o acentuado

enfoque a homogeneidade dos Arawak e Tukano, o que foi tratado por Koch-Grünberg (1909)

do processo de Tukanização dos Arawak e por Nimuendaju (1927) como três camadas de

civilização: a primeira formada pelos Maku que seriam autóctones, a segunda correspondente

aos povos que tiveram movimentos migratórios (primeiro os Arawak e segundo os Tukano) e

a terceira camada o resultado da inter-relação dos Baré (Arawak) e a civilicação européia.

Outro aspecto está relacionado a predominância hierárquica do sistema regional,

tratado nos mitos de origem e em alguns estudos relacionados a evidência arqueológica, é o

caso dos trabalhos de Stephen Hugh-Jones (1993, 1995) que utiliza os trabalhos da

arqueóloga Ana Roosevelt para tratar da complexidade dos sistemas de relações do rio Negro.

O trabalho de Eduardo Neves (2001), também se destaca por relacionar a tradição oral,

pesquisa arqueológica e os dados lingüísticos, para evidenciar que o sistema regional tem

origem pré-colonial.

As descrições etnográficas privilegiam a hierarquia como característica marcante na

região, associada aos mitos de origem, no caso do Uaupés o mito da cobra-canoa, os

primeiros a saírem do lugar mítico na cachoeira de Ipanoré são os mais velhos e a seqüência

vai até os mais novos, definindo a posição hierárquica. Este foi um dos focos da proposta

93

elaborada por C. Hugh-Jones (1979), que caracteriza os grupos do Uaupés como simples ou

compostos, sendo o simples formado por uma série de sibs hierarquizados e os compostos por

duas ou mais séries de sibs. Relação que sofre influência da concentração geográfica, que não

necessariamente segue ao modelo ideal da relação hierárquica, pois a autora aponta que a

relação de sib simples desenvolvendo rituais num território contínuo, na maioria das vezes

está associado a um passado idealizado.

S. Hugh-Jones (1995) utilizou-se dessas formas distintas de sociabilidade para

formular o conceito de “casa” e qualificar a estrutura social do Uaupés, tendo como fonte a

produção de Levi-Strauss. São exemplos de importantes conceitos que a etnografia do rio

Negro deixou de legado para a antropologia.

Referente à região do Içana, no qual tem o registro de 59 obras, destacamos o trabalho

de Journet (1980), que realizou seus estudos com os grupos Coripaco no lado da Colômbia,

mas que é referência aos estudos dos grupos Aruak desta região, seus estudos referente a

organização social, descreve as fratrias que compõem os grupos Baniwa e Coripaco, estes

organizados em sibs ou grupos de descendência patrilinear e patrilocais, estes hierarquizados

de acordo ao mito de origem.

Tema também abordado Jonathan Hill (1983), que destaca a importância das relações

entre fratris e sibs está na produção de modelos cognitivos que orientam a tomada de decisão

no dia-a-dia. A relação entre fratrias é marcada pela afinidade e a relação entre sibs marcada

pela consangüinidade, que de acordo com o trabalho de Hill, tem real influência no

comportamento social e econômico, ou seja, na organização da vida social.

Hill (1983) aponta que aspecto lingüístico não é importante para a diferenciação e a

integração das fratrias e sibs dos povos aruak do noroeste amazônico, sobretudo pelo fato de

que a exogamia lingüística, característica tão marcada entre povos tukano orientais (exceto os

Cubeo, Goldman, 1963), não ser uma regra entre os povos aruak.

Wright (1981, 1992), que também aborda questões referentes a organização social e

hierarquia, tem como o eixo do seu trabalho a mitologia de origem, apontando que as fratrias

são nomeadas de acordo com o nome do sib de maior importância ritual.

Entretanto, as pesquisas de Wright (1981), assume uma perspectiva histórica, na qual

aponta as marcas do terror frente às expedições de captura ficaram marcadas nas memórias

indígenas. Tendo como referência o estudo feito entre os Hohodene do rio Aiari (afluente do

94

Içana), o grupo relata as guerras intertribais e interétnicas, que provocaram a extinção de sibs

inteiros, a morte por epidemias e uma grave desorganização da vida social. Como resultado,

houve uma grande dificuldade da reprodução dos meios materiais e simbólicos de sustentação

à cultura deste povo.

Koch-Grümberg (1995) é a principal fonte de informação da situação dos Baniwa no

início do século XX, relatando o funcionamento do extrativismo sob a ordem de seringalistas

e a disputa com os militares do forte de Cucuí e com outros seringalistas brasileiros e

colombianos o controle das riquezas geradas pela borracha (Wright, 1999).

Outro destaque do trabalho de Wright (1992) é referente surto milenarista conduzido

por Venâncio Kamiko, em meados do século XIX, que demonstra que a cristianização dos

Baniwa já assumia contornos próprios, que iriam se consolidar no século seguinte.

Outro destaque é para a produção de Luiza Garnelo (2003), que em seu trabalho

Poder, hierarquia e reciprocidade: saúde e harmonia entre os Baniwa do Alto Rio Negro,

traz uma importante contribuição a antropologia médica, articulando a uma perspectiva da

antropologia política das relações interétnicas. A autora também aborda a organização social

tendo como foco as organizações políticas de base do movimento indígena, aponta como os

Baniwa estruturam as formas sociais atuais dentro do movimento indígena como resultado da

inter-relação com a sociedade externa, porém a partir de uma leitura própria desses povos.

Trata sobre a importância do equilíbrio da lógica de parentesco e os ideais das instituições

políticas, que tem como preceito a democracia da sociedade dos brancos, apontando as

estratégias desses povos diante de regras externas que não são prioritárias no âmbito da

comunidade.

Na região do rio Tiquié, que reunimos 51 obras, destacamos o trabalho de Renato

Athias (1995, 2000, 2003) sobre os Hupda que tem como eixo central do seu trabalho a

relação hierárquica entre os grupos Tukano e Hupda, reforçando a distinção entre os índios do

mato e os índios do rio.

Outro destaque que daremos aqui é a proposta elaborada por Aloisio Cabalzar (2000),

a noção de nexo regional no noroeste amazônico, na qual afirma que as relações, baseadas na

descendência patrilinear e na aliança, são articuladas e organizadas espacialmente por um

conjunto de subgrupos ou grupos locais próximos.

Apesar do trabalho de Cabalzar ter como foco os Tuyuka, o conceito de nexos

95

regionais passou a ser utilizado por todos os etnólogos que realizam trabalhos na região do

alto rio Negro. O conceito de nexo regional expõe que as micro-regiões formadas por diversos

grupos locais, normalmente uma comunidade, possuem relações políticas, rituais e

econômicas. Determinando deste modo, a regra geográfica para definir proibição ou

permissão de casamento, que deve ocorrer entre comunidades do mesmo trecho de rio.

Cabalzar afirma que a geografia pode definir a identidade da fratria, se um determinado grupo

muda de região, pode não ser mais apontado como da fratria original.

Outro destaque é ao trabalho de Christine Hugh-Jones (1979) com os Barasana, no

qual formula o conceito de nexos sociológicos de comunidades de afins, também abordando a

geografia.

As pesquisas referentes a cidade de São Gabriel da Cachoeira, no banco de dados

foram levantados 14 trabalhos, sendo que 5 desses trabalhos foram desenvolvidos pelo grupo

de pesquisa da UFAM: RASI – Rede Autônoma de Saúde Indígena, que funcionou de 1997 a

2006, sob a coordenação de Luiza Garnelo. Estes trabalhos estão relacionados principalmente

a antropologia médica ou sistema social no contexto da saúde indígena.

O destaque que daremos é ao trabalho de Cristiane Lasmar (2002) um estudo

etnográfico sobre a migração da população indígena do rio Uaupés para a cidade de São

Gabriel da Cachoeira. No qual a autora aborda as concepções dessas populações referentes

aos brancos e o modo de vida da cidade, tendo como foco o discurso e a trajetória das

mulheres.

Etnologia do Rio Negro

Entre os principais trabalhos, estão o de Irving Goldman, Arthur Sorensen, Jean

Jackson, S.Hugh-Jones, C.Hugh-Jones, P.Silverwood-Cope e Kaj Arhem, que são hoje

referência para qualquer pesquisador que procure refletir sobre as sociedades ameríndias do

noroeste amazônico. Propõe-se, dessa forma, uma reconstituição das linhas fundamentais que

marcam os trabalhos desses antropólogos que realizaram pesquisas sobre os povos indígenas

do noroeste amazônico. Para tanto, serão ressaltadas as bases teórico-metodológicas que

orientaram suas abordagens, com o objetivo de traçar um panorama da produção etnológica

sobre essa região. Os distintos contextos institucionais, históricos e nacionais nos quais esses

pesquisadores se inserem serão reconstituídos sempre que tal procedimento se mostrar

revelador com relação a suas perspectivas científicas.

96

Reconstituindo algumas interpretações sobre as organizações sociais do Uaupés e Pira-

paraná, A. Cabalzar (1995) aponta que as diferenças entre as sistematizações propostas pelos

autores resultam tanto das distintas situações etnográficas pesquisadas quanto das variantes

das estruturas sociais dessa região (p.26). Os modelos elaborados por Irving Goldman, Arthur

Sorensen, Jean Jackson e Christine Hugh-Jones estariam baseados na teoria da descendência.

Distinguem-se dessas abordagens o trabalho de Kaj Arhem, por mesclar a teoria da aliança à

teoria da descendência, a perspectiva ecológica-econômica de Janet Chernela, e o modelo de

„Casa‟ de S.Hugh-Jones.

A pesquisa de campo de I. Goldman foi realizada durante o período de 1938-40 com

os Cubeo do rio Cuduarí, na região do Uaupés. Segundo A. Cabalar (1995), a esse autor pode

ser atribuído o primeiro estudo sistemático da organização social de um grupo indígena dessa

região. O sib seria o segmento básico da estrutura social, sendo nomeado, localizado,

exogâmico, patrilinear, patrilocal e hierarquizado dentro da fratria (1963, p.90).

Além da organização social, seu trabalho enfoca temas como o ciclo de vida, rituais,

religião, e apresenta uma importante definição do que seria comunidade ou “senso de

comunidade” para os Cubeo. I. Goldman (1963) ressalta que “within a community, the only

fully established patterns of behavior are those of fraternity” (p.43). Segundo J. Overing

(1991), I. Goldman mostra como para os Cubeo a organização social e política dependem da

criação cotidiana de moral alto entre os membros, e não de leis, regras e corporações (p.16). A

produção depende da criação de um moral alto através do qual sejam fortalecidas relações de

harmonia e cooperação (p.14).

Os trabalhos de Arthur Sorensen (1967) e de Jean Jackson (1983) são interessantes

pelo contraponto que estabelecem com o estudo de I. Goldman. O primeiro realiza pesquisa

entre vários grupos lingüísticos da região e mostra que o critério lingüístico permite delimitar

esferas exogâmicas, no caso de grupos Tukano (1995, p.36). A. Sorensen (1967) entende o

universo cultural existente entre os diversos grupos como sendo homogêneo e argumenta que

o multilinguismo é que permite as segmentações (p.672). Já Jean Jackson (1983) mantém o

modelo de organização social de I. Goldman para descrever os Bará, habitantes da região do

Caño Inambú, afluente do Alto Papuri. Segundo A.Cabalzar (1995), uma das grandes

contribuições da autora vem a ser o fato de que ela mostra não haver coincidência entre sib e

grupo local. O trabalho mostra também haver uma grande multiplicidade de versões e

interpretações nativas com relação à organização social.

Assim, a sistematização elaborada por J. Jackson (1983) complexifica aquela traçada

por I. Goldman (1983), mas ao mesmo tempo revela uma marcada continuidade com ele.

97

Para K. Arhem (1981), tanto I. Goldman quanto J. Jackson, entretanto, não deixam

claras as diferenças entre ideais e comportamentos reais. Afastando-se de análises como a de

C.Hugh-Jones que, segundo ele, privilegiam os sistemas nativos de classificação, o autor

separa ideais e padrões de comportamento. Enfoca a organização social Makuna, entendendo-

a como uma variante do sistema social do Uaupés, e buscando tecer comparações com outras

sociedades amazônicas. A aliança prescritiva e simétrica, e a descendência patrilinear são

tomadas como princípios ordenadores, e são descritos a partir dos padrões de comportamento

(p.21).

Em 1968, S. Hugh-Jones e sua esposa C. Hugh-Jones viajam para a região do Pirá-

Parana, no Uaupés colombiano, para iniciarem suas pesquisas etnográficas sobre os Barasana,

povo Tukano. No mesmo período, P. Silverwood-Cope inicia sua pesquisa de campo entre os

Bara, povo Makú da mesma região.

Orientados por Edward Leach, o casal Hugh-Jones estabeleceu-se entre os Barasana

com os quais desenvolveram pesquisa de campo entre setembro de 1968 e dezembro de 1970

na região do Pirá-Paraná. Como conta S. Hugh-Jones (1979), dentre os objetivos de seus

trabalhos estava o exame da relação simbiótica entre os povos Tukano e Makú, sendo estes

últimos estudados por P. Silverwood-Cope. Um segundo objetivo era oferecer um teste

empírico às grandes generalizações que Lévi-Strauss estabeleceu ao relacionar a estrutura da

mitologia dos povos ameríndios com a cultura e pensamento desses povos.

O foco da pesquisa de S. Hugh-Jones (1979) incide sobre o complexo ritual do

Yurupary entre os Barasana, povo falante de Tukano que habita a região do Uaupés. De seu

ponto de vista, é através dos rituais que os sistemas mitológicos adquirem significado

enquanto força ativa e princípio de organização do dia a dia desses povos (p.3). O autor

propunha uma abordagem que integrasse a análise estrutural do mito ao estudo da religião e

da cosmologia para construir uma interpretação unificada do pensamento religioso dessa

sociedade (p.4). A pesquisa buscaria tomar como referência outros rituais e o corpo de mitos

para mostrar como o ritual realiza uma mediação entre o pensamento mítico e a ação social

(idem).

Em From the Milk River, C. Hugh-Jones (1979) estabelece também comentários sobre

o projeto em que os três pesquisadores estavam envolvidos sob orientação de E. Leach. Seu

trabalho enfatiza mais a estrutura da vida secular e suas as relações com outras estruturas

como o parentesco, o mito e o ritual. A organização social dos Barasana é enfocada a partir de

sua inter-relação com os conceitos de espaço e tempo, ciclo de vida, vida ritual, dentre outros

98

aspectos que caracterizam o modo peculiar e notável com que a antropóloga compõe sua

interpretação.

P. Silverwood-Cope (1990) inicia seu trabalho contextualizando os povos Maku, e

mais especificamente os Bara Maku (Kákwa), povo sobre o qual realizou sua pesquisa

etnográfica e que habita a região do rio Uaupés colombiano. Para tanto, são descritas as

relações de contato com os seringueiros, comerciantes, colonos, missionários católicos, e

pesquisadores do SIL. Sua pesquisa apresenta uma descrição detalhada do modo de vida dos

Bara Maku e, genericamente, dos Maku, abrangendo as atividades de caça, pesca, coleta e

colheita, os conhecimentos sobre o ecossistema, técnicas produtivas, sistema de clãs, as regras

de casamento e as categorias de parentesco.

Considerações finais

O Banco de Dados Bibliográficos organizado pelo projeto Amazonas Indígena reúne

512 da produção bibliográfica referentes às populações da região do médio e alto rio Negro.

Ganha visibilidade a extensão de estudos realizados por calhas de rios e estudos que buscam

dar conta da complexidade dos 22 povos que habitam a mesma região e destacamos os

trabalhos na terra indígena Yanomami que tratam especificamente desses povos.

Os 22 povos da região do médio e alto rio Negro, divididos usualmente pelos estudos

etnográficos, como povos do rio e povos do mato. Na tentativa de explicar as semelhanças

culturais na região do Alto Rio Negro, destacamos os trabalhos produzidos por Robin Wright

(1981, 1992, 2008), que caracteriza um ponto em comum a todos os povos do Alto Rio

Negro, a hierarquia e os papéis ritualísticos determinam a organização social, ou seja, a ordem

dos sibs (grupos de maior e menor status) e definem territórios e uso de recursos.

Quanto aos estudos que tratam dos motivos das semelhanças culturais, podemos

destacar o trabalho de Dominique Buchillet (1991), que propõe que a semelhança cultural é

um provável resultado da aculturação, do aldeamento forçado por colonos e missionários dos

índios de diferentes grupos lingüísticos, apesar de também reconhecer a importância das

relações intertribais no período pré-contato.

Outros autores abordaram a mesma questão, propiciando a possibilidade de dividir os

trabalhos em dois grupos: um que considera as semelhanças culturais resultado das relações

intertribais e os que consideram que é resultado do contato.

A distribuição das publicações entre as regiões revela o esforço dos pesquisadores de

99

elaborar análises que abrangesse a região do médio e alto rio Negro, estudos que abordassem

a complexa área cultura que engloba 23 povos indígenas.

Quanto aos trabalhos por região vale destacar o maior número de pesquisas

relacionadas a Terra Indígena Yanomami e ao Uaupés. Seguidos pelas regiões do rio Tiquié e

Içana, evidenciando que cada uma dessas regiões possui praticamente a metade de registro

das produções do Uaupés.

Além de trabalhos de antropólogos a região do Uaupés também apresenta as

etnografias realizadas pelos padres da missão, sendo esta a primeira região em que a missão

salesiana fundou o distrito missionário.

Ao fazer uma rápida visita a bibliografia reunida pelo banco de dados do projeto

Amazonas Indígena, torna-se perceptível que a região do médio e alto rio Negro é referência

aos estudos etnológicos ameríndios pelos conceitos formulados pelos etnógrafos que

realizaram pesquisas antropológicas na região. Foi este o enfoque que este relatório buscou

envidenciar.

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São Gabriel da Cachoeira

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1

9

8

2

1

9

8

3

1

9

8

4

1

9

8

5

1

9

8

6

1

9

8

7

1

9

8

8

1

9

8

9

1

9

9

0

T

o

t

a

l

Cidade Manaus

Içana 1 1 1 1 1 1 2 8

Orinoco

Rio Apaporis

Rio Jauaperi

Rio Negro 3 4 1 2 2 5 1 2 4 4 1 1 4 5 2 2 1 1 2 1 2 2 52

São Gabriel da Cachoeira 1 1

TI Yanomami 1 1 2 1 1 5 2 1 1 4 2 4 5 1 3 2 2 3 4 2 1 3 5 4 60

Tiquié 1 2 1 2 1 1 2 10

Uaupés 1 1 1 2 1 1 4 1 3 3 3 3 2 1 2 3 1 33

Xié

T ota l 5 5 4 4 4 3 12 3 4 10 9 8 5 13 7 9 4 10 7 7 5 3 3 11 9 164

BACIA/ANO

1

9

9

1

1

9

9

2

1

9

9

3

1

9

9

4

1

9

9

5

1

9

9

6

1

9

9

7

1

9

9

8

1

9

9

9

2

0

0

0

2

0

0

1

2

0

0

2

2

0

0

3

2

0

0

4

2

0

0

5

2

0

0

6

2

0

0

7

2

0

0

8

2

0

0

9

T

o

t

a

l

Cidade Manaus 1 1

Içana 2 4 1 3 3 1 2 1 4 5 2 1 1 8 3 8 1 1 51

Orinoco

Rio Apaporis

Rio Jauaperi

Rio Negro 6 7 4 4 5 3 3 2 7 7 8 7 8 4 4 7 7 2 95

São Gabriel da Cachoeira 1 5 1 1 1 2 2 13

TI Yanomami 7 5 7 6 5 8 5 1 1 2 6 3 2 1 1 60

Tiquié 4 1 4 2 1 1 1 1 2 3 4 1 3 2 4 1 35

Uaupés 2 2 3 4 2 2 6 2 4 2 9 5 3 5 4 5 7 67

Xié 1 1 1 3

T ota l 21 20 16 14 19 18 17 8 14 14 31 24 19 14 22 20 29 4 1 325

103

A PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE OS POVOS DOS CURSOS MÉDIOS DOS

RIOS JURUÁ E PURUS

Marcelo Pedro Florido

Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP

Apresento aqui uma análise de parte do Banco de Dados Bibliográficos do projeto

Amazonas Indígena. Será considerado o levantamento bibliográfico da região dos cursos

médios dos rios Juruá e Purus, onde se encontram as populações Banawá, Deni, Jamamadi,

Jarawara, Kulina, Paumari, Zuruahá, Hi-Merimã, da família lingüística arawá; Apurinã, da

família Arawak (Aruak) e; Kanamari, Katawixí, Katukina, da família Katukina.

O levantamento evidenciou a existência de 229 produções textuais e 2 videos que

abordam as populações indígenas da região dos médios cursos dos rios Juruá e Purus. As

primeiras informações datam da segunda metade do século XIX, a primeira é de 1854, mas a

maior parte desta produção ocorre após 1971, quando então é possível verificar uma

regularidade maior, aparecendo quase todo ano, exceto 1975, 1979, 1990, novas bibliografias.

A distribuição anual e por população pode ser vista na tabela abaixo.

Tomando como base os temas e tipos de trabalho, podemos dividir as 229 produções

textuais em 8 grupos: Relatos do século XIX e início do XX, com 24 obras que trazem

algumas informações isoladas sobre as populações; Linguísticos, com 61 itens que

correspondem a estudos sobre as línguas faladas na região; Educação, com 37 produções

relacionadas ao ensino e educação indígena; Relatórios de Situação e Demarcação de Terra,

com 34 relatórios e artigos escritos por funcionários da FUNAI ou missionários;

Etnobotânica, com 5 artigos; Mitos e Histórias, com 9 textos; Etnológicos, com 52 e; Outros,

com 7 textos de missionários abrangendo assuntos como tradução da bíblia e trabalho

missionário. A distribuição por essas categorias é algo arbitrária e visa apenas facilitar uma

consideração mais detalhada sobre os resultados do levantamento bibliográfico.

Relatos do século XIX e início do XX

Entre meados do século XIX e as três primeiras décadas do XX, são principalmente os

Naturalistas e Exploradores que fornecem registros sobre a região, embora as publicações não

tenham aparecido apenas durante este período. A primeira informação sobre uma das

populações, os Kulina, deve-se ao naturalista italiano Gaetano Osculati cujas notas de viagem

foram publicadas em 1854. Os outros Naturalistas do século XIX foram Joseph Beal Steere

(1949) e Paul Ehrenreich (1891, 1929 e 1948) que fornecem dados sobre os Apurinã, Paumari

e Jamamadi e; Gustav Wallis (1886) que informa sobre os Paumari.

104

O primeiro explorador a navegar pelos rios Purus e Juruá foi o brasileiro Manuel

Urbano da Encarnação em 1861, fornecendo um relato publicado em 1900. Outro explorador

brasileiro foi o Coronel Antonio Rodrigues Pereira Labre que em 1871 viajou pelo Rio Purus

e que fornece 3 relatos, datados de 1872, 1887 e 1888. Existem ainda relatos do engenheiro

João Martins da Silva Coutinho (1862), de Euclydes da Cunha (1907) e do explorador

britânico William Chandless (1866, 1869 e 1949) que apresentam algumas informações sobre

as populações indígenas. Temos também relatos sobre os Apurinã publicados por Theodor

Koch-Grünberg (1914).

