alterações em propriedades físicas do solo..extremo oeste do acre

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  • 7/31/2019 Alteraes em propriedades fsicas do solo..extremo oeste do Acre

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    CAPTULO 5

    ALTERAES EM PROPRIEDADESFSICAS DO SOLO EM ECOSSISTEMASDE FLORESTA APS A IMPLANTAODE PASTAGEM NO EXTREMO

    OESTE DO ACRE

    Arley Figueiredo PortugalLuiz Eduardo Ferreira Fontes

    Joo Luiz LaniCarlos Ernesto G. Reynald Schaefer

    Elpdio Incio Fernandes Filho

    Projeto financiado pelo PPG7/CNPq.

    1. INTRODUO

    O Acre uma das ltimas fronteiras da Amaznia

    Ocidental brasileira e localiza-se entre as latitudes de

    0707S e 1108S, e as longitudes de 6630 W e74WGr, e ocupa uma rea de aproximadamente

    164.221,36 km (16.422.136 ha) correspondente a 4%

    da rea amaznica brasileira e a 1,9% do territrio

    nacional (PASSOS, 2006).

    No Acre, o uso da terra por pequenos produtores

    em reas de Assentamentos baseia-se, em grande parte,

    no processo de derruba e queima da floresta primria

    e/ou, secundria (capoeira), seguida do plantio de

    culturas anuais como arroz, milho, feijo e mandioca, porum perodo mdio de um a cinco anos (FUJISAKA et al.,

    1996; FUJISAKA e WHITE, 1998; AMARAL et al., 2001).

    Aps este perodo, em razo de fatores como o

    empobrecimento qumico do solo, surgimento de plantas

    daninhas, ocorrncia de pragas e doenas, dentre outros,

    o produtor deixa a terra em pousio, em ciclos que variam

    em mdia cinco a dez anos, para recuperao de sua

    fertilidade e/ou, incorpora pastagens extensivas,

    enquanto novas reas so desmatadas para utilizao

    com culturas (AMARAL et al., 2001, MATHIEU et al., 2004;NUMATA et al., 2007).

    O Acre possui uma das maiores regies

    preservadas do Brasil, cerca de 88 % do seu territrio

    encontram-se sob floresta (INPE, 2008). Do total

    desmatado, em torno de 81 % (13.352 km, o equi-

    valente a 1,3 milhes de hectares) tem sido utilizado com

    pastagens extensivas (OLIVEIRA et al., 2006), o que

    demonstra a grande expresso da pecuria no Estado.

    Espacialmente, as reas com pastagens ocupam

    o maior percentual entre as tipologias agrcolas,

    apresentando uma grande rea de ocupao entre as

    reas desmatadas no Estado do Acre. Os rebanhos se

    caracterizam pela criao com a finalidade de corte nas

    grandes fazendas e pelo criatrio destinado ao corte e

    leite em reas dos projetos de assentamento (VALENTIM E

    GOMES, 2006). Com o advento do Zoneamento EcolgicoEconmico do Acre, o Estado passou a ser dividido em

    cinco regionais de desenvolvimento: Microrregies do

    Alto Acre, Baixo Acre, Purus, Tarauac/Envira e Juru;

    estabelecidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

    Estatstica (IBGE) (ACRE, 2000; ACRE, 2006).

    A regional do Alto Juru constitui-se numa rea

    de grande diversidade biolgica, mas em decorrncia da

    colonizao recente, a tendncia tem sido a mudana no

    padro de ocupao da terra (ACRE, 2006). A

    microrregio do Juru, at o ano de 2004, apresentava

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    representado uma ameaa sustentabilidade aos

    sistemas pecurios no Brasil. A maior parte dos estudos

    que abordam o problema relaciona o processo de

    degradao com as interaes entre fatores zootcnicos

    (taxa de lotao animal), da planta (perda de vigor,

    alterao morfolgica) e do solo (propriedades

    qumicas), enquanto o problema de degradao fsica do

    solo tem sido deixado em segundo plano (LEO et al.,2004).

    2. ESTUDO DE CASO

    No Acre, as alteraes em propriedades fsicas

    do solo em sistemas agropecurios so ainda pouco

    estudadas, especialmente pastagens instaladas no

    extremo oeste do Estado, que se constitui como uma

    importante rea de ocupao antrpica no Estado.

    A Universidade Federal de Viosa, por meio da

    sua equipe de Pesquisadores do Departamento de Solos,

    vem desenvolvendo pesquisas no Estado do Acre como um

    todo e, mais especificamente na rea de Fsica do Solo, no

    extremo oeste do Acre com o intuito de avaliar alteraes

    em propriedades fsicas do solo aps a retirada da

    floresta e implantao de pastagem.

    A regio citada a microrregio do Alto Juru,

    no assentamento Iucat, localizado no municpio de

    Rodrigues Alves. O assentamento situa-se nascoordenadas 72o 3930''W e 7 46'30''S, e foi

    implantado h aproximadamente 25 anos, e apresenta

    mdulos de aproximadamente 10 ha, e representa bem a

    realidade da pecuria nesta regio, onde se tem a

    pecuria extensiva. O clima da regio caracterizado

    pelas altas temperaturas e elevados ndices

    pluviomtricos, com mdia anual de 2.171 mm, sendo

    classificado como tropical mido Awi (Kppen),

    predominando perodo seco, nos meses de maio a outubro

    com alta umidade relativa e temperatura (BRASIL, 1977).Quanto geologia, a rea est inserida na provncia

    geolgica dos Depsitos Cenozicos, representada pela

    Formao Solimes, predominando as rochas sedimen-

    tares argilito e siltito (BRASIL, 1977, CAVALCANTE,

    2006).

    Neste trabalho, estudaram-se os seguintes usos

    da terra, onde foram considerados os tratamentos: (a)

    mata nativa - Floresta Ombrfila Densa, utilizada com

    testemunha; (b) pastagem com 20 anos de implantao,aps cultivo com culturas anuais; (c) pastagem com 10

    anos de implantao, aps a derrubada da mata; (d)

    mata secundria (capoeira), aps cultivo com culturas e

    uso como pastagem. O esquema histrico do uso do solo

    rea desflorestada de 1604,5 km2, o correspondente a

    5,11 % dessa microrregio. Os municpios de Cruzeiro do

    Sul e Rodrigues Alves foram os que apresentaram maiores

    reas desflorestadas, com 7,2 e 11,7% da rea do

    municpio (INPE, 2008).

    Neste sentido, a identificao e realizao de

    medidas de melhoramento e reabilitao de reas compastagem alteradas e subutilizadas em bases

    sustentveis, devem ser adotadas, com o intuito de

    reverter o processo de deteriorao ambiental e social, e

    estimular a permanncia do agricultor no meio rural.

    A expanso das reas de pastagens no Acre vem

    se tornando menos vivel devido s crescentes restries

    da legislao ambiental (VALENTIM e GOMES, 2006).

