alunos de escolas do rio, identificados com siglas do tráfico

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CYAN MAGENTA AMARELO PRETO Cidade [email protected] J O R NA L D O B R A S I L D O M I N G O, 5 D E J U N H O D E 2005 A25 CIDADE 25 GUSTAVO DE ALMEIDA E WALESKA BORGES U m triste e silencioso muro está sendo erguido pelo tráfico de drogas no Rio de Janeiro, separando cada vez mais alunos de professores. A matéria-prima desta barreira vem da crescente identificação de jovens de comunidades carentes com o mode- lo mais próximo de sucesso de que dispõem: o traficante. Ao longo de dez dias, o Jornal do Brasil entrevistou, preservando o anonimato, professores e alunos de escolas de várias partes da cidade. Também foram ouvidos sociólogos, antropólogos, parlamentares e autoridades municipais e estaduais. A maioria não nega a existência de uma presença cada vez maior da violência nas escolas. E muitos não se surpreenderam com a cons- tatação de que a rivalidade entre facções criminosas – formadas nos presí- dios fluminenses desde a década de 70 – está ganhando os pátios e os arre- dores das escolas, em uma ameaça real àquela que, consensualmente, seria a cura para todos os males sociais: a Educação. A dor atinge e separa professores e alunos. As histórias, quando não con- têm também violência, têm todas um denominador comum: o medo. A prin- cipal vítima é o futuro. O relato da professora J., de uma escola municipal em Vila Isabel, mostra que os jovens moradores das favelas já não acreditam no poder de ascensão social da escola. Um exemplo de descrédito na escola, segundo a professo- ra, são as respostas das crianças sobre o futuro: – Antes, os alunos diziam que seriam professores ou médicos. Hoje, as crianças sonham em ser gari, camelô ou policial. Com a experiência de quem trabalhou em escolas de Brás de Pina (como as municipais Goethe e São Paulo), a professora X. vai mais além: – Hoje, é comum ver redações em que os meninos falam em ter poder no morro ou desenhos em que aparecem armados – diz, com tristeza, a profis- sional de educação. O futuro passou a ser objeto de temor para o adolescente T., de 14 anos. Por causa de um boné vermelho – a cor da facção rival – ele foi surrado em frente à Escola Municipal Jenny Gomes, na Avenida Paulo de Frontin, no Rio Comprido. Ele foi identificado como morador da Favela do Turano, na Tijuca, dominada pela facção criminosa Comando Vermelho, e agredido por ex-alunos que moram no Morro do São Carlos, controlado por trafican- tes da facção conhecida como Amigos dos Amigos (ADA). Um ano depois da surra, na tarde de quinta-feira, T., que cursa a 5ª série, exibia as marcas dei- xadas nos seus braços. Ele estava numa rodinha de amigos na porta da es- cola. Sem qualquer constrangimento, o grupo contava entusiasmado a riva- lidade entre as facções na escola. Mesmo não sendo infratores, meninas e meninos até defenderam as facções. – Era início do ano passado. Eles (os agressores) estavam a cavalo e gri- taram “É o bonde do Gangan (traficante Irapuan David Lopes, morto pela polícia em outubro). Quando viram o meu boné, me bateram com pedaços paus – conta T., que precisou ser hospitalizado. As cores do ódio apareceram no retrato tirado pela pesquisadora da Uni- versidade Católica de Brasília, Miriam Abramovay, na pesquisa “Cotidiano das Escolas: Entre Violências” que está sendo realizada pela Unesco. Fo- ram ouvidos alunos e professores de 113 escolas de São Paulo, Salvador, Por- to Alegre, Belém, Rio de Janeiro (parte qualitativa) e o Distrito Federal. – No Rio, uma professora foi ameaçada com uma arma nas costas porque pediu para o aluno trocar a bermuda vermelha pela azul do uniforme. Uma outra professora sofreu ameaças porque estava vestida de azul – conta a pesquisadora. O escritor Júlio Ludemir, autor dos livros Sorria, você está na Rocinha e No Coração do Comando, teve a mesma revelação durante a pesquisa de campo que empreendeu para escrever seu mais recente trabalho, Lembrancinha do Adeus . Com assombro, Ludemir confirma a separação de facções crimino- sas que alunos, em princípio inocentes, levam para pátios e salas de aula. – O livro é sobre um menino do Morro do Adeus cujo grande sonho na vida é ser bandido. Ele é de uma área em que crianças assumem a rivalida- de entre os bandidos dos locais em que moram. Enquanto pesquisava para fazer o livro, soube de uma escola pública de Niterói que, para evitar brigas, tinha recreio diferenciado para os alunos de facções rivais – diz Ludemir. O escritor freqüentou os morros do Complexo de São Carlos, de onde é o menino surrado por causa do boné vermelho: – Hoje há forte rivalidade entre a facção Amigos dos Amigos e o Coman- do Vermelho. Mas antes havia com o Terceiro Comando. E as escolas públi- cas ao redor do complexo refletiam as constantes guerras ocorridas no mor- ro (ver quadro ‘Diário de Campo’ na pág. 26). A briga entre alunos impede festas em datas comemorativas na Jenny Gomes. No ano passado, segundo mães de alunos, dois estudantes entraram na escola armados durante uma feira de ciências. Acostumados com a presença de traficantes nos arredores da Escola Es- tadual Olga Benário, na Rua Uranos, próximo do Morro do Adeus, em Ra- mos, há dois meses, por volta das 8h, alunos e professores foram surpreen- didos por um bando armado dentro das salas de aula. Depois de espancar o inspetor no portão da escola, o grupo de seis jovens – entre eles ex-alunos – invadiu o prédio e iniciou uma série de agressões e pequenos assaltos. – Um dos professores pensou que eram alunos entrando na sala sem pe- dir licença. Mas, em seguida, ele ficou paralisado ao ver os alunos sendo es- pancados e assaltados – lembra a professora. Dos alunos foram roubados celulares e mochilas. Dias depois, segundo conta a professora, descobriu-se o verdadeiro motivo da invasão: – Eram traficantes do Alemão que resolveram agir contra os alunos da Vila dos Pinheiros. Os que eram do Alemão tiveram os pertences de- volvidos por ordem do chefe do morro – conta a professora, que tem 33 anos de magistério. Após todos estes anos, ela vive dois perigos: pela ja- nela de sua sala no quarto andar, tiroteios na favela. E, pela porta, seus alunos, crianças inocentes que agem como se fossem adultos bandi- dos. PÁG. A26:ALUNOS REVELAM O DRAMA DO DIA-A-DIA Alunos de escolas do Rio, identificados com siglas do tráfico, aumentam situação de risco dos professores e colocam Educação em perigo Arte de Renato Dalcin sobre fotos de João Paulo Engelbrecht

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Page 1: Alunos de escolas do Rio, identificados com siglas do tráfico

CYAN MAGENTA AMARELO PRETO

[email protected] J O R N A L D O B R A S I L � D O M I N G O, 5 D E J U N H O D E 2 0 0 5 A25

CIDADE 25

GU S TAVO DE AL M E I DA E WALESKA BORGES

Um triste e silencioso muro está sendo erguido pelo tráfico dedrogas no Rio de Janeiro, separando cada vez mais alunos deprofessores. A matéria-prima desta barreira vem da crescenteidentificação de jovens de comunidades carentes com o mode-lo mais próximo de sucesso de que dispõem: o traficante. Ao

longo de dez dias, o Jornal do Brasil entrevistou, preservando o anonimato,professores e alunos de escolas de várias partes da cidade. Também foramouvidos sociólogos, antropólogos, parlamentares e autoridades municipaise estaduais. A maioria não nega a existência de uma presença cada vezmaior da violência nas escolas. E muitos não se surpreenderam com a cons-tatação de que a rivalidade entre facções criminosas – formadas nos presí-dios fluminenses desde a década de 70 – está ganhando os pátios e os arre-dores das escolas, em uma ameaça real àquela que, consensualmente, seriaa cura para todos os males sociais: a Educação.

A dor atinge e separa professores e alunos. As histórias, quando não con-têm também violência, têm todas um denominador comum: o medo. A prin-cipal vítima é o futuro.

O relato da professora J., de uma escola municipal em Vila Isabel, mostraque os jovens moradores das favelas já não acreditam no poder de ascensãosocial da escola. Um exemplo de descrédito na escola, segundo a professo-ra, são as respostas das crianças sobre o futuro:

– Antes, os alunos diziam que seriam professores ou médicos. Hoje, ascrianças sonham em ser gari, camelô ou policial.

Com a experiência de quem trabalhou em escolas de Brás de Pina (comoas municipais Goethe e São Paulo), a professora X. vai mais além:

– Hoje, é comum ver redações em que os meninos falam em ter poder nomorro ou desenhos em que aparecem armados – diz, com tristeza, a profis-sional de educação.

O futuro passou a ser objeto de temor para o adolescente T., de 14 anos.Por causa de um boné vermelho – a cor da facção rival – ele foi surrado emfrente à Escola Municipal Jenny Gomes, na Avenida Paulo de Frontin, noRio Comprido. Ele foi identificado como morador da Favela do Turano, naTijuca, dominada pela facção criminosa Comando Vermelho, e agredidopor ex-alunos que moram no Morro do São Carlos, controlado por trafican-tes da facção conhecida como Amigos dos Amigos (ADA). Um ano depois dasurra, na tarde de quinta-feira, T., que cursa a 5ª série, exibia as marcas dei-xadas nos seus braços. Ele estava numa rodinha de amigos na porta da es-cola. Sem qualquer constrangimento, o grupo contava entusiasmado a riva-lidade entre as facções na escola. Mesmo não sendo infratores, meninas emeninos até defenderam as facções.

– Era início do ano passado. Eles (os agressores) estavam a cavalo e gri-taram “É o bonde do Gangan (traficante Irapuan David Lopes, morto pelapolícia em outubro). Quando viram o meu boné, me bateram com pedaçospaus – conta T., que precisou ser hospitalizado.

As cores do ódio apareceram no retrato tirado pela pesquisadora da Uni-versidade Católica de Brasília, Miriam Abramovay, na pesquisa “Cotidianodas Escolas: Entre Violências” que está sendo realizada pela Unesco. Fo-ram ouvidos alunos e professores de 113 escolas de São Paulo, Salvador, Por-to Alegre, Belém, Rio de Janeiro (parte qualitativa) e o Distrito Federal.

– No Rio, uma professora foi ameaçada com uma arma nas costas porquepediu para o aluno trocar a bermuda vermelha pela azul do uniforme. Umaoutra professora sofreu ameaças porque estava vestida de azul – conta apesquisadora.

O escritor Júlio Ludemir, autor dos livros Sorria, você está na RocinhaeNoCoração do Comando, teve a mesma revelação durante a pesquisa de campoque empreendeu para escrever seu mais recente trabalho, Lembrancinha doAdeus. Com assombro, Ludemir confirma a separação de facções crimino-sas que alunos, em princípio inocentes, levam para pátios e salas de aula.

– O livro é sobre um menino do Morro do Adeus cujo grande sonho navida é ser bandido. Ele é de uma área em que crianças assumem a rivalida-de entre os bandidos dos locais em que moram. Enquanto pesquisava parafazer o livro, soube de uma escola pública de Niterói que, para evitar brigas,tinha recreio diferenciado para os alunos de facções rivais – diz Ludemir.

O escritor freqüentou os morros do Complexo de São Carlos, de onde é omenino surrado por causa do boné vermelho:

– Hoje há forte rivalidade entre a facção Amigos dos Amigos e o Coman-do Vermelho. Mas antes havia com o Terceiro Comando. E as escolas públi-cas ao redor do complexo refletiam as constantes guerras ocorridas no mor-ro (ver quadro ‘Diário de Campo’ na pág. 26).

A briga entre alunos impede festas em datas comemorativas na JennyGomes. No ano passado, segundo mães de alunos, dois estudantes entraramna escola armados durante uma feira de ciências.

Acostumados com a presença de traficantes nos arredores da Escola Es-tadual Olga Benário, na Rua Uranos, próximo do Morro do Adeus, em Ra-mos, há dois meses, por volta das 8h, alunos e professores foram surpreen-didos por um bando armado dentro das salas de aula. Depois de espancar oinspetor no portão da escola, o grupo de seis jovens – entre eles ex-alunos –invadiu o prédio e iniciou uma série de agressões e pequenos assaltos.