105

Tabela 1

Distribuição anual das produções 1854-1980

População

An

o

1854

1862

1866

1869

1872

1886

1887

1891

1894

1900

1907

1914

1919

1920

1921

1923

1928

1929

1948

1949

1955

1962

1966 Total

1854 -1980

Apurinã 2 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 13

Família Arawá 0

Banawá 0

Deni 0

Jamamadi 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10

Jarawara 1 1

Hi-Merimã 0

Kulina 1 1 1 1 4

Paumari 1 1 1 1 1 1 1 1 8

Zuruahá 0

Família Katukina 0

Kanamari 2 1 1 1 1 1 7

Katawixí 1 1 2

Katukina 1 1 2 1 5

Total 1 1 5 3 3 1 1 3 1 2 3 1 2 5 1 1 1 1 3 3 5 1 2 50

106

Tabela 2

Distribuição anual das produções 1971-2009

GRUPO

A n

o

1971

1972

1973

1974

1976

1977

1978

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

S/d

Total

1971

2009

Total

Geral

Apurinã 1 3 2 1 2 1 3 1 1 1 1 1 4 1 2 1 1 2 1 30

43

Família

Arawá 1 1 1

3

3

Banawá 1 1 1 3

3

Deni 2 1 2 1 1 1 2 1 1 1 1 1 2 1 3 1 1 1 2 1 27

27

Jamamadi 3 1 1 3 1 2 2 1 1 1 2 1 1 20

30

Jarawara 1 1 1 1 1 3 1 3 2 1 1 1 1 18

19

Hi-Merimã 1 1 1 3

3

Kulina 1 1 1 1 1 2 3 2 2 2 2 3 1 2 1 1 2 2 1 1 2 2 1 4 41

45

Paumari 1 1 3 1 2 4 2 2 1 6 4 6 6 3 1 1 1 45

53

Zuruahá 1 1 1 1 4 1 3 1 0

13

Família

Katukina 1

0

1

Kanamari 1 2 3 1 2 1 3 1 14

21

Katawixí 1 1

3

Katukina 1 1 2 1 5

10

Total 1 9 1 1 1 5 6 2 3 1 4 2 16 5 4 3 2 9 3 15 6 9 18 6 10 5 16 6 13 5 7 8 4 7 3 3 5 223 273

107

O levantamento mostra também a existência de uma expressiva produção textual que se

deve ao Padre Constant Tastevin, que sozinho (1920, 1928) ou em colaboração com o etnólogo

Paul Rivet (1919, 1920, 1921), descreveu a língua e alguns costumes das populações do rio Purus

e Juruá. Paul Rivet (1926) também escreveu um artigo a respeito da viagem do Padre Tastevin.

Os dois artigos mais recentes incluídos nessa seção foram publicados em 1955. José

Cândido de Melo Carvalho (1955), um zoólogo que em meados do século XX viajou pela região,

fornece informações sobre os Kanamari. Harald Schultz & Vilma Chiara (1955) apresentam uma

descrição da região do Alto Purus, abordando desde o clima e geografia até informações sobre a

localização de algumas aldeias Apurinã, Jamamadi, Kulina (“Kurina” e “Tukurina”). Dos

Tukurina fornecem informações etnográficas mais detalhadas.

De uma forma geral, toda essa produção é baseada em um breve contato com os grupos.

Os dados fornecidos se limitam, em grande medida, a descrever a localização das aldeias,

aspectos da cultura material, formato das casas, adornos corporais, ferramentas e instrumentos de

trabalho, e algumas listas de vocabulários. É uma produção ocasional e não regular, sem

nenhuma pretensão sistemática, geralmente fornecendo informações sobre mais de uma

população.

Esse período inicial, marcado por menções fragmentárias, é cronologicamente sucedido

por analises das línguas.

Linguísticos

Os 61 trabalhos de natureza linguística, aqui considerados são, na verdade, de natureza

diversa. O fio condutor seria dado em grande medida pela autoria, a maioria deles sendo

publicados por lingüistas ligados ao SIL (Summer Institute of Linguistics) ou a outras instituições

missionárias, poucos são trabalhos de origem estritamente acadêmica, e uma pequena parte diz

respeito a descrições das línguas feitas por não especialistas.

Incluímos nessa categoria a dissertação de Bettiol (2007) sobre educação indígena

Apurinã e a dissertação de Vencio (1996) sobre a apropriação da escrita pelos Jarawara. Embora

não sejam estudos propriamente linguísticos, seu foco se relaciona com a aquisição da língua e da

escrita.

108

O trabalho linguístico mais antigo é o estudo do vocabulário e da gramática do apurinã

realizado por Polak (1894). Entre esses primeiros estudos, mas já nas primeiras décadas do século

XX, está o de Rivet (1920) sobre a língua katukina e os de Nimuendajú que fornecem

informações sobre a língua kulina (1923) e algumas palavras da língua apurinã (1955).

Foram levantadas algumas tentativas de classificação das línguas em famílias e troncos

linguísticos (Rodrigues 1986, Campbell 1997, Aikhenvald & Dixon 1999, Adellar 2007). O

levantamento aponta a existência de dicionários das línguas Deni (Gordon & Koop 1985), Kulina

(Silva & Monserrat 1984), Jarawara (Vogel 2005), Paumari (Chapman & Salzer 1998). Há

também gramáticas das línguas kulina (Tiss 2004) e apurinã (Pickering 1971)

Os outros livros, artigos, dissertações e teses abordam descrições gerais, ou de pontos

específicos das línguas, algumas de suas características. Sobre os Kanamari há apenas um

trabalho, o de Ribeiro & Labiak & Cont & Neves de 1966. Queixalós aborda alguns aspectos do

katukina em 3 artigos (1995, 2002 e 2005). A produção sobre os Banawa, de quem só possuímos

informações linguísticass, deve-se aos missionários Buller (1989), Buller & Buller & Everett

(1993) e Ladefoged (1997).

Sobre os Jarawara os estudos foram realizados por Vogel, que abordou o idioma em sua

dissertação (1989), tese (2003) e um artigo (2007), e por Dixon, que escreveu sete artigos (1995,

1999, 2000a, 2000b, 2002 e 2004), um deles em parceria com Vogel (Dixon & Vogel 1996).

Barbara Campbell (1985 e 1987) e Robert Campbell (1988, e também Campbell & Campbell

1981) descrevem a língua jamamadi, também analisada por Monserrat (2001). Os artigos sobre

aspectos do deni devem-se a Koop (1980 e 1988) e do zuruahã a Suzuki (1995) e Frank & Porta

(1996).

O levantamento mostra que o paumari (Chapman 1976, 1977, 1985; Odmark 1977;

Derbyshire 1983; Chapman & Shire & Desmond 1991 e; Vieira 2006) e o apurinã (Pickering

1977, 1978; Aberdour 1985; Facundes 1994, 2000, 2002 e; Dinelly 2005), apresentam um grande

volume de trabalhos e de fontes variados, mostrando que foram os idiomas mais investigados da

região.

Os trabalhos acima considerados foram desenvolvidos principalmente no âmbito da

atividade missionária. Muitos dos autores considerados estiveram envolvidos na produção do

material ligado a educação.

109

Educação

Os 37 materiais sobre educação correspondem a cartilhas para ensino de língua,

matemática, mitos e histórias no idioma nativo, informações sobre saúde, plantas medicinais,

insetos, etc.

O levantamento bibliográfico apontou a existência de uma grande quantidade de materiais

dedicados ao ensino e aprendizado da língua paumari, são 17 cartilhas que focam o ensino da

escrita, coleção de histórias, estudos sociais, “ciência”, ensino de português, e mesmo dois que se

dedicam à transição de falantes de português para o paumari. Há também uma manual de saúde

na língua nativa.

Existem quatro cartilhas devotadas a alfabetização Deni, sendo uma delas dedicado ao

ensino de português, 3 das quais publicadas nos anos 2000 e uma em 1996. Há 6 cartilhas

apurinã, uma dedicada ao aprendizado da escrita e as outras são coleções de histórias na língua.

Há uma cartilha Jamamadi de 1991 e também uma sobre insetos.

Os Kulina apresentam apenas uma cartilha de alfabetização de 1986, mas há quatro

cartilhas que abordam o tema da saúde, uma delas sendo sobre alcoolismo. Há um trabalho

acadêmico de 1996 sobre a hepatite entre a população. Existe também um livro sobre plantas

medicinais e três revistas escritas no idioma.

Passamos agora a considerar outra categoria de trabalhos, aqueles produzidos para

fundamentar demarcações de terra, ou aqueles patrocinados por agentes diversos, FUNAI, ONGs,

missionários, etc, para verificar a situação das populações.

Relatórios de Situação e Demarcação de Terra

As 34 referências incluídas nessa seção correspondem, em sua maior parte, a relatórios e

artigos relacionados a processos de demarcação de Terras Indígenas. Eles apresentam, embora

com graus de detalhamento variável, informações sobre o território ocupado, histórico de

migrações, atividades econômicas, organização social, demografia, ecologia e geografia.

Os relatórios de demarcação realizados no âmbito da FUNAI foram produzidos em dois

períodos diferentes, alguns em meados dos anos 1980 e os outros no final dos anos 1990 e inícios

dos 2000. Os mais antigos são os de João Dal Poz (1985) sobre a Área Indígena Caitetu, onde

estão representantes das populações Apurinã, Jamamadi e Paumari, e o de Ana Maria da Paixão

110

(1985) sobre os Jarawara. Em 1987 foram escritos três relatórios por Rita de Cássia Felix, um

deles sobre a Área dos Jarawara e dois sobre duas áreas Paumari.

No segundo período, além dos relatórios de demarcação, existem alguns de revisão dos

limites. Luciene Pohl escreveu três, em 1998 ela fornece um de delimitação da Terra Indígena

Paumari do Lago Marahã e outro de acréscimo a Terra Indígena Paumari do Lago Manissuã, em

2000 um sobre a área dos Hi-Merimã. Em 2000, Stela A. Abreu escreveu um relatório sobre as

áreas Paumari do Lago Marahã e do rio Ituxi e sobre a área Jarawara/Jamamadi/Kanamati,

Plácido Costa Junior (2000) fornece um relatório etnoecológico sobre está última área.

Sobre a Terra Deni há um relatório de demarcação de Rodrigo Padua Rodrigues Chaves

(2000) e um ambiental de Juarez Carlos Brito Pezzuti (1999). Há ainda um relatório ambiental

das áreas Paumari escrito por Paulo Labiak Evangelista (1998) e três relatórios “etnoecológico”,

o de Jorge Henrique Bastos (2000) sobre as áreas Paumari, o de Juliana Schiel & Maira Smith

(2001) sobre os Apurinã e o de Deborah de Magalhães Lima e Victor Py-Daniel (2001) sobre as

áreas Kanamari e Katukina.

O levantamento bibliográfico mostra que Martin Merz (1997) publicou um livro sobre a

demarcação da Terra Indígena Kulina, que Sandra A. Ayres (1999) escreveu um artigo sobre a

demarcação da Terra Jamamadi, que Deborah de Magalhães Lima e Victor Py-Daniel assinaram

um artigo (2002) sobre a demarcação Kanamari, Katukina e que Rosa Maria Monteiro publicou

um artigo sobre a demarcação Kulina (1999) e um sobre a Kanamari (2002). Um artigo sobre o

levantamento etnoecológico Apurinã, Jamamadi e Jarawara foi publicado por Peter Schroder

(2002).

Relativo às demarcações há ainda um relatório de acompanhamento da demarcação das

Terras Indígenas Paumari de Izac da Silva Albuquerque (1998) e um da OPAN (2000) sobre a

vigilância dessas Terras. Há também uma publicação sobre conservação e sustentabilidade da

população Deni (2001).

Há um relatório sobre a população Kulina feito por Eduardo Viveiros de Castro (1978) e

dois sobre os Apurinã, um de 1981 escrito por Luiz Otávio Pinheiro da Cunha e o outro de

Raimundo Nonato Felinto de Freitas de 2003. O conselho indígena missionário (CIMI) produziu

em 1995 dois relatórios sobre os Deni, um deles comentando a viagem realizada e o outro

apontando as dificuldades apresentadas por esta população. O missionário Reinaldo Cazão

111

Ribeiro do Jovens com uma Missão (JOCUM) apresentou em 2005 um relatório de suas

atividades junto aos Zuruahã.

Etnobotânica

Os 5 artigos sobre etnobotânica foram escritos na década de 1970 por Ghillean T. Prance.

Em 1972 ele assinou dois artigos sobre o uso de venenos e narcóticos entre os Jamamadi e Deni e

em parceria com Anne Prance publicou outro sobre os Jamamadi. Em 1977 apresentou um artigo

sobre o uso de plantas pelos Paumari e em 1978 publicou um estudo comparativo sobre os Deni,

Paumari, Jarawara e Jamamadi.

Mitos e Histórias

Os textos 9 aqui incluídos são frutos do trabalho dos missionários, seja por serem textos

publicados por eles, ou com a sua ajuda. São coleções de mitos ou de histórias das populações de

línguas da família arawá, abordando temas como a origem da humanidade, os heróis criadores, o

surgimento dos animais, etc.

Os mitos mais antigos publicados são os dos Kulina, compilados por Patsy Adams em

1962. Há dois outros livros sobre a mitologia desta população, um publicado em 1983 por Abel

O. Silva (Kanaú) e outro em 1986 por Itijo Ette Madija. Há dois livros de histórias Paumari

publicados em 1993, um por Izac da Silva Albuquerque e outro por Manuel Paumarí. Alguns

Deni publicaram um livro sobre a história de sua Terra em 1998 e os professores Deni

compilaram um livro de mitos em 2004. As missionárias Jônia Frank & Edinéia Porta reuniram

mitos e histórias Zuruahã em um trabalho de 1996 e o missionário Walter Sass organizou uma

publicação de mitos Kanamari em 2008.

Etnológicos

Nessa seção incluímos livros, dissertações, teses, monografias e artigos que fornecem

dados etnográficos e análises sobre as populações, num total de 52 trabalhos. Esses textos são,

em sua grande maioria, frutos de trabalho de campo prolongado ou revisão bibliográfica

extensiva. Parte dos trabalhos aqui considerados foi escritos por pesquisadores de tradição

acadêmica, alguns outros foram escritos por missionários que atuaram junto aos grupos. Eles são

estudos monográficos que consideram apenas um contexto etnográfico, descrito de maneira mais

sistemática. As únicas exceções são o volume organizado por Marco Antonio Gonçalves (1991)

no qual existem artigos que reúnem e analisam as informações fornecidas pelos viajantes sobre os

112

Apurinã, Katukina, Kulina, Jamamadi, entre outros, e um livro de Günter Kroemer (1985). Este

último tece considerações sobre a história da região do médio rio Purus desde a época colonial

até a atuação do SPI, fornecendo dados etnográficos sobre os Apurinã, Jamamadi, Paumari e

Zuruahã.

Sobre os Apurinã, o levantamento aponta a existência de três dissertações e duas teses. As

dissertações devem-se a Cláudia Netto do Vale Pereira (1986) que foca o cotidiano de uma

aldeia, Marco Antonio Lazarin (1981) que analisa o contato inter-étnico e Juliana Schiel (2000)

que aborda a história da população a partir da documentação existente. Juliana Schiel (2001)

também escreveu uma das teses, que estuda narrativas coletadas junto a diferentes aldeias, sendo

a outra de autoria de Lucine Cristina Risso (2005), com um viés geográfico, que enfatiza os

territórios e paisagens amazônicas e a relação da “cultura” Apurinã com o ambiente.

A produção sobre a população Deni corresponde a duas monografias, uma dissertação e

dois livros, embora estes últimos correspondam ao mesmo livro editado em inglês e português.

As monografias devem-se a Günter Kroemer (1997) e Adriana Maria Huber Azevedo (2007),

cujas informações foram obtidas durante suas atuações junto aos Deni no âmbito do CIMI. A

monografia de Kroemer aborda questões ligadas a ecologia e a relação Deni com a conservação

ambiental e os projetos de desenvolvimento comunitário realizados pelos missionários

protestantes das Novas Tribos e do SIL. A de Maria Huber, realizada em um curso de

antropologia aplicada, aborda principalmente as concepções sobre a Alteridade e a forma como

se desenvolve a relação entre o grupo e os Projetos indigenistas.

A única dissertação é de autoria de Edilevi dos Santos Marques (2004), realizada no

programa de mestrado em ciências de florestas tropicais do Instituto Nacional de Pesquisas da

Amazônia (INPA). O assunto desta dissertação é a atividade extrativista da população Deni e

suas formas de manejo agroflorestal.

Os dois livros apontados pelo levantamento bibliográfico são de autoria de Gordon Koop

& Sherwood G. Lingenfelter, ligados ao SIL, e correspondem a versão em inglês (1980) e

português (1993) do mesmo texto. Os volumes fornecem um estudo sobre a organização social e

o parentesco da população, existindo também um capítulo dedicado a avaliação do projeto de

desenvolvimento comunitário desenvolvido por Gordon Kopp junto aos Deni.

Há apenas uma tese sobre os Jamamadi, a de Lúcia Helena Vitalli Rangel (1994). A

autora analisa a história dessa população e de sua relação com os brancos. Ela discorre também

113

sobre a relação interaldeias, procurando apreender a lógica do xamanismo que pauta as relações

políticas.

A população Kanamari é considerada em uma dissertação, quatro teses, dois artigos e um

livro, embora o último seja a publicação de uma das teses, a de Maria Rosário Gonçalves de

Carvalho (2002). A dissertação é de autoria de Araci Maria Labiak (1997) e realiza uma analise

de alguns aspectos da cosmologia e mitologia.

Os dois artigos foram publicados por pesquisadores que também escreveram teses sobre

este grupo. A tese de Edwin B. Reesink (1993), defendida no programa de pós graduação em

antropologia do Museu Nacional – UFRJ, aborda a cosmologia e as concepções Kanamari sobre

o mundo e sua organização social. Um dos artigos (Reesink 1991) é de autoria deste mesmo autor

e aborda a questão do xamanismo e dos rituais de cura. A tese de Lino João de Oliveira Neves

(1996) aborda o tema da mitologia e da relação e conceituação do meio ambiente, seu artigo,

também de 1996, analisa o histórico do contato com o branco.

Luiz Antonio Costa (1998) escreveu sua tese no âmbito do programa de doutorado em

antropologia social do Museu Nacional. O texto faz um investimento na descrição e análise da

relação entre o contínuo e o descontínuo no pensamento Kanamari, verificando sua conceituação

em campos como o parentesco, xamanismo, mitologia e história. Maria Rosário Gonçalves de

Carvalho (1998) foca a descrição e análise da história Kanamari em sua tese, tendo publicado o

texto em livro em 2002.

Segundo mostra o levantamento bibliográfico os Kulina possuem o maior número de

pesquisadores e quantidade de produções etnográficas da região. São abordados por nove autores

diferentes em 17 textos, correspondendo a três dissertações, duas teses, três livros e nove artigos.

As produções mais antigas são os artigos de Isabelle Rüff (1972) e de Patricia K. Townsend &

Patsy Adams (1973). O primeiro realiza uma descrição do ritual de caça coletiva, já o segundo

relaciona temas como parentesco, estratégias matrimoniais e escatologia.

A dissertação de Domingos Aparecido Bueno da Silva (1997) propõem, com um

embasamento teórico na etnomusicologia, uma análise da música e da pessoa Kulina. Ele aborda,

além da música propriamente dita, rituais de troca, xamanismo e alguns mitos, um deles

disponível nos anexos. A dissertação de Lori Altmann (2000) analisa as concepções e

delimitações da alteridade, partindo de considerações a respeito da visão nativa sobre as

categorias de tempo e espaço. A de Flávio Gordon (2006), defendida no âmbito do Museu

114

Nacional – UFRJ, realiza uma revisão bibliográfica sobre a produção etnográfica sobre as

populações arawá e dá ênfase especial a questão dos grupos nomeados entre os Kulina.

A tese de Claire Lorrain (1994) aborda as relações de gêneros, investigando como estas se

apresentam no parentesco, na vida econômica e política, e as concepções nativas envolvidas.

Donald K. Pollock, responsável pela outra tese é quem escreveu mais sobre esta população,

assinando sete artigos. Em sua tese ele aborda a questão da pessoa e da doença, propondo uma

análise dos papéis sociais que uma pessoa assume durante a vida e a forma como os nativos

concebem estes estágios. As diferentes categorias de doença são interpretadas como diferentes

formas de desarranjos social, relacionados com a fase da vida em que uma pessoa doente se

encontra. Seus dois artigos de 1985 abordam um a relação entre identidade sexual e os alimentos,

cada gênero possuindo um papel diferente na produção e simbologia alimentar, e o outro a

relação entre irmãos e irmãs. Em 1992 publica um artigo que versa sobre a relação entre os

gêneros e o xamanismo, em 1993 um que aborda a questão da conversão ao cristianismo e outro

que lida com o tema da escatologia já analisado em sua tese, em 1994 publica um artigo sobre

doenças e cura e; em 2002 publicou um artigo sobre o conceito de paternidade particionada, no

qual aborda, além das idéias sobre a concepção, a política que estaria envolvida ao se assumir a

paternidade sobre o filho de uma mulher que não a esposa.

Os três livros existentes foram publicados pelos missionários Robert E. Zwetsch(1984,

1992) e Nelson Deicke (1994). Fornecem algumas informações sobre o grupo, alguns aspectos da

sua história e da relação com o mundo do branco.

O Banco de Dados mostra que sobre os Paumari existe uma tese e três artigos. A tese foi

escrita por Oiara Bonilla (2007), no âmbito da EHESS/Collège de France, fornece a visão nativa

sobre a história “mítica” e sobre o tempo dos patrões, quando estavam em relação com a empresa

seringalista. Sua abordagem sobre a pessoa e a cosmologia se pauta pelas idéias de predação e do

perspectivismo. Seu artigo (2005) anterior a tese investiga a cosmologia e a organização social,

com orientação teórica semelhante.

Os outros dois artigos foram publicados por pessoas ligadas ao SIL. Shirley Chapman

(1974) publicou um artigo pautado pela análise de processos de aculturação, que procuraria

avaliar as perdas culturais sofridas pelos Paumari. Mary-Anne Odmark & Rachel M. Landin

(1985) publicaram um artigo que analisa a organização social e o sistema de parentesco,

realizando uma análise componencial da terminologia de parentesco.

115

O levantamento aponta a existência de dois livros, quatro apostilas-descrições e um artigo

sobre os Zuruahã. Os trabalhos aqui incluídos foram escritos em sua maioria por missionários e

indigenistas, somente o artigo é de natureza estritamente acadêmica. O artigo, escrito por João

Dal Poz Neto (2007) propõe um entendimento da prática de suicídio entre a população.

Os dois livros foram escritos por Günter Kroemer do CIMI, em um deles (1991) é descrita

a viagem de encontro e as primeiras impressões sobre os Zuruahã, no outro (1994) há uma

descrição mais sistemática da população. Um das apostilas-descrição deve-se a Jônia Frank &

Edinéia Porta (1996), na qual apresentam uma descrição das atividades econômicas, caça, pesca,

agricultura e da organização social. As outras três apostilas-descrição (2003) são de autoria de

Miguel Aparício, da ONG indigenista OPAN. Duas delas corresponderiam a espécies de diários

de campo, que fornecem informações a respeito das atividades rituais, econômicas, e narrativas

mitológicas, junto com dados sobre a atuação indigenista. O terceiro volume é composto de

algumas tentativas do autor sistematizar os fragmentos etnográficos que coletou.

O levantamento bibliográfico não encontrou uma produção de natureza etnográfica sobre

os Banawá, Hi-Merimã, Katawixí, Katukina e Jarawara.

Outros

Os sete itens aqui incluídos são de autoria exclusivamente missionária. Correspondem a

reflexões sobre a atividade missionária, ou tentativas de aproximar a cosmologia cristã e a

indígena. Há um testamento na língua Paumari de 1995. Tres artigos de Walter Sass (2006, 2009,

s.d.) que procuram mostrar a fusão entre a teologia cristã e indígena entre os Deni e Kulina. Lori

Altmann possui dois trabalhos, um de 1982 que procura discutir o processo de evangelização dos

povos indígenas e outro de 1991 que comenta sua experiencia missionária entre os Kulina. Há

uma dissertação de Robert E. Zwetsch que aborda as missões luteranas entre os indígenas, dentro

os quais os Kulina.