    Assim, a alternativa dos produtores deve ser a

    busca de sistemas sustentveis de produo para

    aumentar a produtividade das reas de pastagens jexistentes por meio da incorporao de tecnologias aos

    sistemas produtivos com o mnimo de impacto aos

    ecossistemas.

    Ao derrubar a vegetao nativa para instalar

    plantaes, h remoo de sistemas biolgicos

    complexos, multiestruturados, diversificados e estveis, e

    a sua substituio por sistemas simples e instveis, provoca

    variaes nas suas propriedades fsicas. A compreenso e

    a quantificao do impacto do uso e manejo do solo na

    sua qualidade fsica so fundamentais no desenvolvimen-

    to de sistemas agrcolas sustentveis. A introduo de

    sistemas agrcolas em substituio s florestas causa

    desequilbrio no ecossistema, modificando as

    propriedades do solo, cuja intensidade varia com as

    condies de clima, uso e manejo adotados e a natureza

    do solo. De maneira geral, com o uso intensivo dos solos,

    geralmente ocorre deteriorao de suas propriedades

    fsicas.

    O pisoteio animal em toda superfcie e, s vezes,repetidamente no mesmo local, pode promover drsticas

    alteraes nas condies fsicas do solo, interferindo o

    crescimento do sistema radicular, como resultado da

    compactao do solo. A compactao um processo de

    degradao do solo que resulta na deteriorao de sua

    estrutura (LAL, 1979). Qualquer alterao significativa

    que ocorra na estrutura do solo, seja pela compactao,

    seja por outro processo, provocar mudanas nas

    relaes solo-gua-ar (PEDROTTI & DIAS JUNIOR, 1996).

    Portanto, de fundamental importncia buscar prticasde manejo que mantenham ou melhorem as condies

    estruturais dos solos.

    A degradao das pastagens cultivadas tem

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    apresentado na Figura 1, e os histricos de uso do solo

    aps a retirada da mata so apresentados no Quadro 1.

    Em todos os usos ocorre a classe do ArgissoloVermelho-Amarelo distrfico. A altitude mdia do

    local de 210 metros e o comprimento mdio daslanantes de aproximadamente 300 metros, sendoque a rea avaliada dentro dos usos foi amostradano tero mdio da paisagem para todos os usos.

    A regio est situada em duas grandesRegies Fitoecolgicas: o domnio da FlorestaOmbrfila Aberta (FOA) e o domnio da FlorestaOmbrfila Densa (FOD) de acordo com Brasil (1977) e

    Pereira e Bersch (2006). Estas duas regies fitoecolgicas

    regionais esto geralmente associadas s grandes

    feies climticas e morfoestruturais presentes na baciaamaznica (os Baixos Plats da Amaznia, o Planalto

    Rebaixado da Amaznia Ocidental e Regio Aluvial da

    Amaznia). Tais feies fitoecolgicas regionais (FOA e

    FOD) esto tambm condicionadas a fatores geolgicos,

    geomorfolgicos e pedolgicos, coexistindo uma grande

    diversidade de formaes vegetais, sendo o solo o fator

    principal desta diferenciao. No local do experimento

    predomina o Domnio da Floresta Ombrfila Densa

    (Figura 2).

    Em cada uso (tratamento), de modo aleatrio,

    foram abertas trs trincheiras para amostragem de solo,

    consideradas como as repeties, nas quais foram

    coletadas amostras indeformadas nas profundidades de

    0 a 10, 10 a 20 e 45 a 55 cm, a fim de se avaliar os

    impactos do uso antrpico nas propriedades fsicas do

    solo nas camadas superficiais e subsuperficiais. Para a

    coleta de amostras indeformadas, uma rea de

    aproximadamente 1 hectare dentro de cada uso foi

    separada em quadrantes, e dentro de cada quadranteforam retiradas 20 amostras simples para formar uma

    amostra composta, em cada profundidade, para

    obteno da Terra Fina Seca ao Ar (TFSA).

    O carbono orgnico total (COT) foi determinado

    utilizando o mtodo descrito por Yeomans e Bremner

    (1988). As anlises fsicas constaram de: densidade do

    solo (mtodo do anel volumtrico), anlise textural,

    porosidade total, condutividade hidrulica (meio satura-

    do) e estabilidade de agregados em gua foram

    realizadas conforme metodologia descrita por Embrapa

    (1997). Foram calculados os ndices de agregao:dimetro mdio ponderado (DMP) e dimetro mdio

    geomtrico (DMG), e a % de agregados estveis na clas-

    se > 2 mm (AGRE2), usando as seguintes equaes:

    DMP=xiDMi; DMG=10xilog (DMi) e AGRE2 = xi>2 *

    100, onde: xi a proporo de agregados de cada

    classe em relao ao total; DMi o dimetro mdio de

    cada classe de agregado; xi>2 a proporo de

    agregados da classe maior que 2 mm. Tambm calculou-

    se os macroagregados (MACR) e os microagregados

    (MICRO), somando-se a % de agregados retidos nas

    classes acima e abaixo de 250 m, respectivamente,

    como sugerido por Tisdall e Oades (1982). Foi calculado

    o ndice de sensibilidade (IS), sugerido por Bolinder et al.

    (1999), segundo a expresso: Is = As/Ac, em que Is o

    ndice de sensibilidade; As o valor do DMP do solo para

    cada uso agrcola, e Ac o valor do DMP do solo sob

    mata. Tambm foi determinada a resistncia

    penetrao em um penetrmetro de bancada, marca

    Marconi, modelo MA-933, com velocidade de avano

    de 14,99 mm min-1 e dotado de registro automtico de

    dados em computador, permitindo grande sensibilidade

    de leitura (foram feitas as leituras de dados a cada 0,5

    mm). Foram realizadas nove leituras em cada uso do solo

    e em cada profundidade, sendo que as amostras foram

    anteriormente submetidas presso de 1500 kPa,

    estando, portanto com a umidade referente ao ponto de

    murcha permanente.

    Para determinar a distribuio de poros por

    tamanho utilizaram-se amostras com estrutura nodeformada. Utilizou-se o modelo capilar proposto por

    Bouma (1991) para o clculo do dimetro dos poros, a

    partir da seguinte equao: DP = 4 Cos /m), sendo

    DP o dimetro dos poros (m); a tenso superficial daogua (73,43 kPa a 20 C); o ngulo de contato entre o

    menisco e a parede do tubo capilar (considerado 0) em

    a tenso de gua no solo (kPa). Utilizou-se o mtodo da

    mesa de tenso para a determinao do contedo de

    gua a 20, 40, 60, 80 e 100 cm de tenso de coluna de

    gua, classificando os poros de acordo com a reteno degua nestas alturas de coluna de gua. O limite entre

    macroporos e microporos foi estabelecido como a tenso

    de 60 cm de coluna de gua, conforme EMBRAPA (1997).

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    Figura 1. Esquema identificando o histrico de ocupao das reas

    que foram avaliadas no ecossistema de pastagens.