– Um dos professores pensou que eram alunos entrando na sala sem pe-dir licença. Mas, em seguida, ele ficou paralisado ao ver os alunos sendo es-pancados e assaltados – lembra a professora.

Dos alunos foram roubados celulares e mochilas. Dias depois, segundoconta a professora, descobriu-se o verdadeiro motivo da invasão:

– Eram traficantes do Alemão que resolveram agir contra os alunosda Vila dos Pinheiros. Os que eram do Alemão tiveram os pertences de-volvidos por ordem do chefe do morro – conta a professora, que tem 33anos de magistério. Após todos estes anos, ela vive dois perigos: pela ja-nela de sua sala no quarto andar, tiroteios na favela. E, pela porta, seusalunos, crianças inocentes que agem como se fossem adultos bandi-dos.

�PÁG. A26:ALUNOS REVELAM O DRAMA DO DIA-A-DIA

Alunos de escolas do Rio,identificados com siglas dotráfico, aumentamsituação de risco dosprofessores e colocamEducação em perigo

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Page 2: Alunos de escolas do Rio, identificados com siglas do tráfico

CYAN MAGENTA AMARELO PRETO

A26 DOMINGO, 5 DE JUNHO DE 2005 JORNAL DO BRASIL

CIDADE 26

CIDADE

Nascente: Poente:

Crescente: Cheia:

Minguante: Nova:

FlamengoUrcaVermelhaLeme

Rep. do PeruB. IpanemaSouza LimaDiabo

ArpoadorMª. QuitériaPaul RedfernBart. Mitre

Recomendadas Não recomendadas

Visc. de Alb.São ConradoPepinoQuebra-Mar

PepêBarramaresAlvoradaPontal

MacumbaPrainhaGrumariGuaratiba

A chuva fica restrita ao norte do Rio de Janeiro e região dos Lagos. Já na metade sul o tempo continua seco e não são previstas chuvas ao longo da semana. As temperaturas ficam elevadas da capital ao litoral sul. Ventos fracos a moderados sopram com direção de norte a nordeste

Hora Altura Hora Altura

AltaBaixa

RIO DE JANEIRO

AltaBaixa

ANGRADOS REIS

AltaBaixa

MACAÉ

AltaBaixa

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ESTOCOLMO

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LONDRES

LOS ANGELES

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CIDADE TEMPO Mín. Máx.Parc nublado

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Parc nublado

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Panc de chuva

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NOVA YORK

ORLANDO

PARIS

ROMA

SANTIAGO

SYDNEY

TÓQUIO

WASHINGTON

PARATI

ANGRA DOS REIS

VOLTA REDONDA

RIO DE JANEIRO

PETRÓPOLISTERESÓPOLIS

NOVA FRIBURGO

VARRE-SAI

ITAPERUNA

MACAÉ

CABO FRIO

CAMPOS

Umidade relativa: 55%

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Umidade relativa: 54%

mín máx

Umidade relativa: 52%

mín máx

Mín/Máx

FORTALEZA

MANAUS

BELO HORIZONTE

SÃO PAULO

PORTO ALEGRE

CURITIBA

BRASÍLIACUIABÁ

SÃO LUÍS

BELÉM

PALMAS

MACAPÁBOA VISTA

PORTO VELHO

RIO BRANCO

RECIFE

SALVADOR

VITÓRIA

NATAL

CAMPO GRANDE

ARACAJU

FLORIANÓPOLIS

GOIÂNIA

JOÃO PESSOA

MACEIÓ

TERESINA

Região Sudeste

Região Centro-Oeste

Região Norte

Região Nordeste

Região Sul

Sol e calor em São Paulo. Chuvas atingem o Espírito Santo e nordeste mineiro

Tempo ensolarado e quente no Mato Grosso do Sul e Mato Grosso

Tempo aberto e seco na metade sul da região, especialmente no Acre e Rondônia

Dia chuvoso ao longo das áreas litorâneas do Nordeste. Tempo seco e quente no sertão

Frente fria provoca chuva no Rio Grande do Sul. Sol e calor em Santa Catarina e Paraná

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SOL

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PRAIAS

MARÉS

NO MUNDO

NO BRASILPREVISÃO PARA OS PRÓXIMOS DIAS

Hoje Amanhã Terça

Outras capitais

Tels.: (11) 3816 2888www.tempoagora.com.br

Análise:

Fontes: Master, IAG, USP, CPTEC, INPE, MCT

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Parcialmente nublado Pancadas de chuva

Chuvas com trovoadas

Chuvoso

Encoberto

Adaptar para sobreviverEscolas criam novas regras de convivência com comunidades carentes para evitar riscos

A proximidade com a favelacria novas regras de convivênciaentre a escola e seus alunos – edestes com os bandidos das co-munidades. Aluno da Escola Es-tadual Jorge Jabour, em Sena-dor Camará, R., 16 anos, fre-quenta a aula no turno da noite.Na turma de 38 alunos, cinco, se-gundo ele, são ligados à vendade drogas em um morro da ZonaOeste.

– De dia, eles (os alunos) tra-balham no radinho. Ficam em ci-ma dos telhados das casas vi-giando a polícia – explica R.

O adolescente, que nos últi-mos cinco anos viu pelomenos sete colegas deinfância presos ou mor-tos, tenta se manter dis-tante do tráfico. Segun-do ele, a admiração porbandidos é comum en-tre garotos da comuni-dade, mesmo os que nãosão ligados diretamenteao crime.

– Eles são fãs do traficanteRobinho Pinga, dono das bocas-de-fumo das favelas do Rebu eda Coréia – revela R., que sonhadiferente: ser PM do Batalhãode Operações Especiais (Bope).

– Para quem mora na favela,não há problemas em ir para oExército. Alguns meninos,quando voltam de lá, acabamensinando o que aprenderampara os traficantes. Só não gos-tam de policiais – conta R., quejá planeja mudar-se da comuni-dade quando se tornar PM.

Ex-aluno da Escola EstadualSão Bento, em Gramacho, P., 18anos, terminou o Ensino Médiono ano passado. Ele conta queviu um colega de turma, que eraenvolvido com o tráfico de dro-gas, na Favela do Dique, espan-car um professor de química.Pouco tempo depois,aluno e professor envol-vidos na briga deixarama escola.

– Em meados do anopassado, o professor pe-diu para que o garotosaísse da sala. O garotodisse que não iria sairporque era do movi-mento. O professor insistiu eacabou apanhando – lembra P.

Moradora de Vila Kennedy,D., 18 anos, concluiu o EnsinoMédio num colégio, em Bangu,que recebe alunos de Padre Mi-guel. As duas comunidades sãocontroladas por traficantes defacções criminosas rivais:

– Os alunos acabam se divi-dindo em grupinhos de acordocom o local onde moram. No per-

curso até a escola, tinha medo deser identificada como moradorade Vila Kennedy pelos alunosque fechavam com a boca. Por is-so, dizia que morava no Quafá,que é um local dentro da Vilaque poucos conhecem.

Segundo a coordenadora-ge-ral do Sindicato Estadual dosProfissionais de Educação (Se-pe), Gesa Linhares, por causa daviolência nas escolas, o sindica-to contratou um advogado crimi-nalista.

– A educação pública no Rioestá chegando ao fundo do poço.Enquanto isso, o poder público

não está incomodadocom a questão da segu-rança nas escolas – criti-ca Gesa.

De acordo com a co-ordenadora do Sepe,50% dos pedidos detransferências feitospor professores são mo-tivados por causa da vio-

lência. No ano passado, 80 milestudantes e 874 professores pe-diram transferência nas escolasdo município. Segundo a Secre-taria Estadual de Educação,muitas vezes, os professores pe-dem transferência para regiõesmais próximas de suas casas. Nomunicípio, são 1.054 escolas, 757mil alunos e 48.317 professores.

A Secretaria Estadual deEducação nega que os professo-res peçam transferências moti-vados pela violência. Segundo asecretaria, do início do ano até odia 31 de maio, houve 1.066 pe-didos de transferências, 488 de-les já autorizados.

– Não dá para viver com me-do. Os professores que denun-ciam os abusos estão sendoameaçados e os diretores exone-rados – protesta Gesa, sugerindoa união da prefeitura e dos go-

vernos estadual e fede-ral. A mesma propostade união é defendidapelo vereador EliomarCoelho (PT), que emmarço do ano passadodenunciou roubos, fur-tos, depredações eameaças a escolas da re-de municipal. Até hoje,

diz o vereador, nada foi feito pa-ra evitar os crimes.

– Os professores já notaramque dentro das salas há diversosalunos envolvidos com tráfico, etêm condição de identificar. Masnão podem. Para lutar contra is-to, seria necessário que tanto se-cretaria estadual quanto muni-cipal se entendessem – diz.

(G.D.A e W.B)

Autoridades minimizamPara a secretária municipal

de Educação, Sonia Maria Mo-grabi, a violência que atinge a ci-dade se reflete nas escolas.

– Dependendo da situação,podem ter as aulas interrompi-das. Esta decisão é tomada peladireção com sua comunidade es-colar. As Coordenadorias Regio-nais de Educação são instruídasa comunicarem aos batalhões desuas áreas sobre ocorrênciasque prejudiquem o andamentodas atividades escolares.

Quanto à violência interna,Sonia afirma que a convivênciaentre alunos melhorou.

– A violência externa é muitomaior que a interna, e temosexemplos positivos de convivên-cia pacífica entre alunos de di-versas comunidades – diz.

O prefeito Cesar Maia temdúvidas quanto a professoresem situação de risco:

– Depende de que professo-res e em que lugar. A violênciaque sentimos é no entorno dasescolas. Dentro das escolas oscasos são esporádicos.

Quanto a brigas internas defacções nos pátios, o prefeitotambém descarta, mas com res-salvas:

– Só existe quando uma esco-la tem uma localização que inibea presença de crianças de outrascomunidades.

Em entrevista ao Jornal do

Brasilem 14 de agosto de 2001, oprefeito chegou a nominar esco-las com problemas.

“Um exemplo existe no Mor-ro do Turano, ao lado da escolaFrei Cassiano, onde você temuma venda desse tipo. Por quena Mangueira o tráfico ocorreem frente à escola? Porque a es-cola é a proteção que o trafican-te tem. A polícia não pode entraratirando, porque os bandidoscorrem para a escola. Aí seriauma catástrofe. Os traficantesusam as escolas como escudos”,disse Cesar.

A Secretaria Estadual deEducação não quis se pronun-ciar sobre o problema, alegandoque é questão para ser respondi-da pela Secretaria de SegurançaPública. O secretário MarceloItagiba afirmou que determinouao Comando-Geral da PM quetodos os comandantes dos bata-lhões estejam à disposição dosdiretores das escolas.

Segundo Itagiba, este estadode coisas acontece quando há aquestão das drogas.

– Não podemos admitir queas drogas estejam presentes nonúcleo da infância e da juventu-de e levem os jovens a ter admi-ração por criminosos impiedo-sos que, para manter os seus lu-cros escusos, escravizam pessoasentregues ao vício e matam asque com eles se endividam.

“Eles sãofãs dotraficante.Eu escondoque queroser PM”

“Opr ofessormandou elesair eacabouapanhando”

A aula que mederam foimaravilhosa –principalmente aRaíssa, que fez

uma fantástica comparaçãoentre Deus e o Diabo dentro doZinco. Ela, que é filha debandido e mora na fronteira doZinco com o São Carlos,atribuiu a Fu o papel de Deus;e a Gangan, o de Diabo. Talcomparação foi facilitada pelofato de que o Gangan temestreitas ligações com ocandomblé – dizem que temum pacto com Exu, que lhepede sangue para beber, mortosa serem oferecidos em sacrifícioa ele. Para Raíssa, os"terceiros" são mais violentos,vivem mandando matar porcoisa à toa. Já o Comandoparece ser mais complacente.Essa é pelo menos a impressãodela, que deu como exemplo ofato de que Fu, quando algumade suas ordens é desobedecida,bota as pessoas de castigo, sómatando quando se abusamuito da paciência dele.“Quem é que você prefere,então?”, perguntou ela a umacerta hora. Para exemplificar aboa vontade de Fu, contouuma história que se passoucom sua irmã, que uma vezteve que ficar seis mesestrancada em casa por ordem deFu. Pena que a história, quetem aspectos maravilhosos,não foi contada com riqueza dedetalhes. Mas a irmã de Raíssaficou de castigo por ter pagadoum b... em uns caras lá noEstácio. Imagino que os taiscaras eram do Terceiro, masisso não ficou claro. Raíssaestuda na Canadá e Duda naPereira Passos. Essas escolassão freqüentadas por criançasde áreas do Terceiro e doComando, que simplesmentenão se falam.