Considerações finais

O levantamento bibliográfico mostrou que existe uma extensa produção textual sobre as

populações da região do médio curso dos rios Juruá e Purus. Os estudos linguísticos e

relacionados ao ensino de língua são a maioria. Todas as populações tiveram suas línguas

investigadas, sendo que para algumas delas essas são as únicas informações existentes.

116

A distribuição das publicações entre os grupos mostra alguns deles apresentam

pouquíssimos trabalhos, como os Banawá, Hi-Merimã, Katawixí, que apresentam três cada, e os

Katukina com 10 textos. Os Paumari, por sua vez, apresentam a maior quantidade de produções,

53 textos, são pouco estudados do ponto de vista etnográfico. Os Kanamari, por outro lado, foram

considerados em apenas 21 produções, mas concentram grande quantidade de trabalhos

acadêmicos fruto de trabalho de campo extensivo.

Da análise dos dados bibliográficos podemos concluir que seria interessante o

desenvolvimento de pesquisas etnográficas junto aos Banawá, Hi-Merimã, Katawixí, Katukina e

Zuruahã, pouco explorados até então. Outras populações, como os Deni, Jamamadi, Jarawara e

Paumari possuem uma defasagem de produções antropológicas, embora possuam uma quantidade

razoável de produções, respectivamente 27 textos, 30, 19 e 53, apenas uma pequena parte

corresponde a descrições sistemáticas dos seus sistemas sociais e simbólicos, sendo interessante o

desenvolvimento de pesquisas junto a eles.

117

A PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE OS POVOS DO VALE DO JAVARI

Juan Carlos Peña Márquez

Professor do Curso de Bacharelado em Antropologia do Instituto Natureza e Cultura, UFAM

Benjamin Constant

Neon Solimões Paiva Pinheiro

Estudante do Curso de Bacharelado em Antropologia, Instituto Natureza e Cultura, UFAM

Benjamin Constant

Apresentamos aqui uma análise de 73 referências do Banco de Dados Bibliográficos. Foi

considerado o levantamento da região do Vale do Javari ou Terra Indígena do Vale do Javari, que

compreende os rios Javari - Jaquirana, Ituí, Itacoaí, Quixito, Pardo e Curuça onde habitam

populações indígenas Marubo, Matsés (Mayuruna), Korubo e Matis da família linguística Pano7;

Kanamary da família linguística Katukína; e Kulina da família linguística Arawá (embora

algumas referências consideram a língua Kulina desta região da família linguística Pano). Nos

registros bibliográficos se identifica a presença de pelo menos sete povos indígenas chamados

isolados ou autônomos, preservados por áreas de proteção com limites em frentes de contato.

Alguns destes povos são considerados como pertencentes às mesmas famílias lingüísticas dos

povos em contato como os Korubo e Maya da família lingüística Pano; outros são considerados

das famílias Katukina e Arara, enquanto outros são conhecidos pelas nominações Tsohon Djapá,

Flecheiros, Índios do Quixito ou desconhecidos.

Uma importante base para estas fontes de informação sobre o Vale do Javari deve-se aos

estudos etnográficos de Delvair Montagner e Julio Cezar Melatti que internacionalizaram a

etnografia ao colocar o modelo estrutural dos Marubo em diálogo com o sistema conhecido na

antropologia como o modelo australiano, no artigo: Estrutura social Marubo: um sistema

australiano na Amazônia; suas pesquisas estimularam o aprofundamento no conhecimento sobre

as culturas do Vale do Javari ao tempo em que possibilitaram o reconhecimento destes povos ao

momento da luta pela demarcação da Terra Indígena do Vale do Javari.

Na bibliografia e em estudos recentes8 é relatada a demarcação da terra indígena da

seguinte maneira: O primeiro Grupo de Trabalho para a delimitação da Terra Indígena do Vale do

Javari foi constituído em 1980 sob a coordenação da antropóloga Delvair Montagner Melatti,

7Philippe Erikson, apoiado nas semelhanças lingüísticas e culturais dos Marubo com os Katukína-Pano, Nukiní

(Rêmo) e Poyanáwa, do Brasil, e ainda com os Kapanáwa, do Peru, classifica o conjunto de suas línguas como o

ramo central da família Pano. Melatti, 1998. In: http://www.pegue.com/indio/marubo.htm

8. Levantamento Bibliográfico Etno-Histórico da Cultura Marubo,(Pinheiro, 2009).

118

cuja proposta foi à criação do Parque Indígena do Vale do Javari, com superfície de 5.800.000

hectares. O Parque abrangeria as áreas de ocupação dos principais povos indígenas contatados da

região e a área de alguns dos grupos isolados, sobre os quais já se tinha algum conhecimento. Em

1984, reuniram-se conhecedores da região do Javari em um Grupo de Estudos, criado para

fornecer maiores informações sobre a área indígena. Este Grupo sugeriu a interdição da área do

Javari para impedir a continuidade das invasões enquanto os trabalhos de regularização

prosseguissem.

Foram feitos outros dois levantamentos etnográficos, realizados em 1985 e em 1995/96,

cujas propostas indicaram a demarcação de um território único, abrangendo as áreas de ocupação,

os povos localizados nas bacias dos rios Javari, Jutaí e Jandiatuba. O antropólogo Wálter

Coutinho Jr., coordenador do Grupo Técnico da FUNAI (GT PP 0174/95 e 158/96), foi quem

realizou o último re-estudo da Terra indígena Vale do Javari, no período de 1995 a 1996. O

Relatório de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Vale do Javari, apresentado por

Walter no ano de 1998, recuperou os esforços anteriores realizados para delimitar a área, como

por exemplo os trabalhos de pesquisas de Delvair Melatti e Julio Cezar Melatti, iniciados na

década de 70. (RICARDO, 1981).

O Resumo do Relatório foi publicado no Diário Oficial da União em 29 de maio de 1998

e no Diário Oficial do Estado do Amazonas em 08 de junho de 1998. A finalização do processo

de identificação e delimitação da Terra Indígena ocorreu em 11 de dezembro de 1998, por meio

da Portaria Declaratória nº 818, do Ministro da Justiça Renan Calheiros, reconhecendo a área

delimitada de 8.519.800 hectares, (na demarcação física: 8.544.482,2728 hectares) localizadas

nos municípios de Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Jutaí e São Paulo de Olivença. A

FUNAI realizou a demarcação física da Terra Indígena Vale do Javari, em 2000, por meio do

Projeto Integrado de Proteção às Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL),

executado pelo próprio órgão indigenista governamental com apoio financeiro do Programa

Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7). A Terra Indígena do Vale do

Javari foi homologada pelo Decreto de Homologação publicado em 02 de maio de 2001 e

registrada no SPU em 31 de julho de 2002, é a segunda maior T. I. do Brasil. Estas são as últimas

etapas do processo de regularização de terras indígenas, cuja execução das ações (homologação e

Registro no SPU) é de competência exclusiva do Governo Federal.

119

Finalmente gostaríamos de destacar que há um número importante de pesquisas recentes

sobre os povos indígenas do Vale do Javari, as quais versam sobre doenças apresentadas na

região especialmente a hepatite e a malária, que não tem tido uma resposta acertada e responsável

por parte dos órgãos pertinentes. Estas doenças vêm causando uma crise na saúde e na

estabilidade emocional e social destes povos; a pesar disto, como o demonstram seus últimos

congressos, eventos e festas tradicionais, há um processo importante de revitalização cultural e de

fortalecimento de suas organizações que reclamam pelo apoio institucional e não governamental.

Análise Etnológica

Os dados bibliográficos desta seção serão considerados inicialmente com as produções

textuais gerais e, porventura, mais antigas que fornecem descrições da região e dos povos

indígenas na sua descrição histórica, e depois será analisada a produção etnológica de cada grupo

étnico. Os dados analisados representam na sua maioria estudos etnográficos fornecidos por

pesquisadores de tradição acadêmica que somam um total de 70 trabalhos divididos entre livros,

capítulos de livros, teses, dissertações, monografias, relatórios, artigos e entre eles três vídeos

sobre os povos indígenas do Vale do Javari.

O relato de viagem do Barão de Teffé (1888) é o registro mais antigo sobre a região do

Javari onde descreve uma minuciosa batalha entre os índios do rio Javari e a comissão

demarcadora dos limites da Colônia. Algot Lange (1912) faz uma narrativa de viagem realizada

em 1910 na bacia do rio Itacoaí e descreve sobre um povo Mangerona que supostamente seria os

Mayuruna. Werner von Hörschelmann (1918) faz uma descrição sistemática das peças recolhidas

por Spix & Maritus. Victor Oppenheim (1936) faz uma analise dos “restos da cultura neolítica

dos índios “Pano” do Alto Solimões”.

José Cândido de Melo Carvalho (1955) escreveu um diário de viagem pelos e sobre os

rios Javari, Itacoaí e Juruá escrito em 1950, onde possui ligeiras referências aos povos Ticuna,

Kanamary e os Indiapás sobre suas línguas. Carlos Alberto Ricardo (1981) no livro Javari vol. 5,

reúne dados etnográficos e notas de viagem dos grupos étnicos Marubo, Mayuruna, Matis, Kulina

e Kanamary fornecendo várias informações a respeito destes povos e da região (CEDI). A obra

Povos Indígenas no Brasil (1984) reúnem fatos publicados na impressa sobre políticas públicas

nas regiões do Noroeste amazônico, Solimões, Javari, Jutaí, Juruá, Purus, Tapajós e Madeira,

apresentando o que ocorreu nas áreas indígenas no âmbito das políticas indigenistas (CIMI,

OPAN, CEDI). Representantes dos povos indígenas do Vale do Javari (Campanha Javari) (1986)

120

confeccionaram uma cartilha cujo conteúdo versa sobre sua história de contato com os brancos,

processo de ocupação, situação de saúde, atividades econômicas. Há aí também um mapa da

região com a localização dos diversos povos.

Walter Coutinho Júnior (1998) realizou o último re-estudo da Terra Indígena Vale do

Javari no período de 1995 a 1996, produzindo o relatório de identificação e delimitação da Terra

Indígena Vale do Javari. Helena Farago (2005) realizou uma analise sobre o xamanismo e poder

entre os povos Pano. Maria Helena Ortolan Matos (2006) discutiu os rumos do movimento

indígena no Vale do Javari numa perspectiva histórica construindo uma rede de relações sociais

sobre os grupos indígenas desta região.

Sobre os Marubo, o levantamento bibliográfico assinala a existência de dois livros, dois

capítulos de livros, três teses de doutorado, uma dissertação de mestrado, quinze artigos e três

vídeos.

O livro de autoria conjunta de Montagner & Melatti (1975) apresenta uma minuciosa

descrição etnográfica onde aborda problemas do conflito inter-étnico, ocupação e aproveitamento

do meio ambiente, organização social, ciclo de vida, cosmologia, magia, ritos, oferecendo ainda

sugestões para uma ação indigenista. Montagner em (1985) descreve e analisa os ritos de cura

Marubo e também sobre etno-conhecimento e farmacologia em sua tese, sendo publicada em

livro (1995) A morada das almas: representações das doenças e das terapêuticas entre os

Marubo.

O capítulo intitulado “Marubo”, do livro Povos Indígenas no Brasil de Júlio Cezar Melatti

(1977) traz importantes informações etnográficas a respeito do povo Marubo; o capítulo “Mani

Oei Rao: remédios do mato dos Marubo de Montagner do livro: medicinas tradicionais e

medicina ocidental na Amazônia” aborda os “remédios do mato” e etno-conhecimento.

Guilherme Werlang da Fonseca Costa Couto (2001) escreveu uma das teses levantadas no Banco,

analisando a organização indígena e os cantos míticos. A outro é de autoria de Pedro de

Niemeyer Cesarino (2008) que discorre sobre a perspectiva da tradução da arte verbal Marubo. A

única dissertação de mestrado produzida até o momento é de autoria de Raquel Guimarães

Romankevicius Costa, que aborda aspectos da fonologia, morfologia e sintaxe da língua Marubo.

Os artigos escritos em conjunto, de Montagner & Melatti (1977), tratam da confecção de

cerâmica e suas técnicas; sobre educação e técnicas de socialização; organização do espaço, onde

analisa a estrutura de edificação, a projeção do espaço, e dimensão espacial do público e do

121

privado. O artigo de Melatti escrito em 1977, trata da organização social e parentesco; os artigo

de 1985 discorrem, respectivamente, sobre uma discussão mitológica da origem do branco e

sobre o contato inter-étnico, aspectos econômicos e os patrões Marubo; o artigo de 1986 trata da

origem mitológica da cultura Marubo. Por fim, numa entrevista (Melatti, 2002) fala de sua

aventura etnográfica entre os Krahó e os Marubo.

O artigo de Montagner (1986) discute sobre simbolismo dos adornos corporais; em artigo

de 1987 Montagner aborda questões sobre etno-conhecimento e cozinha Marubo; em artigo de

1989 o autor discorre sobre a culinária e tecnologia Marubo. O artigo de Edilene Coffaci de Lima

(1994) aborda sobre os desencontros míticos e encontros históricos dos grupos indígenas

Katukina, Yawanawa e Marubo. Os artigos de Raquel Guimarães Romankevicius Costa (2000)

tratam da questão lingüística dos Marubo; e em (2005) aborda a questão lingüística dos Marubo e

Matsés (Mayuruna). O artigo de Guilherme Werlang da Fonseca Costa Couto (2006) enfoca a

discussão sobre as noções de corpo e alma dentro do universo Marubo.

O vídeo de Nilson Araújo (1991) é um documentário nas aldeias Marubo; e outro de

André Luís (1993) que também é um documentário sobre a cultura Marubo. O último registro

áudio-visual é de Delvair Montagner (1995), documentário acerca dos meninos Marubo nas

aldeias. Todos estes vídeos mostram a diversidade ecológica da região, o dia a dia deste povo e as

relações com não indígenas e principalmente sua riqueza de ritos e valores culturais.

Sobre os Marubo há um volume bastante expressivo de dados bibliográficos, sendo o que

mais se destaca na região. A diversidade de temas e analises correspondente a este povo conduz

para uma formação circular da cultura como forma de compreensão a partir da perspectiva do

autor e do interlocutor.

A produção bibliográfica sobre os Matsés – Mayuruna aponta a existência uma tese, duas

dissertações e quatro artigos.

A tese é de autoria de David William Fleck (2003), que discorre sobre a gramática Matsés

numa discussão sobre a família lingüística Pano. A dissertação de Carmem Tereza Dorigo de

Carvalho (1992) trata da análise frasal da língua Matsés. A outra é de autoria de Walter Alves

Coutinho Junior (1993), sobre a história dos Matsés e seus aspectos culturais.

O artigo de Fidelis de Alvino (1957) tece uma analise etnológica sobre ensaios da língua

Mayuruna no rio Jandiatuba. O artigo de Judith E. Vivar (1975) relata referências históricas e

demográficas além de dados econômicos e ecológicos da formação do Javari; o artigo de Carmen

122

Teresa Dorigo (2002) versa sobre aspectos linguísticos. Por fim aparece o artigo de David

William Fleck (2002) também sobre língua Pano.

Sobre os Matis foram encontrados um capítulo de livro, três teses, duas dissertações e

cinco artigos. O capítulo: “uma esperança para os Matis?”, de Philippe Erikson, no livro: Povos

Indígenas no Brasil (1991) apresenta um informativo sobre os aspectos culturais do povo. Este

autor também escreve sua tese no ano de 1990, um estudo sobre a organização indígena e sua

identidade étnica. A tese de Rogério Vicente Ferreira (2005) apresenta uma descrição

morfossintática da língua Matis. Este mesmo autor escreve sua dissertação em 2001 sobre os

aspectos descritivos da morfossintaxe da língua Matis. A última tese é de Vitória Regina

Spanhero Ferreira (2005), que apresenta a etno-história dos Matis, seu modo de vida atual e sua

língua na formação do dicionário bilíngüe. Sua dissertação (Ferreira, 2000) aborda uma descrição

fonética e fonológica da língua Matis.

Os artigos de Philippe Erikson (1993) tratam sobre a descrição e uso da nominação Matis;

e em (1996) uma discussão sobre a língua; em (2000) uma reflexão sobre os aspectos culturais

dos Matis; e em (2002) discorre sobre a questão do contato inter-étnico e identidade; e por fim o

artigo do CTI (2002) sobre escola e educação Matis.

Segundo o levantamento bibliográfico, há sobre os Korubo uma dissertação e um artigo.

A dissertação é de Maria Luiza dos Santos Silveira (2001), que analisa a questão da identidade e

os aspectos culturais. O artigo é de autoria de Philippe Erikson (1997), uma análise sobre o

contato interétnico deste grupo.

O povo Korubo recentemente tem descido uma pequena parte do seu grupamento na

localidade próxima da Frente de Proteção Etno-ambiental na confluência dos rios Ituí e Itacoaí.

Este povo foi marcado na região pelas invasões sangrentas de seus territórios pelos seringueiros e

madeireiros, os Matis é o povo que dialoga com este grupo e troca utensílios e artesanatos.

Sobre os Kulina, o banco de dados levantou um livro, duas teses, três dissertações, uma

monografia e seis artigos. Estas informações, na sua grande maioria, abrangem a região do Vale

Javari, Juruá, Purus interligando varias analises do estudo etnológico desta base de dados.

Os aspectos culturais dos Kulina são expressos no livro de Roberto Ervino Zwetsch

(1992) e nas teses de Donald Pollock (1985) que discorre sobre os aspectos culturais e de saúde; e

de Claire Lorrain (1994) que trabalha os aspectos da organização indígena, simbolismo e

economia.

123

A dissertação de Robert E. Zwetsch (1993) aborda uma discussão histórica da trajetória

missionária luterana nas comunidades indígenas destas regiões, sobretudo no que diz respeito à

sua religião. A dissertação de Lori Altmann (2000) discorre sobre os aspectos da identidade. A

dissertação de Flávio Gordan (2006) é uma análise da história e da cultura do povo Kulina. A

monografia de Lori Altmann (1982) relata o processo de evangelização e a religião deste povo. O

artigo de Isabelle Rüff (1972) discorre sobre os dados da caçada cerimonial. O artigo de Roberto

Ervino Zwetsch (1984) descreve os aspectos culturais dos Kulina; o artigo de Lori Altmann

(1991) analisa a religião e organização indígena. O artigo de Donald Pollock (1992) versa sobre

os aspectos culturais, etno-conhecimento e xamanismo. Nelson Deicke (1994) analisa os aspectos

culturais e a identidade étnica; e o artigo de Carlos Coimbra Jr. e Ricardo V. Santos (1994)

apresenta uma discussão sobre etno-conhecimento.

Sobre os Kanamary foram levantados um livro, um capítulo de livro e uma dissertação. O

livro de Vila Ribeiro, Araci Labiak, Claúdio Cont, Lino Neves e Márcio Silva, de 1996, aborda

sobre os elementos da fonologia Kanamary. O capítulo “ecologia e sociedade: uma breve

introdução aos Kanamary”, (parte do livro Sociedades Indígenas e Transformações Ambientais,

1993) de Maria do Rosário Gonçalves de Carvalho e Edwin B. Reesink, apresenta discussão

ecológica, sobre etno-conhecimento, botânica, tecnologia, etc. A única dissertação é de autoria de

Lino João de Oliveira Neves (1996) que apresenta uma leitura crítica sobre a bibliografia

pertinente aos Kanamary.

Linguística

Os 21 documentos de estudos Linguísticos do Vale do Javari concentram as investigações

sobre as línguas Marubo, Matses (Mayoruna), Korubo e Matis da família lingüística Pano;

Kanamary da família linguística Katukína; e Kulina da família lingüística Arawá (embora

algumas referências consideram a língua Kulina desta região da família lingüística Pano).

A primeira referência ao estudo lingüístico da região corresponde ao geógrafo Willian

Chandless (1869) quem no rio Juruá caracterizou varias línguas (Kamanary, Katukima, Marauá,

Kauixi, Konibo), que confluem na fronteira entre o rio Juruá e as cabeceiras dos rios Ituí e

Curuça, estes últimas do Javari. Em 1984 é editado o Dicionário “Kulina-Português e Português-

Kulina” de Abel O. Silva e Ruth M. F. Monserrat; no rio Purus são registrados alguns estudos

sobre a língua Kulina. Também no Juruá Maria Suely de Aguiar (2002) desenvolveu uma

gramática da língua Katukina e outros estudos posteriores sobre esta mesma língua são

124

desenvolvidos por Francisco Queixalós (2002, 2005).

A língua Kanamary que também aparece no registro de Chandless (1869) é retomada num

estudo datado de 1996 de Vila Ribeiro Et. al. Elementos de fonologia Kanamary: fundamentos

para uma ortografia; onde os autores sintetizam a fonologia e ortografia base para o estudo da

língua Kanamary, assim como para o desenvolvimento de pesquisas e projetos educativos com

este povo. Também Araci Maria Labiak escreveu na serie Cadernos de Estudos Linguísticos da

UNICAMP os Elementos da fonologia Kanamary (1989).

A Missão Novas Tribos do Brasil tem contato desde 1952 com o povo indígena Marubo9

(Pinheiro, 2009) e no seu banco de dados (Banco de Dados da AMTB/2002) aparecem

empreendimentos para o estudo das línguas Indígenas Matsés, Katukina e Kanamary do Vale do

Javari, com o intuito de traduzir a bíblia e desenvolver o processo de evangelização destes povos.

Recentemente seus estudos têm servido como base para o desenvolvimento de cartilhas ou livros

didáticos para o ensino da língua e a educação indígena reivindicada por eles.

Fidelis de Alviano realizou em 1957 uma pesquisa sobre a língua Matsés ou Mayuruna

com o título: Ensaios da língua dos índios magironas ou maiorunas do rio Jandiatuba considerada

ainda da região do Alto Solimões. Philippe Erikson (1996), classificou o conjunto de línguas

Marubo, Katukína-Pano, Nukiní (Rêmo) e Poyanáwa, do Brasil, os Kapanáwa, do Peru, como a

vertente central da família Pano, à qual pertencem ainda o Matsés, Matis, Korubo e Maya. Entre

as línguas Pano há uma diversa e complexa bibliografia dedicada especialmente aos Matis,

Vitória Regina Spanhero Ferreira 2005 (a) um estudo lexical e outro 2005 (b) fonológico,

Rogério Vicente Ferreira 2001 dissertação e 2005 artigo), Marubo (Raquel Guimarães

Romankevicius Costa 2000 e 2005) e Matsés ou Mayuruna (David William Fleck 2002 artigo e

2003 dissertação, Carmen Teresa Dorigo 1992 dissertação e 2002 artigo).

No emblemático Mapa Etno-Histórico de Curt Nimendajú (1944/1987) se registra a

presença do povo Kocama como parte do Vale do Javari por conta da presença de populações

Peruanas indígenas, mestiças e não indígenas, localizadas na região de fronteira entre Brasil e

Peru, cuja divisória é definida pelo próprio Rio Javari. Referências recentes à fronteira territorial

e cultural demonstram o ressurgimento desta língua na região do Alto Solimões e na beira

peruana do rio Javari.

9 O Pastor John Jansma se dedica ao aprendizado da língua Marúbo desde os anos 60, com o fim de traduzir de

textos bíblicos, pregar o evangelho e elaborar de cartilhas de alfabetização.

125

O Centro de Trabalho Indigenista (CTI) vem desenvolvendo uma importante serie de

estudos linguísticos direcionados especialmente ao trabalho em educação indígena, contexto no

qual tem apresentado um importante número de pesquisas e livros didáticos nas línguas Matis,

Matsés e Kanamary.