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    Com estes mesmos valores de tenso foi montada a curva

    de reteno de gua a baixas tenses.

    Para a reteno de gua foram utilizadas

    amostras com estrutura preservada, submetidas s

    respectivas presses por 7 dias. A capacidade de gua

    disponvel (CAD) foi determinada subtraindo a gua

    retida no solo sob a presso equivalente a 10 kPa

    (capacidade de campo) da quantidade de gua retida

    na presso equivalente a 1500 kPa (ponto de murcha

    permanente). Foi utilizada a presso de 10 kPa para

    representar a capacidade de campo (CC), baseado em

    resultados obtidos por Reichardt (1988), que consideram

    essa, a melhor tenso para representar a CC em solos

    tropicais. Foi calculada a relao CC/PT (em que: cc =

    capacidade de campo; PT = porosidade total) com os

    dados acima citados.

    Na anlise dos dados, os usos do solo foram ostratamentos, e considerou-se o delineamento inteiramente

    casualizado. Os efeitos dos tratamentos de uso do solo

    sobre as suas propriedades foram testados por meio de

    anlise de varincia. Analisaram-se os efeitos dos

    tratamentos em cada profundidade, separadamente.

    Quando as variveis foram estatisticamente diferentes, as

    mdias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5 % de

    probabilidade.

    3. RESULTADOS OBTIDOS

    Verifica-se pela anlise granulomtrica dos solos

    sob os usos avaliados (Tabela 1), que a frao areia

    (areia grossa + areia fina) predomina nos quatro solos

    sob os diferentes usos, mostrando que possivelmente, os

    solos foram formados de rochas com sedimentos mais

    grosseiros, o que indica que o ambiente de sedimentao

    no perodo de formao da rocha foi de maior energia,

    permitindo maior sedimentao de partculas mais

    grosseiras.-1O teor de argila variou de 11,0 a 38,7 dag kg e

    -1os de silte variou de 15,3 a 24,7 dag kg entre todos os

    usos e profundidades avaliados. Nota-se que a argila

    aumenta em profundidade, evidenciando o processo de

    iluviao da argila no perfil do solo, tpico da classe

    Argissolo.

    Os solos, em todos os usos, na profundidade de 0

    a 10 cm, enquadram-se como sendo da classe textural

    franco-arenoso (SANTOS et al., 2005). Na profundidadede 10 a 20 cm, os solos sob a mata e o pasto com 10 anos

    foram classificados como franco-argilo-arenoso, e a

    capoeira como franco-arenoso, ao passo que o solo sob

    pasto com 20 anos foi classificado na classe textural

    argila. Na profundidade de 45 a 55 cm, todos os solos

    foram classificados como franco-argilo-arenoso.

    De maneira geral, os solos apresentaram

    propores equivalentes de tamanhos de partculas

    (areia, silte e argila), de forma que no h o

    favorecimento do ajuste das partculas (RESENDE et al.,

    1999).Os valores de densidade do solo foram menores

    para mata, em todas as profundidades, evidenciando

    que o uso do solo, caracterizado pela retirada da mata

    nativa e implantao de pastagem extensiva provocou

    alteraes nas condies fsicas do solo evidenciadas

    pela compactao do solo, tanto em superfcie como em

    subsuperfcie (Figura 3).

    Houve aumento na DS em relao mata de 26,

    49 e 45 % para capoeira, pasto com 10 anos e 20 anos,

    respectivamente, na profundidade de 0 a 10 cm. De 10 a

    20 cm o aumento da DS foi de 11, 9 e 19 % para

    capoeira, pasto com 10 anos e 20 anos, respectivamente,

    enquanto para a profundidade de 45 a 55 cm houve um

    aumento da DS de 13, 7 e 8 % respectivamente. Estes

    resultados mostram que aps a implantao da

    pastagem houve a compactao significativa do solo em

    superfcie, e que essa compactaofoi menor em

    subsuperfcie. Tambm se observa que o pousio e a

    formao de capoeira possuem efeito benfico sobre as

    propriedades fsica do solo, em especial a sua densidade.

    Na pastagem, os altos valores de DS na

    superfcie esto associados s altas presses exercidas

    pelo pisoteio animal, s vezes, repetidamente no mesmo

    local, que agravado pelo manejo aplicado, onde se tem

    superpastejo e uso contnuo da pastagem. Na literatura

    so mencionados valores de presses que variam entre

    0,25 e 0,49 kPa para bovinos de 400 a 500 kg, podendo

    atingir a profundidade de 5 a 10 cm (PROFFITT et al.,

    1993).Outro fator que contribui para maior DS na

    pastagem e que com o desmatamento, o solo exposto

    ao direta das gotas da chuva e raios solares, tornando-

    se fisicamente mais frgil, caracterizando assim o incio

    da sua degradao (PORTUGAL et al., 2008), e dessa

    forma, h o aumento da ocorrncia de ciclos de

    umedecimento e secagem, que promovem o rearranjo das

    partculas, causando o adensamento do solo,

    especialmente em superfcie (OLIVEIRA et al., 1996).

    Tambm, em superfcie, as diferenas na

    densidade do solo podem estar relacionadas s perdas

    de carbono orgnico total (COT) (Tabela 2) com a

    retirada da mata, j que o carbono orgnico do solo

    63

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    exerce grande influncia nos processos de agregao do

    solo, reteno de gua, favorecimento da fauna edfica,

    alm de possuir menor massa. Mesmo havendo alterao

    da densidade do solo nos ambientes com pastagem em

    relao mata, os valores encontrados foram menores

    que o ndice crtico do crescimento radicular de soloas-3arenosos, de 1,75 kg dm (MEDINA, 1985; CORSINI &

    FERRAUDO, 1999).

    Os valores de porosidade total mostraram

    comportamento inverso aos de densidade do solo, com

    maiores valores ocorrendo no solo sob a mata, e os

    menores nos solos sob pastagens, em todas as

    profundidades (Figura 4). Pode-se observar que o uso

    antrpico do so lo com pastagem alterou ,

    significativamente, a porosidade total do solo nas

    camadas de 0 a 10 cm e 10 a 20 cm, ao passo que de 45

    a 55 cm no houve impacto negativo do uso sobre aporosidade total do solo. Tambm, 10 anos de abandono

    das reas com pastagem para formao de capoeira

    resultou em recuperao da porosidade total, somente de

    0 a 10 cm.

    Considera-se um solo fisicamente ideal para a

    maioria das prticas agrcolas, o que apresente em

    mdia 50 % do seu volume ocupado por slidos, e os

    outros 50 % por volume poroso, ocupados por gases e

    gua (BRADY, 1989). Nos solos sob pastagem, em todas

    as profundidades avaliadas, observa-se que aporosidade total menor que 50 %, especialmente de 0 a

    10 cm, evidenciando o impacto do uso com pastagem

    sobre o espao poroso do solo nesta regio.