Trecho do livro Lembrancinha do Adeus,

de Júlio Ludemir, lançado em 2004

“Os alunos se sentem donos daescola. Alguns circulam pelopátio sem uniforme. Não sei seestão armados, mas só a figuradeles é um terror. Presencieiquando alunos da Favela dosPinheiros (no Complexo daMaré, em Bonsucesso) tiveramos tênis roubados por estudan-tes do Morro do Adeus no corre-dor do quarto andar.A., professora da Escola EstadualOlga Benário, em Ramos.

Quando tem tiroteio perto daescola, as crianças se sentamou deitam no chão das salas deaula. Elas choram, mas não épor medo e sim de preocupaçãocom a mãe que ficou em casa.Na década de 80, trabalhavacomo professora na Favela doJacarezinho. Naquela época, ostraficantes tinham as fotos dosprofessores para protegê-los.Hoje, aqueles traficantes mor-reram ou estão presos e o tráfi-co de drogas é controlado porjovens desequilibrados

B., professora de uma escolamunicipal, em Vila Isabel.Quando a Rocinha estava emguerra (em abril do ano passa-do), observei que havia discri-minação nas brincadeiras dascrianças. Elas diziam umas pa-ra outras: “Não dá a bola parafulano porque ele é ADA e ADAnão é de nada”.C., professora da Escola MunicipalPedro Ernesto, na Lagoa.

A escola fecha quando o poderpúblico ligado à segurança en-tra na comunidade. Uma vez,estava almoçando no Ciep, emSenador Camará, quando poli-

MENOR espancado por usarboné da cor vermelha, da facçãorival (alto). Na foto do meio,testemunha do espancamentode um professor. Acima, omenino que no meio doscriminosos sonha em ser PM

ciais pularam o muro da escolae se esconderam no jardim. Porcausa dos tiroteios, as escolasda região fecham pelo menosduas vezes na semana.D., professora de um Ciep, emSenador Camará

Há escolas do município quetêm alunos do Criam (Centrode Recuperação de Menores In-fratores) dentro dos programasde liberdade assistida. Eles nãoatacam professores porque sa-bem que podem perder os direi-tos, mas exercem grande lide-rança sobre os outros meninos,que não sabem a origem deles.Esta é uma realidade que nãodá para negar. Assim como osproblemas das crianças de co-munidades para freqüentar asaulas. Em 2002, na época emque havia guerra entre quadri-lhas de Vigário Geral, Paradade Lucas e Cidade Alta, os trafi-cantes baixaram a proibição:alunos da Cidade Alta não po-diam freqüentar escolas deBrás de Pína nem da região deVigário. O resultado disso?Tranferências de alunos. AsCREs (Coordenadorias Regio-nais de Educação) acabam ten-do que fazer. Em bairros quetem oito a dez escolas, comoOlaria, é comum que alunos deum morro evitem escolas pró-ximas a favelas rivais.E., ex-professora de escolas naregião da Cidade Alta, Parada deLucas e Vigário Geral

� AMANHÃ: COMO O PODER LE-GISLATIVO ESTÁ REAGINDO E ASAMEAÇAS QUE OS PROFESSORESSOFREM

Fotos de João Paulo Engelbrecht

Page 3: Alunos de escolas do Rio, identificados com siglas do tráfico

CYAN MAGENTA AMARELO PRETO

[email protected] J O R N A L D O B R A S I L � S E G U N D A - F E I R A , 6 D E J U N H O D E 2 0 0 5 A13

CIDADE 13

� Professores recebemameaças e ordens do tráfico

� Jovens reproduzem na salao cotidiano violento do morro

A cartilha da violênciaGU S TAVO DE AL M E I DA E WALESKA BORGES

Depois de flagrar o momento em que umaaluna colava na prova, a professora de umCiep próximo de uma favela, em Nova Iguaçu,aplicou-lhe uma correção: a nota zero. Semqualquer cerimônia, a aluna tentou reverter anota fazendo uma ameça à professora. A ado-lescente, que teria envolvimento com trafi-cantes, deu o recado em voz alta “Isso não vaificar assim”. As ameaças contra professoresforam registradas pela pesquisadora MiriamAbramovay, da Universidade Católica de Bra-sília, coordenadora da pesquisa “Cotidianodas escolas: entre violências”, que está sendorealizada pela Unesco.

– As intimidações são por motivos corri-queiros, entre eles, quando os alunos discor-dam de notas ou da entrega de trabalhos – co-menta a pesquisadora.

Segundo Miriam, as constatações dosmotivos que levam às intimidações foramfeitas através da pesquisa da Unesco em113 escolas de São Paulo, Salvador, PortoAlegre, Belém, Rio de Janeiro (parte qua-litativa) e o Distrito Federal. Foram ouvi-das 1.400 pessoas, entre elas alunos, pro-

fessores, diretores e funcionários.– A escola está perdendo o respeito. O

que impera é a violência, por isso, alunos eprofessores sentem-se desprotegidos –avalia Miriam.

O comportamento violento para evoluir noano letivo já era de conhecimento de especia-listas. A pedagoga Eloisa Guimarães, que pu-blicou tese de doutorado pela PUC e lançoupela UFRJ o livro Escola, Galeras e Narcotráfi-co, já previa, há dez anos, o quadro atual.

– A situação estava instalada precariamen-te, e hoje está mais enraizada. O confronto ho-je é mais claro, em uma sociedade que banali-zou a violência. A verdade é que quando se fa-lava e se fala hoje em violência nas escolas,não se tem noção da gravidade disto. Hoje nãose percebe a real importância da educação,que é vista de modo individual e não coletivo –diz Eloisa.

Em sua pesquisa de campo, a pedagogaanotou fatos que comprovam o dia-a-dia difícilde professores e diretores em escolas maisafastadas do Centro e da Zona Sul. Em 1989,nas escolas noturnas de 1º grau, já se percebiaa falência do papel de ascensor social da Edu-cação nas declarações dos alunos.

– Os alunos diziam que queriam ser garis, ecomplementavam dizendo que até para sergari tinha que ter o primeiro grau. Se antes ha-via a inclusão social por meio da ascensão, ho-je a escola promove apenas a não-exclusão pa-ra estes alunos – lembra Eloisa

Na mesma pesquisa, em 1989, a pedagogadescobriu que notas de avaliação eram muda-das por pressão das armas. Em artigo publica-do em 1995, Eloisa relatou:

(...) exigências de modificação de resultado deavaliação feitas à base de armas de fogo, ameaçasde morte, punição física ou danificação de bens,como carros (...).

Sete anos depois, Eloisa passou 12 mesesem uma escola da Zona Oeste, cujo nome nãopode revelar.

– Nesta escola, foi possível ver o quanto osprofissionais de educação têm que se adaptaràs regras do tráfico. Uma diretora teve quemudar turmas para poder encaixar o filho deum dos donos do morro – conta.

Marcelo Freixo, pesquisador da ONG Justi-ça Global, lembra que muitos destes adoles-centes não têm envolvimento com o tráfico dedrogas.

– O poder do tráfico com a comunidade é in-

tenso. Traficantes determinam o uso de coresde roupas e também interferem na escolha daescola – comenta Freixo.

O pesquisador alerta que alguns jovens sãoseduzidos pelo tráfico:

– O imaginário deste poder também atingesetores da classe média. Há pichações de fac-ções criminosas até nas portas dos banheirosde cursos pré-vestibular – observa.

O sociólogo Ignacio Cano, pesquisador daUerj, acredita que os jovens sentem-se tenta-dos a reproduzir o comportamento que vivemnas comunidades.

– É a pedagogia da violência. Estes jovensvêem pessoas matando entre si, cadáveres narua e pessoas usando a violência para resolverconflitos – analisa Cano.

O delegado Ricardo Teixeira, titular da 6ªDP (Cidade Nova), diz que tem informaçõesde intimidações a professores, mas as denún-cias não são confirmadas.

– Os crimes de ameaça e constrangimentoilegal são de pequena potencialidade e a penaprevista é inferior a dois anos. Neste caso, oautor acaba impune e a sociedade com medode denunciar. A lei precisa ser mudada – suge-re o delegado.

FECHADA por causa de um tiroteio entre policiais e traficantes, a Escola Municipal Assis Chateaubriand, em Vila Isabel, enfrenta problemas por ser vizinha do Morro dos Macacos

A violência nas escolas do Rio de Janeirojá levou a dois projetos de lei, um em âmbitoestadual e outro em âmbito municipal. O ve-reador Eliomar Coelho (PT) já protocolouprojeto de lei que cria o Programa Interdis-ciplinar de Participação Comunitária paraPrevenção e Combate à Violência nas Esco-las do município, que prevê a formação degrupos de trabalho e o desenvolvimento deações educativas e de valorização da vida. Oprograma será coordenado por um núcleocentral ligado à Secretaria Municipal deE d u c a ç ã o.

– É preciso que o poder público assumasuas responsabilidades. As secretarias pre-cisam receber estes professores. Tenho umaparente que leciona em escola pública, eque convive com tiroteios. Os alunos têmque correr para dentro de outras salas, pois

Problemachegou aolegislativo

nem mesmo têm um pátio protegido – diz overeador Eliomar Coelho.

A falta de um foco maior por parte das au-toridades sobre o tema, na opinião do depu-tado estadual Alessandro Molon (PT), fazcom que sequer exista um banco de dadosoficial sobre a violência nas escolas.

–Para mim, sempre aparecem, nas reu-niões, pessoas relatando casos de opressãoe violência contra professores e alunos nasescolas – diz Molon, ele mesmo professorde história. Nos tempos de magistério, elese recorda de como pais se preocupavamcom a permanência dos filhos no prédio daescola.

– Às vezes, faltavam professores, mas a di-retora recebia ligações, pedindo que os fi-lhos permanecessem. ‘Compreendo que nãotem professor, mas pelo amor de Deus, pren-de ele aí’ – conta o deputado.

Na sexta-feira passada, Molon se encon-trou com representantes do Sindicato Esta-dual de Profissionais em Educação (Sepe) eparticipou também da 10ª Audiência Públi-ca da comissão de Políticas Públicas da Ju-ventude da Alerj. O encontro foi propostopor professores da Seap (Secretaria de Ad-

ministração Penitenciária). Ficou definidoque haverá reunião entre o governo federale o governo do estado para discutir modelospedagógicos, material didático e condiçõesde trabalho para professores que tenhamcontato com população em conflito com alei

Molon quer também o comprometimentodos secretários de estado em garantir o pa-gamento de gratificação por periculosidadeaos professores da Secretária de Estado deEducação que atuam em unidades escolaresda SEAP e do Degase. Para isso, vai valer aapresentação do Projeto de Lei 2562/05, pro-tocolado quinta-feira passada, garantindoesse direito aos profissionais da educação.

As atuais reuniões de Molon com o Sepeforam provocadas pela apresentação, em 5de maio, de um projeto igual ao de Eliomar,só que em âmbito estadual.

O PL 2471/2005 prioriza a implantaçãonas escolas vinculadas às coordenadorias re-gionais metropolitanas. Os grupos de traba-lho serão abertos e formados por professo-res, funcionários, especialistas da área deeducação, pais, alunos e representantes dacomunidade ligada a cada escola. Pelo pro-

jeto, o programa poderá ser estendido às es-colas particulares que constituírem grupode trabalho.