Educação

Os documentos que fazem referência ao tema da educação é um grupo extremadamente

reduzido de trabalhos, em número de cinco, iniciando com o artigo produzido para a Revista

Brasileira de Estudos Pedagógicos em 1979 sobre a criança Marubo de Delvair Montagner e Julio

Cezar Melatti, seguido por estudos que podemos caracterizar como importante para o processo de

socialização de conhecimento entre povo Matis e o povo Marubo. Nesta perspectiva se destacam

os escritos sobre pinturas corporais de Philippe Erikson (1996) entre os Matis e sobre o mesmo

tema entre os Marubo de Delvair Montagner (1986).

Os processos de socialização de conhecimento entre os povos indígenas estão associados

ao ensino dos conhecimentos tradicionais em aspectos religiosos, na vida econômica e na maioria

de aspectos simbólicos da vida social; no entanto há um processo de especialização e reflexão

sobre a educação indígena partindo do modelo de educação escolar, neste sentido destacamos a

produção do CTI sobre educação indígena e particularmente o artigo sobre A Escola Matis (2002)

e o Diagnostico Sobre A Educação Escolar Indígena do Vale do Javari publicado no site do CTI

(2008). É necessário sublinhar que mesmo ainda não inseridos no sistema do Banco de Dados, há

uma produção de cartilhas e documentos escolares produzidos pelo CTI e por organizações

religiosas que estão desenvolvendo trabalhos de educação escolar indígena no Javari; isto não

supre a demanda por uma educação escolar indígena estruturada para a região que não conta com

o apoio decidido das instituições competentes para tal fim como a Prefeitura, a SEDUC e o MEC.

Ecologia

Um aspecto que se destaca na bibliografia é a referência a aspectos da vida ecológica e ao

uso dos recursos ambientais, referências que sendo em pequeno número, si somadas aos estudos

etnográficos e etnológicos representa na realidade um aspecto fundamental no conhecimento

sobre os povos indígenas da região do Vale do Javari, ao mesmo tempo em que possibilita a

compreensão e definição de políticas de conservação ambiental associadas ao conhecimento

sobre a cultura e direitos territoriais destes povos. No estudo Fronteiriço sobre os Mayuruna de

126

Judith Vivar (1975) aparece esta problemática associada à delimitação territorial dos Estados -

Nação do Peru e do Brasil que divide a territorialidade cultural e ambiental do povo Matsés.

Referido ao uso dos recursos naturais esta o Capitulo Remédios do Mato dos Marubo de Delvair

Montagner (1991) e Ecologia e Sociedade de Maria do Rosário Gonçalves de Carvalho e Edwin

B. Reesink (1993), este último referido ao povo Kanamary.

Gênero

Na bibliografia encontramos três documentos sobre gênero, tema de referência recente

nos estudos antropológicos sobre a região. O primeiro é o estudo sobre os Kulina relacionado ao

Xamanismo de Donald Pollock (1992) no qual destaca a questão do gênero como fonte de poder

e conhecimento; em contraste a este trabalho está o estudo Identidade em mulheres índias de

Maria Luiza dos Santos Silveira (2001) sobre as mulheres da sociedade indígena Korubo.

Philippe Erikson também aborda a questão de gênero no artigo: "I", "UUU", "SHHH": gritos,

sexos e metamorfoses entre os Matis (2000) como contribuição etnográfica da constituição da

pessoa entre este povo indígena.

Cosmologia

Temos colocado o titulo de cosmologia a um grupo de 23 referencias bibliográficas que

sendo etnográficas ou etnológicas fazem referencia específica ao tema cosmológico ou

cosmogônico, tendo como base de estudo a relação dos povos indígenas do Vale do Javari com a

história mítica, a composição dos espaços: territorial, da maloca e do corpo; como elementos

constituintes de uma filosofia indígena e a interpretação antropológica realizada por diversos

autores.

É preciso destacar, no entanto, que parte importante desta bibliografia tem base nos

estudos pioneiros de Julio Cesar Melatti e Delvair Montagner, especificamente sobre os Marubo;

o percorrido etnográfico realizado pelos Melatti atinge os mais diversos aspectos da cultura

Marubo, desde a origem mitológica (1986), os mitos de maneira geral (1989), a maloca e suas

interações com o mundo material e imaterial (1986) até O mundo dos espíritos (1985). A

classificação das doenças e dos remédios pelos Marubo e seus ritos de cura foram abordados na

tese de doutorado de Montagner, defendida na Universidade de Brasília, e resumida

posteriormente no livro A Morada das Almas, publicado pelo Museu Goeldi (1995).

127

A conformação da identidade cultural indígena dos Marubo se tece num processo em que

o limite entre a história e a mitologia se integram para dar passo a uma unidade identitária que

posteriormente os coloca como lideranças dos povos indígenas do Vale do Javari, ao mesmo

tempo em que os articula dentre o complexo cultural indígena Pano da mesma região e da região

sub-andina do Peru. A Origem dos Brancos no mito de Shoma Wetsa (1985) é um estudo da

origem mítica Marubo realizada por Julio Cesar Melatti onde se explica a origem do homem

branco desde a estrutura social e cultural Marubo e que serve de base para analise estrutural e

comparativa, com mitos de outros povos da região Amazônica e do planalto brasileiro.

A mitologia Marubo explica a conformação do cosmos, do universo, da terra, desde as

distintas camadas, que no processo histórico-mítico consolidam as distintas formas de vida e de

composição do universo, do território e da sociedade em que se inserem e à qual também

incorporam o surgimento do mundo não indígena. Neste sentido é importante destacar a

reafirmação desta filosofia indígena em rituais que se baseiam no canto como instrumento

prioritário de comunicação entre os distintos mundos que compõem o universo, e como

instrumento de socialização de conhecimento, cura e aprendizagem. Guilherme Werlang, no

artigo De Corpo e Alma (2006) destaca a importância do canto na filosofia e na cosmo-visão

Marubo, que segundo ele mesmo, constitui um particular ethos cognitivo; tema já tratado na tese

de doutorado Emerging peoples (2001).

Outros escritos relacionados à cosmologia Marubo são: O Artigo Katukina, Yawanawa e

Marubo: desencontros míticos e encontros históricos de Edilene Coffaci de Lima (1994); a

dissertação do Helder Farago, Xamanismo e poder entre os povos Pano (2005); e a recente Tese

de doutorado de Pedro de Niemeyer Cesarino: Oniska a poética do mundo e da morte entre os

Marubo da Amazônia ocidental, (2008).

Philippe Erikson quem tem estudado os povos pano de maneira geral (“Uma singular

pluralidade: a etno-história Pano, 1992”), tem gerado uma importante bibliografia sobre a

cosmologia Matis e Matsés ou Mayuruna. Os Mayuruna, Brancos e barbudos da Amazônia como

são nomeados por Walter Alves Coutinho Junior (1993), é um dos povos com mais antiga

referência na região do alto Solimões e no Vale do Javari. Sua mitologia, como todo o seu

complexo cultural e social, estão baseados numa forte exogamia que não lhes impede ser

reconhecidos como uma “unidade cultural” na região do Javari aos dois lados da fronteira de Peru

e Brasil. Os conflitos, guerras e assimilações com outros povos, lhes têm permitido a

128

incorporação de conhecimentos e representações de outros, elementos que não ferem a sua

unidade cultural nem sua identidade, reafirmadas na re-acomodação territorial de aldeias e

territórios aos dois lados da fronteira.

Os Matis, de recente contato, ganharam importância para a antropologia pelos rituais de

passagem que constituem a pessoa a través de marcas de tatuagens ou ornamentos corporais. Sua

particularidade física leva a um interesse destacado pela constituição da pessoa Matis nas que se

destacam os estudos de Philippe Erikson sobre a Onomástica Matis (1993), e fazendo eco ao

titulo Pacificação dos Brancos, Cosmologia do Contato o mesmo autor escreve Reflexos de si,

Ecos de Outrem (2002).

Muito interessante é a produção sobre o Xamanismo Kulina, Culina ou Madiha que têm

presença no Vale do Javari e nos rios Juruá, Purus, além da Amazônia Peruana. Isabelle Rüff

descreveu uma cerimônia Kulina no seu artigo “Le "dutsee tui" chez les indiens Culina du

Pérou” (1972); Donald Pollock (1985) escreveu a tese de doutorado sobre a constituição da

Pessoa e o conceito de Doença entre os Kulina (Personhood and Illness among the Kulina of

Western Brazil) e posteriormente publicou Xamanismo: Gênero, Poder e Conhecimento Culina

(shamanism: gender, power and knowledge) (1992). Lori Altmann defendeu a Dissertação:

“Maittaccadsama: categorias de espaço e tempo como referenciais para a construção da

identidade Kulina (Madija)” (2000) e Roberto E. Zwetsch publicou o Livro “O Cheiro da Terra”

(1992). A música Kulina é considerada de grande relevância e interesse para a antropologia

porquanto a partir dela se desenvolveram estudos importantes sobre música, construção da pessoa

e Xamanismo.

Finalmente temos agrupado neste pequeno capitulo sobre cosmologia um grupo de

estudos que fazem referência a experiências religiosas. Evangelização e povos indígenas (1982)

e, Convivência e solidariedade: uma experiência pastoral entre os Kulina (Madija) (1991) de

Lori Altmann, refletem o grande investimento religioso com o propósito de evangelizar os povos

indígenas. Nesta mesma perspectiva esta o estudo: Com as melhores intenções: trajetórias

missionárias luteranas diante do desafio das comunidades indígenas - 1960-1990, de Robert E.

Zwetsch (1993). Há que se colocar que nesta troca de valores simbólicos entre as culturas

indígenas e os grupos missionários também eles encontraram estratégias de proteção ou de

escolha de um parceiro na relação com o mundo ocidental e seus bens.

129

Considerações finais

A base de dados do NEAI contém um número importante de fontes bibliográficas (setenta

e três, ver tabela síntese) e uma descrição básica de cada livro, tese, dissertação e artigo

abrangendo o conjunto dos povos indígenas do Vale do Javari. Algumas fontes bibliográficas

serão inseridas como produto desta primeira análise, o que consolidará e facilitará ainda mais a

consulta e aproximação de novos pesquisadores aos estudos em todas as áreas na região.

130

Tabela 1

Distribuição anual das produções bibliográficas do Vale do Javari de 1888-2008

An

o

18

88

1

91

2

19

18

19

36

19

55

19

57

19

72

19

75

19

77

19

79

19

81

19

82

19

84

19

85

19

86

19

87

19

89

19

90

19

91

19

92

19

93

19

94

19

95

19

96

19

97

19

98

20

00

20

01

20

02

20

03

Povo

Marubo 1 3 1 3 3 1 1 2 1 1 1 2 1 1 1

Matsés

Mayuruna 1 1 1 1 2 1

Matis 1 1 1 1 2 1 2

Korubo 1 1

Kulina 1 1 1 1 1 2 1 3 1

Kanamary 1 2

Referências

Gerais 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Total 1 1 1 1 1 1 1 2 3 1 1 1 2 4 4 1 1 1 4 4 5 4 2 3 1 1 4 3 5 1

131

Os estudos e documentações até agora analisados, constituem uma base para a

compreensão etnográfica sobre os povos indígenas do Vale do Javari, o que estimula para

uma atualização e aprofundamento de múltiplos aspectos culturais que ainda não foram

abordados, ou que, no desenvolvimento da Antropologia como ciência ou como área de

conhecimento, adotaram novas abordagens e possibilidades de analise. Neste sentido é

importante destacar a relação dos povos indígenas que estão aldeados e legitimamente

possuidores da Terra Indígena do Vale do Javari, com os povos isolados ou autônomos.

As áreas de estudo nesta perspectiva são amplas: a interação lingüística entre esses

povos, a delimitação mais clara e efetiva do território de cada um dos povos que não estão em

contato ou que estão em isolamento voluntário; a análise sobre a fronteira e a separação de

povos que sem as fronteiras nacionais pertencem a uma mesma unidade cultural e social; o

estudo sobre a diferença de políticas públicas a cada lado da fronteira; a qualidade, eficácia,

transparência e pertinência das políticas públicas oferecidas pelo Estado brasileiro a estes

povos; a crise no atendimento de saúde pela FUNASA, o Distrito Sanitário e as Prefeituras e

as implicações na sustentabilidade destes povos.

De outra parte podemos destacar como interessante o desenvolvimento de pesquisas

sobre os processos de migração e de ocupação urbana que muda a relação dos povos

indígenas com seu território e transforma as relações entre suas organizações e o Estado. Por

termos tido a oportunidade de conhecer o Vale do Javari e os povos sobre os quais se

produziram tão prolíficos estudos etnológicos e etnográficos, ressaltamos o descaso do Estado

nas políticas de Educação e Saúde, no estimulo ao aproveitamento sustentável dos recursos

naturais e na proteção de invasores da Terra Indígena do Vale do Javari. A imensidão do

território e o desconhecimento sobre aspectos importantes da vida natural e social estimulam

promover a investigação científica que junto ao conhecimento dos povos indígenas e não

indígenas possibilite a sustentabilidade ambiental e cultural do Território.

132

MAPEAMENTO DAS INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS E NÃO-

GOVERNAMENTAIS NA AMAZÔNIA INDÍGENA: CENÁRIOS A

SEREM REFLETIDOS

Maria Helena Ortolan de Matos

Professora do Departamento de Antropologia da UFAM e pesquisadora do Núcleo de Estudos da

Amazônia Indígena (NEAI/PPGAS)

Inara do Nascimento

Estudante do Curso de Ciências Sociais da UFAM (Bolsista do CNPq)

Introdução: A relevância e os limites da pesquisa

Antropólogos e demais pesquisadores têm se defrontado com um novo perfil de

relações interétnicas na Amazônia, constituído por redes de articulações entre os povos

indígenas e agentes institucionais diversos. Isto tem demandado investigações mais

detalhadas sobre esses agentes e suas linhas de ação, considerando que os indígenas fazem

parte, enquanto sujeitos, de um campo político de dimensões locais, regionais, nacionais e

internacionais (ALMEIDA, 2006).

Esta situação etnográfica suscitou a proposta de pesquisa sobre tais agentes no Estado

do Amazonas no projeto “Amazonas indígena: um mapeamento das instituições e da

produção bibliográfica sobre os povos indígenas do estado”. A Professora Dra. Maria Helena

Ortolan Matos, pesquisadora experiente sobre política indígena e indigenista, foi responsável

por elaborar a proposta da pesquisa e coordenar a investigação. Por ser um tema amplo no que

diz respeito à Amazônia, foi feito o recorte etnográfico definindo o estado do Amazonas como

lócus da pesquisa e o período correspondente à vigência da etapa de levantamento de dados

para o Banco de Dados do projeto citado. Portanto, trata-se de um mapeamento

propositalmente delimitado para não dar margem à expectativa de que a complexidade do

tema pesquisado seja esgotada em esforço investigativo inicial.

A importância do mapeamento proposto, embora limitado, está em proporcionar dados

referenciais para dimensionar, planejar e orientar novas pesquisas na área de etnologia

indígena, considerando a concentração de produção científica e de informações sobre ações e

políticas de projetos institucionais em grupos étnicos específicos. O mapeamento de

organizações não-governamentais, indígenas e não-indígenas, atuantes no Amazonas e a

identificação de suas atividades proporcionam conhecimentos importantes para analisar a

atual política indigenista como, por exemplo, os dados sobre o perfil institucional das ações

indigenistas nos últimos anos, os públicos alvos dessas ações e as agências financiadoras que

formam a rede de relações dos indígenas para execução de projetos.

133

Os dados coletados na pesquisa alimentaram o Banco de Dados criado

especificamente para disponibilizar as investigações do projeto. O levantamento de dados

sobre as instituições10

(organizações governamentais e não-governamentais, indígenas e não-

indígenas) foi realizado por meio de ficha elaborada com campos específicos, que foram

reformulados no transcorrer da pesquisa por necessidade de adequação às informações

relevantes sobre os diversos programas e projetos institucionais pesquisados. Tal

reformulação ocasionou ampliação do tempo previsto para execução da tarefa de coleta de

dados, devido os reajustes necessários ter envolvido definições de conteúdo etnográfico e

operacional do sistema de informação georeferenciado.

Durante a execução das atividades propostas, surgiu a necessidade, não prevista

inicialmente, de elaboração de sínteses do perfil de cada instituição pesquisada, de modo a

situar suas atividades no contexto mais amplo da política pública brasileira para os povos

indígenas. Apesar de ter ampliado o trabalho proposto, essas sínteses produziram resultados

interessantes para análise reflexiva dos dados coletados, por revelarem informações que

passariam despercebidas utilizando apenas as fichas produzidas para o levantamento de

informações.

Deste modo, a pesquisa implicou em refinamentos metodológicos que demandaram

maior aprofundamento das atividades e, por conseguinte, provocaram desdobramentos a

serem investigados por meio de trabalhos de iniciação científica envolvendo alunos de

graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Dois

trabalhos científicos foram realizados no período de 2007 a 2009, pelo Programa de Bolsas

de Iniciação Científica da Universidade Federal do Amazonas (PIBIC): Mapeamento das

instituições governamentais e não-governamentais na Amazônia Indígena: cenários a serem

refletidos (agosto 2007- junho de 2008) e Institucionalização de ações indigenistas:

identificação e análise da atuação de organizações não-governamentais em políticas públicas

no Amazonas (agosto 2008- junho de 2009), orientados pela Professora Dra. Maria Helena

Ortolan Matos.

10 Entre muitos significados sociológicos, nesta pesquisa o termo “instituição” é entendido como “organização

ou grupos dotados de certa estabilidade estrutural assentada em normas e valores dos próprios grupos ou

organizações, ou então em valores da sociedade onde se inserem” (Dicionário de Ciências Sociais. Rio de

Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1986, p.612). O termo também será usado, de forma mais ampla,

para fazer referências às organizações não-governamentais, indígenas e não-indígenas, que estão atuando na

execução de políticas públicas indigenistas (ação que lhes exige maior estabilidade estrutural).

134

A complexidade e a dinamicidade da composição das relações interétnicas, nos

últimos anos, impõem limites à análise, sobretudo se considerarmos a quantidade de

organizações indígenas que “nascem e morrem” todos os dias, principalmente devido aos

desajustes estruturais relacionados à política indigenista. Portanto, é necessário considerar

que, pelo perfil do objeto pesquisado, o levantamento de dados realizado tem um recorte

temporal e, por essa razão, é apresentado como uma espécie de fotografia do novo cenário das

relações interétnicas no Amazonas, constituído por redes de articulações entre os povos

indígenas e agentes institucionais diversos. Mesmo com essas ressalvas, foi possível contatar

na pesquisa que a diversidade de ações das organizações (indígenas e não–indígenas) equivale

à multiplicidade de contextos sociais, culturais, territoriais, políticos, econômicos,

institucionais e históricos em que estão inseridos.

Portanto, ao fazer o mapeamento institucional, compreendeu-se que se tratava de uma

pesquisa não quantitativa, mas muito mais qualitativa, no sentido de ter maior significado

científico para o tema realizar uma investigação representativa da situação etnográfica

estudada do que simplesmente apresentar uma listagem institucional.

Desenvolvimento da pesquisa

Para a pesquisa foram analisados diversos websites de organizações governamentais e

não-governamentais, nos quais se buscaram informações sobre ações ⁄programas ⁄projetos

dessas instituições junto aos povos indígenas. Essa coleta de informações foi orientada por

uma ficha, elaborada com campos específicos referentes a objetivos, financiadores, local de

atuação e povo indígena envolvido. A coleta de informações fora do estado do Amazonas foi

realizada através de consultas aos websites institucionais e por correspondência eletrônica.

Além da pesquisa nos websites, foi realizado um levantamento documental por meio de

diversas fontes como folders, documentos institucionais, relatórios e publicações oficiais.

O procedimento da pesquisa, por muitas vezes, revelou-se um processo de horas de

navegação em websites em busca de pistas e links, que geralmente estavam em constante

construção ou atualização de dados. A indisponibilidade de dados e falta de informações

importantes (como, por exemplo, se os dados publicados estão atualizados, quais ações estão

sendo desenvolvidas e por quanto tempo, a origem e valor de financiamentos) foram

corriqueiros na construção do mapeamento. Nesses casos, os dados não coletados ou

incompletos fazem parte do limite deste trabalho, principalmente no que se refere ao

135

fornecimento de informações por parte das instituições pesquisadas e pelo fato da pesquisa ser

de caráter documental (restrição a relatórios, documentos). Logo, optamos por registrar os

dados tais como se apresentavam, compreendendo que o “não-dado” é um dado para análise.

Por meio do projeto Amazonas indígena: um mapeamento das instituições e da

produção bibliográfica sobre os povos indígenas do estado, foi possível fazer pesquisa de

campo em Brasília - DF junto a órgãos governamentais e organizações não governamentais

que desempenham ações com povos indígenas. A escolha do campo em Brasília, ao invés de

ter sido realizado em qualquer outro município no estado do Amazonas, se deve ao fato de

que as organizações governamentais e não-governamentais (com escritório em Manaus ou em

outros municípios do estado) se dirigiam aos seus secretariados nacionais – quase todos com

sede executiva em Brasília devido à proximidade aos parceiros e ao poder Público Federal-

para a obtenção das informações relevantes à pesquisa.

As instituições pesquisadas em Brasília foram: Ministério da Cultura (Prêmio Culturas

Indígenas), Ministério do Meio Ambiente (Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas-

PDPI) e Carteira Indígena, Fundação Nacional do Índio - FUNAI, Conselho Indigenista

Missionário-CIMI, Centro de Trabalho Indigenista - CTI, Instituto Socioambiental-ISA e The

Nature Conservancy-TNC.

Os entraves do trabalho de campo ― dificuldade de acesso aos arquivos e documentos

públicos ― permitem o questionamento quanto à transparência11

dessas informações e como

as mesmas são tratadas como instrumento de poder de quem as detém: acessá-las pode ser

uma “manobra diplomática”. Por outro lado, o não acesso aos dados ocorre também por essas

informações estarem dispersas. Cada elemento da informação se encontra nas partes

interessadas: valores com os financiadores, projetos com proponentes e os resultados em

relatórios técnicos nem sempre acessíveis.

O mapeamento das organizações governamentais e não-governamentais, indígenas e

não-indígenas consta no banco de dados do projeto “Amazonas indígena: um mapeamento das

instituições e da produção bibliográfica sobre os povos indígenas do estado”. Foram

mapeadas cento e noventa e oito instituições, sendo:

11 Transparência compreendida no sentido que NEDER (1997) lhe confere de qualidade que orienta os atores na

busca de uma das condições básicas do entendimento com outros agentes, que é ser visível quanto a seus fins e

propósitos e comparecer em publico para assumir o compromisso.

136

Gráfico 1

Mapeamento das organizações

Fonte: Banco de dados da pesquisa, 2009.

Dados coletados: contextos, programas e projetos

O objetivo da pesquisa de mapear as organizações governamentais e não

governamentais, identificando suas formas de atuação, foi atendido na medida em que o

acesso às informações se restringia à pesquisa de caráter documental. Em um primeiro

momento12

, a pesquisa se direcionou a levantar informações sobre as organizações

governamentais, para depois investigar de forma mais detalhada as organizações não-

governamentais. As informações sobre as organizações indígenas perpassaram todos os

momentos da pesquisa, uma vez que os dados levantados nas organizações governamentais e

não-governamentais se direcionavam a organizações indígenas.

A análise dos dados obtidos sobre as organizações governamentais revelou que a

implementação de ações, programas e projetos junto aos povos indígenas no estado do

Amazonas têm envolvido ações conjuntas, embora com papéis distintos, de organizações

governamentais e não-governamentais. Pode-se constatar, a princípio, que o campo político

das relações interétnicas sofreu mudanças significativas quanto à sua configuração de relações

de forças entre agentes indígenas e agentes governamentais e não-governamentais.