    Com relao microporosidade, pode-se notar

    que em nenhum dos usos e profundidades avaliados

    apresentaram diferena estatstica, a exceo do pasto

    com 20 anos que, apresentou menor microporosidade de

    10 a 20 cm (Figura 4). Isso indica que a reduo da

    porosidade total observada nos solos deve-se, pre-

    ferencialmente, a alteraes na reduo da proporo

    de macroporos em relao ao nmero de microporos.

    Silva e Kay (1997) salientam que a microporosidade do

    solo fortemente influenciada pela textura, teor de

    carbono orgnico e muito pouco influenciada pelo

    aumento da densidade do solo, originada da presso

    exercida sobre o solo, o que concorda com o observado

    neste trabalho.

    Por outro lado, a macroporosidade apresentou

    reduo significativa em relao mata de 31%, 71% e

    60 % para capoeira, pasto com 10 anos e pasto com 20

    anos, respectivamente, na profundidade de 0 a 10 cm.

    Nas demais profundidades no houve diferenas

    significativas. Estes resultados confirmam que a reduo

    da porosidade na superfcie dos solos sob pastagem foi

    devido s diferenas na macroporosidade.

    Nota-se que os poros de maior dimetro so os

    principais afetados pelo efeito da compactao do solo,

    o que ir afetar grandemente a capacidade de aerao

    e infiltrao de gua no solo, j que os macroporos so os

    responsveis pela movimentao da gua no solo. Este

    fato confirmado pelos dados de condutividadehidrulica (Figura 5).

    Pela distribuio de tamanhos de poros pode-se

    notar que, com exceo do uso pasto com 10 anos na

    classe de poros entre 50 e 9 m, todos os demais usos do

    solo, em todas as profundidades, no se diferenciaram

    significativamente para as classes de poros menores que

    50 m, considerada limite entre macroporosidade e

    microporosidade (Tabela 2). Este resultado confirma que

    a retirada da mata e implantao de pastagem noextremo oeste do Acre no resultou em impactos

    significativos sobre a microporosidade do Argissolo.

    Por outro lado, pode-se notar que o uso com

    pastagem provocou reduo significativa nas classes de

    poros maiores que 50 m (macroporos) nas

    profundidades de 0 a 10 e 10 a 20 cm, ao passo que na

    profundidade de 45 a 55 cm no ocorreu impacto

    negativo em nenhuma classe de poros (Tabela 2).

    Percebe-se que as classes de poros maiores que 73 mapresentaram grande reduo com a implantao de

    pastagem, tanto com 10 anos como com 20 anos, sendo as

    maiores diferenas observadas na classe de poros maior

    que 145 m, que so poros predominantemente

    responsveis pela drenagem e aerao do solo. Os poros

    maiores que 50 m, macroporos, so responsveis pela

    drenagem e condutividade hidrulica do solo, de forma

    que a reduo destes poros, especialmente em superfcie,

    dificulta a infiltrao da gua no solo e favorecem o

    escoamento superficial, potencializando os processos

    erosivos no solo. Portugal (2005) concluiu que as redues

    na porosidade de um Argissolo Vermelho-Amarelo

    distrfico sob pastagem degradada, na Zona da Mata

    Mineira, foram devido s redues do volume de

    macroporos.

    Aps 10 anos de abandono da rea com

    pastagem e conseqente formao de capoeira pode-se

    notar que houve uma recuperao total da classe de

    poros de 73 a 145m, e parcial na classe maior que 145

    m na profundidade de 0 a 10 cm. Na profundidade de

    10 a 20 cm, 10 anos com capoeira no foram suficientes

    para recuperar a classe de poros maior que 145 m,

    64

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    Figura 2. Foto ilustrativa do ambiente no extremo oeste do

    Acre, no assentamento no Municpio de Rodrigues Alves, onde

    foi realizado o trabalho. Fotografia: Arley Portugal, 2008

    Figura 3. Densidade do solo para mata, capoeira, pasto 10 anos e

    pasto 20 anos, nas diferentes profundidades. As mdias com a mesma

    letra, dentro de cada profundidade, no diferem entre si pelo teste de

    Tukey, a 5 % de probabilidade.Quadro 1. Usos do solo aps a retirada da mata e respectivos

    histricos de cada rea estudada.

    Usos Histrico de uso da rea

    Pasto 20 anos A mata primria foi retirada (derrubada e queima), seguindo-se o

    plantio de culturas, como o arroz, milho, feijo e mandioca (culturas

    brancas), durante um perodo de 5 anos. Nesse sistema no se

    utilizaram corretivos e fertilizantes qumicos, e em razo do

    empobrecimento do solo e surgimento de plantas espontneas, pragas

    e doenas, este sistema foi abandonado e instalou-se o plantio de

    Capim-braquiria (Brachiaria brizantha) h 20 anos. Na pastagem

    no se utilizou corretivos e fertilizantes qumicos, e o manejo o de

    pastoreio contnuo o ano todo, com lotao de 1 a 2 cabeas/ha,

    podendo ser maior, dependendo das necessidades do produtor. H

    ocorrncia de queimas esporadicamente, no intencional. No h

    ocorrncia de solo exposto, e tem-se pouca presena de plantas

    invasoras.

    Pasto 10 anos A mata primria foi retirada (derruba e queima), seguindo-se o

    plantio de C apim-braquiria (Brachiaria b rizantha), sem antes haver

    o cultivo do solo com culturas perenes. O manejo o mesmo da

    pastagem com 20 anos. No h ocorrncia de solo exposto, e no se

    tem presena de plantas invasoras.

    Capoeira A mata primria foi retirada (derrubada e queima), seguindo-se o

    plantio de culturas (arroz , milho, f eijo e mandioca), durante 5 an os,

    depois instalou-se o plantio de Capim-braquiria (Brachiaria

    brizantha), por um perodo de 10 anos, com o mesmo manejo das

    pastagens citadas anteriormente. H 10 anos a pastagem foi

    abandonada, constituindo-se a capoeira.

    Figura 4. Valores mdios de macro, micro e porosidade total do solo

    nas reas com mata nativa, capoeira, pasto com 10 anos e pasto com

    20 anos, nas profundidades avaliadas. Mdias com as mesmas letras

    em cada profundidade no diferem estatisticamente entre si pelo teste

    de Tukey, a 5 % de probabilidade.

    Figura 5. Valores mdios de condutividade hidrulica em meio

    saturado para os solos sob mata, capoeira, pastagem com 10 anos e

    pastagem com 20 anos, nas profundidades de 0 a 10 cm, 10 a 20 cm e

    45 a 55 cm. As mdias com a mesma letra entre os usos dentro de cada

    profundidade no diferem entre si pelo teste de Tukey, a 5% de

    probabilidade.

    Figura 6. ndice de sensibilidade (IS) para dimetro mdioponderado de agregados, em Argissolo Vermelho-Amarelosubmetido a diferentes usos, em relao ao ambiente de matanativa.