– Os professores precisam de um canal decomunicação. A visão que o governo do esta-do tem de educação é míope, e tudo isto in-terfere diretamente no processo de aprendi-zado – reclama o parlamentar. Na justificati-va do projeto, em 5 de maio, Molon alerta-va :

“As escolas sofrem, no seu cotidiano, vá-rios tipos de violências, como depredações,furtos de merendas e equipamentos, agres-sões a usuários e funcionários, ameaças,consumo e tráfico de drogas, invasões dosprédios para lazer ou prática de outros atosinfracionais, Dados recentes indicam que osacusados dos atos de agressão à escola são,via de regra, jovens ex-alunos, moradores dobairro, portanto, membros da comunidade.Da condição de ex-alunos, passam a ser con-siderados pela escola como "delinqüentes"ou "elementos suspeitos". (G.D.A)

� AMANHÃ: DENÚNCIA DE VEREADOR COMPLE-TA UM ANO SEM QUE TENHAM SIDO TOMADASPROVIDÊNCIA

João Paulo Engelbrecht

Page 4: Alunos de escolas do Rio, identificados com siglas do tráfico

CYAN MAGENTA AMARELO PRETO CIDADE 14

CIDADEA14 TERÇA-FEIRA, 7 DE JUNHO DE 2005 JORNAL DO BRASIL

Sem segurança nos corredoresDéficit de inspetores nas escolas abre caminho para aliciamento e envolvimento de alunos com o tráfico de drogas

GU S TAVO DE AL M E I DA E

WALESKA BORGES

Se nas salas de aula, profes-sores têm dificuldades em evi-tar que os alunos mais pobrestenham identificação com o cri-me, nos corredores das escolasa situação se agrava – com pou-cos profissionais nos pátios, ouaté nenhum, crianças e adoles-centes acabam se reunindo emgangues. Os poucos agentesque ainda persistem vivem si-tuações de extrema violência –no mês de abril, um inspetor foiespancado no banheiro de umaescola, na Zona Leopoldina, porum grupo de ex-alunos do Mor-ro do Adeus que invadiu a uni-dade para assaltar alunos da ri-

val (no tráfico) Vila dos Pinhei-ros, no Complexo da Maré.

Os agentes de educação,mais conhecidos como inspeto-res, responsáveis por manter aordem dentro das instituições,estão ficando escassos nas uni-dades de ensino público. Pro-fessores denunciam que emmuitas escolas da prefeitura edo estado, o número de agentesé insuficiente. Em alguns casos,são apenas dois inspetores para

cuidar do comportamento demais de mil alunos. De acordocom o Sindicato Estadual dosProfissionais de Educação (Se-pe), não há concurso públicopara a categoria nas escolas pú-blicas há mais de 10 anos.

Uma professora da EscolaMunicipal Gonçalves Dias, noCampo de São Cristóvão, contaque a unidade tem dois agentesde educação para 1.200 alunos.A unidade, apelidada de “Ca-randiru”, por causa da rebeldiados alunos, recebe estudantesde comunidades carentes comoParque Arará, em Benfica, eTuiuti, em São Cristóvão.

– A prefeitura faz uma eco-nomia porca e o professor acabaassumindo várias funções – in-

digna-se a professora.De acordo com a coordena-

dora-geral do Sepe, Gesa Linha-res, no estado não há concursopúblico para a categoria desde1993. Ainda segundo o Sepe, naprefeitura, o último concursopara agente educador foi em1991. A coordenadora do Sepelembra que o agente educadortem funções importantes noambiente escolar, entre elas,inspecionar o comportamento econtrolar a entrada e saída dosalunos.

– O agente educador é extre-mamente necessário para a se-gurança do aluno e do professornas dependências da escola –assegura Gesa.

A professora de uma escola

na Zona Norte lembra que nemsempre os alunos respeitam osinspetores.

– O inspetor não é polícia e oaluno faz o que bem entende –comenta.

Na noite de 3 de março doano passado, segundo denun-ciou o vereador Eliomar Coelho(PT), os alunos do Programa deEducação de Jovens e Adultos(Peja) no Ciep Nação Xavante,em Inhoaíba, ficaram sem aulaspor causa das ordens do tráfico– o que evidencia as dificulda-des de dar educação a quem sópode estudar à noite.

A Secretaria Municipal deEducação informou que contacom cerca de 500 inspetores. Arede tem 1.054 escolas munici-

pais, 757 mil alunos, 10.871 fun-cionários de apoio, 48.417 pro-fessores. A prefeitura informouainda que já existe um processoem tramitação para realizaçãodo concurso para agente educa-dor. De acordo com a secretaria,a prioridade de alocação dosprofissionais é no período diur-no, tendo em vista a maiorquantidade de alunos, não ha-vendo inspetores no turno danoite. A Secretaria Estadual deEducação informou que para arealização de concursos é ne-cessária negociação entre a go-vernadora Rosinha Matheus e osecretário Cláudio Mendonça.

[email protected] [email protected]

ALÉM DO FATO � ESCOLAS DO MEDOSinvaldo do Nascimento Souza

Escola depredada, atrativo para o tráficoRecentemente, algumas escolas da

rede municipal, localizadas no eixoda Avenida João XXIII, no bairro

de Santa Cruz, na Zona Oeste, foram obri-gadas a dispensar alunos, professores efuncionários antes do encerramento doexpediente, em razão de conflitos entrefacções de traficantes e diante da ação daPolícia Militar. Ninguém desconhecetambém que tal fato já ocorreu com esco-las do eixo da Avenida Antares, conjuntohabitacional do Rollas e outras localida-des da Zona Oeste. Há muito, infelizmen-te, a escola deixou de ser aquele espaçoseguro, ideal e sacralizado, até porque aescola é parte integrante da própria so-ciedade. Se há violência no Rio de Janei-ro, no Brasil e no mundo, é claro que talviolência, em maior ou menor grau, aca-ba interferindo na vida escolar.

Há cerca de quinze anos, a professoraEloísa Guimarães, doutora em educaçãopela PUC-Rio, desenvolveu estudosapontando o abandono das escolas comouma das razões da penetração do crimeentre os jovens. Acredito que tanto a go-vernadora do estado quanto o prefeito dacidade e seus respectivos secretários deeducação tenham conhecimento da si-tuação de risco por que passam alunos,professores, diretores e funcionários dealgumas escolas e colégios do Rio.

Algumas propostas de solução já estãoem andamento. Há programas que evi-denciam a possibilidade da escola conti-nuar sendo um espaço respeitado ondealunos e professores possam conviver deforma harmoniosa. É preciso, no entanto,fazer muito mais. Alunos, professores etoda a comunidade escolar precisam cul-tivar o hábito de valorizar a escola. Comocativar o interesse de um professor poruma determinada escola de periferia se,na sua lotação profissional, ele é obriga-do a trabalhar tão distante de sua casa?

Como fazer com que este mesmo pro-

fissional atue verdadeiramente comoeducador e passe a ter amor pela sua es-cola e afeto para com seus alunos, se eleé obrigado também a conviver com todotipo de violência, diariamente, no deslo-camento de sua residência até a escola,algumas vezes chegando a permaneceraté quatro horas em uma condução, notrajeto de ida e de volta?

Como imaginar uniformidade nos pro-cessos administrativos e determinaçãode horários de funcionamento, conside-rando realidades tão díspares como osbairros da Urca e de Sepetiba, por exem-plo. Será que uma professora que residena Gávea e trabalha na localidade dos Je-suítas, em Santa Cruz, vai chegar com omesmo semblante alegre e prazeroso pa-ra dar suas aulas diárias, tendo que sofreras agruras do trânsito da nossa cidade?

O processo de locação de professores,a despeito da sua boa intenção de supriras escolas mais afastadas dos centros ur-banos, de profissionais de educação, éviolento e extremamente perverso, aca-bando por funcionar como um mecanis-mo de evasão e de rotatividade dos do-centes. Tal problema ocorre, por exem-plo, com as unidades escolares localiza-das na 10ª Coordenadoria Regional deEducação (Santa Cruz e Guaratiba) paraonde são mandados os profissionais con-cursados, como designados a cumpriruma espécie de período de purgação. Osnossos legisladores precisam definir me-lhor os critérios de regionalização, paraque os professores e outros profissionaissaibam exatamente onde irão trabalhar.As escolas, sobretudo aquelas localizadasem comunidades mais afastadas, maispobres e mais desassistidas, precisam serconstantemente visitadas pelas secreta-rias de educação. Os secretários de edu-cação e seus assessores mais próximosprecisam saber melhor do que se faladentro de uma sala de aula, nas reuniões

de professores, nos centros de estudo. Ou-vir a opinião do funcionário, do professore do aluno e não apenas de representa-ções, que nem sempre correspondem deforma fidedigna.

Parece não haver dúvidas de que gran-des escolas com número excessivo de alu-nos oriundos de comunidades diversas,apresentam mais problemas do que aspequenas unidades escolares que aten-dem preferencialmente os moradores deuma parte específica do bairro.

Escolas pichadas, com evidente de-predação do seu patrimônio, costumamser atrativos para o tráfico. Escolas quenão oferecem espaço minimamente sufi-ciente para que seus alunos possam brin-car e circular livremente nos intervalosentre as aulas tendem, de forma muitonatural, a apresentarem problemas deviolência. Programas como o “Paz na Es-cola”, “Núcleo de Adolescentes”, “Pro-grama de Educação Juvenil” e outros queenvolvam práticas esportivas e incentivoàs atividades culturais deveriam ser cadavez mais intensificados, principalmentenas escolas que venham apresentandoproblemas relacionados com a falta de se-gurança, depredação ao patrimônio,ameaças constantes e evasão sistemáticados seus alunos no decorrer de cada anoletivo. Para finalizar, convém semprelembrar as palavras da professora Reginade Assis, ex-secretária de Educação domunicípio do Rio de Janeiro, quando, aofazer o lançamento da proposta educa-cional intitulada Multieducação, em1996, referiu-se ao “precioso e complexouniverso desta cidade (...) numa socieda-de em democratização”. Se reconhecer-mos efetivamente a diversidade do Rio etrabalharmos no sentido da democratiza-ção, estaremos no meio do caminho paraminimizar a situação de risco de alunos eprofessores.Professor de História de uma escola da Zona Oeste do Rio

ESCOLA Jenny Gomes, no Rio Comprido: alunos espancados

Cores da violênciaUma suposta mudança

na cor dos uniformes dosalunos das escolas esta-duais tem preocupado pro-fessores e diretores. Segun-do denúncias dos profissio-nais de educação, a atualcamisa cinza seria substi-tuída por uma branca comdetalhes coloridos e umafaixa vermelha. Os profes-sores acreditam que a corvermelha possa trazer pro-blemas para alunos que mo-ram em comunidades con-troladas por traficantes defacções criminosas rivais.Desde domingo, o JB ve mdenunciado a rivalidadeentre facções levada pelosalunos para os pátios da es-cola.

Segundo a professora deuma escola em Nova Igua-çu, a mudança nas cores douniforme foi comunicada àsdireções das escolas no iní-cio do ano. A troca das cami-sas seria feita em abril .Preocupadas com possíveisdesavenças, as diretorasdas escolas teriam alertadoo perigo para as Coordena-dorias Regionais de Educa-ção (CREs). De acordo com

a professora, a substituiçãodo uniforme teria sido adia-da para o mês de agosto.

– A faixa vermelha podeser vista como uma referên-cia a cor do Comando Ver-melho (facção criminosa).Tenho medo que haja atémortes – comenta a profes-s o ra .

Para a coordenadora-ge-ral do Sindicato Estadualdos Profissionais de Educa-ção (Sepe), Gesa Linhares,a adoção da faixa vermelhanas camisas do uniformecausaria problemas nas es-colas.

– Esta escolha seria umabsurdo e mostraria que osecretário de Educação(Cláudio Mendonça) nãoconhece a realidade das es-colas públicas do Rio – pro-testa Gesa, acrescentadoque o Sepe vai apurar as in-formações dos professores.

A Secretaria Estadual deEducação nega as denun-cias dos professores. O ór-gão informou, no entanto,que há um estudo para amudança no uniforme, masnão há data e modelo pre-v i s t o.

Sob o domínio do crime

Nos três primeiros meses doano passado, o vereadorEliomar Coelho (PT) fezlevantamento de diversasocorrências em escolas do Rio.Hoje o parlamentar se queixade que não foram tomadasprovidências nem criado umgrupo de trabalho paraestudar os problemas. Nasemana passada, Eliomarapresentou um projeto para omunicípio baseado em leicriada pelo deputado estadualAlessandro Molon (PT) emabril, que consiste na criaçãode grupos de trabalho paraestudar formas de evitar aviolência. Seguem algumasdas ocorrências do relato deEliomar:13 DE JANEIRO DE 2004Professores foram obrigados acarregar equipamentosroubados em assalto à EscolaMunicipal Oliveira Viana, emBrás de Pina. Uma professorafoi hospitalizada, com crisenervosa, e pediutransferência.