12 PIBIC 2007/2008: Mapeamento das instituições governamentais e não-governamentais na Amazônia

Indígena: cenários a serem refletidos.

137

Embora em outros momentos da história das relações interétnicas entre indígenas e

autoridades governamentais no Brasil tenha ocorrido participação de instituições não-

governamentais na implementação de projetos indigenistas (como, por exemplo, a atuação das

missões católicas com ações civilizatórias), no século XX, a política indigenista do Estado

brasileiro foi executada prioritariamente por órgãos governamentais específicos (SPI, 1910;

FUNAI, 1967). No entanto, a partir da década de 90, organizações não-governamentais, que

até então desempenhavam papel crítico às ações indigenistas oficiais, foram requisitadas para

compor o quadro de agentes executores de políticas públicas junto aos povos indígenas.

Ações governamentais passaram a ser executadas por meio de articulação do Estado com

organizações não–governamentais, indígenas e não-indígenas. Para assumir tal tarefa, as

organizações não-governamentais deixaram seu caráter de militância e passaram a se

configurar como instituições prestadoras de serviço, enquanto órgãos do Estado assumiram

função de fiscalizador da execução das atividades.

Nos dados coletados pela pesquisa é possível vislumbrar o perfil da atuação das

organizações não-governamentais, indígenas e não-indígenas, no Amazonas. Por exemplo,

ainda que os editais de financiamento de projetos permitam a atuação de ONGs como

“proponentes” e/ou “executores” de projetos, a pesquisa nos mostra que esses papéis têm sido

desempenhados, na maior parte das vezes, pelas organizações indígenas. Por sua vez, as

ONGs aparecem nos dados levantados atuando mais como assessores técnicos na gestão

indígena dos projetos. Verifica-se também que o crescimento das organizações indígenas é

resultante do fortalecimento do campo político indígena.

Organizações governamentais

Foram levantadas informações sobre as ações governamentais nas esferas federal,

estadual e municipal, na condição de “em andamento” ou “concluídas”. De algumas

instituições governamentais foi possível alcançar dados específicos sobre sua ação (local de

atuação, povo indígena) no estado do Amazonas. Por sua vez, de outras instituições só

tivemos acesso a suas iniciativas, de um modo geral, sem alcançar sua atuação e resultados. A

seguir, quadro com as instituições pesquisadas:

138

Tabela 1

Organizações governamentais pesquisadas

Fonte: Banco de dados da pesquisa, 2009.

Optamos por apresentar neste trabalho dados sobre as seguintes instituições:

Ministério da Cultura, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, Ministério

do Meio Ambiente, Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas e Secretaria

Municipal de Educação. Ressaltam-se dados somente dessas instituições devido à grande

concentração de projetos junto aos povos indígenas.

Ministério da Cultura

Programa: Prêmio Culturas Indígenas

No âmbito do Ministério da Cultura (MinC), a Secretaria da Identidade e da

Diversidade Cultural (SID) tem por objetivo realizar ações voltadas para o resgate e proteção

da cultura brasileira. Para tanto, o SID convocou um GT Indígena (Grupo de Trabalho

Indígena) com a finalidade de discutir e indicar políticas públicas voltadas para a cultura

indígena.

Como uma das demandas desse GT, foi elaborada a “Campanha Nacional de

Valorização da Cultura Indígena” a fim de valorizar e promover a diversidade cultural e a luta

pelo exercício dos direitos constitucionais dos povos indígenas. Essa campanha resultou na

criação do Prêmio Culturas Indígenas13

com objetivo de premiar as iniciativas culturais dos

povos indígenas que sejam relevantes para fortalecer suas expressões culturais.

13 Ação do Ministério da Cultura, por meio da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural – SID e a

FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL

Ministério da Cultura Secretaria Estadual de

Educação

Secretaria Municipal de

Educação

Ministério do

Desenvolvimento Agrário

Fundação de Amparo a

Pesquisa do Estado do

Amazonas

Secretaria Municipal de

Desenvolvimento

Econômico Local

Ministério do

Desenvolvimento Social e

Combate a Fome

Secretaria de Estado para os

Povos Indígenas

Secretaria Municipal de

Assistência Social

e Direitos Humanos

Ministério do Meio

Ambiente

Fundação Nacional de

Saúde

139

O Prêmio Culturas Indígenas teve sua primeira edição em 2006, edição Ângelo

Cretã14

. O edital resultou em quatrocentos e sessenta e sete (467) projetos inscritos, sendo

oitenta e duas (82) iniciativas premiadas. Das oitenta e duas (82) premiadas, vinte e quatro

(24) iniciativas são da Região Norte e nove (9) do estado do Amazonas. Em 2007 foi

elaborada a segunda edição – Xicão Xukuru 15

, resultando em seiscentos e noventa e seis

(696) projetos inscritos, com cento e duas (102) iniciativas premiadas, sendo quinze (15) no

estado do Amazonas.

Para concorrer ao edital Prêmio Culturas Indígenas, os povos indígenas devem

apresentar projetos, realizados ou em andamento, que contemplem expressões das culturas

indígenas (religião, rituais, festas tradicionais, mitos, histórias, narrativas orais, músicas,

cantos, danças, medicina tradicional, pinturas corporais, desenhos, grafismos, língua indígena

etc.). O edital dispõe sobre os requisitos para participar do prêmio. Nesse processo, as

inscrições podiam ser feitas pela Internet, preenchimento manuscrito do formulário ou por

meio oral, gravadas em fitas/cd. Quanto aos critérios para seleção, poderiam ser proponentes

de iniciativas para concorrer o prêmio, aldeias e/ou comunidades indígenas representadas por

suas instituições tradicionais ou organizações indígenas. O edital considera como instituições

tradicionais uma comunidade⁄aldeia, uma liderança indígena, um pajé.

Os projetos premiados constam no quadro dois (2) e três (3) e mapa infográfico16

um

(1).

organização indígena Associação Guarani Tendonde Porá. 14

Homenagem a Ângelo Cretã, liderança indígena Kaigang, primeiro indígena a ser eleito vereador no Brasil em

1976. 15

Homenagem a Xicão Xukuru, liderança indígena Xukuru de Pernambuco, assassinado em 1998. 16

O mapa infográfico foi feito com base no mapa "Situação Fundiária Indígena 2007" produzido pela Diretoria

de Assuntos Fundiários da FUNAI. O mapa tem por objetivo apontar o local de atuação das ações, sendo deste

modo meramente representativo.

140

Tabela 2

Projetos Premiados

Projetos premiados Local de atuação (Região/ Município/ Terra

Indígena/ Comunidade)

Povo(s)

Dança do Tracajá e

do Jacamim

Terra Indígena Nhamundá/ Mapuera, Aldeia

Kassawa, município de Nhamundá-AM

Hexkaryana

Educação e Manejo

do Médio Rio Tiquié

Terra Indígena Alto Rio Negro, Comunidade

Piro Sekaro – Distrito de Pari Cachoeira,

município de São Gabriel da Cachoeira-AM

Tukano

Wadenikaa Aakhepa-

Técnicas Tradicionais

de Cerâmica Baniwa

Comunidades Loiro Poço, Santana, América,

Urumutum Lago, São José, Cara Igarapé,

Xibaru, Miriti, São Joaquim, Andoriha, Santa

Isabel, Pirawara, Arari-pira, Vila Nova, Inambu,

Panapana, Apuí Cachoeira, Caju Ponta, Oucuqui

Cachoeira e Jurupari Cachoeira, município de

São Gabriel da Cachoeira

Baniwa

Valorização da

língua, cultura e

danças tradicionais

dos Kotiria

Comunidades Mu Nuhkõ, Khã Nuhkõ, Koama

Phoaye, Soma, Nahpima, Botea Wairo, Nihã

Phito e Mane Khoana Phito, município de São

Gabriel da Cachoeira

Wanano

Celebração das festas

Tuyuka

Comunidades Mõopoea, Terra Indígena Alto

Rio Negro

Tuyuka

A proteção da língua

através da

comunicação

Comunidades Ajuricaba, Cachoeira do Araçá e

Komixi, Terra Indígena Yanomami

Yanomami

Festival de Músicas

Indígenas

tradicionais e

adaptadas dos Povos

Indígenas do Rio

Negro

750 comunidades da Terra Indígena Alto Rio

Negro

Tukano,Karapanã,

Bará, Siriano,

Makuna, Baniwa,

Kuripako, Baré,

Werekena,

Tariano, Hupda,

Yuhupde, Dow,

Nadeb e

Yanomami

Medicina Indígena Comunidades de Santa Rosa do Alto Rio Tiquié,

município de São Gabriel da Cachoeira

Tukano, Tuyuka e

Hupda

Revitalização da

língua e das práticas

culturais Sateré-

Mawé

41 comunidades as margens do Rio Andirá e

Waikurapá, Terra Indígena Andirá Marau,

município de Parintins-AM

Sateré- Mawé

Organização dos

professores Mura

Município de Autazes-AM Mura (perto de

Manaus)

Yrerua- Festa do

Guerreiro

Comunidades Traíra e Pupunha, Terra Indígena

Nove de Janeiro, município de Humaitá-AM

Parintintin

Amamajo – Saída da

moça

Terras Indígenas Paumari do Lago Marahã e

Paumari do Rio Ituxi, município de Lábrea- AM

Paumari

141

Continuação da Tabela 2

Projetos premiados Local de atuação (Região/ Município/ Terra

Indígena/ Comunidade)

Povo(s)

Mucha Aketkit –

Festa da tatuagem

Comunidade Beija Flor, Terra Indígena Vale do

Javari, município de Tabatinga-AM

Matis

Encontro dos Pajés Aldeias do Alto Rio Curuçá, Terra Indígena

Vale do Javari, município de Atalaia do Norte-

AM

Marubo

Arte e Cultura

Kanamari

Comunidades Massapê, Remansinho, Bananeira

e Estirão do Kumaru, Terra Indígena Vale do

Javari, município de Atalaia do Norte-AM

Kanamari

Resgate da Medicina

Tradicional

Aldeia Marajaí, Terra Indígena Marajaí,

município de Alvarães-AM

Mayoruna

Banda Wiwirutcha Comunidade Filadélfia, Terra Indígena Santo

Antônio, Estado do Amazonas. Ticuna

Enu Irine Idakie –

Escola e Língua

Comunidade Yawisa e Aparecida, Terra

Indígena Alto Rio Negro, Estado do Amazonas. Tariana

Hekura – A Força dos

Pajés

Aldeias Ariabu,União e Nossa Senhora

Auxiliadora, Terra Indígena Yanomami, Estado

do Amazonas

Yanomami

Políticas Linguísticas

e Gestão de

Conhecimentos

Comunidade São Pedro, Terra Indígena Alto Rio

Negro, Estado do Amazonas Tuyuka

Wariró – Casa de

Produtos Indígenas

do Rio Negro

Comunidade em São Gabriel da Cachoeira, 750

aldeias. Estado do Amazonas.

22 povos

indígenas do Alto

Rio Negro

Watyanã – Dança da

tucandeira

Comunidade Sateré- Mawé em Manaus,Estado

do Amazonas. Sateré – Mawé

Wayuri “trabalho

coletivo”

Comunidades São Felipe, Ilha de Aparecida,

Ilha de Açaí, Tacira Ponta, Bawary, Yawawira,

Ilha de Flores, Sarapó, São Luís, São Miguel,

Cabarí, São Sebastião e São Joaquim Mirim.

Terra Indígena Alto Rio Negro e Terra Indígena

Médio Rio Negro I, Estado do Amazonas.

Arapaço

Baniwa

Baré

Desana

Kubeo

Miriti Tapuya

Munduruku

Pira-Tapuya

Siriano

Tariana

Tukano

Tuyuka

Wanano

Werekena

Casa de Tradição e

Cultura Kokama Terra Indígena Évare I – Comunidade Sapotal Kokama

Raízes da Saúde Aldeias de Nazaré, Ambaúba,Castelo Branco,

Belém e Tayaçu- Terra Indígena Alto Rio

Negro.

Baniwa

142

Figura 1

Mapa com indicação dos projetos premiados em 2007 e 2008 com o Prêmio “Culturas Indígenas”

FONTE: Catálogo Prêmio Culturas Indígenas, 2008.

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143

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome

Programa Carteira Indígena

O programa Carteira Indígena é uma ação desenvolvida por meio de parceria entre o

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e o Ministério do Meio Ambiente.

A finalidade desde programa é executar projetos voltados para a segurança alimentar e

nutricional e desenvolvimento sustentável de comunidades indígenas. Os projetos devem

seguir as temáticas propostas pelo programa, que abrangem: práticas sustentáveis de produção

de alimentos; práticas sustentáveis de produção, beneficiamento e comercialização da

produção agroextrativista e do artesanato; revitalização de práticas e saberes tradicionais e

apoio ao fortalecimento da capacidade técnica e operacional das organizações e comunidades

indígenas.

A Carteira Indígena financia projetos em todo o território nacional. Esses projetos

devem ser propostos pelas comunidades indígenas e apresentados, prioritariamente, através de

organizações. O programa também aceita propostas de ONGs, universidades e centros de

pesquisa.

O mapeamento identificou na Carteira Indígena sete (7) projetos no Amazonas, sendo

três (3) projetos em execução. Os projetos financiados pelo programa constam no quadro

quatro (4) e mapa infográfico dois (2).

Tabela 3

Projeto, local de atuação e povos indígenas do programa Carteira Indígena - MDS/ MMA

Projeto

Local de atuação (Região/

Município/ Terra Indígena/

Comunidade)

Povo(s)

Tia Yumaci do Rio Cuieiras

e Adjacências/ em execução

Comunidades São Tomé,

Kuanã, Barreirinha, Boa

Esperança, Nova Esperança

e Barreirinha, área do Rio

Cuieras, município de

Manaus-AM

Baré, Kambeba, Tukano,

Piratapuya, Mura, Yarumare,

Tikuna, Baniwa e Apurinã

Projeto Pajurá Kambeba Comunidade Três Unidos,

área do Rio Cuieras,

município de Manaus-AM

Kambeba

Kakuri Poranga Comunidade Terra Preta,

área do Rio Cuieras,

município de Manaus-AM

Baré,Yarumare, Baniwa e

Tucano

144

Continuação da Tabela 3

FONTE: Listagem dos projetos do programa Carteira Indígena no Amazonas, 2009.

Projeto

Local de atuação (Região/

Município/ Terra Indígena/

Comunidade)

Povo(s)

Escoamento da Produção

Agrícola e Artesanal /em

execução

Terra Indígena Vale do Javari,

município de Atalaia do Norte-

AM

Mayoruna e Kanamari

Projeto Vida (Comida, Saúde e

Educação) /em execução

Vila Batista, Vila da Paz, Nova

Alegria e S.Francisco, Terra

Indígena Andirá Marau,

município de Parintins-AM

Sateré-Mawé

Mulheres indígenas

produzindo artesanato e

melhorando alimentação

Comunidade em área urbana

no município de Manaus-AM

Tucano, Dessano,

Piratapuia, Wanano,

Baniwa, Tikuna,

Karapanã, Baré, Cubeo,

Barassana, Satere-

Mawé, Arapasso,

Tariana e Miriti Tapuia.

Melhoria e Qualidade

Alimentar

Aldeias Kona, Raita, Pukina,

Ixina, Pohoroá, Xamatá e

Bicho-Açu, Terra Indígena

Yanomami, município de

Santa Isabel do Rio Negro

Yanomami

145

Figura 2

Mapa com indicação dos locais contemplados com o programa “Carteira Indígena” (projetos

2008 e 2009)

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146

Ministério do Meio Ambiente - MMA

Programa: Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas - PDPI

O PDPI17

(Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas) é uma ação do governo

brasileiro que pretende melhorar a qualidade de vida dos povos indígenas da Amazônia Legal

brasileira, fortalecendo sua sustentabilidade econômica, social e cultural em consonância com

a conservação de seus territórios.

O PDPI tem duas frentes de atuação: 1- Apoio a projetos no nível local; 2- Apoio ao

fortalecimento institucional e a capacitação para gestão do movimento indígena. No que diz

respeito a apoio a projetos no nível local, esse apoio se subdivide em três (3) áreas temáticas:

1- proteção das terras indígenas; 2- atividades econômicas sustentáveis; 3- resgate e

valorização cultural.

O PDPI financia projetos que tenham, prioritariamente, como proponente,

organizações indígenas, mas também ONGs podem ser proponentes de projetos. As propostas

encaminhadas devem se orientar pelas linhas temáticas do PDPI. A idéia de projetos

demonstrativos é que se bem sucedidos, esses projetos possam servir como possibilidade para

a melhoria da situação de outros povos indígenas.

O mapeamento identificou no PDPI, trinta e oito (38) no Amazonas, apresentados no

quadro cinco (5) e mapa infográfico três (3).

17 Trata-se de um componente do Subprograma Projetos Demonstrativos (PDA), do Programa Piloto para a

Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), vinculado à Secretaria de Coordenação da Amazônia (SCA)

do Ministério do Meio Ambiente. Além do financiamento do governo brasileiro, o projeto conta com apoio

financeiro e técnico de agências de cooperação internacional dos governos alemão (KFW e GTZ) e britânico

(DFID).

147

Tabela 4

Projeto, local de atuação e povos indígenas do programa Projetos Demonstrativos

dos Povos Indígenas – PDPI

Projeto

Local de atuação(Região/

Município/ Terra indígena/

comunidade)

Povo(s)

As mulheres ticuna tecem

sua história com a

matéria-prima

Terra Indígena Tikuna de Santo

Antônio, Município de Benjamim

Constant (AM)

Ticuna

Avicultura da

Comunidade de Santa

Rosa, Alto Uaupés –

Iauaretê.

Municípios de São Gabriel da

Cachoeira e Japurá,Terra Indígena

Alto Rio Negro, Comunidade Santa

Rosa, Alto Uaupés – Iauaretê.

Tariano

Avicultura no bairro D.

Pedro Massa, Iauareté

Municípios de São Gabriel da

Cachoeira e Japurá, Terra Indígena

Alto Rio Negro

Dessana, Pira-tapuya,

Tariano, Tukano e

Wanana

Boas Práticas de Manejo

de Castanha.

Município de Alvarães (Médio Rio

Solimões), Terra Indígena Marajaí.

Mayoruna

Capacitação

Agroflorestal:

Valorização dos Saberes

Tradicionais.

Terra Indígena Yanomami, que

abrange parte do estado do

Amazonas e Roraima.

Yanomami

Capacitação em

Atividades Produtivas.

Município de Uarini (Médio Rio

Solimões),Terra Indígena Miratu.

Miranha

Centro Educacional e

Cultural Tariano

Municípios de São Gabriel da

Cachoeira e Japurá, Terra Indígena

Alto Rio Negro

Tariano

Centro Turístico Éware-

Aciu: Casa de Festa da

Moça Nova.

Município de Tabatinga (Alto Rio

Solimões), Terra Indígena Tukuna

Umariaçu, Comunidade de Umuriaçu

II

Ticuna

Comercializando a nossa

produção, organizando a

comunidade.

Região do Alto Rio Solimões,Terra

Indígena Betânia.

Ticuna

Gestão dos conhecimentos

para as futuras gerações

Tuyuka.

Municípios de São Gabriel da

Cachoeira e Japurá, Terra Indígena

Alto Rio Negro.

Bara, Hupdá, Karapanã,

Tuyuka e Tukano

Kãkytewakory Awine:

Casa do Povo Apurinã

Municípios de Boca do Acre e

Lábrea (Médio Rio Purus), Terra

Indigena Apurinã do Km-124 da BR-

317, Comunidade Camapã.

Apurinã

148

Projeto Local de atuação(Região/

Município/ Terra indígena/

comunidade)

Povo(s)

Kamaykocuna.

Região do Médio Rio Solimões,

Terra Indígena Barreira da Missão

(município de Tefé), Cajuhiti

Atravessado (município de

Coari),Cuiu-Cuiu(município de

Maraã), Igarapé Grande(municipio

de Alvarães), Jaraqui(município de

Uarani) Marãa Urubaxi (município

de Marãa e Santa Isabel do Rio

Negro), Marajaí(municipio de

Alvarães),Meria (municipio de

Alvarães), Miratu(município de

Uarini),Porto Praia(municipio de

Uarini),Tupã-Supé(município de

Alvarães e Uarini)

Kambeba, Kanamari,

Kokama,

Mayoruna,Miranha,Ticuna

Barreira como sede

Kootiria ya Bahsa :

Projeto Wanano de

registro das danças

tradicionais.

Município de Japurá e São Gabriel da

Cachoeira, Terra Indígena Alto Rio

Negro.

Cubeo, Desana, Pira-

Tapuya, Tukano e Wanana

Koyanaale:Manejo de

recursos pesqueiros na

bacia do Içana

Municípios de São Gabriel da

Cachoeira e Japurá,Terra Indígena

Alto Rio Negro.

Baniwa

Macuracu Município de Jutaí, Terra Indígena

Estrela da Paz.

Cambeba, Kokama,

Ticuna

Madzerukai

Municípios de Japurá e São Gabriel

da Cachoeira, Terra Indígena Alto

Rio Negro.

Baniwa.

Manejo Sustentável no

Médio Tiquié: Pensando o

Futuro

Municípios de Japurá e São Gabriel

da Cachoeira, Terra Indígena Alto

Rio Negro.

Desana, Hupdá, Miriti e

Tukano

Mapinguarí: Terra

Indígena Kwatá/ Laranjal. Terra Indígena Coatá-Laranjal

Munduruku, Sateré-Mawé

Melhoria alimentar,

resgate cultural e

comercialização de

produtos.

Terra Indígena Yanomami, que

abrange parte do estado do

Amazonas e Roraima.

Yanomami

Museu Magüta: Ticuna

Aru Ngemaügu Tchica

Região do Alto Rio Solimões, nos

municípios de Amaturá, Benjamim

Constant, Jutaí, Santo Antônio do Içá

e Tonantins, Terra Indígena Bom

Intento, Évare I, Évare II, Maraitá,

Matintin, Nova Esperança do Rio

Jandiatuba, São Francisco do

Canimari, São Leopoldo, Tikuna de

Feijoal, Tikuna de Santo Antonio,

Tikuna Porto Espiritual, Tukuna

Umariaçu, Vui-Uata-In.

Tikuna

Continuação da Tabela 4

149

Projeto

Local de atuação(Região/

Município/ Terra indígena/

comunidade)

Povo(s)

Palmeira Caranã

Municípios de São Gabriel da

Cachoeira e Japurá (AM)Terra

Indígena Alto Rio Negro,.

Arapaço, Tapuya, Baniwa,

Baré, Cubeo, Dessana,

Miriti, Pira - tapuya,

Tariano, Tuiuca, Tukano,

Wanana e Warekena

Pi „rasem

Municípios de Parintins, Maués,

Barreirinha (AM), Itaituba e Aveiro

(PA), Terra Indígena Andirá- Marau.

Sateré – Mawé

Piscicultura e Floricultura

Integradas na Aldeia

Umariaçu I.

Região do Alto Rio Solimões,

município de Tabatinga, Terra

Indígena Tukuna Umariaçu I, Aldeia

Umariaçu I.

Ticuna

Pré-projeto para garantir

o uso sustentável dos

recursos naturais e

realizar levantamento de

potencial econômico pra

as comunidades do médio

Rio Javari.

Município de Atalaia do Norte,Terra

Indígena Vale do Javari

Kanamari, Kulina,Matubo,

Matís, Mayoruna

Projeto Bayawi :

Aprendizado da língua e

da tradição Desana

através de uma imersão

espaço temporal de

convivência.

Município de Japurá e São Gabriel da

Cachoeira, Terra Indigena Alto Rio

Negro.

