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VI Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental Porto Alegre/RS – 23 a 26/11/2015

IBEAS – Instituto Brasileiro de Estudos Ambientais 1

ALTERNATIVAS ECONÔMICAS PARA O DESENVOLVILMENTO SUSTENTÁVEL DO REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE DO RIO DOS FRADES, BAHIA, BRASIL

Bruno Brauer (*) & Milton Asmus * Laboratório de Gerenciamento Costeiro, Universidade Federal do Rio Grande – FURG (Rio Grande – RS) RESUMO As áreas protegidas têm um importante papel na conservação dos ecossistemas costeiros, e a criação e implementação de Unidades de Conservação (UCs) têm sido importantes instrumentos para a manutenção da biodiversidade, tendo se mostrado eficientes e necessários até que a sociedade seja capaz de gerenciar os recursos naturais de maneira sustentável. Em muitos casos as áreas limítrofes das unidades de conservação de proteção integral constituem áreas de conflito em relação ao seu uso e podem exercer pressões sobre os recursos naturais da UC. Para compatibilizar o interesse de particulares com a proteção da UC é fundamental que se desenvolvam propostas que viabilizem o desenvolvimento de atividades sustentáveis e não atrapalhem os objetivos de criação e manutenção da UC. O presente trabalho propõe analisar como estudo de caso o Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades (RVSRF), Unidade de Conservação de Proteção Integral, localizada no litoral sul da Bahia. O RVSRF foi criado em 2007, engloba vários ecossistemas em seus limites, como brejos, manguezais e restingas (ecossistema predominante, com vegetação costeira adaptada a solos arenosos), que fazem do local um conjunto de grande importância para a preservação da biodiversidade, além de apresentar grande beleza cênica. Como alternativa econômica ao desenvolvimento sustentável da UC, foram propostas as principais atividades para o uso turístico de baixo impacto (ecoturismo, turismo científico) na região do RVSRF. Para concluir, é necessário que as atividades turísticas propostas sejam compatíveis com os objetivos de criação da UC e que sejam identificadas as áreas mais propícias para sua realização através do Zoneamento Ambiental elaborado no Plano de Manejo da unidade de conservação em questão.

PALAVRAS-CHAVE: Unidade de Conservação, Gerenciamento Costeiro, Ecoturismo.

INTRODUÇÃO

A temática da proteção dos recursos naturais está relacionada com as alterações provocadas pela sociedade e pelo sistema de produção sobre o ambiente, causando uma sucessão de relações onde a natureza tem sido alterada ao longo dos tempos, enfrentando frequência e magnitude crescentes de fragmentação dos habitats e perda da biodiversidade (CASTRO JÚNIOR et al., 2009). Com isso, se inicia um processo de criação de áreas protegidas que possui uma forte característica política, visto que se constitui em uma ação de ordenamento e gestão sobre o território que define, regulamenta e adequa os diferentes usos encontrados em uma determinada área com a proteção dos recursos naturais. As áreas protegidas têm um importante papel na conservação dos ecossistemas costeiros, e a criação e implementação de Unidades de Conservação (UCs) têm sido importantes instrumentos para a manutenção da biodiversidade, tendo se mostrado eficientes e necessários até que a sociedade seja capaz de gerenciar os recursos naturais de maneira sustentável (MULONGOY & CHAPES, 2004). Unidades de Conservação são áreas especialmente protegidas destinadas primordialmente à conservação da natureza e ao uso sustentável dos recursos naturais. Sua criação representa um passo fundamental para a conservação dos ecossistemas e para a manutenção da qualidade de vida do homem na terra, sendo que o grande desafio para sua implementação é assegurar a efetividade do manejo. Contudo, ao contrário do que muitos setores da sociedade imaginam, as unidades de conservação não constituem espaços protegidos intocáveis onde qualquer tipo de uso ou aproveitamento dos recursos naturais não possa ocorrer (DIEGUES, 1996). Ainda segundo o autor, é comum o pensamento de que a política de criação de unidades de conservação representa um entrave ao desenvolvimento, visto que atividades produtivas são incompatíveis com a conservação. Este falso dilema demonstra bem a dificuldade que diversos setores da sociedade, sobretudo aqueles com maior influência sobre os tomadores de decisão, têm de capturar o papel e a importância das unidades de conservação como promotoras de desenvolvimento econômico e bem-estar social. Em resumo, as UCs podem oferecer benefícios para além dos seus limites territoriais. Assim sendo, é preciso que o poder público e a sociedade tenham clareza de que ecossistemas bem conservados são vitais para a existência de pessoas saudáveis, empresas sustentáveis, economias sólidas e consequentemente um desenvolvimento sustentável.

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VI Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental Porto Alegre/RS - 23 a 26/11/2015

IBEAS – Instituto Brasileiro de Estudos Ambientais 2

Esse breve trabalho demonstra que a gestão de áreas protegidas é um tema complexo. Esta análise influi não apenas sobre os recursos naturais, mas compreende também todo o contexto social, econômico, cultural e político que envolve a área protegida e as populações que estão ligadas a ela, realizando atividades econômicas de uso direto ou indireto. Como alternativas econômicas ao desenvolvimento sustentável da UC, foram avaliadas as principais potencialidades para o uso turístico de baixo impacto (ecoturismo, turismo científico) na região do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades (RVSRF), Unidade de Conservação de Proteção Integral, localizada no litoral sul da Bahia. METODOLOGIA

O Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades (RVSRF) está localizado no município de Porto Seguro, no estado da Bahia, entre as localidades de Trancoso e Caraíva (Figura 1), abrangendo uma área de 898,67 hectares. Foi criado por meio do Decreto s/n° de 21 de dezembro de 2007 (BRASIL, 2007), que definiu os limites do Refúgio e sua Zona de Amortecimento (ZA). Esta Unidade de Conservação (UC) foi criada com o objetivo básico de “preservar ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico”. O Refúgio de Vida Silvestre (RVS) é uma das categorias de Proteção Integral, de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que tem por objetivo básico a preservação dos ecossistemas e que permite atividades como a recreação, o turismo ecológico e a pesquisa. O SNUC permite também a presença de propriedades particulares no interior de RVS, desde que os usos sejam compatíveis com os objetivos da UC e com a proteção dos recursos naturais. Cabe ressaltar que o RVSRF deverá em breve ter o seu próprio zoneamento, após a conclusão do plano de manejo.