    65

  • 7/31/2019 Alteraes em propriedades fsicas do solo..extremo oeste do Acre

    7/12

    indicando que a recuperao dos efeitos danosos na

    porosidade do solo em conseqncia da implantao de

    pastagem sob as condies estudadas mais difcil de

    ocorrer em profundidade.

    Em relao aos teores de carbono orgnico total

    (COT), na profundidade de 0 a 10 cm, foram maiores na

    mata do que nos demais usos do solo, indicando que autilizao antrpica do Argissolo com pastagem est

    contribuindo para a reduo do COT nessa profundidade

    (Tabela 2). Nas demais profundidades no houve

    diferenas significativas para o COT entre os tratamentos

    estudados. Estes resultados mostram que a retirada da

    mata provocou efeitos negativos nos estoques de carbono

    apenas na superfcie, j que de 10 a 20 e 45 a 55 cm os

    usos no se diferenciaram em relao aos teores de COT.

    Neste estudo, houve reduo nos valores de

    condutividade hidrulica em meio saturado com aretirada da mata nas profundidades de 0 a 10 e 10 a 20

    cm, no sendo afetada na profundidade de 45 a 55 cm

    (Figura 5). De 0 a 10 e 10 a 20 cm, pode-se notar que a

    implantao da pastagem reduziu a condutividade

    hidrulica, e que a retirada da pastagem e formao da

    capoeira levou a recuperao parcial desta

    caracterstica fsica do solo. A reduo da condutividade

    hidrulica na pastagem possivelmente est relacionada

    com a diminuio de macroporos, especialmente aqueles

    da classe maior que 145 m.A recuperao da condutividade hidrulica em

    meio saturado com o uso do solo com capoeira est

    associada recuperao da macroporosidade neste

    ambiente (Tabela 2). Segundo Camargo (1983) o volume

    de gua que flui por um tubo na unidade de tempo,

    proporcional quarta potncia do raio. Ento, se o di-

    metro desse tubo diminui 3 vezes o seu tamanho, o

    volume de fluxo no mesmo tempo diminuir 81 vezes.

    Dessa forma, a compactao com a consequente reduo

    no volume de macroporos, ter um grande reflexo nacondutividade hidrulica, conforme pode ser observado

    pelos dados deste trabalho. O resultado dessa

    diminuio na condutividade hidrulica o menor volume

    de infiltrao de gua das chuvas, resultando em maior

    escoamento superficial, o que pode provocar uma menor

    recarga hdrica do solo e potencializar processos erosivos

    no solo.

    Com relao reteno de gua no solo, pode-

    se notar que na camada de 0 a 10 cm, a reteno degua na capacidade de campo (CC) e no ponto de

    murcha permanente (PMP) foram menores para mata e

    maiores para os demais usos, mostrando que a

    compactao do solo, que provocou a reduo de

    macroporos (Tabela 3), provavelmente, est gerando

    poros com geometria e forma que favorecem a reteno

    de gua (RESENDE et al., 1999). Assim, a alterao fsica

    na camada de 0 a 10 cm nos solos com pastagem,

    evidenciada pela maior densidade do solo, reduo da

    macroporosidade e condutividade hidrulica,

    aumentaram a gua retida na CC e no PMP. Segundo

    Baver (1956), a reteno de gua no solo funo da

    distribuio e forma de poros, que, por sua vez, depende

    de outros fatores, tais como: textura, agregao,

    densidade do solo, teor de matria orgnica, entre outros

    fatores.

    Os dados de reteno de gua a baixas tenses

    permitem observar o efeito do uso do solo na reteno de

    gua causado preferencialmente pela mudana

    estrutural do solo, j que o arranjo e distribuio dos

    poros so os principais responsveis pela reteno degua a baixas tenses (BAVER, 1956). Desta forma, por

    meio da Figura 7, pode-se notar que as curvas de

    reteno de gua a baixas tenses apresentaram um

    ntido deslocamento para cima nos usos com pastagem e

    capoeira em relao mata, na profundidade de 0 a 10

    cm. Isto confirma que em superfcie a presso de uso,

    observadas pela maior densidade e reduo de

    macroporosidade, gerou poros que proporcionaram

    maior reteno de umidade nesta faixa de tenso.

    Tambm a capoeira apresentou a curva com valores maisprximos aos da mata, mostrando o seu potencial para

    recuperao das propriedades fsicas do solo. Resende et

    al. (1999) sugerem que a compactao pode ser

    benfica em termos de reteno de gua, pela

    transformao de parte dos macroporos em poros

    menores, microporos, cuja caracterstica de reteno de

    gua por capilaridade e/ou, fenmenos de adsoro.

    Na camada de 10 a 20 cm, as curvas dereteno de gua a baixas tenses apresentaramcomportamento mais semelhante entre si, comtendncia de deslocamento para cima em relao mata, como reflexo da presso do uso sobre os porosat esta profundidade. Nesta profundidade o pastocom 20 anos constitui uma exceo, apresentandocurva de reteno de umidade diferenciada,estando abaixo dos demais usos. Essa menorreteno de umidade a baixas tenses pode estarrelacionada com a menor microporosidadeobservado neste uso (Figura 4), para estaprofundidade. J na profundidade de 45 a 55 cmhouve tendncia das curvas se deslocarem parabaixo em relao mata, evidenciando que apresso de uso pela alterao estrutural do solo no

    66

  • 7/31/2019 Alteraes em propriedades fsicas do solo..extremo oeste do Acre

    8/12

    alterou a reteno de gua nesta profundidade,sendo as diferenas entre os usos atribudas acaractersticas intrnsecas dos solos.

    No obstante as diferenas na reteno degua na CC e PMP entre os usos avaliados, foramobservadas que no houve alterao na

    capacidade de gua disponvel para as plantas(CAD) em todas as profundidades avaliadas (Tabela3). Isto mostra que o uso do solo com pastagem nestaregio no est acarretando em impactos nofornecimento de gua para as plantas, emboradiferenas de reteno de gua na CC e PMP foramencontradas.

    Para que o solo tenha uma boa qualidadefsica, preciso que ele apresente uma boa relaoentre gua retida e o espao poroso (Skopp et al.,

    1990). Estes autores sugerem uma relao entregua retida na capacidade de campo e aporosidade total (CC/PT) de 0,66 para que ocorrauma boa atividade microbiana, capaz demineralizar os restos culturais. Os valores baixosdesta relao para mata e capoeira de 0 a 10 cmest relacionada maior porosidade e acaracterstica arenosa dos solos nesta profundidade(Tabela 3). Na camada de 0 a 10 cm pode-severificar que os usos com pastagens, tanto de 10 anos

    como de 20 anos aumentaram a relao CC/PT,deixando-a prxima do ideal (0,66), como sugeridopor Skopp et al., 1990.

    Nas demais profundidades no houvealteraes significativas da relao CC/PT, emboraos usos com pastagem apresentassem valores maisprximos do ideal. A relao CC/PT maior pode serum aspecto positivo na utilizao do Argissolo compastagem extensiva no extremo oeste do Acre.