15 DE JANEIRO DE 2004Assalto ao Ciep AmilcarCabral, em Bangu. Professoreschegaram a ficar como reféns.

19 DE JANEIRO DE 2004Assaltantes voltam ao CiepAmilcar Cabral. Doisprofissionais da escola foramlevados, um deles teve o corpobanhado em álcool em ummorro próximo, mas foramsalvos pela polícia.

12 DE FEVEREIRO DE 2004Briga de gangues em frente àEscola Municipal Liberdade,em Santa Cruz, termina comtrês mortos.

9 DE FEVEREIRO DE 2004Tráfico ordena cancelamentodas aulas na Escola MunicipalJoracy Camargo, na VilaCruzeiro, Penha. A quadrilhacoloca um cartaz na frente daescola avisando que nãohaveria aulas.

1º DE MARÇO DE 2004Escolas São Paulo, Goethee Oliveira Viana, em Brásde Pina, paralisam as aulasno turno da tarde. Nessedia a Escola Municipal SãoPaulo é visitada por trêshomens que ordenam que adireção da escola feche aunidade e ainda transmitaa ordem por telefone àsoutras duas unidades.

João Paulo Engelbrecht

Page 5: Alunos de escolas do Rio, identificados com siglas do tráfico

CYAN MAGENTA AMARELO PRETO

JORNAL DO BRASIL QUARTA-FEIRA, 8 DE JUNHO DE 2005 A17

CIDADE 17

CIDADE

Nascente: Poente:

Crescente: Cheia:

Minguante: Nova:

FlamengoUrcaVermelhaLeme

Rep. do PeruB. IpanemaSouza LimaDiabo

ArpoadorMª. QuitériaPaul RedfernBart. Mitre

Recomendadas Não recomendadas

Visc. de Alb.São ConradoPepinoQuebra-Mar

PepêBarramaresAlvoradaPontal

MacumbaPrainhaGrumariGuaratiba

O sol predomina na maior parte do estado, apenas o litoral norte continua com chuvas isoladas e fracas geradas por instabilidades vindas do mar. Temperaturas em rápida elevação e faz calor à tarde. Mar com baixa agitação e ondas inferiores a 1 metro

Hora Altura Hora Altura

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RIO DE JANEIRO

AltaBaixa

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AltaBaixa

MACAÉ

AltaBaixa

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VOLTA REDONDA

RIO DE JANEIRO

PETRÓPOLISTERESÓPOLIS

NOVA FRIBURGO

VARRE-SAI

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Umidade relativa: 56%

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JOÃO PESSOA

MACEIÓ

TERESINA

Região Sudeste

Região Centro-Oeste

Região Norte

Região Nordeste

Região Sul

Tempo seco em boa parte da região. A chuva enfraquece no Espírito Santo

Tempo aberto, seco e com temperaturas elevadas na maior parte da região

Chuva atinge o oeste e norte da região, especialmente o Amazonas. Sol no Tocantins

As chuvas continuam atingindo a costa leste da região, entre a Bahia e o Rio Grande do Norte

Tempo seco e quente na região. Chove apenas na fronteira gaúcha com o Uruguai

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NO BRASILPREVISÃO PARA OS PRÓXIMOS DIAS

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Outras capitais

Tels.: (11) 3816 2888www.tempoagora.com.br

Análise:

Fontes: Master, IAG, USP, CPTEC, INPE, MCT

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1.15m0.43m

Ensolarado

Parcialmente nublado Pancadas de chuva

Chuvas com trovoadas

Chuvoso

Encoberto

LOT E R I A S

DUPLA SENAConcurso 359 – 07/06/2005

13 - 27 - 33 - 42 - 44 - 5002 - 22 - 23 - 24 - 45 - 50

QUINAConcurso 1456 – 07/06/2005

08 - 10 - 17 - 68 - 76

ENTREVISTA /VERA MALAGUTI BATISTAGustavo de Almeida e Waleska Borges

‘Não há umprojeto paraa juventude’

A professora Vera MalagutiBatista atualmente é secretá-ria-executiva do Instituto Ca-rioca de Criminologia, conse-lheira no Rio de Janeiro para oInstituto Latino Americano dasNações Unidas para a Preven-ção do Delito e Tratamento doDelinqüente (Ilanud) e aindadá aulas de criminologia naUniversidade Cândido Men-des. Para Vera, que já trabalhoucom projetos especiais de Segu-rança Pública nos dois governosde Leonel Brizola, o processo decriminalização dos jovens e doque acontece nas comunidadescarentes aumenta o problemada violência nas escolas.

A senhora acha que há umprocesso de identificação comas siglas do crime entre os jo-vens, mesmo aqueles sem en-volvimento efetivo com a vendade drogas?

A característica mais mar-cantes dos nossos tempos é acriminalização de problemas ehábitos das comunidades. Tan-to é que quando um menino declasse média, branco, é presopor porte de drogas, o processopenal tem discurso diferentedaquele que ocorre quando opreso é um menino negro e po-bre, que more em uma comuni-dade. Mas o problema é esse:

quanto mais intensificamos oprocesso de criminalização,mais aprofundamos o proble-ma, pois assim produzimos este-reótipos.

Ao ver certas práticas comoameaçadoras ou criminosas,mesmo hábitos de lazer como ofunk, a sociedade tende a gerarcrime?

Estamos criando a profeciaauto-realizável. Nós ajudamosos alunos de comunidades ca-rentes a incorporar a identida-de à margem da sociedade. Cri-minaliza-se, por exemplo, até ofunk, que é uma grande graçadas favelas. A nossa sociedadebarbariza o que deveria ser vis-to como conseqüencia natural.Quando se fala, por exemplo,em funk “proibidão”, atribui-seà música uma suposta “apolo-gia”, quando na verdade aquiloé a crônica do dia-a-dia. O fato éque não existe um projeto paraa juventude popular brasileira,principalmente quando se falade escola pública, na qual a ju-ventude seja protagonista.

Filhos de policiais na linha de fogoTraficantes já invadiram direção de escolas duas vezes para tentar descobrir que alunos teriam parentesco com agentes da lei

GU S TAVO DE AL M E I DA E

WALESKA BORGES

A violência nas escolas jáatingiu até o sigilo a que têm di-reito os pais de alunos na redepública do Rio de Janeiro. Ban-didos já invadiram escolas parasaber da direção as profissões depais dos alunos – professores ediretores de duas instituiçõesmunicipais na Zona Oeste da ci-dade confirmam a informação.Por duas vezes, grupos de trafi-cantes tentaram saber se haviafilhos de policiais matriculadosnas unidades. Segundo denún-cias dos professores, os trafican-tes queriamque os direto-res transmitis-sem um reca-do ameaçadorpara os alu-nos: eles iriamacabar com to-dos os paren-tes de po l i-ciais.

As intimidações ocorrem de-pois de conflitos entre PMs e tra-ficantes.

As ameaças aconteceram nofinal do ano passado e início des-te ano letivo. As escolas nos bair-ros Jabour e Senador Camarásão cercadas por favelas contro-ladas por traficantes da facçãocriminosa Terceiro Comando.

– As diretoras responderamque não sabiam. Logo depois, foiconvocada uma reunião com ospais dos alunos. As professorasaconselharam as mães que tives-sem filhos de policiais de quenão os levassem para escola porum ou dois dias – lembra a pro-

fessora.Segundo a professora, apesar

das intimidações, as escolas re-cebem determinações das Coor-denadorias Regionais de Educa-ção para continuarem abertas.

O presidente da Associaçãode Ativos e Inativos da PolíciaMilitar (Assinap), Miguel Cor-deiro, conta que no início do anofoi procurado por policiais daZona Oeste que queriam sertransferidos para o interior doestado.

– Eles disseram que seus fi-lhos estavam sendo ameaçadospor alunos ligados a traficantes –conta Cordeiro.

A Secreta-ria Municipalde Educaçãodiz que não háregistros deameaças nasescolas. O co-mandante do1 4 º B P M(Bangu), te-

nente-coronel Miguel Carlou,disse que desconhece o fato:

– O batalhão conta com duasviaturas e uma moto que atuamdiariamente na ronda escolar –acrescenta.

O representante da Assinaplembra que a situação de violên-cia nas escolas públicas era dife-rente na década de 80.

– Naquela época, os Cieps doBrizola contavam com a presen-ça de policiais militares e bom-beiros – comenta Cordeiro.

Segundo o presidente do Sin-dicato dos Policiais, FernandoBandeira, por causa da violên-cia, o órgão orienta aos filhos depoliciais que não digam na esco-

POLICIAIS cercam escola em Vila Isabel durante tiroteio, na semana passada: na Zona Oeste, ameaças do tráfico já chegaram aos filhos

João Paulo Engelbrecht

la a profissão do pai.– Eles devem dizer que são fi-

lhos de funcionários públicos.Há traficantes infiltrados em vá-rios lugares – justifica.

O tenente Melquisedec Nas-cimento, presidente da Associa-ção dos Militares Auxiliares eEspecialistas do Rio de Janeiro(Amaerj), lembra que muitosdos policiais não têm condiçõesfinanceiras de pagar escolasparticulares para seus filhos.

– O soldado da PM no Rio ga-nha R$ 700 enquanto em SãoPaulo o sálario é de R$ 1.355 –compara o oficial PM, que desa-bafa:

– Estes episódios demons-tram que muitas vezes a socieda-de marginaliza a polícia, quandodeveria marginalizar o bandido.Afinal, o que aconteceria se tra-ficantes estivessem querendosaber das escolas quem é filhode economista, engenheiro, ad-vogado ou médico? A reação nãoiria ser imediata? As pessoas sóestão sabendo que crianças fi-lhas de policiais estão sob amea-ça porque o Jornal do Brasil re -velou o assunto. Se não, haveriao silêncio, que acaba sendo cúm-plice involuntário – afirma Mel-quisedec, que no entanto esperaque o quadro melhore:

– A atual gestão em Seguran-ça tem ouvido os policiais e a so-ciedade. Não tem porque nãoouvir também um setor primor-dial como o da educação. Tenhocerteza de que o secretário Itagi-ba logo convocará professores ediretores para o diálogo.

A coordenadora-geral do Sin-dicato Estadual dos Profissio-nais de Educação (Sepe), GesaLinhares, cobra providênciasdas autoridades:

– Pedimos, com urgência,uma audiência pública com ospoderes estadual e municipal.

Desde domingo o Jornal doBrasil vem revelando a influên-

cia do crime nas escolas do Riode Janeiro, principalmente naspúblicas próximas de comuni-dades. As reportagens mostramos dois lados desta influência:um é o poderio do tráfico modi-ficando decisões de diretores eprofessores. O outro, a identifi-cação cada vez maior de jovenscarentes com as siglas do tráficode drogas e seus exemplos.

– Muitas vezes os jovens vol-tam para as favelas e, para ga-nharem status com os bandidos,revelam que chegaram equipa-mentos novos nas escolas – reve-la a professora B., que já lecio-nou em escolas de Brás de Pina.

DIOGO LORDELLO DE MELLO1 ANO DE SAUDADE

A Direção, funcionários e colaboradores do Instituto Brasileiro deAdministração Municipal – IBAM convidam para missa de 1 ano defalecimento do inesquecível Prof. Diogo Lordello de Mello, que serácelebrada amanhã, dia 9 de junho, às 10:00 horas, na Paróquia SantaMônica, Av. Ataulfo de Paiva, 527, Leblon – Rio de Janeiro.

EDGARD ALBERTO ROMERO AMORIM(MISSA DE 7º DIA)

O Presidente do Conselho Deliberativo e oComodoro do Clube dos Caiçaras convidamsócios, parentes e amigos do saudoso Ex-Comodoro, Benemérito e Conselheiro

Vitalício, EDGARD ALBERTO ROMERO AMORIM,para a Missa de 7º Dia, a ser realizada no dia08/06/2005 (quarta-feira), às 19h 30, na Igreja SantaMônica (Av. Ataulfo de Paiva, 527 – Leblon).