Desana, Hupdá, Pira-

Tapuya, Tariano, Tukano,

Tuyuka-Tapuya

Projeto de Atividades

Econômicas Sustentáveis

Municípios de Eirunepé,Envira,

Ipixuna (AM) e Tarauacá (AC),Terra

Indígena Kulina do Médio Juruá.

Kulina

Projeto de Estruturação

da Piscicultura do Alto e

Médio Tiquié e suas

afluentes.

Região do Alto Rio Negro,

municípios de Japurá e São Gabriel

da Cachoeira, Terra Indígena Alto

Rio Negro.

Desana, Hupdá, Tuyuca,

Tukano.

Projeto de Piscicultura do

Alto Tiquié

Municípios de São Gabriel da

Cachoeira e Japurá (AM) Terra

Indígena Alto Rio Negro.

Tuyúka,Maku Hupdá,

Tukano

Projeto para diferentes

atividades produtivas

sustentáveis - KANAMARI

Municípios de Pauini, Eirunepé,

Itamarati (AM),Terra Indígena

Kanamari do Rio Juruá.

Kanamari

Projeto Wayuri –

Reorganizando e

fortalecendo os modos

tradicionais de produção.

Municípios de São Gabriel da

Cachoeira e Japurá (AM),Terra

Indígena Alto Rio Negro.

Arapaço-Tapuya, Baniwa,

Baré, Cubeo, Dessana,

Miriti, Pira-tapuya,

Tariano, Tuiuca, Tukano,

Wanana, Warekena

Continuação da Tabela 4

150

FONTE: Listagem dos projetos do PDPI no Amazonas, 2008.

Projeto

Local de atuação(Região/

Município/ Terra indígena/

comunidade)

Povo(s)

Projeto Yrupema de

Etnodesenvolvimento

Parintintim.

Município de Humaitá,Terra

Indígena Nove de Janeiro.

Parintintim

Revitalização Cultural do

Distrito de Yauaretê

Municípios de São Gabriel da

Cachoeira e Japurá,Terra Indígena

Alto Rio Negro

Arapaso, Dessana, Pira –

tapuya, Tariano, Tukano,

Tuyuka, Wanana.

Roças Diversificadas de

Taracuá (RDT).

Região de Taracuá,municípios de

Japurá de São Gabriel da

Cachoeira,Terra Indígena Alto Rio

Negro.

Baré, Desana, Hupdá,

Miriti, Tariano, Tukano,

Tuyúka-Tapuya e Wanana

Tiemotina : Valorização

Cultural e

Sustentabilidade para as

comunidades Yanomami

do Rio Cauaburis e

afluentes.

Terra Indígena Yanomami (AM RR),

comunidade Yanomami do Rio

Cauaburis e afluentes.

Yanomami

Um centro cultural em

Porto Espiritual: espaço

de valorização de nossos

costumes.

Município de Benjamim Constant,

Terra Indígena Tikuna Porto

Espiritual

Ticuna

Usucipó: Uso Sustentável

do Cipó Titica do Rio

Castanha.

Municípios de São Gabriel da

Cachoeira e Japurá, Terra Indígena

Alto Rio Negro.

Desana, Hupdá, Tukano,

Tuyúka-Tapuya

Valorização e pesquisa de

artesanato tradicional das

mulheres indígenas do

Alto Rio Negro.

Município de São Gabriel da

Cachoeira e Japurá,Terra Indígena

Alto Rio Negro

Arapaso, Baniwa, Bará,

Barasána, Baré, Cubeo,

Desana, Miriti,Pira-

tapuya, Tariano,Tuyuka,

Wanana

Waikhana Koethiaye:

Revitalização das aldeias

Piratapuia com atividades

tradicionais.

Municípios de São Gabriel da

Cachoeira e Japurá,Terra Indígena

Alto Rio Negro.

Pira-tapúya

Continuação da Tabela 4

151

Figura 3

Mapa com indicação dos locais de atuação dos Projetos PDPI/MMA (2008/2009)

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end

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Pro

jeto

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DP

I/M

MA

(2

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8/2

00

9)

152

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM

Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa em Políticas Públicas em Áreas

Estratégicas - PPOPE

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM foi criada

pelo governo do estado (lei n°.2743) em 2002, vinculada à Secretaria de Estado do

Desenvolvimento Econômico (SEMDEL). A partir de 2003, a FAPEAM passa a fazer parte

da estrutura da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia - SECT, criada em janeiro do

mesmo ano.

A instituição tem como objetivo incentivar a produção de conhecimento científico e

tecnológico e sua aplicação, visando o desenvolvimento econômico e social. Para tanto, a

FAPEAM concede bolsas de estudos e apóia a implementação de ações de fomento à

pesquisa, através de programas e projetos.

Segundo o "Relatório de Atividades 2003-2008" da instituição, a FAPEAM investiu

cerca de R$ 6,1 milhões em recursos destinados a temática indígena nos seguintes programas:

1. Programa Jovem Cientista Amazônida (JCA)

2. Programa Primeiros Projetos (PPP-FAPEAM/MCT/CNPq)

3. Programa Integrado de Pesquisa e Inovação Tecnológica –PIPT

4. Programa de Desenvolvimento Científico Regional (DCR-FAPEAM/MCT/CNPq)

5. Programa de Ciência e Tecnologia para o Amazonas Verde –Edital Temático

6. Programa Amazonas de Apoio à pesquisa em Políticas Públicas em Áreas

Estratégicas – PPOPE

7. Programa de Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS-

FAPEAM/MS/CNPq)

8. Programa Amazonas de Integração da Ciência para os Povos Indígenas- PAICI

Indígenas

153

Figura 4

Mapa infográfico das ações da FAPEAM

Dos programas da FAPEAM com ações juntos aos povos indígenas,o mapeamento

teve acesso aos projetos financiados pelo Programa Jovem Cientista Amazônida – JCA e

Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa em Políticas Públicas em Áreas Estratégicas -

PPOPE. Apresentamos aqui os projetos financiados pelo programa POPPE, devido a sua

constituição: esses projetos são resultado de uma parceria entre o Instituto de Pesquisa da

Amazônia - INPA e Fundação Estadual dos Povos Indígenas – FEPI (Atual Secretaria de

Estado para os Povos Indígenas). Os proponentes dos projetos são pesquisadores vinculados

ao INPA e as propostas de projetos são demandas dos povos indígenas por meio da FEPI.

Programa Amazonas de Apoio à pesquisa em Políticas Públicas em Áreas

Fonte: Relatório 2003-2008 das atividades da FAPEAM, 2009.

154

Estratégicas- PPOPE

O programa financia projetos a serem desenvolvidos por organizações governamentais

das esferas estadual ou municipal do estado do Amazonas, responsáveis pela implementação

de políticas públicas. Os projetos são coordenados por pesquisadores vinculados às

Instituições de Pesquisa e Ensino Superior também sediadas no estado do Amazonas.

O PPOPE financia atividades de pesquisa que possam beneficiar a formulação e a

implementação de produtos, processos e inovações tecnológicas vinculadas às políticas

públicas do governo do estado do Amazonas. Para tal, o programa tem os objetivos de

produzir diagnósticos e estudos aplicados que subsidiem a ação social do poder público, de

modo a permitir a formulação e implementação de políticas que respondam às necessidades

sociais existentes no estado. Uma das suas metas também é descentralizar as ações de

pesquisa (os projetos prioritários são para as fronteiras Sul e Alto Solimões do estado).

O programa prevê três fases para os projetos. A primeira fase contempla o estudo de

viabilidade da ação, consolidação de parcerias e plano de trabalho. Os resultados desse estudo

nortearam a segunda fase do projeto que é o próprio desenvolvimento da ação a ser realizada.

Os projetos POPPE estão nessa fase, que tem previsão de duração de 18 meses. A terceira

fase do projeto é a apresentação de resultados e realização de um fórum com outras

organizações governamentais e não-governamentais para a discussão de mecanismos para a

implementação de políticas públicas provenientes da pesquisa.

155

Tabela 6

Projeto e local de atuação do programa Amazonas de Apoio à pesquisa em Políticas

Públicas em Áreas Estratégicas - PPOPE/FAPEAM

FONTE: Documento institucional da FAPEAM, 2008.

Projeto Local de atuação (Região/ Município/

Terra indígena/ comunidade)

Educação, Resgate e Revitalização Cultural

- Etnias Indígenas de Humaitá e Manicoré:

Tenharim, Parintintim, Diahoi (Jiahui),

Munduruku, Torá, Apurinã e Mura.

Humaitá e Manicoré

Gestão e Manejo comunitário de recursos

pesqueiros na Terra Indigena Éware I, alto

Solimões.

Terra Indígena Éware I e II, São Paulo de

Olivença e Benjamin Constant

Turismo Científico e a Etno-Conservação

na Bacia do Rio Negro

Povos Indígenas situados na margem

esquerda do Baixo Rio Negro, Rio Tarumã-

açu, Tarumã-Mirim e Rio Cuieiras

Programa FEPI-INPA: Apoio científico-

tecnológico para o desenvolvimento de

unidade de beneficiamento de matérias

primas de origem natural

Tabatinga, Benjamin Constant e São Paulo

de Olivença

Caracterização epidemiológica da

mansonelose em populações indígenas no

estado do Amazonas

Terra Indígena Kulina (comunidade

Macapá,comunidade PIAU), Terra Indígena

Kanamari (comunidade Flexeira,

comunidade Mamori,comunidade

Flexal),Terra Indígena Umuriaçu

(comunidade Umuriaçu), TI Feijoal

(comunidade Feijoal). TI Ewaré I

(Comunidades Vendaval)

Sustentabilidade da extração de espécies

vegetais para a fabricação de artesanatos

Tikuna na meso-região do Alto Rio Negro

Meso-região do Alto Rio Negro

156

Secretaria Municipal de Educação - SEMED

Núcleo de Educação Escolar Indígena - NEEI

Programas: Cotidiano das comunidades indígenas do Rio Negro e Cuieiras

Centros Culturais das Comunidades Indígenas urbanas - CCCI’s

O Núcleo de Educação Escolar Indígena- NEEI começou a se constituir no âmbito da

Secretaria Municipal de Educação - SEMED em 2005, quando a própria Secretaria

manifestou seu apoio à luta dos povos indígenas por uma educação diferenciada. A conjectura

política (pós-eleição municipal) propiciou que a Secretaria se posicionasse de forma prática

para a constituição deste núcleo, providenciando a inserção de profissionais do quadro da

SEMED. Assim, se iniciou o trabalho de diagnóstico, levantamento de dados sobre a situação

escolar dos povos indígenas, estudos de parcerias com organizações governamentais e não-

governamentais e organizações indígenas a fim de constituir uma proposta de Programa de

Educação Escolar Indígena que correspondesse às expectativas dos povos indígenas no

Amazonas.

Após um ano de trabalho, pesquisas, discussões (ciclos de palestras), consolidação de

uma equipe capacitada para o desempenho do trabalho do núcleo, em 2006, o NEEI começa a

atuar propondo projetos pedagógicos para subsidiar e orientar a implantação da modalidade

educação escolar indígena. O planejamento pedagógico gerou dois projetos: 1 - Cotidiano das

comunidades indígenas do Rio Negro e Cuieiras, 2- Centros Culturais das Comunidades

Indígenas urbanas - CCCI‟s.

Esses projetos começaram a ser desenvolvidos logo após o processo de contratação de

12 professores indígenas, em maio de 2007. Os projetos são as primeiras experiências do

núcleo em relação à educação escolar indígena de fato, pois a mesma ainda era pensada com

os parâmetros da educação rural.

O projeto Cotidiano das comunidades indígenas do Rio Negro e Cuieiras têm por

objetivo desenvolver atividades voltadas à produção e publicação de materiais didático-

pedagógicos, elaborados de forma conjunta pelos professores indígenas e a comunidade,

assessorados pelos técnicos do NEEI. As atividades desenvolvidas são registradas em um

diário de campo, fotografadas e discutidas na reunião mensal com todos os professores

indígenas no NEEI.

São oito (8) comunidades no rio Cuieiras, onde estão presentes os professores

indígenas: comunidade Terra Preta, São Tomé, Três Unidos, Boa Esperança, Nova Esperança,

Nova Canaã (Kuanã), Barreirinha e Igarapé Açuzinho. As duas últimas comunidades citadas

157

têm professores indígenas, mas o trabalho de educação escolar não é realizado por conflitos

na comunidade, que é composta por índios e não - índios.

As atividades do projeto, das dificuldades para realização do trabalho (conflitos entre

os professores e a comunidade, entre os professores indígenas e os não-indígenas,

impossibilidade do NEEI acompanhar o trabalho nas comunidades por falta de recursos para

locomoção), têm sido satisfatórias para um primeiro contato com a realidade da educação

indígena no Amazonas. O projeto não tem um tempo estimado de duração, e esta procurando

se estabelecer como prática de ensino obrigatória para a realização da educação escolar

indígena.

Os Centros Culturais das Comunidades Indígenas urbanas - CCCI‟s é o projeto que

tem maior acompanhamento por parte do NEEI (realização de visitas técnicas uma vez na

semana) devido este ser realizado no perímetro urbano da cidade de Manaus. O projeto se

caracteriza como atividade regular da educação formal: as crianças e jovens indígenas

freqüentam a educação formal em um horário e no outro participam das atividades dos centros

culturais, localizados nos lugares onde elas moram. Em Manaus, são quatro os CCCI‟s:

Wotchmaucu (do povo Ticuna,localizado no bairro Cidade de Deus); Associação das

Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro – AMARN (localizado na comunidade São João, BR

174),os Kokama (localizados no Ramal do Brasileirinho, bairro Puraquequara) e os Sateré-

Mawé (localizados no bairro Santos Dumont).

Os centros culturais buscam trabalhar nas suas atividades a valorização da cultura do

seu povo, ensinar os cantos, danças e principalmente a língua. Contam com o apoio dos mais

velhos, para orientar e ensinar os mais jovens. Reflexos positivos desse projeto, por exemplo,

é que no Centro Cultural Wotchmaucu além das crianças e jovens da comunidade, participam

das atividades sete (7) crianças não-indígenas. Por fim, os Centros Culturais têm

proporcionado espaços interculturais e de fortalecimento da identidade dos povos indígenas.

Organizações não-governamentais (ONGs)

O mapeamento das ONGs18

buscou identificar organizações não-governamentais,

indígenas e não – indígenas, que desempenham ações junto aos povos indígenas no estado do

Amazonas, para compreensão da atual política indigenista e das transformações ocorridas nas

últimas décadas.

18 Realizado na pesquisa PIBIC 2008/2009: Institucionalização de ações indigenistas: identificação e análise da

atuação de organizações não-governamentais em políticas públicas no Amazonas

158

Desse modo, o levantamento pretendido não se caracteriza como trabalho de perfil

apenas quantitativo, mas sim como esforço analítico constante e reflexivo para a compreensão

dessa configuração política da relação entre organizações indígenas – Estado – organizações

governamentais.

Portanto, selecionamos as seguintes organizações: Associação Serviço e Cooperação

com o povo Yanomami – SECOYA, Operação Amazônia Nativa – OPAN, Centro de

Trabalho Indigenista – CTI, Terre dês Hommes- Suíça (TdH), Equipe de Conservação da

Amazônia – ACT Brasil (Amazon Conservation Team), The Nature Conservancy –TNC,

Conselho Indigenista Missionário – CIMI e Agência Norueguesa de Cooperação ao

Desenvolvimento – NORAD. As organizações selecionadas são uma amostra das diferentes

instituições que compõem a rede de relações que atuam sob a forma de projetos/programas

junto aos povos indígenas e suas organizações.

Associação Serviço e Cooperação com o povo Yanomami – SECOYA

A SECOYA é uma ONG que trabalha junto ao Povo Yanomami do Médio Rio Negro

do estado do Amazonas, através de ações nos campos de Educação, Saúde, Desenvolvimento

Sustentável. O trabalho com o povo Yanomami se iniciou em 1991, com ações na área de

saúde. Em 1997, essas ações se oficializaram com a criação da Associação Serviço e

Cooperação com o Povo Yanomami- SECOYA, em Assembléia de constituição, realizada em

Barcelos, com a finalidade de definir as linhas de ação e assumir maior compromisso junto ao

Povo Yanomami.

Em 1999, a SECOYA firmou o convênio com a Funasa (Fundação Nacional de

Saúde), para atender as ações básicas de saúde, no âmbito do Distrito Sanitário Especial

Indígena19

Yanomami – DSEI/Yanomami. Em 2008, a SECOYA renovou o convênio,

ampliando sua área de atuação, contemplando cerca de 13 mil Yanomami e Ye´kuana

distribuídos em 23 pólos-bases e 188 aldeias localizadas nos estados de Roraima e Amazonas.

Área de atuação: Saúde, Educação e Desenvolvimento Sustentável.

Local de atuação: No rio Marauiá, localizado no município de Santa Isabel do Rio

Negro (1991), Rio Demini (Ajuricaba) no município de Barcelos (1997), nos rios Aracá e

Padauiri, em Barcelos (2003/2004).

19 O processo de implantação do Distrito Sanitário Especial Indígena – DSEI, iniciado em 1999, optou por um

modelo de terceirização dos serviços de saúde, concretizado por meio de convênios com organizações não-

governamentais, sendo muitas delas, organizações indígenas contratadas para a execução integral das ações de

saúde. Mais informações na cartilha “Política Nacional de Atenção a Saúde dos Povos Indígenas –FUNASA”,

disponível em www.funasa.org.br. Acesso em 10/07/2009.

159

Povo: Yanomami

Programas/ projetos:

Programa de Educação Bilíngüe

Convênio de saúde com a Fundação Nacional de Saúde-FUNASA

Dois projetos pelo PDPI – Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas

“Melhoria Alimentar, Resgate Cultural e Capacitação dos Yanomami”

“Capacitação Agroflorestal: Valorização dos Saberes Tradicionais”

Um projeto pelo Programa da Carteira Indígena do Ministério de Desenvolvimento

Social e Combate a Fome.

“Melhoria e Qualidade Alimentar”

Operação Amazônia Nativa – OPAN

A Operação Amazônia Nativa- OPAN foi fundada em 1969, e desenvolve desde então

projetos junto aos povos indígenas nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil. O modelo de

atuação da OPAN com os povos indígenas da Amazônia se baseia a partir das demandas

locais, onde se delineiam as propostas de atuação. Cada projeto em curso fica a cargo das

equipes formadas pela OPAN, que ficam diretamente envolvidas com o cotidiano das aldeias.

Em termos de infra-estrutura, a OPAN tem sua sede em Cuiabá, MT. Atualmente, tem

um escritório regional em Manaus, que apóia as ações do Projeto Aldeias – Conservação na

Amazônia Indígena, e bases locais nas cidades de Tefé, Carauari e Lábrea.

Outra vertente de atuação da OPAN é o curso de indigenismo oferecido aos

interessados em desenvolver trabalhos junto aos povos indígenas e integrar-se aos propósitos

e projetos da organização. Desde marco de 2009, a OPAN fez uma parceria com a

Universidade Positivo- Cuiabá, que lançou um curso de especialização em Indigenismo.

A atuação da OPAN no estado do Amazonas se concentra no Projeto Aldeias –

Conservação na Amazônia Indígena, que é um programa gerenciado pelo consórcio

OPAN/Visão Mundial20

, com apoio financeiro de USAID. O projeto se desenvolve junto aos

povos Paumari, Deni e Katukina do Bia e inclui também um conjunto de ações de proteção

etno-ambiental das terras indígenas Zuruaha e Hi Merimã, em parceria com a Coordenação

Geral de Índios Isolados da FUNAI e a Frente de Proteção Etno-ambiental do Purus.

20 A Visão Mundial é uma ONG cristã criada em 1950 e presente em aproximadamente 100 países. Os projetos

promovidos pela organização são nas áreas temáticas: saúde, educação, desenvolvimento comunitário,

agroecologia, desenvolvimento econômico, promoção da justiça e direitos humanos. Disponível em <

www.visaomundial.org.br >.Acesso em: 20/04/09.

160

Os objetivos do Projeto Aldeias visam à implementação de um programa integrado

para melhorar a vigilância, a conservação da biodiversidade e o apoio a gestão de recursos

naturais desses povos indígenas. Isto será feito através da capacitação de comunidades

indígenas e de suas organizações representantes para a melhoria das atividades de vigilância,

conservação de biodiversidade e manejo de recursos naturais. Os dois eixos do Projeto

Aldeias são: (texto extraído do projeto)

a) Melhoria da conservação da biodiversidade e do manejo de recursos naturais em

cinco terras indígenas no Amazonas, através de ações de monitoramento territorial e

vigilância, mapeamento etnográfico e avaliação ecológica, desenvolvimento de diagnósticos

sócio-ambientais e de projetos-piloto para o desenvolvimento econômico sustentável,

principalmente na área de pesca sustentável.

b) Fortalecimento da organização indígena, com ações de treinamento em promoção

de direitos indígenas, programas de troca de experiências e intercâmbios entre lideranças

indígenas, construção de capacidade e desenvolvimento organizacional, fortalecimento de

alianças já existentes entre organizações indígenas amazônicas e suporte à criação de novas

alianças, e treinamento em planejamento para conservação e gestão ambiental.

Centro de Trabalho Indigenista – CTI

O Centro de Trabalho Indigenista- CTI é uma organização não-governamental fundada

em março de 1979, por antropólogos e indigenistas que já trabalhavam com alguns grupos

indígenas do Brasil. Atua através de programas e projetos junto aos povos indígenas,

repassando recursos ou assessorias. O CTI tem por linhas de atuação o monitoramento da

regularização fundiária e programas de controle territorial e ambiental, implantação de

alternativas econômicas sustentáveis, programas de educação, ações e projetos culturais de

reafirmação étnica.

No Amazonas, o CTI atua na Terra Indígena Vale do Javari, estendendo-se nos

municípios de Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença e Jutaí, com os

povos Matis, Mayoruna, Marubo e Kanamari. Sua ação nessa área ocorre por meio do

Programa Javari, que assume ações baseadas na demanda desses povos. Junto com a ONG

Terre dês Hommes- Suíça, auxiliou a criação do Conselho Indígena do Vale do Javari

(CIVAJA). Também é parceira da Coordenação Geral de Índios Isolados da FUNAI,

realizando o trabalho de Frente de Proteção Etno-Ambiental do Purus e do Vale do Javari.

161

Terre dês Hommes- Suíça (TdH)

O Terre dês Hommes/Suíça é uma organização não- governamental criada na Suíça em

1960. Em 1972, foi criado um núcleo do TdH em Genebra, que em contato com a

Organização das Nações Unidas- ONU, resolveu estender suas ações em outras partes do

mundo, especialmente na África, América Latina e Ásia.

O TdH foi umas das organizações que deu apoio ao Movimento Indígena na década

de 80, se envolvendo nas mobilizações políticas. No início dos anos 90, uma das ações do

TdH foi o apoio a criação do Conselho Indígena do Vale do Javari (CIVAJA), fruto da

consolidação de uma ampla articulação política entre as lideranças das diversas etnias na

região do Vale do Javari.

A Terre dês Hommes/Suiça apoiou a criação de outras organizações indígenas. Em

1995, foi criada a Organização dos Povos Indígenas do Médio Purus / OPIMP. Em 1999, a

coordenação da OPIMP conseguiu junto à prefeitura a doação de um terreno em Lábrea, e as

comunidades dos povos Paumari e Apurinã uniram-se para construir a sede da organização, com o

apoio da FUNAI e da FUNASA. A partir de 1999 passou a contar com apoio da Terra des

Hommes/Suíça, o que permitiu o fortalecimento e a ampliação da atuação da OPIMP. Esse novo

fator acabou por incentivar a criação da Associação das Mulheres do Médio Purus (AMIMP).

No ano de 2002, foi implantado o Departamento de Educação da COIAB, numa

parceria com a Terre des Hommes/Suíça. As ações passaram a ser desenvolvidas numa

parceria com o Conselho de Professores Indígenas da Amazônia – COPIAM, organização

indígena dos professores.