    Entretanto uma relao CC/PT elevada, como ocorrena pastagem com 10 anos, pode levar a umaaerao deficiente quando o solo estiver prximo CC, uma vez que grande proporo dos poros estarocupada por gua, dificultando a atividademicrobiana e a respirao radicular das plantas.

    Com relao estabilidade de agregados em gua,percebe-se que os ndices de estabilidade estruturaldimetro mdio ponderado (DMP), dimetro mdiogeomtrico (DMG), porcentagem de agregados

    maior que 2 mm (AGRE2), macroagregados (MACR)e microagregados (MICR), no diferiramsignificativamente entre os tratamentos estudados,na profundidade de 0 a 10 cm, embora a mata e

    capoeira tenham tido valores ligeiramente maiores(Tabela 4). Como houve diferenas nos valores decarbono orgnico do solo entre os tratamentos nacamada de 0 a 10 cm (Tabela 2), pode-se verificarque o carbono orgnico do solo sozinho no explicaa agregao nos diferentes usos, indicando que houtros fatores envolvidos na estabilidade de

    agregados entre os usos nesta profundidade. Todosos solos foram classificados na mesma classe texturalnesta profundidade, de forma que no henvo lv imento decorren tes da var iaogranulomtrica do solo na agregao.

    Na camada de 10 a 20 cm, as curvas de reteno

    de gua a baixas tenses apresentaram comportamento

    mais semelhante entre si, com tendncia de deslocamento

    para cima em relao mata, como reflexo da presso

    do uso sobre os poros at esta profundidade. Nestaprofundidade o pasto com 20 anos constitui uma exceo,

    apresentando curva de reteno de umidade

    diferenciada, estando abaixo dos demais usos. Essa

    menor reteno de umidade a baixas tenses pode estar

    relacionada com a menor microporosidade observado

    neste uso (Figura 4), para esta profundidade. J na

    profundidade de 45 a 55 cm houve tendncia das curvas

    se deslocarem para baixo em relao mata,

    evidenciando que a presso de uso pela alterao

    estrutural do solo no alterou a reteno de gua nestaprofundidade, sendo as diferenas entre os usos

    atribudas a caractersticas intrnsecas dos solos.

    No obstante as diferenas na reteno de gua

    na CC e PMP entre os usos avaliados, foram observadas

    que no houve alterao na capacidade de gua

    disponvel para as plantas (CAD) em todas as

    profundidades avaliadas (Tabela 3). Isto mostra que o

    uso do solo com pastagem nesta regio no est

    acarretando em impactos no fornecimento de gua para

    as plantas, embora diferenas de reteno de gua naCC e PMP foram encontradas.

    Para que o solo tenha uma boa qualidade fsica,

    preciso que ele apresente uma boa relao entre gua

    retida e o espao poroso (Skopp et al., 1990). Estes

    autores sugerem uma relao entre gua retida na

    capacidade de campo e a porosidade total (CC/PT) de

    0,66 para que ocorra uma boa atividade microbiana,

    capaz de mineralizar os restos culturais. Os valores baixos

    desta relao para mata e capoeira de 0 a 10 cm estrelacionada maior porosidade e a caracterstica

    arenosa dos solos nesta profundidade (Tabela 3). Na

    camada de 0 a 10 cm pode-se verificar que os usos com

    pastagens, tanto de 10 anos como de 20 anos

    67

  • 7/31/2019 Alteraes em propriedades fsicas do solo..extremo oeste do Acre

    9/12

    aumentaram a relao CC/PT, deixando-a prxima do

    ideal (0,66), como sugerido por Skopp et al., 1990.

    Nas demais profundidades no houve alteraes

    significativas da relao CC/PT, embora os usos com

    pastagem apresentassem valores mais prximos do ideal.

    A relao CC/PT maior pode ser um aspecto positivo na

    utilizao do Argissolo com pastagem extensiva noextremo oeste do Acre. Entretanto uma relao CC/PT

    elevada, como ocorre na pastagem com 10 anos, pode

    levar a uma aerao deficiente quando o solo estiver

    prximo CC, uma vez que grande proporo dos poros

    estar ocupada por gua, dificultando a atividade

    microbiana e a respirao radicular das plantas.

    Com relao estabilidade de agregados em

    gua, percebe-se que os ndices de estabilidade

    estrutural dimetro mdio ponderado (DMP), dimetro

    mdio geomtrico (DMG), porcentagem de agregadosmaior que 2 mm (AGRE2), macroagregados (MACR) e

    microagregados (MICR), no diferiram significativamente

    entre os tratamentos estudados, na profundidade de 0 a

    10 cm, embora a mata e capoeira tenham tido valores

    ligeiramente maiores (Tabela 4). Como houve diferenas

    nos valores de carbono orgnico do solo entre os

    tratamentos na camada de 0 a 10 cm (Tabela 2), pode-se

    verificar que o carbono orgnico do solo sozinho no ex-

    plica a agregao nos diferentes usos, indicando que h

    outros fatores envolvidos na estabilidade de agregadosentre os usos nesta profundidade. Todos os solos foram

    classificados na mesma classe textural nesta

    profundidade, de forma que no h envolvimento

    decorrentes da variao granulomtrica do solo na

    agregao.

    Para a camada de solo de 0 a 10 cm, a

    agregao na mata possivelmente est relacionada aos

    maiores teores de carbono orgnico do solo em relao

    aos outros tratamentos (Tabela 2), bem como por ser um

    ambiente sem perturbaes antrpicas. Segundo Six et

    al. (2000) aps a aproximao das partculas minerais, a

    matria orgnica apresenta importante papel como um

    dos fatores determinantes da estabilizao de

    agregados. Os compostos orgnicos participam das

    ligaes entre partculas individuais do solo, atuando

    como agentes cimentantes das unidades estruturais pelas

    suas diversas caractersticas de superfcie (LIMA et al.,

    2003). Tambm Castro Fillho et al. (1998) indicam

    correlao direta entre contedo de matria orgnica eestabilidade de agregados.

    Por outro lado, nos sistemas sob pastagem, na

    camada de 0 a 10 cm, a agregao possivelmente se

    deve ao efeito diferencial do sistema radicular da

    braquiria, bastante denso. Silva e Mielniczuck (1997)

    atriburam a maior formao e estabilizao de

    agregados por gramneas perenes alta densidade de

    razes, s peridicas renovaes do sistema radicular e

    uniforme distribuio dos exsudados no solo, que

    estimulam a atividade microbiana. Bromick e Lal (2005)

    chamam a ateno para a importncia dos resduosder ivados das razes na es tabi l izao de

    macroagregados, enfatizando o potencial dos exsudados

    radiculares na formao e estabilizao de

    macroagregados, alm da comunidade microbiana, que

    pode influenciar marcadamente a agregao no solo.