DIOGO LORDELLO DE MELLO1 ANO DE SAUDADE

Jacy, Nadja, Sergio, Diego, Flavio, Sandra, Mara, Isidoro.Esposa, filhos, neto, genro, nora e amigos, comovidos, convi-dam para missa de 1 ano de falecimento que será celebradaamanhã, dia 9 de junho, às 10:00 horas, na Paróquia SantaMônica, Av. Ataulfo de Paiva, 527, Leblon – Rio de Janeiro.

Page 6: Alunos de escolas do Rio, identificados com siglas do tráfico

CYAN MAGENTA AMARELO PRETO

JORNAL DO BRASIL QUINTA-FEIRA, 9 DE JUNHO DE 2005 A17

CIDADE 17

CIDADE

Técnicos alertamsobre crise no Guandu

Risco de desabastecimento preocupaFLORENÇA MAZZA

Ameaçado pelo esgoto, pelaexploração clandestina deareia e pelo despejo de lixo e re-síduos sólidos, o Guandu pedesocorro. Na Semana do MeioAmbiente, ecologistas chamama atenção para o estado de vul-nerabilidade do rio, que abaste-ce 80% da Região Metropolita-na, ou seja, cerca de 8,5 milhõesde pessoas.

– Há um risco permanentedo desabastecimento. O colap-so é anunciado, não se sabequando vai acontecer, mas umdia irá – alerta o engenheiroPaulo Canedo, coorde-nador do Laboratóriode Hidrologia da Coor-denadoria dos Progra-mas de Pós-Graduaçãoem Engenharia (Cop-pe) da UFRJ.

Segundo Canedo,em determinados mo-mentos, o nível de con-taminação da água é tão eleva-do que a Cedae só consegue tra-tar 20% do volume que chega àestação de tratamento doGuandu. Um dos maiores pro-blemas, explica Canedo, é o fa-to de os rios Poços, Queimados eIpiranga desaguarem a apenas300 metros da estação, despe-jando até 4 bilhões de litros deesgoto por dia no Guandu.

– É uma água negra que sejunta à água do rio – diz ele.

O diretor de produção egrande operação da Cedae, Jor-ge Luiz Briard, nega que haja orisco de desabastecimento daRegião Metropolitana.

– Hoje, mesmo com a baciamal tratada, com esgoto e algas,a estação é capaz de tratar o vo-

lume de água necessário para oabastecimento – afirma Briard,acrescentando que a estação deGuandu trata 40 mil litros deágua por segundo.

Segundo Briard, nos últimosquatro anos em apenas duasocasiões – em 2001 e 2003 – otratamento foi reduzido a 25%da capacidade de produção. Eleadmite, entretanto, que o altoíndice de esgoto na bacia enca-rece o tratamento da água: sãoR$ 3 milhões por mês só comprodutos químicos.

– Quando chove muito, gas-tamos em 10 mil litros de água aquantidade de produtos usada

para 40 mil litros – dizBriard.

Membro titular doComitê da Bacia Hidro-gráfica do Guandu, oambientalista SérgioRicardo de Lima alertaainda para a queda novolume de água do rio,causada, entre outros,

pela devastação da Mata Atlân-tica, pela retomada da produ-ção industrial e pelo crescimen-to desordenado das cidades noentorno do Guandu.

A extração clandestina deareia nas margens do rio é outraameaça. Segundo o deputadoestadual Carlos Minc (PT), pre-sidente da Comissão de MeioAmbiente da Alerj, são 14areais ilegais só no entorno doGuandu.

– Nosso bem mais precioso émuito maltratado no Rio. Aságuas são usadas para receberlixo e esgoto. O mau gerencia-mento dos rios é a principalcausa do empobrecimento doNorte e Noroeste do estado. –denuncia Sérgio Ricardo.

Água para diluir esgotoO engenheiro Paulo Canedo

garante que, se a bacia do Guan-du fosse melhor gerenciada, nãoseria necessária a captação deum volume tão grande de águado Paraíba do Sul. Segundo ele,boa parte dos 120 metros cúbi-cos desviados por segundo parao Guandu, na transposição emSanta Cecília, são usados paradiluir esgoto e a água salgada daBaía de Sepetiba.

– A água é usada como umarolha – diz Canedo.

Sérgio Ricardo explica queboa parte da poluição é conse-qüência dos pólos industriais elixões no entorno do Guandu.Segundo o ambientalista, só noEstado do Rio, 50 cidades lan-çam esgoto sem tratamento noParaíba do Sul, totalizando mais

de um bilhão de metros cúbicosde esgoto por segundo.

– É fundamental estabelecera racionalidade da água nos rios– afirma Canedo.

O engenheiro alerta aindapara a possibilidade de o Estadode São Paulo passar a recolher15 metros cúbicos de água do Pa-raíba do Sul por segundo, o quedeixaria o Rio mais fragilizado.Briard assegura, no entanto, quese São Paulo passar a utilizarágua do rio a Cedae vai tomar asmedidas necessárias para man-ter o volume e o nível de capaci-tação para o estado. Ele acreditaque com o lançamento do PlanoDiretor do Guandu, que será fi-nanciado pela Agência Nacionalde Águas, a situação na bacia vaimelhorar como um todo.

Segundoengenheiro,Cedae tratasó 20% daágua devidoao esgoto

Violência nas escolasprejudica 120 mil

Documento reservado de reunião revela que prefeitura já trabalhava no problema

GU S TAVO DE AL M E I DA E

WALESA BORGES

As escolas da rede munici-pal do Rio de Janeiro sofreramcom a violência no primeiro se-mestre do ano passado a talponto que 120 mil alunos, dos1.200.000 alunos matriculadosdo maternal ao Programa deEducação de Jovens e Adultos(Peja), tiveram o ensino preju-dicado. A informação vem derelatório reservado de reuniãorealizada entre a secretáriamunicipal de Educação, SôniaMograbi, representantes doSindicato Estadual dos Profis-sionais de Educação (Sepe) eintegrantes do Conselho Muni-cipal de Educação. No relató-rio, o Sepe se coloca contra oadicional de periculosidadepedido por alguns professoresque trabalham em áreas caren-tes, constantemente sob amea-ças.

A violência foi tema da reu-nião no dia 15 de julho do anopassado, sob dois pontos de vis-ta: primeiro, o da proximidadecom as favelas e com áreas dedisputa do controle da vendade drogas. E por último, o pon-to de vista dos professoresagredidos por alunos e atémesmo pais de alunos da redemunicipal.

Diz o documento, em seu in-ciso 23, sobre o problema deviolência nas escolas:

“(...) A Rede Globo conta-tou a respeito de escolas fecha-das. Existe o levantamento deque mais de 10% dos alunos fo-ram prejudicados com a faltade aulas e com isso não há a ga-rantia do direito constitucionalcom a falta de aulas. (...)

O Sepe se posicionou contrao adicional de periculosidade,pois senão temos que colocartoda a cidade com esse direito.Os professores receberiam e osalunos não receberiam? O Es-tado tem que garantir que sepossa trabalhar. Quando há ris-co, a direção junto à CRE (Co-ordenadoria Regional de Edu-cação) tem que avaliar e, se foro caso, fechar a escola. É muitodelicada esta decisão, pois anão garantia do direito de ir evir está prejudicando o proces-so de aprendizagem (...)

O diretor tem autonomiapara fechar a escola nos casosde impedimento provocadospela violência, porém precisaentrar em contato com a CRE,

informando que há necessida-de de fechar a escola. A secre-taria tem que saber logo. Nãopode saber pela imprensa”.

A professora GuilherminaRocha, integrante do ConselhoMunicipal de Educação e doSepe, não confirmou participa-ção na reunião de 15 de julho,mas disse ontem que o sindica-to pede mais autonomia paraque as escolas tomem este tipode decisão. Guilhermina tam-bém confirmou a posição doSepe, contra o adicional de pe-riculosidade.

– Em mais de mil escolas,em uma cidade onde a violên-cia pode atingir qualquer lugarem todo instante, como deter-minar que escola terá um cará-ter perigoso? O poder públiconada faz. A situação no municí-pio talvez seja mais grave por-que a segurança pública não é

responsabilidade municipal –diz a professora, ressaltandoque hoje trabalha em uma es-cola da Zona Oeste na qual a si-tuação já foi de perigo.

– Hoje está tudo bem, masquem garante que a situaçãonão mudaria? E quem garanteque eu não saia da escola de-pois de um dia duro de traba-lho e não seja atingida por umabala perdida? O Sepe defendeos profissionais que são opri-midos, tanto a opressão buro-crática quanto a social, na qualos governos impedem os pro-fessores de falar, quanto a so-cial, onde a violência reprime.Os professores hoje vivem nocárcere privado do silêncio –diz Guilhermina, acrescentan-do que o sindicato tem recebi-do denúncias até mesmo depais de alunos que batem emprofessores, nas comunidades

mais afastadas.O prefeito Cesar Maia reco-

nhece os problemas mas vê nafalta de denúncias um entravepara a solução.

– É uma avaliação muito di-ficil pois não temos caso deconstrangimento a professoresem favelas – disse o prefeito.Quanto aos números faladosna reunião sobre a quantidadede alunos prejudicados, Cesaré lacônico:

– As aulas se recuperam enesta mesma proporção empouco tempo.

O prefeito, porém, vê errosno passado e tem esperançasno futuro:

– (Este estado de coisas foicausado pelas ) falhas seguidasdos governadores na área deSegurança Pública. Mas ascrianças estão salvas na medi-da em que estão nas escolas.

TRECHOSDORELATÓRIO reservado da reunião com Secretaria de Educação: “Não pode saber pela imprensa”

Page 7: Alunos de escolas do Rio, identificados com siglas do tráfico

CYAN MAGENTA AMARELO PRETO

JORNAL DO BRASIL SEXTA-FEIRA, 10 DE JUNHO DE 2005 A15

CIDADE 15

CIDADE

LOT E R I A S

QUINAConcurso 1457 – 09/06/2005

14 - 21 - 22 - 59 - 73

ALUNOAGREDIDO em escola na Zona Oeste: pesquisa do Inep mostra que pais têm conhecimento do alto índice de brigas perto das unidades

Professores vivem nafronteira do medo

Sindicato já registrou agressões de pais de alunos e ameaças de adolescentes

GU S TAVO DE AL M E I DA E

WALESKA BORGES

Babá, segurança, psicólogo,médico. E professor. Cinco fun-ções por um salário que não dápara pagar uma. Assim é a vidados professores da rede públicano Rio de Janeiro, que vivem nocárcere privado do silêncio, en-tre o regulamento das secreta-rias de Educação e a ameaça dealunos que se identificam com ocrime. Alguns, como informamdepoimentos de professoras ou-vidas pelo Jornal do Brasil, efe-tivamente ligados ao tráfico dedrogas e ao banditismo, levan-do para outros alunos a má in-fluência e o risco de vida.

No ano passado, em reunião

numa das coordenadorias re-gionais de educação do municí-pio, conta uma professora, foirelatado que um aluno exibiuorgulhoso uma arma dentro dasala de aula.

– A capacitadora tentou des-viar o assunto, mas os professo-res perguntaram à colega queatitude a direção tomou. Eladisse que a diretora a criticou,dizendo que deveria ter tomadoa arma do aluno – diz uma cole-ga da professora denunciante,em fax enviado ao Jornal doBr asi l esta semana. No fax aprofessora relata diversos casosde ameaças.

– O Sepe (Sindicato Esta-dual dos Profissionais de Edu-cação) tem registros de ataques

a professores. No dia 20, nós va-mos nos reunir com a secretáriamais para tratar destes assun-tos – disse a representante doSindicato Estadual dos Profis-sionais de Educação, Guilher-mina Rocha.

– Não podemos abrir mão deproteção e deixar que a coisachegue ao ponto de um pai dealuno bater em um professor,como já registramos.

As pesquisas mais recentesconfirmam os problemas vivi-dos pelos professores em âmbi-to nacional. A mais recente de-las foi divulgada em maio peloInstituto Nacional de Estudos ePesquisas Educacionais AnísioTeixeira (Inep). Foram entre-vistados 10 mil pais de alunos

da rede pública– inclusive noRio – na Pesquisa NacionalQualidade da Educação: a esco-la pública na opinião dos pais.Eles falaram sobre violência ex-tra-escolar e relataram diversoscasos neste sentido.