Equipe de Conservação da Amazônia – ACT Brasil (Amazon Conservation Team)

A Amazon Conservation Team (Equipe de Conservação da Amazônia) surgiu através

dos trabalhos do etnobotânico Mark Plotkin e a ambientalista Liliana Madrigal que

construíram uma metodologia de trabalho voltado à conservação ambiental para atuar junto

às populações tradicionais. Essa metodologia deu origem a organização Amazon

Conservation Team (Equipe de Conservação da Amazônia) ACT-Brasil, hoje presente em três

países: Brasil, Suriname e Colômbia.

O envolvimento da ACT Brasil com os povos indígenas iniciou-se em 2001, quando

formalizou um convênio com a Fundação Nacional do Índio - FUNAI para realizar o

mapeamento cultural participativo com a comunidade Kamayura, um dos14 povos que vivem

no Parque Indígena do Xingu. Em 2002, as comunidades indígenas do Parque do

162

Tumucumaque acompanharam os trabalhos que foram realizados pela ACT no Suriname e

reivindicaram a FUNAI a elaboração de um mapa cultural, reivindicação que foi atendida.

A atuação da ACT Brasil no estado do Amazonas é em parceria com a organização

Brazil Foundation21

. A ação baseia-se na vigilância da região do médio Rio Negro, junto aos

povos Arapasso, Desana, Tukano, Baniwa, Baré, Tariano e Piratapuya. Esse trabalho de

vigilância é uma forma de evitar a ação ilegal de pescadores, madeireiros e garimpeiros. Na

prática, as ações de vigilância e fiscalização são executadas pelas próprias comunidades, com

apoio direto das duas instituições parceiras. O projeto está em andamento, e foi dividido em

três etapas principais: (texto extraído do projeto)

a) conhecimento dos atores locais e órgãos que já atuam na região;

b) realização de oficinas com aulas sobre direito ambiental, noções cartográficas,

técnicas de vigilância territorial e política indigenista;

c) preparação de um mapa de risco (o projeto se encontra nesta fase) que mostrará as

potencialidades e pontos fracos na conservação ambiental desta área e ira

subsidiar a tomada de ações legais junto aos órgãos federais competentes.

The Nature Conservancy - TNC

Criada em 1951, a TNC é uma organização voltada para a conservação da natureza.

Presente em mais de 30 países, a TNC atua no Brasil desde a década de 80 e tornou-se uma

organização brasileira em 1994. Sua linha prioritária de ação está relacionada a questões

ambientais, gestão e proteção de terras indígenas por meio da tecnologia do

etnomapeamento22

.

A TNC realiza suas ações no Amazonas por meio do Programa de Conservação da

Amazônia, onde estão inseridas todas as ações da organização nessa região. Os locais de

atuação do programa são as áreas: Oiapoque-Oiapoque, no extremo nordeste da Amazônia;

Roraima-Roraima, ao longo da divisa com a Venezuela; e Serra do Divisor, ao longo da

fronteira entre Brasil e Peru. Além do apoio para conservação dessas áreas, a TNC presta

assessoria para as organizações locais, com o objetivo de fortalecer as organizações de base.

21 Brazil Foundation é uma organização que concede financiamento a fundo perdido a projetos que contribuam

para a melhoria da realidade social brasileira. Financia projetos de entidades sem fins lucrativos e sem afiliação

política ou religiosa, de qualquer região do país, nas áreas temáticas de educação, saúde, cidadania, cultura e

direitos humanos.Disponível em <www.brazilfoundation.org>. Acesso em: 22/04/09. 22

A TNC define como etnomapeamento o trabalho de identificação dos recursos naturais, áreas de risco e

potencialidades realizados pelos povos indígenas.

163

Em 2006, o programa de Conservação da Amazônia auxiliou na criação do Centro

Amazônico de Formação Indígena (CAFI), juntamente com a Coordenação das Organizações

Indígenas da Amazônia Brasileira- COIAB. O CAFI é voltado para o treinamento de jovens

indígenas de toda a Bacia Amazônia, visando à formação de lideranças indígenas em técnicas

de manejo e conservação ambiental de Terras Indígenas. Atualmente, a TNC colabora com a

gestão técnica e financeira do CAFI, mais planeja entregar completamente a gestão de CAFI à

COIAB ao longo dos próximos anos.

Desde a sua fundação, o CAFI já formou 64 líderes indígenas dos nove estados

Amazônia. Outros vinte alunos estão na turma de 2009 e serão diplomados em dezembro de

2009.

Conselho Indigenista Missionário – CIMI

O CIMI é um organismo vinculado a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do

Brasil) criado em 1972, num período em que o Estado Brasileiro assumia abertamente a

integração dos povos indígenas a sociedade envolvente, e a Igreja Católica, em sua atuação

missionária, começou a prestar apoio à causa dos povos indígenas. O papel do CIMI, segundo

Ramos (1984:283), foi o de transpor uma das grandes barreiras a conscientização indígena,

criando condições para que os índios trocassem experiências e elaborassem estratégias para os

problemas de abusos e espoliações a que vinham sendo submetidos. O CIMI procurou

favorecer a articulação entre aldeias e povos, promovendo as grandes assembléias indígenas,

nas quais se constituiu as primeiras agendas políticas coletivas do movimento dos índios pelo

seu direito a diversidade.

O CIMI esta estruturado em onze escritorios regionais23

e um Secretariado Nacional,

com sede em Brasília. Cada regional tem uma estrutura básica que dá apoio, orienta e

coordena o trabalho das equipes nas áreas indígenas. A ação do CIMI junto aos povos

indígenas se dá através de assessorias as organizações indígenas, intervindo como

aliado/parceiro/apoio aos projetos indígenas, influenciando em questões políticas, sem

abandonar o caráter missionário.

23 Cimi Regional Goiás/Tocantins, Cimi Regional Nordeste (estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco,

Paraíba,Rio Grande do Norte, Ceara e Piauí ), Cimi Regional Sul (estados de São Paulo, Paraná, Santa

Catarina, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro), Cimi Regional Mato Grosso do Sul, Cimi Regional

Rondônia,Cimi Regional Leste (estados de Minas Gerais, Espírito Santo e extremo sul do estado da Bahia ),

Cimi Regional Norte II (estados do Para e Amapá ),Cimi Regional Maranhão e Cimi Regional Norte I (estados

do Amazonas e Roraima).

164

Agência Norueguesa de Cooperação ao Desenvolvimento – NORAD

A Agência Norueguesa de Cooperação ao Desenvolvimento – NORAD desenvolve o

Programa Norueguês para os Povos Indígenas. Este programa foi estabelecido em1983, e foi o

primeiro programa governamental que pretendia fornecer apoio, direitamente, para

organizações indígenas locais. Hoje, o apoio da Noruega para povos indígenas é distribuído,

por meio de vários agentes: organizações indígenas, ONGs, ONGs norueguesas, organizações

internacionais e multilaterais e embaixadas da Noruega. Boa parte do apoio concentra-se

diretamente para organizações indígenas na América Latina. Atualmente, o Brasil conta com

o apoio do programa em 20 projetos [12] com 18 parceiros diferentes – nove organizações

indígenas e oito ONGs. A maioria dos projetos é realizado na região amazônica, embora haja

demanda de organizações indígenas de outras regiões do Brasil.

No mesmo perfil da NORAD, encontram-se também as organizações Deutscher

Entwicklungsdienst -DED e Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento

Internacional- USAID. Essas instituições são organizações governamentais de cooperação

técnica e financeira, que atuam através de contratos, financiamento, doações e acordos de

cooperação 24

com ONGs, organizações locais e com parceiros brasileiros e internacionais.

Essas organizações foram levantadas na pesquisa devido a sua relação com ONGs e

organizações indígenas, por meio de projetos.

A USAID concede financiamentos para consórcios – redes de projetos envolvendo

várias ONGs indígenas e não- indígenas – com os seguintes projetos:

1. Projeto ALDEIAS – Conservação Indígena na Amazônia Brasileira (envolvendo as

organizações Visão Mundial-WV e Operação Amazônia Nativa - OPAN);

2. Consórcio FORTIS (envolvendo as organizações Instituto Internacional de

Educação do Brasil - IEB, Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia-

IMAZON, Associação de Defesa Etno-Ambiental -Kanindé, Conservation Strategy

Fund -CSF, Amazon Conservation Team -ACT);

3. Paisagens Indígenas Brasileiras -PIB (envolvendo as organizações The Nature

Conservancy TNC/Brasil, InstitutoInternacional de Educação Ambiental do Brasil-

IEB, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira-

24 O governo brasileiro tem uma experiência de longa data com cooperações financeiras e técnicas entre países.

Tal política orientou diversas ações desenvolvimentistas no país. Para compreender melhor tal temática,

CERVO (1994) e VALENTE (2007).

165

COIAB,Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena- IEPÊ e Conselho

Indigenista de Roraima -CIR).

4. Proteção Etno-Ambiental dos Povos Isolados na Amazônia Brasileira (envolvendo

as organizações Centro de Trabalho Indigenista – CTI e Fundação Nacional do

Índio - FUNAI)

Com esses dados, pode-se observar a rede de relações entre essas organizações. As

ações são conjuntas, envolvendo organizações governamentais, ONGs e organizações locais

(indígenas, por exemplo).

O apoio direto a organizações locais é uma exigência dos financiadores internacionais

que influenciou na relação entre organizações indígenas e ONGs. Assim, as ONGS aparecem

nos projetos como assessores técnicos, parceiros/ apoio, e as organizações indígenas assumem

na categoria de proponentes/gestores dos projetos.

Cenários a serem refletidos

Algumas observações sobre as organizações governamentais e ONGs

A configuração da política indigenista com a descentralização de competências da

Fundação Nacional do Índio (FUNAI) modificou o espaço de diálogo entre os povos

indígenas e o estado. As ações indigenistas, outrora concentradas em um único agente de

interlocução, passaram a ser desenvolvidas por outros órgãos governamentais. Por sua vez, os

povos indígenas para alcançar seus direitos garantidos em lei, se agregaram em múltiplas

formas de organização: associações, conselhos, organizações, cooperativas. A diversidade das

formas de associativismo25

indígena é expressa também na especificidade que congrega: um

povo indígena específico, uma determinada localização geográfica, organizações regionais,

por função/ categoria trabalhista. Também neste cenário, os parceiros/aliados conquistados

em outro contexto (ONGs ambientalistas, pró-índio, direitos humanos) também se

reconfiguraram, acrescentando à prática militante a prestação de serviços as organizações

indígenas e ao estado. Tais serviços caracterizam com ações de políticas públicas.

Nos dados coletados sobre ações governamentais, é possível ressaltar alguns aspectos

que constituem esse novo perfil de relações interétnicas. A primeira observação se refere ao

acesso aos recursos. Nos programas no âmbito federal, sobretudo, são os povos indígenas que

25 Associativismo no sentido que SCHERER-WARREN (2006:110) expõe,onde se encontram as associações

civis, os movimentos comunitários e sujeitos sociais envolvidos com causas sociais ou culturais do cotidiano,

ou voltados a essas bases. Essas forças associativistas são expressões locais e/ou comunitárias da sociedade

civil organizada.

166

devem buscar meios para acessar os recursos governamentais. Para tal, devem apresentar

projetos por meio de suas organizações (o MinC também se refere a instituições tradicionais

indígenas). Tanto a linguagem dos projetos quanto a burocracia organizacional são impasses

nessa relação. Desse modo, os espaços efetivos de diálogo não ocorrem, uma vez que o

“diálogo estará comprometido pelas regras do discurso hegemônico". (CARDOSO DE

OLIVEIRA, 1998:180).

O mapa infográfico quatro (4) reúne as ações governamentais e ações de ONGs. Pode-

se observar que as ações se concentram em determinadas regiões, o que revela um dado

importante: a rede de relações institucionais (organizações indígenas, ONGs, organizações

governamentais) favorece a implementação de projetos em determinadas regiões em

detrimento de outras. Depois de superado os entraves burocráticos (organização indígena

legalizada, com rede de parceiros consolidada), e com a prática e experiência nos projetos,

acessar os recursos se torna um pouco mais fácil.

Outro aspecto relevante se refere à linha de atuação dos projetos. Tanto as

organizações governamentais quanto as ONGs apóiam ações em determinadas áreas

temáticas, o que faz com que os projetos necessitem se adequar aos pré- requisitos para

obterem financiamento. Áreas temáticas como valorização cultural, proteção e fiscalização

de terras indígenas, alternativas econômicas sustentáveis são os caminhos apresentados

aos projetos indígenas. Tais conceitos revelam como as instituições pensam e os projetos, por

sua vez, revelam como as organizações indígenas se apropriam desses conceitos para

efetivação de demandas.

Por exemplo, as ações do Ministério da Cultura, por meio do Prêmio Culturas

Indígenas, se concentram em torno da valorização e resgate das expressões culturais

indígenas. A ação premia projetos em andamento ou realizados pelos povos indígenas que

contemplem essas temáticas. O Prêmio Culturas Indígenas, nos seus documentos

institucionais, justifica o resgate e valorização das culturas indígenas como um modo de

compensar esses povos que por tantos anos foram massacrados e proibidos de viver sua

cultura. Além de uma ação compensatória, entende-se a valorização como um meio de

fortalecer não só a cidadania e diversidade indígena, mas também do povo brasileiro cuja

história tem raízes indígenas.

São maioria os projetos de alternativas econômicas e geração de renda (propostas de

comercialização de determinados produtos, viabilização para a comercialização,

desenvolvimento de atividades que sejam sustentáveis e ao mesmo tempo gerem renda

(criação de animais, piscicultura, produtos agroextrativistas), totalizando, por exemplo,

167

dezessete (17) projetos no âmbito do PDPI/MMA. Quanto aos projetos de alternativas

econômicas e geração de renda, observa-se que é uma demanda recorrente das comunidades

indígenas: "direitos conquistados e terras demarcadas, questões relativas ao controle territorial

e sustentabilidade tomaram conta da agenda de novas organizações indígenas” (RICARDO

apud INGLEZ DE SOUSA, 2006:41). Esses projetos suscitam outras questões: até que ponto,

é da preocupação do programa⁄projeto que se construa a ação “econômica” de forma a não

criar (efetivamente, e não apenas no discurso da sustentabilidade) dependências (as mesmas

ou novas relações)? Como fazer para que esses projetos não produzam impactos negativos às

comunidades? O que fazer para que os projetos não se tornem “produtivistas” com as mesmas

perspectivas e expectativas da economia de mercado? Essas são questões que ainda

necessitam maior reflexão.

Em relação aos projetos referentes à fiscalização e proteção de terras indígenas

apontam uma problemática comum aos povos indígenas: a invasão das terras e a escassez de

recursos naturais. Tal problema remete a soluções relacionadas à gestão territorial e manejo

de recursos, nem sempre objetivos possíveis de alcançar no âmbito de um projeto.

Ainda em relação à gestão, conservação, fiscalização, manejo das terras indígenas,

encontramos nos projetos indígenas e nas organizações, especialmente as ONGs, o discurso

ambientalista26

que se intensificou na década de 1990, a partir da Eco-9227

. Concomitante as

interpretações preservacionistas, a discussão da sustentabilidade social abarcou os povos

indígenas enquanto agentes de ações de proteção ambiental que devem ser fortalecidos pelos

seus saberes tradicionais e práticas sustentáveis, portanto sujeitos importantes na preservação

ambiental (CASTRO, 2000).

Algumas observações sobre as organizações indígenas e ONGs

A grande parte das organizações indígenas está situada na Amazônia Legal e há

dificuldades de se ter um levantamento exaustivo do universo de organizações indígenas no

Brasil.28

Antes de 1988 havia apenas dez organizações indígenas - no Alto e Médio Solimões,

Manaus, Alto Rio Negro, Roraima (Albert 2000), hoje são mais de 347 nos Estados da

Amazônia Brasileira (Silva,2002).

26 Ambientalismo e política indigenista, ver RIBEIRO (2000), BARRETO FILHO (2001) e PARESCHI (2002).

27 Trata-se da II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como

ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, onde se tratou questões referentes as mudanças climáticas e meio

ambiente. 28

Levantamentos de organizações indígenas com dados relativos ao nome, local e ano de fundação, foram

realizados por GRUPIONI (1999) para o INEP, e ALBERT E RICARDO (2000) para o ISA.

168

Este crescimento é resultante do fortalecimento do campo político indígena. O

movimento indígena conquistou o reconhecimento social graças à apropriação do universo

ideológico de seus aliados não-governamentais. Para Silva (2002) há dois grandes motivos da

criação dessas organizações: a necessidade de se organizar como instrumento de

representação política para a reivindicação de direitos territoriais e serviços de assistência

(saúde e educação) e a necessidade de instrumento para buscar recursos para o

desenvolvimento de projetos de apoio à produção, geração de renda, recuperação de áreas

degradadas, etc. - acesso ao “'mercado de projetos”.

Já os apoios as organizações indígenas vem de uma pluralidade de organizações: desde

ONGs religiosas até consórcios cooperação internacionais. No âmbito governamental, são

firmados convênios com as administrações municipais, estaduais ou federais, nas áreas de

educação, saúde e meio ambiente. Nesses convênios, ONGs são solicitadas para executar as

ações.

Nesse cenário, as ONGs de apoio/parceria aos povos indígenas – muitas delas surgidas

no contexto das lutas dos povos indígenas na Constituinte (1988) e da mobilização

ambientalista que se intensificou na década de 1990, a partir da Eco-92 – tem perfis distintos

de atuação. Na relação entre ONGs e organizações indígenas, muitas mudanças foram

orientadas acompanhando as lógicas de entendimento que os financiadores têm sobre as

questões indígenas. Se durante certo período houve ênfase em financiar projetos tendo na

categoria de “proponente” as ONGs, hoje não e mais assim. A partir da década de 1990, as

fontes financiadoras direcionaram recursos para as iniciativas locais desenvolvidas

organizações indígenas.

Assim, constata-se que a participação das ONGs nos projetos caracteriza-se como

cooperação técnica das organizações indígenas. Os diferentes níveis de participação dos

agentes envolvidos nos projetos como “proponentes” e “executores” variam de acordo com os

arranjos institucionais. A pesquisa permitiu a possibilidade de observar os variados

mecanismos que são postos em jogo por parte dessa frente variada de agentes nos contextos

específicos (por exemplo, são os consórcios financiados pela USAID).

Sobre “participação”, essa temática perpassa os mais diversos discursos em relação a

projetos sociais, o que inclui os projetos indígenas. No contexto dos diversos grupos sociais

alvos dos programas de desenvolvimento (sobretudo, sustentáveis), a preocupação com a

“participação” apresenta-se tanto no campo acadêmico, como também entre os formuladores e

executores de políticas publicas do setor governamental, os agentes não-governamentais e as

agências de cooperação.

169

Nos projetos indígenas, Schroder (1999) afirma que nem sempre fica claro se a

participação indígena é uma meta dos projetos ou um meio para que as metas sejam atingidas.

Em suas analises, ele argumenta que, embora participação seja um dos conceitos-chave dos

atuais discursos e políticas de desenvolvimento, no que se refere a projetos destinados as

populações indígenas, essa participação deve ser concebida de outra forma:

Não só nas diretrizes de instituições e órgãos de desenvolvimento, mas

também nos textos programáticos de muitas ONG‟s, essa importância é

realçada de forma muito genérica, nem sempre deixando claro se a

participação e uma meta dos projetos ou meio para alcançar as metas. A

participação indígena deve ser realizada em todas as fases dos projetos e ter

sua base no acesso livre a todas as informações que dizem respeito aos

projetos (o Banco Mundial fala de uma “participação informada”). Os planos

de desenvolvimento para as comunidades indígenas devem ser culturalmente

adaptados, sendo consideradas especialmente as organizações políticas,

sejam elas tradicionais ou modernas. No entanto, não se conhece nenhum

método global que garante a participação total no nível das comunidades [...]

Raras vezes sabe-se o que os próprios indígenas entendem por

“participação” [...] Experiências antropológicas mostraram que é difícil

integrar métodos participativos em sociedades que não tem tradição

nenhuma de participação no sentido ocidental e que desenvolveram atitudes

diferentes daquelas desenvolvidas pelas sociedades ocidentais, com relação a

individualidade e a solidariedade (Schroder,1999:234).

Portanto, a participação dos indígenas nos projetos configura-se como pauta de

discussão tanto para reflexão acerca dos povos indígenas quanto para a atuação indigenista, o

que necessita de maior reflexão e maior aprofundamento investigativo.

Desdobramentos da investigação proposta no projeto

Programa de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Federal do Amazonas

(PIBIC)

Como já foi citado anteriormente, a pesquisa do mapeamento institucional gerou dois

trabalhos científicos feitos por alunos da graduação em Ciências Sociais (Luciano Cardenes

Santos e Inara do Nascimento Tavares), realizados entre 2007 e 2009, pelo Programa de

Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Federal do Amazonas (PIBIC): Mapeamento

das instituições governamentais e não-governamentais na Amazônia Indígena: cenários a

serem refletidos (agosto 2007- junho de 2008) e Institucionalização de ações indigenistas:

identificação e análise da atuação de organizações não-governamentais em políticas públicas

no Amazonas (agosto 2008- junho de 2009). Todos os dois PIBIC foram orientados pela

Professora Dra. Maria Helena Ortolan Matos, como pesquisadora responsável pela

investigação do mapeamento.

170

Monografia

A aluna Inara do Nascimento Tavares fez sua pesquisa de monografia de finalização

do Curso de Ciências Sociais a partir de sua participação no mapeamento das organizações

governamentais e não governamentais (indígenas e não-indígenas) com atuação no estado do

Amazonas. Defendida em dezembro de 2009, o título da monografia faz referência direta ao

trabalho desenvolvido com sua orientadora, Professora Dra. Maria Helena Ortolan Matos:

Mapeamento das Instituições Governamentais e Não-Governamentais na Amazônia Indígena:

Cenários a serem refletidos.

Projetos de Pesquisa para o Mestrado em Antropologia

Os mesmos alunos que promoveram seus trabalhos de PIBIC na pesquisa do

mapeamento institucional, Luciano Cardenes Santos e Inara do Nascimento Tavares, sob

orientação da Professora Dra. Maria Helena Ortolan Matos, produziram projetos de pesquisa

para o Mestrado em Antropologia no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da

UFAM a partir dos resultados do levantamento feito. O discente Luciano está em fase de

campo do Projeto de Pesquisa de Mestrado intitulado Turismo em terras e comunidades

indígenas: tradição e etnicidade na Amazônia. Os sujeitos pesquisados são os Sateré-Mawé da

comunidade de Sahu-Apé (Iranduba/Manacapuru) e o alvo da pesquisa é o projeto de turismo

que os indígenas estão desenvolvendo atualmente em sua área. A discente Inara aprovou o

projeto de pesquisa de Mestrado cujo objeto de pesquisa é a trajetória dos alunos indígenas do

Projeto de Extensão Curso de Formação de Gestores de Projetos Indígenas - Corredor Central

da Amazônia. Os dois discentes mantiveram como orientadora a Professora Dra. Maria

Helena Ortolan Matos.

Projeto de extensão

A pesquisa deu fundamento para a elaboração do Projeto de Extensão Curso de

Formação de Gestores de Projetos Indígenas - Corredor Central da Amazônia, proposto e

coordenado pedagogicamente pela Professora Dra. Maria Helena Ortolan Matos, que está

sendo realizado na UFAM, em cinco Módulos presenciais e de dispersão, no período de

fevereiro de 2009 a fevereiro de 2010. Os discentes do curso são indígenas de diversas etnias

da área do Projeto Corredor Central da Amazônia. O Curso citado é uma iniciativa de

extensão universitária promovida em parceria com organizações indígenas (Centro Indígena

de Estudo e Pesquisa - CINEP e Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia

Brasileira - COIAB) e o órgão do governo federal PDPI/MMA (Projetos Demonstrativos dos

171

Povos Indígenas/Ministério do Meio Ambiente).