    Nas camadas de 10 a 20 cm e 45 a 55 cm os

    ndices de agregao DMP, DMG, AGRE2 e MCR foram

    menores para a mata em relao aos demais tratamentos

    (Tabela 4). Estes resultados evidenciam que a ao dosistema radicular da braquiria deve afetar

    positivamente a agregao do solo tambm nesta

    profundidade. A no diferenciao dos teores de

    carbono orgnico do solo entre os usos avaliados nesta

    profundidade corrobora que h efeito diferencial do

    sistema radicular das pastagens sobre a agregao do

    Argissolo avaliado.

    O dimetro mdio ponderado (DMP) um ndice

    que traduz a estabilidade dos agregados de toda a

    amostra. O ndice de sensibilidade (IS) avalia se osvalores de DMP dos usos agrcolas do solo foram

    diferentes daquele com o solo de mata. Observando o IS

    pode-se notar que, de 0 a 10 cm, ele ficou bem prximo

    unidade, demonstrando que os usos mantiveram a

    estabilidade em gua dos agregados do solo semelhante

    entre os usos avaliados (Figura 6). A partir da camada de

    10 a 20 cm os solos comearam a se diferenciar em

    relao ao IS, pois capoeira, pasto com 10 anos e pasto

    com 20 anos mostraram IS 29, 38 e 7 % maior que a

    unidade, respectivamente. Na profundidade de 45 a 55cm as diferenas foram mais marcantes, com IS de 39, 29

    e 77 % maiores que a unidade para capoeira, pasto com

    10 anos e pasto com 20 anos, respectivamente. Estes

    valores confirmam que a estabilidade dos agregados

    no se alterou na camada superficial do solo, enquanto

    que a partir da camada de 10 a 20 cm, os tratamentos

    com pastagem de 10 e 20 anos e a capoeira melhoraram

    a agregao do solo.

    A estabilidade estrutural dos agregados variacom as caractersticas intrnsecas do solo e com os sistemas

    de manejo e cultivo. No entanto, um agregado de elevado

    DMP nem sempre apresenta adequada distribuio de

    tamanho de poros no seu interior, o que implica em

    68

  • 7/31/2019 Alteraes em propriedades fsicas do solo..extremo oeste do Acre

    10/12

    qualidade estrutural varivel (BERTOL et al., 2004). Isto

    pode ser visto nos tratamentos com pastagem, onde se

    observa uma alterao fsica, evidenciada pela elevada

    densidade do solo, e reduo da porosidade e

    condutividade hidrulica, ainda que apresentasse

    elevada estabilidade de agregados.

    Os dados de resistncia do solo penetrao(RP) mostram que os solos se diferenciaram entre os usos,

    sendo parte desta alterao em funo do uso com

    pastagem e parte devido a caractersticas intrnsecas do

    solo em cada uso (Figura 8). O solo com pastagem com 10

    anos apresentou valores de RP maior entre os usos na

    profundidade de 0 a 4,5 cm, com maior valor ocorrendo

    na profundidade de 3,5 cm (11,5 MPa), a partir deste

    valor de RP, a tendncia de decrscimo.

    Os valores de RP para pastagem com 10 anos

    entre as profundidades de 10,5 e 14,5 cm mostram quehouve reduo da RP em relao superfcie. Estes

    resultados mostram tambm que nesse ambiente o efeito

    negativo da compactao sobre o crescimento radicular

    esta sendo pior nos primeiros centmetros do solo. Estes

    resultados esto de acordo com os maiores valores de

    densidade do solo neste ambiente em superfcie (Figura

    2). Arajo et al. (2004), comparou solos de mata nativa

    com solos cultivados e concluram que a RP foi influenciada

    positivamente pela densidade do solo e negativamente

    pela umidade do solo, com maior magnitude no solocultivado. Assim, os valores de RP encontrados neste

    trabalho, considerados elevados, em parte se devem ao

    fato de as anlises terem sido realizadas com a umidade

    do solo no ponto de murcha permanente (1500 KPa).

    Tambm, os elevados valores de RP para a pastagem com

    10 anos podem estar associados a uma ao

    diferenciada do sistema radicular da braquiria neste

    uso, que devido a maior densidade de razes levou a um

    maior preenchimento dos macroporos, aumentando a

    rigidez do solo.

    Imhoff et al. (2000), trabalhando com pastagem

    de Capim-colonio, que tambm tem sistema radicular

    denso, encontraram valores de RP de 10 MPa, em solo

    com densidade de 1,5 g cm-3 e umidade volumtrica de

    0,200 m3 m-3, semelhante ao observado para pasto com

    10 anos entre 0 e 4,5 cm.

    Por outro lado, pastagem com 20 anos no

    apresentou valores de RP to elevados como a pastagem

    com 10 anos de 0 a 4,5 cm, se assemelhando matanativa. Isto evidencia que neste ambiente o efeito da

    compactao sobre a RP no to drstico nos primeiros

    centmetros do solo, se tornando maior em profundidade.

    Os maiores valores de RP entre os usos para pasto 20

    anos na camada de 10,5 a 14,5 cm evidenciam que o

    maior impedimento ao crescimento radicular neste uso

    encontra-se na profundidade de 13,5 cm (13,2 MPa).

    Estes valores tambm esto de acordo com a maior

    densidade de solo observado neste ambiente para esta

    profundidade.

    O ambiente com capoeira apresentou valoresbaixos de RP nas camadas de 0 a 4,5 cm e de 10,5 a 14,5

    cm de profundidade, mostrando o efeito benfico do

    pousio do solo aps o uso com pastagem. Os menores

    valores de RP tambm podem ser atribudos aos menores

    teores de argila neste ambiente nestas profundidades, j

    que quanto mais argiloso um solo, mais resistente (duro)

    se torna quando seco, devido a maior ao das foras de

    coeso e adeso (BAVER, 1956).

    69

    Usos Areia Grossa Areia Fina Silte Areia

    ------------------------------------dag kg1

    ----------------------------------

    0 a 10 cm

    Mata 30,0 39,0 15,3 15,3

    Capoeira 36,7 32,2 20,0 11,0

    Pasto 10 anos 40,7 23,7 16,7 19,0

    Pasto 20 anos 34,0 28,3 20,3 17,3

    10 a 20 cm

    Mata 25,7 33,3 18,3 22,7

    Capoeira 32,7 29,7 23,7 14,0

    Pasto 10 anos 33,0 23,3 17,3 26,3

    Pasto 20 anos 22,0 18,7 20,7 38,7

    45 a 55 cm

    Mata 22,0 32,3 20,0 25,7

    Capoeira 26,0 24,0 24,7 25,3

    Pasto 10 anos 27,3 21,0 18,0 33,7

    Pasto 20 anos 29,0 28,0 21,0 22,0

    Tabela 1. Caracterizao granulomtrica dos solos sob os usos com

    mata, capo -eira, pastagem com 10 anos e pastagem com 20 anos,nas profundidades de 0 a 10 cm, 10 a 20 cm e 45 a 55 cm.