Um percentual de 30% afir-mou que há roubo a alunos, pro-fessores ou funcionários dentrodesses estabelecimentos, 52%relataram brigas violentas den-tro e perto da escola, 15,3% de-nunciaram consumo de drogasnessas unidades, 6,1% que hátráfico de drogas dentro da es-cola e 24,5% dizem haver gan-gues dentro ou perto da escola.Um percentual de 12,8% dospais afirma que há ou já houveameaças à vida de pessoas.

Quanto maior, mais perigosoEstudo do Instituto Latino

Americano das Nações Unidaspara Prevenção do Delito e Tra-tamento da Delinquëncia (Ila-nud), iniciado em 1997, mostraque as escolas com maior quan-tidade de alunos estão maispropensas a terem casos de vio-lência em um nível mais grave.Com apoio do Fundo das Na-ções Unidas para a Infân-cia/Unicef e da ConfederaçãoNacional dos Trabalhadores em

Educação/CNTE, foram ouvi-dos 52 mil professores dos siste-mas públicos de ensino por todoo país.

A exemplo do método usadopelo Jornal do Brasil na sérieEscolas do Medo, o estudo distin-guiu três tipos de violência: asagressões entre os alunos, asameaças aos professores e asdepredações de patrimônio.

Escolas com mais de 2.200alunos e localizadas em capitais

– portanto, em metrópoles re-gionais – são as que apresentamo quadro mais grave de ocorrên-cias. O Rio de Janeiro ficou como menor índice entre todos osestados, 1,2% dos relatados.Mas uma possibilidade é o si-lêncio que é imposto aos profes-sores – como mostrou ontem oJornal do Brasil, há orientaçãode não falar à imprensa.

Silêncio, aliás, que chegou àPolícia Militar. Por causa de de-

clarações dadas ao Jornal doBrasil na reportagem publica-da quarta-feira na série Escolasdo Medo, o tenente Melquise-dec Nascimento, presidente daAssociação dos Militares Auxi-liares e Especialistas (Amae),foi convocado para depor naCorregedoria da Polícia Militar– mesmo sem ter feito a denún-cia de ameaças a filhos de poli-ciais nas escolas por parte detraficantes.

ONU entra nocombate à violênciaPrefeitura vai receber apoio até 2008

RI CA R D O ALBUQUERQUE

O Escritório das NaçõesUnidas contra Drogas e Cri-me (UNODC) e a Prefeiturado Rio vão assinar um con-vênio no valor de US$ 7,1milhões para implantar eaprimorar programas decombate à violência e aouso de drogas em comuni-dades carentes, conformeadiantou o colunista Ricar-do Boechat, do Jornal doBrasil. O projeto está pre-visto para começar em ju-lho nas favelas da Maré, Mi-neira e Acari, por teremapresentado os mais baixosíndices de desenvolvimen-to humano (IDH), segundodados do Instituto Brasilei-ro de Geografia e Estatísti-ca (IBGE), e as mais altasincidências de criminalida-de, de acordo cominformações da Se-cretaria de Estadode Segurança Públi-ca.

Jovens, ex-presi-diários, travestis,população de rua eusuários de drogassão os principais al-vos do programa, que seráestendido a outras comuni-dades cariocas até dezem-bro de 2008, quando termi-na o convênio entre a pre-feitura e as Nações Unidas.Universidades, ONGs e ins-titutos de pesquisa serãocontratados para partici-par, avaliar e ajudar na ex-pansão do projeto, que ser-virá de modelo para as Na-ções Unidas em outros paí-ses com problemas de altaincidência de violência ur-bana e uso de drogas.

– As iniciativas da pre-feitura de prevenção à vio-

lência em área de risco fo-ram reconhecidas pela Or-ganização das Nações Uni-das (ONU). Essa parceriavai aperfeiçoar esse e ou-tros programas já existen-tes e criar outros com apoioda sociedade civil para quep o s s a m o s m i n i m i z a r aquestão da violência e o usode entorpecentes – observaRodrigo Salgueiro, coorde-nador do Núcleo de Direi-tos Humanos da SecretariaMunicipal de AssistênciaSocial (SMAS) e interlocu-tor no Rio para a ONU.

Cinco especialistas indi-cados pelas Nações Unidasirão gerenciar o programanos 42 meses de duração ecriar um núcleo adminis-trativo que garanta a execu-ção das iniciativas, em par-ticular as ligadas ao consu-

mo de drogas . Deacordo com o estudodo Núcleo de Estu-dos e Pesquisas emAtenção ao Uso deDrogas (Nepad), daUerj, as drogas líci-tas – tabaco e álcool– lideram o consumoentre jovens em ida-

de escolar, seguidos dostranqüilizantes, inalantes,maconha, cocaína e drogassintéticas. O coordenadorde Saúde Mental da Secre-taria Municipal de Saúde,Hugo Fagundes, lembraque crianças com menos dedez anos já fazem parte des-te universo de consumido-re s .

– Quanto mais jovem,mais assustador porque apersonalidade não está for-mada, trazendo uma sériede dificuldades para a so-cialização da criança – ob-serva Fagundes.

Convênioseráassinado emjulho novalor de US$7,1 milhões

RESUMO

R O C I N H A

Acusado de assaltarFlora Gil é presoÉdson de Oliveira Moura,26, acusado de terparticipado da tentativa deassalto a Flora Gil, mulherdo ministro da Cultura,Gilberto Gil, foi presoontem. Ele foi detido noLargo do Boiadeiro, naRocinha, e teve a prisãotemporária decretada por30 dias. Édson, quetrabalhava em um moto-táxi, admitiu ter dadocobertura ao homem quefez 16 disparos contra ocarro de Flora, que nãoficou ferida porque oveículo era blindado. Deacordo com a polícia, Édsondisse não ter feito osdisparos. Flora e sua irmã,Fátima, estavam emBotafogo quando foramabordadas por dois homens.

Z O N A O E S T E

PMs negociam drogasem rádio de bicheiroA Polícia Civil cumpriuontem mandados de prisãoe de busca e apreensão emcasas, escritórios e galpõesde empresas onde foramregistrados os principaisconfrontos entre grupos quelutam pelo controle daexploração das máquinas decaça-níqueis. Ontem,gravações da políciamostraram que doispoliciais militaresnegociaram drogas pormeio deradiocomunicadores daempresa de um bicheiro. Ainvestigação também apuraa relação de outrocontraventor com onarcotráfico. A guerra pelocontrole das máquinas naZona Oeste fez três mortosnos últimos oito dias.

João Paulo Engelbrecht

Page 8: Alunos de escolas do Rio, identificados com siglas do tráfico

CYAN MAGENTA AMARELO PRETO

[email protected] J O R N A L D O B R A S I L � S Á B A D O, 1 1 D E J U N H O D E 2 0 0 5 A13

CIDADE 13

Cidade dividida até nos pátiosCrise em conselhos tutelares deixa à mostra influência das facções sobre pais na escolha do colégio dos filhos

GU S TAVO DE AL M E I DA E

WALESKA BORGES

Cansada de ver a filha R.ter as aulas interrompidaspor causa dos conflitos entretraficantes e policiais, noMorro dos Macacos, em VilaIsabel, a mãe procurou on-tem o conselho tutelar res-ponsável pelo bairro. Segun-do a assistente social do con-selho, Gelza de Oliveira San-tos, que recebeu a denúncia,há duas semanas, professo-ras e diretoras estariam sen-do impedidas de abrir as por-tas da escola pública. Se deum lado, os conselhos tutela-res do município vivenciam ocrescimento da violência nasescolas públicas do Rio, dooutro, sofrem com falta de es-trutura para analisar casos edenúncias que chegam até osó rg ã o s .

No município, há dez con-selhos tutelares distribuídosem áreas de planejamento,cada um deles conta com cin-co conselheiros. Além dos ca-sos de denúncias, os profis-sionais acumulam a ativida-de de acompanhar centenasde processos de defesa dos di-reitos das crianças e adoles-centes.

– O conselho da área de Vi-

la Isabel abrange oito bair-ros. Atendemos casos quevão desde os abusos, evasãoescolar, agressões, até os me-nores em situação de rua. –informa Gelza, lembrandoque são comuns os atendi-mentos de situações de vio-lência nas escolas das comu-nidades próximas de favelas:

– Há vários pedidos depais que querem transferir osfilhos que estudam em áreasonde o tráfico de dro-gas é rival do local emque moram – contaGelza.

A presidente doConselho Tutelar deBangu, Miram da Ro-cha, revela que casosde violência nas esco-las chegam diaria-mente na unidade. A entida-de é responsável por umaárea que abrange cerca de700 mil pessoas.

– Temos registros de meni-nos que se agridem, professo-res agredidos e ameaças den-tro das escolas. Muitas vezes,diretores e professores nãoquerem registrar o caso nadelegacia e levam o proble-ma até o conselho – avalia Mi-riam.

A conselheira também re-lata que a unidade é procura-

da por pa i s que queremtransferir os filhos de escolapor causa da rivalidade dotráfico de drogas.

– No campo educacionalnão é correto determinaráreas onde as crianças devemestudar, mas temos que agirde acordo com a realidade danossa cidade – lamenta Mi-riam, que reclama da falta deestrutura para atender os ca-sos que chegam ao conselho:

– Atendemos àsdelegacias, hospitais,visitas domiciliares,à 1ª Vara da Infânciae Juventude e aindaaos casos da educa-ção – enumera.

Segundo Miriam,na área de Bangu, de-veria existir pelo me-

nos dois conselhos tutelares.O Conselho Nacional dos Di-reitos da Criança e do Ado-lescente (Conanda) reco-menda a implantação de umconselho tutelar para grupopopulacional de 200 mil habi-tantes.

Apesar da orientação doConanda, no Rio, há situa-ções como o Conselho Tute-lar da Zona Sul que atende aquase um milhão de pessoas.Assim como muitos dos Con-selhos instalados, a Zona Sul

dispõe de apenas um veículopara atender a unidade, alémde um celular – apenas parareceber ligações – e uma li-nha de telefone fixo.

– Na Zona Sul, o ideal seriaa implantação de mais cincoconselhos tutelares. Hoje, oconselho acumula cerca de20 mil processos. É impossí-vel um atendimento persona-lizado – diz a conselheira Ma-ria Aparecida Venturini.

Os problemas de estruturatambém são enfrentados pe-los conselhos tutelares doMéier e Centro.

– O conselho do Centro écomparado a emergência doSouza Aguiar, recebemos ca-sos de todo o Rio e trabalha-mos como estivéssemos en-xugando gelo – lamenta oconselheiro Jorge Freire.

O vereador Edson Santos(PT) lembra que, no ano pas-sado, apresentou uma emen-da orçamentária para am-pliação dos conselhos tutela-res no município. A emenda,no entanto, foi vetada peloprefeito Cesar Maia.

– A lei de origem foi muitoruim e os conselhos não têmoperado adequadamente.Por isso, não se pode ampliaro que não vai bem – justica op re f e i t o.

Mãepr ocuraconselhomas nãoconseguesoluções

CRIANÇAS brincam perto de escola no Rio: conselho tutelar admite que pais não colocam filhos em escolas de áreas de facções rivais

Vereador quer a criação de novos conselhosNa emenda orçamentária

que prevê a ampliação do nú-mero de conselhos tutelaresno Rio, o vereador EdsonSantos (PT) sugeriu a criaçãode pelo menos mais cincounidades. Na justificativa daemenda, o vereador lembraque os conselhos tutelares domunicípio atendem um índi-ce populacional muito eleva-do. De acordo com Edson, afalta de estrutura dos conse-lhos não assegura um atendi-mento eficiente à criança eao adolescente.

Segundo levantamento dovereador, através de dadosestatísticos do Iplan-Rio, oCentro tem 268.280 habitan-tes, a Tijuca 574.135, Ramos374.792, Méier 858.407, Ma-

dureira 529.121, Jacarepa-guá 690.305, Bangu 693.735,Campo Grande 585.567 eSanta Cruz 311.282. Nestasmesmas áreas, estão dividi-dos os 10 conselhos tutelaresdo município.

– Como se vê, urge que a

administração municipalatue o quanto antes na im-plantação dos novos conse-lhos tutelares, não apenaspela recomendação do Con-selho Nacional dos Direitosda Criança, mas, principal-mente, por ser um pedido da

cidadania por uma atençãode qualidade às nossas crian-ças e adolescentes – avaliaEdson Santos.