Trabalhos Científicos da Professora Dra. Maria Helena Ortolan Matos

2007: ABANNE/REA- X REUNIÃO DE ANTROPÓLOGOS DO NORTE E

NORDESTE (ABANNE) e I REUNIÃO EQUATORIAL DE ANTROPOLOGIA –A

Professora Maria Helena Ortolan Matos foi coordenadora do Grupo de Trabalho Indígenas,

projetos e desenvolvimento, conjuntamente com o Professor Dr. Antonio Carlos de Souza

Lima.

2008: 26ª RBA- Reunião Brasileira de Antropologia (Porto Seguro-BA) –

Coordenadora do GT Agentes de Diálogos e Participação Indígena nas Políticas Públicas,

conjuntamente com a Professora Dra Márcia Maria Gramkow (GTZ). Neste GT, a Professora

Dra. Maria Helena Ortolan Matos apresentou o trabalho Do grupo familiar à associação: o

lugar das mulheres indígenas do Alto Rio Negro nas políticas indígena e indigenista. Este

trabalho apresentou a participação e gestão de mulheres indígenas em projetos financiados por

organizações governamentais e não-governamentais.

2010: 27ª RBA (Belém-PA). Aprovação da Mesa Redonda: Leituras antropológicas

sobre estratégias dos povos indígenas no reconhecimento da pluricidade em diferentes

Estados Nacionais. A Professora Dra. Maria Helena Ortolan Matos foi quem organizou a

mesa redonda em que discutirão as estratégias políticas dos povos indígenas no Estado

brasileiro, entre elas a participação em projetos como execução de política indigenista.

Referências Bibliográficas

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Pan-Amazônia. In: ACEVEDO MARIN, Rosa Elizabeth e ALMEIDA, Alfredo Wagner

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Não-Governamentais na Amazônia Indígena: cenários a serem refletidos. Monografia

defendida no curso de graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do

Amazonas, 2009.

173

REGIME DE ALTERIDADES E DINÂMICA TERRITORIAL NA REGIÃO

AMAZÔNICA

José Exequiel Basini Rodriguez

Professor do Departamento de Antropologia da UFAM e pesquisador do Núcleo de Estudos da

Amazônia Indígena (NEAI/PPGAS)

Este texto é uma contribuição ao projeto Amazonas indígena: um mapeamento das

instituições e da produção bibliográfica sobre os povos indígenas do Estado PPP -

FAPEAM, 2007, coordenado pelo Prof. Dr. Gilton Mendes dos Santos, no qual participo

como colaborador. Ele constitui também um avanço do projeto Cartografia de alteridades

cosmológicas indígenas e de estéticas de territorialização no continuum Manaus - Alto Rio

Negro. O caso dos índios tukano, por mim coordenado, ainda dentro do mesmo programa

financiado pela FAPEAM. Insere-se dentro da grande área de conhecimento “Etnologia

Indígena” e inscreve-se dentro de um “Regime de alteridades e dinâmica territorial na Região

Amazônica”.

A relevância deste projeto explica-se pela abertura de um leque de relações sociais e

de situações históricas entre índios e não índios, objetivado através de um mapeamento

completo dos atores sociais, englobados em duas unidades político-administrativas. Em suma,

a relação entre os mesmos (tukano) e os outros (instituições, organizações, Estado, etc.). Isto

é, diversos atores sociais engajados nos processos de negociação política, o trajeto e percurso

de estratégias e estéticas envolvidas no diálogo intercultural. Para isto, mapearemos a estética

espaço-temporal deste povo indígena; as estratégias migratórias que eles desenvolvem. Assim

mesmo, observaremos as redes entre parentes e afins, seu fluxo e densidade, e suas relações

com os outros. Isto é, uma cartografia do tipo de vínculo e a espécie de troca que as

instituições estabelecem com os tukano, lócus privilegiado para a produção de saberes e

conhecimentos.

Objetivos

1. Mapear a morfologia social e a dinâmica territorial dos índios tukano nas cidades

de Manaus e São Gabriel da Cachoeira na atualidade.

2. Identificar e classificar as instituições e atores sociais que interagem com os índios

tukano nas cidades de Manaus e São Gabriel da Cachoeira.

3. Desenvolver um estudo das alteridades cosmológicas produzidas na interação entre

índios tukano e não índios.

174

4. Realizar uma etnografia dos padrões residenciais e das estéticas de ocupação

territorial dos índios tukano nas cidades de Manaus e São Gabriel da Cachoeira.

5. Estabelecer um quadro sinótico e comparativo entre os índios englobados em

diferentes unidades político-administrativas.

Principais pressupostos teórico-metodológicos

Os construtos “Estética territorial” e “Alteridades Cosmológicas” são utilizados como

noções de ordem conceitual que explicam as continuidades e transformações das comunidades

de língua tukano, em contato direto com agências de natureza política, associada e variada

(federais, estatais, municipais, religiosas, ong‟s, etc), e dentro de uma ampla territorialidade

que transcorre de Manaus ao alto rio Negro, com preferência às relações políticas e os

vínculos cosmológicos estabelecidos entre índios e não índios das cidades de Manaus e São

Gabriel da Cachoeira, assim como da região do baixo rio Uaupés (Município de São Gabriel

da Cachoeira).

A estética territorial constitui no presente projeto um recurso de ordem metodológico e

epistemológico que cartografia uma ordem particular, enquanto focaliza o olhar etnográfico

nas relações sócio-espaciais dentro de enclaves geográficos diferenciais. Em outras palavras,

os estilos de vida manifestos pelas famílias tukano, em aldeias, povoados interioranos, e

cidades de médio e grande porte como São Gabriel da Cachoeira e Manaus, respectivamente.

Ainda, as formas de se assentar e definir padrões de residência, assim como de gerar fluxos de

intercâmbio econômico, social e religioso, de articular redes entre parentes e afins, em

consonância com o rio Negro – espaço tempo polissêmico, isto é, meio de circulação, de

transporte multimodal, e de uma grande densidade simbólica, com referências históricas,

míticas e políticas, também consideráveis.

Já a pertinência das alteridades cosmológicas radica na utilização de um conceito

mais amplo que “parceria”, dentro das relações existentes entre as famílias tukano e as

agências que estes se vinculam. Dito em outras palavras, tenta-se exprimir a relação com o

“Outro” – como manifestação ontológica –, incluindo as passagens dialógicas da hostilidade e

a hospitalidade que todo encontro humano suscita (Levinas, 2005; Derrida, 2003; Todorov,

1999); e os “outros”, em sentido político, social, xamânico, com apelo a noção de pessoa, de

gente, de espíritos auxiliares e qualquer outra noção que envolva a qualidade e o tipo de

vínculo produzido dentro de situações históricas de contato, entre sociedades regionais,

populações indígenas, instituições governamentais e não governamentais agências militares,

175

políticas, acadêmicas, religiosas, econômicas, entre outras, dentro de contextos glo-locais e

tradições de conhecimento (Souza Lima, 2002). Em suma, tenta se entender um regime de

alteridades num presente etnográfico, mas, com base em referências históricas registradas na

ampla região amazônica em questão, particularizando nos municípios de São Gabriel da

Cachoeira e no Município de Manaus, Estado do Amazonas, Brasil.

Agenciamentos

O agenciamento das máquinas estatais e as linhas de fuga das sociedades sem estado

ou com outro tipo de lógica territorial (Deleuze, 1987; Foucault, 1971; Clastres, 1990;

Deleuze & Guatari, 1997ª e 1997b), a captura de alteridades ocidentais por parte de nativos

ameríndios (Severi, 2000; Taussig, 1993) ou os englobamentos hierárquicos das sociedades

de castas orientais (Dumond, 1966), e as versões sobre o outro exótico (orientalismo,

indigenismo) (Said, 1990); todas elas constituem expressões culturais que introduzem trocas

de perspectivas, dentro de cosmologias, como as que sustentam o capitalismo (Sahlins, 2001),

e onde se produzem incorporação de modos diversos de vida.

Nesse sentido, e desde o arcabouço teórico-metodológico previamente apresentado,

procedemos a conhecer, por um lado, o ponto de vista das comunidades de língua tukano em

Manaus e São Gabriel, assim como a justificativa das agências colaboradoras que

desenvolvem políticas indigenistas e/ou práticas de intervenção através de programas junto às

populações indígenas.

Questões chaves

Procura-se identificar o tipo de parceria institucional das agências com comunidades

de língua tukano: explorar o tipo de agenciamento (construção do vínculo, alianças), modelo

de atuação, justificativa racional da iniciativa, análise das cosmologias que a parceria

exprime, isto é, as alteridades compreendidas como incorporação do outro para diferentes fins

e não meramente como estratégia política.

Aspectos relevantes levantados na pesquisa participativa

o Natureza da instituição (“razão de estar”, objetivos, metas, metodologia de

trabalho).

o Perfil de seus integrantes.

o Trajetória da instituição na região (histórico, reivindicações, projetos, planos de

gestão, atores sociais, continuidade ou transformações na condução política do

órgão).

o Política indigenista e modelo indigenista.

176

Instituições consultadas na pesquisa em andamento

Para este fim foram consultadas as seguintes instituições: FOIRN (Federação das

Organizações Indígenas do Rio Negro), ISA (Instituto Socioambiental), CIMI (Conselho

Indigenista Missionário), COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia

Brasileira), SALESIANOS, COMANDO GERAL DA AMAZÔNIA, FUNASA, FUNAI

(Fundação Nacional do Índio), IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente), ICM BIO

(Instituto Chico Mendes), LICENCIATURA INDIGENA, IFAM (Instituto Federal do

Amazonas) ex Escola Agro-Técnica de SGC, SEDUC

(Secretaria Estadual de Educação), Prefeitura Municipal de São Gabriel da Cachoeira,

Secretaria Municipal de Educação, COPIAR (Comissão Professores Indígenas do Alto Rio

Negro), APIARN (Associação de Professores Indígenas do Alto Rio Negro), AETYM

(Associação das Escolas Tukano Yepa Mashã).

Considerações a respeito da base de dados institucionais

Destacamos a relevância da base de dados sobre as instituições, criada no marco do

Projeto Amazonas indígena: um mapeamento das instituições e da produção bibliográfica

sobre os povos, uma vez que ela fornece informações fundamentais sobre as agências de

contato indígena e indigenista.

O “tipo” organizacional define dentro desta base duas classes: 1) indígenas e 2) não

indígenas. Ainda, poderíamos a essa tipologia, acrescentar outro dado, o fato que são

organizações não governamentais dirigidas por indígenas, por exemplo: FOIRN e COIAB; e

outras indigenistas, como, por exemplo, o CIMI. Tanto as indígenas como as indigenistas

podem ser mistas, ou seja, integradas com membros dos povos indígenas e não indígenas. No

entanto, um elemento que define a condução política da organização é o estatuto. Esse

regimenta a conformação do quadro dirigente de primeiro escalão, a coordenação e a

diretoria, assim como a hierarquia que referencia a natureza política de determinada

organização. Por exemplo, CIMI remete-se ao Conselho Nacional de Bispos Brasileiros -

CNBB para financiar e gerenciar seu organograma.

Outrossim, algumas destas, possuem objetivos específicos que definem sua orientação

profissional, embora não delimitem à priori sua área de atuação e a população alvo. Trata-se

do Instituto Socioambiental – ISA e Fundação Vitória Amazônica – FVA cujo foco não são

os indígenas senão o componente social e ambiental das populações amazônicas, do rio

Negro.

177

Têm também modalidades associativas diferentes, algumas são organizações,

cooperativas agropecuárias, fundações, agências financiadoras, organizações não

governamentais internacionais e nacionais, associações de trabalhadores rurais29

, federações

de povos indígenas de diferentes regiões, coordenadoras de organizações indígenas de uma

ampla região, como a COIAB, que atinge a Amazônia Brasileira. Em outras palavras, estamos

frente a diferentes prerrogativas sociais e representatividades, englobando atores

diferenciados com identidades também diferenciadas: trabalhadores rurais, artesãos,

professores indígenas, comunitários indígenas, pesquisadores, comunitários ribeirinhos,

quadros dirigentes que coordenam ações em regiões, entendidas como terras indígenas,

unidades de conservação, territórios linguísticos etc. Outras instituições têm atuações mais

pontuais, como as casas de estudantes indígenas.

Também as instituições citadas na base de dados representam em certas instâncias

várias organizações, como FOIRN, que é a mais antiga e profissional de todas as entidades

indígenas, e que reúne mais de 50 organizações de base.

As instituições também utilizam diferentes marcos de fronteira e elementos

classificatórios dentro de uma orientação geopolítica que reúne logística, tática e estratégia de

intervenção social diferenciada. Por exemplo, a Fundação Nacional de Saúde orienta-se para o

atendimento da saúde dos povos indígenas a partir da idéia de “distrito”. Os Distritos

Sanitários Especiais Indígenas – DISEI, que têm o comppromisso de atender a saúde das

populações indígenas do Brasil, responsabilizam-se por vários municípios, como o caso do

DISEI do alto rio Negro, que atinge os Municípios de São Gabriel da Cachoeira, Barcelos e

Santa Isabel. Cada distrito é atendido por meio de equipes volantes de saúde indígena. As

aldeias indígenas possuem, à sua vez, um agente indígena de saúde – AIS, que é um

funcionário contratado dentro do convênio entre FUNASA e outra instituição do município.

Mas sua função subordina-se às orientações recebidas pela equipe técnica de saúde indígena.

No entanto, esta instituição tem profissionais que permanecem in situ, em determinados

enclaves chamados Pólo Base, locais que sediam uma região, por exemplo, Taracuá no Baixo

rio Uaupés no Município de São Gabriel da Cachoeira. Esse Pólo Base conta com uma infra-

estrutura sanitária básica, uma pequena farmácia e uma sala para atender aos pacientes. Acha-

se também uma equipe em área (enfermeiro, auxiliar de enfermagem), ou pelo menos um

auxiliar de enfermagem ou um laboratorista que permanece em cada pólo. O DISEI de SGC

organiza-se em 19 pólos base.

29 Porém, outra categoria mais englobante é o trabalhador rural indígena e também os artesãos indígenas.

178

Já, a FUNAI, tem outro tipo de geopolítica, ela vai organizar seu campo indigenista

baseado numa outra ideia de região, aquela que passa ser oficializada por meio da demarcação

de Terras Indígenas, categoria de ordem jurídica. Por outro lado, a FOIRN correlaciona

coordenadorias com regiões. Um exemplo disso é a divisão política – administrativa no Rio

Negro: 1. Baixo Uaupés e Médio Tiquiê; 2. Médio Uaupés e Papuri (fronteira com

Colômbia); e. Içana – Iaiari; 4. baixo Rio Negro: Santa Isabel e Barcelos; 5. Rio Negro – Ixié.

Já o Exército, na esfera da Amazônia Brasileira, concentra seu centro de operações no

Comando Geral da Amazônia, e dentro de uma cadeia de mando e prioridades operacionais,

organiza e projeta as diretrizes e os objetivos de intervenção: o conceito de soberania

territorial e segurança nacional, através de uma política de fronteiras e de combate ao

narcotráfico na fronteira com a Colômbia. Neste sentido atua a partir dos pelotões de fronteira

e de seus batalhões de infantaria, engenharia e de selva nas sedes municipais.

A partir das agências previamente mencionadas, poderíamos incluir tipos de

referencialidade, ou seja, instituição civil ou militar, religiosa - humanista religiosa

confessional; e, ainda no caso de órgãos públicos, definir sua ingerência e jurisdição:

municipal, estadual, federal.

Também existem instituições de abrangência diferenciada, mas, com universos

populacionais comuns, que realizam “ações coordenadas” e “alianças estratégicas”. Esse tipo

de cooperação interinstitucional acontece atualmente entre órgãos federais indigenistas

(FUNAI) e federações indígenas regionais (FOIRN) no Município de São Gabriel da

Cachoeira. O principal objetivo consiste em articular práticas de “inclusão cidadã” e assegurar

o usufruto dos benefícios sociais constitucionais. Trata-se da implantação do “Balcão dos

Direitos”, um Programa financiado pelo Governo Federal, destinado à efetivação dos direitos

indígenas, e que em alguns municípios o recurso é gerenciado pela prefeitura a partir de um

programa municipal denominado “Balcão da Cidadania Indígena”.

Uma primeira análise da situação, em termos gerais, nos leva a compreender um

contexto multivariável, no nível da distribuição espacial das intervenções sociais realizadas

pelas associações e as agências de cooperação. Também, os englobamentos e hierarquias, que

às iniciativas coletivas empenham, a partir das orientações políticas das instituições. Daí que a

Amazônia Indígena possa ser também apreendida como uma categoria mais ampla que a

territorialidade demarcada constitucionalmente para os povos indígenas; ainda mais, ela

compõe um mosaico de códigos que se reportam na etno-história, na história das tradições

indígenas, na literatura oral e nas narrativas nativas, em contextos de fricção, resistência e

negociação, com as tradições de conhecimento das sociedades regionais (escravista,

179

sertanista, religiosa, positivista, neo-indigenista, etc); os ciclos econômicos e os regimes

socioespaciais estabelecidos a partir do contato com as populações nativas (Albert & Ramos,

2002); tudo isto, dentro de uma área com muitas marcas e traças, produto de contínuas

viagens e mapeamentos desde o século XVII à atualidade, e de consideradas transformações

ambientais e impactos culturais.

Finalmente, cabe destacar, que a maioria das instituições e atores justificam sua

presença in loco no reconhecimento efetivo do estilo de vida das comunidades tradicionais

amazônicas, através de programas de apoio e cooperação, projetos cooperativos e

associacionistas, objetivação de infra-estrutura, referencialidade logística e uso de tecnologias

expansivas ou apropriadas.

A “questão indígena”, nominação dos movimentos sociais na década dos 80 e 90 no

Brasil para identificar as ações de defesa das populações autóctones; e superação heurística do

“problema indígena”, a partir das críticas ao indigenismo mexicano na década dos 60 (Armas,

1979; Marroquin, 1977); vincula demandas históricas de terra, educação e saúde, somando

atualmente o desafio de implantar modelos de economia sustentável para as comunidades

localizadas nas margens das águas pretas, isto é, com limitados recursos naturais.

Considerações gerais sobre a base de dados bibliográficos do projeto Amazonas Indígena

Em primeiro termo consideramos de grande utilidade a estrutura organizacional da

base de Dados Bibliográficos enquanto discrimina itens substanciais30

para identificar,

classificar e selecionar informações sumamente úteis para qualquer pesquisador que deseje

iniciar e/ou aprofundar um estudo da Amazônia e dos povos que nela habitam,

temporalizando e espacializando esse tipo de presença.

Destacamos a existência de 1.863 títulos, quantidade relevante para o projeto

PPP/FAPEAM em andamento. Já para os fins do projeto “Cartografia das alteridades

cosmológicas e as estéticas de territorialização...” é prestadora de uma importante utilidade ao

fornecer uma variedade significativa de títulos, de fácil acesso e rápida identificação no que

diz respeito à localização dos exemplares. Ainda, enquanto expõe de forma breve e concisa

(sinopse) o assunto chave da obra. Também ponderamos a guia de fontes sobre os POVOS

DA AMAZÔNIA que contribuem ao conhecimento da história indígena e do indigenismo,

conteúdo em arquivos brasileiros e acervos das capitanias.

30 Os itens desta base são: Identificação da Base, Identificação Numérica, Tipo, Título, Local, Editora, Data,

Edição, Coleção/Volume, Região, Palavras Chave, Sinopse, Localização Institucional, Povo, Conteúdos, Obra

Indígena.

180

No que diz respeito à nossa pesquisa constitui uma importante contribuição, pelas

referências estabelecidas para o povo e a região de nosso estudo, como para outros assuntos

que podemos reclassificar em novos temas e subtemas. A citar, índios tukano, política

indigenista no Amazonas, etnia e urbanização no alto rio Negro, rio Uaupes, rio Negro,

“cultura de fronteira”, movimentos indígenas, saúde e intervenção social, relatos de viajantes,

etc. Também porque essa sincronia pode se cruzar com aspectos diacrônicos achados nas

próprias fontes, quando apresentam transformações nos regimes ameríndios, relações entre

tradição e modernidade, políticas públicas, entre outras.

Em relação ao item TIPO podemos achar os documentos em diferentes formatos e

suportes, isto é, artigo, livro, dissertação, tese, DVD, CD – Áudio, CD RAM.

A tabela sobre os POVOS DA AMAZÔNIA possui vários indicadores de

identificação, e só acrescentaria a pertinência do uso de identificação mediante etnônimo,

nome genérico e outros nomes. Por exemplo, Ye‟pâ Masha (etnônimo), nome genérico

(tukano), outros nomes (tucano, desea).

Uma última consideração, diz respeito ao critério de construção da base de dados

bibliográficos e suas possibilidades de expansão31

, enquanto oferece recursos técnicos para

poder sempre estar se alimentando e aperfeiçoando. Acreditamos que tal estratégia constitui

um aspecto substancial para prever e corrigir as defasagens dos dados coletados por diversos

pesquisadores, diferentes instrumentos e registros realizados, assim como efetuar atualizações

periódicas que em muitas outras bases de dados significa uma importante dificuldade técnica.

No item tukano, estabelecemos uma classificação interna a partir de tópicos

estruturais, e outros de interesse da pesquisa. Observamos como forma prática de

identificação e classificação a própria identificação numérica. Neste sentido temos

estabelecido o seguinte ordenamento para o item supracitado: parentesco (1058, 1602); língua

(316, 385, 1138, 1142, 1493, 1785, 1786); mitologia (100, 317, 381, 732, 1405, 1491, 1505,

1535); rituais (1754); histórias ( 1404, 1508, 1528, 1595,1601, 1806, 1815, 1835); narrativas e

literatura oral (56, 576), mudança cultural e contato no alto rio Negro (319, 320, 321, 404,

718*); patrimônio e arqueologia (133); arquitetura e cultura material (332, 565);

territorialidade (881, 1400); organização social (353); etno-história (622).

Outros itens englobam títulos referidos ao rio Uaupés (268, 280, 287, 351, 1282,

1283, 1792, 1796, 1803, 1807, 1817*); ao rio Negro (387, 399, 446, 526); entretanto os

relatos de viajantes e as notas de viagem referem-se aos rios supracitados e ao rio

31 Recurso e critério que também amplia-se para a Base de Dados de Instituições.

181

Amazonas (194, 209, 214*, 298, 620, 621, 744).

Outros itens foram ponderados em função da área de intervenção social das

agências, que classificamos em: Educação (61, 123, 130*, 175, 1808); Saúde (130, 307, 569,

1197, 1158, 1199, 1203, 1207, 1213, 1521, 1788); e por atores e instituições de intervenção:

movimentos indígenas (79); patrões e fregueses no alto rio Negro (80, 554); agencias de

contato (modelo dos índios Tikuna) (772); política indigenista no Amazonas e o SPI: 1910 –

1932 (173, 260); diretório dos índios (598).

Outros assuntos selecionados foram: sociedade cabocla (85); espaços de terror

(1313), xamanismo (poderes da fala) (570*, 573, 574, 985); cultura de fronteira e geopolítica

(280, 527*, 899, 1817*, 1823); índios em Manaus (87, 1510, 1511, 1821, 1822); povos do

alto rio Negro (1401, 1506); etnia e urbanização no alto rio Negro (91, 1271, 1286, 1287,

1507); diagnóstico socioambiental (1290, 1291, 1841); simpósios Povos alto rio Negro

(104, 993); baixo rio Negro (1804*); georeferenciamento e mapas (1293).

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