    Tabela 2. Valores mdios para carbono orgnico total do solo (COT) edistribuio de tamanho de poros do Argissolo Vermelho-Amarelo sob

    mata, capoeira, pasto com 10 anos e pasto com 20 anos, nas

    diferentes profundidades avaliadas.

  • 7/31/2019 Alteraes em propriedades fsicas do solo..extremo oeste do Acre

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    Tabela 3. Valores mdios para reteno de gua a pressesequivalentes ca -pacidade de campo (CC), ponto de murchapermanente (PMP) e capacidade de gua disponvel (CAD) em basevolumtrica, e relao entre gua retida na capacidade de campo eporosidade total (CC/PT), nos Argissolos Vermelho --amarelo sobdiferentes usos e profundidades.

    Usos C C P M P CAD CC/PT

    ----------------------m3 m 3----------------------0 a 10 cm

    Mata 0,206 b 0,165 b 0,041 a 0,35 bCapoeira 0,215 ab 0,175 ab 0,039 a 0,39 bPasto 10 anos 0,313 a 0,280 a 0,034 a 0,72 aPasto 20 anos 0,299 ab 0,253 ab 0,046 a 0,65 a

    10 a 20 cmMata 0,290 ab 0,250 ab 0,040 a 0,58 aCapoeira 0,255 b 0,208 c 0,047 a 0,56 aPasto 10 anos 0,306 a 0,276 a 0,029 a 0,67 aPasto 20 anos 0,274 ab 0,230 bc 0,043 a 0,65 a

    45 a 55 cmMata 0,288 ab 0,240 a 0,048 a 0,60 aCapoeira 0,283 b 0,224 a 0,059 a 0,70 aPasto 10 anos 0,334 a 0,273 a 0,060 a 0,74 aPasto 20 anos 0,296 ab 0,254 a 0,042 a 0,66 a

    Mdias seguidas pela mesma letra dentro de cada profundidade, entre os diferentes usos,

    no diferem estatisticamente entre si pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.

    Figura 7. Curvas de reteno da gua no solo em baixas tensespara o Argissolo sob diferentes usos no extremo oeste do Acre.

    70

    Figura 8. Resistncia do solo penetrao avaliada porpenetrmetro de banca -da para o Argissolo sob diferentes usos eprofundidades. Antes da anlise todas as amostras foramsubmetidas tenso de 1500 kPa, apresentando umidadeequivalente ao ponto de murcha permanente(PMP)

    Tabela 4. Valores mdios para os ndices de agregao: dimetro

    mdio ponderado (DMP), dimetro mdio geomtrico (DMG),

    porcentagem de agregados > 2 mm (AGRE2), porcentagem de

    agregados > 250 m (MACR), porcentagem de agregados < 250

    m (MICR), em Argissolo Vermelho-amarelo sob diferentes usos eprofundidades.

    Usos DMP DMG AGRE2 MACR MICRO

    ----------mm---------- ------------------%------------------0 a 10 cm

    Mata 2,44 a 1,94 a 55,10 a 93,58 a 6,42 aCapoeira 2,44 a 1,94 a 72,36 a 93,58 a 6,42 aPasto 10 anos 2,15 a 1,57 a 59,47 a 92,40 a 7,60 aPasto 20 anos 2,27 a 1,67 a 65,61 a 91,83 a 8,17 a

    10 a 20 cmMata 1,73 b 1,16 b 39,04 b 88,21 b 11,79 aCapoeira 2,24 ab 1,71 ab 61,65 ab 92,74 ab 7,26 aPasto 10 anos 2,40 a 1,93 a 69,90 a 95,11 a 4,89 bPasto 20 anos 1,85 ab 1,28 b 43,97 ab 89,72 ab 10,28 ab

    45 a 55 cmMata 1,08 b 0,67 b 11,89 b 81,88 b 18,12 aCapoeira 1,50 ab 0,99 ab 28,41 ab 86,96 a 13,04 bPasto 10 anos 1,39 ab 0,77 b 30,65 ab 78,92 b 21,08 aPasto 20 anos 1,90 a 1,35 a 43,79 a 91,08 a 8,92 b

    Mdias seguidas pela mesma letra dentro de cada profundidade, entre os diferentes usos,no diferem estatisticamente entre si pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.

  • 7/31/2019 Alteraes em propriedades fsicas do solo..extremo oeste do Acre

    12/12

    4. CONSIDERAES FINAIS

    Pela anlise granulomtrica dos Argissolos ficou

    evidente o predomnio das fraes areia (areia grossa +

    areia fina) em todos os usos e profundidades avaliadas,

    mostrando que possivelmente os solos foram formados de

    rochas com sedimentos mais grosseiros, o que indica que o

    ambiente de sedimentao no perodo de formao darocha foi de maior energia, permitindo maior se-

    dimentao de partculas mais grosseiras.

    O processo de ocupao antrpica no extremo

    oeste do Acre, com a retirada da mata nativa e

    implantao de pastagens causou impacto negativo

    sobre as propriedades fsicas do Argissolo, evidenciado

    pelos maiores valores de densidade do solo e resistncia

    do solo penetrao; reduo da porosidade total e da

    condutividade hidrulica. A reduo da porosidade pela

    compactao do Argissolo foi marcante sobre osmacroporos, especialmente sobre a classe de poros

    maiores que 145 m, ao passo que praticamente no

    houve alteraes nos microporos, o que pode resultar em

    menor infiltrao de gua da chuva e consequente

    potencializao dos processos erosivos. A compactao

    do solo foi mais intensa na camada de 0 a 10 cm, menos

    evidente na camada de 10 a 20 cm e no alterou na

    camada de 45 a 55 cm.

    As mudanas estruturais causadas pela

    compactao nos Argissolos sob pastagem provocaram

    deslocamento para cima na curva de reteno de gua a

    baixas tenses, bem como alteraram os valores de

    reteno de gua na capacidade de campo e ponto de

    murcha permanente em superfcie, evidenciando o efeito

    do uso com pastagem sobre a reteno de gua no solo.

    No obstante as alteraes na reteno de gua, a

    capacidade de gua disponvel para as plantas no se

    alterou entre os diferentes usos. A estabilidade deagregados no se alterou entre os usos avaliados.

    O abandono das reas com pastagens para a

    formao de capoeira apresentou recuperao parcial

    das propriedades fsicas do solo, demonstrando que o

    pousio e a formao de capoeira possuem efeito

    benfico sobre as propriedades fsicas do Argissolo, em

    especial sobre a compactao do solo.

    O trabalho deixa claro o efeito da presso de

    uso com o desmatamento e a implantao de pastagenssobre as propriedades fsicas do Argissolo. Neste sentido,

    h a necessidade eminente de novas pesquisas sobre

    esses impactos, com o intuito de buscar alternativas para

    que a ocupao do extremo oeste do Acre ocorra em

    bases sustentveis, preservando os recursos naturais.