Figura 1: Localização do RVS do Rio dos Frades (polígono azul). Fonte: Kahuam Gianuca.

RESULTADOS

Em muitos casos as áreas limítrofes das unidades de conservação de proteção integral constituem áreas de conflito em relação ao seu uso e podem exercer pressões sobre os recursos naturais da UC. Para compatibilizar o interesse de particulares com a proteção da UC é fundamental que se desenvolvam, no seu interior e entorno, propostas que viabilizem o desenvolvimento de atividades sustentáveis e não atrapalhem os objetivos de criação e manutenção da UC. A maior parte das atividades econômicas realizadas pelos proprietários e moradores do RVSRF é de baixo impacto e se forem ordenadas e manejadas de forma correta não oferecem riscos a conservação dos recursos naturais da unidade, podem-se destacar três atividades: pesca, agricultura e artesanato. A pesca é uma importante atividade econômica realizada pelos moradores da UC e em sua maioria, é a principal fonte de renda das famílias, sendo realizada em sua maior parte no mar (artesanalmente com redes) e em alguns casos também no Rio dos Frades. As atividades agrícolas

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são voltadas ao consumo familiar, com a comercialização em pequena escala dos excedentes. Os principais produtos são o coco e a mandioca, cultivados de maneira orgânica. O artesanato também é uma importante atividade econômica, realizada a partir do uso de coco e palha de dendê, sem extrativismo predatório e impactante na região. Devido à grande beleza cênica da região, o turismo surge como uma boa alternativa econômica. Dentre as principais potencialidades para o uso turístico de baixo impacto na região do RVSRF pode-se citar: - ecoturismo: potencialidade de aproveitamento das áreas costeiras, trilhas ecológicas na área da restinga e passeio de barco no rio dos Frades; - turismo científico: realização de pesquisas acadêmicas, observação de espécies de fauna e levantamento da biodiversidade local.

O turismo tem sido uma alternativa muito utilizada nos planos de ordenamento para unidades de conservação, visto que o uso indireto dos recursos naturais tende a contribuir para a preservação dos mesmos. No entanto, se essa atividade for desenvolvida sem um planejamento e ordenamento ambiental, pode prover impactos irreversíveis ao ambiente, através da poluição dos cursos hídricos, do descarte inadequado de resíduos, da ação antrópica sobre a fauna e flora em trilhas em área de mata fechada, entre outros. Para isso, é fundamental que o desenvolvimento de cada uma dessas atividades seja precedido de um estudo de impacto ambiental que analise se a prática dessas atividades é viável e se não causará danos aos recursos naturais da UC. Ainda nesse contexto é importante que os projetos para o uso turístico identifiquem quais são os setores responsáveis e as parcerias propostas para a manutenção da qualidade ambiental dentro da UC. Assim, é fundamental que se construa um plano de ordenamento do uso turístico que conte com a participação dos proprietários, do poder público, das empresas prestadoras de serviços, da sociedade civil organizada e do setor privado. Nesse plano devem ser indicadas as responsabilidades e o comprometimento de cada setor para o uso sustentável do turismo na UC, como a coleta de lixo, a manutenção das vias de acesso e trilhas, o tratamento de esgoto produzido, etc. É necessário também que as atividades turísticas propostas sejam compatíveis com os objetivos de criação do RVSRF e que sejam identificadas as áreas mais propícias para sua realização através do Zoneamento Ambiental elaborado no Plano de Manejo da UC. CONCLUSÕES

É importante que se planeje a introdução de novas atividades que se constituam em alternativas sustentáveis para a geração de renda das populações do interior da UC. Para isso é fundamental que ocorram estudos de viabilidade de quais atividades alternativas são viáveis ao RVSRF, os possíveis impactos que podem causar, as áreas mais indicadas para a sua realização a partir do Zoneamento da UC, entre outras ações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. República Federativa do Brasil (BRASIL). Decreto s/n, 21 de dezembro de 2007. Cria o Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-

2010/2007/Resenha/12_dezembro-2007.htm. Data: 10 de junho de 2015. 2. Castro Júnior, E.; Coutinho, B. H. & Freitas, L. E. Gestão da Biodiversidade e Áreas Protegidas. In: Guerra, A. J.

T. & Coelho, M. C. N. Unidades de Conservação – Abordagens e Características Geográficas. Bertrand Brasil. Rio de Janeiro, 2009.

3. Diegues, A. C. O Mito Moderno da Natureza Intocada. Hucitec. São Paulo, 1996. 4. Mulongoy, K. J. & Chapes, S. Protected Areas and Biodiversity: an Overview of Key Issues. In: CENTRE, U. W.

C. M. (Ed.). Biodiversity Series p. 73-132. Secretariat of The Convention on Biological Diversity. Zurich, 2004.