Na medida orçamentária,vetada pelo prefeito, os ve-readores destinaram R$ 50mil ao projeto.

João Paulo Engelbrecht - 2/6/2005

COMISSÃO DE LICITAÇÕESAVISO

LICITAÇÃO: TOMADA DE PREÇOS Nº 05/2005

PROCESSO: Nº 3257/2005

OBJETO: Contratação de fornecimento de cartuchos para impressora Epson C60, preto, refe-rencial TO 28201.REUNIÃO: 05/07/2005, às 13:00 horasO edital estará à disposição dos interessados na COMISSÃO DE LICITAÇÕES, na Rua D.Manuel s/nº, Sala 102, andar térreo do Palácio Tiradentes, na Praça XV, Centro, das 13 às 17horas. Mediante a apresentação do carimbo do CNPJ com a razão social do interessado.

Rio de Janeiro, 10 de junho de 2005.

Conselho para juízesU ma orientação aos juí-

zes que ingressam namagistratura e um ganhopara a sociedade, que tem agarantia de bons profissio-nais na Justiça. Dessa forma,o desembargador José Joa-quim da Fonseca Passos re-sume a importância do ser-viço prestado pelo Conselhode Vitaliciamento e aindacompleta: “uma experiênciapioneira do Judiciário doRio que se dá de forma trans-parente”. Coordenador doconselho, o magistrado ex-plicou como é feito o acom-panhamento dos juízes du-rante os dois primeiros anosde carreira, em que eles nãotêm a garantia da vitalicieda-de, ou seja, podem perder afunção com base em inqué-rito, com direito à ampladefesa. Leia os principais tre-chos da entrevista.

Exame de sentenças – “Aoingressar na carreira, o juizpassa por um estágio pro-batório de dois anos. Duran-te esse período, ele ainda nãotem uma das prerrogativas,a vitaliciedade, ou seja, podeperder a função com base eminquérito, mediante ampladefesa. Nesses dois anos, oConselho de Vitaliciamento,formado por 16 desembar-gadores aposentados, acom-panha o desenvolvimentodo juiz e dá orientações, masnão lhe cabe punir. Nos pri-meiros quatro meses, osjuízes novos mandam, cadaum, cinco sentenças, pormês, para serem examinadaspelo conselho, que estabele-ce um conceito, além de es-tarem ligados à Escola deMagistratura do Estado doRio de Janeiro (Emerj), par-ticipando de conferências, ede atuarem como juízes au-xiliares nas varas sob a orien-tação dos juízes titulares.”

Os relatórios – “Ao longodos próximos meses, elesenviam relatórios trimes-trais de atividade ao conse-lho, que devem conter, alémde no mínimo 15 e no má-ximo 30 sentenças, infor-mações sobre suas ativida-des, grau de organização,metodologia, produtivida-de. Esse relatório é distri-buído a um relator que ficavinculado a esse juiz até ofim do estágio probatório.Cada desembargador, res-

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Telefonia“Direito e Avesso” (TVRecord) esclarece amanhã,às 9h, como recorrer à Justi-ça em casos de problemacom empresas de telefonia.

AGENDA

ponsável por um ou váriosjuízes novos, examina os re-latórios e faz um outro so-bre como o juiz está proce-dendo, se a produção delefoi boa ou deixou a desejar,avalia também a qualidadedas sentenças e deve chamara atenção para erros, sementrar no mérito dos casos.O relator tem reuniões comos vitaliciandos e fica aten-to se a redação do magistra-do é hermética, de difícil en-tendimento das partes. Emcasos de insuficiência ouconceito regular, chama-seo juiz para uma conversa,mas isso não é comum, por-que o grupo normalmente ébem preparado. Vale ressal-tar que os vitaliciandos re-cebem sempre cópias dosrelatórios, inclusive o final,para que visualizem repara-ções e elogios. A atuação doconselho, uma experiênciapioneira da Justiça do Rio,se dá de forma transparen-te, com resguardo da vidaprofissional de cada juiznovo, já que só eles têm aces-so as suas avaliações.”

No estágio final – “Juízessupervisores também acom-panham o trabalho de cadaum do grupo, a partir de reu-niões, e vão até as comarcasverificar o relacionamentodos juízes com o cartório, oMinistério Público, a Defen-soria. Depois enviam as con-clusões desse trabalho aoconselho. No final do está-gio, cada desembargador fazseus relatórios, e, a partir dis-so e da verificação feita pe-los juízes supervisores, eupreparo uma conclusão queé enviada ao Conselho deMagistratura, onde os inte-grantes tomam posição so-bre o vitaliciamento e reme-tem ao Órgão Especial, quetem a palavra final.”

FONSECA PASSOS: relatóriostrimestrais devem conter de 15a 30 sentenças

SaúdeHoje, às 10h45min, “NovoTempo na Justiça” (RádioMEC) fala sobre a greve dosistema público de saúde ecooperativas para médicos.

Departamento de Comunicação SocialJornalista responsável: Isabela [email protected]

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Rio

Page 9: Alunos de escolas do Rio, identificados com siglas do tráfico

CYAN MAGENTA AMARELO PRETO

A26 DOMINGO, 12 DE JUNHO DE 2005 JORNAL DO BRASIL

CIDADE 26

CIDADE

Um futuro sem gradesEspecialistas debatem tema de série do ‘JB’ e Ministério da Educação investe contra violência nas escolas

GU S TAVO DE AL M E I DA E

WALESKA BORGES

OMinistério da Edu-cação vai investir emquatro frentes de tra-balho no segundo se-mestre para conter a

violência escolar em todo o Bra-sil – no Rio de Janeiro, já estãosendo preparados módulos deprojetos como o Escola que Pro-tege, experiência que vem dan-do certo em Fortaleza, Belém eRecife. E uma novidade: alunosdas universidades federais UFF,UFRJ e UNI-Rio que moram emcomunidades carentes farão tra-balhos técnicos em seus locaisde moradia de acordo com suaárea de especialização.

Quem garante o início dostrabalhos é o secretário especialde Educação Continuada, Alfa-betização e Diversidade (Se-cad/MEC), o economista Ricar-do Henriques.

– Precisamos “republicani-zar” o sistema de ensino, criarum ambiente que mobilize, quecrie expectativa nos alunos e nascomunidades. Antes de qual-quer coisa, a escola não pode in-ternalizar o discurso de repres-são e disciplina que se usa na se-gurança pública – diz Ricardo.

O Ministério da Educação as-segurou na sexta-feira passadauma verba de R$ 2,4 milhões es-te ano para repassar a prefeitu-ras, secretarias de educação,universidades públicas e entida-des sem fins lucrativos que apre-sentem projetos na área educa-cional com fins de aplacar a vio-lência nas escolas.

O programa Escola que Pro-tege, do MEC, foi criado para ca-pacitar professores para verifi-car abusos e violência sexualdesde dezembro de 2003 e pros-segue até o final do ano em esco-las da rede estadual na BaixadaFluminense e em Niterói e SãoGonçalo. O projeto, segundoHenriques, vai muito além doproposto inicialmente, a partirdo segundo semestre.

Também pela rede estadualna Baixada Fluminense, SãoGonçalo e Niterói o governo fe-deral vai criar o Escola Aberta,segundo o qual as escolas fica-rão abertas nos fins de semana ese tornarão referência cultural ede ensino à noite.

– Vamos receber analfabetosfuncionais e dar cursos, não po-demos deixar este trabalho sópara igrejas e centros comunitá-rios – diz Henriques.

O Escola Aberta prevê a for-mação, em parceria com a Unes-co, de professores capacitadospara mediação de conflito.

– Também precisaremos deprofissionais para identificar asvocações no entorno das comu-nidades, saber que serviços há equais podem ser acionados nosfins de semana, de modo a atrairos jovens para dentro da escola.Acredito que seja possível fazerum trabalho que não seja ape-nas de tutela, que não fique res-trito a levar aquilo que conside-ramos bom na sociedade tida co-mo erudita. Um festival de hip-hop, por exemplo, tem um efeitomuito benéfico para uma comu-nidade – explica Henriques.

O representante da Unescono Brasil, Jorge Werthein, acre-dita que não há apenas uma so-

lução para resolver os proble-mas de violência nas escolas. Se-gundo ele, há uma série de me-didas que devem ser adotadas.Werthein apresenta o diálogoentre alunos, professores e dire-tores como a principal mudan-ça:

– Nas escolas, o que se im-pera é a lei do silêncio – la-menta Werthein.

De acordo com o represen-tante da Unesco, há duas sema-nas a entidade negocia com oministro da Educação, TarsoGenro, a implementação em lar-ga escala do programa de me-diação de conflitos nas escolaspúblicas do país. O programa jáfunciona com êxito em escolasda Argentina, Canadá, Espa-nha, Inglaterra e França.

– No programa de mediaçãode conflitos é assim: professores,jovens, pais e diretores são capa-citados para perceber o proble-ma e intervir para solução – ex-plica Werthein.

O representante da Unescotambém defende a abertura dasescolas nos finais de semana pa-

ra diminuir a violência. SegundoWerthein, medidas repressivas,como instalação de detectoresde metais, não funcionam noambiente escolar.

– A escola que se abre nos fi-nais de semana para comunida-de com atividades culturais tam-bém se acolhe – analisa Wer-thein lembrando que noBrasil há seis mil escolasabertas nos finais de se-mana atendendo, men-salmente, cerca de cincomilhões de pessoas.

Para o sociólogo epesquisador Ignácio Ca-no, da Universidade doEstado do Rio de Janei-ro, as escolas deveriam contarcom programas de conscientiza-ção de violência para professo-res, pais e alunos.

– Não podemos sonhar que aescola vai acabar com os proble-mas de violência sozinha. Hátambém a violência extra-esco-lar. Neste caso, o problema deveser resolvido com intervençõessociais ao redor da escola – co-menta Cano.

A defensora Simone de Sou-za, da Coordenadoria de Defesados Direitos da Criança e doAdolescente (CDEDICA), lem-bra que, por causa da violência,atualmente, há vários casos deprofessores licenciados por pro-blemas de saúde.

– Deve-se resgatar a estraté-gia de valorização da ci-dadania nas escolas –ressalta a defensora.

Para a coordenadora-geral do Sindicato Esta-dual dos Profissionaisde Educação (Sepe),Gesa Linhares, os pode-res municipal, estaduale federal deveriam se

unir para buscar uma solução.Ela sugere a imediata convoca-ção das autoridades para umaaudiência pública.

– Não se pode colocar um po-licial em cada escola. Esta medi-da seria apenas mais uma açãode intimidação – comentou.

O promotor Márcio Mothé,coordenador do programa dejustiça terapêutica do MP e pro-motor titular junto à 2ª Vara da

Infância e da Juventude, é rea-lista e dispara:

–No Rio de Janeiro, como amaioria dos crimes têm a vercom uso e tráfico de drogas, ouseja, mais de 60%, o contatocom essa realidade acaba tor-nando as crianças cada vez maisviciadas precocemente. As pes-quisas têm revelado o uso cadavez mais cedo de maconha e ou-tras drogas. O Brasil sofre umproblema sério por não conside-rar cola de sapateiro e solventesubstâncias ilícitas. Quem chei-ra cola ou tíner não comete atoinfracional. Há uma verdadeiraconcorrência desleal entre obem o o mal. O tráfico é atraen-te, proporciona dinheiro e falsasensação de poder, pelo manu-seio de armamentos. Por outrolado, as chances de emprego sãocada vez piores e o futuro não épromissor. Se o poder públiconão consegue proporcionar se-quer educação, parece que che-gamos ao fundo do poço.

[email protected] [email protected]

“No programa demediação de conflitos,

professores, jovens, paise diretores são

capacitados paraperceber o problema”

JORGE WE RT H E I N

REPRESENTANTE DA UNESCO

NO BRASIL

“Temos querepublicanizar o ensino,

criar ambiente paraorganizar a juventude”

RI CA R D O HENRIQUES

SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO

C O N T I N UA DA ,

ALFABETIZAÇÃO E

DIVERSIDADE (SECAD/MEC)

ESCOLA Rubem Braga, no Humaitá: uma das unidades próximas a comunidades – no caso, o Dona Marta – com alunos influenciados

Executivoda Unescodiz queimpera leido silêncionas escolas

João Paulo Engelbrecht - 2/6/2005